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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.624.297 - RS (2016/0233973-4)
RELATORA : MINISTRA REGINA HELENA COSTARECORRENTE : FAZENDA NACIONAL RECORRIDO : PITTOL CALÇADOS E CONFECÇÕES LTDA ADVOGADOS : RAPHAEL DOS SANTOS BIGATON - SC016924
FERNANDA ROBERTA SIGNOR DILDA E OUTRO(S) - SC035972
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL EMENTA
TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE A RECEITA BRUTA - CPRB. LEI N. 12.546/11. INCLUSÃO DO ICMS NA BASE DE CÁLCULO. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E DESTA CORTE. JULGAMENTO SUBMETIDO À SISTEMÁTICA DO ART. 1.036 E SEGUINTES DO CPC/15.
I – Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016, o regime recursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional impugnado. Aplica-se, no caso, o Código de Processo Civil de 2015.
II – Os valores de ICMS não integram a base de cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta - CPRB, prevista na Lei n. 12.546/11. Precedentes.
III – Recurso especial da Fazenda Nacional desprovido. Acórdão submetido ao rito do art. 1.036 e seguintes do CPC/15.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da
Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade
dos votos e das notas taquigráficas a seguir, "prosseguindo no julgamento,
por unanimidade, negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto
do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Gurgel de Faria (voto-vista),
Francisco Falcão, Herman Benjamin, Napoleão Nunes Maia Filho, Og
Fernandes, Benedito Gonçalves, Assusete Magalhães e Sérgio Kukina
votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Brasília (DF), 10 de abril de 2019 (Data do Julgamento)
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MINISTRA REGINA HELENA COSTA
Relatora
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.624.297 - RS (2016/0233973-4)RELATORA : MINISTRA REGINA HELENA COSTARECORRENTE : FAZENDA NACIONAL RECORRIDO : PITTOL CALÇADOS E CONFECÇÕES LTDA ADVOGADOS : RAPHAEL DOS SANTOS BIGATON - SC016924 FERNANDA ROBERTA SIGNOR DILDA E OUTRO(S) -
SC035972 INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RELATÓRIO
A EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA REGINA
HELENA COSTA (Relatora):
Trata-se de Recurso Especial interposto pela FAZENDA
NACIONAL contra acórdão prolatado pela 2ª Turma do Tribunal Regional
Federal da 4ª Região, por unanimidade, no julgamento de apelação, assim
ementado (fl. 166e):
TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. CONTRIBUIÇÃO
PREVIDENCIÁRIA. ART. 7º DA LEI Nº 12.546, DE 2011. BASE
DE CÁLCULO. ICMS. EXCLUSÃO. POSSIBILIDADE.
COMPENSAÇÃO.
1. Os valores referentes ao ICMS devem ser excluídos da base
de cálculo de tributo que incida sobre aquelas grandezas, tal
como ocorre no caso da contribuição substitutiva prevista no art.
7º da Lei nº 12.546/2011.
2. Em se tratando do recolhimento indevido de contribuição
instituída a título de substituição de contribuição previdenciária,
fica afastada a aplicação do art. 74 da Lei nº 9.430, de 1996,
podendo a compensação tributária se dar somente com
contribuições previdenciárias.
Com amparo no art. 105, III, a, da Constituição da República,
aponta-se ofensa aos dispositivos a seguir relacionados, alegando-se, em
síntese, que:
– Arts. 7º, 8º e 9º, § 7º, IV da Lei n. 12.546/11 – "A base de
cálculo da contribuição substitutiva sob comento é, portanto, como se extrai
dos transcritos arts. 7º e 8º da Lei nº 12.546/11, a receita bruta das
empresas abrangidas pela política de desoneração. E, embora, não diga
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quais parcelas integram a receita bruta, a referida lei cuida, no caput dos já
mencionados arts. 7º e 8º, de excluir as vendas canceladas e os descontos
incondicionais, além de, no art. 9º, estabelecer algumas balizas para a
definição da receita bruta, dentre as quais se encontra a exclusão do ICMS,
mas apenas 'quando cobrado pelo vendedor dos bens ou prestador dos
serviços na condição de substituto tributário' (§ 7º, IV). [...] O ICMS cobrado,
diferentemente do IPI, está incluído no valor total da nota fiscal de venda,
compondo o preço da mercadoria ou do serviço, de modo que integra,
indiscutivelmente, a receita bruta. O ICMS, como sabido, incide sobre si
próprio, ou seja, é um imposto cobrado 'por dentro'" (fls. 191/192e e 197e).
Com contrarrazões (fls. 248/251e), o recurso foi admitido (fl.
258e).
O Ministério Público Federal manifestou-se, inicialmente, às fls.
280/284e, "[...] pelo prosseguimento do trâmite processual, deixando de
enfrentar a questão de mérito do recurso".
Preenchidos os pressupostos formais e materiais de
admissibilidade, propus a submissão do presente recurso, juntamente com
os REsps ns. 1.629.001/SC e 1.638.772/SC, a julgamento pela sistemática
repetitiva, prevista no art. 1.036 e seguintes do CPC/15, tendo sido acolhida
a proposta pela 1ª Seção, por unanimidade, com determinação para
suspender a tramitação de todos os processos pendentes, individuais ou
coletivos, no território nacional, inclusive nos juizados especiais (fls.
288/293e).
Expedidas as comunicações e intimações pertinentes (fls.
296e e 312/327e), transcorreu in albis o prazo para manifestações (fl. 328e).
Com nova vista dos autos, nos termos do art. 256-M, do
RISTJ, o Ministério Público Federal opinou pelo desprovimento do recurso
especial (fls. 301/311e).
É o relatório.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.624.297 - RS (2016/0233973-4)RELATORA : MINISTRA REGINA HELENA COSTARECORRENTE : FAZENDA NACIONAL RECORRIDO : PITTOL CALÇADOS E CONFECÇÕES LTDA ADVOGADOS : RAPHAEL DOS SANTOS BIGATON - SC016924 FERNANDA ROBERTA SIGNOR DILDA E OUTRO(S) -
SC035972 INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
EMENTA
TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE A RECEITA BRUTA - CPRB. LEI N. 12.546/11. INCLUSÃO DO ICMS NA BASE DE CÁLCULO. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E DESTA CORTE. JULGAMENTO SUBMETIDO À SISTEMÁTICA DO ART. 1.036 E SEGUINTES DO CPC/15.
I – Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016, o regime recursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional impugnado. Aplica-se, no caso, o Código de Processo Civil de 2015.
II – Os valores de ICMS não integram a base de cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta - CPRB, prevista na Lei n. 12.546/11. Precedentes.
III – Recurso especial da Fazenda Nacional desprovido. Acórdão submetido ao rito do art. 1.036 e seguintes do CPC/15.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.624.297 - RS (2016/0233973-4)RELATORA : MINISTRA REGINA HELENA COSTARECORRENTE : FAZENDA NACIONAL RECORRIDO : PITTOL CALÇADOS E CONFECÇÕES LTDA ADVOGADOS : RAPHAEL DOS SANTOS BIGATON - SC016924 FERNANDA ROBERTA SIGNOR DILDA E OUTRO(S) -
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VOTO
A EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA REGINA
HELENA COSTA (Relatora):
Por primeiro, consoante o decidido pelo Plenário desta Corte
na sessão realizada em 09.03.2016, o regime recursal será determinado
pela data da publicação do provimento jurisdicional impugnado. Assim
sendo, in casu, aplica-se o Código de Processo Civil de 2015.
I. Da admissibilidade do recurso especial
Os requisitos formais e materiais de admissibilidade foram
oportunamente examinados quando da afetação do recurso, nos seguintes
termos (fl. 291e):
Inicialmente, consigno que as questões federais debatidas
encontram-se satisfatoriamente prequestionadas. Ademais, o
Recurso Especial acha-se hígido para julgamento, porquanto
presentes os pressupostos de admissibilidade e ausentes
questões prejudiciais e/ou preliminares a serem examinadas.
Convém assinalar, outrossim, que o exame da pretensão
veiculada no Recurso Especial não demanda reexame
fático-probatório, porquanto todos os aspectos factuais e
processuais estão clara e suficientemente delineados no
acórdão recorrido.
Do mesmo modo, anote-se que o acórdão impugnado dirimiu a
controvérsia baseada em fundamentos infraconstitucionais
suficientes.
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II. Delimitação do tema, disciplina normativa e natureza da
Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta - CPRB
A questão controvertida diz com a inclusão de valores de ICMS
na base de cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta -
CPRB, instituída pela Medida Provisória n. 540/11, mais tarde convertida na
atual Lei n. 12.546/11, a qual sofreu sucessivas alterações introduzidas
pelas Leis ns. 12.715/12, 12.794/13, 13.043/14, frutos da conversão,
respectivamente, das Medidas Provisórias ns. 563/12, 582/12 e 651/14, além
da promovida pela Lei n. 12.844/13.
Inicialmente prevista para perdurar até 31.12.2014, a
contribuição em tela foi prorrogada até que, a partir do advento da aludida MP
n. 651/14, tornou-se definitiva.
Posteriormente, as Leis ns. 13.161/15 e 13.670/18
implementaram modificações nos arts. 7º e 8º da Lei n. 12.546/11,
dispositivos pertinentes à discussão, cujas redações atuais dispõem:
Art. 7º. Até 31 de dezembro de 2020, poderão contribuir sobre o
valor da receita bruta, excluídos as vendas canceladas e os
descontos incondicionais concedidos, em substituição às
contribuições previstas nos incisos I e III do caput do art. 22
da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991: (Redação dada pela
Lei nº 13.670, de 2018)
[...]
Art. 7º-A. A alíquota da contribuição sobre a receita bruta
prevista no art. 7º será de 4,5% (quatro inteiros e cinco décimos
por cento), exceto para as empresas de call center referidas no
inciso I, que contribuirão à alíquota de 3% (três por cento), e
para as empresas identificadas nos incisos III, V e VI, todos do
caput do art. 7º, que contribuição à alíquota de 2% (dois por
cento). (Redação dada pela Lei nº 13.202, de 2015)
Art. 8º Até 31 de dezembro de 2020, poderão contribuir sobre o
valor da receita bruta, excluídos as vendas canceladas e os
descontos incondicionais concedidos, em substituição às
contribuições previstas nos incisos I e III do caput do art. 22 da
Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991: (Redação dada pela Lei nº
13.670, de 2018)
[...]
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VI - as empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de
sons e imagens de que trata a Lei nº 10.610, de 20 de dezembro
de 2002, enquadradas nas classes 1811-3, 5811-5, 5812-3,
5813-1, 5822-1, 5823-9, 6010-1, 6021-7 e 6319-4 da CNAE 2.0;
(Incluído pela Lei nº 13.670, de 2018)
[...]
VIII - as empresas que fabriquem os produtos classificados na
TIPI nos códigos: (Incluído pela Lei nº 13.670, de 2018)
[...]
IX - as empresas de transporte rodoviário de cargas,
enquadradas na classe 4930-2 da CNAE 2.0; (Incluído pela Lei
nº 13.670, de 2018) (destaquei)
Quanto à base de cálculo, assim estabelece o art. 9º, § 7º, do
mesmo diploma legal, não alcançado pelas mais recentes modificações
legislativas:
Art. 9º. [...]
[...]
§ 7º. Para efeito da determinação da base de cálculo, podem
ser excluídos da receita bruta: (Incluído pela Lei nº 12.715, de
2012)
I – as vendas canceladas e os descontos incondicionais
concedidos; (Incluído pela Lei nº 12.715, de 2012)
II – (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.715, de 2012)
III – o Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI, se incluído
na receita bruta; e (Incluído pela Lei nº 12.715, de 2012)
IV – o Imposto sobre Operações relativas à Circulação de
Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte
Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação - ICMS,
quando cobrado pelo vendedor dos bens ou prestador dos
serviços na condição de substituto tributário. (destaquei)
Em breve contextualização, tem-se que a Medida Provisória n.
540/11 normatizou um amplo espectro de providências legislativas,
denominado "Plano Brasil Maior", consistente num conjunto de medidas
fiscais destinadas a estimular o desenvolvimento e a promover o
reaquecimento da economia nacional, ainda sob os efeitos da crise
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econômica global de 2008.
Dentre as providências adotadas, incluiu-se a redução de
encargos sobre a mão de obra, por intermédio de diminuição de alíquotas,
abrangendo empresas de diversos segmentos, como o de tecnologia da
informação e comunicação, navegação, hoteleiro, transporte aéreo, dentre
outros, previstos na Lei n. 12.546/11 e no Decreto n. 7.828/12.
Coube especificamente à Contribuição Previdenciária sobre a
Receita Bruta - CPRB o papel de instrumento da implementação dessa
política voltada à desoneração da folha de salários, substituindo "[...] pela
receita bruta a remuneração paga aos segurados empregados, avulsos e
contribuintes individuais contratados, como base de cálculo da contribuição
previdenciária devida pelas empresas que atuem nos setores
contemplados", conforme explicitado na Exposição de Motivos da
mencionada medida provisória.
Isso porque, ainda de acordo com a justificativa legislativa:
Nos últimos anos, em virtude da busca pela redução do custo da
mão de obra, as empresas passaram a substituir os seus
funcionários empregados pela prestação de serviços realizada
por empresas subcontratadas ou terceirizadas. Muitas vezes, as
empresas subcontratadas são compostas por uma única pessoa,
evidenciando que se trata apenas de uma máscara para afastar
a relação de trabalho.
Em virtude dessa nova relação contratual, os trabalhadores
ficam sem os direitos sociais do trabalho (férias, 13º salário,
seguro desemprego, hora extra, etc.), pois se trata de uma
relação jurídica entre iguais (empresa-empresa) e não entre
trabalhador e empresa. Essa prática deixa os trabalhadores sem
qualquer proteção social e permite que as empresas reduzam os
gastos com encargos sociais.
Apesar da melhora do cenário econômico após a crise de
2008/2009, as empresas que prestam serviços de tecnologia da
informação - TI e tecnologia da informação e comunicação - TIC,
bem como as indústrias moveleiras, de confecções e de
artefatos de couro têm enfrentado maiores dificuldades em
retomar seu nível de atividade. Nesse contexto, a medida
proposta favorece a recuperação do setor, bem como incentiva
a implantação e a modernização de empresas com redução dos
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custos de produção.
A importância e a urgência da medida são facilmente percebidas
em razão do planejamento tributário nocivo que tem ocorrido
mediante a constituição de pessoas jurídicas de fachada com o
único objetivo de reduzir a carga tributária, prática que tem
conduzido a uma crescente precarização das relações de
trabalho; bem como, em razão do risco de estagnação na
produção industrial e na prestação de serviços nos setores
contemplados. (destaquei)
III. A Posição Fazendária
A Fazenda Nacional opõe-se à pretensão de excluir-se o ICMS
da base de cálculo da CPRB, essencialmente porque: i) consistindo o valor
do imposto estadual custo que integra o preço, deve compor a receita bruta,
base de cálculo da contribuição; ii) é irrelevante o fato de o ICMS ser
destinado aos cofres públicos estaduais; e iii) a Lei n. 12.546/11 exclui da
base de cálculo o montante do ICMS apenas nas hipóteses nas quais o
vendedor dos bens ou o prestador de serviços seja substituto tributário.
IV. Impossibilidade de incluir-se o ICMS na base de cálculo da
Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta - CPRB
De início, oportuno remarcar que, hodiernamente, despontam
no cenário das questões tributárias preocupantes discussões tendentes a
legitimar o alargamento de bases de cálculo por intermédio da inclusão de
outros tributos, isto é, a situação denominada tributo sobre tributo, tal como a
da inserção do ICMS na base cálculo da contribuição ao PIS e da COFINS.
No ponto, convém reavivar, conforme lição de Geraldo Ataliba,
que "a base imponível é a dimensão do aspecto material da hipótese de
incidência", e, assim, "enquanto aspecto da hipótese de incidência, a base
imponível é um conceito-legal, a que fica preso o intérprete", e sua
mensuração "só pode ser feita de acordo com o critério normativo que na
base de cálculo (legal) se adota" (Hipótese de Incidência Tributária. 6ª ed.
São Paulo: Malheiros, 2016, pp. 108 e 110).
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A base de cálculo, inquestionavelmente, haverá sempre de
guardar pertinência com aquilo que pretende medir, não podendo conter
aspectos estranhos, é dizer, absolutamente impertinentes à própria
materialidade contida na hipótese de incidência.
A esse respeito, já advertia, há muito, Alfredo Augusto Becker:
O critério de investigação da natureza jurídica do tributo que se
demonstrará ser o único verdadeiramente objetivo e jurídico,
parte da base de cálculo para chegar ao conceito do tributo.
Este só poderá ter uma única base de cálculo. A sua conversão
em cifra é que poderá variar de método: ou peso e/ou medida
e/ou valor. Quando o método é o do valor, surge facilmente o
perigo de se procurar atingir este valor mediante a
valorização de outro elemento que consistirá, logicamente,
outra base de cálculo e com isto, ipso facto, desvirtuou-se o
pretendido gênero jurídico do tributo. [...]".
(Teoria Geral do Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 1963, p.
339 - destaquei).
Isso considerado, tem-se que a base imponível da contribuição
em tela, como apontado, é a receita bruta, assim definida por Geraldo
Ataliba:
O conceito de receita refere-se a uma espécie de entrada.
Entrada é todo o dinheiro que ingressa nos cofres de uma
entidade. Nem toda entrada é uma receita. Receita é a entrada
que passa a pertencer à entidade. Assim, só se considera
receita o ingresso de dinheiro que venha a integrar o
patrimônio da entidade que o recebe. As receitas devem ser
escrituradas separadamente das meras entradas. É que estas
não pertencem à entidade que as recebe. Têm caráter
eminentemente transitório. Ingressam a título provisório,
para saírem, com destinação certa, em breve lapso de tempo.
(Estudos e Pareceres de Direito Tributário. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 1978, vol. 1, p. 85 - destaquei).
Cumpre recordar, dada a estreita semelhança axiológica com
o presente caso, que o Supremo Tribunal Federal, ao julgar, em regime de
repercussão geral, o RE n. 574.706/PR, assentou a inconstitucionalidade da
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inclusão do ICMS nas bases de cálculo da contribuição ao PIS e da COFINS.
Entendeu o Plenário da Corte, por maioria, que o valor de ICMS não se
incorpora ao patrimônio do contribuinte, constituindo mero ingresso
de caixa, cujo destino final são os cofres públicos, conforme acórdão
assim ementado:
RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL.
EXCLUSÃO DO ICMS NA BASE DE CÁLCULO DO PIS E
COFINS. DEFINIÇÃO DE FATURAMENTO. APURAÇÃO
ESCRITURAL DO ICMS E REGIME DE NÃO CUMULATIVIDADE.
RECURSO PROVIDO. 1. Inviável a apuração do ICMS
tomando-se cada mercadoria ou serviço e a correspondente
cadeia, adota-se o sistema de apuração contábil. O montante de
ICMS a recolher é apurado mês a mês, considerando-se o total
de créditos decorrentes de aquisições e o total de débitos
gerados nas saídas de mercadorias ou serviços: análise contábil
ou escritural do ICMS. 2. A análise jurídica do princípio da não
cumulatividade aplicado ao ICMS há de atentar ao disposto no
art. 155, § 2º, inc. I, da Constituição da República, cumprindo-se
o princípio da não cumulatividade a cada operação. 3. O regime
da não cumulatividade impõe concluir, conquanto se tenha a
escrituração da parcela ainda a se compensar do ICMS, não se
incluir todo ele na definição de faturamento aproveitado por este
Supremo Tribunal Federal. O ICMS não compõe a base de
cálculo para incidência do PIS e da COFINS. 3. Se o art. 3º, § 2º,
inc. I, in fine, da Lei n. 9.718/1998 excluiu da base de cálculo
daquelas contribuições sociais o ICMS transferido integralmente
para os Estados, deve ser enfatizado que não há como se
excluir a transferência parcial decorrente do regime de não
cumulatividade em determinado momento da dinâmica das
operações. 4. Recurso provido para excluir o ICMS da base de
cálculo da contribuição ao PIS e da COFINS.
(STF, RE 574.706/PR, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, TRIBUNAL
PLENO, julgado em 15/03/2017, DJe 29/09/2017).
Portanto, à acepção de receita atrela-se o requisito da
definitividade, motivo pelo qual, consoante pontuado pelo Ministro Marco
Aurélio no voto proferido, "[...] o contribuinte não fatura e não tem, como
receita bruta, tributo, ou seja, o ICMS".
Antes de acompanhar, no mérito, o entendimento sustentado
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pela Ministra Relatora, o Ministro Celso de Mello, em seu voto, ressaltou,
preliminarmente, a importância de proceder-se à interpretação do Direito
Tributário pela essência dos institutos e princípios que lhes são próprios,
rechaçando a interpretação econômica, nos seguintes termos:
Veja-se, pois, que, para efeito de definição e identificação do
conteúdo e alcance de institutos, conceitos e formas de direito
privado, o Código Tributário Nacional, em seu art. 110, "faz
prevalecer o império do Direito Privado – Civil ou Comercial
(...)" (ALIOMAR BALEEIRO, "Direito Tributário Brasileiro", p.
687, item n. 2, atualizada pela Professora MISABEL ABREU
MACHADO DERZI, 11ª ed., 1999, Forense – grifei), razão pela
qual esta Suprema Corte, para fins jurídico-tributários, não
pode recusar a definição que aos institutos é dada pelo direito
privado, sem que isso envolva interpretação da Constituição
conforme as leis, sob pena de prestigiar-se, no tema, a
interpretação econômica do direito tributário, em detrimento
do postulado da tipicidade, que representa, no contexto de
nosso sistema normativo, projeção natural e necessária do
princípio constitucional da reserva de lei em sentido formal,
consoante adverte autorizado magistério doutrinário
(GILBERTO DE ULHÔA CANTO, "in" Caderno de Pesquisas
Tributárias nº 13/493, 1989, Resenha Tributária; GABRIEL
LACERDA TROIANELLI, "O ISS sobre a Locação de Bens
Móveis", "in" Revista Dialética de Direito Tributário, vol.
28/7-11, 8-9). (destaques do original)
Por conseguinte, a posição defendida pela Recorrente conflita
com o entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal, antagônico à
formulação conceitual de receita por ela adotada.
Note-se que, pela lógica do raciocínio abraçada no precedente
vinculante, a inclusão do ICMS na base de cálculo de contribuição instituída
no contexto de incentivo fiscal, não teria, com ainda mais razão, o
condão de integrar a base de cálculo de outro tributo, como quer a União em
relação à CPRB, porque, uma vez mais, não representa receita do
contribuinte.
Aliás, assinale-se que o Supremo Tribunal Federal já expandiu
o posicionamento firmado no RE n. 574.706/PR para as demandas
envolvendo a inclusão do ICMS na base de cálculo da CPRB, como estampa
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o seguinte julgado:
RECURSO EXTRAORDINÁRIO – TRIBUTÁRIO –
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SUBSTITUTIVA – BASE DE
CÁLCULO – NÃO INCLUSÃO DO VALOR RELATIVO AO ICMS –
ENTENDIMENTO FIRMADO COM BASE EM ORIENTAÇÃO QUE
O PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
PROCLAMOU NA APRECIAÇÃO DO RE 574.706-RG/PR –
POSSIBILIDADE DE JULGAMENTO IMEDIATO PELO RELATOR
DE IDÊNTICA CONTROVÉRSIA INDEPENDENTEMENTE DA
PUBLICAÇÃO OU DO TRÂNSITO EM JULGADO DO ACÓRDÃO
PROFERIDO NO "LEADING CASE" – SUCUMBÊNCIA
RECURSAL (CPC, ART. 85, § 11) – NÃO DECRETAÇÃO, NO
CASO, ANTE A INADMISSIBILIDADE DE CONDENAÇÃO EM
VERBA HONORÁRIA, POR TRATAR-SE DE PROCESSO DE
MANDADO DE SEGURANÇA (SÚMULA 512/STF E LEI Nº
12.016/2009, ART. 25) – AGRAVO INTERNO IMPROVIDO.
(STF, RE 1.089.337/PB AgR, Rel. Min. CELSO DE MELLO,
SEGUNDA TURMA, julgado em 27/04/2018, DJe 14/05/2018).
Em idêntico sentido: STF, RE 1.015.285/RS AgR, 2ª T., Rel.
Min. Celso de Mello, DJe 17.08.2018; RE 1.098.816/SC AgR, 2ª T., Rel. Min.
Celso de Mello, DJe 31.07.2018.
Na mesma linha, decisões monocráticas exaradas por
diversos Ministros daquela Corte: RE n. 1.124.717/PR, Rel. Min. Marco
Aurélio, DJe 19.09.2018; RE 1.045.941/RS, Rel. Min. Rosa Weber, DJe
05.09.2018; RE n. 1.112.546/RS, Min. Ricardo Lewandowski, DJe
04.04.2018; RE 1.066.786/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, DJe
08.09.2017, ARE n. 1.038.323/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe
26.06.2017; RE n. 943.804/RS, Rel. Min. Dias Tofolli, DJe 04.05.2017; RE
1.021.180/SC, Rel. Min. Edson Fachin, DJe 10.03.2017; RE 967.623/RS, Rel.
Min. Luiz Fux, DJe 03.11.2016; RE n. 954.015/RS, Rel. Min. Teori Zavascki,
DJe 08.08.2016.
Neste Superior Tribunal, ambas as Turmas de Direito Público
adotam as razões de decidir esposadas no RE n. 574.706/PR para afastar a
pretensão de alargar a base de cálculo da CPRB mediante a inserção de
valores de ICMS, como o demonstram os seguintes precedentes:
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TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. ICMS. NÃO INCLUSÃO NA
BASE DE CÁLCULO DA CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA
SOBRE A RECEITA BRUTA-CPRB. POSICIONAMENTO DO
STF, EM REPERCUSSÃO GERAL, AFIRMANDO A NÃO
INCLUSÃO DO ICMS DA BASE CÁLCULO DO PIS/COFINS, POR
SE TRATAR DE VALOR QUE NÃO SE INCORPORA AO
PATRIMÔNIO DO CONTRIBUINTE (RE 574.706/PR). RATIO
DECIDENDI QUE SE APLICA AO CASO EM EXAME. MATRIZ
ARGUMENTATIVA ACOLHIDA PELO EMINENTE MINISTRO
DIAS TOFFOLI NO RE 943.804, JULGADO EM 20.4.2017,
PUBLICADO NO DIÁRIO ELETRÔNICO DJE-093. RECURSO
ESPECIAL DO CONTRIBUINTE PROVIDO PARA EXCLUIR O
ICMS DA BASE DA CÁLCULO DA CPRB.
1. Na sessão do dia 15.3.2017, o Plenário do Supremo Tribunal
Federal, julgando o RE 574.706/PR, em regime de repercussão
geral, sendo Relatora a douta Ministra CÁRMEN LÚCIA, afirmou
que o valor arrecadado a título de ICMS não se incorpora ao
patrimônio do contribuinte e, dessa forma, não pode integrar a
base de cálculo do PIS/COFINS, contribuições destinadas ao
financiamento da Seguridade Social.
2. A lógica adotada naquele julgamento do STF se aplica, em
tudo e por tudo, na solução do caso sob exame, porquanto aqui
se trata de matéria jurídica idêntica, também redutível àquela
mesma constatação de sua não integração ao patrimônio do
contribuinte. Desse modo, mutatis mutandis, aplica-se aquela
diretriz de repercussão do STF ao caso dos autos, pois,
igualmente, se está diante de tributação que faz incluir o ICMS,
que efetivamente não adere ao patrimônio do Contribuinte, na
apuração base de cálculo da CPRB.
3. Reporta-se a vetusta hermenêutica que manda aplicar a
mesma solução jurídica a situações controversas idênticas,
recomendação remontante aos juristas medievais, fortemente
influenciados pela lógica aristotélica-tomista, que forneceu a
base teórica e argumentativa da doutrina positivista do Direito,
na sua fase de maior vinculação ou adstricção aos fundamentos
das leis naturais.
4. Anote-se que, no julgamento do RE 943.804, o seu Relator, o
douto Ministro DIAS TOFFOLI, adotou solução semelhante, ao
determinar a devolução dos autos ao Tribunal de origem, para
aplicação da sistemática da repercussão geral acima apontada
precisamente a um caso de CPRB (DJe-093, 4.5.2017), ou seja,
uma situação rigorosamente igual a esta que porá se examina.
5. Recurso Especial do contribuinte provido.
(REsp 1.694.357/CE, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA
FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 21/11/2017, DJe
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01/12/2017 - destaquei).
TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL DE 1973. APLICABILIDADE. OFENSA AO ART. 535 DO
CPC/73. INOCORRÊNCIA. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA
SOBRE A RECEITA BRUTA - CPRB. LEI N. 12.546/11.
INCLUSÃO DO ICMS NA BASE DE CÁLCULO. ILEGALIDADE.
RECEITA BRUTA NÃO CARACTERIZADA. APLICAÇÃO DA
RATIO DECIDENDI DO RE N. 574.706/PR, JULGADO EM
REPERCUSSÃO GERAL PELO STF. PRECEDENTE.
I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão
realizada em 09.03.2016, o regime recursal será determinado
pela data da publicação do provimento jurisdicional impugnado.
Aplica-se, no caso, o Código de Processo Civil de 1973.
II - O tribunal de origem apreciou todas as questões relevantes
apresentadas com fundamentos suficientes, mediante
apreciação da disciplina normativa e cotejo ao posicionamento
jurisprudencial aplicável à hipótese. Inexistência de omissão,
contradição ou obscuridade.
III - Os valores relativos ao ICMS não integram a base de cálculo
da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta - CPRB,
prevista na Lei n. 12.546/11, porquanto não se incorporam ao
patrimônio do contribuinte, é dizer, não caracterizam receita
bruta, em observância à axiologia das razões de decidir do RE n.
574.706/PR, julgado em repercussão geral pelo STF, no qual foi
proclamada a inconstitucionalidade do ICMS na base de cálculo
do PIS e da COFINS. Precedente.
IV - Recurso especial desprovido.
(REsp 1.568.493/RS, de minha relatoria, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 13/03/2018, DJe 23/03/2018 - destaquei).
PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO
PREVIDENCIÁRIA SOBRE A RECEITA BRUTA - CPRB. LEI
12.546/2011. INCLUSÃO DO ICMS NA BASE DE CÁLCULO.
ILEGALIDADE. RECEITA BRUTA NÃO CARACTERIZADA.
APLICAÇÃO DA RATIO DECIDENDI DO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO 574.706/PR, JULGADO EM
REPERCUSSÃO GERAL PELO STF.
1. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso
Extraordinário 574.706/PR, com repercussão geral reconhecida,
concluiu que o valor arrecadado a título de ICMS não se
incorpora ao patrimônio do contribuinte e, dessa forma, não
pode integrar a base de cálculo do PIS e da COFINS.
2. Na esteira do entendimento do Supremo Tribunal Federal, o
STJ realinhou seu posicionamento para reconhecer que o ICMS
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não integra a base de cálculo da contribuição para o PIS e da
COFINS. Precedentes: AgInt no REsp 1.609.669/RJ, Rel. Min.
Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 13.4.2018; EDcl no Ag
1.330.432/DF, Rel. Min. Sérgio Kulina, Primeira Turma, DJe
27.3.2018; REsp 1.487.421/MG, Rel. Min. Og Fernandes,
Segunda Turma, DJe 23.3.2018.
3. Nada obstante a controvérsia dos autos – se o ICMS integra a
base de cálculo da contribuição previdenciária dos arts. 7º e 8º
da Lei 12.456/2011 – se distinga da tratada no Tema 69 da
repercussão geral, o STF e o STJ entendem ser similar o
debate. Nesse sentido: RE 1.017.483/SC, Rel. Min. Edson
Fachin, DJe 17.2.2017; EDcl no AgInt no REsp 1.651.857/RS,
Rel. Min. Francisco Falcão, Segunda Turma, DJe 10.4.2018;
REsp 1.568.493/RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, Primeira
Turma, DJe 23.3.2018.
4. In casu, observa-se que a posição adotada pelo STJ não se
harmoniza com a orientação firmada pelo STF, razão pela qual
se justifica, em juízo de retratação, a modificação do julgado
para equiparar-se com o decidido pela Suprema Corte.
5. Recurso Especial não provido.
(REsp 1.650.491/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 16/08/2018, DJe 26/11/2018 -
destaquei).
TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO
RECURSO ESPECIAL. INCIDÊNCIA DO ICMS NA BASE DE
CÁLCULO DA CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA
SUBSTITUTIVA, PREVISTA NA LEI 12.546/2011. JULGAMENTO
PELO STF, EM REGIME DE REPERCUSSÃO GERAL. RE
574.706/PR. JUÍZO DE RETRATAÇÃO. ART. 1.040, II, DO
CPC/2015. AGRAVO INTERNO PROVIDO, EM JUÍZO DE
RETRATAÇÃO, PARA NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO
ESPECIAL DA FAZENDA NACIONAL, QUANTO AO TEMA
OBJETO DA REPERCUSSÃO GERAL.
I. Agravo interno aviado contra decisão que deu provimento ao
Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional, contra
acórdão que, negando provimento à Apelação e à Remessa
Oficial, havia mantido a sentença que concedera o Mandado de
Segurança.
II. A Segunda Turma do STJ, considerando a jurisprudência
pacífica da Corte, quando do julgamento do Recurso Especial
interposto, no sentido da incidência do ICMS na base de cálculo
da contribuição previdenciária substitutiva, prevista na Lei
12.546/2011, negou provimento ao Agravo interno do
contribuinte.
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III. Entretanto, posteriormente, o Supremo Tribunal Federal, no
julgamento do RE 574.706/PR, sob o regime da repercussão
geral, firmou a tese de que "o ICMS não compõe a base de
cálculo para a incidência do PIS e da COFINS" (STF, RE
574.706/PR, Rel. Ministra CÁRMEN LÚCIA, TRIBUNAL PLENO,
DJe de 02/10/2017), porquanto o valor arrecadado, a título de
ICMS, não se incorpora ao patrimônio do contribuinte, e, dessa
forma, não pode integrar a base de cálculo do PIS e da COFINS,
contribuições destinadas ao financiamento da Seguridade
Social. Diante da nova orientação da Suprema Corte, o STJ
realinhou o seu posicionamento (STJ, REsp 1.100.739/DF, Rel.
Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, DJe de
08/03/2018; AgInt no AgInt no AgRg no AREsp 392.924/SP, Rel.
Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA,
DJe de 06/03/2018). Mutatis mutandis, a mesma lógica deve ser
aplicada para a contribuição previdenciária substitutiva, prevista
nos arts. 7º e 8º da Lei 12.546/2011, em razão da identidade do
fato gerador (receita bruta). Com efeito, "os valores relativos ao
ICMS não integram a base de cálculo da Contribuição
Previdenciária sobre a Receita Bruta - CPRB, prevista na Lei n.
12.546/11, porquanto não se incorporam ao patrimônio do
contribuinte, é dizer, não caracterizam receita bruta, em
observância à axiologia das razões de decidir do RE n.
574.706/PR, julgado em repercussão geral pelo STF, no qual foi
proclamada a inconstitucionalidade do ICMS na base de cálculo
do PIS e da COFINS" (STJ, REsp 1.568.493/RS, Rel. Ministra
REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, DJe de
23/03/2018). Em igual sentido: STJ, REsp 1.694.357/CE, Rel.
Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA,
DJe de 01/12/2017.
IV. Nesse contexto, retornaram os autos – por determinação da
Vice-Presidência do STJ, para fins do disposto no art. 1.040, II,
do CPC/2015 –, em face do aludido julgado do Supremo
Tribunal Federal, em regime de repercussão geral.
V. Agravo interno provido, para, em juízo de retratação, previsto
no art. 1.040, II, do CPC/2015, negar provimento ao Recurso
Especial da Fazenda Nacional.
(AgInt no REsp 1.592.338/SC, Rel. Ministra ASSUSETE
MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/04/2018, DJe
23/04/2018 - destaquei).
Assinale-se, por oportuno, que, no período compreendido entre
a instituição da contribuição pela MP n. 540, de 03.08.2011, e 30.11.2015, o
regime de tributação, pela receita bruta, das pessoas jurídicas especificadas,
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foi impositivo, a comprová-lo os termos claramente imperativos
empregados nos arts. 7º e 8º dos sucessivos diplomas legais disciplinadores
(cf. "a contribuição devida pelas empresas [...] incidirá"; "contribuirão sobre a
receita bruta [...]").
Com efeito, a opção pelo regime de tributação sobre a folha de
salário ou sobre a receita bruta foi franqueada aos contribuintes somente a
partir de 1º.12.2015, pela Lei n. 13.161/15 (arts. 1º e 7º, I), ao prever que as
empresas, cujas atividades foram contempladas, poderiam contribuir sobre
o valor da receita bruta, diretriz mantida na Lei n. 13.670/18, a qual estendeu
a prerrogativa até 31.12.2020.
Conquanto atualmente eletiva a sistemática de tributação, tal
faculdade não elide os fundamentos do apontado precedente judicial de
aplicação obrigatória, segundo os quais, como mencionado, os valores
correspondentes ao ICMS são ingressos transitórios, que não constituem
faturamento ou receita da empresa, estranhos, portanto, ao critério
normativo definidor da composição da base de cálculo das contribuições.
Noutro vértice, não bastasse a impossibilidade de incluir o
ICMS na base de cálculo da CPRB, esta, ainda assim, não estaria adstrita à
hipótese de substituição tributária, como defende a Fazenda Nacional
De fato, tal entendimento ressente-se de previsão legal
específica.
Isso porque, para o Fisco, a lei, ao prever a não inclusão do
ICMS na base de cálculo da CPRB para o substituto tributário, estaria a
autorizar, automaticamente, a sua inclusão em todas as demais hipóteses,
em interpretação equivocada, com a devida vênia, que olvida a necessidade
de norma expressa para a fixação da base de cálculo, em consonância
com o princípio da legalidade tributária (arts. 150, I, CR, e 97, IV, do CTN).
A rigor, portanto, mesmo em se tratando de substituição
tributária, revela-se duplamente inviável a inclusão do tributo estadual na
base de cálculo da contribuição em foco, quer pela ausência da
materialidade da hipótese de incidência (receita bruta), quer pela previsão
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legal nesse sentido (art. 9º, § 7º, da Lei n. 12.546/11).
V. Proposição da tese a ser firmada
Diante do exposto, propõe-se a seguinte tese para efeito dos
arts. 1.036 do CPC/15 e 256-Q do RISTJ: os valores de ICMS não
integram a base de cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a
Receita Bruta - CPRB, instituída pela Medida Provisória n. 540/2011,
convertida na Lei n. 12.546/2011.
Ausentes os requisitos do art. 927, § 3º, do CPC/15, mostra-se
desnecessária a modulação dos efeitos do presente julgamento.
VI. Solução do caso concreto (recurso especial da Fazenda
Nacional)
Na origem, trata-se de ação mandamental mediante a qual se
objetiva a concessão de segurança para "[...] declarar a inconstitucionalidade
da ampliação da base de cálculo das contribuições previdenciárias sobre a
receita bruta, excluindo-se o ICMS da base de cálculo da referida exação, por
violar direito líquido e certo da autora em submeter aos ditames da
Constituição Federal" (fl. 15e).
A sentença denegou a segurança (fls. 100/106e) e, interposta
apelação pela empresa, foi provida pelo tribunal de origem, essencialmente
sob os seguintes fundamentos (fls. 162/163e):
Relativamente à base de cálculo do PIS/COFINS, a discussão
não é nova e pode ser aplicada, analogicamente, no cálculo da
contribuição previdenciária criada pela Lei 12.546/2011.
Nesse sentido, na sessão do dia 08-10-2014, o Pleno do
Supremo Tribunal Federal, ao finalizar o julgamento do RE nº
240.785, de relatoria do Min. Marco Aurélio, reconheceu a
inconstitucionalidade da inclusão do ICMS na base de cálculo da
COFINS, por violação ao art. 195, inc. I, alínea 'b', da
Constituição Federal, ao entendimento de que os valores
referentes àquele tributo não têm natureza de faturamento.
[...]
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Ainda que tal julgamento não tenha sido submetido ao regime de
repercussão geral, tenho por bem adequar o entendimento à
orientação nele contida, estendendo-o ao PIS e à contribuição
ora em discussão.
Portanto, os valores referentes ao ICMS devem ser excluídos da
base de cálculo de tributo que incida sobre aquelas grandezas,
tal como ocorre no caso da contribuição substitutiva prevista no
art. 7º da Lei nº 12.546/2011.
Dessarte, diante da tese fixada e nos termos do art. 255, § 5º,
do RISTJ, impõe-se a manutenção do acórdão recorrido.
No que tange aos honorários advocatícios, da conjugação dos
Enunciados Administrativos ns. 3 e 7, editados em 09.03.2016 pelo Plenário
desta Corte, depreende-se que as novas regras relativas ao tema, previstas
no art. 85 do Código de Processo Civil de 2015, serão aplicadas apenas aos
recursos sujeitos à novel legislação, tanto nas hipóteses em que o novo
julgamento da lide gerar a necessidade de fixação ou modificação dos ônus
da sucumbência anteriormente distribuídos quanto em relação aos
honorários recursais (§ 11).
Ademais, vislumbrando o nítido propósito de desestimular a
interposição de recurso infundado pela parte vencida, entendo que a fixação
de honorários recursais, em favor do patrono da parte recorrida, está adstrita
às hipóteses de não conhecimento ou improvimento do recurso.
Quanto ao momento em que deva ocorrer o arbitramento dos
honorários recursais (art. 85, § 11, do CPC/15), afigura-se-me acertado o
entendimento segundo o qual incidem apenas quando esta Corte julga, pela
vez primeira, o recurso, sujeito ao Código de Processo Civil de 2015, que
inaugure o grau recursal, revelando-se indevida sua fixação em agravo
interno e embargos de declaração.
Registre-se que a possibilidade de fixação de honorários
recursais está condicionada à existência de imposição de verba honorária
pelas instâncias ordinárias, revelando-se vedada aquela quando esta não
houver sido imposta.
In casu, impossibilitada a majoração de tais honorários, nos
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termos do art. 85, § 11, do Código de Processo Civil de 2015, porquanto não
houve anterior fixação de verba honorária.
Posto isso, NEGO PROVIMENTO ao recurso especial.
Sem condenação em honorários sucumbenciais, a teor do art.
25 da Lei n. 12.016/09, e do verbete sumular n. 105/STJ.
Publicado o acórdão, determino a comunicação à Presidência
do Superior Tribunal de Justiça, aos Ministros da Primeira Seção, bem como
aos Tribunais Regionais Federais, Tribunais de Justiça e à Turma Nacional
de Uniformização.
É o voto.
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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTOPRIMEIRA SEÇÃO
Número Registro: 2016/0233973-4 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.624.297 / RS
Números Origem: 50066892620154047202 SC-50066892620154047202
PAUTA: 13/03/2019 JULGADO: 27/03/2019
Relatora
Exma. Sra. Ministra REGINA HELENA COSTA
Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES
Subprocuradora-Geral da RepúblicaExma. Sra. Dra. MARIA CAETANA CINTRA SANTOS
SecretárioBel. RONALDO FRANCHE AMORIM
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : FAZENDA NACIONAL RECORRIDO : PITTOL CALÇADOS E CONFECÇÕES LTDA ADVOGADOS : RAPHAEL DOS SANTOS BIGATON - SC016924
FERNANDA ROBERTA SIGNOR DILDA E OUTRO(S) - SC035972 INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
ASSUNTO: DIREITO TRIBUTÁRIO - Contribuições - Contribuições Previdenciárias - Contribuição sobre a folha de salários
SUSTENTAÇÃO ORAL
Sustentaram oralmente, os Drs. JOSÉ PÉRICLES PEREIRA DE SOUSA, pela parte RECORRENTE: FAZENDA NACIONAL, e o Dr. RAPHAEL DOS SANTOS BIGATON, pela parte RECORRIDA: PITTOL CALÇADOS E CONFECÇÕES LTDA.
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia PRIMEIRA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Seção, por unanimidade, em questão de ordem apresentada pelo Sr. Ministro Sérgio Kukina, decidiu pelo cancelamento das Súmulas de nº 68 e 94 do Superior Tribunal de Justiça, em face da resolução apresentada pelo Supremo Tribunal Federal por ocasião do enfrentamento do tema 69 no recurso extraordinário 574.706/PR.
A presidência da Seção expedirá ofícios comunicando às comissões respectivas e à presidência do STJ para as devidas divulgações.
No caso concreto, após o voto da Sra. Ministra Relatora negando provimento ao recurso especial, pediu vista o Sr. Ministro Gurgel de Faria. Aguardam os Srs. Ministros Francisco Falcão, Herman Benjamin, Napoleão Nunes Maia Filho, Og Fernandes, Benedito Gonçalves, Assusete
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Magalhães e Sérgio Kukina."
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.624.297 - RS (2016/0233973-4)EMENTA
TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO SOBRE A RECEITA BRUTA. LEI N. 12.546/2011. BASE DE CÁLCULO. INCLUSÃO DO ICMS. IMPOSSIBILIDADE. TESE FIRMADA PELO STF EM REPERCUSSÃO GERAL. QUESTÃO JURÍDICA SEMELHANTE. APLICABILIDADE.
VOTO-VISTA
O EXMO. SR. MINISTRO GURGEL DE FARIA:
Os presentes autos versam acerca da seguinte questão de direito controvertida: "possibilidade de inclusão do ICMS na base de cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta, instituída pela MP n. 540/2011, convertida na Lei n. 12.546/2011".
A em. Min. Regina Helena propõe entendimento pela não inclusão do ICMS na base de cálculo da Contribuição Social sobre a Receita Bruta da Lei n. 12.546/2011, citando, por "estreita semelhança axiológica", a tese desenvolvida pelo Supremo Tribunal Federal no RE 574.706/PR: O ICMS não compõe a base de cálculo para incidência do PIS e da COFINS.
Nos termos do voto de Sua Excelência e à luz da doutrina de Geraldo Ataliba, o ICMS, por não poder ser qualificado como receita do contribuinte, não pode compor a receita bruta, base de cálculo da contribuição ora em análise.
Como assinalado pela relatora, o STF já reconheceu a extensão do entendimento firmado no RE 574.706/PR à Contribuição sobre a Receita Bruta da Lei n. 12.546/2011:
RECURSO EXTRAORDINÁRIO – TRIBUTÁRIO – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SUBSTITUTIVA – BASE DE CÁLCULO – NÃO INCLUSÃO DO VALOR RELATIVO AO ICMS – ENTENDIMENTO FIRMADO COM BASE EM ORIENTAÇÃO QUE O PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PROCLAMOU NA APRECIAÇÃO DO RE 574.706-RG/PR – POSSIBILIDADE DE JULGAMENTO IMEDIATO PELO RELATOR DE IDÊNTICA CONTROVÉRSIA INDEPENDENTEMENTE DA PUBLICAÇÃO OU DO TRÂNSITO EM JULGADO DO ACÓRDÃO PROFERIDO NO “LEADING CASE” – SUCUMBÊNCIA RECURSAL (CPC, ART. 85, § 11) – NÃO DECRETAÇÃO, NO CASO, ANTE A INADMISSIBILIDADE DE CONDENAÇÃO EM VERBA HONORÁRIA, POR TRATAR-SE DE PROCESSO DE MANDADO DE SEGURANÇA (SÚMULA 512/STF E LEI Nº 12.016/2009, ART. 25) – AGRAVO INTERNO IMPROVIDO.(RE 1089337 AgR, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julg. 27/04/2018, pub. 15/05/2018, DJe-093) (Grifos acrescidos).
No caso específico, concordo com os fundamentos bem lançados pela em. Ministra relatora, razão pela qual acompanho seu voto.
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Contudo, quero destacar que a controvérsia atinente à base de cálculo da Contribuição sobre a Receita Bruta, especificamente, autoriza a mesma conclusão do julgado do Supremo Tribunal Federal, pois, ao final, a controvérsia em ambos os casos passa pelo conceito de receita. Assim, em havendo precedente obrigatório do STF e tratando-se de questões jurídicas semelhantes, não há falar em eventual violação do art. 97 da CF/1988.
Aliás, esse é o entendimento do Pretório Excelso:
[...] a obediência à cláusula de reserva de plenário não se faz necessária quando houver orientação consolidada do STF sobre a questão constitucional discutida. Possibilidade de reconhecimento de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público pelos órgãos fracionários dos Tribunais, com base em julgamentos do plenário ou órgão especial que, embora não guardem identidade absoluta com o caso em concreto, analisaram matéria constitucional equivalente (STF, RE 571968 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, julgado em 22/05/2012, DJe-109).[...] Não há reserva de Plenário (art. 97 da Constituição) à aplicação de jurisprudência firmada pelo Pleno ou por ambas as Turmas desta Corte. Ademais, não é necessária identidade absoluta para aplicação dos precedentes dos quais resultem a declaração de inconstitucionalidade ou de constitucionalidade. Requer-se, sim, que as matérias examinadas sejam equivalentes. Assim, cabe à parte que se entende prejudicada discutir a simetria entre as questões fáticas e jurídicas que lhe são peculiares e a orientação firmada por esta Corte (STF, AI 607616 AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, julgado em 31/08/2010, DJe-185). (Grifos acrescidos).
De fato, "incumbe ao Supremo Tribunal Federal definir o alcance dos vocábulos 'receita' e 'faturamento' contidos na Constituição Federal" (RE 592616 RG, Rel. Min. MENEZES DIREITO, julgado em 09/10/2008, DJe-202 - inclusão do ISSQN na base de cálculo da contribuição ao PIS e da COFINS; ainda pendente de julgamento).
Então, exercendo sua competência de intérprete da Constituição, o Supremo Tribunal Federal pode moldar conceitos expressos na lei em conformidade com o que entende ser a vontade do Poder Constituinte, sem, no entanto, atuar como legislador positivo. Porém, no âmbito infraconstitucional, salvo na hipótese de declaração de inconstitucionalidade ou em havendo precedente obrigatório do Plenário do STF, o Poder Judiciário não pode, tão somente por aplicação da analogia, decidir contrariamente ao que dispõe a lei, sob pena de usurpação da função legislativa e violação da Súmula Vinculante 10 ("Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de Tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte").
Faço essa anotação porque entendo que a repercussão geral julgada pelo STF não permite, no âmbito infraconstitucional, o entendimento automático de que um tributo não possa compor a base de cálculo de outro, ou que valores transitórios na contabilidade do contribuinte não podem ser nela computados.
Data venia, entendo que o precedente do STF não veicula regra que possa ser seguida quanto a outros tributos, caso inexistente a "semelhança axiológica" pontuada pela em. Min. Regina, pois o legislador, por força da discricionariedade técnica própria, tem, em tese, permissão para eleger os critérios pertinentes à base de cálculo dos tributos, como o fez no
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inciso I do § 1º do art. 13 da LC n. 87/1996 (Lei Kandir), na redação da LC n. 114/2002, no qual dispõe que o ICMS integra a base de cálculo do próprio imposto. Quanto a esse tema, a própria Constituição Federal assim determina, no art. 155, § 2º, XII, "i" ("cabe a lei complementar fixar a base de cálculo, de modo que o montante do imposto a integre, também na importação do exterior de bem, mercadoria ou serviço").
Assim, deve-se frisar: não se pode afirmar que a conclusão da Primeira Seção, neste julgamento, com base no já mencionado recurso extraordinário, sirva para legitimar, por si só, a exclusão do ICMS da base de cálculo de outros tributos.
Deve haver ponderação específica, caso a caso, até porque o art. 150, § 6º, da Constituição Federal, ao exigir edição de lei específica para a redução de base de cálculo de impostos, taxas e contribuições, denota não ser extensível uma decisão judicial a respeito de um tributo a outro.
Com exceção daqueles (tributos) que, porventura, forem julgados inconstitucionais, por um ou outro motivo, não se pode, no âmbito do Poder Judiciário, desnaturar os conceitos definidos pelas leis tributárias, sob pena de esvaziar a base de cálculo eleita pelo Poder Legislativo, a qual, logo após o início de vigência da lei correlata, permite ao Estado proceder às mais diversas previsões orçamentárias com base em prognóstico da receita derivada do tributo.
É fato que a base de cálculo é uma ficção jurídica que se apropria de conceitos afetos a áreas de outras ciências, como a contabilidade, e, ao ser definida no âmbito do Poder Legislativo, nem sempre é talhada com termos ou expressões técnico-conceituais precisas ou exatas. Contudo, na tarefa de interpretar a legislação infraconstitucional, não se pode ignorar que a hermenêutica exige uma interpretação que não só seja compatível com a Constituição, como também que extraia a maior efetividade da norma, conforme o fim buscado pelo legislador. Digo isso a título de observação, uma vez que a aplicação irrestrita de teses firmadas em precedentes judiciais, sem ponderação a respeito da razoabilidade de sua adequação ao caso concreto, pode implicar a ineficiência da equação matemática construída pela lei para a tributação de determinadas riquezas.
Vale anotar que a preocupação, mutatis mutandis, foi manifestada pelo em. Min. Gilmar Mendes no RE 240.785/MG:
Se adentrarmos por essa discussão, parece-me ser apenas um critério, depois vai determinar - isso, penso, já foi objeto até de outras discussões - como se aferir. Tanto é que, se formos fazer esse "distinguishing" constante, certamente, podemos esvaziar o conceito de faturamento.Sei que a toda hora temos tentativas aqui e acolá, mas por que não excluirmos tais ou quais custos; por que não excluir tais ou quais despesas do conceito de faturamento. É preciso ver que isso, na verdade - embora o Ministro Eros Grau condene sempre quando mencionamos esta palavra -, diz respeito com a natureza deste tipo de tributo. Se trilharmos esse caminho, vamos descaracterizar essas chamadas contribuições sobre faturamento.Esse é o meu temor.[...]É para fins de cálculo tão-somente, uma técnica de tributação. Este é meu temor: que estejamos abrindo porta para dizer que daqui a pouco também - sei lá - custo de energia elétrica.
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Ante o exposto, feitas as observações necessárias quanto à fundamentação adotada, acompanho o voto da em. Ministra relatora, tanto no que diz respeito à tese formulada quanto ao julgamento do caso concreto.
É como voto.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTOPRIMEIRA SEÇÃO
Número Registro: 2016/0233973-4 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.624.297 / RS
Números Origem: 50066892620154047202 SC-50066892620154047202
PAUTA: 13/03/2019 JULGADO: 10/04/2019
Relatora
Exma. Sra. Ministra REGINA HELENA COSTA
Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES
Subprocuradora-Geral da RepúblicaExma. Sra. Dra. MARIA CAETANA CINTRA SANTOS
SecretárioBel. RONALDO FRANCHE AMORIM
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : FAZENDA NACIONAL RECORRIDO : PITTOL CALÇADOS E CONFECÇÕES LTDA ADVOGADOS : RAPHAEL DOS SANTOS BIGATON - SC016924
FERNANDA ROBERTA SIGNOR DILDA E OUTRO(S) - SC035972 INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
ASSUNTO: DIREITO TRIBUTÁRIO - Contribuições - Contribuições Previdenciárias - Contribuição sobre a folha de salários
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia PRIMEIRA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Prosseguindo no julgamento, a Seção, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator."
Os Srs. Ministros Gurgel de Faria (voto-vista), Francisco Falcão, Herman Benjamin, Napoleão Nunes Maia Filho, Og Fernandes, Benedito Gonçalves, Assusete Magalhães e Sérgio Kukina votaram com a Sra. Ministra Relatora.
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