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Janeiro de 2007 - Página 1 SUSTENTABILIDADE CORPORATIVA – ALIMENTOS E BEBIDAS Por Clarissa Lins (FBDS) e Hiroshi C. Ouchi (FBDS) Revisado por Ulrich Steger (CSM/IMD) INTRODUÇÃO O presente artigo é fruto da pesquisa desenvolvida pela Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável – FBDS, que contou com apoio técnico e metodológico do Forum for Corporate Sustainability Management – CSM do International Institute for Management Development – IMD, instituição que havia realizado pesquisa semelhante na Europa, EUA e Ásia no biênio 2002-2003 em parceria com a World Wide Fund for Nature – WWF. A pesquisa, que contou também com o apoio de pesquisa do Instituo COPPEAD de Administração da UFRJ e com o patrocínio das empresas Klabin, Tetra Pak e Banco Real ABN AMRO, utilizou entrevistas, questionários e informações públicas setoriais e de empresas na busca de avaliar o caso de negócios para a sustentabilidade corporativa em três setores de negócios do Brasil, quais sejam: Papel e Celulose, Alimentos e Bebidas e Energia Elétrica. O setor industrial de Alimentos e Bebidas (A&B) foi escolhido para essa pesquisa por ser muito relevante para a economia brasileira, bem como muito sensível tanto a questões ambientais, dada sua interferência e dependência de recursos naturais, quanto a questões de cunho social, vista sua parte de responsabilidade em aspectos ligados a desnutrição, obesidade e consumo responsável. No período de agosto a dezembro de 2005, foram entrevistados, individualmente, 22 executivos da alta administração das empresas AmBev, Coca-Cola Brasil, Nestlé Brasil, Perdigão e Sadia, além de três stakeholders com papel relevante no setor, oriundo de uma empresa varejista e uma ONG, conforme gráfico 1 a seguir. Adicionalmente, questionários foram respondidos por 30 profissionais 1 da alta e média gerência das empresas do setor. 1 Entre os questionários respondidos, houve um originário da área ligada à sustentabilidade de uma quinta empresa que, embora não tenha participado das entrevistas, decidiu contribuir com o questionário.

Sustentabilidade corporativa - alimentos e bebidas

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Page 1: Sustentabilidade corporativa - alimentos e bebidas

Janeiro de 2007 - Página 1

SUSTENTABILIDADE CORPORATIVA – ALIMENTOS E BEBIDAS

Por Clarissa Lins (FBDS) e Hiroshi C. Ouchi (FBDS) Revisado por Ulrich Steger (CSM/IMD)

INTRODUÇÃO

O presente artigo é fruto da pesquisa desenvolvida pela Fundação Brasileira para o

Desenvolvimento Sustentável – FBDS, que contou com apoio técnico e metodológico do Forum for

Corporate Sustainability Management – CSM do International Institute for Management

Development – IMD, instituição que havia realizado pesquisa semelhante na Europa, EUA e Ásia

no biênio 2002-2003 em parceria com a World Wide Fund for Nature – WWF. A pesquisa, que

contou também com o apoio de pesquisa do Instituo COPPEAD de Administração da UFRJ e com o

patrocínio das empresas Klabin, Tetra Pak e Banco Real ABN AMRO, utilizou entrevistas,

questionários e informações públicas setoriais e de empresas na busca de avaliar o caso de negócios

para a sustentabilidade corporativa em três setores de negócios do Brasil, quais sejam: Papel e

Celulose, Alimentos e Bebidas e Energia Elétrica.

O setor industrial de Alimentos e Bebidas (A&B) foi escolhido para essa pesquisa por ser

muito relevante para a economia brasileira, bem como muito sensível tanto a questões ambientais,

dada sua interferência e dependência de recursos naturais, quanto a questões de cunho social, vista

sua parte de responsabilidade em aspectos ligados a desnutrição, obesidade e consumo responsável.

No período de agosto a dezembro de 2005, foram entrevistados, individualmente, 22

executivos da alta administração das empresas AmBev, Coca-Cola Brasil, Nestlé Brasil, Perdigão e

Sadia, além de três stakeholders com papel relevante no setor, oriundo de uma empresa varejista e

uma ONG, conforme gráfico 1 a seguir. Adicionalmente, questionários foram respondidos por 30

profissionais1 da alta e média gerência das empresas do setor.

1 Entre os questionários respondidos, houve um originário da área ligada à sustentabilidade de uma quinta empresa que, embora não tenha participado das entrevistas, decidiu contribuir com o questionário.

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Gráfico 1 - Entrevistados no setor de A&B

Vice-presidentes /

Direto res36%

Stakeholders12%

Gerentes52%

05

10

152025

303540

Entrevistas aplicadas Questionariosrespondidos

Gráfico 2 - Entrevistas e questionários da pesquisa no setor de A&B

A partir das informações obtidas nas entrevistas, nos questionários e na coleta de dados

secundários2, fez-se uma análise setorial, tendo como premissa básica que as empresas selecionadas

estão entre aquelas de vanguarda na visão e gestão de negócios do setor, além de representarem

fatia considerável do mesmo em termos de faturamento.

No primeiro capítulo deste trabalho está apresentada uma análise resumida das

características do setor, com informações que apontam sua relevância no País, bem como uma breve

análise da competição, conforme modelo desenvolvido por Porter (1999). No segundo capítulo, são

identificadas as principais questões do setor de A&B ligadas ao contexto da sustentabilidade, com

ênfase nas interferências econômicas e estratégicas.

O terceiro capítulo apresenta os resultados obtidos nas empresas pesquisadas no tocante ao

seu desempenho em relação à sustentabilidade, especialmente em relação aos aspectos apontados no

capítulo 2, dividindo a análise nos seguintes tópicos: (i) motivação para implementação do conceito,

(ii) capacidade de implementação, (iii) alinhamento das diversas áreas da organização, (iv)

utilização de ferramentas gerenciais e (v) peculiaridades setoriais.

O quarto capítulo aponta as principais conclusões da pesquisa sobre a sustentabilidade no

setor de A&B. Por fim, o quinto e último capítulo apresenta sugestões de ações a serem

implementadas no setor de A&B para o avanço da agenda da sustentabilidade corporativa.

2 Alguns exemplos de dados secundários utilizados são relatórios públicos e websites das empresas pesquisadas e de instituições que representam o setor.

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1 ANÁLISE DA COMPETITIVIDADE DO SETOR

1.1 - CARACTERÍSTICAS GERAIS DO SETOR

O setor de A&B tem a capacidade de interferir fortemente em todos os pilares da

sustentabilidade corporativa, dados sua relevância econômica, a interdependência com o meio

ambiente e o impacto que gera em aspectos ligados à saúde e ao bem-estar dos cidadãos.

No tocante à questão econômica, A&B é um setor que representa uma fatia significativa do

PIB brasileiro (conforme apresentado na tabela 1, a seguir) e tem grande vocação para a exportação.

Só as exportações brasileiras de carnes e miudezas comestíveis em 2005, por exemplo, foram

superiores a US$ 7 bilhões.

A indústria de A&B é intrinsecamente ligada ao meio ambiente por ser totalmente

dependente de recursos naturais, seja por causa da necessidade de terras apropriadas para produção

de matéria-prima ou por sua imensa dependência da água. A água é o fator imprescindível para a

indústria de A&B por ser um de seus principais insumos e, no caso específico de bebidas, sua

principal matéria-prima. Portanto, para garantir perenidade e competitividade no setor, as empresas

têm que preservar o acesso e a qualidade da água utilizada no processo produtivo.

Na dimensão social, o setor de A&B interfere diariamente em questões básicas afetas à

saúde da sociedade onde atua, em aspectos como desnutrição, obesidade, alcoolismo e outros

problemas ligados ao consumo (ou não-consumo) de produtos desta indústria. Assim, mesmo que

não acessem diretamente os consumidores finais, as empresas do setor têm um papel fundamental

no tratamento dessas questões.

A tabela a seguir apresenta alguns dados sócio-econômicos do setor de A&B em 2005, de

acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação – ABIA.

Tabela 1 – Dados sócio-econômicos do setor de Alimentos e Bebidas, Brasil - 2005

• Número de empresas: 42,2 mil

o 86% micro e pequena

o 3% média

o 1% grande

• Número de empregos diretos: mais de

7 milhões

• Faturamento líquido: R$ 184,2

bilhões

• Participação no PIB: 9,5%

• Exportação: US$ 20,1 bilhões

• Saldo comercial: US$ 18,6 bilhões

Fonte: ABIA – Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação

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1.2 CARACTERÍSTICAS DAS EMPRESAS PESQUISADAS NO SETOR

Os principais critérios de escolha das companhias que deveriam fazer parte da pesquisa

foram: (i) serem empresas de grande porte; (ii) quando possível, empresas de controle nacional e

listadas em bolsa de valores; e (iii) com facilidade de acesso por meio dos contatos da FBDS e de

seus parceiros.

Portanto, as empresas selecionadas são todas empresas de grande porte com atuação em

vários países, seja por meio de suas controladoras (Coca-Cola, Nestlé), ou por meio de suas próprias

matrizes brasileiras (AmBev, Perdigão e Sadia). Além disso, as organizações de controle nacional

são empresas de capital aberto, comprometidas com transparência ao mercado.

Além das empresas citadas acima, outras quatro grandes empresas do setor foram procuradas

para a realização das entrevistas da pesquisa, mas não se dispuseram a participar da mesma.

Alguns dados básicos das empresas que tiveram participação plena na pesquisa foram

selecionados e estão apresentados na tabela a seguir.

Empresa AmBev Coca-Cola Nestlé Perdigão Sadia

Receita Líquida Total (R$ milhões)

15.959 Não disponível 10.600 * 5.145 7.318

Receita - Mercado Externo (%) 38% Não disponível Não disponível 48% 49%

Patrimônio Líquido (R$ milhões) 19.867 Não disponívelNão disponível 1.223 2.224

EBITDA (R$ milhões) 6.305 Não disponível Não disponível 656 896

Lucro Líquido (R$ milhões) 1.546 Não disponível Não disponível 361 657

Empregos diretos 28.214 25.000 16.000 * 35.556 45.381

Controle Societário Nacional (não-

familiar) Estrangeiro Estrangeiro

Nacional (não-familiar)

Nacional (familiar)

Ações em Free Float (%) 34% Capital Fechado Capital Fechado 53% 74%

Ações Ordinárias (%) 52% Capital Fechado Capital Fechado 35% 38%

Governança Corporativa - Bovespa

Bovespa - Nível 1

Não Não Bovespa - Novo

Mercado Bovespa - Nível

1

Bolsa de Nova York ADR - nível Não Não ADR - nível II ADR - nível II

Integrante do ISE Bovespa Não Não Não Sim Não

Relatório Social, Ambiental ou de Sustentabilidade

Sim Sim Sim Sim Sim

Fonte: Relatórios, websites ou informações cedidas por funcionários das empresas citadas

* Dados de 2004

Tabela 2 - Indicadores selecionados das empresas pesquisadas - ano-base 2005

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1.3 COMPETIÇÃO NO SETOR

O setor de A&B conta com um grande número de empresas, especialmente no que diz

respeito ao ramo de alimentos. Em relação a esse segmento, é crescente o número de empresas

brasileiras que competem no mercado global, ao mesmo tempo em que é muito grande a quantidade

de pequenas indústrias que têm como foco atender a mercados regionais. Sendo assim, há forte

competição no setor de alimentos, com várias empresas de grande porte disputando mercado com

empresas menores.

Já no que diz respeito ao segmento de bebidas, o cenário competitivo é um pouco diferente.

Dado o aumento significativo de fusões e incorporações nos últimos anos, o número de empresas

foi reduzido e as de menor porte tiveram sua participação de mercado diminuída. Por outro lado, as

grandes empresas, por atuarem de forma global, sofrem uma competição acirrada em nível

internacional.

Vale destacar, ainda, que as maiores empresas do setor sofrem da concorrência desleal de

pequenas empresas informais, o que distorce de forma significativa o contexto competitivo. A

informalidade permite que empresas coloquem seus produtos em diferentes mercados locais sem

necessariamente atender às exigências legais mínimas, seja em termos tributários, seja no que diz

respeito à legislação sanitária.

1.4 BARREIRAS À ENTRADA

As barreiras à entrada no setor de A&B não parecem ser altas, especialmente se o mercado

alvo for regional. Embora existam custos e morosidade na formalização do negócio e na adequação

a exigências fito-sanitárias, é razoavelmente fácil atuar em alguns segmentos do setor. Além disso,

o setor de alimentos tem uma gama diversificada de produtos e está sempre em busca de inovação,

o que dificulta o monitoramento e domínio de todos os seus segmentos por parte das grandes

empresas.

Todavia, quando se olha especificamente para o segmento de bebidas, a dificuldade de

ingresso é um pouco maior. Os investimentos exigidos são, em geral, mais expressivos e o mercado

é cada vez mais dominado por um pequeno grupo de empresas que detêm tecnologia e escala

suficientes para ter baixos custos e conseqüente alta competitividade.

Page 6: Sustentabilidade corporativa - alimentos e bebidas

Janeiro de 2007 - Página 6

1.5 PRODUTOS SUBSTITUTOS

Como o setor A&B está sendo abordado de forma ampla, incluindo todas as suas variações

de produtos, não é possível identificar produtos substitutos. Contudo, é possível atestar que a grande

variedade de itens e a capacidade de inovar e alterar o mix de produtos no setor são aspectos que

apontam para uma crescente ameaça para empresas com baixa flexibilidade, tanto no que diz

respeito a alimentos quanto no tocante a bebidas.

1.6 PODER DE BARGANHA DOS FORNECEDORES

As principais matérias-primas das empresas de alimentos são itens produzidos por uma

grande gama de pequenos produtores, sujeitos a riscos de mercado tais como intempéries do clima,

pragas e doenças, descentralização da oferta, falta de informações e pesquisas, entre outros. Toda

essa imprevisibilidade gera aos produtores uma instabilidade financeira que, em parte, tem que ser

absorvida pelas indústrias de alimentos, sob pena de ocorrer falta de abastecimento às mesmas em

algum momento.

Já no segmento de bebidas, a principal matéria-prima, como destacado anteriormente, é a

água, cujo uso ainda está sendo plenamente regulado pelo poder público. A principal preocupação

no tocante ao uso da água é garantir seu acesso e sua qualidade, sabendo que as indústrias

competem com demais usuários – comunidades, cidadãos, energia, etc. Assim, devem exercer sua

cidadania corporativa quando se fazem representar nos Comitês de Bacias Hidrográficas e

participam, de alguma forma, da melhor repartição do uso da água.

Quanto aos fornecedores de outras matérias-primas, pode-se afirmar que, dado o peso das

indústrias de bebidas e sua capacidade de verticalização, não conseguem ter relevante poder de

negociação.

1.7 PODER DE BARGANHA DOS CLIENTES

A análise também é diferente para as indústrias de alimentos frente às de bebidas quanto ao

poder de barganha dos clientes. No segmento de bebidas, as empresas de pequeno porte têm poder

de barganha bem reduzido diante de seus clientes, já que seus produtos não costumam ter marcas

conhecidas, consumidores fiéis ou qualquer outro diferencial além do preço. Além disso, boa parte

dos seus clientes é formada por redes varejistas com significativo poder de compra.

Quando se trata das grandes indústrias deste segmento, estas têm significativo poder de

negociação frente aos seus clientes, ainda que esses sejam grandes redes varejistas ou atacadistas.

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Isso se dá, principalmente, porque essas empresas têm em seus produtos marcas conhecidas que são

constantemente fortalecidas com campanhas maciças de marketing, fidelizando os consumidores

finais que, por sua vez, passam a exigir dos pontos de venda a presença de tais itens. Um aspecto

importante dessas campanhas é que elas, em geral, conseguem transmitir a mensagem de que existe

um diferencial de qualidade, sabor e status em seus produtos.

Já as indústrias de alimentos encontram uma situação um pouco diferente. Embora para as

empresas de pequeno porte a análise seja semelhante à das pequenas indústrias de bebidas, as

grandes empresas de alimentos têm o poder um pouco reduzido quando analisada a questão da

fidelização de clientes. Embora essas empresas também façam um grande esforço de marketing, o

que se percebe é que existe no consumidor uma forte sensibilidade a preços. É possível que isso

ocorra por várias razões, entre as quais a inovação e a regionalização, com baixa percepção quanto a

diferenciais de qualidade. Na questão da inovação, nota-se que o mercado está constantemente

alterando o mix de produtos que consome. Já no aspecto da regionalização, é possível que a

população ainda se apegue à idéia de que, por exemplo, os produtos de açougues, padarias, feiras do

bairro ou, até mesmo, de pequenas indústrias regionais tenham tanta qualidade quanto os produtos

industrializados por grandes empresas.

A figura 1 a seguir busca apresentar um resumo da análise da competição no setor de A&B,

utilizando o modelo de Porter (1999), que avalia como as forças competitivas moldam a estratégia.

No capítulo seguinte, serão apresentadas as principais questões do setor diretamente relacionadas ao

tema da sustentabilidade corporativa, bem como seus aspectos ligados à estratégia de negócios.

Figura 1 – Competição no setor de Alimentos e Bebidas no Brasil

Grande gama de produtosBusca de inovação e

fortalecimento de marca

Alimentos: consumidores sensíveis a preço

Bebidas: grandes marcas com fidelidade dos clientes, mas alguma sensibilidade a preço

Alta competiçãono setor

Questão da formalidadeExigências fito-sanitárias

Mercados regionais

Grande número de empresas regionais

Alimentos: cadeia de fornecedores com muitos

pequenos produtoresBebidas: matéria prima fundamental é recurso

natural; outros materiais são de grandes fornecedores

Poder de barganhadiferenciado defornecedores

Poder de barganhados clientes

relativamente alto

Barreiras à entradarelativamente baixas

Ameaça crescente deprodutos substitutos

Número crescente de empresas globais

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2 QUESTÕES ECONÔMICAS E ASPECTOS RELEVANTES DA SUSTENTABILIDADE

Entender a inserção da sustentabilidade passa pela compreensão de questões-chave do setor

que abordam e integram fortemente duas ou as três dimensões da sustentabilidade, quais sejam a

econômico-financeira, a social e a ambiental.

Ao analisar as questões no setor com maior impacto para o resultado dos negócios, algumas

foram identificadas como mais relevantes e divididas em três grupos: upstream, produção e

aspectos downstream. No primeiro grupo destacam-se aqueles que dizem respeito ao início da

cadeia produtiva, quais sejam: uso eficiente de recursos naturais; impactos socioambientais na

geração da matéria-prima; e integração da cadeia produtiva. Já no segundo grupo, os principais são:

disponibilidade e qualidade da água; e informalidade. Por fim, no terceiro grupo são itens de

destaque aqueles mais ligados à ponta do consumo final, isto é: transparência de questões sanitárias

e rastreabilidade; embalagens e reciclagem pós-consumo; e consumo responsável. Estas questões

encontram-se mais detalhadas a seguir.

2.1 ASPECTOS UPSTREAM: USO EFICIENTE DE RECURSOS NATURAIS

O setor de A&B, quando analisado nas etapas anteriores à produção industrial, apresenta

questões ambientais de grande relevância para sua produtividade e sustentabilidade. Essas questões

estão relacionadas diretamente ao uso racional e eficiente de recursos naturais, como o solo e a

água, imprescindíveis para a própria perenidade do setor. Dada a possibilidade de esgotamento

destes recursos, faz-se fundamental o aumento de produtividade e da capacidade de renovação dos

mesmos, bem como seu uso sustentável. Nesse contexto, entende-se a importância crescente da

conscientização acerca da escassez de recursos naturais junto aos produtores de matéria-prima.

2.2 ASPECTOS UPSTREAM: IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA GERAÇÃO DA

MATÉRIA-PRIMA

Seguindo à idéia de que é necessário ter racionalidade na utilização de recursos naturais, o

setor necessita gerar o menor impacto ambiental possível na obtenção de matérias-primas, já que

depende fundamentalmente do meio ambiente para a continuidade dos negócios. Logo, questões

como poluição de mananciais, assoreamento de rios, desmatamento, erosão do solo, geração de

resíduos e utilização de fertilizantes e defensivos agrícolas, precisam ser tratadas de forma adequada

e em uma visão integrada da cadeia produtiva do setor de A&B.

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Além disso, por ser intensivo em mão-de-obra e ter a geração de sua matéria-prima

predominantemente em áreas rurais, o setor de A&B precisa estar atento às suas práticas sociais,

trabalhistas e de direitos humanos, banindo de forma definitiva e transparente o trabalho infantil ou

escravo e buscando gerar apenas externalidades positivas nas localidades onde atua.

2.3 ASPECTOS UPSTREAM: INTEGRAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA

Diante do exposto, nota-se que a integração da cadeia de fornecimento apresenta-se como

fator crítico no setor de A&B, especialmente nas indústrias de alimentos, já que essas sofrem com a

grande volatilidade dos preços das matérias-primas e com o risco de desabastecimento.

Como já foi ressaltado, a indústria de alimentos depende fundamentalmente de produtos

agrícolas ou de animais oriundos de criações, sendo essas atividades sujeitas a percalços de

produção provenientes de imprevistos ligados ao clima, pragas e doenças, ou ainda de catástrofes

ambientais. Além disso, estão sujeitas a oscilações de oferta, devido a uma espécie de “efeito

manada” da produção rural, quando a maioria dos produtores alterna suas produções orientando-as

para aqueles mais rentáveis.

Frente a esse conjunto de variáveis, a solução encontrada pelas empresas líderes do setor foi

a de integrar a estrutura de fornecimento à cadeia produtiva da empresa, transformando assim o

produtor de matéria prima em um parceiro que deve garantir um fornecimento mínimo por meio de

contratos futuros de compra e venda. Nesse caso, o fornecedor ganha também com a garantia de

preços mínimos e fluxo de caixa futuro para os seus negócios, além de assistência técnica e

estímulo à pesquisa.

Todavia, ao estabelecer esse laço mais forte de parceria com os fornecedores, os chamados

“integrados”, a empresa traz para si, com mais ênfase, toda a questão socioambiental da cadeia. A

empresa líder passa a ter uma responsabilidade ainda maior com relação às práticas de seus

fornecedores, em seus diversos aspectos, o que as estimula a estender suas políticas e práticas

sustentáveis aos fomentados, cobrando e verificando seu desempenho até mesmo em cláusulas

contratuais.

2.4 ASPECTOS DA PRODUÇÃO PRÓPRIA: DISPONIBILIDADE E QUALIDADE DA

ÁGUA

Como anteriormente ressaltado, as indústrias de A&B são absolutamente dependentes do

abastecimento contínuo e de qualidade da água. Embora esta seja um recurso renovável, a oferta de

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recursos hídricos é limitada e depende da preservação ambiental e de uso sustentável para sua

renovação. Portanto, duas questões são essenciais para a manutenção do abastecimento de água: a

preservação do meio ambiente, em especial dos mananciais e seu entorno; e a maior eficiência do

consumo, reduzindo o volume necessário por unidade produzida.

Para isso, não basta que apenas a indústria de alimentos e/ou bebidas atue internamente

sobre essas questões. É preciso que toda a sociedade o faça, já que a água é um bem comum a

todos. Porém, como as indústrias de A&B são mais sensíveis a esse fator, acabam assumindo a

responsabilidade de levantar essas questões e apresentar possíveis soluções para um conjunto maior

de interessados, agindo como impulsionador da mudança de atitude, de forma a minimizar os

possíveis riscos ligados ao uso não sustentável.

2.5 ASPECTOS DA PRODUÇÃO PRÓPRIA: INFORMALIDADE

Uma questão muito relevante para o tema da sustentabilidade no setor de A&B é a

informalidade de várias pequenas indústrias. Essa informalidade se traduz, basicamente, em

sonegação fiscal e em meios irregulares de produção.

Estima-se que a sonegação de impostos seja grande no setor, em especial em parte das

muitas indústrias de pequeno porte. Essa sonegação pode indicar, ainda, o risco de descumprimento

de questões ligadas ao meio ambiente, à vigilância sanitária e à qualidade mínima de produtos.

Portanto, reduzir a informalidade do setor é um grande desafio no caminho da

sustentabilidade, já que isso não afeta a perenidade apenas das empresas que atuam na

informalidade, mas de todo o setor.

2.6 ASPECTOS DOWNTREAM: TRANSPARÊNCIA DE QUESTÕES SANITÁRIAS E

RASTREABILIDADE

Um aspecto de grande relevância para a sustentabilidade do setor de A&B é o da

transparência de exigências fito-sanitárias e da rastreabilidade dos produtos. Alimentos e bebidas

contaminados podem gerar graves problemas de saúde pública, inclusive com a disseminação de

vírus e bactérias que podem levar à morte. Logo, tal risco deve ser evitado por práticas sustentáveis

na cadeia de produção do setor.

Nos últimos anos, a maior incidência de doenças como febre aftosa e gripe aviária têm

causado temores em todo o mundo, já que, com a globalização, os alimentos são comercializados no

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mercado internacional e as doenças ligadas a eles podem não mais ficar confinadas em uma

determinada região.

Além disso, é cada vez maior a utilização de mecanismos de modificação genética em

alimentos, que proporcionam características diferenciadas nos mesmos. Entretanto, ainda não estão

claros os impactos de tais manipulações sobre a saúde do ser humano. Dessa forma, a

rastreabilidade é aspecto chave na efetividade da sustentabilidade das empresas do setor.

2.7 ASPECTOS DOWNTREAM: EMBALAGENS E RECICLAGEM PÓS-CONSUMO

O descarte do lixo tem se tornado um problema crítico para a sociedade de consumo. A cada

ano que passa, o ser humano passa a produzir uma quantidade maior de lixo e cria dificuldade

crescente em solucionar a seguinte questão: O que fazer com todo esse lixo que, além de ocupar

cada vez mais espaço, pode gerar graves problemas ambientais e de saúde pública?

Várias alternativas têm sido criadas para os diversos tipos de lixo e todas elas buscam, em

algum estágio, atuar sobre os princípios da reutilização, da reciclagem ou da redução de sua

produção. Para o setor de A&B, o maior problema de produção de lixo é o das embalagens, que

utilizam materiais poluentes e que precisam ser reduzidas e recicladas, ainda que, a partir da

reciclagem, se transformem em outros produtos e passem a atender a outros setores de negócios.

As iniciativas de reciclagem de suas embalagens demonstram o direcionamento das

indústrias para a solução de problemas ambientais e sociais e podem apresentar-se ainda como uma

atraente oportunidade de negócio.

Os principais itens a serem reciclados após o consumo dos produtos são papel, plástico,

alumínio e vidro, para os quais já existem técnicas e ferramentas de reciclagem disponíveis.

Contudo, as empresas precisam ainda investir em conscientização de boa parte da população e,

fundamentalmente, em soluções de coleta e sistematização do processo.

2.8 ASPECTOS DOWNTREAM: CONSUMO RESPONSÁVEL

Quando as pessoas ouvem falar em responsabilidade no consumo, facilmente se remetem ao

consumo excessivo de bebidas alcoólicas, o que de fato é um problema ligado ao tema. Contudo,

responsabilidade no consumo é um tema ainda mais abrangente, que envolve não apenas as

questões ligadas às bebidas alcoólicas, mas também ao consumo desmedido e desapropriado de

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Janeiro de 2007 - Página 12

quaisquer outros alimentos e bebidas, podendo gerar problemas de saúde como desnutrição e

obesidade, mesmo em classes sociais mais escolarizadas.

2.8.1 OBESIDADE, DESNUTRIÇÃO E SAÚDE

As questões de A&B ligadas à saúde pública vão desde intoxicação até obesidade, passando

por desnutrição e favorecimento ao aparecimento de doenças como diabetes e problemas cardíacos.

Por isso, as indústrias de A&B têm um papel importante no esclarecimento da sociedade

sobre os aspectos ligados ao consumo de cada produto. Por outro lado, é possível compreender que

a indústria não se sinta diretamente responsável pelo consumo inadequado, já que essa

responsabilidade é do próprio consumidor, supondo-se que esteja devidamente informado e seja

capaz de entender a informação conforme ela é apresentada. Portanto, já não basta à indústria o

papel de informar. Ela precisa fazer com que o consumidor compreenda perfeitamente a informação

por ele recebida e possa tomar sua decisão de consumo conhecendo os riscos e os benefícios do

consumo de cada produto.

2.8.2 CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS E RESTRIÇÕES DE PROPAGANDAS

PARA CRIANÇAS (BEBIDAS REFRIGERANTES E ALCOÓLICAS)

Uma preocupação que tem ganhado força é a veiculação de campanhas publicitárias que

incitem o consumo inapropriado de bebidas refrigerantes e alcoólicas, especialmente por crianças e

adolescentes. No tocante às bebidas alcoólicas, já existe uma rigorosa legislação neste sentido,

legislação essa que freqüentemente recebe sugestões para ter aumentado seu nível de restrições. Já

para os refrigerantes, a legislação não é tão restritiva, embora haja uma preocupação crescente em

evitar direcionar campanhas publicitárias a crianças.

No que diz respeito ao consumo de bebidas alcoólicas, o principal desafio é aumentar as

vendas sem gerar em contrapartida problemas sociais como alcoolismo, acidentes de trânsito

causados pela mistura de álcool com a direção de veículos, aumento da violência e doenças diversas

originadas ou potencializadas pelo consumo excessivo de álcool.

Após conhecer algumas características do setor e de entender como questões

socioambientais podem gerar grande impacto nas empresas de A&B, o capítulo 3, a seguir, busca

trazer uma avaliação mais estruturada da sustentabilidade corporativa em um conjunto de

significativas empresas do setor.

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Janeiro de 2007 - Página 13

3 AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE NAS EMPRESAS PESQUISADAS

Conforme já mencionado, as empresas analisadas no setor de A&B foram AmBev, Coca-

Cola Brasil, Nestlé Brasil, Perdigão e Sadia. Para a avaliação das referidas empresas, além das

entrevistas realizadas com seus principais executivos e dos questionários aplicados, também foram

consultados seus relatórios públicos e seus websites.

Desse conjunto de informações foram extraídos cinco temas de análise, seguindo a

metodologia do CSM/IMD, quais sejam: (i) motivação para construir o caso para a sustentabilidade;

(ii) capacidade de implementação do mesmo; (iii) alinhamento das diversas áreas da organização;

(iv) utilização de ferramentas ligadas ao tema; e (v) peculiaridades do setor que interferem na

sustentabilidade.

3.1 MOTIVAÇÃO

As empresas pesquisadas apresentaram forte ou média motivação para a implementação do

caso para a sustentabilidade. No entanto, um aspecto pode sugerir que essa motivação não seja real

em outras grandes empresas do setor, uma vez que quatro das nove empresas procuradas para a

realização da pesquisa se negaram a participar das entrevistas. Isso quer dizer que os resultados

encontrados devem ser vistos com muito cuidado quando se pensa em uma possível generalização

para o universo de grandes empresas do setor, especialmente quando se trata de resultados

positivos.

Outra constatação importante é que nem todas as empresas procuradas têm a

sustentabilidade corporativa fortemente inserida em suas estratégias de negócios, planejamento e

avaliações de desempenho.

A motivação para a implementação do caso para a sustentabilidade no setor de A&B,

quando existente, passa por uma série de fatores, ligados tanto à pressão exercida pelos diversos

stakeholders das companhias quanto aos seus direcionadores internos de valor.

Quando analisada a pressão exercida por diversos stakeholders, constata-se que os

consumidores ainda não apresentam um viés muito forte no Brasil para aspectos da

sustentabilidade. Entretanto, alguns nichos de mercado já contam com consumidores mais atentos a

essa questão (ex: alimentos e bebidas orgânicas) e, como o setor é muito sensível à pressão exercida

do lado do consumo, pequenos grupos de stakeholders já conseguem espaço para exigir boas

atuações éticas, ambientais e sociais, reforçando a motivação das organizações no caminho da

sustentabilidade. Em geral, as demandas desses grupos chegam às indústrias por meio de canais

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Janeiro de 2007 - Página 14

diretos como serviços de atendimento ao consumidor, ou por meio de seus clientes, atacadistas e

varejistas, já que são esses que sofrem a pressão mais direta da ponta do consumo.

Formadores de opinião, ONGs e comunidades do entorno das indústrias parecem ser, após

os consumidores finais, os principais stakeholders externos cuja pressão motiva as empresas do

setor de A&B. Cobram por uma atuação mais responsável, evidenciam pontos a serem melhorados

nas empresas e, muitas vezes, expõem todas essas questões a um grande público de consumidores e

clientes, atuais e potenciais. Essa cobrança se torna ainda mais forte nas empresas pesquisadas

devido ao fato de serem companhias internacionalizadas e de grande porte, mais em evidência e

alvos preferenciais.

Aparentemente, os acionistas e demais investidores de A&B têm tido uma postura ainda

pouco pró-ativa no tocante à sustentabilidade, com o foco ainda sendo o retorno financeiro de curto

prazo.

Os reguladores também não parecem ser grandes promotores da sustentabilidade, chegando

a serem vistos como potencial barreira ao tema. Portanto, quando questionados sobre as principais

barreiras à implementação do conceito nas empresas, os respondentes ao questionário apontaram

prioritariamente a cultura organizacional e a regulação, conforme demonstrado no gráfico a seguir.

Gráfico 3 - Principais barreiras à implantação da Sustentabilidade Corporativa

mentalidade gerencial

11%

falta de conhecimento

14%

regulação18%

ausência de ferramentas e

processos11%

cultura organizacional

19%

oposição ou desinteresse dos

investidores11%

desinteresse dos clientes

11%

outras5%

N = 37

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Janeiro de 2007 - Página 15

Além da influência dos stakeholders citados, fatores internos são muito importantes na

motivação para a sustentabilidade em A&B, quais sejam: reputação (marca e imagem), atração e

retenção de talentos, foco em resultados econômicos advindos das questões ambientais e sociais e

busca pela perenidade do negócio.

Talvez o principal fator motivador, presente em todas as companhias entrevistadas e bastante

enfatizado nas entrevistas, seja a reputação das empresas e o valor de suas marcas. As corporações

se preocupam cada vez mais com o juízo que é feito pela opinião pública sobre seu comportamento

nas áreas sociais, ambientais e de governança, dado o seu efeito crescente sobre a demanda dos

consumidores, que procuram pautar sua demanda também pelos princípios do consumo consciente.

A reputação apresenta-se como fator chave na orientação para a busca da sustentabilidade

corporativa em A&B. Isso fica evidente nas fontes de divulgação de informações das companhias,

dado que todas destacam suas ações de sustentabilidade em seus websites e em seus relatórios

anuais (AmBev, Perdigão e Sadia) ou relatórios específicos para o tema (AmBev, Coca-Cola Brasil

e Nestlé Brasil).

Outro aspecto evidenciado nas entrevistas é a relação percebida pelos executivos entre a

atuação no caminho da sustentabilidade e a atração e retenção de talentos. Em geral, os executivos

entrevistados entendem que os bons colaboradores são sensíveis ao direcionamento das empresas

em questões ligadas ao tema e têm preferência por aquelas que julgam ser mais sustentáveis.

Finalmente, um fator que chamou bastante atenção na motivação para a sustentabilidade foi

o da busca pela redução de custos e aumento de eficiência de recursos por meio da inovação em

processos e produtos. Alguns exemplos claros são os projetos de reutilização de dejetos, a redução e

reciclagem de materiais de embalagens e os projetos para redução no consumo de água na produção

de bebidas, com impacto direto sobre os custos de produção. Neste sentido, chama atenção o caso

da AmBev, que chegou a reduzir em cerca de 25% seu consumo de água por litro produzido ao

longo dos últimos cinco anos.

3.2 CAPACIDADE DE IMPLEMENTAÇÃO

De forma geral, encontra-se um razoável alinhamento das dimensões da sustentabilidade

com as estratégias de negócios nas empresas entrevistadas. Há também a prática de levar em conta

critérios sociais e ambientais em suas principais decisões (investimentos, P&D). Contudo, ainda

encontra-se em estágio inicial a disseminação do conceito da sustentabilidade corporativa, o que faz

com que diferentes áreas organizacionais ou níveis gerenciais não tenham o mesmo entendimento

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Janeiro de 2007 - Página 16

sobre o conceito. A exceção pareceu ser a Nestlé Brasil que, graças à orientação de sua matriz e boa

aplicação no Brasil, tem na sustentabilidade um de seus pilares de gestão, inclusive na formação de

executivos.

Assim, tanto o entendimento do conceito quanto a inserção da sustentabilidade na estratégia

encontram-se em estágio desigual de implementação entre as empresas pesquisadas. Além disso,

ainda é difícil identificar responsáveis específicos pela construção do business case para a

sustentabilidade, o que pode ser decorrência da disseminação do conceito estar em estágio muito

incipiente e de não haver consciência quanto aos benefícios de uma estrutura exclusiva voltada ao

tema ou, no caso oposto, pelo fato de já estar bem disseminado e implementado, como parece ser o

caso da Nestlé.

Alguns fatores são decisivos no que diz respeito à capacidade de implementação da

sustentabilidade nas indústrias de A&B, quais sejam: o grau de exposição internacional da empresa,

os programas de qualidade e de gestão integrada e o comprometimento da alta administração para

com o tema.

Em resumo, pôde-se perceber que as companhias pesquisadas já contemplam as diversas

dimensões da sustentabilidade há muito tempo em suas práticas industriais (ex: qualidade, meio

ambiente), têm um conhecimento geral sobre o tema, querem incluí-lo de forma mais definitiva na

estratégia de negócios, mas ainda não têm uma coordenação central com força e capilaridade

necessárias à implantação efetiva do caso para a sustentabilidade.

3.3 ALINHAMENTO DA ORGANIZAÇÃO

Em geral, as empresas não demonstraram sofrer internamente grandes resistências ao

assunto, o que não significa dizer que há um alinhamento das áreas organizacionais com relação ao

tema da sustentabilidade. Dessa forma, despontam as áreas ou unidades de negócios de algumas das

empresas, onde os colaboradores conseguem ter melhor percepção dos benefícios advindos da

sustentabilidade, como é o caso de unidades industriais localizadas em cidades de menor porte. Isso

se dá, segundo os entrevistados, pelo fato dos gestores conseguirem, nessas localidades, verificar e

mensurar mais facilmente o impacto das externalidades geradas pelas indústrias.

A seguir, o gráfico 4 apresenta o resultado das respostas aos questionários que evidenciaram

que, embora baixa, a resistência está mais concentrada na área financeira.

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Gráfico 4 - Áreas com maior resistência ao tema

Produção23%

RH e áreas corporativas

15%

Mkt / Vendas15%

Finanças47%

P&D0%

outros0%

N = 13

Assim como foi difícil identificar nas empresas um responsável específico pela construção

do business case para a sustentabilidade, também foi difícil encontrar um líder promotor do tema. É

possível concluir que, dada a pouca maturidade das empresas para com o tema, a existência e

identificação de liderança é importante e fator de diferenciação em organizações com forte estrutura

de comando. Por outro lado, o conceito é de fácil assimilação e aceitação por parte dos executivos

de diversas áreas. O gráfico a seguir evidencia as áreas que, na visão dos respondentes, têm maior

capacidade de promover o progresso da sustentabilidade corporativa.

Gráfico 5 - Áreas que mais podem promover a sustentabilidade

P&D23%

Produção21%

RH e áreas corporativas

29%

Mkt / Vendas12%

Finanças5%

outros10%

N = 81

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Janeiro de 2007 - Página 18

3.4 UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS GERENCIAIS

No tocante à utilização de ferramentas gerenciais voltadas ao tema da sustentabilidade

corporativa, ela ainda é incipiente na maioria das empresas e há muito espaço para melhoria nesse

quesito.

Para incluir a sustentabilidade na estratégia corporativa, as empresas fazem uso de

ferramentas como Planejamento Estratégico, Balanced Scorecard, Sistema Integrado de Gestão ou

instrumentos desenvolvidos nas próprias empresas para esse fim, como o Nestlé Management

Principles (Princípios Nestlé de Gestão Empresarial) ou o sistema de 5Ps da Coca-Cola (Profit,

Planet, People, Partners e Portfolio), ou Lucro, Planeta, Pessoas, Parceiros e Portfólio, em

português. Além disso, a Nestlé também assume compromissos internacionais voluntários como o

Pacto Global e as Metas do Milênio, ambos iniciativas promovidas pela ONU, fazendo de tais

compromissos instrumentos de gestão interna.

No que diz respeito à Gestão de Riscos, algumas das empresas têm avançado na análise de

riscos ambientais e sociais, embora falte em geral um processo bem estruturado de identificação e

monitoramento dessas categorias de riscos.

Em relação especificamente às questões ambientais, existem iniciativas operacionais,

especialmente nas questões ligadas à água e aos dejetos. Destacam-se as iniciativas de redução de

consumo de água da AmBev, da Coca-Cola Brasil e da Nestlé Brasil, além das iniciativas de melhor

destinação de dejetos da Perdigão, que realiza um projeto em conjunto com universidades, e da

Sadia, que utiliza a tecnologia de biodigestores e comercializa créditos de carbono. Outras

iniciativas a serem destacadas e que incorporam também as questões sociais, são aquelas ligadas à

reciclagem de embalagens da Coca-Cola Brasil e da AmBev. Tais iniciativas podem ser verificadas

nos websites e relatórios anuais das referidas empresas.

Adicionalmente, uma importante ferramenta para a implantação dos conceitos da

sustentabilidade corporativa começa a ser inserida nas empresas analisadas, qual seja: a inclusão de

critérios ligados à sustentabilidade influenciando a remuneração variável de executivos. Embora

isso ainda aconteça de forma um pouco tímida, não há dúvida de que sua utilização para os níveis

gerenciais mais altos da organização impulsionaria o assunto de forma decisiva nas companhias.

Por fim, dentre os instrumentos cuja utilização está muito aquém do desejável no setor está a

mensuração de resultados advindos de ações relacionadas à sustentabilidade. As empresas

demonstraram grande dificuldade em avaliar economicamente os benefícios gerados pela atuação

no caminho da sustentabilidade. Isso se mostra mais evidente no gráfico a seguir, que aponta o

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Janeiro de 2007 - Página 19

entendimento dos respondentes à inserção do conceito da sustentabilidade na empresa por meio das

ferramentas gerenciais apresentadas. Conforme pode ser visto no gráfico, das nove ferramentas

gerenciais apresentadas no questionamento às companhias, apenas três foram citadas em mais de

50% dos casos, com destaque para aquelas de caráter normativo.

0% 50% 100%

outrassistemas de premiação e punição

planejamento estratégico e procedimentos contábeisdesenvolvimento de executivos

forças-tarefa para conflitos e melhoriasferramentas para alocação de recursos

ferramentas para aumentar a transparênciacomitês em nível corporativo

políticas, práticas e valores corporativos

Gráfico 6 - Utilização de ferramentas gerenciais com foco emSustentabilidade Corporativa

N = 31

Nesse sentido, os esforços acadêmicos e gerenciais que contribuam para aprimorar tais

ferramentas e sua utilização são bem-vindos, sobretudo nas instituições que ainda questionam o

valor de uma gestão sustentável.

3.5 PECULIARIDADES DO SETOR DE ALIMENTOS E BEBIDAS

Dentre as peculiaridades do setor já apresentadas na seção 2, os executivos entrevistados

destacaram algumas, como: o alto volume de sonegação de impostos; os conflitos éticos ligados a

problemas de saúde pública gerados pelo consumo inadequado de bebidas alcoólicas, bebidas

refrigerantes ou alimentos; a destinação de dejetos; o consumo de embalagens; o consumo da água e

a preservação de bacias hidrográficas.

Além disso, os entrevistados ressaltaram que, pelo seu posicionamento no meio da cadeia

produtiva e pela força de suas empresas líderes, a indústria é instada a assumir parte da

responsabilidade de fornecedores e clientes em relação a questões socioambientais. Nesse contexto,

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a rastreabilidade passa a ser fator cada vez mais crucial na efetividade da sustentabilidade,

reforçando a necessidade de envolver a cadeia produtiva no esforço de melhorias de práticas

socioambientais.

Por fim, há ainda algumas outras particularidades que estão relacionadas à ponta do

consumo. O Brasil é um país com sérias desigualdades sociais e com muitas deficiências ligadas à

educação e à saúde pública, fatores que dificultam o entendimento da população sobre o que

exatamente é uma empresa ética e responsável, dificultam o processo de educação alimentar e

consumo responsável, fazendo com que as grandes empresas se sintam compelidas a preencherem

alguns espaços naturais do poder público, de forma a manterem um bom relacionamento com

comunidades e obterem mão-de-obra minimamente qualificada.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A SUSTENTABILIDADE NO SETOR

O setor de A&B tem se movimentado de forma tímida na adoção dos conceitos da

sustentabilidade corporativa. Mesmo nas empresas líderes do setor, as etapas de entendimento e

disseminação do tema estão em estágio inicial. Existem sim projetos que incorporam um olhar para

as dimensões da sustentabilidade, mas são restritos e específicos a algumas empresas, não

configurando, portanto, uma percepção mais completa do conceito de sustentabilidade setorial.

Assim, pode-se dizer que o setor ainda carece de uma dedicação maior ao tema, levando

inclusive o conceito às empresas de menor porte, além de se voltar à implementação de ferramentas

e processos que garantam não apenas a inserção do conceito na gestão e na estratégia de negócios,

mas também a mensuração sistematizada de seus resultados econômicos.

Tal conclusão carrega preocupação com o setor, altamente dependente de recursos naturais

finitos. Por conseguinte, acredita-se que fortes impulsionadores da agenda da sustentabilidade

corporativa no setor de A&B podem ser fatores externos às corporações, tais como a possibilidade

de escassez de recursos naturais e maior cobrança por parte da sociedade civil.

Por fim, pode-se concluir que o setor de A&B ainda não tem um business case setorial para

a sustentabilidade corporativa e que ainda há a necessidade de fortes avanços neste sentido.

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5 PROPOSTAS PARA UMA AGENDA DA SUSTENTABILIDADE NO SETOR

Com o objetivo de promover um maior avanço da sustentabilidade corporativa no setor de

alimentos e bebidas, são apresentadas quatro propostas de ação.

A primeira é promover uma melhor disseminação do conceito, tanto interna quanto

externamente, o que pressupõe atuar tanto com os colaboradores quanto com outros stakeholders,

especialmente fornecedores, levando-se em conta a grande relevância da cadeia produtiva.

Como segunda proposta tem-se: buscar maior movimentação de pequenas empresas do setor

para o tema, por meio de exemplos de casos de sucesso de sustentabilidade corporativa em

empresas líderes no setor no País, bem como das melhores práticas internacionais.

A terceira é estimular nos stakeholders, especialmente consumidores, maior consciência,

cobrança e valorização do conceito da sustentabilidade corporativa, gerando assim premiação para

as empresas que se diferenciam por uma forte atuação sob este conceito.

Por fim, a quarta proposta consiste em incorporar de forma mais efetiva e expressiva o

conceito da sustentabilidade aos instrumentos de gestão das companhias, com ênfase na

implementação de ferramentas que busquem a quantificação racional dos benefícios da

sustentabilidade.

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