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Para Organizar e Estruturar Um Trabalho, No Curso de Graduação Sobre Tradução, Zilly, 2015
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Como organizar e estruturar um trabalho,
por exemplo a análise comparativa de um texto e sua tradução?
Quais as partes do seu trabalho, e os aspectos a serem contemplados?
Algumas sugestões de Berthold Zilly, professor visitante, UFSC 2015
– Página de rosto, nome do autor/ da autora, título do trabalho, instituição, cidade, ano;
eventualmente, curso, professor, semestre, data da entrega;
– eventualmente, em caso de um trabalho mais longo, dissertação etc.: fazer um abstract/
resumo do trabalho/artigo/estudo/ensaio; o abstract pode ser feito na língua do
trabalho e além disso em inglês, ou, dependendo do eventual público, além disso em
outra língua;
– página com indice, relação dos diversos itens, com n° da pagina de cada item; para o leitor
ver de um lance a organização e estrutura da sua pesquisa e do seu artigo, ensaio,
estudo, os diversos passos da pesquisa;
– introdução; qual é texto, o seu objeto de estudos? Por que o escolheu? Qual a importância
do assunto? A que gênero literário pertence? Qual a situação das pesquisas com
respeito ao texto e sua tradução? Em que medida sao satisfatórias ou não? qual a
atualidade, ou nao, do texto traduzido e da temática toda? Qual o interesse
cognitivo? Qual o objetivo da sua pesquisa?Provavelmente: explicacao, avaliacao,
crítica de uma traducao existente, ou explicação e justificativa de uma tradução, meta
e estratégia da tradução que está sendo feita, talvez ideias para solucoes alternativas,
autocrítica, eventualmente recepção da tradução. (Alguns desses itens tambem podem
ser tratados ou retomados mais tarde). Recomendação geral: deixar espaço 1,5 entre
cada linha;
– documentar, em algum lugar, talvez depois ou antes da introdução, ou no final do seu
trabalho, os objetos da análise: o texto-fonte e sua tradução ou traduções,
organizados em forma de sinopse, preferencialmente colocando o original e a sua
tradução lado a lado (também se pode colocar o texto-fonte e sua tradução no início do
trabalho todo, ou seja, antes da introdução); sempre indicar la provenciência do texto,
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a sua fonte, onde foi publicado, autor, título, editora, ano, cidade etc., coordenador do
livro, quando há algum, eventuais paratextos e ilustrações; textos impressos em geral
merecem maisconfiança do que textos na internet, pois são mais cuidadosas; usar,
quando possível, edições críticas, e edições comentadas; Recomendação geral: ler
os textos analisados a alta voz; ler o trabalho que você estáescrevendo a alta voz; isto
ajuda adiscernir qualidades e possíveis não-qualidades ou defeitos nos textos;
– um do primeiros aspectos a ser contemplado deve ser (quando a contextualização não feita
ainda na introdução) a contextualizaão do texto-fonte e do texto-alvo, seja este já um
texto publicado ou um trabalho em elaboração: dados biograficos do autor e do
tradutor, origem social, cultural, geográfica;relação deles com um grupo, uma
instituição, uma corrente ideológica ou literária; gênese do texto e da tradução,
primeiras publicações, situação histórica, social, politica, cultural; em que série
literaria, cultural, ideológica se inserem? histórico das publicacoes, a recepcao, a
fortuna crítica; qual a posicao do poema na obra completa do autor? Ideias e intenções
do autor sobre o seu texto? Relacoes intertextuais, diálogos com outras obras,
influências.
– Naturalmente, o número e a ordem dos itens e aspectos a serem examinados podem
variar, pois não há uma estrutura ou um método válido para todos os casos, cada caso
é um caso;
– É útil lembrar que, como mostrou Roman Jakobson, cada obra de arte ou literária inclusive
as traduções, são elementos, partes integrantes de processos de comunição, às
vezesatravés de grandes distâncias geográficas, sociais, históricas, culturais e
linguísticas; então é bom considerar os elementos, fatores, funções, condições e fases
desses processos de comunicação;
– descrição do original, composição do texto-fonte, gênero literário, seja poesia, ensaio, prosa
de ficção, teatro, tratado científico, texto técnico, propaganda comercial, diálogo de
filme etc.; temática; depois, ou talvez novo item: microánalise por partes, close
reading, examinando a textura fina do texto;depois a gente tenta sistematizar essas
primeiras impressoes e observações, aprofundamento de certos itens, categorização,
análise, interpretação; relação entre micro- e macroanálise; indução e dedução, ou
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análise indutiva combinada com análise dedutiva; as divisões do texto em capítulos,
parágrafos, etc. devem ser mantidas na tradução; ou no caso de uma não-divisao do
texto-fonte, podem ser introduzidas divisões, parágrafos, entretítulos, pelo tradutor?
– Regra que vale para todas as partes do seu trabalho: quando você usa formulações ou ideias
de outros estudiosos, é preciso assinalar isso, indicando a fonte, em geral em nota
de rodapé; dentro do texto basta indicar nome do autor, ano da publicação do livro
ou artigo, número da página; os dados bibliográficos completos, o título todo,
editora etc. fica indicado na bibliografia, ou seja lista de trabalhos usados, no final do
trabalho);
– análise mais ou menos sistemática do estilo, da escrita, figuras estilisticas, oxímoros da sua
escrita, o vocabulário, estrutura do léxico, categorias lexicais que predominam,
campos semânticos, sintaxe: hipotaxe ou parataxe, tempos verbais? metáforas,
metonímias, antonomásias, elementos dêiticos; a dimensão sonora: rimas,
assonâncias, aliterações; há palavras-chave, ou imagens, ideias recorrentes, que voltam
em pontos importantes do texto, estruturando-o como espécie de balizas, sinais de
orientação, ou seja isotopias (elementos iguais recorrentes), como por exemplo
“nonada” em Grande Sertão: Veredas. E questão que se coloca ao tradutor é de decidir
se deve ou pode manter essas isotopias no texto de chegada;
– o registro: elevado, popular, coloquial, acadêmico, profissional, gíria etc; esse registro
corresponde a que classe ou grupo social, o a que tipo ou situação de comunicação da
realidade extra-literária? Qual o tom: humorístico, irônico, sarcástico, saudoso, triste,
polêmico, arcaico; variedade regional ou nacional; quando há riso e comicidade: qual
o ponto de vista a partir do qual se pode rir?
– a qualidade diferencial; em que medida o texto (e a sua tradução) mostram um desvio, uma
distância com respeito à linguagem-padrão, ou ao estilo de outros autores e textos
comparáveis; a questão da transgressão do horizonte de expectativa;
– a estrutura narrativa: quem é o narrador, o eu lírico; há vários narradores? Há discurso
direto, discurso indireto, discurso estilo indireto livre, monólogo interior, citações? Há
relato, descrição cênica, monólogo, diálogo, cartas, diário? Citações de outros autores,
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ou do mundo extra-literário? De que ponto de vista é narrado ou descrito a realidade,
seja ficcional, seja real? Apelo ao leitor? Retórica? Lirismo, dramaticidade,
descrição, pictoricidade, narração filmica?
– as pressuposições: conhecimentos sobre o mundo extraliterário, a realidade geográfica,
política, social, costumes, convenções literárias, cultura, filosofia, teologia etc. que não
estão no texto, mas que são necessários para a sua compreensão; aí o tradutor tem que
ver em que medida ele precisa ou pode transmitir esses conhecimentos para os leitores
do texto-alvo, talvez através de paratextos. Análise de paratextos, quando existem;
– o movimento das ideias, dos temas, dos sentimentos, desenenvolvimentos, variações,
repetições, oposições; eventuais mensagens; emocionalidade, objetividade?
possibilidade de transmitir essas mensagens na tradução, em outro contexto
social,cultural, mental;
– no texto-alvo: em que medida as qualidades centrais do texto de partida são ou podem ser
reconfiguradas? Como não é possível reconfigurar todas as propriedades do
original e todos os seus efeitos sobre o leitor, é preciso estabelecer prioridades: quais
são as propriedades que com aquele público, aquela editora, aquela intenção do
próprio texto, podem ou devem ser reconfiguradas prioritariamente? Aspectos
semânticos, sintáticos, sonoros, metafóricos? Qual a estratégia de tradução? Quais os
elementos teóricos ou metodológicos dos estudos da tradução que podem ser
aproveitados ou que foram usados? Qual a função da (futura) tradução, qual o público-
alvo, qual a editora? Convêm estratégias mais bem estranhadoras ou mais bem
naturalizadoras, estrangeirizadoras ou domesticadoras?
– no caso de uma retradução: em que medida esta aproveitou ou deve aproveitar traduções
anteriores? Haveria então um triângulo dialogico: texto-fonte – primeira tradução –
segunda/terceira etc. tradução. Por que uma retradução é necessária, ou desejável?
Quais as suas metas e estratégias?
– conclusão, ou considerações finais; questões e perspectivas para uma possível continuação
da análise;
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– bibliografia, ou indicação das fontes na internet, etc. Nomes completos de autores, também
primeiros nomes, nomes de tradutores, quando se trata de obras traduzidas; dar
preferências a edições e textos impressos, geralmente fontes impressas são mais
fidedignas, mais corretas; no caso da internet: indicar data de acesso; para o texto
analisado e traduzido, deve-se procurar as melhores edições, quando há: uma edição
crítica, e também uma edição comentada; indicar também dicionários ou
enciclopédias; títulos de livros ou revistas geralmente grifados. Indicar a editora.
– eventualmente pode ser útil ou necessário incluir ilustrações no trabalho, principalmente
quando a diagramação faz parte da forma poética de um texto, p.e. na poesia concreta,
ou quando é um ideograma; ou quando um texto se refere explicitamente a um quadro;
pode ser intereressante também incluir retrato de um autor, etc. Aí também: indicar a
fonte.
– naturalmente, tudo isso são sugestões apenas, que no caso concreto, e principalmente no
caso de um trabalho mais breve, quase nunca podem ser aplicadas em sua totalidade,
porque cada texto-fonte e cada tradução apresenta aspectos específicos e diversos.
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Suas próprias observações:
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