Súmulas e OJ - TST - atualizacao de direito processual do trabalho

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NOTA DE ATUALIZAO

SMULAS E ORIENTAES JURISPRUDENCIAIS DO

Comentadas e organizadas por assunto

LISSON MIESSA DOS SANTOS HENRIQUE CORREIA2012

www.editorajuspodivm.com.br

PARTE II

NOVAS SMULAS E OJS Captulo II - Competncia2. IMUNIDADE DE JURISDIO. ORGANIZAO OU ORGANISMO INTERNACIONALOrientao Jurisprudencial n 416 da SDI I do TST. Imunidade de jurisdio. Organizao ou organismo internacional As organizaes ou organismos internacionais gozam de imunidade absoluta de jurisdio quando amparados por norma internacional incorporada ao ordenamento jurdico brasileiro, no se lhes aplicando a regra do Direito Consuetudinrio relativa natureza dos atos praticados. Excepcionalmente, prevalecer a jurisdio brasileira na hiptese de renncia expressa clusula de imunidade jurisdicional.

Os entes de direito pblico externo podem ser divididos em: 1) Estados estrangeiros e; 2) Organizaes (ou organismos) internacionais. Partindo dessa diviso, passamos a analisar a submisso de tais entes jurisdio brasileira, vale dizer, se esto sujeitos s imposies do Judicirio brasileiro ou se esto imunes a esta Jurisdio. No que se refere aos Estados estrangeiros, a doutrina e a jurisprudncia fracionam os atos por eles praticados em: atos de imprio e atos de gesto. Os atos de imprio so aqueles praticados no exerccio de suas prerrogativas soberanas. Nesse caso, os Estados estrangeiros possuem imunidade absoluta de jurisdio, ou seja, no se submetem jurisdio brasileira. J os atos de gesto so aqueles em que o Estado estrangeiro atua em matria de ordem estritamente privada, equiparando-se ao particular, como o caso da

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aquisio de bens, contratao de empregados e etc. Nessa hiptese, a jurisprudncia brasileira (STF e TST) no contempla a imunidade de jurisdio. Assim, os Estados estrangeiros, nos litgios trabalhistas, submetem-se s decises proferidas pelos juzes e Tribunais brasileiros. Observa-se, porm, que a imunidade de jurisdio est ligada fase de conhecimento. No mbito da execuo, o STF entende que o Estado estrangeiro tem imunidade absoluta (imunidade executria)1. J o C. TST tem entendido no sentido de que somente haver imunidade se os bens estiverem afetos s atividades diplomticas e consulares, de modo que havendo bens no afetados se submetero execuo trabalhista2. interessante registar que o tema da imunidade de jurisdio do Estado no objeto de nenhum tratado, tendo sido regulado, no mbito internacional, por normas costumeiras, cujo teor vem refletindo na doutrina e na jurisprudncia das cortes internas dos entes estatais.3 Noutras palavras, a imunidade dos Estados estrangeiros, em regra, decorre do direito consuetudinrio. Quanto aos organismos (organizaes) internacionais como, por exemplo, a ONU, OIT, OMC etc., o C.TST adotou entendimento diverso, no sentido de que para tais entidades a imunidade de jurisdio (processo de conhecimento) absoluta, conforme se verifica pela orientao em apreo. A Corte Trabalhista justifica seu posicionamento nos seguintes fundamentos. O tema das imunidades das organizaes internacionais, em regra, decorre do direito convencional, ao contrrio da imunidade dos Estados estrangeiros que se embasam no direito consuetudinrio4. Em outros termos, as imunidades dessas organizaes vm estabelecidas em tratados internacionais, os quais, depois de ratificados, integram o ordenamento interno brasileiro. Em decorrncia disso, o Estado brasileiro tem obrigao de cumprir os tratados firmados, vez que so pactuados livremente pelo Brasil, sendo compromissos internacionais de carter vinculante. Ademais, o descumprimento dos tratados firmados pelo Brasil, sujeita o Estado brasileiro responsabilizao internacional. Com efeito, estando a imunidade de jurisdio prevista em tratado internacional, para o TST o organismo internacional no se submete jurisdio brasileira. Excepciona-se, porm, o caso do organismo internacional, expressamente, renunciar a imunidade a ele conferida. Nesse sentido, seguem precedentes do C. TST:EMBARGOS. INTIMAO DO ENTE PBLICO ANTES DA VIGNCIA DA LEI N 11.496/2007. CINCIA EM 24.08.2007. IMUNIDADE DE JURISDIO.

1. 2. 3. 4.

STF ACO-AgR 633/SP. Tribunal Pleno. Rel Min. Ellen Gracie. DJ 22.6.07. TST ROMS 28200-14.2003.5.10.0000. Rel. Min. Renato de Lacerda Paiva. DJ. 26.8.05 PORTELA, Paulo Henrique Gonalves. Direito Internacional pblico e privado. 3. ed. Salvador: JusPodivm, 2011.p. 184. PORTELA, Paulo Henrique Gonalves. Direito Internacional pblico e privado. 3. ed. Salvador: JusPodivm, 2011.p. 189.

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ORGANISMOS INTERNACIONAIS. ONU/PNUD. 1. Diferentemente dos Estados estrangeiros, que atualmente tm a sua imunidade de jurisdio relativizada, segundo entendimento do prprio Supremo Tribunal Federal, os organismos internacionais permanecem, em regra, detentores do privilgio da imunidade absoluta. 2. Os organismos internacionais, ao contrrio dos Estados, so associaes disciplinadas, em suas relaes, por normas escritas, consubstanciadas nos denominados tratados e/ou acordos de sede. No tm, portanto, a sua imunidade de jurisdio pautada pela regra costumeira internacional, tradicionalmente aplicvel aos Estados estrangeiros. Em relao a eles, segue-se a regra de que a imunidade de jurisdio rege-se pelo que se encontra efetivamente avenado nos referidos tratados de sede. 3. No caso especfico da ONU, a imunidade de jurisdio, salvo se objeto de renncia expressa, encontra-se plenamente assegurada na Conveno sobre Privilgios e Imunidades das Naes Unidas, tambm conhecida como -Conveno de Londres-, ratificada pelo Brasil por meio do Decreto n 27.784/1950. Acresa-se que tal privilgio tambm se encontra garantido na Conveno sobre Privilgios e Imunidades das Agncias Especializadas das Naes Unidas, que foi incorporada pelo Brasil por meio do Decreto n 52.288/1963, bem como no Acordo Bsico de Assistncia Tcnica com as Naes Unidas e suas Agncias Especializadas, promulgado pelo Decreto n 59.308/1966. 4. Assim, porque amparada em norma de cunho internacional, no podem os organismos, guisa do que se verificou com os Estados estrangeiros, ter a sua imunidade de jurisdio relativizada, para o fim de submeterem-se jurisdio local e responderem, em conseqncia, pelas obrigaes contratuais assumidas, dentre elas as de origem trabalhista. Isso representaria, em ltima anlise, a quebra de um pacto internacional, cuja inviolabilidade encontra-se constitucionalmente assegurada (art. 5, 2, da CF/88). 5. Embargos conhecidos, por violao ao artigo 5, 2, da Constituio Federal, e providos para, reconhecendo a imunidade absoluta de jurisdio da ONU/PNUD, restabelecer o acrdo regional, no particular.5 RECURSO DE EMBARGOS. ORGANISMO INTERNACIONAL. IMUNIDADE DE JURISDIO. RECONHECIMENTO DO TRATADO INTERNACIONAL INSERIDO NO ORDENAMENTO JURDICO. Fonte de Direito Internacional o tratado nasce no ordenamento jurdico pela manifestao autnoma e soberana dos sujeitos que o celebram. pela ratificao que o tratado passa a integrar o direito interno, depois de aprovado pelo Congresso Nacional. A autoridade do tratado apenas mitigada, por entendimento ainda no pacificado, quando ingressa no ordenamento jurdico norma legal de direito interno, que revogue o seu contedo. Os fundamentos que nortearam o rompimento com a imunidade absoluta de jurisdio no podem ser aplicados, nem por analogia, aos organismos internacionais. A anlise da origem Estado estrangeiro x organismo internacional, em face do alcance da imunidade de jurisdio, deve ter como norte os princpios de direito internacional, em especial os relativos reciprocidade e natureza da constituio do privilgio. Quanto ao primeiro, a imunidade de jurisdio funda-se no costume e, quanto ao segundo, a imunidade funda-se no tratado internacional de que o Brasil, em sendo signatrio, pela ratificao, tem inserido no ordenamento jurdico interno e no pode

5.

TST - E-RR90000-49.2004.5.10.0019. Rel. Min. Guilherme Augusto Caputo Bastos. DEJT 4.12.2009.

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descumprir. Deve ser reformado o entendimento da c. Turma que relativizou a imunidade de jurisdio do organismo internacional, em face do mandamento constitucional inserido no art. 5, 2, da Constituio Federal, que prev, no captulo relativo aos direitos fundamentais, o reconhecimento do tratado internacional. Embargos conhecidos e providos.6

Em suma, para o C. TST, tratando-se de Estado estrangeiro, no h imunidade de jurisdio nas lides trabalhistas. Por outro lado, sendo organizaes (organismos) internacionais, tais entidades tem o privilgio da imunidade de jurisdio.

Captulo II - Competncia2.6. Competncia para execuo da contribuio social referente ao seguro de acidente de trabalho (SAT)

Captulo XV - Execuo trabalhista3.3. Competncia para execuo da contribuio social referente ao seguro de acidente de trabalho (SAT)Orientao Jurisprudencial n 414 da SDI I do TST. Competncia da justia do trabalho. Execuo de ofcio. Contribuio social referente ao seguro de acidente de trabalho (SAT). Arts. 114, VIII, e 195, I, a, da Constituio da Repblica Compete Justia do Trabalho a execuo, de ofcio, da contribuio referente ao Seguro de Acidente de Trabalho (SAT), que tem natureza de contribuio para a seguridade social (arts. 114, VIII, e 195, I, a, da CF), pois se destina ao financiamento de benefcios relativos incapacidade do empregado decorrente de infortnio no trabalho (arts. 11 e 22 da Lei n 8.212/1991).

O art. 114, VIII, da CF/88, vaticina que a Justia do Trabalho competente para a execuo, de ofcio, das contribuies sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acrscimos legais, decorrentes das sentenas que proferir. Percebe-se, de plano, que a competncia da Justia laboral, para a execuo de tais contribuies, passa pela anlise do art. 195, I, a, e II, da CF/88, que estabelece:Art. 195. A seguridade social ser financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos oramentos da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios, e das seguintes contribuies sociais: I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:

6.

TST - E-ED-ED-RR-12100-84.2004.5.10.0020. Rel. Min. Aloysio Corra da Veiga. DEJT 12.11.2010.

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a) a folha de salrios e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer ttulo, pessoa fsica que lhe preste servio, mesmo sem vnculo empregatcio; (...) II - do trabalhador e dos demais segurados da previdncia social, no incidindo contribuio sobre aposentadoria e penso concedidas pelo regime geral de previdncia social de que trata o art. 201;

Verifica-se, portanto, que a Justia do Trabalho tem competncia para a execuo das contribuies sociais a cargo do empregador, empresa e entidades equiparadas incidentes sobre a folha de salrios e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer ttulo, pessoa fsica que lhe preste servio. Em regra, as empresas tm a obrigao de recolher 20% sobre o total da folha de salrios dos empregados e trabalhadores avulsos. Alm desse percentual, existem dois adicionais que tambm incidem sobre a folha de pagamento. O primeiro a contribuio conhecida como SAT (seguro por acidente de trabalho)ou GILRAT (grau de incidncia de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho), destinado a financiar benefcios de natureza acidentria. Essa contribuio impe que as empresas recolham mais 1%, 2% ou 3% sobre a remunerao dos trabalhadores empregados e avulsos, a depender do risco de acidente de trabalho na empresa (art. 22, II, da Lei n 8.212/91). Desse modo, se o risco da empresa leve deve recolher 1%, sendo mdio 2% e mximo 3%. interessante anotar que o risco verificado de acordo com a atividade preponderante da empresa, e no o risco da atividade individual do trabalhador, ressaltando que havendo diferentes estabelecimentos com CNPJ diversos, a alquota ser analisada considerando cada um dos estabelecimentos (Smula n 351 do STJ7). Atente-se que esse adicional incide sobre a remunerao dos trabalhadores empregados e avulsos, independentemente de estarem expostos a condies especiais de trabalho. Alm disso, importante observar que Ministrio da Previdncia Social poder alterar o enquadramento das empresas para efeito de adicional, com base nas estatsticas de acidentes do trabalho, apuradas em inspeo, a fim de estimular investimentos em preveno de acidentes (art. 10 da Lei n 10.666/03). Desse

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Smula n 351 do STJ: Alquota de Contribuio para o Seguro de Acidente do Trabalho (SAT). A alquota de contribuio para o Seguro de Acidente do Trabalho (SAT) aferida pelo grau de risco desenvolvido em cada empresa, individualizada pelo seu CNPJ, ou pelo grau de risco da atividade preponderante quando houver apenas um registro.

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modo, a alquota poder ser diminuda em at 50% e majorada para at 100%, o que significa que pode variar de 0,5% a 6%, a depender do investimento feito em segurana do trabalho. O segundo adicional que incide na folha de pagamento o destinado a financiar as aposentadorias especiais. Nesse caso, as alquotas de 1, 2 e 3%, anunciadas acima (segundo a atividade de risco), so acrescidas de 6, 9 ou 12%, a depender da aposentadoria especial dos trabalhadores, vale dizer, 25, 20 ou 15 anos, respectivamente (art. 57, 6, da Lei 8.213/91). Nessa hiptese, o adicional incide apenas sobre a folha dos trabalhadores com direito, em tese, aposentadoria especial. Da anlise desses adicionais possvel extrair que ambos integram o art. 195, I, a da CF/88, embora a orientao em anlise verse apenas sobre o primeiro (contribuio do SAT), sendo destinados a custear a seguridade social. Alm disso, o art. 114, VIII, da CF/88 enftico em conceder Justia laboral competncia para executar contribuies sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acrscimos legais. A expresso acrscimos legais, no deixa qualquer dvida acerca da competncia dessa Justia Especializada para a execuo da contribuio do SAT. Com efeito, havendo deciso condenatria, incumbe empresa recolher sua cota parte de 20%, acrescida do adicional relativo ao risco de sua atividade (1%, 2% ou 3%), as quais sero executadas, de ofcio, na Justia do Trabalho. Antes de finalizar os comentrios dessa orientao, necessrio fazer duas observaes. Primeira, a competncia da Justia do Trabalho para a execuo de tais adicionais est limitada s condenaes em pecnia que proferir ou que seja objeto de acordo judicial homologado nessa Especializada, nos termos da Smula n 368, I, do TST. A segunda observao diz respeito s contribuies de terceiros, ou seja, aquelas destinadas ao sistema S (SESI, SENAI, SEST, SENAT, SENAC, SENAR, SEBRAE, INCRA etc.). Tais contribuies no tm como finalidade custear a seguridade social, estando excluda do art. 195, I, a, e II, da CF/88. Isso decorre de disposio expressa da Constituio da Repblica, a mencionar em seu art. 240 que ficam ressalvadas do disposto no art. 195 as atuais contribuies compulsrias dos empregadores sobre a folha de salrios, destinadas s entidades privadas de servio social e de formao profissional vinculadas ao sistema sindical. Assim, no estando includas no art. 195, I, a, e II, da CF/88, a Justia do Trabalho incompetente para execut-las, por fora do art. 114, VIII, da CF/88. Nesse sentido, caminha a jurisprudncia da Corte Trabalhista:RECURSO DE REVISTA. EXECUO. COMPETNCIA DA JUSTIA DO TRABALHO. CONTRIBUIO SOCIAL DE TERCEIROS. SISTEMA 'S'. SEGURO DE

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ACIDENTE DE TRABALHO - SAT. Compete Justia do Trabalho a execuo, de ofcio, da contribuio social do empregador referente ao seguro de acidente de trabalho - SAT, incidente sobre a remunerao e destinado ao financiamento da seguridade social, nos moldes dos arts. 114, VIII, e 195, I, "a", e II, da Carta Poltica. Por outro lado, luz da jurisprudncia desta Corte, a exao da contribuio social de terceiros, de interesse das categorias profissional ou econmica (CF, art. 149), que constituem o denominada sistema 'S', refoge competncia material desta Justia Especializada porquanto no se enquadra na hiptese constitucional de execuo ex officio das contribuies previdencirias stricto sensu, assim entendidas as compreendidas pelo art. 195, I, "a", e II, da Constituio da Repblica e decorrentes de condenao ou de sentena homologatria de acordo, nos termos do art. 114, VIII, da Carta Magna.8

De todo o exposto, conclui-se que a Justia do Trabalho competente para a execuo, de ofcio, das contribuies do SAT, decorrentes das sentenas condenatrias em pecnia que proferir e de seus acordos homologados, sendo incompetente para a execuo das contribuies de terceiros.

Captulo XIV - Recurso2.4.7. Embargos para a SDI na fase executivaSmula n 433 do TST. Embargos. Admissibilidade. Processo em fase de execuo. Acrdo de Turma publicado na vigncia da Lei n 11.496, de 26.06.2007. Divergncia de interpretao de dispositivo constitucional A admissibilidade do recurso de embargos contra acrdo de Turma em recurso de revista em fase de execuo, publicado na vigncia da Lei n 11.496, de 26.06.2007, condiciona-se demonstrao de divergncia jurisprudencial entre Turmas ou destas e a Seo Especializada em Dissdios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho em relao interpretao de dispositivo constitucional.

A presente smula busca disciplinar o cabimento dos embargos SDI, na fase executiva, aps o advento da Lei n 11.496/07, que suprimiu os embargos de nulidade. sabido que, na fase de execuo,no se admite, como regra, o recurso de revista, permitindo-o to somente quando houver violao da Constituio Federal, como se verifica pelo disposto no 2 do art. 896 da CLT, in verbis: 2 Das decises proferidas pelos Tribunais Regionais do Trabalho ou por suas Turmas, em execuo de sentena, inclusive em processo incidente de embargos de terceiro, no caber Recurso de Revista, salvo na hiptese de ofensa direta e literal de norma da Constituio Federal.

8.

TST - RR 1765442-12.2004.5.09.0009. Rel. Min. Rosa Maria Weber. 3 T. DEJT 27.11.2009.

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Vislumbra-se por aludido dispositivo que o recurso de revista, na fase executiva, est limitado deciso que viola direta e literalmente a Constituio Federal. Afastou-se nessa hiptese, portanto, o cabimento do recurso por violao lei federal, contrariedade de smula, bem como por divergncia jurisprudencial. Diante dessa limitao e, principalmente, pelo novo regramento dos embargos para a SDI, estabelecido pela Lei n 11.496/2007, passou-se a questionar o cabimento dos embargos na fase de execuo e, sendo cabveis, em quais hipteses sero admitidos. Isso ocorreu porque antigamente os embargos seguiam praticamente as mesmas diretrizes do recurso de revista, exercendo a funo revisora das decises da Turma, assim como a funo unificadora da jurisprudncia do TST. Com o advento da Lei n 11.496/2007, os embargos de nulidade, que tinham a funo revisora, foram suprimidos, de modo que atualmente os embargos servem to somente para unificar o entendimento interno do TST. Isso significa que apenas tm cabimento, nos dias atuais, os embargos de divergncia. Desse modo, questiona-se: sendo o recurso de revista antecedente dos embargos SDI, e sabendo que aquele recurso (revista), na fase executiva, no admitido com fundamento na divergncia jurisprudencial, sero cabveis os embargos para a SDI por divergncia jurisprudencial? O C. TST, acertadamente, vem contemplar na presente smula o cabimento dos embargos SDI na fase de execuo. E isso se justifica porque as hipteses de cabimento do recurso de revista e dos embargos SDI so diversas na atualidade. O recurso de revista tem cabimento, nessa fase, apenas quando violar direta e literalmente a Constituio Federal, enquanto que os embargos SDI sero admitidos quando houver decises das Turmas do TSTque divergirem entre si, ou das decises proferidas pela Seo de Dissdios Individuais (CLT, art. 894, II). Portanto, a violao Constituio Federal, na fase de execuo, serve para adentar no TST, por meio do recurso de revista. J estando no TST, caso a Turma, examinando o dispositivo constitucional objeto do recurso de revista, profira interpretao diversa de outra Turma ou da SDI, sero cabveis os embargos SDI, com a finalidade de unificar o entendimento interno do TST9. interessante anotar, no entanto, que a divergncia, na hiptese, estar limitada violao Constitucional. Isso porque, sendo os embargos de divergncia um recurso de natureza extraordinria, ele est submetido ao prequestionamento. Com efeito, cabendo o recurso

9.

PEREIRA, Joo Batista Brito. Os embargos no TST na vigncia da Lei 11.496/2007 art. 894, inc. II, da CLT. Revista do Tribunal Superior do Trabalho. Braslia, vol. 74, n2, abr/jun 2008. p. 43.

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de revista exclusivamente por violao da Constituio Federal, apenas tal tema ser prequestionado e, consequentemente, poder alcanar os embargos SDI. Assim, conclumos que os embargos de divergncia na fase executiva so cabveis apenas quando a divergncia jurisprudencial entre as Turmas do TST ou destas com a SDI estiver fundada na interpretao da Constituio Federal.

Captulo VI - Atos processuais3.4.9. Interposio do recurso antes da publicao do acrdo impugnado

Captulo XIV - Recurso1.4.2.7. Interposio do recurso antes da publicao do acrdo impugnadoSmula n 434 do TST. Recurso. Interposio antes da publicao do acrdo impugnado. Extemporaneidade. I - extemporneo recurso interposto antes de publicado o acrdo impugnado. II - A interrupo do prazo recursal em razo da interposio de embargos de declarao pela parte adversa no acarreta qualquer prejuzo quele que apresentou seu recurso tempestivamente.

I - extemporneo recurso interposto antes de publicado o acrdo impugnado.

O C. TST disciplinou o tema, inicialmente, por meio da OJ n 357 da SDI-I do TST, convertendo-a na presente smula que passamos a analisar. O julgamento do mrito do recurso pressupe a anlise prvia do juzo de admissibilidade, oportunidade em que se verifica a presena dos pressupostos recursais, tendo dentre eles o pressuposto extrnseco da tempestividade. Portanto, o recurso somente ter seu mrito julgado se interposto no prazo previsto em lei, alm de preencher os demais pressupostos recursais. Assim no agindo, o recurso no ser conhecido pelo juzo ad quem ou no ter seguimento pelo juzo a quo. A constatao da regularizao do prazo depende de dois aspectos: a) o termo inicial (dies a quo) e; b) o termo final (dies ad quem). Na presente smula discute-se o termo inicialdo prazo para interporrecurso contra acrdo. O art. 506 do CPC estabelece o momento em que deve ser iniciada a contagem do prazo recursal, declinando:Art. 506. O prazo para a interposio do recurso, aplicvel em todos os casos o disposto no art. 184 e seus pargrafos, contar-se- da data:

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I - da leitura da sentena em audincia; II - da intimao s partes, quando a sentena no for proferida em audincia; III - da publicao do dispositivo do acrdo no rgo oficial.

Interpretando o inciso III do artigo supramencionado, o C. TST entendeu que somente aps a publicao no rgo oficial se d existncia jurdica ao acrdo, de modo que apenas depois de preenchido esse requisito poder a parte interpor recurso, sob pena de se recorrer do que ainda no existe. Trata-se do chamado recurso prematuro ou intempestividade ante tempus adotado pela jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal: a intempestividade dos recursos tanto pode derivar de impugnaes prematuras (que se antecipam s publicaes dos acrdos) quanto decorrer de oposies tardias (que se registram aps o decurso dos prazos recursais) Em qualquer das duas situaes impugnao prematura ou oposio tardia , a conseqncia de ordem processual uma s: o no conhecimento do recurso, por efeito de sua extempornea interposio. A jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal tem advertido que a simples notcia do julgamento, alm de no dar incio fluncia do prazo recursal, tambm no legitima a prematura interposio do recurso, por absoluta falta de objeto. Precedentes. (grifos no original) 10

Portanto, com base nesse entendimento, a parte somente poder interpor recurso aps a publicao do acrdo no rgo oficial, mesmo que tenha cincia da deciso antes da publicao, sob pena de seu recurso no ser conhecido por extemporaneidade. Registra-se que, nessa hiptese, o TST j decidiu que o recorrente poder interpor novamente o recurso depois do incio do prazo recursal, vez que o primeiro recurso no produziu nenhum efeito11. Aludido posicionamento no encontra guarida na doutrina, nem mesmo no Superior Tribunal de Justia12. Fundamenta-se que a juntada da deciso aos autos, ou seja, sua integrao no processo capaz de dar-lhe existncia jurdica, sendo desde j recorrvel, independentemente de publicao no rgo oficial13. Nesse sentido, Cndido Rangel Dinamarco:

10. STF - AI n. 375.124-3.2 T. Rel. Min. Celso de Mello. DJU 28.06.2002. 11. INTEMPESTIVIDADE RECURSO PREMATURO ADITAMENTO RATIFICAO PRECLUSO CONSUMATIVA A intempestividade decorrente da interposio de recurso antes do incio do prazo no gera a precluso consumativa, porquanto o recurso prematuro no produz qualquer efeito, razo por que o segundo recurso, interposto no prazo recursal, revela-se regular. Recurso de Embargos de que se conhece e a que se d provimento. (TST E-ED-RR 625419/2000 Rel. Min. Joo Batista Brito Pereira DJe 21.5.2010). 12. STJ - AgRg nos EREsp 492.461-MG. Rel. originrio Min. Gilson Dipp, Rel. para acrdo Min. Eliana Calmon, julgado em 17.11.2004. 13. Para Jlio Csar Bebber: A deciso adquire publicidade e passa a ter existncia como ato jurdico quando se torna pblica. E se torna pblica quando redigida em sesso de julgamento ou entregue na secretaria do juzo. Tornada pblica a deciso as partes sero dela intimadas mediante publicao no rgo oficial. Assim, se a publicidade d existncia jurdica deciso, a partir dela permite-se a impugnao, independentemente da sua publicao no rgo oficial. Interposto o recurso, ento, tem-se por antecipada a intimao da parte. BEBBER, Jlio Csar.Recursos no processo do trabalho. 2. ed. So Paulo: LTr, 2009. p. 110-111.

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No se confundem, pois, publicao da sentena, como ato de sua integrao ao processo, e sua publicao pela imprensa. Esta apenas um dos modos pelos quais se d cincia da sentena aos defensores das partes. Mas, o Supremo Tribunal Federal chegou a implantar uma indesejvel linha jurisprudencial portadora dessa confuso, ao considerar intempestivos os recursos que fossem interpostos depois de publicado o acrdo ou a sentena nos autos e antes de sua publicao pela imprensa (intempestividade por prematuridade). Felizmente o Superior Tribunal de Justia repudiou com veemncia essa tese, mas infelizmente ela ainda continua viva no Supremo Tribunal Federal. preciso bani-la de vez.14 (grifos no original)

O mesmo doutrinador, em estudo especfico sobre a matria, adverte:A tcnica dos julgamentos nos tribunais brasileiros inclui, entre outras providncias menores e sem interesse para o presente estudo, (a) a discusso da causa ou recurso pelos integrantes do rgo colegiado, com eventual sustentao oral, (b) a manifestao do voto de cada um, seguida da proclamao do resultado pelo presidente do rgo, (c) a publicao desse resultado pela imprensa oficial, (d) os trabalhos de datilografia, digitao e impresso dos votos e do acrdo, realizados pelo pessoal auxiliar, (e) a assinatura pelo relator ou, quando assim dispe o regimento interno, tambm pelo presidente, (f) o registro do acrdo, sua anexao aos autos e finalmente (g) a publicao das concluses do acrdo, ou de sua parte dispositiva, pela imprensa oficial. ... No caso de decises tomadas pelos rgos colegiados de um tribunal (cmara, turma, seo, plenrio etc.), a mera pronncia de votos em sesso de julgamento no d corpo ainda a um julgamento acabado, porque os votos so pronunciados oralmente sem serem reduzidos a termo ou registrado em ata o teor de cada um. Por isso, e como verba volant, a formao do ato processual acrdo s se consuma quando este lavrado e impresso em papel, sendo ento registrado e levado aos autos. Apenas depois de realizadastais providncias, com o concurso dos servios auxiliares do tribunal, que a deciso dos rgos colegiados se considera publicada. E da o acerto daqueles precedentes do Supremo Tribunal Federal, na parte em que afirmam ser insuficiente a mera notcia do julgamento, como ato capaz de desencadear a admissibilidade de eventual recurso. Mas, realizadas as providncias de lavratura, assinatura,registro e juntada aos autos, o julgamento reputa-se acabado e portanto existente, no sendo adequado afirmar que um recurso interposto antes da publicao pela imprensa casse no vazio por voltar-se contra um ato juridicamente inexistente. Realizadas tais providncias,o julgamento do tribunal j existe perante o direito; ele j ser ento, a partir da, um autntico ato do processo. ... Outro significado e outra finalidade tm as publicaes de concluses e ementas, a serem feitas pela imprensa oficial (CPC, art. 506, incs. II-III). Elasso feitas com o objetivo de levar aos defensores das partes o

14. DINAMARCO, Cndido Rangel. Instituies de direito processual civil. 6. ed. So Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2009. v. 3, p. 707.

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conhecimento de uma sentena, deciso ou acrdo j previamente existente. So, pois,puros atos de comunicao processual, sabendo-se que, por fora de uma determinao legal bastante ampla, as intimaes aos advogados se realizam por esse meio (CPC, art. 236). Publica-se pela imprensa, para intimar. Mas intimam-se os advogados do teor de uma sentena, deciso ou acrdo j presente nos autos e existente perante o direito. ... Ora se o valor das publicaes, de decises, sentenas ou acrdos pela imprensa oficial representado pela cincia desses atos, a ser obtida atravs delas, imperioso, em cada caso, dar muito mais ateno obteno desse resultado do que ao cumprimento da formalidade consistente em publicar. Publica-se para intimar e intima-se para fazer saber. Por isso, no tem qualquer necessidade ou relevncia uma intimao a quem j sabe.

E conclui trazendo os significados do verbo publicar:As decises tomadas pelos rgos colegiados de um tribunal so sujeitas a um complexo iter de formao, principiando pela discusso da causa ou recurso em sesso de julgamento, tomada dos votos dos julgadores, proclamao do resultado pelo presidente e intimao desse resultado pela imprensa, seguindo-se a tudo isso uma srie de providncias destinadas lavratura, assinatura e registro do acrdo, o qual ser afinal anexado aos autos. Nesse momento o acrdo est publicado, ou seja, a partir da existe no mundo jurdico um julgamento que poder ser objeto do recurso que em cada caso o sistema processual admitir. Estamos no campo da existncia de um ato jurdico processual perfeito e acabado, o qual poder ento ter a eficcia que a lei lhe atribuir. A outra publicao, aquela que pelo jornal oficial se faz, no se confunde com aquela primeira. O acrdo cuja ementa e concluses so enviados imprensaj est previamente publicado, no sentido de que j um ato pblico, um ato processual perfeito e acabado e, portanto, recorrvel conforme as disposies legais pertinentes (recorrvel pela via de embargos infringentes, recurso especial, extraordinrio etc.)15.

Assim, com a integrao do acrdo ao processo, que se faz por meio da juntada aos autos, ele passa a ter existncia jurdica, podendo, portanto, ser impugnvel via recurso, independentemente de publicao no rgo oficial. A exigncia da juntada aos autos necessria, pois conhecida a mxima de que o que no est nos autos no est no mundo. Registra-se que admitir o recurso antes da publicao na imprensa oficial no somente juridicamente cabvel, como demonstrado anteriormente, vez que a juntada da deciso nos autos lhe confere existncia jurdica, como tambm privilegia os princpios da celeridade e efetividade processual, os quais so to proclamados atualmente, razo pela qual deveriam ser incentivados e no penalizados como faz o Tribunal Superior do Trabalho na presente smula.

15. In:Revista Dialtica de Direito Processual. So Paulo: Dialtica, 2004, n. 16, p. 9-23.

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Interessante notar que o Supremo Tribunal Federal alterou seu posicionamento quando se tratar dedeciso monocrtica. Isso porque entendeu a Suprema Corte que nesse caso a deciso j sai do gabinete devidamente juntada aos autos, ou seja, publicada. Difere, na viso do STF, da deciso colegiada que somente juntada ao processo depois da remessa ao dirio oficial.EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL CONTRA DECISO DE RELATOR QUE, POR INTEMPESTIVIDADE, NEGOU SEGUIMENTO A OUTRO AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO NO RATIFICADO OPORTUNAMENTE. Conforme entendimento predominante nesta colenda Corte, o prazo para recorrer s comea a fluir com a publicao do acrdo no rgo oficial, sendo prematuro o recurso que o antecede. Entendimento que no se aplica no caso de deciso monocrtica, a cujo inteiro teor as partes tm acesso nos prprios autos, antes da respectiva publicao. Recurso provido para, afastada a intempestividade do primeiro agravo,dar-se-lhe seguimento.16

Desse modo, ao menos quanto deciso monocrtica do relator, urge modificao do posicionamento do TST, pois est afastado do entendimento do STF.II - A interrupo do prazo recursal em razo da interposio de embargos de declarao pela parte adversa no acarreta qualquer prejuzo quele que apresentou seu recurso tempestivamente.

A OJ n 357 da SDI I do TST no fazia referncia aos embargos de declarao, sendo includo no item II da smula ora comentada. Para melhor compreenso do tema e ampliao dos casos existentes, analisaremos a interposio de recurso quando pendente o julgamento dos embargos de declarao em duas hipteses: a) recurso interposto por uma das partes e os embargos de declarao pela parte adversa; b) recurso e embargos de declarao interpostos pela mesma parte. A primeira proposio vem disciplinada no item II da presente smula. Nesse caso, sendo interpostos os embargos de declarao, o Superior Tribunal de Justia17 tem decidido no sentido de que o recurso principal interposto deve ser reiterado, aps o julgamento dos embargos de declarao, sob pena de ser considerado prematuro (intempestividade ante tempus), conforme estudo anteriormente no item I. O C. TST, porm, de modo acertado, no aplicou a intempestividade ante tempus na hiptese de interposio de recurso pela parte adversa da que apresentou os embargos de declarao.

16. STF - AO 1133AgR-AgR/DF. Pleno. Rel. Min. Carlos Brito. DJ. 24.03.2006. 17. STJ Resp 659.663/MG. 4 Turma. Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJe. 22.03.2010.

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Entendeu a Corte trabalhista que a parte que no interps os embargos de declarao e j tenha interposto seu recurso principal, tempestivamente, no pode ser prejudicada, ou seja, seu recurso produzir todos os efeitos, no havendo necessidade de reiterao ou ratificao. Nesse caso, a interrupo do prazo recursal, no entendimento do C. TST, somente atingir a parte que interps os embargos de declarao e no a parte contrria que j interps o recurso principal. Exemplificamos:A sentena condena a empresa X ao pagamento das horas extras, julgando improcedente o pedido de adicional de insalubridade. O reclamante interpe embargos de declarao, dentro do prazo legal de 5 dias, alegando obscuridade na anlise do pedido de adicional de insalubridade. A empresa X, por sua vez, dentro do prazo recursal (8 dias), interpe recurso ordinrio quanto condenao ao pagamentodas horas extras. Nesse caso, a empresa no precisar ratificar seu recurso ordinrio, depois do julgamento dos embargos de declarao.

Isso no significa, porm, que a parte adversa no ter seu prazo interrompido na hiptese de no ter interposto nenhum recurso. Noutras palavras, o C. TST disciplina, nessa smula, apenas a hiptese de j existir um recurso interposto pela parte adversa. Se ambas as partes no apresentaram, por exemplo, recurso ordinrio, e uma delas interps embargos de declarao, a interrupo do prazo recursal atingir as duas partes. Desse modo, a aplicao do presente item sumular somente ter incidncia quando h interposio de embargos de declarao por uma parte e de recurso principal pela outra. Cabe registrar, nesse momento, que ocorrendo alterao ou integrao da deciso, em razo do acolhimento dos embargos, nasce para a parte adversa o direito (e no obrigao ou dever) de complementar a fundamentao do seu recurso, com a finalidade de atacar a deciso em seus termos atuais, limitado nova sucumbncia, observando assim o princpio do contraditrio. Por fim, cumpre analisar a hiptese em que o recurso e embargos de declarao so interpostos pela mesma parte. Nesse caso, s.m.j., o segundo recurso interposto no produzir efeitos, tendo em vista o princpio da unirrecorribilidade. Em outros termos, por vezes as partes, no sabendo se os embargos de declarao sero conhecidos e avaliando o entendimento de alguns juzes no sentido de que o no conhecimento dos embargos no interrompe o prazo recursal, interpem, simultaneamente18, embargos de declarao e um outro recurso (por exemplo, ordinrio). Aqui, o ato impugnvel

18. (...) apesar de concordar com a possibilidade de uma das partes, por exemplo, apelar da sentena, enquanto a outra ingressa com embargos de declarao no parece admissvel que a mesma parte ingresse com os dois recursos simultaneamente (...). NEVES, Daniel Amorim Assumpo. Manual de direito processual civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense; So Paulo: Mtodo, 2010.p. 556.

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apenas um, a sentena, no comportando dois recursos, sob pena de violar o princpio da unirrecorribilidade. Assim, considerando que a unirrecorribilidade solucionada pela precluso consumativa19, o primeiro recurso interposto ser o vlido, sendo o posterior ineficaz. Com efeito, caso os embargos de declarao sejam interpostos primeiro que o outro recurso, aps a deciso dos embargos, a parte dever interpor novamente o recurso, por exemplo, o recurso ordinrio.

Captulo XIV - Recurso1.2.1.3. e 2.7.2.3. Interposio de agravo inominado ou regimental de deciso colegiada. Erro grosseiroOrientao jurisprudencial n 412 da SDI I do TST. Agravo inominado ou agravo regimental. Interposio em face dedecisocolegiada. No cabimento. Erro grosseiro. Inaplicabilidade do princpio da fungibilidade recursal incabvel agravo inominado (art. 557, 1, do CPC) ou agravo regimental (art. 235 do RITST) contra deciso proferida por rgo colegiado. Tais recursos destinam-se, exclusivamente, a impugnar deciso monocrtica nas hipteses expressamente previstas.Inaplicvel, no caso, o princpio da fungibilidade ante a configurao de erro grosseiro.

Conforme j estudado nesta obra, as decises dos tribunais devem ser proferidas por rgo colegiado (princpio do colegiado). Contudo, com base nos princpios da economia e celeridade processual, o legislador passou a mitigar o princpio do colegiado, atribuindo poderes ao relator para julgar monocraticamente os recursos, como se observa, por exemplo, nos arts. 896, 5, da CLT e 557 do CPC. A atuao do relator, porm, mera delegao de poder, mantendo-se com o rgo colegiado a competncia para decidir20. Desse modo, para manter a substncia do tribunal (rgo colegiado) e a competncia do colegiado, a deciso monocrtica do relator est sujeita ao agravo interno (inominado) ou regimental, o qual ser analisado pelo rgo colegiado do tribunal competente (por exemplo, Turma). Percebe-se por essa sistemtica, que o agravo interno ou regimental tem como foco sempre uma deciso monocrtica. A razo da existncia desse recurso justamente levar ao colegiado a deciso monocrtica do relator. Isso quer dizer que no ser cabvel a interposio de agravo regimental ou interno de deciso colegiada.

19. BEBBER, Jlio Csar. Recursos no processo do trabalho. 2. ed. So Paulo: LTr, 2009. p. 210. 20. NEVES, Daniel Amorim Assumpo. Manual de direito processual civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense; So Paulo: Mtodo, 2010.p. 643.

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A propsito, no se aplica na hiptese o princpio da fungibilidade recursal. Isso porque sabido que tal princpio tem incidncia quando presente trs requisitos: a) dvida objetiva; b) inexistncia de erro grosseiro; e c) observncia do prazo do recurso correto (teoria do prazo menor). O erro grosseiro consiste na interposio de recurso manifestamente ilegal, ou seja, aquele que interps o recurso no possui nenhuma dvida sobre o recurso interposto, faltando-lhe, contudo, conhecimento jurdico. Portanto, ocorre quando a lei (ou o regimento interno do Tribunal) expressamente estabelece a forma de impugnao da deciso, mas o recorrente no observa o comando legal. Na hiptese, o art. 239 do Regimento Interno do TST declina expressamente:Art. 239. Caber agravo ao rgo colegiado competente para o julgamento do respectivo recurso, no prazo de oito dias, a contar da publicao no rgo oficial: I - da deciso do Relator, tomada com base no 5. do art. 896 da CLT; II - da deciso do Relator, dando ou negando provimento ou negando seguimento a recurso, nos termos do art. 557 e 1.-A do CPC. (grifos nosso)

Conclui-se, portanto, que, seja pela prpria sistemtica do agravo interno ou regimental, seja porque o regimento interno do TST dispe sobre qual o recurso correto, incabvel a interposio desses recursos para impugnar deciso colegiada, afastando, inclusive, a aplicao do princpio da fungibilidade, por se tratar de erro grosseiro. Por fim, ressalta-se que, sendo manifestamente inadmissvel o agravo interno ou regimental no presente caso, poder ser aplicada a multa descrita no art. 557, 2 do CPC, a qual aplicada subsidiariamente ao processo do trabalho (TST-IN 17/99, item III)21.

21. Para maiores detalhes acerca da aplicao da multa do art. 557, 2, do CPC, vide os comentrios da OJ n 389 da SDI I do TST, no captulo XIV, item 1.4.6.2.

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SMULAS E OJS QUE TIVERAM SUA REDAO ALTERADA: Captulo XVII - Ao rescisria9.4.4.1. Necessidade quando se tratar de violao leiSmula n 298 do TST. Ao rescisria. Violao a disposio de lei. Pronunciamento explcito I - A concluso acerca da ocorrncia de violao literal a disposio de lei pressupe pronunciamento explcito, na sentena rescindenda, sobre a matria veiculada. II - O pronunciamento explcito exigido em ao rescisria diz respeito matria e ao enfoque especfico da tese debatida na ao, e no, necessariamente, ao dispositivo legal tido por violado. Basta que o contedo da norma reputada violada haja sido abordado na deciso rescindenda para que se considere preenchido o pressuposto. III - Para efeito de ao rescisria, considera-se pronunciada explicitamente a matria tratada na sentena quando, examinando remessa de ofcio, o Tribunal simplesmente a confirma. IV - A sentena meramente homologatria, que silencia sobre os motivos de convencimento do juiz, no se mostra rescindvel, por ausncia de pronunciamento explcito. V - No absoluta a exigncia de pronunciamento explcito na ao rescisria, ainda que esta tenha por fundamento violao de dispositivo de lei. Assim, prescindvel o pronunciamento explcito quando o vcio nasce no prprio julgamento, como se d com a sentena "extra, citra e ultra petita".

O prequestionamento um pressuposto recursal especfico dos recursos de natureza extraordinria, consistente na obrigatoriedade de que haja deciso prvia acerca do direito objetivo supostamente violado ou aplicado de forma divergente. Tem como objetivo impedir a deciso dos Tribunais Superiores sobre matrias no decididas nas instncias ordinrias, obstando inclusive a existncia de teses originrias nesses tribunais22. Isso se justifica, porque os recursos de natureza extraordinria so julgados pelos Tribunais Superiores (STF, TST e STJ), que so rgos revisores da instncia ordinria, tendo a misso de unificar a interpretao do direito brasileiro, definindo a exata aplicao da norma. Com efeito, tratando-se de rgo revisor, somente se alcana, por exemplo, o recurso de revista ou de embargos para a SDI aps o esgotamento da instncia ordinria, o que significa que o TST apenas julgar tais recursos se as matrias j tiverem sido discutidas e decididas anteriormente. o que estabelece a Smula n 297 do TST. O prequestionamento, portanto, instituto criado para os recursos de natureza extraordinria, o que gerou dvida acerca de sua aplicao na ao rescisria.

22. BEBBER, Jlio Csar. Recursos no processo do trabalho. 2. ed. So Paulo: LTr, 2009. p. 306.

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Para parcela da doutrina e da jurisprudncia, diga-se majoritria, no h falar em prequestionamento na ao rescisria. Primeiro, porque no se trata de recurso, mas de ao autnoma de impugnao. Segundo, porque o objetivo do recurso de natureza extraordinria o de unificar o entendimento nacional acerca do direito federal. Assim, para atingir seu objetivo imprescindvel que a justia local haja emitido um derradeiro pronunciamento acerca da matria23. Na ao rescisria, por sua vez, embora tenha por fim preservar a exata aplicao da lei, no busca unificar a jurisprudncia, o que significa que a matria, mesmo que no debatida e decidida anteriormente, poder ser invocada na ao rescisria. Nesse sentido, lecionaFlvio Luiz Yarshell:Em qualquer dessas hipteses, convm enfatizar, a propsito do disposto no art. 485, V, do CPC, que no se exige para a rescisria o requisito do prequestionamento entendido como o enfretamento da questo ftica ou jurdica pela deciso (aqui) rescindenda. Nem mesmo parece desejvel, de lege ferenda, fosse ele exigido para a ao rescisria, porque exigncia dessa natureza no teria como no tem qualquer justificativa lgica no sistema (como, diversamente, tem nos casos de recurso extraordinrio e especial); exceto para, sob o ngulo pragmtico, criar maiores obstculos desconstituio das decises transitadas em julgado, ao argumento de se prestigiar a estabilidade das decises judiciais24.

No mesmo caminho j decidiu o Supremo Tribunal Federal:AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINRIO CONSTITUCIONAL RESCISRIA CABIMENTO EXIGNCIA DE PREQUESTIONAMENTO PRAZO DECADENCIAL INOBSERVNCIA VIOLAO EFETIVA COISA JULGADA 1. Ao rescisria. Cabimento. Exigncia de prequestionamento para a sua admissibilidade. Insubsistncia. O Supremo Tribunal Federal, poca em que detinha competncia para apreciar a negativa de vigncia de legislao federal, assentou que as hipteses enunciadas nos incisos do artigo 485 do Cdigo de Processo Civil evidenciam a inaplicabilidade, rescisria, do pressuposto concernente ao prequestionamento, dado que a rescisria no recurso, mas ao contra a sentena transitada em julgado. Precedentes. 2. Ao rescisria. Julgamento sem observncia do prazo bienal. Decadncia. H efetiva violao coisa julgada, se conhecida e julgada procedente ao rescisria proposta quando j decorrido o prazo bienal, contado a partir do trnsito em julgado da deciso rescidenda. Agravo regimental no provido25. DIREITO DO TRABALHO. EMBARGOS DE DECLARAO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONVERSO EM AGRAVO REGIMENTAL. ANULAO DE DEMISSO. AO RESCISRIA. PREQUESTIONAMENTO. INCIDNCIA DA SMULA TST 298 AFASTADA. RETORNO DOS AUTOS AO TST. ART. 557, 1, CPC. JURISPRUDNCIA DOMINANTE. DECISO MONOCRTICA DE RELATOR. 1. Embargos de declarao recebidos como agravo regimental, consoante iterativa

23. TEIXEIRA FILHO, Manoel Antnio. Curso de direito processual do trabalho . So Paulo: LTr, 2009. v. 3, p. 2.750. 24. YARSHELL, Flvio Luiz.Ao rescisria: juzos rescindente e rescisrio. So Paulo: Malheiros Editores Ltda., 2005. p. 324-325. 25. STF RE-AgR 444810 DF. 1 T. Rel. Min. Eros Grau. DJU 22.4.2005.

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jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal, alm da evidente infringncia ao julgado. 2. Aplicao da Smula TST 298 (ausncia de prequestionamento) em ao rescisria, bice afastado. 3. Matria sedimentada na jurisprudncia desta Corte possibilita ao relator julg-la, monocraticamente, nos termos do art. 557, 1, do CPC. Precedentes. 4. Agravo regimental a que se nega seguimento26.

Da mesma forma, o Superior Tribunal de Justia:PROCESSO CIVIL. AO RESCISRIA. VIOLAO LITERAL DISPOSITIVO DE LEI. NECESSIDADE DE PREQUESTIONAMENTO NO JULGADO RESCINDENDO. A jurisprudncia do colendo Pretrio Excelso e a doutrina encontram-se orientadas no entendimento de que a ao rescisria alicerada no art. 485, V, do Cdigo de Processo Civil no exige que a indigitada norma apontada como infringida tenha sido prequestionada no r. julgado rescindendo. Recurso provido27.

O Tribunal Superior do Trabalho, por sua vez, adotou posicionamento diametralmente oposto, exigindo, na redao original dessa smula, o prequestionamento na ao rescisria. Em sesso do Tribunal Pleno realizada em 6.2.2012, o C. TST alterou a redao da presente smula modificando o termo prequestionamento por pronunciamento explcito, tentando adequar-se doutrina e jurisprudncia majoritria. No entanto, a modificao da redao no altera o contedo do verbete. Isso porque pronunciamento explcito significa tese jurdica apreciada e decidida na deciso rescindenda, ou seja, deciso prvia acerca da matria. Mantm-se, portanto, a exigncia do prequestionamento, embora escrito de outra forma. Registra-se, contudo, que a smula em comentrio ter aplicao apenas quando se tratar de ao rescisria calcada em violao literal disposio de lei(inciso V), e no nas demais hipteses do art. 485 do CPC. Alis, o prprio C. TST afastou a exigncia do prequestionamento (pronunciamento explcito) na hiptese de incompetncia absoluta, como se verifica pela OJ n 124 da SDI-II do TST. Assim, considerando que a Corte Trabalhista exige o pronunciamento explcito na ao rescisria, passamos a analisar cada um dos itens da presente smula.I - A concluso acerca da ocorrncia de violao literal a disposio de lei pressupe pronunciamento explcito, na sentena rescindenda, sobre a matria veiculada.

A doutrina diverge sobre o conceito de prequestionamento. Para a primeira corrente, prequestionamento o debate prvio da matria (antes do julgamento), por meio de provocao da parte interessada. Para a segunda corrente, o prequestionamento consiste em deciso prvia, isto , quando h juzo de valor

26. STF - AI 758148 ED / PR. 2 T. Rel. Min. Ellen Gracie. DJ.18.5.2011. 27. STJ Resp 468.229/SC. 5 T. Rel. Min. Felix Fischer. DJ 28.06.2004.

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proferido no acrdo, independentemente de manifestao da parte interessada. J para a terceira corrente, o prequestionamento significa a conjuno de debate e deciso prvios, impondo a provocao da parte interessada e a manifestao da matria no acrdo. O C. TST adotou, para a ao rescisria, a segunda corrente, pois conceituou o prequestionamento como deciso prvia (pronunciamento explcito) acerca da matria. Segue a mesma sistemtica da Smula n 297, I, do TST, bem como da Smula n 282 do STF, quando tratam do prequestionamento nos recursos de natureza extraordinria. Portanto, o prequestionamento, na ao rescisria, analisado com base no contedo da deciso rescindenda, devendo existir manifestao explcita sobre a matria impugnada na ao rescisria.II - O pronunciamento explcito exigido em ao rescisria diz respeito matria e ao enfoque especfico da tese debatida na ao, e no, necessariamente, ao dispositivo legal tido por violado. Basta que o contedo da norma reputada violada haja sido abordado na deciso rescindenda para que se considere preenchido o pressuposto.

Esse item complementar do item I, tendo como objetivo delimitar a expresso pronunciamento explcito. Por pronunciamento explcito deve-se entender a tese jurdica apreciada e decidida na deciso rescindenda, independentemente de ter constado na deciso impugnada referncia ao dispositivo legal. O que se impe, portanto, juzo de valor proferido expressamente na deciso rescindenda, a fim de permitir ao tribunal, em sede de juzo rescindente, o exame da norma que est por baixo e que se diz ter sido agredida no processo rescindendo. Isso quer dizer que h pronunciamento explcito se, por exemplo, a deciso rescindenda analisou a regularidade da notificao, chegando concluso de que o princpio do contraditrio no foi violado. Nesse caso, como o contedo do art. 841 da CLT foi analisado, mesmo que no haja especificao ao referido artigo, estar preenchido o requisito do prequestionamento (pronunciamento explcito). O que o C. TST no admite que no haja qualquer deciso no processo originrio sobre a regularidade da notificao, buscando discutir-se a matria to somente na ao rescisria. Segue aqui a mesma ideologia da OJ n 118 da SDI do TST. Assim, o pronunciamento explcito estar presente se a deciso rescindenda adotar expressamente tese jurdica a respeito da matria, independente de ter indicado o artigo violado.III - Para efeito de ao rescisria, considera-se pronunciada explicitamente a matria tratada na sentena quando, examinando remessa de ofcio, o Tribunal simplesmente a confirma.

Conforme analisado nos itens anteriores, o C. TST exige pronunciamento explcito na deciso rescindenda acerca da matria impugnada na ao rescisria, ou

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seja, impe que haja tese jurdica apreciada e decidida na deciso rescindenda, independentemente de ter constado na deciso impugnada referncia ao dispositivo legal. Diante disso, quando o acrdo regional decide por manter a sentena pelos seus prprios fundamentos, o tribunal regional no expede tese jurdica acerca do tema, vez que profere deciso ausente de fundamentao. Ademais, ao limitar-se aos fundamentos da sentena, a tese jurdica da sentena e no do acrdo, vez que neste nada consta. Nesse contexto, o C. TST, ao menos quanto aos recursos de natureza extraordinria, entende que no h prequestionamento no acrdo regional quando este simplesmente confirma a sentena adotando seus fundamentos (OJ n 151 da SDI-I do TST). No entanto, na ao rescisria de deciso submetida ao reexame necessrio, o E.TST adota posicionamento diverso, considerando existente o pronunciamento explcito mesmo que o acrdo do tribunal simplesmente confirme a sentena. Tal posicionamento se justifica pelos seguintes fundamentos. As decises total ou parcialmente desfavorveis pessoa jurdica de direito pblico que no explore atividade econmica esto sujeitas ao reexame necessrio, a teor do disposto do art. 1, V, do Decreto-Lei n 779/69. Assim, mesmo que tais pessoas jurdicas no interponham recurso voluntrio, a deciso desfavorvel obrigatoriamente ser submetida ao tribunal, a fim de dar eficcia deciso judicial. Essa obrigatoriedade afastada apenas nas hipteses do art. 475, 2 e 3, do CPC (Smula n 303 do TST). O reexame necessrio, embora denominado equivocadamente pelo art. 1, V, do Decreto-Lei n 779/69 de recurso ex officio, no tem natureza recursal, vez que lhe falta tipicidade, voluntariedade, tempestividade, dialeticidade, legitimidade, interesse em recorrer e preparo, caractersticas prprias dos recursos28. Trata-se, na verdade, de condio de eficcia da sentena impedindo o trnsito em julgado da deciso29 e sua produo de efeito at que seja realizado o duplo grau de jurisdio. Disso resulta que a atuao do tribunal tem o condo de permitir a produo de efeitos prticos da deciso desfavorvel ao ente pblico. Noutras palavras, a ausncia do reexame necessrio torna sem efeito a sentena, no produzindo inclusive coisa julgada (OJ n 21 da SDI-II do TST). Com efeito, a simples confirmao da sentena pelo tribunal tem a capacidade de preencher o reexame necessrio, permitindo que essa deciso produza coisa julgada material, sendo suscetvel de ao rescisria.

28. NERY Jr., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Cdigo de processo civil comentado e legislao extravagante. 11. ed. So Paulo: RT, 2010. p. 742-743. 29. Smula 423 do STF: No transita em julgado a sentena por haver omitido o recurso ex officio, que se considera interposto ex lege.

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Alm disso, se a matria j foi decidida previamente na sentena, tem-se que ela j pronunciou acerca da tese jurdica, at mesmo porque, repete-se, o reexame necessrio no recurso, mas condio de eficcia da sentena. Desse modo, tratando-se de reexame necessrio, a simples confirmao da sentena, que pronunciou sobre a matria, pelo tribunal, j capaz de preencher a exigncia do pronunciamento explcito, podendo o acrdo ser atacado pelo corte rescisrio.IV - A sentena meramente homologatria, que silencia sobre os motivos de convencimento do juiz, no se mostra rescindvel, por ausncia de pronunciamento explcito.

Inicialmente, cabe consignar que o presente item dessa smula tem como foco a deciso homologatria de clculos, como se verifica pelos precedentes que o originaram. Isso quer dizer que no tem aplicao na hiptese de deciso que homologa acordo judicial, a qual suscetvel do corte rescisrio, por fora da Smula n 259 do TST. Partindo dessa premissa, passamos a analisar este item sumular. A Smula n 399, II, do TST, estabelece:A deciso homologatria de clculos apenas comporta resciso quando enfrentar as questes envolvidas na elaborao da conta de liquidao, quer solvendo a controvrsia das partes quer explicitando, de ofcio, os motivos pelos quais acolheu os clculos oferecidos por uma das partes ou pelo setor de clculos, e no contestados pela outra.

Interpretando aludida smula, chegamos concluso de que a Corte Trabalhista considera a deciso que homologa os clculos de liquidao sob dois enfoques: a) a que analisa controvrsia; b) a que apenas homologa os clculos, sem proferir juzo de valor. Na primeira hiptese, o E.TST declina que a deciso de mrito e no meramente homologatria, estando, portanto, suscetvel ao corte rescisrio. No segundo caso, entende o C. TST que, no havendo controvrsia acerca dos clculos de liquidao, a deciso meramente homologatria, o que significa que no suscetvel de ao rescisria. Alm disso, para o TST, a sentena meramente homologatria, que silencia sobre os motivos de convencimento do juiz, no se mostra rescindvel, por ausncia de pronunciamento explcito. Noutras palavras, quando o juiz simplesmente homologa os clculos sem proferir juzo de valor, falta tese jurdica apreciada e decidida na deciso rescindenda capaz de dar ensejo ao corte rescisrio. Assim, por se tratar de deciso ausente de pronunciamento explcito, o Tribunal Superior do Trabalho conclui que ela no apta a ensejar o corte rescisrio.

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V - No absoluta a exigncia de pronunciamento explcito na ao rescisria, ainda que esta tenha por fundamento violao de dispositivo de lei. Assim, prescindvel o pronunciamento explcito quando o vcio nasce no prprio julgamento, como se d com a sentena "extra, citra e ultra petita".

sabido que o princpio da inrcia estabelece que o Poder Judicirio somente poder se manifestar acerca do que foi provocado. Em decorrncia desse princpio, veda-se que o Judicirio possa conceder pedido diverso (extra petita) ou superior (ultra petita) ao formulado. Alm disso, uma vez provocado, as partes tm direito prestao jurisdicional , impondo ao Judicirio o dever de julgar o mrito do processo, quando presentes os pressupostos processuais e as condies da ao. Com efeito, caso haja pedido no analisado na sentena, esta fica eivada de nulidade, sendo denominada de sentena citra petita.30

Surge assim o chamado princpio da congruncia ou adstrio, segundo o qual o magistrado no pode proferir sentena alm, fora ou aqum do pedido, sob pena de violao dos arts. 128 e 460 do CPC. Havendo tais vcios na deciso, possvel o ajuizamento da ao rescisria por violao literal de lei. Nesse caso, no entanto, o C. TST afasta a necessidade de pronunciamento explcito, vez que se trata de vcio que nasce no prprio julgamento da deciso rescindenda. estranho o posicionamento do C.TST no que se refere s decises ultra e extra petita. Isso porque, para que a deciso julgue alm ou fora do pedido, h necessidade de pronunciamento sobre pedidos no colocados na petio inicial, ou seja, o pronunciamento judicial , de certo modo, consequncia lgica dessas decises. Parece-nos, contudo, que a Corte Trabalhista quis fazer duas afirmaes nesse item sumular. Primeiro, no sentido de que no se exige debate prvio acerca da matria impugnada nessas hipteses, adotando posicionamento similar ao declinado na OJ n 119 da SDI-I do TST31. Segundo, que no h necessidade de recurso da deciso ultra, extra ou citrapetita proferida no processo originrio, com o intuito de declarar expressamente tais vcios. o que se extrai inclusive da OJ n 41 da SDI-II do TST em que, na hiptese de deciso citra petita, a Corte Trabalhista admite a ao rescisria mesmo que no tenham sido interpostos os embargos de declarao.

30. Princpio da inafastabilidade do controle jurisdicional. 31. OJ n 119 da SDI-I do TST. Prequestionamento inexigvel. Violao nascida na prpria deciso recorrida. Smula n 297. Inaplicvel. inexigvel o prequestionamento quando a violao indicada houver nascido na prpria deciso recorrida. Inaplicvel a Smula n. 297 do TST.

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Do exposto, conclumos que havendo decises citra, extra ouultra petita, mesmo no existindo debate prvio sobre a matria e recurso,no processo originrio, para declarao expressa da violao, elas ficam sujeitas ao corte rescisrio.

Captulo XIV - Recurso2.1.2.2. Necessidade do contraditrioOrientao Jurisprudencial n 142 da SDI-I do TST. Embargos de declarao. Efeito modificativo. Vista parte contrria I - passvel de nulidade deciso que acolhe embargos de declarao com efeito modificativo sem que seja concedida oportunidade de manifestao prvia parte contrria. II - Em decorrncia do efeito devolutivo amplo conferido ao recurso ordinrio, o item I no se aplica s hipteses em que no se concede vista parte contrria para se manifestar sobre os embargos de declarao opostos contra sentena.

I - passvel de nulidade deciso que acolhe embargos de declarao com efeito modificativo sem que seja concedida oportunidade de manifestao prvia parte contrria.

Em princpio, os embargos de declarao no esto submetidos ao contraditrio. No entanto, conforme explanado nos comentrios da Smula n 278 do TST, o art. 897-A da CLT admitiu expressamente os embargos de declarao com efeito modificativo nas hipteses de omisso, contradio e manifesto equvoco no exame dos pressupostos extrnsecos do recurso. Assim, diante da possibilidade de os embargos de declarao poderem alterar o contedo da deciso embargada, a doutrina passou a divergir acerca da necessidade de se conceder o contraditrio parte contrria. Parcela da doutrina entende que dispensvel a intimao do embargado, uma vez que no h alegao de matria nova no processo, mas simplesmente pedido de esclarecimento ou integrao do julgado. O C. TST, no entanto, adotou tese contrria, entendendo que, na hiptese dos embargos terem efeito modificativo, h necessidade de intimao do embargado para se manifestar, pois, existindo a possibilidade de se alterar o julgado, poder criar prejuzo para a parte contrria, sendo-lhe permitido se manifestar previamente em homenagem aos princpios do contraditrio e da ampla defesa. No mesmo sentido, j decidiu o Supremo Tribunal Federal:EMBARGOS DE DECLARAO, EFEITO MODIFICATIVO E CONTRADITRIO (CF, ART. 5, LV) Firme o entendimento do Tribunal que a garantia constitucional do contraditrio exige que parte contrria se assegure a possibilidade

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de manifestar-se sobre embargos de declarao que pretendam alterar deciso que lhe tenha sido favorvel.32

Tratando-se de recurso, a manifestao do embargado ser por meio de contrarrazes, a qual possui o mesmo prazo do recurso. Desse modo, interpostos os embargos de declarao, ser concedido ao embargado o prazo de 5 dias para apresentar suas contrarrazes, sob pena de poder ser configurada a nulidade. Registra-se que a orientao em comentrio declina ser passvel de nulidade. Isso porque a decretao da nulidade ocorrer apenas quando demonstrado o prejuzo processual, a teor do disposto no art. 794 da CLT que assim vaticina:Art. 794 - Nos processos sujeitos apreciao da Justia do Trabalho s haver nulidade quando resultar dos atos inquinados manifesto prejuzo s partes litigantes.

o que estabelece o C.TST no item II, que passamos a analisar.II - Em decorrncia do efeito devolutivo amplo conferido ao recurso ordinrio, o item I no se aplica s hipteses em que no se concede vista parte contrria para se manifestar sobre os embargos de declarao opostos contra sentena.

Conforme anunciado no item anterior, havendo embargos de declarao com efeito modificativo, em regra, h necessidade de observncia do contraditrio prvio, sob pena de nulidade. No entanto, somente se pode falar em nulidade quando demonstrado o prejuzo parte (CLT, art. 794). Tal prejuzo deve ser de ndole processual, no se cogitando, nessa hiptese, de prejuzo material, financeiro, econmico ou moral decorrente do conflito de direito material33. com fundamento na ausncia de prejuzo processual que o C.TST deixou expresso no item II em comentrio que,sendo a sentena sujeita a recurso ordinrio, no ser obrigatrio o contraditrio prvio nos embargos de declarao. E assim agiu, porque o recurso ordinrio, por ser um recurso de natureza ordinria e de fundamentao livre, admite a rediscusso de forma ampla da matria ftica, o exame total das provas e debate pleno da aplicao do direito, podendo fundar-se no mero inconformismo da parte vencida34. Em decorrncia disso, o efeito devolutivo tem aplicao plena nessa modalidade de recurso, incidindo de forma supletiva no processo do trabalho o art. 515 do CPC35. Isso quer dizer que todas as matrias tratadas na sentena podero ser levantadas oportunamente no recurso ordinrio, ou seja, no haver prejuzo, porque o contraditrio ser diferido, vale dizer, ser exercido, posteriormente,

32. 33. 34. 35.

STF RE 384031 AL 1 T. Rel. Min. Seplveda Pertence. DJU 4.6.2004. LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 9. ed. So Paulo: LTr, 2011.p. 383. BEBBER, Jlio Csar. Recursos no processo do trabalho. 2. ed. So Paulo: LTr, 2009. p. 46. Para o estudo especfico do efeito devolutivo, vide comentrios da Smula n 393 do TST, no captulo XIV, item 1.6.1.

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no recurso ordinrio. Nesse contexto, vislumbram-se os precedentes do E. TST transcritos a seguir:NULIDADE PROCESSUAL - EMBARGOS DECLARATRIOS OPOSTOS SENTENA - EFEITO MODIFICATIVO - AUSNCIA DE VISTA PARTE CONTRRIA - DEVOLUO AO TRIBUNAL DE TODA A MATRIA DEBATIDA EM PRIMEIRO GRAU - INEXISTNCIA DE PREJUZO - NULIDADE NO DECRETADA - APLICAO CONJUGADA DA OJ 142 DA SBDI-1 DO TST COM O ART. 794 DA CLT - PRINCPIOS DO CONTRADITRIO E DA AMPLA DEFESA NO ATINGIDOS. Tendo o Regional negado a existncia de prejuzo para as Partes (ante a ausncia de intimao dos embargos declaratrios do Reclamante opostos sentena, acolhidos com efeito modificativo do julgado), em razo da oportunidade que tiveram de devolver ao Tribunal, mediante a interposio do recurso ordinrio, toda a matria decidida na sentena, no h demonstrao de contrariedade Orientao Jurisprudencial n 142 da SBDI-1 do TST, nem de vulnerao dos princpios do contraditrio e da ampla defesa. Isso porque a referida orientao giza ser passvel de nulidade a deciso que acolhe os embargos declaratrios com efeito modificativo, sem ser dada oportunidade para a parte contrria se manifestar a respeito. Mas, consoante a norma prescrita no art. 794 da CLT, no havendo prejuzo, no h que se falar em nulidade. Como se v, a orientao jurisprudencial em comento afirma que 'pode ser decretada a nulidade' da deciso, mas a nulidade tambm pode deixar de ser decretada no caso de no ter havido prejuzo para a parte a quem aproveitaria, o que demonstra a razoabilidade da aplicao conjugada do seu entendimento com a norma contida no art. 794 da CLT. Ademais, podendo ser devolvida ao Regional mediante o recurso ordinrio das Partes, toda a matria discutida na sentena, sem nenhum prejuzo sua apreciao ainda luz dos fatos e das provas coligidos nos autos, no restou demonstrada a ofensa aos princpios da ampla defesa e do contraditrio inscritos no art. 5, LV, da Carta Magna. Recurso de revista no conhecido (grifos acrescidos)36. RECURSO DE REVISTA. NULIDADE PROCESSUAL. EMBARGOS DE DECLARAO. CONCESSO DE EFEITO MODIFICATIVO SEM INTIMAO DA PARTE CONTRRIA. OJ 142 DA SBDI-1/TST. A Orientao Jurisprudencial 142 da SBDI-1/TST dispe ser passvel de nulidade a deciso que acolhe os embargos declaratrios com efeito modificativo, sem que seja dada oportunidade para a parte contrria se manifestar a respeito. Todavia, ela no contm uma regra absoluta, devendo ser compatibilizada com a norma prescrita no art. 794 da CLT, segundo a qual no haver nulidade se no houver manifesto prejuzo aos litigantes. Na hiptese, consignou o v. acrdo regional que a Reclamada, embora no tenha sido intimada para manifestar-se sobre os embargos de declarao acolhidos com efeito modificativo, j havia exaurido a oportunidade de contestar o pedido de seguro-desemprego postulado na inicial e, no recurso ordinrio, manifestou seu inconformismo contra o deferimento da parcela. Ou seja, foi-lhe garantida a oportunidade de devolver instncia revisora, mediante a interposio do seu recurso ordinrio, a anlise da matria de fato e de direito decidida na primeira instncia (Princpios do Duplo Grau

36. TST - RR 01500-2002-906-06-00-8. 4 T. Rel. Min. Ives Gandra Martins Filho. DJU 23.4.2004.

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de Jurisdio e do Tantum Devolutum Quantum Appellatum). Assim, no se vislumbra a alegada ofensa aos princpios constitucionais do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditrio, garantidos pelo art. 5, LIV e LV, da CF. Precedentes da Corte, pelas Turmas e pela SBDI-1. Recurso de revista no conhecido.37

Com efeito, tratando-se de sentena, por estar sujeita ao recurso ordinrio, no obrigatria a cincia da parte contrria para se manifestar dos embargos de declarao interpostos. Nos demais casos, porm, a regra, continua sendo a exigncia do contraditrio prvio, incidindo o item I da orientao em anlise. A propsito, na hiptese de deciso sujeita a recurso de ndole extraordinria (ex. recurso de revista e embargos para a SDI), impe-se o contraditrio prvio, ou seja, antes do julgamento dos embargos de declarao. Isso ocorre porque, nesses recursos, no se admite a verificao de fatos e provas, ficando limitado anlise de direito, o que significa que o prejuzo para a parte presumido, pois no poder alegar todas as matrias que poderia levantar na instncia ordinria, e inclusive nas contrarrazes dos embargos de declarao, que poderiam influenciar o julgador a acolher sua tese. 2.4.4.5. Recurso no conhecido com base em orientao jurisprudencialOrientao Jurisprudencial n 336 da SDI-I do TST. Embargos interpostos anteriormente vigncia da Lei n. 11.496/2007. Recurso no conhecido com base em orientao jurisprudencial. Desnecessrio o exame das violaes de lei e da constituio federal alegadas no recurso de revista Estando a deciso recorrida em conformidade com orientao jurisprudencial, desnecessrio o exame das divergncias e das violaes de lei e da Constituio alegadas em embargos interpostos antes da vigncia da Lei n. 11.496/2007, salvo nas hipteses em que a orientao jurisprudencial no fizer qualquer citao do dispositivo constitucional.

A Smula n 333 do TST no permite o cabimento do recurso de revista quando a deciso estiver superada por iterativa, notria e atual jurisprudncia do Tribunal Superior do Trabalho. O regramento dessa smula foi contemplado no art. 896, 4, da CLT, o qual estabelece: 4. A divergncia apta a ensejar o Recurso de Revista deve ser atual, no se considerando como tal a ultrapassada por smula, ou superada por iterativa e notria jurisprudncia do Tribunal Superior do Trabalho.

Como forma de objetivar o que seria deciso superada por iterativa e notria jurisprudncia do Tribunal Superior do Trabalho, o C. TST criou as orientaes jurisprudenciais, as quais demonstram qual o entendimento predominante em cada rgo da Corte Trabalhista (por exemplo, da SDI-I).

37. TST -RR 202700-73.2005.5.02.0465.6 T. Rel. Min. Maurcio Godinho Delgado. DEJT 30.4.2010.

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Assim, a orientao jurisprudencial visa a unificar o entendimento no mbito do Judicirio trabalhista, o que significa que, estando uma deciso de acordo com determinada orientao, no h divergncia atual acerca do tema, afastando assim o cabimento do recurso de revista e tambm dos embargos SDI com fundamento em divergncia jurisprudencial. Ademais, ao criar as orientaes jurisprudenciais, o TST tem como base decises reiteradas do tribunal (precedentes) que analisam possveis violaes legais e constitucionais a respeito do tema. Nesse sentido, as violaes legais e constitucionais sobre a matria j foram analisadas e pacificadas com a criao da OJ, o que impossibilita novos questionamentos. Pensar de forma contrria, seria retirar toda a razo de ser das OJs. A mesma justificativa, e com maior razo, h de ser invocada quando a deciso recorrida estiver em consonncia com smula do TST, como se verifica pelo julgamento abaixo:RECURSO DE REVISTA ENQUADRAMENTO BANCRIO HORAS EXTRAS O eg. TRT manteve o enquadramento do obreiro na regra do artigo 224 da Consolidao das Leis do Trabalho, decidindo em consonncia com o disposto na Smula/TST n 55, a saber: "As empresas de crdito, financiamento ou investimento, tambm denominadas financeiras, equiparam-se aos estabelecimentos bancrios para os efeitos do art. 224 da CLT". Ao que se verifica, os arestos trazidos a dissenso esbarram no bice da Orientao Jurisprudencial n 336 da C. SBDI-1 do TST. Recurso de revista no conhecido. APLICAO DAS NORMAS COLETIVAS DOS BANCRIOS. Os empregados das ditas empresas financeiras, conquanto equiparados aos bancrios para os fins do art. 224 da CLT, no podem beneficiar-se das normas coletivas celebradas entre estes ltimos, uma vez que ditas normas no foram subscritas pela sua prpria empregadora. Recurso de revista conhecido e provido.38

Dessa forma, estando a deciso recorrida de acordo com smula ou orientao jurisprudencial do TST, no h necessidade de verificar a divergncia jurisprudencial invocada, tampouco a alegao de violaes legais e constitucionais. No que tange,especificamente, aos embargos SDI, antes do advento da Lei n 11.496/2007, eles eram admitidos para: 1) sanar a divergncia interna no TST (embargos de divergncia); 2) na hiptese em que a deciso da Turma do TST violasse literalmente preceito de lei federal ou da Constituio da Repblica, sendo denominados, nesse ltimo caso, de embargos de nulidade. por isso que o C. TST fazia a ressalva na orientao, no sentido de que,quando a orientao jurisprudencial no fizesse nenhuma referncia ao texto constitucional, seriam cabveis os embargos para a SDI (embargos de nulidade).Em outros termos, se o recorrente alegasse violao norma constitucional que no estava descrita na OJ confrontante, seriam cabveis os embargos para a SDI.

38. TST RR 3184/2003-001-12-00. Rel. Min. Renato de Lacerda Paiva. DJe 26.02.2010.

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Contudo, com o advento da Lei n 11.496/2007, foram suprimidos do ordenamento os embargos de nulidade, ou seja, atualmente, no so cabveis os embargos quando a deciso da Turma do TST viola literalmente preceito de lei federal ou da Constituio da Repblica, o que afasta a necessidade da ressalva descrita na presente orientao, at porque, repete-se, o recorrente no poder alegar violao de norma constitucional. Alm disso, depois da entrada em vigor da aludida lei, torna-se desnecessria a presente orientao, vez que o art. 894, II, da CLT, expressamente declina no serem cabveis os embargos SDI quando a deciso recorrida estiver em consonncia com smula ou orientao jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal. Noutras palavras, o artigo celetista j contempla o teor da presente orientao jurisprudencial. Atento a essa nova sistemtica dos embargos SDI, o pleno do C. TST, em sesso realizada no dia 06.02.2012, modificou a redao original da presente orientao, para aplic-la to somente aos casos anteriores vigncia da Lei n 11.496/2007. Por fim, registra-se que, nos dias atuais, se a deciso da Turma do TST contrariar texto constitucional, somente caber recurso extraordinrio para o STF, ficando vedado o aviamento dos embargos SDI, que esto restritos divergncia jurisprudencial. 2.3.8.2. Recurso de revista fundado em contrariedade orientao jurisprudencialOrientao jurisprudencial n 352 da SDI-I do TST. Procedimento sumarssimo. Recurso de revista fundamentado em contrariedade a orientao jurisprudencial. Inadmissibilidade. Art. 896, 6, da CLT, acrescentado pela lei n 9.957, de 12.01.2000 Nas causas sujeitas ao procedimento sumarssimo, a admissibilidade de recurso de revista est limitada demonstrao de violao direta a dispositivo da Constituio Federal ou contrariedade a Smula do Tribunal Superior do Trabalho, no se admitindo o recurso por contrariedade a Orientao Jurisprudencial deste Tribunal (Livro II, Ttulo II, Captulo III, do RITST), ante a ausncia de previso no art. 896, 6, da CLT.

O recurso de revista um recurso de natureza extraordinria, porque se embasa na tutela do direto objetivo, buscando sua correta aplicao. Alm disso, ele um recurso de fundamentao vinculada, vez que a lei exige a indicao pelo recorrente de vcio especfico. A teor do disposto no art. 896 da CLT, os vcios que legitimam o recurso de revista no rito ordinrio so: 1) divergncia jurisprudencial; 2) violao de smula do TST; 3) violao de orientao jurisprudencial (OJ n 219 da SDI-I do TST); 4) violao da lei federal; 5) violao da Constituio Federal. Com o advento do rito sumarssimo no processo do trabalho, o legislador buscou conceder a tutela jurisdicional de forma mais clere e efetiva. Para tanto, restringiu o cabimento do recurso de revista, limitando-o a apenas dois vcios: 1)

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violao da Constituio Federal; e 2) violao de smula do TST. o que se verifica pelo art. 896, 6, da CLT, in verbis: 6 Nas causas sujeitas ao procedimento sumarssimo, somente ser admitido recurso de revista por contrariedade a smula de jurisprudncia uniforme do Tribunal Superior do Trabalho e violao direta da Constituio da Repblica.

Tratando-se de norma restritiva, no cabe ao intrprete ampliar o seu contedo. Ademais, como j analisado nos comentrios da Smula n 333 do TST, a violao s orientaes jurisprudenciais enseja o recurso de revista no rito ordinrio, por fora do 4 do art. 896 da CLT, o qual no tem aplicao ao rito sumarssimo, vez que este tem regra prpria estabelecida no 6 citado anteriormente. A impossibilidade de se admitir o recurso de revista no rito sumarssimo, por violao orientao jurisprudencial, tem a funo de transferir aos TRTs o papel de unificar a jurisprudncia em seu mbito de atuao. Por outro lado, ao preservar a violao a suas smulas, o que o TST quis foi manter uniforme a jurisprudncia, vedando-se aos TRTs a possibilidade de desfazer a orientao nelas contidas39. Assim, conclui-se que a violao orientao jurisprudencial no vcio especfico a ensejar o recurso de revista no rito sumarssimo, ficando limitado s hipteses de violao da Constituio Federal e contrariedade de smulas do TST.

39. SILVA, Antnio lvares da. Procedimento Sumarssimo na justia do trabalho. So Paulo: LTr, 2000. p. 212.