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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO DA PRESIDÊNCIA .................................................................................... 3

2 APRESENTAÇÃO DO TEMA ............................................................................................ 6

2.1 Antecedentes da guerra ............................................................................................. 7

2.2 A guerra .................................................................................................................... 12

2.3 A atuação da ONU .................................................................................................... 13

3 O CASO KRSTIĆ ............................................................................................................. 14

3.1 Os fatos ..................................................................................................................... 14

3.1.1 As Resoluções do Conselho de Segurança da Organização das Nações

Unidas ......................................................................................................................... 16

3.2 A acusação ............................................................................................................... 17

3.3 O andamento do caso .............................................................................................. 17

3.4 A defesa .................................................................................................................... 18

4 O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA ............................. 19

4.1 O que é o TPII? ......................................................................................................... 19

4.1.1 A criação do TPII ................................................................................................ 19

4.1.2 A importância do TPII ........................................................................................ 20

4.2 Papel dos atores ....................................................................................................... 20

4.2.1 Réu ...................................................................................................................... 21

4.2.2 Juízes .................................................................................................................. 21

4.2.3 Procuradores ..................................................................................................... 21

4.2.4 Defensores ......................................................................................................... 22

5 QUESTÕES IMPORTANTES ........................................................................................... 22

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 23

7 ANEXOS .......................................................................................................................... 25

TABELA DE REPRESENTAÇÕES ..................................................................................... 35

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1 INTRODUÇÃO DA PRESIDÊNCIA

Juíza Presidente - Maria Clara Drawin

Bem-vindos, queridos delegados! Me chamo Maria Clara, e sou estudante de

Relações Internacionais na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e de

Filosofia na Universidade Federal de Minas Gerais, e estarei no 6º período de ambos

os cursos no momento de realização do MINIONU. Fui introduzida ao universo das

simulações aos 14 anos e participo de eventos como este desde então,

frequentemente envolvida com comitês que abordem de alguma forma os Direitos

Humanos. Já fui diretora de comitê duas vezes em outras simulações e tive minha

primeira participação no MINIONU em 2015, como delegada do comitê OMC

Rodada de Doha, representando a Alemanha. Em 2016 atuei mais uma vez como

delegada, representando a França no COPUOS 2050. Quando ingressei na PUC em

2017 já tinha intenções de participar do projeto mais uma vez, dessa vez no

backstage e atuei como voluntária na Conferência de Berlim. Em 2018, dei

continuidade à minha carreira construída no MINIONU e me candidatei ao cargo de

Diretora Assistente, atuando no comitê OEA 2016, até que finalmente pude me

candidatar ao cargo de Diretora de Comitê e propor o meu projeto no qual estou

atuando agora, o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia.

É com muito prazer que vejo este projeto se tornando concreto, já que

considero de extrema importância discutir temas relacionados aos Direitos Humanos

durante a formação acadêmica, pois acredito que isso possa contribuir para o

desenvolvimento da capacidade empática e do exercício da cidadania para além de

discussões meramente formais ou jurídicas. Acredito também que o tema em

específico é ideal para compreendermos os processos sociopolíticos da Europa ao

longo do séc. XX, que explicam a configuração atual do Direito Internacional e a

nossa relação entre o legal e o real. Confio que as discussões serão extremamente

produtivas e além de acrescentar em dispositivos argumentativos e no conhecimento

formal, possam mobilizar nossa capacidade de exercer a humanidade e o olhar ao

outro, não só em discussões mais distantes como essa, mas em realidades mais

imediatas. Bons estudos e até logo. Nós veremos em breve!

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Juíza Vice - Presidente Flávia Lanza

Olá senhores delegados! Meu nome é Flávia Lanza, tenho 19 anos e durante

o evento estarei no quarto período de Relações Internacionais na PUC Minas. Não

tive a oportunidade de participar do MINIONU como delegada durante o meu Ensino

Médio, então meu primeiro contato com o projeto foi na edição passada, como

voluntária do comitê FAO (2017) - que discutiu a crise alimentar no Iêmen. Gostei

muito da experiência e, por isso, estou muito animada em estar envolvida com o

MINIONU novamente. Nesta atual edição, venho como diretora assistente do TPII

(2001), que discutirá as acusações a um réu condenado por crimes cometidos

durante o conflito gerado pela desintegração da Iugoslávia. Fiquei muito feliz por

entrar neste comitê, porque será uma experiência diferente, já que se trata de um

tribunal, fugindo um pouco do cenário tradicional do MINIONU. Torço para que vocês

se interessem pelo tema tanto quando eu! Além disso, espero que os senhores

aproveitem os materiais que o comitê está disponibilizando, para que tenham um

ótimo estudo, e que também aproveitem muito as discussões que faremos durante a

realização do TPII nos dias de MINIONU. Estou ansiosa para conhecê-los. Nos

vemosVemos-nos em outubro!

Juíza Vice-Presidente - Karoline Tübben

Olá senhorxs delgadxs, meu nome é Karoline Victoria Sousa Tübben e sou a

diretora assistente deste comitê! Durante a simulação estarei cursando o quinto

período de Relações Internacionais, curso que adentrei depois de participar do

MINIONU em 2015, representando a República da Colômbia na APMBC (2024),

comitê que abordava a questão das minas terrestres. A partir de então não parei

mais de participar da simulação, dois anos depois, no meu segundo período do

curso participei do projeto como voluntária na Conferência de Berlim (1884-1885),

quando me apaixonei por comitês históricos e, mais ainda, pelo que o MINIONU

representa. No ano seguinte fui diretora assistente pela primeira vez no CPSUA-

CSNU (2017), que tratava da violação de direitos humanos na República Centro

Africana, um comitê que juntava minhas duas maiores paixões África e direitos

humanos. Neste ano retorno para a posição de diretora assistente devido a minha

situação de intercambista, moro na Hungria no momento. Dentre outras áreas, o

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direito internacional é uma das minhas paixões no campo das RI, e por isso estou

muito ansiosa para debater mais sobre o caso da ex-Iugoslávia, além do fato de que

o caso tratado neste tribunal é emblemático para a sociedade internacional como um

todo. Estou muito ansiosa para vê-los debater em outubro e espero que se

interessem pelo tema tanto quanto eu! Até breve e bons estudos.

Juíz Vice-Presidente Pedro Ivo Oliveira

Meu nome é Pedro Ivo Oliveira, tenho 18 anos e nos dias do MINIONU estarei

cursando o 4° período da graduação em Relações Internacionais da PUC Minas.

Meu primeiro contato com o projeto foi no Ensino Médio, assim como vocês, quando

fui delegado no COI (1973), que debateu o Massacre de Munique. No ano de 2018,

já matriculado na graduação, fui voluntário interno no Conselho de Direitos Humanos

de mesmo ano, que debateu a discriminação com base em orientação sexual e

identidade de gênero, minha atual área de pesquisa no escopo das RI. Atualmente

ocupo o cargo de Diretor Assistente no Tribunal Penal Internacional para a ex-

Iugoslávia, que tenho certeza que será uma experiência única devido ao fato de se

referir à realidade do Direito Internacional e por tocar em um assunto tão delicado e

revoltante como os crimes de genocídio, de guerra e contra a humanidade.

Gosto de ressaltar o quanto acredito no MINIONU enquanto uma potencial

ferramenta educacional, política e social de inclusão e de propagação da diversidade

humana em todas as suas manifestações, portanto, peço que aproveitem essa

oportunidade e honrem os privilégios de participarem de tudo isso. Além disso,

espero que possamos transcender as fronteiras da universidade e do projeto,

compartilhando a nossa mensagem e transformando realidades assim como as

nossas são transformadas.Tenho certeza que xs senhorxs irão desempenhar um

excelente papel nos dias de simulação e que contribuirão para que alavanquemos

ainda mais o nome do MINIONU enquanto maior modelo intercolegial das Nações

Unidas do planeta. Até outubro e bons estudos!

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2 APRESENTAÇÃO DO TEMA

Entre os anos de 1991 e 2001 ocorreu no território dos Bálcãs a Guerra Civil

Iugoslava, motivada por ambições separatistas devido aos diferentes povos e

nações que foram submetidos a um só Estado com a criação da Iugoslávia, em

1918, e o estabelecimento do domínio soviético no país no fim da Segunda Guerra

Mundial, em 1945. A morte do então presidente Josip Broz Tito em 1980

desencadeou a guerra civil, já que era a figura de Tito que, através de um governo

autoritário, unia as diferentes etnias presentes na República (AGUILAR, MATHIAS,

2012).

A guerra foi marcada por eventos extremamente violentos - como o Massacre

de Sebrenica – que fixaram na memória do Direito Internacional e o transformaram.

Este evento está dentre os acontecimentos históricos da década de 90 que

colocaram em xeque o que se pensava e produzia de Direito Internacional e de

Segurança Internacional, sendo um marco para os eventos transformadores no

Sistema Internacional1 que acompanharam o fim da União Soviética. Foi uma guerra

violenta de caráter identitário e com pretensão separatista. Nesse comitê

pretendemos compreender a complexidade de rivalidades identitárias e nacionais e

seu aspecto como um fenômeno produzido pelo histórico de atrito dentre os países

em questão naquele território conturbado, mas também como algo fabricado ao

longo do tempo pelas políticas de grandes potências.

O resultado de um final de séc. XIX extremamente intenso, além de duas

guerras mundiais e um séc. XX politicamente conturbados para a região dos Balcãs,

tanto por fatores domésticos quanto externos, gerou um genocídio2 em pleno

1 O Sistema Internacional é um termo de Relações Internacionais, usado para se referir ao ambiente

onde se dão as relações internacionais, ou seja, o ambiente dotado de lógica e regras próprias no qual interagem Estados em suas políticas externas, de forma bilateral e multilateral, as instituições e organizações internacionais, regidos pelo Direito Internacional. (DA CRUZ JR, 2006.) 2 Ao contrário do que o senso comum pode dizer, nem todo massacre é um genocídio. Legalmente,

existe uma categoria de crimes que se enquadram nos chamados “crimes contra a humanidade”, que seriam crimes de escala estrutural contra a população não-combatente, portanto, normalmente é cometido por Estados, e dentre esses crimes existe uma categoria mais específica ainda que seria o crime de genocídio, um massacre contra a população não-combatente motivado especificamente por uma característica identitária daquele grupo. Diferente de outros crimes contra a humanidade, não se mata aquele grupo simplesmente por se estar em uma situação de guerra ou por motivações estratégicas, mas por aquele grupo ser um grupo específico, no caso da guerra da Iugoslávia, bósnios e croatas foram mortos por serem bósnios e croatas, é um massacre intencional movido por questões identitárias, diferente de massacres em massa contra a população inimiga que normalmente aconteceria em outras guerras. Claro, a linha que define o que configura um genocídio é muito tênue, e é, portanto, função do comitê trabalhar com todas as informações possíveis para determinar o que

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território europeu - mesmo após o trauma da Segunda Guerra Mundial - encerrando

o séc. XX e inaugurando um novo momento nas relações internacionais.

No tribunal contaremos com a presença de ilustres juízes, procuradores,

defensores e, claro, os réus. Este é um comitê diferente de todos os outros, nos

quais os delegados terão a oportunidade de representar não interesses estatais

como de costume, mas pessoas reais com medos e anseios reais, e viver na pele

um dos maiores eventos do Direito Internacional, que marca a história dos Direitos

Humanos.

2.1 Antecedentes da guerra

As tensões motivadoras da guerra têm origens nos antecedentes da Primeira

Guerra Mundial, na qual a região dos Balcãs, que, devido a motivações

geoestratégicas3, era extremamente disputada por potências da época, em especial

o Império Austro-Húngaro e o Império Russo. Enquanto o Império Russo clamava

influência sobre a região sob a premissa de um pan-eslavismo4, o Império Austro-

Húngaro, para reafirmar sua dominação na região dos Balcãs, envia em 1914 seu

herdeiro ao trono, o príncipe Francisco Ferdinando, para visitar Sarajevo na Sérvia.

O que acabou resultando no seu assassinato por parte de um membro da Mão-

Negra, um grupo terrorista cujo objetivo através do discurso pan-eslavista era se

livrar do imperialismo Austro-Húngaro e unificar os países dos Balcãs para constituir

“A Grande Sérvia” (OLIVEIRA, 1999). Este projeto de “Grande Sérvia” visava anexar

os territórios dominados pelo Império Austro-Húngaro para que o Estado sérvio

tivesse acesso ao mar quente, ou seja, um mar navegável ao contrário dos mares

congelados que normalmente se tinha acesso na Eurásia. O assassinato de

Francisco Ferdinando foi um dos principais estopins para a Primeira Guerra Mundial

(AGUILAR, MATHIAS, 2012).

de fato ocorreu na guerra da Iugoslávia, sentenças diferentes trazem consequências diferentes e constroem a narrativa da história. (GONÇALVES, 1999). 3 O escopo pelo qual os Estados analisam questões militares e estratégicas a fatores geográficos, no

caso analisado, por exemplo, a região dos Balcãs é estrategicamente interessante para diversos países da região por ser um possível acesso a mar quente. 4 O Pan-Eslavismo foi um movimento identitário e político que buscava unir os povos de origem

eslava sob um mesmo domínio político baseado no compartilhamento de identidade, cultura, proximidade linguística, etc. Esse movimento servia de pretexto para a Rússia justificar porque sua dominação sob os Balcãs prevaleceria em relação à dominação austro-húngara, já que a Rússia é uma nação eslava e o Império Austro-Húngaro é de matriz germânica.

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No fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, é constituído na região o Reino

da Iugoslávia, até então chamado “Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos”,

composto pelos territórios da Croácia, Eslovênia, Sérvia, Bósnia, Herzegovina,

Macedônia e os já anexados ao reino sérvio Montenegro, Kosovo e Voivodina.

Regidas pelos herdeiros da família real sérvia e, portanto, sofrendo fortes influências

desta nação. Pode-se notar que a constituição do Reino da Iugoslávia ia de acordo

com a pretensão da “Grande Sérvia”. No período entre guerras, houve uma notável

resistência croata à dominação sérvia, resultando em uma crise política em 1929.

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Devido à crise, o então rei da Iugoslávia, Alexandre Karadjordjevic, decide abolir a

constituição, estabelecer uma ditadura e renomear o país como “Reino da

Iugoslávia”, nota-se então que a constituição da Iugoslávia carrega em si uma

dominação sérvia sobre a região dos Balcãs (BANAC, 1988).

Durante a Segunda Guerra Mundial, em 1941, a pretensão de se aliar ao eixo

causou uma crise política no Reino da Iugoslávia, que resultou em um golpe de

Estado que retirou o então rei do poder e colocou o general Dušan Simović como

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primeiro-ministro. Durante a guerra, o país foi invadido pelo Eixo5 que acabou

dividindo o Estado e inclusive concedendo independência à Croácia, porém, para os

países dos aliados, a dominação do território da Iugoslávia ainda pertencia à família

real. Havia, porém, uma forte resistência na forma de Josip Broz Tito, líder dos

guerrilheiros da resistência (BANAC, 1988).

Em 1944, foi assinado o acordo Tito-Šubašić, que unia os governos da

Iugoslávia através das figuras de Josip Tito e Ivan Šubašić, líder do movimento de

resistência croata e último primeiro ministro da família real Iugosláva. O acordo

estabeleceu Josip Tito e Ivan Šubašić como líderes da Iugoslávia Democrática

Federal até que houvesse eleições para estabelecer o governo iugoslavo. Em 1945

o partido de Josip Tito, a liga dos comunistas, demonstra supremacia nas eleições e

então é estabelecida a República Socialista Federativa da Iugoslávia, que se

manteve até 1992 (BANAC, 1988)

5 A Segunda Guerra Mundial se concretiza como o conflito entre dois grupos, de um lado, o Eixo,

composto pela Alemanha Nazista, o Japão e a Itália Fascista, e, do outro lado, os Aliados, composto por Inglaterra, França, Estados Unidos, e, eventualmente, a União Soviética.

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.

Ao longo da Guerra Fria a Iugoslávia manteve uma posição neutra, apesar de

ser um Estado socialista, e destacou-se como um ator importante no Movimento dos

Países Não-Alinhados, que propunha uma terceira via na Guerra-Fria. O presidente

Tito foi extremamente elogiado por isso, e também por manter a união entre as

diferentes e conflitantes etnias da Iugoslávia. A neutralidade na política externa do

país possibilitou protagonismo nas relações internacionais e variadas alianças, Tito

foi reeleito presidente de 1953 até 1963, quando seu mandato se tornou ilimitado, e

governou até a sua morte em 1980. O cargo para presidente da República passou a

ser rotativo entre os seis países submetidos a ela, o que retomou as crises políticas

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identitárias. Com o fim da União Soviética em 1991 e a ascensão dessas crises, a

Iugoslávia entra em guerra civil (AGUILAR, 2003).

2.2 A guerra

A guerra da Iugoslávia reviveu o projeto da “Grande Sérvia”, sempre presente

na história do país e sempre ameaçando a estabilidade dos Balcãs. O conflito se

iniciou com a Guerra da Independência Eslovena, e progressivamente foram

aparecendo outros conflitos separatistas. O conflito inicial com a Eslovênia surge em

resistência à dominação do então presidente da Sérvia, Slobodan Milošević, que

posteriormente liderou os sérvios contra o separatismo até então esloveno e croata.

Em seguida a Bósnia iniciou sua própria guerra separatista e, em 1992, é constituída

pela União Europeia a República Federal da Iugoslávia, composta por Sérvia e

Montenegro (BANAC, 1988).

Dois eventos marcantes ocorreram na guerra da Iugoslávia. Um foi o

Massacre de Srebrenica, no qual o general Ratko Mladić ordenou a invasão de um

dos complexos da ONU para abrigar a população não-combatente e cometeu um

genocídio em um local que supostamente seria seguro para a população durante a

guerra. E o outro foi o uso de campos de concentração para executar estupros em

massa a fim de reorientar etnicamente a população da antiga Iugoslávia, em

especial os bósnios e croatas, em busca do projeto da “Grande Sérvia” (VITO, GILL,

SHOT, 2009). O Massacre foi extremamente relevante, pois demarcou a

incapacidade da ONU em manter o regime de paz e evitar genocídios, a atuação da

ONU na guerra da Iugoslávia levou posteriormente a reformulação das teorias do

campo de Relações Internacionais

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2.3 A atuação da ONU

A atuação da ONU na Guerra foi extremamente falha e levou a uma

reconstrução conceitual das teorias de segurança das Relações Internacionais,

como foi supracitado. Se até então a abordagem do Órgão ao interferir em conflitos

era a de peacekeeping, ou seja, somente cessar o conflito, ou seja, buscar uma “paz

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negativa”, na qual o conceito de paz é estabelecido apenas pela ausência de

conflito, a partir dos genocídios na Iugoslávia e em Ruanda na década de 90 surge à

abordagem do peacebulding, que se trata de construir uma paz mais concreta, na

qual o conceito de paz é estabelecido por um sistema verdadeiramente harmônico

onde nenhum grupo sofra violência através de um aparato estrutural. Para tal ser

possível, é necessário identificar as raízes sociopolíticas do conflito e saná-las ao

invés de simplesmente acabar com aquele conflito, já que as causas muito mais

profundas se manteriam e o conflito iria se reproduzir novamente em outro contexto

ou momento, possivelmente ainda mais agravado pela má resolução do conflito

anterior. (RICHMOND, Oliver P.) Os casos da década de 90 são exemplares para

compreender esse assunto, já que se originam de um dilema identitário agravado

por decisões políticas de potências europeias ao longo dos sécs. XIX e XX.

3 O CASO KRSTIĆ

3.1 Os fatos

Radislav Krstić, nascido em 1948 na cidade de Vlasenica, antiga Iugoslávia e

hoje pertencente ao território da Bósnia e Herzegovina, foi comandante, major e

chefe do Exército Sérvio-bósnio durante os sangrentos confrontos em Srebrenica.

Os fatos que levam à acusação são baseados no Estatuto do Tribunal Penal

Internacional para a ex-Iugoslávia, que enumera vários tipos de atos considerados

criminosos e ilícitos frente ao Direito Internacional. Dentre eles, Krstić é acusado por

violações das leis e dos costumes de guerra, genocídio, cumplicidade com atos de

genocídio e crimes contra a humanidade. (ICTY, 2001)

O cenário o qual se passam as acusações contra Radislav são durante a

Guerra de Srebrenica, que aconteceu nos anos de 1992 e 1993 na cidade de

mesmo nome localizada no leste do atual território da Bósnia e Herzegovina. O

conflito se deu devido às inúmeras desavenças étnicas, religiosas e culturais dos

povos envolvidos e resultou no maior massacre da história recente desde a Segunda

Guerra Mundial, sendo o primeiro evento reconhecido internacional e legalmente

como genocídio na Europa após o Holocausto, com um saldo de mais de 8.000

mortos de todas as faixas etárias, além da transferência e da deportação de mais de

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25.000 mulheres, crianças e idosos. Essas crianças foram obrigadas á se alistarem

no exército e não se tem informações sobre as mulheres e idosos. (ICTY..., 2001)

É possível analisar uma grande crueldade por parte de Krstić durante as

invasões ao território de Srebrenica e a organização do processo do genocídio,

possibilitando inclusive uma percepção singular a respeito das questões de gênero:

homens e meninos eram executados e mulheres e meninas eram estupradas e

assassinadas em seguida, atribuindo uma imagem sexualizada do corpo feminino

dentro de uma noção patriarcal, o que caracteriza o ato do estupro como uma arma

de guerra e ferramenta de limpeza étnica. (PERES, 2011)

Em contrapartida às acusações de genocídio, os sérvios argumentam que

também perderam um grande contingente de pessoas vitimadas no conflito, mas

que não pode ser considerada uma justificativa para os inocentarem ou muito menos

diminui as respectivas responsabilidades pelos acontecimentos frente ao Direito

Internacional e ao Estatuto do Tribunal Internacional para Julgar as Pessoas

Responsáveis por Violações Graves ao Direito Humanitário Cometidas no Território

da ex-Iugoslávia, documento criado através da Resolução 827 de 1993 do CSNU.

Radislav Krstić foi indiciado no Tribunal Penal Internacional para a ex-

Iugoslávia por ter cometido violações ao Artigo 4º do Estatuto citado anteriormente,

que explicita o termo genocídio como todo e qualquer ato cometido com a intenção

de destruir total ou parcialmente um grupo nacional, racial, étnico, rácico ou religioso

por meio de homicídio de membros do grupo, atentado à integridade física e mental

dos mesmos, submissão destes às condições de vida que inviabilizem sua

sobrevivência, imposição de medidas que impeçam o nascimento no seio deste

grupo e transferência forçada de pessoas de um grupo para outro ou de um lugar

para outro. Dentro desse conceito, observa-se que Krstić foi indiciado por genocídio

e por cumplicidade com o ato de genocídio (CSNU, 1993).

Além do crime de genocídio, o comandante sérvio também foi indiciado por

ter cometido uma série de crimes contra a humanidade, dentre eles extermínio,

assassinato, perseguições, deportações, tratamento desumano com transferência

forçada e violência sexual, se enquadrando no Artigo 5º do Estatuto, que engloba

essas e outras ações como tortura, escravidão e prisão, por exemplo. (CSNU, 1993)

Esses são os crimes os quais levam Krstić a ser acusado pelo Tribunal Penal

Internacional para a ex-Iugoslávia, enquadram-se na jurisprudência internacional do

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Direito Internacional e do Direito Penal, o que faz com que se espere a justiça

manifestada em forma de sentença.

3.1.1 As Resoluções do Conselho de Segurança da Organização das Nações

Unidas

Primeiramente, é importante informar que as Resoluções na integra estão

presentes nos anexos. Levando em conta a pífia atuação da Organização das

Nações Unidas, a ONU, na guerra e nos conflitos de Srebrenica, o Conselho de

Segurança teve de intervir e formular algumas resoluções que implicaram no futuro

dos julgamentos e do sistema internacional enquanto terreno de Direito

Internacional6

As resoluções apresentadas pelo Conselho foram idealizadas devido ao uso

do estupro como forma de genocídio e como ferramenta de limpeza étnica. Uma

delas foi a Resolução 808 do ano de 1993, que tem como objetivo reafirmar o dever

do cumprimento das normas do Direito Internacional Humanitário, e particularmente,

as das Convenções de Genebra7, que por sua vez, permitem a interpretação da

necessidade de cessão das violências em solo bósnio. É estabelecido a urgência da

criação de um tribunal penal internacional para julgar os indivíduos envolvidos e

acusados de cometerem os crimes já citados, visando a manutenção da paz e da

segurança. O documento também relembra o comprometimento dos Estados pela

defesa dos Direitos Humanos e às possíveis medidas discutidas em relação aos

casos julgados pelo comitê, ao decidir que as bases do mesmo seriam pautadas nos

conceitos do Direito Internacional Humanitário e no Estatuto do próprio tribunal

(CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS, 1993).

A importância da criação de um tribunal para o caso da ex-Iugoslávia é nítida,

visto que se buscam medidas adequadas e concretas para um processo de

reparação histórica do ocorrido que foi tão significativo para a historicidade do

mundo contemporâneo, já que foi considerado como o maior genocídio da história

moderna, ficando atrás apenas do Holocausto da Alemanha nazista, que contou com

6 O CSNU é o órgão responsável pela manutenção da paz e da segurança internacionais formado por

15 membros, sendo 5 permanentes: os Estados Unidos, China, França, Reino Unido e Rússia, compondo o único órgão das Nações Unidas cujo caráter é mandatório, o que implica que os Estados devem aceitar e cumprir as resoluções do conselho. (ONU BRASIL, 2019) 7 As Convenções de Genebra são conhecidas como o berço das principais leis que deram origem à

concepção atual de Direito Internacional dos Direitos Humanos e direitos e deveres em tempos de guerra.

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um tribunal militar para julgar os dirigentes acusados de crimes de mesma natureza

que os do TPII. Além disso, a ONU percebe a sua incapacidade de lidar com crimes

dessa natureza, se comprometendo em intervir e suprir os vários erros cometidos no

passado. Já a Resolução 827, por sua vez, explicita o repúdio em relação às

atrocidades cometidas no território bósnio, demonstrando uma real crença do

tribunal como instância superior de interrupção das violências e de reparação da

dívida histórica (CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS, 1993).

3.2 A acusação

Krstić foi acusado de cometer os seguintes crimes: genocídio, cúmplice de

genocídio, perseguições, homicídio, exterminação, deportação, atos inumanos

(transferência forçada), destruição de bens pessoais, tratamento cruel e desumano e

atos de terror. A definição de crime de genocídio deve ser sempre considerada, para

determinar se o Massacre de Srebrenica, no qual o réu participou, pode ser

considerado um genocídio (TRIAL INTERNATIONAL, 2006). Mais especificamente,

foram 1 acusação de genocídio, 1 de cúmplice para cometer genocídio, 5 acusações

de crimes contra a humanidade (como exterminação, assassinato, perseguições,

deportação e atos inumanos), e 4 acusações de violações das leis ou costumes da

guerra (como assassinato) (ICTY…, 2001).

O réu foi acusado de ser o líder responsável por uma organização - o Exército

Sérvio-Bósnio - que realizou esses atos. Ou seja, ele é acusado de planejar,

organizar e ordenar que tais crimes acontecessem. Dessa forma, Krstić pode ser

criminalmente responsável pelos crimes ocorridos, pois os procuradores podem

acreditar, após considerarem as provas apresentadas durante o comitê, que ele

tinha ciência que tais atos genocidas iriam acontecer. E, ele pode ter recebido

informações a respeito - antes e durante o genocídio - mas não impediu nenhum ato

de ocorrer.

3.3 O andamento do caso

Faz-se necessária a compreensão do procedimento jurídico e das

tecnicidades do caso para o melhor entendimento da complexidade do julgamento

de Krstić. O processo começou em Novembro de 1998, no mês seguinte foi

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declarada a prisão preventiva do acusado e assim transferido para o tribunal, mas

apenas em Março de 2000, se deu início ao julgamento do réu. Os argumentos finais

ocorreram em Junho de 2001 e o julgamento final apenas em agosto do mesmo ano,

totalizando um ano e quatro meses de procedimento jurídico. Durante todo esse

período a promotoria fez uso de mais de cem testemunhas, enquanto a defesa

apresentou somente treze. Ademais, os promotores trouxeram a Haia mais de

novecentas evidências, contrastando com as 183 mostradas pelos defensores no

tribunal (ICTY, 2001).

3.4 A defesa

O principal argumento da defesa consiste na negação do envolvimento dos

membros do Corpo Drina na transferência forçada dos homens bósnios-muçulmanos

em direção à Srebrenica. De modo a corroborar essa base argumentativa, o militar

Radinovi foi trazido como testemunha de defesa e afirmou que a retirada de

mulheres, crianças e idosos para a região de Srebrenica não foi forçada pelas forças

armadas bósnio-sérvias, mesmo apontando o medo como um fator crucial para a

decisão dessa população se transferir voluntariamente. Ainda, um especialista

trazido pela promotoria ao julgamento afirmou que em conflitos o deslocamento e/ou

fuga de civis é deveras comum, além de ser considerado um curso de ação racional

por parte desses. Ademais, a alegação de que o acusado não sabia das intenções

criminosas do Corpo Drina também é fundamental para o argumento chave da

defesa, insistindo no fato de que o alto comando desse órgão não foi envolvido no

massacre, devido às hierarquias paralelas (ICTY, 2001).

Os advogados da defesa trouxeram ao tribunal um suposto acordo em que os

líderes dos grupos bósnios-sérvios e bósnios-muçulmanos trocavam a região de

Sarajevo pela região de Srebrenica, entregue para o massacre. Ainda, a defesa

apresentou como evidência, laudos do Dr. Stankovic, um médico legista que apontou

críticas ao modo ao qual as investigações da promotoria foram conduzidas no que

tange aos mortos em Srebrenica. Ademais, a defesa argumentou que as vítimas

bósnias-muçulmanas receberam tratamento médico adequado, o que indica que o

exército bósnio-sérvio não visava assassinar esses homens, como apontado pela

promotoria. A defesa trouxe ao julgamento diversas testemunhas que participaram

da operação secreta Krivaja 95 (responsável por capturar e transferir os homens

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bósnios-muçulmanos) que afirmaram que o Corpo Drina não tomou medidas

criminosas diretas aos civis, além de negarem qualquer dano feito pela empreitada

do exército ao território de Srebrenica (ICTY, 2001).

4 O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA A EX-IUGOSLÁVIA

O comitê TPII (2001) julgará o caso Krstić (IT-98-33) do Tribunal Penal

Internacional para a ex-Iugoslávia, que teve início em 1998. O julgamento perante o

tribunal se deu dia 2 de agosto de 2001. (ICTY…, 2001)

Ao início da primeira seção do comitê, os juízes devem jurar ao tribunal que

serão imparciais ao darem sua sentença, e o réu será apresentado por um dos

membros do MINIONU. Este último deve se declarar inocente ou culpado, para que

se tenha início às discussões e para que os procuradores e defensores possam se

posicionar e apresentar suas respectivas argumentos perante o restante dos

membros do tribunal.

Os debates se darão através de um debate moderado, sem a existência de

lista de oradores. Os que desejarem se pronunciar devem levantar suas placas para

que a Presidência o reconheça e dê a palavra.

Por fim, é importante destacar que os delegados podem interpretar as

acusações e defesas feitas ao réu, assim como os pronunciamentos feitos pelo

mesmo, usando de sua criatividade e livre arbítrio. A sentença final não

necessariamente seguirá os padrões/mesmos tópicos apresentados pela sentença

real dada pelo TPII e resultado.

4.1 O que é o TPII?

O Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (TPII) se apresenta como

um tribunal ad-hoc, ou seja, específico para julgar os casos de réus envolvidos nos

conflitos separatistas da Iugoslávia. Durante os julgamentos, são envolvidos crimes

que ocorreram durante os conflitos nos Balcãs, na década de 1990, e foi só em 2017

que o último caso foi concluído. (ICTY, 2019)

4.1.1 A criação do TPII

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Em 22 de Fevereiro de 1993, o Conselho de Segurança das Nações Unidas

estabelece através da resolução 808 e 827 a criação de um tribunal para julgar o

caso iugoslavo. O Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia iniciaria

formalmente em maio de 1993 e será encerrado em Dezembro de 2017, sua sede

fica em Haia, nos Países Baixos. A atuação do tribunal é de extrema relevância para

o Direito Internacional dos Direitos Humanos, visto que, por motivações políticas, a

Corte Internacional de Justiça não sentenciou como genocídio para o caso da ex-

Iugoslávia.

4.1.2 A importância do TPII

A importância histórica no Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia

com certeza deve ser destacada ao longo do comitê, por ser a primeira corte

internacional desde os tribunais de Nuremberg e Tóquio ao final da Segunda Guerra

Mundial. As resoluções do tribunal reafirmam as reformas do Direito Internacional

pós-holocausto, e colocam em prática a jurisdição sobre crimes contra a

humanidade e genocídio.

Vale ressaltar a importância que o TPII especificamente teve na

ressignificação de crimes contra a humanidade como genocídio, ao tipificar estupro

como um desses crimes.(BIEZUS, 2017)O desafio dos delegados estará justamente

em trabalhar com a jurisdição já existente sobre o tema e tentar aplicá-la à realidade,

um exercício essencial para os delegados compreenderem sua atuação no

MINIONU e como as teorias e documentos hipotéticos dialogam com uma realidade

e com indivíduos palpáveis, principalmente ao que tange um tema tão delicado

quanto direitos humanos.

4.2 Papel dos atores

No TPII contaremos com a presença de ilustres juízes, procuradores,

defensores e, claro, o réu. Este é um comitê diferente de todos os outros, nos quais

os delegados terão a oportunidade de representar não interesses estatais, como de

costume, mas pessoas reais com medos e anseios e viver na pele um dos maiores

eventos do Direito Internacional, que marcou a história dos Direitos Humanos.

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Um tribunal dispõe de atores diferentes com funções diferentes. No nosso

comitê, nenhuma delegação tem mais relevância do que outra, pois por se tratar de

um tribunal iremos partir do princípio da neutralidade, que significa que os juízes

devem se fechar a qualquer influência ideológica para decidir a sentença. As

diferentes funções que irão existir no nosso comitê são o Réu, os Juízes, os

Procuradores e os Defensores. (REDE DE ENSINO LUIZ FLÁVIO GOMES, 2008)

4.2.1 Réu

O acusado perante o TPII é designado de réu, que poderá ter como linha de

defesa alegar que não cometeu nenhum crime ou tentar justificar o porquê de suas

ações não serem intrinsecamente criminosas. Ele responde ao processo penal,

possuindo o direito de defesa das acusações e, após responder ao processo, pode

ser absolvido ou condenado a cumprir uma pena estipulada pelos juízes. Essa pena

pode ser de prisão, privativa de liberdade, ou restritiva de direitos, como multa ou

prestação de serviços comunitários (ONU BRASIL, 2019).

4.2.2 Juízes

Os juízes partirão do princípio da inocência para avaliar com neutralidade os

argumentos apresentados pelo réu, procuradores, e os relatos das vítimas. As

sentenças devem ser consideradas justas e respeitando os princípios, normas e

regras do Direito Internacional. Eles julgarão o caso e sentenciará o réu a partir da

premissa da imparcialidade, o que significa que eles não devem usar experiências

pessoais ou o posicionamento político de seus países de origem para tomar sua

decisão. A sentença será proferida após as alegações apresentadas pelos

procuradores e advogados de defesa, além dos pronunciamentos feitos pelo próprio

réu.

4.2.3 Procuradores

Os procuradores devem levantar dados sobre o caso a ser julgado e irão

representar pelas vítimas no nosso comitê, além de defender o cumprimento do

direito. Assim, eles são responsáveis por investigar o caso e o suspeito, procurando

informações que possam ser úteis para que os juízes tomem sua decisão. Também,

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eles analisam o tipo, autoria e a culpabilidade que o réu possui perante os crimes

aos quais ele foi condenado, apresentando provas ao tribunal que culpem o réu

pelos crimes aos quais ele foi acusado. (IMPETUS, 2012)

4.2.4 Defensores

Os defensores irão atuar a favor do réu, defendendo-o perante as acusações

feitas pelos procuradores. Eles são leais ao seu cliente e ao tribunal, e buscam a

absolvição do réu ou descaracterização dos agravantes do tipo penal. Também

podem usar as provas apresentadas pelos procuradores, mas não como meio de

acusação, e sim a favor do réu.

5 QUESTÕES IMPORTANTES

Em relação ao julgamento final, as ações do acusado no conflito iugoslavo

podem se enquadrar em quais tipificações do Estatuto do TPII - genocídio;

violação do direito humanitário ou crime contra a humanidade?

A guerra nos Bálcãs demonstrou aspectos únicos em diversos setores do

conflito, mas em especial nas táticas criminosas usadas, nas quais se

destacam o estupro como instrumento do genocídio e limpeza étnica. Sendo

esses crimes ainda não tipificados pelo direito internacional penal, quais

deverão ser as medidas tomadas por parte do tribunal com relação à esse

fato?

No caso do réu ser declarado culpado e sentenciado, qual será a sentença

adequada? Se o tribunal decidir pelo aprisionamento do acusado quantos

anos deverão ser cumpridos e qual o local do cumprimento da sentença (Haia

ou alguma dos antigos Estados membros da ex-Iugoslávia ou Estados

“neutros”)?

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REFERÊNCIAS

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Definição do Sistema Internacional. Contexto Internacional, v. 28, n. 2, p. 399,

2006.

DOYLE, Colonel Colm. A Responsibility to Protect. Irish Studies in International Affairs, v. 20, p. 21-26, 2009. GONÇALVES, Carlos Augusto Canedo. O Genocidio Como Crime Internacional.

Editora del Rey, 1999.

ICC-CPI. About The ICC. International Criminal Court, [20--]. Disponível em: <https://www.icc-cpi.int/about>. Acesso em: 6 maio 2019. ICTY. International Criminal Tribunal for the former Yugoslavia. International Criminal Tribunal for the former Yugoslavia, [20--]. Disponível em: <http://www.icty.org/en>. Acesso em: 6 maio 2019. ICTY. Case Information Sheet - Radislav Krstić. International Criminal Tribunal for the Former Yugoslavia, 2001. Folheto.

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24

IMPETUS. O que faz um Procurador de Justiça? [S.l]: Editora Impetus, 14 mar. 2012. Disponível em: <https://www.impetus.com.br/noticia/703/o-que-faz-um-procurador-de-justica>. Acesso em: 6 maio 2019. OLIVEIRA, Pedro Aires. Kosovo: O legado da história. Política Internacional, v.3, n.20, Lisboa, Outono/Inverno de 1999 REDE DE ENSINO LUIZ FLÁVIO GOMES. Há diferença entre neutralidade e imparcialidade do juiz?. Jusbrasil, 2008. Disponível em: <https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/99939/ha-diferenca-entre-neutralidade-e-imparcialidade-do-juiz>. Acesso em: 6 maio 2019. RICHMOND, Oliver P. UN peace operations and the dilemmas of the peacebuilding consensus. International peacekeeping, v. 11, n. 1, p. 83-101, 2004. PERES, Andréa Carolina Schvartz. Campos de estupro: as mulheres e a guerra na Bósnia. Cad. Pagu, Campinas , n. 37, p. 117-162, Dez. 2011 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-83332011000200005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 05 maio 2019. ONU BRASIL: Conselho de Segurança. 1. 1. ed. [S. l.]: ONU Brasil, 2019. Disponível em: https://nacoesunidas.org/conheca/como-funciona/conselho-de-seguranca/. Acesso em: 5 maio 2019. TRIAL INTERNATIONAL. Radislav Krstić. [S.l]: TRIAL International, 2016. Disponível em: https://trialinternational.org/latest-post/radislav-krstic/. Acesso em: 6 maio 2019. VITO, Daniela de; GILL, Aisha; SHORT, Damien. A tipificação do estupro como genocídio. Sur, Rev. int. direitos human., São Paulo, v. 6, n. 10, p. 28-51, Junho de 2009.

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7 ANEXOS

ANEXO A - RESOLUÇÃO 808 (1993)

O Conselho de Segurança,

Reafirmando sua resolução 713 (1991) de 25 de setembro de 1991 e todas as

resoluções pertinentes subseqüentes,

Relembrando o parágrafo 10 de sua resolução 764 (1992) de 13 de julho de

1992, na qual reafirmou que todas as partes estão obrigadas a cumprir as

obrigações do Direito Internacional Humanitário e em particular as Convenções de

Genebra de 12 de agosto de 1949; ordenar que a comissão de graves violações das

Convenções seja individualmente responsável em relação a tais violações,

Interpelando igualmente a sua Resolução 771 (1992) de 13 de Agosto de

1992, em que, inter alia, exigia que todas as partes e outros interessados na ex-

Jugoslávia e todas as forças militares na Bósnia e Herzegovina cessassem e

desistissem imediatamente de todas as violações das convenções internacionais.

direito humanitário,

Lembrando ainda sua Resolução 780 (1992) de 6 de outubro de 1992, na qual

solicitou ao Secretário-Geral que estabelecesse, com urgência, uma Comissão

imparcial de Peritos para examinar e analisar as informações apresentadas em

conformidade com as resoluções 771 (1992) e 780 (1992), juntamente com

informações adicionais que a Comissão de Peritos possa obter, com vistas a

fornecer ao Secretário-Geral suas conclusões sobre as provas de graves violações

das Convenções de Genebra e outras violações do direito internacional humanitário

cometidas no território da antiga Jugoslávia,

Tendo considerado o relatório provisório da Comissão de Peritos estabelecido

pela Resolução 780 (1992) (S / 25274), no qual a Comissão observou que uma

decisão de estabelecer um tribunal internacional ad hoc em relação a eventos no

território da ex-Iugoslávia ser coerente com a direção do seu trabalho,

Exprimindo mais uma vez o seu grave alarme com os relatos contínuos de

violações generalizadas do direito humanitário internacional ocorridas no território da

antiga Jugoslávia, incluindo relatos de assassinatos em massa e a continuação da

prática da "limpeza étnica",

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26

Determinando que esta situação constitui uma ameaça à paz e segurança

internacionais,

Decididos a pôr fim a tais crimes e a tomar medidas eficazes para levar à

justiça as pessoas responsáveis por eles,

Convencidos de que, nas circunstâncias particulares da ex- Jugoslávia, o

estabelecimento de um tribunal internacional permitiria atingir este objectivo e

contribuiria para a restauração e manutenção da paz,

Tomando nota, neste contexto, da recomendação dos co-presidentes do

Comité Director da Conferência Internacional sobre a ex- Jugoslávia para a criação

desse tribunal (S / 25221),

Observando também com grande preocupação o "relatório da missão de

investigação da Comunidade Européia sobre o tratamento das mulheres

muçulmanas na ex-Iugoslávia" (S / 25240, anexo I),

Observando ainda o relatório da comissão de juristas apresentado pela

França (S / 25266), o relatório da comissão de juristas apresentado pela Itália (S /

25300), e o relatório transmitido pelo Representante Permanente da Suécia em

nome do Presidente em -Escritório da Conferência sobre Segurança e Cooperação

na Europa (CSCE) (S / 25307),

1. Decide a criação de um tribunal internacional para o julgamento de pessoas

responsáveis por graves violações do direito internacional humanitário

cometidas no território da ex-Jugoslávia desde 1991;

2. Solicita ao Secretário-Geral que submeta à consideração do Conselho o mais

cedo possível, e, se possível, no prazo máximo de 60 dias após a adoção da

presente resolução, um relatório sobre todos os aspectos deste assunto,

incluindo propostas específicas e Opções adequadas para a implementação

eficaz e rápida da decisão contida no n.º 1, tendo em conta as sugestões

apresentadas a este respeito pelos Estados-Membros

3. Decide permanecer ativamente envolvido com o assunto.

ANEXO B - RESOLUÇÃO 827 (1993)

Adoptado pelo Conselho de Segurança na sua 3217.ª reunião, 25 de maio de

1993

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27

O Conselho de Segurança,

Reafirmando sua resolução 713 (1991) de 25 de setembro de 1991 e todas as

resoluções pertinentes subsequentes,

Tendo considerado o relatório do Secretário-Geral (S / 25704 e Add.1) de

acordo com o parágrafo 2 da resolução 808 (1993),

Expressando, mais uma vez, o seu grave alarme pelos contínuos relatos de

violações generalizadas e flagrantes do direito internacional humanitário ocorridas no

território da ex-Jugoslávia, e especialmente na República da Bósnia e Herzegovina,

incluindo relatos de assassinatos em massa, detenções massivas, organizadas e

sistemáticas e violação de mulheres e continuação da prática da "limpeza étnica",

incluindo a aquisição e a posse de território,

Determinando que esta situação continua a constituir uma ameaça à paz e

segurança internacionais,

Decididos a pôr fim a tais crimes e a tomar medidas eficazes para levar à

justiça as pessoas responsáveis por eles,”

Convencidos de que, nas circunstâncias particulares da ex-Iugoslávia, o

estabelecimento como uma medida ad hoc do Conselho de um tribunal internacional

e o julgamento de pessoas responsáveis por graves violações do direito

internacional humanitário permitiriam alcançar esse objetivo e contribuiriam para a

restauração e manutenção da paz,

Acreditando que o estabelecimento de um tribunal internacional e a acusação

de pessoas responsáveis pelas violações do direito internacional humanitário acima

mencionadas contribuirão para assegurar que tais violações sejam interrompidas e

efetivamente reparadas,

Observando a esse respeito a recomendação dos Co-Presidentes do Comitê

Diretor da Conferência Internacional sobre a ex-Iugoslávia para o estabelecimento

de tal tribunal (S / 25221), 93-30628 (E) 250593 / …

Reafirmando, a este respeito, sua decisão na resolução 808 (1993) de que

um tribunal internacional será estabelecido para o julgamento de pessoas

responsáveis por graves violações do direito internacional humanitário cometidas no

território da ex-Iugoslávia desde 1991,

Considerando que, enquanto se aguarda a nomeação do Procurador do

Tribunal Internacional, a Comissão de Peritos estabelecida em conformidade com a

Resolução 780 (1992) deve continuar urgentemente a coleta de informações

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relativas a provas de graves violações das Convenções de Genebra e outras

violações das mesmas. humanitário internacional, conforme proposto em seu

relatório preliminar (S / 25274),

Atuando sob o Capítulo VII da Carta das Nações Unidas,

1. Aprova o relatório do Secretário-Geral;

2. Decide estabelecer um tribunal internacional com o único propósito de

processar pessoas responsáveis por graves violações do direito internacional

humanitário cometidas no território da ex- Iugoslávia entre 1º de janeiro de

1991 e uma data a ser determinada pelo Conselho de Segurança mediante a

restauração de paz e, para o efeito, adoptar o Estatuto do Tribunal

Internacional anexo ao relatório acima mencionado;

3. Solicita ao Secretário-Geral que apresente aos juízes do Tribunal

Internacional, mediante sua eleição, quaisquer sugestões recebidas dos

Estados para as regras de procedimento e provas exigidas no Artigo 15 do

Estatuto do Tribunal Internacional;

4. Decide que todos os Estados devem cooperar plenamente com o Tribunal

Internacional e seus órgãos de acordo com a presente resolução e com o

Estatuto do Tribunal Internacional e que, consequentemente, todos os

Estados tomarão as medidas necessárias, de acordo com sua legislação

interna, para implementar as disposições do presente resolução e Estatuto,

incluindo a obrigação de os Estados cumprirem os pedidos de assistência ou

ordens emitidas por uma Câmara de Julgamento em Trigênero, de acordo

com o Artigo 29 do Estatuto;

5. Insta os Estados e as organizações intergovernamentais e não

governamentais a contribuírem com fundos, equipamento e serviços para o

Tribunal Internacional, incluindo a oferta de pessoal especializado;

Decide que a determinação da sede do Tribunal Internacional está sujeita à

conclusão de acordos apropriados entre as Nações Unidas e os Países Baixos

aceitáveis para o Conselho, e que o Tribunal Internacional pode se sentar em outro

lugar quando considerar necessário para o exercício eficiente. das suas funções;

1. Decide também que o trabalho do Tribunal Internacional será realizado sem

prejuízo do direito das vítimas de buscar, por meios apropriados, a

compensação por danos incorridos como resultado de violações do Direito

Internacional Humanitário;

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2. Solicita ao Secretário-Geral que implemente com urgência a presente

resolução e, em particular, que tome medidas práticas para o funcionamento

eficaz do Tribunal Internacional no mais curto prazo possível e informe

periodicamente o Conselho;

3. Decide permanecer ativamente apreendido do assunto” (CONSELHO DE

SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS. Resoluções 808 e 827. Acervo do site

oficial do CSNU, 1993.)

ANEXO C - GLOSSÁRIO DE TERMOS JURÍDICOS

Este Glossário foi desenvolvido por Diego Calçado em 2018 para um dos

comitês simulados na 3ª edição do MINIONU – Poços de Caldas.

Apelação: Recurso interposto pela parte que se considera prejudicada por

sentença. Intenta o reexame e julgamento da causa por tribunal de segunda

instância (GUIMARÃES, 2007).

Bem jurídico: pode ser entendido “como tudo aquilo que satisfaz a uma

necessidade humana, inclusive as de natureza moral, espiritual, etc.” Podem

figurar no rol desse tipo de bens a vida, a integridade física, a honra, entre outros.

(MIRABETE, 2009, p. 115; 1126).

Vale ressaltar que, juntamente com o bem jurídico, o interesse (importância

psicológica atribuída pelo titular ao bem referente a este) conforma o objeto jurídico

do crime – bem interesse” que o legislador busca resguardar por meio do direito

penal (MIRABETE, 2008).

Código (Compilação; Consolidação): corpo único, sistematizado e

articulado de disposições legais que regem cada ramo do Direito (GUIMARÃES,

2007). É, em regra, aprovado como lei como um todo, inovando sobre o Direito.

Difere da Consolidação, que é a reunião de normas já existentes em mesma

redação, sem inovação do Direito, e da Compilação, que é a mera reunião de

textos legais para facilitar a consulta. São exemplos de códigos os códigos penal e

civil, de processo penal e civil, e outros mais variados, como código de defesa do

consumidor, código de trânsito Brasileiro e código eleitoral. Como consolidação,

temos o exemplo da Consolidação das Leis Trabalhistas.

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Competência: limites da atuação que os juízes e tribunais possuem para

atuar frente a um determinado caso. Tem como critérios gerais o valor da causa, ou

a pena máxima do delito, em âmbito penal, e o território, em regra, onde ocorreram

os fatos. (GRECO FILHO, 2010).

Convenção (Declaração, Tratado): é, ao lado dos costumes e do jus

cogens (princípios gerais de Direito Internacional cuja observação é obrigatória a

todos os Estados), fonte do Direito Internacional Público [ver Direito Internacional

Público]. É celebrado, em regra, entre Estados, sendo acordo unificador de

vontades de forma escrita, sendo que seu inadimplemento gera responsabilidade

internacional, obedecendo-se a Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados.

Pode ter duas (acordo bilateral) ou mais partes (acordo multilateral, como o

Estatuto de Roma). Para entrar em vigor, além das assinaturas das partes

interessadas, necessita da ratificação, geralmente por meio dos Parlamentos

nacionais.

Crime: “É a infração a que a lei comina pena” (GUIMARÃES, 007) ou

também, “é a concepção da sociedade sobre o que pode e deve ser proibido”

(NUCCI, 009) Ou seja, é ação ou omissão que se enquadra em um modelo legal de

conduta expressamente proibida (tipicidade), contrária ao Direito (antijuridicidade) e

sujeita a um juízo de reprovação social (culpabilidade).

Assim, pela tipicidade chegamos ao princípio de que não há crime sem lei

anterior que a defina. O sentido da antijuridicidade é o de que, apesar de descritas

em lei, há condutas que são escusadas pelo Direito, como a legítima defesa e o

exercício regular de direito. Finalmente, tem-se na culpabilidade requisito que

garante que só serão criminosos aqueles reconhecidos pela “consciência potencial

de ilicitude e exigibilidade e possibilidade de agir conforme o Direito (idem, idem).

Devido processo legal: due process of law. O devido processo legal refere-

se basicamente às concepções de que nenhuma pessoa deve ter seus direitos

cerceados por mero arbítrio e de que os instrumentos legais para que o processo

se dê de uma maneira justa sejam assegurados a todas as partes. A relevância e a

abrangência desse princípio fazem com que a ele se conectem outros, como o

princípio da paridade de armas, o do contraditório, o da ampla defesa.

Direito Internacional: É o conjunto de normas que têm como fonte os usos

e costumes jurídicos internacionais, assim como as convenções fixadas entre

Estados. Regula as relações entre estes, e entre estes e os demais sujeitos

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internacionais (como organizações internacionais como a ONU e a Cruz Vermelha),

e fixam direitos e deveres entre si. Também tem como função estabelecer bases

para uma ordem pública internacional e uniformizar a normatização doméstica

naquilo que interessar à comunidade internacional.

Direito Penal (Direito Internacional Penal e Direito Penal Internacional):

É o ramo do Direito voltado à fixação dos limites do poder punitivo do Estado,

instituindo infrações penais e as sanções correspondentes, assim como regras para

sua aplicação. Também pode ser entendido como o corpo de normas jurídicas

destinado ao combate da criminalidade, garantindo a defesa da sociedade. (NUCCI,

2009)

Direito Internacional Penal é aquele que define os crimes internacionais e os

instrumentos e mecanismos para a sua persecução. São normas penais criadas

pelo consenso entre os Estados e solidificadas por convenções, com grande

incentivo para que seja adota pela legislação interna dos Estados. São crimes

internacionais, por exemplo, a tortura e o genocídio, que abarcam a competência

de um Tribunal Penal Internacional, como o para a antiga Iugoslávia.

Diferentemente, o Direito Penal Internacional é o conjunto de normas

nacionais que tratam de questões sobre a territorialidade e extraterritorialidade,

com o fim de estabelecer se o Estado tem ou não o direito de punir sobre

determinada conduta. É, por exemplo, o tipo de norma que estabelece a

competência da Justiça brasileira para punir crimes cometidos contra a vida e a

liberdade do Presidente da República no exterior. Não é Direito Internacional

propriamente dito, mas sim um ramo do Direito Penal.

Direitos Humanos: É o Direito a que toda e qualquer pessoa, por um

princípio de igualdade, tem de ver garantidas as suas condições mínimas de

existência e de desenvolvimento pleno da vida. Assim, em um breve rol, enumera-

se o direito à vida, alimentação, educação e moradia, entre outros.

Dosimetria: É o momento em que se calcula a pena do condenado, a partir

da dimensão da reprovação do crime cometido. Leva em consideração, no direito

brasileiro, a culpabilidade, os antecedentes criminais, a conduta social e

personalidade do agente, os motivos, circunstâncias e consequências do crime

(NUCCI, 2009).

Judiciário (magistratura): É, ao lado do Executivo e do Legislativo, um dos

três poderes presentes na grande maioria dos Estados republicanos. Nasceu com o

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fim de ser um freio aos outros dois poderes. Tem como fundamento o princípio de

que quem produz ou exerce o Direito não pode ser o mesmo que o julga.

Institucionalmente, é o conjunto órgãos e pessoas com a competência de julgar

controvérsias. No Brasil, são órgãos do Judiciário, entre outros, o Supremo Tribunal

Federal, o Superior Tribunal de Justiça, os Tribunais de Justiça e seus juízes.

Pode-se entender magistratura como o conjunto de juízes. Em uma

interpretação mais ampla (que não é adotada no Brasil), incluem-se também como

magistrados os membros do Ministério Público, que têm as mesmas garantias e

prerrogativas que os juízes garantidas pela Constituição. São as principais funções

do Ministério Público a de fiscal da lei, tendo de participar em diversos tipos de

controvérsias, como as que envolvem menores e estado civil, e o de detentor da

ação penal, ou seja, em regra geral, apenas o Ministério Público pode dar início a

um processo penal. No TPII, a Promotoria faz o papel reservado ao Ministério

Público nas ações penais nacionais.

Jurisdição: advinda da concepção de soberania estatal, diz respeito à

capacidade do Estado de resolver conflitos que lhe são postos. Essa resolução se

daria a partir da aplicação do direito através dos órgãos do Poder Judiciário em

face dos casos concretos (MIRABETE, 2009).

No caso do Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia (TPII), é

relevante fazer a observação de que, para os conceitos de competência e de

jurisdição, há um distanciamento da conceituação dos mesmos referentes ao plano

interno de um país. Isso se dá pelo fato de que essas duas definições não estão

ligadas à ideia de poder absoluto de um Estado. É a ordem legal internacional,

nesse caso, que estabelece os limites da atuação do TPII.

Jurisdição concorrente: fenômeno que ocorre em situações em que mais

de um tribunal possui jurisdição sobre determinados casos. Por causa disso, é

imperativo que haja normas que sejam capazes de delimitar que tribunal lidará

com o caso concreto em pauta.

Jurisprudência: tida como uma das fontes do direito – nesse caso, o

internacional –, a jurisprudência pode ser compreendida como um agregado de

resoluções que o tribunal possua acerca de determinados assuntos. Tem-se,

portanto, a formulação entendimentos construídos pelas cortes, o que serve de

norte para decisões futuras que aquele tribunal venha a enfrentar.

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Medidas Cautelares: São as medidas que o juiz responsável por

determinado inquérito (antes do processo propriamente dito) ou ação penal tem

para assegurar para que os meios e os fins do processo penal sejam preservados.

Devem ser devidamente justificadas e amparadas em dispositivos legais,

obedecendo, obviamente, a proporcionalidade da gravidade do crime com a

gravidade das medidas cautelares. São exemplos de medidas cautelas as prisões

preventivas, a fiança, a busca e apreensão e a apresentação regular em juízo,

entre outras.

O principal problema sobre as medidas cautelares é a privação de liberdade

de indivíduos que ainda não foram condenados judicialmente.

Parte: As partes são, entre os sujeitos do processo (aqueles que participam

dele), aquelas que participam em contraditório, defendendo ou atacando a

existência de um direito. O autor é a parte que pede o provimento jurisdicional ao

juiz, enquanto o réu é aquele em relação a quem o pedido é feito. São outros

sujeitos, mas não partes, o juiz, o membro do ministério público e outras partes

acessórias, tais quais peritos.

Pena: Sanção jurídica que tem por objetivo reprimir a comissão de uma

infração penal; essa sanção é pedida pela Promotoria ao Tribunal por ocasião do

processo penal (ARNAUD et al., 1999, p. 566).

Historicamente, é possível identificar diversas formas da pena, por exemplo:

pena de morte, penas corporais, privação da liberdade, restrição da liberdade, etc.

Observa-se também alguns movimentos de despenalização, em favor de outras

formas de controle social.

As penas aplicadas pelo Tribunal Penal Internacional para a antiga

Iugoslávia estão descritas em seu Estatuto e em seu Regulamento Processual

(Rules of Procedure and Evidence), sendo a pena máxima a prisão perpétua. A

sentença deve levar em consideração fatores como a gravidade da infração e as

circunstâncias individuais do condenado. Além disso, há possibilidade de perdão ou

de substituição da pena.

Penas alternativas: São possibilidades facultadas pela legislação de haver

a substituição da pena de privação de liberdades, prisão, por outras formas de

sanção a um crime. São cabíveis apenas em crimes de menor potencial ofensivo,

ou seja, no Brasil, crimes com pena máxima inferior a quatro anos. Há uma ampla

variedade de penas alternativas, sendo possível para o juiz alterá-las conforme a

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ocasião. As mais comuns são a prestação de serviços comunitários, prestações

em dinheiro (ou cestas básicas), restrições de direitos e prisões domiciliares (que

também podem ser usadas como medidas cautelares).

O principal mérito das penas alternativas é, além da comprovada diminuição

da reincidência, dar alternativas ao juiz à pena privativa de liberdade, tendendo a

desafogar o sistema prisional.

Princípios do direito: uma das espécies de normas, os princípios possuem

um conteúdo mais amplo, não taxativo – contudo, no caso concreto, são

especificáveis – e que eles não ajustam os requisitos para sua aplicação

(CARVALHO NETTO e SCOTTI, 2011).

Ademais disso, por serem os princípios basilares ao sistema jurídico e

definidores de um cerne de direitos inalienáveis, eles conferem legitimidade a esse

mesmo sistema e às decisões dele advindas. São, por exemplo, os princípios da

razoabilidade, da legalidade e da presunção de inocência.

Processo (procedimento; autos): Usualmente definido como o conjunto de

atos em direção a uma sentença. Entretanto, em termos penais, é visto também

como meio de se preservar os direitos do acusado, principalmente os da ampla

defesa e do contraditório (ou seja, se manifestar sobre quaisquer atos ocorridos

durante o processo). É o processo penal, portanto, meio de proteção do sujeito

contra o Estado acusador.

Diferencia-se do procedimento, que não guarda relação tão estreita com a

preservação de direitos do acusado, sendo entendido mais como a primeira

definição, de conjunto de atos, e dos autos, que são o suporte físico do processo.

Reincidência: “É o cometimento de uma infração penal após já ter sido

agente condenado definitivamente [...] por crime anterior” (NUCCI, 2009). É

relevante para a fixação da pena, além da obtenção de certos benefícios, como a

suspensão da pena.

Sentença: em termos genéricos, pode-se dizer que sentença é um ato do

juiz que extingue o processo, havendo ou não resolução de mérito dependendo das

circunstâncias a ela relativas (THEODORO JÚNIOR, 2009).

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TABELA DE REPRESENTAÇÕES

Almiro Rodrigues Andrew Cayley Fouad Riad

Magda Karagiannakis Mark Harmon Nenad Petrusic

Patricia Wald Peter McCloskey Radislav Krstic

Tomislav Visnji

Almiro

Rodrigues