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Sushi em Folha de Bananeira e Frango no Curry

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Reportagem especial sobre a multiplicidade cultural no Suriname

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Sushi em Folha de Bananeira e

Frango no Curry

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Quinze passos. É essa a distância entre as portas da Mesquita e da Sinagoga na rua Keizerstraat, no centro de Paramaribo. O último dos prédios a ser construído foi a mesquita, em 1984. Ali, sob o sol equatorial, no meio do comércio central os dois prédios convivem em harmonia. Quando a festa é mulçumana, a sinagoga empresta o espaço para o encontro dos adeptos da mesquita. Quando chega o ano novo do judaísmo, o estacionamento da mesquita é cedido aos judeus para que possam realizar suas celebrações em um espaço mais amplo.

A cerca de quatro quarteirões, vê-se a catedral católica. Mais algumas quadras e mais duas igrejas evangélicas. Indostano, protestante, católicos ortodoxos e até Deus é Amor e Universal do reino de Deus fazem parte da paisagem de arquitetura religiosa da capital do Suriname. O que pode parecer uma intensa salada cultural, entretanto, de perto se revela uma grande segmentação. Apesar de todas as culturas conviverem no mesmo ambiente da cidade, as relações sociais e afetivas são concentradas nas vidas religiosas, cada um com o seu bando. Tendo passado duas semanas na casa de javaneses estabelecidos há décadas no Suriname, descobri que mesmo o grupo representando apenas 18% da população, tudo que os cerca é javanês. Os móveis, os amigos, os vizinhos, a comida, a igreja, as festas e até os namorados. O supermercado, não tem como fugir, é chinês. Mas até o mercado de rua ao qual a família frequenta é completamente javanês.Nas ruas, muitos fenótipos e pouca miscigenação. Negros, brancos, pardos, indianos, chineses,

Entre terra prometida e terra de

ninguém, o Suriname abre as

portas para etnias e as recebe

com oportunidade e abrigo

étnico.

Sushi em folha de banananeira e frango no curry

Acima, a sinagoga mais antiga da capital. Abaixo, a mesquita, inaugurada em 1984. No centro de Paramaribo, as construções vizinhas convivem em harmonia.

Por Luiza Andrade

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Acima, a sinagoga mais antiga da capital. Abaixo, a mesquita, inaugurada em 1984. No centro de Paramaribo, as construções vizinhas convivem em harmonia.

javaneses, brasileiros e europeus. É como estar em pleno ano de copa do mundo em um país sede. O pouco espaço é dividido entre os 250 mil habitantes da capital e os outros 250 mil do interior. Com tantas culturas, fica difícil estabelecer uma língua local. Na jornada de um dia andando pelo comércio de Paramaribo, é possível perceber pelo menos seis línguas diferentes, - Híndi, Inglês, Português, Holandês, Javanês e Sranan Tongo - muitas vezes com expressões misturadas e frases compostas por duas ou mais línguas estrangeiras. Parece confuso para quem observa de fora, mas quem faz parte do contexto se entende e convive em harmonia.

Por uma questão histórica de colonização, a língua oficial é o Holandês. O país, até 1975, foi colônia da Holanda. O currículo escolar, portanto, tem o Holandês como parâmetro de alfabetização. Mas no Suriname quase todo mundo fala Inglês. E quem não o fala, ao menos entende. Até mesmo filmes e programas de televisão importados dos Estados Unidos são transmitidos sem legendas. Não é à toa que, por lá, as pessoas gesticulam bastante quando conversam. Talvez seja uma forma de facilitar a comunicação e a compreensão dos diálogos multiculturais. Ainda assim, quem acha que a população do Suriname é bilíngue se engana. A maioria fala três ou quatro línguas.

Nadya, surinamesa de classe média, já morou na Europa e nos Estados Unidos. Fala Javanês, Holandês, Inglês e um pouco de Espanhol. Adoraria aprender o Português e durante os almoços de família, com a expressão frustrada, reclama com a mãe que quer aprender o Sranan Tongo, para poder se comunicar melhor com a empregada doméstica, que entende Inglês e Holandês, mas só fala a língua maroon.A mãe, javanesa, imigrou para o Suriname fugindo de um casamento forçado. Ela conta que, quando era jovem, tinha um namorado muito querido, mas era muito nova para se casar. “Lá as coisas não são como aqui. Quando eu disse que não queria me casar, ele aceitou, mas sua família me ameaçou de morte”. Na mesma época, surgiu um emprego na recém-estabelecida Embaixada da Indonésia na capital do Suriname. Sem pensar duas vezes, deixou tudo para trás e se foi, pelos mares à terra desconhecida. Não falava um pingo de Holandês, “Mas acabei aprendendo”, completa. A mãe já não trabalha mais na Embaixada, mas tem fortes relações com a instituição. Durante a semana é a organista oficial da Igreja Javanesa, dá aulas de

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angklung – instrumento tipicamente javanês – para crianças e é produtora de um programa de música em uma TV local.Seu marido, pai de Nadya, é aposentado. Originalmente da Indonésia, Sr. Prawmidjodjo conta que quando se formou na universidade, ainda em seu país de origem, era o final da segunda guerra. Como a Indonésia tinha inclinações comunistas, o governo lhe ofereceu uma bolsa de mestrado e doutorado na Alemanha oriental. Em troca dos estudos, ele deveria, ao final do curso, voltar à Indonésia e ministrar aulas na universidade local. Entretanto, quando o curso chegou ao fim, o governo havia mudado, e não havia vaga para professores nas universidades indonésias. Foi então que o governo coreano lhe ofereceu um curso de especialização. Durante alguns meses, viveu na Coréia do sul e se especializou em engenharia de maquinário para agricultura. Quando recebeu seu diploma, recebeu também algumas ofertas de emprego pelo mundo. “Conversei com um professor da Alemanha e falei pra ele das propostas. Tinha uma muito interessante no Canadá, que era bastante desenvolvido na época, e outra no Suriname, que não tinha nada. Ele me aconselhou a pegar a proposta do Suriname. “Se o país ainda não tem nada, é você que vai ajudar

a construí-lo. A chance de perder seu emprego é menor”, conta, em holandês, fazendo a voz mais grave, como se tomasse o papel do professor. “E foi assim que vim parar aqui”. Sempre com um sorriso no rosto, Sr. Prawmidjodjo faz questão de exibir seu livro do ano de graduação do curso da Coréia. “Olhe, veja se você conhece alguém”, abre o livro com os nomes e endereços de pessoas de todo o mundo, seis deles brasileiros, quatro deles do Rio de Janeiro. As datas de nascimento são das décadas de vinte e trinta. “Acho difícil conhecer alguém entre os 190 milhões de brasileiros”, penso com meus botões, mas observo atentamente a página do livro e faço, com os olhos, expressão de quem tenta se lembrar de um rosto.

No Suriname, Sr. Prawmidjodjo durante muitos anos trabalhou no ministério de desenvolvimento agrícola. Como tinha fortes laços com a comunidade javanesa local, ia com frequência à Embaixada, e assim conheceu sua esposa. O casal vive no país há mais de trinta anos. Estabelecidos, não têm planos de voltar à Indonésia. “Lá tem gente demais. É muita gente pra pouco espaço”, conta Achie, senhora Prawmidjodjo. “Aqui pelo menos temos espaço. Podemos andar na rua tranquilos”.

Centenas de enfeites javaneses compõem a decoração da casa da família Prawmidjodjo. Nas paredes, fotografias tradicionais fazem referência ao passado da família. Na casa da família Prawmidjodjo os jantares são verdadeiras lições de história e cultura.

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Placas do comércio local dividem o espaço entre Holandês e Chinês. Acima, um restaurante que também funciona como bar. Abaixo, uma loja de cortinas e objetos diversos.

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A questão do espaço é também uma constante na imigração dos chineses, que representam 7% da população no Suriname. Apesar da porcentagem ser, ainda, pequena, a presença chinesa na capital é marcante. O fenômeno pode ser explicado pelo fato de a etnia dominar os comércios locais, principalmente os supermercados. Dessa forma, os letreiros comerciais espalhados pela cidade carregam sempre, além de nomes chineses – Choi, chug, ying, Jing Lai, Tak Yie, Hong Sheng – também a grafia de pauzinhos minuciosamente organizados.

O espaço em si pode até não ser um problema, afinal o ser humano pode se adaptar para viver em pequenos espaços. O grande problema é a falta de moradia, saúde e emprego para tanta gente por metro quadrado. E a situação não se restringe ao oriente. Segundo o Embaixador brasileiro no Suriname, José Luis Machado, a população que imigra do Brasil para o Suriname vem de um dos índices de desenvolvimento humano mais baixos do Brasil. A maioria, de Belém, viaja em busca de um emprego temporário, que lhes ajude a fazer um “pé-de-meia”, e voltar para a cidade de origem um pouco melhor de vida, com uma casa ou um

carro nos planos de investimento. Entretanto, a maioria quase absoluta acaba ficando no país. Com um emprego fixo, podem estabelecer uma residência permanente e um círculo social com os outros imigrantes de mesma origem.

As etnias mais organizadas estabelecem até mesmo associações de imigrantes. Os chineses, por exemplo, criaram uma associação

de imigração chinesa que recolhe dinheiro dos imigrantes locais. O montante, quando acumulado, é direcionado aos novos imigrantes, como forma de empréstimo/investimento. Com o capital, muitos deles conseguem abrir negócios – vendas e supermercados. Com a esperteza chinesa para negócios, logo os produtos são vendidos e acabam gerando lucro. Assim, o dinheiro é devolvido para a associação, que pode agraciar os próximos imigrantes.

A prosperidade de uma comunidade gera

O mercado chinês atrai públicos de todos os tipos. Ao lado, uma senhora saboreia o café da manhã comprado na barraca ao lado: biscoitos de arroz crocante.

Algumas etnias estabelecem até mesmo

associações de imigrantes.

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insatisfação nas outras. Com a proliferação chinesa em Paramaribo, as comunidades brasileira e indiana sentem-se ameaçadas. Segundo os brasileiros locais, os artigos falsificados acabam com as lojas brasileiras. “Não tem como competir”, afirma a brasileira Nalva, dona de uma loja de roupas que, rumo à falência, busca outras opções de negócios. Além de se inserirem nos negócios de vendas e mercados, os chineses também têm um grande numero de restaurantes de comida chinesa. E, ainda, um mercado de rua que concentra apenas produtos chineses, como o mercado javanês.

A organização étnica e social do país é representada na bandeira oficial do Suriname. Nela, as faixas em verde, branco e vermelho representam a fertilidade, justiça e paz e, por

último, patriotismo. Ao centro uma estrela - da cor do ouro, metal abundante naquelas terras - de cinco pontas representa a multiplicidade étnica e as cinco maiores etnias do país – holandeses, indostanos, javaneses, maroons e judeus. Independente há 35 anos e democrático desde 1987, o país apresenta uma porcentagem maior de imigrantes do que de habitantes locais.

Além da bandeira, outros aspectos sociais tiveram que ser adaptados no país para suprir as necessidades da multiplicidade étnica. Ao

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analisar o calendário anual, no mês de fevereiro, por exemplo, tem-se o ano novo chinês, no dia 14, o carnaval brasileiro nos dias 14 a 16, e a comemoração do nascimento de Mohamed, feriado mulçumano, no dia 26. Já em outubro, têm-se, do dia 8 ao 16, um período indostano de jejum em honra à deusa Durga, no dia 10, o dia da celebração maroon, no dia 20, a comemoração da imigração chinesa e, por último, nas últimas semanas do mês, o festival de Salsa e Zouk, danças tipicamente caribenhas. São mais de quarenta eventos étnicos no calendário escolar. A diversidade religiosa é tamanha que foi implementado em 20 de janeiro, um mês relativamente vazio de feriados (tem apenas dois), o dia mundial da religião, em que todas as crenças, pagãs ou não, são homenageadas. A festa de rua é multiétnica e as comemorações

Artigos vindos da china abastecem os supermercados e as lojas de roupa. Comerciantes de outras etinias se sentem ameçados pelos baixos preços associados à baixa qualidade de produtos chineses. Com o comércio, cresce o capital de giro e, junto, a porcentagem de chineses no Suriname.

internas segregadas.No guia turístico, além de uma lista de todos os feriados e eventos do país, a constituição do perfil cultural do Suriname é divida em seções. Primeiro, um pouco sobre a influência holandesa. Depois, influências francesa e alemã. Os ingleses, durante a primeira guerra mundial, também deixaram marcas das botas britânicas no solo surinamês. Alem disso, influências africanas, dos escravos, e as já conhecidas chinesa, indiana, javanesa e brasileira são mencionadas. Entretanto, muito pouco é atribuído à cultura local. Ela é praticamente inteira constituída por influências, exceto pela contribuição maroon e ameríndia à culinária e às crenças religiosas.

O resultado é um cardápio variado de refeições. Para os Java-surinameses, tudo com arroz – bem grudado e sem tempero. E, para compensar a falta de tempero, peixe frito salgado de arder a língua, com bastante molho de pimenta. Para os china-surinameses, o café da manhã é quase o mesmo que o almoço: trouxinhas gordurosas de carne de porco e arroz, também sem tempero. O almoço hindi-surinamês é carregado no curry, e o maroon na banana e nos molhos feitos de amendoim – utilizado também nas culinárias javanesa e holandesa. Comer, no Suriname, é como estar em um país diferente a cada refeição, uma verdadeira viagem gastronômica. A sensação de sentir diferentes gostos durante as refeições é a mesma de frequentar diferentes ambientes ao longo do dia, cada qual com sua especialidade e suas características específicas na decoração. Com tanta variedade, é difícil estabelecer um prato que agrade a todos os públicos. Os fast- food da cidade, dada a dificuldade, investiram no amor pelo frango frito. Lá, o “Mc’lanche feliz” serve, como opção, ao invés do hamburger, um pedaço de frango frito, empanado com uma capa crocante e servido com um potinho de maionese. Outras cadeias de sucesso são o Kentucky Fried Chicken e o Popey’s, ambos com frango frito no cardápio.

Em geral, cada comunidade concentra-se em formas específicas de sustento. Os chineses, são a camada majoritária no comércio de supermercados e artigos falsificados, seguidos pelos indianos. Cerca de 18% da população, os javaneses, advindos da ilha de Java na Indonésia, em maioria concentram-se na arte da culinária. É comum caminhar pelas ruas sob o sol de Paramaribo e avistar restaurantes construídos nas amplas varandas das casas javanesas. Muitos dos indianos são donos de grandes e pequenos negócios, redes de televisão, cadeias

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Em um dos vários restaurantes indonésios da capital, o jantar é servido como na Ilha de Java: Macarrão , frango frito, salada de feijão em corda e soja, banana empanada e molhos de amendoim e pimenta.

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Em um dos vários restaurantes indonésios da capital, o jantar é servido como na Ilha de Java: Macarrão , frango frito, salada de feijão em corda e soja, banana empanada e molhos de amendoim e pimenta.

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de restaurantes, vendas e lojas de imóveis. Já os habitantes locais, maroons e ameríndios, em maioria prejudicados pela história da colonização, formam a camada mais pobre da população, claro com algumas exceções. Eles representam, em grande parte, a camada operária da salada cultural. Pedreiros, carpinteiros, eletricistas e pintores. Segundo os javaneses, a imigração indonésia para o país começou justamente por causa do trabalho dos habitantes locais. Com a libertação da escravatura e as precárias condições de vida e trabalho dos ameríndios e ex-escravos, foi preciso trazer pessoas de outras regiões do planeta dispostas a trabalharem duro em troca de um pedaço de terra. Os chineses contam uma história similar. A princípio o trabalho era temporário, mas com as vidas e os empregos estabelecidos no Suriname, foi raro alguém voltar ao país de origem.

Dino Ngadino é um comerciante de 44 anos. Com meus olhos, talvez um pouco exaustos de tanto observar detalhes durante quinze dias de estadia no país, lhe daria menos de trinta. Sua loja comercializa CDs e DVDs piratas. Segundo ele, o comércio dá um dinheiro bom. “Mas a Indofair não acrescenta muito em lucro. Só acrescenta mesmo para quem vende móveis e comida. Os javaneses gostam de móveis da Indonésia, e todo mundo gosta de comer”, afirma com um sorriso piadista no rosto. Concordei e disse que eu também era uma dessas pessoas que gostam de comer. A indofair, é uma feira de comemoração da imigração javanesa para o Suriname que acontece uma vez por ano. Em 2010, a imigração completa 60 anos, e a feira 10. Durante nove dias, centenas de javaneses desfrutam de comidas típicas e espetáculos de dança e teatro, trazidos da Indonésia especialmente para a ocasião. Todos se conhecem, muitos deles são familiares. Em todas as barracas, vê-se rostos ovais, tipicamente orientais. Vestimentas javanesas e artigos de luxo. Móveis, roupas, adornos e até mesmo produtos diet importados de lá. Aqui tudo se concentra, o pequeno mundo javanês cultivado em um país estrangeiro. Com todo o entretenimento indonésio, me impressiono com a manifestação do público cativo quando foi anunciada a sessão de cinema: bollywood. Sim, cinema com dança e histórias de amor proibido, diretamente da Índia. O público javanês enlouquece com a sessão, e no dia seguinte ela se repete. Novo título, mas as expressões do público são as mesmas. A multidão de se diverte com o entretenimento. A reação do público é intrigante. Ela aponta para um ponto importante da multiplicidade étnica,

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Ao lado, Dino e seu funcionário em frente à banca de CDs e DVDs na Indofair 2010.

Abaixo, barracas de comida típica da indonésia atraem os visitantes.

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Acima, um surinamês caminha pelas ruas quase desertas de Paramaribo devido ao calor intenso. Abaixo, uma feirante chinesa faz um intervalo nas vendas para o lanche. Ao lado, uma garota javanesa passea pela feira étnica.

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algo que acontece no Brasil com tanta frequência, que já mal é percebido, miscigenação cultural e o sincretismo global. No Suriname, cada grupo étnico vive em sua bolha social. Entretanto, com tanta influência ocorrendo constantemente, é impossível não absorver parte das outras culturas. No Brasil, a mistura já é tanta que a chamamos de uma cultura só, a cultura brasileira, formada de muitas outras, dividida por regiões numa vã tentativa de organizar o mix cultural. Mas, no Suriname, não há regiões para se dividir. São 250 mil pessoas vivendo somente no espaço da capital. É difícil compreender a forma pela qual, até hoje, os grupos étnicos não são tão misturados como em outros países. Paramaribo é o verdadeiro exemplo da aldeia global. Entretanto, assim como este conceito, a segregação tende a cair em desuso e a tentativa

de cultivar raízes puras de culturas de origem se torna cada vez mais difícil de manter. Na barraca de Nadya, em que são vendidas comidas típicas e produtos importados da indonésia, vemos um exemplo da nova geração de jovens surinameses: dois mulçumanos, três javaneses, um indiano e um descendente de ameríndios. É a única barraca multicultural da feira, mas já representa uma tendência. A verdade é que o Suriname se parece cada vez mais com o Brasil. Só lhes faltam 180 milhões, 970 mil brasileiros.

Durante a Indofair, grupos de dança e teatro foram trazidos da Indonésia para entreter os javaneses do Suriname.