136
SUM`RIO LISTA DE QUADROS .........................................................................................................2 1 INTRODU˙ˆO ...........................................................................................................3 1.1. Caracterizaªo do problema e justificativa ................................................................4 1.2. Questıes de pesquisa...............................................................................................5 1.3. Objetivos ................................................................................................................6 1.3.1 Objetivo geral ......................................................................................................6 1.3.2 Objetivos especficos...........................................................................................6 1.4. Metodologia ............................................................................................................6 1.4.1 O mØtodo de estudo de caso e seus pressupostos .................................................7 1.4.2 Protocolo do Estudo de Caso ...............................................................................9 1.4.3 Dimensıes de AnÆlise ....................................................................................... 10 1.4.4 CritØrios para a seleªo da unidade de estudo .................................................... 13 1.4.5 TØcnicas de coleta de dados............................................................................... 14 1.4.6 AnÆlise dos dados.............................................................................................. 17 1.5. Hipteses .............................................................................................................. 18 1.6. Organizaªo do Trabalho ...................................................................................... 18 2 MARCO CONCEITUAL DA ECONOMIA SOLID`RIA E AUTOGESTˆO ...... 21 2.1. Globalizaªo e a crise contempornea ................................................................... 21 2.2. Economia SolidÆria: Alternativa superaªo do desemprego ................................ 27 2.3. Diferenas conceituais entre Terceiro Setor e Economia SolidÆria ......................... 34 2.4. Diferentes concepıes e modelos de participaªo na administraªo....................... 39 2.5. Autogestªo: Modelo de Participaªo total na Gestªo e princpio da ES .................. 47 2.6. ExperiŒncias Internacionais de autogestªo: Alemanha, Inglaterra e YugoslÆvia. .... 50 2.7. Gargalos e crticas Economia SolidÆria e Autogestªo.......................................... 52 3 CONTABILIDADE E AUTOGESTˆO ................................................................... 57 3.1. Funªo social da contabilidade .............................................................................. 58 3.2. Instrumentos contÆbeis x demandas da autogestªo............................................... 66 4 ESTUDO DE CASO COOPRAM RESULTADOS E AN`LISES ..................... 75 4.1. Relato do estudo de caso ....................................................................................... 75 4.2. Histrico e descriªo da unidade de estudo............................................................ 76 4.3. Informaıes sobre a entidade de apoio .................................................................. 79 4.4. Descriªo da organizaªo contÆbil da COOPRAM ................................................ 80 4.5. AnÆlise dos Resultados.......................................................................................... 81 4.5.1 Forma de comunicaªo...................................................................................... 82 4.5.2 Conteœdo da informaªo.................................................................................... 84 4.5.3 Utilidade da informaªo .................................................................................... 86 4.5.4 Apropriaªo da informaªo ............................................................................... 91 4.5.5 Relaªo contador-usuÆrio .................................................................................. 94 4.5.6 Legislaªo contÆbil............................................................................................ 99 CONCLUSˆO .................................................................................................................. 103 REFER˚NCIAS BIBLIOGR`FICAS ............................................................................ 108 AP˚NDICES..................................................................................................................... 115

SUM`RIO LISTA DE QUADROS2 1 INTRODU˙ˆO · 2007. 5. 29. · Yin (2005, p.32) constrói a definiçªo tØcnica do estudo de caso de duas maneiras. Na primeira, aborda o escopo de

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Page 1: SUM`RIO LISTA DE QUADROS2 1 INTRODU˙ˆO · 2007. 5. 29. · Yin (2005, p.32) constrói a definiçªo tØcnica do estudo de caso de duas maneiras. Na primeira, aborda o escopo de

SUMAacuteRIO

LISTA DE QUADROS2 1 INTRODUCcedilAtildeO 3

11 Caracterizaccedilatildeo do problema e justificativa 4 12 Questotildees de pesquisa5 13 Objetivos 6

131 Objetivo geral6 132 Objetivos especiacuteficos6

14 Metodologia6 141 O meacutetodo de estudo de caso e seus pressupostos 7 142 Protocolo do Estudo de Caso9 143 Dimensotildees de Anaacutelise 10 144 Criteacuterios para a seleccedilatildeo da unidade de estudo 13 145 Teacutecnicas de coleta de dados14 146 Anaacutelise dos dados17

15 Hipoacuteteses 18 16 Organizaccedilatildeo do Trabalho 18

2 MARCO CONCEITUAL DA ECONOMIA SOLIDAacuteRIA E AUTOGESTAtildeO21

21 Globalizaccedilatildeo e a crise contemporacircnea 21 22 Economia Solidaacuteria Alternativa agrave superaccedilatildeo do desemprego 27 23 Diferenccedilas conceituais entre Terceiro Setor e Economia Solidaacuteria34 24 Diferentes concepccedilotildees e modelos de participaccedilatildeo na administraccedilatildeo39 25 Autogestatildeo Modelo de Participaccedilatildeo total na Gestatildeo e princiacutepio da ES47 26 Experiecircncias Internacionais de autogestatildeo Alemanha Inglaterra e Yugoslaacutevia 50 27 Gargalos e criacuteticas agrave Economia Solidaacuteria e Autogestatildeo52

3 CONTABILIDADE E AUTOGESTAtildeO 57

31 Funccedilatildeo social da contabilidade 58 32 Instrumentos contaacutebeis x demandas da autogestatildeo66

4 ESTUDO DE CASO COOPRAM RESULTADOS E ANAacuteLISES 75

41 Relato do estudo de caso 75 42 Histoacuterico e descriccedilatildeo da unidade de estudo76 43 Informaccedilotildees sobre a entidade de apoio 79 44 Descriccedilatildeo da organizaccedilatildeo contaacutebil da COOPRAM 80 45 Anaacutelise dos Resultados81

451 Forma de comunicaccedilatildeo82 452 Conteuacutedo da informaccedilatildeo84 453 Utilidade da informaccedilatildeo 86 454 Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo 91 455 Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio 94 456 Legislaccedilatildeo contaacutebil99

CONCLUSAtildeO 103 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 108 APEcircNDICES115

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2

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1- RESUMO DOS RESULTADOS13

QUADRO 2- DIFERENCcedilAS ENTRE ASSOCIACcedilOtildeES E COOPERATIVAS 38

QUADRO 3- PERSPECTIVAS DA PARTICIPACcedilAtildeO E SUAS POSSIacuteVEIS

REPERCUSSOtildeES 44

QUADRO 4- RELEVAcircNCIA DA INFORMACcedilAtildeO 61

QUADRO 5- CONTABILIDADE ORCcedilAMENTAacuteRIA72

QUADRO 6- FORMA DE COMUNICACcedilAtildeO 82

QUADRO 7- CONTEUacuteDO DA INFORMACcedilAtildeO85

QUADRO 8 - UTILIDADE DA INFORMACcedilAtildeO 87

QUADRO 9 - APROPRIACcedilAtildeO DA INFORMACcedilAtildeO91

QUADRO 10 - RELACcedilAtildeO CONTADOR-USUAacuteRIO 95

QUADRO 11- LEGISLACcedilAtildeO CONTAacuteBIL100

3

1 INTRODUCcedilAtildeO

Este trabalho apresenta a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre Contabilidade e Autogestatildeo A

autogestatildeo marca registrada da Economia Solidaacuteria (ES) eacute um modelo de gestatildeo

caracterizado pela administraccedilatildeo participativa e democraacutetica ou seja uma gestatildeo

compartilhada pelos trabalhadores Tendo em vista a dupla natureza dos empreendimentos

de ES econocircmica e social partiu-se do pressuposto de que se constituem em um novo grupo

de usuaacuterios da contabilidade e como tal possui demandas peculiares agrave sua natureza Dessa

forma esta pesquisa buscou por meio de uma investigaccedilatildeo empiacuterica compreender e analisar

a dimensatildeo contaacutebil nos processos de autogestatildeo dos empreendimentos solidaacuterios levantando

seus desafios e demandas contaacutebeis suscitadas nesse processo

Conforme literatura existente e praacutetica corrente a autogestatildeo eacute mais que um modelo de

gestatildeo consiste em uma forma proacutepria de um sistema de relaccedilotildees sociais econocircmicas e

culturais que visa agrave emancipaccedilatildeo democraacutetica do cidadatildeo e que a proacutepria contabilidade e o

contador ao se inserirem nesse processo tambeacutem sofrem transformaccedilotildees Portanto ao

analisar a dimensatildeo contaacutebil no ambiente da autogestatildeo isso natildeo se faz isoladamente visto

que a forma de compreensatildeo da realidade se insere numa perspectiva de totalidade Totalidade

natildeo como pretensatildeo de revelar ou explicar todo o real mas como perspectiva

metodoloacutegica que busca explicar e fenocircmeno em seu contexto de modo a ampliar a sua

compreensatildeo

Parafraseando Trivintildeos (1994 p 14) [] Achamos que natildeo podemos prescindir quando

pesquisamos da ideacuteia da historicidade e da iacutentima relaccedilatildeo e interdependecircncia dos

fenocircmenos sociais Assim a contabilidade e o papel do contador natildeo satildeo entendidos per si

mas como uma necessidade que se inscreve pelo interesse de grupos sociais que se constituem

historicamente

4

11 Caracterizaccedilatildeo do problema e justificativa

Conforme Hendriksen e Van Breda (1999 p 135) eacute funccedilatildeo da contabilidade [] fornecer

informaccedilatildeo quantitativa principalmente de natureza financeira sobre as entidades

econocircmicas de utilidade para a tomada de decisotildees econocircmicas Dessa forma nenhuma

entidade juriacutedica seja ela puacuteblica ou privada com ou sem fins lucrativos pode prescindir da

informaccedilatildeo contaacutebil agrave tomada de decisotildees Portanto a contabilidade eacute fundamental a todos

os entes juriacutedicos

No caso dos empreendimentos da ES a situaccedilatildeo natildeo difere das outras empresas no que diz

respeito agrave necessidade da contabilidade O processo de autogestatildeo requer a participaccedilatildeo

cotidiana dos trabalhadores na tomada de decisatildeo seja na deliberaccedilatildeo da organizaccedilatildeo do

trabalho ou nas decisotildees de alto niacutevel (decisotildees que interferem no rumo poliacutetico e econocircmico

da entidade tais como planejamento investimento etc) Essa praacutetica constante de

cooperaccedilatildeo solidariedade trabalho conjunto deliberaccedilotildees propicia o desenvolvimento

humano poliacutetico e social Mas para a efetivaccedilatildeo da autogestatildeo os empreendimentos

necessitam da contabilidade enquanto instrumento de gestatildeo para atingir seus objetivos

econocircmicos eou sociais

Entretanto a ES requer o envolvimento de profissionais com uma outra abordagem de

negoacutecio ou seja que compreendam a vocaccedilatildeo econocircmico-social do empreendimento O

relato da ANTEAG (2005) caracteriza o problema

[] Essa eacute uma dificuldade tiacutepica da divisatildeo do trabalho esse tipo de problema derivado da

contrataccedilatildeo de terceiros pode ser caracteriacutestico da inovaccedilatildeo que a autogestatildeo representa e que

natildeo eacute parte da formaccedilatildeo de profissionais cuja atuaccedilatildeo se daacute em empresas convencionais

segundo as regras convencionais do mercado que natildeo tem qualquer interesse em saber como

se realiza o processo de produccedilatildeo ou que qualidade de trabalho estaacute realizada no produto

Poderiacuteamos acrescentar exemplos das mais diferentes aacutereas juriacutedica tecnoloacutegica tributaacuteria e

contaacutebil em que o profissional contratado acaba sendo disfuncional para a

empresaempreendimento por desconhecer as condiccedilotildees que diferenciam a autogestatildeo

(ANTEAG 2005 p 20)

No relato fica patente a solicitaccedilatildeo da autogestatildeo por abordagens diferenciadas nas diversas

aacutereas Essas aacutereas acostumadas com o arcabouccedilo de conhecimento do mercado convencional

tecircm dificuldade em perceber as particularidades da ES No caso da contabilidade essa

preocupaccedilatildeo foi o foco de Michels (1995) que em seu trabalho reconhece as especificidades

da autogestatildeo e chama a atenccedilatildeo para a necessidade de estudos empiacutericos que identifiquem as

5

demandas de informaccedilotildees contaacutebeis desses usuaacuterios Nessa mesma perspectiva Almeida e

Dantas (2005) sugerem o aprofundamento de estudos sobre novas sistemaacuteticas contaacutebeis as

quais se adaptem agraves necessidades informacionais da ES

Dessa forma este trabalho se justifica pela necessidade de aprofundamento de estudos da

relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo mediante os quais se possam compreender os vaacuterios

aspectos da utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil nos empreendimentos de ES a fim de

diagnosticar com maior propriedade os desafios e demandas contaacutebeis provenientes desse

grupo social Portanto a expectativa dessa investigaccedilatildeo caracterizada por uma abordagem

metodoloacutegica e integrativa (contabilidade-autogestatildeo) eacute que os resultados encontrados

somem-se agraves pesquisas anteriores sobre o assunto ampliando o seu campo de conhecimento

Considerando que a contabilidade estaacute inserida em um contexto histoacuterico econocircmico

poliacutetico e social mais amplo e compreendendo a importacircncia da ES na inclusatildeo social dos

trabalhadores desempregados bem como da autogestatildeo enquanto instrumento de exerciacutecio

da democracia enxerga-se a grande importacircncia da contabilidade nesse processo cuja

contribuiccedilatildeo eacute fundamental para a concretizaccedilatildeo da autogestatildeo das empresas e para

efetivaccedilatildeo do papel social da contabilidade

12 Questotildees de pesquisa

Considerando a importacircncia da inserccedilatildeo da contabilidade no contexto da autogestatildeo e a

necessidade de apreensatildeo na praacutetica das diversas faces desse fenocircmeno foram definidas

as seguintes questotildees como norteadoras deste estudo

a) Como a informaccedilatildeo contaacutebil eacute empregada nos empreendimentos autogestionaacuterios

b) Quais os desafios e demandas suscitados nos vaacuterios aspectos da dimensatildeo contaacutebil nos

processos de autogestatildeo

6

13 Objetivos

131 Objetivo geral

O objetivo desta pesquisa foi compreender e analisar a dimensatildeo contaacutebil nos processos de

autogestatildeo dos empreendimentos solidaacuterios levantando seus desafios e demandas contaacutebeis

suscitadas nesse processo envolvendo seis perspectivas a) Forma de comunicaccedilatildeo b)

Conteuacutedo da informaccedilatildeo c) Utilidade da informaccedilatildeo d) Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo e)

Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio e f) Legislaccedilatildeo contaacutebil

132 Objetivos especiacuteficos

Com base no objetivo geral foram estabelecidos os seguintes objetivos especiacuteficos

relacionados com esta pesquisa

a) Descrever o processo de utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil nas vaacuterias etapas do

processo de gestatildeo

b) Identificar e analisar as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores na utilizaccedilatildeo

das informaccedilotildees contaacutebeis mapeando as novas demandas desses usuaacuterios

c) Descrever o processo de apropriaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil por parte dos

trabalhadores analisando seus desafios

d) Identificar elementos que auxiliem na construccedilatildeo de modelos de informaccedilotildees

adequados agraves necessidades da autogestatildeo

14 Metodologia

Conforme Marconi e Lakatos (2001 p106) eacute na especificaccedilatildeo da metodologia que se

responde agraves questotildees Como Com quecirc Onde A metodologia entatildeo descreve o conjunto

de procedimentos utilizados para a consecuccedilatildeo dos objetivos propostos bem como define o

meacutetodo de abordagem sob o qual repousa a pesquisa

De acordo com as autoras haacute distinccedilotildees entre os meacutetodos no que se refere agrave sua inspiraccedilatildeo

filosoacutefica ao seu grau de abstraccedilatildeo agrave sua finalidade explicativa agrave sua accedilatildeo nas etapas mais ou

7

menos concretas da investigaccedilatildeo e ao momento em que se situam Com base nessas

diferenccedilas o meacutetodo de abordagem caracteriza-se por um enfoque mais amplo em niacutevel de

abstraccedilatildeo mais elevado dos fenocircmenos da natureza e da sociedade

Com esta compreensatildeo a presente pesquisa filiou-se ao meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo Marconi

e Lakatos (2001 p106) descreve-o como aquele []que se inicia pela percepccedilatildeo de uma

lacuna nos conhecimentos acerca da qual formula hipoacuteteses e pelo processo de inferecircncia

dedutiva testa a prediccedilatildeo da ocorrecircncia de fenocircmenos abrangidos pela hipoacutetese

Enquanto meacutetodo de procedimento o qual compreende etapas mais concretas da investigaccedilatildeo

com finalidade mais restrita em termos de explicaccedilatildeo geral dos fenocircmenos menos abstratos

optou-se pelo Estudo de Caso Os pressupostos desse meacutetodo bem como as estrateacutegias e

teacutecnicas utilizadas para a sua realizaccedilatildeo seratildeo descritos a seguir

141 O meacutetodo de estudo de caso e seus pressupostos

O Estudo de Caso eacute apropriado ao estudo de eventos contemporacircneos em que as dimensotildees

relevantes natildeo podem ser manipuladas e eacute possiacutevel serem feitas observaccedilotildees diretas e

entrevistas sistemaacuteticas Aleacutem disso o estudo de caso permite utilizar uma variedade de

evidecircncias que tornam mais ricas e complexas as anaacutelises do real (documentos artefatos

entrevistas observaccedilotildees) Segundo Martins (2000 p 36)

Trata-se de uma teacutecnica de pesquisa cujo objetivo eacute o estudo de uma unidade que se analisa

profunda e intensamente Considera a unidade social estudada em sua totalidade seja um

indiviacuteduo uma famiacutelia uma instituiccedilatildeo uma empresa ou uma comunidade com o objetivo de

compreendecirc-los em seus proacuteprios termos

Nesse contexto a utilizaccedilatildeo das teacutecnicas de coleta de dados do estudo de caso tem o objetivo

de apreender a totalidade de uma situaccedilatildeo possibilitando a penetraccedilatildeo na realidade social natildeo

conseguida plenamente pela anaacutelise e pela avaliaccedilatildeo quantitativa Esse meacutetodo (e os outros

meacutetodos qualitativos) eacute uacutetil quando um fenocircmeno eacute amplo e complexo onde o corpo de

conhecimentos existente eacute insuficiente para permitir a proposiccedilatildeo de questotildees causais e

quando um fenocircmeno natildeo pode ser estudado fora do contexto no qual ele naturalmente ocorre

8

Yin (2005 p32) constroacutei a definiccedilatildeo teacutecnica do estudo de caso de duas maneiras Na

primeira aborda o escopo de um estudo de caso segundo o qual um estudo de caso eacute uma

investigaccedilatildeo empiacuterica que investiga um fenocircmeno contemporacircneo dentro de seu contexto da

vida real especialmente quando os limites entre o fenocircmeno e o contexto natildeo estatildeo

claramente definidos

Com base nessa definiccedilatildeo o pesquisador soacute usaria o meacutetodo de estudo de caso quando

quisesse deliberadamente lidar com condiccedilotildees contextuais Essa perspectiva tambeacutem

distingue o estudo de caso de outras estrateacutegias de pesquisa conforme Yin Por exemplo um

experimento deliberadamente separa um fenocircmeno de seu contexto de forma que se possa

dedicar a apenas algumas dimensotildees pois o contexto eacute controlado pelo ambiente de

laboratoacuterio Uma pesquisa histoacuterica natildeo segrega o contexto do fenocircmeno entretanto em

geral trabalha com acontecimentos natildeo contemporacircneos Jaacute os levantamentos tentam dar

conta do fenocircmeno e do contexto mas sua capacidade de investigaacute-lo eacute extremamente

limitada

Na segunda parte da definiccedilatildeo de Yin ( 2005 p33) ele afirma que

A investigaccedilatildeo de estudo de caso Enfrenta uma situaccedilatildeo tecnicamente uacutenica em que haveraacute muito mais dimensotildees de interesse

do que de dados e como resultado Baseia-se em vaacuterias fontes de evidecircncias com os dados precisando convergir em um formato

de triacircngulo e como resultado Beneficia-se do desenvolvimento preacutevio de proposiccedilotildees teoacutericas para conduzir a coleta e a

anaacutelise de dados

Sintetizando o estudo de caso objetiva a compreensatildeo de uma realidade social complexa e

contemporacircnea e constitui-se em uma estrateacutegia de pesquisa abrangente no que se refere agrave

loacutegica de planejamento agraves teacutecnicas de coleta de dados e agraves abordagens especiacuteficas agrave anaacutelise

Dessa forma a adoccedilatildeo do meacutetodo de Estudo de Caso eacute coerente com as questotildees propostas

uma vez que se pretendeu explorar o fenocircmeno dimensatildeo contaacutebil nos empreendimentos

autogestionaacuterios levando em conta a realidade social e o contexto real de inserccedilatildeo da

contabilidade no que diz respeito aos aspectos histoacutericos econocircmicos e sociais

9

142 Protocolo do Estudo de Caso

Para Yin (2005 p92) o protocolo eacute uma das taacuteticas principais para aumentar a

confiabilidade da pesquisa de estudo de caso e destina-se a orientar o pesquisador ao realizar a

coleta de dados a partir de um estudo de caso uacutenico[] Segundo o autor apesar da

semelhanccedila entre um questionaacuterio de levantamento e um protocolo de estudo de caso as

caracteriacutesticas de ambos os diferenciam O protocolo de estudo de caso eacute mais do que um

instrumento pois aleacutem de conter o instrumento tambeacutem conteacutem procedimentos e regras

gerais que devem ser seguidas para utilizaccedilatildeo dos instrumentos

O protocolo de estudo de caso geralmente apresenta as seguintes seccedilotildees

Visatildeo geral do projeto Esta seccedilatildeo eacute composta por objetivos patrociacutenios do projeto

questotildees do estudo e leituras importantes sobre o toacutepico que estaacute sendo investigado

Procedimentos de campo Neste item ocorre a apresentaccedilatildeo das credenciais acesso aos

locais do estudo de caso fontes gerais de informaccedilotildees e advertecircncias de procedimento

Questotildees do estudo de caso - Satildeo indicadas as questotildees especiacuteficas que nortearam o

pesquisador de estudo de caso ao coletar os dados planilha para disposiccedilatildeo especiacutefica de

dados e as fontes em potencial de informaccedilotildees ao se responder cada questatildeo

Guia para o relatoacuterio do estudo de caso Eacute apresentado o esboccedilo formato para os dados

uso e apresentaccedilatildeo de outras documentaccedilotildees e informaccedilotildees bibliograacuteficas

Com base nas orientaccedilotildees acima foi elaborado o protocolo de estudo de caso desta

pesquisa (apecircndice 01) Ele serviu de buacutessola para o encaminhamento da pesquisa como

tambeacutem proporcionou a sua compreensatildeo por parte dos representantes da unidade de

estudo conferindo a credibilidade necessaacuteria agrave autorizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo na

cooperativa

Entretanto cabe ressaltar que devido agrave dinacircmica caracteriacutestica do estudo de caso no

decorrer da pesquisa alguns itens do planejamento foram mudados da mesma forma que

nem todas as questotildees orientadoras arroladas foram necessaacuterias agrave compreensatildeo da

pesquisa ou foram passiacuteveis de obtenccedilatildeo de respostas

10

143 Dimensotildees de Anaacutelise

As dimensotildees apontadas neste trabalho longe de abranger toda a complexidade da inserccedilatildeo

da contabilidade no processo de autogestatildeo dos empreendimentos autogestionaacuterios

pretenderam distinguir aspectos relevantes desse universo A seleccedilatildeo dessas dimensotildees foi

resultado principalmente da imersatildeo nas seguintes bibliografias

a) No campo da teoria da contabilidade destacaram-se as obras dos autores Hendriksen e Van

Breda (1999) e Iacuteudicubus et al (2003) Esses autores subsidiaram a construccedilatildeo de algumas

dimensotildees agrave medida que as diversas leituras sobre a finalidade da contabilidade suscitaram

questionamentos no tocante agrave adequaccedilatildeo da padronizaccedilatildeo dos relatoacuterios de informaccedilatildeo

contaacutebil aos seus diversos usuaacuterios Em outras palavras as indagaccedilotildees levaram agrave verificaccedilatildeo

sobre a viabilidade da padronizaccedilatildeo tendo em vista as reais necessidades de informaccedilatildeo dos

empreendimentos autogestionaacuterios (novos usuaacuterios) no que se refere agrave forma conteuacutedo e

utilidade da informaccedilatildeo

b) No campo da contabilidade para usuaacuterios externos citam-se as obras de Valdir Michaels

(1995) e Almeida e Dantas (2005) Essas obras abordam a relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo

nas quais satildeo apontados alguns obstaacuteculos enfrentados pelos trabalhadores da ES no campo

da contabilidade Nas obras haacute sugestotildees de adaptaccedilatildeo da contabilidade agraves necessidades da

autogestatildeo no que diz respeito a vaacuterios aspectos mas principalmente no tocante agrave legislaccedilatildeo

contaacutebil e agrave postura do contador na relaccedilatildeo com esses novos usuaacuterios Portanto dessas leituras

derivam a construccedilatildeo das dimensotildees Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio e Legislaccedilatildeo contaacutebil

c) A bibliografia sobre Economia Solidaacuteria e Autogestatildeo na qual ressaltam as obras de Paul

Singer e produccedilotildees da ANTEAG tambeacutem foi fonte de inspiraccedilatildeo para a construccedilatildeo das

dimensotildees O mergulho nessas obras permitiu a compreensatildeo da dupla natureza dos

empreendimentos autogestionaacuterios a econocircmica e social Com essa configuraccedilatildeo os

empreendimentos ao mesmo tempo em que perseguem a sustentabilidade financeira tambeacutem

cultuam valores humanos e sociais como a solidariedade cooperaccedilatildeo e igualdade

Compreendeu-se que sob esta perspectiva a igualdade tambeacutem requer a apropriaccedilatildeo de todo

o conhecimento de gestatildeo pelo conjunto dos trabalhadores Assim a apropriaccedilatildeo do

conhecimento contaacutebil por parte dos trabalhadores eacute um imperativo nos empreendimentos

11

solidaacuterios Partindo dessas reflexotildees foi criada a dimensatildeo que se refere agrave apropriaccedilatildeo da

informaccedilatildeo contaacutebil

d) Contribuiacuteram para a constituiccedilatildeo das dimensotildees de anaacutelise aqui arroladas outras produccedilotildees

constantes da referecircncia bibliograacutefica e outras natildeo citadas provenientes das diversas aacutereas do

conhecimento como economia educaccedilatildeo etc

Tambeacutem foram fonte de inspiraccedilatildeo as observaccedilotildees e anaacutelises realizadas em Mato Grosso e

Satildeo Paulo por ocasiatildeo de participaccedilotildees em extensatildeo universitaacuteria bem como em cursos e

seminaacuterios nacionais e internacionais e diaacutelogos com especialistas sobre o tema De sorte que

a compreensatildeo da inserccedilatildeo contaacutebil nos empreendimentos autogestionaacuterios resultou na

construccedilatildeo das seguintes dimensotildees

1- Forma de comunicaccedilatildeo

2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

3- Utilidade da informaccedilatildeo

4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

As caracteriacutesticas e objetivos de cada dimensatildeo satildeo pormenorizados abaixo

1- Forma de comunicaccedilatildeo

Nessa dimensatildeo foram avaliados os instrumentos de comunicaccedilatildeo que a entidade utiliza para

divulgar seus resultados econocircmicos e financeiros Verificou-se a capacidade de a

contabilidade captar e refletir a complexidade das relaccedilotildees inclusas no processo de

autogestatildeo tais como o orccedilamento elaborado coletivamente a execuccedilatildeo e controles

compartilhados enfim analisou-se a adequaccedilatildeo dos relatoacuterios demonstraccedilotildees e outros

instrumentos da contabilidade agraves necessidades proacuteprias dos empreendimentos solidaacuterios

2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

O conteuacutedo diz respeito agrave informaccedilatildeo contaacutebil em si Nessa dimensatildeo verificou-se a

pertinecircncia da linguagem das vaacuterias formas de comunicaccedilatildeo aos usuaacuterios da ES Mais

especificamente nesse aspecto buscou-se perceber se a linguagem da contabilidade eacute

12

facilmente compreendida pelos trabalhadores tendo em vista o conhecimento jaacute consolidado

de que uma grande parte dos trabalhadores da ES tem um baixo grau de educaccedilatildeo formal

3- Utilidade da informaccedilatildeo

Nesse item avaliou-se a utilidade da informaccedilatildeo a qual diz respeito agrave importacircncia dada pelos

grupos entrevistados agrave contabilidade para tomada de decisotildees Tambeacutem se procurou avaliar a

utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil em todos os processos da gestatildeo de modo que ela

efetivamente fosse supridora das informaccedilotildees necessaacuterias agrave autogestatildeo ou seja analisou-se

sua capacidade de auxiliar no processo de tomada de decisotildees coletivas na gestatildeo

democraacutetica

4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Um dos princiacutepios fundamentais da ES sugere a socializaccedilatildeo de todo o conhecimento de

gestatildeo em oposiccedilatildeo agrave tiacutepica empresa que resguarda esses conhecimentos para o grupo da

gerecircncia Baseado nesse princiacutepio essa dimensatildeo teve a intenccedilatildeo de compreender e analisar

as formas de transferecircncia do conhecimento contaacutebil e as eventuais dificuldades enfrentadas

pelo trabalhador no processo de apropriaccedilatildeo do conhecimento das teacutecnicas contaacutebeis Nesse

item tambeacutem se buscou captar elementos que norteiem para uma formaccedilatildeo desejada em

contabilidade

5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Conforme relatos contidos na bibliografia pesquisada as aacutereas teacutecnicas tecircm dificuldade de

perceber a especificidade da autogestatildeo Nessa perspectiva foi analisada a relaccedilatildeo dos

usuaacuterios dos empreendimentos autogestionaacuterios com os profissionais da aacuterea contaacutebil

Pretendeu-se compreender o envolvimento do contabilista com a autogestatildeo Por outro lado

tambeacutem houve a intenccedilatildeo de captar elementos que indicassem a construccedilatildeo de uma outra

relaccedilatildeo entre os contadores e os trabalhadores da ES

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

Alguns autores argumentam que a legislaccedilatildeo contaacutebil ainda natildeo capta a especificidade da

autogestatildeo Isso se aplica agrave forma de registro dos eventos econocircmico-financeiros agraves

demonstraccedilotildees contaacutebeis e tambeacutem agrave constituiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo dessas entidades Para

13

avaliar esse conjunto foi necessaacuterio tambeacutem analisar a legislaccedilatildeo cooperativista e natildeo soacute a

legislaccedilatildeo contaacutebil para o cooperativismo tendo em vista que as duas legislaccedilotildees estatildeo

bastante vinculadas Dessa forma essa dimensatildeo analisou a pertinecircncia dessas legislaccedilotildees agrave

realidade e necessidades da ES

Por meio das dimensotildees descritas acima foi traccedilado um paralelo entre a realidade observada

captada pelas lentes dos cooperados especialistas e contadores e a realidade esperada

desenhada pelas observaccedilotildees entrevistas e literatura consultada O quadro 1 esquematiza o

trabalho realizado

Quadro 1- Resumo dos resultados

Realidade Encontrada

(o que eacute) Realidade esperada

Dimensotildees Cooperados especialistas Contadores (o que deveria ser)

1- Forma de comunicaccedilatildeo 2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo 3- Utilidade da informaccedilatildeo 4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo 5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

144 Criteacuterios para a seleccedilatildeo da unidade de estudo

O principal criteacuterio para a escolha da unidade em que se processou a investigaccedilatildeo foi a

autogestatildeo isto eacute buscou-se um empreendimento em que a gestatildeo fosse praticada por todos

os trabalhadores diferentemente dos empreendimentos nos quais a administraccedilatildeo eacute exercida

apenas pelos diretores Participar da gestatildeo significa atuar nos altos niacuteveis de decisotildees

aquelas que vatildeo aleacutem da organizaccedilatildeo do trabalho mas que tambeacutem compreendem decisotildees

que influenciem no rumo da entidade tais como indicaccedilatildeo da destinaccedilatildeo dos recursos

organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e demais decisotildees que afetam a vida da entidade

14

Outro criteacuterio importante utilizado foi a formalizaccedilatildeo do empreendimento Com se sabe a ES

tambeacutem eacute compreendida por empreendimentos coletivos informais Tal opccedilatildeo se deve ao fato

de que a inscriccedilatildeo junto aos oacutergatildeos governamentais necessariamente requer uma organizaccedilatildeo

contaacutebil mais formal Dessa forma essas entidades possuem registros formais de suas

atividades possibilitando as bases para a investigaccedilatildeo

Levando em conta esses criteacuterios tomou-se como unidade de anaacutelise a COOPRAM

Cooperativa Metaluacutergica de Artes Metaacutelicas localizada no Municiacutepio de Embu na Grande

Satildeo Paulo Portanto ao selecionar a COOPRAM como a unidade de estudo privilegiou-se um

estudo em profundidade para a obtenccedilatildeo de respostas mais precisas agraves questotildees postas agrave

pesquisa

145 Teacutecnicas de coleta de dados

O Meacutetodo do Estudo de Caso obteacutem evidecircncias a partir de seis fontes de dados documentos

registros em arquivos entrevistas observaccedilatildeo direta observaccedilatildeo participante e artefatos

fiacutesicos Cada uma delas requer habilidades e procedimentos metodoloacutegicos especiacuteficos O

presente estudo de caso buscou desvelar a realidade da dimensatildeo contaacutebil nos

empreendimentos autogestionaacuterios a partir da seleccedilatildeo das seguintes teacutecnicas de coleta de

dados

Entrevistas

Registro em arquivos

Observaccedilatildeo direta

O planejamento e execuccedilatildeo do procedimento de coleta de dados fundamentado em Yin

(2005) pode ser visualizado atraveacutes da figura abaixo

15

Registros em arquivos

Observaccedilotildees Entrevistas

(direta)

Figura 1 - Convergecircncia de Evidecircncias (estudo uacutenico )

Fonte adaptado de Cosmos Corporation apud YIN 2005 p127

As ENTREVISTAS satildeo uma das mais importantes fontes de informaccedilotildees para um estudo de

caso segundo Yin (2005) O fluxo de questotildees nas entrevistas natildeo eacute riacutegido mas de forma

fluiacuteda Portanto durante o processo de coleta de dados o pesquisador tem duas tarefas

a) seguir sua proacutepria linha de investigaccedilatildeo como reflexo do protocolo de seu estudo de caso e b) fazer as questotildees reais ( de uma conversaccedilatildeo) de uma forma natildeo tendenciosa que tambeacutem

atende agraves necessidades de sua linha de investigaccedilatildeo (YIN 2005 p117)

Em outras palavras Yin alerta que na entrevista haacute a exigecircncia de atuaccedilatildeo em duas frentes

ao mesmo tempo satisfazer as necessidades de sua linha de investigaccedilatildeo enquanto tambeacutem

passa adiante questotildees amigaacuteveis e natildeo natildeo-ameaccediladoras em suas entrevistas

espontacircneas Assim eacute muito comum que as entrevistas para o estudo de caso sejam

conduzidas de forma espontacircnea Logo pode-se tanto indagar sobre fatos relacionados a um

determinado assunto quanto pedir a opiniatildeo deles a respeito de determinados eventos

Seguindo as prerrogativas acima as entrevistas realizadas nesta pesquisa pretenderam

capturar informaccedilotildees sobre os procedimentos contaacutebeis utilizados na cooperativa perceber a

posiccedilatildeo dos entrevistados quanto ao uso de ferramentas e instrumentos da contabilidade bem

como a contribuiccedilatildeo que esses instrumentos tecircm (ou natildeo) para propiciar a compreensatildeo dos

processos de gestatildeo e identificar elementos agrave construccedilatildeo de uma nova relaccedilatildeo contabilidade e

autogestatildeo

Para compreender o fenocircmeno a partir de vaacuterios prismas foram formados trecircs grupos de

entrevistados

Fato Dimensatildeo contaacutebil no

processo de autogestatildeo

)))process

16

1ordm grupo composto por membros da cooperativa (diretoria e cooperados)

2ordm grupo constituiacutedo por especialistas no assunto vinculados a redes nacionais de fomento e

apoio agrave ES

3ordm grupo composto por contadores experientes em autogestatildeo e ES

Aos trecircs grupos foram aplicadas perguntas semelhantes sobre fatos e opiniotildees circunscritos no

universo do tema proposto As respostas tambeacutem foram estratificadas e alocadas aos

respectivos grupos

Os REGISTROS EM ARQUIVOS em um estudo de caso segundo Yin (2005 p115)

podem assumir diversas modalidades

Registros de serviccedilo como aqueles que mostram o nuacutemero dos clientes atendidos em um

determinado periacuteodo de tempo Registros organizacionais como as tabelas e os orccedilamentos de organizaccedilotildees em um periacuteodo de

tempo Mapas e graacuteficos das caracteriacutesticas geograacuteficas ou esboccedilos de um lugar Listas de nomes e de outros itens importantes Dados oriundos de levantamentos como o censo demograacutefico ou os dados previamente

coletados sobre um local Registros pessoais como diaacuterios anotaccedilotildees e agendas de telefone

Esses e outros registros em arquivo podem ser utilizados somando-se a outras fontes de

informaccedilatildeo No caso desta pesquisa foram verificados os registros operacionais e demais

arquivos e documentos ligados agrave aacuterea contaacutebil A utilizaccedilatildeo dessa teacutecnica buscou identificar e

descrever instrumentos oficiais adotados pelo empreendimento tais como as demonstraccedilotildees

financeiras os sistemas de controles internos relatoacuterios gerenciais etc Contribuiu para a

compreensatildeo da organizaccedilatildeo contaacutebil no empreendimento e finalmente propiciou a avaliaccedilatildeo

do atendimento dos instrumentos contaacutebeis agrave prescriccedilatildeo legal na aacuterea das cooperativas

Tambeacutem propiciou a identificaccedilatildeo dos sistemas ou meios de comunicaccedilatildeo utilizados agrave

disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo bem como agrave sua acessibilidade pelo conjunto de cooperados

A OBSERVACcedilAtildeO DIRETA ocorre quando se realiza uma visita de campo ao local

escolhido para o estudo de caso Por meio das observaccedilotildees eacute possiacutevel captar alguns

17

comportamentos ou condiccedilotildees ambientais relevantes As observaccedilotildees podem variar de

atividades formais a atividades informais de coleta de dados Mais formalmente incluem-se

situaccedilotildees como reuniotildees atividades de passeio trabalho de faacutebrica salas de aula e outras

atividades semelhantes(YIN 2005 p120) Informais podem ser as condiccedilotildees fiacutesicas de um

edifiacutecio ou de espaccedilos de trabalho As evidecircncias captadas pela lente da observaccedilatildeo segundo

Yin satildeo em geral uacuteteis ao fornecimento de informaccedilotildees adicionais sobre o fenocircmeno

estudado

Desse modo a observaccedilatildeo direta aqui realizada pretendeu captar pormenores e detalhes que

complementaram as outras teacutecnicas tais como ambiente fiacutesico cotidiano de trabalho

relaccedilotildees interpessoais processos de decisotildees etc A observaccedilatildeo contou com os registros de

pesquisa de campo em que a preocupaccedilatildeo central foi a observaccedilatildeo tanto do papel do

contador seu relacionamento com as demais aacutereas da gestatildeo aleacutem da forma como a

contabilidade se insere no cotidiano da cooperativa Tais informaccedilotildees agregaram elementos agraves

anaacutelises das entrevistas cruzando relatos e percepccedilotildees dos atores envolvidos

Apoacutes a coleta de dados esses foram sistematizados em um Banco de dados sobre o caso

cujas informaccedilotildees serviram de base agraves anaacutelises e conclusotildees

146 Anaacutelise dos dados

A anaacutelise dos dados retomou as categorias teoacutericas adotadas correlacionando-as agraves

evidecircncias da pesquisa empiacuterica Os resultados foram segregados por dimensotildees sob as quais

satildeo relatadas as constataccedilotildees da realidade e ao mesmo tempo satildeo problematizadas questotildees e

demandas referentes a cada aspecto da dimensatildeo contaacutebil no processo de autogestatildeo

Quanto agrave estrateacutegia de apresentaccedilatildeo dos resultados apesar de natildeo haver nenhuma forma

estereotipada para escrever um relatoacuterio de um estudo de caso existindo apenas estrateacutegias

para redigi-lo a fim de tornaacute-lo inteligiacutevel e palataacutevel ao leitor a estrateacutegia selecionada dentre

as expostas por Yin (2005 p177-180) foi a narrativa a qual foi ilustrada por quadros

Em relaccedilatildeo agrave estrutura composicional do relatoacuterio optou-se pela estrutura analiacutetica linear

Conforme Yin essa estrutura eacute comumente utilizada nos relatoacuterios de estudos de casos No

modelo os subtoacutepicos compreenderam o tema ou o problema estudado e uma revisatildeo da

18

literatura Em seguida os subtoacutepicos partem para a anaacutelise dos meacutetodos utilizados das

descobertas feitas a partir dos dados coletados e analisados e das conclusotildees e implicaccedilotildees

feitas a partir das descobertas

15 Hipoacuteteses

Conforme jaacute mencionado as hipoacuteteses satildeo importantes no estudo de caso pois norteiam a

coleta de dados Dessa forma este estudo partiu dos pressupostos das pesquisas anteriores os

quais sugerem que o aparato contaacutebil hoje disponiacutevel ainda natildeo eacute apropriado a esse

segmento ou seja a informaccedilatildeo contaacutebil natildeo atende satisfatoriamente agraves suas demandas

informacionais tendo em vista a sua natureza peculiar

Portanto situando-se na linha das pesquisas anteriores essa investigaccedilatildeo partiu da hipoacutetese de

que os empreendimentos solidaacuterios diferenciam-se dos demais segmentos do mercado devido

agrave sua dupla natureza econocircmica e social consequumlentemente tecircm demandas informacionais

ainda natildeo contempladas plenamente pela aacuterea contaacutebil envolvendo seis aspectos da dimensatildeo

contaacutebil a) Forma de comunicaccedilatildeo b) Conteuacutedo da informaccedilatildeo c) Utilidade da informaccedilatildeo

d) Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo e) Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio f) Legislaccedilatildeo contaacutebil

16 Organizaccedilatildeo do Trabalho

No que concerne agrave estruturaccedilatildeo e forma de apresentaccedilatildeo o presente estudo estaacute organizado

em 04 capiacutetulos assim definidos

No presente capiacutetulo I da Introduccedilatildeo satildeo apresentados a problematizaccedilatildeo e justificativa da

pesquisa os objetivos as questotildees de pesquisa e a metodologia do estudo

No capiacutetulo 2 satildeo expostos os marcos referenciais deste trabalho no qual se explicitam

conceitos de autogestatildeo Economia solidaacuteria formas de participaccedilatildeo na gestatildeo e outros

conceitos necessaacuterios agrave compreensatildeo das questotildees propostas pela pesquisa

19

No capiacutetulo 3 eacute discutida a relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo perpassando pela exposiccedilatildeo da

finalidade da informaccedilatildeo contaacutebil e estudos recentes sobre a contabilidade para Economia

Solidaacuteria A incursatildeo na literatura realizada nos capiacutetulos 2 e 3 teve a finalidade de propiciar

suporte teoacuterico agrave anaacutelise dos resultados

Por uacuteltimo no capiacutetulo 4 eacute realizada a descriccedilatildeo do Estudo de caso e apresentados os

resultados e anaacutelises da pesquisa

20

21

2 MARCO CONCEITUAL DA ECONOMIA SOLIDAacuteRIA E AUTOGESTAtildeO

Para a anaacutelise do fenocircmeno objeto da presente pesquisa eacute necessaacuterio discutir os conceitos

envolvidos na compreensatildeo da realidade investigada Portanto cumpre nesse momento

explicitar conceitos como globalizaccedilatildeo contexto no qual se insere o ressurgimento da ES

Tambeacutem eacute necessaacuterio perscrutar o sentido teoacuterico da Economia Solidaacuteria da autogestatildeo como

forma de administraccedilatildeo proacutepria dos empreendimentos solidaacuterios da participaccedilatildeo como

categoria teoacuterica fundamental ao processo de autogestatildeo entre outros conceitos A

complexidade da relaccedilatildeo entre Contabilidade e Autogestatildeo encontra-se sedimentada nesses

conceitos teoacutericos

Em primeiro lugar seraacute analisado o momento histoacuterico contemporacircneo que fez ressurgir as

aspiraccedilotildees de alternativas ao modelo social vigente buscando dessa forma compreender o

contexto econocircmico-social de emergecircncia da ES bem como da inserccedilatildeo da contabilidade Em

seguida seraacute trilhado o caminho de desvelamento de outros conceitos necessaacuterios agrave

compreensatildeo da relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo

21 Globalizaccedilatildeo e a crise contemporacircnea

Um estudo sobre autogestatildeo leva agrave necessaacuteria imersatildeo sobre as raiacutezes em que

contemporaneamente tal tema ganha destaque no mundo e consequumlentemente na sociedade

brasileira O cenaacuterio recente de ressurgimento da ES tem como pano de fundo a globalizaccedilatildeo

A despeito das muitas controveacutersias que se podem apresentar sobre o tema globalizaccedilatildeo

tentar-se-aacute apontar algumas definiccedilotildees do fenocircmeno com as quais se concorda Conforme

Wanderley (2002 p15)

[]com a globalizaccedilatildeo as distacircncias se reduziram natildeo havendo barreiras fiacutesicas para a

informaccedilatildeo o conhecimento o intercacircmbio cultural os avanccedilos tecnoloacutegicos possibilitaram o

desvelamento de enigmas antigos das vaacuterias aacutereas de conhecimento a democracia atingiu a quase

maioria dos paiacuteses e eacute requisito de legitimidade internacional

Apesar desses citados benefiacutecios a globalizaccedilatildeo tem seu lado reverso O imperativo da

sobrevivecircncia num mercado altamente competitivo levou as empresas agrave busca de reduccedilatildeo de

22

custos que na maioria das vezes significou corte de postos de trabalho acarretando

exclusatildeo social Conforme definem Pedraccedila e Almeida ( 2004 p 01)

A globalizaccedilatildeo econocircmica marca a histoacuteria pelo apartheid social seja no acircmbito nacional e

internacional O que separa os seres humanos eacute uma divisatildeo estatiacutestica iacutendices que definem uma minoria de pessoas de vaacuterias nacionalidades que gozam do privileacutegio de serem inclusas no

mercado consumidor [] A outra classe de indiviacuteduos a imensa maioria da populaccedilatildeo mundial

quase sempre incluiacuteda em categorias marginais como subempregados trabalhadores informais ou desempregados satildeo segregados do consumo parcial ou totalmente dependendo de sua condiccedilatildeo

econocircmica

Singer (2001) explica a globalizaccedilatildeo a partir de uma perspectiva histoacuterica Advoga a tese de

que a economia capitalista industrial tendeu desde o iniacutecio a superar os limites do Estado-

naccedilatildeo A livre movimentaccedilatildeo de mercadorias e de capitais atraveacutes das fronteiras nacionais

atingiu seu primeiro auge por volta da segunda metade do seacutec XIX quando o padratildeo ouro

proporcionou moedas automaticamente conversiacuteveis e se criou um conjunto de instituiccedilotildees

destinadas a garantir o livre-cacircmbio e as inversotildees estrangeiras A Primeira Guerra (1914-18)

a crise dos anos 30 e em seguida a Segunda Guerra (1939-45) contiveram a tendecircncia de

expansatildeo internacional do capital Durante mais de 30 anos os Estados nacionais protegeram

suas induacutestrias e comandaram a acumulaccedilatildeo de capital dentro de seu territoacuterio diminuindo a

transaccedilatildeo comercial e financeira internacional

A retomada da expansatildeo internacional de acumulaccedilatildeo do capital ou globalizaccedilatildeo soacute foi

efetivada apoacutes a Segunda Guerra capitaneada pelos Estados Unidos e seus aliados os quais a

colocaram como questatildeo primordial As conferecircncias de Brettoin Woods ainda em 1944

receberam um claro mandato neste sentido Em sua primeira etapa a globalizaccedilatildeo abarcava

somente os paiacuteses desenvolvidos e na segunda etapa iniciada haacute mais de um quarto de

seacuteculo incluiu uma boa parte do Terceiro Mundo Mais recentemente envolveu a ex-URSS

e seus antigos sateacutelites

A integraccedilatildeo econocircmica do Primeiro Mundo deu-se num periacuteodo de crescimento e pleno

emprego que ficou conhecido como Anos Dourados Os EUA no auge de sua hegemonia

atraveacutes de suas grandes companhias transferiram maciccedilamente recursos para a Europa e

Japatildeo Implantaram filiais e adquiriram firmas na Europa ocidental retomando sua

multinacionalizaccedilatildeo

23

Todas as economias nacionais cresceram O processo foi um Circulo virtuoso em que

conversibilidade monetaacuteria e a queda das barreiras alfandegaacuterias abriram espaccedilo para uma

crescente reparticcedilatildeo de ganhos( SINGER 2001 p21)

Na segunda etapa a partir de 1970 as economias desenvolvidas abriram seus mercados para

o Terceiro Mundo e promoveram a implantaccedilatildeo dos seus parques industriais destinados ao

abastecimento do mercados do Primeiro Mundo No Brasil essa fase ficou conhecida como

o milagre econocircmico um movimento que culminou com um esforccedilo interno das elites

nacionais de industrializaccedilatildeo do paiacutes desde os anos 30

No iniacutecio da segunda etapa os paiacuteses semi-industrializados apresentavam ao capital

vantagens comparativas tais como grande disponibilidade de matildeo-de-obra jaacute treinada e

condicionada ao trabalho industrial a custos menores do que nos paiacuteses industrializados Na

mesma eacutepoca as lutas de classes nos paiacuteses industrializados haviam se intensificado em

funccedilatildeo da crescente insatisfaccedilatildeo da classe operaacuteria escolarizada operadora de serviccedilos

monoacutetono e alienante a qual reivindicava elevaccedilotildees salariais A resposta das empresas foi a

transferecircncia de grande escala de linhas de produccedilatildeo industrial para paiacuteses perifeacutericos

Grandes centros industriais na Europa e na Ameacuterica do Norte foram esvaziados e

abandonados deixando um grande nuacutemero de desempregados Dessa forma na segunda

etapa a globalizaccedilatildeo tornou-se fator de desindustrializaccedilatildeo e empobrecimento de cidades e

regiotildees inteiras

A globalizaccedilatildeo trouxe mudanccedilas profundas na produccedilatildeo e comeacutercio mundial Com o

imperativo da concorrecircncia faacutebricas fecharam suas portas outras adotaram uma seacuterie de

medidas restritivas visando agrave manutenccedilatildeo no mercado Reduccedilatildeo de custos importaccedilatildeo de

tecnologia moderna aquisiccedilatildeo de meacutetodos gerenciais introduccedilatildeo de novas relaccedilotildees de

trabalho representam o movimento da reestruturaccedilatildeo produtiva das grandes empresas

Essas mudanccedilas afetaram diretamente o mercado de trabalho Com a reduccedilatildeo dos postos de

trabalho o desemprego em todo o mundo tomou proporccedilotildees alarmantes e os empregos

remanescentes satildeo de pior qualidade configurando a precariedade das relaccedilotildees e condiccedilotildees de

trabalho Muitos trabalhadores oscilam entre a penumbra e a clandestinidade do mercado de

trabalho Segundo Singer

24

[] a globalizaccedilatildeo ocasiona o desemprego estrutural Ela faz com que milhotildees de trabalhadores

que produziam o que depois passou a ser importado percam seus empregos e que possivelmente milhotildees de novos postos de trabalho sejam criados tanto em atividades de exportaccedilatildeo como em

outras O desemprego estrutural ocorre porque os que satildeo vitimas da desindustrializaccedilatildeo em geral natildeo tecircm pronto acesso aos novos postos de trabalho (SINGER2001 p23)

Talvez mais grave que o desemprego estrutural seja a precarizaccedilatildeo do trabalho Os novos

postos de trabalho natildeo oferecem em sua maioria as garantias tradicionais que as leis e

contratos vinham ganhando Singer salienta que

Muitos destes novos postos satildeo ocupaccedilotildees por conta proacutepria Ao inveacutes de funcionaacuterios as

empresas principalmente para atividades que natildeo requerem elevada qualificaccedilatildeo contratam

pequenas firmas prestadoras de serviccedilos configurando a terciarizaccedilatildeo[] As vantagens para a

tomadora desse serviccedilo residem na flexibilidade do novo relacionamento e tambeacutem no menor

custo do trabalho pois ela deixa de pagar o tempo morto quando a equipe natildeo tem o que

fazer e as horas-extras quando necessitar (SINGER 2001 p24)

Mattoso reafirma que a precarizaccedilatildeo se constitui de relaccedilotildees informais o que amplia a

inseguranccedila no emprego Um fenocircmeno que se deu em praticamente todos os paiacuteses

avanccedilados atraveacutes da reduccedilatildeo relativa ou absoluta de empregos estaacuteveis ou permanentes

nas empresas e da maior subcontrataccedilatildeo de trabalhadores temporaacuterios em tempo

determinado eventuais em tempo parcial trabalho em domiciacutelio ou independentes

aprendizes etc(MATTOSO 1993 p126)

Na deacutecada de 1990 esse quadro ganhou contornos ainda mais decisivos e agudizantesSob o

emblema do neoliberalismo reduziu-se drasticamente o poder de intervenccedilatildeo do Estado na

esfera social e promoveu-se o abandono de poliacuteticas puacuteblicas importantes na reproduccedilatildeo da

vida dos trabalhadores Nas palavras de Singer

Desde os anos 80 um novo consenso foi firmado qualquer tentativa dos governos de estimular

diretamente a expansatildeo do emprego eacute em vatildeo resultando apenas em mais inflaccedilatildeo O uacutenico dever

dos governos eacute equilibrar os seus proacuteprios orccedilamentos desregulamentar a economia e reduzir o

peso dos impostos que recaem sobre os negoacutecios de modo a facilitar e estimular a acumulaccedilatildeo

privada de capital (SINGER 2001 p14)

Pochmann (1999 p 85) denuncia que os efeitos combinados a partir de 1990 de poliacuteticas

recessivas da desregulaccedilatildeo e reduccedilatildeo do papel do estado de abertura comercial abrupta de

taxas de juros elevadas e de apreciaccedilatildeo cambial seriam responsaacuteveis pela montagem de um

cenaacuterio desfavoraacutevel ao comportamento geral do emprego nacional

25

Esse panorama desde entatildeo causa a dispensa de uma grande parte da forccedila de trabalho

remetendo agrave marginalidade um imenso contingente humano Em 2000 a organizaccedilatildeo

Internacional do Trabalho (OIT) divulgou o informativo O emprego no mundo 1998-99 no

qual destacava que 1)cerca de 1 bilhatildeo de trabalhadores - aproximadamente um terccedilo da

populaccedilatildeo ativa do mundo - estavam desempregados ou subempregados (o indiviacuteduo eacute

subempregado quando sua jornada de trabalho eacute substancialmente menor que uma jornada

completa que desejaria realizar ou seu salaacuterio eacute inferior ao que necessitaria para viver)

2)desses 1 bilhatildeo de trabalhadores uns 150 milhotildees encontravam-se de fato desempregados

buscando trabalho ou em disposiccedilatildeo para trabalhar Pelo simples efeito da crise financeira

mundial em 98 o total de desempregados sofreu um incremento de 10 milhotildees de

trabalhadores c)entre 25 e 30 dos trabalhadores do mundo - algo entre 750 e 900 milhotildees

de pessoas - estavam subempregados

Em relaccedilatildeo ao Brasil a Fundaccedilatildeo SEADE mostrava que 1) a taxa anual meacutedia de

desemprego total da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo aumentou entre 1997 e 1998 de

16 para 183 da populaccedilatildeo economicamente ativa (PEA) com crescimento da taxa de

desemprego anual meacutedia para os indiviacuteduos de todos os niacuteveis de escolaridade A tabela 1

mostra os iacutendices de desemprego nas regiotildees metropolitanas por sexo e em percentuais da

PEA no periacuteodo compreendido de 1998 a 052006 A tabela mostra o acreacutescimo no iacutendice

do desemprego total no ano de 1999 em todas as regiotildees Em 2002 houve novamente um

acreacutescimo no desemprego total Jaacute em 2005 e 2006 os iacutendices mostram uma reduccedilatildeo do

percentual de desemprego em quase todas as regiotildees Entretanto o desemprego ainda

encontra-se em patamares elevados

26

Tabela 1- Taxa de desemprego total por sexo - Regiotildees Metroplitanas e Distrito Federal- 1998-2006

Regiotildees Metropolitanas e Distrito Federal

Belo Horizonte Distrito Federal Porto Alegre Periacuteodo

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

1998 159 137 187 197 174 221 159 137 186

1999 179 159 204 221 192 252 190 167 219

2000 178 161 199 202 177 229 166 142 196

2001 183 162 208 205 176 236 149 123 182

2002 181 157 208 207 180 236 153 131 179

2003 200 171 233 229 202 257 167 139 202

2004 193 168 219 209 178 240 159 131 191

2005 167 140 197 190 159 222 145 119 176

janeiro2006 155 130 182 186 152 220 132 115 153

fevereiro2006 155 131 182 195 164 227 136 118 159

Marccedilo2006 162 132 196 206 175 239 149 126 176

abril2006 156 125 192 207 180 235 155 127 189

maio2006 151 122 185 195 171 220 154 130 182

Regiotildees Metropolitanas e Distrito Federal

Recife Salvador Satildeo Paulo Periacuteodo

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

1998 216 190 249 249 229 271 182 161 211

1999 221 196 252 277 258 299 193 173 217

2000 207 182 239 266 241 293 176 150 209

2001 211 178 253 275 250 302 176 149 208

2002 203 176 236 273 249 299 190 164 222

2003 232 200 270 280 261 301 199 172 231

2004 231 203 265 255 232 280 187 163 215

2005 223 192 260 244 213 278 169 144 197

janeiro2006 212 180 251 237 205 272 157 137 180

fevereiro2006 208 182 240 238 198 280 163 141 187

Marccedilo2006 214 188 246 247 205 291 169 143 198

abril2006 219 191 254 244 197 294 169 145 196

maio2006 222 195 255 244 203 288 170 145 199

Fonte Convecircnio DIEESESEADE MTEFAT e convecircnios regionais PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego Elaboraccedilatildeo DIEESE site http www dieeseorgbr

Portanto natildeo eacute necessaacuterio ir muito longe para perceber que se de um lado a globalizaccedilatildeo

permitiu uma grande expansatildeo do capital por outro o fez em detrimento da valorizaccedilatildeo do

trabalho e das empresas nacionais arruinadas pela abertura do mercado interno agrave

concorrecircncia internacional No Brasil tal abertura ocorre no iniacutecio dos anos 90 com o

governo Fernando Collor de Melo

27

Do ponto de vista dos trabalhadores a consequecircncia de tal processo eacute a desestruturaccedilatildeo do

mercado de trabalho flexibilizaccedilatildeo das regras de proteccedilatildeo social e o desemprego estrutural

capitaneado pela 3ordf Revoluccedilatildeo Industrial em que o avanccedilo da tecnologia tem como

caracteriacutestica principal o aumento da produtividade ao mesmo tempo em que dispensa

grande contingente de matildeo-de-obra Por outro lado o baixo niacutevel de escolaridade dos

desempregados e a insuficiecircncia de poliacuteticas puacuteblicas de formaccedilatildeo de intermediaccedilatildeo de matildeo-

de-obra e de estiacutemulo ao empreendedorismo entre outros motivos torna a recolocaccedilatildeo dos

trabalhadores no mercado de trabalho uma chance remota

Eacute nesse cenaacuterio constituiacutedo pelas contradiccedilotildees e transformaccedilotildees profundas no qual o

trabalho parece perder a centralidade e em que natildeo se superou a dimensatildeo do trabalho como

mercadoria que o homem trabalhador proprietaacuterio apenas de sua forccedila de trabalho

marginalizado do mercado de trabalho perde sua funccedilatildeo e sua condiccedilatildeo primeira de

cidadania Desse modo eacute que satildeo pensadas e geradas alternativas ao desemprego e agrave exclusatildeo

social ressurgindo o ideal da Economia Solidaacuteria e da Autogestatildeo

22 Economia Solidaacuteria Alternativa agrave superaccedilatildeo do desemprego

A ideacuteia de construccedilatildeo de uma sociedade justa cuja base de relaccedilotildees esteja centrada na

solidariedade e natildeo na competiccedilatildeo eacute um ideal da humanidade que tem iniacutecio nos primoacuterdios

da civilizaccedilatildeo capitalista Tal ideaacuterio natildeo tem seu fundamento apenas no desejo utoacutepico de

mundo igualitaacuterio e solidaacuterio mas segundo Rattner (2005 p 01)

A apologia irrestrita da competiccedilatildeo eacute ideoloacutegica e natildeo encontra fundamento na Histoacuteria Ao

contraacuterio eacute possiacutevel afirmar que a maior parte da evoluccedilatildeo da espeacutecie humana foi caracterizada

por associaccedilotildees de cooperaccedilatildeo comunitaacuterias tais como apresentam ainda hoje certas tribos

indiacutegenas do Brasil e de outros continentes A desestruturaccedilatildeo da vida comunitaacuteria em

consequumlecircncia da revoluccedilatildeo industrial no final do seacuteculo XVIII levou como reaccedilatildeo agrave afirmaccedilatildeo de

ideacuteias e praacuteticas cooperativas divulgadas por Proudhon e pelos chamados socialistas utoacutepicos

(Fourier Saint Simon Robert Owen Michael Bakunin e Peter Kropotkin) bem como na segunda metade do seacuteculo XIX ao socialismo de Marx e Engels

Inspirado nas ideacuteias dos socialistas utoacutepicos surgiu na segunda metade do seacuteculo XX o

movimento kibutziano na Terra Santa Seus fundadores e seguidores formaram colocircnias

agriacutecolas que tinham como regra a natildeo exploraccedilatildeo do trabalho propriedade coletiva dos

meios de produccedilatildeo a participaccedilatildeo de todos os membros da comunidade no planejamento e

28

alocaccedilatildeo de recursos seja para o consumo ou seja para investimentos mediante votaccedilatildeo

democraacutetica em assembleacuteias gerais (RATTNER 2005 p01)

A segunda metade do seacuteculo XX tambeacutem pode testemunhar a experiecircncia de implantaccedilatildeo

socialismo na Uniatildeo Sovieacutetica onde se criaram fazendas agriacutecolas coletivas estatizadas aleacutem

das induacutestrias que passaram da propriedade privada para as matildeos do Estado Tais experiecircncias

se inviabilizaram pelo excesso de burocratizaccedilatildeo centralismo e desmotivaccedilatildeo dos

trabalhadores Os fracassos histoacutericos levam a refletir sobre o grau de complexidade para a

implementaccedilatildeo de empreendimentos exigentes em participaccedilatildeo social e sobre a possibilidade

de ocorrerecircncia numa sociedade cujas regras de competiccedilatildeo perpassam todas as relaccedilotildees

sociais Segundo Rattner

Uma economia solidaacuteria exige aleacutem do desenvolvimento de sua base material um alto grau de

conscientizaccedilatildeo e motivaccedilatildeo por parte de sua populaccedilatildeo movida por princiacutepios eacuteticos e valores de

compaixatildeo e solidariedade Em oposiccedilatildeo radical ao sistema de competiccedilatildeo a economia solidaacuteria

natildeo pode ser um produto do autoritarismo de uma administraccedilatildeo de uma soacute via de cima para

baixo que torne a populaccedilatildeo em objeto passivo Ela exige a participaccedilatildeo de todos para se

tornarem cidadatildeos e assim sujeitos do processo histoacuterico(RATTNER 2005 p 02)

Portanto ao se falar de empreendimentos solidaacuterios em que pessoas se organizam

voluntariamente para muacutetua colaboraccedilatildeo parte-se tambeacutem de um pressuposto fundamental a

participaccedilatildeo social que garante ao empreendimento sua sustentabilidade atraveacutes de processos

de caraacuteter educativo

No Brasil desde os anos 80 experiecircncias baseadas na solidariedade se propagam como forma

alternativa de sobrevivecircncia de grupos atingidos pelos efeitos sociais do desemprego

causados em grande parte pela globalizaccedilatildeo Segundo Tauile (2001) tal movimento comeccedila

na Prefeitura de Porto Alegre no Rio Grande do Sul propoga-se por todo o Estado e

posteriormente por todo o Brasil

O termo Economia Solidaacuteria (ES) aparece pela primeira vez no Brasil em 1993 no livro

Economia de Solidariedade e organizaccedilatildeo popular no qual o autor chileno Luis Razeto

(1993 p25) a concebe como

Uma formulaccedilatildeo teoacuterica de niacutevel cientiacutefico elaborada a partir e para dar conta de conjuntos significativos de experiecircncias econocircmicas [] que compartilham alguns traccedilos constitutivos e

essenciais de solidariedade mutualismo cooperaccedilatildeo e autogestatildeo comunitaacuterios que definem uma

racionalidade especial diferente de outras racionalidades econocircmicas

29

Para Singer (2000) a Economia Solidaacuteria surge como modo de produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo

alternativa criado e recriado periodicamente pelos que se encontram marginalizados do

mercado de trabalho A ES concilia o princiacutepio da unidade entre posse e uso dos meios de

produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo com os princiacutepios da socializaccedilatildeo desses meios

Crida identifica as principais caracteriacutesticas dos empreendimentos solidaacuterios

- reciprocidade colocada no cerne de sua passagem agrave accedilatildeo econocircmica - as pessoas se associam numa base voluntaacuteria com o objetivo de satisfazer necessidades sociais

e culturais - a vontade de empreender eacute coletiva Natildeo se busca o retorno sobre o

Investimento individual - tais iniciativas se perenizam combinando fontes de recursos mercantis natildeo mercantis e natildeo-monetaacuterios (financiamento hiacutebrido estaacutetico receitas autogeridas e contribuiccedilotildees voluntaacuterias) - estas experiecircncias organizam-se dentro de uma dinacircmica cidadatilde favorecendo a criaccedilatildeo de

espaccedilos puacuteblicos de proximidade (CRIDA 2000 p03 apud TAUILE 2001)

A unidade tiacutepica da ES eacute a cooperativa cujos princiacutepios satildeo posse coletiva dos meios de

produccedilatildeo pelas pessoas que os utilizam para produzir gestatildeo democraacutetica da empresa ou por

participaccedilatildeo direta ou por representaccedilatildeo reparticcedilatildeo da receita liacutequida entre os cooperadores

por criteacuterios aprovados apoacutes discussotildees e negociaccedilotildees entre todos destinaccedilatildeo do excedente

anual (denominado sobras) tambeacutem por criteacuterios acertados entre todos os cooperadores A

forma de administraccedilatildeo dos empreendimentos de ES eacute portanto a autogestatildeo

Singer (2000) relata diversas experiecircncias e formas de organizaccedilatildeo da ES no Brasil cuja

abrangecircncia compreende atividades econocircmicas tais como cooperativas dos mais diversos

ramos de atividades empresas autogestionaacuterias agecircncias de fomento agrave ES sistemas de

creacutedito redes de projetos comunitaacuterios (associaccedilotildees centros comitecircs etc) feiras solidaacuterias

clubes de trocas e outras experiecircncias alternativas de comeacutercio habitaccedilatildeo e creacutedito

Recentemente a Secretaria Nacional de Economia Solidaacuteria ( SENAES) oacutergatildeo do Ministeacuterio

do Trabalho instuiacuteda no atual governo com o objetivo de fomentar empreendimentos de ES

divulgou um mapa da Economia Solidaacuteria no Brasil Esse mapa proporcionou uma visatildeo da

dimensatildeo e diversidade dos Empreendimentos de Economia Solidaacuteria (EES) os quais jaacute se

fazem presente em todo o paiacutes Eis alguns dados do referido mapa

30

Tabela 2 - Valor mensal dos produtos da ES

Produtos Agrupados por Tipo de Atividade Valor Mensal Total R$ Valor Mensal

Produccedilatildeo Agropecuaacuteria Extrativismo e Pesca 22718579154 462 Produccedilatildeo e Serviccedilos de Alimentos e Bebidas 9822739819 200 Serviccedilos Relativos a Creacutedito e Financcedilas 8205570075 167 Produccedilatildeo Industrial (Diversos) 2940455500 60 Prestaccedilatildeo de Serviccedilos (Diversos) 2031969122 41 Produccedilatildeo de Artefatos Artesanais 1362494308 28 Produccedilatildeo Tecircxtil e Confecccedilotildees 930775759 19 Serviccedilos de Coleta e Reciclagem de Materiais 443079712 09 Produccedilatildeo Mineral (Diversa) 197743633 04 Produccedilatildeo de Fitoteraacutepicos Limpeza e Higiene 93521100 02 Produccedilatildeo e Serviccedilos Diversos 398175518 08 TOTAL 49145103700 1000

Do total de EES 31 natildeo declarou o Valor da Produccedilatildeo Fonte site wwwmtegovbrEmpregadorEconomiaSolidariaConteudoATLAS_PARTE_2pdf A tabela 2 demonstra a diversidade dos setores produtivos da ES e o valor da produccedilatildeo

mensal do conjunto de produtos por tipo de atividade A capacidade de geraccedilatildeo de emprego e

renda da ES eacute demonstrada pela tabela 3 Em 2005 estavam associados nos empreendimentos

econocircmicos solidaacuterios mais de 1 milhatildeo e 250 mil homens e mulheres resultando em uma

meacutedia de 84 participantes por EES Agregam-se a esse conjunto mais 25 mil trabalhadores e

trabalhadoras participantes que possuem algum viacutenculo com os EES (Empreendimentos de

Economia Solidaacuteria)

31

Tabela 3 - Participantes dos ESS no Brasil

REGIAtildeO Mulheres Homens TOTAL

Rural 22292 345 42265 655 64557

Urbano 15262 591 10578 409 25840

Rural e Urbano

13933 384 22372 616 36305

NO

Total 51493 406 75235 594 126728

Rural 95599 373 160365 627 255964

Urbano 42941 504 42262 496 85203

Rural e Urbano

40019 379 65478 621 105497

NE

Total 179058 400 268477 600 447535

Rural 10692 306 24219 694 34911

Urbano 24258 477 26619 523 50877

Rural e Urbano

9733 251 29003 749 38736

SE

Total 44729 359 79910 641 124639

Rural 28901 272 77310 728 106211

Urbano 26773 349 49887 651 76660 Rural e Urbano

72551 284 183127 716 255678

SU

Total 128295 292 310400 708 438695

Rural 10577 284 26698 716 37275

Urbano 18118 597 12213 403 30331 Rural e Urbano

18389 394 28267 606 46656

CO

Total 47088 412 67197 588 114285

Rural 168061 337 330857 663 498918

Urbano 127352 474 141559 526 268911 Rural e Urbano

154625 320 328247 680 482872

TOTAL

Total 450663 360 801219 640 1251882 Fonte Fonte site wwwmtegovbrEmpregadorEconomiaSolidariaConteudoATLAS_PARTE_2pdf Aleacutem da geraccedilatildeo de trabalho e renda a contribuiccedilatildeo mais valiosa dessas experiecircncias tem sido

a retomada da centralidade do trabalho na vida do homem Aos poucos essas diversas

alternativas de geraccedilatildeo de renda vatildeo compondo perspectivas de saiacutedas para a exclusatildeo de

contigentes sociais agrave margem da loacutegica dominante de mercado em que os sobrantes natildeo

dipunham de qualquer possibilidade de resgatar minimamente sua condiccedilatildeo humana e cidadatilde

32

Por outro lado a ES representada principalmente pelas cooperativas apresenta uma seacuterie de

desafios1 dentre os quais se destaca a questatildeo legal Conforme Rech (2000) ao longo de

nossa histoacuteria a iniciativa cooperativista nunca foi efetivamente incentivada ao contraacuterio

sempre houve intervenccedilatildeo no sentido de limitar suas possibilidades A legislaccedilatildeo brasileira

impotildee uma estrutura muito riacutegida na organizaccedilatildeo das cooperativas e ao contraacuterio de permitir

o desenvolvimento do modelo cooperativista acabou por impor tantos limites que tornou

difiacutecil a sua constituiccedilatildeo e funcionamento

A instituiccedilatildeo da primeira lei baacutesica especiacutefica do cooperativismo em 1932 teve o objetivo de

enfrentar pela diversificaccedilatildeo agriacutecola as quebras provocadas pelos problemas com o

comeacutercio internacional do cafeacute A lei 5764 de 1971 feita pelos militares concentrou as

cooperativas nas matildeos de grandes produtores industriais o que influenciou o piacutefio

crescimento das cooperativas no Brasil Em 1998 o anuaacuterio do Cooperativismo Brasileiro da

Organizaccedilatildeo das Cooperativas Brasileiras (OCB) fornecia o nuacutemero de apenas 5102

cooperativas indicando um avanccedilo pequeno na quantidade de cooperativas com um nuacutemero

de associados que natildeo chegava a 3 do total da populaccedilatildeo

Conforme explica Rech (2002 p16-17) de modo geral os instrumentos existentes na

legislaccedilatildeo brasileira que regulam a vida das cooperativas satildeo de procedecircncia conservadora

satildeo exemplos o dec-lei 5154 de 1942 ( sobre a intervenccedilatildeo do Estado nas cooperativas) o

dec-lei 5893 de 1943 (sobre a organizaccedilatildeo funcionamento e fiscalizaccedilatildeo das cooperativas)

apesar de em menor escala o dec-lei 627444 (que aumenta a interferecircncia do Estado) todos

da ditadura getulhista E da ditadura militar as Leis 4380 (que submeteram as cooperativas

habitacionais ao BNH) e 4595 ( que regula a vida das instituiccedilotildees financeiras entre as quais

as cooperativas de creacutedito) ambas de 1964 o DecLei 5966 (que revogou todas as conquistas

de liberdade cooperativistas anteriores) e a lei cooperativista de 1971 As uacutenicas exceccedilotildees

seriam o dec-lei 840145 que reavivou o Dec de 1932 e a Lei 421463 ( Estatuto do

Trabalhador Rural) que apesar de natildeo ser uma lei especiacutefica sobre o assunto poderia ter

aberto as portas para a atuaccedilatildeo cooperativista no campo

Na visatildeo de Tauile et al (2005) o fenocircmeno da autogestatildeo respeita as condiccedilotildees juriacutedicas

vigentes que apesar de natildeo impedir sua existecircncia natildeo contempla suas necessidades

1 No item 27 satildeo apresentados outros desafios

33

especiacuteficas Os empreendimentos enquadram-se nas formas do direito tradicional fato que

natildeo lhes favorece uma vez que se trata de empreendimentos autogestionaacuterios sociedades de

pessoas e natildeo de capital

Atualmente a legislaccedilatildeo cooperativista estaacute em debate Trecircs Projetos de lei de nos 60599

17199 e 42899 estatildeo tramitando no Congresso Nacional Apesar disso nenhum desses

projetos contempla as necessidades dos empreendimentos autogestionaacuterios na visatildeo dos

autores Tauile et al (2005 p151) Para eles estes empreendimentos tecircm caracteriacutesticas

especiais e necessidades especiacuteficas por serem fenocircmenos com caracterizaccedilotildees empresariais

tipicamente urbanas e de trabalho associado A legislaccedilatildeo poreacutem atende a um

cooperativismo fortemente implementado no campo de base agraacuteria para organizar pequenos

(e grandes) proprietaacuterios rurais

Uma outra evidecircncia da limitaccedilatildeo legal ocorre com os empreendimentos de ES que se

originam da recuperaccedilatildeo de massa falidas Segundo Tauile et al (2005 p147) esses

empreendimentos nascem abruptamente portanto natildeo possuem histoacutericos contaacutebeis sem

capital e sem patrimocircnio No iniacutecio das operaccedilotildees satildeo comandataacuterios ou arrendataacuterios e natildeo

estatildeo capitalizados para irem diretamente ao mercado Diante desse contexto tecircm

dificuldades de acesso a creacutedito para a continuidade do negoacutecio

Tauile et al ( 2005 p 148-149) reflete sobre a necessidade do reconhecimento pela ordem

juriacutedica dessas novas formataccedilotildees juriacutedicas por meio da criaccedilatildeo de um marco legal que

[] os reconheccedila conceitualmente e que estabeleccedila normas para atendimento de condiccedilotildees

associadas a um padratildeo socialmente aceitaacutevel para os trabalhadores e produccedilatildeo de bens para o

mercado que estabeleccedila criteacuterios de identificaccedilatildeo desses atores - empresas de autogestatildeo - que se baseiem numa interpretaccedilatildeo objetiva adequada ao perfil e agraves caracteriacutesticas do sujeito com base na

realidade social e econocircmica disposta

Este cenaacuterio demonstra as restriccedilotildees que a ES enfrenta e que circunscrita no marco legal do

capitalismo natildeo eacute possiacutevel percebecirc-la como instrumento uacutenico de negaccedilatildeo ou superaccedilatildeo do

sistema de mercado vigente contudo surgem inuacutemeras pequenas revoluccedilotildees quando nos

empreendimentos deixa de existir a dicotomia entre capital e trabalho instaurando novas

perspectivas natildeo somente de reproduccedilatildeo mas de criaccedilatildeo de novos tipos de sociabilidades

onde a solidariedade a exigecircncia de responsabilidades coletivas se constituem num intenso

processo educativo Tudo isso recria o proacuteprio conceito de trabalho o qual ganha novos

34

contornos Emprestando as palavras do filoacutesofo Luiz Razeto (1993) cada dia fica mais

claro de que haacute a necessidade de que o aspecto alternativo natildeo seja apenas uma estrateacutegia

mas o proacuteprio desenvolvimento que se busca

23 Diferenccedilas conceituais entre Terceiro Setor e Economia Solidaacuteria

A proliferaccedilatildeo dos empreendimentos solidaacuterios no Brasil muito se deve agrave forte presenccedila das

entidades do Terceiro Setor que eclodiram principalmente a partir dos anos 802 Dentre as

entidades fomentadoras da ES no Brasil pode-se destacar Agecircncia de Desenvolvimento

Solidaacuterio Central Uacutenica dos Trabalhadores (ADSCUT) Associaccedilatildeo Nacional de

Trabalhadores em Empresas de Autogestatildeo e Participaccedilatildeo Acionaacuteria (Anteag) Caacuteritas

BrasileirasUNITRABALHO- Rede Interuniversitaacuteria de Estudos e Pesquisas sobre o

Trabalho PACS Instituto de Poliacuteticas Alternativas para o Cone Sul DIEESE-

Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos Soacutecio- Econocircmicos Instituiccedilatildeo

Comunitaacuteria de Creacutedito Portosol ITCP- Incubadora Tecnoloacutegica de Cooperativas Populares

FASE- Federaccedilatildeo de Oacutergatildeos para Educaccedilatildeo e Assistecircncia Social NAPES - Nuacutecleo de Accedilatildeo e

Pesquisa em Economia de Solidariedade entre outras

Devido agrave substantiva participaccedilatildeo de entidades do Terceiro Setor na Economia Solidaacuteria

muitos entendem que a uacuteltima eacute gecircnero da primeira Isto eacute compreensiacutevel uma vez que a linha

que divide os dois territoacuterios natildeo estaacute tatildeo bem definida A distinccedilatildeo poderia ser realizada pelo

conceito de cada um dos segmentos Entretanto conceituar o Terceiro Setor natildeo eacute uma tarefa

faacutecil tendo em vista a gama de entidades que o compotildeem e a variedade de expressotildees que satildeo

utilizadas como sinocircnimas tais como ONGs entidades sem fins lucrativos organizaccedilotildees

voluntaacuterias entre outras para designar os grupos de organizaccedilotildees da sociedade civil com

atuaccedilatildeo social

Recentemente mais precisamente depois dos anos 90 muitos trabalhos acadecircmicos tecircm

envidado esforccedilos nessa tarefa de conceituar e caracterizar as entidades que constituem esse

setor Destaca-se entre as produccedilotildees sobre o tema o trabalho de Coelho ( 2002) Segundo a

2 Com a redemocratizaccedilatildeo do paiacutes essas organizaccedilotildees ampliaram a abrangecircncia de atuaccedilatildeo para novos espaccedilos

de articulaccedilatildeo soacutecio-poliacutetica como a defesa de direitos de grupos especiacuteficos da populaccedilatildeo mulheres negros

povos indiacutegenas crianccedilas abandonadas etc ( GARCIA 2003)

35

autora no Brasil o termo mais usual para a denominaccedilatildeo das entidades da sociedade civil era

organizaccedilatildeo natildeo-governamental A expressatildeo terceiro setor foi utilizada pela primeira vez

por pesquisadores nos Estados Unidos na deacutecada de 70 e na deacutecada de 80 tambeacutem passou a

ser empregada pelos pesquisadores europeus em virtude do termo expressar uma alternativa

para as desvantagens tanto do mercado associadas agrave maximizaccedilatildeo do lucro quanto do

governo com sua burocracia inoperante( COELHO 2002 p58)

Nesse sentido o Terceiro Setor eacute uma expressatildeo a que se recorre para distinguir as entidades

emergidas do seio da sociedade civil daquelas oriundas do primeiro setor (mercado) e do

segundo (aacuterea governamental) Essa denominaccedilatildeo evidencia o papel econocircmico que esse

segmento assume Coelho explica que essas organizaccedilotildees distinguir-se-iam das entidades

privadas inseridas no mercado por natildeo objetivarem o lucro e por responderem em alguma

medida agraves necessidades coletivas (COELHO 2002 p59)

Contudo Franco (1997) abre um parecircntese no sentido de natildeo se confundir coletivo e puacuteblico

pois nem todas as entidades pertencentes ao Terceiro Setor possuem fins puacuteblicos Grande

parte do Terceiro Setor eacute composta por organizaccedilotildees com fins coletivos privados como uma

organizaccedilatildeo para observaccedilatildeo de paacutessaros tropicais Essas entidades constituem-se num

agrupamento de cidadatildeos que se associam voluntariamente para perseguir objetivos que soacute

interessam a eles proacuteprios que natildeo tem a pretensatildeo ou a obrigaccedilatildeo de atender a um interesse

comum da sociedade e portanto que natildeo estatildeo voltados para o bem comum ou para a

chamada utilidade puacuteblica (FRANCO 1997 p37 apud COELHO 2002 p59)

Aleacutem dessas entidades jaacute citadas uma outra discussatildeo que se faz eacute sobre a relaccedilatildeo entre o

Terceiro Setor e os movimentos sociais Estariam os movimentos sociais circunscritos ao

Terceiro Setor Partindo-se de uma resposta negativa poder-se-ia argumentar que os

movimentos sociais natildeo integram o Terceiro Setor por natildeo possuiacuterem uma estrutura formal

feita para perdurar no tempo caracteriacutestica baacutesica de entidades do terceiro setor3 Na verdade

os movimentos sociais possuem um caraacuteter mais reivindicatoacuterio e pressionam o Estado

solicitando o fornecimento de bens ou serviccedilos

3 Conforme aleacutem de estar fora do Estado e natildeo ter fins lucrativos as entidades do Terceiro Setor possuem as seguintes caracteriacutesticas satildeo estruturadas satildeo autogovernadas Envolvem indiviacuteduos num significativo esforccedilo

voluntaacuterio (Lester Salamon amp Helmuth Anheir 1994 apud Coelho 2002 p61)

36

Entretanto nada eacute conclusivo pois tambeacutem no Terceiro Setor inscrevem-se entidades com

caraacuteter reivindicatoacuterio Essa questatildeo daacute uma ideacuteia da dificuldade de delimitaccedilatildeo dos contornos

desse setor em virtude da diversidade das entidades que o compotildeem

Alguns autores americanos (Lester Salamon Michael Gutowski amp Karen Pittman 1984 p3) entendem que as entidades do terceiro setor podem ser agrupadas da seguinte forma

1) Organizaccedilotildees que funcionam essencialmente para ajudar a seus proacuteprios membros tais

como as associaccedilotildees profissionais e clubes sociais

2) Igrejas sinagogas mesquitas e outras organizaccedilotildees religiosas sacramentadas

3) Organizaccedilotildees incluindo as fundaccedilotildees United Way e federaccedilotildees religiosas como a

Caridade Catoacutelica e a Federaccedilatildeo Judaica

4) Organizaccedilotildees que promovem caridade ou serviccedilos educacionais destinados

primeiramente para ajudar a qualquer pessoa e natildeo simplesmente seus membros

No Brasil a legislaccedilatildeo segrega as vaacuterias entidades que compotildeem o Terceiro Setor em dois

grupos ou duas formas juriacutedicas diferentes associaccedilatildeo e fundaccedilatildeo De acordo com o art 16 do

Coacutedigo Civil Brasileiro as entidades da sociedade civil sem finalidade lucrativa apresentam

caracteriacutesticas diversas em seus aspectos juriacutedicos Os arts 20 e 23 enunciam as seguintes

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo

a) os fins os meios proacuteprios e os interesses satildeo estabelecidos pelos associados

b) os associados podem alterar os fins

c) o patrimocircnio eacute constituiacutedo pelos associado e

d) os associados deliberam livremente

Por outro lado as fundaccedilotildees tecircm suas caracteriacutesticas anunciadas nos arts 24 e 30 do antigo

Coacutedigo Civil da seguinte forma

a) os fins os meios proacuteprios e os interesses satildeo estabelecidos pelo fundador

b) os fins satildeo perenes e imutaacuteveis

c) o patrimocircnio eacute fornecido pelo instituidor e

d) as resoluccedilotildees satildeo delimitadas pelo instituidor

37

Resgatando o conceito e natureza da Economia Solidaacuteria percebe-se que ela eacute um hiacutebrido

entre empresas econocircmicas e entidades da sociedade civil Aqui haacute uma semelhanccedila dos

segmentos pois ambas satildeo associaccedilatildeo de pessoas

Enquanto atividade econocircmica ela precisa gerar sobras mediante a qual se garante emprego e

renda aos trabalhadores Por outro lado enquanto atividade social ela eacute gerida por um coletivo

de pessoas que aleacutem de benefiacutecios econocircmicos cultuam valores humanos tais como

solidariedade e cooperaccedilatildeo em todo o processo econocircmico seja na relaccedilatildeo de trabalho na

relaccedilatildeo com clientes e fornecedores na relaccedilatildeo com a comunidade e com o meio ambiente

Uma situaccedilatildeo que a diferencia das empresas mercantis quando o empreendimento solidaacuterio

assume a forma juriacutedica de uma cooperativa eacute o fato de que o resultado econocircmico natildeo se

distribui com o mesmo dinamismo que em uma empresa mercantil Ele eacute distribuiacutedo

anualmente por ocasiatildeo da apuraccedilatildeo do Balanccedilo anual

Diante da dificuldade de se traccedilar precisamente as diferenccedila apenas pelas caracteriacutesticas

talvez o grande argumento para a segregaccedilatildeo dos empreendimentos de ES das entidades do

Terceiro Setor resida na legislaccedilatildeo Os empreendimentos mais representativos4 da Economia

Solidaacuteria conforme o Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (2006) as cooperativas e as

sociedades anocircnimas tecircm uma legislaccedilatildeo proacutepria apesar dos questionamentos sobre a sua

adequaccedilatildeo agraves peculiaridades dos empreendimentos de ES A cooperativa eacute uma associaccedilatildeo

autocircnoma de pessoas que se unem voluntariamente para satisfazer aspiraccedilotildees econocircmicas

sociais e culturais comuns por meio da criaccedilatildeo de uma sociedade democraacutetica e coletiva

cooperativa Diferenciam-se dos demais tipos de sociedades por serem ao mesmo tempo uma

associaccedilatildeo de pessoas e tambeacutem um negoacutecio e satildeo definidas pela lei 5764 de 16 de

dezembro de 1971 ( lei cooperativista) Jaacute os empreendimentos solidaacuterios que assumem a

forma juriacutedica de uma sociedade anocircnima satildeo regidos pela lei das Lei nordm 6404 de 15 de

dezembro de 1976 chamada lei das sociedades por accedilotildees

Veiga e Rech (2002) apontam outras diferenccedilas comparando uma associaccedilatildeo (terceiro setor)

e cooperativa (ES) conforme mostra o quadro 2 Entretanto este debate natildeo se encerraraacute ateacute

que sejam definidos contornos conceituais e legais mais efetivos aos segmentos

4 Apesar de serem representativos natildeo satildeo a maioria dos empreendimentos No Brasil as formas de organizaccedilatildeo

estatildeo assim distribuiacutedas associaccedilatildeo 54 grupos informais -33 organizaccedilotildees cooperativas 11 outras

formas de organizaccedilatildeo- 2

38

Quadro 2- Diferenccedilas entre Associaccedilotildees e Cooperativas

Criteacuterio Associaccedilatildeo Cooperativa

Conceito Sociedade de pessoas sem fins lucrativos

Sociedade de pessoas sem fins lucrativos e com especificidade de atuaccedilatildeo na atividade produtivacomercial

Finalidade Representar e defender os interesses dos associados Estimular a melhoria teacutecnica

profissional e social dos associados Realizar iniciativas de promoccedilatildeo educaccedilatildeo e assistecircncia

social

Viabilizar e desenvolver atividades de consumo produccedilatildeo prestaccedilatildeo de serviccedilos

creacutedito e comercializaccedilatildeo de acordo com os

interesses dos seus associados

Constituiccedilatildeo Miacutenimo de duas pessoas Miacutenimo de 20 pessoas fiacutesicas Legislaccedilatildeo Constituiccedilatildeo ( art 5ordm XVII a XXI

e art 174 sect2ordm) Coacutedigo civil Lei 576471 Constituiccedilatildeo ( art 5ordm XVII a

XXI e art 174 sect Coacutedigo civil Patrimocircnio Capital Patrimocircnio eacute formado por taxa

paga pelos associados doaccedilotildees

fundos e reservas Natildeo possui

capital social

Possui capital social formado por quotas-partes podendo receber doaccedilotildees

empreacutestimos e processos de capitalizaccedilatildeo

Forma de gestatildeo Nas assembleacuteias cada pessoa tem

direito a um voto As decisotildees

devem sempre ser tomadas com a participaccedilatildeo e o envolvimento dos

associados

Nas assembleacuteias cada pessoa tem direito a um voto As decisotildees devem sempre ser

tomadas com a participaccedilatildeo e o envolvimento

dos associados

Abrangecircncia aacuterea de

accedilatildeo Limita-se aos seus objetivos podendo ter abrangecircncia nacional

Limita-se aos seus objetivos e possibilidade de reuniotildees podendo ter abrangecircncia

nacional Operaccedilotildees Soacute pode realizar atividade

comercial para a implementaccedilatildeo de

seus objetivos sociais Pode realizar operaccedilotildees financeiras e

bancaacuterias usuais

Realiza plena atividade comercial Realiza operaccedilotildees financeiras bancaacuterias e pode

candidatar-se a empreacutestimos e aquisiccedilotildees do

governo federal

Responsabilidades Os associados natildeo satildeo

responsaacuteveis diretamente pelas

obrigaccedilotildees contraiacutedas pela

associaccedilatildeo A sua diretoria soacute pode

ser responsabilizada se agir sem o consentimento dos associados

Os cooperados natildeo satildeo responsaacuteveis

diretamente pelas obrigaccedilotildees contraiacutedas pela

cooperativa a natildeo ser tambeacutem nos casos em

que decidem que a sua responsabilidade eacute

ilimitadaSua diretoria soacute pode ser

responsabilizada se agir sem o consentimento dos associados

Remuneraccedilatildeo Os dirigentes natildeo tecircm remuneraccedilatildeo

pelo exerciacutecio de suas funccedilotildees

recebem apenas reembolso de suas despesas realizadas para o desempenho dos seus cargos

Os dirigentes podem ser remunerados por retiradas mensais proacute-labore definidas pela assembleacuteia aleacutem do reembolso de suas

despesas

Tributaccedilatildeo Deve fazer anualmente uma declaraccedilatildeo de isenccedilatildeo de imposto

de renda

Isento de impostos sobre operaccedilotildees com

seus associados Recolhe IRPJ sobre operaccedilotildees com terceiros Paga impostos e taxas decorrentes de accedilotildees comerciais

Resultados Financeiros O resultado positivo (superaacutevit)

obtido de operaccedilotildees entre os

associados seratildeo aplicados na

proacutepria associaccedilatildeo

O resultado positivo (sobras) satildeo divididas de

acordo com o volume de negoacutecios ou

participaccedilatildeo de cada associado Satildeo

constituiacutedas reservas de 10 para o fundo de

reserva e 5 para o Fundo Educacional ( FATES)

Fonte Adaptado de Veiga e Rech (2002)

39

24 Diferentes concepccedilotildees e modelos de participaccedilatildeo na administraccedilatildeo

A Economia Solidaacuteria na perspectiva apontada por Tauile (2001) sinteticamente possui os

seguintes traccedilos distintivos reciprocidade coletividade combinaccedilatildeo de recursos

mercantis e natildeo-mercantis cidadania que somente se constroacutei no espaccedilo puacuteblico Logo o

conceito de participaccedilatildeo eacute tambeacutem chave para compreender a dinacircmica dos empreendimentos

soliaacuterios e a autogestatildeo

No acircmbito de uma empresa a participaccedilatildeo reveste-se de um caraacuteter bastante importante

capaz de alterar as relaccedilotildees de poder no processo de gestatildeo dos negoacutecios pois

A participaccedilatildeo consiste basicamente na criaccedilatildeo de oportunidades sob as condiccedilotildees adequadas para

que as pessoas influam nas decisotildees que as afetam Essa influecircncia pode ser de pouca a muita [

participaccedilatildeo] constitui um caso especial de delegaccedilatildeo no qual o subordinado adquire um controle

maior uma maior liberdade de escolha em relaccedilatildeo a suas proacuteprias responsabilidades O termo

participaccedilatildeo eacute usualmente aplicado agrave maior influecircncia do subordinado sobre assuntos de responsabilidade do superior (MCGREGHOR 1960 p126 e 130 apud PATEMAN 1992 p 38)

Contudo a participaccedilatildeo eacute uma categoria teoacuterica bastante controversa especialmente no

acircmbito dos negoacutecios jaacute que embora no mundo moderno o local de trabalho seja agrave base de

relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo esse espaccedilo tem sido marcado desde sua origem pela negaccedilatildeo de

relaccedilotildees democraacuteticas de participaccedilatildeo Mais recentemente diversos movimentos tecircm

persuadido empresas a adotarem sistemas de participaccedilatildeo Eacute grande a variedade de modelos

participativos no acircmbito empresarial Compreendem desde accedilotildees pontuais de empregados que

apresentam suas sugestotildees aos negoacutecios ateacute a participaccedilatildeo na propriedade e nos lucros Far-

se-aacute em seguida uma imersatildeo nos diferentes conceitos de participaccedilatildeo nos negoacutecios buscando

distinguir tais conceitos daquele adotado no presente trabalho

Segundo Arantes (2000) a participaccedilatildeo nas organizaccedilotildees surgiu em decorrecircncia da pressatildeo

sindical para utilizaccedilatildeo de fundamentos democraacuteticos nas organizaccedilotildees Posteriormente foi

sendo sustentada por concepccedilotildees humanistas de administraccedilatildeo Um breve histoacuterio dessa

evoluccedilatildeo mostra que os primeiros debates de participaccedilatildeo na administraccedilatildeo ocorreram por

volta de 1880 quando nos Estados Unidos numa empresa chamada Midvale Steel Frederick

Wilson Taylor obstinado por incrementar a eficiecircncia de seus subordinados deparou com um

impasse Taylor observava e cronometrava as atividades de vaacuterios funcionaacuterios com o

objetivo de descobrir uma base cientiacutefica para compreender e executar os trabalhos

40

(ARANTES 2000 p08) Ele queria encontrar o meacutetodo mais eficiente de trabalho e que

fosse melhor para todos Entretanto apoacutes conseguir meacutetodos e maneiras para aumentar o

rendimento dos operaacuterios ele se deparou com o chamado problema dos salaacuterios

Na eacutepoca existiam duas formas praticadas de pagamento dos funcionaacuterios pagamento por dia

ou por peccedila produzida Na primeira o trabalhador recebia o salaacuterio independentemente de

sua produccedilatildeo o que tornava o aumento da eficiecircncia extremamente desinteressante para ele

Na segunda apresentava-se a seguinte questatildeo se a produccedilatildeo aumentava muito o valor por

peccedila diminuiacutea fazendo com que o sindicato estabelecesse volumes maacuteximos de produccedilatildeo por

dia de maneira que os trabalhadores natildeo fossem prejudicados

Segundo Maximiano (1996 p44)

Para resolver este problema que os dois sistemas ofereciam jaacute na eacutepoca se falava em um sistema

de participaccedilatildeo dos empregados nos lucros das empresas o qual se tem notiacutecia de ter sido praticado na Europa desde 1842 No entanto tambeacutem jaacute se reconhecia que esse sistema tinha imperfeiccedilotildees

uma vez que as flutuaccedilotildees nos lucros beneficiando ou prejudicando o empregado eram devidas a

fatores (como preccedilo da mateacuteria-prima ou decisotildees gerenciais) sobre os quais ele natildeo tinha controle

Mas foi com o movimento de relaccedilotildees humanas (os humanistas) que o advento da

participaccedilatildeo ganhou forccedila O movimento desenvolveu-se a partir de experiecircncias e estudos

realizados na Western Eletric Company entre 1924 e 1933 Esses experimentos ficaram

conhecidos como os experimentos de Hawthorne em virtude de a maioria dos estudos

terem sido realizados na faacutebrica de Hawthorne da Western Eletric nas proximidades de

Chicago

O objetivo desses estudos a princiacutepio natildeo era a avaliaccedilatildeo de comportamentos humanos

motivaccedilotildees ou participaccedilatildeo visavam apenas agrave identificaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre o niacutevel de

iluminaccedilatildeo do local de trabalho e a produtividade dos empregados Os resultados obtidos natildeo

foram conclusivos A produtividade aparentava crescer tanto quando se aumentava a

iluminaccedilatildeo como tambeacutem quando se diminuiacutea Concluiu-se que algo aleacutem da iluminaccedilatildeo

influenciava no rendimento dos trabalhadores

Elton Mayo professor de Harvard participante dessas experiecircncias tinha uma experiecircncia

anterior de estudo das sociedades aboriacutegenes da Austraacutelia as quais se caracterizam por serem

muito unidas o que fazia despertar nos indiviacuteduos a sensaccedilatildeo de pertencer ao grupo

41

Comparando-se os trabalhadores da seccedilatildeo de enrolamentos de carreteacuteis onde as experiecircncias

foram desenvolvidas com as sociedades aboriacutegenes constatou-se que os trabalhadores

apresentavam a destruiccedilatildeo total da sensaccedilatildeo de pertencimento a um grupo ou seja era o

oposto da sociedade aboriacutegene Mayo explicou da seguinte forma a depressatildeo e alienaccedilatildeo dos

trabalhadores do setor de enrolamento de carreteacuteis

Quer como antropoacutelogo estudando uma raccedila primitiva quer como industriais estudando alguma

parte do esquema moderno caoacutetico e complexo de produccedilatildeo encontramos sempre grupos de

indiviacuteduos tanto nas selvas naturais como nas cidades modernas que encontram sua felicidade e

seguranccedila pessoal desde que exista a subordinaccedilatildeo do indiviacuteduo a um objetivo comum O homem

solitaacuterio que trabalha soacute eacute sempre uma pessoa muito infeliz( HAMPTON 1983 apud ARANTES 2000)

Outros autores tambeacutem contribuiacuteram para o desenvolvimento da Escola de Relaccedilotildees

Humanas Em 1910 na Alemanha Hugo Munsterberg realizou experimentos em que buscava

utilizar conhecimentos da psicologia experimental aplicados para ajudar na seleccedilatildeo de

homens mais bem capacitados para o trabalho A partir da seleccedilatildeo buscava-se determinar

condiccedilotildees psicoloacutegicas e influecircncias na mente humana capazes de obtenccedilatildeo de maiores

iacutendices de produccedilatildeo e um comportamento previamente desejado pela administraccedilatildeo

Em 1935 Kurt Lewin desenvolveu um dos primeiros estudos sobre motivaccedilatildeo humana e

dinacircmica de grupo o qual ficou conhecido como a teoria de campo Lewin supunha que o

comportamento humano seria derivado dos fatos existentes que adquiriria caraacuteter de um

campo-dinacircmico em que cada parte depende da inter-relaccedilatildeo com outras partes

Abraham H Maslow desenvolveu estudos sobre a teoria das necessidades motivacionais em

1944 proporcionando uma grande contribuiccedilatildeo para o desenvolvimento humano no trabalho

De acordo com a Teoria da Hierarquia das Necessidades de Maslow as pessoas satildeo

motivadas por cinco tipos distintos de necessidades fisioloacutegicas de seguranccedila de afeto de

estima e de auto-realizaccedilatildeo ( ARANTES 2000 p12)

Essas necessidades estatildeo dispostas de acordo com uma hierarquia segundo sua capacidade de

motivar o comportamento humano Num primeiro degrau o ser humano eacute motivado por

necessidades fisioloacutegicas Eles buscaratildeo satisfazecirc-las primeiramente caso natildeo estejam

satisfeitas elas tenderatildeo a monopolizar seu comportamento oferecendo dessa forma um

grande poder de motivaccedilatildeo Agrave medida que as necessidades vatildeo sendo satisfeitas o poder de

42

motivaccedilatildeo vai perdendo sua forccedila dando lugar a um novo niacutevel de descontentamento

deslocando o poder de motivaccedilatildeo para patamares superiores de necessidade dentro da

hierarquia

Entretanto pode ocorrer que as pessoas aleacutem de subirem tambeacutem desccedilam dentro da

hierarquia das necessidades A ausecircncia de satisfaccedilatildeo de necessidades inferiores pode

aumentar sua importacircncia relativa Quando haacute uma perda do emprego por exemplo o

indiviacuteduo passa a demonstrar menor necessidade pela estima e seu comportamento passa a

ser conduzido pela necessidade de pagar as contas e da seguranccedila de um novo emprego (

ARANTES 2000 p 12)

O movimento das relaccedilotildees humanas superou a abordagem claacutessica5 em virtude da ecircnfase nas

necessidades sociais Segundo Stoner

Aparentemente o ambiente social no local de trabalho eacute apenas um dos vaacuterios fatores interativos

que influenciam a produtividade Os niacuteveis de salaacuterios os niacuteveis de interesse por determinadas

tarefas a estrutura e a cultura organizacional e as relaccedilotildees entre trabalhadores e a administraccedilatildeo

tambeacutem tecircm muita importacircncia (STONER apud ARANTES 2000)

Aleacutem dessa anaacutelise histoacuterico-humanista haacute outros enfoques que podem explicar a origem da

participaccedilatildeo nas relaccedilotildees produtivas Alguns autores defendem que a participaccedilatildeo pode ter

sido originada por dois fatores a conflitual e a funcional

A conflitual tem raiz no antagonismo entre capital e trabalho surgindo neste contexto o movimento sindical como uma forma de divisatildeo de poder de maneira a diminuir conflitos A

participaccedilatildeo funcional originou-se da necessidade de reduzir a burocratizaccedilatildeo e

consequumlentemente promover a aproximaccedilatildeo entre dirigentes e dirigidos (ARANTES 2000 p15)

Na primeira perspectiva a participaccedilatildeo deixa de ser algo concebido nos estreitos limites da

organizaccedilatildeo e suas necessidades intriacutensecas para se tornar o resultado de tensotildees sociais

dentro e fora das empresas Nessa linha de pensamento Dacheler e Wilpert e Kenneth

Walker na visatildeo de Arantes satildeo os autores que mais identificavam a ligaccedilatildeo entre a

participaccedilatildeo na sociedade e a participaccedilatildeo nas organizaccedilotildees

5 Nessa abordagem a produtividade era tratada quase que exclusivamente como um problema de engenharia

43

Conforme esses autores a participaccedilatildeo pode ser concebida em quatro perspectivas teoacutericas

Teoria Democraacutetica Teoria Socialista Teoria do Desenvolvimento e Crescimento Humano e

Teoria da Produtividade e Eficiecircncia

Teoria Democraacutetica

Os principais expoentes dessa corrente satildeo Rosseau Stuart Mill e Tocqueville Para eles a

participaccedilatildeo democraacutetica deve ocorrer em todos os acircmbitos sociais e natildeo somente atraveacutes da

representaccedilatildeo poliacutetica no Estado Toda instituiccedilatildeo deve buscar a incorporaccedilatildeo de valores

democraacuteticos Esses valores aparecem nos ambientes fabris na forma institucionalizada

atraveacutes da representaccedilatildeo de empregados em diversos niacuteveis ou na forma gerencial

administrativa atraveacutes da participaccedilatildeo direta nas decisotildees principalmente na liberdade de

execuccedilatildeo de suas tarefas(ARANTES 2000 p 17)

Teoria Socialista

Essa concepccedilatildeo tem origem nos socialistas utoacutepicos no socialismo cientiacutefico de Marx e

Engels e no anarquismo de Proudhon A participaccedilatildeo encerra a ideacuteia de distribuiccedilatildeo de poder

na sociedade podendo ser dois enfoques ou duas correntes distintas a anarquista que defende

a centralidade do poder nas matildeos do povo e a comunista corrente em que o poder eacute exercido

atraveacutes do Estado Em uma organizaccedilatildeo a participaccedilatildeo atinge seu aacutepice quando consegue

exercer a autogestatildeo

Teoria das Relaccedilotildees e Desenvolvimento Humano

Essa teoria emerge do ambiente gerencial opondo-se agrave Teoria Socialista em que a

participaccedilatildeo irradia dos empregados Admite que o ambiente de trabalho gera contradiccedilotildees

entre o desejo pessoal e a necessidade da empresa e esses conflitos podem provocar

insatisfaccedilatildeo por parte dos empregados resultando em diminuiccedilatildeo da produtividade da

empresa Entretanto a motivaccedilatildeo pode evitar o potencial conflito Isso eacute possiacutevel atraveacutes do

desenvolvimento de equipes de trabalho e arranjos da estrutura organizacional facilitando a

praacutetica da participaccedilatildeo e integraccedilatildeo entre os empregados e a empresa(ARANTES 2000 p

18)

44

Teoria da produtividade e Eficiecircncia

Essa teoria concebe a participaccedilatildeo como uma tecnologia disponiacutevel agrave gerecircncia capaz de

proporcionar maior produtividade e eficiecircncia Segundo seus defensores a participaccedilatildeo nas

tarefas eacute uma ferramenta para enriquecimento das funccedilotildees e aumento da eficiecircncia gerando

maiores lucros que posteriormente podem vir a ser divididos proporcionando novo fator de

motivaccedilatildeo

Partidaacuterio dessa uacuteltima concepccedilatildeo Walker (1974) vecirc a participaccedilatildeo nas organizaccedilotildees como

uma funccedilatildeo gerencial que permite graus de envolvimento dos trabalhadores no processo

decisoacuterio objetivando os interesses da empresa Esse envolvimento eacute de interesse dos

trabalhadores uma vez que estariam contribuindo e intervindo em situaccedilotildees que dizem

respeito diretamente agraves suas vidas Para Walker

Eacute atraveacutes da participaccedilatildeo dos empregados que as empresas poderatildeo encontrar as soluccedilotildees para a

melhoria de sua produccedilatildeo O conhecimento dos funcionaacuterios embora seja uma alternativa pouco

utilizada pelas empresas pode ser a soluccedilatildeo para grandes problemas operacionais (WALKER 1974 apud ARANTES 2000)

As mais variadas perspectivas de participaccedilatildeo possuem como premissas as consequumlecircncias

que conforme a matriz teoacuterica poderia afetar mais ou menos a empresa mais ou menos os

trabalhadores de acordo com o interesse subjacente a cada perspectiva Walker apresenta um

quadro no qual sintetiza as perspectivas de participaccedilatildeo e suas possiacuteveis repercussotildees

Quadro 3- Perspectivas da participaccedilatildeo e suas possiacuteveis repercussotildees

Perspectivas Possiacuteveis Repercussotildees

Promoccedilatildeo dos interesses dos trabalhadores Melhores condiccedilotildees de emprego

Democracia Maior influecircncia dos trabalhadores nas decisotildees

empresariais

Reduccedilatildeo da alienaccedilatildeo Maior satisfaccedilatildeo dos trabalhadores

Utilizaccedilatildeo dos recursos humanos Maior eficaacutecia

Cooperaccedilatildeo e atenuaccedilatildeo dos conflitos Menor nuacutemero de greves

Soluccedilatildeo dos problemas sociais da comunidade Melhoramento dos recursos sociais da comunidade

Freio agrave eficaacutecia Menos eficaacutecia

Inclusatildeo de prerrogativas sociais na empresa Fins da empresa privada

Responsabilidades sociais da empresa Representaccedilatildeo mais equilibrada dos interesses

Fonte WALKER 1974 p 07 apud ARANTES 2000

45

Sinteticamente a participaccedilatildeo dos empregados nas decisotildees das empresas via de regra pode

ocorrer de duas formas em menor escala quando a decisatildeo versa sobre o seu proacuteprio trabalho

e de seu grupo e a decisatildeo nas diretrizes da empresa como um todo Na segunda forma aleacutem

da decisatildeo sobre o trabalho e sua organizaccedilatildeo eacute concedida aos trabalhadores a possibilidade

de decidirem tambeacutem sobre a alocaccedilatildeo de recursos investimentos e destinaccedilatildeo do resultado

destes

Uma das formas mais difundidas de participaccedilatildeo dos empregados nas decisotildees das empresas eacute

a representativa quando um funcionaacuterio compotildee o conselho da empresa Essa forma eacute

mundialmente referenciada como company board Com essa representaccedilatildeo os empregados

tomam parte nas decisotildees que variam desde aquelas que afetam seu trabalho como tambeacutem

as relativas agraves estrateacutegias da empresa decisotildees de obtenccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos

direcionamento de lucros e crescimento

Satildeo igualmente exemplos de participaccedilatildeo representativa os comitecircs de empresa e a co-gestatildeo

na Alemanha Na co-gestatildeo haacute a garantia de que o empregador soacute poderaacute tomar certas

medidas com a anuecircncia do empregado Esta co-participaccedilatildeo inclui decisotildees sobre escolha

de pessoal transferecircncias preenchimentos de vagas demissotildees e sobre as jornadas de

trabalho e descansos( ARANTES 2000 p 26)

Outra forma de participaccedilatildeo eacute aquela que incide sobre os resultados (no lucro) Essa pode ter

conexotildees e ligaccedilotildees diretas com outras formas de participaccedilatildeo na empresa tal como a

participaccedilatildeo nas decisotildees ou pode apresentar-se como um conjunto de remuneraccedilatildeo

objetivando o aumento da motivaccedilatildeo e do envolvimento dos empregados bem como forma de

compartilhar os riscos da empresa

A substituiccedilatildeo da remuneraccedilatildeo fixa por mecircs ou hora reconhecida como padratildeo por compostos de

remuneraccedilatildeo dimensatildeo vinculada ao desempenho teve suas origens no pagamento por peccedila

produzida e nos precircmios por produtividade muito comuns no iniacutecio do seacuteculo XIX Esse sistema

diminuiu significativamente com o aumento e sofisticaccedilatildeo do trabalho uma vez que foca a

realizaccedilatildeo da tarefa reforccedila a cultura individualista a necessidade de comando e impossibilita o

desenvolvimento de inovaccedilotildees (ARANTES 2000 p 27)

O objetivo das remuneraccedilotildees dimensotildees segundo Wood e Picareli eacute alinhar e convergir

esforccedilos para melhorar o desempenho da empresa A remuneraccedilatildeo dimensatildeo pode ser

subdividida em dois grandes grupos a participaccedilatildeo nos lucros e remuneraccedilatildeo por

46

resultados A primeira refere-se agrave divisatildeo de resultados globais obtidos pela empresa

enquanto a remuneraccedilatildeo por resultados tem abrangecircncia menor relacionando-se com a

obtenccedilatildeo de metas individuais ou de equipes

A remuneraccedilatildeo por resultados combina a praacutetica de administraccedilatildeo participativa com um

sistema de bocircnus geralmente fixado pelo empregado ou pelo grupo ou seja eacute estabelecida

uma foacutermula de transformaccedilatildeo das metas previamente fixadas em bocircnus Jaacute a participaccedilatildeo

nos lucros normalmente natildeo estaacute ligada a foacutermulas de desempenho individual ou de grupo e

natildeo necessariamente estaacute vinculada a praacuteticas de administraccedilatildeo participativa O recebimento

das bonificaccedilotildees pode estar somente ligado ao resultado final da empresa e uma quantidade

arbitraacuteria pode ser distribuiacuteda tambeacutem de forma arbitraacuteria apoacutes atingir uma meta de lucro

anual(ARANTES 2000 p28)

Arantes enfatiza que se participativamente estipulada e coletivamente controlada e

acompanhada a distribuiccedilatildeo de lucros proporciona um aumento de motivaccedilatildeo individual e

reciacuteproca atraveacutes do monitoramento coletivo do trabalho pautado na obtenccedilatildeo de vantagens

comuns Ressalta ainda que a participaccedilatildeo nas decisotildees sem a obtenccedilatildeo de resultados eacute falha

e de difiacutecil construccedilatildeo Por outro lado a obtenccedilatildeo de parte nos resultados mediante a

distribuiccedilatildeo dos lucros desacompanhada de envolvimento nas decisotildees tende a desvirtuar os

propoacutesitos da participaccedilatildeo

Uma outra modalidade de participaccedilatildeo existente eacute a participaccedilatildeo na propriedade que se daacute

atraveacutes de fundo de pensatildeo ou pela participaccedilatildeo na propriedade daqueles que efetivamente

trabalham na empresa No fundo de pensatildeo o trabalhador tem uma quota de participaccedilatildeo da

empresa durante o tempo trabalhado mediante a qual tem sua aposentadoria garantida Na

participaccedilatildeo da empresa os trabalhadores podem ser soacutecios efetivos acionistas minoritaacuterios

ou portadores de pequenas parcelas de accedilotildees A obtenccedilatildeo de parte da propriedade da empresa

tende ao reforccedilo da identificaccedilatildeo e do comprometimento com a organizaccedilatildeo e a ampliaccedilatildeo da

participaccedilatildeo nos lucros e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo de terceiros de forma especulativa

reforccedilando o caraacuteter de longo prazo da empresa

Todas as modalidades de participaccedilatildeo ateacute o momento analisadas dizem respeito agraves relaccedilotildees

Capital x Trabalho ainda que em muitos casos a participaccedilatildeo contribua para minimizar a

supremacia do primeiro sobre o segundo tornando mais democraacuteticas as relaccedilotildees de produccedilatildeo

47

e proporcionando ganhos reais (econocircmicos e poliacuteticos) aos trabalhadores No entanto no que

se refere ao escopo desta pesquisa eacute a participaccedilatildeo total que se daacute no acircmbito de

empreendimentos cujo traccedilo fundamental seja a coletividade dos meios de produccedilatildeo que

interessa diretamente e sobre a qual repousa o papel da contabilidade Portanto apoacutes a

digressatildeo realizada para serem destacadas as diferenccedilas fundamentais das perspectivas

teoacutericas aqui inscritas no proacuteximo item retornar-se-aacute ao centro das discussotildees que circundam

o objeto da presente pesquisa qual seja a Autogestatildeo forma proacutepria de administraccedilatildeo dos

chamados Empreendimentos Solidaacuterios e base sobre a qual emerge a Contabilidade como

instrumento e como necessidade

25 Autogestatildeo Modelo de participaccedilatildeo total na gestatildeo e princiacutepio da ES

No ambiente da administraccedilatildeo a autogestatildeo pode ser definida como uma forma de

participaccedilatildeo em que a totalidade do capital da empresa pertence aos seus participantes ou

seja os seus trabalhadores os quais assumem o controle da gestatildeo da empresa Nesse modelo

de gestatildeo eacute o grupo quem determina os objetivos e diretrizes da empresa sem reverecircncia a

nenhuma autoridade externa Na autogestatildeo natildeo existe diferenccedila entre administradores e

administrados visto que todos participam e detecircm a propriedade do capital da empresa

Analisando sob um prisma mais amplo que os limites empresariais compreende-se que a

conquista dessa forma de gestatildeo resultou da busca por alternativas agrave gestatildeo autoritaacuteria e

centralizada Portanto estaacute associada a uma antiga reivindicaccedilatildeo dos trabalhadores pela

democratizaccedilatildeo das estruturas de decisatildeo nas faacutebricas ou seja tem uma vinculaccedilatildeo com o

ideal poliacutetico da emancipaccedilatildeo do trabalhador e com a utopia de uma sociedade mais justa e

democraacutetica

Dessa forma este trabalho compreende a participaccedilatildeo na gestatildeo como a base para formaccedilatildeo

da cidadania Cidadania e participaccedilatildeo satildeo conceitos gecircmeos com os quais se define um outro

conceito Democracia Na verdade haacute um triacircngulo conceitual complementar e dependente

Democracia Cidadania Participaccedilatildeo sobre o qual se inscreve a concepccedilatildeo de atuaccedilatildeo da

contabilidade Aqui uma aproximaccedilatildeo com as orientaccedilotildees teoacutericas socialistas e com a Teoria

Democraacutetica eacute clara pois segundo Pateman

48

A teoria da democracia participativa eacute construiacuteda em torno da afirmaccedilatildeo de que os indiviacuteduos e

suas instituiccedilotildees natildeo podem ser considerados isoladamente A existecircncia de instituiccedilotildees

representativas a niacutevel nacional natildeo basta para a democracia pois o maacuteximo de participaccedilatildeo de

todas as pessoas a socializaccedilatildeo ou treinamento social precisa ocorrer em outras esferas de

modo que as atitudes e qualidades psicoloacutegicas necessaacuterias possam se desenvolver Esse

desenvolvimento ocorre por meio do proacuteprio processo de participaccedilatildeo (PATEMAN 1992 p60)

A autora toma a participaccedilatildeo como o mecanismo democraacutetico por excelecircncia a democracia eacute

a finalidade pela qual a participaccedilatildeo deve se instituir e a finalidade da democracia eacute o bem

comum Esse bem comum natildeo eacute algo dado mas construiacutedo a partir do processo de educaccedilatildeo

que somente pode existir por meio da participaccedilatildeo que em uacuteltima instacircncia se constitui na

autogestatildeo A democracia segundo a autora pressupotildee representaccedilatildeo lideranccedilas mas ela natildeo

sobrevive sem a participaccedilatildeo dos indiviacuteduos como autores das decisotildees mais fundamentais

sob as quais se submeteratildeo agraves vontades individuais A participaccedilatildeo nos niacuteveis mais inferiores

da organizaccedilatildeo social e econocircmica eacute uma necessidade inerente agrave participaccedilatildeo nos niacuteveis mais

altos da poliacutetica A participaccedilatildeo eacute portanto o meio pelo qual se adquire as habilidades

teacutecnicas poliacuteticas e emocionais para o exerciacutecio democraacutetico que comeccedila no ambiente de

trabalho ou nos niacuteveis mais elementares de reproduccedilatildeo da vida em sociedade

Uma leitura dos empreendimentos de economia solidaacuteria agrave luz da Teoria Democraacutetica

portanto leva a perceber que tais iniciativas natildeo tecircm uma funccedilatildeo somente de alternativa ao

desemprego mas se constituem num aprendizado para a Democracia no sentido mais amplo

Utilizando a autogestatildeo como meacutetodo de administraccedilatildeo adquirem estatuto pedagoacutegico no

qual os cidadatildeos assumem compromissos e objetivos comuns tomam decisotildees reforccedilam o

senso de responsabilidade e estimula maior participaccedilatildeo pelo sentimento de eficaacutecia que suas

decisotildees adquirem Entatildeo uma das motivaccedilotildees da participaccedilatildeo eacute o sentido da eficaacutecia poliacutetica

ou o sentido de competecircncia poliacutetica Isso eacute compreendido como o sentimento de que a accedilatildeo

poliacutetica do indiviacuteduo tem ou poder ter um impacto sobre o processo poliacutetico ou seja vale a

pena cumprir alguns deveres ciacutevicos (CAMPBELL et al 1965 p187 apud PATEMAN

1992) E mais

As pessoas com senso de eficaacutecia poliacutetica tecircm mais probabilidade de participar de poliacutetica do que

aquelas que carecem desse sentimento e se descobriu tambeacutem que subjacente ao senso de eficaacutecia

poliacutetica estaacute uma sensaccedilatildeo geral de eficiecircncia pessoal que envolve autoconfianccedila na relaccedilatildeo do

sujeito com o mundo As pessoas que se sentem mais eficientes em suas tarefas e desafios cotidianos tecircm mais probabilidade de participar em poliacutetica (MILBRATH 1965 p59 apud PATEMAN 1992)

49

Desse modo eacute que a competecircncia para a autogestatildeo ganha importacircncia significativa pois tais

empreendimentos findam por apresentar um caraacuteter de muacuteltiplas funccedilotildees na sociedade

contemporacircnea funccedilatildeo econocircmica poliacutetica e cultural A potencialidade dos empreendimentos

autogestionaacuterios adveacutem de uma condiccedilatildeo muito importante qual seja a totalidade do capital

da empresa pertence aos seus participantes e sendo assim eles adquirem uma condiccedilatildeo social

de simetria que permite as condiccedilotildees favoraacuteveis agrave participaccedilatildeo uma vez que as diferenccedilas

econocircmicas desaparecem 6

Entretanto eacute necessaacuterio que todas as condiccedilotildees e recursos na aacuterea de gestatildeo estejam a serviccedilo

da eficaacutecia poliacutetica a fim de viabilizar decisotildees coletivas e de fazer com que o fluxo de

informaccedilotildees seja democraticamente acessado De forma contraacuteria num processo de

autogestatildeo o domiacutenio assimeacutetrico de informaccedilotildees e assimetria econocircmica pode interferir

negativamente no acircnimo para a participaccedilatildeo contribuindo para o fracasso das iniciativas de

empreendimentos solidaacuterios Essa preocupaccedilatildeo deve ocupar o centro das atenccedilotildees de quem

deseja contribuir para o fortalecimento das alternativas solidaacuterias de autogestatildeo

Assim ao se buscar discutir no acircmbito desta pesquisa a dimesatildeo contaacutebil nos

empreendimentos solidaacuterios e as possiacuteveis demandas dos mesmos agrave contabilidade desloca-

se o problema dos estreitos limites contaacutebeis para procura-se compreender a complexidade

das relaccedilotildees que determinam tais demandas e fundamentalmente busca-se problematizar o

papel de uma aacuterea eminentemente teacutecnica para colocaacute-la no marco civilizatoacuterio em que

claramente jaacute natildeo concebe a neutralidade da teacutecnica tal qual se propalava no iniacutecio do

seacuteculo XIX

6 Autores vinculados agrave Teoria Democraacutetica apontam como primeiro obstaacuteculo agrave participaccedilatildeo as grandes diferenccedilas soacutecio-

econocircmicas Tocqueville em seu claacutessico Democracia na Ameacuterica ao indicar as origens que solidificaram a democracia

norte-americana busca nas condiccedilotildees socioeconocircmicas a explicaccedilatildeo Os emigrantes que vieram estabelecer-se na costa da

Nova Inglaterra pertenciam todos agraves classes abastadas da matildee-patria Sua reuniatildeo no solo americano apresentou desde a

origem o singular fenocircmeno de uma sociedade em que natildeo havia nem grandes senhores nem povo e por assim dizer nem

pobres nem ricos (Tocqueville 1998 p 40)

50

26 Experiecircncias Internacionais de autogestatildeo Alemanha Inglaterra e Yugoslaacutevia

Antes do Brasil em vaacuterios paiacuteses jaacute se registravam experiecircncias de autogestatildeo ou co-gestatildeo

A experiecircncia pioneira em co-gestatildeo teve iniacutecio na Alemanha no final do seacuteculo XIX com a

lei de desregulamentaccedilatildeo de manufaturas e a lei sobre as comissotildees de trabalho da induacutestria

extrativa Alicerccedilada na doutrina social catoacutelica representou um contraponto agraves ideacuteias

revolucionaacuterias comunistas do iniacutecio do seacuteculo XX Baseou-se na ideacuteia de que a colaboraccedilatildeo

de classes e a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio poliacutetico deveriam prevalecer em relaccedilatildeo agrave extinccedilatildeo da

propriedade privada Defendia o trabalho integrativo como forma de desenvolvimento das

empresas e da sociedade Em muitos casos na co-gestatildeo haacute a garantia de que o empregador

soacute poderaacute tomar certas medidas com a anuecircncia do empregado Esta co-participaccedilatildeo inclui

decisotildees sobre escolha de pessoal transferecircncias preenchimentos de vagas demissotildees e sobre

as jornadas de trabalho e descansos(ARANTES 2000 p 26)

Na antiga Yugoslaacutevia conforme alguns pesquisadores tais como Dunlop ( 1958 ) e Vanek

(1963) a autogestatildeo apresentou sua melhor tipificaccedilatildeo O sistema Iugoslavo foi o

resultado de uma lei de 1950 a qual determinou que as empresas fossem administradas

pelos trabalhadores coletivamente Embora desde entatildeo tenha sido alterada diversas

vezes recentemente ainda representava a base do sistema econocircmico yugoslavo o qual

era fundamentado no trabalho coletivo constituiacutedo por empresas administradas pelos

trabalhadores e que cujo resultado final era dividido entre todos os membros

A constituiccedilatildeo Yugoslava revisada em 1963 descrevia em seu artigo 6 que o sistema

econocircmico do paiacutes seria uma comunidade de trabalho voluntaacuterio com os meios de

produccedilatildeo pertencentes a todos e a produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo tambeacutem gerenciadas por todos

Em geral o conjunto de trabalhadores era quem estruturava a administraccedilatildeo das empresas

em dois principais alicerces na eleiccedilatildeo de gestores e no estabelecimento de

procedimentos de administraccedilatildeo e controle Eram os trabalhadores quem escolhiam

diretamente em eleiccedilotildees secretas um grupo denominado de Conselho de Trabalhadores

cujo nuacutemero de membros variava entre 15 e 120 dependendo do tamanho da empresa O

papel do Conselho de Trabalhadores correspondia ao papel de proprietaacuterios nas empresas

tradicionais Dessa forma eram-lhes atribuiacutedas as seguintes responsabilidades exame e

aprovaccedilatildeo de programas perioacutedicos da empresa que incluiam planos de produccedilatildeo

51

financcedilas e investimentos poliacutetica de preccedilos marketing e de distribuiccedilatildeo de dividendos aos

trabalhadores Ele tambeacutem elegia entre seus membros um grupo de trecircs a onze pessoas

que compunham o Conselho de Gestatildeo da empresa cuja atribuiccedilatildeo era responder pelo

funcionamento eficiente da entidade como tambeacutem era responsaacutevel por preparar

relatoacuterios para o Conselho de Trabalhadores

O gerente geral do empreendimento por sua vez natildeo era membro do Conselho de

Trabalhadores mas sim indicado conjuntamente pelo Conselho de Trabalhadores e pela

municipalidade onde a empresa se estabelecia Era um funcionaacuterio responsaacutevel por liderar

o processo gerencial e implementar os planos definidos pelo Conselho de Gestatildeo O seu

salaacuterio e suas atribuiccedilotildees eram definidos pelo Conselho de Trabalhadores

Com toda essa organizaccedilatildeo a Yugoslaacutevia representava um sistema estruturado de

autogestatildeo Hoje natildeo se pode afirmar que essa estrutura permaneccedila uma vez que natildeo se

teve acesso a bibliografias que relatassem a situaccedilatildeo da autogestatildeo apoacutes as mudanccedilas

poliacuteticas ocorridas nesse paiacutes

Em outros paiacuteses como Espanha tambeacutem registra-se a presenccedila de experiecircncias

autogestionaacuterias bem-sucedidas tais como o complexo de Mondragoacuten Um conglomerado

de cooperativas que diversificaram suas atividades e hoje eacute exemplo contundente de como

a autogestatildeo pode conduzir agrave viabilidade econocircmica e que ES nem sempre eacute sinocircnimo de

pequeno empreendimento

Em muitos outros paiacuteses observam-se tambeacutem participaccedilotildees representativas nas decisotildees das

empresas embora de maneira menos regulamentada que na Alemanha Os comitecircs de

empresas satildeo bastante comuns na Europa como os Comiteacute dEntreprise na Franccedila o Labour

Management Joint Committee na Inglaterra e os Jurados de Empresa na Espanha No Brasil

representaccedilatildeo similar encontra-se geralmente na induacutestria atraveacutes das comissotildees de faacutebrica

as quais consistem em agremiaccedilotildees de funcionaacuterios com o objetivo de participaccedilotildees mais

efetivas nas decisotildees das empresas

Na Inglaterra aleacutem de formas participativas de gestatildeo haacute a presenccedila de um movimento

equivalente agrave Economia Solidaacuteria denominado Participatory Economy (Parecon) Os

52

componentes institucionais e centrais de organizaccedilatildeo do Parecon descritos por Michael

Albert ( 2003) satildeo

Posse coletiva dos meios de produccedilatildeo Conselhos de trabalhadores e de consumidores como principais corpos de tomada de

decisatildeo Trabalhadores tecircm um meacutedia diaacuteria de trabalho em complexos equilibrados Remuneraccedilatildeo para o esforccedilo e sacrifiacutecio Participaccedilatildeo planejada e autogestatildeo econocircmica (MICHAELS 2003 p84 apud

FOTOPOULOS 2004 p3)

Assim como a ES no Brasil a Parecon representa uma visatildeo alternativa de organizaccedilatildeo

econocircmica e poliacutetica da sociedade baseado na autogestatildeo A Parecon segundo Wetzel

(2006 p 3) seraacute a base de construccedilatildeo de uma sociedade em que os povos podem controlar

suas vidas e as induacutestrias onde trabalham Para ele a autogestatildeo deve se espalhar para

todas as organizaccedilotildees de trabalhadores e estes exerceram o controle direto das

organizaccedilotildees da produccedilatildeo social e da sociedade Os defensores da Parecon advogam a tese

de uma outra organizaccedilatildeo poliacutetica diferente do Estado uma vez que o consideram como

um patrimocircnio da elite Nesta visatildeo sua estrutura hieraacuterquica separa-o do controle eficaz

pela massa dos povos

27 Gargalos e criacuteticas agrave Economia Solidaacuteria e Autogestatildeo

Em busca da ampliaccedilatildeo da compreensatildeo da ES e autogestatildeo a seguir satildeo apresentados os

diversos gargalos e criacuteticas imputadas a esse segmento Primeiramente seratildeo abordados os

gargalos ou entraves da ES

O Ministeacuterio do Trabalho e Emprego atraveacutes do trabalho de mapeamento dos

empreendimentos solidaacuterios levantou uma seacuterie de dificuldades enfrentadas pelos

Empreendimentos de Economia Solidaacuteria (EES) Conforme MTE (2006 p46)

[] constata-se que 61 dos EES afirmaram ter dificuldades na comercializaccedilatildeo 49 para acesso

agrave creacutedito e 27 natildeo tiveram acesso a acompanhamento apoio ou assistecircncia teacutecnica A regiatildeo

norte estaacute acima da meacutedia nacional em todos os itens (68 comercializaccedilatildeo 54 creacutedito e 34

apoio ou assistecircncia) A regiatildeo nordeste destaca-se pela dificuldade de creacutedito (58 dos EES) e a

regiatildeo centro-oeste pelo natildeo acesso a apoio ou assistecircncia teacutecnica ( 35)

53

O graacutefico 1 ilustra os desafios enfrentados pelos Empreendimentos de ES

Graacutefico 1- Dificuldades dos EES Brasil e regiotildees

Fonte site wwwmtegovbrEmpregadorEconomiaSolidariaConteudoATLAS_PARTE_4pdf

Portanto haacute um longo caminho a percorrer em direccedilatildeo agrave superaccedilatildeo desses gargalos

Muitas soluccedilotildees podem ser apontadas no que diz respeito agrave dificuldade de creacutedito mas a

principal perpassa pela implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de financiamento agrave ES o que

jaacute vem sendo realizado pelo atual governo federal e alguns governos estaduais Entretanto

ainda eacute necessaacuterio ampliar a escala de atendimentos a esses empreendimentos No que diz

respeito agraves dificuldades de comercializaccedilatildeo e de acompanhamento aleacutem de accedilotildees do

governo o problema faz um convite agraves aacutereas de conhecimento voltadas a negoacutecios

principalmente a contabilidade no sentido de seu envolvimento com esse segmento

econocircmico e social

Passando nesse momento agraves criacuteticas direcionadas agrave ES e autogestatildeo eacute importante

destacar o posicionamento dos autores Assman e Mo Sung (2003) os quais direcionam

diversos questionamentos e ponderaccedilotildees agrave ES Uma delas diz respeito agrave operacionalidade

da ES A partir de resgates de trechos de obras de autores expressivos da Economia

Solidaacuteria destacam pontos de contradiccedilatildeo e incongruecircncia de seus princiacutepios e propostas

Eis os trechos

A ideacuteia baacutesica eacute mediante a solidariedade entre produtores autocircnomos de todos os tamanhos e

tipos assegurar a cada um mercado para seus produtos e uma variedade de economias externas de financiamento e ainda a orientaccedilatildeo teacutecnica legal contaacutebil etc

54

Dadas as dificuldades a solidariedade eacute a soluccedilatildeo racional um conjunto de produtores

autocircnomos se organiza para trocar seus produtos entre si o que daacute a todos e a cada um uma

maneira de escoar a produccedilatildeo sem ser de imediato aniquilado pela superioridade dos que jaacute

estatildeo estabelecidos (SINGER 2002 p99-100 apud ASSMAN e MO SUNG 2003 p 143)

Na primeira questatildeo levantada apontam para os limites de operacionalizaccedilatildeo da proposta

Baseiam-se na visatildeo de que a solidariedade da ES natildeo eacute realidade em todas as empresas e

grupos da sociedade mas entre os produtores autocircnomos pequenas e microempresas que

natildeo conseguiriam sobreviver agrave concorrecircncia das meacutedias e grandes empresas sem essa

relaccedilatildeo de solidariedade Portanto eacute uma proposta de viabilizaccedilatildeo de um tipo de economia

convivendo com a economia capitalista de mercado (ASSMAN e MO SUNG 2003

p143)

Assim a realidade da solidariedade soacute existiria no interior da ES e entre suas empresas

que adotassem a autogestatildeo e natildeo em toda sociedade ou seja a solidariedade natildeo

substituiria a relaccedilatildeo de concorrecircncia nas demais empresas Dessa forma os autores

concluem que a Economia Solidaacuteria natildeo propotildee o fim do mercado caracterizado pela

concorrecircncia mas sim a criaccedilatildeo e a manutenccedilatildeo de um mercado para os empreendimentos

autogestionaacuterios E a manutenccedilatildeo de relaccedilotildees de mercado significa tambeacutem a continuidade

da concorrecircncia entre os agentes econocircmicos

Nessa perspectiva segundo os autores haveria uma frustraccedilatildeo daqueles que defendem

uma sociedade harmoniosa justa e solidaacuteria ou seja aqueles que natildeo percebem ou natildeo

querem aceitar a tensatildeo inevitaacutevel entre os desejosutopias e as necessaacuterias

institucionalizaccedilotildees na sociedade natildeo aceitam essa visatildeo de Economia Solidaacuteria

(ASSMAN e MO SUNG 2003 p143)

Um outro ponto levantado pelos autores emerge do trecho de uma obra de Paul Singer7 no

qual ele afirma que a proposta de ES eacute menos inconsistente do que a economia capitalista

porque coloca aberta e diretamente a solidariedade como princiacutepio organizador da

economia social em lugar da competiccedilatildeo embora natildeo visualize o fim da concorrecircncia no

campo da economia e tambeacutem nas relaccedilotildees sociais

7 SINGER Paul Desafio agrave solidariedade In GUIMARAES Gonccedilalves p63-79

55

A questatildeo colocada aqui eacute a seguinte Eacute possiacutevel organizar uma sociedade ou uma

economia social soacute com um princiacutepio Para essa questatildeo perguntam se natildeo seria

aconselhaacutevel pensar em mais de um princiacutepio organizador da economia e da sociedade

Sentenciam que os neoliberalistas pretendem fazer da competiccedilatildeo o uacutenico princiacutepio

organizador da sociedade Por outro lado os marxistas tentaram fazer do planejamento

centralizado o uacutenico princiacutepio e hoje surgem muitos grupos que querem fazer do

conceito de solidariedade o uacutenico princiacutepio organizador(ASSMAN e MO SUNG 2003

p152) Princiacutepios de organizaccedilatildeo social como argumentam deveriam servir para

articular de maneira eficiente e sustentaacutevel a garantia da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de bens

e serviccedilos para a ampla maioria e a totalidade dos membros da sociedade

Em relaccedilatildeo agrave possibilidade de expandir a ES a niacutevel global Assman e Mo Sung fazem um

outro questionamento Se a economia solidaacuteria conseguir atingir dimensotildees tais que possa

competir com o grande capital continuaraacute mantendo as caracteriacutesticas de solidariedade que

eacute possiacutevel quando se estaacute em uma escala pequena

Mesmo considerando que natildeo haacute elementos para se dar uma resposta definitiva uma vez

que a situaccedilatildeo nunca ocorreu antecipam-se afirmando que a economia solidaacuteria em

grande escala natildeo manteraacute as mesmas caracteriacutesticas Isso porque quando um sistema

ou uma rede cresce muito em escala surgem novas propriedades no sistema que

modificam as suas caracteriacutesticas de funcionamento (ASSMAN e MO SUNG 2003

p145)

O Parecon tambeacutem apresenta vaacuterios pontos nevraacutelgicos na visatildeo de seus criacuteticos Assim

como na ES a criacutetica tambeacutem reside na impossibilidade desta se apresentar enquanto

modelo de organizaccedilatildeo social Segundo Fotopoulos (2004 p01) Parecon eacute

simplesmente um modelo econocircmico para uma economia alternativa e como tal natildeo

caracteriza instituiccedilotildees sociais poliacuteticas culturais mais amplas Dessa forma considera

Parecon incompatiacutevel com uma organizaccedilatildeo de estado tendo em vista que

Dada a natureza de Parecon como puramente um modelo econocircmico natildeo estaacute surpreendendo

que os atores principais nela satildeo determinados pelo campo econocircmico Assim o conceito do

cidadatildeo falta completamente no modelo do Parecon e eacute substituiacutedo preferivelmente por trabalhadores e por consumidores (FOTOPAULO 2004 p02)

56

Por fim sentencia que o modelo Parecon natildeo tem a capacidade de fixar as preacute-condiccedilotildees

institucionais requeridas para a criaccedilatildeo de um novo modelo de organizaccedilatildeo social a qual

integraria a sociedade com os aspectos econocircmicos poliacuteticos e naturais Natildeo pode fixar a

integraccedilatildeo da sociedade com a economia porque natildeo pode interferir na liberdade da

escolha dos cidadatildeos somente como produtores e consumidores tendo em vista que estes

iratildeo preocupar-se exclusivamente com o planejamento e alocaccedilatildeo dos recursos escassos

A integraccedilatildeo com a poliacutetica natildeo se daria porque a unidade baacutesica de exame e decisatildeo na

Parecon natildeo eacute o cidadatildeo mas os trabalhadores e conselho de consumidores Dessa forma

os cidadatildeos estariam alijados do processo decisoacuterio Por uacuteltimo o Parecon natildeo pode

integrar com a natureza porque objetiva o crescimento econocircmico dentro do sistema de

mercado e natildeo trata os problemas ecoloacutegicos como um problema externo maior que requer

uma mudanccedila radical no modo de vida e nos valores

Sem negligenciar esses questionamentos agrave Economia Solidaacuteria e reconhecendo que a

autogestatildeo natildeo eacute o uacutenico caminho para a construccedilatildeo de um novo modelo de organizaccedilatildeo

social e de Estado este trabalho os concebem como importantes instrumentos da

democracia Corroborando com Pateman a autogestatildeo praticada nos empreendimentos

solidaacuterios eacute um exerciacutecio de cidadania A autogestatildeo propicia o desenvolvimento da

eficaacutecia poliacutetica e esta capacita para a participaccedilatildeo poliacutetica em niacuteveis cada vez mais

amplos da sociedade Dessa forma a autogestatildeo nos empreendimentos tem a

potencialidade de capacitar os atores sociais para intervir no Estado e reinventar uma nova

governabilidade baseada na democracia e controle social

57

3 CONTABILIDADE E AUTOGESTAtildeO

As categorias teoacutericas apresentadas ajudaratildeo a responder agraves questotildees de pesquisa trazendo

para a reflexatildeo as implicaccedilotildees que tais conceitos encerram seja para os empreendimentos

solidaacuterios como para repensar a contabilidade de modo que ela possa melhor servir aos

princiacutepios de fortalecimento da cidadania da democracia e de uma sociedade mais justa para

a qual a contabilidade natildeo pode se omitir sob o pretexto da neutralidade teacutecnica

Dessa forma concebe-se a contabilidade imbricada pelo conceito de Participaccedilatildeo em que a

Democracia eacute o fim e se constitui como processo educativo em seu sentido mais amplo E

tendo como pano de fundo a democracia percebe-se a Economia Solidaacuteria como um espaccedilo

puacuteblico de vivecircncia da solidariedade e no qual se requisita o desempendo do papel essencial

da contabilidade

Nesse contexto cabe indagar e compreender o envolvimento da contabilidade atraveacutes de seus

instrumentos e profissionais Com o pressuposto da essencialidade do envolvimento e de

diaacutelogo da aacuterea contaacutebil com esses empreendimentos autogestionaacuterios resgatam-se

novamente as questotildees-chaves desta pesquisa as quais satildeo

1 Como a informaccedilatildeo contaacutebil eacute empregada nos empreendimentos autogestionaacuterios

2 Quais os desafios e demandas suscitados em cada um dos aspectos da dimensatildeo

contaacutebil nos processos de autogestatildeo

Agrave luz desses questionamentos nesse capiacutetulo far-se-aacute uma reflexatildeo sobre o papel da

contabilidade e levantar-se-atildeo trabalhos anteriores que abordaram essa relaccedilatildeo contabilidade

autogestatildeo

58

31 Funccedilatildeo social da contabilidade

Para ajudar a responder agraves perguntas que orientam esta pesquisa buscar-se-aacute expor a

importacircncia da contabilidade como instrumento de gestatildeo (informaccedilatildeo planejamento e

tomada de decisatildeo) no qual se apoacuteiam todos os empreendimentos de caraacuteter econocircmico

Primeiramente eacute necessaacuterio destacar que nenhuma entidade juriacutedica seja puacuteblica ou

privada consegue prescindir da informaccedilatildeo contaacutebil Na aacuterea puacuteblica ela eacute instrumento

indispensaacutevel de democracia e do planejamento sem a qual a verificaccedilatildeo da execuccedilatildeo do

orccedilamento puacuteblico e o controle dos gastos puacuteblicos fica impossibilitada

Vaz (2002 p271) ressaltando o papel da informaccedilatildeo na administraccedilatildeo puacuteblica diz que

[] a informaccedilatildeo eacute um direito de cidadania Afirma ainda que uma reformulaccedilatildeo da

gestatildeo puacuteblica municipal necessariamente passa por um redirecionamento do

funcionamento dos oacutergatildeos puacuteblicos municipais para o fornecimento de informaccedilotildees agrave

sociedade civil abrindo as caixas pretas da informaccedilatildeo como o orccedilamento puacuteblico e os

grandes projetos de intervenccedilatildeo para o entendimento por parte da sociedade [] (

VAZ2002 p 271)

Na aacuterea privada os uacuteltimos escacircndalos financeiros envolvendo grandes empresas como a

Wordcom e Enron ambas incorrendo na manipulaccedilatildeo das informaccedilotildees contaacutebeis

revelaram o poder desse instrumento que se utilizado sem princiacutepios ou controle social

pode conferir ganhos a alguns em detrimento do prejuiacutezo de muitos

Portanto cada vez mais se evidencia seu inexoraacutevel papel social seu viacutenculo intriacutenseco

com a democracia e a cidadania e consequumlentemente sua importacircncia seja no acircmbito

puacuteblico ou privado A contabilidade natildeo tem finalidade em si mesma tem destinataacuterios

certos satildeo usuaacuterios diversos que a utilizam como instrumento ou caminho para atingir

seus objetivos sejam eles econocircmicos filantroacutepicos ou sociais Conforme o FASB8 em

relato de Hendriksen e Van Breda (1999 p92) a finalidade da informaccedilatildeo contaacutebil eacute a

seguinte

8 Financial Accounting Standards Board

59

A divulgaccedilatildeo financeira deve fornecer informaccedilotildees que sejam uacuteteis para investidores e

credores atuais e em potencial bem como para outros usuaacuterios que visem a tomada racional

de decisotildees de investimento creacutedito e outras semelhantes As informaccedilotildees devem ser

compreensiacuteveis aos que possuem uma noccedilatildeo razoaacutevel dos negoacutecio e das atividades

econocircmicas e estejam dispostos a estudar as informaccedilotildees com diligecircncia razoaacutevel A divulgaccedilatildeo financeira deve proporcionar informaccedilatildeo que ajude investidores credores e

outros usuaacuterios presentes e em potencial a avaliar os volumes a distribuiccedilatildeo no tempo e a

incerteza de possiacuteveis fluxos de caixa em termos de dividendos ou juros e os resultados da

venda do resgate e do vencimento de tiacutetulos ou empreacutestimos Como os fluxos de caixa de

investidores e credores estatildeo relacionados aos fluxos de caixa da empresa a divulgaccedilatildeo

financeira deve proporcionar informaccedilotildees que ajudem investidores credores e outros a avaliar

os volumes a distribuiccedilatildeo no tempo e a incerteza das possiacuteveis entradas liacutequidas futuras de caixa da empresa A divulgaccedilatildeo financeira deve fornecer informaccedilotildees sobre os recursos econocircmicos de uma

empresa os direitos sobre esses recursos ( obrigaccedilotildees da empresa em termos de transferecircncia

de recursos a outras entidades e a participaccedilatildeo dos proprietaacuterios) bem como os efeitos de

transaccedilotildees eventos e circunstatildencia que alterem seus recursos e os direitos sobre tais recursos

Salienta-se nesse texto a determinaccedilatildeo de que a informaccedilatildeo financeira proporcionada

pela contabilidade seja compreensiacutevel aos usuaacuterios e uacutetil agrave tomada de decisotildees econocircmica

e financeira da atividade Entretanto discutir a utilidade da informaccedilatildeo implica tambeacutem

compreender o tipo de informaccedilatildeo necessaacuteria a cada usuaacuterio fato que remete agrave reflexatildeo

sobre os padrotildees de informaccedilotildees emitidos pela contabilidade aos vaacuterios tipos de usuaacuterios

Hoje os modelos de informaccedilotildees (demonstraccedilotildees financeiras) estatildeo estruturados de forma

a atender grupos mais ou menos homogecircneos de usuaacuterios isto eacute haacute uma padronizaccedilatildeo de

informaccedilotildees usadas por todos os usuaacuterios Conforme argumenta o FASB e AICPA9 sobre

essa estrutura [] os diversos usuaacuterios possuem o bastante em comum para que um

conjunto de demonstraccedilotildees de finalidades geneacutericas seja suficiente(FASB1999 p94)

Entretanto reconhecem a consistecircncia dos argumentos em favor de relatoacuterios de

finalidades especiacuteficas Segundo anaacutelise dos autores cada um dos usuaacuterios da

contabilidade poderia ter objetivos diferentes em termos de informaccedilotildees financeiras pois

haacute divergecircncias entre os grupos e dentro de cada grupo Por exemplo sabe-se que os

administradores de empresas menores juntamente com seus auditores sentem que o

processo de fixaccedilatildeo de padrotildees estaacute direcionado aos objetivos das empresas de maior

porte O mesmo ocorre com muitos administradores de organizaccedilotildees sem fins lucrativos

os quais acham que o processo de fixaccedilatildeo de padrotildees eacute direcionado aos objetivos de

organizaccedilotildees com fins lucrativos Dessa forma analisam que

9 American Institute of Certifierd Public Accoutants

60

Esta variedade de pontos de vista aponta para a conveniecircncia da apresentaccedilatildeo de relatoacuterios

diferentes para usuaacuterios distintos ou para um volume consideraacutevel de informaccedilatildeo grande

parte do qual poderia ser irrelevante para qualquer usuaacuterio especiacutefico ( FASB 1999 p 94)

Entretanto para que haja a possibilidade de informaccedilotildees especiacuteficas para cada usuaacuterio

primeiramente eacute preciso selecionar a informaccedilatildeo relevante para constar nos modelos de

prediccedilatildeo e tomada de decisatildeo dos usuaacuterios Talvez seja possiacutevel determinar que modelos

de tomada de decisatildeo estatildeo sendo utilizados descobrindo como os usuaacuterios efetivamente

tomam decisotildees e de que informaccedilotildees necessitam (FASB 1999 p94)

Ainda dentro dessa discussatildeo sobre as necessidades de informaccedilatildeo por parte do usuaacuterio

os autores enfatizam a relevacircncia de se considerarem as caracteriacutesticas ou propriedades

que devem ter as informaccedilotildees para que se tornem uacuteteis para a tomada de decisotildees

Primeiramente chamam a atenccedilatildeo para a distinccedilatildeo entre qualidades de informaccedilatildeo

especiacuteficas para usuaacuterios e especiacuteficas para decisotildees

Na primeira classe estatildeo relacionadas as qualidades concernentes ao usuaacuterio (tipo de

usuaacuterio) Por exemplo uma determinada informaccedilatildeo para alguns usuaacuterios pode ser

irrelevante por jaacute terem domiacutenio dela enquanto que para outros eacute relevantes Dessa forma

deve se levar em conta a natureza do usuaacuterio esse eacute um fator determinante para a decisatildeo

a respeito da informaccedilatildeo a ser divulgada

Uma outra caracteriacutestica destacada eacute a oportunidade da informaccedilatildeo que independe do

usuaacuterio pois todos desejam informaccedilotildees oportunas portanto eacute uma propriedade

especiacutefica para decisotildees Realizadas essas distinccedilotildees a seguir satildeo relacionadas as

caracteriacutesticas qualitativas das informaccedilotildees propostas pelo AICPA relatadas pelos autores

jaacute mencionados

a) Benefiacutecios e custos

A informaccedilatildeo deve proporcionar benefiacutecios superiores a seu custo A divulgaccedilatildeo da

informaccedilatildeo financeira deve ser uacutetil para a tomada de decisotildees A utilidade eacute funccedilatildeo de

duas caracteriacutesticas a relevacircncia e a confiabilidade

a1) Relevacircncia

61

A informaccedilatildeo eacute relevante quando eacute pertinente agrave questatildeo que estaacute sendo analisada A

anaacutelise da pertinecircncia pode ser de trecircs maneiras afetando metas afetando a compreensatildeo

e afetando decisotildees conforme mostra o quadro 4 Para o FASB relevacircncia para decisotildees eacute

definida como a capacidade que a informaccedilatildeo teria de fazer diferenccedila numa decisatildeo

Essa diferenccedila mencionada pelo FASB seria conseguida ajudando os usuaacuterios a fazer

prediccedilotildees sobre o resultado de eventos passados presentes e futuros ou confirmar ou

corrigir expectativas anteriores ou seja quando a informaccedilatildeo tem valor preditivo e valor

como feedeback

Quadro 4- Relevacircncia da Informaccedilatildeo

Relevacircncia para metas

Alcanccedilada quando a informaccedilatildeo permite que as

metas dos usuaacuterios sejam atingidas Determinaccedilatildeo difiacutecil quando as metas satildeo subjetivas

Relevacircncia semacircntica

Alcanccedilada quando o destinataacuterio da informaccedilatildeo

compreende o significado pretendido da informaccedilatildeo

divulgada Um preacute-requisito essencial mas natildeo um objetivo

primordial

Relevacircncia para tomada de decisotildees Alcanccedilada quando a informaccedilatildeo facilita a tomada de

decisotildees pelos usuaacuterios Este eacute o objetivo primordial para o FASB

Fonte Hendriksen e Van Breda ( 1999 p97)

a2) Confiabilidade

A qualidade da informaccedilatildeo que garante que ela seja razoavelmente livre de vieacutes e

represente fielmente o que visa representar Segundo o FASB a confiabilidade eacute funccedilatildeo

de a) fidelidade de representaccedilatildeo b) verificabilidade c) neutralidade

Segundo a fidelidade de representaccedilatildeo as informaccedilotildees devem representar fielmente os

fenocircmenos que pretende representar Jaacute a verificabilidade pressupotildee a ausecircncia de

avaliaccedilatildeo subjetiva e vieacutes pessoal O FASB definiu a verificabilidade como a capacidade

de assegurar por meio do consenso entre mensuradores que a informaccedilatildeo representa o

que se destina a representar ou que o meacutetodo de mensuraccedilatildeo foi utilizado sem erro ou

vieacutes Por uacuteltimo a neutralidade quer dizer que natildeo haacute vieacutes na direccedilatildeo de um resultado

predeterminado O objetivo eacute natildeo permitir que os padrotildees sejam utilizados para alcanccedilar

alguma meta econocircmica ou poliacutetica especiacutefica

b) Comparabilidade

62

A utilidade da informaccedilatildeo eacute significativamente ampliada quando eacute apresentada de maneira

que permita comparar uma entidade com outra ou a mesma entidade em periacuteodos

seguintes Dessa forma a comparabilidade pode ser definida como a qualidade da

informaccedilatildeo que permite aos usuaacuterios identificar semelhanccedilas e diferenccedilas entre dois

conjuntos de fenocircmenos econocircmicos A comparabilidade depende de dois aspectos a

uniformidade e a consistecircncia

b1) Uniformidade

Subentende que eventos iguais satildeo representados de maneira idecircntica A uniformidade

pode ser definida como a qualidade das informaccedilotildees possuir caracteriacutesticas

suficientemente parecidas para tornar as comparaccedilotildees apropriadas

b2)Consistecircncia

Tecircm sido referidos como o uso dos mesmos procedimentos contaacutebeis por uma dada

empresa ou entidade contaacutebil de um periacuteodo a outro e o uso de conceitos e procedimentos

de mensuraccedilotildees semelhantes para itens afins nas demonstraccedilotildees de uma empresa num

dado periacuteodo

c) Materialidade

Eacute uma caracteriacutestica geral e assemelha-se ao conceito de relevacircncia A relevacircncia implica

na apresentaccedilatildeo de toda informaccedilatildeo que possa ajudar na prediccedilatildeo dos tipos de informaccedilatildeo

exigidos pelos processos de tomada de decisatildeo ou que possam ajudar diretamente na

tomada de decisotildees O conceito de materialidade tambeacutem pode estar associado agrave

significacircncia de mudanccedilas de valor correccedilotildees de erros em relatoacuterios anteriores etc Essas

mudanccedilas e correccedilotildees deveratildeo ser consideradas como possuidoras de materialidade se

forem grandes o suficiente ou importantes para influenciar as decisotildees dos usuaacuterios de

relatoacuterios financeiros

Ainda sobre a validade e utilidade da informaccedilatildeo contaacutebil para a tomada de decisotildees

gerenciais Dias (1991) sentencia que a contabilidade acrescenta poucas informaccedilotildees

importantes para o gerenciamento das organizaccedilotildees Segundo ele isso se deve ao fato de

que a contabilidade tem orientado esforccedilos para o desenvolvimento de teacutecnicas expressas

pelas convenccedilotildees e princiacutepios de contabilidade que visavam restringir a possibilidade de

manipulaccedilatildeo dos dados Entretanto esse comportamento produz relatoacuterios que natildeo

63

exprimem a realidade econocircmica da empresa prejudicando os usuaacuterios internos e externos

agrave empresa

Essa situaccedilatildeo se agrava com a presenccedila de outro fator a legislaccedilatildeo fiscal Interessada em

produzir resultados tributaacuteveis impotildee outros procedimentos prejudiciais agrave utilizaccedilatildeo dos

sistemas de informaccedilotildees contaacutebeis para fins gerenciais

Como alternativa ao problema colocado o autor diz que

Os gestores poderiam se sentir plenamente satisfeitos e envolvidos com um sistema que aleacutem

de lhes fornecer as informaccedilotildees dinacircmicas necessaacuterias para suas atuaccedilotildees no cotidiano lhes proporcionasse condiccedilotildees de conhecer melhor a empresa e sua posiccedilatildeo diante dos objetivos

estabelecidos Poderiam conhecer melhores as proacuteprias deficiecircncias e potencialidades de suas

aacutereas permitindo-lhes decisotildees mais precisas com consequumlente melhoria de eficiecircncia e

melhor grau de atingimento de seus objetivos (DIAS 1991 p61)

Salienta ainda que numa administraccedilatildeo participativa em que os gestores interferem em

todo o processo de gestatildeo que vai desde o planejamento estrateacutegico ateacute a execuccedilatildeo o

sistema deve oferecer-lhe informaccedilotildees correspondentes a todo esse ciclo as quais

abrangem as referentes ao ambiente econocircmico passando pelas previsotildees orccedilamentaacuterias

pelo sistema de programaccedilatildeo e sistema de apoio agrave gestatildeo de execuccedilatildeo ateacute a apuraccedilatildeo de

resultados e avaliaccedilatildeo de desempenhos O sistema de informaccedilotildees deve estar voltado

para o futuro indicando tendecircncias e permitindo comparaccedilotildees com o passado Deve

possibilitar a avaliaccedilatildeo de evoluccedilatildeo da organizaccedilatildeo e comparaccedilotildees com desempenhos

desejados (DIAS1991 p79)

O sistema de informaccedilotildees deve conter portanto uma estrutura de indicadores que

mantenham os gestores informados a respeito das condiccedilotildees de eficaacutecia da organizaccedilatildeo de

modo a permitir decisotildees que alcancem os objetivos propostos Poderiam ser adotados os

seguintes indicadores a) de curto prazo produccedilatildeo eficiecircncia satisfaccedilatildeo b) meacutedio prazo

adaptabilidade desenvolvimento c) medidas de longo prazo referem-se agrave capacidade de

sobreviver

64

Diante das necessidades de informaccedilotildees expostas o autor percebe o sistema de

informaccedilatildeo para a gestatildeo econocircmica (GECON10) administrado por uma controladoria11

como alternativas agraves demandas gerenciais Segundo o autor esse sistema funciona de

maneira integrada com o processo de gestatildeo e tem por objetivo assegurar informaccedilotildees

relevantes para a tomada de decisotildees

Esse sistema de informaccedilotildees atende agraves necessidades de cada etapa do processo de gestatildeo

por meio de subsistemas especiacuteficos que possam induzir os gestores a decisotildees corretas A

seguir a relaccedilatildeo das etapas com seus respectivos subsistemas de informaccedilotildees

a) Planejamento estrateacutegico

b) Planejamento operacional Sistema de orccedilamentos

c) Programaccedilatildeo Sistema de programaccedilatildeo

d) Execuccedilatildeosistema de simulaccedilatildeo e

e) Controle

Natildeo eacute foco deste trabalho detalhar cada etapa ou subsistema importa perceber que cada

uma dessas etapas do processo de gestatildeo deve ser atendida pelo sistema de informaccedilatildeo

gerencial com informaccedilotildees oportunas corretas confiaacuteveis com a periodicidade necessaacuteria

para viabilizar a tomada eficaz de decisotildees por parte dos gestores da organizaccedilatildeo (

CATELLI et al 2001 p 146)

Conforme os autores o sistema de informaccedilatildeo para a gestatildeo econocircmica contempla entre

outros os seguintes aspectos

a) Eacute estruturado sob conceito de banco de dados Plano de contas plano de aacutereas de

responsabilidade Centro de Resultados Contabilidade Gerencial e Contabilidade

Societaacuteria

10 O modelo GECON estrutura-se com base em um entendimento da missatildeo da empresa do conjunto de crenccedilas

e valores da organizaccedilatildeo da estrutura organizacional da realidade operacional e das caracteriacutesticas dos gestores

empresariais[] o modelo orienta uma sequumlecircncia de etapas do processo de gestatildeo empresarial e materializa os

diversos impactos dos subsistemas empresariais nos sistema de informaccedilotildees gerenciais com soluccedilotildees em

processamento de dados ( CATELLI 2001 p31) 11 Oacutergatildeo administrativo da empresa responsaacutevel pela disseminaccedilatildeo de conhecimento modelagem e implantaccedilatildeo

de sistemas de informaccedilotildees ( ALMEIDA et al2001 p343)

65

b) As informaccedilotildees e relatoacuterios atendem os conceitos e o modelo de decisatildeo dos

usuaacuterios Modelo de Informaccedilatildeo com base no modelo de decisatildeo e mensuraccedilatildeo

c) A mensuraccedilatildeo das transaccedilotildees eacute efetuada com a utilizaccedilatildeo de conceitos econocircmicos

valor de mercado reconhecimento da receita pela produccedilatildeo dos bens e serviccedilos

preccedilo de transferecircncia custo de oportunidade equivalecircncia de capitais

d) Aos recursos e produtosserviccedilos das atividades satildeo atribuiacutedos respectivamente

custos e receitas com base em valor de mercado Preccedilo de transferecircncia Preccedilo e

Custos correntes

Ressaltam ainda que

O sistema de informaccedilatildeo para a gestatildeo econocircmica eacute o conjunto de subsistemas de preacute-orccedilamentaccedilatildeo orccedilamentos custos e contabilidade que reflete as decisotildees tomadas por ocasiatildeo do

planejamento em termos monetaacuterios e posteriormente confronta os resultados reais com os

planejados possibilitando entatildeo as accedilotildees de controle ( CATELLI et al p148)

A partir das consideraccedilotildees sobre esse sistema de informaccedilotildees conclui-se que nele haacute a

interaccedilatildeo tatildeo almejada entre a contabilidade tradicional (financeira) e as demandas

informacionais de gestatildeo Portanto eacute possiacutevel conceber instrumentos contaacutebeis que

produzam informaccedilotildees adequadas aos diversos usuaacuterios atendendo suas demandas de

gestatildeo

Transpondo a discussatildeo para o campo da autogestatildeo pode-se considerar a partir de todos

os elementos levantados no capiacutetulo 2 que a Economia Solidaacuteria consiste em um usuaacuterio

de natureza diferenciada dos demais tendo em vista seu duplo aspecto econocircmico e

social para a qual seria conveniente e necessaacuterio questionar quais satildeo suas demandas ou

que tipos de informaccedilotildees seriam uacuteteis agrave gestatildeo com vistas agrave consecuccedilatildeo e

sustentabilidade econocircmica do empreendimento Com base nesse diagnoacutestico poder-se-ia

construir modelos informativos especiacuteficos e apropriados agraves demandas desses novos

usuaacuterios

Em relaccedilatildeo agrave qualidade ou caracteriacutesticas que as informaccedilotildees contaacutebeis devem possuir

para que contribuam na tomada de decisotildees pode-se observar que todas as caracteriacutesticas

apontadas devem ser levadas em conta na perspectiva de construir os referidos relatoacuterios

66

No que diz respeito agrave qualidade das informaccedilotildees conforme o usuaacuterio reflete-se que esses

modelos de informaccedilotildees a serem construiacutedos devem considerar a realidade social dos

trabalhadores dos empreendimentos autogestionaacuterios pois eles tecircm aspectos

socioeconocircmicos diferenciados dos administradores convencionais principalmente quanto

agrave escolaridade Normalmente natildeo possuem alto grau de conhecimento formal nem

tampouco conhecimento sobre a contabilidade e gestatildeo Dessa forma a informaccedilatildeo

contaacutebil deve ser traduzida atraveacutes de uma linguagem apropriada e acessiacutevel

Em relaccedilatildeo ao modelo de gestatildeo analisado (GECON) percebe-se que este talvez seja um

referencial para a construccedilatildeo de sistemas de informaccedilotildees que se adequumlem agraves demandas

da autogestatildeo Considerando que a autogestatildeo implica em participaccedilatildeo de todos os

trabalhadores no processo de gestatildeo haacute que se pensar em um sistema de informaccedilatildeo

equivalente ao GECON que propicie o monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees

administrativas de aacutereas ou divisotildees do empreendimento nas vaacuterias etapas do processo de

gestatildeo a fim de buscar o melhor resultado coletivo e para que as execuccedilotildees reflitam o

planejamento realizado conjuntamente

Continuando a reflexatildeo sobre uma contabilidade apropriada agrave autogestatildeo analisar-se-aacute a

seguir agrave luz de alguns trabalhos as especificidades de informaccedilotildees suscitadas por esse

modelo de gestatildeo

32 Instrumentos contaacutebeis x demandas da autogestatildeo

No Brasil os estudos na aacuterea contaacutebil que abordam a questatildeo da autogestatildeo satildeo recentes

Dentre os trabalhos verificados cabe destacar o estudo desenvolvido por Valdir Michels

(1995) Em sua dissertaccedilatildeo analisa a importacircncia da contabilidade como sistema de

informaccedilotildees no auxiacutelio agrave autogestatildeo

Um dos aspectos relevantes levantados em seu trabalho eacute a anaacutelise do disclosure das

cooperativas (a evidenciaccedilatildeo das informaccedilotildees) Agrave luz de Hendriksen e Moonitzs aponta as

questotildees necessaacuterias agrave definiccedilatildeo do tipo de informaccedilatildeo a ser fornecida ao usuaacuterio a saber

67

a) Para quem a informaccedilatildeo contaacutebil eacute revelada

b) Qual o objetivo da informaccedilatildeo

c) Que quantidade de informaccedilatildeo deveria ser revelada

d) Como a informaccedilatildeo deveria ser revelada

e) Quando a informaccedilatildeo deveria ser revelada

Para essas questotildees realiza as seguintes anaacutelises

1- Para quem - Haacute necessidade de identificar cada tipo de usuaacuterio das informaccedilotildees a fim de

definir o tipo de informaccedilatildeo A linguagem deve ser adaptada ao niacutevel de conhecimento do

usuaacuterio

2- Qual o objetivo - A necessidade para identificar o propoacutesito para que a informaccedilatildeo seja

revelada pode ser vista considerando-se a exigecircncia de que a informaccedilatildeo seja pertinente Uma

informaccedilatildeo pode ser pertinente para determinado objetivo e natildeo ser necessariamente relevante

para outro propoacutesito Por isso eacute importante definir claramente o objetivo da informaccedilatildeo

3- Que Quantidade A quantidade deve ser apropriada pra natildeo haver enganos nem

engodos (MICHAELS 1995 p 42) O ideal seria que os proacuteprios usuaacuterios determinassem

a quantidade adequada de informaccedilotildees Essas tambeacutem devem ser honestas e revelar todas as

informaccedilotildees relevantes

4- Como- A informaccedilatildeo eacute adequada quando expressa de forma tal que os usuaacuterios possam

facilmente interpretaacute-la As informaccedilotildees devem ser organizadas de forma loacutegica concatenada

e coerente

5-Quando Haacute a necessidade de se manter um canal de comunicaccedilatildeo entre a cooperativa e

seus associados propiciando informaccedilotildees sobre os fatos importantes da gestatildeo [] os jornais

mantidos pelas cooperativas poderiam publicar balancetes mensais com informaccedilotildees

importantes (MICHAELS 1995 p 47)

O autor tambeacutem aborda questotildees relativas agraves praacuteticas adotadas pelas cooperativas e que

geram distorccedilotildees nos resultados das demonstraccedilotildees financeiras Argumenta que isso ocorre

68

devido agrave falta de normas para a elaboraccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis o que dificulta a

comparaccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis das diversas cooperativas Cada cooperativa adota

metodologias diferenciadas para mensuraccedilatildeo de eventos econocircmicos proacuteprios deste setor de

atividade

Conclui seu trabalho ressaltando que para que os associados da cooperativa possam exercer a

autogestatildeo de seu empreendimento eacute necessaacuterio que a contabilidade das cooperativas seja

aprimorada nos seguintes aspectos (MICHAELS 1995 p 109)

a) As demonstraccedilotildees contaacutebeis devem ser estruturadas de tal forma que possam ser

interpretadas pelos principais usuaacuterios os associados da cooperativa A contabilidade deve ser

um importante sistema de informaccedilotildees entre a cooperativa e seus associados

b) A utilizaccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis enriquecidas com graacuteficos e tabelas

comparativas deve ter seu uso recomendado

c) A utilizaccedilatildeo de jornais mantidos pelas cooperativas deve ser um veiacuteculo de

informaccedilotildees com divulgaccedilatildeo de balancetes mensais expressos em linguagem ao niacutevel de

conhecimento dos associados

d) As informaccedilotildees contaacutebeis devem ser detalhadas de tal forma que os principais eventos

econocircmicos responsaacuteveis por impactos sobre a situaccedilatildeo econocircmico-financeira tanto positivos

como negativos sejam informados aos associados Faz-se necessaacuterio que seja informado

quais dos eventos econocircmicos foram fruto de decisotildees internas da cooperativa e quais

ocorreram independentemente da gestatildeo interna mas sim por poliacuteticas governamentais

fatores climaacuteticos ou fatos internacionais

e) As praacuteticas contaacutebeis deveriam ser normatizadas ou por oacutergatildeo que tenha poder para tal

ou incluiacutedas nos estatutos da cooperativa Isso permitiria comparaccedilotildees entre as demonstraccedilotildees

referentes a diversos exerciacutecios

f) Os conceitos quanto agrave qualidade das informaccedilotildees proposto por Hendriksen deveriam

ser observados isto eacute as informaccedilotildees deveriam ser adequadas honestas e totais

69

Quanto ao financiamento das atividades observa que as cooperativas necessitam incrementar

o suprimento de recursos financeiros proacuteprios Enfatiza que precisam encontrar a chave para

atingir o equiliacutebrio financeiro a fim de que possa obter rentabilidade positiva e manter a

competitividade E por fim diante dessas necessidades ressalta o papel preponderante da

contabilidade enquanto sistema de informaccedilotildees imprescindiacutevel agraves cooperativas

Em outro estudo Almeida e Dantas (2005) sugerem que os empreendimentos solidaacuterios

constituem um novo grupo de usuaacuterios e levantam algumas possiacuteveis demandas assim

organizadas

1-Novos modelos de Informaccedilotildees que

Propiciem a gestatildeo democraacutetica

Subsidiem a autogestatildeo

Gerem informaccedilotildees mais proacuteximas da realidade dos

empreendimentosempreendedores

Produzam indicadores sociais

Expressem as transaccedilotildees em rede

Tenham uma linguagem adequada ao tipo de empreendimentoempreendedor

2-Um novo perfil de contador

Sensiacutevel aos problemas sociais

Com ampla visatildeo econocircmica

Com capacidade gerencial

Articulador (boas relaccedilotildees humanas)

Educador (ensine a pescar)

3-Uma nova Formaccedilatildeo

Multidisciplinar (psicologia economia etc)

Novas metodologias de Ensino

Introduccedilatildeo de novas disciplinas (liacutenguas cooperativismo educaccedilatildeo popular etc)

Envolvimento em pesquisa e extensatildeo

Destaque-se tambeacutem a anaacutelise dos autores sobre a insuficiecircncia do aparato contaacutebil hoje

disponiacutevel agrave ES sobre o qual fazem a seguinte observaccedilatildeo

70

Se natildeo fossem as peculiaridades proacuteprias dos Empreendimentos de Economia Solidaacuteria e

principalmente de seus empreendedores poder-se-ia dizer que em termos de atendimento contaacutebil

nada mais seria necessaacuterio aleacutem dos recursos jaacute atualmente disponiacuteveis no escopo da

contabilidade das Cooperativas e da contabilidade Societaacuteria ( ALMEIDA e DANTAS 2005 p

08)

No caso das cooperativas lembram que satildeo reguladas pelo NBC T 108 do Conselho

Federal de Contabilidade que reza sobre aspectos de escrituraccedilatildeo contaacutebil e define sobre a

elaboraccedilatildeo dos Relatoacuterios e Demonstraccedilotildees

Jaacute as empresas autogestionaacuterias constituiacutedas em forma de sociedades satildeo orientadas pela

contabilidade societaacuteria nos moldes previstos na Lei das Sociedades Anocircnimas 640476 que

no artigo 177 determina que a escrituraccedilatildeo deve ser feita seguindo-se os preceitos da Lei das

Sociedades por Accedilotildees e os princiacutepios de contabilidade geralmente aceitos e conforme

orientado no Manual de Contabilidade das Sociedades por Accedilotildees ( IgraveUDICIBUS et al 2003

p29) o conjunto de informaccedilotildees que deve ser divulgado por uma sociedade representando

sua prestaccedilatildeo de contas abrange o Relatoacuterio de Administraccedilatildeo as Demonstraccedilotildees Contaacutebeis

e as Notas Explicativas Considerando as seguintes Demonstraccedilotildees Contaacutebeis

Balanccedilo Patrimonial

Demonstraccedilatildeo do Resultado do Exerciacutecio

Demonstraccedilatildeo das Mutaccedilotildees do Patrimocircnio Liacutequido

Demonstraccedilatildeo das Origens e Aplicaccedilotildees de Recursos

Demonstraccedilatildeo dos Fluxos de Caixa

Demonstraccedilatildeo do Valor Adicionado

Entretanto os autores ressaltam que esse aparato contaacutebil natildeo satisfaz plenamente as

necessidades informacionais dos empreendimentos Dessa forma realizam uma investigaccedilatildeo

cujo objetivo foi analisar a possibilidade de criaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo de novos sistemas contaacutebeis

agraves peculiaridades da ES Indicam algumas alternativas baacutesicas em estado bem indefinido

ainda mas que se instrumentalizam para reflexatildeo Ressaltam que se profundamente

estudados e testados (ALMEIDA e DANTAS 2005 p10) poderatildeo ser aplicados no

segmento da ES os seguintes modelos

71

a)Contabilidade Orccedilamentaacuteria

Trata-se de um estudo sobre a aplicaccedilatildeo da Contabilidade Orccedilamentaacuteria no setor privado

realizado pelo docente da FEAUSP Valmor Slomski Embora ainda em estaacutegio embrionaacuterio

a pesquisa aponta para a possibilidade de utilizaccedilatildeo desse procedimento pela ES Conforme

Slomski (2003) a contabilidade baseada no sistema orccedilamentaacuterio evidencia as origens dos

recursos e suas aplicaccedilotildees demonstra os creacuteditos orccedilamentaacuterios vigentes a despesa

orccedilamentaacuteria empenhada e a despesa orccedilamentaacuteria realizada agrave conta dos creacuteditos

orccedilamentaacuterios e ainda as dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias disponiacuteveis

Da forma como se estrutura atende a aspectos de escrituraccedilatildeo demonstraccedilatildeo anaacutelise e

informaccedilotildees dos empreendimentos da ES desde a origem do planejamento das atividades do

negoacutecio ateacute a concretizaccedilatildeo ou realizaccedilatildeo dessas atividades Pode ser dada ecircnfase ao estudo

anaacutelise e divulgaccedilatildeo das variaccedilotildees (orccedilado versus realizado) com possibilidade de indicaccedilotildees

de correccedilatildeo de rumos quando necessaacuterio identificando e valorizando a execuccedilatildeo das

atividades por aacuterea de responsabilidade

A exigecircncia da elaboraccedilatildeo e contabilizaccedilatildeo do orccedilamento em entidades da ES aleacutem do

atendimento aos aspectos normais do negoacutecio como planejamento e gerenciamento tambeacutem

teria a natureza educadora uma vez que requer o envolvimento de todos e o

comprometimento das diversas aacutereas com o resultado pois os executores das diversas

atividades do empreendimento ou os envolvidos no processo satildeo tambeacutem seus proprietaacuterios

(investidores)

Ressaltam que a sistemaacutetica de funcionamento contaacutebil deve estar fundamentada a partir de

uma planificaccedilatildeo contaacutebil O plano de contas abaixo elaborado por Slomski eacute fruto do

desenvolvimento da teoria e sistema de contabilidade orccedilamentaacuteria para entidades do Terceiro

Setor cuja estrutura baacutesica eacute a seguinte

72

Quadro 5- Contabilidade orccedilamentaacuteria

GRUPOS TIacuteTULO DO GRUPO

1 ATIVO

2 PASSIVO

3 PATRIMOcircNIO SOCIAL

4 CONTAS DE RESULTADO PATRIMONIAL DO EXERCIacuteCIO

5 RECEITAS ORCcedilAMENTAacuteRIAS

51 RECEITAS ORDINAacuteRIAS

52 RECEITAS POR PROJETOS

6 DESPESAS ORCcedilAMENTAacuteRIAS

61 ADMINISTRACcedilAtildeO SUPERIOR

62 ADMINISTRACcedilAtildeO GERAL

63 ADMINISTRACcedilAtildeO DE INVESTIMENTOS

64 ADMINISTRACcedilAtildeO DE PROJETOS

99 RESERVAS DE CONTINGEcircNCIAS

Fonte Adaptado de Plano de Contas de Slomski (material natildeo publicado)

Os autores observam que a proposta de planificaccedilatildeo tem utilidade para registro do orccedilamento

como tambeacutem para a realizaccedilatildeo das atividades da organizaccedilatildeo e planejamento da autogestatildeo

Atende tambeacutem a aspectos de controle de gerenciamento e igualmente funciona como

indicador de destinaccedilatildeo das apropriaccedilotildees

Concluem que esse pode ser um instrumento passiacutevel de utilizaccedilatildeo pela ES pela

potencialidade de possibilitar a socializaccedilatildeo do controle de todo o processo de gestatildeo

b) Contabilidade por Fundos

Utilizada amplamente nos EUA tem como caracteriacutestica principal a segregaccedilatildeo contaacutebil dos

recursos designados para atender fins especiacuteficos Olak (2000)

define a contabilidade por fundos como um importante instrumento de controle das accedilotildees dos

gestores ante os recursos que lhes satildeo confiados para atender propoacutesitos especiacuteficos segundo

restriccedilotildees impostas internamente ou externamente A contabilidade por fundos divide os

73

recursos da instituiccedilatildeo em trecircs categorias distintas a) fundos irrestritos podem ser utilizados

para qualquer finalidade b) fundos internamente restritos quando sua restriccedilatildeo eacute definida

internamente c) fundos externamente restritos quando as restriccedilotildees satildeo feitas por agentes

externos

O argumento utilizado pelos autores de perspectiva de utilizaccedilatildeo pela ES passa pela

compreensatildeo de que eacute possiacutevel nortear as accedilotildees das diversas aacutereas da entidade atraveacutes da

segregaccedilatildeo dos recursos definidos pelo coletivo Assim torna-se mais faacutecil verificar se tais

definiccedilotildees ou restriccedilotildees foram cumpridas (ALMEIDA e DANTAS 2005 p 12)

Entretanto chamam a atenccedilatildeo para as limitaccedilotildees do modelo uma vez que as restriccedilotildees

impostas podem tornar-se obstaacuteculos agrave gestatildeo tendo em vista a dinacircmica das atividades

empresariais Portanto a aplicaccedilatildeo desse sistema contaacutebil exige estudos e adaptaccedilotildees

c) Apuraccedilatildeo Gerencial do Resultado Econocircmico

A Mensuraccedilatildeo do Resultado Econocircmico12 conforme Slomski (2003) fundamenta-se no

conceito de custo de oportunidade o qual permite mensurar os serviccedilos prestados (receita

econocircmica) o trabalho voluntaacuterio e outras despesas incorridas e assumidas por terceiros

Com base nesse fundamento os autores Almeida e Dantas (2005) argumentam sobre a

possibilidade de utilizaccedilatildeo desse instrumento gerencial pela ES agrave medida que leva em conta

fatores desconsiderados pela contabilidade tradicional tais como o custo de oportunidade

Sabe-se que via de regra os empreendimentos solidaacuterios natildeo prescindem das entidades de

apoio cuja estrutura coloca agrave sua disposiccedilatildeo recursos materiais humanos e financeiros Essas

contribuiccedilotildees satildeo realizadas de maneira voluntaacuteria ateacute que o negoacutecio se sustente Portanto

esses valores natildeo computados como assessoria contaacutebil administrativa financeira

tecnoloacutegica poderiam compor o resultado econocircmico da entidade tal como acontece nas

entidade do terceiro setor

Salientam que transcendendo o proacuteprio empreendimento se poderia pensar em mensuraccedilotildees

ou indicadores sociais que levassem em conta o custo de oportunidade de vaacuterias atividades

realizadas pela empresa substituindo accedilotildees implementadas pelo governo Um exemplo

poderia levantar o custo social da inserccedilatildeo do desempregado no mercado ou seja a

12 Forma de mensuraccedilatildeo inspirada no modelo GECON visto anteriormente

74

quantificaccedilatildeo dos benefiacutecios que o Estado e a sociedade obtecircm com este empreendimento

somente pela oferta de postos de trabalho Assim poderia ser feito com todos os benefiacutecios

alcanccedilados pelo empreendimento tais como a educaccedilatildeo dos trabalhadores o provimento de

plano de sauacutede as accedilotildees de preservaccedilatildeo do meio ambiente os projetos envolvendo a

comunidade local etc Para os autores esse mecanismo gerencial se bem explorado pode ser

um instrumento de expressatildeo da dinacircmica econocircmica e social da economia solidaacuteria

Portanto os estudos analisados apresentam convergecircncia quando reconhecem as demandas

especiacuteficas dos empreendimentos autogestionaacuterios e a insuficiente resposta que a

contabilidade tem dado a estas organizaccedilotildees tambeacutem apontam para a necessidade de

aprofundamento de pesquisas sobre o tema Percebe-se igualmente que haacute uma preocupaccedilatildeo

nos trabalhos com a busca de novos processos e modelos de mensuraccedilatildeo demonstraccedilatildeo e

divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees os quais sejam apropriados agraves reais necessidades desses usuaacuterios

da contabilidade

Desse modo a investigaccedilatildeo empiacuterica pretendeu continuar o caminho trilhado por alguns

pesquisadores da aacuterea contaacutebil Preocupou-se em aprofundar a compreensatildeo da dimensatildeo

contaacutebil nos empreendimentos solidaacuterios como tambeacutem levantar novas demandas ou

confirmar as necessidades jaacute detectadas desses novos usuaacuterios que se formam num contexto

social de desemprego e marginalizaccedilatildeo do mercado de trabalho Como novos usuaacuterios

desafiam a contabilidade a tambeacutem dar sua contribuiccedilatildeo por meio de seu envolvimento na

busca de alternativas de atuaccedilatildeo da contabilidade junto agrave autogestatildeo em seus diversos

aspectos

75

4 ESTUDO DE CASO COOPRAM RESULTADOS E ANAacuteLISES

41 Relato do estudo de caso

No capiacutetulo 1 mais precisamente no toacutepico referente agrave metodologia foi traccedilado o caminho

que seria trilhado pela pesquisa o qual compreendia um conjunto de informaccedilotildees tais como

meacutetodos de abordagem e procedimentos teacutecnicas de coleta de dados e planejamento do caso

Nesse momento passa-se a pormenorizar e relatar as etapas e atividades que constituiacuteram a

investigaccedilatildeo empiacuterica deste trabalho

Para melhor visualizaccedilatildeo do trabalho pode-se dividir as atividades executadas em diversos

momentos

1ordm momento Contatos iniciais

Essa fase foi caracterizada pelos contatos com diretores da entidade de apoio (ANTEAG) e

conversas com a pretendida unidade de estudo a COOPRAM Na ocasiatildeo foi repassada a

ambas entidades (COOPRAM e ANTEAG) uma coacutepia do protocolo de pesquisa do estudo de

caso Esses contatos iniciaram em fevereiro de 2006 e culminaram com a autorizaccedilatildeo para a

realizaccedilatildeo da pesquisa (apecircndice 02)

2ordm momento Preparaccedilatildeo para o trabalho de campo

Apoacutes a liberaccedilatildeo da unidade para realizaccedilatildeo da pesquisa de campo foi a vez da etapa de

confecccedilatildeo dos vaacuterios instrumentos para a coleta de dados cujos principais produtos foram

roteiro de entrevistas para cooperados (apecircndice 03) roteiro de entrevista para contadores (

apecircndice 04) roteiro de entrevista para diretores ( apecircndice 05) roteiro de entrevista para

especialistas (apecircndice 06)

3ordm momento Coleta de dados

Essa etapa processou-se durante os meses de junho e julho momento em que se procedeu

efetivamente agrave coleta de dados Como mencionado no cap I os instrumentos utilizados

foram entrevistas registros em arquivos e observaccedilatildeo direta No caso das entrevistas elas

foram segregadas por grupos de entrevistados ficando assim distribuiacutedas

76

Grupo 1- cooperados 04 entrevistados

Grupo 2- contadores 02 entrevistados

Grupo 3- especialistas 02 entrevistados

Os registros em arquivos e as observaccedilotildees diretas foram possibilitadas pelas inuacutemeras visitas

realizadas a COOPRAM no mesmo periacuteodo

4ordm momento Sistematizaccedilatildeo dos dados

O processo de sistematizaccedilatildeo dos dados ocorreu no final de julho e no mecircs de agosto A partir

de um banco de dados eletrocircnico referente a cada entrevista somadas agraves informaccedilotildees das

outras fontes transformaram-se dados em informaccedilotildees estratificadas por grupos e dimensotildees

5ordm momento Anaacutelises e conclusotildees

Nessa etapa final as informaccedilotildees sistematizadas foram analisadas agrave luz das questotildees

propostas das hipoacuteteses formuladas e da revisatildeo teoacuterica

Concluiacutedo o relato do processo da pesquisa empiacuterica nos proacuteximos itens passa-se a

transcrever os resultados da pesquisa compostos inicialmente por descriccedilotildees da realidade

encontrada e em seguida pela compreensatildeo e anaacutelise de vaacuterios aspectos da relaccedilatildeo

contabilidade e autogestatildeo

42 Histoacuterico e descriccedilatildeo da unidade de estudo

A COOPRAM- Cooperativa de Produccedilatildeo de Artes Metaacutelicas situada hoje no Municiacutepio de

Embu das Artes- SP eacute um empreendimento autogestionaacuterio nascido em 2000 A entidade

surgiu da uniatildeo de profissionais antigos funcionaacuterios de uma empresa metaluacutergica falida que

assumiram sua recuperaccedilatildeo Alguns funcionaacuterios principalmente a forccedila de trabalho mais

intelectual natildeo se submetendo ao risco do negoacutecio procuraram nova colocaccedilatildeo no mercado

Aqueles que acreditaram enfrentaram os desafios da gestatildeo de uma cooperativa Hoje a

COOPRAM conta com aproximadamente 80 funcionaacuterios sendo a maior parte lotada na

aacuterea produtiva Tambeacutem conta com profissionais qualificados na aacuterea de projetos de produto

77

especiais os quais atendem a encomendas especiacuteficas de clientes

No iniacutecio de suas atividades sua sede situava-se no Municiacutepio de OsascoSP mudando-se

recentemente para o Municiacutepio de Embuacute das Artes tambeacutem no Estado de Satildeo Paulo

A cooperativa eacute especializada na conformaccedilatildeo e beneficiamento de accedilo alumiacutenio e inox

cujos produtos principais satildeo quiosques e maacutescaras para salas de auto-atendimento caixas

eletrocircnicos caixas para medidor de gaacutes e hidrocircmetros esquadrias de accedilo galvanizado

luminosos de identificaccedilatildeo visual (totem) caixilhos em geral batentes guarda corpos

corrimatildeo portas acuacutesticas caixas metaacutelicas forros divisoacuterias e revestimentos de accedilo

galvanizado inox e alumiacutenio entre outros produtos em accedilo e alumiacutenio encomendados por

clientes diversos tais como shoppings metrocircs etc A figura 2 ilustra alguns dos produtos da

COOPRAM

78

Figura nordm 02 - Alguns produtos da COOPRAM

Fonte site http wwwcoopramcombr

A cooperativa atende a todo o territoacuterio nacional e possui uma diversificada carteira de

clientes Eis alguns de seus clientes

Associaccedilatildeo Brasileira de Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Uacuteltimos Dias - Satildeo Paulo SP

Construtora OAS Ltda -Satildeo Paulo SP Rossi Residencial - Satildeo PauloSP ECIA Irmatildeos

Arauacutejo Engenharia e Comercio SA - Rio de Janeiro RJ Construtora Bathaus Ltda - Tupatilde

SP Tec Sul Engenharia Ltda - Satildeo Jose dos CamposSP Vexillum Construccedilotildees e

Empreendimentos Ltda - Pq Industrial - Campina Grande do SulPR Carvalho Hosken SA

Engenharia e Construccedilotildees -Rio de Janeiro RJ Autoban

Jundiaiacute SP Construtora Norberto Odebrechet SA - Rodovia Rio Santos Metro cia

Metropolitano de Satildeo Paulo - Linha Norte Sul Construtora Apia - Belo HorizonteMG

Construtora Croma - Satildeo Paulo SP Escala Construccedilotildees e Empreendimentos Ltda- Satildeo

PauloSP Tecnicorp Engenharia e Construccedilotildees Ltda - Satildeo Paulo SP Construtora

Lideranccedila Ltda Satildeo Paulo SP Evoluccedilatildeo Empreendimentos Imobiliaacuterios Ltda Satildeo

Paulo SP Schahin Engenharia Ltda- Satildeo PauloSP Elofer Construccedilotildees e Empreendimentos

Ltda - Pinhais PR Constroen Construccedilotildees e Engenharia Ltda -AraccedilatubaSP Infa

incorporadora Ltda - Pinheiros SP Comercial Construtora PPR Ltda - Satildeo PauloSP

Empreendimentos Imobiliaacuterios Estelar Ltda - Satildeo Paulo SP Construtora CPD Ltda - Satildeo

79

PauloSP Associaccedilatildeo de Construccedilatildeo Para Mutiratildeo do Jardim Celeste

Satildeo PauloSP Associaccedilatildeo Boa Esperanccedila -Satildeo PauloSP Associaccedilatildeo de Construccedilatildeo por

Mutiratildeo Novo Horizonte Satildeo PauloSP Copromo Associaccedilatildeo por Moradia de Osasco

OsascoSP

43 Informaccedilotildees sobre a entidade de apoio

A COOPRAM tem sido acompanhada por uma das redes nacionais de apoio as quais

tambeacutem satildeo denominadas de incubadoras de empreendimentos Satildeo essas entidades que

tradicionalmente orientam os empreendimentos solidaacuterios nos mais diversos aspectos desde

a capacitaccedilatildeo para a gestatildeo ateacute aspectos mais subjetivos da vivecircncia no empreendimento tais

como relaccedilotildees interpessoais assimilaccedilatildeo de valores humanos entre outros

No caso da COOPRAM a entidade que daacute o suporte necessaacuterio agraves suas accedilotildees e promove a

apropriaccedilatildeo do conhecimento nas diversas aacutereas do negoacutecio eacute a ANTEAG- Associaccedilatildeo

Nacional das Empresas Autogeridas e de Participaccedilatildeo Acionaacuteria

Fazendo um breve histoacuterico da entidade relata-se que a ANTEAG nasceu da iniciativa dos

proacuteprios trabalhadores que assumiram a gestatildeo de empresas diante da situaccedilatildeo de falecircncia e

desemprego Desde 1991 a ANTEAG teve contato com mais de 700 empresas em situaccedilatildeo

falimentar e passou a trabalhar com muitas delas no sentido de desenvolver a autogestatildeo

Hoje acompanha empresas de produccedilatildeo industrial e de serviccedilos nas cinco regiotildees do paiacutes

representando mais de 32 mil postos de trabalho nos seguintes setores tecircxtil agroinduacutestria

alimentaccedilatildeo couro calccedilados metaluacutergico mineraccedilatildeo serviccedilos confecccedilatildeo plaacutestico coleta

seletiva ceracircmica mobiliaacuterio papel e papelatildeo vidro e cristal tinta borracha e artesanato Os

objetivos que norteiam a accedilatildeo da ANTEAG satildeo

- Recuperar e manter trabalho e renda atraveacutes da participaccedilatildeo e controle coletivo dos

trabalhadores sobre as atividades produtivas

- Organizar e representar nacionalmente os trabalhadores e as empresas de autogestatildeo

- Promover autogestatildeo como alternativa econocircmica e social

80

- Resgatar o trabalho em sua dimensatildeo humana como alternativa agrave precarizaccedilatildeo e ao

desemprego estrutural

No que diz respeito agrave aacuterea de gestatildeo e contabilidade uma das principais formas de

contribuiccedilatildeo da ANTEAG a seus incubados eacute a promoccedilatildeo de cursos no proacuteprio

empreendimento ou nas sedes da entidade localizadas nos principais estados do paiacutes ora

executando esses cursos com seu proacuteprio pessoal ora pleiteando capacitaccedilatildeo a oacutergatildeos

governamentais

44 Descriccedilatildeo da organizaccedilatildeo contaacutebil da COOPRAM

A partir das observaccedilotildees e anaacutelises dos documentos constatou-se que os resultados

econocircmicos e financeiros da entidade satildeo apresentados pelos instrumentos tradicionais da

contabilidade centrando nas demonstraccedilotildees Balanccedilo Patrimonial e Demonstraccedilatildeo do

Resultado do Exerciacutecio da cooperativa Esses relatoacuterios satildeo disponibilizados para os

cooperados nas Assembleacuteias Gerais Ordinaacuterias os quais tambeacutem satildeo afixados no mural para

visualizaccedilatildeo e consulta

Natildeo satildeo confeccionados outros relatoacuterios gerenciais de resultados Semanalmente a diretoria

se reuacutene para discutir as financcedilas e utilizam um relatoacuterio produzido pelo setor financeiro o

qual conteacutem informaccedilotildees sobre o fluxo de recursos contas a pagar e receber

Natildeo haacute um sistema informatizado de apuraccedilatildeo de custos ou relatoacuterios detalhados sobre eles A

confecccedilatildeo dos preccedilos dos produtos eacute baseada em um caacutelculo estimativo dos gastos da

entidade para o qual eacute utilizado um fator matemaacutetico tabelado para cada item de produto e

construiacutedo a partir de outros elementos de despesas que incluem alguns gastos administrativos

e frete No caso de produtos sob encomenda eacute calculado um orccedilamento e sobre o valor

orccedilado tambeacutem se aplica o mesmo fator matemaacutetico

A contabilidade eacute terceirizada ficando a cargo de um escritoacuterio de contabilidade localizado

no mesmo Municiacutepio Mensalmente eacute remetido ao escritoacuterio o movimento de caixa

confeccionado pelos cooperados do setor financeiro O retorno desses dados convertidos em

81

demonstraccedilotildees contaacutebeis natildeo eacute realizado dentro de um periacuteodo possiacutevel de aproveitar as

informaccedilotildees para a tomada de decisotildees Em suma a informaccedilatildeo contaacutebil natildeo eacute sistematizada

ou organizada de modo que possa contribuir com o processo de gestatildeo

No que diz respeito agrave apropriaccedilatildeo dos conhecimentos em contabilidade ela eacute propiciada

principalmente por cursos de formaccedilatildeo em gestatildeo promovidos em geral pela entidade de

apoio como jaacute mencionado

45 Anaacutelise dos Resultados

A anaacutelise realizada foi segmentada em diversos aspectos da dimensatildeo contaacutebil nos processos

de autogestatildeo Entretanto na praacutetica percebeu-se que esses aspectos natildeo satildeo estanques ou

seja eles se inter-relacionam agraves vezes ocorrendo a situaccedilatildeo em que um aspecto eacute fator

determinante de outro Tecircm-se tambeacutem a consciecircncia de que outros fatores importantes agrave

compreensatildeo e ao desvelamento do fenocircmeno natildeo estatildeo aqui incluiacutedos Dessa forma longe de

esgotar as respostas agraves questotildees propostas buscou-se fazer um exerciacutecio de reflexatildeo sobre a

realidade captada pelas vaacuterias evidecircncias

Apoacutes essas observaccedilotildees relata-se a anaacutelise dos aspectos da dimensatildeo contaacutebil representados

pelas seis dimensotildees Esses resultados foram sistematizados em quadros os quais traccedilam um

paralelo entre a realidade encontrada e a realidade esperada A realidade encontrada diz

respeito ao quadro atual de cada aspecto desenhado pelo ponto de vista dos trecircs grupos de

entrevistados e reafirmado pelas observaccedilotildees e registro em arquivos Por outro lado no

quadro da realidade esperada encontram-se a realidade desejada eou elementos e pistas para

alcanccedilar essa situaccedilatildeo ideal Assim as anaacutelises satildeo produto das constataccedilotildees dos grupos

enriquecidos pelos resgates dos conceitos teoacutericos e a bibliografia sobre o tema

Passa-se entatildeo a apresentar a anaacutelise dos resultados

82

451 Forma de comunicaccedilatildeo

Nessa dimensatildeo procurou-se avaliar os instrumentos de comunicaccedilatildeo que a entidade utiliza

para divulgar seus resultados econocircmicos e financeiros Verificou-se a capacidade de a

contabilidade captar e refletir a complexidade das relaccedilotildees inclusas no processo de

autogestatildeo tais como o orccedilamento elaborado coletivamente a execuccedilatildeo e controles

compartilhados enfim foi avaliada a adequaccedilatildeo dos relatoacuterios demonstraccedilotildees e outros

instrumentos da contabilidade agraves necessidades proacuteprias dos empreendimentos solidaacuterios

Quadro 6- Forma de comunicaccedilatildeo

Grupo Realidade Encontrada

( o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Baseia-se nos instrumentos tradicionais

Pouca compreensatildeo dos

instrumentos Acessiacuteveis aos cooperados Apresentados nas assembleacuteias

Especialistas

Insuficiecircncia do Balanccedilo anual

enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo

Contadores

Contabilidade financeira tem

limitaccedilotildees Insuficiecircncia do Balanccedilo

Maior tempo de exposiccedilatildeo

das demonstraccedilotildees Mais detalhamentos da

realidade do empreendimento

Mais instrumentos de

informaccedilotildees Criaccedilatildeo de instrumentos de

informaccedilotildees permanentes Criaccedilatildeo de instrumentos de

avaliaccedilatildeo e monitoramento

Conforme demonstra o quadro 6 em geral os cooperados natildeo questionaram sobre os

instrumentos tradicionais de comunicaccedilatildeo dos resultados econocircmicos e financeiros

constituiacutedos principalmente pelo Balanccedilo e DRE Afirmaram que essas demonstraccedilotildees satildeo

acessiacuteveis na entidade Entretanto natildeo haacute muita procura por parte deles em virtude das

dificuldades de compreensatildeo

Na percepccedilatildeo dos especialistas o Balanccedilo anual principal forma de comunicaccedilatildeo das

informaccedilotildees utilizadas pelos empreendimentos eacute insuficiente para manter o trabalhador

informado havendo a necessidade de instrumentos que propiciem o monitoramento

permanente do negoacutecio

83

Os contadores entrevistados tambeacutem apontaram para a insuficiecircncia do Balanccedilo enquanto

uacutenica forma de comunicaccedilatildeo Conforme trecho da fala de um de seus representantes

Uma assembleacuteia natildeo pode se limitar a apresentar Balanccedilo Balanccedilo tem que ter mas eacute uma das

demonstraccedilotildees Vocecirc tem que mostrar outros lados Como eacute que permanentemente o cooperado

acompanha o desenvolvimento da cooperativaO Balanccedilo eacute uma informaccedilatildeo anual Quais satildeo as

outras informaccedilotildees perioacutedicas para que se faccedila um monitoramento uma avaliaccedilatildeo daquele

empreendimento[] entatildeo eu tenho que ter um instrumento e espaccedilo pra discutir []

Um dos contadores ainda destaca a limitaccedilatildeo da contabilidade financeira e a necessidade de

utilizaccedilatildeo da contabilidade gerencial e outros instrumentos apropriados agrave ES Em suas palavras

[] se vocecirc tem na contabilidade financeira contabilidade mais formal algumas limitaccedilotildees a

gente pode construir uma contabilidade gerencial hoje vocecirc tem uma contabilidade social o

Balanccedilo Social vocecirc tem ferramentas esse eacute o papel do profissional []

Portanto no que tange agrave forma de comunicaccedilatildeo das informaccedilotildees disponibilizadas pela

contabilidade as evidecircncias empiacutericas somam-se agraves anaacutelises dos autores que percebem os

empreendimentos autogestionaacuterios como um novo um grupo de usuaacuterios da contabilidade e

para os quais satildeo necessaacuterios novos instrumentos contaacutebeis Resgatando a reflexatildeo realizada

no capiacutetulo 3 agrave luz de Hendriksen e Van Breda ( 1999) sobre a implementaccedilatildeo de relatoacuterios

padronizados ou especiacuteficos a cada grupos de usuaacuterios os autores Almeida e Dantas (2005)

sugerem que os novos usuaacuterios deveriam possuir relatoacuterios especiacuteficos em detrimento da

padronizaccedilatildeo de relatoacuterios a diversos grupos

Michaels (1995) argumenta que a confecccedilatildeo dos relatoacuterios deve atender a alguns preacute-

requisitos a fim de contemplar as demandas reais de informaccedilatildeo dos usuaacuterios Para tanto seria

necessaacuterio responder agraves seguintes perguntas Qual o objetivo da informaccedilatildeoPara quem eacute a

informaccedilatildeo Que quantidade eacute necessaacuteria Como deve ser a informaccedilatildeo Quando a

informaccedilatildeo eacute necessaacuteria Com base nas respostas dadas a essas perguntas o autor reconhece

a natureza peculiar dos empreendimentos autogestionaacuterios e suas necessidades especiacuteficas

Em relaccedilatildeo agrave situaccedilatildeo desejaacutevel ou esperada na visatildeo dos cooperados as demonstraccedilotildees

deveriam fornecer mais detalhes da situaccedilatildeo socioeconocircmica e ficar mais tempo exposta

conforme revelam os trechos a seguir

[] deveria ficar mais tempo exposto agrave disposiccedilatildeo dos cooperados e com mais detalhes e ser

mais bem explicado []

84

[] vocecirc pode fazer uma planilha maior e mostrar em mais detalhes o que estaacute acontecendo

atualmente[]

Essas observaccedilotildees reforccedilam o estudo feito por Michaels (1999) Em sua opiniatildeo as

demonstraccedilotildees contaacutebeis devem ser estruturadas de tal forma que possam ser interpretadas

pelos principais usuaacuterios os associados da cooperativa Para ele a contabilidade deve ser um

importante sistema de informaccedilotildees entre a cooperativa e seus associados e para tanto

recomenda a utilizaccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis enriquecidas com graacuteficos e tabelas

comparativas Ressalta ainda que as informaccedilotildees contaacutebeis devem ser detalhadas de tal

forma que os principais eventos econocircmicos responsaacuteveis por impactos na situaccedilatildeo

econocircmico-financeira tanto positivos como negativos sejam informados aos associados e

tambeacutem sejam informados quais dos eventos econocircmicos foram fruto de decisotildees internas da

cooperativa e quais ocorreram independentes da gestatildeo interna mas sim por poliacuteticas

governamentais fatores climaacuteticos ou fatos internacionais

Logo neste aspecto concluiu-se que haacute demandas no sentido de propiciar a utilizaccedilatildeo e

assimilaccedilatildeo dos instrumentos existentes pelos trabalhadores da ES bem como de criaccedilatildeo de

novos relatoacuterios especiacuteficos para esses usuaacuterios em oposiccedilatildeo agrave implementaccedilatildeo de relatoacuterios

padronizados a todos os usuaacuterios

452 Conteuacutedo da informaccedilatildeo

O conteuacutedo diz respeito agrave informaccedilatildeo contaacutebil em si Nesse aspecto verificou-se a pertinecircncia

da linguagem das vaacuterias formas de comunicaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil aos usuaacuterios da ES

Mais especificamente nesse aspecto buscou-se perceber se a linguagem da contabilidade eacute

facilmente compreendida pelos trabalhadores tendo em vista o conhecimento jaacute consolidado

de que uma grande parte dos trabalhadores da ES tem um baixo grau de educaccedilatildeo formal

85

Quadro 7- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

Grupo

Realidade Encontrada

(o que eacute)

Realidade Esperada

(o que deveria ser)

Cooperados

Linguagem complicada Calam-se diante da

incompreensatildeo dos termos Incompreensatildeo causa

desinteresse

Especialistas

Linguagem difiacutecil

Contadores

Linguagem teacutecnica codificada

Trabalhadores da ES devem

apropriar-se da linguagem contaacutebil

Linguagem contaacutebil deve

aproximar-se da linguagem coloquial

Linguagem simples e objetiva

Como revela o quadro 7 apesar de serem acessiacuteveis haacute um desinteresse pelos relatoacuterios uma

vez que a linguagem natildeo eacute inteligiacutevel aos cooperados O grau de escolaridade do grupo de

cooperados normalmente eacute baixo e a estrutura dos relatoacuterios baseia-se em uma linguagem

teacutecnica formal o que dificulta o seu entendimento Conforme mostram trechos da fala de

cooperados

[] porque normalmente no relatoacuterio no balanccedilo a gente tenta olhar mais no final quanto que deu

e quanto que natildeo deu Fica mais faacutecil neacute Eu natildeo sei por que eles complicam [] a gente sempre ficava voando com medo ateacute de entatildeo vem o ativo passivo Taacute aqui o ativo passivo Muita

gente calaque nem que seraacute que bixiga eacute isso aiacute

Tambeacutem na visatildeo dos contadores e especialistas entrevistados a linguagem dos relatoacuterios eacute de

difiacutecil compreensatildeo para os trabalhadores pois eacute uma linguagem de contadores ou seja eacute

uma linguagem formal teacutecnica Nas palavras de um contador A linguagem contaacutebil eacute uma

linguagem codificada Eacute uma linguagem que usa coacutedigos e convenccedilotildees Ela natildeo eacute uma

linguagem do cotidiano das pessoas

Os entrevistados de uma forma geral sugerem uma linguagem adequada agrave realidade dos

trabalhadores da ES Para isso eacute necessaacuteria a criaccedilatildeo de novos instrumentos de comunicaccedilatildeo

os quais contenham uma linguagem simples e compreensiacutevel conforme expressam algumas

falas

86

[] entatildeo talvez uma coisa mais simples pra maioria simples Olha daacute dando lucro olha isso

aqui noacutes vamos gastar pra isso A contabilidade eacute interessante mas pro povatildeo acho que ajudava

bem Aiacute vocecirc jaacute podia parar de muitos comentaacuterios Olha taacute assim assim assim no real mas no

real natildeo pra iludir agente []

[] entatildeo noacutes temos duas questotildees ou noacutes vamos ter uma linguagem que aproxime dessa

linguagem coloquial ou seja essa linguagem de Balanccedilo eacute uma linguagem de contadores Entatildeo

tem dois movimentos ou os trabalhadores da ES se apropriam da linguagem dos contadores ou os contadores buscam uma linguagem com os trabalhadores da ES Acho que tem que ter um encontro aiacute Natildeo eacute ficar usando apelidos para falar a mesma coisa Eu digo formas de

comunicaccedilatildeo []

Os apontamentos dos grupos natildeo contraria a hipoacutetese inicialmente aventada sobre a

dificuldade de compreensatildeo da linguagem dos relatoacuterios contaacutebeis por parte dos

trabalhadores Essa hipoacutetese baseou-se na realidade socioeconocircmica dos trabalhadores

retratada no cap 2 Conforme mostraram Singer (2000) e demais autores a baixa escolaridade

dos trabalhadores adveacutem de sua situaccedilatildeo de exclusatildeo social A ES eacute constituiacuteda em sua

maioria por trabalhadores viacutetimas do desemprego estrutural provocado em grande parte pela

globalizaccedilatildeo a qual acarretou a reestruturaccedilatildeo produtiva e mudanccedilas no mercado de trabalho

Esses trabalhadores dispensados de seus postos de trabalho e natildeo apresentando formaccedilatildeo

suficiente para nova colocaccedilatildeo viram na ES uma alternativa de reingresso no mercado de

trabalho e de inclusatildeo social

Assim com baixa escolaridade e natildeo acostumados agrave linguagem de negoacutecio os termos

contaacutebeis soam estranhos aos trabalhadores Dessa forma a adaptaccedilatildeo da linguagem dos

relatoacuterios contaacutebeis agrave realidade dos trabalhadores eacute uma outra demanda concreta que os

empreendimentos de ES remete agrave contabilidade

453 Utilidade da informaccedilatildeo

A avaliaccedilatildeo da utilidade da informaccedilatildeo diz respeito agrave importacircncia e utilidade dada agrave

contabilidade Tambeacutem se procurou avaliar a utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil em todos os

processos da gestatildeo de forma que ela efetivamente seja supridora de informaccedilotildees

necessaacuterias agrave autogestatildeo ou seja auxiliar no processo de tomada de decisotildees coletivas e na

gestatildeo democraacutetica

87

Quadro 8 - Utilidade da informaccedilatildeo

Grupo Realidade Encontrada

( o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Contabilidade como sinocircnimo de confianccedila entre

os trabalhadores Organizaccedilatildeo contaacutebil influi na motivaccedilatildeo e

tranquumlilidade Contabilidade instrumento de transparecircncia Percepccedilatildeo da influecircncia da organizaccedilatildeo contaacutebil

sobre os resultados Consciecircncia da necessidade de apropriaccedilatildeo da

contabilidade

Especialistas

Falta de domiacutenio das teacutecnicas satildeo lacunas nos

empreendimentos em uma primeira fase Em segunda fase usam teacutecnicas p

desenvolvimento do empreendimento Utilizaccedilatildeo de teacutecnicas contaacutebeis como condiccedilatildeo agrave

viabilidade econocircmica

Contadores

Informaccedilatildeo contaacutebil gera confianccedila e autonomia Formadores tecircm visatildeo da contabilidade como

algo chato dispensaacutevel controle burocraacutetico Contabilidade eacute instrumental necessaacuterio a todas

as aacutereas do empreendimento Natildeo utilizaccedilatildeo dos instrumentos em decorrecircncia

da natildeo apropriaccedilatildeo do conhecimento Resistecircncia agrave superaccedilatildeo da segregaccedilatildeo trabalhar ( trabalhadores) e pensar (administradores)

Superaccedilatildeo da visatildeo

tradicional da contabilidade para o fisco e controle burocraacutetico

Formadores assumir a

contabilidade como questatildeo

fundamental Apropriaccedilatildeo de conhecimento

contaacutebil pelos trabalhadores Criaccedilatildeo de instrumentos

contaacutebeis que gere

informaccedilotildees atualizadas e

permanentes sobre a gestatildeo Utilizaccedilatildeo das teacutecnicas

contaacutebeis em todos os

processos de gestatildeo Trabalhadores devem possuir

a cultura do registro

Na visatildeo de um dos cooperados conforme mostra o quadro 8 a contabilidade tem grande

importacircncia porque eacute um instrumento de transparecircncia e de desenvolvimento econocircmico do

empreendimento Um outro motivo destacado pelos trabalhadores eacute sua vinculaccedilatildeo com a

confianccedila que deve existir na relaccedilatildeo entre os cooperados Para eles uma boa organizaccedilatildeo

contaacutebil propicia a tranquumlilidade no trabalho e motivaccedilatildeo conforme relatam algumas falas

[] contabilidade eacute o coraccedilatildeo o ceacuterebro[] [] porque tem viacutenculo de confianccedila neacute Falando seacuterio como agora agente taacute passando por

uma situaccedilatildeo em relaccedilatildeo serviccedilo dinheiro natildeo taacute boa Entatildeo influi em todo mundo ali sabe

Entatildeo aqui quando as coisas taacute correndo bem a contabilidade a gente supotildee que ta tudo em paz

taacute tudo bom a gente tem uma tranquumlilidade maior de produzir de trabalhar de torcer pra vir mais

serviccedilo Agora quando taacute ruim agente fala pra quecirc serviccedilo O dinheiro natildeo entra as coisa natildeo daacute

pra fazer as coisas direito Entatildeo influi bastante Entatildeo eu acho que administraccedilatildeo contabilidade

a gente tando no meio assim mesmo natildeo fazendo parte mas vocecirc tendo os relatoacuterios vocecirc

entendendo com certeza vocecirc acalma meio mundo laacute embaixo noacutes mesmos []

88

[] a contabilidade eacute fundamental os nuacutemeros clareza todo mundo ciente do que estaacute

acontecendo se tiver condiccedilotildees de fazer uma reserva Entatildeo realmente ter noccedilatildeo pra empresa

crescer []

Essa concepccedilatildeo da importacircncia da utilizaccedilatildeo dos instrumentos contaacutebeis reafirma o papel

social da contabilidade enfatizada no cap 3 Vaz (2002) ressalta que a informaccedilatildeo eacute um

direito de cidadania Pateman no cap 2 ressalta a importacircncia da informaccedilatildeo Para a

autora um dos preacute-requisitos para a participaccedilatildeo democraacutetica e desenvolvimento da

eficaacutecia poliacutetica eacute simetria econocircmica e simetria no acesso a informaccedilotildees Dessa forma a

visatildeo dos grupos entrevistados aproxima-se dos autores sobre a essencialidade da

informaccedilatildeo contaacutebil no processo de autogestatildeo

No que se refere a outro aspecto analisado o uso dos diversos instrumentos para a tomada de

decisatildeo os instrumentos centram-se no Balanccedilo Patrimonial e DRE conforme mencionado

anteriormente Natildeo haacute outros instrumentos mais dinacircmicos de monitoramento e controle do

planejamento da entidade assim como natildeo haacute um planejamento coletivo mais sistematizado

Portanto a entidade natildeo utiliza a maioria dos recursos de informaccedilatildeo disponibilizados pela

contabilidade financeira e gerencial no seu processo de autogestatildeo

Entretanto mesmo natildeo tendo plena consciecircncia do que seja uma contabilidade gerencial e da

potencialidade da contabilidade enquanto instrumento de informaccedilatildeo para a tomada de

decisatildeo os cooperados ainda conseguem diagnosticar os efeitos da ausecircncia dessa

organizaccedilatildeo na entidade e a necessidade de apropriaccedilatildeo desse conhecimento como mostra um

trecho da entrevista de um dos cooperados

[] na verdade eu preciso aprender muito sobre isso aiacute Agora pela assembleacuteia pelo que eu vi sem documento na matildeo noacutes natildeo entende muito natildeo Noacutes tem trabalhado bastante eu acredito que

o nosso produto taacute barato Alguma coisa taacute errada na Coopram Porque noacutes trabalha de segunda a

saacutebado ningueacutem paacutera e hoje o saldo nosso eacute devedor Entatildeo noacutes precisamos corrigir o que taacute

acontecendo Cada um se empenhar mais [] noacutes tenta saber o segredo Mas noacutes soacute trabalha

trabalha Eacute aquilo que eu falei pra vocecirc noacutes precisamos de uma pessoa capacitada pra administrar

nossa Coopram Por que noacutes natildeo estamos conseguindo []

Essa fala reafirma o papel da contabilidade no processo de gestatildeo tambeacutem enfatizada por

Dias (1991) O autor salienta que numa administraccedilatildeo participativa em que os gestores

interferem em todo o processo de gestatildeo que vai desde o planejamento estrateacutegico ateacute a

execuccedilatildeo deve haver um sistema capaz de oferecer informaccedilotildees de todo o ciclo

operacional as quais abrangem informaccedilotildees do ambiente econocircmico previsotildees

orccedilamentaacuterias sistema de programaccedilatildeo sistema de apoio agrave gestatildeo de execuccedilatildeo ateacute a

89

apuraccedilatildeo de resultados e avaliaccedilatildeo de desempenho O sistema de informaccedilotildees deve ser

capaz de indicar tendecircncias futuras e permitir comparaccedilotildees com o passado aleacutem de

possibilitar a avaliaccedilatildeo de evoluccedilatildeo da organizaccedilatildeo e comparaccedilotildees com desempenhos

desejados

Ainda sobre o assunto na opiniatildeo de um especialista entrevistado a falta de domiacutenio e

utilizaccedilatildeo das teacutecnicas contaacutebeis eacute realidade nas fases iniciais de uma grande parte dos

empreendimentos da ES conforme mostra o quadro 8 e a fala do especialista da ES

[] no que tange a autogestatildeo ou seja o domiacutenio de todas as teacutecnicas de gestatildeo de

gerenciamento de composiccedilatildeo de custos satildeo lacunas que existem nos empreendimentos que no

decorrer do tempo eles vem a suprir seja por terceirizaccedilatildeo seja por aprendizado [] Numa

primeira fase eles natildeo utilizam numa segunda que jaacute eacute de um empreendimento mais consolidado

poderiacuteamos chamar ateacute de incubaccedilatildeo ou incubagem que esses empreendimentos tecircm que dotam

suas estruturas dos principais instrumentos necessaacuterios agrave gestatildeo e o desenvolvimento do

empreendimento entatildeo me parece que eles acabam solucionando estes problemas e acabam

consequumlentemente utilizando estas teacutecnicas em prol do desenvolvimento do empreendimento []

Na percepccedilatildeo de um dos especialistas os empreendimentos adquirem esses conhecimentos

impulsionados ateacute pela necessidade de sobrevivecircncia uma vez que eacute condiccedilatildeo para

alavancagem do empreendimento assim como o eacute para as empresas de uma forma geral Nas

palavras do especialista

[] acredito que aqueles empreendimentos que natildeo conseguem utilizar estas teacutecnicas eles tem

uma maior dificuldade de alcanccedilar um ponto de equiliacutebrio ou seja a viabilidade econocircmica

necessaacuteria as condiccedilotildees necessaacuterias de se manter no mercado [] Os que utilizam as teacutecnicas

tecircm maior facilidade pra passar essa fronteira da viabilidade econocircmica do empreendimento

econocircmico e consequumlentemente gerar uma renda que possibilite natildeo soacute a inclusatildeo social mas a

inclusatildeo econocircmica e consequumlentemente a tecnoloacutegica que eacute o que agrega valor a esses

empreendimentos

Na visatildeo dos contadores como mostra o quadro 8 a contabilidade tambeacutem eacute fundamental

para os empreendimentos Conforme fala de um representante

[] a contabilidade eacute fundamental acho assim ela eacute central [] ela serve pra fornecer

informaccedilotildees Ela eacute instrumento fundamental para fornecer informaccedilotildees Informaccedilatildeo gera duas

coisas pra mim que eu acho fundamental na Economia Solidaacuteria Autonomia e Confianccedila

Confianccedila no grupo no coletivo Entatildeo os trabalhadores soacute vatildeo ser autocircnomos nessa relaccedilatildeo

quando possuiacuterem autonomia e confianccedila entre eles Informaccedilatildeo eacute fundamental [] isso eacute

principal causa de uma seacuterie de problemas na Economia Solidaacuteria a falta de confianccedila e a falta de

autonomia por conta da falta de informaccedilatildeo []

Entretanto foi ressaltada uma certa aversatildeo que os trabalhadores e formadores tecircm em relaccedilatildeo

agrave contabilidade para os quais ela eacute associada a algo chato e a um controle burocraacutetico

90

desnecessaacuterio Segundo o contador essa visatildeo deve ser superada pela ES tendo em vista a

centralidade da contabilidade cujas informaccedilotildees satildeo base para outras aacutereas de atuaccedilatildeo no

empreendimento Em suas palavras

[] acho que a Economia Solidaacuteria tem certa aversatildeo a isso porque ela vincula a contabilidade ao

controle burocraacutetico O que eacute um equiacutevoco vincular isso Inclusive formadores de outra aacuterea

vincula esta questatildeo a algo chato Entatildeo os proacuteprios formadores natildeo assumiram isso como uma

questatildeo fundamental Entatildeo a pergunta eacute controle eacute bomMuita gente vincula controle com

desconfianccedila [] eacute preciso superar isso e a contabilidade eacute o principal instrumento Pode-se falar da questatildeo econocircmica questatildeo administrativa enfim de outras doutrinas mas todas elas vatildeo

precisar do instrumental da contabilidade [] administrativamente vocecirc pode propor qualquer

modelo fantaacutestico mas ele vai se basear em informaccedilotildees que o instrumental contaacutebil fornece

Dias (1991) no cap 3 tambeacutem preconizou esta limitaccedilatildeo da contabilidade e explica um dos

motivos da sua imagem ser destorcida Para ele a contabilidade produz relatoacuterios que natildeo

exprimem a realidade econocircmica da empresa prejudicando seus usuaacuterios internos e

externos pois preocupa prioritariamente com a legislaccedilatildeo fiscal fato que impotildee

procedimentos prejudiciais agrave utilizaccedilatildeo dos sistemas de informaccedilotildees contaacutebeis para fins

gerenciais

Um outro motivo que justifica a subutilizaccedilatildeo dos instrumentos contaacutebeis na percepccedilatildeo de

um contador eacute a natildeo apropriaccedilatildeo desses instrumentos pelos trabalhadores Esse fato acarreta

problemas ao empreendimento no futuro Tambeacutem ressalta a necessidade de mudanccedilas de

comportamento dos profissionais a fim de fornecer informaccedilotildees atualizadas e permanentes

buscando suprir a insuficiecircncia do Balanccedilo Patrimonial Em suas palavras

[] como eacute que eu crio instrumentos permanentes soacute se eu tiver uma contabilidade que me gere

informaccedilotildees atualizadas permanentemente Mas natildeo eacute normal isso Como eacute feita a contabilidade

normalmente Vocecirc junta toda a papelada do ano entrega pro profissional o profissional pega aquela papelada classifica de acordo com que ele acha normalmente ele natildeo discute [] e vai laacute e

faz um Balanccedilo Isso eacute insuficiente

Um dos caminhos para mudanccedila sugerido pelos contadores eacute a aquisiccedilatildeo da cultura dos

registros Eles devem possuir a cultura dos registros [] ter alguns controles miacutenimos que

ele passe para o contador que gere outras informaccedilotildees

Essas reflexotildees reforccedilam a demanda jaacute constatada anteriormente da necessidade de criaccedilatildeo de

novos instrumentos contaacutebeis que produzam informaccedilotildees permanentes e atualizadas e

acrescenta uma nova demanda uma mudanccedila comportamental dos contadores da ES

91

adotando uma postura que incentive a assimilaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil pelos proacuteprios

trabalhadores

454 Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Um dos princiacutepios fundamentais da Economia Solidaacuteria sugere a socializaccedilatildeo de todo o

conhecimento de gestatildeo em oposiccedilatildeo agrave tiacutepica empresa que resguarda esses conhecimentos

para o grupo da gerecircncia Baseado nesse princiacutepio essa dimensatildeo teve a intenccedilatildeo de

compreender e analisar as formas de transferecircncia do conhecimento contaacutebil e as eventuais

dificuldades enfrentadas pelo trabalhador no processo de apropriaccedilatildeo do conhecimento das

teacutecnicas contaacutebeis Nesse item tambeacutem se buscou captar elementos que norteiem uma

formaccedilatildeo desejada em contabilidade

Quadro 9 - Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Grupo Realidade Encontrada

( o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Dificuldade em decorrecircncia da linguagem Consciecircncia da necessidade de apropriaccedilatildeo

Especialistas

Didaacutetica de formaccedilatildeo natildeo proporciona

assimilaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil Linguagem de formaccedilatildeo natildeo acessiacutevel

Contadores

Natildeo apropriaccedilatildeo em funccedilatildeo de linguagem

estranha ao cotidiano dos trabalhadores Trabalhadores tecircm medo e posiccedilatildeo defensiva em

relaccedilatildeo agrave contabilidade Didaacutetica de formaccedilatildeo muitas vezes natildeo

apropriada Formaccedilatildeo paternalista

Formaccedilatildeo deve ser em

linguagem acessiacutevel aos

trabalhadores Formador deve ter didaacutetica

apropriada ao puacuteblico Utilizaccedilatildeo da educaccedilatildeo

popular na formaccedilatildeo dos

trabalhadores Formaccedilatildeo deve sensibilizar

para a importacircncia da

contabilidade Formaccedilatildeo deve ser

permanente Formaccedilatildeo deve ser

estruturada de forma crescente

O quadro 9 revela que os cooperados tecircm dificuldades para a assimilaccedilatildeo do conhecimento

contaacutebil mas como referido no item anterior tambeacutem tecircm consciecircncia de sua importacircncia e

utilidade conforme demonstra trecho da fala de um cooperado [] na verdade eu preciso

aprender muito sobre isso aiacute []

92

No entanto quando questionados sobre a participaccedilatildeo nos cursos de formaccedilatildeo em

contabilidade promovidos pela entidade de apoio apenas dois cooperados disseram que

participaram de algum Esses participantes relataram dificuldades em funccedilatildeo da linguagem

utilizada pelo formador Em relaccedilatildeo a futuros cursos de formaccedilatildeo os trabalhadores tambeacutem

ressaltaram a questatildeo da linguagem conforme trecho de uma entrevista

[] linguagem simples falando seacuterio Vocecirc jaacute pensou vem laacute o Sr Ney dar um curso aqui

falando de paradigma Sabe a gente ia ficar porque agraves vezes agente pergunta tem uns que natildeo

pergunta Entatildeo tinha que ser uma linguagem Por que olha o SEBRAE agraves vezes agente assiste

no domingo a linguagem laacute eacute simples de entender Olha a empresa taacute assim taacute dando esse lucro

Ela aplicou tanto Vocecirc capta a coisa Mas se vocecirc vem com um negoacutecio de faculdade bem

complicado acho que noacutes ia ficaacute boiando

Os especialistas entrevistados reafirmam a dificuldade de assimilaccedilatildeo da contabilidade por

parte dos trabalhadores No entanto atribuem essa dificuldade agrave didaacutetica empregada nos

cursos Conforme explica um deles a didaacutetica deve estar adequada agrave realidade social e grau

de instruccedilatildeo dos trabalhadores que natildeo eacute muito elevado A apropriaccedilatildeo que tecircm desses

conhecimentos seraacute tatildeo mais faacutecil se o formador procurar levar o conhecimento em uma

linguagem mais proacutexima agrave realidade social desses trabalhadores Nas suas palavras

[] pode ser uma questatildeo de didaacutetica Agraves vezes temas considerados difiacuteceis se tornam faacuteceis na

medida em que o formador tenha linguagem apropriada ao puacuteblico com o qual ele estaacute

trabalhando Se noacutes formos trabalhar com linguagem puramente teacutecnicas com estes trabalhadores

que muitas vezes tem uma formaccedilatildeo dentro da educaccedilatildeo formal passando apenas do limite da

alfabetizaccedilatildeo como eacute o caso da cooperativa de catadores como eacute o caso da populaccedilatildeo brasileira

em geral a resposta seria que eles tem bastante dificuldade []

Ressalta que o baixo grau de instruccedilatildeo dos trabalhadores da ES natildeo eacute impeditivo para a

assimilaccedilatildeo do conhecimento Para facilitar a assimilaccedilatildeo sugere a utilizaccedilatildeo de metodologias

de formaccedilatildeo apropriada ao puacuteblico como a Educaccedilatildeo Popular de Paulo Freire conforme

relatos

[] os trabalhadores da ES tem um grau de escolaridade muito baixo mas isso natildeo eacute impeditivo

para que eles aprendam Muitas vezes eles soacute natildeo aprenderam porque natildeo tiveram condiccedilotildees de

frequumlentar a educaccedilatildeo formal Agora natildeo necessariamente a educaccedilatildeo formal eacute preacute-requisito para o aprendizado de teacutecnicas apropriadas para a gestatildeo de um empreendimento[] [] a ES utiliza muito da educaccedilatildeo popular pra formaccedilatildeo dos trabalhadores pra transferecircncias de

conhecimento enfim pra essa linguagem de comunicaccedilatildeo e de extensatildeo que seja mais facilmente

assimilada por esse puacuteblico[]

93

Os contadores entrevistados tambeacutem compactuam com essa linha de raciociacutenio chamando a

atenccedilatildeo para a linguagem empregada Nas palavras de um deles[] os trabalhadores natildeo

apropriaram da linguagem contaacutebil porque natildeo faz parte do cotidiano deles O dia que

comeccedilar a fazer parte do cotidiano deles eles comeccedilam a se apropriar tambeacutem

Os contadores ressaltam que em decorrecircncia da sua baixa educaccedilatildeo formal e distacircncia de

linguagem tecircm medo da contabilidade assim como tecircm medo da matemaacutetica conforme

relata [] eles natildeo entendem porque nunca foi passado pra eles tambeacutem Entatildeo eles tecircm

dificuldade na verdade eles tecircm medo Tecircm medo porque associam contabilidade com conta

e com matemaacutetica [] ele eacute defensivo

Contribui para a natildeo apropriaccedilatildeo o legado da velha cultura ainda impregnada nos

trabalhadores na qual persiste a ideacuteia de segregaccedilatildeo entre pensar (administradores) e trabalhar

(trabalhadores) O trabalhador ainda natildeo se acha apto agrave gestatildeo que em sua visatildeo continua

sendo prerrogativa dos mais cultos Transcrevendo a fala do contador

[] os trabalhadores ainda natildeo consideram essa questatildeo da gestatildeo cuidar da gestatildeo contaacutebil

como trabalho Ele considera trabalho quando ele estaacute na beira da maacutequina isso eacute trabalho pra ele

A gestatildeo natildeo eacute trabalho Eacute perda de tempo [] Ele estaacute acostumado a separar estas atividades de

pensar e trabalhar Ele faz essa separaccedilatildeo[] entatildeo se falar pra ele olha tem que fazer um livro-caixa aproveitar estes dados e projetar o futuro satildeo raros os casos

Essa percepccedilatildeo da necessidade de mudanccedila cultural reafirma a visatildeo de Rattner (2005)

exposta no cap 2 o qual afirma que a ES exige a conscientizaccedilatildeo e o desenvolvimento de

princiacutepios eacuteticos e valores de compaixatildeo e solidariedade Para ele a ES natildeo pode ser um

produto do autoritarismo de uma administraccedilatildeo de uma soacute via de cima para baixo Ela exige

a participaccedilatildeo de todos para se tornarem cidadatildeos e assim sujeitos do processo histoacuterico

A partir dessas reflexotildees foram constatadas novas demandas agrave contabilidade no que se refere

agrave apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil Primeiro haacute premecircncia de uma didaacutetica para

transmissatildeo do conhecimento em contabilidade apropriada agrave realidade social dos

trabalhadores Segundo haacute necessidade de uma metodologia de formaccedilatildeo permanente em

contabilidade e gestatildeo que contribua para uma mudanccedila cultural dos cooperados

No que diz respeito agrave situaccedilatildeo desejaacutevel ou esperada os grupos levantam alguns elementos

Sugerem que ela seja iniciada pela sensibilizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a importacircncia da contabilidade a

94

ponto de os trabalhadores desejarem conhececirc-la e compreendecirc-la como instrumento de

autonomia Um outro aspecto da formaccedilatildeo levantada refere-se agrave graduaccedilatildeo segundo a qual

ela deve ser permanente e crescente que vaacute agregando informaccedilatildeo aos poucos aos

trabalhadores como num processo de alfabetizaccedilatildeo Eis os trechos de sua falas

[] primeiro mostrar que a contabilidade eacute importante como um instrumento de gestatildeo que gera

informaccedilatildeo gera informaccedilatildeo para quecirc[] pra tomar decisatildeo Quem toma decisatildeo satildeo eles Entatildeo

eles precisam ter informaccedilatildeo na matildeo para tomar decisatildeoEntatildeo eacute um curso indo nessa linha de

sensibilizaccedilatildeo[] Seria importante que os trabalhadores a enxergassem como um instrumento de autonomia e ousando como instrumento de autonomia e ateacute de libertaccedilatildeo [] eu natildeo concordo Jaacute vi outros colegas trabalhando com formaccedilatildeo O cara jaacute comeccedila falando da

contabilidade jaacute mostra o Balanccedilo ativo passivo Aiacute os caras comeccedilam a se olhar Daacute medo []

eacute como vocecirc natildeo passar pelo processo de alfabetizaccedilatildeo com as crianccedilas e jaacute desse um livro pra ela

ler[] tambeacutem natildeo daacute pra ser paternalista Dar um livro ilustrado Vocecirc ficar educando soacute por

imagem [] [] deve ser uma formaccedilatildeo permanente E ela tem que ser crescente tambeacutem Ela tem que estar

estruturada em que vocecirc comece com os fundamentos e vocecirc vaacute agregando informaccedilotildees agravequeles

fundamentos[]

455 Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Conforme bibliografia pesquisada as aacutereas teacutecnicas tecircm dificuldades de perceber a

especificidade da autogestatildeo Nessa perspectiva foi analisada a relaccedilatildeo dos usuaacuterios dos

empreendimentos autogestionaacuterios com os profissionais da aacuterea contaacutebil Em outras palavras

pretendeu-se compreender o envolvimento do contabilista com a autogestatildeo Por outro lado

tambeacutem se procurou captar elementos que norteiem agrave construccedilatildeo da relaccedilatildeo ideal entre os

contadores e os trabalhadores da ES

95

Quadro 10 - Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Grupo Realidade Encontrada

(o que eacute)

Realidade Esperada

(o que deveria ser)

Cooperados

Abismo na relaccedilatildeo

Especialistas

Tema relativamente novo Dificuldade de arregimentar

contabilistas agrave ES Inserccedilatildeo da aacuterea contaacutebil ainda

eacute baixa Dificuldade dos contadores em

assimilar sistemaacutetica diferente

da empresa capitalista Formaccedilatildeo natildeo prepara para

atendimento de sociedade de pessoas

Pouco especializaccedilatildeo de

profissionais na aacuterea Formaccedilatildeo acadecircmica natildeo

voltada para divulgaccedilatildeo

pesquisa e reflexatildeo do tema Produccedilatildeo de saberes para a

classe trabalhadora na universidade brasileira eacute

recente

Contadores

Contador natildeo tem costume de

fornecer informaccedilotildees para o

coletivo Contador prefere atender o

fisco Contador tem viacutecios de

formaccedilatildeo Evitar relaccedilatildeo paternalista Formaccedilatildeo voltada para SAs Curriacuteculos de contabilidade

natildeo abertos a novas

tecnologias

Contador deve ser um profissional orgacircnico

engajado nos processos econocircmicos do

empreendimento Qualidades e habilidades que um contador de ES

deve possuir

Conhecer as teacutecnicas Saber resolver problemas Saber transferir conhecimento Ter sensibilidade Saber sensibilizar Saber dialogar Ser um comunicador Ter uma linguagem apropriada aos

trabalhadores Paciecircncia para ensinar Habilidade para simplificar Disposiccedilatildeo para criar Disposiccedilatildeo a ouvir discutir e aprender

Uma Formaccedilatildeo acadecircmica Que tenha envolvimento com a sociedade Que busque perguntas para pesquisa na

sociedade Problematize reflita sobre o tema Que o curriacuteculo seja baseado na realidade

brasileira

A partir das entrevistas observou-se a distacircncia entre os contadores e os trabalhadores O

profissional da contabilidade ainda exerce seu trabalho de uma forma tradicional sem

compreender muito a especificidade de um empreendimento da ES em consequumlecircncia natildeo haacute

uma maior aproximaccedilatildeo do contador com os cooperados da entidade Isso ficou patente nos

relatos dos cooperados entrevistados que em sua maioria natildeo abordavam o contador para

pedir esclarecimentos sobre a contabilidade Alguns argumentaram falta de tempo outros

falta de interesse

96

Entretanto quando questionados sobre o perfil que um contador da ES deveria possuir

destacaram qualidades como paciecircncia adoccedilatildeo de linguagem simples habilidade para

simplificar conforme trechos a seguir

[] eu lembro quando trabalhava laacute no Liceu eu nem tinha interesse em saber as financcedilas do

patratildeo Eu queria o meu trabalhar direitinho e o meu Aqui natildeo a gente se envolve Entatildeo a gente

tem aquela vontade de querer saber como estatildeo as coisas Entatildeo chega um contador que talvez taacute

acostumado a lidar soacute com outras pessoas talvez pense que agente natildeo tem interesse Talvez

agente natildeo tem a habilidade de captar as coisas Mas a gente aqui eacute todo mundo curioso em saber

como anda a empresa Precisa uma paciecircncia com a gente maior Entatildeo um cara que jaacute participou

de alguma cooperativa Que eacute diferente a coisa [] precisa ser mais paciente e ter uma habilidade de simplificar De pocircr as coisas mais simples

pra gente sabe Eu imagino se tivesse um jeito Se chega um de gravata no pescoccedilo soacute falando

coisa difiacutecil natildeo adianta muito Simplicidade neacute Acho que o importante aqui a instruccedilatildeo da

gente natildeo eacute tatildeo grande Entatildeo tem esse abismo Natildeo adianta uma pessoa bem culta e natildeo saber

lidar com agente [] [] ele podia esclarecer mais Porque vai ter que prestar conta por exemplo se for prestar o relatoacuterio pra todo o pessoal da faacutebrica Vai ter que ser uma pessoa que tem habilidade pra

demonstrar com mais simplicidade Relatoacuterios mais simples pra todo mundo entender e ver

realmente o que estaacute acontecendo[]

Na visatildeo dos especialistas o setor de contabilidade eacute uma lacuna para os empreendimentos

Por se tratar de um tema recente haacute uma dificuldade de arregimentar profissionais das aacutereas

teacutecnicas para a ES conforme relata um de seus representantes

[] de uma maneira geral o setor de contabilidade eacute uma carecircncia para os empreendimentos A ES ela eacute bastante recente embora tenha jaacute em torno de 15 a 20 anos no paiacutes enquanto tema

reconhecido mas algumas aacutereas do conhecimento se tem maior facilidade de arregimentaccedilatildeo

teacutecnica e outras um pouco mais de dificuldade A aacuterea da contabilidade e a aacuterea do direito satildeo

aacutereas com as quais natildeo se tem muito contato institucional [] alguns profissionais acabam natildeo conhecendo natildeo se especializando nessa demanda em

especiacutefico o que faz com que o mercado tenha pouquiacutessimos profissionais que conhecem de contabilidade de cooperativa [] [] o envolvimento dos profissionais estaacute muito aqueacutem da necessidade [] eu vejo que os

profissionais da contabilidade talvez a conjuntura toda a proacutepria formaccedilatildeo acadecircmica ela natildeo estaacute

voltada para a divulgaccedilatildeo pra pesquisa e reflexatildeo do tema do cooperativismo []

Para um especialista a ES tem uma natureza diferente das empresas lucrativas e daquelas sem

fins lucrativos isso justifica em parte a dificuldade de envolvimento dos contadores com a

ES uma vez que natildeo estatildeo acostumados a lidar com entidades de sistemaacuteticas diferentes da

empresa de capital conforme explica um especialista

[] no sentido latu os contadores tecircm dificuldades de trabalhar com as cooperativas que tem uma sistemaacutetica totalmente diferente das empresas de capital Na verdade a expressatildeo sem finalidade

97

lucrativa ou sem fins lucrativos de uma sociedade de pessoa coloca uma cooperativa entre uma sociedade de capital e uma sociedade civil sem fins lucrativos ou seja uma associaccedilatildeo Entatildeo o

que difere dos dois eacute que na cooperativa haacute um hiacutebrido entre a sociedade civil e uma associaccedilatildeo

mercantil[] [] que eacute uma contabilidade diferenciada das sociedades de capital natildeo tenho duacutevida O que me

faz pensar eacute como faremos para arregimentar profissionais que se especializem nessa aacuterea e que

possam trabalhar em todo esse ciacuterculo nesse entendimento do que eacute a ES e que conheccedilam natildeo soacute

as suas teacutecnicas de contabilidade mas a melhor forma de passar esse conhecimento pelos trabalhadores[]

Essa perspectiva se alinha agrave percepccedilatildeo da ANTEAG (2005) relatada no cap 1 sobre a

dificuldade de envolvimento dos contadores com a ES Para a ANTEAG o problema estaacute

vinculado agrave inovaccedilatildeo que a autogestatildeo representa e agrave formaccedilatildeo dos profissionais que ainda

estaacute centrada em empresas tradicionais seguindo as regras convencionais do mercado

consequumlentemente os profissionais terceirizados das aacutereas teacutecnicas como contabilidade e

direito desconhecem as condiccedilotildees diferenciais da autogestatildeo

Para acompanhar essa sistemaacutetica diferenciada da ES satildeo sugeridos pelos entrevistados uma

nova postura do contador um contador engajado que acompanhe os processos econocircmicos

do empreendimento conforme ressaltam

[] o que se chama de lucro na sociedade de capital se transforma em sobra na cooperativa Esse lucro na sociedade de capital pode ser distribuiacutedo mecircs a mecircs jaacute na cooperativa eacute soacute no Balanccedilo no

final do exerciacutecio financeiro Essa loacutegica de atuaccedilatildeo de certa forma requer um profissional orgacircnico trabalhando com os empreendimentos ou seja um contador ele precisa acompanhar os

processos econocircmicos do empreendimento durante um ano pra poder realizar o Balanccedilo do

empreendimento

Todo esse panorama remete a discussatildeo sobre a formaccedilatildeo do contador que natildeo o prepara para

o atendimento de sociedade de pessoas do tipo das cooperativas Nas palavras de um

especialista

[] o que se discute eacute qual a contabilidade ou visatildeo de contabilidade necessaacuteria para o

cooperativismo [] porque nem todos os contadores tecircm uma formaccedilatildeo apropriada para o

atendimento de uma sociedade que embora econocircmica de pessoas Noacutes temos grande demanda

empresarial para sociedades de capital de uns tempos pra caacute eacute que a sociedade de pessoas

entraram dentro da oacuterbita econocircmica em maior escala [] as edificaccedilotildees de gestatildeo e estas que entram em temas novos e o tema das cooperativas de

trabalho para o Brasil eacute relativamente novo ainda temos carecircncia de profissionais e temos

necessidade de produccedilatildeo acadecircmica teacutecnica cientiacutefica acerca destes temas portanto a inserccedilatildeo

ainda eacute muito baixa [] [] a universidade brasileira ela por muito tempo esteve isolada da sociedade ou seja se constituiacutea num centro hermeacutetico onde se faz pesquisa onde se faz ensino e eventualmente se faz extensatildeo Mas uma grande caracteriacutestica da universidade mesmo naquelas que faz extensatildeo

sempre foi e isso natildeo eacute opiniatildeo produzir conhecimento pra classe dominante Eacute uma questatildeo

ideoloacutegica e o Estado brasileiro natildeo eacute diferente disso Entatildeo as proacuteprias pesquisas mais facilmente

98

financiaacuteveis satildeo aquelas pesquisas voltadas ao desenvolvimento de tecnologia para o capital []

ateacute pouco tempo atraacutes natildeo se via a universidade brasileira voltada a produzir saberes para a classe trabalhadora [] precisa ter contato com a sociedade [] onde noacutes buscamos o conhecimento Noacutes buscamos o

conhecimento exclusivamente dentro dos muros da universidade Ou temos que ter a coragem de ir a sociedade e ver quais satildeo as grandes perguntas que a sociedade faz e que o universo do saber a universidade deve responder ou seja quem eacute que deteacutem o poder aiacute se entra numa questatildeo de

novo de ideologia de priorizar a atuaccedilatildeo acadecircmica eacute a sociedade ou os quadros acadecircmicos que

atribuem um grau de importacircncia agraves perguntas que devem ser respondidas

[] pouquiacutessima problematizaccedilatildeo pouquiacutessima reflexatildeo e consequumlentemente pouquiacutessima

produccedilatildeo acerca desses temas

Na visatildeo dos contadores entrevistados o problema tambeacutem passa pelo tipo de sociedade que o

contador estaacute acostumado a lidar e pela sua postura tradicional de fazer contabilidade para

atender ao fisco Nas palavras de um contador

[] os contadores estatildeo acostumados a dar informaccedilatildeo pra pessoa eles natildeo estatildeo acostumados a partilhar informaccedilatildeo a dar informaccedilatildeo para um coletivo Entatildeo satildeo poucos contadores que tem

praacutetica de dar informaccedilatildeo para um coletivo [] [] o profissional vai naquele b-a-baacute O contador prefere atender o fisco A prioridade pra ele eacute

atender o fisco Ele natildeo estaacute preocupado com as outras questotildees normalmente Ele ainda eacute um

tarefeiro

Na entrevista um contador alerta para a relaccedilatildeo de dependecircncia que pode haver entre

contador e trabalhadores da ES [] na ES vocecirc pode criar uma relaccedilatildeo de dependecircncia

vocecirc pode criar uma relaccedilatildeo paternalista com eles Entatildeo isso deve ser evitado [] Tambeacutem

aponta a formaccedilatildeo como um dos fatores responsaacuteveis por essa postura dos contadores e indica

elementos para uma nova formaccedilatildeo

[] ele vem formado pra trabalhar em empresa capitalista entatildeo pra trabalhar na ES como sou

cristatildeo ele vai ter que se converter e reconhecer que ele tem viacutecios de formaccedilatildeo [] [] acho que tem que ter um outro curriacuteculo com a realidade do Brasil As universidades do paiacutes

prepara como se todos os contadores fossem trabalhar em uma SA O mercado brasileiro primeiro tem poucas empresas sa [] ele natildeo eacute formado pra trabalhar com pequena empresa ele

natildeo eacute formado pra trabalhar com entidades sociais ele natildeo eacute formado pra trabalhar com cooperativas e muito menos com Economia Solidaacuteria [] [] o que eacute moderno O que eacute tecnoloacutegico Eacute trabalhar com as grandes empresas E natildeo eacute

verdade Eu natildeo concordo com isso[] novas tecnologias vocecirc cria em pequenos negoacutecios vocecirc

cria em experiecircncias associativas diferenciadas como consoacutercios de empresas como redes novas e

experiecircncias de outros modelos e na Economia Solidaacuteria Entatildeo os curriacuteculos de contabilidade

natildeo estatildeo abertos para estas questotildees de novas tecnologias []

No que tange ao perfil desejado ou esperado do contador a fim de se estabelecer uma boa

relaccedilatildeo entre contador e trabalhadores da ES os entrevistados destacaram habilidades como

99

conhecer as teacutecnicas saber resolver problemas saber transferir conhecimento ter

sensibilidade saber sensibilizar saber dialogar ser um comunicador ter uma linguagem

apropriada aos trabalhadores disposiccedilatildeo para criar disposiccedilatildeo para ouvir discutir e

aprender Eis alguns trechos das entrevistas

[] ele tem que ao mesmo tempo que saber resolver os problemas ele tecircm que tambeacutem serem

repassadores de conhecimento eles tecircm que trabalhar com formaccedilatildeo de formadoresEles Tecircm que

ensinar para que estes dirigentes dos empreendimentos natildeo soacute absorvam estes conhecimentos como eles saibam replicar os conhecimentos obtidos[] [] ter sensibilidade capacidade de sensibilizar e de dialogar natildeo soacute sendo um extensionista mas

ser um comunicador Ou seja ele natildeo vai estender o conhecimento dele mas ele vai dialogar para ser entendimento por esses trabalhadores Por uma simples razatildeo satildeo trabalhadores excluiacutedos satildeo

trabalhadores que natildeo tem em princiacutepio capacidade de entender sozinhos o empreendimento

econocircmico [] entatildeo eacute preciso uma didaacutetica especial de relacionamento com esses trabalhadores porque natildeo se consegue trabalhar com foacutermulas com esse puacuteblico [] conseguir ser percebido e entendido por esses trabalhadores Porque agraves vezes natildeo basta ter

conhecimento eacute preciso passaacute-lo e no caso dessa populaccedilatildeo eacute preciso ter uma linguagem adequada

para que se tenha o respeito e consequumlentemente a apreensatildeo por esses trabalhadores no seu

negoacutecio[] [] alguns termos que eles usam na cooperativa eu tambeacutem natildeo sei Da atividade econocircmica tem

questotildees pra qualquer contador montar um plano de contas vocecirc tem que descer vocecirc tem que

conhecer o processo inteiro da produccedilatildeo industrializaccedilatildeo pra colocar as coisas certas [] ele natildeo pode pegar os manuais que ele tem e querer adaptar E o que eu vejo por aiacute satildeo

adaptaccedilotildees E nem tudo daacute pra adaptar Ele tem que ter disposiccedilatildeo pra criar instrumentos novos [] tem que aprender a ouvir discutir estar disposto a aprender a ES () Eacute uma relaccedilatildeo quando

vocecirc vai pra laacute vocecirc tem que estar disposto a aprender tambeacutem Vocecirc vai aprender com os

trabalhadores

Sintetizando as demandas apontadas nesse toacutepico podem ser agrupadas em dois pontos

mudanccedilas na formaccedilatildeo do contador e desenvolvimento de habilidades para o trabalho com os

empreendimentos autogestionaacuterios

456 Legislaccedilatildeo contaacutebil

Os autores citados no cap 2 e 3 argumentam que a legislaccedilatildeo ainda natildeo capta a

especificidade da autogestatildeo Isso se aplica agrave forma de registro dos eventos econocircmico-

financeiros agraves demonstraccedilotildees contaacutebeis e tambeacutem agrave constituiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo dessas

entidades Para avaliar esse conjunto foi necessaacuterio tambeacutem analisar a legislaccedilatildeo

cooperativista e natildeo soacute a legislaccedilatildeo contaacutebil para o cooperativismo tendo em vista que as

100

duas legislaccedilotildees estatildeo bastante associadas Dessa forma essa dimensatildeo analisou a pertinecircncia

dessas legislaccedilotildees agrave realidade e necessidade da ES

Quadro 11- Legislaccedilatildeo contaacutebil

Grupo Realidade Encontrada

(o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Natildeo questionado

Especialistas

Legislaccedilatildeo atrasada e natildeo adequada agrave

realidade brasileira Dificuldade de compreensatildeo do conceito e

operacionalizaccedilatildeo do ato cooperativo e

consequumlentemente a tributaccedilatildeo nas

cooperativas Marco juriacutedico das cooperativas ainda

vinculado agraves cooperativas de produtores

rurais Dificuldade de mensurar participaccedilatildeo do

trabalho Dificuldades dos profissionais com a

legislaccedilatildeo Insuficiecircncia de produccedilatildeo cientiacutefica nessa

aacuterea

Contadores

Legislaccedilatildeo inadequada Legislaccedilatildeo trata desiguais como iguais (grande e pequeno empreendimento)

Tratamento diferenciado entre

grandes e pequenos empreendimentos

Legislaccedilatildeo diferenciada para

cooperativas de trabalho Legislaccedilatildeo apropriada para a

Economia Solidaacuteria Formaccedilatildeo de contadores na aacuterea

de cooperativismo e ES

O quadro 11 mostra a visatildeo dos especialistas sobre a legislaccedilatildeo cooperativista para os quais

ela eacute inadequada uma vez que natildeo contempla plenamente as cooperativas de trabalho que

constituem uma grande parte dos empreendimentos de ES Um especialista explica

[] a legislaccedilatildeo cooperativista natildeo eacute adequada O cooperativismo brasileiro em atraso em relaccedilatildeo

ao cooperativismo do resto do mundo O marco brasileiro estaacute muito vinculado agraves cooperativas de

produtores Entatildeo o cooperativismo brasileiro se ressente de uma maior inserccedilatildeo do

cooperativismo de trabalho [] cooperativismo de trabalho brasileiro eacute constituiacutedo nos marcos da

lei vigente mas eacute tratado da mesma forma esse eacute o ressentimento que as cooperativas de produccedilatildeo

agriacutecola possui e as dinacircmicas de estruturaccedilatildeo e de funcionamento dessas cooperativas de trabalho

satildeo totalmente diferentes O cooperativismo de trabalho eacute a reuniatildeo de pessoas aiacute natildeo eacute uma reuniatildeo de meios de produccedilatildeo ou de produtores mas eacute de pessoas com o objetivo de gerar

trabalho e renda a partir de suas estruturas a partir de seus mecanismos de funcionamento e ateacute

mesmo de suas estruturas produtivas []

101

Esse ponto de vista coincide com os autores revisados no cap 2 Tauile (2005) tambeacutem

argumenta que o marco legal natildeo eacute adequado agrave sociedade de pessoas pois contempla somente

as sociedades de capital

Outra questatildeo levantada diz respeito agrave dificuldade de compreensatildeo do conceito e

operacionalizaccedilatildeo do ato cooperativo o que dificulta sobremaneira a execuccedilatildeo da tributaccedilatildeo

nas cooperativas conforme relata um especialista

[] essa eacute uma grande dificuldade que se tem de entender essa questatildeo do ato cooperativo

Tecnicamente eacute faacutecil de entender tecnicamente se caracteriza por aquelas operaccedilotildees realizadas

entre associados de mesmo empreendimento ou entre empreendimentos cooperativos associados Agora levar isso pra praacutetica e ver tributariamente o que isso significa o ato cooperativo noacutes

precisariacuteamos natildeo soacute de um grande debate ou vaacuterias horas de reflexatildeo pra saber o que realmente eacute

tributaacutevel o que eacute passiacutevel ou natildeo de tributaccedilatildeo no que diz respeito ao ato cooperativo que acabou

se tornando ateacute mesmo uma letra morta [] a gente tem grande dificuldade de fazer essa letra essa lei valer Porque haacute grandes confusotildees dentro do mundo juriacutedico sobre qual o entendimento que se

tem jaacute consolidado dentro dos tribunais sobre o que eacute o ato cooperativo e qual eacute sua aacuterea de

incidecircncia []

Tambeacutem foi evidenciada a dificuldade de mensuraccedilatildeo da participaccedilatildeo de cada trabalhador

por ocasiatildeo da distribuiccedilatildeo das sobras Diante do contexto de indecisotildees da ordem juriacutedica eacute

justificada em parte a dificuldade dos contadores de conhecimento da legislaccedilatildeo Eis as falas

do especialista

[] a legislaccedilatildeo fala que as sobras seratildeo rateadas ou divididas ou aplicadas de acordo com a

participaccedilatildeo dos associados na cooperativa e por participaccedilatildeo do trabalho eacute difiacutecil de mesurar o

que torna um empreendimento urbano ou de Economia Solidaacuteria ou uma cooperativa de trabalho

no sentido especiacutefico mas faacutecil de avaliar pela participaccedilatildeo proporcional agraves operaccedilotildees

relativamente ao nuacutemero de horas que o trabalhador esteve no empreendimento natildeo soacute sua

produtividade em si [] [] diante das indecisotildees da ordem juriacutedica aliado a outros fatores [] de uma maneira geral haacute

uma dificuldade lato sensu em relaccedilatildeo ao conhecimento mas natildeo se trata apenas de conhecimento

mas se trata simplesmente de indecisotildees da ordem juriacutedica em relaccedilatildeo ao que significa o

cooperativismo brasileiro e quais satildeo seus principais eixos de atuaccedilatildeo ou seja se agente natildeo

consegue nem identificar conceito e operacionalidade de ato cooperativo eacute um grande indicador

de que a estrutura juriacutedica brasileira natildeo estaacute adequada a ES

Jaacute na visatildeo dos contadores a legislaccedilatildeo natildeo eacute adequada porque natildeo faz diferenciaccedilatildeo entre

pequenos e grandes empreendimentos no que diz respeito agrave legalizaccedilatildeo e tributaccedilatildeo eacute o que

revela trecho da entrevista de um contador

[] eacute evidente que natildeo eacute adequada pela seguinte questatildeo Trata os desiguais como iguais Entatildeo o

que significa isso Tratando-se especificamente de cooperativa eu monto uma cooperativa com 20 mulheres costureiras ela vai ter o mesmo tratamento legal que uma grande cooperativa que pode contratar profissionais Entatildeo haacute um tratamento desigual

102

Entretanto salienta que natildeo se trata de eliminar obrigaccedilotildees legais no que diz respeito agrave

apresentaccedilatildeo de documentos trata-se de simplificar para favorecer conforme argumenta

[] eu jaacute vi gente defendendo pra simplificar para que natildeo tenha que fazer Balanccedilo Eu acho um

grande equiacutevoco A gente tem que simplificar pra melhorar as condiccedilotildees de competiccedilatildeo

econocircmica de inserccedilatildeo econocircmica em relaccedilatildeo aos empreendimentos tem que favorecer

simplificar() Tem que haver um tratamento diferenciado mas natildeo vincular a questatildeo essa questatildeo

contaacutebil das obrigaccedilotildees que satildeo cobradas pela legislaccedilatildeo eliminar a possibilidade de ter uma

contabilidade que atenda aos trabalhadores daquele empreendimento []

Nesse contexto de discussatildeo sobre a legislaccedilatildeo contaacutebil ressaltam-se algumas demandas

Primeiramente haacute necessidade de definiccedilatildeo de um novo marco legal apropriado agrave realidade

dos empreendimentos autogestionaacuterios que regulamente a criaccedilatildeo funcionamento e extinccedilatildeo

desses empreendimentos A segunda diz respeito agrave adequaccedilatildeo da legislaccedilatildeo contaacutebil agrave nova

formataccedilatildeo juriacutedica na qual o reconhecimento da peculiaridade dos empreendimentos se

reflita na instituiccedilatildeo de novos instrumentos de informaccedilatildeo sistemaacuteticas diferenciadas de

mensuraccedilatildeo e registros dos eventos econocircmicos e sociais novas orientaccedilotildees para a

tributaccedilatildeo

As evidecircncias indicaram que em geral as demandas e desafios captados pela pesquisa em

cada aspecto da dimensatildeo contaacutebil se aproximam daquelas levantadas pelos autores

pesquisados Em alguns aspectos a coincidecircncia eacute visiacutevel em outros o trabalho de campo

acrescentou novas demandas Entretanto satildeo necessaacuterias pesquisas mais aprofundadas

mediante as quais seja possiacutevel identificar novos aspectos da dimensatildeo contaacutebil natildeo incluiacutedos

neste trabalho Por outro lado houveram acreacutescimos no inventaacuterio de elementos construtivos

de uma nova relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo mas ainda satildeo insuficientes carecendo de

novas pesquisas sobre o assunto

103

CONCLUSAtildeO

Agrave luz dos marcos conceituais partiu-se do pressuposto da peculiaridade da ES e autogestatildeo

tendo em vista a dupla natureza dos seus empreendimentos econocircmica e social

Consequumlentemente desde o iniacutecio concebeu-se esses empreendimentos como um novo grupo

de usuaacuterios e como tal remete demandas especiacuteficas agrave contabilidade

Seguindo a mesma orientaccedilatildeo das pesquisas realizadas anteriormente sobre a relaccedilatildeo

contabilidade e autogestatildeo buscou-se atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica compreender e

analisar a dimensatildeo contaacutebil nos processos de autogestatildeo dos empreendimentos solidaacuterios

levantando seus desafios e demandas contaacutebeis suscitadas nesse processo

Os resultados obtidos confirmaram em grande parte as constataccedilotildees realizadas pelos

precursores desse campo de pesquisa Por outro lado acrescentam novas informaccedilotildees que

contribuem agrave compreensatildeo dos vaacuterios aspectos da dimensatildeo contaacutebil no processo de

autogestatildeo Em cada aspecto analisado denotou-se uma distacircncia entre as duas realidades a

encontrada e a esperada reafirmando a premecircncia de um ajustamento da aacuterea contaacutebil agraves

reais necessidades dos empreendimentos solidaacuterios no que se refere a forma de comunicaccedilatildeo

conteuacutedo da informaccedilatildeo utilidade da informaccedilatildeo apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo relaccedilatildeo

contador-usuaacuterio e legislaccedilatildeo contaacutebil A realidade demandas e desafios de cada aspecto satildeo

sintetizados a seguir

1- Forma de comunicaccedilatildeo As evidecircncias demonstraram a subutilizaccedilatildeo das ferramentas contaacutebeis motivadas por

diversos fatores Normalmente apenas o Balanccedilo e DRE satildeo confeccionados na entidade Na

visatildeo de grande parte dos entrevistados esses instrumentos satildeo episoacutedicos e natildeo

proporcionam o monitoramento e avaliaccedilatildeo da gestatildeo Dessa forma percebem-se duas

grandes demandas a primeira eacute a utilizaccedilatildeo dos instrumentos disponiacuteveis de auxiacutelio agrave gestatildeo e

a outra pede a criaccedilatildeo de novos instrumentos de informaccedilatildeo apropriados agrave dinacircmica

econocircmica e social dos empreendimentos autogestionaacuterios

2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

Constatou-se que os cooperados tecircm dificuldades de compreender o conteuacutedo das

demonstraccedilotildees contaacutebeis Um dos principais responsaacuteveis por essa realidade eacute a linguagem

104

teacutecnica e codificada adotada pelos relatoacuterios incompatiacutevel com o niacutevel de educaccedilatildeo formal

dos trabalhadores e com a sua insuficiente familiaridade com a linguagem de negoacutecios

Portanto uma demanda premente da ES eacute uma linguagem apropriada agrave realidade social dos

trabalhadores a fim de que a contabilidade se torne acessiacutevel e compreensiacutevel a eles

3- Utilidade da informaccedilatildeo

Percebeu-se que apesar da subutilizaccedilatildeo dos instrumentos contaacutebeis no processo decisoacuterio os

trabalhadores reconhecem a necessidade do emprego da informaccedilatildeo contaacutebil em todo o

processo de gestatildeo Para tanto faz-se necessaacuteria a apropriaccedilatildeo desse conhecimento por parte

dos trabalhadores ao mesmo tempo em que tambeacutem se reforccedila a necessidade de novos

instrumentos apropriados agrave autogestatildeo Outra demanda associada diz respeito agrave mudanccedila de

postura dos contadores e formadores na qual se estimule o uso da contabilidade

conscientizando os trabalhadores sobre sua importacircncia

4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Nesse aspecto foram evidenciados os desafios agrave apropriaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil pelos

proacuteprios trabalhadores Em geral a apropriaccedilatildeo se daacute por meio de cursos de formaccedilatildeo

Entretanto esses cursos nem sempre atingem seus objetivos devido agrave implementaccedilatildeo de

didaacutetica e linguagem natildeo apropriada ao puacuteblico Portanto levantou-se a necessidade de uma

formaccedilatildeo permanente cuja linguagem e didaacutetica seja adequada agrave realidade dos trabalhadores

e propicie uma mudanccedila de comportamento no que se refere agrave gestatildeo

5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Foi detectada a existecircncia de uma abismo na relaccedilatildeo do contador com os trabalhadores da ES

O profissional da contabilidade ainda atua de forma tradicional prestando assessoria aos

empreendimentos quando seria necessaacuteria uma atuaccedilatildeo que privilegiasse a apropriaccedilatildeo do

conhecimento pelos proacuteprios trabalhadores Um dos fatores que explicam essa realidade eacute a

formaccedilatildeo do contador que ainda eacute voltada para atuaccedilatildeo em grandes empresas e natildeo desperta

para o desenvolvimento da sensibilidade social e natildeo capacita para a gestatildeo de empresas

sociais Isto tambeacutem explica em parte o baixo nuacutemero de contadores especializados em

cooperativismo ou empreendimentos autogestionaacuterios Numa nova perspectiva de atuaccedilatildeo o

contador assumiria outro papel o de facilitador do conhecimento( formador) Dessa forma as

demandas levantadas centram-se no desenvolvimento de novas habilidades do contador

consequumlentemente isso acarreta a demanda de uma nova formaccedilatildeo acadecircmica

105

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

A realidade mostrou uma seacuterie de incertezas e equiacutevocos da ordem juriacutedica no que se refere

aos empreendimentos autogestionaacuterios Primeiramente haacute necessidade de definiccedilatildeo de um

novo marco legal apropriado agrave realidade dos empreendimentos autogestionaacuterios que

regulamente a criaccedilatildeo funcionamento e extinccedilatildeo desses empreendimentos Na sequumlecircncia

tambeacutem urge a adequaccedilatildeo da legislaccedilatildeo contaacutebil agrave nova formataccedilatildeo juriacutedica na qual o

reconhecimento da peculiaridade dos empreendimentos se reflita na normatizaccedilatildeo de novos

instrumentos de informaccedilatildeo sistemaacuteticas diferenciadas de mensuraccedilatildeo e registros dos eventos

econocircmicos e sociais e novas bases para a tributaccedilatildeo

Esses pontos levantados confirmam em certa medida as constataccedilotildees feitas por autores

citados na pesquisa bibliograacutefica os quais tambeacutem identificaram as demandas desse novo

usuaacuterio da contabilidade a exemplo de Almeida e Dantas (2005 p09) que sistematizaram as

demandas a partir de trecircs eixos novos modelos de informaccedilotildees novo perfil de contador e

nova formaccedilatildeo conforme visto no cap 3

Por outro lado a investigaccedilatildeo empiacuterica como jaacute referido tambeacutem contribuiu para o

levantamento de elementos ou pistas para a reduccedilatildeo da distacircncia entre as reais necessidades

dos empreendimentos e o aparato da contabilidade para seu atendimento Com base nessas

evidecircncias empiacutericas e na bibliografia pesquisada evidenciaram-se os seguintes elementos

A nova linguagem deveria ser simples e objetiva buscando a aproximaccedilatildeo da

linguagem contaacutebil agrave linguagem coloquial dos trabalhadores Assim ela seria acessiacutevel

e apropriada agrave sua realidade social

Os novos instrumentos de informaccedilatildeo contaacutebil deveriam satisfazer plenamente as

reais necessidades de informaccedilatildeo dos empreendimentos expressando a dinacircmica e

complexidade da autogestatildeo Deveriam tambeacutem propiciar informaccedilotildees permanentes

que permitam o monitoramento e avaliaccedilatildeo da execuccedilatildeo das accedilotildees planejadas

coletivamente Nessa reflexatildeo vale a pena resgatar os elementos apontados pelos

autores Almeida e Dantas (2005) no cap 3 agrave construccedilatildeo de novos instrumentos Para

os autores eacute necessaacuterio aprofundar-se em pesquisas de novos procedimentos contaacutebeis e

refletir sobre a possibilidade de adaptaccedilatildeo de alguns procedimentos e sistemas contaacutebeis

106

alternativos dentre os quais a Contabilidade por Fundos Contabilidade Orccedilamentaacuteria e

a Mensuraccedilatildeo do Resultado Econocircmico

Uma nova atuaccedilatildeo dos profissionais da aacuterea contaacutebil deveria ser pautada em duas

frentes pesquisa praacutetica (para resoluccedilatildeo de problemas) e na transmissatildeo do

conhecimento (formaccedilatildeo) Isso requer o desenvolvimento de novas qualidades e

habilidades ou seja um novo perfil dos contadores Algumas caracteriacutesticas desse novo

contador conhecer as teacutecnicas saber resolver problemas saber transferir conhecimento

ter sensibilidade saber sensibilizar saber dialogar ser um comunicador usar uma

linguagem apropriada aos trabalhadores paciecircncia para ensinar habilidade para

simplificar disposiccedilatildeo e capacidade para criar disposiccedilatildeo para ouvir discutir e

aprender Essas caracteriacutesticas somam-se agravequelas levantadas por autores no cap3 No

que tange agrave formaccedilatildeo dos trabalhadores em contabilidade alguns elementos tambeacutem

foram identificados Essa deveria utilizar a educaccedilatildeo popular sensibilizar para a

importacircncia da contabilidade ser permanente e estruturada de forma crescente

A nova formaccedilatildeo dos contadores remete agrave discussatildeo de um outro curriacuteculo o qual

deveria ser baseado na realidade da economia brasileira e nas necessidades da classe

trabalhadora Uma outra questatildeo associada diz respeito ao incremento de pesquisas

sobre ES ou seja a produccedilatildeo acadecircmica deveria voltar-se mais para estudos de

interesse da classe trabalhadora tal como o tema Economia Solidaacuteria Deveria

tambeacutem buscar as perguntas ou temas geradores das pesquisas na proacutepria sociedade

como tambeacutem problematizar refletir a partir deles

A legislaccedilatildeo contaacutebil deveria ser reformulada a partir de uma nova formataccedilatildeo

juriacutedica dos empreendimentos autogestionaacuterios na qual se reconhecessem os

empreendimentos autogestionaacuterios como novos atores Com base nesse pressuposto a

legislaccedilatildeo contaacutebil deveria segregar tributariamente os grandes e pequenos

empreendimentos As demonstraccedilotildees exigidas por lei deveriam efetivamente ser

instrumentos de informaccedilatildeo e natildeo apenas obrigatoriedade legal Para tanto deveriam

ser criados relatoacuterios condizentes com a necessidade informacional desse segmento

social no tocante agrave mensuraccedilatildeo escrituraccedilatildeo e evidenciaccedilatildeo dos eventos econocircmicos e

sociais

107

Portanto este trabalho soma-se agraves pesquisas anteriores ampliando o campo de conhecimento

sobre o assunto mediante o levantamento de novas demandas e identificando novos elementos

agrave construccedilatildeo de uma nova relaccedilatildeo entre contabilidade e autogestatildeo Entretanto como

mencionado ainda haacute muitas demandas para aprofundamento de pesquisas sobre novos

instrumentos de informaccedilatildeo formaccedilatildeo do contador da ES legislaccedilatildeo contaacutebil para a

autogestatildeo entre outras Cabe ressaltar entretanto que pesquisas nessa aacuterea tecircm como preacute-

requisito a assimilaccedilatildeo do contexto no qual a contabilidade estaacute inserida

Por isso nesta pesquisa foi necessaacuterio compreender o significado conceitual e operacional da

autogestatildeo e sua vinculaccedilatildeo com conceitos de participaccedilatildeo democracia e cidadania Nessa

perspectiva a participaccedilatildeo democraacutetica soacute se faz fecunda quando haacute equumlidade no acesso agraves

informaccedilotildees e igualdade econocircmica entre os trabalhadores que participam do processo

decisoacuterio da gestatildeo

Nesse contexto a contabilidade tem fundamental importacircncia uma vez que eacute requerida

enquanto instrumento vital da democracia aquele capaz de promover a simetria

informacional proporcionar a transparecircncia da gestatildeo propiciar a participaccedilatildeo cidadatilde e

auxiliar na instauraccedilatildeo da confianccedila entre os trabalhadores Desse modo a contabilidade

reafirma seu papel social mediante sua contribuiccedilatildeo ao desenvolvimento econocircmico de

empreendimentos promotores da inclusatildeo social e de auxiacutelio ao desenvolvimento de relaccedilotildees

mais humanas e solidaacuterias

108

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APEcircNDICES

116

APEcircNDICE 01 - PROTOCOLO DE PESQUISA

1 -VISAtildeO GERAL DO PROJETO

Tiacutetulo Contabilidade e Autogestatildeo - Um estudo sobre a dimensatildeo contaacutebil nos processos de

autogestatildeo dos empreendimentos de Economia Solidaacuteria

11 Objetivos da pesquisa

O objetivo desta pesquisa eacute compreender e analisar a dimensatildeo contaacutebil nos processos de

autogestatildeo em empreendimentos solidaacuterios levantando seus desafios e as demandas

contaacutebeis suscitadas nesse processo a partir de 06 perspectivas a) Forma de comunicaccedilatildeo b)

Conteuacutedo da informaccedilatildeo c) Utilidade da informaccedilatildeo d) Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo e)

Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio f) Legislaccedilatildeo contaacutebil

12 Questotildees de pesquisa

Os objetivos da pesquisa podem ser traduzidos a partir das seguintes questotildees

1) Como a informaccedilatildeo contaacutebil eacute empregada nos empreendimentos autogestionaacuterios

2) Quais os desafios e demandas suscitados em cada um dos aspectos da dimensatildeo contaacutebil

nos processos de autogestatildeo

117

13 Hipoacuteteses

A partir da revisatildeo da literatura depreende-se que a informaccedilatildeo contaacutebil eacute essencial a qualquer

entidade puacuteblica ou privada Que esta informaccedilatildeo para ser uacutetil agrave tomada de decisotildees deve

revestir-se de alguns pressupostos sejam eles relevacircncia comparabilidade materialidade

Em se tratando da informaccedilatildeo contaacutebil apropriada para os empreendimentos de Economia

Solidaacuteria os estudos recentes sugerem que a informaccedilatildeo contaacutebil natildeo atende satisfatoriamente

agraves demandas informacionais da Economia Solidaacuteria

Dessa forma situando-se na linha das pesquisas anteriores esta investigaccedilatildeo parte do

pressuposto de que os empreendimentos solidaacuterios tecircm necessidades informacionais ainda

natildeo atendidas satisfatoriamente pelo aparato contaacutebil disponiacutevel Tendo em vista que os

empreendimentos possuem dupla natureza econocircmica e social e ainda que os usuaacuterios da

contabilidade satildeo trabalhadores natildeo acostumados com a linguagem de mercado as demandas

suscitadas agrave contabilidade e a necessidades dos empreendimentos autogestionaacuterios passam

pelos seguintes aspectos

a) Forma de comunicaccedilatildeo dos eventos ocorridos (linguagem demonstraccedilotildees)

b) Conteuacutedo da informaccedilatildeo (natildeo expressa a complexidade da autogestatildeo orccedilamento

coletivo execuccedilatildeo compartilhada etc)

c) Utilidade da informaccedilatildeo (deveria auxiliar em todos os processos de gestatildeo-

planejamento execuccedilatildeo controle e avaliaccedilatildeo dos resultados)

d) Apropriaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil (a contabilidade ainda eacute uma caixa preta

conhecida apenas pelos contadores necessidade de popularizar a contabilidade atraveacutes de

teacutecnicas de ensino apropriadas para o puacuteblico)

e) Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio (contadores natildeo preparados para lidar com a

especificidade da autogestatildeo)

f) Legislaccedilatildeo contaacutebil (ela estaacute adequada agrave realidade dos empreendimentos)

118

Em siacutentese o resultado encontrado poderaacute ser esquematizado conforme quadro abaixo

Quadro-resumo dos resultados

Realidade encontrada

( o que eacute) Realidade esperada

Dimensotildees cooperados especialistas contadores ( o que deveria ser)

1- Forma de comunicaccedilatildeo 2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo 3- Utilidade da informaccedilatildeo 4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo 5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio 6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

O quadro traccedilaraacute um paralelo entre a realidade observada captada pelas lentes dos

cooperados especialistas e contadores e a realidade esperada desenhada pelas observaccedilotildees

entrevistas e literatura consultada As dimensotildees listadas no quadro representam os

aspectos contaacutebeis a serem analisados os quais satildeo descritos em seguida

1 Forma de comunicaccedilatildeo

Neste dimensatildeo seraacute avaliada a linguagem dos relatoacuterios demonstraccedilotildees e outros

instrumentos da contabilidade Conforme a bibliografia pesquisada a linguagem contaacutebil eacute

formal distanciando-se dos trabalhadores que na maioria natildeo possuem altos niacuteveis de

escolaridade A linguagem natildeo traduz a realidade econocircmica e financeira da entidade

2 Conteuacutedo da informaccedilatildeo

O conteuacutedo diz respeito agrave informaccedilatildeo contaacutebil em si Conforme observaccedilotildees de autores a

contabilidade tradicional natildeo consegue captar a complexidade das relaccedilotildees inclusas no

processo de autogestatildeo tais como o orccedilamento elaborado coletivamente a execuccedilatildeo e

controles compartilhados A intenccedilatildeo eacute averiguar este aspecto

119

3 Utilidade da informaccedilatildeo

Quando se avalia a utilidade da informaccedilatildeo estaacute se perguntando se a contabilidade eacute

efetivamente supridora das informaccedilotildees necessaacuterias agraves etapas do processo de autogestatildeo ou

seja se ela auxilia no processo de tomada de decisotildees gerenciais Eis a questatildeo

4 Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Aqui busca-se avaliar se a contabilidade consegue ser assimilada pelos trabalhadores usuaacuterios

da mesma Um dos princiacutepios fundamentais da Economia Solidaacuteria sugere a socializaccedilatildeo de

todo o conhecimento de gestatildeo em oposiccedilatildeo agrave tiacutepica empresa que resguarda estes

conhecimentos ao grupo da gerecircncia Com base nesse princiacutepio presume-se que os

trabalhadores da ES devam tambeacutem se apropriar do conhecimento contaacutebil Dessa forma

busca-se nessa perspectiva compreender as dificuldades para a assimilaccedilatildeo do conhecimento

contaacutebil

5 Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Nesta perspectiva seraacute analisada a relaccedilatildeo dos usuaacuterios dos empreendimentos

autogestionaacuterios com os profissionais da aacuterea contaacutebil Conforme relatos contidos na

bibliografia pesquisada as aacutereas teacutecnicas tecircm dificuldades de perceber a especificidade da

autogestatildeo Portanto pretende-se compreender o envolvimento do contabilista com a

autogestatildeo

6 Legislaccedilatildeo contaacutebil

Alguns autores argumentam que a legislaccedilatildeo contaacutebil ainda natildeo capta a especificidade da

autogestatildeo Isso se aplica agrave forma de registro dos eventos econocircmico-financeiros agraves

demonstraccedilotildees contaacutebeis e tambeacutem agrave constituiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo destas entidades Portanto

cabe focar os itens em que a legislaccedilatildeo natildeo atende agraves necessidades particulares destas

entidades

14 Criteacuterios para a seleccedilatildeo da unidade de estudo

O principal criteacuterio para a escolha da unidade onde se processaraacute a investigaccedilatildeo eacute a

autogestatildeo Isto eacute buscou-se um empreendimento em que a gestatildeo eacute realizada por todos os

trabalhadores em oposiccedilatildeo aos empreendimentos nos quais a administraccedilatildeo eacute exercida

120

apenas pelos diretores Participar da gestatildeo significa atuar nos altos niacuteveis de decisotildees

aquelas que vatildeo aleacutem da organizaccedilatildeo do trabalho mas que tambeacutem compreendem a indicaccedilatildeo

da destinaccedilatildeo dos recursos organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e demais decisotildees que afetem a vida da

entidade

Outro criteacuterio importante utilizado foi a formalizaccedilatildeo do empreendimento Com se sabe a

economia solidaacuteria tambeacutem eacute compreendida por empreendimentos coletivos informais Tal

opccedilatildeo se deve ao fato de que a inscriccedilatildeo junto aos oacutergatildeos governamentais necessariamente

requerer uma organizaccedilatildeo contaacutebil mais formal

Dessa forma estas entidades possuem registros formais de suas atividades possibilitando as

bases para a investigaccedilatildeo

2 COLETA DE DADOS

O estudo de caso cuja intenccedilatildeo eacute desvelar a realidade da dimensatildeo contaacutebil nos

empreendimentos autogestionaacuterios selecionou as seguintes teacutecnicas de coleta de dados

Entrevistas

Registro em arquivos

Observaccedilatildeo direta

As entrevistas com cooperados especialistas e profissionais da aacuterea contaacutebil pretendem

capturar informaccedilotildees sobre os procedimentos contaacutebeis utilizados a percepccedilatildeo sobre os

instrumentos de informaccedilatildeo contaacutebil os desafios para sua assimilaccedilatildeo enfim propiciaratildeo

elementos que avaliem os aspectos contaacutebeis ou seja caracterizaratildeo as dimensotildees de anaacutelise

Os registros em arquivos tambeacutem contribuiratildeo para a definiccedilatildeo das dimensotildees de anaacutelise

mais especificamente contribuiratildeo para descriccedilatildeo anaacutelise e compreensatildeo dos relatoacuterios e

documentos contaacutebeis utilizados pela entidade

Finalmente a observaccedilatildeo direta captaraacute pormenores e detalhes que complementaratildeo as

outras teacutecnicas tais como ambiente fiacutesico cotidiano de trabalho relaccedilotildees interpessoais

processos de decisotildees etc

121

3 QUESTOtildeES ORIENTADORAS Agrave COLETA DE DADOS

A coleta de dados natildeo prescinde de um roteiro baacutesico de questotildees que oriente agrave captaccedilatildeo de

dados Dessa forma abaixo satildeo apresentadas questotildees relacionadas que extraem informaccedilotildees

sobre aspectos descritivos da entidade bem como informaccedilotildees diretamente relacionadas com

as dimensotildees em questatildeo assim organizadas

A) Ambiente externo

1) Quais satildeo os clientes e fornecedores da empresa

2) Quais satildeo os principais concorrentes

3) Estaacute inserida em alguma rede de produccedilatildeo ou comercializaccedilatildeo

4) Tecircm algum tipo de assessoria administrativa contaacutebil e juriacutedica

5) Recebe recursos externos doaccedilotildees De entidades privadas ou puacuteblicas Quais

6) Quais as legislaccedilotildees vigentes que influenciam em suas atividades nos aspectos

operacionais financeiros e econocircmicos

7) Participa de algum foacuterum ou oacutergatildeo de representaccedilatildeo nacional eou internacional

8) A entidade desenvolve algum projeto social

B) Sistema organizacional

1) Qual a missatildeo da entidade (razatildeo de ser)

2) Existe um planejamento estrateacutegico Eacute formalizado (documentado registrado)

3) Existe um processo de planejamento execuccedilatildeo controle e avaliaccedilatildeo do plano

4) Quando acontecem as reuniotildees de planejamento

5) Como ocorre o controle da execuccedilatildeo deste planejamento

6) Existe um manual de normas e procedimentos ou regimento interno para o processo de

gestatildeo e funccedilatildeo dos gestores

7) Existem criteacuterios de avaliaccedilatildeo de desempenhos para a gestatildeo E quais satildeo os indicadores e

criteacuterios

8) Existe um sistema de informaccedilatildeo que auxilie no planejamento das atividades

9) A entidade possui um organograma

10)Quais satildeo as aacutereas

122

11)Quais satildeo os departamentos quem satildeo os responsaacuteveis

12)Quais as funccedilotildees de cada aacutereadepartamento

13)Como se relacionam as diversas aacutereas e atividades

C) Sistema social (Organizaccedilatildeo do trabalho)

1) Como satildeo distribuiacutedas as funccedilotildees

2) Como satildeo indicados os coordenadores dos departamentosaacutereas

3) Quais os criteacuterios de definiccedilatildeo das remuneraccedilotildees dos trabalhadores

4) Existem faixas de salaacuterios Como funciona

5) Existe um sistema de rotatividade de funccedilotildees

6) Os trabalhadores tecircm qualificaccedilatildeo teacutecnica apropriada a cada funccedilatildeo

7) Como estaacute organizado o sistema de qualificaccedilatildeo

8) Existe uma poliacutetica de motivaccedilatildeo organizacional

9) Como eacute o controle e organizaccedilatildeo da jornada de trabalho

10)Quais satildeo os benefiacutecios e programas direcionados aos trabalhadores e familiares

11)Como satildeo tratados os atrasos e as faltas no trabalho

12)Existe um sistema de registro e controle de recursos humanos

D) Sistema Operacional

1) Quais as principais atividades econocircmicas do empreendimento

2) Como estaacute organizada a aacuterea de produccedilatildeo ( deptos funccedilotildees)

3) Quais satildeo as formas de registros dos custos e resultados da produccedilatildeo

4) Como estaacute organizado o processo de compras Haacute um sistema

5) Haacute um sistema de controle de estoques de mateacuteria-prima e de produccedilatildeo

6) Como eacute determinado o preccedilo de venda dos produtos

7) Existe um sistema de monitoramento de vendas e de apuraccedilatildeo de resultados

8) Haacute um assessoramento juriacutedico na confecccedilatildeo dos contratos de venda

9) Qual a composiccedilatildeo do capital (distribuiccedilatildeo das quotas-partes)

123

10)Como eacute o processo de tomada de decisatildeo sobre captaccedilatildeo de recursos

11)Como estaacute a composiccedilatildeo de diacutevidas Centra-se no curto prazo ou longo prazo

12)Haacute um sistema de informaccedilotildees que auxilie na tomada de decisotildees sobre captaccedilatildeo de

recursos

E) Sistema de Informaccedilotildees

1) Existe um sistema de informaccedilotildees que subsidie as decisotildees gerenciais da entidade (comprar

vender emprestar renegociar)

2) Como estaacute organizada a contabilidade da entidade Haacute um registro formal

3) Quem realiza os registros das informaccedilotildees dos eventos ocorridos na entidade De que

forma

4) Haacute um sistema de integraccedilatildeo entre as diversas aacutereas da entidade (produccedilatildeo venda

financeiro)

5) Quais relatoacuterios satildeo produzidos

6) Existe a contabilidade dos custos das atividades

7) Como a apuraccedilatildeo dos custos eacute realizada e como esta informaccedilatildeo eacute utilizada pela entidade

8) Haacute um sistema de orccedilamento das atividades previstas

9) Quais informaccedilotildees satildeo utilizadas na confecccedilatildeo desse orccedilamento

10)Como satildeo realizados o acompanhamento comparaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo das metas e planos

estabelecidos no orccedilamento

11)Como eacute realizado o controle financeiro Haacute um sistema de fluxo de caixa

12)Haacute um sistema de contabilidade gerencial

13)Este sistema auxilia nas decisotildees da gestatildeo De que forma

14)Haacute um sistema que produz indicadores econocircmico-financeiros

15)Como estatildeo organizadas as informaccedilotildees sobre os clientes e fornecedores Haacute um banco

de dados

16)Eacute feito algum tipo de pesquisa de mercado Consulta a clientes

17)Quais os meios utilizados para conhecimento do mercado em que a entidade atua

F) Apreensatildeo do conhecimento contaacutebil

124

1) Quem elabora os relatoacuterios contaacutebeis

2) O conselho fiscal da entidade compreende os relatoacuterios contaacutebeis

3) O que os cooperados pensam da linguagem dos relatoacuterios sabem o que eacute um ativo

passivo e PL

4) Os cooperados tecircm acesso aos relatoacuterios de custos compras vendas e outros relatoacuterios

gerenciais

5) Satildeo promovidos cursos e palestras sobre gestatildeo dos negoacutecios e contabilidade

6) Existe uma entidade de apoio que contribua para a apreensatildeo da gestatildeo do negoacutecio e

contabilidade

G) Informaccedilotildees da entidade de apoio

1) Qual o histoacuterico da entidade

2) A entidade estaacute inserida a alguma rede ou associada a algum oacutergatildeo de representaccedilatildeo

nacional ou internacional

3) Recebe algum recurso puacuteblico governamental ou privado para realizar esta atividade

4) A quantas iniciativas solidaacuterias jaacute apoiou

5) Quais as formas de apoio realizado junto agraves iniciativas

6) Em quais aacutereas de conhecimento a entidade atua

7) Como eacute a relaccedilatildeo com os profissionais dessas aacutereas

8) Como eacute o relacionamento com os profissionais da aacuterea contaacutebil

9) A contabilidade e contabilistas adaptam-se facilmente agrave dinacircmica da autogestatildeo

10)Onde residem os maiores problemas para adaptaccedilatildeo

11)Como eacute repassado o conhecimento na aacuterea contaacutebil agraves entidades apoiadas

12)Na visatildeo da entidade os trabalhadores compreendem facilmente a informaccedilatildeo contaacutebil

13)Quais os maiores desafios nessa transmissatildeo

14)A contabilidade tradicional atende agraves necessidades de informaccedilatildeo da autogestatildeo Por quecirc

15)Em que aspectos a contabilidade poderia mudar

16)Qual a importacircncia da contabilidade para a autogestatildeo

17)Os sistemas de informaccedilotildees contaacutebeis satildeo acessiacuteveis Quem fornece

18)A legislaccedilatildeo contaacutebil atende plenamente agraves necessidades da autogestatildeo (formas de

registros demonstraccedilotildees)

125

5 GUIA PARA O RELATOacuteRIO FINAL

Apesar de natildeo haver nenhuma forma estereotipada para escrever um relatoacuterio de um estudo de

caso existem estrateacutegias para redigi-lo a fim de tornaacute-lo inteligiacutevel e palataacutevel ao leitor Dessa

forma a estrateacutegia selecionada para apresentar os resultados dentre as expostas por Yin (

2005 p177-180) eacute a narrativa a qual pode ser ilustrada por tabelas graacuteficos e imagens

Optou-se pela estrutura analiacutetica linear enquanto estrutura composicional do relatoacuterio Esta

estrutura eacute comumente utilizada nos relatoacuterios de estudos de casos No modelo os subtoacutepicos

compreendem o tema ou o problema que estaacute sendo estudado e uma revisatildeo da literatura Em

seguida os subtoacutepicos partem para a anaacutelise dos meacutetodos utilizados das descobertas feitas a

partir dos dados coletados e analisados e das conclusotildees e implicaccedilotildees feitas a partir das

descobertas

O relatoacuterio iniciaraacute a ser redigido tatildeo logo esteja concluiacuteda a revisatildeo de literatura comeccedilando

com o subtoacutepico da metodologia empregada em que se aprimoraraacute a metodologia inclusa no

projeto de estudo de caso

Tambeacutem poderatildeo ser redigidas antes do teacutermino da coleta de dados as informaccedilotildees

descritivas da unidade em estudo que consiste de dados quantitativos e qualitativos

concernentes ao caso

Apoacutes a coleta de dados estes seratildeo sistematizados em um Banco de dados sobre o caso cujas

informaccedilotildees seratildeo a base do relatoacuterio final

126

APEcircNDICE 02 - SOLICITACcedilAtildeO DE AUTORIZACcedilAtildeO PARA PESQUISA

127

APEcircNDICE 03 ROTEIRO DE ENTREVISTAS PARA COOPERADOS DA

COOPRAM

Entrevistado

1- Haacute quanto tempo eacute cooperado desta cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Qual eacute o setor em que trabalha E sua funccedilatildeo

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- Quais satildeo suas habilidades profissionais e qual a sua formaccedilatildeo escolar

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- O seu setor produz algum tipo de relatoacuterio ou registro das atividades

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- Em relaccedilatildeo aos relatoacuterios da contabilidade da cooperativa vocecirc tem acesso a eles Quando

Quais

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6- O que acha da linguagem dos relatoacuteriosVocecirc sabe o que eacute um ativo ou passivo ou PL

Sabe identificar o lucro da cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 - Jaacute participou de algum curso de formaccedilatildeo em contabilidade Quem promoveu

128

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8- Acha que o curso ajudou a compreender a contabilidade Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- Em sua opiniatildeo como deveriam ser apresentadas as informaccedilotildees financeiras da

cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- E os cursos de formaccedilatildeo em contabilidade como acha que deveria ser Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- Jaacute conversou com o contador da entidade alguma vez para pedir esclarecimentos Eles

conseguiram tirar suas duacutevidas Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

13- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

129

APEcircNDICE 04 ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA CONTADORES

Entrevistado

1- Haacute quanto tempo trabalha com a Economia Solidaacuteria

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- Vocecirc acredita que o aparato contaacutebil vigente para as cooperativas e empresas autogeridas

satisfaz agraves necessidades de informaccedilatildeo destes empreendimentos no que tange ao conteuacutedo e

forma da informaccedilatildeo Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- E quanto a legislaccedilatildeo das cooperativas acha que eacute adequada agrave realidade da ES

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- Os empreendimentos com os quais trabalha utiliza a informaccedilatildeo contaacutebil nos vaacuterios

processos de gestatildeo como planejamento controle e execuccedilatildeoSe natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6- Em relaccedilatildeo aos registros dos eventos de uma cooperativa haacute algum conflito entre a praacutetica

e a legislaccedilatildeo contaacutebil Exemplifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

130

7- Jaacute Ministrou algum curso de formaccedilatildeo em contabilidade Quais as caracteriacutesticas desse

curso

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8- A contabilidade eacute faacutecil de ser compreendida pelos trabalhadores Se natildeo em sua visatildeo

quais os principais problemas enfrentados pelos trabalhadores para a compreensatildeo do

conhecimento contaacutebil

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- No que difere sua atuaccedilatildeo em empresas tradicionais e em empreendimentos

autogestionaacuterios

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- Em sua opiniatildeo como deveriam ser apresentadas as informaccedilotildees financeiras e econocircmicas

da cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- E os cursos de formaccedilatildeo em contabilidade como acha que deveriam ser Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

13- Acredita que a formaccedilatildeo dos contadores em curso prepara para o trabalho com

empreendimentos de ES Como poderia ser

131

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

14 - Em sua opiniatildeo o que poderia ser mudado para que a contabilidade contribua

efetivamente com o processo de autogestatildeo

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

132

APEcircNDICE 05 ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA DIRETORES DA COOPRAM

Entrevistado

1- Haacute quanto tempo eacute cooperado desta cooperativa e desde quando estaacute na diretoria

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Quais satildeo suas habilidades profissionais e qual a sua formaccedilatildeo escolar

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- A sua diretoria elabora algum tipo de relatoacuterio de informaccedilotildees operacionais econocircmicas

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- Em relaccedilatildeo aos relatoacuterios da contabilidade da cooperativa vocecirc tem acesso a eles Quando

Quais

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- A sua diretoria utiliza os relatoacuterios ou informaccedilotildees da contabilidade para tomar algum tipo

de decisatildeo gerencial Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6- A contabilidade eacute faacutecil de ser compreendida Se natildeo em sua visatildeo quais os principais

problemas enfrentados pelos trabalhadores para a compreensatildeo do conhecimento contaacutebil

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

133

7- Jaacute conversou com o contador da entidade alguma vez para pedir esclarecimentos sobre os

relatoacuterios contaacutebeis Eles conseguiram tirar suas duacutevidas Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8 -Jaacute participou de algum curso de formaccedilatildeo em contabilidade Quem promoveu

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- Acha que o curso ajudou a compreender a contabilidade Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- Em sua opiniatildeo como deveriam ser apresentadas as informaccedilotildees financeiras e econocircmicas

da cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- E os cursos de formaccedilatildeo em contabilidade como acha que deveriam ser Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

13- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

134

14 - Em sua opiniatildeo o que poderia ser mudado para que a contabilidade contribua

efetivamente com o processo de autogestatildeo

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

135

APEcircNDICE 06 ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA ESPECIALISTAS

1- Haacute quanto tempo trabalha com a Economia Solidaacuteria E nesta entidade

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Qual eacute a relaccedilatildeo de apoio que a entidade manteacutem com as cooperativas

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- Qual eacute a estrutura de apoio que a entidade possui no que diz respeito agrave contabilidade

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- As cooperativas acompanhadas utilizam a informaccedilatildeo contaacutebil nos vaacuterios processos de

autogestatildeo tais como o levantamento de custos dos produtos planejamento execuccedilatildeo e

controle dos recursos da entidade Se natildeo por que natildeo utilizam

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 - Como eacute realizada a formaccedilatildeo dos trabalhadores em contabilidade

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7- A contabilidade eacute facilmente assimilada pelos trabalhadores Se natildeo em sua visatildeo quais

os principais problemas que os trabalhadores enfrentam para a apropriaccedilatildeo do conhecimento

contaacutebil

136

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8- Com relaccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo cooperativista vigente acredita que seja apropriada agrave realidade

dos empreendimentos de ES Em que pontos residem os maiores entraves

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- Avalia que os contadores de uma forma geral conhecem suficientemente bem a legislaccedilatildeo

cooperativista a ponto de proporcionar um adequado acompanhamento aos empreendimentos

Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- Como vecirc o envolvimento dos profissionais da aacuterea contaacutebil no processo de autogestatildeo

Eles entendem rapidamente a dinacircmica dos empreendimentos

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12 - Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do contador acredita que o contador da Economia Solidaacuteria

deveria ter uma formaccedilatildeo diferenciada Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Page 2: SUM`RIO LISTA DE QUADROS2 1 INTRODU˙ˆO · 2007. 5. 29. · Yin (2005, p.32) constrói a definiçªo tØcnica do estudo de caso de duas maneiras. Na primeira, aborda o escopo de

2

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1- RESUMO DOS RESULTADOS13

QUADRO 2- DIFERENCcedilAS ENTRE ASSOCIACcedilOtildeES E COOPERATIVAS 38

QUADRO 3- PERSPECTIVAS DA PARTICIPACcedilAtildeO E SUAS POSSIacuteVEIS

REPERCUSSOtildeES 44

QUADRO 4- RELEVAcircNCIA DA INFORMACcedilAtildeO 61

QUADRO 5- CONTABILIDADE ORCcedilAMENTAacuteRIA72

QUADRO 6- FORMA DE COMUNICACcedilAtildeO 82

QUADRO 7- CONTEUacuteDO DA INFORMACcedilAtildeO85

QUADRO 8 - UTILIDADE DA INFORMACcedilAtildeO 87

QUADRO 9 - APROPRIACcedilAtildeO DA INFORMACcedilAtildeO91

QUADRO 10 - RELACcedilAtildeO CONTADOR-USUAacuteRIO 95

QUADRO 11- LEGISLACcedilAtildeO CONTAacuteBIL100

3

1 INTRODUCcedilAtildeO

Este trabalho apresenta a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre Contabilidade e Autogestatildeo A

autogestatildeo marca registrada da Economia Solidaacuteria (ES) eacute um modelo de gestatildeo

caracterizado pela administraccedilatildeo participativa e democraacutetica ou seja uma gestatildeo

compartilhada pelos trabalhadores Tendo em vista a dupla natureza dos empreendimentos

de ES econocircmica e social partiu-se do pressuposto de que se constituem em um novo grupo

de usuaacuterios da contabilidade e como tal possui demandas peculiares agrave sua natureza Dessa

forma esta pesquisa buscou por meio de uma investigaccedilatildeo empiacuterica compreender e analisar

a dimensatildeo contaacutebil nos processos de autogestatildeo dos empreendimentos solidaacuterios levantando

seus desafios e demandas contaacutebeis suscitadas nesse processo

Conforme literatura existente e praacutetica corrente a autogestatildeo eacute mais que um modelo de

gestatildeo consiste em uma forma proacutepria de um sistema de relaccedilotildees sociais econocircmicas e

culturais que visa agrave emancipaccedilatildeo democraacutetica do cidadatildeo e que a proacutepria contabilidade e o

contador ao se inserirem nesse processo tambeacutem sofrem transformaccedilotildees Portanto ao

analisar a dimensatildeo contaacutebil no ambiente da autogestatildeo isso natildeo se faz isoladamente visto

que a forma de compreensatildeo da realidade se insere numa perspectiva de totalidade Totalidade

natildeo como pretensatildeo de revelar ou explicar todo o real mas como perspectiva

metodoloacutegica que busca explicar e fenocircmeno em seu contexto de modo a ampliar a sua

compreensatildeo

Parafraseando Trivintildeos (1994 p 14) [] Achamos que natildeo podemos prescindir quando

pesquisamos da ideacuteia da historicidade e da iacutentima relaccedilatildeo e interdependecircncia dos

fenocircmenos sociais Assim a contabilidade e o papel do contador natildeo satildeo entendidos per si

mas como uma necessidade que se inscreve pelo interesse de grupos sociais que se constituem

historicamente

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11 Caracterizaccedilatildeo do problema e justificativa

Conforme Hendriksen e Van Breda (1999 p 135) eacute funccedilatildeo da contabilidade [] fornecer

informaccedilatildeo quantitativa principalmente de natureza financeira sobre as entidades

econocircmicas de utilidade para a tomada de decisotildees econocircmicas Dessa forma nenhuma

entidade juriacutedica seja ela puacuteblica ou privada com ou sem fins lucrativos pode prescindir da

informaccedilatildeo contaacutebil agrave tomada de decisotildees Portanto a contabilidade eacute fundamental a todos

os entes juriacutedicos

No caso dos empreendimentos da ES a situaccedilatildeo natildeo difere das outras empresas no que diz

respeito agrave necessidade da contabilidade O processo de autogestatildeo requer a participaccedilatildeo

cotidiana dos trabalhadores na tomada de decisatildeo seja na deliberaccedilatildeo da organizaccedilatildeo do

trabalho ou nas decisotildees de alto niacutevel (decisotildees que interferem no rumo poliacutetico e econocircmico

da entidade tais como planejamento investimento etc) Essa praacutetica constante de

cooperaccedilatildeo solidariedade trabalho conjunto deliberaccedilotildees propicia o desenvolvimento

humano poliacutetico e social Mas para a efetivaccedilatildeo da autogestatildeo os empreendimentos

necessitam da contabilidade enquanto instrumento de gestatildeo para atingir seus objetivos

econocircmicos eou sociais

Entretanto a ES requer o envolvimento de profissionais com uma outra abordagem de

negoacutecio ou seja que compreendam a vocaccedilatildeo econocircmico-social do empreendimento O

relato da ANTEAG (2005) caracteriza o problema

[] Essa eacute uma dificuldade tiacutepica da divisatildeo do trabalho esse tipo de problema derivado da

contrataccedilatildeo de terceiros pode ser caracteriacutestico da inovaccedilatildeo que a autogestatildeo representa e que

natildeo eacute parte da formaccedilatildeo de profissionais cuja atuaccedilatildeo se daacute em empresas convencionais

segundo as regras convencionais do mercado que natildeo tem qualquer interesse em saber como

se realiza o processo de produccedilatildeo ou que qualidade de trabalho estaacute realizada no produto

Poderiacuteamos acrescentar exemplos das mais diferentes aacutereas juriacutedica tecnoloacutegica tributaacuteria e

contaacutebil em que o profissional contratado acaba sendo disfuncional para a

empresaempreendimento por desconhecer as condiccedilotildees que diferenciam a autogestatildeo

(ANTEAG 2005 p 20)

No relato fica patente a solicitaccedilatildeo da autogestatildeo por abordagens diferenciadas nas diversas

aacutereas Essas aacutereas acostumadas com o arcabouccedilo de conhecimento do mercado convencional

tecircm dificuldade em perceber as particularidades da ES No caso da contabilidade essa

preocupaccedilatildeo foi o foco de Michels (1995) que em seu trabalho reconhece as especificidades

da autogestatildeo e chama a atenccedilatildeo para a necessidade de estudos empiacutericos que identifiquem as

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demandas de informaccedilotildees contaacutebeis desses usuaacuterios Nessa mesma perspectiva Almeida e

Dantas (2005) sugerem o aprofundamento de estudos sobre novas sistemaacuteticas contaacutebeis as

quais se adaptem agraves necessidades informacionais da ES

Dessa forma este trabalho se justifica pela necessidade de aprofundamento de estudos da

relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo mediante os quais se possam compreender os vaacuterios

aspectos da utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil nos empreendimentos de ES a fim de

diagnosticar com maior propriedade os desafios e demandas contaacutebeis provenientes desse

grupo social Portanto a expectativa dessa investigaccedilatildeo caracterizada por uma abordagem

metodoloacutegica e integrativa (contabilidade-autogestatildeo) eacute que os resultados encontrados

somem-se agraves pesquisas anteriores sobre o assunto ampliando o seu campo de conhecimento

Considerando que a contabilidade estaacute inserida em um contexto histoacuterico econocircmico

poliacutetico e social mais amplo e compreendendo a importacircncia da ES na inclusatildeo social dos

trabalhadores desempregados bem como da autogestatildeo enquanto instrumento de exerciacutecio

da democracia enxerga-se a grande importacircncia da contabilidade nesse processo cuja

contribuiccedilatildeo eacute fundamental para a concretizaccedilatildeo da autogestatildeo das empresas e para

efetivaccedilatildeo do papel social da contabilidade

12 Questotildees de pesquisa

Considerando a importacircncia da inserccedilatildeo da contabilidade no contexto da autogestatildeo e a

necessidade de apreensatildeo na praacutetica das diversas faces desse fenocircmeno foram definidas

as seguintes questotildees como norteadoras deste estudo

a) Como a informaccedilatildeo contaacutebil eacute empregada nos empreendimentos autogestionaacuterios

b) Quais os desafios e demandas suscitados nos vaacuterios aspectos da dimensatildeo contaacutebil nos

processos de autogestatildeo

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13 Objetivos

131 Objetivo geral

O objetivo desta pesquisa foi compreender e analisar a dimensatildeo contaacutebil nos processos de

autogestatildeo dos empreendimentos solidaacuterios levantando seus desafios e demandas contaacutebeis

suscitadas nesse processo envolvendo seis perspectivas a) Forma de comunicaccedilatildeo b)

Conteuacutedo da informaccedilatildeo c) Utilidade da informaccedilatildeo d) Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo e)

Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio e f) Legislaccedilatildeo contaacutebil

132 Objetivos especiacuteficos

Com base no objetivo geral foram estabelecidos os seguintes objetivos especiacuteficos

relacionados com esta pesquisa

a) Descrever o processo de utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil nas vaacuterias etapas do

processo de gestatildeo

b) Identificar e analisar as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores na utilizaccedilatildeo

das informaccedilotildees contaacutebeis mapeando as novas demandas desses usuaacuterios

c) Descrever o processo de apropriaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil por parte dos

trabalhadores analisando seus desafios

d) Identificar elementos que auxiliem na construccedilatildeo de modelos de informaccedilotildees

adequados agraves necessidades da autogestatildeo

14 Metodologia

Conforme Marconi e Lakatos (2001 p106) eacute na especificaccedilatildeo da metodologia que se

responde agraves questotildees Como Com quecirc Onde A metodologia entatildeo descreve o conjunto

de procedimentos utilizados para a consecuccedilatildeo dos objetivos propostos bem como define o

meacutetodo de abordagem sob o qual repousa a pesquisa

De acordo com as autoras haacute distinccedilotildees entre os meacutetodos no que se refere agrave sua inspiraccedilatildeo

filosoacutefica ao seu grau de abstraccedilatildeo agrave sua finalidade explicativa agrave sua accedilatildeo nas etapas mais ou

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menos concretas da investigaccedilatildeo e ao momento em que se situam Com base nessas

diferenccedilas o meacutetodo de abordagem caracteriza-se por um enfoque mais amplo em niacutevel de

abstraccedilatildeo mais elevado dos fenocircmenos da natureza e da sociedade

Com esta compreensatildeo a presente pesquisa filiou-se ao meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo Marconi

e Lakatos (2001 p106) descreve-o como aquele []que se inicia pela percepccedilatildeo de uma

lacuna nos conhecimentos acerca da qual formula hipoacuteteses e pelo processo de inferecircncia

dedutiva testa a prediccedilatildeo da ocorrecircncia de fenocircmenos abrangidos pela hipoacutetese

Enquanto meacutetodo de procedimento o qual compreende etapas mais concretas da investigaccedilatildeo

com finalidade mais restrita em termos de explicaccedilatildeo geral dos fenocircmenos menos abstratos

optou-se pelo Estudo de Caso Os pressupostos desse meacutetodo bem como as estrateacutegias e

teacutecnicas utilizadas para a sua realizaccedilatildeo seratildeo descritos a seguir

141 O meacutetodo de estudo de caso e seus pressupostos

O Estudo de Caso eacute apropriado ao estudo de eventos contemporacircneos em que as dimensotildees

relevantes natildeo podem ser manipuladas e eacute possiacutevel serem feitas observaccedilotildees diretas e

entrevistas sistemaacuteticas Aleacutem disso o estudo de caso permite utilizar uma variedade de

evidecircncias que tornam mais ricas e complexas as anaacutelises do real (documentos artefatos

entrevistas observaccedilotildees) Segundo Martins (2000 p 36)

Trata-se de uma teacutecnica de pesquisa cujo objetivo eacute o estudo de uma unidade que se analisa

profunda e intensamente Considera a unidade social estudada em sua totalidade seja um

indiviacuteduo uma famiacutelia uma instituiccedilatildeo uma empresa ou uma comunidade com o objetivo de

compreendecirc-los em seus proacuteprios termos

Nesse contexto a utilizaccedilatildeo das teacutecnicas de coleta de dados do estudo de caso tem o objetivo

de apreender a totalidade de uma situaccedilatildeo possibilitando a penetraccedilatildeo na realidade social natildeo

conseguida plenamente pela anaacutelise e pela avaliaccedilatildeo quantitativa Esse meacutetodo (e os outros

meacutetodos qualitativos) eacute uacutetil quando um fenocircmeno eacute amplo e complexo onde o corpo de

conhecimentos existente eacute insuficiente para permitir a proposiccedilatildeo de questotildees causais e

quando um fenocircmeno natildeo pode ser estudado fora do contexto no qual ele naturalmente ocorre

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Yin (2005 p32) constroacutei a definiccedilatildeo teacutecnica do estudo de caso de duas maneiras Na

primeira aborda o escopo de um estudo de caso segundo o qual um estudo de caso eacute uma

investigaccedilatildeo empiacuterica que investiga um fenocircmeno contemporacircneo dentro de seu contexto da

vida real especialmente quando os limites entre o fenocircmeno e o contexto natildeo estatildeo

claramente definidos

Com base nessa definiccedilatildeo o pesquisador soacute usaria o meacutetodo de estudo de caso quando

quisesse deliberadamente lidar com condiccedilotildees contextuais Essa perspectiva tambeacutem

distingue o estudo de caso de outras estrateacutegias de pesquisa conforme Yin Por exemplo um

experimento deliberadamente separa um fenocircmeno de seu contexto de forma que se possa

dedicar a apenas algumas dimensotildees pois o contexto eacute controlado pelo ambiente de

laboratoacuterio Uma pesquisa histoacuterica natildeo segrega o contexto do fenocircmeno entretanto em

geral trabalha com acontecimentos natildeo contemporacircneos Jaacute os levantamentos tentam dar

conta do fenocircmeno e do contexto mas sua capacidade de investigaacute-lo eacute extremamente

limitada

Na segunda parte da definiccedilatildeo de Yin ( 2005 p33) ele afirma que

A investigaccedilatildeo de estudo de caso Enfrenta uma situaccedilatildeo tecnicamente uacutenica em que haveraacute muito mais dimensotildees de interesse

do que de dados e como resultado Baseia-se em vaacuterias fontes de evidecircncias com os dados precisando convergir em um formato

de triacircngulo e como resultado Beneficia-se do desenvolvimento preacutevio de proposiccedilotildees teoacutericas para conduzir a coleta e a

anaacutelise de dados

Sintetizando o estudo de caso objetiva a compreensatildeo de uma realidade social complexa e

contemporacircnea e constitui-se em uma estrateacutegia de pesquisa abrangente no que se refere agrave

loacutegica de planejamento agraves teacutecnicas de coleta de dados e agraves abordagens especiacuteficas agrave anaacutelise

Dessa forma a adoccedilatildeo do meacutetodo de Estudo de Caso eacute coerente com as questotildees propostas

uma vez que se pretendeu explorar o fenocircmeno dimensatildeo contaacutebil nos empreendimentos

autogestionaacuterios levando em conta a realidade social e o contexto real de inserccedilatildeo da

contabilidade no que diz respeito aos aspectos histoacutericos econocircmicos e sociais

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142 Protocolo do Estudo de Caso

Para Yin (2005 p92) o protocolo eacute uma das taacuteticas principais para aumentar a

confiabilidade da pesquisa de estudo de caso e destina-se a orientar o pesquisador ao realizar a

coleta de dados a partir de um estudo de caso uacutenico[] Segundo o autor apesar da

semelhanccedila entre um questionaacuterio de levantamento e um protocolo de estudo de caso as

caracteriacutesticas de ambos os diferenciam O protocolo de estudo de caso eacute mais do que um

instrumento pois aleacutem de conter o instrumento tambeacutem conteacutem procedimentos e regras

gerais que devem ser seguidas para utilizaccedilatildeo dos instrumentos

O protocolo de estudo de caso geralmente apresenta as seguintes seccedilotildees

Visatildeo geral do projeto Esta seccedilatildeo eacute composta por objetivos patrociacutenios do projeto

questotildees do estudo e leituras importantes sobre o toacutepico que estaacute sendo investigado

Procedimentos de campo Neste item ocorre a apresentaccedilatildeo das credenciais acesso aos

locais do estudo de caso fontes gerais de informaccedilotildees e advertecircncias de procedimento

Questotildees do estudo de caso - Satildeo indicadas as questotildees especiacuteficas que nortearam o

pesquisador de estudo de caso ao coletar os dados planilha para disposiccedilatildeo especiacutefica de

dados e as fontes em potencial de informaccedilotildees ao se responder cada questatildeo

Guia para o relatoacuterio do estudo de caso Eacute apresentado o esboccedilo formato para os dados

uso e apresentaccedilatildeo de outras documentaccedilotildees e informaccedilotildees bibliograacuteficas

Com base nas orientaccedilotildees acima foi elaborado o protocolo de estudo de caso desta

pesquisa (apecircndice 01) Ele serviu de buacutessola para o encaminhamento da pesquisa como

tambeacutem proporcionou a sua compreensatildeo por parte dos representantes da unidade de

estudo conferindo a credibilidade necessaacuteria agrave autorizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo na

cooperativa

Entretanto cabe ressaltar que devido agrave dinacircmica caracteriacutestica do estudo de caso no

decorrer da pesquisa alguns itens do planejamento foram mudados da mesma forma que

nem todas as questotildees orientadoras arroladas foram necessaacuterias agrave compreensatildeo da

pesquisa ou foram passiacuteveis de obtenccedilatildeo de respostas

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143 Dimensotildees de Anaacutelise

As dimensotildees apontadas neste trabalho longe de abranger toda a complexidade da inserccedilatildeo

da contabilidade no processo de autogestatildeo dos empreendimentos autogestionaacuterios

pretenderam distinguir aspectos relevantes desse universo A seleccedilatildeo dessas dimensotildees foi

resultado principalmente da imersatildeo nas seguintes bibliografias

a) No campo da teoria da contabilidade destacaram-se as obras dos autores Hendriksen e Van

Breda (1999) e Iacuteudicubus et al (2003) Esses autores subsidiaram a construccedilatildeo de algumas

dimensotildees agrave medida que as diversas leituras sobre a finalidade da contabilidade suscitaram

questionamentos no tocante agrave adequaccedilatildeo da padronizaccedilatildeo dos relatoacuterios de informaccedilatildeo

contaacutebil aos seus diversos usuaacuterios Em outras palavras as indagaccedilotildees levaram agrave verificaccedilatildeo

sobre a viabilidade da padronizaccedilatildeo tendo em vista as reais necessidades de informaccedilatildeo dos

empreendimentos autogestionaacuterios (novos usuaacuterios) no que se refere agrave forma conteuacutedo e

utilidade da informaccedilatildeo

b) No campo da contabilidade para usuaacuterios externos citam-se as obras de Valdir Michaels

(1995) e Almeida e Dantas (2005) Essas obras abordam a relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo

nas quais satildeo apontados alguns obstaacuteculos enfrentados pelos trabalhadores da ES no campo

da contabilidade Nas obras haacute sugestotildees de adaptaccedilatildeo da contabilidade agraves necessidades da

autogestatildeo no que diz respeito a vaacuterios aspectos mas principalmente no tocante agrave legislaccedilatildeo

contaacutebil e agrave postura do contador na relaccedilatildeo com esses novos usuaacuterios Portanto dessas leituras

derivam a construccedilatildeo das dimensotildees Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio e Legislaccedilatildeo contaacutebil

c) A bibliografia sobre Economia Solidaacuteria e Autogestatildeo na qual ressaltam as obras de Paul

Singer e produccedilotildees da ANTEAG tambeacutem foi fonte de inspiraccedilatildeo para a construccedilatildeo das

dimensotildees O mergulho nessas obras permitiu a compreensatildeo da dupla natureza dos

empreendimentos autogestionaacuterios a econocircmica e social Com essa configuraccedilatildeo os

empreendimentos ao mesmo tempo em que perseguem a sustentabilidade financeira tambeacutem

cultuam valores humanos e sociais como a solidariedade cooperaccedilatildeo e igualdade

Compreendeu-se que sob esta perspectiva a igualdade tambeacutem requer a apropriaccedilatildeo de todo

o conhecimento de gestatildeo pelo conjunto dos trabalhadores Assim a apropriaccedilatildeo do

conhecimento contaacutebil por parte dos trabalhadores eacute um imperativo nos empreendimentos

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solidaacuterios Partindo dessas reflexotildees foi criada a dimensatildeo que se refere agrave apropriaccedilatildeo da

informaccedilatildeo contaacutebil

d) Contribuiacuteram para a constituiccedilatildeo das dimensotildees de anaacutelise aqui arroladas outras produccedilotildees

constantes da referecircncia bibliograacutefica e outras natildeo citadas provenientes das diversas aacutereas do

conhecimento como economia educaccedilatildeo etc

Tambeacutem foram fonte de inspiraccedilatildeo as observaccedilotildees e anaacutelises realizadas em Mato Grosso e

Satildeo Paulo por ocasiatildeo de participaccedilotildees em extensatildeo universitaacuteria bem como em cursos e

seminaacuterios nacionais e internacionais e diaacutelogos com especialistas sobre o tema De sorte que

a compreensatildeo da inserccedilatildeo contaacutebil nos empreendimentos autogestionaacuterios resultou na

construccedilatildeo das seguintes dimensotildees

1- Forma de comunicaccedilatildeo

2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

3- Utilidade da informaccedilatildeo

4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

As caracteriacutesticas e objetivos de cada dimensatildeo satildeo pormenorizados abaixo

1- Forma de comunicaccedilatildeo

Nessa dimensatildeo foram avaliados os instrumentos de comunicaccedilatildeo que a entidade utiliza para

divulgar seus resultados econocircmicos e financeiros Verificou-se a capacidade de a

contabilidade captar e refletir a complexidade das relaccedilotildees inclusas no processo de

autogestatildeo tais como o orccedilamento elaborado coletivamente a execuccedilatildeo e controles

compartilhados enfim analisou-se a adequaccedilatildeo dos relatoacuterios demonstraccedilotildees e outros

instrumentos da contabilidade agraves necessidades proacuteprias dos empreendimentos solidaacuterios

2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

O conteuacutedo diz respeito agrave informaccedilatildeo contaacutebil em si Nessa dimensatildeo verificou-se a

pertinecircncia da linguagem das vaacuterias formas de comunicaccedilatildeo aos usuaacuterios da ES Mais

especificamente nesse aspecto buscou-se perceber se a linguagem da contabilidade eacute

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facilmente compreendida pelos trabalhadores tendo em vista o conhecimento jaacute consolidado

de que uma grande parte dos trabalhadores da ES tem um baixo grau de educaccedilatildeo formal

3- Utilidade da informaccedilatildeo

Nesse item avaliou-se a utilidade da informaccedilatildeo a qual diz respeito agrave importacircncia dada pelos

grupos entrevistados agrave contabilidade para tomada de decisotildees Tambeacutem se procurou avaliar a

utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil em todos os processos da gestatildeo de modo que ela

efetivamente fosse supridora das informaccedilotildees necessaacuterias agrave autogestatildeo ou seja analisou-se

sua capacidade de auxiliar no processo de tomada de decisotildees coletivas na gestatildeo

democraacutetica

4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Um dos princiacutepios fundamentais da ES sugere a socializaccedilatildeo de todo o conhecimento de

gestatildeo em oposiccedilatildeo agrave tiacutepica empresa que resguarda esses conhecimentos para o grupo da

gerecircncia Baseado nesse princiacutepio essa dimensatildeo teve a intenccedilatildeo de compreender e analisar

as formas de transferecircncia do conhecimento contaacutebil e as eventuais dificuldades enfrentadas

pelo trabalhador no processo de apropriaccedilatildeo do conhecimento das teacutecnicas contaacutebeis Nesse

item tambeacutem se buscou captar elementos que norteiem para uma formaccedilatildeo desejada em

contabilidade

5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Conforme relatos contidos na bibliografia pesquisada as aacutereas teacutecnicas tecircm dificuldade de

perceber a especificidade da autogestatildeo Nessa perspectiva foi analisada a relaccedilatildeo dos

usuaacuterios dos empreendimentos autogestionaacuterios com os profissionais da aacuterea contaacutebil

Pretendeu-se compreender o envolvimento do contabilista com a autogestatildeo Por outro lado

tambeacutem houve a intenccedilatildeo de captar elementos que indicassem a construccedilatildeo de uma outra

relaccedilatildeo entre os contadores e os trabalhadores da ES

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

Alguns autores argumentam que a legislaccedilatildeo contaacutebil ainda natildeo capta a especificidade da

autogestatildeo Isso se aplica agrave forma de registro dos eventos econocircmico-financeiros agraves

demonstraccedilotildees contaacutebeis e tambeacutem agrave constituiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo dessas entidades Para

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avaliar esse conjunto foi necessaacuterio tambeacutem analisar a legislaccedilatildeo cooperativista e natildeo soacute a

legislaccedilatildeo contaacutebil para o cooperativismo tendo em vista que as duas legislaccedilotildees estatildeo

bastante vinculadas Dessa forma essa dimensatildeo analisou a pertinecircncia dessas legislaccedilotildees agrave

realidade e necessidades da ES

Por meio das dimensotildees descritas acima foi traccedilado um paralelo entre a realidade observada

captada pelas lentes dos cooperados especialistas e contadores e a realidade esperada

desenhada pelas observaccedilotildees entrevistas e literatura consultada O quadro 1 esquematiza o

trabalho realizado

Quadro 1- Resumo dos resultados

Realidade Encontrada

(o que eacute) Realidade esperada

Dimensotildees Cooperados especialistas Contadores (o que deveria ser)

1- Forma de comunicaccedilatildeo 2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo 3- Utilidade da informaccedilatildeo 4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo 5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

144 Criteacuterios para a seleccedilatildeo da unidade de estudo

O principal criteacuterio para a escolha da unidade em que se processou a investigaccedilatildeo foi a

autogestatildeo isto eacute buscou-se um empreendimento em que a gestatildeo fosse praticada por todos

os trabalhadores diferentemente dos empreendimentos nos quais a administraccedilatildeo eacute exercida

apenas pelos diretores Participar da gestatildeo significa atuar nos altos niacuteveis de decisotildees

aquelas que vatildeo aleacutem da organizaccedilatildeo do trabalho mas que tambeacutem compreendem decisotildees

que influenciem no rumo da entidade tais como indicaccedilatildeo da destinaccedilatildeo dos recursos

organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e demais decisotildees que afetam a vida da entidade

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Outro criteacuterio importante utilizado foi a formalizaccedilatildeo do empreendimento Com se sabe a ES

tambeacutem eacute compreendida por empreendimentos coletivos informais Tal opccedilatildeo se deve ao fato

de que a inscriccedilatildeo junto aos oacutergatildeos governamentais necessariamente requer uma organizaccedilatildeo

contaacutebil mais formal Dessa forma essas entidades possuem registros formais de suas

atividades possibilitando as bases para a investigaccedilatildeo

Levando em conta esses criteacuterios tomou-se como unidade de anaacutelise a COOPRAM

Cooperativa Metaluacutergica de Artes Metaacutelicas localizada no Municiacutepio de Embu na Grande

Satildeo Paulo Portanto ao selecionar a COOPRAM como a unidade de estudo privilegiou-se um

estudo em profundidade para a obtenccedilatildeo de respostas mais precisas agraves questotildees postas agrave

pesquisa

145 Teacutecnicas de coleta de dados

O Meacutetodo do Estudo de Caso obteacutem evidecircncias a partir de seis fontes de dados documentos

registros em arquivos entrevistas observaccedilatildeo direta observaccedilatildeo participante e artefatos

fiacutesicos Cada uma delas requer habilidades e procedimentos metodoloacutegicos especiacuteficos O

presente estudo de caso buscou desvelar a realidade da dimensatildeo contaacutebil nos

empreendimentos autogestionaacuterios a partir da seleccedilatildeo das seguintes teacutecnicas de coleta de

dados

Entrevistas

Registro em arquivos

Observaccedilatildeo direta

O planejamento e execuccedilatildeo do procedimento de coleta de dados fundamentado em Yin

(2005) pode ser visualizado atraveacutes da figura abaixo

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Registros em arquivos

Observaccedilotildees Entrevistas

(direta)

Figura 1 - Convergecircncia de Evidecircncias (estudo uacutenico )

Fonte adaptado de Cosmos Corporation apud YIN 2005 p127

As ENTREVISTAS satildeo uma das mais importantes fontes de informaccedilotildees para um estudo de

caso segundo Yin (2005) O fluxo de questotildees nas entrevistas natildeo eacute riacutegido mas de forma

fluiacuteda Portanto durante o processo de coleta de dados o pesquisador tem duas tarefas

a) seguir sua proacutepria linha de investigaccedilatildeo como reflexo do protocolo de seu estudo de caso e b) fazer as questotildees reais ( de uma conversaccedilatildeo) de uma forma natildeo tendenciosa que tambeacutem

atende agraves necessidades de sua linha de investigaccedilatildeo (YIN 2005 p117)

Em outras palavras Yin alerta que na entrevista haacute a exigecircncia de atuaccedilatildeo em duas frentes

ao mesmo tempo satisfazer as necessidades de sua linha de investigaccedilatildeo enquanto tambeacutem

passa adiante questotildees amigaacuteveis e natildeo natildeo-ameaccediladoras em suas entrevistas

espontacircneas Assim eacute muito comum que as entrevistas para o estudo de caso sejam

conduzidas de forma espontacircnea Logo pode-se tanto indagar sobre fatos relacionados a um

determinado assunto quanto pedir a opiniatildeo deles a respeito de determinados eventos

Seguindo as prerrogativas acima as entrevistas realizadas nesta pesquisa pretenderam

capturar informaccedilotildees sobre os procedimentos contaacutebeis utilizados na cooperativa perceber a

posiccedilatildeo dos entrevistados quanto ao uso de ferramentas e instrumentos da contabilidade bem

como a contribuiccedilatildeo que esses instrumentos tecircm (ou natildeo) para propiciar a compreensatildeo dos

processos de gestatildeo e identificar elementos agrave construccedilatildeo de uma nova relaccedilatildeo contabilidade e

autogestatildeo

Para compreender o fenocircmeno a partir de vaacuterios prismas foram formados trecircs grupos de

entrevistados

Fato Dimensatildeo contaacutebil no

processo de autogestatildeo

)))process

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1ordm grupo composto por membros da cooperativa (diretoria e cooperados)

2ordm grupo constituiacutedo por especialistas no assunto vinculados a redes nacionais de fomento e

apoio agrave ES

3ordm grupo composto por contadores experientes em autogestatildeo e ES

Aos trecircs grupos foram aplicadas perguntas semelhantes sobre fatos e opiniotildees circunscritos no

universo do tema proposto As respostas tambeacutem foram estratificadas e alocadas aos

respectivos grupos

Os REGISTROS EM ARQUIVOS em um estudo de caso segundo Yin (2005 p115)

podem assumir diversas modalidades

Registros de serviccedilo como aqueles que mostram o nuacutemero dos clientes atendidos em um

determinado periacuteodo de tempo Registros organizacionais como as tabelas e os orccedilamentos de organizaccedilotildees em um periacuteodo de

tempo Mapas e graacuteficos das caracteriacutesticas geograacuteficas ou esboccedilos de um lugar Listas de nomes e de outros itens importantes Dados oriundos de levantamentos como o censo demograacutefico ou os dados previamente

coletados sobre um local Registros pessoais como diaacuterios anotaccedilotildees e agendas de telefone

Esses e outros registros em arquivo podem ser utilizados somando-se a outras fontes de

informaccedilatildeo No caso desta pesquisa foram verificados os registros operacionais e demais

arquivos e documentos ligados agrave aacuterea contaacutebil A utilizaccedilatildeo dessa teacutecnica buscou identificar e

descrever instrumentos oficiais adotados pelo empreendimento tais como as demonstraccedilotildees

financeiras os sistemas de controles internos relatoacuterios gerenciais etc Contribuiu para a

compreensatildeo da organizaccedilatildeo contaacutebil no empreendimento e finalmente propiciou a avaliaccedilatildeo

do atendimento dos instrumentos contaacutebeis agrave prescriccedilatildeo legal na aacuterea das cooperativas

Tambeacutem propiciou a identificaccedilatildeo dos sistemas ou meios de comunicaccedilatildeo utilizados agrave

disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo bem como agrave sua acessibilidade pelo conjunto de cooperados

A OBSERVACcedilAtildeO DIRETA ocorre quando se realiza uma visita de campo ao local

escolhido para o estudo de caso Por meio das observaccedilotildees eacute possiacutevel captar alguns

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comportamentos ou condiccedilotildees ambientais relevantes As observaccedilotildees podem variar de

atividades formais a atividades informais de coleta de dados Mais formalmente incluem-se

situaccedilotildees como reuniotildees atividades de passeio trabalho de faacutebrica salas de aula e outras

atividades semelhantes(YIN 2005 p120) Informais podem ser as condiccedilotildees fiacutesicas de um

edifiacutecio ou de espaccedilos de trabalho As evidecircncias captadas pela lente da observaccedilatildeo segundo

Yin satildeo em geral uacuteteis ao fornecimento de informaccedilotildees adicionais sobre o fenocircmeno

estudado

Desse modo a observaccedilatildeo direta aqui realizada pretendeu captar pormenores e detalhes que

complementaram as outras teacutecnicas tais como ambiente fiacutesico cotidiano de trabalho

relaccedilotildees interpessoais processos de decisotildees etc A observaccedilatildeo contou com os registros de

pesquisa de campo em que a preocupaccedilatildeo central foi a observaccedilatildeo tanto do papel do

contador seu relacionamento com as demais aacutereas da gestatildeo aleacutem da forma como a

contabilidade se insere no cotidiano da cooperativa Tais informaccedilotildees agregaram elementos agraves

anaacutelises das entrevistas cruzando relatos e percepccedilotildees dos atores envolvidos

Apoacutes a coleta de dados esses foram sistematizados em um Banco de dados sobre o caso

cujas informaccedilotildees serviram de base agraves anaacutelises e conclusotildees

146 Anaacutelise dos dados

A anaacutelise dos dados retomou as categorias teoacutericas adotadas correlacionando-as agraves

evidecircncias da pesquisa empiacuterica Os resultados foram segregados por dimensotildees sob as quais

satildeo relatadas as constataccedilotildees da realidade e ao mesmo tempo satildeo problematizadas questotildees e

demandas referentes a cada aspecto da dimensatildeo contaacutebil no processo de autogestatildeo

Quanto agrave estrateacutegia de apresentaccedilatildeo dos resultados apesar de natildeo haver nenhuma forma

estereotipada para escrever um relatoacuterio de um estudo de caso existindo apenas estrateacutegias

para redigi-lo a fim de tornaacute-lo inteligiacutevel e palataacutevel ao leitor a estrateacutegia selecionada dentre

as expostas por Yin (2005 p177-180) foi a narrativa a qual foi ilustrada por quadros

Em relaccedilatildeo agrave estrutura composicional do relatoacuterio optou-se pela estrutura analiacutetica linear

Conforme Yin essa estrutura eacute comumente utilizada nos relatoacuterios de estudos de casos No

modelo os subtoacutepicos compreenderam o tema ou o problema estudado e uma revisatildeo da

18

literatura Em seguida os subtoacutepicos partem para a anaacutelise dos meacutetodos utilizados das

descobertas feitas a partir dos dados coletados e analisados e das conclusotildees e implicaccedilotildees

feitas a partir das descobertas

15 Hipoacuteteses

Conforme jaacute mencionado as hipoacuteteses satildeo importantes no estudo de caso pois norteiam a

coleta de dados Dessa forma este estudo partiu dos pressupostos das pesquisas anteriores os

quais sugerem que o aparato contaacutebil hoje disponiacutevel ainda natildeo eacute apropriado a esse

segmento ou seja a informaccedilatildeo contaacutebil natildeo atende satisfatoriamente agraves suas demandas

informacionais tendo em vista a sua natureza peculiar

Portanto situando-se na linha das pesquisas anteriores essa investigaccedilatildeo partiu da hipoacutetese de

que os empreendimentos solidaacuterios diferenciam-se dos demais segmentos do mercado devido

agrave sua dupla natureza econocircmica e social consequumlentemente tecircm demandas informacionais

ainda natildeo contempladas plenamente pela aacuterea contaacutebil envolvendo seis aspectos da dimensatildeo

contaacutebil a) Forma de comunicaccedilatildeo b) Conteuacutedo da informaccedilatildeo c) Utilidade da informaccedilatildeo

d) Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo e) Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio f) Legislaccedilatildeo contaacutebil

16 Organizaccedilatildeo do Trabalho

No que concerne agrave estruturaccedilatildeo e forma de apresentaccedilatildeo o presente estudo estaacute organizado

em 04 capiacutetulos assim definidos

No presente capiacutetulo I da Introduccedilatildeo satildeo apresentados a problematizaccedilatildeo e justificativa da

pesquisa os objetivos as questotildees de pesquisa e a metodologia do estudo

No capiacutetulo 2 satildeo expostos os marcos referenciais deste trabalho no qual se explicitam

conceitos de autogestatildeo Economia solidaacuteria formas de participaccedilatildeo na gestatildeo e outros

conceitos necessaacuterios agrave compreensatildeo das questotildees propostas pela pesquisa

19

No capiacutetulo 3 eacute discutida a relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo perpassando pela exposiccedilatildeo da

finalidade da informaccedilatildeo contaacutebil e estudos recentes sobre a contabilidade para Economia

Solidaacuteria A incursatildeo na literatura realizada nos capiacutetulos 2 e 3 teve a finalidade de propiciar

suporte teoacuterico agrave anaacutelise dos resultados

Por uacuteltimo no capiacutetulo 4 eacute realizada a descriccedilatildeo do Estudo de caso e apresentados os

resultados e anaacutelises da pesquisa

20

21

2 MARCO CONCEITUAL DA ECONOMIA SOLIDAacuteRIA E AUTOGESTAtildeO

Para a anaacutelise do fenocircmeno objeto da presente pesquisa eacute necessaacuterio discutir os conceitos

envolvidos na compreensatildeo da realidade investigada Portanto cumpre nesse momento

explicitar conceitos como globalizaccedilatildeo contexto no qual se insere o ressurgimento da ES

Tambeacutem eacute necessaacuterio perscrutar o sentido teoacuterico da Economia Solidaacuteria da autogestatildeo como

forma de administraccedilatildeo proacutepria dos empreendimentos solidaacuterios da participaccedilatildeo como

categoria teoacuterica fundamental ao processo de autogestatildeo entre outros conceitos A

complexidade da relaccedilatildeo entre Contabilidade e Autogestatildeo encontra-se sedimentada nesses

conceitos teoacutericos

Em primeiro lugar seraacute analisado o momento histoacuterico contemporacircneo que fez ressurgir as

aspiraccedilotildees de alternativas ao modelo social vigente buscando dessa forma compreender o

contexto econocircmico-social de emergecircncia da ES bem como da inserccedilatildeo da contabilidade Em

seguida seraacute trilhado o caminho de desvelamento de outros conceitos necessaacuterios agrave

compreensatildeo da relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo

21 Globalizaccedilatildeo e a crise contemporacircnea

Um estudo sobre autogestatildeo leva agrave necessaacuteria imersatildeo sobre as raiacutezes em que

contemporaneamente tal tema ganha destaque no mundo e consequumlentemente na sociedade

brasileira O cenaacuterio recente de ressurgimento da ES tem como pano de fundo a globalizaccedilatildeo

A despeito das muitas controveacutersias que se podem apresentar sobre o tema globalizaccedilatildeo

tentar-se-aacute apontar algumas definiccedilotildees do fenocircmeno com as quais se concorda Conforme

Wanderley (2002 p15)

[]com a globalizaccedilatildeo as distacircncias se reduziram natildeo havendo barreiras fiacutesicas para a

informaccedilatildeo o conhecimento o intercacircmbio cultural os avanccedilos tecnoloacutegicos possibilitaram o

desvelamento de enigmas antigos das vaacuterias aacutereas de conhecimento a democracia atingiu a quase

maioria dos paiacuteses e eacute requisito de legitimidade internacional

Apesar desses citados benefiacutecios a globalizaccedilatildeo tem seu lado reverso O imperativo da

sobrevivecircncia num mercado altamente competitivo levou as empresas agrave busca de reduccedilatildeo de

22

custos que na maioria das vezes significou corte de postos de trabalho acarretando

exclusatildeo social Conforme definem Pedraccedila e Almeida ( 2004 p 01)

A globalizaccedilatildeo econocircmica marca a histoacuteria pelo apartheid social seja no acircmbito nacional e

internacional O que separa os seres humanos eacute uma divisatildeo estatiacutestica iacutendices que definem uma minoria de pessoas de vaacuterias nacionalidades que gozam do privileacutegio de serem inclusas no

mercado consumidor [] A outra classe de indiviacuteduos a imensa maioria da populaccedilatildeo mundial

quase sempre incluiacuteda em categorias marginais como subempregados trabalhadores informais ou desempregados satildeo segregados do consumo parcial ou totalmente dependendo de sua condiccedilatildeo

econocircmica

Singer (2001) explica a globalizaccedilatildeo a partir de uma perspectiva histoacuterica Advoga a tese de

que a economia capitalista industrial tendeu desde o iniacutecio a superar os limites do Estado-

naccedilatildeo A livre movimentaccedilatildeo de mercadorias e de capitais atraveacutes das fronteiras nacionais

atingiu seu primeiro auge por volta da segunda metade do seacutec XIX quando o padratildeo ouro

proporcionou moedas automaticamente conversiacuteveis e se criou um conjunto de instituiccedilotildees

destinadas a garantir o livre-cacircmbio e as inversotildees estrangeiras A Primeira Guerra (1914-18)

a crise dos anos 30 e em seguida a Segunda Guerra (1939-45) contiveram a tendecircncia de

expansatildeo internacional do capital Durante mais de 30 anos os Estados nacionais protegeram

suas induacutestrias e comandaram a acumulaccedilatildeo de capital dentro de seu territoacuterio diminuindo a

transaccedilatildeo comercial e financeira internacional

A retomada da expansatildeo internacional de acumulaccedilatildeo do capital ou globalizaccedilatildeo soacute foi

efetivada apoacutes a Segunda Guerra capitaneada pelos Estados Unidos e seus aliados os quais a

colocaram como questatildeo primordial As conferecircncias de Brettoin Woods ainda em 1944

receberam um claro mandato neste sentido Em sua primeira etapa a globalizaccedilatildeo abarcava

somente os paiacuteses desenvolvidos e na segunda etapa iniciada haacute mais de um quarto de

seacuteculo incluiu uma boa parte do Terceiro Mundo Mais recentemente envolveu a ex-URSS

e seus antigos sateacutelites

A integraccedilatildeo econocircmica do Primeiro Mundo deu-se num periacuteodo de crescimento e pleno

emprego que ficou conhecido como Anos Dourados Os EUA no auge de sua hegemonia

atraveacutes de suas grandes companhias transferiram maciccedilamente recursos para a Europa e

Japatildeo Implantaram filiais e adquiriram firmas na Europa ocidental retomando sua

multinacionalizaccedilatildeo

23

Todas as economias nacionais cresceram O processo foi um Circulo virtuoso em que

conversibilidade monetaacuteria e a queda das barreiras alfandegaacuterias abriram espaccedilo para uma

crescente reparticcedilatildeo de ganhos( SINGER 2001 p21)

Na segunda etapa a partir de 1970 as economias desenvolvidas abriram seus mercados para

o Terceiro Mundo e promoveram a implantaccedilatildeo dos seus parques industriais destinados ao

abastecimento do mercados do Primeiro Mundo No Brasil essa fase ficou conhecida como

o milagre econocircmico um movimento que culminou com um esforccedilo interno das elites

nacionais de industrializaccedilatildeo do paiacutes desde os anos 30

No iniacutecio da segunda etapa os paiacuteses semi-industrializados apresentavam ao capital

vantagens comparativas tais como grande disponibilidade de matildeo-de-obra jaacute treinada e

condicionada ao trabalho industrial a custos menores do que nos paiacuteses industrializados Na

mesma eacutepoca as lutas de classes nos paiacuteses industrializados haviam se intensificado em

funccedilatildeo da crescente insatisfaccedilatildeo da classe operaacuteria escolarizada operadora de serviccedilos

monoacutetono e alienante a qual reivindicava elevaccedilotildees salariais A resposta das empresas foi a

transferecircncia de grande escala de linhas de produccedilatildeo industrial para paiacuteses perifeacutericos

Grandes centros industriais na Europa e na Ameacuterica do Norte foram esvaziados e

abandonados deixando um grande nuacutemero de desempregados Dessa forma na segunda

etapa a globalizaccedilatildeo tornou-se fator de desindustrializaccedilatildeo e empobrecimento de cidades e

regiotildees inteiras

A globalizaccedilatildeo trouxe mudanccedilas profundas na produccedilatildeo e comeacutercio mundial Com o

imperativo da concorrecircncia faacutebricas fecharam suas portas outras adotaram uma seacuterie de

medidas restritivas visando agrave manutenccedilatildeo no mercado Reduccedilatildeo de custos importaccedilatildeo de

tecnologia moderna aquisiccedilatildeo de meacutetodos gerenciais introduccedilatildeo de novas relaccedilotildees de

trabalho representam o movimento da reestruturaccedilatildeo produtiva das grandes empresas

Essas mudanccedilas afetaram diretamente o mercado de trabalho Com a reduccedilatildeo dos postos de

trabalho o desemprego em todo o mundo tomou proporccedilotildees alarmantes e os empregos

remanescentes satildeo de pior qualidade configurando a precariedade das relaccedilotildees e condiccedilotildees de

trabalho Muitos trabalhadores oscilam entre a penumbra e a clandestinidade do mercado de

trabalho Segundo Singer

24

[] a globalizaccedilatildeo ocasiona o desemprego estrutural Ela faz com que milhotildees de trabalhadores

que produziam o que depois passou a ser importado percam seus empregos e que possivelmente milhotildees de novos postos de trabalho sejam criados tanto em atividades de exportaccedilatildeo como em

outras O desemprego estrutural ocorre porque os que satildeo vitimas da desindustrializaccedilatildeo em geral natildeo tecircm pronto acesso aos novos postos de trabalho (SINGER2001 p23)

Talvez mais grave que o desemprego estrutural seja a precarizaccedilatildeo do trabalho Os novos

postos de trabalho natildeo oferecem em sua maioria as garantias tradicionais que as leis e

contratos vinham ganhando Singer salienta que

Muitos destes novos postos satildeo ocupaccedilotildees por conta proacutepria Ao inveacutes de funcionaacuterios as

empresas principalmente para atividades que natildeo requerem elevada qualificaccedilatildeo contratam

pequenas firmas prestadoras de serviccedilos configurando a terciarizaccedilatildeo[] As vantagens para a

tomadora desse serviccedilo residem na flexibilidade do novo relacionamento e tambeacutem no menor

custo do trabalho pois ela deixa de pagar o tempo morto quando a equipe natildeo tem o que

fazer e as horas-extras quando necessitar (SINGER 2001 p24)

Mattoso reafirma que a precarizaccedilatildeo se constitui de relaccedilotildees informais o que amplia a

inseguranccedila no emprego Um fenocircmeno que se deu em praticamente todos os paiacuteses

avanccedilados atraveacutes da reduccedilatildeo relativa ou absoluta de empregos estaacuteveis ou permanentes

nas empresas e da maior subcontrataccedilatildeo de trabalhadores temporaacuterios em tempo

determinado eventuais em tempo parcial trabalho em domiciacutelio ou independentes

aprendizes etc(MATTOSO 1993 p126)

Na deacutecada de 1990 esse quadro ganhou contornos ainda mais decisivos e agudizantesSob o

emblema do neoliberalismo reduziu-se drasticamente o poder de intervenccedilatildeo do Estado na

esfera social e promoveu-se o abandono de poliacuteticas puacuteblicas importantes na reproduccedilatildeo da

vida dos trabalhadores Nas palavras de Singer

Desde os anos 80 um novo consenso foi firmado qualquer tentativa dos governos de estimular

diretamente a expansatildeo do emprego eacute em vatildeo resultando apenas em mais inflaccedilatildeo O uacutenico dever

dos governos eacute equilibrar os seus proacuteprios orccedilamentos desregulamentar a economia e reduzir o

peso dos impostos que recaem sobre os negoacutecios de modo a facilitar e estimular a acumulaccedilatildeo

privada de capital (SINGER 2001 p14)

Pochmann (1999 p 85) denuncia que os efeitos combinados a partir de 1990 de poliacuteticas

recessivas da desregulaccedilatildeo e reduccedilatildeo do papel do estado de abertura comercial abrupta de

taxas de juros elevadas e de apreciaccedilatildeo cambial seriam responsaacuteveis pela montagem de um

cenaacuterio desfavoraacutevel ao comportamento geral do emprego nacional

25

Esse panorama desde entatildeo causa a dispensa de uma grande parte da forccedila de trabalho

remetendo agrave marginalidade um imenso contingente humano Em 2000 a organizaccedilatildeo

Internacional do Trabalho (OIT) divulgou o informativo O emprego no mundo 1998-99 no

qual destacava que 1)cerca de 1 bilhatildeo de trabalhadores - aproximadamente um terccedilo da

populaccedilatildeo ativa do mundo - estavam desempregados ou subempregados (o indiviacuteduo eacute

subempregado quando sua jornada de trabalho eacute substancialmente menor que uma jornada

completa que desejaria realizar ou seu salaacuterio eacute inferior ao que necessitaria para viver)

2)desses 1 bilhatildeo de trabalhadores uns 150 milhotildees encontravam-se de fato desempregados

buscando trabalho ou em disposiccedilatildeo para trabalhar Pelo simples efeito da crise financeira

mundial em 98 o total de desempregados sofreu um incremento de 10 milhotildees de

trabalhadores c)entre 25 e 30 dos trabalhadores do mundo - algo entre 750 e 900 milhotildees

de pessoas - estavam subempregados

Em relaccedilatildeo ao Brasil a Fundaccedilatildeo SEADE mostrava que 1) a taxa anual meacutedia de

desemprego total da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo aumentou entre 1997 e 1998 de

16 para 183 da populaccedilatildeo economicamente ativa (PEA) com crescimento da taxa de

desemprego anual meacutedia para os indiviacuteduos de todos os niacuteveis de escolaridade A tabela 1

mostra os iacutendices de desemprego nas regiotildees metropolitanas por sexo e em percentuais da

PEA no periacuteodo compreendido de 1998 a 052006 A tabela mostra o acreacutescimo no iacutendice

do desemprego total no ano de 1999 em todas as regiotildees Em 2002 houve novamente um

acreacutescimo no desemprego total Jaacute em 2005 e 2006 os iacutendices mostram uma reduccedilatildeo do

percentual de desemprego em quase todas as regiotildees Entretanto o desemprego ainda

encontra-se em patamares elevados

26

Tabela 1- Taxa de desemprego total por sexo - Regiotildees Metroplitanas e Distrito Federal- 1998-2006

Regiotildees Metropolitanas e Distrito Federal

Belo Horizonte Distrito Federal Porto Alegre Periacuteodo

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

1998 159 137 187 197 174 221 159 137 186

1999 179 159 204 221 192 252 190 167 219

2000 178 161 199 202 177 229 166 142 196

2001 183 162 208 205 176 236 149 123 182

2002 181 157 208 207 180 236 153 131 179

2003 200 171 233 229 202 257 167 139 202

2004 193 168 219 209 178 240 159 131 191

2005 167 140 197 190 159 222 145 119 176

janeiro2006 155 130 182 186 152 220 132 115 153

fevereiro2006 155 131 182 195 164 227 136 118 159

Marccedilo2006 162 132 196 206 175 239 149 126 176

abril2006 156 125 192 207 180 235 155 127 189

maio2006 151 122 185 195 171 220 154 130 182

Regiotildees Metropolitanas e Distrito Federal

Recife Salvador Satildeo Paulo Periacuteodo

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

1998 216 190 249 249 229 271 182 161 211

1999 221 196 252 277 258 299 193 173 217

2000 207 182 239 266 241 293 176 150 209

2001 211 178 253 275 250 302 176 149 208

2002 203 176 236 273 249 299 190 164 222

2003 232 200 270 280 261 301 199 172 231

2004 231 203 265 255 232 280 187 163 215

2005 223 192 260 244 213 278 169 144 197

janeiro2006 212 180 251 237 205 272 157 137 180

fevereiro2006 208 182 240 238 198 280 163 141 187

Marccedilo2006 214 188 246 247 205 291 169 143 198

abril2006 219 191 254 244 197 294 169 145 196

maio2006 222 195 255 244 203 288 170 145 199

Fonte Convecircnio DIEESESEADE MTEFAT e convecircnios regionais PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego Elaboraccedilatildeo DIEESE site http www dieeseorgbr

Portanto natildeo eacute necessaacuterio ir muito longe para perceber que se de um lado a globalizaccedilatildeo

permitiu uma grande expansatildeo do capital por outro o fez em detrimento da valorizaccedilatildeo do

trabalho e das empresas nacionais arruinadas pela abertura do mercado interno agrave

concorrecircncia internacional No Brasil tal abertura ocorre no iniacutecio dos anos 90 com o

governo Fernando Collor de Melo

27

Do ponto de vista dos trabalhadores a consequecircncia de tal processo eacute a desestruturaccedilatildeo do

mercado de trabalho flexibilizaccedilatildeo das regras de proteccedilatildeo social e o desemprego estrutural

capitaneado pela 3ordf Revoluccedilatildeo Industrial em que o avanccedilo da tecnologia tem como

caracteriacutestica principal o aumento da produtividade ao mesmo tempo em que dispensa

grande contingente de matildeo-de-obra Por outro lado o baixo niacutevel de escolaridade dos

desempregados e a insuficiecircncia de poliacuteticas puacuteblicas de formaccedilatildeo de intermediaccedilatildeo de matildeo-

de-obra e de estiacutemulo ao empreendedorismo entre outros motivos torna a recolocaccedilatildeo dos

trabalhadores no mercado de trabalho uma chance remota

Eacute nesse cenaacuterio constituiacutedo pelas contradiccedilotildees e transformaccedilotildees profundas no qual o

trabalho parece perder a centralidade e em que natildeo se superou a dimensatildeo do trabalho como

mercadoria que o homem trabalhador proprietaacuterio apenas de sua forccedila de trabalho

marginalizado do mercado de trabalho perde sua funccedilatildeo e sua condiccedilatildeo primeira de

cidadania Desse modo eacute que satildeo pensadas e geradas alternativas ao desemprego e agrave exclusatildeo

social ressurgindo o ideal da Economia Solidaacuteria e da Autogestatildeo

22 Economia Solidaacuteria Alternativa agrave superaccedilatildeo do desemprego

A ideacuteia de construccedilatildeo de uma sociedade justa cuja base de relaccedilotildees esteja centrada na

solidariedade e natildeo na competiccedilatildeo eacute um ideal da humanidade que tem iniacutecio nos primoacuterdios

da civilizaccedilatildeo capitalista Tal ideaacuterio natildeo tem seu fundamento apenas no desejo utoacutepico de

mundo igualitaacuterio e solidaacuterio mas segundo Rattner (2005 p 01)

A apologia irrestrita da competiccedilatildeo eacute ideoloacutegica e natildeo encontra fundamento na Histoacuteria Ao

contraacuterio eacute possiacutevel afirmar que a maior parte da evoluccedilatildeo da espeacutecie humana foi caracterizada

por associaccedilotildees de cooperaccedilatildeo comunitaacuterias tais como apresentam ainda hoje certas tribos

indiacutegenas do Brasil e de outros continentes A desestruturaccedilatildeo da vida comunitaacuteria em

consequumlecircncia da revoluccedilatildeo industrial no final do seacuteculo XVIII levou como reaccedilatildeo agrave afirmaccedilatildeo de

ideacuteias e praacuteticas cooperativas divulgadas por Proudhon e pelos chamados socialistas utoacutepicos

(Fourier Saint Simon Robert Owen Michael Bakunin e Peter Kropotkin) bem como na segunda metade do seacuteculo XIX ao socialismo de Marx e Engels

Inspirado nas ideacuteias dos socialistas utoacutepicos surgiu na segunda metade do seacuteculo XX o

movimento kibutziano na Terra Santa Seus fundadores e seguidores formaram colocircnias

agriacutecolas que tinham como regra a natildeo exploraccedilatildeo do trabalho propriedade coletiva dos

meios de produccedilatildeo a participaccedilatildeo de todos os membros da comunidade no planejamento e

28

alocaccedilatildeo de recursos seja para o consumo ou seja para investimentos mediante votaccedilatildeo

democraacutetica em assembleacuteias gerais (RATTNER 2005 p01)

A segunda metade do seacuteculo XX tambeacutem pode testemunhar a experiecircncia de implantaccedilatildeo

socialismo na Uniatildeo Sovieacutetica onde se criaram fazendas agriacutecolas coletivas estatizadas aleacutem

das induacutestrias que passaram da propriedade privada para as matildeos do Estado Tais experiecircncias

se inviabilizaram pelo excesso de burocratizaccedilatildeo centralismo e desmotivaccedilatildeo dos

trabalhadores Os fracassos histoacutericos levam a refletir sobre o grau de complexidade para a

implementaccedilatildeo de empreendimentos exigentes em participaccedilatildeo social e sobre a possibilidade

de ocorrerecircncia numa sociedade cujas regras de competiccedilatildeo perpassam todas as relaccedilotildees

sociais Segundo Rattner

Uma economia solidaacuteria exige aleacutem do desenvolvimento de sua base material um alto grau de

conscientizaccedilatildeo e motivaccedilatildeo por parte de sua populaccedilatildeo movida por princiacutepios eacuteticos e valores de

compaixatildeo e solidariedade Em oposiccedilatildeo radical ao sistema de competiccedilatildeo a economia solidaacuteria

natildeo pode ser um produto do autoritarismo de uma administraccedilatildeo de uma soacute via de cima para

baixo que torne a populaccedilatildeo em objeto passivo Ela exige a participaccedilatildeo de todos para se

tornarem cidadatildeos e assim sujeitos do processo histoacuterico(RATTNER 2005 p 02)

Portanto ao se falar de empreendimentos solidaacuterios em que pessoas se organizam

voluntariamente para muacutetua colaboraccedilatildeo parte-se tambeacutem de um pressuposto fundamental a

participaccedilatildeo social que garante ao empreendimento sua sustentabilidade atraveacutes de processos

de caraacuteter educativo

No Brasil desde os anos 80 experiecircncias baseadas na solidariedade se propagam como forma

alternativa de sobrevivecircncia de grupos atingidos pelos efeitos sociais do desemprego

causados em grande parte pela globalizaccedilatildeo Segundo Tauile (2001) tal movimento comeccedila

na Prefeitura de Porto Alegre no Rio Grande do Sul propoga-se por todo o Estado e

posteriormente por todo o Brasil

O termo Economia Solidaacuteria (ES) aparece pela primeira vez no Brasil em 1993 no livro

Economia de Solidariedade e organizaccedilatildeo popular no qual o autor chileno Luis Razeto

(1993 p25) a concebe como

Uma formulaccedilatildeo teoacuterica de niacutevel cientiacutefico elaborada a partir e para dar conta de conjuntos significativos de experiecircncias econocircmicas [] que compartilham alguns traccedilos constitutivos e

essenciais de solidariedade mutualismo cooperaccedilatildeo e autogestatildeo comunitaacuterios que definem uma

racionalidade especial diferente de outras racionalidades econocircmicas

29

Para Singer (2000) a Economia Solidaacuteria surge como modo de produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo

alternativa criado e recriado periodicamente pelos que se encontram marginalizados do

mercado de trabalho A ES concilia o princiacutepio da unidade entre posse e uso dos meios de

produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo com os princiacutepios da socializaccedilatildeo desses meios

Crida identifica as principais caracteriacutesticas dos empreendimentos solidaacuterios

- reciprocidade colocada no cerne de sua passagem agrave accedilatildeo econocircmica - as pessoas se associam numa base voluntaacuteria com o objetivo de satisfazer necessidades sociais

e culturais - a vontade de empreender eacute coletiva Natildeo se busca o retorno sobre o

Investimento individual - tais iniciativas se perenizam combinando fontes de recursos mercantis natildeo mercantis e natildeo-monetaacuterios (financiamento hiacutebrido estaacutetico receitas autogeridas e contribuiccedilotildees voluntaacuterias) - estas experiecircncias organizam-se dentro de uma dinacircmica cidadatilde favorecendo a criaccedilatildeo de

espaccedilos puacuteblicos de proximidade (CRIDA 2000 p03 apud TAUILE 2001)

A unidade tiacutepica da ES eacute a cooperativa cujos princiacutepios satildeo posse coletiva dos meios de

produccedilatildeo pelas pessoas que os utilizam para produzir gestatildeo democraacutetica da empresa ou por

participaccedilatildeo direta ou por representaccedilatildeo reparticcedilatildeo da receita liacutequida entre os cooperadores

por criteacuterios aprovados apoacutes discussotildees e negociaccedilotildees entre todos destinaccedilatildeo do excedente

anual (denominado sobras) tambeacutem por criteacuterios acertados entre todos os cooperadores A

forma de administraccedilatildeo dos empreendimentos de ES eacute portanto a autogestatildeo

Singer (2000) relata diversas experiecircncias e formas de organizaccedilatildeo da ES no Brasil cuja

abrangecircncia compreende atividades econocircmicas tais como cooperativas dos mais diversos

ramos de atividades empresas autogestionaacuterias agecircncias de fomento agrave ES sistemas de

creacutedito redes de projetos comunitaacuterios (associaccedilotildees centros comitecircs etc) feiras solidaacuterias

clubes de trocas e outras experiecircncias alternativas de comeacutercio habitaccedilatildeo e creacutedito

Recentemente a Secretaria Nacional de Economia Solidaacuteria ( SENAES) oacutergatildeo do Ministeacuterio

do Trabalho instuiacuteda no atual governo com o objetivo de fomentar empreendimentos de ES

divulgou um mapa da Economia Solidaacuteria no Brasil Esse mapa proporcionou uma visatildeo da

dimensatildeo e diversidade dos Empreendimentos de Economia Solidaacuteria (EES) os quais jaacute se

fazem presente em todo o paiacutes Eis alguns dados do referido mapa

30

Tabela 2 - Valor mensal dos produtos da ES

Produtos Agrupados por Tipo de Atividade Valor Mensal Total R$ Valor Mensal

Produccedilatildeo Agropecuaacuteria Extrativismo e Pesca 22718579154 462 Produccedilatildeo e Serviccedilos de Alimentos e Bebidas 9822739819 200 Serviccedilos Relativos a Creacutedito e Financcedilas 8205570075 167 Produccedilatildeo Industrial (Diversos) 2940455500 60 Prestaccedilatildeo de Serviccedilos (Diversos) 2031969122 41 Produccedilatildeo de Artefatos Artesanais 1362494308 28 Produccedilatildeo Tecircxtil e Confecccedilotildees 930775759 19 Serviccedilos de Coleta e Reciclagem de Materiais 443079712 09 Produccedilatildeo Mineral (Diversa) 197743633 04 Produccedilatildeo de Fitoteraacutepicos Limpeza e Higiene 93521100 02 Produccedilatildeo e Serviccedilos Diversos 398175518 08 TOTAL 49145103700 1000

Do total de EES 31 natildeo declarou o Valor da Produccedilatildeo Fonte site wwwmtegovbrEmpregadorEconomiaSolidariaConteudoATLAS_PARTE_2pdf A tabela 2 demonstra a diversidade dos setores produtivos da ES e o valor da produccedilatildeo

mensal do conjunto de produtos por tipo de atividade A capacidade de geraccedilatildeo de emprego e

renda da ES eacute demonstrada pela tabela 3 Em 2005 estavam associados nos empreendimentos

econocircmicos solidaacuterios mais de 1 milhatildeo e 250 mil homens e mulheres resultando em uma

meacutedia de 84 participantes por EES Agregam-se a esse conjunto mais 25 mil trabalhadores e

trabalhadoras participantes que possuem algum viacutenculo com os EES (Empreendimentos de

Economia Solidaacuteria)

31

Tabela 3 - Participantes dos ESS no Brasil

REGIAtildeO Mulheres Homens TOTAL

Rural 22292 345 42265 655 64557

Urbano 15262 591 10578 409 25840

Rural e Urbano

13933 384 22372 616 36305

NO

Total 51493 406 75235 594 126728

Rural 95599 373 160365 627 255964

Urbano 42941 504 42262 496 85203

Rural e Urbano

40019 379 65478 621 105497

NE

Total 179058 400 268477 600 447535

Rural 10692 306 24219 694 34911

Urbano 24258 477 26619 523 50877

Rural e Urbano

9733 251 29003 749 38736

SE

Total 44729 359 79910 641 124639

Rural 28901 272 77310 728 106211

Urbano 26773 349 49887 651 76660 Rural e Urbano

72551 284 183127 716 255678

SU

Total 128295 292 310400 708 438695

Rural 10577 284 26698 716 37275

Urbano 18118 597 12213 403 30331 Rural e Urbano

18389 394 28267 606 46656

CO

Total 47088 412 67197 588 114285

Rural 168061 337 330857 663 498918

Urbano 127352 474 141559 526 268911 Rural e Urbano

154625 320 328247 680 482872

TOTAL

Total 450663 360 801219 640 1251882 Fonte Fonte site wwwmtegovbrEmpregadorEconomiaSolidariaConteudoATLAS_PARTE_2pdf Aleacutem da geraccedilatildeo de trabalho e renda a contribuiccedilatildeo mais valiosa dessas experiecircncias tem sido

a retomada da centralidade do trabalho na vida do homem Aos poucos essas diversas

alternativas de geraccedilatildeo de renda vatildeo compondo perspectivas de saiacutedas para a exclusatildeo de

contigentes sociais agrave margem da loacutegica dominante de mercado em que os sobrantes natildeo

dipunham de qualquer possibilidade de resgatar minimamente sua condiccedilatildeo humana e cidadatilde

32

Por outro lado a ES representada principalmente pelas cooperativas apresenta uma seacuterie de

desafios1 dentre os quais se destaca a questatildeo legal Conforme Rech (2000) ao longo de

nossa histoacuteria a iniciativa cooperativista nunca foi efetivamente incentivada ao contraacuterio

sempre houve intervenccedilatildeo no sentido de limitar suas possibilidades A legislaccedilatildeo brasileira

impotildee uma estrutura muito riacutegida na organizaccedilatildeo das cooperativas e ao contraacuterio de permitir

o desenvolvimento do modelo cooperativista acabou por impor tantos limites que tornou

difiacutecil a sua constituiccedilatildeo e funcionamento

A instituiccedilatildeo da primeira lei baacutesica especiacutefica do cooperativismo em 1932 teve o objetivo de

enfrentar pela diversificaccedilatildeo agriacutecola as quebras provocadas pelos problemas com o

comeacutercio internacional do cafeacute A lei 5764 de 1971 feita pelos militares concentrou as

cooperativas nas matildeos de grandes produtores industriais o que influenciou o piacutefio

crescimento das cooperativas no Brasil Em 1998 o anuaacuterio do Cooperativismo Brasileiro da

Organizaccedilatildeo das Cooperativas Brasileiras (OCB) fornecia o nuacutemero de apenas 5102

cooperativas indicando um avanccedilo pequeno na quantidade de cooperativas com um nuacutemero

de associados que natildeo chegava a 3 do total da populaccedilatildeo

Conforme explica Rech (2002 p16-17) de modo geral os instrumentos existentes na

legislaccedilatildeo brasileira que regulam a vida das cooperativas satildeo de procedecircncia conservadora

satildeo exemplos o dec-lei 5154 de 1942 ( sobre a intervenccedilatildeo do Estado nas cooperativas) o

dec-lei 5893 de 1943 (sobre a organizaccedilatildeo funcionamento e fiscalizaccedilatildeo das cooperativas)

apesar de em menor escala o dec-lei 627444 (que aumenta a interferecircncia do Estado) todos

da ditadura getulhista E da ditadura militar as Leis 4380 (que submeteram as cooperativas

habitacionais ao BNH) e 4595 ( que regula a vida das instituiccedilotildees financeiras entre as quais

as cooperativas de creacutedito) ambas de 1964 o DecLei 5966 (que revogou todas as conquistas

de liberdade cooperativistas anteriores) e a lei cooperativista de 1971 As uacutenicas exceccedilotildees

seriam o dec-lei 840145 que reavivou o Dec de 1932 e a Lei 421463 ( Estatuto do

Trabalhador Rural) que apesar de natildeo ser uma lei especiacutefica sobre o assunto poderia ter

aberto as portas para a atuaccedilatildeo cooperativista no campo

Na visatildeo de Tauile et al (2005) o fenocircmeno da autogestatildeo respeita as condiccedilotildees juriacutedicas

vigentes que apesar de natildeo impedir sua existecircncia natildeo contempla suas necessidades

1 No item 27 satildeo apresentados outros desafios

33

especiacuteficas Os empreendimentos enquadram-se nas formas do direito tradicional fato que

natildeo lhes favorece uma vez que se trata de empreendimentos autogestionaacuterios sociedades de

pessoas e natildeo de capital

Atualmente a legislaccedilatildeo cooperativista estaacute em debate Trecircs Projetos de lei de nos 60599

17199 e 42899 estatildeo tramitando no Congresso Nacional Apesar disso nenhum desses

projetos contempla as necessidades dos empreendimentos autogestionaacuterios na visatildeo dos

autores Tauile et al (2005 p151) Para eles estes empreendimentos tecircm caracteriacutesticas

especiais e necessidades especiacuteficas por serem fenocircmenos com caracterizaccedilotildees empresariais

tipicamente urbanas e de trabalho associado A legislaccedilatildeo poreacutem atende a um

cooperativismo fortemente implementado no campo de base agraacuteria para organizar pequenos

(e grandes) proprietaacuterios rurais

Uma outra evidecircncia da limitaccedilatildeo legal ocorre com os empreendimentos de ES que se

originam da recuperaccedilatildeo de massa falidas Segundo Tauile et al (2005 p147) esses

empreendimentos nascem abruptamente portanto natildeo possuem histoacutericos contaacutebeis sem

capital e sem patrimocircnio No iniacutecio das operaccedilotildees satildeo comandataacuterios ou arrendataacuterios e natildeo

estatildeo capitalizados para irem diretamente ao mercado Diante desse contexto tecircm

dificuldades de acesso a creacutedito para a continuidade do negoacutecio

Tauile et al ( 2005 p 148-149) reflete sobre a necessidade do reconhecimento pela ordem

juriacutedica dessas novas formataccedilotildees juriacutedicas por meio da criaccedilatildeo de um marco legal que

[] os reconheccedila conceitualmente e que estabeleccedila normas para atendimento de condiccedilotildees

associadas a um padratildeo socialmente aceitaacutevel para os trabalhadores e produccedilatildeo de bens para o

mercado que estabeleccedila criteacuterios de identificaccedilatildeo desses atores - empresas de autogestatildeo - que se baseiem numa interpretaccedilatildeo objetiva adequada ao perfil e agraves caracteriacutesticas do sujeito com base na

realidade social e econocircmica disposta

Este cenaacuterio demonstra as restriccedilotildees que a ES enfrenta e que circunscrita no marco legal do

capitalismo natildeo eacute possiacutevel percebecirc-la como instrumento uacutenico de negaccedilatildeo ou superaccedilatildeo do

sistema de mercado vigente contudo surgem inuacutemeras pequenas revoluccedilotildees quando nos

empreendimentos deixa de existir a dicotomia entre capital e trabalho instaurando novas

perspectivas natildeo somente de reproduccedilatildeo mas de criaccedilatildeo de novos tipos de sociabilidades

onde a solidariedade a exigecircncia de responsabilidades coletivas se constituem num intenso

processo educativo Tudo isso recria o proacuteprio conceito de trabalho o qual ganha novos

34

contornos Emprestando as palavras do filoacutesofo Luiz Razeto (1993) cada dia fica mais

claro de que haacute a necessidade de que o aspecto alternativo natildeo seja apenas uma estrateacutegia

mas o proacuteprio desenvolvimento que se busca

23 Diferenccedilas conceituais entre Terceiro Setor e Economia Solidaacuteria

A proliferaccedilatildeo dos empreendimentos solidaacuterios no Brasil muito se deve agrave forte presenccedila das

entidades do Terceiro Setor que eclodiram principalmente a partir dos anos 802 Dentre as

entidades fomentadoras da ES no Brasil pode-se destacar Agecircncia de Desenvolvimento

Solidaacuterio Central Uacutenica dos Trabalhadores (ADSCUT) Associaccedilatildeo Nacional de

Trabalhadores em Empresas de Autogestatildeo e Participaccedilatildeo Acionaacuteria (Anteag) Caacuteritas

BrasileirasUNITRABALHO- Rede Interuniversitaacuteria de Estudos e Pesquisas sobre o

Trabalho PACS Instituto de Poliacuteticas Alternativas para o Cone Sul DIEESE-

Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos Soacutecio- Econocircmicos Instituiccedilatildeo

Comunitaacuteria de Creacutedito Portosol ITCP- Incubadora Tecnoloacutegica de Cooperativas Populares

FASE- Federaccedilatildeo de Oacutergatildeos para Educaccedilatildeo e Assistecircncia Social NAPES - Nuacutecleo de Accedilatildeo e

Pesquisa em Economia de Solidariedade entre outras

Devido agrave substantiva participaccedilatildeo de entidades do Terceiro Setor na Economia Solidaacuteria

muitos entendem que a uacuteltima eacute gecircnero da primeira Isto eacute compreensiacutevel uma vez que a linha

que divide os dois territoacuterios natildeo estaacute tatildeo bem definida A distinccedilatildeo poderia ser realizada pelo

conceito de cada um dos segmentos Entretanto conceituar o Terceiro Setor natildeo eacute uma tarefa

faacutecil tendo em vista a gama de entidades que o compotildeem e a variedade de expressotildees que satildeo

utilizadas como sinocircnimas tais como ONGs entidades sem fins lucrativos organizaccedilotildees

voluntaacuterias entre outras para designar os grupos de organizaccedilotildees da sociedade civil com

atuaccedilatildeo social

Recentemente mais precisamente depois dos anos 90 muitos trabalhos acadecircmicos tecircm

envidado esforccedilos nessa tarefa de conceituar e caracterizar as entidades que constituem esse

setor Destaca-se entre as produccedilotildees sobre o tema o trabalho de Coelho ( 2002) Segundo a

2 Com a redemocratizaccedilatildeo do paiacutes essas organizaccedilotildees ampliaram a abrangecircncia de atuaccedilatildeo para novos espaccedilos

de articulaccedilatildeo soacutecio-poliacutetica como a defesa de direitos de grupos especiacuteficos da populaccedilatildeo mulheres negros

povos indiacutegenas crianccedilas abandonadas etc ( GARCIA 2003)

35

autora no Brasil o termo mais usual para a denominaccedilatildeo das entidades da sociedade civil era

organizaccedilatildeo natildeo-governamental A expressatildeo terceiro setor foi utilizada pela primeira vez

por pesquisadores nos Estados Unidos na deacutecada de 70 e na deacutecada de 80 tambeacutem passou a

ser empregada pelos pesquisadores europeus em virtude do termo expressar uma alternativa

para as desvantagens tanto do mercado associadas agrave maximizaccedilatildeo do lucro quanto do

governo com sua burocracia inoperante( COELHO 2002 p58)

Nesse sentido o Terceiro Setor eacute uma expressatildeo a que se recorre para distinguir as entidades

emergidas do seio da sociedade civil daquelas oriundas do primeiro setor (mercado) e do

segundo (aacuterea governamental) Essa denominaccedilatildeo evidencia o papel econocircmico que esse

segmento assume Coelho explica que essas organizaccedilotildees distinguir-se-iam das entidades

privadas inseridas no mercado por natildeo objetivarem o lucro e por responderem em alguma

medida agraves necessidades coletivas (COELHO 2002 p59)

Contudo Franco (1997) abre um parecircntese no sentido de natildeo se confundir coletivo e puacuteblico

pois nem todas as entidades pertencentes ao Terceiro Setor possuem fins puacuteblicos Grande

parte do Terceiro Setor eacute composta por organizaccedilotildees com fins coletivos privados como uma

organizaccedilatildeo para observaccedilatildeo de paacutessaros tropicais Essas entidades constituem-se num

agrupamento de cidadatildeos que se associam voluntariamente para perseguir objetivos que soacute

interessam a eles proacuteprios que natildeo tem a pretensatildeo ou a obrigaccedilatildeo de atender a um interesse

comum da sociedade e portanto que natildeo estatildeo voltados para o bem comum ou para a

chamada utilidade puacuteblica (FRANCO 1997 p37 apud COELHO 2002 p59)

Aleacutem dessas entidades jaacute citadas uma outra discussatildeo que se faz eacute sobre a relaccedilatildeo entre o

Terceiro Setor e os movimentos sociais Estariam os movimentos sociais circunscritos ao

Terceiro Setor Partindo-se de uma resposta negativa poder-se-ia argumentar que os

movimentos sociais natildeo integram o Terceiro Setor por natildeo possuiacuterem uma estrutura formal

feita para perdurar no tempo caracteriacutestica baacutesica de entidades do terceiro setor3 Na verdade

os movimentos sociais possuem um caraacuteter mais reivindicatoacuterio e pressionam o Estado

solicitando o fornecimento de bens ou serviccedilos

3 Conforme aleacutem de estar fora do Estado e natildeo ter fins lucrativos as entidades do Terceiro Setor possuem as seguintes caracteriacutesticas satildeo estruturadas satildeo autogovernadas Envolvem indiviacuteduos num significativo esforccedilo

voluntaacuterio (Lester Salamon amp Helmuth Anheir 1994 apud Coelho 2002 p61)

36

Entretanto nada eacute conclusivo pois tambeacutem no Terceiro Setor inscrevem-se entidades com

caraacuteter reivindicatoacuterio Essa questatildeo daacute uma ideacuteia da dificuldade de delimitaccedilatildeo dos contornos

desse setor em virtude da diversidade das entidades que o compotildeem

Alguns autores americanos (Lester Salamon Michael Gutowski amp Karen Pittman 1984 p3) entendem que as entidades do terceiro setor podem ser agrupadas da seguinte forma

1) Organizaccedilotildees que funcionam essencialmente para ajudar a seus proacuteprios membros tais

como as associaccedilotildees profissionais e clubes sociais

2) Igrejas sinagogas mesquitas e outras organizaccedilotildees religiosas sacramentadas

3) Organizaccedilotildees incluindo as fundaccedilotildees United Way e federaccedilotildees religiosas como a

Caridade Catoacutelica e a Federaccedilatildeo Judaica

4) Organizaccedilotildees que promovem caridade ou serviccedilos educacionais destinados

primeiramente para ajudar a qualquer pessoa e natildeo simplesmente seus membros

No Brasil a legislaccedilatildeo segrega as vaacuterias entidades que compotildeem o Terceiro Setor em dois

grupos ou duas formas juriacutedicas diferentes associaccedilatildeo e fundaccedilatildeo De acordo com o art 16 do

Coacutedigo Civil Brasileiro as entidades da sociedade civil sem finalidade lucrativa apresentam

caracteriacutesticas diversas em seus aspectos juriacutedicos Os arts 20 e 23 enunciam as seguintes

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo

a) os fins os meios proacuteprios e os interesses satildeo estabelecidos pelos associados

b) os associados podem alterar os fins

c) o patrimocircnio eacute constituiacutedo pelos associado e

d) os associados deliberam livremente

Por outro lado as fundaccedilotildees tecircm suas caracteriacutesticas anunciadas nos arts 24 e 30 do antigo

Coacutedigo Civil da seguinte forma

a) os fins os meios proacuteprios e os interesses satildeo estabelecidos pelo fundador

b) os fins satildeo perenes e imutaacuteveis

c) o patrimocircnio eacute fornecido pelo instituidor e

d) as resoluccedilotildees satildeo delimitadas pelo instituidor

37

Resgatando o conceito e natureza da Economia Solidaacuteria percebe-se que ela eacute um hiacutebrido

entre empresas econocircmicas e entidades da sociedade civil Aqui haacute uma semelhanccedila dos

segmentos pois ambas satildeo associaccedilatildeo de pessoas

Enquanto atividade econocircmica ela precisa gerar sobras mediante a qual se garante emprego e

renda aos trabalhadores Por outro lado enquanto atividade social ela eacute gerida por um coletivo

de pessoas que aleacutem de benefiacutecios econocircmicos cultuam valores humanos tais como

solidariedade e cooperaccedilatildeo em todo o processo econocircmico seja na relaccedilatildeo de trabalho na

relaccedilatildeo com clientes e fornecedores na relaccedilatildeo com a comunidade e com o meio ambiente

Uma situaccedilatildeo que a diferencia das empresas mercantis quando o empreendimento solidaacuterio

assume a forma juriacutedica de uma cooperativa eacute o fato de que o resultado econocircmico natildeo se

distribui com o mesmo dinamismo que em uma empresa mercantil Ele eacute distribuiacutedo

anualmente por ocasiatildeo da apuraccedilatildeo do Balanccedilo anual

Diante da dificuldade de se traccedilar precisamente as diferenccedila apenas pelas caracteriacutesticas

talvez o grande argumento para a segregaccedilatildeo dos empreendimentos de ES das entidades do

Terceiro Setor resida na legislaccedilatildeo Os empreendimentos mais representativos4 da Economia

Solidaacuteria conforme o Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (2006) as cooperativas e as

sociedades anocircnimas tecircm uma legislaccedilatildeo proacutepria apesar dos questionamentos sobre a sua

adequaccedilatildeo agraves peculiaridades dos empreendimentos de ES A cooperativa eacute uma associaccedilatildeo

autocircnoma de pessoas que se unem voluntariamente para satisfazer aspiraccedilotildees econocircmicas

sociais e culturais comuns por meio da criaccedilatildeo de uma sociedade democraacutetica e coletiva

cooperativa Diferenciam-se dos demais tipos de sociedades por serem ao mesmo tempo uma

associaccedilatildeo de pessoas e tambeacutem um negoacutecio e satildeo definidas pela lei 5764 de 16 de

dezembro de 1971 ( lei cooperativista) Jaacute os empreendimentos solidaacuterios que assumem a

forma juriacutedica de uma sociedade anocircnima satildeo regidos pela lei das Lei nordm 6404 de 15 de

dezembro de 1976 chamada lei das sociedades por accedilotildees

Veiga e Rech (2002) apontam outras diferenccedilas comparando uma associaccedilatildeo (terceiro setor)

e cooperativa (ES) conforme mostra o quadro 2 Entretanto este debate natildeo se encerraraacute ateacute

que sejam definidos contornos conceituais e legais mais efetivos aos segmentos

4 Apesar de serem representativos natildeo satildeo a maioria dos empreendimentos No Brasil as formas de organizaccedilatildeo

estatildeo assim distribuiacutedas associaccedilatildeo 54 grupos informais -33 organizaccedilotildees cooperativas 11 outras

formas de organizaccedilatildeo- 2

38

Quadro 2- Diferenccedilas entre Associaccedilotildees e Cooperativas

Criteacuterio Associaccedilatildeo Cooperativa

Conceito Sociedade de pessoas sem fins lucrativos

Sociedade de pessoas sem fins lucrativos e com especificidade de atuaccedilatildeo na atividade produtivacomercial

Finalidade Representar e defender os interesses dos associados Estimular a melhoria teacutecnica

profissional e social dos associados Realizar iniciativas de promoccedilatildeo educaccedilatildeo e assistecircncia

social

Viabilizar e desenvolver atividades de consumo produccedilatildeo prestaccedilatildeo de serviccedilos

creacutedito e comercializaccedilatildeo de acordo com os

interesses dos seus associados

Constituiccedilatildeo Miacutenimo de duas pessoas Miacutenimo de 20 pessoas fiacutesicas Legislaccedilatildeo Constituiccedilatildeo ( art 5ordm XVII a XXI

e art 174 sect2ordm) Coacutedigo civil Lei 576471 Constituiccedilatildeo ( art 5ordm XVII a

XXI e art 174 sect Coacutedigo civil Patrimocircnio Capital Patrimocircnio eacute formado por taxa

paga pelos associados doaccedilotildees

fundos e reservas Natildeo possui

capital social

Possui capital social formado por quotas-partes podendo receber doaccedilotildees

empreacutestimos e processos de capitalizaccedilatildeo

Forma de gestatildeo Nas assembleacuteias cada pessoa tem

direito a um voto As decisotildees

devem sempre ser tomadas com a participaccedilatildeo e o envolvimento dos

associados

Nas assembleacuteias cada pessoa tem direito a um voto As decisotildees devem sempre ser

tomadas com a participaccedilatildeo e o envolvimento

dos associados

Abrangecircncia aacuterea de

accedilatildeo Limita-se aos seus objetivos podendo ter abrangecircncia nacional

Limita-se aos seus objetivos e possibilidade de reuniotildees podendo ter abrangecircncia

nacional Operaccedilotildees Soacute pode realizar atividade

comercial para a implementaccedilatildeo de

seus objetivos sociais Pode realizar operaccedilotildees financeiras e

bancaacuterias usuais

Realiza plena atividade comercial Realiza operaccedilotildees financeiras bancaacuterias e pode

candidatar-se a empreacutestimos e aquisiccedilotildees do

governo federal

Responsabilidades Os associados natildeo satildeo

responsaacuteveis diretamente pelas

obrigaccedilotildees contraiacutedas pela

associaccedilatildeo A sua diretoria soacute pode

ser responsabilizada se agir sem o consentimento dos associados

Os cooperados natildeo satildeo responsaacuteveis

diretamente pelas obrigaccedilotildees contraiacutedas pela

cooperativa a natildeo ser tambeacutem nos casos em

que decidem que a sua responsabilidade eacute

ilimitadaSua diretoria soacute pode ser

responsabilizada se agir sem o consentimento dos associados

Remuneraccedilatildeo Os dirigentes natildeo tecircm remuneraccedilatildeo

pelo exerciacutecio de suas funccedilotildees

recebem apenas reembolso de suas despesas realizadas para o desempenho dos seus cargos

Os dirigentes podem ser remunerados por retiradas mensais proacute-labore definidas pela assembleacuteia aleacutem do reembolso de suas

despesas

Tributaccedilatildeo Deve fazer anualmente uma declaraccedilatildeo de isenccedilatildeo de imposto

de renda

Isento de impostos sobre operaccedilotildees com

seus associados Recolhe IRPJ sobre operaccedilotildees com terceiros Paga impostos e taxas decorrentes de accedilotildees comerciais

Resultados Financeiros O resultado positivo (superaacutevit)

obtido de operaccedilotildees entre os

associados seratildeo aplicados na

proacutepria associaccedilatildeo

O resultado positivo (sobras) satildeo divididas de

acordo com o volume de negoacutecios ou

participaccedilatildeo de cada associado Satildeo

constituiacutedas reservas de 10 para o fundo de

reserva e 5 para o Fundo Educacional ( FATES)

Fonte Adaptado de Veiga e Rech (2002)

39

24 Diferentes concepccedilotildees e modelos de participaccedilatildeo na administraccedilatildeo

A Economia Solidaacuteria na perspectiva apontada por Tauile (2001) sinteticamente possui os

seguintes traccedilos distintivos reciprocidade coletividade combinaccedilatildeo de recursos

mercantis e natildeo-mercantis cidadania que somente se constroacutei no espaccedilo puacuteblico Logo o

conceito de participaccedilatildeo eacute tambeacutem chave para compreender a dinacircmica dos empreendimentos

soliaacuterios e a autogestatildeo

No acircmbito de uma empresa a participaccedilatildeo reveste-se de um caraacuteter bastante importante

capaz de alterar as relaccedilotildees de poder no processo de gestatildeo dos negoacutecios pois

A participaccedilatildeo consiste basicamente na criaccedilatildeo de oportunidades sob as condiccedilotildees adequadas para

que as pessoas influam nas decisotildees que as afetam Essa influecircncia pode ser de pouca a muita [

participaccedilatildeo] constitui um caso especial de delegaccedilatildeo no qual o subordinado adquire um controle

maior uma maior liberdade de escolha em relaccedilatildeo a suas proacuteprias responsabilidades O termo

participaccedilatildeo eacute usualmente aplicado agrave maior influecircncia do subordinado sobre assuntos de responsabilidade do superior (MCGREGHOR 1960 p126 e 130 apud PATEMAN 1992 p 38)

Contudo a participaccedilatildeo eacute uma categoria teoacuterica bastante controversa especialmente no

acircmbito dos negoacutecios jaacute que embora no mundo moderno o local de trabalho seja agrave base de

relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo esse espaccedilo tem sido marcado desde sua origem pela negaccedilatildeo de

relaccedilotildees democraacuteticas de participaccedilatildeo Mais recentemente diversos movimentos tecircm

persuadido empresas a adotarem sistemas de participaccedilatildeo Eacute grande a variedade de modelos

participativos no acircmbito empresarial Compreendem desde accedilotildees pontuais de empregados que

apresentam suas sugestotildees aos negoacutecios ateacute a participaccedilatildeo na propriedade e nos lucros Far-

se-aacute em seguida uma imersatildeo nos diferentes conceitos de participaccedilatildeo nos negoacutecios buscando

distinguir tais conceitos daquele adotado no presente trabalho

Segundo Arantes (2000) a participaccedilatildeo nas organizaccedilotildees surgiu em decorrecircncia da pressatildeo

sindical para utilizaccedilatildeo de fundamentos democraacuteticos nas organizaccedilotildees Posteriormente foi

sendo sustentada por concepccedilotildees humanistas de administraccedilatildeo Um breve histoacuterio dessa

evoluccedilatildeo mostra que os primeiros debates de participaccedilatildeo na administraccedilatildeo ocorreram por

volta de 1880 quando nos Estados Unidos numa empresa chamada Midvale Steel Frederick

Wilson Taylor obstinado por incrementar a eficiecircncia de seus subordinados deparou com um

impasse Taylor observava e cronometrava as atividades de vaacuterios funcionaacuterios com o

objetivo de descobrir uma base cientiacutefica para compreender e executar os trabalhos

40

(ARANTES 2000 p08) Ele queria encontrar o meacutetodo mais eficiente de trabalho e que

fosse melhor para todos Entretanto apoacutes conseguir meacutetodos e maneiras para aumentar o

rendimento dos operaacuterios ele se deparou com o chamado problema dos salaacuterios

Na eacutepoca existiam duas formas praticadas de pagamento dos funcionaacuterios pagamento por dia

ou por peccedila produzida Na primeira o trabalhador recebia o salaacuterio independentemente de

sua produccedilatildeo o que tornava o aumento da eficiecircncia extremamente desinteressante para ele

Na segunda apresentava-se a seguinte questatildeo se a produccedilatildeo aumentava muito o valor por

peccedila diminuiacutea fazendo com que o sindicato estabelecesse volumes maacuteximos de produccedilatildeo por

dia de maneira que os trabalhadores natildeo fossem prejudicados

Segundo Maximiano (1996 p44)

Para resolver este problema que os dois sistemas ofereciam jaacute na eacutepoca se falava em um sistema

de participaccedilatildeo dos empregados nos lucros das empresas o qual se tem notiacutecia de ter sido praticado na Europa desde 1842 No entanto tambeacutem jaacute se reconhecia que esse sistema tinha imperfeiccedilotildees

uma vez que as flutuaccedilotildees nos lucros beneficiando ou prejudicando o empregado eram devidas a

fatores (como preccedilo da mateacuteria-prima ou decisotildees gerenciais) sobre os quais ele natildeo tinha controle

Mas foi com o movimento de relaccedilotildees humanas (os humanistas) que o advento da

participaccedilatildeo ganhou forccedila O movimento desenvolveu-se a partir de experiecircncias e estudos

realizados na Western Eletric Company entre 1924 e 1933 Esses experimentos ficaram

conhecidos como os experimentos de Hawthorne em virtude de a maioria dos estudos

terem sido realizados na faacutebrica de Hawthorne da Western Eletric nas proximidades de

Chicago

O objetivo desses estudos a princiacutepio natildeo era a avaliaccedilatildeo de comportamentos humanos

motivaccedilotildees ou participaccedilatildeo visavam apenas agrave identificaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre o niacutevel de

iluminaccedilatildeo do local de trabalho e a produtividade dos empregados Os resultados obtidos natildeo

foram conclusivos A produtividade aparentava crescer tanto quando se aumentava a

iluminaccedilatildeo como tambeacutem quando se diminuiacutea Concluiu-se que algo aleacutem da iluminaccedilatildeo

influenciava no rendimento dos trabalhadores

Elton Mayo professor de Harvard participante dessas experiecircncias tinha uma experiecircncia

anterior de estudo das sociedades aboriacutegenes da Austraacutelia as quais se caracterizam por serem

muito unidas o que fazia despertar nos indiviacuteduos a sensaccedilatildeo de pertencer ao grupo

41

Comparando-se os trabalhadores da seccedilatildeo de enrolamentos de carreteacuteis onde as experiecircncias

foram desenvolvidas com as sociedades aboriacutegenes constatou-se que os trabalhadores

apresentavam a destruiccedilatildeo total da sensaccedilatildeo de pertencimento a um grupo ou seja era o

oposto da sociedade aboriacutegene Mayo explicou da seguinte forma a depressatildeo e alienaccedilatildeo dos

trabalhadores do setor de enrolamento de carreteacuteis

Quer como antropoacutelogo estudando uma raccedila primitiva quer como industriais estudando alguma

parte do esquema moderno caoacutetico e complexo de produccedilatildeo encontramos sempre grupos de

indiviacuteduos tanto nas selvas naturais como nas cidades modernas que encontram sua felicidade e

seguranccedila pessoal desde que exista a subordinaccedilatildeo do indiviacuteduo a um objetivo comum O homem

solitaacuterio que trabalha soacute eacute sempre uma pessoa muito infeliz( HAMPTON 1983 apud ARANTES 2000)

Outros autores tambeacutem contribuiacuteram para o desenvolvimento da Escola de Relaccedilotildees

Humanas Em 1910 na Alemanha Hugo Munsterberg realizou experimentos em que buscava

utilizar conhecimentos da psicologia experimental aplicados para ajudar na seleccedilatildeo de

homens mais bem capacitados para o trabalho A partir da seleccedilatildeo buscava-se determinar

condiccedilotildees psicoloacutegicas e influecircncias na mente humana capazes de obtenccedilatildeo de maiores

iacutendices de produccedilatildeo e um comportamento previamente desejado pela administraccedilatildeo

Em 1935 Kurt Lewin desenvolveu um dos primeiros estudos sobre motivaccedilatildeo humana e

dinacircmica de grupo o qual ficou conhecido como a teoria de campo Lewin supunha que o

comportamento humano seria derivado dos fatos existentes que adquiriria caraacuteter de um

campo-dinacircmico em que cada parte depende da inter-relaccedilatildeo com outras partes

Abraham H Maslow desenvolveu estudos sobre a teoria das necessidades motivacionais em

1944 proporcionando uma grande contribuiccedilatildeo para o desenvolvimento humano no trabalho

De acordo com a Teoria da Hierarquia das Necessidades de Maslow as pessoas satildeo

motivadas por cinco tipos distintos de necessidades fisioloacutegicas de seguranccedila de afeto de

estima e de auto-realizaccedilatildeo ( ARANTES 2000 p12)

Essas necessidades estatildeo dispostas de acordo com uma hierarquia segundo sua capacidade de

motivar o comportamento humano Num primeiro degrau o ser humano eacute motivado por

necessidades fisioloacutegicas Eles buscaratildeo satisfazecirc-las primeiramente caso natildeo estejam

satisfeitas elas tenderatildeo a monopolizar seu comportamento oferecendo dessa forma um

grande poder de motivaccedilatildeo Agrave medida que as necessidades vatildeo sendo satisfeitas o poder de

42

motivaccedilatildeo vai perdendo sua forccedila dando lugar a um novo niacutevel de descontentamento

deslocando o poder de motivaccedilatildeo para patamares superiores de necessidade dentro da

hierarquia

Entretanto pode ocorrer que as pessoas aleacutem de subirem tambeacutem desccedilam dentro da

hierarquia das necessidades A ausecircncia de satisfaccedilatildeo de necessidades inferiores pode

aumentar sua importacircncia relativa Quando haacute uma perda do emprego por exemplo o

indiviacuteduo passa a demonstrar menor necessidade pela estima e seu comportamento passa a

ser conduzido pela necessidade de pagar as contas e da seguranccedila de um novo emprego (

ARANTES 2000 p 12)

O movimento das relaccedilotildees humanas superou a abordagem claacutessica5 em virtude da ecircnfase nas

necessidades sociais Segundo Stoner

Aparentemente o ambiente social no local de trabalho eacute apenas um dos vaacuterios fatores interativos

que influenciam a produtividade Os niacuteveis de salaacuterios os niacuteveis de interesse por determinadas

tarefas a estrutura e a cultura organizacional e as relaccedilotildees entre trabalhadores e a administraccedilatildeo

tambeacutem tecircm muita importacircncia (STONER apud ARANTES 2000)

Aleacutem dessa anaacutelise histoacuterico-humanista haacute outros enfoques que podem explicar a origem da

participaccedilatildeo nas relaccedilotildees produtivas Alguns autores defendem que a participaccedilatildeo pode ter

sido originada por dois fatores a conflitual e a funcional

A conflitual tem raiz no antagonismo entre capital e trabalho surgindo neste contexto o movimento sindical como uma forma de divisatildeo de poder de maneira a diminuir conflitos A

participaccedilatildeo funcional originou-se da necessidade de reduzir a burocratizaccedilatildeo e

consequumlentemente promover a aproximaccedilatildeo entre dirigentes e dirigidos (ARANTES 2000 p15)

Na primeira perspectiva a participaccedilatildeo deixa de ser algo concebido nos estreitos limites da

organizaccedilatildeo e suas necessidades intriacutensecas para se tornar o resultado de tensotildees sociais

dentro e fora das empresas Nessa linha de pensamento Dacheler e Wilpert e Kenneth

Walker na visatildeo de Arantes satildeo os autores que mais identificavam a ligaccedilatildeo entre a

participaccedilatildeo na sociedade e a participaccedilatildeo nas organizaccedilotildees

5 Nessa abordagem a produtividade era tratada quase que exclusivamente como um problema de engenharia

43

Conforme esses autores a participaccedilatildeo pode ser concebida em quatro perspectivas teoacutericas

Teoria Democraacutetica Teoria Socialista Teoria do Desenvolvimento e Crescimento Humano e

Teoria da Produtividade e Eficiecircncia

Teoria Democraacutetica

Os principais expoentes dessa corrente satildeo Rosseau Stuart Mill e Tocqueville Para eles a

participaccedilatildeo democraacutetica deve ocorrer em todos os acircmbitos sociais e natildeo somente atraveacutes da

representaccedilatildeo poliacutetica no Estado Toda instituiccedilatildeo deve buscar a incorporaccedilatildeo de valores

democraacuteticos Esses valores aparecem nos ambientes fabris na forma institucionalizada

atraveacutes da representaccedilatildeo de empregados em diversos niacuteveis ou na forma gerencial

administrativa atraveacutes da participaccedilatildeo direta nas decisotildees principalmente na liberdade de

execuccedilatildeo de suas tarefas(ARANTES 2000 p 17)

Teoria Socialista

Essa concepccedilatildeo tem origem nos socialistas utoacutepicos no socialismo cientiacutefico de Marx e

Engels e no anarquismo de Proudhon A participaccedilatildeo encerra a ideacuteia de distribuiccedilatildeo de poder

na sociedade podendo ser dois enfoques ou duas correntes distintas a anarquista que defende

a centralidade do poder nas matildeos do povo e a comunista corrente em que o poder eacute exercido

atraveacutes do Estado Em uma organizaccedilatildeo a participaccedilatildeo atinge seu aacutepice quando consegue

exercer a autogestatildeo

Teoria das Relaccedilotildees e Desenvolvimento Humano

Essa teoria emerge do ambiente gerencial opondo-se agrave Teoria Socialista em que a

participaccedilatildeo irradia dos empregados Admite que o ambiente de trabalho gera contradiccedilotildees

entre o desejo pessoal e a necessidade da empresa e esses conflitos podem provocar

insatisfaccedilatildeo por parte dos empregados resultando em diminuiccedilatildeo da produtividade da

empresa Entretanto a motivaccedilatildeo pode evitar o potencial conflito Isso eacute possiacutevel atraveacutes do

desenvolvimento de equipes de trabalho e arranjos da estrutura organizacional facilitando a

praacutetica da participaccedilatildeo e integraccedilatildeo entre os empregados e a empresa(ARANTES 2000 p

18)

44

Teoria da produtividade e Eficiecircncia

Essa teoria concebe a participaccedilatildeo como uma tecnologia disponiacutevel agrave gerecircncia capaz de

proporcionar maior produtividade e eficiecircncia Segundo seus defensores a participaccedilatildeo nas

tarefas eacute uma ferramenta para enriquecimento das funccedilotildees e aumento da eficiecircncia gerando

maiores lucros que posteriormente podem vir a ser divididos proporcionando novo fator de

motivaccedilatildeo

Partidaacuterio dessa uacuteltima concepccedilatildeo Walker (1974) vecirc a participaccedilatildeo nas organizaccedilotildees como

uma funccedilatildeo gerencial que permite graus de envolvimento dos trabalhadores no processo

decisoacuterio objetivando os interesses da empresa Esse envolvimento eacute de interesse dos

trabalhadores uma vez que estariam contribuindo e intervindo em situaccedilotildees que dizem

respeito diretamente agraves suas vidas Para Walker

Eacute atraveacutes da participaccedilatildeo dos empregados que as empresas poderatildeo encontrar as soluccedilotildees para a

melhoria de sua produccedilatildeo O conhecimento dos funcionaacuterios embora seja uma alternativa pouco

utilizada pelas empresas pode ser a soluccedilatildeo para grandes problemas operacionais (WALKER 1974 apud ARANTES 2000)

As mais variadas perspectivas de participaccedilatildeo possuem como premissas as consequumlecircncias

que conforme a matriz teoacuterica poderia afetar mais ou menos a empresa mais ou menos os

trabalhadores de acordo com o interesse subjacente a cada perspectiva Walker apresenta um

quadro no qual sintetiza as perspectivas de participaccedilatildeo e suas possiacuteveis repercussotildees

Quadro 3- Perspectivas da participaccedilatildeo e suas possiacuteveis repercussotildees

Perspectivas Possiacuteveis Repercussotildees

Promoccedilatildeo dos interesses dos trabalhadores Melhores condiccedilotildees de emprego

Democracia Maior influecircncia dos trabalhadores nas decisotildees

empresariais

Reduccedilatildeo da alienaccedilatildeo Maior satisfaccedilatildeo dos trabalhadores

Utilizaccedilatildeo dos recursos humanos Maior eficaacutecia

Cooperaccedilatildeo e atenuaccedilatildeo dos conflitos Menor nuacutemero de greves

Soluccedilatildeo dos problemas sociais da comunidade Melhoramento dos recursos sociais da comunidade

Freio agrave eficaacutecia Menos eficaacutecia

Inclusatildeo de prerrogativas sociais na empresa Fins da empresa privada

Responsabilidades sociais da empresa Representaccedilatildeo mais equilibrada dos interesses

Fonte WALKER 1974 p 07 apud ARANTES 2000

45

Sinteticamente a participaccedilatildeo dos empregados nas decisotildees das empresas via de regra pode

ocorrer de duas formas em menor escala quando a decisatildeo versa sobre o seu proacuteprio trabalho

e de seu grupo e a decisatildeo nas diretrizes da empresa como um todo Na segunda forma aleacutem

da decisatildeo sobre o trabalho e sua organizaccedilatildeo eacute concedida aos trabalhadores a possibilidade

de decidirem tambeacutem sobre a alocaccedilatildeo de recursos investimentos e destinaccedilatildeo do resultado

destes

Uma das formas mais difundidas de participaccedilatildeo dos empregados nas decisotildees das empresas eacute

a representativa quando um funcionaacuterio compotildee o conselho da empresa Essa forma eacute

mundialmente referenciada como company board Com essa representaccedilatildeo os empregados

tomam parte nas decisotildees que variam desde aquelas que afetam seu trabalho como tambeacutem

as relativas agraves estrateacutegias da empresa decisotildees de obtenccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos

direcionamento de lucros e crescimento

Satildeo igualmente exemplos de participaccedilatildeo representativa os comitecircs de empresa e a co-gestatildeo

na Alemanha Na co-gestatildeo haacute a garantia de que o empregador soacute poderaacute tomar certas

medidas com a anuecircncia do empregado Esta co-participaccedilatildeo inclui decisotildees sobre escolha

de pessoal transferecircncias preenchimentos de vagas demissotildees e sobre as jornadas de

trabalho e descansos( ARANTES 2000 p 26)

Outra forma de participaccedilatildeo eacute aquela que incide sobre os resultados (no lucro) Essa pode ter

conexotildees e ligaccedilotildees diretas com outras formas de participaccedilatildeo na empresa tal como a

participaccedilatildeo nas decisotildees ou pode apresentar-se como um conjunto de remuneraccedilatildeo

objetivando o aumento da motivaccedilatildeo e do envolvimento dos empregados bem como forma de

compartilhar os riscos da empresa

A substituiccedilatildeo da remuneraccedilatildeo fixa por mecircs ou hora reconhecida como padratildeo por compostos de

remuneraccedilatildeo dimensatildeo vinculada ao desempenho teve suas origens no pagamento por peccedila

produzida e nos precircmios por produtividade muito comuns no iniacutecio do seacuteculo XIX Esse sistema

diminuiu significativamente com o aumento e sofisticaccedilatildeo do trabalho uma vez que foca a

realizaccedilatildeo da tarefa reforccedila a cultura individualista a necessidade de comando e impossibilita o

desenvolvimento de inovaccedilotildees (ARANTES 2000 p 27)

O objetivo das remuneraccedilotildees dimensotildees segundo Wood e Picareli eacute alinhar e convergir

esforccedilos para melhorar o desempenho da empresa A remuneraccedilatildeo dimensatildeo pode ser

subdividida em dois grandes grupos a participaccedilatildeo nos lucros e remuneraccedilatildeo por

46

resultados A primeira refere-se agrave divisatildeo de resultados globais obtidos pela empresa

enquanto a remuneraccedilatildeo por resultados tem abrangecircncia menor relacionando-se com a

obtenccedilatildeo de metas individuais ou de equipes

A remuneraccedilatildeo por resultados combina a praacutetica de administraccedilatildeo participativa com um

sistema de bocircnus geralmente fixado pelo empregado ou pelo grupo ou seja eacute estabelecida

uma foacutermula de transformaccedilatildeo das metas previamente fixadas em bocircnus Jaacute a participaccedilatildeo

nos lucros normalmente natildeo estaacute ligada a foacutermulas de desempenho individual ou de grupo e

natildeo necessariamente estaacute vinculada a praacuteticas de administraccedilatildeo participativa O recebimento

das bonificaccedilotildees pode estar somente ligado ao resultado final da empresa e uma quantidade

arbitraacuteria pode ser distribuiacuteda tambeacutem de forma arbitraacuteria apoacutes atingir uma meta de lucro

anual(ARANTES 2000 p28)

Arantes enfatiza que se participativamente estipulada e coletivamente controlada e

acompanhada a distribuiccedilatildeo de lucros proporciona um aumento de motivaccedilatildeo individual e

reciacuteproca atraveacutes do monitoramento coletivo do trabalho pautado na obtenccedilatildeo de vantagens

comuns Ressalta ainda que a participaccedilatildeo nas decisotildees sem a obtenccedilatildeo de resultados eacute falha

e de difiacutecil construccedilatildeo Por outro lado a obtenccedilatildeo de parte nos resultados mediante a

distribuiccedilatildeo dos lucros desacompanhada de envolvimento nas decisotildees tende a desvirtuar os

propoacutesitos da participaccedilatildeo

Uma outra modalidade de participaccedilatildeo existente eacute a participaccedilatildeo na propriedade que se daacute

atraveacutes de fundo de pensatildeo ou pela participaccedilatildeo na propriedade daqueles que efetivamente

trabalham na empresa No fundo de pensatildeo o trabalhador tem uma quota de participaccedilatildeo da

empresa durante o tempo trabalhado mediante a qual tem sua aposentadoria garantida Na

participaccedilatildeo da empresa os trabalhadores podem ser soacutecios efetivos acionistas minoritaacuterios

ou portadores de pequenas parcelas de accedilotildees A obtenccedilatildeo de parte da propriedade da empresa

tende ao reforccedilo da identificaccedilatildeo e do comprometimento com a organizaccedilatildeo e a ampliaccedilatildeo da

participaccedilatildeo nos lucros e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo de terceiros de forma especulativa

reforccedilando o caraacuteter de longo prazo da empresa

Todas as modalidades de participaccedilatildeo ateacute o momento analisadas dizem respeito agraves relaccedilotildees

Capital x Trabalho ainda que em muitos casos a participaccedilatildeo contribua para minimizar a

supremacia do primeiro sobre o segundo tornando mais democraacuteticas as relaccedilotildees de produccedilatildeo

47

e proporcionando ganhos reais (econocircmicos e poliacuteticos) aos trabalhadores No entanto no que

se refere ao escopo desta pesquisa eacute a participaccedilatildeo total que se daacute no acircmbito de

empreendimentos cujo traccedilo fundamental seja a coletividade dos meios de produccedilatildeo que

interessa diretamente e sobre a qual repousa o papel da contabilidade Portanto apoacutes a

digressatildeo realizada para serem destacadas as diferenccedilas fundamentais das perspectivas

teoacutericas aqui inscritas no proacuteximo item retornar-se-aacute ao centro das discussotildees que circundam

o objeto da presente pesquisa qual seja a Autogestatildeo forma proacutepria de administraccedilatildeo dos

chamados Empreendimentos Solidaacuterios e base sobre a qual emerge a Contabilidade como

instrumento e como necessidade

25 Autogestatildeo Modelo de participaccedilatildeo total na gestatildeo e princiacutepio da ES

No ambiente da administraccedilatildeo a autogestatildeo pode ser definida como uma forma de

participaccedilatildeo em que a totalidade do capital da empresa pertence aos seus participantes ou

seja os seus trabalhadores os quais assumem o controle da gestatildeo da empresa Nesse modelo

de gestatildeo eacute o grupo quem determina os objetivos e diretrizes da empresa sem reverecircncia a

nenhuma autoridade externa Na autogestatildeo natildeo existe diferenccedila entre administradores e

administrados visto que todos participam e detecircm a propriedade do capital da empresa

Analisando sob um prisma mais amplo que os limites empresariais compreende-se que a

conquista dessa forma de gestatildeo resultou da busca por alternativas agrave gestatildeo autoritaacuteria e

centralizada Portanto estaacute associada a uma antiga reivindicaccedilatildeo dos trabalhadores pela

democratizaccedilatildeo das estruturas de decisatildeo nas faacutebricas ou seja tem uma vinculaccedilatildeo com o

ideal poliacutetico da emancipaccedilatildeo do trabalhador e com a utopia de uma sociedade mais justa e

democraacutetica

Dessa forma este trabalho compreende a participaccedilatildeo na gestatildeo como a base para formaccedilatildeo

da cidadania Cidadania e participaccedilatildeo satildeo conceitos gecircmeos com os quais se define um outro

conceito Democracia Na verdade haacute um triacircngulo conceitual complementar e dependente

Democracia Cidadania Participaccedilatildeo sobre o qual se inscreve a concepccedilatildeo de atuaccedilatildeo da

contabilidade Aqui uma aproximaccedilatildeo com as orientaccedilotildees teoacutericas socialistas e com a Teoria

Democraacutetica eacute clara pois segundo Pateman

48

A teoria da democracia participativa eacute construiacuteda em torno da afirmaccedilatildeo de que os indiviacuteduos e

suas instituiccedilotildees natildeo podem ser considerados isoladamente A existecircncia de instituiccedilotildees

representativas a niacutevel nacional natildeo basta para a democracia pois o maacuteximo de participaccedilatildeo de

todas as pessoas a socializaccedilatildeo ou treinamento social precisa ocorrer em outras esferas de

modo que as atitudes e qualidades psicoloacutegicas necessaacuterias possam se desenvolver Esse

desenvolvimento ocorre por meio do proacuteprio processo de participaccedilatildeo (PATEMAN 1992 p60)

A autora toma a participaccedilatildeo como o mecanismo democraacutetico por excelecircncia a democracia eacute

a finalidade pela qual a participaccedilatildeo deve se instituir e a finalidade da democracia eacute o bem

comum Esse bem comum natildeo eacute algo dado mas construiacutedo a partir do processo de educaccedilatildeo

que somente pode existir por meio da participaccedilatildeo que em uacuteltima instacircncia se constitui na

autogestatildeo A democracia segundo a autora pressupotildee representaccedilatildeo lideranccedilas mas ela natildeo

sobrevive sem a participaccedilatildeo dos indiviacuteduos como autores das decisotildees mais fundamentais

sob as quais se submeteratildeo agraves vontades individuais A participaccedilatildeo nos niacuteveis mais inferiores

da organizaccedilatildeo social e econocircmica eacute uma necessidade inerente agrave participaccedilatildeo nos niacuteveis mais

altos da poliacutetica A participaccedilatildeo eacute portanto o meio pelo qual se adquire as habilidades

teacutecnicas poliacuteticas e emocionais para o exerciacutecio democraacutetico que comeccedila no ambiente de

trabalho ou nos niacuteveis mais elementares de reproduccedilatildeo da vida em sociedade

Uma leitura dos empreendimentos de economia solidaacuteria agrave luz da Teoria Democraacutetica

portanto leva a perceber que tais iniciativas natildeo tecircm uma funccedilatildeo somente de alternativa ao

desemprego mas se constituem num aprendizado para a Democracia no sentido mais amplo

Utilizando a autogestatildeo como meacutetodo de administraccedilatildeo adquirem estatuto pedagoacutegico no

qual os cidadatildeos assumem compromissos e objetivos comuns tomam decisotildees reforccedilam o

senso de responsabilidade e estimula maior participaccedilatildeo pelo sentimento de eficaacutecia que suas

decisotildees adquirem Entatildeo uma das motivaccedilotildees da participaccedilatildeo eacute o sentido da eficaacutecia poliacutetica

ou o sentido de competecircncia poliacutetica Isso eacute compreendido como o sentimento de que a accedilatildeo

poliacutetica do indiviacuteduo tem ou poder ter um impacto sobre o processo poliacutetico ou seja vale a

pena cumprir alguns deveres ciacutevicos (CAMPBELL et al 1965 p187 apud PATEMAN

1992) E mais

As pessoas com senso de eficaacutecia poliacutetica tecircm mais probabilidade de participar de poliacutetica do que

aquelas que carecem desse sentimento e se descobriu tambeacutem que subjacente ao senso de eficaacutecia

poliacutetica estaacute uma sensaccedilatildeo geral de eficiecircncia pessoal que envolve autoconfianccedila na relaccedilatildeo do

sujeito com o mundo As pessoas que se sentem mais eficientes em suas tarefas e desafios cotidianos tecircm mais probabilidade de participar em poliacutetica (MILBRATH 1965 p59 apud PATEMAN 1992)

49

Desse modo eacute que a competecircncia para a autogestatildeo ganha importacircncia significativa pois tais

empreendimentos findam por apresentar um caraacuteter de muacuteltiplas funccedilotildees na sociedade

contemporacircnea funccedilatildeo econocircmica poliacutetica e cultural A potencialidade dos empreendimentos

autogestionaacuterios adveacutem de uma condiccedilatildeo muito importante qual seja a totalidade do capital

da empresa pertence aos seus participantes e sendo assim eles adquirem uma condiccedilatildeo social

de simetria que permite as condiccedilotildees favoraacuteveis agrave participaccedilatildeo uma vez que as diferenccedilas

econocircmicas desaparecem 6

Entretanto eacute necessaacuterio que todas as condiccedilotildees e recursos na aacuterea de gestatildeo estejam a serviccedilo

da eficaacutecia poliacutetica a fim de viabilizar decisotildees coletivas e de fazer com que o fluxo de

informaccedilotildees seja democraticamente acessado De forma contraacuteria num processo de

autogestatildeo o domiacutenio assimeacutetrico de informaccedilotildees e assimetria econocircmica pode interferir

negativamente no acircnimo para a participaccedilatildeo contribuindo para o fracasso das iniciativas de

empreendimentos solidaacuterios Essa preocupaccedilatildeo deve ocupar o centro das atenccedilotildees de quem

deseja contribuir para o fortalecimento das alternativas solidaacuterias de autogestatildeo

Assim ao se buscar discutir no acircmbito desta pesquisa a dimesatildeo contaacutebil nos

empreendimentos solidaacuterios e as possiacuteveis demandas dos mesmos agrave contabilidade desloca-

se o problema dos estreitos limites contaacutebeis para procura-se compreender a complexidade

das relaccedilotildees que determinam tais demandas e fundamentalmente busca-se problematizar o

papel de uma aacuterea eminentemente teacutecnica para colocaacute-la no marco civilizatoacuterio em que

claramente jaacute natildeo concebe a neutralidade da teacutecnica tal qual se propalava no iniacutecio do

seacuteculo XIX

6 Autores vinculados agrave Teoria Democraacutetica apontam como primeiro obstaacuteculo agrave participaccedilatildeo as grandes diferenccedilas soacutecio-

econocircmicas Tocqueville em seu claacutessico Democracia na Ameacuterica ao indicar as origens que solidificaram a democracia

norte-americana busca nas condiccedilotildees socioeconocircmicas a explicaccedilatildeo Os emigrantes que vieram estabelecer-se na costa da

Nova Inglaterra pertenciam todos agraves classes abastadas da matildee-patria Sua reuniatildeo no solo americano apresentou desde a

origem o singular fenocircmeno de uma sociedade em que natildeo havia nem grandes senhores nem povo e por assim dizer nem

pobres nem ricos (Tocqueville 1998 p 40)

50

26 Experiecircncias Internacionais de autogestatildeo Alemanha Inglaterra e Yugoslaacutevia

Antes do Brasil em vaacuterios paiacuteses jaacute se registravam experiecircncias de autogestatildeo ou co-gestatildeo

A experiecircncia pioneira em co-gestatildeo teve iniacutecio na Alemanha no final do seacuteculo XIX com a

lei de desregulamentaccedilatildeo de manufaturas e a lei sobre as comissotildees de trabalho da induacutestria

extrativa Alicerccedilada na doutrina social catoacutelica representou um contraponto agraves ideacuteias

revolucionaacuterias comunistas do iniacutecio do seacuteculo XX Baseou-se na ideacuteia de que a colaboraccedilatildeo

de classes e a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio poliacutetico deveriam prevalecer em relaccedilatildeo agrave extinccedilatildeo da

propriedade privada Defendia o trabalho integrativo como forma de desenvolvimento das

empresas e da sociedade Em muitos casos na co-gestatildeo haacute a garantia de que o empregador

soacute poderaacute tomar certas medidas com a anuecircncia do empregado Esta co-participaccedilatildeo inclui

decisotildees sobre escolha de pessoal transferecircncias preenchimentos de vagas demissotildees e sobre

as jornadas de trabalho e descansos(ARANTES 2000 p 26)

Na antiga Yugoslaacutevia conforme alguns pesquisadores tais como Dunlop ( 1958 ) e Vanek

(1963) a autogestatildeo apresentou sua melhor tipificaccedilatildeo O sistema Iugoslavo foi o

resultado de uma lei de 1950 a qual determinou que as empresas fossem administradas

pelos trabalhadores coletivamente Embora desde entatildeo tenha sido alterada diversas

vezes recentemente ainda representava a base do sistema econocircmico yugoslavo o qual

era fundamentado no trabalho coletivo constituiacutedo por empresas administradas pelos

trabalhadores e que cujo resultado final era dividido entre todos os membros

A constituiccedilatildeo Yugoslava revisada em 1963 descrevia em seu artigo 6 que o sistema

econocircmico do paiacutes seria uma comunidade de trabalho voluntaacuterio com os meios de

produccedilatildeo pertencentes a todos e a produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo tambeacutem gerenciadas por todos

Em geral o conjunto de trabalhadores era quem estruturava a administraccedilatildeo das empresas

em dois principais alicerces na eleiccedilatildeo de gestores e no estabelecimento de

procedimentos de administraccedilatildeo e controle Eram os trabalhadores quem escolhiam

diretamente em eleiccedilotildees secretas um grupo denominado de Conselho de Trabalhadores

cujo nuacutemero de membros variava entre 15 e 120 dependendo do tamanho da empresa O

papel do Conselho de Trabalhadores correspondia ao papel de proprietaacuterios nas empresas

tradicionais Dessa forma eram-lhes atribuiacutedas as seguintes responsabilidades exame e

aprovaccedilatildeo de programas perioacutedicos da empresa que incluiam planos de produccedilatildeo

51

financcedilas e investimentos poliacutetica de preccedilos marketing e de distribuiccedilatildeo de dividendos aos

trabalhadores Ele tambeacutem elegia entre seus membros um grupo de trecircs a onze pessoas

que compunham o Conselho de Gestatildeo da empresa cuja atribuiccedilatildeo era responder pelo

funcionamento eficiente da entidade como tambeacutem era responsaacutevel por preparar

relatoacuterios para o Conselho de Trabalhadores

O gerente geral do empreendimento por sua vez natildeo era membro do Conselho de

Trabalhadores mas sim indicado conjuntamente pelo Conselho de Trabalhadores e pela

municipalidade onde a empresa se estabelecia Era um funcionaacuterio responsaacutevel por liderar

o processo gerencial e implementar os planos definidos pelo Conselho de Gestatildeo O seu

salaacuterio e suas atribuiccedilotildees eram definidos pelo Conselho de Trabalhadores

Com toda essa organizaccedilatildeo a Yugoslaacutevia representava um sistema estruturado de

autogestatildeo Hoje natildeo se pode afirmar que essa estrutura permaneccedila uma vez que natildeo se

teve acesso a bibliografias que relatassem a situaccedilatildeo da autogestatildeo apoacutes as mudanccedilas

poliacuteticas ocorridas nesse paiacutes

Em outros paiacuteses como Espanha tambeacutem registra-se a presenccedila de experiecircncias

autogestionaacuterias bem-sucedidas tais como o complexo de Mondragoacuten Um conglomerado

de cooperativas que diversificaram suas atividades e hoje eacute exemplo contundente de como

a autogestatildeo pode conduzir agrave viabilidade econocircmica e que ES nem sempre eacute sinocircnimo de

pequeno empreendimento

Em muitos outros paiacuteses observam-se tambeacutem participaccedilotildees representativas nas decisotildees das

empresas embora de maneira menos regulamentada que na Alemanha Os comitecircs de

empresas satildeo bastante comuns na Europa como os Comiteacute dEntreprise na Franccedila o Labour

Management Joint Committee na Inglaterra e os Jurados de Empresa na Espanha No Brasil

representaccedilatildeo similar encontra-se geralmente na induacutestria atraveacutes das comissotildees de faacutebrica

as quais consistem em agremiaccedilotildees de funcionaacuterios com o objetivo de participaccedilotildees mais

efetivas nas decisotildees das empresas

Na Inglaterra aleacutem de formas participativas de gestatildeo haacute a presenccedila de um movimento

equivalente agrave Economia Solidaacuteria denominado Participatory Economy (Parecon) Os

52

componentes institucionais e centrais de organizaccedilatildeo do Parecon descritos por Michael

Albert ( 2003) satildeo

Posse coletiva dos meios de produccedilatildeo Conselhos de trabalhadores e de consumidores como principais corpos de tomada de

decisatildeo Trabalhadores tecircm um meacutedia diaacuteria de trabalho em complexos equilibrados Remuneraccedilatildeo para o esforccedilo e sacrifiacutecio Participaccedilatildeo planejada e autogestatildeo econocircmica (MICHAELS 2003 p84 apud

FOTOPOULOS 2004 p3)

Assim como a ES no Brasil a Parecon representa uma visatildeo alternativa de organizaccedilatildeo

econocircmica e poliacutetica da sociedade baseado na autogestatildeo A Parecon segundo Wetzel

(2006 p 3) seraacute a base de construccedilatildeo de uma sociedade em que os povos podem controlar

suas vidas e as induacutestrias onde trabalham Para ele a autogestatildeo deve se espalhar para

todas as organizaccedilotildees de trabalhadores e estes exerceram o controle direto das

organizaccedilotildees da produccedilatildeo social e da sociedade Os defensores da Parecon advogam a tese

de uma outra organizaccedilatildeo poliacutetica diferente do Estado uma vez que o consideram como

um patrimocircnio da elite Nesta visatildeo sua estrutura hieraacuterquica separa-o do controle eficaz

pela massa dos povos

27 Gargalos e criacuteticas agrave Economia Solidaacuteria e Autogestatildeo

Em busca da ampliaccedilatildeo da compreensatildeo da ES e autogestatildeo a seguir satildeo apresentados os

diversos gargalos e criacuteticas imputadas a esse segmento Primeiramente seratildeo abordados os

gargalos ou entraves da ES

O Ministeacuterio do Trabalho e Emprego atraveacutes do trabalho de mapeamento dos

empreendimentos solidaacuterios levantou uma seacuterie de dificuldades enfrentadas pelos

Empreendimentos de Economia Solidaacuteria (EES) Conforme MTE (2006 p46)

[] constata-se que 61 dos EES afirmaram ter dificuldades na comercializaccedilatildeo 49 para acesso

agrave creacutedito e 27 natildeo tiveram acesso a acompanhamento apoio ou assistecircncia teacutecnica A regiatildeo

norte estaacute acima da meacutedia nacional em todos os itens (68 comercializaccedilatildeo 54 creacutedito e 34

apoio ou assistecircncia) A regiatildeo nordeste destaca-se pela dificuldade de creacutedito (58 dos EES) e a

regiatildeo centro-oeste pelo natildeo acesso a apoio ou assistecircncia teacutecnica ( 35)

53

O graacutefico 1 ilustra os desafios enfrentados pelos Empreendimentos de ES

Graacutefico 1- Dificuldades dos EES Brasil e regiotildees

Fonte site wwwmtegovbrEmpregadorEconomiaSolidariaConteudoATLAS_PARTE_4pdf

Portanto haacute um longo caminho a percorrer em direccedilatildeo agrave superaccedilatildeo desses gargalos

Muitas soluccedilotildees podem ser apontadas no que diz respeito agrave dificuldade de creacutedito mas a

principal perpassa pela implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de financiamento agrave ES o que

jaacute vem sendo realizado pelo atual governo federal e alguns governos estaduais Entretanto

ainda eacute necessaacuterio ampliar a escala de atendimentos a esses empreendimentos No que diz

respeito agraves dificuldades de comercializaccedilatildeo e de acompanhamento aleacutem de accedilotildees do

governo o problema faz um convite agraves aacutereas de conhecimento voltadas a negoacutecios

principalmente a contabilidade no sentido de seu envolvimento com esse segmento

econocircmico e social

Passando nesse momento agraves criacuteticas direcionadas agrave ES e autogestatildeo eacute importante

destacar o posicionamento dos autores Assman e Mo Sung (2003) os quais direcionam

diversos questionamentos e ponderaccedilotildees agrave ES Uma delas diz respeito agrave operacionalidade

da ES A partir de resgates de trechos de obras de autores expressivos da Economia

Solidaacuteria destacam pontos de contradiccedilatildeo e incongruecircncia de seus princiacutepios e propostas

Eis os trechos

A ideacuteia baacutesica eacute mediante a solidariedade entre produtores autocircnomos de todos os tamanhos e

tipos assegurar a cada um mercado para seus produtos e uma variedade de economias externas de financiamento e ainda a orientaccedilatildeo teacutecnica legal contaacutebil etc

54

Dadas as dificuldades a solidariedade eacute a soluccedilatildeo racional um conjunto de produtores

autocircnomos se organiza para trocar seus produtos entre si o que daacute a todos e a cada um uma

maneira de escoar a produccedilatildeo sem ser de imediato aniquilado pela superioridade dos que jaacute

estatildeo estabelecidos (SINGER 2002 p99-100 apud ASSMAN e MO SUNG 2003 p 143)

Na primeira questatildeo levantada apontam para os limites de operacionalizaccedilatildeo da proposta

Baseiam-se na visatildeo de que a solidariedade da ES natildeo eacute realidade em todas as empresas e

grupos da sociedade mas entre os produtores autocircnomos pequenas e microempresas que

natildeo conseguiriam sobreviver agrave concorrecircncia das meacutedias e grandes empresas sem essa

relaccedilatildeo de solidariedade Portanto eacute uma proposta de viabilizaccedilatildeo de um tipo de economia

convivendo com a economia capitalista de mercado (ASSMAN e MO SUNG 2003

p143)

Assim a realidade da solidariedade soacute existiria no interior da ES e entre suas empresas

que adotassem a autogestatildeo e natildeo em toda sociedade ou seja a solidariedade natildeo

substituiria a relaccedilatildeo de concorrecircncia nas demais empresas Dessa forma os autores

concluem que a Economia Solidaacuteria natildeo propotildee o fim do mercado caracterizado pela

concorrecircncia mas sim a criaccedilatildeo e a manutenccedilatildeo de um mercado para os empreendimentos

autogestionaacuterios E a manutenccedilatildeo de relaccedilotildees de mercado significa tambeacutem a continuidade

da concorrecircncia entre os agentes econocircmicos

Nessa perspectiva segundo os autores haveria uma frustraccedilatildeo daqueles que defendem

uma sociedade harmoniosa justa e solidaacuteria ou seja aqueles que natildeo percebem ou natildeo

querem aceitar a tensatildeo inevitaacutevel entre os desejosutopias e as necessaacuterias

institucionalizaccedilotildees na sociedade natildeo aceitam essa visatildeo de Economia Solidaacuteria

(ASSMAN e MO SUNG 2003 p143)

Um outro ponto levantado pelos autores emerge do trecho de uma obra de Paul Singer7 no

qual ele afirma que a proposta de ES eacute menos inconsistente do que a economia capitalista

porque coloca aberta e diretamente a solidariedade como princiacutepio organizador da

economia social em lugar da competiccedilatildeo embora natildeo visualize o fim da concorrecircncia no

campo da economia e tambeacutem nas relaccedilotildees sociais

7 SINGER Paul Desafio agrave solidariedade In GUIMARAES Gonccedilalves p63-79

55

A questatildeo colocada aqui eacute a seguinte Eacute possiacutevel organizar uma sociedade ou uma

economia social soacute com um princiacutepio Para essa questatildeo perguntam se natildeo seria

aconselhaacutevel pensar em mais de um princiacutepio organizador da economia e da sociedade

Sentenciam que os neoliberalistas pretendem fazer da competiccedilatildeo o uacutenico princiacutepio

organizador da sociedade Por outro lado os marxistas tentaram fazer do planejamento

centralizado o uacutenico princiacutepio e hoje surgem muitos grupos que querem fazer do

conceito de solidariedade o uacutenico princiacutepio organizador(ASSMAN e MO SUNG 2003

p152) Princiacutepios de organizaccedilatildeo social como argumentam deveriam servir para

articular de maneira eficiente e sustentaacutevel a garantia da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de bens

e serviccedilos para a ampla maioria e a totalidade dos membros da sociedade

Em relaccedilatildeo agrave possibilidade de expandir a ES a niacutevel global Assman e Mo Sung fazem um

outro questionamento Se a economia solidaacuteria conseguir atingir dimensotildees tais que possa

competir com o grande capital continuaraacute mantendo as caracteriacutesticas de solidariedade que

eacute possiacutevel quando se estaacute em uma escala pequena

Mesmo considerando que natildeo haacute elementos para se dar uma resposta definitiva uma vez

que a situaccedilatildeo nunca ocorreu antecipam-se afirmando que a economia solidaacuteria em

grande escala natildeo manteraacute as mesmas caracteriacutesticas Isso porque quando um sistema

ou uma rede cresce muito em escala surgem novas propriedades no sistema que

modificam as suas caracteriacutesticas de funcionamento (ASSMAN e MO SUNG 2003

p145)

O Parecon tambeacutem apresenta vaacuterios pontos nevraacutelgicos na visatildeo de seus criacuteticos Assim

como na ES a criacutetica tambeacutem reside na impossibilidade desta se apresentar enquanto

modelo de organizaccedilatildeo social Segundo Fotopoulos (2004 p01) Parecon eacute

simplesmente um modelo econocircmico para uma economia alternativa e como tal natildeo

caracteriza instituiccedilotildees sociais poliacuteticas culturais mais amplas Dessa forma considera

Parecon incompatiacutevel com uma organizaccedilatildeo de estado tendo em vista que

Dada a natureza de Parecon como puramente um modelo econocircmico natildeo estaacute surpreendendo

que os atores principais nela satildeo determinados pelo campo econocircmico Assim o conceito do

cidadatildeo falta completamente no modelo do Parecon e eacute substituiacutedo preferivelmente por trabalhadores e por consumidores (FOTOPAULO 2004 p02)

56

Por fim sentencia que o modelo Parecon natildeo tem a capacidade de fixar as preacute-condiccedilotildees

institucionais requeridas para a criaccedilatildeo de um novo modelo de organizaccedilatildeo social a qual

integraria a sociedade com os aspectos econocircmicos poliacuteticos e naturais Natildeo pode fixar a

integraccedilatildeo da sociedade com a economia porque natildeo pode interferir na liberdade da

escolha dos cidadatildeos somente como produtores e consumidores tendo em vista que estes

iratildeo preocupar-se exclusivamente com o planejamento e alocaccedilatildeo dos recursos escassos

A integraccedilatildeo com a poliacutetica natildeo se daria porque a unidade baacutesica de exame e decisatildeo na

Parecon natildeo eacute o cidadatildeo mas os trabalhadores e conselho de consumidores Dessa forma

os cidadatildeos estariam alijados do processo decisoacuterio Por uacuteltimo o Parecon natildeo pode

integrar com a natureza porque objetiva o crescimento econocircmico dentro do sistema de

mercado e natildeo trata os problemas ecoloacutegicos como um problema externo maior que requer

uma mudanccedila radical no modo de vida e nos valores

Sem negligenciar esses questionamentos agrave Economia Solidaacuteria e reconhecendo que a

autogestatildeo natildeo eacute o uacutenico caminho para a construccedilatildeo de um novo modelo de organizaccedilatildeo

social e de Estado este trabalho os concebem como importantes instrumentos da

democracia Corroborando com Pateman a autogestatildeo praticada nos empreendimentos

solidaacuterios eacute um exerciacutecio de cidadania A autogestatildeo propicia o desenvolvimento da

eficaacutecia poliacutetica e esta capacita para a participaccedilatildeo poliacutetica em niacuteveis cada vez mais

amplos da sociedade Dessa forma a autogestatildeo nos empreendimentos tem a

potencialidade de capacitar os atores sociais para intervir no Estado e reinventar uma nova

governabilidade baseada na democracia e controle social

57

3 CONTABILIDADE E AUTOGESTAtildeO

As categorias teoacutericas apresentadas ajudaratildeo a responder agraves questotildees de pesquisa trazendo

para a reflexatildeo as implicaccedilotildees que tais conceitos encerram seja para os empreendimentos

solidaacuterios como para repensar a contabilidade de modo que ela possa melhor servir aos

princiacutepios de fortalecimento da cidadania da democracia e de uma sociedade mais justa para

a qual a contabilidade natildeo pode se omitir sob o pretexto da neutralidade teacutecnica

Dessa forma concebe-se a contabilidade imbricada pelo conceito de Participaccedilatildeo em que a

Democracia eacute o fim e se constitui como processo educativo em seu sentido mais amplo E

tendo como pano de fundo a democracia percebe-se a Economia Solidaacuteria como um espaccedilo

puacuteblico de vivecircncia da solidariedade e no qual se requisita o desempendo do papel essencial

da contabilidade

Nesse contexto cabe indagar e compreender o envolvimento da contabilidade atraveacutes de seus

instrumentos e profissionais Com o pressuposto da essencialidade do envolvimento e de

diaacutelogo da aacuterea contaacutebil com esses empreendimentos autogestionaacuterios resgatam-se

novamente as questotildees-chaves desta pesquisa as quais satildeo

1 Como a informaccedilatildeo contaacutebil eacute empregada nos empreendimentos autogestionaacuterios

2 Quais os desafios e demandas suscitados em cada um dos aspectos da dimensatildeo

contaacutebil nos processos de autogestatildeo

Agrave luz desses questionamentos nesse capiacutetulo far-se-aacute uma reflexatildeo sobre o papel da

contabilidade e levantar-se-atildeo trabalhos anteriores que abordaram essa relaccedilatildeo contabilidade

autogestatildeo

58

31 Funccedilatildeo social da contabilidade

Para ajudar a responder agraves perguntas que orientam esta pesquisa buscar-se-aacute expor a

importacircncia da contabilidade como instrumento de gestatildeo (informaccedilatildeo planejamento e

tomada de decisatildeo) no qual se apoacuteiam todos os empreendimentos de caraacuteter econocircmico

Primeiramente eacute necessaacuterio destacar que nenhuma entidade juriacutedica seja puacuteblica ou

privada consegue prescindir da informaccedilatildeo contaacutebil Na aacuterea puacuteblica ela eacute instrumento

indispensaacutevel de democracia e do planejamento sem a qual a verificaccedilatildeo da execuccedilatildeo do

orccedilamento puacuteblico e o controle dos gastos puacuteblicos fica impossibilitada

Vaz (2002 p271) ressaltando o papel da informaccedilatildeo na administraccedilatildeo puacuteblica diz que

[] a informaccedilatildeo eacute um direito de cidadania Afirma ainda que uma reformulaccedilatildeo da

gestatildeo puacuteblica municipal necessariamente passa por um redirecionamento do

funcionamento dos oacutergatildeos puacuteblicos municipais para o fornecimento de informaccedilotildees agrave

sociedade civil abrindo as caixas pretas da informaccedilatildeo como o orccedilamento puacuteblico e os

grandes projetos de intervenccedilatildeo para o entendimento por parte da sociedade [] (

VAZ2002 p 271)

Na aacuterea privada os uacuteltimos escacircndalos financeiros envolvendo grandes empresas como a

Wordcom e Enron ambas incorrendo na manipulaccedilatildeo das informaccedilotildees contaacutebeis

revelaram o poder desse instrumento que se utilizado sem princiacutepios ou controle social

pode conferir ganhos a alguns em detrimento do prejuiacutezo de muitos

Portanto cada vez mais se evidencia seu inexoraacutevel papel social seu viacutenculo intriacutenseco

com a democracia e a cidadania e consequumlentemente sua importacircncia seja no acircmbito

puacuteblico ou privado A contabilidade natildeo tem finalidade em si mesma tem destinataacuterios

certos satildeo usuaacuterios diversos que a utilizam como instrumento ou caminho para atingir

seus objetivos sejam eles econocircmicos filantroacutepicos ou sociais Conforme o FASB8 em

relato de Hendriksen e Van Breda (1999 p92) a finalidade da informaccedilatildeo contaacutebil eacute a

seguinte

8 Financial Accounting Standards Board

59

A divulgaccedilatildeo financeira deve fornecer informaccedilotildees que sejam uacuteteis para investidores e

credores atuais e em potencial bem como para outros usuaacuterios que visem a tomada racional

de decisotildees de investimento creacutedito e outras semelhantes As informaccedilotildees devem ser

compreensiacuteveis aos que possuem uma noccedilatildeo razoaacutevel dos negoacutecio e das atividades

econocircmicas e estejam dispostos a estudar as informaccedilotildees com diligecircncia razoaacutevel A divulgaccedilatildeo financeira deve proporcionar informaccedilatildeo que ajude investidores credores e

outros usuaacuterios presentes e em potencial a avaliar os volumes a distribuiccedilatildeo no tempo e a

incerteza de possiacuteveis fluxos de caixa em termos de dividendos ou juros e os resultados da

venda do resgate e do vencimento de tiacutetulos ou empreacutestimos Como os fluxos de caixa de

investidores e credores estatildeo relacionados aos fluxos de caixa da empresa a divulgaccedilatildeo

financeira deve proporcionar informaccedilotildees que ajudem investidores credores e outros a avaliar

os volumes a distribuiccedilatildeo no tempo e a incerteza das possiacuteveis entradas liacutequidas futuras de caixa da empresa A divulgaccedilatildeo financeira deve fornecer informaccedilotildees sobre os recursos econocircmicos de uma

empresa os direitos sobre esses recursos ( obrigaccedilotildees da empresa em termos de transferecircncia

de recursos a outras entidades e a participaccedilatildeo dos proprietaacuterios) bem como os efeitos de

transaccedilotildees eventos e circunstatildencia que alterem seus recursos e os direitos sobre tais recursos

Salienta-se nesse texto a determinaccedilatildeo de que a informaccedilatildeo financeira proporcionada

pela contabilidade seja compreensiacutevel aos usuaacuterios e uacutetil agrave tomada de decisotildees econocircmica

e financeira da atividade Entretanto discutir a utilidade da informaccedilatildeo implica tambeacutem

compreender o tipo de informaccedilatildeo necessaacuteria a cada usuaacuterio fato que remete agrave reflexatildeo

sobre os padrotildees de informaccedilotildees emitidos pela contabilidade aos vaacuterios tipos de usuaacuterios

Hoje os modelos de informaccedilotildees (demonstraccedilotildees financeiras) estatildeo estruturados de forma

a atender grupos mais ou menos homogecircneos de usuaacuterios isto eacute haacute uma padronizaccedilatildeo de

informaccedilotildees usadas por todos os usuaacuterios Conforme argumenta o FASB e AICPA9 sobre

essa estrutura [] os diversos usuaacuterios possuem o bastante em comum para que um

conjunto de demonstraccedilotildees de finalidades geneacutericas seja suficiente(FASB1999 p94)

Entretanto reconhecem a consistecircncia dos argumentos em favor de relatoacuterios de

finalidades especiacuteficas Segundo anaacutelise dos autores cada um dos usuaacuterios da

contabilidade poderia ter objetivos diferentes em termos de informaccedilotildees financeiras pois

haacute divergecircncias entre os grupos e dentro de cada grupo Por exemplo sabe-se que os

administradores de empresas menores juntamente com seus auditores sentem que o

processo de fixaccedilatildeo de padrotildees estaacute direcionado aos objetivos das empresas de maior

porte O mesmo ocorre com muitos administradores de organizaccedilotildees sem fins lucrativos

os quais acham que o processo de fixaccedilatildeo de padrotildees eacute direcionado aos objetivos de

organizaccedilotildees com fins lucrativos Dessa forma analisam que

9 American Institute of Certifierd Public Accoutants

60

Esta variedade de pontos de vista aponta para a conveniecircncia da apresentaccedilatildeo de relatoacuterios

diferentes para usuaacuterios distintos ou para um volume consideraacutevel de informaccedilatildeo grande

parte do qual poderia ser irrelevante para qualquer usuaacuterio especiacutefico ( FASB 1999 p 94)

Entretanto para que haja a possibilidade de informaccedilotildees especiacuteficas para cada usuaacuterio

primeiramente eacute preciso selecionar a informaccedilatildeo relevante para constar nos modelos de

prediccedilatildeo e tomada de decisatildeo dos usuaacuterios Talvez seja possiacutevel determinar que modelos

de tomada de decisatildeo estatildeo sendo utilizados descobrindo como os usuaacuterios efetivamente

tomam decisotildees e de que informaccedilotildees necessitam (FASB 1999 p94)

Ainda dentro dessa discussatildeo sobre as necessidades de informaccedilatildeo por parte do usuaacuterio

os autores enfatizam a relevacircncia de se considerarem as caracteriacutesticas ou propriedades

que devem ter as informaccedilotildees para que se tornem uacuteteis para a tomada de decisotildees

Primeiramente chamam a atenccedilatildeo para a distinccedilatildeo entre qualidades de informaccedilatildeo

especiacuteficas para usuaacuterios e especiacuteficas para decisotildees

Na primeira classe estatildeo relacionadas as qualidades concernentes ao usuaacuterio (tipo de

usuaacuterio) Por exemplo uma determinada informaccedilatildeo para alguns usuaacuterios pode ser

irrelevante por jaacute terem domiacutenio dela enquanto que para outros eacute relevantes Dessa forma

deve se levar em conta a natureza do usuaacuterio esse eacute um fator determinante para a decisatildeo

a respeito da informaccedilatildeo a ser divulgada

Uma outra caracteriacutestica destacada eacute a oportunidade da informaccedilatildeo que independe do

usuaacuterio pois todos desejam informaccedilotildees oportunas portanto eacute uma propriedade

especiacutefica para decisotildees Realizadas essas distinccedilotildees a seguir satildeo relacionadas as

caracteriacutesticas qualitativas das informaccedilotildees propostas pelo AICPA relatadas pelos autores

jaacute mencionados

a) Benefiacutecios e custos

A informaccedilatildeo deve proporcionar benefiacutecios superiores a seu custo A divulgaccedilatildeo da

informaccedilatildeo financeira deve ser uacutetil para a tomada de decisotildees A utilidade eacute funccedilatildeo de

duas caracteriacutesticas a relevacircncia e a confiabilidade

a1) Relevacircncia

61

A informaccedilatildeo eacute relevante quando eacute pertinente agrave questatildeo que estaacute sendo analisada A

anaacutelise da pertinecircncia pode ser de trecircs maneiras afetando metas afetando a compreensatildeo

e afetando decisotildees conforme mostra o quadro 4 Para o FASB relevacircncia para decisotildees eacute

definida como a capacidade que a informaccedilatildeo teria de fazer diferenccedila numa decisatildeo

Essa diferenccedila mencionada pelo FASB seria conseguida ajudando os usuaacuterios a fazer

prediccedilotildees sobre o resultado de eventos passados presentes e futuros ou confirmar ou

corrigir expectativas anteriores ou seja quando a informaccedilatildeo tem valor preditivo e valor

como feedeback

Quadro 4- Relevacircncia da Informaccedilatildeo

Relevacircncia para metas

Alcanccedilada quando a informaccedilatildeo permite que as

metas dos usuaacuterios sejam atingidas Determinaccedilatildeo difiacutecil quando as metas satildeo subjetivas

Relevacircncia semacircntica

Alcanccedilada quando o destinataacuterio da informaccedilatildeo

compreende o significado pretendido da informaccedilatildeo

divulgada Um preacute-requisito essencial mas natildeo um objetivo

primordial

Relevacircncia para tomada de decisotildees Alcanccedilada quando a informaccedilatildeo facilita a tomada de

decisotildees pelos usuaacuterios Este eacute o objetivo primordial para o FASB

Fonte Hendriksen e Van Breda ( 1999 p97)

a2) Confiabilidade

A qualidade da informaccedilatildeo que garante que ela seja razoavelmente livre de vieacutes e

represente fielmente o que visa representar Segundo o FASB a confiabilidade eacute funccedilatildeo

de a) fidelidade de representaccedilatildeo b) verificabilidade c) neutralidade

Segundo a fidelidade de representaccedilatildeo as informaccedilotildees devem representar fielmente os

fenocircmenos que pretende representar Jaacute a verificabilidade pressupotildee a ausecircncia de

avaliaccedilatildeo subjetiva e vieacutes pessoal O FASB definiu a verificabilidade como a capacidade

de assegurar por meio do consenso entre mensuradores que a informaccedilatildeo representa o

que se destina a representar ou que o meacutetodo de mensuraccedilatildeo foi utilizado sem erro ou

vieacutes Por uacuteltimo a neutralidade quer dizer que natildeo haacute vieacutes na direccedilatildeo de um resultado

predeterminado O objetivo eacute natildeo permitir que os padrotildees sejam utilizados para alcanccedilar

alguma meta econocircmica ou poliacutetica especiacutefica

b) Comparabilidade

62

A utilidade da informaccedilatildeo eacute significativamente ampliada quando eacute apresentada de maneira

que permita comparar uma entidade com outra ou a mesma entidade em periacuteodos

seguintes Dessa forma a comparabilidade pode ser definida como a qualidade da

informaccedilatildeo que permite aos usuaacuterios identificar semelhanccedilas e diferenccedilas entre dois

conjuntos de fenocircmenos econocircmicos A comparabilidade depende de dois aspectos a

uniformidade e a consistecircncia

b1) Uniformidade

Subentende que eventos iguais satildeo representados de maneira idecircntica A uniformidade

pode ser definida como a qualidade das informaccedilotildees possuir caracteriacutesticas

suficientemente parecidas para tornar as comparaccedilotildees apropriadas

b2)Consistecircncia

Tecircm sido referidos como o uso dos mesmos procedimentos contaacutebeis por uma dada

empresa ou entidade contaacutebil de um periacuteodo a outro e o uso de conceitos e procedimentos

de mensuraccedilotildees semelhantes para itens afins nas demonstraccedilotildees de uma empresa num

dado periacuteodo

c) Materialidade

Eacute uma caracteriacutestica geral e assemelha-se ao conceito de relevacircncia A relevacircncia implica

na apresentaccedilatildeo de toda informaccedilatildeo que possa ajudar na prediccedilatildeo dos tipos de informaccedilatildeo

exigidos pelos processos de tomada de decisatildeo ou que possam ajudar diretamente na

tomada de decisotildees O conceito de materialidade tambeacutem pode estar associado agrave

significacircncia de mudanccedilas de valor correccedilotildees de erros em relatoacuterios anteriores etc Essas

mudanccedilas e correccedilotildees deveratildeo ser consideradas como possuidoras de materialidade se

forem grandes o suficiente ou importantes para influenciar as decisotildees dos usuaacuterios de

relatoacuterios financeiros

Ainda sobre a validade e utilidade da informaccedilatildeo contaacutebil para a tomada de decisotildees

gerenciais Dias (1991) sentencia que a contabilidade acrescenta poucas informaccedilotildees

importantes para o gerenciamento das organizaccedilotildees Segundo ele isso se deve ao fato de

que a contabilidade tem orientado esforccedilos para o desenvolvimento de teacutecnicas expressas

pelas convenccedilotildees e princiacutepios de contabilidade que visavam restringir a possibilidade de

manipulaccedilatildeo dos dados Entretanto esse comportamento produz relatoacuterios que natildeo

63

exprimem a realidade econocircmica da empresa prejudicando os usuaacuterios internos e externos

agrave empresa

Essa situaccedilatildeo se agrava com a presenccedila de outro fator a legislaccedilatildeo fiscal Interessada em

produzir resultados tributaacuteveis impotildee outros procedimentos prejudiciais agrave utilizaccedilatildeo dos

sistemas de informaccedilotildees contaacutebeis para fins gerenciais

Como alternativa ao problema colocado o autor diz que

Os gestores poderiam se sentir plenamente satisfeitos e envolvidos com um sistema que aleacutem

de lhes fornecer as informaccedilotildees dinacircmicas necessaacuterias para suas atuaccedilotildees no cotidiano lhes proporcionasse condiccedilotildees de conhecer melhor a empresa e sua posiccedilatildeo diante dos objetivos

estabelecidos Poderiam conhecer melhores as proacuteprias deficiecircncias e potencialidades de suas

aacutereas permitindo-lhes decisotildees mais precisas com consequumlente melhoria de eficiecircncia e

melhor grau de atingimento de seus objetivos (DIAS 1991 p61)

Salienta ainda que numa administraccedilatildeo participativa em que os gestores interferem em

todo o processo de gestatildeo que vai desde o planejamento estrateacutegico ateacute a execuccedilatildeo o

sistema deve oferecer-lhe informaccedilotildees correspondentes a todo esse ciclo as quais

abrangem as referentes ao ambiente econocircmico passando pelas previsotildees orccedilamentaacuterias

pelo sistema de programaccedilatildeo e sistema de apoio agrave gestatildeo de execuccedilatildeo ateacute a apuraccedilatildeo de

resultados e avaliaccedilatildeo de desempenhos O sistema de informaccedilotildees deve estar voltado

para o futuro indicando tendecircncias e permitindo comparaccedilotildees com o passado Deve

possibilitar a avaliaccedilatildeo de evoluccedilatildeo da organizaccedilatildeo e comparaccedilotildees com desempenhos

desejados (DIAS1991 p79)

O sistema de informaccedilotildees deve conter portanto uma estrutura de indicadores que

mantenham os gestores informados a respeito das condiccedilotildees de eficaacutecia da organizaccedilatildeo de

modo a permitir decisotildees que alcancem os objetivos propostos Poderiam ser adotados os

seguintes indicadores a) de curto prazo produccedilatildeo eficiecircncia satisfaccedilatildeo b) meacutedio prazo

adaptabilidade desenvolvimento c) medidas de longo prazo referem-se agrave capacidade de

sobreviver

64

Diante das necessidades de informaccedilotildees expostas o autor percebe o sistema de

informaccedilatildeo para a gestatildeo econocircmica (GECON10) administrado por uma controladoria11

como alternativas agraves demandas gerenciais Segundo o autor esse sistema funciona de

maneira integrada com o processo de gestatildeo e tem por objetivo assegurar informaccedilotildees

relevantes para a tomada de decisotildees

Esse sistema de informaccedilotildees atende agraves necessidades de cada etapa do processo de gestatildeo

por meio de subsistemas especiacuteficos que possam induzir os gestores a decisotildees corretas A

seguir a relaccedilatildeo das etapas com seus respectivos subsistemas de informaccedilotildees

a) Planejamento estrateacutegico

b) Planejamento operacional Sistema de orccedilamentos

c) Programaccedilatildeo Sistema de programaccedilatildeo

d) Execuccedilatildeosistema de simulaccedilatildeo e

e) Controle

Natildeo eacute foco deste trabalho detalhar cada etapa ou subsistema importa perceber que cada

uma dessas etapas do processo de gestatildeo deve ser atendida pelo sistema de informaccedilatildeo

gerencial com informaccedilotildees oportunas corretas confiaacuteveis com a periodicidade necessaacuteria

para viabilizar a tomada eficaz de decisotildees por parte dos gestores da organizaccedilatildeo (

CATELLI et al 2001 p 146)

Conforme os autores o sistema de informaccedilatildeo para a gestatildeo econocircmica contempla entre

outros os seguintes aspectos

a) Eacute estruturado sob conceito de banco de dados Plano de contas plano de aacutereas de

responsabilidade Centro de Resultados Contabilidade Gerencial e Contabilidade

Societaacuteria

10 O modelo GECON estrutura-se com base em um entendimento da missatildeo da empresa do conjunto de crenccedilas

e valores da organizaccedilatildeo da estrutura organizacional da realidade operacional e das caracteriacutesticas dos gestores

empresariais[] o modelo orienta uma sequumlecircncia de etapas do processo de gestatildeo empresarial e materializa os

diversos impactos dos subsistemas empresariais nos sistema de informaccedilotildees gerenciais com soluccedilotildees em

processamento de dados ( CATELLI 2001 p31) 11 Oacutergatildeo administrativo da empresa responsaacutevel pela disseminaccedilatildeo de conhecimento modelagem e implantaccedilatildeo

de sistemas de informaccedilotildees ( ALMEIDA et al2001 p343)

65

b) As informaccedilotildees e relatoacuterios atendem os conceitos e o modelo de decisatildeo dos

usuaacuterios Modelo de Informaccedilatildeo com base no modelo de decisatildeo e mensuraccedilatildeo

c) A mensuraccedilatildeo das transaccedilotildees eacute efetuada com a utilizaccedilatildeo de conceitos econocircmicos

valor de mercado reconhecimento da receita pela produccedilatildeo dos bens e serviccedilos

preccedilo de transferecircncia custo de oportunidade equivalecircncia de capitais

d) Aos recursos e produtosserviccedilos das atividades satildeo atribuiacutedos respectivamente

custos e receitas com base em valor de mercado Preccedilo de transferecircncia Preccedilo e

Custos correntes

Ressaltam ainda que

O sistema de informaccedilatildeo para a gestatildeo econocircmica eacute o conjunto de subsistemas de preacute-orccedilamentaccedilatildeo orccedilamentos custos e contabilidade que reflete as decisotildees tomadas por ocasiatildeo do

planejamento em termos monetaacuterios e posteriormente confronta os resultados reais com os

planejados possibilitando entatildeo as accedilotildees de controle ( CATELLI et al p148)

A partir das consideraccedilotildees sobre esse sistema de informaccedilotildees conclui-se que nele haacute a

interaccedilatildeo tatildeo almejada entre a contabilidade tradicional (financeira) e as demandas

informacionais de gestatildeo Portanto eacute possiacutevel conceber instrumentos contaacutebeis que

produzam informaccedilotildees adequadas aos diversos usuaacuterios atendendo suas demandas de

gestatildeo

Transpondo a discussatildeo para o campo da autogestatildeo pode-se considerar a partir de todos

os elementos levantados no capiacutetulo 2 que a Economia Solidaacuteria consiste em um usuaacuterio

de natureza diferenciada dos demais tendo em vista seu duplo aspecto econocircmico e

social para a qual seria conveniente e necessaacuterio questionar quais satildeo suas demandas ou

que tipos de informaccedilotildees seriam uacuteteis agrave gestatildeo com vistas agrave consecuccedilatildeo e

sustentabilidade econocircmica do empreendimento Com base nesse diagnoacutestico poder-se-ia

construir modelos informativos especiacuteficos e apropriados agraves demandas desses novos

usuaacuterios

Em relaccedilatildeo agrave qualidade ou caracteriacutesticas que as informaccedilotildees contaacutebeis devem possuir

para que contribuam na tomada de decisotildees pode-se observar que todas as caracteriacutesticas

apontadas devem ser levadas em conta na perspectiva de construir os referidos relatoacuterios

66

No que diz respeito agrave qualidade das informaccedilotildees conforme o usuaacuterio reflete-se que esses

modelos de informaccedilotildees a serem construiacutedos devem considerar a realidade social dos

trabalhadores dos empreendimentos autogestionaacuterios pois eles tecircm aspectos

socioeconocircmicos diferenciados dos administradores convencionais principalmente quanto

agrave escolaridade Normalmente natildeo possuem alto grau de conhecimento formal nem

tampouco conhecimento sobre a contabilidade e gestatildeo Dessa forma a informaccedilatildeo

contaacutebil deve ser traduzida atraveacutes de uma linguagem apropriada e acessiacutevel

Em relaccedilatildeo ao modelo de gestatildeo analisado (GECON) percebe-se que este talvez seja um

referencial para a construccedilatildeo de sistemas de informaccedilotildees que se adequumlem agraves demandas

da autogestatildeo Considerando que a autogestatildeo implica em participaccedilatildeo de todos os

trabalhadores no processo de gestatildeo haacute que se pensar em um sistema de informaccedilatildeo

equivalente ao GECON que propicie o monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees

administrativas de aacutereas ou divisotildees do empreendimento nas vaacuterias etapas do processo de

gestatildeo a fim de buscar o melhor resultado coletivo e para que as execuccedilotildees reflitam o

planejamento realizado conjuntamente

Continuando a reflexatildeo sobre uma contabilidade apropriada agrave autogestatildeo analisar-se-aacute a

seguir agrave luz de alguns trabalhos as especificidades de informaccedilotildees suscitadas por esse

modelo de gestatildeo

32 Instrumentos contaacutebeis x demandas da autogestatildeo

No Brasil os estudos na aacuterea contaacutebil que abordam a questatildeo da autogestatildeo satildeo recentes

Dentre os trabalhos verificados cabe destacar o estudo desenvolvido por Valdir Michels

(1995) Em sua dissertaccedilatildeo analisa a importacircncia da contabilidade como sistema de

informaccedilotildees no auxiacutelio agrave autogestatildeo

Um dos aspectos relevantes levantados em seu trabalho eacute a anaacutelise do disclosure das

cooperativas (a evidenciaccedilatildeo das informaccedilotildees) Agrave luz de Hendriksen e Moonitzs aponta as

questotildees necessaacuterias agrave definiccedilatildeo do tipo de informaccedilatildeo a ser fornecida ao usuaacuterio a saber

67

a) Para quem a informaccedilatildeo contaacutebil eacute revelada

b) Qual o objetivo da informaccedilatildeo

c) Que quantidade de informaccedilatildeo deveria ser revelada

d) Como a informaccedilatildeo deveria ser revelada

e) Quando a informaccedilatildeo deveria ser revelada

Para essas questotildees realiza as seguintes anaacutelises

1- Para quem - Haacute necessidade de identificar cada tipo de usuaacuterio das informaccedilotildees a fim de

definir o tipo de informaccedilatildeo A linguagem deve ser adaptada ao niacutevel de conhecimento do

usuaacuterio

2- Qual o objetivo - A necessidade para identificar o propoacutesito para que a informaccedilatildeo seja

revelada pode ser vista considerando-se a exigecircncia de que a informaccedilatildeo seja pertinente Uma

informaccedilatildeo pode ser pertinente para determinado objetivo e natildeo ser necessariamente relevante

para outro propoacutesito Por isso eacute importante definir claramente o objetivo da informaccedilatildeo

3- Que Quantidade A quantidade deve ser apropriada pra natildeo haver enganos nem

engodos (MICHAELS 1995 p 42) O ideal seria que os proacuteprios usuaacuterios determinassem

a quantidade adequada de informaccedilotildees Essas tambeacutem devem ser honestas e revelar todas as

informaccedilotildees relevantes

4- Como- A informaccedilatildeo eacute adequada quando expressa de forma tal que os usuaacuterios possam

facilmente interpretaacute-la As informaccedilotildees devem ser organizadas de forma loacutegica concatenada

e coerente

5-Quando Haacute a necessidade de se manter um canal de comunicaccedilatildeo entre a cooperativa e

seus associados propiciando informaccedilotildees sobre os fatos importantes da gestatildeo [] os jornais

mantidos pelas cooperativas poderiam publicar balancetes mensais com informaccedilotildees

importantes (MICHAELS 1995 p 47)

O autor tambeacutem aborda questotildees relativas agraves praacuteticas adotadas pelas cooperativas e que

geram distorccedilotildees nos resultados das demonstraccedilotildees financeiras Argumenta que isso ocorre

68

devido agrave falta de normas para a elaboraccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis o que dificulta a

comparaccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis das diversas cooperativas Cada cooperativa adota

metodologias diferenciadas para mensuraccedilatildeo de eventos econocircmicos proacuteprios deste setor de

atividade

Conclui seu trabalho ressaltando que para que os associados da cooperativa possam exercer a

autogestatildeo de seu empreendimento eacute necessaacuterio que a contabilidade das cooperativas seja

aprimorada nos seguintes aspectos (MICHAELS 1995 p 109)

a) As demonstraccedilotildees contaacutebeis devem ser estruturadas de tal forma que possam ser

interpretadas pelos principais usuaacuterios os associados da cooperativa A contabilidade deve ser

um importante sistema de informaccedilotildees entre a cooperativa e seus associados

b) A utilizaccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis enriquecidas com graacuteficos e tabelas

comparativas deve ter seu uso recomendado

c) A utilizaccedilatildeo de jornais mantidos pelas cooperativas deve ser um veiacuteculo de

informaccedilotildees com divulgaccedilatildeo de balancetes mensais expressos em linguagem ao niacutevel de

conhecimento dos associados

d) As informaccedilotildees contaacutebeis devem ser detalhadas de tal forma que os principais eventos

econocircmicos responsaacuteveis por impactos sobre a situaccedilatildeo econocircmico-financeira tanto positivos

como negativos sejam informados aos associados Faz-se necessaacuterio que seja informado

quais dos eventos econocircmicos foram fruto de decisotildees internas da cooperativa e quais

ocorreram independentemente da gestatildeo interna mas sim por poliacuteticas governamentais

fatores climaacuteticos ou fatos internacionais

e) As praacuteticas contaacutebeis deveriam ser normatizadas ou por oacutergatildeo que tenha poder para tal

ou incluiacutedas nos estatutos da cooperativa Isso permitiria comparaccedilotildees entre as demonstraccedilotildees

referentes a diversos exerciacutecios

f) Os conceitos quanto agrave qualidade das informaccedilotildees proposto por Hendriksen deveriam

ser observados isto eacute as informaccedilotildees deveriam ser adequadas honestas e totais

69

Quanto ao financiamento das atividades observa que as cooperativas necessitam incrementar

o suprimento de recursos financeiros proacuteprios Enfatiza que precisam encontrar a chave para

atingir o equiliacutebrio financeiro a fim de que possa obter rentabilidade positiva e manter a

competitividade E por fim diante dessas necessidades ressalta o papel preponderante da

contabilidade enquanto sistema de informaccedilotildees imprescindiacutevel agraves cooperativas

Em outro estudo Almeida e Dantas (2005) sugerem que os empreendimentos solidaacuterios

constituem um novo grupo de usuaacuterios e levantam algumas possiacuteveis demandas assim

organizadas

1-Novos modelos de Informaccedilotildees que

Propiciem a gestatildeo democraacutetica

Subsidiem a autogestatildeo

Gerem informaccedilotildees mais proacuteximas da realidade dos

empreendimentosempreendedores

Produzam indicadores sociais

Expressem as transaccedilotildees em rede

Tenham uma linguagem adequada ao tipo de empreendimentoempreendedor

2-Um novo perfil de contador

Sensiacutevel aos problemas sociais

Com ampla visatildeo econocircmica

Com capacidade gerencial

Articulador (boas relaccedilotildees humanas)

Educador (ensine a pescar)

3-Uma nova Formaccedilatildeo

Multidisciplinar (psicologia economia etc)

Novas metodologias de Ensino

Introduccedilatildeo de novas disciplinas (liacutenguas cooperativismo educaccedilatildeo popular etc)

Envolvimento em pesquisa e extensatildeo

Destaque-se tambeacutem a anaacutelise dos autores sobre a insuficiecircncia do aparato contaacutebil hoje

disponiacutevel agrave ES sobre o qual fazem a seguinte observaccedilatildeo

70

Se natildeo fossem as peculiaridades proacuteprias dos Empreendimentos de Economia Solidaacuteria e

principalmente de seus empreendedores poder-se-ia dizer que em termos de atendimento contaacutebil

nada mais seria necessaacuterio aleacutem dos recursos jaacute atualmente disponiacuteveis no escopo da

contabilidade das Cooperativas e da contabilidade Societaacuteria ( ALMEIDA e DANTAS 2005 p

08)

No caso das cooperativas lembram que satildeo reguladas pelo NBC T 108 do Conselho

Federal de Contabilidade que reza sobre aspectos de escrituraccedilatildeo contaacutebil e define sobre a

elaboraccedilatildeo dos Relatoacuterios e Demonstraccedilotildees

Jaacute as empresas autogestionaacuterias constituiacutedas em forma de sociedades satildeo orientadas pela

contabilidade societaacuteria nos moldes previstos na Lei das Sociedades Anocircnimas 640476 que

no artigo 177 determina que a escrituraccedilatildeo deve ser feita seguindo-se os preceitos da Lei das

Sociedades por Accedilotildees e os princiacutepios de contabilidade geralmente aceitos e conforme

orientado no Manual de Contabilidade das Sociedades por Accedilotildees ( IgraveUDICIBUS et al 2003

p29) o conjunto de informaccedilotildees que deve ser divulgado por uma sociedade representando

sua prestaccedilatildeo de contas abrange o Relatoacuterio de Administraccedilatildeo as Demonstraccedilotildees Contaacutebeis

e as Notas Explicativas Considerando as seguintes Demonstraccedilotildees Contaacutebeis

Balanccedilo Patrimonial

Demonstraccedilatildeo do Resultado do Exerciacutecio

Demonstraccedilatildeo das Mutaccedilotildees do Patrimocircnio Liacutequido

Demonstraccedilatildeo das Origens e Aplicaccedilotildees de Recursos

Demonstraccedilatildeo dos Fluxos de Caixa

Demonstraccedilatildeo do Valor Adicionado

Entretanto os autores ressaltam que esse aparato contaacutebil natildeo satisfaz plenamente as

necessidades informacionais dos empreendimentos Dessa forma realizam uma investigaccedilatildeo

cujo objetivo foi analisar a possibilidade de criaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo de novos sistemas contaacutebeis

agraves peculiaridades da ES Indicam algumas alternativas baacutesicas em estado bem indefinido

ainda mas que se instrumentalizam para reflexatildeo Ressaltam que se profundamente

estudados e testados (ALMEIDA e DANTAS 2005 p10) poderatildeo ser aplicados no

segmento da ES os seguintes modelos

71

a)Contabilidade Orccedilamentaacuteria

Trata-se de um estudo sobre a aplicaccedilatildeo da Contabilidade Orccedilamentaacuteria no setor privado

realizado pelo docente da FEAUSP Valmor Slomski Embora ainda em estaacutegio embrionaacuterio

a pesquisa aponta para a possibilidade de utilizaccedilatildeo desse procedimento pela ES Conforme

Slomski (2003) a contabilidade baseada no sistema orccedilamentaacuterio evidencia as origens dos

recursos e suas aplicaccedilotildees demonstra os creacuteditos orccedilamentaacuterios vigentes a despesa

orccedilamentaacuteria empenhada e a despesa orccedilamentaacuteria realizada agrave conta dos creacuteditos

orccedilamentaacuterios e ainda as dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias disponiacuteveis

Da forma como se estrutura atende a aspectos de escrituraccedilatildeo demonstraccedilatildeo anaacutelise e

informaccedilotildees dos empreendimentos da ES desde a origem do planejamento das atividades do

negoacutecio ateacute a concretizaccedilatildeo ou realizaccedilatildeo dessas atividades Pode ser dada ecircnfase ao estudo

anaacutelise e divulgaccedilatildeo das variaccedilotildees (orccedilado versus realizado) com possibilidade de indicaccedilotildees

de correccedilatildeo de rumos quando necessaacuterio identificando e valorizando a execuccedilatildeo das

atividades por aacuterea de responsabilidade

A exigecircncia da elaboraccedilatildeo e contabilizaccedilatildeo do orccedilamento em entidades da ES aleacutem do

atendimento aos aspectos normais do negoacutecio como planejamento e gerenciamento tambeacutem

teria a natureza educadora uma vez que requer o envolvimento de todos e o

comprometimento das diversas aacutereas com o resultado pois os executores das diversas

atividades do empreendimento ou os envolvidos no processo satildeo tambeacutem seus proprietaacuterios

(investidores)

Ressaltam que a sistemaacutetica de funcionamento contaacutebil deve estar fundamentada a partir de

uma planificaccedilatildeo contaacutebil O plano de contas abaixo elaborado por Slomski eacute fruto do

desenvolvimento da teoria e sistema de contabilidade orccedilamentaacuteria para entidades do Terceiro

Setor cuja estrutura baacutesica eacute a seguinte

72

Quadro 5- Contabilidade orccedilamentaacuteria

GRUPOS TIacuteTULO DO GRUPO

1 ATIVO

2 PASSIVO

3 PATRIMOcircNIO SOCIAL

4 CONTAS DE RESULTADO PATRIMONIAL DO EXERCIacuteCIO

5 RECEITAS ORCcedilAMENTAacuteRIAS

51 RECEITAS ORDINAacuteRIAS

52 RECEITAS POR PROJETOS

6 DESPESAS ORCcedilAMENTAacuteRIAS

61 ADMINISTRACcedilAtildeO SUPERIOR

62 ADMINISTRACcedilAtildeO GERAL

63 ADMINISTRACcedilAtildeO DE INVESTIMENTOS

64 ADMINISTRACcedilAtildeO DE PROJETOS

99 RESERVAS DE CONTINGEcircNCIAS

Fonte Adaptado de Plano de Contas de Slomski (material natildeo publicado)

Os autores observam que a proposta de planificaccedilatildeo tem utilidade para registro do orccedilamento

como tambeacutem para a realizaccedilatildeo das atividades da organizaccedilatildeo e planejamento da autogestatildeo

Atende tambeacutem a aspectos de controle de gerenciamento e igualmente funciona como

indicador de destinaccedilatildeo das apropriaccedilotildees

Concluem que esse pode ser um instrumento passiacutevel de utilizaccedilatildeo pela ES pela

potencialidade de possibilitar a socializaccedilatildeo do controle de todo o processo de gestatildeo

b) Contabilidade por Fundos

Utilizada amplamente nos EUA tem como caracteriacutestica principal a segregaccedilatildeo contaacutebil dos

recursos designados para atender fins especiacuteficos Olak (2000)

define a contabilidade por fundos como um importante instrumento de controle das accedilotildees dos

gestores ante os recursos que lhes satildeo confiados para atender propoacutesitos especiacuteficos segundo

restriccedilotildees impostas internamente ou externamente A contabilidade por fundos divide os

73

recursos da instituiccedilatildeo em trecircs categorias distintas a) fundos irrestritos podem ser utilizados

para qualquer finalidade b) fundos internamente restritos quando sua restriccedilatildeo eacute definida

internamente c) fundos externamente restritos quando as restriccedilotildees satildeo feitas por agentes

externos

O argumento utilizado pelos autores de perspectiva de utilizaccedilatildeo pela ES passa pela

compreensatildeo de que eacute possiacutevel nortear as accedilotildees das diversas aacutereas da entidade atraveacutes da

segregaccedilatildeo dos recursos definidos pelo coletivo Assim torna-se mais faacutecil verificar se tais

definiccedilotildees ou restriccedilotildees foram cumpridas (ALMEIDA e DANTAS 2005 p 12)

Entretanto chamam a atenccedilatildeo para as limitaccedilotildees do modelo uma vez que as restriccedilotildees

impostas podem tornar-se obstaacuteculos agrave gestatildeo tendo em vista a dinacircmica das atividades

empresariais Portanto a aplicaccedilatildeo desse sistema contaacutebil exige estudos e adaptaccedilotildees

c) Apuraccedilatildeo Gerencial do Resultado Econocircmico

A Mensuraccedilatildeo do Resultado Econocircmico12 conforme Slomski (2003) fundamenta-se no

conceito de custo de oportunidade o qual permite mensurar os serviccedilos prestados (receita

econocircmica) o trabalho voluntaacuterio e outras despesas incorridas e assumidas por terceiros

Com base nesse fundamento os autores Almeida e Dantas (2005) argumentam sobre a

possibilidade de utilizaccedilatildeo desse instrumento gerencial pela ES agrave medida que leva em conta

fatores desconsiderados pela contabilidade tradicional tais como o custo de oportunidade

Sabe-se que via de regra os empreendimentos solidaacuterios natildeo prescindem das entidades de

apoio cuja estrutura coloca agrave sua disposiccedilatildeo recursos materiais humanos e financeiros Essas

contribuiccedilotildees satildeo realizadas de maneira voluntaacuteria ateacute que o negoacutecio se sustente Portanto

esses valores natildeo computados como assessoria contaacutebil administrativa financeira

tecnoloacutegica poderiam compor o resultado econocircmico da entidade tal como acontece nas

entidade do terceiro setor

Salientam que transcendendo o proacuteprio empreendimento se poderia pensar em mensuraccedilotildees

ou indicadores sociais que levassem em conta o custo de oportunidade de vaacuterias atividades

realizadas pela empresa substituindo accedilotildees implementadas pelo governo Um exemplo

poderia levantar o custo social da inserccedilatildeo do desempregado no mercado ou seja a

12 Forma de mensuraccedilatildeo inspirada no modelo GECON visto anteriormente

74

quantificaccedilatildeo dos benefiacutecios que o Estado e a sociedade obtecircm com este empreendimento

somente pela oferta de postos de trabalho Assim poderia ser feito com todos os benefiacutecios

alcanccedilados pelo empreendimento tais como a educaccedilatildeo dos trabalhadores o provimento de

plano de sauacutede as accedilotildees de preservaccedilatildeo do meio ambiente os projetos envolvendo a

comunidade local etc Para os autores esse mecanismo gerencial se bem explorado pode ser

um instrumento de expressatildeo da dinacircmica econocircmica e social da economia solidaacuteria

Portanto os estudos analisados apresentam convergecircncia quando reconhecem as demandas

especiacuteficas dos empreendimentos autogestionaacuterios e a insuficiente resposta que a

contabilidade tem dado a estas organizaccedilotildees tambeacutem apontam para a necessidade de

aprofundamento de pesquisas sobre o tema Percebe-se igualmente que haacute uma preocupaccedilatildeo

nos trabalhos com a busca de novos processos e modelos de mensuraccedilatildeo demonstraccedilatildeo e

divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees os quais sejam apropriados agraves reais necessidades desses usuaacuterios

da contabilidade

Desse modo a investigaccedilatildeo empiacuterica pretendeu continuar o caminho trilhado por alguns

pesquisadores da aacuterea contaacutebil Preocupou-se em aprofundar a compreensatildeo da dimensatildeo

contaacutebil nos empreendimentos solidaacuterios como tambeacutem levantar novas demandas ou

confirmar as necessidades jaacute detectadas desses novos usuaacuterios que se formam num contexto

social de desemprego e marginalizaccedilatildeo do mercado de trabalho Como novos usuaacuterios

desafiam a contabilidade a tambeacutem dar sua contribuiccedilatildeo por meio de seu envolvimento na

busca de alternativas de atuaccedilatildeo da contabilidade junto agrave autogestatildeo em seus diversos

aspectos

75

4 ESTUDO DE CASO COOPRAM RESULTADOS E ANAacuteLISES

41 Relato do estudo de caso

No capiacutetulo 1 mais precisamente no toacutepico referente agrave metodologia foi traccedilado o caminho

que seria trilhado pela pesquisa o qual compreendia um conjunto de informaccedilotildees tais como

meacutetodos de abordagem e procedimentos teacutecnicas de coleta de dados e planejamento do caso

Nesse momento passa-se a pormenorizar e relatar as etapas e atividades que constituiacuteram a

investigaccedilatildeo empiacuterica deste trabalho

Para melhor visualizaccedilatildeo do trabalho pode-se dividir as atividades executadas em diversos

momentos

1ordm momento Contatos iniciais

Essa fase foi caracterizada pelos contatos com diretores da entidade de apoio (ANTEAG) e

conversas com a pretendida unidade de estudo a COOPRAM Na ocasiatildeo foi repassada a

ambas entidades (COOPRAM e ANTEAG) uma coacutepia do protocolo de pesquisa do estudo de

caso Esses contatos iniciaram em fevereiro de 2006 e culminaram com a autorizaccedilatildeo para a

realizaccedilatildeo da pesquisa (apecircndice 02)

2ordm momento Preparaccedilatildeo para o trabalho de campo

Apoacutes a liberaccedilatildeo da unidade para realizaccedilatildeo da pesquisa de campo foi a vez da etapa de

confecccedilatildeo dos vaacuterios instrumentos para a coleta de dados cujos principais produtos foram

roteiro de entrevistas para cooperados (apecircndice 03) roteiro de entrevista para contadores (

apecircndice 04) roteiro de entrevista para diretores ( apecircndice 05) roteiro de entrevista para

especialistas (apecircndice 06)

3ordm momento Coleta de dados

Essa etapa processou-se durante os meses de junho e julho momento em que se procedeu

efetivamente agrave coleta de dados Como mencionado no cap I os instrumentos utilizados

foram entrevistas registros em arquivos e observaccedilatildeo direta No caso das entrevistas elas

foram segregadas por grupos de entrevistados ficando assim distribuiacutedas

76

Grupo 1- cooperados 04 entrevistados

Grupo 2- contadores 02 entrevistados

Grupo 3- especialistas 02 entrevistados

Os registros em arquivos e as observaccedilotildees diretas foram possibilitadas pelas inuacutemeras visitas

realizadas a COOPRAM no mesmo periacuteodo

4ordm momento Sistematizaccedilatildeo dos dados

O processo de sistematizaccedilatildeo dos dados ocorreu no final de julho e no mecircs de agosto A partir

de um banco de dados eletrocircnico referente a cada entrevista somadas agraves informaccedilotildees das

outras fontes transformaram-se dados em informaccedilotildees estratificadas por grupos e dimensotildees

5ordm momento Anaacutelises e conclusotildees

Nessa etapa final as informaccedilotildees sistematizadas foram analisadas agrave luz das questotildees

propostas das hipoacuteteses formuladas e da revisatildeo teoacuterica

Concluiacutedo o relato do processo da pesquisa empiacuterica nos proacuteximos itens passa-se a

transcrever os resultados da pesquisa compostos inicialmente por descriccedilotildees da realidade

encontrada e em seguida pela compreensatildeo e anaacutelise de vaacuterios aspectos da relaccedilatildeo

contabilidade e autogestatildeo

42 Histoacuterico e descriccedilatildeo da unidade de estudo

A COOPRAM- Cooperativa de Produccedilatildeo de Artes Metaacutelicas situada hoje no Municiacutepio de

Embu das Artes- SP eacute um empreendimento autogestionaacuterio nascido em 2000 A entidade

surgiu da uniatildeo de profissionais antigos funcionaacuterios de uma empresa metaluacutergica falida que

assumiram sua recuperaccedilatildeo Alguns funcionaacuterios principalmente a forccedila de trabalho mais

intelectual natildeo se submetendo ao risco do negoacutecio procuraram nova colocaccedilatildeo no mercado

Aqueles que acreditaram enfrentaram os desafios da gestatildeo de uma cooperativa Hoje a

COOPRAM conta com aproximadamente 80 funcionaacuterios sendo a maior parte lotada na

aacuterea produtiva Tambeacutem conta com profissionais qualificados na aacuterea de projetos de produto

77

especiais os quais atendem a encomendas especiacuteficas de clientes

No iniacutecio de suas atividades sua sede situava-se no Municiacutepio de OsascoSP mudando-se

recentemente para o Municiacutepio de Embuacute das Artes tambeacutem no Estado de Satildeo Paulo

A cooperativa eacute especializada na conformaccedilatildeo e beneficiamento de accedilo alumiacutenio e inox

cujos produtos principais satildeo quiosques e maacutescaras para salas de auto-atendimento caixas

eletrocircnicos caixas para medidor de gaacutes e hidrocircmetros esquadrias de accedilo galvanizado

luminosos de identificaccedilatildeo visual (totem) caixilhos em geral batentes guarda corpos

corrimatildeo portas acuacutesticas caixas metaacutelicas forros divisoacuterias e revestimentos de accedilo

galvanizado inox e alumiacutenio entre outros produtos em accedilo e alumiacutenio encomendados por

clientes diversos tais como shoppings metrocircs etc A figura 2 ilustra alguns dos produtos da

COOPRAM

78

Figura nordm 02 - Alguns produtos da COOPRAM

Fonte site http wwwcoopramcombr

A cooperativa atende a todo o territoacuterio nacional e possui uma diversificada carteira de

clientes Eis alguns de seus clientes

Associaccedilatildeo Brasileira de Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Uacuteltimos Dias - Satildeo Paulo SP

Construtora OAS Ltda -Satildeo Paulo SP Rossi Residencial - Satildeo PauloSP ECIA Irmatildeos

Arauacutejo Engenharia e Comercio SA - Rio de Janeiro RJ Construtora Bathaus Ltda - Tupatilde

SP Tec Sul Engenharia Ltda - Satildeo Jose dos CamposSP Vexillum Construccedilotildees e

Empreendimentos Ltda - Pq Industrial - Campina Grande do SulPR Carvalho Hosken SA

Engenharia e Construccedilotildees -Rio de Janeiro RJ Autoban

Jundiaiacute SP Construtora Norberto Odebrechet SA - Rodovia Rio Santos Metro cia

Metropolitano de Satildeo Paulo - Linha Norte Sul Construtora Apia - Belo HorizonteMG

Construtora Croma - Satildeo Paulo SP Escala Construccedilotildees e Empreendimentos Ltda- Satildeo

PauloSP Tecnicorp Engenharia e Construccedilotildees Ltda - Satildeo Paulo SP Construtora

Lideranccedila Ltda Satildeo Paulo SP Evoluccedilatildeo Empreendimentos Imobiliaacuterios Ltda Satildeo

Paulo SP Schahin Engenharia Ltda- Satildeo PauloSP Elofer Construccedilotildees e Empreendimentos

Ltda - Pinhais PR Constroen Construccedilotildees e Engenharia Ltda -AraccedilatubaSP Infa

incorporadora Ltda - Pinheiros SP Comercial Construtora PPR Ltda - Satildeo PauloSP

Empreendimentos Imobiliaacuterios Estelar Ltda - Satildeo Paulo SP Construtora CPD Ltda - Satildeo

79

PauloSP Associaccedilatildeo de Construccedilatildeo Para Mutiratildeo do Jardim Celeste

Satildeo PauloSP Associaccedilatildeo Boa Esperanccedila -Satildeo PauloSP Associaccedilatildeo de Construccedilatildeo por

Mutiratildeo Novo Horizonte Satildeo PauloSP Copromo Associaccedilatildeo por Moradia de Osasco

OsascoSP

43 Informaccedilotildees sobre a entidade de apoio

A COOPRAM tem sido acompanhada por uma das redes nacionais de apoio as quais

tambeacutem satildeo denominadas de incubadoras de empreendimentos Satildeo essas entidades que

tradicionalmente orientam os empreendimentos solidaacuterios nos mais diversos aspectos desde

a capacitaccedilatildeo para a gestatildeo ateacute aspectos mais subjetivos da vivecircncia no empreendimento tais

como relaccedilotildees interpessoais assimilaccedilatildeo de valores humanos entre outros

No caso da COOPRAM a entidade que daacute o suporte necessaacuterio agraves suas accedilotildees e promove a

apropriaccedilatildeo do conhecimento nas diversas aacutereas do negoacutecio eacute a ANTEAG- Associaccedilatildeo

Nacional das Empresas Autogeridas e de Participaccedilatildeo Acionaacuteria

Fazendo um breve histoacuterico da entidade relata-se que a ANTEAG nasceu da iniciativa dos

proacuteprios trabalhadores que assumiram a gestatildeo de empresas diante da situaccedilatildeo de falecircncia e

desemprego Desde 1991 a ANTEAG teve contato com mais de 700 empresas em situaccedilatildeo

falimentar e passou a trabalhar com muitas delas no sentido de desenvolver a autogestatildeo

Hoje acompanha empresas de produccedilatildeo industrial e de serviccedilos nas cinco regiotildees do paiacutes

representando mais de 32 mil postos de trabalho nos seguintes setores tecircxtil agroinduacutestria

alimentaccedilatildeo couro calccedilados metaluacutergico mineraccedilatildeo serviccedilos confecccedilatildeo plaacutestico coleta

seletiva ceracircmica mobiliaacuterio papel e papelatildeo vidro e cristal tinta borracha e artesanato Os

objetivos que norteiam a accedilatildeo da ANTEAG satildeo

- Recuperar e manter trabalho e renda atraveacutes da participaccedilatildeo e controle coletivo dos

trabalhadores sobre as atividades produtivas

- Organizar e representar nacionalmente os trabalhadores e as empresas de autogestatildeo

- Promover autogestatildeo como alternativa econocircmica e social

80

- Resgatar o trabalho em sua dimensatildeo humana como alternativa agrave precarizaccedilatildeo e ao

desemprego estrutural

No que diz respeito agrave aacuterea de gestatildeo e contabilidade uma das principais formas de

contribuiccedilatildeo da ANTEAG a seus incubados eacute a promoccedilatildeo de cursos no proacuteprio

empreendimento ou nas sedes da entidade localizadas nos principais estados do paiacutes ora

executando esses cursos com seu proacuteprio pessoal ora pleiteando capacitaccedilatildeo a oacutergatildeos

governamentais

44 Descriccedilatildeo da organizaccedilatildeo contaacutebil da COOPRAM

A partir das observaccedilotildees e anaacutelises dos documentos constatou-se que os resultados

econocircmicos e financeiros da entidade satildeo apresentados pelos instrumentos tradicionais da

contabilidade centrando nas demonstraccedilotildees Balanccedilo Patrimonial e Demonstraccedilatildeo do

Resultado do Exerciacutecio da cooperativa Esses relatoacuterios satildeo disponibilizados para os

cooperados nas Assembleacuteias Gerais Ordinaacuterias os quais tambeacutem satildeo afixados no mural para

visualizaccedilatildeo e consulta

Natildeo satildeo confeccionados outros relatoacuterios gerenciais de resultados Semanalmente a diretoria

se reuacutene para discutir as financcedilas e utilizam um relatoacuterio produzido pelo setor financeiro o

qual conteacutem informaccedilotildees sobre o fluxo de recursos contas a pagar e receber

Natildeo haacute um sistema informatizado de apuraccedilatildeo de custos ou relatoacuterios detalhados sobre eles A

confecccedilatildeo dos preccedilos dos produtos eacute baseada em um caacutelculo estimativo dos gastos da

entidade para o qual eacute utilizado um fator matemaacutetico tabelado para cada item de produto e

construiacutedo a partir de outros elementos de despesas que incluem alguns gastos administrativos

e frete No caso de produtos sob encomenda eacute calculado um orccedilamento e sobre o valor

orccedilado tambeacutem se aplica o mesmo fator matemaacutetico

A contabilidade eacute terceirizada ficando a cargo de um escritoacuterio de contabilidade localizado

no mesmo Municiacutepio Mensalmente eacute remetido ao escritoacuterio o movimento de caixa

confeccionado pelos cooperados do setor financeiro O retorno desses dados convertidos em

81

demonstraccedilotildees contaacutebeis natildeo eacute realizado dentro de um periacuteodo possiacutevel de aproveitar as

informaccedilotildees para a tomada de decisotildees Em suma a informaccedilatildeo contaacutebil natildeo eacute sistematizada

ou organizada de modo que possa contribuir com o processo de gestatildeo

No que diz respeito agrave apropriaccedilatildeo dos conhecimentos em contabilidade ela eacute propiciada

principalmente por cursos de formaccedilatildeo em gestatildeo promovidos em geral pela entidade de

apoio como jaacute mencionado

45 Anaacutelise dos Resultados

A anaacutelise realizada foi segmentada em diversos aspectos da dimensatildeo contaacutebil nos processos

de autogestatildeo Entretanto na praacutetica percebeu-se que esses aspectos natildeo satildeo estanques ou

seja eles se inter-relacionam agraves vezes ocorrendo a situaccedilatildeo em que um aspecto eacute fator

determinante de outro Tecircm-se tambeacutem a consciecircncia de que outros fatores importantes agrave

compreensatildeo e ao desvelamento do fenocircmeno natildeo estatildeo aqui incluiacutedos Dessa forma longe de

esgotar as respostas agraves questotildees propostas buscou-se fazer um exerciacutecio de reflexatildeo sobre a

realidade captada pelas vaacuterias evidecircncias

Apoacutes essas observaccedilotildees relata-se a anaacutelise dos aspectos da dimensatildeo contaacutebil representados

pelas seis dimensotildees Esses resultados foram sistematizados em quadros os quais traccedilam um

paralelo entre a realidade encontrada e a realidade esperada A realidade encontrada diz

respeito ao quadro atual de cada aspecto desenhado pelo ponto de vista dos trecircs grupos de

entrevistados e reafirmado pelas observaccedilotildees e registro em arquivos Por outro lado no

quadro da realidade esperada encontram-se a realidade desejada eou elementos e pistas para

alcanccedilar essa situaccedilatildeo ideal Assim as anaacutelises satildeo produto das constataccedilotildees dos grupos

enriquecidos pelos resgates dos conceitos teoacutericos e a bibliografia sobre o tema

Passa-se entatildeo a apresentar a anaacutelise dos resultados

82

451 Forma de comunicaccedilatildeo

Nessa dimensatildeo procurou-se avaliar os instrumentos de comunicaccedilatildeo que a entidade utiliza

para divulgar seus resultados econocircmicos e financeiros Verificou-se a capacidade de a

contabilidade captar e refletir a complexidade das relaccedilotildees inclusas no processo de

autogestatildeo tais como o orccedilamento elaborado coletivamente a execuccedilatildeo e controles

compartilhados enfim foi avaliada a adequaccedilatildeo dos relatoacuterios demonstraccedilotildees e outros

instrumentos da contabilidade agraves necessidades proacuteprias dos empreendimentos solidaacuterios

Quadro 6- Forma de comunicaccedilatildeo

Grupo Realidade Encontrada

( o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Baseia-se nos instrumentos tradicionais

Pouca compreensatildeo dos

instrumentos Acessiacuteveis aos cooperados Apresentados nas assembleacuteias

Especialistas

Insuficiecircncia do Balanccedilo anual

enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo

Contadores

Contabilidade financeira tem

limitaccedilotildees Insuficiecircncia do Balanccedilo

Maior tempo de exposiccedilatildeo

das demonstraccedilotildees Mais detalhamentos da

realidade do empreendimento

Mais instrumentos de

informaccedilotildees Criaccedilatildeo de instrumentos de

informaccedilotildees permanentes Criaccedilatildeo de instrumentos de

avaliaccedilatildeo e monitoramento

Conforme demonstra o quadro 6 em geral os cooperados natildeo questionaram sobre os

instrumentos tradicionais de comunicaccedilatildeo dos resultados econocircmicos e financeiros

constituiacutedos principalmente pelo Balanccedilo e DRE Afirmaram que essas demonstraccedilotildees satildeo

acessiacuteveis na entidade Entretanto natildeo haacute muita procura por parte deles em virtude das

dificuldades de compreensatildeo

Na percepccedilatildeo dos especialistas o Balanccedilo anual principal forma de comunicaccedilatildeo das

informaccedilotildees utilizadas pelos empreendimentos eacute insuficiente para manter o trabalhador

informado havendo a necessidade de instrumentos que propiciem o monitoramento

permanente do negoacutecio

83

Os contadores entrevistados tambeacutem apontaram para a insuficiecircncia do Balanccedilo enquanto

uacutenica forma de comunicaccedilatildeo Conforme trecho da fala de um de seus representantes

Uma assembleacuteia natildeo pode se limitar a apresentar Balanccedilo Balanccedilo tem que ter mas eacute uma das

demonstraccedilotildees Vocecirc tem que mostrar outros lados Como eacute que permanentemente o cooperado

acompanha o desenvolvimento da cooperativaO Balanccedilo eacute uma informaccedilatildeo anual Quais satildeo as

outras informaccedilotildees perioacutedicas para que se faccedila um monitoramento uma avaliaccedilatildeo daquele

empreendimento[] entatildeo eu tenho que ter um instrumento e espaccedilo pra discutir []

Um dos contadores ainda destaca a limitaccedilatildeo da contabilidade financeira e a necessidade de

utilizaccedilatildeo da contabilidade gerencial e outros instrumentos apropriados agrave ES Em suas palavras

[] se vocecirc tem na contabilidade financeira contabilidade mais formal algumas limitaccedilotildees a

gente pode construir uma contabilidade gerencial hoje vocecirc tem uma contabilidade social o

Balanccedilo Social vocecirc tem ferramentas esse eacute o papel do profissional []

Portanto no que tange agrave forma de comunicaccedilatildeo das informaccedilotildees disponibilizadas pela

contabilidade as evidecircncias empiacutericas somam-se agraves anaacutelises dos autores que percebem os

empreendimentos autogestionaacuterios como um novo um grupo de usuaacuterios da contabilidade e

para os quais satildeo necessaacuterios novos instrumentos contaacutebeis Resgatando a reflexatildeo realizada

no capiacutetulo 3 agrave luz de Hendriksen e Van Breda ( 1999) sobre a implementaccedilatildeo de relatoacuterios

padronizados ou especiacuteficos a cada grupos de usuaacuterios os autores Almeida e Dantas (2005)

sugerem que os novos usuaacuterios deveriam possuir relatoacuterios especiacuteficos em detrimento da

padronizaccedilatildeo de relatoacuterios a diversos grupos

Michaels (1995) argumenta que a confecccedilatildeo dos relatoacuterios deve atender a alguns preacute-

requisitos a fim de contemplar as demandas reais de informaccedilatildeo dos usuaacuterios Para tanto seria

necessaacuterio responder agraves seguintes perguntas Qual o objetivo da informaccedilatildeoPara quem eacute a

informaccedilatildeo Que quantidade eacute necessaacuteria Como deve ser a informaccedilatildeo Quando a

informaccedilatildeo eacute necessaacuteria Com base nas respostas dadas a essas perguntas o autor reconhece

a natureza peculiar dos empreendimentos autogestionaacuterios e suas necessidades especiacuteficas

Em relaccedilatildeo agrave situaccedilatildeo desejaacutevel ou esperada na visatildeo dos cooperados as demonstraccedilotildees

deveriam fornecer mais detalhes da situaccedilatildeo socioeconocircmica e ficar mais tempo exposta

conforme revelam os trechos a seguir

[] deveria ficar mais tempo exposto agrave disposiccedilatildeo dos cooperados e com mais detalhes e ser

mais bem explicado []

84

[] vocecirc pode fazer uma planilha maior e mostrar em mais detalhes o que estaacute acontecendo

atualmente[]

Essas observaccedilotildees reforccedilam o estudo feito por Michaels (1999) Em sua opiniatildeo as

demonstraccedilotildees contaacutebeis devem ser estruturadas de tal forma que possam ser interpretadas

pelos principais usuaacuterios os associados da cooperativa Para ele a contabilidade deve ser um

importante sistema de informaccedilotildees entre a cooperativa e seus associados e para tanto

recomenda a utilizaccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis enriquecidas com graacuteficos e tabelas

comparativas Ressalta ainda que as informaccedilotildees contaacutebeis devem ser detalhadas de tal

forma que os principais eventos econocircmicos responsaacuteveis por impactos na situaccedilatildeo

econocircmico-financeira tanto positivos como negativos sejam informados aos associados e

tambeacutem sejam informados quais dos eventos econocircmicos foram fruto de decisotildees internas da

cooperativa e quais ocorreram independentes da gestatildeo interna mas sim por poliacuteticas

governamentais fatores climaacuteticos ou fatos internacionais

Logo neste aspecto concluiu-se que haacute demandas no sentido de propiciar a utilizaccedilatildeo e

assimilaccedilatildeo dos instrumentos existentes pelos trabalhadores da ES bem como de criaccedilatildeo de

novos relatoacuterios especiacuteficos para esses usuaacuterios em oposiccedilatildeo agrave implementaccedilatildeo de relatoacuterios

padronizados a todos os usuaacuterios

452 Conteuacutedo da informaccedilatildeo

O conteuacutedo diz respeito agrave informaccedilatildeo contaacutebil em si Nesse aspecto verificou-se a pertinecircncia

da linguagem das vaacuterias formas de comunicaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil aos usuaacuterios da ES

Mais especificamente nesse aspecto buscou-se perceber se a linguagem da contabilidade eacute

facilmente compreendida pelos trabalhadores tendo em vista o conhecimento jaacute consolidado

de que uma grande parte dos trabalhadores da ES tem um baixo grau de educaccedilatildeo formal

85

Quadro 7- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

Grupo

Realidade Encontrada

(o que eacute)

Realidade Esperada

(o que deveria ser)

Cooperados

Linguagem complicada Calam-se diante da

incompreensatildeo dos termos Incompreensatildeo causa

desinteresse

Especialistas

Linguagem difiacutecil

Contadores

Linguagem teacutecnica codificada

Trabalhadores da ES devem

apropriar-se da linguagem contaacutebil

Linguagem contaacutebil deve

aproximar-se da linguagem coloquial

Linguagem simples e objetiva

Como revela o quadro 7 apesar de serem acessiacuteveis haacute um desinteresse pelos relatoacuterios uma

vez que a linguagem natildeo eacute inteligiacutevel aos cooperados O grau de escolaridade do grupo de

cooperados normalmente eacute baixo e a estrutura dos relatoacuterios baseia-se em uma linguagem

teacutecnica formal o que dificulta o seu entendimento Conforme mostram trechos da fala de

cooperados

[] porque normalmente no relatoacuterio no balanccedilo a gente tenta olhar mais no final quanto que deu

e quanto que natildeo deu Fica mais faacutecil neacute Eu natildeo sei por que eles complicam [] a gente sempre ficava voando com medo ateacute de entatildeo vem o ativo passivo Taacute aqui o ativo passivo Muita

gente calaque nem que seraacute que bixiga eacute isso aiacute

Tambeacutem na visatildeo dos contadores e especialistas entrevistados a linguagem dos relatoacuterios eacute de

difiacutecil compreensatildeo para os trabalhadores pois eacute uma linguagem de contadores ou seja eacute

uma linguagem formal teacutecnica Nas palavras de um contador A linguagem contaacutebil eacute uma

linguagem codificada Eacute uma linguagem que usa coacutedigos e convenccedilotildees Ela natildeo eacute uma

linguagem do cotidiano das pessoas

Os entrevistados de uma forma geral sugerem uma linguagem adequada agrave realidade dos

trabalhadores da ES Para isso eacute necessaacuteria a criaccedilatildeo de novos instrumentos de comunicaccedilatildeo

os quais contenham uma linguagem simples e compreensiacutevel conforme expressam algumas

falas

86

[] entatildeo talvez uma coisa mais simples pra maioria simples Olha daacute dando lucro olha isso

aqui noacutes vamos gastar pra isso A contabilidade eacute interessante mas pro povatildeo acho que ajudava

bem Aiacute vocecirc jaacute podia parar de muitos comentaacuterios Olha taacute assim assim assim no real mas no

real natildeo pra iludir agente []

[] entatildeo noacutes temos duas questotildees ou noacutes vamos ter uma linguagem que aproxime dessa

linguagem coloquial ou seja essa linguagem de Balanccedilo eacute uma linguagem de contadores Entatildeo

tem dois movimentos ou os trabalhadores da ES se apropriam da linguagem dos contadores ou os contadores buscam uma linguagem com os trabalhadores da ES Acho que tem que ter um encontro aiacute Natildeo eacute ficar usando apelidos para falar a mesma coisa Eu digo formas de

comunicaccedilatildeo []

Os apontamentos dos grupos natildeo contraria a hipoacutetese inicialmente aventada sobre a

dificuldade de compreensatildeo da linguagem dos relatoacuterios contaacutebeis por parte dos

trabalhadores Essa hipoacutetese baseou-se na realidade socioeconocircmica dos trabalhadores

retratada no cap 2 Conforme mostraram Singer (2000) e demais autores a baixa escolaridade

dos trabalhadores adveacutem de sua situaccedilatildeo de exclusatildeo social A ES eacute constituiacuteda em sua

maioria por trabalhadores viacutetimas do desemprego estrutural provocado em grande parte pela

globalizaccedilatildeo a qual acarretou a reestruturaccedilatildeo produtiva e mudanccedilas no mercado de trabalho

Esses trabalhadores dispensados de seus postos de trabalho e natildeo apresentando formaccedilatildeo

suficiente para nova colocaccedilatildeo viram na ES uma alternativa de reingresso no mercado de

trabalho e de inclusatildeo social

Assim com baixa escolaridade e natildeo acostumados agrave linguagem de negoacutecio os termos

contaacutebeis soam estranhos aos trabalhadores Dessa forma a adaptaccedilatildeo da linguagem dos

relatoacuterios contaacutebeis agrave realidade dos trabalhadores eacute uma outra demanda concreta que os

empreendimentos de ES remete agrave contabilidade

453 Utilidade da informaccedilatildeo

A avaliaccedilatildeo da utilidade da informaccedilatildeo diz respeito agrave importacircncia e utilidade dada agrave

contabilidade Tambeacutem se procurou avaliar a utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil em todos os

processos da gestatildeo de forma que ela efetivamente seja supridora de informaccedilotildees

necessaacuterias agrave autogestatildeo ou seja auxiliar no processo de tomada de decisotildees coletivas e na

gestatildeo democraacutetica

87

Quadro 8 - Utilidade da informaccedilatildeo

Grupo Realidade Encontrada

( o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Contabilidade como sinocircnimo de confianccedila entre

os trabalhadores Organizaccedilatildeo contaacutebil influi na motivaccedilatildeo e

tranquumlilidade Contabilidade instrumento de transparecircncia Percepccedilatildeo da influecircncia da organizaccedilatildeo contaacutebil

sobre os resultados Consciecircncia da necessidade de apropriaccedilatildeo da

contabilidade

Especialistas

Falta de domiacutenio das teacutecnicas satildeo lacunas nos

empreendimentos em uma primeira fase Em segunda fase usam teacutecnicas p

desenvolvimento do empreendimento Utilizaccedilatildeo de teacutecnicas contaacutebeis como condiccedilatildeo agrave

viabilidade econocircmica

Contadores

Informaccedilatildeo contaacutebil gera confianccedila e autonomia Formadores tecircm visatildeo da contabilidade como

algo chato dispensaacutevel controle burocraacutetico Contabilidade eacute instrumental necessaacuterio a todas

as aacutereas do empreendimento Natildeo utilizaccedilatildeo dos instrumentos em decorrecircncia

da natildeo apropriaccedilatildeo do conhecimento Resistecircncia agrave superaccedilatildeo da segregaccedilatildeo trabalhar ( trabalhadores) e pensar (administradores)

Superaccedilatildeo da visatildeo

tradicional da contabilidade para o fisco e controle burocraacutetico

Formadores assumir a

contabilidade como questatildeo

fundamental Apropriaccedilatildeo de conhecimento

contaacutebil pelos trabalhadores Criaccedilatildeo de instrumentos

contaacutebeis que gere

informaccedilotildees atualizadas e

permanentes sobre a gestatildeo Utilizaccedilatildeo das teacutecnicas

contaacutebeis em todos os

processos de gestatildeo Trabalhadores devem possuir

a cultura do registro

Na visatildeo de um dos cooperados conforme mostra o quadro 8 a contabilidade tem grande

importacircncia porque eacute um instrumento de transparecircncia e de desenvolvimento econocircmico do

empreendimento Um outro motivo destacado pelos trabalhadores eacute sua vinculaccedilatildeo com a

confianccedila que deve existir na relaccedilatildeo entre os cooperados Para eles uma boa organizaccedilatildeo

contaacutebil propicia a tranquumlilidade no trabalho e motivaccedilatildeo conforme relatam algumas falas

[] contabilidade eacute o coraccedilatildeo o ceacuterebro[] [] porque tem viacutenculo de confianccedila neacute Falando seacuterio como agora agente taacute passando por

uma situaccedilatildeo em relaccedilatildeo serviccedilo dinheiro natildeo taacute boa Entatildeo influi em todo mundo ali sabe

Entatildeo aqui quando as coisas taacute correndo bem a contabilidade a gente supotildee que ta tudo em paz

taacute tudo bom a gente tem uma tranquumlilidade maior de produzir de trabalhar de torcer pra vir mais

serviccedilo Agora quando taacute ruim agente fala pra quecirc serviccedilo O dinheiro natildeo entra as coisa natildeo daacute

pra fazer as coisas direito Entatildeo influi bastante Entatildeo eu acho que administraccedilatildeo contabilidade

a gente tando no meio assim mesmo natildeo fazendo parte mas vocecirc tendo os relatoacuterios vocecirc

entendendo com certeza vocecirc acalma meio mundo laacute embaixo noacutes mesmos []

88

[] a contabilidade eacute fundamental os nuacutemeros clareza todo mundo ciente do que estaacute

acontecendo se tiver condiccedilotildees de fazer uma reserva Entatildeo realmente ter noccedilatildeo pra empresa

crescer []

Essa concepccedilatildeo da importacircncia da utilizaccedilatildeo dos instrumentos contaacutebeis reafirma o papel

social da contabilidade enfatizada no cap 3 Vaz (2002) ressalta que a informaccedilatildeo eacute um

direito de cidadania Pateman no cap 2 ressalta a importacircncia da informaccedilatildeo Para a

autora um dos preacute-requisitos para a participaccedilatildeo democraacutetica e desenvolvimento da

eficaacutecia poliacutetica eacute simetria econocircmica e simetria no acesso a informaccedilotildees Dessa forma a

visatildeo dos grupos entrevistados aproxima-se dos autores sobre a essencialidade da

informaccedilatildeo contaacutebil no processo de autogestatildeo

No que se refere a outro aspecto analisado o uso dos diversos instrumentos para a tomada de

decisatildeo os instrumentos centram-se no Balanccedilo Patrimonial e DRE conforme mencionado

anteriormente Natildeo haacute outros instrumentos mais dinacircmicos de monitoramento e controle do

planejamento da entidade assim como natildeo haacute um planejamento coletivo mais sistematizado

Portanto a entidade natildeo utiliza a maioria dos recursos de informaccedilatildeo disponibilizados pela

contabilidade financeira e gerencial no seu processo de autogestatildeo

Entretanto mesmo natildeo tendo plena consciecircncia do que seja uma contabilidade gerencial e da

potencialidade da contabilidade enquanto instrumento de informaccedilatildeo para a tomada de

decisatildeo os cooperados ainda conseguem diagnosticar os efeitos da ausecircncia dessa

organizaccedilatildeo na entidade e a necessidade de apropriaccedilatildeo desse conhecimento como mostra um

trecho da entrevista de um dos cooperados

[] na verdade eu preciso aprender muito sobre isso aiacute Agora pela assembleacuteia pelo que eu vi sem documento na matildeo noacutes natildeo entende muito natildeo Noacutes tem trabalhado bastante eu acredito que

o nosso produto taacute barato Alguma coisa taacute errada na Coopram Porque noacutes trabalha de segunda a

saacutebado ningueacutem paacutera e hoje o saldo nosso eacute devedor Entatildeo noacutes precisamos corrigir o que taacute

acontecendo Cada um se empenhar mais [] noacutes tenta saber o segredo Mas noacutes soacute trabalha

trabalha Eacute aquilo que eu falei pra vocecirc noacutes precisamos de uma pessoa capacitada pra administrar

nossa Coopram Por que noacutes natildeo estamos conseguindo []

Essa fala reafirma o papel da contabilidade no processo de gestatildeo tambeacutem enfatizada por

Dias (1991) O autor salienta que numa administraccedilatildeo participativa em que os gestores

interferem em todo o processo de gestatildeo que vai desde o planejamento estrateacutegico ateacute a

execuccedilatildeo deve haver um sistema capaz de oferecer informaccedilotildees de todo o ciclo

operacional as quais abrangem informaccedilotildees do ambiente econocircmico previsotildees

orccedilamentaacuterias sistema de programaccedilatildeo sistema de apoio agrave gestatildeo de execuccedilatildeo ateacute a

89

apuraccedilatildeo de resultados e avaliaccedilatildeo de desempenho O sistema de informaccedilotildees deve ser

capaz de indicar tendecircncias futuras e permitir comparaccedilotildees com o passado aleacutem de

possibilitar a avaliaccedilatildeo de evoluccedilatildeo da organizaccedilatildeo e comparaccedilotildees com desempenhos

desejados

Ainda sobre o assunto na opiniatildeo de um especialista entrevistado a falta de domiacutenio e

utilizaccedilatildeo das teacutecnicas contaacutebeis eacute realidade nas fases iniciais de uma grande parte dos

empreendimentos da ES conforme mostra o quadro 8 e a fala do especialista da ES

[] no que tange a autogestatildeo ou seja o domiacutenio de todas as teacutecnicas de gestatildeo de

gerenciamento de composiccedilatildeo de custos satildeo lacunas que existem nos empreendimentos que no

decorrer do tempo eles vem a suprir seja por terceirizaccedilatildeo seja por aprendizado [] Numa

primeira fase eles natildeo utilizam numa segunda que jaacute eacute de um empreendimento mais consolidado

poderiacuteamos chamar ateacute de incubaccedilatildeo ou incubagem que esses empreendimentos tecircm que dotam

suas estruturas dos principais instrumentos necessaacuterios agrave gestatildeo e o desenvolvimento do

empreendimento entatildeo me parece que eles acabam solucionando estes problemas e acabam

consequumlentemente utilizando estas teacutecnicas em prol do desenvolvimento do empreendimento []

Na percepccedilatildeo de um dos especialistas os empreendimentos adquirem esses conhecimentos

impulsionados ateacute pela necessidade de sobrevivecircncia uma vez que eacute condiccedilatildeo para

alavancagem do empreendimento assim como o eacute para as empresas de uma forma geral Nas

palavras do especialista

[] acredito que aqueles empreendimentos que natildeo conseguem utilizar estas teacutecnicas eles tem

uma maior dificuldade de alcanccedilar um ponto de equiliacutebrio ou seja a viabilidade econocircmica

necessaacuteria as condiccedilotildees necessaacuterias de se manter no mercado [] Os que utilizam as teacutecnicas

tecircm maior facilidade pra passar essa fronteira da viabilidade econocircmica do empreendimento

econocircmico e consequumlentemente gerar uma renda que possibilite natildeo soacute a inclusatildeo social mas a

inclusatildeo econocircmica e consequumlentemente a tecnoloacutegica que eacute o que agrega valor a esses

empreendimentos

Na visatildeo dos contadores como mostra o quadro 8 a contabilidade tambeacutem eacute fundamental

para os empreendimentos Conforme fala de um representante

[] a contabilidade eacute fundamental acho assim ela eacute central [] ela serve pra fornecer

informaccedilotildees Ela eacute instrumento fundamental para fornecer informaccedilotildees Informaccedilatildeo gera duas

coisas pra mim que eu acho fundamental na Economia Solidaacuteria Autonomia e Confianccedila

Confianccedila no grupo no coletivo Entatildeo os trabalhadores soacute vatildeo ser autocircnomos nessa relaccedilatildeo

quando possuiacuterem autonomia e confianccedila entre eles Informaccedilatildeo eacute fundamental [] isso eacute

principal causa de uma seacuterie de problemas na Economia Solidaacuteria a falta de confianccedila e a falta de

autonomia por conta da falta de informaccedilatildeo []

Entretanto foi ressaltada uma certa aversatildeo que os trabalhadores e formadores tecircm em relaccedilatildeo

agrave contabilidade para os quais ela eacute associada a algo chato e a um controle burocraacutetico

90

desnecessaacuterio Segundo o contador essa visatildeo deve ser superada pela ES tendo em vista a

centralidade da contabilidade cujas informaccedilotildees satildeo base para outras aacutereas de atuaccedilatildeo no

empreendimento Em suas palavras

[] acho que a Economia Solidaacuteria tem certa aversatildeo a isso porque ela vincula a contabilidade ao

controle burocraacutetico O que eacute um equiacutevoco vincular isso Inclusive formadores de outra aacuterea

vincula esta questatildeo a algo chato Entatildeo os proacuteprios formadores natildeo assumiram isso como uma

questatildeo fundamental Entatildeo a pergunta eacute controle eacute bomMuita gente vincula controle com

desconfianccedila [] eacute preciso superar isso e a contabilidade eacute o principal instrumento Pode-se falar da questatildeo econocircmica questatildeo administrativa enfim de outras doutrinas mas todas elas vatildeo

precisar do instrumental da contabilidade [] administrativamente vocecirc pode propor qualquer

modelo fantaacutestico mas ele vai se basear em informaccedilotildees que o instrumental contaacutebil fornece

Dias (1991) no cap 3 tambeacutem preconizou esta limitaccedilatildeo da contabilidade e explica um dos

motivos da sua imagem ser destorcida Para ele a contabilidade produz relatoacuterios que natildeo

exprimem a realidade econocircmica da empresa prejudicando seus usuaacuterios internos e

externos pois preocupa prioritariamente com a legislaccedilatildeo fiscal fato que impotildee

procedimentos prejudiciais agrave utilizaccedilatildeo dos sistemas de informaccedilotildees contaacutebeis para fins

gerenciais

Um outro motivo que justifica a subutilizaccedilatildeo dos instrumentos contaacutebeis na percepccedilatildeo de

um contador eacute a natildeo apropriaccedilatildeo desses instrumentos pelos trabalhadores Esse fato acarreta

problemas ao empreendimento no futuro Tambeacutem ressalta a necessidade de mudanccedilas de

comportamento dos profissionais a fim de fornecer informaccedilotildees atualizadas e permanentes

buscando suprir a insuficiecircncia do Balanccedilo Patrimonial Em suas palavras

[] como eacute que eu crio instrumentos permanentes soacute se eu tiver uma contabilidade que me gere

informaccedilotildees atualizadas permanentemente Mas natildeo eacute normal isso Como eacute feita a contabilidade

normalmente Vocecirc junta toda a papelada do ano entrega pro profissional o profissional pega aquela papelada classifica de acordo com que ele acha normalmente ele natildeo discute [] e vai laacute e

faz um Balanccedilo Isso eacute insuficiente

Um dos caminhos para mudanccedila sugerido pelos contadores eacute a aquisiccedilatildeo da cultura dos

registros Eles devem possuir a cultura dos registros [] ter alguns controles miacutenimos que

ele passe para o contador que gere outras informaccedilotildees

Essas reflexotildees reforccedilam a demanda jaacute constatada anteriormente da necessidade de criaccedilatildeo de

novos instrumentos contaacutebeis que produzam informaccedilotildees permanentes e atualizadas e

acrescenta uma nova demanda uma mudanccedila comportamental dos contadores da ES

91

adotando uma postura que incentive a assimilaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil pelos proacuteprios

trabalhadores

454 Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Um dos princiacutepios fundamentais da Economia Solidaacuteria sugere a socializaccedilatildeo de todo o

conhecimento de gestatildeo em oposiccedilatildeo agrave tiacutepica empresa que resguarda esses conhecimentos

para o grupo da gerecircncia Baseado nesse princiacutepio essa dimensatildeo teve a intenccedilatildeo de

compreender e analisar as formas de transferecircncia do conhecimento contaacutebil e as eventuais

dificuldades enfrentadas pelo trabalhador no processo de apropriaccedilatildeo do conhecimento das

teacutecnicas contaacutebeis Nesse item tambeacutem se buscou captar elementos que norteiem uma

formaccedilatildeo desejada em contabilidade

Quadro 9 - Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Grupo Realidade Encontrada

( o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Dificuldade em decorrecircncia da linguagem Consciecircncia da necessidade de apropriaccedilatildeo

Especialistas

Didaacutetica de formaccedilatildeo natildeo proporciona

assimilaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil Linguagem de formaccedilatildeo natildeo acessiacutevel

Contadores

Natildeo apropriaccedilatildeo em funccedilatildeo de linguagem

estranha ao cotidiano dos trabalhadores Trabalhadores tecircm medo e posiccedilatildeo defensiva em

relaccedilatildeo agrave contabilidade Didaacutetica de formaccedilatildeo muitas vezes natildeo

apropriada Formaccedilatildeo paternalista

Formaccedilatildeo deve ser em

linguagem acessiacutevel aos

trabalhadores Formador deve ter didaacutetica

apropriada ao puacuteblico Utilizaccedilatildeo da educaccedilatildeo

popular na formaccedilatildeo dos

trabalhadores Formaccedilatildeo deve sensibilizar

para a importacircncia da

contabilidade Formaccedilatildeo deve ser

permanente Formaccedilatildeo deve ser

estruturada de forma crescente

O quadro 9 revela que os cooperados tecircm dificuldades para a assimilaccedilatildeo do conhecimento

contaacutebil mas como referido no item anterior tambeacutem tecircm consciecircncia de sua importacircncia e

utilidade conforme demonstra trecho da fala de um cooperado [] na verdade eu preciso

aprender muito sobre isso aiacute []

92

No entanto quando questionados sobre a participaccedilatildeo nos cursos de formaccedilatildeo em

contabilidade promovidos pela entidade de apoio apenas dois cooperados disseram que

participaram de algum Esses participantes relataram dificuldades em funccedilatildeo da linguagem

utilizada pelo formador Em relaccedilatildeo a futuros cursos de formaccedilatildeo os trabalhadores tambeacutem

ressaltaram a questatildeo da linguagem conforme trecho de uma entrevista

[] linguagem simples falando seacuterio Vocecirc jaacute pensou vem laacute o Sr Ney dar um curso aqui

falando de paradigma Sabe a gente ia ficar porque agraves vezes agente pergunta tem uns que natildeo

pergunta Entatildeo tinha que ser uma linguagem Por que olha o SEBRAE agraves vezes agente assiste

no domingo a linguagem laacute eacute simples de entender Olha a empresa taacute assim taacute dando esse lucro

Ela aplicou tanto Vocecirc capta a coisa Mas se vocecirc vem com um negoacutecio de faculdade bem

complicado acho que noacutes ia ficaacute boiando

Os especialistas entrevistados reafirmam a dificuldade de assimilaccedilatildeo da contabilidade por

parte dos trabalhadores No entanto atribuem essa dificuldade agrave didaacutetica empregada nos

cursos Conforme explica um deles a didaacutetica deve estar adequada agrave realidade social e grau

de instruccedilatildeo dos trabalhadores que natildeo eacute muito elevado A apropriaccedilatildeo que tecircm desses

conhecimentos seraacute tatildeo mais faacutecil se o formador procurar levar o conhecimento em uma

linguagem mais proacutexima agrave realidade social desses trabalhadores Nas suas palavras

[] pode ser uma questatildeo de didaacutetica Agraves vezes temas considerados difiacuteceis se tornam faacuteceis na

medida em que o formador tenha linguagem apropriada ao puacuteblico com o qual ele estaacute

trabalhando Se noacutes formos trabalhar com linguagem puramente teacutecnicas com estes trabalhadores

que muitas vezes tem uma formaccedilatildeo dentro da educaccedilatildeo formal passando apenas do limite da

alfabetizaccedilatildeo como eacute o caso da cooperativa de catadores como eacute o caso da populaccedilatildeo brasileira

em geral a resposta seria que eles tem bastante dificuldade []

Ressalta que o baixo grau de instruccedilatildeo dos trabalhadores da ES natildeo eacute impeditivo para a

assimilaccedilatildeo do conhecimento Para facilitar a assimilaccedilatildeo sugere a utilizaccedilatildeo de metodologias

de formaccedilatildeo apropriada ao puacuteblico como a Educaccedilatildeo Popular de Paulo Freire conforme

relatos

[] os trabalhadores da ES tem um grau de escolaridade muito baixo mas isso natildeo eacute impeditivo

para que eles aprendam Muitas vezes eles soacute natildeo aprenderam porque natildeo tiveram condiccedilotildees de

frequumlentar a educaccedilatildeo formal Agora natildeo necessariamente a educaccedilatildeo formal eacute preacute-requisito para o aprendizado de teacutecnicas apropriadas para a gestatildeo de um empreendimento[] [] a ES utiliza muito da educaccedilatildeo popular pra formaccedilatildeo dos trabalhadores pra transferecircncias de

conhecimento enfim pra essa linguagem de comunicaccedilatildeo e de extensatildeo que seja mais facilmente

assimilada por esse puacuteblico[]

93

Os contadores entrevistados tambeacutem compactuam com essa linha de raciociacutenio chamando a

atenccedilatildeo para a linguagem empregada Nas palavras de um deles[] os trabalhadores natildeo

apropriaram da linguagem contaacutebil porque natildeo faz parte do cotidiano deles O dia que

comeccedilar a fazer parte do cotidiano deles eles comeccedilam a se apropriar tambeacutem

Os contadores ressaltam que em decorrecircncia da sua baixa educaccedilatildeo formal e distacircncia de

linguagem tecircm medo da contabilidade assim como tecircm medo da matemaacutetica conforme

relata [] eles natildeo entendem porque nunca foi passado pra eles tambeacutem Entatildeo eles tecircm

dificuldade na verdade eles tecircm medo Tecircm medo porque associam contabilidade com conta

e com matemaacutetica [] ele eacute defensivo

Contribui para a natildeo apropriaccedilatildeo o legado da velha cultura ainda impregnada nos

trabalhadores na qual persiste a ideacuteia de segregaccedilatildeo entre pensar (administradores) e trabalhar

(trabalhadores) O trabalhador ainda natildeo se acha apto agrave gestatildeo que em sua visatildeo continua

sendo prerrogativa dos mais cultos Transcrevendo a fala do contador

[] os trabalhadores ainda natildeo consideram essa questatildeo da gestatildeo cuidar da gestatildeo contaacutebil

como trabalho Ele considera trabalho quando ele estaacute na beira da maacutequina isso eacute trabalho pra ele

A gestatildeo natildeo eacute trabalho Eacute perda de tempo [] Ele estaacute acostumado a separar estas atividades de

pensar e trabalhar Ele faz essa separaccedilatildeo[] entatildeo se falar pra ele olha tem que fazer um livro-caixa aproveitar estes dados e projetar o futuro satildeo raros os casos

Essa percepccedilatildeo da necessidade de mudanccedila cultural reafirma a visatildeo de Rattner (2005)

exposta no cap 2 o qual afirma que a ES exige a conscientizaccedilatildeo e o desenvolvimento de

princiacutepios eacuteticos e valores de compaixatildeo e solidariedade Para ele a ES natildeo pode ser um

produto do autoritarismo de uma administraccedilatildeo de uma soacute via de cima para baixo Ela exige

a participaccedilatildeo de todos para se tornarem cidadatildeos e assim sujeitos do processo histoacuterico

A partir dessas reflexotildees foram constatadas novas demandas agrave contabilidade no que se refere

agrave apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil Primeiro haacute premecircncia de uma didaacutetica para

transmissatildeo do conhecimento em contabilidade apropriada agrave realidade social dos

trabalhadores Segundo haacute necessidade de uma metodologia de formaccedilatildeo permanente em

contabilidade e gestatildeo que contribua para uma mudanccedila cultural dos cooperados

No que diz respeito agrave situaccedilatildeo desejaacutevel ou esperada os grupos levantam alguns elementos

Sugerem que ela seja iniciada pela sensibilizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a importacircncia da contabilidade a

94

ponto de os trabalhadores desejarem conhececirc-la e compreendecirc-la como instrumento de

autonomia Um outro aspecto da formaccedilatildeo levantada refere-se agrave graduaccedilatildeo segundo a qual

ela deve ser permanente e crescente que vaacute agregando informaccedilatildeo aos poucos aos

trabalhadores como num processo de alfabetizaccedilatildeo Eis os trechos de sua falas

[] primeiro mostrar que a contabilidade eacute importante como um instrumento de gestatildeo que gera

informaccedilatildeo gera informaccedilatildeo para quecirc[] pra tomar decisatildeo Quem toma decisatildeo satildeo eles Entatildeo

eles precisam ter informaccedilatildeo na matildeo para tomar decisatildeoEntatildeo eacute um curso indo nessa linha de

sensibilizaccedilatildeo[] Seria importante que os trabalhadores a enxergassem como um instrumento de autonomia e ousando como instrumento de autonomia e ateacute de libertaccedilatildeo [] eu natildeo concordo Jaacute vi outros colegas trabalhando com formaccedilatildeo O cara jaacute comeccedila falando da

contabilidade jaacute mostra o Balanccedilo ativo passivo Aiacute os caras comeccedilam a se olhar Daacute medo []

eacute como vocecirc natildeo passar pelo processo de alfabetizaccedilatildeo com as crianccedilas e jaacute desse um livro pra ela

ler[] tambeacutem natildeo daacute pra ser paternalista Dar um livro ilustrado Vocecirc ficar educando soacute por

imagem [] [] deve ser uma formaccedilatildeo permanente E ela tem que ser crescente tambeacutem Ela tem que estar

estruturada em que vocecirc comece com os fundamentos e vocecirc vaacute agregando informaccedilotildees agravequeles

fundamentos[]

455 Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Conforme bibliografia pesquisada as aacutereas teacutecnicas tecircm dificuldades de perceber a

especificidade da autogestatildeo Nessa perspectiva foi analisada a relaccedilatildeo dos usuaacuterios dos

empreendimentos autogestionaacuterios com os profissionais da aacuterea contaacutebil Em outras palavras

pretendeu-se compreender o envolvimento do contabilista com a autogestatildeo Por outro lado

tambeacutem se procurou captar elementos que norteiem agrave construccedilatildeo da relaccedilatildeo ideal entre os

contadores e os trabalhadores da ES

95

Quadro 10 - Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Grupo Realidade Encontrada

(o que eacute)

Realidade Esperada

(o que deveria ser)

Cooperados

Abismo na relaccedilatildeo

Especialistas

Tema relativamente novo Dificuldade de arregimentar

contabilistas agrave ES Inserccedilatildeo da aacuterea contaacutebil ainda

eacute baixa Dificuldade dos contadores em

assimilar sistemaacutetica diferente

da empresa capitalista Formaccedilatildeo natildeo prepara para

atendimento de sociedade de pessoas

Pouco especializaccedilatildeo de

profissionais na aacuterea Formaccedilatildeo acadecircmica natildeo

voltada para divulgaccedilatildeo

pesquisa e reflexatildeo do tema Produccedilatildeo de saberes para a

classe trabalhadora na universidade brasileira eacute

recente

Contadores

Contador natildeo tem costume de

fornecer informaccedilotildees para o

coletivo Contador prefere atender o

fisco Contador tem viacutecios de

formaccedilatildeo Evitar relaccedilatildeo paternalista Formaccedilatildeo voltada para SAs Curriacuteculos de contabilidade

natildeo abertos a novas

tecnologias

Contador deve ser um profissional orgacircnico

engajado nos processos econocircmicos do

empreendimento Qualidades e habilidades que um contador de ES

deve possuir

Conhecer as teacutecnicas Saber resolver problemas Saber transferir conhecimento Ter sensibilidade Saber sensibilizar Saber dialogar Ser um comunicador Ter uma linguagem apropriada aos

trabalhadores Paciecircncia para ensinar Habilidade para simplificar Disposiccedilatildeo para criar Disposiccedilatildeo a ouvir discutir e aprender

Uma Formaccedilatildeo acadecircmica Que tenha envolvimento com a sociedade Que busque perguntas para pesquisa na

sociedade Problematize reflita sobre o tema Que o curriacuteculo seja baseado na realidade

brasileira

A partir das entrevistas observou-se a distacircncia entre os contadores e os trabalhadores O

profissional da contabilidade ainda exerce seu trabalho de uma forma tradicional sem

compreender muito a especificidade de um empreendimento da ES em consequumlecircncia natildeo haacute

uma maior aproximaccedilatildeo do contador com os cooperados da entidade Isso ficou patente nos

relatos dos cooperados entrevistados que em sua maioria natildeo abordavam o contador para

pedir esclarecimentos sobre a contabilidade Alguns argumentaram falta de tempo outros

falta de interesse

96

Entretanto quando questionados sobre o perfil que um contador da ES deveria possuir

destacaram qualidades como paciecircncia adoccedilatildeo de linguagem simples habilidade para

simplificar conforme trechos a seguir

[] eu lembro quando trabalhava laacute no Liceu eu nem tinha interesse em saber as financcedilas do

patratildeo Eu queria o meu trabalhar direitinho e o meu Aqui natildeo a gente se envolve Entatildeo a gente

tem aquela vontade de querer saber como estatildeo as coisas Entatildeo chega um contador que talvez taacute

acostumado a lidar soacute com outras pessoas talvez pense que agente natildeo tem interesse Talvez

agente natildeo tem a habilidade de captar as coisas Mas a gente aqui eacute todo mundo curioso em saber

como anda a empresa Precisa uma paciecircncia com a gente maior Entatildeo um cara que jaacute participou

de alguma cooperativa Que eacute diferente a coisa [] precisa ser mais paciente e ter uma habilidade de simplificar De pocircr as coisas mais simples

pra gente sabe Eu imagino se tivesse um jeito Se chega um de gravata no pescoccedilo soacute falando

coisa difiacutecil natildeo adianta muito Simplicidade neacute Acho que o importante aqui a instruccedilatildeo da

gente natildeo eacute tatildeo grande Entatildeo tem esse abismo Natildeo adianta uma pessoa bem culta e natildeo saber

lidar com agente [] [] ele podia esclarecer mais Porque vai ter que prestar conta por exemplo se for prestar o relatoacuterio pra todo o pessoal da faacutebrica Vai ter que ser uma pessoa que tem habilidade pra

demonstrar com mais simplicidade Relatoacuterios mais simples pra todo mundo entender e ver

realmente o que estaacute acontecendo[]

Na visatildeo dos especialistas o setor de contabilidade eacute uma lacuna para os empreendimentos

Por se tratar de um tema recente haacute uma dificuldade de arregimentar profissionais das aacutereas

teacutecnicas para a ES conforme relata um de seus representantes

[] de uma maneira geral o setor de contabilidade eacute uma carecircncia para os empreendimentos A ES ela eacute bastante recente embora tenha jaacute em torno de 15 a 20 anos no paiacutes enquanto tema

reconhecido mas algumas aacutereas do conhecimento se tem maior facilidade de arregimentaccedilatildeo

teacutecnica e outras um pouco mais de dificuldade A aacuterea da contabilidade e a aacuterea do direito satildeo

aacutereas com as quais natildeo se tem muito contato institucional [] alguns profissionais acabam natildeo conhecendo natildeo se especializando nessa demanda em

especiacutefico o que faz com que o mercado tenha pouquiacutessimos profissionais que conhecem de contabilidade de cooperativa [] [] o envolvimento dos profissionais estaacute muito aqueacutem da necessidade [] eu vejo que os

profissionais da contabilidade talvez a conjuntura toda a proacutepria formaccedilatildeo acadecircmica ela natildeo estaacute

voltada para a divulgaccedilatildeo pra pesquisa e reflexatildeo do tema do cooperativismo []

Para um especialista a ES tem uma natureza diferente das empresas lucrativas e daquelas sem

fins lucrativos isso justifica em parte a dificuldade de envolvimento dos contadores com a

ES uma vez que natildeo estatildeo acostumados a lidar com entidades de sistemaacuteticas diferentes da

empresa de capital conforme explica um especialista

[] no sentido latu os contadores tecircm dificuldades de trabalhar com as cooperativas que tem uma sistemaacutetica totalmente diferente das empresas de capital Na verdade a expressatildeo sem finalidade

97

lucrativa ou sem fins lucrativos de uma sociedade de pessoa coloca uma cooperativa entre uma sociedade de capital e uma sociedade civil sem fins lucrativos ou seja uma associaccedilatildeo Entatildeo o

que difere dos dois eacute que na cooperativa haacute um hiacutebrido entre a sociedade civil e uma associaccedilatildeo

mercantil[] [] que eacute uma contabilidade diferenciada das sociedades de capital natildeo tenho duacutevida O que me

faz pensar eacute como faremos para arregimentar profissionais que se especializem nessa aacuterea e que

possam trabalhar em todo esse ciacuterculo nesse entendimento do que eacute a ES e que conheccedilam natildeo soacute

as suas teacutecnicas de contabilidade mas a melhor forma de passar esse conhecimento pelos trabalhadores[]

Essa perspectiva se alinha agrave percepccedilatildeo da ANTEAG (2005) relatada no cap 1 sobre a

dificuldade de envolvimento dos contadores com a ES Para a ANTEAG o problema estaacute

vinculado agrave inovaccedilatildeo que a autogestatildeo representa e agrave formaccedilatildeo dos profissionais que ainda

estaacute centrada em empresas tradicionais seguindo as regras convencionais do mercado

consequumlentemente os profissionais terceirizados das aacutereas teacutecnicas como contabilidade e

direito desconhecem as condiccedilotildees diferenciais da autogestatildeo

Para acompanhar essa sistemaacutetica diferenciada da ES satildeo sugeridos pelos entrevistados uma

nova postura do contador um contador engajado que acompanhe os processos econocircmicos

do empreendimento conforme ressaltam

[] o que se chama de lucro na sociedade de capital se transforma em sobra na cooperativa Esse lucro na sociedade de capital pode ser distribuiacutedo mecircs a mecircs jaacute na cooperativa eacute soacute no Balanccedilo no

final do exerciacutecio financeiro Essa loacutegica de atuaccedilatildeo de certa forma requer um profissional orgacircnico trabalhando com os empreendimentos ou seja um contador ele precisa acompanhar os

processos econocircmicos do empreendimento durante um ano pra poder realizar o Balanccedilo do

empreendimento

Todo esse panorama remete a discussatildeo sobre a formaccedilatildeo do contador que natildeo o prepara para

o atendimento de sociedade de pessoas do tipo das cooperativas Nas palavras de um

especialista

[] o que se discute eacute qual a contabilidade ou visatildeo de contabilidade necessaacuteria para o

cooperativismo [] porque nem todos os contadores tecircm uma formaccedilatildeo apropriada para o

atendimento de uma sociedade que embora econocircmica de pessoas Noacutes temos grande demanda

empresarial para sociedades de capital de uns tempos pra caacute eacute que a sociedade de pessoas

entraram dentro da oacuterbita econocircmica em maior escala [] as edificaccedilotildees de gestatildeo e estas que entram em temas novos e o tema das cooperativas de

trabalho para o Brasil eacute relativamente novo ainda temos carecircncia de profissionais e temos

necessidade de produccedilatildeo acadecircmica teacutecnica cientiacutefica acerca destes temas portanto a inserccedilatildeo

ainda eacute muito baixa [] [] a universidade brasileira ela por muito tempo esteve isolada da sociedade ou seja se constituiacutea num centro hermeacutetico onde se faz pesquisa onde se faz ensino e eventualmente se faz extensatildeo Mas uma grande caracteriacutestica da universidade mesmo naquelas que faz extensatildeo

sempre foi e isso natildeo eacute opiniatildeo produzir conhecimento pra classe dominante Eacute uma questatildeo

ideoloacutegica e o Estado brasileiro natildeo eacute diferente disso Entatildeo as proacuteprias pesquisas mais facilmente

98

financiaacuteveis satildeo aquelas pesquisas voltadas ao desenvolvimento de tecnologia para o capital []

ateacute pouco tempo atraacutes natildeo se via a universidade brasileira voltada a produzir saberes para a classe trabalhadora [] precisa ter contato com a sociedade [] onde noacutes buscamos o conhecimento Noacutes buscamos o

conhecimento exclusivamente dentro dos muros da universidade Ou temos que ter a coragem de ir a sociedade e ver quais satildeo as grandes perguntas que a sociedade faz e que o universo do saber a universidade deve responder ou seja quem eacute que deteacutem o poder aiacute se entra numa questatildeo de

novo de ideologia de priorizar a atuaccedilatildeo acadecircmica eacute a sociedade ou os quadros acadecircmicos que

atribuem um grau de importacircncia agraves perguntas que devem ser respondidas

[] pouquiacutessima problematizaccedilatildeo pouquiacutessima reflexatildeo e consequumlentemente pouquiacutessima

produccedilatildeo acerca desses temas

Na visatildeo dos contadores entrevistados o problema tambeacutem passa pelo tipo de sociedade que o

contador estaacute acostumado a lidar e pela sua postura tradicional de fazer contabilidade para

atender ao fisco Nas palavras de um contador

[] os contadores estatildeo acostumados a dar informaccedilatildeo pra pessoa eles natildeo estatildeo acostumados a partilhar informaccedilatildeo a dar informaccedilatildeo para um coletivo Entatildeo satildeo poucos contadores que tem

praacutetica de dar informaccedilatildeo para um coletivo [] [] o profissional vai naquele b-a-baacute O contador prefere atender o fisco A prioridade pra ele eacute

atender o fisco Ele natildeo estaacute preocupado com as outras questotildees normalmente Ele ainda eacute um

tarefeiro

Na entrevista um contador alerta para a relaccedilatildeo de dependecircncia que pode haver entre

contador e trabalhadores da ES [] na ES vocecirc pode criar uma relaccedilatildeo de dependecircncia

vocecirc pode criar uma relaccedilatildeo paternalista com eles Entatildeo isso deve ser evitado [] Tambeacutem

aponta a formaccedilatildeo como um dos fatores responsaacuteveis por essa postura dos contadores e indica

elementos para uma nova formaccedilatildeo

[] ele vem formado pra trabalhar em empresa capitalista entatildeo pra trabalhar na ES como sou

cristatildeo ele vai ter que se converter e reconhecer que ele tem viacutecios de formaccedilatildeo [] [] acho que tem que ter um outro curriacuteculo com a realidade do Brasil As universidades do paiacutes

prepara como se todos os contadores fossem trabalhar em uma SA O mercado brasileiro primeiro tem poucas empresas sa [] ele natildeo eacute formado pra trabalhar com pequena empresa ele

natildeo eacute formado pra trabalhar com entidades sociais ele natildeo eacute formado pra trabalhar com cooperativas e muito menos com Economia Solidaacuteria [] [] o que eacute moderno O que eacute tecnoloacutegico Eacute trabalhar com as grandes empresas E natildeo eacute

verdade Eu natildeo concordo com isso[] novas tecnologias vocecirc cria em pequenos negoacutecios vocecirc

cria em experiecircncias associativas diferenciadas como consoacutercios de empresas como redes novas e

experiecircncias de outros modelos e na Economia Solidaacuteria Entatildeo os curriacuteculos de contabilidade

natildeo estatildeo abertos para estas questotildees de novas tecnologias []

No que tange ao perfil desejado ou esperado do contador a fim de se estabelecer uma boa

relaccedilatildeo entre contador e trabalhadores da ES os entrevistados destacaram habilidades como

99

conhecer as teacutecnicas saber resolver problemas saber transferir conhecimento ter

sensibilidade saber sensibilizar saber dialogar ser um comunicador ter uma linguagem

apropriada aos trabalhadores disposiccedilatildeo para criar disposiccedilatildeo para ouvir discutir e

aprender Eis alguns trechos das entrevistas

[] ele tem que ao mesmo tempo que saber resolver os problemas ele tecircm que tambeacutem serem

repassadores de conhecimento eles tecircm que trabalhar com formaccedilatildeo de formadoresEles Tecircm que

ensinar para que estes dirigentes dos empreendimentos natildeo soacute absorvam estes conhecimentos como eles saibam replicar os conhecimentos obtidos[] [] ter sensibilidade capacidade de sensibilizar e de dialogar natildeo soacute sendo um extensionista mas

ser um comunicador Ou seja ele natildeo vai estender o conhecimento dele mas ele vai dialogar para ser entendimento por esses trabalhadores Por uma simples razatildeo satildeo trabalhadores excluiacutedos satildeo

trabalhadores que natildeo tem em princiacutepio capacidade de entender sozinhos o empreendimento

econocircmico [] entatildeo eacute preciso uma didaacutetica especial de relacionamento com esses trabalhadores porque natildeo se consegue trabalhar com foacutermulas com esse puacuteblico [] conseguir ser percebido e entendido por esses trabalhadores Porque agraves vezes natildeo basta ter

conhecimento eacute preciso passaacute-lo e no caso dessa populaccedilatildeo eacute preciso ter uma linguagem adequada

para que se tenha o respeito e consequumlentemente a apreensatildeo por esses trabalhadores no seu

negoacutecio[] [] alguns termos que eles usam na cooperativa eu tambeacutem natildeo sei Da atividade econocircmica tem

questotildees pra qualquer contador montar um plano de contas vocecirc tem que descer vocecirc tem que

conhecer o processo inteiro da produccedilatildeo industrializaccedilatildeo pra colocar as coisas certas [] ele natildeo pode pegar os manuais que ele tem e querer adaptar E o que eu vejo por aiacute satildeo

adaptaccedilotildees E nem tudo daacute pra adaptar Ele tem que ter disposiccedilatildeo pra criar instrumentos novos [] tem que aprender a ouvir discutir estar disposto a aprender a ES () Eacute uma relaccedilatildeo quando

vocecirc vai pra laacute vocecirc tem que estar disposto a aprender tambeacutem Vocecirc vai aprender com os

trabalhadores

Sintetizando as demandas apontadas nesse toacutepico podem ser agrupadas em dois pontos

mudanccedilas na formaccedilatildeo do contador e desenvolvimento de habilidades para o trabalho com os

empreendimentos autogestionaacuterios

456 Legislaccedilatildeo contaacutebil

Os autores citados no cap 2 e 3 argumentam que a legislaccedilatildeo ainda natildeo capta a

especificidade da autogestatildeo Isso se aplica agrave forma de registro dos eventos econocircmico-

financeiros agraves demonstraccedilotildees contaacutebeis e tambeacutem agrave constituiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo dessas

entidades Para avaliar esse conjunto foi necessaacuterio tambeacutem analisar a legislaccedilatildeo

cooperativista e natildeo soacute a legislaccedilatildeo contaacutebil para o cooperativismo tendo em vista que as

100

duas legislaccedilotildees estatildeo bastante associadas Dessa forma essa dimensatildeo analisou a pertinecircncia

dessas legislaccedilotildees agrave realidade e necessidade da ES

Quadro 11- Legislaccedilatildeo contaacutebil

Grupo Realidade Encontrada

(o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Natildeo questionado

Especialistas

Legislaccedilatildeo atrasada e natildeo adequada agrave

realidade brasileira Dificuldade de compreensatildeo do conceito e

operacionalizaccedilatildeo do ato cooperativo e

consequumlentemente a tributaccedilatildeo nas

cooperativas Marco juriacutedico das cooperativas ainda

vinculado agraves cooperativas de produtores

rurais Dificuldade de mensurar participaccedilatildeo do

trabalho Dificuldades dos profissionais com a

legislaccedilatildeo Insuficiecircncia de produccedilatildeo cientiacutefica nessa

aacuterea

Contadores

Legislaccedilatildeo inadequada Legislaccedilatildeo trata desiguais como iguais (grande e pequeno empreendimento)

Tratamento diferenciado entre

grandes e pequenos empreendimentos

Legislaccedilatildeo diferenciada para

cooperativas de trabalho Legislaccedilatildeo apropriada para a

Economia Solidaacuteria Formaccedilatildeo de contadores na aacuterea

de cooperativismo e ES

O quadro 11 mostra a visatildeo dos especialistas sobre a legislaccedilatildeo cooperativista para os quais

ela eacute inadequada uma vez que natildeo contempla plenamente as cooperativas de trabalho que

constituem uma grande parte dos empreendimentos de ES Um especialista explica

[] a legislaccedilatildeo cooperativista natildeo eacute adequada O cooperativismo brasileiro em atraso em relaccedilatildeo

ao cooperativismo do resto do mundo O marco brasileiro estaacute muito vinculado agraves cooperativas de

produtores Entatildeo o cooperativismo brasileiro se ressente de uma maior inserccedilatildeo do

cooperativismo de trabalho [] cooperativismo de trabalho brasileiro eacute constituiacutedo nos marcos da

lei vigente mas eacute tratado da mesma forma esse eacute o ressentimento que as cooperativas de produccedilatildeo

agriacutecola possui e as dinacircmicas de estruturaccedilatildeo e de funcionamento dessas cooperativas de trabalho

satildeo totalmente diferentes O cooperativismo de trabalho eacute a reuniatildeo de pessoas aiacute natildeo eacute uma reuniatildeo de meios de produccedilatildeo ou de produtores mas eacute de pessoas com o objetivo de gerar

trabalho e renda a partir de suas estruturas a partir de seus mecanismos de funcionamento e ateacute

mesmo de suas estruturas produtivas []

101

Esse ponto de vista coincide com os autores revisados no cap 2 Tauile (2005) tambeacutem

argumenta que o marco legal natildeo eacute adequado agrave sociedade de pessoas pois contempla somente

as sociedades de capital

Outra questatildeo levantada diz respeito agrave dificuldade de compreensatildeo do conceito e

operacionalizaccedilatildeo do ato cooperativo o que dificulta sobremaneira a execuccedilatildeo da tributaccedilatildeo

nas cooperativas conforme relata um especialista

[] essa eacute uma grande dificuldade que se tem de entender essa questatildeo do ato cooperativo

Tecnicamente eacute faacutecil de entender tecnicamente se caracteriza por aquelas operaccedilotildees realizadas

entre associados de mesmo empreendimento ou entre empreendimentos cooperativos associados Agora levar isso pra praacutetica e ver tributariamente o que isso significa o ato cooperativo noacutes

precisariacuteamos natildeo soacute de um grande debate ou vaacuterias horas de reflexatildeo pra saber o que realmente eacute

tributaacutevel o que eacute passiacutevel ou natildeo de tributaccedilatildeo no que diz respeito ao ato cooperativo que acabou

se tornando ateacute mesmo uma letra morta [] a gente tem grande dificuldade de fazer essa letra essa lei valer Porque haacute grandes confusotildees dentro do mundo juriacutedico sobre qual o entendimento que se

tem jaacute consolidado dentro dos tribunais sobre o que eacute o ato cooperativo e qual eacute sua aacuterea de

incidecircncia []

Tambeacutem foi evidenciada a dificuldade de mensuraccedilatildeo da participaccedilatildeo de cada trabalhador

por ocasiatildeo da distribuiccedilatildeo das sobras Diante do contexto de indecisotildees da ordem juriacutedica eacute

justificada em parte a dificuldade dos contadores de conhecimento da legislaccedilatildeo Eis as falas

do especialista

[] a legislaccedilatildeo fala que as sobras seratildeo rateadas ou divididas ou aplicadas de acordo com a

participaccedilatildeo dos associados na cooperativa e por participaccedilatildeo do trabalho eacute difiacutecil de mesurar o

que torna um empreendimento urbano ou de Economia Solidaacuteria ou uma cooperativa de trabalho

no sentido especiacutefico mas faacutecil de avaliar pela participaccedilatildeo proporcional agraves operaccedilotildees

relativamente ao nuacutemero de horas que o trabalhador esteve no empreendimento natildeo soacute sua

produtividade em si [] [] diante das indecisotildees da ordem juriacutedica aliado a outros fatores [] de uma maneira geral haacute

uma dificuldade lato sensu em relaccedilatildeo ao conhecimento mas natildeo se trata apenas de conhecimento

mas se trata simplesmente de indecisotildees da ordem juriacutedica em relaccedilatildeo ao que significa o

cooperativismo brasileiro e quais satildeo seus principais eixos de atuaccedilatildeo ou seja se agente natildeo

consegue nem identificar conceito e operacionalidade de ato cooperativo eacute um grande indicador

de que a estrutura juriacutedica brasileira natildeo estaacute adequada a ES

Jaacute na visatildeo dos contadores a legislaccedilatildeo natildeo eacute adequada porque natildeo faz diferenciaccedilatildeo entre

pequenos e grandes empreendimentos no que diz respeito agrave legalizaccedilatildeo e tributaccedilatildeo eacute o que

revela trecho da entrevista de um contador

[] eacute evidente que natildeo eacute adequada pela seguinte questatildeo Trata os desiguais como iguais Entatildeo o

que significa isso Tratando-se especificamente de cooperativa eu monto uma cooperativa com 20 mulheres costureiras ela vai ter o mesmo tratamento legal que uma grande cooperativa que pode contratar profissionais Entatildeo haacute um tratamento desigual

102

Entretanto salienta que natildeo se trata de eliminar obrigaccedilotildees legais no que diz respeito agrave

apresentaccedilatildeo de documentos trata-se de simplificar para favorecer conforme argumenta

[] eu jaacute vi gente defendendo pra simplificar para que natildeo tenha que fazer Balanccedilo Eu acho um

grande equiacutevoco A gente tem que simplificar pra melhorar as condiccedilotildees de competiccedilatildeo

econocircmica de inserccedilatildeo econocircmica em relaccedilatildeo aos empreendimentos tem que favorecer

simplificar() Tem que haver um tratamento diferenciado mas natildeo vincular a questatildeo essa questatildeo

contaacutebil das obrigaccedilotildees que satildeo cobradas pela legislaccedilatildeo eliminar a possibilidade de ter uma

contabilidade que atenda aos trabalhadores daquele empreendimento []

Nesse contexto de discussatildeo sobre a legislaccedilatildeo contaacutebil ressaltam-se algumas demandas

Primeiramente haacute necessidade de definiccedilatildeo de um novo marco legal apropriado agrave realidade

dos empreendimentos autogestionaacuterios que regulamente a criaccedilatildeo funcionamento e extinccedilatildeo

desses empreendimentos A segunda diz respeito agrave adequaccedilatildeo da legislaccedilatildeo contaacutebil agrave nova

formataccedilatildeo juriacutedica na qual o reconhecimento da peculiaridade dos empreendimentos se

reflita na instituiccedilatildeo de novos instrumentos de informaccedilatildeo sistemaacuteticas diferenciadas de

mensuraccedilatildeo e registros dos eventos econocircmicos e sociais novas orientaccedilotildees para a

tributaccedilatildeo

As evidecircncias indicaram que em geral as demandas e desafios captados pela pesquisa em

cada aspecto da dimensatildeo contaacutebil se aproximam daquelas levantadas pelos autores

pesquisados Em alguns aspectos a coincidecircncia eacute visiacutevel em outros o trabalho de campo

acrescentou novas demandas Entretanto satildeo necessaacuterias pesquisas mais aprofundadas

mediante as quais seja possiacutevel identificar novos aspectos da dimensatildeo contaacutebil natildeo incluiacutedos

neste trabalho Por outro lado houveram acreacutescimos no inventaacuterio de elementos construtivos

de uma nova relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo mas ainda satildeo insuficientes carecendo de

novas pesquisas sobre o assunto

103

CONCLUSAtildeO

Agrave luz dos marcos conceituais partiu-se do pressuposto da peculiaridade da ES e autogestatildeo

tendo em vista a dupla natureza dos seus empreendimentos econocircmica e social

Consequumlentemente desde o iniacutecio concebeu-se esses empreendimentos como um novo grupo

de usuaacuterios e como tal remete demandas especiacuteficas agrave contabilidade

Seguindo a mesma orientaccedilatildeo das pesquisas realizadas anteriormente sobre a relaccedilatildeo

contabilidade e autogestatildeo buscou-se atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica compreender e

analisar a dimensatildeo contaacutebil nos processos de autogestatildeo dos empreendimentos solidaacuterios

levantando seus desafios e demandas contaacutebeis suscitadas nesse processo

Os resultados obtidos confirmaram em grande parte as constataccedilotildees realizadas pelos

precursores desse campo de pesquisa Por outro lado acrescentam novas informaccedilotildees que

contribuem agrave compreensatildeo dos vaacuterios aspectos da dimensatildeo contaacutebil no processo de

autogestatildeo Em cada aspecto analisado denotou-se uma distacircncia entre as duas realidades a

encontrada e a esperada reafirmando a premecircncia de um ajustamento da aacuterea contaacutebil agraves

reais necessidades dos empreendimentos solidaacuterios no que se refere a forma de comunicaccedilatildeo

conteuacutedo da informaccedilatildeo utilidade da informaccedilatildeo apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo relaccedilatildeo

contador-usuaacuterio e legislaccedilatildeo contaacutebil A realidade demandas e desafios de cada aspecto satildeo

sintetizados a seguir

1- Forma de comunicaccedilatildeo As evidecircncias demonstraram a subutilizaccedilatildeo das ferramentas contaacutebeis motivadas por

diversos fatores Normalmente apenas o Balanccedilo e DRE satildeo confeccionados na entidade Na

visatildeo de grande parte dos entrevistados esses instrumentos satildeo episoacutedicos e natildeo

proporcionam o monitoramento e avaliaccedilatildeo da gestatildeo Dessa forma percebem-se duas

grandes demandas a primeira eacute a utilizaccedilatildeo dos instrumentos disponiacuteveis de auxiacutelio agrave gestatildeo e

a outra pede a criaccedilatildeo de novos instrumentos de informaccedilatildeo apropriados agrave dinacircmica

econocircmica e social dos empreendimentos autogestionaacuterios

2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

Constatou-se que os cooperados tecircm dificuldades de compreender o conteuacutedo das

demonstraccedilotildees contaacutebeis Um dos principais responsaacuteveis por essa realidade eacute a linguagem

104

teacutecnica e codificada adotada pelos relatoacuterios incompatiacutevel com o niacutevel de educaccedilatildeo formal

dos trabalhadores e com a sua insuficiente familiaridade com a linguagem de negoacutecios

Portanto uma demanda premente da ES eacute uma linguagem apropriada agrave realidade social dos

trabalhadores a fim de que a contabilidade se torne acessiacutevel e compreensiacutevel a eles

3- Utilidade da informaccedilatildeo

Percebeu-se que apesar da subutilizaccedilatildeo dos instrumentos contaacutebeis no processo decisoacuterio os

trabalhadores reconhecem a necessidade do emprego da informaccedilatildeo contaacutebil em todo o

processo de gestatildeo Para tanto faz-se necessaacuteria a apropriaccedilatildeo desse conhecimento por parte

dos trabalhadores ao mesmo tempo em que tambeacutem se reforccedila a necessidade de novos

instrumentos apropriados agrave autogestatildeo Outra demanda associada diz respeito agrave mudanccedila de

postura dos contadores e formadores na qual se estimule o uso da contabilidade

conscientizando os trabalhadores sobre sua importacircncia

4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Nesse aspecto foram evidenciados os desafios agrave apropriaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil pelos

proacuteprios trabalhadores Em geral a apropriaccedilatildeo se daacute por meio de cursos de formaccedilatildeo

Entretanto esses cursos nem sempre atingem seus objetivos devido agrave implementaccedilatildeo de

didaacutetica e linguagem natildeo apropriada ao puacuteblico Portanto levantou-se a necessidade de uma

formaccedilatildeo permanente cuja linguagem e didaacutetica seja adequada agrave realidade dos trabalhadores

e propicie uma mudanccedila de comportamento no que se refere agrave gestatildeo

5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Foi detectada a existecircncia de uma abismo na relaccedilatildeo do contador com os trabalhadores da ES

O profissional da contabilidade ainda atua de forma tradicional prestando assessoria aos

empreendimentos quando seria necessaacuteria uma atuaccedilatildeo que privilegiasse a apropriaccedilatildeo do

conhecimento pelos proacuteprios trabalhadores Um dos fatores que explicam essa realidade eacute a

formaccedilatildeo do contador que ainda eacute voltada para atuaccedilatildeo em grandes empresas e natildeo desperta

para o desenvolvimento da sensibilidade social e natildeo capacita para a gestatildeo de empresas

sociais Isto tambeacutem explica em parte o baixo nuacutemero de contadores especializados em

cooperativismo ou empreendimentos autogestionaacuterios Numa nova perspectiva de atuaccedilatildeo o

contador assumiria outro papel o de facilitador do conhecimento( formador) Dessa forma as

demandas levantadas centram-se no desenvolvimento de novas habilidades do contador

consequumlentemente isso acarreta a demanda de uma nova formaccedilatildeo acadecircmica

105

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

A realidade mostrou uma seacuterie de incertezas e equiacutevocos da ordem juriacutedica no que se refere

aos empreendimentos autogestionaacuterios Primeiramente haacute necessidade de definiccedilatildeo de um

novo marco legal apropriado agrave realidade dos empreendimentos autogestionaacuterios que

regulamente a criaccedilatildeo funcionamento e extinccedilatildeo desses empreendimentos Na sequumlecircncia

tambeacutem urge a adequaccedilatildeo da legislaccedilatildeo contaacutebil agrave nova formataccedilatildeo juriacutedica na qual o

reconhecimento da peculiaridade dos empreendimentos se reflita na normatizaccedilatildeo de novos

instrumentos de informaccedilatildeo sistemaacuteticas diferenciadas de mensuraccedilatildeo e registros dos eventos

econocircmicos e sociais e novas bases para a tributaccedilatildeo

Esses pontos levantados confirmam em certa medida as constataccedilotildees feitas por autores

citados na pesquisa bibliograacutefica os quais tambeacutem identificaram as demandas desse novo

usuaacuterio da contabilidade a exemplo de Almeida e Dantas (2005 p09) que sistematizaram as

demandas a partir de trecircs eixos novos modelos de informaccedilotildees novo perfil de contador e

nova formaccedilatildeo conforme visto no cap 3

Por outro lado a investigaccedilatildeo empiacuterica como jaacute referido tambeacutem contribuiu para o

levantamento de elementos ou pistas para a reduccedilatildeo da distacircncia entre as reais necessidades

dos empreendimentos e o aparato da contabilidade para seu atendimento Com base nessas

evidecircncias empiacutericas e na bibliografia pesquisada evidenciaram-se os seguintes elementos

A nova linguagem deveria ser simples e objetiva buscando a aproximaccedilatildeo da

linguagem contaacutebil agrave linguagem coloquial dos trabalhadores Assim ela seria acessiacutevel

e apropriada agrave sua realidade social

Os novos instrumentos de informaccedilatildeo contaacutebil deveriam satisfazer plenamente as

reais necessidades de informaccedilatildeo dos empreendimentos expressando a dinacircmica e

complexidade da autogestatildeo Deveriam tambeacutem propiciar informaccedilotildees permanentes

que permitam o monitoramento e avaliaccedilatildeo da execuccedilatildeo das accedilotildees planejadas

coletivamente Nessa reflexatildeo vale a pena resgatar os elementos apontados pelos

autores Almeida e Dantas (2005) no cap 3 agrave construccedilatildeo de novos instrumentos Para

os autores eacute necessaacuterio aprofundar-se em pesquisas de novos procedimentos contaacutebeis e

refletir sobre a possibilidade de adaptaccedilatildeo de alguns procedimentos e sistemas contaacutebeis

106

alternativos dentre os quais a Contabilidade por Fundos Contabilidade Orccedilamentaacuteria e

a Mensuraccedilatildeo do Resultado Econocircmico

Uma nova atuaccedilatildeo dos profissionais da aacuterea contaacutebil deveria ser pautada em duas

frentes pesquisa praacutetica (para resoluccedilatildeo de problemas) e na transmissatildeo do

conhecimento (formaccedilatildeo) Isso requer o desenvolvimento de novas qualidades e

habilidades ou seja um novo perfil dos contadores Algumas caracteriacutesticas desse novo

contador conhecer as teacutecnicas saber resolver problemas saber transferir conhecimento

ter sensibilidade saber sensibilizar saber dialogar ser um comunicador usar uma

linguagem apropriada aos trabalhadores paciecircncia para ensinar habilidade para

simplificar disposiccedilatildeo e capacidade para criar disposiccedilatildeo para ouvir discutir e

aprender Essas caracteriacutesticas somam-se agravequelas levantadas por autores no cap3 No

que tange agrave formaccedilatildeo dos trabalhadores em contabilidade alguns elementos tambeacutem

foram identificados Essa deveria utilizar a educaccedilatildeo popular sensibilizar para a

importacircncia da contabilidade ser permanente e estruturada de forma crescente

A nova formaccedilatildeo dos contadores remete agrave discussatildeo de um outro curriacuteculo o qual

deveria ser baseado na realidade da economia brasileira e nas necessidades da classe

trabalhadora Uma outra questatildeo associada diz respeito ao incremento de pesquisas

sobre ES ou seja a produccedilatildeo acadecircmica deveria voltar-se mais para estudos de

interesse da classe trabalhadora tal como o tema Economia Solidaacuteria Deveria

tambeacutem buscar as perguntas ou temas geradores das pesquisas na proacutepria sociedade

como tambeacutem problematizar refletir a partir deles

A legislaccedilatildeo contaacutebil deveria ser reformulada a partir de uma nova formataccedilatildeo

juriacutedica dos empreendimentos autogestionaacuterios na qual se reconhecessem os

empreendimentos autogestionaacuterios como novos atores Com base nesse pressuposto a

legislaccedilatildeo contaacutebil deveria segregar tributariamente os grandes e pequenos

empreendimentos As demonstraccedilotildees exigidas por lei deveriam efetivamente ser

instrumentos de informaccedilatildeo e natildeo apenas obrigatoriedade legal Para tanto deveriam

ser criados relatoacuterios condizentes com a necessidade informacional desse segmento

social no tocante agrave mensuraccedilatildeo escrituraccedilatildeo e evidenciaccedilatildeo dos eventos econocircmicos e

sociais

107

Portanto este trabalho soma-se agraves pesquisas anteriores ampliando o campo de conhecimento

sobre o assunto mediante o levantamento de novas demandas e identificando novos elementos

agrave construccedilatildeo de uma nova relaccedilatildeo entre contabilidade e autogestatildeo Entretanto como

mencionado ainda haacute muitas demandas para aprofundamento de pesquisas sobre novos

instrumentos de informaccedilatildeo formaccedilatildeo do contador da ES legislaccedilatildeo contaacutebil para a

autogestatildeo entre outras Cabe ressaltar entretanto que pesquisas nessa aacuterea tecircm como preacute-

requisito a assimilaccedilatildeo do contexto no qual a contabilidade estaacute inserida

Por isso nesta pesquisa foi necessaacuterio compreender o significado conceitual e operacional da

autogestatildeo e sua vinculaccedilatildeo com conceitos de participaccedilatildeo democracia e cidadania Nessa

perspectiva a participaccedilatildeo democraacutetica soacute se faz fecunda quando haacute equumlidade no acesso agraves

informaccedilotildees e igualdade econocircmica entre os trabalhadores que participam do processo

decisoacuterio da gestatildeo

Nesse contexto a contabilidade tem fundamental importacircncia uma vez que eacute requerida

enquanto instrumento vital da democracia aquele capaz de promover a simetria

informacional proporcionar a transparecircncia da gestatildeo propiciar a participaccedilatildeo cidadatilde e

auxiliar na instauraccedilatildeo da confianccedila entre os trabalhadores Desse modo a contabilidade

reafirma seu papel social mediante sua contribuiccedilatildeo ao desenvolvimento econocircmico de

empreendimentos promotores da inclusatildeo social e de auxiacutelio ao desenvolvimento de relaccedilotildees

mais humanas e solidaacuterias

108

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115

APEcircNDICES

116

APEcircNDICE 01 - PROTOCOLO DE PESQUISA

1 -VISAtildeO GERAL DO PROJETO

Tiacutetulo Contabilidade e Autogestatildeo - Um estudo sobre a dimensatildeo contaacutebil nos processos de

autogestatildeo dos empreendimentos de Economia Solidaacuteria

11 Objetivos da pesquisa

O objetivo desta pesquisa eacute compreender e analisar a dimensatildeo contaacutebil nos processos de

autogestatildeo em empreendimentos solidaacuterios levantando seus desafios e as demandas

contaacutebeis suscitadas nesse processo a partir de 06 perspectivas a) Forma de comunicaccedilatildeo b)

Conteuacutedo da informaccedilatildeo c) Utilidade da informaccedilatildeo d) Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo e)

Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio f) Legislaccedilatildeo contaacutebil

12 Questotildees de pesquisa

Os objetivos da pesquisa podem ser traduzidos a partir das seguintes questotildees

1) Como a informaccedilatildeo contaacutebil eacute empregada nos empreendimentos autogestionaacuterios

2) Quais os desafios e demandas suscitados em cada um dos aspectos da dimensatildeo contaacutebil

nos processos de autogestatildeo

117

13 Hipoacuteteses

A partir da revisatildeo da literatura depreende-se que a informaccedilatildeo contaacutebil eacute essencial a qualquer

entidade puacuteblica ou privada Que esta informaccedilatildeo para ser uacutetil agrave tomada de decisotildees deve

revestir-se de alguns pressupostos sejam eles relevacircncia comparabilidade materialidade

Em se tratando da informaccedilatildeo contaacutebil apropriada para os empreendimentos de Economia

Solidaacuteria os estudos recentes sugerem que a informaccedilatildeo contaacutebil natildeo atende satisfatoriamente

agraves demandas informacionais da Economia Solidaacuteria

Dessa forma situando-se na linha das pesquisas anteriores esta investigaccedilatildeo parte do

pressuposto de que os empreendimentos solidaacuterios tecircm necessidades informacionais ainda

natildeo atendidas satisfatoriamente pelo aparato contaacutebil disponiacutevel Tendo em vista que os

empreendimentos possuem dupla natureza econocircmica e social e ainda que os usuaacuterios da

contabilidade satildeo trabalhadores natildeo acostumados com a linguagem de mercado as demandas

suscitadas agrave contabilidade e a necessidades dos empreendimentos autogestionaacuterios passam

pelos seguintes aspectos

a) Forma de comunicaccedilatildeo dos eventos ocorridos (linguagem demonstraccedilotildees)

b) Conteuacutedo da informaccedilatildeo (natildeo expressa a complexidade da autogestatildeo orccedilamento

coletivo execuccedilatildeo compartilhada etc)

c) Utilidade da informaccedilatildeo (deveria auxiliar em todos os processos de gestatildeo-

planejamento execuccedilatildeo controle e avaliaccedilatildeo dos resultados)

d) Apropriaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil (a contabilidade ainda eacute uma caixa preta

conhecida apenas pelos contadores necessidade de popularizar a contabilidade atraveacutes de

teacutecnicas de ensino apropriadas para o puacuteblico)

e) Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio (contadores natildeo preparados para lidar com a

especificidade da autogestatildeo)

f) Legislaccedilatildeo contaacutebil (ela estaacute adequada agrave realidade dos empreendimentos)

118

Em siacutentese o resultado encontrado poderaacute ser esquematizado conforme quadro abaixo

Quadro-resumo dos resultados

Realidade encontrada

( o que eacute) Realidade esperada

Dimensotildees cooperados especialistas contadores ( o que deveria ser)

1- Forma de comunicaccedilatildeo 2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo 3- Utilidade da informaccedilatildeo 4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo 5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio 6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

O quadro traccedilaraacute um paralelo entre a realidade observada captada pelas lentes dos

cooperados especialistas e contadores e a realidade esperada desenhada pelas observaccedilotildees

entrevistas e literatura consultada As dimensotildees listadas no quadro representam os

aspectos contaacutebeis a serem analisados os quais satildeo descritos em seguida

1 Forma de comunicaccedilatildeo

Neste dimensatildeo seraacute avaliada a linguagem dos relatoacuterios demonstraccedilotildees e outros

instrumentos da contabilidade Conforme a bibliografia pesquisada a linguagem contaacutebil eacute

formal distanciando-se dos trabalhadores que na maioria natildeo possuem altos niacuteveis de

escolaridade A linguagem natildeo traduz a realidade econocircmica e financeira da entidade

2 Conteuacutedo da informaccedilatildeo

O conteuacutedo diz respeito agrave informaccedilatildeo contaacutebil em si Conforme observaccedilotildees de autores a

contabilidade tradicional natildeo consegue captar a complexidade das relaccedilotildees inclusas no

processo de autogestatildeo tais como o orccedilamento elaborado coletivamente a execuccedilatildeo e

controles compartilhados A intenccedilatildeo eacute averiguar este aspecto

119

3 Utilidade da informaccedilatildeo

Quando se avalia a utilidade da informaccedilatildeo estaacute se perguntando se a contabilidade eacute

efetivamente supridora das informaccedilotildees necessaacuterias agraves etapas do processo de autogestatildeo ou

seja se ela auxilia no processo de tomada de decisotildees gerenciais Eis a questatildeo

4 Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Aqui busca-se avaliar se a contabilidade consegue ser assimilada pelos trabalhadores usuaacuterios

da mesma Um dos princiacutepios fundamentais da Economia Solidaacuteria sugere a socializaccedilatildeo de

todo o conhecimento de gestatildeo em oposiccedilatildeo agrave tiacutepica empresa que resguarda estes

conhecimentos ao grupo da gerecircncia Com base nesse princiacutepio presume-se que os

trabalhadores da ES devam tambeacutem se apropriar do conhecimento contaacutebil Dessa forma

busca-se nessa perspectiva compreender as dificuldades para a assimilaccedilatildeo do conhecimento

contaacutebil

5 Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Nesta perspectiva seraacute analisada a relaccedilatildeo dos usuaacuterios dos empreendimentos

autogestionaacuterios com os profissionais da aacuterea contaacutebil Conforme relatos contidos na

bibliografia pesquisada as aacutereas teacutecnicas tecircm dificuldades de perceber a especificidade da

autogestatildeo Portanto pretende-se compreender o envolvimento do contabilista com a

autogestatildeo

6 Legislaccedilatildeo contaacutebil

Alguns autores argumentam que a legislaccedilatildeo contaacutebil ainda natildeo capta a especificidade da

autogestatildeo Isso se aplica agrave forma de registro dos eventos econocircmico-financeiros agraves

demonstraccedilotildees contaacutebeis e tambeacutem agrave constituiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo destas entidades Portanto

cabe focar os itens em que a legislaccedilatildeo natildeo atende agraves necessidades particulares destas

entidades

14 Criteacuterios para a seleccedilatildeo da unidade de estudo

O principal criteacuterio para a escolha da unidade onde se processaraacute a investigaccedilatildeo eacute a

autogestatildeo Isto eacute buscou-se um empreendimento em que a gestatildeo eacute realizada por todos os

trabalhadores em oposiccedilatildeo aos empreendimentos nos quais a administraccedilatildeo eacute exercida

120

apenas pelos diretores Participar da gestatildeo significa atuar nos altos niacuteveis de decisotildees

aquelas que vatildeo aleacutem da organizaccedilatildeo do trabalho mas que tambeacutem compreendem a indicaccedilatildeo

da destinaccedilatildeo dos recursos organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e demais decisotildees que afetem a vida da

entidade

Outro criteacuterio importante utilizado foi a formalizaccedilatildeo do empreendimento Com se sabe a

economia solidaacuteria tambeacutem eacute compreendida por empreendimentos coletivos informais Tal

opccedilatildeo se deve ao fato de que a inscriccedilatildeo junto aos oacutergatildeos governamentais necessariamente

requerer uma organizaccedilatildeo contaacutebil mais formal

Dessa forma estas entidades possuem registros formais de suas atividades possibilitando as

bases para a investigaccedilatildeo

2 COLETA DE DADOS

O estudo de caso cuja intenccedilatildeo eacute desvelar a realidade da dimensatildeo contaacutebil nos

empreendimentos autogestionaacuterios selecionou as seguintes teacutecnicas de coleta de dados

Entrevistas

Registro em arquivos

Observaccedilatildeo direta

As entrevistas com cooperados especialistas e profissionais da aacuterea contaacutebil pretendem

capturar informaccedilotildees sobre os procedimentos contaacutebeis utilizados a percepccedilatildeo sobre os

instrumentos de informaccedilatildeo contaacutebil os desafios para sua assimilaccedilatildeo enfim propiciaratildeo

elementos que avaliem os aspectos contaacutebeis ou seja caracterizaratildeo as dimensotildees de anaacutelise

Os registros em arquivos tambeacutem contribuiratildeo para a definiccedilatildeo das dimensotildees de anaacutelise

mais especificamente contribuiratildeo para descriccedilatildeo anaacutelise e compreensatildeo dos relatoacuterios e

documentos contaacutebeis utilizados pela entidade

Finalmente a observaccedilatildeo direta captaraacute pormenores e detalhes que complementaratildeo as

outras teacutecnicas tais como ambiente fiacutesico cotidiano de trabalho relaccedilotildees interpessoais

processos de decisotildees etc

121

3 QUESTOtildeES ORIENTADORAS Agrave COLETA DE DADOS

A coleta de dados natildeo prescinde de um roteiro baacutesico de questotildees que oriente agrave captaccedilatildeo de

dados Dessa forma abaixo satildeo apresentadas questotildees relacionadas que extraem informaccedilotildees

sobre aspectos descritivos da entidade bem como informaccedilotildees diretamente relacionadas com

as dimensotildees em questatildeo assim organizadas

A) Ambiente externo

1) Quais satildeo os clientes e fornecedores da empresa

2) Quais satildeo os principais concorrentes

3) Estaacute inserida em alguma rede de produccedilatildeo ou comercializaccedilatildeo

4) Tecircm algum tipo de assessoria administrativa contaacutebil e juriacutedica

5) Recebe recursos externos doaccedilotildees De entidades privadas ou puacuteblicas Quais

6) Quais as legislaccedilotildees vigentes que influenciam em suas atividades nos aspectos

operacionais financeiros e econocircmicos

7) Participa de algum foacuterum ou oacutergatildeo de representaccedilatildeo nacional eou internacional

8) A entidade desenvolve algum projeto social

B) Sistema organizacional

1) Qual a missatildeo da entidade (razatildeo de ser)

2) Existe um planejamento estrateacutegico Eacute formalizado (documentado registrado)

3) Existe um processo de planejamento execuccedilatildeo controle e avaliaccedilatildeo do plano

4) Quando acontecem as reuniotildees de planejamento

5) Como ocorre o controle da execuccedilatildeo deste planejamento

6) Existe um manual de normas e procedimentos ou regimento interno para o processo de

gestatildeo e funccedilatildeo dos gestores

7) Existem criteacuterios de avaliaccedilatildeo de desempenhos para a gestatildeo E quais satildeo os indicadores e

criteacuterios

8) Existe um sistema de informaccedilatildeo que auxilie no planejamento das atividades

9) A entidade possui um organograma

10)Quais satildeo as aacutereas

122

11)Quais satildeo os departamentos quem satildeo os responsaacuteveis

12)Quais as funccedilotildees de cada aacutereadepartamento

13)Como se relacionam as diversas aacutereas e atividades

C) Sistema social (Organizaccedilatildeo do trabalho)

1) Como satildeo distribuiacutedas as funccedilotildees

2) Como satildeo indicados os coordenadores dos departamentosaacutereas

3) Quais os criteacuterios de definiccedilatildeo das remuneraccedilotildees dos trabalhadores

4) Existem faixas de salaacuterios Como funciona

5) Existe um sistema de rotatividade de funccedilotildees

6) Os trabalhadores tecircm qualificaccedilatildeo teacutecnica apropriada a cada funccedilatildeo

7) Como estaacute organizado o sistema de qualificaccedilatildeo

8) Existe uma poliacutetica de motivaccedilatildeo organizacional

9) Como eacute o controle e organizaccedilatildeo da jornada de trabalho

10)Quais satildeo os benefiacutecios e programas direcionados aos trabalhadores e familiares

11)Como satildeo tratados os atrasos e as faltas no trabalho

12)Existe um sistema de registro e controle de recursos humanos

D) Sistema Operacional

1) Quais as principais atividades econocircmicas do empreendimento

2) Como estaacute organizada a aacuterea de produccedilatildeo ( deptos funccedilotildees)

3) Quais satildeo as formas de registros dos custos e resultados da produccedilatildeo

4) Como estaacute organizado o processo de compras Haacute um sistema

5) Haacute um sistema de controle de estoques de mateacuteria-prima e de produccedilatildeo

6) Como eacute determinado o preccedilo de venda dos produtos

7) Existe um sistema de monitoramento de vendas e de apuraccedilatildeo de resultados

8) Haacute um assessoramento juriacutedico na confecccedilatildeo dos contratos de venda

9) Qual a composiccedilatildeo do capital (distribuiccedilatildeo das quotas-partes)

123

10)Como eacute o processo de tomada de decisatildeo sobre captaccedilatildeo de recursos

11)Como estaacute a composiccedilatildeo de diacutevidas Centra-se no curto prazo ou longo prazo

12)Haacute um sistema de informaccedilotildees que auxilie na tomada de decisotildees sobre captaccedilatildeo de

recursos

E) Sistema de Informaccedilotildees

1) Existe um sistema de informaccedilotildees que subsidie as decisotildees gerenciais da entidade (comprar

vender emprestar renegociar)

2) Como estaacute organizada a contabilidade da entidade Haacute um registro formal

3) Quem realiza os registros das informaccedilotildees dos eventos ocorridos na entidade De que

forma

4) Haacute um sistema de integraccedilatildeo entre as diversas aacutereas da entidade (produccedilatildeo venda

financeiro)

5) Quais relatoacuterios satildeo produzidos

6) Existe a contabilidade dos custos das atividades

7) Como a apuraccedilatildeo dos custos eacute realizada e como esta informaccedilatildeo eacute utilizada pela entidade

8) Haacute um sistema de orccedilamento das atividades previstas

9) Quais informaccedilotildees satildeo utilizadas na confecccedilatildeo desse orccedilamento

10)Como satildeo realizados o acompanhamento comparaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo das metas e planos

estabelecidos no orccedilamento

11)Como eacute realizado o controle financeiro Haacute um sistema de fluxo de caixa

12)Haacute um sistema de contabilidade gerencial

13)Este sistema auxilia nas decisotildees da gestatildeo De que forma

14)Haacute um sistema que produz indicadores econocircmico-financeiros

15)Como estatildeo organizadas as informaccedilotildees sobre os clientes e fornecedores Haacute um banco

de dados

16)Eacute feito algum tipo de pesquisa de mercado Consulta a clientes

17)Quais os meios utilizados para conhecimento do mercado em que a entidade atua

F) Apreensatildeo do conhecimento contaacutebil

124

1) Quem elabora os relatoacuterios contaacutebeis

2) O conselho fiscal da entidade compreende os relatoacuterios contaacutebeis

3) O que os cooperados pensam da linguagem dos relatoacuterios sabem o que eacute um ativo

passivo e PL

4) Os cooperados tecircm acesso aos relatoacuterios de custos compras vendas e outros relatoacuterios

gerenciais

5) Satildeo promovidos cursos e palestras sobre gestatildeo dos negoacutecios e contabilidade

6) Existe uma entidade de apoio que contribua para a apreensatildeo da gestatildeo do negoacutecio e

contabilidade

G) Informaccedilotildees da entidade de apoio

1) Qual o histoacuterico da entidade

2) A entidade estaacute inserida a alguma rede ou associada a algum oacutergatildeo de representaccedilatildeo

nacional ou internacional

3) Recebe algum recurso puacuteblico governamental ou privado para realizar esta atividade

4) A quantas iniciativas solidaacuterias jaacute apoiou

5) Quais as formas de apoio realizado junto agraves iniciativas

6) Em quais aacutereas de conhecimento a entidade atua

7) Como eacute a relaccedilatildeo com os profissionais dessas aacutereas

8) Como eacute o relacionamento com os profissionais da aacuterea contaacutebil

9) A contabilidade e contabilistas adaptam-se facilmente agrave dinacircmica da autogestatildeo

10)Onde residem os maiores problemas para adaptaccedilatildeo

11)Como eacute repassado o conhecimento na aacuterea contaacutebil agraves entidades apoiadas

12)Na visatildeo da entidade os trabalhadores compreendem facilmente a informaccedilatildeo contaacutebil

13)Quais os maiores desafios nessa transmissatildeo

14)A contabilidade tradicional atende agraves necessidades de informaccedilatildeo da autogestatildeo Por quecirc

15)Em que aspectos a contabilidade poderia mudar

16)Qual a importacircncia da contabilidade para a autogestatildeo

17)Os sistemas de informaccedilotildees contaacutebeis satildeo acessiacuteveis Quem fornece

18)A legislaccedilatildeo contaacutebil atende plenamente agraves necessidades da autogestatildeo (formas de

registros demonstraccedilotildees)

125

5 GUIA PARA O RELATOacuteRIO FINAL

Apesar de natildeo haver nenhuma forma estereotipada para escrever um relatoacuterio de um estudo de

caso existem estrateacutegias para redigi-lo a fim de tornaacute-lo inteligiacutevel e palataacutevel ao leitor Dessa

forma a estrateacutegia selecionada para apresentar os resultados dentre as expostas por Yin (

2005 p177-180) eacute a narrativa a qual pode ser ilustrada por tabelas graacuteficos e imagens

Optou-se pela estrutura analiacutetica linear enquanto estrutura composicional do relatoacuterio Esta

estrutura eacute comumente utilizada nos relatoacuterios de estudos de casos No modelo os subtoacutepicos

compreendem o tema ou o problema que estaacute sendo estudado e uma revisatildeo da literatura Em

seguida os subtoacutepicos partem para a anaacutelise dos meacutetodos utilizados das descobertas feitas a

partir dos dados coletados e analisados e das conclusotildees e implicaccedilotildees feitas a partir das

descobertas

O relatoacuterio iniciaraacute a ser redigido tatildeo logo esteja concluiacuteda a revisatildeo de literatura comeccedilando

com o subtoacutepico da metodologia empregada em que se aprimoraraacute a metodologia inclusa no

projeto de estudo de caso

Tambeacutem poderatildeo ser redigidas antes do teacutermino da coleta de dados as informaccedilotildees

descritivas da unidade em estudo que consiste de dados quantitativos e qualitativos

concernentes ao caso

Apoacutes a coleta de dados estes seratildeo sistematizados em um Banco de dados sobre o caso cujas

informaccedilotildees seratildeo a base do relatoacuterio final

126

APEcircNDICE 02 - SOLICITACcedilAtildeO DE AUTORIZACcedilAtildeO PARA PESQUISA

127

APEcircNDICE 03 ROTEIRO DE ENTREVISTAS PARA COOPERADOS DA

COOPRAM

Entrevistado

1- Haacute quanto tempo eacute cooperado desta cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Qual eacute o setor em que trabalha E sua funccedilatildeo

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- Quais satildeo suas habilidades profissionais e qual a sua formaccedilatildeo escolar

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- O seu setor produz algum tipo de relatoacuterio ou registro das atividades

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- Em relaccedilatildeo aos relatoacuterios da contabilidade da cooperativa vocecirc tem acesso a eles Quando

Quais

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6- O que acha da linguagem dos relatoacuteriosVocecirc sabe o que eacute um ativo ou passivo ou PL

Sabe identificar o lucro da cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 - Jaacute participou de algum curso de formaccedilatildeo em contabilidade Quem promoveu

128

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8- Acha que o curso ajudou a compreender a contabilidade Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- Em sua opiniatildeo como deveriam ser apresentadas as informaccedilotildees financeiras da

cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- E os cursos de formaccedilatildeo em contabilidade como acha que deveria ser Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- Jaacute conversou com o contador da entidade alguma vez para pedir esclarecimentos Eles

conseguiram tirar suas duacutevidas Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

13- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

129

APEcircNDICE 04 ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA CONTADORES

Entrevistado

1- Haacute quanto tempo trabalha com a Economia Solidaacuteria

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- Vocecirc acredita que o aparato contaacutebil vigente para as cooperativas e empresas autogeridas

satisfaz agraves necessidades de informaccedilatildeo destes empreendimentos no que tange ao conteuacutedo e

forma da informaccedilatildeo Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- E quanto a legislaccedilatildeo das cooperativas acha que eacute adequada agrave realidade da ES

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- Os empreendimentos com os quais trabalha utiliza a informaccedilatildeo contaacutebil nos vaacuterios

processos de gestatildeo como planejamento controle e execuccedilatildeoSe natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6- Em relaccedilatildeo aos registros dos eventos de uma cooperativa haacute algum conflito entre a praacutetica

e a legislaccedilatildeo contaacutebil Exemplifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

130

7- Jaacute Ministrou algum curso de formaccedilatildeo em contabilidade Quais as caracteriacutesticas desse

curso

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8- A contabilidade eacute faacutecil de ser compreendida pelos trabalhadores Se natildeo em sua visatildeo

quais os principais problemas enfrentados pelos trabalhadores para a compreensatildeo do

conhecimento contaacutebil

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- No que difere sua atuaccedilatildeo em empresas tradicionais e em empreendimentos

autogestionaacuterios

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- Em sua opiniatildeo como deveriam ser apresentadas as informaccedilotildees financeiras e econocircmicas

da cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- E os cursos de formaccedilatildeo em contabilidade como acha que deveriam ser Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

13- Acredita que a formaccedilatildeo dos contadores em curso prepara para o trabalho com

empreendimentos de ES Como poderia ser

131

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

14 - Em sua opiniatildeo o que poderia ser mudado para que a contabilidade contribua

efetivamente com o processo de autogestatildeo

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

132

APEcircNDICE 05 ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA DIRETORES DA COOPRAM

Entrevistado

1- Haacute quanto tempo eacute cooperado desta cooperativa e desde quando estaacute na diretoria

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Quais satildeo suas habilidades profissionais e qual a sua formaccedilatildeo escolar

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- A sua diretoria elabora algum tipo de relatoacuterio de informaccedilotildees operacionais econocircmicas

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- Em relaccedilatildeo aos relatoacuterios da contabilidade da cooperativa vocecirc tem acesso a eles Quando

Quais

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- A sua diretoria utiliza os relatoacuterios ou informaccedilotildees da contabilidade para tomar algum tipo

de decisatildeo gerencial Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6- A contabilidade eacute faacutecil de ser compreendida Se natildeo em sua visatildeo quais os principais

problemas enfrentados pelos trabalhadores para a compreensatildeo do conhecimento contaacutebil

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

133

7- Jaacute conversou com o contador da entidade alguma vez para pedir esclarecimentos sobre os

relatoacuterios contaacutebeis Eles conseguiram tirar suas duacutevidas Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8 -Jaacute participou de algum curso de formaccedilatildeo em contabilidade Quem promoveu

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- Acha que o curso ajudou a compreender a contabilidade Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- Em sua opiniatildeo como deveriam ser apresentadas as informaccedilotildees financeiras e econocircmicas

da cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- E os cursos de formaccedilatildeo em contabilidade como acha que deveriam ser Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

13- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

134

14 - Em sua opiniatildeo o que poderia ser mudado para que a contabilidade contribua

efetivamente com o processo de autogestatildeo

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

135

APEcircNDICE 06 ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA ESPECIALISTAS

1- Haacute quanto tempo trabalha com a Economia Solidaacuteria E nesta entidade

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Qual eacute a relaccedilatildeo de apoio que a entidade manteacutem com as cooperativas

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- Qual eacute a estrutura de apoio que a entidade possui no que diz respeito agrave contabilidade

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- As cooperativas acompanhadas utilizam a informaccedilatildeo contaacutebil nos vaacuterios processos de

autogestatildeo tais como o levantamento de custos dos produtos planejamento execuccedilatildeo e

controle dos recursos da entidade Se natildeo por que natildeo utilizam

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 - Como eacute realizada a formaccedilatildeo dos trabalhadores em contabilidade

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7- A contabilidade eacute facilmente assimilada pelos trabalhadores Se natildeo em sua visatildeo quais

os principais problemas que os trabalhadores enfrentam para a apropriaccedilatildeo do conhecimento

contaacutebil

136

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8- Com relaccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo cooperativista vigente acredita que seja apropriada agrave realidade

dos empreendimentos de ES Em que pontos residem os maiores entraves

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- Avalia que os contadores de uma forma geral conhecem suficientemente bem a legislaccedilatildeo

cooperativista a ponto de proporcionar um adequado acompanhamento aos empreendimentos

Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- Como vecirc o envolvimento dos profissionais da aacuterea contaacutebil no processo de autogestatildeo

Eles entendem rapidamente a dinacircmica dos empreendimentos

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12 - Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do contador acredita que o contador da Economia Solidaacuteria

deveria ter uma formaccedilatildeo diferenciada Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Page 3: SUM`RIO LISTA DE QUADROS2 1 INTRODU˙ˆO · 2007. 5. 29. · Yin (2005, p.32) constrói a definiçªo tØcnica do estudo de caso de duas maneiras. Na primeira, aborda o escopo de

3

1 INTRODUCcedilAtildeO

Este trabalho apresenta a discussatildeo sobre a relaccedilatildeo entre Contabilidade e Autogestatildeo A

autogestatildeo marca registrada da Economia Solidaacuteria (ES) eacute um modelo de gestatildeo

caracterizado pela administraccedilatildeo participativa e democraacutetica ou seja uma gestatildeo

compartilhada pelos trabalhadores Tendo em vista a dupla natureza dos empreendimentos

de ES econocircmica e social partiu-se do pressuposto de que se constituem em um novo grupo

de usuaacuterios da contabilidade e como tal possui demandas peculiares agrave sua natureza Dessa

forma esta pesquisa buscou por meio de uma investigaccedilatildeo empiacuterica compreender e analisar

a dimensatildeo contaacutebil nos processos de autogestatildeo dos empreendimentos solidaacuterios levantando

seus desafios e demandas contaacutebeis suscitadas nesse processo

Conforme literatura existente e praacutetica corrente a autogestatildeo eacute mais que um modelo de

gestatildeo consiste em uma forma proacutepria de um sistema de relaccedilotildees sociais econocircmicas e

culturais que visa agrave emancipaccedilatildeo democraacutetica do cidadatildeo e que a proacutepria contabilidade e o

contador ao se inserirem nesse processo tambeacutem sofrem transformaccedilotildees Portanto ao

analisar a dimensatildeo contaacutebil no ambiente da autogestatildeo isso natildeo se faz isoladamente visto

que a forma de compreensatildeo da realidade se insere numa perspectiva de totalidade Totalidade

natildeo como pretensatildeo de revelar ou explicar todo o real mas como perspectiva

metodoloacutegica que busca explicar e fenocircmeno em seu contexto de modo a ampliar a sua

compreensatildeo

Parafraseando Trivintildeos (1994 p 14) [] Achamos que natildeo podemos prescindir quando

pesquisamos da ideacuteia da historicidade e da iacutentima relaccedilatildeo e interdependecircncia dos

fenocircmenos sociais Assim a contabilidade e o papel do contador natildeo satildeo entendidos per si

mas como uma necessidade que se inscreve pelo interesse de grupos sociais que se constituem

historicamente

4

11 Caracterizaccedilatildeo do problema e justificativa

Conforme Hendriksen e Van Breda (1999 p 135) eacute funccedilatildeo da contabilidade [] fornecer

informaccedilatildeo quantitativa principalmente de natureza financeira sobre as entidades

econocircmicas de utilidade para a tomada de decisotildees econocircmicas Dessa forma nenhuma

entidade juriacutedica seja ela puacuteblica ou privada com ou sem fins lucrativos pode prescindir da

informaccedilatildeo contaacutebil agrave tomada de decisotildees Portanto a contabilidade eacute fundamental a todos

os entes juriacutedicos

No caso dos empreendimentos da ES a situaccedilatildeo natildeo difere das outras empresas no que diz

respeito agrave necessidade da contabilidade O processo de autogestatildeo requer a participaccedilatildeo

cotidiana dos trabalhadores na tomada de decisatildeo seja na deliberaccedilatildeo da organizaccedilatildeo do

trabalho ou nas decisotildees de alto niacutevel (decisotildees que interferem no rumo poliacutetico e econocircmico

da entidade tais como planejamento investimento etc) Essa praacutetica constante de

cooperaccedilatildeo solidariedade trabalho conjunto deliberaccedilotildees propicia o desenvolvimento

humano poliacutetico e social Mas para a efetivaccedilatildeo da autogestatildeo os empreendimentos

necessitam da contabilidade enquanto instrumento de gestatildeo para atingir seus objetivos

econocircmicos eou sociais

Entretanto a ES requer o envolvimento de profissionais com uma outra abordagem de

negoacutecio ou seja que compreendam a vocaccedilatildeo econocircmico-social do empreendimento O

relato da ANTEAG (2005) caracteriza o problema

[] Essa eacute uma dificuldade tiacutepica da divisatildeo do trabalho esse tipo de problema derivado da

contrataccedilatildeo de terceiros pode ser caracteriacutestico da inovaccedilatildeo que a autogestatildeo representa e que

natildeo eacute parte da formaccedilatildeo de profissionais cuja atuaccedilatildeo se daacute em empresas convencionais

segundo as regras convencionais do mercado que natildeo tem qualquer interesse em saber como

se realiza o processo de produccedilatildeo ou que qualidade de trabalho estaacute realizada no produto

Poderiacuteamos acrescentar exemplos das mais diferentes aacutereas juriacutedica tecnoloacutegica tributaacuteria e

contaacutebil em que o profissional contratado acaba sendo disfuncional para a

empresaempreendimento por desconhecer as condiccedilotildees que diferenciam a autogestatildeo

(ANTEAG 2005 p 20)

No relato fica patente a solicitaccedilatildeo da autogestatildeo por abordagens diferenciadas nas diversas

aacutereas Essas aacutereas acostumadas com o arcabouccedilo de conhecimento do mercado convencional

tecircm dificuldade em perceber as particularidades da ES No caso da contabilidade essa

preocupaccedilatildeo foi o foco de Michels (1995) que em seu trabalho reconhece as especificidades

da autogestatildeo e chama a atenccedilatildeo para a necessidade de estudos empiacutericos que identifiquem as

5

demandas de informaccedilotildees contaacutebeis desses usuaacuterios Nessa mesma perspectiva Almeida e

Dantas (2005) sugerem o aprofundamento de estudos sobre novas sistemaacuteticas contaacutebeis as

quais se adaptem agraves necessidades informacionais da ES

Dessa forma este trabalho se justifica pela necessidade de aprofundamento de estudos da

relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo mediante os quais se possam compreender os vaacuterios

aspectos da utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil nos empreendimentos de ES a fim de

diagnosticar com maior propriedade os desafios e demandas contaacutebeis provenientes desse

grupo social Portanto a expectativa dessa investigaccedilatildeo caracterizada por uma abordagem

metodoloacutegica e integrativa (contabilidade-autogestatildeo) eacute que os resultados encontrados

somem-se agraves pesquisas anteriores sobre o assunto ampliando o seu campo de conhecimento

Considerando que a contabilidade estaacute inserida em um contexto histoacuterico econocircmico

poliacutetico e social mais amplo e compreendendo a importacircncia da ES na inclusatildeo social dos

trabalhadores desempregados bem como da autogestatildeo enquanto instrumento de exerciacutecio

da democracia enxerga-se a grande importacircncia da contabilidade nesse processo cuja

contribuiccedilatildeo eacute fundamental para a concretizaccedilatildeo da autogestatildeo das empresas e para

efetivaccedilatildeo do papel social da contabilidade

12 Questotildees de pesquisa

Considerando a importacircncia da inserccedilatildeo da contabilidade no contexto da autogestatildeo e a

necessidade de apreensatildeo na praacutetica das diversas faces desse fenocircmeno foram definidas

as seguintes questotildees como norteadoras deste estudo

a) Como a informaccedilatildeo contaacutebil eacute empregada nos empreendimentos autogestionaacuterios

b) Quais os desafios e demandas suscitados nos vaacuterios aspectos da dimensatildeo contaacutebil nos

processos de autogestatildeo

6

13 Objetivos

131 Objetivo geral

O objetivo desta pesquisa foi compreender e analisar a dimensatildeo contaacutebil nos processos de

autogestatildeo dos empreendimentos solidaacuterios levantando seus desafios e demandas contaacutebeis

suscitadas nesse processo envolvendo seis perspectivas a) Forma de comunicaccedilatildeo b)

Conteuacutedo da informaccedilatildeo c) Utilidade da informaccedilatildeo d) Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo e)

Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio e f) Legislaccedilatildeo contaacutebil

132 Objetivos especiacuteficos

Com base no objetivo geral foram estabelecidos os seguintes objetivos especiacuteficos

relacionados com esta pesquisa

a) Descrever o processo de utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil nas vaacuterias etapas do

processo de gestatildeo

b) Identificar e analisar as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores na utilizaccedilatildeo

das informaccedilotildees contaacutebeis mapeando as novas demandas desses usuaacuterios

c) Descrever o processo de apropriaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil por parte dos

trabalhadores analisando seus desafios

d) Identificar elementos que auxiliem na construccedilatildeo de modelos de informaccedilotildees

adequados agraves necessidades da autogestatildeo

14 Metodologia

Conforme Marconi e Lakatos (2001 p106) eacute na especificaccedilatildeo da metodologia que se

responde agraves questotildees Como Com quecirc Onde A metodologia entatildeo descreve o conjunto

de procedimentos utilizados para a consecuccedilatildeo dos objetivos propostos bem como define o

meacutetodo de abordagem sob o qual repousa a pesquisa

De acordo com as autoras haacute distinccedilotildees entre os meacutetodos no que se refere agrave sua inspiraccedilatildeo

filosoacutefica ao seu grau de abstraccedilatildeo agrave sua finalidade explicativa agrave sua accedilatildeo nas etapas mais ou

7

menos concretas da investigaccedilatildeo e ao momento em que se situam Com base nessas

diferenccedilas o meacutetodo de abordagem caracteriza-se por um enfoque mais amplo em niacutevel de

abstraccedilatildeo mais elevado dos fenocircmenos da natureza e da sociedade

Com esta compreensatildeo a presente pesquisa filiou-se ao meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo Marconi

e Lakatos (2001 p106) descreve-o como aquele []que se inicia pela percepccedilatildeo de uma

lacuna nos conhecimentos acerca da qual formula hipoacuteteses e pelo processo de inferecircncia

dedutiva testa a prediccedilatildeo da ocorrecircncia de fenocircmenos abrangidos pela hipoacutetese

Enquanto meacutetodo de procedimento o qual compreende etapas mais concretas da investigaccedilatildeo

com finalidade mais restrita em termos de explicaccedilatildeo geral dos fenocircmenos menos abstratos

optou-se pelo Estudo de Caso Os pressupostos desse meacutetodo bem como as estrateacutegias e

teacutecnicas utilizadas para a sua realizaccedilatildeo seratildeo descritos a seguir

141 O meacutetodo de estudo de caso e seus pressupostos

O Estudo de Caso eacute apropriado ao estudo de eventos contemporacircneos em que as dimensotildees

relevantes natildeo podem ser manipuladas e eacute possiacutevel serem feitas observaccedilotildees diretas e

entrevistas sistemaacuteticas Aleacutem disso o estudo de caso permite utilizar uma variedade de

evidecircncias que tornam mais ricas e complexas as anaacutelises do real (documentos artefatos

entrevistas observaccedilotildees) Segundo Martins (2000 p 36)

Trata-se de uma teacutecnica de pesquisa cujo objetivo eacute o estudo de uma unidade que se analisa

profunda e intensamente Considera a unidade social estudada em sua totalidade seja um

indiviacuteduo uma famiacutelia uma instituiccedilatildeo uma empresa ou uma comunidade com o objetivo de

compreendecirc-los em seus proacuteprios termos

Nesse contexto a utilizaccedilatildeo das teacutecnicas de coleta de dados do estudo de caso tem o objetivo

de apreender a totalidade de uma situaccedilatildeo possibilitando a penetraccedilatildeo na realidade social natildeo

conseguida plenamente pela anaacutelise e pela avaliaccedilatildeo quantitativa Esse meacutetodo (e os outros

meacutetodos qualitativos) eacute uacutetil quando um fenocircmeno eacute amplo e complexo onde o corpo de

conhecimentos existente eacute insuficiente para permitir a proposiccedilatildeo de questotildees causais e

quando um fenocircmeno natildeo pode ser estudado fora do contexto no qual ele naturalmente ocorre

8

Yin (2005 p32) constroacutei a definiccedilatildeo teacutecnica do estudo de caso de duas maneiras Na

primeira aborda o escopo de um estudo de caso segundo o qual um estudo de caso eacute uma

investigaccedilatildeo empiacuterica que investiga um fenocircmeno contemporacircneo dentro de seu contexto da

vida real especialmente quando os limites entre o fenocircmeno e o contexto natildeo estatildeo

claramente definidos

Com base nessa definiccedilatildeo o pesquisador soacute usaria o meacutetodo de estudo de caso quando

quisesse deliberadamente lidar com condiccedilotildees contextuais Essa perspectiva tambeacutem

distingue o estudo de caso de outras estrateacutegias de pesquisa conforme Yin Por exemplo um

experimento deliberadamente separa um fenocircmeno de seu contexto de forma que se possa

dedicar a apenas algumas dimensotildees pois o contexto eacute controlado pelo ambiente de

laboratoacuterio Uma pesquisa histoacuterica natildeo segrega o contexto do fenocircmeno entretanto em

geral trabalha com acontecimentos natildeo contemporacircneos Jaacute os levantamentos tentam dar

conta do fenocircmeno e do contexto mas sua capacidade de investigaacute-lo eacute extremamente

limitada

Na segunda parte da definiccedilatildeo de Yin ( 2005 p33) ele afirma que

A investigaccedilatildeo de estudo de caso Enfrenta uma situaccedilatildeo tecnicamente uacutenica em que haveraacute muito mais dimensotildees de interesse

do que de dados e como resultado Baseia-se em vaacuterias fontes de evidecircncias com os dados precisando convergir em um formato

de triacircngulo e como resultado Beneficia-se do desenvolvimento preacutevio de proposiccedilotildees teoacutericas para conduzir a coleta e a

anaacutelise de dados

Sintetizando o estudo de caso objetiva a compreensatildeo de uma realidade social complexa e

contemporacircnea e constitui-se em uma estrateacutegia de pesquisa abrangente no que se refere agrave

loacutegica de planejamento agraves teacutecnicas de coleta de dados e agraves abordagens especiacuteficas agrave anaacutelise

Dessa forma a adoccedilatildeo do meacutetodo de Estudo de Caso eacute coerente com as questotildees propostas

uma vez que se pretendeu explorar o fenocircmeno dimensatildeo contaacutebil nos empreendimentos

autogestionaacuterios levando em conta a realidade social e o contexto real de inserccedilatildeo da

contabilidade no que diz respeito aos aspectos histoacutericos econocircmicos e sociais

9

142 Protocolo do Estudo de Caso

Para Yin (2005 p92) o protocolo eacute uma das taacuteticas principais para aumentar a

confiabilidade da pesquisa de estudo de caso e destina-se a orientar o pesquisador ao realizar a

coleta de dados a partir de um estudo de caso uacutenico[] Segundo o autor apesar da

semelhanccedila entre um questionaacuterio de levantamento e um protocolo de estudo de caso as

caracteriacutesticas de ambos os diferenciam O protocolo de estudo de caso eacute mais do que um

instrumento pois aleacutem de conter o instrumento tambeacutem conteacutem procedimentos e regras

gerais que devem ser seguidas para utilizaccedilatildeo dos instrumentos

O protocolo de estudo de caso geralmente apresenta as seguintes seccedilotildees

Visatildeo geral do projeto Esta seccedilatildeo eacute composta por objetivos patrociacutenios do projeto

questotildees do estudo e leituras importantes sobre o toacutepico que estaacute sendo investigado

Procedimentos de campo Neste item ocorre a apresentaccedilatildeo das credenciais acesso aos

locais do estudo de caso fontes gerais de informaccedilotildees e advertecircncias de procedimento

Questotildees do estudo de caso - Satildeo indicadas as questotildees especiacuteficas que nortearam o

pesquisador de estudo de caso ao coletar os dados planilha para disposiccedilatildeo especiacutefica de

dados e as fontes em potencial de informaccedilotildees ao se responder cada questatildeo

Guia para o relatoacuterio do estudo de caso Eacute apresentado o esboccedilo formato para os dados

uso e apresentaccedilatildeo de outras documentaccedilotildees e informaccedilotildees bibliograacuteficas

Com base nas orientaccedilotildees acima foi elaborado o protocolo de estudo de caso desta

pesquisa (apecircndice 01) Ele serviu de buacutessola para o encaminhamento da pesquisa como

tambeacutem proporcionou a sua compreensatildeo por parte dos representantes da unidade de

estudo conferindo a credibilidade necessaacuteria agrave autorizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo na

cooperativa

Entretanto cabe ressaltar que devido agrave dinacircmica caracteriacutestica do estudo de caso no

decorrer da pesquisa alguns itens do planejamento foram mudados da mesma forma que

nem todas as questotildees orientadoras arroladas foram necessaacuterias agrave compreensatildeo da

pesquisa ou foram passiacuteveis de obtenccedilatildeo de respostas

10

143 Dimensotildees de Anaacutelise

As dimensotildees apontadas neste trabalho longe de abranger toda a complexidade da inserccedilatildeo

da contabilidade no processo de autogestatildeo dos empreendimentos autogestionaacuterios

pretenderam distinguir aspectos relevantes desse universo A seleccedilatildeo dessas dimensotildees foi

resultado principalmente da imersatildeo nas seguintes bibliografias

a) No campo da teoria da contabilidade destacaram-se as obras dos autores Hendriksen e Van

Breda (1999) e Iacuteudicubus et al (2003) Esses autores subsidiaram a construccedilatildeo de algumas

dimensotildees agrave medida que as diversas leituras sobre a finalidade da contabilidade suscitaram

questionamentos no tocante agrave adequaccedilatildeo da padronizaccedilatildeo dos relatoacuterios de informaccedilatildeo

contaacutebil aos seus diversos usuaacuterios Em outras palavras as indagaccedilotildees levaram agrave verificaccedilatildeo

sobre a viabilidade da padronizaccedilatildeo tendo em vista as reais necessidades de informaccedilatildeo dos

empreendimentos autogestionaacuterios (novos usuaacuterios) no que se refere agrave forma conteuacutedo e

utilidade da informaccedilatildeo

b) No campo da contabilidade para usuaacuterios externos citam-se as obras de Valdir Michaels

(1995) e Almeida e Dantas (2005) Essas obras abordam a relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo

nas quais satildeo apontados alguns obstaacuteculos enfrentados pelos trabalhadores da ES no campo

da contabilidade Nas obras haacute sugestotildees de adaptaccedilatildeo da contabilidade agraves necessidades da

autogestatildeo no que diz respeito a vaacuterios aspectos mas principalmente no tocante agrave legislaccedilatildeo

contaacutebil e agrave postura do contador na relaccedilatildeo com esses novos usuaacuterios Portanto dessas leituras

derivam a construccedilatildeo das dimensotildees Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio e Legislaccedilatildeo contaacutebil

c) A bibliografia sobre Economia Solidaacuteria e Autogestatildeo na qual ressaltam as obras de Paul

Singer e produccedilotildees da ANTEAG tambeacutem foi fonte de inspiraccedilatildeo para a construccedilatildeo das

dimensotildees O mergulho nessas obras permitiu a compreensatildeo da dupla natureza dos

empreendimentos autogestionaacuterios a econocircmica e social Com essa configuraccedilatildeo os

empreendimentos ao mesmo tempo em que perseguem a sustentabilidade financeira tambeacutem

cultuam valores humanos e sociais como a solidariedade cooperaccedilatildeo e igualdade

Compreendeu-se que sob esta perspectiva a igualdade tambeacutem requer a apropriaccedilatildeo de todo

o conhecimento de gestatildeo pelo conjunto dos trabalhadores Assim a apropriaccedilatildeo do

conhecimento contaacutebil por parte dos trabalhadores eacute um imperativo nos empreendimentos

11

solidaacuterios Partindo dessas reflexotildees foi criada a dimensatildeo que se refere agrave apropriaccedilatildeo da

informaccedilatildeo contaacutebil

d) Contribuiacuteram para a constituiccedilatildeo das dimensotildees de anaacutelise aqui arroladas outras produccedilotildees

constantes da referecircncia bibliograacutefica e outras natildeo citadas provenientes das diversas aacutereas do

conhecimento como economia educaccedilatildeo etc

Tambeacutem foram fonte de inspiraccedilatildeo as observaccedilotildees e anaacutelises realizadas em Mato Grosso e

Satildeo Paulo por ocasiatildeo de participaccedilotildees em extensatildeo universitaacuteria bem como em cursos e

seminaacuterios nacionais e internacionais e diaacutelogos com especialistas sobre o tema De sorte que

a compreensatildeo da inserccedilatildeo contaacutebil nos empreendimentos autogestionaacuterios resultou na

construccedilatildeo das seguintes dimensotildees

1- Forma de comunicaccedilatildeo

2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

3- Utilidade da informaccedilatildeo

4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

As caracteriacutesticas e objetivos de cada dimensatildeo satildeo pormenorizados abaixo

1- Forma de comunicaccedilatildeo

Nessa dimensatildeo foram avaliados os instrumentos de comunicaccedilatildeo que a entidade utiliza para

divulgar seus resultados econocircmicos e financeiros Verificou-se a capacidade de a

contabilidade captar e refletir a complexidade das relaccedilotildees inclusas no processo de

autogestatildeo tais como o orccedilamento elaborado coletivamente a execuccedilatildeo e controles

compartilhados enfim analisou-se a adequaccedilatildeo dos relatoacuterios demonstraccedilotildees e outros

instrumentos da contabilidade agraves necessidades proacuteprias dos empreendimentos solidaacuterios

2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

O conteuacutedo diz respeito agrave informaccedilatildeo contaacutebil em si Nessa dimensatildeo verificou-se a

pertinecircncia da linguagem das vaacuterias formas de comunicaccedilatildeo aos usuaacuterios da ES Mais

especificamente nesse aspecto buscou-se perceber se a linguagem da contabilidade eacute

12

facilmente compreendida pelos trabalhadores tendo em vista o conhecimento jaacute consolidado

de que uma grande parte dos trabalhadores da ES tem um baixo grau de educaccedilatildeo formal

3- Utilidade da informaccedilatildeo

Nesse item avaliou-se a utilidade da informaccedilatildeo a qual diz respeito agrave importacircncia dada pelos

grupos entrevistados agrave contabilidade para tomada de decisotildees Tambeacutem se procurou avaliar a

utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil em todos os processos da gestatildeo de modo que ela

efetivamente fosse supridora das informaccedilotildees necessaacuterias agrave autogestatildeo ou seja analisou-se

sua capacidade de auxiliar no processo de tomada de decisotildees coletivas na gestatildeo

democraacutetica

4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Um dos princiacutepios fundamentais da ES sugere a socializaccedilatildeo de todo o conhecimento de

gestatildeo em oposiccedilatildeo agrave tiacutepica empresa que resguarda esses conhecimentos para o grupo da

gerecircncia Baseado nesse princiacutepio essa dimensatildeo teve a intenccedilatildeo de compreender e analisar

as formas de transferecircncia do conhecimento contaacutebil e as eventuais dificuldades enfrentadas

pelo trabalhador no processo de apropriaccedilatildeo do conhecimento das teacutecnicas contaacutebeis Nesse

item tambeacutem se buscou captar elementos que norteiem para uma formaccedilatildeo desejada em

contabilidade

5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Conforme relatos contidos na bibliografia pesquisada as aacutereas teacutecnicas tecircm dificuldade de

perceber a especificidade da autogestatildeo Nessa perspectiva foi analisada a relaccedilatildeo dos

usuaacuterios dos empreendimentos autogestionaacuterios com os profissionais da aacuterea contaacutebil

Pretendeu-se compreender o envolvimento do contabilista com a autogestatildeo Por outro lado

tambeacutem houve a intenccedilatildeo de captar elementos que indicassem a construccedilatildeo de uma outra

relaccedilatildeo entre os contadores e os trabalhadores da ES

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

Alguns autores argumentam que a legislaccedilatildeo contaacutebil ainda natildeo capta a especificidade da

autogestatildeo Isso se aplica agrave forma de registro dos eventos econocircmico-financeiros agraves

demonstraccedilotildees contaacutebeis e tambeacutem agrave constituiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo dessas entidades Para

13

avaliar esse conjunto foi necessaacuterio tambeacutem analisar a legislaccedilatildeo cooperativista e natildeo soacute a

legislaccedilatildeo contaacutebil para o cooperativismo tendo em vista que as duas legislaccedilotildees estatildeo

bastante vinculadas Dessa forma essa dimensatildeo analisou a pertinecircncia dessas legislaccedilotildees agrave

realidade e necessidades da ES

Por meio das dimensotildees descritas acima foi traccedilado um paralelo entre a realidade observada

captada pelas lentes dos cooperados especialistas e contadores e a realidade esperada

desenhada pelas observaccedilotildees entrevistas e literatura consultada O quadro 1 esquematiza o

trabalho realizado

Quadro 1- Resumo dos resultados

Realidade Encontrada

(o que eacute) Realidade esperada

Dimensotildees Cooperados especialistas Contadores (o que deveria ser)

1- Forma de comunicaccedilatildeo 2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo 3- Utilidade da informaccedilatildeo 4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo 5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

144 Criteacuterios para a seleccedilatildeo da unidade de estudo

O principal criteacuterio para a escolha da unidade em que se processou a investigaccedilatildeo foi a

autogestatildeo isto eacute buscou-se um empreendimento em que a gestatildeo fosse praticada por todos

os trabalhadores diferentemente dos empreendimentos nos quais a administraccedilatildeo eacute exercida

apenas pelos diretores Participar da gestatildeo significa atuar nos altos niacuteveis de decisotildees

aquelas que vatildeo aleacutem da organizaccedilatildeo do trabalho mas que tambeacutem compreendem decisotildees

que influenciem no rumo da entidade tais como indicaccedilatildeo da destinaccedilatildeo dos recursos

organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e demais decisotildees que afetam a vida da entidade

14

Outro criteacuterio importante utilizado foi a formalizaccedilatildeo do empreendimento Com se sabe a ES

tambeacutem eacute compreendida por empreendimentos coletivos informais Tal opccedilatildeo se deve ao fato

de que a inscriccedilatildeo junto aos oacutergatildeos governamentais necessariamente requer uma organizaccedilatildeo

contaacutebil mais formal Dessa forma essas entidades possuem registros formais de suas

atividades possibilitando as bases para a investigaccedilatildeo

Levando em conta esses criteacuterios tomou-se como unidade de anaacutelise a COOPRAM

Cooperativa Metaluacutergica de Artes Metaacutelicas localizada no Municiacutepio de Embu na Grande

Satildeo Paulo Portanto ao selecionar a COOPRAM como a unidade de estudo privilegiou-se um

estudo em profundidade para a obtenccedilatildeo de respostas mais precisas agraves questotildees postas agrave

pesquisa

145 Teacutecnicas de coleta de dados

O Meacutetodo do Estudo de Caso obteacutem evidecircncias a partir de seis fontes de dados documentos

registros em arquivos entrevistas observaccedilatildeo direta observaccedilatildeo participante e artefatos

fiacutesicos Cada uma delas requer habilidades e procedimentos metodoloacutegicos especiacuteficos O

presente estudo de caso buscou desvelar a realidade da dimensatildeo contaacutebil nos

empreendimentos autogestionaacuterios a partir da seleccedilatildeo das seguintes teacutecnicas de coleta de

dados

Entrevistas

Registro em arquivos

Observaccedilatildeo direta

O planejamento e execuccedilatildeo do procedimento de coleta de dados fundamentado em Yin

(2005) pode ser visualizado atraveacutes da figura abaixo

15

Registros em arquivos

Observaccedilotildees Entrevistas

(direta)

Figura 1 - Convergecircncia de Evidecircncias (estudo uacutenico )

Fonte adaptado de Cosmos Corporation apud YIN 2005 p127

As ENTREVISTAS satildeo uma das mais importantes fontes de informaccedilotildees para um estudo de

caso segundo Yin (2005) O fluxo de questotildees nas entrevistas natildeo eacute riacutegido mas de forma

fluiacuteda Portanto durante o processo de coleta de dados o pesquisador tem duas tarefas

a) seguir sua proacutepria linha de investigaccedilatildeo como reflexo do protocolo de seu estudo de caso e b) fazer as questotildees reais ( de uma conversaccedilatildeo) de uma forma natildeo tendenciosa que tambeacutem

atende agraves necessidades de sua linha de investigaccedilatildeo (YIN 2005 p117)

Em outras palavras Yin alerta que na entrevista haacute a exigecircncia de atuaccedilatildeo em duas frentes

ao mesmo tempo satisfazer as necessidades de sua linha de investigaccedilatildeo enquanto tambeacutem

passa adiante questotildees amigaacuteveis e natildeo natildeo-ameaccediladoras em suas entrevistas

espontacircneas Assim eacute muito comum que as entrevistas para o estudo de caso sejam

conduzidas de forma espontacircnea Logo pode-se tanto indagar sobre fatos relacionados a um

determinado assunto quanto pedir a opiniatildeo deles a respeito de determinados eventos

Seguindo as prerrogativas acima as entrevistas realizadas nesta pesquisa pretenderam

capturar informaccedilotildees sobre os procedimentos contaacutebeis utilizados na cooperativa perceber a

posiccedilatildeo dos entrevistados quanto ao uso de ferramentas e instrumentos da contabilidade bem

como a contribuiccedilatildeo que esses instrumentos tecircm (ou natildeo) para propiciar a compreensatildeo dos

processos de gestatildeo e identificar elementos agrave construccedilatildeo de uma nova relaccedilatildeo contabilidade e

autogestatildeo

Para compreender o fenocircmeno a partir de vaacuterios prismas foram formados trecircs grupos de

entrevistados

Fato Dimensatildeo contaacutebil no

processo de autogestatildeo

)))process

16

1ordm grupo composto por membros da cooperativa (diretoria e cooperados)

2ordm grupo constituiacutedo por especialistas no assunto vinculados a redes nacionais de fomento e

apoio agrave ES

3ordm grupo composto por contadores experientes em autogestatildeo e ES

Aos trecircs grupos foram aplicadas perguntas semelhantes sobre fatos e opiniotildees circunscritos no

universo do tema proposto As respostas tambeacutem foram estratificadas e alocadas aos

respectivos grupos

Os REGISTROS EM ARQUIVOS em um estudo de caso segundo Yin (2005 p115)

podem assumir diversas modalidades

Registros de serviccedilo como aqueles que mostram o nuacutemero dos clientes atendidos em um

determinado periacuteodo de tempo Registros organizacionais como as tabelas e os orccedilamentos de organizaccedilotildees em um periacuteodo de

tempo Mapas e graacuteficos das caracteriacutesticas geograacuteficas ou esboccedilos de um lugar Listas de nomes e de outros itens importantes Dados oriundos de levantamentos como o censo demograacutefico ou os dados previamente

coletados sobre um local Registros pessoais como diaacuterios anotaccedilotildees e agendas de telefone

Esses e outros registros em arquivo podem ser utilizados somando-se a outras fontes de

informaccedilatildeo No caso desta pesquisa foram verificados os registros operacionais e demais

arquivos e documentos ligados agrave aacuterea contaacutebil A utilizaccedilatildeo dessa teacutecnica buscou identificar e

descrever instrumentos oficiais adotados pelo empreendimento tais como as demonstraccedilotildees

financeiras os sistemas de controles internos relatoacuterios gerenciais etc Contribuiu para a

compreensatildeo da organizaccedilatildeo contaacutebil no empreendimento e finalmente propiciou a avaliaccedilatildeo

do atendimento dos instrumentos contaacutebeis agrave prescriccedilatildeo legal na aacuterea das cooperativas

Tambeacutem propiciou a identificaccedilatildeo dos sistemas ou meios de comunicaccedilatildeo utilizados agrave

disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo bem como agrave sua acessibilidade pelo conjunto de cooperados

A OBSERVACcedilAtildeO DIRETA ocorre quando se realiza uma visita de campo ao local

escolhido para o estudo de caso Por meio das observaccedilotildees eacute possiacutevel captar alguns

17

comportamentos ou condiccedilotildees ambientais relevantes As observaccedilotildees podem variar de

atividades formais a atividades informais de coleta de dados Mais formalmente incluem-se

situaccedilotildees como reuniotildees atividades de passeio trabalho de faacutebrica salas de aula e outras

atividades semelhantes(YIN 2005 p120) Informais podem ser as condiccedilotildees fiacutesicas de um

edifiacutecio ou de espaccedilos de trabalho As evidecircncias captadas pela lente da observaccedilatildeo segundo

Yin satildeo em geral uacuteteis ao fornecimento de informaccedilotildees adicionais sobre o fenocircmeno

estudado

Desse modo a observaccedilatildeo direta aqui realizada pretendeu captar pormenores e detalhes que

complementaram as outras teacutecnicas tais como ambiente fiacutesico cotidiano de trabalho

relaccedilotildees interpessoais processos de decisotildees etc A observaccedilatildeo contou com os registros de

pesquisa de campo em que a preocupaccedilatildeo central foi a observaccedilatildeo tanto do papel do

contador seu relacionamento com as demais aacutereas da gestatildeo aleacutem da forma como a

contabilidade se insere no cotidiano da cooperativa Tais informaccedilotildees agregaram elementos agraves

anaacutelises das entrevistas cruzando relatos e percepccedilotildees dos atores envolvidos

Apoacutes a coleta de dados esses foram sistematizados em um Banco de dados sobre o caso

cujas informaccedilotildees serviram de base agraves anaacutelises e conclusotildees

146 Anaacutelise dos dados

A anaacutelise dos dados retomou as categorias teoacutericas adotadas correlacionando-as agraves

evidecircncias da pesquisa empiacuterica Os resultados foram segregados por dimensotildees sob as quais

satildeo relatadas as constataccedilotildees da realidade e ao mesmo tempo satildeo problematizadas questotildees e

demandas referentes a cada aspecto da dimensatildeo contaacutebil no processo de autogestatildeo

Quanto agrave estrateacutegia de apresentaccedilatildeo dos resultados apesar de natildeo haver nenhuma forma

estereotipada para escrever um relatoacuterio de um estudo de caso existindo apenas estrateacutegias

para redigi-lo a fim de tornaacute-lo inteligiacutevel e palataacutevel ao leitor a estrateacutegia selecionada dentre

as expostas por Yin (2005 p177-180) foi a narrativa a qual foi ilustrada por quadros

Em relaccedilatildeo agrave estrutura composicional do relatoacuterio optou-se pela estrutura analiacutetica linear

Conforme Yin essa estrutura eacute comumente utilizada nos relatoacuterios de estudos de casos No

modelo os subtoacutepicos compreenderam o tema ou o problema estudado e uma revisatildeo da

18

literatura Em seguida os subtoacutepicos partem para a anaacutelise dos meacutetodos utilizados das

descobertas feitas a partir dos dados coletados e analisados e das conclusotildees e implicaccedilotildees

feitas a partir das descobertas

15 Hipoacuteteses

Conforme jaacute mencionado as hipoacuteteses satildeo importantes no estudo de caso pois norteiam a

coleta de dados Dessa forma este estudo partiu dos pressupostos das pesquisas anteriores os

quais sugerem que o aparato contaacutebil hoje disponiacutevel ainda natildeo eacute apropriado a esse

segmento ou seja a informaccedilatildeo contaacutebil natildeo atende satisfatoriamente agraves suas demandas

informacionais tendo em vista a sua natureza peculiar

Portanto situando-se na linha das pesquisas anteriores essa investigaccedilatildeo partiu da hipoacutetese de

que os empreendimentos solidaacuterios diferenciam-se dos demais segmentos do mercado devido

agrave sua dupla natureza econocircmica e social consequumlentemente tecircm demandas informacionais

ainda natildeo contempladas plenamente pela aacuterea contaacutebil envolvendo seis aspectos da dimensatildeo

contaacutebil a) Forma de comunicaccedilatildeo b) Conteuacutedo da informaccedilatildeo c) Utilidade da informaccedilatildeo

d) Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo e) Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio f) Legislaccedilatildeo contaacutebil

16 Organizaccedilatildeo do Trabalho

No que concerne agrave estruturaccedilatildeo e forma de apresentaccedilatildeo o presente estudo estaacute organizado

em 04 capiacutetulos assim definidos

No presente capiacutetulo I da Introduccedilatildeo satildeo apresentados a problematizaccedilatildeo e justificativa da

pesquisa os objetivos as questotildees de pesquisa e a metodologia do estudo

No capiacutetulo 2 satildeo expostos os marcos referenciais deste trabalho no qual se explicitam

conceitos de autogestatildeo Economia solidaacuteria formas de participaccedilatildeo na gestatildeo e outros

conceitos necessaacuterios agrave compreensatildeo das questotildees propostas pela pesquisa

19

No capiacutetulo 3 eacute discutida a relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo perpassando pela exposiccedilatildeo da

finalidade da informaccedilatildeo contaacutebil e estudos recentes sobre a contabilidade para Economia

Solidaacuteria A incursatildeo na literatura realizada nos capiacutetulos 2 e 3 teve a finalidade de propiciar

suporte teoacuterico agrave anaacutelise dos resultados

Por uacuteltimo no capiacutetulo 4 eacute realizada a descriccedilatildeo do Estudo de caso e apresentados os

resultados e anaacutelises da pesquisa

20

21

2 MARCO CONCEITUAL DA ECONOMIA SOLIDAacuteRIA E AUTOGESTAtildeO

Para a anaacutelise do fenocircmeno objeto da presente pesquisa eacute necessaacuterio discutir os conceitos

envolvidos na compreensatildeo da realidade investigada Portanto cumpre nesse momento

explicitar conceitos como globalizaccedilatildeo contexto no qual se insere o ressurgimento da ES

Tambeacutem eacute necessaacuterio perscrutar o sentido teoacuterico da Economia Solidaacuteria da autogestatildeo como

forma de administraccedilatildeo proacutepria dos empreendimentos solidaacuterios da participaccedilatildeo como

categoria teoacuterica fundamental ao processo de autogestatildeo entre outros conceitos A

complexidade da relaccedilatildeo entre Contabilidade e Autogestatildeo encontra-se sedimentada nesses

conceitos teoacutericos

Em primeiro lugar seraacute analisado o momento histoacuterico contemporacircneo que fez ressurgir as

aspiraccedilotildees de alternativas ao modelo social vigente buscando dessa forma compreender o

contexto econocircmico-social de emergecircncia da ES bem como da inserccedilatildeo da contabilidade Em

seguida seraacute trilhado o caminho de desvelamento de outros conceitos necessaacuterios agrave

compreensatildeo da relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo

21 Globalizaccedilatildeo e a crise contemporacircnea

Um estudo sobre autogestatildeo leva agrave necessaacuteria imersatildeo sobre as raiacutezes em que

contemporaneamente tal tema ganha destaque no mundo e consequumlentemente na sociedade

brasileira O cenaacuterio recente de ressurgimento da ES tem como pano de fundo a globalizaccedilatildeo

A despeito das muitas controveacutersias que se podem apresentar sobre o tema globalizaccedilatildeo

tentar-se-aacute apontar algumas definiccedilotildees do fenocircmeno com as quais se concorda Conforme

Wanderley (2002 p15)

[]com a globalizaccedilatildeo as distacircncias se reduziram natildeo havendo barreiras fiacutesicas para a

informaccedilatildeo o conhecimento o intercacircmbio cultural os avanccedilos tecnoloacutegicos possibilitaram o

desvelamento de enigmas antigos das vaacuterias aacutereas de conhecimento a democracia atingiu a quase

maioria dos paiacuteses e eacute requisito de legitimidade internacional

Apesar desses citados benefiacutecios a globalizaccedilatildeo tem seu lado reverso O imperativo da

sobrevivecircncia num mercado altamente competitivo levou as empresas agrave busca de reduccedilatildeo de

22

custos que na maioria das vezes significou corte de postos de trabalho acarretando

exclusatildeo social Conforme definem Pedraccedila e Almeida ( 2004 p 01)

A globalizaccedilatildeo econocircmica marca a histoacuteria pelo apartheid social seja no acircmbito nacional e

internacional O que separa os seres humanos eacute uma divisatildeo estatiacutestica iacutendices que definem uma minoria de pessoas de vaacuterias nacionalidades que gozam do privileacutegio de serem inclusas no

mercado consumidor [] A outra classe de indiviacuteduos a imensa maioria da populaccedilatildeo mundial

quase sempre incluiacuteda em categorias marginais como subempregados trabalhadores informais ou desempregados satildeo segregados do consumo parcial ou totalmente dependendo de sua condiccedilatildeo

econocircmica

Singer (2001) explica a globalizaccedilatildeo a partir de uma perspectiva histoacuterica Advoga a tese de

que a economia capitalista industrial tendeu desde o iniacutecio a superar os limites do Estado-

naccedilatildeo A livre movimentaccedilatildeo de mercadorias e de capitais atraveacutes das fronteiras nacionais

atingiu seu primeiro auge por volta da segunda metade do seacutec XIX quando o padratildeo ouro

proporcionou moedas automaticamente conversiacuteveis e se criou um conjunto de instituiccedilotildees

destinadas a garantir o livre-cacircmbio e as inversotildees estrangeiras A Primeira Guerra (1914-18)

a crise dos anos 30 e em seguida a Segunda Guerra (1939-45) contiveram a tendecircncia de

expansatildeo internacional do capital Durante mais de 30 anos os Estados nacionais protegeram

suas induacutestrias e comandaram a acumulaccedilatildeo de capital dentro de seu territoacuterio diminuindo a

transaccedilatildeo comercial e financeira internacional

A retomada da expansatildeo internacional de acumulaccedilatildeo do capital ou globalizaccedilatildeo soacute foi

efetivada apoacutes a Segunda Guerra capitaneada pelos Estados Unidos e seus aliados os quais a

colocaram como questatildeo primordial As conferecircncias de Brettoin Woods ainda em 1944

receberam um claro mandato neste sentido Em sua primeira etapa a globalizaccedilatildeo abarcava

somente os paiacuteses desenvolvidos e na segunda etapa iniciada haacute mais de um quarto de

seacuteculo incluiu uma boa parte do Terceiro Mundo Mais recentemente envolveu a ex-URSS

e seus antigos sateacutelites

A integraccedilatildeo econocircmica do Primeiro Mundo deu-se num periacuteodo de crescimento e pleno

emprego que ficou conhecido como Anos Dourados Os EUA no auge de sua hegemonia

atraveacutes de suas grandes companhias transferiram maciccedilamente recursos para a Europa e

Japatildeo Implantaram filiais e adquiriram firmas na Europa ocidental retomando sua

multinacionalizaccedilatildeo

23

Todas as economias nacionais cresceram O processo foi um Circulo virtuoso em que

conversibilidade monetaacuteria e a queda das barreiras alfandegaacuterias abriram espaccedilo para uma

crescente reparticcedilatildeo de ganhos( SINGER 2001 p21)

Na segunda etapa a partir de 1970 as economias desenvolvidas abriram seus mercados para

o Terceiro Mundo e promoveram a implantaccedilatildeo dos seus parques industriais destinados ao

abastecimento do mercados do Primeiro Mundo No Brasil essa fase ficou conhecida como

o milagre econocircmico um movimento que culminou com um esforccedilo interno das elites

nacionais de industrializaccedilatildeo do paiacutes desde os anos 30

No iniacutecio da segunda etapa os paiacuteses semi-industrializados apresentavam ao capital

vantagens comparativas tais como grande disponibilidade de matildeo-de-obra jaacute treinada e

condicionada ao trabalho industrial a custos menores do que nos paiacuteses industrializados Na

mesma eacutepoca as lutas de classes nos paiacuteses industrializados haviam se intensificado em

funccedilatildeo da crescente insatisfaccedilatildeo da classe operaacuteria escolarizada operadora de serviccedilos

monoacutetono e alienante a qual reivindicava elevaccedilotildees salariais A resposta das empresas foi a

transferecircncia de grande escala de linhas de produccedilatildeo industrial para paiacuteses perifeacutericos

Grandes centros industriais na Europa e na Ameacuterica do Norte foram esvaziados e

abandonados deixando um grande nuacutemero de desempregados Dessa forma na segunda

etapa a globalizaccedilatildeo tornou-se fator de desindustrializaccedilatildeo e empobrecimento de cidades e

regiotildees inteiras

A globalizaccedilatildeo trouxe mudanccedilas profundas na produccedilatildeo e comeacutercio mundial Com o

imperativo da concorrecircncia faacutebricas fecharam suas portas outras adotaram uma seacuterie de

medidas restritivas visando agrave manutenccedilatildeo no mercado Reduccedilatildeo de custos importaccedilatildeo de

tecnologia moderna aquisiccedilatildeo de meacutetodos gerenciais introduccedilatildeo de novas relaccedilotildees de

trabalho representam o movimento da reestruturaccedilatildeo produtiva das grandes empresas

Essas mudanccedilas afetaram diretamente o mercado de trabalho Com a reduccedilatildeo dos postos de

trabalho o desemprego em todo o mundo tomou proporccedilotildees alarmantes e os empregos

remanescentes satildeo de pior qualidade configurando a precariedade das relaccedilotildees e condiccedilotildees de

trabalho Muitos trabalhadores oscilam entre a penumbra e a clandestinidade do mercado de

trabalho Segundo Singer

24

[] a globalizaccedilatildeo ocasiona o desemprego estrutural Ela faz com que milhotildees de trabalhadores

que produziam o que depois passou a ser importado percam seus empregos e que possivelmente milhotildees de novos postos de trabalho sejam criados tanto em atividades de exportaccedilatildeo como em

outras O desemprego estrutural ocorre porque os que satildeo vitimas da desindustrializaccedilatildeo em geral natildeo tecircm pronto acesso aos novos postos de trabalho (SINGER2001 p23)

Talvez mais grave que o desemprego estrutural seja a precarizaccedilatildeo do trabalho Os novos

postos de trabalho natildeo oferecem em sua maioria as garantias tradicionais que as leis e

contratos vinham ganhando Singer salienta que

Muitos destes novos postos satildeo ocupaccedilotildees por conta proacutepria Ao inveacutes de funcionaacuterios as

empresas principalmente para atividades que natildeo requerem elevada qualificaccedilatildeo contratam

pequenas firmas prestadoras de serviccedilos configurando a terciarizaccedilatildeo[] As vantagens para a

tomadora desse serviccedilo residem na flexibilidade do novo relacionamento e tambeacutem no menor

custo do trabalho pois ela deixa de pagar o tempo morto quando a equipe natildeo tem o que

fazer e as horas-extras quando necessitar (SINGER 2001 p24)

Mattoso reafirma que a precarizaccedilatildeo se constitui de relaccedilotildees informais o que amplia a

inseguranccedila no emprego Um fenocircmeno que se deu em praticamente todos os paiacuteses

avanccedilados atraveacutes da reduccedilatildeo relativa ou absoluta de empregos estaacuteveis ou permanentes

nas empresas e da maior subcontrataccedilatildeo de trabalhadores temporaacuterios em tempo

determinado eventuais em tempo parcial trabalho em domiciacutelio ou independentes

aprendizes etc(MATTOSO 1993 p126)

Na deacutecada de 1990 esse quadro ganhou contornos ainda mais decisivos e agudizantesSob o

emblema do neoliberalismo reduziu-se drasticamente o poder de intervenccedilatildeo do Estado na

esfera social e promoveu-se o abandono de poliacuteticas puacuteblicas importantes na reproduccedilatildeo da

vida dos trabalhadores Nas palavras de Singer

Desde os anos 80 um novo consenso foi firmado qualquer tentativa dos governos de estimular

diretamente a expansatildeo do emprego eacute em vatildeo resultando apenas em mais inflaccedilatildeo O uacutenico dever

dos governos eacute equilibrar os seus proacuteprios orccedilamentos desregulamentar a economia e reduzir o

peso dos impostos que recaem sobre os negoacutecios de modo a facilitar e estimular a acumulaccedilatildeo

privada de capital (SINGER 2001 p14)

Pochmann (1999 p 85) denuncia que os efeitos combinados a partir de 1990 de poliacuteticas

recessivas da desregulaccedilatildeo e reduccedilatildeo do papel do estado de abertura comercial abrupta de

taxas de juros elevadas e de apreciaccedilatildeo cambial seriam responsaacuteveis pela montagem de um

cenaacuterio desfavoraacutevel ao comportamento geral do emprego nacional

25

Esse panorama desde entatildeo causa a dispensa de uma grande parte da forccedila de trabalho

remetendo agrave marginalidade um imenso contingente humano Em 2000 a organizaccedilatildeo

Internacional do Trabalho (OIT) divulgou o informativo O emprego no mundo 1998-99 no

qual destacava que 1)cerca de 1 bilhatildeo de trabalhadores - aproximadamente um terccedilo da

populaccedilatildeo ativa do mundo - estavam desempregados ou subempregados (o indiviacuteduo eacute

subempregado quando sua jornada de trabalho eacute substancialmente menor que uma jornada

completa que desejaria realizar ou seu salaacuterio eacute inferior ao que necessitaria para viver)

2)desses 1 bilhatildeo de trabalhadores uns 150 milhotildees encontravam-se de fato desempregados

buscando trabalho ou em disposiccedilatildeo para trabalhar Pelo simples efeito da crise financeira

mundial em 98 o total de desempregados sofreu um incremento de 10 milhotildees de

trabalhadores c)entre 25 e 30 dos trabalhadores do mundo - algo entre 750 e 900 milhotildees

de pessoas - estavam subempregados

Em relaccedilatildeo ao Brasil a Fundaccedilatildeo SEADE mostrava que 1) a taxa anual meacutedia de

desemprego total da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo aumentou entre 1997 e 1998 de

16 para 183 da populaccedilatildeo economicamente ativa (PEA) com crescimento da taxa de

desemprego anual meacutedia para os indiviacuteduos de todos os niacuteveis de escolaridade A tabela 1

mostra os iacutendices de desemprego nas regiotildees metropolitanas por sexo e em percentuais da

PEA no periacuteodo compreendido de 1998 a 052006 A tabela mostra o acreacutescimo no iacutendice

do desemprego total no ano de 1999 em todas as regiotildees Em 2002 houve novamente um

acreacutescimo no desemprego total Jaacute em 2005 e 2006 os iacutendices mostram uma reduccedilatildeo do

percentual de desemprego em quase todas as regiotildees Entretanto o desemprego ainda

encontra-se em patamares elevados

26

Tabela 1- Taxa de desemprego total por sexo - Regiotildees Metroplitanas e Distrito Federal- 1998-2006

Regiotildees Metropolitanas e Distrito Federal

Belo Horizonte Distrito Federal Porto Alegre Periacuteodo

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

1998 159 137 187 197 174 221 159 137 186

1999 179 159 204 221 192 252 190 167 219

2000 178 161 199 202 177 229 166 142 196

2001 183 162 208 205 176 236 149 123 182

2002 181 157 208 207 180 236 153 131 179

2003 200 171 233 229 202 257 167 139 202

2004 193 168 219 209 178 240 159 131 191

2005 167 140 197 190 159 222 145 119 176

janeiro2006 155 130 182 186 152 220 132 115 153

fevereiro2006 155 131 182 195 164 227 136 118 159

Marccedilo2006 162 132 196 206 175 239 149 126 176

abril2006 156 125 192 207 180 235 155 127 189

maio2006 151 122 185 195 171 220 154 130 182

Regiotildees Metropolitanas e Distrito Federal

Recife Salvador Satildeo Paulo Periacuteodo

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

1998 216 190 249 249 229 271 182 161 211

1999 221 196 252 277 258 299 193 173 217

2000 207 182 239 266 241 293 176 150 209

2001 211 178 253 275 250 302 176 149 208

2002 203 176 236 273 249 299 190 164 222

2003 232 200 270 280 261 301 199 172 231

2004 231 203 265 255 232 280 187 163 215

2005 223 192 260 244 213 278 169 144 197

janeiro2006 212 180 251 237 205 272 157 137 180

fevereiro2006 208 182 240 238 198 280 163 141 187

Marccedilo2006 214 188 246 247 205 291 169 143 198

abril2006 219 191 254 244 197 294 169 145 196

maio2006 222 195 255 244 203 288 170 145 199

Fonte Convecircnio DIEESESEADE MTEFAT e convecircnios regionais PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego Elaboraccedilatildeo DIEESE site http www dieeseorgbr

Portanto natildeo eacute necessaacuterio ir muito longe para perceber que se de um lado a globalizaccedilatildeo

permitiu uma grande expansatildeo do capital por outro o fez em detrimento da valorizaccedilatildeo do

trabalho e das empresas nacionais arruinadas pela abertura do mercado interno agrave

concorrecircncia internacional No Brasil tal abertura ocorre no iniacutecio dos anos 90 com o

governo Fernando Collor de Melo

27

Do ponto de vista dos trabalhadores a consequecircncia de tal processo eacute a desestruturaccedilatildeo do

mercado de trabalho flexibilizaccedilatildeo das regras de proteccedilatildeo social e o desemprego estrutural

capitaneado pela 3ordf Revoluccedilatildeo Industrial em que o avanccedilo da tecnologia tem como

caracteriacutestica principal o aumento da produtividade ao mesmo tempo em que dispensa

grande contingente de matildeo-de-obra Por outro lado o baixo niacutevel de escolaridade dos

desempregados e a insuficiecircncia de poliacuteticas puacuteblicas de formaccedilatildeo de intermediaccedilatildeo de matildeo-

de-obra e de estiacutemulo ao empreendedorismo entre outros motivos torna a recolocaccedilatildeo dos

trabalhadores no mercado de trabalho uma chance remota

Eacute nesse cenaacuterio constituiacutedo pelas contradiccedilotildees e transformaccedilotildees profundas no qual o

trabalho parece perder a centralidade e em que natildeo se superou a dimensatildeo do trabalho como

mercadoria que o homem trabalhador proprietaacuterio apenas de sua forccedila de trabalho

marginalizado do mercado de trabalho perde sua funccedilatildeo e sua condiccedilatildeo primeira de

cidadania Desse modo eacute que satildeo pensadas e geradas alternativas ao desemprego e agrave exclusatildeo

social ressurgindo o ideal da Economia Solidaacuteria e da Autogestatildeo

22 Economia Solidaacuteria Alternativa agrave superaccedilatildeo do desemprego

A ideacuteia de construccedilatildeo de uma sociedade justa cuja base de relaccedilotildees esteja centrada na

solidariedade e natildeo na competiccedilatildeo eacute um ideal da humanidade que tem iniacutecio nos primoacuterdios

da civilizaccedilatildeo capitalista Tal ideaacuterio natildeo tem seu fundamento apenas no desejo utoacutepico de

mundo igualitaacuterio e solidaacuterio mas segundo Rattner (2005 p 01)

A apologia irrestrita da competiccedilatildeo eacute ideoloacutegica e natildeo encontra fundamento na Histoacuteria Ao

contraacuterio eacute possiacutevel afirmar que a maior parte da evoluccedilatildeo da espeacutecie humana foi caracterizada

por associaccedilotildees de cooperaccedilatildeo comunitaacuterias tais como apresentam ainda hoje certas tribos

indiacutegenas do Brasil e de outros continentes A desestruturaccedilatildeo da vida comunitaacuteria em

consequumlecircncia da revoluccedilatildeo industrial no final do seacuteculo XVIII levou como reaccedilatildeo agrave afirmaccedilatildeo de

ideacuteias e praacuteticas cooperativas divulgadas por Proudhon e pelos chamados socialistas utoacutepicos

(Fourier Saint Simon Robert Owen Michael Bakunin e Peter Kropotkin) bem como na segunda metade do seacuteculo XIX ao socialismo de Marx e Engels

Inspirado nas ideacuteias dos socialistas utoacutepicos surgiu na segunda metade do seacuteculo XX o

movimento kibutziano na Terra Santa Seus fundadores e seguidores formaram colocircnias

agriacutecolas que tinham como regra a natildeo exploraccedilatildeo do trabalho propriedade coletiva dos

meios de produccedilatildeo a participaccedilatildeo de todos os membros da comunidade no planejamento e

28

alocaccedilatildeo de recursos seja para o consumo ou seja para investimentos mediante votaccedilatildeo

democraacutetica em assembleacuteias gerais (RATTNER 2005 p01)

A segunda metade do seacuteculo XX tambeacutem pode testemunhar a experiecircncia de implantaccedilatildeo

socialismo na Uniatildeo Sovieacutetica onde se criaram fazendas agriacutecolas coletivas estatizadas aleacutem

das induacutestrias que passaram da propriedade privada para as matildeos do Estado Tais experiecircncias

se inviabilizaram pelo excesso de burocratizaccedilatildeo centralismo e desmotivaccedilatildeo dos

trabalhadores Os fracassos histoacutericos levam a refletir sobre o grau de complexidade para a

implementaccedilatildeo de empreendimentos exigentes em participaccedilatildeo social e sobre a possibilidade

de ocorrerecircncia numa sociedade cujas regras de competiccedilatildeo perpassam todas as relaccedilotildees

sociais Segundo Rattner

Uma economia solidaacuteria exige aleacutem do desenvolvimento de sua base material um alto grau de

conscientizaccedilatildeo e motivaccedilatildeo por parte de sua populaccedilatildeo movida por princiacutepios eacuteticos e valores de

compaixatildeo e solidariedade Em oposiccedilatildeo radical ao sistema de competiccedilatildeo a economia solidaacuteria

natildeo pode ser um produto do autoritarismo de uma administraccedilatildeo de uma soacute via de cima para

baixo que torne a populaccedilatildeo em objeto passivo Ela exige a participaccedilatildeo de todos para se

tornarem cidadatildeos e assim sujeitos do processo histoacuterico(RATTNER 2005 p 02)

Portanto ao se falar de empreendimentos solidaacuterios em que pessoas se organizam

voluntariamente para muacutetua colaboraccedilatildeo parte-se tambeacutem de um pressuposto fundamental a

participaccedilatildeo social que garante ao empreendimento sua sustentabilidade atraveacutes de processos

de caraacuteter educativo

No Brasil desde os anos 80 experiecircncias baseadas na solidariedade se propagam como forma

alternativa de sobrevivecircncia de grupos atingidos pelos efeitos sociais do desemprego

causados em grande parte pela globalizaccedilatildeo Segundo Tauile (2001) tal movimento comeccedila

na Prefeitura de Porto Alegre no Rio Grande do Sul propoga-se por todo o Estado e

posteriormente por todo o Brasil

O termo Economia Solidaacuteria (ES) aparece pela primeira vez no Brasil em 1993 no livro

Economia de Solidariedade e organizaccedilatildeo popular no qual o autor chileno Luis Razeto

(1993 p25) a concebe como

Uma formulaccedilatildeo teoacuterica de niacutevel cientiacutefico elaborada a partir e para dar conta de conjuntos significativos de experiecircncias econocircmicas [] que compartilham alguns traccedilos constitutivos e

essenciais de solidariedade mutualismo cooperaccedilatildeo e autogestatildeo comunitaacuterios que definem uma

racionalidade especial diferente de outras racionalidades econocircmicas

29

Para Singer (2000) a Economia Solidaacuteria surge como modo de produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo

alternativa criado e recriado periodicamente pelos que se encontram marginalizados do

mercado de trabalho A ES concilia o princiacutepio da unidade entre posse e uso dos meios de

produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo com os princiacutepios da socializaccedilatildeo desses meios

Crida identifica as principais caracteriacutesticas dos empreendimentos solidaacuterios

- reciprocidade colocada no cerne de sua passagem agrave accedilatildeo econocircmica - as pessoas se associam numa base voluntaacuteria com o objetivo de satisfazer necessidades sociais

e culturais - a vontade de empreender eacute coletiva Natildeo se busca o retorno sobre o

Investimento individual - tais iniciativas se perenizam combinando fontes de recursos mercantis natildeo mercantis e natildeo-monetaacuterios (financiamento hiacutebrido estaacutetico receitas autogeridas e contribuiccedilotildees voluntaacuterias) - estas experiecircncias organizam-se dentro de uma dinacircmica cidadatilde favorecendo a criaccedilatildeo de

espaccedilos puacuteblicos de proximidade (CRIDA 2000 p03 apud TAUILE 2001)

A unidade tiacutepica da ES eacute a cooperativa cujos princiacutepios satildeo posse coletiva dos meios de

produccedilatildeo pelas pessoas que os utilizam para produzir gestatildeo democraacutetica da empresa ou por

participaccedilatildeo direta ou por representaccedilatildeo reparticcedilatildeo da receita liacutequida entre os cooperadores

por criteacuterios aprovados apoacutes discussotildees e negociaccedilotildees entre todos destinaccedilatildeo do excedente

anual (denominado sobras) tambeacutem por criteacuterios acertados entre todos os cooperadores A

forma de administraccedilatildeo dos empreendimentos de ES eacute portanto a autogestatildeo

Singer (2000) relata diversas experiecircncias e formas de organizaccedilatildeo da ES no Brasil cuja

abrangecircncia compreende atividades econocircmicas tais como cooperativas dos mais diversos

ramos de atividades empresas autogestionaacuterias agecircncias de fomento agrave ES sistemas de

creacutedito redes de projetos comunitaacuterios (associaccedilotildees centros comitecircs etc) feiras solidaacuterias

clubes de trocas e outras experiecircncias alternativas de comeacutercio habitaccedilatildeo e creacutedito

Recentemente a Secretaria Nacional de Economia Solidaacuteria ( SENAES) oacutergatildeo do Ministeacuterio

do Trabalho instuiacuteda no atual governo com o objetivo de fomentar empreendimentos de ES

divulgou um mapa da Economia Solidaacuteria no Brasil Esse mapa proporcionou uma visatildeo da

dimensatildeo e diversidade dos Empreendimentos de Economia Solidaacuteria (EES) os quais jaacute se

fazem presente em todo o paiacutes Eis alguns dados do referido mapa

30

Tabela 2 - Valor mensal dos produtos da ES

Produtos Agrupados por Tipo de Atividade Valor Mensal Total R$ Valor Mensal

Produccedilatildeo Agropecuaacuteria Extrativismo e Pesca 22718579154 462 Produccedilatildeo e Serviccedilos de Alimentos e Bebidas 9822739819 200 Serviccedilos Relativos a Creacutedito e Financcedilas 8205570075 167 Produccedilatildeo Industrial (Diversos) 2940455500 60 Prestaccedilatildeo de Serviccedilos (Diversos) 2031969122 41 Produccedilatildeo de Artefatos Artesanais 1362494308 28 Produccedilatildeo Tecircxtil e Confecccedilotildees 930775759 19 Serviccedilos de Coleta e Reciclagem de Materiais 443079712 09 Produccedilatildeo Mineral (Diversa) 197743633 04 Produccedilatildeo de Fitoteraacutepicos Limpeza e Higiene 93521100 02 Produccedilatildeo e Serviccedilos Diversos 398175518 08 TOTAL 49145103700 1000

Do total de EES 31 natildeo declarou o Valor da Produccedilatildeo Fonte site wwwmtegovbrEmpregadorEconomiaSolidariaConteudoATLAS_PARTE_2pdf A tabela 2 demonstra a diversidade dos setores produtivos da ES e o valor da produccedilatildeo

mensal do conjunto de produtos por tipo de atividade A capacidade de geraccedilatildeo de emprego e

renda da ES eacute demonstrada pela tabela 3 Em 2005 estavam associados nos empreendimentos

econocircmicos solidaacuterios mais de 1 milhatildeo e 250 mil homens e mulheres resultando em uma

meacutedia de 84 participantes por EES Agregam-se a esse conjunto mais 25 mil trabalhadores e

trabalhadoras participantes que possuem algum viacutenculo com os EES (Empreendimentos de

Economia Solidaacuteria)

31

Tabela 3 - Participantes dos ESS no Brasil

REGIAtildeO Mulheres Homens TOTAL

Rural 22292 345 42265 655 64557

Urbano 15262 591 10578 409 25840

Rural e Urbano

13933 384 22372 616 36305

NO

Total 51493 406 75235 594 126728

Rural 95599 373 160365 627 255964

Urbano 42941 504 42262 496 85203

Rural e Urbano

40019 379 65478 621 105497

NE

Total 179058 400 268477 600 447535

Rural 10692 306 24219 694 34911

Urbano 24258 477 26619 523 50877

Rural e Urbano

9733 251 29003 749 38736

SE

Total 44729 359 79910 641 124639

Rural 28901 272 77310 728 106211

Urbano 26773 349 49887 651 76660 Rural e Urbano

72551 284 183127 716 255678

SU

Total 128295 292 310400 708 438695

Rural 10577 284 26698 716 37275

Urbano 18118 597 12213 403 30331 Rural e Urbano

18389 394 28267 606 46656

CO

Total 47088 412 67197 588 114285

Rural 168061 337 330857 663 498918

Urbano 127352 474 141559 526 268911 Rural e Urbano

154625 320 328247 680 482872

TOTAL

Total 450663 360 801219 640 1251882 Fonte Fonte site wwwmtegovbrEmpregadorEconomiaSolidariaConteudoATLAS_PARTE_2pdf Aleacutem da geraccedilatildeo de trabalho e renda a contribuiccedilatildeo mais valiosa dessas experiecircncias tem sido

a retomada da centralidade do trabalho na vida do homem Aos poucos essas diversas

alternativas de geraccedilatildeo de renda vatildeo compondo perspectivas de saiacutedas para a exclusatildeo de

contigentes sociais agrave margem da loacutegica dominante de mercado em que os sobrantes natildeo

dipunham de qualquer possibilidade de resgatar minimamente sua condiccedilatildeo humana e cidadatilde

32

Por outro lado a ES representada principalmente pelas cooperativas apresenta uma seacuterie de

desafios1 dentre os quais se destaca a questatildeo legal Conforme Rech (2000) ao longo de

nossa histoacuteria a iniciativa cooperativista nunca foi efetivamente incentivada ao contraacuterio

sempre houve intervenccedilatildeo no sentido de limitar suas possibilidades A legislaccedilatildeo brasileira

impotildee uma estrutura muito riacutegida na organizaccedilatildeo das cooperativas e ao contraacuterio de permitir

o desenvolvimento do modelo cooperativista acabou por impor tantos limites que tornou

difiacutecil a sua constituiccedilatildeo e funcionamento

A instituiccedilatildeo da primeira lei baacutesica especiacutefica do cooperativismo em 1932 teve o objetivo de

enfrentar pela diversificaccedilatildeo agriacutecola as quebras provocadas pelos problemas com o

comeacutercio internacional do cafeacute A lei 5764 de 1971 feita pelos militares concentrou as

cooperativas nas matildeos de grandes produtores industriais o que influenciou o piacutefio

crescimento das cooperativas no Brasil Em 1998 o anuaacuterio do Cooperativismo Brasileiro da

Organizaccedilatildeo das Cooperativas Brasileiras (OCB) fornecia o nuacutemero de apenas 5102

cooperativas indicando um avanccedilo pequeno na quantidade de cooperativas com um nuacutemero

de associados que natildeo chegava a 3 do total da populaccedilatildeo

Conforme explica Rech (2002 p16-17) de modo geral os instrumentos existentes na

legislaccedilatildeo brasileira que regulam a vida das cooperativas satildeo de procedecircncia conservadora

satildeo exemplos o dec-lei 5154 de 1942 ( sobre a intervenccedilatildeo do Estado nas cooperativas) o

dec-lei 5893 de 1943 (sobre a organizaccedilatildeo funcionamento e fiscalizaccedilatildeo das cooperativas)

apesar de em menor escala o dec-lei 627444 (que aumenta a interferecircncia do Estado) todos

da ditadura getulhista E da ditadura militar as Leis 4380 (que submeteram as cooperativas

habitacionais ao BNH) e 4595 ( que regula a vida das instituiccedilotildees financeiras entre as quais

as cooperativas de creacutedito) ambas de 1964 o DecLei 5966 (que revogou todas as conquistas

de liberdade cooperativistas anteriores) e a lei cooperativista de 1971 As uacutenicas exceccedilotildees

seriam o dec-lei 840145 que reavivou o Dec de 1932 e a Lei 421463 ( Estatuto do

Trabalhador Rural) que apesar de natildeo ser uma lei especiacutefica sobre o assunto poderia ter

aberto as portas para a atuaccedilatildeo cooperativista no campo

Na visatildeo de Tauile et al (2005) o fenocircmeno da autogestatildeo respeita as condiccedilotildees juriacutedicas

vigentes que apesar de natildeo impedir sua existecircncia natildeo contempla suas necessidades

1 No item 27 satildeo apresentados outros desafios

33

especiacuteficas Os empreendimentos enquadram-se nas formas do direito tradicional fato que

natildeo lhes favorece uma vez que se trata de empreendimentos autogestionaacuterios sociedades de

pessoas e natildeo de capital

Atualmente a legislaccedilatildeo cooperativista estaacute em debate Trecircs Projetos de lei de nos 60599

17199 e 42899 estatildeo tramitando no Congresso Nacional Apesar disso nenhum desses

projetos contempla as necessidades dos empreendimentos autogestionaacuterios na visatildeo dos

autores Tauile et al (2005 p151) Para eles estes empreendimentos tecircm caracteriacutesticas

especiais e necessidades especiacuteficas por serem fenocircmenos com caracterizaccedilotildees empresariais

tipicamente urbanas e de trabalho associado A legislaccedilatildeo poreacutem atende a um

cooperativismo fortemente implementado no campo de base agraacuteria para organizar pequenos

(e grandes) proprietaacuterios rurais

Uma outra evidecircncia da limitaccedilatildeo legal ocorre com os empreendimentos de ES que se

originam da recuperaccedilatildeo de massa falidas Segundo Tauile et al (2005 p147) esses

empreendimentos nascem abruptamente portanto natildeo possuem histoacutericos contaacutebeis sem

capital e sem patrimocircnio No iniacutecio das operaccedilotildees satildeo comandataacuterios ou arrendataacuterios e natildeo

estatildeo capitalizados para irem diretamente ao mercado Diante desse contexto tecircm

dificuldades de acesso a creacutedito para a continuidade do negoacutecio

Tauile et al ( 2005 p 148-149) reflete sobre a necessidade do reconhecimento pela ordem

juriacutedica dessas novas formataccedilotildees juriacutedicas por meio da criaccedilatildeo de um marco legal que

[] os reconheccedila conceitualmente e que estabeleccedila normas para atendimento de condiccedilotildees

associadas a um padratildeo socialmente aceitaacutevel para os trabalhadores e produccedilatildeo de bens para o

mercado que estabeleccedila criteacuterios de identificaccedilatildeo desses atores - empresas de autogestatildeo - que se baseiem numa interpretaccedilatildeo objetiva adequada ao perfil e agraves caracteriacutesticas do sujeito com base na

realidade social e econocircmica disposta

Este cenaacuterio demonstra as restriccedilotildees que a ES enfrenta e que circunscrita no marco legal do

capitalismo natildeo eacute possiacutevel percebecirc-la como instrumento uacutenico de negaccedilatildeo ou superaccedilatildeo do

sistema de mercado vigente contudo surgem inuacutemeras pequenas revoluccedilotildees quando nos

empreendimentos deixa de existir a dicotomia entre capital e trabalho instaurando novas

perspectivas natildeo somente de reproduccedilatildeo mas de criaccedilatildeo de novos tipos de sociabilidades

onde a solidariedade a exigecircncia de responsabilidades coletivas se constituem num intenso

processo educativo Tudo isso recria o proacuteprio conceito de trabalho o qual ganha novos

34

contornos Emprestando as palavras do filoacutesofo Luiz Razeto (1993) cada dia fica mais

claro de que haacute a necessidade de que o aspecto alternativo natildeo seja apenas uma estrateacutegia

mas o proacuteprio desenvolvimento que se busca

23 Diferenccedilas conceituais entre Terceiro Setor e Economia Solidaacuteria

A proliferaccedilatildeo dos empreendimentos solidaacuterios no Brasil muito se deve agrave forte presenccedila das

entidades do Terceiro Setor que eclodiram principalmente a partir dos anos 802 Dentre as

entidades fomentadoras da ES no Brasil pode-se destacar Agecircncia de Desenvolvimento

Solidaacuterio Central Uacutenica dos Trabalhadores (ADSCUT) Associaccedilatildeo Nacional de

Trabalhadores em Empresas de Autogestatildeo e Participaccedilatildeo Acionaacuteria (Anteag) Caacuteritas

BrasileirasUNITRABALHO- Rede Interuniversitaacuteria de Estudos e Pesquisas sobre o

Trabalho PACS Instituto de Poliacuteticas Alternativas para o Cone Sul DIEESE-

Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos Soacutecio- Econocircmicos Instituiccedilatildeo

Comunitaacuteria de Creacutedito Portosol ITCP- Incubadora Tecnoloacutegica de Cooperativas Populares

FASE- Federaccedilatildeo de Oacutergatildeos para Educaccedilatildeo e Assistecircncia Social NAPES - Nuacutecleo de Accedilatildeo e

Pesquisa em Economia de Solidariedade entre outras

Devido agrave substantiva participaccedilatildeo de entidades do Terceiro Setor na Economia Solidaacuteria

muitos entendem que a uacuteltima eacute gecircnero da primeira Isto eacute compreensiacutevel uma vez que a linha

que divide os dois territoacuterios natildeo estaacute tatildeo bem definida A distinccedilatildeo poderia ser realizada pelo

conceito de cada um dos segmentos Entretanto conceituar o Terceiro Setor natildeo eacute uma tarefa

faacutecil tendo em vista a gama de entidades que o compotildeem e a variedade de expressotildees que satildeo

utilizadas como sinocircnimas tais como ONGs entidades sem fins lucrativos organizaccedilotildees

voluntaacuterias entre outras para designar os grupos de organizaccedilotildees da sociedade civil com

atuaccedilatildeo social

Recentemente mais precisamente depois dos anos 90 muitos trabalhos acadecircmicos tecircm

envidado esforccedilos nessa tarefa de conceituar e caracterizar as entidades que constituem esse

setor Destaca-se entre as produccedilotildees sobre o tema o trabalho de Coelho ( 2002) Segundo a

2 Com a redemocratizaccedilatildeo do paiacutes essas organizaccedilotildees ampliaram a abrangecircncia de atuaccedilatildeo para novos espaccedilos

de articulaccedilatildeo soacutecio-poliacutetica como a defesa de direitos de grupos especiacuteficos da populaccedilatildeo mulheres negros

povos indiacutegenas crianccedilas abandonadas etc ( GARCIA 2003)

35

autora no Brasil o termo mais usual para a denominaccedilatildeo das entidades da sociedade civil era

organizaccedilatildeo natildeo-governamental A expressatildeo terceiro setor foi utilizada pela primeira vez

por pesquisadores nos Estados Unidos na deacutecada de 70 e na deacutecada de 80 tambeacutem passou a

ser empregada pelos pesquisadores europeus em virtude do termo expressar uma alternativa

para as desvantagens tanto do mercado associadas agrave maximizaccedilatildeo do lucro quanto do

governo com sua burocracia inoperante( COELHO 2002 p58)

Nesse sentido o Terceiro Setor eacute uma expressatildeo a que se recorre para distinguir as entidades

emergidas do seio da sociedade civil daquelas oriundas do primeiro setor (mercado) e do

segundo (aacuterea governamental) Essa denominaccedilatildeo evidencia o papel econocircmico que esse

segmento assume Coelho explica que essas organizaccedilotildees distinguir-se-iam das entidades

privadas inseridas no mercado por natildeo objetivarem o lucro e por responderem em alguma

medida agraves necessidades coletivas (COELHO 2002 p59)

Contudo Franco (1997) abre um parecircntese no sentido de natildeo se confundir coletivo e puacuteblico

pois nem todas as entidades pertencentes ao Terceiro Setor possuem fins puacuteblicos Grande

parte do Terceiro Setor eacute composta por organizaccedilotildees com fins coletivos privados como uma

organizaccedilatildeo para observaccedilatildeo de paacutessaros tropicais Essas entidades constituem-se num

agrupamento de cidadatildeos que se associam voluntariamente para perseguir objetivos que soacute

interessam a eles proacuteprios que natildeo tem a pretensatildeo ou a obrigaccedilatildeo de atender a um interesse

comum da sociedade e portanto que natildeo estatildeo voltados para o bem comum ou para a

chamada utilidade puacuteblica (FRANCO 1997 p37 apud COELHO 2002 p59)

Aleacutem dessas entidades jaacute citadas uma outra discussatildeo que se faz eacute sobre a relaccedilatildeo entre o

Terceiro Setor e os movimentos sociais Estariam os movimentos sociais circunscritos ao

Terceiro Setor Partindo-se de uma resposta negativa poder-se-ia argumentar que os

movimentos sociais natildeo integram o Terceiro Setor por natildeo possuiacuterem uma estrutura formal

feita para perdurar no tempo caracteriacutestica baacutesica de entidades do terceiro setor3 Na verdade

os movimentos sociais possuem um caraacuteter mais reivindicatoacuterio e pressionam o Estado

solicitando o fornecimento de bens ou serviccedilos

3 Conforme aleacutem de estar fora do Estado e natildeo ter fins lucrativos as entidades do Terceiro Setor possuem as seguintes caracteriacutesticas satildeo estruturadas satildeo autogovernadas Envolvem indiviacuteduos num significativo esforccedilo

voluntaacuterio (Lester Salamon amp Helmuth Anheir 1994 apud Coelho 2002 p61)

36

Entretanto nada eacute conclusivo pois tambeacutem no Terceiro Setor inscrevem-se entidades com

caraacuteter reivindicatoacuterio Essa questatildeo daacute uma ideacuteia da dificuldade de delimitaccedilatildeo dos contornos

desse setor em virtude da diversidade das entidades que o compotildeem

Alguns autores americanos (Lester Salamon Michael Gutowski amp Karen Pittman 1984 p3) entendem que as entidades do terceiro setor podem ser agrupadas da seguinte forma

1) Organizaccedilotildees que funcionam essencialmente para ajudar a seus proacuteprios membros tais

como as associaccedilotildees profissionais e clubes sociais

2) Igrejas sinagogas mesquitas e outras organizaccedilotildees religiosas sacramentadas

3) Organizaccedilotildees incluindo as fundaccedilotildees United Way e federaccedilotildees religiosas como a

Caridade Catoacutelica e a Federaccedilatildeo Judaica

4) Organizaccedilotildees que promovem caridade ou serviccedilos educacionais destinados

primeiramente para ajudar a qualquer pessoa e natildeo simplesmente seus membros

No Brasil a legislaccedilatildeo segrega as vaacuterias entidades que compotildeem o Terceiro Setor em dois

grupos ou duas formas juriacutedicas diferentes associaccedilatildeo e fundaccedilatildeo De acordo com o art 16 do

Coacutedigo Civil Brasileiro as entidades da sociedade civil sem finalidade lucrativa apresentam

caracteriacutesticas diversas em seus aspectos juriacutedicos Os arts 20 e 23 enunciam as seguintes

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo

a) os fins os meios proacuteprios e os interesses satildeo estabelecidos pelos associados

b) os associados podem alterar os fins

c) o patrimocircnio eacute constituiacutedo pelos associado e

d) os associados deliberam livremente

Por outro lado as fundaccedilotildees tecircm suas caracteriacutesticas anunciadas nos arts 24 e 30 do antigo

Coacutedigo Civil da seguinte forma

a) os fins os meios proacuteprios e os interesses satildeo estabelecidos pelo fundador

b) os fins satildeo perenes e imutaacuteveis

c) o patrimocircnio eacute fornecido pelo instituidor e

d) as resoluccedilotildees satildeo delimitadas pelo instituidor

37

Resgatando o conceito e natureza da Economia Solidaacuteria percebe-se que ela eacute um hiacutebrido

entre empresas econocircmicas e entidades da sociedade civil Aqui haacute uma semelhanccedila dos

segmentos pois ambas satildeo associaccedilatildeo de pessoas

Enquanto atividade econocircmica ela precisa gerar sobras mediante a qual se garante emprego e

renda aos trabalhadores Por outro lado enquanto atividade social ela eacute gerida por um coletivo

de pessoas que aleacutem de benefiacutecios econocircmicos cultuam valores humanos tais como

solidariedade e cooperaccedilatildeo em todo o processo econocircmico seja na relaccedilatildeo de trabalho na

relaccedilatildeo com clientes e fornecedores na relaccedilatildeo com a comunidade e com o meio ambiente

Uma situaccedilatildeo que a diferencia das empresas mercantis quando o empreendimento solidaacuterio

assume a forma juriacutedica de uma cooperativa eacute o fato de que o resultado econocircmico natildeo se

distribui com o mesmo dinamismo que em uma empresa mercantil Ele eacute distribuiacutedo

anualmente por ocasiatildeo da apuraccedilatildeo do Balanccedilo anual

Diante da dificuldade de se traccedilar precisamente as diferenccedila apenas pelas caracteriacutesticas

talvez o grande argumento para a segregaccedilatildeo dos empreendimentos de ES das entidades do

Terceiro Setor resida na legislaccedilatildeo Os empreendimentos mais representativos4 da Economia

Solidaacuteria conforme o Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (2006) as cooperativas e as

sociedades anocircnimas tecircm uma legislaccedilatildeo proacutepria apesar dos questionamentos sobre a sua

adequaccedilatildeo agraves peculiaridades dos empreendimentos de ES A cooperativa eacute uma associaccedilatildeo

autocircnoma de pessoas que se unem voluntariamente para satisfazer aspiraccedilotildees econocircmicas

sociais e culturais comuns por meio da criaccedilatildeo de uma sociedade democraacutetica e coletiva

cooperativa Diferenciam-se dos demais tipos de sociedades por serem ao mesmo tempo uma

associaccedilatildeo de pessoas e tambeacutem um negoacutecio e satildeo definidas pela lei 5764 de 16 de

dezembro de 1971 ( lei cooperativista) Jaacute os empreendimentos solidaacuterios que assumem a

forma juriacutedica de uma sociedade anocircnima satildeo regidos pela lei das Lei nordm 6404 de 15 de

dezembro de 1976 chamada lei das sociedades por accedilotildees

Veiga e Rech (2002) apontam outras diferenccedilas comparando uma associaccedilatildeo (terceiro setor)

e cooperativa (ES) conforme mostra o quadro 2 Entretanto este debate natildeo se encerraraacute ateacute

que sejam definidos contornos conceituais e legais mais efetivos aos segmentos

4 Apesar de serem representativos natildeo satildeo a maioria dos empreendimentos No Brasil as formas de organizaccedilatildeo

estatildeo assim distribuiacutedas associaccedilatildeo 54 grupos informais -33 organizaccedilotildees cooperativas 11 outras

formas de organizaccedilatildeo- 2

38

Quadro 2- Diferenccedilas entre Associaccedilotildees e Cooperativas

Criteacuterio Associaccedilatildeo Cooperativa

Conceito Sociedade de pessoas sem fins lucrativos

Sociedade de pessoas sem fins lucrativos e com especificidade de atuaccedilatildeo na atividade produtivacomercial

Finalidade Representar e defender os interesses dos associados Estimular a melhoria teacutecnica

profissional e social dos associados Realizar iniciativas de promoccedilatildeo educaccedilatildeo e assistecircncia

social

Viabilizar e desenvolver atividades de consumo produccedilatildeo prestaccedilatildeo de serviccedilos

creacutedito e comercializaccedilatildeo de acordo com os

interesses dos seus associados

Constituiccedilatildeo Miacutenimo de duas pessoas Miacutenimo de 20 pessoas fiacutesicas Legislaccedilatildeo Constituiccedilatildeo ( art 5ordm XVII a XXI

e art 174 sect2ordm) Coacutedigo civil Lei 576471 Constituiccedilatildeo ( art 5ordm XVII a

XXI e art 174 sect Coacutedigo civil Patrimocircnio Capital Patrimocircnio eacute formado por taxa

paga pelos associados doaccedilotildees

fundos e reservas Natildeo possui

capital social

Possui capital social formado por quotas-partes podendo receber doaccedilotildees

empreacutestimos e processos de capitalizaccedilatildeo

Forma de gestatildeo Nas assembleacuteias cada pessoa tem

direito a um voto As decisotildees

devem sempre ser tomadas com a participaccedilatildeo e o envolvimento dos

associados

Nas assembleacuteias cada pessoa tem direito a um voto As decisotildees devem sempre ser

tomadas com a participaccedilatildeo e o envolvimento

dos associados

Abrangecircncia aacuterea de

accedilatildeo Limita-se aos seus objetivos podendo ter abrangecircncia nacional

Limita-se aos seus objetivos e possibilidade de reuniotildees podendo ter abrangecircncia

nacional Operaccedilotildees Soacute pode realizar atividade

comercial para a implementaccedilatildeo de

seus objetivos sociais Pode realizar operaccedilotildees financeiras e

bancaacuterias usuais

Realiza plena atividade comercial Realiza operaccedilotildees financeiras bancaacuterias e pode

candidatar-se a empreacutestimos e aquisiccedilotildees do

governo federal

Responsabilidades Os associados natildeo satildeo

responsaacuteveis diretamente pelas

obrigaccedilotildees contraiacutedas pela

associaccedilatildeo A sua diretoria soacute pode

ser responsabilizada se agir sem o consentimento dos associados

Os cooperados natildeo satildeo responsaacuteveis

diretamente pelas obrigaccedilotildees contraiacutedas pela

cooperativa a natildeo ser tambeacutem nos casos em

que decidem que a sua responsabilidade eacute

ilimitadaSua diretoria soacute pode ser

responsabilizada se agir sem o consentimento dos associados

Remuneraccedilatildeo Os dirigentes natildeo tecircm remuneraccedilatildeo

pelo exerciacutecio de suas funccedilotildees

recebem apenas reembolso de suas despesas realizadas para o desempenho dos seus cargos

Os dirigentes podem ser remunerados por retiradas mensais proacute-labore definidas pela assembleacuteia aleacutem do reembolso de suas

despesas

Tributaccedilatildeo Deve fazer anualmente uma declaraccedilatildeo de isenccedilatildeo de imposto

de renda

Isento de impostos sobre operaccedilotildees com

seus associados Recolhe IRPJ sobre operaccedilotildees com terceiros Paga impostos e taxas decorrentes de accedilotildees comerciais

Resultados Financeiros O resultado positivo (superaacutevit)

obtido de operaccedilotildees entre os

associados seratildeo aplicados na

proacutepria associaccedilatildeo

O resultado positivo (sobras) satildeo divididas de

acordo com o volume de negoacutecios ou

participaccedilatildeo de cada associado Satildeo

constituiacutedas reservas de 10 para o fundo de

reserva e 5 para o Fundo Educacional ( FATES)

Fonte Adaptado de Veiga e Rech (2002)

39

24 Diferentes concepccedilotildees e modelos de participaccedilatildeo na administraccedilatildeo

A Economia Solidaacuteria na perspectiva apontada por Tauile (2001) sinteticamente possui os

seguintes traccedilos distintivos reciprocidade coletividade combinaccedilatildeo de recursos

mercantis e natildeo-mercantis cidadania que somente se constroacutei no espaccedilo puacuteblico Logo o

conceito de participaccedilatildeo eacute tambeacutem chave para compreender a dinacircmica dos empreendimentos

soliaacuterios e a autogestatildeo

No acircmbito de uma empresa a participaccedilatildeo reveste-se de um caraacuteter bastante importante

capaz de alterar as relaccedilotildees de poder no processo de gestatildeo dos negoacutecios pois

A participaccedilatildeo consiste basicamente na criaccedilatildeo de oportunidades sob as condiccedilotildees adequadas para

que as pessoas influam nas decisotildees que as afetam Essa influecircncia pode ser de pouca a muita [

participaccedilatildeo] constitui um caso especial de delegaccedilatildeo no qual o subordinado adquire um controle

maior uma maior liberdade de escolha em relaccedilatildeo a suas proacuteprias responsabilidades O termo

participaccedilatildeo eacute usualmente aplicado agrave maior influecircncia do subordinado sobre assuntos de responsabilidade do superior (MCGREGHOR 1960 p126 e 130 apud PATEMAN 1992 p 38)

Contudo a participaccedilatildeo eacute uma categoria teoacuterica bastante controversa especialmente no

acircmbito dos negoacutecios jaacute que embora no mundo moderno o local de trabalho seja agrave base de

relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo esse espaccedilo tem sido marcado desde sua origem pela negaccedilatildeo de

relaccedilotildees democraacuteticas de participaccedilatildeo Mais recentemente diversos movimentos tecircm

persuadido empresas a adotarem sistemas de participaccedilatildeo Eacute grande a variedade de modelos

participativos no acircmbito empresarial Compreendem desde accedilotildees pontuais de empregados que

apresentam suas sugestotildees aos negoacutecios ateacute a participaccedilatildeo na propriedade e nos lucros Far-

se-aacute em seguida uma imersatildeo nos diferentes conceitos de participaccedilatildeo nos negoacutecios buscando

distinguir tais conceitos daquele adotado no presente trabalho

Segundo Arantes (2000) a participaccedilatildeo nas organizaccedilotildees surgiu em decorrecircncia da pressatildeo

sindical para utilizaccedilatildeo de fundamentos democraacuteticos nas organizaccedilotildees Posteriormente foi

sendo sustentada por concepccedilotildees humanistas de administraccedilatildeo Um breve histoacuterio dessa

evoluccedilatildeo mostra que os primeiros debates de participaccedilatildeo na administraccedilatildeo ocorreram por

volta de 1880 quando nos Estados Unidos numa empresa chamada Midvale Steel Frederick

Wilson Taylor obstinado por incrementar a eficiecircncia de seus subordinados deparou com um

impasse Taylor observava e cronometrava as atividades de vaacuterios funcionaacuterios com o

objetivo de descobrir uma base cientiacutefica para compreender e executar os trabalhos

40

(ARANTES 2000 p08) Ele queria encontrar o meacutetodo mais eficiente de trabalho e que

fosse melhor para todos Entretanto apoacutes conseguir meacutetodos e maneiras para aumentar o

rendimento dos operaacuterios ele se deparou com o chamado problema dos salaacuterios

Na eacutepoca existiam duas formas praticadas de pagamento dos funcionaacuterios pagamento por dia

ou por peccedila produzida Na primeira o trabalhador recebia o salaacuterio independentemente de

sua produccedilatildeo o que tornava o aumento da eficiecircncia extremamente desinteressante para ele

Na segunda apresentava-se a seguinte questatildeo se a produccedilatildeo aumentava muito o valor por

peccedila diminuiacutea fazendo com que o sindicato estabelecesse volumes maacuteximos de produccedilatildeo por

dia de maneira que os trabalhadores natildeo fossem prejudicados

Segundo Maximiano (1996 p44)

Para resolver este problema que os dois sistemas ofereciam jaacute na eacutepoca se falava em um sistema

de participaccedilatildeo dos empregados nos lucros das empresas o qual se tem notiacutecia de ter sido praticado na Europa desde 1842 No entanto tambeacutem jaacute se reconhecia que esse sistema tinha imperfeiccedilotildees

uma vez que as flutuaccedilotildees nos lucros beneficiando ou prejudicando o empregado eram devidas a

fatores (como preccedilo da mateacuteria-prima ou decisotildees gerenciais) sobre os quais ele natildeo tinha controle

Mas foi com o movimento de relaccedilotildees humanas (os humanistas) que o advento da

participaccedilatildeo ganhou forccedila O movimento desenvolveu-se a partir de experiecircncias e estudos

realizados na Western Eletric Company entre 1924 e 1933 Esses experimentos ficaram

conhecidos como os experimentos de Hawthorne em virtude de a maioria dos estudos

terem sido realizados na faacutebrica de Hawthorne da Western Eletric nas proximidades de

Chicago

O objetivo desses estudos a princiacutepio natildeo era a avaliaccedilatildeo de comportamentos humanos

motivaccedilotildees ou participaccedilatildeo visavam apenas agrave identificaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre o niacutevel de

iluminaccedilatildeo do local de trabalho e a produtividade dos empregados Os resultados obtidos natildeo

foram conclusivos A produtividade aparentava crescer tanto quando se aumentava a

iluminaccedilatildeo como tambeacutem quando se diminuiacutea Concluiu-se que algo aleacutem da iluminaccedilatildeo

influenciava no rendimento dos trabalhadores

Elton Mayo professor de Harvard participante dessas experiecircncias tinha uma experiecircncia

anterior de estudo das sociedades aboriacutegenes da Austraacutelia as quais se caracterizam por serem

muito unidas o que fazia despertar nos indiviacuteduos a sensaccedilatildeo de pertencer ao grupo

41

Comparando-se os trabalhadores da seccedilatildeo de enrolamentos de carreteacuteis onde as experiecircncias

foram desenvolvidas com as sociedades aboriacutegenes constatou-se que os trabalhadores

apresentavam a destruiccedilatildeo total da sensaccedilatildeo de pertencimento a um grupo ou seja era o

oposto da sociedade aboriacutegene Mayo explicou da seguinte forma a depressatildeo e alienaccedilatildeo dos

trabalhadores do setor de enrolamento de carreteacuteis

Quer como antropoacutelogo estudando uma raccedila primitiva quer como industriais estudando alguma

parte do esquema moderno caoacutetico e complexo de produccedilatildeo encontramos sempre grupos de

indiviacuteduos tanto nas selvas naturais como nas cidades modernas que encontram sua felicidade e

seguranccedila pessoal desde que exista a subordinaccedilatildeo do indiviacuteduo a um objetivo comum O homem

solitaacuterio que trabalha soacute eacute sempre uma pessoa muito infeliz( HAMPTON 1983 apud ARANTES 2000)

Outros autores tambeacutem contribuiacuteram para o desenvolvimento da Escola de Relaccedilotildees

Humanas Em 1910 na Alemanha Hugo Munsterberg realizou experimentos em que buscava

utilizar conhecimentos da psicologia experimental aplicados para ajudar na seleccedilatildeo de

homens mais bem capacitados para o trabalho A partir da seleccedilatildeo buscava-se determinar

condiccedilotildees psicoloacutegicas e influecircncias na mente humana capazes de obtenccedilatildeo de maiores

iacutendices de produccedilatildeo e um comportamento previamente desejado pela administraccedilatildeo

Em 1935 Kurt Lewin desenvolveu um dos primeiros estudos sobre motivaccedilatildeo humana e

dinacircmica de grupo o qual ficou conhecido como a teoria de campo Lewin supunha que o

comportamento humano seria derivado dos fatos existentes que adquiriria caraacuteter de um

campo-dinacircmico em que cada parte depende da inter-relaccedilatildeo com outras partes

Abraham H Maslow desenvolveu estudos sobre a teoria das necessidades motivacionais em

1944 proporcionando uma grande contribuiccedilatildeo para o desenvolvimento humano no trabalho

De acordo com a Teoria da Hierarquia das Necessidades de Maslow as pessoas satildeo

motivadas por cinco tipos distintos de necessidades fisioloacutegicas de seguranccedila de afeto de

estima e de auto-realizaccedilatildeo ( ARANTES 2000 p12)

Essas necessidades estatildeo dispostas de acordo com uma hierarquia segundo sua capacidade de

motivar o comportamento humano Num primeiro degrau o ser humano eacute motivado por

necessidades fisioloacutegicas Eles buscaratildeo satisfazecirc-las primeiramente caso natildeo estejam

satisfeitas elas tenderatildeo a monopolizar seu comportamento oferecendo dessa forma um

grande poder de motivaccedilatildeo Agrave medida que as necessidades vatildeo sendo satisfeitas o poder de

42

motivaccedilatildeo vai perdendo sua forccedila dando lugar a um novo niacutevel de descontentamento

deslocando o poder de motivaccedilatildeo para patamares superiores de necessidade dentro da

hierarquia

Entretanto pode ocorrer que as pessoas aleacutem de subirem tambeacutem desccedilam dentro da

hierarquia das necessidades A ausecircncia de satisfaccedilatildeo de necessidades inferiores pode

aumentar sua importacircncia relativa Quando haacute uma perda do emprego por exemplo o

indiviacuteduo passa a demonstrar menor necessidade pela estima e seu comportamento passa a

ser conduzido pela necessidade de pagar as contas e da seguranccedila de um novo emprego (

ARANTES 2000 p 12)

O movimento das relaccedilotildees humanas superou a abordagem claacutessica5 em virtude da ecircnfase nas

necessidades sociais Segundo Stoner

Aparentemente o ambiente social no local de trabalho eacute apenas um dos vaacuterios fatores interativos

que influenciam a produtividade Os niacuteveis de salaacuterios os niacuteveis de interesse por determinadas

tarefas a estrutura e a cultura organizacional e as relaccedilotildees entre trabalhadores e a administraccedilatildeo

tambeacutem tecircm muita importacircncia (STONER apud ARANTES 2000)

Aleacutem dessa anaacutelise histoacuterico-humanista haacute outros enfoques que podem explicar a origem da

participaccedilatildeo nas relaccedilotildees produtivas Alguns autores defendem que a participaccedilatildeo pode ter

sido originada por dois fatores a conflitual e a funcional

A conflitual tem raiz no antagonismo entre capital e trabalho surgindo neste contexto o movimento sindical como uma forma de divisatildeo de poder de maneira a diminuir conflitos A

participaccedilatildeo funcional originou-se da necessidade de reduzir a burocratizaccedilatildeo e

consequumlentemente promover a aproximaccedilatildeo entre dirigentes e dirigidos (ARANTES 2000 p15)

Na primeira perspectiva a participaccedilatildeo deixa de ser algo concebido nos estreitos limites da

organizaccedilatildeo e suas necessidades intriacutensecas para se tornar o resultado de tensotildees sociais

dentro e fora das empresas Nessa linha de pensamento Dacheler e Wilpert e Kenneth

Walker na visatildeo de Arantes satildeo os autores que mais identificavam a ligaccedilatildeo entre a

participaccedilatildeo na sociedade e a participaccedilatildeo nas organizaccedilotildees

5 Nessa abordagem a produtividade era tratada quase que exclusivamente como um problema de engenharia

43

Conforme esses autores a participaccedilatildeo pode ser concebida em quatro perspectivas teoacutericas

Teoria Democraacutetica Teoria Socialista Teoria do Desenvolvimento e Crescimento Humano e

Teoria da Produtividade e Eficiecircncia

Teoria Democraacutetica

Os principais expoentes dessa corrente satildeo Rosseau Stuart Mill e Tocqueville Para eles a

participaccedilatildeo democraacutetica deve ocorrer em todos os acircmbitos sociais e natildeo somente atraveacutes da

representaccedilatildeo poliacutetica no Estado Toda instituiccedilatildeo deve buscar a incorporaccedilatildeo de valores

democraacuteticos Esses valores aparecem nos ambientes fabris na forma institucionalizada

atraveacutes da representaccedilatildeo de empregados em diversos niacuteveis ou na forma gerencial

administrativa atraveacutes da participaccedilatildeo direta nas decisotildees principalmente na liberdade de

execuccedilatildeo de suas tarefas(ARANTES 2000 p 17)

Teoria Socialista

Essa concepccedilatildeo tem origem nos socialistas utoacutepicos no socialismo cientiacutefico de Marx e

Engels e no anarquismo de Proudhon A participaccedilatildeo encerra a ideacuteia de distribuiccedilatildeo de poder

na sociedade podendo ser dois enfoques ou duas correntes distintas a anarquista que defende

a centralidade do poder nas matildeos do povo e a comunista corrente em que o poder eacute exercido

atraveacutes do Estado Em uma organizaccedilatildeo a participaccedilatildeo atinge seu aacutepice quando consegue

exercer a autogestatildeo

Teoria das Relaccedilotildees e Desenvolvimento Humano

Essa teoria emerge do ambiente gerencial opondo-se agrave Teoria Socialista em que a

participaccedilatildeo irradia dos empregados Admite que o ambiente de trabalho gera contradiccedilotildees

entre o desejo pessoal e a necessidade da empresa e esses conflitos podem provocar

insatisfaccedilatildeo por parte dos empregados resultando em diminuiccedilatildeo da produtividade da

empresa Entretanto a motivaccedilatildeo pode evitar o potencial conflito Isso eacute possiacutevel atraveacutes do

desenvolvimento de equipes de trabalho e arranjos da estrutura organizacional facilitando a

praacutetica da participaccedilatildeo e integraccedilatildeo entre os empregados e a empresa(ARANTES 2000 p

18)

44

Teoria da produtividade e Eficiecircncia

Essa teoria concebe a participaccedilatildeo como uma tecnologia disponiacutevel agrave gerecircncia capaz de

proporcionar maior produtividade e eficiecircncia Segundo seus defensores a participaccedilatildeo nas

tarefas eacute uma ferramenta para enriquecimento das funccedilotildees e aumento da eficiecircncia gerando

maiores lucros que posteriormente podem vir a ser divididos proporcionando novo fator de

motivaccedilatildeo

Partidaacuterio dessa uacuteltima concepccedilatildeo Walker (1974) vecirc a participaccedilatildeo nas organizaccedilotildees como

uma funccedilatildeo gerencial que permite graus de envolvimento dos trabalhadores no processo

decisoacuterio objetivando os interesses da empresa Esse envolvimento eacute de interesse dos

trabalhadores uma vez que estariam contribuindo e intervindo em situaccedilotildees que dizem

respeito diretamente agraves suas vidas Para Walker

Eacute atraveacutes da participaccedilatildeo dos empregados que as empresas poderatildeo encontrar as soluccedilotildees para a

melhoria de sua produccedilatildeo O conhecimento dos funcionaacuterios embora seja uma alternativa pouco

utilizada pelas empresas pode ser a soluccedilatildeo para grandes problemas operacionais (WALKER 1974 apud ARANTES 2000)

As mais variadas perspectivas de participaccedilatildeo possuem como premissas as consequumlecircncias

que conforme a matriz teoacuterica poderia afetar mais ou menos a empresa mais ou menos os

trabalhadores de acordo com o interesse subjacente a cada perspectiva Walker apresenta um

quadro no qual sintetiza as perspectivas de participaccedilatildeo e suas possiacuteveis repercussotildees

Quadro 3- Perspectivas da participaccedilatildeo e suas possiacuteveis repercussotildees

Perspectivas Possiacuteveis Repercussotildees

Promoccedilatildeo dos interesses dos trabalhadores Melhores condiccedilotildees de emprego

Democracia Maior influecircncia dos trabalhadores nas decisotildees

empresariais

Reduccedilatildeo da alienaccedilatildeo Maior satisfaccedilatildeo dos trabalhadores

Utilizaccedilatildeo dos recursos humanos Maior eficaacutecia

Cooperaccedilatildeo e atenuaccedilatildeo dos conflitos Menor nuacutemero de greves

Soluccedilatildeo dos problemas sociais da comunidade Melhoramento dos recursos sociais da comunidade

Freio agrave eficaacutecia Menos eficaacutecia

Inclusatildeo de prerrogativas sociais na empresa Fins da empresa privada

Responsabilidades sociais da empresa Representaccedilatildeo mais equilibrada dos interesses

Fonte WALKER 1974 p 07 apud ARANTES 2000

45

Sinteticamente a participaccedilatildeo dos empregados nas decisotildees das empresas via de regra pode

ocorrer de duas formas em menor escala quando a decisatildeo versa sobre o seu proacuteprio trabalho

e de seu grupo e a decisatildeo nas diretrizes da empresa como um todo Na segunda forma aleacutem

da decisatildeo sobre o trabalho e sua organizaccedilatildeo eacute concedida aos trabalhadores a possibilidade

de decidirem tambeacutem sobre a alocaccedilatildeo de recursos investimentos e destinaccedilatildeo do resultado

destes

Uma das formas mais difundidas de participaccedilatildeo dos empregados nas decisotildees das empresas eacute

a representativa quando um funcionaacuterio compotildee o conselho da empresa Essa forma eacute

mundialmente referenciada como company board Com essa representaccedilatildeo os empregados

tomam parte nas decisotildees que variam desde aquelas que afetam seu trabalho como tambeacutem

as relativas agraves estrateacutegias da empresa decisotildees de obtenccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos

direcionamento de lucros e crescimento

Satildeo igualmente exemplos de participaccedilatildeo representativa os comitecircs de empresa e a co-gestatildeo

na Alemanha Na co-gestatildeo haacute a garantia de que o empregador soacute poderaacute tomar certas

medidas com a anuecircncia do empregado Esta co-participaccedilatildeo inclui decisotildees sobre escolha

de pessoal transferecircncias preenchimentos de vagas demissotildees e sobre as jornadas de

trabalho e descansos( ARANTES 2000 p 26)

Outra forma de participaccedilatildeo eacute aquela que incide sobre os resultados (no lucro) Essa pode ter

conexotildees e ligaccedilotildees diretas com outras formas de participaccedilatildeo na empresa tal como a

participaccedilatildeo nas decisotildees ou pode apresentar-se como um conjunto de remuneraccedilatildeo

objetivando o aumento da motivaccedilatildeo e do envolvimento dos empregados bem como forma de

compartilhar os riscos da empresa

A substituiccedilatildeo da remuneraccedilatildeo fixa por mecircs ou hora reconhecida como padratildeo por compostos de

remuneraccedilatildeo dimensatildeo vinculada ao desempenho teve suas origens no pagamento por peccedila

produzida e nos precircmios por produtividade muito comuns no iniacutecio do seacuteculo XIX Esse sistema

diminuiu significativamente com o aumento e sofisticaccedilatildeo do trabalho uma vez que foca a

realizaccedilatildeo da tarefa reforccedila a cultura individualista a necessidade de comando e impossibilita o

desenvolvimento de inovaccedilotildees (ARANTES 2000 p 27)

O objetivo das remuneraccedilotildees dimensotildees segundo Wood e Picareli eacute alinhar e convergir

esforccedilos para melhorar o desempenho da empresa A remuneraccedilatildeo dimensatildeo pode ser

subdividida em dois grandes grupos a participaccedilatildeo nos lucros e remuneraccedilatildeo por

46

resultados A primeira refere-se agrave divisatildeo de resultados globais obtidos pela empresa

enquanto a remuneraccedilatildeo por resultados tem abrangecircncia menor relacionando-se com a

obtenccedilatildeo de metas individuais ou de equipes

A remuneraccedilatildeo por resultados combina a praacutetica de administraccedilatildeo participativa com um

sistema de bocircnus geralmente fixado pelo empregado ou pelo grupo ou seja eacute estabelecida

uma foacutermula de transformaccedilatildeo das metas previamente fixadas em bocircnus Jaacute a participaccedilatildeo

nos lucros normalmente natildeo estaacute ligada a foacutermulas de desempenho individual ou de grupo e

natildeo necessariamente estaacute vinculada a praacuteticas de administraccedilatildeo participativa O recebimento

das bonificaccedilotildees pode estar somente ligado ao resultado final da empresa e uma quantidade

arbitraacuteria pode ser distribuiacuteda tambeacutem de forma arbitraacuteria apoacutes atingir uma meta de lucro

anual(ARANTES 2000 p28)

Arantes enfatiza que se participativamente estipulada e coletivamente controlada e

acompanhada a distribuiccedilatildeo de lucros proporciona um aumento de motivaccedilatildeo individual e

reciacuteproca atraveacutes do monitoramento coletivo do trabalho pautado na obtenccedilatildeo de vantagens

comuns Ressalta ainda que a participaccedilatildeo nas decisotildees sem a obtenccedilatildeo de resultados eacute falha

e de difiacutecil construccedilatildeo Por outro lado a obtenccedilatildeo de parte nos resultados mediante a

distribuiccedilatildeo dos lucros desacompanhada de envolvimento nas decisotildees tende a desvirtuar os

propoacutesitos da participaccedilatildeo

Uma outra modalidade de participaccedilatildeo existente eacute a participaccedilatildeo na propriedade que se daacute

atraveacutes de fundo de pensatildeo ou pela participaccedilatildeo na propriedade daqueles que efetivamente

trabalham na empresa No fundo de pensatildeo o trabalhador tem uma quota de participaccedilatildeo da

empresa durante o tempo trabalhado mediante a qual tem sua aposentadoria garantida Na

participaccedilatildeo da empresa os trabalhadores podem ser soacutecios efetivos acionistas minoritaacuterios

ou portadores de pequenas parcelas de accedilotildees A obtenccedilatildeo de parte da propriedade da empresa

tende ao reforccedilo da identificaccedilatildeo e do comprometimento com a organizaccedilatildeo e a ampliaccedilatildeo da

participaccedilatildeo nos lucros e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo de terceiros de forma especulativa

reforccedilando o caraacuteter de longo prazo da empresa

Todas as modalidades de participaccedilatildeo ateacute o momento analisadas dizem respeito agraves relaccedilotildees

Capital x Trabalho ainda que em muitos casos a participaccedilatildeo contribua para minimizar a

supremacia do primeiro sobre o segundo tornando mais democraacuteticas as relaccedilotildees de produccedilatildeo

47

e proporcionando ganhos reais (econocircmicos e poliacuteticos) aos trabalhadores No entanto no que

se refere ao escopo desta pesquisa eacute a participaccedilatildeo total que se daacute no acircmbito de

empreendimentos cujo traccedilo fundamental seja a coletividade dos meios de produccedilatildeo que

interessa diretamente e sobre a qual repousa o papel da contabilidade Portanto apoacutes a

digressatildeo realizada para serem destacadas as diferenccedilas fundamentais das perspectivas

teoacutericas aqui inscritas no proacuteximo item retornar-se-aacute ao centro das discussotildees que circundam

o objeto da presente pesquisa qual seja a Autogestatildeo forma proacutepria de administraccedilatildeo dos

chamados Empreendimentos Solidaacuterios e base sobre a qual emerge a Contabilidade como

instrumento e como necessidade

25 Autogestatildeo Modelo de participaccedilatildeo total na gestatildeo e princiacutepio da ES

No ambiente da administraccedilatildeo a autogestatildeo pode ser definida como uma forma de

participaccedilatildeo em que a totalidade do capital da empresa pertence aos seus participantes ou

seja os seus trabalhadores os quais assumem o controle da gestatildeo da empresa Nesse modelo

de gestatildeo eacute o grupo quem determina os objetivos e diretrizes da empresa sem reverecircncia a

nenhuma autoridade externa Na autogestatildeo natildeo existe diferenccedila entre administradores e

administrados visto que todos participam e detecircm a propriedade do capital da empresa

Analisando sob um prisma mais amplo que os limites empresariais compreende-se que a

conquista dessa forma de gestatildeo resultou da busca por alternativas agrave gestatildeo autoritaacuteria e

centralizada Portanto estaacute associada a uma antiga reivindicaccedilatildeo dos trabalhadores pela

democratizaccedilatildeo das estruturas de decisatildeo nas faacutebricas ou seja tem uma vinculaccedilatildeo com o

ideal poliacutetico da emancipaccedilatildeo do trabalhador e com a utopia de uma sociedade mais justa e

democraacutetica

Dessa forma este trabalho compreende a participaccedilatildeo na gestatildeo como a base para formaccedilatildeo

da cidadania Cidadania e participaccedilatildeo satildeo conceitos gecircmeos com os quais se define um outro

conceito Democracia Na verdade haacute um triacircngulo conceitual complementar e dependente

Democracia Cidadania Participaccedilatildeo sobre o qual se inscreve a concepccedilatildeo de atuaccedilatildeo da

contabilidade Aqui uma aproximaccedilatildeo com as orientaccedilotildees teoacutericas socialistas e com a Teoria

Democraacutetica eacute clara pois segundo Pateman

48

A teoria da democracia participativa eacute construiacuteda em torno da afirmaccedilatildeo de que os indiviacuteduos e

suas instituiccedilotildees natildeo podem ser considerados isoladamente A existecircncia de instituiccedilotildees

representativas a niacutevel nacional natildeo basta para a democracia pois o maacuteximo de participaccedilatildeo de

todas as pessoas a socializaccedilatildeo ou treinamento social precisa ocorrer em outras esferas de

modo que as atitudes e qualidades psicoloacutegicas necessaacuterias possam se desenvolver Esse

desenvolvimento ocorre por meio do proacuteprio processo de participaccedilatildeo (PATEMAN 1992 p60)

A autora toma a participaccedilatildeo como o mecanismo democraacutetico por excelecircncia a democracia eacute

a finalidade pela qual a participaccedilatildeo deve se instituir e a finalidade da democracia eacute o bem

comum Esse bem comum natildeo eacute algo dado mas construiacutedo a partir do processo de educaccedilatildeo

que somente pode existir por meio da participaccedilatildeo que em uacuteltima instacircncia se constitui na

autogestatildeo A democracia segundo a autora pressupotildee representaccedilatildeo lideranccedilas mas ela natildeo

sobrevive sem a participaccedilatildeo dos indiviacuteduos como autores das decisotildees mais fundamentais

sob as quais se submeteratildeo agraves vontades individuais A participaccedilatildeo nos niacuteveis mais inferiores

da organizaccedilatildeo social e econocircmica eacute uma necessidade inerente agrave participaccedilatildeo nos niacuteveis mais

altos da poliacutetica A participaccedilatildeo eacute portanto o meio pelo qual se adquire as habilidades

teacutecnicas poliacuteticas e emocionais para o exerciacutecio democraacutetico que comeccedila no ambiente de

trabalho ou nos niacuteveis mais elementares de reproduccedilatildeo da vida em sociedade

Uma leitura dos empreendimentos de economia solidaacuteria agrave luz da Teoria Democraacutetica

portanto leva a perceber que tais iniciativas natildeo tecircm uma funccedilatildeo somente de alternativa ao

desemprego mas se constituem num aprendizado para a Democracia no sentido mais amplo

Utilizando a autogestatildeo como meacutetodo de administraccedilatildeo adquirem estatuto pedagoacutegico no

qual os cidadatildeos assumem compromissos e objetivos comuns tomam decisotildees reforccedilam o

senso de responsabilidade e estimula maior participaccedilatildeo pelo sentimento de eficaacutecia que suas

decisotildees adquirem Entatildeo uma das motivaccedilotildees da participaccedilatildeo eacute o sentido da eficaacutecia poliacutetica

ou o sentido de competecircncia poliacutetica Isso eacute compreendido como o sentimento de que a accedilatildeo

poliacutetica do indiviacuteduo tem ou poder ter um impacto sobre o processo poliacutetico ou seja vale a

pena cumprir alguns deveres ciacutevicos (CAMPBELL et al 1965 p187 apud PATEMAN

1992) E mais

As pessoas com senso de eficaacutecia poliacutetica tecircm mais probabilidade de participar de poliacutetica do que

aquelas que carecem desse sentimento e se descobriu tambeacutem que subjacente ao senso de eficaacutecia

poliacutetica estaacute uma sensaccedilatildeo geral de eficiecircncia pessoal que envolve autoconfianccedila na relaccedilatildeo do

sujeito com o mundo As pessoas que se sentem mais eficientes em suas tarefas e desafios cotidianos tecircm mais probabilidade de participar em poliacutetica (MILBRATH 1965 p59 apud PATEMAN 1992)

49

Desse modo eacute que a competecircncia para a autogestatildeo ganha importacircncia significativa pois tais

empreendimentos findam por apresentar um caraacuteter de muacuteltiplas funccedilotildees na sociedade

contemporacircnea funccedilatildeo econocircmica poliacutetica e cultural A potencialidade dos empreendimentos

autogestionaacuterios adveacutem de uma condiccedilatildeo muito importante qual seja a totalidade do capital

da empresa pertence aos seus participantes e sendo assim eles adquirem uma condiccedilatildeo social

de simetria que permite as condiccedilotildees favoraacuteveis agrave participaccedilatildeo uma vez que as diferenccedilas

econocircmicas desaparecem 6

Entretanto eacute necessaacuterio que todas as condiccedilotildees e recursos na aacuterea de gestatildeo estejam a serviccedilo

da eficaacutecia poliacutetica a fim de viabilizar decisotildees coletivas e de fazer com que o fluxo de

informaccedilotildees seja democraticamente acessado De forma contraacuteria num processo de

autogestatildeo o domiacutenio assimeacutetrico de informaccedilotildees e assimetria econocircmica pode interferir

negativamente no acircnimo para a participaccedilatildeo contribuindo para o fracasso das iniciativas de

empreendimentos solidaacuterios Essa preocupaccedilatildeo deve ocupar o centro das atenccedilotildees de quem

deseja contribuir para o fortalecimento das alternativas solidaacuterias de autogestatildeo

Assim ao se buscar discutir no acircmbito desta pesquisa a dimesatildeo contaacutebil nos

empreendimentos solidaacuterios e as possiacuteveis demandas dos mesmos agrave contabilidade desloca-

se o problema dos estreitos limites contaacutebeis para procura-se compreender a complexidade

das relaccedilotildees que determinam tais demandas e fundamentalmente busca-se problematizar o

papel de uma aacuterea eminentemente teacutecnica para colocaacute-la no marco civilizatoacuterio em que

claramente jaacute natildeo concebe a neutralidade da teacutecnica tal qual se propalava no iniacutecio do

seacuteculo XIX

6 Autores vinculados agrave Teoria Democraacutetica apontam como primeiro obstaacuteculo agrave participaccedilatildeo as grandes diferenccedilas soacutecio-

econocircmicas Tocqueville em seu claacutessico Democracia na Ameacuterica ao indicar as origens que solidificaram a democracia

norte-americana busca nas condiccedilotildees socioeconocircmicas a explicaccedilatildeo Os emigrantes que vieram estabelecer-se na costa da

Nova Inglaterra pertenciam todos agraves classes abastadas da matildee-patria Sua reuniatildeo no solo americano apresentou desde a

origem o singular fenocircmeno de uma sociedade em que natildeo havia nem grandes senhores nem povo e por assim dizer nem

pobres nem ricos (Tocqueville 1998 p 40)

50

26 Experiecircncias Internacionais de autogestatildeo Alemanha Inglaterra e Yugoslaacutevia

Antes do Brasil em vaacuterios paiacuteses jaacute se registravam experiecircncias de autogestatildeo ou co-gestatildeo

A experiecircncia pioneira em co-gestatildeo teve iniacutecio na Alemanha no final do seacuteculo XIX com a

lei de desregulamentaccedilatildeo de manufaturas e a lei sobre as comissotildees de trabalho da induacutestria

extrativa Alicerccedilada na doutrina social catoacutelica representou um contraponto agraves ideacuteias

revolucionaacuterias comunistas do iniacutecio do seacuteculo XX Baseou-se na ideacuteia de que a colaboraccedilatildeo

de classes e a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio poliacutetico deveriam prevalecer em relaccedilatildeo agrave extinccedilatildeo da

propriedade privada Defendia o trabalho integrativo como forma de desenvolvimento das

empresas e da sociedade Em muitos casos na co-gestatildeo haacute a garantia de que o empregador

soacute poderaacute tomar certas medidas com a anuecircncia do empregado Esta co-participaccedilatildeo inclui

decisotildees sobre escolha de pessoal transferecircncias preenchimentos de vagas demissotildees e sobre

as jornadas de trabalho e descansos(ARANTES 2000 p 26)

Na antiga Yugoslaacutevia conforme alguns pesquisadores tais como Dunlop ( 1958 ) e Vanek

(1963) a autogestatildeo apresentou sua melhor tipificaccedilatildeo O sistema Iugoslavo foi o

resultado de uma lei de 1950 a qual determinou que as empresas fossem administradas

pelos trabalhadores coletivamente Embora desde entatildeo tenha sido alterada diversas

vezes recentemente ainda representava a base do sistema econocircmico yugoslavo o qual

era fundamentado no trabalho coletivo constituiacutedo por empresas administradas pelos

trabalhadores e que cujo resultado final era dividido entre todos os membros

A constituiccedilatildeo Yugoslava revisada em 1963 descrevia em seu artigo 6 que o sistema

econocircmico do paiacutes seria uma comunidade de trabalho voluntaacuterio com os meios de

produccedilatildeo pertencentes a todos e a produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo tambeacutem gerenciadas por todos

Em geral o conjunto de trabalhadores era quem estruturava a administraccedilatildeo das empresas

em dois principais alicerces na eleiccedilatildeo de gestores e no estabelecimento de

procedimentos de administraccedilatildeo e controle Eram os trabalhadores quem escolhiam

diretamente em eleiccedilotildees secretas um grupo denominado de Conselho de Trabalhadores

cujo nuacutemero de membros variava entre 15 e 120 dependendo do tamanho da empresa O

papel do Conselho de Trabalhadores correspondia ao papel de proprietaacuterios nas empresas

tradicionais Dessa forma eram-lhes atribuiacutedas as seguintes responsabilidades exame e

aprovaccedilatildeo de programas perioacutedicos da empresa que incluiam planos de produccedilatildeo

51

financcedilas e investimentos poliacutetica de preccedilos marketing e de distribuiccedilatildeo de dividendos aos

trabalhadores Ele tambeacutem elegia entre seus membros um grupo de trecircs a onze pessoas

que compunham o Conselho de Gestatildeo da empresa cuja atribuiccedilatildeo era responder pelo

funcionamento eficiente da entidade como tambeacutem era responsaacutevel por preparar

relatoacuterios para o Conselho de Trabalhadores

O gerente geral do empreendimento por sua vez natildeo era membro do Conselho de

Trabalhadores mas sim indicado conjuntamente pelo Conselho de Trabalhadores e pela

municipalidade onde a empresa se estabelecia Era um funcionaacuterio responsaacutevel por liderar

o processo gerencial e implementar os planos definidos pelo Conselho de Gestatildeo O seu

salaacuterio e suas atribuiccedilotildees eram definidos pelo Conselho de Trabalhadores

Com toda essa organizaccedilatildeo a Yugoslaacutevia representava um sistema estruturado de

autogestatildeo Hoje natildeo se pode afirmar que essa estrutura permaneccedila uma vez que natildeo se

teve acesso a bibliografias que relatassem a situaccedilatildeo da autogestatildeo apoacutes as mudanccedilas

poliacuteticas ocorridas nesse paiacutes

Em outros paiacuteses como Espanha tambeacutem registra-se a presenccedila de experiecircncias

autogestionaacuterias bem-sucedidas tais como o complexo de Mondragoacuten Um conglomerado

de cooperativas que diversificaram suas atividades e hoje eacute exemplo contundente de como

a autogestatildeo pode conduzir agrave viabilidade econocircmica e que ES nem sempre eacute sinocircnimo de

pequeno empreendimento

Em muitos outros paiacuteses observam-se tambeacutem participaccedilotildees representativas nas decisotildees das

empresas embora de maneira menos regulamentada que na Alemanha Os comitecircs de

empresas satildeo bastante comuns na Europa como os Comiteacute dEntreprise na Franccedila o Labour

Management Joint Committee na Inglaterra e os Jurados de Empresa na Espanha No Brasil

representaccedilatildeo similar encontra-se geralmente na induacutestria atraveacutes das comissotildees de faacutebrica

as quais consistem em agremiaccedilotildees de funcionaacuterios com o objetivo de participaccedilotildees mais

efetivas nas decisotildees das empresas

Na Inglaterra aleacutem de formas participativas de gestatildeo haacute a presenccedila de um movimento

equivalente agrave Economia Solidaacuteria denominado Participatory Economy (Parecon) Os

52

componentes institucionais e centrais de organizaccedilatildeo do Parecon descritos por Michael

Albert ( 2003) satildeo

Posse coletiva dos meios de produccedilatildeo Conselhos de trabalhadores e de consumidores como principais corpos de tomada de

decisatildeo Trabalhadores tecircm um meacutedia diaacuteria de trabalho em complexos equilibrados Remuneraccedilatildeo para o esforccedilo e sacrifiacutecio Participaccedilatildeo planejada e autogestatildeo econocircmica (MICHAELS 2003 p84 apud

FOTOPOULOS 2004 p3)

Assim como a ES no Brasil a Parecon representa uma visatildeo alternativa de organizaccedilatildeo

econocircmica e poliacutetica da sociedade baseado na autogestatildeo A Parecon segundo Wetzel

(2006 p 3) seraacute a base de construccedilatildeo de uma sociedade em que os povos podem controlar

suas vidas e as induacutestrias onde trabalham Para ele a autogestatildeo deve se espalhar para

todas as organizaccedilotildees de trabalhadores e estes exerceram o controle direto das

organizaccedilotildees da produccedilatildeo social e da sociedade Os defensores da Parecon advogam a tese

de uma outra organizaccedilatildeo poliacutetica diferente do Estado uma vez que o consideram como

um patrimocircnio da elite Nesta visatildeo sua estrutura hieraacuterquica separa-o do controle eficaz

pela massa dos povos

27 Gargalos e criacuteticas agrave Economia Solidaacuteria e Autogestatildeo

Em busca da ampliaccedilatildeo da compreensatildeo da ES e autogestatildeo a seguir satildeo apresentados os

diversos gargalos e criacuteticas imputadas a esse segmento Primeiramente seratildeo abordados os

gargalos ou entraves da ES

O Ministeacuterio do Trabalho e Emprego atraveacutes do trabalho de mapeamento dos

empreendimentos solidaacuterios levantou uma seacuterie de dificuldades enfrentadas pelos

Empreendimentos de Economia Solidaacuteria (EES) Conforme MTE (2006 p46)

[] constata-se que 61 dos EES afirmaram ter dificuldades na comercializaccedilatildeo 49 para acesso

agrave creacutedito e 27 natildeo tiveram acesso a acompanhamento apoio ou assistecircncia teacutecnica A regiatildeo

norte estaacute acima da meacutedia nacional em todos os itens (68 comercializaccedilatildeo 54 creacutedito e 34

apoio ou assistecircncia) A regiatildeo nordeste destaca-se pela dificuldade de creacutedito (58 dos EES) e a

regiatildeo centro-oeste pelo natildeo acesso a apoio ou assistecircncia teacutecnica ( 35)

53

O graacutefico 1 ilustra os desafios enfrentados pelos Empreendimentos de ES

Graacutefico 1- Dificuldades dos EES Brasil e regiotildees

Fonte site wwwmtegovbrEmpregadorEconomiaSolidariaConteudoATLAS_PARTE_4pdf

Portanto haacute um longo caminho a percorrer em direccedilatildeo agrave superaccedilatildeo desses gargalos

Muitas soluccedilotildees podem ser apontadas no que diz respeito agrave dificuldade de creacutedito mas a

principal perpassa pela implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de financiamento agrave ES o que

jaacute vem sendo realizado pelo atual governo federal e alguns governos estaduais Entretanto

ainda eacute necessaacuterio ampliar a escala de atendimentos a esses empreendimentos No que diz

respeito agraves dificuldades de comercializaccedilatildeo e de acompanhamento aleacutem de accedilotildees do

governo o problema faz um convite agraves aacutereas de conhecimento voltadas a negoacutecios

principalmente a contabilidade no sentido de seu envolvimento com esse segmento

econocircmico e social

Passando nesse momento agraves criacuteticas direcionadas agrave ES e autogestatildeo eacute importante

destacar o posicionamento dos autores Assman e Mo Sung (2003) os quais direcionam

diversos questionamentos e ponderaccedilotildees agrave ES Uma delas diz respeito agrave operacionalidade

da ES A partir de resgates de trechos de obras de autores expressivos da Economia

Solidaacuteria destacam pontos de contradiccedilatildeo e incongruecircncia de seus princiacutepios e propostas

Eis os trechos

A ideacuteia baacutesica eacute mediante a solidariedade entre produtores autocircnomos de todos os tamanhos e

tipos assegurar a cada um mercado para seus produtos e uma variedade de economias externas de financiamento e ainda a orientaccedilatildeo teacutecnica legal contaacutebil etc

54

Dadas as dificuldades a solidariedade eacute a soluccedilatildeo racional um conjunto de produtores

autocircnomos se organiza para trocar seus produtos entre si o que daacute a todos e a cada um uma

maneira de escoar a produccedilatildeo sem ser de imediato aniquilado pela superioridade dos que jaacute

estatildeo estabelecidos (SINGER 2002 p99-100 apud ASSMAN e MO SUNG 2003 p 143)

Na primeira questatildeo levantada apontam para os limites de operacionalizaccedilatildeo da proposta

Baseiam-se na visatildeo de que a solidariedade da ES natildeo eacute realidade em todas as empresas e

grupos da sociedade mas entre os produtores autocircnomos pequenas e microempresas que

natildeo conseguiriam sobreviver agrave concorrecircncia das meacutedias e grandes empresas sem essa

relaccedilatildeo de solidariedade Portanto eacute uma proposta de viabilizaccedilatildeo de um tipo de economia

convivendo com a economia capitalista de mercado (ASSMAN e MO SUNG 2003

p143)

Assim a realidade da solidariedade soacute existiria no interior da ES e entre suas empresas

que adotassem a autogestatildeo e natildeo em toda sociedade ou seja a solidariedade natildeo

substituiria a relaccedilatildeo de concorrecircncia nas demais empresas Dessa forma os autores

concluem que a Economia Solidaacuteria natildeo propotildee o fim do mercado caracterizado pela

concorrecircncia mas sim a criaccedilatildeo e a manutenccedilatildeo de um mercado para os empreendimentos

autogestionaacuterios E a manutenccedilatildeo de relaccedilotildees de mercado significa tambeacutem a continuidade

da concorrecircncia entre os agentes econocircmicos

Nessa perspectiva segundo os autores haveria uma frustraccedilatildeo daqueles que defendem

uma sociedade harmoniosa justa e solidaacuteria ou seja aqueles que natildeo percebem ou natildeo

querem aceitar a tensatildeo inevitaacutevel entre os desejosutopias e as necessaacuterias

institucionalizaccedilotildees na sociedade natildeo aceitam essa visatildeo de Economia Solidaacuteria

(ASSMAN e MO SUNG 2003 p143)

Um outro ponto levantado pelos autores emerge do trecho de uma obra de Paul Singer7 no

qual ele afirma que a proposta de ES eacute menos inconsistente do que a economia capitalista

porque coloca aberta e diretamente a solidariedade como princiacutepio organizador da

economia social em lugar da competiccedilatildeo embora natildeo visualize o fim da concorrecircncia no

campo da economia e tambeacutem nas relaccedilotildees sociais

7 SINGER Paul Desafio agrave solidariedade In GUIMARAES Gonccedilalves p63-79

55

A questatildeo colocada aqui eacute a seguinte Eacute possiacutevel organizar uma sociedade ou uma

economia social soacute com um princiacutepio Para essa questatildeo perguntam se natildeo seria

aconselhaacutevel pensar em mais de um princiacutepio organizador da economia e da sociedade

Sentenciam que os neoliberalistas pretendem fazer da competiccedilatildeo o uacutenico princiacutepio

organizador da sociedade Por outro lado os marxistas tentaram fazer do planejamento

centralizado o uacutenico princiacutepio e hoje surgem muitos grupos que querem fazer do

conceito de solidariedade o uacutenico princiacutepio organizador(ASSMAN e MO SUNG 2003

p152) Princiacutepios de organizaccedilatildeo social como argumentam deveriam servir para

articular de maneira eficiente e sustentaacutevel a garantia da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de bens

e serviccedilos para a ampla maioria e a totalidade dos membros da sociedade

Em relaccedilatildeo agrave possibilidade de expandir a ES a niacutevel global Assman e Mo Sung fazem um

outro questionamento Se a economia solidaacuteria conseguir atingir dimensotildees tais que possa

competir com o grande capital continuaraacute mantendo as caracteriacutesticas de solidariedade que

eacute possiacutevel quando se estaacute em uma escala pequena

Mesmo considerando que natildeo haacute elementos para se dar uma resposta definitiva uma vez

que a situaccedilatildeo nunca ocorreu antecipam-se afirmando que a economia solidaacuteria em

grande escala natildeo manteraacute as mesmas caracteriacutesticas Isso porque quando um sistema

ou uma rede cresce muito em escala surgem novas propriedades no sistema que

modificam as suas caracteriacutesticas de funcionamento (ASSMAN e MO SUNG 2003

p145)

O Parecon tambeacutem apresenta vaacuterios pontos nevraacutelgicos na visatildeo de seus criacuteticos Assim

como na ES a criacutetica tambeacutem reside na impossibilidade desta se apresentar enquanto

modelo de organizaccedilatildeo social Segundo Fotopoulos (2004 p01) Parecon eacute

simplesmente um modelo econocircmico para uma economia alternativa e como tal natildeo

caracteriza instituiccedilotildees sociais poliacuteticas culturais mais amplas Dessa forma considera

Parecon incompatiacutevel com uma organizaccedilatildeo de estado tendo em vista que

Dada a natureza de Parecon como puramente um modelo econocircmico natildeo estaacute surpreendendo

que os atores principais nela satildeo determinados pelo campo econocircmico Assim o conceito do

cidadatildeo falta completamente no modelo do Parecon e eacute substituiacutedo preferivelmente por trabalhadores e por consumidores (FOTOPAULO 2004 p02)

56

Por fim sentencia que o modelo Parecon natildeo tem a capacidade de fixar as preacute-condiccedilotildees

institucionais requeridas para a criaccedilatildeo de um novo modelo de organizaccedilatildeo social a qual

integraria a sociedade com os aspectos econocircmicos poliacuteticos e naturais Natildeo pode fixar a

integraccedilatildeo da sociedade com a economia porque natildeo pode interferir na liberdade da

escolha dos cidadatildeos somente como produtores e consumidores tendo em vista que estes

iratildeo preocupar-se exclusivamente com o planejamento e alocaccedilatildeo dos recursos escassos

A integraccedilatildeo com a poliacutetica natildeo se daria porque a unidade baacutesica de exame e decisatildeo na

Parecon natildeo eacute o cidadatildeo mas os trabalhadores e conselho de consumidores Dessa forma

os cidadatildeos estariam alijados do processo decisoacuterio Por uacuteltimo o Parecon natildeo pode

integrar com a natureza porque objetiva o crescimento econocircmico dentro do sistema de

mercado e natildeo trata os problemas ecoloacutegicos como um problema externo maior que requer

uma mudanccedila radical no modo de vida e nos valores

Sem negligenciar esses questionamentos agrave Economia Solidaacuteria e reconhecendo que a

autogestatildeo natildeo eacute o uacutenico caminho para a construccedilatildeo de um novo modelo de organizaccedilatildeo

social e de Estado este trabalho os concebem como importantes instrumentos da

democracia Corroborando com Pateman a autogestatildeo praticada nos empreendimentos

solidaacuterios eacute um exerciacutecio de cidadania A autogestatildeo propicia o desenvolvimento da

eficaacutecia poliacutetica e esta capacita para a participaccedilatildeo poliacutetica em niacuteveis cada vez mais

amplos da sociedade Dessa forma a autogestatildeo nos empreendimentos tem a

potencialidade de capacitar os atores sociais para intervir no Estado e reinventar uma nova

governabilidade baseada na democracia e controle social

57

3 CONTABILIDADE E AUTOGESTAtildeO

As categorias teoacutericas apresentadas ajudaratildeo a responder agraves questotildees de pesquisa trazendo

para a reflexatildeo as implicaccedilotildees que tais conceitos encerram seja para os empreendimentos

solidaacuterios como para repensar a contabilidade de modo que ela possa melhor servir aos

princiacutepios de fortalecimento da cidadania da democracia e de uma sociedade mais justa para

a qual a contabilidade natildeo pode se omitir sob o pretexto da neutralidade teacutecnica

Dessa forma concebe-se a contabilidade imbricada pelo conceito de Participaccedilatildeo em que a

Democracia eacute o fim e se constitui como processo educativo em seu sentido mais amplo E

tendo como pano de fundo a democracia percebe-se a Economia Solidaacuteria como um espaccedilo

puacuteblico de vivecircncia da solidariedade e no qual se requisita o desempendo do papel essencial

da contabilidade

Nesse contexto cabe indagar e compreender o envolvimento da contabilidade atraveacutes de seus

instrumentos e profissionais Com o pressuposto da essencialidade do envolvimento e de

diaacutelogo da aacuterea contaacutebil com esses empreendimentos autogestionaacuterios resgatam-se

novamente as questotildees-chaves desta pesquisa as quais satildeo

1 Como a informaccedilatildeo contaacutebil eacute empregada nos empreendimentos autogestionaacuterios

2 Quais os desafios e demandas suscitados em cada um dos aspectos da dimensatildeo

contaacutebil nos processos de autogestatildeo

Agrave luz desses questionamentos nesse capiacutetulo far-se-aacute uma reflexatildeo sobre o papel da

contabilidade e levantar-se-atildeo trabalhos anteriores que abordaram essa relaccedilatildeo contabilidade

autogestatildeo

58

31 Funccedilatildeo social da contabilidade

Para ajudar a responder agraves perguntas que orientam esta pesquisa buscar-se-aacute expor a

importacircncia da contabilidade como instrumento de gestatildeo (informaccedilatildeo planejamento e

tomada de decisatildeo) no qual se apoacuteiam todos os empreendimentos de caraacuteter econocircmico

Primeiramente eacute necessaacuterio destacar que nenhuma entidade juriacutedica seja puacuteblica ou

privada consegue prescindir da informaccedilatildeo contaacutebil Na aacuterea puacuteblica ela eacute instrumento

indispensaacutevel de democracia e do planejamento sem a qual a verificaccedilatildeo da execuccedilatildeo do

orccedilamento puacuteblico e o controle dos gastos puacuteblicos fica impossibilitada

Vaz (2002 p271) ressaltando o papel da informaccedilatildeo na administraccedilatildeo puacuteblica diz que

[] a informaccedilatildeo eacute um direito de cidadania Afirma ainda que uma reformulaccedilatildeo da

gestatildeo puacuteblica municipal necessariamente passa por um redirecionamento do

funcionamento dos oacutergatildeos puacuteblicos municipais para o fornecimento de informaccedilotildees agrave

sociedade civil abrindo as caixas pretas da informaccedilatildeo como o orccedilamento puacuteblico e os

grandes projetos de intervenccedilatildeo para o entendimento por parte da sociedade [] (

VAZ2002 p 271)

Na aacuterea privada os uacuteltimos escacircndalos financeiros envolvendo grandes empresas como a

Wordcom e Enron ambas incorrendo na manipulaccedilatildeo das informaccedilotildees contaacutebeis

revelaram o poder desse instrumento que se utilizado sem princiacutepios ou controle social

pode conferir ganhos a alguns em detrimento do prejuiacutezo de muitos

Portanto cada vez mais se evidencia seu inexoraacutevel papel social seu viacutenculo intriacutenseco

com a democracia e a cidadania e consequumlentemente sua importacircncia seja no acircmbito

puacuteblico ou privado A contabilidade natildeo tem finalidade em si mesma tem destinataacuterios

certos satildeo usuaacuterios diversos que a utilizam como instrumento ou caminho para atingir

seus objetivos sejam eles econocircmicos filantroacutepicos ou sociais Conforme o FASB8 em

relato de Hendriksen e Van Breda (1999 p92) a finalidade da informaccedilatildeo contaacutebil eacute a

seguinte

8 Financial Accounting Standards Board

59

A divulgaccedilatildeo financeira deve fornecer informaccedilotildees que sejam uacuteteis para investidores e

credores atuais e em potencial bem como para outros usuaacuterios que visem a tomada racional

de decisotildees de investimento creacutedito e outras semelhantes As informaccedilotildees devem ser

compreensiacuteveis aos que possuem uma noccedilatildeo razoaacutevel dos negoacutecio e das atividades

econocircmicas e estejam dispostos a estudar as informaccedilotildees com diligecircncia razoaacutevel A divulgaccedilatildeo financeira deve proporcionar informaccedilatildeo que ajude investidores credores e

outros usuaacuterios presentes e em potencial a avaliar os volumes a distribuiccedilatildeo no tempo e a

incerteza de possiacuteveis fluxos de caixa em termos de dividendos ou juros e os resultados da

venda do resgate e do vencimento de tiacutetulos ou empreacutestimos Como os fluxos de caixa de

investidores e credores estatildeo relacionados aos fluxos de caixa da empresa a divulgaccedilatildeo

financeira deve proporcionar informaccedilotildees que ajudem investidores credores e outros a avaliar

os volumes a distribuiccedilatildeo no tempo e a incerteza das possiacuteveis entradas liacutequidas futuras de caixa da empresa A divulgaccedilatildeo financeira deve fornecer informaccedilotildees sobre os recursos econocircmicos de uma

empresa os direitos sobre esses recursos ( obrigaccedilotildees da empresa em termos de transferecircncia

de recursos a outras entidades e a participaccedilatildeo dos proprietaacuterios) bem como os efeitos de

transaccedilotildees eventos e circunstatildencia que alterem seus recursos e os direitos sobre tais recursos

Salienta-se nesse texto a determinaccedilatildeo de que a informaccedilatildeo financeira proporcionada

pela contabilidade seja compreensiacutevel aos usuaacuterios e uacutetil agrave tomada de decisotildees econocircmica

e financeira da atividade Entretanto discutir a utilidade da informaccedilatildeo implica tambeacutem

compreender o tipo de informaccedilatildeo necessaacuteria a cada usuaacuterio fato que remete agrave reflexatildeo

sobre os padrotildees de informaccedilotildees emitidos pela contabilidade aos vaacuterios tipos de usuaacuterios

Hoje os modelos de informaccedilotildees (demonstraccedilotildees financeiras) estatildeo estruturados de forma

a atender grupos mais ou menos homogecircneos de usuaacuterios isto eacute haacute uma padronizaccedilatildeo de

informaccedilotildees usadas por todos os usuaacuterios Conforme argumenta o FASB e AICPA9 sobre

essa estrutura [] os diversos usuaacuterios possuem o bastante em comum para que um

conjunto de demonstraccedilotildees de finalidades geneacutericas seja suficiente(FASB1999 p94)

Entretanto reconhecem a consistecircncia dos argumentos em favor de relatoacuterios de

finalidades especiacuteficas Segundo anaacutelise dos autores cada um dos usuaacuterios da

contabilidade poderia ter objetivos diferentes em termos de informaccedilotildees financeiras pois

haacute divergecircncias entre os grupos e dentro de cada grupo Por exemplo sabe-se que os

administradores de empresas menores juntamente com seus auditores sentem que o

processo de fixaccedilatildeo de padrotildees estaacute direcionado aos objetivos das empresas de maior

porte O mesmo ocorre com muitos administradores de organizaccedilotildees sem fins lucrativos

os quais acham que o processo de fixaccedilatildeo de padrotildees eacute direcionado aos objetivos de

organizaccedilotildees com fins lucrativos Dessa forma analisam que

9 American Institute of Certifierd Public Accoutants

60

Esta variedade de pontos de vista aponta para a conveniecircncia da apresentaccedilatildeo de relatoacuterios

diferentes para usuaacuterios distintos ou para um volume consideraacutevel de informaccedilatildeo grande

parte do qual poderia ser irrelevante para qualquer usuaacuterio especiacutefico ( FASB 1999 p 94)

Entretanto para que haja a possibilidade de informaccedilotildees especiacuteficas para cada usuaacuterio

primeiramente eacute preciso selecionar a informaccedilatildeo relevante para constar nos modelos de

prediccedilatildeo e tomada de decisatildeo dos usuaacuterios Talvez seja possiacutevel determinar que modelos

de tomada de decisatildeo estatildeo sendo utilizados descobrindo como os usuaacuterios efetivamente

tomam decisotildees e de que informaccedilotildees necessitam (FASB 1999 p94)

Ainda dentro dessa discussatildeo sobre as necessidades de informaccedilatildeo por parte do usuaacuterio

os autores enfatizam a relevacircncia de se considerarem as caracteriacutesticas ou propriedades

que devem ter as informaccedilotildees para que se tornem uacuteteis para a tomada de decisotildees

Primeiramente chamam a atenccedilatildeo para a distinccedilatildeo entre qualidades de informaccedilatildeo

especiacuteficas para usuaacuterios e especiacuteficas para decisotildees

Na primeira classe estatildeo relacionadas as qualidades concernentes ao usuaacuterio (tipo de

usuaacuterio) Por exemplo uma determinada informaccedilatildeo para alguns usuaacuterios pode ser

irrelevante por jaacute terem domiacutenio dela enquanto que para outros eacute relevantes Dessa forma

deve se levar em conta a natureza do usuaacuterio esse eacute um fator determinante para a decisatildeo

a respeito da informaccedilatildeo a ser divulgada

Uma outra caracteriacutestica destacada eacute a oportunidade da informaccedilatildeo que independe do

usuaacuterio pois todos desejam informaccedilotildees oportunas portanto eacute uma propriedade

especiacutefica para decisotildees Realizadas essas distinccedilotildees a seguir satildeo relacionadas as

caracteriacutesticas qualitativas das informaccedilotildees propostas pelo AICPA relatadas pelos autores

jaacute mencionados

a) Benefiacutecios e custos

A informaccedilatildeo deve proporcionar benefiacutecios superiores a seu custo A divulgaccedilatildeo da

informaccedilatildeo financeira deve ser uacutetil para a tomada de decisotildees A utilidade eacute funccedilatildeo de

duas caracteriacutesticas a relevacircncia e a confiabilidade

a1) Relevacircncia

61

A informaccedilatildeo eacute relevante quando eacute pertinente agrave questatildeo que estaacute sendo analisada A

anaacutelise da pertinecircncia pode ser de trecircs maneiras afetando metas afetando a compreensatildeo

e afetando decisotildees conforme mostra o quadro 4 Para o FASB relevacircncia para decisotildees eacute

definida como a capacidade que a informaccedilatildeo teria de fazer diferenccedila numa decisatildeo

Essa diferenccedila mencionada pelo FASB seria conseguida ajudando os usuaacuterios a fazer

prediccedilotildees sobre o resultado de eventos passados presentes e futuros ou confirmar ou

corrigir expectativas anteriores ou seja quando a informaccedilatildeo tem valor preditivo e valor

como feedeback

Quadro 4- Relevacircncia da Informaccedilatildeo

Relevacircncia para metas

Alcanccedilada quando a informaccedilatildeo permite que as

metas dos usuaacuterios sejam atingidas Determinaccedilatildeo difiacutecil quando as metas satildeo subjetivas

Relevacircncia semacircntica

Alcanccedilada quando o destinataacuterio da informaccedilatildeo

compreende o significado pretendido da informaccedilatildeo

divulgada Um preacute-requisito essencial mas natildeo um objetivo

primordial

Relevacircncia para tomada de decisotildees Alcanccedilada quando a informaccedilatildeo facilita a tomada de

decisotildees pelos usuaacuterios Este eacute o objetivo primordial para o FASB

Fonte Hendriksen e Van Breda ( 1999 p97)

a2) Confiabilidade

A qualidade da informaccedilatildeo que garante que ela seja razoavelmente livre de vieacutes e

represente fielmente o que visa representar Segundo o FASB a confiabilidade eacute funccedilatildeo

de a) fidelidade de representaccedilatildeo b) verificabilidade c) neutralidade

Segundo a fidelidade de representaccedilatildeo as informaccedilotildees devem representar fielmente os

fenocircmenos que pretende representar Jaacute a verificabilidade pressupotildee a ausecircncia de

avaliaccedilatildeo subjetiva e vieacutes pessoal O FASB definiu a verificabilidade como a capacidade

de assegurar por meio do consenso entre mensuradores que a informaccedilatildeo representa o

que se destina a representar ou que o meacutetodo de mensuraccedilatildeo foi utilizado sem erro ou

vieacutes Por uacuteltimo a neutralidade quer dizer que natildeo haacute vieacutes na direccedilatildeo de um resultado

predeterminado O objetivo eacute natildeo permitir que os padrotildees sejam utilizados para alcanccedilar

alguma meta econocircmica ou poliacutetica especiacutefica

b) Comparabilidade

62

A utilidade da informaccedilatildeo eacute significativamente ampliada quando eacute apresentada de maneira

que permita comparar uma entidade com outra ou a mesma entidade em periacuteodos

seguintes Dessa forma a comparabilidade pode ser definida como a qualidade da

informaccedilatildeo que permite aos usuaacuterios identificar semelhanccedilas e diferenccedilas entre dois

conjuntos de fenocircmenos econocircmicos A comparabilidade depende de dois aspectos a

uniformidade e a consistecircncia

b1) Uniformidade

Subentende que eventos iguais satildeo representados de maneira idecircntica A uniformidade

pode ser definida como a qualidade das informaccedilotildees possuir caracteriacutesticas

suficientemente parecidas para tornar as comparaccedilotildees apropriadas

b2)Consistecircncia

Tecircm sido referidos como o uso dos mesmos procedimentos contaacutebeis por uma dada

empresa ou entidade contaacutebil de um periacuteodo a outro e o uso de conceitos e procedimentos

de mensuraccedilotildees semelhantes para itens afins nas demonstraccedilotildees de uma empresa num

dado periacuteodo

c) Materialidade

Eacute uma caracteriacutestica geral e assemelha-se ao conceito de relevacircncia A relevacircncia implica

na apresentaccedilatildeo de toda informaccedilatildeo que possa ajudar na prediccedilatildeo dos tipos de informaccedilatildeo

exigidos pelos processos de tomada de decisatildeo ou que possam ajudar diretamente na

tomada de decisotildees O conceito de materialidade tambeacutem pode estar associado agrave

significacircncia de mudanccedilas de valor correccedilotildees de erros em relatoacuterios anteriores etc Essas

mudanccedilas e correccedilotildees deveratildeo ser consideradas como possuidoras de materialidade se

forem grandes o suficiente ou importantes para influenciar as decisotildees dos usuaacuterios de

relatoacuterios financeiros

Ainda sobre a validade e utilidade da informaccedilatildeo contaacutebil para a tomada de decisotildees

gerenciais Dias (1991) sentencia que a contabilidade acrescenta poucas informaccedilotildees

importantes para o gerenciamento das organizaccedilotildees Segundo ele isso se deve ao fato de

que a contabilidade tem orientado esforccedilos para o desenvolvimento de teacutecnicas expressas

pelas convenccedilotildees e princiacutepios de contabilidade que visavam restringir a possibilidade de

manipulaccedilatildeo dos dados Entretanto esse comportamento produz relatoacuterios que natildeo

63

exprimem a realidade econocircmica da empresa prejudicando os usuaacuterios internos e externos

agrave empresa

Essa situaccedilatildeo se agrava com a presenccedila de outro fator a legislaccedilatildeo fiscal Interessada em

produzir resultados tributaacuteveis impotildee outros procedimentos prejudiciais agrave utilizaccedilatildeo dos

sistemas de informaccedilotildees contaacutebeis para fins gerenciais

Como alternativa ao problema colocado o autor diz que

Os gestores poderiam se sentir plenamente satisfeitos e envolvidos com um sistema que aleacutem

de lhes fornecer as informaccedilotildees dinacircmicas necessaacuterias para suas atuaccedilotildees no cotidiano lhes proporcionasse condiccedilotildees de conhecer melhor a empresa e sua posiccedilatildeo diante dos objetivos

estabelecidos Poderiam conhecer melhores as proacuteprias deficiecircncias e potencialidades de suas

aacutereas permitindo-lhes decisotildees mais precisas com consequumlente melhoria de eficiecircncia e

melhor grau de atingimento de seus objetivos (DIAS 1991 p61)

Salienta ainda que numa administraccedilatildeo participativa em que os gestores interferem em

todo o processo de gestatildeo que vai desde o planejamento estrateacutegico ateacute a execuccedilatildeo o

sistema deve oferecer-lhe informaccedilotildees correspondentes a todo esse ciclo as quais

abrangem as referentes ao ambiente econocircmico passando pelas previsotildees orccedilamentaacuterias

pelo sistema de programaccedilatildeo e sistema de apoio agrave gestatildeo de execuccedilatildeo ateacute a apuraccedilatildeo de

resultados e avaliaccedilatildeo de desempenhos O sistema de informaccedilotildees deve estar voltado

para o futuro indicando tendecircncias e permitindo comparaccedilotildees com o passado Deve

possibilitar a avaliaccedilatildeo de evoluccedilatildeo da organizaccedilatildeo e comparaccedilotildees com desempenhos

desejados (DIAS1991 p79)

O sistema de informaccedilotildees deve conter portanto uma estrutura de indicadores que

mantenham os gestores informados a respeito das condiccedilotildees de eficaacutecia da organizaccedilatildeo de

modo a permitir decisotildees que alcancem os objetivos propostos Poderiam ser adotados os

seguintes indicadores a) de curto prazo produccedilatildeo eficiecircncia satisfaccedilatildeo b) meacutedio prazo

adaptabilidade desenvolvimento c) medidas de longo prazo referem-se agrave capacidade de

sobreviver

64

Diante das necessidades de informaccedilotildees expostas o autor percebe o sistema de

informaccedilatildeo para a gestatildeo econocircmica (GECON10) administrado por uma controladoria11

como alternativas agraves demandas gerenciais Segundo o autor esse sistema funciona de

maneira integrada com o processo de gestatildeo e tem por objetivo assegurar informaccedilotildees

relevantes para a tomada de decisotildees

Esse sistema de informaccedilotildees atende agraves necessidades de cada etapa do processo de gestatildeo

por meio de subsistemas especiacuteficos que possam induzir os gestores a decisotildees corretas A

seguir a relaccedilatildeo das etapas com seus respectivos subsistemas de informaccedilotildees

a) Planejamento estrateacutegico

b) Planejamento operacional Sistema de orccedilamentos

c) Programaccedilatildeo Sistema de programaccedilatildeo

d) Execuccedilatildeosistema de simulaccedilatildeo e

e) Controle

Natildeo eacute foco deste trabalho detalhar cada etapa ou subsistema importa perceber que cada

uma dessas etapas do processo de gestatildeo deve ser atendida pelo sistema de informaccedilatildeo

gerencial com informaccedilotildees oportunas corretas confiaacuteveis com a periodicidade necessaacuteria

para viabilizar a tomada eficaz de decisotildees por parte dos gestores da organizaccedilatildeo (

CATELLI et al 2001 p 146)

Conforme os autores o sistema de informaccedilatildeo para a gestatildeo econocircmica contempla entre

outros os seguintes aspectos

a) Eacute estruturado sob conceito de banco de dados Plano de contas plano de aacutereas de

responsabilidade Centro de Resultados Contabilidade Gerencial e Contabilidade

Societaacuteria

10 O modelo GECON estrutura-se com base em um entendimento da missatildeo da empresa do conjunto de crenccedilas

e valores da organizaccedilatildeo da estrutura organizacional da realidade operacional e das caracteriacutesticas dos gestores

empresariais[] o modelo orienta uma sequumlecircncia de etapas do processo de gestatildeo empresarial e materializa os

diversos impactos dos subsistemas empresariais nos sistema de informaccedilotildees gerenciais com soluccedilotildees em

processamento de dados ( CATELLI 2001 p31) 11 Oacutergatildeo administrativo da empresa responsaacutevel pela disseminaccedilatildeo de conhecimento modelagem e implantaccedilatildeo

de sistemas de informaccedilotildees ( ALMEIDA et al2001 p343)

65

b) As informaccedilotildees e relatoacuterios atendem os conceitos e o modelo de decisatildeo dos

usuaacuterios Modelo de Informaccedilatildeo com base no modelo de decisatildeo e mensuraccedilatildeo

c) A mensuraccedilatildeo das transaccedilotildees eacute efetuada com a utilizaccedilatildeo de conceitos econocircmicos

valor de mercado reconhecimento da receita pela produccedilatildeo dos bens e serviccedilos

preccedilo de transferecircncia custo de oportunidade equivalecircncia de capitais

d) Aos recursos e produtosserviccedilos das atividades satildeo atribuiacutedos respectivamente

custos e receitas com base em valor de mercado Preccedilo de transferecircncia Preccedilo e

Custos correntes

Ressaltam ainda que

O sistema de informaccedilatildeo para a gestatildeo econocircmica eacute o conjunto de subsistemas de preacute-orccedilamentaccedilatildeo orccedilamentos custos e contabilidade que reflete as decisotildees tomadas por ocasiatildeo do

planejamento em termos monetaacuterios e posteriormente confronta os resultados reais com os

planejados possibilitando entatildeo as accedilotildees de controle ( CATELLI et al p148)

A partir das consideraccedilotildees sobre esse sistema de informaccedilotildees conclui-se que nele haacute a

interaccedilatildeo tatildeo almejada entre a contabilidade tradicional (financeira) e as demandas

informacionais de gestatildeo Portanto eacute possiacutevel conceber instrumentos contaacutebeis que

produzam informaccedilotildees adequadas aos diversos usuaacuterios atendendo suas demandas de

gestatildeo

Transpondo a discussatildeo para o campo da autogestatildeo pode-se considerar a partir de todos

os elementos levantados no capiacutetulo 2 que a Economia Solidaacuteria consiste em um usuaacuterio

de natureza diferenciada dos demais tendo em vista seu duplo aspecto econocircmico e

social para a qual seria conveniente e necessaacuterio questionar quais satildeo suas demandas ou

que tipos de informaccedilotildees seriam uacuteteis agrave gestatildeo com vistas agrave consecuccedilatildeo e

sustentabilidade econocircmica do empreendimento Com base nesse diagnoacutestico poder-se-ia

construir modelos informativos especiacuteficos e apropriados agraves demandas desses novos

usuaacuterios

Em relaccedilatildeo agrave qualidade ou caracteriacutesticas que as informaccedilotildees contaacutebeis devem possuir

para que contribuam na tomada de decisotildees pode-se observar que todas as caracteriacutesticas

apontadas devem ser levadas em conta na perspectiva de construir os referidos relatoacuterios

66

No que diz respeito agrave qualidade das informaccedilotildees conforme o usuaacuterio reflete-se que esses

modelos de informaccedilotildees a serem construiacutedos devem considerar a realidade social dos

trabalhadores dos empreendimentos autogestionaacuterios pois eles tecircm aspectos

socioeconocircmicos diferenciados dos administradores convencionais principalmente quanto

agrave escolaridade Normalmente natildeo possuem alto grau de conhecimento formal nem

tampouco conhecimento sobre a contabilidade e gestatildeo Dessa forma a informaccedilatildeo

contaacutebil deve ser traduzida atraveacutes de uma linguagem apropriada e acessiacutevel

Em relaccedilatildeo ao modelo de gestatildeo analisado (GECON) percebe-se que este talvez seja um

referencial para a construccedilatildeo de sistemas de informaccedilotildees que se adequumlem agraves demandas

da autogestatildeo Considerando que a autogestatildeo implica em participaccedilatildeo de todos os

trabalhadores no processo de gestatildeo haacute que se pensar em um sistema de informaccedilatildeo

equivalente ao GECON que propicie o monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees

administrativas de aacutereas ou divisotildees do empreendimento nas vaacuterias etapas do processo de

gestatildeo a fim de buscar o melhor resultado coletivo e para que as execuccedilotildees reflitam o

planejamento realizado conjuntamente

Continuando a reflexatildeo sobre uma contabilidade apropriada agrave autogestatildeo analisar-se-aacute a

seguir agrave luz de alguns trabalhos as especificidades de informaccedilotildees suscitadas por esse

modelo de gestatildeo

32 Instrumentos contaacutebeis x demandas da autogestatildeo

No Brasil os estudos na aacuterea contaacutebil que abordam a questatildeo da autogestatildeo satildeo recentes

Dentre os trabalhos verificados cabe destacar o estudo desenvolvido por Valdir Michels

(1995) Em sua dissertaccedilatildeo analisa a importacircncia da contabilidade como sistema de

informaccedilotildees no auxiacutelio agrave autogestatildeo

Um dos aspectos relevantes levantados em seu trabalho eacute a anaacutelise do disclosure das

cooperativas (a evidenciaccedilatildeo das informaccedilotildees) Agrave luz de Hendriksen e Moonitzs aponta as

questotildees necessaacuterias agrave definiccedilatildeo do tipo de informaccedilatildeo a ser fornecida ao usuaacuterio a saber

67

a) Para quem a informaccedilatildeo contaacutebil eacute revelada

b) Qual o objetivo da informaccedilatildeo

c) Que quantidade de informaccedilatildeo deveria ser revelada

d) Como a informaccedilatildeo deveria ser revelada

e) Quando a informaccedilatildeo deveria ser revelada

Para essas questotildees realiza as seguintes anaacutelises

1- Para quem - Haacute necessidade de identificar cada tipo de usuaacuterio das informaccedilotildees a fim de

definir o tipo de informaccedilatildeo A linguagem deve ser adaptada ao niacutevel de conhecimento do

usuaacuterio

2- Qual o objetivo - A necessidade para identificar o propoacutesito para que a informaccedilatildeo seja

revelada pode ser vista considerando-se a exigecircncia de que a informaccedilatildeo seja pertinente Uma

informaccedilatildeo pode ser pertinente para determinado objetivo e natildeo ser necessariamente relevante

para outro propoacutesito Por isso eacute importante definir claramente o objetivo da informaccedilatildeo

3- Que Quantidade A quantidade deve ser apropriada pra natildeo haver enganos nem

engodos (MICHAELS 1995 p 42) O ideal seria que os proacuteprios usuaacuterios determinassem

a quantidade adequada de informaccedilotildees Essas tambeacutem devem ser honestas e revelar todas as

informaccedilotildees relevantes

4- Como- A informaccedilatildeo eacute adequada quando expressa de forma tal que os usuaacuterios possam

facilmente interpretaacute-la As informaccedilotildees devem ser organizadas de forma loacutegica concatenada

e coerente

5-Quando Haacute a necessidade de se manter um canal de comunicaccedilatildeo entre a cooperativa e

seus associados propiciando informaccedilotildees sobre os fatos importantes da gestatildeo [] os jornais

mantidos pelas cooperativas poderiam publicar balancetes mensais com informaccedilotildees

importantes (MICHAELS 1995 p 47)

O autor tambeacutem aborda questotildees relativas agraves praacuteticas adotadas pelas cooperativas e que

geram distorccedilotildees nos resultados das demonstraccedilotildees financeiras Argumenta que isso ocorre

68

devido agrave falta de normas para a elaboraccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis o que dificulta a

comparaccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis das diversas cooperativas Cada cooperativa adota

metodologias diferenciadas para mensuraccedilatildeo de eventos econocircmicos proacuteprios deste setor de

atividade

Conclui seu trabalho ressaltando que para que os associados da cooperativa possam exercer a

autogestatildeo de seu empreendimento eacute necessaacuterio que a contabilidade das cooperativas seja

aprimorada nos seguintes aspectos (MICHAELS 1995 p 109)

a) As demonstraccedilotildees contaacutebeis devem ser estruturadas de tal forma que possam ser

interpretadas pelos principais usuaacuterios os associados da cooperativa A contabilidade deve ser

um importante sistema de informaccedilotildees entre a cooperativa e seus associados

b) A utilizaccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis enriquecidas com graacuteficos e tabelas

comparativas deve ter seu uso recomendado

c) A utilizaccedilatildeo de jornais mantidos pelas cooperativas deve ser um veiacuteculo de

informaccedilotildees com divulgaccedilatildeo de balancetes mensais expressos em linguagem ao niacutevel de

conhecimento dos associados

d) As informaccedilotildees contaacutebeis devem ser detalhadas de tal forma que os principais eventos

econocircmicos responsaacuteveis por impactos sobre a situaccedilatildeo econocircmico-financeira tanto positivos

como negativos sejam informados aos associados Faz-se necessaacuterio que seja informado

quais dos eventos econocircmicos foram fruto de decisotildees internas da cooperativa e quais

ocorreram independentemente da gestatildeo interna mas sim por poliacuteticas governamentais

fatores climaacuteticos ou fatos internacionais

e) As praacuteticas contaacutebeis deveriam ser normatizadas ou por oacutergatildeo que tenha poder para tal

ou incluiacutedas nos estatutos da cooperativa Isso permitiria comparaccedilotildees entre as demonstraccedilotildees

referentes a diversos exerciacutecios

f) Os conceitos quanto agrave qualidade das informaccedilotildees proposto por Hendriksen deveriam

ser observados isto eacute as informaccedilotildees deveriam ser adequadas honestas e totais

69

Quanto ao financiamento das atividades observa que as cooperativas necessitam incrementar

o suprimento de recursos financeiros proacuteprios Enfatiza que precisam encontrar a chave para

atingir o equiliacutebrio financeiro a fim de que possa obter rentabilidade positiva e manter a

competitividade E por fim diante dessas necessidades ressalta o papel preponderante da

contabilidade enquanto sistema de informaccedilotildees imprescindiacutevel agraves cooperativas

Em outro estudo Almeida e Dantas (2005) sugerem que os empreendimentos solidaacuterios

constituem um novo grupo de usuaacuterios e levantam algumas possiacuteveis demandas assim

organizadas

1-Novos modelos de Informaccedilotildees que

Propiciem a gestatildeo democraacutetica

Subsidiem a autogestatildeo

Gerem informaccedilotildees mais proacuteximas da realidade dos

empreendimentosempreendedores

Produzam indicadores sociais

Expressem as transaccedilotildees em rede

Tenham uma linguagem adequada ao tipo de empreendimentoempreendedor

2-Um novo perfil de contador

Sensiacutevel aos problemas sociais

Com ampla visatildeo econocircmica

Com capacidade gerencial

Articulador (boas relaccedilotildees humanas)

Educador (ensine a pescar)

3-Uma nova Formaccedilatildeo

Multidisciplinar (psicologia economia etc)

Novas metodologias de Ensino

Introduccedilatildeo de novas disciplinas (liacutenguas cooperativismo educaccedilatildeo popular etc)

Envolvimento em pesquisa e extensatildeo

Destaque-se tambeacutem a anaacutelise dos autores sobre a insuficiecircncia do aparato contaacutebil hoje

disponiacutevel agrave ES sobre o qual fazem a seguinte observaccedilatildeo

70

Se natildeo fossem as peculiaridades proacuteprias dos Empreendimentos de Economia Solidaacuteria e

principalmente de seus empreendedores poder-se-ia dizer que em termos de atendimento contaacutebil

nada mais seria necessaacuterio aleacutem dos recursos jaacute atualmente disponiacuteveis no escopo da

contabilidade das Cooperativas e da contabilidade Societaacuteria ( ALMEIDA e DANTAS 2005 p

08)

No caso das cooperativas lembram que satildeo reguladas pelo NBC T 108 do Conselho

Federal de Contabilidade que reza sobre aspectos de escrituraccedilatildeo contaacutebil e define sobre a

elaboraccedilatildeo dos Relatoacuterios e Demonstraccedilotildees

Jaacute as empresas autogestionaacuterias constituiacutedas em forma de sociedades satildeo orientadas pela

contabilidade societaacuteria nos moldes previstos na Lei das Sociedades Anocircnimas 640476 que

no artigo 177 determina que a escrituraccedilatildeo deve ser feita seguindo-se os preceitos da Lei das

Sociedades por Accedilotildees e os princiacutepios de contabilidade geralmente aceitos e conforme

orientado no Manual de Contabilidade das Sociedades por Accedilotildees ( IgraveUDICIBUS et al 2003

p29) o conjunto de informaccedilotildees que deve ser divulgado por uma sociedade representando

sua prestaccedilatildeo de contas abrange o Relatoacuterio de Administraccedilatildeo as Demonstraccedilotildees Contaacutebeis

e as Notas Explicativas Considerando as seguintes Demonstraccedilotildees Contaacutebeis

Balanccedilo Patrimonial

Demonstraccedilatildeo do Resultado do Exerciacutecio

Demonstraccedilatildeo das Mutaccedilotildees do Patrimocircnio Liacutequido

Demonstraccedilatildeo das Origens e Aplicaccedilotildees de Recursos

Demonstraccedilatildeo dos Fluxos de Caixa

Demonstraccedilatildeo do Valor Adicionado

Entretanto os autores ressaltam que esse aparato contaacutebil natildeo satisfaz plenamente as

necessidades informacionais dos empreendimentos Dessa forma realizam uma investigaccedilatildeo

cujo objetivo foi analisar a possibilidade de criaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo de novos sistemas contaacutebeis

agraves peculiaridades da ES Indicam algumas alternativas baacutesicas em estado bem indefinido

ainda mas que se instrumentalizam para reflexatildeo Ressaltam que se profundamente

estudados e testados (ALMEIDA e DANTAS 2005 p10) poderatildeo ser aplicados no

segmento da ES os seguintes modelos

71

a)Contabilidade Orccedilamentaacuteria

Trata-se de um estudo sobre a aplicaccedilatildeo da Contabilidade Orccedilamentaacuteria no setor privado

realizado pelo docente da FEAUSP Valmor Slomski Embora ainda em estaacutegio embrionaacuterio

a pesquisa aponta para a possibilidade de utilizaccedilatildeo desse procedimento pela ES Conforme

Slomski (2003) a contabilidade baseada no sistema orccedilamentaacuterio evidencia as origens dos

recursos e suas aplicaccedilotildees demonstra os creacuteditos orccedilamentaacuterios vigentes a despesa

orccedilamentaacuteria empenhada e a despesa orccedilamentaacuteria realizada agrave conta dos creacuteditos

orccedilamentaacuterios e ainda as dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias disponiacuteveis

Da forma como se estrutura atende a aspectos de escrituraccedilatildeo demonstraccedilatildeo anaacutelise e

informaccedilotildees dos empreendimentos da ES desde a origem do planejamento das atividades do

negoacutecio ateacute a concretizaccedilatildeo ou realizaccedilatildeo dessas atividades Pode ser dada ecircnfase ao estudo

anaacutelise e divulgaccedilatildeo das variaccedilotildees (orccedilado versus realizado) com possibilidade de indicaccedilotildees

de correccedilatildeo de rumos quando necessaacuterio identificando e valorizando a execuccedilatildeo das

atividades por aacuterea de responsabilidade

A exigecircncia da elaboraccedilatildeo e contabilizaccedilatildeo do orccedilamento em entidades da ES aleacutem do

atendimento aos aspectos normais do negoacutecio como planejamento e gerenciamento tambeacutem

teria a natureza educadora uma vez que requer o envolvimento de todos e o

comprometimento das diversas aacutereas com o resultado pois os executores das diversas

atividades do empreendimento ou os envolvidos no processo satildeo tambeacutem seus proprietaacuterios

(investidores)

Ressaltam que a sistemaacutetica de funcionamento contaacutebil deve estar fundamentada a partir de

uma planificaccedilatildeo contaacutebil O plano de contas abaixo elaborado por Slomski eacute fruto do

desenvolvimento da teoria e sistema de contabilidade orccedilamentaacuteria para entidades do Terceiro

Setor cuja estrutura baacutesica eacute a seguinte

72

Quadro 5- Contabilidade orccedilamentaacuteria

GRUPOS TIacuteTULO DO GRUPO

1 ATIVO

2 PASSIVO

3 PATRIMOcircNIO SOCIAL

4 CONTAS DE RESULTADO PATRIMONIAL DO EXERCIacuteCIO

5 RECEITAS ORCcedilAMENTAacuteRIAS

51 RECEITAS ORDINAacuteRIAS

52 RECEITAS POR PROJETOS

6 DESPESAS ORCcedilAMENTAacuteRIAS

61 ADMINISTRACcedilAtildeO SUPERIOR

62 ADMINISTRACcedilAtildeO GERAL

63 ADMINISTRACcedilAtildeO DE INVESTIMENTOS

64 ADMINISTRACcedilAtildeO DE PROJETOS

99 RESERVAS DE CONTINGEcircNCIAS

Fonte Adaptado de Plano de Contas de Slomski (material natildeo publicado)

Os autores observam que a proposta de planificaccedilatildeo tem utilidade para registro do orccedilamento

como tambeacutem para a realizaccedilatildeo das atividades da organizaccedilatildeo e planejamento da autogestatildeo

Atende tambeacutem a aspectos de controle de gerenciamento e igualmente funciona como

indicador de destinaccedilatildeo das apropriaccedilotildees

Concluem que esse pode ser um instrumento passiacutevel de utilizaccedilatildeo pela ES pela

potencialidade de possibilitar a socializaccedilatildeo do controle de todo o processo de gestatildeo

b) Contabilidade por Fundos

Utilizada amplamente nos EUA tem como caracteriacutestica principal a segregaccedilatildeo contaacutebil dos

recursos designados para atender fins especiacuteficos Olak (2000)

define a contabilidade por fundos como um importante instrumento de controle das accedilotildees dos

gestores ante os recursos que lhes satildeo confiados para atender propoacutesitos especiacuteficos segundo

restriccedilotildees impostas internamente ou externamente A contabilidade por fundos divide os

73

recursos da instituiccedilatildeo em trecircs categorias distintas a) fundos irrestritos podem ser utilizados

para qualquer finalidade b) fundos internamente restritos quando sua restriccedilatildeo eacute definida

internamente c) fundos externamente restritos quando as restriccedilotildees satildeo feitas por agentes

externos

O argumento utilizado pelos autores de perspectiva de utilizaccedilatildeo pela ES passa pela

compreensatildeo de que eacute possiacutevel nortear as accedilotildees das diversas aacutereas da entidade atraveacutes da

segregaccedilatildeo dos recursos definidos pelo coletivo Assim torna-se mais faacutecil verificar se tais

definiccedilotildees ou restriccedilotildees foram cumpridas (ALMEIDA e DANTAS 2005 p 12)

Entretanto chamam a atenccedilatildeo para as limitaccedilotildees do modelo uma vez que as restriccedilotildees

impostas podem tornar-se obstaacuteculos agrave gestatildeo tendo em vista a dinacircmica das atividades

empresariais Portanto a aplicaccedilatildeo desse sistema contaacutebil exige estudos e adaptaccedilotildees

c) Apuraccedilatildeo Gerencial do Resultado Econocircmico

A Mensuraccedilatildeo do Resultado Econocircmico12 conforme Slomski (2003) fundamenta-se no

conceito de custo de oportunidade o qual permite mensurar os serviccedilos prestados (receita

econocircmica) o trabalho voluntaacuterio e outras despesas incorridas e assumidas por terceiros

Com base nesse fundamento os autores Almeida e Dantas (2005) argumentam sobre a

possibilidade de utilizaccedilatildeo desse instrumento gerencial pela ES agrave medida que leva em conta

fatores desconsiderados pela contabilidade tradicional tais como o custo de oportunidade

Sabe-se que via de regra os empreendimentos solidaacuterios natildeo prescindem das entidades de

apoio cuja estrutura coloca agrave sua disposiccedilatildeo recursos materiais humanos e financeiros Essas

contribuiccedilotildees satildeo realizadas de maneira voluntaacuteria ateacute que o negoacutecio se sustente Portanto

esses valores natildeo computados como assessoria contaacutebil administrativa financeira

tecnoloacutegica poderiam compor o resultado econocircmico da entidade tal como acontece nas

entidade do terceiro setor

Salientam que transcendendo o proacuteprio empreendimento se poderia pensar em mensuraccedilotildees

ou indicadores sociais que levassem em conta o custo de oportunidade de vaacuterias atividades

realizadas pela empresa substituindo accedilotildees implementadas pelo governo Um exemplo

poderia levantar o custo social da inserccedilatildeo do desempregado no mercado ou seja a

12 Forma de mensuraccedilatildeo inspirada no modelo GECON visto anteriormente

74

quantificaccedilatildeo dos benefiacutecios que o Estado e a sociedade obtecircm com este empreendimento

somente pela oferta de postos de trabalho Assim poderia ser feito com todos os benefiacutecios

alcanccedilados pelo empreendimento tais como a educaccedilatildeo dos trabalhadores o provimento de

plano de sauacutede as accedilotildees de preservaccedilatildeo do meio ambiente os projetos envolvendo a

comunidade local etc Para os autores esse mecanismo gerencial se bem explorado pode ser

um instrumento de expressatildeo da dinacircmica econocircmica e social da economia solidaacuteria

Portanto os estudos analisados apresentam convergecircncia quando reconhecem as demandas

especiacuteficas dos empreendimentos autogestionaacuterios e a insuficiente resposta que a

contabilidade tem dado a estas organizaccedilotildees tambeacutem apontam para a necessidade de

aprofundamento de pesquisas sobre o tema Percebe-se igualmente que haacute uma preocupaccedilatildeo

nos trabalhos com a busca de novos processos e modelos de mensuraccedilatildeo demonstraccedilatildeo e

divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees os quais sejam apropriados agraves reais necessidades desses usuaacuterios

da contabilidade

Desse modo a investigaccedilatildeo empiacuterica pretendeu continuar o caminho trilhado por alguns

pesquisadores da aacuterea contaacutebil Preocupou-se em aprofundar a compreensatildeo da dimensatildeo

contaacutebil nos empreendimentos solidaacuterios como tambeacutem levantar novas demandas ou

confirmar as necessidades jaacute detectadas desses novos usuaacuterios que se formam num contexto

social de desemprego e marginalizaccedilatildeo do mercado de trabalho Como novos usuaacuterios

desafiam a contabilidade a tambeacutem dar sua contribuiccedilatildeo por meio de seu envolvimento na

busca de alternativas de atuaccedilatildeo da contabilidade junto agrave autogestatildeo em seus diversos

aspectos

75

4 ESTUDO DE CASO COOPRAM RESULTADOS E ANAacuteLISES

41 Relato do estudo de caso

No capiacutetulo 1 mais precisamente no toacutepico referente agrave metodologia foi traccedilado o caminho

que seria trilhado pela pesquisa o qual compreendia um conjunto de informaccedilotildees tais como

meacutetodos de abordagem e procedimentos teacutecnicas de coleta de dados e planejamento do caso

Nesse momento passa-se a pormenorizar e relatar as etapas e atividades que constituiacuteram a

investigaccedilatildeo empiacuterica deste trabalho

Para melhor visualizaccedilatildeo do trabalho pode-se dividir as atividades executadas em diversos

momentos

1ordm momento Contatos iniciais

Essa fase foi caracterizada pelos contatos com diretores da entidade de apoio (ANTEAG) e

conversas com a pretendida unidade de estudo a COOPRAM Na ocasiatildeo foi repassada a

ambas entidades (COOPRAM e ANTEAG) uma coacutepia do protocolo de pesquisa do estudo de

caso Esses contatos iniciaram em fevereiro de 2006 e culminaram com a autorizaccedilatildeo para a

realizaccedilatildeo da pesquisa (apecircndice 02)

2ordm momento Preparaccedilatildeo para o trabalho de campo

Apoacutes a liberaccedilatildeo da unidade para realizaccedilatildeo da pesquisa de campo foi a vez da etapa de

confecccedilatildeo dos vaacuterios instrumentos para a coleta de dados cujos principais produtos foram

roteiro de entrevistas para cooperados (apecircndice 03) roteiro de entrevista para contadores (

apecircndice 04) roteiro de entrevista para diretores ( apecircndice 05) roteiro de entrevista para

especialistas (apecircndice 06)

3ordm momento Coleta de dados

Essa etapa processou-se durante os meses de junho e julho momento em que se procedeu

efetivamente agrave coleta de dados Como mencionado no cap I os instrumentos utilizados

foram entrevistas registros em arquivos e observaccedilatildeo direta No caso das entrevistas elas

foram segregadas por grupos de entrevistados ficando assim distribuiacutedas

76

Grupo 1- cooperados 04 entrevistados

Grupo 2- contadores 02 entrevistados

Grupo 3- especialistas 02 entrevistados

Os registros em arquivos e as observaccedilotildees diretas foram possibilitadas pelas inuacutemeras visitas

realizadas a COOPRAM no mesmo periacuteodo

4ordm momento Sistematizaccedilatildeo dos dados

O processo de sistematizaccedilatildeo dos dados ocorreu no final de julho e no mecircs de agosto A partir

de um banco de dados eletrocircnico referente a cada entrevista somadas agraves informaccedilotildees das

outras fontes transformaram-se dados em informaccedilotildees estratificadas por grupos e dimensotildees

5ordm momento Anaacutelises e conclusotildees

Nessa etapa final as informaccedilotildees sistematizadas foram analisadas agrave luz das questotildees

propostas das hipoacuteteses formuladas e da revisatildeo teoacuterica

Concluiacutedo o relato do processo da pesquisa empiacuterica nos proacuteximos itens passa-se a

transcrever os resultados da pesquisa compostos inicialmente por descriccedilotildees da realidade

encontrada e em seguida pela compreensatildeo e anaacutelise de vaacuterios aspectos da relaccedilatildeo

contabilidade e autogestatildeo

42 Histoacuterico e descriccedilatildeo da unidade de estudo

A COOPRAM- Cooperativa de Produccedilatildeo de Artes Metaacutelicas situada hoje no Municiacutepio de

Embu das Artes- SP eacute um empreendimento autogestionaacuterio nascido em 2000 A entidade

surgiu da uniatildeo de profissionais antigos funcionaacuterios de uma empresa metaluacutergica falida que

assumiram sua recuperaccedilatildeo Alguns funcionaacuterios principalmente a forccedila de trabalho mais

intelectual natildeo se submetendo ao risco do negoacutecio procuraram nova colocaccedilatildeo no mercado

Aqueles que acreditaram enfrentaram os desafios da gestatildeo de uma cooperativa Hoje a

COOPRAM conta com aproximadamente 80 funcionaacuterios sendo a maior parte lotada na

aacuterea produtiva Tambeacutem conta com profissionais qualificados na aacuterea de projetos de produto

77

especiais os quais atendem a encomendas especiacuteficas de clientes

No iniacutecio de suas atividades sua sede situava-se no Municiacutepio de OsascoSP mudando-se

recentemente para o Municiacutepio de Embuacute das Artes tambeacutem no Estado de Satildeo Paulo

A cooperativa eacute especializada na conformaccedilatildeo e beneficiamento de accedilo alumiacutenio e inox

cujos produtos principais satildeo quiosques e maacutescaras para salas de auto-atendimento caixas

eletrocircnicos caixas para medidor de gaacutes e hidrocircmetros esquadrias de accedilo galvanizado

luminosos de identificaccedilatildeo visual (totem) caixilhos em geral batentes guarda corpos

corrimatildeo portas acuacutesticas caixas metaacutelicas forros divisoacuterias e revestimentos de accedilo

galvanizado inox e alumiacutenio entre outros produtos em accedilo e alumiacutenio encomendados por

clientes diversos tais como shoppings metrocircs etc A figura 2 ilustra alguns dos produtos da

COOPRAM

78

Figura nordm 02 - Alguns produtos da COOPRAM

Fonte site http wwwcoopramcombr

A cooperativa atende a todo o territoacuterio nacional e possui uma diversificada carteira de

clientes Eis alguns de seus clientes

Associaccedilatildeo Brasileira de Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Uacuteltimos Dias - Satildeo Paulo SP

Construtora OAS Ltda -Satildeo Paulo SP Rossi Residencial - Satildeo PauloSP ECIA Irmatildeos

Arauacutejo Engenharia e Comercio SA - Rio de Janeiro RJ Construtora Bathaus Ltda - Tupatilde

SP Tec Sul Engenharia Ltda - Satildeo Jose dos CamposSP Vexillum Construccedilotildees e

Empreendimentos Ltda - Pq Industrial - Campina Grande do SulPR Carvalho Hosken SA

Engenharia e Construccedilotildees -Rio de Janeiro RJ Autoban

Jundiaiacute SP Construtora Norberto Odebrechet SA - Rodovia Rio Santos Metro cia

Metropolitano de Satildeo Paulo - Linha Norte Sul Construtora Apia - Belo HorizonteMG

Construtora Croma - Satildeo Paulo SP Escala Construccedilotildees e Empreendimentos Ltda- Satildeo

PauloSP Tecnicorp Engenharia e Construccedilotildees Ltda - Satildeo Paulo SP Construtora

Lideranccedila Ltda Satildeo Paulo SP Evoluccedilatildeo Empreendimentos Imobiliaacuterios Ltda Satildeo

Paulo SP Schahin Engenharia Ltda- Satildeo PauloSP Elofer Construccedilotildees e Empreendimentos

Ltda - Pinhais PR Constroen Construccedilotildees e Engenharia Ltda -AraccedilatubaSP Infa

incorporadora Ltda - Pinheiros SP Comercial Construtora PPR Ltda - Satildeo PauloSP

Empreendimentos Imobiliaacuterios Estelar Ltda - Satildeo Paulo SP Construtora CPD Ltda - Satildeo

79

PauloSP Associaccedilatildeo de Construccedilatildeo Para Mutiratildeo do Jardim Celeste

Satildeo PauloSP Associaccedilatildeo Boa Esperanccedila -Satildeo PauloSP Associaccedilatildeo de Construccedilatildeo por

Mutiratildeo Novo Horizonte Satildeo PauloSP Copromo Associaccedilatildeo por Moradia de Osasco

OsascoSP

43 Informaccedilotildees sobre a entidade de apoio

A COOPRAM tem sido acompanhada por uma das redes nacionais de apoio as quais

tambeacutem satildeo denominadas de incubadoras de empreendimentos Satildeo essas entidades que

tradicionalmente orientam os empreendimentos solidaacuterios nos mais diversos aspectos desde

a capacitaccedilatildeo para a gestatildeo ateacute aspectos mais subjetivos da vivecircncia no empreendimento tais

como relaccedilotildees interpessoais assimilaccedilatildeo de valores humanos entre outros

No caso da COOPRAM a entidade que daacute o suporte necessaacuterio agraves suas accedilotildees e promove a

apropriaccedilatildeo do conhecimento nas diversas aacutereas do negoacutecio eacute a ANTEAG- Associaccedilatildeo

Nacional das Empresas Autogeridas e de Participaccedilatildeo Acionaacuteria

Fazendo um breve histoacuterico da entidade relata-se que a ANTEAG nasceu da iniciativa dos

proacuteprios trabalhadores que assumiram a gestatildeo de empresas diante da situaccedilatildeo de falecircncia e

desemprego Desde 1991 a ANTEAG teve contato com mais de 700 empresas em situaccedilatildeo

falimentar e passou a trabalhar com muitas delas no sentido de desenvolver a autogestatildeo

Hoje acompanha empresas de produccedilatildeo industrial e de serviccedilos nas cinco regiotildees do paiacutes

representando mais de 32 mil postos de trabalho nos seguintes setores tecircxtil agroinduacutestria

alimentaccedilatildeo couro calccedilados metaluacutergico mineraccedilatildeo serviccedilos confecccedilatildeo plaacutestico coleta

seletiva ceracircmica mobiliaacuterio papel e papelatildeo vidro e cristal tinta borracha e artesanato Os

objetivos que norteiam a accedilatildeo da ANTEAG satildeo

- Recuperar e manter trabalho e renda atraveacutes da participaccedilatildeo e controle coletivo dos

trabalhadores sobre as atividades produtivas

- Organizar e representar nacionalmente os trabalhadores e as empresas de autogestatildeo

- Promover autogestatildeo como alternativa econocircmica e social

80

- Resgatar o trabalho em sua dimensatildeo humana como alternativa agrave precarizaccedilatildeo e ao

desemprego estrutural

No que diz respeito agrave aacuterea de gestatildeo e contabilidade uma das principais formas de

contribuiccedilatildeo da ANTEAG a seus incubados eacute a promoccedilatildeo de cursos no proacuteprio

empreendimento ou nas sedes da entidade localizadas nos principais estados do paiacutes ora

executando esses cursos com seu proacuteprio pessoal ora pleiteando capacitaccedilatildeo a oacutergatildeos

governamentais

44 Descriccedilatildeo da organizaccedilatildeo contaacutebil da COOPRAM

A partir das observaccedilotildees e anaacutelises dos documentos constatou-se que os resultados

econocircmicos e financeiros da entidade satildeo apresentados pelos instrumentos tradicionais da

contabilidade centrando nas demonstraccedilotildees Balanccedilo Patrimonial e Demonstraccedilatildeo do

Resultado do Exerciacutecio da cooperativa Esses relatoacuterios satildeo disponibilizados para os

cooperados nas Assembleacuteias Gerais Ordinaacuterias os quais tambeacutem satildeo afixados no mural para

visualizaccedilatildeo e consulta

Natildeo satildeo confeccionados outros relatoacuterios gerenciais de resultados Semanalmente a diretoria

se reuacutene para discutir as financcedilas e utilizam um relatoacuterio produzido pelo setor financeiro o

qual conteacutem informaccedilotildees sobre o fluxo de recursos contas a pagar e receber

Natildeo haacute um sistema informatizado de apuraccedilatildeo de custos ou relatoacuterios detalhados sobre eles A

confecccedilatildeo dos preccedilos dos produtos eacute baseada em um caacutelculo estimativo dos gastos da

entidade para o qual eacute utilizado um fator matemaacutetico tabelado para cada item de produto e

construiacutedo a partir de outros elementos de despesas que incluem alguns gastos administrativos

e frete No caso de produtos sob encomenda eacute calculado um orccedilamento e sobre o valor

orccedilado tambeacutem se aplica o mesmo fator matemaacutetico

A contabilidade eacute terceirizada ficando a cargo de um escritoacuterio de contabilidade localizado

no mesmo Municiacutepio Mensalmente eacute remetido ao escritoacuterio o movimento de caixa

confeccionado pelos cooperados do setor financeiro O retorno desses dados convertidos em

81

demonstraccedilotildees contaacutebeis natildeo eacute realizado dentro de um periacuteodo possiacutevel de aproveitar as

informaccedilotildees para a tomada de decisotildees Em suma a informaccedilatildeo contaacutebil natildeo eacute sistematizada

ou organizada de modo que possa contribuir com o processo de gestatildeo

No que diz respeito agrave apropriaccedilatildeo dos conhecimentos em contabilidade ela eacute propiciada

principalmente por cursos de formaccedilatildeo em gestatildeo promovidos em geral pela entidade de

apoio como jaacute mencionado

45 Anaacutelise dos Resultados

A anaacutelise realizada foi segmentada em diversos aspectos da dimensatildeo contaacutebil nos processos

de autogestatildeo Entretanto na praacutetica percebeu-se que esses aspectos natildeo satildeo estanques ou

seja eles se inter-relacionam agraves vezes ocorrendo a situaccedilatildeo em que um aspecto eacute fator

determinante de outro Tecircm-se tambeacutem a consciecircncia de que outros fatores importantes agrave

compreensatildeo e ao desvelamento do fenocircmeno natildeo estatildeo aqui incluiacutedos Dessa forma longe de

esgotar as respostas agraves questotildees propostas buscou-se fazer um exerciacutecio de reflexatildeo sobre a

realidade captada pelas vaacuterias evidecircncias

Apoacutes essas observaccedilotildees relata-se a anaacutelise dos aspectos da dimensatildeo contaacutebil representados

pelas seis dimensotildees Esses resultados foram sistematizados em quadros os quais traccedilam um

paralelo entre a realidade encontrada e a realidade esperada A realidade encontrada diz

respeito ao quadro atual de cada aspecto desenhado pelo ponto de vista dos trecircs grupos de

entrevistados e reafirmado pelas observaccedilotildees e registro em arquivos Por outro lado no

quadro da realidade esperada encontram-se a realidade desejada eou elementos e pistas para

alcanccedilar essa situaccedilatildeo ideal Assim as anaacutelises satildeo produto das constataccedilotildees dos grupos

enriquecidos pelos resgates dos conceitos teoacutericos e a bibliografia sobre o tema

Passa-se entatildeo a apresentar a anaacutelise dos resultados

82

451 Forma de comunicaccedilatildeo

Nessa dimensatildeo procurou-se avaliar os instrumentos de comunicaccedilatildeo que a entidade utiliza

para divulgar seus resultados econocircmicos e financeiros Verificou-se a capacidade de a

contabilidade captar e refletir a complexidade das relaccedilotildees inclusas no processo de

autogestatildeo tais como o orccedilamento elaborado coletivamente a execuccedilatildeo e controles

compartilhados enfim foi avaliada a adequaccedilatildeo dos relatoacuterios demonstraccedilotildees e outros

instrumentos da contabilidade agraves necessidades proacuteprias dos empreendimentos solidaacuterios

Quadro 6- Forma de comunicaccedilatildeo

Grupo Realidade Encontrada

( o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Baseia-se nos instrumentos tradicionais

Pouca compreensatildeo dos

instrumentos Acessiacuteveis aos cooperados Apresentados nas assembleacuteias

Especialistas

Insuficiecircncia do Balanccedilo anual

enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo

Contadores

Contabilidade financeira tem

limitaccedilotildees Insuficiecircncia do Balanccedilo

Maior tempo de exposiccedilatildeo

das demonstraccedilotildees Mais detalhamentos da

realidade do empreendimento

Mais instrumentos de

informaccedilotildees Criaccedilatildeo de instrumentos de

informaccedilotildees permanentes Criaccedilatildeo de instrumentos de

avaliaccedilatildeo e monitoramento

Conforme demonstra o quadro 6 em geral os cooperados natildeo questionaram sobre os

instrumentos tradicionais de comunicaccedilatildeo dos resultados econocircmicos e financeiros

constituiacutedos principalmente pelo Balanccedilo e DRE Afirmaram que essas demonstraccedilotildees satildeo

acessiacuteveis na entidade Entretanto natildeo haacute muita procura por parte deles em virtude das

dificuldades de compreensatildeo

Na percepccedilatildeo dos especialistas o Balanccedilo anual principal forma de comunicaccedilatildeo das

informaccedilotildees utilizadas pelos empreendimentos eacute insuficiente para manter o trabalhador

informado havendo a necessidade de instrumentos que propiciem o monitoramento

permanente do negoacutecio

83

Os contadores entrevistados tambeacutem apontaram para a insuficiecircncia do Balanccedilo enquanto

uacutenica forma de comunicaccedilatildeo Conforme trecho da fala de um de seus representantes

Uma assembleacuteia natildeo pode se limitar a apresentar Balanccedilo Balanccedilo tem que ter mas eacute uma das

demonstraccedilotildees Vocecirc tem que mostrar outros lados Como eacute que permanentemente o cooperado

acompanha o desenvolvimento da cooperativaO Balanccedilo eacute uma informaccedilatildeo anual Quais satildeo as

outras informaccedilotildees perioacutedicas para que se faccedila um monitoramento uma avaliaccedilatildeo daquele

empreendimento[] entatildeo eu tenho que ter um instrumento e espaccedilo pra discutir []

Um dos contadores ainda destaca a limitaccedilatildeo da contabilidade financeira e a necessidade de

utilizaccedilatildeo da contabilidade gerencial e outros instrumentos apropriados agrave ES Em suas palavras

[] se vocecirc tem na contabilidade financeira contabilidade mais formal algumas limitaccedilotildees a

gente pode construir uma contabilidade gerencial hoje vocecirc tem uma contabilidade social o

Balanccedilo Social vocecirc tem ferramentas esse eacute o papel do profissional []

Portanto no que tange agrave forma de comunicaccedilatildeo das informaccedilotildees disponibilizadas pela

contabilidade as evidecircncias empiacutericas somam-se agraves anaacutelises dos autores que percebem os

empreendimentos autogestionaacuterios como um novo um grupo de usuaacuterios da contabilidade e

para os quais satildeo necessaacuterios novos instrumentos contaacutebeis Resgatando a reflexatildeo realizada

no capiacutetulo 3 agrave luz de Hendriksen e Van Breda ( 1999) sobre a implementaccedilatildeo de relatoacuterios

padronizados ou especiacuteficos a cada grupos de usuaacuterios os autores Almeida e Dantas (2005)

sugerem que os novos usuaacuterios deveriam possuir relatoacuterios especiacuteficos em detrimento da

padronizaccedilatildeo de relatoacuterios a diversos grupos

Michaels (1995) argumenta que a confecccedilatildeo dos relatoacuterios deve atender a alguns preacute-

requisitos a fim de contemplar as demandas reais de informaccedilatildeo dos usuaacuterios Para tanto seria

necessaacuterio responder agraves seguintes perguntas Qual o objetivo da informaccedilatildeoPara quem eacute a

informaccedilatildeo Que quantidade eacute necessaacuteria Como deve ser a informaccedilatildeo Quando a

informaccedilatildeo eacute necessaacuteria Com base nas respostas dadas a essas perguntas o autor reconhece

a natureza peculiar dos empreendimentos autogestionaacuterios e suas necessidades especiacuteficas

Em relaccedilatildeo agrave situaccedilatildeo desejaacutevel ou esperada na visatildeo dos cooperados as demonstraccedilotildees

deveriam fornecer mais detalhes da situaccedilatildeo socioeconocircmica e ficar mais tempo exposta

conforme revelam os trechos a seguir

[] deveria ficar mais tempo exposto agrave disposiccedilatildeo dos cooperados e com mais detalhes e ser

mais bem explicado []

84

[] vocecirc pode fazer uma planilha maior e mostrar em mais detalhes o que estaacute acontecendo

atualmente[]

Essas observaccedilotildees reforccedilam o estudo feito por Michaels (1999) Em sua opiniatildeo as

demonstraccedilotildees contaacutebeis devem ser estruturadas de tal forma que possam ser interpretadas

pelos principais usuaacuterios os associados da cooperativa Para ele a contabilidade deve ser um

importante sistema de informaccedilotildees entre a cooperativa e seus associados e para tanto

recomenda a utilizaccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis enriquecidas com graacuteficos e tabelas

comparativas Ressalta ainda que as informaccedilotildees contaacutebeis devem ser detalhadas de tal

forma que os principais eventos econocircmicos responsaacuteveis por impactos na situaccedilatildeo

econocircmico-financeira tanto positivos como negativos sejam informados aos associados e

tambeacutem sejam informados quais dos eventos econocircmicos foram fruto de decisotildees internas da

cooperativa e quais ocorreram independentes da gestatildeo interna mas sim por poliacuteticas

governamentais fatores climaacuteticos ou fatos internacionais

Logo neste aspecto concluiu-se que haacute demandas no sentido de propiciar a utilizaccedilatildeo e

assimilaccedilatildeo dos instrumentos existentes pelos trabalhadores da ES bem como de criaccedilatildeo de

novos relatoacuterios especiacuteficos para esses usuaacuterios em oposiccedilatildeo agrave implementaccedilatildeo de relatoacuterios

padronizados a todos os usuaacuterios

452 Conteuacutedo da informaccedilatildeo

O conteuacutedo diz respeito agrave informaccedilatildeo contaacutebil em si Nesse aspecto verificou-se a pertinecircncia

da linguagem das vaacuterias formas de comunicaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil aos usuaacuterios da ES

Mais especificamente nesse aspecto buscou-se perceber se a linguagem da contabilidade eacute

facilmente compreendida pelos trabalhadores tendo em vista o conhecimento jaacute consolidado

de que uma grande parte dos trabalhadores da ES tem um baixo grau de educaccedilatildeo formal

85

Quadro 7- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

Grupo

Realidade Encontrada

(o que eacute)

Realidade Esperada

(o que deveria ser)

Cooperados

Linguagem complicada Calam-se diante da

incompreensatildeo dos termos Incompreensatildeo causa

desinteresse

Especialistas

Linguagem difiacutecil

Contadores

Linguagem teacutecnica codificada

Trabalhadores da ES devem

apropriar-se da linguagem contaacutebil

Linguagem contaacutebil deve

aproximar-se da linguagem coloquial

Linguagem simples e objetiva

Como revela o quadro 7 apesar de serem acessiacuteveis haacute um desinteresse pelos relatoacuterios uma

vez que a linguagem natildeo eacute inteligiacutevel aos cooperados O grau de escolaridade do grupo de

cooperados normalmente eacute baixo e a estrutura dos relatoacuterios baseia-se em uma linguagem

teacutecnica formal o que dificulta o seu entendimento Conforme mostram trechos da fala de

cooperados

[] porque normalmente no relatoacuterio no balanccedilo a gente tenta olhar mais no final quanto que deu

e quanto que natildeo deu Fica mais faacutecil neacute Eu natildeo sei por que eles complicam [] a gente sempre ficava voando com medo ateacute de entatildeo vem o ativo passivo Taacute aqui o ativo passivo Muita

gente calaque nem que seraacute que bixiga eacute isso aiacute

Tambeacutem na visatildeo dos contadores e especialistas entrevistados a linguagem dos relatoacuterios eacute de

difiacutecil compreensatildeo para os trabalhadores pois eacute uma linguagem de contadores ou seja eacute

uma linguagem formal teacutecnica Nas palavras de um contador A linguagem contaacutebil eacute uma

linguagem codificada Eacute uma linguagem que usa coacutedigos e convenccedilotildees Ela natildeo eacute uma

linguagem do cotidiano das pessoas

Os entrevistados de uma forma geral sugerem uma linguagem adequada agrave realidade dos

trabalhadores da ES Para isso eacute necessaacuteria a criaccedilatildeo de novos instrumentos de comunicaccedilatildeo

os quais contenham uma linguagem simples e compreensiacutevel conforme expressam algumas

falas

86

[] entatildeo talvez uma coisa mais simples pra maioria simples Olha daacute dando lucro olha isso

aqui noacutes vamos gastar pra isso A contabilidade eacute interessante mas pro povatildeo acho que ajudava

bem Aiacute vocecirc jaacute podia parar de muitos comentaacuterios Olha taacute assim assim assim no real mas no

real natildeo pra iludir agente []

[] entatildeo noacutes temos duas questotildees ou noacutes vamos ter uma linguagem que aproxime dessa

linguagem coloquial ou seja essa linguagem de Balanccedilo eacute uma linguagem de contadores Entatildeo

tem dois movimentos ou os trabalhadores da ES se apropriam da linguagem dos contadores ou os contadores buscam uma linguagem com os trabalhadores da ES Acho que tem que ter um encontro aiacute Natildeo eacute ficar usando apelidos para falar a mesma coisa Eu digo formas de

comunicaccedilatildeo []

Os apontamentos dos grupos natildeo contraria a hipoacutetese inicialmente aventada sobre a

dificuldade de compreensatildeo da linguagem dos relatoacuterios contaacutebeis por parte dos

trabalhadores Essa hipoacutetese baseou-se na realidade socioeconocircmica dos trabalhadores

retratada no cap 2 Conforme mostraram Singer (2000) e demais autores a baixa escolaridade

dos trabalhadores adveacutem de sua situaccedilatildeo de exclusatildeo social A ES eacute constituiacuteda em sua

maioria por trabalhadores viacutetimas do desemprego estrutural provocado em grande parte pela

globalizaccedilatildeo a qual acarretou a reestruturaccedilatildeo produtiva e mudanccedilas no mercado de trabalho

Esses trabalhadores dispensados de seus postos de trabalho e natildeo apresentando formaccedilatildeo

suficiente para nova colocaccedilatildeo viram na ES uma alternativa de reingresso no mercado de

trabalho e de inclusatildeo social

Assim com baixa escolaridade e natildeo acostumados agrave linguagem de negoacutecio os termos

contaacutebeis soam estranhos aos trabalhadores Dessa forma a adaptaccedilatildeo da linguagem dos

relatoacuterios contaacutebeis agrave realidade dos trabalhadores eacute uma outra demanda concreta que os

empreendimentos de ES remete agrave contabilidade

453 Utilidade da informaccedilatildeo

A avaliaccedilatildeo da utilidade da informaccedilatildeo diz respeito agrave importacircncia e utilidade dada agrave

contabilidade Tambeacutem se procurou avaliar a utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil em todos os

processos da gestatildeo de forma que ela efetivamente seja supridora de informaccedilotildees

necessaacuterias agrave autogestatildeo ou seja auxiliar no processo de tomada de decisotildees coletivas e na

gestatildeo democraacutetica

87

Quadro 8 - Utilidade da informaccedilatildeo

Grupo Realidade Encontrada

( o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Contabilidade como sinocircnimo de confianccedila entre

os trabalhadores Organizaccedilatildeo contaacutebil influi na motivaccedilatildeo e

tranquumlilidade Contabilidade instrumento de transparecircncia Percepccedilatildeo da influecircncia da organizaccedilatildeo contaacutebil

sobre os resultados Consciecircncia da necessidade de apropriaccedilatildeo da

contabilidade

Especialistas

Falta de domiacutenio das teacutecnicas satildeo lacunas nos

empreendimentos em uma primeira fase Em segunda fase usam teacutecnicas p

desenvolvimento do empreendimento Utilizaccedilatildeo de teacutecnicas contaacutebeis como condiccedilatildeo agrave

viabilidade econocircmica

Contadores

Informaccedilatildeo contaacutebil gera confianccedila e autonomia Formadores tecircm visatildeo da contabilidade como

algo chato dispensaacutevel controle burocraacutetico Contabilidade eacute instrumental necessaacuterio a todas

as aacutereas do empreendimento Natildeo utilizaccedilatildeo dos instrumentos em decorrecircncia

da natildeo apropriaccedilatildeo do conhecimento Resistecircncia agrave superaccedilatildeo da segregaccedilatildeo trabalhar ( trabalhadores) e pensar (administradores)

Superaccedilatildeo da visatildeo

tradicional da contabilidade para o fisco e controle burocraacutetico

Formadores assumir a

contabilidade como questatildeo

fundamental Apropriaccedilatildeo de conhecimento

contaacutebil pelos trabalhadores Criaccedilatildeo de instrumentos

contaacutebeis que gere

informaccedilotildees atualizadas e

permanentes sobre a gestatildeo Utilizaccedilatildeo das teacutecnicas

contaacutebeis em todos os

processos de gestatildeo Trabalhadores devem possuir

a cultura do registro

Na visatildeo de um dos cooperados conforme mostra o quadro 8 a contabilidade tem grande

importacircncia porque eacute um instrumento de transparecircncia e de desenvolvimento econocircmico do

empreendimento Um outro motivo destacado pelos trabalhadores eacute sua vinculaccedilatildeo com a

confianccedila que deve existir na relaccedilatildeo entre os cooperados Para eles uma boa organizaccedilatildeo

contaacutebil propicia a tranquumlilidade no trabalho e motivaccedilatildeo conforme relatam algumas falas

[] contabilidade eacute o coraccedilatildeo o ceacuterebro[] [] porque tem viacutenculo de confianccedila neacute Falando seacuterio como agora agente taacute passando por

uma situaccedilatildeo em relaccedilatildeo serviccedilo dinheiro natildeo taacute boa Entatildeo influi em todo mundo ali sabe

Entatildeo aqui quando as coisas taacute correndo bem a contabilidade a gente supotildee que ta tudo em paz

taacute tudo bom a gente tem uma tranquumlilidade maior de produzir de trabalhar de torcer pra vir mais

serviccedilo Agora quando taacute ruim agente fala pra quecirc serviccedilo O dinheiro natildeo entra as coisa natildeo daacute

pra fazer as coisas direito Entatildeo influi bastante Entatildeo eu acho que administraccedilatildeo contabilidade

a gente tando no meio assim mesmo natildeo fazendo parte mas vocecirc tendo os relatoacuterios vocecirc

entendendo com certeza vocecirc acalma meio mundo laacute embaixo noacutes mesmos []

88

[] a contabilidade eacute fundamental os nuacutemeros clareza todo mundo ciente do que estaacute

acontecendo se tiver condiccedilotildees de fazer uma reserva Entatildeo realmente ter noccedilatildeo pra empresa

crescer []

Essa concepccedilatildeo da importacircncia da utilizaccedilatildeo dos instrumentos contaacutebeis reafirma o papel

social da contabilidade enfatizada no cap 3 Vaz (2002) ressalta que a informaccedilatildeo eacute um

direito de cidadania Pateman no cap 2 ressalta a importacircncia da informaccedilatildeo Para a

autora um dos preacute-requisitos para a participaccedilatildeo democraacutetica e desenvolvimento da

eficaacutecia poliacutetica eacute simetria econocircmica e simetria no acesso a informaccedilotildees Dessa forma a

visatildeo dos grupos entrevistados aproxima-se dos autores sobre a essencialidade da

informaccedilatildeo contaacutebil no processo de autogestatildeo

No que se refere a outro aspecto analisado o uso dos diversos instrumentos para a tomada de

decisatildeo os instrumentos centram-se no Balanccedilo Patrimonial e DRE conforme mencionado

anteriormente Natildeo haacute outros instrumentos mais dinacircmicos de monitoramento e controle do

planejamento da entidade assim como natildeo haacute um planejamento coletivo mais sistematizado

Portanto a entidade natildeo utiliza a maioria dos recursos de informaccedilatildeo disponibilizados pela

contabilidade financeira e gerencial no seu processo de autogestatildeo

Entretanto mesmo natildeo tendo plena consciecircncia do que seja uma contabilidade gerencial e da

potencialidade da contabilidade enquanto instrumento de informaccedilatildeo para a tomada de

decisatildeo os cooperados ainda conseguem diagnosticar os efeitos da ausecircncia dessa

organizaccedilatildeo na entidade e a necessidade de apropriaccedilatildeo desse conhecimento como mostra um

trecho da entrevista de um dos cooperados

[] na verdade eu preciso aprender muito sobre isso aiacute Agora pela assembleacuteia pelo que eu vi sem documento na matildeo noacutes natildeo entende muito natildeo Noacutes tem trabalhado bastante eu acredito que

o nosso produto taacute barato Alguma coisa taacute errada na Coopram Porque noacutes trabalha de segunda a

saacutebado ningueacutem paacutera e hoje o saldo nosso eacute devedor Entatildeo noacutes precisamos corrigir o que taacute

acontecendo Cada um se empenhar mais [] noacutes tenta saber o segredo Mas noacutes soacute trabalha

trabalha Eacute aquilo que eu falei pra vocecirc noacutes precisamos de uma pessoa capacitada pra administrar

nossa Coopram Por que noacutes natildeo estamos conseguindo []

Essa fala reafirma o papel da contabilidade no processo de gestatildeo tambeacutem enfatizada por

Dias (1991) O autor salienta que numa administraccedilatildeo participativa em que os gestores

interferem em todo o processo de gestatildeo que vai desde o planejamento estrateacutegico ateacute a

execuccedilatildeo deve haver um sistema capaz de oferecer informaccedilotildees de todo o ciclo

operacional as quais abrangem informaccedilotildees do ambiente econocircmico previsotildees

orccedilamentaacuterias sistema de programaccedilatildeo sistema de apoio agrave gestatildeo de execuccedilatildeo ateacute a

89

apuraccedilatildeo de resultados e avaliaccedilatildeo de desempenho O sistema de informaccedilotildees deve ser

capaz de indicar tendecircncias futuras e permitir comparaccedilotildees com o passado aleacutem de

possibilitar a avaliaccedilatildeo de evoluccedilatildeo da organizaccedilatildeo e comparaccedilotildees com desempenhos

desejados

Ainda sobre o assunto na opiniatildeo de um especialista entrevistado a falta de domiacutenio e

utilizaccedilatildeo das teacutecnicas contaacutebeis eacute realidade nas fases iniciais de uma grande parte dos

empreendimentos da ES conforme mostra o quadro 8 e a fala do especialista da ES

[] no que tange a autogestatildeo ou seja o domiacutenio de todas as teacutecnicas de gestatildeo de

gerenciamento de composiccedilatildeo de custos satildeo lacunas que existem nos empreendimentos que no

decorrer do tempo eles vem a suprir seja por terceirizaccedilatildeo seja por aprendizado [] Numa

primeira fase eles natildeo utilizam numa segunda que jaacute eacute de um empreendimento mais consolidado

poderiacuteamos chamar ateacute de incubaccedilatildeo ou incubagem que esses empreendimentos tecircm que dotam

suas estruturas dos principais instrumentos necessaacuterios agrave gestatildeo e o desenvolvimento do

empreendimento entatildeo me parece que eles acabam solucionando estes problemas e acabam

consequumlentemente utilizando estas teacutecnicas em prol do desenvolvimento do empreendimento []

Na percepccedilatildeo de um dos especialistas os empreendimentos adquirem esses conhecimentos

impulsionados ateacute pela necessidade de sobrevivecircncia uma vez que eacute condiccedilatildeo para

alavancagem do empreendimento assim como o eacute para as empresas de uma forma geral Nas

palavras do especialista

[] acredito que aqueles empreendimentos que natildeo conseguem utilizar estas teacutecnicas eles tem

uma maior dificuldade de alcanccedilar um ponto de equiliacutebrio ou seja a viabilidade econocircmica

necessaacuteria as condiccedilotildees necessaacuterias de se manter no mercado [] Os que utilizam as teacutecnicas

tecircm maior facilidade pra passar essa fronteira da viabilidade econocircmica do empreendimento

econocircmico e consequumlentemente gerar uma renda que possibilite natildeo soacute a inclusatildeo social mas a

inclusatildeo econocircmica e consequumlentemente a tecnoloacutegica que eacute o que agrega valor a esses

empreendimentos

Na visatildeo dos contadores como mostra o quadro 8 a contabilidade tambeacutem eacute fundamental

para os empreendimentos Conforme fala de um representante

[] a contabilidade eacute fundamental acho assim ela eacute central [] ela serve pra fornecer

informaccedilotildees Ela eacute instrumento fundamental para fornecer informaccedilotildees Informaccedilatildeo gera duas

coisas pra mim que eu acho fundamental na Economia Solidaacuteria Autonomia e Confianccedila

Confianccedila no grupo no coletivo Entatildeo os trabalhadores soacute vatildeo ser autocircnomos nessa relaccedilatildeo

quando possuiacuterem autonomia e confianccedila entre eles Informaccedilatildeo eacute fundamental [] isso eacute

principal causa de uma seacuterie de problemas na Economia Solidaacuteria a falta de confianccedila e a falta de

autonomia por conta da falta de informaccedilatildeo []

Entretanto foi ressaltada uma certa aversatildeo que os trabalhadores e formadores tecircm em relaccedilatildeo

agrave contabilidade para os quais ela eacute associada a algo chato e a um controle burocraacutetico

90

desnecessaacuterio Segundo o contador essa visatildeo deve ser superada pela ES tendo em vista a

centralidade da contabilidade cujas informaccedilotildees satildeo base para outras aacutereas de atuaccedilatildeo no

empreendimento Em suas palavras

[] acho que a Economia Solidaacuteria tem certa aversatildeo a isso porque ela vincula a contabilidade ao

controle burocraacutetico O que eacute um equiacutevoco vincular isso Inclusive formadores de outra aacuterea

vincula esta questatildeo a algo chato Entatildeo os proacuteprios formadores natildeo assumiram isso como uma

questatildeo fundamental Entatildeo a pergunta eacute controle eacute bomMuita gente vincula controle com

desconfianccedila [] eacute preciso superar isso e a contabilidade eacute o principal instrumento Pode-se falar da questatildeo econocircmica questatildeo administrativa enfim de outras doutrinas mas todas elas vatildeo

precisar do instrumental da contabilidade [] administrativamente vocecirc pode propor qualquer

modelo fantaacutestico mas ele vai se basear em informaccedilotildees que o instrumental contaacutebil fornece

Dias (1991) no cap 3 tambeacutem preconizou esta limitaccedilatildeo da contabilidade e explica um dos

motivos da sua imagem ser destorcida Para ele a contabilidade produz relatoacuterios que natildeo

exprimem a realidade econocircmica da empresa prejudicando seus usuaacuterios internos e

externos pois preocupa prioritariamente com a legislaccedilatildeo fiscal fato que impotildee

procedimentos prejudiciais agrave utilizaccedilatildeo dos sistemas de informaccedilotildees contaacutebeis para fins

gerenciais

Um outro motivo que justifica a subutilizaccedilatildeo dos instrumentos contaacutebeis na percepccedilatildeo de

um contador eacute a natildeo apropriaccedilatildeo desses instrumentos pelos trabalhadores Esse fato acarreta

problemas ao empreendimento no futuro Tambeacutem ressalta a necessidade de mudanccedilas de

comportamento dos profissionais a fim de fornecer informaccedilotildees atualizadas e permanentes

buscando suprir a insuficiecircncia do Balanccedilo Patrimonial Em suas palavras

[] como eacute que eu crio instrumentos permanentes soacute se eu tiver uma contabilidade que me gere

informaccedilotildees atualizadas permanentemente Mas natildeo eacute normal isso Como eacute feita a contabilidade

normalmente Vocecirc junta toda a papelada do ano entrega pro profissional o profissional pega aquela papelada classifica de acordo com que ele acha normalmente ele natildeo discute [] e vai laacute e

faz um Balanccedilo Isso eacute insuficiente

Um dos caminhos para mudanccedila sugerido pelos contadores eacute a aquisiccedilatildeo da cultura dos

registros Eles devem possuir a cultura dos registros [] ter alguns controles miacutenimos que

ele passe para o contador que gere outras informaccedilotildees

Essas reflexotildees reforccedilam a demanda jaacute constatada anteriormente da necessidade de criaccedilatildeo de

novos instrumentos contaacutebeis que produzam informaccedilotildees permanentes e atualizadas e

acrescenta uma nova demanda uma mudanccedila comportamental dos contadores da ES

91

adotando uma postura que incentive a assimilaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil pelos proacuteprios

trabalhadores

454 Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Um dos princiacutepios fundamentais da Economia Solidaacuteria sugere a socializaccedilatildeo de todo o

conhecimento de gestatildeo em oposiccedilatildeo agrave tiacutepica empresa que resguarda esses conhecimentos

para o grupo da gerecircncia Baseado nesse princiacutepio essa dimensatildeo teve a intenccedilatildeo de

compreender e analisar as formas de transferecircncia do conhecimento contaacutebil e as eventuais

dificuldades enfrentadas pelo trabalhador no processo de apropriaccedilatildeo do conhecimento das

teacutecnicas contaacutebeis Nesse item tambeacutem se buscou captar elementos que norteiem uma

formaccedilatildeo desejada em contabilidade

Quadro 9 - Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Grupo Realidade Encontrada

( o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Dificuldade em decorrecircncia da linguagem Consciecircncia da necessidade de apropriaccedilatildeo

Especialistas

Didaacutetica de formaccedilatildeo natildeo proporciona

assimilaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil Linguagem de formaccedilatildeo natildeo acessiacutevel

Contadores

Natildeo apropriaccedilatildeo em funccedilatildeo de linguagem

estranha ao cotidiano dos trabalhadores Trabalhadores tecircm medo e posiccedilatildeo defensiva em

relaccedilatildeo agrave contabilidade Didaacutetica de formaccedilatildeo muitas vezes natildeo

apropriada Formaccedilatildeo paternalista

Formaccedilatildeo deve ser em

linguagem acessiacutevel aos

trabalhadores Formador deve ter didaacutetica

apropriada ao puacuteblico Utilizaccedilatildeo da educaccedilatildeo

popular na formaccedilatildeo dos

trabalhadores Formaccedilatildeo deve sensibilizar

para a importacircncia da

contabilidade Formaccedilatildeo deve ser

permanente Formaccedilatildeo deve ser

estruturada de forma crescente

O quadro 9 revela que os cooperados tecircm dificuldades para a assimilaccedilatildeo do conhecimento

contaacutebil mas como referido no item anterior tambeacutem tecircm consciecircncia de sua importacircncia e

utilidade conforme demonstra trecho da fala de um cooperado [] na verdade eu preciso

aprender muito sobre isso aiacute []

92

No entanto quando questionados sobre a participaccedilatildeo nos cursos de formaccedilatildeo em

contabilidade promovidos pela entidade de apoio apenas dois cooperados disseram que

participaram de algum Esses participantes relataram dificuldades em funccedilatildeo da linguagem

utilizada pelo formador Em relaccedilatildeo a futuros cursos de formaccedilatildeo os trabalhadores tambeacutem

ressaltaram a questatildeo da linguagem conforme trecho de uma entrevista

[] linguagem simples falando seacuterio Vocecirc jaacute pensou vem laacute o Sr Ney dar um curso aqui

falando de paradigma Sabe a gente ia ficar porque agraves vezes agente pergunta tem uns que natildeo

pergunta Entatildeo tinha que ser uma linguagem Por que olha o SEBRAE agraves vezes agente assiste

no domingo a linguagem laacute eacute simples de entender Olha a empresa taacute assim taacute dando esse lucro

Ela aplicou tanto Vocecirc capta a coisa Mas se vocecirc vem com um negoacutecio de faculdade bem

complicado acho que noacutes ia ficaacute boiando

Os especialistas entrevistados reafirmam a dificuldade de assimilaccedilatildeo da contabilidade por

parte dos trabalhadores No entanto atribuem essa dificuldade agrave didaacutetica empregada nos

cursos Conforme explica um deles a didaacutetica deve estar adequada agrave realidade social e grau

de instruccedilatildeo dos trabalhadores que natildeo eacute muito elevado A apropriaccedilatildeo que tecircm desses

conhecimentos seraacute tatildeo mais faacutecil se o formador procurar levar o conhecimento em uma

linguagem mais proacutexima agrave realidade social desses trabalhadores Nas suas palavras

[] pode ser uma questatildeo de didaacutetica Agraves vezes temas considerados difiacuteceis se tornam faacuteceis na

medida em que o formador tenha linguagem apropriada ao puacuteblico com o qual ele estaacute

trabalhando Se noacutes formos trabalhar com linguagem puramente teacutecnicas com estes trabalhadores

que muitas vezes tem uma formaccedilatildeo dentro da educaccedilatildeo formal passando apenas do limite da

alfabetizaccedilatildeo como eacute o caso da cooperativa de catadores como eacute o caso da populaccedilatildeo brasileira

em geral a resposta seria que eles tem bastante dificuldade []

Ressalta que o baixo grau de instruccedilatildeo dos trabalhadores da ES natildeo eacute impeditivo para a

assimilaccedilatildeo do conhecimento Para facilitar a assimilaccedilatildeo sugere a utilizaccedilatildeo de metodologias

de formaccedilatildeo apropriada ao puacuteblico como a Educaccedilatildeo Popular de Paulo Freire conforme

relatos

[] os trabalhadores da ES tem um grau de escolaridade muito baixo mas isso natildeo eacute impeditivo

para que eles aprendam Muitas vezes eles soacute natildeo aprenderam porque natildeo tiveram condiccedilotildees de

frequumlentar a educaccedilatildeo formal Agora natildeo necessariamente a educaccedilatildeo formal eacute preacute-requisito para o aprendizado de teacutecnicas apropriadas para a gestatildeo de um empreendimento[] [] a ES utiliza muito da educaccedilatildeo popular pra formaccedilatildeo dos trabalhadores pra transferecircncias de

conhecimento enfim pra essa linguagem de comunicaccedilatildeo e de extensatildeo que seja mais facilmente

assimilada por esse puacuteblico[]

93

Os contadores entrevistados tambeacutem compactuam com essa linha de raciociacutenio chamando a

atenccedilatildeo para a linguagem empregada Nas palavras de um deles[] os trabalhadores natildeo

apropriaram da linguagem contaacutebil porque natildeo faz parte do cotidiano deles O dia que

comeccedilar a fazer parte do cotidiano deles eles comeccedilam a se apropriar tambeacutem

Os contadores ressaltam que em decorrecircncia da sua baixa educaccedilatildeo formal e distacircncia de

linguagem tecircm medo da contabilidade assim como tecircm medo da matemaacutetica conforme

relata [] eles natildeo entendem porque nunca foi passado pra eles tambeacutem Entatildeo eles tecircm

dificuldade na verdade eles tecircm medo Tecircm medo porque associam contabilidade com conta

e com matemaacutetica [] ele eacute defensivo

Contribui para a natildeo apropriaccedilatildeo o legado da velha cultura ainda impregnada nos

trabalhadores na qual persiste a ideacuteia de segregaccedilatildeo entre pensar (administradores) e trabalhar

(trabalhadores) O trabalhador ainda natildeo se acha apto agrave gestatildeo que em sua visatildeo continua

sendo prerrogativa dos mais cultos Transcrevendo a fala do contador

[] os trabalhadores ainda natildeo consideram essa questatildeo da gestatildeo cuidar da gestatildeo contaacutebil

como trabalho Ele considera trabalho quando ele estaacute na beira da maacutequina isso eacute trabalho pra ele

A gestatildeo natildeo eacute trabalho Eacute perda de tempo [] Ele estaacute acostumado a separar estas atividades de

pensar e trabalhar Ele faz essa separaccedilatildeo[] entatildeo se falar pra ele olha tem que fazer um livro-caixa aproveitar estes dados e projetar o futuro satildeo raros os casos

Essa percepccedilatildeo da necessidade de mudanccedila cultural reafirma a visatildeo de Rattner (2005)

exposta no cap 2 o qual afirma que a ES exige a conscientizaccedilatildeo e o desenvolvimento de

princiacutepios eacuteticos e valores de compaixatildeo e solidariedade Para ele a ES natildeo pode ser um

produto do autoritarismo de uma administraccedilatildeo de uma soacute via de cima para baixo Ela exige

a participaccedilatildeo de todos para se tornarem cidadatildeos e assim sujeitos do processo histoacuterico

A partir dessas reflexotildees foram constatadas novas demandas agrave contabilidade no que se refere

agrave apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil Primeiro haacute premecircncia de uma didaacutetica para

transmissatildeo do conhecimento em contabilidade apropriada agrave realidade social dos

trabalhadores Segundo haacute necessidade de uma metodologia de formaccedilatildeo permanente em

contabilidade e gestatildeo que contribua para uma mudanccedila cultural dos cooperados

No que diz respeito agrave situaccedilatildeo desejaacutevel ou esperada os grupos levantam alguns elementos

Sugerem que ela seja iniciada pela sensibilizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a importacircncia da contabilidade a

94

ponto de os trabalhadores desejarem conhececirc-la e compreendecirc-la como instrumento de

autonomia Um outro aspecto da formaccedilatildeo levantada refere-se agrave graduaccedilatildeo segundo a qual

ela deve ser permanente e crescente que vaacute agregando informaccedilatildeo aos poucos aos

trabalhadores como num processo de alfabetizaccedilatildeo Eis os trechos de sua falas

[] primeiro mostrar que a contabilidade eacute importante como um instrumento de gestatildeo que gera

informaccedilatildeo gera informaccedilatildeo para quecirc[] pra tomar decisatildeo Quem toma decisatildeo satildeo eles Entatildeo

eles precisam ter informaccedilatildeo na matildeo para tomar decisatildeoEntatildeo eacute um curso indo nessa linha de

sensibilizaccedilatildeo[] Seria importante que os trabalhadores a enxergassem como um instrumento de autonomia e ousando como instrumento de autonomia e ateacute de libertaccedilatildeo [] eu natildeo concordo Jaacute vi outros colegas trabalhando com formaccedilatildeo O cara jaacute comeccedila falando da

contabilidade jaacute mostra o Balanccedilo ativo passivo Aiacute os caras comeccedilam a se olhar Daacute medo []

eacute como vocecirc natildeo passar pelo processo de alfabetizaccedilatildeo com as crianccedilas e jaacute desse um livro pra ela

ler[] tambeacutem natildeo daacute pra ser paternalista Dar um livro ilustrado Vocecirc ficar educando soacute por

imagem [] [] deve ser uma formaccedilatildeo permanente E ela tem que ser crescente tambeacutem Ela tem que estar

estruturada em que vocecirc comece com os fundamentos e vocecirc vaacute agregando informaccedilotildees agravequeles

fundamentos[]

455 Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Conforme bibliografia pesquisada as aacutereas teacutecnicas tecircm dificuldades de perceber a

especificidade da autogestatildeo Nessa perspectiva foi analisada a relaccedilatildeo dos usuaacuterios dos

empreendimentos autogestionaacuterios com os profissionais da aacuterea contaacutebil Em outras palavras

pretendeu-se compreender o envolvimento do contabilista com a autogestatildeo Por outro lado

tambeacutem se procurou captar elementos que norteiem agrave construccedilatildeo da relaccedilatildeo ideal entre os

contadores e os trabalhadores da ES

95

Quadro 10 - Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Grupo Realidade Encontrada

(o que eacute)

Realidade Esperada

(o que deveria ser)

Cooperados

Abismo na relaccedilatildeo

Especialistas

Tema relativamente novo Dificuldade de arregimentar

contabilistas agrave ES Inserccedilatildeo da aacuterea contaacutebil ainda

eacute baixa Dificuldade dos contadores em

assimilar sistemaacutetica diferente

da empresa capitalista Formaccedilatildeo natildeo prepara para

atendimento de sociedade de pessoas

Pouco especializaccedilatildeo de

profissionais na aacuterea Formaccedilatildeo acadecircmica natildeo

voltada para divulgaccedilatildeo

pesquisa e reflexatildeo do tema Produccedilatildeo de saberes para a

classe trabalhadora na universidade brasileira eacute

recente

Contadores

Contador natildeo tem costume de

fornecer informaccedilotildees para o

coletivo Contador prefere atender o

fisco Contador tem viacutecios de

formaccedilatildeo Evitar relaccedilatildeo paternalista Formaccedilatildeo voltada para SAs Curriacuteculos de contabilidade

natildeo abertos a novas

tecnologias

Contador deve ser um profissional orgacircnico

engajado nos processos econocircmicos do

empreendimento Qualidades e habilidades que um contador de ES

deve possuir

Conhecer as teacutecnicas Saber resolver problemas Saber transferir conhecimento Ter sensibilidade Saber sensibilizar Saber dialogar Ser um comunicador Ter uma linguagem apropriada aos

trabalhadores Paciecircncia para ensinar Habilidade para simplificar Disposiccedilatildeo para criar Disposiccedilatildeo a ouvir discutir e aprender

Uma Formaccedilatildeo acadecircmica Que tenha envolvimento com a sociedade Que busque perguntas para pesquisa na

sociedade Problematize reflita sobre o tema Que o curriacuteculo seja baseado na realidade

brasileira

A partir das entrevistas observou-se a distacircncia entre os contadores e os trabalhadores O

profissional da contabilidade ainda exerce seu trabalho de uma forma tradicional sem

compreender muito a especificidade de um empreendimento da ES em consequumlecircncia natildeo haacute

uma maior aproximaccedilatildeo do contador com os cooperados da entidade Isso ficou patente nos

relatos dos cooperados entrevistados que em sua maioria natildeo abordavam o contador para

pedir esclarecimentos sobre a contabilidade Alguns argumentaram falta de tempo outros

falta de interesse

96

Entretanto quando questionados sobre o perfil que um contador da ES deveria possuir

destacaram qualidades como paciecircncia adoccedilatildeo de linguagem simples habilidade para

simplificar conforme trechos a seguir

[] eu lembro quando trabalhava laacute no Liceu eu nem tinha interesse em saber as financcedilas do

patratildeo Eu queria o meu trabalhar direitinho e o meu Aqui natildeo a gente se envolve Entatildeo a gente

tem aquela vontade de querer saber como estatildeo as coisas Entatildeo chega um contador que talvez taacute

acostumado a lidar soacute com outras pessoas talvez pense que agente natildeo tem interesse Talvez

agente natildeo tem a habilidade de captar as coisas Mas a gente aqui eacute todo mundo curioso em saber

como anda a empresa Precisa uma paciecircncia com a gente maior Entatildeo um cara que jaacute participou

de alguma cooperativa Que eacute diferente a coisa [] precisa ser mais paciente e ter uma habilidade de simplificar De pocircr as coisas mais simples

pra gente sabe Eu imagino se tivesse um jeito Se chega um de gravata no pescoccedilo soacute falando

coisa difiacutecil natildeo adianta muito Simplicidade neacute Acho que o importante aqui a instruccedilatildeo da

gente natildeo eacute tatildeo grande Entatildeo tem esse abismo Natildeo adianta uma pessoa bem culta e natildeo saber

lidar com agente [] [] ele podia esclarecer mais Porque vai ter que prestar conta por exemplo se for prestar o relatoacuterio pra todo o pessoal da faacutebrica Vai ter que ser uma pessoa que tem habilidade pra

demonstrar com mais simplicidade Relatoacuterios mais simples pra todo mundo entender e ver

realmente o que estaacute acontecendo[]

Na visatildeo dos especialistas o setor de contabilidade eacute uma lacuna para os empreendimentos

Por se tratar de um tema recente haacute uma dificuldade de arregimentar profissionais das aacutereas

teacutecnicas para a ES conforme relata um de seus representantes

[] de uma maneira geral o setor de contabilidade eacute uma carecircncia para os empreendimentos A ES ela eacute bastante recente embora tenha jaacute em torno de 15 a 20 anos no paiacutes enquanto tema

reconhecido mas algumas aacutereas do conhecimento se tem maior facilidade de arregimentaccedilatildeo

teacutecnica e outras um pouco mais de dificuldade A aacuterea da contabilidade e a aacuterea do direito satildeo

aacutereas com as quais natildeo se tem muito contato institucional [] alguns profissionais acabam natildeo conhecendo natildeo se especializando nessa demanda em

especiacutefico o que faz com que o mercado tenha pouquiacutessimos profissionais que conhecem de contabilidade de cooperativa [] [] o envolvimento dos profissionais estaacute muito aqueacutem da necessidade [] eu vejo que os

profissionais da contabilidade talvez a conjuntura toda a proacutepria formaccedilatildeo acadecircmica ela natildeo estaacute

voltada para a divulgaccedilatildeo pra pesquisa e reflexatildeo do tema do cooperativismo []

Para um especialista a ES tem uma natureza diferente das empresas lucrativas e daquelas sem

fins lucrativos isso justifica em parte a dificuldade de envolvimento dos contadores com a

ES uma vez que natildeo estatildeo acostumados a lidar com entidades de sistemaacuteticas diferentes da

empresa de capital conforme explica um especialista

[] no sentido latu os contadores tecircm dificuldades de trabalhar com as cooperativas que tem uma sistemaacutetica totalmente diferente das empresas de capital Na verdade a expressatildeo sem finalidade

97

lucrativa ou sem fins lucrativos de uma sociedade de pessoa coloca uma cooperativa entre uma sociedade de capital e uma sociedade civil sem fins lucrativos ou seja uma associaccedilatildeo Entatildeo o

que difere dos dois eacute que na cooperativa haacute um hiacutebrido entre a sociedade civil e uma associaccedilatildeo

mercantil[] [] que eacute uma contabilidade diferenciada das sociedades de capital natildeo tenho duacutevida O que me

faz pensar eacute como faremos para arregimentar profissionais que se especializem nessa aacuterea e que

possam trabalhar em todo esse ciacuterculo nesse entendimento do que eacute a ES e que conheccedilam natildeo soacute

as suas teacutecnicas de contabilidade mas a melhor forma de passar esse conhecimento pelos trabalhadores[]

Essa perspectiva se alinha agrave percepccedilatildeo da ANTEAG (2005) relatada no cap 1 sobre a

dificuldade de envolvimento dos contadores com a ES Para a ANTEAG o problema estaacute

vinculado agrave inovaccedilatildeo que a autogestatildeo representa e agrave formaccedilatildeo dos profissionais que ainda

estaacute centrada em empresas tradicionais seguindo as regras convencionais do mercado

consequumlentemente os profissionais terceirizados das aacutereas teacutecnicas como contabilidade e

direito desconhecem as condiccedilotildees diferenciais da autogestatildeo

Para acompanhar essa sistemaacutetica diferenciada da ES satildeo sugeridos pelos entrevistados uma

nova postura do contador um contador engajado que acompanhe os processos econocircmicos

do empreendimento conforme ressaltam

[] o que se chama de lucro na sociedade de capital se transforma em sobra na cooperativa Esse lucro na sociedade de capital pode ser distribuiacutedo mecircs a mecircs jaacute na cooperativa eacute soacute no Balanccedilo no

final do exerciacutecio financeiro Essa loacutegica de atuaccedilatildeo de certa forma requer um profissional orgacircnico trabalhando com os empreendimentos ou seja um contador ele precisa acompanhar os

processos econocircmicos do empreendimento durante um ano pra poder realizar o Balanccedilo do

empreendimento

Todo esse panorama remete a discussatildeo sobre a formaccedilatildeo do contador que natildeo o prepara para

o atendimento de sociedade de pessoas do tipo das cooperativas Nas palavras de um

especialista

[] o que se discute eacute qual a contabilidade ou visatildeo de contabilidade necessaacuteria para o

cooperativismo [] porque nem todos os contadores tecircm uma formaccedilatildeo apropriada para o

atendimento de uma sociedade que embora econocircmica de pessoas Noacutes temos grande demanda

empresarial para sociedades de capital de uns tempos pra caacute eacute que a sociedade de pessoas

entraram dentro da oacuterbita econocircmica em maior escala [] as edificaccedilotildees de gestatildeo e estas que entram em temas novos e o tema das cooperativas de

trabalho para o Brasil eacute relativamente novo ainda temos carecircncia de profissionais e temos

necessidade de produccedilatildeo acadecircmica teacutecnica cientiacutefica acerca destes temas portanto a inserccedilatildeo

ainda eacute muito baixa [] [] a universidade brasileira ela por muito tempo esteve isolada da sociedade ou seja se constituiacutea num centro hermeacutetico onde se faz pesquisa onde se faz ensino e eventualmente se faz extensatildeo Mas uma grande caracteriacutestica da universidade mesmo naquelas que faz extensatildeo

sempre foi e isso natildeo eacute opiniatildeo produzir conhecimento pra classe dominante Eacute uma questatildeo

ideoloacutegica e o Estado brasileiro natildeo eacute diferente disso Entatildeo as proacuteprias pesquisas mais facilmente

98

financiaacuteveis satildeo aquelas pesquisas voltadas ao desenvolvimento de tecnologia para o capital []

ateacute pouco tempo atraacutes natildeo se via a universidade brasileira voltada a produzir saberes para a classe trabalhadora [] precisa ter contato com a sociedade [] onde noacutes buscamos o conhecimento Noacutes buscamos o

conhecimento exclusivamente dentro dos muros da universidade Ou temos que ter a coragem de ir a sociedade e ver quais satildeo as grandes perguntas que a sociedade faz e que o universo do saber a universidade deve responder ou seja quem eacute que deteacutem o poder aiacute se entra numa questatildeo de

novo de ideologia de priorizar a atuaccedilatildeo acadecircmica eacute a sociedade ou os quadros acadecircmicos que

atribuem um grau de importacircncia agraves perguntas que devem ser respondidas

[] pouquiacutessima problematizaccedilatildeo pouquiacutessima reflexatildeo e consequumlentemente pouquiacutessima

produccedilatildeo acerca desses temas

Na visatildeo dos contadores entrevistados o problema tambeacutem passa pelo tipo de sociedade que o

contador estaacute acostumado a lidar e pela sua postura tradicional de fazer contabilidade para

atender ao fisco Nas palavras de um contador

[] os contadores estatildeo acostumados a dar informaccedilatildeo pra pessoa eles natildeo estatildeo acostumados a partilhar informaccedilatildeo a dar informaccedilatildeo para um coletivo Entatildeo satildeo poucos contadores que tem

praacutetica de dar informaccedilatildeo para um coletivo [] [] o profissional vai naquele b-a-baacute O contador prefere atender o fisco A prioridade pra ele eacute

atender o fisco Ele natildeo estaacute preocupado com as outras questotildees normalmente Ele ainda eacute um

tarefeiro

Na entrevista um contador alerta para a relaccedilatildeo de dependecircncia que pode haver entre

contador e trabalhadores da ES [] na ES vocecirc pode criar uma relaccedilatildeo de dependecircncia

vocecirc pode criar uma relaccedilatildeo paternalista com eles Entatildeo isso deve ser evitado [] Tambeacutem

aponta a formaccedilatildeo como um dos fatores responsaacuteveis por essa postura dos contadores e indica

elementos para uma nova formaccedilatildeo

[] ele vem formado pra trabalhar em empresa capitalista entatildeo pra trabalhar na ES como sou

cristatildeo ele vai ter que se converter e reconhecer que ele tem viacutecios de formaccedilatildeo [] [] acho que tem que ter um outro curriacuteculo com a realidade do Brasil As universidades do paiacutes

prepara como se todos os contadores fossem trabalhar em uma SA O mercado brasileiro primeiro tem poucas empresas sa [] ele natildeo eacute formado pra trabalhar com pequena empresa ele

natildeo eacute formado pra trabalhar com entidades sociais ele natildeo eacute formado pra trabalhar com cooperativas e muito menos com Economia Solidaacuteria [] [] o que eacute moderno O que eacute tecnoloacutegico Eacute trabalhar com as grandes empresas E natildeo eacute

verdade Eu natildeo concordo com isso[] novas tecnologias vocecirc cria em pequenos negoacutecios vocecirc

cria em experiecircncias associativas diferenciadas como consoacutercios de empresas como redes novas e

experiecircncias de outros modelos e na Economia Solidaacuteria Entatildeo os curriacuteculos de contabilidade

natildeo estatildeo abertos para estas questotildees de novas tecnologias []

No que tange ao perfil desejado ou esperado do contador a fim de se estabelecer uma boa

relaccedilatildeo entre contador e trabalhadores da ES os entrevistados destacaram habilidades como

99

conhecer as teacutecnicas saber resolver problemas saber transferir conhecimento ter

sensibilidade saber sensibilizar saber dialogar ser um comunicador ter uma linguagem

apropriada aos trabalhadores disposiccedilatildeo para criar disposiccedilatildeo para ouvir discutir e

aprender Eis alguns trechos das entrevistas

[] ele tem que ao mesmo tempo que saber resolver os problemas ele tecircm que tambeacutem serem

repassadores de conhecimento eles tecircm que trabalhar com formaccedilatildeo de formadoresEles Tecircm que

ensinar para que estes dirigentes dos empreendimentos natildeo soacute absorvam estes conhecimentos como eles saibam replicar os conhecimentos obtidos[] [] ter sensibilidade capacidade de sensibilizar e de dialogar natildeo soacute sendo um extensionista mas

ser um comunicador Ou seja ele natildeo vai estender o conhecimento dele mas ele vai dialogar para ser entendimento por esses trabalhadores Por uma simples razatildeo satildeo trabalhadores excluiacutedos satildeo

trabalhadores que natildeo tem em princiacutepio capacidade de entender sozinhos o empreendimento

econocircmico [] entatildeo eacute preciso uma didaacutetica especial de relacionamento com esses trabalhadores porque natildeo se consegue trabalhar com foacutermulas com esse puacuteblico [] conseguir ser percebido e entendido por esses trabalhadores Porque agraves vezes natildeo basta ter

conhecimento eacute preciso passaacute-lo e no caso dessa populaccedilatildeo eacute preciso ter uma linguagem adequada

para que se tenha o respeito e consequumlentemente a apreensatildeo por esses trabalhadores no seu

negoacutecio[] [] alguns termos que eles usam na cooperativa eu tambeacutem natildeo sei Da atividade econocircmica tem

questotildees pra qualquer contador montar um plano de contas vocecirc tem que descer vocecirc tem que

conhecer o processo inteiro da produccedilatildeo industrializaccedilatildeo pra colocar as coisas certas [] ele natildeo pode pegar os manuais que ele tem e querer adaptar E o que eu vejo por aiacute satildeo

adaptaccedilotildees E nem tudo daacute pra adaptar Ele tem que ter disposiccedilatildeo pra criar instrumentos novos [] tem que aprender a ouvir discutir estar disposto a aprender a ES () Eacute uma relaccedilatildeo quando

vocecirc vai pra laacute vocecirc tem que estar disposto a aprender tambeacutem Vocecirc vai aprender com os

trabalhadores

Sintetizando as demandas apontadas nesse toacutepico podem ser agrupadas em dois pontos

mudanccedilas na formaccedilatildeo do contador e desenvolvimento de habilidades para o trabalho com os

empreendimentos autogestionaacuterios

456 Legislaccedilatildeo contaacutebil

Os autores citados no cap 2 e 3 argumentam que a legislaccedilatildeo ainda natildeo capta a

especificidade da autogestatildeo Isso se aplica agrave forma de registro dos eventos econocircmico-

financeiros agraves demonstraccedilotildees contaacutebeis e tambeacutem agrave constituiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo dessas

entidades Para avaliar esse conjunto foi necessaacuterio tambeacutem analisar a legislaccedilatildeo

cooperativista e natildeo soacute a legislaccedilatildeo contaacutebil para o cooperativismo tendo em vista que as

100

duas legislaccedilotildees estatildeo bastante associadas Dessa forma essa dimensatildeo analisou a pertinecircncia

dessas legislaccedilotildees agrave realidade e necessidade da ES

Quadro 11- Legislaccedilatildeo contaacutebil

Grupo Realidade Encontrada

(o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Natildeo questionado

Especialistas

Legislaccedilatildeo atrasada e natildeo adequada agrave

realidade brasileira Dificuldade de compreensatildeo do conceito e

operacionalizaccedilatildeo do ato cooperativo e

consequumlentemente a tributaccedilatildeo nas

cooperativas Marco juriacutedico das cooperativas ainda

vinculado agraves cooperativas de produtores

rurais Dificuldade de mensurar participaccedilatildeo do

trabalho Dificuldades dos profissionais com a

legislaccedilatildeo Insuficiecircncia de produccedilatildeo cientiacutefica nessa

aacuterea

Contadores

Legislaccedilatildeo inadequada Legislaccedilatildeo trata desiguais como iguais (grande e pequeno empreendimento)

Tratamento diferenciado entre

grandes e pequenos empreendimentos

Legislaccedilatildeo diferenciada para

cooperativas de trabalho Legislaccedilatildeo apropriada para a

Economia Solidaacuteria Formaccedilatildeo de contadores na aacuterea

de cooperativismo e ES

O quadro 11 mostra a visatildeo dos especialistas sobre a legislaccedilatildeo cooperativista para os quais

ela eacute inadequada uma vez que natildeo contempla plenamente as cooperativas de trabalho que

constituem uma grande parte dos empreendimentos de ES Um especialista explica

[] a legislaccedilatildeo cooperativista natildeo eacute adequada O cooperativismo brasileiro em atraso em relaccedilatildeo

ao cooperativismo do resto do mundo O marco brasileiro estaacute muito vinculado agraves cooperativas de

produtores Entatildeo o cooperativismo brasileiro se ressente de uma maior inserccedilatildeo do

cooperativismo de trabalho [] cooperativismo de trabalho brasileiro eacute constituiacutedo nos marcos da

lei vigente mas eacute tratado da mesma forma esse eacute o ressentimento que as cooperativas de produccedilatildeo

agriacutecola possui e as dinacircmicas de estruturaccedilatildeo e de funcionamento dessas cooperativas de trabalho

satildeo totalmente diferentes O cooperativismo de trabalho eacute a reuniatildeo de pessoas aiacute natildeo eacute uma reuniatildeo de meios de produccedilatildeo ou de produtores mas eacute de pessoas com o objetivo de gerar

trabalho e renda a partir de suas estruturas a partir de seus mecanismos de funcionamento e ateacute

mesmo de suas estruturas produtivas []

101

Esse ponto de vista coincide com os autores revisados no cap 2 Tauile (2005) tambeacutem

argumenta que o marco legal natildeo eacute adequado agrave sociedade de pessoas pois contempla somente

as sociedades de capital

Outra questatildeo levantada diz respeito agrave dificuldade de compreensatildeo do conceito e

operacionalizaccedilatildeo do ato cooperativo o que dificulta sobremaneira a execuccedilatildeo da tributaccedilatildeo

nas cooperativas conforme relata um especialista

[] essa eacute uma grande dificuldade que se tem de entender essa questatildeo do ato cooperativo

Tecnicamente eacute faacutecil de entender tecnicamente se caracteriza por aquelas operaccedilotildees realizadas

entre associados de mesmo empreendimento ou entre empreendimentos cooperativos associados Agora levar isso pra praacutetica e ver tributariamente o que isso significa o ato cooperativo noacutes

precisariacuteamos natildeo soacute de um grande debate ou vaacuterias horas de reflexatildeo pra saber o que realmente eacute

tributaacutevel o que eacute passiacutevel ou natildeo de tributaccedilatildeo no que diz respeito ao ato cooperativo que acabou

se tornando ateacute mesmo uma letra morta [] a gente tem grande dificuldade de fazer essa letra essa lei valer Porque haacute grandes confusotildees dentro do mundo juriacutedico sobre qual o entendimento que se

tem jaacute consolidado dentro dos tribunais sobre o que eacute o ato cooperativo e qual eacute sua aacuterea de

incidecircncia []

Tambeacutem foi evidenciada a dificuldade de mensuraccedilatildeo da participaccedilatildeo de cada trabalhador

por ocasiatildeo da distribuiccedilatildeo das sobras Diante do contexto de indecisotildees da ordem juriacutedica eacute

justificada em parte a dificuldade dos contadores de conhecimento da legislaccedilatildeo Eis as falas

do especialista

[] a legislaccedilatildeo fala que as sobras seratildeo rateadas ou divididas ou aplicadas de acordo com a

participaccedilatildeo dos associados na cooperativa e por participaccedilatildeo do trabalho eacute difiacutecil de mesurar o

que torna um empreendimento urbano ou de Economia Solidaacuteria ou uma cooperativa de trabalho

no sentido especiacutefico mas faacutecil de avaliar pela participaccedilatildeo proporcional agraves operaccedilotildees

relativamente ao nuacutemero de horas que o trabalhador esteve no empreendimento natildeo soacute sua

produtividade em si [] [] diante das indecisotildees da ordem juriacutedica aliado a outros fatores [] de uma maneira geral haacute

uma dificuldade lato sensu em relaccedilatildeo ao conhecimento mas natildeo se trata apenas de conhecimento

mas se trata simplesmente de indecisotildees da ordem juriacutedica em relaccedilatildeo ao que significa o

cooperativismo brasileiro e quais satildeo seus principais eixos de atuaccedilatildeo ou seja se agente natildeo

consegue nem identificar conceito e operacionalidade de ato cooperativo eacute um grande indicador

de que a estrutura juriacutedica brasileira natildeo estaacute adequada a ES

Jaacute na visatildeo dos contadores a legislaccedilatildeo natildeo eacute adequada porque natildeo faz diferenciaccedilatildeo entre

pequenos e grandes empreendimentos no que diz respeito agrave legalizaccedilatildeo e tributaccedilatildeo eacute o que

revela trecho da entrevista de um contador

[] eacute evidente que natildeo eacute adequada pela seguinte questatildeo Trata os desiguais como iguais Entatildeo o

que significa isso Tratando-se especificamente de cooperativa eu monto uma cooperativa com 20 mulheres costureiras ela vai ter o mesmo tratamento legal que uma grande cooperativa que pode contratar profissionais Entatildeo haacute um tratamento desigual

102

Entretanto salienta que natildeo se trata de eliminar obrigaccedilotildees legais no que diz respeito agrave

apresentaccedilatildeo de documentos trata-se de simplificar para favorecer conforme argumenta

[] eu jaacute vi gente defendendo pra simplificar para que natildeo tenha que fazer Balanccedilo Eu acho um

grande equiacutevoco A gente tem que simplificar pra melhorar as condiccedilotildees de competiccedilatildeo

econocircmica de inserccedilatildeo econocircmica em relaccedilatildeo aos empreendimentos tem que favorecer

simplificar() Tem que haver um tratamento diferenciado mas natildeo vincular a questatildeo essa questatildeo

contaacutebil das obrigaccedilotildees que satildeo cobradas pela legislaccedilatildeo eliminar a possibilidade de ter uma

contabilidade que atenda aos trabalhadores daquele empreendimento []

Nesse contexto de discussatildeo sobre a legislaccedilatildeo contaacutebil ressaltam-se algumas demandas

Primeiramente haacute necessidade de definiccedilatildeo de um novo marco legal apropriado agrave realidade

dos empreendimentos autogestionaacuterios que regulamente a criaccedilatildeo funcionamento e extinccedilatildeo

desses empreendimentos A segunda diz respeito agrave adequaccedilatildeo da legislaccedilatildeo contaacutebil agrave nova

formataccedilatildeo juriacutedica na qual o reconhecimento da peculiaridade dos empreendimentos se

reflita na instituiccedilatildeo de novos instrumentos de informaccedilatildeo sistemaacuteticas diferenciadas de

mensuraccedilatildeo e registros dos eventos econocircmicos e sociais novas orientaccedilotildees para a

tributaccedilatildeo

As evidecircncias indicaram que em geral as demandas e desafios captados pela pesquisa em

cada aspecto da dimensatildeo contaacutebil se aproximam daquelas levantadas pelos autores

pesquisados Em alguns aspectos a coincidecircncia eacute visiacutevel em outros o trabalho de campo

acrescentou novas demandas Entretanto satildeo necessaacuterias pesquisas mais aprofundadas

mediante as quais seja possiacutevel identificar novos aspectos da dimensatildeo contaacutebil natildeo incluiacutedos

neste trabalho Por outro lado houveram acreacutescimos no inventaacuterio de elementos construtivos

de uma nova relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo mas ainda satildeo insuficientes carecendo de

novas pesquisas sobre o assunto

103

CONCLUSAtildeO

Agrave luz dos marcos conceituais partiu-se do pressuposto da peculiaridade da ES e autogestatildeo

tendo em vista a dupla natureza dos seus empreendimentos econocircmica e social

Consequumlentemente desde o iniacutecio concebeu-se esses empreendimentos como um novo grupo

de usuaacuterios e como tal remete demandas especiacuteficas agrave contabilidade

Seguindo a mesma orientaccedilatildeo das pesquisas realizadas anteriormente sobre a relaccedilatildeo

contabilidade e autogestatildeo buscou-se atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica compreender e

analisar a dimensatildeo contaacutebil nos processos de autogestatildeo dos empreendimentos solidaacuterios

levantando seus desafios e demandas contaacutebeis suscitadas nesse processo

Os resultados obtidos confirmaram em grande parte as constataccedilotildees realizadas pelos

precursores desse campo de pesquisa Por outro lado acrescentam novas informaccedilotildees que

contribuem agrave compreensatildeo dos vaacuterios aspectos da dimensatildeo contaacutebil no processo de

autogestatildeo Em cada aspecto analisado denotou-se uma distacircncia entre as duas realidades a

encontrada e a esperada reafirmando a premecircncia de um ajustamento da aacuterea contaacutebil agraves

reais necessidades dos empreendimentos solidaacuterios no que se refere a forma de comunicaccedilatildeo

conteuacutedo da informaccedilatildeo utilidade da informaccedilatildeo apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo relaccedilatildeo

contador-usuaacuterio e legislaccedilatildeo contaacutebil A realidade demandas e desafios de cada aspecto satildeo

sintetizados a seguir

1- Forma de comunicaccedilatildeo As evidecircncias demonstraram a subutilizaccedilatildeo das ferramentas contaacutebeis motivadas por

diversos fatores Normalmente apenas o Balanccedilo e DRE satildeo confeccionados na entidade Na

visatildeo de grande parte dos entrevistados esses instrumentos satildeo episoacutedicos e natildeo

proporcionam o monitoramento e avaliaccedilatildeo da gestatildeo Dessa forma percebem-se duas

grandes demandas a primeira eacute a utilizaccedilatildeo dos instrumentos disponiacuteveis de auxiacutelio agrave gestatildeo e

a outra pede a criaccedilatildeo de novos instrumentos de informaccedilatildeo apropriados agrave dinacircmica

econocircmica e social dos empreendimentos autogestionaacuterios

2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

Constatou-se que os cooperados tecircm dificuldades de compreender o conteuacutedo das

demonstraccedilotildees contaacutebeis Um dos principais responsaacuteveis por essa realidade eacute a linguagem

104

teacutecnica e codificada adotada pelos relatoacuterios incompatiacutevel com o niacutevel de educaccedilatildeo formal

dos trabalhadores e com a sua insuficiente familiaridade com a linguagem de negoacutecios

Portanto uma demanda premente da ES eacute uma linguagem apropriada agrave realidade social dos

trabalhadores a fim de que a contabilidade se torne acessiacutevel e compreensiacutevel a eles

3- Utilidade da informaccedilatildeo

Percebeu-se que apesar da subutilizaccedilatildeo dos instrumentos contaacutebeis no processo decisoacuterio os

trabalhadores reconhecem a necessidade do emprego da informaccedilatildeo contaacutebil em todo o

processo de gestatildeo Para tanto faz-se necessaacuteria a apropriaccedilatildeo desse conhecimento por parte

dos trabalhadores ao mesmo tempo em que tambeacutem se reforccedila a necessidade de novos

instrumentos apropriados agrave autogestatildeo Outra demanda associada diz respeito agrave mudanccedila de

postura dos contadores e formadores na qual se estimule o uso da contabilidade

conscientizando os trabalhadores sobre sua importacircncia

4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Nesse aspecto foram evidenciados os desafios agrave apropriaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil pelos

proacuteprios trabalhadores Em geral a apropriaccedilatildeo se daacute por meio de cursos de formaccedilatildeo

Entretanto esses cursos nem sempre atingem seus objetivos devido agrave implementaccedilatildeo de

didaacutetica e linguagem natildeo apropriada ao puacuteblico Portanto levantou-se a necessidade de uma

formaccedilatildeo permanente cuja linguagem e didaacutetica seja adequada agrave realidade dos trabalhadores

e propicie uma mudanccedila de comportamento no que se refere agrave gestatildeo

5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Foi detectada a existecircncia de uma abismo na relaccedilatildeo do contador com os trabalhadores da ES

O profissional da contabilidade ainda atua de forma tradicional prestando assessoria aos

empreendimentos quando seria necessaacuteria uma atuaccedilatildeo que privilegiasse a apropriaccedilatildeo do

conhecimento pelos proacuteprios trabalhadores Um dos fatores que explicam essa realidade eacute a

formaccedilatildeo do contador que ainda eacute voltada para atuaccedilatildeo em grandes empresas e natildeo desperta

para o desenvolvimento da sensibilidade social e natildeo capacita para a gestatildeo de empresas

sociais Isto tambeacutem explica em parte o baixo nuacutemero de contadores especializados em

cooperativismo ou empreendimentos autogestionaacuterios Numa nova perspectiva de atuaccedilatildeo o

contador assumiria outro papel o de facilitador do conhecimento( formador) Dessa forma as

demandas levantadas centram-se no desenvolvimento de novas habilidades do contador

consequumlentemente isso acarreta a demanda de uma nova formaccedilatildeo acadecircmica

105

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

A realidade mostrou uma seacuterie de incertezas e equiacutevocos da ordem juriacutedica no que se refere

aos empreendimentos autogestionaacuterios Primeiramente haacute necessidade de definiccedilatildeo de um

novo marco legal apropriado agrave realidade dos empreendimentos autogestionaacuterios que

regulamente a criaccedilatildeo funcionamento e extinccedilatildeo desses empreendimentos Na sequumlecircncia

tambeacutem urge a adequaccedilatildeo da legislaccedilatildeo contaacutebil agrave nova formataccedilatildeo juriacutedica na qual o

reconhecimento da peculiaridade dos empreendimentos se reflita na normatizaccedilatildeo de novos

instrumentos de informaccedilatildeo sistemaacuteticas diferenciadas de mensuraccedilatildeo e registros dos eventos

econocircmicos e sociais e novas bases para a tributaccedilatildeo

Esses pontos levantados confirmam em certa medida as constataccedilotildees feitas por autores

citados na pesquisa bibliograacutefica os quais tambeacutem identificaram as demandas desse novo

usuaacuterio da contabilidade a exemplo de Almeida e Dantas (2005 p09) que sistematizaram as

demandas a partir de trecircs eixos novos modelos de informaccedilotildees novo perfil de contador e

nova formaccedilatildeo conforme visto no cap 3

Por outro lado a investigaccedilatildeo empiacuterica como jaacute referido tambeacutem contribuiu para o

levantamento de elementos ou pistas para a reduccedilatildeo da distacircncia entre as reais necessidades

dos empreendimentos e o aparato da contabilidade para seu atendimento Com base nessas

evidecircncias empiacutericas e na bibliografia pesquisada evidenciaram-se os seguintes elementos

A nova linguagem deveria ser simples e objetiva buscando a aproximaccedilatildeo da

linguagem contaacutebil agrave linguagem coloquial dos trabalhadores Assim ela seria acessiacutevel

e apropriada agrave sua realidade social

Os novos instrumentos de informaccedilatildeo contaacutebil deveriam satisfazer plenamente as

reais necessidades de informaccedilatildeo dos empreendimentos expressando a dinacircmica e

complexidade da autogestatildeo Deveriam tambeacutem propiciar informaccedilotildees permanentes

que permitam o monitoramento e avaliaccedilatildeo da execuccedilatildeo das accedilotildees planejadas

coletivamente Nessa reflexatildeo vale a pena resgatar os elementos apontados pelos

autores Almeida e Dantas (2005) no cap 3 agrave construccedilatildeo de novos instrumentos Para

os autores eacute necessaacuterio aprofundar-se em pesquisas de novos procedimentos contaacutebeis e

refletir sobre a possibilidade de adaptaccedilatildeo de alguns procedimentos e sistemas contaacutebeis

106

alternativos dentre os quais a Contabilidade por Fundos Contabilidade Orccedilamentaacuteria e

a Mensuraccedilatildeo do Resultado Econocircmico

Uma nova atuaccedilatildeo dos profissionais da aacuterea contaacutebil deveria ser pautada em duas

frentes pesquisa praacutetica (para resoluccedilatildeo de problemas) e na transmissatildeo do

conhecimento (formaccedilatildeo) Isso requer o desenvolvimento de novas qualidades e

habilidades ou seja um novo perfil dos contadores Algumas caracteriacutesticas desse novo

contador conhecer as teacutecnicas saber resolver problemas saber transferir conhecimento

ter sensibilidade saber sensibilizar saber dialogar ser um comunicador usar uma

linguagem apropriada aos trabalhadores paciecircncia para ensinar habilidade para

simplificar disposiccedilatildeo e capacidade para criar disposiccedilatildeo para ouvir discutir e

aprender Essas caracteriacutesticas somam-se agravequelas levantadas por autores no cap3 No

que tange agrave formaccedilatildeo dos trabalhadores em contabilidade alguns elementos tambeacutem

foram identificados Essa deveria utilizar a educaccedilatildeo popular sensibilizar para a

importacircncia da contabilidade ser permanente e estruturada de forma crescente

A nova formaccedilatildeo dos contadores remete agrave discussatildeo de um outro curriacuteculo o qual

deveria ser baseado na realidade da economia brasileira e nas necessidades da classe

trabalhadora Uma outra questatildeo associada diz respeito ao incremento de pesquisas

sobre ES ou seja a produccedilatildeo acadecircmica deveria voltar-se mais para estudos de

interesse da classe trabalhadora tal como o tema Economia Solidaacuteria Deveria

tambeacutem buscar as perguntas ou temas geradores das pesquisas na proacutepria sociedade

como tambeacutem problematizar refletir a partir deles

A legislaccedilatildeo contaacutebil deveria ser reformulada a partir de uma nova formataccedilatildeo

juriacutedica dos empreendimentos autogestionaacuterios na qual se reconhecessem os

empreendimentos autogestionaacuterios como novos atores Com base nesse pressuposto a

legislaccedilatildeo contaacutebil deveria segregar tributariamente os grandes e pequenos

empreendimentos As demonstraccedilotildees exigidas por lei deveriam efetivamente ser

instrumentos de informaccedilatildeo e natildeo apenas obrigatoriedade legal Para tanto deveriam

ser criados relatoacuterios condizentes com a necessidade informacional desse segmento

social no tocante agrave mensuraccedilatildeo escrituraccedilatildeo e evidenciaccedilatildeo dos eventos econocircmicos e

sociais

107

Portanto este trabalho soma-se agraves pesquisas anteriores ampliando o campo de conhecimento

sobre o assunto mediante o levantamento de novas demandas e identificando novos elementos

agrave construccedilatildeo de uma nova relaccedilatildeo entre contabilidade e autogestatildeo Entretanto como

mencionado ainda haacute muitas demandas para aprofundamento de pesquisas sobre novos

instrumentos de informaccedilatildeo formaccedilatildeo do contador da ES legislaccedilatildeo contaacutebil para a

autogestatildeo entre outras Cabe ressaltar entretanto que pesquisas nessa aacuterea tecircm como preacute-

requisito a assimilaccedilatildeo do contexto no qual a contabilidade estaacute inserida

Por isso nesta pesquisa foi necessaacuterio compreender o significado conceitual e operacional da

autogestatildeo e sua vinculaccedilatildeo com conceitos de participaccedilatildeo democracia e cidadania Nessa

perspectiva a participaccedilatildeo democraacutetica soacute se faz fecunda quando haacute equumlidade no acesso agraves

informaccedilotildees e igualdade econocircmica entre os trabalhadores que participam do processo

decisoacuterio da gestatildeo

Nesse contexto a contabilidade tem fundamental importacircncia uma vez que eacute requerida

enquanto instrumento vital da democracia aquele capaz de promover a simetria

informacional proporcionar a transparecircncia da gestatildeo propiciar a participaccedilatildeo cidadatilde e

auxiliar na instauraccedilatildeo da confianccedila entre os trabalhadores Desse modo a contabilidade

reafirma seu papel social mediante sua contribuiccedilatildeo ao desenvolvimento econocircmico de

empreendimentos promotores da inclusatildeo social e de auxiacutelio ao desenvolvimento de relaccedilotildees

mais humanas e solidaacuterias

108

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115

APEcircNDICES

116

APEcircNDICE 01 - PROTOCOLO DE PESQUISA

1 -VISAtildeO GERAL DO PROJETO

Tiacutetulo Contabilidade e Autogestatildeo - Um estudo sobre a dimensatildeo contaacutebil nos processos de

autogestatildeo dos empreendimentos de Economia Solidaacuteria

11 Objetivos da pesquisa

O objetivo desta pesquisa eacute compreender e analisar a dimensatildeo contaacutebil nos processos de

autogestatildeo em empreendimentos solidaacuterios levantando seus desafios e as demandas

contaacutebeis suscitadas nesse processo a partir de 06 perspectivas a) Forma de comunicaccedilatildeo b)

Conteuacutedo da informaccedilatildeo c) Utilidade da informaccedilatildeo d) Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo e)

Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio f) Legislaccedilatildeo contaacutebil

12 Questotildees de pesquisa

Os objetivos da pesquisa podem ser traduzidos a partir das seguintes questotildees

1) Como a informaccedilatildeo contaacutebil eacute empregada nos empreendimentos autogestionaacuterios

2) Quais os desafios e demandas suscitados em cada um dos aspectos da dimensatildeo contaacutebil

nos processos de autogestatildeo

117

13 Hipoacuteteses

A partir da revisatildeo da literatura depreende-se que a informaccedilatildeo contaacutebil eacute essencial a qualquer

entidade puacuteblica ou privada Que esta informaccedilatildeo para ser uacutetil agrave tomada de decisotildees deve

revestir-se de alguns pressupostos sejam eles relevacircncia comparabilidade materialidade

Em se tratando da informaccedilatildeo contaacutebil apropriada para os empreendimentos de Economia

Solidaacuteria os estudos recentes sugerem que a informaccedilatildeo contaacutebil natildeo atende satisfatoriamente

agraves demandas informacionais da Economia Solidaacuteria

Dessa forma situando-se na linha das pesquisas anteriores esta investigaccedilatildeo parte do

pressuposto de que os empreendimentos solidaacuterios tecircm necessidades informacionais ainda

natildeo atendidas satisfatoriamente pelo aparato contaacutebil disponiacutevel Tendo em vista que os

empreendimentos possuem dupla natureza econocircmica e social e ainda que os usuaacuterios da

contabilidade satildeo trabalhadores natildeo acostumados com a linguagem de mercado as demandas

suscitadas agrave contabilidade e a necessidades dos empreendimentos autogestionaacuterios passam

pelos seguintes aspectos

a) Forma de comunicaccedilatildeo dos eventos ocorridos (linguagem demonstraccedilotildees)

b) Conteuacutedo da informaccedilatildeo (natildeo expressa a complexidade da autogestatildeo orccedilamento

coletivo execuccedilatildeo compartilhada etc)

c) Utilidade da informaccedilatildeo (deveria auxiliar em todos os processos de gestatildeo-

planejamento execuccedilatildeo controle e avaliaccedilatildeo dos resultados)

d) Apropriaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil (a contabilidade ainda eacute uma caixa preta

conhecida apenas pelos contadores necessidade de popularizar a contabilidade atraveacutes de

teacutecnicas de ensino apropriadas para o puacuteblico)

e) Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio (contadores natildeo preparados para lidar com a

especificidade da autogestatildeo)

f) Legislaccedilatildeo contaacutebil (ela estaacute adequada agrave realidade dos empreendimentos)

118

Em siacutentese o resultado encontrado poderaacute ser esquematizado conforme quadro abaixo

Quadro-resumo dos resultados

Realidade encontrada

( o que eacute) Realidade esperada

Dimensotildees cooperados especialistas contadores ( o que deveria ser)

1- Forma de comunicaccedilatildeo 2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo 3- Utilidade da informaccedilatildeo 4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo 5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio 6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

O quadro traccedilaraacute um paralelo entre a realidade observada captada pelas lentes dos

cooperados especialistas e contadores e a realidade esperada desenhada pelas observaccedilotildees

entrevistas e literatura consultada As dimensotildees listadas no quadro representam os

aspectos contaacutebeis a serem analisados os quais satildeo descritos em seguida

1 Forma de comunicaccedilatildeo

Neste dimensatildeo seraacute avaliada a linguagem dos relatoacuterios demonstraccedilotildees e outros

instrumentos da contabilidade Conforme a bibliografia pesquisada a linguagem contaacutebil eacute

formal distanciando-se dos trabalhadores que na maioria natildeo possuem altos niacuteveis de

escolaridade A linguagem natildeo traduz a realidade econocircmica e financeira da entidade

2 Conteuacutedo da informaccedilatildeo

O conteuacutedo diz respeito agrave informaccedilatildeo contaacutebil em si Conforme observaccedilotildees de autores a

contabilidade tradicional natildeo consegue captar a complexidade das relaccedilotildees inclusas no

processo de autogestatildeo tais como o orccedilamento elaborado coletivamente a execuccedilatildeo e

controles compartilhados A intenccedilatildeo eacute averiguar este aspecto

119

3 Utilidade da informaccedilatildeo

Quando se avalia a utilidade da informaccedilatildeo estaacute se perguntando se a contabilidade eacute

efetivamente supridora das informaccedilotildees necessaacuterias agraves etapas do processo de autogestatildeo ou

seja se ela auxilia no processo de tomada de decisotildees gerenciais Eis a questatildeo

4 Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Aqui busca-se avaliar se a contabilidade consegue ser assimilada pelos trabalhadores usuaacuterios

da mesma Um dos princiacutepios fundamentais da Economia Solidaacuteria sugere a socializaccedilatildeo de

todo o conhecimento de gestatildeo em oposiccedilatildeo agrave tiacutepica empresa que resguarda estes

conhecimentos ao grupo da gerecircncia Com base nesse princiacutepio presume-se que os

trabalhadores da ES devam tambeacutem se apropriar do conhecimento contaacutebil Dessa forma

busca-se nessa perspectiva compreender as dificuldades para a assimilaccedilatildeo do conhecimento

contaacutebil

5 Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Nesta perspectiva seraacute analisada a relaccedilatildeo dos usuaacuterios dos empreendimentos

autogestionaacuterios com os profissionais da aacuterea contaacutebil Conforme relatos contidos na

bibliografia pesquisada as aacutereas teacutecnicas tecircm dificuldades de perceber a especificidade da

autogestatildeo Portanto pretende-se compreender o envolvimento do contabilista com a

autogestatildeo

6 Legislaccedilatildeo contaacutebil

Alguns autores argumentam que a legislaccedilatildeo contaacutebil ainda natildeo capta a especificidade da

autogestatildeo Isso se aplica agrave forma de registro dos eventos econocircmico-financeiros agraves

demonstraccedilotildees contaacutebeis e tambeacutem agrave constituiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo destas entidades Portanto

cabe focar os itens em que a legislaccedilatildeo natildeo atende agraves necessidades particulares destas

entidades

14 Criteacuterios para a seleccedilatildeo da unidade de estudo

O principal criteacuterio para a escolha da unidade onde se processaraacute a investigaccedilatildeo eacute a

autogestatildeo Isto eacute buscou-se um empreendimento em que a gestatildeo eacute realizada por todos os

trabalhadores em oposiccedilatildeo aos empreendimentos nos quais a administraccedilatildeo eacute exercida

120

apenas pelos diretores Participar da gestatildeo significa atuar nos altos niacuteveis de decisotildees

aquelas que vatildeo aleacutem da organizaccedilatildeo do trabalho mas que tambeacutem compreendem a indicaccedilatildeo

da destinaccedilatildeo dos recursos organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e demais decisotildees que afetem a vida da

entidade

Outro criteacuterio importante utilizado foi a formalizaccedilatildeo do empreendimento Com se sabe a

economia solidaacuteria tambeacutem eacute compreendida por empreendimentos coletivos informais Tal

opccedilatildeo se deve ao fato de que a inscriccedilatildeo junto aos oacutergatildeos governamentais necessariamente

requerer uma organizaccedilatildeo contaacutebil mais formal

Dessa forma estas entidades possuem registros formais de suas atividades possibilitando as

bases para a investigaccedilatildeo

2 COLETA DE DADOS

O estudo de caso cuja intenccedilatildeo eacute desvelar a realidade da dimensatildeo contaacutebil nos

empreendimentos autogestionaacuterios selecionou as seguintes teacutecnicas de coleta de dados

Entrevistas

Registro em arquivos

Observaccedilatildeo direta

As entrevistas com cooperados especialistas e profissionais da aacuterea contaacutebil pretendem

capturar informaccedilotildees sobre os procedimentos contaacutebeis utilizados a percepccedilatildeo sobre os

instrumentos de informaccedilatildeo contaacutebil os desafios para sua assimilaccedilatildeo enfim propiciaratildeo

elementos que avaliem os aspectos contaacutebeis ou seja caracterizaratildeo as dimensotildees de anaacutelise

Os registros em arquivos tambeacutem contribuiratildeo para a definiccedilatildeo das dimensotildees de anaacutelise

mais especificamente contribuiratildeo para descriccedilatildeo anaacutelise e compreensatildeo dos relatoacuterios e

documentos contaacutebeis utilizados pela entidade

Finalmente a observaccedilatildeo direta captaraacute pormenores e detalhes que complementaratildeo as

outras teacutecnicas tais como ambiente fiacutesico cotidiano de trabalho relaccedilotildees interpessoais

processos de decisotildees etc

121

3 QUESTOtildeES ORIENTADORAS Agrave COLETA DE DADOS

A coleta de dados natildeo prescinde de um roteiro baacutesico de questotildees que oriente agrave captaccedilatildeo de

dados Dessa forma abaixo satildeo apresentadas questotildees relacionadas que extraem informaccedilotildees

sobre aspectos descritivos da entidade bem como informaccedilotildees diretamente relacionadas com

as dimensotildees em questatildeo assim organizadas

A) Ambiente externo

1) Quais satildeo os clientes e fornecedores da empresa

2) Quais satildeo os principais concorrentes

3) Estaacute inserida em alguma rede de produccedilatildeo ou comercializaccedilatildeo

4) Tecircm algum tipo de assessoria administrativa contaacutebil e juriacutedica

5) Recebe recursos externos doaccedilotildees De entidades privadas ou puacuteblicas Quais

6) Quais as legislaccedilotildees vigentes que influenciam em suas atividades nos aspectos

operacionais financeiros e econocircmicos

7) Participa de algum foacuterum ou oacutergatildeo de representaccedilatildeo nacional eou internacional

8) A entidade desenvolve algum projeto social

B) Sistema organizacional

1) Qual a missatildeo da entidade (razatildeo de ser)

2) Existe um planejamento estrateacutegico Eacute formalizado (documentado registrado)

3) Existe um processo de planejamento execuccedilatildeo controle e avaliaccedilatildeo do plano

4) Quando acontecem as reuniotildees de planejamento

5) Como ocorre o controle da execuccedilatildeo deste planejamento

6) Existe um manual de normas e procedimentos ou regimento interno para o processo de

gestatildeo e funccedilatildeo dos gestores

7) Existem criteacuterios de avaliaccedilatildeo de desempenhos para a gestatildeo E quais satildeo os indicadores e

criteacuterios

8) Existe um sistema de informaccedilatildeo que auxilie no planejamento das atividades

9) A entidade possui um organograma

10)Quais satildeo as aacutereas

122

11)Quais satildeo os departamentos quem satildeo os responsaacuteveis

12)Quais as funccedilotildees de cada aacutereadepartamento

13)Como se relacionam as diversas aacutereas e atividades

C) Sistema social (Organizaccedilatildeo do trabalho)

1) Como satildeo distribuiacutedas as funccedilotildees

2) Como satildeo indicados os coordenadores dos departamentosaacutereas

3) Quais os criteacuterios de definiccedilatildeo das remuneraccedilotildees dos trabalhadores

4) Existem faixas de salaacuterios Como funciona

5) Existe um sistema de rotatividade de funccedilotildees

6) Os trabalhadores tecircm qualificaccedilatildeo teacutecnica apropriada a cada funccedilatildeo

7) Como estaacute organizado o sistema de qualificaccedilatildeo

8) Existe uma poliacutetica de motivaccedilatildeo organizacional

9) Como eacute o controle e organizaccedilatildeo da jornada de trabalho

10)Quais satildeo os benefiacutecios e programas direcionados aos trabalhadores e familiares

11)Como satildeo tratados os atrasos e as faltas no trabalho

12)Existe um sistema de registro e controle de recursos humanos

D) Sistema Operacional

1) Quais as principais atividades econocircmicas do empreendimento

2) Como estaacute organizada a aacuterea de produccedilatildeo ( deptos funccedilotildees)

3) Quais satildeo as formas de registros dos custos e resultados da produccedilatildeo

4) Como estaacute organizado o processo de compras Haacute um sistema

5) Haacute um sistema de controle de estoques de mateacuteria-prima e de produccedilatildeo

6) Como eacute determinado o preccedilo de venda dos produtos

7) Existe um sistema de monitoramento de vendas e de apuraccedilatildeo de resultados

8) Haacute um assessoramento juriacutedico na confecccedilatildeo dos contratos de venda

9) Qual a composiccedilatildeo do capital (distribuiccedilatildeo das quotas-partes)

123

10)Como eacute o processo de tomada de decisatildeo sobre captaccedilatildeo de recursos

11)Como estaacute a composiccedilatildeo de diacutevidas Centra-se no curto prazo ou longo prazo

12)Haacute um sistema de informaccedilotildees que auxilie na tomada de decisotildees sobre captaccedilatildeo de

recursos

E) Sistema de Informaccedilotildees

1) Existe um sistema de informaccedilotildees que subsidie as decisotildees gerenciais da entidade (comprar

vender emprestar renegociar)

2) Como estaacute organizada a contabilidade da entidade Haacute um registro formal

3) Quem realiza os registros das informaccedilotildees dos eventos ocorridos na entidade De que

forma

4) Haacute um sistema de integraccedilatildeo entre as diversas aacutereas da entidade (produccedilatildeo venda

financeiro)

5) Quais relatoacuterios satildeo produzidos

6) Existe a contabilidade dos custos das atividades

7) Como a apuraccedilatildeo dos custos eacute realizada e como esta informaccedilatildeo eacute utilizada pela entidade

8) Haacute um sistema de orccedilamento das atividades previstas

9) Quais informaccedilotildees satildeo utilizadas na confecccedilatildeo desse orccedilamento

10)Como satildeo realizados o acompanhamento comparaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo das metas e planos

estabelecidos no orccedilamento

11)Como eacute realizado o controle financeiro Haacute um sistema de fluxo de caixa

12)Haacute um sistema de contabilidade gerencial

13)Este sistema auxilia nas decisotildees da gestatildeo De que forma

14)Haacute um sistema que produz indicadores econocircmico-financeiros

15)Como estatildeo organizadas as informaccedilotildees sobre os clientes e fornecedores Haacute um banco

de dados

16)Eacute feito algum tipo de pesquisa de mercado Consulta a clientes

17)Quais os meios utilizados para conhecimento do mercado em que a entidade atua

F) Apreensatildeo do conhecimento contaacutebil

124

1) Quem elabora os relatoacuterios contaacutebeis

2) O conselho fiscal da entidade compreende os relatoacuterios contaacutebeis

3) O que os cooperados pensam da linguagem dos relatoacuterios sabem o que eacute um ativo

passivo e PL

4) Os cooperados tecircm acesso aos relatoacuterios de custos compras vendas e outros relatoacuterios

gerenciais

5) Satildeo promovidos cursos e palestras sobre gestatildeo dos negoacutecios e contabilidade

6) Existe uma entidade de apoio que contribua para a apreensatildeo da gestatildeo do negoacutecio e

contabilidade

G) Informaccedilotildees da entidade de apoio

1) Qual o histoacuterico da entidade

2) A entidade estaacute inserida a alguma rede ou associada a algum oacutergatildeo de representaccedilatildeo

nacional ou internacional

3) Recebe algum recurso puacuteblico governamental ou privado para realizar esta atividade

4) A quantas iniciativas solidaacuterias jaacute apoiou

5) Quais as formas de apoio realizado junto agraves iniciativas

6) Em quais aacutereas de conhecimento a entidade atua

7) Como eacute a relaccedilatildeo com os profissionais dessas aacutereas

8) Como eacute o relacionamento com os profissionais da aacuterea contaacutebil

9) A contabilidade e contabilistas adaptam-se facilmente agrave dinacircmica da autogestatildeo

10)Onde residem os maiores problemas para adaptaccedilatildeo

11)Como eacute repassado o conhecimento na aacuterea contaacutebil agraves entidades apoiadas

12)Na visatildeo da entidade os trabalhadores compreendem facilmente a informaccedilatildeo contaacutebil

13)Quais os maiores desafios nessa transmissatildeo

14)A contabilidade tradicional atende agraves necessidades de informaccedilatildeo da autogestatildeo Por quecirc

15)Em que aspectos a contabilidade poderia mudar

16)Qual a importacircncia da contabilidade para a autogestatildeo

17)Os sistemas de informaccedilotildees contaacutebeis satildeo acessiacuteveis Quem fornece

18)A legislaccedilatildeo contaacutebil atende plenamente agraves necessidades da autogestatildeo (formas de

registros demonstraccedilotildees)

125

5 GUIA PARA O RELATOacuteRIO FINAL

Apesar de natildeo haver nenhuma forma estereotipada para escrever um relatoacuterio de um estudo de

caso existem estrateacutegias para redigi-lo a fim de tornaacute-lo inteligiacutevel e palataacutevel ao leitor Dessa

forma a estrateacutegia selecionada para apresentar os resultados dentre as expostas por Yin (

2005 p177-180) eacute a narrativa a qual pode ser ilustrada por tabelas graacuteficos e imagens

Optou-se pela estrutura analiacutetica linear enquanto estrutura composicional do relatoacuterio Esta

estrutura eacute comumente utilizada nos relatoacuterios de estudos de casos No modelo os subtoacutepicos

compreendem o tema ou o problema que estaacute sendo estudado e uma revisatildeo da literatura Em

seguida os subtoacutepicos partem para a anaacutelise dos meacutetodos utilizados das descobertas feitas a

partir dos dados coletados e analisados e das conclusotildees e implicaccedilotildees feitas a partir das

descobertas

O relatoacuterio iniciaraacute a ser redigido tatildeo logo esteja concluiacuteda a revisatildeo de literatura comeccedilando

com o subtoacutepico da metodologia empregada em que se aprimoraraacute a metodologia inclusa no

projeto de estudo de caso

Tambeacutem poderatildeo ser redigidas antes do teacutermino da coleta de dados as informaccedilotildees

descritivas da unidade em estudo que consiste de dados quantitativos e qualitativos

concernentes ao caso

Apoacutes a coleta de dados estes seratildeo sistematizados em um Banco de dados sobre o caso cujas

informaccedilotildees seratildeo a base do relatoacuterio final

126

APEcircNDICE 02 - SOLICITACcedilAtildeO DE AUTORIZACcedilAtildeO PARA PESQUISA

127

APEcircNDICE 03 ROTEIRO DE ENTREVISTAS PARA COOPERADOS DA

COOPRAM

Entrevistado

1- Haacute quanto tempo eacute cooperado desta cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Qual eacute o setor em que trabalha E sua funccedilatildeo

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- Quais satildeo suas habilidades profissionais e qual a sua formaccedilatildeo escolar

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- O seu setor produz algum tipo de relatoacuterio ou registro das atividades

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- Em relaccedilatildeo aos relatoacuterios da contabilidade da cooperativa vocecirc tem acesso a eles Quando

Quais

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6- O que acha da linguagem dos relatoacuteriosVocecirc sabe o que eacute um ativo ou passivo ou PL

Sabe identificar o lucro da cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 - Jaacute participou de algum curso de formaccedilatildeo em contabilidade Quem promoveu

128

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8- Acha que o curso ajudou a compreender a contabilidade Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- Em sua opiniatildeo como deveriam ser apresentadas as informaccedilotildees financeiras da

cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- E os cursos de formaccedilatildeo em contabilidade como acha que deveria ser Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- Jaacute conversou com o contador da entidade alguma vez para pedir esclarecimentos Eles

conseguiram tirar suas duacutevidas Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

13- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

129

APEcircNDICE 04 ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA CONTADORES

Entrevistado

1- Haacute quanto tempo trabalha com a Economia Solidaacuteria

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- Vocecirc acredita que o aparato contaacutebil vigente para as cooperativas e empresas autogeridas

satisfaz agraves necessidades de informaccedilatildeo destes empreendimentos no que tange ao conteuacutedo e

forma da informaccedilatildeo Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- E quanto a legislaccedilatildeo das cooperativas acha que eacute adequada agrave realidade da ES

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- Os empreendimentos com os quais trabalha utiliza a informaccedilatildeo contaacutebil nos vaacuterios

processos de gestatildeo como planejamento controle e execuccedilatildeoSe natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6- Em relaccedilatildeo aos registros dos eventos de uma cooperativa haacute algum conflito entre a praacutetica

e a legislaccedilatildeo contaacutebil Exemplifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

130

7- Jaacute Ministrou algum curso de formaccedilatildeo em contabilidade Quais as caracteriacutesticas desse

curso

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8- A contabilidade eacute faacutecil de ser compreendida pelos trabalhadores Se natildeo em sua visatildeo

quais os principais problemas enfrentados pelos trabalhadores para a compreensatildeo do

conhecimento contaacutebil

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- No que difere sua atuaccedilatildeo em empresas tradicionais e em empreendimentos

autogestionaacuterios

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- Em sua opiniatildeo como deveriam ser apresentadas as informaccedilotildees financeiras e econocircmicas

da cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- E os cursos de formaccedilatildeo em contabilidade como acha que deveriam ser Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

13- Acredita que a formaccedilatildeo dos contadores em curso prepara para o trabalho com

empreendimentos de ES Como poderia ser

131

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

14 - Em sua opiniatildeo o que poderia ser mudado para que a contabilidade contribua

efetivamente com o processo de autogestatildeo

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

132

APEcircNDICE 05 ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA DIRETORES DA COOPRAM

Entrevistado

1- Haacute quanto tempo eacute cooperado desta cooperativa e desde quando estaacute na diretoria

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Quais satildeo suas habilidades profissionais e qual a sua formaccedilatildeo escolar

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- A sua diretoria elabora algum tipo de relatoacuterio de informaccedilotildees operacionais econocircmicas

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- Em relaccedilatildeo aos relatoacuterios da contabilidade da cooperativa vocecirc tem acesso a eles Quando

Quais

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- A sua diretoria utiliza os relatoacuterios ou informaccedilotildees da contabilidade para tomar algum tipo

de decisatildeo gerencial Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6- A contabilidade eacute faacutecil de ser compreendida Se natildeo em sua visatildeo quais os principais

problemas enfrentados pelos trabalhadores para a compreensatildeo do conhecimento contaacutebil

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

133

7- Jaacute conversou com o contador da entidade alguma vez para pedir esclarecimentos sobre os

relatoacuterios contaacutebeis Eles conseguiram tirar suas duacutevidas Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8 -Jaacute participou de algum curso de formaccedilatildeo em contabilidade Quem promoveu

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- Acha que o curso ajudou a compreender a contabilidade Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- Em sua opiniatildeo como deveriam ser apresentadas as informaccedilotildees financeiras e econocircmicas

da cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- E os cursos de formaccedilatildeo em contabilidade como acha que deveriam ser Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

13- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

134

14 - Em sua opiniatildeo o que poderia ser mudado para que a contabilidade contribua

efetivamente com o processo de autogestatildeo

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

135

APEcircNDICE 06 ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA ESPECIALISTAS

1- Haacute quanto tempo trabalha com a Economia Solidaacuteria E nesta entidade

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Qual eacute a relaccedilatildeo de apoio que a entidade manteacutem com as cooperativas

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- Qual eacute a estrutura de apoio que a entidade possui no que diz respeito agrave contabilidade

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- As cooperativas acompanhadas utilizam a informaccedilatildeo contaacutebil nos vaacuterios processos de

autogestatildeo tais como o levantamento de custos dos produtos planejamento execuccedilatildeo e

controle dos recursos da entidade Se natildeo por que natildeo utilizam

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 - Como eacute realizada a formaccedilatildeo dos trabalhadores em contabilidade

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7- A contabilidade eacute facilmente assimilada pelos trabalhadores Se natildeo em sua visatildeo quais

os principais problemas que os trabalhadores enfrentam para a apropriaccedilatildeo do conhecimento

contaacutebil

136

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8- Com relaccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo cooperativista vigente acredita que seja apropriada agrave realidade

dos empreendimentos de ES Em que pontos residem os maiores entraves

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- Avalia que os contadores de uma forma geral conhecem suficientemente bem a legislaccedilatildeo

cooperativista a ponto de proporcionar um adequado acompanhamento aos empreendimentos

Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- Como vecirc o envolvimento dos profissionais da aacuterea contaacutebil no processo de autogestatildeo

Eles entendem rapidamente a dinacircmica dos empreendimentos

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12 - Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do contador acredita que o contador da Economia Solidaacuteria

deveria ter uma formaccedilatildeo diferenciada Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Page 4: SUM`RIO LISTA DE QUADROS2 1 INTRODU˙ˆO · 2007. 5. 29. · Yin (2005, p.32) constrói a definiçªo tØcnica do estudo de caso de duas maneiras. Na primeira, aborda o escopo de

4

11 Caracterizaccedilatildeo do problema e justificativa

Conforme Hendriksen e Van Breda (1999 p 135) eacute funccedilatildeo da contabilidade [] fornecer

informaccedilatildeo quantitativa principalmente de natureza financeira sobre as entidades

econocircmicas de utilidade para a tomada de decisotildees econocircmicas Dessa forma nenhuma

entidade juriacutedica seja ela puacuteblica ou privada com ou sem fins lucrativos pode prescindir da

informaccedilatildeo contaacutebil agrave tomada de decisotildees Portanto a contabilidade eacute fundamental a todos

os entes juriacutedicos

No caso dos empreendimentos da ES a situaccedilatildeo natildeo difere das outras empresas no que diz

respeito agrave necessidade da contabilidade O processo de autogestatildeo requer a participaccedilatildeo

cotidiana dos trabalhadores na tomada de decisatildeo seja na deliberaccedilatildeo da organizaccedilatildeo do

trabalho ou nas decisotildees de alto niacutevel (decisotildees que interferem no rumo poliacutetico e econocircmico

da entidade tais como planejamento investimento etc) Essa praacutetica constante de

cooperaccedilatildeo solidariedade trabalho conjunto deliberaccedilotildees propicia o desenvolvimento

humano poliacutetico e social Mas para a efetivaccedilatildeo da autogestatildeo os empreendimentos

necessitam da contabilidade enquanto instrumento de gestatildeo para atingir seus objetivos

econocircmicos eou sociais

Entretanto a ES requer o envolvimento de profissionais com uma outra abordagem de

negoacutecio ou seja que compreendam a vocaccedilatildeo econocircmico-social do empreendimento O

relato da ANTEAG (2005) caracteriza o problema

[] Essa eacute uma dificuldade tiacutepica da divisatildeo do trabalho esse tipo de problema derivado da

contrataccedilatildeo de terceiros pode ser caracteriacutestico da inovaccedilatildeo que a autogestatildeo representa e que

natildeo eacute parte da formaccedilatildeo de profissionais cuja atuaccedilatildeo se daacute em empresas convencionais

segundo as regras convencionais do mercado que natildeo tem qualquer interesse em saber como

se realiza o processo de produccedilatildeo ou que qualidade de trabalho estaacute realizada no produto

Poderiacuteamos acrescentar exemplos das mais diferentes aacutereas juriacutedica tecnoloacutegica tributaacuteria e

contaacutebil em que o profissional contratado acaba sendo disfuncional para a

empresaempreendimento por desconhecer as condiccedilotildees que diferenciam a autogestatildeo

(ANTEAG 2005 p 20)

No relato fica patente a solicitaccedilatildeo da autogestatildeo por abordagens diferenciadas nas diversas

aacutereas Essas aacutereas acostumadas com o arcabouccedilo de conhecimento do mercado convencional

tecircm dificuldade em perceber as particularidades da ES No caso da contabilidade essa

preocupaccedilatildeo foi o foco de Michels (1995) que em seu trabalho reconhece as especificidades

da autogestatildeo e chama a atenccedilatildeo para a necessidade de estudos empiacutericos que identifiquem as

5

demandas de informaccedilotildees contaacutebeis desses usuaacuterios Nessa mesma perspectiva Almeida e

Dantas (2005) sugerem o aprofundamento de estudos sobre novas sistemaacuteticas contaacutebeis as

quais se adaptem agraves necessidades informacionais da ES

Dessa forma este trabalho se justifica pela necessidade de aprofundamento de estudos da

relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo mediante os quais se possam compreender os vaacuterios

aspectos da utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil nos empreendimentos de ES a fim de

diagnosticar com maior propriedade os desafios e demandas contaacutebeis provenientes desse

grupo social Portanto a expectativa dessa investigaccedilatildeo caracterizada por uma abordagem

metodoloacutegica e integrativa (contabilidade-autogestatildeo) eacute que os resultados encontrados

somem-se agraves pesquisas anteriores sobre o assunto ampliando o seu campo de conhecimento

Considerando que a contabilidade estaacute inserida em um contexto histoacuterico econocircmico

poliacutetico e social mais amplo e compreendendo a importacircncia da ES na inclusatildeo social dos

trabalhadores desempregados bem como da autogestatildeo enquanto instrumento de exerciacutecio

da democracia enxerga-se a grande importacircncia da contabilidade nesse processo cuja

contribuiccedilatildeo eacute fundamental para a concretizaccedilatildeo da autogestatildeo das empresas e para

efetivaccedilatildeo do papel social da contabilidade

12 Questotildees de pesquisa

Considerando a importacircncia da inserccedilatildeo da contabilidade no contexto da autogestatildeo e a

necessidade de apreensatildeo na praacutetica das diversas faces desse fenocircmeno foram definidas

as seguintes questotildees como norteadoras deste estudo

a) Como a informaccedilatildeo contaacutebil eacute empregada nos empreendimentos autogestionaacuterios

b) Quais os desafios e demandas suscitados nos vaacuterios aspectos da dimensatildeo contaacutebil nos

processos de autogestatildeo

6

13 Objetivos

131 Objetivo geral

O objetivo desta pesquisa foi compreender e analisar a dimensatildeo contaacutebil nos processos de

autogestatildeo dos empreendimentos solidaacuterios levantando seus desafios e demandas contaacutebeis

suscitadas nesse processo envolvendo seis perspectivas a) Forma de comunicaccedilatildeo b)

Conteuacutedo da informaccedilatildeo c) Utilidade da informaccedilatildeo d) Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo e)

Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio e f) Legislaccedilatildeo contaacutebil

132 Objetivos especiacuteficos

Com base no objetivo geral foram estabelecidos os seguintes objetivos especiacuteficos

relacionados com esta pesquisa

a) Descrever o processo de utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil nas vaacuterias etapas do

processo de gestatildeo

b) Identificar e analisar as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores na utilizaccedilatildeo

das informaccedilotildees contaacutebeis mapeando as novas demandas desses usuaacuterios

c) Descrever o processo de apropriaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil por parte dos

trabalhadores analisando seus desafios

d) Identificar elementos que auxiliem na construccedilatildeo de modelos de informaccedilotildees

adequados agraves necessidades da autogestatildeo

14 Metodologia

Conforme Marconi e Lakatos (2001 p106) eacute na especificaccedilatildeo da metodologia que se

responde agraves questotildees Como Com quecirc Onde A metodologia entatildeo descreve o conjunto

de procedimentos utilizados para a consecuccedilatildeo dos objetivos propostos bem como define o

meacutetodo de abordagem sob o qual repousa a pesquisa

De acordo com as autoras haacute distinccedilotildees entre os meacutetodos no que se refere agrave sua inspiraccedilatildeo

filosoacutefica ao seu grau de abstraccedilatildeo agrave sua finalidade explicativa agrave sua accedilatildeo nas etapas mais ou

7

menos concretas da investigaccedilatildeo e ao momento em que se situam Com base nessas

diferenccedilas o meacutetodo de abordagem caracteriza-se por um enfoque mais amplo em niacutevel de

abstraccedilatildeo mais elevado dos fenocircmenos da natureza e da sociedade

Com esta compreensatildeo a presente pesquisa filiou-se ao meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo Marconi

e Lakatos (2001 p106) descreve-o como aquele []que se inicia pela percepccedilatildeo de uma

lacuna nos conhecimentos acerca da qual formula hipoacuteteses e pelo processo de inferecircncia

dedutiva testa a prediccedilatildeo da ocorrecircncia de fenocircmenos abrangidos pela hipoacutetese

Enquanto meacutetodo de procedimento o qual compreende etapas mais concretas da investigaccedilatildeo

com finalidade mais restrita em termos de explicaccedilatildeo geral dos fenocircmenos menos abstratos

optou-se pelo Estudo de Caso Os pressupostos desse meacutetodo bem como as estrateacutegias e

teacutecnicas utilizadas para a sua realizaccedilatildeo seratildeo descritos a seguir

141 O meacutetodo de estudo de caso e seus pressupostos

O Estudo de Caso eacute apropriado ao estudo de eventos contemporacircneos em que as dimensotildees

relevantes natildeo podem ser manipuladas e eacute possiacutevel serem feitas observaccedilotildees diretas e

entrevistas sistemaacuteticas Aleacutem disso o estudo de caso permite utilizar uma variedade de

evidecircncias que tornam mais ricas e complexas as anaacutelises do real (documentos artefatos

entrevistas observaccedilotildees) Segundo Martins (2000 p 36)

Trata-se de uma teacutecnica de pesquisa cujo objetivo eacute o estudo de uma unidade que se analisa

profunda e intensamente Considera a unidade social estudada em sua totalidade seja um

indiviacuteduo uma famiacutelia uma instituiccedilatildeo uma empresa ou uma comunidade com o objetivo de

compreendecirc-los em seus proacuteprios termos

Nesse contexto a utilizaccedilatildeo das teacutecnicas de coleta de dados do estudo de caso tem o objetivo

de apreender a totalidade de uma situaccedilatildeo possibilitando a penetraccedilatildeo na realidade social natildeo

conseguida plenamente pela anaacutelise e pela avaliaccedilatildeo quantitativa Esse meacutetodo (e os outros

meacutetodos qualitativos) eacute uacutetil quando um fenocircmeno eacute amplo e complexo onde o corpo de

conhecimentos existente eacute insuficiente para permitir a proposiccedilatildeo de questotildees causais e

quando um fenocircmeno natildeo pode ser estudado fora do contexto no qual ele naturalmente ocorre

8

Yin (2005 p32) constroacutei a definiccedilatildeo teacutecnica do estudo de caso de duas maneiras Na

primeira aborda o escopo de um estudo de caso segundo o qual um estudo de caso eacute uma

investigaccedilatildeo empiacuterica que investiga um fenocircmeno contemporacircneo dentro de seu contexto da

vida real especialmente quando os limites entre o fenocircmeno e o contexto natildeo estatildeo

claramente definidos

Com base nessa definiccedilatildeo o pesquisador soacute usaria o meacutetodo de estudo de caso quando

quisesse deliberadamente lidar com condiccedilotildees contextuais Essa perspectiva tambeacutem

distingue o estudo de caso de outras estrateacutegias de pesquisa conforme Yin Por exemplo um

experimento deliberadamente separa um fenocircmeno de seu contexto de forma que se possa

dedicar a apenas algumas dimensotildees pois o contexto eacute controlado pelo ambiente de

laboratoacuterio Uma pesquisa histoacuterica natildeo segrega o contexto do fenocircmeno entretanto em

geral trabalha com acontecimentos natildeo contemporacircneos Jaacute os levantamentos tentam dar

conta do fenocircmeno e do contexto mas sua capacidade de investigaacute-lo eacute extremamente

limitada

Na segunda parte da definiccedilatildeo de Yin ( 2005 p33) ele afirma que

A investigaccedilatildeo de estudo de caso Enfrenta uma situaccedilatildeo tecnicamente uacutenica em que haveraacute muito mais dimensotildees de interesse

do que de dados e como resultado Baseia-se em vaacuterias fontes de evidecircncias com os dados precisando convergir em um formato

de triacircngulo e como resultado Beneficia-se do desenvolvimento preacutevio de proposiccedilotildees teoacutericas para conduzir a coleta e a

anaacutelise de dados

Sintetizando o estudo de caso objetiva a compreensatildeo de uma realidade social complexa e

contemporacircnea e constitui-se em uma estrateacutegia de pesquisa abrangente no que se refere agrave

loacutegica de planejamento agraves teacutecnicas de coleta de dados e agraves abordagens especiacuteficas agrave anaacutelise

Dessa forma a adoccedilatildeo do meacutetodo de Estudo de Caso eacute coerente com as questotildees propostas

uma vez que se pretendeu explorar o fenocircmeno dimensatildeo contaacutebil nos empreendimentos

autogestionaacuterios levando em conta a realidade social e o contexto real de inserccedilatildeo da

contabilidade no que diz respeito aos aspectos histoacutericos econocircmicos e sociais

9

142 Protocolo do Estudo de Caso

Para Yin (2005 p92) o protocolo eacute uma das taacuteticas principais para aumentar a

confiabilidade da pesquisa de estudo de caso e destina-se a orientar o pesquisador ao realizar a

coleta de dados a partir de um estudo de caso uacutenico[] Segundo o autor apesar da

semelhanccedila entre um questionaacuterio de levantamento e um protocolo de estudo de caso as

caracteriacutesticas de ambos os diferenciam O protocolo de estudo de caso eacute mais do que um

instrumento pois aleacutem de conter o instrumento tambeacutem conteacutem procedimentos e regras

gerais que devem ser seguidas para utilizaccedilatildeo dos instrumentos

O protocolo de estudo de caso geralmente apresenta as seguintes seccedilotildees

Visatildeo geral do projeto Esta seccedilatildeo eacute composta por objetivos patrociacutenios do projeto

questotildees do estudo e leituras importantes sobre o toacutepico que estaacute sendo investigado

Procedimentos de campo Neste item ocorre a apresentaccedilatildeo das credenciais acesso aos

locais do estudo de caso fontes gerais de informaccedilotildees e advertecircncias de procedimento

Questotildees do estudo de caso - Satildeo indicadas as questotildees especiacuteficas que nortearam o

pesquisador de estudo de caso ao coletar os dados planilha para disposiccedilatildeo especiacutefica de

dados e as fontes em potencial de informaccedilotildees ao se responder cada questatildeo

Guia para o relatoacuterio do estudo de caso Eacute apresentado o esboccedilo formato para os dados

uso e apresentaccedilatildeo de outras documentaccedilotildees e informaccedilotildees bibliograacuteficas

Com base nas orientaccedilotildees acima foi elaborado o protocolo de estudo de caso desta

pesquisa (apecircndice 01) Ele serviu de buacutessola para o encaminhamento da pesquisa como

tambeacutem proporcionou a sua compreensatildeo por parte dos representantes da unidade de

estudo conferindo a credibilidade necessaacuteria agrave autorizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo na

cooperativa

Entretanto cabe ressaltar que devido agrave dinacircmica caracteriacutestica do estudo de caso no

decorrer da pesquisa alguns itens do planejamento foram mudados da mesma forma que

nem todas as questotildees orientadoras arroladas foram necessaacuterias agrave compreensatildeo da

pesquisa ou foram passiacuteveis de obtenccedilatildeo de respostas

10

143 Dimensotildees de Anaacutelise

As dimensotildees apontadas neste trabalho longe de abranger toda a complexidade da inserccedilatildeo

da contabilidade no processo de autogestatildeo dos empreendimentos autogestionaacuterios

pretenderam distinguir aspectos relevantes desse universo A seleccedilatildeo dessas dimensotildees foi

resultado principalmente da imersatildeo nas seguintes bibliografias

a) No campo da teoria da contabilidade destacaram-se as obras dos autores Hendriksen e Van

Breda (1999) e Iacuteudicubus et al (2003) Esses autores subsidiaram a construccedilatildeo de algumas

dimensotildees agrave medida que as diversas leituras sobre a finalidade da contabilidade suscitaram

questionamentos no tocante agrave adequaccedilatildeo da padronizaccedilatildeo dos relatoacuterios de informaccedilatildeo

contaacutebil aos seus diversos usuaacuterios Em outras palavras as indagaccedilotildees levaram agrave verificaccedilatildeo

sobre a viabilidade da padronizaccedilatildeo tendo em vista as reais necessidades de informaccedilatildeo dos

empreendimentos autogestionaacuterios (novos usuaacuterios) no que se refere agrave forma conteuacutedo e

utilidade da informaccedilatildeo

b) No campo da contabilidade para usuaacuterios externos citam-se as obras de Valdir Michaels

(1995) e Almeida e Dantas (2005) Essas obras abordam a relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo

nas quais satildeo apontados alguns obstaacuteculos enfrentados pelos trabalhadores da ES no campo

da contabilidade Nas obras haacute sugestotildees de adaptaccedilatildeo da contabilidade agraves necessidades da

autogestatildeo no que diz respeito a vaacuterios aspectos mas principalmente no tocante agrave legislaccedilatildeo

contaacutebil e agrave postura do contador na relaccedilatildeo com esses novos usuaacuterios Portanto dessas leituras

derivam a construccedilatildeo das dimensotildees Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio e Legislaccedilatildeo contaacutebil

c) A bibliografia sobre Economia Solidaacuteria e Autogestatildeo na qual ressaltam as obras de Paul

Singer e produccedilotildees da ANTEAG tambeacutem foi fonte de inspiraccedilatildeo para a construccedilatildeo das

dimensotildees O mergulho nessas obras permitiu a compreensatildeo da dupla natureza dos

empreendimentos autogestionaacuterios a econocircmica e social Com essa configuraccedilatildeo os

empreendimentos ao mesmo tempo em que perseguem a sustentabilidade financeira tambeacutem

cultuam valores humanos e sociais como a solidariedade cooperaccedilatildeo e igualdade

Compreendeu-se que sob esta perspectiva a igualdade tambeacutem requer a apropriaccedilatildeo de todo

o conhecimento de gestatildeo pelo conjunto dos trabalhadores Assim a apropriaccedilatildeo do

conhecimento contaacutebil por parte dos trabalhadores eacute um imperativo nos empreendimentos

11

solidaacuterios Partindo dessas reflexotildees foi criada a dimensatildeo que se refere agrave apropriaccedilatildeo da

informaccedilatildeo contaacutebil

d) Contribuiacuteram para a constituiccedilatildeo das dimensotildees de anaacutelise aqui arroladas outras produccedilotildees

constantes da referecircncia bibliograacutefica e outras natildeo citadas provenientes das diversas aacutereas do

conhecimento como economia educaccedilatildeo etc

Tambeacutem foram fonte de inspiraccedilatildeo as observaccedilotildees e anaacutelises realizadas em Mato Grosso e

Satildeo Paulo por ocasiatildeo de participaccedilotildees em extensatildeo universitaacuteria bem como em cursos e

seminaacuterios nacionais e internacionais e diaacutelogos com especialistas sobre o tema De sorte que

a compreensatildeo da inserccedilatildeo contaacutebil nos empreendimentos autogestionaacuterios resultou na

construccedilatildeo das seguintes dimensotildees

1- Forma de comunicaccedilatildeo

2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

3- Utilidade da informaccedilatildeo

4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

As caracteriacutesticas e objetivos de cada dimensatildeo satildeo pormenorizados abaixo

1- Forma de comunicaccedilatildeo

Nessa dimensatildeo foram avaliados os instrumentos de comunicaccedilatildeo que a entidade utiliza para

divulgar seus resultados econocircmicos e financeiros Verificou-se a capacidade de a

contabilidade captar e refletir a complexidade das relaccedilotildees inclusas no processo de

autogestatildeo tais como o orccedilamento elaborado coletivamente a execuccedilatildeo e controles

compartilhados enfim analisou-se a adequaccedilatildeo dos relatoacuterios demonstraccedilotildees e outros

instrumentos da contabilidade agraves necessidades proacuteprias dos empreendimentos solidaacuterios

2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

O conteuacutedo diz respeito agrave informaccedilatildeo contaacutebil em si Nessa dimensatildeo verificou-se a

pertinecircncia da linguagem das vaacuterias formas de comunicaccedilatildeo aos usuaacuterios da ES Mais

especificamente nesse aspecto buscou-se perceber se a linguagem da contabilidade eacute

12

facilmente compreendida pelos trabalhadores tendo em vista o conhecimento jaacute consolidado

de que uma grande parte dos trabalhadores da ES tem um baixo grau de educaccedilatildeo formal

3- Utilidade da informaccedilatildeo

Nesse item avaliou-se a utilidade da informaccedilatildeo a qual diz respeito agrave importacircncia dada pelos

grupos entrevistados agrave contabilidade para tomada de decisotildees Tambeacutem se procurou avaliar a

utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil em todos os processos da gestatildeo de modo que ela

efetivamente fosse supridora das informaccedilotildees necessaacuterias agrave autogestatildeo ou seja analisou-se

sua capacidade de auxiliar no processo de tomada de decisotildees coletivas na gestatildeo

democraacutetica

4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Um dos princiacutepios fundamentais da ES sugere a socializaccedilatildeo de todo o conhecimento de

gestatildeo em oposiccedilatildeo agrave tiacutepica empresa que resguarda esses conhecimentos para o grupo da

gerecircncia Baseado nesse princiacutepio essa dimensatildeo teve a intenccedilatildeo de compreender e analisar

as formas de transferecircncia do conhecimento contaacutebil e as eventuais dificuldades enfrentadas

pelo trabalhador no processo de apropriaccedilatildeo do conhecimento das teacutecnicas contaacutebeis Nesse

item tambeacutem se buscou captar elementos que norteiem para uma formaccedilatildeo desejada em

contabilidade

5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Conforme relatos contidos na bibliografia pesquisada as aacutereas teacutecnicas tecircm dificuldade de

perceber a especificidade da autogestatildeo Nessa perspectiva foi analisada a relaccedilatildeo dos

usuaacuterios dos empreendimentos autogestionaacuterios com os profissionais da aacuterea contaacutebil

Pretendeu-se compreender o envolvimento do contabilista com a autogestatildeo Por outro lado

tambeacutem houve a intenccedilatildeo de captar elementos que indicassem a construccedilatildeo de uma outra

relaccedilatildeo entre os contadores e os trabalhadores da ES

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

Alguns autores argumentam que a legislaccedilatildeo contaacutebil ainda natildeo capta a especificidade da

autogestatildeo Isso se aplica agrave forma de registro dos eventos econocircmico-financeiros agraves

demonstraccedilotildees contaacutebeis e tambeacutem agrave constituiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo dessas entidades Para

13

avaliar esse conjunto foi necessaacuterio tambeacutem analisar a legislaccedilatildeo cooperativista e natildeo soacute a

legislaccedilatildeo contaacutebil para o cooperativismo tendo em vista que as duas legislaccedilotildees estatildeo

bastante vinculadas Dessa forma essa dimensatildeo analisou a pertinecircncia dessas legislaccedilotildees agrave

realidade e necessidades da ES

Por meio das dimensotildees descritas acima foi traccedilado um paralelo entre a realidade observada

captada pelas lentes dos cooperados especialistas e contadores e a realidade esperada

desenhada pelas observaccedilotildees entrevistas e literatura consultada O quadro 1 esquematiza o

trabalho realizado

Quadro 1- Resumo dos resultados

Realidade Encontrada

(o que eacute) Realidade esperada

Dimensotildees Cooperados especialistas Contadores (o que deveria ser)

1- Forma de comunicaccedilatildeo 2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo 3- Utilidade da informaccedilatildeo 4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo 5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

144 Criteacuterios para a seleccedilatildeo da unidade de estudo

O principal criteacuterio para a escolha da unidade em que se processou a investigaccedilatildeo foi a

autogestatildeo isto eacute buscou-se um empreendimento em que a gestatildeo fosse praticada por todos

os trabalhadores diferentemente dos empreendimentos nos quais a administraccedilatildeo eacute exercida

apenas pelos diretores Participar da gestatildeo significa atuar nos altos niacuteveis de decisotildees

aquelas que vatildeo aleacutem da organizaccedilatildeo do trabalho mas que tambeacutem compreendem decisotildees

que influenciem no rumo da entidade tais como indicaccedilatildeo da destinaccedilatildeo dos recursos

organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e demais decisotildees que afetam a vida da entidade

14

Outro criteacuterio importante utilizado foi a formalizaccedilatildeo do empreendimento Com se sabe a ES

tambeacutem eacute compreendida por empreendimentos coletivos informais Tal opccedilatildeo se deve ao fato

de que a inscriccedilatildeo junto aos oacutergatildeos governamentais necessariamente requer uma organizaccedilatildeo

contaacutebil mais formal Dessa forma essas entidades possuem registros formais de suas

atividades possibilitando as bases para a investigaccedilatildeo

Levando em conta esses criteacuterios tomou-se como unidade de anaacutelise a COOPRAM

Cooperativa Metaluacutergica de Artes Metaacutelicas localizada no Municiacutepio de Embu na Grande

Satildeo Paulo Portanto ao selecionar a COOPRAM como a unidade de estudo privilegiou-se um

estudo em profundidade para a obtenccedilatildeo de respostas mais precisas agraves questotildees postas agrave

pesquisa

145 Teacutecnicas de coleta de dados

O Meacutetodo do Estudo de Caso obteacutem evidecircncias a partir de seis fontes de dados documentos

registros em arquivos entrevistas observaccedilatildeo direta observaccedilatildeo participante e artefatos

fiacutesicos Cada uma delas requer habilidades e procedimentos metodoloacutegicos especiacuteficos O

presente estudo de caso buscou desvelar a realidade da dimensatildeo contaacutebil nos

empreendimentos autogestionaacuterios a partir da seleccedilatildeo das seguintes teacutecnicas de coleta de

dados

Entrevistas

Registro em arquivos

Observaccedilatildeo direta

O planejamento e execuccedilatildeo do procedimento de coleta de dados fundamentado em Yin

(2005) pode ser visualizado atraveacutes da figura abaixo

15

Registros em arquivos

Observaccedilotildees Entrevistas

(direta)

Figura 1 - Convergecircncia de Evidecircncias (estudo uacutenico )

Fonte adaptado de Cosmos Corporation apud YIN 2005 p127

As ENTREVISTAS satildeo uma das mais importantes fontes de informaccedilotildees para um estudo de

caso segundo Yin (2005) O fluxo de questotildees nas entrevistas natildeo eacute riacutegido mas de forma

fluiacuteda Portanto durante o processo de coleta de dados o pesquisador tem duas tarefas

a) seguir sua proacutepria linha de investigaccedilatildeo como reflexo do protocolo de seu estudo de caso e b) fazer as questotildees reais ( de uma conversaccedilatildeo) de uma forma natildeo tendenciosa que tambeacutem

atende agraves necessidades de sua linha de investigaccedilatildeo (YIN 2005 p117)

Em outras palavras Yin alerta que na entrevista haacute a exigecircncia de atuaccedilatildeo em duas frentes

ao mesmo tempo satisfazer as necessidades de sua linha de investigaccedilatildeo enquanto tambeacutem

passa adiante questotildees amigaacuteveis e natildeo natildeo-ameaccediladoras em suas entrevistas

espontacircneas Assim eacute muito comum que as entrevistas para o estudo de caso sejam

conduzidas de forma espontacircnea Logo pode-se tanto indagar sobre fatos relacionados a um

determinado assunto quanto pedir a opiniatildeo deles a respeito de determinados eventos

Seguindo as prerrogativas acima as entrevistas realizadas nesta pesquisa pretenderam

capturar informaccedilotildees sobre os procedimentos contaacutebeis utilizados na cooperativa perceber a

posiccedilatildeo dos entrevistados quanto ao uso de ferramentas e instrumentos da contabilidade bem

como a contribuiccedilatildeo que esses instrumentos tecircm (ou natildeo) para propiciar a compreensatildeo dos

processos de gestatildeo e identificar elementos agrave construccedilatildeo de uma nova relaccedilatildeo contabilidade e

autogestatildeo

Para compreender o fenocircmeno a partir de vaacuterios prismas foram formados trecircs grupos de

entrevistados

Fato Dimensatildeo contaacutebil no

processo de autogestatildeo

)))process

16

1ordm grupo composto por membros da cooperativa (diretoria e cooperados)

2ordm grupo constituiacutedo por especialistas no assunto vinculados a redes nacionais de fomento e

apoio agrave ES

3ordm grupo composto por contadores experientes em autogestatildeo e ES

Aos trecircs grupos foram aplicadas perguntas semelhantes sobre fatos e opiniotildees circunscritos no

universo do tema proposto As respostas tambeacutem foram estratificadas e alocadas aos

respectivos grupos

Os REGISTROS EM ARQUIVOS em um estudo de caso segundo Yin (2005 p115)

podem assumir diversas modalidades

Registros de serviccedilo como aqueles que mostram o nuacutemero dos clientes atendidos em um

determinado periacuteodo de tempo Registros organizacionais como as tabelas e os orccedilamentos de organizaccedilotildees em um periacuteodo de

tempo Mapas e graacuteficos das caracteriacutesticas geograacuteficas ou esboccedilos de um lugar Listas de nomes e de outros itens importantes Dados oriundos de levantamentos como o censo demograacutefico ou os dados previamente

coletados sobre um local Registros pessoais como diaacuterios anotaccedilotildees e agendas de telefone

Esses e outros registros em arquivo podem ser utilizados somando-se a outras fontes de

informaccedilatildeo No caso desta pesquisa foram verificados os registros operacionais e demais

arquivos e documentos ligados agrave aacuterea contaacutebil A utilizaccedilatildeo dessa teacutecnica buscou identificar e

descrever instrumentos oficiais adotados pelo empreendimento tais como as demonstraccedilotildees

financeiras os sistemas de controles internos relatoacuterios gerenciais etc Contribuiu para a

compreensatildeo da organizaccedilatildeo contaacutebil no empreendimento e finalmente propiciou a avaliaccedilatildeo

do atendimento dos instrumentos contaacutebeis agrave prescriccedilatildeo legal na aacuterea das cooperativas

Tambeacutem propiciou a identificaccedilatildeo dos sistemas ou meios de comunicaccedilatildeo utilizados agrave

disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo bem como agrave sua acessibilidade pelo conjunto de cooperados

A OBSERVACcedilAtildeO DIRETA ocorre quando se realiza uma visita de campo ao local

escolhido para o estudo de caso Por meio das observaccedilotildees eacute possiacutevel captar alguns

17

comportamentos ou condiccedilotildees ambientais relevantes As observaccedilotildees podem variar de

atividades formais a atividades informais de coleta de dados Mais formalmente incluem-se

situaccedilotildees como reuniotildees atividades de passeio trabalho de faacutebrica salas de aula e outras

atividades semelhantes(YIN 2005 p120) Informais podem ser as condiccedilotildees fiacutesicas de um

edifiacutecio ou de espaccedilos de trabalho As evidecircncias captadas pela lente da observaccedilatildeo segundo

Yin satildeo em geral uacuteteis ao fornecimento de informaccedilotildees adicionais sobre o fenocircmeno

estudado

Desse modo a observaccedilatildeo direta aqui realizada pretendeu captar pormenores e detalhes que

complementaram as outras teacutecnicas tais como ambiente fiacutesico cotidiano de trabalho

relaccedilotildees interpessoais processos de decisotildees etc A observaccedilatildeo contou com os registros de

pesquisa de campo em que a preocupaccedilatildeo central foi a observaccedilatildeo tanto do papel do

contador seu relacionamento com as demais aacutereas da gestatildeo aleacutem da forma como a

contabilidade se insere no cotidiano da cooperativa Tais informaccedilotildees agregaram elementos agraves

anaacutelises das entrevistas cruzando relatos e percepccedilotildees dos atores envolvidos

Apoacutes a coleta de dados esses foram sistematizados em um Banco de dados sobre o caso

cujas informaccedilotildees serviram de base agraves anaacutelises e conclusotildees

146 Anaacutelise dos dados

A anaacutelise dos dados retomou as categorias teoacutericas adotadas correlacionando-as agraves

evidecircncias da pesquisa empiacuterica Os resultados foram segregados por dimensotildees sob as quais

satildeo relatadas as constataccedilotildees da realidade e ao mesmo tempo satildeo problematizadas questotildees e

demandas referentes a cada aspecto da dimensatildeo contaacutebil no processo de autogestatildeo

Quanto agrave estrateacutegia de apresentaccedilatildeo dos resultados apesar de natildeo haver nenhuma forma

estereotipada para escrever um relatoacuterio de um estudo de caso existindo apenas estrateacutegias

para redigi-lo a fim de tornaacute-lo inteligiacutevel e palataacutevel ao leitor a estrateacutegia selecionada dentre

as expostas por Yin (2005 p177-180) foi a narrativa a qual foi ilustrada por quadros

Em relaccedilatildeo agrave estrutura composicional do relatoacuterio optou-se pela estrutura analiacutetica linear

Conforme Yin essa estrutura eacute comumente utilizada nos relatoacuterios de estudos de casos No

modelo os subtoacutepicos compreenderam o tema ou o problema estudado e uma revisatildeo da

18

literatura Em seguida os subtoacutepicos partem para a anaacutelise dos meacutetodos utilizados das

descobertas feitas a partir dos dados coletados e analisados e das conclusotildees e implicaccedilotildees

feitas a partir das descobertas

15 Hipoacuteteses

Conforme jaacute mencionado as hipoacuteteses satildeo importantes no estudo de caso pois norteiam a

coleta de dados Dessa forma este estudo partiu dos pressupostos das pesquisas anteriores os

quais sugerem que o aparato contaacutebil hoje disponiacutevel ainda natildeo eacute apropriado a esse

segmento ou seja a informaccedilatildeo contaacutebil natildeo atende satisfatoriamente agraves suas demandas

informacionais tendo em vista a sua natureza peculiar

Portanto situando-se na linha das pesquisas anteriores essa investigaccedilatildeo partiu da hipoacutetese de

que os empreendimentos solidaacuterios diferenciam-se dos demais segmentos do mercado devido

agrave sua dupla natureza econocircmica e social consequumlentemente tecircm demandas informacionais

ainda natildeo contempladas plenamente pela aacuterea contaacutebil envolvendo seis aspectos da dimensatildeo

contaacutebil a) Forma de comunicaccedilatildeo b) Conteuacutedo da informaccedilatildeo c) Utilidade da informaccedilatildeo

d) Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo e) Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio f) Legislaccedilatildeo contaacutebil

16 Organizaccedilatildeo do Trabalho

No que concerne agrave estruturaccedilatildeo e forma de apresentaccedilatildeo o presente estudo estaacute organizado

em 04 capiacutetulos assim definidos

No presente capiacutetulo I da Introduccedilatildeo satildeo apresentados a problematizaccedilatildeo e justificativa da

pesquisa os objetivos as questotildees de pesquisa e a metodologia do estudo

No capiacutetulo 2 satildeo expostos os marcos referenciais deste trabalho no qual se explicitam

conceitos de autogestatildeo Economia solidaacuteria formas de participaccedilatildeo na gestatildeo e outros

conceitos necessaacuterios agrave compreensatildeo das questotildees propostas pela pesquisa

19

No capiacutetulo 3 eacute discutida a relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo perpassando pela exposiccedilatildeo da

finalidade da informaccedilatildeo contaacutebil e estudos recentes sobre a contabilidade para Economia

Solidaacuteria A incursatildeo na literatura realizada nos capiacutetulos 2 e 3 teve a finalidade de propiciar

suporte teoacuterico agrave anaacutelise dos resultados

Por uacuteltimo no capiacutetulo 4 eacute realizada a descriccedilatildeo do Estudo de caso e apresentados os

resultados e anaacutelises da pesquisa

20

21

2 MARCO CONCEITUAL DA ECONOMIA SOLIDAacuteRIA E AUTOGESTAtildeO

Para a anaacutelise do fenocircmeno objeto da presente pesquisa eacute necessaacuterio discutir os conceitos

envolvidos na compreensatildeo da realidade investigada Portanto cumpre nesse momento

explicitar conceitos como globalizaccedilatildeo contexto no qual se insere o ressurgimento da ES

Tambeacutem eacute necessaacuterio perscrutar o sentido teoacuterico da Economia Solidaacuteria da autogestatildeo como

forma de administraccedilatildeo proacutepria dos empreendimentos solidaacuterios da participaccedilatildeo como

categoria teoacuterica fundamental ao processo de autogestatildeo entre outros conceitos A

complexidade da relaccedilatildeo entre Contabilidade e Autogestatildeo encontra-se sedimentada nesses

conceitos teoacutericos

Em primeiro lugar seraacute analisado o momento histoacuterico contemporacircneo que fez ressurgir as

aspiraccedilotildees de alternativas ao modelo social vigente buscando dessa forma compreender o

contexto econocircmico-social de emergecircncia da ES bem como da inserccedilatildeo da contabilidade Em

seguida seraacute trilhado o caminho de desvelamento de outros conceitos necessaacuterios agrave

compreensatildeo da relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo

21 Globalizaccedilatildeo e a crise contemporacircnea

Um estudo sobre autogestatildeo leva agrave necessaacuteria imersatildeo sobre as raiacutezes em que

contemporaneamente tal tema ganha destaque no mundo e consequumlentemente na sociedade

brasileira O cenaacuterio recente de ressurgimento da ES tem como pano de fundo a globalizaccedilatildeo

A despeito das muitas controveacutersias que se podem apresentar sobre o tema globalizaccedilatildeo

tentar-se-aacute apontar algumas definiccedilotildees do fenocircmeno com as quais se concorda Conforme

Wanderley (2002 p15)

[]com a globalizaccedilatildeo as distacircncias se reduziram natildeo havendo barreiras fiacutesicas para a

informaccedilatildeo o conhecimento o intercacircmbio cultural os avanccedilos tecnoloacutegicos possibilitaram o

desvelamento de enigmas antigos das vaacuterias aacutereas de conhecimento a democracia atingiu a quase

maioria dos paiacuteses e eacute requisito de legitimidade internacional

Apesar desses citados benefiacutecios a globalizaccedilatildeo tem seu lado reverso O imperativo da

sobrevivecircncia num mercado altamente competitivo levou as empresas agrave busca de reduccedilatildeo de

22

custos que na maioria das vezes significou corte de postos de trabalho acarretando

exclusatildeo social Conforme definem Pedraccedila e Almeida ( 2004 p 01)

A globalizaccedilatildeo econocircmica marca a histoacuteria pelo apartheid social seja no acircmbito nacional e

internacional O que separa os seres humanos eacute uma divisatildeo estatiacutestica iacutendices que definem uma minoria de pessoas de vaacuterias nacionalidades que gozam do privileacutegio de serem inclusas no

mercado consumidor [] A outra classe de indiviacuteduos a imensa maioria da populaccedilatildeo mundial

quase sempre incluiacuteda em categorias marginais como subempregados trabalhadores informais ou desempregados satildeo segregados do consumo parcial ou totalmente dependendo de sua condiccedilatildeo

econocircmica

Singer (2001) explica a globalizaccedilatildeo a partir de uma perspectiva histoacuterica Advoga a tese de

que a economia capitalista industrial tendeu desde o iniacutecio a superar os limites do Estado-

naccedilatildeo A livre movimentaccedilatildeo de mercadorias e de capitais atraveacutes das fronteiras nacionais

atingiu seu primeiro auge por volta da segunda metade do seacutec XIX quando o padratildeo ouro

proporcionou moedas automaticamente conversiacuteveis e se criou um conjunto de instituiccedilotildees

destinadas a garantir o livre-cacircmbio e as inversotildees estrangeiras A Primeira Guerra (1914-18)

a crise dos anos 30 e em seguida a Segunda Guerra (1939-45) contiveram a tendecircncia de

expansatildeo internacional do capital Durante mais de 30 anos os Estados nacionais protegeram

suas induacutestrias e comandaram a acumulaccedilatildeo de capital dentro de seu territoacuterio diminuindo a

transaccedilatildeo comercial e financeira internacional

A retomada da expansatildeo internacional de acumulaccedilatildeo do capital ou globalizaccedilatildeo soacute foi

efetivada apoacutes a Segunda Guerra capitaneada pelos Estados Unidos e seus aliados os quais a

colocaram como questatildeo primordial As conferecircncias de Brettoin Woods ainda em 1944

receberam um claro mandato neste sentido Em sua primeira etapa a globalizaccedilatildeo abarcava

somente os paiacuteses desenvolvidos e na segunda etapa iniciada haacute mais de um quarto de

seacuteculo incluiu uma boa parte do Terceiro Mundo Mais recentemente envolveu a ex-URSS

e seus antigos sateacutelites

A integraccedilatildeo econocircmica do Primeiro Mundo deu-se num periacuteodo de crescimento e pleno

emprego que ficou conhecido como Anos Dourados Os EUA no auge de sua hegemonia

atraveacutes de suas grandes companhias transferiram maciccedilamente recursos para a Europa e

Japatildeo Implantaram filiais e adquiriram firmas na Europa ocidental retomando sua

multinacionalizaccedilatildeo

23

Todas as economias nacionais cresceram O processo foi um Circulo virtuoso em que

conversibilidade monetaacuteria e a queda das barreiras alfandegaacuterias abriram espaccedilo para uma

crescente reparticcedilatildeo de ganhos( SINGER 2001 p21)

Na segunda etapa a partir de 1970 as economias desenvolvidas abriram seus mercados para

o Terceiro Mundo e promoveram a implantaccedilatildeo dos seus parques industriais destinados ao

abastecimento do mercados do Primeiro Mundo No Brasil essa fase ficou conhecida como

o milagre econocircmico um movimento que culminou com um esforccedilo interno das elites

nacionais de industrializaccedilatildeo do paiacutes desde os anos 30

No iniacutecio da segunda etapa os paiacuteses semi-industrializados apresentavam ao capital

vantagens comparativas tais como grande disponibilidade de matildeo-de-obra jaacute treinada e

condicionada ao trabalho industrial a custos menores do que nos paiacuteses industrializados Na

mesma eacutepoca as lutas de classes nos paiacuteses industrializados haviam se intensificado em

funccedilatildeo da crescente insatisfaccedilatildeo da classe operaacuteria escolarizada operadora de serviccedilos

monoacutetono e alienante a qual reivindicava elevaccedilotildees salariais A resposta das empresas foi a

transferecircncia de grande escala de linhas de produccedilatildeo industrial para paiacuteses perifeacutericos

Grandes centros industriais na Europa e na Ameacuterica do Norte foram esvaziados e

abandonados deixando um grande nuacutemero de desempregados Dessa forma na segunda

etapa a globalizaccedilatildeo tornou-se fator de desindustrializaccedilatildeo e empobrecimento de cidades e

regiotildees inteiras

A globalizaccedilatildeo trouxe mudanccedilas profundas na produccedilatildeo e comeacutercio mundial Com o

imperativo da concorrecircncia faacutebricas fecharam suas portas outras adotaram uma seacuterie de

medidas restritivas visando agrave manutenccedilatildeo no mercado Reduccedilatildeo de custos importaccedilatildeo de

tecnologia moderna aquisiccedilatildeo de meacutetodos gerenciais introduccedilatildeo de novas relaccedilotildees de

trabalho representam o movimento da reestruturaccedilatildeo produtiva das grandes empresas

Essas mudanccedilas afetaram diretamente o mercado de trabalho Com a reduccedilatildeo dos postos de

trabalho o desemprego em todo o mundo tomou proporccedilotildees alarmantes e os empregos

remanescentes satildeo de pior qualidade configurando a precariedade das relaccedilotildees e condiccedilotildees de

trabalho Muitos trabalhadores oscilam entre a penumbra e a clandestinidade do mercado de

trabalho Segundo Singer

24

[] a globalizaccedilatildeo ocasiona o desemprego estrutural Ela faz com que milhotildees de trabalhadores

que produziam o que depois passou a ser importado percam seus empregos e que possivelmente milhotildees de novos postos de trabalho sejam criados tanto em atividades de exportaccedilatildeo como em

outras O desemprego estrutural ocorre porque os que satildeo vitimas da desindustrializaccedilatildeo em geral natildeo tecircm pronto acesso aos novos postos de trabalho (SINGER2001 p23)

Talvez mais grave que o desemprego estrutural seja a precarizaccedilatildeo do trabalho Os novos

postos de trabalho natildeo oferecem em sua maioria as garantias tradicionais que as leis e

contratos vinham ganhando Singer salienta que

Muitos destes novos postos satildeo ocupaccedilotildees por conta proacutepria Ao inveacutes de funcionaacuterios as

empresas principalmente para atividades que natildeo requerem elevada qualificaccedilatildeo contratam

pequenas firmas prestadoras de serviccedilos configurando a terciarizaccedilatildeo[] As vantagens para a

tomadora desse serviccedilo residem na flexibilidade do novo relacionamento e tambeacutem no menor

custo do trabalho pois ela deixa de pagar o tempo morto quando a equipe natildeo tem o que

fazer e as horas-extras quando necessitar (SINGER 2001 p24)

Mattoso reafirma que a precarizaccedilatildeo se constitui de relaccedilotildees informais o que amplia a

inseguranccedila no emprego Um fenocircmeno que se deu em praticamente todos os paiacuteses

avanccedilados atraveacutes da reduccedilatildeo relativa ou absoluta de empregos estaacuteveis ou permanentes

nas empresas e da maior subcontrataccedilatildeo de trabalhadores temporaacuterios em tempo

determinado eventuais em tempo parcial trabalho em domiciacutelio ou independentes

aprendizes etc(MATTOSO 1993 p126)

Na deacutecada de 1990 esse quadro ganhou contornos ainda mais decisivos e agudizantesSob o

emblema do neoliberalismo reduziu-se drasticamente o poder de intervenccedilatildeo do Estado na

esfera social e promoveu-se o abandono de poliacuteticas puacuteblicas importantes na reproduccedilatildeo da

vida dos trabalhadores Nas palavras de Singer

Desde os anos 80 um novo consenso foi firmado qualquer tentativa dos governos de estimular

diretamente a expansatildeo do emprego eacute em vatildeo resultando apenas em mais inflaccedilatildeo O uacutenico dever

dos governos eacute equilibrar os seus proacuteprios orccedilamentos desregulamentar a economia e reduzir o

peso dos impostos que recaem sobre os negoacutecios de modo a facilitar e estimular a acumulaccedilatildeo

privada de capital (SINGER 2001 p14)

Pochmann (1999 p 85) denuncia que os efeitos combinados a partir de 1990 de poliacuteticas

recessivas da desregulaccedilatildeo e reduccedilatildeo do papel do estado de abertura comercial abrupta de

taxas de juros elevadas e de apreciaccedilatildeo cambial seriam responsaacuteveis pela montagem de um

cenaacuterio desfavoraacutevel ao comportamento geral do emprego nacional

25

Esse panorama desde entatildeo causa a dispensa de uma grande parte da forccedila de trabalho

remetendo agrave marginalidade um imenso contingente humano Em 2000 a organizaccedilatildeo

Internacional do Trabalho (OIT) divulgou o informativo O emprego no mundo 1998-99 no

qual destacava que 1)cerca de 1 bilhatildeo de trabalhadores - aproximadamente um terccedilo da

populaccedilatildeo ativa do mundo - estavam desempregados ou subempregados (o indiviacuteduo eacute

subempregado quando sua jornada de trabalho eacute substancialmente menor que uma jornada

completa que desejaria realizar ou seu salaacuterio eacute inferior ao que necessitaria para viver)

2)desses 1 bilhatildeo de trabalhadores uns 150 milhotildees encontravam-se de fato desempregados

buscando trabalho ou em disposiccedilatildeo para trabalhar Pelo simples efeito da crise financeira

mundial em 98 o total de desempregados sofreu um incremento de 10 milhotildees de

trabalhadores c)entre 25 e 30 dos trabalhadores do mundo - algo entre 750 e 900 milhotildees

de pessoas - estavam subempregados

Em relaccedilatildeo ao Brasil a Fundaccedilatildeo SEADE mostrava que 1) a taxa anual meacutedia de

desemprego total da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo aumentou entre 1997 e 1998 de

16 para 183 da populaccedilatildeo economicamente ativa (PEA) com crescimento da taxa de

desemprego anual meacutedia para os indiviacuteduos de todos os niacuteveis de escolaridade A tabela 1

mostra os iacutendices de desemprego nas regiotildees metropolitanas por sexo e em percentuais da

PEA no periacuteodo compreendido de 1998 a 052006 A tabela mostra o acreacutescimo no iacutendice

do desemprego total no ano de 1999 em todas as regiotildees Em 2002 houve novamente um

acreacutescimo no desemprego total Jaacute em 2005 e 2006 os iacutendices mostram uma reduccedilatildeo do

percentual de desemprego em quase todas as regiotildees Entretanto o desemprego ainda

encontra-se em patamares elevados

26

Tabela 1- Taxa de desemprego total por sexo - Regiotildees Metroplitanas e Distrito Federal- 1998-2006

Regiotildees Metropolitanas e Distrito Federal

Belo Horizonte Distrito Federal Porto Alegre Periacuteodo

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

1998 159 137 187 197 174 221 159 137 186

1999 179 159 204 221 192 252 190 167 219

2000 178 161 199 202 177 229 166 142 196

2001 183 162 208 205 176 236 149 123 182

2002 181 157 208 207 180 236 153 131 179

2003 200 171 233 229 202 257 167 139 202

2004 193 168 219 209 178 240 159 131 191

2005 167 140 197 190 159 222 145 119 176

janeiro2006 155 130 182 186 152 220 132 115 153

fevereiro2006 155 131 182 195 164 227 136 118 159

Marccedilo2006 162 132 196 206 175 239 149 126 176

abril2006 156 125 192 207 180 235 155 127 189

maio2006 151 122 185 195 171 220 154 130 182

Regiotildees Metropolitanas e Distrito Federal

Recife Salvador Satildeo Paulo Periacuteodo

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

1998 216 190 249 249 229 271 182 161 211

1999 221 196 252 277 258 299 193 173 217

2000 207 182 239 266 241 293 176 150 209

2001 211 178 253 275 250 302 176 149 208

2002 203 176 236 273 249 299 190 164 222

2003 232 200 270 280 261 301 199 172 231

2004 231 203 265 255 232 280 187 163 215

2005 223 192 260 244 213 278 169 144 197

janeiro2006 212 180 251 237 205 272 157 137 180

fevereiro2006 208 182 240 238 198 280 163 141 187

Marccedilo2006 214 188 246 247 205 291 169 143 198

abril2006 219 191 254 244 197 294 169 145 196

maio2006 222 195 255 244 203 288 170 145 199

Fonte Convecircnio DIEESESEADE MTEFAT e convecircnios regionais PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego Elaboraccedilatildeo DIEESE site http www dieeseorgbr

Portanto natildeo eacute necessaacuterio ir muito longe para perceber que se de um lado a globalizaccedilatildeo

permitiu uma grande expansatildeo do capital por outro o fez em detrimento da valorizaccedilatildeo do

trabalho e das empresas nacionais arruinadas pela abertura do mercado interno agrave

concorrecircncia internacional No Brasil tal abertura ocorre no iniacutecio dos anos 90 com o

governo Fernando Collor de Melo

27

Do ponto de vista dos trabalhadores a consequecircncia de tal processo eacute a desestruturaccedilatildeo do

mercado de trabalho flexibilizaccedilatildeo das regras de proteccedilatildeo social e o desemprego estrutural

capitaneado pela 3ordf Revoluccedilatildeo Industrial em que o avanccedilo da tecnologia tem como

caracteriacutestica principal o aumento da produtividade ao mesmo tempo em que dispensa

grande contingente de matildeo-de-obra Por outro lado o baixo niacutevel de escolaridade dos

desempregados e a insuficiecircncia de poliacuteticas puacuteblicas de formaccedilatildeo de intermediaccedilatildeo de matildeo-

de-obra e de estiacutemulo ao empreendedorismo entre outros motivos torna a recolocaccedilatildeo dos

trabalhadores no mercado de trabalho uma chance remota

Eacute nesse cenaacuterio constituiacutedo pelas contradiccedilotildees e transformaccedilotildees profundas no qual o

trabalho parece perder a centralidade e em que natildeo se superou a dimensatildeo do trabalho como

mercadoria que o homem trabalhador proprietaacuterio apenas de sua forccedila de trabalho

marginalizado do mercado de trabalho perde sua funccedilatildeo e sua condiccedilatildeo primeira de

cidadania Desse modo eacute que satildeo pensadas e geradas alternativas ao desemprego e agrave exclusatildeo

social ressurgindo o ideal da Economia Solidaacuteria e da Autogestatildeo

22 Economia Solidaacuteria Alternativa agrave superaccedilatildeo do desemprego

A ideacuteia de construccedilatildeo de uma sociedade justa cuja base de relaccedilotildees esteja centrada na

solidariedade e natildeo na competiccedilatildeo eacute um ideal da humanidade que tem iniacutecio nos primoacuterdios

da civilizaccedilatildeo capitalista Tal ideaacuterio natildeo tem seu fundamento apenas no desejo utoacutepico de

mundo igualitaacuterio e solidaacuterio mas segundo Rattner (2005 p 01)

A apologia irrestrita da competiccedilatildeo eacute ideoloacutegica e natildeo encontra fundamento na Histoacuteria Ao

contraacuterio eacute possiacutevel afirmar que a maior parte da evoluccedilatildeo da espeacutecie humana foi caracterizada

por associaccedilotildees de cooperaccedilatildeo comunitaacuterias tais como apresentam ainda hoje certas tribos

indiacutegenas do Brasil e de outros continentes A desestruturaccedilatildeo da vida comunitaacuteria em

consequumlecircncia da revoluccedilatildeo industrial no final do seacuteculo XVIII levou como reaccedilatildeo agrave afirmaccedilatildeo de

ideacuteias e praacuteticas cooperativas divulgadas por Proudhon e pelos chamados socialistas utoacutepicos

(Fourier Saint Simon Robert Owen Michael Bakunin e Peter Kropotkin) bem como na segunda metade do seacuteculo XIX ao socialismo de Marx e Engels

Inspirado nas ideacuteias dos socialistas utoacutepicos surgiu na segunda metade do seacuteculo XX o

movimento kibutziano na Terra Santa Seus fundadores e seguidores formaram colocircnias

agriacutecolas que tinham como regra a natildeo exploraccedilatildeo do trabalho propriedade coletiva dos

meios de produccedilatildeo a participaccedilatildeo de todos os membros da comunidade no planejamento e

28

alocaccedilatildeo de recursos seja para o consumo ou seja para investimentos mediante votaccedilatildeo

democraacutetica em assembleacuteias gerais (RATTNER 2005 p01)

A segunda metade do seacuteculo XX tambeacutem pode testemunhar a experiecircncia de implantaccedilatildeo

socialismo na Uniatildeo Sovieacutetica onde se criaram fazendas agriacutecolas coletivas estatizadas aleacutem

das induacutestrias que passaram da propriedade privada para as matildeos do Estado Tais experiecircncias

se inviabilizaram pelo excesso de burocratizaccedilatildeo centralismo e desmotivaccedilatildeo dos

trabalhadores Os fracassos histoacutericos levam a refletir sobre o grau de complexidade para a

implementaccedilatildeo de empreendimentos exigentes em participaccedilatildeo social e sobre a possibilidade

de ocorrerecircncia numa sociedade cujas regras de competiccedilatildeo perpassam todas as relaccedilotildees

sociais Segundo Rattner

Uma economia solidaacuteria exige aleacutem do desenvolvimento de sua base material um alto grau de

conscientizaccedilatildeo e motivaccedilatildeo por parte de sua populaccedilatildeo movida por princiacutepios eacuteticos e valores de

compaixatildeo e solidariedade Em oposiccedilatildeo radical ao sistema de competiccedilatildeo a economia solidaacuteria

natildeo pode ser um produto do autoritarismo de uma administraccedilatildeo de uma soacute via de cima para

baixo que torne a populaccedilatildeo em objeto passivo Ela exige a participaccedilatildeo de todos para se

tornarem cidadatildeos e assim sujeitos do processo histoacuterico(RATTNER 2005 p 02)

Portanto ao se falar de empreendimentos solidaacuterios em que pessoas se organizam

voluntariamente para muacutetua colaboraccedilatildeo parte-se tambeacutem de um pressuposto fundamental a

participaccedilatildeo social que garante ao empreendimento sua sustentabilidade atraveacutes de processos

de caraacuteter educativo

No Brasil desde os anos 80 experiecircncias baseadas na solidariedade se propagam como forma

alternativa de sobrevivecircncia de grupos atingidos pelos efeitos sociais do desemprego

causados em grande parte pela globalizaccedilatildeo Segundo Tauile (2001) tal movimento comeccedila

na Prefeitura de Porto Alegre no Rio Grande do Sul propoga-se por todo o Estado e

posteriormente por todo o Brasil

O termo Economia Solidaacuteria (ES) aparece pela primeira vez no Brasil em 1993 no livro

Economia de Solidariedade e organizaccedilatildeo popular no qual o autor chileno Luis Razeto

(1993 p25) a concebe como

Uma formulaccedilatildeo teoacuterica de niacutevel cientiacutefico elaborada a partir e para dar conta de conjuntos significativos de experiecircncias econocircmicas [] que compartilham alguns traccedilos constitutivos e

essenciais de solidariedade mutualismo cooperaccedilatildeo e autogestatildeo comunitaacuterios que definem uma

racionalidade especial diferente de outras racionalidades econocircmicas

29

Para Singer (2000) a Economia Solidaacuteria surge como modo de produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo

alternativa criado e recriado periodicamente pelos que se encontram marginalizados do

mercado de trabalho A ES concilia o princiacutepio da unidade entre posse e uso dos meios de

produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo com os princiacutepios da socializaccedilatildeo desses meios

Crida identifica as principais caracteriacutesticas dos empreendimentos solidaacuterios

- reciprocidade colocada no cerne de sua passagem agrave accedilatildeo econocircmica - as pessoas se associam numa base voluntaacuteria com o objetivo de satisfazer necessidades sociais

e culturais - a vontade de empreender eacute coletiva Natildeo se busca o retorno sobre o

Investimento individual - tais iniciativas se perenizam combinando fontes de recursos mercantis natildeo mercantis e natildeo-monetaacuterios (financiamento hiacutebrido estaacutetico receitas autogeridas e contribuiccedilotildees voluntaacuterias) - estas experiecircncias organizam-se dentro de uma dinacircmica cidadatilde favorecendo a criaccedilatildeo de

espaccedilos puacuteblicos de proximidade (CRIDA 2000 p03 apud TAUILE 2001)

A unidade tiacutepica da ES eacute a cooperativa cujos princiacutepios satildeo posse coletiva dos meios de

produccedilatildeo pelas pessoas que os utilizam para produzir gestatildeo democraacutetica da empresa ou por

participaccedilatildeo direta ou por representaccedilatildeo reparticcedilatildeo da receita liacutequida entre os cooperadores

por criteacuterios aprovados apoacutes discussotildees e negociaccedilotildees entre todos destinaccedilatildeo do excedente

anual (denominado sobras) tambeacutem por criteacuterios acertados entre todos os cooperadores A

forma de administraccedilatildeo dos empreendimentos de ES eacute portanto a autogestatildeo

Singer (2000) relata diversas experiecircncias e formas de organizaccedilatildeo da ES no Brasil cuja

abrangecircncia compreende atividades econocircmicas tais como cooperativas dos mais diversos

ramos de atividades empresas autogestionaacuterias agecircncias de fomento agrave ES sistemas de

creacutedito redes de projetos comunitaacuterios (associaccedilotildees centros comitecircs etc) feiras solidaacuterias

clubes de trocas e outras experiecircncias alternativas de comeacutercio habitaccedilatildeo e creacutedito

Recentemente a Secretaria Nacional de Economia Solidaacuteria ( SENAES) oacutergatildeo do Ministeacuterio

do Trabalho instuiacuteda no atual governo com o objetivo de fomentar empreendimentos de ES

divulgou um mapa da Economia Solidaacuteria no Brasil Esse mapa proporcionou uma visatildeo da

dimensatildeo e diversidade dos Empreendimentos de Economia Solidaacuteria (EES) os quais jaacute se

fazem presente em todo o paiacutes Eis alguns dados do referido mapa

30

Tabela 2 - Valor mensal dos produtos da ES

Produtos Agrupados por Tipo de Atividade Valor Mensal Total R$ Valor Mensal

Produccedilatildeo Agropecuaacuteria Extrativismo e Pesca 22718579154 462 Produccedilatildeo e Serviccedilos de Alimentos e Bebidas 9822739819 200 Serviccedilos Relativos a Creacutedito e Financcedilas 8205570075 167 Produccedilatildeo Industrial (Diversos) 2940455500 60 Prestaccedilatildeo de Serviccedilos (Diversos) 2031969122 41 Produccedilatildeo de Artefatos Artesanais 1362494308 28 Produccedilatildeo Tecircxtil e Confecccedilotildees 930775759 19 Serviccedilos de Coleta e Reciclagem de Materiais 443079712 09 Produccedilatildeo Mineral (Diversa) 197743633 04 Produccedilatildeo de Fitoteraacutepicos Limpeza e Higiene 93521100 02 Produccedilatildeo e Serviccedilos Diversos 398175518 08 TOTAL 49145103700 1000

Do total de EES 31 natildeo declarou o Valor da Produccedilatildeo Fonte site wwwmtegovbrEmpregadorEconomiaSolidariaConteudoATLAS_PARTE_2pdf A tabela 2 demonstra a diversidade dos setores produtivos da ES e o valor da produccedilatildeo

mensal do conjunto de produtos por tipo de atividade A capacidade de geraccedilatildeo de emprego e

renda da ES eacute demonstrada pela tabela 3 Em 2005 estavam associados nos empreendimentos

econocircmicos solidaacuterios mais de 1 milhatildeo e 250 mil homens e mulheres resultando em uma

meacutedia de 84 participantes por EES Agregam-se a esse conjunto mais 25 mil trabalhadores e

trabalhadoras participantes que possuem algum viacutenculo com os EES (Empreendimentos de

Economia Solidaacuteria)

31

Tabela 3 - Participantes dos ESS no Brasil

REGIAtildeO Mulheres Homens TOTAL

Rural 22292 345 42265 655 64557

Urbano 15262 591 10578 409 25840

Rural e Urbano

13933 384 22372 616 36305

NO

Total 51493 406 75235 594 126728

Rural 95599 373 160365 627 255964

Urbano 42941 504 42262 496 85203

Rural e Urbano

40019 379 65478 621 105497

NE

Total 179058 400 268477 600 447535

Rural 10692 306 24219 694 34911

Urbano 24258 477 26619 523 50877

Rural e Urbano

9733 251 29003 749 38736

SE

Total 44729 359 79910 641 124639

Rural 28901 272 77310 728 106211

Urbano 26773 349 49887 651 76660 Rural e Urbano

72551 284 183127 716 255678

SU

Total 128295 292 310400 708 438695

Rural 10577 284 26698 716 37275

Urbano 18118 597 12213 403 30331 Rural e Urbano

18389 394 28267 606 46656

CO

Total 47088 412 67197 588 114285

Rural 168061 337 330857 663 498918

Urbano 127352 474 141559 526 268911 Rural e Urbano

154625 320 328247 680 482872

TOTAL

Total 450663 360 801219 640 1251882 Fonte Fonte site wwwmtegovbrEmpregadorEconomiaSolidariaConteudoATLAS_PARTE_2pdf Aleacutem da geraccedilatildeo de trabalho e renda a contribuiccedilatildeo mais valiosa dessas experiecircncias tem sido

a retomada da centralidade do trabalho na vida do homem Aos poucos essas diversas

alternativas de geraccedilatildeo de renda vatildeo compondo perspectivas de saiacutedas para a exclusatildeo de

contigentes sociais agrave margem da loacutegica dominante de mercado em que os sobrantes natildeo

dipunham de qualquer possibilidade de resgatar minimamente sua condiccedilatildeo humana e cidadatilde

32

Por outro lado a ES representada principalmente pelas cooperativas apresenta uma seacuterie de

desafios1 dentre os quais se destaca a questatildeo legal Conforme Rech (2000) ao longo de

nossa histoacuteria a iniciativa cooperativista nunca foi efetivamente incentivada ao contraacuterio

sempre houve intervenccedilatildeo no sentido de limitar suas possibilidades A legislaccedilatildeo brasileira

impotildee uma estrutura muito riacutegida na organizaccedilatildeo das cooperativas e ao contraacuterio de permitir

o desenvolvimento do modelo cooperativista acabou por impor tantos limites que tornou

difiacutecil a sua constituiccedilatildeo e funcionamento

A instituiccedilatildeo da primeira lei baacutesica especiacutefica do cooperativismo em 1932 teve o objetivo de

enfrentar pela diversificaccedilatildeo agriacutecola as quebras provocadas pelos problemas com o

comeacutercio internacional do cafeacute A lei 5764 de 1971 feita pelos militares concentrou as

cooperativas nas matildeos de grandes produtores industriais o que influenciou o piacutefio

crescimento das cooperativas no Brasil Em 1998 o anuaacuterio do Cooperativismo Brasileiro da

Organizaccedilatildeo das Cooperativas Brasileiras (OCB) fornecia o nuacutemero de apenas 5102

cooperativas indicando um avanccedilo pequeno na quantidade de cooperativas com um nuacutemero

de associados que natildeo chegava a 3 do total da populaccedilatildeo

Conforme explica Rech (2002 p16-17) de modo geral os instrumentos existentes na

legislaccedilatildeo brasileira que regulam a vida das cooperativas satildeo de procedecircncia conservadora

satildeo exemplos o dec-lei 5154 de 1942 ( sobre a intervenccedilatildeo do Estado nas cooperativas) o

dec-lei 5893 de 1943 (sobre a organizaccedilatildeo funcionamento e fiscalizaccedilatildeo das cooperativas)

apesar de em menor escala o dec-lei 627444 (que aumenta a interferecircncia do Estado) todos

da ditadura getulhista E da ditadura militar as Leis 4380 (que submeteram as cooperativas

habitacionais ao BNH) e 4595 ( que regula a vida das instituiccedilotildees financeiras entre as quais

as cooperativas de creacutedito) ambas de 1964 o DecLei 5966 (que revogou todas as conquistas

de liberdade cooperativistas anteriores) e a lei cooperativista de 1971 As uacutenicas exceccedilotildees

seriam o dec-lei 840145 que reavivou o Dec de 1932 e a Lei 421463 ( Estatuto do

Trabalhador Rural) que apesar de natildeo ser uma lei especiacutefica sobre o assunto poderia ter

aberto as portas para a atuaccedilatildeo cooperativista no campo

Na visatildeo de Tauile et al (2005) o fenocircmeno da autogestatildeo respeita as condiccedilotildees juriacutedicas

vigentes que apesar de natildeo impedir sua existecircncia natildeo contempla suas necessidades

1 No item 27 satildeo apresentados outros desafios

33

especiacuteficas Os empreendimentos enquadram-se nas formas do direito tradicional fato que

natildeo lhes favorece uma vez que se trata de empreendimentos autogestionaacuterios sociedades de

pessoas e natildeo de capital

Atualmente a legislaccedilatildeo cooperativista estaacute em debate Trecircs Projetos de lei de nos 60599

17199 e 42899 estatildeo tramitando no Congresso Nacional Apesar disso nenhum desses

projetos contempla as necessidades dos empreendimentos autogestionaacuterios na visatildeo dos

autores Tauile et al (2005 p151) Para eles estes empreendimentos tecircm caracteriacutesticas

especiais e necessidades especiacuteficas por serem fenocircmenos com caracterizaccedilotildees empresariais

tipicamente urbanas e de trabalho associado A legislaccedilatildeo poreacutem atende a um

cooperativismo fortemente implementado no campo de base agraacuteria para organizar pequenos

(e grandes) proprietaacuterios rurais

Uma outra evidecircncia da limitaccedilatildeo legal ocorre com os empreendimentos de ES que se

originam da recuperaccedilatildeo de massa falidas Segundo Tauile et al (2005 p147) esses

empreendimentos nascem abruptamente portanto natildeo possuem histoacutericos contaacutebeis sem

capital e sem patrimocircnio No iniacutecio das operaccedilotildees satildeo comandataacuterios ou arrendataacuterios e natildeo

estatildeo capitalizados para irem diretamente ao mercado Diante desse contexto tecircm

dificuldades de acesso a creacutedito para a continuidade do negoacutecio

Tauile et al ( 2005 p 148-149) reflete sobre a necessidade do reconhecimento pela ordem

juriacutedica dessas novas formataccedilotildees juriacutedicas por meio da criaccedilatildeo de um marco legal que

[] os reconheccedila conceitualmente e que estabeleccedila normas para atendimento de condiccedilotildees

associadas a um padratildeo socialmente aceitaacutevel para os trabalhadores e produccedilatildeo de bens para o

mercado que estabeleccedila criteacuterios de identificaccedilatildeo desses atores - empresas de autogestatildeo - que se baseiem numa interpretaccedilatildeo objetiva adequada ao perfil e agraves caracteriacutesticas do sujeito com base na

realidade social e econocircmica disposta

Este cenaacuterio demonstra as restriccedilotildees que a ES enfrenta e que circunscrita no marco legal do

capitalismo natildeo eacute possiacutevel percebecirc-la como instrumento uacutenico de negaccedilatildeo ou superaccedilatildeo do

sistema de mercado vigente contudo surgem inuacutemeras pequenas revoluccedilotildees quando nos

empreendimentos deixa de existir a dicotomia entre capital e trabalho instaurando novas

perspectivas natildeo somente de reproduccedilatildeo mas de criaccedilatildeo de novos tipos de sociabilidades

onde a solidariedade a exigecircncia de responsabilidades coletivas se constituem num intenso

processo educativo Tudo isso recria o proacuteprio conceito de trabalho o qual ganha novos

34

contornos Emprestando as palavras do filoacutesofo Luiz Razeto (1993) cada dia fica mais

claro de que haacute a necessidade de que o aspecto alternativo natildeo seja apenas uma estrateacutegia

mas o proacuteprio desenvolvimento que se busca

23 Diferenccedilas conceituais entre Terceiro Setor e Economia Solidaacuteria

A proliferaccedilatildeo dos empreendimentos solidaacuterios no Brasil muito se deve agrave forte presenccedila das

entidades do Terceiro Setor que eclodiram principalmente a partir dos anos 802 Dentre as

entidades fomentadoras da ES no Brasil pode-se destacar Agecircncia de Desenvolvimento

Solidaacuterio Central Uacutenica dos Trabalhadores (ADSCUT) Associaccedilatildeo Nacional de

Trabalhadores em Empresas de Autogestatildeo e Participaccedilatildeo Acionaacuteria (Anteag) Caacuteritas

BrasileirasUNITRABALHO- Rede Interuniversitaacuteria de Estudos e Pesquisas sobre o

Trabalho PACS Instituto de Poliacuteticas Alternativas para o Cone Sul DIEESE-

Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos Soacutecio- Econocircmicos Instituiccedilatildeo

Comunitaacuteria de Creacutedito Portosol ITCP- Incubadora Tecnoloacutegica de Cooperativas Populares

FASE- Federaccedilatildeo de Oacutergatildeos para Educaccedilatildeo e Assistecircncia Social NAPES - Nuacutecleo de Accedilatildeo e

Pesquisa em Economia de Solidariedade entre outras

Devido agrave substantiva participaccedilatildeo de entidades do Terceiro Setor na Economia Solidaacuteria

muitos entendem que a uacuteltima eacute gecircnero da primeira Isto eacute compreensiacutevel uma vez que a linha

que divide os dois territoacuterios natildeo estaacute tatildeo bem definida A distinccedilatildeo poderia ser realizada pelo

conceito de cada um dos segmentos Entretanto conceituar o Terceiro Setor natildeo eacute uma tarefa

faacutecil tendo em vista a gama de entidades que o compotildeem e a variedade de expressotildees que satildeo

utilizadas como sinocircnimas tais como ONGs entidades sem fins lucrativos organizaccedilotildees

voluntaacuterias entre outras para designar os grupos de organizaccedilotildees da sociedade civil com

atuaccedilatildeo social

Recentemente mais precisamente depois dos anos 90 muitos trabalhos acadecircmicos tecircm

envidado esforccedilos nessa tarefa de conceituar e caracterizar as entidades que constituem esse

setor Destaca-se entre as produccedilotildees sobre o tema o trabalho de Coelho ( 2002) Segundo a

2 Com a redemocratizaccedilatildeo do paiacutes essas organizaccedilotildees ampliaram a abrangecircncia de atuaccedilatildeo para novos espaccedilos

de articulaccedilatildeo soacutecio-poliacutetica como a defesa de direitos de grupos especiacuteficos da populaccedilatildeo mulheres negros

povos indiacutegenas crianccedilas abandonadas etc ( GARCIA 2003)

35

autora no Brasil o termo mais usual para a denominaccedilatildeo das entidades da sociedade civil era

organizaccedilatildeo natildeo-governamental A expressatildeo terceiro setor foi utilizada pela primeira vez

por pesquisadores nos Estados Unidos na deacutecada de 70 e na deacutecada de 80 tambeacutem passou a

ser empregada pelos pesquisadores europeus em virtude do termo expressar uma alternativa

para as desvantagens tanto do mercado associadas agrave maximizaccedilatildeo do lucro quanto do

governo com sua burocracia inoperante( COELHO 2002 p58)

Nesse sentido o Terceiro Setor eacute uma expressatildeo a que se recorre para distinguir as entidades

emergidas do seio da sociedade civil daquelas oriundas do primeiro setor (mercado) e do

segundo (aacuterea governamental) Essa denominaccedilatildeo evidencia o papel econocircmico que esse

segmento assume Coelho explica que essas organizaccedilotildees distinguir-se-iam das entidades

privadas inseridas no mercado por natildeo objetivarem o lucro e por responderem em alguma

medida agraves necessidades coletivas (COELHO 2002 p59)

Contudo Franco (1997) abre um parecircntese no sentido de natildeo se confundir coletivo e puacuteblico

pois nem todas as entidades pertencentes ao Terceiro Setor possuem fins puacuteblicos Grande

parte do Terceiro Setor eacute composta por organizaccedilotildees com fins coletivos privados como uma

organizaccedilatildeo para observaccedilatildeo de paacutessaros tropicais Essas entidades constituem-se num

agrupamento de cidadatildeos que se associam voluntariamente para perseguir objetivos que soacute

interessam a eles proacuteprios que natildeo tem a pretensatildeo ou a obrigaccedilatildeo de atender a um interesse

comum da sociedade e portanto que natildeo estatildeo voltados para o bem comum ou para a

chamada utilidade puacuteblica (FRANCO 1997 p37 apud COELHO 2002 p59)

Aleacutem dessas entidades jaacute citadas uma outra discussatildeo que se faz eacute sobre a relaccedilatildeo entre o

Terceiro Setor e os movimentos sociais Estariam os movimentos sociais circunscritos ao

Terceiro Setor Partindo-se de uma resposta negativa poder-se-ia argumentar que os

movimentos sociais natildeo integram o Terceiro Setor por natildeo possuiacuterem uma estrutura formal

feita para perdurar no tempo caracteriacutestica baacutesica de entidades do terceiro setor3 Na verdade

os movimentos sociais possuem um caraacuteter mais reivindicatoacuterio e pressionam o Estado

solicitando o fornecimento de bens ou serviccedilos

3 Conforme aleacutem de estar fora do Estado e natildeo ter fins lucrativos as entidades do Terceiro Setor possuem as seguintes caracteriacutesticas satildeo estruturadas satildeo autogovernadas Envolvem indiviacuteduos num significativo esforccedilo

voluntaacuterio (Lester Salamon amp Helmuth Anheir 1994 apud Coelho 2002 p61)

36

Entretanto nada eacute conclusivo pois tambeacutem no Terceiro Setor inscrevem-se entidades com

caraacuteter reivindicatoacuterio Essa questatildeo daacute uma ideacuteia da dificuldade de delimitaccedilatildeo dos contornos

desse setor em virtude da diversidade das entidades que o compotildeem

Alguns autores americanos (Lester Salamon Michael Gutowski amp Karen Pittman 1984 p3) entendem que as entidades do terceiro setor podem ser agrupadas da seguinte forma

1) Organizaccedilotildees que funcionam essencialmente para ajudar a seus proacuteprios membros tais

como as associaccedilotildees profissionais e clubes sociais

2) Igrejas sinagogas mesquitas e outras organizaccedilotildees religiosas sacramentadas

3) Organizaccedilotildees incluindo as fundaccedilotildees United Way e federaccedilotildees religiosas como a

Caridade Catoacutelica e a Federaccedilatildeo Judaica

4) Organizaccedilotildees que promovem caridade ou serviccedilos educacionais destinados

primeiramente para ajudar a qualquer pessoa e natildeo simplesmente seus membros

No Brasil a legislaccedilatildeo segrega as vaacuterias entidades que compotildeem o Terceiro Setor em dois

grupos ou duas formas juriacutedicas diferentes associaccedilatildeo e fundaccedilatildeo De acordo com o art 16 do

Coacutedigo Civil Brasileiro as entidades da sociedade civil sem finalidade lucrativa apresentam

caracteriacutesticas diversas em seus aspectos juriacutedicos Os arts 20 e 23 enunciam as seguintes

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo

a) os fins os meios proacuteprios e os interesses satildeo estabelecidos pelos associados

b) os associados podem alterar os fins

c) o patrimocircnio eacute constituiacutedo pelos associado e

d) os associados deliberam livremente

Por outro lado as fundaccedilotildees tecircm suas caracteriacutesticas anunciadas nos arts 24 e 30 do antigo

Coacutedigo Civil da seguinte forma

a) os fins os meios proacuteprios e os interesses satildeo estabelecidos pelo fundador

b) os fins satildeo perenes e imutaacuteveis

c) o patrimocircnio eacute fornecido pelo instituidor e

d) as resoluccedilotildees satildeo delimitadas pelo instituidor

37

Resgatando o conceito e natureza da Economia Solidaacuteria percebe-se que ela eacute um hiacutebrido

entre empresas econocircmicas e entidades da sociedade civil Aqui haacute uma semelhanccedila dos

segmentos pois ambas satildeo associaccedilatildeo de pessoas

Enquanto atividade econocircmica ela precisa gerar sobras mediante a qual se garante emprego e

renda aos trabalhadores Por outro lado enquanto atividade social ela eacute gerida por um coletivo

de pessoas que aleacutem de benefiacutecios econocircmicos cultuam valores humanos tais como

solidariedade e cooperaccedilatildeo em todo o processo econocircmico seja na relaccedilatildeo de trabalho na

relaccedilatildeo com clientes e fornecedores na relaccedilatildeo com a comunidade e com o meio ambiente

Uma situaccedilatildeo que a diferencia das empresas mercantis quando o empreendimento solidaacuterio

assume a forma juriacutedica de uma cooperativa eacute o fato de que o resultado econocircmico natildeo se

distribui com o mesmo dinamismo que em uma empresa mercantil Ele eacute distribuiacutedo

anualmente por ocasiatildeo da apuraccedilatildeo do Balanccedilo anual

Diante da dificuldade de se traccedilar precisamente as diferenccedila apenas pelas caracteriacutesticas

talvez o grande argumento para a segregaccedilatildeo dos empreendimentos de ES das entidades do

Terceiro Setor resida na legislaccedilatildeo Os empreendimentos mais representativos4 da Economia

Solidaacuteria conforme o Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (2006) as cooperativas e as

sociedades anocircnimas tecircm uma legislaccedilatildeo proacutepria apesar dos questionamentos sobre a sua

adequaccedilatildeo agraves peculiaridades dos empreendimentos de ES A cooperativa eacute uma associaccedilatildeo

autocircnoma de pessoas que se unem voluntariamente para satisfazer aspiraccedilotildees econocircmicas

sociais e culturais comuns por meio da criaccedilatildeo de uma sociedade democraacutetica e coletiva

cooperativa Diferenciam-se dos demais tipos de sociedades por serem ao mesmo tempo uma

associaccedilatildeo de pessoas e tambeacutem um negoacutecio e satildeo definidas pela lei 5764 de 16 de

dezembro de 1971 ( lei cooperativista) Jaacute os empreendimentos solidaacuterios que assumem a

forma juriacutedica de uma sociedade anocircnima satildeo regidos pela lei das Lei nordm 6404 de 15 de

dezembro de 1976 chamada lei das sociedades por accedilotildees

Veiga e Rech (2002) apontam outras diferenccedilas comparando uma associaccedilatildeo (terceiro setor)

e cooperativa (ES) conforme mostra o quadro 2 Entretanto este debate natildeo se encerraraacute ateacute

que sejam definidos contornos conceituais e legais mais efetivos aos segmentos

4 Apesar de serem representativos natildeo satildeo a maioria dos empreendimentos No Brasil as formas de organizaccedilatildeo

estatildeo assim distribuiacutedas associaccedilatildeo 54 grupos informais -33 organizaccedilotildees cooperativas 11 outras

formas de organizaccedilatildeo- 2

38

Quadro 2- Diferenccedilas entre Associaccedilotildees e Cooperativas

Criteacuterio Associaccedilatildeo Cooperativa

Conceito Sociedade de pessoas sem fins lucrativos

Sociedade de pessoas sem fins lucrativos e com especificidade de atuaccedilatildeo na atividade produtivacomercial

Finalidade Representar e defender os interesses dos associados Estimular a melhoria teacutecnica

profissional e social dos associados Realizar iniciativas de promoccedilatildeo educaccedilatildeo e assistecircncia

social

Viabilizar e desenvolver atividades de consumo produccedilatildeo prestaccedilatildeo de serviccedilos

creacutedito e comercializaccedilatildeo de acordo com os

interesses dos seus associados

Constituiccedilatildeo Miacutenimo de duas pessoas Miacutenimo de 20 pessoas fiacutesicas Legislaccedilatildeo Constituiccedilatildeo ( art 5ordm XVII a XXI

e art 174 sect2ordm) Coacutedigo civil Lei 576471 Constituiccedilatildeo ( art 5ordm XVII a

XXI e art 174 sect Coacutedigo civil Patrimocircnio Capital Patrimocircnio eacute formado por taxa

paga pelos associados doaccedilotildees

fundos e reservas Natildeo possui

capital social

Possui capital social formado por quotas-partes podendo receber doaccedilotildees

empreacutestimos e processos de capitalizaccedilatildeo

Forma de gestatildeo Nas assembleacuteias cada pessoa tem

direito a um voto As decisotildees

devem sempre ser tomadas com a participaccedilatildeo e o envolvimento dos

associados

Nas assembleacuteias cada pessoa tem direito a um voto As decisotildees devem sempre ser

tomadas com a participaccedilatildeo e o envolvimento

dos associados

Abrangecircncia aacuterea de

accedilatildeo Limita-se aos seus objetivos podendo ter abrangecircncia nacional

Limita-se aos seus objetivos e possibilidade de reuniotildees podendo ter abrangecircncia

nacional Operaccedilotildees Soacute pode realizar atividade

comercial para a implementaccedilatildeo de

seus objetivos sociais Pode realizar operaccedilotildees financeiras e

bancaacuterias usuais

Realiza plena atividade comercial Realiza operaccedilotildees financeiras bancaacuterias e pode

candidatar-se a empreacutestimos e aquisiccedilotildees do

governo federal

Responsabilidades Os associados natildeo satildeo

responsaacuteveis diretamente pelas

obrigaccedilotildees contraiacutedas pela

associaccedilatildeo A sua diretoria soacute pode

ser responsabilizada se agir sem o consentimento dos associados

Os cooperados natildeo satildeo responsaacuteveis

diretamente pelas obrigaccedilotildees contraiacutedas pela

cooperativa a natildeo ser tambeacutem nos casos em

que decidem que a sua responsabilidade eacute

ilimitadaSua diretoria soacute pode ser

responsabilizada se agir sem o consentimento dos associados

Remuneraccedilatildeo Os dirigentes natildeo tecircm remuneraccedilatildeo

pelo exerciacutecio de suas funccedilotildees

recebem apenas reembolso de suas despesas realizadas para o desempenho dos seus cargos

Os dirigentes podem ser remunerados por retiradas mensais proacute-labore definidas pela assembleacuteia aleacutem do reembolso de suas

despesas

Tributaccedilatildeo Deve fazer anualmente uma declaraccedilatildeo de isenccedilatildeo de imposto

de renda

Isento de impostos sobre operaccedilotildees com

seus associados Recolhe IRPJ sobre operaccedilotildees com terceiros Paga impostos e taxas decorrentes de accedilotildees comerciais

Resultados Financeiros O resultado positivo (superaacutevit)

obtido de operaccedilotildees entre os

associados seratildeo aplicados na

proacutepria associaccedilatildeo

O resultado positivo (sobras) satildeo divididas de

acordo com o volume de negoacutecios ou

participaccedilatildeo de cada associado Satildeo

constituiacutedas reservas de 10 para o fundo de

reserva e 5 para o Fundo Educacional ( FATES)

Fonte Adaptado de Veiga e Rech (2002)

39

24 Diferentes concepccedilotildees e modelos de participaccedilatildeo na administraccedilatildeo

A Economia Solidaacuteria na perspectiva apontada por Tauile (2001) sinteticamente possui os

seguintes traccedilos distintivos reciprocidade coletividade combinaccedilatildeo de recursos

mercantis e natildeo-mercantis cidadania que somente se constroacutei no espaccedilo puacuteblico Logo o

conceito de participaccedilatildeo eacute tambeacutem chave para compreender a dinacircmica dos empreendimentos

soliaacuterios e a autogestatildeo

No acircmbito de uma empresa a participaccedilatildeo reveste-se de um caraacuteter bastante importante

capaz de alterar as relaccedilotildees de poder no processo de gestatildeo dos negoacutecios pois

A participaccedilatildeo consiste basicamente na criaccedilatildeo de oportunidades sob as condiccedilotildees adequadas para

que as pessoas influam nas decisotildees que as afetam Essa influecircncia pode ser de pouca a muita [

participaccedilatildeo] constitui um caso especial de delegaccedilatildeo no qual o subordinado adquire um controle

maior uma maior liberdade de escolha em relaccedilatildeo a suas proacuteprias responsabilidades O termo

participaccedilatildeo eacute usualmente aplicado agrave maior influecircncia do subordinado sobre assuntos de responsabilidade do superior (MCGREGHOR 1960 p126 e 130 apud PATEMAN 1992 p 38)

Contudo a participaccedilatildeo eacute uma categoria teoacuterica bastante controversa especialmente no

acircmbito dos negoacutecios jaacute que embora no mundo moderno o local de trabalho seja agrave base de

relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo esse espaccedilo tem sido marcado desde sua origem pela negaccedilatildeo de

relaccedilotildees democraacuteticas de participaccedilatildeo Mais recentemente diversos movimentos tecircm

persuadido empresas a adotarem sistemas de participaccedilatildeo Eacute grande a variedade de modelos

participativos no acircmbito empresarial Compreendem desde accedilotildees pontuais de empregados que

apresentam suas sugestotildees aos negoacutecios ateacute a participaccedilatildeo na propriedade e nos lucros Far-

se-aacute em seguida uma imersatildeo nos diferentes conceitos de participaccedilatildeo nos negoacutecios buscando

distinguir tais conceitos daquele adotado no presente trabalho

Segundo Arantes (2000) a participaccedilatildeo nas organizaccedilotildees surgiu em decorrecircncia da pressatildeo

sindical para utilizaccedilatildeo de fundamentos democraacuteticos nas organizaccedilotildees Posteriormente foi

sendo sustentada por concepccedilotildees humanistas de administraccedilatildeo Um breve histoacuterio dessa

evoluccedilatildeo mostra que os primeiros debates de participaccedilatildeo na administraccedilatildeo ocorreram por

volta de 1880 quando nos Estados Unidos numa empresa chamada Midvale Steel Frederick

Wilson Taylor obstinado por incrementar a eficiecircncia de seus subordinados deparou com um

impasse Taylor observava e cronometrava as atividades de vaacuterios funcionaacuterios com o

objetivo de descobrir uma base cientiacutefica para compreender e executar os trabalhos

40

(ARANTES 2000 p08) Ele queria encontrar o meacutetodo mais eficiente de trabalho e que

fosse melhor para todos Entretanto apoacutes conseguir meacutetodos e maneiras para aumentar o

rendimento dos operaacuterios ele se deparou com o chamado problema dos salaacuterios

Na eacutepoca existiam duas formas praticadas de pagamento dos funcionaacuterios pagamento por dia

ou por peccedila produzida Na primeira o trabalhador recebia o salaacuterio independentemente de

sua produccedilatildeo o que tornava o aumento da eficiecircncia extremamente desinteressante para ele

Na segunda apresentava-se a seguinte questatildeo se a produccedilatildeo aumentava muito o valor por

peccedila diminuiacutea fazendo com que o sindicato estabelecesse volumes maacuteximos de produccedilatildeo por

dia de maneira que os trabalhadores natildeo fossem prejudicados

Segundo Maximiano (1996 p44)

Para resolver este problema que os dois sistemas ofereciam jaacute na eacutepoca se falava em um sistema

de participaccedilatildeo dos empregados nos lucros das empresas o qual se tem notiacutecia de ter sido praticado na Europa desde 1842 No entanto tambeacutem jaacute se reconhecia que esse sistema tinha imperfeiccedilotildees

uma vez que as flutuaccedilotildees nos lucros beneficiando ou prejudicando o empregado eram devidas a

fatores (como preccedilo da mateacuteria-prima ou decisotildees gerenciais) sobre os quais ele natildeo tinha controle

Mas foi com o movimento de relaccedilotildees humanas (os humanistas) que o advento da

participaccedilatildeo ganhou forccedila O movimento desenvolveu-se a partir de experiecircncias e estudos

realizados na Western Eletric Company entre 1924 e 1933 Esses experimentos ficaram

conhecidos como os experimentos de Hawthorne em virtude de a maioria dos estudos

terem sido realizados na faacutebrica de Hawthorne da Western Eletric nas proximidades de

Chicago

O objetivo desses estudos a princiacutepio natildeo era a avaliaccedilatildeo de comportamentos humanos

motivaccedilotildees ou participaccedilatildeo visavam apenas agrave identificaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre o niacutevel de

iluminaccedilatildeo do local de trabalho e a produtividade dos empregados Os resultados obtidos natildeo

foram conclusivos A produtividade aparentava crescer tanto quando se aumentava a

iluminaccedilatildeo como tambeacutem quando se diminuiacutea Concluiu-se que algo aleacutem da iluminaccedilatildeo

influenciava no rendimento dos trabalhadores

Elton Mayo professor de Harvard participante dessas experiecircncias tinha uma experiecircncia

anterior de estudo das sociedades aboriacutegenes da Austraacutelia as quais se caracterizam por serem

muito unidas o que fazia despertar nos indiviacuteduos a sensaccedilatildeo de pertencer ao grupo

41

Comparando-se os trabalhadores da seccedilatildeo de enrolamentos de carreteacuteis onde as experiecircncias

foram desenvolvidas com as sociedades aboriacutegenes constatou-se que os trabalhadores

apresentavam a destruiccedilatildeo total da sensaccedilatildeo de pertencimento a um grupo ou seja era o

oposto da sociedade aboriacutegene Mayo explicou da seguinte forma a depressatildeo e alienaccedilatildeo dos

trabalhadores do setor de enrolamento de carreteacuteis

Quer como antropoacutelogo estudando uma raccedila primitiva quer como industriais estudando alguma

parte do esquema moderno caoacutetico e complexo de produccedilatildeo encontramos sempre grupos de

indiviacuteduos tanto nas selvas naturais como nas cidades modernas que encontram sua felicidade e

seguranccedila pessoal desde que exista a subordinaccedilatildeo do indiviacuteduo a um objetivo comum O homem

solitaacuterio que trabalha soacute eacute sempre uma pessoa muito infeliz( HAMPTON 1983 apud ARANTES 2000)

Outros autores tambeacutem contribuiacuteram para o desenvolvimento da Escola de Relaccedilotildees

Humanas Em 1910 na Alemanha Hugo Munsterberg realizou experimentos em que buscava

utilizar conhecimentos da psicologia experimental aplicados para ajudar na seleccedilatildeo de

homens mais bem capacitados para o trabalho A partir da seleccedilatildeo buscava-se determinar

condiccedilotildees psicoloacutegicas e influecircncias na mente humana capazes de obtenccedilatildeo de maiores

iacutendices de produccedilatildeo e um comportamento previamente desejado pela administraccedilatildeo

Em 1935 Kurt Lewin desenvolveu um dos primeiros estudos sobre motivaccedilatildeo humana e

dinacircmica de grupo o qual ficou conhecido como a teoria de campo Lewin supunha que o

comportamento humano seria derivado dos fatos existentes que adquiriria caraacuteter de um

campo-dinacircmico em que cada parte depende da inter-relaccedilatildeo com outras partes

Abraham H Maslow desenvolveu estudos sobre a teoria das necessidades motivacionais em

1944 proporcionando uma grande contribuiccedilatildeo para o desenvolvimento humano no trabalho

De acordo com a Teoria da Hierarquia das Necessidades de Maslow as pessoas satildeo

motivadas por cinco tipos distintos de necessidades fisioloacutegicas de seguranccedila de afeto de

estima e de auto-realizaccedilatildeo ( ARANTES 2000 p12)

Essas necessidades estatildeo dispostas de acordo com uma hierarquia segundo sua capacidade de

motivar o comportamento humano Num primeiro degrau o ser humano eacute motivado por

necessidades fisioloacutegicas Eles buscaratildeo satisfazecirc-las primeiramente caso natildeo estejam

satisfeitas elas tenderatildeo a monopolizar seu comportamento oferecendo dessa forma um

grande poder de motivaccedilatildeo Agrave medida que as necessidades vatildeo sendo satisfeitas o poder de

42

motivaccedilatildeo vai perdendo sua forccedila dando lugar a um novo niacutevel de descontentamento

deslocando o poder de motivaccedilatildeo para patamares superiores de necessidade dentro da

hierarquia

Entretanto pode ocorrer que as pessoas aleacutem de subirem tambeacutem desccedilam dentro da

hierarquia das necessidades A ausecircncia de satisfaccedilatildeo de necessidades inferiores pode

aumentar sua importacircncia relativa Quando haacute uma perda do emprego por exemplo o

indiviacuteduo passa a demonstrar menor necessidade pela estima e seu comportamento passa a

ser conduzido pela necessidade de pagar as contas e da seguranccedila de um novo emprego (

ARANTES 2000 p 12)

O movimento das relaccedilotildees humanas superou a abordagem claacutessica5 em virtude da ecircnfase nas

necessidades sociais Segundo Stoner

Aparentemente o ambiente social no local de trabalho eacute apenas um dos vaacuterios fatores interativos

que influenciam a produtividade Os niacuteveis de salaacuterios os niacuteveis de interesse por determinadas

tarefas a estrutura e a cultura organizacional e as relaccedilotildees entre trabalhadores e a administraccedilatildeo

tambeacutem tecircm muita importacircncia (STONER apud ARANTES 2000)

Aleacutem dessa anaacutelise histoacuterico-humanista haacute outros enfoques que podem explicar a origem da

participaccedilatildeo nas relaccedilotildees produtivas Alguns autores defendem que a participaccedilatildeo pode ter

sido originada por dois fatores a conflitual e a funcional

A conflitual tem raiz no antagonismo entre capital e trabalho surgindo neste contexto o movimento sindical como uma forma de divisatildeo de poder de maneira a diminuir conflitos A

participaccedilatildeo funcional originou-se da necessidade de reduzir a burocratizaccedilatildeo e

consequumlentemente promover a aproximaccedilatildeo entre dirigentes e dirigidos (ARANTES 2000 p15)

Na primeira perspectiva a participaccedilatildeo deixa de ser algo concebido nos estreitos limites da

organizaccedilatildeo e suas necessidades intriacutensecas para se tornar o resultado de tensotildees sociais

dentro e fora das empresas Nessa linha de pensamento Dacheler e Wilpert e Kenneth

Walker na visatildeo de Arantes satildeo os autores que mais identificavam a ligaccedilatildeo entre a

participaccedilatildeo na sociedade e a participaccedilatildeo nas organizaccedilotildees

5 Nessa abordagem a produtividade era tratada quase que exclusivamente como um problema de engenharia

43

Conforme esses autores a participaccedilatildeo pode ser concebida em quatro perspectivas teoacutericas

Teoria Democraacutetica Teoria Socialista Teoria do Desenvolvimento e Crescimento Humano e

Teoria da Produtividade e Eficiecircncia

Teoria Democraacutetica

Os principais expoentes dessa corrente satildeo Rosseau Stuart Mill e Tocqueville Para eles a

participaccedilatildeo democraacutetica deve ocorrer em todos os acircmbitos sociais e natildeo somente atraveacutes da

representaccedilatildeo poliacutetica no Estado Toda instituiccedilatildeo deve buscar a incorporaccedilatildeo de valores

democraacuteticos Esses valores aparecem nos ambientes fabris na forma institucionalizada

atraveacutes da representaccedilatildeo de empregados em diversos niacuteveis ou na forma gerencial

administrativa atraveacutes da participaccedilatildeo direta nas decisotildees principalmente na liberdade de

execuccedilatildeo de suas tarefas(ARANTES 2000 p 17)

Teoria Socialista

Essa concepccedilatildeo tem origem nos socialistas utoacutepicos no socialismo cientiacutefico de Marx e

Engels e no anarquismo de Proudhon A participaccedilatildeo encerra a ideacuteia de distribuiccedilatildeo de poder

na sociedade podendo ser dois enfoques ou duas correntes distintas a anarquista que defende

a centralidade do poder nas matildeos do povo e a comunista corrente em que o poder eacute exercido

atraveacutes do Estado Em uma organizaccedilatildeo a participaccedilatildeo atinge seu aacutepice quando consegue

exercer a autogestatildeo

Teoria das Relaccedilotildees e Desenvolvimento Humano

Essa teoria emerge do ambiente gerencial opondo-se agrave Teoria Socialista em que a

participaccedilatildeo irradia dos empregados Admite que o ambiente de trabalho gera contradiccedilotildees

entre o desejo pessoal e a necessidade da empresa e esses conflitos podem provocar

insatisfaccedilatildeo por parte dos empregados resultando em diminuiccedilatildeo da produtividade da

empresa Entretanto a motivaccedilatildeo pode evitar o potencial conflito Isso eacute possiacutevel atraveacutes do

desenvolvimento de equipes de trabalho e arranjos da estrutura organizacional facilitando a

praacutetica da participaccedilatildeo e integraccedilatildeo entre os empregados e a empresa(ARANTES 2000 p

18)

44

Teoria da produtividade e Eficiecircncia

Essa teoria concebe a participaccedilatildeo como uma tecnologia disponiacutevel agrave gerecircncia capaz de

proporcionar maior produtividade e eficiecircncia Segundo seus defensores a participaccedilatildeo nas

tarefas eacute uma ferramenta para enriquecimento das funccedilotildees e aumento da eficiecircncia gerando

maiores lucros que posteriormente podem vir a ser divididos proporcionando novo fator de

motivaccedilatildeo

Partidaacuterio dessa uacuteltima concepccedilatildeo Walker (1974) vecirc a participaccedilatildeo nas organizaccedilotildees como

uma funccedilatildeo gerencial que permite graus de envolvimento dos trabalhadores no processo

decisoacuterio objetivando os interesses da empresa Esse envolvimento eacute de interesse dos

trabalhadores uma vez que estariam contribuindo e intervindo em situaccedilotildees que dizem

respeito diretamente agraves suas vidas Para Walker

Eacute atraveacutes da participaccedilatildeo dos empregados que as empresas poderatildeo encontrar as soluccedilotildees para a

melhoria de sua produccedilatildeo O conhecimento dos funcionaacuterios embora seja uma alternativa pouco

utilizada pelas empresas pode ser a soluccedilatildeo para grandes problemas operacionais (WALKER 1974 apud ARANTES 2000)

As mais variadas perspectivas de participaccedilatildeo possuem como premissas as consequumlecircncias

que conforme a matriz teoacuterica poderia afetar mais ou menos a empresa mais ou menos os

trabalhadores de acordo com o interesse subjacente a cada perspectiva Walker apresenta um

quadro no qual sintetiza as perspectivas de participaccedilatildeo e suas possiacuteveis repercussotildees

Quadro 3- Perspectivas da participaccedilatildeo e suas possiacuteveis repercussotildees

Perspectivas Possiacuteveis Repercussotildees

Promoccedilatildeo dos interesses dos trabalhadores Melhores condiccedilotildees de emprego

Democracia Maior influecircncia dos trabalhadores nas decisotildees

empresariais

Reduccedilatildeo da alienaccedilatildeo Maior satisfaccedilatildeo dos trabalhadores

Utilizaccedilatildeo dos recursos humanos Maior eficaacutecia

Cooperaccedilatildeo e atenuaccedilatildeo dos conflitos Menor nuacutemero de greves

Soluccedilatildeo dos problemas sociais da comunidade Melhoramento dos recursos sociais da comunidade

Freio agrave eficaacutecia Menos eficaacutecia

Inclusatildeo de prerrogativas sociais na empresa Fins da empresa privada

Responsabilidades sociais da empresa Representaccedilatildeo mais equilibrada dos interesses

Fonte WALKER 1974 p 07 apud ARANTES 2000

45

Sinteticamente a participaccedilatildeo dos empregados nas decisotildees das empresas via de regra pode

ocorrer de duas formas em menor escala quando a decisatildeo versa sobre o seu proacuteprio trabalho

e de seu grupo e a decisatildeo nas diretrizes da empresa como um todo Na segunda forma aleacutem

da decisatildeo sobre o trabalho e sua organizaccedilatildeo eacute concedida aos trabalhadores a possibilidade

de decidirem tambeacutem sobre a alocaccedilatildeo de recursos investimentos e destinaccedilatildeo do resultado

destes

Uma das formas mais difundidas de participaccedilatildeo dos empregados nas decisotildees das empresas eacute

a representativa quando um funcionaacuterio compotildee o conselho da empresa Essa forma eacute

mundialmente referenciada como company board Com essa representaccedilatildeo os empregados

tomam parte nas decisotildees que variam desde aquelas que afetam seu trabalho como tambeacutem

as relativas agraves estrateacutegias da empresa decisotildees de obtenccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos

direcionamento de lucros e crescimento

Satildeo igualmente exemplos de participaccedilatildeo representativa os comitecircs de empresa e a co-gestatildeo

na Alemanha Na co-gestatildeo haacute a garantia de que o empregador soacute poderaacute tomar certas

medidas com a anuecircncia do empregado Esta co-participaccedilatildeo inclui decisotildees sobre escolha

de pessoal transferecircncias preenchimentos de vagas demissotildees e sobre as jornadas de

trabalho e descansos( ARANTES 2000 p 26)

Outra forma de participaccedilatildeo eacute aquela que incide sobre os resultados (no lucro) Essa pode ter

conexotildees e ligaccedilotildees diretas com outras formas de participaccedilatildeo na empresa tal como a

participaccedilatildeo nas decisotildees ou pode apresentar-se como um conjunto de remuneraccedilatildeo

objetivando o aumento da motivaccedilatildeo e do envolvimento dos empregados bem como forma de

compartilhar os riscos da empresa

A substituiccedilatildeo da remuneraccedilatildeo fixa por mecircs ou hora reconhecida como padratildeo por compostos de

remuneraccedilatildeo dimensatildeo vinculada ao desempenho teve suas origens no pagamento por peccedila

produzida e nos precircmios por produtividade muito comuns no iniacutecio do seacuteculo XIX Esse sistema

diminuiu significativamente com o aumento e sofisticaccedilatildeo do trabalho uma vez que foca a

realizaccedilatildeo da tarefa reforccedila a cultura individualista a necessidade de comando e impossibilita o

desenvolvimento de inovaccedilotildees (ARANTES 2000 p 27)

O objetivo das remuneraccedilotildees dimensotildees segundo Wood e Picareli eacute alinhar e convergir

esforccedilos para melhorar o desempenho da empresa A remuneraccedilatildeo dimensatildeo pode ser

subdividida em dois grandes grupos a participaccedilatildeo nos lucros e remuneraccedilatildeo por

46

resultados A primeira refere-se agrave divisatildeo de resultados globais obtidos pela empresa

enquanto a remuneraccedilatildeo por resultados tem abrangecircncia menor relacionando-se com a

obtenccedilatildeo de metas individuais ou de equipes

A remuneraccedilatildeo por resultados combina a praacutetica de administraccedilatildeo participativa com um

sistema de bocircnus geralmente fixado pelo empregado ou pelo grupo ou seja eacute estabelecida

uma foacutermula de transformaccedilatildeo das metas previamente fixadas em bocircnus Jaacute a participaccedilatildeo

nos lucros normalmente natildeo estaacute ligada a foacutermulas de desempenho individual ou de grupo e

natildeo necessariamente estaacute vinculada a praacuteticas de administraccedilatildeo participativa O recebimento

das bonificaccedilotildees pode estar somente ligado ao resultado final da empresa e uma quantidade

arbitraacuteria pode ser distribuiacuteda tambeacutem de forma arbitraacuteria apoacutes atingir uma meta de lucro

anual(ARANTES 2000 p28)

Arantes enfatiza que se participativamente estipulada e coletivamente controlada e

acompanhada a distribuiccedilatildeo de lucros proporciona um aumento de motivaccedilatildeo individual e

reciacuteproca atraveacutes do monitoramento coletivo do trabalho pautado na obtenccedilatildeo de vantagens

comuns Ressalta ainda que a participaccedilatildeo nas decisotildees sem a obtenccedilatildeo de resultados eacute falha

e de difiacutecil construccedilatildeo Por outro lado a obtenccedilatildeo de parte nos resultados mediante a

distribuiccedilatildeo dos lucros desacompanhada de envolvimento nas decisotildees tende a desvirtuar os

propoacutesitos da participaccedilatildeo

Uma outra modalidade de participaccedilatildeo existente eacute a participaccedilatildeo na propriedade que se daacute

atraveacutes de fundo de pensatildeo ou pela participaccedilatildeo na propriedade daqueles que efetivamente

trabalham na empresa No fundo de pensatildeo o trabalhador tem uma quota de participaccedilatildeo da

empresa durante o tempo trabalhado mediante a qual tem sua aposentadoria garantida Na

participaccedilatildeo da empresa os trabalhadores podem ser soacutecios efetivos acionistas minoritaacuterios

ou portadores de pequenas parcelas de accedilotildees A obtenccedilatildeo de parte da propriedade da empresa

tende ao reforccedilo da identificaccedilatildeo e do comprometimento com a organizaccedilatildeo e a ampliaccedilatildeo da

participaccedilatildeo nos lucros e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo de terceiros de forma especulativa

reforccedilando o caraacuteter de longo prazo da empresa

Todas as modalidades de participaccedilatildeo ateacute o momento analisadas dizem respeito agraves relaccedilotildees

Capital x Trabalho ainda que em muitos casos a participaccedilatildeo contribua para minimizar a

supremacia do primeiro sobre o segundo tornando mais democraacuteticas as relaccedilotildees de produccedilatildeo

47

e proporcionando ganhos reais (econocircmicos e poliacuteticos) aos trabalhadores No entanto no que

se refere ao escopo desta pesquisa eacute a participaccedilatildeo total que se daacute no acircmbito de

empreendimentos cujo traccedilo fundamental seja a coletividade dos meios de produccedilatildeo que

interessa diretamente e sobre a qual repousa o papel da contabilidade Portanto apoacutes a

digressatildeo realizada para serem destacadas as diferenccedilas fundamentais das perspectivas

teoacutericas aqui inscritas no proacuteximo item retornar-se-aacute ao centro das discussotildees que circundam

o objeto da presente pesquisa qual seja a Autogestatildeo forma proacutepria de administraccedilatildeo dos

chamados Empreendimentos Solidaacuterios e base sobre a qual emerge a Contabilidade como

instrumento e como necessidade

25 Autogestatildeo Modelo de participaccedilatildeo total na gestatildeo e princiacutepio da ES

No ambiente da administraccedilatildeo a autogestatildeo pode ser definida como uma forma de

participaccedilatildeo em que a totalidade do capital da empresa pertence aos seus participantes ou

seja os seus trabalhadores os quais assumem o controle da gestatildeo da empresa Nesse modelo

de gestatildeo eacute o grupo quem determina os objetivos e diretrizes da empresa sem reverecircncia a

nenhuma autoridade externa Na autogestatildeo natildeo existe diferenccedila entre administradores e

administrados visto que todos participam e detecircm a propriedade do capital da empresa

Analisando sob um prisma mais amplo que os limites empresariais compreende-se que a

conquista dessa forma de gestatildeo resultou da busca por alternativas agrave gestatildeo autoritaacuteria e

centralizada Portanto estaacute associada a uma antiga reivindicaccedilatildeo dos trabalhadores pela

democratizaccedilatildeo das estruturas de decisatildeo nas faacutebricas ou seja tem uma vinculaccedilatildeo com o

ideal poliacutetico da emancipaccedilatildeo do trabalhador e com a utopia de uma sociedade mais justa e

democraacutetica

Dessa forma este trabalho compreende a participaccedilatildeo na gestatildeo como a base para formaccedilatildeo

da cidadania Cidadania e participaccedilatildeo satildeo conceitos gecircmeos com os quais se define um outro

conceito Democracia Na verdade haacute um triacircngulo conceitual complementar e dependente

Democracia Cidadania Participaccedilatildeo sobre o qual se inscreve a concepccedilatildeo de atuaccedilatildeo da

contabilidade Aqui uma aproximaccedilatildeo com as orientaccedilotildees teoacutericas socialistas e com a Teoria

Democraacutetica eacute clara pois segundo Pateman

48

A teoria da democracia participativa eacute construiacuteda em torno da afirmaccedilatildeo de que os indiviacuteduos e

suas instituiccedilotildees natildeo podem ser considerados isoladamente A existecircncia de instituiccedilotildees

representativas a niacutevel nacional natildeo basta para a democracia pois o maacuteximo de participaccedilatildeo de

todas as pessoas a socializaccedilatildeo ou treinamento social precisa ocorrer em outras esferas de

modo que as atitudes e qualidades psicoloacutegicas necessaacuterias possam se desenvolver Esse

desenvolvimento ocorre por meio do proacuteprio processo de participaccedilatildeo (PATEMAN 1992 p60)

A autora toma a participaccedilatildeo como o mecanismo democraacutetico por excelecircncia a democracia eacute

a finalidade pela qual a participaccedilatildeo deve se instituir e a finalidade da democracia eacute o bem

comum Esse bem comum natildeo eacute algo dado mas construiacutedo a partir do processo de educaccedilatildeo

que somente pode existir por meio da participaccedilatildeo que em uacuteltima instacircncia se constitui na

autogestatildeo A democracia segundo a autora pressupotildee representaccedilatildeo lideranccedilas mas ela natildeo

sobrevive sem a participaccedilatildeo dos indiviacuteduos como autores das decisotildees mais fundamentais

sob as quais se submeteratildeo agraves vontades individuais A participaccedilatildeo nos niacuteveis mais inferiores

da organizaccedilatildeo social e econocircmica eacute uma necessidade inerente agrave participaccedilatildeo nos niacuteveis mais

altos da poliacutetica A participaccedilatildeo eacute portanto o meio pelo qual se adquire as habilidades

teacutecnicas poliacuteticas e emocionais para o exerciacutecio democraacutetico que comeccedila no ambiente de

trabalho ou nos niacuteveis mais elementares de reproduccedilatildeo da vida em sociedade

Uma leitura dos empreendimentos de economia solidaacuteria agrave luz da Teoria Democraacutetica

portanto leva a perceber que tais iniciativas natildeo tecircm uma funccedilatildeo somente de alternativa ao

desemprego mas se constituem num aprendizado para a Democracia no sentido mais amplo

Utilizando a autogestatildeo como meacutetodo de administraccedilatildeo adquirem estatuto pedagoacutegico no

qual os cidadatildeos assumem compromissos e objetivos comuns tomam decisotildees reforccedilam o

senso de responsabilidade e estimula maior participaccedilatildeo pelo sentimento de eficaacutecia que suas

decisotildees adquirem Entatildeo uma das motivaccedilotildees da participaccedilatildeo eacute o sentido da eficaacutecia poliacutetica

ou o sentido de competecircncia poliacutetica Isso eacute compreendido como o sentimento de que a accedilatildeo

poliacutetica do indiviacuteduo tem ou poder ter um impacto sobre o processo poliacutetico ou seja vale a

pena cumprir alguns deveres ciacutevicos (CAMPBELL et al 1965 p187 apud PATEMAN

1992) E mais

As pessoas com senso de eficaacutecia poliacutetica tecircm mais probabilidade de participar de poliacutetica do que

aquelas que carecem desse sentimento e se descobriu tambeacutem que subjacente ao senso de eficaacutecia

poliacutetica estaacute uma sensaccedilatildeo geral de eficiecircncia pessoal que envolve autoconfianccedila na relaccedilatildeo do

sujeito com o mundo As pessoas que se sentem mais eficientes em suas tarefas e desafios cotidianos tecircm mais probabilidade de participar em poliacutetica (MILBRATH 1965 p59 apud PATEMAN 1992)

49

Desse modo eacute que a competecircncia para a autogestatildeo ganha importacircncia significativa pois tais

empreendimentos findam por apresentar um caraacuteter de muacuteltiplas funccedilotildees na sociedade

contemporacircnea funccedilatildeo econocircmica poliacutetica e cultural A potencialidade dos empreendimentos

autogestionaacuterios adveacutem de uma condiccedilatildeo muito importante qual seja a totalidade do capital

da empresa pertence aos seus participantes e sendo assim eles adquirem uma condiccedilatildeo social

de simetria que permite as condiccedilotildees favoraacuteveis agrave participaccedilatildeo uma vez que as diferenccedilas

econocircmicas desaparecem 6

Entretanto eacute necessaacuterio que todas as condiccedilotildees e recursos na aacuterea de gestatildeo estejam a serviccedilo

da eficaacutecia poliacutetica a fim de viabilizar decisotildees coletivas e de fazer com que o fluxo de

informaccedilotildees seja democraticamente acessado De forma contraacuteria num processo de

autogestatildeo o domiacutenio assimeacutetrico de informaccedilotildees e assimetria econocircmica pode interferir

negativamente no acircnimo para a participaccedilatildeo contribuindo para o fracasso das iniciativas de

empreendimentos solidaacuterios Essa preocupaccedilatildeo deve ocupar o centro das atenccedilotildees de quem

deseja contribuir para o fortalecimento das alternativas solidaacuterias de autogestatildeo

Assim ao se buscar discutir no acircmbito desta pesquisa a dimesatildeo contaacutebil nos

empreendimentos solidaacuterios e as possiacuteveis demandas dos mesmos agrave contabilidade desloca-

se o problema dos estreitos limites contaacutebeis para procura-se compreender a complexidade

das relaccedilotildees que determinam tais demandas e fundamentalmente busca-se problematizar o

papel de uma aacuterea eminentemente teacutecnica para colocaacute-la no marco civilizatoacuterio em que

claramente jaacute natildeo concebe a neutralidade da teacutecnica tal qual se propalava no iniacutecio do

seacuteculo XIX

6 Autores vinculados agrave Teoria Democraacutetica apontam como primeiro obstaacuteculo agrave participaccedilatildeo as grandes diferenccedilas soacutecio-

econocircmicas Tocqueville em seu claacutessico Democracia na Ameacuterica ao indicar as origens que solidificaram a democracia

norte-americana busca nas condiccedilotildees socioeconocircmicas a explicaccedilatildeo Os emigrantes que vieram estabelecer-se na costa da

Nova Inglaterra pertenciam todos agraves classes abastadas da matildee-patria Sua reuniatildeo no solo americano apresentou desde a

origem o singular fenocircmeno de uma sociedade em que natildeo havia nem grandes senhores nem povo e por assim dizer nem

pobres nem ricos (Tocqueville 1998 p 40)

50

26 Experiecircncias Internacionais de autogestatildeo Alemanha Inglaterra e Yugoslaacutevia

Antes do Brasil em vaacuterios paiacuteses jaacute se registravam experiecircncias de autogestatildeo ou co-gestatildeo

A experiecircncia pioneira em co-gestatildeo teve iniacutecio na Alemanha no final do seacuteculo XIX com a

lei de desregulamentaccedilatildeo de manufaturas e a lei sobre as comissotildees de trabalho da induacutestria

extrativa Alicerccedilada na doutrina social catoacutelica representou um contraponto agraves ideacuteias

revolucionaacuterias comunistas do iniacutecio do seacuteculo XX Baseou-se na ideacuteia de que a colaboraccedilatildeo

de classes e a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio poliacutetico deveriam prevalecer em relaccedilatildeo agrave extinccedilatildeo da

propriedade privada Defendia o trabalho integrativo como forma de desenvolvimento das

empresas e da sociedade Em muitos casos na co-gestatildeo haacute a garantia de que o empregador

soacute poderaacute tomar certas medidas com a anuecircncia do empregado Esta co-participaccedilatildeo inclui

decisotildees sobre escolha de pessoal transferecircncias preenchimentos de vagas demissotildees e sobre

as jornadas de trabalho e descansos(ARANTES 2000 p 26)

Na antiga Yugoslaacutevia conforme alguns pesquisadores tais como Dunlop ( 1958 ) e Vanek

(1963) a autogestatildeo apresentou sua melhor tipificaccedilatildeo O sistema Iugoslavo foi o

resultado de uma lei de 1950 a qual determinou que as empresas fossem administradas

pelos trabalhadores coletivamente Embora desde entatildeo tenha sido alterada diversas

vezes recentemente ainda representava a base do sistema econocircmico yugoslavo o qual

era fundamentado no trabalho coletivo constituiacutedo por empresas administradas pelos

trabalhadores e que cujo resultado final era dividido entre todos os membros

A constituiccedilatildeo Yugoslava revisada em 1963 descrevia em seu artigo 6 que o sistema

econocircmico do paiacutes seria uma comunidade de trabalho voluntaacuterio com os meios de

produccedilatildeo pertencentes a todos e a produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo tambeacutem gerenciadas por todos

Em geral o conjunto de trabalhadores era quem estruturava a administraccedilatildeo das empresas

em dois principais alicerces na eleiccedilatildeo de gestores e no estabelecimento de

procedimentos de administraccedilatildeo e controle Eram os trabalhadores quem escolhiam

diretamente em eleiccedilotildees secretas um grupo denominado de Conselho de Trabalhadores

cujo nuacutemero de membros variava entre 15 e 120 dependendo do tamanho da empresa O

papel do Conselho de Trabalhadores correspondia ao papel de proprietaacuterios nas empresas

tradicionais Dessa forma eram-lhes atribuiacutedas as seguintes responsabilidades exame e

aprovaccedilatildeo de programas perioacutedicos da empresa que incluiam planos de produccedilatildeo

51

financcedilas e investimentos poliacutetica de preccedilos marketing e de distribuiccedilatildeo de dividendos aos

trabalhadores Ele tambeacutem elegia entre seus membros um grupo de trecircs a onze pessoas

que compunham o Conselho de Gestatildeo da empresa cuja atribuiccedilatildeo era responder pelo

funcionamento eficiente da entidade como tambeacutem era responsaacutevel por preparar

relatoacuterios para o Conselho de Trabalhadores

O gerente geral do empreendimento por sua vez natildeo era membro do Conselho de

Trabalhadores mas sim indicado conjuntamente pelo Conselho de Trabalhadores e pela

municipalidade onde a empresa se estabelecia Era um funcionaacuterio responsaacutevel por liderar

o processo gerencial e implementar os planos definidos pelo Conselho de Gestatildeo O seu

salaacuterio e suas atribuiccedilotildees eram definidos pelo Conselho de Trabalhadores

Com toda essa organizaccedilatildeo a Yugoslaacutevia representava um sistema estruturado de

autogestatildeo Hoje natildeo se pode afirmar que essa estrutura permaneccedila uma vez que natildeo se

teve acesso a bibliografias que relatassem a situaccedilatildeo da autogestatildeo apoacutes as mudanccedilas

poliacuteticas ocorridas nesse paiacutes

Em outros paiacuteses como Espanha tambeacutem registra-se a presenccedila de experiecircncias

autogestionaacuterias bem-sucedidas tais como o complexo de Mondragoacuten Um conglomerado

de cooperativas que diversificaram suas atividades e hoje eacute exemplo contundente de como

a autogestatildeo pode conduzir agrave viabilidade econocircmica e que ES nem sempre eacute sinocircnimo de

pequeno empreendimento

Em muitos outros paiacuteses observam-se tambeacutem participaccedilotildees representativas nas decisotildees das

empresas embora de maneira menos regulamentada que na Alemanha Os comitecircs de

empresas satildeo bastante comuns na Europa como os Comiteacute dEntreprise na Franccedila o Labour

Management Joint Committee na Inglaterra e os Jurados de Empresa na Espanha No Brasil

representaccedilatildeo similar encontra-se geralmente na induacutestria atraveacutes das comissotildees de faacutebrica

as quais consistem em agremiaccedilotildees de funcionaacuterios com o objetivo de participaccedilotildees mais

efetivas nas decisotildees das empresas

Na Inglaterra aleacutem de formas participativas de gestatildeo haacute a presenccedila de um movimento

equivalente agrave Economia Solidaacuteria denominado Participatory Economy (Parecon) Os

52

componentes institucionais e centrais de organizaccedilatildeo do Parecon descritos por Michael

Albert ( 2003) satildeo

Posse coletiva dos meios de produccedilatildeo Conselhos de trabalhadores e de consumidores como principais corpos de tomada de

decisatildeo Trabalhadores tecircm um meacutedia diaacuteria de trabalho em complexos equilibrados Remuneraccedilatildeo para o esforccedilo e sacrifiacutecio Participaccedilatildeo planejada e autogestatildeo econocircmica (MICHAELS 2003 p84 apud

FOTOPOULOS 2004 p3)

Assim como a ES no Brasil a Parecon representa uma visatildeo alternativa de organizaccedilatildeo

econocircmica e poliacutetica da sociedade baseado na autogestatildeo A Parecon segundo Wetzel

(2006 p 3) seraacute a base de construccedilatildeo de uma sociedade em que os povos podem controlar

suas vidas e as induacutestrias onde trabalham Para ele a autogestatildeo deve se espalhar para

todas as organizaccedilotildees de trabalhadores e estes exerceram o controle direto das

organizaccedilotildees da produccedilatildeo social e da sociedade Os defensores da Parecon advogam a tese

de uma outra organizaccedilatildeo poliacutetica diferente do Estado uma vez que o consideram como

um patrimocircnio da elite Nesta visatildeo sua estrutura hieraacuterquica separa-o do controle eficaz

pela massa dos povos

27 Gargalos e criacuteticas agrave Economia Solidaacuteria e Autogestatildeo

Em busca da ampliaccedilatildeo da compreensatildeo da ES e autogestatildeo a seguir satildeo apresentados os

diversos gargalos e criacuteticas imputadas a esse segmento Primeiramente seratildeo abordados os

gargalos ou entraves da ES

O Ministeacuterio do Trabalho e Emprego atraveacutes do trabalho de mapeamento dos

empreendimentos solidaacuterios levantou uma seacuterie de dificuldades enfrentadas pelos

Empreendimentos de Economia Solidaacuteria (EES) Conforme MTE (2006 p46)

[] constata-se que 61 dos EES afirmaram ter dificuldades na comercializaccedilatildeo 49 para acesso

agrave creacutedito e 27 natildeo tiveram acesso a acompanhamento apoio ou assistecircncia teacutecnica A regiatildeo

norte estaacute acima da meacutedia nacional em todos os itens (68 comercializaccedilatildeo 54 creacutedito e 34

apoio ou assistecircncia) A regiatildeo nordeste destaca-se pela dificuldade de creacutedito (58 dos EES) e a

regiatildeo centro-oeste pelo natildeo acesso a apoio ou assistecircncia teacutecnica ( 35)

53

O graacutefico 1 ilustra os desafios enfrentados pelos Empreendimentos de ES

Graacutefico 1- Dificuldades dos EES Brasil e regiotildees

Fonte site wwwmtegovbrEmpregadorEconomiaSolidariaConteudoATLAS_PARTE_4pdf

Portanto haacute um longo caminho a percorrer em direccedilatildeo agrave superaccedilatildeo desses gargalos

Muitas soluccedilotildees podem ser apontadas no que diz respeito agrave dificuldade de creacutedito mas a

principal perpassa pela implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de financiamento agrave ES o que

jaacute vem sendo realizado pelo atual governo federal e alguns governos estaduais Entretanto

ainda eacute necessaacuterio ampliar a escala de atendimentos a esses empreendimentos No que diz

respeito agraves dificuldades de comercializaccedilatildeo e de acompanhamento aleacutem de accedilotildees do

governo o problema faz um convite agraves aacutereas de conhecimento voltadas a negoacutecios

principalmente a contabilidade no sentido de seu envolvimento com esse segmento

econocircmico e social

Passando nesse momento agraves criacuteticas direcionadas agrave ES e autogestatildeo eacute importante

destacar o posicionamento dos autores Assman e Mo Sung (2003) os quais direcionam

diversos questionamentos e ponderaccedilotildees agrave ES Uma delas diz respeito agrave operacionalidade

da ES A partir de resgates de trechos de obras de autores expressivos da Economia

Solidaacuteria destacam pontos de contradiccedilatildeo e incongruecircncia de seus princiacutepios e propostas

Eis os trechos

A ideacuteia baacutesica eacute mediante a solidariedade entre produtores autocircnomos de todos os tamanhos e

tipos assegurar a cada um mercado para seus produtos e uma variedade de economias externas de financiamento e ainda a orientaccedilatildeo teacutecnica legal contaacutebil etc

54

Dadas as dificuldades a solidariedade eacute a soluccedilatildeo racional um conjunto de produtores

autocircnomos se organiza para trocar seus produtos entre si o que daacute a todos e a cada um uma

maneira de escoar a produccedilatildeo sem ser de imediato aniquilado pela superioridade dos que jaacute

estatildeo estabelecidos (SINGER 2002 p99-100 apud ASSMAN e MO SUNG 2003 p 143)

Na primeira questatildeo levantada apontam para os limites de operacionalizaccedilatildeo da proposta

Baseiam-se na visatildeo de que a solidariedade da ES natildeo eacute realidade em todas as empresas e

grupos da sociedade mas entre os produtores autocircnomos pequenas e microempresas que

natildeo conseguiriam sobreviver agrave concorrecircncia das meacutedias e grandes empresas sem essa

relaccedilatildeo de solidariedade Portanto eacute uma proposta de viabilizaccedilatildeo de um tipo de economia

convivendo com a economia capitalista de mercado (ASSMAN e MO SUNG 2003

p143)

Assim a realidade da solidariedade soacute existiria no interior da ES e entre suas empresas

que adotassem a autogestatildeo e natildeo em toda sociedade ou seja a solidariedade natildeo

substituiria a relaccedilatildeo de concorrecircncia nas demais empresas Dessa forma os autores

concluem que a Economia Solidaacuteria natildeo propotildee o fim do mercado caracterizado pela

concorrecircncia mas sim a criaccedilatildeo e a manutenccedilatildeo de um mercado para os empreendimentos

autogestionaacuterios E a manutenccedilatildeo de relaccedilotildees de mercado significa tambeacutem a continuidade

da concorrecircncia entre os agentes econocircmicos

Nessa perspectiva segundo os autores haveria uma frustraccedilatildeo daqueles que defendem

uma sociedade harmoniosa justa e solidaacuteria ou seja aqueles que natildeo percebem ou natildeo

querem aceitar a tensatildeo inevitaacutevel entre os desejosutopias e as necessaacuterias

institucionalizaccedilotildees na sociedade natildeo aceitam essa visatildeo de Economia Solidaacuteria

(ASSMAN e MO SUNG 2003 p143)

Um outro ponto levantado pelos autores emerge do trecho de uma obra de Paul Singer7 no

qual ele afirma que a proposta de ES eacute menos inconsistente do que a economia capitalista

porque coloca aberta e diretamente a solidariedade como princiacutepio organizador da

economia social em lugar da competiccedilatildeo embora natildeo visualize o fim da concorrecircncia no

campo da economia e tambeacutem nas relaccedilotildees sociais

7 SINGER Paul Desafio agrave solidariedade In GUIMARAES Gonccedilalves p63-79

55

A questatildeo colocada aqui eacute a seguinte Eacute possiacutevel organizar uma sociedade ou uma

economia social soacute com um princiacutepio Para essa questatildeo perguntam se natildeo seria

aconselhaacutevel pensar em mais de um princiacutepio organizador da economia e da sociedade

Sentenciam que os neoliberalistas pretendem fazer da competiccedilatildeo o uacutenico princiacutepio

organizador da sociedade Por outro lado os marxistas tentaram fazer do planejamento

centralizado o uacutenico princiacutepio e hoje surgem muitos grupos que querem fazer do

conceito de solidariedade o uacutenico princiacutepio organizador(ASSMAN e MO SUNG 2003

p152) Princiacutepios de organizaccedilatildeo social como argumentam deveriam servir para

articular de maneira eficiente e sustentaacutevel a garantia da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de bens

e serviccedilos para a ampla maioria e a totalidade dos membros da sociedade

Em relaccedilatildeo agrave possibilidade de expandir a ES a niacutevel global Assman e Mo Sung fazem um

outro questionamento Se a economia solidaacuteria conseguir atingir dimensotildees tais que possa

competir com o grande capital continuaraacute mantendo as caracteriacutesticas de solidariedade que

eacute possiacutevel quando se estaacute em uma escala pequena

Mesmo considerando que natildeo haacute elementos para se dar uma resposta definitiva uma vez

que a situaccedilatildeo nunca ocorreu antecipam-se afirmando que a economia solidaacuteria em

grande escala natildeo manteraacute as mesmas caracteriacutesticas Isso porque quando um sistema

ou uma rede cresce muito em escala surgem novas propriedades no sistema que

modificam as suas caracteriacutesticas de funcionamento (ASSMAN e MO SUNG 2003

p145)

O Parecon tambeacutem apresenta vaacuterios pontos nevraacutelgicos na visatildeo de seus criacuteticos Assim

como na ES a criacutetica tambeacutem reside na impossibilidade desta se apresentar enquanto

modelo de organizaccedilatildeo social Segundo Fotopoulos (2004 p01) Parecon eacute

simplesmente um modelo econocircmico para uma economia alternativa e como tal natildeo

caracteriza instituiccedilotildees sociais poliacuteticas culturais mais amplas Dessa forma considera

Parecon incompatiacutevel com uma organizaccedilatildeo de estado tendo em vista que

Dada a natureza de Parecon como puramente um modelo econocircmico natildeo estaacute surpreendendo

que os atores principais nela satildeo determinados pelo campo econocircmico Assim o conceito do

cidadatildeo falta completamente no modelo do Parecon e eacute substituiacutedo preferivelmente por trabalhadores e por consumidores (FOTOPAULO 2004 p02)

56

Por fim sentencia que o modelo Parecon natildeo tem a capacidade de fixar as preacute-condiccedilotildees

institucionais requeridas para a criaccedilatildeo de um novo modelo de organizaccedilatildeo social a qual

integraria a sociedade com os aspectos econocircmicos poliacuteticos e naturais Natildeo pode fixar a

integraccedilatildeo da sociedade com a economia porque natildeo pode interferir na liberdade da

escolha dos cidadatildeos somente como produtores e consumidores tendo em vista que estes

iratildeo preocupar-se exclusivamente com o planejamento e alocaccedilatildeo dos recursos escassos

A integraccedilatildeo com a poliacutetica natildeo se daria porque a unidade baacutesica de exame e decisatildeo na

Parecon natildeo eacute o cidadatildeo mas os trabalhadores e conselho de consumidores Dessa forma

os cidadatildeos estariam alijados do processo decisoacuterio Por uacuteltimo o Parecon natildeo pode

integrar com a natureza porque objetiva o crescimento econocircmico dentro do sistema de

mercado e natildeo trata os problemas ecoloacutegicos como um problema externo maior que requer

uma mudanccedila radical no modo de vida e nos valores

Sem negligenciar esses questionamentos agrave Economia Solidaacuteria e reconhecendo que a

autogestatildeo natildeo eacute o uacutenico caminho para a construccedilatildeo de um novo modelo de organizaccedilatildeo

social e de Estado este trabalho os concebem como importantes instrumentos da

democracia Corroborando com Pateman a autogestatildeo praticada nos empreendimentos

solidaacuterios eacute um exerciacutecio de cidadania A autogestatildeo propicia o desenvolvimento da

eficaacutecia poliacutetica e esta capacita para a participaccedilatildeo poliacutetica em niacuteveis cada vez mais

amplos da sociedade Dessa forma a autogestatildeo nos empreendimentos tem a

potencialidade de capacitar os atores sociais para intervir no Estado e reinventar uma nova

governabilidade baseada na democracia e controle social

57

3 CONTABILIDADE E AUTOGESTAtildeO

As categorias teoacutericas apresentadas ajudaratildeo a responder agraves questotildees de pesquisa trazendo

para a reflexatildeo as implicaccedilotildees que tais conceitos encerram seja para os empreendimentos

solidaacuterios como para repensar a contabilidade de modo que ela possa melhor servir aos

princiacutepios de fortalecimento da cidadania da democracia e de uma sociedade mais justa para

a qual a contabilidade natildeo pode se omitir sob o pretexto da neutralidade teacutecnica

Dessa forma concebe-se a contabilidade imbricada pelo conceito de Participaccedilatildeo em que a

Democracia eacute o fim e se constitui como processo educativo em seu sentido mais amplo E

tendo como pano de fundo a democracia percebe-se a Economia Solidaacuteria como um espaccedilo

puacuteblico de vivecircncia da solidariedade e no qual se requisita o desempendo do papel essencial

da contabilidade

Nesse contexto cabe indagar e compreender o envolvimento da contabilidade atraveacutes de seus

instrumentos e profissionais Com o pressuposto da essencialidade do envolvimento e de

diaacutelogo da aacuterea contaacutebil com esses empreendimentos autogestionaacuterios resgatam-se

novamente as questotildees-chaves desta pesquisa as quais satildeo

1 Como a informaccedilatildeo contaacutebil eacute empregada nos empreendimentos autogestionaacuterios

2 Quais os desafios e demandas suscitados em cada um dos aspectos da dimensatildeo

contaacutebil nos processos de autogestatildeo

Agrave luz desses questionamentos nesse capiacutetulo far-se-aacute uma reflexatildeo sobre o papel da

contabilidade e levantar-se-atildeo trabalhos anteriores que abordaram essa relaccedilatildeo contabilidade

autogestatildeo

58

31 Funccedilatildeo social da contabilidade

Para ajudar a responder agraves perguntas que orientam esta pesquisa buscar-se-aacute expor a

importacircncia da contabilidade como instrumento de gestatildeo (informaccedilatildeo planejamento e

tomada de decisatildeo) no qual se apoacuteiam todos os empreendimentos de caraacuteter econocircmico

Primeiramente eacute necessaacuterio destacar que nenhuma entidade juriacutedica seja puacuteblica ou

privada consegue prescindir da informaccedilatildeo contaacutebil Na aacuterea puacuteblica ela eacute instrumento

indispensaacutevel de democracia e do planejamento sem a qual a verificaccedilatildeo da execuccedilatildeo do

orccedilamento puacuteblico e o controle dos gastos puacuteblicos fica impossibilitada

Vaz (2002 p271) ressaltando o papel da informaccedilatildeo na administraccedilatildeo puacuteblica diz que

[] a informaccedilatildeo eacute um direito de cidadania Afirma ainda que uma reformulaccedilatildeo da

gestatildeo puacuteblica municipal necessariamente passa por um redirecionamento do

funcionamento dos oacutergatildeos puacuteblicos municipais para o fornecimento de informaccedilotildees agrave

sociedade civil abrindo as caixas pretas da informaccedilatildeo como o orccedilamento puacuteblico e os

grandes projetos de intervenccedilatildeo para o entendimento por parte da sociedade [] (

VAZ2002 p 271)

Na aacuterea privada os uacuteltimos escacircndalos financeiros envolvendo grandes empresas como a

Wordcom e Enron ambas incorrendo na manipulaccedilatildeo das informaccedilotildees contaacutebeis

revelaram o poder desse instrumento que se utilizado sem princiacutepios ou controle social

pode conferir ganhos a alguns em detrimento do prejuiacutezo de muitos

Portanto cada vez mais se evidencia seu inexoraacutevel papel social seu viacutenculo intriacutenseco

com a democracia e a cidadania e consequumlentemente sua importacircncia seja no acircmbito

puacuteblico ou privado A contabilidade natildeo tem finalidade em si mesma tem destinataacuterios

certos satildeo usuaacuterios diversos que a utilizam como instrumento ou caminho para atingir

seus objetivos sejam eles econocircmicos filantroacutepicos ou sociais Conforme o FASB8 em

relato de Hendriksen e Van Breda (1999 p92) a finalidade da informaccedilatildeo contaacutebil eacute a

seguinte

8 Financial Accounting Standards Board

59

A divulgaccedilatildeo financeira deve fornecer informaccedilotildees que sejam uacuteteis para investidores e

credores atuais e em potencial bem como para outros usuaacuterios que visem a tomada racional

de decisotildees de investimento creacutedito e outras semelhantes As informaccedilotildees devem ser

compreensiacuteveis aos que possuem uma noccedilatildeo razoaacutevel dos negoacutecio e das atividades

econocircmicas e estejam dispostos a estudar as informaccedilotildees com diligecircncia razoaacutevel A divulgaccedilatildeo financeira deve proporcionar informaccedilatildeo que ajude investidores credores e

outros usuaacuterios presentes e em potencial a avaliar os volumes a distribuiccedilatildeo no tempo e a

incerteza de possiacuteveis fluxos de caixa em termos de dividendos ou juros e os resultados da

venda do resgate e do vencimento de tiacutetulos ou empreacutestimos Como os fluxos de caixa de

investidores e credores estatildeo relacionados aos fluxos de caixa da empresa a divulgaccedilatildeo

financeira deve proporcionar informaccedilotildees que ajudem investidores credores e outros a avaliar

os volumes a distribuiccedilatildeo no tempo e a incerteza das possiacuteveis entradas liacutequidas futuras de caixa da empresa A divulgaccedilatildeo financeira deve fornecer informaccedilotildees sobre os recursos econocircmicos de uma

empresa os direitos sobre esses recursos ( obrigaccedilotildees da empresa em termos de transferecircncia

de recursos a outras entidades e a participaccedilatildeo dos proprietaacuterios) bem como os efeitos de

transaccedilotildees eventos e circunstatildencia que alterem seus recursos e os direitos sobre tais recursos

Salienta-se nesse texto a determinaccedilatildeo de que a informaccedilatildeo financeira proporcionada

pela contabilidade seja compreensiacutevel aos usuaacuterios e uacutetil agrave tomada de decisotildees econocircmica

e financeira da atividade Entretanto discutir a utilidade da informaccedilatildeo implica tambeacutem

compreender o tipo de informaccedilatildeo necessaacuteria a cada usuaacuterio fato que remete agrave reflexatildeo

sobre os padrotildees de informaccedilotildees emitidos pela contabilidade aos vaacuterios tipos de usuaacuterios

Hoje os modelos de informaccedilotildees (demonstraccedilotildees financeiras) estatildeo estruturados de forma

a atender grupos mais ou menos homogecircneos de usuaacuterios isto eacute haacute uma padronizaccedilatildeo de

informaccedilotildees usadas por todos os usuaacuterios Conforme argumenta o FASB e AICPA9 sobre

essa estrutura [] os diversos usuaacuterios possuem o bastante em comum para que um

conjunto de demonstraccedilotildees de finalidades geneacutericas seja suficiente(FASB1999 p94)

Entretanto reconhecem a consistecircncia dos argumentos em favor de relatoacuterios de

finalidades especiacuteficas Segundo anaacutelise dos autores cada um dos usuaacuterios da

contabilidade poderia ter objetivos diferentes em termos de informaccedilotildees financeiras pois

haacute divergecircncias entre os grupos e dentro de cada grupo Por exemplo sabe-se que os

administradores de empresas menores juntamente com seus auditores sentem que o

processo de fixaccedilatildeo de padrotildees estaacute direcionado aos objetivos das empresas de maior

porte O mesmo ocorre com muitos administradores de organizaccedilotildees sem fins lucrativos

os quais acham que o processo de fixaccedilatildeo de padrotildees eacute direcionado aos objetivos de

organizaccedilotildees com fins lucrativos Dessa forma analisam que

9 American Institute of Certifierd Public Accoutants

60

Esta variedade de pontos de vista aponta para a conveniecircncia da apresentaccedilatildeo de relatoacuterios

diferentes para usuaacuterios distintos ou para um volume consideraacutevel de informaccedilatildeo grande

parte do qual poderia ser irrelevante para qualquer usuaacuterio especiacutefico ( FASB 1999 p 94)

Entretanto para que haja a possibilidade de informaccedilotildees especiacuteficas para cada usuaacuterio

primeiramente eacute preciso selecionar a informaccedilatildeo relevante para constar nos modelos de

prediccedilatildeo e tomada de decisatildeo dos usuaacuterios Talvez seja possiacutevel determinar que modelos

de tomada de decisatildeo estatildeo sendo utilizados descobrindo como os usuaacuterios efetivamente

tomam decisotildees e de que informaccedilotildees necessitam (FASB 1999 p94)

Ainda dentro dessa discussatildeo sobre as necessidades de informaccedilatildeo por parte do usuaacuterio

os autores enfatizam a relevacircncia de se considerarem as caracteriacutesticas ou propriedades

que devem ter as informaccedilotildees para que se tornem uacuteteis para a tomada de decisotildees

Primeiramente chamam a atenccedilatildeo para a distinccedilatildeo entre qualidades de informaccedilatildeo

especiacuteficas para usuaacuterios e especiacuteficas para decisotildees

Na primeira classe estatildeo relacionadas as qualidades concernentes ao usuaacuterio (tipo de

usuaacuterio) Por exemplo uma determinada informaccedilatildeo para alguns usuaacuterios pode ser

irrelevante por jaacute terem domiacutenio dela enquanto que para outros eacute relevantes Dessa forma

deve se levar em conta a natureza do usuaacuterio esse eacute um fator determinante para a decisatildeo

a respeito da informaccedilatildeo a ser divulgada

Uma outra caracteriacutestica destacada eacute a oportunidade da informaccedilatildeo que independe do

usuaacuterio pois todos desejam informaccedilotildees oportunas portanto eacute uma propriedade

especiacutefica para decisotildees Realizadas essas distinccedilotildees a seguir satildeo relacionadas as

caracteriacutesticas qualitativas das informaccedilotildees propostas pelo AICPA relatadas pelos autores

jaacute mencionados

a) Benefiacutecios e custos

A informaccedilatildeo deve proporcionar benefiacutecios superiores a seu custo A divulgaccedilatildeo da

informaccedilatildeo financeira deve ser uacutetil para a tomada de decisotildees A utilidade eacute funccedilatildeo de

duas caracteriacutesticas a relevacircncia e a confiabilidade

a1) Relevacircncia

61

A informaccedilatildeo eacute relevante quando eacute pertinente agrave questatildeo que estaacute sendo analisada A

anaacutelise da pertinecircncia pode ser de trecircs maneiras afetando metas afetando a compreensatildeo

e afetando decisotildees conforme mostra o quadro 4 Para o FASB relevacircncia para decisotildees eacute

definida como a capacidade que a informaccedilatildeo teria de fazer diferenccedila numa decisatildeo

Essa diferenccedila mencionada pelo FASB seria conseguida ajudando os usuaacuterios a fazer

prediccedilotildees sobre o resultado de eventos passados presentes e futuros ou confirmar ou

corrigir expectativas anteriores ou seja quando a informaccedilatildeo tem valor preditivo e valor

como feedeback

Quadro 4- Relevacircncia da Informaccedilatildeo

Relevacircncia para metas

Alcanccedilada quando a informaccedilatildeo permite que as

metas dos usuaacuterios sejam atingidas Determinaccedilatildeo difiacutecil quando as metas satildeo subjetivas

Relevacircncia semacircntica

Alcanccedilada quando o destinataacuterio da informaccedilatildeo

compreende o significado pretendido da informaccedilatildeo

divulgada Um preacute-requisito essencial mas natildeo um objetivo

primordial

Relevacircncia para tomada de decisotildees Alcanccedilada quando a informaccedilatildeo facilita a tomada de

decisotildees pelos usuaacuterios Este eacute o objetivo primordial para o FASB

Fonte Hendriksen e Van Breda ( 1999 p97)

a2) Confiabilidade

A qualidade da informaccedilatildeo que garante que ela seja razoavelmente livre de vieacutes e

represente fielmente o que visa representar Segundo o FASB a confiabilidade eacute funccedilatildeo

de a) fidelidade de representaccedilatildeo b) verificabilidade c) neutralidade

Segundo a fidelidade de representaccedilatildeo as informaccedilotildees devem representar fielmente os

fenocircmenos que pretende representar Jaacute a verificabilidade pressupotildee a ausecircncia de

avaliaccedilatildeo subjetiva e vieacutes pessoal O FASB definiu a verificabilidade como a capacidade

de assegurar por meio do consenso entre mensuradores que a informaccedilatildeo representa o

que se destina a representar ou que o meacutetodo de mensuraccedilatildeo foi utilizado sem erro ou

vieacutes Por uacuteltimo a neutralidade quer dizer que natildeo haacute vieacutes na direccedilatildeo de um resultado

predeterminado O objetivo eacute natildeo permitir que os padrotildees sejam utilizados para alcanccedilar

alguma meta econocircmica ou poliacutetica especiacutefica

b) Comparabilidade

62

A utilidade da informaccedilatildeo eacute significativamente ampliada quando eacute apresentada de maneira

que permita comparar uma entidade com outra ou a mesma entidade em periacuteodos

seguintes Dessa forma a comparabilidade pode ser definida como a qualidade da

informaccedilatildeo que permite aos usuaacuterios identificar semelhanccedilas e diferenccedilas entre dois

conjuntos de fenocircmenos econocircmicos A comparabilidade depende de dois aspectos a

uniformidade e a consistecircncia

b1) Uniformidade

Subentende que eventos iguais satildeo representados de maneira idecircntica A uniformidade

pode ser definida como a qualidade das informaccedilotildees possuir caracteriacutesticas

suficientemente parecidas para tornar as comparaccedilotildees apropriadas

b2)Consistecircncia

Tecircm sido referidos como o uso dos mesmos procedimentos contaacutebeis por uma dada

empresa ou entidade contaacutebil de um periacuteodo a outro e o uso de conceitos e procedimentos

de mensuraccedilotildees semelhantes para itens afins nas demonstraccedilotildees de uma empresa num

dado periacuteodo

c) Materialidade

Eacute uma caracteriacutestica geral e assemelha-se ao conceito de relevacircncia A relevacircncia implica

na apresentaccedilatildeo de toda informaccedilatildeo que possa ajudar na prediccedilatildeo dos tipos de informaccedilatildeo

exigidos pelos processos de tomada de decisatildeo ou que possam ajudar diretamente na

tomada de decisotildees O conceito de materialidade tambeacutem pode estar associado agrave

significacircncia de mudanccedilas de valor correccedilotildees de erros em relatoacuterios anteriores etc Essas

mudanccedilas e correccedilotildees deveratildeo ser consideradas como possuidoras de materialidade se

forem grandes o suficiente ou importantes para influenciar as decisotildees dos usuaacuterios de

relatoacuterios financeiros

Ainda sobre a validade e utilidade da informaccedilatildeo contaacutebil para a tomada de decisotildees

gerenciais Dias (1991) sentencia que a contabilidade acrescenta poucas informaccedilotildees

importantes para o gerenciamento das organizaccedilotildees Segundo ele isso se deve ao fato de

que a contabilidade tem orientado esforccedilos para o desenvolvimento de teacutecnicas expressas

pelas convenccedilotildees e princiacutepios de contabilidade que visavam restringir a possibilidade de

manipulaccedilatildeo dos dados Entretanto esse comportamento produz relatoacuterios que natildeo

63

exprimem a realidade econocircmica da empresa prejudicando os usuaacuterios internos e externos

agrave empresa

Essa situaccedilatildeo se agrava com a presenccedila de outro fator a legislaccedilatildeo fiscal Interessada em

produzir resultados tributaacuteveis impotildee outros procedimentos prejudiciais agrave utilizaccedilatildeo dos

sistemas de informaccedilotildees contaacutebeis para fins gerenciais

Como alternativa ao problema colocado o autor diz que

Os gestores poderiam se sentir plenamente satisfeitos e envolvidos com um sistema que aleacutem

de lhes fornecer as informaccedilotildees dinacircmicas necessaacuterias para suas atuaccedilotildees no cotidiano lhes proporcionasse condiccedilotildees de conhecer melhor a empresa e sua posiccedilatildeo diante dos objetivos

estabelecidos Poderiam conhecer melhores as proacuteprias deficiecircncias e potencialidades de suas

aacutereas permitindo-lhes decisotildees mais precisas com consequumlente melhoria de eficiecircncia e

melhor grau de atingimento de seus objetivos (DIAS 1991 p61)

Salienta ainda que numa administraccedilatildeo participativa em que os gestores interferem em

todo o processo de gestatildeo que vai desde o planejamento estrateacutegico ateacute a execuccedilatildeo o

sistema deve oferecer-lhe informaccedilotildees correspondentes a todo esse ciclo as quais

abrangem as referentes ao ambiente econocircmico passando pelas previsotildees orccedilamentaacuterias

pelo sistema de programaccedilatildeo e sistema de apoio agrave gestatildeo de execuccedilatildeo ateacute a apuraccedilatildeo de

resultados e avaliaccedilatildeo de desempenhos O sistema de informaccedilotildees deve estar voltado

para o futuro indicando tendecircncias e permitindo comparaccedilotildees com o passado Deve

possibilitar a avaliaccedilatildeo de evoluccedilatildeo da organizaccedilatildeo e comparaccedilotildees com desempenhos

desejados (DIAS1991 p79)

O sistema de informaccedilotildees deve conter portanto uma estrutura de indicadores que

mantenham os gestores informados a respeito das condiccedilotildees de eficaacutecia da organizaccedilatildeo de

modo a permitir decisotildees que alcancem os objetivos propostos Poderiam ser adotados os

seguintes indicadores a) de curto prazo produccedilatildeo eficiecircncia satisfaccedilatildeo b) meacutedio prazo

adaptabilidade desenvolvimento c) medidas de longo prazo referem-se agrave capacidade de

sobreviver

64

Diante das necessidades de informaccedilotildees expostas o autor percebe o sistema de

informaccedilatildeo para a gestatildeo econocircmica (GECON10) administrado por uma controladoria11

como alternativas agraves demandas gerenciais Segundo o autor esse sistema funciona de

maneira integrada com o processo de gestatildeo e tem por objetivo assegurar informaccedilotildees

relevantes para a tomada de decisotildees

Esse sistema de informaccedilotildees atende agraves necessidades de cada etapa do processo de gestatildeo

por meio de subsistemas especiacuteficos que possam induzir os gestores a decisotildees corretas A

seguir a relaccedilatildeo das etapas com seus respectivos subsistemas de informaccedilotildees

a) Planejamento estrateacutegico

b) Planejamento operacional Sistema de orccedilamentos

c) Programaccedilatildeo Sistema de programaccedilatildeo

d) Execuccedilatildeosistema de simulaccedilatildeo e

e) Controle

Natildeo eacute foco deste trabalho detalhar cada etapa ou subsistema importa perceber que cada

uma dessas etapas do processo de gestatildeo deve ser atendida pelo sistema de informaccedilatildeo

gerencial com informaccedilotildees oportunas corretas confiaacuteveis com a periodicidade necessaacuteria

para viabilizar a tomada eficaz de decisotildees por parte dos gestores da organizaccedilatildeo (

CATELLI et al 2001 p 146)

Conforme os autores o sistema de informaccedilatildeo para a gestatildeo econocircmica contempla entre

outros os seguintes aspectos

a) Eacute estruturado sob conceito de banco de dados Plano de contas plano de aacutereas de

responsabilidade Centro de Resultados Contabilidade Gerencial e Contabilidade

Societaacuteria

10 O modelo GECON estrutura-se com base em um entendimento da missatildeo da empresa do conjunto de crenccedilas

e valores da organizaccedilatildeo da estrutura organizacional da realidade operacional e das caracteriacutesticas dos gestores

empresariais[] o modelo orienta uma sequumlecircncia de etapas do processo de gestatildeo empresarial e materializa os

diversos impactos dos subsistemas empresariais nos sistema de informaccedilotildees gerenciais com soluccedilotildees em

processamento de dados ( CATELLI 2001 p31) 11 Oacutergatildeo administrativo da empresa responsaacutevel pela disseminaccedilatildeo de conhecimento modelagem e implantaccedilatildeo

de sistemas de informaccedilotildees ( ALMEIDA et al2001 p343)

65

b) As informaccedilotildees e relatoacuterios atendem os conceitos e o modelo de decisatildeo dos

usuaacuterios Modelo de Informaccedilatildeo com base no modelo de decisatildeo e mensuraccedilatildeo

c) A mensuraccedilatildeo das transaccedilotildees eacute efetuada com a utilizaccedilatildeo de conceitos econocircmicos

valor de mercado reconhecimento da receita pela produccedilatildeo dos bens e serviccedilos

preccedilo de transferecircncia custo de oportunidade equivalecircncia de capitais

d) Aos recursos e produtosserviccedilos das atividades satildeo atribuiacutedos respectivamente

custos e receitas com base em valor de mercado Preccedilo de transferecircncia Preccedilo e

Custos correntes

Ressaltam ainda que

O sistema de informaccedilatildeo para a gestatildeo econocircmica eacute o conjunto de subsistemas de preacute-orccedilamentaccedilatildeo orccedilamentos custos e contabilidade que reflete as decisotildees tomadas por ocasiatildeo do

planejamento em termos monetaacuterios e posteriormente confronta os resultados reais com os

planejados possibilitando entatildeo as accedilotildees de controle ( CATELLI et al p148)

A partir das consideraccedilotildees sobre esse sistema de informaccedilotildees conclui-se que nele haacute a

interaccedilatildeo tatildeo almejada entre a contabilidade tradicional (financeira) e as demandas

informacionais de gestatildeo Portanto eacute possiacutevel conceber instrumentos contaacutebeis que

produzam informaccedilotildees adequadas aos diversos usuaacuterios atendendo suas demandas de

gestatildeo

Transpondo a discussatildeo para o campo da autogestatildeo pode-se considerar a partir de todos

os elementos levantados no capiacutetulo 2 que a Economia Solidaacuteria consiste em um usuaacuterio

de natureza diferenciada dos demais tendo em vista seu duplo aspecto econocircmico e

social para a qual seria conveniente e necessaacuterio questionar quais satildeo suas demandas ou

que tipos de informaccedilotildees seriam uacuteteis agrave gestatildeo com vistas agrave consecuccedilatildeo e

sustentabilidade econocircmica do empreendimento Com base nesse diagnoacutestico poder-se-ia

construir modelos informativos especiacuteficos e apropriados agraves demandas desses novos

usuaacuterios

Em relaccedilatildeo agrave qualidade ou caracteriacutesticas que as informaccedilotildees contaacutebeis devem possuir

para que contribuam na tomada de decisotildees pode-se observar que todas as caracteriacutesticas

apontadas devem ser levadas em conta na perspectiva de construir os referidos relatoacuterios

66

No que diz respeito agrave qualidade das informaccedilotildees conforme o usuaacuterio reflete-se que esses

modelos de informaccedilotildees a serem construiacutedos devem considerar a realidade social dos

trabalhadores dos empreendimentos autogestionaacuterios pois eles tecircm aspectos

socioeconocircmicos diferenciados dos administradores convencionais principalmente quanto

agrave escolaridade Normalmente natildeo possuem alto grau de conhecimento formal nem

tampouco conhecimento sobre a contabilidade e gestatildeo Dessa forma a informaccedilatildeo

contaacutebil deve ser traduzida atraveacutes de uma linguagem apropriada e acessiacutevel

Em relaccedilatildeo ao modelo de gestatildeo analisado (GECON) percebe-se que este talvez seja um

referencial para a construccedilatildeo de sistemas de informaccedilotildees que se adequumlem agraves demandas

da autogestatildeo Considerando que a autogestatildeo implica em participaccedilatildeo de todos os

trabalhadores no processo de gestatildeo haacute que se pensar em um sistema de informaccedilatildeo

equivalente ao GECON que propicie o monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees

administrativas de aacutereas ou divisotildees do empreendimento nas vaacuterias etapas do processo de

gestatildeo a fim de buscar o melhor resultado coletivo e para que as execuccedilotildees reflitam o

planejamento realizado conjuntamente

Continuando a reflexatildeo sobre uma contabilidade apropriada agrave autogestatildeo analisar-se-aacute a

seguir agrave luz de alguns trabalhos as especificidades de informaccedilotildees suscitadas por esse

modelo de gestatildeo

32 Instrumentos contaacutebeis x demandas da autogestatildeo

No Brasil os estudos na aacuterea contaacutebil que abordam a questatildeo da autogestatildeo satildeo recentes

Dentre os trabalhos verificados cabe destacar o estudo desenvolvido por Valdir Michels

(1995) Em sua dissertaccedilatildeo analisa a importacircncia da contabilidade como sistema de

informaccedilotildees no auxiacutelio agrave autogestatildeo

Um dos aspectos relevantes levantados em seu trabalho eacute a anaacutelise do disclosure das

cooperativas (a evidenciaccedilatildeo das informaccedilotildees) Agrave luz de Hendriksen e Moonitzs aponta as

questotildees necessaacuterias agrave definiccedilatildeo do tipo de informaccedilatildeo a ser fornecida ao usuaacuterio a saber

67

a) Para quem a informaccedilatildeo contaacutebil eacute revelada

b) Qual o objetivo da informaccedilatildeo

c) Que quantidade de informaccedilatildeo deveria ser revelada

d) Como a informaccedilatildeo deveria ser revelada

e) Quando a informaccedilatildeo deveria ser revelada

Para essas questotildees realiza as seguintes anaacutelises

1- Para quem - Haacute necessidade de identificar cada tipo de usuaacuterio das informaccedilotildees a fim de

definir o tipo de informaccedilatildeo A linguagem deve ser adaptada ao niacutevel de conhecimento do

usuaacuterio

2- Qual o objetivo - A necessidade para identificar o propoacutesito para que a informaccedilatildeo seja

revelada pode ser vista considerando-se a exigecircncia de que a informaccedilatildeo seja pertinente Uma

informaccedilatildeo pode ser pertinente para determinado objetivo e natildeo ser necessariamente relevante

para outro propoacutesito Por isso eacute importante definir claramente o objetivo da informaccedilatildeo

3- Que Quantidade A quantidade deve ser apropriada pra natildeo haver enganos nem

engodos (MICHAELS 1995 p 42) O ideal seria que os proacuteprios usuaacuterios determinassem

a quantidade adequada de informaccedilotildees Essas tambeacutem devem ser honestas e revelar todas as

informaccedilotildees relevantes

4- Como- A informaccedilatildeo eacute adequada quando expressa de forma tal que os usuaacuterios possam

facilmente interpretaacute-la As informaccedilotildees devem ser organizadas de forma loacutegica concatenada

e coerente

5-Quando Haacute a necessidade de se manter um canal de comunicaccedilatildeo entre a cooperativa e

seus associados propiciando informaccedilotildees sobre os fatos importantes da gestatildeo [] os jornais

mantidos pelas cooperativas poderiam publicar balancetes mensais com informaccedilotildees

importantes (MICHAELS 1995 p 47)

O autor tambeacutem aborda questotildees relativas agraves praacuteticas adotadas pelas cooperativas e que

geram distorccedilotildees nos resultados das demonstraccedilotildees financeiras Argumenta que isso ocorre

68

devido agrave falta de normas para a elaboraccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis o que dificulta a

comparaccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis das diversas cooperativas Cada cooperativa adota

metodologias diferenciadas para mensuraccedilatildeo de eventos econocircmicos proacuteprios deste setor de

atividade

Conclui seu trabalho ressaltando que para que os associados da cooperativa possam exercer a

autogestatildeo de seu empreendimento eacute necessaacuterio que a contabilidade das cooperativas seja

aprimorada nos seguintes aspectos (MICHAELS 1995 p 109)

a) As demonstraccedilotildees contaacutebeis devem ser estruturadas de tal forma que possam ser

interpretadas pelos principais usuaacuterios os associados da cooperativa A contabilidade deve ser

um importante sistema de informaccedilotildees entre a cooperativa e seus associados

b) A utilizaccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis enriquecidas com graacuteficos e tabelas

comparativas deve ter seu uso recomendado

c) A utilizaccedilatildeo de jornais mantidos pelas cooperativas deve ser um veiacuteculo de

informaccedilotildees com divulgaccedilatildeo de balancetes mensais expressos em linguagem ao niacutevel de

conhecimento dos associados

d) As informaccedilotildees contaacutebeis devem ser detalhadas de tal forma que os principais eventos

econocircmicos responsaacuteveis por impactos sobre a situaccedilatildeo econocircmico-financeira tanto positivos

como negativos sejam informados aos associados Faz-se necessaacuterio que seja informado

quais dos eventos econocircmicos foram fruto de decisotildees internas da cooperativa e quais

ocorreram independentemente da gestatildeo interna mas sim por poliacuteticas governamentais

fatores climaacuteticos ou fatos internacionais

e) As praacuteticas contaacutebeis deveriam ser normatizadas ou por oacutergatildeo que tenha poder para tal

ou incluiacutedas nos estatutos da cooperativa Isso permitiria comparaccedilotildees entre as demonstraccedilotildees

referentes a diversos exerciacutecios

f) Os conceitos quanto agrave qualidade das informaccedilotildees proposto por Hendriksen deveriam

ser observados isto eacute as informaccedilotildees deveriam ser adequadas honestas e totais

69

Quanto ao financiamento das atividades observa que as cooperativas necessitam incrementar

o suprimento de recursos financeiros proacuteprios Enfatiza que precisam encontrar a chave para

atingir o equiliacutebrio financeiro a fim de que possa obter rentabilidade positiva e manter a

competitividade E por fim diante dessas necessidades ressalta o papel preponderante da

contabilidade enquanto sistema de informaccedilotildees imprescindiacutevel agraves cooperativas

Em outro estudo Almeida e Dantas (2005) sugerem que os empreendimentos solidaacuterios

constituem um novo grupo de usuaacuterios e levantam algumas possiacuteveis demandas assim

organizadas

1-Novos modelos de Informaccedilotildees que

Propiciem a gestatildeo democraacutetica

Subsidiem a autogestatildeo

Gerem informaccedilotildees mais proacuteximas da realidade dos

empreendimentosempreendedores

Produzam indicadores sociais

Expressem as transaccedilotildees em rede

Tenham uma linguagem adequada ao tipo de empreendimentoempreendedor

2-Um novo perfil de contador

Sensiacutevel aos problemas sociais

Com ampla visatildeo econocircmica

Com capacidade gerencial

Articulador (boas relaccedilotildees humanas)

Educador (ensine a pescar)

3-Uma nova Formaccedilatildeo

Multidisciplinar (psicologia economia etc)

Novas metodologias de Ensino

Introduccedilatildeo de novas disciplinas (liacutenguas cooperativismo educaccedilatildeo popular etc)

Envolvimento em pesquisa e extensatildeo

Destaque-se tambeacutem a anaacutelise dos autores sobre a insuficiecircncia do aparato contaacutebil hoje

disponiacutevel agrave ES sobre o qual fazem a seguinte observaccedilatildeo

70

Se natildeo fossem as peculiaridades proacuteprias dos Empreendimentos de Economia Solidaacuteria e

principalmente de seus empreendedores poder-se-ia dizer que em termos de atendimento contaacutebil

nada mais seria necessaacuterio aleacutem dos recursos jaacute atualmente disponiacuteveis no escopo da

contabilidade das Cooperativas e da contabilidade Societaacuteria ( ALMEIDA e DANTAS 2005 p

08)

No caso das cooperativas lembram que satildeo reguladas pelo NBC T 108 do Conselho

Federal de Contabilidade que reza sobre aspectos de escrituraccedilatildeo contaacutebil e define sobre a

elaboraccedilatildeo dos Relatoacuterios e Demonstraccedilotildees

Jaacute as empresas autogestionaacuterias constituiacutedas em forma de sociedades satildeo orientadas pela

contabilidade societaacuteria nos moldes previstos na Lei das Sociedades Anocircnimas 640476 que

no artigo 177 determina que a escrituraccedilatildeo deve ser feita seguindo-se os preceitos da Lei das

Sociedades por Accedilotildees e os princiacutepios de contabilidade geralmente aceitos e conforme

orientado no Manual de Contabilidade das Sociedades por Accedilotildees ( IgraveUDICIBUS et al 2003

p29) o conjunto de informaccedilotildees que deve ser divulgado por uma sociedade representando

sua prestaccedilatildeo de contas abrange o Relatoacuterio de Administraccedilatildeo as Demonstraccedilotildees Contaacutebeis

e as Notas Explicativas Considerando as seguintes Demonstraccedilotildees Contaacutebeis

Balanccedilo Patrimonial

Demonstraccedilatildeo do Resultado do Exerciacutecio

Demonstraccedilatildeo das Mutaccedilotildees do Patrimocircnio Liacutequido

Demonstraccedilatildeo das Origens e Aplicaccedilotildees de Recursos

Demonstraccedilatildeo dos Fluxos de Caixa

Demonstraccedilatildeo do Valor Adicionado

Entretanto os autores ressaltam que esse aparato contaacutebil natildeo satisfaz plenamente as

necessidades informacionais dos empreendimentos Dessa forma realizam uma investigaccedilatildeo

cujo objetivo foi analisar a possibilidade de criaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo de novos sistemas contaacutebeis

agraves peculiaridades da ES Indicam algumas alternativas baacutesicas em estado bem indefinido

ainda mas que se instrumentalizam para reflexatildeo Ressaltam que se profundamente

estudados e testados (ALMEIDA e DANTAS 2005 p10) poderatildeo ser aplicados no

segmento da ES os seguintes modelos

71

a)Contabilidade Orccedilamentaacuteria

Trata-se de um estudo sobre a aplicaccedilatildeo da Contabilidade Orccedilamentaacuteria no setor privado

realizado pelo docente da FEAUSP Valmor Slomski Embora ainda em estaacutegio embrionaacuterio

a pesquisa aponta para a possibilidade de utilizaccedilatildeo desse procedimento pela ES Conforme

Slomski (2003) a contabilidade baseada no sistema orccedilamentaacuterio evidencia as origens dos

recursos e suas aplicaccedilotildees demonstra os creacuteditos orccedilamentaacuterios vigentes a despesa

orccedilamentaacuteria empenhada e a despesa orccedilamentaacuteria realizada agrave conta dos creacuteditos

orccedilamentaacuterios e ainda as dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias disponiacuteveis

Da forma como se estrutura atende a aspectos de escrituraccedilatildeo demonstraccedilatildeo anaacutelise e

informaccedilotildees dos empreendimentos da ES desde a origem do planejamento das atividades do

negoacutecio ateacute a concretizaccedilatildeo ou realizaccedilatildeo dessas atividades Pode ser dada ecircnfase ao estudo

anaacutelise e divulgaccedilatildeo das variaccedilotildees (orccedilado versus realizado) com possibilidade de indicaccedilotildees

de correccedilatildeo de rumos quando necessaacuterio identificando e valorizando a execuccedilatildeo das

atividades por aacuterea de responsabilidade

A exigecircncia da elaboraccedilatildeo e contabilizaccedilatildeo do orccedilamento em entidades da ES aleacutem do

atendimento aos aspectos normais do negoacutecio como planejamento e gerenciamento tambeacutem

teria a natureza educadora uma vez que requer o envolvimento de todos e o

comprometimento das diversas aacutereas com o resultado pois os executores das diversas

atividades do empreendimento ou os envolvidos no processo satildeo tambeacutem seus proprietaacuterios

(investidores)

Ressaltam que a sistemaacutetica de funcionamento contaacutebil deve estar fundamentada a partir de

uma planificaccedilatildeo contaacutebil O plano de contas abaixo elaborado por Slomski eacute fruto do

desenvolvimento da teoria e sistema de contabilidade orccedilamentaacuteria para entidades do Terceiro

Setor cuja estrutura baacutesica eacute a seguinte

72

Quadro 5- Contabilidade orccedilamentaacuteria

GRUPOS TIacuteTULO DO GRUPO

1 ATIVO

2 PASSIVO

3 PATRIMOcircNIO SOCIAL

4 CONTAS DE RESULTADO PATRIMONIAL DO EXERCIacuteCIO

5 RECEITAS ORCcedilAMENTAacuteRIAS

51 RECEITAS ORDINAacuteRIAS

52 RECEITAS POR PROJETOS

6 DESPESAS ORCcedilAMENTAacuteRIAS

61 ADMINISTRACcedilAtildeO SUPERIOR

62 ADMINISTRACcedilAtildeO GERAL

63 ADMINISTRACcedilAtildeO DE INVESTIMENTOS

64 ADMINISTRACcedilAtildeO DE PROJETOS

99 RESERVAS DE CONTINGEcircNCIAS

Fonte Adaptado de Plano de Contas de Slomski (material natildeo publicado)

Os autores observam que a proposta de planificaccedilatildeo tem utilidade para registro do orccedilamento

como tambeacutem para a realizaccedilatildeo das atividades da organizaccedilatildeo e planejamento da autogestatildeo

Atende tambeacutem a aspectos de controle de gerenciamento e igualmente funciona como

indicador de destinaccedilatildeo das apropriaccedilotildees

Concluem que esse pode ser um instrumento passiacutevel de utilizaccedilatildeo pela ES pela

potencialidade de possibilitar a socializaccedilatildeo do controle de todo o processo de gestatildeo

b) Contabilidade por Fundos

Utilizada amplamente nos EUA tem como caracteriacutestica principal a segregaccedilatildeo contaacutebil dos

recursos designados para atender fins especiacuteficos Olak (2000)

define a contabilidade por fundos como um importante instrumento de controle das accedilotildees dos

gestores ante os recursos que lhes satildeo confiados para atender propoacutesitos especiacuteficos segundo

restriccedilotildees impostas internamente ou externamente A contabilidade por fundos divide os

73

recursos da instituiccedilatildeo em trecircs categorias distintas a) fundos irrestritos podem ser utilizados

para qualquer finalidade b) fundos internamente restritos quando sua restriccedilatildeo eacute definida

internamente c) fundos externamente restritos quando as restriccedilotildees satildeo feitas por agentes

externos

O argumento utilizado pelos autores de perspectiva de utilizaccedilatildeo pela ES passa pela

compreensatildeo de que eacute possiacutevel nortear as accedilotildees das diversas aacutereas da entidade atraveacutes da

segregaccedilatildeo dos recursos definidos pelo coletivo Assim torna-se mais faacutecil verificar se tais

definiccedilotildees ou restriccedilotildees foram cumpridas (ALMEIDA e DANTAS 2005 p 12)

Entretanto chamam a atenccedilatildeo para as limitaccedilotildees do modelo uma vez que as restriccedilotildees

impostas podem tornar-se obstaacuteculos agrave gestatildeo tendo em vista a dinacircmica das atividades

empresariais Portanto a aplicaccedilatildeo desse sistema contaacutebil exige estudos e adaptaccedilotildees

c) Apuraccedilatildeo Gerencial do Resultado Econocircmico

A Mensuraccedilatildeo do Resultado Econocircmico12 conforme Slomski (2003) fundamenta-se no

conceito de custo de oportunidade o qual permite mensurar os serviccedilos prestados (receita

econocircmica) o trabalho voluntaacuterio e outras despesas incorridas e assumidas por terceiros

Com base nesse fundamento os autores Almeida e Dantas (2005) argumentam sobre a

possibilidade de utilizaccedilatildeo desse instrumento gerencial pela ES agrave medida que leva em conta

fatores desconsiderados pela contabilidade tradicional tais como o custo de oportunidade

Sabe-se que via de regra os empreendimentos solidaacuterios natildeo prescindem das entidades de

apoio cuja estrutura coloca agrave sua disposiccedilatildeo recursos materiais humanos e financeiros Essas

contribuiccedilotildees satildeo realizadas de maneira voluntaacuteria ateacute que o negoacutecio se sustente Portanto

esses valores natildeo computados como assessoria contaacutebil administrativa financeira

tecnoloacutegica poderiam compor o resultado econocircmico da entidade tal como acontece nas

entidade do terceiro setor

Salientam que transcendendo o proacuteprio empreendimento se poderia pensar em mensuraccedilotildees

ou indicadores sociais que levassem em conta o custo de oportunidade de vaacuterias atividades

realizadas pela empresa substituindo accedilotildees implementadas pelo governo Um exemplo

poderia levantar o custo social da inserccedilatildeo do desempregado no mercado ou seja a

12 Forma de mensuraccedilatildeo inspirada no modelo GECON visto anteriormente

74

quantificaccedilatildeo dos benefiacutecios que o Estado e a sociedade obtecircm com este empreendimento

somente pela oferta de postos de trabalho Assim poderia ser feito com todos os benefiacutecios

alcanccedilados pelo empreendimento tais como a educaccedilatildeo dos trabalhadores o provimento de

plano de sauacutede as accedilotildees de preservaccedilatildeo do meio ambiente os projetos envolvendo a

comunidade local etc Para os autores esse mecanismo gerencial se bem explorado pode ser

um instrumento de expressatildeo da dinacircmica econocircmica e social da economia solidaacuteria

Portanto os estudos analisados apresentam convergecircncia quando reconhecem as demandas

especiacuteficas dos empreendimentos autogestionaacuterios e a insuficiente resposta que a

contabilidade tem dado a estas organizaccedilotildees tambeacutem apontam para a necessidade de

aprofundamento de pesquisas sobre o tema Percebe-se igualmente que haacute uma preocupaccedilatildeo

nos trabalhos com a busca de novos processos e modelos de mensuraccedilatildeo demonstraccedilatildeo e

divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees os quais sejam apropriados agraves reais necessidades desses usuaacuterios

da contabilidade

Desse modo a investigaccedilatildeo empiacuterica pretendeu continuar o caminho trilhado por alguns

pesquisadores da aacuterea contaacutebil Preocupou-se em aprofundar a compreensatildeo da dimensatildeo

contaacutebil nos empreendimentos solidaacuterios como tambeacutem levantar novas demandas ou

confirmar as necessidades jaacute detectadas desses novos usuaacuterios que se formam num contexto

social de desemprego e marginalizaccedilatildeo do mercado de trabalho Como novos usuaacuterios

desafiam a contabilidade a tambeacutem dar sua contribuiccedilatildeo por meio de seu envolvimento na

busca de alternativas de atuaccedilatildeo da contabilidade junto agrave autogestatildeo em seus diversos

aspectos

75

4 ESTUDO DE CASO COOPRAM RESULTADOS E ANAacuteLISES

41 Relato do estudo de caso

No capiacutetulo 1 mais precisamente no toacutepico referente agrave metodologia foi traccedilado o caminho

que seria trilhado pela pesquisa o qual compreendia um conjunto de informaccedilotildees tais como

meacutetodos de abordagem e procedimentos teacutecnicas de coleta de dados e planejamento do caso

Nesse momento passa-se a pormenorizar e relatar as etapas e atividades que constituiacuteram a

investigaccedilatildeo empiacuterica deste trabalho

Para melhor visualizaccedilatildeo do trabalho pode-se dividir as atividades executadas em diversos

momentos

1ordm momento Contatos iniciais

Essa fase foi caracterizada pelos contatos com diretores da entidade de apoio (ANTEAG) e

conversas com a pretendida unidade de estudo a COOPRAM Na ocasiatildeo foi repassada a

ambas entidades (COOPRAM e ANTEAG) uma coacutepia do protocolo de pesquisa do estudo de

caso Esses contatos iniciaram em fevereiro de 2006 e culminaram com a autorizaccedilatildeo para a

realizaccedilatildeo da pesquisa (apecircndice 02)

2ordm momento Preparaccedilatildeo para o trabalho de campo

Apoacutes a liberaccedilatildeo da unidade para realizaccedilatildeo da pesquisa de campo foi a vez da etapa de

confecccedilatildeo dos vaacuterios instrumentos para a coleta de dados cujos principais produtos foram

roteiro de entrevistas para cooperados (apecircndice 03) roteiro de entrevista para contadores (

apecircndice 04) roteiro de entrevista para diretores ( apecircndice 05) roteiro de entrevista para

especialistas (apecircndice 06)

3ordm momento Coleta de dados

Essa etapa processou-se durante os meses de junho e julho momento em que se procedeu

efetivamente agrave coleta de dados Como mencionado no cap I os instrumentos utilizados

foram entrevistas registros em arquivos e observaccedilatildeo direta No caso das entrevistas elas

foram segregadas por grupos de entrevistados ficando assim distribuiacutedas

76

Grupo 1- cooperados 04 entrevistados

Grupo 2- contadores 02 entrevistados

Grupo 3- especialistas 02 entrevistados

Os registros em arquivos e as observaccedilotildees diretas foram possibilitadas pelas inuacutemeras visitas

realizadas a COOPRAM no mesmo periacuteodo

4ordm momento Sistematizaccedilatildeo dos dados

O processo de sistematizaccedilatildeo dos dados ocorreu no final de julho e no mecircs de agosto A partir

de um banco de dados eletrocircnico referente a cada entrevista somadas agraves informaccedilotildees das

outras fontes transformaram-se dados em informaccedilotildees estratificadas por grupos e dimensotildees

5ordm momento Anaacutelises e conclusotildees

Nessa etapa final as informaccedilotildees sistematizadas foram analisadas agrave luz das questotildees

propostas das hipoacuteteses formuladas e da revisatildeo teoacuterica

Concluiacutedo o relato do processo da pesquisa empiacuterica nos proacuteximos itens passa-se a

transcrever os resultados da pesquisa compostos inicialmente por descriccedilotildees da realidade

encontrada e em seguida pela compreensatildeo e anaacutelise de vaacuterios aspectos da relaccedilatildeo

contabilidade e autogestatildeo

42 Histoacuterico e descriccedilatildeo da unidade de estudo

A COOPRAM- Cooperativa de Produccedilatildeo de Artes Metaacutelicas situada hoje no Municiacutepio de

Embu das Artes- SP eacute um empreendimento autogestionaacuterio nascido em 2000 A entidade

surgiu da uniatildeo de profissionais antigos funcionaacuterios de uma empresa metaluacutergica falida que

assumiram sua recuperaccedilatildeo Alguns funcionaacuterios principalmente a forccedila de trabalho mais

intelectual natildeo se submetendo ao risco do negoacutecio procuraram nova colocaccedilatildeo no mercado

Aqueles que acreditaram enfrentaram os desafios da gestatildeo de uma cooperativa Hoje a

COOPRAM conta com aproximadamente 80 funcionaacuterios sendo a maior parte lotada na

aacuterea produtiva Tambeacutem conta com profissionais qualificados na aacuterea de projetos de produto

77

especiais os quais atendem a encomendas especiacuteficas de clientes

No iniacutecio de suas atividades sua sede situava-se no Municiacutepio de OsascoSP mudando-se

recentemente para o Municiacutepio de Embuacute das Artes tambeacutem no Estado de Satildeo Paulo

A cooperativa eacute especializada na conformaccedilatildeo e beneficiamento de accedilo alumiacutenio e inox

cujos produtos principais satildeo quiosques e maacutescaras para salas de auto-atendimento caixas

eletrocircnicos caixas para medidor de gaacutes e hidrocircmetros esquadrias de accedilo galvanizado

luminosos de identificaccedilatildeo visual (totem) caixilhos em geral batentes guarda corpos

corrimatildeo portas acuacutesticas caixas metaacutelicas forros divisoacuterias e revestimentos de accedilo

galvanizado inox e alumiacutenio entre outros produtos em accedilo e alumiacutenio encomendados por

clientes diversos tais como shoppings metrocircs etc A figura 2 ilustra alguns dos produtos da

COOPRAM

78

Figura nordm 02 - Alguns produtos da COOPRAM

Fonte site http wwwcoopramcombr

A cooperativa atende a todo o territoacuterio nacional e possui uma diversificada carteira de

clientes Eis alguns de seus clientes

Associaccedilatildeo Brasileira de Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Uacuteltimos Dias - Satildeo Paulo SP

Construtora OAS Ltda -Satildeo Paulo SP Rossi Residencial - Satildeo PauloSP ECIA Irmatildeos

Arauacutejo Engenharia e Comercio SA - Rio de Janeiro RJ Construtora Bathaus Ltda - Tupatilde

SP Tec Sul Engenharia Ltda - Satildeo Jose dos CamposSP Vexillum Construccedilotildees e

Empreendimentos Ltda - Pq Industrial - Campina Grande do SulPR Carvalho Hosken SA

Engenharia e Construccedilotildees -Rio de Janeiro RJ Autoban

Jundiaiacute SP Construtora Norberto Odebrechet SA - Rodovia Rio Santos Metro cia

Metropolitano de Satildeo Paulo - Linha Norte Sul Construtora Apia - Belo HorizonteMG

Construtora Croma - Satildeo Paulo SP Escala Construccedilotildees e Empreendimentos Ltda- Satildeo

PauloSP Tecnicorp Engenharia e Construccedilotildees Ltda - Satildeo Paulo SP Construtora

Lideranccedila Ltda Satildeo Paulo SP Evoluccedilatildeo Empreendimentos Imobiliaacuterios Ltda Satildeo

Paulo SP Schahin Engenharia Ltda- Satildeo PauloSP Elofer Construccedilotildees e Empreendimentos

Ltda - Pinhais PR Constroen Construccedilotildees e Engenharia Ltda -AraccedilatubaSP Infa

incorporadora Ltda - Pinheiros SP Comercial Construtora PPR Ltda - Satildeo PauloSP

Empreendimentos Imobiliaacuterios Estelar Ltda - Satildeo Paulo SP Construtora CPD Ltda - Satildeo

79

PauloSP Associaccedilatildeo de Construccedilatildeo Para Mutiratildeo do Jardim Celeste

Satildeo PauloSP Associaccedilatildeo Boa Esperanccedila -Satildeo PauloSP Associaccedilatildeo de Construccedilatildeo por

Mutiratildeo Novo Horizonte Satildeo PauloSP Copromo Associaccedilatildeo por Moradia de Osasco

OsascoSP

43 Informaccedilotildees sobre a entidade de apoio

A COOPRAM tem sido acompanhada por uma das redes nacionais de apoio as quais

tambeacutem satildeo denominadas de incubadoras de empreendimentos Satildeo essas entidades que

tradicionalmente orientam os empreendimentos solidaacuterios nos mais diversos aspectos desde

a capacitaccedilatildeo para a gestatildeo ateacute aspectos mais subjetivos da vivecircncia no empreendimento tais

como relaccedilotildees interpessoais assimilaccedilatildeo de valores humanos entre outros

No caso da COOPRAM a entidade que daacute o suporte necessaacuterio agraves suas accedilotildees e promove a

apropriaccedilatildeo do conhecimento nas diversas aacutereas do negoacutecio eacute a ANTEAG- Associaccedilatildeo

Nacional das Empresas Autogeridas e de Participaccedilatildeo Acionaacuteria

Fazendo um breve histoacuterico da entidade relata-se que a ANTEAG nasceu da iniciativa dos

proacuteprios trabalhadores que assumiram a gestatildeo de empresas diante da situaccedilatildeo de falecircncia e

desemprego Desde 1991 a ANTEAG teve contato com mais de 700 empresas em situaccedilatildeo

falimentar e passou a trabalhar com muitas delas no sentido de desenvolver a autogestatildeo

Hoje acompanha empresas de produccedilatildeo industrial e de serviccedilos nas cinco regiotildees do paiacutes

representando mais de 32 mil postos de trabalho nos seguintes setores tecircxtil agroinduacutestria

alimentaccedilatildeo couro calccedilados metaluacutergico mineraccedilatildeo serviccedilos confecccedilatildeo plaacutestico coleta

seletiva ceracircmica mobiliaacuterio papel e papelatildeo vidro e cristal tinta borracha e artesanato Os

objetivos que norteiam a accedilatildeo da ANTEAG satildeo

- Recuperar e manter trabalho e renda atraveacutes da participaccedilatildeo e controle coletivo dos

trabalhadores sobre as atividades produtivas

- Organizar e representar nacionalmente os trabalhadores e as empresas de autogestatildeo

- Promover autogestatildeo como alternativa econocircmica e social

80

- Resgatar o trabalho em sua dimensatildeo humana como alternativa agrave precarizaccedilatildeo e ao

desemprego estrutural

No que diz respeito agrave aacuterea de gestatildeo e contabilidade uma das principais formas de

contribuiccedilatildeo da ANTEAG a seus incubados eacute a promoccedilatildeo de cursos no proacuteprio

empreendimento ou nas sedes da entidade localizadas nos principais estados do paiacutes ora

executando esses cursos com seu proacuteprio pessoal ora pleiteando capacitaccedilatildeo a oacutergatildeos

governamentais

44 Descriccedilatildeo da organizaccedilatildeo contaacutebil da COOPRAM

A partir das observaccedilotildees e anaacutelises dos documentos constatou-se que os resultados

econocircmicos e financeiros da entidade satildeo apresentados pelos instrumentos tradicionais da

contabilidade centrando nas demonstraccedilotildees Balanccedilo Patrimonial e Demonstraccedilatildeo do

Resultado do Exerciacutecio da cooperativa Esses relatoacuterios satildeo disponibilizados para os

cooperados nas Assembleacuteias Gerais Ordinaacuterias os quais tambeacutem satildeo afixados no mural para

visualizaccedilatildeo e consulta

Natildeo satildeo confeccionados outros relatoacuterios gerenciais de resultados Semanalmente a diretoria

se reuacutene para discutir as financcedilas e utilizam um relatoacuterio produzido pelo setor financeiro o

qual conteacutem informaccedilotildees sobre o fluxo de recursos contas a pagar e receber

Natildeo haacute um sistema informatizado de apuraccedilatildeo de custos ou relatoacuterios detalhados sobre eles A

confecccedilatildeo dos preccedilos dos produtos eacute baseada em um caacutelculo estimativo dos gastos da

entidade para o qual eacute utilizado um fator matemaacutetico tabelado para cada item de produto e

construiacutedo a partir de outros elementos de despesas que incluem alguns gastos administrativos

e frete No caso de produtos sob encomenda eacute calculado um orccedilamento e sobre o valor

orccedilado tambeacutem se aplica o mesmo fator matemaacutetico

A contabilidade eacute terceirizada ficando a cargo de um escritoacuterio de contabilidade localizado

no mesmo Municiacutepio Mensalmente eacute remetido ao escritoacuterio o movimento de caixa

confeccionado pelos cooperados do setor financeiro O retorno desses dados convertidos em

81

demonstraccedilotildees contaacutebeis natildeo eacute realizado dentro de um periacuteodo possiacutevel de aproveitar as

informaccedilotildees para a tomada de decisotildees Em suma a informaccedilatildeo contaacutebil natildeo eacute sistematizada

ou organizada de modo que possa contribuir com o processo de gestatildeo

No que diz respeito agrave apropriaccedilatildeo dos conhecimentos em contabilidade ela eacute propiciada

principalmente por cursos de formaccedilatildeo em gestatildeo promovidos em geral pela entidade de

apoio como jaacute mencionado

45 Anaacutelise dos Resultados

A anaacutelise realizada foi segmentada em diversos aspectos da dimensatildeo contaacutebil nos processos

de autogestatildeo Entretanto na praacutetica percebeu-se que esses aspectos natildeo satildeo estanques ou

seja eles se inter-relacionam agraves vezes ocorrendo a situaccedilatildeo em que um aspecto eacute fator

determinante de outro Tecircm-se tambeacutem a consciecircncia de que outros fatores importantes agrave

compreensatildeo e ao desvelamento do fenocircmeno natildeo estatildeo aqui incluiacutedos Dessa forma longe de

esgotar as respostas agraves questotildees propostas buscou-se fazer um exerciacutecio de reflexatildeo sobre a

realidade captada pelas vaacuterias evidecircncias

Apoacutes essas observaccedilotildees relata-se a anaacutelise dos aspectos da dimensatildeo contaacutebil representados

pelas seis dimensotildees Esses resultados foram sistematizados em quadros os quais traccedilam um

paralelo entre a realidade encontrada e a realidade esperada A realidade encontrada diz

respeito ao quadro atual de cada aspecto desenhado pelo ponto de vista dos trecircs grupos de

entrevistados e reafirmado pelas observaccedilotildees e registro em arquivos Por outro lado no

quadro da realidade esperada encontram-se a realidade desejada eou elementos e pistas para

alcanccedilar essa situaccedilatildeo ideal Assim as anaacutelises satildeo produto das constataccedilotildees dos grupos

enriquecidos pelos resgates dos conceitos teoacutericos e a bibliografia sobre o tema

Passa-se entatildeo a apresentar a anaacutelise dos resultados

82

451 Forma de comunicaccedilatildeo

Nessa dimensatildeo procurou-se avaliar os instrumentos de comunicaccedilatildeo que a entidade utiliza

para divulgar seus resultados econocircmicos e financeiros Verificou-se a capacidade de a

contabilidade captar e refletir a complexidade das relaccedilotildees inclusas no processo de

autogestatildeo tais como o orccedilamento elaborado coletivamente a execuccedilatildeo e controles

compartilhados enfim foi avaliada a adequaccedilatildeo dos relatoacuterios demonstraccedilotildees e outros

instrumentos da contabilidade agraves necessidades proacuteprias dos empreendimentos solidaacuterios

Quadro 6- Forma de comunicaccedilatildeo

Grupo Realidade Encontrada

( o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Baseia-se nos instrumentos tradicionais

Pouca compreensatildeo dos

instrumentos Acessiacuteveis aos cooperados Apresentados nas assembleacuteias

Especialistas

Insuficiecircncia do Balanccedilo anual

enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo

Contadores

Contabilidade financeira tem

limitaccedilotildees Insuficiecircncia do Balanccedilo

Maior tempo de exposiccedilatildeo

das demonstraccedilotildees Mais detalhamentos da

realidade do empreendimento

Mais instrumentos de

informaccedilotildees Criaccedilatildeo de instrumentos de

informaccedilotildees permanentes Criaccedilatildeo de instrumentos de

avaliaccedilatildeo e monitoramento

Conforme demonstra o quadro 6 em geral os cooperados natildeo questionaram sobre os

instrumentos tradicionais de comunicaccedilatildeo dos resultados econocircmicos e financeiros

constituiacutedos principalmente pelo Balanccedilo e DRE Afirmaram que essas demonstraccedilotildees satildeo

acessiacuteveis na entidade Entretanto natildeo haacute muita procura por parte deles em virtude das

dificuldades de compreensatildeo

Na percepccedilatildeo dos especialistas o Balanccedilo anual principal forma de comunicaccedilatildeo das

informaccedilotildees utilizadas pelos empreendimentos eacute insuficiente para manter o trabalhador

informado havendo a necessidade de instrumentos que propiciem o monitoramento

permanente do negoacutecio

83

Os contadores entrevistados tambeacutem apontaram para a insuficiecircncia do Balanccedilo enquanto

uacutenica forma de comunicaccedilatildeo Conforme trecho da fala de um de seus representantes

Uma assembleacuteia natildeo pode se limitar a apresentar Balanccedilo Balanccedilo tem que ter mas eacute uma das

demonstraccedilotildees Vocecirc tem que mostrar outros lados Como eacute que permanentemente o cooperado

acompanha o desenvolvimento da cooperativaO Balanccedilo eacute uma informaccedilatildeo anual Quais satildeo as

outras informaccedilotildees perioacutedicas para que se faccedila um monitoramento uma avaliaccedilatildeo daquele

empreendimento[] entatildeo eu tenho que ter um instrumento e espaccedilo pra discutir []

Um dos contadores ainda destaca a limitaccedilatildeo da contabilidade financeira e a necessidade de

utilizaccedilatildeo da contabilidade gerencial e outros instrumentos apropriados agrave ES Em suas palavras

[] se vocecirc tem na contabilidade financeira contabilidade mais formal algumas limitaccedilotildees a

gente pode construir uma contabilidade gerencial hoje vocecirc tem uma contabilidade social o

Balanccedilo Social vocecirc tem ferramentas esse eacute o papel do profissional []

Portanto no que tange agrave forma de comunicaccedilatildeo das informaccedilotildees disponibilizadas pela

contabilidade as evidecircncias empiacutericas somam-se agraves anaacutelises dos autores que percebem os

empreendimentos autogestionaacuterios como um novo um grupo de usuaacuterios da contabilidade e

para os quais satildeo necessaacuterios novos instrumentos contaacutebeis Resgatando a reflexatildeo realizada

no capiacutetulo 3 agrave luz de Hendriksen e Van Breda ( 1999) sobre a implementaccedilatildeo de relatoacuterios

padronizados ou especiacuteficos a cada grupos de usuaacuterios os autores Almeida e Dantas (2005)

sugerem que os novos usuaacuterios deveriam possuir relatoacuterios especiacuteficos em detrimento da

padronizaccedilatildeo de relatoacuterios a diversos grupos

Michaels (1995) argumenta que a confecccedilatildeo dos relatoacuterios deve atender a alguns preacute-

requisitos a fim de contemplar as demandas reais de informaccedilatildeo dos usuaacuterios Para tanto seria

necessaacuterio responder agraves seguintes perguntas Qual o objetivo da informaccedilatildeoPara quem eacute a

informaccedilatildeo Que quantidade eacute necessaacuteria Como deve ser a informaccedilatildeo Quando a

informaccedilatildeo eacute necessaacuteria Com base nas respostas dadas a essas perguntas o autor reconhece

a natureza peculiar dos empreendimentos autogestionaacuterios e suas necessidades especiacuteficas

Em relaccedilatildeo agrave situaccedilatildeo desejaacutevel ou esperada na visatildeo dos cooperados as demonstraccedilotildees

deveriam fornecer mais detalhes da situaccedilatildeo socioeconocircmica e ficar mais tempo exposta

conforme revelam os trechos a seguir

[] deveria ficar mais tempo exposto agrave disposiccedilatildeo dos cooperados e com mais detalhes e ser

mais bem explicado []

84

[] vocecirc pode fazer uma planilha maior e mostrar em mais detalhes o que estaacute acontecendo

atualmente[]

Essas observaccedilotildees reforccedilam o estudo feito por Michaels (1999) Em sua opiniatildeo as

demonstraccedilotildees contaacutebeis devem ser estruturadas de tal forma que possam ser interpretadas

pelos principais usuaacuterios os associados da cooperativa Para ele a contabilidade deve ser um

importante sistema de informaccedilotildees entre a cooperativa e seus associados e para tanto

recomenda a utilizaccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis enriquecidas com graacuteficos e tabelas

comparativas Ressalta ainda que as informaccedilotildees contaacutebeis devem ser detalhadas de tal

forma que os principais eventos econocircmicos responsaacuteveis por impactos na situaccedilatildeo

econocircmico-financeira tanto positivos como negativos sejam informados aos associados e

tambeacutem sejam informados quais dos eventos econocircmicos foram fruto de decisotildees internas da

cooperativa e quais ocorreram independentes da gestatildeo interna mas sim por poliacuteticas

governamentais fatores climaacuteticos ou fatos internacionais

Logo neste aspecto concluiu-se que haacute demandas no sentido de propiciar a utilizaccedilatildeo e

assimilaccedilatildeo dos instrumentos existentes pelos trabalhadores da ES bem como de criaccedilatildeo de

novos relatoacuterios especiacuteficos para esses usuaacuterios em oposiccedilatildeo agrave implementaccedilatildeo de relatoacuterios

padronizados a todos os usuaacuterios

452 Conteuacutedo da informaccedilatildeo

O conteuacutedo diz respeito agrave informaccedilatildeo contaacutebil em si Nesse aspecto verificou-se a pertinecircncia

da linguagem das vaacuterias formas de comunicaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil aos usuaacuterios da ES

Mais especificamente nesse aspecto buscou-se perceber se a linguagem da contabilidade eacute

facilmente compreendida pelos trabalhadores tendo em vista o conhecimento jaacute consolidado

de que uma grande parte dos trabalhadores da ES tem um baixo grau de educaccedilatildeo formal

85

Quadro 7- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

Grupo

Realidade Encontrada

(o que eacute)

Realidade Esperada

(o que deveria ser)

Cooperados

Linguagem complicada Calam-se diante da

incompreensatildeo dos termos Incompreensatildeo causa

desinteresse

Especialistas

Linguagem difiacutecil

Contadores

Linguagem teacutecnica codificada

Trabalhadores da ES devem

apropriar-se da linguagem contaacutebil

Linguagem contaacutebil deve

aproximar-se da linguagem coloquial

Linguagem simples e objetiva

Como revela o quadro 7 apesar de serem acessiacuteveis haacute um desinteresse pelos relatoacuterios uma

vez que a linguagem natildeo eacute inteligiacutevel aos cooperados O grau de escolaridade do grupo de

cooperados normalmente eacute baixo e a estrutura dos relatoacuterios baseia-se em uma linguagem

teacutecnica formal o que dificulta o seu entendimento Conforme mostram trechos da fala de

cooperados

[] porque normalmente no relatoacuterio no balanccedilo a gente tenta olhar mais no final quanto que deu

e quanto que natildeo deu Fica mais faacutecil neacute Eu natildeo sei por que eles complicam [] a gente sempre ficava voando com medo ateacute de entatildeo vem o ativo passivo Taacute aqui o ativo passivo Muita

gente calaque nem que seraacute que bixiga eacute isso aiacute

Tambeacutem na visatildeo dos contadores e especialistas entrevistados a linguagem dos relatoacuterios eacute de

difiacutecil compreensatildeo para os trabalhadores pois eacute uma linguagem de contadores ou seja eacute

uma linguagem formal teacutecnica Nas palavras de um contador A linguagem contaacutebil eacute uma

linguagem codificada Eacute uma linguagem que usa coacutedigos e convenccedilotildees Ela natildeo eacute uma

linguagem do cotidiano das pessoas

Os entrevistados de uma forma geral sugerem uma linguagem adequada agrave realidade dos

trabalhadores da ES Para isso eacute necessaacuteria a criaccedilatildeo de novos instrumentos de comunicaccedilatildeo

os quais contenham uma linguagem simples e compreensiacutevel conforme expressam algumas

falas

86

[] entatildeo talvez uma coisa mais simples pra maioria simples Olha daacute dando lucro olha isso

aqui noacutes vamos gastar pra isso A contabilidade eacute interessante mas pro povatildeo acho que ajudava

bem Aiacute vocecirc jaacute podia parar de muitos comentaacuterios Olha taacute assim assim assim no real mas no

real natildeo pra iludir agente []

[] entatildeo noacutes temos duas questotildees ou noacutes vamos ter uma linguagem que aproxime dessa

linguagem coloquial ou seja essa linguagem de Balanccedilo eacute uma linguagem de contadores Entatildeo

tem dois movimentos ou os trabalhadores da ES se apropriam da linguagem dos contadores ou os contadores buscam uma linguagem com os trabalhadores da ES Acho que tem que ter um encontro aiacute Natildeo eacute ficar usando apelidos para falar a mesma coisa Eu digo formas de

comunicaccedilatildeo []

Os apontamentos dos grupos natildeo contraria a hipoacutetese inicialmente aventada sobre a

dificuldade de compreensatildeo da linguagem dos relatoacuterios contaacutebeis por parte dos

trabalhadores Essa hipoacutetese baseou-se na realidade socioeconocircmica dos trabalhadores

retratada no cap 2 Conforme mostraram Singer (2000) e demais autores a baixa escolaridade

dos trabalhadores adveacutem de sua situaccedilatildeo de exclusatildeo social A ES eacute constituiacuteda em sua

maioria por trabalhadores viacutetimas do desemprego estrutural provocado em grande parte pela

globalizaccedilatildeo a qual acarretou a reestruturaccedilatildeo produtiva e mudanccedilas no mercado de trabalho

Esses trabalhadores dispensados de seus postos de trabalho e natildeo apresentando formaccedilatildeo

suficiente para nova colocaccedilatildeo viram na ES uma alternativa de reingresso no mercado de

trabalho e de inclusatildeo social

Assim com baixa escolaridade e natildeo acostumados agrave linguagem de negoacutecio os termos

contaacutebeis soam estranhos aos trabalhadores Dessa forma a adaptaccedilatildeo da linguagem dos

relatoacuterios contaacutebeis agrave realidade dos trabalhadores eacute uma outra demanda concreta que os

empreendimentos de ES remete agrave contabilidade

453 Utilidade da informaccedilatildeo

A avaliaccedilatildeo da utilidade da informaccedilatildeo diz respeito agrave importacircncia e utilidade dada agrave

contabilidade Tambeacutem se procurou avaliar a utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil em todos os

processos da gestatildeo de forma que ela efetivamente seja supridora de informaccedilotildees

necessaacuterias agrave autogestatildeo ou seja auxiliar no processo de tomada de decisotildees coletivas e na

gestatildeo democraacutetica

87

Quadro 8 - Utilidade da informaccedilatildeo

Grupo Realidade Encontrada

( o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Contabilidade como sinocircnimo de confianccedila entre

os trabalhadores Organizaccedilatildeo contaacutebil influi na motivaccedilatildeo e

tranquumlilidade Contabilidade instrumento de transparecircncia Percepccedilatildeo da influecircncia da organizaccedilatildeo contaacutebil

sobre os resultados Consciecircncia da necessidade de apropriaccedilatildeo da

contabilidade

Especialistas

Falta de domiacutenio das teacutecnicas satildeo lacunas nos

empreendimentos em uma primeira fase Em segunda fase usam teacutecnicas p

desenvolvimento do empreendimento Utilizaccedilatildeo de teacutecnicas contaacutebeis como condiccedilatildeo agrave

viabilidade econocircmica

Contadores

Informaccedilatildeo contaacutebil gera confianccedila e autonomia Formadores tecircm visatildeo da contabilidade como

algo chato dispensaacutevel controle burocraacutetico Contabilidade eacute instrumental necessaacuterio a todas

as aacutereas do empreendimento Natildeo utilizaccedilatildeo dos instrumentos em decorrecircncia

da natildeo apropriaccedilatildeo do conhecimento Resistecircncia agrave superaccedilatildeo da segregaccedilatildeo trabalhar ( trabalhadores) e pensar (administradores)

Superaccedilatildeo da visatildeo

tradicional da contabilidade para o fisco e controle burocraacutetico

Formadores assumir a

contabilidade como questatildeo

fundamental Apropriaccedilatildeo de conhecimento

contaacutebil pelos trabalhadores Criaccedilatildeo de instrumentos

contaacutebeis que gere

informaccedilotildees atualizadas e

permanentes sobre a gestatildeo Utilizaccedilatildeo das teacutecnicas

contaacutebeis em todos os

processos de gestatildeo Trabalhadores devem possuir

a cultura do registro

Na visatildeo de um dos cooperados conforme mostra o quadro 8 a contabilidade tem grande

importacircncia porque eacute um instrumento de transparecircncia e de desenvolvimento econocircmico do

empreendimento Um outro motivo destacado pelos trabalhadores eacute sua vinculaccedilatildeo com a

confianccedila que deve existir na relaccedilatildeo entre os cooperados Para eles uma boa organizaccedilatildeo

contaacutebil propicia a tranquumlilidade no trabalho e motivaccedilatildeo conforme relatam algumas falas

[] contabilidade eacute o coraccedilatildeo o ceacuterebro[] [] porque tem viacutenculo de confianccedila neacute Falando seacuterio como agora agente taacute passando por

uma situaccedilatildeo em relaccedilatildeo serviccedilo dinheiro natildeo taacute boa Entatildeo influi em todo mundo ali sabe

Entatildeo aqui quando as coisas taacute correndo bem a contabilidade a gente supotildee que ta tudo em paz

taacute tudo bom a gente tem uma tranquumlilidade maior de produzir de trabalhar de torcer pra vir mais

serviccedilo Agora quando taacute ruim agente fala pra quecirc serviccedilo O dinheiro natildeo entra as coisa natildeo daacute

pra fazer as coisas direito Entatildeo influi bastante Entatildeo eu acho que administraccedilatildeo contabilidade

a gente tando no meio assim mesmo natildeo fazendo parte mas vocecirc tendo os relatoacuterios vocecirc

entendendo com certeza vocecirc acalma meio mundo laacute embaixo noacutes mesmos []

88

[] a contabilidade eacute fundamental os nuacutemeros clareza todo mundo ciente do que estaacute

acontecendo se tiver condiccedilotildees de fazer uma reserva Entatildeo realmente ter noccedilatildeo pra empresa

crescer []

Essa concepccedilatildeo da importacircncia da utilizaccedilatildeo dos instrumentos contaacutebeis reafirma o papel

social da contabilidade enfatizada no cap 3 Vaz (2002) ressalta que a informaccedilatildeo eacute um

direito de cidadania Pateman no cap 2 ressalta a importacircncia da informaccedilatildeo Para a

autora um dos preacute-requisitos para a participaccedilatildeo democraacutetica e desenvolvimento da

eficaacutecia poliacutetica eacute simetria econocircmica e simetria no acesso a informaccedilotildees Dessa forma a

visatildeo dos grupos entrevistados aproxima-se dos autores sobre a essencialidade da

informaccedilatildeo contaacutebil no processo de autogestatildeo

No que se refere a outro aspecto analisado o uso dos diversos instrumentos para a tomada de

decisatildeo os instrumentos centram-se no Balanccedilo Patrimonial e DRE conforme mencionado

anteriormente Natildeo haacute outros instrumentos mais dinacircmicos de monitoramento e controle do

planejamento da entidade assim como natildeo haacute um planejamento coletivo mais sistematizado

Portanto a entidade natildeo utiliza a maioria dos recursos de informaccedilatildeo disponibilizados pela

contabilidade financeira e gerencial no seu processo de autogestatildeo

Entretanto mesmo natildeo tendo plena consciecircncia do que seja uma contabilidade gerencial e da

potencialidade da contabilidade enquanto instrumento de informaccedilatildeo para a tomada de

decisatildeo os cooperados ainda conseguem diagnosticar os efeitos da ausecircncia dessa

organizaccedilatildeo na entidade e a necessidade de apropriaccedilatildeo desse conhecimento como mostra um

trecho da entrevista de um dos cooperados

[] na verdade eu preciso aprender muito sobre isso aiacute Agora pela assembleacuteia pelo que eu vi sem documento na matildeo noacutes natildeo entende muito natildeo Noacutes tem trabalhado bastante eu acredito que

o nosso produto taacute barato Alguma coisa taacute errada na Coopram Porque noacutes trabalha de segunda a

saacutebado ningueacutem paacutera e hoje o saldo nosso eacute devedor Entatildeo noacutes precisamos corrigir o que taacute

acontecendo Cada um se empenhar mais [] noacutes tenta saber o segredo Mas noacutes soacute trabalha

trabalha Eacute aquilo que eu falei pra vocecirc noacutes precisamos de uma pessoa capacitada pra administrar

nossa Coopram Por que noacutes natildeo estamos conseguindo []

Essa fala reafirma o papel da contabilidade no processo de gestatildeo tambeacutem enfatizada por

Dias (1991) O autor salienta que numa administraccedilatildeo participativa em que os gestores

interferem em todo o processo de gestatildeo que vai desde o planejamento estrateacutegico ateacute a

execuccedilatildeo deve haver um sistema capaz de oferecer informaccedilotildees de todo o ciclo

operacional as quais abrangem informaccedilotildees do ambiente econocircmico previsotildees

orccedilamentaacuterias sistema de programaccedilatildeo sistema de apoio agrave gestatildeo de execuccedilatildeo ateacute a

89

apuraccedilatildeo de resultados e avaliaccedilatildeo de desempenho O sistema de informaccedilotildees deve ser

capaz de indicar tendecircncias futuras e permitir comparaccedilotildees com o passado aleacutem de

possibilitar a avaliaccedilatildeo de evoluccedilatildeo da organizaccedilatildeo e comparaccedilotildees com desempenhos

desejados

Ainda sobre o assunto na opiniatildeo de um especialista entrevistado a falta de domiacutenio e

utilizaccedilatildeo das teacutecnicas contaacutebeis eacute realidade nas fases iniciais de uma grande parte dos

empreendimentos da ES conforme mostra o quadro 8 e a fala do especialista da ES

[] no que tange a autogestatildeo ou seja o domiacutenio de todas as teacutecnicas de gestatildeo de

gerenciamento de composiccedilatildeo de custos satildeo lacunas que existem nos empreendimentos que no

decorrer do tempo eles vem a suprir seja por terceirizaccedilatildeo seja por aprendizado [] Numa

primeira fase eles natildeo utilizam numa segunda que jaacute eacute de um empreendimento mais consolidado

poderiacuteamos chamar ateacute de incubaccedilatildeo ou incubagem que esses empreendimentos tecircm que dotam

suas estruturas dos principais instrumentos necessaacuterios agrave gestatildeo e o desenvolvimento do

empreendimento entatildeo me parece que eles acabam solucionando estes problemas e acabam

consequumlentemente utilizando estas teacutecnicas em prol do desenvolvimento do empreendimento []

Na percepccedilatildeo de um dos especialistas os empreendimentos adquirem esses conhecimentos

impulsionados ateacute pela necessidade de sobrevivecircncia uma vez que eacute condiccedilatildeo para

alavancagem do empreendimento assim como o eacute para as empresas de uma forma geral Nas

palavras do especialista

[] acredito que aqueles empreendimentos que natildeo conseguem utilizar estas teacutecnicas eles tem

uma maior dificuldade de alcanccedilar um ponto de equiliacutebrio ou seja a viabilidade econocircmica

necessaacuteria as condiccedilotildees necessaacuterias de se manter no mercado [] Os que utilizam as teacutecnicas

tecircm maior facilidade pra passar essa fronteira da viabilidade econocircmica do empreendimento

econocircmico e consequumlentemente gerar uma renda que possibilite natildeo soacute a inclusatildeo social mas a

inclusatildeo econocircmica e consequumlentemente a tecnoloacutegica que eacute o que agrega valor a esses

empreendimentos

Na visatildeo dos contadores como mostra o quadro 8 a contabilidade tambeacutem eacute fundamental

para os empreendimentos Conforme fala de um representante

[] a contabilidade eacute fundamental acho assim ela eacute central [] ela serve pra fornecer

informaccedilotildees Ela eacute instrumento fundamental para fornecer informaccedilotildees Informaccedilatildeo gera duas

coisas pra mim que eu acho fundamental na Economia Solidaacuteria Autonomia e Confianccedila

Confianccedila no grupo no coletivo Entatildeo os trabalhadores soacute vatildeo ser autocircnomos nessa relaccedilatildeo

quando possuiacuterem autonomia e confianccedila entre eles Informaccedilatildeo eacute fundamental [] isso eacute

principal causa de uma seacuterie de problemas na Economia Solidaacuteria a falta de confianccedila e a falta de

autonomia por conta da falta de informaccedilatildeo []

Entretanto foi ressaltada uma certa aversatildeo que os trabalhadores e formadores tecircm em relaccedilatildeo

agrave contabilidade para os quais ela eacute associada a algo chato e a um controle burocraacutetico

90

desnecessaacuterio Segundo o contador essa visatildeo deve ser superada pela ES tendo em vista a

centralidade da contabilidade cujas informaccedilotildees satildeo base para outras aacutereas de atuaccedilatildeo no

empreendimento Em suas palavras

[] acho que a Economia Solidaacuteria tem certa aversatildeo a isso porque ela vincula a contabilidade ao

controle burocraacutetico O que eacute um equiacutevoco vincular isso Inclusive formadores de outra aacuterea

vincula esta questatildeo a algo chato Entatildeo os proacuteprios formadores natildeo assumiram isso como uma

questatildeo fundamental Entatildeo a pergunta eacute controle eacute bomMuita gente vincula controle com

desconfianccedila [] eacute preciso superar isso e a contabilidade eacute o principal instrumento Pode-se falar da questatildeo econocircmica questatildeo administrativa enfim de outras doutrinas mas todas elas vatildeo

precisar do instrumental da contabilidade [] administrativamente vocecirc pode propor qualquer

modelo fantaacutestico mas ele vai se basear em informaccedilotildees que o instrumental contaacutebil fornece

Dias (1991) no cap 3 tambeacutem preconizou esta limitaccedilatildeo da contabilidade e explica um dos

motivos da sua imagem ser destorcida Para ele a contabilidade produz relatoacuterios que natildeo

exprimem a realidade econocircmica da empresa prejudicando seus usuaacuterios internos e

externos pois preocupa prioritariamente com a legislaccedilatildeo fiscal fato que impotildee

procedimentos prejudiciais agrave utilizaccedilatildeo dos sistemas de informaccedilotildees contaacutebeis para fins

gerenciais

Um outro motivo que justifica a subutilizaccedilatildeo dos instrumentos contaacutebeis na percepccedilatildeo de

um contador eacute a natildeo apropriaccedilatildeo desses instrumentos pelos trabalhadores Esse fato acarreta

problemas ao empreendimento no futuro Tambeacutem ressalta a necessidade de mudanccedilas de

comportamento dos profissionais a fim de fornecer informaccedilotildees atualizadas e permanentes

buscando suprir a insuficiecircncia do Balanccedilo Patrimonial Em suas palavras

[] como eacute que eu crio instrumentos permanentes soacute se eu tiver uma contabilidade que me gere

informaccedilotildees atualizadas permanentemente Mas natildeo eacute normal isso Como eacute feita a contabilidade

normalmente Vocecirc junta toda a papelada do ano entrega pro profissional o profissional pega aquela papelada classifica de acordo com que ele acha normalmente ele natildeo discute [] e vai laacute e

faz um Balanccedilo Isso eacute insuficiente

Um dos caminhos para mudanccedila sugerido pelos contadores eacute a aquisiccedilatildeo da cultura dos

registros Eles devem possuir a cultura dos registros [] ter alguns controles miacutenimos que

ele passe para o contador que gere outras informaccedilotildees

Essas reflexotildees reforccedilam a demanda jaacute constatada anteriormente da necessidade de criaccedilatildeo de

novos instrumentos contaacutebeis que produzam informaccedilotildees permanentes e atualizadas e

acrescenta uma nova demanda uma mudanccedila comportamental dos contadores da ES

91

adotando uma postura que incentive a assimilaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil pelos proacuteprios

trabalhadores

454 Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Um dos princiacutepios fundamentais da Economia Solidaacuteria sugere a socializaccedilatildeo de todo o

conhecimento de gestatildeo em oposiccedilatildeo agrave tiacutepica empresa que resguarda esses conhecimentos

para o grupo da gerecircncia Baseado nesse princiacutepio essa dimensatildeo teve a intenccedilatildeo de

compreender e analisar as formas de transferecircncia do conhecimento contaacutebil e as eventuais

dificuldades enfrentadas pelo trabalhador no processo de apropriaccedilatildeo do conhecimento das

teacutecnicas contaacutebeis Nesse item tambeacutem se buscou captar elementos que norteiem uma

formaccedilatildeo desejada em contabilidade

Quadro 9 - Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Grupo Realidade Encontrada

( o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Dificuldade em decorrecircncia da linguagem Consciecircncia da necessidade de apropriaccedilatildeo

Especialistas

Didaacutetica de formaccedilatildeo natildeo proporciona

assimilaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil Linguagem de formaccedilatildeo natildeo acessiacutevel

Contadores

Natildeo apropriaccedilatildeo em funccedilatildeo de linguagem

estranha ao cotidiano dos trabalhadores Trabalhadores tecircm medo e posiccedilatildeo defensiva em

relaccedilatildeo agrave contabilidade Didaacutetica de formaccedilatildeo muitas vezes natildeo

apropriada Formaccedilatildeo paternalista

Formaccedilatildeo deve ser em

linguagem acessiacutevel aos

trabalhadores Formador deve ter didaacutetica

apropriada ao puacuteblico Utilizaccedilatildeo da educaccedilatildeo

popular na formaccedilatildeo dos

trabalhadores Formaccedilatildeo deve sensibilizar

para a importacircncia da

contabilidade Formaccedilatildeo deve ser

permanente Formaccedilatildeo deve ser

estruturada de forma crescente

O quadro 9 revela que os cooperados tecircm dificuldades para a assimilaccedilatildeo do conhecimento

contaacutebil mas como referido no item anterior tambeacutem tecircm consciecircncia de sua importacircncia e

utilidade conforme demonstra trecho da fala de um cooperado [] na verdade eu preciso

aprender muito sobre isso aiacute []

92

No entanto quando questionados sobre a participaccedilatildeo nos cursos de formaccedilatildeo em

contabilidade promovidos pela entidade de apoio apenas dois cooperados disseram que

participaram de algum Esses participantes relataram dificuldades em funccedilatildeo da linguagem

utilizada pelo formador Em relaccedilatildeo a futuros cursos de formaccedilatildeo os trabalhadores tambeacutem

ressaltaram a questatildeo da linguagem conforme trecho de uma entrevista

[] linguagem simples falando seacuterio Vocecirc jaacute pensou vem laacute o Sr Ney dar um curso aqui

falando de paradigma Sabe a gente ia ficar porque agraves vezes agente pergunta tem uns que natildeo

pergunta Entatildeo tinha que ser uma linguagem Por que olha o SEBRAE agraves vezes agente assiste

no domingo a linguagem laacute eacute simples de entender Olha a empresa taacute assim taacute dando esse lucro

Ela aplicou tanto Vocecirc capta a coisa Mas se vocecirc vem com um negoacutecio de faculdade bem

complicado acho que noacutes ia ficaacute boiando

Os especialistas entrevistados reafirmam a dificuldade de assimilaccedilatildeo da contabilidade por

parte dos trabalhadores No entanto atribuem essa dificuldade agrave didaacutetica empregada nos

cursos Conforme explica um deles a didaacutetica deve estar adequada agrave realidade social e grau

de instruccedilatildeo dos trabalhadores que natildeo eacute muito elevado A apropriaccedilatildeo que tecircm desses

conhecimentos seraacute tatildeo mais faacutecil se o formador procurar levar o conhecimento em uma

linguagem mais proacutexima agrave realidade social desses trabalhadores Nas suas palavras

[] pode ser uma questatildeo de didaacutetica Agraves vezes temas considerados difiacuteceis se tornam faacuteceis na

medida em que o formador tenha linguagem apropriada ao puacuteblico com o qual ele estaacute

trabalhando Se noacutes formos trabalhar com linguagem puramente teacutecnicas com estes trabalhadores

que muitas vezes tem uma formaccedilatildeo dentro da educaccedilatildeo formal passando apenas do limite da

alfabetizaccedilatildeo como eacute o caso da cooperativa de catadores como eacute o caso da populaccedilatildeo brasileira

em geral a resposta seria que eles tem bastante dificuldade []

Ressalta que o baixo grau de instruccedilatildeo dos trabalhadores da ES natildeo eacute impeditivo para a

assimilaccedilatildeo do conhecimento Para facilitar a assimilaccedilatildeo sugere a utilizaccedilatildeo de metodologias

de formaccedilatildeo apropriada ao puacuteblico como a Educaccedilatildeo Popular de Paulo Freire conforme

relatos

[] os trabalhadores da ES tem um grau de escolaridade muito baixo mas isso natildeo eacute impeditivo

para que eles aprendam Muitas vezes eles soacute natildeo aprenderam porque natildeo tiveram condiccedilotildees de

frequumlentar a educaccedilatildeo formal Agora natildeo necessariamente a educaccedilatildeo formal eacute preacute-requisito para o aprendizado de teacutecnicas apropriadas para a gestatildeo de um empreendimento[] [] a ES utiliza muito da educaccedilatildeo popular pra formaccedilatildeo dos trabalhadores pra transferecircncias de

conhecimento enfim pra essa linguagem de comunicaccedilatildeo e de extensatildeo que seja mais facilmente

assimilada por esse puacuteblico[]

93

Os contadores entrevistados tambeacutem compactuam com essa linha de raciociacutenio chamando a

atenccedilatildeo para a linguagem empregada Nas palavras de um deles[] os trabalhadores natildeo

apropriaram da linguagem contaacutebil porque natildeo faz parte do cotidiano deles O dia que

comeccedilar a fazer parte do cotidiano deles eles comeccedilam a se apropriar tambeacutem

Os contadores ressaltam que em decorrecircncia da sua baixa educaccedilatildeo formal e distacircncia de

linguagem tecircm medo da contabilidade assim como tecircm medo da matemaacutetica conforme

relata [] eles natildeo entendem porque nunca foi passado pra eles tambeacutem Entatildeo eles tecircm

dificuldade na verdade eles tecircm medo Tecircm medo porque associam contabilidade com conta

e com matemaacutetica [] ele eacute defensivo

Contribui para a natildeo apropriaccedilatildeo o legado da velha cultura ainda impregnada nos

trabalhadores na qual persiste a ideacuteia de segregaccedilatildeo entre pensar (administradores) e trabalhar

(trabalhadores) O trabalhador ainda natildeo se acha apto agrave gestatildeo que em sua visatildeo continua

sendo prerrogativa dos mais cultos Transcrevendo a fala do contador

[] os trabalhadores ainda natildeo consideram essa questatildeo da gestatildeo cuidar da gestatildeo contaacutebil

como trabalho Ele considera trabalho quando ele estaacute na beira da maacutequina isso eacute trabalho pra ele

A gestatildeo natildeo eacute trabalho Eacute perda de tempo [] Ele estaacute acostumado a separar estas atividades de

pensar e trabalhar Ele faz essa separaccedilatildeo[] entatildeo se falar pra ele olha tem que fazer um livro-caixa aproveitar estes dados e projetar o futuro satildeo raros os casos

Essa percepccedilatildeo da necessidade de mudanccedila cultural reafirma a visatildeo de Rattner (2005)

exposta no cap 2 o qual afirma que a ES exige a conscientizaccedilatildeo e o desenvolvimento de

princiacutepios eacuteticos e valores de compaixatildeo e solidariedade Para ele a ES natildeo pode ser um

produto do autoritarismo de uma administraccedilatildeo de uma soacute via de cima para baixo Ela exige

a participaccedilatildeo de todos para se tornarem cidadatildeos e assim sujeitos do processo histoacuterico

A partir dessas reflexotildees foram constatadas novas demandas agrave contabilidade no que se refere

agrave apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil Primeiro haacute premecircncia de uma didaacutetica para

transmissatildeo do conhecimento em contabilidade apropriada agrave realidade social dos

trabalhadores Segundo haacute necessidade de uma metodologia de formaccedilatildeo permanente em

contabilidade e gestatildeo que contribua para uma mudanccedila cultural dos cooperados

No que diz respeito agrave situaccedilatildeo desejaacutevel ou esperada os grupos levantam alguns elementos

Sugerem que ela seja iniciada pela sensibilizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a importacircncia da contabilidade a

94

ponto de os trabalhadores desejarem conhececirc-la e compreendecirc-la como instrumento de

autonomia Um outro aspecto da formaccedilatildeo levantada refere-se agrave graduaccedilatildeo segundo a qual

ela deve ser permanente e crescente que vaacute agregando informaccedilatildeo aos poucos aos

trabalhadores como num processo de alfabetizaccedilatildeo Eis os trechos de sua falas

[] primeiro mostrar que a contabilidade eacute importante como um instrumento de gestatildeo que gera

informaccedilatildeo gera informaccedilatildeo para quecirc[] pra tomar decisatildeo Quem toma decisatildeo satildeo eles Entatildeo

eles precisam ter informaccedilatildeo na matildeo para tomar decisatildeoEntatildeo eacute um curso indo nessa linha de

sensibilizaccedilatildeo[] Seria importante que os trabalhadores a enxergassem como um instrumento de autonomia e ousando como instrumento de autonomia e ateacute de libertaccedilatildeo [] eu natildeo concordo Jaacute vi outros colegas trabalhando com formaccedilatildeo O cara jaacute comeccedila falando da

contabilidade jaacute mostra o Balanccedilo ativo passivo Aiacute os caras comeccedilam a se olhar Daacute medo []

eacute como vocecirc natildeo passar pelo processo de alfabetizaccedilatildeo com as crianccedilas e jaacute desse um livro pra ela

ler[] tambeacutem natildeo daacute pra ser paternalista Dar um livro ilustrado Vocecirc ficar educando soacute por

imagem [] [] deve ser uma formaccedilatildeo permanente E ela tem que ser crescente tambeacutem Ela tem que estar

estruturada em que vocecirc comece com os fundamentos e vocecirc vaacute agregando informaccedilotildees agravequeles

fundamentos[]

455 Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Conforme bibliografia pesquisada as aacutereas teacutecnicas tecircm dificuldades de perceber a

especificidade da autogestatildeo Nessa perspectiva foi analisada a relaccedilatildeo dos usuaacuterios dos

empreendimentos autogestionaacuterios com os profissionais da aacuterea contaacutebil Em outras palavras

pretendeu-se compreender o envolvimento do contabilista com a autogestatildeo Por outro lado

tambeacutem se procurou captar elementos que norteiem agrave construccedilatildeo da relaccedilatildeo ideal entre os

contadores e os trabalhadores da ES

95

Quadro 10 - Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Grupo Realidade Encontrada

(o que eacute)

Realidade Esperada

(o que deveria ser)

Cooperados

Abismo na relaccedilatildeo

Especialistas

Tema relativamente novo Dificuldade de arregimentar

contabilistas agrave ES Inserccedilatildeo da aacuterea contaacutebil ainda

eacute baixa Dificuldade dos contadores em

assimilar sistemaacutetica diferente

da empresa capitalista Formaccedilatildeo natildeo prepara para

atendimento de sociedade de pessoas

Pouco especializaccedilatildeo de

profissionais na aacuterea Formaccedilatildeo acadecircmica natildeo

voltada para divulgaccedilatildeo

pesquisa e reflexatildeo do tema Produccedilatildeo de saberes para a

classe trabalhadora na universidade brasileira eacute

recente

Contadores

Contador natildeo tem costume de

fornecer informaccedilotildees para o

coletivo Contador prefere atender o

fisco Contador tem viacutecios de

formaccedilatildeo Evitar relaccedilatildeo paternalista Formaccedilatildeo voltada para SAs Curriacuteculos de contabilidade

natildeo abertos a novas

tecnologias

Contador deve ser um profissional orgacircnico

engajado nos processos econocircmicos do

empreendimento Qualidades e habilidades que um contador de ES

deve possuir

Conhecer as teacutecnicas Saber resolver problemas Saber transferir conhecimento Ter sensibilidade Saber sensibilizar Saber dialogar Ser um comunicador Ter uma linguagem apropriada aos

trabalhadores Paciecircncia para ensinar Habilidade para simplificar Disposiccedilatildeo para criar Disposiccedilatildeo a ouvir discutir e aprender

Uma Formaccedilatildeo acadecircmica Que tenha envolvimento com a sociedade Que busque perguntas para pesquisa na

sociedade Problematize reflita sobre o tema Que o curriacuteculo seja baseado na realidade

brasileira

A partir das entrevistas observou-se a distacircncia entre os contadores e os trabalhadores O

profissional da contabilidade ainda exerce seu trabalho de uma forma tradicional sem

compreender muito a especificidade de um empreendimento da ES em consequumlecircncia natildeo haacute

uma maior aproximaccedilatildeo do contador com os cooperados da entidade Isso ficou patente nos

relatos dos cooperados entrevistados que em sua maioria natildeo abordavam o contador para

pedir esclarecimentos sobre a contabilidade Alguns argumentaram falta de tempo outros

falta de interesse

96

Entretanto quando questionados sobre o perfil que um contador da ES deveria possuir

destacaram qualidades como paciecircncia adoccedilatildeo de linguagem simples habilidade para

simplificar conforme trechos a seguir

[] eu lembro quando trabalhava laacute no Liceu eu nem tinha interesse em saber as financcedilas do

patratildeo Eu queria o meu trabalhar direitinho e o meu Aqui natildeo a gente se envolve Entatildeo a gente

tem aquela vontade de querer saber como estatildeo as coisas Entatildeo chega um contador que talvez taacute

acostumado a lidar soacute com outras pessoas talvez pense que agente natildeo tem interesse Talvez

agente natildeo tem a habilidade de captar as coisas Mas a gente aqui eacute todo mundo curioso em saber

como anda a empresa Precisa uma paciecircncia com a gente maior Entatildeo um cara que jaacute participou

de alguma cooperativa Que eacute diferente a coisa [] precisa ser mais paciente e ter uma habilidade de simplificar De pocircr as coisas mais simples

pra gente sabe Eu imagino se tivesse um jeito Se chega um de gravata no pescoccedilo soacute falando

coisa difiacutecil natildeo adianta muito Simplicidade neacute Acho que o importante aqui a instruccedilatildeo da

gente natildeo eacute tatildeo grande Entatildeo tem esse abismo Natildeo adianta uma pessoa bem culta e natildeo saber

lidar com agente [] [] ele podia esclarecer mais Porque vai ter que prestar conta por exemplo se for prestar o relatoacuterio pra todo o pessoal da faacutebrica Vai ter que ser uma pessoa que tem habilidade pra

demonstrar com mais simplicidade Relatoacuterios mais simples pra todo mundo entender e ver

realmente o que estaacute acontecendo[]

Na visatildeo dos especialistas o setor de contabilidade eacute uma lacuna para os empreendimentos

Por se tratar de um tema recente haacute uma dificuldade de arregimentar profissionais das aacutereas

teacutecnicas para a ES conforme relata um de seus representantes

[] de uma maneira geral o setor de contabilidade eacute uma carecircncia para os empreendimentos A ES ela eacute bastante recente embora tenha jaacute em torno de 15 a 20 anos no paiacutes enquanto tema

reconhecido mas algumas aacutereas do conhecimento se tem maior facilidade de arregimentaccedilatildeo

teacutecnica e outras um pouco mais de dificuldade A aacuterea da contabilidade e a aacuterea do direito satildeo

aacutereas com as quais natildeo se tem muito contato institucional [] alguns profissionais acabam natildeo conhecendo natildeo se especializando nessa demanda em

especiacutefico o que faz com que o mercado tenha pouquiacutessimos profissionais que conhecem de contabilidade de cooperativa [] [] o envolvimento dos profissionais estaacute muito aqueacutem da necessidade [] eu vejo que os

profissionais da contabilidade talvez a conjuntura toda a proacutepria formaccedilatildeo acadecircmica ela natildeo estaacute

voltada para a divulgaccedilatildeo pra pesquisa e reflexatildeo do tema do cooperativismo []

Para um especialista a ES tem uma natureza diferente das empresas lucrativas e daquelas sem

fins lucrativos isso justifica em parte a dificuldade de envolvimento dos contadores com a

ES uma vez que natildeo estatildeo acostumados a lidar com entidades de sistemaacuteticas diferentes da

empresa de capital conforme explica um especialista

[] no sentido latu os contadores tecircm dificuldades de trabalhar com as cooperativas que tem uma sistemaacutetica totalmente diferente das empresas de capital Na verdade a expressatildeo sem finalidade

97

lucrativa ou sem fins lucrativos de uma sociedade de pessoa coloca uma cooperativa entre uma sociedade de capital e uma sociedade civil sem fins lucrativos ou seja uma associaccedilatildeo Entatildeo o

que difere dos dois eacute que na cooperativa haacute um hiacutebrido entre a sociedade civil e uma associaccedilatildeo

mercantil[] [] que eacute uma contabilidade diferenciada das sociedades de capital natildeo tenho duacutevida O que me

faz pensar eacute como faremos para arregimentar profissionais que se especializem nessa aacuterea e que

possam trabalhar em todo esse ciacuterculo nesse entendimento do que eacute a ES e que conheccedilam natildeo soacute

as suas teacutecnicas de contabilidade mas a melhor forma de passar esse conhecimento pelos trabalhadores[]

Essa perspectiva se alinha agrave percepccedilatildeo da ANTEAG (2005) relatada no cap 1 sobre a

dificuldade de envolvimento dos contadores com a ES Para a ANTEAG o problema estaacute

vinculado agrave inovaccedilatildeo que a autogestatildeo representa e agrave formaccedilatildeo dos profissionais que ainda

estaacute centrada em empresas tradicionais seguindo as regras convencionais do mercado

consequumlentemente os profissionais terceirizados das aacutereas teacutecnicas como contabilidade e

direito desconhecem as condiccedilotildees diferenciais da autogestatildeo

Para acompanhar essa sistemaacutetica diferenciada da ES satildeo sugeridos pelos entrevistados uma

nova postura do contador um contador engajado que acompanhe os processos econocircmicos

do empreendimento conforme ressaltam

[] o que se chama de lucro na sociedade de capital se transforma em sobra na cooperativa Esse lucro na sociedade de capital pode ser distribuiacutedo mecircs a mecircs jaacute na cooperativa eacute soacute no Balanccedilo no

final do exerciacutecio financeiro Essa loacutegica de atuaccedilatildeo de certa forma requer um profissional orgacircnico trabalhando com os empreendimentos ou seja um contador ele precisa acompanhar os

processos econocircmicos do empreendimento durante um ano pra poder realizar o Balanccedilo do

empreendimento

Todo esse panorama remete a discussatildeo sobre a formaccedilatildeo do contador que natildeo o prepara para

o atendimento de sociedade de pessoas do tipo das cooperativas Nas palavras de um

especialista

[] o que se discute eacute qual a contabilidade ou visatildeo de contabilidade necessaacuteria para o

cooperativismo [] porque nem todos os contadores tecircm uma formaccedilatildeo apropriada para o

atendimento de uma sociedade que embora econocircmica de pessoas Noacutes temos grande demanda

empresarial para sociedades de capital de uns tempos pra caacute eacute que a sociedade de pessoas

entraram dentro da oacuterbita econocircmica em maior escala [] as edificaccedilotildees de gestatildeo e estas que entram em temas novos e o tema das cooperativas de

trabalho para o Brasil eacute relativamente novo ainda temos carecircncia de profissionais e temos

necessidade de produccedilatildeo acadecircmica teacutecnica cientiacutefica acerca destes temas portanto a inserccedilatildeo

ainda eacute muito baixa [] [] a universidade brasileira ela por muito tempo esteve isolada da sociedade ou seja se constituiacutea num centro hermeacutetico onde se faz pesquisa onde se faz ensino e eventualmente se faz extensatildeo Mas uma grande caracteriacutestica da universidade mesmo naquelas que faz extensatildeo

sempre foi e isso natildeo eacute opiniatildeo produzir conhecimento pra classe dominante Eacute uma questatildeo

ideoloacutegica e o Estado brasileiro natildeo eacute diferente disso Entatildeo as proacuteprias pesquisas mais facilmente

98

financiaacuteveis satildeo aquelas pesquisas voltadas ao desenvolvimento de tecnologia para o capital []

ateacute pouco tempo atraacutes natildeo se via a universidade brasileira voltada a produzir saberes para a classe trabalhadora [] precisa ter contato com a sociedade [] onde noacutes buscamos o conhecimento Noacutes buscamos o

conhecimento exclusivamente dentro dos muros da universidade Ou temos que ter a coragem de ir a sociedade e ver quais satildeo as grandes perguntas que a sociedade faz e que o universo do saber a universidade deve responder ou seja quem eacute que deteacutem o poder aiacute se entra numa questatildeo de

novo de ideologia de priorizar a atuaccedilatildeo acadecircmica eacute a sociedade ou os quadros acadecircmicos que

atribuem um grau de importacircncia agraves perguntas que devem ser respondidas

[] pouquiacutessima problematizaccedilatildeo pouquiacutessima reflexatildeo e consequumlentemente pouquiacutessima

produccedilatildeo acerca desses temas

Na visatildeo dos contadores entrevistados o problema tambeacutem passa pelo tipo de sociedade que o

contador estaacute acostumado a lidar e pela sua postura tradicional de fazer contabilidade para

atender ao fisco Nas palavras de um contador

[] os contadores estatildeo acostumados a dar informaccedilatildeo pra pessoa eles natildeo estatildeo acostumados a partilhar informaccedilatildeo a dar informaccedilatildeo para um coletivo Entatildeo satildeo poucos contadores que tem

praacutetica de dar informaccedilatildeo para um coletivo [] [] o profissional vai naquele b-a-baacute O contador prefere atender o fisco A prioridade pra ele eacute

atender o fisco Ele natildeo estaacute preocupado com as outras questotildees normalmente Ele ainda eacute um

tarefeiro

Na entrevista um contador alerta para a relaccedilatildeo de dependecircncia que pode haver entre

contador e trabalhadores da ES [] na ES vocecirc pode criar uma relaccedilatildeo de dependecircncia

vocecirc pode criar uma relaccedilatildeo paternalista com eles Entatildeo isso deve ser evitado [] Tambeacutem

aponta a formaccedilatildeo como um dos fatores responsaacuteveis por essa postura dos contadores e indica

elementos para uma nova formaccedilatildeo

[] ele vem formado pra trabalhar em empresa capitalista entatildeo pra trabalhar na ES como sou

cristatildeo ele vai ter que se converter e reconhecer que ele tem viacutecios de formaccedilatildeo [] [] acho que tem que ter um outro curriacuteculo com a realidade do Brasil As universidades do paiacutes

prepara como se todos os contadores fossem trabalhar em uma SA O mercado brasileiro primeiro tem poucas empresas sa [] ele natildeo eacute formado pra trabalhar com pequena empresa ele

natildeo eacute formado pra trabalhar com entidades sociais ele natildeo eacute formado pra trabalhar com cooperativas e muito menos com Economia Solidaacuteria [] [] o que eacute moderno O que eacute tecnoloacutegico Eacute trabalhar com as grandes empresas E natildeo eacute

verdade Eu natildeo concordo com isso[] novas tecnologias vocecirc cria em pequenos negoacutecios vocecirc

cria em experiecircncias associativas diferenciadas como consoacutercios de empresas como redes novas e

experiecircncias de outros modelos e na Economia Solidaacuteria Entatildeo os curriacuteculos de contabilidade

natildeo estatildeo abertos para estas questotildees de novas tecnologias []

No que tange ao perfil desejado ou esperado do contador a fim de se estabelecer uma boa

relaccedilatildeo entre contador e trabalhadores da ES os entrevistados destacaram habilidades como

99

conhecer as teacutecnicas saber resolver problemas saber transferir conhecimento ter

sensibilidade saber sensibilizar saber dialogar ser um comunicador ter uma linguagem

apropriada aos trabalhadores disposiccedilatildeo para criar disposiccedilatildeo para ouvir discutir e

aprender Eis alguns trechos das entrevistas

[] ele tem que ao mesmo tempo que saber resolver os problemas ele tecircm que tambeacutem serem

repassadores de conhecimento eles tecircm que trabalhar com formaccedilatildeo de formadoresEles Tecircm que

ensinar para que estes dirigentes dos empreendimentos natildeo soacute absorvam estes conhecimentos como eles saibam replicar os conhecimentos obtidos[] [] ter sensibilidade capacidade de sensibilizar e de dialogar natildeo soacute sendo um extensionista mas

ser um comunicador Ou seja ele natildeo vai estender o conhecimento dele mas ele vai dialogar para ser entendimento por esses trabalhadores Por uma simples razatildeo satildeo trabalhadores excluiacutedos satildeo

trabalhadores que natildeo tem em princiacutepio capacidade de entender sozinhos o empreendimento

econocircmico [] entatildeo eacute preciso uma didaacutetica especial de relacionamento com esses trabalhadores porque natildeo se consegue trabalhar com foacutermulas com esse puacuteblico [] conseguir ser percebido e entendido por esses trabalhadores Porque agraves vezes natildeo basta ter

conhecimento eacute preciso passaacute-lo e no caso dessa populaccedilatildeo eacute preciso ter uma linguagem adequada

para que se tenha o respeito e consequumlentemente a apreensatildeo por esses trabalhadores no seu

negoacutecio[] [] alguns termos que eles usam na cooperativa eu tambeacutem natildeo sei Da atividade econocircmica tem

questotildees pra qualquer contador montar um plano de contas vocecirc tem que descer vocecirc tem que

conhecer o processo inteiro da produccedilatildeo industrializaccedilatildeo pra colocar as coisas certas [] ele natildeo pode pegar os manuais que ele tem e querer adaptar E o que eu vejo por aiacute satildeo

adaptaccedilotildees E nem tudo daacute pra adaptar Ele tem que ter disposiccedilatildeo pra criar instrumentos novos [] tem que aprender a ouvir discutir estar disposto a aprender a ES () Eacute uma relaccedilatildeo quando

vocecirc vai pra laacute vocecirc tem que estar disposto a aprender tambeacutem Vocecirc vai aprender com os

trabalhadores

Sintetizando as demandas apontadas nesse toacutepico podem ser agrupadas em dois pontos

mudanccedilas na formaccedilatildeo do contador e desenvolvimento de habilidades para o trabalho com os

empreendimentos autogestionaacuterios

456 Legislaccedilatildeo contaacutebil

Os autores citados no cap 2 e 3 argumentam que a legislaccedilatildeo ainda natildeo capta a

especificidade da autogestatildeo Isso se aplica agrave forma de registro dos eventos econocircmico-

financeiros agraves demonstraccedilotildees contaacutebeis e tambeacutem agrave constituiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo dessas

entidades Para avaliar esse conjunto foi necessaacuterio tambeacutem analisar a legislaccedilatildeo

cooperativista e natildeo soacute a legislaccedilatildeo contaacutebil para o cooperativismo tendo em vista que as

100

duas legislaccedilotildees estatildeo bastante associadas Dessa forma essa dimensatildeo analisou a pertinecircncia

dessas legislaccedilotildees agrave realidade e necessidade da ES

Quadro 11- Legislaccedilatildeo contaacutebil

Grupo Realidade Encontrada

(o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Natildeo questionado

Especialistas

Legislaccedilatildeo atrasada e natildeo adequada agrave

realidade brasileira Dificuldade de compreensatildeo do conceito e

operacionalizaccedilatildeo do ato cooperativo e

consequumlentemente a tributaccedilatildeo nas

cooperativas Marco juriacutedico das cooperativas ainda

vinculado agraves cooperativas de produtores

rurais Dificuldade de mensurar participaccedilatildeo do

trabalho Dificuldades dos profissionais com a

legislaccedilatildeo Insuficiecircncia de produccedilatildeo cientiacutefica nessa

aacuterea

Contadores

Legislaccedilatildeo inadequada Legislaccedilatildeo trata desiguais como iguais (grande e pequeno empreendimento)

Tratamento diferenciado entre

grandes e pequenos empreendimentos

Legislaccedilatildeo diferenciada para

cooperativas de trabalho Legislaccedilatildeo apropriada para a

Economia Solidaacuteria Formaccedilatildeo de contadores na aacuterea

de cooperativismo e ES

O quadro 11 mostra a visatildeo dos especialistas sobre a legislaccedilatildeo cooperativista para os quais

ela eacute inadequada uma vez que natildeo contempla plenamente as cooperativas de trabalho que

constituem uma grande parte dos empreendimentos de ES Um especialista explica

[] a legislaccedilatildeo cooperativista natildeo eacute adequada O cooperativismo brasileiro em atraso em relaccedilatildeo

ao cooperativismo do resto do mundo O marco brasileiro estaacute muito vinculado agraves cooperativas de

produtores Entatildeo o cooperativismo brasileiro se ressente de uma maior inserccedilatildeo do

cooperativismo de trabalho [] cooperativismo de trabalho brasileiro eacute constituiacutedo nos marcos da

lei vigente mas eacute tratado da mesma forma esse eacute o ressentimento que as cooperativas de produccedilatildeo

agriacutecola possui e as dinacircmicas de estruturaccedilatildeo e de funcionamento dessas cooperativas de trabalho

satildeo totalmente diferentes O cooperativismo de trabalho eacute a reuniatildeo de pessoas aiacute natildeo eacute uma reuniatildeo de meios de produccedilatildeo ou de produtores mas eacute de pessoas com o objetivo de gerar

trabalho e renda a partir de suas estruturas a partir de seus mecanismos de funcionamento e ateacute

mesmo de suas estruturas produtivas []

101

Esse ponto de vista coincide com os autores revisados no cap 2 Tauile (2005) tambeacutem

argumenta que o marco legal natildeo eacute adequado agrave sociedade de pessoas pois contempla somente

as sociedades de capital

Outra questatildeo levantada diz respeito agrave dificuldade de compreensatildeo do conceito e

operacionalizaccedilatildeo do ato cooperativo o que dificulta sobremaneira a execuccedilatildeo da tributaccedilatildeo

nas cooperativas conforme relata um especialista

[] essa eacute uma grande dificuldade que se tem de entender essa questatildeo do ato cooperativo

Tecnicamente eacute faacutecil de entender tecnicamente se caracteriza por aquelas operaccedilotildees realizadas

entre associados de mesmo empreendimento ou entre empreendimentos cooperativos associados Agora levar isso pra praacutetica e ver tributariamente o que isso significa o ato cooperativo noacutes

precisariacuteamos natildeo soacute de um grande debate ou vaacuterias horas de reflexatildeo pra saber o que realmente eacute

tributaacutevel o que eacute passiacutevel ou natildeo de tributaccedilatildeo no que diz respeito ao ato cooperativo que acabou

se tornando ateacute mesmo uma letra morta [] a gente tem grande dificuldade de fazer essa letra essa lei valer Porque haacute grandes confusotildees dentro do mundo juriacutedico sobre qual o entendimento que se

tem jaacute consolidado dentro dos tribunais sobre o que eacute o ato cooperativo e qual eacute sua aacuterea de

incidecircncia []

Tambeacutem foi evidenciada a dificuldade de mensuraccedilatildeo da participaccedilatildeo de cada trabalhador

por ocasiatildeo da distribuiccedilatildeo das sobras Diante do contexto de indecisotildees da ordem juriacutedica eacute

justificada em parte a dificuldade dos contadores de conhecimento da legislaccedilatildeo Eis as falas

do especialista

[] a legislaccedilatildeo fala que as sobras seratildeo rateadas ou divididas ou aplicadas de acordo com a

participaccedilatildeo dos associados na cooperativa e por participaccedilatildeo do trabalho eacute difiacutecil de mesurar o

que torna um empreendimento urbano ou de Economia Solidaacuteria ou uma cooperativa de trabalho

no sentido especiacutefico mas faacutecil de avaliar pela participaccedilatildeo proporcional agraves operaccedilotildees

relativamente ao nuacutemero de horas que o trabalhador esteve no empreendimento natildeo soacute sua

produtividade em si [] [] diante das indecisotildees da ordem juriacutedica aliado a outros fatores [] de uma maneira geral haacute

uma dificuldade lato sensu em relaccedilatildeo ao conhecimento mas natildeo se trata apenas de conhecimento

mas se trata simplesmente de indecisotildees da ordem juriacutedica em relaccedilatildeo ao que significa o

cooperativismo brasileiro e quais satildeo seus principais eixos de atuaccedilatildeo ou seja se agente natildeo

consegue nem identificar conceito e operacionalidade de ato cooperativo eacute um grande indicador

de que a estrutura juriacutedica brasileira natildeo estaacute adequada a ES

Jaacute na visatildeo dos contadores a legislaccedilatildeo natildeo eacute adequada porque natildeo faz diferenciaccedilatildeo entre

pequenos e grandes empreendimentos no que diz respeito agrave legalizaccedilatildeo e tributaccedilatildeo eacute o que

revela trecho da entrevista de um contador

[] eacute evidente que natildeo eacute adequada pela seguinte questatildeo Trata os desiguais como iguais Entatildeo o

que significa isso Tratando-se especificamente de cooperativa eu monto uma cooperativa com 20 mulheres costureiras ela vai ter o mesmo tratamento legal que uma grande cooperativa que pode contratar profissionais Entatildeo haacute um tratamento desigual

102

Entretanto salienta que natildeo se trata de eliminar obrigaccedilotildees legais no que diz respeito agrave

apresentaccedilatildeo de documentos trata-se de simplificar para favorecer conforme argumenta

[] eu jaacute vi gente defendendo pra simplificar para que natildeo tenha que fazer Balanccedilo Eu acho um

grande equiacutevoco A gente tem que simplificar pra melhorar as condiccedilotildees de competiccedilatildeo

econocircmica de inserccedilatildeo econocircmica em relaccedilatildeo aos empreendimentos tem que favorecer

simplificar() Tem que haver um tratamento diferenciado mas natildeo vincular a questatildeo essa questatildeo

contaacutebil das obrigaccedilotildees que satildeo cobradas pela legislaccedilatildeo eliminar a possibilidade de ter uma

contabilidade que atenda aos trabalhadores daquele empreendimento []

Nesse contexto de discussatildeo sobre a legislaccedilatildeo contaacutebil ressaltam-se algumas demandas

Primeiramente haacute necessidade de definiccedilatildeo de um novo marco legal apropriado agrave realidade

dos empreendimentos autogestionaacuterios que regulamente a criaccedilatildeo funcionamento e extinccedilatildeo

desses empreendimentos A segunda diz respeito agrave adequaccedilatildeo da legislaccedilatildeo contaacutebil agrave nova

formataccedilatildeo juriacutedica na qual o reconhecimento da peculiaridade dos empreendimentos se

reflita na instituiccedilatildeo de novos instrumentos de informaccedilatildeo sistemaacuteticas diferenciadas de

mensuraccedilatildeo e registros dos eventos econocircmicos e sociais novas orientaccedilotildees para a

tributaccedilatildeo

As evidecircncias indicaram que em geral as demandas e desafios captados pela pesquisa em

cada aspecto da dimensatildeo contaacutebil se aproximam daquelas levantadas pelos autores

pesquisados Em alguns aspectos a coincidecircncia eacute visiacutevel em outros o trabalho de campo

acrescentou novas demandas Entretanto satildeo necessaacuterias pesquisas mais aprofundadas

mediante as quais seja possiacutevel identificar novos aspectos da dimensatildeo contaacutebil natildeo incluiacutedos

neste trabalho Por outro lado houveram acreacutescimos no inventaacuterio de elementos construtivos

de uma nova relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo mas ainda satildeo insuficientes carecendo de

novas pesquisas sobre o assunto

103

CONCLUSAtildeO

Agrave luz dos marcos conceituais partiu-se do pressuposto da peculiaridade da ES e autogestatildeo

tendo em vista a dupla natureza dos seus empreendimentos econocircmica e social

Consequumlentemente desde o iniacutecio concebeu-se esses empreendimentos como um novo grupo

de usuaacuterios e como tal remete demandas especiacuteficas agrave contabilidade

Seguindo a mesma orientaccedilatildeo das pesquisas realizadas anteriormente sobre a relaccedilatildeo

contabilidade e autogestatildeo buscou-se atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica compreender e

analisar a dimensatildeo contaacutebil nos processos de autogestatildeo dos empreendimentos solidaacuterios

levantando seus desafios e demandas contaacutebeis suscitadas nesse processo

Os resultados obtidos confirmaram em grande parte as constataccedilotildees realizadas pelos

precursores desse campo de pesquisa Por outro lado acrescentam novas informaccedilotildees que

contribuem agrave compreensatildeo dos vaacuterios aspectos da dimensatildeo contaacutebil no processo de

autogestatildeo Em cada aspecto analisado denotou-se uma distacircncia entre as duas realidades a

encontrada e a esperada reafirmando a premecircncia de um ajustamento da aacuterea contaacutebil agraves

reais necessidades dos empreendimentos solidaacuterios no que se refere a forma de comunicaccedilatildeo

conteuacutedo da informaccedilatildeo utilidade da informaccedilatildeo apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo relaccedilatildeo

contador-usuaacuterio e legislaccedilatildeo contaacutebil A realidade demandas e desafios de cada aspecto satildeo

sintetizados a seguir

1- Forma de comunicaccedilatildeo As evidecircncias demonstraram a subutilizaccedilatildeo das ferramentas contaacutebeis motivadas por

diversos fatores Normalmente apenas o Balanccedilo e DRE satildeo confeccionados na entidade Na

visatildeo de grande parte dos entrevistados esses instrumentos satildeo episoacutedicos e natildeo

proporcionam o monitoramento e avaliaccedilatildeo da gestatildeo Dessa forma percebem-se duas

grandes demandas a primeira eacute a utilizaccedilatildeo dos instrumentos disponiacuteveis de auxiacutelio agrave gestatildeo e

a outra pede a criaccedilatildeo de novos instrumentos de informaccedilatildeo apropriados agrave dinacircmica

econocircmica e social dos empreendimentos autogestionaacuterios

2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

Constatou-se que os cooperados tecircm dificuldades de compreender o conteuacutedo das

demonstraccedilotildees contaacutebeis Um dos principais responsaacuteveis por essa realidade eacute a linguagem

104

teacutecnica e codificada adotada pelos relatoacuterios incompatiacutevel com o niacutevel de educaccedilatildeo formal

dos trabalhadores e com a sua insuficiente familiaridade com a linguagem de negoacutecios

Portanto uma demanda premente da ES eacute uma linguagem apropriada agrave realidade social dos

trabalhadores a fim de que a contabilidade se torne acessiacutevel e compreensiacutevel a eles

3- Utilidade da informaccedilatildeo

Percebeu-se que apesar da subutilizaccedilatildeo dos instrumentos contaacutebeis no processo decisoacuterio os

trabalhadores reconhecem a necessidade do emprego da informaccedilatildeo contaacutebil em todo o

processo de gestatildeo Para tanto faz-se necessaacuteria a apropriaccedilatildeo desse conhecimento por parte

dos trabalhadores ao mesmo tempo em que tambeacutem se reforccedila a necessidade de novos

instrumentos apropriados agrave autogestatildeo Outra demanda associada diz respeito agrave mudanccedila de

postura dos contadores e formadores na qual se estimule o uso da contabilidade

conscientizando os trabalhadores sobre sua importacircncia

4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Nesse aspecto foram evidenciados os desafios agrave apropriaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil pelos

proacuteprios trabalhadores Em geral a apropriaccedilatildeo se daacute por meio de cursos de formaccedilatildeo

Entretanto esses cursos nem sempre atingem seus objetivos devido agrave implementaccedilatildeo de

didaacutetica e linguagem natildeo apropriada ao puacuteblico Portanto levantou-se a necessidade de uma

formaccedilatildeo permanente cuja linguagem e didaacutetica seja adequada agrave realidade dos trabalhadores

e propicie uma mudanccedila de comportamento no que se refere agrave gestatildeo

5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Foi detectada a existecircncia de uma abismo na relaccedilatildeo do contador com os trabalhadores da ES

O profissional da contabilidade ainda atua de forma tradicional prestando assessoria aos

empreendimentos quando seria necessaacuteria uma atuaccedilatildeo que privilegiasse a apropriaccedilatildeo do

conhecimento pelos proacuteprios trabalhadores Um dos fatores que explicam essa realidade eacute a

formaccedilatildeo do contador que ainda eacute voltada para atuaccedilatildeo em grandes empresas e natildeo desperta

para o desenvolvimento da sensibilidade social e natildeo capacita para a gestatildeo de empresas

sociais Isto tambeacutem explica em parte o baixo nuacutemero de contadores especializados em

cooperativismo ou empreendimentos autogestionaacuterios Numa nova perspectiva de atuaccedilatildeo o

contador assumiria outro papel o de facilitador do conhecimento( formador) Dessa forma as

demandas levantadas centram-se no desenvolvimento de novas habilidades do contador

consequumlentemente isso acarreta a demanda de uma nova formaccedilatildeo acadecircmica

105

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

A realidade mostrou uma seacuterie de incertezas e equiacutevocos da ordem juriacutedica no que se refere

aos empreendimentos autogestionaacuterios Primeiramente haacute necessidade de definiccedilatildeo de um

novo marco legal apropriado agrave realidade dos empreendimentos autogestionaacuterios que

regulamente a criaccedilatildeo funcionamento e extinccedilatildeo desses empreendimentos Na sequumlecircncia

tambeacutem urge a adequaccedilatildeo da legislaccedilatildeo contaacutebil agrave nova formataccedilatildeo juriacutedica na qual o

reconhecimento da peculiaridade dos empreendimentos se reflita na normatizaccedilatildeo de novos

instrumentos de informaccedilatildeo sistemaacuteticas diferenciadas de mensuraccedilatildeo e registros dos eventos

econocircmicos e sociais e novas bases para a tributaccedilatildeo

Esses pontos levantados confirmam em certa medida as constataccedilotildees feitas por autores

citados na pesquisa bibliograacutefica os quais tambeacutem identificaram as demandas desse novo

usuaacuterio da contabilidade a exemplo de Almeida e Dantas (2005 p09) que sistematizaram as

demandas a partir de trecircs eixos novos modelos de informaccedilotildees novo perfil de contador e

nova formaccedilatildeo conforme visto no cap 3

Por outro lado a investigaccedilatildeo empiacuterica como jaacute referido tambeacutem contribuiu para o

levantamento de elementos ou pistas para a reduccedilatildeo da distacircncia entre as reais necessidades

dos empreendimentos e o aparato da contabilidade para seu atendimento Com base nessas

evidecircncias empiacutericas e na bibliografia pesquisada evidenciaram-se os seguintes elementos

A nova linguagem deveria ser simples e objetiva buscando a aproximaccedilatildeo da

linguagem contaacutebil agrave linguagem coloquial dos trabalhadores Assim ela seria acessiacutevel

e apropriada agrave sua realidade social

Os novos instrumentos de informaccedilatildeo contaacutebil deveriam satisfazer plenamente as

reais necessidades de informaccedilatildeo dos empreendimentos expressando a dinacircmica e

complexidade da autogestatildeo Deveriam tambeacutem propiciar informaccedilotildees permanentes

que permitam o monitoramento e avaliaccedilatildeo da execuccedilatildeo das accedilotildees planejadas

coletivamente Nessa reflexatildeo vale a pena resgatar os elementos apontados pelos

autores Almeida e Dantas (2005) no cap 3 agrave construccedilatildeo de novos instrumentos Para

os autores eacute necessaacuterio aprofundar-se em pesquisas de novos procedimentos contaacutebeis e

refletir sobre a possibilidade de adaptaccedilatildeo de alguns procedimentos e sistemas contaacutebeis

106

alternativos dentre os quais a Contabilidade por Fundos Contabilidade Orccedilamentaacuteria e

a Mensuraccedilatildeo do Resultado Econocircmico

Uma nova atuaccedilatildeo dos profissionais da aacuterea contaacutebil deveria ser pautada em duas

frentes pesquisa praacutetica (para resoluccedilatildeo de problemas) e na transmissatildeo do

conhecimento (formaccedilatildeo) Isso requer o desenvolvimento de novas qualidades e

habilidades ou seja um novo perfil dos contadores Algumas caracteriacutesticas desse novo

contador conhecer as teacutecnicas saber resolver problemas saber transferir conhecimento

ter sensibilidade saber sensibilizar saber dialogar ser um comunicador usar uma

linguagem apropriada aos trabalhadores paciecircncia para ensinar habilidade para

simplificar disposiccedilatildeo e capacidade para criar disposiccedilatildeo para ouvir discutir e

aprender Essas caracteriacutesticas somam-se agravequelas levantadas por autores no cap3 No

que tange agrave formaccedilatildeo dos trabalhadores em contabilidade alguns elementos tambeacutem

foram identificados Essa deveria utilizar a educaccedilatildeo popular sensibilizar para a

importacircncia da contabilidade ser permanente e estruturada de forma crescente

A nova formaccedilatildeo dos contadores remete agrave discussatildeo de um outro curriacuteculo o qual

deveria ser baseado na realidade da economia brasileira e nas necessidades da classe

trabalhadora Uma outra questatildeo associada diz respeito ao incremento de pesquisas

sobre ES ou seja a produccedilatildeo acadecircmica deveria voltar-se mais para estudos de

interesse da classe trabalhadora tal como o tema Economia Solidaacuteria Deveria

tambeacutem buscar as perguntas ou temas geradores das pesquisas na proacutepria sociedade

como tambeacutem problematizar refletir a partir deles

A legislaccedilatildeo contaacutebil deveria ser reformulada a partir de uma nova formataccedilatildeo

juriacutedica dos empreendimentos autogestionaacuterios na qual se reconhecessem os

empreendimentos autogestionaacuterios como novos atores Com base nesse pressuposto a

legislaccedilatildeo contaacutebil deveria segregar tributariamente os grandes e pequenos

empreendimentos As demonstraccedilotildees exigidas por lei deveriam efetivamente ser

instrumentos de informaccedilatildeo e natildeo apenas obrigatoriedade legal Para tanto deveriam

ser criados relatoacuterios condizentes com a necessidade informacional desse segmento

social no tocante agrave mensuraccedilatildeo escrituraccedilatildeo e evidenciaccedilatildeo dos eventos econocircmicos e

sociais

107

Portanto este trabalho soma-se agraves pesquisas anteriores ampliando o campo de conhecimento

sobre o assunto mediante o levantamento de novas demandas e identificando novos elementos

agrave construccedilatildeo de uma nova relaccedilatildeo entre contabilidade e autogestatildeo Entretanto como

mencionado ainda haacute muitas demandas para aprofundamento de pesquisas sobre novos

instrumentos de informaccedilatildeo formaccedilatildeo do contador da ES legislaccedilatildeo contaacutebil para a

autogestatildeo entre outras Cabe ressaltar entretanto que pesquisas nessa aacuterea tecircm como preacute-

requisito a assimilaccedilatildeo do contexto no qual a contabilidade estaacute inserida

Por isso nesta pesquisa foi necessaacuterio compreender o significado conceitual e operacional da

autogestatildeo e sua vinculaccedilatildeo com conceitos de participaccedilatildeo democracia e cidadania Nessa

perspectiva a participaccedilatildeo democraacutetica soacute se faz fecunda quando haacute equumlidade no acesso agraves

informaccedilotildees e igualdade econocircmica entre os trabalhadores que participam do processo

decisoacuterio da gestatildeo

Nesse contexto a contabilidade tem fundamental importacircncia uma vez que eacute requerida

enquanto instrumento vital da democracia aquele capaz de promover a simetria

informacional proporcionar a transparecircncia da gestatildeo propiciar a participaccedilatildeo cidadatilde e

auxiliar na instauraccedilatildeo da confianccedila entre os trabalhadores Desse modo a contabilidade

reafirma seu papel social mediante sua contribuiccedilatildeo ao desenvolvimento econocircmico de

empreendimentos promotores da inclusatildeo social e de auxiacutelio ao desenvolvimento de relaccedilotildees

mais humanas e solidaacuterias

108

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de dissertaccedilotildees e teses Satildeo Paulo 2004

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local Conceitos em construccedilatildeo Satildeo Paulo Polis Programa de Gestatildeo Puacuteblica e Cidadania

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WANDERLEY Mariacircngela B Refletindo sobre a noccedilatildeo de exclusatildeo In SAWAIA Bader (

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ZAMPOLO Almir O estado da arte em autogestatildeo um estudo exploratoacuterio Satildeo Paulo

2000 Dissertaccedilatildeo (mestrado em administraccedilatildeo) Departamento de Administraccedilatildeo da

Faculdade de Administraccedilatildeo Economia e Contabilidade da Universidade de Satildeo Paulo

______ A muacuteltipla percepccedilatildeo dos elementos de autogestatildeo em uma instituiccedilatildeo religiosa

Satildeo Paulo 2004 Tese (doutorado em administraccedilatildeo) Departamento de Administraccedilatildeo da

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115

APEcircNDICES

116

APEcircNDICE 01 - PROTOCOLO DE PESQUISA

1 -VISAtildeO GERAL DO PROJETO

Tiacutetulo Contabilidade e Autogestatildeo - Um estudo sobre a dimensatildeo contaacutebil nos processos de

autogestatildeo dos empreendimentos de Economia Solidaacuteria

11 Objetivos da pesquisa

O objetivo desta pesquisa eacute compreender e analisar a dimensatildeo contaacutebil nos processos de

autogestatildeo em empreendimentos solidaacuterios levantando seus desafios e as demandas

contaacutebeis suscitadas nesse processo a partir de 06 perspectivas a) Forma de comunicaccedilatildeo b)

Conteuacutedo da informaccedilatildeo c) Utilidade da informaccedilatildeo d) Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo e)

Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio f) Legislaccedilatildeo contaacutebil

12 Questotildees de pesquisa

Os objetivos da pesquisa podem ser traduzidos a partir das seguintes questotildees

1) Como a informaccedilatildeo contaacutebil eacute empregada nos empreendimentos autogestionaacuterios

2) Quais os desafios e demandas suscitados em cada um dos aspectos da dimensatildeo contaacutebil

nos processos de autogestatildeo

117

13 Hipoacuteteses

A partir da revisatildeo da literatura depreende-se que a informaccedilatildeo contaacutebil eacute essencial a qualquer

entidade puacuteblica ou privada Que esta informaccedilatildeo para ser uacutetil agrave tomada de decisotildees deve

revestir-se de alguns pressupostos sejam eles relevacircncia comparabilidade materialidade

Em se tratando da informaccedilatildeo contaacutebil apropriada para os empreendimentos de Economia

Solidaacuteria os estudos recentes sugerem que a informaccedilatildeo contaacutebil natildeo atende satisfatoriamente

agraves demandas informacionais da Economia Solidaacuteria

Dessa forma situando-se na linha das pesquisas anteriores esta investigaccedilatildeo parte do

pressuposto de que os empreendimentos solidaacuterios tecircm necessidades informacionais ainda

natildeo atendidas satisfatoriamente pelo aparato contaacutebil disponiacutevel Tendo em vista que os

empreendimentos possuem dupla natureza econocircmica e social e ainda que os usuaacuterios da

contabilidade satildeo trabalhadores natildeo acostumados com a linguagem de mercado as demandas

suscitadas agrave contabilidade e a necessidades dos empreendimentos autogestionaacuterios passam

pelos seguintes aspectos

a) Forma de comunicaccedilatildeo dos eventos ocorridos (linguagem demonstraccedilotildees)

b) Conteuacutedo da informaccedilatildeo (natildeo expressa a complexidade da autogestatildeo orccedilamento

coletivo execuccedilatildeo compartilhada etc)

c) Utilidade da informaccedilatildeo (deveria auxiliar em todos os processos de gestatildeo-

planejamento execuccedilatildeo controle e avaliaccedilatildeo dos resultados)

d) Apropriaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil (a contabilidade ainda eacute uma caixa preta

conhecida apenas pelos contadores necessidade de popularizar a contabilidade atraveacutes de

teacutecnicas de ensino apropriadas para o puacuteblico)

e) Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio (contadores natildeo preparados para lidar com a

especificidade da autogestatildeo)

f) Legislaccedilatildeo contaacutebil (ela estaacute adequada agrave realidade dos empreendimentos)

118

Em siacutentese o resultado encontrado poderaacute ser esquematizado conforme quadro abaixo

Quadro-resumo dos resultados

Realidade encontrada

( o que eacute) Realidade esperada

Dimensotildees cooperados especialistas contadores ( o que deveria ser)

1- Forma de comunicaccedilatildeo 2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo 3- Utilidade da informaccedilatildeo 4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo 5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio 6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

O quadro traccedilaraacute um paralelo entre a realidade observada captada pelas lentes dos

cooperados especialistas e contadores e a realidade esperada desenhada pelas observaccedilotildees

entrevistas e literatura consultada As dimensotildees listadas no quadro representam os

aspectos contaacutebeis a serem analisados os quais satildeo descritos em seguida

1 Forma de comunicaccedilatildeo

Neste dimensatildeo seraacute avaliada a linguagem dos relatoacuterios demonstraccedilotildees e outros

instrumentos da contabilidade Conforme a bibliografia pesquisada a linguagem contaacutebil eacute

formal distanciando-se dos trabalhadores que na maioria natildeo possuem altos niacuteveis de

escolaridade A linguagem natildeo traduz a realidade econocircmica e financeira da entidade

2 Conteuacutedo da informaccedilatildeo

O conteuacutedo diz respeito agrave informaccedilatildeo contaacutebil em si Conforme observaccedilotildees de autores a

contabilidade tradicional natildeo consegue captar a complexidade das relaccedilotildees inclusas no

processo de autogestatildeo tais como o orccedilamento elaborado coletivamente a execuccedilatildeo e

controles compartilhados A intenccedilatildeo eacute averiguar este aspecto

119

3 Utilidade da informaccedilatildeo

Quando se avalia a utilidade da informaccedilatildeo estaacute se perguntando se a contabilidade eacute

efetivamente supridora das informaccedilotildees necessaacuterias agraves etapas do processo de autogestatildeo ou

seja se ela auxilia no processo de tomada de decisotildees gerenciais Eis a questatildeo

4 Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Aqui busca-se avaliar se a contabilidade consegue ser assimilada pelos trabalhadores usuaacuterios

da mesma Um dos princiacutepios fundamentais da Economia Solidaacuteria sugere a socializaccedilatildeo de

todo o conhecimento de gestatildeo em oposiccedilatildeo agrave tiacutepica empresa que resguarda estes

conhecimentos ao grupo da gerecircncia Com base nesse princiacutepio presume-se que os

trabalhadores da ES devam tambeacutem se apropriar do conhecimento contaacutebil Dessa forma

busca-se nessa perspectiva compreender as dificuldades para a assimilaccedilatildeo do conhecimento

contaacutebil

5 Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Nesta perspectiva seraacute analisada a relaccedilatildeo dos usuaacuterios dos empreendimentos

autogestionaacuterios com os profissionais da aacuterea contaacutebil Conforme relatos contidos na

bibliografia pesquisada as aacutereas teacutecnicas tecircm dificuldades de perceber a especificidade da

autogestatildeo Portanto pretende-se compreender o envolvimento do contabilista com a

autogestatildeo

6 Legislaccedilatildeo contaacutebil

Alguns autores argumentam que a legislaccedilatildeo contaacutebil ainda natildeo capta a especificidade da

autogestatildeo Isso se aplica agrave forma de registro dos eventos econocircmico-financeiros agraves

demonstraccedilotildees contaacutebeis e tambeacutem agrave constituiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo destas entidades Portanto

cabe focar os itens em que a legislaccedilatildeo natildeo atende agraves necessidades particulares destas

entidades

14 Criteacuterios para a seleccedilatildeo da unidade de estudo

O principal criteacuterio para a escolha da unidade onde se processaraacute a investigaccedilatildeo eacute a

autogestatildeo Isto eacute buscou-se um empreendimento em que a gestatildeo eacute realizada por todos os

trabalhadores em oposiccedilatildeo aos empreendimentos nos quais a administraccedilatildeo eacute exercida

120

apenas pelos diretores Participar da gestatildeo significa atuar nos altos niacuteveis de decisotildees

aquelas que vatildeo aleacutem da organizaccedilatildeo do trabalho mas que tambeacutem compreendem a indicaccedilatildeo

da destinaccedilatildeo dos recursos organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e demais decisotildees que afetem a vida da

entidade

Outro criteacuterio importante utilizado foi a formalizaccedilatildeo do empreendimento Com se sabe a

economia solidaacuteria tambeacutem eacute compreendida por empreendimentos coletivos informais Tal

opccedilatildeo se deve ao fato de que a inscriccedilatildeo junto aos oacutergatildeos governamentais necessariamente

requerer uma organizaccedilatildeo contaacutebil mais formal

Dessa forma estas entidades possuem registros formais de suas atividades possibilitando as

bases para a investigaccedilatildeo

2 COLETA DE DADOS

O estudo de caso cuja intenccedilatildeo eacute desvelar a realidade da dimensatildeo contaacutebil nos

empreendimentos autogestionaacuterios selecionou as seguintes teacutecnicas de coleta de dados

Entrevistas

Registro em arquivos

Observaccedilatildeo direta

As entrevistas com cooperados especialistas e profissionais da aacuterea contaacutebil pretendem

capturar informaccedilotildees sobre os procedimentos contaacutebeis utilizados a percepccedilatildeo sobre os

instrumentos de informaccedilatildeo contaacutebil os desafios para sua assimilaccedilatildeo enfim propiciaratildeo

elementos que avaliem os aspectos contaacutebeis ou seja caracterizaratildeo as dimensotildees de anaacutelise

Os registros em arquivos tambeacutem contribuiratildeo para a definiccedilatildeo das dimensotildees de anaacutelise

mais especificamente contribuiratildeo para descriccedilatildeo anaacutelise e compreensatildeo dos relatoacuterios e

documentos contaacutebeis utilizados pela entidade

Finalmente a observaccedilatildeo direta captaraacute pormenores e detalhes que complementaratildeo as

outras teacutecnicas tais como ambiente fiacutesico cotidiano de trabalho relaccedilotildees interpessoais

processos de decisotildees etc

121

3 QUESTOtildeES ORIENTADORAS Agrave COLETA DE DADOS

A coleta de dados natildeo prescinde de um roteiro baacutesico de questotildees que oriente agrave captaccedilatildeo de

dados Dessa forma abaixo satildeo apresentadas questotildees relacionadas que extraem informaccedilotildees

sobre aspectos descritivos da entidade bem como informaccedilotildees diretamente relacionadas com

as dimensotildees em questatildeo assim organizadas

A) Ambiente externo

1) Quais satildeo os clientes e fornecedores da empresa

2) Quais satildeo os principais concorrentes

3) Estaacute inserida em alguma rede de produccedilatildeo ou comercializaccedilatildeo

4) Tecircm algum tipo de assessoria administrativa contaacutebil e juriacutedica

5) Recebe recursos externos doaccedilotildees De entidades privadas ou puacuteblicas Quais

6) Quais as legislaccedilotildees vigentes que influenciam em suas atividades nos aspectos

operacionais financeiros e econocircmicos

7) Participa de algum foacuterum ou oacutergatildeo de representaccedilatildeo nacional eou internacional

8) A entidade desenvolve algum projeto social

B) Sistema organizacional

1) Qual a missatildeo da entidade (razatildeo de ser)

2) Existe um planejamento estrateacutegico Eacute formalizado (documentado registrado)

3) Existe um processo de planejamento execuccedilatildeo controle e avaliaccedilatildeo do plano

4) Quando acontecem as reuniotildees de planejamento

5) Como ocorre o controle da execuccedilatildeo deste planejamento

6) Existe um manual de normas e procedimentos ou regimento interno para o processo de

gestatildeo e funccedilatildeo dos gestores

7) Existem criteacuterios de avaliaccedilatildeo de desempenhos para a gestatildeo E quais satildeo os indicadores e

criteacuterios

8) Existe um sistema de informaccedilatildeo que auxilie no planejamento das atividades

9) A entidade possui um organograma

10)Quais satildeo as aacutereas

122

11)Quais satildeo os departamentos quem satildeo os responsaacuteveis

12)Quais as funccedilotildees de cada aacutereadepartamento

13)Como se relacionam as diversas aacutereas e atividades

C) Sistema social (Organizaccedilatildeo do trabalho)

1) Como satildeo distribuiacutedas as funccedilotildees

2) Como satildeo indicados os coordenadores dos departamentosaacutereas

3) Quais os criteacuterios de definiccedilatildeo das remuneraccedilotildees dos trabalhadores

4) Existem faixas de salaacuterios Como funciona

5) Existe um sistema de rotatividade de funccedilotildees

6) Os trabalhadores tecircm qualificaccedilatildeo teacutecnica apropriada a cada funccedilatildeo

7) Como estaacute organizado o sistema de qualificaccedilatildeo

8) Existe uma poliacutetica de motivaccedilatildeo organizacional

9) Como eacute o controle e organizaccedilatildeo da jornada de trabalho

10)Quais satildeo os benefiacutecios e programas direcionados aos trabalhadores e familiares

11)Como satildeo tratados os atrasos e as faltas no trabalho

12)Existe um sistema de registro e controle de recursos humanos

D) Sistema Operacional

1) Quais as principais atividades econocircmicas do empreendimento

2) Como estaacute organizada a aacuterea de produccedilatildeo ( deptos funccedilotildees)

3) Quais satildeo as formas de registros dos custos e resultados da produccedilatildeo

4) Como estaacute organizado o processo de compras Haacute um sistema

5) Haacute um sistema de controle de estoques de mateacuteria-prima e de produccedilatildeo

6) Como eacute determinado o preccedilo de venda dos produtos

7) Existe um sistema de monitoramento de vendas e de apuraccedilatildeo de resultados

8) Haacute um assessoramento juriacutedico na confecccedilatildeo dos contratos de venda

9) Qual a composiccedilatildeo do capital (distribuiccedilatildeo das quotas-partes)

123

10)Como eacute o processo de tomada de decisatildeo sobre captaccedilatildeo de recursos

11)Como estaacute a composiccedilatildeo de diacutevidas Centra-se no curto prazo ou longo prazo

12)Haacute um sistema de informaccedilotildees que auxilie na tomada de decisotildees sobre captaccedilatildeo de

recursos

E) Sistema de Informaccedilotildees

1) Existe um sistema de informaccedilotildees que subsidie as decisotildees gerenciais da entidade (comprar

vender emprestar renegociar)

2) Como estaacute organizada a contabilidade da entidade Haacute um registro formal

3) Quem realiza os registros das informaccedilotildees dos eventos ocorridos na entidade De que

forma

4) Haacute um sistema de integraccedilatildeo entre as diversas aacutereas da entidade (produccedilatildeo venda

financeiro)

5) Quais relatoacuterios satildeo produzidos

6) Existe a contabilidade dos custos das atividades

7) Como a apuraccedilatildeo dos custos eacute realizada e como esta informaccedilatildeo eacute utilizada pela entidade

8) Haacute um sistema de orccedilamento das atividades previstas

9) Quais informaccedilotildees satildeo utilizadas na confecccedilatildeo desse orccedilamento

10)Como satildeo realizados o acompanhamento comparaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo das metas e planos

estabelecidos no orccedilamento

11)Como eacute realizado o controle financeiro Haacute um sistema de fluxo de caixa

12)Haacute um sistema de contabilidade gerencial

13)Este sistema auxilia nas decisotildees da gestatildeo De que forma

14)Haacute um sistema que produz indicadores econocircmico-financeiros

15)Como estatildeo organizadas as informaccedilotildees sobre os clientes e fornecedores Haacute um banco

de dados

16)Eacute feito algum tipo de pesquisa de mercado Consulta a clientes

17)Quais os meios utilizados para conhecimento do mercado em que a entidade atua

F) Apreensatildeo do conhecimento contaacutebil

124

1) Quem elabora os relatoacuterios contaacutebeis

2) O conselho fiscal da entidade compreende os relatoacuterios contaacutebeis

3) O que os cooperados pensam da linguagem dos relatoacuterios sabem o que eacute um ativo

passivo e PL

4) Os cooperados tecircm acesso aos relatoacuterios de custos compras vendas e outros relatoacuterios

gerenciais

5) Satildeo promovidos cursos e palestras sobre gestatildeo dos negoacutecios e contabilidade

6) Existe uma entidade de apoio que contribua para a apreensatildeo da gestatildeo do negoacutecio e

contabilidade

G) Informaccedilotildees da entidade de apoio

1) Qual o histoacuterico da entidade

2) A entidade estaacute inserida a alguma rede ou associada a algum oacutergatildeo de representaccedilatildeo

nacional ou internacional

3) Recebe algum recurso puacuteblico governamental ou privado para realizar esta atividade

4) A quantas iniciativas solidaacuterias jaacute apoiou

5) Quais as formas de apoio realizado junto agraves iniciativas

6) Em quais aacutereas de conhecimento a entidade atua

7) Como eacute a relaccedilatildeo com os profissionais dessas aacutereas

8) Como eacute o relacionamento com os profissionais da aacuterea contaacutebil

9) A contabilidade e contabilistas adaptam-se facilmente agrave dinacircmica da autogestatildeo

10)Onde residem os maiores problemas para adaptaccedilatildeo

11)Como eacute repassado o conhecimento na aacuterea contaacutebil agraves entidades apoiadas

12)Na visatildeo da entidade os trabalhadores compreendem facilmente a informaccedilatildeo contaacutebil

13)Quais os maiores desafios nessa transmissatildeo

14)A contabilidade tradicional atende agraves necessidades de informaccedilatildeo da autogestatildeo Por quecirc

15)Em que aspectos a contabilidade poderia mudar

16)Qual a importacircncia da contabilidade para a autogestatildeo

17)Os sistemas de informaccedilotildees contaacutebeis satildeo acessiacuteveis Quem fornece

18)A legislaccedilatildeo contaacutebil atende plenamente agraves necessidades da autogestatildeo (formas de

registros demonstraccedilotildees)

125

5 GUIA PARA O RELATOacuteRIO FINAL

Apesar de natildeo haver nenhuma forma estereotipada para escrever um relatoacuterio de um estudo de

caso existem estrateacutegias para redigi-lo a fim de tornaacute-lo inteligiacutevel e palataacutevel ao leitor Dessa

forma a estrateacutegia selecionada para apresentar os resultados dentre as expostas por Yin (

2005 p177-180) eacute a narrativa a qual pode ser ilustrada por tabelas graacuteficos e imagens

Optou-se pela estrutura analiacutetica linear enquanto estrutura composicional do relatoacuterio Esta

estrutura eacute comumente utilizada nos relatoacuterios de estudos de casos No modelo os subtoacutepicos

compreendem o tema ou o problema que estaacute sendo estudado e uma revisatildeo da literatura Em

seguida os subtoacutepicos partem para a anaacutelise dos meacutetodos utilizados das descobertas feitas a

partir dos dados coletados e analisados e das conclusotildees e implicaccedilotildees feitas a partir das

descobertas

O relatoacuterio iniciaraacute a ser redigido tatildeo logo esteja concluiacuteda a revisatildeo de literatura comeccedilando

com o subtoacutepico da metodologia empregada em que se aprimoraraacute a metodologia inclusa no

projeto de estudo de caso

Tambeacutem poderatildeo ser redigidas antes do teacutermino da coleta de dados as informaccedilotildees

descritivas da unidade em estudo que consiste de dados quantitativos e qualitativos

concernentes ao caso

Apoacutes a coleta de dados estes seratildeo sistematizados em um Banco de dados sobre o caso cujas

informaccedilotildees seratildeo a base do relatoacuterio final

126

APEcircNDICE 02 - SOLICITACcedilAtildeO DE AUTORIZACcedilAtildeO PARA PESQUISA

127

APEcircNDICE 03 ROTEIRO DE ENTREVISTAS PARA COOPERADOS DA

COOPRAM

Entrevistado

1- Haacute quanto tempo eacute cooperado desta cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Qual eacute o setor em que trabalha E sua funccedilatildeo

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- Quais satildeo suas habilidades profissionais e qual a sua formaccedilatildeo escolar

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- O seu setor produz algum tipo de relatoacuterio ou registro das atividades

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- Em relaccedilatildeo aos relatoacuterios da contabilidade da cooperativa vocecirc tem acesso a eles Quando

Quais

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6- O que acha da linguagem dos relatoacuteriosVocecirc sabe o que eacute um ativo ou passivo ou PL

Sabe identificar o lucro da cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 - Jaacute participou de algum curso de formaccedilatildeo em contabilidade Quem promoveu

128

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8- Acha que o curso ajudou a compreender a contabilidade Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- Em sua opiniatildeo como deveriam ser apresentadas as informaccedilotildees financeiras da

cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- E os cursos de formaccedilatildeo em contabilidade como acha que deveria ser Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- Jaacute conversou com o contador da entidade alguma vez para pedir esclarecimentos Eles

conseguiram tirar suas duacutevidas Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

13- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

129

APEcircNDICE 04 ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA CONTADORES

Entrevistado

1- Haacute quanto tempo trabalha com a Economia Solidaacuteria

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- Vocecirc acredita que o aparato contaacutebil vigente para as cooperativas e empresas autogeridas

satisfaz agraves necessidades de informaccedilatildeo destes empreendimentos no que tange ao conteuacutedo e

forma da informaccedilatildeo Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- E quanto a legislaccedilatildeo das cooperativas acha que eacute adequada agrave realidade da ES

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- Os empreendimentos com os quais trabalha utiliza a informaccedilatildeo contaacutebil nos vaacuterios

processos de gestatildeo como planejamento controle e execuccedilatildeoSe natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6- Em relaccedilatildeo aos registros dos eventos de uma cooperativa haacute algum conflito entre a praacutetica

e a legislaccedilatildeo contaacutebil Exemplifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

130

7- Jaacute Ministrou algum curso de formaccedilatildeo em contabilidade Quais as caracteriacutesticas desse

curso

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8- A contabilidade eacute faacutecil de ser compreendida pelos trabalhadores Se natildeo em sua visatildeo

quais os principais problemas enfrentados pelos trabalhadores para a compreensatildeo do

conhecimento contaacutebil

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- No que difere sua atuaccedilatildeo em empresas tradicionais e em empreendimentos

autogestionaacuterios

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- Em sua opiniatildeo como deveriam ser apresentadas as informaccedilotildees financeiras e econocircmicas

da cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- E os cursos de formaccedilatildeo em contabilidade como acha que deveriam ser Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

13- Acredita que a formaccedilatildeo dos contadores em curso prepara para o trabalho com

empreendimentos de ES Como poderia ser

131

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

14 - Em sua opiniatildeo o que poderia ser mudado para que a contabilidade contribua

efetivamente com o processo de autogestatildeo

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

132

APEcircNDICE 05 ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA DIRETORES DA COOPRAM

Entrevistado

1- Haacute quanto tempo eacute cooperado desta cooperativa e desde quando estaacute na diretoria

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Quais satildeo suas habilidades profissionais e qual a sua formaccedilatildeo escolar

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- A sua diretoria elabora algum tipo de relatoacuterio de informaccedilotildees operacionais econocircmicas

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- Em relaccedilatildeo aos relatoacuterios da contabilidade da cooperativa vocecirc tem acesso a eles Quando

Quais

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- A sua diretoria utiliza os relatoacuterios ou informaccedilotildees da contabilidade para tomar algum tipo

de decisatildeo gerencial Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6- A contabilidade eacute faacutecil de ser compreendida Se natildeo em sua visatildeo quais os principais

problemas enfrentados pelos trabalhadores para a compreensatildeo do conhecimento contaacutebil

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

133

7- Jaacute conversou com o contador da entidade alguma vez para pedir esclarecimentos sobre os

relatoacuterios contaacutebeis Eles conseguiram tirar suas duacutevidas Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8 -Jaacute participou de algum curso de formaccedilatildeo em contabilidade Quem promoveu

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- Acha que o curso ajudou a compreender a contabilidade Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- Em sua opiniatildeo como deveriam ser apresentadas as informaccedilotildees financeiras e econocircmicas

da cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- E os cursos de formaccedilatildeo em contabilidade como acha que deveriam ser Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

13- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

134

14 - Em sua opiniatildeo o que poderia ser mudado para que a contabilidade contribua

efetivamente com o processo de autogestatildeo

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

135

APEcircNDICE 06 ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA ESPECIALISTAS

1- Haacute quanto tempo trabalha com a Economia Solidaacuteria E nesta entidade

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Qual eacute a relaccedilatildeo de apoio que a entidade manteacutem com as cooperativas

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- Qual eacute a estrutura de apoio que a entidade possui no que diz respeito agrave contabilidade

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4- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

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5- As cooperativas acompanhadas utilizam a informaccedilatildeo contaacutebil nos vaacuterios processos de

autogestatildeo tais como o levantamento de custos dos produtos planejamento execuccedilatildeo e

controle dos recursos da entidade Se natildeo por que natildeo utilizam

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6 - Como eacute realizada a formaccedilatildeo dos trabalhadores em contabilidade

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___________________________________________________________________________

7- A contabilidade eacute facilmente assimilada pelos trabalhadores Se natildeo em sua visatildeo quais

os principais problemas que os trabalhadores enfrentam para a apropriaccedilatildeo do conhecimento

contaacutebil

136

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8- Com relaccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo cooperativista vigente acredita que seja apropriada agrave realidade

dos empreendimentos de ES Em que pontos residem os maiores entraves

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9- Avalia que os contadores de uma forma geral conhecem suficientemente bem a legislaccedilatildeo

cooperativista a ponto de proporcionar um adequado acompanhamento aos empreendimentos

Justifique

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10- Como vecirc o envolvimento dos profissionais da aacuterea contaacutebil no processo de autogestatildeo

Eles entendem rapidamente a dinacircmica dos empreendimentos

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11- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

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12 - Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do contador acredita que o contador da Economia Solidaacuteria

deveria ter uma formaccedilatildeo diferenciada Justifique

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Page 5: SUM`RIO LISTA DE QUADROS2 1 INTRODU˙ˆO · 2007. 5. 29. · Yin (2005, p.32) constrói a definiçªo tØcnica do estudo de caso de duas maneiras. Na primeira, aborda o escopo de

5

demandas de informaccedilotildees contaacutebeis desses usuaacuterios Nessa mesma perspectiva Almeida e

Dantas (2005) sugerem o aprofundamento de estudos sobre novas sistemaacuteticas contaacutebeis as

quais se adaptem agraves necessidades informacionais da ES

Dessa forma este trabalho se justifica pela necessidade de aprofundamento de estudos da

relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo mediante os quais se possam compreender os vaacuterios

aspectos da utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil nos empreendimentos de ES a fim de

diagnosticar com maior propriedade os desafios e demandas contaacutebeis provenientes desse

grupo social Portanto a expectativa dessa investigaccedilatildeo caracterizada por uma abordagem

metodoloacutegica e integrativa (contabilidade-autogestatildeo) eacute que os resultados encontrados

somem-se agraves pesquisas anteriores sobre o assunto ampliando o seu campo de conhecimento

Considerando que a contabilidade estaacute inserida em um contexto histoacuterico econocircmico

poliacutetico e social mais amplo e compreendendo a importacircncia da ES na inclusatildeo social dos

trabalhadores desempregados bem como da autogestatildeo enquanto instrumento de exerciacutecio

da democracia enxerga-se a grande importacircncia da contabilidade nesse processo cuja

contribuiccedilatildeo eacute fundamental para a concretizaccedilatildeo da autogestatildeo das empresas e para

efetivaccedilatildeo do papel social da contabilidade

12 Questotildees de pesquisa

Considerando a importacircncia da inserccedilatildeo da contabilidade no contexto da autogestatildeo e a

necessidade de apreensatildeo na praacutetica das diversas faces desse fenocircmeno foram definidas

as seguintes questotildees como norteadoras deste estudo

a) Como a informaccedilatildeo contaacutebil eacute empregada nos empreendimentos autogestionaacuterios

b) Quais os desafios e demandas suscitados nos vaacuterios aspectos da dimensatildeo contaacutebil nos

processos de autogestatildeo

6

13 Objetivos

131 Objetivo geral

O objetivo desta pesquisa foi compreender e analisar a dimensatildeo contaacutebil nos processos de

autogestatildeo dos empreendimentos solidaacuterios levantando seus desafios e demandas contaacutebeis

suscitadas nesse processo envolvendo seis perspectivas a) Forma de comunicaccedilatildeo b)

Conteuacutedo da informaccedilatildeo c) Utilidade da informaccedilatildeo d) Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo e)

Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio e f) Legislaccedilatildeo contaacutebil

132 Objetivos especiacuteficos

Com base no objetivo geral foram estabelecidos os seguintes objetivos especiacuteficos

relacionados com esta pesquisa

a) Descrever o processo de utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil nas vaacuterias etapas do

processo de gestatildeo

b) Identificar e analisar as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores na utilizaccedilatildeo

das informaccedilotildees contaacutebeis mapeando as novas demandas desses usuaacuterios

c) Descrever o processo de apropriaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil por parte dos

trabalhadores analisando seus desafios

d) Identificar elementos que auxiliem na construccedilatildeo de modelos de informaccedilotildees

adequados agraves necessidades da autogestatildeo

14 Metodologia

Conforme Marconi e Lakatos (2001 p106) eacute na especificaccedilatildeo da metodologia que se

responde agraves questotildees Como Com quecirc Onde A metodologia entatildeo descreve o conjunto

de procedimentos utilizados para a consecuccedilatildeo dos objetivos propostos bem como define o

meacutetodo de abordagem sob o qual repousa a pesquisa

De acordo com as autoras haacute distinccedilotildees entre os meacutetodos no que se refere agrave sua inspiraccedilatildeo

filosoacutefica ao seu grau de abstraccedilatildeo agrave sua finalidade explicativa agrave sua accedilatildeo nas etapas mais ou

7

menos concretas da investigaccedilatildeo e ao momento em que se situam Com base nessas

diferenccedilas o meacutetodo de abordagem caracteriza-se por um enfoque mais amplo em niacutevel de

abstraccedilatildeo mais elevado dos fenocircmenos da natureza e da sociedade

Com esta compreensatildeo a presente pesquisa filiou-se ao meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo Marconi

e Lakatos (2001 p106) descreve-o como aquele []que se inicia pela percepccedilatildeo de uma

lacuna nos conhecimentos acerca da qual formula hipoacuteteses e pelo processo de inferecircncia

dedutiva testa a prediccedilatildeo da ocorrecircncia de fenocircmenos abrangidos pela hipoacutetese

Enquanto meacutetodo de procedimento o qual compreende etapas mais concretas da investigaccedilatildeo

com finalidade mais restrita em termos de explicaccedilatildeo geral dos fenocircmenos menos abstratos

optou-se pelo Estudo de Caso Os pressupostos desse meacutetodo bem como as estrateacutegias e

teacutecnicas utilizadas para a sua realizaccedilatildeo seratildeo descritos a seguir

141 O meacutetodo de estudo de caso e seus pressupostos

O Estudo de Caso eacute apropriado ao estudo de eventos contemporacircneos em que as dimensotildees

relevantes natildeo podem ser manipuladas e eacute possiacutevel serem feitas observaccedilotildees diretas e

entrevistas sistemaacuteticas Aleacutem disso o estudo de caso permite utilizar uma variedade de

evidecircncias que tornam mais ricas e complexas as anaacutelises do real (documentos artefatos

entrevistas observaccedilotildees) Segundo Martins (2000 p 36)

Trata-se de uma teacutecnica de pesquisa cujo objetivo eacute o estudo de uma unidade que se analisa

profunda e intensamente Considera a unidade social estudada em sua totalidade seja um

indiviacuteduo uma famiacutelia uma instituiccedilatildeo uma empresa ou uma comunidade com o objetivo de

compreendecirc-los em seus proacuteprios termos

Nesse contexto a utilizaccedilatildeo das teacutecnicas de coleta de dados do estudo de caso tem o objetivo

de apreender a totalidade de uma situaccedilatildeo possibilitando a penetraccedilatildeo na realidade social natildeo

conseguida plenamente pela anaacutelise e pela avaliaccedilatildeo quantitativa Esse meacutetodo (e os outros

meacutetodos qualitativos) eacute uacutetil quando um fenocircmeno eacute amplo e complexo onde o corpo de

conhecimentos existente eacute insuficiente para permitir a proposiccedilatildeo de questotildees causais e

quando um fenocircmeno natildeo pode ser estudado fora do contexto no qual ele naturalmente ocorre

8

Yin (2005 p32) constroacutei a definiccedilatildeo teacutecnica do estudo de caso de duas maneiras Na

primeira aborda o escopo de um estudo de caso segundo o qual um estudo de caso eacute uma

investigaccedilatildeo empiacuterica que investiga um fenocircmeno contemporacircneo dentro de seu contexto da

vida real especialmente quando os limites entre o fenocircmeno e o contexto natildeo estatildeo

claramente definidos

Com base nessa definiccedilatildeo o pesquisador soacute usaria o meacutetodo de estudo de caso quando

quisesse deliberadamente lidar com condiccedilotildees contextuais Essa perspectiva tambeacutem

distingue o estudo de caso de outras estrateacutegias de pesquisa conforme Yin Por exemplo um

experimento deliberadamente separa um fenocircmeno de seu contexto de forma que se possa

dedicar a apenas algumas dimensotildees pois o contexto eacute controlado pelo ambiente de

laboratoacuterio Uma pesquisa histoacuterica natildeo segrega o contexto do fenocircmeno entretanto em

geral trabalha com acontecimentos natildeo contemporacircneos Jaacute os levantamentos tentam dar

conta do fenocircmeno e do contexto mas sua capacidade de investigaacute-lo eacute extremamente

limitada

Na segunda parte da definiccedilatildeo de Yin ( 2005 p33) ele afirma que

A investigaccedilatildeo de estudo de caso Enfrenta uma situaccedilatildeo tecnicamente uacutenica em que haveraacute muito mais dimensotildees de interesse

do que de dados e como resultado Baseia-se em vaacuterias fontes de evidecircncias com os dados precisando convergir em um formato

de triacircngulo e como resultado Beneficia-se do desenvolvimento preacutevio de proposiccedilotildees teoacutericas para conduzir a coleta e a

anaacutelise de dados

Sintetizando o estudo de caso objetiva a compreensatildeo de uma realidade social complexa e

contemporacircnea e constitui-se em uma estrateacutegia de pesquisa abrangente no que se refere agrave

loacutegica de planejamento agraves teacutecnicas de coleta de dados e agraves abordagens especiacuteficas agrave anaacutelise

Dessa forma a adoccedilatildeo do meacutetodo de Estudo de Caso eacute coerente com as questotildees propostas

uma vez que se pretendeu explorar o fenocircmeno dimensatildeo contaacutebil nos empreendimentos

autogestionaacuterios levando em conta a realidade social e o contexto real de inserccedilatildeo da

contabilidade no que diz respeito aos aspectos histoacutericos econocircmicos e sociais

9

142 Protocolo do Estudo de Caso

Para Yin (2005 p92) o protocolo eacute uma das taacuteticas principais para aumentar a

confiabilidade da pesquisa de estudo de caso e destina-se a orientar o pesquisador ao realizar a

coleta de dados a partir de um estudo de caso uacutenico[] Segundo o autor apesar da

semelhanccedila entre um questionaacuterio de levantamento e um protocolo de estudo de caso as

caracteriacutesticas de ambos os diferenciam O protocolo de estudo de caso eacute mais do que um

instrumento pois aleacutem de conter o instrumento tambeacutem conteacutem procedimentos e regras

gerais que devem ser seguidas para utilizaccedilatildeo dos instrumentos

O protocolo de estudo de caso geralmente apresenta as seguintes seccedilotildees

Visatildeo geral do projeto Esta seccedilatildeo eacute composta por objetivos patrociacutenios do projeto

questotildees do estudo e leituras importantes sobre o toacutepico que estaacute sendo investigado

Procedimentos de campo Neste item ocorre a apresentaccedilatildeo das credenciais acesso aos

locais do estudo de caso fontes gerais de informaccedilotildees e advertecircncias de procedimento

Questotildees do estudo de caso - Satildeo indicadas as questotildees especiacuteficas que nortearam o

pesquisador de estudo de caso ao coletar os dados planilha para disposiccedilatildeo especiacutefica de

dados e as fontes em potencial de informaccedilotildees ao se responder cada questatildeo

Guia para o relatoacuterio do estudo de caso Eacute apresentado o esboccedilo formato para os dados

uso e apresentaccedilatildeo de outras documentaccedilotildees e informaccedilotildees bibliograacuteficas

Com base nas orientaccedilotildees acima foi elaborado o protocolo de estudo de caso desta

pesquisa (apecircndice 01) Ele serviu de buacutessola para o encaminhamento da pesquisa como

tambeacutem proporcionou a sua compreensatildeo por parte dos representantes da unidade de

estudo conferindo a credibilidade necessaacuteria agrave autorizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo na

cooperativa

Entretanto cabe ressaltar que devido agrave dinacircmica caracteriacutestica do estudo de caso no

decorrer da pesquisa alguns itens do planejamento foram mudados da mesma forma que

nem todas as questotildees orientadoras arroladas foram necessaacuterias agrave compreensatildeo da

pesquisa ou foram passiacuteveis de obtenccedilatildeo de respostas

10

143 Dimensotildees de Anaacutelise

As dimensotildees apontadas neste trabalho longe de abranger toda a complexidade da inserccedilatildeo

da contabilidade no processo de autogestatildeo dos empreendimentos autogestionaacuterios

pretenderam distinguir aspectos relevantes desse universo A seleccedilatildeo dessas dimensotildees foi

resultado principalmente da imersatildeo nas seguintes bibliografias

a) No campo da teoria da contabilidade destacaram-se as obras dos autores Hendriksen e Van

Breda (1999) e Iacuteudicubus et al (2003) Esses autores subsidiaram a construccedilatildeo de algumas

dimensotildees agrave medida que as diversas leituras sobre a finalidade da contabilidade suscitaram

questionamentos no tocante agrave adequaccedilatildeo da padronizaccedilatildeo dos relatoacuterios de informaccedilatildeo

contaacutebil aos seus diversos usuaacuterios Em outras palavras as indagaccedilotildees levaram agrave verificaccedilatildeo

sobre a viabilidade da padronizaccedilatildeo tendo em vista as reais necessidades de informaccedilatildeo dos

empreendimentos autogestionaacuterios (novos usuaacuterios) no que se refere agrave forma conteuacutedo e

utilidade da informaccedilatildeo

b) No campo da contabilidade para usuaacuterios externos citam-se as obras de Valdir Michaels

(1995) e Almeida e Dantas (2005) Essas obras abordam a relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo

nas quais satildeo apontados alguns obstaacuteculos enfrentados pelos trabalhadores da ES no campo

da contabilidade Nas obras haacute sugestotildees de adaptaccedilatildeo da contabilidade agraves necessidades da

autogestatildeo no que diz respeito a vaacuterios aspectos mas principalmente no tocante agrave legislaccedilatildeo

contaacutebil e agrave postura do contador na relaccedilatildeo com esses novos usuaacuterios Portanto dessas leituras

derivam a construccedilatildeo das dimensotildees Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio e Legislaccedilatildeo contaacutebil

c) A bibliografia sobre Economia Solidaacuteria e Autogestatildeo na qual ressaltam as obras de Paul

Singer e produccedilotildees da ANTEAG tambeacutem foi fonte de inspiraccedilatildeo para a construccedilatildeo das

dimensotildees O mergulho nessas obras permitiu a compreensatildeo da dupla natureza dos

empreendimentos autogestionaacuterios a econocircmica e social Com essa configuraccedilatildeo os

empreendimentos ao mesmo tempo em que perseguem a sustentabilidade financeira tambeacutem

cultuam valores humanos e sociais como a solidariedade cooperaccedilatildeo e igualdade

Compreendeu-se que sob esta perspectiva a igualdade tambeacutem requer a apropriaccedilatildeo de todo

o conhecimento de gestatildeo pelo conjunto dos trabalhadores Assim a apropriaccedilatildeo do

conhecimento contaacutebil por parte dos trabalhadores eacute um imperativo nos empreendimentos

11

solidaacuterios Partindo dessas reflexotildees foi criada a dimensatildeo que se refere agrave apropriaccedilatildeo da

informaccedilatildeo contaacutebil

d) Contribuiacuteram para a constituiccedilatildeo das dimensotildees de anaacutelise aqui arroladas outras produccedilotildees

constantes da referecircncia bibliograacutefica e outras natildeo citadas provenientes das diversas aacutereas do

conhecimento como economia educaccedilatildeo etc

Tambeacutem foram fonte de inspiraccedilatildeo as observaccedilotildees e anaacutelises realizadas em Mato Grosso e

Satildeo Paulo por ocasiatildeo de participaccedilotildees em extensatildeo universitaacuteria bem como em cursos e

seminaacuterios nacionais e internacionais e diaacutelogos com especialistas sobre o tema De sorte que

a compreensatildeo da inserccedilatildeo contaacutebil nos empreendimentos autogestionaacuterios resultou na

construccedilatildeo das seguintes dimensotildees

1- Forma de comunicaccedilatildeo

2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

3- Utilidade da informaccedilatildeo

4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

As caracteriacutesticas e objetivos de cada dimensatildeo satildeo pormenorizados abaixo

1- Forma de comunicaccedilatildeo

Nessa dimensatildeo foram avaliados os instrumentos de comunicaccedilatildeo que a entidade utiliza para

divulgar seus resultados econocircmicos e financeiros Verificou-se a capacidade de a

contabilidade captar e refletir a complexidade das relaccedilotildees inclusas no processo de

autogestatildeo tais como o orccedilamento elaborado coletivamente a execuccedilatildeo e controles

compartilhados enfim analisou-se a adequaccedilatildeo dos relatoacuterios demonstraccedilotildees e outros

instrumentos da contabilidade agraves necessidades proacuteprias dos empreendimentos solidaacuterios

2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

O conteuacutedo diz respeito agrave informaccedilatildeo contaacutebil em si Nessa dimensatildeo verificou-se a

pertinecircncia da linguagem das vaacuterias formas de comunicaccedilatildeo aos usuaacuterios da ES Mais

especificamente nesse aspecto buscou-se perceber se a linguagem da contabilidade eacute

12

facilmente compreendida pelos trabalhadores tendo em vista o conhecimento jaacute consolidado

de que uma grande parte dos trabalhadores da ES tem um baixo grau de educaccedilatildeo formal

3- Utilidade da informaccedilatildeo

Nesse item avaliou-se a utilidade da informaccedilatildeo a qual diz respeito agrave importacircncia dada pelos

grupos entrevistados agrave contabilidade para tomada de decisotildees Tambeacutem se procurou avaliar a

utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil em todos os processos da gestatildeo de modo que ela

efetivamente fosse supridora das informaccedilotildees necessaacuterias agrave autogestatildeo ou seja analisou-se

sua capacidade de auxiliar no processo de tomada de decisotildees coletivas na gestatildeo

democraacutetica

4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Um dos princiacutepios fundamentais da ES sugere a socializaccedilatildeo de todo o conhecimento de

gestatildeo em oposiccedilatildeo agrave tiacutepica empresa que resguarda esses conhecimentos para o grupo da

gerecircncia Baseado nesse princiacutepio essa dimensatildeo teve a intenccedilatildeo de compreender e analisar

as formas de transferecircncia do conhecimento contaacutebil e as eventuais dificuldades enfrentadas

pelo trabalhador no processo de apropriaccedilatildeo do conhecimento das teacutecnicas contaacutebeis Nesse

item tambeacutem se buscou captar elementos que norteiem para uma formaccedilatildeo desejada em

contabilidade

5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Conforme relatos contidos na bibliografia pesquisada as aacutereas teacutecnicas tecircm dificuldade de

perceber a especificidade da autogestatildeo Nessa perspectiva foi analisada a relaccedilatildeo dos

usuaacuterios dos empreendimentos autogestionaacuterios com os profissionais da aacuterea contaacutebil

Pretendeu-se compreender o envolvimento do contabilista com a autogestatildeo Por outro lado

tambeacutem houve a intenccedilatildeo de captar elementos que indicassem a construccedilatildeo de uma outra

relaccedilatildeo entre os contadores e os trabalhadores da ES

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

Alguns autores argumentam que a legislaccedilatildeo contaacutebil ainda natildeo capta a especificidade da

autogestatildeo Isso se aplica agrave forma de registro dos eventos econocircmico-financeiros agraves

demonstraccedilotildees contaacutebeis e tambeacutem agrave constituiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo dessas entidades Para

13

avaliar esse conjunto foi necessaacuterio tambeacutem analisar a legislaccedilatildeo cooperativista e natildeo soacute a

legislaccedilatildeo contaacutebil para o cooperativismo tendo em vista que as duas legislaccedilotildees estatildeo

bastante vinculadas Dessa forma essa dimensatildeo analisou a pertinecircncia dessas legislaccedilotildees agrave

realidade e necessidades da ES

Por meio das dimensotildees descritas acima foi traccedilado um paralelo entre a realidade observada

captada pelas lentes dos cooperados especialistas e contadores e a realidade esperada

desenhada pelas observaccedilotildees entrevistas e literatura consultada O quadro 1 esquematiza o

trabalho realizado

Quadro 1- Resumo dos resultados

Realidade Encontrada

(o que eacute) Realidade esperada

Dimensotildees Cooperados especialistas Contadores (o que deveria ser)

1- Forma de comunicaccedilatildeo 2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo 3- Utilidade da informaccedilatildeo 4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo 5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

144 Criteacuterios para a seleccedilatildeo da unidade de estudo

O principal criteacuterio para a escolha da unidade em que se processou a investigaccedilatildeo foi a

autogestatildeo isto eacute buscou-se um empreendimento em que a gestatildeo fosse praticada por todos

os trabalhadores diferentemente dos empreendimentos nos quais a administraccedilatildeo eacute exercida

apenas pelos diretores Participar da gestatildeo significa atuar nos altos niacuteveis de decisotildees

aquelas que vatildeo aleacutem da organizaccedilatildeo do trabalho mas que tambeacutem compreendem decisotildees

que influenciem no rumo da entidade tais como indicaccedilatildeo da destinaccedilatildeo dos recursos

organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e demais decisotildees que afetam a vida da entidade

14

Outro criteacuterio importante utilizado foi a formalizaccedilatildeo do empreendimento Com se sabe a ES

tambeacutem eacute compreendida por empreendimentos coletivos informais Tal opccedilatildeo se deve ao fato

de que a inscriccedilatildeo junto aos oacutergatildeos governamentais necessariamente requer uma organizaccedilatildeo

contaacutebil mais formal Dessa forma essas entidades possuem registros formais de suas

atividades possibilitando as bases para a investigaccedilatildeo

Levando em conta esses criteacuterios tomou-se como unidade de anaacutelise a COOPRAM

Cooperativa Metaluacutergica de Artes Metaacutelicas localizada no Municiacutepio de Embu na Grande

Satildeo Paulo Portanto ao selecionar a COOPRAM como a unidade de estudo privilegiou-se um

estudo em profundidade para a obtenccedilatildeo de respostas mais precisas agraves questotildees postas agrave

pesquisa

145 Teacutecnicas de coleta de dados

O Meacutetodo do Estudo de Caso obteacutem evidecircncias a partir de seis fontes de dados documentos

registros em arquivos entrevistas observaccedilatildeo direta observaccedilatildeo participante e artefatos

fiacutesicos Cada uma delas requer habilidades e procedimentos metodoloacutegicos especiacuteficos O

presente estudo de caso buscou desvelar a realidade da dimensatildeo contaacutebil nos

empreendimentos autogestionaacuterios a partir da seleccedilatildeo das seguintes teacutecnicas de coleta de

dados

Entrevistas

Registro em arquivos

Observaccedilatildeo direta

O planejamento e execuccedilatildeo do procedimento de coleta de dados fundamentado em Yin

(2005) pode ser visualizado atraveacutes da figura abaixo

15

Registros em arquivos

Observaccedilotildees Entrevistas

(direta)

Figura 1 - Convergecircncia de Evidecircncias (estudo uacutenico )

Fonte adaptado de Cosmos Corporation apud YIN 2005 p127

As ENTREVISTAS satildeo uma das mais importantes fontes de informaccedilotildees para um estudo de

caso segundo Yin (2005) O fluxo de questotildees nas entrevistas natildeo eacute riacutegido mas de forma

fluiacuteda Portanto durante o processo de coleta de dados o pesquisador tem duas tarefas

a) seguir sua proacutepria linha de investigaccedilatildeo como reflexo do protocolo de seu estudo de caso e b) fazer as questotildees reais ( de uma conversaccedilatildeo) de uma forma natildeo tendenciosa que tambeacutem

atende agraves necessidades de sua linha de investigaccedilatildeo (YIN 2005 p117)

Em outras palavras Yin alerta que na entrevista haacute a exigecircncia de atuaccedilatildeo em duas frentes

ao mesmo tempo satisfazer as necessidades de sua linha de investigaccedilatildeo enquanto tambeacutem

passa adiante questotildees amigaacuteveis e natildeo natildeo-ameaccediladoras em suas entrevistas

espontacircneas Assim eacute muito comum que as entrevistas para o estudo de caso sejam

conduzidas de forma espontacircnea Logo pode-se tanto indagar sobre fatos relacionados a um

determinado assunto quanto pedir a opiniatildeo deles a respeito de determinados eventos

Seguindo as prerrogativas acima as entrevistas realizadas nesta pesquisa pretenderam

capturar informaccedilotildees sobre os procedimentos contaacutebeis utilizados na cooperativa perceber a

posiccedilatildeo dos entrevistados quanto ao uso de ferramentas e instrumentos da contabilidade bem

como a contribuiccedilatildeo que esses instrumentos tecircm (ou natildeo) para propiciar a compreensatildeo dos

processos de gestatildeo e identificar elementos agrave construccedilatildeo de uma nova relaccedilatildeo contabilidade e

autogestatildeo

Para compreender o fenocircmeno a partir de vaacuterios prismas foram formados trecircs grupos de

entrevistados

Fato Dimensatildeo contaacutebil no

processo de autogestatildeo

)))process

16

1ordm grupo composto por membros da cooperativa (diretoria e cooperados)

2ordm grupo constituiacutedo por especialistas no assunto vinculados a redes nacionais de fomento e

apoio agrave ES

3ordm grupo composto por contadores experientes em autogestatildeo e ES

Aos trecircs grupos foram aplicadas perguntas semelhantes sobre fatos e opiniotildees circunscritos no

universo do tema proposto As respostas tambeacutem foram estratificadas e alocadas aos

respectivos grupos

Os REGISTROS EM ARQUIVOS em um estudo de caso segundo Yin (2005 p115)

podem assumir diversas modalidades

Registros de serviccedilo como aqueles que mostram o nuacutemero dos clientes atendidos em um

determinado periacuteodo de tempo Registros organizacionais como as tabelas e os orccedilamentos de organizaccedilotildees em um periacuteodo de

tempo Mapas e graacuteficos das caracteriacutesticas geograacuteficas ou esboccedilos de um lugar Listas de nomes e de outros itens importantes Dados oriundos de levantamentos como o censo demograacutefico ou os dados previamente

coletados sobre um local Registros pessoais como diaacuterios anotaccedilotildees e agendas de telefone

Esses e outros registros em arquivo podem ser utilizados somando-se a outras fontes de

informaccedilatildeo No caso desta pesquisa foram verificados os registros operacionais e demais

arquivos e documentos ligados agrave aacuterea contaacutebil A utilizaccedilatildeo dessa teacutecnica buscou identificar e

descrever instrumentos oficiais adotados pelo empreendimento tais como as demonstraccedilotildees

financeiras os sistemas de controles internos relatoacuterios gerenciais etc Contribuiu para a

compreensatildeo da organizaccedilatildeo contaacutebil no empreendimento e finalmente propiciou a avaliaccedilatildeo

do atendimento dos instrumentos contaacutebeis agrave prescriccedilatildeo legal na aacuterea das cooperativas

Tambeacutem propiciou a identificaccedilatildeo dos sistemas ou meios de comunicaccedilatildeo utilizados agrave

disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo bem como agrave sua acessibilidade pelo conjunto de cooperados

A OBSERVACcedilAtildeO DIRETA ocorre quando se realiza uma visita de campo ao local

escolhido para o estudo de caso Por meio das observaccedilotildees eacute possiacutevel captar alguns

17

comportamentos ou condiccedilotildees ambientais relevantes As observaccedilotildees podem variar de

atividades formais a atividades informais de coleta de dados Mais formalmente incluem-se

situaccedilotildees como reuniotildees atividades de passeio trabalho de faacutebrica salas de aula e outras

atividades semelhantes(YIN 2005 p120) Informais podem ser as condiccedilotildees fiacutesicas de um

edifiacutecio ou de espaccedilos de trabalho As evidecircncias captadas pela lente da observaccedilatildeo segundo

Yin satildeo em geral uacuteteis ao fornecimento de informaccedilotildees adicionais sobre o fenocircmeno

estudado

Desse modo a observaccedilatildeo direta aqui realizada pretendeu captar pormenores e detalhes que

complementaram as outras teacutecnicas tais como ambiente fiacutesico cotidiano de trabalho

relaccedilotildees interpessoais processos de decisotildees etc A observaccedilatildeo contou com os registros de

pesquisa de campo em que a preocupaccedilatildeo central foi a observaccedilatildeo tanto do papel do

contador seu relacionamento com as demais aacutereas da gestatildeo aleacutem da forma como a

contabilidade se insere no cotidiano da cooperativa Tais informaccedilotildees agregaram elementos agraves

anaacutelises das entrevistas cruzando relatos e percepccedilotildees dos atores envolvidos

Apoacutes a coleta de dados esses foram sistematizados em um Banco de dados sobre o caso

cujas informaccedilotildees serviram de base agraves anaacutelises e conclusotildees

146 Anaacutelise dos dados

A anaacutelise dos dados retomou as categorias teoacutericas adotadas correlacionando-as agraves

evidecircncias da pesquisa empiacuterica Os resultados foram segregados por dimensotildees sob as quais

satildeo relatadas as constataccedilotildees da realidade e ao mesmo tempo satildeo problematizadas questotildees e

demandas referentes a cada aspecto da dimensatildeo contaacutebil no processo de autogestatildeo

Quanto agrave estrateacutegia de apresentaccedilatildeo dos resultados apesar de natildeo haver nenhuma forma

estereotipada para escrever um relatoacuterio de um estudo de caso existindo apenas estrateacutegias

para redigi-lo a fim de tornaacute-lo inteligiacutevel e palataacutevel ao leitor a estrateacutegia selecionada dentre

as expostas por Yin (2005 p177-180) foi a narrativa a qual foi ilustrada por quadros

Em relaccedilatildeo agrave estrutura composicional do relatoacuterio optou-se pela estrutura analiacutetica linear

Conforme Yin essa estrutura eacute comumente utilizada nos relatoacuterios de estudos de casos No

modelo os subtoacutepicos compreenderam o tema ou o problema estudado e uma revisatildeo da

18

literatura Em seguida os subtoacutepicos partem para a anaacutelise dos meacutetodos utilizados das

descobertas feitas a partir dos dados coletados e analisados e das conclusotildees e implicaccedilotildees

feitas a partir das descobertas

15 Hipoacuteteses

Conforme jaacute mencionado as hipoacuteteses satildeo importantes no estudo de caso pois norteiam a

coleta de dados Dessa forma este estudo partiu dos pressupostos das pesquisas anteriores os

quais sugerem que o aparato contaacutebil hoje disponiacutevel ainda natildeo eacute apropriado a esse

segmento ou seja a informaccedilatildeo contaacutebil natildeo atende satisfatoriamente agraves suas demandas

informacionais tendo em vista a sua natureza peculiar

Portanto situando-se na linha das pesquisas anteriores essa investigaccedilatildeo partiu da hipoacutetese de

que os empreendimentos solidaacuterios diferenciam-se dos demais segmentos do mercado devido

agrave sua dupla natureza econocircmica e social consequumlentemente tecircm demandas informacionais

ainda natildeo contempladas plenamente pela aacuterea contaacutebil envolvendo seis aspectos da dimensatildeo

contaacutebil a) Forma de comunicaccedilatildeo b) Conteuacutedo da informaccedilatildeo c) Utilidade da informaccedilatildeo

d) Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo e) Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio f) Legislaccedilatildeo contaacutebil

16 Organizaccedilatildeo do Trabalho

No que concerne agrave estruturaccedilatildeo e forma de apresentaccedilatildeo o presente estudo estaacute organizado

em 04 capiacutetulos assim definidos

No presente capiacutetulo I da Introduccedilatildeo satildeo apresentados a problematizaccedilatildeo e justificativa da

pesquisa os objetivos as questotildees de pesquisa e a metodologia do estudo

No capiacutetulo 2 satildeo expostos os marcos referenciais deste trabalho no qual se explicitam

conceitos de autogestatildeo Economia solidaacuteria formas de participaccedilatildeo na gestatildeo e outros

conceitos necessaacuterios agrave compreensatildeo das questotildees propostas pela pesquisa

19

No capiacutetulo 3 eacute discutida a relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo perpassando pela exposiccedilatildeo da

finalidade da informaccedilatildeo contaacutebil e estudos recentes sobre a contabilidade para Economia

Solidaacuteria A incursatildeo na literatura realizada nos capiacutetulos 2 e 3 teve a finalidade de propiciar

suporte teoacuterico agrave anaacutelise dos resultados

Por uacuteltimo no capiacutetulo 4 eacute realizada a descriccedilatildeo do Estudo de caso e apresentados os

resultados e anaacutelises da pesquisa

20

21

2 MARCO CONCEITUAL DA ECONOMIA SOLIDAacuteRIA E AUTOGESTAtildeO

Para a anaacutelise do fenocircmeno objeto da presente pesquisa eacute necessaacuterio discutir os conceitos

envolvidos na compreensatildeo da realidade investigada Portanto cumpre nesse momento

explicitar conceitos como globalizaccedilatildeo contexto no qual se insere o ressurgimento da ES

Tambeacutem eacute necessaacuterio perscrutar o sentido teoacuterico da Economia Solidaacuteria da autogestatildeo como

forma de administraccedilatildeo proacutepria dos empreendimentos solidaacuterios da participaccedilatildeo como

categoria teoacuterica fundamental ao processo de autogestatildeo entre outros conceitos A

complexidade da relaccedilatildeo entre Contabilidade e Autogestatildeo encontra-se sedimentada nesses

conceitos teoacutericos

Em primeiro lugar seraacute analisado o momento histoacuterico contemporacircneo que fez ressurgir as

aspiraccedilotildees de alternativas ao modelo social vigente buscando dessa forma compreender o

contexto econocircmico-social de emergecircncia da ES bem como da inserccedilatildeo da contabilidade Em

seguida seraacute trilhado o caminho de desvelamento de outros conceitos necessaacuterios agrave

compreensatildeo da relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo

21 Globalizaccedilatildeo e a crise contemporacircnea

Um estudo sobre autogestatildeo leva agrave necessaacuteria imersatildeo sobre as raiacutezes em que

contemporaneamente tal tema ganha destaque no mundo e consequumlentemente na sociedade

brasileira O cenaacuterio recente de ressurgimento da ES tem como pano de fundo a globalizaccedilatildeo

A despeito das muitas controveacutersias que se podem apresentar sobre o tema globalizaccedilatildeo

tentar-se-aacute apontar algumas definiccedilotildees do fenocircmeno com as quais se concorda Conforme

Wanderley (2002 p15)

[]com a globalizaccedilatildeo as distacircncias se reduziram natildeo havendo barreiras fiacutesicas para a

informaccedilatildeo o conhecimento o intercacircmbio cultural os avanccedilos tecnoloacutegicos possibilitaram o

desvelamento de enigmas antigos das vaacuterias aacutereas de conhecimento a democracia atingiu a quase

maioria dos paiacuteses e eacute requisito de legitimidade internacional

Apesar desses citados benefiacutecios a globalizaccedilatildeo tem seu lado reverso O imperativo da

sobrevivecircncia num mercado altamente competitivo levou as empresas agrave busca de reduccedilatildeo de

22

custos que na maioria das vezes significou corte de postos de trabalho acarretando

exclusatildeo social Conforme definem Pedraccedila e Almeida ( 2004 p 01)

A globalizaccedilatildeo econocircmica marca a histoacuteria pelo apartheid social seja no acircmbito nacional e

internacional O que separa os seres humanos eacute uma divisatildeo estatiacutestica iacutendices que definem uma minoria de pessoas de vaacuterias nacionalidades que gozam do privileacutegio de serem inclusas no

mercado consumidor [] A outra classe de indiviacuteduos a imensa maioria da populaccedilatildeo mundial

quase sempre incluiacuteda em categorias marginais como subempregados trabalhadores informais ou desempregados satildeo segregados do consumo parcial ou totalmente dependendo de sua condiccedilatildeo

econocircmica

Singer (2001) explica a globalizaccedilatildeo a partir de uma perspectiva histoacuterica Advoga a tese de

que a economia capitalista industrial tendeu desde o iniacutecio a superar os limites do Estado-

naccedilatildeo A livre movimentaccedilatildeo de mercadorias e de capitais atraveacutes das fronteiras nacionais

atingiu seu primeiro auge por volta da segunda metade do seacutec XIX quando o padratildeo ouro

proporcionou moedas automaticamente conversiacuteveis e se criou um conjunto de instituiccedilotildees

destinadas a garantir o livre-cacircmbio e as inversotildees estrangeiras A Primeira Guerra (1914-18)

a crise dos anos 30 e em seguida a Segunda Guerra (1939-45) contiveram a tendecircncia de

expansatildeo internacional do capital Durante mais de 30 anos os Estados nacionais protegeram

suas induacutestrias e comandaram a acumulaccedilatildeo de capital dentro de seu territoacuterio diminuindo a

transaccedilatildeo comercial e financeira internacional

A retomada da expansatildeo internacional de acumulaccedilatildeo do capital ou globalizaccedilatildeo soacute foi

efetivada apoacutes a Segunda Guerra capitaneada pelos Estados Unidos e seus aliados os quais a

colocaram como questatildeo primordial As conferecircncias de Brettoin Woods ainda em 1944

receberam um claro mandato neste sentido Em sua primeira etapa a globalizaccedilatildeo abarcava

somente os paiacuteses desenvolvidos e na segunda etapa iniciada haacute mais de um quarto de

seacuteculo incluiu uma boa parte do Terceiro Mundo Mais recentemente envolveu a ex-URSS

e seus antigos sateacutelites

A integraccedilatildeo econocircmica do Primeiro Mundo deu-se num periacuteodo de crescimento e pleno

emprego que ficou conhecido como Anos Dourados Os EUA no auge de sua hegemonia

atraveacutes de suas grandes companhias transferiram maciccedilamente recursos para a Europa e

Japatildeo Implantaram filiais e adquiriram firmas na Europa ocidental retomando sua

multinacionalizaccedilatildeo

23

Todas as economias nacionais cresceram O processo foi um Circulo virtuoso em que

conversibilidade monetaacuteria e a queda das barreiras alfandegaacuterias abriram espaccedilo para uma

crescente reparticcedilatildeo de ganhos( SINGER 2001 p21)

Na segunda etapa a partir de 1970 as economias desenvolvidas abriram seus mercados para

o Terceiro Mundo e promoveram a implantaccedilatildeo dos seus parques industriais destinados ao

abastecimento do mercados do Primeiro Mundo No Brasil essa fase ficou conhecida como

o milagre econocircmico um movimento que culminou com um esforccedilo interno das elites

nacionais de industrializaccedilatildeo do paiacutes desde os anos 30

No iniacutecio da segunda etapa os paiacuteses semi-industrializados apresentavam ao capital

vantagens comparativas tais como grande disponibilidade de matildeo-de-obra jaacute treinada e

condicionada ao trabalho industrial a custos menores do que nos paiacuteses industrializados Na

mesma eacutepoca as lutas de classes nos paiacuteses industrializados haviam se intensificado em

funccedilatildeo da crescente insatisfaccedilatildeo da classe operaacuteria escolarizada operadora de serviccedilos

monoacutetono e alienante a qual reivindicava elevaccedilotildees salariais A resposta das empresas foi a

transferecircncia de grande escala de linhas de produccedilatildeo industrial para paiacuteses perifeacutericos

Grandes centros industriais na Europa e na Ameacuterica do Norte foram esvaziados e

abandonados deixando um grande nuacutemero de desempregados Dessa forma na segunda

etapa a globalizaccedilatildeo tornou-se fator de desindustrializaccedilatildeo e empobrecimento de cidades e

regiotildees inteiras

A globalizaccedilatildeo trouxe mudanccedilas profundas na produccedilatildeo e comeacutercio mundial Com o

imperativo da concorrecircncia faacutebricas fecharam suas portas outras adotaram uma seacuterie de

medidas restritivas visando agrave manutenccedilatildeo no mercado Reduccedilatildeo de custos importaccedilatildeo de

tecnologia moderna aquisiccedilatildeo de meacutetodos gerenciais introduccedilatildeo de novas relaccedilotildees de

trabalho representam o movimento da reestruturaccedilatildeo produtiva das grandes empresas

Essas mudanccedilas afetaram diretamente o mercado de trabalho Com a reduccedilatildeo dos postos de

trabalho o desemprego em todo o mundo tomou proporccedilotildees alarmantes e os empregos

remanescentes satildeo de pior qualidade configurando a precariedade das relaccedilotildees e condiccedilotildees de

trabalho Muitos trabalhadores oscilam entre a penumbra e a clandestinidade do mercado de

trabalho Segundo Singer

24

[] a globalizaccedilatildeo ocasiona o desemprego estrutural Ela faz com que milhotildees de trabalhadores

que produziam o que depois passou a ser importado percam seus empregos e que possivelmente milhotildees de novos postos de trabalho sejam criados tanto em atividades de exportaccedilatildeo como em

outras O desemprego estrutural ocorre porque os que satildeo vitimas da desindustrializaccedilatildeo em geral natildeo tecircm pronto acesso aos novos postos de trabalho (SINGER2001 p23)

Talvez mais grave que o desemprego estrutural seja a precarizaccedilatildeo do trabalho Os novos

postos de trabalho natildeo oferecem em sua maioria as garantias tradicionais que as leis e

contratos vinham ganhando Singer salienta que

Muitos destes novos postos satildeo ocupaccedilotildees por conta proacutepria Ao inveacutes de funcionaacuterios as

empresas principalmente para atividades que natildeo requerem elevada qualificaccedilatildeo contratam

pequenas firmas prestadoras de serviccedilos configurando a terciarizaccedilatildeo[] As vantagens para a

tomadora desse serviccedilo residem na flexibilidade do novo relacionamento e tambeacutem no menor

custo do trabalho pois ela deixa de pagar o tempo morto quando a equipe natildeo tem o que

fazer e as horas-extras quando necessitar (SINGER 2001 p24)

Mattoso reafirma que a precarizaccedilatildeo se constitui de relaccedilotildees informais o que amplia a

inseguranccedila no emprego Um fenocircmeno que se deu em praticamente todos os paiacuteses

avanccedilados atraveacutes da reduccedilatildeo relativa ou absoluta de empregos estaacuteveis ou permanentes

nas empresas e da maior subcontrataccedilatildeo de trabalhadores temporaacuterios em tempo

determinado eventuais em tempo parcial trabalho em domiciacutelio ou independentes

aprendizes etc(MATTOSO 1993 p126)

Na deacutecada de 1990 esse quadro ganhou contornos ainda mais decisivos e agudizantesSob o

emblema do neoliberalismo reduziu-se drasticamente o poder de intervenccedilatildeo do Estado na

esfera social e promoveu-se o abandono de poliacuteticas puacuteblicas importantes na reproduccedilatildeo da

vida dos trabalhadores Nas palavras de Singer

Desde os anos 80 um novo consenso foi firmado qualquer tentativa dos governos de estimular

diretamente a expansatildeo do emprego eacute em vatildeo resultando apenas em mais inflaccedilatildeo O uacutenico dever

dos governos eacute equilibrar os seus proacuteprios orccedilamentos desregulamentar a economia e reduzir o

peso dos impostos que recaem sobre os negoacutecios de modo a facilitar e estimular a acumulaccedilatildeo

privada de capital (SINGER 2001 p14)

Pochmann (1999 p 85) denuncia que os efeitos combinados a partir de 1990 de poliacuteticas

recessivas da desregulaccedilatildeo e reduccedilatildeo do papel do estado de abertura comercial abrupta de

taxas de juros elevadas e de apreciaccedilatildeo cambial seriam responsaacuteveis pela montagem de um

cenaacuterio desfavoraacutevel ao comportamento geral do emprego nacional

25

Esse panorama desde entatildeo causa a dispensa de uma grande parte da forccedila de trabalho

remetendo agrave marginalidade um imenso contingente humano Em 2000 a organizaccedilatildeo

Internacional do Trabalho (OIT) divulgou o informativo O emprego no mundo 1998-99 no

qual destacava que 1)cerca de 1 bilhatildeo de trabalhadores - aproximadamente um terccedilo da

populaccedilatildeo ativa do mundo - estavam desempregados ou subempregados (o indiviacuteduo eacute

subempregado quando sua jornada de trabalho eacute substancialmente menor que uma jornada

completa que desejaria realizar ou seu salaacuterio eacute inferior ao que necessitaria para viver)

2)desses 1 bilhatildeo de trabalhadores uns 150 milhotildees encontravam-se de fato desempregados

buscando trabalho ou em disposiccedilatildeo para trabalhar Pelo simples efeito da crise financeira

mundial em 98 o total de desempregados sofreu um incremento de 10 milhotildees de

trabalhadores c)entre 25 e 30 dos trabalhadores do mundo - algo entre 750 e 900 milhotildees

de pessoas - estavam subempregados

Em relaccedilatildeo ao Brasil a Fundaccedilatildeo SEADE mostrava que 1) a taxa anual meacutedia de

desemprego total da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo aumentou entre 1997 e 1998 de

16 para 183 da populaccedilatildeo economicamente ativa (PEA) com crescimento da taxa de

desemprego anual meacutedia para os indiviacuteduos de todos os niacuteveis de escolaridade A tabela 1

mostra os iacutendices de desemprego nas regiotildees metropolitanas por sexo e em percentuais da

PEA no periacuteodo compreendido de 1998 a 052006 A tabela mostra o acreacutescimo no iacutendice

do desemprego total no ano de 1999 em todas as regiotildees Em 2002 houve novamente um

acreacutescimo no desemprego total Jaacute em 2005 e 2006 os iacutendices mostram uma reduccedilatildeo do

percentual de desemprego em quase todas as regiotildees Entretanto o desemprego ainda

encontra-se em patamares elevados

26

Tabela 1- Taxa de desemprego total por sexo - Regiotildees Metroplitanas e Distrito Federal- 1998-2006

Regiotildees Metropolitanas e Distrito Federal

Belo Horizonte Distrito Federal Porto Alegre Periacuteodo

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

1998 159 137 187 197 174 221 159 137 186

1999 179 159 204 221 192 252 190 167 219

2000 178 161 199 202 177 229 166 142 196

2001 183 162 208 205 176 236 149 123 182

2002 181 157 208 207 180 236 153 131 179

2003 200 171 233 229 202 257 167 139 202

2004 193 168 219 209 178 240 159 131 191

2005 167 140 197 190 159 222 145 119 176

janeiro2006 155 130 182 186 152 220 132 115 153

fevereiro2006 155 131 182 195 164 227 136 118 159

Marccedilo2006 162 132 196 206 175 239 149 126 176

abril2006 156 125 192 207 180 235 155 127 189

maio2006 151 122 185 195 171 220 154 130 182

Regiotildees Metropolitanas e Distrito Federal

Recife Salvador Satildeo Paulo Periacuteodo

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

1998 216 190 249 249 229 271 182 161 211

1999 221 196 252 277 258 299 193 173 217

2000 207 182 239 266 241 293 176 150 209

2001 211 178 253 275 250 302 176 149 208

2002 203 176 236 273 249 299 190 164 222

2003 232 200 270 280 261 301 199 172 231

2004 231 203 265 255 232 280 187 163 215

2005 223 192 260 244 213 278 169 144 197

janeiro2006 212 180 251 237 205 272 157 137 180

fevereiro2006 208 182 240 238 198 280 163 141 187

Marccedilo2006 214 188 246 247 205 291 169 143 198

abril2006 219 191 254 244 197 294 169 145 196

maio2006 222 195 255 244 203 288 170 145 199

Fonte Convecircnio DIEESESEADE MTEFAT e convecircnios regionais PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego Elaboraccedilatildeo DIEESE site http www dieeseorgbr

Portanto natildeo eacute necessaacuterio ir muito longe para perceber que se de um lado a globalizaccedilatildeo

permitiu uma grande expansatildeo do capital por outro o fez em detrimento da valorizaccedilatildeo do

trabalho e das empresas nacionais arruinadas pela abertura do mercado interno agrave

concorrecircncia internacional No Brasil tal abertura ocorre no iniacutecio dos anos 90 com o

governo Fernando Collor de Melo

27

Do ponto de vista dos trabalhadores a consequecircncia de tal processo eacute a desestruturaccedilatildeo do

mercado de trabalho flexibilizaccedilatildeo das regras de proteccedilatildeo social e o desemprego estrutural

capitaneado pela 3ordf Revoluccedilatildeo Industrial em que o avanccedilo da tecnologia tem como

caracteriacutestica principal o aumento da produtividade ao mesmo tempo em que dispensa

grande contingente de matildeo-de-obra Por outro lado o baixo niacutevel de escolaridade dos

desempregados e a insuficiecircncia de poliacuteticas puacuteblicas de formaccedilatildeo de intermediaccedilatildeo de matildeo-

de-obra e de estiacutemulo ao empreendedorismo entre outros motivos torna a recolocaccedilatildeo dos

trabalhadores no mercado de trabalho uma chance remota

Eacute nesse cenaacuterio constituiacutedo pelas contradiccedilotildees e transformaccedilotildees profundas no qual o

trabalho parece perder a centralidade e em que natildeo se superou a dimensatildeo do trabalho como

mercadoria que o homem trabalhador proprietaacuterio apenas de sua forccedila de trabalho

marginalizado do mercado de trabalho perde sua funccedilatildeo e sua condiccedilatildeo primeira de

cidadania Desse modo eacute que satildeo pensadas e geradas alternativas ao desemprego e agrave exclusatildeo

social ressurgindo o ideal da Economia Solidaacuteria e da Autogestatildeo

22 Economia Solidaacuteria Alternativa agrave superaccedilatildeo do desemprego

A ideacuteia de construccedilatildeo de uma sociedade justa cuja base de relaccedilotildees esteja centrada na

solidariedade e natildeo na competiccedilatildeo eacute um ideal da humanidade que tem iniacutecio nos primoacuterdios

da civilizaccedilatildeo capitalista Tal ideaacuterio natildeo tem seu fundamento apenas no desejo utoacutepico de

mundo igualitaacuterio e solidaacuterio mas segundo Rattner (2005 p 01)

A apologia irrestrita da competiccedilatildeo eacute ideoloacutegica e natildeo encontra fundamento na Histoacuteria Ao

contraacuterio eacute possiacutevel afirmar que a maior parte da evoluccedilatildeo da espeacutecie humana foi caracterizada

por associaccedilotildees de cooperaccedilatildeo comunitaacuterias tais como apresentam ainda hoje certas tribos

indiacutegenas do Brasil e de outros continentes A desestruturaccedilatildeo da vida comunitaacuteria em

consequumlecircncia da revoluccedilatildeo industrial no final do seacuteculo XVIII levou como reaccedilatildeo agrave afirmaccedilatildeo de

ideacuteias e praacuteticas cooperativas divulgadas por Proudhon e pelos chamados socialistas utoacutepicos

(Fourier Saint Simon Robert Owen Michael Bakunin e Peter Kropotkin) bem como na segunda metade do seacuteculo XIX ao socialismo de Marx e Engels

Inspirado nas ideacuteias dos socialistas utoacutepicos surgiu na segunda metade do seacuteculo XX o

movimento kibutziano na Terra Santa Seus fundadores e seguidores formaram colocircnias

agriacutecolas que tinham como regra a natildeo exploraccedilatildeo do trabalho propriedade coletiva dos

meios de produccedilatildeo a participaccedilatildeo de todos os membros da comunidade no planejamento e

28

alocaccedilatildeo de recursos seja para o consumo ou seja para investimentos mediante votaccedilatildeo

democraacutetica em assembleacuteias gerais (RATTNER 2005 p01)

A segunda metade do seacuteculo XX tambeacutem pode testemunhar a experiecircncia de implantaccedilatildeo

socialismo na Uniatildeo Sovieacutetica onde se criaram fazendas agriacutecolas coletivas estatizadas aleacutem

das induacutestrias que passaram da propriedade privada para as matildeos do Estado Tais experiecircncias

se inviabilizaram pelo excesso de burocratizaccedilatildeo centralismo e desmotivaccedilatildeo dos

trabalhadores Os fracassos histoacutericos levam a refletir sobre o grau de complexidade para a

implementaccedilatildeo de empreendimentos exigentes em participaccedilatildeo social e sobre a possibilidade

de ocorrerecircncia numa sociedade cujas regras de competiccedilatildeo perpassam todas as relaccedilotildees

sociais Segundo Rattner

Uma economia solidaacuteria exige aleacutem do desenvolvimento de sua base material um alto grau de

conscientizaccedilatildeo e motivaccedilatildeo por parte de sua populaccedilatildeo movida por princiacutepios eacuteticos e valores de

compaixatildeo e solidariedade Em oposiccedilatildeo radical ao sistema de competiccedilatildeo a economia solidaacuteria

natildeo pode ser um produto do autoritarismo de uma administraccedilatildeo de uma soacute via de cima para

baixo que torne a populaccedilatildeo em objeto passivo Ela exige a participaccedilatildeo de todos para se

tornarem cidadatildeos e assim sujeitos do processo histoacuterico(RATTNER 2005 p 02)

Portanto ao se falar de empreendimentos solidaacuterios em que pessoas se organizam

voluntariamente para muacutetua colaboraccedilatildeo parte-se tambeacutem de um pressuposto fundamental a

participaccedilatildeo social que garante ao empreendimento sua sustentabilidade atraveacutes de processos

de caraacuteter educativo

No Brasil desde os anos 80 experiecircncias baseadas na solidariedade se propagam como forma

alternativa de sobrevivecircncia de grupos atingidos pelos efeitos sociais do desemprego

causados em grande parte pela globalizaccedilatildeo Segundo Tauile (2001) tal movimento comeccedila

na Prefeitura de Porto Alegre no Rio Grande do Sul propoga-se por todo o Estado e

posteriormente por todo o Brasil

O termo Economia Solidaacuteria (ES) aparece pela primeira vez no Brasil em 1993 no livro

Economia de Solidariedade e organizaccedilatildeo popular no qual o autor chileno Luis Razeto

(1993 p25) a concebe como

Uma formulaccedilatildeo teoacuterica de niacutevel cientiacutefico elaborada a partir e para dar conta de conjuntos significativos de experiecircncias econocircmicas [] que compartilham alguns traccedilos constitutivos e

essenciais de solidariedade mutualismo cooperaccedilatildeo e autogestatildeo comunitaacuterios que definem uma

racionalidade especial diferente de outras racionalidades econocircmicas

29

Para Singer (2000) a Economia Solidaacuteria surge como modo de produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo

alternativa criado e recriado periodicamente pelos que se encontram marginalizados do

mercado de trabalho A ES concilia o princiacutepio da unidade entre posse e uso dos meios de

produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo com os princiacutepios da socializaccedilatildeo desses meios

Crida identifica as principais caracteriacutesticas dos empreendimentos solidaacuterios

- reciprocidade colocada no cerne de sua passagem agrave accedilatildeo econocircmica - as pessoas se associam numa base voluntaacuteria com o objetivo de satisfazer necessidades sociais

e culturais - a vontade de empreender eacute coletiva Natildeo se busca o retorno sobre o

Investimento individual - tais iniciativas se perenizam combinando fontes de recursos mercantis natildeo mercantis e natildeo-monetaacuterios (financiamento hiacutebrido estaacutetico receitas autogeridas e contribuiccedilotildees voluntaacuterias) - estas experiecircncias organizam-se dentro de uma dinacircmica cidadatilde favorecendo a criaccedilatildeo de

espaccedilos puacuteblicos de proximidade (CRIDA 2000 p03 apud TAUILE 2001)

A unidade tiacutepica da ES eacute a cooperativa cujos princiacutepios satildeo posse coletiva dos meios de

produccedilatildeo pelas pessoas que os utilizam para produzir gestatildeo democraacutetica da empresa ou por

participaccedilatildeo direta ou por representaccedilatildeo reparticcedilatildeo da receita liacutequida entre os cooperadores

por criteacuterios aprovados apoacutes discussotildees e negociaccedilotildees entre todos destinaccedilatildeo do excedente

anual (denominado sobras) tambeacutem por criteacuterios acertados entre todos os cooperadores A

forma de administraccedilatildeo dos empreendimentos de ES eacute portanto a autogestatildeo

Singer (2000) relata diversas experiecircncias e formas de organizaccedilatildeo da ES no Brasil cuja

abrangecircncia compreende atividades econocircmicas tais como cooperativas dos mais diversos

ramos de atividades empresas autogestionaacuterias agecircncias de fomento agrave ES sistemas de

creacutedito redes de projetos comunitaacuterios (associaccedilotildees centros comitecircs etc) feiras solidaacuterias

clubes de trocas e outras experiecircncias alternativas de comeacutercio habitaccedilatildeo e creacutedito

Recentemente a Secretaria Nacional de Economia Solidaacuteria ( SENAES) oacutergatildeo do Ministeacuterio

do Trabalho instuiacuteda no atual governo com o objetivo de fomentar empreendimentos de ES

divulgou um mapa da Economia Solidaacuteria no Brasil Esse mapa proporcionou uma visatildeo da

dimensatildeo e diversidade dos Empreendimentos de Economia Solidaacuteria (EES) os quais jaacute se

fazem presente em todo o paiacutes Eis alguns dados do referido mapa

30

Tabela 2 - Valor mensal dos produtos da ES

Produtos Agrupados por Tipo de Atividade Valor Mensal Total R$ Valor Mensal

Produccedilatildeo Agropecuaacuteria Extrativismo e Pesca 22718579154 462 Produccedilatildeo e Serviccedilos de Alimentos e Bebidas 9822739819 200 Serviccedilos Relativos a Creacutedito e Financcedilas 8205570075 167 Produccedilatildeo Industrial (Diversos) 2940455500 60 Prestaccedilatildeo de Serviccedilos (Diversos) 2031969122 41 Produccedilatildeo de Artefatos Artesanais 1362494308 28 Produccedilatildeo Tecircxtil e Confecccedilotildees 930775759 19 Serviccedilos de Coleta e Reciclagem de Materiais 443079712 09 Produccedilatildeo Mineral (Diversa) 197743633 04 Produccedilatildeo de Fitoteraacutepicos Limpeza e Higiene 93521100 02 Produccedilatildeo e Serviccedilos Diversos 398175518 08 TOTAL 49145103700 1000

Do total de EES 31 natildeo declarou o Valor da Produccedilatildeo Fonte site wwwmtegovbrEmpregadorEconomiaSolidariaConteudoATLAS_PARTE_2pdf A tabela 2 demonstra a diversidade dos setores produtivos da ES e o valor da produccedilatildeo

mensal do conjunto de produtos por tipo de atividade A capacidade de geraccedilatildeo de emprego e

renda da ES eacute demonstrada pela tabela 3 Em 2005 estavam associados nos empreendimentos

econocircmicos solidaacuterios mais de 1 milhatildeo e 250 mil homens e mulheres resultando em uma

meacutedia de 84 participantes por EES Agregam-se a esse conjunto mais 25 mil trabalhadores e

trabalhadoras participantes que possuem algum viacutenculo com os EES (Empreendimentos de

Economia Solidaacuteria)

31

Tabela 3 - Participantes dos ESS no Brasil

REGIAtildeO Mulheres Homens TOTAL

Rural 22292 345 42265 655 64557

Urbano 15262 591 10578 409 25840

Rural e Urbano

13933 384 22372 616 36305

NO

Total 51493 406 75235 594 126728

Rural 95599 373 160365 627 255964

Urbano 42941 504 42262 496 85203

Rural e Urbano

40019 379 65478 621 105497

NE

Total 179058 400 268477 600 447535

Rural 10692 306 24219 694 34911

Urbano 24258 477 26619 523 50877

Rural e Urbano

9733 251 29003 749 38736

SE

Total 44729 359 79910 641 124639

Rural 28901 272 77310 728 106211

Urbano 26773 349 49887 651 76660 Rural e Urbano

72551 284 183127 716 255678

SU

Total 128295 292 310400 708 438695

Rural 10577 284 26698 716 37275

Urbano 18118 597 12213 403 30331 Rural e Urbano

18389 394 28267 606 46656

CO

Total 47088 412 67197 588 114285

Rural 168061 337 330857 663 498918

Urbano 127352 474 141559 526 268911 Rural e Urbano

154625 320 328247 680 482872

TOTAL

Total 450663 360 801219 640 1251882 Fonte Fonte site wwwmtegovbrEmpregadorEconomiaSolidariaConteudoATLAS_PARTE_2pdf Aleacutem da geraccedilatildeo de trabalho e renda a contribuiccedilatildeo mais valiosa dessas experiecircncias tem sido

a retomada da centralidade do trabalho na vida do homem Aos poucos essas diversas

alternativas de geraccedilatildeo de renda vatildeo compondo perspectivas de saiacutedas para a exclusatildeo de

contigentes sociais agrave margem da loacutegica dominante de mercado em que os sobrantes natildeo

dipunham de qualquer possibilidade de resgatar minimamente sua condiccedilatildeo humana e cidadatilde

32

Por outro lado a ES representada principalmente pelas cooperativas apresenta uma seacuterie de

desafios1 dentre os quais se destaca a questatildeo legal Conforme Rech (2000) ao longo de

nossa histoacuteria a iniciativa cooperativista nunca foi efetivamente incentivada ao contraacuterio

sempre houve intervenccedilatildeo no sentido de limitar suas possibilidades A legislaccedilatildeo brasileira

impotildee uma estrutura muito riacutegida na organizaccedilatildeo das cooperativas e ao contraacuterio de permitir

o desenvolvimento do modelo cooperativista acabou por impor tantos limites que tornou

difiacutecil a sua constituiccedilatildeo e funcionamento

A instituiccedilatildeo da primeira lei baacutesica especiacutefica do cooperativismo em 1932 teve o objetivo de

enfrentar pela diversificaccedilatildeo agriacutecola as quebras provocadas pelos problemas com o

comeacutercio internacional do cafeacute A lei 5764 de 1971 feita pelos militares concentrou as

cooperativas nas matildeos de grandes produtores industriais o que influenciou o piacutefio

crescimento das cooperativas no Brasil Em 1998 o anuaacuterio do Cooperativismo Brasileiro da

Organizaccedilatildeo das Cooperativas Brasileiras (OCB) fornecia o nuacutemero de apenas 5102

cooperativas indicando um avanccedilo pequeno na quantidade de cooperativas com um nuacutemero

de associados que natildeo chegava a 3 do total da populaccedilatildeo

Conforme explica Rech (2002 p16-17) de modo geral os instrumentos existentes na

legislaccedilatildeo brasileira que regulam a vida das cooperativas satildeo de procedecircncia conservadora

satildeo exemplos o dec-lei 5154 de 1942 ( sobre a intervenccedilatildeo do Estado nas cooperativas) o

dec-lei 5893 de 1943 (sobre a organizaccedilatildeo funcionamento e fiscalizaccedilatildeo das cooperativas)

apesar de em menor escala o dec-lei 627444 (que aumenta a interferecircncia do Estado) todos

da ditadura getulhista E da ditadura militar as Leis 4380 (que submeteram as cooperativas

habitacionais ao BNH) e 4595 ( que regula a vida das instituiccedilotildees financeiras entre as quais

as cooperativas de creacutedito) ambas de 1964 o DecLei 5966 (que revogou todas as conquistas

de liberdade cooperativistas anteriores) e a lei cooperativista de 1971 As uacutenicas exceccedilotildees

seriam o dec-lei 840145 que reavivou o Dec de 1932 e a Lei 421463 ( Estatuto do

Trabalhador Rural) que apesar de natildeo ser uma lei especiacutefica sobre o assunto poderia ter

aberto as portas para a atuaccedilatildeo cooperativista no campo

Na visatildeo de Tauile et al (2005) o fenocircmeno da autogestatildeo respeita as condiccedilotildees juriacutedicas

vigentes que apesar de natildeo impedir sua existecircncia natildeo contempla suas necessidades

1 No item 27 satildeo apresentados outros desafios

33

especiacuteficas Os empreendimentos enquadram-se nas formas do direito tradicional fato que

natildeo lhes favorece uma vez que se trata de empreendimentos autogestionaacuterios sociedades de

pessoas e natildeo de capital

Atualmente a legislaccedilatildeo cooperativista estaacute em debate Trecircs Projetos de lei de nos 60599

17199 e 42899 estatildeo tramitando no Congresso Nacional Apesar disso nenhum desses

projetos contempla as necessidades dos empreendimentos autogestionaacuterios na visatildeo dos

autores Tauile et al (2005 p151) Para eles estes empreendimentos tecircm caracteriacutesticas

especiais e necessidades especiacuteficas por serem fenocircmenos com caracterizaccedilotildees empresariais

tipicamente urbanas e de trabalho associado A legislaccedilatildeo poreacutem atende a um

cooperativismo fortemente implementado no campo de base agraacuteria para organizar pequenos

(e grandes) proprietaacuterios rurais

Uma outra evidecircncia da limitaccedilatildeo legal ocorre com os empreendimentos de ES que se

originam da recuperaccedilatildeo de massa falidas Segundo Tauile et al (2005 p147) esses

empreendimentos nascem abruptamente portanto natildeo possuem histoacutericos contaacutebeis sem

capital e sem patrimocircnio No iniacutecio das operaccedilotildees satildeo comandataacuterios ou arrendataacuterios e natildeo

estatildeo capitalizados para irem diretamente ao mercado Diante desse contexto tecircm

dificuldades de acesso a creacutedito para a continuidade do negoacutecio

Tauile et al ( 2005 p 148-149) reflete sobre a necessidade do reconhecimento pela ordem

juriacutedica dessas novas formataccedilotildees juriacutedicas por meio da criaccedilatildeo de um marco legal que

[] os reconheccedila conceitualmente e que estabeleccedila normas para atendimento de condiccedilotildees

associadas a um padratildeo socialmente aceitaacutevel para os trabalhadores e produccedilatildeo de bens para o

mercado que estabeleccedila criteacuterios de identificaccedilatildeo desses atores - empresas de autogestatildeo - que se baseiem numa interpretaccedilatildeo objetiva adequada ao perfil e agraves caracteriacutesticas do sujeito com base na

realidade social e econocircmica disposta

Este cenaacuterio demonstra as restriccedilotildees que a ES enfrenta e que circunscrita no marco legal do

capitalismo natildeo eacute possiacutevel percebecirc-la como instrumento uacutenico de negaccedilatildeo ou superaccedilatildeo do

sistema de mercado vigente contudo surgem inuacutemeras pequenas revoluccedilotildees quando nos

empreendimentos deixa de existir a dicotomia entre capital e trabalho instaurando novas

perspectivas natildeo somente de reproduccedilatildeo mas de criaccedilatildeo de novos tipos de sociabilidades

onde a solidariedade a exigecircncia de responsabilidades coletivas se constituem num intenso

processo educativo Tudo isso recria o proacuteprio conceito de trabalho o qual ganha novos

34

contornos Emprestando as palavras do filoacutesofo Luiz Razeto (1993) cada dia fica mais

claro de que haacute a necessidade de que o aspecto alternativo natildeo seja apenas uma estrateacutegia

mas o proacuteprio desenvolvimento que se busca

23 Diferenccedilas conceituais entre Terceiro Setor e Economia Solidaacuteria

A proliferaccedilatildeo dos empreendimentos solidaacuterios no Brasil muito se deve agrave forte presenccedila das

entidades do Terceiro Setor que eclodiram principalmente a partir dos anos 802 Dentre as

entidades fomentadoras da ES no Brasil pode-se destacar Agecircncia de Desenvolvimento

Solidaacuterio Central Uacutenica dos Trabalhadores (ADSCUT) Associaccedilatildeo Nacional de

Trabalhadores em Empresas de Autogestatildeo e Participaccedilatildeo Acionaacuteria (Anteag) Caacuteritas

BrasileirasUNITRABALHO- Rede Interuniversitaacuteria de Estudos e Pesquisas sobre o

Trabalho PACS Instituto de Poliacuteticas Alternativas para o Cone Sul DIEESE-

Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos Soacutecio- Econocircmicos Instituiccedilatildeo

Comunitaacuteria de Creacutedito Portosol ITCP- Incubadora Tecnoloacutegica de Cooperativas Populares

FASE- Federaccedilatildeo de Oacutergatildeos para Educaccedilatildeo e Assistecircncia Social NAPES - Nuacutecleo de Accedilatildeo e

Pesquisa em Economia de Solidariedade entre outras

Devido agrave substantiva participaccedilatildeo de entidades do Terceiro Setor na Economia Solidaacuteria

muitos entendem que a uacuteltima eacute gecircnero da primeira Isto eacute compreensiacutevel uma vez que a linha

que divide os dois territoacuterios natildeo estaacute tatildeo bem definida A distinccedilatildeo poderia ser realizada pelo

conceito de cada um dos segmentos Entretanto conceituar o Terceiro Setor natildeo eacute uma tarefa

faacutecil tendo em vista a gama de entidades que o compotildeem e a variedade de expressotildees que satildeo

utilizadas como sinocircnimas tais como ONGs entidades sem fins lucrativos organizaccedilotildees

voluntaacuterias entre outras para designar os grupos de organizaccedilotildees da sociedade civil com

atuaccedilatildeo social

Recentemente mais precisamente depois dos anos 90 muitos trabalhos acadecircmicos tecircm

envidado esforccedilos nessa tarefa de conceituar e caracterizar as entidades que constituem esse

setor Destaca-se entre as produccedilotildees sobre o tema o trabalho de Coelho ( 2002) Segundo a

2 Com a redemocratizaccedilatildeo do paiacutes essas organizaccedilotildees ampliaram a abrangecircncia de atuaccedilatildeo para novos espaccedilos

de articulaccedilatildeo soacutecio-poliacutetica como a defesa de direitos de grupos especiacuteficos da populaccedilatildeo mulheres negros

povos indiacutegenas crianccedilas abandonadas etc ( GARCIA 2003)

35

autora no Brasil o termo mais usual para a denominaccedilatildeo das entidades da sociedade civil era

organizaccedilatildeo natildeo-governamental A expressatildeo terceiro setor foi utilizada pela primeira vez

por pesquisadores nos Estados Unidos na deacutecada de 70 e na deacutecada de 80 tambeacutem passou a

ser empregada pelos pesquisadores europeus em virtude do termo expressar uma alternativa

para as desvantagens tanto do mercado associadas agrave maximizaccedilatildeo do lucro quanto do

governo com sua burocracia inoperante( COELHO 2002 p58)

Nesse sentido o Terceiro Setor eacute uma expressatildeo a que se recorre para distinguir as entidades

emergidas do seio da sociedade civil daquelas oriundas do primeiro setor (mercado) e do

segundo (aacuterea governamental) Essa denominaccedilatildeo evidencia o papel econocircmico que esse

segmento assume Coelho explica que essas organizaccedilotildees distinguir-se-iam das entidades

privadas inseridas no mercado por natildeo objetivarem o lucro e por responderem em alguma

medida agraves necessidades coletivas (COELHO 2002 p59)

Contudo Franco (1997) abre um parecircntese no sentido de natildeo se confundir coletivo e puacuteblico

pois nem todas as entidades pertencentes ao Terceiro Setor possuem fins puacuteblicos Grande

parte do Terceiro Setor eacute composta por organizaccedilotildees com fins coletivos privados como uma

organizaccedilatildeo para observaccedilatildeo de paacutessaros tropicais Essas entidades constituem-se num

agrupamento de cidadatildeos que se associam voluntariamente para perseguir objetivos que soacute

interessam a eles proacuteprios que natildeo tem a pretensatildeo ou a obrigaccedilatildeo de atender a um interesse

comum da sociedade e portanto que natildeo estatildeo voltados para o bem comum ou para a

chamada utilidade puacuteblica (FRANCO 1997 p37 apud COELHO 2002 p59)

Aleacutem dessas entidades jaacute citadas uma outra discussatildeo que se faz eacute sobre a relaccedilatildeo entre o

Terceiro Setor e os movimentos sociais Estariam os movimentos sociais circunscritos ao

Terceiro Setor Partindo-se de uma resposta negativa poder-se-ia argumentar que os

movimentos sociais natildeo integram o Terceiro Setor por natildeo possuiacuterem uma estrutura formal

feita para perdurar no tempo caracteriacutestica baacutesica de entidades do terceiro setor3 Na verdade

os movimentos sociais possuem um caraacuteter mais reivindicatoacuterio e pressionam o Estado

solicitando o fornecimento de bens ou serviccedilos

3 Conforme aleacutem de estar fora do Estado e natildeo ter fins lucrativos as entidades do Terceiro Setor possuem as seguintes caracteriacutesticas satildeo estruturadas satildeo autogovernadas Envolvem indiviacuteduos num significativo esforccedilo

voluntaacuterio (Lester Salamon amp Helmuth Anheir 1994 apud Coelho 2002 p61)

36

Entretanto nada eacute conclusivo pois tambeacutem no Terceiro Setor inscrevem-se entidades com

caraacuteter reivindicatoacuterio Essa questatildeo daacute uma ideacuteia da dificuldade de delimitaccedilatildeo dos contornos

desse setor em virtude da diversidade das entidades que o compotildeem

Alguns autores americanos (Lester Salamon Michael Gutowski amp Karen Pittman 1984 p3) entendem que as entidades do terceiro setor podem ser agrupadas da seguinte forma

1) Organizaccedilotildees que funcionam essencialmente para ajudar a seus proacuteprios membros tais

como as associaccedilotildees profissionais e clubes sociais

2) Igrejas sinagogas mesquitas e outras organizaccedilotildees religiosas sacramentadas

3) Organizaccedilotildees incluindo as fundaccedilotildees United Way e federaccedilotildees religiosas como a

Caridade Catoacutelica e a Federaccedilatildeo Judaica

4) Organizaccedilotildees que promovem caridade ou serviccedilos educacionais destinados

primeiramente para ajudar a qualquer pessoa e natildeo simplesmente seus membros

No Brasil a legislaccedilatildeo segrega as vaacuterias entidades que compotildeem o Terceiro Setor em dois

grupos ou duas formas juriacutedicas diferentes associaccedilatildeo e fundaccedilatildeo De acordo com o art 16 do

Coacutedigo Civil Brasileiro as entidades da sociedade civil sem finalidade lucrativa apresentam

caracteriacutesticas diversas em seus aspectos juriacutedicos Os arts 20 e 23 enunciam as seguintes

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo

a) os fins os meios proacuteprios e os interesses satildeo estabelecidos pelos associados

b) os associados podem alterar os fins

c) o patrimocircnio eacute constituiacutedo pelos associado e

d) os associados deliberam livremente

Por outro lado as fundaccedilotildees tecircm suas caracteriacutesticas anunciadas nos arts 24 e 30 do antigo

Coacutedigo Civil da seguinte forma

a) os fins os meios proacuteprios e os interesses satildeo estabelecidos pelo fundador

b) os fins satildeo perenes e imutaacuteveis

c) o patrimocircnio eacute fornecido pelo instituidor e

d) as resoluccedilotildees satildeo delimitadas pelo instituidor

37

Resgatando o conceito e natureza da Economia Solidaacuteria percebe-se que ela eacute um hiacutebrido

entre empresas econocircmicas e entidades da sociedade civil Aqui haacute uma semelhanccedila dos

segmentos pois ambas satildeo associaccedilatildeo de pessoas

Enquanto atividade econocircmica ela precisa gerar sobras mediante a qual se garante emprego e

renda aos trabalhadores Por outro lado enquanto atividade social ela eacute gerida por um coletivo

de pessoas que aleacutem de benefiacutecios econocircmicos cultuam valores humanos tais como

solidariedade e cooperaccedilatildeo em todo o processo econocircmico seja na relaccedilatildeo de trabalho na

relaccedilatildeo com clientes e fornecedores na relaccedilatildeo com a comunidade e com o meio ambiente

Uma situaccedilatildeo que a diferencia das empresas mercantis quando o empreendimento solidaacuterio

assume a forma juriacutedica de uma cooperativa eacute o fato de que o resultado econocircmico natildeo se

distribui com o mesmo dinamismo que em uma empresa mercantil Ele eacute distribuiacutedo

anualmente por ocasiatildeo da apuraccedilatildeo do Balanccedilo anual

Diante da dificuldade de se traccedilar precisamente as diferenccedila apenas pelas caracteriacutesticas

talvez o grande argumento para a segregaccedilatildeo dos empreendimentos de ES das entidades do

Terceiro Setor resida na legislaccedilatildeo Os empreendimentos mais representativos4 da Economia

Solidaacuteria conforme o Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (2006) as cooperativas e as

sociedades anocircnimas tecircm uma legislaccedilatildeo proacutepria apesar dos questionamentos sobre a sua

adequaccedilatildeo agraves peculiaridades dos empreendimentos de ES A cooperativa eacute uma associaccedilatildeo

autocircnoma de pessoas que se unem voluntariamente para satisfazer aspiraccedilotildees econocircmicas

sociais e culturais comuns por meio da criaccedilatildeo de uma sociedade democraacutetica e coletiva

cooperativa Diferenciam-se dos demais tipos de sociedades por serem ao mesmo tempo uma

associaccedilatildeo de pessoas e tambeacutem um negoacutecio e satildeo definidas pela lei 5764 de 16 de

dezembro de 1971 ( lei cooperativista) Jaacute os empreendimentos solidaacuterios que assumem a

forma juriacutedica de uma sociedade anocircnima satildeo regidos pela lei das Lei nordm 6404 de 15 de

dezembro de 1976 chamada lei das sociedades por accedilotildees

Veiga e Rech (2002) apontam outras diferenccedilas comparando uma associaccedilatildeo (terceiro setor)

e cooperativa (ES) conforme mostra o quadro 2 Entretanto este debate natildeo se encerraraacute ateacute

que sejam definidos contornos conceituais e legais mais efetivos aos segmentos

4 Apesar de serem representativos natildeo satildeo a maioria dos empreendimentos No Brasil as formas de organizaccedilatildeo

estatildeo assim distribuiacutedas associaccedilatildeo 54 grupos informais -33 organizaccedilotildees cooperativas 11 outras

formas de organizaccedilatildeo- 2

38

Quadro 2- Diferenccedilas entre Associaccedilotildees e Cooperativas

Criteacuterio Associaccedilatildeo Cooperativa

Conceito Sociedade de pessoas sem fins lucrativos

Sociedade de pessoas sem fins lucrativos e com especificidade de atuaccedilatildeo na atividade produtivacomercial

Finalidade Representar e defender os interesses dos associados Estimular a melhoria teacutecnica

profissional e social dos associados Realizar iniciativas de promoccedilatildeo educaccedilatildeo e assistecircncia

social

Viabilizar e desenvolver atividades de consumo produccedilatildeo prestaccedilatildeo de serviccedilos

creacutedito e comercializaccedilatildeo de acordo com os

interesses dos seus associados

Constituiccedilatildeo Miacutenimo de duas pessoas Miacutenimo de 20 pessoas fiacutesicas Legislaccedilatildeo Constituiccedilatildeo ( art 5ordm XVII a XXI

e art 174 sect2ordm) Coacutedigo civil Lei 576471 Constituiccedilatildeo ( art 5ordm XVII a

XXI e art 174 sect Coacutedigo civil Patrimocircnio Capital Patrimocircnio eacute formado por taxa

paga pelos associados doaccedilotildees

fundos e reservas Natildeo possui

capital social

Possui capital social formado por quotas-partes podendo receber doaccedilotildees

empreacutestimos e processos de capitalizaccedilatildeo

Forma de gestatildeo Nas assembleacuteias cada pessoa tem

direito a um voto As decisotildees

devem sempre ser tomadas com a participaccedilatildeo e o envolvimento dos

associados

Nas assembleacuteias cada pessoa tem direito a um voto As decisotildees devem sempre ser

tomadas com a participaccedilatildeo e o envolvimento

dos associados

Abrangecircncia aacuterea de

accedilatildeo Limita-se aos seus objetivos podendo ter abrangecircncia nacional

Limita-se aos seus objetivos e possibilidade de reuniotildees podendo ter abrangecircncia

nacional Operaccedilotildees Soacute pode realizar atividade

comercial para a implementaccedilatildeo de

seus objetivos sociais Pode realizar operaccedilotildees financeiras e

bancaacuterias usuais

Realiza plena atividade comercial Realiza operaccedilotildees financeiras bancaacuterias e pode

candidatar-se a empreacutestimos e aquisiccedilotildees do

governo federal

Responsabilidades Os associados natildeo satildeo

responsaacuteveis diretamente pelas

obrigaccedilotildees contraiacutedas pela

associaccedilatildeo A sua diretoria soacute pode

ser responsabilizada se agir sem o consentimento dos associados

Os cooperados natildeo satildeo responsaacuteveis

diretamente pelas obrigaccedilotildees contraiacutedas pela

cooperativa a natildeo ser tambeacutem nos casos em

que decidem que a sua responsabilidade eacute

ilimitadaSua diretoria soacute pode ser

responsabilizada se agir sem o consentimento dos associados

Remuneraccedilatildeo Os dirigentes natildeo tecircm remuneraccedilatildeo

pelo exerciacutecio de suas funccedilotildees

recebem apenas reembolso de suas despesas realizadas para o desempenho dos seus cargos

Os dirigentes podem ser remunerados por retiradas mensais proacute-labore definidas pela assembleacuteia aleacutem do reembolso de suas

despesas

Tributaccedilatildeo Deve fazer anualmente uma declaraccedilatildeo de isenccedilatildeo de imposto

de renda

Isento de impostos sobre operaccedilotildees com

seus associados Recolhe IRPJ sobre operaccedilotildees com terceiros Paga impostos e taxas decorrentes de accedilotildees comerciais

Resultados Financeiros O resultado positivo (superaacutevit)

obtido de operaccedilotildees entre os

associados seratildeo aplicados na

proacutepria associaccedilatildeo

O resultado positivo (sobras) satildeo divididas de

acordo com o volume de negoacutecios ou

participaccedilatildeo de cada associado Satildeo

constituiacutedas reservas de 10 para o fundo de

reserva e 5 para o Fundo Educacional ( FATES)

Fonte Adaptado de Veiga e Rech (2002)

39

24 Diferentes concepccedilotildees e modelos de participaccedilatildeo na administraccedilatildeo

A Economia Solidaacuteria na perspectiva apontada por Tauile (2001) sinteticamente possui os

seguintes traccedilos distintivos reciprocidade coletividade combinaccedilatildeo de recursos

mercantis e natildeo-mercantis cidadania que somente se constroacutei no espaccedilo puacuteblico Logo o

conceito de participaccedilatildeo eacute tambeacutem chave para compreender a dinacircmica dos empreendimentos

soliaacuterios e a autogestatildeo

No acircmbito de uma empresa a participaccedilatildeo reveste-se de um caraacuteter bastante importante

capaz de alterar as relaccedilotildees de poder no processo de gestatildeo dos negoacutecios pois

A participaccedilatildeo consiste basicamente na criaccedilatildeo de oportunidades sob as condiccedilotildees adequadas para

que as pessoas influam nas decisotildees que as afetam Essa influecircncia pode ser de pouca a muita [

participaccedilatildeo] constitui um caso especial de delegaccedilatildeo no qual o subordinado adquire um controle

maior uma maior liberdade de escolha em relaccedilatildeo a suas proacuteprias responsabilidades O termo

participaccedilatildeo eacute usualmente aplicado agrave maior influecircncia do subordinado sobre assuntos de responsabilidade do superior (MCGREGHOR 1960 p126 e 130 apud PATEMAN 1992 p 38)

Contudo a participaccedilatildeo eacute uma categoria teoacuterica bastante controversa especialmente no

acircmbito dos negoacutecios jaacute que embora no mundo moderno o local de trabalho seja agrave base de

relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo esse espaccedilo tem sido marcado desde sua origem pela negaccedilatildeo de

relaccedilotildees democraacuteticas de participaccedilatildeo Mais recentemente diversos movimentos tecircm

persuadido empresas a adotarem sistemas de participaccedilatildeo Eacute grande a variedade de modelos

participativos no acircmbito empresarial Compreendem desde accedilotildees pontuais de empregados que

apresentam suas sugestotildees aos negoacutecios ateacute a participaccedilatildeo na propriedade e nos lucros Far-

se-aacute em seguida uma imersatildeo nos diferentes conceitos de participaccedilatildeo nos negoacutecios buscando

distinguir tais conceitos daquele adotado no presente trabalho

Segundo Arantes (2000) a participaccedilatildeo nas organizaccedilotildees surgiu em decorrecircncia da pressatildeo

sindical para utilizaccedilatildeo de fundamentos democraacuteticos nas organizaccedilotildees Posteriormente foi

sendo sustentada por concepccedilotildees humanistas de administraccedilatildeo Um breve histoacuterio dessa

evoluccedilatildeo mostra que os primeiros debates de participaccedilatildeo na administraccedilatildeo ocorreram por

volta de 1880 quando nos Estados Unidos numa empresa chamada Midvale Steel Frederick

Wilson Taylor obstinado por incrementar a eficiecircncia de seus subordinados deparou com um

impasse Taylor observava e cronometrava as atividades de vaacuterios funcionaacuterios com o

objetivo de descobrir uma base cientiacutefica para compreender e executar os trabalhos

40

(ARANTES 2000 p08) Ele queria encontrar o meacutetodo mais eficiente de trabalho e que

fosse melhor para todos Entretanto apoacutes conseguir meacutetodos e maneiras para aumentar o

rendimento dos operaacuterios ele se deparou com o chamado problema dos salaacuterios

Na eacutepoca existiam duas formas praticadas de pagamento dos funcionaacuterios pagamento por dia

ou por peccedila produzida Na primeira o trabalhador recebia o salaacuterio independentemente de

sua produccedilatildeo o que tornava o aumento da eficiecircncia extremamente desinteressante para ele

Na segunda apresentava-se a seguinte questatildeo se a produccedilatildeo aumentava muito o valor por

peccedila diminuiacutea fazendo com que o sindicato estabelecesse volumes maacuteximos de produccedilatildeo por

dia de maneira que os trabalhadores natildeo fossem prejudicados

Segundo Maximiano (1996 p44)

Para resolver este problema que os dois sistemas ofereciam jaacute na eacutepoca se falava em um sistema

de participaccedilatildeo dos empregados nos lucros das empresas o qual se tem notiacutecia de ter sido praticado na Europa desde 1842 No entanto tambeacutem jaacute se reconhecia que esse sistema tinha imperfeiccedilotildees

uma vez que as flutuaccedilotildees nos lucros beneficiando ou prejudicando o empregado eram devidas a

fatores (como preccedilo da mateacuteria-prima ou decisotildees gerenciais) sobre os quais ele natildeo tinha controle

Mas foi com o movimento de relaccedilotildees humanas (os humanistas) que o advento da

participaccedilatildeo ganhou forccedila O movimento desenvolveu-se a partir de experiecircncias e estudos

realizados na Western Eletric Company entre 1924 e 1933 Esses experimentos ficaram

conhecidos como os experimentos de Hawthorne em virtude de a maioria dos estudos

terem sido realizados na faacutebrica de Hawthorne da Western Eletric nas proximidades de

Chicago

O objetivo desses estudos a princiacutepio natildeo era a avaliaccedilatildeo de comportamentos humanos

motivaccedilotildees ou participaccedilatildeo visavam apenas agrave identificaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre o niacutevel de

iluminaccedilatildeo do local de trabalho e a produtividade dos empregados Os resultados obtidos natildeo

foram conclusivos A produtividade aparentava crescer tanto quando se aumentava a

iluminaccedilatildeo como tambeacutem quando se diminuiacutea Concluiu-se que algo aleacutem da iluminaccedilatildeo

influenciava no rendimento dos trabalhadores

Elton Mayo professor de Harvard participante dessas experiecircncias tinha uma experiecircncia

anterior de estudo das sociedades aboriacutegenes da Austraacutelia as quais se caracterizam por serem

muito unidas o que fazia despertar nos indiviacuteduos a sensaccedilatildeo de pertencer ao grupo

41

Comparando-se os trabalhadores da seccedilatildeo de enrolamentos de carreteacuteis onde as experiecircncias

foram desenvolvidas com as sociedades aboriacutegenes constatou-se que os trabalhadores

apresentavam a destruiccedilatildeo total da sensaccedilatildeo de pertencimento a um grupo ou seja era o

oposto da sociedade aboriacutegene Mayo explicou da seguinte forma a depressatildeo e alienaccedilatildeo dos

trabalhadores do setor de enrolamento de carreteacuteis

Quer como antropoacutelogo estudando uma raccedila primitiva quer como industriais estudando alguma

parte do esquema moderno caoacutetico e complexo de produccedilatildeo encontramos sempre grupos de

indiviacuteduos tanto nas selvas naturais como nas cidades modernas que encontram sua felicidade e

seguranccedila pessoal desde que exista a subordinaccedilatildeo do indiviacuteduo a um objetivo comum O homem

solitaacuterio que trabalha soacute eacute sempre uma pessoa muito infeliz( HAMPTON 1983 apud ARANTES 2000)

Outros autores tambeacutem contribuiacuteram para o desenvolvimento da Escola de Relaccedilotildees

Humanas Em 1910 na Alemanha Hugo Munsterberg realizou experimentos em que buscava

utilizar conhecimentos da psicologia experimental aplicados para ajudar na seleccedilatildeo de

homens mais bem capacitados para o trabalho A partir da seleccedilatildeo buscava-se determinar

condiccedilotildees psicoloacutegicas e influecircncias na mente humana capazes de obtenccedilatildeo de maiores

iacutendices de produccedilatildeo e um comportamento previamente desejado pela administraccedilatildeo

Em 1935 Kurt Lewin desenvolveu um dos primeiros estudos sobre motivaccedilatildeo humana e

dinacircmica de grupo o qual ficou conhecido como a teoria de campo Lewin supunha que o

comportamento humano seria derivado dos fatos existentes que adquiriria caraacuteter de um

campo-dinacircmico em que cada parte depende da inter-relaccedilatildeo com outras partes

Abraham H Maslow desenvolveu estudos sobre a teoria das necessidades motivacionais em

1944 proporcionando uma grande contribuiccedilatildeo para o desenvolvimento humano no trabalho

De acordo com a Teoria da Hierarquia das Necessidades de Maslow as pessoas satildeo

motivadas por cinco tipos distintos de necessidades fisioloacutegicas de seguranccedila de afeto de

estima e de auto-realizaccedilatildeo ( ARANTES 2000 p12)

Essas necessidades estatildeo dispostas de acordo com uma hierarquia segundo sua capacidade de

motivar o comportamento humano Num primeiro degrau o ser humano eacute motivado por

necessidades fisioloacutegicas Eles buscaratildeo satisfazecirc-las primeiramente caso natildeo estejam

satisfeitas elas tenderatildeo a monopolizar seu comportamento oferecendo dessa forma um

grande poder de motivaccedilatildeo Agrave medida que as necessidades vatildeo sendo satisfeitas o poder de

42

motivaccedilatildeo vai perdendo sua forccedila dando lugar a um novo niacutevel de descontentamento

deslocando o poder de motivaccedilatildeo para patamares superiores de necessidade dentro da

hierarquia

Entretanto pode ocorrer que as pessoas aleacutem de subirem tambeacutem desccedilam dentro da

hierarquia das necessidades A ausecircncia de satisfaccedilatildeo de necessidades inferiores pode

aumentar sua importacircncia relativa Quando haacute uma perda do emprego por exemplo o

indiviacuteduo passa a demonstrar menor necessidade pela estima e seu comportamento passa a

ser conduzido pela necessidade de pagar as contas e da seguranccedila de um novo emprego (

ARANTES 2000 p 12)

O movimento das relaccedilotildees humanas superou a abordagem claacutessica5 em virtude da ecircnfase nas

necessidades sociais Segundo Stoner

Aparentemente o ambiente social no local de trabalho eacute apenas um dos vaacuterios fatores interativos

que influenciam a produtividade Os niacuteveis de salaacuterios os niacuteveis de interesse por determinadas

tarefas a estrutura e a cultura organizacional e as relaccedilotildees entre trabalhadores e a administraccedilatildeo

tambeacutem tecircm muita importacircncia (STONER apud ARANTES 2000)

Aleacutem dessa anaacutelise histoacuterico-humanista haacute outros enfoques que podem explicar a origem da

participaccedilatildeo nas relaccedilotildees produtivas Alguns autores defendem que a participaccedilatildeo pode ter

sido originada por dois fatores a conflitual e a funcional

A conflitual tem raiz no antagonismo entre capital e trabalho surgindo neste contexto o movimento sindical como uma forma de divisatildeo de poder de maneira a diminuir conflitos A

participaccedilatildeo funcional originou-se da necessidade de reduzir a burocratizaccedilatildeo e

consequumlentemente promover a aproximaccedilatildeo entre dirigentes e dirigidos (ARANTES 2000 p15)

Na primeira perspectiva a participaccedilatildeo deixa de ser algo concebido nos estreitos limites da

organizaccedilatildeo e suas necessidades intriacutensecas para se tornar o resultado de tensotildees sociais

dentro e fora das empresas Nessa linha de pensamento Dacheler e Wilpert e Kenneth

Walker na visatildeo de Arantes satildeo os autores que mais identificavam a ligaccedilatildeo entre a

participaccedilatildeo na sociedade e a participaccedilatildeo nas organizaccedilotildees

5 Nessa abordagem a produtividade era tratada quase que exclusivamente como um problema de engenharia

43

Conforme esses autores a participaccedilatildeo pode ser concebida em quatro perspectivas teoacutericas

Teoria Democraacutetica Teoria Socialista Teoria do Desenvolvimento e Crescimento Humano e

Teoria da Produtividade e Eficiecircncia

Teoria Democraacutetica

Os principais expoentes dessa corrente satildeo Rosseau Stuart Mill e Tocqueville Para eles a

participaccedilatildeo democraacutetica deve ocorrer em todos os acircmbitos sociais e natildeo somente atraveacutes da

representaccedilatildeo poliacutetica no Estado Toda instituiccedilatildeo deve buscar a incorporaccedilatildeo de valores

democraacuteticos Esses valores aparecem nos ambientes fabris na forma institucionalizada

atraveacutes da representaccedilatildeo de empregados em diversos niacuteveis ou na forma gerencial

administrativa atraveacutes da participaccedilatildeo direta nas decisotildees principalmente na liberdade de

execuccedilatildeo de suas tarefas(ARANTES 2000 p 17)

Teoria Socialista

Essa concepccedilatildeo tem origem nos socialistas utoacutepicos no socialismo cientiacutefico de Marx e

Engels e no anarquismo de Proudhon A participaccedilatildeo encerra a ideacuteia de distribuiccedilatildeo de poder

na sociedade podendo ser dois enfoques ou duas correntes distintas a anarquista que defende

a centralidade do poder nas matildeos do povo e a comunista corrente em que o poder eacute exercido

atraveacutes do Estado Em uma organizaccedilatildeo a participaccedilatildeo atinge seu aacutepice quando consegue

exercer a autogestatildeo

Teoria das Relaccedilotildees e Desenvolvimento Humano

Essa teoria emerge do ambiente gerencial opondo-se agrave Teoria Socialista em que a

participaccedilatildeo irradia dos empregados Admite que o ambiente de trabalho gera contradiccedilotildees

entre o desejo pessoal e a necessidade da empresa e esses conflitos podem provocar

insatisfaccedilatildeo por parte dos empregados resultando em diminuiccedilatildeo da produtividade da

empresa Entretanto a motivaccedilatildeo pode evitar o potencial conflito Isso eacute possiacutevel atraveacutes do

desenvolvimento de equipes de trabalho e arranjos da estrutura organizacional facilitando a

praacutetica da participaccedilatildeo e integraccedilatildeo entre os empregados e a empresa(ARANTES 2000 p

18)

44

Teoria da produtividade e Eficiecircncia

Essa teoria concebe a participaccedilatildeo como uma tecnologia disponiacutevel agrave gerecircncia capaz de

proporcionar maior produtividade e eficiecircncia Segundo seus defensores a participaccedilatildeo nas

tarefas eacute uma ferramenta para enriquecimento das funccedilotildees e aumento da eficiecircncia gerando

maiores lucros que posteriormente podem vir a ser divididos proporcionando novo fator de

motivaccedilatildeo

Partidaacuterio dessa uacuteltima concepccedilatildeo Walker (1974) vecirc a participaccedilatildeo nas organizaccedilotildees como

uma funccedilatildeo gerencial que permite graus de envolvimento dos trabalhadores no processo

decisoacuterio objetivando os interesses da empresa Esse envolvimento eacute de interesse dos

trabalhadores uma vez que estariam contribuindo e intervindo em situaccedilotildees que dizem

respeito diretamente agraves suas vidas Para Walker

Eacute atraveacutes da participaccedilatildeo dos empregados que as empresas poderatildeo encontrar as soluccedilotildees para a

melhoria de sua produccedilatildeo O conhecimento dos funcionaacuterios embora seja uma alternativa pouco

utilizada pelas empresas pode ser a soluccedilatildeo para grandes problemas operacionais (WALKER 1974 apud ARANTES 2000)

As mais variadas perspectivas de participaccedilatildeo possuem como premissas as consequumlecircncias

que conforme a matriz teoacuterica poderia afetar mais ou menos a empresa mais ou menos os

trabalhadores de acordo com o interesse subjacente a cada perspectiva Walker apresenta um

quadro no qual sintetiza as perspectivas de participaccedilatildeo e suas possiacuteveis repercussotildees

Quadro 3- Perspectivas da participaccedilatildeo e suas possiacuteveis repercussotildees

Perspectivas Possiacuteveis Repercussotildees

Promoccedilatildeo dos interesses dos trabalhadores Melhores condiccedilotildees de emprego

Democracia Maior influecircncia dos trabalhadores nas decisotildees

empresariais

Reduccedilatildeo da alienaccedilatildeo Maior satisfaccedilatildeo dos trabalhadores

Utilizaccedilatildeo dos recursos humanos Maior eficaacutecia

Cooperaccedilatildeo e atenuaccedilatildeo dos conflitos Menor nuacutemero de greves

Soluccedilatildeo dos problemas sociais da comunidade Melhoramento dos recursos sociais da comunidade

Freio agrave eficaacutecia Menos eficaacutecia

Inclusatildeo de prerrogativas sociais na empresa Fins da empresa privada

Responsabilidades sociais da empresa Representaccedilatildeo mais equilibrada dos interesses

Fonte WALKER 1974 p 07 apud ARANTES 2000

45

Sinteticamente a participaccedilatildeo dos empregados nas decisotildees das empresas via de regra pode

ocorrer de duas formas em menor escala quando a decisatildeo versa sobre o seu proacuteprio trabalho

e de seu grupo e a decisatildeo nas diretrizes da empresa como um todo Na segunda forma aleacutem

da decisatildeo sobre o trabalho e sua organizaccedilatildeo eacute concedida aos trabalhadores a possibilidade

de decidirem tambeacutem sobre a alocaccedilatildeo de recursos investimentos e destinaccedilatildeo do resultado

destes

Uma das formas mais difundidas de participaccedilatildeo dos empregados nas decisotildees das empresas eacute

a representativa quando um funcionaacuterio compotildee o conselho da empresa Essa forma eacute

mundialmente referenciada como company board Com essa representaccedilatildeo os empregados

tomam parte nas decisotildees que variam desde aquelas que afetam seu trabalho como tambeacutem

as relativas agraves estrateacutegias da empresa decisotildees de obtenccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos

direcionamento de lucros e crescimento

Satildeo igualmente exemplos de participaccedilatildeo representativa os comitecircs de empresa e a co-gestatildeo

na Alemanha Na co-gestatildeo haacute a garantia de que o empregador soacute poderaacute tomar certas

medidas com a anuecircncia do empregado Esta co-participaccedilatildeo inclui decisotildees sobre escolha

de pessoal transferecircncias preenchimentos de vagas demissotildees e sobre as jornadas de

trabalho e descansos( ARANTES 2000 p 26)

Outra forma de participaccedilatildeo eacute aquela que incide sobre os resultados (no lucro) Essa pode ter

conexotildees e ligaccedilotildees diretas com outras formas de participaccedilatildeo na empresa tal como a

participaccedilatildeo nas decisotildees ou pode apresentar-se como um conjunto de remuneraccedilatildeo

objetivando o aumento da motivaccedilatildeo e do envolvimento dos empregados bem como forma de

compartilhar os riscos da empresa

A substituiccedilatildeo da remuneraccedilatildeo fixa por mecircs ou hora reconhecida como padratildeo por compostos de

remuneraccedilatildeo dimensatildeo vinculada ao desempenho teve suas origens no pagamento por peccedila

produzida e nos precircmios por produtividade muito comuns no iniacutecio do seacuteculo XIX Esse sistema

diminuiu significativamente com o aumento e sofisticaccedilatildeo do trabalho uma vez que foca a

realizaccedilatildeo da tarefa reforccedila a cultura individualista a necessidade de comando e impossibilita o

desenvolvimento de inovaccedilotildees (ARANTES 2000 p 27)

O objetivo das remuneraccedilotildees dimensotildees segundo Wood e Picareli eacute alinhar e convergir

esforccedilos para melhorar o desempenho da empresa A remuneraccedilatildeo dimensatildeo pode ser

subdividida em dois grandes grupos a participaccedilatildeo nos lucros e remuneraccedilatildeo por

46

resultados A primeira refere-se agrave divisatildeo de resultados globais obtidos pela empresa

enquanto a remuneraccedilatildeo por resultados tem abrangecircncia menor relacionando-se com a

obtenccedilatildeo de metas individuais ou de equipes

A remuneraccedilatildeo por resultados combina a praacutetica de administraccedilatildeo participativa com um

sistema de bocircnus geralmente fixado pelo empregado ou pelo grupo ou seja eacute estabelecida

uma foacutermula de transformaccedilatildeo das metas previamente fixadas em bocircnus Jaacute a participaccedilatildeo

nos lucros normalmente natildeo estaacute ligada a foacutermulas de desempenho individual ou de grupo e

natildeo necessariamente estaacute vinculada a praacuteticas de administraccedilatildeo participativa O recebimento

das bonificaccedilotildees pode estar somente ligado ao resultado final da empresa e uma quantidade

arbitraacuteria pode ser distribuiacuteda tambeacutem de forma arbitraacuteria apoacutes atingir uma meta de lucro

anual(ARANTES 2000 p28)

Arantes enfatiza que se participativamente estipulada e coletivamente controlada e

acompanhada a distribuiccedilatildeo de lucros proporciona um aumento de motivaccedilatildeo individual e

reciacuteproca atraveacutes do monitoramento coletivo do trabalho pautado na obtenccedilatildeo de vantagens

comuns Ressalta ainda que a participaccedilatildeo nas decisotildees sem a obtenccedilatildeo de resultados eacute falha

e de difiacutecil construccedilatildeo Por outro lado a obtenccedilatildeo de parte nos resultados mediante a

distribuiccedilatildeo dos lucros desacompanhada de envolvimento nas decisotildees tende a desvirtuar os

propoacutesitos da participaccedilatildeo

Uma outra modalidade de participaccedilatildeo existente eacute a participaccedilatildeo na propriedade que se daacute

atraveacutes de fundo de pensatildeo ou pela participaccedilatildeo na propriedade daqueles que efetivamente

trabalham na empresa No fundo de pensatildeo o trabalhador tem uma quota de participaccedilatildeo da

empresa durante o tempo trabalhado mediante a qual tem sua aposentadoria garantida Na

participaccedilatildeo da empresa os trabalhadores podem ser soacutecios efetivos acionistas minoritaacuterios

ou portadores de pequenas parcelas de accedilotildees A obtenccedilatildeo de parte da propriedade da empresa

tende ao reforccedilo da identificaccedilatildeo e do comprometimento com a organizaccedilatildeo e a ampliaccedilatildeo da

participaccedilatildeo nos lucros e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo de terceiros de forma especulativa

reforccedilando o caraacuteter de longo prazo da empresa

Todas as modalidades de participaccedilatildeo ateacute o momento analisadas dizem respeito agraves relaccedilotildees

Capital x Trabalho ainda que em muitos casos a participaccedilatildeo contribua para minimizar a

supremacia do primeiro sobre o segundo tornando mais democraacuteticas as relaccedilotildees de produccedilatildeo

47

e proporcionando ganhos reais (econocircmicos e poliacuteticos) aos trabalhadores No entanto no que

se refere ao escopo desta pesquisa eacute a participaccedilatildeo total que se daacute no acircmbito de

empreendimentos cujo traccedilo fundamental seja a coletividade dos meios de produccedilatildeo que

interessa diretamente e sobre a qual repousa o papel da contabilidade Portanto apoacutes a

digressatildeo realizada para serem destacadas as diferenccedilas fundamentais das perspectivas

teoacutericas aqui inscritas no proacuteximo item retornar-se-aacute ao centro das discussotildees que circundam

o objeto da presente pesquisa qual seja a Autogestatildeo forma proacutepria de administraccedilatildeo dos

chamados Empreendimentos Solidaacuterios e base sobre a qual emerge a Contabilidade como

instrumento e como necessidade

25 Autogestatildeo Modelo de participaccedilatildeo total na gestatildeo e princiacutepio da ES

No ambiente da administraccedilatildeo a autogestatildeo pode ser definida como uma forma de

participaccedilatildeo em que a totalidade do capital da empresa pertence aos seus participantes ou

seja os seus trabalhadores os quais assumem o controle da gestatildeo da empresa Nesse modelo

de gestatildeo eacute o grupo quem determina os objetivos e diretrizes da empresa sem reverecircncia a

nenhuma autoridade externa Na autogestatildeo natildeo existe diferenccedila entre administradores e

administrados visto que todos participam e detecircm a propriedade do capital da empresa

Analisando sob um prisma mais amplo que os limites empresariais compreende-se que a

conquista dessa forma de gestatildeo resultou da busca por alternativas agrave gestatildeo autoritaacuteria e

centralizada Portanto estaacute associada a uma antiga reivindicaccedilatildeo dos trabalhadores pela

democratizaccedilatildeo das estruturas de decisatildeo nas faacutebricas ou seja tem uma vinculaccedilatildeo com o

ideal poliacutetico da emancipaccedilatildeo do trabalhador e com a utopia de uma sociedade mais justa e

democraacutetica

Dessa forma este trabalho compreende a participaccedilatildeo na gestatildeo como a base para formaccedilatildeo

da cidadania Cidadania e participaccedilatildeo satildeo conceitos gecircmeos com os quais se define um outro

conceito Democracia Na verdade haacute um triacircngulo conceitual complementar e dependente

Democracia Cidadania Participaccedilatildeo sobre o qual se inscreve a concepccedilatildeo de atuaccedilatildeo da

contabilidade Aqui uma aproximaccedilatildeo com as orientaccedilotildees teoacutericas socialistas e com a Teoria

Democraacutetica eacute clara pois segundo Pateman

48

A teoria da democracia participativa eacute construiacuteda em torno da afirmaccedilatildeo de que os indiviacuteduos e

suas instituiccedilotildees natildeo podem ser considerados isoladamente A existecircncia de instituiccedilotildees

representativas a niacutevel nacional natildeo basta para a democracia pois o maacuteximo de participaccedilatildeo de

todas as pessoas a socializaccedilatildeo ou treinamento social precisa ocorrer em outras esferas de

modo que as atitudes e qualidades psicoloacutegicas necessaacuterias possam se desenvolver Esse

desenvolvimento ocorre por meio do proacuteprio processo de participaccedilatildeo (PATEMAN 1992 p60)

A autora toma a participaccedilatildeo como o mecanismo democraacutetico por excelecircncia a democracia eacute

a finalidade pela qual a participaccedilatildeo deve se instituir e a finalidade da democracia eacute o bem

comum Esse bem comum natildeo eacute algo dado mas construiacutedo a partir do processo de educaccedilatildeo

que somente pode existir por meio da participaccedilatildeo que em uacuteltima instacircncia se constitui na

autogestatildeo A democracia segundo a autora pressupotildee representaccedilatildeo lideranccedilas mas ela natildeo

sobrevive sem a participaccedilatildeo dos indiviacuteduos como autores das decisotildees mais fundamentais

sob as quais se submeteratildeo agraves vontades individuais A participaccedilatildeo nos niacuteveis mais inferiores

da organizaccedilatildeo social e econocircmica eacute uma necessidade inerente agrave participaccedilatildeo nos niacuteveis mais

altos da poliacutetica A participaccedilatildeo eacute portanto o meio pelo qual se adquire as habilidades

teacutecnicas poliacuteticas e emocionais para o exerciacutecio democraacutetico que comeccedila no ambiente de

trabalho ou nos niacuteveis mais elementares de reproduccedilatildeo da vida em sociedade

Uma leitura dos empreendimentos de economia solidaacuteria agrave luz da Teoria Democraacutetica

portanto leva a perceber que tais iniciativas natildeo tecircm uma funccedilatildeo somente de alternativa ao

desemprego mas se constituem num aprendizado para a Democracia no sentido mais amplo

Utilizando a autogestatildeo como meacutetodo de administraccedilatildeo adquirem estatuto pedagoacutegico no

qual os cidadatildeos assumem compromissos e objetivos comuns tomam decisotildees reforccedilam o

senso de responsabilidade e estimula maior participaccedilatildeo pelo sentimento de eficaacutecia que suas

decisotildees adquirem Entatildeo uma das motivaccedilotildees da participaccedilatildeo eacute o sentido da eficaacutecia poliacutetica

ou o sentido de competecircncia poliacutetica Isso eacute compreendido como o sentimento de que a accedilatildeo

poliacutetica do indiviacuteduo tem ou poder ter um impacto sobre o processo poliacutetico ou seja vale a

pena cumprir alguns deveres ciacutevicos (CAMPBELL et al 1965 p187 apud PATEMAN

1992) E mais

As pessoas com senso de eficaacutecia poliacutetica tecircm mais probabilidade de participar de poliacutetica do que

aquelas que carecem desse sentimento e se descobriu tambeacutem que subjacente ao senso de eficaacutecia

poliacutetica estaacute uma sensaccedilatildeo geral de eficiecircncia pessoal que envolve autoconfianccedila na relaccedilatildeo do

sujeito com o mundo As pessoas que se sentem mais eficientes em suas tarefas e desafios cotidianos tecircm mais probabilidade de participar em poliacutetica (MILBRATH 1965 p59 apud PATEMAN 1992)

49

Desse modo eacute que a competecircncia para a autogestatildeo ganha importacircncia significativa pois tais

empreendimentos findam por apresentar um caraacuteter de muacuteltiplas funccedilotildees na sociedade

contemporacircnea funccedilatildeo econocircmica poliacutetica e cultural A potencialidade dos empreendimentos

autogestionaacuterios adveacutem de uma condiccedilatildeo muito importante qual seja a totalidade do capital

da empresa pertence aos seus participantes e sendo assim eles adquirem uma condiccedilatildeo social

de simetria que permite as condiccedilotildees favoraacuteveis agrave participaccedilatildeo uma vez que as diferenccedilas

econocircmicas desaparecem 6

Entretanto eacute necessaacuterio que todas as condiccedilotildees e recursos na aacuterea de gestatildeo estejam a serviccedilo

da eficaacutecia poliacutetica a fim de viabilizar decisotildees coletivas e de fazer com que o fluxo de

informaccedilotildees seja democraticamente acessado De forma contraacuteria num processo de

autogestatildeo o domiacutenio assimeacutetrico de informaccedilotildees e assimetria econocircmica pode interferir

negativamente no acircnimo para a participaccedilatildeo contribuindo para o fracasso das iniciativas de

empreendimentos solidaacuterios Essa preocupaccedilatildeo deve ocupar o centro das atenccedilotildees de quem

deseja contribuir para o fortalecimento das alternativas solidaacuterias de autogestatildeo

Assim ao se buscar discutir no acircmbito desta pesquisa a dimesatildeo contaacutebil nos

empreendimentos solidaacuterios e as possiacuteveis demandas dos mesmos agrave contabilidade desloca-

se o problema dos estreitos limites contaacutebeis para procura-se compreender a complexidade

das relaccedilotildees que determinam tais demandas e fundamentalmente busca-se problematizar o

papel de uma aacuterea eminentemente teacutecnica para colocaacute-la no marco civilizatoacuterio em que

claramente jaacute natildeo concebe a neutralidade da teacutecnica tal qual se propalava no iniacutecio do

seacuteculo XIX

6 Autores vinculados agrave Teoria Democraacutetica apontam como primeiro obstaacuteculo agrave participaccedilatildeo as grandes diferenccedilas soacutecio-

econocircmicas Tocqueville em seu claacutessico Democracia na Ameacuterica ao indicar as origens que solidificaram a democracia

norte-americana busca nas condiccedilotildees socioeconocircmicas a explicaccedilatildeo Os emigrantes que vieram estabelecer-se na costa da

Nova Inglaterra pertenciam todos agraves classes abastadas da matildee-patria Sua reuniatildeo no solo americano apresentou desde a

origem o singular fenocircmeno de uma sociedade em que natildeo havia nem grandes senhores nem povo e por assim dizer nem

pobres nem ricos (Tocqueville 1998 p 40)

50

26 Experiecircncias Internacionais de autogestatildeo Alemanha Inglaterra e Yugoslaacutevia

Antes do Brasil em vaacuterios paiacuteses jaacute se registravam experiecircncias de autogestatildeo ou co-gestatildeo

A experiecircncia pioneira em co-gestatildeo teve iniacutecio na Alemanha no final do seacuteculo XIX com a

lei de desregulamentaccedilatildeo de manufaturas e a lei sobre as comissotildees de trabalho da induacutestria

extrativa Alicerccedilada na doutrina social catoacutelica representou um contraponto agraves ideacuteias

revolucionaacuterias comunistas do iniacutecio do seacuteculo XX Baseou-se na ideacuteia de que a colaboraccedilatildeo

de classes e a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio poliacutetico deveriam prevalecer em relaccedilatildeo agrave extinccedilatildeo da

propriedade privada Defendia o trabalho integrativo como forma de desenvolvimento das

empresas e da sociedade Em muitos casos na co-gestatildeo haacute a garantia de que o empregador

soacute poderaacute tomar certas medidas com a anuecircncia do empregado Esta co-participaccedilatildeo inclui

decisotildees sobre escolha de pessoal transferecircncias preenchimentos de vagas demissotildees e sobre

as jornadas de trabalho e descansos(ARANTES 2000 p 26)

Na antiga Yugoslaacutevia conforme alguns pesquisadores tais como Dunlop ( 1958 ) e Vanek

(1963) a autogestatildeo apresentou sua melhor tipificaccedilatildeo O sistema Iugoslavo foi o

resultado de uma lei de 1950 a qual determinou que as empresas fossem administradas

pelos trabalhadores coletivamente Embora desde entatildeo tenha sido alterada diversas

vezes recentemente ainda representava a base do sistema econocircmico yugoslavo o qual

era fundamentado no trabalho coletivo constituiacutedo por empresas administradas pelos

trabalhadores e que cujo resultado final era dividido entre todos os membros

A constituiccedilatildeo Yugoslava revisada em 1963 descrevia em seu artigo 6 que o sistema

econocircmico do paiacutes seria uma comunidade de trabalho voluntaacuterio com os meios de

produccedilatildeo pertencentes a todos e a produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo tambeacutem gerenciadas por todos

Em geral o conjunto de trabalhadores era quem estruturava a administraccedilatildeo das empresas

em dois principais alicerces na eleiccedilatildeo de gestores e no estabelecimento de

procedimentos de administraccedilatildeo e controle Eram os trabalhadores quem escolhiam

diretamente em eleiccedilotildees secretas um grupo denominado de Conselho de Trabalhadores

cujo nuacutemero de membros variava entre 15 e 120 dependendo do tamanho da empresa O

papel do Conselho de Trabalhadores correspondia ao papel de proprietaacuterios nas empresas

tradicionais Dessa forma eram-lhes atribuiacutedas as seguintes responsabilidades exame e

aprovaccedilatildeo de programas perioacutedicos da empresa que incluiam planos de produccedilatildeo

51

financcedilas e investimentos poliacutetica de preccedilos marketing e de distribuiccedilatildeo de dividendos aos

trabalhadores Ele tambeacutem elegia entre seus membros um grupo de trecircs a onze pessoas

que compunham o Conselho de Gestatildeo da empresa cuja atribuiccedilatildeo era responder pelo

funcionamento eficiente da entidade como tambeacutem era responsaacutevel por preparar

relatoacuterios para o Conselho de Trabalhadores

O gerente geral do empreendimento por sua vez natildeo era membro do Conselho de

Trabalhadores mas sim indicado conjuntamente pelo Conselho de Trabalhadores e pela

municipalidade onde a empresa se estabelecia Era um funcionaacuterio responsaacutevel por liderar

o processo gerencial e implementar os planos definidos pelo Conselho de Gestatildeo O seu

salaacuterio e suas atribuiccedilotildees eram definidos pelo Conselho de Trabalhadores

Com toda essa organizaccedilatildeo a Yugoslaacutevia representava um sistema estruturado de

autogestatildeo Hoje natildeo se pode afirmar que essa estrutura permaneccedila uma vez que natildeo se

teve acesso a bibliografias que relatassem a situaccedilatildeo da autogestatildeo apoacutes as mudanccedilas

poliacuteticas ocorridas nesse paiacutes

Em outros paiacuteses como Espanha tambeacutem registra-se a presenccedila de experiecircncias

autogestionaacuterias bem-sucedidas tais como o complexo de Mondragoacuten Um conglomerado

de cooperativas que diversificaram suas atividades e hoje eacute exemplo contundente de como

a autogestatildeo pode conduzir agrave viabilidade econocircmica e que ES nem sempre eacute sinocircnimo de

pequeno empreendimento

Em muitos outros paiacuteses observam-se tambeacutem participaccedilotildees representativas nas decisotildees das

empresas embora de maneira menos regulamentada que na Alemanha Os comitecircs de

empresas satildeo bastante comuns na Europa como os Comiteacute dEntreprise na Franccedila o Labour

Management Joint Committee na Inglaterra e os Jurados de Empresa na Espanha No Brasil

representaccedilatildeo similar encontra-se geralmente na induacutestria atraveacutes das comissotildees de faacutebrica

as quais consistem em agremiaccedilotildees de funcionaacuterios com o objetivo de participaccedilotildees mais

efetivas nas decisotildees das empresas

Na Inglaterra aleacutem de formas participativas de gestatildeo haacute a presenccedila de um movimento

equivalente agrave Economia Solidaacuteria denominado Participatory Economy (Parecon) Os

52

componentes institucionais e centrais de organizaccedilatildeo do Parecon descritos por Michael

Albert ( 2003) satildeo

Posse coletiva dos meios de produccedilatildeo Conselhos de trabalhadores e de consumidores como principais corpos de tomada de

decisatildeo Trabalhadores tecircm um meacutedia diaacuteria de trabalho em complexos equilibrados Remuneraccedilatildeo para o esforccedilo e sacrifiacutecio Participaccedilatildeo planejada e autogestatildeo econocircmica (MICHAELS 2003 p84 apud

FOTOPOULOS 2004 p3)

Assim como a ES no Brasil a Parecon representa uma visatildeo alternativa de organizaccedilatildeo

econocircmica e poliacutetica da sociedade baseado na autogestatildeo A Parecon segundo Wetzel

(2006 p 3) seraacute a base de construccedilatildeo de uma sociedade em que os povos podem controlar

suas vidas e as induacutestrias onde trabalham Para ele a autogestatildeo deve se espalhar para

todas as organizaccedilotildees de trabalhadores e estes exerceram o controle direto das

organizaccedilotildees da produccedilatildeo social e da sociedade Os defensores da Parecon advogam a tese

de uma outra organizaccedilatildeo poliacutetica diferente do Estado uma vez que o consideram como

um patrimocircnio da elite Nesta visatildeo sua estrutura hieraacuterquica separa-o do controle eficaz

pela massa dos povos

27 Gargalos e criacuteticas agrave Economia Solidaacuteria e Autogestatildeo

Em busca da ampliaccedilatildeo da compreensatildeo da ES e autogestatildeo a seguir satildeo apresentados os

diversos gargalos e criacuteticas imputadas a esse segmento Primeiramente seratildeo abordados os

gargalos ou entraves da ES

O Ministeacuterio do Trabalho e Emprego atraveacutes do trabalho de mapeamento dos

empreendimentos solidaacuterios levantou uma seacuterie de dificuldades enfrentadas pelos

Empreendimentos de Economia Solidaacuteria (EES) Conforme MTE (2006 p46)

[] constata-se que 61 dos EES afirmaram ter dificuldades na comercializaccedilatildeo 49 para acesso

agrave creacutedito e 27 natildeo tiveram acesso a acompanhamento apoio ou assistecircncia teacutecnica A regiatildeo

norte estaacute acima da meacutedia nacional em todos os itens (68 comercializaccedilatildeo 54 creacutedito e 34

apoio ou assistecircncia) A regiatildeo nordeste destaca-se pela dificuldade de creacutedito (58 dos EES) e a

regiatildeo centro-oeste pelo natildeo acesso a apoio ou assistecircncia teacutecnica ( 35)

53

O graacutefico 1 ilustra os desafios enfrentados pelos Empreendimentos de ES

Graacutefico 1- Dificuldades dos EES Brasil e regiotildees

Fonte site wwwmtegovbrEmpregadorEconomiaSolidariaConteudoATLAS_PARTE_4pdf

Portanto haacute um longo caminho a percorrer em direccedilatildeo agrave superaccedilatildeo desses gargalos

Muitas soluccedilotildees podem ser apontadas no que diz respeito agrave dificuldade de creacutedito mas a

principal perpassa pela implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de financiamento agrave ES o que

jaacute vem sendo realizado pelo atual governo federal e alguns governos estaduais Entretanto

ainda eacute necessaacuterio ampliar a escala de atendimentos a esses empreendimentos No que diz

respeito agraves dificuldades de comercializaccedilatildeo e de acompanhamento aleacutem de accedilotildees do

governo o problema faz um convite agraves aacutereas de conhecimento voltadas a negoacutecios

principalmente a contabilidade no sentido de seu envolvimento com esse segmento

econocircmico e social

Passando nesse momento agraves criacuteticas direcionadas agrave ES e autogestatildeo eacute importante

destacar o posicionamento dos autores Assman e Mo Sung (2003) os quais direcionam

diversos questionamentos e ponderaccedilotildees agrave ES Uma delas diz respeito agrave operacionalidade

da ES A partir de resgates de trechos de obras de autores expressivos da Economia

Solidaacuteria destacam pontos de contradiccedilatildeo e incongruecircncia de seus princiacutepios e propostas

Eis os trechos

A ideacuteia baacutesica eacute mediante a solidariedade entre produtores autocircnomos de todos os tamanhos e

tipos assegurar a cada um mercado para seus produtos e uma variedade de economias externas de financiamento e ainda a orientaccedilatildeo teacutecnica legal contaacutebil etc

54

Dadas as dificuldades a solidariedade eacute a soluccedilatildeo racional um conjunto de produtores

autocircnomos se organiza para trocar seus produtos entre si o que daacute a todos e a cada um uma

maneira de escoar a produccedilatildeo sem ser de imediato aniquilado pela superioridade dos que jaacute

estatildeo estabelecidos (SINGER 2002 p99-100 apud ASSMAN e MO SUNG 2003 p 143)

Na primeira questatildeo levantada apontam para os limites de operacionalizaccedilatildeo da proposta

Baseiam-se na visatildeo de que a solidariedade da ES natildeo eacute realidade em todas as empresas e

grupos da sociedade mas entre os produtores autocircnomos pequenas e microempresas que

natildeo conseguiriam sobreviver agrave concorrecircncia das meacutedias e grandes empresas sem essa

relaccedilatildeo de solidariedade Portanto eacute uma proposta de viabilizaccedilatildeo de um tipo de economia

convivendo com a economia capitalista de mercado (ASSMAN e MO SUNG 2003

p143)

Assim a realidade da solidariedade soacute existiria no interior da ES e entre suas empresas

que adotassem a autogestatildeo e natildeo em toda sociedade ou seja a solidariedade natildeo

substituiria a relaccedilatildeo de concorrecircncia nas demais empresas Dessa forma os autores

concluem que a Economia Solidaacuteria natildeo propotildee o fim do mercado caracterizado pela

concorrecircncia mas sim a criaccedilatildeo e a manutenccedilatildeo de um mercado para os empreendimentos

autogestionaacuterios E a manutenccedilatildeo de relaccedilotildees de mercado significa tambeacutem a continuidade

da concorrecircncia entre os agentes econocircmicos

Nessa perspectiva segundo os autores haveria uma frustraccedilatildeo daqueles que defendem

uma sociedade harmoniosa justa e solidaacuteria ou seja aqueles que natildeo percebem ou natildeo

querem aceitar a tensatildeo inevitaacutevel entre os desejosutopias e as necessaacuterias

institucionalizaccedilotildees na sociedade natildeo aceitam essa visatildeo de Economia Solidaacuteria

(ASSMAN e MO SUNG 2003 p143)

Um outro ponto levantado pelos autores emerge do trecho de uma obra de Paul Singer7 no

qual ele afirma que a proposta de ES eacute menos inconsistente do que a economia capitalista

porque coloca aberta e diretamente a solidariedade como princiacutepio organizador da

economia social em lugar da competiccedilatildeo embora natildeo visualize o fim da concorrecircncia no

campo da economia e tambeacutem nas relaccedilotildees sociais

7 SINGER Paul Desafio agrave solidariedade In GUIMARAES Gonccedilalves p63-79

55

A questatildeo colocada aqui eacute a seguinte Eacute possiacutevel organizar uma sociedade ou uma

economia social soacute com um princiacutepio Para essa questatildeo perguntam se natildeo seria

aconselhaacutevel pensar em mais de um princiacutepio organizador da economia e da sociedade

Sentenciam que os neoliberalistas pretendem fazer da competiccedilatildeo o uacutenico princiacutepio

organizador da sociedade Por outro lado os marxistas tentaram fazer do planejamento

centralizado o uacutenico princiacutepio e hoje surgem muitos grupos que querem fazer do

conceito de solidariedade o uacutenico princiacutepio organizador(ASSMAN e MO SUNG 2003

p152) Princiacutepios de organizaccedilatildeo social como argumentam deveriam servir para

articular de maneira eficiente e sustentaacutevel a garantia da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de bens

e serviccedilos para a ampla maioria e a totalidade dos membros da sociedade

Em relaccedilatildeo agrave possibilidade de expandir a ES a niacutevel global Assman e Mo Sung fazem um

outro questionamento Se a economia solidaacuteria conseguir atingir dimensotildees tais que possa

competir com o grande capital continuaraacute mantendo as caracteriacutesticas de solidariedade que

eacute possiacutevel quando se estaacute em uma escala pequena

Mesmo considerando que natildeo haacute elementos para se dar uma resposta definitiva uma vez

que a situaccedilatildeo nunca ocorreu antecipam-se afirmando que a economia solidaacuteria em

grande escala natildeo manteraacute as mesmas caracteriacutesticas Isso porque quando um sistema

ou uma rede cresce muito em escala surgem novas propriedades no sistema que

modificam as suas caracteriacutesticas de funcionamento (ASSMAN e MO SUNG 2003

p145)

O Parecon tambeacutem apresenta vaacuterios pontos nevraacutelgicos na visatildeo de seus criacuteticos Assim

como na ES a criacutetica tambeacutem reside na impossibilidade desta se apresentar enquanto

modelo de organizaccedilatildeo social Segundo Fotopoulos (2004 p01) Parecon eacute

simplesmente um modelo econocircmico para uma economia alternativa e como tal natildeo

caracteriza instituiccedilotildees sociais poliacuteticas culturais mais amplas Dessa forma considera

Parecon incompatiacutevel com uma organizaccedilatildeo de estado tendo em vista que

Dada a natureza de Parecon como puramente um modelo econocircmico natildeo estaacute surpreendendo

que os atores principais nela satildeo determinados pelo campo econocircmico Assim o conceito do

cidadatildeo falta completamente no modelo do Parecon e eacute substituiacutedo preferivelmente por trabalhadores e por consumidores (FOTOPAULO 2004 p02)

56

Por fim sentencia que o modelo Parecon natildeo tem a capacidade de fixar as preacute-condiccedilotildees

institucionais requeridas para a criaccedilatildeo de um novo modelo de organizaccedilatildeo social a qual

integraria a sociedade com os aspectos econocircmicos poliacuteticos e naturais Natildeo pode fixar a

integraccedilatildeo da sociedade com a economia porque natildeo pode interferir na liberdade da

escolha dos cidadatildeos somente como produtores e consumidores tendo em vista que estes

iratildeo preocupar-se exclusivamente com o planejamento e alocaccedilatildeo dos recursos escassos

A integraccedilatildeo com a poliacutetica natildeo se daria porque a unidade baacutesica de exame e decisatildeo na

Parecon natildeo eacute o cidadatildeo mas os trabalhadores e conselho de consumidores Dessa forma

os cidadatildeos estariam alijados do processo decisoacuterio Por uacuteltimo o Parecon natildeo pode

integrar com a natureza porque objetiva o crescimento econocircmico dentro do sistema de

mercado e natildeo trata os problemas ecoloacutegicos como um problema externo maior que requer

uma mudanccedila radical no modo de vida e nos valores

Sem negligenciar esses questionamentos agrave Economia Solidaacuteria e reconhecendo que a

autogestatildeo natildeo eacute o uacutenico caminho para a construccedilatildeo de um novo modelo de organizaccedilatildeo

social e de Estado este trabalho os concebem como importantes instrumentos da

democracia Corroborando com Pateman a autogestatildeo praticada nos empreendimentos

solidaacuterios eacute um exerciacutecio de cidadania A autogestatildeo propicia o desenvolvimento da

eficaacutecia poliacutetica e esta capacita para a participaccedilatildeo poliacutetica em niacuteveis cada vez mais

amplos da sociedade Dessa forma a autogestatildeo nos empreendimentos tem a

potencialidade de capacitar os atores sociais para intervir no Estado e reinventar uma nova

governabilidade baseada na democracia e controle social

57

3 CONTABILIDADE E AUTOGESTAtildeO

As categorias teoacutericas apresentadas ajudaratildeo a responder agraves questotildees de pesquisa trazendo

para a reflexatildeo as implicaccedilotildees que tais conceitos encerram seja para os empreendimentos

solidaacuterios como para repensar a contabilidade de modo que ela possa melhor servir aos

princiacutepios de fortalecimento da cidadania da democracia e de uma sociedade mais justa para

a qual a contabilidade natildeo pode se omitir sob o pretexto da neutralidade teacutecnica

Dessa forma concebe-se a contabilidade imbricada pelo conceito de Participaccedilatildeo em que a

Democracia eacute o fim e se constitui como processo educativo em seu sentido mais amplo E

tendo como pano de fundo a democracia percebe-se a Economia Solidaacuteria como um espaccedilo

puacuteblico de vivecircncia da solidariedade e no qual se requisita o desempendo do papel essencial

da contabilidade

Nesse contexto cabe indagar e compreender o envolvimento da contabilidade atraveacutes de seus

instrumentos e profissionais Com o pressuposto da essencialidade do envolvimento e de

diaacutelogo da aacuterea contaacutebil com esses empreendimentos autogestionaacuterios resgatam-se

novamente as questotildees-chaves desta pesquisa as quais satildeo

1 Como a informaccedilatildeo contaacutebil eacute empregada nos empreendimentos autogestionaacuterios

2 Quais os desafios e demandas suscitados em cada um dos aspectos da dimensatildeo

contaacutebil nos processos de autogestatildeo

Agrave luz desses questionamentos nesse capiacutetulo far-se-aacute uma reflexatildeo sobre o papel da

contabilidade e levantar-se-atildeo trabalhos anteriores que abordaram essa relaccedilatildeo contabilidade

autogestatildeo

58

31 Funccedilatildeo social da contabilidade

Para ajudar a responder agraves perguntas que orientam esta pesquisa buscar-se-aacute expor a

importacircncia da contabilidade como instrumento de gestatildeo (informaccedilatildeo planejamento e

tomada de decisatildeo) no qual se apoacuteiam todos os empreendimentos de caraacuteter econocircmico

Primeiramente eacute necessaacuterio destacar que nenhuma entidade juriacutedica seja puacuteblica ou

privada consegue prescindir da informaccedilatildeo contaacutebil Na aacuterea puacuteblica ela eacute instrumento

indispensaacutevel de democracia e do planejamento sem a qual a verificaccedilatildeo da execuccedilatildeo do

orccedilamento puacuteblico e o controle dos gastos puacuteblicos fica impossibilitada

Vaz (2002 p271) ressaltando o papel da informaccedilatildeo na administraccedilatildeo puacuteblica diz que

[] a informaccedilatildeo eacute um direito de cidadania Afirma ainda que uma reformulaccedilatildeo da

gestatildeo puacuteblica municipal necessariamente passa por um redirecionamento do

funcionamento dos oacutergatildeos puacuteblicos municipais para o fornecimento de informaccedilotildees agrave

sociedade civil abrindo as caixas pretas da informaccedilatildeo como o orccedilamento puacuteblico e os

grandes projetos de intervenccedilatildeo para o entendimento por parte da sociedade [] (

VAZ2002 p 271)

Na aacuterea privada os uacuteltimos escacircndalos financeiros envolvendo grandes empresas como a

Wordcom e Enron ambas incorrendo na manipulaccedilatildeo das informaccedilotildees contaacutebeis

revelaram o poder desse instrumento que se utilizado sem princiacutepios ou controle social

pode conferir ganhos a alguns em detrimento do prejuiacutezo de muitos

Portanto cada vez mais se evidencia seu inexoraacutevel papel social seu viacutenculo intriacutenseco

com a democracia e a cidadania e consequumlentemente sua importacircncia seja no acircmbito

puacuteblico ou privado A contabilidade natildeo tem finalidade em si mesma tem destinataacuterios

certos satildeo usuaacuterios diversos que a utilizam como instrumento ou caminho para atingir

seus objetivos sejam eles econocircmicos filantroacutepicos ou sociais Conforme o FASB8 em

relato de Hendriksen e Van Breda (1999 p92) a finalidade da informaccedilatildeo contaacutebil eacute a

seguinte

8 Financial Accounting Standards Board

59

A divulgaccedilatildeo financeira deve fornecer informaccedilotildees que sejam uacuteteis para investidores e

credores atuais e em potencial bem como para outros usuaacuterios que visem a tomada racional

de decisotildees de investimento creacutedito e outras semelhantes As informaccedilotildees devem ser

compreensiacuteveis aos que possuem uma noccedilatildeo razoaacutevel dos negoacutecio e das atividades

econocircmicas e estejam dispostos a estudar as informaccedilotildees com diligecircncia razoaacutevel A divulgaccedilatildeo financeira deve proporcionar informaccedilatildeo que ajude investidores credores e

outros usuaacuterios presentes e em potencial a avaliar os volumes a distribuiccedilatildeo no tempo e a

incerteza de possiacuteveis fluxos de caixa em termos de dividendos ou juros e os resultados da

venda do resgate e do vencimento de tiacutetulos ou empreacutestimos Como os fluxos de caixa de

investidores e credores estatildeo relacionados aos fluxos de caixa da empresa a divulgaccedilatildeo

financeira deve proporcionar informaccedilotildees que ajudem investidores credores e outros a avaliar

os volumes a distribuiccedilatildeo no tempo e a incerteza das possiacuteveis entradas liacutequidas futuras de caixa da empresa A divulgaccedilatildeo financeira deve fornecer informaccedilotildees sobre os recursos econocircmicos de uma

empresa os direitos sobre esses recursos ( obrigaccedilotildees da empresa em termos de transferecircncia

de recursos a outras entidades e a participaccedilatildeo dos proprietaacuterios) bem como os efeitos de

transaccedilotildees eventos e circunstatildencia que alterem seus recursos e os direitos sobre tais recursos

Salienta-se nesse texto a determinaccedilatildeo de que a informaccedilatildeo financeira proporcionada

pela contabilidade seja compreensiacutevel aos usuaacuterios e uacutetil agrave tomada de decisotildees econocircmica

e financeira da atividade Entretanto discutir a utilidade da informaccedilatildeo implica tambeacutem

compreender o tipo de informaccedilatildeo necessaacuteria a cada usuaacuterio fato que remete agrave reflexatildeo

sobre os padrotildees de informaccedilotildees emitidos pela contabilidade aos vaacuterios tipos de usuaacuterios

Hoje os modelos de informaccedilotildees (demonstraccedilotildees financeiras) estatildeo estruturados de forma

a atender grupos mais ou menos homogecircneos de usuaacuterios isto eacute haacute uma padronizaccedilatildeo de

informaccedilotildees usadas por todos os usuaacuterios Conforme argumenta o FASB e AICPA9 sobre

essa estrutura [] os diversos usuaacuterios possuem o bastante em comum para que um

conjunto de demonstraccedilotildees de finalidades geneacutericas seja suficiente(FASB1999 p94)

Entretanto reconhecem a consistecircncia dos argumentos em favor de relatoacuterios de

finalidades especiacuteficas Segundo anaacutelise dos autores cada um dos usuaacuterios da

contabilidade poderia ter objetivos diferentes em termos de informaccedilotildees financeiras pois

haacute divergecircncias entre os grupos e dentro de cada grupo Por exemplo sabe-se que os

administradores de empresas menores juntamente com seus auditores sentem que o

processo de fixaccedilatildeo de padrotildees estaacute direcionado aos objetivos das empresas de maior

porte O mesmo ocorre com muitos administradores de organizaccedilotildees sem fins lucrativos

os quais acham que o processo de fixaccedilatildeo de padrotildees eacute direcionado aos objetivos de

organizaccedilotildees com fins lucrativos Dessa forma analisam que

9 American Institute of Certifierd Public Accoutants

60

Esta variedade de pontos de vista aponta para a conveniecircncia da apresentaccedilatildeo de relatoacuterios

diferentes para usuaacuterios distintos ou para um volume consideraacutevel de informaccedilatildeo grande

parte do qual poderia ser irrelevante para qualquer usuaacuterio especiacutefico ( FASB 1999 p 94)

Entretanto para que haja a possibilidade de informaccedilotildees especiacuteficas para cada usuaacuterio

primeiramente eacute preciso selecionar a informaccedilatildeo relevante para constar nos modelos de

prediccedilatildeo e tomada de decisatildeo dos usuaacuterios Talvez seja possiacutevel determinar que modelos

de tomada de decisatildeo estatildeo sendo utilizados descobrindo como os usuaacuterios efetivamente

tomam decisotildees e de que informaccedilotildees necessitam (FASB 1999 p94)

Ainda dentro dessa discussatildeo sobre as necessidades de informaccedilatildeo por parte do usuaacuterio

os autores enfatizam a relevacircncia de se considerarem as caracteriacutesticas ou propriedades

que devem ter as informaccedilotildees para que se tornem uacuteteis para a tomada de decisotildees

Primeiramente chamam a atenccedilatildeo para a distinccedilatildeo entre qualidades de informaccedilatildeo

especiacuteficas para usuaacuterios e especiacuteficas para decisotildees

Na primeira classe estatildeo relacionadas as qualidades concernentes ao usuaacuterio (tipo de

usuaacuterio) Por exemplo uma determinada informaccedilatildeo para alguns usuaacuterios pode ser

irrelevante por jaacute terem domiacutenio dela enquanto que para outros eacute relevantes Dessa forma

deve se levar em conta a natureza do usuaacuterio esse eacute um fator determinante para a decisatildeo

a respeito da informaccedilatildeo a ser divulgada

Uma outra caracteriacutestica destacada eacute a oportunidade da informaccedilatildeo que independe do

usuaacuterio pois todos desejam informaccedilotildees oportunas portanto eacute uma propriedade

especiacutefica para decisotildees Realizadas essas distinccedilotildees a seguir satildeo relacionadas as

caracteriacutesticas qualitativas das informaccedilotildees propostas pelo AICPA relatadas pelos autores

jaacute mencionados

a) Benefiacutecios e custos

A informaccedilatildeo deve proporcionar benefiacutecios superiores a seu custo A divulgaccedilatildeo da

informaccedilatildeo financeira deve ser uacutetil para a tomada de decisotildees A utilidade eacute funccedilatildeo de

duas caracteriacutesticas a relevacircncia e a confiabilidade

a1) Relevacircncia

61

A informaccedilatildeo eacute relevante quando eacute pertinente agrave questatildeo que estaacute sendo analisada A

anaacutelise da pertinecircncia pode ser de trecircs maneiras afetando metas afetando a compreensatildeo

e afetando decisotildees conforme mostra o quadro 4 Para o FASB relevacircncia para decisotildees eacute

definida como a capacidade que a informaccedilatildeo teria de fazer diferenccedila numa decisatildeo

Essa diferenccedila mencionada pelo FASB seria conseguida ajudando os usuaacuterios a fazer

prediccedilotildees sobre o resultado de eventos passados presentes e futuros ou confirmar ou

corrigir expectativas anteriores ou seja quando a informaccedilatildeo tem valor preditivo e valor

como feedeback

Quadro 4- Relevacircncia da Informaccedilatildeo

Relevacircncia para metas

Alcanccedilada quando a informaccedilatildeo permite que as

metas dos usuaacuterios sejam atingidas Determinaccedilatildeo difiacutecil quando as metas satildeo subjetivas

Relevacircncia semacircntica

Alcanccedilada quando o destinataacuterio da informaccedilatildeo

compreende o significado pretendido da informaccedilatildeo

divulgada Um preacute-requisito essencial mas natildeo um objetivo

primordial

Relevacircncia para tomada de decisotildees Alcanccedilada quando a informaccedilatildeo facilita a tomada de

decisotildees pelos usuaacuterios Este eacute o objetivo primordial para o FASB

Fonte Hendriksen e Van Breda ( 1999 p97)

a2) Confiabilidade

A qualidade da informaccedilatildeo que garante que ela seja razoavelmente livre de vieacutes e

represente fielmente o que visa representar Segundo o FASB a confiabilidade eacute funccedilatildeo

de a) fidelidade de representaccedilatildeo b) verificabilidade c) neutralidade

Segundo a fidelidade de representaccedilatildeo as informaccedilotildees devem representar fielmente os

fenocircmenos que pretende representar Jaacute a verificabilidade pressupotildee a ausecircncia de

avaliaccedilatildeo subjetiva e vieacutes pessoal O FASB definiu a verificabilidade como a capacidade

de assegurar por meio do consenso entre mensuradores que a informaccedilatildeo representa o

que se destina a representar ou que o meacutetodo de mensuraccedilatildeo foi utilizado sem erro ou

vieacutes Por uacuteltimo a neutralidade quer dizer que natildeo haacute vieacutes na direccedilatildeo de um resultado

predeterminado O objetivo eacute natildeo permitir que os padrotildees sejam utilizados para alcanccedilar

alguma meta econocircmica ou poliacutetica especiacutefica

b) Comparabilidade

62

A utilidade da informaccedilatildeo eacute significativamente ampliada quando eacute apresentada de maneira

que permita comparar uma entidade com outra ou a mesma entidade em periacuteodos

seguintes Dessa forma a comparabilidade pode ser definida como a qualidade da

informaccedilatildeo que permite aos usuaacuterios identificar semelhanccedilas e diferenccedilas entre dois

conjuntos de fenocircmenos econocircmicos A comparabilidade depende de dois aspectos a

uniformidade e a consistecircncia

b1) Uniformidade

Subentende que eventos iguais satildeo representados de maneira idecircntica A uniformidade

pode ser definida como a qualidade das informaccedilotildees possuir caracteriacutesticas

suficientemente parecidas para tornar as comparaccedilotildees apropriadas

b2)Consistecircncia

Tecircm sido referidos como o uso dos mesmos procedimentos contaacutebeis por uma dada

empresa ou entidade contaacutebil de um periacuteodo a outro e o uso de conceitos e procedimentos

de mensuraccedilotildees semelhantes para itens afins nas demonstraccedilotildees de uma empresa num

dado periacuteodo

c) Materialidade

Eacute uma caracteriacutestica geral e assemelha-se ao conceito de relevacircncia A relevacircncia implica

na apresentaccedilatildeo de toda informaccedilatildeo que possa ajudar na prediccedilatildeo dos tipos de informaccedilatildeo

exigidos pelos processos de tomada de decisatildeo ou que possam ajudar diretamente na

tomada de decisotildees O conceito de materialidade tambeacutem pode estar associado agrave

significacircncia de mudanccedilas de valor correccedilotildees de erros em relatoacuterios anteriores etc Essas

mudanccedilas e correccedilotildees deveratildeo ser consideradas como possuidoras de materialidade se

forem grandes o suficiente ou importantes para influenciar as decisotildees dos usuaacuterios de

relatoacuterios financeiros

Ainda sobre a validade e utilidade da informaccedilatildeo contaacutebil para a tomada de decisotildees

gerenciais Dias (1991) sentencia que a contabilidade acrescenta poucas informaccedilotildees

importantes para o gerenciamento das organizaccedilotildees Segundo ele isso se deve ao fato de

que a contabilidade tem orientado esforccedilos para o desenvolvimento de teacutecnicas expressas

pelas convenccedilotildees e princiacutepios de contabilidade que visavam restringir a possibilidade de

manipulaccedilatildeo dos dados Entretanto esse comportamento produz relatoacuterios que natildeo

63

exprimem a realidade econocircmica da empresa prejudicando os usuaacuterios internos e externos

agrave empresa

Essa situaccedilatildeo se agrava com a presenccedila de outro fator a legislaccedilatildeo fiscal Interessada em

produzir resultados tributaacuteveis impotildee outros procedimentos prejudiciais agrave utilizaccedilatildeo dos

sistemas de informaccedilotildees contaacutebeis para fins gerenciais

Como alternativa ao problema colocado o autor diz que

Os gestores poderiam se sentir plenamente satisfeitos e envolvidos com um sistema que aleacutem

de lhes fornecer as informaccedilotildees dinacircmicas necessaacuterias para suas atuaccedilotildees no cotidiano lhes proporcionasse condiccedilotildees de conhecer melhor a empresa e sua posiccedilatildeo diante dos objetivos

estabelecidos Poderiam conhecer melhores as proacuteprias deficiecircncias e potencialidades de suas

aacutereas permitindo-lhes decisotildees mais precisas com consequumlente melhoria de eficiecircncia e

melhor grau de atingimento de seus objetivos (DIAS 1991 p61)

Salienta ainda que numa administraccedilatildeo participativa em que os gestores interferem em

todo o processo de gestatildeo que vai desde o planejamento estrateacutegico ateacute a execuccedilatildeo o

sistema deve oferecer-lhe informaccedilotildees correspondentes a todo esse ciclo as quais

abrangem as referentes ao ambiente econocircmico passando pelas previsotildees orccedilamentaacuterias

pelo sistema de programaccedilatildeo e sistema de apoio agrave gestatildeo de execuccedilatildeo ateacute a apuraccedilatildeo de

resultados e avaliaccedilatildeo de desempenhos O sistema de informaccedilotildees deve estar voltado

para o futuro indicando tendecircncias e permitindo comparaccedilotildees com o passado Deve

possibilitar a avaliaccedilatildeo de evoluccedilatildeo da organizaccedilatildeo e comparaccedilotildees com desempenhos

desejados (DIAS1991 p79)

O sistema de informaccedilotildees deve conter portanto uma estrutura de indicadores que

mantenham os gestores informados a respeito das condiccedilotildees de eficaacutecia da organizaccedilatildeo de

modo a permitir decisotildees que alcancem os objetivos propostos Poderiam ser adotados os

seguintes indicadores a) de curto prazo produccedilatildeo eficiecircncia satisfaccedilatildeo b) meacutedio prazo

adaptabilidade desenvolvimento c) medidas de longo prazo referem-se agrave capacidade de

sobreviver

64

Diante das necessidades de informaccedilotildees expostas o autor percebe o sistema de

informaccedilatildeo para a gestatildeo econocircmica (GECON10) administrado por uma controladoria11

como alternativas agraves demandas gerenciais Segundo o autor esse sistema funciona de

maneira integrada com o processo de gestatildeo e tem por objetivo assegurar informaccedilotildees

relevantes para a tomada de decisotildees

Esse sistema de informaccedilotildees atende agraves necessidades de cada etapa do processo de gestatildeo

por meio de subsistemas especiacuteficos que possam induzir os gestores a decisotildees corretas A

seguir a relaccedilatildeo das etapas com seus respectivos subsistemas de informaccedilotildees

a) Planejamento estrateacutegico

b) Planejamento operacional Sistema de orccedilamentos

c) Programaccedilatildeo Sistema de programaccedilatildeo

d) Execuccedilatildeosistema de simulaccedilatildeo e

e) Controle

Natildeo eacute foco deste trabalho detalhar cada etapa ou subsistema importa perceber que cada

uma dessas etapas do processo de gestatildeo deve ser atendida pelo sistema de informaccedilatildeo

gerencial com informaccedilotildees oportunas corretas confiaacuteveis com a periodicidade necessaacuteria

para viabilizar a tomada eficaz de decisotildees por parte dos gestores da organizaccedilatildeo (

CATELLI et al 2001 p 146)

Conforme os autores o sistema de informaccedilatildeo para a gestatildeo econocircmica contempla entre

outros os seguintes aspectos

a) Eacute estruturado sob conceito de banco de dados Plano de contas plano de aacutereas de

responsabilidade Centro de Resultados Contabilidade Gerencial e Contabilidade

Societaacuteria

10 O modelo GECON estrutura-se com base em um entendimento da missatildeo da empresa do conjunto de crenccedilas

e valores da organizaccedilatildeo da estrutura organizacional da realidade operacional e das caracteriacutesticas dos gestores

empresariais[] o modelo orienta uma sequumlecircncia de etapas do processo de gestatildeo empresarial e materializa os

diversos impactos dos subsistemas empresariais nos sistema de informaccedilotildees gerenciais com soluccedilotildees em

processamento de dados ( CATELLI 2001 p31) 11 Oacutergatildeo administrativo da empresa responsaacutevel pela disseminaccedilatildeo de conhecimento modelagem e implantaccedilatildeo

de sistemas de informaccedilotildees ( ALMEIDA et al2001 p343)

65

b) As informaccedilotildees e relatoacuterios atendem os conceitos e o modelo de decisatildeo dos

usuaacuterios Modelo de Informaccedilatildeo com base no modelo de decisatildeo e mensuraccedilatildeo

c) A mensuraccedilatildeo das transaccedilotildees eacute efetuada com a utilizaccedilatildeo de conceitos econocircmicos

valor de mercado reconhecimento da receita pela produccedilatildeo dos bens e serviccedilos

preccedilo de transferecircncia custo de oportunidade equivalecircncia de capitais

d) Aos recursos e produtosserviccedilos das atividades satildeo atribuiacutedos respectivamente

custos e receitas com base em valor de mercado Preccedilo de transferecircncia Preccedilo e

Custos correntes

Ressaltam ainda que

O sistema de informaccedilatildeo para a gestatildeo econocircmica eacute o conjunto de subsistemas de preacute-orccedilamentaccedilatildeo orccedilamentos custos e contabilidade que reflete as decisotildees tomadas por ocasiatildeo do

planejamento em termos monetaacuterios e posteriormente confronta os resultados reais com os

planejados possibilitando entatildeo as accedilotildees de controle ( CATELLI et al p148)

A partir das consideraccedilotildees sobre esse sistema de informaccedilotildees conclui-se que nele haacute a

interaccedilatildeo tatildeo almejada entre a contabilidade tradicional (financeira) e as demandas

informacionais de gestatildeo Portanto eacute possiacutevel conceber instrumentos contaacutebeis que

produzam informaccedilotildees adequadas aos diversos usuaacuterios atendendo suas demandas de

gestatildeo

Transpondo a discussatildeo para o campo da autogestatildeo pode-se considerar a partir de todos

os elementos levantados no capiacutetulo 2 que a Economia Solidaacuteria consiste em um usuaacuterio

de natureza diferenciada dos demais tendo em vista seu duplo aspecto econocircmico e

social para a qual seria conveniente e necessaacuterio questionar quais satildeo suas demandas ou

que tipos de informaccedilotildees seriam uacuteteis agrave gestatildeo com vistas agrave consecuccedilatildeo e

sustentabilidade econocircmica do empreendimento Com base nesse diagnoacutestico poder-se-ia

construir modelos informativos especiacuteficos e apropriados agraves demandas desses novos

usuaacuterios

Em relaccedilatildeo agrave qualidade ou caracteriacutesticas que as informaccedilotildees contaacutebeis devem possuir

para que contribuam na tomada de decisotildees pode-se observar que todas as caracteriacutesticas

apontadas devem ser levadas em conta na perspectiva de construir os referidos relatoacuterios

66

No que diz respeito agrave qualidade das informaccedilotildees conforme o usuaacuterio reflete-se que esses

modelos de informaccedilotildees a serem construiacutedos devem considerar a realidade social dos

trabalhadores dos empreendimentos autogestionaacuterios pois eles tecircm aspectos

socioeconocircmicos diferenciados dos administradores convencionais principalmente quanto

agrave escolaridade Normalmente natildeo possuem alto grau de conhecimento formal nem

tampouco conhecimento sobre a contabilidade e gestatildeo Dessa forma a informaccedilatildeo

contaacutebil deve ser traduzida atraveacutes de uma linguagem apropriada e acessiacutevel

Em relaccedilatildeo ao modelo de gestatildeo analisado (GECON) percebe-se que este talvez seja um

referencial para a construccedilatildeo de sistemas de informaccedilotildees que se adequumlem agraves demandas

da autogestatildeo Considerando que a autogestatildeo implica em participaccedilatildeo de todos os

trabalhadores no processo de gestatildeo haacute que se pensar em um sistema de informaccedilatildeo

equivalente ao GECON que propicie o monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees

administrativas de aacutereas ou divisotildees do empreendimento nas vaacuterias etapas do processo de

gestatildeo a fim de buscar o melhor resultado coletivo e para que as execuccedilotildees reflitam o

planejamento realizado conjuntamente

Continuando a reflexatildeo sobre uma contabilidade apropriada agrave autogestatildeo analisar-se-aacute a

seguir agrave luz de alguns trabalhos as especificidades de informaccedilotildees suscitadas por esse

modelo de gestatildeo

32 Instrumentos contaacutebeis x demandas da autogestatildeo

No Brasil os estudos na aacuterea contaacutebil que abordam a questatildeo da autogestatildeo satildeo recentes

Dentre os trabalhos verificados cabe destacar o estudo desenvolvido por Valdir Michels

(1995) Em sua dissertaccedilatildeo analisa a importacircncia da contabilidade como sistema de

informaccedilotildees no auxiacutelio agrave autogestatildeo

Um dos aspectos relevantes levantados em seu trabalho eacute a anaacutelise do disclosure das

cooperativas (a evidenciaccedilatildeo das informaccedilotildees) Agrave luz de Hendriksen e Moonitzs aponta as

questotildees necessaacuterias agrave definiccedilatildeo do tipo de informaccedilatildeo a ser fornecida ao usuaacuterio a saber

67

a) Para quem a informaccedilatildeo contaacutebil eacute revelada

b) Qual o objetivo da informaccedilatildeo

c) Que quantidade de informaccedilatildeo deveria ser revelada

d) Como a informaccedilatildeo deveria ser revelada

e) Quando a informaccedilatildeo deveria ser revelada

Para essas questotildees realiza as seguintes anaacutelises

1- Para quem - Haacute necessidade de identificar cada tipo de usuaacuterio das informaccedilotildees a fim de

definir o tipo de informaccedilatildeo A linguagem deve ser adaptada ao niacutevel de conhecimento do

usuaacuterio

2- Qual o objetivo - A necessidade para identificar o propoacutesito para que a informaccedilatildeo seja

revelada pode ser vista considerando-se a exigecircncia de que a informaccedilatildeo seja pertinente Uma

informaccedilatildeo pode ser pertinente para determinado objetivo e natildeo ser necessariamente relevante

para outro propoacutesito Por isso eacute importante definir claramente o objetivo da informaccedilatildeo

3- Que Quantidade A quantidade deve ser apropriada pra natildeo haver enganos nem

engodos (MICHAELS 1995 p 42) O ideal seria que os proacuteprios usuaacuterios determinassem

a quantidade adequada de informaccedilotildees Essas tambeacutem devem ser honestas e revelar todas as

informaccedilotildees relevantes

4- Como- A informaccedilatildeo eacute adequada quando expressa de forma tal que os usuaacuterios possam

facilmente interpretaacute-la As informaccedilotildees devem ser organizadas de forma loacutegica concatenada

e coerente

5-Quando Haacute a necessidade de se manter um canal de comunicaccedilatildeo entre a cooperativa e

seus associados propiciando informaccedilotildees sobre os fatos importantes da gestatildeo [] os jornais

mantidos pelas cooperativas poderiam publicar balancetes mensais com informaccedilotildees

importantes (MICHAELS 1995 p 47)

O autor tambeacutem aborda questotildees relativas agraves praacuteticas adotadas pelas cooperativas e que

geram distorccedilotildees nos resultados das demonstraccedilotildees financeiras Argumenta que isso ocorre

68

devido agrave falta de normas para a elaboraccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis o que dificulta a

comparaccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis das diversas cooperativas Cada cooperativa adota

metodologias diferenciadas para mensuraccedilatildeo de eventos econocircmicos proacuteprios deste setor de

atividade

Conclui seu trabalho ressaltando que para que os associados da cooperativa possam exercer a

autogestatildeo de seu empreendimento eacute necessaacuterio que a contabilidade das cooperativas seja

aprimorada nos seguintes aspectos (MICHAELS 1995 p 109)

a) As demonstraccedilotildees contaacutebeis devem ser estruturadas de tal forma que possam ser

interpretadas pelos principais usuaacuterios os associados da cooperativa A contabilidade deve ser

um importante sistema de informaccedilotildees entre a cooperativa e seus associados

b) A utilizaccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis enriquecidas com graacuteficos e tabelas

comparativas deve ter seu uso recomendado

c) A utilizaccedilatildeo de jornais mantidos pelas cooperativas deve ser um veiacuteculo de

informaccedilotildees com divulgaccedilatildeo de balancetes mensais expressos em linguagem ao niacutevel de

conhecimento dos associados

d) As informaccedilotildees contaacutebeis devem ser detalhadas de tal forma que os principais eventos

econocircmicos responsaacuteveis por impactos sobre a situaccedilatildeo econocircmico-financeira tanto positivos

como negativos sejam informados aos associados Faz-se necessaacuterio que seja informado

quais dos eventos econocircmicos foram fruto de decisotildees internas da cooperativa e quais

ocorreram independentemente da gestatildeo interna mas sim por poliacuteticas governamentais

fatores climaacuteticos ou fatos internacionais

e) As praacuteticas contaacutebeis deveriam ser normatizadas ou por oacutergatildeo que tenha poder para tal

ou incluiacutedas nos estatutos da cooperativa Isso permitiria comparaccedilotildees entre as demonstraccedilotildees

referentes a diversos exerciacutecios

f) Os conceitos quanto agrave qualidade das informaccedilotildees proposto por Hendriksen deveriam

ser observados isto eacute as informaccedilotildees deveriam ser adequadas honestas e totais

69

Quanto ao financiamento das atividades observa que as cooperativas necessitam incrementar

o suprimento de recursos financeiros proacuteprios Enfatiza que precisam encontrar a chave para

atingir o equiliacutebrio financeiro a fim de que possa obter rentabilidade positiva e manter a

competitividade E por fim diante dessas necessidades ressalta o papel preponderante da

contabilidade enquanto sistema de informaccedilotildees imprescindiacutevel agraves cooperativas

Em outro estudo Almeida e Dantas (2005) sugerem que os empreendimentos solidaacuterios

constituem um novo grupo de usuaacuterios e levantam algumas possiacuteveis demandas assim

organizadas

1-Novos modelos de Informaccedilotildees que

Propiciem a gestatildeo democraacutetica

Subsidiem a autogestatildeo

Gerem informaccedilotildees mais proacuteximas da realidade dos

empreendimentosempreendedores

Produzam indicadores sociais

Expressem as transaccedilotildees em rede

Tenham uma linguagem adequada ao tipo de empreendimentoempreendedor

2-Um novo perfil de contador

Sensiacutevel aos problemas sociais

Com ampla visatildeo econocircmica

Com capacidade gerencial

Articulador (boas relaccedilotildees humanas)

Educador (ensine a pescar)

3-Uma nova Formaccedilatildeo

Multidisciplinar (psicologia economia etc)

Novas metodologias de Ensino

Introduccedilatildeo de novas disciplinas (liacutenguas cooperativismo educaccedilatildeo popular etc)

Envolvimento em pesquisa e extensatildeo

Destaque-se tambeacutem a anaacutelise dos autores sobre a insuficiecircncia do aparato contaacutebil hoje

disponiacutevel agrave ES sobre o qual fazem a seguinte observaccedilatildeo

70

Se natildeo fossem as peculiaridades proacuteprias dos Empreendimentos de Economia Solidaacuteria e

principalmente de seus empreendedores poder-se-ia dizer que em termos de atendimento contaacutebil

nada mais seria necessaacuterio aleacutem dos recursos jaacute atualmente disponiacuteveis no escopo da

contabilidade das Cooperativas e da contabilidade Societaacuteria ( ALMEIDA e DANTAS 2005 p

08)

No caso das cooperativas lembram que satildeo reguladas pelo NBC T 108 do Conselho

Federal de Contabilidade que reza sobre aspectos de escrituraccedilatildeo contaacutebil e define sobre a

elaboraccedilatildeo dos Relatoacuterios e Demonstraccedilotildees

Jaacute as empresas autogestionaacuterias constituiacutedas em forma de sociedades satildeo orientadas pela

contabilidade societaacuteria nos moldes previstos na Lei das Sociedades Anocircnimas 640476 que

no artigo 177 determina que a escrituraccedilatildeo deve ser feita seguindo-se os preceitos da Lei das

Sociedades por Accedilotildees e os princiacutepios de contabilidade geralmente aceitos e conforme

orientado no Manual de Contabilidade das Sociedades por Accedilotildees ( IgraveUDICIBUS et al 2003

p29) o conjunto de informaccedilotildees que deve ser divulgado por uma sociedade representando

sua prestaccedilatildeo de contas abrange o Relatoacuterio de Administraccedilatildeo as Demonstraccedilotildees Contaacutebeis

e as Notas Explicativas Considerando as seguintes Demonstraccedilotildees Contaacutebeis

Balanccedilo Patrimonial

Demonstraccedilatildeo do Resultado do Exerciacutecio

Demonstraccedilatildeo das Mutaccedilotildees do Patrimocircnio Liacutequido

Demonstraccedilatildeo das Origens e Aplicaccedilotildees de Recursos

Demonstraccedilatildeo dos Fluxos de Caixa

Demonstraccedilatildeo do Valor Adicionado

Entretanto os autores ressaltam que esse aparato contaacutebil natildeo satisfaz plenamente as

necessidades informacionais dos empreendimentos Dessa forma realizam uma investigaccedilatildeo

cujo objetivo foi analisar a possibilidade de criaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo de novos sistemas contaacutebeis

agraves peculiaridades da ES Indicam algumas alternativas baacutesicas em estado bem indefinido

ainda mas que se instrumentalizam para reflexatildeo Ressaltam que se profundamente

estudados e testados (ALMEIDA e DANTAS 2005 p10) poderatildeo ser aplicados no

segmento da ES os seguintes modelos

71

a)Contabilidade Orccedilamentaacuteria

Trata-se de um estudo sobre a aplicaccedilatildeo da Contabilidade Orccedilamentaacuteria no setor privado

realizado pelo docente da FEAUSP Valmor Slomski Embora ainda em estaacutegio embrionaacuterio

a pesquisa aponta para a possibilidade de utilizaccedilatildeo desse procedimento pela ES Conforme

Slomski (2003) a contabilidade baseada no sistema orccedilamentaacuterio evidencia as origens dos

recursos e suas aplicaccedilotildees demonstra os creacuteditos orccedilamentaacuterios vigentes a despesa

orccedilamentaacuteria empenhada e a despesa orccedilamentaacuteria realizada agrave conta dos creacuteditos

orccedilamentaacuterios e ainda as dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias disponiacuteveis

Da forma como se estrutura atende a aspectos de escrituraccedilatildeo demonstraccedilatildeo anaacutelise e

informaccedilotildees dos empreendimentos da ES desde a origem do planejamento das atividades do

negoacutecio ateacute a concretizaccedilatildeo ou realizaccedilatildeo dessas atividades Pode ser dada ecircnfase ao estudo

anaacutelise e divulgaccedilatildeo das variaccedilotildees (orccedilado versus realizado) com possibilidade de indicaccedilotildees

de correccedilatildeo de rumos quando necessaacuterio identificando e valorizando a execuccedilatildeo das

atividades por aacuterea de responsabilidade

A exigecircncia da elaboraccedilatildeo e contabilizaccedilatildeo do orccedilamento em entidades da ES aleacutem do

atendimento aos aspectos normais do negoacutecio como planejamento e gerenciamento tambeacutem

teria a natureza educadora uma vez que requer o envolvimento de todos e o

comprometimento das diversas aacutereas com o resultado pois os executores das diversas

atividades do empreendimento ou os envolvidos no processo satildeo tambeacutem seus proprietaacuterios

(investidores)

Ressaltam que a sistemaacutetica de funcionamento contaacutebil deve estar fundamentada a partir de

uma planificaccedilatildeo contaacutebil O plano de contas abaixo elaborado por Slomski eacute fruto do

desenvolvimento da teoria e sistema de contabilidade orccedilamentaacuteria para entidades do Terceiro

Setor cuja estrutura baacutesica eacute a seguinte

72

Quadro 5- Contabilidade orccedilamentaacuteria

GRUPOS TIacuteTULO DO GRUPO

1 ATIVO

2 PASSIVO

3 PATRIMOcircNIO SOCIAL

4 CONTAS DE RESULTADO PATRIMONIAL DO EXERCIacuteCIO

5 RECEITAS ORCcedilAMENTAacuteRIAS

51 RECEITAS ORDINAacuteRIAS

52 RECEITAS POR PROJETOS

6 DESPESAS ORCcedilAMENTAacuteRIAS

61 ADMINISTRACcedilAtildeO SUPERIOR

62 ADMINISTRACcedilAtildeO GERAL

63 ADMINISTRACcedilAtildeO DE INVESTIMENTOS

64 ADMINISTRACcedilAtildeO DE PROJETOS

99 RESERVAS DE CONTINGEcircNCIAS

Fonte Adaptado de Plano de Contas de Slomski (material natildeo publicado)

Os autores observam que a proposta de planificaccedilatildeo tem utilidade para registro do orccedilamento

como tambeacutem para a realizaccedilatildeo das atividades da organizaccedilatildeo e planejamento da autogestatildeo

Atende tambeacutem a aspectos de controle de gerenciamento e igualmente funciona como

indicador de destinaccedilatildeo das apropriaccedilotildees

Concluem que esse pode ser um instrumento passiacutevel de utilizaccedilatildeo pela ES pela

potencialidade de possibilitar a socializaccedilatildeo do controle de todo o processo de gestatildeo

b) Contabilidade por Fundos

Utilizada amplamente nos EUA tem como caracteriacutestica principal a segregaccedilatildeo contaacutebil dos

recursos designados para atender fins especiacuteficos Olak (2000)

define a contabilidade por fundos como um importante instrumento de controle das accedilotildees dos

gestores ante os recursos que lhes satildeo confiados para atender propoacutesitos especiacuteficos segundo

restriccedilotildees impostas internamente ou externamente A contabilidade por fundos divide os

73

recursos da instituiccedilatildeo em trecircs categorias distintas a) fundos irrestritos podem ser utilizados

para qualquer finalidade b) fundos internamente restritos quando sua restriccedilatildeo eacute definida

internamente c) fundos externamente restritos quando as restriccedilotildees satildeo feitas por agentes

externos

O argumento utilizado pelos autores de perspectiva de utilizaccedilatildeo pela ES passa pela

compreensatildeo de que eacute possiacutevel nortear as accedilotildees das diversas aacutereas da entidade atraveacutes da

segregaccedilatildeo dos recursos definidos pelo coletivo Assim torna-se mais faacutecil verificar se tais

definiccedilotildees ou restriccedilotildees foram cumpridas (ALMEIDA e DANTAS 2005 p 12)

Entretanto chamam a atenccedilatildeo para as limitaccedilotildees do modelo uma vez que as restriccedilotildees

impostas podem tornar-se obstaacuteculos agrave gestatildeo tendo em vista a dinacircmica das atividades

empresariais Portanto a aplicaccedilatildeo desse sistema contaacutebil exige estudos e adaptaccedilotildees

c) Apuraccedilatildeo Gerencial do Resultado Econocircmico

A Mensuraccedilatildeo do Resultado Econocircmico12 conforme Slomski (2003) fundamenta-se no

conceito de custo de oportunidade o qual permite mensurar os serviccedilos prestados (receita

econocircmica) o trabalho voluntaacuterio e outras despesas incorridas e assumidas por terceiros

Com base nesse fundamento os autores Almeida e Dantas (2005) argumentam sobre a

possibilidade de utilizaccedilatildeo desse instrumento gerencial pela ES agrave medida que leva em conta

fatores desconsiderados pela contabilidade tradicional tais como o custo de oportunidade

Sabe-se que via de regra os empreendimentos solidaacuterios natildeo prescindem das entidades de

apoio cuja estrutura coloca agrave sua disposiccedilatildeo recursos materiais humanos e financeiros Essas

contribuiccedilotildees satildeo realizadas de maneira voluntaacuteria ateacute que o negoacutecio se sustente Portanto

esses valores natildeo computados como assessoria contaacutebil administrativa financeira

tecnoloacutegica poderiam compor o resultado econocircmico da entidade tal como acontece nas

entidade do terceiro setor

Salientam que transcendendo o proacuteprio empreendimento se poderia pensar em mensuraccedilotildees

ou indicadores sociais que levassem em conta o custo de oportunidade de vaacuterias atividades

realizadas pela empresa substituindo accedilotildees implementadas pelo governo Um exemplo

poderia levantar o custo social da inserccedilatildeo do desempregado no mercado ou seja a

12 Forma de mensuraccedilatildeo inspirada no modelo GECON visto anteriormente

74

quantificaccedilatildeo dos benefiacutecios que o Estado e a sociedade obtecircm com este empreendimento

somente pela oferta de postos de trabalho Assim poderia ser feito com todos os benefiacutecios

alcanccedilados pelo empreendimento tais como a educaccedilatildeo dos trabalhadores o provimento de

plano de sauacutede as accedilotildees de preservaccedilatildeo do meio ambiente os projetos envolvendo a

comunidade local etc Para os autores esse mecanismo gerencial se bem explorado pode ser

um instrumento de expressatildeo da dinacircmica econocircmica e social da economia solidaacuteria

Portanto os estudos analisados apresentam convergecircncia quando reconhecem as demandas

especiacuteficas dos empreendimentos autogestionaacuterios e a insuficiente resposta que a

contabilidade tem dado a estas organizaccedilotildees tambeacutem apontam para a necessidade de

aprofundamento de pesquisas sobre o tema Percebe-se igualmente que haacute uma preocupaccedilatildeo

nos trabalhos com a busca de novos processos e modelos de mensuraccedilatildeo demonstraccedilatildeo e

divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees os quais sejam apropriados agraves reais necessidades desses usuaacuterios

da contabilidade

Desse modo a investigaccedilatildeo empiacuterica pretendeu continuar o caminho trilhado por alguns

pesquisadores da aacuterea contaacutebil Preocupou-se em aprofundar a compreensatildeo da dimensatildeo

contaacutebil nos empreendimentos solidaacuterios como tambeacutem levantar novas demandas ou

confirmar as necessidades jaacute detectadas desses novos usuaacuterios que se formam num contexto

social de desemprego e marginalizaccedilatildeo do mercado de trabalho Como novos usuaacuterios

desafiam a contabilidade a tambeacutem dar sua contribuiccedilatildeo por meio de seu envolvimento na

busca de alternativas de atuaccedilatildeo da contabilidade junto agrave autogestatildeo em seus diversos

aspectos

75

4 ESTUDO DE CASO COOPRAM RESULTADOS E ANAacuteLISES

41 Relato do estudo de caso

No capiacutetulo 1 mais precisamente no toacutepico referente agrave metodologia foi traccedilado o caminho

que seria trilhado pela pesquisa o qual compreendia um conjunto de informaccedilotildees tais como

meacutetodos de abordagem e procedimentos teacutecnicas de coleta de dados e planejamento do caso

Nesse momento passa-se a pormenorizar e relatar as etapas e atividades que constituiacuteram a

investigaccedilatildeo empiacuterica deste trabalho

Para melhor visualizaccedilatildeo do trabalho pode-se dividir as atividades executadas em diversos

momentos

1ordm momento Contatos iniciais

Essa fase foi caracterizada pelos contatos com diretores da entidade de apoio (ANTEAG) e

conversas com a pretendida unidade de estudo a COOPRAM Na ocasiatildeo foi repassada a

ambas entidades (COOPRAM e ANTEAG) uma coacutepia do protocolo de pesquisa do estudo de

caso Esses contatos iniciaram em fevereiro de 2006 e culminaram com a autorizaccedilatildeo para a

realizaccedilatildeo da pesquisa (apecircndice 02)

2ordm momento Preparaccedilatildeo para o trabalho de campo

Apoacutes a liberaccedilatildeo da unidade para realizaccedilatildeo da pesquisa de campo foi a vez da etapa de

confecccedilatildeo dos vaacuterios instrumentos para a coleta de dados cujos principais produtos foram

roteiro de entrevistas para cooperados (apecircndice 03) roteiro de entrevista para contadores (

apecircndice 04) roteiro de entrevista para diretores ( apecircndice 05) roteiro de entrevista para

especialistas (apecircndice 06)

3ordm momento Coleta de dados

Essa etapa processou-se durante os meses de junho e julho momento em que se procedeu

efetivamente agrave coleta de dados Como mencionado no cap I os instrumentos utilizados

foram entrevistas registros em arquivos e observaccedilatildeo direta No caso das entrevistas elas

foram segregadas por grupos de entrevistados ficando assim distribuiacutedas

76

Grupo 1- cooperados 04 entrevistados

Grupo 2- contadores 02 entrevistados

Grupo 3- especialistas 02 entrevistados

Os registros em arquivos e as observaccedilotildees diretas foram possibilitadas pelas inuacutemeras visitas

realizadas a COOPRAM no mesmo periacuteodo

4ordm momento Sistematizaccedilatildeo dos dados

O processo de sistematizaccedilatildeo dos dados ocorreu no final de julho e no mecircs de agosto A partir

de um banco de dados eletrocircnico referente a cada entrevista somadas agraves informaccedilotildees das

outras fontes transformaram-se dados em informaccedilotildees estratificadas por grupos e dimensotildees

5ordm momento Anaacutelises e conclusotildees

Nessa etapa final as informaccedilotildees sistematizadas foram analisadas agrave luz das questotildees

propostas das hipoacuteteses formuladas e da revisatildeo teoacuterica

Concluiacutedo o relato do processo da pesquisa empiacuterica nos proacuteximos itens passa-se a

transcrever os resultados da pesquisa compostos inicialmente por descriccedilotildees da realidade

encontrada e em seguida pela compreensatildeo e anaacutelise de vaacuterios aspectos da relaccedilatildeo

contabilidade e autogestatildeo

42 Histoacuterico e descriccedilatildeo da unidade de estudo

A COOPRAM- Cooperativa de Produccedilatildeo de Artes Metaacutelicas situada hoje no Municiacutepio de

Embu das Artes- SP eacute um empreendimento autogestionaacuterio nascido em 2000 A entidade

surgiu da uniatildeo de profissionais antigos funcionaacuterios de uma empresa metaluacutergica falida que

assumiram sua recuperaccedilatildeo Alguns funcionaacuterios principalmente a forccedila de trabalho mais

intelectual natildeo se submetendo ao risco do negoacutecio procuraram nova colocaccedilatildeo no mercado

Aqueles que acreditaram enfrentaram os desafios da gestatildeo de uma cooperativa Hoje a

COOPRAM conta com aproximadamente 80 funcionaacuterios sendo a maior parte lotada na

aacuterea produtiva Tambeacutem conta com profissionais qualificados na aacuterea de projetos de produto

77

especiais os quais atendem a encomendas especiacuteficas de clientes

No iniacutecio de suas atividades sua sede situava-se no Municiacutepio de OsascoSP mudando-se

recentemente para o Municiacutepio de Embuacute das Artes tambeacutem no Estado de Satildeo Paulo

A cooperativa eacute especializada na conformaccedilatildeo e beneficiamento de accedilo alumiacutenio e inox

cujos produtos principais satildeo quiosques e maacutescaras para salas de auto-atendimento caixas

eletrocircnicos caixas para medidor de gaacutes e hidrocircmetros esquadrias de accedilo galvanizado

luminosos de identificaccedilatildeo visual (totem) caixilhos em geral batentes guarda corpos

corrimatildeo portas acuacutesticas caixas metaacutelicas forros divisoacuterias e revestimentos de accedilo

galvanizado inox e alumiacutenio entre outros produtos em accedilo e alumiacutenio encomendados por

clientes diversos tais como shoppings metrocircs etc A figura 2 ilustra alguns dos produtos da

COOPRAM

78

Figura nordm 02 - Alguns produtos da COOPRAM

Fonte site http wwwcoopramcombr

A cooperativa atende a todo o territoacuterio nacional e possui uma diversificada carteira de

clientes Eis alguns de seus clientes

Associaccedilatildeo Brasileira de Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Uacuteltimos Dias - Satildeo Paulo SP

Construtora OAS Ltda -Satildeo Paulo SP Rossi Residencial - Satildeo PauloSP ECIA Irmatildeos

Arauacutejo Engenharia e Comercio SA - Rio de Janeiro RJ Construtora Bathaus Ltda - Tupatilde

SP Tec Sul Engenharia Ltda - Satildeo Jose dos CamposSP Vexillum Construccedilotildees e

Empreendimentos Ltda - Pq Industrial - Campina Grande do SulPR Carvalho Hosken SA

Engenharia e Construccedilotildees -Rio de Janeiro RJ Autoban

Jundiaiacute SP Construtora Norberto Odebrechet SA - Rodovia Rio Santos Metro cia

Metropolitano de Satildeo Paulo - Linha Norte Sul Construtora Apia - Belo HorizonteMG

Construtora Croma - Satildeo Paulo SP Escala Construccedilotildees e Empreendimentos Ltda- Satildeo

PauloSP Tecnicorp Engenharia e Construccedilotildees Ltda - Satildeo Paulo SP Construtora

Lideranccedila Ltda Satildeo Paulo SP Evoluccedilatildeo Empreendimentos Imobiliaacuterios Ltda Satildeo

Paulo SP Schahin Engenharia Ltda- Satildeo PauloSP Elofer Construccedilotildees e Empreendimentos

Ltda - Pinhais PR Constroen Construccedilotildees e Engenharia Ltda -AraccedilatubaSP Infa

incorporadora Ltda - Pinheiros SP Comercial Construtora PPR Ltda - Satildeo PauloSP

Empreendimentos Imobiliaacuterios Estelar Ltda - Satildeo Paulo SP Construtora CPD Ltda - Satildeo

79

PauloSP Associaccedilatildeo de Construccedilatildeo Para Mutiratildeo do Jardim Celeste

Satildeo PauloSP Associaccedilatildeo Boa Esperanccedila -Satildeo PauloSP Associaccedilatildeo de Construccedilatildeo por

Mutiratildeo Novo Horizonte Satildeo PauloSP Copromo Associaccedilatildeo por Moradia de Osasco

OsascoSP

43 Informaccedilotildees sobre a entidade de apoio

A COOPRAM tem sido acompanhada por uma das redes nacionais de apoio as quais

tambeacutem satildeo denominadas de incubadoras de empreendimentos Satildeo essas entidades que

tradicionalmente orientam os empreendimentos solidaacuterios nos mais diversos aspectos desde

a capacitaccedilatildeo para a gestatildeo ateacute aspectos mais subjetivos da vivecircncia no empreendimento tais

como relaccedilotildees interpessoais assimilaccedilatildeo de valores humanos entre outros

No caso da COOPRAM a entidade que daacute o suporte necessaacuterio agraves suas accedilotildees e promove a

apropriaccedilatildeo do conhecimento nas diversas aacutereas do negoacutecio eacute a ANTEAG- Associaccedilatildeo

Nacional das Empresas Autogeridas e de Participaccedilatildeo Acionaacuteria

Fazendo um breve histoacuterico da entidade relata-se que a ANTEAG nasceu da iniciativa dos

proacuteprios trabalhadores que assumiram a gestatildeo de empresas diante da situaccedilatildeo de falecircncia e

desemprego Desde 1991 a ANTEAG teve contato com mais de 700 empresas em situaccedilatildeo

falimentar e passou a trabalhar com muitas delas no sentido de desenvolver a autogestatildeo

Hoje acompanha empresas de produccedilatildeo industrial e de serviccedilos nas cinco regiotildees do paiacutes

representando mais de 32 mil postos de trabalho nos seguintes setores tecircxtil agroinduacutestria

alimentaccedilatildeo couro calccedilados metaluacutergico mineraccedilatildeo serviccedilos confecccedilatildeo plaacutestico coleta

seletiva ceracircmica mobiliaacuterio papel e papelatildeo vidro e cristal tinta borracha e artesanato Os

objetivos que norteiam a accedilatildeo da ANTEAG satildeo

- Recuperar e manter trabalho e renda atraveacutes da participaccedilatildeo e controle coletivo dos

trabalhadores sobre as atividades produtivas

- Organizar e representar nacionalmente os trabalhadores e as empresas de autogestatildeo

- Promover autogestatildeo como alternativa econocircmica e social

80

- Resgatar o trabalho em sua dimensatildeo humana como alternativa agrave precarizaccedilatildeo e ao

desemprego estrutural

No que diz respeito agrave aacuterea de gestatildeo e contabilidade uma das principais formas de

contribuiccedilatildeo da ANTEAG a seus incubados eacute a promoccedilatildeo de cursos no proacuteprio

empreendimento ou nas sedes da entidade localizadas nos principais estados do paiacutes ora

executando esses cursos com seu proacuteprio pessoal ora pleiteando capacitaccedilatildeo a oacutergatildeos

governamentais

44 Descriccedilatildeo da organizaccedilatildeo contaacutebil da COOPRAM

A partir das observaccedilotildees e anaacutelises dos documentos constatou-se que os resultados

econocircmicos e financeiros da entidade satildeo apresentados pelos instrumentos tradicionais da

contabilidade centrando nas demonstraccedilotildees Balanccedilo Patrimonial e Demonstraccedilatildeo do

Resultado do Exerciacutecio da cooperativa Esses relatoacuterios satildeo disponibilizados para os

cooperados nas Assembleacuteias Gerais Ordinaacuterias os quais tambeacutem satildeo afixados no mural para

visualizaccedilatildeo e consulta

Natildeo satildeo confeccionados outros relatoacuterios gerenciais de resultados Semanalmente a diretoria

se reuacutene para discutir as financcedilas e utilizam um relatoacuterio produzido pelo setor financeiro o

qual conteacutem informaccedilotildees sobre o fluxo de recursos contas a pagar e receber

Natildeo haacute um sistema informatizado de apuraccedilatildeo de custos ou relatoacuterios detalhados sobre eles A

confecccedilatildeo dos preccedilos dos produtos eacute baseada em um caacutelculo estimativo dos gastos da

entidade para o qual eacute utilizado um fator matemaacutetico tabelado para cada item de produto e

construiacutedo a partir de outros elementos de despesas que incluem alguns gastos administrativos

e frete No caso de produtos sob encomenda eacute calculado um orccedilamento e sobre o valor

orccedilado tambeacutem se aplica o mesmo fator matemaacutetico

A contabilidade eacute terceirizada ficando a cargo de um escritoacuterio de contabilidade localizado

no mesmo Municiacutepio Mensalmente eacute remetido ao escritoacuterio o movimento de caixa

confeccionado pelos cooperados do setor financeiro O retorno desses dados convertidos em

81

demonstraccedilotildees contaacutebeis natildeo eacute realizado dentro de um periacuteodo possiacutevel de aproveitar as

informaccedilotildees para a tomada de decisotildees Em suma a informaccedilatildeo contaacutebil natildeo eacute sistematizada

ou organizada de modo que possa contribuir com o processo de gestatildeo

No que diz respeito agrave apropriaccedilatildeo dos conhecimentos em contabilidade ela eacute propiciada

principalmente por cursos de formaccedilatildeo em gestatildeo promovidos em geral pela entidade de

apoio como jaacute mencionado

45 Anaacutelise dos Resultados

A anaacutelise realizada foi segmentada em diversos aspectos da dimensatildeo contaacutebil nos processos

de autogestatildeo Entretanto na praacutetica percebeu-se que esses aspectos natildeo satildeo estanques ou

seja eles se inter-relacionam agraves vezes ocorrendo a situaccedilatildeo em que um aspecto eacute fator

determinante de outro Tecircm-se tambeacutem a consciecircncia de que outros fatores importantes agrave

compreensatildeo e ao desvelamento do fenocircmeno natildeo estatildeo aqui incluiacutedos Dessa forma longe de

esgotar as respostas agraves questotildees propostas buscou-se fazer um exerciacutecio de reflexatildeo sobre a

realidade captada pelas vaacuterias evidecircncias

Apoacutes essas observaccedilotildees relata-se a anaacutelise dos aspectos da dimensatildeo contaacutebil representados

pelas seis dimensotildees Esses resultados foram sistematizados em quadros os quais traccedilam um

paralelo entre a realidade encontrada e a realidade esperada A realidade encontrada diz

respeito ao quadro atual de cada aspecto desenhado pelo ponto de vista dos trecircs grupos de

entrevistados e reafirmado pelas observaccedilotildees e registro em arquivos Por outro lado no

quadro da realidade esperada encontram-se a realidade desejada eou elementos e pistas para

alcanccedilar essa situaccedilatildeo ideal Assim as anaacutelises satildeo produto das constataccedilotildees dos grupos

enriquecidos pelos resgates dos conceitos teoacutericos e a bibliografia sobre o tema

Passa-se entatildeo a apresentar a anaacutelise dos resultados

82

451 Forma de comunicaccedilatildeo

Nessa dimensatildeo procurou-se avaliar os instrumentos de comunicaccedilatildeo que a entidade utiliza

para divulgar seus resultados econocircmicos e financeiros Verificou-se a capacidade de a

contabilidade captar e refletir a complexidade das relaccedilotildees inclusas no processo de

autogestatildeo tais como o orccedilamento elaborado coletivamente a execuccedilatildeo e controles

compartilhados enfim foi avaliada a adequaccedilatildeo dos relatoacuterios demonstraccedilotildees e outros

instrumentos da contabilidade agraves necessidades proacuteprias dos empreendimentos solidaacuterios

Quadro 6- Forma de comunicaccedilatildeo

Grupo Realidade Encontrada

( o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Baseia-se nos instrumentos tradicionais

Pouca compreensatildeo dos

instrumentos Acessiacuteveis aos cooperados Apresentados nas assembleacuteias

Especialistas

Insuficiecircncia do Balanccedilo anual

enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo

Contadores

Contabilidade financeira tem

limitaccedilotildees Insuficiecircncia do Balanccedilo

Maior tempo de exposiccedilatildeo

das demonstraccedilotildees Mais detalhamentos da

realidade do empreendimento

Mais instrumentos de

informaccedilotildees Criaccedilatildeo de instrumentos de

informaccedilotildees permanentes Criaccedilatildeo de instrumentos de

avaliaccedilatildeo e monitoramento

Conforme demonstra o quadro 6 em geral os cooperados natildeo questionaram sobre os

instrumentos tradicionais de comunicaccedilatildeo dos resultados econocircmicos e financeiros

constituiacutedos principalmente pelo Balanccedilo e DRE Afirmaram que essas demonstraccedilotildees satildeo

acessiacuteveis na entidade Entretanto natildeo haacute muita procura por parte deles em virtude das

dificuldades de compreensatildeo

Na percepccedilatildeo dos especialistas o Balanccedilo anual principal forma de comunicaccedilatildeo das

informaccedilotildees utilizadas pelos empreendimentos eacute insuficiente para manter o trabalhador

informado havendo a necessidade de instrumentos que propiciem o monitoramento

permanente do negoacutecio

83

Os contadores entrevistados tambeacutem apontaram para a insuficiecircncia do Balanccedilo enquanto

uacutenica forma de comunicaccedilatildeo Conforme trecho da fala de um de seus representantes

Uma assembleacuteia natildeo pode se limitar a apresentar Balanccedilo Balanccedilo tem que ter mas eacute uma das

demonstraccedilotildees Vocecirc tem que mostrar outros lados Como eacute que permanentemente o cooperado

acompanha o desenvolvimento da cooperativaO Balanccedilo eacute uma informaccedilatildeo anual Quais satildeo as

outras informaccedilotildees perioacutedicas para que se faccedila um monitoramento uma avaliaccedilatildeo daquele

empreendimento[] entatildeo eu tenho que ter um instrumento e espaccedilo pra discutir []

Um dos contadores ainda destaca a limitaccedilatildeo da contabilidade financeira e a necessidade de

utilizaccedilatildeo da contabilidade gerencial e outros instrumentos apropriados agrave ES Em suas palavras

[] se vocecirc tem na contabilidade financeira contabilidade mais formal algumas limitaccedilotildees a

gente pode construir uma contabilidade gerencial hoje vocecirc tem uma contabilidade social o

Balanccedilo Social vocecirc tem ferramentas esse eacute o papel do profissional []

Portanto no que tange agrave forma de comunicaccedilatildeo das informaccedilotildees disponibilizadas pela

contabilidade as evidecircncias empiacutericas somam-se agraves anaacutelises dos autores que percebem os

empreendimentos autogestionaacuterios como um novo um grupo de usuaacuterios da contabilidade e

para os quais satildeo necessaacuterios novos instrumentos contaacutebeis Resgatando a reflexatildeo realizada

no capiacutetulo 3 agrave luz de Hendriksen e Van Breda ( 1999) sobre a implementaccedilatildeo de relatoacuterios

padronizados ou especiacuteficos a cada grupos de usuaacuterios os autores Almeida e Dantas (2005)

sugerem que os novos usuaacuterios deveriam possuir relatoacuterios especiacuteficos em detrimento da

padronizaccedilatildeo de relatoacuterios a diversos grupos

Michaels (1995) argumenta que a confecccedilatildeo dos relatoacuterios deve atender a alguns preacute-

requisitos a fim de contemplar as demandas reais de informaccedilatildeo dos usuaacuterios Para tanto seria

necessaacuterio responder agraves seguintes perguntas Qual o objetivo da informaccedilatildeoPara quem eacute a

informaccedilatildeo Que quantidade eacute necessaacuteria Como deve ser a informaccedilatildeo Quando a

informaccedilatildeo eacute necessaacuteria Com base nas respostas dadas a essas perguntas o autor reconhece

a natureza peculiar dos empreendimentos autogestionaacuterios e suas necessidades especiacuteficas

Em relaccedilatildeo agrave situaccedilatildeo desejaacutevel ou esperada na visatildeo dos cooperados as demonstraccedilotildees

deveriam fornecer mais detalhes da situaccedilatildeo socioeconocircmica e ficar mais tempo exposta

conforme revelam os trechos a seguir

[] deveria ficar mais tempo exposto agrave disposiccedilatildeo dos cooperados e com mais detalhes e ser

mais bem explicado []

84

[] vocecirc pode fazer uma planilha maior e mostrar em mais detalhes o que estaacute acontecendo

atualmente[]

Essas observaccedilotildees reforccedilam o estudo feito por Michaels (1999) Em sua opiniatildeo as

demonstraccedilotildees contaacutebeis devem ser estruturadas de tal forma que possam ser interpretadas

pelos principais usuaacuterios os associados da cooperativa Para ele a contabilidade deve ser um

importante sistema de informaccedilotildees entre a cooperativa e seus associados e para tanto

recomenda a utilizaccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis enriquecidas com graacuteficos e tabelas

comparativas Ressalta ainda que as informaccedilotildees contaacutebeis devem ser detalhadas de tal

forma que os principais eventos econocircmicos responsaacuteveis por impactos na situaccedilatildeo

econocircmico-financeira tanto positivos como negativos sejam informados aos associados e

tambeacutem sejam informados quais dos eventos econocircmicos foram fruto de decisotildees internas da

cooperativa e quais ocorreram independentes da gestatildeo interna mas sim por poliacuteticas

governamentais fatores climaacuteticos ou fatos internacionais

Logo neste aspecto concluiu-se que haacute demandas no sentido de propiciar a utilizaccedilatildeo e

assimilaccedilatildeo dos instrumentos existentes pelos trabalhadores da ES bem como de criaccedilatildeo de

novos relatoacuterios especiacuteficos para esses usuaacuterios em oposiccedilatildeo agrave implementaccedilatildeo de relatoacuterios

padronizados a todos os usuaacuterios

452 Conteuacutedo da informaccedilatildeo

O conteuacutedo diz respeito agrave informaccedilatildeo contaacutebil em si Nesse aspecto verificou-se a pertinecircncia

da linguagem das vaacuterias formas de comunicaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil aos usuaacuterios da ES

Mais especificamente nesse aspecto buscou-se perceber se a linguagem da contabilidade eacute

facilmente compreendida pelos trabalhadores tendo em vista o conhecimento jaacute consolidado

de que uma grande parte dos trabalhadores da ES tem um baixo grau de educaccedilatildeo formal

85

Quadro 7- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

Grupo

Realidade Encontrada

(o que eacute)

Realidade Esperada

(o que deveria ser)

Cooperados

Linguagem complicada Calam-se diante da

incompreensatildeo dos termos Incompreensatildeo causa

desinteresse

Especialistas

Linguagem difiacutecil

Contadores

Linguagem teacutecnica codificada

Trabalhadores da ES devem

apropriar-se da linguagem contaacutebil

Linguagem contaacutebil deve

aproximar-se da linguagem coloquial

Linguagem simples e objetiva

Como revela o quadro 7 apesar de serem acessiacuteveis haacute um desinteresse pelos relatoacuterios uma

vez que a linguagem natildeo eacute inteligiacutevel aos cooperados O grau de escolaridade do grupo de

cooperados normalmente eacute baixo e a estrutura dos relatoacuterios baseia-se em uma linguagem

teacutecnica formal o que dificulta o seu entendimento Conforme mostram trechos da fala de

cooperados

[] porque normalmente no relatoacuterio no balanccedilo a gente tenta olhar mais no final quanto que deu

e quanto que natildeo deu Fica mais faacutecil neacute Eu natildeo sei por que eles complicam [] a gente sempre ficava voando com medo ateacute de entatildeo vem o ativo passivo Taacute aqui o ativo passivo Muita

gente calaque nem que seraacute que bixiga eacute isso aiacute

Tambeacutem na visatildeo dos contadores e especialistas entrevistados a linguagem dos relatoacuterios eacute de

difiacutecil compreensatildeo para os trabalhadores pois eacute uma linguagem de contadores ou seja eacute

uma linguagem formal teacutecnica Nas palavras de um contador A linguagem contaacutebil eacute uma

linguagem codificada Eacute uma linguagem que usa coacutedigos e convenccedilotildees Ela natildeo eacute uma

linguagem do cotidiano das pessoas

Os entrevistados de uma forma geral sugerem uma linguagem adequada agrave realidade dos

trabalhadores da ES Para isso eacute necessaacuteria a criaccedilatildeo de novos instrumentos de comunicaccedilatildeo

os quais contenham uma linguagem simples e compreensiacutevel conforme expressam algumas

falas

86

[] entatildeo talvez uma coisa mais simples pra maioria simples Olha daacute dando lucro olha isso

aqui noacutes vamos gastar pra isso A contabilidade eacute interessante mas pro povatildeo acho que ajudava

bem Aiacute vocecirc jaacute podia parar de muitos comentaacuterios Olha taacute assim assim assim no real mas no

real natildeo pra iludir agente []

[] entatildeo noacutes temos duas questotildees ou noacutes vamos ter uma linguagem que aproxime dessa

linguagem coloquial ou seja essa linguagem de Balanccedilo eacute uma linguagem de contadores Entatildeo

tem dois movimentos ou os trabalhadores da ES se apropriam da linguagem dos contadores ou os contadores buscam uma linguagem com os trabalhadores da ES Acho que tem que ter um encontro aiacute Natildeo eacute ficar usando apelidos para falar a mesma coisa Eu digo formas de

comunicaccedilatildeo []

Os apontamentos dos grupos natildeo contraria a hipoacutetese inicialmente aventada sobre a

dificuldade de compreensatildeo da linguagem dos relatoacuterios contaacutebeis por parte dos

trabalhadores Essa hipoacutetese baseou-se na realidade socioeconocircmica dos trabalhadores

retratada no cap 2 Conforme mostraram Singer (2000) e demais autores a baixa escolaridade

dos trabalhadores adveacutem de sua situaccedilatildeo de exclusatildeo social A ES eacute constituiacuteda em sua

maioria por trabalhadores viacutetimas do desemprego estrutural provocado em grande parte pela

globalizaccedilatildeo a qual acarretou a reestruturaccedilatildeo produtiva e mudanccedilas no mercado de trabalho

Esses trabalhadores dispensados de seus postos de trabalho e natildeo apresentando formaccedilatildeo

suficiente para nova colocaccedilatildeo viram na ES uma alternativa de reingresso no mercado de

trabalho e de inclusatildeo social

Assim com baixa escolaridade e natildeo acostumados agrave linguagem de negoacutecio os termos

contaacutebeis soam estranhos aos trabalhadores Dessa forma a adaptaccedilatildeo da linguagem dos

relatoacuterios contaacutebeis agrave realidade dos trabalhadores eacute uma outra demanda concreta que os

empreendimentos de ES remete agrave contabilidade

453 Utilidade da informaccedilatildeo

A avaliaccedilatildeo da utilidade da informaccedilatildeo diz respeito agrave importacircncia e utilidade dada agrave

contabilidade Tambeacutem se procurou avaliar a utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil em todos os

processos da gestatildeo de forma que ela efetivamente seja supridora de informaccedilotildees

necessaacuterias agrave autogestatildeo ou seja auxiliar no processo de tomada de decisotildees coletivas e na

gestatildeo democraacutetica

87

Quadro 8 - Utilidade da informaccedilatildeo

Grupo Realidade Encontrada

( o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Contabilidade como sinocircnimo de confianccedila entre

os trabalhadores Organizaccedilatildeo contaacutebil influi na motivaccedilatildeo e

tranquumlilidade Contabilidade instrumento de transparecircncia Percepccedilatildeo da influecircncia da organizaccedilatildeo contaacutebil

sobre os resultados Consciecircncia da necessidade de apropriaccedilatildeo da

contabilidade

Especialistas

Falta de domiacutenio das teacutecnicas satildeo lacunas nos

empreendimentos em uma primeira fase Em segunda fase usam teacutecnicas p

desenvolvimento do empreendimento Utilizaccedilatildeo de teacutecnicas contaacutebeis como condiccedilatildeo agrave

viabilidade econocircmica

Contadores

Informaccedilatildeo contaacutebil gera confianccedila e autonomia Formadores tecircm visatildeo da contabilidade como

algo chato dispensaacutevel controle burocraacutetico Contabilidade eacute instrumental necessaacuterio a todas

as aacutereas do empreendimento Natildeo utilizaccedilatildeo dos instrumentos em decorrecircncia

da natildeo apropriaccedilatildeo do conhecimento Resistecircncia agrave superaccedilatildeo da segregaccedilatildeo trabalhar ( trabalhadores) e pensar (administradores)

Superaccedilatildeo da visatildeo

tradicional da contabilidade para o fisco e controle burocraacutetico

Formadores assumir a

contabilidade como questatildeo

fundamental Apropriaccedilatildeo de conhecimento

contaacutebil pelos trabalhadores Criaccedilatildeo de instrumentos

contaacutebeis que gere

informaccedilotildees atualizadas e

permanentes sobre a gestatildeo Utilizaccedilatildeo das teacutecnicas

contaacutebeis em todos os

processos de gestatildeo Trabalhadores devem possuir

a cultura do registro

Na visatildeo de um dos cooperados conforme mostra o quadro 8 a contabilidade tem grande

importacircncia porque eacute um instrumento de transparecircncia e de desenvolvimento econocircmico do

empreendimento Um outro motivo destacado pelos trabalhadores eacute sua vinculaccedilatildeo com a

confianccedila que deve existir na relaccedilatildeo entre os cooperados Para eles uma boa organizaccedilatildeo

contaacutebil propicia a tranquumlilidade no trabalho e motivaccedilatildeo conforme relatam algumas falas

[] contabilidade eacute o coraccedilatildeo o ceacuterebro[] [] porque tem viacutenculo de confianccedila neacute Falando seacuterio como agora agente taacute passando por

uma situaccedilatildeo em relaccedilatildeo serviccedilo dinheiro natildeo taacute boa Entatildeo influi em todo mundo ali sabe

Entatildeo aqui quando as coisas taacute correndo bem a contabilidade a gente supotildee que ta tudo em paz

taacute tudo bom a gente tem uma tranquumlilidade maior de produzir de trabalhar de torcer pra vir mais

serviccedilo Agora quando taacute ruim agente fala pra quecirc serviccedilo O dinheiro natildeo entra as coisa natildeo daacute

pra fazer as coisas direito Entatildeo influi bastante Entatildeo eu acho que administraccedilatildeo contabilidade

a gente tando no meio assim mesmo natildeo fazendo parte mas vocecirc tendo os relatoacuterios vocecirc

entendendo com certeza vocecirc acalma meio mundo laacute embaixo noacutes mesmos []

88

[] a contabilidade eacute fundamental os nuacutemeros clareza todo mundo ciente do que estaacute

acontecendo se tiver condiccedilotildees de fazer uma reserva Entatildeo realmente ter noccedilatildeo pra empresa

crescer []

Essa concepccedilatildeo da importacircncia da utilizaccedilatildeo dos instrumentos contaacutebeis reafirma o papel

social da contabilidade enfatizada no cap 3 Vaz (2002) ressalta que a informaccedilatildeo eacute um

direito de cidadania Pateman no cap 2 ressalta a importacircncia da informaccedilatildeo Para a

autora um dos preacute-requisitos para a participaccedilatildeo democraacutetica e desenvolvimento da

eficaacutecia poliacutetica eacute simetria econocircmica e simetria no acesso a informaccedilotildees Dessa forma a

visatildeo dos grupos entrevistados aproxima-se dos autores sobre a essencialidade da

informaccedilatildeo contaacutebil no processo de autogestatildeo

No que se refere a outro aspecto analisado o uso dos diversos instrumentos para a tomada de

decisatildeo os instrumentos centram-se no Balanccedilo Patrimonial e DRE conforme mencionado

anteriormente Natildeo haacute outros instrumentos mais dinacircmicos de monitoramento e controle do

planejamento da entidade assim como natildeo haacute um planejamento coletivo mais sistematizado

Portanto a entidade natildeo utiliza a maioria dos recursos de informaccedilatildeo disponibilizados pela

contabilidade financeira e gerencial no seu processo de autogestatildeo

Entretanto mesmo natildeo tendo plena consciecircncia do que seja uma contabilidade gerencial e da

potencialidade da contabilidade enquanto instrumento de informaccedilatildeo para a tomada de

decisatildeo os cooperados ainda conseguem diagnosticar os efeitos da ausecircncia dessa

organizaccedilatildeo na entidade e a necessidade de apropriaccedilatildeo desse conhecimento como mostra um

trecho da entrevista de um dos cooperados

[] na verdade eu preciso aprender muito sobre isso aiacute Agora pela assembleacuteia pelo que eu vi sem documento na matildeo noacutes natildeo entende muito natildeo Noacutes tem trabalhado bastante eu acredito que

o nosso produto taacute barato Alguma coisa taacute errada na Coopram Porque noacutes trabalha de segunda a

saacutebado ningueacutem paacutera e hoje o saldo nosso eacute devedor Entatildeo noacutes precisamos corrigir o que taacute

acontecendo Cada um se empenhar mais [] noacutes tenta saber o segredo Mas noacutes soacute trabalha

trabalha Eacute aquilo que eu falei pra vocecirc noacutes precisamos de uma pessoa capacitada pra administrar

nossa Coopram Por que noacutes natildeo estamos conseguindo []

Essa fala reafirma o papel da contabilidade no processo de gestatildeo tambeacutem enfatizada por

Dias (1991) O autor salienta que numa administraccedilatildeo participativa em que os gestores

interferem em todo o processo de gestatildeo que vai desde o planejamento estrateacutegico ateacute a

execuccedilatildeo deve haver um sistema capaz de oferecer informaccedilotildees de todo o ciclo

operacional as quais abrangem informaccedilotildees do ambiente econocircmico previsotildees

orccedilamentaacuterias sistema de programaccedilatildeo sistema de apoio agrave gestatildeo de execuccedilatildeo ateacute a

89

apuraccedilatildeo de resultados e avaliaccedilatildeo de desempenho O sistema de informaccedilotildees deve ser

capaz de indicar tendecircncias futuras e permitir comparaccedilotildees com o passado aleacutem de

possibilitar a avaliaccedilatildeo de evoluccedilatildeo da organizaccedilatildeo e comparaccedilotildees com desempenhos

desejados

Ainda sobre o assunto na opiniatildeo de um especialista entrevistado a falta de domiacutenio e

utilizaccedilatildeo das teacutecnicas contaacutebeis eacute realidade nas fases iniciais de uma grande parte dos

empreendimentos da ES conforme mostra o quadro 8 e a fala do especialista da ES

[] no que tange a autogestatildeo ou seja o domiacutenio de todas as teacutecnicas de gestatildeo de

gerenciamento de composiccedilatildeo de custos satildeo lacunas que existem nos empreendimentos que no

decorrer do tempo eles vem a suprir seja por terceirizaccedilatildeo seja por aprendizado [] Numa

primeira fase eles natildeo utilizam numa segunda que jaacute eacute de um empreendimento mais consolidado

poderiacuteamos chamar ateacute de incubaccedilatildeo ou incubagem que esses empreendimentos tecircm que dotam

suas estruturas dos principais instrumentos necessaacuterios agrave gestatildeo e o desenvolvimento do

empreendimento entatildeo me parece que eles acabam solucionando estes problemas e acabam

consequumlentemente utilizando estas teacutecnicas em prol do desenvolvimento do empreendimento []

Na percepccedilatildeo de um dos especialistas os empreendimentos adquirem esses conhecimentos

impulsionados ateacute pela necessidade de sobrevivecircncia uma vez que eacute condiccedilatildeo para

alavancagem do empreendimento assim como o eacute para as empresas de uma forma geral Nas

palavras do especialista

[] acredito que aqueles empreendimentos que natildeo conseguem utilizar estas teacutecnicas eles tem

uma maior dificuldade de alcanccedilar um ponto de equiliacutebrio ou seja a viabilidade econocircmica

necessaacuteria as condiccedilotildees necessaacuterias de se manter no mercado [] Os que utilizam as teacutecnicas

tecircm maior facilidade pra passar essa fronteira da viabilidade econocircmica do empreendimento

econocircmico e consequumlentemente gerar uma renda que possibilite natildeo soacute a inclusatildeo social mas a

inclusatildeo econocircmica e consequumlentemente a tecnoloacutegica que eacute o que agrega valor a esses

empreendimentos

Na visatildeo dos contadores como mostra o quadro 8 a contabilidade tambeacutem eacute fundamental

para os empreendimentos Conforme fala de um representante

[] a contabilidade eacute fundamental acho assim ela eacute central [] ela serve pra fornecer

informaccedilotildees Ela eacute instrumento fundamental para fornecer informaccedilotildees Informaccedilatildeo gera duas

coisas pra mim que eu acho fundamental na Economia Solidaacuteria Autonomia e Confianccedila

Confianccedila no grupo no coletivo Entatildeo os trabalhadores soacute vatildeo ser autocircnomos nessa relaccedilatildeo

quando possuiacuterem autonomia e confianccedila entre eles Informaccedilatildeo eacute fundamental [] isso eacute

principal causa de uma seacuterie de problemas na Economia Solidaacuteria a falta de confianccedila e a falta de

autonomia por conta da falta de informaccedilatildeo []

Entretanto foi ressaltada uma certa aversatildeo que os trabalhadores e formadores tecircm em relaccedilatildeo

agrave contabilidade para os quais ela eacute associada a algo chato e a um controle burocraacutetico

90

desnecessaacuterio Segundo o contador essa visatildeo deve ser superada pela ES tendo em vista a

centralidade da contabilidade cujas informaccedilotildees satildeo base para outras aacutereas de atuaccedilatildeo no

empreendimento Em suas palavras

[] acho que a Economia Solidaacuteria tem certa aversatildeo a isso porque ela vincula a contabilidade ao

controle burocraacutetico O que eacute um equiacutevoco vincular isso Inclusive formadores de outra aacuterea

vincula esta questatildeo a algo chato Entatildeo os proacuteprios formadores natildeo assumiram isso como uma

questatildeo fundamental Entatildeo a pergunta eacute controle eacute bomMuita gente vincula controle com

desconfianccedila [] eacute preciso superar isso e a contabilidade eacute o principal instrumento Pode-se falar da questatildeo econocircmica questatildeo administrativa enfim de outras doutrinas mas todas elas vatildeo

precisar do instrumental da contabilidade [] administrativamente vocecirc pode propor qualquer

modelo fantaacutestico mas ele vai se basear em informaccedilotildees que o instrumental contaacutebil fornece

Dias (1991) no cap 3 tambeacutem preconizou esta limitaccedilatildeo da contabilidade e explica um dos

motivos da sua imagem ser destorcida Para ele a contabilidade produz relatoacuterios que natildeo

exprimem a realidade econocircmica da empresa prejudicando seus usuaacuterios internos e

externos pois preocupa prioritariamente com a legislaccedilatildeo fiscal fato que impotildee

procedimentos prejudiciais agrave utilizaccedilatildeo dos sistemas de informaccedilotildees contaacutebeis para fins

gerenciais

Um outro motivo que justifica a subutilizaccedilatildeo dos instrumentos contaacutebeis na percepccedilatildeo de

um contador eacute a natildeo apropriaccedilatildeo desses instrumentos pelos trabalhadores Esse fato acarreta

problemas ao empreendimento no futuro Tambeacutem ressalta a necessidade de mudanccedilas de

comportamento dos profissionais a fim de fornecer informaccedilotildees atualizadas e permanentes

buscando suprir a insuficiecircncia do Balanccedilo Patrimonial Em suas palavras

[] como eacute que eu crio instrumentos permanentes soacute se eu tiver uma contabilidade que me gere

informaccedilotildees atualizadas permanentemente Mas natildeo eacute normal isso Como eacute feita a contabilidade

normalmente Vocecirc junta toda a papelada do ano entrega pro profissional o profissional pega aquela papelada classifica de acordo com que ele acha normalmente ele natildeo discute [] e vai laacute e

faz um Balanccedilo Isso eacute insuficiente

Um dos caminhos para mudanccedila sugerido pelos contadores eacute a aquisiccedilatildeo da cultura dos

registros Eles devem possuir a cultura dos registros [] ter alguns controles miacutenimos que

ele passe para o contador que gere outras informaccedilotildees

Essas reflexotildees reforccedilam a demanda jaacute constatada anteriormente da necessidade de criaccedilatildeo de

novos instrumentos contaacutebeis que produzam informaccedilotildees permanentes e atualizadas e

acrescenta uma nova demanda uma mudanccedila comportamental dos contadores da ES

91

adotando uma postura que incentive a assimilaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil pelos proacuteprios

trabalhadores

454 Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Um dos princiacutepios fundamentais da Economia Solidaacuteria sugere a socializaccedilatildeo de todo o

conhecimento de gestatildeo em oposiccedilatildeo agrave tiacutepica empresa que resguarda esses conhecimentos

para o grupo da gerecircncia Baseado nesse princiacutepio essa dimensatildeo teve a intenccedilatildeo de

compreender e analisar as formas de transferecircncia do conhecimento contaacutebil e as eventuais

dificuldades enfrentadas pelo trabalhador no processo de apropriaccedilatildeo do conhecimento das

teacutecnicas contaacutebeis Nesse item tambeacutem se buscou captar elementos que norteiem uma

formaccedilatildeo desejada em contabilidade

Quadro 9 - Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Grupo Realidade Encontrada

( o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Dificuldade em decorrecircncia da linguagem Consciecircncia da necessidade de apropriaccedilatildeo

Especialistas

Didaacutetica de formaccedilatildeo natildeo proporciona

assimilaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil Linguagem de formaccedilatildeo natildeo acessiacutevel

Contadores

Natildeo apropriaccedilatildeo em funccedilatildeo de linguagem

estranha ao cotidiano dos trabalhadores Trabalhadores tecircm medo e posiccedilatildeo defensiva em

relaccedilatildeo agrave contabilidade Didaacutetica de formaccedilatildeo muitas vezes natildeo

apropriada Formaccedilatildeo paternalista

Formaccedilatildeo deve ser em

linguagem acessiacutevel aos

trabalhadores Formador deve ter didaacutetica

apropriada ao puacuteblico Utilizaccedilatildeo da educaccedilatildeo

popular na formaccedilatildeo dos

trabalhadores Formaccedilatildeo deve sensibilizar

para a importacircncia da

contabilidade Formaccedilatildeo deve ser

permanente Formaccedilatildeo deve ser

estruturada de forma crescente

O quadro 9 revela que os cooperados tecircm dificuldades para a assimilaccedilatildeo do conhecimento

contaacutebil mas como referido no item anterior tambeacutem tecircm consciecircncia de sua importacircncia e

utilidade conforme demonstra trecho da fala de um cooperado [] na verdade eu preciso

aprender muito sobre isso aiacute []

92

No entanto quando questionados sobre a participaccedilatildeo nos cursos de formaccedilatildeo em

contabilidade promovidos pela entidade de apoio apenas dois cooperados disseram que

participaram de algum Esses participantes relataram dificuldades em funccedilatildeo da linguagem

utilizada pelo formador Em relaccedilatildeo a futuros cursos de formaccedilatildeo os trabalhadores tambeacutem

ressaltaram a questatildeo da linguagem conforme trecho de uma entrevista

[] linguagem simples falando seacuterio Vocecirc jaacute pensou vem laacute o Sr Ney dar um curso aqui

falando de paradigma Sabe a gente ia ficar porque agraves vezes agente pergunta tem uns que natildeo

pergunta Entatildeo tinha que ser uma linguagem Por que olha o SEBRAE agraves vezes agente assiste

no domingo a linguagem laacute eacute simples de entender Olha a empresa taacute assim taacute dando esse lucro

Ela aplicou tanto Vocecirc capta a coisa Mas se vocecirc vem com um negoacutecio de faculdade bem

complicado acho que noacutes ia ficaacute boiando

Os especialistas entrevistados reafirmam a dificuldade de assimilaccedilatildeo da contabilidade por

parte dos trabalhadores No entanto atribuem essa dificuldade agrave didaacutetica empregada nos

cursos Conforme explica um deles a didaacutetica deve estar adequada agrave realidade social e grau

de instruccedilatildeo dos trabalhadores que natildeo eacute muito elevado A apropriaccedilatildeo que tecircm desses

conhecimentos seraacute tatildeo mais faacutecil se o formador procurar levar o conhecimento em uma

linguagem mais proacutexima agrave realidade social desses trabalhadores Nas suas palavras

[] pode ser uma questatildeo de didaacutetica Agraves vezes temas considerados difiacuteceis se tornam faacuteceis na

medida em que o formador tenha linguagem apropriada ao puacuteblico com o qual ele estaacute

trabalhando Se noacutes formos trabalhar com linguagem puramente teacutecnicas com estes trabalhadores

que muitas vezes tem uma formaccedilatildeo dentro da educaccedilatildeo formal passando apenas do limite da

alfabetizaccedilatildeo como eacute o caso da cooperativa de catadores como eacute o caso da populaccedilatildeo brasileira

em geral a resposta seria que eles tem bastante dificuldade []

Ressalta que o baixo grau de instruccedilatildeo dos trabalhadores da ES natildeo eacute impeditivo para a

assimilaccedilatildeo do conhecimento Para facilitar a assimilaccedilatildeo sugere a utilizaccedilatildeo de metodologias

de formaccedilatildeo apropriada ao puacuteblico como a Educaccedilatildeo Popular de Paulo Freire conforme

relatos

[] os trabalhadores da ES tem um grau de escolaridade muito baixo mas isso natildeo eacute impeditivo

para que eles aprendam Muitas vezes eles soacute natildeo aprenderam porque natildeo tiveram condiccedilotildees de

frequumlentar a educaccedilatildeo formal Agora natildeo necessariamente a educaccedilatildeo formal eacute preacute-requisito para o aprendizado de teacutecnicas apropriadas para a gestatildeo de um empreendimento[] [] a ES utiliza muito da educaccedilatildeo popular pra formaccedilatildeo dos trabalhadores pra transferecircncias de

conhecimento enfim pra essa linguagem de comunicaccedilatildeo e de extensatildeo que seja mais facilmente

assimilada por esse puacuteblico[]

93

Os contadores entrevistados tambeacutem compactuam com essa linha de raciociacutenio chamando a

atenccedilatildeo para a linguagem empregada Nas palavras de um deles[] os trabalhadores natildeo

apropriaram da linguagem contaacutebil porque natildeo faz parte do cotidiano deles O dia que

comeccedilar a fazer parte do cotidiano deles eles comeccedilam a se apropriar tambeacutem

Os contadores ressaltam que em decorrecircncia da sua baixa educaccedilatildeo formal e distacircncia de

linguagem tecircm medo da contabilidade assim como tecircm medo da matemaacutetica conforme

relata [] eles natildeo entendem porque nunca foi passado pra eles tambeacutem Entatildeo eles tecircm

dificuldade na verdade eles tecircm medo Tecircm medo porque associam contabilidade com conta

e com matemaacutetica [] ele eacute defensivo

Contribui para a natildeo apropriaccedilatildeo o legado da velha cultura ainda impregnada nos

trabalhadores na qual persiste a ideacuteia de segregaccedilatildeo entre pensar (administradores) e trabalhar

(trabalhadores) O trabalhador ainda natildeo se acha apto agrave gestatildeo que em sua visatildeo continua

sendo prerrogativa dos mais cultos Transcrevendo a fala do contador

[] os trabalhadores ainda natildeo consideram essa questatildeo da gestatildeo cuidar da gestatildeo contaacutebil

como trabalho Ele considera trabalho quando ele estaacute na beira da maacutequina isso eacute trabalho pra ele

A gestatildeo natildeo eacute trabalho Eacute perda de tempo [] Ele estaacute acostumado a separar estas atividades de

pensar e trabalhar Ele faz essa separaccedilatildeo[] entatildeo se falar pra ele olha tem que fazer um livro-caixa aproveitar estes dados e projetar o futuro satildeo raros os casos

Essa percepccedilatildeo da necessidade de mudanccedila cultural reafirma a visatildeo de Rattner (2005)

exposta no cap 2 o qual afirma que a ES exige a conscientizaccedilatildeo e o desenvolvimento de

princiacutepios eacuteticos e valores de compaixatildeo e solidariedade Para ele a ES natildeo pode ser um

produto do autoritarismo de uma administraccedilatildeo de uma soacute via de cima para baixo Ela exige

a participaccedilatildeo de todos para se tornarem cidadatildeos e assim sujeitos do processo histoacuterico

A partir dessas reflexotildees foram constatadas novas demandas agrave contabilidade no que se refere

agrave apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil Primeiro haacute premecircncia de uma didaacutetica para

transmissatildeo do conhecimento em contabilidade apropriada agrave realidade social dos

trabalhadores Segundo haacute necessidade de uma metodologia de formaccedilatildeo permanente em

contabilidade e gestatildeo que contribua para uma mudanccedila cultural dos cooperados

No que diz respeito agrave situaccedilatildeo desejaacutevel ou esperada os grupos levantam alguns elementos

Sugerem que ela seja iniciada pela sensibilizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a importacircncia da contabilidade a

94

ponto de os trabalhadores desejarem conhececirc-la e compreendecirc-la como instrumento de

autonomia Um outro aspecto da formaccedilatildeo levantada refere-se agrave graduaccedilatildeo segundo a qual

ela deve ser permanente e crescente que vaacute agregando informaccedilatildeo aos poucos aos

trabalhadores como num processo de alfabetizaccedilatildeo Eis os trechos de sua falas

[] primeiro mostrar que a contabilidade eacute importante como um instrumento de gestatildeo que gera

informaccedilatildeo gera informaccedilatildeo para quecirc[] pra tomar decisatildeo Quem toma decisatildeo satildeo eles Entatildeo

eles precisam ter informaccedilatildeo na matildeo para tomar decisatildeoEntatildeo eacute um curso indo nessa linha de

sensibilizaccedilatildeo[] Seria importante que os trabalhadores a enxergassem como um instrumento de autonomia e ousando como instrumento de autonomia e ateacute de libertaccedilatildeo [] eu natildeo concordo Jaacute vi outros colegas trabalhando com formaccedilatildeo O cara jaacute comeccedila falando da

contabilidade jaacute mostra o Balanccedilo ativo passivo Aiacute os caras comeccedilam a se olhar Daacute medo []

eacute como vocecirc natildeo passar pelo processo de alfabetizaccedilatildeo com as crianccedilas e jaacute desse um livro pra ela

ler[] tambeacutem natildeo daacute pra ser paternalista Dar um livro ilustrado Vocecirc ficar educando soacute por

imagem [] [] deve ser uma formaccedilatildeo permanente E ela tem que ser crescente tambeacutem Ela tem que estar

estruturada em que vocecirc comece com os fundamentos e vocecirc vaacute agregando informaccedilotildees agravequeles

fundamentos[]

455 Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Conforme bibliografia pesquisada as aacutereas teacutecnicas tecircm dificuldades de perceber a

especificidade da autogestatildeo Nessa perspectiva foi analisada a relaccedilatildeo dos usuaacuterios dos

empreendimentos autogestionaacuterios com os profissionais da aacuterea contaacutebil Em outras palavras

pretendeu-se compreender o envolvimento do contabilista com a autogestatildeo Por outro lado

tambeacutem se procurou captar elementos que norteiem agrave construccedilatildeo da relaccedilatildeo ideal entre os

contadores e os trabalhadores da ES

95

Quadro 10 - Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Grupo Realidade Encontrada

(o que eacute)

Realidade Esperada

(o que deveria ser)

Cooperados

Abismo na relaccedilatildeo

Especialistas

Tema relativamente novo Dificuldade de arregimentar

contabilistas agrave ES Inserccedilatildeo da aacuterea contaacutebil ainda

eacute baixa Dificuldade dos contadores em

assimilar sistemaacutetica diferente

da empresa capitalista Formaccedilatildeo natildeo prepara para

atendimento de sociedade de pessoas

Pouco especializaccedilatildeo de

profissionais na aacuterea Formaccedilatildeo acadecircmica natildeo

voltada para divulgaccedilatildeo

pesquisa e reflexatildeo do tema Produccedilatildeo de saberes para a

classe trabalhadora na universidade brasileira eacute

recente

Contadores

Contador natildeo tem costume de

fornecer informaccedilotildees para o

coletivo Contador prefere atender o

fisco Contador tem viacutecios de

formaccedilatildeo Evitar relaccedilatildeo paternalista Formaccedilatildeo voltada para SAs Curriacuteculos de contabilidade

natildeo abertos a novas

tecnologias

Contador deve ser um profissional orgacircnico

engajado nos processos econocircmicos do

empreendimento Qualidades e habilidades que um contador de ES

deve possuir

Conhecer as teacutecnicas Saber resolver problemas Saber transferir conhecimento Ter sensibilidade Saber sensibilizar Saber dialogar Ser um comunicador Ter uma linguagem apropriada aos

trabalhadores Paciecircncia para ensinar Habilidade para simplificar Disposiccedilatildeo para criar Disposiccedilatildeo a ouvir discutir e aprender

Uma Formaccedilatildeo acadecircmica Que tenha envolvimento com a sociedade Que busque perguntas para pesquisa na

sociedade Problematize reflita sobre o tema Que o curriacuteculo seja baseado na realidade

brasileira

A partir das entrevistas observou-se a distacircncia entre os contadores e os trabalhadores O

profissional da contabilidade ainda exerce seu trabalho de uma forma tradicional sem

compreender muito a especificidade de um empreendimento da ES em consequumlecircncia natildeo haacute

uma maior aproximaccedilatildeo do contador com os cooperados da entidade Isso ficou patente nos

relatos dos cooperados entrevistados que em sua maioria natildeo abordavam o contador para

pedir esclarecimentos sobre a contabilidade Alguns argumentaram falta de tempo outros

falta de interesse

96

Entretanto quando questionados sobre o perfil que um contador da ES deveria possuir

destacaram qualidades como paciecircncia adoccedilatildeo de linguagem simples habilidade para

simplificar conforme trechos a seguir

[] eu lembro quando trabalhava laacute no Liceu eu nem tinha interesse em saber as financcedilas do

patratildeo Eu queria o meu trabalhar direitinho e o meu Aqui natildeo a gente se envolve Entatildeo a gente

tem aquela vontade de querer saber como estatildeo as coisas Entatildeo chega um contador que talvez taacute

acostumado a lidar soacute com outras pessoas talvez pense que agente natildeo tem interesse Talvez

agente natildeo tem a habilidade de captar as coisas Mas a gente aqui eacute todo mundo curioso em saber

como anda a empresa Precisa uma paciecircncia com a gente maior Entatildeo um cara que jaacute participou

de alguma cooperativa Que eacute diferente a coisa [] precisa ser mais paciente e ter uma habilidade de simplificar De pocircr as coisas mais simples

pra gente sabe Eu imagino se tivesse um jeito Se chega um de gravata no pescoccedilo soacute falando

coisa difiacutecil natildeo adianta muito Simplicidade neacute Acho que o importante aqui a instruccedilatildeo da

gente natildeo eacute tatildeo grande Entatildeo tem esse abismo Natildeo adianta uma pessoa bem culta e natildeo saber

lidar com agente [] [] ele podia esclarecer mais Porque vai ter que prestar conta por exemplo se for prestar o relatoacuterio pra todo o pessoal da faacutebrica Vai ter que ser uma pessoa que tem habilidade pra

demonstrar com mais simplicidade Relatoacuterios mais simples pra todo mundo entender e ver

realmente o que estaacute acontecendo[]

Na visatildeo dos especialistas o setor de contabilidade eacute uma lacuna para os empreendimentos

Por se tratar de um tema recente haacute uma dificuldade de arregimentar profissionais das aacutereas

teacutecnicas para a ES conforme relata um de seus representantes

[] de uma maneira geral o setor de contabilidade eacute uma carecircncia para os empreendimentos A ES ela eacute bastante recente embora tenha jaacute em torno de 15 a 20 anos no paiacutes enquanto tema

reconhecido mas algumas aacutereas do conhecimento se tem maior facilidade de arregimentaccedilatildeo

teacutecnica e outras um pouco mais de dificuldade A aacuterea da contabilidade e a aacuterea do direito satildeo

aacutereas com as quais natildeo se tem muito contato institucional [] alguns profissionais acabam natildeo conhecendo natildeo se especializando nessa demanda em

especiacutefico o que faz com que o mercado tenha pouquiacutessimos profissionais que conhecem de contabilidade de cooperativa [] [] o envolvimento dos profissionais estaacute muito aqueacutem da necessidade [] eu vejo que os

profissionais da contabilidade talvez a conjuntura toda a proacutepria formaccedilatildeo acadecircmica ela natildeo estaacute

voltada para a divulgaccedilatildeo pra pesquisa e reflexatildeo do tema do cooperativismo []

Para um especialista a ES tem uma natureza diferente das empresas lucrativas e daquelas sem

fins lucrativos isso justifica em parte a dificuldade de envolvimento dos contadores com a

ES uma vez que natildeo estatildeo acostumados a lidar com entidades de sistemaacuteticas diferentes da

empresa de capital conforme explica um especialista

[] no sentido latu os contadores tecircm dificuldades de trabalhar com as cooperativas que tem uma sistemaacutetica totalmente diferente das empresas de capital Na verdade a expressatildeo sem finalidade

97

lucrativa ou sem fins lucrativos de uma sociedade de pessoa coloca uma cooperativa entre uma sociedade de capital e uma sociedade civil sem fins lucrativos ou seja uma associaccedilatildeo Entatildeo o

que difere dos dois eacute que na cooperativa haacute um hiacutebrido entre a sociedade civil e uma associaccedilatildeo

mercantil[] [] que eacute uma contabilidade diferenciada das sociedades de capital natildeo tenho duacutevida O que me

faz pensar eacute como faremos para arregimentar profissionais que se especializem nessa aacuterea e que

possam trabalhar em todo esse ciacuterculo nesse entendimento do que eacute a ES e que conheccedilam natildeo soacute

as suas teacutecnicas de contabilidade mas a melhor forma de passar esse conhecimento pelos trabalhadores[]

Essa perspectiva se alinha agrave percepccedilatildeo da ANTEAG (2005) relatada no cap 1 sobre a

dificuldade de envolvimento dos contadores com a ES Para a ANTEAG o problema estaacute

vinculado agrave inovaccedilatildeo que a autogestatildeo representa e agrave formaccedilatildeo dos profissionais que ainda

estaacute centrada em empresas tradicionais seguindo as regras convencionais do mercado

consequumlentemente os profissionais terceirizados das aacutereas teacutecnicas como contabilidade e

direito desconhecem as condiccedilotildees diferenciais da autogestatildeo

Para acompanhar essa sistemaacutetica diferenciada da ES satildeo sugeridos pelos entrevistados uma

nova postura do contador um contador engajado que acompanhe os processos econocircmicos

do empreendimento conforme ressaltam

[] o que se chama de lucro na sociedade de capital se transforma em sobra na cooperativa Esse lucro na sociedade de capital pode ser distribuiacutedo mecircs a mecircs jaacute na cooperativa eacute soacute no Balanccedilo no

final do exerciacutecio financeiro Essa loacutegica de atuaccedilatildeo de certa forma requer um profissional orgacircnico trabalhando com os empreendimentos ou seja um contador ele precisa acompanhar os

processos econocircmicos do empreendimento durante um ano pra poder realizar o Balanccedilo do

empreendimento

Todo esse panorama remete a discussatildeo sobre a formaccedilatildeo do contador que natildeo o prepara para

o atendimento de sociedade de pessoas do tipo das cooperativas Nas palavras de um

especialista

[] o que se discute eacute qual a contabilidade ou visatildeo de contabilidade necessaacuteria para o

cooperativismo [] porque nem todos os contadores tecircm uma formaccedilatildeo apropriada para o

atendimento de uma sociedade que embora econocircmica de pessoas Noacutes temos grande demanda

empresarial para sociedades de capital de uns tempos pra caacute eacute que a sociedade de pessoas

entraram dentro da oacuterbita econocircmica em maior escala [] as edificaccedilotildees de gestatildeo e estas que entram em temas novos e o tema das cooperativas de

trabalho para o Brasil eacute relativamente novo ainda temos carecircncia de profissionais e temos

necessidade de produccedilatildeo acadecircmica teacutecnica cientiacutefica acerca destes temas portanto a inserccedilatildeo

ainda eacute muito baixa [] [] a universidade brasileira ela por muito tempo esteve isolada da sociedade ou seja se constituiacutea num centro hermeacutetico onde se faz pesquisa onde se faz ensino e eventualmente se faz extensatildeo Mas uma grande caracteriacutestica da universidade mesmo naquelas que faz extensatildeo

sempre foi e isso natildeo eacute opiniatildeo produzir conhecimento pra classe dominante Eacute uma questatildeo

ideoloacutegica e o Estado brasileiro natildeo eacute diferente disso Entatildeo as proacuteprias pesquisas mais facilmente

98

financiaacuteveis satildeo aquelas pesquisas voltadas ao desenvolvimento de tecnologia para o capital []

ateacute pouco tempo atraacutes natildeo se via a universidade brasileira voltada a produzir saberes para a classe trabalhadora [] precisa ter contato com a sociedade [] onde noacutes buscamos o conhecimento Noacutes buscamos o

conhecimento exclusivamente dentro dos muros da universidade Ou temos que ter a coragem de ir a sociedade e ver quais satildeo as grandes perguntas que a sociedade faz e que o universo do saber a universidade deve responder ou seja quem eacute que deteacutem o poder aiacute se entra numa questatildeo de

novo de ideologia de priorizar a atuaccedilatildeo acadecircmica eacute a sociedade ou os quadros acadecircmicos que

atribuem um grau de importacircncia agraves perguntas que devem ser respondidas

[] pouquiacutessima problematizaccedilatildeo pouquiacutessima reflexatildeo e consequumlentemente pouquiacutessima

produccedilatildeo acerca desses temas

Na visatildeo dos contadores entrevistados o problema tambeacutem passa pelo tipo de sociedade que o

contador estaacute acostumado a lidar e pela sua postura tradicional de fazer contabilidade para

atender ao fisco Nas palavras de um contador

[] os contadores estatildeo acostumados a dar informaccedilatildeo pra pessoa eles natildeo estatildeo acostumados a partilhar informaccedilatildeo a dar informaccedilatildeo para um coletivo Entatildeo satildeo poucos contadores que tem

praacutetica de dar informaccedilatildeo para um coletivo [] [] o profissional vai naquele b-a-baacute O contador prefere atender o fisco A prioridade pra ele eacute

atender o fisco Ele natildeo estaacute preocupado com as outras questotildees normalmente Ele ainda eacute um

tarefeiro

Na entrevista um contador alerta para a relaccedilatildeo de dependecircncia que pode haver entre

contador e trabalhadores da ES [] na ES vocecirc pode criar uma relaccedilatildeo de dependecircncia

vocecirc pode criar uma relaccedilatildeo paternalista com eles Entatildeo isso deve ser evitado [] Tambeacutem

aponta a formaccedilatildeo como um dos fatores responsaacuteveis por essa postura dos contadores e indica

elementos para uma nova formaccedilatildeo

[] ele vem formado pra trabalhar em empresa capitalista entatildeo pra trabalhar na ES como sou

cristatildeo ele vai ter que se converter e reconhecer que ele tem viacutecios de formaccedilatildeo [] [] acho que tem que ter um outro curriacuteculo com a realidade do Brasil As universidades do paiacutes

prepara como se todos os contadores fossem trabalhar em uma SA O mercado brasileiro primeiro tem poucas empresas sa [] ele natildeo eacute formado pra trabalhar com pequena empresa ele

natildeo eacute formado pra trabalhar com entidades sociais ele natildeo eacute formado pra trabalhar com cooperativas e muito menos com Economia Solidaacuteria [] [] o que eacute moderno O que eacute tecnoloacutegico Eacute trabalhar com as grandes empresas E natildeo eacute

verdade Eu natildeo concordo com isso[] novas tecnologias vocecirc cria em pequenos negoacutecios vocecirc

cria em experiecircncias associativas diferenciadas como consoacutercios de empresas como redes novas e

experiecircncias de outros modelos e na Economia Solidaacuteria Entatildeo os curriacuteculos de contabilidade

natildeo estatildeo abertos para estas questotildees de novas tecnologias []

No que tange ao perfil desejado ou esperado do contador a fim de se estabelecer uma boa

relaccedilatildeo entre contador e trabalhadores da ES os entrevistados destacaram habilidades como

99

conhecer as teacutecnicas saber resolver problemas saber transferir conhecimento ter

sensibilidade saber sensibilizar saber dialogar ser um comunicador ter uma linguagem

apropriada aos trabalhadores disposiccedilatildeo para criar disposiccedilatildeo para ouvir discutir e

aprender Eis alguns trechos das entrevistas

[] ele tem que ao mesmo tempo que saber resolver os problemas ele tecircm que tambeacutem serem

repassadores de conhecimento eles tecircm que trabalhar com formaccedilatildeo de formadoresEles Tecircm que

ensinar para que estes dirigentes dos empreendimentos natildeo soacute absorvam estes conhecimentos como eles saibam replicar os conhecimentos obtidos[] [] ter sensibilidade capacidade de sensibilizar e de dialogar natildeo soacute sendo um extensionista mas

ser um comunicador Ou seja ele natildeo vai estender o conhecimento dele mas ele vai dialogar para ser entendimento por esses trabalhadores Por uma simples razatildeo satildeo trabalhadores excluiacutedos satildeo

trabalhadores que natildeo tem em princiacutepio capacidade de entender sozinhos o empreendimento

econocircmico [] entatildeo eacute preciso uma didaacutetica especial de relacionamento com esses trabalhadores porque natildeo se consegue trabalhar com foacutermulas com esse puacuteblico [] conseguir ser percebido e entendido por esses trabalhadores Porque agraves vezes natildeo basta ter

conhecimento eacute preciso passaacute-lo e no caso dessa populaccedilatildeo eacute preciso ter uma linguagem adequada

para que se tenha o respeito e consequumlentemente a apreensatildeo por esses trabalhadores no seu

negoacutecio[] [] alguns termos que eles usam na cooperativa eu tambeacutem natildeo sei Da atividade econocircmica tem

questotildees pra qualquer contador montar um plano de contas vocecirc tem que descer vocecirc tem que

conhecer o processo inteiro da produccedilatildeo industrializaccedilatildeo pra colocar as coisas certas [] ele natildeo pode pegar os manuais que ele tem e querer adaptar E o que eu vejo por aiacute satildeo

adaptaccedilotildees E nem tudo daacute pra adaptar Ele tem que ter disposiccedilatildeo pra criar instrumentos novos [] tem que aprender a ouvir discutir estar disposto a aprender a ES () Eacute uma relaccedilatildeo quando

vocecirc vai pra laacute vocecirc tem que estar disposto a aprender tambeacutem Vocecirc vai aprender com os

trabalhadores

Sintetizando as demandas apontadas nesse toacutepico podem ser agrupadas em dois pontos

mudanccedilas na formaccedilatildeo do contador e desenvolvimento de habilidades para o trabalho com os

empreendimentos autogestionaacuterios

456 Legislaccedilatildeo contaacutebil

Os autores citados no cap 2 e 3 argumentam que a legislaccedilatildeo ainda natildeo capta a

especificidade da autogestatildeo Isso se aplica agrave forma de registro dos eventos econocircmico-

financeiros agraves demonstraccedilotildees contaacutebeis e tambeacutem agrave constituiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo dessas

entidades Para avaliar esse conjunto foi necessaacuterio tambeacutem analisar a legislaccedilatildeo

cooperativista e natildeo soacute a legislaccedilatildeo contaacutebil para o cooperativismo tendo em vista que as

100

duas legislaccedilotildees estatildeo bastante associadas Dessa forma essa dimensatildeo analisou a pertinecircncia

dessas legislaccedilotildees agrave realidade e necessidade da ES

Quadro 11- Legislaccedilatildeo contaacutebil

Grupo Realidade Encontrada

(o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Natildeo questionado

Especialistas

Legislaccedilatildeo atrasada e natildeo adequada agrave

realidade brasileira Dificuldade de compreensatildeo do conceito e

operacionalizaccedilatildeo do ato cooperativo e

consequumlentemente a tributaccedilatildeo nas

cooperativas Marco juriacutedico das cooperativas ainda

vinculado agraves cooperativas de produtores

rurais Dificuldade de mensurar participaccedilatildeo do

trabalho Dificuldades dos profissionais com a

legislaccedilatildeo Insuficiecircncia de produccedilatildeo cientiacutefica nessa

aacuterea

Contadores

Legislaccedilatildeo inadequada Legislaccedilatildeo trata desiguais como iguais (grande e pequeno empreendimento)

Tratamento diferenciado entre

grandes e pequenos empreendimentos

Legislaccedilatildeo diferenciada para

cooperativas de trabalho Legislaccedilatildeo apropriada para a

Economia Solidaacuteria Formaccedilatildeo de contadores na aacuterea

de cooperativismo e ES

O quadro 11 mostra a visatildeo dos especialistas sobre a legislaccedilatildeo cooperativista para os quais

ela eacute inadequada uma vez que natildeo contempla plenamente as cooperativas de trabalho que

constituem uma grande parte dos empreendimentos de ES Um especialista explica

[] a legislaccedilatildeo cooperativista natildeo eacute adequada O cooperativismo brasileiro em atraso em relaccedilatildeo

ao cooperativismo do resto do mundo O marco brasileiro estaacute muito vinculado agraves cooperativas de

produtores Entatildeo o cooperativismo brasileiro se ressente de uma maior inserccedilatildeo do

cooperativismo de trabalho [] cooperativismo de trabalho brasileiro eacute constituiacutedo nos marcos da

lei vigente mas eacute tratado da mesma forma esse eacute o ressentimento que as cooperativas de produccedilatildeo

agriacutecola possui e as dinacircmicas de estruturaccedilatildeo e de funcionamento dessas cooperativas de trabalho

satildeo totalmente diferentes O cooperativismo de trabalho eacute a reuniatildeo de pessoas aiacute natildeo eacute uma reuniatildeo de meios de produccedilatildeo ou de produtores mas eacute de pessoas com o objetivo de gerar

trabalho e renda a partir de suas estruturas a partir de seus mecanismos de funcionamento e ateacute

mesmo de suas estruturas produtivas []

101

Esse ponto de vista coincide com os autores revisados no cap 2 Tauile (2005) tambeacutem

argumenta que o marco legal natildeo eacute adequado agrave sociedade de pessoas pois contempla somente

as sociedades de capital

Outra questatildeo levantada diz respeito agrave dificuldade de compreensatildeo do conceito e

operacionalizaccedilatildeo do ato cooperativo o que dificulta sobremaneira a execuccedilatildeo da tributaccedilatildeo

nas cooperativas conforme relata um especialista

[] essa eacute uma grande dificuldade que se tem de entender essa questatildeo do ato cooperativo

Tecnicamente eacute faacutecil de entender tecnicamente se caracteriza por aquelas operaccedilotildees realizadas

entre associados de mesmo empreendimento ou entre empreendimentos cooperativos associados Agora levar isso pra praacutetica e ver tributariamente o que isso significa o ato cooperativo noacutes

precisariacuteamos natildeo soacute de um grande debate ou vaacuterias horas de reflexatildeo pra saber o que realmente eacute

tributaacutevel o que eacute passiacutevel ou natildeo de tributaccedilatildeo no que diz respeito ao ato cooperativo que acabou

se tornando ateacute mesmo uma letra morta [] a gente tem grande dificuldade de fazer essa letra essa lei valer Porque haacute grandes confusotildees dentro do mundo juriacutedico sobre qual o entendimento que se

tem jaacute consolidado dentro dos tribunais sobre o que eacute o ato cooperativo e qual eacute sua aacuterea de

incidecircncia []

Tambeacutem foi evidenciada a dificuldade de mensuraccedilatildeo da participaccedilatildeo de cada trabalhador

por ocasiatildeo da distribuiccedilatildeo das sobras Diante do contexto de indecisotildees da ordem juriacutedica eacute

justificada em parte a dificuldade dos contadores de conhecimento da legislaccedilatildeo Eis as falas

do especialista

[] a legislaccedilatildeo fala que as sobras seratildeo rateadas ou divididas ou aplicadas de acordo com a

participaccedilatildeo dos associados na cooperativa e por participaccedilatildeo do trabalho eacute difiacutecil de mesurar o

que torna um empreendimento urbano ou de Economia Solidaacuteria ou uma cooperativa de trabalho

no sentido especiacutefico mas faacutecil de avaliar pela participaccedilatildeo proporcional agraves operaccedilotildees

relativamente ao nuacutemero de horas que o trabalhador esteve no empreendimento natildeo soacute sua

produtividade em si [] [] diante das indecisotildees da ordem juriacutedica aliado a outros fatores [] de uma maneira geral haacute

uma dificuldade lato sensu em relaccedilatildeo ao conhecimento mas natildeo se trata apenas de conhecimento

mas se trata simplesmente de indecisotildees da ordem juriacutedica em relaccedilatildeo ao que significa o

cooperativismo brasileiro e quais satildeo seus principais eixos de atuaccedilatildeo ou seja se agente natildeo

consegue nem identificar conceito e operacionalidade de ato cooperativo eacute um grande indicador

de que a estrutura juriacutedica brasileira natildeo estaacute adequada a ES

Jaacute na visatildeo dos contadores a legislaccedilatildeo natildeo eacute adequada porque natildeo faz diferenciaccedilatildeo entre

pequenos e grandes empreendimentos no que diz respeito agrave legalizaccedilatildeo e tributaccedilatildeo eacute o que

revela trecho da entrevista de um contador

[] eacute evidente que natildeo eacute adequada pela seguinte questatildeo Trata os desiguais como iguais Entatildeo o

que significa isso Tratando-se especificamente de cooperativa eu monto uma cooperativa com 20 mulheres costureiras ela vai ter o mesmo tratamento legal que uma grande cooperativa que pode contratar profissionais Entatildeo haacute um tratamento desigual

102

Entretanto salienta que natildeo se trata de eliminar obrigaccedilotildees legais no que diz respeito agrave

apresentaccedilatildeo de documentos trata-se de simplificar para favorecer conforme argumenta

[] eu jaacute vi gente defendendo pra simplificar para que natildeo tenha que fazer Balanccedilo Eu acho um

grande equiacutevoco A gente tem que simplificar pra melhorar as condiccedilotildees de competiccedilatildeo

econocircmica de inserccedilatildeo econocircmica em relaccedilatildeo aos empreendimentos tem que favorecer

simplificar() Tem que haver um tratamento diferenciado mas natildeo vincular a questatildeo essa questatildeo

contaacutebil das obrigaccedilotildees que satildeo cobradas pela legislaccedilatildeo eliminar a possibilidade de ter uma

contabilidade que atenda aos trabalhadores daquele empreendimento []

Nesse contexto de discussatildeo sobre a legislaccedilatildeo contaacutebil ressaltam-se algumas demandas

Primeiramente haacute necessidade de definiccedilatildeo de um novo marco legal apropriado agrave realidade

dos empreendimentos autogestionaacuterios que regulamente a criaccedilatildeo funcionamento e extinccedilatildeo

desses empreendimentos A segunda diz respeito agrave adequaccedilatildeo da legislaccedilatildeo contaacutebil agrave nova

formataccedilatildeo juriacutedica na qual o reconhecimento da peculiaridade dos empreendimentos se

reflita na instituiccedilatildeo de novos instrumentos de informaccedilatildeo sistemaacuteticas diferenciadas de

mensuraccedilatildeo e registros dos eventos econocircmicos e sociais novas orientaccedilotildees para a

tributaccedilatildeo

As evidecircncias indicaram que em geral as demandas e desafios captados pela pesquisa em

cada aspecto da dimensatildeo contaacutebil se aproximam daquelas levantadas pelos autores

pesquisados Em alguns aspectos a coincidecircncia eacute visiacutevel em outros o trabalho de campo

acrescentou novas demandas Entretanto satildeo necessaacuterias pesquisas mais aprofundadas

mediante as quais seja possiacutevel identificar novos aspectos da dimensatildeo contaacutebil natildeo incluiacutedos

neste trabalho Por outro lado houveram acreacutescimos no inventaacuterio de elementos construtivos

de uma nova relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo mas ainda satildeo insuficientes carecendo de

novas pesquisas sobre o assunto

103

CONCLUSAtildeO

Agrave luz dos marcos conceituais partiu-se do pressuposto da peculiaridade da ES e autogestatildeo

tendo em vista a dupla natureza dos seus empreendimentos econocircmica e social

Consequumlentemente desde o iniacutecio concebeu-se esses empreendimentos como um novo grupo

de usuaacuterios e como tal remete demandas especiacuteficas agrave contabilidade

Seguindo a mesma orientaccedilatildeo das pesquisas realizadas anteriormente sobre a relaccedilatildeo

contabilidade e autogestatildeo buscou-se atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica compreender e

analisar a dimensatildeo contaacutebil nos processos de autogestatildeo dos empreendimentos solidaacuterios

levantando seus desafios e demandas contaacutebeis suscitadas nesse processo

Os resultados obtidos confirmaram em grande parte as constataccedilotildees realizadas pelos

precursores desse campo de pesquisa Por outro lado acrescentam novas informaccedilotildees que

contribuem agrave compreensatildeo dos vaacuterios aspectos da dimensatildeo contaacutebil no processo de

autogestatildeo Em cada aspecto analisado denotou-se uma distacircncia entre as duas realidades a

encontrada e a esperada reafirmando a premecircncia de um ajustamento da aacuterea contaacutebil agraves

reais necessidades dos empreendimentos solidaacuterios no que se refere a forma de comunicaccedilatildeo

conteuacutedo da informaccedilatildeo utilidade da informaccedilatildeo apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo relaccedilatildeo

contador-usuaacuterio e legislaccedilatildeo contaacutebil A realidade demandas e desafios de cada aspecto satildeo

sintetizados a seguir

1- Forma de comunicaccedilatildeo As evidecircncias demonstraram a subutilizaccedilatildeo das ferramentas contaacutebeis motivadas por

diversos fatores Normalmente apenas o Balanccedilo e DRE satildeo confeccionados na entidade Na

visatildeo de grande parte dos entrevistados esses instrumentos satildeo episoacutedicos e natildeo

proporcionam o monitoramento e avaliaccedilatildeo da gestatildeo Dessa forma percebem-se duas

grandes demandas a primeira eacute a utilizaccedilatildeo dos instrumentos disponiacuteveis de auxiacutelio agrave gestatildeo e

a outra pede a criaccedilatildeo de novos instrumentos de informaccedilatildeo apropriados agrave dinacircmica

econocircmica e social dos empreendimentos autogestionaacuterios

2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

Constatou-se que os cooperados tecircm dificuldades de compreender o conteuacutedo das

demonstraccedilotildees contaacutebeis Um dos principais responsaacuteveis por essa realidade eacute a linguagem

104

teacutecnica e codificada adotada pelos relatoacuterios incompatiacutevel com o niacutevel de educaccedilatildeo formal

dos trabalhadores e com a sua insuficiente familiaridade com a linguagem de negoacutecios

Portanto uma demanda premente da ES eacute uma linguagem apropriada agrave realidade social dos

trabalhadores a fim de que a contabilidade se torne acessiacutevel e compreensiacutevel a eles

3- Utilidade da informaccedilatildeo

Percebeu-se que apesar da subutilizaccedilatildeo dos instrumentos contaacutebeis no processo decisoacuterio os

trabalhadores reconhecem a necessidade do emprego da informaccedilatildeo contaacutebil em todo o

processo de gestatildeo Para tanto faz-se necessaacuteria a apropriaccedilatildeo desse conhecimento por parte

dos trabalhadores ao mesmo tempo em que tambeacutem se reforccedila a necessidade de novos

instrumentos apropriados agrave autogestatildeo Outra demanda associada diz respeito agrave mudanccedila de

postura dos contadores e formadores na qual se estimule o uso da contabilidade

conscientizando os trabalhadores sobre sua importacircncia

4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Nesse aspecto foram evidenciados os desafios agrave apropriaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil pelos

proacuteprios trabalhadores Em geral a apropriaccedilatildeo se daacute por meio de cursos de formaccedilatildeo

Entretanto esses cursos nem sempre atingem seus objetivos devido agrave implementaccedilatildeo de

didaacutetica e linguagem natildeo apropriada ao puacuteblico Portanto levantou-se a necessidade de uma

formaccedilatildeo permanente cuja linguagem e didaacutetica seja adequada agrave realidade dos trabalhadores

e propicie uma mudanccedila de comportamento no que se refere agrave gestatildeo

5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Foi detectada a existecircncia de uma abismo na relaccedilatildeo do contador com os trabalhadores da ES

O profissional da contabilidade ainda atua de forma tradicional prestando assessoria aos

empreendimentos quando seria necessaacuteria uma atuaccedilatildeo que privilegiasse a apropriaccedilatildeo do

conhecimento pelos proacuteprios trabalhadores Um dos fatores que explicam essa realidade eacute a

formaccedilatildeo do contador que ainda eacute voltada para atuaccedilatildeo em grandes empresas e natildeo desperta

para o desenvolvimento da sensibilidade social e natildeo capacita para a gestatildeo de empresas

sociais Isto tambeacutem explica em parte o baixo nuacutemero de contadores especializados em

cooperativismo ou empreendimentos autogestionaacuterios Numa nova perspectiva de atuaccedilatildeo o

contador assumiria outro papel o de facilitador do conhecimento( formador) Dessa forma as

demandas levantadas centram-se no desenvolvimento de novas habilidades do contador

consequumlentemente isso acarreta a demanda de uma nova formaccedilatildeo acadecircmica

105

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

A realidade mostrou uma seacuterie de incertezas e equiacutevocos da ordem juriacutedica no que se refere

aos empreendimentos autogestionaacuterios Primeiramente haacute necessidade de definiccedilatildeo de um

novo marco legal apropriado agrave realidade dos empreendimentos autogestionaacuterios que

regulamente a criaccedilatildeo funcionamento e extinccedilatildeo desses empreendimentos Na sequumlecircncia

tambeacutem urge a adequaccedilatildeo da legislaccedilatildeo contaacutebil agrave nova formataccedilatildeo juriacutedica na qual o

reconhecimento da peculiaridade dos empreendimentos se reflita na normatizaccedilatildeo de novos

instrumentos de informaccedilatildeo sistemaacuteticas diferenciadas de mensuraccedilatildeo e registros dos eventos

econocircmicos e sociais e novas bases para a tributaccedilatildeo

Esses pontos levantados confirmam em certa medida as constataccedilotildees feitas por autores

citados na pesquisa bibliograacutefica os quais tambeacutem identificaram as demandas desse novo

usuaacuterio da contabilidade a exemplo de Almeida e Dantas (2005 p09) que sistematizaram as

demandas a partir de trecircs eixos novos modelos de informaccedilotildees novo perfil de contador e

nova formaccedilatildeo conforme visto no cap 3

Por outro lado a investigaccedilatildeo empiacuterica como jaacute referido tambeacutem contribuiu para o

levantamento de elementos ou pistas para a reduccedilatildeo da distacircncia entre as reais necessidades

dos empreendimentos e o aparato da contabilidade para seu atendimento Com base nessas

evidecircncias empiacutericas e na bibliografia pesquisada evidenciaram-se os seguintes elementos

A nova linguagem deveria ser simples e objetiva buscando a aproximaccedilatildeo da

linguagem contaacutebil agrave linguagem coloquial dos trabalhadores Assim ela seria acessiacutevel

e apropriada agrave sua realidade social

Os novos instrumentos de informaccedilatildeo contaacutebil deveriam satisfazer plenamente as

reais necessidades de informaccedilatildeo dos empreendimentos expressando a dinacircmica e

complexidade da autogestatildeo Deveriam tambeacutem propiciar informaccedilotildees permanentes

que permitam o monitoramento e avaliaccedilatildeo da execuccedilatildeo das accedilotildees planejadas

coletivamente Nessa reflexatildeo vale a pena resgatar os elementos apontados pelos

autores Almeida e Dantas (2005) no cap 3 agrave construccedilatildeo de novos instrumentos Para

os autores eacute necessaacuterio aprofundar-se em pesquisas de novos procedimentos contaacutebeis e

refletir sobre a possibilidade de adaptaccedilatildeo de alguns procedimentos e sistemas contaacutebeis

106

alternativos dentre os quais a Contabilidade por Fundos Contabilidade Orccedilamentaacuteria e

a Mensuraccedilatildeo do Resultado Econocircmico

Uma nova atuaccedilatildeo dos profissionais da aacuterea contaacutebil deveria ser pautada em duas

frentes pesquisa praacutetica (para resoluccedilatildeo de problemas) e na transmissatildeo do

conhecimento (formaccedilatildeo) Isso requer o desenvolvimento de novas qualidades e

habilidades ou seja um novo perfil dos contadores Algumas caracteriacutesticas desse novo

contador conhecer as teacutecnicas saber resolver problemas saber transferir conhecimento

ter sensibilidade saber sensibilizar saber dialogar ser um comunicador usar uma

linguagem apropriada aos trabalhadores paciecircncia para ensinar habilidade para

simplificar disposiccedilatildeo e capacidade para criar disposiccedilatildeo para ouvir discutir e

aprender Essas caracteriacutesticas somam-se agravequelas levantadas por autores no cap3 No

que tange agrave formaccedilatildeo dos trabalhadores em contabilidade alguns elementos tambeacutem

foram identificados Essa deveria utilizar a educaccedilatildeo popular sensibilizar para a

importacircncia da contabilidade ser permanente e estruturada de forma crescente

A nova formaccedilatildeo dos contadores remete agrave discussatildeo de um outro curriacuteculo o qual

deveria ser baseado na realidade da economia brasileira e nas necessidades da classe

trabalhadora Uma outra questatildeo associada diz respeito ao incremento de pesquisas

sobre ES ou seja a produccedilatildeo acadecircmica deveria voltar-se mais para estudos de

interesse da classe trabalhadora tal como o tema Economia Solidaacuteria Deveria

tambeacutem buscar as perguntas ou temas geradores das pesquisas na proacutepria sociedade

como tambeacutem problematizar refletir a partir deles

A legislaccedilatildeo contaacutebil deveria ser reformulada a partir de uma nova formataccedilatildeo

juriacutedica dos empreendimentos autogestionaacuterios na qual se reconhecessem os

empreendimentos autogestionaacuterios como novos atores Com base nesse pressuposto a

legislaccedilatildeo contaacutebil deveria segregar tributariamente os grandes e pequenos

empreendimentos As demonstraccedilotildees exigidas por lei deveriam efetivamente ser

instrumentos de informaccedilatildeo e natildeo apenas obrigatoriedade legal Para tanto deveriam

ser criados relatoacuterios condizentes com a necessidade informacional desse segmento

social no tocante agrave mensuraccedilatildeo escrituraccedilatildeo e evidenciaccedilatildeo dos eventos econocircmicos e

sociais

107

Portanto este trabalho soma-se agraves pesquisas anteriores ampliando o campo de conhecimento

sobre o assunto mediante o levantamento de novas demandas e identificando novos elementos

agrave construccedilatildeo de uma nova relaccedilatildeo entre contabilidade e autogestatildeo Entretanto como

mencionado ainda haacute muitas demandas para aprofundamento de pesquisas sobre novos

instrumentos de informaccedilatildeo formaccedilatildeo do contador da ES legislaccedilatildeo contaacutebil para a

autogestatildeo entre outras Cabe ressaltar entretanto que pesquisas nessa aacuterea tecircm como preacute-

requisito a assimilaccedilatildeo do contexto no qual a contabilidade estaacute inserida

Por isso nesta pesquisa foi necessaacuterio compreender o significado conceitual e operacional da

autogestatildeo e sua vinculaccedilatildeo com conceitos de participaccedilatildeo democracia e cidadania Nessa

perspectiva a participaccedilatildeo democraacutetica soacute se faz fecunda quando haacute equumlidade no acesso agraves

informaccedilotildees e igualdade econocircmica entre os trabalhadores que participam do processo

decisoacuterio da gestatildeo

Nesse contexto a contabilidade tem fundamental importacircncia uma vez que eacute requerida

enquanto instrumento vital da democracia aquele capaz de promover a simetria

informacional proporcionar a transparecircncia da gestatildeo propiciar a participaccedilatildeo cidadatilde e

auxiliar na instauraccedilatildeo da confianccedila entre os trabalhadores Desse modo a contabilidade

reafirma seu papel social mediante sua contribuiccedilatildeo ao desenvolvimento econocircmico de

empreendimentos promotores da inclusatildeo social e de auxiacutelio ao desenvolvimento de relaccedilotildees

mais humanas e solidaacuterias

108

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115

APEcircNDICES

116

APEcircNDICE 01 - PROTOCOLO DE PESQUISA

1 -VISAtildeO GERAL DO PROJETO

Tiacutetulo Contabilidade e Autogestatildeo - Um estudo sobre a dimensatildeo contaacutebil nos processos de

autogestatildeo dos empreendimentos de Economia Solidaacuteria

11 Objetivos da pesquisa

O objetivo desta pesquisa eacute compreender e analisar a dimensatildeo contaacutebil nos processos de

autogestatildeo em empreendimentos solidaacuterios levantando seus desafios e as demandas

contaacutebeis suscitadas nesse processo a partir de 06 perspectivas a) Forma de comunicaccedilatildeo b)

Conteuacutedo da informaccedilatildeo c) Utilidade da informaccedilatildeo d) Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo e)

Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio f) Legislaccedilatildeo contaacutebil

12 Questotildees de pesquisa

Os objetivos da pesquisa podem ser traduzidos a partir das seguintes questotildees

1) Como a informaccedilatildeo contaacutebil eacute empregada nos empreendimentos autogestionaacuterios

2) Quais os desafios e demandas suscitados em cada um dos aspectos da dimensatildeo contaacutebil

nos processos de autogestatildeo

117

13 Hipoacuteteses

A partir da revisatildeo da literatura depreende-se que a informaccedilatildeo contaacutebil eacute essencial a qualquer

entidade puacuteblica ou privada Que esta informaccedilatildeo para ser uacutetil agrave tomada de decisotildees deve

revestir-se de alguns pressupostos sejam eles relevacircncia comparabilidade materialidade

Em se tratando da informaccedilatildeo contaacutebil apropriada para os empreendimentos de Economia

Solidaacuteria os estudos recentes sugerem que a informaccedilatildeo contaacutebil natildeo atende satisfatoriamente

agraves demandas informacionais da Economia Solidaacuteria

Dessa forma situando-se na linha das pesquisas anteriores esta investigaccedilatildeo parte do

pressuposto de que os empreendimentos solidaacuterios tecircm necessidades informacionais ainda

natildeo atendidas satisfatoriamente pelo aparato contaacutebil disponiacutevel Tendo em vista que os

empreendimentos possuem dupla natureza econocircmica e social e ainda que os usuaacuterios da

contabilidade satildeo trabalhadores natildeo acostumados com a linguagem de mercado as demandas

suscitadas agrave contabilidade e a necessidades dos empreendimentos autogestionaacuterios passam

pelos seguintes aspectos

a) Forma de comunicaccedilatildeo dos eventos ocorridos (linguagem demonstraccedilotildees)

b) Conteuacutedo da informaccedilatildeo (natildeo expressa a complexidade da autogestatildeo orccedilamento

coletivo execuccedilatildeo compartilhada etc)

c) Utilidade da informaccedilatildeo (deveria auxiliar em todos os processos de gestatildeo-

planejamento execuccedilatildeo controle e avaliaccedilatildeo dos resultados)

d) Apropriaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil (a contabilidade ainda eacute uma caixa preta

conhecida apenas pelos contadores necessidade de popularizar a contabilidade atraveacutes de

teacutecnicas de ensino apropriadas para o puacuteblico)

e) Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio (contadores natildeo preparados para lidar com a

especificidade da autogestatildeo)

f) Legislaccedilatildeo contaacutebil (ela estaacute adequada agrave realidade dos empreendimentos)

118

Em siacutentese o resultado encontrado poderaacute ser esquematizado conforme quadro abaixo

Quadro-resumo dos resultados

Realidade encontrada

( o que eacute) Realidade esperada

Dimensotildees cooperados especialistas contadores ( o que deveria ser)

1- Forma de comunicaccedilatildeo 2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo 3- Utilidade da informaccedilatildeo 4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo 5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio 6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

O quadro traccedilaraacute um paralelo entre a realidade observada captada pelas lentes dos

cooperados especialistas e contadores e a realidade esperada desenhada pelas observaccedilotildees

entrevistas e literatura consultada As dimensotildees listadas no quadro representam os

aspectos contaacutebeis a serem analisados os quais satildeo descritos em seguida

1 Forma de comunicaccedilatildeo

Neste dimensatildeo seraacute avaliada a linguagem dos relatoacuterios demonstraccedilotildees e outros

instrumentos da contabilidade Conforme a bibliografia pesquisada a linguagem contaacutebil eacute

formal distanciando-se dos trabalhadores que na maioria natildeo possuem altos niacuteveis de

escolaridade A linguagem natildeo traduz a realidade econocircmica e financeira da entidade

2 Conteuacutedo da informaccedilatildeo

O conteuacutedo diz respeito agrave informaccedilatildeo contaacutebil em si Conforme observaccedilotildees de autores a

contabilidade tradicional natildeo consegue captar a complexidade das relaccedilotildees inclusas no

processo de autogestatildeo tais como o orccedilamento elaborado coletivamente a execuccedilatildeo e

controles compartilhados A intenccedilatildeo eacute averiguar este aspecto

119

3 Utilidade da informaccedilatildeo

Quando se avalia a utilidade da informaccedilatildeo estaacute se perguntando se a contabilidade eacute

efetivamente supridora das informaccedilotildees necessaacuterias agraves etapas do processo de autogestatildeo ou

seja se ela auxilia no processo de tomada de decisotildees gerenciais Eis a questatildeo

4 Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Aqui busca-se avaliar se a contabilidade consegue ser assimilada pelos trabalhadores usuaacuterios

da mesma Um dos princiacutepios fundamentais da Economia Solidaacuteria sugere a socializaccedilatildeo de

todo o conhecimento de gestatildeo em oposiccedilatildeo agrave tiacutepica empresa que resguarda estes

conhecimentos ao grupo da gerecircncia Com base nesse princiacutepio presume-se que os

trabalhadores da ES devam tambeacutem se apropriar do conhecimento contaacutebil Dessa forma

busca-se nessa perspectiva compreender as dificuldades para a assimilaccedilatildeo do conhecimento

contaacutebil

5 Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Nesta perspectiva seraacute analisada a relaccedilatildeo dos usuaacuterios dos empreendimentos

autogestionaacuterios com os profissionais da aacuterea contaacutebil Conforme relatos contidos na

bibliografia pesquisada as aacutereas teacutecnicas tecircm dificuldades de perceber a especificidade da

autogestatildeo Portanto pretende-se compreender o envolvimento do contabilista com a

autogestatildeo

6 Legislaccedilatildeo contaacutebil

Alguns autores argumentam que a legislaccedilatildeo contaacutebil ainda natildeo capta a especificidade da

autogestatildeo Isso se aplica agrave forma de registro dos eventos econocircmico-financeiros agraves

demonstraccedilotildees contaacutebeis e tambeacutem agrave constituiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo destas entidades Portanto

cabe focar os itens em que a legislaccedilatildeo natildeo atende agraves necessidades particulares destas

entidades

14 Criteacuterios para a seleccedilatildeo da unidade de estudo

O principal criteacuterio para a escolha da unidade onde se processaraacute a investigaccedilatildeo eacute a

autogestatildeo Isto eacute buscou-se um empreendimento em que a gestatildeo eacute realizada por todos os

trabalhadores em oposiccedilatildeo aos empreendimentos nos quais a administraccedilatildeo eacute exercida

120

apenas pelos diretores Participar da gestatildeo significa atuar nos altos niacuteveis de decisotildees

aquelas que vatildeo aleacutem da organizaccedilatildeo do trabalho mas que tambeacutem compreendem a indicaccedilatildeo

da destinaccedilatildeo dos recursos organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e demais decisotildees que afetem a vida da

entidade

Outro criteacuterio importante utilizado foi a formalizaccedilatildeo do empreendimento Com se sabe a

economia solidaacuteria tambeacutem eacute compreendida por empreendimentos coletivos informais Tal

opccedilatildeo se deve ao fato de que a inscriccedilatildeo junto aos oacutergatildeos governamentais necessariamente

requerer uma organizaccedilatildeo contaacutebil mais formal

Dessa forma estas entidades possuem registros formais de suas atividades possibilitando as

bases para a investigaccedilatildeo

2 COLETA DE DADOS

O estudo de caso cuja intenccedilatildeo eacute desvelar a realidade da dimensatildeo contaacutebil nos

empreendimentos autogestionaacuterios selecionou as seguintes teacutecnicas de coleta de dados

Entrevistas

Registro em arquivos

Observaccedilatildeo direta

As entrevistas com cooperados especialistas e profissionais da aacuterea contaacutebil pretendem

capturar informaccedilotildees sobre os procedimentos contaacutebeis utilizados a percepccedilatildeo sobre os

instrumentos de informaccedilatildeo contaacutebil os desafios para sua assimilaccedilatildeo enfim propiciaratildeo

elementos que avaliem os aspectos contaacutebeis ou seja caracterizaratildeo as dimensotildees de anaacutelise

Os registros em arquivos tambeacutem contribuiratildeo para a definiccedilatildeo das dimensotildees de anaacutelise

mais especificamente contribuiratildeo para descriccedilatildeo anaacutelise e compreensatildeo dos relatoacuterios e

documentos contaacutebeis utilizados pela entidade

Finalmente a observaccedilatildeo direta captaraacute pormenores e detalhes que complementaratildeo as

outras teacutecnicas tais como ambiente fiacutesico cotidiano de trabalho relaccedilotildees interpessoais

processos de decisotildees etc

121

3 QUESTOtildeES ORIENTADORAS Agrave COLETA DE DADOS

A coleta de dados natildeo prescinde de um roteiro baacutesico de questotildees que oriente agrave captaccedilatildeo de

dados Dessa forma abaixo satildeo apresentadas questotildees relacionadas que extraem informaccedilotildees

sobre aspectos descritivos da entidade bem como informaccedilotildees diretamente relacionadas com

as dimensotildees em questatildeo assim organizadas

A) Ambiente externo

1) Quais satildeo os clientes e fornecedores da empresa

2) Quais satildeo os principais concorrentes

3) Estaacute inserida em alguma rede de produccedilatildeo ou comercializaccedilatildeo

4) Tecircm algum tipo de assessoria administrativa contaacutebil e juriacutedica

5) Recebe recursos externos doaccedilotildees De entidades privadas ou puacuteblicas Quais

6) Quais as legislaccedilotildees vigentes que influenciam em suas atividades nos aspectos

operacionais financeiros e econocircmicos

7) Participa de algum foacuterum ou oacutergatildeo de representaccedilatildeo nacional eou internacional

8) A entidade desenvolve algum projeto social

B) Sistema organizacional

1) Qual a missatildeo da entidade (razatildeo de ser)

2) Existe um planejamento estrateacutegico Eacute formalizado (documentado registrado)

3) Existe um processo de planejamento execuccedilatildeo controle e avaliaccedilatildeo do plano

4) Quando acontecem as reuniotildees de planejamento

5) Como ocorre o controle da execuccedilatildeo deste planejamento

6) Existe um manual de normas e procedimentos ou regimento interno para o processo de

gestatildeo e funccedilatildeo dos gestores

7) Existem criteacuterios de avaliaccedilatildeo de desempenhos para a gestatildeo E quais satildeo os indicadores e

criteacuterios

8) Existe um sistema de informaccedilatildeo que auxilie no planejamento das atividades

9) A entidade possui um organograma

10)Quais satildeo as aacutereas

122

11)Quais satildeo os departamentos quem satildeo os responsaacuteveis

12)Quais as funccedilotildees de cada aacutereadepartamento

13)Como se relacionam as diversas aacutereas e atividades

C) Sistema social (Organizaccedilatildeo do trabalho)

1) Como satildeo distribuiacutedas as funccedilotildees

2) Como satildeo indicados os coordenadores dos departamentosaacutereas

3) Quais os criteacuterios de definiccedilatildeo das remuneraccedilotildees dos trabalhadores

4) Existem faixas de salaacuterios Como funciona

5) Existe um sistema de rotatividade de funccedilotildees

6) Os trabalhadores tecircm qualificaccedilatildeo teacutecnica apropriada a cada funccedilatildeo

7) Como estaacute organizado o sistema de qualificaccedilatildeo

8) Existe uma poliacutetica de motivaccedilatildeo organizacional

9) Como eacute o controle e organizaccedilatildeo da jornada de trabalho

10)Quais satildeo os benefiacutecios e programas direcionados aos trabalhadores e familiares

11)Como satildeo tratados os atrasos e as faltas no trabalho

12)Existe um sistema de registro e controle de recursos humanos

D) Sistema Operacional

1) Quais as principais atividades econocircmicas do empreendimento

2) Como estaacute organizada a aacuterea de produccedilatildeo ( deptos funccedilotildees)

3) Quais satildeo as formas de registros dos custos e resultados da produccedilatildeo

4) Como estaacute organizado o processo de compras Haacute um sistema

5) Haacute um sistema de controle de estoques de mateacuteria-prima e de produccedilatildeo

6) Como eacute determinado o preccedilo de venda dos produtos

7) Existe um sistema de monitoramento de vendas e de apuraccedilatildeo de resultados

8) Haacute um assessoramento juriacutedico na confecccedilatildeo dos contratos de venda

9) Qual a composiccedilatildeo do capital (distribuiccedilatildeo das quotas-partes)

123

10)Como eacute o processo de tomada de decisatildeo sobre captaccedilatildeo de recursos

11)Como estaacute a composiccedilatildeo de diacutevidas Centra-se no curto prazo ou longo prazo

12)Haacute um sistema de informaccedilotildees que auxilie na tomada de decisotildees sobre captaccedilatildeo de

recursos

E) Sistema de Informaccedilotildees

1) Existe um sistema de informaccedilotildees que subsidie as decisotildees gerenciais da entidade (comprar

vender emprestar renegociar)

2) Como estaacute organizada a contabilidade da entidade Haacute um registro formal

3) Quem realiza os registros das informaccedilotildees dos eventos ocorridos na entidade De que

forma

4) Haacute um sistema de integraccedilatildeo entre as diversas aacutereas da entidade (produccedilatildeo venda

financeiro)

5) Quais relatoacuterios satildeo produzidos

6) Existe a contabilidade dos custos das atividades

7) Como a apuraccedilatildeo dos custos eacute realizada e como esta informaccedilatildeo eacute utilizada pela entidade

8) Haacute um sistema de orccedilamento das atividades previstas

9) Quais informaccedilotildees satildeo utilizadas na confecccedilatildeo desse orccedilamento

10)Como satildeo realizados o acompanhamento comparaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo das metas e planos

estabelecidos no orccedilamento

11)Como eacute realizado o controle financeiro Haacute um sistema de fluxo de caixa

12)Haacute um sistema de contabilidade gerencial

13)Este sistema auxilia nas decisotildees da gestatildeo De que forma

14)Haacute um sistema que produz indicadores econocircmico-financeiros

15)Como estatildeo organizadas as informaccedilotildees sobre os clientes e fornecedores Haacute um banco

de dados

16)Eacute feito algum tipo de pesquisa de mercado Consulta a clientes

17)Quais os meios utilizados para conhecimento do mercado em que a entidade atua

F) Apreensatildeo do conhecimento contaacutebil

124

1) Quem elabora os relatoacuterios contaacutebeis

2) O conselho fiscal da entidade compreende os relatoacuterios contaacutebeis

3) O que os cooperados pensam da linguagem dos relatoacuterios sabem o que eacute um ativo

passivo e PL

4) Os cooperados tecircm acesso aos relatoacuterios de custos compras vendas e outros relatoacuterios

gerenciais

5) Satildeo promovidos cursos e palestras sobre gestatildeo dos negoacutecios e contabilidade

6) Existe uma entidade de apoio que contribua para a apreensatildeo da gestatildeo do negoacutecio e

contabilidade

G) Informaccedilotildees da entidade de apoio

1) Qual o histoacuterico da entidade

2) A entidade estaacute inserida a alguma rede ou associada a algum oacutergatildeo de representaccedilatildeo

nacional ou internacional

3) Recebe algum recurso puacuteblico governamental ou privado para realizar esta atividade

4) A quantas iniciativas solidaacuterias jaacute apoiou

5) Quais as formas de apoio realizado junto agraves iniciativas

6) Em quais aacutereas de conhecimento a entidade atua

7) Como eacute a relaccedilatildeo com os profissionais dessas aacutereas

8) Como eacute o relacionamento com os profissionais da aacuterea contaacutebil

9) A contabilidade e contabilistas adaptam-se facilmente agrave dinacircmica da autogestatildeo

10)Onde residem os maiores problemas para adaptaccedilatildeo

11)Como eacute repassado o conhecimento na aacuterea contaacutebil agraves entidades apoiadas

12)Na visatildeo da entidade os trabalhadores compreendem facilmente a informaccedilatildeo contaacutebil

13)Quais os maiores desafios nessa transmissatildeo

14)A contabilidade tradicional atende agraves necessidades de informaccedilatildeo da autogestatildeo Por quecirc

15)Em que aspectos a contabilidade poderia mudar

16)Qual a importacircncia da contabilidade para a autogestatildeo

17)Os sistemas de informaccedilotildees contaacutebeis satildeo acessiacuteveis Quem fornece

18)A legislaccedilatildeo contaacutebil atende plenamente agraves necessidades da autogestatildeo (formas de

registros demonstraccedilotildees)

125

5 GUIA PARA O RELATOacuteRIO FINAL

Apesar de natildeo haver nenhuma forma estereotipada para escrever um relatoacuterio de um estudo de

caso existem estrateacutegias para redigi-lo a fim de tornaacute-lo inteligiacutevel e palataacutevel ao leitor Dessa

forma a estrateacutegia selecionada para apresentar os resultados dentre as expostas por Yin (

2005 p177-180) eacute a narrativa a qual pode ser ilustrada por tabelas graacuteficos e imagens

Optou-se pela estrutura analiacutetica linear enquanto estrutura composicional do relatoacuterio Esta

estrutura eacute comumente utilizada nos relatoacuterios de estudos de casos No modelo os subtoacutepicos

compreendem o tema ou o problema que estaacute sendo estudado e uma revisatildeo da literatura Em

seguida os subtoacutepicos partem para a anaacutelise dos meacutetodos utilizados das descobertas feitas a

partir dos dados coletados e analisados e das conclusotildees e implicaccedilotildees feitas a partir das

descobertas

O relatoacuterio iniciaraacute a ser redigido tatildeo logo esteja concluiacuteda a revisatildeo de literatura comeccedilando

com o subtoacutepico da metodologia empregada em que se aprimoraraacute a metodologia inclusa no

projeto de estudo de caso

Tambeacutem poderatildeo ser redigidas antes do teacutermino da coleta de dados as informaccedilotildees

descritivas da unidade em estudo que consiste de dados quantitativos e qualitativos

concernentes ao caso

Apoacutes a coleta de dados estes seratildeo sistematizados em um Banco de dados sobre o caso cujas

informaccedilotildees seratildeo a base do relatoacuterio final

126

APEcircNDICE 02 - SOLICITACcedilAtildeO DE AUTORIZACcedilAtildeO PARA PESQUISA

127

APEcircNDICE 03 ROTEIRO DE ENTREVISTAS PARA COOPERADOS DA

COOPRAM

Entrevistado

1- Haacute quanto tempo eacute cooperado desta cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Qual eacute o setor em que trabalha E sua funccedilatildeo

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- Quais satildeo suas habilidades profissionais e qual a sua formaccedilatildeo escolar

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- O seu setor produz algum tipo de relatoacuterio ou registro das atividades

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- Em relaccedilatildeo aos relatoacuterios da contabilidade da cooperativa vocecirc tem acesso a eles Quando

Quais

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6- O que acha da linguagem dos relatoacuteriosVocecirc sabe o que eacute um ativo ou passivo ou PL

Sabe identificar o lucro da cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 - Jaacute participou de algum curso de formaccedilatildeo em contabilidade Quem promoveu

128

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8- Acha que o curso ajudou a compreender a contabilidade Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- Em sua opiniatildeo como deveriam ser apresentadas as informaccedilotildees financeiras da

cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- E os cursos de formaccedilatildeo em contabilidade como acha que deveria ser Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- Jaacute conversou com o contador da entidade alguma vez para pedir esclarecimentos Eles

conseguiram tirar suas duacutevidas Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

13- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

129

APEcircNDICE 04 ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA CONTADORES

Entrevistado

1- Haacute quanto tempo trabalha com a Economia Solidaacuteria

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- Vocecirc acredita que o aparato contaacutebil vigente para as cooperativas e empresas autogeridas

satisfaz agraves necessidades de informaccedilatildeo destes empreendimentos no que tange ao conteuacutedo e

forma da informaccedilatildeo Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- E quanto a legislaccedilatildeo das cooperativas acha que eacute adequada agrave realidade da ES

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- Os empreendimentos com os quais trabalha utiliza a informaccedilatildeo contaacutebil nos vaacuterios

processos de gestatildeo como planejamento controle e execuccedilatildeoSe natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6- Em relaccedilatildeo aos registros dos eventos de uma cooperativa haacute algum conflito entre a praacutetica

e a legislaccedilatildeo contaacutebil Exemplifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

130

7- Jaacute Ministrou algum curso de formaccedilatildeo em contabilidade Quais as caracteriacutesticas desse

curso

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8- A contabilidade eacute faacutecil de ser compreendida pelos trabalhadores Se natildeo em sua visatildeo

quais os principais problemas enfrentados pelos trabalhadores para a compreensatildeo do

conhecimento contaacutebil

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- No que difere sua atuaccedilatildeo em empresas tradicionais e em empreendimentos

autogestionaacuterios

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- Em sua opiniatildeo como deveriam ser apresentadas as informaccedilotildees financeiras e econocircmicas

da cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- E os cursos de formaccedilatildeo em contabilidade como acha que deveriam ser Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

13- Acredita que a formaccedilatildeo dos contadores em curso prepara para o trabalho com

empreendimentos de ES Como poderia ser

131

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

14 - Em sua opiniatildeo o que poderia ser mudado para que a contabilidade contribua

efetivamente com o processo de autogestatildeo

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

132

APEcircNDICE 05 ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA DIRETORES DA COOPRAM

Entrevistado

1- Haacute quanto tempo eacute cooperado desta cooperativa e desde quando estaacute na diretoria

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Quais satildeo suas habilidades profissionais e qual a sua formaccedilatildeo escolar

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- A sua diretoria elabora algum tipo de relatoacuterio de informaccedilotildees operacionais econocircmicas

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- Em relaccedilatildeo aos relatoacuterios da contabilidade da cooperativa vocecirc tem acesso a eles Quando

Quais

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- A sua diretoria utiliza os relatoacuterios ou informaccedilotildees da contabilidade para tomar algum tipo

de decisatildeo gerencial Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6- A contabilidade eacute faacutecil de ser compreendida Se natildeo em sua visatildeo quais os principais

problemas enfrentados pelos trabalhadores para a compreensatildeo do conhecimento contaacutebil

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

133

7- Jaacute conversou com o contador da entidade alguma vez para pedir esclarecimentos sobre os

relatoacuterios contaacutebeis Eles conseguiram tirar suas duacutevidas Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8 -Jaacute participou de algum curso de formaccedilatildeo em contabilidade Quem promoveu

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- Acha que o curso ajudou a compreender a contabilidade Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- Em sua opiniatildeo como deveriam ser apresentadas as informaccedilotildees financeiras e econocircmicas

da cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- E os cursos de formaccedilatildeo em contabilidade como acha que deveriam ser Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

13- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

134

14 - Em sua opiniatildeo o que poderia ser mudado para que a contabilidade contribua

efetivamente com o processo de autogestatildeo

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

135

APEcircNDICE 06 ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA ESPECIALISTAS

1- Haacute quanto tempo trabalha com a Economia Solidaacuteria E nesta entidade

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Qual eacute a relaccedilatildeo de apoio que a entidade manteacutem com as cooperativas

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- Qual eacute a estrutura de apoio que a entidade possui no que diz respeito agrave contabilidade

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- As cooperativas acompanhadas utilizam a informaccedilatildeo contaacutebil nos vaacuterios processos de

autogestatildeo tais como o levantamento de custos dos produtos planejamento execuccedilatildeo e

controle dos recursos da entidade Se natildeo por que natildeo utilizam

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 - Como eacute realizada a formaccedilatildeo dos trabalhadores em contabilidade

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7- A contabilidade eacute facilmente assimilada pelos trabalhadores Se natildeo em sua visatildeo quais

os principais problemas que os trabalhadores enfrentam para a apropriaccedilatildeo do conhecimento

contaacutebil

136

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8- Com relaccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo cooperativista vigente acredita que seja apropriada agrave realidade

dos empreendimentos de ES Em que pontos residem os maiores entraves

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- Avalia que os contadores de uma forma geral conhecem suficientemente bem a legislaccedilatildeo

cooperativista a ponto de proporcionar um adequado acompanhamento aos empreendimentos

Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- Como vecirc o envolvimento dos profissionais da aacuterea contaacutebil no processo de autogestatildeo

Eles entendem rapidamente a dinacircmica dos empreendimentos

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12 - Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do contador acredita que o contador da Economia Solidaacuteria

deveria ter uma formaccedilatildeo diferenciada Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Page 6: SUM`RIO LISTA DE QUADROS2 1 INTRODU˙ˆO · 2007. 5. 29. · Yin (2005, p.32) constrói a definiçªo tØcnica do estudo de caso de duas maneiras. Na primeira, aborda o escopo de

6

13 Objetivos

131 Objetivo geral

O objetivo desta pesquisa foi compreender e analisar a dimensatildeo contaacutebil nos processos de

autogestatildeo dos empreendimentos solidaacuterios levantando seus desafios e demandas contaacutebeis

suscitadas nesse processo envolvendo seis perspectivas a) Forma de comunicaccedilatildeo b)

Conteuacutedo da informaccedilatildeo c) Utilidade da informaccedilatildeo d) Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo e)

Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio e f) Legislaccedilatildeo contaacutebil

132 Objetivos especiacuteficos

Com base no objetivo geral foram estabelecidos os seguintes objetivos especiacuteficos

relacionados com esta pesquisa

a) Descrever o processo de utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil nas vaacuterias etapas do

processo de gestatildeo

b) Identificar e analisar as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores na utilizaccedilatildeo

das informaccedilotildees contaacutebeis mapeando as novas demandas desses usuaacuterios

c) Descrever o processo de apropriaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil por parte dos

trabalhadores analisando seus desafios

d) Identificar elementos que auxiliem na construccedilatildeo de modelos de informaccedilotildees

adequados agraves necessidades da autogestatildeo

14 Metodologia

Conforme Marconi e Lakatos (2001 p106) eacute na especificaccedilatildeo da metodologia que se

responde agraves questotildees Como Com quecirc Onde A metodologia entatildeo descreve o conjunto

de procedimentos utilizados para a consecuccedilatildeo dos objetivos propostos bem como define o

meacutetodo de abordagem sob o qual repousa a pesquisa

De acordo com as autoras haacute distinccedilotildees entre os meacutetodos no que se refere agrave sua inspiraccedilatildeo

filosoacutefica ao seu grau de abstraccedilatildeo agrave sua finalidade explicativa agrave sua accedilatildeo nas etapas mais ou

7

menos concretas da investigaccedilatildeo e ao momento em que se situam Com base nessas

diferenccedilas o meacutetodo de abordagem caracteriza-se por um enfoque mais amplo em niacutevel de

abstraccedilatildeo mais elevado dos fenocircmenos da natureza e da sociedade

Com esta compreensatildeo a presente pesquisa filiou-se ao meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo Marconi

e Lakatos (2001 p106) descreve-o como aquele []que se inicia pela percepccedilatildeo de uma

lacuna nos conhecimentos acerca da qual formula hipoacuteteses e pelo processo de inferecircncia

dedutiva testa a prediccedilatildeo da ocorrecircncia de fenocircmenos abrangidos pela hipoacutetese

Enquanto meacutetodo de procedimento o qual compreende etapas mais concretas da investigaccedilatildeo

com finalidade mais restrita em termos de explicaccedilatildeo geral dos fenocircmenos menos abstratos

optou-se pelo Estudo de Caso Os pressupostos desse meacutetodo bem como as estrateacutegias e

teacutecnicas utilizadas para a sua realizaccedilatildeo seratildeo descritos a seguir

141 O meacutetodo de estudo de caso e seus pressupostos

O Estudo de Caso eacute apropriado ao estudo de eventos contemporacircneos em que as dimensotildees

relevantes natildeo podem ser manipuladas e eacute possiacutevel serem feitas observaccedilotildees diretas e

entrevistas sistemaacuteticas Aleacutem disso o estudo de caso permite utilizar uma variedade de

evidecircncias que tornam mais ricas e complexas as anaacutelises do real (documentos artefatos

entrevistas observaccedilotildees) Segundo Martins (2000 p 36)

Trata-se de uma teacutecnica de pesquisa cujo objetivo eacute o estudo de uma unidade que se analisa

profunda e intensamente Considera a unidade social estudada em sua totalidade seja um

indiviacuteduo uma famiacutelia uma instituiccedilatildeo uma empresa ou uma comunidade com o objetivo de

compreendecirc-los em seus proacuteprios termos

Nesse contexto a utilizaccedilatildeo das teacutecnicas de coleta de dados do estudo de caso tem o objetivo

de apreender a totalidade de uma situaccedilatildeo possibilitando a penetraccedilatildeo na realidade social natildeo

conseguida plenamente pela anaacutelise e pela avaliaccedilatildeo quantitativa Esse meacutetodo (e os outros

meacutetodos qualitativos) eacute uacutetil quando um fenocircmeno eacute amplo e complexo onde o corpo de

conhecimentos existente eacute insuficiente para permitir a proposiccedilatildeo de questotildees causais e

quando um fenocircmeno natildeo pode ser estudado fora do contexto no qual ele naturalmente ocorre

8

Yin (2005 p32) constroacutei a definiccedilatildeo teacutecnica do estudo de caso de duas maneiras Na

primeira aborda o escopo de um estudo de caso segundo o qual um estudo de caso eacute uma

investigaccedilatildeo empiacuterica que investiga um fenocircmeno contemporacircneo dentro de seu contexto da

vida real especialmente quando os limites entre o fenocircmeno e o contexto natildeo estatildeo

claramente definidos

Com base nessa definiccedilatildeo o pesquisador soacute usaria o meacutetodo de estudo de caso quando

quisesse deliberadamente lidar com condiccedilotildees contextuais Essa perspectiva tambeacutem

distingue o estudo de caso de outras estrateacutegias de pesquisa conforme Yin Por exemplo um

experimento deliberadamente separa um fenocircmeno de seu contexto de forma que se possa

dedicar a apenas algumas dimensotildees pois o contexto eacute controlado pelo ambiente de

laboratoacuterio Uma pesquisa histoacuterica natildeo segrega o contexto do fenocircmeno entretanto em

geral trabalha com acontecimentos natildeo contemporacircneos Jaacute os levantamentos tentam dar

conta do fenocircmeno e do contexto mas sua capacidade de investigaacute-lo eacute extremamente

limitada

Na segunda parte da definiccedilatildeo de Yin ( 2005 p33) ele afirma que

A investigaccedilatildeo de estudo de caso Enfrenta uma situaccedilatildeo tecnicamente uacutenica em que haveraacute muito mais dimensotildees de interesse

do que de dados e como resultado Baseia-se em vaacuterias fontes de evidecircncias com os dados precisando convergir em um formato

de triacircngulo e como resultado Beneficia-se do desenvolvimento preacutevio de proposiccedilotildees teoacutericas para conduzir a coleta e a

anaacutelise de dados

Sintetizando o estudo de caso objetiva a compreensatildeo de uma realidade social complexa e

contemporacircnea e constitui-se em uma estrateacutegia de pesquisa abrangente no que se refere agrave

loacutegica de planejamento agraves teacutecnicas de coleta de dados e agraves abordagens especiacuteficas agrave anaacutelise

Dessa forma a adoccedilatildeo do meacutetodo de Estudo de Caso eacute coerente com as questotildees propostas

uma vez que se pretendeu explorar o fenocircmeno dimensatildeo contaacutebil nos empreendimentos

autogestionaacuterios levando em conta a realidade social e o contexto real de inserccedilatildeo da

contabilidade no que diz respeito aos aspectos histoacutericos econocircmicos e sociais

9

142 Protocolo do Estudo de Caso

Para Yin (2005 p92) o protocolo eacute uma das taacuteticas principais para aumentar a

confiabilidade da pesquisa de estudo de caso e destina-se a orientar o pesquisador ao realizar a

coleta de dados a partir de um estudo de caso uacutenico[] Segundo o autor apesar da

semelhanccedila entre um questionaacuterio de levantamento e um protocolo de estudo de caso as

caracteriacutesticas de ambos os diferenciam O protocolo de estudo de caso eacute mais do que um

instrumento pois aleacutem de conter o instrumento tambeacutem conteacutem procedimentos e regras

gerais que devem ser seguidas para utilizaccedilatildeo dos instrumentos

O protocolo de estudo de caso geralmente apresenta as seguintes seccedilotildees

Visatildeo geral do projeto Esta seccedilatildeo eacute composta por objetivos patrociacutenios do projeto

questotildees do estudo e leituras importantes sobre o toacutepico que estaacute sendo investigado

Procedimentos de campo Neste item ocorre a apresentaccedilatildeo das credenciais acesso aos

locais do estudo de caso fontes gerais de informaccedilotildees e advertecircncias de procedimento

Questotildees do estudo de caso - Satildeo indicadas as questotildees especiacuteficas que nortearam o

pesquisador de estudo de caso ao coletar os dados planilha para disposiccedilatildeo especiacutefica de

dados e as fontes em potencial de informaccedilotildees ao se responder cada questatildeo

Guia para o relatoacuterio do estudo de caso Eacute apresentado o esboccedilo formato para os dados

uso e apresentaccedilatildeo de outras documentaccedilotildees e informaccedilotildees bibliograacuteficas

Com base nas orientaccedilotildees acima foi elaborado o protocolo de estudo de caso desta

pesquisa (apecircndice 01) Ele serviu de buacutessola para o encaminhamento da pesquisa como

tambeacutem proporcionou a sua compreensatildeo por parte dos representantes da unidade de

estudo conferindo a credibilidade necessaacuteria agrave autorizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo na

cooperativa

Entretanto cabe ressaltar que devido agrave dinacircmica caracteriacutestica do estudo de caso no

decorrer da pesquisa alguns itens do planejamento foram mudados da mesma forma que

nem todas as questotildees orientadoras arroladas foram necessaacuterias agrave compreensatildeo da

pesquisa ou foram passiacuteveis de obtenccedilatildeo de respostas

10

143 Dimensotildees de Anaacutelise

As dimensotildees apontadas neste trabalho longe de abranger toda a complexidade da inserccedilatildeo

da contabilidade no processo de autogestatildeo dos empreendimentos autogestionaacuterios

pretenderam distinguir aspectos relevantes desse universo A seleccedilatildeo dessas dimensotildees foi

resultado principalmente da imersatildeo nas seguintes bibliografias

a) No campo da teoria da contabilidade destacaram-se as obras dos autores Hendriksen e Van

Breda (1999) e Iacuteudicubus et al (2003) Esses autores subsidiaram a construccedilatildeo de algumas

dimensotildees agrave medida que as diversas leituras sobre a finalidade da contabilidade suscitaram

questionamentos no tocante agrave adequaccedilatildeo da padronizaccedilatildeo dos relatoacuterios de informaccedilatildeo

contaacutebil aos seus diversos usuaacuterios Em outras palavras as indagaccedilotildees levaram agrave verificaccedilatildeo

sobre a viabilidade da padronizaccedilatildeo tendo em vista as reais necessidades de informaccedilatildeo dos

empreendimentos autogestionaacuterios (novos usuaacuterios) no que se refere agrave forma conteuacutedo e

utilidade da informaccedilatildeo

b) No campo da contabilidade para usuaacuterios externos citam-se as obras de Valdir Michaels

(1995) e Almeida e Dantas (2005) Essas obras abordam a relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo

nas quais satildeo apontados alguns obstaacuteculos enfrentados pelos trabalhadores da ES no campo

da contabilidade Nas obras haacute sugestotildees de adaptaccedilatildeo da contabilidade agraves necessidades da

autogestatildeo no que diz respeito a vaacuterios aspectos mas principalmente no tocante agrave legislaccedilatildeo

contaacutebil e agrave postura do contador na relaccedilatildeo com esses novos usuaacuterios Portanto dessas leituras

derivam a construccedilatildeo das dimensotildees Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio e Legislaccedilatildeo contaacutebil

c) A bibliografia sobre Economia Solidaacuteria e Autogestatildeo na qual ressaltam as obras de Paul

Singer e produccedilotildees da ANTEAG tambeacutem foi fonte de inspiraccedilatildeo para a construccedilatildeo das

dimensotildees O mergulho nessas obras permitiu a compreensatildeo da dupla natureza dos

empreendimentos autogestionaacuterios a econocircmica e social Com essa configuraccedilatildeo os

empreendimentos ao mesmo tempo em que perseguem a sustentabilidade financeira tambeacutem

cultuam valores humanos e sociais como a solidariedade cooperaccedilatildeo e igualdade

Compreendeu-se que sob esta perspectiva a igualdade tambeacutem requer a apropriaccedilatildeo de todo

o conhecimento de gestatildeo pelo conjunto dos trabalhadores Assim a apropriaccedilatildeo do

conhecimento contaacutebil por parte dos trabalhadores eacute um imperativo nos empreendimentos

11

solidaacuterios Partindo dessas reflexotildees foi criada a dimensatildeo que se refere agrave apropriaccedilatildeo da

informaccedilatildeo contaacutebil

d) Contribuiacuteram para a constituiccedilatildeo das dimensotildees de anaacutelise aqui arroladas outras produccedilotildees

constantes da referecircncia bibliograacutefica e outras natildeo citadas provenientes das diversas aacutereas do

conhecimento como economia educaccedilatildeo etc

Tambeacutem foram fonte de inspiraccedilatildeo as observaccedilotildees e anaacutelises realizadas em Mato Grosso e

Satildeo Paulo por ocasiatildeo de participaccedilotildees em extensatildeo universitaacuteria bem como em cursos e

seminaacuterios nacionais e internacionais e diaacutelogos com especialistas sobre o tema De sorte que

a compreensatildeo da inserccedilatildeo contaacutebil nos empreendimentos autogestionaacuterios resultou na

construccedilatildeo das seguintes dimensotildees

1- Forma de comunicaccedilatildeo

2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

3- Utilidade da informaccedilatildeo

4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

As caracteriacutesticas e objetivos de cada dimensatildeo satildeo pormenorizados abaixo

1- Forma de comunicaccedilatildeo

Nessa dimensatildeo foram avaliados os instrumentos de comunicaccedilatildeo que a entidade utiliza para

divulgar seus resultados econocircmicos e financeiros Verificou-se a capacidade de a

contabilidade captar e refletir a complexidade das relaccedilotildees inclusas no processo de

autogestatildeo tais como o orccedilamento elaborado coletivamente a execuccedilatildeo e controles

compartilhados enfim analisou-se a adequaccedilatildeo dos relatoacuterios demonstraccedilotildees e outros

instrumentos da contabilidade agraves necessidades proacuteprias dos empreendimentos solidaacuterios

2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

O conteuacutedo diz respeito agrave informaccedilatildeo contaacutebil em si Nessa dimensatildeo verificou-se a

pertinecircncia da linguagem das vaacuterias formas de comunicaccedilatildeo aos usuaacuterios da ES Mais

especificamente nesse aspecto buscou-se perceber se a linguagem da contabilidade eacute

12

facilmente compreendida pelos trabalhadores tendo em vista o conhecimento jaacute consolidado

de que uma grande parte dos trabalhadores da ES tem um baixo grau de educaccedilatildeo formal

3- Utilidade da informaccedilatildeo

Nesse item avaliou-se a utilidade da informaccedilatildeo a qual diz respeito agrave importacircncia dada pelos

grupos entrevistados agrave contabilidade para tomada de decisotildees Tambeacutem se procurou avaliar a

utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil em todos os processos da gestatildeo de modo que ela

efetivamente fosse supridora das informaccedilotildees necessaacuterias agrave autogestatildeo ou seja analisou-se

sua capacidade de auxiliar no processo de tomada de decisotildees coletivas na gestatildeo

democraacutetica

4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Um dos princiacutepios fundamentais da ES sugere a socializaccedilatildeo de todo o conhecimento de

gestatildeo em oposiccedilatildeo agrave tiacutepica empresa que resguarda esses conhecimentos para o grupo da

gerecircncia Baseado nesse princiacutepio essa dimensatildeo teve a intenccedilatildeo de compreender e analisar

as formas de transferecircncia do conhecimento contaacutebil e as eventuais dificuldades enfrentadas

pelo trabalhador no processo de apropriaccedilatildeo do conhecimento das teacutecnicas contaacutebeis Nesse

item tambeacutem se buscou captar elementos que norteiem para uma formaccedilatildeo desejada em

contabilidade

5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Conforme relatos contidos na bibliografia pesquisada as aacutereas teacutecnicas tecircm dificuldade de

perceber a especificidade da autogestatildeo Nessa perspectiva foi analisada a relaccedilatildeo dos

usuaacuterios dos empreendimentos autogestionaacuterios com os profissionais da aacuterea contaacutebil

Pretendeu-se compreender o envolvimento do contabilista com a autogestatildeo Por outro lado

tambeacutem houve a intenccedilatildeo de captar elementos que indicassem a construccedilatildeo de uma outra

relaccedilatildeo entre os contadores e os trabalhadores da ES

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

Alguns autores argumentam que a legislaccedilatildeo contaacutebil ainda natildeo capta a especificidade da

autogestatildeo Isso se aplica agrave forma de registro dos eventos econocircmico-financeiros agraves

demonstraccedilotildees contaacutebeis e tambeacutem agrave constituiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo dessas entidades Para

13

avaliar esse conjunto foi necessaacuterio tambeacutem analisar a legislaccedilatildeo cooperativista e natildeo soacute a

legislaccedilatildeo contaacutebil para o cooperativismo tendo em vista que as duas legislaccedilotildees estatildeo

bastante vinculadas Dessa forma essa dimensatildeo analisou a pertinecircncia dessas legislaccedilotildees agrave

realidade e necessidades da ES

Por meio das dimensotildees descritas acima foi traccedilado um paralelo entre a realidade observada

captada pelas lentes dos cooperados especialistas e contadores e a realidade esperada

desenhada pelas observaccedilotildees entrevistas e literatura consultada O quadro 1 esquematiza o

trabalho realizado

Quadro 1- Resumo dos resultados

Realidade Encontrada

(o que eacute) Realidade esperada

Dimensotildees Cooperados especialistas Contadores (o que deveria ser)

1- Forma de comunicaccedilatildeo 2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo 3- Utilidade da informaccedilatildeo 4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo 5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

144 Criteacuterios para a seleccedilatildeo da unidade de estudo

O principal criteacuterio para a escolha da unidade em que se processou a investigaccedilatildeo foi a

autogestatildeo isto eacute buscou-se um empreendimento em que a gestatildeo fosse praticada por todos

os trabalhadores diferentemente dos empreendimentos nos quais a administraccedilatildeo eacute exercida

apenas pelos diretores Participar da gestatildeo significa atuar nos altos niacuteveis de decisotildees

aquelas que vatildeo aleacutem da organizaccedilatildeo do trabalho mas que tambeacutem compreendem decisotildees

que influenciem no rumo da entidade tais como indicaccedilatildeo da destinaccedilatildeo dos recursos

organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e demais decisotildees que afetam a vida da entidade

14

Outro criteacuterio importante utilizado foi a formalizaccedilatildeo do empreendimento Com se sabe a ES

tambeacutem eacute compreendida por empreendimentos coletivos informais Tal opccedilatildeo se deve ao fato

de que a inscriccedilatildeo junto aos oacutergatildeos governamentais necessariamente requer uma organizaccedilatildeo

contaacutebil mais formal Dessa forma essas entidades possuem registros formais de suas

atividades possibilitando as bases para a investigaccedilatildeo

Levando em conta esses criteacuterios tomou-se como unidade de anaacutelise a COOPRAM

Cooperativa Metaluacutergica de Artes Metaacutelicas localizada no Municiacutepio de Embu na Grande

Satildeo Paulo Portanto ao selecionar a COOPRAM como a unidade de estudo privilegiou-se um

estudo em profundidade para a obtenccedilatildeo de respostas mais precisas agraves questotildees postas agrave

pesquisa

145 Teacutecnicas de coleta de dados

O Meacutetodo do Estudo de Caso obteacutem evidecircncias a partir de seis fontes de dados documentos

registros em arquivos entrevistas observaccedilatildeo direta observaccedilatildeo participante e artefatos

fiacutesicos Cada uma delas requer habilidades e procedimentos metodoloacutegicos especiacuteficos O

presente estudo de caso buscou desvelar a realidade da dimensatildeo contaacutebil nos

empreendimentos autogestionaacuterios a partir da seleccedilatildeo das seguintes teacutecnicas de coleta de

dados

Entrevistas

Registro em arquivos

Observaccedilatildeo direta

O planejamento e execuccedilatildeo do procedimento de coleta de dados fundamentado em Yin

(2005) pode ser visualizado atraveacutes da figura abaixo

15

Registros em arquivos

Observaccedilotildees Entrevistas

(direta)

Figura 1 - Convergecircncia de Evidecircncias (estudo uacutenico )

Fonte adaptado de Cosmos Corporation apud YIN 2005 p127

As ENTREVISTAS satildeo uma das mais importantes fontes de informaccedilotildees para um estudo de

caso segundo Yin (2005) O fluxo de questotildees nas entrevistas natildeo eacute riacutegido mas de forma

fluiacuteda Portanto durante o processo de coleta de dados o pesquisador tem duas tarefas

a) seguir sua proacutepria linha de investigaccedilatildeo como reflexo do protocolo de seu estudo de caso e b) fazer as questotildees reais ( de uma conversaccedilatildeo) de uma forma natildeo tendenciosa que tambeacutem

atende agraves necessidades de sua linha de investigaccedilatildeo (YIN 2005 p117)

Em outras palavras Yin alerta que na entrevista haacute a exigecircncia de atuaccedilatildeo em duas frentes

ao mesmo tempo satisfazer as necessidades de sua linha de investigaccedilatildeo enquanto tambeacutem

passa adiante questotildees amigaacuteveis e natildeo natildeo-ameaccediladoras em suas entrevistas

espontacircneas Assim eacute muito comum que as entrevistas para o estudo de caso sejam

conduzidas de forma espontacircnea Logo pode-se tanto indagar sobre fatos relacionados a um

determinado assunto quanto pedir a opiniatildeo deles a respeito de determinados eventos

Seguindo as prerrogativas acima as entrevistas realizadas nesta pesquisa pretenderam

capturar informaccedilotildees sobre os procedimentos contaacutebeis utilizados na cooperativa perceber a

posiccedilatildeo dos entrevistados quanto ao uso de ferramentas e instrumentos da contabilidade bem

como a contribuiccedilatildeo que esses instrumentos tecircm (ou natildeo) para propiciar a compreensatildeo dos

processos de gestatildeo e identificar elementos agrave construccedilatildeo de uma nova relaccedilatildeo contabilidade e

autogestatildeo

Para compreender o fenocircmeno a partir de vaacuterios prismas foram formados trecircs grupos de

entrevistados

Fato Dimensatildeo contaacutebil no

processo de autogestatildeo

)))process

16

1ordm grupo composto por membros da cooperativa (diretoria e cooperados)

2ordm grupo constituiacutedo por especialistas no assunto vinculados a redes nacionais de fomento e

apoio agrave ES

3ordm grupo composto por contadores experientes em autogestatildeo e ES

Aos trecircs grupos foram aplicadas perguntas semelhantes sobre fatos e opiniotildees circunscritos no

universo do tema proposto As respostas tambeacutem foram estratificadas e alocadas aos

respectivos grupos

Os REGISTROS EM ARQUIVOS em um estudo de caso segundo Yin (2005 p115)

podem assumir diversas modalidades

Registros de serviccedilo como aqueles que mostram o nuacutemero dos clientes atendidos em um

determinado periacuteodo de tempo Registros organizacionais como as tabelas e os orccedilamentos de organizaccedilotildees em um periacuteodo de

tempo Mapas e graacuteficos das caracteriacutesticas geograacuteficas ou esboccedilos de um lugar Listas de nomes e de outros itens importantes Dados oriundos de levantamentos como o censo demograacutefico ou os dados previamente

coletados sobre um local Registros pessoais como diaacuterios anotaccedilotildees e agendas de telefone

Esses e outros registros em arquivo podem ser utilizados somando-se a outras fontes de

informaccedilatildeo No caso desta pesquisa foram verificados os registros operacionais e demais

arquivos e documentos ligados agrave aacuterea contaacutebil A utilizaccedilatildeo dessa teacutecnica buscou identificar e

descrever instrumentos oficiais adotados pelo empreendimento tais como as demonstraccedilotildees

financeiras os sistemas de controles internos relatoacuterios gerenciais etc Contribuiu para a

compreensatildeo da organizaccedilatildeo contaacutebil no empreendimento e finalmente propiciou a avaliaccedilatildeo

do atendimento dos instrumentos contaacutebeis agrave prescriccedilatildeo legal na aacuterea das cooperativas

Tambeacutem propiciou a identificaccedilatildeo dos sistemas ou meios de comunicaccedilatildeo utilizados agrave

disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo bem como agrave sua acessibilidade pelo conjunto de cooperados

A OBSERVACcedilAtildeO DIRETA ocorre quando se realiza uma visita de campo ao local

escolhido para o estudo de caso Por meio das observaccedilotildees eacute possiacutevel captar alguns

17

comportamentos ou condiccedilotildees ambientais relevantes As observaccedilotildees podem variar de

atividades formais a atividades informais de coleta de dados Mais formalmente incluem-se

situaccedilotildees como reuniotildees atividades de passeio trabalho de faacutebrica salas de aula e outras

atividades semelhantes(YIN 2005 p120) Informais podem ser as condiccedilotildees fiacutesicas de um

edifiacutecio ou de espaccedilos de trabalho As evidecircncias captadas pela lente da observaccedilatildeo segundo

Yin satildeo em geral uacuteteis ao fornecimento de informaccedilotildees adicionais sobre o fenocircmeno

estudado

Desse modo a observaccedilatildeo direta aqui realizada pretendeu captar pormenores e detalhes que

complementaram as outras teacutecnicas tais como ambiente fiacutesico cotidiano de trabalho

relaccedilotildees interpessoais processos de decisotildees etc A observaccedilatildeo contou com os registros de

pesquisa de campo em que a preocupaccedilatildeo central foi a observaccedilatildeo tanto do papel do

contador seu relacionamento com as demais aacutereas da gestatildeo aleacutem da forma como a

contabilidade se insere no cotidiano da cooperativa Tais informaccedilotildees agregaram elementos agraves

anaacutelises das entrevistas cruzando relatos e percepccedilotildees dos atores envolvidos

Apoacutes a coleta de dados esses foram sistematizados em um Banco de dados sobre o caso

cujas informaccedilotildees serviram de base agraves anaacutelises e conclusotildees

146 Anaacutelise dos dados

A anaacutelise dos dados retomou as categorias teoacutericas adotadas correlacionando-as agraves

evidecircncias da pesquisa empiacuterica Os resultados foram segregados por dimensotildees sob as quais

satildeo relatadas as constataccedilotildees da realidade e ao mesmo tempo satildeo problematizadas questotildees e

demandas referentes a cada aspecto da dimensatildeo contaacutebil no processo de autogestatildeo

Quanto agrave estrateacutegia de apresentaccedilatildeo dos resultados apesar de natildeo haver nenhuma forma

estereotipada para escrever um relatoacuterio de um estudo de caso existindo apenas estrateacutegias

para redigi-lo a fim de tornaacute-lo inteligiacutevel e palataacutevel ao leitor a estrateacutegia selecionada dentre

as expostas por Yin (2005 p177-180) foi a narrativa a qual foi ilustrada por quadros

Em relaccedilatildeo agrave estrutura composicional do relatoacuterio optou-se pela estrutura analiacutetica linear

Conforme Yin essa estrutura eacute comumente utilizada nos relatoacuterios de estudos de casos No

modelo os subtoacutepicos compreenderam o tema ou o problema estudado e uma revisatildeo da

18

literatura Em seguida os subtoacutepicos partem para a anaacutelise dos meacutetodos utilizados das

descobertas feitas a partir dos dados coletados e analisados e das conclusotildees e implicaccedilotildees

feitas a partir das descobertas

15 Hipoacuteteses

Conforme jaacute mencionado as hipoacuteteses satildeo importantes no estudo de caso pois norteiam a

coleta de dados Dessa forma este estudo partiu dos pressupostos das pesquisas anteriores os

quais sugerem que o aparato contaacutebil hoje disponiacutevel ainda natildeo eacute apropriado a esse

segmento ou seja a informaccedilatildeo contaacutebil natildeo atende satisfatoriamente agraves suas demandas

informacionais tendo em vista a sua natureza peculiar

Portanto situando-se na linha das pesquisas anteriores essa investigaccedilatildeo partiu da hipoacutetese de

que os empreendimentos solidaacuterios diferenciam-se dos demais segmentos do mercado devido

agrave sua dupla natureza econocircmica e social consequumlentemente tecircm demandas informacionais

ainda natildeo contempladas plenamente pela aacuterea contaacutebil envolvendo seis aspectos da dimensatildeo

contaacutebil a) Forma de comunicaccedilatildeo b) Conteuacutedo da informaccedilatildeo c) Utilidade da informaccedilatildeo

d) Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo e) Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio f) Legislaccedilatildeo contaacutebil

16 Organizaccedilatildeo do Trabalho

No que concerne agrave estruturaccedilatildeo e forma de apresentaccedilatildeo o presente estudo estaacute organizado

em 04 capiacutetulos assim definidos

No presente capiacutetulo I da Introduccedilatildeo satildeo apresentados a problematizaccedilatildeo e justificativa da

pesquisa os objetivos as questotildees de pesquisa e a metodologia do estudo

No capiacutetulo 2 satildeo expostos os marcos referenciais deste trabalho no qual se explicitam

conceitos de autogestatildeo Economia solidaacuteria formas de participaccedilatildeo na gestatildeo e outros

conceitos necessaacuterios agrave compreensatildeo das questotildees propostas pela pesquisa

19

No capiacutetulo 3 eacute discutida a relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo perpassando pela exposiccedilatildeo da

finalidade da informaccedilatildeo contaacutebil e estudos recentes sobre a contabilidade para Economia

Solidaacuteria A incursatildeo na literatura realizada nos capiacutetulos 2 e 3 teve a finalidade de propiciar

suporte teoacuterico agrave anaacutelise dos resultados

Por uacuteltimo no capiacutetulo 4 eacute realizada a descriccedilatildeo do Estudo de caso e apresentados os

resultados e anaacutelises da pesquisa

20

21

2 MARCO CONCEITUAL DA ECONOMIA SOLIDAacuteRIA E AUTOGESTAtildeO

Para a anaacutelise do fenocircmeno objeto da presente pesquisa eacute necessaacuterio discutir os conceitos

envolvidos na compreensatildeo da realidade investigada Portanto cumpre nesse momento

explicitar conceitos como globalizaccedilatildeo contexto no qual se insere o ressurgimento da ES

Tambeacutem eacute necessaacuterio perscrutar o sentido teoacuterico da Economia Solidaacuteria da autogestatildeo como

forma de administraccedilatildeo proacutepria dos empreendimentos solidaacuterios da participaccedilatildeo como

categoria teoacuterica fundamental ao processo de autogestatildeo entre outros conceitos A

complexidade da relaccedilatildeo entre Contabilidade e Autogestatildeo encontra-se sedimentada nesses

conceitos teoacutericos

Em primeiro lugar seraacute analisado o momento histoacuterico contemporacircneo que fez ressurgir as

aspiraccedilotildees de alternativas ao modelo social vigente buscando dessa forma compreender o

contexto econocircmico-social de emergecircncia da ES bem como da inserccedilatildeo da contabilidade Em

seguida seraacute trilhado o caminho de desvelamento de outros conceitos necessaacuterios agrave

compreensatildeo da relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo

21 Globalizaccedilatildeo e a crise contemporacircnea

Um estudo sobre autogestatildeo leva agrave necessaacuteria imersatildeo sobre as raiacutezes em que

contemporaneamente tal tema ganha destaque no mundo e consequumlentemente na sociedade

brasileira O cenaacuterio recente de ressurgimento da ES tem como pano de fundo a globalizaccedilatildeo

A despeito das muitas controveacutersias que se podem apresentar sobre o tema globalizaccedilatildeo

tentar-se-aacute apontar algumas definiccedilotildees do fenocircmeno com as quais se concorda Conforme

Wanderley (2002 p15)

[]com a globalizaccedilatildeo as distacircncias se reduziram natildeo havendo barreiras fiacutesicas para a

informaccedilatildeo o conhecimento o intercacircmbio cultural os avanccedilos tecnoloacutegicos possibilitaram o

desvelamento de enigmas antigos das vaacuterias aacutereas de conhecimento a democracia atingiu a quase

maioria dos paiacuteses e eacute requisito de legitimidade internacional

Apesar desses citados benefiacutecios a globalizaccedilatildeo tem seu lado reverso O imperativo da

sobrevivecircncia num mercado altamente competitivo levou as empresas agrave busca de reduccedilatildeo de

22

custos que na maioria das vezes significou corte de postos de trabalho acarretando

exclusatildeo social Conforme definem Pedraccedila e Almeida ( 2004 p 01)

A globalizaccedilatildeo econocircmica marca a histoacuteria pelo apartheid social seja no acircmbito nacional e

internacional O que separa os seres humanos eacute uma divisatildeo estatiacutestica iacutendices que definem uma minoria de pessoas de vaacuterias nacionalidades que gozam do privileacutegio de serem inclusas no

mercado consumidor [] A outra classe de indiviacuteduos a imensa maioria da populaccedilatildeo mundial

quase sempre incluiacuteda em categorias marginais como subempregados trabalhadores informais ou desempregados satildeo segregados do consumo parcial ou totalmente dependendo de sua condiccedilatildeo

econocircmica

Singer (2001) explica a globalizaccedilatildeo a partir de uma perspectiva histoacuterica Advoga a tese de

que a economia capitalista industrial tendeu desde o iniacutecio a superar os limites do Estado-

naccedilatildeo A livre movimentaccedilatildeo de mercadorias e de capitais atraveacutes das fronteiras nacionais

atingiu seu primeiro auge por volta da segunda metade do seacutec XIX quando o padratildeo ouro

proporcionou moedas automaticamente conversiacuteveis e se criou um conjunto de instituiccedilotildees

destinadas a garantir o livre-cacircmbio e as inversotildees estrangeiras A Primeira Guerra (1914-18)

a crise dos anos 30 e em seguida a Segunda Guerra (1939-45) contiveram a tendecircncia de

expansatildeo internacional do capital Durante mais de 30 anos os Estados nacionais protegeram

suas induacutestrias e comandaram a acumulaccedilatildeo de capital dentro de seu territoacuterio diminuindo a

transaccedilatildeo comercial e financeira internacional

A retomada da expansatildeo internacional de acumulaccedilatildeo do capital ou globalizaccedilatildeo soacute foi

efetivada apoacutes a Segunda Guerra capitaneada pelos Estados Unidos e seus aliados os quais a

colocaram como questatildeo primordial As conferecircncias de Brettoin Woods ainda em 1944

receberam um claro mandato neste sentido Em sua primeira etapa a globalizaccedilatildeo abarcava

somente os paiacuteses desenvolvidos e na segunda etapa iniciada haacute mais de um quarto de

seacuteculo incluiu uma boa parte do Terceiro Mundo Mais recentemente envolveu a ex-URSS

e seus antigos sateacutelites

A integraccedilatildeo econocircmica do Primeiro Mundo deu-se num periacuteodo de crescimento e pleno

emprego que ficou conhecido como Anos Dourados Os EUA no auge de sua hegemonia

atraveacutes de suas grandes companhias transferiram maciccedilamente recursos para a Europa e

Japatildeo Implantaram filiais e adquiriram firmas na Europa ocidental retomando sua

multinacionalizaccedilatildeo

23

Todas as economias nacionais cresceram O processo foi um Circulo virtuoso em que

conversibilidade monetaacuteria e a queda das barreiras alfandegaacuterias abriram espaccedilo para uma

crescente reparticcedilatildeo de ganhos( SINGER 2001 p21)

Na segunda etapa a partir de 1970 as economias desenvolvidas abriram seus mercados para

o Terceiro Mundo e promoveram a implantaccedilatildeo dos seus parques industriais destinados ao

abastecimento do mercados do Primeiro Mundo No Brasil essa fase ficou conhecida como

o milagre econocircmico um movimento que culminou com um esforccedilo interno das elites

nacionais de industrializaccedilatildeo do paiacutes desde os anos 30

No iniacutecio da segunda etapa os paiacuteses semi-industrializados apresentavam ao capital

vantagens comparativas tais como grande disponibilidade de matildeo-de-obra jaacute treinada e

condicionada ao trabalho industrial a custos menores do que nos paiacuteses industrializados Na

mesma eacutepoca as lutas de classes nos paiacuteses industrializados haviam se intensificado em

funccedilatildeo da crescente insatisfaccedilatildeo da classe operaacuteria escolarizada operadora de serviccedilos

monoacutetono e alienante a qual reivindicava elevaccedilotildees salariais A resposta das empresas foi a

transferecircncia de grande escala de linhas de produccedilatildeo industrial para paiacuteses perifeacutericos

Grandes centros industriais na Europa e na Ameacuterica do Norte foram esvaziados e

abandonados deixando um grande nuacutemero de desempregados Dessa forma na segunda

etapa a globalizaccedilatildeo tornou-se fator de desindustrializaccedilatildeo e empobrecimento de cidades e

regiotildees inteiras

A globalizaccedilatildeo trouxe mudanccedilas profundas na produccedilatildeo e comeacutercio mundial Com o

imperativo da concorrecircncia faacutebricas fecharam suas portas outras adotaram uma seacuterie de

medidas restritivas visando agrave manutenccedilatildeo no mercado Reduccedilatildeo de custos importaccedilatildeo de

tecnologia moderna aquisiccedilatildeo de meacutetodos gerenciais introduccedilatildeo de novas relaccedilotildees de

trabalho representam o movimento da reestruturaccedilatildeo produtiva das grandes empresas

Essas mudanccedilas afetaram diretamente o mercado de trabalho Com a reduccedilatildeo dos postos de

trabalho o desemprego em todo o mundo tomou proporccedilotildees alarmantes e os empregos

remanescentes satildeo de pior qualidade configurando a precariedade das relaccedilotildees e condiccedilotildees de

trabalho Muitos trabalhadores oscilam entre a penumbra e a clandestinidade do mercado de

trabalho Segundo Singer

24

[] a globalizaccedilatildeo ocasiona o desemprego estrutural Ela faz com que milhotildees de trabalhadores

que produziam o que depois passou a ser importado percam seus empregos e que possivelmente milhotildees de novos postos de trabalho sejam criados tanto em atividades de exportaccedilatildeo como em

outras O desemprego estrutural ocorre porque os que satildeo vitimas da desindustrializaccedilatildeo em geral natildeo tecircm pronto acesso aos novos postos de trabalho (SINGER2001 p23)

Talvez mais grave que o desemprego estrutural seja a precarizaccedilatildeo do trabalho Os novos

postos de trabalho natildeo oferecem em sua maioria as garantias tradicionais que as leis e

contratos vinham ganhando Singer salienta que

Muitos destes novos postos satildeo ocupaccedilotildees por conta proacutepria Ao inveacutes de funcionaacuterios as

empresas principalmente para atividades que natildeo requerem elevada qualificaccedilatildeo contratam

pequenas firmas prestadoras de serviccedilos configurando a terciarizaccedilatildeo[] As vantagens para a

tomadora desse serviccedilo residem na flexibilidade do novo relacionamento e tambeacutem no menor

custo do trabalho pois ela deixa de pagar o tempo morto quando a equipe natildeo tem o que

fazer e as horas-extras quando necessitar (SINGER 2001 p24)

Mattoso reafirma que a precarizaccedilatildeo se constitui de relaccedilotildees informais o que amplia a

inseguranccedila no emprego Um fenocircmeno que se deu em praticamente todos os paiacuteses

avanccedilados atraveacutes da reduccedilatildeo relativa ou absoluta de empregos estaacuteveis ou permanentes

nas empresas e da maior subcontrataccedilatildeo de trabalhadores temporaacuterios em tempo

determinado eventuais em tempo parcial trabalho em domiciacutelio ou independentes

aprendizes etc(MATTOSO 1993 p126)

Na deacutecada de 1990 esse quadro ganhou contornos ainda mais decisivos e agudizantesSob o

emblema do neoliberalismo reduziu-se drasticamente o poder de intervenccedilatildeo do Estado na

esfera social e promoveu-se o abandono de poliacuteticas puacuteblicas importantes na reproduccedilatildeo da

vida dos trabalhadores Nas palavras de Singer

Desde os anos 80 um novo consenso foi firmado qualquer tentativa dos governos de estimular

diretamente a expansatildeo do emprego eacute em vatildeo resultando apenas em mais inflaccedilatildeo O uacutenico dever

dos governos eacute equilibrar os seus proacuteprios orccedilamentos desregulamentar a economia e reduzir o

peso dos impostos que recaem sobre os negoacutecios de modo a facilitar e estimular a acumulaccedilatildeo

privada de capital (SINGER 2001 p14)

Pochmann (1999 p 85) denuncia que os efeitos combinados a partir de 1990 de poliacuteticas

recessivas da desregulaccedilatildeo e reduccedilatildeo do papel do estado de abertura comercial abrupta de

taxas de juros elevadas e de apreciaccedilatildeo cambial seriam responsaacuteveis pela montagem de um

cenaacuterio desfavoraacutevel ao comportamento geral do emprego nacional

25

Esse panorama desde entatildeo causa a dispensa de uma grande parte da forccedila de trabalho

remetendo agrave marginalidade um imenso contingente humano Em 2000 a organizaccedilatildeo

Internacional do Trabalho (OIT) divulgou o informativo O emprego no mundo 1998-99 no

qual destacava que 1)cerca de 1 bilhatildeo de trabalhadores - aproximadamente um terccedilo da

populaccedilatildeo ativa do mundo - estavam desempregados ou subempregados (o indiviacuteduo eacute

subempregado quando sua jornada de trabalho eacute substancialmente menor que uma jornada

completa que desejaria realizar ou seu salaacuterio eacute inferior ao que necessitaria para viver)

2)desses 1 bilhatildeo de trabalhadores uns 150 milhotildees encontravam-se de fato desempregados

buscando trabalho ou em disposiccedilatildeo para trabalhar Pelo simples efeito da crise financeira

mundial em 98 o total de desempregados sofreu um incremento de 10 milhotildees de

trabalhadores c)entre 25 e 30 dos trabalhadores do mundo - algo entre 750 e 900 milhotildees

de pessoas - estavam subempregados

Em relaccedilatildeo ao Brasil a Fundaccedilatildeo SEADE mostrava que 1) a taxa anual meacutedia de

desemprego total da Regiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo aumentou entre 1997 e 1998 de

16 para 183 da populaccedilatildeo economicamente ativa (PEA) com crescimento da taxa de

desemprego anual meacutedia para os indiviacuteduos de todos os niacuteveis de escolaridade A tabela 1

mostra os iacutendices de desemprego nas regiotildees metropolitanas por sexo e em percentuais da

PEA no periacuteodo compreendido de 1998 a 052006 A tabela mostra o acreacutescimo no iacutendice

do desemprego total no ano de 1999 em todas as regiotildees Em 2002 houve novamente um

acreacutescimo no desemprego total Jaacute em 2005 e 2006 os iacutendices mostram uma reduccedilatildeo do

percentual de desemprego em quase todas as regiotildees Entretanto o desemprego ainda

encontra-se em patamares elevados

26

Tabela 1- Taxa de desemprego total por sexo - Regiotildees Metroplitanas e Distrito Federal- 1998-2006

Regiotildees Metropolitanas e Distrito Federal

Belo Horizonte Distrito Federal Porto Alegre Periacuteodo

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

1998 159 137 187 197 174 221 159 137 186

1999 179 159 204 221 192 252 190 167 219

2000 178 161 199 202 177 229 166 142 196

2001 183 162 208 205 176 236 149 123 182

2002 181 157 208 207 180 236 153 131 179

2003 200 171 233 229 202 257 167 139 202

2004 193 168 219 209 178 240 159 131 191

2005 167 140 197 190 159 222 145 119 176

janeiro2006 155 130 182 186 152 220 132 115 153

fevereiro2006 155 131 182 195 164 227 136 118 159

Marccedilo2006 162 132 196 206 175 239 149 126 176

abril2006 156 125 192 207 180 235 155 127 189

maio2006 151 122 185 195 171 220 154 130 182

Regiotildees Metropolitanas e Distrito Federal

Recife Salvador Satildeo Paulo Periacuteodo

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

1998 216 190 249 249 229 271 182 161 211

1999 221 196 252 277 258 299 193 173 217

2000 207 182 239 266 241 293 176 150 209

2001 211 178 253 275 250 302 176 149 208

2002 203 176 236 273 249 299 190 164 222

2003 232 200 270 280 261 301 199 172 231

2004 231 203 265 255 232 280 187 163 215

2005 223 192 260 244 213 278 169 144 197

janeiro2006 212 180 251 237 205 272 157 137 180

fevereiro2006 208 182 240 238 198 280 163 141 187

Marccedilo2006 214 188 246 247 205 291 169 143 198

abril2006 219 191 254 244 197 294 169 145 196

maio2006 222 195 255 244 203 288 170 145 199

Fonte Convecircnio DIEESESEADE MTEFAT e convecircnios regionais PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego Elaboraccedilatildeo DIEESE site http www dieeseorgbr

Portanto natildeo eacute necessaacuterio ir muito longe para perceber que se de um lado a globalizaccedilatildeo

permitiu uma grande expansatildeo do capital por outro o fez em detrimento da valorizaccedilatildeo do

trabalho e das empresas nacionais arruinadas pela abertura do mercado interno agrave

concorrecircncia internacional No Brasil tal abertura ocorre no iniacutecio dos anos 90 com o

governo Fernando Collor de Melo

27

Do ponto de vista dos trabalhadores a consequecircncia de tal processo eacute a desestruturaccedilatildeo do

mercado de trabalho flexibilizaccedilatildeo das regras de proteccedilatildeo social e o desemprego estrutural

capitaneado pela 3ordf Revoluccedilatildeo Industrial em que o avanccedilo da tecnologia tem como

caracteriacutestica principal o aumento da produtividade ao mesmo tempo em que dispensa

grande contingente de matildeo-de-obra Por outro lado o baixo niacutevel de escolaridade dos

desempregados e a insuficiecircncia de poliacuteticas puacuteblicas de formaccedilatildeo de intermediaccedilatildeo de matildeo-

de-obra e de estiacutemulo ao empreendedorismo entre outros motivos torna a recolocaccedilatildeo dos

trabalhadores no mercado de trabalho uma chance remota

Eacute nesse cenaacuterio constituiacutedo pelas contradiccedilotildees e transformaccedilotildees profundas no qual o

trabalho parece perder a centralidade e em que natildeo se superou a dimensatildeo do trabalho como

mercadoria que o homem trabalhador proprietaacuterio apenas de sua forccedila de trabalho

marginalizado do mercado de trabalho perde sua funccedilatildeo e sua condiccedilatildeo primeira de

cidadania Desse modo eacute que satildeo pensadas e geradas alternativas ao desemprego e agrave exclusatildeo

social ressurgindo o ideal da Economia Solidaacuteria e da Autogestatildeo

22 Economia Solidaacuteria Alternativa agrave superaccedilatildeo do desemprego

A ideacuteia de construccedilatildeo de uma sociedade justa cuja base de relaccedilotildees esteja centrada na

solidariedade e natildeo na competiccedilatildeo eacute um ideal da humanidade que tem iniacutecio nos primoacuterdios

da civilizaccedilatildeo capitalista Tal ideaacuterio natildeo tem seu fundamento apenas no desejo utoacutepico de

mundo igualitaacuterio e solidaacuterio mas segundo Rattner (2005 p 01)

A apologia irrestrita da competiccedilatildeo eacute ideoloacutegica e natildeo encontra fundamento na Histoacuteria Ao

contraacuterio eacute possiacutevel afirmar que a maior parte da evoluccedilatildeo da espeacutecie humana foi caracterizada

por associaccedilotildees de cooperaccedilatildeo comunitaacuterias tais como apresentam ainda hoje certas tribos

indiacutegenas do Brasil e de outros continentes A desestruturaccedilatildeo da vida comunitaacuteria em

consequumlecircncia da revoluccedilatildeo industrial no final do seacuteculo XVIII levou como reaccedilatildeo agrave afirmaccedilatildeo de

ideacuteias e praacuteticas cooperativas divulgadas por Proudhon e pelos chamados socialistas utoacutepicos

(Fourier Saint Simon Robert Owen Michael Bakunin e Peter Kropotkin) bem como na segunda metade do seacuteculo XIX ao socialismo de Marx e Engels

Inspirado nas ideacuteias dos socialistas utoacutepicos surgiu na segunda metade do seacuteculo XX o

movimento kibutziano na Terra Santa Seus fundadores e seguidores formaram colocircnias

agriacutecolas que tinham como regra a natildeo exploraccedilatildeo do trabalho propriedade coletiva dos

meios de produccedilatildeo a participaccedilatildeo de todos os membros da comunidade no planejamento e

28

alocaccedilatildeo de recursos seja para o consumo ou seja para investimentos mediante votaccedilatildeo

democraacutetica em assembleacuteias gerais (RATTNER 2005 p01)

A segunda metade do seacuteculo XX tambeacutem pode testemunhar a experiecircncia de implantaccedilatildeo

socialismo na Uniatildeo Sovieacutetica onde se criaram fazendas agriacutecolas coletivas estatizadas aleacutem

das induacutestrias que passaram da propriedade privada para as matildeos do Estado Tais experiecircncias

se inviabilizaram pelo excesso de burocratizaccedilatildeo centralismo e desmotivaccedilatildeo dos

trabalhadores Os fracassos histoacutericos levam a refletir sobre o grau de complexidade para a

implementaccedilatildeo de empreendimentos exigentes em participaccedilatildeo social e sobre a possibilidade

de ocorrerecircncia numa sociedade cujas regras de competiccedilatildeo perpassam todas as relaccedilotildees

sociais Segundo Rattner

Uma economia solidaacuteria exige aleacutem do desenvolvimento de sua base material um alto grau de

conscientizaccedilatildeo e motivaccedilatildeo por parte de sua populaccedilatildeo movida por princiacutepios eacuteticos e valores de

compaixatildeo e solidariedade Em oposiccedilatildeo radical ao sistema de competiccedilatildeo a economia solidaacuteria

natildeo pode ser um produto do autoritarismo de uma administraccedilatildeo de uma soacute via de cima para

baixo que torne a populaccedilatildeo em objeto passivo Ela exige a participaccedilatildeo de todos para se

tornarem cidadatildeos e assim sujeitos do processo histoacuterico(RATTNER 2005 p 02)

Portanto ao se falar de empreendimentos solidaacuterios em que pessoas se organizam

voluntariamente para muacutetua colaboraccedilatildeo parte-se tambeacutem de um pressuposto fundamental a

participaccedilatildeo social que garante ao empreendimento sua sustentabilidade atraveacutes de processos

de caraacuteter educativo

No Brasil desde os anos 80 experiecircncias baseadas na solidariedade se propagam como forma

alternativa de sobrevivecircncia de grupos atingidos pelos efeitos sociais do desemprego

causados em grande parte pela globalizaccedilatildeo Segundo Tauile (2001) tal movimento comeccedila

na Prefeitura de Porto Alegre no Rio Grande do Sul propoga-se por todo o Estado e

posteriormente por todo o Brasil

O termo Economia Solidaacuteria (ES) aparece pela primeira vez no Brasil em 1993 no livro

Economia de Solidariedade e organizaccedilatildeo popular no qual o autor chileno Luis Razeto

(1993 p25) a concebe como

Uma formulaccedilatildeo teoacuterica de niacutevel cientiacutefico elaborada a partir e para dar conta de conjuntos significativos de experiecircncias econocircmicas [] que compartilham alguns traccedilos constitutivos e

essenciais de solidariedade mutualismo cooperaccedilatildeo e autogestatildeo comunitaacuterios que definem uma

racionalidade especial diferente de outras racionalidades econocircmicas

29

Para Singer (2000) a Economia Solidaacuteria surge como modo de produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo

alternativa criado e recriado periodicamente pelos que se encontram marginalizados do

mercado de trabalho A ES concilia o princiacutepio da unidade entre posse e uso dos meios de

produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo com os princiacutepios da socializaccedilatildeo desses meios

Crida identifica as principais caracteriacutesticas dos empreendimentos solidaacuterios

- reciprocidade colocada no cerne de sua passagem agrave accedilatildeo econocircmica - as pessoas se associam numa base voluntaacuteria com o objetivo de satisfazer necessidades sociais

e culturais - a vontade de empreender eacute coletiva Natildeo se busca o retorno sobre o

Investimento individual - tais iniciativas se perenizam combinando fontes de recursos mercantis natildeo mercantis e natildeo-monetaacuterios (financiamento hiacutebrido estaacutetico receitas autogeridas e contribuiccedilotildees voluntaacuterias) - estas experiecircncias organizam-se dentro de uma dinacircmica cidadatilde favorecendo a criaccedilatildeo de

espaccedilos puacuteblicos de proximidade (CRIDA 2000 p03 apud TAUILE 2001)

A unidade tiacutepica da ES eacute a cooperativa cujos princiacutepios satildeo posse coletiva dos meios de

produccedilatildeo pelas pessoas que os utilizam para produzir gestatildeo democraacutetica da empresa ou por

participaccedilatildeo direta ou por representaccedilatildeo reparticcedilatildeo da receita liacutequida entre os cooperadores

por criteacuterios aprovados apoacutes discussotildees e negociaccedilotildees entre todos destinaccedilatildeo do excedente

anual (denominado sobras) tambeacutem por criteacuterios acertados entre todos os cooperadores A

forma de administraccedilatildeo dos empreendimentos de ES eacute portanto a autogestatildeo

Singer (2000) relata diversas experiecircncias e formas de organizaccedilatildeo da ES no Brasil cuja

abrangecircncia compreende atividades econocircmicas tais como cooperativas dos mais diversos

ramos de atividades empresas autogestionaacuterias agecircncias de fomento agrave ES sistemas de

creacutedito redes de projetos comunitaacuterios (associaccedilotildees centros comitecircs etc) feiras solidaacuterias

clubes de trocas e outras experiecircncias alternativas de comeacutercio habitaccedilatildeo e creacutedito

Recentemente a Secretaria Nacional de Economia Solidaacuteria ( SENAES) oacutergatildeo do Ministeacuterio

do Trabalho instuiacuteda no atual governo com o objetivo de fomentar empreendimentos de ES

divulgou um mapa da Economia Solidaacuteria no Brasil Esse mapa proporcionou uma visatildeo da

dimensatildeo e diversidade dos Empreendimentos de Economia Solidaacuteria (EES) os quais jaacute se

fazem presente em todo o paiacutes Eis alguns dados do referido mapa

30

Tabela 2 - Valor mensal dos produtos da ES

Produtos Agrupados por Tipo de Atividade Valor Mensal Total R$ Valor Mensal

Produccedilatildeo Agropecuaacuteria Extrativismo e Pesca 22718579154 462 Produccedilatildeo e Serviccedilos de Alimentos e Bebidas 9822739819 200 Serviccedilos Relativos a Creacutedito e Financcedilas 8205570075 167 Produccedilatildeo Industrial (Diversos) 2940455500 60 Prestaccedilatildeo de Serviccedilos (Diversos) 2031969122 41 Produccedilatildeo de Artefatos Artesanais 1362494308 28 Produccedilatildeo Tecircxtil e Confecccedilotildees 930775759 19 Serviccedilos de Coleta e Reciclagem de Materiais 443079712 09 Produccedilatildeo Mineral (Diversa) 197743633 04 Produccedilatildeo de Fitoteraacutepicos Limpeza e Higiene 93521100 02 Produccedilatildeo e Serviccedilos Diversos 398175518 08 TOTAL 49145103700 1000

Do total de EES 31 natildeo declarou o Valor da Produccedilatildeo Fonte site wwwmtegovbrEmpregadorEconomiaSolidariaConteudoATLAS_PARTE_2pdf A tabela 2 demonstra a diversidade dos setores produtivos da ES e o valor da produccedilatildeo

mensal do conjunto de produtos por tipo de atividade A capacidade de geraccedilatildeo de emprego e

renda da ES eacute demonstrada pela tabela 3 Em 2005 estavam associados nos empreendimentos

econocircmicos solidaacuterios mais de 1 milhatildeo e 250 mil homens e mulheres resultando em uma

meacutedia de 84 participantes por EES Agregam-se a esse conjunto mais 25 mil trabalhadores e

trabalhadoras participantes que possuem algum viacutenculo com os EES (Empreendimentos de

Economia Solidaacuteria)

31

Tabela 3 - Participantes dos ESS no Brasil

REGIAtildeO Mulheres Homens TOTAL

Rural 22292 345 42265 655 64557

Urbano 15262 591 10578 409 25840

Rural e Urbano

13933 384 22372 616 36305

NO

Total 51493 406 75235 594 126728

Rural 95599 373 160365 627 255964

Urbano 42941 504 42262 496 85203

Rural e Urbano

40019 379 65478 621 105497

NE

Total 179058 400 268477 600 447535

Rural 10692 306 24219 694 34911

Urbano 24258 477 26619 523 50877

Rural e Urbano

9733 251 29003 749 38736

SE

Total 44729 359 79910 641 124639

Rural 28901 272 77310 728 106211

Urbano 26773 349 49887 651 76660 Rural e Urbano

72551 284 183127 716 255678

SU

Total 128295 292 310400 708 438695

Rural 10577 284 26698 716 37275

Urbano 18118 597 12213 403 30331 Rural e Urbano

18389 394 28267 606 46656

CO

Total 47088 412 67197 588 114285

Rural 168061 337 330857 663 498918

Urbano 127352 474 141559 526 268911 Rural e Urbano

154625 320 328247 680 482872

TOTAL

Total 450663 360 801219 640 1251882 Fonte Fonte site wwwmtegovbrEmpregadorEconomiaSolidariaConteudoATLAS_PARTE_2pdf Aleacutem da geraccedilatildeo de trabalho e renda a contribuiccedilatildeo mais valiosa dessas experiecircncias tem sido

a retomada da centralidade do trabalho na vida do homem Aos poucos essas diversas

alternativas de geraccedilatildeo de renda vatildeo compondo perspectivas de saiacutedas para a exclusatildeo de

contigentes sociais agrave margem da loacutegica dominante de mercado em que os sobrantes natildeo

dipunham de qualquer possibilidade de resgatar minimamente sua condiccedilatildeo humana e cidadatilde

32

Por outro lado a ES representada principalmente pelas cooperativas apresenta uma seacuterie de

desafios1 dentre os quais se destaca a questatildeo legal Conforme Rech (2000) ao longo de

nossa histoacuteria a iniciativa cooperativista nunca foi efetivamente incentivada ao contraacuterio

sempre houve intervenccedilatildeo no sentido de limitar suas possibilidades A legislaccedilatildeo brasileira

impotildee uma estrutura muito riacutegida na organizaccedilatildeo das cooperativas e ao contraacuterio de permitir

o desenvolvimento do modelo cooperativista acabou por impor tantos limites que tornou

difiacutecil a sua constituiccedilatildeo e funcionamento

A instituiccedilatildeo da primeira lei baacutesica especiacutefica do cooperativismo em 1932 teve o objetivo de

enfrentar pela diversificaccedilatildeo agriacutecola as quebras provocadas pelos problemas com o

comeacutercio internacional do cafeacute A lei 5764 de 1971 feita pelos militares concentrou as

cooperativas nas matildeos de grandes produtores industriais o que influenciou o piacutefio

crescimento das cooperativas no Brasil Em 1998 o anuaacuterio do Cooperativismo Brasileiro da

Organizaccedilatildeo das Cooperativas Brasileiras (OCB) fornecia o nuacutemero de apenas 5102

cooperativas indicando um avanccedilo pequeno na quantidade de cooperativas com um nuacutemero

de associados que natildeo chegava a 3 do total da populaccedilatildeo

Conforme explica Rech (2002 p16-17) de modo geral os instrumentos existentes na

legislaccedilatildeo brasileira que regulam a vida das cooperativas satildeo de procedecircncia conservadora

satildeo exemplos o dec-lei 5154 de 1942 ( sobre a intervenccedilatildeo do Estado nas cooperativas) o

dec-lei 5893 de 1943 (sobre a organizaccedilatildeo funcionamento e fiscalizaccedilatildeo das cooperativas)

apesar de em menor escala o dec-lei 627444 (que aumenta a interferecircncia do Estado) todos

da ditadura getulhista E da ditadura militar as Leis 4380 (que submeteram as cooperativas

habitacionais ao BNH) e 4595 ( que regula a vida das instituiccedilotildees financeiras entre as quais

as cooperativas de creacutedito) ambas de 1964 o DecLei 5966 (que revogou todas as conquistas

de liberdade cooperativistas anteriores) e a lei cooperativista de 1971 As uacutenicas exceccedilotildees

seriam o dec-lei 840145 que reavivou o Dec de 1932 e a Lei 421463 ( Estatuto do

Trabalhador Rural) que apesar de natildeo ser uma lei especiacutefica sobre o assunto poderia ter

aberto as portas para a atuaccedilatildeo cooperativista no campo

Na visatildeo de Tauile et al (2005) o fenocircmeno da autogestatildeo respeita as condiccedilotildees juriacutedicas

vigentes que apesar de natildeo impedir sua existecircncia natildeo contempla suas necessidades

1 No item 27 satildeo apresentados outros desafios

33

especiacuteficas Os empreendimentos enquadram-se nas formas do direito tradicional fato que

natildeo lhes favorece uma vez que se trata de empreendimentos autogestionaacuterios sociedades de

pessoas e natildeo de capital

Atualmente a legislaccedilatildeo cooperativista estaacute em debate Trecircs Projetos de lei de nos 60599

17199 e 42899 estatildeo tramitando no Congresso Nacional Apesar disso nenhum desses

projetos contempla as necessidades dos empreendimentos autogestionaacuterios na visatildeo dos

autores Tauile et al (2005 p151) Para eles estes empreendimentos tecircm caracteriacutesticas

especiais e necessidades especiacuteficas por serem fenocircmenos com caracterizaccedilotildees empresariais

tipicamente urbanas e de trabalho associado A legislaccedilatildeo poreacutem atende a um

cooperativismo fortemente implementado no campo de base agraacuteria para organizar pequenos

(e grandes) proprietaacuterios rurais

Uma outra evidecircncia da limitaccedilatildeo legal ocorre com os empreendimentos de ES que se

originam da recuperaccedilatildeo de massa falidas Segundo Tauile et al (2005 p147) esses

empreendimentos nascem abruptamente portanto natildeo possuem histoacutericos contaacutebeis sem

capital e sem patrimocircnio No iniacutecio das operaccedilotildees satildeo comandataacuterios ou arrendataacuterios e natildeo

estatildeo capitalizados para irem diretamente ao mercado Diante desse contexto tecircm

dificuldades de acesso a creacutedito para a continuidade do negoacutecio

Tauile et al ( 2005 p 148-149) reflete sobre a necessidade do reconhecimento pela ordem

juriacutedica dessas novas formataccedilotildees juriacutedicas por meio da criaccedilatildeo de um marco legal que

[] os reconheccedila conceitualmente e que estabeleccedila normas para atendimento de condiccedilotildees

associadas a um padratildeo socialmente aceitaacutevel para os trabalhadores e produccedilatildeo de bens para o

mercado que estabeleccedila criteacuterios de identificaccedilatildeo desses atores - empresas de autogestatildeo - que se baseiem numa interpretaccedilatildeo objetiva adequada ao perfil e agraves caracteriacutesticas do sujeito com base na

realidade social e econocircmica disposta

Este cenaacuterio demonstra as restriccedilotildees que a ES enfrenta e que circunscrita no marco legal do

capitalismo natildeo eacute possiacutevel percebecirc-la como instrumento uacutenico de negaccedilatildeo ou superaccedilatildeo do

sistema de mercado vigente contudo surgem inuacutemeras pequenas revoluccedilotildees quando nos

empreendimentos deixa de existir a dicotomia entre capital e trabalho instaurando novas

perspectivas natildeo somente de reproduccedilatildeo mas de criaccedilatildeo de novos tipos de sociabilidades

onde a solidariedade a exigecircncia de responsabilidades coletivas se constituem num intenso

processo educativo Tudo isso recria o proacuteprio conceito de trabalho o qual ganha novos

34

contornos Emprestando as palavras do filoacutesofo Luiz Razeto (1993) cada dia fica mais

claro de que haacute a necessidade de que o aspecto alternativo natildeo seja apenas uma estrateacutegia

mas o proacuteprio desenvolvimento que se busca

23 Diferenccedilas conceituais entre Terceiro Setor e Economia Solidaacuteria

A proliferaccedilatildeo dos empreendimentos solidaacuterios no Brasil muito se deve agrave forte presenccedila das

entidades do Terceiro Setor que eclodiram principalmente a partir dos anos 802 Dentre as

entidades fomentadoras da ES no Brasil pode-se destacar Agecircncia de Desenvolvimento

Solidaacuterio Central Uacutenica dos Trabalhadores (ADSCUT) Associaccedilatildeo Nacional de

Trabalhadores em Empresas de Autogestatildeo e Participaccedilatildeo Acionaacuteria (Anteag) Caacuteritas

BrasileirasUNITRABALHO- Rede Interuniversitaacuteria de Estudos e Pesquisas sobre o

Trabalho PACS Instituto de Poliacuteticas Alternativas para o Cone Sul DIEESE-

Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos Soacutecio- Econocircmicos Instituiccedilatildeo

Comunitaacuteria de Creacutedito Portosol ITCP- Incubadora Tecnoloacutegica de Cooperativas Populares

FASE- Federaccedilatildeo de Oacutergatildeos para Educaccedilatildeo e Assistecircncia Social NAPES - Nuacutecleo de Accedilatildeo e

Pesquisa em Economia de Solidariedade entre outras

Devido agrave substantiva participaccedilatildeo de entidades do Terceiro Setor na Economia Solidaacuteria

muitos entendem que a uacuteltima eacute gecircnero da primeira Isto eacute compreensiacutevel uma vez que a linha

que divide os dois territoacuterios natildeo estaacute tatildeo bem definida A distinccedilatildeo poderia ser realizada pelo

conceito de cada um dos segmentos Entretanto conceituar o Terceiro Setor natildeo eacute uma tarefa

faacutecil tendo em vista a gama de entidades que o compotildeem e a variedade de expressotildees que satildeo

utilizadas como sinocircnimas tais como ONGs entidades sem fins lucrativos organizaccedilotildees

voluntaacuterias entre outras para designar os grupos de organizaccedilotildees da sociedade civil com

atuaccedilatildeo social

Recentemente mais precisamente depois dos anos 90 muitos trabalhos acadecircmicos tecircm

envidado esforccedilos nessa tarefa de conceituar e caracterizar as entidades que constituem esse

setor Destaca-se entre as produccedilotildees sobre o tema o trabalho de Coelho ( 2002) Segundo a

2 Com a redemocratizaccedilatildeo do paiacutes essas organizaccedilotildees ampliaram a abrangecircncia de atuaccedilatildeo para novos espaccedilos

de articulaccedilatildeo soacutecio-poliacutetica como a defesa de direitos de grupos especiacuteficos da populaccedilatildeo mulheres negros

povos indiacutegenas crianccedilas abandonadas etc ( GARCIA 2003)

35

autora no Brasil o termo mais usual para a denominaccedilatildeo das entidades da sociedade civil era

organizaccedilatildeo natildeo-governamental A expressatildeo terceiro setor foi utilizada pela primeira vez

por pesquisadores nos Estados Unidos na deacutecada de 70 e na deacutecada de 80 tambeacutem passou a

ser empregada pelos pesquisadores europeus em virtude do termo expressar uma alternativa

para as desvantagens tanto do mercado associadas agrave maximizaccedilatildeo do lucro quanto do

governo com sua burocracia inoperante( COELHO 2002 p58)

Nesse sentido o Terceiro Setor eacute uma expressatildeo a que se recorre para distinguir as entidades

emergidas do seio da sociedade civil daquelas oriundas do primeiro setor (mercado) e do

segundo (aacuterea governamental) Essa denominaccedilatildeo evidencia o papel econocircmico que esse

segmento assume Coelho explica que essas organizaccedilotildees distinguir-se-iam das entidades

privadas inseridas no mercado por natildeo objetivarem o lucro e por responderem em alguma

medida agraves necessidades coletivas (COELHO 2002 p59)

Contudo Franco (1997) abre um parecircntese no sentido de natildeo se confundir coletivo e puacuteblico

pois nem todas as entidades pertencentes ao Terceiro Setor possuem fins puacuteblicos Grande

parte do Terceiro Setor eacute composta por organizaccedilotildees com fins coletivos privados como uma

organizaccedilatildeo para observaccedilatildeo de paacutessaros tropicais Essas entidades constituem-se num

agrupamento de cidadatildeos que se associam voluntariamente para perseguir objetivos que soacute

interessam a eles proacuteprios que natildeo tem a pretensatildeo ou a obrigaccedilatildeo de atender a um interesse

comum da sociedade e portanto que natildeo estatildeo voltados para o bem comum ou para a

chamada utilidade puacuteblica (FRANCO 1997 p37 apud COELHO 2002 p59)

Aleacutem dessas entidades jaacute citadas uma outra discussatildeo que se faz eacute sobre a relaccedilatildeo entre o

Terceiro Setor e os movimentos sociais Estariam os movimentos sociais circunscritos ao

Terceiro Setor Partindo-se de uma resposta negativa poder-se-ia argumentar que os

movimentos sociais natildeo integram o Terceiro Setor por natildeo possuiacuterem uma estrutura formal

feita para perdurar no tempo caracteriacutestica baacutesica de entidades do terceiro setor3 Na verdade

os movimentos sociais possuem um caraacuteter mais reivindicatoacuterio e pressionam o Estado

solicitando o fornecimento de bens ou serviccedilos

3 Conforme aleacutem de estar fora do Estado e natildeo ter fins lucrativos as entidades do Terceiro Setor possuem as seguintes caracteriacutesticas satildeo estruturadas satildeo autogovernadas Envolvem indiviacuteduos num significativo esforccedilo

voluntaacuterio (Lester Salamon amp Helmuth Anheir 1994 apud Coelho 2002 p61)

36

Entretanto nada eacute conclusivo pois tambeacutem no Terceiro Setor inscrevem-se entidades com

caraacuteter reivindicatoacuterio Essa questatildeo daacute uma ideacuteia da dificuldade de delimitaccedilatildeo dos contornos

desse setor em virtude da diversidade das entidades que o compotildeem

Alguns autores americanos (Lester Salamon Michael Gutowski amp Karen Pittman 1984 p3) entendem que as entidades do terceiro setor podem ser agrupadas da seguinte forma

1) Organizaccedilotildees que funcionam essencialmente para ajudar a seus proacuteprios membros tais

como as associaccedilotildees profissionais e clubes sociais

2) Igrejas sinagogas mesquitas e outras organizaccedilotildees religiosas sacramentadas

3) Organizaccedilotildees incluindo as fundaccedilotildees United Way e federaccedilotildees religiosas como a

Caridade Catoacutelica e a Federaccedilatildeo Judaica

4) Organizaccedilotildees que promovem caridade ou serviccedilos educacionais destinados

primeiramente para ajudar a qualquer pessoa e natildeo simplesmente seus membros

No Brasil a legislaccedilatildeo segrega as vaacuterias entidades que compotildeem o Terceiro Setor em dois

grupos ou duas formas juriacutedicas diferentes associaccedilatildeo e fundaccedilatildeo De acordo com o art 16 do

Coacutedigo Civil Brasileiro as entidades da sociedade civil sem finalidade lucrativa apresentam

caracteriacutesticas diversas em seus aspectos juriacutedicos Os arts 20 e 23 enunciam as seguintes

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo

a) os fins os meios proacuteprios e os interesses satildeo estabelecidos pelos associados

b) os associados podem alterar os fins

c) o patrimocircnio eacute constituiacutedo pelos associado e

d) os associados deliberam livremente

Por outro lado as fundaccedilotildees tecircm suas caracteriacutesticas anunciadas nos arts 24 e 30 do antigo

Coacutedigo Civil da seguinte forma

a) os fins os meios proacuteprios e os interesses satildeo estabelecidos pelo fundador

b) os fins satildeo perenes e imutaacuteveis

c) o patrimocircnio eacute fornecido pelo instituidor e

d) as resoluccedilotildees satildeo delimitadas pelo instituidor

37

Resgatando o conceito e natureza da Economia Solidaacuteria percebe-se que ela eacute um hiacutebrido

entre empresas econocircmicas e entidades da sociedade civil Aqui haacute uma semelhanccedila dos

segmentos pois ambas satildeo associaccedilatildeo de pessoas

Enquanto atividade econocircmica ela precisa gerar sobras mediante a qual se garante emprego e

renda aos trabalhadores Por outro lado enquanto atividade social ela eacute gerida por um coletivo

de pessoas que aleacutem de benefiacutecios econocircmicos cultuam valores humanos tais como

solidariedade e cooperaccedilatildeo em todo o processo econocircmico seja na relaccedilatildeo de trabalho na

relaccedilatildeo com clientes e fornecedores na relaccedilatildeo com a comunidade e com o meio ambiente

Uma situaccedilatildeo que a diferencia das empresas mercantis quando o empreendimento solidaacuterio

assume a forma juriacutedica de uma cooperativa eacute o fato de que o resultado econocircmico natildeo se

distribui com o mesmo dinamismo que em uma empresa mercantil Ele eacute distribuiacutedo

anualmente por ocasiatildeo da apuraccedilatildeo do Balanccedilo anual

Diante da dificuldade de se traccedilar precisamente as diferenccedila apenas pelas caracteriacutesticas

talvez o grande argumento para a segregaccedilatildeo dos empreendimentos de ES das entidades do

Terceiro Setor resida na legislaccedilatildeo Os empreendimentos mais representativos4 da Economia

Solidaacuteria conforme o Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (2006) as cooperativas e as

sociedades anocircnimas tecircm uma legislaccedilatildeo proacutepria apesar dos questionamentos sobre a sua

adequaccedilatildeo agraves peculiaridades dos empreendimentos de ES A cooperativa eacute uma associaccedilatildeo

autocircnoma de pessoas que se unem voluntariamente para satisfazer aspiraccedilotildees econocircmicas

sociais e culturais comuns por meio da criaccedilatildeo de uma sociedade democraacutetica e coletiva

cooperativa Diferenciam-se dos demais tipos de sociedades por serem ao mesmo tempo uma

associaccedilatildeo de pessoas e tambeacutem um negoacutecio e satildeo definidas pela lei 5764 de 16 de

dezembro de 1971 ( lei cooperativista) Jaacute os empreendimentos solidaacuterios que assumem a

forma juriacutedica de uma sociedade anocircnima satildeo regidos pela lei das Lei nordm 6404 de 15 de

dezembro de 1976 chamada lei das sociedades por accedilotildees

Veiga e Rech (2002) apontam outras diferenccedilas comparando uma associaccedilatildeo (terceiro setor)

e cooperativa (ES) conforme mostra o quadro 2 Entretanto este debate natildeo se encerraraacute ateacute

que sejam definidos contornos conceituais e legais mais efetivos aos segmentos

4 Apesar de serem representativos natildeo satildeo a maioria dos empreendimentos No Brasil as formas de organizaccedilatildeo

estatildeo assim distribuiacutedas associaccedilatildeo 54 grupos informais -33 organizaccedilotildees cooperativas 11 outras

formas de organizaccedilatildeo- 2

38

Quadro 2- Diferenccedilas entre Associaccedilotildees e Cooperativas

Criteacuterio Associaccedilatildeo Cooperativa

Conceito Sociedade de pessoas sem fins lucrativos

Sociedade de pessoas sem fins lucrativos e com especificidade de atuaccedilatildeo na atividade produtivacomercial

Finalidade Representar e defender os interesses dos associados Estimular a melhoria teacutecnica

profissional e social dos associados Realizar iniciativas de promoccedilatildeo educaccedilatildeo e assistecircncia

social

Viabilizar e desenvolver atividades de consumo produccedilatildeo prestaccedilatildeo de serviccedilos

creacutedito e comercializaccedilatildeo de acordo com os

interesses dos seus associados

Constituiccedilatildeo Miacutenimo de duas pessoas Miacutenimo de 20 pessoas fiacutesicas Legislaccedilatildeo Constituiccedilatildeo ( art 5ordm XVII a XXI

e art 174 sect2ordm) Coacutedigo civil Lei 576471 Constituiccedilatildeo ( art 5ordm XVII a

XXI e art 174 sect Coacutedigo civil Patrimocircnio Capital Patrimocircnio eacute formado por taxa

paga pelos associados doaccedilotildees

fundos e reservas Natildeo possui

capital social

Possui capital social formado por quotas-partes podendo receber doaccedilotildees

empreacutestimos e processos de capitalizaccedilatildeo

Forma de gestatildeo Nas assembleacuteias cada pessoa tem

direito a um voto As decisotildees

devem sempre ser tomadas com a participaccedilatildeo e o envolvimento dos

associados

Nas assembleacuteias cada pessoa tem direito a um voto As decisotildees devem sempre ser

tomadas com a participaccedilatildeo e o envolvimento

dos associados

Abrangecircncia aacuterea de

accedilatildeo Limita-se aos seus objetivos podendo ter abrangecircncia nacional

Limita-se aos seus objetivos e possibilidade de reuniotildees podendo ter abrangecircncia

nacional Operaccedilotildees Soacute pode realizar atividade

comercial para a implementaccedilatildeo de

seus objetivos sociais Pode realizar operaccedilotildees financeiras e

bancaacuterias usuais

Realiza plena atividade comercial Realiza operaccedilotildees financeiras bancaacuterias e pode

candidatar-se a empreacutestimos e aquisiccedilotildees do

governo federal

Responsabilidades Os associados natildeo satildeo

responsaacuteveis diretamente pelas

obrigaccedilotildees contraiacutedas pela

associaccedilatildeo A sua diretoria soacute pode

ser responsabilizada se agir sem o consentimento dos associados

Os cooperados natildeo satildeo responsaacuteveis

diretamente pelas obrigaccedilotildees contraiacutedas pela

cooperativa a natildeo ser tambeacutem nos casos em

que decidem que a sua responsabilidade eacute

ilimitadaSua diretoria soacute pode ser

responsabilizada se agir sem o consentimento dos associados

Remuneraccedilatildeo Os dirigentes natildeo tecircm remuneraccedilatildeo

pelo exerciacutecio de suas funccedilotildees

recebem apenas reembolso de suas despesas realizadas para o desempenho dos seus cargos

Os dirigentes podem ser remunerados por retiradas mensais proacute-labore definidas pela assembleacuteia aleacutem do reembolso de suas

despesas

Tributaccedilatildeo Deve fazer anualmente uma declaraccedilatildeo de isenccedilatildeo de imposto

de renda

Isento de impostos sobre operaccedilotildees com

seus associados Recolhe IRPJ sobre operaccedilotildees com terceiros Paga impostos e taxas decorrentes de accedilotildees comerciais

Resultados Financeiros O resultado positivo (superaacutevit)

obtido de operaccedilotildees entre os

associados seratildeo aplicados na

proacutepria associaccedilatildeo

O resultado positivo (sobras) satildeo divididas de

acordo com o volume de negoacutecios ou

participaccedilatildeo de cada associado Satildeo

constituiacutedas reservas de 10 para o fundo de

reserva e 5 para o Fundo Educacional ( FATES)

Fonte Adaptado de Veiga e Rech (2002)

39

24 Diferentes concepccedilotildees e modelos de participaccedilatildeo na administraccedilatildeo

A Economia Solidaacuteria na perspectiva apontada por Tauile (2001) sinteticamente possui os

seguintes traccedilos distintivos reciprocidade coletividade combinaccedilatildeo de recursos

mercantis e natildeo-mercantis cidadania que somente se constroacutei no espaccedilo puacuteblico Logo o

conceito de participaccedilatildeo eacute tambeacutem chave para compreender a dinacircmica dos empreendimentos

soliaacuterios e a autogestatildeo

No acircmbito de uma empresa a participaccedilatildeo reveste-se de um caraacuteter bastante importante

capaz de alterar as relaccedilotildees de poder no processo de gestatildeo dos negoacutecios pois

A participaccedilatildeo consiste basicamente na criaccedilatildeo de oportunidades sob as condiccedilotildees adequadas para

que as pessoas influam nas decisotildees que as afetam Essa influecircncia pode ser de pouca a muita [

participaccedilatildeo] constitui um caso especial de delegaccedilatildeo no qual o subordinado adquire um controle

maior uma maior liberdade de escolha em relaccedilatildeo a suas proacuteprias responsabilidades O termo

participaccedilatildeo eacute usualmente aplicado agrave maior influecircncia do subordinado sobre assuntos de responsabilidade do superior (MCGREGHOR 1960 p126 e 130 apud PATEMAN 1992 p 38)

Contudo a participaccedilatildeo eacute uma categoria teoacuterica bastante controversa especialmente no

acircmbito dos negoacutecios jaacute que embora no mundo moderno o local de trabalho seja agrave base de

relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo esse espaccedilo tem sido marcado desde sua origem pela negaccedilatildeo de

relaccedilotildees democraacuteticas de participaccedilatildeo Mais recentemente diversos movimentos tecircm

persuadido empresas a adotarem sistemas de participaccedilatildeo Eacute grande a variedade de modelos

participativos no acircmbito empresarial Compreendem desde accedilotildees pontuais de empregados que

apresentam suas sugestotildees aos negoacutecios ateacute a participaccedilatildeo na propriedade e nos lucros Far-

se-aacute em seguida uma imersatildeo nos diferentes conceitos de participaccedilatildeo nos negoacutecios buscando

distinguir tais conceitos daquele adotado no presente trabalho

Segundo Arantes (2000) a participaccedilatildeo nas organizaccedilotildees surgiu em decorrecircncia da pressatildeo

sindical para utilizaccedilatildeo de fundamentos democraacuteticos nas organizaccedilotildees Posteriormente foi

sendo sustentada por concepccedilotildees humanistas de administraccedilatildeo Um breve histoacuterio dessa

evoluccedilatildeo mostra que os primeiros debates de participaccedilatildeo na administraccedilatildeo ocorreram por

volta de 1880 quando nos Estados Unidos numa empresa chamada Midvale Steel Frederick

Wilson Taylor obstinado por incrementar a eficiecircncia de seus subordinados deparou com um

impasse Taylor observava e cronometrava as atividades de vaacuterios funcionaacuterios com o

objetivo de descobrir uma base cientiacutefica para compreender e executar os trabalhos

40

(ARANTES 2000 p08) Ele queria encontrar o meacutetodo mais eficiente de trabalho e que

fosse melhor para todos Entretanto apoacutes conseguir meacutetodos e maneiras para aumentar o

rendimento dos operaacuterios ele se deparou com o chamado problema dos salaacuterios

Na eacutepoca existiam duas formas praticadas de pagamento dos funcionaacuterios pagamento por dia

ou por peccedila produzida Na primeira o trabalhador recebia o salaacuterio independentemente de

sua produccedilatildeo o que tornava o aumento da eficiecircncia extremamente desinteressante para ele

Na segunda apresentava-se a seguinte questatildeo se a produccedilatildeo aumentava muito o valor por

peccedila diminuiacutea fazendo com que o sindicato estabelecesse volumes maacuteximos de produccedilatildeo por

dia de maneira que os trabalhadores natildeo fossem prejudicados

Segundo Maximiano (1996 p44)

Para resolver este problema que os dois sistemas ofereciam jaacute na eacutepoca se falava em um sistema

de participaccedilatildeo dos empregados nos lucros das empresas o qual se tem notiacutecia de ter sido praticado na Europa desde 1842 No entanto tambeacutem jaacute se reconhecia que esse sistema tinha imperfeiccedilotildees

uma vez que as flutuaccedilotildees nos lucros beneficiando ou prejudicando o empregado eram devidas a

fatores (como preccedilo da mateacuteria-prima ou decisotildees gerenciais) sobre os quais ele natildeo tinha controle

Mas foi com o movimento de relaccedilotildees humanas (os humanistas) que o advento da

participaccedilatildeo ganhou forccedila O movimento desenvolveu-se a partir de experiecircncias e estudos

realizados na Western Eletric Company entre 1924 e 1933 Esses experimentos ficaram

conhecidos como os experimentos de Hawthorne em virtude de a maioria dos estudos

terem sido realizados na faacutebrica de Hawthorne da Western Eletric nas proximidades de

Chicago

O objetivo desses estudos a princiacutepio natildeo era a avaliaccedilatildeo de comportamentos humanos

motivaccedilotildees ou participaccedilatildeo visavam apenas agrave identificaccedilatildeo da relaccedilatildeo entre o niacutevel de

iluminaccedilatildeo do local de trabalho e a produtividade dos empregados Os resultados obtidos natildeo

foram conclusivos A produtividade aparentava crescer tanto quando se aumentava a

iluminaccedilatildeo como tambeacutem quando se diminuiacutea Concluiu-se que algo aleacutem da iluminaccedilatildeo

influenciava no rendimento dos trabalhadores

Elton Mayo professor de Harvard participante dessas experiecircncias tinha uma experiecircncia

anterior de estudo das sociedades aboriacutegenes da Austraacutelia as quais se caracterizam por serem

muito unidas o que fazia despertar nos indiviacuteduos a sensaccedilatildeo de pertencer ao grupo

41

Comparando-se os trabalhadores da seccedilatildeo de enrolamentos de carreteacuteis onde as experiecircncias

foram desenvolvidas com as sociedades aboriacutegenes constatou-se que os trabalhadores

apresentavam a destruiccedilatildeo total da sensaccedilatildeo de pertencimento a um grupo ou seja era o

oposto da sociedade aboriacutegene Mayo explicou da seguinte forma a depressatildeo e alienaccedilatildeo dos

trabalhadores do setor de enrolamento de carreteacuteis

Quer como antropoacutelogo estudando uma raccedila primitiva quer como industriais estudando alguma

parte do esquema moderno caoacutetico e complexo de produccedilatildeo encontramos sempre grupos de

indiviacuteduos tanto nas selvas naturais como nas cidades modernas que encontram sua felicidade e

seguranccedila pessoal desde que exista a subordinaccedilatildeo do indiviacuteduo a um objetivo comum O homem

solitaacuterio que trabalha soacute eacute sempre uma pessoa muito infeliz( HAMPTON 1983 apud ARANTES 2000)

Outros autores tambeacutem contribuiacuteram para o desenvolvimento da Escola de Relaccedilotildees

Humanas Em 1910 na Alemanha Hugo Munsterberg realizou experimentos em que buscava

utilizar conhecimentos da psicologia experimental aplicados para ajudar na seleccedilatildeo de

homens mais bem capacitados para o trabalho A partir da seleccedilatildeo buscava-se determinar

condiccedilotildees psicoloacutegicas e influecircncias na mente humana capazes de obtenccedilatildeo de maiores

iacutendices de produccedilatildeo e um comportamento previamente desejado pela administraccedilatildeo

Em 1935 Kurt Lewin desenvolveu um dos primeiros estudos sobre motivaccedilatildeo humana e

dinacircmica de grupo o qual ficou conhecido como a teoria de campo Lewin supunha que o

comportamento humano seria derivado dos fatos existentes que adquiriria caraacuteter de um

campo-dinacircmico em que cada parte depende da inter-relaccedilatildeo com outras partes

Abraham H Maslow desenvolveu estudos sobre a teoria das necessidades motivacionais em

1944 proporcionando uma grande contribuiccedilatildeo para o desenvolvimento humano no trabalho

De acordo com a Teoria da Hierarquia das Necessidades de Maslow as pessoas satildeo

motivadas por cinco tipos distintos de necessidades fisioloacutegicas de seguranccedila de afeto de

estima e de auto-realizaccedilatildeo ( ARANTES 2000 p12)

Essas necessidades estatildeo dispostas de acordo com uma hierarquia segundo sua capacidade de

motivar o comportamento humano Num primeiro degrau o ser humano eacute motivado por

necessidades fisioloacutegicas Eles buscaratildeo satisfazecirc-las primeiramente caso natildeo estejam

satisfeitas elas tenderatildeo a monopolizar seu comportamento oferecendo dessa forma um

grande poder de motivaccedilatildeo Agrave medida que as necessidades vatildeo sendo satisfeitas o poder de

42

motivaccedilatildeo vai perdendo sua forccedila dando lugar a um novo niacutevel de descontentamento

deslocando o poder de motivaccedilatildeo para patamares superiores de necessidade dentro da

hierarquia

Entretanto pode ocorrer que as pessoas aleacutem de subirem tambeacutem desccedilam dentro da

hierarquia das necessidades A ausecircncia de satisfaccedilatildeo de necessidades inferiores pode

aumentar sua importacircncia relativa Quando haacute uma perda do emprego por exemplo o

indiviacuteduo passa a demonstrar menor necessidade pela estima e seu comportamento passa a

ser conduzido pela necessidade de pagar as contas e da seguranccedila de um novo emprego (

ARANTES 2000 p 12)

O movimento das relaccedilotildees humanas superou a abordagem claacutessica5 em virtude da ecircnfase nas

necessidades sociais Segundo Stoner

Aparentemente o ambiente social no local de trabalho eacute apenas um dos vaacuterios fatores interativos

que influenciam a produtividade Os niacuteveis de salaacuterios os niacuteveis de interesse por determinadas

tarefas a estrutura e a cultura organizacional e as relaccedilotildees entre trabalhadores e a administraccedilatildeo

tambeacutem tecircm muita importacircncia (STONER apud ARANTES 2000)

Aleacutem dessa anaacutelise histoacuterico-humanista haacute outros enfoques que podem explicar a origem da

participaccedilatildeo nas relaccedilotildees produtivas Alguns autores defendem que a participaccedilatildeo pode ter

sido originada por dois fatores a conflitual e a funcional

A conflitual tem raiz no antagonismo entre capital e trabalho surgindo neste contexto o movimento sindical como uma forma de divisatildeo de poder de maneira a diminuir conflitos A

participaccedilatildeo funcional originou-se da necessidade de reduzir a burocratizaccedilatildeo e

consequumlentemente promover a aproximaccedilatildeo entre dirigentes e dirigidos (ARANTES 2000 p15)

Na primeira perspectiva a participaccedilatildeo deixa de ser algo concebido nos estreitos limites da

organizaccedilatildeo e suas necessidades intriacutensecas para se tornar o resultado de tensotildees sociais

dentro e fora das empresas Nessa linha de pensamento Dacheler e Wilpert e Kenneth

Walker na visatildeo de Arantes satildeo os autores que mais identificavam a ligaccedilatildeo entre a

participaccedilatildeo na sociedade e a participaccedilatildeo nas organizaccedilotildees

5 Nessa abordagem a produtividade era tratada quase que exclusivamente como um problema de engenharia

43

Conforme esses autores a participaccedilatildeo pode ser concebida em quatro perspectivas teoacutericas

Teoria Democraacutetica Teoria Socialista Teoria do Desenvolvimento e Crescimento Humano e

Teoria da Produtividade e Eficiecircncia

Teoria Democraacutetica

Os principais expoentes dessa corrente satildeo Rosseau Stuart Mill e Tocqueville Para eles a

participaccedilatildeo democraacutetica deve ocorrer em todos os acircmbitos sociais e natildeo somente atraveacutes da

representaccedilatildeo poliacutetica no Estado Toda instituiccedilatildeo deve buscar a incorporaccedilatildeo de valores

democraacuteticos Esses valores aparecem nos ambientes fabris na forma institucionalizada

atraveacutes da representaccedilatildeo de empregados em diversos niacuteveis ou na forma gerencial

administrativa atraveacutes da participaccedilatildeo direta nas decisotildees principalmente na liberdade de

execuccedilatildeo de suas tarefas(ARANTES 2000 p 17)

Teoria Socialista

Essa concepccedilatildeo tem origem nos socialistas utoacutepicos no socialismo cientiacutefico de Marx e

Engels e no anarquismo de Proudhon A participaccedilatildeo encerra a ideacuteia de distribuiccedilatildeo de poder

na sociedade podendo ser dois enfoques ou duas correntes distintas a anarquista que defende

a centralidade do poder nas matildeos do povo e a comunista corrente em que o poder eacute exercido

atraveacutes do Estado Em uma organizaccedilatildeo a participaccedilatildeo atinge seu aacutepice quando consegue

exercer a autogestatildeo

Teoria das Relaccedilotildees e Desenvolvimento Humano

Essa teoria emerge do ambiente gerencial opondo-se agrave Teoria Socialista em que a

participaccedilatildeo irradia dos empregados Admite que o ambiente de trabalho gera contradiccedilotildees

entre o desejo pessoal e a necessidade da empresa e esses conflitos podem provocar

insatisfaccedilatildeo por parte dos empregados resultando em diminuiccedilatildeo da produtividade da

empresa Entretanto a motivaccedilatildeo pode evitar o potencial conflito Isso eacute possiacutevel atraveacutes do

desenvolvimento de equipes de trabalho e arranjos da estrutura organizacional facilitando a

praacutetica da participaccedilatildeo e integraccedilatildeo entre os empregados e a empresa(ARANTES 2000 p

18)

44

Teoria da produtividade e Eficiecircncia

Essa teoria concebe a participaccedilatildeo como uma tecnologia disponiacutevel agrave gerecircncia capaz de

proporcionar maior produtividade e eficiecircncia Segundo seus defensores a participaccedilatildeo nas

tarefas eacute uma ferramenta para enriquecimento das funccedilotildees e aumento da eficiecircncia gerando

maiores lucros que posteriormente podem vir a ser divididos proporcionando novo fator de

motivaccedilatildeo

Partidaacuterio dessa uacuteltima concepccedilatildeo Walker (1974) vecirc a participaccedilatildeo nas organizaccedilotildees como

uma funccedilatildeo gerencial que permite graus de envolvimento dos trabalhadores no processo

decisoacuterio objetivando os interesses da empresa Esse envolvimento eacute de interesse dos

trabalhadores uma vez que estariam contribuindo e intervindo em situaccedilotildees que dizem

respeito diretamente agraves suas vidas Para Walker

Eacute atraveacutes da participaccedilatildeo dos empregados que as empresas poderatildeo encontrar as soluccedilotildees para a

melhoria de sua produccedilatildeo O conhecimento dos funcionaacuterios embora seja uma alternativa pouco

utilizada pelas empresas pode ser a soluccedilatildeo para grandes problemas operacionais (WALKER 1974 apud ARANTES 2000)

As mais variadas perspectivas de participaccedilatildeo possuem como premissas as consequumlecircncias

que conforme a matriz teoacuterica poderia afetar mais ou menos a empresa mais ou menos os

trabalhadores de acordo com o interesse subjacente a cada perspectiva Walker apresenta um

quadro no qual sintetiza as perspectivas de participaccedilatildeo e suas possiacuteveis repercussotildees

Quadro 3- Perspectivas da participaccedilatildeo e suas possiacuteveis repercussotildees

Perspectivas Possiacuteveis Repercussotildees

Promoccedilatildeo dos interesses dos trabalhadores Melhores condiccedilotildees de emprego

Democracia Maior influecircncia dos trabalhadores nas decisotildees

empresariais

Reduccedilatildeo da alienaccedilatildeo Maior satisfaccedilatildeo dos trabalhadores

Utilizaccedilatildeo dos recursos humanos Maior eficaacutecia

Cooperaccedilatildeo e atenuaccedilatildeo dos conflitos Menor nuacutemero de greves

Soluccedilatildeo dos problemas sociais da comunidade Melhoramento dos recursos sociais da comunidade

Freio agrave eficaacutecia Menos eficaacutecia

Inclusatildeo de prerrogativas sociais na empresa Fins da empresa privada

Responsabilidades sociais da empresa Representaccedilatildeo mais equilibrada dos interesses

Fonte WALKER 1974 p 07 apud ARANTES 2000

45

Sinteticamente a participaccedilatildeo dos empregados nas decisotildees das empresas via de regra pode

ocorrer de duas formas em menor escala quando a decisatildeo versa sobre o seu proacuteprio trabalho

e de seu grupo e a decisatildeo nas diretrizes da empresa como um todo Na segunda forma aleacutem

da decisatildeo sobre o trabalho e sua organizaccedilatildeo eacute concedida aos trabalhadores a possibilidade

de decidirem tambeacutem sobre a alocaccedilatildeo de recursos investimentos e destinaccedilatildeo do resultado

destes

Uma das formas mais difundidas de participaccedilatildeo dos empregados nas decisotildees das empresas eacute

a representativa quando um funcionaacuterio compotildee o conselho da empresa Essa forma eacute

mundialmente referenciada como company board Com essa representaccedilatildeo os empregados

tomam parte nas decisotildees que variam desde aquelas que afetam seu trabalho como tambeacutem

as relativas agraves estrateacutegias da empresa decisotildees de obtenccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de recursos

direcionamento de lucros e crescimento

Satildeo igualmente exemplos de participaccedilatildeo representativa os comitecircs de empresa e a co-gestatildeo

na Alemanha Na co-gestatildeo haacute a garantia de que o empregador soacute poderaacute tomar certas

medidas com a anuecircncia do empregado Esta co-participaccedilatildeo inclui decisotildees sobre escolha

de pessoal transferecircncias preenchimentos de vagas demissotildees e sobre as jornadas de

trabalho e descansos( ARANTES 2000 p 26)

Outra forma de participaccedilatildeo eacute aquela que incide sobre os resultados (no lucro) Essa pode ter

conexotildees e ligaccedilotildees diretas com outras formas de participaccedilatildeo na empresa tal como a

participaccedilatildeo nas decisotildees ou pode apresentar-se como um conjunto de remuneraccedilatildeo

objetivando o aumento da motivaccedilatildeo e do envolvimento dos empregados bem como forma de

compartilhar os riscos da empresa

A substituiccedilatildeo da remuneraccedilatildeo fixa por mecircs ou hora reconhecida como padratildeo por compostos de

remuneraccedilatildeo dimensatildeo vinculada ao desempenho teve suas origens no pagamento por peccedila

produzida e nos precircmios por produtividade muito comuns no iniacutecio do seacuteculo XIX Esse sistema

diminuiu significativamente com o aumento e sofisticaccedilatildeo do trabalho uma vez que foca a

realizaccedilatildeo da tarefa reforccedila a cultura individualista a necessidade de comando e impossibilita o

desenvolvimento de inovaccedilotildees (ARANTES 2000 p 27)

O objetivo das remuneraccedilotildees dimensotildees segundo Wood e Picareli eacute alinhar e convergir

esforccedilos para melhorar o desempenho da empresa A remuneraccedilatildeo dimensatildeo pode ser

subdividida em dois grandes grupos a participaccedilatildeo nos lucros e remuneraccedilatildeo por

46

resultados A primeira refere-se agrave divisatildeo de resultados globais obtidos pela empresa

enquanto a remuneraccedilatildeo por resultados tem abrangecircncia menor relacionando-se com a

obtenccedilatildeo de metas individuais ou de equipes

A remuneraccedilatildeo por resultados combina a praacutetica de administraccedilatildeo participativa com um

sistema de bocircnus geralmente fixado pelo empregado ou pelo grupo ou seja eacute estabelecida

uma foacutermula de transformaccedilatildeo das metas previamente fixadas em bocircnus Jaacute a participaccedilatildeo

nos lucros normalmente natildeo estaacute ligada a foacutermulas de desempenho individual ou de grupo e

natildeo necessariamente estaacute vinculada a praacuteticas de administraccedilatildeo participativa O recebimento

das bonificaccedilotildees pode estar somente ligado ao resultado final da empresa e uma quantidade

arbitraacuteria pode ser distribuiacuteda tambeacutem de forma arbitraacuteria apoacutes atingir uma meta de lucro

anual(ARANTES 2000 p28)

Arantes enfatiza que se participativamente estipulada e coletivamente controlada e

acompanhada a distribuiccedilatildeo de lucros proporciona um aumento de motivaccedilatildeo individual e

reciacuteproca atraveacutes do monitoramento coletivo do trabalho pautado na obtenccedilatildeo de vantagens

comuns Ressalta ainda que a participaccedilatildeo nas decisotildees sem a obtenccedilatildeo de resultados eacute falha

e de difiacutecil construccedilatildeo Por outro lado a obtenccedilatildeo de parte nos resultados mediante a

distribuiccedilatildeo dos lucros desacompanhada de envolvimento nas decisotildees tende a desvirtuar os

propoacutesitos da participaccedilatildeo

Uma outra modalidade de participaccedilatildeo existente eacute a participaccedilatildeo na propriedade que se daacute

atraveacutes de fundo de pensatildeo ou pela participaccedilatildeo na propriedade daqueles que efetivamente

trabalham na empresa No fundo de pensatildeo o trabalhador tem uma quota de participaccedilatildeo da

empresa durante o tempo trabalhado mediante a qual tem sua aposentadoria garantida Na

participaccedilatildeo da empresa os trabalhadores podem ser soacutecios efetivos acionistas minoritaacuterios

ou portadores de pequenas parcelas de accedilotildees A obtenccedilatildeo de parte da propriedade da empresa

tende ao reforccedilo da identificaccedilatildeo e do comprometimento com a organizaccedilatildeo e a ampliaccedilatildeo da

participaccedilatildeo nos lucros e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo de terceiros de forma especulativa

reforccedilando o caraacuteter de longo prazo da empresa

Todas as modalidades de participaccedilatildeo ateacute o momento analisadas dizem respeito agraves relaccedilotildees

Capital x Trabalho ainda que em muitos casos a participaccedilatildeo contribua para minimizar a

supremacia do primeiro sobre o segundo tornando mais democraacuteticas as relaccedilotildees de produccedilatildeo

47

e proporcionando ganhos reais (econocircmicos e poliacuteticos) aos trabalhadores No entanto no que

se refere ao escopo desta pesquisa eacute a participaccedilatildeo total que se daacute no acircmbito de

empreendimentos cujo traccedilo fundamental seja a coletividade dos meios de produccedilatildeo que

interessa diretamente e sobre a qual repousa o papel da contabilidade Portanto apoacutes a

digressatildeo realizada para serem destacadas as diferenccedilas fundamentais das perspectivas

teoacutericas aqui inscritas no proacuteximo item retornar-se-aacute ao centro das discussotildees que circundam

o objeto da presente pesquisa qual seja a Autogestatildeo forma proacutepria de administraccedilatildeo dos

chamados Empreendimentos Solidaacuterios e base sobre a qual emerge a Contabilidade como

instrumento e como necessidade

25 Autogestatildeo Modelo de participaccedilatildeo total na gestatildeo e princiacutepio da ES

No ambiente da administraccedilatildeo a autogestatildeo pode ser definida como uma forma de

participaccedilatildeo em que a totalidade do capital da empresa pertence aos seus participantes ou

seja os seus trabalhadores os quais assumem o controle da gestatildeo da empresa Nesse modelo

de gestatildeo eacute o grupo quem determina os objetivos e diretrizes da empresa sem reverecircncia a

nenhuma autoridade externa Na autogestatildeo natildeo existe diferenccedila entre administradores e

administrados visto que todos participam e detecircm a propriedade do capital da empresa

Analisando sob um prisma mais amplo que os limites empresariais compreende-se que a

conquista dessa forma de gestatildeo resultou da busca por alternativas agrave gestatildeo autoritaacuteria e

centralizada Portanto estaacute associada a uma antiga reivindicaccedilatildeo dos trabalhadores pela

democratizaccedilatildeo das estruturas de decisatildeo nas faacutebricas ou seja tem uma vinculaccedilatildeo com o

ideal poliacutetico da emancipaccedilatildeo do trabalhador e com a utopia de uma sociedade mais justa e

democraacutetica

Dessa forma este trabalho compreende a participaccedilatildeo na gestatildeo como a base para formaccedilatildeo

da cidadania Cidadania e participaccedilatildeo satildeo conceitos gecircmeos com os quais se define um outro

conceito Democracia Na verdade haacute um triacircngulo conceitual complementar e dependente

Democracia Cidadania Participaccedilatildeo sobre o qual se inscreve a concepccedilatildeo de atuaccedilatildeo da

contabilidade Aqui uma aproximaccedilatildeo com as orientaccedilotildees teoacutericas socialistas e com a Teoria

Democraacutetica eacute clara pois segundo Pateman

48

A teoria da democracia participativa eacute construiacuteda em torno da afirmaccedilatildeo de que os indiviacuteduos e

suas instituiccedilotildees natildeo podem ser considerados isoladamente A existecircncia de instituiccedilotildees

representativas a niacutevel nacional natildeo basta para a democracia pois o maacuteximo de participaccedilatildeo de

todas as pessoas a socializaccedilatildeo ou treinamento social precisa ocorrer em outras esferas de

modo que as atitudes e qualidades psicoloacutegicas necessaacuterias possam se desenvolver Esse

desenvolvimento ocorre por meio do proacuteprio processo de participaccedilatildeo (PATEMAN 1992 p60)

A autora toma a participaccedilatildeo como o mecanismo democraacutetico por excelecircncia a democracia eacute

a finalidade pela qual a participaccedilatildeo deve se instituir e a finalidade da democracia eacute o bem

comum Esse bem comum natildeo eacute algo dado mas construiacutedo a partir do processo de educaccedilatildeo

que somente pode existir por meio da participaccedilatildeo que em uacuteltima instacircncia se constitui na

autogestatildeo A democracia segundo a autora pressupotildee representaccedilatildeo lideranccedilas mas ela natildeo

sobrevive sem a participaccedilatildeo dos indiviacuteduos como autores das decisotildees mais fundamentais

sob as quais se submeteratildeo agraves vontades individuais A participaccedilatildeo nos niacuteveis mais inferiores

da organizaccedilatildeo social e econocircmica eacute uma necessidade inerente agrave participaccedilatildeo nos niacuteveis mais

altos da poliacutetica A participaccedilatildeo eacute portanto o meio pelo qual se adquire as habilidades

teacutecnicas poliacuteticas e emocionais para o exerciacutecio democraacutetico que comeccedila no ambiente de

trabalho ou nos niacuteveis mais elementares de reproduccedilatildeo da vida em sociedade

Uma leitura dos empreendimentos de economia solidaacuteria agrave luz da Teoria Democraacutetica

portanto leva a perceber que tais iniciativas natildeo tecircm uma funccedilatildeo somente de alternativa ao

desemprego mas se constituem num aprendizado para a Democracia no sentido mais amplo

Utilizando a autogestatildeo como meacutetodo de administraccedilatildeo adquirem estatuto pedagoacutegico no

qual os cidadatildeos assumem compromissos e objetivos comuns tomam decisotildees reforccedilam o

senso de responsabilidade e estimula maior participaccedilatildeo pelo sentimento de eficaacutecia que suas

decisotildees adquirem Entatildeo uma das motivaccedilotildees da participaccedilatildeo eacute o sentido da eficaacutecia poliacutetica

ou o sentido de competecircncia poliacutetica Isso eacute compreendido como o sentimento de que a accedilatildeo

poliacutetica do indiviacuteduo tem ou poder ter um impacto sobre o processo poliacutetico ou seja vale a

pena cumprir alguns deveres ciacutevicos (CAMPBELL et al 1965 p187 apud PATEMAN

1992) E mais

As pessoas com senso de eficaacutecia poliacutetica tecircm mais probabilidade de participar de poliacutetica do que

aquelas que carecem desse sentimento e se descobriu tambeacutem que subjacente ao senso de eficaacutecia

poliacutetica estaacute uma sensaccedilatildeo geral de eficiecircncia pessoal que envolve autoconfianccedila na relaccedilatildeo do

sujeito com o mundo As pessoas que se sentem mais eficientes em suas tarefas e desafios cotidianos tecircm mais probabilidade de participar em poliacutetica (MILBRATH 1965 p59 apud PATEMAN 1992)

49

Desse modo eacute que a competecircncia para a autogestatildeo ganha importacircncia significativa pois tais

empreendimentos findam por apresentar um caraacuteter de muacuteltiplas funccedilotildees na sociedade

contemporacircnea funccedilatildeo econocircmica poliacutetica e cultural A potencialidade dos empreendimentos

autogestionaacuterios adveacutem de uma condiccedilatildeo muito importante qual seja a totalidade do capital

da empresa pertence aos seus participantes e sendo assim eles adquirem uma condiccedilatildeo social

de simetria que permite as condiccedilotildees favoraacuteveis agrave participaccedilatildeo uma vez que as diferenccedilas

econocircmicas desaparecem 6

Entretanto eacute necessaacuterio que todas as condiccedilotildees e recursos na aacuterea de gestatildeo estejam a serviccedilo

da eficaacutecia poliacutetica a fim de viabilizar decisotildees coletivas e de fazer com que o fluxo de

informaccedilotildees seja democraticamente acessado De forma contraacuteria num processo de

autogestatildeo o domiacutenio assimeacutetrico de informaccedilotildees e assimetria econocircmica pode interferir

negativamente no acircnimo para a participaccedilatildeo contribuindo para o fracasso das iniciativas de

empreendimentos solidaacuterios Essa preocupaccedilatildeo deve ocupar o centro das atenccedilotildees de quem

deseja contribuir para o fortalecimento das alternativas solidaacuterias de autogestatildeo

Assim ao se buscar discutir no acircmbito desta pesquisa a dimesatildeo contaacutebil nos

empreendimentos solidaacuterios e as possiacuteveis demandas dos mesmos agrave contabilidade desloca-

se o problema dos estreitos limites contaacutebeis para procura-se compreender a complexidade

das relaccedilotildees que determinam tais demandas e fundamentalmente busca-se problematizar o

papel de uma aacuterea eminentemente teacutecnica para colocaacute-la no marco civilizatoacuterio em que

claramente jaacute natildeo concebe a neutralidade da teacutecnica tal qual se propalava no iniacutecio do

seacuteculo XIX

6 Autores vinculados agrave Teoria Democraacutetica apontam como primeiro obstaacuteculo agrave participaccedilatildeo as grandes diferenccedilas soacutecio-

econocircmicas Tocqueville em seu claacutessico Democracia na Ameacuterica ao indicar as origens que solidificaram a democracia

norte-americana busca nas condiccedilotildees socioeconocircmicas a explicaccedilatildeo Os emigrantes que vieram estabelecer-se na costa da

Nova Inglaterra pertenciam todos agraves classes abastadas da matildee-patria Sua reuniatildeo no solo americano apresentou desde a

origem o singular fenocircmeno de uma sociedade em que natildeo havia nem grandes senhores nem povo e por assim dizer nem

pobres nem ricos (Tocqueville 1998 p 40)

50

26 Experiecircncias Internacionais de autogestatildeo Alemanha Inglaterra e Yugoslaacutevia

Antes do Brasil em vaacuterios paiacuteses jaacute se registravam experiecircncias de autogestatildeo ou co-gestatildeo

A experiecircncia pioneira em co-gestatildeo teve iniacutecio na Alemanha no final do seacuteculo XIX com a

lei de desregulamentaccedilatildeo de manufaturas e a lei sobre as comissotildees de trabalho da induacutestria

extrativa Alicerccedilada na doutrina social catoacutelica representou um contraponto agraves ideacuteias

revolucionaacuterias comunistas do iniacutecio do seacuteculo XX Baseou-se na ideacuteia de que a colaboraccedilatildeo

de classes e a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio poliacutetico deveriam prevalecer em relaccedilatildeo agrave extinccedilatildeo da

propriedade privada Defendia o trabalho integrativo como forma de desenvolvimento das

empresas e da sociedade Em muitos casos na co-gestatildeo haacute a garantia de que o empregador

soacute poderaacute tomar certas medidas com a anuecircncia do empregado Esta co-participaccedilatildeo inclui

decisotildees sobre escolha de pessoal transferecircncias preenchimentos de vagas demissotildees e sobre

as jornadas de trabalho e descansos(ARANTES 2000 p 26)

Na antiga Yugoslaacutevia conforme alguns pesquisadores tais como Dunlop ( 1958 ) e Vanek

(1963) a autogestatildeo apresentou sua melhor tipificaccedilatildeo O sistema Iugoslavo foi o

resultado de uma lei de 1950 a qual determinou que as empresas fossem administradas

pelos trabalhadores coletivamente Embora desde entatildeo tenha sido alterada diversas

vezes recentemente ainda representava a base do sistema econocircmico yugoslavo o qual

era fundamentado no trabalho coletivo constituiacutedo por empresas administradas pelos

trabalhadores e que cujo resultado final era dividido entre todos os membros

A constituiccedilatildeo Yugoslava revisada em 1963 descrevia em seu artigo 6 que o sistema

econocircmico do paiacutes seria uma comunidade de trabalho voluntaacuterio com os meios de

produccedilatildeo pertencentes a todos e a produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo tambeacutem gerenciadas por todos

Em geral o conjunto de trabalhadores era quem estruturava a administraccedilatildeo das empresas

em dois principais alicerces na eleiccedilatildeo de gestores e no estabelecimento de

procedimentos de administraccedilatildeo e controle Eram os trabalhadores quem escolhiam

diretamente em eleiccedilotildees secretas um grupo denominado de Conselho de Trabalhadores

cujo nuacutemero de membros variava entre 15 e 120 dependendo do tamanho da empresa O

papel do Conselho de Trabalhadores correspondia ao papel de proprietaacuterios nas empresas

tradicionais Dessa forma eram-lhes atribuiacutedas as seguintes responsabilidades exame e

aprovaccedilatildeo de programas perioacutedicos da empresa que incluiam planos de produccedilatildeo

51

financcedilas e investimentos poliacutetica de preccedilos marketing e de distribuiccedilatildeo de dividendos aos

trabalhadores Ele tambeacutem elegia entre seus membros um grupo de trecircs a onze pessoas

que compunham o Conselho de Gestatildeo da empresa cuja atribuiccedilatildeo era responder pelo

funcionamento eficiente da entidade como tambeacutem era responsaacutevel por preparar

relatoacuterios para o Conselho de Trabalhadores

O gerente geral do empreendimento por sua vez natildeo era membro do Conselho de

Trabalhadores mas sim indicado conjuntamente pelo Conselho de Trabalhadores e pela

municipalidade onde a empresa se estabelecia Era um funcionaacuterio responsaacutevel por liderar

o processo gerencial e implementar os planos definidos pelo Conselho de Gestatildeo O seu

salaacuterio e suas atribuiccedilotildees eram definidos pelo Conselho de Trabalhadores

Com toda essa organizaccedilatildeo a Yugoslaacutevia representava um sistema estruturado de

autogestatildeo Hoje natildeo se pode afirmar que essa estrutura permaneccedila uma vez que natildeo se

teve acesso a bibliografias que relatassem a situaccedilatildeo da autogestatildeo apoacutes as mudanccedilas

poliacuteticas ocorridas nesse paiacutes

Em outros paiacuteses como Espanha tambeacutem registra-se a presenccedila de experiecircncias

autogestionaacuterias bem-sucedidas tais como o complexo de Mondragoacuten Um conglomerado

de cooperativas que diversificaram suas atividades e hoje eacute exemplo contundente de como

a autogestatildeo pode conduzir agrave viabilidade econocircmica e que ES nem sempre eacute sinocircnimo de

pequeno empreendimento

Em muitos outros paiacuteses observam-se tambeacutem participaccedilotildees representativas nas decisotildees das

empresas embora de maneira menos regulamentada que na Alemanha Os comitecircs de

empresas satildeo bastante comuns na Europa como os Comiteacute dEntreprise na Franccedila o Labour

Management Joint Committee na Inglaterra e os Jurados de Empresa na Espanha No Brasil

representaccedilatildeo similar encontra-se geralmente na induacutestria atraveacutes das comissotildees de faacutebrica

as quais consistem em agremiaccedilotildees de funcionaacuterios com o objetivo de participaccedilotildees mais

efetivas nas decisotildees das empresas

Na Inglaterra aleacutem de formas participativas de gestatildeo haacute a presenccedila de um movimento

equivalente agrave Economia Solidaacuteria denominado Participatory Economy (Parecon) Os

52

componentes institucionais e centrais de organizaccedilatildeo do Parecon descritos por Michael

Albert ( 2003) satildeo

Posse coletiva dos meios de produccedilatildeo Conselhos de trabalhadores e de consumidores como principais corpos de tomada de

decisatildeo Trabalhadores tecircm um meacutedia diaacuteria de trabalho em complexos equilibrados Remuneraccedilatildeo para o esforccedilo e sacrifiacutecio Participaccedilatildeo planejada e autogestatildeo econocircmica (MICHAELS 2003 p84 apud

FOTOPOULOS 2004 p3)

Assim como a ES no Brasil a Parecon representa uma visatildeo alternativa de organizaccedilatildeo

econocircmica e poliacutetica da sociedade baseado na autogestatildeo A Parecon segundo Wetzel

(2006 p 3) seraacute a base de construccedilatildeo de uma sociedade em que os povos podem controlar

suas vidas e as induacutestrias onde trabalham Para ele a autogestatildeo deve se espalhar para

todas as organizaccedilotildees de trabalhadores e estes exerceram o controle direto das

organizaccedilotildees da produccedilatildeo social e da sociedade Os defensores da Parecon advogam a tese

de uma outra organizaccedilatildeo poliacutetica diferente do Estado uma vez que o consideram como

um patrimocircnio da elite Nesta visatildeo sua estrutura hieraacuterquica separa-o do controle eficaz

pela massa dos povos

27 Gargalos e criacuteticas agrave Economia Solidaacuteria e Autogestatildeo

Em busca da ampliaccedilatildeo da compreensatildeo da ES e autogestatildeo a seguir satildeo apresentados os

diversos gargalos e criacuteticas imputadas a esse segmento Primeiramente seratildeo abordados os

gargalos ou entraves da ES

O Ministeacuterio do Trabalho e Emprego atraveacutes do trabalho de mapeamento dos

empreendimentos solidaacuterios levantou uma seacuterie de dificuldades enfrentadas pelos

Empreendimentos de Economia Solidaacuteria (EES) Conforme MTE (2006 p46)

[] constata-se que 61 dos EES afirmaram ter dificuldades na comercializaccedilatildeo 49 para acesso

agrave creacutedito e 27 natildeo tiveram acesso a acompanhamento apoio ou assistecircncia teacutecnica A regiatildeo

norte estaacute acima da meacutedia nacional em todos os itens (68 comercializaccedilatildeo 54 creacutedito e 34

apoio ou assistecircncia) A regiatildeo nordeste destaca-se pela dificuldade de creacutedito (58 dos EES) e a

regiatildeo centro-oeste pelo natildeo acesso a apoio ou assistecircncia teacutecnica ( 35)

53

O graacutefico 1 ilustra os desafios enfrentados pelos Empreendimentos de ES

Graacutefico 1- Dificuldades dos EES Brasil e regiotildees

Fonte site wwwmtegovbrEmpregadorEconomiaSolidariaConteudoATLAS_PARTE_4pdf

Portanto haacute um longo caminho a percorrer em direccedilatildeo agrave superaccedilatildeo desses gargalos

Muitas soluccedilotildees podem ser apontadas no que diz respeito agrave dificuldade de creacutedito mas a

principal perpassa pela implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de financiamento agrave ES o que

jaacute vem sendo realizado pelo atual governo federal e alguns governos estaduais Entretanto

ainda eacute necessaacuterio ampliar a escala de atendimentos a esses empreendimentos No que diz

respeito agraves dificuldades de comercializaccedilatildeo e de acompanhamento aleacutem de accedilotildees do

governo o problema faz um convite agraves aacutereas de conhecimento voltadas a negoacutecios

principalmente a contabilidade no sentido de seu envolvimento com esse segmento

econocircmico e social

Passando nesse momento agraves criacuteticas direcionadas agrave ES e autogestatildeo eacute importante

destacar o posicionamento dos autores Assman e Mo Sung (2003) os quais direcionam

diversos questionamentos e ponderaccedilotildees agrave ES Uma delas diz respeito agrave operacionalidade

da ES A partir de resgates de trechos de obras de autores expressivos da Economia

Solidaacuteria destacam pontos de contradiccedilatildeo e incongruecircncia de seus princiacutepios e propostas

Eis os trechos

A ideacuteia baacutesica eacute mediante a solidariedade entre produtores autocircnomos de todos os tamanhos e

tipos assegurar a cada um mercado para seus produtos e uma variedade de economias externas de financiamento e ainda a orientaccedilatildeo teacutecnica legal contaacutebil etc

54

Dadas as dificuldades a solidariedade eacute a soluccedilatildeo racional um conjunto de produtores

autocircnomos se organiza para trocar seus produtos entre si o que daacute a todos e a cada um uma

maneira de escoar a produccedilatildeo sem ser de imediato aniquilado pela superioridade dos que jaacute

estatildeo estabelecidos (SINGER 2002 p99-100 apud ASSMAN e MO SUNG 2003 p 143)

Na primeira questatildeo levantada apontam para os limites de operacionalizaccedilatildeo da proposta

Baseiam-se na visatildeo de que a solidariedade da ES natildeo eacute realidade em todas as empresas e

grupos da sociedade mas entre os produtores autocircnomos pequenas e microempresas que

natildeo conseguiriam sobreviver agrave concorrecircncia das meacutedias e grandes empresas sem essa

relaccedilatildeo de solidariedade Portanto eacute uma proposta de viabilizaccedilatildeo de um tipo de economia

convivendo com a economia capitalista de mercado (ASSMAN e MO SUNG 2003

p143)

Assim a realidade da solidariedade soacute existiria no interior da ES e entre suas empresas

que adotassem a autogestatildeo e natildeo em toda sociedade ou seja a solidariedade natildeo

substituiria a relaccedilatildeo de concorrecircncia nas demais empresas Dessa forma os autores

concluem que a Economia Solidaacuteria natildeo propotildee o fim do mercado caracterizado pela

concorrecircncia mas sim a criaccedilatildeo e a manutenccedilatildeo de um mercado para os empreendimentos

autogestionaacuterios E a manutenccedilatildeo de relaccedilotildees de mercado significa tambeacutem a continuidade

da concorrecircncia entre os agentes econocircmicos

Nessa perspectiva segundo os autores haveria uma frustraccedilatildeo daqueles que defendem

uma sociedade harmoniosa justa e solidaacuteria ou seja aqueles que natildeo percebem ou natildeo

querem aceitar a tensatildeo inevitaacutevel entre os desejosutopias e as necessaacuterias

institucionalizaccedilotildees na sociedade natildeo aceitam essa visatildeo de Economia Solidaacuteria

(ASSMAN e MO SUNG 2003 p143)

Um outro ponto levantado pelos autores emerge do trecho de uma obra de Paul Singer7 no

qual ele afirma que a proposta de ES eacute menos inconsistente do que a economia capitalista

porque coloca aberta e diretamente a solidariedade como princiacutepio organizador da

economia social em lugar da competiccedilatildeo embora natildeo visualize o fim da concorrecircncia no

campo da economia e tambeacutem nas relaccedilotildees sociais

7 SINGER Paul Desafio agrave solidariedade In GUIMARAES Gonccedilalves p63-79

55

A questatildeo colocada aqui eacute a seguinte Eacute possiacutevel organizar uma sociedade ou uma

economia social soacute com um princiacutepio Para essa questatildeo perguntam se natildeo seria

aconselhaacutevel pensar em mais de um princiacutepio organizador da economia e da sociedade

Sentenciam que os neoliberalistas pretendem fazer da competiccedilatildeo o uacutenico princiacutepio

organizador da sociedade Por outro lado os marxistas tentaram fazer do planejamento

centralizado o uacutenico princiacutepio e hoje surgem muitos grupos que querem fazer do

conceito de solidariedade o uacutenico princiacutepio organizador(ASSMAN e MO SUNG 2003

p152) Princiacutepios de organizaccedilatildeo social como argumentam deveriam servir para

articular de maneira eficiente e sustentaacutevel a garantia da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de bens

e serviccedilos para a ampla maioria e a totalidade dos membros da sociedade

Em relaccedilatildeo agrave possibilidade de expandir a ES a niacutevel global Assman e Mo Sung fazem um

outro questionamento Se a economia solidaacuteria conseguir atingir dimensotildees tais que possa

competir com o grande capital continuaraacute mantendo as caracteriacutesticas de solidariedade que

eacute possiacutevel quando se estaacute em uma escala pequena

Mesmo considerando que natildeo haacute elementos para se dar uma resposta definitiva uma vez

que a situaccedilatildeo nunca ocorreu antecipam-se afirmando que a economia solidaacuteria em

grande escala natildeo manteraacute as mesmas caracteriacutesticas Isso porque quando um sistema

ou uma rede cresce muito em escala surgem novas propriedades no sistema que

modificam as suas caracteriacutesticas de funcionamento (ASSMAN e MO SUNG 2003

p145)

O Parecon tambeacutem apresenta vaacuterios pontos nevraacutelgicos na visatildeo de seus criacuteticos Assim

como na ES a criacutetica tambeacutem reside na impossibilidade desta se apresentar enquanto

modelo de organizaccedilatildeo social Segundo Fotopoulos (2004 p01) Parecon eacute

simplesmente um modelo econocircmico para uma economia alternativa e como tal natildeo

caracteriza instituiccedilotildees sociais poliacuteticas culturais mais amplas Dessa forma considera

Parecon incompatiacutevel com uma organizaccedilatildeo de estado tendo em vista que

Dada a natureza de Parecon como puramente um modelo econocircmico natildeo estaacute surpreendendo

que os atores principais nela satildeo determinados pelo campo econocircmico Assim o conceito do

cidadatildeo falta completamente no modelo do Parecon e eacute substituiacutedo preferivelmente por trabalhadores e por consumidores (FOTOPAULO 2004 p02)

56

Por fim sentencia que o modelo Parecon natildeo tem a capacidade de fixar as preacute-condiccedilotildees

institucionais requeridas para a criaccedilatildeo de um novo modelo de organizaccedilatildeo social a qual

integraria a sociedade com os aspectos econocircmicos poliacuteticos e naturais Natildeo pode fixar a

integraccedilatildeo da sociedade com a economia porque natildeo pode interferir na liberdade da

escolha dos cidadatildeos somente como produtores e consumidores tendo em vista que estes

iratildeo preocupar-se exclusivamente com o planejamento e alocaccedilatildeo dos recursos escassos

A integraccedilatildeo com a poliacutetica natildeo se daria porque a unidade baacutesica de exame e decisatildeo na

Parecon natildeo eacute o cidadatildeo mas os trabalhadores e conselho de consumidores Dessa forma

os cidadatildeos estariam alijados do processo decisoacuterio Por uacuteltimo o Parecon natildeo pode

integrar com a natureza porque objetiva o crescimento econocircmico dentro do sistema de

mercado e natildeo trata os problemas ecoloacutegicos como um problema externo maior que requer

uma mudanccedila radical no modo de vida e nos valores

Sem negligenciar esses questionamentos agrave Economia Solidaacuteria e reconhecendo que a

autogestatildeo natildeo eacute o uacutenico caminho para a construccedilatildeo de um novo modelo de organizaccedilatildeo

social e de Estado este trabalho os concebem como importantes instrumentos da

democracia Corroborando com Pateman a autogestatildeo praticada nos empreendimentos

solidaacuterios eacute um exerciacutecio de cidadania A autogestatildeo propicia o desenvolvimento da

eficaacutecia poliacutetica e esta capacita para a participaccedilatildeo poliacutetica em niacuteveis cada vez mais

amplos da sociedade Dessa forma a autogestatildeo nos empreendimentos tem a

potencialidade de capacitar os atores sociais para intervir no Estado e reinventar uma nova

governabilidade baseada na democracia e controle social

57

3 CONTABILIDADE E AUTOGESTAtildeO

As categorias teoacutericas apresentadas ajudaratildeo a responder agraves questotildees de pesquisa trazendo

para a reflexatildeo as implicaccedilotildees que tais conceitos encerram seja para os empreendimentos

solidaacuterios como para repensar a contabilidade de modo que ela possa melhor servir aos

princiacutepios de fortalecimento da cidadania da democracia e de uma sociedade mais justa para

a qual a contabilidade natildeo pode se omitir sob o pretexto da neutralidade teacutecnica

Dessa forma concebe-se a contabilidade imbricada pelo conceito de Participaccedilatildeo em que a

Democracia eacute o fim e se constitui como processo educativo em seu sentido mais amplo E

tendo como pano de fundo a democracia percebe-se a Economia Solidaacuteria como um espaccedilo

puacuteblico de vivecircncia da solidariedade e no qual se requisita o desempendo do papel essencial

da contabilidade

Nesse contexto cabe indagar e compreender o envolvimento da contabilidade atraveacutes de seus

instrumentos e profissionais Com o pressuposto da essencialidade do envolvimento e de

diaacutelogo da aacuterea contaacutebil com esses empreendimentos autogestionaacuterios resgatam-se

novamente as questotildees-chaves desta pesquisa as quais satildeo

1 Como a informaccedilatildeo contaacutebil eacute empregada nos empreendimentos autogestionaacuterios

2 Quais os desafios e demandas suscitados em cada um dos aspectos da dimensatildeo

contaacutebil nos processos de autogestatildeo

Agrave luz desses questionamentos nesse capiacutetulo far-se-aacute uma reflexatildeo sobre o papel da

contabilidade e levantar-se-atildeo trabalhos anteriores que abordaram essa relaccedilatildeo contabilidade

autogestatildeo

58

31 Funccedilatildeo social da contabilidade

Para ajudar a responder agraves perguntas que orientam esta pesquisa buscar-se-aacute expor a

importacircncia da contabilidade como instrumento de gestatildeo (informaccedilatildeo planejamento e

tomada de decisatildeo) no qual se apoacuteiam todos os empreendimentos de caraacuteter econocircmico

Primeiramente eacute necessaacuterio destacar que nenhuma entidade juriacutedica seja puacuteblica ou

privada consegue prescindir da informaccedilatildeo contaacutebil Na aacuterea puacuteblica ela eacute instrumento

indispensaacutevel de democracia e do planejamento sem a qual a verificaccedilatildeo da execuccedilatildeo do

orccedilamento puacuteblico e o controle dos gastos puacuteblicos fica impossibilitada

Vaz (2002 p271) ressaltando o papel da informaccedilatildeo na administraccedilatildeo puacuteblica diz que

[] a informaccedilatildeo eacute um direito de cidadania Afirma ainda que uma reformulaccedilatildeo da

gestatildeo puacuteblica municipal necessariamente passa por um redirecionamento do

funcionamento dos oacutergatildeos puacuteblicos municipais para o fornecimento de informaccedilotildees agrave

sociedade civil abrindo as caixas pretas da informaccedilatildeo como o orccedilamento puacuteblico e os

grandes projetos de intervenccedilatildeo para o entendimento por parte da sociedade [] (

VAZ2002 p 271)

Na aacuterea privada os uacuteltimos escacircndalos financeiros envolvendo grandes empresas como a

Wordcom e Enron ambas incorrendo na manipulaccedilatildeo das informaccedilotildees contaacutebeis

revelaram o poder desse instrumento que se utilizado sem princiacutepios ou controle social

pode conferir ganhos a alguns em detrimento do prejuiacutezo de muitos

Portanto cada vez mais se evidencia seu inexoraacutevel papel social seu viacutenculo intriacutenseco

com a democracia e a cidadania e consequumlentemente sua importacircncia seja no acircmbito

puacuteblico ou privado A contabilidade natildeo tem finalidade em si mesma tem destinataacuterios

certos satildeo usuaacuterios diversos que a utilizam como instrumento ou caminho para atingir

seus objetivos sejam eles econocircmicos filantroacutepicos ou sociais Conforme o FASB8 em

relato de Hendriksen e Van Breda (1999 p92) a finalidade da informaccedilatildeo contaacutebil eacute a

seguinte

8 Financial Accounting Standards Board

59

A divulgaccedilatildeo financeira deve fornecer informaccedilotildees que sejam uacuteteis para investidores e

credores atuais e em potencial bem como para outros usuaacuterios que visem a tomada racional

de decisotildees de investimento creacutedito e outras semelhantes As informaccedilotildees devem ser

compreensiacuteveis aos que possuem uma noccedilatildeo razoaacutevel dos negoacutecio e das atividades

econocircmicas e estejam dispostos a estudar as informaccedilotildees com diligecircncia razoaacutevel A divulgaccedilatildeo financeira deve proporcionar informaccedilatildeo que ajude investidores credores e

outros usuaacuterios presentes e em potencial a avaliar os volumes a distribuiccedilatildeo no tempo e a

incerteza de possiacuteveis fluxos de caixa em termos de dividendos ou juros e os resultados da

venda do resgate e do vencimento de tiacutetulos ou empreacutestimos Como os fluxos de caixa de

investidores e credores estatildeo relacionados aos fluxos de caixa da empresa a divulgaccedilatildeo

financeira deve proporcionar informaccedilotildees que ajudem investidores credores e outros a avaliar

os volumes a distribuiccedilatildeo no tempo e a incerteza das possiacuteveis entradas liacutequidas futuras de caixa da empresa A divulgaccedilatildeo financeira deve fornecer informaccedilotildees sobre os recursos econocircmicos de uma

empresa os direitos sobre esses recursos ( obrigaccedilotildees da empresa em termos de transferecircncia

de recursos a outras entidades e a participaccedilatildeo dos proprietaacuterios) bem como os efeitos de

transaccedilotildees eventos e circunstatildencia que alterem seus recursos e os direitos sobre tais recursos

Salienta-se nesse texto a determinaccedilatildeo de que a informaccedilatildeo financeira proporcionada

pela contabilidade seja compreensiacutevel aos usuaacuterios e uacutetil agrave tomada de decisotildees econocircmica

e financeira da atividade Entretanto discutir a utilidade da informaccedilatildeo implica tambeacutem

compreender o tipo de informaccedilatildeo necessaacuteria a cada usuaacuterio fato que remete agrave reflexatildeo

sobre os padrotildees de informaccedilotildees emitidos pela contabilidade aos vaacuterios tipos de usuaacuterios

Hoje os modelos de informaccedilotildees (demonstraccedilotildees financeiras) estatildeo estruturados de forma

a atender grupos mais ou menos homogecircneos de usuaacuterios isto eacute haacute uma padronizaccedilatildeo de

informaccedilotildees usadas por todos os usuaacuterios Conforme argumenta o FASB e AICPA9 sobre

essa estrutura [] os diversos usuaacuterios possuem o bastante em comum para que um

conjunto de demonstraccedilotildees de finalidades geneacutericas seja suficiente(FASB1999 p94)

Entretanto reconhecem a consistecircncia dos argumentos em favor de relatoacuterios de

finalidades especiacuteficas Segundo anaacutelise dos autores cada um dos usuaacuterios da

contabilidade poderia ter objetivos diferentes em termos de informaccedilotildees financeiras pois

haacute divergecircncias entre os grupos e dentro de cada grupo Por exemplo sabe-se que os

administradores de empresas menores juntamente com seus auditores sentem que o

processo de fixaccedilatildeo de padrotildees estaacute direcionado aos objetivos das empresas de maior

porte O mesmo ocorre com muitos administradores de organizaccedilotildees sem fins lucrativos

os quais acham que o processo de fixaccedilatildeo de padrotildees eacute direcionado aos objetivos de

organizaccedilotildees com fins lucrativos Dessa forma analisam que

9 American Institute of Certifierd Public Accoutants

60

Esta variedade de pontos de vista aponta para a conveniecircncia da apresentaccedilatildeo de relatoacuterios

diferentes para usuaacuterios distintos ou para um volume consideraacutevel de informaccedilatildeo grande

parte do qual poderia ser irrelevante para qualquer usuaacuterio especiacutefico ( FASB 1999 p 94)

Entretanto para que haja a possibilidade de informaccedilotildees especiacuteficas para cada usuaacuterio

primeiramente eacute preciso selecionar a informaccedilatildeo relevante para constar nos modelos de

prediccedilatildeo e tomada de decisatildeo dos usuaacuterios Talvez seja possiacutevel determinar que modelos

de tomada de decisatildeo estatildeo sendo utilizados descobrindo como os usuaacuterios efetivamente

tomam decisotildees e de que informaccedilotildees necessitam (FASB 1999 p94)

Ainda dentro dessa discussatildeo sobre as necessidades de informaccedilatildeo por parte do usuaacuterio

os autores enfatizam a relevacircncia de se considerarem as caracteriacutesticas ou propriedades

que devem ter as informaccedilotildees para que se tornem uacuteteis para a tomada de decisotildees

Primeiramente chamam a atenccedilatildeo para a distinccedilatildeo entre qualidades de informaccedilatildeo

especiacuteficas para usuaacuterios e especiacuteficas para decisotildees

Na primeira classe estatildeo relacionadas as qualidades concernentes ao usuaacuterio (tipo de

usuaacuterio) Por exemplo uma determinada informaccedilatildeo para alguns usuaacuterios pode ser

irrelevante por jaacute terem domiacutenio dela enquanto que para outros eacute relevantes Dessa forma

deve se levar em conta a natureza do usuaacuterio esse eacute um fator determinante para a decisatildeo

a respeito da informaccedilatildeo a ser divulgada

Uma outra caracteriacutestica destacada eacute a oportunidade da informaccedilatildeo que independe do

usuaacuterio pois todos desejam informaccedilotildees oportunas portanto eacute uma propriedade

especiacutefica para decisotildees Realizadas essas distinccedilotildees a seguir satildeo relacionadas as

caracteriacutesticas qualitativas das informaccedilotildees propostas pelo AICPA relatadas pelos autores

jaacute mencionados

a) Benefiacutecios e custos

A informaccedilatildeo deve proporcionar benefiacutecios superiores a seu custo A divulgaccedilatildeo da

informaccedilatildeo financeira deve ser uacutetil para a tomada de decisotildees A utilidade eacute funccedilatildeo de

duas caracteriacutesticas a relevacircncia e a confiabilidade

a1) Relevacircncia

61

A informaccedilatildeo eacute relevante quando eacute pertinente agrave questatildeo que estaacute sendo analisada A

anaacutelise da pertinecircncia pode ser de trecircs maneiras afetando metas afetando a compreensatildeo

e afetando decisotildees conforme mostra o quadro 4 Para o FASB relevacircncia para decisotildees eacute

definida como a capacidade que a informaccedilatildeo teria de fazer diferenccedila numa decisatildeo

Essa diferenccedila mencionada pelo FASB seria conseguida ajudando os usuaacuterios a fazer

prediccedilotildees sobre o resultado de eventos passados presentes e futuros ou confirmar ou

corrigir expectativas anteriores ou seja quando a informaccedilatildeo tem valor preditivo e valor

como feedeback

Quadro 4- Relevacircncia da Informaccedilatildeo

Relevacircncia para metas

Alcanccedilada quando a informaccedilatildeo permite que as

metas dos usuaacuterios sejam atingidas Determinaccedilatildeo difiacutecil quando as metas satildeo subjetivas

Relevacircncia semacircntica

Alcanccedilada quando o destinataacuterio da informaccedilatildeo

compreende o significado pretendido da informaccedilatildeo

divulgada Um preacute-requisito essencial mas natildeo um objetivo

primordial

Relevacircncia para tomada de decisotildees Alcanccedilada quando a informaccedilatildeo facilita a tomada de

decisotildees pelos usuaacuterios Este eacute o objetivo primordial para o FASB

Fonte Hendriksen e Van Breda ( 1999 p97)

a2) Confiabilidade

A qualidade da informaccedilatildeo que garante que ela seja razoavelmente livre de vieacutes e

represente fielmente o que visa representar Segundo o FASB a confiabilidade eacute funccedilatildeo

de a) fidelidade de representaccedilatildeo b) verificabilidade c) neutralidade

Segundo a fidelidade de representaccedilatildeo as informaccedilotildees devem representar fielmente os

fenocircmenos que pretende representar Jaacute a verificabilidade pressupotildee a ausecircncia de

avaliaccedilatildeo subjetiva e vieacutes pessoal O FASB definiu a verificabilidade como a capacidade

de assegurar por meio do consenso entre mensuradores que a informaccedilatildeo representa o

que se destina a representar ou que o meacutetodo de mensuraccedilatildeo foi utilizado sem erro ou

vieacutes Por uacuteltimo a neutralidade quer dizer que natildeo haacute vieacutes na direccedilatildeo de um resultado

predeterminado O objetivo eacute natildeo permitir que os padrotildees sejam utilizados para alcanccedilar

alguma meta econocircmica ou poliacutetica especiacutefica

b) Comparabilidade

62

A utilidade da informaccedilatildeo eacute significativamente ampliada quando eacute apresentada de maneira

que permita comparar uma entidade com outra ou a mesma entidade em periacuteodos

seguintes Dessa forma a comparabilidade pode ser definida como a qualidade da

informaccedilatildeo que permite aos usuaacuterios identificar semelhanccedilas e diferenccedilas entre dois

conjuntos de fenocircmenos econocircmicos A comparabilidade depende de dois aspectos a

uniformidade e a consistecircncia

b1) Uniformidade

Subentende que eventos iguais satildeo representados de maneira idecircntica A uniformidade

pode ser definida como a qualidade das informaccedilotildees possuir caracteriacutesticas

suficientemente parecidas para tornar as comparaccedilotildees apropriadas

b2)Consistecircncia

Tecircm sido referidos como o uso dos mesmos procedimentos contaacutebeis por uma dada

empresa ou entidade contaacutebil de um periacuteodo a outro e o uso de conceitos e procedimentos

de mensuraccedilotildees semelhantes para itens afins nas demonstraccedilotildees de uma empresa num

dado periacuteodo

c) Materialidade

Eacute uma caracteriacutestica geral e assemelha-se ao conceito de relevacircncia A relevacircncia implica

na apresentaccedilatildeo de toda informaccedilatildeo que possa ajudar na prediccedilatildeo dos tipos de informaccedilatildeo

exigidos pelos processos de tomada de decisatildeo ou que possam ajudar diretamente na

tomada de decisotildees O conceito de materialidade tambeacutem pode estar associado agrave

significacircncia de mudanccedilas de valor correccedilotildees de erros em relatoacuterios anteriores etc Essas

mudanccedilas e correccedilotildees deveratildeo ser consideradas como possuidoras de materialidade se

forem grandes o suficiente ou importantes para influenciar as decisotildees dos usuaacuterios de

relatoacuterios financeiros

Ainda sobre a validade e utilidade da informaccedilatildeo contaacutebil para a tomada de decisotildees

gerenciais Dias (1991) sentencia que a contabilidade acrescenta poucas informaccedilotildees

importantes para o gerenciamento das organizaccedilotildees Segundo ele isso se deve ao fato de

que a contabilidade tem orientado esforccedilos para o desenvolvimento de teacutecnicas expressas

pelas convenccedilotildees e princiacutepios de contabilidade que visavam restringir a possibilidade de

manipulaccedilatildeo dos dados Entretanto esse comportamento produz relatoacuterios que natildeo

63

exprimem a realidade econocircmica da empresa prejudicando os usuaacuterios internos e externos

agrave empresa

Essa situaccedilatildeo se agrava com a presenccedila de outro fator a legislaccedilatildeo fiscal Interessada em

produzir resultados tributaacuteveis impotildee outros procedimentos prejudiciais agrave utilizaccedilatildeo dos

sistemas de informaccedilotildees contaacutebeis para fins gerenciais

Como alternativa ao problema colocado o autor diz que

Os gestores poderiam se sentir plenamente satisfeitos e envolvidos com um sistema que aleacutem

de lhes fornecer as informaccedilotildees dinacircmicas necessaacuterias para suas atuaccedilotildees no cotidiano lhes proporcionasse condiccedilotildees de conhecer melhor a empresa e sua posiccedilatildeo diante dos objetivos

estabelecidos Poderiam conhecer melhores as proacuteprias deficiecircncias e potencialidades de suas

aacutereas permitindo-lhes decisotildees mais precisas com consequumlente melhoria de eficiecircncia e

melhor grau de atingimento de seus objetivos (DIAS 1991 p61)

Salienta ainda que numa administraccedilatildeo participativa em que os gestores interferem em

todo o processo de gestatildeo que vai desde o planejamento estrateacutegico ateacute a execuccedilatildeo o

sistema deve oferecer-lhe informaccedilotildees correspondentes a todo esse ciclo as quais

abrangem as referentes ao ambiente econocircmico passando pelas previsotildees orccedilamentaacuterias

pelo sistema de programaccedilatildeo e sistema de apoio agrave gestatildeo de execuccedilatildeo ateacute a apuraccedilatildeo de

resultados e avaliaccedilatildeo de desempenhos O sistema de informaccedilotildees deve estar voltado

para o futuro indicando tendecircncias e permitindo comparaccedilotildees com o passado Deve

possibilitar a avaliaccedilatildeo de evoluccedilatildeo da organizaccedilatildeo e comparaccedilotildees com desempenhos

desejados (DIAS1991 p79)

O sistema de informaccedilotildees deve conter portanto uma estrutura de indicadores que

mantenham os gestores informados a respeito das condiccedilotildees de eficaacutecia da organizaccedilatildeo de

modo a permitir decisotildees que alcancem os objetivos propostos Poderiam ser adotados os

seguintes indicadores a) de curto prazo produccedilatildeo eficiecircncia satisfaccedilatildeo b) meacutedio prazo

adaptabilidade desenvolvimento c) medidas de longo prazo referem-se agrave capacidade de

sobreviver

64

Diante das necessidades de informaccedilotildees expostas o autor percebe o sistema de

informaccedilatildeo para a gestatildeo econocircmica (GECON10) administrado por uma controladoria11

como alternativas agraves demandas gerenciais Segundo o autor esse sistema funciona de

maneira integrada com o processo de gestatildeo e tem por objetivo assegurar informaccedilotildees

relevantes para a tomada de decisotildees

Esse sistema de informaccedilotildees atende agraves necessidades de cada etapa do processo de gestatildeo

por meio de subsistemas especiacuteficos que possam induzir os gestores a decisotildees corretas A

seguir a relaccedilatildeo das etapas com seus respectivos subsistemas de informaccedilotildees

a) Planejamento estrateacutegico

b) Planejamento operacional Sistema de orccedilamentos

c) Programaccedilatildeo Sistema de programaccedilatildeo

d) Execuccedilatildeosistema de simulaccedilatildeo e

e) Controle

Natildeo eacute foco deste trabalho detalhar cada etapa ou subsistema importa perceber que cada

uma dessas etapas do processo de gestatildeo deve ser atendida pelo sistema de informaccedilatildeo

gerencial com informaccedilotildees oportunas corretas confiaacuteveis com a periodicidade necessaacuteria

para viabilizar a tomada eficaz de decisotildees por parte dos gestores da organizaccedilatildeo (

CATELLI et al 2001 p 146)

Conforme os autores o sistema de informaccedilatildeo para a gestatildeo econocircmica contempla entre

outros os seguintes aspectos

a) Eacute estruturado sob conceito de banco de dados Plano de contas plano de aacutereas de

responsabilidade Centro de Resultados Contabilidade Gerencial e Contabilidade

Societaacuteria

10 O modelo GECON estrutura-se com base em um entendimento da missatildeo da empresa do conjunto de crenccedilas

e valores da organizaccedilatildeo da estrutura organizacional da realidade operacional e das caracteriacutesticas dos gestores

empresariais[] o modelo orienta uma sequumlecircncia de etapas do processo de gestatildeo empresarial e materializa os

diversos impactos dos subsistemas empresariais nos sistema de informaccedilotildees gerenciais com soluccedilotildees em

processamento de dados ( CATELLI 2001 p31) 11 Oacutergatildeo administrativo da empresa responsaacutevel pela disseminaccedilatildeo de conhecimento modelagem e implantaccedilatildeo

de sistemas de informaccedilotildees ( ALMEIDA et al2001 p343)

65

b) As informaccedilotildees e relatoacuterios atendem os conceitos e o modelo de decisatildeo dos

usuaacuterios Modelo de Informaccedilatildeo com base no modelo de decisatildeo e mensuraccedilatildeo

c) A mensuraccedilatildeo das transaccedilotildees eacute efetuada com a utilizaccedilatildeo de conceitos econocircmicos

valor de mercado reconhecimento da receita pela produccedilatildeo dos bens e serviccedilos

preccedilo de transferecircncia custo de oportunidade equivalecircncia de capitais

d) Aos recursos e produtosserviccedilos das atividades satildeo atribuiacutedos respectivamente

custos e receitas com base em valor de mercado Preccedilo de transferecircncia Preccedilo e

Custos correntes

Ressaltam ainda que

O sistema de informaccedilatildeo para a gestatildeo econocircmica eacute o conjunto de subsistemas de preacute-orccedilamentaccedilatildeo orccedilamentos custos e contabilidade que reflete as decisotildees tomadas por ocasiatildeo do

planejamento em termos monetaacuterios e posteriormente confronta os resultados reais com os

planejados possibilitando entatildeo as accedilotildees de controle ( CATELLI et al p148)

A partir das consideraccedilotildees sobre esse sistema de informaccedilotildees conclui-se que nele haacute a

interaccedilatildeo tatildeo almejada entre a contabilidade tradicional (financeira) e as demandas

informacionais de gestatildeo Portanto eacute possiacutevel conceber instrumentos contaacutebeis que

produzam informaccedilotildees adequadas aos diversos usuaacuterios atendendo suas demandas de

gestatildeo

Transpondo a discussatildeo para o campo da autogestatildeo pode-se considerar a partir de todos

os elementos levantados no capiacutetulo 2 que a Economia Solidaacuteria consiste em um usuaacuterio

de natureza diferenciada dos demais tendo em vista seu duplo aspecto econocircmico e

social para a qual seria conveniente e necessaacuterio questionar quais satildeo suas demandas ou

que tipos de informaccedilotildees seriam uacuteteis agrave gestatildeo com vistas agrave consecuccedilatildeo e

sustentabilidade econocircmica do empreendimento Com base nesse diagnoacutestico poder-se-ia

construir modelos informativos especiacuteficos e apropriados agraves demandas desses novos

usuaacuterios

Em relaccedilatildeo agrave qualidade ou caracteriacutesticas que as informaccedilotildees contaacutebeis devem possuir

para que contribuam na tomada de decisotildees pode-se observar que todas as caracteriacutesticas

apontadas devem ser levadas em conta na perspectiva de construir os referidos relatoacuterios

66

No que diz respeito agrave qualidade das informaccedilotildees conforme o usuaacuterio reflete-se que esses

modelos de informaccedilotildees a serem construiacutedos devem considerar a realidade social dos

trabalhadores dos empreendimentos autogestionaacuterios pois eles tecircm aspectos

socioeconocircmicos diferenciados dos administradores convencionais principalmente quanto

agrave escolaridade Normalmente natildeo possuem alto grau de conhecimento formal nem

tampouco conhecimento sobre a contabilidade e gestatildeo Dessa forma a informaccedilatildeo

contaacutebil deve ser traduzida atraveacutes de uma linguagem apropriada e acessiacutevel

Em relaccedilatildeo ao modelo de gestatildeo analisado (GECON) percebe-se que este talvez seja um

referencial para a construccedilatildeo de sistemas de informaccedilotildees que se adequumlem agraves demandas

da autogestatildeo Considerando que a autogestatildeo implica em participaccedilatildeo de todos os

trabalhadores no processo de gestatildeo haacute que se pensar em um sistema de informaccedilatildeo

equivalente ao GECON que propicie o monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees

administrativas de aacutereas ou divisotildees do empreendimento nas vaacuterias etapas do processo de

gestatildeo a fim de buscar o melhor resultado coletivo e para que as execuccedilotildees reflitam o

planejamento realizado conjuntamente

Continuando a reflexatildeo sobre uma contabilidade apropriada agrave autogestatildeo analisar-se-aacute a

seguir agrave luz de alguns trabalhos as especificidades de informaccedilotildees suscitadas por esse

modelo de gestatildeo

32 Instrumentos contaacutebeis x demandas da autogestatildeo

No Brasil os estudos na aacuterea contaacutebil que abordam a questatildeo da autogestatildeo satildeo recentes

Dentre os trabalhos verificados cabe destacar o estudo desenvolvido por Valdir Michels

(1995) Em sua dissertaccedilatildeo analisa a importacircncia da contabilidade como sistema de

informaccedilotildees no auxiacutelio agrave autogestatildeo

Um dos aspectos relevantes levantados em seu trabalho eacute a anaacutelise do disclosure das

cooperativas (a evidenciaccedilatildeo das informaccedilotildees) Agrave luz de Hendriksen e Moonitzs aponta as

questotildees necessaacuterias agrave definiccedilatildeo do tipo de informaccedilatildeo a ser fornecida ao usuaacuterio a saber

67

a) Para quem a informaccedilatildeo contaacutebil eacute revelada

b) Qual o objetivo da informaccedilatildeo

c) Que quantidade de informaccedilatildeo deveria ser revelada

d) Como a informaccedilatildeo deveria ser revelada

e) Quando a informaccedilatildeo deveria ser revelada

Para essas questotildees realiza as seguintes anaacutelises

1- Para quem - Haacute necessidade de identificar cada tipo de usuaacuterio das informaccedilotildees a fim de

definir o tipo de informaccedilatildeo A linguagem deve ser adaptada ao niacutevel de conhecimento do

usuaacuterio

2- Qual o objetivo - A necessidade para identificar o propoacutesito para que a informaccedilatildeo seja

revelada pode ser vista considerando-se a exigecircncia de que a informaccedilatildeo seja pertinente Uma

informaccedilatildeo pode ser pertinente para determinado objetivo e natildeo ser necessariamente relevante

para outro propoacutesito Por isso eacute importante definir claramente o objetivo da informaccedilatildeo

3- Que Quantidade A quantidade deve ser apropriada pra natildeo haver enganos nem

engodos (MICHAELS 1995 p 42) O ideal seria que os proacuteprios usuaacuterios determinassem

a quantidade adequada de informaccedilotildees Essas tambeacutem devem ser honestas e revelar todas as

informaccedilotildees relevantes

4- Como- A informaccedilatildeo eacute adequada quando expressa de forma tal que os usuaacuterios possam

facilmente interpretaacute-la As informaccedilotildees devem ser organizadas de forma loacutegica concatenada

e coerente

5-Quando Haacute a necessidade de se manter um canal de comunicaccedilatildeo entre a cooperativa e

seus associados propiciando informaccedilotildees sobre os fatos importantes da gestatildeo [] os jornais

mantidos pelas cooperativas poderiam publicar balancetes mensais com informaccedilotildees

importantes (MICHAELS 1995 p 47)

O autor tambeacutem aborda questotildees relativas agraves praacuteticas adotadas pelas cooperativas e que

geram distorccedilotildees nos resultados das demonstraccedilotildees financeiras Argumenta que isso ocorre

68

devido agrave falta de normas para a elaboraccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis o que dificulta a

comparaccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis das diversas cooperativas Cada cooperativa adota

metodologias diferenciadas para mensuraccedilatildeo de eventos econocircmicos proacuteprios deste setor de

atividade

Conclui seu trabalho ressaltando que para que os associados da cooperativa possam exercer a

autogestatildeo de seu empreendimento eacute necessaacuterio que a contabilidade das cooperativas seja

aprimorada nos seguintes aspectos (MICHAELS 1995 p 109)

a) As demonstraccedilotildees contaacutebeis devem ser estruturadas de tal forma que possam ser

interpretadas pelos principais usuaacuterios os associados da cooperativa A contabilidade deve ser

um importante sistema de informaccedilotildees entre a cooperativa e seus associados

b) A utilizaccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis enriquecidas com graacuteficos e tabelas

comparativas deve ter seu uso recomendado

c) A utilizaccedilatildeo de jornais mantidos pelas cooperativas deve ser um veiacuteculo de

informaccedilotildees com divulgaccedilatildeo de balancetes mensais expressos em linguagem ao niacutevel de

conhecimento dos associados

d) As informaccedilotildees contaacutebeis devem ser detalhadas de tal forma que os principais eventos

econocircmicos responsaacuteveis por impactos sobre a situaccedilatildeo econocircmico-financeira tanto positivos

como negativos sejam informados aos associados Faz-se necessaacuterio que seja informado

quais dos eventos econocircmicos foram fruto de decisotildees internas da cooperativa e quais

ocorreram independentemente da gestatildeo interna mas sim por poliacuteticas governamentais

fatores climaacuteticos ou fatos internacionais

e) As praacuteticas contaacutebeis deveriam ser normatizadas ou por oacutergatildeo que tenha poder para tal

ou incluiacutedas nos estatutos da cooperativa Isso permitiria comparaccedilotildees entre as demonstraccedilotildees

referentes a diversos exerciacutecios

f) Os conceitos quanto agrave qualidade das informaccedilotildees proposto por Hendriksen deveriam

ser observados isto eacute as informaccedilotildees deveriam ser adequadas honestas e totais

69

Quanto ao financiamento das atividades observa que as cooperativas necessitam incrementar

o suprimento de recursos financeiros proacuteprios Enfatiza que precisam encontrar a chave para

atingir o equiliacutebrio financeiro a fim de que possa obter rentabilidade positiva e manter a

competitividade E por fim diante dessas necessidades ressalta o papel preponderante da

contabilidade enquanto sistema de informaccedilotildees imprescindiacutevel agraves cooperativas

Em outro estudo Almeida e Dantas (2005) sugerem que os empreendimentos solidaacuterios

constituem um novo grupo de usuaacuterios e levantam algumas possiacuteveis demandas assim

organizadas

1-Novos modelos de Informaccedilotildees que

Propiciem a gestatildeo democraacutetica

Subsidiem a autogestatildeo

Gerem informaccedilotildees mais proacuteximas da realidade dos

empreendimentosempreendedores

Produzam indicadores sociais

Expressem as transaccedilotildees em rede

Tenham uma linguagem adequada ao tipo de empreendimentoempreendedor

2-Um novo perfil de contador

Sensiacutevel aos problemas sociais

Com ampla visatildeo econocircmica

Com capacidade gerencial

Articulador (boas relaccedilotildees humanas)

Educador (ensine a pescar)

3-Uma nova Formaccedilatildeo

Multidisciplinar (psicologia economia etc)

Novas metodologias de Ensino

Introduccedilatildeo de novas disciplinas (liacutenguas cooperativismo educaccedilatildeo popular etc)

Envolvimento em pesquisa e extensatildeo

Destaque-se tambeacutem a anaacutelise dos autores sobre a insuficiecircncia do aparato contaacutebil hoje

disponiacutevel agrave ES sobre o qual fazem a seguinte observaccedilatildeo

70

Se natildeo fossem as peculiaridades proacuteprias dos Empreendimentos de Economia Solidaacuteria e

principalmente de seus empreendedores poder-se-ia dizer que em termos de atendimento contaacutebil

nada mais seria necessaacuterio aleacutem dos recursos jaacute atualmente disponiacuteveis no escopo da

contabilidade das Cooperativas e da contabilidade Societaacuteria ( ALMEIDA e DANTAS 2005 p

08)

No caso das cooperativas lembram que satildeo reguladas pelo NBC T 108 do Conselho

Federal de Contabilidade que reza sobre aspectos de escrituraccedilatildeo contaacutebil e define sobre a

elaboraccedilatildeo dos Relatoacuterios e Demonstraccedilotildees

Jaacute as empresas autogestionaacuterias constituiacutedas em forma de sociedades satildeo orientadas pela

contabilidade societaacuteria nos moldes previstos na Lei das Sociedades Anocircnimas 640476 que

no artigo 177 determina que a escrituraccedilatildeo deve ser feita seguindo-se os preceitos da Lei das

Sociedades por Accedilotildees e os princiacutepios de contabilidade geralmente aceitos e conforme

orientado no Manual de Contabilidade das Sociedades por Accedilotildees ( IgraveUDICIBUS et al 2003

p29) o conjunto de informaccedilotildees que deve ser divulgado por uma sociedade representando

sua prestaccedilatildeo de contas abrange o Relatoacuterio de Administraccedilatildeo as Demonstraccedilotildees Contaacutebeis

e as Notas Explicativas Considerando as seguintes Demonstraccedilotildees Contaacutebeis

Balanccedilo Patrimonial

Demonstraccedilatildeo do Resultado do Exerciacutecio

Demonstraccedilatildeo das Mutaccedilotildees do Patrimocircnio Liacutequido

Demonstraccedilatildeo das Origens e Aplicaccedilotildees de Recursos

Demonstraccedilatildeo dos Fluxos de Caixa

Demonstraccedilatildeo do Valor Adicionado

Entretanto os autores ressaltam que esse aparato contaacutebil natildeo satisfaz plenamente as

necessidades informacionais dos empreendimentos Dessa forma realizam uma investigaccedilatildeo

cujo objetivo foi analisar a possibilidade de criaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo de novos sistemas contaacutebeis

agraves peculiaridades da ES Indicam algumas alternativas baacutesicas em estado bem indefinido

ainda mas que se instrumentalizam para reflexatildeo Ressaltam que se profundamente

estudados e testados (ALMEIDA e DANTAS 2005 p10) poderatildeo ser aplicados no

segmento da ES os seguintes modelos

71

a)Contabilidade Orccedilamentaacuteria

Trata-se de um estudo sobre a aplicaccedilatildeo da Contabilidade Orccedilamentaacuteria no setor privado

realizado pelo docente da FEAUSP Valmor Slomski Embora ainda em estaacutegio embrionaacuterio

a pesquisa aponta para a possibilidade de utilizaccedilatildeo desse procedimento pela ES Conforme

Slomski (2003) a contabilidade baseada no sistema orccedilamentaacuterio evidencia as origens dos

recursos e suas aplicaccedilotildees demonstra os creacuteditos orccedilamentaacuterios vigentes a despesa

orccedilamentaacuteria empenhada e a despesa orccedilamentaacuteria realizada agrave conta dos creacuteditos

orccedilamentaacuterios e ainda as dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias disponiacuteveis

Da forma como se estrutura atende a aspectos de escrituraccedilatildeo demonstraccedilatildeo anaacutelise e

informaccedilotildees dos empreendimentos da ES desde a origem do planejamento das atividades do

negoacutecio ateacute a concretizaccedilatildeo ou realizaccedilatildeo dessas atividades Pode ser dada ecircnfase ao estudo

anaacutelise e divulgaccedilatildeo das variaccedilotildees (orccedilado versus realizado) com possibilidade de indicaccedilotildees

de correccedilatildeo de rumos quando necessaacuterio identificando e valorizando a execuccedilatildeo das

atividades por aacuterea de responsabilidade

A exigecircncia da elaboraccedilatildeo e contabilizaccedilatildeo do orccedilamento em entidades da ES aleacutem do

atendimento aos aspectos normais do negoacutecio como planejamento e gerenciamento tambeacutem

teria a natureza educadora uma vez que requer o envolvimento de todos e o

comprometimento das diversas aacutereas com o resultado pois os executores das diversas

atividades do empreendimento ou os envolvidos no processo satildeo tambeacutem seus proprietaacuterios

(investidores)

Ressaltam que a sistemaacutetica de funcionamento contaacutebil deve estar fundamentada a partir de

uma planificaccedilatildeo contaacutebil O plano de contas abaixo elaborado por Slomski eacute fruto do

desenvolvimento da teoria e sistema de contabilidade orccedilamentaacuteria para entidades do Terceiro

Setor cuja estrutura baacutesica eacute a seguinte

72

Quadro 5- Contabilidade orccedilamentaacuteria

GRUPOS TIacuteTULO DO GRUPO

1 ATIVO

2 PASSIVO

3 PATRIMOcircNIO SOCIAL

4 CONTAS DE RESULTADO PATRIMONIAL DO EXERCIacuteCIO

5 RECEITAS ORCcedilAMENTAacuteRIAS

51 RECEITAS ORDINAacuteRIAS

52 RECEITAS POR PROJETOS

6 DESPESAS ORCcedilAMENTAacuteRIAS

61 ADMINISTRACcedilAtildeO SUPERIOR

62 ADMINISTRACcedilAtildeO GERAL

63 ADMINISTRACcedilAtildeO DE INVESTIMENTOS

64 ADMINISTRACcedilAtildeO DE PROJETOS

99 RESERVAS DE CONTINGEcircNCIAS

Fonte Adaptado de Plano de Contas de Slomski (material natildeo publicado)

Os autores observam que a proposta de planificaccedilatildeo tem utilidade para registro do orccedilamento

como tambeacutem para a realizaccedilatildeo das atividades da organizaccedilatildeo e planejamento da autogestatildeo

Atende tambeacutem a aspectos de controle de gerenciamento e igualmente funciona como

indicador de destinaccedilatildeo das apropriaccedilotildees

Concluem que esse pode ser um instrumento passiacutevel de utilizaccedilatildeo pela ES pela

potencialidade de possibilitar a socializaccedilatildeo do controle de todo o processo de gestatildeo

b) Contabilidade por Fundos

Utilizada amplamente nos EUA tem como caracteriacutestica principal a segregaccedilatildeo contaacutebil dos

recursos designados para atender fins especiacuteficos Olak (2000)

define a contabilidade por fundos como um importante instrumento de controle das accedilotildees dos

gestores ante os recursos que lhes satildeo confiados para atender propoacutesitos especiacuteficos segundo

restriccedilotildees impostas internamente ou externamente A contabilidade por fundos divide os

73

recursos da instituiccedilatildeo em trecircs categorias distintas a) fundos irrestritos podem ser utilizados

para qualquer finalidade b) fundos internamente restritos quando sua restriccedilatildeo eacute definida

internamente c) fundos externamente restritos quando as restriccedilotildees satildeo feitas por agentes

externos

O argumento utilizado pelos autores de perspectiva de utilizaccedilatildeo pela ES passa pela

compreensatildeo de que eacute possiacutevel nortear as accedilotildees das diversas aacutereas da entidade atraveacutes da

segregaccedilatildeo dos recursos definidos pelo coletivo Assim torna-se mais faacutecil verificar se tais

definiccedilotildees ou restriccedilotildees foram cumpridas (ALMEIDA e DANTAS 2005 p 12)

Entretanto chamam a atenccedilatildeo para as limitaccedilotildees do modelo uma vez que as restriccedilotildees

impostas podem tornar-se obstaacuteculos agrave gestatildeo tendo em vista a dinacircmica das atividades

empresariais Portanto a aplicaccedilatildeo desse sistema contaacutebil exige estudos e adaptaccedilotildees

c) Apuraccedilatildeo Gerencial do Resultado Econocircmico

A Mensuraccedilatildeo do Resultado Econocircmico12 conforme Slomski (2003) fundamenta-se no

conceito de custo de oportunidade o qual permite mensurar os serviccedilos prestados (receita

econocircmica) o trabalho voluntaacuterio e outras despesas incorridas e assumidas por terceiros

Com base nesse fundamento os autores Almeida e Dantas (2005) argumentam sobre a

possibilidade de utilizaccedilatildeo desse instrumento gerencial pela ES agrave medida que leva em conta

fatores desconsiderados pela contabilidade tradicional tais como o custo de oportunidade

Sabe-se que via de regra os empreendimentos solidaacuterios natildeo prescindem das entidades de

apoio cuja estrutura coloca agrave sua disposiccedilatildeo recursos materiais humanos e financeiros Essas

contribuiccedilotildees satildeo realizadas de maneira voluntaacuteria ateacute que o negoacutecio se sustente Portanto

esses valores natildeo computados como assessoria contaacutebil administrativa financeira

tecnoloacutegica poderiam compor o resultado econocircmico da entidade tal como acontece nas

entidade do terceiro setor

Salientam que transcendendo o proacuteprio empreendimento se poderia pensar em mensuraccedilotildees

ou indicadores sociais que levassem em conta o custo de oportunidade de vaacuterias atividades

realizadas pela empresa substituindo accedilotildees implementadas pelo governo Um exemplo

poderia levantar o custo social da inserccedilatildeo do desempregado no mercado ou seja a

12 Forma de mensuraccedilatildeo inspirada no modelo GECON visto anteriormente

74

quantificaccedilatildeo dos benefiacutecios que o Estado e a sociedade obtecircm com este empreendimento

somente pela oferta de postos de trabalho Assim poderia ser feito com todos os benefiacutecios

alcanccedilados pelo empreendimento tais como a educaccedilatildeo dos trabalhadores o provimento de

plano de sauacutede as accedilotildees de preservaccedilatildeo do meio ambiente os projetos envolvendo a

comunidade local etc Para os autores esse mecanismo gerencial se bem explorado pode ser

um instrumento de expressatildeo da dinacircmica econocircmica e social da economia solidaacuteria

Portanto os estudos analisados apresentam convergecircncia quando reconhecem as demandas

especiacuteficas dos empreendimentos autogestionaacuterios e a insuficiente resposta que a

contabilidade tem dado a estas organizaccedilotildees tambeacutem apontam para a necessidade de

aprofundamento de pesquisas sobre o tema Percebe-se igualmente que haacute uma preocupaccedilatildeo

nos trabalhos com a busca de novos processos e modelos de mensuraccedilatildeo demonstraccedilatildeo e

divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees os quais sejam apropriados agraves reais necessidades desses usuaacuterios

da contabilidade

Desse modo a investigaccedilatildeo empiacuterica pretendeu continuar o caminho trilhado por alguns

pesquisadores da aacuterea contaacutebil Preocupou-se em aprofundar a compreensatildeo da dimensatildeo

contaacutebil nos empreendimentos solidaacuterios como tambeacutem levantar novas demandas ou

confirmar as necessidades jaacute detectadas desses novos usuaacuterios que se formam num contexto

social de desemprego e marginalizaccedilatildeo do mercado de trabalho Como novos usuaacuterios

desafiam a contabilidade a tambeacutem dar sua contribuiccedilatildeo por meio de seu envolvimento na

busca de alternativas de atuaccedilatildeo da contabilidade junto agrave autogestatildeo em seus diversos

aspectos

75

4 ESTUDO DE CASO COOPRAM RESULTADOS E ANAacuteLISES

41 Relato do estudo de caso

No capiacutetulo 1 mais precisamente no toacutepico referente agrave metodologia foi traccedilado o caminho

que seria trilhado pela pesquisa o qual compreendia um conjunto de informaccedilotildees tais como

meacutetodos de abordagem e procedimentos teacutecnicas de coleta de dados e planejamento do caso

Nesse momento passa-se a pormenorizar e relatar as etapas e atividades que constituiacuteram a

investigaccedilatildeo empiacuterica deste trabalho

Para melhor visualizaccedilatildeo do trabalho pode-se dividir as atividades executadas em diversos

momentos

1ordm momento Contatos iniciais

Essa fase foi caracterizada pelos contatos com diretores da entidade de apoio (ANTEAG) e

conversas com a pretendida unidade de estudo a COOPRAM Na ocasiatildeo foi repassada a

ambas entidades (COOPRAM e ANTEAG) uma coacutepia do protocolo de pesquisa do estudo de

caso Esses contatos iniciaram em fevereiro de 2006 e culminaram com a autorizaccedilatildeo para a

realizaccedilatildeo da pesquisa (apecircndice 02)

2ordm momento Preparaccedilatildeo para o trabalho de campo

Apoacutes a liberaccedilatildeo da unidade para realizaccedilatildeo da pesquisa de campo foi a vez da etapa de

confecccedilatildeo dos vaacuterios instrumentos para a coleta de dados cujos principais produtos foram

roteiro de entrevistas para cooperados (apecircndice 03) roteiro de entrevista para contadores (

apecircndice 04) roteiro de entrevista para diretores ( apecircndice 05) roteiro de entrevista para

especialistas (apecircndice 06)

3ordm momento Coleta de dados

Essa etapa processou-se durante os meses de junho e julho momento em que se procedeu

efetivamente agrave coleta de dados Como mencionado no cap I os instrumentos utilizados

foram entrevistas registros em arquivos e observaccedilatildeo direta No caso das entrevistas elas

foram segregadas por grupos de entrevistados ficando assim distribuiacutedas

76

Grupo 1- cooperados 04 entrevistados

Grupo 2- contadores 02 entrevistados

Grupo 3- especialistas 02 entrevistados

Os registros em arquivos e as observaccedilotildees diretas foram possibilitadas pelas inuacutemeras visitas

realizadas a COOPRAM no mesmo periacuteodo

4ordm momento Sistematizaccedilatildeo dos dados

O processo de sistematizaccedilatildeo dos dados ocorreu no final de julho e no mecircs de agosto A partir

de um banco de dados eletrocircnico referente a cada entrevista somadas agraves informaccedilotildees das

outras fontes transformaram-se dados em informaccedilotildees estratificadas por grupos e dimensotildees

5ordm momento Anaacutelises e conclusotildees

Nessa etapa final as informaccedilotildees sistematizadas foram analisadas agrave luz das questotildees

propostas das hipoacuteteses formuladas e da revisatildeo teoacuterica

Concluiacutedo o relato do processo da pesquisa empiacuterica nos proacuteximos itens passa-se a

transcrever os resultados da pesquisa compostos inicialmente por descriccedilotildees da realidade

encontrada e em seguida pela compreensatildeo e anaacutelise de vaacuterios aspectos da relaccedilatildeo

contabilidade e autogestatildeo

42 Histoacuterico e descriccedilatildeo da unidade de estudo

A COOPRAM- Cooperativa de Produccedilatildeo de Artes Metaacutelicas situada hoje no Municiacutepio de

Embu das Artes- SP eacute um empreendimento autogestionaacuterio nascido em 2000 A entidade

surgiu da uniatildeo de profissionais antigos funcionaacuterios de uma empresa metaluacutergica falida que

assumiram sua recuperaccedilatildeo Alguns funcionaacuterios principalmente a forccedila de trabalho mais

intelectual natildeo se submetendo ao risco do negoacutecio procuraram nova colocaccedilatildeo no mercado

Aqueles que acreditaram enfrentaram os desafios da gestatildeo de uma cooperativa Hoje a

COOPRAM conta com aproximadamente 80 funcionaacuterios sendo a maior parte lotada na

aacuterea produtiva Tambeacutem conta com profissionais qualificados na aacuterea de projetos de produto

77

especiais os quais atendem a encomendas especiacuteficas de clientes

No iniacutecio de suas atividades sua sede situava-se no Municiacutepio de OsascoSP mudando-se

recentemente para o Municiacutepio de Embuacute das Artes tambeacutem no Estado de Satildeo Paulo

A cooperativa eacute especializada na conformaccedilatildeo e beneficiamento de accedilo alumiacutenio e inox

cujos produtos principais satildeo quiosques e maacutescaras para salas de auto-atendimento caixas

eletrocircnicos caixas para medidor de gaacutes e hidrocircmetros esquadrias de accedilo galvanizado

luminosos de identificaccedilatildeo visual (totem) caixilhos em geral batentes guarda corpos

corrimatildeo portas acuacutesticas caixas metaacutelicas forros divisoacuterias e revestimentos de accedilo

galvanizado inox e alumiacutenio entre outros produtos em accedilo e alumiacutenio encomendados por

clientes diversos tais como shoppings metrocircs etc A figura 2 ilustra alguns dos produtos da

COOPRAM

78

Figura nordm 02 - Alguns produtos da COOPRAM

Fonte site http wwwcoopramcombr

A cooperativa atende a todo o territoacuterio nacional e possui uma diversificada carteira de

clientes Eis alguns de seus clientes

Associaccedilatildeo Brasileira de Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Uacuteltimos Dias - Satildeo Paulo SP

Construtora OAS Ltda -Satildeo Paulo SP Rossi Residencial - Satildeo PauloSP ECIA Irmatildeos

Arauacutejo Engenharia e Comercio SA - Rio de Janeiro RJ Construtora Bathaus Ltda - Tupatilde

SP Tec Sul Engenharia Ltda - Satildeo Jose dos CamposSP Vexillum Construccedilotildees e

Empreendimentos Ltda - Pq Industrial - Campina Grande do SulPR Carvalho Hosken SA

Engenharia e Construccedilotildees -Rio de Janeiro RJ Autoban

Jundiaiacute SP Construtora Norberto Odebrechet SA - Rodovia Rio Santos Metro cia

Metropolitano de Satildeo Paulo - Linha Norte Sul Construtora Apia - Belo HorizonteMG

Construtora Croma - Satildeo Paulo SP Escala Construccedilotildees e Empreendimentos Ltda- Satildeo

PauloSP Tecnicorp Engenharia e Construccedilotildees Ltda - Satildeo Paulo SP Construtora

Lideranccedila Ltda Satildeo Paulo SP Evoluccedilatildeo Empreendimentos Imobiliaacuterios Ltda Satildeo

Paulo SP Schahin Engenharia Ltda- Satildeo PauloSP Elofer Construccedilotildees e Empreendimentos

Ltda - Pinhais PR Constroen Construccedilotildees e Engenharia Ltda -AraccedilatubaSP Infa

incorporadora Ltda - Pinheiros SP Comercial Construtora PPR Ltda - Satildeo PauloSP

Empreendimentos Imobiliaacuterios Estelar Ltda - Satildeo Paulo SP Construtora CPD Ltda - Satildeo

79

PauloSP Associaccedilatildeo de Construccedilatildeo Para Mutiratildeo do Jardim Celeste

Satildeo PauloSP Associaccedilatildeo Boa Esperanccedila -Satildeo PauloSP Associaccedilatildeo de Construccedilatildeo por

Mutiratildeo Novo Horizonte Satildeo PauloSP Copromo Associaccedilatildeo por Moradia de Osasco

OsascoSP

43 Informaccedilotildees sobre a entidade de apoio

A COOPRAM tem sido acompanhada por uma das redes nacionais de apoio as quais

tambeacutem satildeo denominadas de incubadoras de empreendimentos Satildeo essas entidades que

tradicionalmente orientam os empreendimentos solidaacuterios nos mais diversos aspectos desde

a capacitaccedilatildeo para a gestatildeo ateacute aspectos mais subjetivos da vivecircncia no empreendimento tais

como relaccedilotildees interpessoais assimilaccedilatildeo de valores humanos entre outros

No caso da COOPRAM a entidade que daacute o suporte necessaacuterio agraves suas accedilotildees e promove a

apropriaccedilatildeo do conhecimento nas diversas aacutereas do negoacutecio eacute a ANTEAG- Associaccedilatildeo

Nacional das Empresas Autogeridas e de Participaccedilatildeo Acionaacuteria

Fazendo um breve histoacuterico da entidade relata-se que a ANTEAG nasceu da iniciativa dos

proacuteprios trabalhadores que assumiram a gestatildeo de empresas diante da situaccedilatildeo de falecircncia e

desemprego Desde 1991 a ANTEAG teve contato com mais de 700 empresas em situaccedilatildeo

falimentar e passou a trabalhar com muitas delas no sentido de desenvolver a autogestatildeo

Hoje acompanha empresas de produccedilatildeo industrial e de serviccedilos nas cinco regiotildees do paiacutes

representando mais de 32 mil postos de trabalho nos seguintes setores tecircxtil agroinduacutestria

alimentaccedilatildeo couro calccedilados metaluacutergico mineraccedilatildeo serviccedilos confecccedilatildeo plaacutestico coleta

seletiva ceracircmica mobiliaacuterio papel e papelatildeo vidro e cristal tinta borracha e artesanato Os

objetivos que norteiam a accedilatildeo da ANTEAG satildeo

- Recuperar e manter trabalho e renda atraveacutes da participaccedilatildeo e controle coletivo dos

trabalhadores sobre as atividades produtivas

- Organizar e representar nacionalmente os trabalhadores e as empresas de autogestatildeo

- Promover autogestatildeo como alternativa econocircmica e social

80

- Resgatar o trabalho em sua dimensatildeo humana como alternativa agrave precarizaccedilatildeo e ao

desemprego estrutural

No que diz respeito agrave aacuterea de gestatildeo e contabilidade uma das principais formas de

contribuiccedilatildeo da ANTEAG a seus incubados eacute a promoccedilatildeo de cursos no proacuteprio

empreendimento ou nas sedes da entidade localizadas nos principais estados do paiacutes ora

executando esses cursos com seu proacuteprio pessoal ora pleiteando capacitaccedilatildeo a oacutergatildeos

governamentais

44 Descriccedilatildeo da organizaccedilatildeo contaacutebil da COOPRAM

A partir das observaccedilotildees e anaacutelises dos documentos constatou-se que os resultados

econocircmicos e financeiros da entidade satildeo apresentados pelos instrumentos tradicionais da

contabilidade centrando nas demonstraccedilotildees Balanccedilo Patrimonial e Demonstraccedilatildeo do

Resultado do Exerciacutecio da cooperativa Esses relatoacuterios satildeo disponibilizados para os

cooperados nas Assembleacuteias Gerais Ordinaacuterias os quais tambeacutem satildeo afixados no mural para

visualizaccedilatildeo e consulta

Natildeo satildeo confeccionados outros relatoacuterios gerenciais de resultados Semanalmente a diretoria

se reuacutene para discutir as financcedilas e utilizam um relatoacuterio produzido pelo setor financeiro o

qual conteacutem informaccedilotildees sobre o fluxo de recursos contas a pagar e receber

Natildeo haacute um sistema informatizado de apuraccedilatildeo de custos ou relatoacuterios detalhados sobre eles A

confecccedilatildeo dos preccedilos dos produtos eacute baseada em um caacutelculo estimativo dos gastos da

entidade para o qual eacute utilizado um fator matemaacutetico tabelado para cada item de produto e

construiacutedo a partir de outros elementos de despesas que incluem alguns gastos administrativos

e frete No caso de produtos sob encomenda eacute calculado um orccedilamento e sobre o valor

orccedilado tambeacutem se aplica o mesmo fator matemaacutetico

A contabilidade eacute terceirizada ficando a cargo de um escritoacuterio de contabilidade localizado

no mesmo Municiacutepio Mensalmente eacute remetido ao escritoacuterio o movimento de caixa

confeccionado pelos cooperados do setor financeiro O retorno desses dados convertidos em

81

demonstraccedilotildees contaacutebeis natildeo eacute realizado dentro de um periacuteodo possiacutevel de aproveitar as

informaccedilotildees para a tomada de decisotildees Em suma a informaccedilatildeo contaacutebil natildeo eacute sistematizada

ou organizada de modo que possa contribuir com o processo de gestatildeo

No que diz respeito agrave apropriaccedilatildeo dos conhecimentos em contabilidade ela eacute propiciada

principalmente por cursos de formaccedilatildeo em gestatildeo promovidos em geral pela entidade de

apoio como jaacute mencionado

45 Anaacutelise dos Resultados

A anaacutelise realizada foi segmentada em diversos aspectos da dimensatildeo contaacutebil nos processos

de autogestatildeo Entretanto na praacutetica percebeu-se que esses aspectos natildeo satildeo estanques ou

seja eles se inter-relacionam agraves vezes ocorrendo a situaccedilatildeo em que um aspecto eacute fator

determinante de outro Tecircm-se tambeacutem a consciecircncia de que outros fatores importantes agrave

compreensatildeo e ao desvelamento do fenocircmeno natildeo estatildeo aqui incluiacutedos Dessa forma longe de

esgotar as respostas agraves questotildees propostas buscou-se fazer um exerciacutecio de reflexatildeo sobre a

realidade captada pelas vaacuterias evidecircncias

Apoacutes essas observaccedilotildees relata-se a anaacutelise dos aspectos da dimensatildeo contaacutebil representados

pelas seis dimensotildees Esses resultados foram sistematizados em quadros os quais traccedilam um

paralelo entre a realidade encontrada e a realidade esperada A realidade encontrada diz

respeito ao quadro atual de cada aspecto desenhado pelo ponto de vista dos trecircs grupos de

entrevistados e reafirmado pelas observaccedilotildees e registro em arquivos Por outro lado no

quadro da realidade esperada encontram-se a realidade desejada eou elementos e pistas para

alcanccedilar essa situaccedilatildeo ideal Assim as anaacutelises satildeo produto das constataccedilotildees dos grupos

enriquecidos pelos resgates dos conceitos teoacutericos e a bibliografia sobre o tema

Passa-se entatildeo a apresentar a anaacutelise dos resultados

82

451 Forma de comunicaccedilatildeo

Nessa dimensatildeo procurou-se avaliar os instrumentos de comunicaccedilatildeo que a entidade utiliza

para divulgar seus resultados econocircmicos e financeiros Verificou-se a capacidade de a

contabilidade captar e refletir a complexidade das relaccedilotildees inclusas no processo de

autogestatildeo tais como o orccedilamento elaborado coletivamente a execuccedilatildeo e controles

compartilhados enfim foi avaliada a adequaccedilatildeo dos relatoacuterios demonstraccedilotildees e outros

instrumentos da contabilidade agraves necessidades proacuteprias dos empreendimentos solidaacuterios

Quadro 6- Forma de comunicaccedilatildeo

Grupo Realidade Encontrada

( o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Baseia-se nos instrumentos tradicionais

Pouca compreensatildeo dos

instrumentos Acessiacuteveis aos cooperados Apresentados nas assembleacuteias

Especialistas

Insuficiecircncia do Balanccedilo anual

enquanto instrumento de comunicaccedilatildeo

Contadores

Contabilidade financeira tem

limitaccedilotildees Insuficiecircncia do Balanccedilo

Maior tempo de exposiccedilatildeo

das demonstraccedilotildees Mais detalhamentos da

realidade do empreendimento

Mais instrumentos de

informaccedilotildees Criaccedilatildeo de instrumentos de

informaccedilotildees permanentes Criaccedilatildeo de instrumentos de

avaliaccedilatildeo e monitoramento

Conforme demonstra o quadro 6 em geral os cooperados natildeo questionaram sobre os

instrumentos tradicionais de comunicaccedilatildeo dos resultados econocircmicos e financeiros

constituiacutedos principalmente pelo Balanccedilo e DRE Afirmaram que essas demonstraccedilotildees satildeo

acessiacuteveis na entidade Entretanto natildeo haacute muita procura por parte deles em virtude das

dificuldades de compreensatildeo

Na percepccedilatildeo dos especialistas o Balanccedilo anual principal forma de comunicaccedilatildeo das

informaccedilotildees utilizadas pelos empreendimentos eacute insuficiente para manter o trabalhador

informado havendo a necessidade de instrumentos que propiciem o monitoramento

permanente do negoacutecio

83

Os contadores entrevistados tambeacutem apontaram para a insuficiecircncia do Balanccedilo enquanto

uacutenica forma de comunicaccedilatildeo Conforme trecho da fala de um de seus representantes

Uma assembleacuteia natildeo pode se limitar a apresentar Balanccedilo Balanccedilo tem que ter mas eacute uma das

demonstraccedilotildees Vocecirc tem que mostrar outros lados Como eacute que permanentemente o cooperado

acompanha o desenvolvimento da cooperativaO Balanccedilo eacute uma informaccedilatildeo anual Quais satildeo as

outras informaccedilotildees perioacutedicas para que se faccedila um monitoramento uma avaliaccedilatildeo daquele

empreendimento[] entatildeo eu tenho que ter um instrumento e espaccedilo pra discutir []

Um dos contadores ainda destaca a limitaccedilatildeo da contabilidade financeira e a necessidade de

utilizaccedilatildeo da contabilidade gerencial e outros instrumentos apropriados agrave ES Em suas palavras

[] se vocecirc tem na contabilidade financeira contabilidade mais formal algumas limitaccedilotildees a

gente pode construir uma contabilidade gerencial hoje vocecirc tem uma contabilidade social o

Balanccedilo Social vocecirc tem ferramentas esse eacute o papel do profissional []

Portanto no que tange agrave forma de comunicaccedilatildeo das informaccedilotildees disponibilizadas pela

contabilidade as evidecircncias empiacutericas somam-se agraves anaacutelises dos autores que percebem os

empreendimentos autogestionaacuterios como um novo um grupo de usuaacuterios da contabilidade e

para os quais satildeo necessaacuterios novos instrumentos contaacutebeis Resgatando a reflexatildeo realizada

no capiacutetulo 3 agrave luz de Hendriksen e Van Breda ( 1999) sobre a implementaccedilatildeo de relatoacuterios

padronizados ou especiacuteficos a cada grupos de usuaacuterios os autores Almeida e Dantas (2005)

sugerem que os novos usuaacuterios deveriam possuir relatoacuterios especiacuteficos em detrimento da

padronizaccedilatildeo de relatoacuterios a diversos grupos

Michaels (1995) argumenta que a confecccedilatildeo dos relatoacuterios deve atender a alguns preacute-

requisitos a fim de contemplar as demandas reais de informaccedilatildeo dos usuaacuterios Para tanto seria

necessaacuterio responder agraves seguintes perguntas Qual o objetivo da informaccedilatildeoPara quem eacute a

informaccedilatildeo Que quantidade eacute necessaacuteria Como deve ser a informaccedilatildeo Quando a

informaccedilatildeo eacute necessaacuteria Com base nas respostas dadas a essas perguntas o autor reconhece

a natureza peculiar dos empreendimentos autogestionaacuterios e suas necessidades especiacuteficas

Em relaccedilatildeo agrave situaccedilatildeo desejaacutevel ou esperada na visatildeo dos cooperados as demonstraccedilotildees

deveriam fornecer mais detalhes da situaccedilatildeo socioeconocircmica e ficar mais tempo exposta

conforme revelam os trechos a seguir

[] deveria ficar mais tempo exposto agrave disposiccedilatildeo dos cooperados e com mais detalhes e ser

mais bem explicado []

84

[] vocecirc pode fazer uma planilha maior e mostrar em mais detalhes o que estaacute acontecendo

atualmente[]

Essas observaccedilotildees reforccedilam o estudo feito por Michaels (1999) Em sua opiniatildeo as

demonstraccedilotildees contaacutebeis devem ser estruturadas de tal forma que possam ser interpretadas

pelos principais usuaacuterios os associados da cooperativa Para ele a contabilidade deve ser um

importante sistema de informaccedilotildees entre a cooperativa e seus associados e para tanto

recomenda a utilizaccedilatildeo das demonstraccedilotildees contaacutebeis enriquecidas com graacuteficos e tabelas

comparativas Ressalta ainda que as informaccedilotildees contaacutebeis devem ser detalhadas de tal

forma que os principais eventos econocircmicos responsaacuteveis por impactos na situaccedilatildeo

econocircmico-financeira tanto positivos como negativos sejam informados aos associados e

tambeacutem sejam informados quais dos eventos econocircmicos foram fruto de decisotildees internas da

cooperativa e quais ocorreram independentes da gestatildeo interna mas sim por poliacuteticas

governamentais fatores climaacuteticos ou fatos internacionais

Logo neste aspecto concluiu-se que haacute demandas no sentido de propiciar a utilizaccedilatildeo e

assimilaccedilatildeo dos instrumentos existentes pelos trabalhadores da ES bem como de criaccedilatildeo de

novos relatoacuterios especiacuteficos para esses usuaacuterios em oposiccedilatildeo agrave implementaccedilatildeo de relatoacuterios

padronizados a todos os usuaacuterios

452 Conteuacutedo da informaccedilatildeo

O conteuacutedo diz respeito agrave informaccedilatildeo contaacutebil em si Nesse aspecto verificou-se a pertinecircncia

da linguagem das vaacuterias formas de comunicaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil aos usuaacuterios da ES

Mais especificamente nesse aspecto buscou-se perceber se a linguagem da contabilidade eacute

facilmente compreendida pelos trabalhadores tendo em vista o conhecimento jaacute consolidado

de que uma grande parte dos trabalhadores da ES tem um baixo grau de educaccedilatildeo formal

85

Quadro 7- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

Grupo

Realidade Encontrada

(o que eacute)

Realidade Esperada

(o que deveria ser)

Cooperados

Linguagem complicada Calam-se diante da

incompreensatildeo dos termos Incompreensatildeo causa

desinteresse

Especialistas

Linguagem difiacutecil

Contadores

Linguagem teacutecnica codificada

Trabalhadores da ES devem

apropriar-se da linguagem contaacutebil

Linguagem contaacutebil deve

aproximar-se da linguagem coloquial

Linguagem simples e objetiva

Como revela o quadro 7 apesar de serem acessiacuteveis haacute um desinteresse pelos relatoacuterios uma

vez que a linguagem natildeo eacute inteligiacutevel aos cooperados O grau de escolaridade do grupo de

cooperados normalmente eacute baixo e a estrutura dos relatoacuterios baseia-se em uma linguagem

teacutecnica formal o que dificulta o seu entendimento Conforme mostram trechos da fala de

cooperados

[] porque normalmente no relatoacuterio no balanccedilo a gente tenta olhar mais no final quanto que deu

e quanto que natildeo deu Fica mais faacutecil neacute Eu natildeo sei por que eles complicam [] a gente sempre ficava voando com medo ateacute de entatildeo vem o ativo passivo Taacute aqui o ativo passivo Muita

gente calaque nem que seraacute que bixiga eacute isso aiacute

Tambeacutem na visatildeo dos contadores e especialistas entrevistados a linguagem dos relatoacuterios eacute de

difiacutecil compreensatildeo para os trabalhadores pois eacute uma linguagem de contadores ou seja eacute

uma linguagem formal teacutecnica Nas palavras de um contador A linguagem contaacutebil eacute uma

linguagem codificada Eacute uma linguagem que usa coacutedigos e convenccedilotildees Ela natildeo eacute uma

linguagem do cotidiano das pessoas

Os entrevistados de uma forma geral sugerem uma linguagem adequada agrave realidade dos

trabalhadores da ES Para isso eacute necessaacuteria a criaccedilatildeo de novos instrumentos de comunicaccedilatildeo

os quais contenham uma linguagem simples e compreensiacutevel conforme expressam algumas

falas

86

[] entatildeo talvez uma coisa mais simples pra maioria simples Olha daacute dando lucro olha isso

aqui noacutes vamos gastar pra isso A contabilidade eacute interessante mas pro povatildeo acho que ajudava

bem Aiacute vocecirc jaacute podia parar de muitos comentaacuterios Olha taacute assim assim assim no real mas no

real natildeo pra iludir agente []

[] entatildeo noacutes temos duas questotildees ou noacutes vamos ter uma linguagem que aproxime dessa

linguagem coloquial ou seja essa linguagem de Balanccedilo eacute uma linguagem de contadores Entatildeo

tem dois movimentos ou os trabalhadores da ES se apropriam da linguagem dos contadores ou os contadores buscam uma linguagem com os trabalhadores da ES Acho que tem que ter um encontro aiacute Natildeo eacute ficar usando apelidos para falar a mesma coisa Eu digo formas de

comunicaccedilatildeo []

Os apontamentos dos grupos natildeo contraria a hipoacutetese inicialmente aventada sobre a

dificuldade de compreensatildeo da linguagem dos relatoacuterios contaacutebeis por parte dos

trabalhadores Essa hipoacutetese baseou-se na realidade socioeconocircmica dos trabalhadores

retratada no cap 2 Conforme mostraram Singer (2000) e demais autores a baixa escolaridade

dos trabalhadores adveacutem de sua situaccedilatildeo de exclusatildeo social A ES eacute constituiacuteda em sua

maioria por trabalhadores viacutetimas do desemprego estrutural provocado em grande parte pela

globalizaccedilatildeo a qual acarretou a reestruturaccedilatildeo produtiva e mudanccedilas no mercado de trabalho

Esses trabalhadores dispensados de seus postos de trabalho e natildeo apresentando formaccedilatildeo

suficiente para nova colocaccedilatildeo viram na ES uma alternativa de reingresso no mercado de

trabalho e de inclusatildeo social

Assim com baixa escolaridade e natildeo acostumados agrave linguagem de negoacutecio os termos

contaacutebeis soam estranhos aos trabalhadores Dessa forma a adaptaccedilatildeo da linguagem dos

relatoacuterios contaacutebeis agrave realidade dos trabalhadores eacute uma outra demanda concreta que os

empreendimentos de ES remete agrave contabilidade

453 Utilidade da informaccedilatildeo

A avaliaccedilatildeo da utilidade da informaccedilatildeo diz respeito agrave importacircncia e utilidade dada agrave

contabilidade Tambeacutem se procurou avaliar a utilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil em todos os

processos da gestatildeo de forma que ela efetivamente seja supridora de informaccedilotildees

necessaacuterias agrave autogestatildeo ou seja auxiliar no processo de tomada de decisotildees coletivas e na

gestatildeo democraacutetica

87

Quadro 8 - Utilidade da informaccedilatildeo

Grupo Realidade Encontrada

( o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Contabilidade como sinocircnimo de confianccedila entre

os trabalhadores Organizaccedilatildeo contaacutebil influi na motivaccedilatildeo e

tranquumlilidade Contabilidade instrumento de transparecircncia Percepccedilatildeo da influecircncia da organizaccedilatildeo contaacutebil

sobre os resultados Consciecircncia da necessidade de apropriaccedilatildeo da

contabilidade

Especialistas

Falta de domiacutenio das teacutecnicas satildeo lacunas nos

empreendimentos em uma primeira fase Em segunda fase usam teacutecnicas p

desenvolvimento do empreendimento Utilizaccedilatildeo de teacutecnicas contaacutebeis como condiccedilatildeo agrave

viabilidade econocircmica

Contadores

Informaccedilatildeo contaacutebil gera confianccedila e autonomia Formadores tecircm visatildeo da contabilidade como

algo chato dispensaacutevel controle burocraacutetico Contabilidade eacute instrumental necessaacuterio a todas

as aacutereas do empreendimento Natildeo utilizaccedilatildeo dos instrumentos em decorrecircncia

da natildeo apropriaccedilatildeo do conhecimento Resistecircncia agrave superaccedilatildeo da segregaccedilatildeo trabalhar ( trabalhadores) e pensar (administradores)

Superaccedilatildeo da visatildeo

tradicional da contabilidade para o fisco e controle burocraacutetico

Formadores assumir a

contabilidade como questatildeo

fundamental Apropriaccedilatildeo de conhecimento

contaacutebil pelos trabalhadores Criaccedilatildeo de instrumentos

contaacutebeis que gere

informaccedilotildees atualizadas e

permanentes sobre a gestatildeo Utilizaccedilatildeo das teacutecnicas

contaacutebeis em todos os

processos de gestatildeo Trabalhadores devem possuir

a cultura do registro

Na visatildeo de um dos cooperados conforme mostra o quadro 8 a contabilidade tem grande

importacircncia porque eacute um instrumento de transparecircncia e de desenvolvimento econocircmico do

empreendimento Um outro motivo destacado pelos trabalhadores eacute sua vinculaccedilatildeo com a

confianccedila que deve existir na relaccedilatildeo entre os cooperados Para eles uma boa organizaccedilatildeo

contaacutebil propicia a tranquumlilidade no trabalho e motivaccedilatildeo conforme relatam algumas falas

[] contabilidade eacute o coraccedilatildeo o ceacuterebro[] [] porque tem viacutenculo de confianccedila neacute Falando seacuterio como agora agente taacute passando por

uma situaccedilatildeo em relaccedilatildeo serviccedilo dinheiro natildeo taacute boa Entatildeo influi em todo mundo ali sabe

Entatildeo aqui quando as coisas taacute correndo bem a contabilidade a gente supotildee que ta tudo em paz

taacute tudo bom a gente tem uma tranquumlilidade maior de produzir de trabalhar de torcer pra vir mais

serviccedilo Agora quando taacute ruim agente fala pra quecirc serviccedilo O dinheiro natildeo entra as coisa natildeo daacute

pra fazer as coisas direito Entatildeo influi bastante Entatildeo eu acho que administraccedilatildeo contabilidade

a gente tando no meio assim mesmo natildeo fazendo parte mas vocecirc tendo os relatoacuterios vocecirc

entendendo com certeza vocecirc acalma meio mundo laacute embaixo noacutes mesmos []

88

[] a contabilidade eacute fundamental os nuacutemeros clareza todo mundo ciente do que estaacute

acontecendo se tiver condiccedilotildees de fazer uma reserva Entatildeo realmente ter noccedilatildeo pra empresa

crescer []

Essa concepccedilatildeo da importacircncia da utilizaccedilatildeo dos instrumentos contaacutebeis reafirma o papel

social da contabilidade enfatizada no cap 3 Vaz (2002) ressalta que a informaccedilatildeo eacute um

direito de cidadania Pateman no cap 2 ressalta a importacircncia da informaccedilatildeo Para a

autora um dos preacute-requisitos para a participaccedilatildeo democraacutetica e desenvolvimento da

eficaacutecia poliacutetica eacute simetria econocircmica e simetria no acesso a informaccedilotildees Dessa forma a

visatildeo dos grupos entrevistados aproxima-se dos autores sobre a essencialidade da

informaccedilatildeo contaacutebil no processo de autogestatildeo

No que se refere a outro aspecto analisado o uso dos diversos instrumentos para a tomada de

decisatildeo os instrumentos centram-se no Balanccedilo Patrimonial e DRE conforme mencionado

anteriormente Natildeo haacute outros instrumentos mais dinacircmicos de monitoramento e controle do

planejamento da entidade assim como natildeo haacute um planejamento coletivo mais sistematizado

Portanto a entidade natildeo utiliza a maioria dos recursos de informaccedilatildeo disponibilizados pela

contabilidade financeira e gerencial no seu processo de autogestatildeo

Entretanto mesmo natildeo tendo plena consciecircncia do que seja uma contabilidade gerencial e da

potencialidade da contabilidade enquanto instrumento de informaccedilatildeo para a tomada de

decisatildeo os cooperados ainda conseguem diagnosticar os efeitos da ausecircncia dessa

organizaccedilatildeo na entidade e a necessidade de apropriaccedilatildeo desse conhecimento como mostra um

trecho da entrevista de um dos cooperados

[] na verdade eu preciso aprender muito sobre isso aiacute Agora pela assembleacuteia pelo que eu vi sem documento na matildeo noacutes natildeo entende muito natildeo Noacutes tem trabalhado bastante eu acredito que

o nosso produto taacute barato Alguma coisa taacute errada na Coopram Porque noacutes trabalha de segunda a

saacutebado ningueacutem paacutera e hoje o saldo nosso eacute devedor Entatildeo noacutes precisamos corrigir o que taacute

acontecendo Cada um se empenhar mais [] noacutes tenta saber o segredo Mas noacutes soacute trabalha

trabalha Eacute aquilo que eu falei pra vocecirc noacutes precisamos de uma pessoa capacitada pra administrar

nossa Coopram Por que noacutes natildeo estamos conseguindo []

Essa fala reafirma o papel da contabilidade no processo de gestatildeo tambeacutem enfatizada por

Dias (1991) O autor salienta que numa administraccedilatildeo participativa em que os gestores

interferem em todo o processo de gestatildeo que vai desde o planejamento estrateacutegico ateacute a

execuccedilatildeo deve haver um sistema capaz de oferecer informaccedilotildees de todo o ciclo

operacional as quais abrangem informaccedilotildees do ambiente econocircmico previsotildees

orccedilamentaacuterias sistema de programaccedilatildeo sistema de apoio agrave gestatildeo de execuccedilatildeo ateacute a

89

apuraccedilatildeo de resultados e avaliaccedilatildeo de desempenho O sistema de informaccedilotildees deve ser

capaz de indicar tendecircncias futuras e permitir comparaccedilotildees com o passado aleacutem de

possibilitar a avaliaccedilatildeo de evoluccedilatildeo da organizaccedilatildeo e comparaccedilotildees com desempenhos

desejados

Ainda sobre o assunto na opiniatildeo de um especialista entrevistado a falta de domiacutenio e

utilizaccedilatildeo das teacutecnicas contaacutebeis eacute realidade nas fases iniciais de uma grande parte dos

empreendimentos da ES conforme mostra o quadro 8 e a fala do especialista da ES

[] no que tange a autogestatildeo ou seja o domiacutenio de todas as teacutecnicas de gestatildeo de

gerenciamento de composiccedilatildeo de custos satildeo lacunas que existem nos empreendimentos que no

decorrer do tempo eles vem a suprir seja por terceirizaccedilatildeo seja por aprendizado [] Numa

primeira fase eles natildeo utilizam numa segunda que jaacute eacute de um empreendimento mais consolidado

poderiacuteamos chamar ateacute de incubaccedilatildeo ou incubagem que esses empreendimentos tecircm que dotam

suas estruturas dos principais instrumentos necessaacuterios agrave gestatildeo e o desenvolvimento do

empreendimento entatildeo me parece que eles acabam solucionando estes problemas e acabam

consequumlentemente utilizando estas teacutecnicas em prol do desenvolvimento do empreendimento []

Na percepccedilatildeo de um dos especialistas os empreendimentos adquirem esses conhecimentos

impulsionados ateacute pela necessidade de sobrevivecircncia uma vez que eacute condiccedilatildeo para

alavancagem do empreendimento assim como o eacute para as empresas de uma forma geral Nas

palavras do especialista

[] acredito que aqueles empreendimentos que natildeo conseguem utilizar estas teacutecnicas eles tem

uma maior dificuldade de alcanccedilar um ponto de equiliacutebrio ou seja a viabilidade econocircmica

necessaacuteria as condiccedilotildees necessaacuterias de se manter no mercado [] Os que utilizam as teacutecnicas

tecircm maior facilidade pra passar essa fronteira da viabilidade econocircmica do empreendimento

econocircmico e consequumlentemente gerar uma renda que possibilite natildeo soacute a inclusatildeo social mas a

inclusatildeo econocircmica e consequumlentemente a tecnoloacutegica que eacute o que agrega valor a esses

empreendimentos

Na visatildeo dos contadores como mostra o quadro 8 a contabilidade tambeacutem eacute fundamental

para os empreendimentos Conforme fala de um representante

[] a contabilidade eacute fundamental acho assim ela eacute central [] ela serve pra fornecer

informaccedilotildees Ela eacute instrumento fundamental para fornecer informaccedilotildees Informaccedilatildeo gera duas

coisas pra mim que eu acho fundamental na Economia Solidaacuteria Autonomia e Confianccedila

Confianccedila no grupo no coletivo Entatildeo os trabalhadores soacute vatildeo ser autocircnomos nessa relaccedilatildeo

quando possuiacuterem autonomia e confianccedila entre eles Informaccedilatildeo eacute fundamental [] isso eacute

principal causa de uma seacuterie de problemas na Economia Solidaacuteria a falta de confianccedila e a falta de

autonomia por conta da falta de informaccedilatildeo []

Entretanto foi ressaltada uma certa aversatildeo que os trabalhadores e formadores tecircm em relaccedilatildeo

agrave contabilidade para os quais ela eacute associada a algo chato e a um controle burocraacutetico

90

desnecessaacuterio Segundo o contador essa visatildeo deve ser superada pela ES tendo em vista a

centralidade da contabilidade cujas informaccedilotildees satildeo base para outras aacutereas de atuaccedilatildeo no

empreendimento Em suas palavras

[] acho que a Economia Solidaacuteria tem certa aversatildeo a isso porque ela vincula a contabilidade ao

controle burocraacutetico O que eacute um equiacutevoco vincular isso Inclusive formadores de outra aacuterea

vincula esta questatildeo a algo chato Entatildeo os proacuteprios formadores natildeo assumiram isso como uma

questatildeo fundamental Entatildeo a pergunta eacute controle eacute bomMuita gente vincula controle com

desconfianccedila [] eacute preciso superar isso e a contabilidade eacute o principal instrumento Pode-se falar da questatildeo econocircmica questatildeo administrativa enfim de outras doutrinas mas todas elas vatildeo

precisar do instrumental da contabilidade [] administrativamente vocecirc pode propor qualquer

modelo fantaacutestico mas ele vai se basear em informaccedilotildees que o instrumental contaacutebil fornece

Dias (1991) no cap 3 tambeacutem preconizou esta limitaccedilatildeo da contabilidade e explica um dos

motivos da sua imagem ser destorcida Para ele a contabilidade produz relatoacuterios que natildeo

exprimem a realidade econocircmica da empresa prejudicando seus usuaacuterios internos e

externos pois preocupa prioritariamente com a legislaccedilatildeo fiscal fato que impotildee

procedimentos prejudiciais agrave utilizaccedilatildeo dos sistemas de informaccedilotildees contaacutebeis para fins

gerenciais

Um outro motivo que justifica a subutilizaccedilatildeo dos instrumentos contaacutebeis na percepccedilatildeo de

um contador eacute a natildeo apropriaccedilatildeo desses instrumentos pelos trabalhadores Esse fato acarreta

problemas ao empreendimento no futuro Tambeacutem ressalta a necessidade de mudanccedilas de

comportamento dos profissionais a fim de fornecer informaccedilotildees atualizadas e permanentes

buscando suprir a insuficiecircncia do Balanccedilo Patrimonial Em suas palavras

[] como eacute que eu crio instrumentos permanentes soacute se eu tiver uma contabilidade que me gere

informaccedilotildees atualizadas permanentemente Mas natildeo eacute normal isso Como eacute feita a contabilidade

normalmente Vocecirc junta toda a papelada do ano entrega pro profissional o profissional pega aquela papelada classifica de acordo com que ele acha normalmente ele natildeo discute [] e vai laacute e

faz um Balanccedilo Isso eacute insuficiente

Um dos caminhos para mudanccedila sugerido pelos contadores eacute a aquisiccedilatildeo da cultura dos

registros Eles devem possuir a cultura dos registros [] ter alguns controles miacutenimos que

ele passe para o contador que gere outras informaccedilotildees

Essas reflexotildees reforccedilam a demanda jaacute constatada anteriormente da necessidade de criaccedilatildeo de

novos instrumentos contaacutebeis que produzam informaccedilotildees permanentes e atualizadas e

acrescenta uma nova demanda uma mudanccedila comportamental dos contadores da ES

91

adotando uma postura que incentive a assimilaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil pelos proacuteprios

trabalhadores

454 Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Um dos princiacutepios fundamentais da Economia Solidaacuteria sugere a socializaccedilatildeo de todo o

conhecimento de gestatildeo em oposiccedilatildeo agrave tiacutepica empresa que resguarda esses conhecimentos

para o grupo da gerecircncia Baseado nesse princiacutepio essa dimensatildeo teve a intenccedilatildeo de

compreender e analisar as formas de transferecircncia do conhecimento contaacutebil e as eventuais

dificuldades enfrentadas pelo trabalhador no processo de apropriaccedilatildeo do conhecimento das

teacutecnicas contaacutebeis Nesse item tambeacutem se buscou captar elementos que norteiem uma

formaccedilatildeo desejada em contabilidade

Quadro 9 - Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Grupo Realidade Encontrada

( o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Dificuldade em decorrecircncia da linguagem Consciecircncia da necessidade de apropriaccedilatildeo

Especialistas

Didaacutetica de formaccedilatildeo natildeo proporciona

assimilaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil Linguagem de formaccedilatildeo natildeo acessiacutevel

Contadores

Natildeo apropriaccedilatildeo em funccedilatildeo de linguagem

estranha ao cotidiano dos trabalhadores Trabalhadores tecircm medo e posiccedilatildeo defensiva em

relaccedilatildeo agrave contabilidade Didaacutetica de formaccedilatildeo muitas vezes natildeo

apropriada Formaccedilatildeo paternalista

Formaccedilatildeo deve ser em

linguagem acessiacutevel aos

trabalhadores Formador deve ter didaacutetica

apropriada ao puacuteblico Utilizaccedilatildeo da educaccedilatildeo

popular na formaccedilatildeo dos

trabalhadores Formaccedilatildeo deve sensibilizar

para a importacircncia da

contabilidade Formaccedilatildeo deve ser

permanente Formaccedilatildeo deve ser

estruturada de forma crescente

O quadro 9 revela que os cooperados tecircm dificuldades para a assimilaccedilatildeo do conhecimento

contaacutebil mas como referido no item anterior tambeacutem tecircm consciecircncia de sua importacircncia e

utilidade conforme demonstra trecho da fala de um cooperado [] na verdade eu preciso

aprender muito sobre isso aiacute []

92

No entanto quando questionados sobre a participaccedilatildeo nos cursos de formaccedilatildeo em

contabilidade promovidos pela entidade de apoio apenas dois cooperados disseram que

participaram de algum Esses participantes relataram dificuldades em funccedilatildeo da linguagem

utilizada pelo formador Em relaccedilatildeo a futuros cursos de formaccedilatildeo os trabalhadores tambeacutem

ressaltaram a questatildeo da linguagem conforme trecho de uma entrevista

[] linguagem simples falando seacuterio Vocecirc jaacute pensou vem laacute o Sr Ney dar um curso aqui

falando de paradigma Sabe a gente ia ficar porque agraves vezes agente pergunta tem uns que natildeo

pergunta Entatildeo tinha que ser uma linguagem Por que olha o SEBRAE agraves vezes agente assiste

no domingo a linguagem laacute eacute simples de entender Olha a empresa taacute assim taacute dando esse lucro

Ela aplicou tanto Vocecirc capta a coisa Mas se vocecirc vem com um negoacutecio de faculdade bem

complicado acho que noacutes ia ficaacute boiando

Os especialistas entrevistados reafirmam a dificuldade de assimilaccedilatildeo da contabilidade por

parte dos trabalhadores No entanto atribuem essa dificuldade agrave didaacutetica empregada nos

cursos Conforme explica um deles a didaacutetica deve estar adequada agrave realidade social e grau

de instruccedilatildeo dos trabalhadores que natildeo eacute muito elevado A apropriaccedilatildeo que tecircm desses

conhecimentos seraacute tatildeo mais faacutecil se o formador procurar levar o conhecimento em uma

linguagem mais proacutexima agrave realidade social desses trabalhadores Nas suas palavras

[] pode ser uma questatildeo de didaacutetica Agraves vezes temas considerados difiacuteceis se tornam faacuteceis na

medida em que o formador tenha linguagem apropriada ao puacuteblico com o qual ele estaacute

trabalhando Se noacutes formos trabalhar com linguagem puramente teacutecnicas com estes trabalhadores

que muitas vezes tem uma formaccedilatildeo dentro da educaccedilatildeo formal passando apenas do limite da

alfabetizaccedilatildeo como eacute o caso da cooperativa de catadores como eacute o caso da populaccedilatildeo brasileira

em geral a resposta seria que eles tem bastante dificuldade []

Ressalta que o baixo grau de instruccedilatildeo dos trabalhadores da ES natildeo eacute impeditivo para a

assimilaccedilatildeo do conhecimento Para facilitar a assimilaccedilatildeo sugere a utilizaccedilatildeo de metodologias

de formaccedilatildeo apropriada ao puacuteblico como a Educaccedilatildeo Popular de Paulo Freire conforme

relatos

[] os trabalhadores da ES tem um grau de escolaridade muito baixo mas isso natildeo eacute impeditivo

para que eles aprendam Muitas vezes eles soacute natildeo aprenderam porque natildeo tiveram condiccedilotildees de

frequumlentar a educaccedilatildeo formal Agora natildeo necessariamente a educaccedilatildeo formal eacute preacute-requisito para o aprendizado de teacutecnicas apropriadas para a gestatildeo de um empreendimento[] [] a ES utiliza muito da educaccedilatildeo popular pra formaccedilatildeo dos trabalhadores pra transferecircncias de

conhecimento enfim pra essa linguagem de comunicaccedilatildeo e de extensatildeo que seja mais facilmente

assimilada por esse puacuteblico[]

93

Os contadores entrevistados tambeacutem compactuam com essa linha de raciociacutenio chamando a

atenccedilatildeo para a linguagem empregada Nas palavras de um deles[] os trabalhadores natildeo

apropriaram da linguagem contaacutebil porque natildeo faz parte do cotidiano deles O dia que

comeccedilar a fazer parte do cotidiano deles eles comeccedilam a se apropriar tambeacutem

Os contadores ressaltam que em decorrecircncia da sua baixa educaccedilatildeo formal e distacircncia de

linguagem tecircm medo da contabilidade assim como tecircm medo da matemaacutetica conforme

relata [] eles natildeo entendem porque nunca foi passado pra eles tambeacutem Entatildeo eles tecircm

dificuldade na verdade eles tecircm medo Tecircm medo porque associam contabilidade com conta

e com matemaacutetica [] ele eacute defensivo

Contribui para a natildeo apropriaccedilatildeo o legado da velha cultura ainda impregnada nos

trabalhadores na qual persiste a ideacuteia de segregaccedilatildeo entre pensar (administradores) e trabalhar

(trabalhadores) O trabalhador ainda natildeo se acha apto agrave gestatildeo que em sua visatildeo continua

sendo prerrogativa dos mais cultos Transcrevendo a fala do contador

[] os trabalhadores ainda natildeo consideram essa questatildeo da gestatildeo cuidar da gestatildeo contaacutebil

como trabalho Ele considera trabalho quando ele estaacute na beira da maacutequina isso eacute trabalho pra ele

A gestatildeo natildeo eacute trabalho Eacute perda de tempo [] Ele estaacute acostumado a separar estas atividades de

pensar e trabalhar Ele faz essa separaccedilatildeo[] entatildeo se falar pra ele olha tem que fazer um livro-caixa aproveitar estes dados e projetar o futuro satildeo raros os casos

Essa percepccedilatildeo da necessidade de mudanccedila cultural reafirma a visatildeo de Rattner (2005)

exposta no cap 2 o qual afirma que a ES exige a conscientizaccedilatildeo e o desenvolvimento de

princiacutepios eacuteticos e valores de compaixatildeo e solidariedade Para ele a ES natildeo pode ser um

produto do autoritarismo de uma administraccedilatildeo de uma soacute via de cima para baixo Ela exige

a participaccedilatildeo de todos para se tornarem cidadatildeos e assim sujeitos do processo histoacuterico

A partir dessas reflexotildees foram constatadas novas demandas agrave contabilidade no que se refere

agrave apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo contaacutebil Primeiro haacute premecircncia de uma didaacutetica para

transmissatildeo do conhecimento em contabilidade apropriada agrave realidade social dos

trabalhadores Segundo haacute necessidade de uma metodologia de formaccedilatildeo permanente em

contabilidade e gestatildeo que contribua para uma mudanccedila cultural dos cooperados

No que diz respeito agrave situaccedilatildeo desejaacutevel ou esperada os grupos levantam alguns elementos

Sugerem que ela seja iniciada pela sensibilizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a importacircncia da contabilidade a

94

ponto de os trabalhadores desejarem conhececirc-la e compreendecirc-la como instrumento de

autonomia Um outro aspecto da formaccedilatildeo levantada refere-se agrave graduaccedilatildeo segundo a qual

ela deve ser permanente e crescente que vaacute agregando informaccedilatildeo aos poucos aos

trabalhadores como num processo de alfabetizaccedilatildeo Eis os trechos de sua falas

[] primeiro mostrar que a contabilidade eacute importante como um instrumento de gestatildeo que gera

informaccedilatildeo gera informaccedilatildeo para quecirc[] pra tomar decisatildeo Quem toma decisatildeo satildeo eles Entatildeo

eles precisam ter informaccedilatildeo na matildeo para tomar decisatildeoEntatildeo eacute um curso indo nessa linha de

sensibilizaccedilatildeo[] Seria importante que os trabalhadores a enxergassem como um instrumento de autonomia e ousando como instrumento de autonomia e ateacute de libertaccedilatildeo [] eu natildeo concordo Jaacute vi outros colegas trabalhando com formaccedilatildeo O cara jaacute comeccedila falando da

contabilidade jaacute mostra o Balanccedilo ativo passivo Aiacute os caras comeccedilam a se olhar Daacute medo []

eacute como vocecirc natildeo passar pelo processo de alfabetizaccedilatildeo com as crianccedilas e jaacute desse um livro pra ela

ler[] tambeacutem natildeo daacute pra ser paternalista Dar um livro ilustrado Vocecirc ficar educando soacute por

imagem [] [] deve ser uma formaccedilatildeo permanente E ela tem que ser crescente tambeacutem Ela tem que estar

estruturada em que vocecirc comece com os fundamentos e vocecirc vaacute agregando informaccedilotildees agravequeles

fundamentos[]

455 Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Conforme bibliografia pesquisada as aacutereas teacutecnicas tecircm dificuldades de perceber a

especificidade da autogestatildeo Nessa perspectiva foi analisada a relaccedilatildeo dos usuaacuterios dos

empreendimentos autogestionaacuterios com os profissionais da aacuterea contaacutebil Em outras palavras

pretendeu-se compreender o envolvimento do contabilista com a autogestatildeo Por outro lado

tambeacutem se procurou captar elementos que norteiem agrave construccedilatildeo da relaccedilatildeo ideal entre os

contadores e os trabalhadores da ES

95

Quadro 10 - Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Grupo Realidade Encontrada

(o que eacute)

Realidade Esperada

(o que deveria ser)

Cooperados

Abismo na relaccedilatildeo

Especialistas

Tema relativamente novo Dificuldade de arregimentar

contabilistas agrave ES Inserccedilatildeo da aacuterea contaacutebil ainda

eacute baixa Dificuldade dos contadores em

assimilar sistemaacutetica diferente

da empresa capitalista Formaccedilatildeo natildeo prepara para

atendimento de sociedade de pessoas

Pouco especializaccedilatildeo de

profissionais na aacuterea Formaccedilatildeo acadecircmica natildeo

voltada para divulgaccedilatildeo

pesquisa e reflexatildeo do tema Produccedilatildeo de saberes para a

classe trabalhadora na universidade brasileira eacute

recente

Contadores

Contador natildeo tem costume de

fornecer informaccedilotildees para o

coletivo Contador prefere atender o

fisco Contador tem viacutecios de

formaccedilatildeo Evitar relaccedilatildeo paternalista Formaccedilatildeo voltada para SAs Curriacuteculos de contabilidade

natildeo abertos a novas

tecnologias

Contador deve ser um profissional orgacircnico

engajado nos processos econocircmicos do

empreendimento Qualidades e habilidades que um contador de ES

deve possuir

Conhecer as teacutecnicas Saber resolver problemas Saber transferir conhecimento Ter sensibilidade Saber sensibilizar Saber dialogar Ser um comunicador Ter uma linguagem apropriada aos

trabalhadores Paciecircncia para ensinar Habilidade para simplificar Disposiccedilatildeo para criar Disposiccedilatildeo a ouvir discutir e aprender

Uma Formaccedilatildeo acadecircmica Que tenha envolvimento com a sociedade Que busque perguntas para pesquisa na

sociedade Problematize reflita sobre o tema Que o curriacuteculo seja baseado na realidade

brasileira

A partir das entrevistas observou-se a distacircncia entre os contadores e os trabalhadores O

profissional da contabilidade ainda exerce seu trabalho de uma forma tradicional sem

compreender muito a especificidade de um empreendimento da ES em consequumlecircncia natildeo haacute

uma maior aproximaccedilatildeo do contador com os cooperados da entidade Isso ficou patente nos

relatos dos cooperados entrevistados que em sua maioria natildeo abordavam o contador para

pedir esclarecimentos sobre a contabilidade Alguns argumentaram falta de tempo outros

falta de interesse

96

Entretanto quando questionados sobre o perfil que um contador da ES deveria possuir

destacaram qualidades como paciecircncia adoccedilatildeo de linguagem simples habilidade para

simplificar conforme trechos a seguir

[] eu lembro quando trabalhava laacute no Liceu eu nem tinha interesse em saber as financcedilas do

patratildeo Eu queria o meu trabalhar direitinho e o meu Aqui natildeo a gente se envolve Entatildeo a gente

tem aquela vontade de querer saber como estatildeo as coisas Entatildeo chega um contador que talvez taacute

acostumado a lidar soacute com outras pessoas talvez pense que agente natildeo tem interesse Talvez

agente natildeo tem a habilidade de captar as coisas Mas a gente aqui eacute todo mundo curioso em saber

como anda a empresa Precisa uma paciecircncia com a gente maior Entatildeo um cara que jaacute participou

de alguma cooperativa Que eacute diferente a coisa [] precisa ser mais paciente e ter uma habilidade de simplificar De pocircr as coisas mais simples

pra gente sabe Eu imagino se tivesse um jeito Se chega um de gravata no pescoccedilo soacute falando

coisa difiacutecil natildeo adianta muito Simplicidade neacute Acho que o importante aqui a instruccedilatildeo da

gente natildeo eacute tatildeo grande Entatildeo tem esse abismo Natildeo adianta uma pessoa bem culta e natildeo saber

lidar com agente [] [] ele podia esclarecer mais Porque vai ter que prestar conta por exemplo se for prestar o relatoacuterio pra todo o pessoal da faacutebrica Vai ter que ser uma pessoa que tem habilidade pra

demonstrar com mais simplicidade Relatoacuterios mais simples pra todo mundo entender e ver

realmente o que estaacute acontecendo[]

Na visatildeo dos especialistas o setor de contabilidade eacute uma lacuna para os empreendimentos

Por se tratar de um tema recente haacute uma dificuldade de arregimentar profissionais das aacutereas

teacutecnicas para a ES conforme relata um de seus representantes

[] de uma maneira geral o setor de contabilidade eacute uma carecircncia para os empreendimentos A ES ela eacute bastante recente embora tenha jaacute em torno de 15 a 20 anos no paiacutes enquanto tema

reconhecido mas algumas aacutereas do conhecimento se tem maior facilidade de arregimentaccedilatildeo

teacutecnica e outras um pouco mais de dificuldade A aacuterea da contabilidade e a aacuterea do direito satildeo

aacutereas com as quais natildeo se tem muito contato institucional [] alguns profissionais acabam natildeo conhecendo natildeo se especializando nessa demanda em

especiacutefico o que faz com que o mercado tenha pouquiacutessimos profissionais que conhecem de contabilidade de cooperativa [] [] o envolvimento dos profissionais estaacute muito aqueacutem da necessidade [] eu vejo que os

profissionais da contabilidade talvez a conjuntura toda a proacutepria formaccedilatildeo acadecircmica ela natildeo estaacute

voltada para a divulgaccedilatildeo pra pesquisa e reflexatildeo do tema do cooperativismo []

Para um especialista a ES tem uma natureza diferente das empresas lucrativas e daquelas sem

fins lucrativos isso justifica em parte a dificuldade de envolvimento dos contadores com a

ES uma vez que natildeo estatildeo acostumados a lidar com entidades de sistemaacuteticas diferentes da

empresa de capital conforme explica um especialista

[] no sentido latu os contadores tecircm dificuldades de trabalhar com as cooperativas que tem uma sistemaacutetica totalmente diferente das empresas de capital Na verdade a expressatildeo sem finalidade

97

lucrativa ou sem fins lucrativos de uma sociedade de pessoa coloca uma cooperativa entre uma sociedade de capital e uma sociedade civil sem fins lucrativos ou seja uma associaccedilatildeo Entatildeo o

que difere dos dois eacute que na cooperativa haacute um hiacutebrido entre a sociedade civil e uma associaccedilatildeo

mercantil[] [] que eacute uma contabilidade diferenciada das sociedades de capital natildeo tenho duacutevida O que me

faz pensar eacute como faremos para arregimentar profissionais que se especializem nessa aacuterea e que

possam trabalhar em todo esse ciacuterculo nesse entendimento do que eacute a ES e que conheccedilam natildeo soacute

as suas teacutecnicas de contabilidade mas a melhor forma de passar esse conhecimento pelos trabalhadores[]

Essa perspectiva se alinha agrave percepccedilatildeo da ANTEAG (2005) relatada no cap 1 sobre a

dificuldade de envolvimento dos contadores com a ES Para a ANTEAG o problema estaacute

vinculado agrave inovaccedilatildeo que a autogestatildeo representa e agrave formaccedilatildeo dos profissionais que ainda

estaacute centrada em empresas tradicionais seguindo as regras convencionais do mercado

consequumlentemente os profissionais terceirizados das aacutereas teacutecnicas como contabilidade e

direito desconhecem as condiccedilotildees diferenciais da autogestatildeo

Para acompanhar essa sistemaacutetica diferenciada da ES satildeo sugeridos pelos entrevistados uma

nova postura do contador um contador engajado que acompanhe os processos econocircmicos

do empreendimento conforme ressaltam

[] o que se chama de lucro na sociedade de capital se transforma em sobra na cooperativa Esse lucro na sociedade de capital pode ser distribuiacutedo mecircs a mecircs jaacute na cooperativa eacute soacute no Balanccedilo no

final do exerciacutecio financeiro Essa loacutegica de atuaccedilatildeo de certa forma requer um profissional orgacircnico trabalhando com os empreendimentos ou seja um contador ele precisa acompanhar os

processos econocircmicos do empreendimento durante um ano pra poder realizar o Balanccedilo do

empreendimento

Todo esse panorama remete a discussatildeo sobre a formaccedilatildeo do contador que natildeo o prepara para

o atendimento de sociedade de pessoas do tipo das cooperativas Nas palavras de um

especialista

[] o que se discute eacute qual a contabilidade ou visatildeo de contabilidade necessaacuteria para o

cooperativismo [] porque nem todos os contadores tecircm uma formaccedilatildeo apropriada para o

atendimento de uma sociedade que embora econocircmica de pessoas Noacutes temos grande demanda

empresarial para sociedades de capital de uns tempos pra caacute eacute que a sociedade de pessoas

entraram dentro da oacuterbita econocircmica em maior escala [] as edificaccedilotildees de gestatildeo e estas que entram em temas novos e o tema das cooperativas de

trabalho para o Brasil eacute relativamente novo ainda temos carecircncia de profissionais e temos

necessidade de produccedilatildeo acadecircmica teacutecnica cientiacutefica acerca destes temas portanto a inserccedilatildeo

ainda eacute muito baixa [] [] a universidade brasileira ela por muito tempo esteve isolada da sociedade ou seja se constituiacutea num centro hermeacutetico onde se faz pesquisa onde se faz ensino e eventualmente se faz extensatildeo Mas uma grande caracteriacutestica da universidade mesmo naquelas que faz extensatildeo

sempre foi e isso natildeo eacute opiniatildeo produzir conhecimento pra classe dominante Eacute uma questatildeo

ideoloacutegica e o Estado brasileiro natildeo eacute diferente disso Entatildeo as proacuteprias pesquisas mais facilmente

98

financiaacuteveis satildeo aquelas pesquisas voltadas ao desenvolvimento de tecnologia para o capital []

ateacute pouco tempo atraacutes natildeo se via a universidade brasileira voltada a produzir saberes para a classe trabalhadora [] precisa ter contato com a sociedade [] onde noacutes buscamos o conhecimento Noacutes buscamos o

conhecimento exclusivamente dentro dos muros da universidade Ou temos que ter a coragem de ir a sociedade e ver quais satildeo as grandes perguntas que a sociedade faz e que o universo do saber a universidade deve responder ou seja quem eacute que deteacutem o poder aiacute se entra numa questatildeo de

novo de ideologia de priorizar a atuaccedilatildeo acadecircmica eacute a sociedade ou os quadros acadecircmicos que

atribuem um grau de importacircncia agraves perguntas que devem ser respondidas

[] pouquiacutessima problematizaccedilatildeo pouquiacutessima reflexatildeo e consequumlentemente pouquiacutessima

produccedilatildeo acerca desses temas

Na visatildeo dos contadores entrevistados o problema tambeacutem passa pelo tipo de sociedade que o

contador estaacute acostumado a lidar e pela sua postura tradicional de fazer contabilidade para

atender ao fisco Nas palavras de um contador

[] os contadores estatildeo acostumados a dar informaccedilatildeo pra pessoa eles natildeo estatildeo acostumados a partilhar informaccedilatildeo a dar informaccedilatildeo para um coletivo Entatildeo satildeo poucos contadores que tem

praacutetica de dar informaccedilatildeo para um coletivo [] [] o profissional vai naquele b-a-baacute O contador prefere atender o fisco A prioridade pra ele eacute

atender o fisco Ele natildeo estaacute preocupado com as outras questotildees normalmente Ele ainda eacute um

tarefeiro

Na entrevista um contador alerta para a relaccedilatildeo de dependecircncia que pode haver entre

contador e trabalhadores da ES [] na ES vocecirc pode criar uma relaccedilatildeo de dependecircncia

vocecirc pode criar uma relaccedilatildeo paternalista com eles Entatildeo isso deve ser evitado [] Tambeacutem

aponta a formaccedilatildeo como um dos fatores responsaacuteveis por essa postura dos contadores e indica

elementos para uma nova formaccedilatildeo

[] ele vem formado pra trabalhar em empresa capitalista entatildeo pra trabalhar na ES como sou

cristatildeo ele vai ter que se converter e reconhecer que ele tem viacutecios de formaccedilatildeo [] [] acho que tem que ter um outro curriacuteculo com a realidade do Brasil As universidades do paiacutes

prepara como se todos os contadores fossem trabalhar em uma SA O mercado brasileiro primeiro tem poucas empresas sa [] ele natildeo eacute formado pra trabalhar com pequena empresa ele

natildeo eacute formado pra trabalhar com entidades sociais ele natildeo eacute formado pra trabalhar com cooperativas e muito menos com Economia Solidaacuteria [] [] o que eacute moderno O que eacute tecnoloacutegico Eacute trabalhar com as grandes empresas E natildeo eacute

verdade Eu natildeo concordo com isso[] novas tecnologias vocecirc cria em pequenos negoacutecios vocecirc

cria em experiecircncias associativas diferenciadas como consoacutercios de empresas como redes novas e

experiecircncias de outros modelos e na Economia Solidaacuteria Entatildeo os curriacuteculos de contabilidade

natildeo estatildeo abertos para estas questotildees de novas tecnologias []

No que tange ao perfil desejado ou esperado do contador a fim de se estabelecer uma boa

relaccedilatildeo entre contador e trabalhadores da ES os entrevistados destacaram habilidades como

99

conhecer as teacutecnicas saber resolver problemas saber transferir conhecimento ter

sensibilidade saber sensibilizar saber dialogar ser um comunicador ter uma linguagem

apropriada aos trabalhadores disposiccedilatildeo para criar disposiccedilatildeo para ouvir discutir e

aprender Eis alguns trechos das entrevistas

[] ele tem que ao mesmo tempo que saber resolver os problemas ele tecircm que tambeacutem serem

repassadores de conhecimento eles tecircm que trabalhar com formaccedilatildeo de formadoresEles Tecircm que

ensinar para que estes dirigentes dos empreendimentos natildeo soacute absorvam estes conhecimentos como eles saibam replicar os conhecimentos obtidos[] [] ter sensibilidade capacidade de sensibilizar e de dialogar natildeo soacute sendo um extensionista mas

ser um comunicador Ou seja ele natildeo vai estender o conhecimento dele mas ele vai dialogar para ser entendimento por esses trabalhadores Por uma simples razatildeo satildeo trabalhadores excluiacutedos satildeo

trabalhadores que natildeo tem em princiacutepio capacidade de entender sozinhos o empreendimento

econocircmico [] entatildeo eacute preciso uma didaacutetica especial de relacionamento com esses trabalhadores porque natildeo se consegue trabalhar com foacutermulas com esse puacuteblico [] conseguir ser percebido e entendido por esses trabalhadores Porque agraves vezes natildeo basta ter

conhecimento eacute preciso passaacute-lo e no caso dessa populaccedilatildeo eacute preciso ter uma linguagem adequada

para que se tenha o respeito e consequumlentemente a apreensatildeo por esses trabalhadores no seu

negoacutecio[] [] alguns termos que eles usam na cooperativa eu tambeacutem natildeo sei Da atividade econocircmica tem

questotildees pra qualquer contador montar um plano de contas vocecirc tem que descer vocecirc tem que

conhecer o processo inteiro da produccedilatildeo industrializaccedilatildeo pra colocar as coisas certas [] ele natildeo pode pegar os manuais que ele tem e querer adaptar E o que eu vejo por aiacute satildeo

adaptaccedilotildees E nem tudo daacute pra adaptar Ele tem que ter disposiccedilatildeo pra criar instrumentos novos [] tem que aprender a ouvir discutir estar disposto a aprender a ES () Eacute uma relaccedilatildeo quando

vocecirc vai pra laacute vocecirc tem que estar disposto a aprender tambeacutem Vocecirc vai aprender com os

trabalhadores

Sintetizando as demandas apontadas nesse toacutepico podem ser agrupadas em dois pontos

mudanccedilas na formaccedilatildeo do contador e desenvolvimento de habilidades para o trabalho com os

empreendimentos autogestionaacuterios

456 Legislaccedilatildeo contaacutebil

Os autores citados no cap 2 e 3 argumentam que a legislaccedilatildeo ainda natildeo capta a

especificidade da autogestatildeo Isso se aplica agrave forma de registro dos eventos econocircmico-

financeiros agraves demonstraccedilotildees contaacutebeis e tambeacutem agrave constituiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo dessas

entidades Para avaliar esse conjunto foi necessaacuterio tambeacutem analisar a legislaccedilatildeo

cooperativista e natildeo soacute a legislaccedilatildeo contaacutebil para o cooperativismo tendo em vista que as

100

duas legislaccedilotildees estatildeo bastante associadas Dessa forma essa dimensatildeo analisou a pertinecircncia

dessas legislaccedilotildees agrave realidade e necessidade da ES

Quadro 11- Legislaccedilatildeo contaacutebil

Grupo Realidade Encontrada

(o que eacute)

Realidade Esperada

( o que deveria ser)

Cooperados

Natildeo questionado

Especialistas

Legislaccedilatildeo atrasada e natildeo adequada agrave

realidade brasileira Dificuldade de compreensatildeo do conceito e

operacionalizaccedilatildeo do ato cooperativo e

consequumlentemente a tributaccedilatildeo nas

cooperativas Marco juriacutedico das cooperativas ainda

vinculado agraves cooperativas de produtores

rurais Dificuldade de mensurar participaccedilatildeo do

trabalho Dificuldades dos profissionais com a

legislaccedilatildeo Insuficiecircncia de produccedilatildeo cientiacutefica nessa

aacuterea

Contadores

Legislaccedilatildeo inadequada Legislaccedilatildeo trata desiguais como iguais (grande e pequeno empreendimento)

Tratamento diferenciado entre

grandes e pequenos empreendimentos

Legislaccedilatildeo diferenciada para

cooperativas de trabalho Legislaccedilatildeo apropriada para a

Economia Solidaacuteria Formaccedilatildeo de contadores na aacuterea

de cooperativismo e ES

O quadro 11 mostra a visatildeo dos especialistas sobre a legislaccedilatildeo cooperativista para os quais

ela eacute inadequada uma vez que natildeo contempla plenamente as cooperativas de trabalho que

constituem uma grande parte dos empreendimentos de ES Um especialista explica

[] a legislaccedilatildeo cooperativista natildeo eacute adequada O cooperativismo brasileiro em atraso em relaccedilatildeo

ao cooperativismo do resto do mundo O marco brasileiro estaacute muito vinculado agraves cooperativas de

produtores Entatildeo o cooperativismo brasileiro se ressente de uma maior inserccedilatildeo do

cooperativismo de trabalho [] cooperativismo de trabalho brasileiro eacute constituiacutedo nos marcos da

lei vigente mas eacute tratado da mesma forma esse eacute o ressentimento que as cooperativas de produccedilatildeo

agriacutecola possui e as dinacircmicas de estruturaccedilatildeo e de funcionamento dessas cooperativas de trabalho

satildeo totalmente diferentes O cooperativismo de trabalho eacute a reuniatildeo de pessoas aiacute natildeo eacute uma reuniatildeo de meios de produccedilatildeo ou de produtores mas eacute de pessoas com o objetivo de gerar

trabalho e renda a partir de suas estruturas a partir de seus mecanismos de funcionamento e ateacute

mesmo de suas estruturas produtivas []

101

Esse ponto de vista coincide com os autores revisados no cap 2 Tauile (2005) tambeacutem

argumenta que o marco legal natildeo eacute adequado agrave sociedade de pessoas pois contempla somente

as sociedades de capital

Outra questatildeo levantada diz respeito agrave dificuldade de compreensatildeo do conceito e

operacionalizaccedilatildeo do ato cooperativo o que dificulta sobremaneira a execuccedilatildeo da tributaccedilatildeo

nas cooperativas conforme relata um especialista

[] essa eacute uma grande dificuldade que se tem de entender essa questatildeo do ato cooperativo

Tecnicamente eacute faacutecil de entender tecnicamente se caracteriza por aquelas operaccedilotildees realizadas

entre associados de mesmo empreendimento ou entre empreendimentos cooperativos associados Agora levar isso pra praacutetica e ver tributariamente o que isso significa o ato cooperativo noacutes

precisariacuteamos natildeo soacute de um grande debate ou vaacuterias horas de reflexatildeo pra saber o que realmente eacute

tributaacutevel o que eacute passiacutevel ou natildeo de tributaccedilatildeo no que diz respeito ao ato cooperativo que acabou

se tornando ateacute mesmo uma letra morta [] a gente tem grande dificuldade de fazer essa letra essa lei valer Porque haacute grandes confusotildees dentro do mundo juriacutedico sobre qual o entendimento que se

tem jaacute consolidado dentro dos tribunais sobre o que eacute o ato cooperativo e qual eacute sua aacuterea de

incidecircncia []

Tambeacutem foi evidenciada a dificuldade de mensuraccedilatildeo da participaccedilatildeo de cada trabalhador

por ocasiatildeo da distribuiccedilatildeo das sobras Diante do contexto de indecisotildees da ordem juriacutedica eacute

justificada em parte a dificuldade dos contadores de conhecimento da legislaccedilatildeo Eis as falas

do especialista

[] a legislaccedilatildeo fala que as sobras seratildeo rateadas ou divididas ou aplicadas de acordo com a

participaccedilatildeo dos associados na cooperativa e por participaccedilatildeo do trabalho eacute difiacutecil de mesurar o

que torna um empreendimento urbano ou de Economia Solidaacuteria ou uma cooperativa de trabalho

no sentido especiacutefico mas faacutecil de avaliar pela participaccedilatildeo proporcional agraves operaccedilotildees

relativamente ao nuacutemero de horas que o trabalhador esteve no empreendimento natildeo soacute sua

produtividade em si [] [] diante das indecisotildees da ordem juriacutedica aliado a outros fatores [] de uma maneira geral haacute

uma dificuldade lato sensu em relaccedilatildeo ao conhecimento mas natildeo se trata apenas de conhecimento

mas se trata simplesmente de indecisotildees da ordem juriacutedica em relaccedilatildeo ao que significa o

cooperativismo brasileiro e quais satildeo seus principais eixos de atuaccedilatildeo ou seja se agente natildeo

consegue nem identificar conceito e operacionalidade de ato cooperativo eacute um grande indicador

de que a estrutura juriacutedica brasileira natildeo estaacute adequada a ES

Jaacute na visatildeo dos contadores a legislaccedilatildeo natildeo eacute adequada porque natildeo faz diferenciaccedilatildeo entre

pequenos e grandes empreendimentos no que diz respeito agrave legalizaccedilatildeo e tributaccedilatildeo eacute o que

revela trecho da entrevista de um contador

[] eacute evidente que natildeo eacute adequada pela seguinte questatildeo Trata os desiguais como iguais Entatildeo o

que significa isso Tratando-se especificamente de cooperativa eu monto uma cooperativa com 20 mulheres costureiras ela vai ter o mesmo tratamento legal que uma grande cooperativa que pode contratar profissionais Entatildeo haacute um tratamento desigual

102

Entretanto salienta que natildeo se trata de eliminar obrigaccedilotildees legais no que diz respeito agrave

apresentaccedilatildeo de documentos trata-se de simplificar para favorecer conforme argumenta

[] eu jaacute vi gente defendendo pra simplificar para que natildeo tenha que fazer Balanccedilo Eu acho um

grande equiacutevoco A gente tem que simplificar pra melhorar as condiccedilotildees de competiccedilatildeo

econocircmica de inserccedilatildeo econocircmica em relaccedilatildeo aos empreendimentos tem que favorecer

simplificar() Tem que haver um tratamento diferenciado mas natildeo vincular a questatildeo essa questatildeo

contaacutebil das obrigaccedilotildees que satildeo cobradas pela legislaccedilatildeo eliminar a possibilidade de ter uma

contabilidade que atenda aos trabalhadores daquele empreendimento []

Nesse contexto de discussatildeo sobre a legislaccedilatildeo contaacutebil ressaltam-se algumas demandas

Primeiramente haacute necessidade de definiccedilatildeo de um novo marco legal apropriado agrave realidade

dos empreendimentos autogestionaacuterios que regulamente a criaccedilatildeo funcionamento e extinccedilatildeo

desses empreendimentos A segunda diz respeito agrave adequaccedilatildeo da legislaccedilatildeo contaacutebil agrave nova

formataccedilatildeo juriacutedica na qual o reconhecimento da peculiaridade dos empreendimentos se

reflita na instituiccedilatildeo de novos instrumentos de informaccedilatildeo sistemaacuteticas diferenciadas de

mensuraccedilatildeo e registros dos eventos econocircmicos e sociais novas orientaccedilotildees para a

tributaccedilatildeo

As evidecircncias indicaram que em geral as demandas e desafios captados pela pesquisa em

cada aspecto da dimensatildeo contaacutebil se aproximam daquelas levantadas pelos autores

pesquisados Em alguns aspectos a coincidecircncia eacute visiacutevel em outros o trabalho de campo

acrescentou novas demandas Entretanto satildeo necessaacuterias pesquisas mais aprofundadas

mediante as quais seja possiacutevel identificar novos aspectos da dimensatildeo contaacutebil natildeo incluiacutedos

neste trabalho Por outro lado houveram acreacutescimos no inventaacuterio de elementos construtivos

de uma nova relaccedilatildeo contabilidade e autogestatildeo mas ainda satildeo insuficientes carecendo de

novas pesquisas sobre o assunto

103

CONCLUSAtildeO

Agrave luz dos marcos conceituais partiu-se do pressuposto da peculiaridade da ES e autogestatildeo

tendo em vista a dupla natureza dos seus empreendimentos econocircmica e social

Consequumlentemente desde o iniacutecio concebeu-se esses empreendimentos como um novo grupo

de usuaacuterios e como tal remete demandas especiacuteficas agrave contabilidade

Seguindo a mesma orientaccedilatildeo das pesquisas realizadas anteriormente sobre a relaccedilatildeo

contabilidade e autogestatildeo buscou-se atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica compreender e

analisar a dimensatildeo contaacutebil nos processos de autogestatildeo dos empreendimentos solidaacuterios

levantando seus desafios e demandas contaacutebeis suscitadas nesse processo

Os resultados obtidos confirmaram em grande parte as constataccedilotildees realizadas pelos

precursores desse campo de pesquisa Por outro lado acrescentam novas informaccedilotildees que

contribuem agrave compreensatildeo dos vaacuterios aspectos da dimensatildeo contaacutebil no processo de

autogestatildeo Em cada aspecto analisado denotou-se uma distacircncia entre as duas realidades a

encontrada e a esperada reafirmando a premecircncia de um ajustamento da aacuterea contaacutebil agraves

reais necessidades dos empreendimentos solidaacuterios no que se refere a forma de comunicaccedilatildeo

conteuacutedo da informaccedilatildeo utilidade da informaccedilatildeo apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo relaccedilatildeo

contador-usuaacuterio e legislaccedilatildeo contaacutebil A realidade demandas e desafios de cada aspecto satildeo

sintetizados a seguir

1- Forma de comunicaccedilatildeo As evidecircncias demonstraram a subutilizaccedilatildeo das ferramentas contaacutebeis motivadas por

diversos fatores Normalmente apenas o Balanccedilo e DRE satildeo confeccionados na entidade Na

visatildeo de grande parte dos entrevistados esses instrumentos satildeo episoacutedicos e natildeo

proporcionam o monitoramento e avaliaccedilatildeo da gestatildeo Dessa forma percebem-se duas

grandes demandas a primeira eacute a utilizaccedilatildeo dos instrumentos disponiacuteveis de auxiacutelio agrave gestatildeo e

a outra pede a criaccedilatildeo de novos instrumentos de informaccedilatildeo apropriados agrave dinacircmica

econocircmica e social dos empreendimentos autogestionaacuterios

2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo

Constatou-se que os cooperados tecircm dificuldades de compreender o conteuacutedo das

demonstraccedilotildees contaacutebeis Um dos principais responsaacuteveis por essa realidade eacute a linguagem

104

teacutecnica e codificada adotada pelos relatoacuterios incompatiacutevel com o niacutevel de educaccedilatildeo formal

dos trabalhadores e com a sua insuficiente familiaridade com a linguagem de negoacutecios

Portanto uma demanda premente da ES eacute uma linguagem apropriada agrave realidade social dos

trabalhadores a fim de que a contabilidade se torne acessiacutevel e compreensiacutevel a eles

3- Utilidade da informaccedilatildeo

Percebeu-se que apesar da subutilizaccedilatildeo dos instrumentos contaacutebeis no processo decisoacuterio os

trabalhadores reconhecem a necessidade do emprego da informaccedilatildeo contaacutebil em todo o

processo de gestatildeo Para tanto faz-se necessaacuteria a apropriaccedilatildeo desse conhecimento por parte

dos trabalhadores ao mesmo tempo em que tambeacutem se reforccedila a necessidade de novos

instrumentos apropriados agrave autogestatildeo Outra demanda associada diz respeito agrave mudanccedila de

postura dos contadores e formadores na qual se estimule o uso da contabilidade

conscientizando os trabalhadores sobre sua importacircncia

4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Nesse aspecto foram evidenciados os desafios agrave apropriaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil pelos

proacuteprios trabalhadores Em geral a apropriaccedilatildeo se daacute por meio de cursos de formaccedilatildeo

Entretanto esses cursos nem sempre atingem seus objetivos devido agrave implementaccedilatildeo de

didaacutetica e linguagem natildeo apropriada ao puacuteblico Portanto levantou-se a necessidade de uma

formaccedilatildeo permanente cuja linguagem e didaacutetica seja adequada agrave realidade dos trabalhadores

e propicie uma mudanccedila de comportamento no que se refere agrave gestatildeo

5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Foi detectada a existecircncia de uma abismo na relaccedilatildeo do contador com os trabalhadores da ES

O profissional da contabilidade ainda atua de forma tradicional prestando assessoria aos

empreendimentos quando seria necessaacuteria uma atuaccedilatildeo que privilegiasse a apropriaccedilatildeo do

conhecimento pelos proacuteprios trabalhadores Um dos fatores que explicam essa realidade eacute a

formaccedilatildeo do contador que ainda eacute voltada para atuaccedilatildeo em grandes empresas e natildeo desperta

para o desenvolvimento da sensibilidade social e natildeo capacita para a gestatildeo de empresas

sociais Isto tambeacutem explica em parte o baixo nuacutemero de contadores especializados em

cooperativismo ou empreendimentos autogestionaacuterios Numa nova perspectiva de atuaccedilatildeo o

contador assumiria outro papel o de facilitador do conhecimento( formador) Dessa forma as

demandas levantadas centram-se no desenvolvimento de novas habilidades do contador

consequumlentemente isso acarreta a demanda de uma nova formaccedilatildeo acadecircmica

105

6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

A realidade mostrou uma seacuterie de incertezas e equiacutevocos da ordem juriacutedica no que se refere

aos empreendimentos autogestionaacuterios Primeiramente haacute necessidade de definiccedilatildeo de um

novo marco legal apropriado agrave realidade dos empreendimentos autogestionaacuterios que

regulamente a criaccedilatildeo funcionamento e extinccedilatildeo desses empreendimentos Na sequumlecircncia

tambeacutem urge a adequaccedilatildeo da legislaccedilatildeo contaacutebil agrave nova formataccedilatildeo juriacutedica na qual o

reconhecimento da peculiaridade dos empreendimentos se reflita na normatizaccedilatildeo de novos

instrumentos de informaccedilatildeo sistemaacuteticas diferenciadas de mensuraccedilatildeo e registros dos eventos

econocircmicos e sociais e novas bases para a tributaccedilatildeo

Esses pontos levantados confirmam em certa medida as constataccedilotildees feitas por autores

citados na pesquisa bibliograacutefica os quais tambeacutem identificaram as demandas desse novo

usuaacuterio da contabilidade a exemplo de Almeida e Dantas (2005 p09) que sistematizaram as

demandas a partir de trecircs eixos novos modelos de informaccedilotildees novo perfil de contador e

nova formaccedilatildeo conforme visto no cap 3

Por outro lado a investigaccedilatildeo empiacuterica como jaacute referido tambeacutem contribuiu para o

levantamento de elementos ou pistas para a reduccedilatildeo da distacircncia entre as reais necessidades

dos empreendimentos e o aparato da contabilidade para seu atendimento Com base nessas

evidecircncias empiacutericas e na bibliografia pesquisada evidenciaram-se os seguintes elementos

A nova linguagem deveria ser simples e objetiva buscando a aproximaccedilatildeo da

linguagem contaacutebil agrave linguagem coloquial dos trabalhadores Assim ela seria acessiacutevel

e apropriada agrave sua realidade social

Os novos instrumentos de informaccedilatildeo contaacutebil deveriam satisfazer plenamente as

reais necessidades de informaccedilatildeo dos empreendimentos expressando a dinacircmica e

complexidade da autogestatildeo Deveriam tambeacutem propiciar informaccedilotildees permanentes

que permitam o monitoramento e avaliaccedilatildeo da execuccedilatildeo das accedilotildees planejadas

coletivamente Nessa reflexatildeo vale a pena resgatar os elementos apontados pelos

autores Almeida e Dantas (2005) no cap 3 agrave construccedilatildeo de novos instrumentos Para

os autores eacute necessaacuterio aprofundar-se em pesquisas de novos procedimentos contaacutebeis e

refletir sobre a possibilidade de adaptaccedilatildeo de alguns procedimentos e sistemas contaacutebeis

106

alternativos dentre os quais a Contabilidade por Fundos Contabilidade Orccedilamentaacuteria e

a Mensuraccedilatildeo do Resultado Econocircmico

Uma nova atuaccedilatildeo dos profissionais da aacuterea contaacutebil deveria ser pautada em duas

frentes pesquisa praacutetica (para resoluccedilatildeo de problemas) e na transmissatildeo do

conhecimento (formaccedilatildeo) Isso requer o desenvolvimento de novas qualidades e

habilidades ou seja um novo perfil dos contadores Algumas caracteriacutesticas desse novo

contador conhecer as teacutecnicas saber resolver problemas saber transferir conhecimento

ter sensibilidade saber sensibilizar saber dialogar ser um comunicador usar uma

linguagem apropriada aos trabalhadores paciecircncia para ensinar habilidade para

simplificar disposiccedilatildeo e capacidade para criar disposiccedilatildeo para ouvir discutir e

aprender Essas caracteriacutesticas somam-se agravequelas levantadas por autores no cap3 No

que tange agrave formaccedilatildeo dos trabalhadores em contabilidade alguns elementos tambeacutem

foram identificados Essa deveria utilizar a educaccedilatildeo popular sensibilizar para a

importacircncia da contabilidade ser permanente e estruturada de forma crescente

A nova formaccedilatildeo dos contadores remete agrave discussatildeo de um outro curriacuteculo o qual

deveria ser baseado na realidade da economia brasileira e nas necessidades da classe

trabalhadora Uma outra questatildeo associada diz respeito ao incremento de pesquisas

sobre ES ou seja a produccedilatildeo acadecircmica deveria voltar-se mais para estudos de

interesse da classe trabalhadora tal como o tema Economia Solidaacuteria Deveria

tambeacutem buscar as perguntas ou temas geradores das pesquisas na proacutepria sociedade

como tambeacutem problematizar refletir a partir deles

A legislaccedilatildeo contaacutebil deveria ser reformulada a partir de uma nova formataccedilatildeo

juriacutedica dos empreendimentos autogestionaacuterios na qual se reconhecessem os

empreendimentos autogestionaacuterios como novos atores Com base nesse pressuposto a

legislaccedilatildeo contaacutebil deveria segregar tributariamente os grandes e pequenos

empreendimentos As demonstraccedilotildees exigidas por lei deveriam efetivamente ser

instrumentos de informaccedilatildeo e natildeo apenas obrigatoriedade legal Para tanto deveriam

ser criados relatoacuterios condizentes com a necessidade informacional desse segmento

social no tocante agrave mensuraccedilatildeo escrituraccedilatildeo e evidenciaccedilatildeo dos eventos econocircmicos e

sociais

107

Portanto este trabalho soma-se agraves pesquisas anteriores ampliando o campo de conhecimento

sobre o assunto mediante o levantamento de novas demandas e identificando novos elementos

agrave construccedilatildeo de uma nova relaccedilatildeo entre contabilidade e autogestatildeo Entretanto como

mencionado ainda haacute muitas demandas para aprofundamento de pesquisas sobre novos

instrumentos de informaccedilatildeo formaccedilatildeo do contador da ES legislaccedilatildeo contaacutebil para a

autogestatildeo entre outras Cabe ressaltar entretanto que pesquisas nessa aacuterea tecircm como preacute-

requisito a assimilaccedilatildeo do contexto no qual a contabilidade estaacute inserida

Por isso nesta pesquisa foi necessaacuterio compreender o significado conceitual e operacional da

autogestatildeo e sua vinculaccedilatildeo com conceitos de participaccedilatildeo democracia e cidadania Nessa

perspectiva a participaccedilatildeo democraacutetica soacute se faz fecunda quando haacute equumlidade no acesso agraves

informaccedilotildees e igualdade econocircmica entre os trabalhadores que participam do processo

decisoacuterio da gestatildeo

Nesse contexto a contabilidade tem fundamental importacircncia uma vez que eacute requerida

enquanto instrumento vital da democracia aquele capaz de promover a simetria

informacional proporcionar a transparecircncia da gestatildeo propiciar a participaccedilatildeo cidadatilde e

auxiliar na instauraccedilatildeo da confianccedila entre os trabalhadores Desse modo a contabilidade

reafirma seu papel social mediante sua contribuiccedilatildeo ao desenvolvimento econocircmico de

empreendimentos promotores da inclusatildeo social e de auxiacutelio ao desenvolvimento de relaccedilotildees

mais humanas e solidaacuterias

108

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115

APEcircNDICES

116

APEcircNDICE 01 - PROTOCOLO DE PESQUISA

1 -VISAtildeO GERAL DO PROJETO

Tiacutetulo Contabilidade e Autogestatildeo - Um estudo sobre a dimensatildeo contaacutebil nos processos de

autogestatildeo dos empreendimentos de Economia Solidaacuteria

11 Objetivos da pesquisa

O objetivo desta pesquisa eacute compreender e analisar a dimensatildeo contaacutebil nos processos de

autogestatildeo em empreendimentos solidaacuterios levantando seus desafios e as demandas

contaacutebeis suscitadas nesse processo a partir de 06 perspectivas a) Forma de comunicaccedilatildeo b)

Conteuacutedo da informaccedilatildeo c) Utilidade da informaccedilatildeo d) Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo e)

Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio f) Legislaccedilatildeo contaacutebil

12 Questotildees de pesquisa

Os objetivos da pesquisa podem ser traduzidos a partir das seguintes questotildees

1) Como a informaccedilatildeo contaacutebil eacute empregada nos empreendimentos autogestionaacuterios

2) Quais os desafios e demandas suscitados em cada um dos aspectos da dimensatildeo contaacutebil

nos processos de autogestatildeo

117

13 Hipoacuteteses

A partir da revisatildeo da literatura depreende-se que a informaccedilatildeo contaacutebil eacute essencial a qualquer

entidade puacuteblica ou privada Que esta informaccedilatildeo para ser uacutetil agrave tomada de decisotildees deve

revestir-se de alguns pressupostos sejam eles relevacircncia comparabilidade materialidade

Em se tratando da informaccedilatildeo contaacutebil apropriada para os empreendimentos de Economia

Solidaacuteria os estudos recentes sugerem que a informaccedilatildeo contaacutebil natildeo atende satisfatoriamente

agraves demandas informacionais da Economia Solidaacuteria

Dessa forma situando-se na linha das pesquisas anteriores esta investigaccedilatildeo parte do

pressuposto de que os empreendimentos solidaacuterios tecircm necessidades informacionais ainda

natildeo atendidas satisfatoriamente pelo aparato contaacutebil disponiacutevel Tendo em vista que os

empreendimentos possuem dupla natureza econocircmica e social e ainda que os usuaacuterios da

contabilidade satildeo trabalhadores natildeo acostumados com a linguagem de mercado as demandas

suscitadas agrave contabilidade e a necessidades dos empreendimentos autogestionaacuterios passam

pelos seguintes aspectos

a) Forma de comunicaccedilatildeo dos eventos ocorridos (linguagem demonstraccedilotildees)

b) Conteuacutedo da informaccedilatildeo (natildeo expressa a complexidade da autogestatildeo orccedilamento

coletivo execuccedilatildeo compartilhada etc)

c) Utilidade da informaccedilatildeo (deveria auxiliar em todos os processos de gestatildeo-

planejamento execuccedilatildeo controle e avaliaccedilatildeo dos resultados)

d) Apropriaccedilatildeo do conhecimento contaacutebil (a contabilidade ainda eacute uma caixa preta

conhecida apenas pelos contadores necessidade de popularizar a contabilidade atraveacutes de

teacutecnicas de ensino apropriadas para o puacuteblico)

e) Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio (contadores natildeo preparados para lidar com a

especificidade da autogestatildeo)

f) Legislaccedilatildeo contaacutebil (ela estaacute adequada agrave realidade dos empreendimentos)

118

Em siacutentese o resultado encontrado poderaacute ser esquematizado conforme quadro abaixo

Quadro-resumo dos resultados

Realidade encontrada

( o que eacute) Realidade esperada

Dimensotildees cooperados especialistas contadores ( o que deveria ser)

1- Forma de comunicaccedilatildeo 2- Conteuacutedo da informaccedilatildeo 3- Utilidade da informaccedilatildeo 4- Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo 5- Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio 6- Legislaccedilatildeo contaacutebil

O quadro traccedilaraacute um paralelo entre a realidade observada captada pelas lentes dos

cooperados especialistas e contadores e a realidade esperada desenhada pelas observaccedilotildees

entrevistas e literatura consultada As dimensotildees listadas no quadro representam os

aspectos contaacutebeis a serem analisados os quais satildeo descritos em seguida

1 Forma de comunicaccedilatildeo

Neste dimensatildeo seraacute avaliada a linguagem dos relatoacuterios demonstraccedilotildees e outros

instrumentos da contabilidade Conforme a bibliografia pesquisada a linguagem contaacutebil eacute

formal distanciando-se dos trabalhadores que na maioria natildeo possuem altos niacuteveis de

escolaridade A linguagem natildeo traduz a realidade econocircmica e financeira da entidade

2 Conteuacutedo da informaccedilatildeo

O conteuacutedo diz respeito agrave informaccedilatildeo contaacutebil em si Conforme observaccedilotildees de autores a

contabilidade tradicional natildeo consegue captar a complexidade das relaccedilotildees inclusas no

processo de autogestatildeo tais como o orccedilamento elaborado coletivamente a execuccedilatildeo e

controles compartilhados A intenccedilatildeo eacute averiguar este aspecto

119

3 Utilidade da informaccedilatildeo

Quando se avalia a utilidade da informaccedilatildeo estaacute se perguntando se a contabilidade eacute

efetivamente supridora das informaccedilotildees necessaacuterias agraves etapas do processo de autogestatildeo ou

seja se ela auxilia no processo de tomada de decisotildees gerenciais Eis a questatildeo

4 Apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo

Aqui busca-se avaliar se a contabilidade consegue ser assimilada pelos trabalhadores usuaacuterios

da mesma Um dos princiacutepios fundamentais da Economia Solidaacuteria sugere a socializaccedilatildeo de

todo o conhecimento de gestatildeo em oposiccedilatildeo agrave tiacutepica empresa que resguarda estes

conhecimentos ao grupo da gerecircncia Com base nesse princiacutepio presume-se que os

trabalhadores da ES devam tambeacutem se apropriar do conhecimento contaacutebil Dessa forma

busca-se nessa perspectiva compreender as dificuldades para a assimilaccedilatildeo do conhecimento

contaacutebil

5 Relaccedilatildeo contador-usuaacuterio

Nesta perspectiva seraacute analisada a relaccedilatildeo dos usuaacuterios dos empreendimentos

autogestionaacuterios com os profissionais da aacuterea contaacutebil Conforme relatos contidos na

bibliografia pesquisada as aacutereas teacutecnicas tecircm dificuldades de perceber a especificidade da

autogestatildeo Portanto pretende-se compreender o envolvimento do contabilista com a

autogestatildeo

6 Legislaccedilatildeo contaacutebil

Alguns autores argumentam que a legislaccedilatildeo contaacutebil ainda natildeo capta a especificidade da

autogestatildeo Isso se aplica agrave forma de registro dos eventos econocircmico-financeiros agraves

demonstraccedilotildees contaacutebeis e tambeacutem agrave constituiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo destas entidades Portanto

cabe focar os itens em que a legislaccedilatildeo natildeo atende agraves necessidades particulares destas

entidades

14 Criteacuterios para a seleccedilatildeo da unidade de estudo

O principal criteacuterio para a escolha da unidade onde se processaraacute a investigaccedilatildeo eacute a

autogestatildeo Isto eacute buscou-se um empreendimento em que a gestatildeo eacute realizada por todos os

trabalhadores em oposiccedilatildeo aos empreendimentos nos quais a administraccedilatildeo eacute exercida

120

apenas pelos diretores Participar da gestatildeo significa atuar nos altos niacuteveis de decisotildees

aquelas que vatildeo aleacutem da organizaccedilatildeo do trabalho mas que tambeacutem compreendem a indicaccedilatildeo

da destinaccedilatildeo dos recursos organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e demais decisotildees que afetem a vida da

entidade

Outro criteacuterio importante utilizado foi a formalizaccedilatildeo do empreendimento Com se sabe a

economia solidaacuteria tambeacutem eacute compreendida por empreendimentos coletivos informais Tal

opccedilatildeo se deve ao fato de que a inscriccedilatildeo junto aos oacutergatildeos governamentais necessariamente

requerer uma organizaccedilatildeo contaacutebil mais formal

Dessa forma estas entidades possuem registros formais de suas atividades possibilitando as

bases para a investigaccedilatildeo

2 COLETA DE DADOS

O estudo de caso cuja intenccedilatildeo eacute desvelar a realidade da dimensatildeo contaacutebil nos

empreendimentos autogestionaacuterios selecionou as seguintes teacutecnicas de coleta de dados

Entrevistas

Registro em arquivos

Observaccedilatildeo direta

As entrevistas com cooperados especialistas e profissionais da aacuterea contaacutebil pretendem

capturar informaccedilotildees sobre os procedimentos contaacutebeis utilizados a percepccedilatildeo sobre os

instrumentos de informaccedilatildeo contaacutebil os desafios para sua assimilaccedilatildeo enfim propiciaratildeo

elementos que avaliem os aspectos contaacutebeis ou seja caracterizaratildeo as dimensotildees de anaacutelise

Os registros em arquivos tambeacutem contribuiratildeo para a definiccedilatildeo das dimensotildees de anaacutelise

mais especificamente contribuiratildeo para descriccedilatildeo anaacutelise e compreensatildeo dos relatoacuterios e

documentos contaacutebeis utilizados pela entidade

Finalmente a observaccedilatildeo direta captaraacute pormenores e detalhes que complementaratildeo as

outras teacutecnicas tais como ambiente fiacutesico cotidiano de trabalho relaccedilotildees interpessoais

processos de decisotildees etc

121

3 QUESTOtildeES ORIENTADORAS Agrave COLETA DE DADOS

A coleta de dados natildeo prescinde de um roteiro baacutesico de questotildees que oriente agrave captaccedilatildeo de

dados Dessa forma abaixo satildeo apresentadas questotildees relacionadas que extraem informaccedilotildees

sobre aspectos descritivos da entidade bem como informaccedilotildees diretamente relacionadas com

as dimensotildees em questatildeo assim organizadas

A) Ambiente externo

1) Quais satildeo os clientes e fornecedores da empresa

2) Quais satildeo os principais concorrentes

3) Estaacute inserida em alguma rede de produccedilatildeo ou comercializaccedilatildeo

4) Tecircm algum tipo de assessoria administrativa contaacutebil e juriacutedica

5) Recebe recursos externos doaccedilotildees De entidades privadas ou puacuteblicas Quais

6) Quais as legislaccedilotildees vigentes que influenciam em suas atividades nos aspectos

operacionais financeiros e econocircmicos

7) Participa de algum foacuterum ou oacutergatildeo de representaccedilatildeo nacional eou internacional

8) A entidade desenvolve algum projeto social

B) Sistema organizacional

1) Qual a missatildeo da entidade (razatildeo de ser)

2) Existe um planejamento estrateacutegico Eacute formalizado (documentado registrado)

3) Existe um processo de planejamento execuccedilatildeo controle e avaliaccedilatildeo do plano

4) Quando acontecem as reuniotildees de planejamento

5) Como ocorre o controle da execuccedilatildeo deste planejamento

6) Existe um manual de normas e procedimentos ou regimento interno para o processo de

gestatildeo e funccedilatildeo dos gestores

7) Existem criteacuterios de avaliaccedilatildeo de desempenhos para a gestatildeo E quais satildeo os indicadores e

criteacuterios

8) Existe um sistema de informaccedilatildeo que auxilie no planejamento das atividades

9) A entidade possui um organograma

10)Quais satildeo as aacutereas

122

11)Quais satildeo os departamentos quem satildeo os responsaacuteveis

12)Quais as funccedilotildees de cada aacutereadepartamento

13)Como se relacionam as diversas aacutereas e atividades

C) Sistema social (Organizaccedilatildeo do trabalho)

1) Como satildeo distribuiacutedas as funccedilotildees

2) Como satildeo indicados os coordenadores dos departamentosaacutereas

3) Quais os criteacuterios de definiccedilatildeo das remuneraccedilotildees dos trabalhadores

4) Existem faixas de salaacuterios Como funciona

5) Existe um sistema de rotatividade de funccedilotildees

6) Os trabalhadores tecircm qualificaccedilatildeo teacutecnica apropriada a cada funccedilatildeo

7) Como estaacute organizado o sistema de qualificaccedilatildeo

8) Existe uma poliacutetica de motivaccedilatildeo organizacional

9) Como eacute o controle e organizaccedilatildeo da jornada de trabalho

10)Quais satildeo os benefiacutecios e programas direcionados aos trabalhadores e familiares

11)Como satildeo tratados os atrasos e as faltas no trabalho

12)Existe um sistema de registro e controle de recursos humanos

D) Sistema Operacional

1) Quais as principais atividades econocircmicas do empreendimento

2) Como estaacute organizada a aacuterea de produccedilatildeo ( deptos funccedilotildees)

3) Quais satildeo as formas de registros dos custos e resultados da produccedilatildeo

4) Como estaacute organizado o processo de compras Haacute um sistema

5) Haacute um sistema de controle de estoques de mateacuteria-prima e de produccedilatildeo

6) Como eacute determinado o preccedilo de venda dos produtos

7) Existe um sistema de monitoramento de vendas e de apuraccedilatildeo de resultados

8) Haacute um assessoramento juriacutedico na confecccedilatildeo dos contratos de venda

9) Qual a composiccedilatildeo do capital (distribuiccedilatildeo das quotas-partes)

123

10)Como eacute o processo de tomada de decisatildeo sobre captaccedilatildeo de recursos

11)Como estaacute a composiccedilatildeo de diacutevidas Centra-se no curto prazo ou longo prazo

12)Haacute um sistema de informaccedilotildees que auxilie na tomada de decisotildees sobre captaccedilatildeo de

recursos

E) Sistema de Informaccedilotildees

1) Existe um sistema de informaccedilotildees que subsidie as decisotildees gerenciais da entidade (comprar

vender emprestar renegociar)

2) Como estaacute organizada a contabilidade da entidade Haacute um registro formal

3) Quem realiza os registros das informaccedilotildees dos eventos ocorridos na entidade De que

forma

4) Haacute um sistema de integraccedilatildeo entre as diversas aacutereas da entidade (produccedilatildeo venda

financeiro)

5) Quais relatoacuterios satildeo produzidos

6) Existe a contabilidade dos custos das atividades

7) Como a apuraccedilatildeo dos custos eacute realizada e como esta informaccedilatildeo eacute utilizada pela entidade

8) Haacute um sistema de orccedilamento das atividades previstas

9) Quais informaccedilotildees satildeo utilizadas na confecccedilatildeo desse orccedilamento

10)Como satildeo realizados o acompanhamento comparaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo das metas e planos

estabelecidos no orccedilamento

11)Como eacute realizado o controle financeiro Haacute um sistema de fluxo de caixa

12)Haacute um sistema de contabilidade gerencial

13)Este sistema auxilia nas decisotildees da gestatildeo De que forma

14)Haacute um sistema que produz indicadores econocircmico-financeiros

15)Como estatildeo organizadas as informaccedilotildees sobre os clientes e fornecedores Haacute um banco

de dados

16)Eacute feito algum tipo de pesquisa de mercado Consulta a clientes

17)Quais os meios utilizados para conhecimento do mercado em que a entidade atua

F) Apreensatildeo do conhecimento contaacutebil

124

1) Quem elabora os relatoacuterios contaacutebeis

2) O conselho fiscal da entidade compreende os relatoacuterios contaacutebeis

3) O que os cooperados pensam da linguagem dos relatoacuterios sabem o que eacute um ativo

passivo e PL

4) Os cooperados tecircm acesso aos relatoacuterios de custos compras vendas e outros relatoacuterios

gerenciais

5) Satildeo promovidos cursos e palestras sobre gestatildeo dos negoacutecios e contabilidade

6) Existe uma entidade de apoio que contribua para a apreensatildeo da gestatildeo do negoacutecio e

contabilidade

G) Informaccedilotildees da entidade de apoio

1) Qual o histoacuterico da entidade

2) A entidade estaacute inserida a alguma rede ou associada a algum oacutergatildeo de representaccedilatildeo

nacional ou internacional

3) Recebe algum recurso puacuteblico governamental ou privado para realizar esta atividade

4) A quantas iniciativas solidaacuterias jaacute apoiou

5) Quais as formas de apoio realizado junto agraves iniciativas

6) Em quais aacutereas de conhecimento a entidade atua

7) Como eacute a relaccedilatildeo com os profissionais dessas aacutereas

8) Como eacute o relacionamento com os profissionais da aacuterea contaacutebil

9) A contabilidade e contabilistas adaptam-se facilmente agrave dinacircmica da autogestatildeo

10)Onde residem os maiores problemas para adaptaccedilatildeo

11)Como eacute repassado o conhecimento na aacuterea contaacutebil agraves entidades apoiadas

12)Na visatildeo da entidade os trabalhadores compreendem facilmente a informaccedilatildeo contaacutebil

13)Quais os maiores desafios nessa transmissatildeo

14)A contabilidade tradicional atende agraves necessidades de informaccedilatildeo da autogestatildeo Por quecirc

15)Em que aspectos a contabilidade poderia mudar

16)Qual a importacircncia da contabilidade para a autogestatildeo

17)Os sistemas de informaccedilotildees contaacutebeis satildeo acessiacuteveis Quem fornece

18)A legislaccedilatildeo contaacutebil atende plenamente agraves necessidades da autogestatildeo (formas de

registros demonstraccedilotildees)

125

5 GUIA PARA O RELATOacuteRIO FINAL

Apesar de natildeo haver nenhuma forma estereotipada para escrever um relatoacuterio de um estudo de

caso existem estrateacutegias para redigi-lo a fim de tornaacute-lo inteligiacutevel e palataacutevel ao leitor Dessa

forma a estrateacutegia selecionada para apresentar os resultados dentre as expostas por Yin (

2005 p177-180) eacute a narrativa a qual pode ser ilustrada por tabelas graacuteficos e imagens

Optou-se pela estrutura analiacutetica linear enquanto estrutura composicional do relatoacuterio Esta

estrutura eacute comumente utilizada nos relatoacuterios de estudos de casos No modelo os subtoacutepicos

compreendem o tema ou o problema que estaacute sendo estudado e uma revisatildeo da literatura Em

seguida os subtoacutepicos partem para a anaacutelise dos meacutetodos utilizados das descobertas feitas a

partir dos dados coletados e analisados e das conclusotildees e implicaccedilotildees feitas a partir das

descobertas

O relatoacuterio iniciaraacute a ser redigido tatildeo logo esteja concluiacuteda a revisatildeo de literatura comeccedilando

com o subtoacutepico da metodologia empregada em que se aprimoraraacute a metodologia inclusa no

projeto de estudo de caso

Tambeacutem poderatildeo ser redigidas antes do teacutermino da coleta de dados as informaccedilotildees

descritivas da unidade em estudo que consiste de dados quantitativos e qualitativos

concernentes ao caso

Apoacutes a coleta de dados estes seratildeo sistematizados em um Banco de dados sobre o caso cujas

informaccedilotildees seratildeo a base do relatoacuterio final

126

APEcircNDICE 02 - SOLICITACcedilAtildeO DE AUTORIZACcedilAtildeO PARA PESQUISA

127

APEcircNDICE 03 ROTEIRO DE ENTREVISTAS PARA COOPERADOS DA

COOPRAM

Entrevistado

1- Haacute quanto tempo eacute cooperado desta cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Qual eacute o setor em que trabalha E sua funccedilatildeo

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- Quais satildeo suas habilidades profissionais e qual a sua formaccedilatildeo escolar

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- O seu setor produz algum tipo de relatoacuterio ou registro das atividades

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- Em relaccedilatildeo aos relatoacuterios da contabilidade da cooperativa vocecirc tem acesso a eles Quando

Quais

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6- O que acha da linguagem dos relatoacuteriosVocecirc sabe o que eacute um ativo ou passivo ou PL

Sabe identificar o lucro da cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 - Jaacute participou de algum curso de formaccedilatildeo em contabilidade Quem promoveu

128

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8- Acha que o curso ajudou a compreender a contabilidade Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- Em sua opiniatildeo como deveriam ser apresentadas as informaccedilotildees financeiras da

cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- E os cursos de formaccedilatildeo em contabilidade como acha que deveria ser Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- Jaacute conversou com o contador da entidade alguma vez para pedir esclarecimentos Eles

conseguiram tirar suas duacutevidas Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

13- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

129

APEcircNDICE 04 ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA CONTADORES

Entrevistado

1- Haacute quanto tempo trabalha com a Economia Solidaacuteria

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- Vocecirc acredita que o aparato contaacutebil vigente para as cooperativas e empresas autogeridas

satisfaz agraves necessidades de informaccedilatildeo destes empreendimentos no que tange ao conteuacutedo e

forma da informaccedilatildeo Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- E quanto a legislaccedilatildeo das cooperativas acha que eacute adequada agrave realidade da ES

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- Os empreendimentos com os quais trabalha utiliza a informaccedilatildeo contaacutebil nos vaacuterios

processos de gestatildeo como planejamento controle e execuccedilatildeoSe natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6- Em relaccedilatildeo aos registros dos eventos de uma cooperativa haacute algum conflito entre a praacutetica

e a legislaccedilatildeo contaacutebil Exemplifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

130

7- Jaacute Ministrou algum curso de formaccedilatildeo em contabilidade Quais as caracteriacutesticas desse

curso

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8- A contabilidade eacute faacutecil de ser compreendida pelos trabalhadores Se natildeo em sua visatildeo

quais os principais problemas enfrentados pelos trabalhadores para a compreensatildeo do

conhecimento contaacutebil

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- No que difere sua atuaccedilatildeo em empresas tradicionais e em empreendimentos

autogestionaacuterios

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- Em sua opiniatildeo como deveriam ser apresentadas as informaccedilotildees financeiras e econocircmicas

da cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- E os cursos de formaccedilatildeo em contabilidade como acha que deveriam ser Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

13- Acredita que a formaccedilatildeo dos contadores em curso prepara para o trabalho com

empreendimentos de ES Como poderia ser

131

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

14 - Em sua opiniatildeo o que poderia ser mudado para que a contabilidade contribua

efetivamente com o processo de autogestatildeo

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

132

APEcircNDICE 05 ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA DIRETORES DA COOPRAM

Entrevistado

1- Haacute quanto tempo eacute cooperado desta cooperativa e desde quando estaacute na diretoria

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Quais satildeo suas habilidades profissionais e qual a sua formaccedilatildeo escolar

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- A sua diretoria elabora algum tipo de relatoacuterio de informaccedilotildees operacionais econocircmicas

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- Em relaccedilatildeo aos relatoacuterios da contabilidade da cooperativa vocecirc tem acesso a eles Quando

Quais

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- A sua diretoria utiliza os relatoacuterios ou informaccedilotildees da contabilidade para tomar algum tipo

de decisatildeo gerencial Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6- A contabilidade eacute faacutecil de ser compreendida Se natildeo em sua visatildeo quais os principais

problemas enfrentados pelos trabalhadores para a compreensatildeo do conhecimento contaacutebil

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

133

7- Jaacute conversou com o contador da entidade alguma vez para pedir esclarecimentos sobre os

relatoacuterios contaacutebeis Eles conseguiram tirar suas duacutevidas Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8 -Jaacute participou de algum curso de formaccedilatildeo em contabilidade Quem promoveu

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- Acha que o curso ajudou a compreender a contabilidade Se natildeo por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- Em sua opiniatildeo como deveriam ser apresentadas as informaccedilotildees financeiras e econocircmicas

da cooperativa

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- E os cursos de formaccedilatildeo em contabilidade como acha que deveriam ser Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

13- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

134

14 - Em sua opiniatildeo o que poderia ser mudado para que a contabilidade contribua

efetivamente com o processo de autogestatildeo

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

135

APEcircNDICE 06 ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA ESPECIALISTAS

1- Haacute quanto tempo trabalha com a Economia Solidaacuteria E nesta entidade

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Qual eacute a relaccedilatildeo de apoio que a entidade manteacutem com as cooperativas

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- Qual eacute a estrutura de apoio que a entidade possui no que diz respeito agrave contabilidade

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- Acredita que a contabilidade eacute um instrumento importante para a autogestatildeo dos

trabalhadores Por quecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5- As cooperativas acompanhadas utilizam a informaccedilatildeo contaacutebil nos vaacuterios processos de

autogestatildeo tais como o levantamento de custos dos produtos planejamento execuccedilatildeo e

controle dos recursos da entidade Se natildeo por que natildeo utilizam

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 - Como eacute realizada a formaccedilatildeo dos trabalhadores em contabilidade

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7- A contabilidade eacute facilmente assimilada pelos trabalhadores Se natildeo em sua visatildeo quais

os principais problemas que os trabalhadores enfrentam para a apropriaccedilatildeo do conhecimento

contaacutebil

136

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8- Com relaccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo cooperativista vigente acredita que seja apropriada agrave realidade

dos empreendimentos de ES Em que pontos residem os maiores entraves

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9- Avalia que os contadores de uma forma geral conhecem suficientemente bem a legislaccedilatildeo

cooperativista a ponto de proporcionar um adequado acompanhamento aos empreendimentos

Justifique

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10- Como vecirc o envolvimento dos profissionais da aacuterea contaacutebil no processo de autogestatildeo

Eles entendem rapidamente a dinacircmica dos empreendimentos

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11- Em relaccedilatildeo ao perfil dos contadores em sua visatildeo quais as caracteriacutesticas que um

contador da Economia Solidaacuteria deveria possuir

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12 - Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do contador acredita que o contador da Economia Solidaacuteria

deveria ter uma formaccedilatildeo diferenciada Justifique

___________________________________________________________________________

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