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SUMÁRIO · 1.3. QUADRO COMPARATIVO DOS MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO DA LEI ... Como exemplo, podemos tomar a emenda constitucional 45/2004, em relação às

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SUMÁRIO

1. PARTE GERAL – NORMAS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL ......................................................... 31.1. NORMA JURÍDICA ...................................................................................................................... 31.2. FONTES FORMAIS DA NORMA PROCESSUAL CIVIL ................................................................... 31.3. QUADRO COMPARATIVO DOS MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO DA LEI .................................... 41.4. LEI PROCESSUAL CIVIL NO ESPAÇO .......................................................................................... 41.5. A LEI PROCESSUAL NOVA .......................................................................................................... 41.5.1. A LEI NOVA QUE ALTERA A COMPETÊNCIA ............................................................................. 52. AS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL ..................................................................... 52.1. JUSTIÇA MULTIPORTAS ............................................................................................................. 63. PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DO JULGAMENTO DE MÉRITO ............................................................. 94. PRINCÍPIOS DA BOA-FÉ E DA COOPERAÇÃO .............................................................................. 105.PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DA DECISÃO SURPRESA ...................................................................... 126.DA ORDEM CRONOLÓGICA DE JULGAMENTO ............................................................................ 127. NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL ............................................................................................ 148. DEVIDO PROCESSO LEGAL ......................................................................................................... 178.1 O DEVIDO PROCESSO LEGAL NAS RELAÇÕES PRIVADAS ........................................................ 199. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ...................................................................... 2010.PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO ............................................................................................... 2110.1. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E O ARTIGO 332 DO CPC .................................................. 2311. PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA .................................................................................................. 2312. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE .................................................................................................... 2413. PRINCÍPIO DA IGUALDADE PROCESSUAL ................................................................................ 2514.PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA ......................................................................................................... 2515.PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL ................................................................................................... 26

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1. PARTE GERAL – NORMAS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL. 1.1. NORMA JURÍDICA.

Irá prevalecer no ordenamento jurídico o Princípio da Supremacia da Lei, sendo a norma escrita emanada de uma autoridade competente. Diante disso, a norma poderá ser divi-dida em norma cogente e norma não cogente.

A norma cogente será de ordem pública, e não pode ser derrogada pela vontade das partes. A finalidade é resguardar o interesse coletivo.

A norma não cogente é também chamada de dispositiva, pode ser derrogada pois não tem caráter absoluto. Sua imperatividade será relativa, e irá se dividir em duas: A permis-siva, que autoriza o interessado a derrogá-la e a Supletiva, que se aplica na falta de disposição em contrários das partes.

A norma processual trata das relações entre as partes do processo. A relação proces-sual é relativa aos poderes do juiz, ônus e direito das partes, e o procedimento é a norma que regula, por exemplo, a sucessão dos atos na audiência.

O CPC amplia, em relação ao código anterior, as hipóteses de derrogação pelas par-tes das normas processuais, permitindo, que elas convencionem, com a fiscalização do Juiz, as alterações nos procedimentos, conforme disciplinado no artigo 190 do CPC/2015, que será estudado com mais detalhes posteriormente.

1.2. FONTES FORMAIS DA NORMA PROCESSUAL CIVIL.

É normal a distinção entre fontes formais e não formais do direito. As fontes formais são as que expressão o direito positivo, as formas pelas quais ele se manifesta.

A fonte formal é a lei (fonte formal primária). A Analogia, os Costumes e os Princípios Gerais do Direito, são fontes formais acessórias, assim como, as súmulas do STF, com efeito vinculante, bem como as decisões definitivas de mérito, nas ações diretas de inconstitucionali-dade e declaratórias de constitucionalidade.

Será também fonte formal acessória as hipóteses de precedentes vinculantes enu-meradas no artigo 927, incisos III, IV e V, do CPC, quais sejam: Os acórdãos em incidente de as-sunção de competência ou de resolução de demanda repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos; os enunciados das súmulas do STF em matéria constitu-cional e do STJ em matéria infraconstitucional; e a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.

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A doutrina e os precedentes jurisprudenciais não vinculantes são fontes não formais.

1.3. QUADRO COMPARATIVO DOS MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO DA LEI.

Vejamos um quadro indicativo dos métodos de interpretação da lei, onde, por meio da hermenêutica jurídica é observado os métodos de interpretação em relação as leis proces-suais civis:

Métodos de Interpretação.

Fontes Meios Resultados

Autêntica: Formulada pelo legislador.

Gramatical: Texto lite-ral da lei.

Extensiva: Dá à lei aplicação de maior amplitude.

Doutrinária: Formula-da pelos estudiosos.

Sistemática: A Lei em sua relação com o or-denamento jurídico.

Restritiva: Dá à Lei aplicação de menor amplitude.

Jurisprudencial: Resul-tado de decisões judi-ciais.

Teleológica: A finalida-de a ser alcançada pela Lei.

Declarativa: Dá à Lei interpretação que coincide com o seu texto.

X Histórica: O processo legislativo e histórico que antecedeu a lei.

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1.4. LEI PROCESSUAL CIVIL NO ESPAÇO.

As normas de processo civil têm validade e eficácia, em caráter exclusivo, em todo o território nacional, conforme estabelece o artigo 16 do CPC. Diante disso, todos os processos que tramitam no Brasil devem respeitar o CPC, ressalvados os casos de disposições específicas previstas em tratado, convenções ou acordos internacionais.

Quanto aos processos que correm e as sentenças que são proferidas no estrangeiro, a regra será a da ineficácia em território nacional, salvo se for homologada pelo STJ.

OBS.: A sentença estrangeira de divórcio consensual produz efeitos no Brasil, inde-pendentemente de homologação pelo Superior Tribunal de Justiça (artigo 961, §5º, CPC/15).

1.5. A LEI PROCESSUAL NOVA.

O artigo 14 do CPC estabelece que: “A norma processual não retroagirá e será apli-cável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada. ”

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Portanto, a regra é a incidência imediata da lei, que atingirá os processos em curso. Dessa forma, os litigantes não terão direito adquirido sobre o processo iniciado na vigência da lei antiga, sendo aplicado a lei nova, conforme a regra do “tempus regis actum”.

Nesse contexto, a lei processual atinge os processos em andamento, tendo em vista o Princípio do Isolamento dos atos processuais: A lei nova preserva os já realizados e aplica-se àqueles que estão por se realizar. A lei nova não retroagirá para prejudicar os direitos proces-suais adquiridos, salvo se for para beneficiar.

1.5.1. A LEI NOVA QUE ALTERA A COMPETÊNCIA.

No caso de nova lei que modifique a competência, como deverá se proceder?

Ora, o artigo 43 do CPC elucida que a competência é apurada na data do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevante as alterações de fato ou de direito superve-nientes. Instituto chamado de Perpetuatio Juisdictionis.

Sob essa ótica, a lei processual nova, que altera competência, não se aplica aos pro-cessos em andamento. Contudo, existe algumas exceções no rol do artigo 43, quais sejam: Quando suprimir o órgão do judiciário ou alterar a competência absoluta.

Como exemplo, podemos tomar a emenda constitucional 45/2004, em relação às ações de indenização fundada em acidente de trabalho, que antes tramitavam em justiça co-mum. O novo regramento alterou a competência da Justiça comum, atribuindo a competência para a Justiça do Trabalho. Então, para afastar as dúvidas, o STF editou a súmula vinculante 22:

Súmula Vinculante 22: A Justiça do Trabalho é competente para proces-sar e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais de-correntes de acidente de trabalho propostas por empregado contra em-pregador, inclusive aquelas que ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da promulgação da Emenda Constitucional nº 45/04.

2. AS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL.

O CPC/15 estabelece, entre seus artigos 1 e 12, as normas fundamentais do processo civil.

A norma será fundamental por estruturar o modelo do processo civil brasileiro, e en-tão, servirá de norte para a compreensão de todas as demais normas jurídicas. Em complemen-to as normas processuais poderão ser classificadas ora como regras, ora como princípios.

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Nesse contexto, uma parte das normas processuais decorrerão da Constituição Fede-ral, sendo então chamada de Direito Processual Fundamental Constitucional.

Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado con-forme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constitui-ção da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código.

Diante dessa nova análise do processo civil constitucional, irão surgir princípios pro-cessuais seguindo essa linha de raciocínio.

COMO ESSE ASSUNTO CAIU EM PROVA.

A banca CESPE na prova de concurso realizada no ano de 2017, para analista de Gestão do TCE-PE, considerou CORRETA a seguinte assertiva: “Há relação de instrumentalidade entre o direito processual e o direito material, o qual diz respeito apenas às relações jurídicas em que o cumprimento da norma se dá de forma espontânea, seja em razão da lei ou por força do contrato. ”Portanto, existirá relação entre o direito material, que disciplina o direito de cada um na sociedade, e o direito processual, que regulamenta o instrumen-to. Quando o direito material for desrespeitado, a pessoa defenderá seu direi-to conforme as normas do direito processual.

2.1. JUSTIÇA MULTIPORTAS.

O CPC/15 consagra a chamada JUSTIÇA MULTIPORTAS, valendo-se de várias técnicas para a solução consensual de conflitos. Entre eles a negociação processual, a mediação, a con-ciliação e a arbitragem.

O código aposta, em especial, na conciliação e mediação.

Art. 3 (...) 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.

Sobre esses institutos, vejamos as principais diferenças:

CONCILIAÇÃO: é utilizada normalmente quando as partes não possuem vínculo anterior. O objetivo é a realização de um acordo através da sugestão ou proposta do conciliador.

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MEDIAÇÃO: é utilizada normalmente quando as partes possuem um vínculo ante-rior, como por exemplo, em ações de família. O objetivo é buscar o restabelecimento da co-municação entre as partes, auxiliando-as a chegar em um acordo. O mediador não propõe o acordo, mas estimula ou cria o ambiente propício para que as partes cheguem em uma solução.

O artigo 334 do CPC prevê que a realização da audiência de conciliação ou de media-ção antes da contestação é obrigatória.

Tal audiência não será realizada, todavia, se ambas as partes manifestaram, expres-samente, desinteresse na composição consensual ou quando não se admitir a autocomposição.

Art. 334.  Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de ante-cedência.(...)§ 4º A audiência não será realizada:I - se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual;II - quando não se admitir a autocomposição.

ATENÇÃO.

Não basta que uma das partes manifeste o desinteresse. É necessário que am-bas o façam.

Em se tratando de litisconsórcio, o legislador estabeleceu que o desinteresse na rea-lização da audiência deve ser manifestado por todos os litisconsortes, não sendo afastada a realização da mesma nos casos em que apenas um (ou alguns) manifeste o desinteresse.

Art. 334. ...§ 6º Havendo litisconsórcio, o desinteresse na realização da audiência deve ser manifestado por todos os litisconsortes.

O não comparecimento do autor à audiência de tentativa de conciliação ou de me-diação não acarreta a extinção do processo sem a resolução do mérito, como ocorre no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, mas a aplicação de multa, conforme prevê o artigo 334, §8º:

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Art. 334. ...§ 8º O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado.

Na mesma linha de raciocínio, o não comparecimento do réu à audiência de tenta-tiva de conciliação ou à sessão de mediação não acarreta a decretação de sua revelia, como ocorre nas ações que têm curso pelos Juizados Especiais Cíveis (art. 20 da Lei 9.099/95), mas a aplicação da multa já referida.

A multa só será aplicada se o não comparecimento foi injustificado. Dessa forma, a justificativa deve ser apresentada pela parte ausente até a abertura da audiência, através de petição.

Sobre a ARBITRAGEM, o §1º do artigo 3º expressamente a admite.

Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a di-reito.§ 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei.

A convenção de arbitragem abrange tanto a cláusula compromissória quando o com-promisso arbitral. A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir relativa-mente a tal contrato (art. 4. Lei 9.307/1996). O compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial (art. 9. Lei 9.307 /1996).

O acolhimento da alegação de convenção de arbitragem acarreta a extinção do pro-cesso sem resolução do mérito, razão pela qual se diz que é uma preliminar peremptória. Isso ocorre porque a competência para processar e julgar o conflito de interesses não é do juiz, mas do árbitro, como foi definido pelas partes no contrato que firmaram anteriormente.

A convenção de arbitragem deve ser alegada na contestação, sob pena de preclusão. O CPC/15 trouxe uma novidade em relação ao segredo de justiça nos processos que versem sobre arbitragem:

Em regra, os atos processuais são públicos. Todavia, o artigo 189 traz um rol de pro-cessos que tramitarão em segredo de justiça, entre eles, os que versem sobre arbitragem, inclu-sive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que comprovada em juízo que a confidenciali-

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dade foi estipulada na arbitragem.

Art. 189.  Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segre-do de justiça os processos:I - em que o exija o interesse público ou social;II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separa-ção, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescen-tes;III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à inti-midade;IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo.

Sobre o assunto, vejamos o Enunciado 13 do FPPC:

FPPC 13: “O disposto no inciso IV do artigo 189 abrange todo e qualquer ato judicial relacionado à arbitragem, desde que a confidencialidade seja comprovada perante o Poder Judiciário, ressalvada em qualquer caso a divulgação das decisões, preservada a identidade das partes e os fatos da causa que as identifiquem.

3. PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DO JULGAMENTO DE MÉRITO.

O princípio da primazia do julgamento de mérito vem disposto no artigo 4ª do CPC:

Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução inte-gral do mérito, incluída a atividade satisfativa.

Tal princípio pode ser resumido na ideia de que, sempre que possível, o juiz deve empreender esforços para dar uma decisão de mérito, ao invés de extinguir o processo ser reso-lução de mérito por questões meramente processuais.

Assim, por exemplo, ao invés de inadmitir um recurso por algum vício formal, o ma-gistrado deve dar a parte a oportunidade de corrigir tal vício, visando possibilitar o julgamento do mérito (parágrafo único do art. 932).

Art. 932....Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível.

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O julgamento do mérito procura garantir a tutela do direito material, ou seja, o foco está no conflito que envolve as partes. Dessa forma, o juiz deverá deixar de lado possíveis con-flitos que surjam ao redor do foco principal do processo e priorizar o mérito da questão, a tutela do direito material. Para isso, o juiz deverá sanar todos os vícios que atrapalhem o andamento do processo e que dificultem o julgamento do mérito.

ATENÇÃO.

Segundo decidiu o STF no ARE 953221 AgR/SP, tal previsão do artigo 932, p.ú. não se aplica para o caso em que o recorrente não ataca todos os fundamen-tos da decisão recorrida, pois, nesta hipótese, seria necessária a complemen-tação das razões do recurso, o que não é permitido.

Assim, o parágrafo único do artigo 932 só tem aplicação nos casos em que seja ne-cessário sanar vícios formais.

Outro exemplo desse princípio é o artigo 1.032 do CPC:

Art. 1.032.  Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o recurso especial versa sobre questão constitucional, deverá conceder prazo de 15 (quinze) dias para que o recorrente demonstre a existência de repercussão geral e se manifeste sobre a questão constitucional.Parágrafo único.  Cumprida a diligência de que trata o caput, o relator remeterá o recurso ao Supremo Tribunal Federal, que, em juízo de ad-missibilidade, poderá devolvê-lo ao Superior Tribunal de Justiça.

4. PRINCÍPIOS DA BOA-FÉ E DA COOPERAÇÃO.

O art. 5º, CPC/15, impõe a todas as partes do processo o dever de comportar-se de acordo com a boa-fé. Ou seja, exige das partes um comportamento íntegro, coerente e de acor-do com outros princípios processuais.

O Princípio da Boa-fé está previsto no Código da seguinte forma:

Art. 5º Aquele que de qualquer forma participa do processo deve com-portar-se de acordo com a boa-fé.

Antes de adentrar neste princípio, será necessário distinguir a boa-fé objetiva e sub-jetiva: este é suporte de alguns fatos que são contrários a atos ilícitos; aquele é norma de con-duta que impõe e proíbe comportamentos independentemente de boas ou más intenções.

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Nesse diapasão, o que será tratado no referido princípio está relacionado com a boa--fé objetiva, sendo uma cláusula geral que abrange diversas situações. Portanto, não está pre-visto de forma expressa no texto constitucional, mas muitos doutrinadores atribuem existência desse processo no texto constitucional.

Ocorre que, existe interpretações de formas diferenciadas sobre alguns dispositivos, como quando a constituição elucida sobre a solidariedade, relacionada ao dever de não que-brar a confiança de uma pessoa quando age com deslealdade, ou a dignidade da pessoa huma-na, ou a igualdade.

O STF, entretanto, fundamenta que a boa-fé processual está atrelada ao conteúdo do devido processo legal, pois para que um processo seja devido é preciso que ele seja ético e legal.

Na realidade, o princípio da boa-fé processual atua como um meio de proibir a má-fé processual, a proibição do abuso de direitos, a proibição de venire contra factum proprium (proi-bição de uma situação jurídica que seja contrária a um comportamento anterior), etc. Podemos tomar como exemplo de proibição de venire contra factum proprium quando a parte renuncia ao direito de recorrer, mas, posteriormente, protocola um recuso com o fito de mudar o teor da decisão.

O princípio da cooperação, por sua vez, está descrito no art. 6º, CPC/15:

Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.

O art. 6º, CPC/15, busca um processo baseado na cooperação, assim, não basta que

as partes sigam os conceitos da boa-fé processual objetiva, com a vedação de atos de má-fé por parte dos litigantes, mas também que as partes ajam de forma construtiva, positiva e efetiva no sentido de promover uma prestação jurisdicional justa, legítima e efetiva na consecução do melhor direito.

Existem três principais métodos de andamento do processo: a) dispositivo ou adver-sarial, b) inquisitivo ou c) cooperativo.

O primeiro deles coloca as partes em situação de protagonismo, de forma que o an-damento do processo se dá por maior autonomia da vontade das partes, é regulado em geral pelo autorregramento da vontade, ou seja, as partes preferem manter o conflito do que se aju-darem na busca de resolver a demanda.

O segundo se baseia no protagonismo do juiz, ele interfere fortemente no andamen-to do processo, está sempre presente e não dá oportunidade as partes para convencionarem.

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O terceiro é o adotado atualmente no Brasil e é uma mistura dos dois outros méto-dos, de forma que tanto as partes como o juiz devem cooperar entre si para o andamento do processo, une-se aqui o impulso oficial e o autorregramento da vontade.

As partes, para que haja cooperação no processo devem agir com lealdade, proteção

e esclarecimento. O juiz para cooperar com as partes deverá agir com lealdade, prevenção, con-sulta e esclarecimento.

5.PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DA DECISÃO SURPRESA.

O caput do artigo 9º do CPC traz como norma fundamental a proibição da decisão surpresa.

Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida.

Isso significa que, em regra, antes de qualquer decisão, o juiz deve dar às partes a oportunidade de se manifestar. Tal norma aplica-se, inclusive, quando a questão puder ser de-clarada de ofício, conforme o art. 10 do CPC:

Art. 10.  O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportu-nidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.

Nesse contexto, a proibição do artigo 10 deve ser observada por todos os juízos e tri-bunais, como evidencia a expressão “em grau algum de jurisdição”. Portanto, nenhum juiz pode proferir decisão-surpresa, com base no fundamento sobre o qual as partes não foram ouvidas.

Outrossim, existem as matérias que são de ordem públicas e o juiz pode conhecê-las de ofício, mesmo que a parte não alegue, entretanto, o juiz deverá ouvir as partes e dar oportu-nidade das mesmas se manifestarem. Por exemplo, as matérias de prescrição e decadência, o juiz poderá conhecer de ofício, sem a manifestação das partes, contudo, deverá dar as partes a oportunidade de opinarem sobre o assunto.

6.DA ORDEM CRONOLÓGICA DE JULGAMENTO.

Novidade importante trazida pelo CPC/15 foi o estabelecimento da chamada ordem cronológica de julgamento. A redação inicial do código previa a obrigatoriedade de obediência à ordem cronológica de conclusão pelos juízes e tribunais para proferir sentença ou acórdão.

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Todavia, a lei 13.256/2016 alterou a redação do artigo 12 do CPC/15 para estabelecer que tal ordem deve ser atendida PREFERENCIALMENTE. Assim, a obediência deixou de ser uma imposição e passou a ser apenas uma orientação.

Vejamos a redação do caput do artigo 12:

Art. 12.  Os juízes e os tribunais atenderão, preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão. 

Em razão do princípio da isonomia e da publicidade, a lista de processos aptos a jul-gamento deverá estar permanentemente à disposição para consulta pública em cartório e na rede mundial de computadores (§1º).

É certo que, em 1º grau, o que importa para a inclusão do processo na fila ou lista não é a data do ajuizamento ou da distribuição, mas, sim, a data em que o feito está maduro para julgamento, quer porque a fase probatória é dispensável (art. 341), quer porque esta foi encerrada e já foram apresentadas razões finais (art. 348). Já nos tribunais, o que determina a inclusão na lista é a data da conclusão.

Importante ressaltar, entretanto, que estão excluídos da regra do julgamento em or-dem cronológica, conforme enumera o artigo 12:

• As sentenças proferidas em audiência, homologatórias de acordo ou de improce-dência liminar do pedido;

• O julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica firmada em julgamento de casos repetitivos;

• O julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de demandas repetitivas;

• As decisões proferidas com base nos arts. 485 e 932;

• O julgamento de embargos de declaração;

• O julgamento de agravo interno;• As preferências legais e as metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça;

• Os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que tenham competência penal;

• A causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão funda-mentada.

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Sobre o assunto, vejamos o enunciado 32 da Escola Nacional de Formação e Aperfei-çoamento de Magistrados:

Enunciado 32, ENFAM: O rol do artigo 12, §2, do CPC/2015 é exemplifica-tivo, de modo que o juiz poderá, fundamentadamente, proferir senten-ça ou acórdão fora da ordem cronológica de conclusão, desde que pre-servadas a moralidade, a publicidade, a impessoalidade e a eficiência na gestão da unidade judiciária.

COMO CAIU EM PROVA.

A banca CESPE considerou CORRETA a assertiva na prova para Procurador Municipal da Prefeitura de Belo Horizonte: “Os processos sujeitos a sentença terminativa sem resolução de mérito ficam excluídos da regra que determina a ordem cronológica de conclusão para a sentença. ”

O §6º do artigo 12 estabelece processos prioritários, que devem “furar” a fila. São eles: a) processo que tiver sua sentença ou acordão anulado, salvo quando houver necessidade de realização de diligência ou acordão de complementação da instrução; b) quando ocorrer a hipótese do artigo 1.040, II, CPC, para que o tribunal possa reapreciar a causa e aplicar a tese jurídica firmada pelo tribunal superior.

Ademais, Fredie Didier expõe que, para evitar conduta ardilosa da parte que pretenda impedir que a causa seja julgada, qualquer requerimento formulado após a inclusão do proces-so na lista não altera a ordem cronológica para a decisão, exceto quando implicar a reabertura da instrução ou a conversão do julgamento em diligência (artigo 12, §4º, CPC).

7. NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL.

Com base no princípio da adequação, o CPC/15, além de prever procedimentos di-ferenciados ao lado do procedimento comum, introduziu várias técnicas processuais no pro-cedimento comum capazes de moldar concretamente o processo às necessidades do direito material afirmado em juízo.

Uma dessas técnicas é o chamado NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL.

A negociação processual pode se dar tanto de forma típica (já prevista pela lei), como de forma atípica (criada a partir da necessidade e conveniência das partes e baseada na cláusu-la geral do negócio jurídico processual prevista no artigo 190 do CPC/15).

Vejamos:

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Art. 190.   Versando o processo sobre direitos que admitam autocom-posição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.Parágrafo único.  De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a vali-dade das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.

Observa-se que o legislador estabeleceu alguns requisitos para a celebração de um negócio jurídico processual atípico. São eles: o processo deve versar sobre direito que admita a autocomposição e o negócio deve ser celebrado por pessoas capazes.

Além dessas limitações legais, a doutrina enumera algumas outras. Sobre o assunto, vejamos alguns enunciados do FPPC:

Enunciado 6. (arts. 5º, 6º e 190) O negócio jurídico processual não pode afastar os deveres inerentes à boa-fé e à cooperação. (Grupo: Negócio Processual; redação revista no III FPPC-Rio)

Enunciado 17. (art. 190) As partes podem, no negócio processual, esta-belecer outros deveres e sanções para o caso do descumprimento da convenção. (Grupo: Negócio Processual; redação revista no III FPPC-Rio)

Enunciado 19. (art. 190) São admissíveis os seguintes negócios proces-suais, dentre outros: pacto de impenhorabilidade, acordo de ampliação de prazos das partes de qualquer natureza, acordo de rateio de despe-sas processuais, dispensa consensual de assistente técnico, acordo para retirar o efeito suspensivo de recurso14, acordo para não promover exe-cução provisória; pacto de mediação ou conciliação extrajudicial prévia obrigatória, inclusive com a correlata previsão de exclusão da audiência de conciliação ou de mediação prevista no art. 334; pacto de exclusão contratual da audiência de conciliação ou de mediação prevista no art. 334; pacto de disponibilização prévia de documentação (pacto de dis-closure), inclusive com estipulação de sanção negocial, sem prejuízo de medidas coercitivas, mandamentais, sub-rogatórias ou indutivas; pre-visão de meios alternativos de comunicação das partes entre si; acordo de produção antecipada de prova; a escolha consensual de depositário--administrador no caso do art. 866; convenção que permita a presença da parte contrária no decorrer da colheita de depoimento pessoal. 15-

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16-17 (Grupo: Negócio Processual; redação revista no III FPPC- RIO, no V FPPC-Vitória e no VI FPPC-Curitiba)

Enunciado 20. (art. 190) Não são admissíveis os seguintes negócios bi-laterais, dentre outros: acordo para modificação da competência abso-luta, acordo para supressão da primeira instância, acordo para afastar motivos de impedimento do juiz, acordo para criação de novas espécies recursais, acordo para ampliação das hipóteses de cabimento de recur-sos18. (Grupo: Negócio Processual; redação revista no VI FPPC Curitiba)

Enunciado 403. (art. 190; art. 104, Código Civil) A validade do negócio jurídico processual, requer agente capaz, objeto lícito, possível, deter-minado ou determinável e forma prescrita ou não defesa em lei. (Grupo: Negócios processuais)

Enunciado 406. (art. 190; art. 114, Código Civil) Os negócios jurídicos processuais benéficos e a renúncia a direitos processuais interpretam--se estritamente. (Grupo: Negócios processuais)

Enunciado 407. (art. 190; art. 5º; art. 422, Código Civil) Nos negócios pro-cessuais, as partes e o juiz são obrigados a guardar nas tratativas, na conclusão e na execução do negócio o princípio da boa-fé. (Grupo: Ne-gócios processuais)

Enunciado 413. (arts. 190 e 191; Leis 9.099/1995, 10.259/2001 e 12.153/2009). O negócio jurídico processual pode ser celebrado no sis-tema dos juizados especiais, desde que observado o conjunto dos prin-cípios que o orienta, ficando sujeito a controle judicial na forma do pa-rágrafo único do art. 190 do CPC. (Grupo: Impacto nos Juizados e nos procedimentos especiais da legislação extravagante)

Enunciado 490. (art. 190; art. 81, §3º; art. 297, parágrafo único; art. 329, inc. II; art. 520, inc.I; art. 848, inc. II). São admissíveis os seguintes negó-cios processuais, entre outros: pacto de inexecução parcial ou total de multa coercitiva; pacto de alteração de ordem de penhora; pré-indica-ção de bem penhorável preferencial (art. 848, II); pré- fixação de inde-nização por dano processual prevista nos arts. 81, §3º, 520, inc. I, 297, parágrafo único (cláusula penal processual); negócio de anuência prévia para aditamento ou alteração do pedido ou da causa de pedir até o sa-neamento (art. 329, inc. II). (Grupo: Negócios processuais)

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Enunciado 491. (Art. 190) É possível negócio jurídico processual que es-tipule mudanças no procedimento das intervenções de terceiros, obser-vada a necessidade de anuência do terceiro quando lhe puder causar prejuízo. (Grupo: Negócios processuais)

Enunciado 569. (art.1.047; art. 190). O art. 1.047 não impede convenções processuais em matéria probatória, ainda que relativas a provas reque-ridas ou determinadas sob vigência do CPC-1973. (Grupo: Direito Inter-temporal)

Enunciado 579. (arts. 190, 219 e 222, §1º) Admite-se o negócio proces-sual que estabeleça a contagem dos prazos processuais dos negociantes em dias corridos. (Grupo: Negócios processuais)

O CALENDÁRIO PROCESSUAL é uma forma de negócio jurídico processual típico.

Sobre o calendário processual, o código prevê que, de comum acordo, o juiz e as par-tes podem fixar calendário para a prática os atos processuais, quando for o caso. Tal calendário vincula tanto as partes quanto o juiz, só sendo permitida a alteração dos prazos ajustados em casos excepcionais e com a devida justificativa.

Art. 191.  De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a prática dos atos processuais, quando for o caso.§ 1o O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele previstos somente serão modificados em casos excepcionais, devidamente justificados.§ 2o Dispensa-se a intimação das partes para a prática de ato processual ou a realização de audiência cujas datas tiverem sido designadas no calendário.

Uma questão importante de ser levantada é sobre o calendário processual e a ordem cronológica, será possível o calendário prever uma data de prolação da sentença?

A resposta encontrada por Didier está baseada em duas alternativas, vejamos: a) ou no calendário se marca uma audiência para a prolação da sentença, de modo a que se subsuma à regra exceptuadora do inciso I do §2º do artigo 12; b) ou a prolação da sentença não será ato para ser inserido no calendário.

8. DEVIDO PROCESSO LEGAL.

Esse princípio deriva da frase “due process of law” que anuncia sobre a necessidade de o processo estar em conformidade com o direito, este é um direito fundamental previsto na

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Constituição Federal. In verbis:

Art. 5º: LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.

Funcionará como uma garantia contra o exercício abusivo do poder, e por ser uma cláusula geral, que teve seu significado modificado ao longo dos anos, ora entendido como ins-trumento contrário à tirania, outrora entendido como instrumento para igualdade processual.

Atualmente é entendido como um princípio basilar do ordenamento jurídico brasilei-ro, onde, existem subprincípios derivados, como: a Ampla Defesa; o Princípio do Contraditório e o Princípio da Igualdade Processual.

Portanto, esse princípio possuirá função integrativa do ordenamento. Logo, podere-mos compreendê-lo de duas formas distintas: o devido processo legal formal ou procedimental e o devido processo legal substancial ou material.

O Devido processo legal formal ou procedimental será composto pelas garantias processuais, quais sejam: O Direito do Contraditório, ao Juiz Natural, a um processo com dura-ção razoável, etc. Portanto, trata-se do devido processo legal mais conhecido.

Já o Devido processo legal substancial desenvolveu-se nos EUA, com o fito de gerar um processo com decisões jurídicas substancialmente devidas. Assim, o processo deverá ter em seu conteúdo os deveres de razoabilidade e proporcionalidade, garantindo que as normas e decisões dos processos sejam aplicados respeitando a esses deveres e não somente se com-pondo de normais processuais.

Analisemos uma decisão proferida pelo Min. Celso de Mello, publicada no informati-va do STF N.381:

Não se pode perder de perspectiva, neste ponto, em face do conteúdo evidentemente arbitrário da exigência estatal ora questionada na pre-sente sede recursal, o fato de que, especialmente quando se tratar de matéria tributária, impõe-se, ao Estado, no processo de elaboração das leis, a observância do necessário coeficiente de razoabilidade, pois, como se sabe, todas as normas emanadas do Poder Público devem ajus-tar-se à cláusula que consagra, em sua dimensão material, o princípio do “substantive due process of law” (CF, art. 5º, LIV), eis que, no tema em questão, o postulado da proporcionalidade qualifica-se como parâ-metro de aferição da própria constitucionalidade material dos atos esta-tais, consoante tem proclamado a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (RTJ 160/140-141 - RTJ 178/22-24, v.g.)

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Portanto, a jurisprudência do STF já vem extraindo a referida cláusula geral do devi-do processo legal substancial.

8.1 O DEVIDO PROCESSO LEGAL NAS RELAÇÕES PRIVADAS.

Uma insegurança surge acerca da aplicação do devido processo legal nas relações jurídicas privadas, dúvida que se amplia a todos os princípios do processo.

A doutrina desfaz essa dúvida nos afirmando que todo e qualquer direito fundamen-tal pode e deve ser aplicado às relações privadas. Pois bem, essa aplicação no âmbito das rela-ções privadas, trata-se da teoria da eficácia horizontal dos direitos fundamentais que admite a sua aplicação em todas as relações.

Entretanto, a situação não é apaziguada entre os doutrinadores, sendo bastante con-trovertida, de forma que existem três teorias sobre o assunto:

Teoria do State action: A teoria nega a aplicação dos direitos fundamentais nas rela-ções privadas, pois entende que somente o Estado pode ser sujeito passivo daqueles direitos. (Presente no direito Norte-Americano e Suíço).

Teoria da Eficácia Indireta ou Mediata: A Constituição não investiria aos particulares direitos subjetivos privados, em verdade, os direitos fundamentais serviriam para o legislador infraconstitucional tomar como parâmetro os valores constitucionais na elaboração das leis de direito privado. (Presente no Direito da Alemanha, da Áustria e etc.).

Teoria da Eficácia Direta ou Imediata: Os direitos fundamentais teriam aplicação di-reta nas relações privadas, podendo ser invocados diretamente. Nesse contexto, o magistrado ao julgar e as partes ao participar do processo deverão respeitar os direitos fundamentais. (Pre-sente no direito Brasileiro, na Espanha e em Portugal).

Desse modo, mesmo que os particulares sejam possuidores do princípio da autono-mia da vontade, a sua vontade é limitada à aplicação dos direitos fundamentais, pois não se pode negá-los.

Quanto ao devido processo legal, temos que é impedido aos particulares restringir qualquer direito em suas relações sem o devido processo legal, é o que ocorre, por exemplo, nos negócios jurídicos: deve-se atender o devido processo legal, como a escritura pública para a transferência de um imóvel.

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9. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.

O princípio da dignidade da pessoa humana está previsto na CF/88, no artigo 1º, III, na seguinte redação:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana.

O artigo 8º do NCPC também impõe o princípio da dignidade da pessoa humana. Sen-do fundamento da república, e direito essencial para o ordenamento jurídico como um todo.

Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignida-de da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilida-de, a legalidade, a publicidade e a eficiência.

Conforme Didier Jr nos afirma, a dignidade da pessoa humana pode ser considerada um direito fundamental de conteúdo complexo, formado pelo conjunto de todos os direitos fundamentais, previstos ou não no texto constitucional. A eficácia vertical das normas relativas aos direitos fundamentais dirige-se à regulação do Estado com o indivíduo. O exercício da fun-ção jurisdicional é exercício de função estatal.

Um exemplo prático é a possibilidade de o juiz conceder prioridade a um processo tramitando em que uma das partes está com uma doença grave, mesmo que a doença não es-teja no rol do artigo 1.048, inciso I do NCPC. Para promover a dignidade da pessoa humana, o juiz, poderia sim determinar o processamento prioritário.

Contudo, a aplicação desse princípio deve ser justificada e bem fundamentada pelo juiz (artigo 489, §1º, I e II, NCPC), tendo em vista que há interferência direta do juiz ao processo. Nesse sentido, um princípio limita a atuação do outro, e ao mesmo tempo estão presentes den-tro do outro, pois a liberdade das partes deve ser convencionada com dignidade e a dignidade deve promover a liberdade.

Por fim, há ainda uma relação entre o princípio da dignidade da pessoa humana e o princípio do devido processo legal, pois, como já estudamos, o devido processo legal é garantir o contraditório, a produção de provas, o juiz imparcial, o direito ao recurso e etc. Dessa forma, a dignidade da pessoa humana será, no processo, o devido processo legal.

Conforme entendimento de Fredie Didier, uma eficácia da dignidade da pessoa hu-mana no processo civil, que não se confunda com a eficácia do devido processo legal, é algo que

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precisa ser demonstrado. Assim, para o doutrinador, não conseguiríamos vislumbrar diferenças no âmbito da aplicação nem das consequências da aplicação desses institutos.

Sob essa ótica, o processo devido deve ser digno, a dignidade da pessoa humana contribui para a humanização do processo, para a construção de novos princípios basilares do processo. Vejamos essa relação de humanização no processo com os seguintes artigos:

• Direito da Pessoa com deficiência auditiva de comunicar-se nas audiências. (Arti-go 162, III).

• Atipicidade da negociação processual. (Artigo 190, CPC).• Direito ao silêncio. (Artigo 388, CPC).• Impenhorabilidade de determinados bens. (Artigo 833, CPC).• Tramitação prioritárias de processos de pessoas idosas ou com doenças graves.

(Artigo 1.048, CPC)

Ressalta-se, a dignidade da pessoa humana está relacionada, além as pessoas natu-rais, as pessoas jurídicas, condomínios, nascituro, órgãos públicos e etc.

10.PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO.

O Princípio do contraditório deriva do devido processo legal, é uma das garantias que o compõe. Previsto na Constituição Federal em seu artigo 5º, LV:

Art. 5°: LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

É um princípio tipicamente democrático, já que a democracia sugere a participação e não seria diferente no processo.

O Princípio do Contraditório vai se dividir em duas garantias, vejamos:

Participação: É a dimensão formal do princípio, diz respeito a possibilidade da parte de ser ouvida, de se comunicar e de participar do processo. Sendo então o conteúdo mínimo do processo.

Influência na decisão: É a possibilidade da parte em influenciar a decisão. Logo, a parte participa diretamente por seus atos no fundamento da decisão. Portanto, a parte poderá interferir no processo com argumentos, apresentar fatos, se defender de modo a influenciar de alguma forma na decisão do juiz.

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É por meio dessa dimensão que a decisão surpresa é vetada e anula o processo, pois o juiz não pode prolatar uma decisão sem que antes tenha ouvido a parte, e dado oportunidade da mesma, por meio de uma defesa técnica, apresentar e expor os seus argumentos.

O Código de Processo civil anuncia essa dimensão no artigo 493, com a seguinte re-dação:

Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, mo-dificativo ou extintivo do direito influir no julgamento do mérito, caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento de proferir a decisão.Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as par-tes sobre ele antes de decidir.

Esse conteúdo exposto não impedirá o juiz de se basear em fato novo, no qual não tinha sido anteriormente apresentado pelas partes, ou seja, que foi considerado de ofício.

Porém, o juiz deverá comunicar as partes acerca desse fato novo, para que então elas se pronunciem, antes que ele sentencie, e quando for requerido por uma das partes será dada a outra parte o direito de se pronunciar.

O conteúdo do artigo 493 do Código está em consonância com o artigo 10 do refe-rido código. Se o juiz não der às partes o direito de conhecer da matéria que influenciou a sua decisão e sobre ela debater, o princípio do contraditório estará sendo ferido, pois, não haverá ocorrido a oportunidade de as partes influenciarem na decisão do juiz.

É diverso, portanto, o direito do juiz de agir de ofício acerca de determinados assun-tos e a possibilidade de decidir sem ouvir as partes, tendo em vista que agir de oficio é agir sem ser provocado por uma das partes e não dar as partes a oportunidade de se manifestarem é ne-gar o pronunciamento das mesmas sobre os assuntos que são de seu interesse, simplesmente pelo fato de não o terem provocado.

Ademais, caso o juiz não escute as partes, não poderá proferir decisão contra elas, conforme entendimento do artigo 9º do NCPC. Contudo, é importante frisar que o mesmo artigo admitirá exceções, que não ferem o princípio do contraditório, são eles:

Artigo 9. (..)Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:I - À tutela provisória de urgência;II - Às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III;III - À decisão prevista no art. 701.

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Nessas hipóteses, o contraditório será dado em momento posterior, justificado pela condição de perigo ou pela alta probabilidade de êxito na demanda.

COMO CAIU EM PROVA.

Em prova realizada pela banca VUNESP do órgão TJM-SP, para o cargo de juiz de direito, ano 2016, foi considerada INCORRETA a afirmativa: “A garantia do contraditório participativo impede que se profira decisão ou se conceda tu-tela antecipada contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida (decisão surpresa). ”

10.1. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E O ARTIGO 332 DO CPC.

O artigo 332 do CPC enumera as hipóteses em que o juiz pode julgar liminarmente improcedente o pedido, antes de determinar a citação do réu. Contudo, o juiz deverá ouvir o autor, não havendo necessidade que se ouça o réu.

Dessa forma, não ofende o Princípio do Contraditório, porque a sentença só poderá ser proferida sem a ouvida do réu quando for de total improcedência, isto é, quando não lhe trouxer prejuízos.

Diante disso, se o autor entrar com a apelação, o réu deverá ser citado.

11. PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA.

Esse princípio está previsto na CF no mesmo dispositivo que elucida o princípio an-terior (Princípio do Contraditório), formando um par, pois um complementa o outro - não há contraditório sem ampla defesa, nem há ampla defesa sem contraditório -. São figuras conexas, o contraditório é instrumento de defesa, ou seja, esta se realiza através do contraditório, confor-me as palavras de Fredie Didier.

A ampla defesa é um direito fundamental de ambas as partes, corresponde ao as-pecto substancial do princípio do contraditório, sendo normalmente feita de modo técnico por meio de um advogado ou defensor público.

O réu da ação usa-se da ampla defesa para se pronunciar contrário às posições trazi-das pelo autor, e o autor usa-se da ampla defesa para demonstrar e defender as provas trazidas contrárias ao réu.

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12. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE.

O Princípio da publicidade é também um subprincípio do devido processo legal, também previsto na CF no rol de direitos fundamentais:

Art. 5°. (...) LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem.

Sendo recepcionado pelo Novo CPC nos referidos artigos:

Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignida-de da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilida-de, a legalidade, a publicidade e a eficiência. Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão pú-blicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente das partes, de seus advogados, de defensores públi-cos ou do Ministério Público.

A publicidade dos processos terá duas funções primordiais, quais sejam: proteger as partes contra decisões secretas e permitir que haja opinião pública sobre os serviços da justiça.

Essas duas funções revelam duas dimensões: Interna, publicidade para as partes, dimensão ampla que não poderá ser restringida; e externa, publicidade para terceiros, que po-derá ser restringida em razão de algumas exceções.

Existe algumas exceções à publicidade, conforme já enumeradas anteriormente no artigo 189, como ações relativa a casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos, guarda de crianças e adolescentes, arbitragem, e etc.

Art. 189. (...)§ 1o O direito de consultar os autos de processo que tramite em segredo de justiça e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e aos seus procuradores.§ 2o O terceiro que demonstrar interesse jurídico pode requerer ao juiz certidão do dispositivo da sentença, bem como de inventário e de partilha resultantes de divórcio ou separação.

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Logo, nos casos de segredo de justiça somente estarão presentes nas audiências os interessados, advogados e o juiz (Artigo 11, p.ú, CPC). Já em relação à arbitragem teremos uma consideração a se fazer, pois, sempre que envolver entes públicos não poderá ser sigilosa, en-tretanto, admitirá o sigilo nos demais processos para resguardar a intimidade, desde que corre-lacionado a sua dimensão externa.

São avanços da publicidade do processo: a transmissão ao vivo de julgamentos do STF, a possibilidade de acesso aos processos por meio eletrônico, etc.

ATENÇÃO.

A EC n. 45/2004 ratificou a exigência da publicidade de todos os atos prove-nientes dos órgãos do Poder Judiciário. (Ler os artigos 93, incisos IX E X, CF).

13. PRINCÍPIO DA IGUALDADE PROCESSUAL.

O artigo 5º, caput, da CF é a fonte que disciplina o princípio da igualdade, e diz res-peito ao fato de que as partes devem ser tratadas com igualdade, não se admitindo tratamento privilegiado de forma injustificada a uma parte em face de outra.

Essa igualdade se dará em quatro aspectos: 1) Imparcialidade do juiz; 2) Igualdade no acesso à justiça sem qualquer discriminação; 3) Redução das desigualdades que dificultem o andamento do processo bem como o acesso a ele (gratuidade da justiça, processos online, etc. e 4) Igualdade no acesso às informações necessárias e no exercício do contraditório.

A igualdade aqui tratada não está ligada a uma igualdade formal e sim, a igualdade material, tendo em vista que a igualdade material, por vezes, pode ser pautada na diferença.

Para entendermos melhor é preciso relacionar um caso concreto em que uma das partes, por ser deficiente, necessite de tratamento diferenciado para que tenha igual condição de exprimir sua vontade durante o processo.

Desse modo, o tratamento diferente é o que torna o processo igual para ambas as partes.

14.PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA.

Previsto no texto constitucional juntamente com outros princípios já estudados, o processo devido, há de ser eficiente.

Esse princípio também resulta da incidência do artigo 37, caput da FC/88. Possuindo duas dimensões, que são:

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Administração judiciária: O conjunto de órgãos que compõem o poder judiciário devem ser eficientes, ou seja, devem ser eficientes para satisfazer as partes no julgamento do mérito. Um judiciário ineficiente impõe um descaso com a pretensão das partes, se não há efi-ciência no corpo do judiciário para solucionar conflitos que venham a surgir, o seu uso é inócuo e acaba por prejudicar o acesso à justiça. A criação do Conselho Nacional de Justiça, pela EC 45/2004, ratifica essa dimensão do princípio da eficiência administrativa.

Gestão de um determinado processo: Relacionado a condução eficiente de determi-nado processo, diferentemente da primeira dimensão, não se aplica ao poder judiciário como um todo, mas ao tratamento de determinado processo. Portanto, para que o órgão jurisdicional obtenha um processo eficiente é preciso que a condução do processo seja feita corretamente por autoridade competente e usando dos meios necessários, para que a eficiência seja o meio para atingir um fim. O princípio irá se dirigir ao órgão do Poder Judiciário, como órgão jurisdi-cional específico, conforme elucida Fredie Didier.

Nesse diapasão, o processo eficiente é satisfatório de modo qualitativo, quantitativo e probabilístico. De modo que o órgão jurisdicional deverá escolher os meios necessários com menos recursos possíveis para que não se tenham meios insignificantes, meios certos de acor-do com os prováveis resultados, além de serem meios que não causem resultados negativos ao processo.

15.PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL.

O artigo 5º, LIII E XXXVII, da CF. O primeiro inciso dispõe que ninguém será processa-do nem sentenciado senão pela autoridade competente, e o segundo, que não haverá juízo ou tribunal de exceção.

Assim, o juiz natural é aquele cuja competência é apurada de acordo com as regras previamente existentes no ordenamento jurídico, e que não pode ser modificada a posteriori.

Portanto, o juiz natural será apurado por regras prévias. Sendo três os principais re-quisitos: 1) O julgamento deve ser proferido por alguém investido de jurisdição, 2) O órgão jul-gador deve ser preexistente e 3) A causa deve ser submetida a julgamento pelo juiz competente, de acordo com as regras da CF e da lei.

Princípios Fundamentais do Processo CivilPrincípios CF Valor

Devido Processo Legal

Artigo 5º, LIV Assegura que ninguém perca os seus bens ou sua liberdade sem que sejam respeitadas a lei e as garantias processuais.

Acesso à Justiça Artigo 5º, XXXV A lei não pode excluir da apreciação do Judi-ciária nenhuma lesão a direito.

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Contraditório Artigo 5º, LV Deve-se dar ciência as partes sobre tudo do processo.

Duração Razoá-vel do processo

Artigo 5º, LXX-VIII

Princípio relacionado ao legislador e ao Juiz, com o fito do processo chegar ao fim no menor tempo possível.

Isonomia Artigo 5º, caput e I

Deve-se tratar igualmente os iguais e desigual-mente os desiguais na medida da sua desi-gualdade.

Imparcialidade do Juiz

Artigo 5º, LIII E XXXVII

Toda causa deverá ter o juiz natural, apurado de acordo com a regras prévias.

Duplo Grau de Jurisdição

- Decorre implicitamente da CF, no caso de jul-gamento de recursos contra decisões inferio-res.

Publicidade Artigo 5º, LX Os atos processuais são públicos, assegurando a transparência da atividade jurisdicional.

Motivação das Decisões

Artigo 93, IX A atividade jurisdicional deve ser motivada, para que os litigantes entendam a justificação do Judiciário.