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EDUCADOR, SUJEITO APRENDENTE LÍBIA RAQUEL GOMES Itajai

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EDUCADOR, SUJEITO APRENDENTE

LÍBIA RAQUEL GOMES

Itajai

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Agosto 2015

EDUCADOR, SUJEITO APRENDENTE

Líbia Raquel Gomes¹

Marília Soares²

RESUMO

Faz-se necessário, na educação, compreender o papel de um profissional capaz de dar sustentabilidade à formação dos educadores, unindo formação teórica e equilíbrio emocional para a tarefa de acompanhar, de forma reflexiva e questionadora, o processo de aprendizagem dos educandos. Este profissional surge na escola como um supervisor pedagógico, com atribuições e funções definidos e fundamentais para que cada educador possa desenvolver um ensinar centrado na teorização da prática cotidiana. O objetivo central deste trabalho é responder à pergunta de como construir na escola um espaço para o profissional de supervisão pedagógica, que seja capaz de possibilitar que os educadores possam continuar sendo sujeitos aprendentes no processo de ensinar?

Palavras-chave: ensino, aprendizagem, supervisor escolar.

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¹ Especialista em Supervisão Escolar. FACEL. E-mail: [email protected]

² Mestre em Educação – Ensino Superior – FURB. E-mail: [email protected]

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1 INTRODUÇÃO

Quando se pensa no processo da aprendizagem, muitos fatores contribuem e vem à mente, isso porque se sabe que aprender, ensinar e conhecer nunca estão dicotomizados. O processo se dá na interação e é aí que o grupo tem a maior força, onde quase sempre o interventor é o educador. O papel do professor-educador é fundamental no processo do desempenho escolar dos educandos, porém aqui cabe uma pergunta: Como os educadores estão sendo supervisionados em suas escolas para cumprirem de forma eficaz seu papel de mediadores do conhecimento?

Segundo Golleman (1996), a maior contribuição que a educação pode dar ao desenvolvimento de uma criança é ajudá-la a encaminhar-se para um campo aonde seus talentos se adaptem melhor, onde ela será feliz e competente. Da mesma forma, a reflexão sobre o acompanhamento aos educadores é bastante propícia, uma vez que se faz necessário uma prática de construção de conhecimento com os educadores para que esta prática avance para a sala de aula e transponha o simples transmitir para o construir conceitos.

Faz-se necessário, na educação, compreender o papel de um profissional capaz de dar sustentabilidade à formação dos educadores, unindo formação teórica e equilíbrio emocional para a tarefa de acompanhar, de forma reflexiva e questionadora, o processo de aprendizagem dos educandos. Este profissional surge na escola como um supervisor pedagógico, com atribuições e funções definidos e fundamentais para que cada educador possa desenvolver um ensinar centrado na teorização da prática cotidiana.

Este profissional é fundamental na mediação entre o planejar dos educadores e a possibilidade de efetivação deste conhecimento, é através desta intervenção que ocorre as intervenções dos educadores dentro de uma perspectiva capaz de despertar na criança e no adolescente as habilidades necessárias para sua evolução cognitiva e emocional. É necessário rever a formação deste profissional da educação, a fim de dar-lhe um embasamento teórico necessário à prática reflexiva do coordenador pedagógico e desta forma possibilitar-lhe competências tornando-o conhecedor de estratégias que lhe permitam auxiliar seus coordenados a olhar, entender e transformar sua prática. A escola precisa promover um espaço de reflexão que favoreça o desenvolvimento de uma ação pedagógica coerente e sintonizada como o novo papel do supervisor pedagógico, com as necessidades das instituições e com as novas concepções de infância e educação.

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A importância do papel do professor, enquanto agente transformador, favorecendo a compreensão mútua, nunca foi tão clara como hoje em dia e, acredita-se que este papel será muito mais decisivo no futuro. Os nacionalismos mesquinhos deverão dar lugar ao universalismo, os preconceitos étnicos e culturas à tolerância, á

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compreensão e ao pluralismo, o totalitarismo deverá ser substituído pela democracia em suas variadas manifestações, e um mundo dividido, em que a alta tecnologia é apanágio de alguns, dará lugar a um mundo tecnologicamente unido. É por isso que a responsabilidade dos professores é enorme, pois cabe a eles formar o caráter e o espirito dessa nova geração.

O principal objetivo da educação, segundo Piaget (1964) é criar homens capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram – homens criativos, inventivos e descobridores. O segundo objetivo da educação é formar mentes que possam ser críticas, possam verificar e, não aceitar tudo que lhes é oferecido. Numa sociedade que privilegia o saber fácil e transitório, com a informação que chega numa rapidez tão intensa, quanto é a sua efemeridade, o professor, plagiando Euclides da Cunha, é antes de tudo um forte, e este forte se encontra num dilema, pois o seu contexto de trabalho tornou-se, complexo e diversificado. Exercer a docência, hoje não significa simplesmente repassar conhecimento, até mesmo porque o conhecimento transita em mão dupla, ou seja, o aluno também traz saberes e com eles interage com professores e colegas. Exercer a docência hoje, implica mudanças profundas na postura do profissional docente e nas instituições que se propõem a trabalhar com a formação desse profissional.

Assim, o professor tem que sair de um estado de inércia que se perpetua ao longo de décadas, para um total redimensionamento de suas práticas e atitudes, diante dessa nova realidade que se lhe apresenta, transformando-se em um educador.

Toda estrutura educacional está organizada com a finalidade primeira de promover aprendizagem e o desenvolvimento do ser humano. Partindo do princípio de que se vive em constante transformação e aprimoramento, pode-se conceber que, também em educação, seja necessária a introdução de novas metodologias didáticos-pedagógicas, além de profissionais especializados para acompanharem o processo de ensinar e de aprender.

As perspectivas, frente à esta visão de educação onde profissionais especializados, colaboram de forma fundamental para um melhor desenvolvimento do processo de construção do conhecimento, são positivas e é fundamental que este desfio seja conduzido por profissionais dispostos a reverter o quadro social atual: ultrapassar a forma limitada de educação em busca de métodos alternativos, alterando a relação entre educando e educador apenas, para uma relação que envolva outros profissionais colaboradores no processo de aquisição de conhecimento.

O educador é um sujeito aprendente, e este aprender perpassa a descoberta de si próprio, sua identidade.

A busca da identidade sempre foi a uma das aspirações do ser humano, conhecer-se é com certeza um desafio. Quanto mais o ser humano procura a si mesmo imobilizando-se no tempo e no espaço da sua existência, mais percebe a complexibilidade do tema. Nesta perspectiva, o sujeito é a síntese do desejo e da lei, busca a si mesmo, quando fala ao outro e percebe as determinações e os limites de sua ação. Sendo assim, a nossa identidade é formada por outras pessoas. O sujeito, imerso em sua racionalidade, que socialmente instituída incorpora a experiência do

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outro, passa a ser uma representação própria constituída no contexto da experiência social.

A identidade do eu não se refere ao ser individual e absoluto, mas uma identidade que se processa pela apropriação/negação/superação dos universos simbólicos na interação social.

Portanto a identidade nunca está instalada e acabada. O sujeito se reconhece na relação com o outro, mas a experiência do outro não é medida pelo sujeito. O conhecimento entre o eu e o outro é mediado pela comunicação que é marcada pela divergência, pois o que é certeza para um, pode ser incerteza para o outro. Desse modo há que se achar um modo ou uma metodologia de fazer com que essa interação aconteça, e isso passa necessariamente por uma preparação prévia que é a sua formação. Pois é lá, nos bancos da universidade que se dá forma a este profissional, seja através do currículo estabelecido no curso, através dos ideais, objetivos pessoais, ou ainda pela ética, pela participação em entidades de classe, e, substancialmente pela influência de seus mestres, os quais somando-se a esses outros fatores determinarão a sua identidade profissional.

O ser humano nasce com potencial para aprender, mas, este só se desenvolverá na interação com o mundo, na experimentação com o objetivo de conhecimento, na reflexão sobre a ação. A aprendizagem se organiza num processo dialético de interlocução. Por isso a escola utiliza hoje as dinâmicas de grupo, que possibilitam a discussão, o diálogo. É preciso haver um elemento dialogante para que o saber se construa. A interação social no grupo da sala de aula é, pois, fundamental para que a aprendizagem circule, movida pelas relações afetivas. A organização acadêmica tradicional, com os alunos fechados em si mesmo, pensando e produzindo sozinhos, deve abrir espaço para que aconteça a polifonia, o debate, o trabalho coletivo, a interlocução. Mas aí cabe a reflexão sobre o dia a dia do professor, seu momento de discussão no desenvolvimento de sua prática educativa e a importância que existe em propiciar na escola, em espaço para que o educador aprendente continue desenvolvendo sua ação de aprender, sua formação.

A forma de ser professor encontra-se imbuída por sua história de vida, de uma educação formal e não formal, influenciada por um contexto histórico, socioeconômico e cultural, ou seja, sua história reflete o currículo escolar, representante de políticas educacionais e diretrizes didático-pedagógicas, às quais o professor teve acesso, do ensino infantil ao superior. Neste último, é que o perfil do profissional da educação ganha forma, é onde acontece a sua formação. É interessante que se aborde aqui, alguns conceitos literais da palavra formação.

Para Garcia(1999) o conceito de formação é geralmente associado a alguma atividade, sempre que se trata de formação para algo. Assim a formação pode ser entendida como uma função social de transmissão de saberes, de saber fazer ou de saber-ser “[...] como um processo de desenvolvimento e de estruturação da pessoa que se realiza num duplo efeito de uma maturação”.pg 47 Ou ainda: “Formação como instituição, quando nos referimos à estrutura organizacional que planifica e desenvolve as atividades de formação” (Ferry, 1991,p.67).

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Para Ibernóm (2001), se faz necessário um redimensionamento da profissão docente. O lugar onde se educa, deve deixar de ser aquele em que se aprende o básico, para esse autor: “A instituição educativa precisa que outras instâncias sociais se envolvam no processo de educar” (Ibernóm, 2001 p.42).

Esse comportamento, ou a mudança dele implica uma complexidade maior no processo educativo, fator facilmente justificado, já que a sociedade também se tornou mais complexa, a partir de uma mudança radical nas estruturas cientificas, sociais e educativas, que são as que dão apoio e sentido ao caráter institucional do sistema educativo.

Numa sociedade que muda vertiginosamente assimilando mudanças em todas as áreas, é imprescindível que a educação acompanhe essas mudanças e tudo isso torna inquestionável uma nova forma de ver a instituição educativa, as novas funções do professor, uma nova cultura profissional e uma mudança no posicionamento de todos que trabalham na educação e é claro, uma maior participação social do docente.

No entanto, há uma disparidade muito grande entre a rapidez com que as mudanças acontecem no âmbito estritamente profissional e social e a morosidade com que se produzem no âmbito das relações de trabalho, tanto no setor público quanto no privado, mas o que não se pode negar que no que houveram alguns avanços significativos.

Essa renovação necessária da instituição educativa, e esta nova forma de educar requerem uma redefinição importante da profissão docente e que se assumam novas competências profissionais no quadro de um conhecimento pedagógico, cientifico e cultural revistos. Em outras palavras, a nova era requer um profissional da educação diferente. No entanto, não podemos analisar a profissão docente sem observar que isso esteve presente durante muitos anos ao redor do debate sobre a profissão docente. (Ibérnon, 2001,p.12)

Ao se falar em competências profissionais, vimos que elas estão aí em todos s manuais e currículos e fazem parte de debates e discussões de como implementa-la para uma prática efetiva. Ibérnon (2001), questiona quais seriam as competências necessárias para que o professor assuma sua profissão como realmente educativa e transformadora. Para Perrenoud (1999) são múltiplos os significados da noção de competência e a sua construção não pode ser dissociada da formação de esquemas de mobilização de conhecimento, com discernimento, em tempo real.

A construção de competências, pois, é inseparável da formação de esquemas de mobilização dos conhecimentos com discernimento, em tempo real, ao serviço de uma ação eficaz. Ora, os esquemas de mobilização de diversos recursos cognitivos em uma situação de ação complexa desenvolvem-se e estabilizam-se ao sabor das práticas. No humano, com efeito, os esquemas não podem ser programados por uma intervenção externa. Não existe, a não ser nas novelas de ficção científica, nenhum “transplante de esquemas”. O sujeito não pode tão pouco construí-

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los por simples interiorização de um conhecimento procedimental. Os esquemas constroem-se ao sabor de um treinamento, de tanto mais eficaz quando associado a uma postura reflexiva. (Perrenoud, 1999:p.10)

Assim, a especificidade do contexto em que se educa assume cada vez mais importância, já que o ensino é visto hoje, como algo que está em constante construção e não mais como algo pronto e imutável. Essa nova visão da educação faz com que os profissionais que nela atuam, tenham uma outra atitude perante a profissão, que transcende o mero fazer pedagógico, mas que “Cria espaços de participação, reflexão, e formação para que as pessoas aprendam e se adaptem para poder conviver com a mudança e a incerteza. (Ibernon, 2001: p.15). Estes espaços para reflexão e mudança precisam ser construídos na escola e com ajuda de profissionais habilitados para esta tarefa.

Vê-se muitas escolas e professores preocupados com a forma de transmitir melhor os conhecimentos, em como adequar-se aos novos tempos, como incorporar tecnologias a fim de tratar de conteúdos que sejam úteis para os alunos. Ou seja, essas escolas estão preocupadas apenas com a primeira das duas questões importantes: estão preocupadas com a transmissão do conhecimento e nem sempre com o sujeito que aprende e ensina.

Este sujeito que aprende e ensina, deve ser o sujeito envolvido na relação de aprendizagem, educando e educador. Ambos, constroem conhecimento e ultrapassam o simples transmitir ideias e verdades.

O educador necessita transforma-se em construtor de ideias e mediador da relação de aprendizagem. Para isso, as escolas precisam dispor de profissionais que possam oferecer a estes educadores subsídios para que se sintam também incentivados a alcançarem no processo de busca.

Parafraseando Luckesi (2002), o educador, para ser educador, necessita de reconhecer-se a si mesmo com suas necessidades e reconhecer o outro com suas necessidades. Então a partir daí ele saberá e será capaz de atuar junto aos seus educandos estimulado a consciência de si e do outro, o que vai implicar num modo de conviver com a singularidade e a pluralidade. Dessa forma, antes de ensinar é necessário que o educador construa seus conhecimentos em uma prática de sujeito aprendente para então transformar sua ótica na construção de conceitos e habilidades junto aos educandos.

Na ação educadora é imprescindível a colaboração de dois sujeitos: educador e educando. Arroyo (2000) no seu livro Ofício de mestre, faz uma intrigante reflexão sobre Comunidade de aprendizes mútuos. Ali ele afirma:

Conhecemos milhares de educadores que exploram a interação entre os semelhantes nos processos formadores e de aprendizagem. Esta matriz pedagógica não é um recurso populista, é inerente ao aprendizado humano. Somos a espécie intersubjetiva por excelência. (ARROYO, 2000: p. 167)

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Grandes pensadores no campo da educação, dentre eles Vygotsky, dizem que a criança aprende sozinha, precisando, porém, de outras crianças e do professor. A ação educativa é sempre relacional. A função educativa não é função do educador, mas sim função de uma relação entre pessoas, relação esta que também deve acontecer entre educadores. Segundo Paulo Freire: “Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho: os homens se educam em comunhão” (FREIRE, 1991: p.52).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É preciso inovar o cenário da escola onde todos estaremos aprendendo a aprender, onde a reflexão seja utilizada para repensar a sua prática e onde também haja a alegria em aprender, o prazer e a criação sem esquecer o rigor da cientificidade. Neste cenário o supervisor precisa ter clareza na concepção de escola e de educação que estruturará a sua prática supervisora, para tal, deverá estar apto a fazer escolhas e ter posições estratégicas, não pode ser neutro, deve estar aberta a inovação, buscando sempre uma ação participativa e compartilhada, lutando por uma escola mais igualitária e menos excludente e mesmo tendo conhecimentos da realidade atual, transpor as dificuldades e procurar realizar um trabalho diferenciado, envolvendo a todos. O supervisor pedagógico deve criar estratégias de ação que envolva interação e integração do grupo, tendo a investigação como prática na sua ação.

Então, é de urgência que cada supervisor pedagógico assume seu papel neste processo de aprender, que reflitam sobre suas práticas nas escolas e que estas reflexões sirvam de alavanca para mais e mais discutir-se e aprofundar-se tema, não apenas como informações, mas como práticas de discussões, transpondo teóricos de todos os pensadores e praticando no cotidiano das escolas a democratização de um ensino para todos, inclusive educadores e supervisores que de forma coletiva possam estar constantemente em comunhão de aprendizagem.

REFERÊNCIAS

ARROYO, Miguel. Ofício de mestre. São Paulo: Ática, 2000.

FALCÃO FILHO, José Leão M. Supervisão: análise crítica das críticas. In Vida na Escola: os caminhos do saber coletivo. Coletânea AMAE, Belo Horizonte: AMAE,1994.

FENY, Juan. Vivenciando educação. São Paulo: Luz e sol, 1991.

GIUBILEI, Sonia (org.). Descentralização, Municipalização e Politicas Públicas. Campinas: Alínea, 2001.

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JOSSO, Christine. Da formação do sujeito ao sujeito da formação. São Paulo: Novo tempo, 2001.

FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação? 1° ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.