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1 SUBCOMISSÃO PARA TRATAR DA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO E PROJETO DE LEI Nº 297/2011 RELATÓRIO FINAL PORTO ALEGRE, RIO GRANDE DO SUL SETEMBRO DE 2012

SUBCOMISSÃO PARA TRATAR DA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO E … · 2012-12-11 · capacitados para reproduzir esse sistema, e assim, a ausência de um modelo educacional que dialogue com

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SUBCOMISSÃO PARA TRATAR DA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO E

PROJETO DE LEI Nº 297/2011

RELATÓRIO FINAL

PORTO ALEGRE, RIO GRANDE DO SUL

SETEMBRO DE 2012

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SUMÁRIO

Composição da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa do RS ...............3

Composição da Subcomissão para tratar da Educação do/no Campo e PL

nº 297/2011........................................................................................................4

Requerimento para Instalação da Subcomissão para tratar da Educação

do/no Campo e PL nº 297/2011......................................................................5-6

Introdução.....................................................................................................7-15

Reuniões/Audiências/Seminários...........................................................16-235

Conclusão...............................................................................................236-245

Assinatura Dep. Integrantes da Subcomissão............................................246

Relação dos Anexos......................................................................................247

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COMPOSIÇÃO DA MESA DIRETORA DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA

Mesa Diretora 2012

Presidente: Dep. Alexandre Postal – PMDB

1º Vice-Presidente: Dep. Zilá Breitenbach – PSDB

2º Vice- Presidente: Dep. Alceu Barbosa - PDT

1º Secretário: Dep. Pedro Westphalen - PP

2º Secretário: Dep. Luis Lauermann - PT

3º Secretário: Dep. José Sperotto - PTB

4º Secretário: Dep. Catarina Paladini – PSB

1º Suplente de Secretário – Álvaro Boessio

2º Suplente de Secretário – Luciano Azevedo

3º Suplente de Secretário – Raul Carrion

4º Suplente de Secretário – Carlos Gomes

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COMPOSIÇÃO DA SUBCOMISSÃO

Deputado Altemir Tortelli – (PT) – Coordenador e Relator

Deputado Aloísio Classmann – (PTB)

Deputado Alceu Barbosa – (PDT)

Deputado Edegar Pretto – (PT)

Deputado Edson Brum – (PMDB)

Deputado Frederico Antunes – (PP)

Deputado Gerson Burmann – (PDT)

Deputado Heitor Schuch – (PSB)

Deputado Jeferson Fernandes – (PT)

Deputado Lucas Redecker – (PSDB)

Deputado Valdeci Oliveira – (PT)

Deputado Ernani Polo – (PP)

Data de aprovação e instalação da Comissão: 03/05/2012

Prazo de duração: 120 dias contados da instalação (art. 74, § 8º do RI)

Data para conclusão dos trabalhos: 15/09/2012

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REQUERIMENTO PARA INSTALAÇÃO DA SUBCOMISSÃO PARA TRATAR

DA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO E PL Nº 297/2011

REQUERIMENTO

De: Dep. Altemir Tortelli

Para: Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo

Assunto: Requerimento de Criação de Subcomissão para tratar do tema:

“Educação do/no Campo e debater o PL 297/2011”

Sr. Presidente:

Vimos por meio deste, com amparo no art. 74 e seguintes do Regimento

Interno desta Casa requerer a criação de uma subcomissão para tratar do

tema: “Educação do/no Campo e PL 297/2011.”

Podemos afirmar com segurança que o desenvolvimento do nosso

Estado e do país está intimamente vinculado à agricultura e à educação. A

Agricultura Familiar tem sua importância consolidada na produção de grande

parcela dos alimentos que chegam às nossas mesas, na capacidade de

absorção de mão-de-obra e geração de renda no campo e na cidade, além de

adotar métodos produtivos sustentáveis que favorecem a preservação

ambiental.

O seu fortalecimento e a diminuição do êxodo rural demandam, entre

outras iniciativas, o desenvolvimento de métodos e práticas educativas

voltadas às necessidades deste segmento populacional, que contemplem as

suas peculiaridades históricas e culturais.

Nesse passo, proponho a criação de uma subcomissão para debatermos

o tema aqui proposto, as dificuldades enfrentadas pelos jovens que vivem no

meio rural, no que tange ao acesso a uma educação qualificada e voltada às

suas necessidades, bem como para debatermos as iniciativas governamentais

no tocante à educação do/no campo e pensarmos possíveis alternativas para

solucionar os impasses vivenciados pelas comunidades escolares do meio

rural.

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Em face da importância do tema que tem estreita vinculação com as

matérias de competência desta Comissão, requeremos o apoio dos nobres

pares, para a aprovação do presente pedido.

Pedimos deferimento.

Porto Alegre, 26 de abril de 2012.

Atenciosamente,

Altemir Tortelli

Deputado Estadual

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INTRODUÇÃO

Na atualidade o meio rural apresenta um quadro

preocupante. O envelhecimento da população, a masculinização, o intenso

processo migratório de jovens e adultos são fatores que colocam em risco a

agricultura familiar. Além disso, comprometem a sucessão nas propriedades, o

desenvolvimento dos municípios de pequeno porte que vêm registrando perdas

populacionais significativas e a soberania alimentar da população do campo e

da cidade. Para comprovar isso citamos os dados do IBGE.

Nos últimos dez anos, 276 mil agricultores gaúchos

saíram do campo, 45 mil famílias não contam com sucessores. O RS conta

com 379 mil famílias de agricultores familiares. Entre 2000 e 2010 a população

de 254 municípios gaúchos, com até 10 mil habitantes, diminuiu. Como se

observa os dados são alarmantes evidenciando que a educação do/no campo

necessita de ações imediatas e deve ser tema estratégico e prioritário para os

Governos. Vários são os fatores que contribuem para a saída dos jovens do

meio rural: o estigma que recai sobre a população que vive no meio rural, a

inexistência de um modelo pedagógico que dialogue com a realidade dos

educandos, a baixa rentabilidade das propriedades, a falta de políticas e

incentivos governamentais direcionados aos jovens do meio rural, o fato de o

meio rural ser carente de uma série de serviços que são oferecidos nos centros

urbanos, como a conexão de internet, telefonia celular, a baixa qualidade da

energia elétrica que os impede de aperfeiçoar os métodos produtivos em suas

propriedades e de diversificá-las.

Dita constatação advém de uma série de debates e

vivências que vimos acumulando ao longo de nossa luta pela qualificação da

educação do/no campo. A realidade do meio rural exige calendário e conteúdo

diferenciados, profissionais capacitados. Exatamente o oposto do que foi

construído nas últimas cinco décadas. A “revolução verde” não se restringiu

aos processos produtivos, tendo influenciado todo o processo educativo de

maneira a acelerar o esvaziamento do campo, na medida em que impôs

conteúdos e calendários adequados à realidade urbana. Outro elemento

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determinante para isso foi o processo de formação dos professores. Foram

capacitados para reproduzir esse sistema, e assim, a ausência de um modelo

educacional que dialogue com a realidade do campo fez com que a maioria dos

jovens migrasse para centros urbanos, em busca de novas perspectivas de

vida.

Os dados constantes na Tabela que segue anexa,

colhidos pela Federação das Associações de Municípios do RS – FAMURS,

evidenciam o significativo número de alunos do meio rural, num total de

139.322 alunos. O número de alunos, embora tenha diminuído

consideravelmente nos últimos anos, como se vê é significativo, demandando

ações urgentes para conter o desmonte histórico que vem sofrendo a educação

do/no campo e a infraestrutura rural.

Muitas alternativas ao processo de produção e

educação do/no campo foram pensadas e implementadas. Elas constituem um

grande diferencial ao modelo tradicional, além de se mostrarem muito mais

eficientes. Essas alternativas foram desenvolvidas por entidades, escolas,

organizações e associações. A maioria delas, ainda não obteve o devido

reconhecimento e amparo por parte do poder público. As que alcançaram o

reconhecimento legal, não obtiveram a devida contrapartida financeira, pois o

estado prima pelo sistema convencional.

No intuito de atender aos anseios dos jovens do

meio rural, citamos algumas experiências exitosas desenvolvidas no últimos

anos:

• TERRA SOLIDÁRIA: Um projeto desenvolvido pela FETRAF SUL/CUT,

que capacitou e formou mais de 3.000 agricultores no sul do país. Ele

compreendia a elevação de escolaridade de ensino fundamental e com

formação profissional. Observava a carga horária exigida e conciliava

atividades pedagógicas e práticas. Trabalhava conteúdos vinculados ao dia

a dia dos agricultores, informações técnicas de plantio, colheita, com temas

voltados à gestão da propriedade e de cada cadeia produtiva. Além disso,

observava o calendário agrícola com atividades mais intensas em períodos

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de menor trabalho e em época de plantio e colheita menos intensas. Serviu

como base pedagógica e metodológica para o Governo Lula criar o

Programa “Saberes da Terra”, que se restringiu ao âmbito institucional não

chegando a ser executado pelos movimentos sociais.

• FETAG: A Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande

do Sul, tem seu espaço das Experiências Exitosas na Expointer, já há 12

(doze) anos. Desde o ano passado foi feita uma parceria com a SEDUC. E

neste ano FETAG e SEDUC organizaram 18 (dezoito) Escolas Estaduais e

municipais que trouxeram suas experiências, desenvolvidas por meio de

projetos em suas escolas, localizadas no campo. Que não envolvem

apenas os alunos e professoras em seus projetos, mas sim os pais e a

comunidade como um todo. Na nossa avaliação, é um espaço muito rico,

que divulga e dá visibilidade às Escolas do Campo, que exploram o mundo

real que vivem as crianças e transformam em um verdadeiro laboratório de

aprendizagem. O que nos motiva, e nos faz acreditar que estas escolas

fazem a diferença. Estão partindo para mudanças diferenciando a

Educação do/no Campo da Urbana. Contribuem para que o jovem de

amanhã tenha expectativas e um projeto de vida para permanecer no

campo.

• Para o MST o acesso à educação de jovens e adultos é condição

fundamental para a permanência com qualidade no meio rural, tanto que

são pioneiras as ações de alfabetização desencadeadas pelo Movimento

em parceria, na época, com o Professor e Educador brasileiro, Paulo Freire

(anos 1980/90) dentro dos acampamentos e assentamentos numa tentativa

de erradicar o analfabetismo nos acampamentos e assentamentos, bem

como o esforço cotidiano de garantir aos acampados escolas de ensino

fundamental, as famosas escolas itinerantes, sempre funcionando de modo

a garantir o acesso a esse direito, ou o esforço para garantir que nenhuma

criança filho de assentado esteja fora de escola, preferindo sempre escolas

instaladas diretamente nos assentamentos, com propostas pedagógicas

discutidas com as famílias, vinculadas a realidade dos assentamentos. O

processo de formação de jovens, na perspectiva de atuarem como quadros

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técnicos para o Movimento sem Terra (MST), nas estruturas produtivas e

cooperativas dos assentamentos há muito tempo é política importante

desenvolvida pela organização. Nesta perspectiva destacam-se as Escolas

mantidas nos municípios gaúchos de Pontão e Veranópolis, com os cursos

de nível médio, organizados com base na Pedagogia da Alternância,

respectivamente em Pontão de Técnico em Agropecuária com ênfase em

Agroecologia e em Veranópolis o Técnico em Administração Cooperativista

e o Técnico em Saúde Comunitária. Além disso, o Movimento mantêm

convênios com instituições de nível superior, tais como a Universidade

Federal de Pelotas, que tem um curso específico de Medicina Veterinária

para filhos de assentados e organizações vinculadas a Via Campesina, e

com a Universidade Federal da Fronteira Sul com um Curso de Agronomia

específico e nas mesmas condições do curso conveniado com a

Universidade de Pelotas. No plano Federal estima-se em mais de 2500

jovens assentados ou filhos de assentados mantidos pelo Movimento em

Escolas de nível médio e superior preparando-se para retornar aos

assentamentos.

• CASAS FAMILIARES RURAIS E ESCOLA FAMÍLIA AGRÍCOLA: Essas

duas entidades desenvolveram e desenvolvem um trabalho com a

Pedagogia da Alternância. Na Pedagogia da Alternância o aluno é o centro

do projeto, protagonista do seu processo formativo, por meio do seu projeto

pessoal, o projeto de vida profissional. A sessão começa na família,

permeia pela escola e depois retorna a origem, onde deve resultar em

experimentos e mudanças na própria realidade, fazendo com que o jovem

seja sujeito de transformação da realidade. A Pedagogia da Alternância

“parte da experiência da vida cotidiana (familiar, profissional, social) para ir

em direção à teoria, aos saberes dos programas acadêmicos, para, em

seguida, voltar à experiência, e assim sucessivamente”. (2007, p.16).

No Brasil, a primeira experiência com Pedagogia da

Alternância foi implementada no Estado do Espírito Santo, em 1968, em

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Olivânia no município de Anchieta (ZAMBERLAN, 2003) 1. Com o passar do

tempo ocorreu a disseminação desta proposta educacional para outros Estados

do Brasil. Atualmente, em números, são 150 Escolas Famílias Agrícolas, 71

Casas Familiares Rurais na Região Sul e 47 Casas Familiares Rurais nas

Regiões Norte e Nordeste do Brasil.

Este movimento está articulado no Brasil por meio

da Rede CEFFA’s2 (Centros Familiares de Formação em Alternância), que

agrega as Escolas Famílias Agrícolas (EFAs), as Casas Familiares Rurais

(CFRs) e as Escolas Comunitárias Rurais (ECORs), que em âmbito mundial

está filiada à AIMFRs (Associação Internacional de Movimentos Familiares

Rurais), formando uma rede mundial, nos cinco continentes, em mais de 40

países (ZAMBERLAN, 2003).

No Rio Grande do Sul o pioneirismo do trabalho em

Pedagogia da Alternância é das Casas Familiares Rurais - CFRs ligadas à

ARCAFAR-RS, filiada à ARCAFAR-SUL. Atualmente existem no estado 7

(sete) CFRs, atuando regionalmente, e localizadas nos seguintes municípios:

Frederico Westphalen, Alpestre, Catuípe, Santo Antônio das Missões, Barão do

Cotegipe, Jaguari e Santo Cristo; Todas no norte do estado, desde 1990. No

ano de 2009 é implantada a primeira Escola Família Agrícola –EFA no sul do

Brasil, na cidade de Santa Cruz do Sul, região central do estado, nominada

Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul – EFASC, ligada à Associação

Gaúcha Pró-Escolas Famílias Agrícolas – AGEFA, filiada à UNEFAB. Para

2013 esta prevista a implantação de mais duas EFAs, uma em Vale do Sol e

outra em Garibaldi, na serra gaúcha.

1 ZAMBERLAN, Sérgio. Formação e Desenvolvimento Sustentável: o lugar da família - na vida institucional da escola-família - Participação e Relações de Poder, 2003. Dissertação (Mestrado Internacional em Ciências da Educação) - Universidade Nova de Lisboa – Portugal - Faculdade de Ciências e Tecnologia e Université François Rabelais de Tours – France - Département des Sciences de l’Éducation et de la formation, 2003. 2 CEFFA é uma sigla genérica, (que serve para reagrupar diversas experiências educativas em alternância existentes no Brasil), colocada em abril de 2001, na ocasião de um encontro entre membros da UNEFAB, ARCAFAR, PROJOVEM (Programa ligado ao Governo do Estado de São Paulo) e CNDRS, em Iguazú, Província de Misiones, (região nordeste da Argentina). Tal encontro aconteceu dentro do Seminário Internacional Latino-Americano sobre CEFFA’s (ZAMBERLAN, 2003, p. 3)

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A partir dos acúmulos das experiências

desenvolvidas pelas entidades da Agricultura Familiar e da mobilização social,

o Governo Federal criou o Pronacampo. Ele é um programa que prevê uma

série de ações, entre elas o repasse de recursos do Governo Federal aos entes

federados (Estados e Municípios), por meio de convênios.

Objetiva, mediante ações articuladas, melhorar a

qualidade do ensino nas escolas existentes no meio rural, assegurar a

formação de professores, a produção de material didático específico e o

acesso e recuperação da infraestrutura.

Organiza-se em quatro eixos: gestão e práticas

pedagógicas; formação de professores; educação de jovens e adultos e

educação profissional e tecnológica; a infraestrutura física e tecnológica das

escolas.

Busca disponibilizar material didático e pedagógico

específico para todas as escolas do campo e às escolas quilombolas que se

encontram no campo; a formação e o acompanhamento pedagógico para todas

as escolas com classes multisseriadas; a implantação do Programa Mais

Educação e educação integral em 10 mil escolas; a ampliação da oferta nos

cursos de licenciatura; a expansão dos polos da universidade aberta do Brasil

prioritariamente aos docentes do campo e das comunidades quilombolas (do

total de professores, são 342 mil com ensino superior; do programa de

formação de professores, são somente 182 mil professores, com formação

superior nas escolas do campo); a oferta de cursos de aperfeiçoamento em

especialização específicos para a realidade do campo; o financiamento das

pesquisas voltadas para o desenvolvimento da educação do/no campo e

quilombola, do ponto de vista da formação de professores.

No âmbito estadual foi anunciado o Bolsa Jovem

Rural, durante o lançamento do Plano Safra 2012/2013. Esse programa é fruto

do acúmulo das elaborações dos movimentos sociais, em especial, da Fetraf-

Sul que pautou o Governo e também dos debates fomentados na Assembléia

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Legislativa, como a realização do Grande Expediente, no dia 16/08/2011, que

tratou dos desafios de trabalho e de educação para a juventude, propôs ações

para que os jovens permaneçam no campo com boas condições de vida;

Sugeriu a criação de um programa governamental de incentivo para os jovens

da agricultura familiar e das cidades, nos moldes do Bolsa Família, chamado

de Bolsa Jovem. Também contou com a presença da Secretária Nacional da

Juventude, Severine Macedo.

O Bolsa Jovem rural prevê que os moradores do

campo matriculados no Ensino Médio poderão receber um benefício mensal

estimado em R$ 400,00. Parte deste recurso fica para o uso do estudante e a

outra parte destina-se a uma poupança para subsidiar projetos na propriedade

onde o educando vive, por meio do monitoramento técnico da escola. O

investimento inicial é de 12 (doze) milhões e beneficiará em torno de 3.000

(três) mil jovens. Trata-se de uma conquista histórica, que denota a

sensibilização do Governo Estadual frente à problemática vivenciada pelos

jovens do meio rural e também a sinalização de que estamos no caminho certo,

implementando as condições para uma política estadual de estímulo à

permanência dos jovens no meio rural, produzindo alimento de forma

sustentável, preservando o meio ambiente e a biodiversidade e vivendo com

dignidade. Este quadro não traduz simplesmente um sonho, sinaliza um futuro

possível.

No intuito de discutir, promover debates e apresentar

soluções e alternativas é que propusemos, em primeiro lugar, a constituição de

uma Frente Parlamentar que contou com a adesão significativa dos deputados

estaduais e realizamos várias atividades, reuniões, audiências com órgãos

governamentais para tratar do tema.

Na sequência apresentamos o Projeto de Lei nº

297/2011 que institui a Política Estadual de Incentivo à Permanência de Jovens

e Adultos no Meio Rural por meio da Qualificação da Oferta Educacional. O

Projeto teve Parecer Favorável do Deputado Edson Brum, que foi o relator na

Comissão de Constituição e Justiça, com posterior encaminhamento para as

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comissões de mérito. Destacamos o apoio ao Projeto, por parte das entidades

que trabalham com a Pedagogia da Alternância e também o fato do mesmo

constituir um marco da luta pela Educação do/no Campo neste Estado.

Criamos a presente subcomissão que debateu o

tema em três Audiências Públicas, uma delas realizada na Assembleia

Legislativa e as demais nos municípios de Frederico Westphalen e Santa Cruz

do Sul. Essas audiências contaram com a presença de parlamentares da Casa,

das comunidades escolares do meio rural, Casas Familiares Rurais, Escolas

Famílias Agrícolas, representantes das Secretarias de Educação, Estadual e

Municipais, do Ministério Público, de entidades, Fetraf, Fetag, Via Campesina,

de prefeitos, universidades e ONGs. Foram realizadas visitas à Escolas,

audiências com o Secretário Estadual de Educação, entre outras ações. Os

debates e conclusões apresentadas encontram-se integralmente transcritos no

presente relatório, na relação das atividades desenvolvidas pela subcomissão.

Também nos reunimos em Brasília com o

Coordenador do Pronacampo do Ministério da Educação e Cultura e com o

Ministro Pepe Vargas, sendo que em todas as ocasiões externamos a nossa

preocupação com a situação atual da Educação do/no Campo, bem como

frisamos a necessidade de oferta de um modelo educacional adequado à

realidade dos jovens que vivem no meio rural e de investimento, propiciando

mais qualidade de vida para aqueles que vivem no campo.

Para Paulo Freire “educar é fazer refletir sobre a

realidade existencial”. Destaca ainda, que a educação está intimamente ligada

à realidade, ao contexto social onde vivem professores e alunos e o ato de

conhecer comunga com aquilo que se conhece. Isso demonstra que existe um

evidente descompasso no atual modelo pedagógico ofertado aos jovens que

vivem no meio rural, que precisa ser superado urgentemente.

A educação tem função de libertar, de criar

identidade, de emancipar. Assim, o ato de educar não pode se efetivar

distanciado da realidade vivenciada, sob pena de comprometer radicalmente

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todo o processo educativo. Essa é a situação que queremos compartilhar,

debater, o que nos moveu a criar esta Subcomissão, a apresentar um projeto

de lei na Assembléia Legislativa, a realizar audiências públicas para fomentar o

debate e sensibilizar os órgãos de governo e a sociedade civil.

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ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELA SUBCOMISSÃO E ATIVIDADES

PARALELAS

Foram realizados os seguintes eventos para tratar

da Educação do/no Campo e PL 297/2011:

1 - AUDIÊNCIA PÚBLICA NA ASSEMBLEIA

LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

O SR. PRESIDENTE (Ernani Polo – PP) – Declaro

aberta a presente audiência pública conjunta da Comissão de Agricultura,

Pecuária e Cooperativismo e da Comissão de Educação, Cultura, Desporto,

Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa, a qual tratará da educação no

campo. Esta audiência pública foi uma proposição do deputado Altemir Tortelli.

Registro a presença dos deputados Altemir Tortelli e

Heitor Schuch.

Convido a comporem a mesa dos trabalhos o

coordenador-geral de Políticas de Educação do Campo do Ministério da

Educação, Sr. Antônio Lídio de Mattos Zambon; o secretário de Estado do

Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo, Sr. Ivar Pavan, ex-deputado

desta Casa; a procuradora de justiça Maria Regina Fay de Azambuja; o ex-

prefeito de Palmeira das Missões, ex-deputado estadual e diretor da Secretaria

de Estado da Educação, Sr. Antônio Marangon, aqui representando o governo

do Estado; o representante da Associação Gaúcha Pró-Escolas Famílias

Agrícolas – Agefa –, Sr. Adair Pozzebon; e a representante da Associação

Regional das Casas Familiares Rurais do Rio Grande do Sul – Arcafar-RS –,

Sra. Elisandra Manfio Zonta.

(O Sr. Presidente procede ao registro das entidades

representadas.)

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Nesta audiência pública será debatido um assunto de

fundamental importância, com o intuito de que quem vive na terra, quem mora no

interior tenha efetivamente melhores condições de vida. Esse trabalho está atrelado

diretamente à sucessão familiar, à sucessão rural. Cabe a este Parlamento propiciar

essa discussão, para que possamos construir mecanismos para evitar o êxodo rural

que, infelizmente, vem ocorrendo nas últimas décadas de forma muito acentuada.

Precisamos inverter esse processo.

Venho de um Município do interior – meus pais

ainda moram no interior –, assim como outros colegas deputados. O ex-

deputado Marangon, que é de Palmeira das Missões, sabe da dificuldade de se

estimular, motivar o jovem a permanecer no campo trabalhando, produzindo e

fazendo a sucessão familiar.

É importante esse mecanismo, essa discussão para

que possamos criar alternativas e, efetivamente, possamos dar a nossa

contribuição e buscarmos melhores condições de motivação para que o jovem

continue no campo produzindo, trabalhando e gerando emprego e renda

também para sua família.

O deputado Altemir Tortelli, proponente desta

audiência pública, a partir de agora vai coordenar os trabalhos e oportunizar

aos convidados contribuírem com o debate.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Bom a dia a todos e a todas.

Com essa energia e a força das nossas vozes

juntas, quero trazer um abraço e agradecer a cada um a presença e aos

deputados Ernani Polo, Heitor Schuch e Alceu Barbosa.

O SR. PRESIDENTE (Ernani Polo – PP) – O nosso

querido deputado Alceu Barbosa é o presidente em exercício da Assembleia

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Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. É uma alegria termos aqui a

presença do presidente em exercício da Assembleia Legislativa.

Seria importante ouvirmos a manifestação do

presidente, embora sua agenda esteja concorrida em função das atividades na

presidência. Desde já agradecemos pela honra de termos sua presença nesta

audiência pública.

O SR. PRESIDENTE ALCEU BARBOSA (PDT) –

Bom dia a todos.

Cumprimento o presidente da Comissão de

Agricultura, deputado Ernani Polo; o colega de comissão, deputado Altemir

Tortelli, que nos proporciona esta audiência pública; o deputado Heitor Schuch;

os demais colegas que compõem a mesa; as senhoras e os senhores.

Orgulhosamente, faço parte da Comissão de

Agricultura, que tem feito um trabalho muito interessante no sentido de discutir

questões da terra, da agricultura. O deputado Altemir Tortelli tem-se

notabilizado na defesa intransigente da pequena e da média propriedade e

também na questão da educação dos nossos homens e mulheres que

trabalham na terra.

A educação é importante em qualquer segmento da

sociedade, e muito mais no segmento da agricultura. Com esse segmento

valorizado, a educação do homem e da mulher do campo se torna muito

importante. Temos mecanismos para isso e precisamos divulgá-los.

Tive a satisfação de conhecer a Escola Estadual

Técnica de Agricultura – EETA –, em Viamão, e fiquei muito impressionado

com a qualidade do seu ensino técnico.

O nosso filho ou nossa filha que se forma técnico

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agrícola lá, tenho certeza, sai com cabedal de conhecimento muito importante.

Esse é só um exemplo. Muitas coisas mais há aí e muitas outras podem vir.

Cada vez que estudamos e trabalhamos essa questão da educação, vemos

que o futuro está descortinado. Podemos fazer o que quisermos que não

vamos, em nível da nossa cidade, do nosso Estado e do nosso País, a lugar

nenhum se não tivemos como base a educação. Para mim, educação é

fundamental, educação é tudo.

A Comissão de Agricultura tem esta qualidade: todos

nós, homens e mulheres, fomos criados no campo. Sou natural de São José

dos Ausentes, interior de Bom Jesus, que hoje é Município, mas tenho uma

pequena propriedade rural em Muitos Capões também. Sei da dificuldade que

é viver no campo. Só quem vive no campo sabe como funciona. É preciso

saber tirar leite, tratar de vaca magra e, agora, enfrentar a questão da seca.

Em Muitos Capões, o rio Saltinho é o grande divisor.

Na divisa do meu campo com o do vizinho não há cerca, apenas o rio Saltinho.

Quando some o gado, onde está? Está passando por dentro do rio Saltinho. O

cavalo passa sem molhar o casco. E agora, onde se vai dar água?

Quem não vive só do campo ainda dá um jeito. Eu

sou advogado, deputado, mas para os homens e mulheres que vivem lá no

campo, é difícil tirar o sustento. É muito importante que possamos educar e

melhorar a condição de vida dessas pessoas.

Venho aqui cumprimentar a comissão. Tenho a

função de presidir a Casa até o final de semana e tenho de desempenhar bem

essa tarefa. Desejo a todos uma boa reunião e que o Patrão Velho lá de riba

abençoe a todos. Muito obrigado.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Agradeço ao presidente em exercício as palavras e a presença e aos

deputados da Comissão de Educação por terem aprovado a realização desta

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audiência conjunta.

A Comissão de Agricultura tem quatro meses para

fazer o debate sobre educação no meio rural. Apresentamos no ano passado

um projeto de lei com a perspectiva de contribuir na formulação de uma política

de educação para o meio rural no Rio Grande do Sul. Temos também a

articulação de uma frente parlamentar da Assembleia Legislativa, criada no ano

passado.

A ideia é aproveitarmos este debate o máximo

possível, aproveitando a presença do Antônio Zambon, que coordena o

trabalho de educação no meio rural em nível federal e também o Pronacampo,

que tem um destaque importante. Quero agradecer-lhe pela disposição de vir

ao Rio Grande do Sul.

É importante ouvirmos aqui o que há de políticas

públicas ou possibilidades e as experiência importantes e concretas da Agefa e

da Arcafar, que aqui estão representadas. Também ouviremos a opinião das

entidades que representam o conjunto dos agricultores familiares, que são a

Fetraf, a Fetag e a Via Campesina. Encerrando, abriremos a palavra aos

demais presentes.

Com a palavra o coordenador-geral de Políticas de

Educação do Campo do Ministério da Educação, Sr. Antônio Lídio de Mattos

Zambon.

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Deputado Altemir Tortelli e o Coordenador do Pronacampo Antônio Lídio de Mattos Zambon

O SR. ANTÔNIO LÍDIO DE MATTOS ZAMBON –

Saúdo os representantes do governo do Estado, nas pessoas do secretário Ivar

Pavan e do Sr. Antônio Marangon. Uma saudação muito especial ao presidente

desta comissão, deputado Ernani Polo, e ao deputado Altemir Tortelli,

proponente desta audiência pública.

Quero saudar também os parceiros das importantes

entidades que fazem parte dos Centros Familiares de Formação por

Alternância; o Adair; a Dra. Maria Regina; e a todos os atores sociais,

educadores e educadoras e representantes de movimentos sociais e sindicais

do campo.

É com satisfação que viemos aqui, em nome do

governo federal, em nome do ministro Aloizio Mercadante e da secretária

Cláudia Dutra, apresentar o Programa Nacional de Educação do Campo.

A Secretaria de Educação Continuada,

Alfabetização, Diversidade e Inclusão é muito ampla, que engloba toda a

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diversidade. Na nossa secretaria, temos a educação do campo – da qual sou o

coordenador –, a educação escolar indígena, a educação das relações

étnicorraciais, a questão dos direitos humanos, a questão ambiental e a

questão de gênero e toda a questão da diversidade sexual. Vejam que a nossa

secretaria engloba um leque muito grande de coordenações e diretorias.

Apresento aqui a estrutura, a base para a educação

do campo. A nossa política está alicerçada nessa base legal.

Quero fazer, em primeiro lugar, um breve relato de

como surgiu o Programa Nacional de Educação do Campo. O Pronacampo

surgiu a partir do decreto nº 7.352, de 4 de novembro de 2010, no governo

Lula. Esse decreto desenha a política nacional de educação do campo para o

Brasil. Esse decreto precisava ser implementado, regulamentado. A partir

daquilo que o decreto provocou, mais adiante apresentarei os princípios da

educação do campo, das demandas do sistema de ensino, das redes

municipais e estaduais, e das demandas dos atores sociais, dos movimentos

sociais do campo – Via Campesina, Contag, Fetraf, Movimento de Mulheres,

MPA –, do conjunto de atores sociais do campo que, anualmente, batem à

porta do governo federal.

Na Comissão Nacional de Educação do Campo, em

uma reunião em maio do ano passado, formamos um grupo de trabalho

extremamente representativo. Esse grupo contava com a participação do MST,

da Contag, da Fetraf, da Resab, Consed, Undime e representações do governo

federal, a Secretaria do Ministério da Educação, evidentemente, o MDA, a

Secretaria Nacional da Juventude, a Secretaria de Mulheres, a Seppir, a

Embrapa. Um conjunto de atores sociais foram se agregando ao nosso grupo

de trabalho, dependendo do tema, e fomos construindo o programa de uma

forma coletiva. Foram várias pessoas que participaram da elaboração do

Pronacampo, que foi lançado no dia 20 de março pela presidenta Dilma e o

ministro Aloizio Mercadante. Esse foi um pequeno histórico da iniciativa.

A política de educação do campo não é algo novo. A

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nossa Constituição é um marco. A Constituição foi construída pelos atores

sociais num momento de final de regime militar, quando as forças sociais se

rearticulavam para iniciar o processo democrático. Já na nossa Constituição

aparece a questão da educação básica como um direito subjetivo.

Na LDB, isso já está mais detalhado o que se refere

ao campo. A LDB, vejam bem, em 1996, já colocou que a questão da educação

básica para a população do campo deve prever adaptações, deve prever a

realidade do campo, com conteúdos, com metodologias e com organização

própria.

Vejam bem, isso em 1996. Nas demais resoluções e

documentos que vou apresentar, isso vai ser retomado. Na prática, não estava

sendo implementado.

Outro grande marco foi a resolução nº 1, de 2002,

que instituiu as diretrizes operacionais para a educação básica do campo. A

resolução nº 2 detalha alguns aspectos importantes no que se refere ao

fechamento de escolas e à manutenção da escola do campo.

Temos o parecer nº 1, de fevereiro de 2006, sobre a

pedagogia da alternância. Pedagogia da alternância é reconhecida. Os dias

letivos são cumpridos como algo que respeita tudo o que a legislação

brasileira, em termos de educação, coloca. O parecer da pedagogia da

alternância é um marco.

Na resolução nº 2, de 2008, há aspectos

fundamentais, alguns dos quais vou pontuar. O primeiro aspecto é fundamental

que os atores que estão aqui cobrem dos gestores locais: Art. 3º – A educação

infantil e os anos iniciais do ensino fundamental sempre serão oferecidos nas

próprias comunidades rurais, evitando-se o processo de nucleação e

deslocamento das crianças.

Aí temos uma excepcionalidade: Parágrafo 1º – (...)

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os anos iniciais, excepcionalmente, poderão ser oferecidos em escolas

nucleadas, com deslocamento intracampo. Então, se temos escolas nos anos

iniciais com um número reduzido de estudantes e se o gestor local entender

que pode fazer uma nucleação no próprio campo, respeitando a comunidade,

sendo consultada essa comunidade, isso é possível desde que seja intracampo

e o tempo de transporte não seja uma coisa absurda.

É importante destacar, nesta reunião na Assembleia

Legislativa em que estão presentes representantes do governo do Estado, que

cabe aos sistemas determinar o tempo máximo de transporte. Nós, do governo

federal, não determinamos o tempo máximo do transporte, porque, num País

continental como o Brasil, temos diversas realidades no campo.

Temos o campo da floresta. O pessoal lá fala que

não é campo, que é floresta. Mas o nosso conceito de campo engloba floresta.

Na Região Norte, duas ou três horas de transporte é um tempo razoável,

porque se dá por barcos, e um barco anda o equivalente a 20 quilômetros por

hora. As distâncias são enormes. Então, cada sistema deve regrar o tempo

máximo que as crianças podem ficar no transporte. Isso é muito importante.

Sabemos de realidades de estudantes que ficam, às vezes, até quatro horas,

mesmo aqui no Rio Grande do Sul. É fundamental uma discussão para

regramento do tempo máximo de transporte.

O art. 4º tem um elemento fundamental: a

comunidade deve ser ouvida, deve participar da decisão de quando vai ocorrer

a nucleação.

Vou adiantar o tema e pular para o Programa

Nacional de Educação do Campo. Nesse programa, há um dispositivo para

evitar o fechamento de escolas. Enviamos ao Congresso Nacional um projeto

de lei alterando a LDB para que, quando houver a intenção de fechamento de

uma escola, haja regras. Assim como existem regras para abrir escolas, o

conselho municipal ou estadual tem que autorizar o fechamento a partir de uma

série de requisitos, de uma série de critérios.

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Entendemos que, para o fechamento mesmo, a

primeira questão é que a comunidade interessada seja ouvida. O segundo

aspecto é que tenha passado pelo conselho municipal ou estadual. Com essa

medida, vamos frear ou limitar os fechamentos de escolas no campo. Só nos

últimos cinco anos, mais de 13 mil escolas do campo foram fechadas.

Temos a resolução nº 4, de 2010, que são as

diretrizes curriculares nacionais, na qual há uma sessão específica sobre a

educação básica do campo, repetindo aquilo que está lá na LDB de 1996. Os

documentos vão reiterando a questão da educação do campo, da política de

respeito às questões específicas, das particularidades do campo brasileiro.

Há um elemento importante no parágrafo único, que

é a questão da pedagogia da terra, da pedagogia da alternância e de se

trabalhar a aprendizagem com a articulação entre o escolar e o laboral, do

trabalho como um princípio educativo. Esse é um elemento importante

especialmente para a agricultura familiar. E aqui não estamos abordando a

exploração do trabalho infantil, mas de trabalhar esse aspecto de forma

pedagógica, educativa.

Aqui entram elementos do Pronacampo, o Programa

Nacional da Educação no Campo, que oferece material didático. No ano

passado, lançamos o PNLD Campo, Programa Nacional do Livro Didático para

as Escolas do Campo. Como diria o ex-presidente Lula, é a primeira vez, na

história deste País, que teremos um livro didático específico para a realidade

do campo. As escolas do campo poderão escolher entre quatro coleções:

Multisseriada Interdisciplinar Temática, Seriada Multidisciplinar Integrada,

Seriada Multidisciplinar por Área e Multisseriada Multidisciplinar por Área.

Existem, portanto, quatro possibilidades de escolha.

São livros do 1º ao 5º ano que serão escolhidos em novembro e serão

entregues a partir de fevereiro de 2013.

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Aqui faço um alerta. Há aqui atores sociais que

podem fazer a interlocução com os gestores locais. O PNLD enviou uma

correspondência para os Municípios informando que as escolas de séries

iniciais que possuem mais de 100 matrículas poderão escolher o livro urbano,

mas, se entenderem que preferem um livro específico para o campo, não

escolham agora, de 15 de junho a 1º de julho, e deixem para fazer essa opção

em novembro. E os Municípios já receberam a senha para fazer isso.

Qual é a diferença entre essa escolha? O livro

urbano é escolhido por escola, e o livro do campo é escolhido por rede. Assim,

a rede municipal do Município x escolhe uma dessas quatro coleções. E a rede

estadual do Município x também. Isso para que possamos realizar um trabalho

de formação desses profissionais a partir de uma proposta pedagógica que

está implícita no material didático escolhido.

E por que há essa liberdade de escolha?

Justamente porque cada rede tem uma proposta pedagógica e necessita de

material didático condizente com ela.

Aqui estão os princípios da educação no campo que

constam do decreto nº 7.352, que são elementos fundamentais. Qualquer

proposta pedagógica do campo brasileiro tem de levar em conta estes

elementos, quais sejam: respeito à diversidade do campo em todos os

aspectos – sociais, culturais, ambientais, políticos, econômicos, de gênero,

geracional, de raça e etnia. Percebam que isso já constava de legislações

anteriores. Mais: incentivo à formulação de projetos pedagógicos específicos,

conforme a realidade local; valorização dos diferentes saberes das pessoas do

campo – aquele saber tradicional, familiar, que não o saber acadêmico –,

estabelecendo uma relação com o conhecimento científico e acadêmico

direcionado a um projeto de emancipação humana; controle social – a

comunidade e os movimentos sociais têm que ter o controle social da

educação no campo; trabalhar com diferentes espaços e tempos – não ficar

preso apenas ao espaço da escola. A educação não se faz essencialmente

dentro dos muros escolares.

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Por último, uma política de formação de professores.

Destaco outro elemento do decreto que considero

extremamente pertinente. Hoje tramita no Congresso Nacional o projeto que

prevê o Plano Nacional de Educação, que deverá ser votado neste ano. Isso

não impede que os Municípios realizem discussões paralelas acerca dos seus

próprios planos – os planos estadual e municipal de educação – e que eles

incluam a educação no campo.

Portanto, é fundamental o que afirma o inciso I do

art. 9º, que os planos estadual e municipal de educação devam contemplar

diretrizes e metas para o desenvolvimento e para a manutenção da educação

no campo. Esse é um trabalho que todos devemos abraçar, de garantir que a

educação no campo conste dos planos de forma explícita, com metas,

diretrizes, enfim, estabelecendo como de fato será promovida a educação no

campo.

Outro elemento importante que o decreto aponta

prevê equipes municipais e estaduais que trabalhem com as questões

pedagógicas que envolvam o campo. E que se criem instâncias, com a

participação da sociedade, dos movimentos sociais e das universidades para

formular a política de educação no campo e seu acompanhamento.

Agora vou abordar o Pronacampo – o Programa

Nacional da Educação no Campo. Há mais de 76 mil escolas no campo, o que

representa em torno de 50% das escolas brasileiras e que incluem mais de 6

milhões de matrículas e mais de 342 mil professores. Dessas escolas, mais de

13 mil foram criadas apenas nos últimos cinco anos.

O Pronacampo é um conjunto de ações articuladas

que assegura a melhoria do ensino nas redes existentes, como formação de

professores, produção de material didático, acesso à recuperação da

infraestrutura e qualificação da educação no campo em todas as etapas e

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modalidades conforme o nosso decreto. São quatro eixos: gestão e práticas

pedagógicas, formação de professores, educação de jovens e adultos,

educação profissional e tecnológica, infraestrutura física e tecnológica.

Ao PNLD Campo, que já abordei, acrescento o

PNBE – Programa Nacional das Bibliotecas Escolares. Estamos com um edital

aberto para que os intelectuais – autores e editoras – possam apresentar

propostas de livros para os anos finais do ensino fundamental e para o ensino

médio que sejam livros temáticos de apoio, que servirão para a pesquisa dos

estudantes e para apoio aos professores. Esses livros serão encaminhados a

todas as escolas brasileiras, e não apenas às do campo. Os temas envolvem

campo, indígenas, quilombolas, questão fundiária, da inclusão, enfim, todos os

aspectos que envolvem a Secad. Esse material seguirá para análise e será

distribuído no ano que vem.

Com relação às classes multisseriadas, temos no

Brasil hoje mais de 54 mil escolas que têm turmas multisseriadas, alcançando

quase 1 milhão e meio de estudantes. Há um programa prevendo formação de

professores, disponibilização de material didático e distribuição de kits

pedagógicos, que incluem jogos educativos para apoiar a educação.

Há um programa novo que se chama Escola da

Terra, que propõe que as escolas multisseriadas, com reduzido número de

matrículas – e há muitas delas no campo –, trabalhem por ciclos: um ciclo para

a alfabetização, do 1º ao 3º ano, e um ciclo da infância, que englobaria o 4º e o

5º anos. Isso para evitar que as múltiplas idades referentes às cinco séries

iniciais frequentem uma única sala. É necessário que seja feita uma divisão

para garantir a qualificação do ensino.

O Mais Educação no Campo é uma realidade. Já

abrimos e já encerramos o processo de adesão. Nossa meta para estes três

anos – 2012, 2013 e 2014 – era de atingir 10 mil escolas, mas apenas neste

ano 9.862 escolas do campo aderiram ao programa.

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Portanto, há uma necessidade de que sejam

realizadas novas iniciativas para o campo.

Aqui há uma proposta pedagógica voltada para o

campo. Não se trata de uma transposição do Mais Educação urbano para o

campo. Reavaliamos e reconstruímos aquele programa, inserindo o

acompanhamento pedagógico para qualificar as escolas do campo.

Além disso, agregamos a agroecologia – que é um

elemento importante voltado à agricultura familiar –, a iniciação científica,

esporte e lazer, atividades culturais – em que entra a cultura regional – e a

memória e história dos povos tradicionais, mais voltada às escolas

quilombolas.

Dos mais de 342 mil professores, 182 mil possuem

formação superior. Isso significa que 46,76%, ou seja, mais de 160 mil

professores não têm educação superior e trabalham no campo brasileiro.

Temos que dar uma resposta a isso.

Temos a Licenciatura em Educação do Campo, de

universidades federais e estaduais e de autarquias municipais, que oferecem

esse curso. Atendemos a um número pequeno de professores, em torno de 5

mil, e queremos dobrar isso. Estamos aguardando a aprovação de um projeto

de lei que está no Congresso Nacional, o projeto de lei referente aos cargos

para professores da rede federal, para a expansão do Reuni e para a expansão

dos institutos federais.

Quando tivermos aprovado esse projeto, poderemos

lançar edital para que novas universidades brasileiras, as federais, ofereçam a

Licenciatura em Educação do Campo. Então, dependemos do Congresso

Nacional.

Também para formar esses professores vamos

utilizar a Universidade Aberta do Brasil, através dos seus polos, para qualificar

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esses profissionais, além de cursos de especialização e outros ofertados pela

Capes.

Também há linhas de pesquisa específica para a

educação do campo. Temos o Observatório da Educação via Capes, que vai

oferecer recursos para pesquisadores que queiram estudar a situação do

campo e das comunidades quilombolas.

Temos vagas para a qualificação dos trabalhadores

do campo. São 180 mil vagas para a formação profissional de trabalhadores e

jovens do campo. Essas vagas serão demandadas pelo Ministério do

Desenvolvimento Agrário. Estão levantando a demanda, e a oferta se dará

pelos institutos federais e pelos parceiros via Pronatec. Temos 180 mil vagas, e

para este ano são 30 mil em função do atraso do lançamento do programa, a

partir do segundo semestre. Através dos Territórios da Cidadania está se

levantando a demanda dos jovens do campo para a qualificação profissional.

É importante destacar os Centros Familiares de

Formação por Alternância. No dia 24 último, houve uma reunião, solicitada por

esses atores sociais, com o ministro Aloizio Mercadante, em que pediram que

esses centros familiares pudessem fazer essa qualificação profissional. O

ministro sinalizou que sim. Então, que se faça uma indicação de quais são as

organizações familiares que podem dar essa qualificação profissional, e os

institutos federais vão certificá-las, dizendo que elas têm condições de fazê-lo.

O ministro está aguardando o encaminhamento dessas organizações que

tenham essas condições para credenciá-las e elas poderem participar do

Pronatec Campo.

As outras 300 mil vagas são para a Educação de

Jovens e Adultos – EJA – com qualificação profissional. A nossa meta são 100

mil por ano. Neste ano, como isso está atrasado, devemos começá-lo no

segundo semestre, se der certo. Baixamos a meta para 70 mil sem diminuir a

meta final. São aqueles jovens de 15 anos ou mais que não concluíram o

ensino fundamental. São jovens do campo – aqui, tudo é referente ao campo.

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Vamos lançar uma resolução para os Estados e

Municípios aderirem à EJA Campo, e haverá qualificação profissional também.

Então, além da elevação da escolaridade, entra a qualificação profissional, que

se dará pelas redes estaduais que tenham condições de fazê-lo, pelos

institutos federais ou pelos Centros Familiares de Formação por Alternância

que puderem fazer isso devidamente com conveniados.

Há um elemento importante: pagaremos adiantado.

A EJA funciona assim: o Estado e o Município oferecem isso, que é lançado no

senso do ano que começa, e no ano seguinte se recebe o recurso via Fundeb.

Nesse caso, adiantamos o recurso do primeiro ano para funcionar como um

atrativo para os Estados e Municípios oferecerem a EJA.

Há um quadro em que mostramos as dificuldades de

infraestrutura que temos no campo brasileiro. Nós, do governo federal, não

queremos tapar o sol com a peneira. Mostramos as nossas dificuldades e

queremos enfrentá-las. Temos 90% das escolas do campo sem acesso à

Internet. São mais de 68 mil escolas. Temos 11 mil escolas sem energia

elétrica, hoje. Temos mais de 7 mil escolas sem água potável – não é nem

inadequada: não há. E mais de 11 mil não têm esgoto sanitário. Queremos

enfrentar isso.

Para a questão da energia, é muito simples. Mandei

correspondência para mais de mil Municípios e para gestores estaduais. Só

preciso de uma informação: o georreferenciamento da escola, a localização. O

endereço já tenho pelo senso escolar. As concessionárias de energia dizem

que não encontram a escola. Então, precisamos do georreferenciamento:

latitude e longitude.

Trezentos me responderam; os outros, não. Já

mandei correspondência para o Ministério das Minas e Energia dentro do

programa Luz para Todos. Na medida em que fomos recebendo resposta, a

encaminhamos para lá. Até o final do governo Dilma não teremos escolas no

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campo sem energia, desde que nos mandem a localização.

Com relação à água potável, tenho uma lista aqui,

no Rio Grande do Sul, várias escolas apontaram no censo que não têm

energia. Para receber recursos precisa ter unidade executora própria. Esse

recurso é pelo Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE –, que tem que ter

unidade executora própria e o governo repassa o dinheiro direto para a escola

colocar água e saneamento se assim necessitar.

Dessas escolas apenas 5.850 tinham unidade

executora, a meta são 1.000 escolas. No ano passado, eram 300 escolas, mas

não chegou a 60 escolas.

É preciso que a escola esteja em dia com o governo

federal e mandar foto da escola, porque se estiver caindo é necessário fazer

uma escola nova, não adianta apenas colocar água. A foto serve para

verificarmos se a escola tem a condição mínima de receber água. E assinar um

termo de referência assinado pelo gestor local, afirmando que vai utilizar o

recurso conforme a nossa resolução.

O recurso está disponível para 1.000 escolas este

ano, a resolução está para sair, as primeiras 1.000 que apresentarem vão levar

o recurso. Fiquem atentos, quando estiver na página é apresentar a

documentação para receber o recurso. São 30 mil reais repassados.

O PDDE Campo é um recurso repassado para as

escolas no campo que têm unidade executora própria. Este ano a cota é de 7

mil escolas, têm que ter unidade executora própria e estar dentro do critério,

que este ano é escolas localizadas em assentamento, em comunidades

quilombolas, escolas indígenas e demais escolas do campo que tenham de 15

a 40 matrículas.

Também dinheiro direto na escola, 12 mil reais para

pequenos reparos e algum material permanente necessário na escola que seja

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importante.

Em relação à questão da construção, nossa meta de

construção é de 3 mil escolas.

O que é necessário para construir no campo? Que o

gestor local, seja representante do Estado ou do Município, e coloque no Par a

solicitação.

Eu faço listas de prioridades, mas tem que fazer via

Par, tem que fazer um diagnóstico, dizer que tem demanda e solicitar via Par

para ser atendido. Caso contrário, não temos como atender. Temos recursos

para atender 3 mil escolas.

Da rede do Centro Familiar de Formação por

Alternância – Ceffas – mandamos uma medida provisória para o Congresso

Nacional, permitindo, alterando a lei do Fundeb, que a Rede Ceffas possa fazer

convênios com Estados e Municípios para receberem recursos do Fundeb e

outros recursos federais, materiais didáticos, etc.

O relatório já foi feito, agora está aguardando a

votação da medida. A partir disso os Estados e Municípios poderão fazer o

convênio com a rede e receber os recursos do Fundeb.

Em relação ao transporte, também tem que ser

solicitado via Par, o Município, a partir do número de matrículas que tem no

campo, solicitará o número de veículos e faremos a seleção. Temos 2.000

ônibus para este ano.

O projeto de construção para o campo, dentro do

Pronacampo, é um projeto por módulos, desde o mais simples, com a parte

administrativa, a direção da escola, sala de professores e secretaria – nas

escolas menores é mais integrado –, o módulo de serviço, com cozinha,

depósito, banheiros, e refeitório – para as maiores –, e módulo pedagógico de

duas, quatro, seis salas.

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A escola pode ser completa, tendo o módulo

administrativo, pedagógico, alojamento de professores – caso o professor

necessite residir na escola preciso –, o módulo de educação infantil, que é

diferente do Pró-Infância, para ter uma creche junto à escola do campo, o

módulo de serviço, no qual entra o refeitório, alojamento de alunos, se for

trabalhar com a pedagogia de alternância, e a quadra coberta, em escolas que

tenham a partir de quatro salas.

O módulo terra é um módulo para atividades práticas

de acordo com as propostas pedagógicas de cada região.

E o modelo top de linha é completo, com seis salas,

educação infantil, alojamento de professores, quadra coberta, para uma escola

grande, nucleada, com toda a infraestrutura, ainda podendo agregar a isso

laboratórios profissionalizados no Brasil. Para trabalhar com ensino médio,

poderia solicitar e agregar a esse modelo.

Esse modelo é pré-moldado. Nossas equipes

técnicas ainda estão trabalhando nos materiais, respeitando as questões

regionais. A Adriana, minha colega presente, teria mais alguns detalhes, se

algum gestor tiver dúvida sobre a questão da construção e o modelo que há

hoje. São uma, duas, quatro, seis, até 12 salas, que podem ser solicitadas pelo

PAC.

Por fim, deixo uma mensagem para todos os atores

sociais. A música chama-se Lições da Terra, de Ribamar Machado, com letra

de Humberto Gabi Zanatta, compositor nascido em Taquaruçu do Sul, tendo se

radicado em Santa Maria aos dois anos de idade. Lerei uma estrofe, que ficará

à disposição dos senhores – só o termo pequeno agricultor mudaria para

agricultura familiar para ficar perfeito:

Pequeno agricultor, tu és o grande

Plantador da nova roça que sonhamos

Do calo de tuas mãos há de brotar

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O fruto da justiça que buscamos.

Com essa mensagem, encerro minha participação,

agradecendo a atenção de todos e me colocando à disposição. Muito obrigado.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Registro a presença do coordenador-geral da Unicafes do Rio Grande do Sul,

Clamir Balén; do presidente da Associação Gaúcha de Professores Técnicos

de Ensino Agrícola – AGPTEA –, Sérgio Cristani; da representante do Serviço

de Apoio de Formação em Educação da Faders, Larice Bonatto Germani; do

representante da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul, Diego Teixeira;

do vice-presidente de Espumoso; Roberto Carlos Iopp; e do professor de

Fontoura Xavier, Márcio Diniz.

Dando sequência aos trabalhos, concedo a palavra

ao Sr. Antônio Marangon.

O SR. ANTÔNIO MARANGON – Bom dia a todos.

Saúdo o deputado Altemir Tortelli, que organizou

esta audiência pública; o grande secretário, Ivar Pavan; o coordenador da

Educação do Campo do MEC, Antônio; e os demais componentes da mesa.

Vejo presente também o Valdir Stival, que pode

representar um pouco essa luta toda da casa familiar.

Saúdo, da mesma forma, os secretários municipais

de Educação, os agricultores e agricultoras e todos representantes de

entidades e autoridades presentes.

O governo Tarso Genro trata a questão do campo de

modo muito especial, dando a prioridade devida. Para isso, organizou-se por

meio da assessoria superior de Milton Viário, que é quem coordena as demais

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secretarias de Estado sempre que os movimentos sociais trazem

reivindicações a respeito do campo, seja na educação, na infraestrutura, ou em

qualquer área.

A partir dessa pauta que os movimentos colocam

para o governador, as demais secretarias se reúnem e tratam de dar a

resposta. No caso da Seduc, que represento nesta audiência, o secretário criou

um grupo especial para tratar da educação do campo no âmbito dessas

reivindicações, de que participa um membro de cada departamento. Eu e

outros fazemos parte desse grupo.

Esse é o desenho institucional de um governo que

prioriza o campo e que está governando em um período no qual é possível se

fazer algo. Os senhores têm conhecimento de que houve uma luta muito

grande, na qual movimentos sociais colocaram sua pauta de reivindicações,

suas exigências no sentido de que a legislação fosse mudada. E ela foi sendo

mudada paulatinamente.

O ano de 2010 foi um marco. Nele foi assinado o

decreto 7352, do presidente Lula, que resume o que tínhamos de legislação lá

trás e, também, o que precisava ser regulamentado. O Pronacampo, de certa

maneira, regulamenta como o decreto do presidente Lula deve funcionar.

Nós, aqui no Estado, estamos dentro da nova

legislação. É importante salientarmos que ela está projetada de acordo com

visão do campo.

Só agora, em 2012, o nosso País tem um livro

didático específico para o campo. A formação de professores específicos para

área rural começou em 2006, quando criamos a licenciatura de Educação do

Campo. Naquele ano foi criada essa licenciatura, e algumas universidades

aderiram à proposta de incluí-la em seus currículos.

Ainda hoje, no entanto, essa adesão é opcional. Não

há a obrigatoriedade de as universidades oferecerem essa disciplina para

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professores do campo.

Agora teremos isso. E, se conseguirmos aprovar o

projeto que pretende colocar mais professores atuando na rede pública federal,

poderemos trabalhar no sentido de que tais professores sejam,

especificamente, para a abertura de cursos.

Esperamos que a nossa universidade federal, aqui,

também se engaje nesse processo e que, no Rio Grande, possamos oferecer a

licenciatura de Educação do Campo.

Na zona rural do Rio Grande do Sul temos 670

escolas, 264.678 estudantes e 5.853 professores. E podemos afirmar que

100% dos professores que hoje trabalham no campo possuem graduação em

ensino superior. Dois deles, a penas, não possuem tal formação, mas notem

que não se trata de uma formação específica para o campo.

Isso não quer dizer que o antes era ensinado e o

que ainda agora é ministrado sejam conteúdos voltados para a realidade do

campo. Tínhamos, no Brasil, uma educação urbana, pela qual o centro de tudo

é a cidade. Agora contamos com os marcos legais, o material didático e a

formação, o que faz com que o campo seja visto e vivido de forma diferente.

Isso, no entanto, é um processo. Alguns Estados e

Municípios avançaram mais, enquanto outros avançaram menos. O Rio Grande

do Sul está diante de tal desafio, e a função do nosso grupo é justamente tratar

dessa questão. É com essa intenção, com essa ideia, que estamos aqui.

Dentro da Seduc, estamos trabalhando numa

proposta político-pedagógica baseada em um marco legal. Ela está em

construção, mas já temos muita coisa pronta. Baseamo-nos especialmente no

decreto de 2010, do presidente Lula, e já está em andamento um programa de

formação continuada específica para professores que trabalham nas escolas

do campo.

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Além disso, estamos implementando no campo,

dentro do possível, o Mais Educação e o turno integral, que vão dar outra

qualidade para a questão pedagógica e para os alunos. E, através do PAR e do

Pronacampo, estamos construindo novas escolas.

Há uma decisão do governo Tarso Genro no sentido

de não fecharmos mais nenhuma escola no Rio Grande do Sul. Nos últimos 10

anos, mais de 500 estabelecimentos de ensino foram fechados. Se hoje temos

670 escolas funcionando, isso significa que quase a metade delas foram

fechadas no Estado.

Fechar escola significa matar a comunidade. Quem

nasceu e vive no campo sabe do que estou falando, mas, infelizmente, é o que

tem acontecido em muitas das nossas comunidades. Por isso, além de não

fecharmos nenhum, decidimos construir novos estabelecimentos. Estamos com

vários projetos e com pelo menos seis escolas para serem construídas no

campo.

Também incluímos, nessa questão da construção,

algo que estamos chamando de PNO, ou seja, um plano de necessidades de

obras. Trata-se de uma visão que o governo do Estado vem implementado

através da Seduc, segundo a qual faremos intervenções nas escolas sempre

que necessário, mas não de caráter pontual, ou seja, arrumando banheiros ou

fazendo puxados para um lado ou para o outro.

Dividimos as intervenções de obras do governo do

Estado em três prioridades. A primeira é a emergencial e, inclusive, está

determinada por lei. Ela tem de ser mesmo emergencial, e quem determina

isso é um engenheiro da secretaria de Obras, em função de algum vendaval,

de destelhamentos, de redes elétricas que estão em pane.

Mas, fora isso, não faremos mais puxadinho para cá

e para lá. Quando fizermos intervenção, será com os 17 itens que compõem o

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PMO. Aí faremos uma reforma completa, com a ampliação necessária,

colocando refeitório onde não há, paisagismo, a questão da Internet e inclusive

da climatização. Vivemos num Estado em que isso não é luxo para as nossas

crianças. Temos um verão insuportável para quem está numa sala de aula e

um inverno muito frio. Lembro que, quando eu era criança, as professoras

levavam aquelas caldeiras de fazer polenta cheias de brasa. Tirávamos o

calçado e ficávamos com os pés na brasa. Hoje não há como ficar fazendo

isso, e temos outros recursos. O ar condicionado irá estar presente em todas

as intervenções que o Estado irá fazer.

Para 2012, o PMO prevê 428 escolas ampliadas e

reformadas. Dessas, 58 escolas estão no campo, com intervenção completa, e

mais 5, são escolas indígenas.

Estamos fazendo um desenho no departamento

pedagógico, a partir da nova legislação. A criança do campo, até a 5ª série,

não pode ser retirada da sua comunidade. Ela precisa ter aula onde mora.

Estamos organizando, em unidades pequenas, para que as escolas que têm

até 15, 20, 30 alunos sejam referenciadas numa rede, num polo, numa escola

central. Essa escola central poderá ser grande, inclusive ter ensino médio e dar

assistências às outras, porque, nas escolas multisseriadas, há um professor

que faz tudo. Teremos uma equipe itinerante que, a partir desse centro, irá

atender a essas unidades que estão ao redor das escolas para que não fechem

e para que tenham, enfim, um dinamismo tanto pedagógico como

administrativo.

O fechamento de escolas está ligado diretamente a

um dos maiores problemas que o Estado enfrenta hoje na educação e fora

dela, que é o estrangulamento do transporte escolar. Em cada escola que

fechou, os ônibus foram colocados na estrada para levar os alunos. Hoje há um

problema seriíssimo com o transporte escolar.

Os alunos do Estado são em número de 117 mil.

Investimos 95 milhões de reais. São 80 milhões de reais e mais 15 milhões de

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reais que o governo federal repassa via FNDE sobre os alunos do Estado. Por

isso, contamos junto. Como o FNDE retorna a partir das matrículas, esse

recurso vai para os alunos estaduais, e o Município recebe. São 80 milhões de

reais do Estado e mais 15 milhões de reais do FNDE. A Famurs fala em 80

milhões de reais, e falamos em 95 milhões de reais, porque é o que vem

realmente para o Município fazer o transporte. É muito dinheiro, só que isso

virou um saco sem fundo, porque não temos hoje, em nível de Brasil nem de

Estado, um estudo técnico que nos diga quanto custa o transporte de um aluno

em determinadas condições de área, de Município, de rodovia. Não há esse

estudo técnico. Cada ente federado que presta o serviço faz a sua conta e a

apresenta. Então, não há como contestar. Para isso, precisaria haver um outro

trabalho.

O FNDE está fazendo uma pesquisa, que deverá

estar pronta este ano. Iniciamos um trabalho junto com a Famurs. Temos o

entendimento de que é necessário, além desse estudo, haver alterações na lei

do Estado que está regrando hoje o transporte escolar e que tem dificuldade de

contemplar algumas das realidades que estamos buscando. Para a educação,

a questão do transporte escolar virou um calcanhar de aquiles. Precisamos

resolver isso.

Quando o nosso coordenador da educação no

campo anunciou que irá antecipar o Fundeb para que os Municípios e o Estado

possam iniciar o EJA, que é muito importante no campo, eu dizia que, se não

vier o recurso também para o transporte escolar, será uma ação inócua.

Hoje, no campo, não se conseguirá fazer nada se

não houver planejamento daquilo que se irá fazer junto com o transporte

escolar. Essa é a nossa realidade. Mais de 60% dos 117 mil alunos estão

sendo transportados do campo para a cidade. O que significa que precisamos

reverter essa realidade. Porém, para estancar uma tendência de alguns anos é

como frear um caminhão carregado serra abaixo. Houve uma compreensão

dos gestores de diferentes matrizes ideológicas de que o mais adequado seria

levar os alunos para a cidade, porque lá há Internet, enfim, um mundo

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maravilhoso que se dizia para a comunidade dos alunos. Se tem tudo isso de

bom, os pais consideraram o melhor, porque os filhos aprenderiam mais.

No entanto, não se discutia que educação os alunos

receberiam. Indo para a cidade, eles teriam um livro didático de junho e não de

novembro, um livro didático que trata da realidade da cidade. Este debate tem

que envolver todos os entes federados. Inclusive o Conselho Nacional de

Educação – não é oficial – está tentando regular o regime de colaboração, que

é o nosso grande desafio para construir um sistema nacional de educação que

determine as responsabilidades de cada ente federado.

Hoje, temos dificuldades em trabalhar a questão do

campo, especialmente, porque é onde se dá a relação maior com os

Municípios no transporte escolar, por exemplo. Há uma mentalidade dos dois

lados, Estado e Município, de que não estamos num regime de colaboração,

mas de confronto. Isso é teu e isto é meu.

Não queremos e não faremos essa prática. Alguns

educadores nos pedem para resolver o problema lá na ponta, de os alunos do

Município serem transportados pelo Município e os do Estado pelo Estado. Um

ônibus estaria atrás do outro, na verdade. Seria para o Sistema Nacional de

Educação, para o regime de colaboração uma falência, um atestado de

incompetência e de insensibilidade. Estamos trabalhando para que o regime de

colaboração aconteça na prática e o Estado faça a sua parte.

Com relação a essas dificuldades, o Estado está

pleiteando no PAR a possibilidade de nós também termos veículos. Não que

possamos administrá-los diretamente, mas colocá-los em convênio, em

comodato para o Município. Em algumas situações difíceis, poderemos colocar

ônibus além do recurso do Funderb, que tem retorno para os alunos serem

transportados. Que o Estado também apresente essa possibilidade.

Fizemos nossa inscrição, está no PAR e vamos ver

se conseguimos trabalhar essa difícil questão do transporte escolar na

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educação do campo, que é um grande desafio para todos nós.

Em termos de Secretaria de Educação, queremos

deixar aqui essa colaboração. Há uma proposta nossa em andamento.

Estamos aplicando recursos nossos e do governo federal na infraestrutura. A

questão pedagógica é a mais demorada, porque os professores não tiveram

formação acadêmica para o campo. Com a educação que a universidade dava

até 2006, quando surgiu a licenciatura do campo, os professores saíam

teoricamente prontos para trabalhar na vila, no centro da cidade, no campo.

Não havia formação específica, a não ser aqueles que buscavam se

especializar por vontade própria.

Dei aulas em comunidades do interior durante muito

tempo. Há 20 anos já fazíamos isso. Então, a pedagogia da alternância que

vocês trabalham resolve o problema do transporte escolar, porque o aluno vem

e fica um período internado, depois ele volta à sua comunidade.

Entendemos que, com o Programa Mais Educação,

com a educação integral, diminuirá o custo do transporte escolar e aumentará a

qualidade do ensino, porque, ao invés de quatro viagens – uma de manhã,

outra ao meio-dia e outras duas à tarde –, serão feitas só duas.

Num primeiro momento, poderá aumentar o número

de veículos, porque, para uma escola com 150 alunos, com 70 frequentando o

turno da manhã e o restante o da tarde, com três ou quatro veículos será

possível resolver esse problema. Se todos vierem de manhã e retornarem à

tarde, serão feitas duas viagens.

Inicialmente serão utilizados mais ônibus, mas, sem

dúvida, ganharemos ao longo da implantação do Programa Mais Educação,

que é uma espécie de antessala para a educação integral. Além de ganharmos

em qualidade educacional, ganharemos em custo de transporte escolar.

Coloco-me à disposição para responder perguntas.

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O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Obrigado, Antônio Marangon, que também é diretor do Departamento de

Articulação com os Municípios da Seduc.

Saúdo o deputado Valdeci Oliveira, líder do governo

na Assembleia Legislativa.

Concedo a palavra à procuradora de justiça Maria

Regina Fay de Azambuja.

A SRA. MARIA REGINA FAY DE AZAMBUJA –

Bom dia. Ao saudar o deputado Altemir Tortelli, estendo a saudação às demais

autoridades e a cada um dos presentes.

Agradeço o convite feito ao Ministério Público para

participar dessa audiência pública.

Há aproximadamente dois anos, o Ministério Público

tem – vamos dizer assim – acordado para a educação. Não tem sido nossa

história o reconhecimento pelo trabalho na área da educação, mas, a partir de

1988, não pudemos mais nos manter longe dessa importante área e, por isso,

trazemos nossa contribuição.

Um Termo de Compromisso e Ajustamento de

Conduta foi firmado entre o governo do Estado, a Secretaria da Educação e o

Ministério Público exatamente para dar atenção às escolas, à educação

ministrada no campo.

Segunda-feira, nosso procurador-geral de Justiça,

Eduardo de Lima Veiga, reunirá várias autoridades e fará uma visita a São

Gabriel, ao assentamento Conquista do Caiboaté, em razão de algumas

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situações que nos foram comunicadas de irregularidades, de dificuldade de

transporte de crianças para a escola. Será um momento aberto – de

conhecimento da realidade – a todos os que quiserem acompanhar essa visita.

Estamos à disposição para aquilo que for

necessário. Contamos com promotorias regionais da Educação exatamente

para dar ênfase ao trabalho na educação. Nossa visão é de parceria, somos

uma instituição disposta a colaborar, a contribuir, a melhorar a realidade das

nossas crianças.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra a Adair Pozzebon, que falará em nome das Escolas

Famílias Agrícolas.

Deputado Altemir Tortelli, Antônio Lídio de Mattos Zambon, Deputado Ernani Polo, Deputado

Heitor Schuch, Maria Regina Fay de Azambuja, Adair Pozebom, Secretário Ivar Pavan,

Antônio Marangon, Elisandra Mânfio.

O SR. ADAIR POZZEBON – Saúdo o deputado

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Altemir Tortelli e, em seu nome, todos os deputados. Nosso cumprimento a

Antônio Marangon, Ivar Pavan, Antônio Lídio de Mattos Zambon.

Hoje é um dia especial para todos nós. Estamos

nesta audiência pública com um grande grupo, que não tem medido tempo

para a discussão da educação no campo, a pedagogia da alternância.

Estão aqui jovens em formação, jovens egressos da

Escola Família Agrícola – EFA –, pais que fazem parte da escola e da

associação.

Estão acontecendo dois movimentos paralelos: o do

Município de Vale do Sol, que já está com a associação constituída, e o grupo

da Serra Gaúcha, de Garibaldi e de Bento Gonçalves, que estão aqui.

A EFA está tomando outra dimensão. Estou aqui

para representar todo esse povo, o que é uma grande responsabilidade. Peço

que todos se levantem. (palmas)

A Rede Cefas são os Centros Familiares de

Formação por Alternância. Não estamos isolados no Rio Grande do Sul, a rede

Cefas congrega as Casas Familiares Rurais, as Escolas Famílias Agrícolas e

as Escolas Comunitárias Rurais. Elas estão presentes em 20 Estados do

Brasil. Existem mais de 265 Centros Familiares de Formação por Alternância.

A conquista alcançada com o Pronacampo é uma

luta antiga do Movimento Cefas no Brasil. Há mais de 14 anos esse movimento

tenta constituir um reconhecimento. Mexe muito conosco vermos que, dentro

do Pronacampo, está escrito Centros Familiares de Formação por Alternância,

porque isso é o reconhecimento de um trabalho que vem sendo feito há mais

de 40 anos no Brasil.

É preciso deixar claro que Cefas, EFAs, ou Casas

Familiares não são escolas particulares, muito menos escolas privadas – pelo

menos não consideramos dessa forma.

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Quando fiz referência a quem está aqui, citei pais e

mães de estudantes, que são agricultores e agricultoras; jovens; monitores,

que são professores; e entidades. Esse grupo compõe a comunidade escolar e

faz a EFA acontecer.

Por isso, de maneira alguma podemos dizer que

EFA é escola particular. Se prestássemos um serviço aos jovens e

cobrássemos da família um valor, aí sim seríamos uma escola particular.

Temos de ser reconhecidos como escola

comunitária não só no discurso, mas também na prática. Jamais queremos

perder a identidade de escola comunitária, e nossa vontade tem de ser

respeitada. O Pronacampo respeita isso.

Esse movimento surgiu da necessidade dos

agricultores. Somente 30% dos jovens que chegam à EFA têm ideia de estudar

para ficar na agricultura.

Na serra gaúcha, fizemos uma rodada de reuniões

com os agricultores para mobilizá-los a fundar uma associação. Alguns

agricultores deram um depoimento, como o da comunidade de São Germano,

de São Valentim, que relatou haver na sua comunidade mais de 160 famílias

com propriedade e, pelos seus cálculos, seis jovens que poderão ser

sucessores. Acrescentou que talvez a EFA esteja chegando tarde, visto que há

pouquíssimos jovens para frenquentá-la e continuar na agricultura.

A situação dos jovens é muito complicada. Dizem

que o êxodo rural vem diminuindo, está parando. Segundo dados divulgados

pela Emater, no Rio Grande do Sul, se juntássemos todos os jovens de 15 a 29

anos que pudessem ser sucessores e colocássemos um em cada propriedade,

restariam mais de 2 mil propriedades sem ninguém. Essa é uma situação

perigosa, porque a agricultura familiar é responsável por boa parte da

alimentação, e sem ela a cidade sofrerá mais a frente.

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É uma preocupação muito grande a política voltada

a levar o jovem para fora, ou seja, tudo que ele precisa tem de buscar longe da

sua comunidade.

Essa valorização tem de acontecer. A mudança

começa por aí, começa chamando as pessoas lá da base, os agricultores, os

jovens para ajudarem a resolver essa problemática. Estamos certos de que

chamar alguém de fora para vir resolver nosso problema não é a solução. A

pessoas têm de ser convidadas a participar, a discutir uma política, uma forma

diferente de educar.

Além de trabalharmos por uma educação

diferenciada voltada para a juventude rural, trabalhamos pela valorização do

saber do agricultor, do jovem, para que ele possa ter perspectiva de vida lá no

seu meio.

Hoje, para os jovens formados esse quadro está

mudando. Percebemos que, dos 41 jovens que se formaram, quase 70%

querem continuar na agricultura – essa é uma grande mudança. Eles já estão

conseguindo aplicar seus projetos, na prática, nas suas propriedades.

Temos que pensar uma educação do campo que

seja diferente da atual – que é uma educação para o campo, que vem para

moldar o modo de ser. A expressão educação do campo carrega muitos

significados. Temos que estudar isso. Do campo quer dizer com as pessoas do

campo.

Então, não é próprio vir com escolas com o formato

pronto. É preciso mudar e não só o currículo da escola, mas mudar

fundamentalmente – e este é um ponto que as EFAs e as casas trabalham – a

participação de quem está lá: do agricultor, do jovem do campo como

protagonistas de seu desenvolvimento.

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Temos aqui, juntos, diversos segmentos, diversas

escolas, diversas entidades, prefeituras. E essa é uma questão que tem de ser

trabalhada no coletivo. Sozinho, ninguém faz nada. Temos que trabalhar em

conjunto, pois é uma preocupação de todos.

Para isso acontecer, é preciso romper certos

preconceitos. Não se deve pensar que o que vale é a posição da minha

entidade, dessa ou daquela. Temos que trabalhar coletivamente, juntos.

O Pronacampo é uma locomotiva que traz muitos

benefícios e vem puxando as discussões. Foi lançado neste ano no Brasil,

estabelecendo uma política nacional de educação no campo. Percebam a

dívida histórica que se tem com o movimento do campo: há quanto tempo já

existe um tipo de educação diferenciada? Há quando tempo existe o êxodo?

Hoje, as pessoas estão vendo que as cidades também precisam daquele

homem que está lá no campo.

É preciso parar de exportar intelectuais do campo.

Muitas vezes, ouvi este conselho do meu pai – e muitos aqui também devem

ter ouvido o mesmo de seus pais: Tu, que é um guri inteligente, vai estudar pra

ser alguém na vida. Ou seja, ser agricultor era ser ninguém na vida. Era um

ditado muito forte, muito duro. É preciso reverter esse tipo de conceito. Isso

não pode acontecer mais. Temos que dizer exatamente o contrário: Tu, que é

um guri inteligente, fica aqui na roça, porque aqui é o lugar onde se pode ter

qualidade de vida e é onde tu podes trabalhar tua sabedoria, porque ser

agricultor é ser sábio, em primeiro lugar.

É preciso ter ouvidos – e não só olhos – para os

movimentos que estão acontecendo. Hoje, temos diversos movimentos ligados

à educação do campo. Esses movimentos têm que ajudar a construir essa

política dentro do Estado.

É um belo caminho a seguir. Pessoas nós temos.

Falamos sobre a audiência pública e, em pouco tempo, lotou-se um ônibus. As

pessoas querem participar e isso me deixa mais motivado.

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Temos que aproveitar que existe o Pronacampo

agora. O desafio é consolidarmos o que está aí, aproveitarmos as experiências

– há experiências lindas aqui no Rio Grande do Sul que podem ser

aproveitadas – e trabalharmos no coletivo.

Estamos todos aqui para ver de que forma podemos

somar. Essa é a questão. Não é para mostrar quem faz bem e quem não faz

bem. Nada disso. É dizer que queremos somar e construir uma política para a

educação do campo, que inclua todos os agentes. Nisso, estão incluídos todos

os que, de alguma forma, foram citados aqui.

Para encerrar, cito um verso de uma música da

educação do campo que cantamos muito com os jovens. Diz: Desta história,

nós somos os sujeitos; lutamos pela vida, pelo que é de direito; as nossas

marcas se espalham pelo chão; a nossa escola vem de onde? Ela vem do

coração.

Estão de parabéns o deputado Altemir Tortelli e todo

o grupo que organizou esta audiência pública. Estaremos presentes em todos

os debates e toda a movimentação que houver, relacionada a uma política

estadual de educação do campo. Muito obrigado.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra ao secretário de Desenvolvimento Rural, Pesca e

Cooperativismo, Sr. Ivar Pavan.

O SR. IVAR PAVAN – Bom dia a todos e todas.

Saúdo o deputado Altemir Tortelli, proponente desta audiência pública; o

Antônio do MEC e o Antônio da SEC – os dois representam a área da

educação federal e estadual; os professores, pais e alunos de escolas rurais.

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Embora coordene a Secretaria do Desenvolvimento

Rural – e não se pode imaginar desenvolvimento rural sem uma educação de

qualidade no campo –, nessa área sou mais demandante, porque existe uma

secretaria estadual que pensa e executa política de educação. Mas talvez

esteja na hora, neste momento em que o mundo debate um conjunto de temas

importantes como o aquecimento global, a escassez de alimentos, o

esvaziamento do campo, de parar e refletir sobre as causas, a motivação.

O diagnóstico apresentado aqui pelo MEC é da

situação do campo, não apenas das escolas do campo.

Se não há energia elétrica nas escolas,

possivelmente na comunidade também não. Se há, é de péssima qualidade. Se

não há água potável na escola, possivelmente na comunidade também não. Se

não há Internet na escola, seguramente não há telefone na comunidade. Se

não há infraestrutura mínima necessária na escola, é porque a comunidade

está lá isolada.

Essa situação fez com que, na última década, 276

mil agricultores gaúchos deixassem o campo – em 10 anos, idade do censo. E

45 mil propriedades rurais gaúchas não têm sucessor. Esses são os dados.

É lamentável saber que a escola foi a grande

indutora da saída dos jovens do meio rural. Não se imagina um jovem que não

estude. Quando ele entra na escola formal, é formado para ser mão de obra

urbana. A formação que recebe não tem a ver com a vida dele. Ele não é

formado para ser um agricultor profissional.

Li um diagnóstico extremamente positivo. Como se

diz às vezes brincando, sempre é tempo de ser feliz.

Quero saudar o MEC pela iniciativa do Pronacampo.

Entretanto, ele ainda está com foco muito forte na infraestrutura, porque essa é

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a emergência. A emergência das escolas do meio rural é a infraestrutura

necessária para que elas possam operar.

É necessário um investimento muito forte e urgente

na qualificação dos professores e na adequação do currículo escolar das

escolas rurais. Pouco importa hoje se a escola está no campo, se os alunos

moram lá, porque o currículo, a formação é para serem mão de obra urbana.

Quero saudar as escolas rurais que estão aqui por

terem resistido bravamente a esse esvaziamento que ocorreu e a esse modelo

de educação que privilegia a formação dos jovens rurais para serem mão de

obra urbana.

Aos poucos o Brasil e o mundo começam a se dar

conta de que esse esvaziamento do campo vai trazer consequências urbanas.

A disparada do preço do alimento será uma das consequências que todos

juntos vamos pagar.

Como disse o Antônio Marangon, para sairmos

desse modelo para outro, não é num estalar de dedos. É um processo de

médio e longo prazo.

Esperamos chegar em tempo de adequar o currículo

escolar para a formação de jovens rurais e ainda termos jovens rurais para

serem formados.

Há 10 anos, a população do campo era de 18% no

Rio Grande do Sul. Hoje é de 14%.

Da população que mora no campo hoje, há alguns

elementos a serem considerados.

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Os Municípios-sede com até 5 mil habitantes são

considerados rurais na estatística. São 331 Municípios gaúchos que têm até 5

mil habitantes.

O segundo elemento a ser considerado é que a

população mais jovem do campo já está careca, já está começando a ficar com

prata nos cabelos. Isso significa que há uma tendência de forte diminuição da

população rural do nosso Estado.

Se não pensarmos uma política para reverter esse

quadro, seguramente vai haver um esvaziamento completo.

Quero saudar o MEC pela atitude de pensar um

programa com essa amplitude, com esse grau de investimento, que pensa o

todo, a infraestrutura, a qualificação, a adequação do currículo, para permitir

que os que ficarem no campo tenham condições de ter uma vida tão boa

quanto os trabalhadores urbanos.

Tenho muita convicção de que, tendo um currículo e

uma formação profissional adequados, seguramente a vida no campo poderá

ser igual ou superior em qualidade de vida à do próprio trabalhador urbano.

Agora, temos que lhe dar condições para isso.

Há um trabalho que me agradou muito também: foi

um projeto apresentado aqui de 180 mil vagas para a qualificação profissional

de agricultores. Esse é um trabalho urgente e necessário, porque há uma

grande desatualização tecnológica por parte dos agricultores. Por conta dessa

desatualização, o trabalho no meio rural, em alguns aspectos, ainda continua

sendo penoso.

A tecnologia, hoje, permite que o trabalho no meio

rural seja muito facilitado. Só que o conhecimento produzido em pesquisas pela

universidade, a Embrapa e a Fepagro, em grande medida, ainda é referente a

livros e teses de doutorado que estão nas prateleiras das bibliotecas e que não

estão na casa do agricultor.

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Precisamos que a qualificação profissional possa ter

essa abrangência e ainda ampliá-la, porque a qualificação profissional

daqueles que moram lá vai permitir que comecem a melhorar de vida e a

estimular os seus filhos a continuarem nessa mesma atividade. Então, a

retomada do processo exige de fato celeridade nesses programas.

Nós, enquanto Secretaria do Desenvolvimento

Rural, nesta área de qualificação profissional, nos colocamos à disposição,

porque temos estruturas como, por exemplo, a de que a Emater dispõe, com

10 centros de formação no Estado, que podem ser conveniados com entidades

na área da qualificação dos agricultores. Poderíamos ser parceiros de um

programa como esse. Vamos analisar tecnicamente se isso será possível.

Quanto a repassar tudo para os institutos de

formação, quando é formal, parece-me que eles têm melhores condições de

fazê-lo. Mas, quando se trata da formação intensiva, que precisa dialogar

diretamente com a vida real do agricultor, talvez possamos oferecer alguma

contribuição. Mesmo não sendo uma escola formal, a Emater é um órgão de

extensão do conhecimento para os agricultores. Talvez na formação

profissional poderíamos contribuir.

Parabéns ao deputado Altemir Tortelli por ter

realizado este debate e às escolas rurais por trazerem uma metodologia e um

currículo que podem ser adequados junto a esse programa do MEC, surgindo

daqui a grande inovação para a educação no meio rural. Um bom trabalho a

todos! Obrigado.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Muito obrigado, secretário.

De imediato, passamos a palavra à Sra. Elisandra

Manfio Zonta, que falará sobre a experiência das Casas Familiares Rurais e

fará uma reflexão sobre a política de educação para o meio rural.

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A SRA. ELISANDRA MANFIO ZONTA – Bom-dia a

todos. É uma grande satisfação estar aqui.

Quero cumprimentar, parabenizando-o pela

iniciativa, o deputado Altemir Tortelli; o secretário Ivar Pavan – a secretaria tem

sido uma grande parceira das casas familiares; o coordenador do MEC,

Antônio Zambon, que vem nos trazer uma grande notícia, sobre o lançamento

do Pronacampo – de fato, se consegue ver o movimento Cefas presente nesse

programa do governo; o representante da Secretaria de Educação, Antônio

Marangon – estamos avançando na questão de um convênio com o Estado em

termos de cedência de professores para as Casas Familiares Rurais; e Adair

Pozzebon, colega no trabalho que realizamos em prol da formação de jovens

agricultores, das famílias, que são realmente os sujeitos que estão, dia a dia,

na luta do campo.

Não estou aqui representando apenas a instituição

das Casas Familiares Rurais no Rio Grande do Sul – Arcafar-RS –, falando

somente como representante e educadora, pois falo aqui também pela nossa

luta como agricultora. Eu também, no dia a dia, além da atividade de orientação

às casas familiares, sigo a atividade agrícola. Temos propriedade que trabalha

com bovino de leite, na questão da subsistência familiar.

Então, não falamos somente aquilo que queremos

para os outros, mas o que queremos para o nosso dia a dia, que é a formação

e qualificação dos agricultores.

Adair falava sobre uma herança histórica que se

tem. Os pais geralmente diziam que para ser alguém na vida tem que sair. Eu

tenho a satisfação de dizer a vocês que o meu pai tem dois filhos e os dois

estão no meio rural. O meu irmão que faz a sucessão na propriedade do pai e

eu que faço, juntamente com o meu esposo, a sucessão da propriedade do

meu esposo, com a família dele.

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Quanto falamos disso falamos de coração. Falar da

formação dos agricultores e da Casa Familiar Rural é falar daquilo que

realmente acreditamos, que é a educação no campo.

Nas casas familiares, Ceffas, trabalhamos com 4

fundamentos básicos que é o que organiza todo o nosso trabalho de formação.

Primeiramente a gestão das casas familiares rurais é feita por uma associação

de famílias. Ou seja, são os pais, as mães, os jovens, as lideranças quem

fazem a gestão deste processo.

Nós precisamos, sim, de um financiamento, de algo

que nos ajude a dar suporte financeiro para que as associações possam

desenvolver este trabalho de gestão, porque elas trabalham a partir de

parcerias regionais, e com a contribuição das famílias. Isto precisa ter um

aporte maior para que possamos, de fato, desenvolver este trabalho de

formação e que continue tendo a gestão e a autonomia da associação neste

processo.

Outro fundamento básico que temos é a pedagogia.

Ou seja, nós temos uma pedagogia própria com uma metodologia própria, que

é a alternância, em que os jovens permanecem um período na sua

propriedade, na sua unidade de produção familiar e outro período na Casa

Familiar Rural, na EFA, enfim.

O próprio Conselho Nacional de Educação já

aprovou que o período em que o jovem está na sua unidade de produção

familiar seja contado dia letivo, também, porque o tempo comunidade é o

trabalho como princípio educativo. Tudo isto faz parte da formação. Foi um

grande avanço.

Nós temos o reconhecimento também, a nível de

Estado, pelo Conselho Estadual de Educação, que já aprovou a Escola Casa

Familiar Rural, de Frederico Westphalen, com o ensino médio, e a EFA, com o

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ensino médio técnico. Também contando o tempo comunidade como dia letivo.

A alternância, de fato, como ela deve acontecer.

Outro fundamento é a formação integral. Ou seja, o

jovem, no seu período de formação, na Casa Familiar Rural, no Ceffa, enfim,

ele recebe uma formação que percorre todas as áreas do conhecimento, mas

uma formação principalmente que foca a formação do ser humano, do ser

cidadão, do ser que possa desenvolver-se na sociedade, independente do local

que esteja.

Nós temos dados que comprovam, dados científicos,

que mais de 80% dos jovens que passaram pelas Casas Familiares Rurais do

Rio Grande do Sul estão desenvolvendo os seus projetos profissionais de vida.

São dados concretos, dados reais.

A formação integral, através da construção do

projeto profissional de vida, possibilita que se desenvolvam como pessoas

capazes de desenvolverem a sua propriedade e o meio em que vivem.

Desenvolver o Município.

Este termo desenvolvimento, que o secretário Ivar já

falava anteriormente, é o quarto fundamento. Às vezes nos preocupamos com

um grande desenvolvimento, mas o maior desenvolvimento é o jovem,

juntamente com a sua família, desenvolver a sua propriedade. Torná-la um

lugar bom de se viver, um local rentável e com qualidade de vida. Cada um de

nós tornará o lugar onde está bom de se viver se quiser que este lugar

realmente seja bom.

Tendo estes 4 fundamentos a associação de

famílias, a pedagogia de alternância, a formação integral e o desenvolvimento

do meio é que a gente desenvolve o trabalho de formação nas casas familiares

rurais e nos Ceffas.

Para finalizar quero dizer que, pedagogicamente, o

trabalho desenvolvido pelas casas familiares é inquestionável, excelente e os

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resultados são fantásticos. Não somos nós, mas os jovens e as famílias que

dizem isso para a sociedade.

A nossa grande dúvida, o nosso grande ponto de

interrogação é a questão financeira. A nossa briga, a nossa luta é por uma

forma de nos tornarmos sustentáveis ao desenvolvermos esse trabalho.

Talvez o Pronacampo venha nos trazer essa

possibilidade. Precisamos discutir e avançar mais porque não podemos ficar

somente com o programa. Em nível de Estado, precisamos avançar na

discussão e em ações concretas também. Obrigada.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Obrigado, Elisandra.

Quero já chamar à mesa os companheiros que vão

falar em nome da Fetraf, da Via Campesina e da Fetag. Inicialmente, o Celso

falaria pela Fetraf, mas como está participando de outra audiência com o

governo, falará, em nome da Fetraf, a Sra. Cleonice, que coordena a Fetraf no

Rio Grande do Sul. Pela Via Campesina falará o Sr. Ivori Agostinho de Moraes

e, pela Fetag, o Sr. Leomar Fernando Mattia.

Vimos até o momento o governo federal apresentar

o acúmulo de construções que foram feitas nestas mais de duas décadas por

meio dos debates realizados pelos movimentos sociais e das proposições

apresentadas pelas entidades, sendo que uma parte delas já foi incorporada a

políticas públicas, a normas e resoluções.

O governo nos apresenta um programa nacional que

organiza e articula várias frentes, tanto na questão do conteúdo quanto na

questão da estrutura, possibilitando-nos desenvolver políticas para a educação

no meio rural.

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As duas experiências apresentadas aqui, que se

complementam e que têm a mesma origem e a mesma forma de pensamento,

mostram claramente que é possível fazer uma outra educação, que é possível

produzir uma educação diferenciada, uma educação integrada e articulada e

com outra visão de desenvolvimento, o que cria condições efetivas para que os

nossos filhos, os nossos jovens frequentem a escola, recebam formação e

continuem junto de sua família. Talvez isso mude o rumo daquilo que estava

traçado inicialmente por seus pais, que era ir embora para a cidade e tornar-se

um trabalhador de outro setor. Assim, esses jovens reencontram a perspectiva

de continuar vivendo e produzindo junto com suas famílias.

Portanto, há um conjunto de iniciativas do governo

do Estado, políticas nacionais, um programa nacional e experiências concretas.

No Rio Grande do Sul, por exemplo, há uma universidade pública estadual.

Está claro para mim que há uma grande

preocupação com a formação dos professores. Com a perspectiva de

reestruturação, uma das missões estratégicas da nossa UERGS poderia ser o

processo de formação, de especialização de professores que queiram trabalhar

com o tema da educação no meio rural.

Fiquei muito satisfeito ao ouvir aqui que tanto as

normas federais e resoluções como a posição do nosso governo do Estado são

no sentido de que não serão mais fechadas escolas do meio rural.

Também preocupa o que está ocorrendo

efetivamente nas nossas comunidades, nos nossos Municípios: o

enturmamento das séries. Temos presenciado debates nesse sentido em

algumas escolas do meio rural. Estamos tentando compreender o que está

levando a isso.

A grande preocupação que foi referida em várias

falas é como vamos incidir nesse tema da educação e com que rapidez, de

modo que, quando tivermos programas, políticas e ações efetivas, ainda

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tenhamos jovens nas nossas comunidades.

Faço uma provocação às lideranças dos

movimentos. Como vamos enfrentar a questão do tempo, da agilidade, da

rapidez? Como fortalecer as experiências das nossas casas e escolas e, ao

mesmo tempo, dinamizá-las, dando mais visibilidade e ajudando com

parcerias, com convênios? Será que o nosso horizonte de tempo são meses,

décadas ou anos?

Fico apavorado quando vejo esses números. Já

tivemos milhões de jovens no meio rural no Rio Grande do Sul. Estamos

falando de algumas centenas de milhares, e daqui 10 anos estaremos falando

de quantos jovens agricultores? Dezenas de milhares?

Sinceramente, não acho que seja natural e

automático nossos jovens quererem ser operários. Não é natural nossos jovens

quererem ser profissionais de qualquer outro setor da nossa economia. Na

minha opinião, o meio, as condições estão induzindo a isso.

A prova é que – e estamos vendo aqui as

experiências das casas familiares e das escolas –, quando a escola está

voltada para a realidade e interage com o problema, 80% dos nossos jovens

continuam sonhando com a perspectiva de futuro de se tornarem agricultores

familiares.

Qual a nossa responsabilidade como governo do

Estado, como Parlamento, como prefeitos, como movimentos sociais e

entidades, para que efetivamente seja feito, com ações concretas e práticas e

com um grande movimento, o enfrentamento dessa situação?

Quero provocar os três painelistas, companheiros

dos movimentos, para, com sua autoridade, com sua história de luta e como

parte nessa construção em nível nacional e em nível de Estado, apontarem

horizontes e ações que efetivamente nos ajudem, de forma pontual e também

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de forma mais geral, a enfrentar esse problema.

Na minha opinião, essa é uma das maiores crises de

soberania de nosso País. Não adianta pensarmos em soberania alimentar se

não tivermos homens e mulheres que continuem produzindo alimentos no

nosso Rio Grande do Sul e no nosso Brasil.

Estou compartilhando essa grande angústia, essa

grande preocupação em relação a essa questão estrutural gravíssima.

Desculpe por provocá-los. Queria ter feito isso no

início do debate, mas o faço agora porque estamos atrasados.

É bom que as três entidades, com suas lideranças e

autoridades, nos ajudem nesse debate. Após, abriremos a discussão aos

demais companheiros.

Com a palavra o Sr. Leomar Fernando Mattia, da

Fetag.

O SR. LEOMAR FERNANDO MATTIA – Bom dia a

todos e a todas.

Sou assessor de formação sindical da Fetag. Quero

cumprimentar os companheiros da mesa e parabenizá-los pela iniciativa desta

audiência pública. Realmente esse é um tema de fundamental importância

quando debatemos o desenvolvimento do meio rural.

São muito importantes as falas anteriores porque

apontam os vários caminhos que devem ser seguidos juntamente com a

formação. A formação, sem dúvida, é um dos pilares fundamentais para termos

o desenvolvimento rural. Se não discutirmos a infraestrutura do meio rural, a

valorização do meio rural e das famílias que lá vivem, dificilmente

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conseguiremos fazer com que os jovens queiram permanecer no meio rural.

Precisamos prestar atenção em alguns dados muito

interessantes que foram trazidos aqui na parte da manhã.

Temos falado muito sobre a questão da renda e da

terra. As nossas pesquisas mostram que não é só isso que faz os jovens

permanecerem no meio rural. Um dos principais dados é a valorização do

trabalhador rural, da pessoa que ali vive. Historicamente, existe uma

desvalorização muito grande das pessoas que vivem no meio rural e do próprio

meio rural. Por conta disso, ficou provado que o abandono se dá pela falta de

infraestrutura não só das escolas, mas do meio rural como um todo.

Quando falamos de formação é importante

atentarmos para algumas coisas fundamentais. Como Marx já nos ensinava, a

escola é um dos pilares para a manutenção do capitalismo. Portanto, mais do

que mudar o currículo da escola, temos de mudar a forma de fazer educação.

É preciso haver uma educação para uma nova sociabilidade, na qual a

competição não seja mais o primordial. A relação social, a relação entre as

pessoas, a valorização da comunidade tem de estar em primeiro plano. A

valorização da produção de alimentos, a importância que tem isso para a

sociedade como um todo e a valorização do meio ambiente devem fazer parte

da discussão quando falamos de desenvolvimento sustentável. E a formação é

fundamental nesse debate.

Já estamos avançando muito. Parabenizo o governo

e o MEC por esse programa, que vem em boa hora. Temos de discutir essas

questões junto com tudo isso.

Uma outra questão que temos de levantar é a

pluriatividade no meio rural. Hoje, quase 50% das propriedades não trabalham

mais exclusivamente com a produção de alimentos, de fibras. As propriedades

pluriativas têm outras atividades de renda além da produção de alimentos.

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As nossas escolas do campo também têm de levar

isso em consideração, porque os jovens que nascem na cidade têm a opção de

ser médico, advogado, pedreiro, professor, uma infinidade de profissões. Já

dos jovens que nascem no campo, esperamos, única e exclusivamente, que

sejam agricultor. Considero a profissão mais linda de todas. Mas temos de

admitir que muitos desses talvez também queiram ser médicos, advogados,

professores, ter outras profissões. Mas não podemos esperar que, para isso,

eles tenham que sair do campo. Devemos criar infraestrutura no campo para

que este possa ter um médico, um comerciante, um advogado e demais

profissionais. Aí sim vamos pensar na estruturação do meio rural.

As pessoas dizem que é muito difícil mantê-los no

campo. Por quê? Venho do Município de Mariano Moro, no Norte do Estado,

com 3 mil e 400 habitantes. Morei em Albardão, Rio Pardo, numa comunidade

rural que tem 4 mil e 500 habitantes. Mariano Moro tem hospital, comércio, um

monte de serviços, que Albardão não tem. Por que Albardão não pode ter isso

também, além de uma escola que forme as pessoas do campo?

Quero lembrar José Eli da Veiga, que escreveu o

livro Cidades Imaginárias, em que diz que a grande maioria das nossas

cidades são rurais, extremamente rurais. Como Mariano Moro há outras

trezentas e poucas. Essas cidades precisam de uma escola que discuta as

questões do campo.

Mesmo a escola que está na cidade tem que falar

sobre as questões do campo, pois todas as pessoas que moram nessa cidade

vivem do campo. O comerciante depende do campo, o professor depende do

campo, todas as pessoas dependem do campo. Então, essa discussão vai

além e é importante.

A formação tem que levar isso em consideração,

uma formação que traga a questão da nova sociabilidade, que permita que o

aluno possa ser crítico e avaliativo, avaliando o ambiente onde ele se encontra

e buscando a partir daí as transformações.

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Parabenizo o trabalho que as EFAs e as Casas

Familiares Rurais fazem, porque buscam esse tipo de formação, em que o

aluno, o estudante, o educando está aí não apenas para aprender como

produzir mais, mas também para aprender como se relacionar com o que ele

tem no seu contexto do dia a dia, com o ambiente, com os animais, com as

pessoas, com a sociedade. Aí sim ele cria uma nova forma de ver, de pensar o

mundo. Precisamos desse tipo de formação para as nossas escolas formais.

Se as nossas escolas formais continuarem, mesmo

com um currículo diferenciado, fazendo aquela formação que incentive a

competição, que incentive o aluno a apenas querer ganhar mais, dificilmente

vamos conseguir o desenvolvimento da nossa sociedade, um desenvolvimento

sustentável como se espera.

A Fetag atuou muito na constituição das Casas

Familiares Rurais, numa articulação com experiências exitosas das escolas do

campo, e tem buscado dar apoio das mais diversas formas possíveis. Ontem,

estávamos em Brasília, no Grito da Terra Brasil, também discutindo ações para

a educação no campo, buscando reforçar essa demanda, essa importância,

que queremos colocar junto com os movimentos todos.

Temos que juntar movimentos, juntar a sociedade,

juntar governos, todos em prol de uma causa única, que é a valorização do

meio rural, o desenvolvimento do meio rural e o desenvolvimento de uma

educação do campo de qualidade, gratuita, que permita a emancipação das

pessoas. Isso que é o mais importante. Obrigado.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Muito obrigado.

Passo a palavra ao Sr. Ivori Agostinho de Moraes.

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O SR. IVORI AGOSTINHO DE MORAES – Nossa

saudação a todos. Destaco a importância deste momento no Rio Grande do

Sul, com a presença do coordenador nacional.

Sou da Via Campesina, sou assentado, sou

professor também e quero dizer que, neste momento, na área da educação do

campo, estamos com o cavalo encilhado, passando. Nesta manhã, para decidir

que vamos montar nesse cavalo, vamos ter que nos organizar, nos articular,

porque é uma história de resistência que temos no campo, uma história, como

o secretário Ivar Pavan falou, em que temos tido derrotas e temos tido vitórias

da resistência.

As experiências da educação se somam nas vitórias

que estamos tendo de resistência, porque onde há comunidade resistindo há

formação, há educação junto com as atividades de produção, com todas as

atividades que a gente desenvolve nas comunidades do campo.

Neste momento, aproveitando a presença do

governo federal e do governo do Estado, precisamos reivindicar e registrar que

essa história da educação do campo se soma a uma história de resistência dos

trabalhadores e trabalhadoras do campo, porque o modelo do agronegócio, o

capitalismo instalado neste País quer um campo sem gente.

A melhor imagem que se mostra na televisão são

seis, sete colheitadeiras em forma de cunha atravessando um campo. Este é o

modelo que está no imaginário: um campo sem gente, um campo de

monocultivo.

E nós, num projeto de educação do campo, temos

que ter muito claro que se está a serviço de um outro projeto de campo, um

campo em que haja gente, um lugar de vida, um lugar de produção de alimento

saudável, evitando que o brasileiro para comer tenha que tomar cinco litros de

veneno durante a sua alimentação anual.

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Então, temos que discutir tudo isso. Teríamos que

conversar sobre tantas coisas. Que o gestor público tenha sempre presente

que, na área da educação no campo, a primeira conferência a se realizar sobre

a matéria foi em 1998. Naquela ocasião, reuniu-se o pessoal da reforma

agrária e dos vários movimentos do campo.

A partir dali, construíram-se as pautas nacionais de

luta do movimento sindical, das marchas, de todas essas lutas, o que se

materializou naquele decreto elaborado sob a presidência de Lula. Houve

portarias anteriormente, e toda uma caminhada, que todos conhecem.

Nossa caminhada é no sentido de garantirmos um

protagonismo do sujeito do campo, ou seja, dos trabalhadores e trabalhadoras.

Só quando vira política pública é que se universaliza esse direito, que chega a

todos os cantos do nosso Estado e País.

Agora, quando vira política pública, também o setor

patronal, que nunca defendeu educação do campo – porque o latifúndio

escravista nunca fez questão de educação neste País –, movimenta-se.

A educação começou neste País quando vieram as

colônias para cá, nos quilombos, nas aldeias indígenas, nas comunidades de

pescadores. Ali que as experiências em educação aconteceram.

O latifúndio e o agronegócio nunca defenderam a

educação no campo. Essa é uma pauta dos trabalhadores. Agora, que virou

política pública, a Fetraf, que sempre teve grande quantidade de dinheiro, vai

aparecer no cenário da educação no campo também.

Essa luta está vinculada com a resistência dos

camponeses, da população dos trabalhadores e trabalhadoras. Aqui, no Rio

Grande do Sul, há o desafio não só de organizarmos um comitê ou um fórum,

mas precisamos materializar essa nossa articulação dos setores da educação

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no campo para ajudar a implementação dessas políticas e programas.

Só assim conseguiremos monitorar as prefeituras,

porque muitas dessas políticas em relação ao transporte escolar, à formação

de professores, etc., não andam. Há um descompasso muito grande.

Há a necessidade de articularmos e formalizarmos,

junto com o governo do Estado, um comitê, que já está em discussão, para

avançarmos. O cavalo já está encilhado, e precisamos agarrar essas

iniciativas. Não será apenas nós, de forma isolada, que conseguiremos dar

conta desse desafio.

A educação no campo é uma história de resistência

e de muitas perdas. O secretário Ivar Pavan já mencionou: são 240 mil

famílias. Isso significa uma perda muito grande, não só para o campo, mas

para a toda sociedade. A luta pela educação no campo é muito dura.

Não será um movimento sozinho que dará conta

desse desafio. A política pública reflete essa luta. Ela agora abre espaços. Nós,

dos movimentos, temos também a nossa tarefa de monitorar para que isso, de

fato, aconteça, como também de nos articularmos para propor melhorias,

reinventar coisas e apresentar novas questões ainda não contempladas ainda

pelo programa. É necessário um fórum ou a criação de um comitê, para

continuarmos debatendo esse tema. Obrigado.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) – De

imediato, concedo a palavra à coordenadora do Fetraf do Rio Grande do Sul,

Cleonice Back.

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Deputado Altemir Tortelli, Antônio Lídio de Mattos Zambom, Deputado Ernani Polo, Deputado

Heitor Schuch, Adair Pozebom, Secretário Ivar Pavan, Antônio Marangon, Elisandra Mânfio.

A SRA. CLEONICE BACK – Primeiramente, saúdo

o deputado Altemir Tortelli, a quem dou os parabéns pela iniciativa da

promoção deste debate no dia de hoje, as demais autoridades e

representantes das escolas agrícolas e das casas familiares rurais e, em

especial, as demais entidades do campo e a cada jovem, a cada agricultor, que

está presente hoje nesta audiência.

Este é um momento especial para discutirmos não

só a questão da educação, mas o futuro do País, da nossa Nação, da

agricultura familiar, que passa necessariamente por essa área.

O Fetraf tem, com um dos eixos centrais, o debate

da questão da educação. Inclusive, vem desenvolvendo algumas experiências

nesse sentido, como podem observar com o projeto Terra Solidária, por

intermédio do qual formaram-se muitos agricultores, que já haviam deixado

inclusive a escola e que voltaram a estudar.

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Outro projeto muito importante desenvolvido por nós,

em parceria com o governo, com o MDA, foi o Consórcio Social da Juventude

Rural, que formou muitos dos nossos jovens, dos nossos agricultores, e que

deu uma qualificação nessa área do meio rural, da agricultura familiar.

Uma outra expectativa muito grande que temos é

quanto ao convênio com a Universidade Federal da Fronteira Sul, junto com o

MDA. Pretendemos desenvolver esse projeto de formação e de capacitação

dos nossos jovens nesse próximo período.

Temos que discutir a questão da educação num

contexto geral, a questão da educação infantil, do ensino médio e também do

ensino superior, inclusive de os nossos jovens estarem cursando o ensino

superior.

O governo demorou a criar um programa específico

para trabalhar a questão da educação no campo, mas acho que veio em bom

momento para de fato discutirmos a educação no meio rural. Infelizmente

muitos dos nossos jovens, dos nossos agricultores, já deixaram o campo, e um

dos problemas é a questão da educação.

Sou agricultora familiar e sempre estudei em escola

pública, mas lá nunca se discutiu a questão da agricultura familiar, a

importância de sermos agricultores familiares, de produzirmos alimentos e de

sustentarmos esta Nação. Esse é o nosso papel de agricultor familiar.

Infelizmente na escola não se discute isso.

No ano passado, fui convidada por essa escola, em

que estudei vários anos, para debater um pouco a questão da agricultura

familiar, a importância de termos agricultores familiares, de estarmos

produzindo alimentos. Inclusive me pediram para apresentar um pouco sobre

as políticas públicas e sobre os programas que nós, dos movimentos sociais,

conquistamos para melhorar um pouco as condições de vida dos nossos

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agricultores. Precisamos discutir melhor essas questões. Precisamos fazer

esse debate.

Tenho uma preocupação muito grande de que de

fato o Pronacampo discuta a questão da pedagogia. Sabemos que há um

problema muito grande na questão de infraestrutura, dos transportes, de

acesso à Internet, à água e à energia. Isso precisa ser resolvido, mas

precisamos discutir a questão fundamental da pedagogia. Precisamos discutir

um projeto pedagógico específico, voltado à valorização da agricultura familiar,

pensando na agroecologia, respeitando a diversidade que se tem no campo e

trabalhando essa questão do controle social, da participação da sociedade

nessa discussão. Precisamos trabalhar esses vários espaços.

Para de fato trabalharmos uma pedagogia

diferenciada no campo, precisamos investir na formação dos professores. A

UERGS pode ser uma grande parceira nisso, inclusive para capacitar os

professores, e, de fato, construirmos uma sociedade diferente, em que se

trabalhe a importância da agricultura familiar, se valorizem as casa familiares

rurais, se valorize cada vez mais as escolas técnicas e agrícolas. Precisamos

incentivar e valorizar cada vez mais a pedagogia da alternância. Hoje,

infelizmente, não é isso que está acontecendo. É fundamental essa educação

diferenciada para discutirmos um novo projeto de desenvolvimento.

Encerrando, quero dizer que não adianta discutirmos

projeto de desenvolvimento se não discutirmos a educação e a importância da

agricultura familiar nesse contexto.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Abrimos a palavra aos presentes, para manifestações e questionamentos.

Recebemos a seguinte informação: Sou

coordenador do Curso de Licenciatura em Educação do “campus” da

Universidade Federal de Pelotas. Estaremos formando 240 professores do

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campo em 2013 e em torno de 500 professores até 2016. Professor José

Ricardo Kreutz.

Com a palavra o professor da Universidade Federal

de Pelotas, professor José Ricardo Kreutz.

O SR. JOSÉ RICARDO KREUTZ – Ontem, para

minha grata surpresa, o reitor da nossa universidade me chamou para

representá-lo hoje, nesta audiência pública.

Estamos escondidos ainda, mas somos um curso de

licenciatura em Educação do Campo, vinculado à Universidade Aberta do

Brasil, em Pelotas. Estamos funcionando já há dois anos e meio. Estamos com

uma oferta de curso terminando o sexto semestre. Estão indo para a reta final

da sua formação. Estamos com uma segunda turma que irá se formar em

2014.

Temos em torno de 200 futuros professores de

Educação do Campo. Levamos em consideração justamente todas essas

orientações e esses marcos regulatórios da educação do campo. O nosso

projeto pedagógico tem essa fundamentação. Atualmente o nosso curso está

sendo avaliado pelo MEC. Estamos buscando um parecer junto ao Conselho

Nacional de Educação. Encontra-se nas mãos da conselheira, que está

consultando sobre a nomenclatura do curso para que tenhamos uma

sedimentação.

Estamos envolvidos com a formação de professores

e trabalhando no projeto do curso. Temos o respaldo dessa história dos

movimentos sociais. Temos fundamentos da sociologia rural, da antropologia e

da filosofia como foco importante para a formação de professores, e eles serão

habilitados em séries iniciais da educação infantil. É um foco diferente do que

os cursos de licenciatura em Educação do Campo vem dando, que é para

séries finais e ensino médio. Estamos trabalhando justamente com uma grande

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carência em educação infantil e em séries iniciais. Isso irá atacar diretamente

essas questões dos professores necessários às escolas rurais e esse

contingente grande de professores sem formação superior.

No Rio Grande do Sul, na primeira turma, temos

contemplados os polos de Itaqui, de São Sepé, de Sapiranga, de São Loureço

do Sul, de Rosário do Sul, de São Francisco de Paula, de Sapucaia do Sul e de

Jacuizinho. Cachoeira do Sul é da segunda turma, que se formará em 2014.

Temos representantes de Cachoeira do Sul, de

Cacequi, de Restinga Seca, de Santo Antônio da Patrulha, de Três Passos, de

Arroio dos Ratos, de São José do Norte, de Herval, de Vila Flores, de Serafina

Corrêa, de Camargo, e de Cerro Largo.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) – Por

favor, gostaria de confirmar uma informação, temos contato com a professora

Conceição Paludo, e foi dito que está sendo organizado um evento este ano.

O SR. JOSÉ RICARDO KREUTZ – Exatamente,

somos parceiros deste evento.

A SRA. PARTICPANTE – Sou colega e amiga da

Conceição, o evento ocorrerá de 12 de novembro a 14 de novembro.

O SR. JOSÉ RICARDO KREUTZ – Quero fazer uma

última deferência. Temos uma grande parte do colegiado do curso Educação

no Campo. A professora doutoranda Vânia Grim Thies, a professora doutora

Regina Xavier, e a professora doutora Heloisa Helena Durval de Azevedo.

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O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra ao prefeito Clecio Halmenschlager.

O SR. CLECIO HALMENSCHLAGER – Saúdo o

deputado Altemir Tortelli pela iniciativa desta audiência pública tão importante

para o desenvolvimento rural e os componentes da mesa.

Faço uma saudação especial ao Adair Pozzebon,

por ser o primeiro idealizador da primeira escola agrícola do Rio Grande do Sul,

pedagogia da alternância, que nos procurou com o objetivo de nos fazer

acreditar num projeto novo, que tinha o custo de investimento por aluno de 500

reais por mês para os cofres públicos. Alguns alunos da primeira turma

inclusive estão presentes.

Sou testemunha de um projeto que deu certo. Nós

gestores públicos temos que acreditar que é possível mudar a nossa realidade.

Vale do Sol tem 88% da população no meio rural e, na área urbana, ainda

muitas pessoas estão envolvidas com a agricultura.

Tivemos uma data histórica este ano, o Município

está na sua quinta legislatura. No dia 1º de maio deste ano o Osmar

((ininteligível) foi escolhido para ser presidente da nossa futura EFA, do Vale do

Sol, que está em fase de tramitação. Em 2013, esta escola agrícola, com

certeza, mudará a história do Município de Vale do Sol, está presente o nosso

presidente da comissão de emancipação, Sr. Ribeiro Filho.

Sempre acreditamos em um Vale do Sol diferente.

Temos, lá, uma grande dificuldade, uma vez que o Município, hoje, é o sexto

produtor nacional de tabaco. Para que haja uma transformação, não há outro

caminho que não o da educação, e, no caso, deve ser uma educação voltada

para as pessoas do campo.

O projeto do Pronacampo precisa vir com recursos e

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com bastante rapidez. Mudança de cultura não é algo que acontece de um dia

para o outro, de um mês para o outro ou mesmo de um ano para o outro; muito

pelo contrário, é algo que pode levar uma década ou mais para se consolidar.

Estamos aqui para dar esse testemunho. Talvez,

deputado Altemir Tortelli, esta seja uma das audiências públicas mais

importantes realizadas nesta legislatura. Esperamos que, a partir de hoje, a

vida no campo torne-se melhor, o que pode ser conquistado através da

educação. Muito obrigado.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra ao presidente da União Nacional de Cooperativas da

Agricultura Familiar e Economia Solidária – Unicafes –, Clamir Balén.

O SR. CLAMIR BALÉN – Estou aqui na condição de

representante das cooperativas da área de agricultura familiar e economia

solidária. Entendo que a educação, no campo, deve se processar de forma a

manter proximidade em relação ao cooperativismo e ao conceito da

cooperação.

A agricultura existe há milhões de anos, mas a

nossa nossa angústia, hoje, resulta do fato de que o êxodo rural nunca foi tão

intenso quanto agora. A evolução da agricultura e a descoberta de produtos

químicos e de nutrição marcaram as últimas décadas. Por outro lado, talvez

nunca, antes, tenhamos tido uma distância tão marcante entre gerações, nem

um choque tão intenso de culturas.

Refiro-me ao choque de gerações que podemos

observar entre netos, pais e avós. Atualmente, um filho já olha para os seus

pais afirmando que suas práticas são antiquadas e precisam ser mudadas. O

processo educacional precisa tratar dessa questão.

Trabalho com cooperativas e constato que, no momento

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em que as pessoas conseguem instaurar a agricultura familiar como um modo de

vida em suas propriedades, como uma atividade alegre e capaz de fomentar a

integração, elas passam a viver bem. Tendo esse tipo de estrutura como ponto de

partida, com os recursos tecnológicos hoje existentes é possível, sim, fomentarmos a

economia, o bem-estar e o retorno dos jovens para a roça.

Há inúmeras experiências na área do leite e das

pequenas agroindústrias familiares produtoras de alimentos. Os profissionais

que atuam nessa área não podem ser somente técnicos em extensão rural,

pois necessitam atuar, também, quase como psicólogos, como assistentes

sociais, como pessoas capazes de entender a realidade agrícola. Imagino que

as escolas tratem dessa questão no meio rural.

Na minha avaliação, não existe agricultura familiar

nem sucessão no campo longe da cooperação e do cooperativismo. Por si só,

aquela visão das multinacionais, de se obter crescimento a qualquer custo, faz

com que não haja espaço para a sucessão familiar, razão pela qual a

educação, no campo, precisa contemplar ensinamentos relacionados ao

cooperativismo e à cooperação. Muito obrigado.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra à integrante do Consea, Regina Miranda.

A SRA. REGINA MIRANDA – Bom dia.

Estamos vivendo um momento histórico positivo em

nosso País em que emerge uma série de políticas públicas que procuram

reconhecer a dívida histórica que o Estado brasileiro tem para com o seu povo.

Ao mesmo tempo, constata-se que todas as políticas públicas de inclusão

social que o Brasil vem conquistando são fruto de uma árdua luta, de disputas

e de resistência. Estamos aqui nessa mesma linha.

Na lógica de contribuir com aquilo que os governos

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federal e estadual estão fazendo para recuperar essa dívida, é bom partirmos

do reconhecimento de que o Estado brasileiro tem uma dívida com seu povo

que tem de recuperar. Ele não está sendo bonzinho, fazendo caridade e nem

dando presente. Essa conquista estamos fazendo com luta.

Então, o componente pedagógico nesse novo olhar

da educação no campo não pode ser preterido em relação à dívida com a

estrutura e o funcionamento das escolas. Ele tem que estar pari passu com ela.

Hoje, por exemplo, estamos vivendo um duplo contraditório, que são as

políticas inovadoras para a inclusão da agricultura familiar, o Penai, o

Programa de Aquisição de Alimentos, o Pronaf.

Qual a escola que educa nosso jovem para ser um

esperto acessador dessas políticas públicas? Estou falando como uma pessoa

que trabalha com assistência técnica e extensão rural. Corremos atrás e

suamos para habilitar pessoas. Não vou dizer nenhuma novidade. Muitos

Municípios não estão comprando 30% da agricultura familiar para alimentação

do escolar porque as pessoas que podem vender nem sabem que a política

existe, ou não sabem operá-la. Operar uma política pública do Estado brasileiro

não é simples, mas a educação no campo pode auxiliar nesse caso.

Pensar na perspectiva da agroecologia, da

participação e do controle social também são componentes educativos

importantes de serem abordados. Neste momento, por exemplo, o marco

regulatório do Programa Nacional para a Alimentação do Escolar está sendo

revisto, inclusive com ameaça de retrocessos. É muito importante saber qual a

nossa participação nesse processo. A educação para o meio rural está

abordando esses componentes, porque se cochilamos a disputa é grande.

Temos que dialogar com outras políticas públicas

também. Ontem mesmo participei de um evento em Lajeado do Bugre,

Município com menor IDH no Estado, onde se está trabalhando com o governo

estadual uma política de combate à pobreza no meio rural, que visa a transferir

renda para famílias que vivem no meio rural, com processo educativo. Que

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perspectivas estamos pensando na educação de inclusão social no meio rural

nessa lógica, cooperando com políticas públicas do governo federal e do

governo estadual? Muito obrigada.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra à diretora da Escola Estadual Antônio Burin, Erechim,

professora Erenice Mingotti.

A SRA. ERENICE MINGOTTI – Bom dia a todos.

Agradeço ao convite. Sinto-me muito feliz por estar

aqui. Sou diretora de uma escola situada no meio rural de Erechim. Não sou

agricultora, mas me casei com um agricultor. Há 27 anos leciono em escolas

rurais.

Em 1996, começamos com 280 alunos na escola

nucleada Antônio Burin; hoje, há 53 alunos. Tudo tem que ser muito rápido. A

escola tem estrutura para segundo grau. As crianças que terminaram a 8ª séria

passam na frente da escola e vão para a cidade. Elas me perguntam todos os

dias quando haverá o segundo grau. Respondo que estrutura temos, mas

dependemos de políticas governamentais.

Fui obrigada a criar classes multisseriadas no início

deste ano, o 6º ano com a 8ª séria, o que é um disparate. As crianças dizem

que vão estudar na cidade, porque os pequenos estão junto aos grandes. Só

porque tenho menos de 10 alunos na turma. Estão contando aula particular. Os

professores não podem ficar dando aula assim particular para eles. É

economicamente inviável, foi o que me disseram.

Tiraram o professor de Matemática para dar aula de

Religião na outra escola. Não que o ensino religioso não fosse importante.

Precisava apenas de cinco períodos para não me desfiliar. Mandaram para

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outra escola dar Ensino Religioso. Faltaram quatro períodos de Ciências para

não me desfiliarem. Era só ampliar um contrato, porque tenho professores

contratados.

Economicamente não é viável. Ordem da Seduc. É a

única escola da minha região que está multisseriada, com a 6ª e 8ª séries

juntas. Eu multisseriei por conta própria. Os professores estavam dando aula

de graça. Fiz isso.

Lá, na 15ª CRE de Erechim, a coordenadora me

disse o seguinte: Volta a multisseriar, senão você vai ter que assinar uma

advertência, porque você está fazendo uma coisa errada. Os pais estavam

comigo e ouviram que, se não fizesse isso, a turma da 8ª série teria que

estudar na cidade.

Choro quando falo isso, porque luta pelas crianças.

Não é por mim, nem pelos professores. A maioria dos meus professores são

contratados. Eles são contratados, na sua maioria. Não têm perspectiva ainda,

se vão ficar ou não, em que lugar vão estar. Essa é uma realidade.

Os alunos não podem ficar na escola todos os dias,

o dia inteiro. Lá, temos, na tarde, a parte esportiva, mas somente um dia por

semana. No outro dia, os alunos têm que ajudar na agricultura familiar. Eles

têm que ficar em casa, ajudando os seus pais. Eles não podem ficar.

Existe uma escola do Município muito boa. Não fica

muito perto da minha região. Agora, nela, há educação integral, que os obriga a

ficarem o dia inteiro, três vezes por semana. Alguns saíram de lá e vieram para

a escola, porque não podem ficar. Eles podem um dia por semana, porque, no

outro dia, têm que ajudar. São pequenos agricultores.

Muitos dos meus alunos, hoje, são vereadores,

trabalham em ene lugares. Tiveram a formação lá na escola, mas não naquela

escola do campo – e desde 1996 que estou lá. Não tenho formação no campo.

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Não sou agricultora. Sou casada com um agricultor, que hoje está na cidade.

Mas vivi a realidade deles.

Quando comecei a lecionar, há 27 anos, caminhava

4,5 quilômetros até chegar a escolinha. E fui. Digo para vocês que não é pelo

dinheiro, não é por nada. É pelas crianças que estou aqui hoje. Se não mudar,

vou iniciar um movimento com a imprensa e com tudo mais que puder. Muito

obrigada e desculpem-me pelo desabafo.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) – De

imediato, concedo a palavra ao Sr. José Valdir.

O SR. JOSÉ VALDIR – Bom dia a todos. Sou

coordenador do Grupo de Trabalho Educação no Campo. Inscrevi-me para dar

um pequeno informe, mas sou obrigado a dizer uma palavra sobre o que a

colega recém referiu.

Tenho consciência de que são importantíssimos

esses encontros, ocasião em que temos a possibilidade de ouvir o

contraditório. É assim que as coisas avançam. Vamos levar em conta as

reivindicações feitas pela professora. Assim que as coisas avançam, no

contraditório e no conflito.

O conflito também é pedagógico. Acho que todo

mundo tem experiência nisso e sabe. Iremos recolher as observações da

professora e vamos encaminhá-las à secretaria da melhor maneira possível.

Inscrevi-me basicamente para dar um informe,

porque o coordenador do MEC levantou a questão da escola como unidade

executora. Desde o ano passado, estamos preocupados com essa questão.

Junto com o projeto de lei que enviamos a esta Casa, no ano passado, que

modificava a eleição de diretor e fazia algumas modificações para melhorar,

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incluímos mais um artigo tratando dessa questão da unidade executora.

Então, foi aprovada, há um mês, a lei nº 13.990

sobre a rede estadual de ensino. Portanto, as escolas, através dos conselhos

escolares, já são legalmente consideradas unidades gestoras. Só falta a

questão operativa. Assim, na rede estadual de ensino, já resolvemos.

Não sei se o Antônio Marangon abordou sobre isso,

porque tive que atender um telefonema, mas agrego então essa informação.

Se ele já falou, serve como reforço. Na rede estadual, do ponto de vista legal,

está tudo resolvido. Muito obrigado.

O SR. COORDENADOR (Altermir Tortelli – PT) –

Passo a palavra a secretário da Agricultura de Bento Gonçalves, Gilmar

Cantelli.

O SR. GILMAR CANTELLI – Bom dia a todos. Muito

obrigado, Altemir Tortelli, pela oportunidade de me expressar para o público.

Outro dia, no restaurante que frequento em minha

cidade, conheci uma garçonete que passou a usar óculos. Depois de uma

semana, não o usava mais. Perguntei-lhe a razão disso. Ela respondeu que

começaram a chamá-la de quatro-olhos. Por essa razão, havia deixado de usá-

los.

Comparo esse acontecimento com o que aconteceu

com o meu piá, que estuda na 8ª série. Ele saiu da 5ª série da comunidade em

que moramos e foi para o meio urbano, pois na escola em que estudava

anteriormente não havia a 6ª, 7ª e 8ª séries. Com isso, começou a sofrer

preconceito com o fato de ser colono. Ele vinha para casa e falava para mim.

De certa forma, sentimo-nos desmerecidos. Por isso, temos que lutar para

reverter essa situação.

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Faço parte dessa Comissão Pró-EFA, na Serra

gaúcha. Queremos instalar uma escola agrícola familiar, porque irão conviver

alunos com a mesma característica, função e o desejo de vida, que é ser

agricultor. Essa é uma profissão muito honrada.

Por outro lado, se o cidadão do campo convive num

meio em que todos têm um certo preconceito, ele mesmo começa a mudar a

sua visão das coisas e acaba desistindo dessa idéia primária de ser um

agricultor. Por isso, agradeço a participação de todos que estão em prol dessa

causa.

Estou aqui simplesmente para pedir o apoio, tanto

da Seduc, quanto do MEC, para viabilizarmos essa implantação e

principalmente a manutenção dela. Sabemos que não se trata de uma escola

particular, na qual se busca o lucro. Também não se trata de uma escola

pública, em que o Estado é quem banca todos os custos. É uma escola

comunitária, onde nós, sócios, pais, professores, entidades e talvez Municípios

também temos que fazer com que tenha sucesso.

A minha participação é breve. Vim aqui basicamente

para solicitar o apoio de todos, para que essas escolas trabalhem no sentido de

que o homem do campo venha a se sentir valorizado. Somente assim

permanecerá no meio rural trabalhando.

No dia a dia, enfrentamos sol, chuva, frio e calor,

mas graças a Deus, temos uma vida bem tranquila. Podemos simplesmente

viver, chegar, daqui a alguns anos, no final das nossas vidas, e ver que, se

moramos na cidade ou no interior, vivemos nossa vida com felicidade. O que

importa é vivermos felizes no meio em que estamos.

Para isso, precisamos de uma formação para que

possamos transmitir os ensinamentos devidos aos nossos jovens, a partir da 5ª

série, principalmente.

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Era, isso. Muito obrigado pela oportunidade.

O SR. COORDENADOR (Altermir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra ao representante da Escola Família Agrícola de Santa Cruz,

professor João Costa.

O SR. JOÃO COSTA – Bom dia a todos. Deputado

Altemir Tortelli, agradeço por este momento, pois essa discussão é de

fundamental importância.

Como sou um provocador também, quero entrar na

provocação feita antes. Realmente, a situação é mais séria do que se imagina.

Hoje, a Escola Família Agrícola de Santa Cruz está presente em dois

Municípios. Temos 146 jovens em formação e chegamos a 92 comunidades do

interior do Vale do Rio Pardo.

Foi questionado anteriormente em relação ao tempo

necessário para que sejam implementadas as medidas necessárias. Afirmo, já

que representantes do MEC e da Seduc estão presentes, que não há tempo.

Não temos mais tempo. Essa é uma constatação.

Vivemos na Região do Vale do Rio Pardo, no maior

polo fumageiro do Brasil, que, só na última safra, lucrou 1,9 bilhões de dólares,

com 14% de crescimento desse setor em relação à última safra.

Na última visita que fizemos por aquela região, há 15

dias, percorremos 8 quilômetros pela beira da estrada e deparamo-nos com 18

propriedades fechadas, muito embora estejam aparelhadas com estufa, galpão,

casa e com tudo que é preciso. Era só chegar lá, sair plantando e produzindo o

que quiser.

A situação do campo, no Brasil, hoje, é calamitosa.

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O Estado ainda não chegou. O que chega do Estado são paliativos. O Estado

brasileiro ainda não chegou. A situação é dramática. O relato da professora é o

mesmo que o nosso, pois estamos com essa meninada, lá, na base, junto com

as famílias a cada visita. Estamos fazendo visitas, deputado, para que os

agricultores não se suicidem, porque a situação é dramática. É um drama que

vivemos.

É aqui estão o MEC e a Seduc. Pessoal, é para

ontem. Está aqui a Assembleia Legislativa. Assembleia, é para ontem. Estão

aqui os movimentos sindicais. Estão aqui as casas irmanadas nessa luta. A luta

é para ontem. Não temos mais tempo.

Setenta por cento da boia que se come neste País

vem da agricultura familiar. É para ontem. A situação é assustadora. Estamos

no limite com os nossos jovens. No limite. Essa gurizada está peleando. Temos

35 jovens estagiando. E a situação é dramática, porque a assistência técnica

que está hoje nos Municípios, na sua grande maioria, é criminosa também,

porque está a serviço do agronegócio, a serviço de quem tem grana para

pagar. São 350 reais por um saco de semente. Aí, fazem o nosso agricultor

familiar ludibriado comprar essa semente e depois se endividar. E aí, deputado,

dos 5 hectares tem de vender 4 hectares, ficando apenas com a casinha, e

com 1 hectare para produzir basicamente a horta e ter minimamente o que

comer. Com isso, é preciso trabalhar no comércio da cidade, deslocando-se

para lá. Esse é o modelo agrícola que hoje vive o Brasil, da agricultura familiar.

Estamos aí peleando na luta, mas estamos

cansando. Então, Estado Brasileiro, é para ontem. Queremos conversar,

vamos para o debate, mas precisamos de ação concreta, porque estão

fechando escolas, estão transferindo para escola nuclear, e a piazada está indo

toda para a cidade. E não falarei como está a cidade, porque não é preciso.

Todo mundo sabe o que viu para chegar aqui na Capital. Então, é dramática a

situação. Ninguém está inventando nada.

Estamos há quatro anos em Santa Cruz e até hoje não

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recebemos uma visita da Seduc. Até hoje não recebemos uma visita do MEC. E

estivemos três vezes em Brasília. Aqui, na Seduc, estivemos umas 40 vezes.

Queremos ser visitados. Queremos que vejam se trabalhamos ou não. Está lá a

gurizada, estão lá as famílias esperando para recebê-los e mostrar o que, mesmo

com essa situação grave e precária, viemos fazendo. Se retirassem essas

experiências hoje, não teríamos muito o que falar aqui. Obrigado.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra ao Sr. Rosmar Kretzmann.

O SR. ROSMAR KRETZMANN – Sou de Vale do

Sol. Sou agricultor. Fiz parte do Conselho da EFA de Santa Cruz do Sul

durante três anos. Agora, tomamos essa iniciativa, em Vale do Sol, de

implantar uma EFA lá. Fui eleito presidente da associação para buscar esse

método de ensino para o nosso Município.

A Escola Família Agrícola, em primeiro lugar, é

capaz de formar o cidadão. Não adianta formarmos apenas um profissional,

pois precisamos formar um cidadão que respeita e seja respeitado também

pela população, pelo seu semelhante, e que saiba respeitar também as

diferenças na sua comunidade. Isso a escola é capaz de fazer.

Por esse motivo, estamos lutando por essa escola

em Vale do Sol. Estamos buscando esse apoio, razão de hoje estarmos aqui.

Viemos com o ônibus lotado de pessoas para mostrar que estamos botando a

cara à tapa para fazer a coisa funcionar.

Fala-se tanto em êxodo rural, mas acredito que esse

êxodo se dá por um grande motivo hoje, como o professor João falou, os

agricultores estão endividados. O jovem não quer assumir a responsabilidade

de ter de pagar a conta que seus pais e seus antecedentes fizeram. Então, eles

estão indo embora.

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A escola que buscamos vem para ensinar o jovem a

gerenciar melhor a sua propriedade, algo que uma escola convencional não

faz. O jovem precisa aprender a gerenciar uma propriedade, a fazer conta, a

calcular o que ele vai poder gastar e o que vai poder investir. Isso não estava

acontecendo. Para isso vem a escola agora.

Acredito que essa escola vai dar certo em Vale do

Sol, por ser um Município essencialmente agrícola. Temos todo o potencial.

Por sinal, nem sabemos como fazer, porque há uma demanda muito grande de

jovens. Então, não teremos capacidade para atender a todos.

Há mais de 400 interessados em estudar nessa

escola, mas há apenas 25 vagas a cada ano. Podemos chegar a 75 no

máximo. Então, é complicado. Há um interesse das crianças estudarem, mas

para isso é preciso ter o apoio das famílias, porque, sem ele, não vai ter jovem

estudando. Se a escola voltada para o interior não incentivar o jovem a ficar no

campo, ele vai embora.

Temos de trabalhar para isso. Em primeiro lugar,

temos de pensar a cidadania acima de tudo. Muito obrigado.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra ao Sr. José Celso Puhl.

O SR. JOSÉ CELSO PUHL – Bom dia, autoridades

da mesa. É uma satisfação estar aqui.

Represento a Arcafar do Rio Grande do Sul, a Casa

Familiar Rural de Santo Cristo. Sou agricultor e monitor dela.

A educação do campo não se resume a algumas

definições em gabinete ou à institucionalização em escolas formais e com boas

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intenções.

A educação no campo é muito mais uma prática

pedagógica de valorização dos agricultores para elevar a autoestima do jovem.

Por isso ela acontece com e na comunidade, buscando desenvolver o gosto

pela agricultura.

Tivemos várias expressões aqui de rebaixamento da

agricultura. A sociedade impõe essas ideias, e nós temos de fazer com que o

jovem crie o gosto pela agricultura. A educação no campo precisa valorizar o

conhecimento das famílias, o que também já foi falado aqui.

O que nós queremos com a educação no campo?

Qual é o resultado que buscamos? Queremos reproduzir agricultores? Eu acho

que esse é o objetivo. Queremos que mais agricultores apareçam. A produção

de alimentos nós queremos garantir. Aí, entra aquela questão da valorização

da sociedade.

O que a sociedade, no mundo inteiro, faz com a

agricultura familiar que produz alimentos? Não valoriza. Despreza. Aí, estamos

repassando uma dívida para os agricultores, que eles têm de reproduzir

agricultores, mas quem precisa alimentos é todo o povo. Então, isso deve ser

uma preocupação da sociedade.

Hoje, apesar da sociedade não valorizar, felizmente

os governos estão despertando e reconhecendo uma dívida que precisa ser

recuperada.

O governo, com as políticas públicas, tenta mostrar

que valoriza os agricultores, os jovens, porque temos políticas públicas que são

capazes de garantir renda para a agricultura. Estamos, no entanto, vendo um

êxodo rural: 95% desses jovens agricultores, pela desvalorização da

sociedade, não chegam a experimentar essas políticas públicas. Não chegam a

experimentar ser agricultor, porque a educação não induz a isso.

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A educação pelas Casas Familiares Rurais, pelas

EFAs e pelas escolas agrícolas é capaz de motivar os jovens a construir e

desenvolver um projeto de vida que possa garantir e dar qualidade de vida no

campo altamente superior à que teriam nas cidades. Muito obrigado.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra ao professor da URI de Frederico Westphalen, Sr. Luis

Pedro Hillesheim.

O SR. LUIS PEDRO HILLESHEIM – Bom dia a

todos!

Também sou membro da Conec, representando o

Ceffas. Isso nos deixa muito contente pelo fato do Ceffas também ter a

representação na Comissão Nacional de Educação no Campo.

Importa-nos muito, neste momento, fortalecer a

pedagogia da alternância. Pedi a palavra para poder salientar e trazer, no final,

o debate e o fortalecimento da ideia da pedagogia da alternância.

O que une o povo é o trabalho, não a festa. O

trabalho é que viabiliza a pedagogia da alternância. Tem surgido muito este

tema, pedagogia da alternância. Parece que tem ficado meio que comum, meio

que regular demais.

Muitos analisam que a pedagogia da alternância é

algo que se faz teoricamente, que se faz ora na teoria ou na prática. Na

pedagogia da alternância, a teoria e a prática coexistem. Elas andam juntas.

Elas trabalham juntas. Elas se fortalecem juntas. Isso acontece na vida diária

do agricultor.

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Para finalizar, quero dizer que há necessidade de,

junto ao MEC e junto ao MDA, fortalecermos a ideia de que ser agricultor é

uma profissão legal e oficializada.

É aquilo que o José Celso falou aqui. Parece que o

agricultor não é visto como um profissional, como algo efetivo. Em 2006, foi

criada pelo Lula a profissão do agricultor, mas até hoje não foi regulamentada.

Parece-nos que esse é o debate, esse é o

encorajamento, isso que vai possibilitar ao jovem ter a sua formação como

agricultor. Estamos correndo o risco de formar técnicos em agropecuária, em

zootecnia, nisso e naquilo e não formar agricultores, o que descaracteriza.

Gostaria muito que, em Frederico Westphalen, o

título no diploma fosse de agricultor. Isso não estou conseguindo ver. É a

grande ferida e o grande elemento que a sociedade passa a não reconhecer.

Muito obrigado.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra ao presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Ijuí, Sr. Carlos Karlinski.

O SR. CARLOS KARLINSKI – Como tesoureiro, já

sabem a temática que temos como angústia.

Tenho duas sensações: uma bem positiva no

sentido do desenvolvimento rural, da questão da sucessão rural, que é o

projeto Casas Familiares Rurais, no qual vale a pena investir. A pedagogia da

alternância, esse acompanhamento das famílias é um resultado concreto que

temos na nossa região de Ijuí. Por outro lado, vejo a complexidade desse

aspecto e a necessidade de fazermos um revolução, e o tempo é a nossa

preocupação.

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Quanto à questão do transporte escolar, que é um

problema sério, apresento uma ideia para ser amadurecida: Será que a

pedagogia de alternância, o internato, a manutenção do pessoal no meio rural

não seriam uma alternativa que devêssemos olhar com muito mais atenção?

Acredito que os aspectos da pedagogia não há

necessidade de discutir.

Há a questão da formação. É preciso investir nesse

sentido.

A minha preocupação é com a insegurança

financeira das nossas Casas Familiares Rurais. Precisamos ter condições. É

uma angústia que tenho como tesoureiro, pois há encargos com monitores,

governantas, e estamos totalmente inseguros nesse sentido.

Estamos no limite. Se não resolvermos essa questão

neste ano – vivemos de esperança –, teremos de trabalhar muito.

Temos feito solicitações junto à própria delegacia do

MDA. Precisamos buscar alguma alternativa nesse sentido. Há coisas boas

acontecendo. Há políticas públicas, mas precisam ser adequadas.

É importante resolvermos a questão da segurança,

porque estamos no limite.

Esse esforço coletivo de superação é muito

importante. E reforço aquilo que o companheiro disse aqui em relação ao

tempo: é para ontem.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra ao representante da Fetraf, Tiago Klug.

O SR. TIAGO KLUG – Bom dia. Tudo bem?

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Fico feliz por poder me expressar. Pertenço ao

Coletivo de Juventude da Fetraf e sou do interior de São Lourenço do Sul. Ouvi

muito a minha mãe citar aquele velho ditado: Vai estudar na cidade e terá uma

vida melhor. Na escola, nos espaços dos quais participei, continuei ouvindo

isso o tempo inteiro. Estudei num colégio agrícola do interior do Município. A

escola possui 200 hectares de terra e toda a infraestrutura que um colégio

agrícola precisa para funcionar.

No colégio agrícola, recebi incentivos dos

professores para ser um técnico vendedor de veneno, de insumos, de

agrotóxico, seja do que for. Até certo ponto, fui acompanhando as ideias. O que

mudou a minha cabeça foi o fato de ter participado do Consórcio Social da

Juventude Rural. Estivemos no interior do Município, e começou a mudar a

minha cabeça e a minha filosofia no sentido de pensar como jovem filho de

agricultor. Mesmo assim, eu fui mais longe, fui para Vacaria, trabalhei durante

dois anos numa fazenda que priorizava o agronegócio, era um dos operadores

das colheitadeiras. Mas fui teimoso e voltei para casa. Trabalhei mais um

tempo com o pai e comecei a militar dentro do sindicato.

Quero voltar ao ponto do colégio e falar do nosso

currículo escolar. Numa ação rápida, respondendo ao deputado Altemir Tortelli,

penso que deveríamos fazer seminários abertos ao público, para discutir o

currículo escolar, colocar o que foi dito sobre a merenda escolar e falar de

todos os programas que temos, colocando um tema específico dentro do

colégio agrícola, um currículo específico para falar sobre a agricultura familiar,

o que é ser filho de agricultor e a nossa produção de alimento, que 70% do que

produzimos está em 30% da área de terra. Esta é uma medida fácil de

fazermos e pode ser feita mais rapidamente. Obrigado.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra à Andréia Nunes de Sá Brito.

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A SRA. ANDRÉIA NUNES DE SÁ BRITO – Bom dia

a todos.

Sou coordenadora da Fundação Estadual de

Pesquisa Agropecuária.

Em nome da Fepagro quero colocar a nossa função

enquanto pesquisa. Já tivemos uma fase da extensão, do ensino como um

todo. Como órgão de pesquisa agropecuária do Estado, gostaria de falar da

nossa preocupação com a temática.

A Fepagro esteve durante muitos anos inativa, eu

até diria assim, do ponto de vista da produção de ciência e inovação de

tecnologia para a agricultura do Rio Grande do Sul e, em especial, para a

agricultura familiar.

Hoje estamos propondo, dentro da instituição, este

foco e esta preocupação com a agricultura familiar, com a agroecologia, e

tentando fazer um link para isso, com o ensino.

Hoje estamos abrigando em três centros de

pesquisa da Fepagro campus da UERGS, que não tem estrutura própria no

Estado, uma instituição também esquecida pelo poder público e que, hoje, está

ganhando três sedes dentro dos centros de pesquisa da Fepagro para poder

desenvolver as suas atividades.

A princípio aqueles campus que tem relação com as

ciências agrárias. Por exemplo, Santana do Livramento, que abrigará um curso

de Agronomia, dentro da Fepagro será abrigado o campus da UERGS.

Há oito anos somos parceiros do Programa Nacional

de Educação para a Reforma Agrária, com o qual acredito que o Pronacampo,

como um novo programa, tem muito a aprender.

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O Pronera, que já tem 8 anos, vem trabalhando no

âmbito do ensino fundamental, do ensino médio, mas também da pós-

graduação. Acabei de me formar com a primeira turma do curso Especialização

em Agricultura Familiar Camponesa e Educação do Campo, pelo Pronera.

Esse programa tem se preocupado com o ensino fundamental e a educação

básica, mas também com o ensino superior e com a pós-graduação, porque

nós precisamos de profissionais de ensino superior, pós-graduados, que

pensem no campo, que estejam nas cidades, mas que possam pensar o

campo.

E aqui na Assembleia Legislativa também temos de

pensar isso. Hoje, por exemplo, dentro de uma estrutura pública do Estado,

temos que ter pessoas pensando no campo, pensando na agricultura familiar.

Por isso, quero dizer que nossa estrutura está à

disposição. O secretário Ivar colocou os centros de formação da Emater à

disposição do Pronacampo. Alguns destes centros estão dentro da Fepagro.

Temos, hoje, 22 centros de pesquisa no Rio Grande do Sul e, dentro destes,

temos 11 centros de formação, que estão à disposição para o Pronacampo,

para as atividades deste programa, para abrigar escolas e cursos de formação.

Convido para uma audiência pública que ocorrerá

neste espaço no dia 13 de junho para discutir os rumos da Fepagro e a função

que a pesquisa agropecuária deve ter, diante do cenário da realidade rural do

Rio Grande do Sul, para colocar a serviço de quem deve estar a pesquisa

pública no Estado do Rio Grande do Sul, para o qual precisamos produzir

ciência e tecnologia. Obrigada.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli) – Concedo

a palavra ao Roberto Carlos Iopp.

O SR. ROBERTO CARLOS IOPP – Bom dia a

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todos.

Dirijo-me ao João Antônio e ao pessoal do governo

do Estado. O governo do Estado e o governo federal têm que orquestrar um

pouco os investimentos, que estão sendo muito concentrados. Há Municípios e

regiões que recebem escolas técnicas federais, universidades federais e que já

têm UERGS. Há regiões inteiras que estão isoladas dos investimentos, que

não têm instituição de escola técnica, nenhuma escola estadual, federal ou

universidade e que continuam esquecidas, com baixo nível de

desenvolvimento.

Há regiões, em que a UERGS já fechou, que

receberam universidade federal, Ifet e Cefet. Não dá para ser trabalhada essa

realidade. O critério a ser trabalhado deve ser técnico e não político. As ações

da educação têm sido baseadas em critérios políticos em cidades que têm

mais de 50 mil habitantes.

O Estado do Rio Grande do Sul recebeu nove

institutos federais de educação tecnológica e mais sete, de ampliação, e todos

urbanos, nenhum direcionado à educação rural. Das 16 cidades, 11 tinham

universidade estadual; seis, universidades comunitárias; e quatro, escolas de

universidades federais.

Se queremos discutir desenvolvimento por

intermédio da educação, é preciso haver investimento nas cidades e nas

regiões que estão esquecidas e abandonadas.

É muito importante que esse debate aconteça, mas

as coordenadorias regionais de educação e muitas secretarias municipais de

educação não estão aqui presentes.

O jovem só irá ficar no campo quando o ensino

fundamental discutir políticas para o campo. Quem faz educação fundamental

no Rio Grande do Sul são os Municípios. Por que os Municípios não estão

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aqui? Por que 28 coordenadorias não têm representante aqui? Precisa haver

compromisso também do Estado. Há coordenadores regionais de educação

que não têm compromisso com a educação para o campo. É preciso uma

política de Estado.

Na nossa região, temos duas escolas agrícolas, uma

na minha comunidade, que criamos no governo Olívio, e outra em Fontoura

Xavier. Sou vice-prefeito de Espumoso. Em todas as escolas municipais, há

telecentro, telefone e Internet. Nas duas escolas estaduais, não há Internet,

telefone, telecentro, nem uma kombi para levar os alunos para fazer prática

escolar. É preciso reestruturar essas escolas para competirmos com as escolas

do governo federal que trabalham com a lógica do agronegócio.

Deixarei duas sugestões. Quanto à questão do

transporte escolar em que o Estado investe, há Municípios em que o transporte

escolar passa em frente da nossa escola para levar os alunos para a cidade.

Se tenho uma escola de ensino fundamental, médio e técnico ali, que trabalha

agroecologia, que tem um horto com 80 plantas medicinais, que tem uma

indústria de óleos essenciais aromáticos, os alunos são obrigados a ficarem ali.

Se os pais querem mandar para a cidade precisam pagar o custo. Precisa

haver uma política de Estado. É isso que temos que debater.

Hoje há bolsa para tudo. Inclusive há bolsa em

cursos para pessoas que não irão fazer. Há programa ProJovem isso e

ProJovem aquilo. Esquecemos de debater uma bolsa de incentivo para aquele

jovem que caminha 3 e 4 quilômetros e que está numa escola do campo. É

preciso uma ajuda para aqueles que estão estudando nas nossas escolas para

fazerem um estágio remunerado pelo Estado.

Parabenizo as pessoas que aqui se encontram.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra ao estudante Vinícius, da Escola Família Agrícola, de Santa

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Cruz do Sul.

O SR. VINÍCIUS – Bom dia a todos. Sou estudante

da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul. Fui morador de Porto Alegre

praticamente toda a minha vida. Há três anos, tive uma mudança muito radical.

Fui para o campo, mas pensava em voltar para a cidade. Matriculei-me na

Escola Família Agrícola, e hoje penso em ficar no campo.

A Escola Família Agrícola incentiva o jovem a

permanecer no campo, ela trabalha com a realidade do aluno. No entanto, fico

assustado quando o secretário do Desenvolvimento Rural diz que o trabalho

está muito pesado para o agricultor e que ele precisa de tecnologia de fora da

propriedade, o que para mim significa tratores, mecanização. Será que as

tecnologias culturais das comunidades não podem ser levadas em conta nessa

questão? Na minha formação, aprendi que tenho que levar em conta essas

tecnologias, sendo elas as mais simples.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Com a palavra o Hemerson, do Município Vale do Sol.

O SR. HEMERSON – Sou técnico agrícola em

formação, em fase de estágio.

Debatemos, aprendemos e ensinamos uns com os

outros. Fiz parte da primeira turma da EFA dos três Estados do Sul. Tenho

experiência de 10 anos de ensino fundamental e de três anos e alguns meses

em Escola Família Agrícola.

Da maneira como a cidade está hoje, é um modo

insustentável de vida. No entanto, só conseguiremos mudar essa realidade

através da educação.

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Sou mais um jovem que ficará na propriedade

porque a educação permitiu. O que quero dizer com isso? Que o mundo rural

precisa ser pensado em vários aspectos e setores. Através da educação os

estudantes se tornam sujeitos pensantes. Cada jovem em formação nesse

modelo de educação aplica seu conhecimento na propriedade. Cada um se

identifica num setor, o que eleva a autoestima dos alunos.

Se temos uma sociedade, uma educação

convencional que não estuda a nossa realidade, nossa autoestima fica baixa. A

partir do momento em que estudamos a nossa realidade, o contexto em que

vivemos, nossa educação melhora. A autoestima é a base de tudo em todos os

setores.

A educação deve ser como uma árvore, se a

alimentarmos, ela dará frutos e fechará um novo ciclo. Esses debates são

como a fotossíntese, precisamos deles para nos polinizar. Caso contrário, a

agricultura morre.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra a Elisandra Manfio Zonta para suas considerações finais.

A SRA. ELISANDRA MANFIO ZONTA – Como

representante do Cefa, primeiramente agradeço a oportunidade de

socializarmos nossos resultados e nossas aflições.

Para finalizar, destaco que, no Rio Grande do Sul,

independentemente da nossa formação, de as Casas Familiares e das EFAs

serem reconhecidas como ensino médio formal ou, também, do trabalho

informal que muitas casas desenvolvem por meio da qualificação, todas

trabalham a pedagogia da alternância.

Se lembrarmos quantas vezes Antônio fez referência

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à pedagogia da alternância de forma legal em nível nacional, poderemos ter

presente sua importância e a complexidade que representa na educação do

campo.

Nós, educadores, jovens, famílias, associações,

estamos cansados de ouvir nos dizerem que é lindo e maravilhoso nosso

trabalho, mas que não é possível financiá-lo, que ele não é legal, que não

estamos credenciados.

Nossos colegas já disseram, e digo com todas as

letras: quem realmente está fazendo a educação no campo, no Rio Grande do

Sul, são as EFAs, são as Casas Familiares Rurais, somos nós, que

trabalhamos com a pedagogia da alternância.

Encarecidamente, pedimos ao governo do Estado, à

Secretaria da Educação, à Assembleia Legislativa que de fato façam algo

concreto para que possamos continuar a desenvolver esse trabalho de

formação de jovens agricultores.

Se isso não acontecer, daqui a alguns dias, apenas

lembraremos que existiram EFAs e Casas Familiares Rurais.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra a Antônio Marangon para suas considerações finais.

O SR. ANTÔNIO MARANGON – Primeiramente

agradeço essa oportunidade. Como gestor, é importante estarmos aqui e

ouvirmos. É positivo os senhores poderem falar e, como gestor, podermos

assumir a nossa parte.

Faço uma reflexão: mais de 1 milhão e meio de

crianças frequentam escolas multisseriadas. O problema é o seguinte: ou

essas escolas são multisseriadas ou fecham. Mal necessário não sei se seria a

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denominação mais adequada – estamos num dilema.

José já se manifestou sobre a questão de Erechim.

Talvez, em outros tempos, para a 7ª e a 8ª séries, não seria mais permitida a

matrícula naquela escola, os alunos seriam mandados adiante. Conversaremos

com Gelsi para saber por que motivo a turma foi multisseriada. Pode ser que o

motivo tenha sido não deixar que essas séries saíssem da comunidade.

Analisaremos esse caso de perto.

Insisto que seja feita esta reflexão: a escola

multisseriada existe para milhões de alunos no Brasil. Se acabarmos com ela,

muitos alunos não terão mais aulas na sua comunidade, séries continuarão

fechando.

Trago mais uma reflexão: o Estado brasileiro não foi

feito para nós, os trabalhadores. Sou filho de pequeno agricultor e professor.

Estamos há muito tempo peleando, com os movimentos, para mudar o Estado.

Obtivemos alguns marcos legais a partir do Lula, algumas mudanças no Estado

brasileiro para o nosso lado, mas isso não é feito por decreto – esse é o

problema.

Por exemplo, no Rio Grande do Sul, temos o ensino

médio politécnico. Está aberto para todo o ensino médio gaúcho, no campo e

na cidade, a possibilidade de debater a sua realidade no primeiro ano. No

entanto, isso não é automático. Como disse o colega, não é por ter em uma

escola agrícola o ensino médio politécnico que lá será automática essa

discussão. Ressalto que existe o marco legal para realizar o debate.

Não basta criar a lei agora para tudo

automaticamente funcionar. Temos de continuar a tirar a lei do papel, porque,

repito, esse Estado não foi feito para nós.

Visitei Frederico Westphalen quando estava no

MEC, como Pedro bem lembrou. Vou dar um jeito de visitar a escola de Santa

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Cruz do Sul. Nosso grupo está fazendo visitas a algumas realidades quando

nos solicitam.

A Seduc está à disposição e é parceira dos

senhores, dentro dos limites que tem. As coisas têm de mudar, e não somente

porque o gestor quer que sejam mudadas. Muitas vezes esse mesmo gestor

quer fazer mudanças, mas não consegue.

A pedagogia da alternância resolveria o problema do

transporte escolar, mas, no momento, sequer conseguimos implantar o Mais

Educação e o ensino integral, porque não há estrutura. Temos, então, de

caminhar em direção a essas metas, criando a estrutura necessária para a sua

concretização.

O MEC chegou a dizer que as nossas escolas, no

campo, devem ter alojamento para os estudantes. Quem sabe, com base

nessa posição, o poder público também comece a praticar a pedagogia da

alternância como vocês, os comunitários, que agora passaram a ter a

possibilidade de receber retorno, como os alunos da escola pública. Quem

sabe o ministério comece a aplicar isso.

Somos parceiros. Temos limites, mas também temos

muita vontade de começar a fazer coisas diferentes, o que acredito que vamos

conseguir. Muito obrigado.

O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra ao Sr. Antônio Lídio de Mattos Zambon.

O SR. ANTÔNIO LÍDIO DE MATTOS ZAMBON –

Vou falar sobre algumas providências importantes, que não citei anteriormente

e que dizem respeito ao que está sendo feito pelo governo federal. Todos, no

entanto, devem ter muito claro que o governo federal é um indutor de políticas,

mas não as executa no âmbito da educação fundamental.

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Somos proponentes; apresentamos proposições,

para que as demais instâncias possam ou não aderir a elas.

Estamos lançando, agora, a Política Nacional de

Agroecologia e Produção Orgânica. Estive na conferência, que contou com a

participação do Frei Sérgio, que já foi deputado no Rio Grande do Sul.

Segundo ele, é importante que o próximo Pronaf já tenha recursos para a

questão da agroecologia e da produção orgânica. Essa é uma proposta que

está bastante avançada e deve ser lançada na Rio+20, sendo bom que o

pessoal acompanhasse o andamento da questão.

Puxo esse gancho porque muito se falou, aqui,

muito, da inclusão, na grade curricular, da disciplina sobre agricultura familiar e

produção orgânica. Creio que é necessário mais do que isso.

Talvez eu não tenha destacado, em minha

manifestação, que o fundamental é a formação. Precisamos ter formação para

os professores que já atuam no campo, e formação inicial, para que atuem com

essa ótica da educação do campo. Não basta colocarmos a disciplina de

agricultura orgânica, de produção orgânica, em uma grade curricular, pois

sempre haverá um profissional que não trabalhará a contento com essa

matéria. Então, é preciso formação, e, no tema transversal, isso é trabalhado. É

algo muito mais importante do que simplesmente a matéria constar de uma

grade curricular.

Sobre a possibilidade de estudo, também não falei

aqui sobre a assistência estudantil. As universidades muitas vezes não têm o

entendimento de que os cursos de alternância são regulares, e, em função

disso, eles ficam fora da assistência estudantil. Estamos orientando essas

instituições em relação a essa regularidade, portanto os estudantes podem

concorrer à assistência estudantil.

No que diz respeito à Internet, temos um problema

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estrutural em nosso País. O crescimento traz coisas boas, mas também

dificuldades. O nosso satélite está saturado, não temos condições de satélite.

Há a questão da fibra ótica, que implica custos.

O Ministério das Comunicações trabalha com isso, e

não tenho maiores informações. Mas, para nós – para o campo –, pelo Gesat

são é 512 kb; é uma Internet pior do que a discada, cujo preço é de 300 reais

por mês. É um absurdo!

Temos um estrangulamento. Não definimos metas

mais claras porque dependemos da expansão, do lançamento de novo satélite.

O Brasil tem convênio com a Índia, mas o satélite precisa ser lançado. Não

colocamos isso explicitamente, tendo em vista essas dificuldades.

Foram lançadas, no dia 29, pelo ministro da

Educação, Aloizio Mercadante, e a ministra dos Direitos Humanos, Maria do

Rosário, as diretrizes para os direitos humanos. É importante ouvirmos o que

está sendo dito sobre a questão do preconceito ao colono, que representa

bullying. É importante, também, termos diretrizes para os direitos humanos, a

fim de trabalharmos com esse tema na escola, para tratarmos dessas

questões.

Não se trata de uma simples brincadeira, mas de

preconceito. Esse tipo de comportamento traz uma série de consequências

nocivas para os estudantes, não só os do campo, mas também os da cidade,

que enfrentam outros tipos de preconceito. Essa proposta lançada

recentemente, e temos de começar a trabalhar com ela nas escolas.

Outro elemento importante é o do novo fluxo para a

formação de professores. O próprio professor é quem vai dizer, pelo PDE

interativo, a sua necessidade. Ele dirá o que precisa, e a direção deverá

validar, juntamente com a secretaria municipal, ou a secretaria estadual. A

solicitação, então, vai para o Fórum Estadual de Educação, e nós, do

ministério, depois veremos de que forma poderemos atendê-la.

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Em relação aos organismos que, como a Fepagro e

outros, dizem-se dispostos a ajudar têm que formalizar isso, têm que entrar em

contato com a Setec – que opera o Pronatec– para conveniar. Não basta vir

aqui, em uma audiência pública, e anunciar disposição de ajudar. Temos que

formalizar essas coisas.Via governo do Estado, deve-se entrar em contato com

o MEC, através da Setec, para que haja uma formalização e, a partir daí, essas

organizações podem fazer a formação dos trabalhadores rurais.

O Sr. João Costa abordou aqui, em discurso

inflamado, a questão do tempo. É realidade o que ele coloca. Agora,

infelizmente – e está aqui o Marangon, que vai concordar comigo – não

depende apenas de mim e dele. Se dependesse, estava resolvido.

Acontece que existem tempos. Para a rede dos

Centros Familiares de Formação por Alternância – Ceffa – existe uma medida

provisória que depende de aprovação. Ela já está trancando a pauta, mas,

antes dela, há seis outras na ordem cronológica. Vai ser votada. Depois disso,

o Estado poderá firmar o convênio.

E aí, há um tempo para que isso se concretize. Será

preciso discutir parâmetros, termos, a forma como será feito o convênio. E a

discussão precisa ser feita com os Municípios também: quem vai credenciar os

Centros Familiares de Formação por Alternância? São eles próprios,

autojustificam-se pela sua qualidade? Não sou eu quem irá dizer que esta

instituição é boa ou é ruim. É a própria comunidade em que a instituição está

inserida que vai dizer qual é a boa e aí o Município vai conveniar.

Na parte que cabe à área federal, as instituições que

nos forem apresentadas como capazes de dar a formação, via Pronatec, serão

certificadas, através dos institutos federais. Isso sim. Certificadas, essas

instituições poderão fazer a formação, com aval federal.

Com relação aos investimentos federais,

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trabalhamos com critérios objetivos. Quando se trabalha com a expansão

federal, usam-se critérios e alguns deles levam em conta a população.

Também se analisa se o Município tem capacidade, estrutura para receber

diversos outros jovens. É um critério objetivo. Talvez não contemple regiões

que tenham necessidade – é verdade – mas existem critérios para a expansão.

Quanto aos cursos de agroecologia dentro dos

institutos federais, está prevista a sua implantação com a política nacional de

agroecologia. Estão previstas 50 mil vagas para jovens do campo.

Estamos trabalhando em uma série de alternativas.

Agora, é preciso que o que articulamos em termos de legislação, de políticas e

de programas, aconteça na ponta. E o papel de todos nós que estamos aqui é

de cobrança, de fazer a pressão com os gestores locais, seja em nível de

Estado, que é parceiro do governo federal hoje –, seja em nível de Municípios.

Com o governo do Estado, estamos tranquilos.

Sabemos que existem os tempos, mas há essa parceria. O próprio Marangon

anunciou aqui a construção de seis novas escolas do campo. Foi uma

pactuação que vimos construindo junto com o Estado.

Os Municípios têm que participar do PAR. São

prioridade, para nós, as escolas do campo. Vamos fazer um esforço para

liberar para os projetos que estão certos os recursos ainda este ano aos

Municípios, antes do limite eleitoral. Agora, tem que estar lá, no PAR.

A questão pedagógica é fundamental.

Agradeço a atenção de todos. Peço desculpas por

não conseguir responder a todos os questionamentos, devido ao pouco tempo.

Na apresentação, estão os meus contatos, meus e-mails. Podem mandar

mensagens que nós respondemos. Às vezes, demora um pouco, mas todos

são respondidos. Muito obrigado.

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O SR. COORDENADOR (Altemir Tortelli – PT) –

Todas as contribuições foram registradas e serão consideradas como subsídio

ao trabalho desta subcomissão.

Além desta audiência, estamos organizando, a

princípio, mais quatro eventos: em Frederico Westphalen, em Erechim, em

Santa Cruz do Sul e em São Lourenço do Sul. Estamos analisando a

possibilidade de promovermos encontros em outros locais, pois queremos fazer

esta discussão com o maior número de entidades, com governos municipais,

com as coordenadorias de educação; enfim, com quem quiser colaborar com

este tema. Temos mais 90 dias de trabalho na subcomissão.

Trago duas questões para a reflexão do grupo, para

que nos debrucemos nelas nos próximos dias, semanas e meses. Primeiro,

pela nossa história, pela experiência que construímos aqui no Rio Grande do

Sul de um governo popular – governo Olívio Dutra –, pelas condições

apontadas pelo governo federal e pelo que vimos aqui hoje, acredito que

precisamos tratar de construir, sob a coordenação do governo do Estado, da

Secretaria de Educação, uma política de educação para o meio rural, com as

lógicas nacionais, com as dimensões nacionais, olhando para o Rio Grande do

Sul e para a nossa realidade. Mas que necessita de um amparo legal. E tem

um projeto tramitando aqui que pode dar esse amparo jurídico e legal para

essa política. Então, em primeiro lugar, temos que fazer esse movimento

combinado.

Em segundo lugar, sobre o tempo, nós temos que

dar aviso (ininteligível) sobre o tempo. Eu acho que não podemos entrar em

2013 sem um programa, talvez nas dimensões do programa nacional. Não sei

se é um plano estadual, mas acho que precisamos ter um programa nessas

dimensões no Rio Grande do Sul.

Acho que existem condições, existem necessidades

e a possibilidade de fazer, – sei que temos eleições – mas não consigo

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imaginar entrarmos em 2013, nos próximos dois anos do governo Tarso, sem

termos um programa, sem alguma coisa parecida com um programa nessas

dimensões.

As outras duas questões, (ininteligível) falou uma

frase muito importante para mim, que não podemos deixar o cavalo encilhado

passar, que a nossa perspectiva (ininteligível). Acredito que há possibilidade de

usarmos bem esse cavalo e fazermos um grande movimento de unidade das

entidades que vivem a experiência, com as velhas experiências, com os

movimentos sociais e sindicais, com parlamentares, governo, ONGs,

universidades, de criarmos um espaço onde possamos estar todos, para

construir, para assumirmos compromissos e depois para implementarmos as

políticas e os programas.

Talvez essa seja uma das questões, – dita por ele

também e outros repetiram – a necessidade de fazermos um pacto, uma

aliança, uma frente, um fórum, com todos que efetivamente estão convencidos

e têm disposição de construir esse belo movimento.

Ficou muito evidente aqui que a pedagogia da

alternância é o elemento central dessa visão, dessa estratégia, desse

programa. E as casas e as escolas são a excelência desse (ininteligível) e não

podem morrer.

Então quero fazer um apelo para que a gente

encontre todas as brechas, as possibilidades, as janelas e as portas entre

governo federal e governo do Estado para que as nossas entidades possam

efetivamente ter um amparo de apoio financeiro para que possam passar esse

período, para que possam sobreviver e continuar com essa sua experiência

fantástica, brilhante, que nos ajuda a pensar as políticas públicas estadual,

federal e tudo mais.

Deixo essas duas ou três contribuições, que talvez

possam nos ajudar, nos orientar.

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Muito obrigado a cada companheiro e companheira

aqui presentes. Com certeza estamos dando um passo importante para que o

tema da educação no meio rural se transforme num dos grandes temas

estratégicos para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul e do Brasil nos

próximos anos.

Muito obrigado e um abraço a todos. Está encerrada

a audiência pública.

2 - AUDIÊNCIA PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE

FREDERICO WESTPHALEN

No dia 13 de julho de 2012, no Auditório da URI –

Campus de Frederico Westphalen reuniu-se a comissão de Agricultura

Pecuária e Cooperativismo, para realização de Audiência Pública para tratar da

Educação do Campo e Projeto de Lei nº 297/2011.

Estiveram presentes várias autoridades,

representantes do governo do Estado, das Escolas Famílias Agrícolas e Casas

Familiares Rurais, comunidades escolares da região, entre outros.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) – Bom

dia a todos.

Damos início a este encontro promovido pela

Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo da Assembleia

Legislativa.

Convidamos a fazer parte da mesa dos trabalhos a

coordenadora da 20ª Coordenadoria Regional de Educação, Sra. Idalina da

Silva Machado, aqui representando o governador Tarso Genro e a Secretaria

de Estado da Educação; o representante da Secretaria de Estado do

Desenvolvimento Rural, Sr. Armando Enderle; o secretário de Agricultura de

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Frederico Westphalen, Sr. Pedro Vargas Cavalheiro, representando as

secretarias de Agricultura da região; a coordenadora de Mulheres e

responsável pela área da saúde da Fetag, Sra. Inque Schneider; e o

coordenador do Departamento de Ciências Agrárias, Sr. Luis Pedro Hillesheim.

De antemão agradecemos à nossa URI por nos

conceder este espaço para fazermos o nosso debate.

Também comporá a mesa o Sr. Gilmar Vieira,

assessor da bancada do Partido dos Trabalhadores na Assembleia Legislativa,

que vai nos ajudar a apresentar as políticas do governo federal para a

educação no meio rural.

Agradecemos a presença das autoridades e do

conjunto de lideranças e representantes de vários setores da sociedade da

região – no decorrer da reunião, todos serão citados.

É possível que passem aqui, durante o nosso

debate, outros deputados estaduais e até deputados federais. Esses

parlamentares têm a prerrogativa de se pronunciar antes dos demais. Se

quiserem compor a mesa, estão automaticamente convidados.

Ouviremos inicialmente o representante do governo

federal, que explicitará a política do governo federal nessa área, e depois o

representante do governador do Estado, que nos explicará como o governo

estadual vem desenvolvendo sua política da educação para o meio rural. Em

seguida, poderão se manifestar os demais componentes da mesa, e, ao final,

todos os que quiserem colaborar, repassando-nos informações, apresentando

críticas, fazendo sugestões e trazendo propostas que enriquecerão este

importante debate.

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Deputado Altemir Totelli

Algumas pessoas aqui presentes estão nos vendo

pela primeira vez. Não nos conhecemos, mas tenho muito orgulho de lhes dizer

que sou agricultor familiar. Continuo acreditando muito que a agricultura

familiar é um dos pilares fundamentais para a economia não só dos pequenos

Municípios, mas do Brasil.

Tenho certeza absoluta de que, se não houvesse

agricultura familiar neste País, teríamos sérias crises de abastecimento

alimentar e sérios problemas de instabilidade econômica no Brasil. Mais ou

menos 70% de tudo o que é produzido no Brasil é proveniente da agricultura

familiar. Somos, portanto, um dos setores fundamentais para a segurança

alimentar do País e para a economia nacional.

Antes de ser deputado, sou agricultor. Junto com as

entidades do setor como a Fetag, a Via Campesina, a Fetraf/Sul – que

coordenei por vários anos –, lutamos muito para conquistar políticas. E

avançamos em muitas políticas para a agricultura familiar, desde a

aposentadoria para homens e mulheres, o programa Pronaf, com recursos e

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investimentos. Hoje temos anunciados 18 bilhões de reais para o setor, em

programas com altos subsídios no financiamento.

Há um conjunto de outros programas de aquisição

de alimentos por parte do governo, como o programa da merenda escolar. E

mais: reconstruímos o sistema de assistência técnica neste Brasil, que havia

sido desmontado antes do governo Lula. Criamos um programa de habitação

para a agricultura familiar.

Um conjunto de grandes políticas foram construídas

para que, efetivamente, os agricultores familiares tenham uma vida melhor,

mais dignidade, mais renda, mas estabilidade econômica.

Mas, nessa luta toda de tantos anos – 20, 30 anos,

depois da abertura democrática especialmente, que foi obtida com a luta de

muitos trabalhadores –, não conseguimos todos nós, entidades, resolver a

questão da educação no campo. Faço esse reconhecimento ao trabalho que

tive a oportunidade de acompanhar. Talvez tenha faltado compreensão mais

profunda de como teríamos de tratar o tema da educação – na minha opinião,

fundamental – no sentido da perspectiva de sobrevivência, de imaginar o

presente e o futuro da agricultura familiar.

Se não tivermos quem continue o trabalho na

agricultura familiar, viveremos uma crise. Vamos imaginar o que significará

para o Rio Grande do Sul reduzir de 400 mil para 50 mil famílias de agricultores

familiares. O que isso pode significar para os pequenos Municípios, os de 10,

15 mil habitantes, e para as nossas regiões cuja base da economia é a

agricultura familiar? E a perspectiva de sucessão, de permanência dos jovens,

que têm papel estratégico e fundamental na agricultura familiar? Onde os

jovens, os nossos filhos estão se formando? Estão se formando, a grande

maioria, 95% dos alunos, em escolas normais, nas escolas públicas, e o

restante em outras escolas. Estamos conseguindo trazer a algumas

partezinhas alternativas inovadoras.

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Devemos perguntar se a educação, do jeito que foi

pensada, do jeito que está sendo implementada, tem nos ajudado a construir

jovens que tenham a perspectiva no presente de serem agricultores no futuro.

Tenho feito muitas pesquisas, conversado com

muitos companheiros, visitado muitas escolas, falado com as nossas lideranças

e com os pais inclusive. Percebemos que pelo jeito como está sendo

organizada, pela forma como os professores estão sendo preparados, pelo

conteúdo da formação, pelo material didático e pedagógico e pelo espaço físico

que estão sendo implementados, a escola é um instrumento que possibilita o

acesso à educação – temos de reconhecer isso.

E avançamos muito. É difícil hoje haver um jovem ou

uma criança analfabeta em qualquer comunidade dos nossos Municípios. Ter

acesso à educação, à democracia da educação é um passo importante. Foi um

grande avanço, uma grande conquista que tivemos nos últimos 10 anos, 15

anos, 20 anos. Porém, que educação? Para onde essa educação está sendo

direcionada?

Infelizmente, temos de reconhecer – e reconheço

isso como liderança sindical, como parlamentar – que o formato, o desenho, a

estrutura tem sido um elemento indutor que faz com que os nossos jovens

comecem, a partir dos seis anos, a ir à escola. Entretanto, a grande maioria

desses jovens está tendo a oportunidade de associar o conhecimento que

adquiriram na escola a uma perspectiva de realizar o seu sonho não na

agricultura familiar, mas em uma outra profissão. Eles não conseguem

compreender, se empolgar, efetivamente se ver como jovens agricultores e

empreendedores da agricultura familiar, de ter formação de nível básico e

médio para técnico agrícola e ter uma vida digna, renda, perspectiva de uma

profissão.

Olhamos para este momento e para a perspectiva

de futuro que há e nos assustamos. Quando verificamos os dados,

percebemos famílias ficando sem seus jovens, Municípios e comunidades

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inteiras sem jovens, escolas sendo fechadas, crianças sendo deslocadas para

estudar nas cidades, através da regionalização, dos polos urbanos. Essa é a

problemática. Essa é um pouco a situação que queremos compartilhar, debater

com vocês, o que nos moveu a fazer uma discussão, a apresentar um projeto

na Assembleia Legislativa, a criar essa subcomissão, a realizar essas

audiências públicas.

Ao verificar as casas familiares rurais, as escolas de

famílias agrícolas, percebemos que é possível fazer diferente. Não é teoria.

Não é uma tese de mestrado ou doutorado. São realidades concretas que

estão sendo construídas de forma diferente e que apontam uma melhoria no

nível de escolarização, de qualificação, de conhecimento e, inclusive, de

empoderamento dessas crianças e desses jovens com a perspectiva de que

possam sonhar com um projeto de vida como agricultores familiares.

Queremos que os companheiros que estão

presentes nos coloquem as suas experiências. Acreditamos que experiências

estão sendo vivenciadas em várias cidades do Rio Grande do Sul e do Brasil.

Vários Municípios nos apontam luzes, um caminho, uma perspectiva de tratar o

tema da educação do meio rural de forma diferenciada. E também achamos

que se apresentam algumas perspectivas de mudança em nível de política

nacional.

O Gilmar vai nos apresentar o Pronacampo, do

governo federal. Não é uma revolução na educação do meio rural do Brasil,

mas aponta caminhos importantes que, bem aproveitados, poderão trazer

alternativas concretas aos nossos Municípios.

A companheira vai nos apresentar as propostas e

explicar as iniciativas do governo do Estado nessa perspectiva, mas adianto

que há tempo vimos trazendo uma das questões ao debate. Já reivindicamos,

fizemos mobilizações, debatemos com a nossa juventude, promovemos

eventos na Assembleia, dialogamos com o próprio governo e com as

secretarias de Estado, e acredito que o governo teve sensibilidade, pois,

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quando apresentou o Plano Safra, incluiu uma das propostas, chamada Bolsa

Jovem Rural.

Trata-se de um apoio financeiro para que os jovens

das casas, das escolas, das famílias agrícolas permaneçam estudando. É um

projeto de vinculação desses jovens à sua realidade, para que permaneçam na

sua propriedade, no seu espaço de vida e de relações familiares. É também um

sinal importante que aponta uma perspectiva de mudança em nível de governo

no âmbito do Estado.

Espero que consigamos trabalhar com tranquilidade.

Não vamos nos preocupar com formalidades durante a nossa conversa; vamos

ter tranquilidade para fazer um bom debate.

Vejo aqui muitos jovens. Se estão aqui, é porque

estão querendo ouvir coisas boas, estão querendo compartilhar este momento,

debater e efetivamente visualizar as perspectivas que se apresentam para eles

no presente e no futuro em termos de políticas públicas estaduais e federais.

Desejo a todos um belo debate. Que possamos,

através desta audiência pública em Frederico Westphalen, contribuir para

enfrentar esta que, para mim, é uma das questões mais importantes da vida,

pois está relacionada à perspectiva de futuro do Brasil, com agricultores

familiares produzindo renda, riqueza e dignidade junto à comunidade e à

família.

Boa audiência a todos. Obrigado.

(Registra-se o nome de autoridades e

representantes de entidades regionais presentes.)

Concedo a palavra ao Gilmar Vieira.

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O SR. GILMAR VIEIRA – Bom dia a todos.

O deputado Altemir Tortelli já me apresentou. Faço

parte da assessoria da bancada do Partido dos Trabalhadores lá na

Assembleia.

Saúdo os integrantes da mesa.

Tendo em vista que o companheiro Antonio Zambon,

do Ministério da Educação, não pôde estar presente para apresentar o

Pronacampo, vou-me encarregar dessa tarefa, a convite do deputado Altemir

Tortelli. Não falo em nome do governo federal – evidente que não –, mas

recorro à apresentação que o próprio Zambon fez, na Assembleia Legislativa,

durante a abertura dos trabalhos desta subcomissão.

De forma rápida, vou mostrar o que é o Programa

Nacional de Educação do Campo, o Pronacampo. Quando preparava esta

apresentação, separei partes da fala da presidenta Dilma, no dia do

lançamento do Programa Nacional de Educação do Campo. Tanto o

pronunciamento da presidenta como o do ministro da Educação, Aloizio

Mercadante, traduzem parte dos problemas da educação no campo.

Passo a ler o que disse a presidenta Dilma – é um

destaque da fala de S. Exa. naquele dia.

(Transcreve-se a matéria lida.)

Estamos apostando que uma nova geração vai se

beneficiar de tudo o que estamos fazendo agora, mudando a feição do campo

brasileiro e garantindo que ele será um lugar digno e de qualidade para se

morar e se criar os filhos.

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, no dia

20 de março, no lançamento do Pronacampo, afirmou que Brasil é um grande

produtor de alimentos mas tem grande dívida com as populações camponesas.

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Enfatizou que, hoje, no Brasil, aproximadamente 30

milhões de pessoas vivem no campo. Somos a segunda maior agricultura do

mundo, produzimos cerca de 300 bilhões de dólares e exportamos quase 95

bilhões de dólares.

Acrescentou que são oriundos da agricultura familiar

30% das exportações brasileiras e 70% dos alimentos que chegam à mesa dos

brasileiros. Muitos acreditam que a agricultura familiar trabalha só para a

produção interna, mas ela é responsável por um terço das exportações. No

entanto, não há uma política específica para a população que vive no campo

brasileiro.

Quanto à educação no campo, a preocupação

brasileira foi inicialmente garantir que todos os brasileiros tivessem acesso à

escola. A grande luta foi garantir recursos públicos, políticas públicas de

acesso a todos à educação básica, ao ensino fundamental no Brasil.

Há bem pouco tempo atrás, nossos índices de

analfabetismo ainda eram alarmantes, assustadores. O grande desafio do País

foi levar educação para todos os brasileiros, garantir políticas públicas de

acesso à educação para todos.

Agora vem outra etapa: pensar na qualidade dessa

educação. A imensa maioria do Brasil era rural até bem pouco tempo. Essa

realidade inverteu-se rapidamente nos anos 70 e 80, quando a população rural

foi sendo expulsa do campo por falta de políticas. A realidade foi se

modificando a ponto de atualmente mais de 80% da população estar no espaço

urbano e de 18% a 25% – dependendo da região –, no meio rural.

Há um grande desafio a ser enfrentado. Ainda

existem no campo cerca de 76 mil escolas, que lá foram construídas somente

por ser o local onde os camponeses residiam. No entanto, a política de

formação não estava preocupada em atender a realidade do campo, o único

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foco era o acesso à educação para a população do meio rural. Na medida em

que a população foi migrando para as cidades, as escolas também foram

migrando e muitas foram fechadas – políticas de nucleação.

Essa é a realidade que o Pronacampo começa a

atacar. Estamos construindo um projeto pedagógico. Essa é uma discussão

que ocorre há muito tempo em movimentos sociais, em organizações, em

espaços de professores. Estamos debatendo a qualidade da educação, ao

contrário do foco que prevalecia até bem pouco tempo, que era de que todos

que estivessem em idade escolar tivessem acesso à escola. Estamos

estudando a melhor maneira de dar respostas que qualifiquem e melhorem

essa proposta.

É importante destacar alguns elementos das

resoluções desde a Constituição de 1988, a nossa Constituição Cidadã, que

institui a educação básica como um direito subjetivo para todos os brasileiros.

A LDB, desde 1996, começa a tratar da questão da

educação voltada para a realidade também do campo. Desde esse tempo, o

art. 28 da lei nº 9.394, de 1996, estabelece que, na oferta da educação básica

para a população rural, os sistemas de ensino devem promover as adaptações

necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural de cada região.

Começou desde aquela época a preocupação com

os conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às necessidades e

interesses dos alunos da zona rural e com a organização escolar própria,

incluindo a adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às

condições climáticas.

Do ponto de vista legal, as adaptações vêm sendo

feitas há bastante tempo. Segundo resolução nº 2, de abril de 1998, do

Conselho Nacional de Educação, a possibilidade de nucleação deveria ser

sempre oferecida nas próprias comunidades rurais, evitando-se os processos

de nucleação de escolas e deslocamentos das crianças. Os cinco primeiros

anos do ensino fundamental, excepcionalmente, poderão ser oferecidos em

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escolas nucleadas, com deslocamento intracampo dos alunos, cabendo aos

sistemas estaduais e municipais estabelecer o tempo máximo para

deslocamento.

A maior parte das escolas nucleadas foram para a

cidade. Este é um dos grandes problemas da educação no campo. Quando se

discute a sucessão na agricultura familiar, as poucas condições para a

permanência do campo começam justamente pelo fato de a nucleação ter

levado os alunos para a cidade.

Com relação às diretrizes, na modalidade da

educação básica do campo, os conteúdos curriculares e as metodologias

deverão ser apropriados às necessidades rurais e aos interesses dos

estudantes da zona rural. A possibilidade da organização escolar própria inclui

adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola, o que se torna

sempre muito difícil. Na hora de organizar na prática, questiona-se a época de

férias dos professores e outros detalhes, e fica difícil.

Do ponto de vista da identidade da escola do campo,

conforme o parágrafo único, as formas de organização e metodologias

pertinentes à realidade do campo devem ser acolhidas, dentre elas a

pedagogia da terra e a pedagogia da alternância. Neste parágrafo único da

resolução nº 4, de 2010, é quando o poder público, o Estado brasileiro

reconhece a pedagogia da alternância como formas de organização e

metodologias pertinentes à realidade do campo que devem ser acolhidas na

hora de pensar o processo pedagógico.

Outro marco importante de 2011 diz respeito à

questão do livro didático. Além do Programa Nacional do Livro Didático, foi

instituído o Programa Nacional do Livro Didático para as escolas do campo,

num processo de seleção de material.

Ainda com relação ao decreto de 2010, são

princípios da educação do campo o respeito à diversidade do campo em seus

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aspectos sociais, culturais, ambientais, políticos, econômicos, de gênero,

geracional e de raça e etnia; o incentivo à formulação de projetos político-

pedagógicos específicos; a valorização de diferentes saberes no processo

educativo, articulando um projeto de emancipação humana; o controle social;

os diferentes espaços e tempos de formação dos sujeitos de aprendizagem,

reforçando a questão das possibilidades abertas para a pedagogia da

alternância; e o desenvolvimento de políticas de formação profissional para

professores.

No Brasil, existem 76 mil escolas rurais, com mais

de 6,2 milhões de matrículas e 342 mil professores. Ainda em relação à

realidade no campo, há um número cada vez mais preocupante: só nos últimos

cinco anos foram fechadas 13.691 escolas no meio rural. Talvez por causa do

deslocamento da população, as escolas foram fechando, e novas teriam que

abrir na cidade, mas muitas delas, nessa onda, foram fechadas ou nucleadas

no espaço urbano, trazendo os alunos para cá.

No Pronacampo há um conjunto de ações

articuladas que asseguram a melhoria do ensino nas redes existentes, bem

como a formação dos professores, produção do material didático específico,

acesso e recuperação da infraestrutura e qualidade da educação no campo em

todas as etapas e modalidades.

Está organizado em quatro eixos: gestão e práticas

pedagógicas; formação de professores; educação de jovens e adultos e

educação profissional e tecnológica; a infraestrutura física e tecnológica das

escolas.

Algumas das metas: disponibilização de material

didático e pedagógico específico para todas as escolas do campo e

quilombolas, que também estão no campo; formação e acompanhamento

pedagógico para todas as escolas com classes multisseriadas; implantação do

Programa Mais Educação e educação integral em 10 mil escolas; ampliação da

oferta nos cursos de licenciatura; expansão dos polos da universidade aberta

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do Brasil prioritariamente aos docentes do campo e das comunidades

quilombolas – do total de professores, são 342 mil com ensino superior; do

programa de formação de professores, são somente 182 mil professores, com

formação superior nas escolas do campo; oferta de cursos de aperfeiçoamento

em especialização específicos para a realidade do campo; financiamento das

pesquisas voltadas para o desenvolvimento da educação do campo e

quilombola, do ponto de vista da formação de professores.

No Pronatec, são 180 mil vagas de formação

profissional para trabalhadores e jovens e 300 mil novas vagas para elevar a

escolaridade associada à formação profissional de jovens e adultos.

Alguns dados mais: apoio à construção de 3 mil

novas escolas, além da formação de professores e do uso do livro didático e de

recursos diretos na escola; melhoria das condições físicas e materiais para 30

mil novas escolas do campo; implantação de laboratórios de informática em 20

mil escolas; garantia de acesso à Internet para 10 mil escolas; universalização

do acesso à água potável e ao saneamento; garantia do acesso à energia

elétrica a todas as escolas do campo e a comunidades quilombolas.

Das escolas do campo, 15% não têm acesso a

energia elétrica, condição básica para funcionamento; 14,7% não têm esgoto

sanitário; e 90% não têm acesso à Internet. Acho que na cidade, hoje,

praticamente 100% já têm laboratórios implantados.

A inclusão das escolas das casas familiares rurais

no Fundeb talvez tenha sido a grande novidade do Pronacampo. Faz-se

consulta aos conselhos municipais e estaduais para eventual fechamento de

escolas do campo, mas o governo tem a ideia de que não se feche mais

nenhuma escola no meio rural.

Melhoria do acesso às escolas: Programa Caminhos

da Escola, com 8 mil ônibus, 2 mil lanchas e 180 mil bicicletas e capacetes

para garantir o acesso no campo. No Norte não adianta ônibus; lá usam lancha

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como meio de transporte escolar. Em muitas outras regiões, usam a bicicleta

em lugares de difícil acesso. É a realidade no Brasil.

Há módulos de construção previstos no

Pronacampo. É uma medida provisória, passa pela aprovação do Congresso,

que é a fase que está sendo vencida agora.

O Pronacampo é um recurso do governo federal que

passa por convênios com os Estados e Municípios, entes federados.

Essa é a ideia, deputado Altemir Tortelli.

Cito aqui o Antonio Zambon, coordenador-geral da

Educação do Campo do MEC. Diz ele que o Pronacampo é um programa que

vem de uma necessidade de atender às demandas de ensino dos movimentos

sociais, construindo coletivamente com as entidades que representam essas

necessidades. Diz ainda que existe uma dívida histórica com a educação no

campo, e o Pronacampo é um conjunto de ações continuadas para melhorias

na estrutura, na gestão pedagógica e de inclusão numa proposta macro de

interação.

O Pronacampo é mais um programa federal para

tratar exclusivamente do tema da educação no campo. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Altermir Tortelli – PT) –

Ouviremos a seguir a representante da Secretaria de Estado da Educação e a

20ª CRE.

(Registra-se o nome de representantes de entidades

presentes.)

Concedo a palavra à Sra. Idalina da Silva Machado.

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A SRA. IDALINA DA SILVA MACHADO – Em nome

do governo do Estado do Rio Grande do Sul, com muita honra, hoje

desempenhamos este papel aqui. Em nome também da Secretaria de Estado

da Educação, da 20ª Coordenadoria Regional da Educação, queremos

cumprimentar o deputado Altemir Tortelli, parabenizando-o por esta iniciativa,

por este trabalho, e a todas autoridades educacionais aqui presentes.

Estendo os cumprimentos a todos os cidadãos e

cidadãs envolvidos neste debate da agricultura familiar, da educação no

campo, aos assessores parlamentares, ao pessoal da Assembleia Legislativa

e, de forma muito especial, aos alunos e alunas das casas familiares rurais do

Estado do Rio Grande do Sul presentes neste debate.

Já é notório a todos os gaúchos o governo diferente

que temos no Rio Grande do Sul, comprometido não apenas com a educação e

com a agricultura familiar, mas com todos os outros setores que necessitam do

olhar, do trabalho, do investimento do dinheiro público, para que a nossa

sociedade possa avançar e ter vida mais digna.

Percebemos isso em todos os sentidos. Percebemos

também a responsabilidade com que o governo do Estado tem atrelado-se aos

programas e às oportunidades que o governo federal tem disponibilizado ao

longo desses anos. Antes, era diferente, o Brasil caminhava de um jeito, nosso

Estado de outro.

Não quero roubar muito tempo deste debate.

Gostaria de dizer que o nosso País está prestes a ser declarado a quinta

economia mundial. Isso não é pouca coisa. É muito para nós, povo brasileiro.

Certamente merecemos tudo isso. Merecemos também os últimos governos

que tivemos, que tanto trabalharam nesse sentido.

Vamos precisar avançar na educação. A meta do

governo federal é que, antes do final desta década, tenhamos atingido, no

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IDEB, a média seis. Para isso, sem dúvidas, teremos de trabalhar muito. Não

apenas Secretaria da Educação, não apenas as coordenadorias, os

professores, pois também a sociedade precisará envolver-se nesse sentido.

As mudanças na educação, como a maioria das

mudanças de que a sociedade precisa, almeja ou conquista, elas não se dão

de uma hora para a outra. É um processo que leva tempo. É preciso investir

em todos os sentidos.

A Secretaria da Educação tem se voltado muito para

este debate, tem promovido muitos encontros como este aqui, nas escolas,

para que os professores possam ter a oportunidade de discutir educação.

Projetos novos têm sido implantados, como é o caso da alfabetização e do

letramento, como é o caso da proposta da politecnia no ensino médio. E não

vou me deter nesses temas, porque eles são bem profundos, precisaríamos de

muito tempo para explicá-los.

O governador Tarso Genro, já nos primeiros meses

da sua administração, deixou muito claro qual é o papel, qual é o interesse e

qual compromisso o governo tem com a questão do campo. No início da sua

gestão, promoveu de imediato a anistia da dívida dos pequenos agricultores

gaúchos. Todos estamos lembrados dessa ação muito importante.

Ainda no ano passado, foi aprovado um projeto,

Susaf se não me engano. A lei foi sancionada pelo governador, aqui no

Município de Sarandi. Nós, comunidade, estávamos lá. Não sei se o deputado

também estava, não lembro. O governador assinou esse projeto de lei que

prevê o livre comércio da agricultura familiar no Estado do Rio Grande do Sul.

Antes, quando um pequeno agricultor do Município de

Frederico Westphalen quisesse vender uma produção sua em Palmeira das

Missões, por exemplo, teria de fazê-lo escondido. Isso era um absurdo. Parece que

saiu um decreto semana passada. Então, daqui por diante, será preciso que as

nossas prefeituras se encaixem legalmente também para que a agricultura familiar

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possa transitar. Dessa forma, o povo gaúcho poderá mais efetivamente usufruir

desse alimento saudável na sua mesa.

Não apenas a economia do povo brasileiro está na

mão da agricultura, mas também a saúde. Quem de nós não sabe o grave

problema que a sociedade vem enfrentando na questão da alimentação

envenenada e da transgenia. Lá, na agricultura familiar, poderemos encontrar

essa possibilidade de saúde. Para isso, é preciso de investimento econômico,

técnico, científico, mas, sobretudo, do investimento na educação.

Qual a cultura que se gerou nessas últimas décadas

aqui em nosso País, no que diz respeito à situação do nosso aluno, do

professor na sala de aula e dos pais?

O pai, quando a criança ia para a escola, dizia todo

dia – e ainda diz: Estude bastante, porque eu quero um futuro diferente para

você. Estude para você sair daqui, dessa propriedade.

Na escola, a professora também diz: Se vocês não

estudarem, não restará outro futuro senão ficar aí onde vocês estão. O aluno,

por sua vez, daí pensava: Meu Deus, eu preciso estudar, porque quero um

futuro diferente!

Então, a cultura na pequena propriedade é ruim.

Esses conceitos não se revertem de uma hora para a outra. É preciso muito

esforço em todos os sentidos, como já disse.

Entendendo toda essa realidade, a Secretaria da

Educação vem promovendo, em todo o Estado do Rio Grande do Sul, muito

debate nesse sentido.

Em nossa região, existem 34 escolas do campo.

Somos 28 Municípios e 90 escolas. Em nossas pequenas cidades, há em torno

de 20 escolas, que atendem crianças e adolescentes que vêm do campo.

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Nosso compromisso é muito grande nesse sentido.

Qual é a política de formação que a secretaria vem

promovendo com alunos e professores?

A promoção do debate e da reflexão, no sentido de

garantir a permanência do nosso aluno na escola, lá, na comunidade, mostrar

para ele a qualidade de vida e o privilégio que está tendo por estar vivendo no

campo.

Além disso, procuramos alertá-lo sobre toda a

riqueza de vida que ele e sua família têm; resgatar a identidade do cidadão no

campo, como algo muito bom; e formar os professores que atuam nessas

escolas nesse sentido.

Esse é o nosso grande desafio. É algo que não

poderemos fazer, como já disse, de uma hora para a outra, pois demanda todo

um processo, trabalhar a sociedade como um todo, inclusive, a comunidade, a

respeito das especialidades e peculiaridades que existem no meio rural.

Esse debate vem sendo feito. Na coordenadoria, há

uma professora responsável só por isso. Trabalha muito nesse sentido. Até não

pôde me acompanhar hoje, devido a reuniões marcadas com algumas escolas.

Agora, posso garantir-lhes que estamos trabalhando muito nesse sentido

também.

Uma das ações que a secretaria tomou também – e

que nos deixou muito felizes –, já nos primeiros meses de governo, foi em

relação à Casa Familiar Rural de Frederico Westphalen, que nos chamou para

que conhecêssemos sua realidade. De imediato, entendemos a importância e o

compromisso que o nosso governo teria com aquele projeto, com aquela

escola que estava em situação muito difícil, mas com um projeto maravilhoso

para a educação do campo.

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Agendas foram construídas, conversas realizaram-

se, e, felizmente, nesses últimos dias, o convênio foi firmado. Hoje a Casa

Familiar de Frederico Westphalen tem convênio com a Secretaria da

Educação. Assim, poderemos ajudar essa casa familiar ao ceder professores

para que a educação lá possa acontecer.

Estamos escolhendo os professores que já têm

alguma caminhada nesse sentido, para facilitar e ajudar.

Temos certeza de que também a casa familiar aqui

da nossa região vai poder ajudar a fazer esse processo de estudo e de reflexão

que temos de fazer.

Nosso governo também tem de fazer um esforço

para recuperar a estrutura física dessas escolas. No Rio Grande do Sul, temos

2.574 escolas públicas, e, segundo o diagnóstico feito já nos primeiros meses

do governo, 1.200 têm necessidade de obras em caráter emergencial. Essas

escolas têm problemas, mas temos projetos para isso.

A secretaria trabalha com 400 obras que deverão

iniciar este ano, que, aliás, não iniciaram ainda porque a burocracia na

Secretaria de Obras para a licitação está emperrando um pouco.

Há também as obras em caráter emergencial que já

acontecem nas nossas escolas. Como eu disse, precisaria de muito tempo

para relatar toda a demanda, toda a dificuldade, tudo o que já avançamos e

tudo o que temos projetado para o futuro. Por isso, conclamo a ajuda de vocês

para esta luta que temos que desencadear no Estado do Rio Grande do Sul

para recuperar a década de abandono que viveu a educação e avançar –

ajudar-nos não apenas no sentido de fomentar, de promover, mas também de

refletir a realidade, saber que se mais não está feito é porque não é de um dia

para o outro.

Aliás, não falei aqui da questão polêmica salarial do

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professor, que passa por isso também, e o governo sabe disso. A questão não

é apenas recuperar a estrutura física das escolas, criar um espaço digno para

alunos, professores e funcionários de escola, nem apenas ter o projeto

pedagógico, mas também pagar bem o professor. O nosso governo também

tem política para isso. A meta do governo Tarso é reajustar, até 2014, o salário

básico do professor em 90%. Isso vai dar uma equilibrada. Ainda vai ficar

faltando muita coisa, mas uma professora como eu, com carreira, vários anos

de serviço, tendo avançado bastante, não é para ganhar menos do que 4 mil

reais por 40 horas de trabalho. Não é tudo o que um professor merece, mas

entendemos que terá sido um grande avanço.

Quero deixar aos senhores uma lição que aprendi lá

nos bancos escolares da universidade, quando uma vez tive um professor que

tinha vindo da Espanha e apresentava para nós o projeto maravilhoso que lá

havia. Nós, alunos, maravilhados com aquilo, viemos a saber então do seu

relato, no sentido de que, para que a educação naquele país tivesse saído do

caos em que estava até aquela maravilha que nós enxergávamos, tinha levado

30 anos.

O que não podemos fazer daqui para a frente é

engatar marcha a ré. A sociedade precisa olhar e reconhecer aquele trabalho

que está sendo realizado, aquela intencionalidade séria que se está

construindo na questão da educação e também dos outros setores, e continuar

elegendo governos que sejam comprometidos com a melhoria efetiva da nossa

sociedade.

Mas, com certeza, estamos avançando muito nestes

últimos anos aqui no Rio Grande do Sul, e como educadores temos esperança

de continuidade desses primeiros passos que estamos dando.

Para não me alongar mais – quero até pedir

desculpas se falei muito –, agradeço o convite e a oportunidade e, enquanto

Coordenadoria de Educação e, com certeza, enquanto Secretaria de

Educação, nos colocamos à disposição do nosso Parlamento e da nossa

sociedade para tudo aquilo com que pudermos contribuir. Muito obrigada.

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O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) – Muito

obrigado.

Concedo a palavra ao coordenador de programas da

Secretaria do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo – SDR –,

Armando Enderle.

O SR. ARMANDO ENDERLE – Bom dia a todos e a

todas.

É um prazer muito grande poder retornar a esta

terra. Aqui tive o privilégio de conviver muitos anos, sendo que, agora, já com o

compromisso bem maior de representar a Secretaria do Desenvolvimento

Rural, Pesca e Cooperativismo, que foi criada em janeiro de 2011 para tratar

especificamente das questões da agricultura familiar.

Saúdo o deputado Altemir Tortelli e parabenizo-o

pela iniciativa. Estamos numa parceria com relação a esses projetos desde o

início do ano passado quando a secretaria foi instalada. O secretário Ivar

Pavan e a sua equipe já definiram, desde o início, que não se pode pensar em

desenvolvimento rural se não se pensar junto em educação.

A educação rural ou a educação do campo – como

queiram chamá-la – tem merecido na secretaria, nos projetos, um lugar

especial. Por isso, desde o ano passado, estamos sempre articulados,

mobilizados, para ajudar na construção dessa mudança extremamente

necessária.

Pensando em alternativas rurais com pessoas, como

modo de vida, na possibilidade de garantir a sucessão familiar, é que a

secretaria sempre esteve presente nas atividades que implicassem a busca por

essas alternativas.

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Há um dado, que não foi citado aqui ainda e que é

extremamente preocupado. Nos dados do censo de 2010 publicados pelo

IBGE, o Rio Grande do Sul tem 441 mil estabelecimentos rurais. Desses,

aproximadamente 379 mil são da agricultura familiar. Só que o mesmo IBGE, o

mesmo censo, diz que o nosso Estado tem 336 mil jovens no meio rural. Se há

379 mil estabelecimentos e 336 mil jovens, isso significa que já existe um

déficit de aproximadamente 43 mil jovens para ter um em cada

estabelecimento.

Ao longo de 2010, a secretaria tem buscado o dado

de que – o déficit já é de 43 mil – há 45 mil estabelecimentos que não têm

jovens e não têm projeto de sucessão. A secretaria está engajada nessa luta,

pois não há como pensar no futuro da agricultura familiar, que é responsável

por 70% da produção de alimentos, e numa perspectiva de melhor qualidade

de vida para os agricultores familiares e mesmo para a população urbana se,

década após década, vem diminuindo essa perspectiva de sucessão.

Temos trabalhado na secretaria para fortalecer a

ideia de que a educação rural precisa ser tratada conforme o que estabelecem

os marcos legais e o que garante a legislação. Se o art. 28 da LDB garante que

os jovens rurais e as crianças do meio rural podem e devem ter um currículo

adequado à sua realidade, por que o currículo existente é especificamente

urbano, nacional, no qual tudo é trabalhado no sentido de que possam estudar

e ir embora?

A secretaria tem pautado essa luta juntamente com

as demais instituições, especialmente junto à Arcafar e à Agefa, que são as

que trabalham com a pedagogia da alternância. Muitos que estão na SDR já

têm uma passagem por essa experiência da pedagogia da alternância, do que

isso significa e da enorme diferença que existe entre um jovem que passa por

esse tipo de experiência pedagógica e os outros jovens que fazem a sua

trajetória educativa nas escolas estaduais, federais ou particulares.

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Em nome do secretário Ivar Pavan e de toda sua

equipe, saudamos esta iniciativa. Vamo-nos fazer presentes em todas as

outras audiências que acontecerem, porque acreditamos nessa proposta. A

SDR tem como ponto central a ideia de que, para haver desenvolvimento, é

preciso investir fortemente em educação.

Em se tratando de agricultura familiar, é preciso que

seja uma educação voltada para a realidade do campo. Assim, os jovens terão

a possibilidade de fazerem a escolha, livre e consciente, de permanecerem no

meio rural com qualidade de vida, agregando renda, gerando riquezas para sua

família, para sua comunidade, para o Estado e para o País. Além disso,

poderão ser, ali, cidadãos e cidadãs felizes.

Parabéns a todos os que acreditaram e acreditam

nesta proposta de pensarmos em uma possibilidade de mudança.

Entendemos que os debates que serão travados nas

audiências fortalecerão essa ideia e facilitarão a aprovação do projeto de lei nº

297/2011, de autoria do deputado Altemir Tortelli, que cria mecanismos de

segurança para que uma política de investimentos na educação do campo seja,

realmente, concretizada. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) – De

imediato, passo a palavra ao secretário municipal de Agricultura de Frederico

Westphalen, Sr. Pedro Vargas Cavalheiro.

O SR. PEDRO VARGAS CAVALHEIRO – Bom dia a

todos e a todas. Saúdo o companheiro Altemir Tortelli, na pessoa de quem

cumprimento todas as autoridades presentes.

Ao ouvir as falas dos companheiros, percebi – é uma

visão própria, minha – que a sucessão no campo só vai acontecer a partir do

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momento em que tivermos uma educação forte, voltada para o campo. Vejo

hoje com bons olhos o trabalho maravilhoso que as casas familiares rurais

fazem. Há jovens, aqui do interior do nosso Município, que já estão se fixando

no campo.

Contudo, vejo que a educação no campo tem de

começar no ensino fundamental.

A partir da 5ª série, deveríamos ter componentes,

nas grades curriculares dos alunos, voltados à educação no campo, a fim de

fazer com que o jovem pegasse o gosto pela atividade rural.

A criança cresce ouvindo o pai dizer que a

agricultura dá prejuízo, que produzir leite não está dando lucro. Mas, se

perguntarmos a esse pai quanto custa 1 litro de leite, a quanto ele vende e se

realmente está dando prejuízo, ele não sabe É que se põe tudo no mesmo

bolo, ou seja, se põe no mesmo bolo tudo o que existe na propriedade – safra,

leite, etc –, sem saber exatamente o que está dando lucro e o que está dando

prejuízo.

Por isso acho que a educação no campo tem de

começar lá pela 5ª série. Temos de ensinar o jovem a fazer esse tipo de

cálculo para ele mostrar ao pai e dizer: Não, pai, aqui está dando lucro; é ali

que está dando prejuízo.

Só vamos manter o jovem no campo se houver

renda no campo. Renda no campo vem de alternativas, e a busca de

alternativas começa com ensino fundamental.

Sempre dizemos, nos cursos que fazemos com os

agricultores, principalmente nos cursos sobre a qualidade do leite, que não

adianta espernear e protestar. Costumo até brincar, dizendo, com o perdão da

palavra, que podemos sair correndo pelados daqui a Porto Alegre, protestando,

que não vamos aumentar o preço do nosso produto. O que vai fazer com que

aumentemos a renda na agricultura, o que vai nos ajudar a manter o jovem no

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campo é o aperfeiçoamento para a competitividade do nosso produto, ou seja,

precisamos baixar os custos para aumentar a renda.

Repito: a educação no campo tem de começar, sim,

no ensino fundamental. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) – Muito

obrigado, secretário.

Ouviremos o Sr. Venildo Turra e, em seguida, o Sr.

Adair Pozzebon.

Passo momentaneamente a coordenação dos

trabalhos ao Gilmar, pois a imprensa local nos aguarda para uma entrevista.

(O Sr. Gilmar Vieira passa a coordenar os trabalhos.)

O SR. VENILDO TURRA – Inicialmente saúdo, na

pessoa do presidente Altemir Tortelli, os integrantes da mesa e as demais

autoridades presentes.

Logicamente, o público aqui presente está

preocupado com o tema da sucessão rural.

Represento o presidente da Arcafar/RS, Sr. Valdir

Stival, que não pôde comparecer, em função de alguns problemas de saúde.

Coube a mim, como vice-presidente da Arcafar/RS, vir aqui externar o que

pensamos sobre a educação do campo. Ouvindo as falas, percebi que estão

todos preocupados com o tema. Não ouvi nenhuma pessoa dizer hoje que não

tem preocupação com a educação do campo.

Prestei atenção atentamente e observei que leis,

decretos, resoluções e normas também existem à vontade. Não faltam. Fiquei

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a pensar: o que é que falta para que a educação do campo efetivamente

aconteça?

Analisando os censos das últimas décadas, vemos

que o esvaziamento do campo é notório. Nos dados, consta que, na verdade,

estamos perdendo nossa sucessão rural, porque o campo está envelhecendo.

Logicamente, se o campo envelhece, não tem sucessão rural e, em não

havendo sucessão rural, cada vez menos jovens permanecem no campo.

Aí, pergunto-me: o que vim fazer aqui? Ah, vim ouvir

sobre a existência de um PL, o projeto de lei nº 297/2011, que expressa

preocupação com a sucessão rural, com a educação no campo.

Como vamos garantir a sucessão no campo se não

é dado o devido valor às experiências exitosas que existem, como as casas

familiares rurais e as EFAs?

Hoje há sete casas familiares rurais no Rio Grande e

uma escola família agrícola – parece que agora há mais –, mas não chega a

dez. Em outros governos, quando a gente discutia, em 2005, a respeito das

casas familiares rurais, havia um consenso entre a autoridades constituídas.

Em Frederico Westphalen, o secretário de Educação do Estado disse assim:

Este ano, temos que ter no mínimo, no Rio Grande, 20 casas familiares rurais.

Em 2005! Passaram-se sete anos, e, naquela época, havia mais de oito. Hoje,

existem sete.

Vontade, reconhecimento e leis não faltam. O que falta,

então? Sabidamente os dados estão aí, passados pela nossa coordenadora de

Educação e pelas autoridades. Olhem os dados. Estão todos disponíveis. A

educação hoje, no Brasil, é uma das piores do mundo. E somos a quinta economia.

Economicamente, o País está bem, mas a educação vai muito mal.

Ao me deparar com alguns dados, impressionei-me.

Oito mil ônibus. Para quê? Para trazer os jovens do campo para as cidades. E

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há quem diga que queremos o homem no campo. Mas, se as prefeituras

compram ônibus, é porque eles querem os jovens do campo no meio urbano. É

isso o que está acontecendo – e não é de hoje.

Passaram-se os anos, e isso continua. Entra

governo e sai governo, as políticas públicas não avançam. Não estou falando

do governo federal ou do governo estadual. Estou falando daquilo que

sentimos, o calo que nos dói, a situação que nossos Municípios enfrentam.

Todas as prefeituras têm ônibus novo, atualmente,

para transportar toda essa juventude para o meio urbano. Então, temos uma

educação urbanizada. Não temos uma educação do campo, uma educação no

campo.

Então, o que viemos fazer aqui, nós, que

defendemos, com unhas e dentes, as casas familiares rurais, reconhecidas por

todas as autoridades e deputados?

Lembro muito bem quando o deputado Altemir

Tortelli, um ferrenho defensor dessa causa, dizia para nós: Se não der de um

jeito, vai ter que dar de outro. Se não der de um jeito, vamos meter o pé na

porta.

Foram essas as palavras do deputado Altemir

Tortelli. Ouvi isto da boca do nobre deputado: Vamos ter que meter o pé na

porta, lá. E vamos ter que entrar porta adentro. Acho que está na hora, não é

deputado Altemir Tortelli? O projeto de lei nº 297, de sua autoria, é do ano de

2011 e está quase completando aniversário – ou até já completou.

Sinceramente, precisamos pensar um pouco melhor

isso. Já existem o Pronacampo e o Fundeb, e há muita coisa que pode auxiliar.

Mas e as seis das sete casas familiares rurais, que não possuem certificação,

como sobreviverão?

É claro que agora se está trabalhando na

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construção de todas elas, que terão a sua certificação. Chegamos à conclusão

de que, se não fizermos isso, teremos de fechar as portas.

Lá, em Santo Antônio das Missões, inauguramos

uma bela casa familiar rural. Digo isso com muita alegria. Agora, perguntem à

representante quantos alunos há lá. Nenhum, não é?

Quinhentos e poucos metros quadrados, beleza,

maravilhoso! É claro que agora estão trabalhando. Irão começar a fazer isso, já

tem a certificação. No outro dia, inauguramos a Casa de Catuípe. Lá, há 37

jovens do meio rural estudando.

Levamos a idéia para o Ministério do

Desenvolvimento Agrário, de como ajudar o jovem do campo a permanecer

nele. Citamos uma gama de programas do governo, dentre eles, o Bolsa

Família. Quando se quer, faz-se. E o jovem do meio urbano, por que ele

permaneceria no meio rural, se na cidade possui bolsa de tudo que é lado? Já,

no meio rural, não há alternativa.

Levamos a idéia ao Ministério do Desenvolvimento

Agrário de uma ajuda de custo a esse jovem. Parece que o Instituto Souza

Cruz roubou a idéia. Então, tenho três jovens na nossa casa, mais seis de

Santa Catarina e seis do Paraná, do Instituto Souza Cruz, que estão fazendo

um projeto.

Aquele projeto que levamos para o Ministério do

Desenvolvimento Agrário, o Instituto Souza Cruz está desenvolvendo com os

jovens.

Saúdo o Sr. Deputado, que, na verdade, tem se

preocupado muito com isso.

Venho aqui para discutir nesta audiência pública o

que poderemos fazer para que as casas se mantenham com esses jovens que

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trabalham em um projeto profissional de vida, que sabidamente permanecem

no meio rural, que fazem a sucessão rural. Eles são agricultores familiares,

permanecerão lá, não saem. Como fazer com que esses jovens aqui sentados

possam ter um pouquinho mais de dignidade, ter os seus projetos profissionais

de vida garantidos, ter uma ajuda de custo para que possam desenvolver isso?

Quando isso acontecer, deputado Altemir Tortelli, estaremos em parte salvando

um pouco da educação no meio rural. Muito obrigado.

O SR. ADAIR POZZEBON – Bom dia, pessoal! Este

é um dia gelado, mas viemos aqui para acalorar um pouco este debate voltado

à educação no campo.

Cumprimento o deputado Altemir Tortelli e o

parabenizo por tudo o que ele vem fazendo e colaborando para que se possa

construir um diálogo e uma proposta para a educação no campo aqui no Rio

Grande do Sul. Está realizando um serviço muito bem feito, para o qual poderá

contar sempre com o nosso apoio.

Respondendo ao Turra, tenho uma ideia de uma

dinâmica que poderemos realizar rapidamente referente àquilo que está

faltando para que as coisas aconteçam. Já que está bem frio, quero que todos

vocês me acompanhem. Todo mundo está com a mão livre? Façam o que

farei. Apenas acompanhem-me. (pausa)

Estamos assim. Cada um dando um toque de um

lado para o outro, um tiro aqui e um tiro lá. Agora, vamos pensar juntos e agir

de maneira organizada. (pausa)

É o isto o que está faltando, pessoal. É apenas

começarmos a tocar no mesmo tom. Estamos dando tiro para tudo quanto é

lado e muitas vezes, para vencer essa barreira, tem que ser um tiro de canhão.

Por isso, precisamos atuar juntos, da mesma

maneira. É importante perceber que este não é um problema do outro, mas

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meu também. As coisas apenas sairão do papel, acontecerão na prática,

quando muitas pessoas gritarem juntas que tem de haver uma educação no

campo diferenciada e apropriada para a realidade rural. É por isso que estamos

lutando.

A história que constituímos em relação aos Ceffas –

Centros Familiares de Formação por Alternância – congregando as EFAs e as

casas. Essa possibilidade só existe em dois Estados do Brasil: aqui e no

Maranhão.

O que hoje estamos buscando? Somente unir

forças, porque existe uma dívida histórica.

Vamos pegar o trabalho que fazemos na pedagogia

alternância. Quando iniciou na França, em 1935, ela levou muitos anos – acho

que foi em 1965 ou 1975, não sei ao certo – para ser reconhecida. Aqui no

Brasil começou em 1969, e foi reconhecida pela primeira vez como um espaço

formador lá na propriedade em 2006. Foi apresentado há pouco o primeiro

parecer do Conselho Nacional da Educação, em 2006, que reconhece como

dias letivos o tempo gasto em casa.

O jovem, quando se encontra na propriedade, está

aprendendo. Não aprendemos apenas quando estamos na escola sentados no

banco, mas também em casa. Ou seja, dizem que a prática também deve ser

considerada, porque não adianta levantar somente teoria, tem de ter uma

relação com a prática.

Portanto, creio que isso é o fundamental. O que está

faltando um pouco é começarmos a escutar – digo isto quanto à educação e à

escola – as vozes que vêm do campo. É começar a escutar o que os jovens

têm a dizer. A educação tem de dar sentido à vida. Somente a partir disso, ela

vai gerar mudanças. Caso contrário, não adianta.

Não adianta eu ensinar muitas vezes a fórmula de

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Bhaskara no quadro-negro e exigir que seja decorada para realizar uma prova.

Para o que vou usar isso na minha vida? Ela tem funcionalidade? Tem. E isso

o professor tem que tentar buscar. Acho que é isso um pouco o que os Ceffas,

as EFAs e as casas fazem, ou seja, trabalhar uma educação que tem que ter

sentido com a vida. Se não for dado o devido sentido, não haverá razão para

isso ser trabalhado dentro das escolas e das casas.

O que vemos hoje no meio rural uma questão que já

foi aqui levantada – é a falta de valorização, de fechamento das escolas, de

nucleação, mostra que temos de trabalhar as escolas do campo de forma igual.

Quero trazer um dado para lembrar que temos que

ter cuidado, porque existem muitas escolas no campo. Talvez a quantidade

esteja sendo subestimada, porque muitas vezes consideramos como escola do

campo aquela escola pequeninha que tem lá no interior.

Vou falar da nossa região, porque não conheço

muito aqui. Lá tem um Município chamado Herveiras – minha terra natal é

Gramado Xavier, com 3 ou 4 mil habitantes – onde a escola de ensino médio

fica no centro da cidade, mas de todos que vivem naquele meio urbano, 85% –

um número por baixo – vive da agricultura, são agricultores. Os jovens que

estudam naquela escola, talvez 200, 300, na sua maioria são filhos de

agricultores. E ela é considerada do meio urbano, mas a vida que a move é

essencialmente rural.

Então, temos que pensar que essa educação talvez

esteja sendo subestimada em termos de número de pessoas que hoje

frequentam uma escola do campo, que teria que trabalhar nesse perfil.

Digo também que a pedagogia da alternância, como

coloquei antes, está embasada na realidade e trabalha esse ir e vir do jovem e

da família, envolvendo vários aspectos, instrumentos pedagógicos – como

chamamos – e dispositivos, que contribuem demais para a formação dos

jovens: visitas às famílias, a parte de caderno de acompanhamento, tutoria, são

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diversos elementos. Posso dizer que talvez o que acontece também num Cefa

é sala de aula. Isso também acontece, porque são várias outras coisas que

ocorrem ao mesmo tempo.

Os avanços foram colocados aqui. Só queria referir

que foi colocada a Constituição Federal de 1988, tivemos a LDB em 1996, que

traz as Leis de Diretrizes e Bases da Educação. Em 2002 começou esse

processo, o campo começou a ser observado, começou a existir em termos

legais, em termos de políticas públicas. Instituiu-se as diretrizes operacionais

para educação do campo.

Em 2006, como referi antes, houve o

reconhecimento da pedagogia da alternância; em 2008, as diretrizes

complementares; em 2010, as diretrizes curriculares, ou seja, mexendo um

pouco mais profundamente no processo, prevendo, com esse reajuste das

diretrizes, a alternância. As escolas da alternância já estão previstas como

método que é até recomendado para as escolas do campo.

E o que temos são dois momentos agora. O Rio

Grande do Sul também começou a se mexer para esse processo. E não estou

falando em termos de movimento, porque movimento existe há muito tempo.

As casas estão aqui no Rio Grande do Sul desde 1989, e estamos desde 2009.

Muitas atividades são feitas pelo movimento sindical

voltadas à educação do campo. Mas temos que pensar numa política pública, e

esse projeto de lei que está apresentado institui uma política pública. Tendo

política, pode entrar governo e sair governo que as estruturas continuarão e as

políticas também. Portanto, temos que lutar para que se tenha uma política que

garanta algo continuado daqui para frente.

Penso que uma audiência como esta serve para

discutir o tema e também para propor, e o que estamos propondo aqui com

relação à escola familiar agrícola é que temos que ter um olhar especial com

referência ao projeto de lei proposto pelo deputado Altemir Tortelli. Temos que

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fazer com que seja aprovado e entre em vigor, porque ele considera, além de

ter um olhar especial para o campo, também as redes Cefas, as casas e as

EFAs dentro da estrutura de escolas que devem ser apoiadas. Não somos

escolas particulares, somos escolas comunitárias, que vivem e sobrevivem

também com a ajuda das famílias, do poder público e de outras entidades.

Então, isso deve ser colocado.

Esse projeto de lei vem para isso, e fazemos uma

reivindicação aqui nesta audiência – faremos também na audiência que

acontecerá lá – para que seja aprovado e que tenham cuidado especial com

esse projeto de lei que está tramitando na Assembleia, de autoria do deputado

Altemir Tortelli.

Outra questão é o Pronacampo. Em 2011 teve o

projeto de lei, em 2012 tem o Pronacampo. Vejam quantos avanços tivemos de

2002 para cá. A educação do campo está acontecendo, e não podemos perder

essa onda que está ocorrendo. Esse é um pouco o meu medo, inclusive em

acontecer essas audiências.

Em nível federal foi lançado o Pronacampo 2012. E

em nível estadual? Como está a situação? Qual é a política estadual para a

educação do campo? Alguém sabe me dizer? Existe? Ela precisa ser

construída, pessoal. Penso que esta é a grande necessidade que existe hoje: a

construção de uma política estadual de educação no campo.

Vimos que o Pronacampo é excelente, mas o que

acontece e o que vejo é que cada prefeitura vai atrás, cada Município vai atrás

das suas necessidades, muitas vezes um ônibus para o transporte, uma

construção, uma reforma.

Não há uma política estruturante em nível de

Estado. E creio que esta audiência tem um pouco o papel também de começar

a consultar as pessoas para saber que tipo de educação queremos.

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Quero ouvir depois de vocês que tipo de educação

vocês querem. O que precisamos nas escolas do campo? Qual a política que é

necessária lá? Porque sabemos que não precisam só infraestrutura e ônibus.

Então, acredito que esses dois passos são fundamentais. O Estado tem

estrutura e vejo uma abertura muito forte, um apoio. A Secretaria do

Desenvolvimento Rural está sempre conosco, a Seduc está começando a

trabalhar essa questão e a Assembleia Legislativa, não preciso nem dizer, está

realizando todo esse processo.

A partir de agora, devemos começar a construir a

política estadual de educação do campo. A nossa grande meta é considerar

que o campo existe e merece uma política específica para o seu meio.

Quanto a nós, estamos prontos a contribuir para que

muitas outras escolas tenham um ensinamento diferente e que o Estado do Rio

Grande do Sul possa, num curto espaço de tempo, reverter a dívida histórica

que tem com as escolas do meio rural.

Convido a todos para participarem da audiência

pública que será realizada no dia 13 de agosto em Santa Cruz do Sul. Muito

obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra à Sra. Inque Schneider, neste ato representando o

movimento sindical, especificamente a Fetag.

A SRA. INQUE SCHNEIDER – Boa dia a todos.

Saúdo os integrantes da mesa e os demais

participantes e parabenizo o deputado Altemir Tortelli por esta iniciativa.

Serei breve, porque precisamos ouvir quem está na

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plateia. Os jovens que aqui estão têm muito para nos dizer. O movimento

sindical da federação, a Fetag tem uma preocupação muito grande quanto à

questão da educação, porque o nosso campo está esvaziando, os jovens estão

indo embora. Querendo ou não, estamos sentindo que a escola pode ajudar a

estagnar o que está acontecendo hoje. Para tanto, precisamos de um currículo

voltado para a realidade dos alunos do meio rural, para que eles aprendam a

trabalhar e a produzir comida. A escola tem essa tarefa.

Uma segunda preocupação nossa é que não adianta

termos um currículo se os professores possuem uma formação urbana. O

professor precisa ter especialização e vocação para trabalhar nas escolas do

meio rural. Por isso, solicitamos que seja discutido com as universidades

currículo adequado para a formação dos professores para o meio rural.

Na federação, temos uma comissão estadual de

educação que se reúne periodicamente para discutir as grandes dificuldades

que enfrentamos no meio rural, no que se refere à educação. A nossa

federação tem apoiado as EFAs e as escolas de alternância, porque, embora

poucas, acreditamos que são uma grande semente.

No Grito da Terra Brasil, temos como pauta a

certificação das escolas. Parece-me que Santa Cruz e Frederico já possuem,

mas algumas estão lutando muito para conseguir.

Estamos realizando seminários de educação em

nível regional, e desde o início nos deparamos com uma dificuldade bastante

grande. Quando discutimos as diretrizes da educação do campo, percebemos

que nem todos os professores têm conhecimento dessa questão. Então, um

dos nossos objetivos é discutir as diretrizes da educação do campo no meio

rural.

Quero também dizer que, na Expointer, temos o

nosso espaço das experiências exitosas. Neste ano, estamos em parceria com

a Seduc. Temos oito escolas da Secretaria de Educação e mais 14 escolas que

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estão organizadas pela federação.

Enfatizo aqui a manifestação do orador de Santa

Cruz que me antecedeu. Precisamos, sim, que o deputado Altemir Tortelli

transmita ao governo que necessitamos de políticas públicas de educação do

campo, assumidas também pelo Estado, porque um governo entra e levanta

uma bandeira, mas o outro vem e esconde a bandeira. Assim, não podemos ir

para frente nessa questão da educação no campo, bem como em todas as

outras questões.

Quero ouvir muito para poder levar sugestões à

nossa federação a fim de que possamos realmente trabalhar para ter uma

educação do campo eficiente, sem que escolas sejam fechadas. Com certeza é

complicado abrir outras, mas precisamos manter as que existem para que os

nossos jovens aprendam a ter amor pela terra e pela produção de alimentos,

pois, só assim, amanhã e depois, poderemos ter alimentos na mesa produzidos

pelos agricultores familiares. Muito obrigada.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra Luis Pedro Hillesheim, da nossa universidade.

O SR. LUIS PEDRO HILLESHEIM – Bom dia a

todos e a todas. Parabenizo o deputado Almir Tortelli por esse movimento e por

essas parcerias. Cumprimento todos os que já se pronunciaram.

Levantarei aqui três questões: primeira, avançamos

muito na área da educação do campo nos últimos anos; segunda, a realidade

do campo é cruel; e terceira, precisamos ter uma velocidade maior. A primeira

questão foi aqui fortemente apontada, a questão dos avanços, o que já foi

colocado e o que estamos fazendo. É um avanço ainda tímido, mas algo está

sendo feito.

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Parece-me que, quanto à questão dessa realidade, o

campo está oprimido. Um exemplo disso: por que o campo está se

esvaziando? Porque está oprimido. Como isso acontece? A política de

desenvolvimento econômico, capitalista, existente na sociedade, exclui o

campo, fazendo com que sofra inúmeras marginalizações. Os jovens sofrem.

Ouçam as músicas, as poesias, e vejam as propagandas. O campo é

fortemente oprimido. Estamos aqui discutindo fortemente a educação, sem a

qual nunca atingiremos o exterior, a comunidade educativa. A sociedade

marginaliza e oprime o campo. Os jovens que estão aqui são um exemplo de

garra. Estão fazendo um projeto para serem agricultores e, por isso, são

questionados.

Para encerrar a minha manifestação, deixo

registrado que precisamos retomar esse debate enquanto não se regulamentar

o decreto, criado em 2006, pelo presidente Lula, da profissão do agricultora

familiar. Se isso não acontecer, não iremos avançar. Irão fazer um curso

superior de agricultor familiar, e aí pergunto qual a entidade que irá cadastrá-

los depois e onde poderão buscar a regulamentação na profissão. A

universidade faz o curso e depois tem que responder na Justiça, porque a

pessoa não pode isso e não pode aquilo.

Ressalto que é urgente a regulamentação da lei da

profissão. Quem iremos formar? Formaremos alguém ligado à área da

engenharia, da arquitetura, da agronomia, e eles vão ser sempre ligados à

entidade de classe deles, e não à do agricultor.

É preciso regulamentar essa lei. O jovem pode

perguntar: Mas aí, o que eu vou ser? Agricultura familiar é um conceito cultural

forte. Vejam a força que tem! Por quê? Porque o agricultor está aguentando, e

não porque existe lei.

Quando se criou a lei, fiquei faceiro, mas depois vi

que não foi regulamentada. Temos de retomar esse debate.

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Fica mais fácil para nós, professores e monitores,

trabalhar se tivermos a profissão regulamentada. Só assim poderemos dizer:

Jovem, você vai ser agricultor, a tua profissão é essa – e aí podemos estufar o

peito.

Mas parece que isso não é profissão, não é trabalho,

não vale. Quero deixar este registro. Espero que possamos avançar mais

rápido. Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) –

Obrigado, Luis Pedro.

A partir de agora, a palavra está à disposição dos

que quiserem se manifestar.

A SRA. ARMINDA ALMEIDA DA ROSA – Bom dia

a todos.

Peço-lhes desculpas por não poder permanecer aqui

até o final. Devo sair em seguida.

Tenho pouco a dizer. Concordo com os colegas:

precisamos de ações urgentes.

Estou especialmente angustiada. Passamos por

uma alternância. Cobramos dos jovens atividades, e somos cobrados por eles,

como educadores – e eles são muito rigorosos, assim como somos com eles.

Às vezes falhamos, e nossas falhas estão na falta de recursos para garantir a

quantidade de monitores suficientes para atender esses jovens. Esta semana,

por exemplo, fizemos uma alternância com dois monitores para tocar uma

semana toda, e cada um tem 20 horas. Preciso sair agora porque tenho de

atender uma escola estadual. Peço desculpas pela minha ausência. Os jovens

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ficarão aqui sob a orientação da Elisandra.

Meu pedido é que os monitores, especialmente os

do Estado, tenhamos uma condição especial para podermos ficar em tempo

integral junto com os jovens.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra ao vereador Régis Eli Amaral dos Santos.

O SR. RÉGIS ELI AMARAL DOS SANTOS – Bom

dia a todos.

Sou presidente da Câmara de Vereadores de

Taquari. Moro numa comunidade rural localizada a cerca de 30 quilômetros do

centro. Estou acompanhado de minha esposa, Elisete.

Lá existe uma escola estadual, em que minha

esposa é a secretária. Cabe ressaltar que, nessa escola, ela é a única

funcionária natural da comunidade. Esse é outro ponto que tem de ser levado

em consideração. Como já foi dito aqui, o ensino é urbano – o linguajar, a

pedagogia, a didática – porque os professores também são urbanos.

Antigamente os professores eram da comunidade.

Os que eram da cidade, em função das dificuldades de locomoção,

permaneciam no interior durante toda a semana e tinham uma convivência

muito mais rural que urbana.

Parabenizo pelas políticas adotadas o deputado

Altemir Tortelli e todos os que trabalham nessa área. Como foi dito pela

representante da Fetag, hoje, apesar de tudo, essas políticas esbarram nos

profissionais da escola, tanto nos professores quanto nos funcionários.

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Todos os funcionários da escola da nossa

comunidade moram na cidade, com exceção da minha esposa, que nasceu e

se criou naquela comunidade e estudou naquela escola. Não por ser minha

esposa, Elisete tem uma dedicação muito maior do que os outros.

É claro que eles são profissionais, estão ali para

cumprir seus horários, suas tarefas. No entanto, como a senhora disse, o

trabalho esbarra no profissional que não está preparado ou não tem vocação

para trabalhar com a educação rural.

Parabenizo a Fetag e todas as entidades ligadas à

agricultura pelas suas ações, que infelizmente não chegam ao grande público.

Faço uma provocação no sentido de que a própria Fetag mobilize os

Municípios, os sindicatos locais, pois muitas vezes ela promove ações que não

são amplificadas no Município. As direções sindicais, nos Municípios, também

têm de levantar essa bandeira, assumir isso como um compromisso.

Novamente parabenizo a todos por esse evento.

Estou muito satisfeito por ter sido convidado e poder me manifestar.

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Deputado Altemir Tortelli, Adair Pozzebom, Gilmar Zolet Vieira, Armando Enderle e demais

integrantes da mesa

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra a Patrick Lopes.

O SR. PATRICK LOPES – Primeiramente, bom dia.

Certamente para nós hoje é um dia muito importante.

Sou representante da Escola Família Agrícola Santa

Cruz do Sul, que abrange 10 Municípios. Nossa comitiva é pequena, mas muito

representativa. Percorremos mais de 300 quilômetros porque há um problema

comum entre nós.

Seja em Santa Cruz do Sul, seja em Frederico

Westphalen, o êxodo rural está presente. Não haver jovens em 42 mil

propriedades é dado um preocupante, que tende a se agravar.

Por exemplo, no meu Município, Passo do Sobrado,

que é agrícola, há 6.011 habitantes. Dentre esses, 4.700 vivem no meio rural,

onde existem cinco escolas municipais, mas a única escola de ensino médio

fica no meio urbano.

Eu, como estudante de uma escola municipal, saio

do meio rural, porque não há como cursar ensino médio perto. Tenho que ir

para o meio urbano. É um passo a mais para o jovem sair do campo.

Por isso, estamos aqui hoje defendendo um projeto

de lei que estabeleça uma política para a educação do campo de forma

permanente, porque essa problemática é permanente. Esse projeto de lei

escuta os anseios da comunidade.

Estou aqui, como integrante da Escola Família

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Agrícola, para dizer que o êxodo rural tente a se agravar. Sou jovem e, acima

de tudo e antes de ser estudante, sou agricultor e me orgulho disso. Sou um

jovem agricultor.

Estamos aqui teorizando. Paulo Freire diz que teoria

sem prática é apenas teoria. Então, vocês estão convidados a visitar as

propriedades-modelo da Escola Família Agrícola. As casas familiares rurais

também têm essas propriedades-modelo, onde a prática prevalece. Por isso, o

jovem fica no campo depois que estuda pedagogia da alternância, porque

jamais perde o vínculo com a família e com o meio rural.

Fica aqui meu convite. Santa Cruz do Sul fica só a

300 quilômetros daqui. É fácil ir lá, conhecer as propriedades e entender

porque é preciso incentivar, cada vez mais, a educação do campo, que

proporciona aos jovens os métodos para que completem sua educação.

O jovem pode sim ficar no campo com qualidade de

vida. Muito obrigado e que tenhamos um bom debate.

O SR. EMERSON RECH – Meu nome é Emerson

Rech, venho do Município do Vale do Sol, sou técnico agrícola em formação.

Ainda sou um estudante da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul, em

fase de estágio. Fui eleito tesoureiro da Associação da Escola Família Agrícola

do Vale do Sol – Aefasol.

Durante as manifestações, alguém mencionou a

intencionalidade da permanência no campo. Nesse processo de três anos de

pedagogia da alternância, ficando uma semana em casa e uma semana na

escola, pude chegar hoje aqui, para ouvir vocês e também para mostrar: coloco

a minha prática à disposição de todos. Pena que não possa mostrá-la de uma

forma mais visualizada. Mas posso garantir que farei a sucessão da minha

família no campo.

Preciso confessar algo: estou sofrendo um novo tipo

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de preconceito, estou sendo chamado de louco por querer ficar no meio rural.

Dizem: Por que tu queres ficar lá? Vais fazer a mesma coisa que teus pais?

Então, começa a surgir esse preconceito contra aquele que fica no campo.

É muito importante a bolsa de estudos depois da

formação em um processo de educação voltado para a permanência na

propriedade rural. Vejo essa bolsa como uma alavanca para auxiliar o jovem no

início. Não estou dizendo que o projeto substitui a atividade prática, mas ajuda

a pensar a propriedade.

A educação convencional não faz pensar. A

educação convencional apenas ensina a substituir números, a decorar

fórmulas, a dar respostas a temas padronizados. Na educação contextualizada

com o vínculo da propriedade e da família, os pais também são professores. O

acesso à educação não se restringe à escola. A educação ocorre também na

conversa com os pais, no diálogo com as pessoas mais velhas.

As formas de se expressar são muitas. Aqueles

dados recém colocados indicam o esvaziamento de jovens no meio rural. Isso

é preocupante e, se continuar dessa forma, vamos chegar ao ponto de ter que

juntar dois ou três Municípios, formando um. Isso é catastrófico.

Tenho 10 anos de experiência em educação

convencional. Falei isto em outra audiência pública e não canso de repetir:

tenho uma década de experiência em educação profissional e não aprendi a

pensar. Precisei de um ano para mudar a minha mentalidade. Só a partir do

segundo ano comecei a enxergar as coisas como elas são.

Penso que a intencionalidade merece sim um olhar

especial. As políticas públicas precisam ser analisadas, principalmente as que

vêm do Estado. Não entendo muito sobre política, mas elas precisam ter um

olhar especial. Existem também teorias de que nenhuma civilização é para

sempre. Daqui a pouco, o urbano também vai deixar de existir.

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Particularmente, recebi várias propostas de emprego

e não as aceitei. Como técnico e agricultor, não tenho mais postos de trabalho

em que atuar. Os postos de trabalho para os técnicos na extensão estão com

os dias contados se isso continuar desse jeito.

Desculpem a expressão, mas é sim uma assistência

criminosa que está acontecendo, que as empresas estão colocando no meio

rural, e a causa disso tudo, da maioria dos problemas, é a educação. Essa é a

causa e vai abranger vários outros aspectos.

Vou permanecer na propriedade sim. A educação da

pedagogia da alternância me fez ver a importância da minha família e da minha

comunidade. E essa erosão cultural está acontecendo não só em nível de

educação, mas também em outros aspectos.

Esse é o meu ponto de vista. Tenho o que ouvir e o

que mostrar. A minha experiência, hoje, ainda é pouca, porque há três

aspectos: o ideal, o possível e o perfeito. Hoje, apenas fiz o possível. Mas esse

possível valeu a pena para eu aprender a pensar.

A Escola Família Agrícola, como outros projetos de

pedagogia da alternância, coloca no fim da palavra educação um ponto de

interrogação. Escola Família Agrícola: que escola é essa? Há um ponto de

interrogação porque ela faz o jovem aprender a pensar. É isso o que queria

deixar.

O SR. MAURÍCIO BARINARKI – Bom dia a todos.

Como representante da Casa Familiar Rural, gostaria de complementar o que a

professora Arminda falou: que os professores do governo do Estado que vão

vir fiquem mais tempo com os jovens, conosco, lá.

Nesta semana, fomos muito prejudicados. Havia

dois monitores para atender às nossas necessidades. Tínhamos visita de

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estudos, e o tema da semana era a agroindústria vegetal. Nos deslocamos até

uma agroindústria e não tínhamos os professores adequados para nos

acompanhar. Estava lá o diretor do nosso colégio, que teve que ir conosco.

Peço mais professores qualificados que fiquem

conosco, para que tenhamos uma melhor qualificação no campo.

Gostaria também de pedir que aumentem o número

de casas familiares, porque fui muito beneficiado com a casa. Quando

estudava no ensino fundamental, a minha mentalidade era de ir para o meio

urbano. Tive a oportunidade de vir à casa, e a pedagogia da alternância me fez

mudar de ideia. Hoje, vejo a importância da minha propriedade. Consegui ter

uma boa qualidade de vida através do conhecimento que a casa me passou.

Muito obrigado.

O SR. WAGNER BOHN – Bom dia a todos.

Cumprimento o deputado Altemir Tortelli e o pessoal da mesa.

A gente está nessa luta faz tempo, com o pessoal da

EFA, enfim, com todos. De fato, temos n exemplos, os jovens aqui já

colocaram alguns. Muitos outros têm experiências, mas não têm coragem de

falar. Sabemos do exemplo e dos resultados positivos que as casas familiares

rurais e as EFAs tem apresentado. O desenvolvimento desses jovens nas suas

propriedades.

Temos pesquisas que mostram que os jovens que

participaram desse processo estão nas suas propriedades e estão com

qualidade de vida, com renda e mais. Já temos esse reconhecimento, vamos

partir agora do seguinte: assinamos um convênio para a cedência dos

professores e somente professores concursados, não pode ter convocação, por

quê? Se temos uma professora que é excelente, tem todo o perfil para estar lá,

mas não pode porque ela é contratada. Então temos que ver o porquê disso.

Se foi criada uma lei, uma resolução, temos que adequar e que esse convênio

possa dar esse benefício, senão vamos ter os professores e não vamos poder

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contratar.

E sabemos que tem profissionais que não queremos

na casa, vamos ficar sem.

Outro ponto, temos que ver onde está o projeto, em

que situação e se temos que lotar uns quatro ou cinco ônibus e ir lá fazer

pressão para o aprovarmos. Temos que fazer com que ele seja lei, porque

senão com os problemas das casas e da EFA, todo esse processo, vai ocorrer

como com as propriedades, dizem que um ano a culpa é da seca, no outro ano

é da chuva. Dizem que não dá, que é difícil, aí começa a desmotivação, acaba

virando tapera e vai todo mundo para a cidade.

E com as casas vai acontecer a mesma coisa, todos

os meses estão fechando no vermelho, temos que ter monitores, temos que

manter a estrutura. Precisam de recurso e, dependendo do lugar que vamos, já

dizem que vamos pedir de novo.

Mas é essa a nossa linha, se não fizermos alguma

coisa, as casas irão fechar. No início do processo eram oito, hoje já estão em

sete, seis. Mas todas fechando sempre no vermelho, e muitas ainda estão

abertas com amor à camisa, as cooperativas dão um aporte, e conseguem

aqui, as vezes tem o apoio do Município. Precisamos, urgentemente, ver como

está o projeto, onde está e vamos ter que começar as pressões.

Acredito que temos que provocar uma audiência

com o governador, colocar as nossas experiências, quem sabe alguns jovens

vão junto para fazer seu depoimento. Já dissemos que temos exemplos

suficientes, e quem faz realmente a educação no campo somos nós, as

escolas familiares rurais e as EFAs, isso sem sombra de dúvida.

É lógico que os técnicos estão preparados para

vender o produto. Hoje sabemos disso, temos que mudar essa visão. Somente

vamos conseguir se tivermos recursos para manter, caso contrário não vamos

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conseguir. Inauguramos as casas e nossa meta é, no ano que vem, que todas

já estejam reconhecidas pelo Conselho Estadual de Educação como escolas

de ensino médio, ou pelo menos todas encaminhadas.

Temos estrutura. Por exemplo, a Casa Familiar

Rural de Alpestre, em parceria com a Foz de Chapecó, tem um laboratório

chamado Biofábrica, que reproduz mudas de frutíferas. É a primeira do Brasil

no sistema que temos, Casa Familiar Rural, que os jovens buscam a

tecnologia, o conhecimento e depois conseguem aplicar. E a segunda do Brasil

como biofábrica nesse estilo de produção de mudas.

No Estado não tem um laboratório como aquele e

está lá junto com a Casa Familiar Rural. Temos que partir para a prática

mesmo, ver essa questão do projeto, buscar aprovação, ver essa questão do

convênio também, porque vamos esbarrar, temos o convênio e não vamos

poder contratar os professores.

Exemplos bons não nos faltam dessa experiência da

pedagogia da alternância, com certeza sabemos, avançamos, mas temos que

avançar mais.

O SR. EVANDRO LUCAS – Viajamos 300

quilômetros, por isso considero pertinente que os três falem.

Primeiramente, gostaria de dizer que somos da

primeira turma formada, e, em três anos de atuação, 41 técnicos já estão

fazendo trabalhos nos Municípios, na Emater, nessas áreas, contribuindo.

Estão também em suas propriedades, já estamos quebrando um pouco o

êxodo rural, apesar de analisarmos e ver 43 mil propriedades qualificadas sem

sucessão. Devagarinho, EFAs e também as casas familiares rurais estão

conseguindo trabalhar.

Conversamos com o Adair sobre a necessidade

enorme de uma política estadual para ajudar as EFAs e as casas familiares

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rurais. Somos comunitários, mas estamos nos mantendo com dinheiro privado

e com recursos das prefeituras, que têm sido parceiras dos colégios.

Esse dinheiro não é certo, a continuidade das EFAs

não é certa, pois ainda encontramos ameaças. Gostaríamos, pois, de contar

com a ajuda do Estado. E essa política pública é para ontem. A agricultura, há

mais de 40 anos, está sendo esquecida. Nos últimos anos, a agricultura familiar

está sendo lembrada. É ela que coloca 70% da comida na mesa dos brasileiros

e é responsável por 30% das exportações, mas tem muito menos terras do que

o agronegócio.

A agricultura familiar, por muitos anos, deixou de ser

vista pelo Estado. Quando falo Estado, digo a União, o Brasil em si. Agora,

começou a ser vista, mas é tarde demais. Quarenta e três mil propriedades

estão à mercê, sem sucessão. Isso não poderia estar acontecendo. Esse

problema tem sido sentido há mais de 30 anos pelas EFAs.

Em 1965, 1969, quando as EFAs aqui chegaram,

elas já chegaram com esse intuito. Em 1965, Paulo Freire já escreveu sobre

extensão e comunicação rural, alertando sobre o risco que teríamos de correr.

Estudos existem há anos, mas só agora estamos sendo lembrados.

Esta audiência pública é muito pertinente. Encontros

como este demonstram que o Estado está se lembrando de nós. Como o

deputado Altemir Tortelli e outras figuras estaduais, há pessoas que estão nos

considerando, que estão vendo que existimos, que EFAs e casas familiares

rurais existem, que já têm modelos educacionais no campo que podem

contribuir para que o êxodo rural diminua, para que, de repente daqui a alguns

anos, consigamos constituir uma agricultura mais sólida, com agricultores

felizes, em condições de dizer para seus filhos continuarem no meio rural.

Grande parte dos 41 que entraram na Escola

Família Agrícola, como eu, ouviu dos pais para estudarmos e trabalharmos nas

multinacionais que há na região. Nesses três anos, o colégio fez um trabalho

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fantástico e conseguiu quebrar um pouco isso. Agora, 41 sonham em continuar

na sua propriedade. Se alguém não continuar, será por falta de condições. Há

alunos que são filhos de meeiros e estão sem condições de continuar na

propriedade. Agora, há essa bolsa que o deputado Altemir Tortelli mencionou e

para nós seria muito pertinente.

Hoje, cada pai de aluno tem de pagar uma

mensalidade de 200 reais. Como fazer isso com uma agricultura como a

nossa? O fumo está caindo, a sua situação está complicada. A nossa

agricultura familiar tem mais de 2 bilhões de reais de dívida. Temos, pois,

noção do que significa para o agricultor dispor de 200 reais. Então, se

conseguíssemos uma bolsa dessas, poderíamos diminuir o valor da

mensalidade e, de repente, contribuir mais com os agricultores.

É preciso incentivar os jovens para terminarem seus

projetos finais. No final do ano, teremos de apresentar um projeto de formação,

o Projeto Profissional do Jovem, o chamado PPJ, para mostrar como ficaremos

na propriedade. Defendemos ele para uma banca. O colégio aprova ou não

esse projeto, que atesta se estamos ou não formados.

Imaginem, senhores, se conseguíssemos guardar

esses 200 reais todo mês para, no final dos três anos de estudo, investi-los no

projeto final. Que grande ajuda seria para os alunos!

As EFAs estão sendo reestruturadas. Há três anos,

montamos uma. Ela é muito nova. Hoje já há um projeto em Vale do Sol, outro

em Garibaldi, e outros Municípios estão pensando nisso. Estamos, pois,

caminhando a passos largos.

As casas familiares rurais estão aí há anos também.

Infelizmente, em vez de aumentar seu número, elas estão diminuindo.

Hoje, EFAs e casas familiares rurais já conseguem

trabalhar juntas, porque lutam pelo mesmo ideal: manter o jovem no meio rural

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com qualidade de vida. Muito obrigado.

O SR. LUIS PEDRO HILLESHEIM – Esqueci falar

antes que o Estado estava presente. A SDR está aqui.

O desafio nosso é abrir todas as escolas rurais.

Todas. Ocorre que estamos vendo a educação apenas como escolarização. O

que é possível fazer, no meio rural, com uma escola que está fechada?

A Casa Familiar Rural de Frederico Westphalen já

vem trabalhando, há anos, essa ideia, discutindo e fazendo um trabalho de

formiguinha.

Agora quero saber o que o Estado pode fazer por

isso, assim como os Municípios. Essa ideia da escolarização parece que acaba

atrapalhando. Pode-se questionar a ideia de formar agricultores. Podem

perguntar: Mas isso vale? Gente! É uma opressão desgraçada sobre a

agricultura familiar. Não tem lógica ficar debatendo isso. O fato em si já oprime.

As casas familiares rurais fazem um trabalho que vai

muito além da escolarização. Pergunto ao Turra: quando vão nos pagar para

fazer o trabalho com a segunda geração, que são os pais? Quando vão nos

pagar para formar os pais? Como?

O jovem está desenvolvendo um projeto. Esse

jovem é um multiplicador das mudas de grama na comunidade. Quanto vale

isso? Estamos fazendo muito mais do que a escolarização, muito mais do que

dar a ele o diploma de ensino médio. Temos de enfrentar a opressão. É um

desafio. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) –

Obrigado, professor.

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Concedo a palavra ao Sr. Adair Pozzebon.

O SR. ADAIR POZZEBON – Quero dizer da nossa

motivação.

Não percorremos mais de 300 quilômetros em vão.

Aonde quer que se fale em educação no campo neste Estado, estamos pronto

a ir, nem que tenhamos de sair à 1hora da manhã. Contem conosco nesse

coletivo.

Sei que essa empreitada não é fácil, deputado

Altemir Tortelli. Sabemos que há muitas resistências. O senhor foi muito

corajoso ao propor a frente parlamentar, porque a situação não é favorável. Por

isso, temos de somar forças, e isso se faz através de mobilização, através do

grito, através da fala.

Só quero dizer e reafirmar que estamos lá com 145

famílias que estão prontas para, se necessário, chutar a porta. É só nos

chamar que vamos lá e chutamos a porta também.

Acho que estamos muito mansos em certas horas.

Temos de dar o tom certo das palavras para as pessoas que merecem ouvir

um grito um pouco mais alto. Há pessoas em que o tom da voz tem de ser mais

alto para que possam nos escutar. Coisa que não percebo com o deputado

Altemir Tortelli, pois estamos sendo por ele escutados e estamos com ele

tendo voz dentro da Assembleia para puxar essa discussão.

Deputado Altemir Tortelli, força nesse trabalho. O

amigo sabe que pode contar conosco em tudo o que for preciso. Isso é

fundamental. Não podemos perder essas audiências para não corrermos o

risco de o relatório, que em setembro sairá da subcomissão, ficar lá apenas

como algo bonitinho. Isso tem de continuar, pessoal.

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Depois desta audiência, vai sair o relatório. Temos

de sentar, sim, e conversar também com o governador. Concordo com o Bohn,

parente do nosso bispo. Temos de fazer com que isso ecoe lá dentro e ecoe

em sintonia, em sinergia. Temos de trabalhar juntos e unir forças. É preciso

deixar de lado as particularidades, as diferenças. É hora de unir força em prol

da educação do campo. Força, pessoal!

Parabéns pela iniciativa, deputado Altemir Tortelli!

Conta sempre conosco.

O SR. VENILDO TURRA – Eu também quero dizer

que, com o anúncio dos 200, 300 quilômetros, não foi em vão virmos aqui.

Só quero dizer que valeu a pena ter vindo na

audiência pública para ouvir os três jovens da EFA e o jovem de Frederico

Westphalen.

Gente, se ouvíssemos só isso hoje, estaria tudo

resolvido. Não teríamos mais problema.

O que queremos é que as autoridades constituídas,

que têm um pouco de poder de voz e voto, possam dar atenção a esses jovens

que falaram aqui.

Que bom se ouvissem o que eles estão dizendo com

tamanho discernimento! Que bom se eles sentassem com o governo do Estado

e com a maioria dos nossos deputados, para que apresentassem os seus

projetos de vida! Aqui vieram apenas falar. Imaginem se apresentassem os

seus projetos de vida na Assembleia Legislativa. Creio que muito deputado

teria vergonha de fazer o trabalho que está fazendo no Estado do Rio Grande

do Sul.

Repito que, por tudo isso, valeu a pena ter vindo

aqui. Muito obrigado.

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A SRA. INQUE SCHNEIDER – Faço minhas as

palavras do Turra e do Adair.

Eu também fiz não sei quantos quilômetros, porque,

faz alguns dias que estou viajando. Estive, na quarta-feira, em Ijuí, discutindo

saúde. Ontem, estive no meu sindicato, em Selbach. Ontem à noite, não tendo

como chegar aqui, tive de voltar para Cruz Alta para chegar até Frederico

Westphalen.

Isso não me incomodou nem um pouco depois do

que ouvi. Muito nos fortaleceu o que esses meninos trouxeram aqui para nós.

Vale a pena lutar, sim, pela educação. E vale a pena

lutar por essas escolas. Ao menino lá que está coordenando essa escola em

que ele compete até com padre para fazer o sermão, no Município de Alpestre,

dou os parabéns pela iniciativa.

Segunda-feira, Turra, estaremos em Catuípe,

trabalhando na formação sindical das nossas mulheres trabalhadoras rurais.

Dentro dessa casa, queremos discutir com elas a

importância que tem a educação do campo, em especial essas escolas que,

acredito, vão fazer a diferença lá na frente. A grande maioria dos nossos

agricultores não se deu conta de que somos reféns das multinacionais, que nos

vendem o veneno, a semente e os fertilizantes. Elas não vão mudar. Quem tem

de mudar somos nós. A semente da mudança está nas escolas de alternância.

Muito obrigada.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) – Muito

obrigado, companheira Inque.

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A palavra está à disposição do companheiro

Armando Enderle.

O SR. ARMANDO ENDERLE – Duas questões bem

rápidas.

A primeira diz respeito às bolsas que vi aqui. Não

acompanhei ontem, mas parece que foi divulgada pela imprensa a

possibilidade de 3 mil bolsas.

Pelo que tenho acompanhado nas reuniões pela

SDR, essas bolsas fazem parte de um programa. Então, vamos ter de ficar

atentos para atrelar esse programa ao projeto de lei, a uma política de Estado.

Caso contrário, será um programa com tempo determinado, que termina e não

tem mais sequência. Temos de amarrar isso ao projeto para que se torne uma

política permanente. Em segundo lugar, a SDR tem tomado a posição – já

vinha acompanhando, mas não havia sido publicado ainda – que 100% dos

alunos das EFAs e das casas familiares sejam contemplados com as bolsas

nesse programa.

Foi feito um levantamento e tem 25 escolas

agrícolas no Estado, mais sete agrícolas da rede federal, se não me engano, e

cinco particulares. Quem decide pelas escolas federais e estaduais não é a

SDR, mas fechamos com as casas familiares rurais e com as EFAs e não é

para privilegiar, é para contemplar 100% dos alunos.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) – Quero

falar sobre algumas questões.

Inicio falando sobre o Bolsa Jovem Rural, que é um

processo em construção dentro do governo – nós, como deputados, também

participamos de umas quatro reuniões com os secretários, com a equipe de

assessoria. Na última reunião, na semana passada, foi colocada a seguinte

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informação: há 3 mil bolsas, 12 milhões de reais e uma ajuda de 400 reais por

mês para cada aluno.

Os alunos das casas familiares rurais e das escolas

de famílias agrícolas são o público prioritário para iniciar com as bolsas.

Receberiam 100% de atendimento.

Essa é a construção feita pelo governo, com as

várias secretarias, também com a nossa pressão e nossa participação. A nossa

bancada especialmente fez várias reuniões com o secretário Mainardi, com o

secretário Ivar Pavan e a equipe de assessoria superior do governo, inclusive

houve várias reuniões técnicas e políticas.

É uma boa notícia, e no materialzinho que

trouxemos constam as informações. Lutamos por esse tema desde que

iniciamos o nosso trabalho, discutimos juntos essa questão da Bolsa Jovem

Rural. Inclusive, para a minha primeira audiência pública no espaço da

Assembleia Legislativa, trouxemos o nosso secretário nacional de jovens do

governo federal e fizemos um debate justamente sobre a importância da

educação para o meio rural, abordando em especial o assunto da bolsa jovem

para a nossa juventude no meio rural.

Penso que é uma conquista que construímos juntos.

Os debates foram realizados em conjunto. O governo compreendeu essa

importância. Agora, acho que o desafio é implementar.

Vocês sabem que entre o anúncio de uma medida e

a implementação sempre tem o caminho da burocracia. São muitas etapas

entre aprovar um projeto de lei até que se transforme em lei, são muitas

normas, regulamentos. Temos de ficar atentos.

A segunda questão é a do Pronacampo. Se

analisarmos a política nacional do governo federal do ano passado para este

ano, verificaremos um avanço efetivo. Temos um conjunto de normas,

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regulamentações, decretos, que avançaram. Os decretos terão que ser votados

no Congresso Nacional para se tornarem leis. Temos um programa. Talvez

tenhamos que decidir se cada um vai por conta própria bater a palma, ou

vamos fazer o movimento conjunto?

Há duas semanas, participei de uma reunião com a

secretária adjunta de Educação e lancei o seguinte desafio para ela: por que não

termos no Rio Grande do Sul uma política ou um programa parecido com o

Pronacampo para que possamos fazer um movimento articulado no Rio Grande do

Sul?

A tendência dos Municípios é pegar recursos de

infraestrutura e utilizar de preferência para o transporte, para melhorar o

atendimento das crianças das comunidades para a cidade. É isso o mais

natural. Foi feito um leilão nacional de ônibus. Sei que alguns Municípios estão

recebendo em torno de 5 ou 10 ônibus. É uma leva de ônibus para fazer o

transporte escolar. Isso muda muita coisa, aperfeiçoando a qualidade do

transporte, mas não a qualidade da educação no geral.

A secretária ficou sensibilizada e propôs que

fizéssemos, então, um debate. Há um grupo de trabalho que está realizando

visitas em algumas regiões do Estado, fazendo um diagnóstico da situação –

até já era para ter sido feito há mais tempo. Está demorando um pouco para

fazer o diagnóstico da situação – estamos quase na metade do governo. Nós

acordamos de realizar uma ação combinada e articulada entre a nossa equipe

da Assembleia Legislativa com esse grupo de trabalho lá na Secretaria da

Educação.

Mas quero deixar uma proposta que foi feita quando

da reunião da primeira audiência lá em Porto Alegre. Devemos promover uma

ação articulada, combinada com os movimentos, a Fetag, a Fetraf, a Via

Campesina, as casas, as escolas, a fim de criarmos, de fato, uma frente das

entidades e da sociedade civil para ajudar a pressionar o Parlamento e o

governo. O nosso projeto de lei está na CCJ e ainda não foi distribuído para o

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relator.

Quais são os projetos que tramitam rapidamente na

Assembleia Legislativa? Aqueles que o governo encampa e quer aprovar,

contando com o apoio da base aliada. De preferência, utiliza-se do art. 62 da

Constituição, ou seja, do regime de urgência, que obriga os deputados a

votarem a matéria no máximo em 30 dias. Com isso, nem tramitam nas

comissões, indo direto para votação em plenário.

Se o governo tem vontade política, ele propõe

adequações no nosso projeto de lei, envia-o novamente ao Parlamento, em

regime de urgência do art. 62. Dessa forma, ele tramita com muita rapidez

Acho que, para ser votada a matéria em relação à

educação, não haverá a necessidade de ser evocado o art. 62 do regime de

urgência, dependendo unicamente da vontade do governo em encampá-la.

Esse foi outro assunto que tratei com a secretária,

na semana passada, com o objetivo de fazer essa ação conjunta e combinada.

Isso não poderá depender só da Comissão de Agricultura ou dos deputados

que têm compromisso com a educação diferenciada. Somos três ou quatro: o

Altemir Tortelli, o Edegar Pretto, o Heitor Schuch e o Jeferson Fernandes.

Esses são os deputados que, de fato, têm comprometimento com essa causa.

Então, temos que fazer esse jogo combinado.

Talvez, para ajudar a acelerar o processo nas

secretarias, especialmente na de Educação, teríamos que criar uma brecha na

agenda do governador. Há várias pessoas com sensibilidade, que poderiam

estabelecer um diálogo conosco e com as entidades e os movimentos.

Temos que falar com o governador, juntamente com

os nossos jovens, as lideranças das casas, das escolas e das entidades, com

os professores, e criar uma comissão representativa para estabelecer uma

conversa especial com o governador. Se conseguirmos sensibilizar o

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governador, haverá a pressão de fora dos movimentos e do Parlamento.

Essa uma é ideia boa. Queria que fosse

encaminhada como sugestão desta audiência pública.

Poderíamos trabalhar como um momento de

chegada até a Expointer. Esse é um grande evento que integra todas as

entidades. Quem sabe a Expointer possa ser o nosso momento de chegada.

Até lá, devemo-nos articular e aprimorar as conversas com as secretarias

responsáveis.

Devemos, portanto, criar esse espaço de conversa

com o governador, até o final de agosto. Temos ainda 60 dias para fazer

audiências públicas e com que essas discussões tenham eco na Assembleia,

na presidência da Casa e na Comissão de Agricultura. Ao mesmo tempo,

iremos conversando com os movimentos sociais, que têm força e

representação muito significativa.

A última proposta é a consolidação dessa frente, de

um fórum ou de um movimento. Acredito temos que estabelecer essa grande

aliança entre quem está vivendo essa situação com quem está tocando o

projeto, com os companheiros dos movimentos sociais, com os parlamentares,

para, de fato, criarmos um fórum, uma frente, um conselho.

Essas são algumas sugestões que queria deixar

para os companheiros que participam desta audiência pública.

Quero agradecer pela presença de todos, a cada

jovem, estudante, professor, liderança, monitor, representante das entidades,

parlamentares, assessores e representantes das universidades, como à

universidade, por este espaço cedido.

Não poderia deixar de agradecer à equipe da

Assembleia Legislativa, que nos dá todo o apoio técnico para a realização

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desta audiência pública. Tudo que foi dito nesta reunião foi gravado, registrado

e fará parte do relatório final da Comissão de Agricultura, Pecuária e

Cooperativismo.

Portanto, peço também à equipe, que nos apoia e

nos assessora com qualidade e profissionalismo, uma salva de palmas.

(palmas)

Talvez não tenhamos feito o grande encontro, a

grande audiência que irá solucionar os problemas, mas é assim que se faz a

luta. Dando mais um passo, juntando mais forças, olhando para a frente é que

vamos fazer as transformações necessárias.

A educação é um dos temas centrais da nossa vida,

fundamental para o futuro da agricultura pelas mãos dos jovens, homens e

mulheres produzindo alimentos para o nosso Brasil. Um grande abraço.

Parabéns a todos.

3 - AUDIÊNCIA PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE

SANTA CRUZ DO SUL

O SR. ADAIR POZZEBON – Boa tarde a todos.

É com muito prazer que vemos a casa cheia. Talvez

isso seja sinal da importância do tema.

Inicialmente vamos assistir a uma peça teatral,

interpretada por jovens da Escola Família Agrícola, que simboliza a história das

EFAs e da educação no campo.

(apresentação teatral) (palmas)

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Deputado Altemir Tortelli, Secretário Ivar Pavan, Deputado Heitor Schuch, Deputado Edson

Brum, representante da CRE- SEDUC e demais integrantes da mesa

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) – Boa

tarde! Como diz o companheiro Adair, que bom nos encontrarmos aqui!

Com certeza, este é um momento histórico em que

nos sentimos fortes, pois é grande o número de companheiras e companheiros

que aqui vieram para discutir esse importante tema que tem a ver

profundamente com a vida e a sobrevivência da agricultura familiar, o

desenvolvimento rural e a perspectiva de futuro de vida de milhares e milhares

de pessoas, jovens mulheres e homens do nosso Estado.

Tratar de educação no meio rural é, com certeza,

pensar o Brasil do presente e do futuro, é pensar o Rio Grande do Sul como

produtor dos alimentos que estarão na mesa de cada mulher e de cada homem

da nossa terra.

Em nome da Assembleia Legislativa do Rio Grande

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do Sul, da Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo e da nossa

subcomissão, saúdo a todos.

Para compor a mesa dos trabalhos, convido o

deputado Heitor Schuch, colega integrante da nossa comissão e da nossa

subcomissão; o companheiro Ivar Pavan, secretário do Desenvolvimento Rural,

Pesca e Cooperativismo, aqui representando o governador do Estado do Rio

Grande do Sul, companheiro Tarso Genro; o companheiro Valdomiro Luiz da

Rocha, coordenador da 6ª Coordenadoria Regional da Educação, aqui

representando a Secretaria de Estado da Educação; o prefeito João Davi, aqui

representando a Amvarp, Associação dos Municípios do Vale do Rio Pardo; o

companheiro Luiz Augusto Costa a Campis, vice-prefeito de Santa Cruz,

Município que nos acolhe; o Sr. Ricardo André Machado, que aqui representa o

reitor da Unisc, universidade que nos recebe neste espaço acolhedor; o

companheiro Wagner Bohn, representante da Associação Regional das Casas

Familiares Rurais – Arcafar/Sul; o companheiro Elton Roberto Hein,

representante da Associação Gaúcha Pró-Escolas da Família Agrícola – Agefa;

o companheiro que representa a Fetraf-Sul; o companheiro Miqueli Schiavon,

da Via Campesina; e a Sra. Josiane Einloft, representante da Fetag.

Saudamos o deputado Edson Brum, que faz parte

tanto da Comissão de Agricultura como da nossa subcomissão, e do

companheiro Elvino Bohn Gass, deputado federal.

Informo que convidamos a participar deste encontro

um representante do governo federal, mais exatamente do Ministério da

Educação e Cultura, mas ele não pôde vir devido a problemas de agenda. Por

isso, solicitamos a um assessor da nossa bancada que nos falasse aqui sobre

o Pronacampo, novo programa de educação para o meio rural do governo

federal, pois é fundamental que o conheçamos.

Antes de dar continuidade, gostaria de explicar como

serão os trabalhos desta audiência pública, que será dividia em partes.

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(explicações sobre a ordem das manifestações e o

funcionamento do debate)

Antes de dar continuidade, quero me apresentar aos

que não me conhecem.

Sou o deputado Altemir Tortelli, proponente desta

subcomissão dentro da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e das

audiências que estamos realizando no interior do nosso Estado para debater o

tema da educação no campo.

Já fizemos uma audiência de caráter estadual em

Porto Alegre, no início do mês de junho ou final do mês de maio, e uma

segunda audiência, um mês e meio atrás, em Frederico Westphalen. Esta é a

terceira audiência que fazemos para debater como a sociedade, as entidades e

o poder público podem, juntos, contribuir na construção de políticas públicas

voltadas à agricultura familiar, ao aperfeiçoamento da educação e à busca de

caminhos alternativos no meio rural.

Quero agradecer especialmente a articulação feita

neste Município e nesta região pelos companheiros das escolas família

agrícola. Peço aos professores, alunos e dirigentes que se levantem para

receber uma salva de palmas, pois são os responsáveis por criar as condições

deste grande momento. Muito obrigado por motivarem a comunidade da região

a participar conosco deste belo evento.

(palmas)

Na Assembleia Legislativa, estamos tratando do

tema da educação de forma muito especial.

Durante o ano, cada parlamentar tem a oportunidade

de fazer dois grandes expedientes, nos quais ele tem 20 minutos para falar

sobre temas específicos.

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No meu primeiro grande expediente, falei sobre

desenvolvimento rural e educação, na presença inclusive da companheira

Severine Macedo, coordenadora nacional de Juventude no governo Dilma.

O primeiro projeto de lei que apresentei e que

tramita na Casa é o de nº 297/11, que fala justamente do tema da educação no

meio rural, focado na perspectiva do governo do Estado criar bases jurídicas

para dar suporte estrutural, financeiro e de recursos humanos às casas

familiares rurais e às escolas família agrícola.

Tivemos a felicidade de contar com a relatoria do

deputado Edson Brum, que, na semana passada, deu parecer favorável ao

projeto – quero lhe agradecer publicamente por isso, deputado –, que foi

aprovado por unanimidade na Comissão de Constituição e Justiça.

Portanto, já demos um passo importante na

Assembleia para obter um arcabouço jurídico, as bases legais para que o

governo do Rio Grande do Sul possa apoiar financeiramente este grande

projeto de educação, de pedagogia de alternância, enraizado e consolidado

pelas escolas família agrícola e pelas casas familiares rurais.

Não tenham dúvida de que estamos dialogando com

as entidades de representação. Temos conversado com a Fetag, a Fetraf e os

companheiros da Via Campesina. Aliás, eles estiveram em Porto Alegre na

primeira audiência pública, quando sinalizamos a necessidade de se construir

um grande movimento que envolva a sociedade, os parlamentares, os

prefeitos, os professores, os alunos e o governo para que, juntos, possamos

efetivamente tratar do tema com uma perspectiva de futuro para a agricultura

familiar, visando à permanência dos nossos jovens no campo, a fim de que

deem continuidade à produção de alimentos de acordo com as necessidades

deste Brasil.

Todos os debates apontaram para a necessidade de

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se desenvolverem várias políticas públicas para o setor. Isso passa por crédito,

habitação, assistência técnica, mobilidade, enfim, e é necessária uma ação

muito especial, muito profunda e muito rápida.

É isto que se concluiu na primeira audiência:

precisamos de ações profundas e rápidas, porque, infelizmente, pelo que

vemos das nossas crianças e dos nossos jovens do meio rural em termos de

educação, a educação pública não tem contribuído para que eles se

enxerguem como agricultores, como pessoas que querem continuar vivendo e

desenvolvendo a sua propriedade junto com a família

É preciso que os jovens tenham escolas bem

estruturadas no meio rural e que os professores tenham todo suporte e apoio

de que necessitam para fazer da escola um instrumento motivador, um

instrumento que aponte uma nova perspectiva e um novo rumo à juventude,

para que ela possa viver, produzir e desenvolver seus sonhos e projetos na

agricultura familiar.

Trata-se de uma construção de várias pessoas.

Vários companheiros têm compreendido que esse tema tem de ser pauta

estratégica dos governos municipais, estadual e federal, a fim de que

possamos sonhar e projetar a realidade dos pequenos e médios Municípios

cuja base da economia é a agricultura familiar.

Queremos projetar 10 anos, 20 anos; queremos ver

os jovens de hoje como agricultores familiares hoje, amanhã e no futuro.

Como podemos aproveitar momentos como este,

com a presença de centenas de jovens, centenas de estudantes do meio rural

desta grande região e autoridades, tendo em vista os importantes movimentos

que têm início no governo federal?

O Pronacampo começa a apontar de fato um

investimento estratégico do governo federal. Também vamos falar sobre o

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Bolsa Jovem Rural, uma reivindicação dos movimentos. Já debatemos esse

tema na Assembleia. É um projeto que o governo do Estado anuncia para dar

um apoio financeiro ao jovem que estiver cursando o nível médio ou

frequentando escolas técnicas. Será dada prioridade aos estudantes das EFAs

e das casas familiares rurais.

Estamos começando a enxergar algumas luzes,

algumas esperanças que se apresentam de políticas públicas.

Não tenho dúvida de que precisamos mudar a

política educacional do nosso Estado. Queremos a mesma estrutura e recursos

humanos e pedagógicos preparados para que as escolas das nossas

comunidades, dos nossos pequenos Municípios, sejam indutoras de uma

mudança de consciência e possam preparar os nossos jovens para serem

agricultores cidadãos, com dignidade, renda e padrão de vida pelo menos igual

ao que, às vezes, buscam na cidade.

Feita a introdução, passo a palavra ao nosso vice-

prefeito, que, em nome do governo municipal, quer dar as boas-vindas a todos

vocês. Muito obrigado. (palmas)

O SR. LUIZ AUGUSTO COSTA A CAMPIS –

Obrigado, deputado Altemir Tortelli.

Quero cumprimentá-lo pela iniciativa de realizar

essas audiências públicas no nosso Estado, pois certamente possibilitarão que

todas as vozes das comunidades regionais sejam ouvidas.

Cumprimento o prefeito João Davi, o secretário Ivar

Pavan, os deputados Heitor Schuch e Edson Brum, o deputado federal Elvino

Bohn Gass, o Valdomiro, o Ricardo e os representantes da Fetag, da Fetraf e

da Via Campesina e das demais entidades presentes.

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Vejo aqui a presença de lideranças da nossa

comunidade regional – prefeitos, secretários de Educação, representantes de

entidades empresariais, diretores, professores, alunos. Isso é muito importante,

pois garante a legitimidade desta audiência. Agradeço a presença de todos.

Não temos dúvida de que a educação é um direito.

Como foi dito pelos alunos que se apresentaram, ela não é uma esmola, mas

um direito de todos, principalmente daqueles que querem ir à escola.

Sabemos da dificuldade que temos de ter propostas

voltadas ao meio rural.

Queria aproveitar para fazer um breve relato

histórico.

Em 1984, aqui em Santa Cruz, fizemos uma

discussão sobre a educação no meio rural, nosso coordenador Valdomiro, da

CRE. Na época, estava em debate o fim da escola normal rural. Falavam que

as pessoas estavam indo embora do meio rural porque as escolas não sabiam

mantê-las.

A universidade fez, então, uma pesquisa por mim

coordenada. Fomos ouvir os professores, os alunos, os familiares do meio

rural. Para nossa surpresa, escutamos: É verdade, a escola não tem um

conteúdo mais apropriado para o meio rural. Os pais e os alunos, deputado

Heitor Schuch, nos disseram o seguinte: Com os preços dos produtos que

temos no meio rural, com a dificuldade de termos acesso a uma habitação, a

uma assistência técnica, a um financiamento, queremos ir para a cidade. Nós

ouvimos isso, secretário, que era o contrário do que podíamos imaginar. Os

pais estavam desalentados com a permanência do jovem no campo.

De lá para cá, passaram-se 28 anos. É verdade que

muita coisa mudou. O que mudou? Temos, neste momento, a possibilidade de

financiamento para habitação rural; temos assistência técnica, ainda que com

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dificuldades muito grandes, dependendo do tipo de região; temos preços que

não são melhores ainda.

Estou chamando a atenção disso para dizer o

seguinte: a escola rural é fundamental para a permanência no campo, mas ela

sozinha não pode ser colocada como a responsável por isso.

Dizendo isso, quero afirmar com todas as letras:

aqui em Santa Cruz, a comunidade regional se reuniu e criou, com o apoio

fundamental do Sicredi, a Escola Família Agrícola. Esse é um projeto que já

existe em várias outras regiões do País, utilizando a pedagogia da alternância.

Essa escola foi criada a partir de uma mobilização

da comunidade regional com a participação indispensável das prefeituras, que

aqui são responsáveis pela maioria das bolsas que hoje mantêm os alunos.

Para terem uma ideia, a Prefeitura de Santa Cruz tem 45 alunos bolsistas

nessa escola que tem 106 alunos.

Acabamos de destinar uma área de 15 hectares do

nosso Município para que a escola estabeleça seus prédios, seus laboratórios.

Dessa maneira, esperamos estar contribuindo para o sucesso desse projeto,

que é vitorioso.

Aproveito para cumprimentar o Adair, que é diretor,

todos os professores, alunos e pais e a comunidade em geral, porque a escola

é feita com a participação comunitária.

Deputado, quero chamar a atenção para seu projeto

de lei, porque nele consta que os recursos do Estado poderão ser colocados

em escolas filantrópicas comunitárias. Parabéns por essa iniciativa, porque

temos certeza de que as escolas comunitárias são fundamentais para que a

comunidade tenha o controle da educação que quer dar para seu filho.

Não podemos esquecer que vivemos num país

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continental com realidades diversas, se compararmos o Norte, o Nordeste, o

Centro-Oeste e o Sul.

Quem conhece a nossa realidade? As comunidades

regionais. Quem pode propor uma política de educação voltada para essa

realidade? A comunidade regional, não temos dúvida disso. Portanto, aqui

nessa região, como em muitas outras regiões do País, a primeira coisa que os

colonos faziam quando chegavam era escolher entre eles aquele que seria o

professor para ensinar o filho dos outros, quando não tinham professor. Ele

recebia alimentos e ajuda dos demais agricultores. Essa tradição das escolas

comunitárias vem desde o início da nossa vida. É importante que ela seja

mantida com as características da EFA agora.

Parabéns ao seu projeto de lei, deputado, que

contempla essas escolas, que não coloca somente no colo do Estado a

obrigação, a iniciativa e os recursos e que descentraliza tudo isso em nome de

uma política voltada para a nossa realidade. Parabéns pela iniciativa. Que

todos nós possamos fazer parte desse grande debate hoje. (palmas)

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) –

Obrigado, Campis.

Solicito ao Adair que me ajude a registrar as

representações que participam desta grande audiência. Todos serão citados

neste encontro, porém isso será feito em partes, a fim de que o andamento dos

trabalhos não seja prejudicado.

(O Sr. Adair Pozzebon registra o nome de

representantes de entidades, empresas e órgãos públicos presentes.)

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) –

Ouviremos agora o deputado Heitor Schuch.

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O SR. HEITOR SCHUCH (PSB) – Companheiras e

companheiros, boa tarde! Se continuarmos nesse ritmo, a reunião terminará

até às 16h30min.

Saúdo o deputado Altemir Tortelli, os prefeitos, os

vice-prefeitos, os secretários municipais, o secretário Ivar Pavan, os colegas

deputados. Para encurtar a prosa, saúdo a todos os amigos da educação rural,

da educação da nossa gente do interior, que há tanto tempo trabalha para que

as coisas sejam um pouco diferentes.

Pedi para falar logo, porque tenho uma reunião às

17h30min com o governador Tarso Genro, com a nossa bancada do PSB, em

Porto Alegre.

Em nome da nossa bancada, quero dar as boas-

vindas a todos. Sintam-se à vontade aqui na nossa colônia. Deputado Altemir

Tortelli, secretário Ivar Pavan, aqui é terra de alemão, mas os gringos sempre

são bem-vindos também, sem problema nenhum.

Quero fazer três registros. Primeiro, neste ano de

2012, tive a felicidade de completar meio século de vida e 25 anos de

movimento sindical.

Nascido e criado ali na colônia, posso dizer que, do

meu tempo de colégio até hoje, a única coisa que vi que realmente mudou foi

que, numa sala de aula, tinha um só professor para a 1ª, a 2ª, a 3ª e a 4ª série.

Que bom que isso não existe mais! Aquele era o primeiro sinal de que, naquela

época, não se dava a atenção devida à educação.

Segundo, nesses meus 25 anos de movimento

sindical, desde que entrei pela primeira vez na Fetag, escuto os dirigentes

sindicais, em especial as mulheres, fazendo dois pedidos: queremos

aposentadoria e um outro currículo, que atenda às questões do meio rural,

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porque a vida na roça é diferente da vida na cidade. Ensinar as mesmas coisas

para quem está na cidade grande, pequena, média, longe ou perto ou do

interior não vai dar certo, porque essa gurizada está sendo ensinada, desde o

primeiro dia, a sair da roça e ir embora.

Aqui podemos dizer: se o agricultor não planta, a

cidade não almoça e não janta. Para produzir, no entanto, precisamos de

agricultor. Ou vamos conseguir convencer os nossos governos a mudar o

currículo, ou daqui a 20 ou 30 anos só estarão na roça, quem sabe, esses

alunos da EFA, da escola diferenciada, porque os outros, desculpem-me a

sinceridade, não voltarão para o meio rural.

Por último, se um governo olhar a educação como

gasto, na minha opinião, está errado, porque, na minha opinião, educação é

investimento.

Ou investimos em educação, como outros países

fizeram, ou o Brasil poderá até ser uma grande economia, mas, socialmente,

estará atrás de muitas outras pátrias menores.

Bom evento a todos. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) –

Obrigado, deputado Heitor Schuch.

Solicito ao Adair que registre o nome de mais

algumas representações.

(O Sr. Adair Pozzebon registra o nome de alunos,

professores e diretores de escolas, de representantes de mais entidades e de

profissionais da imprensa, a quem agradece o trabalho de transmissão da

audiência pública.)

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O SR. PRESIDENTE (Altair Tortelli – PT) – Solicito

aos diretores, professores e estudantes das 19 escolas estaduais, municipais e

comunitárias anunciadas que fiquem de pé, a fim de receberem uma salva de

palmas.

(palmas)

Muito obrigado mais uma vez.

Passo a palavra ao companheiro Gilmar, que nos

falará sobre o Pronacampo.

O SR. GILMAR VIEIRA – Muito boa tarde a todos.

Saúdo o deputado Altemir Tortelli e, na sua pessoa,

todos os integrantes da mesa.

Faço uma saudação especial ao público que lota

este local para debater o tema da educação no campo.

Agradeço ao representante da universidade a

oportunidade que nos dá de aqui realizar este encontro.

Juntamente com o secretário Ivar Pavan e o

deputado Altemir Tortelli, participei, no último final de semana, do

acampamento da juventude da Fetraf-Sul na comunidade de São Valentim,

interior do Município de Ipê.

Lá discutimos a questão da sucessão na agricultura

familiar e o papel que a educação cumpre nesse processo, já que tem a ver

com a abertura de uma possibilidade de permanência no campo de um sujeito

qualificado para estar no campo.

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Naquele encontro, usei um material da EFA,

apresentando a experiência maravilhosa que o pessoal tem de formação

voltada à realidade do campo, e o primeiro eslaide apresentava um ditado

popular que dizia que, para pegar no cabo da enxada, não era necessário

estudo. Vejam! Esse era o senso comum! A maior parte dos nossos pais

pensava que o filho que iria permanecer no campo era justamente aquele que

não gostava muito de estudar. O que não estudava era aquele que ficaria

enquanto os outros iam saindo para estudar na cidade. É uma pena, mas era

uma realidade, uma realidade que precisava ser modificada.

Não falo aqui em nome do governo federal. Faço

parte da assessoria da bancada do Partido dos Trabalhadores na Assembleia,

e, a pedido do deputado Altemir Tortelli, coube a mim apresentar um pouco do

Pronacampo, que é uma iniciativa lançada no mês de março pela presidente

Dilma e pelo ministro Mercadante que trata justamente do tema da educação

no campo. A ideia é aportar em torno de 1 bilhão e 800 milhões de reais por

ano para esse programa especial de educação no campo.

Quero começar justamente resgatando um fato

importante. A educação básica, que vai da pré-escola ao ensino médio, já é

garantida como um direito subjetivo, ou seja inerente ao ser humano, desde a

Constituição de 1988. Uma luta importante da sociedade brasileira foi contra o

analfabetismo, foi a de dar garantia de acesso à educação básica a todos os

brasileiros, a de tirar do analfabetismo massas fantásticas do nosso povo que

vivia nessa condição. Portanto, esse já é um direito assegurado. Por muitos

anos, as políticas públicas dialogaram no sentido de criar as condições para

que todos os brasileiros tivessem acesso à escola.

Hoje o debate começa a ir além desse tema.

Podemos quase nos orgulhar do fato de que todas as crianças que chegam à

idade escolar têm acesso à escola. Falta muito ainda, é evidente, mas

começamos a discutir outras perspectivas.

Há os marcos legais. Quando discutimos o tema da

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educação no campo, muitas vezes ficamos preocupados: Isso não é possível, a

lei não permite. Mas, desde a Lei de Diretrizes e Bases –LDB –, que garante o

fundamento para a educação do nosso País, já está assegurado um conjunto

de normas que garante condições especiais de educação no campo. Também

há resolução do Conselho Nacional de Educação.

A LDB tem garantido, desde 1996, com várias leis

complementares subsequentes, entre outros, conteúdos curriculares e

metodologias apropriadas às reais necessidades e aos interesses dos alunos

da zona rural.

É claro que em muitos lugares isso vai parecer um

sonho, porque lá não funciona assim, infelizmente. Mas a verdade é que, do

ponto de vista legal, que talvez seja o primeiro passo para assegurar que o

processo se instale, já está garantido.

Também a resolução do Conselho Nacional de

Educação, em seu art. 2º, dentre outras coisas, visa a adequar o projeto

institucional das escolas do campo, criar condições para que isso ocorra.

Mais recentemente, em 2006, foram estabelecidos

os dias letivos para a aplicação da pedagogia da alternância.

Nas diretrizes complementares, alguns aspectos se

destacam, como o fato de que a educação infantil e os anos iniciais do ensino

fundamental serão sempre oferecidos nas próprias comunidades rurais,

evitando-se o processo de ampliação de escolas e o deslocamento das

crianças.

E assim vai, com várias outras resoluções que foram

sendo construídas, que garantem o marco legal para a educação no campo.

As Diretrizes Curriculares Nacionais, no art. 35, por

exemplo, falam na modalidade da educação básica no campo, que estabelece

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conteúdos curriculares, metodologias apropriadas, permite por exemplo a

organização curricular, os conteúdos curriculares, organização escolar própria,

incluindo a adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às

condições climáticas e a adequação à natureza do trabalho na zona rural.

Ou seja, já de longa data – esta é uma resolução de

2010,mais recente – vêm-se construindo as bases dos marcos legais para a

instituição da escola no campo, numa outra perspectiva.

Também no art. 36, que fala sobre a identidade da

escola no campo, estabelece, no parágrafo único, que formas de organização e

metodologias pertinentes à realidade do campo devem ser acolhidas, entre

elas a pedagogia da terra, que tem sido um processo bastante utilizado

especialmente nas áreas de assentamentos da reforma agrária, e a pedagogia

da alternância, que é a experiência das escolas família agrícola e das casas

familiares rurais. Enfim, é preciso que se reconheçam esses processos e se

estabeleçam condições para que a escola no campo tenha um formato

diferenciado.

Um dos motivos da saída é justamente o formato

ainda meio quadrado, digamos assim, da escola hoje. Sou oriundo de uma

escola agrícola, e o orgulho dos nossos professores era conseguir que os

alunos saíssem da escola empregados ou nas multinacionais ou nas grandes

fazendas, enfim, fora da propriedade. Um aluno sair dali como vendedor de

veneno era motivo de orgulho. Voltar para a terra era quase que um fracasso

para a escola e seu processo de formação. Lembro-me de que se dizia muitas

vezes, quando fazíamos debates, que era impossível modificar aquele sistema,

porque a coisa estava posta daquela forma.

Um outro aspecto importante, de 2011, é que pela

primeira vez o governo federal instituiu a possibilidade da criação de um livro

didático do campo, dentro do Programa Nacional do Livro Didático, que é o

Campo 2013, o qual está agora em processo de lançamento do edital de

licitação, para que a partir de 2013 já exista um livro didático voltado

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especificamente para as escolas do campo.

O decreto que fala dos princípios da educação no

campo refere a questão do respeito à diversidade; o incentivo e formulação de

projetos político-pedagógicos específicos; a valorização de diferentes saberes

no processo educativo, articulados a um projeto de emancipação humana; o

controle social da qualidade da educação mediante efetiva participação da

comunidade e dos movimentos sociais do campo; os diferentes espaços e

tempos de formação dos sujeitos da aprendizagem; e também o

desenvolvimento de políticas de formação de profissionais de educação para o

atendimento às especificidades da escola do campo.

Por fim, o Pronacampo surge dentro desse

arcabouço legal, desse marco legal, para atender a uma realidade.

No Brasil, 76 mil escolas – um percentual de 49% –

estão no campo – isso não significa que tenham uma formação adequada para

a realidade do campo. São 6,2 milhões de matrículas para um universo de 324

mil professores. Apesar de todas as políticas que o governo vem adotando

para tentar melhorar, somente nos últimos cinco anos foram fechadas 13.691

escolas no campo.

O Pronacampo, portanto, é um conjunto de ações

articuladas que asseguram a melhoria do ensino nas redes existentes bem

como a formação dos professores, a produção de material didático específico

para o campo, o acesso e recuperação da infraestrutura e qualidade da

educação no campo em todas as etapas e modalidades.

Divide-se em quatro eixos. Primeiro eixo: gestão e

práticas pedagógicas. Segundo: formação de professores. Terceiro: educação

de jovens e adultos, educação profissional e tecnológica. Quarto: infraestrutura

física e tecnológica das escolas.

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No eixo de fortalecimento da escola no campo, o

programa – como disse, será investido 1,8 bilhão de reais por ano – busca:

disponibilizar materiais didáticos e pedagógicos específicos; formação e

acompanhamento pedagógico para todas as escolas com classes

multisseriadas; implantar o programa Mais Educação – Educação Integral em

10 mil escolas; ampliar a oferta de cursos de licenciatura; expandir polos da

universidade aberta do Brasil para atender especificamente ou prioritariamente

os docentes do campo e das comunidades quilombolas; ofertar cursos de

aperfeiçoamento e especialização específicos para a realidade do campo e

quilombola; e financiar pesquisas voltadas para o desenvolvimento da

educação no campo e quilombola.

Uma realidade importante a se destacar: dessas 76

mil escolas localizadas no campo, a imensa maioria no campo não tem acesso

à Internet – mais de 90% –, e, apesar do Programa Luz para Todos, 15% ainda

não têm energia elétrica. Sem água potável, são 10,4%; sem esgotamento

sanitário, 14,7%.

O programa busca apoiar a construção de 3 mil

novas escolas no campo, melhorar as condições físicas para 30 mil, implantar

laboratórios em 20 mil escolas, dar acesso à Internet a 10 mil, universalizar o

acesso à água e ao saneamento e garantir-lhe fornecimento de energia

elétrica.

Cito Paulo Freire: A escola é um processo ativo e

dinâmico de discussão. Não será construída com facilidade porque terá de

trabalhar com interesses divergentes e através do conflito.

Por fim, uma fala do ministro Mercadante no dia do

lançamento do Pronacampo: Esse processo foi um equívoco histórico. É um

equívoco não dar prioridade à educação no campo, como aconteceu durante

toda a história. Os indicadores da educação no campo são inaceitáveis.

Espero ter contribuído. Obrigado.

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O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) –

Obrigado, companheiro Gilmar.

De imediato, ouviremos o nosso secretário Ivar

Pavan.

O SR. IVAR PAVAN – Boa tarde a todos e a todas.

Em nome do governador Tarso Genro, que permitiu

que eu o representasse neste debate, quero saudar a Assembleia Legislativa

do Estado do Rio Grande do Sul na pessoa dos deputados Altemir Tortelli,

Heitor Schuch e Edson Brum, que representam a Comissão de Agricultura.

Quero também cumprimentá-los pela escolha desta pauta, que inclui

importantes temas para a agricultura.

Saúdo, da mesma forma, o vice-prefeito Luiz

Augusto Campis, o João Davi e a todos os representantes da nossa

universidade aqui presentes. Considero extremamente importante que este

evento esteja aqui acontecendo.

Pretendo abordar algumas questões que me

parecem oportunas neste momento.

Primeiramente, segundo dados do Censo do IBGE,

nos últimos 10 anos, 276 mil agricultores gaúchos saíram do campo. Éramos

18% de todos os agricultores e hoje somos apenas 14% os agricultores que

vivem no campo. Não tenho muitas dúvidas de que, de modo especial na

juventude, a escola é a principal indutora para que o jovem saia do campo. É

evidente que não me refiro aqui à EFA e às demais escolas familiares rurais.

Tanto a escola pública quanto a escola privada

formais essas são as grandes indutoras para a saída do jovem do campo. Os

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jovens vão à frente e depois chamam os pais. Assim vem se dando esse

processo de esvaziamento do campo. Não se consegue imaginar que hoje o

jovem fique sem estudo. E aos cinco ou seis anos de vida, ao iniciar o ensino

formal, quando sobe no ônibus que passa em frente à sua casa para se dirigir à

cidade, começa o processo da sua saída.

Além disso, o currículo montado pela escola para

formar esse cidadão é voltado para a mão de obra urbana. Mesmo os que se

formam em técnicas agrícolas ou em qualquer outra área voltada à agronomia

não são formados para voltar e se tornar gestores de propriedade e

agricultores; são preparados para ser vendedores de sementes, de adubos, de

máquinas e equipamentos, ou, enfim, um assessor de quem irá produzir. Esse

é o processo que a escola continua fazendo.

Esse modelo foi montado na época em que

precisávamos qualificar mão de obra do campo para a cidade e 70% da

população brasileira ainda moravam no campo. O currículo ainda não foi

alterado. Viveremos um outro momento, que se faz necessário adequar.

Em relação ao debate da Rio+20, nós, no Estado,

estamos fazendo um grande debate com a Emater, em torno do tema de um

novo modelo de desenvolvimento. É o chamado modelo de desenvolvimento

sustentável. Que ele seja sustentável do ponto de vista da renda. Só afirmar

isso é simples, mas pensar uma propriedade e torná-la sustentável do ponto de

vista da renda é repensar o modelo de desenvolvimento que está implantado

hoje.

Que ele seja sustentável do ponto de vista ambiental

e também, na sua grande maioria das propriedades, repensar a propriedade

como um todo. Que ele seja sustentável do ponto de vista do modo de vida do

agricultor. Não podemos pensar agricultura, de modo especial a agricultura

familiar, apenas no aspecto do agronegócio. O agricultor não tem somente um

agronegócio no campo. O agricultor familiar tem o agronegócio e sua vida no

campo. Por isso é chamado de agricultor familiar.

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A vida do agricultor é muito maior do que os

negócios que possui. Lá, ele tem a sua escola, igreja, o seu clube, o grupo de

jovens, atividades mais variadas, arte, lazer, cultura, etc., mas isso tudo faz

parte do modo de vida do agricultor familiar.

Esse modelo não cairá do céu, nem será adivinhado

pelos agricultores. Esse é o nó da questão. O agricultor não consegue

adivinhar que na universidade, na Embrapa, na Fepagro e nos centros de

pesquisas estamos produzindo novos conhecimentos para facilitar a vida do

agricultor. Ele precisa se apropriar desse conhecimento. Por isso, a escola é

uma peça-chave e precisa se adequar a este novo momento que estamos

vivendo.

No início deste ano, fui convidado para participar de

um debate na nossa Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na instalação

do curso de pós-gradução de Desenvolvimento Rural. No meio do debate, um

dos professores fez uma crítica à Emater, dizendo que era um tanto

conservadora para poder responder ao desafio de um novo modelo de

desenvolvimento. Eu disse para o professor que o governo apenas contrata os

agrônomos, não forma.

Por que é importante refletir isso? Porque não basta

cobrar da escola um novo currículo. Há professores suficientes para atender a

toda essa demanda de um novo currículo escolar para a qualificação do

agricultor e a adequação da escola rural a esse novo desafio que se

apresenta? Para mim este desafio é do governo, mas também da universidade.

Não basta apenas termos a formação básica do jovem rural, pois ele não pode

parar na educação básica, mas precisa estudar no segundo grau. E muitos

querem e devem seguir no ensino superior. Queremos saber se, no momento

que o aluno concluir o seu ensino superior, estará pronto para ser um agricultor

ou se estará pronto para abandonar a lavoura.

Este é o debate que está pautado aqui. Quero

cumprimentar a nossa Assembleia Legislativa por propor essa discussão.

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Tenho mais de 30 anos de militância política e

apenas um ano e meio de governo. Em toda a minha vida como agricultor,

como sindicalista e como parlamentar, houve o acúmulo de uma experiência

não de executivo.

No Executivo, para que o governo possa fazer um

investimento, uma demanda precisa ser apresentada pela sociedade. Nesta

sala está se desenhando uma grande demanda a ser apresentada aos

governos municipais, estadual e federal, não apenas do ponto de vista de

alteração do currículo da escola, para adequar a nossa escola rural às

necessidades da agricultura atual e do futuro. Não é só com educação que se

muda o campo.

Se voltássemos duas ou talvez três décadas,

iríamos ver que, por exemplo, a energia elétrica chegava ao meio rural para

iluminar a casa do agricultor. Hoje, a energia elétrica é infraestrutura produtiva

para o desenvolvimento da propriedade. Se voltássemos uma década, a

comunicação – telefone, Internet – era um luxo para muitos que moravam

inclusive na cidade. Hoje, a comunicação – telefone, Internet – é infraestrutura

produtiva. Para quem tem, por exemplo, uma pequena agroindústria, esses são

instrumentos essenciais para quem quer comprar e vender.

A assistência técnica, a extensão rural, a formação

do agricultor hoje fazem parte da infraestrutura produtiva, junto com as

estradas. Se colocarmos a cooperação como estratégia para o

desenvolvimento, a educação como peça-chave para pensarmos esse novo

modelo de desenvolvimento e se pensarmos a infraestrutura produtiva

necessária para atender à agricultura, acredito – lancei a ideia num seminário

no palácio –que estarão sendo criadas as condições de defendermos, para o

desenvolvimento rural gaúcho e brasileiro, um PAC para a agricultura familiar

que envolva investimentos pesados na educação e na qualificação profissional

do agricultor e investimentos na infraestrutura produtiva.

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Que não se fale mais apenas em milhões! Quando

se fala em bilhões, é credito, e precisamos de alguns bilhões do orçamento

federal para pensar um novo projeto de desenvolvimento da agricultura gaúcha

e brasileira, porque a escassez de alimentos já é um problema que preocupa o

mundo inteiro, e no Rio Grande do Sul temos um potencial enorme para

responder a essa demanda.

Também temos uma grande responsabilidade para

responder à demanda de abastecimento do mercado interno e do mercado

mundial, e a agricultura familiar, que produz hoje 70% dos alimentos que vão

para a mesa dos consumidores, precisa, sim, de uma forte valorização na

educação, na infraestrutura e na sua qualificação para que possa continuar a

responder positivamente. Este é o nosso compromisso, mas também nosso

grande desafio. Muito obrigado. (palmas)

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) –

Obrigado, secretário.

Vamos ouvir o Emerson Rech, um jovem egresso da

Efasc.

O SR. EMERSON RECH – Sou do Município de

Vale do Sol, egresso da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul e faço

parte da Aefasol – Associação da Escola Família Agrícola de Vale do Sol.

Vim aqui para falar um pouco sobre a educação e o

seu contexto com a realidade, a maneira como ela é pensada no meio rural;

sobre como se pensa a agricultura com o viés na educação e sobre a forma

como se pensa o pensar.

Primeiramente, agradeço a todos os presentes.

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A escola na qual cursei o ensino fundamental fez

uma erosão no meu saber. Quando abro o leque para algumas coisas, vejo que

ela tem uma ideologia vazia.

O que é uma ideologia vazia? É quando aquilo que

se aprende não tem contexto algum.

Como a agricultura não se faz em preços, a

educação não se faz em fórmulas, nem em cálculos, nem em dissertações de

grandes autores, que fazem com que a nossa realidade seja estudada.

A nossa extensão rural “criminosa” – entre aspas –

realmente expulsa os agricultores do campo.

Na escola em que estudei, com essa erosão do

saber, não se aprende mais a pensar e não se enxerga mais a propriedade

como algo decente, como algo que possa proporcionar um método de vida.

O Pronacampo deve ser visto como um alicerce,

como um elemento que proporciona trabalho às escolas família agrícola e às

casas. Deve ser o solo da educação, e é em cima disso que temos de

trabalhar. O Pronacampo realmente vai mesclar a nossa educação que, em

sua grande maioria, está desconectada do jovem que trabalha na lavoura. As

respostas se encontram na naturalidade.

Cursei o ensino fundamental numa escola em que a

ideologia era vazia. Quando sairmos da escola vamos fazer o quê? Trabalhar

na cidade?

O contexto da nossa educação, em sua maioria,

deixará marcas, como ocorreu no passado. Nenhuma civilização é para

sempre. Temos de tornar a educação um contexto de vida entre a propriedade

e a escola, e não entre escola e escola.

Estou falando de uma vivência de várias escolas que

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me proporcionou o aprender a pensar. Não adianta ter conhecimento técnico

se surge uma questão e desabamos. Não, nestes momentos temos de nos

tornar fortes.

Se a nossa educação for contextualizada, teremos

uma ideologia cheia. A minha educação tinha uma ideologia vazia, porque não

me marcou em nada.

As reflexões são necessárias, e não apenas as

respostas.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) – Com a

palavra, o coordenador da Frente Parlamentar pela Educação no Campo,

deputado federal Elvino Bohn Gass.

O SR. ELVINO BOHN GASS – Boa tarde a todos.

É muito bom ouvir o Emerson, um jovem egresso,

lutador do movimento social. Na minha opinião, este é o grande objetivo pelo

qual estão sendo construídos esses programas.

Saúdo de forma muito carinhosa o deputado Altemir

Tortelli, os prefeitos, os colegas deputados, as lideranças aqui presentes, a

Fetag, a Fetraf, a Via Campesina e os demais participantes.

Trabalhei no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Santo Cristo, antes que meus avós da família Bohn e Gass fossem do Monte

Alverne, do interior de Santa Cruz, para Santo Cristo. Nos anos 80, fizemos

uma marcha do sindicato dos trabalhadores rurais até a prefeitura, para cobrar

um novo livro didático que tivesse o linguajar dos nossos agricultores.

Quando aparecia uma criança na cidade, ela estava

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bem vestida, sorridente, limpa, brincando numa praça ou vendo televisão.

Quando aparecia uma criança na área rural, ela estava suja, chorando,

desdentada, descalça, triste, com autoestima baixa. Olhar para essas figuras

significa fugir da roça, ir para a cidade.

Acredito que a reação do que está sendo construído

agora é exatamente para dizer que no campo a qualidade de vida pode ser,

inclusive, superior. Aqui se trabalha o conceito da multifuncionalidade, ou seja,

a agricultura não tem só a função de produzir, mas de sustentabilidade, de

aliviar pressões urbanas. Ela possui muitas funções, mas precisa ter também a

pluriatividade agrícola, para o jovem permanecer no campo.

O que é pluriatividade agrícola? Eu não consigo

imaginar mais um campo como era antigamente, quando levantávamos

cedinho de manhã para cozinhar a lavagem para os porcos. Era assim naquele

tempo. Hoje se exige que as novas tecnologias sejam trabalhadas de forma

mais dirigida para os agricultores.

O Pronacampo, projeto que acompanhei em Brasília,

terá 1 bilhão e 800 milhões de reais por ano até 2014 do governo federal para

um conjunto de atividades das nossas agroindústrias no campo.

Imagino que os nossos jovens vão poder estudar.

Vai ser preciso um médico veterinário, um zootecnista, um técnico agrícola, um

engenheiro agrônomo para que possamos ter agroindústria. Vai ser preciso

também um administrador de empresas para trabalhar na atividade rural, que

vai ficar lá no campo. Vai ser preciso alguém que entenda de informática para

trabalhar lá. Vai ser preciso um motorista. Já vamos financiar pelo Mais

Alimento um caminhãozinho para transportar os produtos para as nossas feiras

da agricultura.

Ou seja, precisamos acoplar o ensino no campo com

as agroindústrias para agregar renda ao produto do agricultor, e o jovem – e a

jovem, é bom que se diga sempre – hoje pode exatamente desenvolver essa

atividade.

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O terceiro elemento, que sempre trabalhamos, é o

tema da sucessão na agricultura familiar. É a preocupação com a permanência

no campo. Não queremos que fiquem porque não tiveram outra opção de

trabalho. A presidente Dilma Rousseff disse há poucos dias, quando lançamos

o Pronacampo em Brasília, que o sonho dela é que haja filhos de trabalhadores

rurais universitários. É isto que sempre dizemos: não queremos que estudem

para ir embora. Não. Queremos que estudem para permanecer no campo.

Queremos pessoas estudando e ficando na região para contribuir para o seu

desenvolvimento.

Esse é o grande tema que quero lançar aqui, junto

com o trabalho que a frente parlamentar está fazendo e que estamos

realizando em nível nacional: a bolsa que sairá para os alunos permanecerem

nas atividades no campo, junto ao esquema da alternância, é fundamental para

as nossas escolas. Vamos criar em nível nacional um sistema de Assistência

Técnica e Extensão Rural – ATER –, que em outras épocas foi destruído. Esse

é um processo conjunto de mobilização que dialoga com a educação no

campo.

Por último, precisamos tirar a penosidade do

trabalho agrícola. Esse é outro tema importante. Por isso, estamos lá

financiando, estudando, fazendo pesquisa em máquinas e equipamentos para

facilitar a vida no campo. As pessoas têm direito de estudar, ter a sua terra, ter

a sua renda, permanecer no campo, não precisar se judiar, e é possível viver

no campo com uma qualidade de vida superior e ter acesso a todas as

tecnologias hoje existentes.

Estamos lutando agora para haver banda larga em

todos os lugares. Sou um defensor dessa tese. É preciso internet e telefonia. A

presidente Dilma Rousseff teve uma briga forte com as telefônicas há poucos

dias, porque vendem um chip, vendem o telefone, só que não pega no interior.

Quer dizer, não colocam infraestrutura.

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Tudo isso faz parte da nossa luta para viver com

qualidade de vida no campo. É isso que queremos. Um abraço a todos e muito

obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) – O Sr.

Adair Pozzebon tem mais pessoas para nominar.

Deputado Altemir Tortelli e demais integrantes da mesa

O SR. ADAIR POZZEBON – Chegamos a 25

escolas presentes!

(Registra-se o nome de mais escolas presentes.)

Além disso, contamos também com a presença de

Virgínia Etges, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em

Desenvolvimento Regional da Unisc, e de Antelmo Stoelbenn, presidente da

Amorlisc e integrante da UERGS.

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O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) – Passo

a palavra ao Sr. Rosmar Kretzmann, presidente da Associação da EFA de Vale

do Sol.

O SR. ROSMAR KRETZMANN – Desejo uma boa

tarde a todos.

Vale do Sol, que hoje está representado em massa,

tem uma população essencialmente agrícola. Por isso, estamos buscando para

o Município uma Escola Família Agrícola, para manter o jovem no campo com

dignidade e sabedoria. Mas isso só não basta, é preciso também perseverança

para conseguir se manter no campo, pois hoje o ensino, como o colega falou, é

criminoso para o campo. Os professores aqui presentes me desculpem, mas

eles também não têm culpa por terem que ensinar isso aos nossos jovens.

A escola família agrícola, como as casas familiares

rurais, atua na contramão desse ensino, mudando toda a forma de

ensinamento, fazendo com que o jovem perceba a sua realidade no interior e

trabalhe baseado nela e não na realidade imaginária do que irá ou não fazer

um dia na cidade.

Algo que me deixa muito feliz nesse novo sistema de

ensino é que a escola família agrícola proporciona uma liberdade de escolha

ao jovem. Ele pode escolher ir ou não para a cidade. Ninguém é obrigado a

estudar e ficar no interior. Como somos seres livres, podemos escolher se

queremos estudar para ir para a cidade ou para ficar no campo. Essa é uma

escolha de cada um de nós. Só cabe à escola fazer o papel dela de ensinar e

de instruir o jovem, mas, se ele tiver o interesse real de não ficar no campo, a

escola não irá segurá-lo no campo. Precisamos ter políticas adequadas para

que o jovem permaneça no campo. Não adianta ensinar, dar o estudo

adequado, as técnicas adequadas, se não há como o jovem investir na sua

propriedade e de lá tirar o seu sustento.

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Hoje, a evasão rural no Município de Vale do Sol é

preocupante. Se pegássemos o número de jovens que moram no interior e

dividíssemos pelo número de propriedades, veríamos que faltam jovens. Muitas

propriedades iriam ficar só com o casal vivendo da aposentadoria, que é

pequena, e sem produção. Essa é a realidade de todos os Municípios e não só

da nossa localidade. Por estarmos preocupados com isso, estamos batalhando

para buscar também para o Vale do Sol uma escola que dê oportunidade ao

jovem de escolher se quer ficar no campo ou não.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) – De

imediato, ouviremos o deputado Edson Brum.

O SR. EDSON BRUM (PMDB) – Boa tarde a todos.

Saúdo o deputado Altemir Tortelli, que é o

proponente desta audiência pública e que também é autor de um projeto que

tive a satisfação de relatar na CCJ; o prefeito de Boqueirão do Leão e, em seu

nome, todos os prefeitos que aqui se encontram; o meu colega deputado Ivar

Pavan, ex-presidente da Assembleia e hoje secretário de Estado; os

professores e alunos.

Ressalto a importância da participação dos prefeitos,

pois o que estamos fazendo aqui é uma reflexão sobre a educação não só nos

Municípios, mas no Estado e no País. Acredito que vale a pena parar com tudo

para discutir esse assunto.

Registro que a Assembleia Legislativa é como se

fosse uma caixa de ressonância. Aquilo que é discutido no Rio Grande do Sul

chega à Assembleia para que possamos fazer as modificações necessárias,

por meio de leis de nossa competência, ou para que pressionemos os

governos a fim de que realizem o que é necessário.

A participação de alguns da plateia já deu para sentir

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bem o que escutamos pelo Rio Grande a fora. Sou membro da Comissão de

Educação além de ser membro da Comissão de Agricultura.

Talvez a nossa oportunidade seja este momento.

Nunca o governo federal oportunizou aos Estados e Municípios fazer tantos

investimentos na educação como agora. O Pronatec, criado pelo governo

Dilma e Michel Temer, será o divisor de águas da educação brasileira. Pelo

Pronatec, serão atendidos 3 milhões de alunos nos próximos quatro anos, e

pelo Pronacampo,180 mil. Não falta dinheiro, mas é preciso que o Estado, que

tem a obrigação de fazer a educação, faça os projetos, busque os recursos e

incentive para que isso aconteça. A função da Assembleia Legislativa é chamar

a atenção para essa questão, e é o que estamos fazendo não só hoje, mas

também nas audiências públicas pelo Rio Grande do Sul a fora.

Este ano é eleitoral, discute-se a educação nos

Municípios e o que os prefeitos e suas equipes de trabalho vão fazer no

quadriênio. Chamo atenção para esse fato, porque a educação muitas vezes é

deixada de lado. Ela não é tratada como prioridade, apesar de antes de nos

tornarmos advogados, médicos, cientistas sociais ou políticos, engenheiros

florestais ou de qualquer outra área termos de passar pela escola e receber

conhecimento.

Considero que educação é algo que vem de berço,

da família, da casa das pessoas, enquanto o conhecimento nos é passado pela

escola.

Em relação a isso, inclusive, podemos entrar na

discussão da ideologia vazia. Aqui e em todos os lugares escutamos que, no dia a

dia, as pessoas pouco aproveitam aquilo que aprenderam na escola. Mesmo assim,

nós passamos por ela, sendo fundamental, portanto, que haja investimento na

qualificação dos professores e na estruturas dos estabelecimentos de ensino.

Não tem cabimento, por exemplo, acontecerem

coisas como algumas que já vi acontecerem: Municípios recebendo dinheiro e

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dando meia taça de café e três bolachinhas para o aluno, em vez de uma

merenda forte e saudável. Na minha opinião, a grande reflexão que temos de

fazer é sobre a importância do investimento na educação como um todo, o que

abrange desde a estrutura da escola até outras áreas.

Aqui na região, por exemplo, temos o Município de

Pantano Grande, que deu um laptop para cada aluno de escola municipal.

Como é que essa cidade consegue fazer isso e outras não? Temos de refletir

muito, portanto, sobre a necessidade de investirmos na educação, sobre

deixarmos de tratá-la como gasto, como despesa, como problema. Se fizermos

isso, teremos, sem dúvida alguma, um mundo melhor.

Sou apaixonado pelo Pronatec; tenho estudado e

defendido esse programa do governo federal, mas preciso dizer que ele

apresenta erros, preconceitos. Ele está voltado para 3 milhões de alunos, mas

somente 180 mil do interior. Já chamei atenção para essa questão inclusive na

esfera federal.

Muito obrigado e um abraço a todos.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PMDB) –

Concedo a palavra ao coordenador da Escola Família Agrícola de Santa Cruz

do Sul, João Paulo Reis Costa.

O SR. JOÃO PAULO REIS COSTA – Boa tarde a

todos.

Em nome da coordenação da Escola Família

Agrícola de Santa Cruz do Sul, agradeço a presença de todos neste evento.

Temos aqui uma representação extremamente importante do campo da Região

do Vale do Rio Pardo, que constitui a área de abrangência da nossa escola.

São pessoas que se solidarizam com essa discussão que estamos buscando

para o Vale do Rio Pardo.

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Vimos aqui sentir o apelo popular da educação do

campo e, sobretudo, acompanhar a discussão que o Movimento de Educação

do Campo está imprimindo no Vale do Rio Pardo. Estamos preocupados – e

muito mais do que preocupados – com essa questão. Em muitos momentos,

chegamos a ficar assustados, porque o nosso jovem, hoje, não tem perspectiva

de permanência.

Estão aqui professores de escolas municipais e

estaduais, que, com certeza, fazem coro ao que estou dizendo. Essa meninada

que está na faixa etária de cursar o ensino médio, hoje, não fica. Por outro

lado, grande parte daqueles que permanecem enfrentam bastante dificuldade

para tocar a propriedade.

Não é a toa que o Estado do Rio Grande do Sul, na

próxima geração, perderá mais de 40 mil jovens em condições de fazer a

sucessão. Isso significa que mais de 40 mil propriedades familiares deste

Estado fecharão, o que torna importante a presença, hoje, de membros do

Executivo – como o secretário Ivar Pavan e os representantes da 6ª

Coordenadoria, que aqui representa a Secretaria da Educação – e dos nossos

deputados estaduais.

O governador Tarso Genro tem duas formas de

entrar para a história neste momento: implementando uma política estadual de

educação do campo, que é o que reivindicamos aqui, e fazendo com que, de

fato, o campo seja valorizado na prática, porque, na teoria, estamos carecas de

tanta conversa.

Estamos preocupadíssimos, porque cada vez há

mais e mais conversa sobre o campo. Todo mundo sabe que 70% do que é

colocado na mesa do brasileiro vêm da agricultura familiar. Todo mundo sabe

que a agricultura familiar é que movimenta de fato a economia agrícola interna

do País, já que o agronegócio está preocupado é com a exportação. Exportar

também é importante, mas o que coloca comida na nossa mesa é a agricultura

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familiar.

Por esse motivo, precisamos de ações concretas

urgentes. Precisamos de ações para ontem, porque a nossa meninada não tem

perspectiva de ficar.

Uma região como a nossa, que é eminentemente de

agricultura familiar, está condenada a transformar o meio rural. Hoje, há

pessoas valorosas, mas aposentadas, que produtivamente já não têm

capacidade de produção na agricultura como anos atrás. Por isso, precisamos

de implementação de políticas de fato.

Essa audiência pública serve para afirmarmos que

precisamos de uma política estadual de educação no campo, que a exigimos.

Essa exigência não é para bonito, é por direito, porque a meninada que quer

ficar na roça precisa ficar bem. Se ela ficar para bonito, na situação em que

hoje se encontra – ao término de uma safra a família fica devendo –, é melhor

que vá para a cidade para entupi-la ainda mais.

Como dizia, nosso governador tem duas formas de

entrar para a história: ou pela implementação de uma política estadual de

educação no campo eficaz, que dialogue com os agricultores, com as escolas,

que faça essa articulação, de fato, por dentro; ou pela omissão.

Estamos vigilantes e vamos para cima. Exigimos

que seja implementada sim uma política estadual de educação no campo, o

campo não pode continuar como está. Hoje, no Brasil, há 14 mil escolas sem

luz elétrica. No meio rural, 90% das escolas não têm Internet. Grande parte das

escolas sequer têm água potável.

Agradecemos demais a participação de todos.

Queremos dizer à mesa que aqui estão nossos representantes mais legítimos.

Ficamos felizes por tê-los aqui.

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Vamos seguir essa luta, vamos cobrar dos senhores

como estamos cobrando hoje, não vamos desistir. O público que aqui está

exige, além das falas, situações concretas do governo do Estado, do governo

federal e do Parlamento do Rio Grande do Sul para a educação no campo,

para o povo da roça.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) – Com a

palavra, a seguir, o prefeito de Boqueirão do Leão, João Davi Goergen,

presidente da Amvarp.

O SR. JOÃO DAVI GOERGEN – Boa tarde a todos.

Cumprimento o deputado Altemir Tortelli, o secretário Ivar Pavan, e estendo o

cumprimento aos que compõe a mesa. Saúdo todos os presentes interessados

na discussão desse importante tema.

Represento aqui a Amvarp. Estamos aqui o Clécio,

do Vale do Sol, e eu.

Praticamente todos os dias debatemos esse

problema e não poderíamos deixar de vir. O período é bem complicado, mas é

também importante para que possamos levar aos nossos colegas, aos

assessores as conclusões que aqui tiramos.

Fiquei impressionado com a primeira fala do

Emerson. Refleti sobre o que ele disse e comecei a pensar na minha vida. Os

que não estudaram são os que ficaram no campo.

Hoje, aqui, estamos com um enfoque diferente.

Queremos estudar para ficar no campo. Parece-me que essa é uma conclusão

que podemos tirar da discussão que estamos travando.

Lembro-me de que na época em que saí para

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estudar não havia 2º Grau na minha cidade. Sou prefeito de Boqueirão do Leão

–talvez muitos que estão aqui o conheçam. Lá, 80% dos habitantes ainda

moram no meio rural, e estamos preocupados com o que acontecerá com eles.

São 8 mil habitantes, mais de 6 mil moram no interior. Naquela época, o

destino de muitos era o ensino religioso, íamos para o seminário. Talvez a

Igreja tenha perdido um grande bispo, mas Boqueirão do Leão ganhou um

prefeito.

Os Municípios são parceiros. Se um ente federado

cumpre tudo aquilo que está na lei, principalmente no tocante aos recursos

aplicados em educação, esse ente são os Municípios.

Estou aqui para dizer que todos os prefeitos de Vale

do Rio Pardo cumprimos essa nossa obrigação. Oferecemos transporte escolar

até nos mais distantes rincões. Isso não é mérito, é nossa obrigação. Temos

energia elétrica e água em todas as escolas – ao menos em Boqueirão do

Leão. A maioria das escolas já tem ginásio esportivo, quase 100% têm Internet.

Mas ainda há muito a fazer, muito a buscar.

Como foi dito aqui, depende do livro arbítrio, de a

pessoa entender que é importante ficar no campo, produzir esses alimentos tão

necessários para nossa humanidade, os quais sabemos vêm da pequena

propriedade.

Traremos o ministro Pepe Vargas a Boqueirão do

Leão, o secretário certamente também virá, sexta-feira, para discutir os

problemas da região. Além de tudo isso, temos um adicional aqui, a transição

de uma cultura centenária da nossa região, que é o tabaco, para as outras

culturas que temos de desenvolver.

Como o prefeito João Davi vai fazer isso lá em

Boqueirão, onde 1.500 famílias trabalham com tabaco e há 2.400 estufas de

secagem de fumo?

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São interrogações que precisam de uma resposta,

João Paulo.

Sei que a decisão é para ontem, mas não me formo

na faculdade em apenas um ano. Por isso, o que está sendo levantado é

importante. É para ontem, mas temos de construir esse processo com calma

para obter um bom resultado. Estamos desenvolvendo o sistema

cooperativado, estamos começando o processo de aquisição de alimentos,

distribuindo para o pessoal do CadÚnico – muitos Municípios estão fazendo

isso –, mas temos de progredir cada vez mais, porque sabemos que não é fácil

fazer essa transição.

Quero dizer aqui, em nome de todos os prefeitos e

prefeitas do Vale do Rio Pardo, que somos parceiros e queremos ajudar, mas

não queremos ficar sozinhos na história mais uma vez. Os Municípios podem,

devem e são principais interessados em ajudar, mas querem a parceria das

outras esferas – e sei que vamos tê-la. Se a presidente Dilma disse que isso

vai acontecer e vamos ter recursos, a coisa pode realmente andar.

Boa luta para todos nós. (palmas)

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) –

Obrigado, prefeito João Davi.

Passo a palavra à Josiane Einloft, companheira da

Fetag.

A SRA. JOSIANE EINLOFT – Boa tarde a todos.

Gostaria de cumprimentar o deputado Altemir Tortelli

e os demais componentes da mesa.

Cumprimento especialmente os jovens que estão

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aqui, os alunos das escolas família agrícola, os das casas familiares rurais e os

do Cedejor. Também saúdo os pais presentes. Vejo aqui jovens sentados entre

os pais. O acompanhamento do pai e da mãe é extremamente importante

quando se trata de questão do conhecimento e da educação, pois

conhecimento adquirimos na escola, e educação adquirimos na escola e

também em casa.

Saúdo também os professores, dirigentes sindicais,

prefeitos municipais, secretários e deputados.

É extremamente importante este momento para se

verificar qual é o nosso anseio. Quem está do outro lado deve nos dizer o que

de fato precisamos fazer.

Este é o momento de irmos à rua. Precisamos, como

agricultores, mostrar a nossa cara, para que haja o reconhecimento da nossa

profissão, porque ser agricultor não é um destino, mas uma profissão de fato.

Hoje mesmo foi dito que 70% da alimentação que é

posta à nossa mesa não vem de outros Estados, mas do que vocês produzem.

A grande maioria de vocês planta fumo, mas junto com o fumo há o leite, a

mandioca e outras atividades. Além disso, vocês vendem o porco, a banha.

Tudo isso se contabiliza nesses 70%. Vocês contribuem para que o brasileiro

tenha alimentação à mesa. Isso acontece porque cada um de vocês bota a

mão na massa e na terra.

Por que estou dizendo que é o momento de irmos

para a rua? No dia 19 de julho, realizamos a III Marcha Estadual da Juventude

Rural, em Porto Alegre. E foi grande a repercussão, principalmente na mídia.

Os jovens que participaram dessa marcha – vejo

aqui vários deles – querem ficar no meio rural. Já se discutiu muito sobre o

êxodo rural. Agora, temos que discutir como conseguir viabilizar a permanência

do jovem no meio rural. Isso não está apenas nas mãos dos agricultores, mas

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também dos órgãos públicos, sejam do governo do Estado, do governo federal

ou dos governos municipais.

Que bom que o prefeito que aqui representa a sua

região disse que os prefeitos são parceiros, porque a educação não acontece

lá em Brasília, quando a Dilma assina um decreto, uma resolução ou um

projeto de lei, nem quando o governo do Estado assina. Acontece justamente

nos Municípios quando a secretaria de Educação assume a responsabilidade

de dar uma educação diferenciada para o meio rural. Isso não acontece em

Brasília ou em Porto Alegre.

Já há diretrizes e legislação, mas o que falta é

chegar à ponta, à escola em que já há luz elétrica e água encanada. É lá que o

professor precisa fazer esse trabalho. Passei por isso. Eu detestava

Matemática, principalmente Química e Física. Essas são as três matérias mais

importantes para a agricultura. Se não conhecermos Química e Física, não

conseguiremos desenvolver a atividade no meio rural. É preciso saber, por

exemplo, quanto de uréia vai por hectare ou quantos mil pés de fumo vão por

hectare. Isso não aprendemos na escola. Aprendemos a história do rio Nilo,

mas não aprendemos porque a nossa comunidade ou o nosso Município tem

esse nome.

Trago outra questão que já falei no dia da Marcha da

Juventude. A Secretaria Estadual da Educação foi a secretaria que nos deu

mais dificuldade para marcar agenda para discutir o tema da educação, que foi

um dos pontos principais levantados nos 16 eventos que realizamos. A

representação da secretaria está aqui como coordenadoria. No dia da marcha,

falei ao governador que, na Secretaria da Educação, é preciso haver pessoas

de referência que irão discutir projetos de educação voltados para o meio rural.

Não podemos mais continuar somente no discurso. Precisamos colocar na

prática o anseio de cada jovem que está aqui.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra ao companheiro Miqueli Schiavon, que representa a Via

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Campesina.

O SR. MIQUELI SCHIAVON – Boa tarde a todos e a

todas.

Cumprimento o presidente Altemir Tortelli e todos os

integrantes da mesa.

Há muito tempo, os movimentos sociais vêm

discutindo a questão da educação no campo, o tipo de educação que

queremos e o que nós, jovens, queremos de educação para o campo.

Não queremos educação para que saiamos dali,

cursemos um ensino superior e, formados, possamos trabalhar numa

multinacional a fim de explorar o nosso coirmão, agricultor. Não queremos uma

educação vazia, como disse o Emerson, que não discute os problemas da

comunidade – e vejo isso em Santa Cruz e na região.

Todos falam em diversificação da cultura do fumo,

mas o que as nossas universidades estão fazendo de concreto para buscar

alternativa para os jovens que nelas estão se formando?

As escolas e as universidades formam os

agrônomos, os engenheiros agrícolas e os professores pensando na sociedade

da cidade, mas não na sociedade do interior.

No interior, não precisamos somente da educação,

pois é apenas um dos pilares para nós, agricultores. Precisamos de

infraestrutura, de comunicação, de transporte, de acesso à Internet e à

informação.

O mais importante a ser ressaltado – e penso que

ninguém falou aqui ainda –, é que aproximadamente 50% dos agricultores de

Santa Cruz do Sul e de seus filhos não têm terra; 50% dos produtores de

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tabaco da região são meeiros ou arrendatários.

Por que essa juventude vai querer ficar no campo se

não tem terra para produzir? Esse é um debate muito sério, que deve ser

travado.

Além de educação, precisamos de terra para

produzir, porque não se discute modelo de produção agrícola se não há terra,

se não há meios de produção.

Precisamos trabalhar a questão da terra para a

juventude e a educação voltada à realidade local, pensando no

desenvolvimento local e regional para todos, não somente para os jovens.

Quem produz alimento para colocar na mesa do

trabalhador da cidade somos nós, pequenos agricultores. O nosso papel, como

juventude, é o de continuar produzindo cada vez melhor e de forma mais

saudável, sem depender das grandes multinacionais nem dos grandes

monopólios de alimentos que há no mundo hoje. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) – Três

universidades estão aqui representadas: Unisc, UERGS e UFRGS.

Inicialmente, passo a palavra a Ricardo André

Machado, pró-reitor de Extensão e Relações Comunitárias da Unisc.

O SR. RICARDO ANDRÉ MACHADO – Boa tarde a

todos e a todas. É uma satisfação muito grande estarmos sediando esta

audiência pública para discutir políticas para a educação do campo.

Saúdo o deputado Altemir Tortelli e, na sua pessoa,

as demais entidades que aqui representam a região e outras frentes de

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discussão.

Cumprimento, também, os colegas professores de

vários cursos que participam deste encontro – da coordenação do

Desenvolvimento Regional, da coordenação do mestrado de Educação; as

entidades representativas das comissões e conselhos dos quais participamos e

nos quais discutimos ativamente as políticas e o desenvolvimento de ações

voltadas ao meio rural e basicamente a questão da educação no campo.

Fomos provocados aqui. Penso que a universidade

não só forma educadores, profissionais, mas também discute ações, como

fazer na região em que está inserida. Infelizmente, não temos a experiência,

não temos um curso voltado para a área agrícola. A legislação é muito rígida e

muito ampla para o desenvolvimento e a implantação de um curso direcionado

a essa atividade.

Participamos constantemente das atividades da

Escola Família Agrícola – EFA – e percebemos a dificuldade de manter e

formar alunos nessa área.

Entendo que nós da comunidade, representantes de

entidades, devemos, sim, discutir de que forma podemos ampliar essas ações,

de que forma podemos nos inserir para desenvolver as ações já existentes aqui

na região.

Trabalhamos de maneira cooperada. Estão

presentes aqui várias universidades da região, a UERGS participa ativamente

também das discussões, os profissionais da Emater estão inseridos, a Afubra,

o Sicredi. Enfim, todos são parceiros e de forma ativa discutem.

Não queremos criar projetos, como ouvimos falar

muitas vezes, que não atendem à necessidade do meio rural. Queremos, sim,

criar projetos de forma compartilhada, pois é fundamental a participação

coletiva da comunidade. Os projetos viriam do meio rural para a universidade e,

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assim, poderíamos auxiliar no desenvolvimento de tais projetos.

Agradecemos à Assembleia, aos deputados e às

demais entidades que aqui vieram para debater essa temática. Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) –

Agradecemos ao professor Ricardo Machado.

Passo a palavra a José Antônio Schmitz,

coordenador da UERGS em Santa Cruz do Sul.

O SR. JOSÉ ANTÔNIO SCHMITZ – Boa tarde a

todos.

É um grande prazer estar nesta assembleia tão

repleta.

Cumprimento o deputado Altemir Tortelli e os

demais componentes da mesa, agradecendo esta oportunidade de a UERGS

estar aqui presente e poder se manifestar.

Gostaria de dizer a todos que a UERGS vem

acompanhando desde o nascimento a construção da tão importante Escola

Família Agrícola de Santa Cruz do Sul.

Queremos registrar que temos orgulho de ter como

diretor da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul o Adair Pozzebon,

tecnólogo em horticultura, que é ex-aluno do nosso curso na UERGS. Nesse

sentido nos sentimos um pouco pai da construção de iniciativa tão importante

para a agricultura da região, a EFA de Santa Cruz do Sul.

Como representante da UERGS, como coordenador

da unidade local, gostaria de dizer que temos o curso de Tecnologia em

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Horticultura, que vem justamente para apresentar tecnologias que possam

servir para a diversificação da cultura do fumo na região.

Temos participado da discussão, junto com a Escola

Família Agrícola, desde o início, procurando meios para alavancar tanto a

situação do jovem no meio rural quanto da própria agricultura em toda a região.

O que fazer para diversificar a agricultura local?

Desde o início da minha vida acadêmica dentro da

UERGS, venho participando desse debate. Entrei no curso de

Desenvolvimento Rural e Gestão Agroindustrial, que existia em Encantado,

deixou de existir por um certo tempo e agora está retornando em Cachoeira do

Sul.

O assunto vem sendo debatido há muito tempo

dentro da UERGS. A universidade, como missão da instituição, preocupa-se

com o desenvolvimento regional. Na medida em que essa ansiedade surge da

sociedade, e hoje isso está bastante demonstrado nesta assembleia, nós,

como entidade, queremos registrar que somos sensíveis a essa necessidade e,

desde já, nos colocamos à disposição para a capacitação de professores aptos

a formar o jovem rural.

Pelas manifestações aqui feitas, vimos que não

basta ter boas intenções, é preciso ter escolas voltadas para o meio rural, com

currículo específico voltado ao campo. Isso, sabemos, não se consegue de

graça, é preciso que se capacitem, em algum lugar, professores com esse tipo

de formação.

A UERGS tem um know-how. Desde a época do

governo Olívio, a UERGS tinha, em sua estrutura, a possibilidade de formar

profissionais dentro dessa pedagogia da alternância. Já tive, inclusive,

oportunidade de dar aula num curso de Desenvolvimento Rural e Gestão

Agroindustrial, voltado para jovens agricultores, basicamente oriundos dos

movimentos sociais, com toda uma organização pensada nessa pedagogia.

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Pelos resultados que temos visto, pelos alunos que

já se formaram na Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul, percebemos

que é esse o caminho que temos a percorrer na educação do meio rural e, para

isso, precisamos de profissionais bem formados e que conheçam, que tenham

vivido a pedagogia da alternância.

Gostaria de dizer também que, em Santa Cruz,

temos uma oportunidade aqui na UERGS, que hoje ocupa – possivelmente

grande parte de vocês já o conheceu em tempos anteriores – o espaço do

antigo Colégio Murilo Braga de Carvalho, que justamente fazia a formação

normal rural aqui na região e que depois foi extinto.

Esse espaço recentemente foi conquistado pela

UERGS e está disponível para que, na medida em que surja essa demanda,

construamos esse curso de pedagogia da alternância para o meio rural, uma

vez que, a partir da Escola Família Agrícola, está surgindo esse movimento

aqui e em outros lugares como em Vale do Sol, em Garibaldi.

A UERGS está à disposição da comunidade na

região e quer ser pioneira nesse ensino diferenciado voltado para o meio rural,

voltado para a pedagogia da alternância para dar assistência à formação

desses professores para que possam vir a servir esse meio. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) –

Obrigado.

Concedo a palavra à Sra. Maria Carmen.

A SRA. MARIA CARMEN – Boa tarde aos

componentes da mesa e a todos os presentes.

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Venho aqui para relatar a experiência de uma

pesquisa que coordeno demandada pelo Ministério da Educação e pela

Secretaria de Educação Básica.

Durante todo este ano, estamos tentando mapear e

conhecer a educação infantil no campo deste País. Trabalhamos com 80

pesquisadores em todo o território nacional, pesquisadores acadêmicos de

diferentes universidades públicas estaduais, e estamos tentando conhecer a

realidade dessas crianças que vivem no campo e as possibilidades de

educação infantil.

Trago essa questão porque é importante para

analisarmos que vivemos num Estado em que, por maiores que sejam, as

dificuldades são muito pequenas tendo em vista a complexidade das

dificuldades do campo neste País.

Temos uma posição de vanguarda em relação à

implementação de uma política estadual de campo.

Gostaria que houvesse sensibilidade no sentido de

incluir as crianças pequenas nessa política. Se queremos que os jovens em

idade produtiva estejam no campo, temos que criar condições para que as

crianças estejam nas escolas, a fim de que os pais não precisem mais ir para a

lavoura deixando-as sozinhas em casa, ou em situações em que podem até

correr perigo. Essa é uma questão importante.

A segunda questão é que, a partir de 2016, a

legislação torna obrigatória a frequência à escola das crianças de quatro e

cinco anos. Na pesquisa, observamos que os Municípios ainda não se deram

conta disso e não começaram um trabalho efetivo de organização e de

planejamento com relação a questão dos prédios, do transporte. Estamos

muito atrasados para essa realidade, que, em breve, será uma realidade

nacional. Apesar de a questão da obrigatoriedade ser controversa, sabemos,

pelas pesquisas nacionais e internacionais, que o fato de as crianças pequenas

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frequentarem a educação infantil faz com que elas tenham maiores

possibilidades de aprendizagem nos anos iniciais.

Concluindo, gostaria de dizer que essas políticas

públicas precisam ser integradas. Não é uma política só de educação. Ela

começa pela educação, mas a educação tem que apontar, por exemplo, para

as questões relativas à cultura, à saúde, à assistência social.

A ideia é estender para as crianças pequenas o

direito que elas já têm do ponto de vista constitucional à educação. Obrigada.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) – Muito

obrigado, professora Maria Carmen.

Com a palavra o representante da Secretaria da

Educação, o coordenador da 6ª CRE, Sr. Valdomiro Luiz da Rocha.

O SR. VALDOMIRO LUIZ DA ROCHA – Boa tarde,

componentes da mesa. Minha saudação ao público presente. Agradeço aos

alunos e professores que atenderam ao chamamento desta audiência pública.

Quero ainda parabenizar o deputado Altemir Tortelli pelo projeto elaborado.

Lendo o art. 5º do projeto, deputado, vejo que ele

contempla as escolas agrícolas familiares, e, ao mesmo tempo, o art. 7º

contempla as escolas públicas estaduais com os recursos deste projeto que o

governador acolheu, a priori.

É claro que essa matéria, como ainda é um projeto

de lei, ainda está sujeita a ser aperfeiçoada e complementada, com certeza,

com algumas sugestões aqui levantadas, porque uma audiência pública

realmente serve para isso.

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Parabéns pelo início desse projeto. Esperamos que

ele se aperfeiçoe de maneira que venha a atender à educação do campo. Da

parte da secretaria do Estado, diria que, conforme a professora expôs,

precisaria ter um melhor atendimento.

Quero anunciar que na Secretaria da Educação foi

criada uma comissão especial presidida pelo Sr. José Valdir, que está

trabalhando em cima do currículo para a educação do campo e de outras

questões relacionadas ao assunto.

O governo estadual, por meio da secretaria, quando

assumiu o poder, a primeira medida que tomou foi suspender a todos os

processos de fechamento das escolas do campo, porque só na nossa região,

por exemplo, de 146 escolas, foram fechadas 37. Com certeza, algumas delas

não deveriam ter fechado, pois nessa região os alunos começaram a

frequentar escolas da cidade, no ensino fundamental, de 1º ao 9º ano. Já foi

percebido um equívoco, e essa foi a primeira medida que o governo tomou.

Outras medidas que o governo está estudando é a

respeito, por outro lado, dos pedidos de movimentos sociais no sentido da

criação de escolas de ensino médio no meio rural, no campo, assim como

também escolas de ensino fundamental.

Isso, na verdade, significa uma contradição. Se

foram fechadas tantas escolas, como pode agora os próprios movimentos

sociais solicitarem abertura? Significa que houve um equívoco muito grande no

momento em que fecharam essas escolas.

Essa comissão, como disse, sem dúvida está

estudando e tem presente a questão de que os currículos do campo e até

mesmo do meio urbano não estão satisfazendo as necessidades dos

estudantes, principalmente do meio rural. Com certeza essa comissão vai se

aprofundar e buscar alternativas para que seja modificado esse currículo de

maneira que possa realmente segurar os alunos que pretendem ficar no meio

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rural. Se o currículo for adequado, com certeza esses alunos poderão se tornar

grandes produtores rurais, com a dinamicidade que a produção merece e

precisa. Inclusive poderão se tornar empresários rurais para dar conta da

produção de alimentos de que tanto precisamos.

Há muita coisa a se fazer, e para que se dê conta

disso é preciso a união de todas as esferas governamentais. O governo federal

tem de cumprir a sua parte, contendo despesas e fazendo com que sobrem

recursos para investir na educação. O governo estadual também precisa

investir em vários setores, assim como os governos municipais.

Normalmente, quando um país empobrece, ele não

se enfraquece só num setor, na educação, na saúde ou na agricultura; ele se

enfraquece de modo geral. O mesmo ocorre nos níveis estadual e municipal.

Os governos que têm vontade política voltada para determinada visão

encontram dificuldades em gerar recursos que deem conta da demanda na

educação, na saúde, na agricultura e na geração de empregos quando a

população se concentra no meio urbano.

O governante tem que dar conta das duas partes,

porque tanto a agricultura quanto a indústria são setores econômicos

importantes. Mas quando já existe muita concentração, evidentemente que o

governo precisa de políticas de geração de empregos, sob pena de haver alto

índice de desemprego, o que gera calamidade pública e social, índices cada

vez maiores de criminalidade e tantas outras coisas de que todo mundo tem

conhecimento.

Por isso, queremos agradecer pela atenção e deixar

aqui o nosso abraço.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) –

Obrigado, Valdomiro.

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Concedo a palavra ao Marco Antonio Dornelles, da

Afubra.

O SR. MARCO ANTONIO DORNELLES – Boa tarde

a todos os que se fazem aqui presentes.

Saúdo o deputado Altemir Tortelli, coordenador

desta importante audiência, o prefeito João Davi Goergen, representando os

prefeitos, e o secretário Ivar Pavan.

Deputado Altemir Tortelli, quero dizer que a Afubra

está apoiando essa importante proposição, que é o seu projeto de lei nº

297/2011. Quando li o folheto aqui entregue, afirmando que o principal objetivo

desta audiência é colher sugestões e experiências, pensei em trazer aqui uma

contribuição para o assunto em debate – a educação no campo – referente a

uma experiência que a Afubra vem realizando há 21 anos, o projeto Verde é

Vida.

No início, tínhamos uma preocupação mais

acentuada com relação ao meio ambiente, já que os produtores associados à

Afubra produzem tabaco. Nessa caminhada descobrimos que, para promover

melhorias nas propriedades de agricultores familiares, era preciso atuar na

educação dos filhos dos agricultores.

Assim, realizamos muitas ações nos diferentes

Municípios do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná com base na lei nº

9.394, de 1996, já aqui mencionada e que trata da educação voltada à

realidade do campo, valorizando e fixando o filho do agricultor no campo. Até

então, a educação que havia estimulava a saída do jovem do campo.

Com base nessa lei, o projeto Verde é Vida ampliou

o seu trabalho, e hoje atuamos em 198 Municípios, 659 escolas, com 179 mil

alunos e professores do meio rural, totalizando ainda o envolvimento de 600 mil

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pessoas dessas comunidades. Tudo isso é fruto de uma parceria com as

secretarias da Educação desses Municípios. Temos um convênio assinado

com as prefeituras dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e

Paraná pelo qual não estamos levando nenhuma fórmula pronta de

metodologia de educação. Simplesmente estamos oferecendo condições para

que isso aconteça.

Trabalhamos com a metodologia construtivista, de

autoria do grande Paulo Freire. Através dessa metodologia, juntamente com a

participação da comunidade escolar das regiões produtoras de tabaco,

montamos uma equipe multidisciplinar composta por pedagogos, biólogos,

técnicos agrícolas, engenheiro florestal, agrônomos, economistas, advogados,

contadores, pessoas que assessoram essas escolas para que desenvolvam

atividades junto às suas comunidades. Assim, damos suporte para as escolas.

Essa Bolsa de Sementes, com a qual recolhemos

em torno de 2 toneladas de sementes, sendo que 700 delas só para aves, está

em operação dentro da Universidade Federal de Santa Maria. Nosso programa

de recolhimento de óleo saturado já recolheu 150 mil litros, com atividades

educativas, retribuindo 50 centavos por litro de óleo recolhido.

Essa pesquisa científica rende mil trabalhos anuais,

produzidos por essas escolas. Elas identificam os problemas com base na

cultura, na economia e na identificação dos valores das comunidades. Esse é

um trabalho desenvolvido em parceria.

Gostaria de dar um destaque maior às parcerias

público-privadas. Isso é muito importante. Os governos têm atuado dessa

maneira.

A Afubra colabora com recurso para a Escola

Família Agrícola, e com muito orgulho, por uma razão muito importante: o

ensino diferenciado que vem desenvolvendo, para fazer com que esses jovens

voltem para as propriedades com uma profissão digna.

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A maioria dos alunos da Escola Família Agrícola são

filhos de produtores rurais, associados da Afubra. Essa é a contribuição que

gostaria de deixar.

Entrego este material à Comissão de Agricultura,

Pecuária e Cooperativismo, como uma forma de contribuir. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) – De

imediato, passo a palavra ao presidente do Sicredi, Heitor Petry.

O SR. HEITOR PETRY – Boa tarde a todas as

autoridades e às demais pessoas presentes.

Entendo a educação como uma simbiose entre

conhecimento e comportamento. Lembro meu pai se reportar a uma pessoa

com formação superior e dizer: Aquele é um camarada comportado, porque ele

tem conhecimento e sabe se portar.

Hoje parece que tomou um espaço o conhecimento

para explorar o outro, e não o comportamento digno e ético.

Aqui cabe lembrar um pouquinho a história das

casas familiares rurais ou da Escola Família Agrícola, que surgiram exatamente

pela omissão do Estado ou dos governos. Não vou me reportar a nenhum, cito

apenas de forma genérica.

Que bom que hoje estamos tendo deputados e

governos que estão atentos! Por que digo isso? Porque a educação é de

responsabilidade e de competência do Estado. Todos nós produzimos,

pagamos impostos, para que o Estado retribua à sociedade, entre outras

coisas, saúde e educação. O ensino médio, por sinal, é uma competência do

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Estado.

Surgiu, na nossa região, a Escola Família Agrícola.

Quero aqui fazer justiça à gestão que nos antecedeu na nossa cooperativa de

crédito, que teve essa visão, que teve, por meio do seu conselho, a iniciativa de

juntar forças e estabelecer o projeto. E nós continuamos apoiando-o

intensamente por acreditar nele e por ver a viabilidade desse processo.

Quero lembrar também que foi o professor Neri da

Costa, que hoje está em Brasília, como assessor do Ministério da Justiça,

quem idealizou e montou o projeto que foi aceito pela sociedade juntando as

forças. Os que produzem e pagam impostos, mais uma vez, despendem

recursos para manter esse estabelecimento.

Quero cumprimentar o deputado Altemir Tortelli pelo

seu projeto, pela iniciativa de trazer o governo, para que este apoie,

financeiramente e de todas as formas possíveis, a manutenção dessas

escolas.

A Sicredi do Vale do Rio Pardo – e está aqui o nosso

companheiro da Centro Serra –, a Afubra, o Sinditabaco, todos estamos

empreendendo um grande esforço para sustentar financeiramente a escola.

Está aqui o Elton, que sabe o quanto é difícil mantê-la em atividade.

Às vezes, preocupo-me quando se fala muito em

trabalhar para o jovem permanecer no meio rural. É preocupação falar apenas

em permanência, pois é preciso lembrar que o jovem precisa ter um lugar para

viver dignamente. Não pode ele ser visto como uma presa para ser explorado.

Então, precisamos de uma educação voltada para o

campo, para o esclarecimento, para a formação. Precisamos também

estabelecer uma simbiose entre o campo e a cidade, para que as escolas

urbanas também mostrem o que é o meio rural, para que nos entendam e para

que nós, agricultores, possamos ter renda, respeito e reconhecimento.

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Permanência no campo, sim, mas sempre com vida

digna. Isso as escolas família agrícola, assim como as casas familiares rurais,

têm garantido com muita propriedade. E isso a Sicredi Vale do Rio Pardo

continuará a apoiar.

Deputado, dei uma rápida analisada no seu projeto.

Talvez já tenha até recebido alguma alteração, mas gostaria de deixar uma

sugestão referente ao art. 5º.

O art. 5º diz o seguinte: A administração pública

estadual poderá implementar programa de apoio técnico ou financeiro – o que

é extremamente importante – para instituições educacionais sem fins lucrativos

e de caráter comunitário que desenvolvam ou ofereçam cursos gratuitos.

Eu acho que está faltando um para. O Estado tem

de aportar dinheiro para essas escolas poderem oferecer cursos gratuitos, e

não àquelas que oferecem cursos gratuitos, porque aqui, é preciso dizer, os

pais que têm filhos na escola da família agrícola estão pagando também, estão

desembolsando dinheiro para manter seus filhos estudando, enquanto o ensino

médio é uma competência do Estado.

Creio que, no art. 5º, deveria ser incluída a

expressão para que ofereçam em vez de que ofereçam, pois, nesse sentido, se

estabeleceria um direito que é de todos: a gratuidade especialmente do ensino

médio profissionalizante. É a contribuição que deixamos do ponto de vista

prático.

Agradecemos a oportunidade. Estamos

perfeitamente integrados nesse processo e continuaremos apoiando, através

da nossa instituição, esse projeto tão improtante como outros que estão

desenvolvidos Brasil a fora.

Esta é a grande mudança para o nosso meio rural:

profissionalizar, preparar, capacitar, qualificar para que possamos permanecer

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no meio rural com vida digna. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) –

Obrigado, Heitor Petry. Pode apresentar à nossa assessoria sua sugestão de

mudança no texto do projeto.

Passo a palavra ao Sr. Wagner Bohn.

O SR. WAGNER BOHN – Boa tarde a todos.

Já estávamos pensando que, depois de percorrer

500 quilômetros, não poderíamos falar. Viemos bem cedo para o evento,

chegamos às 9 horas, pois pensávamos que iniciaria de manhã.

Falamos aqui em nome da Arcafar do Rio Grande do

Sul. Viemos do extremo norte do Estado, de Alpestre e de Ijuí.

Aqui estão também o Venildo Turra, da Casa

Familiar Rural de Catuípe, e o Luciano, da Casa Familiar Rural de Alpestre.

Representamos aqui o presidente, que está passando por problemas de saúde,

e essas casas.

O debate desse tema é muito importante. Hoje,

saímos de lá às 4 horas da manhã e vínhamos lembrando as inúmeras vezes

que viajamos para discutir o tema da educação do campo, para fazer essas

atividades com as casas familiares rurais e também com a EFA.

Hoje, são as casas familiares e as EFAs que fazem

a educação do campo. Tenham certeza de que, para haver alguma mudança

com relação a essa questão, irá demorar muitos anos. Não iremos mudar o

sistema de ensino do Estado, de uma política, de um currículo voltado para o

meio rural. Já temos currículo e experiências que fazem a educação do campo

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voltada para o seu meio, que são as casas e a EFA. Essa experiência já tem

mostrado dar certo e apresentar resultados.

Há uma pesquisa na Arcafar/Sul, que compreende

Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, mostrando que 84% dos jovens

que passam pelas casas familiares rurais ou pelas EFAs ficam no meio rural,

na sua propriedade. É claro que eles não irão só ali permanecer, mas

precisarão ter qualidade de vida. Temos, então, que nos perguntar: o que é

qualidade de vida? Precisamos dar oportunidades. Aí vêm outros sistemas, que

as casas também conseguem trabalhar, como a forma cooperada de buscar a

comercialização e de agregar valor em cima do nosso produto.

Em Alpestre, há uma experiência: muitos produtores

mudaram a sua matriz produtiva, estão plantando mandioca e ganhando muito

dinheiro. Isso foi estabelecido junto com os jovens das casas. Eles têm um

projeto de vida em conjunto com a sua família. Se não envolvermos a família, o

projeto não anda. Precisa haver esse envolvimento. Aí vem essa questão de

tantas e tantas discussões.

Hoje temos uma experiência fortíssima com as

casas e a EFA. Muito mais vocês, aqui da região de Santa Cruz do Sul, podem

dizer os resultados que viram.

No seminário em Santo Antônio das Missões,

ouvimos depoimentos de jovens dizendo que, quando frequentavam a

comunidade, sequer falavam e que, depois, de repente, chegavam à

comunidade e faziam uma palestra. Ou seja, mudam.

O sistema das casas e da EFA trabalha com o meio

no qual está inserido esse jovem. Não vamos trazer a cultura do algodão se

aqui a cultura é outra. Não vamos inventar a roda, já a temos.

O reconhecimento por parte do Estado já temos.

Apesar de termos enfrentado bastante dificuldade em chegar à SEC, ouvimos a

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nossa secretária Maria Eulália dizer que o Estado, que a secretaria reconhece

a pedagogia da alternância –isso faz praticamente um ano.

De que isso é bom e apresenta resultado, já

sabemos. Os senhores, os pais e os jovens que aqui estão sabem disso.

Precisamos, agora – e não vamos inventar a roda –,

de injeção de recursos para manter as estruturas que hoje existem, porque,

realmente, vivemos de mendigação. Graças a Deus, temos as parcerias locais

com o Sicredi, com as cooperativas e com algumas prefeituras – nem todos os

prefeitos entendem a situação.

Vi que aqui há injeção de recursos. Quem sabe isso

possa ter continuidade e ser fomentado muito mais, porque aí, sim, esses

jovens vão permanecer lá e terão o seu projeto, senão não avançaremos.

Precisamos urgentemente da aprovação –fiquei

contente de ouvir que o projeto já saiu da Comissão de Constituição e Justiça.

Farei um pedido ao secretário Ivar Pavan, que sabe

o que são a maneta do arado e o cabo da enxada, para que, juntamente com o

deputado Altemir Tortelli e sua equipe, marque para nós uma audiência com o

nosso governador, para que os pais e os jovens possam falar sobre essas

experiências e mostrar que já existe algo de concreto dando resultado no Rio

Grande do Sul, e aí, quem sabe, termos essa sensibilização maior e a

aprovação desse projeto para injetar um pouco de ânimo e de recursos nessas

casas e na EFA, a fim de conseguirmos fazer nossas atividades. Do contrário,

a cada ano – é a avaliação que fazemos –, continuaremos encerrando no

vermelho. Queremos ver se alguma vez conseguiremos encerrar no verde.

Deixamos aqui nossa mensagem e nossa

experiência como casa familiar rural e como EFA.

Ouvi alguém falar sobre a possibilidade de se levar

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conhecimento e tecnologia aos produtores. Hoje, na nossa região, estamos

conseguindo fazer isso – uns dizem que é bom, outros dizem que não.

Já temos uma hidrelétrica no nosso Município, que

tem seus prós e contras, mas temos de aproveitar o que tem de bom.

Conseguimos um laboratório da Biofábrica, que reproduz mudas de frutíferas e

ornamentais em grande escala – investimento de mais de meio milhão de reais

–, e estamos levando os jovens que participam da casa familiar rural e os

agricultores para conhecer essa tecnologia e mudar a matriz produtiva, tendo

um abacaxi de alta qualidade, mudas sadias e ornamentais como, por exemplo,

a orquídea, que tem muito valor agregado e uma procura muito grande.

Gente, muito obrigado. Esperamos que isso não

fique só na discussão e que se parta para a ação.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) –

Obrigado, companheiro Wagner.

Vamos ouvir agora o presidente da Assefasc, Sr.

Aquiles Gusson.

O SR. AQUILES GUSSON – Boa tarde.

Gostaria de saudar as autoridades deste lado, que

sustentam e dão sentido às deste outro.

(palmas)

É difícil falar em apenas dois minutos.

Faço minhas as palavras do colega da Arcafar. Nós,

como modelo de alternância, já temos uma possibilidade de alternativa para a

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educação no campo exatamente nos moldes que propõe o Pronacampo. Então

não precisamos mais inventar a roda, mas não podemos nos limitar a esse tipo

de possibilidade.

Os estudantes das escolas públicas, que nos

esforçamos por mobilizar e trazer aqui, não puderam ficar até o fim porque

tinham que retornar ao seu Município, pegar ônibus e chegar em casa às 19

horas. Esse público precisa ser contemplado. Para nós se trata de recurso,

coisa simples, banal. O nosso orçamento é insignificante para o governo. O

problema são os outros. Como vamos encontrar alternativas para esse tipo de

educação?

Minha posição – faz tempo que a defendo e talvez

compre briga ao dizê-la publicamente – é que a educação está falida. Nosso

modelo educacional destrói a capacidade de criação do sujeito, de construção

do conhecimento. Essa é a política de educação no campo que temos hoje.

Aliás, não se trata só de educação no campo, ela faz

um estrago no geral. Precisamos repensar todo o nosso modo de vida, não

basta repensar o modelo educacional. Qual o padrão de vida que temos? Qual

o nosso sonho de consumo como ser humano? O nosso sonho de consumo

como ser humano é fácil de ver. Vamos olhar para o primeiro mundo, é para lá

que nosso sonho de consumo aponta, e vamos ver o que há de qualidade de

vida. Às vezes, vemos nas notícias o que acontece lá. As pessoas têm o que

comer, o que vestir, trabalham pouco, vivem bem, possuem casa. E mesmo

assim entram num cinema e começam a matar.

O que queremos? Chegar lá também? Temos de

repensar tudo. Claro que este é um local para debate, por isso estou fazendo

essa manifestação. Não há muita perspectiva de solução teórica, pelo menos

em curto prazo, mas temos de pensar. Que escola queremos? O que

queremos para o futuro?

Realmente, da maneira como está estruturado o

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nosso modelo educacional, tem saída e não custa muito, basta investimento.

Reforço o que foi dito pelo colega da Arcafar, precisamos ter uma audiência

com o governador Tarso Genro para dizer a S. Exa. que é sério e de

fundamento o nosso pedido. O que queremos muitas pessoas também querem.

Não queremos só recursos para as EFAs ou para as

casas familiares. Queremos uma educação para todos os que vivem no campo,

mas de uma forma diferente. Queremos que as divergências sejam

contempladas. Não dá para educar uma criança que mora no centro de Porto

Alegre e uma que mora no interior de Sinimbu da mesma maneira. Não tem

sentido. Isso talvez seja um pouco mais difícil de resolver.

O nosso problema enquanto alternativa, que já é

fato, é fácil. Um pouco do orçamento pode ajudar muito, porque não queremos

que o governo nos sustente, mas que nos ajude. Temos pernas e condições,

mas precisamos de ajuda de quem tem competência e obrigação para tal.

Eu gostaria também de pedir ao secretário Ivar

Pavan que, quando conversar com o governador Tarso, diga que o assunto

discutido aqui é educação e para S. Exa. conversar com o secretário de

Educação e pedir para ele se interessar pelo assunto educação no campo. Não

queremos desmerecer a autoridade do Valdomiro, mas ele representa a 6ª

CRE, uma parte pequena.

O Valdomiro não tem como responder pelo Estado

inteiro, e o que viemos aqui reivindicar é uma política pública de educação no

campo diferente dessa que está aí. E isso é da competência da Secretaria da

Educação. Quem deveria estar sentado aqui discutindo conosco seriam

representantes da Secretaria da Educação.

Não digo que signifique desmerecer os amigos aqui,

mas é assim, num assunto que diz respeito à educação, são importantes as

opiniões colocadas, mas quem deveria se pronunciar é quem pensa a

educação no nosso Estado – a Secretaria da Educação. Quantos da secretaria

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estão aqui representando, dando a sua opinião e se posicionando? Só o

Valdomiro, apanhando.

Para encerrar, agradeço muito a presença de todos.

Tem um mundaréu de gente da EFA, mas também estiveram presentes muitos,

muitos mais do que estes aqui, alunos e professores de escolas do interior.

Isso, minha gente, é muito significativo e importante. Quando íamos com os

diretores conversar com eles, todos manifestavam muito interesse. Não

ficavam enchendo linguiça para nos despachar. Tanto é que tem escolas que

vieram aqui bancando o próprio ônibus. O único empecilho para que não

trouxéssemos três vezes essa quantidade de gente foi o transporte, porque se

houvesse possibilidade de ser bancado o transporte botaríamos três desses

auditórios aqui.

O que significa isso? É urgente essa questão do

campo, é urgente a educação no campo, é urgente o nosso governo do Estado

ter uma política pública. Isso é possível. A solução para o problema da

educação no campo será construída no percurso, mas uma política é possível

já, e direcionar toda a nossa vontade política para esse caminho é uma

prioridade. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) –

Obrigado, Aquiles.

Passo a palavra ao último inscrito, Sr. Jonas

Rodeghiero, de Rio Pardo.

O SR. JONAS RODEGHIERO – Boa tarde a todos.

Saúdo a iniciativa do deputado, pai da minha amiga

Aline. Fomos colegas de DCE na UFPel.

É significativo para nós que temos acompanhado a

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luta da EFA ver uma nova EFA constituída e esta audiência pública tendo eco e

a presença de tantos interessados em ver melhorar a educação no campo. E

não só as EFAs. Estou aqui com a bandeira da Escola de Jovens Rurais. Há

poucos dias, estava na formação da Pastoral da Terra ali no seminário em Rio

Pardo, me tornando um agente da CPT, para buscarmos uma qualidade melhor

de vida para a população não só do campo, mas da cidade também.

Temos que lutar pela semente crioula, temos que ter

um programa, tem que estar no currículo a semente crioula, porque não

adianta ter terra, como o colega havia apontado, que o jovem precisa de terra.

É preciso gerar valores, construir valores e conhecimento que façam o jovem

entender a importância de continuar no campo, mas ele precisa ter semente

para botar nessa terra, e essa semente tem que estar sob o controle, na mão

dos produtores rurais, dos agricultores, e não de multinacionais.

Esse trabalho tem sido feito pela CPT, pelas EFAs,

acredito que pelas casas familiares rurais, e esse conteúdo tem que estar nos

currículos escolares. Temos que fazer um desafio aos prefeitos: que as suas

secretarias municipais de educação tenham um planejamento curricular

diferenciado para as escolas de área rural, porque começa lá.

Falou-se aqui em transmitir conhecimento.

Conhecimento não se transmite, conhecimento se constrói. Conhecimento não

se transmite, valores não se transmitem, valores são construídos, e este é o

papel da escola também: construir valores. Tenho certeza de que os valores

que estão sendo construídos pelas EFAs, pelas casas familiares rurais, pela

luta dos movimentos sociais, da Escola de Jovens Rurais, da Pastoral da Terra

e de todos esses agricultores e agricultoras que vieram hoje aqui e que lutam

por uma educação no campo melhor, são de um campo sem agrotóxico, sem

latifúndio e com sementes crioulas.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra ao Sr. Gelson Greiner, de Sinimbu.

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O SR. GELSON GREINER – Sou do interior de

Sinimbu. Não dá para dizer que somos agricultores, sou fumicultor. Fiz a

Escola de Jovens Rurais. O deputado Elvino Bohn Gass disse que o melhor

lugar para se viver é na roça. Na verdade a roça é o melhor lugar para viver,

porque conseguimos viver bem com dinheiro, sem dinheiro, com saúde,

trabalhando. O que nos falta hoje é apoio. Estão lá nas prefeituras sentados,

esperando, e não fazem nada. Queremos quem faça algo por nós lá dentro.

Facilmente me emociono. Não podemos perder essa luta. Temos que trabalhar

e saber que quem manda neles somos nós e que não eles não mandam em

nós.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) –

Concedo a palavra ao presidente da Associação Gaúcha das Escolas das

Famílias Agrícolas, Elton Roberto Hein.

O SR. ELTON ROBERTO HEIN – Boa tarde a todos.

Saúdo o presidente Altemir Tortelli e todos os presentes. Uma saudação

especial aos pais, aos alunos e aos monitores da EFA de Santa Cruz.

Aproveito este momento para fazer um

agradecimento a todo os colaboradores da EFA desde o início. Unisc, Sicredi e

Afubra são parceiros fortes. Com certeza sem eles, sem a ajuda dos pais, dos

alunos e dos próprios monitores, a EFA não conseguiria resistir.

Chamarei a atenção para o diferencial que a EFA

tem como escola. Sou pai de um aluno que agora está fazendo estágio. Isso é

importante não só ao aluno, como para quem vai se formar e voltar para casa

como técnico agrícola. Estamos necessitando muito hoje, além das pessoas

que ficam na nossa propriedade, de líderes para fazer o nosso futebol do

interior. Quem é do interior sabe que isso está se terminando. Coloco que esse

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é o diferencial maior que existe na escola das EFAs e das casas familiares do

nosso companheiro. Só a formação técnica não irá fazer com que essas

pessoas fiquem lá, porque precisa haver lazer na agricultura. Na EFA de Santa

Cruz, já há várias associações se formando com estagiários. Todos já disseram

aqui que a escola normal não está conseguindo isso.

Nos anos 80, quando fiz a 8ª série, ainda havia no

currículo técnicas agrícolas e técnicas domésticas. Aprendi a fazer a instalação

de um bico de luz no colégio. Não sabemos por que, mas isso terminou. É esse

diferencial que gostaria de destacar.

A escola começou com um projeto do Neri e do

Antônio. Este último continua participando dela, sendo, hoje, nosso professor.

Foram os dois que desenvolveram o projeto, fazendo-o em parceria com o

Sicredi. Depois a proposta foi abraçada por todos.

A escola funciona, mas necessitamos muito dos

recursos aqui referidos e de políticas públicas direcionadas para a área. As

EFAs e as casas familiares estão prontas. Já obtivemos resultados e temos

turmas formadas, portanto estamos prontos para desenvolver esse conjunto de

iniciativas de que os nossos filhos precisam para ser formados como

agricultores e pessoas de caráter. Nossa intenção é de que eles voltem para o

campo, mas com uma formação plena.

É fundamental que o governo do Estado direcione

políticas públicas para a área. Não preciso dizer que já estamos cansados de

constatar que o êxodo rural é uma realidade. Ele existe, havendo apenas

alguns teimosos da minha geração que, como eu, ficaram no interior

produzindo.

Atualmente se fala muito em diversificação, mas

aqueles que estão no interior não estão prontos para realizá-la. Eles não

dominam as técnicas, não têm conhecimento necessário para levar a cabo

esse processo. O que estamos vendo acontecer são diversificações feitas de

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forma errada e muitos agricultores se endividando.

Então, é de formação que precisamos. Contamos

com uma estrutura educacional já montada e, para desenvolver esse trabalho,

só estamos precisando de uma ajuda, a exemplo do que o companheiro falou

anteriormente. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Altemir Tortelli – PT) – Creio

que já podemos assumir aqui, secretário Ivar Pavan, algumas sugestões de

encaminhamento em relação a um debate especialmente com a Secretaria de

Educação. Podemos assumir esse compromisso juntos. Sou da base do

governo na Assembleia e o secretário integra o Executivo, tendo interesse

direto na questão.

O desenvolvimento rural é a nossa vida e tem a ver

com a questão da educação. Assim, creio que podemos assumir o

compromisso de criar essa porta de diálogo com a secretaria e com o

governador.

Uma conclusão que podemos tirar deste evento é

que as pessoas, em sua diversidade – estudantes de escolas públicas

municipais ou estaduais, professores, diretores e secretários, além de toda a

companheirada das EFAs e das casas familiares rurais – já estão carecas de

saber do interesse dos companheiros em contribuir com o debate. Eles têm-se

colocado permanentemente à disposição do debate em todos os espaços – em

reuniões com o governo e secretarias, em audiências públicas, seminários,

intercâmbios e eventos de maior impacto, sejam de caráter estadual ou geral –,

para contribuir com a discussão.

Foi demonstrado aqui que o tema da educação no

meio rural está preocupando o conjunto das pessoas. Ele está na vida das

pessoas. Se este auditório esteve cheio, com uma ida para as escolas

motivando professores, alunos e direções, é porque de fato a questão tem

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importância. As pessoas estão querendo informações, estão querendo saber o

que pode ser feito. Elas querem contribuir e desejam sentir que são sujeitos

desse processo.

Esta, portanto, é uma conclusão: existe disposição,

por parte do conjunto das pessoas que estiveram aqui, de participar, fazendo-o

como sujeitos desse processo. Por outro lado, é patente que precisamos criar

condições no sentido de que o governo do Estado do Rio Grande do Sul possa

apoiar aquilo que hoje já é real, ou seja, as nossas casas e escolas. Há uma

necessidade da presença, da participação do Estado nessa área.

No meu entendimento, temos de atuar em duas

frentes: uma é a de aprovarmos o projeto, que dá essa condição jurídica; a

outra é a negociação política com o governo.

Podemos assumir o compromisso de acelerar essas

conversas tanto com a Seduc quanto com a assessoria do governador para

que isso de fato ocorra.

Na minha avaliação, há uma compreensão de todos no

sentido de que isso é importante mas insuficiente. Precisamos criar condições

políticas para que de fato possamos mudar a política educacional, a política pública

no Rio Grande do Sul. É necessário criarmos efetivamente uma nova política

educacional voltada para meio rural no nosso Estado.

É claro que isso pode demorar algum tempo. É óbvio

que a implantação de uma nova política demorará uma década. Precisamos

começar logo, já há mais de 40 mil famílias sem sucessor.

Há uma concordância entre nós de que não é só

tarefa da escola possibilitar uma modificação na perspectiva de futuro dos

jovens, no seu projeto de vida, mas a escola é um dos pilares fundamentais.

Se conseguirmos promover essa mexida na política

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educacional de forma que a escola no meio rural venha a ser um instrumento

diferente do que é hoje, com certeza haverá uma soma com o Pronaf, o

programa de habitação, as agroindústrias, com um conjunto de outros

programas.

É fundamental que nos engajemos todos para

sensibilizarmos e até mesmo pressionarmos o nosso governo por uma política

pública estadual.

O Rio Grande do Sul tem uma condição diferenciada

de outros Estados do Brasil. Politica, econômica, geograficamente, podemos

criar condições políticas para que essa política pública estadual possa ser

pensada, formatada e implementada nos próximos anos.

Estou convencido de que temos condições de criar

um Pronacampo estadual – pode ser parte da política. É possível, por exemplo,

pensarmos na questão da formação de professores. Vejo aqui um professor da

nossa querida UERGS, que, com todas suas dificuldades, diz que é possível

fazer a formação de professores de forma diferenciada.

Ao finalizar, lanço um desafio. Na minha opinião,

tudo isso pode acontecer mais rapidamente se acordarmos o que levantamos

na primeira audiência, realizada em Porto Alegre: construirmos não só uma

negociação, um pedido de audiência, mas fazermos desse tema um movimento

de ação conjunta com as entidades que estão aqui: Fetag; Via Campesina;

Fetraf; associação de prefeitos; parlamentares; cooperativas; quem está no

governo, que já tem essa sensibilidade; vereadores; secretários.

Sugiro que criemos uma frente de movimento que

dialogue, formule, negocie e pressione. Em algum momento, teremos de fazer

pressão, porque disputamos as políticas dos governos.

O ex-presidente Lula me passou um ensinamento muito

importante quando recém tinha sido eleito presidente. Não podemos colocar no

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governo todas as lideranças. Precisamos ter na sociedade civil organizada um

movimento forte para fazer a pressão no Parlamento e no governo. O governo não

fará as mudanças se não houver pressão forte e organizada da sociedade. As

mudanças demoram muito só dentro do governo.

Finalizo com esse desafio. A Fetag, a Via

Campesina, a Fetraf e os demais atores sociais, que efetivamente nos

articulemos num movimento na perspectiva de construção dessa nova

educação, desse novo jeito de pensar para o meio rural.

Pergunto aos senhores se, pelo menos de forma

generalizada, há concordância com essas idéias como elementos unificadores

para nossa caminhada nos próximos meses e anos. (pausa) Havendo acordo,

unificaremos nossas ações nessa linha.

Agradeço a cada um dos que estiveram aqui, à

juventude, aos estudantes, aos professores, a toda a equipe da associação da

Agefa, que coordenou essa mobilização, às pessoas que se colocaram à

disposição para a construção desse movimento e a cada um dos que

contribuíram para a realização dessa audiência pública.

Com certeza ela não ficará esquecida na história. É

um momento importante, o marco de uma caminhada que será vitoriosa – já

aponta sinais de vitória em nível nacional e estadual.

Tenho certeza de que colheremos muitos frutos

dessa união, desse movimento articulado pela luta e defesa de uma nova

educação, pela luta e defesa da agricultura familiar, pela luta e defesa do

desenvolvimento com homens e mulheres vivendo com dignidade no meio rural

do nosso Estado, do nosso Brasil.

Um abraço, obrigado a todos. Vamos continuar

caminhando que a estrada é o nosso caminho. Obrigado.

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Declaro encerrada a presente audiência pública.

4. ACAMPAMENTO DA JUVENTUDE DA

AGRICULTURA FAMILIAR, EM IPÊ/RS, NOS DIAS 10 E 11 DE AGOSTO DE

2012

Deputado Altemir Tortelli, Ministro Pepe Vargas, Deputado Heitor Schuch

No acampamento da Juventude da Agricultura Familiar,

em Ipê/RS, nos dias 10 e 11 de agosto de 2012, o Ministro do Desenvolvimento

Agrário (MDA), Pepe Vargas afirmou apoiar a nossa luta por uma educação

voltada aos interesses do campo. Em conversa o Ministro mostrou-se disposto

em intermediar um diálogo entre o Ministério da Educação (MEC), sob o

comando do Ministro Aloízio Mercadante e a Secretaria da Educação do

Estado do Rio Grande do Sul, sob o comando do Secretário José Clóvis de

Azevedo. O Ministro Pepe Vargas entende que uma educação adequada é

importante para garantirmos o jovem no campo, para garantirmos o futuro da

agricultura familiar.

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O Ministro Pepe Vargas defende a chamada Pedagogia

da Alternância, por meio da qual alunos passam por períodos de formação nas

escolas alternados com períodos de trabalho na propriedade da família, onde

aplicam os conhecimentos.

O Ministro também defende o modelo em escolas

públicas estaduais e municipais do campo, além de afirmar ser parceiro das

entidades que trabalham essa pedagogia. O deputado Heitor Schuch também

participou do encontro.

5. SEMINÁRIO JUVENTUDE E SUCESSÃO NA

AGRICULTURA FAMILIAR NO DIA 30.08.2012 NO CENTRO

ADMINISTRATIVO DO PARQUE DE EXPOSIÇÕES ASSIS BRASIL EM

ESTEIO-RS

Secretário Ivar Pavan, Ministro Pepe Vargas, Deputado Edegar Preto, Deputado Alexandre

Postal, Deputado Altemir Tortelli, Ary Vanazzi – Presidente da FAMURS, Deputado Elvino Bon

Gass e demais integrantes da mesa

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Durante o Seminário sobre “Juventude e Sucessão

Familiar” ocorrido no no dia 30.08.2012 na EXPOINTER em Esteio/RS, o

Ministro Pepe Vargas reforçou seu apoio na luta por uma educação voltada aos

interesses dos jovens do campo.

Secretário Ivar Pavan, Deputado Edegar Preto, Deputado Altemir Tortelli, Laudemir Muller

(MDA) e demais integrantes da mesa

O Ministro voltou a defender a implantação da

chamada Pedagogia da Alternância no sistema público de ensino do Rio

Grande do Sul. Pepe Vargas compreende que uma educação específica é

fundamental para mantermos os jovens no campo e garantirmos o futuro da

agricultura familiar. Apoio esse que já havia sido externado pelo Ministro em

encontros anteriores.

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6. REUNIÃO NO DIA 04.09.2012 NA SECRETÁRIA

DE EDUCAÇÃO COM O SECRETÁRIO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO JOSÉ

CLÓVIS DE AZEVEDO, ASSESSORES E

EDUCADORES.

Deputado Altemir Tortelli e Secretário José Clóvis de Azevedo

Nos reunimos no dia 04.09.2012, na Secretaria da

Educação em Porto Alegre, com o Secretário Estadual de Educação, José

Clóvis de Azevedo, juntamente com assessores e educadores que trabalham

com jovens no meio rural, para tratar do tema “Educação do/no Campo”.

No encontro foram apresentadas ações previstas pelo

Estado para 2013, no ensino rural. Entre elas, a reestruturação da Proposta

Político-Pedagógica (PPP), com adequação voltada à realidade do campo, o

lançamento do edital para contratação emergencial de professores que atuarão

nas escolas do interior.

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Deputado Altemir Tortelli, Secretário José Clóvis de Azevedo, assessorias, educadores e

representantes de entidades vinculadas ao tema

Ainda, segundo o Secretário José Clóvis de Azevedo,

a reestruturação da educação do/no campo tem sido pensada desde 2011 e

entre as novidades estão a revitalização das estruturas físicas das escolas,

além da construção de novas escolas, a ampliação da oferta de transporte

escolar intracampo com repasse de novos veículos aos municípios, além de

formação continuada e específica para professores que trabalham em unidades

do meio rural. Atualmente, o Rio Grande do Sul conta com 2.572 escolas

públicas, das quais 670 estão localizadas no meio rural.

Além disso, outra linha de ação foi a criação de um

Comitê estadual para discutir políticas para a educação do/no campo, no prazo

de 30 (trinta), dias.

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CONCLUSÃO

Discutir o tema da Educação do/no Campo, no

contexto atual, é relevante e significativo. Pelas afirmações contidas neste

relatório, e a partir de estudos e do resumo das atividades realizadas podemos

concluir que:

1. A realidade do meio rural ameaça a soberania alimentar da

população e a existência de muitos municípios.

Atualmente temos um cenário rural esvaziado e

envelhecido, o que compromete a sucessão familiar em grande parte das

propriedades rurais, a existência das comunidades rurais e a produção de

alimentos, ameaçando a soberania alimentar.

Como consequência disso, temos também a falência dos

pequenos municípios, onde a economia está baseada na agricultura familiar.

Apesar da grande expressividade da agricultura familiar, que é responsável por

mais de 70% dos alimentos que chegam à nossa mesa, por ofertar um alimento

qualitativa e quantitativamente adequado, por sua capacidade de interação

com outras atividades econômicas e sociais, por constituir um contraponto à

lógica mercadológica, a mesma ainda padece dos devidos incentivos

governamentais.

Parte da população do país vive no campo, e nele, como

já frisado, se desenvolvem os processos de produção que garantem alimento à

quase totalidade da população brasileira.

2. A atual realidade da Educação do/no Campo, compromete e

dificulta a sucessão familiar e o futuro da agricultura familiar

A situação em que se encontram as escolas e o

ensino no meio rural, não é compatível com as necessidades dos agricultores e

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agricultoras familiares e muito menos com as necessidades dos jovens. O

fechamento de escolas no campo, a nucleação que leva a criança e o jovem

agricultor desde cedo para centros urbanos e os conteúdos aplicados, não

transformam as pessoas em sujeitos do conhecimento e não contribuem para

que eles desenvolvam atividades nas suas propriedades. Portanto, nesse

vácuo a Pedagogia da Alternância tem um papel fundamental e pode suprir

essa necessidade.

3. A formação de professores como óbice ao desenvolvimento

da Educação do/no Campo

Um dos obstáculos ao desenvolvimento da

Educação do/no Campo é a formação de professores. Eles mesmos admitem

que não estão preparados e que a formação recebida não é compatível com a

necessidade de conhecimento dos agricultores. Nem da parte técnica nem na

parte teórica. Há necessidade urgente, de se repensar/refazer os materiais

pedagógicos de maneira a adequá-los à realidade do campo e também de

investir na capacitação dos educadores.

4. A resistência dos Agricultores Familiares e as experiências

das entidades contribuem para a permanência das famílias e dos

jovens no meio rural

Uma importante colaboração para o desenvolvimento da

Educação do/no Campo são as experiências desenvolvidas pelas entidades.

Tanto do ponto de vista da produção, como da educação, são projetos que

ajudam a viabilizar as propriedades agregando valor à produção e melhorando

as condições de vida no meio rural. São projetos, experiências que qualificam a

ação dos agricultores.

5. A Política Nacional de Educação do/no Campo apresenta

avanços que podem ser aproveitados para melhorar a situação

A organização dos movimentos sociais, junto ao

Governo Federal, permitiu que se avançasse no debate e na implementação de

políticas públicas de subsídio às ações dos movimentos sociais no que tange à

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Educação do/no Campo. É o caso do Pronacampo. Ele ainda precisa ser

aperfeiçoado e implementado na íntegra, mas permite que se possam

desenvolver projetos que tratem da Pedagogia da Alternância, que se tenha

estrutura física e humana compatíveis com as necessidades das comunidades

escolares rurais.

6. O Governo do Rio Grande do Sul não tem clara uma Política

de Educação do/no Campo que atenda as necessidades dos

agricultores familiares

Ao concluir esta subcomissão percebeu-se que o

Governo do Estado do Rio Grande do Sul não tem formatada uma política de

Educação do/no Campo. Mais do que isso, A SEDUC nas diversas

oportunidades que teve até o presente momento não tem ou não apresentou

uma estratégia de construção dessa política. Não tem mecanismos de diálogo

regular com os atores sociais e com o Governo Federal no que tange a

execução das políticas propostas por aquele Governo. Além disso percebe-se

não possuir equipe específica para isso, bem como, orçamento para executar

as ações necessárias.

Com relação as experiências exitosas de Educação

do/no Campo pode-se afirmar serem elas fundamentais, pois apresentam alto

grau de eficiência, envolvem as famílias, e os jovens permanecem na

propriedade. Nesse sentido, nada mais justo que sejam encampadas pelo

Estado, inclusive financeiramente, mas percebeu-se que o Governo do Estado

não apresenta uma política de fortalecimento dessas experiências. Isso

compromete a continuidade das experiências que vêm sendo desenvolvidas

exitosamente e coloca em risco os acúmulos de um projeto que vêm sendo

gestado e implementado há muito tempo.

7. Os Debates, acúmulos, as construções apresentam alto grau

de desarticulação entre si e com os governos

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A subcomissão ao promover os debates pôde

constatar que diante da dramática realidade da Educação do/no Campo, muitas

entidades promovem ações, cursos, seminários e desenvolvem experiências.

Mas há um grave problema, essas iniciativas não dialogam entre si e,

tampouco, com os governos. Pode-se afirmar que cada um procura resolver o

problema a sua maneira.

Entende-se que o estado poderia fazer essa

articulação, porém, mesmo no âmbito do Governo Estadual, várias secretarias

desenvolvem ações no mesmo rumo, mas sem diálogo e, às vezes, sem

conhecimento destas ações.

Diante das questões de conclusão do presente

relatório, a Subcomissão propõe um PACTO RS por uma nova educação no

meio rural.

Diante da atual realidade, é de fundamental

importância que seja feito um pacto por uma nova educação no meio rural. Isso

implica no convencimento e na participação do Governo do Estado, da

Assembleia Legislativa, dos movimentos sociais, prefeituras municipais, das

entidades que tenham experiências exitosas, das universidades, das ONGs,

entre outros. Um pacto que prime pela construção coletiva envolvendo o

governo e a sociedade civil e por colocar o tema no centro das estratégias dos

governos para que se torne um marco do desenvolvimento, rompendo com o

atual modelo pedagógico ofertado aos jovens do meio rural e criando as

condições para a construção de um novo projeto pedagógico.

Para além do pacto, a subcomissão propõe:

1. Criação do PRONACAMPO RS (Programa Estadual de

Educação do Campo).

Na agricultura familiar a terra, a gestão e o trabalho

encontram-se intrinsecamente ligados à família, no entanto, desigualdades

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históricas sofridas por aqueles que vivem no campo, estão expulsando os

jovens do meio rural. A Educação do/no Campo se apresenta como uma

alternativa promissora, de incentivo à permanência de jovens no meio rural. Ela

nasceu da pressão de movimentos sociais por uma política educacional para

aqueles que vivem no campo e encontra-se em processo de expansão. Trata-

se de um movimento que vem se construindo historicamente, com base nos

debates produzidos. Não se pode pensar em um projeto de estado e de país

sem pensar num projeto para o campo. Este deve contemplar a oferta de um

modelo educacional adequado à realidade e anseios daqueles que vivem no

meio rural, o desenvolvimento de políticas públicas voltadas à agricultura

familiar e a inserção dos jovens na administração das propriedades rurais. A

política nacional de Educação do Campo apresenta avanços, e pode servir de

parâmetro para a implementação de uma política estadual.

Propomos que Governo do Estado crie o

PRONACAMPO RS: O Programa Estadual de Educação do/no Campo com

rumo, diretrizes, estratégia, que dialoguem com os municípios de forma a

articular as ações entre os entes federados e com objetivo de fortalecer as

ações sem sombreá-las.

2. A Construção da Nova Escola Rural

Oportuno destacar que a implementação de um

modelo educacional diferenciado é um direito daqueles que vivem no meio rural

e encontra amparo na Constituição Federal que institui a educação básica

como um direito subjetivo, na Lei nº 9.394/96, que estabelece as diretrizes e

bases da educação nacional. Dito diploma legal contém várias referências no

sentido de viabilizar uma pedagogia diferenciada para os jovens que vivem no

meio rural, como se observa nos seguintes artigos: 23 caput e § 2º; artigo 26,

caput; 27 inciso III; 28 caput e incisos I, II e III; 32 inciso IV e § 4º; 34 § 2º; 35

incisos II e IV; e artigo 41 caput.

Portanto, a adoção da Pedagogia da Alternância nas

escolas públicas, em especial as do meio rural, constitui medida fundamental,

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que contribui para o desenvolvimento do conhecimento e possibilita aos jovens

darem continuidade ou retomarem seus estudos.

Para isso propomos a Construção da Nova Escola

Rural, mediante a implementação de uma nova política de regionalização e

reorganização, que demanda a reestruturação do Projeto Político Pedagógico

(PPP), com adequação à realidade do campo e adoção da Pedagogia da

Alternância na rede pública estadual e municipal das Escolas do Campo; além

disso, demanda a constituição de escolas com estrutura completa, sediadas no

meio rural, com o rompimento da lógica divisional entre municípios e entre

Estado e Municípios, que passarão a atuar de forma integrada.

3. Ações de Fortalecimento do Grande Agente da Nova

Educação: A formação de professores e criação da Bolsa

Educação Rural (BOER)

O paradigma tradicional rural que concebe o campo

tão somente como um espaço de produção, vem perdendo força para uma

nova concepção, que elege o campo também como um lugar para viver. Temos

a convicção de que a mudança de paradigmas envolve também a mudança do

modelo educacional rural, da forma de administração das propriedades rurais,

que deve envolver os jovens de maneira que também se sintam protagonistas

do processo. Quando um jovem deixa o meio rural, ele dificilmente retorna. Ao

se afastar do meio rural, ele geralmente esquece/perde os traços culturais

fundamentais repassados de pai para filho, que identificam e criam vínculos

dos agricultores com o meio rural. Com efeito, um tema tão relevante como o

relativo à sucessão rural e ocupação dos espaços rurais não pode ficar a deriva

dos acontecimentos sociais e das forças de mercado. O poder público precisa

incidir para equilibrar as forças e possibilitar a sobrevivência e o

desenvolvimento do meio rural.

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Neste sentido, um dos principais atores na

construção do pacto e da nova escola é o professor/educador, que ainda

carece de formação adequada.

Para tanto, faz-se necessário constituir

imediatamente um plano de formação de professores, a partir do acúmulo das

experiências, dos conhecimentos existentes e da capacidade do conjunto das

entidades em promover essa disseminação. Sugere-se que o papel de

capacitação seja executado pela UERGS, articulado conjuntamente com outras

universidades que tenham acúmulo no tema. Essa tarefa estratégica de

formação de professores para o meio rural deve ser contínua, mediante a

oferta de cursos regulares com graduação específica.

Outra ação é a criação da BOLSA EDUCAÇAO

RURAL (BOER). É uma bolsa de incentivo aos professores interessados em

buscar especialização na área.

Em face da expressiva demanda na área e da baixa

procura por parte dos docentes, essa bolsa incentivaria novos professores a

enfrentar esse desafio. Portanto, o professor, além da gratuidade do curso,

teria um apoio financeiro para custear gastos provenientes do mesmo.

Entendemos que esse é mais um esforço que o estado deve fazer para

enfrentar o problema hoje existente.

4. Criação do Departamento e Conselho de Educação do/no

Campo

Para avançar no aprimoramento do tema Educação

do/no Campo, sugere-se ao Governo do Estado a criação do Departamento de

Educação do/no Campo, dentro da SEDUC. Paralelo a isso, criaria e

constituiria o Conselho Estadual de Educação do Campo (CEC). Essas duas

medidas alavancariam e permitiriam avançar no fortalecimento da Educação

do/no Campo. O departamento permite ter orçamento e equipe trabalhando no

tema e o conselho é um espaço de discussão oficial para o avanço na

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construção de novos valores, superar velhas concepções que não mais se

ajustam à realidade atual. Esse Conselho seria constituído pelo Governo

Estadual, entidades de representação de classe, escolas rurais, Assembleia

Legislativa e sociedade civil, para discutir políticas para a Educação do/no

Campo.

5. Criação do Fórum Estadual da Educação do/no Campo

Para além do espaço oficial que será suprido pela

criação do Conselho, as entidades têm a necessidade de construir seu próprio

espaço de articulação. É a sugestão desta subcomissão que seja criado o

Fórum Estadual de Educação do/no Campo com autonomia das entidades, que

seja feito por autoconvocação e que preveja a participação de todas as

entidades que desenvolvem ou desenvolverão atividades vinculadas ao tema.

Sugere-se que participem desse Forum os movimentos sociais e sindicais,

cooperativas, escolas comunitárias, institutos, ONGs, entre outros

6. Imediata aprovação e regulamentação do PL 297/2011, como

forma de incentivo às entidades que desenvolvem experiências

de Educação do/no Campo e que permitam investimento de

recursos públicos nas escolas comunitárias

Como asseveremos em nosso Projeto de Lei

(297/2011), é imprescindível a adoção de políticas de valorização e incentivo à

permanência dos jovens no meio rural. Ficar no campo e trabalhar como

agricultor familiar precisa ser uma escolha que implique em ter acesso a uma

educação adequada à realidade do campo e, ao mesmo tempo, que possibilite

uma vida digna.

Considerando o papel fundamental dos jovens na

sustentabilidade do meio rural, dando continuidade aos projetos e modo de

vida de seus pais, escolhendo o campo como lugar para viver e a agricultura

como profissão, é imprescindível que o governo gaúcho, implemente políticas

públicas de incentivo à permanência dos jovens no campo. Para tanto é de

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fundamental importância a aprovação do Projeto de Lei nº 297/2011, que

viabiliza a oferta de um modelo educacional adequado à realidade de quem

vive no meio rural.

Assim, sugere-se à Assembléia Legislativa a

imediata aprovação do PL 297/2011 e ao Executivo a regulamentação e

implementação do projeto, como forma de incentivo às entidades que

desenvolvem experiências de Educação do/no Campo, viabilizando o repasse

de recursos públicos para as escolas comunitárias.

7. Ações junto ao Governador do Estado

A subcomissão propõe, em caráter paralelo e

concomitante às ações propostas acima:

• A criação de um Grupo de Trabalho (GT),

vinculado ao Governador do Estado e composto pelo governo e sociedade civil,

para que, num prazo de 180 dias, apresente as bases da nova política de

Educação do/no Campo;

• Posterior a isso, nos 180 dias subseqüentes a

preparação, articulação e a realização da Conferência Estadual de Educação

do/no Campo.

8. Criação de uma Comissão Especial para tratar da Educação

do/no Campo

A proposição desta subcomissão é pela criação de

uma Comissão Especial para tratar da Educação do/no Campo para investigar

e conhecer as experiências políticas de outros estados e países, bem como

comprometer a Assembléia Legislativa a colaborar e acompanhar os processos

e a implementação destas ações. Também busca discutir os instrumentos

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jurídicos para dar suporte a uma nova política de Educação do/no Campo.

A luta de todos por políticas estaduais voltadas à

qualificação da Educação do/no Campo e à Agricultura Familiar constitui fator

determinante à sua efetivação. Ser vigilantes e não medir esforços é

fundamental para que as metas acima referenciadas se concretizem a curto

prazo. Conclamamos todas as entidades representativas das escolas do meio

rural, os agricultores familiares a não esmorecerem nas mobilizações e

negociações junto às esferas governamentais.

Por fim, uma cópia do presente Relatório, após

aprovação, deverá ser encaminhada para a Presidência da República, para os

Ministérios, da Educação e Cultura, do Desenvolvimento Agrário e da

Agricultura; Ao Governador do Estado do Rio Grande do Sul, às Secretárias, de

Educação, do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo e da

Agricultura; às entidades de representação dos agricultores, FETRAF-SUL,

FETAG, FARSUL, MPA, MAB, MMC e Via Campesina; às Escolas existentes

no meio rural, às Escolas Técnicas do nosso Estado, às Prefeituras Municipais

do Estado do Rio Grande do Sul, às Câmaras de Vereadores, às diversas

Cooperativas, Universidades e imprensa em geral.

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DEPUTADOS INTEGRANTES DA SUBCOMISSÃO PARA TRATAR DA

EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO E PL 297/2011

Dep. Altemir Tortelli (PT)

Coordenador/relator

Dep. Edegar Preto (PT) Dep. Jeferson Fernandes (PT)

Dep. Valdeci Oliveira (PT) Dep. Alceu Barbosa (PDT)

Dep. Edson Brum (PMDB) Dep. Ernani Polo (PP)

Dep. Heitor Schuch (PSB) Dep. Frederico Antunes (PP)

Dep. Gerson Burmann (PDT) Dep.Aloísio Classmann (PTB)

Dep. Lucas Redecker (PSDB)

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ANEXOS

1. Requerimento de criação de subcomissão

para tratar da Educação do/no Campo e

Requerimentos para Realização de Audiência

Pública;

2. Ata da Reunião da Comissão de Agricultura,

Pecuária e Cooperativismo que aprovou o

requerimento de criação da Subcomissão para tratar

da “Educação do/no Campo e PL 297/2011”;

3. Ofícios nºs 12/2012 e 14/2012 encaminhados

pelo Dep. Altemir Tortelli, na condição de

Coordenador e Relator da subcomissão ;

4. Cópia do Programa Nacional de Educação do

Campo - PRONACAMPO;

5. Atas das Audiências Públicas realizadas para

discutir a Educação do/no Campo e PL 297/2011;

6. Relação de dados sobre Educação do/no

Campo - contribuição da Federação das

Associações dos Municípios do Rio Grande do Sul -

FAMURS;

7. Cópia de Lei nº 9.394/1996;

8. Parecer CNE/CEB Nº 36/2001;

9. Parecer CNE/CEB Nº 21/2002;

10. Resolução CNE/CEB Nº 1/2002;

11. Parecer CNE/CEB Nº 1/2006;

12. Parecer CNE/CEB Nº 23/2007;

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13. Resolução CNE/CEB Nº 2/2008;

14. Resolução CNE/CEB, Nº 4/2010;

15. Parecer CEED/RS Nº 1.400/2002 ;

16. Publicações em Jornais;

17. Artigos