26
FERNANDO COSTA FURLANI [Turma: 2º T] RESUMO DO LIVRO “ÉTICA” de Adolfo Sánchez Vázquez Trabalho de Graduação apresentado à Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como exigência parcial para satisfazer os requisitos da Disciplina ‘Ética e Cidadania Aplicada ao Direito II’ Professor: Marcos Peixoto Mello Gonçalves São Paulo 2004 SUMÁRIO CAPÍTULO I - OBJETO DA ÉTICA ............................................................... 4 CAPÍTULO II - MORAL E HISTÓRIA .......................................................... 7 CAPÍTULO III - A ESSÊNCIA DA MORAL................................................ 12 CAPÍTULO IV - A MORAL E OUTRAS FORMAS DE COMPORTAMENTO HUMANO .................................................... 15 CAPÍTULO V - RESPONSABILIDADE MORAL, DETERMINISMO E LIBERDADE ................................................. 17 CAPÍTULO VI - OS VALORES ..................................................................... 20 CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL ................................................ 23 CAPÍTULO VIII - A OBRIGATORIEDADE MORAL ............................... 27 CAPÍTULO IX - A REALIZAÇÃO DA MORAL......................................... 31 CAPÍTULO X - FORMA E JUSTIFICAÇÃO DOS JUÍZOS MORAIS .............................................................................................. 35 CAPÍTULO XI - DOUTRINAS ÉTICAS FUNDAMENTAIS ..................... 43 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ................................................................ 52

SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

  • Upload
    buique

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

FE

RN

AN

DO

CO

ST

A F

UR

LA

NI

[Tur

ma:

T]

RE

SU

MO

DO

LIV

RO

“É

TIC

A”

de

Ad

olfo

Sán

chez

Váz

qu

ez

Tra

bal

ho d

e G

radu

ação

ap

rese

nta

do à

Fac

uld

ade

de

Dir

eito

d

a U

niv

ersi

dad

e

Pre

sbit

eria

na

Mac

ken

zie,

co

mo

exig

ênci

a p

arci

al

par

a sa

tisf

azer

os

req

uis

itos

d

a D

isci

pli

na

‘Éti

ca

e

Cid

adan

ia A

pli

cad

a ao

Dir

eito

II’

Pro

fess

or:

Mar

cos

Pei

xoto

Mel

lo G

onça

lves

São

Pau

lo

2004

SU

RIO

CA

PÍT

UL

O I

- O

BJE

TO

DA

ÉT

ICA

......

......

......

......

......

......

......

......

......

......

...4

CA

PÍT

UL

O I

I -

MO

RA

L E

HIS

RIA

......

......

......

......

......

......

......

......

......

....7

CA

PÍT

UL

O I

II -

A E

SS

ÊN

CIA

DA

MO

RA

L...

......

......

......

......

......

......

......

...12

CA

PÍT

UL

O I

V -

A M

OR

AL

E O

UT

RA

S F

OR

MA

S D

E

CO

MP

OR

TA

ME

NT

O H

UM

AN

O...

......

......

......

......

......

......

......

......

.15

CA

PÍT

UL

O V

- R

ES

PO

NS

AB

ILID

AD

E M

OR

AL

,

DE

TE

RM

INIS

MO

E L

IBE

RD

AD

E...

......

......

......

......

......

......

......

....1

7

CA

PÍT

UL

O V

I -

OS

VA

LO

RE

S...

......

......

......

......

......

......

......

......

......

......

......

20

CA

PÍT

UL

O V

II -

A A

VA

LIA

ÇÃ

O M

OR

AL

......

......

......

......

......

......

......

......

23

CA

PÍT

UL

O V

III

- A

OB

RIG

AT

OR

IED

AD

E M

OR

AL

......

......

......

......

......

.27

CA

PÍT

UL

O I

X -

A R

EA

LIZ

ÃO

DA

MO

RA

L...

......

......

......

......

......

......

..31

CA

PÍT

UL

O X

- F

OR

MA

E J

US

TIF

ICA

ÇÃ

O D

OS

JU

ÍZO

S

MO

RA

IS...

......

......

......

......

......

......

......

......

......

......

......

......

......

......

......

.35

CA

PÍT

UL

O X

I -

DO

UT

RIN

AS

ÉT

ICA

S F

UN

DA

ME

NT

AIS

......

......

......

...43

RE

FE

NC

IA B

IBL

IOG

FIC

A...

......

......

......

......

......

......

......

......

......

......

.52

Page 2: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

4

CA

PÍT

UL

O I

- O

BJE

TO

DA

ÉT

ICA

1. P

rob

lem

as M

orai

s e

Pro

ble

mas

Éti

cos

Nas

sit

uaçõ

es e

feti

vas

e re

ais

que

ocor

rem

no

dia-

a-di

a de

tod

os o

s in

diví

duos

,

surg

em p

robl

emas

qua

ndo

as d

ecis

ões

e aç

ões

dele

s sã

o ob

jeto

de

julg

amen

to

pelo

s de

mai

s m

embr

os d

o gr

upo

soci

al.

Tai

s pr

oble

mas

não

afe

tam

ape

nas

um

indi

vídu

o, m

as t

ambé

m o

utra

s pe

ssoa

s, e

pod

e at

é m

esm

o af

etar

a c

omun

idad

e

com

o um

tod

o. E

m t

ais

situ

açõe

s, a

s pe

ssoa

s pa

utam

seu

com

port

amen

to p

or

norm

as q

ue j

ulga

m m

ais

adeq

uada

s cu

mpr

ir,

e é

quan

do s

e po

de d

izer

que

o

hom

em a

ge m

oral

men

te, o

u se

ja, é

o r

esul

tado

de

uma

deci

são

refl

etid

a –

e nã

o

espo

ntân

ea.

Des

tart

e, d

e um

lad

o te

mos

os

atos

das

pes

soas

, e

do o

utro

tem

os o

juí

zo d

os

dem

ais

indi

vídu

os s

obre

tai

s at

os;

ambo

s se

pau

tam

por

cer

tas

norm

as d

e

cond

uta.

Des

se

plan

o pr

átic

o-m

oral

se

pa

ssa

à re

flex

ão

sobr

e os

co

mpo

rtam

ento

s

prát

icos

, su

rgin

do e

ntão

a t

eori

a m

oral

– o

u a

pass

agem

da m

oral

viv

ida

para

a

mor

al

refl

exa.

T

al

pass

agem

, qu

e co

inci

de

com

o

iníc

io

do

pens

amen

to

filo

sófi

co, m

arca

a e

ntra

da n

a an

ális

e do

s pr

oble

mas

éti

cos.

Os

prob

lem

as

prát

ico-

mor

ais

cuid

amda

s si

tuaç

ões

conc

reta

s,

enqu

anto

os

prob

lem

as é

tico

s sã

o de

nat

urez

a ge

néri

ca, d

e ca

ráte

r te

óric

o, d

e qu

em i

nves

tiga

a m

oral

.

O p

robl

ema

da e

ssên

cia

do a

to m

oral

rem

ete

a ou

tro

prob

lem

a cr

ucia

l: o

da

resp

onsa

bili

dade

; re

spon

sabi

lidad

e po

r te

r to

mad

o um

a de

cisã

o de

agi

r nu

m

sent

ido

e nã

o em

out

ro.

A l

iber

dade

da

vont

ade

de e

scol

her

sem

pre

gera

um

a

resp

onsa

bili

dade

, qu

e po

de s

er u

m f

ator

lim

itad

or p

ara

a to

tal

“lib

erda

de”

de

esco

lha

entr

e do

is c

ompo

rtam

ento

s.

A t

eori

a da

mor

al n

ão s

e po

de d

ista

ncia

r da

s qu

estõ

es p

ráti

co-m

orai

s, p

osto

que

são

sua

próp

ria

razã

o de

ser

.

5

2. O

Cam

po

da

Éti

ca

A é

tica

, por

ser

dis

cipl

ina

teór

ica

que

estu

da a

mor

al, d

eve

se l

imit

ar a

exp

lica

r,

escl

arec

er o

u in

vest

igar

um

a de

term

inad

a re

alid

ade,

poi

s se

u va

lor

com

o te

oria

está

naq

uilo

que

exp

lica

, e n

ão n

o fa

to d

e pr

escr

ever

ou

reco

men

dar

com

vis

tas

à

ação

em

sit

uaçõ

es c

oncr

etas

.

Qua

ndo

se o

cupa

de

anal

isar

a p

ráti

ca m

oral

de

uma

soci

edad

e de

det

erm

inad

a

époc

a, a

éti

ca d

eve

mer

amen

te e

scla

rece

r o

fato

de

os m

embr

os d

aque

le g

rupo

soci

al te

rem

rec

orri

do a

prá

tica

s m

orai

s di

fere

ntes

e a

té o

post

as.

Por

ser

ciê

ncia

que

est

uda

a m

oral

, a

étic

a ne

m s

e id

enti

fica

com

pri

ncíp

ios

de

mor

al e

m p

arti

cula

r, n

emfi

ca in

dife

rent

e a

eles

.

A é

tica

dev

e fo

rnec

er a

com

pree

nsão

rac

iona

l de

um

asp

ecto

rea

l e

efet

ivo

do

com

port

amen

to d

os h

omen

s, p

auta

dos

em f

atos

de

valo

r.

3. D

efin

ição

da

Éti

ca

A

étic

a é

a te

oria

ou

ci

ênci

a do

co

mpo

rtam

ento

m

oral

do

s ho

men

s em

soci

edad

e.

A é

tica

pro

cura

det

erm

inar

a e

ssên

cia

da m

oral

, e

as c

ondi

ções

obj

etiv

as e

subj

etiv

as d

o at

o m

oral

, as

fon

tes

de a

vali

ação

mor

al,

a na

ture

za e

fun

ção

dos

juíz

os m

orai

s, o

s cr

itér

ios

de j

usti

fica

ção

dess

es j

uízo

s e

o pr

incí

pio

que

rege

a

mud

ança

de

dife

rent

es s

iste

mas

mor

ais.

Seu

car

áter

cie

ntíf

ico

deve

asp

irar

à r

acio

nali

dade

e o

bjet

ivid

ade,

e p

ropo

rcio

nar

conh

ecim

ento

s co

mpr

ováv

eis.

A m

oral

é o

bjet

o da

ciê

ncia

éti

ca, p

oden

do s

ofre

r

infl

uênc

ia d

esta

.

Hoj

e em

dia

há u

ma

dife

renc

iaçã

o cl

ara

entr

e a

mor

al e

a é

tica,

que

nem

sem

pre

ocor

reu.

4. É

tica

e F

ilos

ofia

Dad

a a

sua

pret

ensã

o de

est

udar

cie

ntif

icam

ente

o c

ompo

rtam

ento

hum

ano

mor

al,

a ét

ica

se o

põe

à co

ncep

ção

trad

icio

nal

que

a re

duzi

a a

um s

impl

es

Page 3: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

6

capí

tulo

da

fi

loso

fia.

E

m

tem

pos

rem

otos

, en

quan

to

aind

a nã

o se

ha

via

elab

orad

o um

sab

er c

ient

ífic

o, a

fil

osof

ia s

e ap

rese

ntav

a co

mo

uma

espé

cie

de

“sab

er to

tal”

que

trat

ava

de tu

do. M

oder

nam

ente

, por

ém, a

bre-

se e

spaç

o pa

ra u

m

conh

ecim

ento

cie

ntíf

ico

verd

adei

ro;

e a

étic

a, c

omo

outr

as c

iênc

ias,

des

pren

de-

se d

o tr

onco

com

um d

a fi

loso

fia

para

se

ocup

ar d

e um

obj

eto

espe

cífi

co d

e

inve

stig

ação

com

met

odol

ogia

pró

pria

e r

acio

nali

dade

.

Em

bora

ét

ica

se d

espr

enda

do

seu

tron

co,

volt

a e

mei

a se

rem

ete

a el

e, d

ada

a

sua

ineg

ável

riq

ueza

e v

ital

idad

e.

Con

side

rand

o o

com

port

amen

to m

oral

do

hom

em,

que

não

é al

go e

stáv

el e

sim

dinâ

mic

o qu

e so

fre

cons

tant

es v

aria

ções

ao

long

o do

tem

po,

a ét

ica

tem

com

o

fund

amen

to

a co

ncep

ção

filo

sófi

ca

do

hom

em,

que

nos

um

pano

ram

a

gene

rali

zado

des

te c

omo

ser

soci

al, h

istó

rico

e c

riad

or.

5. A

Éti

ca e

Ou

tras

Ciê

nci

as

A é

tica

ine

gave

lmen

te s

e re

laci

ona

com

out

ras

ciên

cias

, co

mo

por

exem

plo

a

psic

olog

ia, q

uand

o a

étic

a pr

ecis

a co

mpr

eend

er a

s le

is q

ue r

egem

as

mot

ivaç

ões

inte

rnas

, su

bjet

ivas

do

at

o m

oral

que

é o

com

port

amen

to

do

indi

vídu

o.

Ent

reta

nto,

qu

e se

sa

ber

sepa

rar

a ét

ica

das

dem

ais

ciên

cias

, co

mo

da

psic

olog

ia, p

or e

xem

plo.

Out

ross

im,

a an

trop

olog

ia e

a s

ocio

logi

a sã

o ci

ênci

as q

ue c

ontr

ibue

m p

ara

a

étic

a, p

or a

nali

sar

os i

ndiv

íduo

s so

b a

ópti

ca d

e se

us r

elac

iona

men

tos

soci

ais.

Mas

a é

tica

tam

pouc

o se

red

uz à

soc

iolo

gia.

Dad

o o

proc

esso

de

suce

ssão

dos

com

port

amen

tos

mor

ais

na h

uman

idad

e, a

antr

opol

ogia

e a

his

tóri

a pr

opõe

m à

éti

ca u

m p

robl

ema

fund

amen

tal:

o d

e

dete

rmin

ar s

e ex

iste

um

pro

gres

so m

oral

.

A c

iênc

ia j

uríd

ica

tam

bém

suas

con

trib

uiçõ

es,

uma

vez

que

trat

a de

nor

mas

impo

stas

co

m

cará

ter

de

obri

gaçã

o ex

teri

or

e de

fo

rma

coer

citi

va,

dife

rent

emen

te d

as n

orm

as m

orai

s, q

ue n

ão s

ão e

xter

iore

s ne

m c

oerc

itiv

as.

7

A c

iênc

ia d

as r

elaç

ões

econ

ômic

as t

ambé

m s

e re

laci

ona

com

a é

tica

, na

med

ida

em q

ue m

odif

icam

a m

oral

dom

inan

te e

m d

ada

soci

edad

e, e

tam

bém

na

med

ida

em q

ue o

s fe

nôm

enos

eco

nôm

icos

col

ocam

pro

blem

as m

orai

s no

cot

idia

no d

as

pess

oas.

CA

PÍT

UL

O I

I -

MO

RA

L E

HIS

RIA

1. C

arát

er H

istó

rico

da

Mor

al

His

tori

cam

ente

, o

conj

unto

de

no

rmas

e

regr

as

de

dada

co

mun

idad

e

repr

esen

tada

s pe

la m

oral

sof

re v

aria

ções

ao

long

o do

tem

po.

Oco

rre

a su

cess

ão

de c

erta

s m

orai

s so

bre

outr

as m

orai

s, p

oden

do-s

e fa

lar

da m

oral

da

Ant

igüi

dade

,

da m

oral

feu

dal

da I

dade

Méd

ia,

da m

oral

bur

gues

a na

soc

ieda

de m

oder

na,

etc.

A é

tica

con

side

ra a

mor

al m

utáv

el c

om o

tem

po.

Por

tant

o, a

ori

gem

da

mor

al s

e si

tua

fora

da

hist

ória

– e

la é

ani

stór

ica,

ou

anti

-

hist

óric

a, e

ess

e a-

hist

oric

ism

ose

gue

três

dir

eçõe

s fu

ndam

enta

is:

a)

Deu

s co

mo

orig

em o

u fo

nte

da m

oral

:qu

ando

as

norm

as m

orai

s

deri

vam

de

um p

oder

sob

re-h

uman

o; a

s ra

ízes

da

mor

al e

stão

for

a e

acim

a do

hom

em, e

não

nel

e pr

ópri

o.

b)

A n

atur

eza

com

o or

igem

ou

font

e da

mor

al:

a co

ndut

a m

oral

do

hom

em

seri

a m

ero

aspe

cto

da

cond

uta

natu

ral

e bi

ológ

ica.

A

s

qual

idad

es

mor

ais

teri

am

orig

em

nos

inst

into

s,

e po

deri

am

ser

enco

ntra

das

até

mes

mo

nos

anim

ais.

c)

O H

omem

com

o or

igem

e f

onte

da

mor

al:

cons

ider

a o

hom

em c

omo

dete

ntor

de

um

a es

sênc

ia

eter

na

e im

utáv

el

iner

ente

a

todo

s os

indi

vídu

os;

assi

m,

a m

oral

con

stit

uiri

a um

asp

ecto

des

ta m

anei

ra d

e

ser,

que

per

man

ece

atra

vés

das

mud

ança

s hi

stór

icas

e s

ocia

is.

Page 4: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

8

Nas

trê

s co

ncep

ções

, há

a c

oinc

idên

cia

quan

to à

bus

ca d

a or

igem

e d

a fo

nte

da

mor

al f

ora

do h

omem

con

cret

o. A

lém

dis

so,

acen

tua-

se o

car

áter

his

tóri

co d

a

mor

al,

onde

oco

rrem

as

mud

ança

s hi

stór

icas

na

mor

al,

que

leva

m a

que

stio

nar

acer

ca (

i) d

as c

ausa

s ou

fat

ores

que

det

erm

inam

as

mud

ança

s, e

(ii

) do

seu

sent

ido

ou d

ireç

ão –

se

há o

u nã

o um

pro

gres

so m

oral

.

2. O

rige

ns

da

Mor

al

A m

oral

sur

ge q

uand

o o

hom

em a

ting

e su

a na

ture

za s

ocia

l, se

ndo

mem

bro

de

uma

cole

tivi

dade

, ond

e el

e se

nte

que

prec

isa

se c

ompo

rtar

de

cert

o m

odo

por

ter

uma

cons

ciên

cia

de s

ua r

elaç

ão c

om o

s de

mai

s.

O t

raba

lho

do h

omem

tam

bém

adq

uire

um

car

áter

col

etiv

o, e

o f

orta

leci

men

to

da c

olet

ivid

ade

se t

orna

um

a ne

cess

idad

e vi

tal

para

ven

cer

as d

ific

ulda

des

de

sobr

eviv

ênci

a; é

ent

ão q

ue s

urge

m u

ma

séri

e de

nor

mas

não

esc

rita

s qu

e ir

ão

bene

fici

ar a

com

unid

ade,

e a

ssim

nas

ce a

mor

al, p

ara

conc

ilia

r o

com

port

amen

to

indi

vidu

al c

om o

s in

tere

sses

col

etiv

os.

Os

indi

vídu

os, e

ntão

, pas

sam

a j

ulga

r o

com

port

amen

to a

lhei

o co

mo

“bom

”/út

il

ou

“mau

”/ne

fast

o pa

ra

man

ter

a co

leti

vida

de.

A

ques

tão

do

bene

fíci

o da

com

unid

ade

é a

orig

em d

o qu

e m

oder

nam

ente

cha

mam

os d

e vi

rtud

es o

u ví

cios

.

O c

once

ito

de j

usti

ça c

orre

spon

de t

ambé

m a

o m

esm

o pr

incí

pio

cole

tivi

sta,

sej

a

no s

enti

do d

e ig

uald

ade

na d

istr

ibui

ção,

sej

a no

de

faze

r a

repa

raçã

o de

um

mal

caus

ado

a um

mem

bro

da c

olet

ivid

ade.

Des

tart

e, n

as c

omun

idad

es p

rim

itiv

as o

aspe

cto

cole

tivo

abs

orve

o i

ndiv

idua

l,

dize

ndo-

se s

er u

ma

mor

al p

ouco

des

envo

lvid

a, e

m c

ontr

apos

ição

com

a m

oral

mai

s el

evad

a, b

asea

da n

a re

spon

sabi

lida

de p

esso

al.

O p

rogr

esso

da

mor

al s

e dá

em

virt

ude

das

nova

s co

ndiç

ões

econ

ômic

o-so

ciai

s,

part

icul

arm

ente

o

apar

ecim

ento

da

prop

ried

ade

priv

ada

e a

divi

são

da s

ocie

dade

em

cla

sses

.

9

3. M

ud

ança

s H

istó

rico

-Soc

iais

e M

ud

ança

s d

a M

oral

O a

umen

to g

ener

aliz

ado

da p

rodu

tivid

ade

de t

raba

lho

torn

ou p

ossí

vel

esto

car

quan

tida

des

exce

dent

es d

e pr

odut

os,

cria

ndo

assi

m c

ondi

ções

par

a qu

e su

rgis

se

a de

sigu

alda

de d

e be

ns e

ntre

che

fes

de f

amíl

ia q

ue a

ntes

rep

arti

am i

gual

men

te

os f

ruto

s em

raz

ão d

e su

a ne

cess

idad

e m

útua

. T

al s

itua

ção

poss

ibil

itou

ain

da a

apro

pria

ção

priv

ada

dos

bens

ou

pr

odut

os

de

trab

alho

al

heio

, e

daí

o

anta

goni

smo

entr

e po

bres

e r

icos

. A

pro

prie

dade

pri

vada

ace

ntuo

u a

divi

são

entr

e os

hom

ens

livr

es e

os

escr

avos

, e

fez

surg

ir u

ma

mor

al p

rópr

ia d

e ca

da

uma

dess

as c

ondi

ções

de

escr

avid

ão o

u de

lib

erda

de,

send

o do

min

ante

a m

oral

dos

hom

ens

livr

es,

tant

o no

cam

po p

ráti

co c

omo

no t

eóri

co –

não

porq

ue s

e

base

ava

na m

oral

dos

fil

ósof

os d

a A

ntig

üida

de, m

as ta

mbé

m p

orqu

e a

mor

al d

os

escr

avos

não

se

cons

egui

a al

çar

a um

nív

el te

óric

o.

Com

o d

esap

arec

imen

to d

o m

undo

Ant

igo,

ass

enta

do n

a es

crav

idão

, na

sce

a

soci

edad

e fe

udal

, cu

jo r

egim

e ec

onôm

ico-

soci

al s

e ba

seia

na

divi

são

em d

uas

clas

ses

soci

ais

fund

amen

tais

: a

dos

senh

ores

feu

dais

e a

dos

cam

pone

ses

serv

os.

Em

bora

su

as

cond

içõe

s de

vi

da

cont

inua

ssem

di

fíce

is,

os

serv

os

eram

form

alm

ente

rec

onhe

cido

s co

mo

sere

s hu

man

os, e

m v

ez d

e co

isas

.

Na

pirâ

mid

e so

cial

de

entã

o se

incl

uía

a Ig

reja

, que

tam

bém

pos

suía

seu

s fe

udos

;

além

dis

so,

devi

do a

o se

u pa

pel

prep

onde

rant

e, a

mor

al d

a Id

ade

Méd

ia e

stav

a

impr

egna

da d

e co

nteú

do r

elig

ioso

, m

as h

avia

tam

bém

as

mor

ais

próp

rias

dos

nobr

es e

dos

cav

alei

ros.

Aos

pou

cos

surg

iu u

ma

nova

cla

sse

soci

al:

a bu

rgue

sia,

com

sua

mor

al p

ecul

iar,

que

era

a do

s tr

abal

hado

res

assa

lari

ados

– p

rinc

ípio

da

lei

de p

rodu

ção

de m

ais-

vali

a ec

onôm

ica

– e

que

tam

bém

exi

gia

mão

-de-

obra

liv

re.

A e

cono

mia

pas

sa a

ser

regi

da p

ela

lei

do m

áxim

o lu

cro,

que

ger

a um

a m

oral

pró

pria

: um

a m

oral

mui

to i

ndiv

idua

list

a qu

e dá

lug

ar a

o es

píri

to d

e po

sse

e ao

ego

ísm

o, t

endo

tam

bém

mét

odos

bru

tais

de

expl

oraç

ão d

o tr

abal

ho h

uman

o em

bus

ca d

a m

ais-

vali

a. T

al s

itua

ção

evol

ui p

ara

o ca

pita

lism

o ba

sead

o em

mét

odos

cie

ntíf

icos

e

raci

onal

izad

os d

e pr

oduç

ão e

m s

érie

, e

dest

e pa

sso

evol

ui a

inda

par

a um

mai

or

Page 5: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

10

resp

eito

aos

tra

balh

ador

es e

à p

reoc

upaç

ão c

om s

eus

inte

ress

es e

nec

essi

dade

s,

mas

tud

o vi

sand

o ao

ben

efíc

io d

a em

pres

a on

de e

le t

raba

lha,

vis

ando

mai

or

prod

utiv

idad

e.

Ao

long

o de

séc

ulos

, os

mai

s di

vers

os m

odos

de

expl

oraç

ão d

o ho

mem

pel

o

hom

em n

o ca

pita

lism

o e

a vi

olên

cia

usad

a po

r co

nqui

stad

ores

nas

col

ônia

s se

deu

sem

qu

e se

le

vant

asse

m

prob

lem

as

mor

ais

para

se

us

exec

utor

es.

Est

a

situ

ação

mud

a no

s te

mpo

s m

oder

nos,

qua

ndo

se c

omeç

a a

reco

rrer

à m

oral

na

tent

ativ

a de

jus

tifi

car

as o

pres

sões

. E

ntre

tant

o, a

os p

ouco

s os

pov

os s

ubju

gado

s

com

eçam

a d

esen

volv

er s

ua p

rópr

ia m

oral

: com

sua

hon

ra, a

fid

elid

ade

aos

seus

,

etc.

A

conc

lusã

o da

exp

osiç

ão

ante

rior

é

de q

ue

a m

oral

vi

vida

rea

lmen

te n

a

soci

edad

e m

uda

hist

oric

amen

te d

e ac

ordo

com

as

revi

ravo

ltas

fun

dam

enta

is

veri

fica

das

no d

esen

volv

imen

to s

ocia

l.

Um

a no

va m

oral

, au

tent

icam

ente

hum

ana,

im

plic

ará

num

a gr

ande

mud

ança

de

atit

ude,

men

os i

ndiv

idua

list

a e

com

mai

s es

píri

to c

olet

ivis

ta;

entr

etan

to,

essa

nova

mor

al e

stá

long

e de

ser

ati

ngid

a, p

ois

são

nece

ssár

ias

vári

as m

udan

ças

de

orde

m e

conô

mic

a, s

ocia

l e p

olít

ica.

4. O

Pro

gres

so M

oral

Já v

imos

que

a m

oral

se

dese

nvol

ve a

o lo

ngo

do t

empo

de

acor

do c

om o

mom

ento

his

tóri

co e

soc

ial.

É i

mpo

rtan

te s

aber

mos

com

para

r as

div

ersa

s m

orai

s

já h

avid

as p

ara

dete

rmin

ar q

ual

dela

s se

apr

esen

ta m

ais

avan

çada

, ou

mai

s

elev

ada.

O p

rogr

esso

mor

al n

ão p

ode

ser

conc

ebid

o in

depe

nden

tem

ente

do

prog

ress

o hi

stór

ico-

soci

al,

mas

não

se

lim

ita

a es

te;

dest

arte

, é

mis

ter

sabe

r

dife

renc

iar

uma

cois

a da

out

ra.

Pod

e-se

us

ar

com

o ín

dice

de

pr

ogre

sso

hum

ano

quan

do

ocor

re

um

dese

nvol

vim

ento

das

for

ças

prod

utiv

as.

Por

ém i

sto

não

bast

a, p

osto

que

o

hom

em p

rodu

z so

men

te e

m s

ocie

dade

. P

orta

nto,

out

ro c

rité

rio

de p

rogr

esso

hum

ano

resi

de n

o ti

po d

e or

gani

zaçã

o so

cial

e n

o gr

au c

orre

spon

dent

e de

11

part

icip

ação

dos

hom

ens

na s

ua p

raxi

s so

cial

. H

á ai

nda

outr

o ín

dice

: o

da

prod

ução

de

bens

cul

tura

is,

com

o no

cam

po d

a ci

ênci

a e

da a

rte.

Tod

os e

sses

índi

ces

– at

ivid

ade

prod

utiv

a, s

ocia

l e

espi

ritu

al –

são

usa

dos

conj

unta

men

te

para

ava

liar

o s

ujei

to d

o pr

ogre

sso

hist

óric

o: o

hom

em s

ocia

l.

de s

e at

enta

r pa

ra o

s fa

tos

de q

ue o

pro

gres

so h

istó

rico

é f

ruto

da

ativ

idad

e

cole

tiva

con

scie

nte

dos

hom

ens,

e t

ambé

m d

e qu

e ta

l pr

ogre

sso

se d

á em

rit

mos

dife

rent

es n

os d

iver

sos

povo

s.

Tir

am-s

e du

as

conc

lusõ

es

das

cara

cter

ísti

cas

do

prog

ress

o hi

stór

ico-

soci

al:

(a)

ele

cria

as

cond

içõe

s ne

cess

ária

s pa

ra o

pro

gres

so m

oral

; e (

b) e

le p

ode

afet

ar

nega

tiva

ou

posi

tiva

men

te o

s ho

men

s de

dad

a so

cied

ade

sob

o po

nto

de v

ista

mor

al.

O p

rim

eiro

fat

or d

e m

ediç

ão d

o pr

ogre

sso

mor

al é

a a

mpl

iaçã

o da

“es

fera

mor

al”

na v

ida

soci

al.

Isto

se

dá q

uand

o os

ind

ivíd

uos

pass

am a

reg

er s

eus

atos

por

norm

as i

nter

nas

ou d

e or

dem

ínt

ima

e su

bjet

iva,

e n

ão m

ais

por

norm

as

exte

rnas

, co

mo

a co

ação

ou

es

tím

ulos

m

ater

iais

co

mo

mai

or

reco

mpe

nsa

econ

ômic

a.

O s

egun

do f

ator

é a

ele

vaçã

o do

car

áter

con

scie

nte

e li

vre

do c

ompo

rtam

ento

dos

indi

vídu

os

ou

dos

grup

os

soci

ais,

e

pelo

co

nseq

üent

e cr

esci

men

to

da

resp

onsa

bili

dade

des

tes

indi

vídu

os o

u gr

upos

no

seu

com

port

amen

to m

oral

.

Ass

im,

o pr

ogre

sso

mor

al

é in

sepa

ráve

l do

de

senv

olvi

men

to

da

livr

e

pers

onal

idad

e.

O t

erce

iro

índi

ce d

e pr

ogre

sso

mor

al é

o g

rau

de a

rtic

ulaç

ão e

de

coor

dena

ção

dos

inte

ress

es c

olet

ivos

e p

esso

ais.

A m

oral

dit

a su

peri

or o

corr

e qu

ando

um

equi

líbr

io e

ntre

os

inte

ress

es d

a co

mun

idad

e e

os e

stri

tam

ente

indi

vidu

ais.

O p

rogr

esso

mor

al t

ambé

m s

e dá

na

nega

ção

e na

rea

firm

ação

de

algu

ns

elem

ento

s m

orai

s an

teri

ores

; os

mai

s el

evad

os –

com

o a

soli

dari

edad

e, p

or

exem

plo

– ad

quir

em c

erta

uni

vers

alid

ade

e se

man

têm

na

hist

ória

.

Page 6: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

12

CA

PÍT

UL

O I

II -

A E

SS

ÊN

CIA

DA

MO

RA

L

Pro

põe-

se a

seg

uint

e de

fini

ção

de m

oral

com

o po

nto

de p

arti

da:

a m

oral

é u

m

conj

unto

de

no

rmas

, ac

eita

s li

vre

e co

nsci

ente

men

te,

que

regu

lam

o

com

port

amen

to in

divi

dual

e s

ocia

l dos

hom

ens.

1. O

Nor

mat

ivo

e o

Fat

ual

Enc

ontr

amos

na

mor

am d

ois

plan

os:

(a)

o no

rmat

ivo,

con

stit

uído

pel

as n

orm

as

ou r

egra

s de

açã

o, o

dev

er-s

er;

e (b

) o

fatu

al,

ou p

lano

dos

fat

os m

orai

s,

cons

titu

ído

por

atos

hum

anos

con

cret

os, e

por

tant

o in

depe

nden

tes

do d

ever

-ser

.

Os

fato

s m

orai

s es

tão

em c

onst

ante

int

eraç

ão c

om o

nor

mat

ivo,

pos

to q

ue

sem

pre

adqu

irem

um

sig

nifi

cado

mor

al p

osit

ivo

ou n

egat

ivo;

e o

nor

mat

ivo

não

exis

te

inde

pend

ente

men

te

do

fatu

al,

pois

ap

onta

pa

ra

um

com

port

amen

to

efet

ivo.

As

norm

as

exis

tem

e

vale

m

inde

pend

ente

men

te

da

med

ida

em

que

seja

m

cum

prid

as o

u vi

olad

as.

2. M

oral

e M

oral

idad

e

A d

isti

nção

ent

re m

oral

e m

oral

idad

e co

rres

pond

e à

indi

cada

ent

re n

orm

ativ

o e

fatu

al.

Ent

reta

nto,

o

mel

hor

é em

preg

ar

um

únic

o te

rmo:

m

oral

mas

sign

ific

ando

os

dois

pla

nos,

ou

seja

, o n

orm

ativ

o e

o pr

átic

o.

3. C

arát

er S

ocia

l da

Mor

al

A m

oral

pos

sui,

em s

ua e

ssên

cia,

um

a qu

alid

ade

soci

al,

e po

rtan

to e

la s

e

man

ifes

ta s

omen

te n

a so

cied

ade.

Ess

a so

cial

idad

e se

rev

ela

em t

rês

aspe

ctos

fund

amen

tais

:

13

A)

Cad

a pe

ssoa

, co

mpo

rtan

do-s

e m

oral

men

te,

suje

ita-

se

a de

term

inad

os

prin

cípi

os,

valo

res

ou n

orm

as m

orai

s vá

lida

s se

gund

o a

époc

a hi

stór

ica,

a

soci

edad

e e

o ti

po r

elaç

ão s

ocia

l dom

inan

te.

B)

O c

ompo

rtam

ento

mor

al é

tan

to d

e in

diví

duos

com

o de

gru

pos

soci

ais

hum

anos

, e te

m c

arát

er li

vre

e co

nsci

ente

.

C)

As

idéi

as,

norm

as

e re

laçõ

es

soci

ais

surg

em

em

deco

rrên

cia

de

uma

nece

ssid

ade

soci

al.

Par

a cu

mpr

ir

cert

as

norm

as

soci

ais,

o

pode

r co

erci

tivo

do

E

stad

o nã

o é

sufi

cien

te;

busc

a-se

que

os

indi

vídu

os a

ceit

em í

ntim

a e

livr

emen

te a

ord

em

soci

al e

stab

elec

ida,

e a

qui r

esid

e a

funç

ão s

ocia

l da

mor

al.

A m

oral

pos

sui

um c

arát

er s

ocia

l po

rque

(a)

os

indi

vídu

os s

e su

jeit

am a

nor

mas

soci

al e

stab

elec

idas

; (b

) re

gula

som

ente

ato

s qu

e ac

arre

tam

con

seqü

ênci

as p

ara

os o

utro

s; e

(c)

cum

pre

a fu

nção

soc

ial

de i

nduz

ir o

s in

diví

duos

a a

ceit

ar l

ivre

e

cons

cien

tem

ente

det

erm

inad

os p

rinc

ípio

s, v

alor

es o

u in

tere

sses

.

4. O

In

div

idu

al e

o C

olet

ivo

na

Mor

al

O

indi

vídu

o po

de

agir

m

oral

men

te

apen

as

em

soci

edad

e.

No

níve

l da

regu

lam

enta

ção

mor

al c

onsu

etud

inár

ia,

o in

diví

duo

sent

e so

bre

si a

pre

ssão

do

cole

tivo

. E

ntre

tant

o,

por

mai

s fo

rtes

qu

e se

jam

os

el

emen

tos

obje

tivo

s e

cole

tivo

s, a

dec

isão

e o

ato

res

pect

ivo

eman

am d

e um

ind

ivíd

uo q

ue a

ge l

ivre

e

cons

cien

tem

ente

, as

sum

indo

um

a re

spon

sabi

lida

de i

ndiv

idua

l. P

or o

utro

lad

o,

mes

mo

quan

do o

ind

ivíd

uo p

ensa

que

age

em

obe

diên

cia

excl

usiv

a à

sua

cons

ciên

cia,

a u

ma

supo

sta

“voz

int

erio

r”,

e po

rtan

to p

ensa

que

dec

ide

sozi

nho

conf

orm

e su

a co

nsci

ênci

a, e

le n

ão d

eixa

de

acus

ar a

inf

luên

cia

do m

undo

soc

ial

do q

ual f

az p

arte

.

A m

oral

im

plic

a se

mpr

e um

a co

nsci

ênci

a in

divi

dual

que

faz

sua

s ou

int

erio

riza

as r

egra

s de

açã

o qu

e se

lhe

apre

sent

am c

om u

m c

arát

er n

orm

ativ

o.

Page 7: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

14

5. E

stru

tura

do

Ato

Mor

al

O a

to m

oral

de s

er a

nali

sado

pel

o se

u m

otiv

o, e

tam

bém

pel

o se

u fim

vis

ado.

O m

otiv

o, c

omo

aspe

cto

impo

rtan

te d

o at

o m

oral

, po

de s

er d

e na

ture

zas

vári

as,

incl

usiv

e in

cons

cien

tes,

e n

ão p

ode

ser

obje

to d

e ap

rova

ção

ou d

esap

rova

ção.

O

fim

do

ato

mor

al é

(i)

alg

o vo

lunt

ário

, ou

sej

a, h

ouve

um

a de

cisã

o de

rea

liza

r o

fim

esc

olhi

do,

e (i

i) p

ress

upõe

a e

scol

ha d

e um

úni

co f

im e

m d

etri

men

to d

e

outr

os f

ins

poss

ívei

s, p

or a

char

que

o e

scol

hido

é p

refe

ríve

l. A

seg

uir,

vem

a

esco

lha

dos

mei

os p

ara

a co

nsec

ução

do

fim

esc

olhi

do,

send

o qu

e m

esm

o um

fim

mui

to e

leva

do n

ão j

ustif

ica

mei

os b

aixo

s pa

ra a

sua

con

secu

ção.

O a

to

mor

al, a

dem

ais,

sup

õe u

msu

jeit

o re

al d

otad

o de

con

sciê

ncia

mor

al.

A i

nten

ção

tam

bém

é u

m a

spec

to i

mpo

rtan

te d

o at

o m

oral

, e e

las

não

se p

odem

salv

ar m

oral

men

te, p

orqu

e nã

o po

dem

os i

solá

-las

dos

mei

os n

em d

os r

esul

tado

s

– em

out

ras

pala

vras

: m

eios

e r

esul

tado

s m

aus

não

se j

ustif

icam

com

inte

nçõe

s

boas

.

6. S

ingu

lari

dad

e d

o A

to M

oral

A s

ingu

lari

dade

, no

vida

de e

im

prev

isib

ilida

de d

e ca

da s

itua

ção

real

col

ocam

o

ato

mor

al n

um c

onte

xto

part

icul

ar q

ue i

mpe

de a

pos

sibi

lidad

e de

dit

ar p

or

ante

cipa

ção

uma

regr

a de

rea

liza

ção

– pr

eten

são

vã d

o ca

suís

mo

ou c

asuí

stic

a,

que

por

sua

vez

empo

brec

e a

vida

mor

al.

7. C

oncl

usã

o

Os

traç

os e

ssen

ciai

s da

mor

al s

ão o

s se

guin

tes:

1) A

mor

al é

um

a fo

rma

de c

ompo

rtam

ento

hum

ano

que

com

pree

nde

um

aspe

cto

norm

ativ

o (r

egra

s de

açã

o) e

out

ro f

atua

l (at

os d

e na

ture

za p

ráti

ca).

2) A

mor

al é

um

fat

o so

cial

; ver

ific

a-se

som

ente

em

soc

ieda

de.

3) E

mbo

ra a

mor

al p

ossu

a ca

ráte

r so

cial

, o

indi

vídu

o ne

la d

esem

penh

a pa

pel

deci

sivo

, dad

a a

exig

ênci

a de

inte

rior

izaç

ão d

as n

orm

as e

da

sua

ades

ão ín

tim

a a

elas

.

15

4) O

ato

mor

al é

um

a un

idad

e in

diss

olúv

el d

os s

eus

dive

rsos

ele

men

tos:

mot

ivo,

inte

nção

, dec

isão

, mei

os e

res

ulta

dos.

5) O

ato

mor

al c

oncr

eto

é pa

rte

de u

m c

onte

xto

norm

ativ

o em

vig

or e

m u

ma

dete

rmin

ada

com

unid

ade

que

lhe

dá s

enti

do.

6) O

ato

mor

al,

send

o co

nsci

ente

e v

olun

tári

o, s

upõe

um

a pa

rtic

ipaç

ão l

ivre

do

suje

ito

em s

ua r

eali

zaçã

o.

Def

iniç

ão d

e m

oral

: a

mor

al é

um

sis

tem

a de

nor

mas

, pr

incí

pios

e v

alor

es,

segu

ndo

o qu

al s

ão r

egul

amen

tada

s as

rel

açõe

s m

útua

s en

tre

os i

ndiv

íduo

s ou

entr

e es

tes

e a

com

unid

ade,

de

tal

man

eira

que

est

as n

orm

as,

dota

das

de u

m

cará

ter

hist

óric

o e

soci

al,

seja

m a

cata

das

livr

e e

cons

cien

tem

ente

, po

r um

a

conv

icçã

o ín

tim

a, e

não

de

uma

man

eira

mec

ânic

a, e

xter

na o

u im

pess

oal.

CA

PÍT

UL

O I

V -

A M

OR

AL

E O

UT

RA

S F

OR

MA

S D

E

CO

MP

OR

TA

ME

NT

O H

UM

AN

O

1. D

iver

sid

ade

do

com

por

tam

ento

Hu

man

o

As

rela

ções

do

hom

em c

om o

mun

do e

xter

ior,

dif

eren

tem

ente

do

anim

al, s

ão d

e

orde

ns m

uito

div

ersa

s: t

raba

lho,

art

e, c

onhe

cim

ento

e r

elig

ião.

Alé

m d

isso

, as

rela

ções

do

s ho

men

s en

tre

si

tam

bém

o m

uita

s:

econ

ômic

as,

polí

tica

s,

jurí

dica

s, m

orai

s, e

tc. C

abe

aqui

exa

min

ar, e

m t

erm

os g

erai

s, a

dis

tinç

ão e

ntre

o

com

port

amen

to m

oral

e o

utra

s fo

rmas

do

com

port

amen

to h

uman

o, a

seg

uir.

2. M

oral

e R

elig

ião

duas

tes

es s

obre

rel

igiã

o e

mor

al:

(i)

a re

ligi

ão i

nclu

i ce

rta

mor

al;

e (i

i) D

eus

com

o ga

rant

ia d

a m

oral

. E

ntre

tant

o, a

his

tóri

a da

hum

anid

ade

dem

onst

ra q

ue a

mor

al n

ão s

omen

te n

ão s

e or

igin

a da

rel

igiã

o co

mo

tam

bém

é a

nter

ior

a el

a.

Page 8: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

16

3. M

oral

e P

olít

ica

Enq

uant

o a

mor

al r

egul

amen

ta a

s re

laçõ

es m

útua

s en

tre

os i

ndiv

íduo

s e

entr

e

este

s e

a co

mun

idad

e, a

pol

ítica

abr

ange

as

rela

ções

ent

re g

rupo

s hu

man

os

(cla

sses

, po

vos

ou

naçõ

es).

N

a po

lític

a,

o in

diví

duo

enca

rna

uma

funç

ão

cole

tiva

, ao

pa

sso

que

agin

do

mor

alm

ente

o

elem

ento

ín

tim

o e

subj

etiv

o

dese

mpe

nha

um p

apel

impo

rtan

te.

As

rela

ções

ext

rem

as e

ntre

pol

ític

a e

mor

al s

ão: (

i) a

do

mor

alis

mo

abst

rato

, que

leva

a r

eduz

ir a

pol

ític

a à

mor

al, e

(ii

)do

rea

lism

o po

lític

o, q

ue d

efen

de a

bus

ca

de

resu

ltad

os

a qu

alqu

er

preç

o,

seja

m

quai

s fo

rem

os

m

eios

em

preg

ados

,

desc

onsi

dera

ndo

a m

oral

.

4. M

oral

e o

Dir

eito

De

toda

s as

for

mas

de

com

port

amen

to h

uman

o, o

jurí

dico

, ou

do d

irei

to, é

o q

ue

mai

s in

tim

amen

te s

e as

soci

a co

m a

mor

al,

pois

os

dois

est

ão s

ujei

tos

a no

rmas

que

regu

lam

as

rela

ções

do

hom

em.

algu

mas

dif

eren

ças

entr

e as

dua

s

form

as:

(i)

as

norm

as

mor

ais

são

cum

prid

as

pela

co

nvic

ção

ínti

ma

dos

indi

vídu

os, a

o pa

sso

que

as n

orm

as ju

rídi

cas

são

cum

prid

as p

or m

otiv

os f

orm

ais

ou e

xter

nos;

(ii

) a

esfe

ra d

a m

oral

é m

ais

ampl

a do

que

a d

o di

reit

o; (

iii)

a m

oral

não

depe

nde

nece

ssar

iam

ente

do

Est

ado,

com

o o

dire

ito.

5. M

oral

e T

rato

Soc

ial

Tam

bém

gua

rdam

rel

ação

com

a m

oral

os

atos

de

trat

o so

cial

, co

mo

por

exem

plo

o ca

valh

eiri

smo,

a p

ontu

alid

ade,

a g

alan

teri

a, e

tc.,

que

pode

m o

u nã

o

vari

ar d

e um

gru

po s

ocia

l pa

ra o

utro

, e

de u

ma

époc

a pa

ra o

utra

. O

tra

to s

ocia

l

proc

ura

regu

lam

enta

r fo

rmal

e e

xter

iorm

ente

a c

onvi

vênc

ia d

os i

ndiv

íduo

s na

soci

edad

e, m

as s

em o

apo

io d

a co

nvic

ção

e ad

esão

ínt

ima

do s

ujei

to (

mor

al)

e

sem

a im

posi

ção

coer

citi

va d

o cu

mpr

imen

to d

as r

egra

s (d

irei

to).

17

6. M

oral

e C

iên

cia

As

rela

ções

ent

re a

mor

al e

a c

iênc

ia p

odem

ser

col

ocad

as e

m d

ois

plan

os:

(a)

o

que

diz

resp

eito

à n

atur

eza

da m

oral

, e s

e é

cabí

vel

fala

r-se

em

car

áter

cie

ntíf

ico

da m

oral

. E

sta

ques

tão

foi

abor

dada

ao

defi

nir

étic

a co

mo

a ci

ênci

a da

mor

al;

e

(b)

o qu

e di

z re

spei

to a

o us

o so

cial

da

ciên

cia,

e a

qui

se f

ala

do p

apel

mor

al o

u

da a

tivi

dade

do

cien

tist

a.

A p

rim

eira

que

stão

enu

ncia

o q

ue a

lgum

a co

isa

é, e

não

o q

ue d

eve

ser.

Ass

im, a

étic

a no

s di

z o

que

a m

oral

é, m

as n

ão e

stab

elec

e no

rmas

. A m

oral

não

é c

iênc

ia,

e si

m id

eolo

gia

que

pode

se

rela

cion

ar c

om a

s di

vers

as c

iênc

ias.

A s

egun

da q

uest

ão d

iz r

espe

ito

à re

spon

sabi

lida

de m

oral

ass

umid

a pe

lo c

ient

ista

no e

xerc

ício

da

sua

ativ

idad

e e

pela

s co

nseq

üênc

ias

soci

ais.

O c

ient

ista

não

pod

e

ser

indi

fere

nte

dian

te d

as c

onse

qüên

cias

soc

iais

do

seu

trab

alho

, qu

e po

de s

er

usad

o pr

a o

bem

ou

para

o m

al d

a so

cied

ade.

Sob

est

e as

pect

o, a

ciê

ncia

não

pode

ser

sep

arad

a da

mor

al.

CA

PÍT

UL

O V

- R

ES

PO

NS

AB

ILID

AD

E M

OR

AL

, DE

TE

RM

INIS

MO

E

LIB

ER

DA

DE

1. C

ond

içõe

s d

a R

esp

onsa

bil

idad

e M

oral

O e

nriq

ueci

men

to –

ou

prog

ress

o –

da v

ida

mor

al a

carr

eta

o au

men

to d

a

resp

onsa

bili

dade

pe

ssoa

l, e

port

anto

a

dete

rmin

ação

da

s co

ndiç

ões

dess

a

resp

onsa

bili

dade

adq

uire

impo

rtân

cia

prim

ordi

al.

A c

have

da

ques

tão

cons

iste

em

sab

er q

uais

são

as

cond

içõe

s ne

cess

ária

s pa

ra

pode

r im

puta

r a

algu

ém u

ma

resp

onsa

bilid

ade

mor

al p

or d

eter

min

ado

ato,

e e

las

são

duas

: (a

) qu

e o

suje

ito

conh

eça

as c

ircu

nstâ

ncia

s e

as c

onse

qüên

cias

da

sua

ação

– o

u se

ja,

seu

ato

deve

ser

con

scie

nte;

e (

b) q

ue a

cau

sa d

os s

eus

atos

sej

a

inte

rior

, e

não

exte

rior

, ou

sej

a, e

m o

utro

age

nte

que

o fo

rce

a ag

ir d

e ce

rta

Page 9: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

18

man

eira

, is

to é

: su

a co

ndut

a de

ve s

er l

ivre

. P

elo

cont

rári

o, a

ign

orân

cia

de u

m

lado

e a

fal

ta d

e li

berd

ade

do o

utro

, per

mit

e ex

imir

o s

ujei

to d

a re

spon

sabi

lida

de

mor

al.

2. A

Ign

orân

cia

e a

Res

pon

sab

ilid

ade

Soc

ial

A i

gnor

ânci

a da

s ci

rcun

stân

cias

, da

nat

urez

a ou

das

con

seqü

ênci

as d

os a

tos

hum

anos

aut

oriz

a a

exim

ir u

m i

ndiv

íduo

da

sua

resp

onsa

bilid

ade

pess

oal,

mas

essa

ise

nção

ser

á ju

stif

icad

a so

men

te q

uand

o, p

or s

ua v

ez,

o in

diví

duo

em

ques

tão

não

for

resp

onsá

vel

pela

sua

ign

orân

cia;

ou

seja

, qua

ndo

se e

ncon

tra

na

impo

ssib

ilida

de

subj

etiv

a (p

or

mot

ivos

pe

ssoa

is)

ou

obje

tiva

(por

m

otiv

os

hist

óric

os e

soc

iais

) de

ser

con

scie

nte

do s

eu a

to p

esso

al.

Par

a il

ustr

ar e

sta

ques

tão,

cit

a-se

o c

aso

de A

rist

ótel

es, q

ue n

ão p

oder

ia s

er r

espo

nsab

iliz

ado

pela

sua

igno

rânc

ia e

m s

aber

que

o e

scra

vo t

ambé

m e

ra u

m s

er h

uman

o e

não

um

sim

ples

inst

rum

ento

.

3. C

oaçã

o E

xter

na

e R

esp

onsa

bil

idad

e M

oral

A c

oaçã

o ex

tern

a po

de a

nula

r a

vont

ade

do a

gent

e m

oral

e e

xim

i-lo

da

sua

resp

onsa

bili

dade

pes

soal

, m

as i

sto

não

pode

ser

tom

ado

num

sen

tido

abs

olut

o,

porq

ue h

á ca

sos

em q

ue,

apes

ar d

as s

uas

form

as e

xter

nas,

sob

ra-l

he c

erta

mar

gem

de

op

ção,

e

port

anto

de

re

spon

sabi

lida

de

mor

al.

Um

ex

empl

o de

exce

ção

é o

caso

do

proc

esso

de

Nur

enbe

rg c

ontr

a os

pri

ncip

ais

diri

gent

es d

o

nazi

smo

alem

ão, e

m q

ue e

les

não

podi

am s

er a

bsol

vido

s de

sua

res

pons

abil

idad

e

mor

al.

4.C

oaçã

o In

tern

a e

Res

pon

sab

ilid

ade

Mor

al

Aqu

i há

as

hipó

tese

s de

doe

nças

men

tais

, em

que

seu

por

tado

r se

nte

uma

vont

ade

irre

sist

ível

de

agir

de

cert

o m

odo,

sob

re o

qua

l o

agen

te n

ão t

em

cont

role

, co

mo

na c

lept

oman

ia.

Mas

fal

ando

de

pess

oas

norm

ais

– a

mai

oria

,

19

esta

s se

mpr

e tê

m c

ontr

ole

sobr

e se

us a

tos,

por

mai

s qu

e si

ntam

um

ou

outr

o

impu

lso.

5. R

esp

onsa

bil

idad

e M

oral

e L

iber

dad

e

A r

espo

nsab

ilid

ade

mor

al p

ress

upõe

a p

ossi

bili

dade

de

deci

dir

e ag

ir v

ence

ndo

a

coaç

ão e

xter

na o

u in

tern

a.

Som

ente

hav

erá

resp

onsa

bili

dade

mor

al s

e ex

isti

r

libe

rdad

e.

6. T

rês

Pos

içõe

s F

un

dam

enta

is n

o P

rob

lem

a d

a L

iber

dad

e

1ª –

O d

eter

min

ism

o é

inco

mpa

tíve

l com

a li

berd

ade.

2ª –

A li

berd

ade

é in

com

patí

vel c

om q

ualq

uer

dete

rmin

ação

ext

erna

ao

suje

ito.

3ª –

Lib

erda

de e

nec

essi

dade

se

conc

ilia

m.

7. O

Det

erm

inis

mo

Ab

solu

to

A t

ese

cent

ral

é a

segu

inte

: tu

do é

cau

sado

, e

port

anto

não

exi

ste

liber

dade

hum

ana

nem

res

pons

abil

idad

e so

cial

.

8. O

Lib

erta

rism

o

Ser

liv

re s

igni

fica

dec

idir

e o

pera

r co

mo

se b

em d

esej

ar.

A c

arac

terí

stic

a de

sta

posi

ção

é a

cont

rapo

siçã

o en

tre

libe

rdad

e e

nece

ssid

ade

caus

al.

A l

iber

dade

de

vont

ade,

long

e de

exc

luir

a c

ausa

lida

de –

no

sent

ido

de r

ompe

r a

cone

xão

caus

al

ou

a ne

gaçã

o to

tal

dest

a (i

ndet

erm

inis

mo)

pres

supõ

e in

evit

avel

men

te

a

nece

ssid

ade

caus

al.

9. D

ialé

tica

da

Lib

erd

ade

e d

a N

eces

sid

ade

As

três

ten

tati

vas

mai

s im

port

ante

s de

sup

erar

dia

leti

cam

ente

a a

ntít

ese

entr

e

libe

rdad

e e

nece

ssid

ade

caus

al f

oram

ela

bora

das

por

Spi

noza

, H

egel

e M

arx-

Eng

els.

Par

a S

pino

za,

não

se p

ode

conc

eber

a l

iber

dade

ind

epen

dent

emen

te d

a

nece

ssid

ade.

Heg

el o

com

plem

enta

, af

irm

ando

que

alé

mde

sse

fato

r há

de

ser

Page 10: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

20

cons

ider

ado

o fa

tor

do d

esen

volv

imen

to h

istó

rico

qua

ndo

se f

ala

da l

iber

dade

a hi

stor

icid

ade.

Mar

x e

Eng

els

acei

tam

as

duas

teo

rias

aci

ma,

e p

arte

m d

o

prin

cípi

o qu

e a

libe

rdad

e é

a co

nsci

ênci

a hi

stór

ica

da n

eces

sida

de.

10. C

oncl

usã

o

O

idea

l é

a co

ncil

iaçã

o di

alét

ica

entr

e a

nece

ssid

ade

e a

libe

rdad

e,

em

conf

orm

idad

e co

m a

sol

ução

de

Mar

x e

Eng

els.

A r

espo

nsab

ilid

ade

mor

al

pres

supõ

e ne

cess

aria

men

te c

erto

gra

u de

lib

erda

de,

mas

est

a, p

or s

ua v

ez,

impl

ica

tam

bém

ine

vita

velm

ente

a n

eces

sida

de c

ausa

l. R

espo

nsab

ilid

ade

mor

al,

libe

rdad

e e

nece

ssid

ade

estã

o, p

orta

nto,

ent

rela

çada

s in

diss

ocia

velm

ente

no

ato

mor

al.

CA

PÍT

UL

O V

I -

OS

VA

LO

RE

S

Tod

o at

o m

oral

inc

lui

a ne

cess

idad

e de

esc

olhe

r en

tre

vári

os a

tos

poss

ívei

s. O

com

port

amen

to m

oral

faz

par

te d

a vi

da c

otid

iana

de

todo

s os

ind

ivíd

uos,

e a

s

pref

erên

cias

por

um

ato

sob

re o

utro

tam

bém

. A

s pr

efer

ênci

as s

empr

e en

volv

em

algu

m ju

ízo

de v

alor

sob

re o

s at

os.

1. Q

ue

são

os v

alor

es

Os

valo

res

pode

m s

er a

trib

uído

s às

coi

sas

ou o

bjet

os n

atur

ais

ou p

rodu

zido

s pe

lo

hom

em,

bem

com

o po

dem

ser

rel

ativ

os à

con

duta

hum

ana,

par

ticu

larm

ente

a

cond

uta

mor

al.

O o

bjet

o va

lios

o nã

o po

de e

xist

ir s

em c

erta

rel

ação

com

um

suje

ito,

nem

ind

epen

dent

emen

te d

as p

ropr

ieda

des

natu

rais

, se

nsív

eis

e fí

sica

s

que

sust

enta

m s

eu v

alor

.

21

2. S

obre

o v

alor

eco

nôm

ico

O t

erm

o “v

alor

” de

riva

da

econ

omia

. P

ara

que

um o

bjet

o te

nha

valo

r de

uso

deve

sat

isfa

zer

uma

nece

ssid

ade

hum

ana,

ind

epen

dent

emen

te d

e se

r na

tura

l ou

prod

uto

do

trab

alho

hu

man

o.

Qua

ndo

este

s ob

jeto

s se

tr

ansf

orm

am

em

mer

cado

rias

, ad

quir

em d

uplo

val

or:

de u

so e

de

troc

a. O

val

or d

e tr

oca

é

adqu

irid

o pe

lo p

rodu

to d

o tr

abal

ho h

uman

o ao

ser

com

para

do c

om o

utro

s

prod

utos

. O

val

or d

e tr

oca

da m

erca

dori

a é

indi

fere

nte

ao s

eu v

alor

de

uso,

ou

seja

, é

inde

pend

ente

de

sua

capa

cida

de d

e sa

tisf

azer

um

a ne

cess

idad

e hu

man

a

dete

rmin

ada.

3. D

efin

ição

do

valo

r

O v

alor

não

é p

ropr

ieda

de d

os o

bjet

os e

m s

i, m

as p

ropr

ieda

de a

dqui

rida

gra

ças

à su

a re

laçã

o co

m o

hom

em c

omo

ser

soci

al. M

as, p

or s

ua v

ez, o

s ob

jeto

s po

dem

ter

valo

r so

men

te q

uand

o do

tado

s re

alm

ente

de

cert

as p

ropr

ieda

des

obje

tiva

s.

4. O

bje

tivi

smo

e su

bje

tivi

smo

axio

lógi

cos

O s

ubje

tivi

smo

axio

lógi

co p

ode

ser

cons

ider

ado

com

o ps

icol

ogis

mo

axio

lógi

co,

vist

o qu

e re

duz

o va

lor

de u

ma

cois

a a

um e

stad

o ps

íqui

co s

ubje

tivo

. U

ma

pess

oa n

ão d

esej

a um

obj

eto

porq

ue v

ale,

mas

est

e va

le p

orqu

e é

dese

jado

.

De

acor

do c

om a

pos

ição

sub

jeti

vist

a, n

ão e

xist

em o

bjet

os d

e va

lor

em s

i

inde

pend

ente

men

te d

e qu

alqu

er r

elaç

ão c

om u

m s

ujei

to.

Est

a te

se r

ecus

a po

r

com

plet

o as

pro

prie

dade

s do

obj

eto,

sej

am n

atur

ais

ou c

riad

as p

elo

hom

em.

A t

ese

do o

bjet

ivis

mo

axio

lógi

co r

ejei

ta o

sub

jeti

vism

o ax

ioló

gico

e a

firm

a qu

e

há o

bjet

os v

alio

sos

em s

i, in

depe

nden

tem

ente

do

suje

ito.

Seg

undo

ess

a te

oria

,

exis

te u

ma

sepa

raçã

o ra

dica

l en

tre

valo

r e

bem

(co

isa

vali

osa)

e e

ntre

val

or e

exis

tênc

ia h

uman

a.

5. A

ob

jeti

vid

ade

dos

val

ores

Page 11: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

22

Os

valo

res

não

exis

tem

em

si

e po

r si

ind

epen

dent

emen

te d

os o

bjet

os r

eais

(cuj

as

prop

ried

ades

ob

jeti

vas

se

apre

sent

am

com

o pr

opri

edad

es

vali

osas

hum

anas

e s

ocia

is),

nem

tam

pouc

o in

depe

nden

tem

ente

da

rela

ção

com

o s

ujei

to

(o h

omem

soc

ial)

. E

xist

em c

om u

ma

obje

tivid

ade

soci

al.

Por

con

segu

inte

, os

valo

res

exis

tem

uni

cam

ente

em

um

mun

do s

ocia

l, ou

sej

a, p

elo

hom

em e

par

a o

hom

em.

6. O

s V

alor

es M

orai

s e

Não

Mor

ais

Os

obje

tos

útei

s nã

o en

carn

am v

alor

es m

orai

s, e

mbo

ra p

ossa

m e

ncon

trar

-se

num

a re

laçã

o in

stru

men

tal

com

est

es v

alor

es.

A “

bond

ade”

ins

trum

enta

l ou

func

iona

l de

um

obj

eto

está

alh

eia

a qu

alqu

er q

uali

fica

ção

mor

al,

pois

pod

e

serv

ir d

e m

eio

ou i

nstr

umen

to p

ara

real

izar

um

ato

mor

alm

ente

bom

ou

um a

to

mor

alm

ente

mau

. O

s ob

jeto

s de

vem

ser

exc

luíd

os d

o re

ino

dos

obje

tos

vali

osos

que

pode

m s

er q

uali

fica

dos

mor

alm

ente

. Qua

ndo

o te

rmo

“bon

dade

” se

apl

ica

a

eles

(p

or

exem

plo,

fa

ca

“boa

”)

deve

se

r en

tend

ido

no

sent

ido

axio

lógi

co

adeq

uado

, e n

ão p

ropr

iam

ente

mor

al.

Os

valo

res

exis

tem

uni

cam

ente

em

ato

s ou

pro

duto

s hu

man

os.

Tão

-som

ente

o

que

tem

um

sig

nifi

cado

hum

ano

pode

ser

ava

liad

o m

oral

men

te –

mas

ape

nas

os

atos

rea

lizad

os l

ivre

men

te,

ou s

eja,

de

mod

o co

nsci

ente

e v

olun

tári

o. U

m

mes

mo

prod

uto

hum

ano

pode

ass

umir

vár

ios

valo

res,

em

bora

um

del

es s

eja

o

dete

rmin

ante

. Por

exe

mpl

o: u

ma

obra

de

arte

pod

e te

r nã

o só

um

val

or e

stét

ico,

com

o ta

mbé

m p

olít

ico,

mor

al o

u re

ligi

oso.

No

enta

nto,

nun

ca s

e pr

eten

de

dedu

zir

dess

es v

alor

es o

seu

val

or p

ropr

iam

ente

est

étic

o.

Um

mes

mo

ato

ou p

rodu

to h

uman

o po

de s

er a

vali

ado

a pa

rtir

de

dive

rsos

ângu

los,

pod

endo

rea

liza

r di

fere

ntes

val

ores

. Mas

ain

da q

ue o

s va

lore

s se

junt

em

num

mes

mo

obje

to, n

ão d

evem

ser

con

fund

idos

. Os

valo

res

mor

ais

se e

ncar

nam

som

ente

em

at

os

ou

prod

utos

hu

man

os

real

izad

os

de

mod

o co

nsci

ente

e

volu

ntár

io.

23

CA

PÍT

UL

O V

II -

A A

VA

LIA

ÇÃ

O M

OR

AL

1. C

arát

er c

oncr

eto

da

aval

iaçã

o m

oral

A a

vali

ação

mor

al c

ompr

eend

e tr

ês e

lem

ento

s:

(a)

o va

lor

atri

bu

ível

(b)

o ob

jeto

ava

liad

o

(c)

o su

jeit

o q

ue

aval

ia

Num

a ca

ract

eriz

ação

ger

al d

a av

alia

ção

mor

al, a

ava

liaç

ão, p

or t

er a

trib

uiçã

o de

um

valo

r co

nsti

tuíd

o ou

cr

iado

pe

lo

hom

em,

poss

ui

um

cará

ter

conc

reto

,

hist

óric

o-so

cial

. Tam

bém

é p

reci

so c

onsi

dera

r qu

e se

pod

e at

ribu

ir v

alor

mor

al a

um a

to s

e –

e so

men

te s

e –

tive

r el

e co

nseq

üênc

ias

que

afet

am a

out

ros

indi

vídu

os, a

um

gru

po s

ocia

l ou

à so

cied

ade

inte

ira.

A a

vali

ação

é s

empr

e at

ribu

ição

de

um v

alor

por

par

te d

e um

suj

eito

. P

orta

nto,

pelo

val

or a

trib

uído

, pe

lo o

bjet

o av

alia

do e

pel

o su

jeit

o qu

e av

alia

, a

aval

iaçã

o

tem

sem

pre

um c

arát

er c

oncr

eto,

ou

seja

, é

a at

ribu

ição

de

um v

alor

con

cret

o

num

a si

tuaç

ão d

eter

min

ada.

Os

iten

s a

segu

ir s

e re

fere

m a

o ex

ame

do v

alor

mor

al f

unda

men

tal:

a b

onda

de.

2. O

bom

com

o va

lor

O

ato

mor

al

pret

ende

se

r um

a re

aliz

ação

do

“b

om”.

C

ompo

rtan

do-s

e

mor

alm

ente

, os

hom

ens

aspi

ram

ao

bem

, ist

o é,

a r

eali

zar

atos

mor

alm

ente

bon

s.

Def

inir

o b

om i

mpl

ica

defi

nir

o m

au.

De

uma

soci

edad

e pa

ra o

utra

, m

udam

as

idéi

as s

obre

o b

om e

o m

au d

e ac

ordo

com

as

dife

rent

es f

unçõ

es d

a m

oral

efet

iva

de c

ada

époc

a, e

ess

as m

udan

ças

se r

efle

tem

sob

a f

orm

a de

nov

os

conc

eito

s na

s do

utri

nas

étic

as.

Nos

pov

os p

rim

itiv

os o

bom

é,

ante

s de

tud

o, a

vale

ntia

, en

quan

to o

mau

é a

cov

ardi

a. C

om a

div

isão

da

soci

edad

e em

cla

sses

,

Page 12: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

24

perd

e o

seu

sign

ific

ado

univ

ersa

l hu

man

o. N

a Id

ade

Méd

ia é

bom

o q

ue d

eriv

a

da v

onta

de d

e D

eus.

Nos

te

mpo

s m

oder

nos,

o

bom

é

o qu

e co

ncor

da

com

a

natu

reza

hu

man

a

conc

ebid

a de

um

a m

anei

ra

univ

ersa

le

abst

rata

qu

e po

dem

os

defi

nir

no

pens

amen

to é

tico

com

o fe

lici

dade

, pr

azer

, bo

a vo

ntad

e, u

tili

dade

. M

as t

ambé

m

pode

ser

car

acte

riza

do c

omo

verd

ade,

pod

er, r

ique

za e

Deu

s.

3. O

bom

com

o fe

lici

dad

e (e

ud

emon

ism

o)

Par

a A

rist

ótel

es, a

fel

icid

ade

é o

mai

s al

to d

os b

ens

e es

tá n

o ex

ercí

cio

da r

azão

.

Isso

sig

nifi

ca q

ue a

fel

icid

ade

está

no

alca

nce

som

ente

de

uma

part

e pr

ivil

egia

da

da s

ocie

dade

, da

qual

, ref

leti

ndo

a re

alid

ade

de s

ua é

poca

, est

avam

exc

luíd

os o

s

escr

avos

e a

s m

ulhe

res.

O p

ensa

men

to é

tico

mod

erno

sus

tent

a o

dire

ito

dos

hom

ens

de s

erem

fel

izes

nest

e m

undo

, m

as c

once

bem

a f

elic

idad

e nu

m p

lano

abs

trat

o, i

deal

, fo

ra d

as

cond

içõe

s co

ncre

tas

da v

ida

soci

al q

ue f

avor

ecem

ou

cons

titu

em o

bstá

culo

s pa

ra

a co

nsec

ução

.

Ou

seja

, a t

ese

de q

ue a

fel

icid

ade

é o

únic

o bo

m r

esul

ta d

emas

iado

ger

al s

e nã

o

se c

oncr

etiz

a o

seu

cont

eúdo

. E

ste

cont

eúdo

var

ia d

e ac

ordo

com

as

rela

ções

soci

ais

que

o de

term

inam

e a

cuj

os i

nter

esse

s se

rve.

Por

tant

o, n

ão s

e po

de

cons

ider

ar –

com

o a

dequ

ada

à na

ture

za h

uman

a em

ger

al –

a f

elic

idad

e qu

e

hoje

se

redu

z às

ten

dênc

ias

egoí

stas

do

indi

vídu

o ou

ao

seu

“esp

írit

o de

pos

se”.

Num

a so

cied

ade

na q

ual

não

vigo

re o

pri

ncíp

io d

a pr

opri

edad

e pr

ivad

a ne

m a

onip

otên

cia

do d

inhe

iro,

e n

a qu

al o

des

tino

pes

soal

não

se

poss

a co

nceb

er

sepa

rado

da

com

unid

ade,

os

hom

ens

terã

o de

bus

car

outr

o tip

o de

fel

icid

ade.

4. O

bom

com

o p

raze

r (h

edon

ism

o)

As

tese

s bá

sica

s do

hed

onis

mo

étic

o, c

itad

as a

baix

o, c

onsi

dera

mpr

azer

no

sent

ido

de p

raze

res

mai

s du

rado

uros

e s

uper

iore

s, c

omo

os i

ntel

ectu

ais

e os

esté

tico

s.

25

1ª. T

odo

praz

er o

u go

zo é

intr

inse

cam

ente

bom

.

2ª. S

omen

te o

pra

zer

é in

trin

seca

men

te b

om.

3ª. A

bon

dade

de

um a

to o

u ex

peri

ênci

a de

pend

e do

(ou

é p

ropo

rcio

nal

à

quan

tida

de d

e) p

raze

r qu

e co

ntém

.

As

tese

s, q

uant

itat

ivas

e q

uali

tati

vas

do h

edon

ism

o ét

ico

redu

zem

o “

bom

” a

reaç

ões

psíq

uica

s ou

viv

ênci

as s

ubje

tiva

s, d

eduz

indo

o j

uízo

de

valo

r a

part

ir d

o

juíz

o de

fat

o.

5. O

bom

com

o “b

oa v

onta

de”

(fo

rmal

ism

o K

anti

ano)

Kan

t de

fend

e qu

e o

bom

dev

e se

r al

go i

ncon

dici

onad

o, s

em r

estr

ição

alg

uma.

A

feli

cida

de e

stá

suje

ita

a ce

rtas

con

diçõ

es, e

se

essa

s nã

o se

ver

ific

am n

ão s

e po

de

ser

feli

z. A

boa

von

tade

é u

ma

dete

rmin

ação

de

faze

r al

go,

de s

er b

om d

e um

a

man

eira

ab

solu

ta,

sem

re

stri

ção

algu

ma,

em

to

da

circ

unst

ânci

a e

em

todo

mom

ento

, se

jam

qua

is f

orem

os

resu

ltad

os o

u as

con

seqü

ênci

as d

a no

ssa

ação

,

ou s

eja,

a v

onta

de q

ue a

ge n

ão s

ó de

aco

rdo

com

o d

ever

,m

as p

elo

deve

r,

dete

rmin

ada,

úni

ca e

exc

lusi

vam

ente

pel

a ra

zão.

Con

tra

esta

con

cepç

ão K

anti

ana

da

“boa

von

tade

” ,

exis

tem

alg

umas

obj

eçõe

s

mas

em

su

ma,

po

r se

u ca

ráte

r id

eal,

abst

rato

e

univ

ersa

l, of

erec

e-no

s um

conc

eito

do

bom

tota

lmen

te in

exeq

üíve

l nes

te m

undo

rea

l e, p

orta

nto,

inop

eran

te

para

a r

egul

amen

taçã

o da

s re

laçõ

es e

ntre

os

hom

ens

conc

reto

s.

6. O

bom

com

o ú

til (

uti

lita

rism

o)

Úti

l pa

ra q

uem

? O

uti

lita

rism

o co

nceb

e, p

orta

nto,

o b

om c

omo

o út

il,

mas

não

num

sen

tido

ego

ísta

ou

altr

uíst

a, e

sim

no s

entid

o ge

ral

de b

om p

ara

o m

aior

núm

ero

de h

omen

s.

Em

qu

e co

nsis

te

o út

il?

A

conc

epçã

o pl

ural

ista

su

sten

ta

que

se

os

bens

intr

ínse

cos

que

os n

osso

s at

os p

odem

cau

sar

não

se r

eduz

em a

um

só,

mas

a u

ma

plur

alid

ade

dos

mes

mos

, on

de o

bom

não

é s

ó um

a co

isa

– ou

o p

raze

r ou

a

Page 13: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

26

feli

cida

de –

mas

vár

ias

cois

as q

ue p

odem

, ao

mes

mo

tem

po, c

onsi

dera

r-se

com

o

boas

.

7. C

oncl

usõ

es a

res

pei

to d

a n

atu

reza

do

bom

Os

hedo

nist

as e

os

eude

mon

ista

s co

nsid

eram

que

os

hom

ens

estã

o do

tado

s de

uma

natu

reza

uni

vers

al e

imut

ável

, que

nos

faz

pro

cura

r o

praz

er o

u a

feli

cida

de,

e ex

atam

ente

nes

tes

bens

faz

em c

onsi

stir

o b

om.

O f

orm

alis

mo

Kan

tian

o ap

ela

para

um

hom

em i

deal

, ab

stra

to e

situ

ado

fora

da

hist

ória

, cu

ja b

oa v

onta

de

abso

luta

e i

ncon

dici

onad

a se

ria

o ún

ico

verd

adei

ro b

om.

Os

util

itar

ista

s põ

em o

bom

em

rel

ação

com

o i

nter

esse

dos

hom

ens

e, a

o m

esm

o te

mpo

, pr

ocur

am

enco

ntrá

-lo

em c

erta

rel

ação

ent

re o

par

ticu

lar

e o

gera

l.

A r

elaç

ão e

ntre

o i

ndiv

íduo

e a

com

unid

ade

vari

a co

m o

tem

po e

com

as

dife

rent

es s

ocie

dade

s.

Na

soci

edad

e m

oder

na o

bom

pode

oco

rrer

rea

lmen

te

na s

uper

ação

da

cisã

o en

tre

o in

diví

duo

e a

com

unid

ade,

ou

na h

arm

oniz

ação

dos

inte

ress

es p

esso

ais

com

os

verd

adei

ram

ente

com

uns

ou u

nive

rsai

s.

A

real

izaç

ão

do

bom

na

su

pera

ção

do

círc

ulo

estr

eito

do

s in

tere

sses

excl

usiv

amen

te p

esso

ais,

no

sign

ific

ado

soci

al d

a at

ivid

ade

do i

ndiv

íduo

, do

trab

alho

ou

do e

stud

o e

na t

rans

form

ação

das

con

diçõ

es s

ocia

is,

acar

reta

um

a

pecu

liar

rel

ação

det

erm

inad

a pe

la e

stru

tura

soc

ial.

O e

goís

mo

e su

as o

post

as

man

ifes

taçõ

es –

sol

idar

ieda

de,

coop

eraç

ão e

aju

da m

útua

– s

ão e

ncor

ajad

as o

u

obst

acul

izad

as

de

acor

do

com

as

co

ndiç

ões

conc

reta

s na

s qu

ais

vive

m

os

hom

ens.

Por

iss

o, o

pro

blem

a do

bom

com

o co

njun

ção

dos

inte

ress

es p

esso

ais

e

dos

inte

ress

es c

olet

ivos

é i

nsep

aráv

el d

o pr

oble

ma

das

base

s e

das

cond

içõe

s

soci

ais

que

torn

am p

ossí

vel a

sua

rea

liza

ção.

27

CA

PÍT

UL

O V

III

- A

OB

RIG

AT

OR

IED

AD

E M

OR

AL

O

com

port

amen

to

mor

al

é um

co

mpo

rtam

ento

ob

riga

tóri

o e

devi

do.

A

obri

gato

ried

ade

mor

al im

põe

deve

res

ao s

ujei

to. T

oda

norm

a fu

nda

um d

ever

.

1. N

eces

sid

ade,

Coa

ção

e O

bri

gato

ried

ade

Mor

al

A o

brig

ator

ieda

de m

oral

não

pod

e se

r co

nfun

dida

com

a s

impl

es n

eces

sida

de

caus

al

e ta

mpo

uco

com

a

coaç

ão

exte

rna

ou

inte

rna.

E

stas

fo

rmas

de

“obr

igaç

ão”

torn

am im

poss

ível

a v

erda

deir

a ob

riga

ção

mor

al.

2. O

bri

gaçã

o M

oral

e L

iber

dad

e

A o

brig

ação

mor

al s

upõe

nec

essa

riam

ente

uma

libe

rdad

e de

esc

olha

, bem

com

o

na

dete

rmin

ação

do

co

mpo

rtam

ento

, or

ient

ando

-o

num

a ce

rta

dire

ção.

A

obri

gaçã

o m

oral

dev

e se

r as

sum

ida

livr

e e

inte

rnam

ente

pel

o su

jeit

o e

não

impo

sta

de f

ora.

3. C

arát

er S

ocia

l da

Ob

riga

ção

Mor

al

O f

ator

soc

ial

é es

senc

ial

na o

brig

ação

mor

al,

mas

não

é a

lgo

estr

itam

ente

indi

vidu

al, m

as ta

mbé

m s

ocia

l.

4. A

Con

sciê

nci

a M

oral

A c

onsc

iênc

ia m

oral

aca

rret

a um

a co

mpr

eens

ão d

os n

osso

s at

os,

mas

sob

o

ângu

lo

espe

cífi

co

da

mor

al.

Alé

m

diss

o,

o co

ncei

to

de

cons

ciên

cia

está

estr

eita

men

te r

elac

iona

do c

om o

de

obri

gato

ried

ade,

pos

to q

ue i

mpl

ica

em

aval

iar

e ju

lgar

nos

so c

ompo

rtam

ento

de

acor

do c

om c

erta

s no

rmas

con

heci

das

e

reco

nhec

idas

com

o ob

riga

tóri

as. A

con

sciê

ncia

mor

al d

os in

diví

duos

, por

ser

um

prod

uto

hist

óric

o-so

cial

, es

tá s

ujei

ta a

um

pro

cess

o de

des

envo

lvim

ento

e d

e

mud

ança

.

Page 14: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

28

5. T

eori

as d

a O

bri

gaçã

o M

oral

As

teor

ias

da o

brig

ação

mor

al n

os r

espo

ndem

à q

uest

ão d

e co

mo

deve

mos

agi

r,

ou q

ue ti

po d

e at

os s

omos

mor

alm

ente

obr

igad

os a

rea

liza

r.

As

duas

teo

rias

pre

dom

inan

tes

são:

(i)

a d

enom

inad

a de

onto

lógi

ca (

de d

éon:

deve

r) –

qua

ndo

a ob

riga

tori

edad

e de

um

a aç

ão n

ão d

epen

de d

as c

onse

qüên

cias

da

próp

ria

ação

ou

da

no

rma

com

a

qual

se

co

nfor

ma;

e

(ii)

a

cham

ada

tele

ológ

ica

(de

telo

s:

fim

),

quan

do

a ob

riga

tori

edad

e de

um

a aç

ão

deri

va

unic

amen

te d

e su

as c

onse

qüên

cias

.

Teo

rias

da

A)

Deo

ntol

ógic

as

a) d

o at

o

obri

gaçã

o m

oral

b) d

a no

rma

B)

Tel

eoló

gica

s a)

ego

ísm

o ét

ico

b) u

tili

tari

smo

1) d

o at

o

2)

da

norm

a

6. T

eori

as D

eon

toló

gica

s d

o A

to

cons

enso

ent

re a

s te

oria

s de

onto

lógi

cas

no s

enti

do d

e qu

e nã

o se

pod

e ap

elar

para

um

a no

rma

gera

l a

fim

de

deci

dir

o qu

e de

vem

os f

azer

em

cad

a si

tuaç

ão

espe

cífi

ca.

7. T

eori

as

Deo

nto

lógi

cas

da

Nor

ma

(A

Teo

ria

Kan

tian

a d

a O

bri

gaçã

o

Mor

al)

Em

cad

a ca

so p

arti

cula

r, o

dev

er d

eve

ser

dete

rmin

ado

por

norm

as v

álid

as

inde

pend

ente

men

te d

as c

onse

qüên

cias

de

sua

apli

caçã

o.

Pod

e-se

diz

er q

ue o

s in

diví

duos

age

mre

alm

ente

por

dev

er e

não

obe

dece

ndo

a

uma

incl

inaç

ão o

u in

tere

sse

por

tem

or o

u ca

stig

o, q

uand

o ag

em c

omo

sere

s

raci

onai

s. A

exi

gênc

ia d

a ra

zão

assu

me

a fo

rma

de u

m m

anda

men

to,

ou u

m

29

impe

rati

vo, q

ue K

ant

divi

de e

m c

ateg

óric

os e

hip

otét

icos

. Os

cate

góri

cos

reje

ita

atos

que

não

pod

em s

er u

nive

rsal

izad

os,

e nã

o ad

mit

e ex

ceçã

o a

favo

r de

ning

uém

. A te

oria

kan

tian

a de

obr

igaç

ão m

oral

é in

oper

ante

e in

exeq

üíve

l par

a o

hom

em r

eal.

8. T

eori

as T

eleo

lógi

cas

(ego

ísm

o e

uti

lita

rism

o)

Est

as t

eori

as t

êm e

m c

omum

o r

elac

iona

r a

noss

a ob

riga

ção

mor

al c

om a

s

cons

eqüê

ncia

s da

nos

sa a

ção,

ou

seja

, co

m o

ben

efíc

io q

ue p

odem

tra

zer,

par

a

nós

ou p

ara

os d

emai

s. A

tes

e fu

ndam

enta

l do

ego

ísm

o ét

ico,

def

endi

da p

or

Tho

mas

Hob

bes

e ou

tros

, é

a se

guin

te:

cada

um

dev

e ag

ir d

e ac

ordo

com

o s

eu

inte

ress

e pe

ssoa

l, pr

omov

endo

o q

ue é

bom

ou

vant

ajos

o pa

ra s

i. E

ntre

tant

o, a

s

obse

rvaç

ões

empí

rica

s fa

zem

com

que

est

a te

oria

não

se

sust

ente

, pos

to q

ue n

ão

expl

ica

os a

tos

prat

icad

os a

fav

or d

o pr

óxim

o em

det

rim

ento

de

si p

rópr

io.

Ao

cont

rári

o, o

uti

lita

rism

o se

bas

eia

em q

ue d

evem

os v

isar

, ac

ima

de t

udo,

o

bene

fíci

o do

s ou

tros

. O u

tili

tari

smo

se d

ivid

e em

uti

lita

rism

o do

ato

e d

a no

rma.

9. U

tili

tari

smo

do

Ato

e U

tili

tari

smo

da

Nor

ma.

Est

a do

utri

na d

efen

de q

ue d

evem

os f

azer

aqu

ilo

que

traz

mel

hore

s re

sult

ados

para

o m

aior

núm

ero.

Par

a ap

lica

r es

ta t

ese

aos

caso

s co

ncre

tos,

em

cer

to p

onto

terá

de

ser

feit

a a

opçã

o en

tre:

faz

er o

mai

or b

em p

ara

men

or n

úmer

o de

pes

soas

,

ou

men

or

bem

pa

ra

umm

aior

mer

o de

pe

ssoa

s.

Ent

reta

nto,

m

uita

s

obje

ções

de

vári

as n

atur

ezas

ao

util

itar

ism

o da

nor

ma,

que

o o

brig

am a

pas

sar

do

gera

l ao

part

icul

ar e

des

te à

quel

e nu

ma

espé

cie

de c

írcu

lo v

icio

so. O

uti

lita

rism

o

da n

orm

a ac

aba

coin

cidi

ndo

com

a te

oria

deo

ntol

ógic

a –

kant

iana

– d

a ob

riga

ção

mor

al.

Page 15: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

30

10. C

oncl

usõ

es r

elat

ivas

à O

bri

gato

ried

ade

Mor

al

1º)

O d

efei

to c

omum

das

teo

rias

da

obri

gaçã

o m

oral

con

sist

e em

par

tire

m e

las

de

uma

conc

epçã

o ab

stra

ta

do

hom

em,

faze

ndo

com

qu

e a

conc

epçã

o da

obri

gato

ried

ade

mor

al ta

mbé

m s

eja

abst

rata

, alh

eia

à so

cied

ade

e à

hist

ória

.

2º)

A o

brig

ação

mor

al d

eve

ser

conc

ebid

a co

mo

próp

ria

de u

m h

omem

con

cret

o

que,

na

sua

prát

ica

mor

al r

eal,

vai

mod

ific

ando

o c

onte

údo

de s

uas

obri

gaçõ

es

mor

ais

de a

cord

o co

m a

s m

udan

ças

que

se v

erif

icam

no

mod

o co

mo

a m

oral

cum

pre

a su

a es

pecí

fica

fun

ção

soci

al.

3º)

A o

brig

ator

ieda

de m

oral

exi

ge, e

mm

aior

ou

men

or g

rau,

um

a ad

esão

ínti

ma,

volu

ntár

ia e

liv

re d

os i

ndiv

íduo

s às

nor

mas

que

reg

ulam

as

suas

rel

açõe

s nu

ma

dete

rmin

ada

com

unid

ade.

Por

ist

o, o

con

ceit

o de

obr

igat

orie

dade

mor

al s

ó te

m

sent

ido

no c

onte

xto

da v

ida

soci

al, n

o se

io d

e um

a co

mun

idad

e.

4º)

O s

iste

ma

de n

orm

as,

e co

m i

sto,

o c

onte

údo

da o

brig

ação

mor

al m

uda,

hist

oric

amen

te, d

e um

a so

cied

ade

para

out

ra e

, inc

lusi

ve, n

o se

io d

e um

a m

esm

a

com

unid

ade.

O p

erm

itid

o ho

je f

oi p

roib

ido

onte

m.

O q

ue a

tual

men

te s

e pr

oíbe

,

talv

ez s

eja

perm

itid

o am

anhã

. C

ontu

do,

seja

qua

l fo

r a

époc

a ou

a s

ocie

dade

de

que

se t

rate

, os

hom

ens

sem

pre

adm

itir

am u

ma

obri

gato

ried

ade

mor

al.

Sem

pre

exis

tiu

um s

iste

ma

de n

orm

as q

ue d

efin

e os

lim

ites

do

obri

gató

rio

e do

não

obri

gató

rio.

5º)

Não

é s

omen

te o

con

teúd

o da

obr

igaç

ão m

oral

que

se

mod

ific

a hi

stór

ica

e

soci

alm

ente

– e

, co

m e

le,

as n

orm

as q

ue p

resc

reve

m d

eter

min

ada

form

a de

com

port

amen

to –

, m

as s

e m

odif

ica

tam

bém

o m

odo

de i

nter

iori

zar

ou d

e

assu

mir

as

norm

as e

mfo

rma

de d

ever

es.

6º)

Nen

hum

a te

oria

– e

ain

da m

enos

aqu

ela

que

não

conc

eba

a ob

riga

tori

edad

e

mor

al e

m f

unçã

o de

nec

essi

dade

s so

ciai

s –

pode

ind

icar

o q

ue o

hom

em d

eve

faze

r em

tod

os o

s te

mpo

s e

em t

odas

as

soci

edad

es.

E,

quan

do u

ma

teor

ia f

az

sem

elha

nte

tent

ativ

a, f

ica-

se d

iant

e do

for

mal

ism

o ou

uni

vers

alis

mo

abst

rato

, no

qual

cae

m n

ão s

omen

te a

s do

utri

nas

deon

toló

gica

s (k

anti

ana)

mas

tam

bém

as

tele

ológ

icas

(co

mo

a do

uti

lita

rism

o da

nor

ma)

.

31

CA

PÍT

UL

O I

X -

A R

EA

LIZ

ÃO

DA

MO

RA

L

Por

rea

liza

ção

da m

oral

, há

que

se e

nten

der

a en

carn

ação

dos

pri

ncíp

ios,

val

ores

e no

rmas

de

com

port

amen

to d

e um

a da

da s

ocie

dade

, no

âmbi

to c

olet

ivo

e nã

o só

no in

divi

dual

, ou

seja

, com

o pr

oces

so s

ocia

l.

1. O

s P

rin

cíp

ios

Mor

ais

Bás

icos

Em

cad

a ép

oca

a re

aliz

ação

da

mor

al é

ins

epar

ável

de

algu

ns p

rinc

ípio

s bá

sico

s

– ou

reg

ras

bási

cas

de c

ompo

rtam

ento

– c

uja

elab

oraç

ão s

e dá

na

ativ

idad

e

prát

ica

soci

al e

que

reg

em e

feti

vam

ente

o c

ompo

rtam

ento

das

pes

soas

.

Tai

s pr

incí

pios

m

duas

ca

ract

erís

tica

s:

de

um

lado

, re

spon

dem

a

uma

dete

rmin

ada

nece

ssid

ade

soci

al,

e do

ou

tro,

po

r se

rem

pr

opri

amen

te

fund

amen

tais

, se

rvem

de

fu

ndam

ento

par

a as

no

rmas

qu

e re

gula

men

tam

o

com

port

amen

to e

m c

erto

sen

tido

em

um

a so

cied

ade.

Em

bora

o a

spec

to p

ragm

átic

o se

ja p

rim

ordi

al n

os r

efer

idos

pri

ncíp

ios

mor

ais,

este

s ta

mbé

m p

odem

ser

obj

eto

de u

ma

elab

oraç

ão t

eóri

ca,

cuja

fin

alid

ade

é

fund

amen

tar

sua

vali

dade

.

Em

tem

pos

de c

rise

soc

ial,

cert

os p

rinc

ípio

s m

orai

s bá

sico

s ta

mbé

m p

odem

entr

ar e

m c

rise

, qu

e é

solu

cion

ada

quan

do t

ais

prin

cípi

os s

ão s

ubst

ituí

dos

por

outr

os m

ais

adeq

uado

s às

nov

as e

xigê

ncia

s so

ciai

s. E

ntre

tant

o, e

nqua

nto

tal

subs

titui

ção

não

ocor

re,

pode

rei

nar

dura

nte

algu

m t

empo

um

a si

tuaç

ão d

e

conf

usão

e in

cert

eza

com

o se

pod

e ob

serv

ar e

m n

ossa

soc

ieda

de a

tual

men

te.

Com

o a

real

izaç

ão

da

mor

al

é a

conc

reti

zaçã

o de

ce

rtos

pr

incí

pios

, es

tes

guar

dam

rel

ação

com

as

cond

içõe

s so

ciai

s às

qua

is s

e re

fere

m,

e m

udam

de

tem

pos

a te

mpo

s pa

ra a

tend

er à

s as

pira

ções

e in

tere

sses

que

os

insp

iram

.

Page 16: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

32

2. A

Mor

aliz

ação

do

Ind

ivíd

uo

O a

to m

oral

im

plic

a co

nsci

ênci

a e

liber

dade

. O

ver

dade

iro

agen

te m

oral

é o

indi

vídu

o, m

as e

nqua

nto

ser

soci

al, e

não

con

side

rado

na

sua

indi

vidu

alid

ade.

A r

eali

zaçã

o da

mor

al é

um

a ta

refa

ind

ivid

ual,

mas

, da

da a

nat

urez

a so

cial

do

indi

vídu

o, n

ão é

um

ass

unto

mer

amen

te i

ndiv

idua

l. O

con

junt

o de

for

mas

cara

cter

ísti

cas

de c

ompo

rtam

ento

pec

ulia

res

de c

ada

indi

vídu

o, q

ue f

orm

am u

ma

unid

ade

indi

ssol

úvel

, co

nsti

tuem

o c

arát

er d

e um

a pe

ssoa

; o

cará

ter

é al

go

adqu

irid

o, m

odif

icáv

el e

din

âmic

o. O

ind

ivíd

uo p

ode

adqu

irir

um

a sé

rie

de

qual

idad

e m

orai

s so

b o

infl

uxo

da e

duca

ção

e da

pró

pria

vid

a so

cial

– e

tai

s

qual

idad

es m

orai

s, q

uand

o re

aliz

adas

num

a si

tuaç

ão c

oncr

eta,

são

des

igna

das

virt

udes

.

3. A

s V

irtu

des

Mor

ais

A

virt

ude

supõ

e um

a di

spos

ição

es

táve

l ou

un

ifor

me

de

com

port

ar-s

e

mor

alm

ente

de

man

eira

pos

itiv

a; is

to é

, de

quer

er o

bem

. O s

eu o

post

o é

o ví

cio,

enqu

anto

di

spos

ição

ta

mbé

m

unif

orm

e de

qu

erer

o

mal

. V

ale

lem

brar

o

ensi

nam

ento

de

Ari

stót

eles

, seg

undo

o q

ual “

a vi

rtud

e é

um h

ábit

o”.

4. A

Rea

liza

ção

Mor

al c

omo

Em

pre

end

imen

to C

olet

ivo

três

ti

pos

de

fato

res

soci

ais

que

cont

ribu

em

de

form

a di

vers

a pa

ra

a

real

izaç

ão d

a m

oral

:

a) R

elaç

ões

econ

ômic

as, o

u vi

da e

conô

mic

a da

soc

ieda

de.

b) E

stru

tura

ou

orga

niza

ção

soci

al e

pol

ític

a da

soc

ieda

de.

c) E

stru

tura

ideo

lógi

ca, o

u vi

da e

spir

itua

l da

soci

edad

e.

5. A

Vid

a E

con

ômic

a e

a R

eali

zaçã

o d

a M

oral

.

A V

ida

Eco

nôm

ica

da s

ocie

dade

com

pree

nde

a pr

oduç

ão m

ater

ial

de b

ens

dest

inad

os

a sa

tisf

azer

em

as

nece

ssid

ades

hu

man

as:

alim

enta

r-se

, ve

stir

-se,

mor

ar,

etc.

Com

pree

ndem

-se

tam

bém

com

o as

rel

açõe

s so

ciai

s qu

e os

hom

ens

33

cont

raem

na

s re

laçõ

es

de

prod

ução

, po

r ex

empl

o,

na

med

ida

em

que

o

trab

alha

dor

é um

a fo

rça

prod

utiv

a e

na m

edid

a em

que

a p

rodu

ção

sati

sfaz

sua

s

nece

ssid

ades

vit

ais.

Den

tro

das

forç

as p

rodu

tivas

sur

gem

pro

blem

as m

orai

s qu

e nã

o po

dem

ser

desc

uida

dos.

Com

o o

hom

em é

afe

tado

pel

o se

u tr

abal

ho?

Ele

va-o

com

o se

r

hum

ano

ou o

deg

rada

? D

e qu

e fo

rma

o us

o do

s m

eios

ou

inst

rum

ento

s de

prod

ução

af

etam

o

trab

alha

dor

em

sua

verd

adei

ra

natu

reza

? O

s pr

oble

mas

mor

ais

da v

ida

econ

ômic

a su

rgem

qua

ndo

o ho

mem

é tr

atad

o co

mo

uma

peça

de

um s

iste

ma

econ

ômic

o, o

“ho

mem

eco

nôm

ico”

; tal

fat

o é

conf

lita

nte,

já q

ue n

ão

se p

ode

desp

reza

r o

ser

hum

ano

conc

reto

.

Sign

ifica

ção

Mor

al d

o tr

abal

ho h

uman

o –

o tr

abal

ho c

omo

expr

essã

o ex

clus

iva

da a

titu

de h

uman

a te

m e

m s

i um

sen

tido

mor

al,

dado

o f

ato

de q

ue o

hom

em

deve

tra

balh

ar p

ara

ser

verd

adei

ram

ente

hom

em.

Que

m t

raba

lha

poss

ui u

ma

hum

anid

ade

que

não

lhe

pert

ence

, po

is

não

cont

ribu

i pa

ra

conq

uist

ar

e

enri

quec

er.

Est

e é

um c

aso

onde

o v

alor

mud

ou c

om o

pas

sar

do t

empo

: na

Gré

cia

Ant

iga,

o v

alio

so e

ra o

óci

o fí

sico

, e

o tr

abal

ho e

ra t

ido

com

o de

men

or

cate

gori

a; e

xalt

avam

-se

o es

tudo

e a

pes

quis

a.

Na

Mod

erni

dade

o pr

oble

ma

do t

raba

lho

alie

nado

, poi

s o

oper

ário

não

no

seu

trab

alho

um

a at

ivid

ade

real

men

te s

ua m

as s

im u

m e

mpo

brec

imen

to m

ater

ial

e es

piri

tual

. N

este

ca

so

o tr

abal

ho

perd

e o

seu

cont

eúdo

vi

tal

e cr

iado

r,

prop

riam

ente

hum

ano,

e c

om is

so s

e at

enua

tam

bém

a s

igni

fica

ção

mor

al.

Mor

al e

Con

sum

o –

obse

rva-

se a

inda

a a

lien

ação

do

cons

umid

or,

o “h

omem

econ

ômic

o”

não

é so

men

te

prod

utor

, m

as

tam

bém

o

cons

umid

or,

que,

pres

sion

ado

pela

pro

paga

nda,

cri

a em

si

nece

ssid

ades

que

não

são

pro

pria

men

te

suas

e a

dqui

re p

rodu

tos

que

real

men

te n

ão l

he s

ão q

ueri

dos.

Ass

im c

omo

no

Page 17: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

34

trab

alho

ali

enad

o o

hom

em r

eal

não

pert

ence

a s

i m

esm

o, m

as à

quel

es q

ue o

man

ipul

am

ou

o pe

rsua

dem

de

m

odo

suti

l, po

dem

os

apon

tar

duas

gr

aves

cons

eqüê

ncia

s:

prim

eira

men

te,

o ho

mem

co

mo

cons

umid

or

é re

baix

ado

à

cond

ição

de

cois

a ou

obj

eto

man

ipul

ável

; em

seg

undo

lug

ar,

impe

dido

de

suas

esco

lhas

liv

re e

con

scie

ntem

ente

, min

am-s

e as

bas

es d

o at

o m

oral

, res

trin

gind

o-

lhe

seu

dom

ínio

mor

al.

Ava

liaç

ão M

oral

da

Vid

a E

conô

mic

a –

num

a so

cied

ade

na q

ual

o tr

abal

ho é

ante

s de

tud

o um

mei

o pa

ra s

ubsi

stir

e n

ão u

ma

nece

ssid

ade

hum

ana

vita

l, na

qual

dom

ina

o cu

lto

ao d

inhe

iro

e na

qua

l um

suj

eito

é a

vali

ado

pelo

que

pos

sui

priv

adam

ente

, ten

do p

orta

nto

a ec

onom

ia a

sua

mor

al a

prop

riad

a.

6. A

Est

rutu

ra S

ocia

l e P

olít

ica

e a

Vid

a M

oral

A F

amíl

ia –

cha

mad

a cé

lula

soc

ial,

é ne

la e

m q

ue s

e in

icia

o p

roce

sso

de

educ

ação

e f

orm

ação

da

pers

onal

idad

e, e

por

iss

o te

m g

rand

e im

port

ânci

a do

pont

o de

vis

ta m

oral

. A

fam

ília

con

serv

ará

um e

leva

do v

alor

mor

al p

ara

si e

para

a s

ocie

dade

se

for

uma

com

unid

ade

livr

e, n

ão e

goís

ta, a

mor

osa

e ra

cion

al.

As

Cla

sses

Soc

iais

– o

s in

diví

duos

têm

int

eres

ses

e as

pira

ções

com

uns

com

o

mem

bros

de

uma

mes

ma

clas

se s

ocia

l, e

isso

se

dá d

e fo

rma

inde

pend

ente

da

cons

ciên

cia

do i

ndiv

íduo

. O

fat

o de

um

a cl

asse

soc

ial

se r

elac

iona

r co

m u

ma

mor

al

dete

rmin

ada

não

desc

arac

teri

za

o co

mpo

rtam

ento

in

divi

dual

li

vre,

cons

cien

te e

res

pons

ável

. P

orém

, m

esm

o co

m a

s es

colh

as p

rópr

ias

e liv

res,

o

mei

o so

cial

no

qual

um

ind

ivíd

uo v

ive

tem

gra

nde

infl

uênc

ia,

já q

ue c

ria

obst

ácul

os o

u fa

vore

ce a

rea

liza

ção

da m

oral

num

a de

term

inad

a so

cied

ade.

O E

stad

o –

com

o in

stit

uiçã

o so

cial

, ex

erce

pod

er e

feti

vo s

obre

os

mem

bros

da

soci

edad

e. N

enhu

m E

stad

o re

nunc

ia a

ves

tir

com

um

man

to m

oral

a s

ua o

rdem

35

jurí

dica

, po

líti

ca e

soc

ial,

não

excl

uind

o a

poss

ibil

idad

e de

o p

rópr

io E

stad

o

entr

ar e

m c

ontr

adiç

ão c

om a

mor

al d

evid

o às

sua

s fi

nali

dade

s po

líti

cas.

Con

clui

-se,

por

tant

o, q

ue s

eja

favo

rece

ndo

uma

mor

al q

ue l

he g

aran

te u

m a

poio

mai

s pr

ofun

do

e si

ncer

o do

qu

e o

mer

amen

te

exte

rno

ou

form

al,

seja

fom

enta

ndo

a pr

ivat

izaç

ão d

a m

esm

a, o

Est

ado

sem

pre

infl

uenc

ia,

em u

m

sent

ido

ou e

m o

utro

, a r

eali

zaçã

o da

mor

al.

7. A

Vid

a E

spir

itu

al d

a S

ocie

dad

e e

a re

aliz

ação

da

Mor

al

Nem

a pr

oduç

ão m

ater

ial

e as

rel

açõe

s aq

ui i

mpl

icad

as e

sgot

am a

rea

lizaç

ão

da M

oral

. E

m t

oda

com

unid

ade

exis

tem

idé

ias

dom

inan

tes

de d

iver

sas

orde

ns e

uma

séri

e de

ins

titu

içõe

s qu

e as

dif

unde

m e

rea

liza

m.

São

idé

ias

polí

tica

s,

esté

tica

s, j

uríd

icas

, ins

titu

içõe

s cu

ltur

ais

e ed

ucat

ivas

, mei

os d

e co

mun

icaç

ão d

e

mas

sa. M

as, e

mbo

ra o

ind

ivíd

uo v

iva

nest

a at

mos

fera

mor

al a

pres

enta

da, l

egad

a

pela

tra

diçã

o e

cost

umes

, nã

o si

gnif

ica

que

este

ja p

riva

do p

or c

ompl

eto

da

capa

cida

de d

e de

cidi

r po

r si

só.

Atu

alm

ente

tal

fat

o te

m c

resc

ido

de m

anei

ra

acen

tuad

a,

vist

o qu

e a

míd

ia

mas

sifi

ca

padr

ões

de

mor

al

não

visa

ndo

o

dese

nvol

vim

ento

hum

ano,

e s

im o

lucr

o.

CA

PÍT

UL

O X

- F

OR

MA

E J

US

TIF

ICA

ÇÃ

O D

OS

JU

ÍZO

S M

OR

AIS

1. A

For

ma

Lóg

ica

dos

Ju

ízos

Mor

ais

A c

onfo

rmid

ade

do c

ompo

rtam

ento

com

nor

mas

e r

egra

s, s

e ex

pres

sam

sob

a

form

a de

juíz

os e

est

es p

odem

ass

umir

for

mas

lógi

cas

deno

min

adas

:

a) E

nunc

iati

vas

: “

x é

y”;

b) P

refe

renc

iais

:

“ x

é pr

efer

enci

al a

y “

; e

c) I

mpe

rati

vas

: “

Dev

es fa

zer

x”

Page 18: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

36

2. F

orm

as E

nu

nci

ativ

as, P

refe

ren

ciai

s e

Imp

erat

ivas

a) fo

rmas

enu

ncia

tiva

s

Pod

e se

r um

juí

zo f

actu

al,

por

exem

plo:

“P

edro

é a

lto”

ou

um j

uízo

de

valo

r,

p.ex

.: “P

edro

é j

usto

”, p

ois

ser

just

o nã

o é

uma

qual

idad

e na

tura

l, co

mo

sua

altu

ra, m

as d

ecor

re d

a re

laçã

o co

m u

ma

nece

ssid

ade

ou f

inal

idad

e.

b) fo

rmas

pre

fere

ncia

is

É u

ma

form

a pa

rtic

ular

do

juíz

o de

val

or, s

ob a

for

ma

de c

ompa

raçã

o, p

ela

qual

se e

stab

elec

e a

valo

raçã

o de

x e

m r

elaç

ão a

y,

pode

ndo

se t

rata

r de

juí

zo d

e

cont

eúdo

mor

al,

p.e.

: “É

pre

ferí

vel

enga

nar

um d

oent

e a

dize

r-lh

e a

verd

ade”

e

não

mor

al, p

.e.:

“Est

e tr

abal

ho é

pre

ferí

vel à

quel

e ou

tro”

.

A p

refe

ribi

lida

de e

vide

ncia

o “

ser

mai

s va

lios

o” d

e x

em r

elaç

ão a

y,

send

o,

port

anto

, in

sepa

ráve

l do

val

or,

pois

não

são

con

side

rado

s en

tre

si,

mas

em

rela

ção

a ce

rta

nece

ssid

ade

ou f

inal

idad

e hu

man

a, c

onsi

dera

ndo

dete

rmin

adas

cond

içõe

s ou

cir

cuns

tânc

ias

conc

reta

s.

c) fo

rmas

impe

rati

vas

Inic

ialm

ente

cab

e ob

serv

ar q

ue p

ara

a f

orm

a im

pera

tiva

ou

norm

ativ

a, d

ifer

ente

das

ante

rior

es, q

ue p

odem

se

refe

rir

a at

os j

á re

aliz

ados

ou

obje

tos

exis

tent

es o

u

a at

os q

ue s

e re

aliz

am o

u ob

jeto

s in

exis

tent

es,

há u

ma

exig

ênci

a de

rea

liza

ção:

algo

que

não

é o

u nã

o ex

iste

dev

e se

r re

aliz

ado.

A

ssim

, o j

uízo

ass

ume

a fo

rma

de u

m m

anda

men

to o

u ex

orta

ção

a qu

e se

faç

a al

gum

a co

isa.

Os

juíz

os i

mpe

rati

vos

tam

bém

são

ins

epar

ávei

s do

s ju

ízos

de

valo

r, p

ois

aqui

lo

que

se j

ulga

que

dev

e se

r re

aliz

ado

é se

mpr

e co

nsid

erad

o va

lios

o. A

ssim

, os

juíz

os q

ue t

êm e

sta

form

a (l

ógic

a no

rmat

iva

ou i

mpe

rati

va),

des

tina

m-s

e a

regu

lar

as r

elaç

ões

entr

e os

hom

ens

em u

ma

soci

edad

e e

esta

for

ma

não

é

excl

usiv

a de

no

rmas

m

orai

s.

T

êma

mes

ma

form

a ló

gica

(e

xort

ativ

a ou

37

impe

rati

va),

mas

um

con

teúd

o di

fere

nte.

N

ão p

oder

íam

os d

isti

ngui

r os

juí

zos

mor

ais

dos

que

não

o sã

o, a

pena

s po

r su

a fo

rma

lógi

ca,

Ass

im,

pela

su

a fo

rma

lógi

ca,

os

juíz

os

mor

ais

pode

m

ser

enun

ciat

ivos

,

pref

eren

ciai

s ou

nor

mat

ivos

. M

as,

para

dis

ting

uir

o qu

e há

nel

es d

e es

pecí

fico

,

ou s

eja,

o q

ue o

s di

stin

gue

daqu

eles

que

têm

a m

esm

a fo

rma

lógi

ca, é

nec

essá

rio

exam

inar

seu

sig

nifi

cado

e s

ua n

atur

eza

ou f

unçã

o.

3. S

ign

ific

ado

do

Juíz

o M

oral

É n

eces

sári

o ve

rifi

car

se a

ava

liaç

ão d

os a

tos

e no

rmas

mor

ais

que

assu

mem

,

resp

ecti

vam

ente

, a

form

a de

ju

ízos

de

va

lor

ou

de

juíz

os

norm

ativ

os

dese

mpe

nha

funç

ão c

ogno

sciti

va,

corr

espo

nde

a fa

tos

obje

tivos

e s

e po

de s

er

veri

fica

da.

No

enta

nto,

é n

eces

sári

o qu

e pa

ssem

os p

ela

just

ific

ação

do

sign

ific

ado

dos

juíz

os

mor

ais,

is

to

é,

o da

s ra

zões

da

su

a va

lidad

e,

mes

mo

porq

ue,

sem

just

ific

ação

par

a a

vari

edad

e e

dive

rsid

ade

de j

uízo

s m

orai

s en

tre

époc

as,

entr

e

soci

edad

es e

até

mes

mo

dent

ro d

e um

a m

esm

a so

cied

ade,

fic

a-se

suj

eito

a

amea

ça d

e um

inim

igo

impl

acáv

el n

o te

rren

o m

oral

: o r

elat

ivis

mo.

Por

iss

o, e

xam

inar

emos

pri

mei

ro o

s pr

oble

mas

do

sign

ific

ado

ou d

a na

ture

za

dos

juíz

os m

orai

s e

dos

seu

poss

ívei

s cr

itér

ios

de j

usti

fica

ção,

par

a em

seg

uida

trat

ar n

o pr

oble

ma

cruc

ial d

o re

lati

vism

o ét

ico.

4. A

Teo

ria

Em

otiv

ista

A t

eori

a em

otiv

ista

afi

rma

que

nos

juíz

os m

orai

s nã

o se

afi

rma

sobr

e fa

tos,

prop

ried

ades

ou

qual

idad

es,

mas

se

expr

essa

um

a at

itud

e em

ocio

nal

subj

etiv

a

(Aye

r)

ou

se

proc

ura

prov

ocar

em

ou

tros

de

term

inad

o ef

eito

em

otiv

o

(Ste

vens

on).

Ass

im,

os j

uízo

s m

orai

s nã

o po

dem

sur

gir

de u

m e

stad

o em

ocio

nal

do s

ujei

to,

mas

res

pond

e a

nece

ssid

ades

e f

inal

idad

es s

ocia

is,

sem

as

quai

s nã

o te

ria

Page 19: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

38

sent

ido.

P

orta

nto,

não

pod

eria

exi

stir

o j

uízo

nor

mat

ivo

“res

peit

a os

ben

s do

s

outr

os”

num

a co

mun

idad

e pr

imit

iva,

bas

eada

na

prop

ried

ade

cole

tiva

ou

soci

al

dos

bens

.

Se

tudo

é ig

ualm

ente

vál

ido

e te

m a

mes

ma

just

ific

ação

do

pont

o de

vis

ta m

oral

,

a co

nseq

üênc

ia l

ógic

a nã

o po

de s

er s

enão

ess

a: t

udo

é pe

rmit

ido.

E

ncon

trar

-

nos-

íam

os, a

ssim

, em

ple

no a

mor

alis

mo.

5. O

In

tuic

ion

ism

o É

tico

Dif

eren

tem

ente

dos

em

otiv

ista

s, o

s in

tuic

ioni

stas

éti

cos

adm

item

que

os

juíz

os

mor

ais,

que

inc

luem

o t

erm

o “b

om”,

ou

que

dete

rmin

am d

ever

es,

atri

buem

prop

ried

ades

e a

tos,

pes

soas

ou

cois

as e

que

, nes

te s

enti

do, d

izem

alg

o qu

e po

de

ser

cons

ider

ado

verd

adei

ro o

u fa

lso.

Em

con

trap

osiç

ão a

os n

atur

alis

tas

étic

os, o

s

intu

icio

nist

as s

uste

ntam

que

a b

onda

de e

a o

brig

ator

ieda

de n

ão p

odem

ser

obse

rvad

as e

mpi

rica

men

te.

O b

om é

ind

efin

ível

e o

s de

vere

s fu

ndam

enta

is n

os

são

impo

stos

sem

nec

essi

dade

de

prov

a, c

omo

algo

evi

dent

e po

r si

, is

to é

, sã

o

capt

ados

de

man

eira

dir

eta

e im

edia

ta:

por

mei

o da

int

uiçã

o.

Por

tant

o, o

s ju

ízos

mor

ais

são

intu

itivo

s, l

ogo,

pod

emos

con

side

rá-l

os v

erda

deir

os,

esta

ndo

acim

a

da n

eces

sida

de d

e pr

ovas

em

píri

ca o

u ra

cion

al.

Ent

reta

nto,

est

a ju

stif

icaç

ão

enfr

enta

vár

ias

obje

ções

.

Ass

im,

o in

tuic

ioni

smo,

ao

su

sten

tar

que

os

juíz

os

mor

ais

se

refe

rem

a

prop

ried

ades

não

nat

urai

s ap

reen

dida

s di

reta

e i

med

iata

men

te,

não

adm

ite

a

poss

ibil

idad

e de

que

ele

s po

ssam

ser

jus

tifi

cado

s ra

cion

al e

obj

etiv

amen

te,

ou

seja

, que

pos

sam

apr

esen

tar

razõ

es e

m f

avor

de

sua

vali

dade

.

6. A

Ju

stif

icaç

ão R

acio

nal

dos

Ju

ízos

Mor

ais

A p

rópr

ia n

atur

eza

da m

oral

, ta

nto

mai

s qu

anto

mai

s se

ele

va e

enr

ique

ce n

o

decu

rso

do s

eu d

esen

volv

imen

to h

istó

rico

, ex

ige

uma

just

ific

ação

rac

iona

l e

obje

tiva

dos

juí

zos

mor

ais.

N

as p

rim

eira

s fa

ses

do d

esen

volv

imen

to s

ocia

l, ou

nas

soci

edad

es

prim

itiv

as,

que

poss

uem

um

a m

oral

ta

mbé

m

prim

itiv

a,

39

enco

ntra

mos

indi

vídu

os c

om r

eduz

ida

capa

cida

de d

e in

teri

oriz

ação

: ac

omod

am-

se à

s no

rmas

mai

s pe

la f

orça

da

trad

ição

, do

que

por

con

vicç

ão í

ntim

a.

O

códi

go m

oral

é a

ceit

o, e

m g

eral

, sem

nec

essi

dade

de

just

ific

ação

.

A

med

ida,

po

rém

, qu

e se

pe

rcor

re

o de

senv

olvi

men

to

hist

óric

o-so

cial

da

hum

anid

ade,

sua

mor

al s

e to

rna

cada

vez

mai

s ne

cess

ária

, pa

ra q

ue p

ossa

cum

prir

mis

fir

mem

ente

sua

fun

ção

soci

al r

egul

ador

a. A

pas

sage

m d

a m

oral

dos

cost

umes

e t

radi

ções

, pa

ra u

ma

mor

al r

efle

xiva

, au

tôno

ma

e hu

man

ista

, fi

ca

evid

ente

na

cres

cent

e ne

cess

idad

e de

um

a ju

stif

icaç

ão r

acio

nal

das

norm

as e

atos

mor

ais.

O v

erda

deir

o co

mpo

rtam

ento

mor

a, p

orta

nto,

não

term

ina

no r

econ

heci

men

to d

e

uma

norm

a, m

as e

xige

a ju

stif

icat

iva

raci

onal

das

mes

mas

. E

é a

qui q

ue a

éti

ca,

com

o te

oria

, aj

uda

a ab

rir

cam

inho

par

a um

a m

oral

mai

s el

evad

a e,

sob

retu

do,

iden

tifi

cand

o a

poss

ível

ju

stif

icaç

ão

raci

onal

da

m

oral

, do

s se

us

juíz

os

de

valo

res

e da

s su

as n

orm

as, b

em c

omo

solu

cion

ando

o p

robl

ema

de q

uais

ser

iam

as r

azõe

s ou

os

crit

ério

s ju

stif

icat

ivos

que

se

pode

riam

adu

zir.

Ass

im,

reje

itas

as

resp

osta

s do

em

otiv

ism

o e

do i

ntui

cion

ism

o, c

onti

nua

a

nece

ssid

ade

de ju

stif

icar

-se

raci

onal

men

te o

s ju

ízos

mor

ais.

7. A

“G

uil

hot

ina”

de

Hu

me

A p

ropó

sito

de

se o

bter

um

a ju

stif

icaç

ão r

acio

nal

dos

juíz

os,

dedu

zind

o-se

alg

o

que

é de

alg

o qu

e de

ve s

er,

mor

ais,

o q

ue h

á te

mpo

se

proc

lam

a ca

min

ho

fech

ado,

cos

tum

a-se

cit

ar a

seg

uint

e pa

ssag

em d

e H

ume

(do

seu

Tra

tado

do

ente

ndim

ento

hum

ano)

:

“Em

tod

os o

s si

stem

as d

e m

oral

idad

e qu

e ex

amin

amos

até

ago

ra s

e te

rá n

otad

ose

mpr

e qu

e o

auto

r, p

orce

rto

tem

po,

expr

ime-

se d

e um

a m

anei

ra h

abit

ual,

e es

tabe

lece

a e

xist

ênci

a de

Deu

s, o

u fa

z co

men

tári

osso

bre

os a

ssun

tos

hum

anos

; m

as d

e re

pent

e su

rpre

ende

dep

arar

com

o f

ato

de q

ue –

em

lug

ar d

os v

erbo

s co

pula

tivo

s “s

er”

e “n

ão s

er”

entr

e as

pro

posi

ções

– n

ão h

á m

ais

nenh

uma

prop

osiç

ão q

ue n

ão e

stej

ali

gada

por

um

“dev

ia”

ou “

não

devi

a”.

Est

a m

udan

ça é

im

perc

eptí

vel;

cont

udo,

é d

e gr

ande

im

port

ânci

a.P

orqu

e, d

ado

que

esse

“de

via”

ou

“não

dev

ia”

expr

essa

um

a no

va r

elaç

ão o

u af

irm

ação

, é n

eces

sári

o qu

ese

ana

lise

e s

e ex

pliq

ue; e

, ao

mes

mo

tem

po q

ue s

e dá

alg

uma

razã

o de

alg

o qu

e pa

rece

inco

nceb

ível

, ser

á pr

ecis

o qu

e no

s ex

pliq

uem

com

o es

ta n

ova

rela

ção

pode

ser

um

a de

duçã

o de

ou

tras

que

são

tot

alm

ente

di

fere

ntes

.”

Page 20: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

40

Est

e ar

gum

ento

é c

onsi

dera

do t

ão d

emol

idor

que

é c

ham

ado

por

Max

Bla

ck d

e

“a g

uilh

otin

a de

Hum

e”.

Tud

o qu

e pr

eten

de p

assa

r de

um

é pa

ra u

mde

ve s

er,

terá

que

cai

r so

b es

ta g

uilh

otin

a.

E o

que

cai

sob

ela

é a

ten

tati

va d

e de

duzi

r

uma

conc

lusã

o qu

e in

clua

alg

o nã

o co

ntid

o na

pre

mis

sa (

um d

eve

ser

de u

mé)

,

o qu

e é

ileg

ítim

o do

pon

to d

e vi

sta

lógi

co, m

as q

ue n

ão s

igni

fica

que

o r

eino

do

deve

r se

r nã

o te

nha

nenh

uma

rela

ção

com

o m

undo

do

ser.

Pod

e-se

ace

itar

que

a n

orm

a m

oral

não

pod

e se

r id

enti

fica

da c

om o

mer

o

regi

stro

de

um f

ato,

e p

orta

nto

não

pode

m j

usti

fica

r-se

pel

o co

mpo

rtam

ento

dos

mem

bros

da

co

mun

idad

e.

Pod

e ac

onte

cer

que

tal

com

port

amen

to

não

se

veri

fiqu

e na

rea

lida

de,

e qu

e os

ind

ivíd

uos

atue

m e

m c

ontr

adiç

ão c

om e

las,

o

que

não

as in

vali

da.

Ass

im,

a im

poss

ibil

idad

e ló

gica

de

que

um j

uízo

mor

al n

orm

ativ

o (u

m “

deve

r

ser”

) se

ja d

eduz

ido

de u

m j

uízo

fac

tual

(um

”é”

), n

ão q

uer

dize

r qu

e fi

que

susp

ensa

no

ar c

omo

se n

ada

tive

sse

a ve

r co

m o

s fa

tos.

E

mbo

ra a

s no

rmas

não

deri

vem

lo

gica

men

te

dos

fato

s,

re

corr

e-se

a

eles

pa

ra

com

pree

nder

su

a

exis

tênc

ia.

8. C

rité

rios

de

Just

ific

ação

Mor

al

Os

cinc

o cr

itér

ios

de j

usti

fica

ção

mor

al(s

ocia

l, pr

átic

a, l

ógic

a, c

ient

ífic

a e

dial

étic

a), n

ão c

onsi

dera

m a

nor

ma

mor

al a

bsol

uta,

sob

re-h

uman

a ou

ate

mpo

ral,

mas

sim

com

o pr

odut

o hu

man

o qu

e ex

iste

, va

le e

se

just

ific

a co

mo

nexo

de

rela

ções

.

I) A

Jus

tific

ação

Soc

ial:

Tod

a no

rma

corr

espo

nde

a in

tere

sses

e n

eces

sida

des

soci

ais.

A

val

idad

e de

um

a no

rma

é in

sepa

ráve

l de

sua

nec

essi

dade

soc

ial,

send

o in

oper

ante

, ca

so e

ntre

em

con

trad

ição

com

ela

, nã

o se

jus

tifi

cand

o no

âmbi

to

da

com

unid

ade.

L

ogo,

num

a co

mun

idad

e em

qu

e se

ve

rifi

ca

a

nece

ssid

ade

x ou

o i

nter

esse

y, j

usti

fica

-se

a no

rma

que

exig

e o

com

port

amen

to

adeq

uado

”.

41

II)

A J

usti

fica

ção

Prá

tica

: T

oda

norm

a im

plic

a nu

ma

exig

ênci

a de

rea

liza

ção,

send

o, p

orta

nto,

o g

uia

de u

ma

ação

. A

nor

ma

mor

al,

por

sua

vez,

exi

ge c

erta

s

cond

içõe

s re

ais

para

o s

eu c

umpr

imen

to, e

pode

ser

just

ific

ada

se s

e ve

rifi

cam

as c

ondi

ções

rea

is p

ara

que

a su

a ap

lica

ção

não

se o

ponh

a às

nec

essi

dade

s da

com

unid

ade.

Log

o, “

num

a de

term

inad

a co

mun

idad

e na

qua

l se

ver

ific

am a

s

cond

içõe

s ne

cess

ária

s, ju

stif

ica-

se a

nor

ma

que

corr

espo

nde

a ta

is c

ondi

ções

.”

III)

A J

usti

fica

ção

Lóg

ica:

As

norm

as n

ão e

xist

em i

sola

das,

mas

for

mam

par

te

de u

m c

onju

nto

arti

cula

do o

u si

stem

a, q

ue c

onst

itue

m o

que

se

cham

a de

“cód

igo

mor

al”

da

com

unid

ade,

qu

e de

ve

apre

sent

ar

coer

ênci

a in

tern

a e,

port

anto

, se

m c

ontr

adit

orie

dade

. L

ogo,

“um

a no

rma

se j

usti

fica

log

icam

ente

se

dem

onst

ra a

sua

coe

rênc

ia e

não

-con

trad

itor

ieda

de c

om r

espe

ito

às d

emai

s

norm

as d

o có

digo

mor

al d

o qu

al fa

z pa

rte”

.

IV)

A J

usti

fica

ção

Cie

ntíf

ica:

Um

a no

rma

se j

usti

fica

cie

ntif

icam

ente

qua

nto

se

adap

ta a

os c

onhe

cim

ento

s ci

entí

fico

s es

tabe

leci

dos,

ou

pelo

men

os n

ão e

ntre

m

em c

ontr

adiç

ão c

om a

quel

es já

com

prov

ados

.

Log

o, “

dado

o n

ível

de

conh

ecim

ento

alc

ança

do p

ela

soci

edad

e, u

ma

norm

a

mor

al s

e ju

stif

ica

cien

tifi

cam

ente

som

ente

se

base

ada

ness

es c

onhe

cim

ento

s ou

com

patí

veis

com

os

mes

mos

”.

V)

A J

usti

fica

ção

Dia

léti

ca:

A h

istó

ria

mor

al t

em u

m s

enti

do a

scen

sion

al,

port

anto

, um

a no

rma

ou c

ódig

o m

oral

se

just

ific

am p

elo

luga

r qu

e oc

upam

dent

ro

dest

e

mov

imen

to

prog

ress

ivo.

N

a m

edid

a em

qu

e um

a no

rma

se

apre

sent

a co

mo

um d

egra

u ou

um

a fa

se d

o pr

ogre

sso

de u

nive

rsal

izaç

ão d

a

mor

al, e

não

com

o al

go e

stát

ico

e im

utáv

el, é

pos

síve

l fa

lar

de u

ma

just

ific

ação

dial

étic

a.

Log

o, “

uma

norm

a m

oral

se

just

ific

a di

alet

icam

ente

qua

ndo

cont

ém

Page 21: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

42

aspe

ctos

ou

elem

ento

s qu

e, n

o pr

oces

so a

scen

sion

al m

oral

, se

int

egra

m e

m u

m

novo

nív

el n

uma

mor

al s

uper

ior”

.

9. A

Su

per

ação

do

Rel

ativ

ism

o É

tico

O r

elat

ivis

mo

étic

o pa

rte

do p

rinc

ípio

de

que

dife

rent

es c

omun

idad

es j

ulga

m d

e

man

eira

dif

eren

te o

mes

mo

tipo

de

atos

, pr

ocla

man

do,

port

anto

, qu

e os

juí

zos

mor

ais,

rel

ativ

os a

dif

eren

tes

grup

os s

ocia

is,

just

ific

am-s

e pe

lo c

onte

xto

soci

al.

Alé

m d

isto

, co

nsid

era-

os c

orre

tos,

mes

mo

que

dife

rent

es o

u op

osto

s, p

orqu

e

corr

espo

ndem

a n

eces

sida

des

e in

tere

sses

de

suas

res

pect

ivas

com

unid

ades

.

Ass

im,

cada

juí

zo m

oral

fic

aria

jus

tifi

cado

por

est

a re

ferê

ncia

e,

port

anto

, to

dos

seri

am ig

ualm

ente

vál

idos

. É

pos

síve

l sup

erar

est

a id

éia?

Exi

ste

um p

rogr

esso

rum

o a

uma

mor

al u

nive

rsal

e h

uman

ista

, a

part

ir d

as

mor

ais

prim

itiv

a, p

assa

ndo

pela

s m

orai

s de

cla

sse,

com

suas

lim

itaç

ões.

F

ala-

se

de e

leva

ção

a ní

veis

mor

ais

mai

s al

tos

na m

edid

a em

que

se a

firm

am o

s as

pect

os

mor

ais:

dom

ínio

de

si m

esm

o, d

ecis

ão l

ivre

e c

onsc

ient

e, r

espo

nsab

ilid

ade

pess

oal,

harm

oniz

ação

do

indi

vídu

o e

do c

olet

ivo,

etc

.

Est

es a

spec

tos

do c

ompo

rtam

ento

mor

al d

efin

e o

luga

r oc

upad

o po

r um

a no

rma

dent

ro d

o pr

oces

so h

istó

rico

-mor

al,

e pe

rmit

e co

mpr

eend

er s

e su

a va

lida

de

cadu

cou

ou s

e co

nser

va n

o pr

oces

so.

Per

mit

e, a

inda

, ju

stif

icar

dia

leti

cam

ente

a

vali

dade

de

um

a no

rma

dian

te

de

outr

a qu

e po

stul

em

atos

hu

man

os

diam

etra

lmen

te o

post

os.

Tal

jus

tifi

caçã

odi

alét

ica

nos

impe

de d

e si

tuar

nor

mas

dive

rsas

, re

lati

vas

a di

fere

ntes

com

unid

ades

ou

a di

vers

as é

poca

s, n

o m

esm

o

plan

o, c

onsi

dera

ndo-

as ig

ualm

ente

vál

idas

.

Con

clui

-se

que

a re

lati

vida

de

da

mor

al

não

acar

reta

ne

cess

aria

men

te

um

rela

tivi

smo,

dad

o qu

e ne

m t

odas

as

mor

ais

se e

ncon

tram

no

mes

mo

plan

o,

porq

ue n

em to

das

têm

a m

esm

a va

lida

de.

43

CA

PÍT

UL

O X

I -

DO

UT

RIN

AS

ÉT

ICA

S F

UN

DA

ME

NT

AIS

1. É

tica

e H

istó

ria

As

dout

rina

s ét

icas

fu

ndam

enta

is

nasc

em

e se

de

senv

olve

m

em

dife

rent

es

époc

as e

soc

ieda

des

com

res

post

as a

os p

robl

emas

bás

icos

apr

esen

tado

s pe

las

rela

ções

ent

re o

s ho

men

s, e

par

ticu

larm

ente

pel

o se

u co

mpo

rtam

ento

mor

al

efet

ivo.

Por

iss

o, a

s do

utri

nas

étic

as d

evem

ser

con

side

rada

s de

ntro

de

um

proc

esso

his

tóri

co d

e m

udan

ça e

suc

essã

o. Q

uand

o m

uda

radi

calm

ente

a v

ida

soci

al, m

uda

tam

bém

a v

ida

mor

al –

e o

s pr

incí

pios

, val

ores

ou

norm

as a

caba

m

send

o su

bsti

tuíd

os p

or o

utro

s.

2. É

tica

Gre

ga

A é

tica

, ana

lisa

da q

uer

sob

um a

spec

to d

escr

itiv

o-ci

entí

fico

que

r so

b um

asp

ecto

pres

crit

ivo-

norm

ativ

o, n

ão p

ode

ser

desv

incu

lada

do

cont

exto

soc

ial

em q

ue é

pens

ada

e pr

atic

ada.

D

esta

rte,

a

cada

m

omen

to

hist

óric

o co

rres

pond

e um

a

corr

ente

fil

osóf

ica

que

traz

em

si u

ma

conc

epçã

o pe

culi

ar d

o qu

e se

ja a

éti

ca e

a

mor

al.

Não

is

so,

lem

bra

Váz

quez

, m

as

as

dout

rina

s,

para

al

ém

da

corr

espo

ndên

cia

que

poss

uem

com

seu

con

text

o hi

stór

ico,

pol

ític

o e

econ

ômic

o,

corr

elac

iona

m-s

e en

tre

si, n

egan

do-s

e e

conf

irm

ando

-se

umas

às

outr

as.

Os

prim

eiro

s es

tudo

s si

stem

atiz

ados

da

étic

a e

da m

oral

no

Oci

dent

e da

tam

da

anti

ga c

ivil

izaç

ão g

rega

. U

ma

part

icul

arid

ade

com

um à

s di

vers

as c

orre

ntes

que

ali

tive

ram

o s

eu n

asci

men

to é

cer

tam

ente

o v

iés

polí

tico

dad

o ao

s co

ncei

tos

de

étic

a e

mor

al.

De

fato

, o

surg

imen

to e

o a

poge

u da

s ch

amad

as c

idad

es-e

stad

os

infl

uenc

iara

m s

obre

man

eira

o p

ensa

men

to d

os p

rinc

ipai

s pe

nsad

ores

da

époc

a.

Os

sofi

stas

, co

rren

te

filo

sófi

ca

ante

rior

a

gran

de

revi

ravo

lta

real

izad

a pe

lo

pens

amen

to s

ocrá

tico

, de

ram

o p

rim

eiro

pas

so d

os g

rego

s na

quel

a di

reçã

o do

Page 22: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

44

pens

amen

to o

cide

ntal

que

teve

seu

nas

cim

ento

ofi

cial

com

Sóc

rate

s, q

ual s

eja,

a

de u

m a

band

ono

de u

ma

abor

dage

m n

atur

alis

ta d

o co

nhec

imen

to e

a b

usca

de

um c

onhe

cim

ento

que

tem

no

hom

em a

sua

ori

gem

.

Ass

im,

os s

ofis

tas

troc

aram

a p

reoc

upaç

ão d

e se

ten

tar

ente

nder

o m

undo

, o

univ

erso

e s

eu f

unci

onam

ento

e p

assa

ram

a c

once

ntra

r es

forç

os n

a co

mpr

eens

ão

e no

est

udo

do h

omem

. T

rata

va-s

e, c

ontu

do,

da b

usca

de

um s

aber

prá

tico

, qu

e

pude

sse

ser

util

izad

o na

prá

tica

. C

hega

ram

, ne

ste

sent

ido,

a d

esen

volv

er a

art

e

da r

etór

ica,

fer

ram

enta

dis

curs

iva

à di

spos

ição

dos

hom

ens

que

part

icip

avam

do

cam

po p

olít

ico.

Sóc

rate

s re

tom

ará

a ab

orda

gem

ant

ropo

lógi

ca (

cent

rada

no

hom

em)

dos

sofi

stas

e de

senv

olve

ra s

ua p

rópr

ia c

orre

nte.

No

cam

po d

a ét

ica

e da

mor

al,

as i

déia

s

bási

cas

de s

eu p

ensa

men

to s

ão a

s de

que

a f

elic

idad

e co

nsti

tui

o fi

m ú

ltim

o do

hom

em,

esta

som

ente

é a

lcan

çada

atr

avés

da

prát

ica

do b

em e

, fi

nalm

ente

,

som

ente

o h

omem

que

igno

ra o

bem

pra

tica

o m

al.

Já P

latã

o, d

iscí

pulo

de

Ari

stót

eles

, in

trod

uz u

m v

iés

polít

ico

clar

o em

sua

s

conc

epçõ

es d

e ét

ica

e m

oral

. Seu

pen

sam

ento

car

acte

riza

-se

por

uma

conc

epçã

o

dual

ísti

ca d

o m

undo

, qu

e es

tari

a di

vidi

do n

o m

undo

per

feito

das

idé

ias

e no

mun

do i

mpe

rfei

to d

as s

ensa

ções

, e

trip

arti

da d

a al

ma,

que

ser

ia c

ompo

sta

pela

razã

o, v

onta

de e

ape

tite

. Seg

undo

Pla

tão,

o a

perf

eiço

amen

to d

a al

ma

esta

ria

em

cert

as v

irtu

des

cuja

prá

tica

ter

iam

rel

ação

com

o d

esen

volv

imen

to d

e ca

da u

ma

dest

as p

arte

s da

alm

a.

Nes

te s

enti

do,

a pr

udên

cia

dese

nvol

veri

a a

razã

o, a

for

tale

za d

esen

volv

eria

a

vont

ade

e, f

inal

men

te, a

tem

pera

nça

dese

nvol

veri

a o

apet

ite.

Ari

stót

eles

, dis

cípu

lo d

e P

latã

o, d

esen

volv

eu a

teor

ia d

o at

o e

da p

otên

cia.

Tod

o

ser

é at

o de

si m

as p

otên

cia

de a

lgo

vind

ouro

. Des

tart

e, u

ma

sem

ente

é a

to d

e si

,

mas

é p

otên

cia

de u

ma

futu

ra á

rvor

e. O

hom

em,

nest

a co

ncep

ção,

é a

to d

e si

mas

pot

ênci

a de

alg

o su

peri

or,

algo

que

é o

fim

últ

imo

de s

ua e

xist

ênci

a. P

ara

45

Ari

stót

eles

, es

te f

im s

eria

um

est

ado

de p

lena

fel

icid

ade,

alc

ançá

vel

som

ente

atra

vés

da m

edit

ação

teó

rica

e d

a pr

átic

a de

vir

tude

s. É

im

port

ante

res

salt

ar q

ue

o fi

lóso

fo

de

Est

agir

a co

nceb

ia

as

virt

udes

co

mo

send

o o

mei

o-te

rmo

de

extr

emos

abs

olut

os.

Ass

im,

por

exem

plo,

a v

irtu

de j

usti

ça é

o m

eio

term

o en

tre

o eg

oísm

o e

o es

quec

imen

to.

Tan

to P

latã

o qu

anto

Ari

stót

eles

pos

tula

vam

que

a v

ida

mor

al s

ó po

deri

a ga

nhar

efet

ivid

ade

no e

spaç

o e

no c

otid

iano

das

cid

ades

-est

ados

, da

í, po

rtan

to,

o fo

rte

viés

pol

ític

o de

sua

s te

oria

s ét

icas

.

3. É

tica

Cri

stã

Med

ieva

l

Apó

s um

a lo

nga

luta

, o

cris

tian

ism

o tr

ansf

orm

a-se

na

reli

gião

ofi

cial

de

Rom

a

(séc

. IV

), im

pond

o se

u do

mín

io d

uran

te d

ez s

écul

os.

Com

a r

uína

do

mun

do a

ntig

o, o

reg

ime

de e

scra

vidã

o dá

esp

aço

para

o d

e

serv

idão

, org

aniz

ando

-se,

com

bas

e ne

ste,

a s

ocie

dade

med

ieva

l com

o um

todo

.

Tal

soc

ieda

de e

ra c

arac

teri

zada

por

sua

est

rati

fica

ção

e hi

erar

quiz

ação

, be

m

com

o um

a pr

ofun

da f

ragm

enta

ção

econ

ômic

a e

polí

tica

.

Nes

te c

onte

xto,

a r

elig

ião

cris

tã g

aran

te a

uni

dade

soc

ial

dest

a so

cied

ade,

um

a

vez

que

a Ig

reja

com

anda

a v

ida

inte

lect

ual

e es

piri

tual

de

todo

s. T

odos

os

aspe

ctos

da

vida

med

ieva

l são

car

rega

dos

de c

onte

údo

reli

gios

o.

A É

tica

Rel

igio

sa

A f

ilos

ofia

cri

stã

part

e de

um

con

junt

o de

ver

dade

s a

resp

eito

de

Deu

s, q

ue é

conc

ebid

o co

mo

um s

er b

om, o

nisc

ient

e e

todo

-pod

eros

o, c

riad

or d

o m

undo

e d

o

hom

em.

Ass

im,

tudo

o q

ue o

hom

em é

def

ine-

se n

ão e

m r

elaç

ão à

com

unid

ade

hum

ana,

ou

ao u

nive

rso,

mas

, an

tes

de t

udo,

em

rel

ação

a D

eus.

A e

ssên

cia

da

Page 23: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

46

feli

cida

de é

a c

onte

mpl

ação

de

Deu

s; o

am

or h

uman

o é

subo

rdin

ado

ao d

ivin

o, e

a or

dem

sob

rena

tura

l tem

a p

rim

azia

sob

re a

ord

em n

atur

al h

uman

a.

O c

rist

iani

smo

pret

ende

ele

var

o ho

mem

de

uma

orde

m t

erre

stre

par

a um

a

orde

m s

obre

natu

ral,

na q

ual

poss

a vi

ver

uma

vida

ple

na, f

eliz

e v

erda

deir

a, s

em

as d

esig

uald

ades

e in

just

iças

terr

enas

.

Seg

undo

a é

tica

cri

stã,

todo

s os

hom

ens

são

igua

is p

eran

te D

eus.

Est

a m

ensa

gem

de i

gual

dade

con

fron

tava

-se

com

a r

eali

dade

de

um m

undo

soc

ial

em q

ue o

s

hom

ens

conv

ivia

m c

om a

mai

s es

pant

osa

desi

gual

dade

: es

crav

os e

hom

ens

livr

es,

serv

os e

sen

hore

s fe

udai

s, e

tc.

A i

gual

dade

pro

met

ida,

por

ém,

deve

ser

conc

ebid

a em

um

pla

no e

spir

itual

. N

a Id

ade

Méd

ia,

a ig

uald

ade

só p

odia

ser

espi

ritu

al,

por

isso

ela

coe

xist

ia c

om a

mai

s pr

ofun

da d

esig

uald

ade

soci

al,

enqu

anto

não

fos

sem

cri

adas

as

cond

içõe

s so

ciai

s pa

ra u

ma

igua

ldad

e ef

etiv

a.

Ou

seja

, qu

ando

era

com

plet

amen

te i

lusó

rio

e ut

ópic

o pr

opor

-se

a re

aliz

ação

de

uma

igua

ldad

e re

al e

ntre

os

hom

ens,

a m

ensa

gem

cri

stã

tinh

a um

pro

fund

o

cont

eúdo

m

oral

, la

nçan

do

os

obje

tivo

s da

vi

da

terr

ena

para

al

canç

ar

uma

soci

edad

e ju

sta

no m

undo

esp

irit

ual.

O f

im s

upre

mo

da é

tica

cri

stã

é re

gula

r o

com

port

amen

to d

os h

omen

s vi

sand

o à

orde

m s

obre

natu

ral.

Ass

im, o

fim

ou

valo

r su

prem

o é

colo

cado

for

a do

hom

em,

isto

é, e

m D

eus.

A r

elig

ião

cris

tã o

fere

ce a

os h

omen

s ce

rtos

pri

ncíp

ios

supr

emos

mor

ais

que,

por

vire

m

de

Deu

s,

têm

pa

ra

ele

o ca

ráte

r de

im

pera

tivo

s ab

solu

tos

e

inco

ndic

iona

dos.

A É

tica

Cri

stã

Fil

osóf

ica

O c

rist

iani

smo

não

é fi

loso

fia,

mas

rel

igiã

o. A

pesa

r di

sto,

faz

-se

filo

sófi

ca n

a

Idad

e M

édia

par

a ju

stif

icar

, atr

avés

da

razã

o, o

dom

ínio

das

ver

dade

s re

vela

das.

47

Naq

uele

tem

po, d

izia

-se

que

a fi

loso

fia

é se

rva

da te

olog

ia. A

ssim

, sub

ordi

nava

-

se, t

ambé

m, a

éti

ca à

teol

ogia

.

Na

elab

oraç

ão c

once

itua

l do

s pr

oble

mas

fil

osóf

icos

em

ger

al,

e m

orai

s em

part

icul

ar,

apro

veit

a-se

a h

eran

ça d

a A

ntig

üida

de (

part

icul

arm

ente

de

Pla

tão

e

Ari

stót

eles

), s

ubm

eten

do-a

a u

m p

roce

sso

de c

rist

iani

zaçã

o.

San

to A

gost

inho

inc

orpo

ra a

s id

éias

de

Pla

tão

de p

urif

icaç

ão d

a al

ma

e su

a

asce

nsão

lib

erta

dora

até

ele

va-s

e à

cont

empl

ação

das

idé

ias,

mas

tra

nsfo

rma-

as

na e

leva

ção

céti

ca a

té D

eus,

cul

min

ando

no

êxta

se d

e fe

lici

dade

que

não

pod

e

ser

alca

nçad

a ne

ste

mun

do.

A é

tica

ago

stin

iana

se

cont

rapõ

e ao

rac

iona

lism

o

étic

o do

s gr

egos

ao

subl

inha

r o

valo

r da

exp

eriê

ncia

pes

soal

, da

inte

rior

idad

e, d

a

vont

ade

e do

am

or.

São

Tom

ás d

e A

quin

o su

sten

ta u

ma

étic

a ba

sead

a na

de

Ari

stót

eles

, po

rém

tam

bém

cris

tian

izan

do s

ua m

oral

e s

ua f

iloso

fia.

Deu

s é

o be

m o

bjet

ivo

ou f

im

supr

emo,

cuj

a po

sse

caus

a fe

lici

dade

, qu

e é

um b

em s

ubje

tivo

. E

é n

esse

pon

to

que

ele

se a

fast

a de

Ari

stót

eles

, poi

s pa

ra e

ste

a fe

lici

dade

é o

bem

últ

imo.

Mas

,

assi

m c

omo

Ari

stót

eles

, a c

onte

mpl

ação

, o c

onhe

cim

ento

(co

mo

visã

o de

Deu

s),

é o

mei

o m

ais

adeq

uado

par

a al

canç

ar o

fim

últ

imo.

Até

m-s

e à

tese

do

hom

em

com

o se

r so

cial

ou

polí

tico

e i

ncli

na-s

e pa

ra u

ma

mon

arqu

ia m

oder

ada,

ain

da

que

cons

ider

e qu

e to

do o

pod

er d

eriv

e de

Deu

s e

o po

der

supr

emo

caib

a à

Igre

ja.

4. A

Éti

ca M

oder

na

É a

éti

ca d

omin

ante

des

de o

séc

ulo

XV

I at

é pr

incí

pios

do

sécu

lo X

IX,

com

tend

ênci

a an

trop

ocên

tric

a, e

que

ati

nge

seu

pont

o cu

lmin

ante

na

étic

a de

Kan

t.

I. A

Éti

ca A

ntro

pocê

ntri

ca n

o M

undo

Mod

erno

A é

tica

mod

erna

é c

ulti

vada

na

nova

soc

ieda

de q

ue s

uced

e à

soci

edad

e fe

udal

da

Idad

e M

édia

, a

qual

se

cara

cter

iza

por

mud

ança

s ec

onôm

icas

(de

senv

olvi

men

to

das

rela

ções

cap

ital

ista

s de

pro

duçã

o);

soci

ais

(for

tale

cim

ento

da

burg

uesi

a, q

ue

Page 24: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

48

se p

reoc

upa

com

a e

xten

são

de s

eu p

oder

eco

nôm

ico

e lu

ta p

ara

impo

r a

sua

hege

mon

ia p

olít

ica

atra

vés

de u

ma

séri

e de

rev

oluç

ões)

; es

tata

is (

cria

ção

de

gran

des

Est

ados

mod

erno

s, ú

nico

s e

cent

rali

zado

s); e

rel

igio

sas

(a r

elig

ião

deix

a

de s

er a

for

ma

ideo

lógi

ca d

omin

ante

).

Nes

sa n

ova

soci

edad

e o

hom

em a

dqui

re u

m v

alor

pes

soal

, nã

o só

com

o se

r

espi

ritu

al,

mas

tam

bém

com

o se

r co

rpór

eo,

sens

ível

; e

não

só c

omo

ser

dota

do

de r

azão

, mas

tam

bém

de

vont

ade.

O h

omem

apa

rece

no

cent

ro d

a po

líti

ca,

da c

iênc

ia,

da a

rte

e da

mor

al.

a

tran

sfer

ênci

a do

cen

tro

de D

eus

para

o h

omem

, qu

e se

apr

esen

ta c

omo

o

abso

luto

.

II. A

Éti

ca d

e K

ant

É a

mai

s pe

rfei

ta e

xpre

ssão

da

étic

a m

oder

na.

O p

onto

de

part

ida

da É

tica

de

Kan

t é

o fa

ctum

(o f

ato)

da

mor

alid

ade.

O p

robl

ema

da m

oral

idad

e ex

ige

que

se

prop

onha

a q

uest

ão d

o fu

ndam

ento

da

bond

ade

dos

atos

, ou

em

que

con

sist

e o

bom

. Par

a K

ant,

o ún

ico

bom

em

si

mes

mo

é a

boa

vont

ade.

A b

onda

de d

e um

a

ação

não

se

deve

pro

cura

r em

si m

esm

a, m

as n

a vo

ntad

e co

m q

ue s

e fe

z. É

boa

a

vont

ade

que

age

por

puro

res

peit

o ao

dev

er.

Se

o ho

mem

age

por

pur

o re

spei

to a

o de

ver

e nã

o ob

edec

e a

outr

a le

i a n

ão s

er a

que

lhe

dita

a s

ua c

onsc

iênc

ia m

oral

, é

legi

slad

or d

e si

mes

mo

(com

o pe

ssoa

mor

al).

Sen

do a

ssim

, pa

ra K

ant,

pare

ce p

rofu

ndam

ente

im

oral

tom

ar o

hom

em

com

o o

mei

o, p

orqu

e to

dos

os h

omen

s sã

o fi

ns e

m s

i m

esm

os e

, co

mo

tais

,

faze

m p

arte

do

mun

do d

a li

berd

ade

ou d

o re

ino

dos

fins

.

Por

con

cebe

r o

com

port

amen

to m

oral

com

o pe

rten

cent

e a

um s

ujei

to a

utôn

omo

e li

vre,

ati

vo e

cri

ador

, Kan

t é o

pon

to d

e pa

rtid

a de

um

a fi

loso

fia

e de

um

a ét

ica

na q

ual o

hom

em s

e de

fine

ant

es d

e tu

do c

omo

ser

ativ

o, p

rodu

tor

ou c

riad

or.

49

5. A

Éti

ca C

onte

mp

orân

ea

Incl

uem

-se

aqui

não

ape

nas

as é

tica

s at

uais

, m

as a

s qu

e co

ntin

uam

ten

do

infl

uênc

ia d

esde

seu

sur

gim

ento

no

sécu

lo X

IX –

com

o as

de

Kie

rkeg

aard

,

Sti

rner

ou

Mar

x.

A é

tica

con

tem

porâ

nea

surg

e nu

ma

époc

a de

con

tínu

os p

rogr

esso

s ci

entíf

icos

e

técn

icos

e d

e um

im

enso

des

envo

lvim

ento

das

for

ças

prod

utor

as,

que

acab

am

por

ques

tiona

r a

próp

ria

exis

tênc

ia d

a hu

man

idad

e, e

con

hece

um

nov

o si

stem

a

soci

al –

o s

ocia

lism

o. N

o pl

ano

filo

sófi

co,

a ét

ica

cont

empo

râne

a se

apr

esen

ta

com

o re

ação

co

ntra

o

form

alis

mo

e o

raci

onal

ism

o ab

stra

to

kant

iano

,

prin

cipa

lmen

te a

o ab

solu

tism

o de

Heg

el.

Os

rum

os

prin

cipa

is

nos

quai

s se

or

ient

am

as

dout

rina

s fu

ndam

enta

is

cont

empo

râne

as n

o ca

mpo

da

étic

a sã

o os

seg

uint

es:

I. D

e K

ierk

egaa

rd a

o E

xist

enci

alis

mo:

Kie

rkeg

aard

é c

onsi

dera

do o

pai

do

exis

tenc

iali

smo,

sen

do t

ido

com

o “a

nti-

Heg

el”.

Ao

cont

rári

o de

Heg

el,

para

Kie

rkeg

aard

o q

ue v

ale

é o

hom

em c

oncr

eto,

a s

ua s

ubje

tivi

dade

– e

não

seu

cará

ter

abst

rato

e u

nive

rsal

, con

trap

ondo

a H

egel

seu

irra

cion

alis

mo

abso

luto

e o

seu

indi

vidu

alis

mo

radi

cal.

Kie

rkeg

aard

dis

ting

ue t

rês

está

gios

na

exis

tênc

ia

indi

vidu

al,

na

segu

inte

or

dem

hi

erár

quic

a:

reli

gios

o,

étic

o e

esté

tico

. M

ax

Sti

rner

seg

ue n

o m

esm

o se

ntid

o, e

até

um p

asso

alé

m: a

mor

al é

pra

tica

men

te

impo

ssív

el n

a in

divi

dual

idad

e. O

exi

sten

cial

ism

o de

Jea

n-P

aul S

artr

e re

nova

nos

dias

con

tem

porâ

neos

a o

rien

taçã

o in

divi

dual

ista

e i

rrac

iona

list

a de

Kie

rkeg

aard

,

mas

co

m

algu

mas

di

fere

nças

, po

r ex

empl

o:

para

S

artr

e,

Deu

s nã

o ex

iste

;

port

anto

, re

sta

som

ente

o

hom

em

com

o fu

ndam

ento

se

m

fund

amen

to

dos

valo

res.

Par

a S

artr

e, o

hom

em é

lib

erda

de,

e es

ta é

a ú

nica

fon

te d

e va

lor,

e o

valo

r su

prem

o.

Page 25: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

50

II.

O P

ragm

atis

mo.

Com

o fi

loso

fia

e do

utri

na é

tica

, o

Pra

gmat

ism

o su

rge

e se

difu

nde

nos

EU

A, c

om S

. Pie

rce,

W. J

ames

e J

. Dew

ey. O

pro

gres

so c

ient

ífic

o e

técn

ico

dess

e pa

ís c

riar

am a

s co

ndiç

ões

para

est

a fi

loso

fia

anti

espe

cula

tiva

e

aten

ta à

s qu

estõ

es p

ráti

cas,

ao

prag

mat

ism

o, q

ue p

or s

ua v

ez c

onsi

ste

em u

ma

vari

ante

ut

ilit

aris

ta

mar

cada

pe

lo

egoí

smo,

e

com

o m

ais

uma

vers

ão

do

subj

etiv

ism

o e

do ir

raci

onal

ism

o.

III.

Psi

caná

lise

e É

tica

. F

unda

da p

or F

reud

, as

tes

es d

a ps

ican

ális

e fo

ram

subm

etid

as a

um

pro

cess

o de

rev

isão

pel

os s

eus

outr

os r

amos

, se

guid

os p

or

Adl

er,

Jung

, S

ulli

van

e F

rom

m.

A p

sica

náli

se c

láss

ica,

de

Fre

ud,

tem

um

a

conc

epçã

o na

tura

list

a do

hom

em,

e F

rom

m v

em c

ompl

etá-

la i

nteg

rand

o-lh

e os

fato

res

soci

ais.

A b

ase

da p

sica

náli

se é

o i

ncon

scie

nte

do h

omem

, on

de s

e

arm

azen

am r

ecor

daçõ

es,

dese

jos

ou i

mpu

lsos

rep

rim

idos

, qu

e lu

tam

com

a a

cons

ciên

cia

para

es

capa

r de

su

a re

pres

são.

P

ara

Fre

ud,

a en

ergi

a qu

e se

man

ifes

ta n

o in

cons

cien

te é

de

natu

reza

sex

ual

e se

cha

ma

libi

do,

que

quan

do

repr

imid

a ac

arre

ta p

ertu

rbaç

ões

psíq

uica

s. F

reud

ain

da d

istin

gue

três

zon

as d

a

pers

onal

idad

e: o

id, o

ego

e o

sup

ereg

o. A

con

trib

uiçã

o de

Fre

ud à

éti

ca s

e dá

no

segu

inte

sen

tido

: se

o at

o m

oral

é o

pra

ticad

o de

for

ma

cons

cien

te e

livr

e, o

s at

os

prat

icad

os p

or u

ma

mot

ivaç

ão i

ncon

scie

nte

estã

o ex

cluí

dos

do c

ampo

mor

al.

Ent

reta

nto,

a v

ersã

o de

Fro

mm

da

psic

anál

ise,

por

con

side

rar

seu

aspe

cto

soci

al,

ofer

ece

mai

ores

con

trib

uiçõ

es à

éti

ca d

o qu

e a

psic

anál

ise

clás

sica

de

Fre

ud.

IV.O

Mar

xism

o

O m

arxi

smo

crit

ica

as m

orai

s do

pas

sado

e e

vide

ncia

as

base

s te

óric

as e

prá

tica

s

de u

ma

nova

mor

al.

Mar

x te

nta

mos

trar

que

o h

omem

é p

ráxi

s; é

um

ser

prod

utor

, tr

ansf

orm

ador

, cr

iado

r. A

lém

dis

so,

o ho

mem

é u

m s

er s

ocia

l, e

tam

bém

um

ser

his

tóri

co.

Che

ga e

le à

tes

e en

tre

o de

senv

olvi

men

to d

as f

orça

s

prod

utiv

as e

das

rel

açõe

s de

pro

duçã

o. A

o m

udar

a b

ase

econ

ômic

a, m

uda

tam

bém

a m

oral

.

51

Mar

x ac

redi

ta n

o ca

ráte

r hi

stór

ico-

soci

al d

a m

oral

. A

prof

unda

-se

ele

na n

ova

mor

al,

com

que

ele

est

á en

tusi

asm

ado,

ind

o em

bus

ca d

os a

spec

tos

das

clas

ses

soci

ais

e su

as i

mpl

icaç

ões,

e d

as f

orça

s de

pro

duçã

o; c

oncl

uind

o, M

arx

acre

dita

que

o ho

mem

tem

o d

ever

de

inte

rfer

ir n

a tr

ansf

orm

ação

da

soci

edad

e, p

ois

há a

poss

ibil

idad

e de

se

volt

ar à

bar

bári

e e

de o

hom

em n

ão c

onsi

ga s

ubsi

stir

.

V. N

eopo

siti

vism

o e

Fil

osof

ia A

nalí

tica

Aqu

i es

tão

as c

orre

ntes

éti

cas

cont

empo

râne

as q

ue a

caba

m p

or c

once

ntra

r su

a

aten

ção

na a

náli

se d

a li

ngua

gem

mor

al,

com

eçan

do c

om G

.E.

Moo

re.

Moo

re

afir

ma

que

o bo

m é

inde

finí

vel,

e ex

iste

com

o pr

opri

edad

e nã

o na

tura

l, e

conc

lui

que

ele

pode

se

r ca

ptad

o po

r m

eio

da

intu

ição

. S

eus

segu

idor

es

– os

intu

icio

nist

as –

con

trib

uem

par

a en

doss

ar s

uas

tese

s. O

pró

xim

o pa

sso

depo

is d

o

intu

icio

nism

o fo

i o

dado

pel

os p

osit

ivis

tas

lógi

cos.

Em

seg

uida

se

abre

esp

aço

para

o e

mot

ivis

mo

étic

o, c

uja

conc

lusã

o é

de q

ue o

s te

rmos

éti

cos

têm

som

ente

um s

igni

fica

do e

mot

ivo,

e a

s pr

opos

içõe

s m

orai

s ca

rece

m d

e va

lor

cien

tífi

co.

Em

bora

sej

am i

negá

veis

as

cont

ribu

içõe

s da

das

pelo

s fi

lóso

fos

anal

ítico

s na

inve

stig

ação

da

ling

uage

m m

oral

, nã

o se

pod

e es

quec

er d

e qu

e a

ling

uage

m

mor

al é

o m

eio

pelo

qua

l as

rela

ções

efe

tiva

s se

man

ifes

tam

no

mun

do r

eal.

Não

se p

ode

redu

zir

a ta

refa

da

étic

a à

anál

ise

da l

ingu

agem

mor

al,

sob

pena

de

abst

rair

del

a o

seu

aspe

cto

idea

l de

seu

s ju

ízos

e t

erm

os m

orai

s, s

endo

a

inve

stig

ação

ana

líti

ca in

sufi

cien

te. E

ntre

tant

o, to

das

esta

s co

ntri

buiç

ões

pare

cem

faze

r pa

rte

da in

cess

ante

din

âmic

a hi

stór

ico-

soci

al d

a m

oral

.

Page 26: SUMÁRIO CAPÍTULO VII - A AVALIAÇÃO MORAL CAPÍTULO X ... · A ciência jurídica também dá suas contribuições, uma vez que trata de normas impostas com caráter de obrigação

52

RE

FE

NC

IA B

IBL

IOG

FIC

A

NC

HE

Z V

ÁZ

QU

EZ

, A

dolf

o. É

tica

. R

io d

e Ja

neir

o: C

ivil

izaç

ão B

rasi

leir

a,

2002

.