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SUBSÍDIOS PARA GESTÃO DOS
IMPACTOS DAS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS NAS ÁREAS COSTEIRAS
DO RIO DE JANEIRO - BRASIL
David Man Wai Zee
(UERJ/Universidade Veiga de Almeida)
Daniel Shimada Brotto
(Universidade Veiga de Almeida)
Thiago de Moraes Correa
(UERJ)
Douglas Medeiros Nehme
(UERJ)
Resumo As praias urbanas são ambientes fragilizados pela ocupação urbana e
pelas flutuações climáticas e oceanográficas. As áreas costeiras do Rio
de Janeiro vêm sofrendo um aumento gradual dos impactos
decorrentes das ressacas significativas. Resssacas significativas são
eventos oceanográficos extremos que causem algum tipo de transtorno
na funcionabilidade urbana ou dignas de nota. Observou-se ao longo
de 21 anos (1991 - 2011) um aumento substancial do número médio
anual de ressacas para períodos de três anos. Da mesma forma foi
constatado um aumento do número de dias com ressacas significativas,
indicando uma crescente pressão sobre as praias urbanas. Em termos
da diversidade dos impactos percebe-se uma saturação ao longo dos
anos, estando estabilizado em seu máximo nos últimos anos (2006 -
2011). Em função dos impactos observados recomendam-se
procedimentos preventivos antecipatórios para evitar a perda da
resiliência das praias como estruturas de proteção contra as ressacas.
A renaturalização das praias com a engorda e/ou a regeneração da
vegetação são estratégias recomendadas.
Palavras-chaves: Ressacas, sustentabilidade, prevenção climática e
praias urbanas
8 e 9 de junho de 2012
ISSN 1984-9354
VIII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 8 e 9 de junho de 2012
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Introdução
As áreas costeiras do Rio de Janeiro são compostas por praias arenosas intercaladas por
afloramentos rochosos que ancoram os cordões litorâneos. De acordo com Carter (1993) as
áreas costeiras são locais onde terra, água e ar se encontram. Estes locais podem ser
percebidos como zonas de mistura e de interação entre ar, oceano e continente.
Souza, Souza Filho, Estevez et. al. (2005) define as praias como depósitos de material
inconsolidado, areia e cascalho, formados na interface entre a terra e o mar ou outro corpo
aquoso de grandes dimensões (rios, lagos), que são retrabalhados por processos atuais
associados a ondas, marés, ventos, e correntes geradas por esses três agentes.
Desta forma as praias são ambientes dinâmicos e refletem a maior ou menor influência
das forçantes oceânicas, continentais e mesmo antrópicas. As praias urbanas do Rio de
Janeiro, além das forças oceânicas que tem promovido significativas alterações nas mesmas
ao longo dos últimos 21 anos (1991-2011), também têm sido impactadas pelo uso antrópico
inadequado de seu ambiente. Neste contexto cita-se a ocupação do cordão de dunas para a
instalação de avenidas a beira-mar bem como o avanço dos calçadões sobre as bermas
arenosas em muitos pontos.
Cabe realçar que a zona costeira oferece ao homem inúmeros serviços ambientais
necessários para seu bem estar e para a funcionalidade urbana, tais como: espaço de lazer,
recursos minerais, beleza cênica, permeabilidade hídrica, proteção contra o ataque do mar,
dentre outros. Daí a importância da sua adequação frente às mudanças climáticas e seus
desdobramentos.
Os inúmeros usos antrópicos, muitas vezes conflitantes e carentes de um melhor
ordenamento, promovem uma gradual depreciação e desestabilização do equilíbrio da
dinâmica natural. A quebra dos processos naturais compromete a funcionabilidade do
ecossistema no que tange a oferta por serviços naturais necessários para a sustentabilidade
ambiental da faixa costeira. Desta forma os impactos humanos provocam a fragilização do
litoral pela perda da capacidade de proteger a orla urbana contra o ataque do mar. Assim a
variabilidade das forças marinhas (ressacas, ventos, maresias) decorrentes das mudanças
climáticas pode potencializar os transtornos que afetam a funcionalidade urbana.
De acordo com o IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), a previsão é da
elevação da temperatura do planeta em 1,1ºC a 6,4ºC durante o século XXI, o que resultará
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em uma elevação do nível do mar entre 18 e 59 cm (IPCC, 2007). A elevação do nível do mar
representa uma maior acessibilidade das ondas e correntes em áreas frágeis do litoral.
Em função da evolução das ameaças climáticas para o século XXI, torna-se importante
a identificação dos principais e mais frequentes eventos climato-oceanográficos que possam
ameaçar a estabilidade da estreita faixa costeira urbana. No caso do Rio de Janeiro observa-se
que as ressacas e as ventanias foram os eventos mais representativos quanto à geração de
impactos que venham afetar a funcionabilidade urbana.
De acordo com Souza (2009) os principais impactos relacionados com a erosão costeira
e conseqüentemente também decorrentes as mudanças climáticas, são:
Redução na largura da praia;
Recuo da linha de costa;
Desaparecimento da zona pós-praia;
Perda de habitats naturais como praias, dunas, manguezais, restingas;
Aumento da freqüência e magnitude de inundações costeiras causadas por ressacas ou
eventos de maré de sizígia muito elevados;
Aumento da intrusão salina no aqüífero costeiro causando salinização das águas antes
potáveis e nas drenagens superficiais da planície costeira;
Perda de propriedades e bens públicos e privados ao longo da linha de costa;
Perda do valor imobiliário de habitações costeiras;
Perda do valor paisagístico da praia;
Perda do potencial turístico da região costeira;
Prejuízos nas atividades sócio-econômicas da região costeira;
Gastos na recuperação e reconstrução das praias e orlas.
O acúmulo de energia em função da absorção e retenção da energia solar realizado pelos
gases do efeito estufa provoca uma variação do perfil de distribuição do calor acumulado na
atmosfera. Tais modificações no perfil atmosférico do Hemisfério Sul refletem-se na variação
do quadro climato-oceanográfico ao longo do litoral brasileiro como foi observado pela
evolução das ressacas ao longo do período de 1991-2011 na orla urbana do município do Rio
de Janeiro.
As ressacas são eventos extremos gerados através da passagem de ciclones
extratropicais sobre o Atlântico Sul. No trabalho de Gan & Rao (1991) foram identificadas as
regiões mais suscetíveis à formação de ciclones: uma nas proximidades do Golfo de São
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Matias e outra sobre o Uruguai. Nos últimos anos observa-se uma migração da influencia dos
ciclones para outras áreas através da extensão da sua rota de progressão para regiões
oceânicas mais próximas do equador.
O ciclone extratropical é um fenômeno meteorológico que induz a produção de
tempestades e ventos. É um sistema de baixa pressão atmosférica que ocorre em latitudes
médias. Contribui para o equilíbrio térmico das regiões equatoriais e das regiões polares.
As variações climáticas interferem em diversos segmentos continentais e oceânicos
(Neves & Muehe, 2008). Como as zonas costeiras são áreas de alta interação, podendo ser
considerados como regiões de contato tríplice entre continente, mar e dinâmicas climáticas
(MMA, 2008), estes necessitam de uma atenção especial para que os danos gerados pelas
mudanças climáticas não superem a capacidade de adaptação desses locais e afetem a sua
resiliência.
O Brasil possui aproximadamente 18% da sua população em regiões costeiras (MMA,
2008). Problemas como maiores riscos de inundação de zonas costeiras baixas, problemas no
consumo de água de bacias hidrográficas, erosão de ilhas barreiras e praias, introdução de
água salgada em corpos d’água não salinos, perdas de zonas úmidas como manguezais,
problemas na captação e escoamento de efluentes urbanos, são alguns dos inúmeros efeitos
colaterais do aumento do nível dos oceanos, justificando uma necessidade de revitalização e
conservação da zona costeira.
Por conta das fragilidades naturais, além daquelas provocadas pela evolução da malha
urbana, somados as mudanças climáticas, tornam a cidade do Rio de Janeiro vulnerável aos
eventos extremos, que tendem a se intensificar com a evolução das mudanças climáticas,
como as ressacas e as tempestades, tornando relevantes sistemas de monitoramento e planos
de adaptação da cidade frente às condições climáticas futuras. É fato que o homem não
percebe as pequenas mudanças que evoluem ano a ano. Com o monitoramento contínuo e
permanente é possível perceber as mudanças de médio termo. Este é um dos objetivos do
presente trabalho.
Objetivo
A segurança e a manutenção de aglomerados urbanos costeiros frente aos novos
cenários climáticos dependem das políticas de longo prazo que levem em consideração
aspectos ambientais, sociais e técnicos.
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O presente trabalho pretende levantar alguns subsídios para a gestão e adaptação da orla
da cidade do Rio de Janeiro frente as novas condições ambientais a partir do estudo
retrospectivo da ocorrência de ressacas e seus conseqüentes impactos no cotidiano urbano ao
longo dos últimos 21 anos (1991 – 2011).
Área de Estudo
A área de estudo localiza-se desde a Praia do Flamengo, dentro da Baía de Guanabara
(22°55’24’’ S e 43°09’59’’O) até a Praia de Grumari, já na região oceânica (23°03’06’’S e
43°31’55’’O), como apresentado na figura 1.
Abrange uma faixa de areia de aproximadamente 34 km de extensão, segundo Pontes
(2010). Possui influencia da Baía de Sepetiba a oeste e da Baía de Guanabara à leste. A região
é banhada pelo Oceano Atlântico.
As praias localizadas dentro da Baía de Guanabara são classificadas como semi-
expostas, pois as ondas nessa região são de baixa energia devido à proteção exercida pela
entrada da baía a ação das ondas. Porém durante eventos de ressacas com ondulação sul e
sudeste, ondas de até 10 metros de altura são observadas dentro da baía, como as noticiadas
no início de abril de 2010. Já as praias da região oceânica da cidade são classificadas como
praias expostas, por não possuir proteção a ação de ondas (Pontes, 2010).
Em termos gerais, trata-se de praias de areias médias, classificadas modalmente como
intermediárias e variando entre terraço de baixa-mar e banco e calha longitudinal (Bulhões,
2006). As ondulações que atingem o litoral carioca possuem direção predominantemente de
sudoeste, sul e sudeste devido a orientação da linha de costa ser aproximadamente leste-oeste.
A altura das ondas varia em torno de 1,5 metros e possuem períodos de 7 a 9 segundos, de
acordo com Bulhões (2006). Em situações de eventos extremos as ondas e marulhos podem
atingir alturas da ordem de 15 metros em mar aberto e períodos de 17 segundos (Neves &
Muehe, 2008). Porém, por conta da batimetria da região, as ondas sofrem alterações em suas
características e alcançam entre 2 e 3 metros na costa.
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Figura 1: Área de estudo. Fonte: Google Earth, 01/09/2010.
Metodologia
A estratégia metodológica adotada baseou-se na percepção cotidiana dos eventos
climáticos e seus eventuais transtornos na funcionabilidade urbana da cidade do Rio de
Janeiro.
Na primeira etapa foi realizado um levantamento no banco de dados desenvolvido pela
Faculdade de Oceanografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ através de
registros da mídia impressa desde 1991. A coleta de dados se baseou na plataforma de
informações oriundas do banco de reportagens veiculadas pelos principais veículos de mídia
escrita do Rio de Janeiro (O Globo e Jornal do Brasil) entre os anos de 1991 e 2011.
Uma vez identificadas as datas dos eventos climato-oceanográficos dignos de nota e
seus conseqüentes transtornos (impactos) na funcionabilidade urbana passou-se para a etapa
de calibração destes registros.
Na etapa de calibração realizou-se uma confirmação e/ou detalhamento dos impactos
através do Banco Nacional de Dados Oceanográficos - BNDO da Marinha do Brasil além das
ocorrências registradas e armazenadas na sede do Salva-Mar do Corpo de Bombeiros na praia
de Botafogo, RJ. A calibração se baseia na confirmação do evento e eventuais
desdobramentos em outra fonte de registro além da mídia. Inspeções amostrais de campo
também foram realizadas, principalmente, durante eventos extremos de ressacas para
averiguar e confirmar os impactos na funcionabilidade urbana. Por fim foi realizada uma
busca final na internet visando a aquisição de mais dados referentes aos impactos (anexo 1)
das ressacas.
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As análises estatísticas compreenderam a avaliação do número de ressacas, dias de
ressaca e de impactos de ressacas ao longo do período supracitado em escala anual e trienal.
Para isso os dados coletados foram armazenados em planilha digital (anexo 2) e a partir deles
foram realizadas analises por meio de gráficos e da análise da correlação linear. Também se
realizaram análises de variância e testes do Qui-quadrado para registrar-se a significância dos
padrões registrados. Para a preparação do banco de dados, gráficos e análise da correlação
linear foi utilizado o software Microsoft-Excell, para as análises de variância foi utilizado o
software Statistica 5.1.
Resultados
Considerando a evolução anual dos eventos acumulados (verão+inverno) de ressacas e
dias de ressaca, é observada a tendência ao incremento continuo ao longo dos anos de 1991 a
2011, com uma forte correlação entre o tempo decorrido versus número de ressacas e dias de
ressaca. As projeções para o período de 2012 a 2020 indicam que esse padrão se manteria.
Surpreendentemente o número de impactos, embora apresente um padrão crescente, além de
valores elevados nos últimos anos, por apresentar valor elevado no ano de 1999, ocasionou
uma projeção “otimista” para os anos seguintes, com uma correlação média realçando a
incerteza desse padrão.
Para o número de ressacas e dias de ressaca e impactos das ressacas no verão, é
observada a tendência ao incremento continuo ao longo dos anos de 1991 a 2011, com uma
correlação média entre o tempo decorrido versus número de ressacas e dias de ressaca e fraca
para os impactos das ressacas. As projeções para o período de 2012 a 2020 indicam que esse
padrão se manteria. Quanto ao número absoluto de impactos no verão, a tendência é de
aumentar significativamente nos próximos anos, aproximando-se do número de impactos
registrados para o inverno (saturação).
Para o número de ressacas e dias de ressaca no inverno, é observada a tendência ao
incremento continuo ao longo dos anos de 1991 a 2011, com uma correlação média entre o
tempo decorrido versus número de ressacas e dias de ressaca, as projeções para o período de
2012 a 2020 indicam que esse padrão se manteria. Mais uma vez observou-se o mesmo
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padrão registrado para os valores acumulados em relação aos impactos das ressacas,
indicando que no inverno existe a tendência de manter ou reduzir o número de impactos não
obstante o maior número de ressacas e dias de ressaca (Figura 2). Tal perfil mostra a saturação
do número de impactos possíveis no inverno, afetando a resiliência das praias.
Considerando a evolução trienal dos eventos acumulado (verão+inverno) de ressacas e
dias de ressaca, é observada a tendência ao incremento continuo ao longo dos triênios 1991-
1993 a 2009-2011, com uma forte correlação entre o tempo decorrido versus número de
ressacas e dias de ressaca, as projeções para o período de 2012-2014 a 2018-2020 indicam
que esse padrão se manteria. Na escala trienal também se observou que o número de
impactos, embora apresente um padrão crescente, além de valores elevados nos últimos
triênios, por apresentar valor elevado no triênio de 1997-1999, ocasionou uma projeção
“otimista” de decréscimo para os triênios seguintes.
Para o número de ressacas, dias de ressaca e impactos das ressacas no verão, é
observada a tendência ao incremento continuo ao longo dos anos dos triênios 1991-1993 a
2009-2011, com uma correlação média entre o tempo decorrido versus número de ressacas e
impactos, embora a correlação entre tempo decorrido e dias de ressaca tenha se apresentado
fraca. As projeções para os próximos triênios indicam que esse padrão se manteria.
Para o número de ressacas e dias de ressaca no inverno, é observada a tendência ao
incremento continuo ao longo dos triênios 1991-1993 a 2009-2011, com uma correlação
média entre o tempo decorrido versus número de ressacas e dias de ressaca, as projeções para
o período de 2012 a 2020 indicam que esse padrão se manteria. Mais uma vez observou-se o
mesmo padrão registrado na escala anual para os valores acumulados em relação aos impactos
das ressacas, indicando mais uma vez que no inverno existe a tendência de manter ou reduzir
o número de impactos reduzidos não obstante o maior número de ressacas e dias de ressaca
(Figura 3).
Cabe realçar que a correlação para a análise do agrupamento trienal é significamente
maior para o ajuste da curva de evolução dos eventos (r > 0,84) do que o agrupamento anual
dos eventos (r < 0,79).
Para a média trienal (verão+inverno) de ressacas, é observada a tendência ao
incremento continuo ao longo dos triênios 1991-1993 a 2009-2011, com uma alta
significância para o padrão observado (p = 0,56 %). Já para a média de dias de ressaca e de
impactos de ressacas pelo número de ressacas do triênio, não foi observado um padrão
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sugestivo de incremento, assim como uma a ausência de significância para o padrão
aparentemente randômico observado (Figura 4).
Ao longo dos triênios 1991-1993 a 2009-2011 observa-se maior número de ressacas,
dias de ressaca e de impactos de ressacas no inverno do que no verão. Embora o padrão de
incremento para as variáveis supracitadas ao longo do período analisado ocorra para ambas as
estações, com incrementos significativos (p < 1 %) para os valores acumulados
(verão+inverno) dos números de ressacas, dias de ressaca e de impactos de ressacas ao longo
do período analisado, ou seja, ocorrem incrementos significativos à cada triênio sem
alterações significantes na proporção entre estações do ano (Figura 5).
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Figura 2: Frequência de ressacas, dias de ressaca e de impactos acumulados (verão + inverno),
no verão e no inverno nos anos de 1991 à 2011, com linhas de tendência e coeficientes de
correlação até o ano de 2020.
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Figura 3: Frequência de ressacas, dias de ressaca e de impactos acumulados (verão + inverno),
no verão e no inverno dos triênios de 1991-1993 a 2009-2012, com linhas de tendência e
coeficientes de correlação até o triênio de 2018-2020.
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Figura 4: Médias anuais de ressacas (média ± desvio padrão), médias dos dias de ressaca e de
impactos por ressaca nos triênios de 1991 a 2011 (resultados de análise de variância no canto
superior esquerdo de cada gráfico).
Figura 5: Número de ressacas, de dias de ressaca e de impactos nos verões e invernos dos
qüinqüênios de 1991 a 2011 (resultados dos testes de Qui-quadrado no canto superior
esquerdo de cada gráfico).
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Discussão dos Resultados
A falta de acompanhamento ou programa de monitoramento dos efeitos e evolução das
mudanças climáticas não permite medidas antecipatórias, como a formulação de políticas
preventivas de adaptação (Tol et. al., 2008).
Os resultados avaliados trienalmente apresentaram um perfil evolutivo mais
consistente e padronizado. Nesta situação percebe-se um aumento evidente do número
acumulado (verão+inverno) de ressacas e dias de ressacas, ao longo das escalas de tempo
utilizadas apresenta incremento contínuo, com uma forte correlação entre tempo decorrido
versus número de ressacas. As projeções para o futuro indicam que esse padrão do número de
ressacas tanto de verão como de inverno se manterá.
O crescente número de ressacas e de dias de ressaca ao longo do período está
correlacionado fortemente ao tempo decorrido.
Por outro lado o número de impactos tende a se estabelecer com o tempo, indicando
que a intensidade ou a duração das ressacas está aumentando promovendo-se a totalidade dos
impactos possíveis e decorrentes do evento climato-oceanográfico. A avaliação dos padrões
para o número de impactos não apresenta resultados consistentes que indiquem seu
incremento para o futuro, isso pode estar relacionado à maximização dos impactos pela mídia
no triênio de 1997-1999 ou a tomada de providências pelos órgãos competentes na prevenção
de impactos.
As adaptações dos sistemas naturais são sempre reativas e nos sistemas humanos
(meio urbano) as medidas de adaptação podem ser reativas e/ou antecipatórias (Tol et. al.,
2008). No caso do Rio de Janeiro observa-se uma postura muito mais reativa do que
preventiva (antecipatória).
Ocorrem incrementos significativos no número de ressacas, dias de ressaca e impactos
de ressacas a cada triênio de forma proporcional entre verão e inverno.
Observa-se que o crescimento do número de impactos tende a ser mais intenso no
verão do que em relação ao inverno. Contudo em números absolutos os impactos de inverno
continuam maiores do que no verão. Isso indica uma tendência de intensificação e um
aumento dos eventos extremos mesmo para o verão que, teoricamente, seria uma estação de
clima mais ameno e suave.
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Conclusões e Recomendações
Os dados apresentados demonstram claramente a crescente escala dos eventos
extremos, como as ressacas significativas, nos últimos 21 anos (1991-2011) no litoral do
município do Rio de Janeiro. Tal constatação leva à preocupação se as praias urbanas têm a
capacidade de proteger a cidade do ataque do mar como barreira natural.
As praias têm como os principais tipos de uso o recreativo e o de proteção costeira
(Frampton, 2010). Neste caso, existe a necessidade de estabelecer larguras mínimas de praias
para promover uma resistência maior contra a ação erosiva das ondas e evitar sua
aproximação aos equipamentos urbanos (calçadão, posto salva-mar, quiosque, avenidas beira-
mar). Dentre algumas medidas preventivas (antecipatórias) a engorda artificial das praias e a
recomposição da sua vegetação de restinga são recomendadas. Praias como a da Macumba e a
do Arpoador no Rio de Janeiro são alguns exemplos do litoral carioca que ficaram espremidos
entre a ocupação antrópica e o avanço do mar. Neste sentido, percebe-se a importância da
manutenção das praias como elemento de adaptação do litoral frente às mudanças climáticas.
Um dos principais parâmetros levados em consideração para a praia como elemento de
proteção é a sua largura (Frampton, 2010). No caso das praias urbanas, como é o litoral do
Rio de Janeiro, torna-se fundamental a formulação de políticas públicas de uso do solo, além
de intervenções de longo prazo na manutenção destes sistemas costeiros.
O aumento da resiliência pela redução das agressões não climáticas pode ser uma
importante opção para reduzir a vulnerabilidade costeira frente as mudanças climáticas (Tol
et. al., 2008). A redução dos impactos antrópicos e a recuperação das praias, reconstituindo
suas características naturais de cobertura vegetal, por exemplo, são algumas ações preventivas
que auxiliam a adaptação do litoral contra agressões climáticas nas cidades costeiras.
Criar normas restritivas de ocupação e estabelecer critérios para os limites da linha
non aedificandi no litoral, dentro de padrões da boa técnica científica para regiões ainda não
densamente ocupadas, evitariam medidas reativas custosas e quase sempre ineficazes. No
caso de áreas fragilizadas pela ocupação, privilegiar ações de renaturalização como engorda
artificial da praia e a recomposição da cobertura vegetal. A colocação de estruturas ciclópicas
de proteção somente em último caso e mesmo assim compartilhado com mecanismos de
renaturalização sempre que possível.
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Figura 6: Erosão da Praia de Ipanema, com destruição do calçadão no posto 8, Ipanema, Rio
de Janeiro. Fonte: Jornal O Globo (19/04/1999)
Referências Bibliográficas
Bulhões, E.M.R. Condições morfodinâmicas associadas a riscos a banhistas. Em
busca de uma contribuição à segurança nas praias oceânicas da cidade do Rio de
Janeiro, RJ. Laboratório de Geografia Marinha, PPGG/UFRJ. Rio de Janeiro – RJ.
Brasil, 2006.
Carter, R.W.G. Coastal Environments: An Introduction to the Physical, Ecological
and Cultural Systems of Coastlines. Fourth printing. Academic Press, London, 1993.
Frampton, A.P.R.. A Review of Amenity Beach Management. Journal of Coastal
Research, vol.26, No.6, 2010. p.1112-1122.
Gan, M.A. & Rao, V.B. Surface Cyclogenesis Over South America. Monthly Weather
Review. Instituto de Pesquisas Espaciais. São José dos Campos – SP. Brasil, 1991.
IPCC.Climate Change 2007: the physical science basis. Intergovernmental Panel on
Climate Change – IPCC Cambrigde (United Kingdon), 2007.
Ministério do Meio Ambiente. Macrodiagnóstico da Zona Costeira e Marinha do
Brasil – Brasília, DF. Brasil, 2008.
Neves, C.F & Muehe, D., 2008. Vulnerabilidade, Impactos e Adaptação as Mudanças
do Clima; A Zona Costeira. Parcerias Estratégicas, Brasília – DF. Brasil. 27, 217 –
295.
Pontes, N.S., 2010. Análise Qualitativa das Consequências das Mudanças Climáticas
Globais no Litoral do Município do Rio de Janeiro. Monografia (Bacharel em
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Oceanografia) – Faculdade de Oceanografia. Rio de Janeiro: Universidade do Estado
do Rio de Janeiro, 2010.
Souza, C.R.G. A erosão costeira e os desafios da gestão costeira no Brasil. REVISTA
DE GESTÃO COSTEIRA INTEGRADA. São Paulo, SP, Brasil, 2009.
Souza, C.R.G.; Souza Filho, P.W.M.; Esteves, S.L.; Vital, H.; Dillenburg, S.R.;
Patchineelam, S.M.; Addad, J.E., 2005. Praias Arenosas e Erosão Costeira. In: Souza,
C.R.G.; Suguio, K.; Oliveira, A.M.S.; Oliveira, P.E. (Eds), “Quaternário do Brasil”,
p.130-152, Holos Editora, Ribeirão Preto, SP, Brasil.
Tol, R.S.J.; Klein, R.J.T.; Nicholls, R.J.. Towards Successful Adaptation to Sea-Level
Rise along Europe’s Coasts. Journal of Coastal Research, Vol.24, No.2, 2008. p 432-
442.
Anexo 1
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Legenda:
RA – Risco a navegação
RB – Erosão
RC – Risco a banhistas
RD – Areia e Água em vias públicas
RE – Colapso de Estruturas
RG – Resíduos nas praias
RH – Interrupção do Trânsito
RI – Enchentes
RJ – Mortandade de Peixes
RK - Mau Cheiro
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Anexo 2
Quadro1: Banco de dados original utilizado nesse estudo.
Ano Período Estação Impactos
Fontes RA RB RC RD RE RF RG RH RI RJ RK
1991 1/3/1991 V x x O Globo
1993 31/3/1993 V x O Globo
1993 29/5/1993 I x x O Globo
1993 6-12/06/93 I x x O Globo
1994 24-25/04/94 V x O Globo
1994 25/6-2/7/1994 I x O Globo
1995 7/6/1995 I x O Globo
1995 13-17/9/1995 I x x O Globo
1995 21/9/1995 I x x x O Globo
1996 27/6/1996 I x O Globo
1996 22/7/1996 I x x O Globo
1997 6/4/1997 V x O Globo e CBMRJ
1997 27/5-1/6/1997 I x x x x x O Globo e JB
1997 8/6/1997 I x x x O Globo e JB
1997 20-24/6/1997 I x O Globo
1997 04-11/10/1997 I x x O Globo e JB
1997 20/10/1997 I x O Globo
1998 26-29/03/1998 V x x x x O Globo e JB
1998 19-21/09/1998 I x O Globo e O Dia
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