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Saúde Bucal: o resgate de uma dívida social SUSTENTAÇÃO n.23. set.out.nov.dez. de 2008. venda proibida

Sustentação 23 / Revista do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará

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Saúde Bucal: o resgate de uma dívida social. A 23a edição da Sustentação traz a história da Saúde Bucal no Ceará, narrada por autores que têm revertido o histórico de sofrimento e mu- tilação que marcou o estado por séculos inteiros.O que nós aprendemos e vivenciamos no processo de produção desta edição, desde a enorme procura dos municípios por espaços para divulgar suas iniciativas, à grande expecta- tiva gerada pelo assunto, foi envolto de uma certeza: a Saúde Bucal merecia a realização de uma grande reportagem, especialmente pelo caráter subjetivo e transformador imbuído em todas as ações da área. Era preciso escutar alguns dos tantos odontólogos, gestores, técnicos e aprendizes, atores que estão, pouco a pouco, devolvendo o sorriso das pessoas, deixando que elas percebam quanta importância há em suas bocas, canal por onde as pessoas se comunicam, se alimentam, respiram, se manifestam, e que foi tanto tempo relegada ao abandono.

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Saúde Bucal: o resgate de uma dívida social

SUSTENTAÇÃOn.23. set.out.nov.dez. de 2008. venda proibida

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04 editorial

05 galeria

06 entrevistaFábio Solon

22 opiniãoIvan Mendes Júnior

25 cobertura Saúde Bucal em Sobral: Evolução para um Modelo de Promoção de Saúde

40 notíciaParticipe!!! Atenção Básica no Ceará terá diagnóstico de estrutura

Alessandra Pimentel de Sousa11 opinião

27 coberturaIguatu sedia I Congresso Estadual de Saúde Mental

35 cobertura (internacional)Bolívia

67 notas

13 especialSaúde Bucal: o resgate de uma dívida social

33 notícia Associação Peter Pan lança o Programa do Diagnóstico Precoce do Câncer Infanto Juvenil

43 vivências municipais8a CRESHidrolândiaIrauçubaTejuçuocaPedra BrancaSolonópoleQuixadáQuixeramobimMulunguSenador PompeuSalitreRedençãoQuixeréBarbalhaMassapêChorozinhoTauáDeputado Irapuan PinheiroFortalezaIpuCratoUruoca

68 cultura

70 outras palavras

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COSSEMSConselho das Secretarias e SecretáriosMunicipais de Saúde do Ceará

DIRETORIA EXECUTIVAPresidente: José Policarpo de Araújo Barbosa (Umirim)Vice-presidente: Willames Freire Bezerra (Aurora)Diretor Financeiro: Francisco Pedro da Silva Filho (Cruz)Sec. de Articulação: Marilza Lima dos Santos Galvão (Morada Nova)Secretária Geral: Luzia Lucélia Saraiva Ribeiro (Senador Pompeu)

CONSELHO FISCALTitular: Manuel Lopes Martins (Pentecoste)Suplente: Valéria Viana (Mulungu)Titular: Olímpia Maria Freire de Azevedo (Aratuba)

COMISSÃO INTERGESTORES BIPARTITE - CIBMembro NatoTitular: Luis Odorico Monteiro de Andrade (Fortaleza)Suplente: Alexandre Mont´Alverne (Fortaleza)

Grande PorteTitular: Nizete Tavares Alves (Crato)Suplente: Carlos Hilton Albuquerque Soares (Sobral)

Médio PorteTitular: Rogério Texeira Cunha (Trairi)Suplente: Manuel Lopes Martins (Pentecoste)Titular: Maria Ivonete Dutra Fernandes (Quixadá)Suplente: Francisca Leite Mendonça Escócia (Ipu)

Pequeno PorteTitular: Josete Malheiro Tavares (Guaiúba)Suplente: Luiza Lucélia Saraiva Ribeiro (Senador Pompeu)Titular: Valéria Viana (Mulungu)Suplente: Rodrigo Carvalho Nogueira (Dep. Irapuan Pinheiro)

CONSELHO ESTADUAL DE SAÚDE - CESAUTitular: Willames Freire Bezerra (Aurora) Suplente: José Policarpo de Araújo Barbosa (Umirim)

PRODUÇÃODiretora de arte, Fotógrafa e Designer: Janaína Teles Editora, Redatora e Repórter: Clarisse Cavalcante MTB 1765/CERevisão: Lucélia Saraiva Fotografia capa: Janaína TelesIlustração: Lucíola Feijó (85) 87131532; Fernanda Meireles e Ayrton Pessoa Bob (85) 87591587Tratamento de Imagens: Francisco Batista

Impressão: Expressão GráficaTiragem: 2.000 exemplares

Revista Sustentaçãosetembro.outubro.novembro.dezembro de 2008.ano10.n.23ISSN 1676-4218

COSSEMSASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DO COSSEMS

Travessa dos Pocinhos,33Ed. Palácio do Progresso, sl 804Fortaleza-CE CEP 60055-903

Fone/Fax: (85)32191498

SEDE DO COSSEMSRua dos Tabajaras, 268 Praia de Iracema

Fortaleza-CE CEP 60060-510Fones/Fax: (85)31015444 /

31015436 / 32199099

e-mail: [email protected]: www.conasems.org.br/cosems/ce

editorial A 23ª edição da Sustentação traz a história da Saúde Bucal no Ce-ará, narrada por autores que têm revertido o histórico de sofrimento e mu-tilação que marcou o estado por séculos inteiros.O que nós aprendemos e vivenciamos no processo de produção desta edição, desde a enorme procura dos municípios por espaços para divulgar suas iniciativas, à grande expecta-tiva gerada pelo assunto, foi envolto de uma certeza: a Saúde Bucal merecia a realização de uma grande reportagem, especialmente pelo caráter subjeti-vo e transformador imbuído em todas as ações da área. Era preciso escutar alguns dos tantos odontólogos, gestores, técnicos e aprendizes, atores que estão, pouco a pouco, devolvendo o sorriso das pessoas, deixando que elas percebam quanta importância há em suas bocas, canal por onde as pessoas se comunicam, se alimentam, respiram, se manifestam, e que foi tanto tempo relegada ao abandono. Em nossa reunião de pauta, sobre a decisão do tema a ser explo-rado a cada edição, ouvimos do presidente do COSSEMS uma justificativa inquestionável para a escolha da Saúde Bucal: “nós temos uma dívida enorme com as pessoas nessa área e precisamos dar voz a quem está fazendo essa realidade mudar”, disse Policarpo. Eu, interiorana que sou, lembrei imedia-tamente dos desdentados das pequenas cidades, da alegria, às vezes tímida, às vezes escancarada e acostumada ao sofrimento, de seus risos na condução de suas conversas nas calçadas. Da mania ainda presente de pensar nos den-tes postiços como símbolo de beleza e riqueza, argumento tão forçosamente impregnado na realidade dos sertanejos estado afora. Lembrei das crianças banguelas entregues aos chicletes e pirulitos multicoloridos sem nenhum cui-dado posterior, e do quanto é bonito ver uma mãozinha pequena segurando a escova e aprendendo a limpar os dentinhos. Entendi, enfim, que construir essa revista significaria, prioritariamente, deixar os municípios afirmarem: nós nos preocupamos sim com a saúde bucal das pessoas! E nosso objetivo foi con-cretizado, com o maior número de envio de vivências da história da revista! Na entrevista, um jovem odontólogo apontado pelo nosso desejo de desmistificar o abandono do SUS pelos novos profissionais. E que bom foi vê-lo falar da segurança que o move na escolha pela saúde pública! Trazemos na seção de Cobertura, além da parceria com Sobral e do acompanhamento de um grande congresso em Iguatu, uma matéria sobre a Bolívia, com uma série de impressões da saúde do país. E a matéria especial, que constrói um históri-co da reversão da lógica de mutilação no estado. No mais, todas as vivências das quais nos orgulhamos e podemos dizer que nos dão a certeza de que esta revista está cumprindo seu objetivo maior: mostrar as vitórias de quem faz o SUS acontecer. Agradecemos a todas as crianças pelos rostinhos felizes fotografados durante a produção da revista: Izaac, Mariana, Régis Filho, Carol, Gabriela, Isabele, Mário Filho e tantos outros. E dedicamos esta edição a uma alegre surpresa pelas nossas expedições em busca de boas experiências: à menina Isabela, que ilustra esta capa e que foi descoberta numa Unidade de Saúde do município de Fortaleza. Com seus quatro aninhos, a pequena nos acalenta os olhos pela beleza e espontaneidade do sorriso. Sorriso que queremos ver em todas as crianças do estado, e que se prolongue pela vida de cada uma delas. Abraço cheio de gratidão e boa leitura!

Clarisse Cavalcante e Janaína TelesAssessoria de Comunicação do COSSEMS

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6 entrevista Revista Sustentação.2008.n.23

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A revista Sustentação continua com sua linha editorial de entrevistas que trazem pessoas que efetivamente constroem o SUS na base. O entrevistado desta edição trocou as águas do rio Parnaíba pelo Acaraú. Apesar do pouco tempo de forma-ção, vem se tornando referência quando o assunto é renovação de estratégias. Com 31 anos, Fábio Solon é Cirurgião-dentista e Supervisor das Ações e Serviços em Saúde Bucal da Estratégia de Saúde da Família. Especialista em Saúde da Família e em Auditoria em Serviços e Sistemas de Saúde vem desenvolvendo em Sobral, junto à Coordenação Municipal de Saúde Bucal, um trabalho de plane-jamento, programação e avaliação em ações e serviços de saúde bucal que vem transformado a realidade dos usuários do SUS. Com vocês o resultado de uma conversa franca com um profissional tranqüilo e apaixonado, como testemunho de que há muita gente nova fazendo a diferença no SUS.Te

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Sustentação: Fábio, fale um pouco de você, dos motivos que te trouxeram à Sobral.Fábio Solon: Eu sou piauiense, formei em Teresina, em 2001, mas grande parte de minha família é de Sobral. Minhas férias sempre eram por aqui. Durante a gradua-ção, já acompanhava o que vinha aconte-cendo na área da saúde e, em especial, na odontologia e, por isso, despertei em fazer a Residência Multiprofissional pela Escola de Formação em Saúde da Família Viscon-de de Sabóia. Foi uma oportunidade ótima que permitiu conciliar estudo e trabalho e, ainda a troca de experiências com profis-sionais de outras categorias, já que a Es-pecialização tinha caráter de Residência Multiprofissional, e incorporava a idéia de treinamento em serviço. Além disso, cada um dos residentes recebia bolsa de estudos e incentivo financeiro similar aos profissio-nais que já estavam em serviço.

Sustentação: Essa Residência teve uma pro-posta bem diferente, de caráter multiprofis-sional. Explica como se deu esse processo.F.S: Na época o secretário municipal de saú-de era o Odorico Monteiro. Ele tinha toda uma proposta de integração entre os profis-sionais e procurava elaborar um curso de especialização com caráter de Residência Multiprofissional em Saúde da Família, abrangendo várias categorias profissionais que pudessem discutir toda a estratégia. A primeira turma foi basicamente de mé-dicos e enfermeiros e, felizmente, minha formatura em odontologia coincidiu com a oportunidade de ingressar na segunda turma composta também por cirurgiões-dentistas, educadores físicos, psicólogos, fisioterapeutas, dentre outros. Foram dois anos de atividades intensas, o primeiro com concentração em sala de aula, e o segun-do com atividades a serem executadas no próprio serviço, nos centros de saúde, para exercitar a problemática que eles traziam pra gente.

Sustentação: Desde cedo você teve a opção pela Saúde Pública? Em que momento você decidiu isso?F.S: Deixe-me ver... Olha, na odontologia a gente tem uma formação muito voltada para a execução de atividades clínicas. Eu tam-bém tinha como meta fazer pós-graduação

voltada para a clínica como a maioria dos meus colegas. Contudo, esse resgate que Sobral me trouxe de poder ficar um pouco mais com minha família, poder exercitar a profissão efetivamente, além de explorar mais meu potencial até decidir realmente que caminho seguir é que talvez tenha sido o diferencial. Quando eu fiz a Residência, convivi com pessoas de grande referên-cia em Saúde Pública que eu sequer tive a oportunidade de conhecer como universi-tário, porque eu fui formado com um foco diferente. Estou falando de pessoas como o Odorico, o próprio Ivan Júnior, que hoje é o Supervisor do Núcleo de Atenção à Saúde Bucal do Governo do Estado do Ceará. Essas pessoas começaram a me conquistar com suas teorias e com todos os seus projetos. Eu lembro que o Dr Odo-rico costumava conversar muito conosco sobre os problemas que estávamos viven-ciando. Aquilo me impressionava, porque até então eu nunca tinha trabalhado e nem sequer tinha visto uma gestão tão preocu-pada com aquilo tudo que estava aconte-cendo, pra mim era o máximo! Hoje, após 7 anos, ainda consigo ver isso na gestão em saúde. Sobral tem mesmo um diferen-cial, quando o assunto é gerenciamento e gestão em saúde. Então, a história da saúde pública na minha vida foi paixão mesmo. Hoje eu não sinto falta de fazer outra coisa. Não tenho nenhuma pós-graduação volta-da para a clínica, meu grande interesse é a saúde coletiva. Tanto a primeira, que foi a Residência em Saúde da Família, como esta segunda especialização que acabei de concluir, em Auditoria em Serviços de Saúde, são instrumentos de formação para o SUS, e uso esses conhecimentos no meu trabalho diário.

Sustentação: E como é o seu trabalho?F.S: Depois de cinco anos em serviço como integrante da Estratégia de Saúde da Fa-mília, a Coordenação Municipal de Saúde Bucal me convidou para um trabalho de supervisão e monitoramento das equipes. O curso em Auditoria foi fundamental nes-te aspecto, porque estava dentro do que eu começava a desenvolver e, ainda, me trou-xe uma série de instrumentos que eu po-deria aplicar na minha rotina de trabalho. Na época do convite, havia a dificuldade

“...a história da saúde pública na minha vida foi paixão

mesmo. Hoje eu não sinto falta de fazer outra coisa. Não tenho nenhuma pós-graduação voltada para a

clínica, meu grande interesse é a saúde coletiva.”

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de avaliação e monitoramento das ações e serviços em saúde bucal. Além disso, o Co-ordenador de Saúde Bucal, Dr. Edson Ho-landa, tinha mais um desafio que era o de integrar a equipe responsável pelo Proces-so de Educação Permanente, que pudesse discutir temáticas identificadas na rotina do serviço em saúde, lançar idéias sobre novos estudos, assim como executar a avaliação de novos indicadores e colaborar com a elaboração de novas estratégias em saú-de bucal. Tive o apoio dele como grande incentivador e resolvi me dedicar mesmo nesta área. Neste sentido, percebi que a Au-ditoria tinha maior peso. Minha intenção é fazer foco nesta área.

Sustentação: Você nos contou antes da en-trevista de alguns momentos que aconte-cem de troca de experiências entre profis-sionais. Qual o objetivo disso?F.S: Nós temos uma sugestão de cronogra-ma para cada Equipe de Saúde Bucal, que chamamos de cronograma inteligente. Den-tro dos dez turnos semanais de trabalho, al-guns são dedicados aos encontros e reuni-ões entre as equipes. De quinze em quinze dias, às terças-feiras, há um encontro com a equipe toda para falar de assuntos de inte-resse do sistema de saúde, a Educação Per-manente. São assuntos variados, às vezes coisas relativas à própria rotina de trabalho, questões de acolhimento, humanização etc. Então, havendo qualquer temática de ro-tina em Saúde Bucal, nós trazemos para

discussão entre todos os componentes das equipes. Não trabalhamos de maneira pon-tual, de sentar com um dentista e trabalhar o problema isolado dele, porque a nossa in-tenção é de socializar o problema, até para verificar se é uma situação particular ou coletiva, para que cada um participe com idéias, com estratégias para reverter esta situação. Acreditamos que num processo de trabalho as coisas acabam se repetindo um pouco, e se nós trocamos experiências, se torna mais fácil resolver. Claro que tam-bém há abertura para discutir a parte clíni-ca, mas o fundamental são as questões mais relacionadas ao coletivo mesmo.

Sustentação: Você sente que há um compro-metimento das pessoas com o trabalho, ou que essa filosofia ajuda a gerar isso?F.S: Lógico que numa equipe com 40 pes-soas existe grandes diferenças entre o perfil dos profissionais e grau de satisfação de cada um deles. Mas a própria vocação da cidade, somada ao trabalho da Escola de Formação em Saúde da Família Visconde de Sabóia, referência em formação dos pro-fissionais em serviço, e ao apoio e trabalho desenvolvido pela atual gestão, tudo isso facilita e oportuniza o bom trabalho dos profissionais. Não estou falando que aqui a gente não venha a ter problemas, mas eu vejo que essa preocupação de acompanha-mento é fundamental para o serviço. A in-tenção das reuniões de trazer o problema, de nos dispor a solucioná-lo, de alguma

“Não trabalhamos de maneira pontual, de

sentar com um dentista e trabalhar o problema

isolado dele, porque a nossa intenção é de socializar o problema, até para verificar se é

uma situação particular ou coletiva.”

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Sustentação: Você consegue avaliar o im-pacto desse trabalho? F.S: Pois é. Neste roteiro existe também alguns pontos em que nós avaliamos o serviço. Por exemplo: qual a cobertura de pré-natal odontológico nos centros de saú-de? Vou acompanhando cada indicador, mensalmente, através de um roteiro de su-pervisão e, ao final de 4 meses, elaboro um relatório da experiência daquele Centro de Saúde. A partir disso, convido a coordena-ção, a Equipe de Saúde Bucal, a gerente do Centro de Saúde e preceptores de territó-rio para fazer uma discussão ampliada dos resultados. Nesta oportunidade, partimos para a leitura do relatório em conjunto que demonstra os problemas diagnosticados, as soluções apontadas, e se elas repercutiram positivamente ou não após cada encami-nhamento. Desta reunião, toda a equipe aponta as possíveis estratégias a serem ado-tadas e, a partir disso, eu retomo o trabalho de acompanhamento.

Sustentação: Contextualizando essas es-tratégias ao cenário tão árido do SUS, de financiamento, de geração de vínculos, surpreende essa organização. Vocês apren-deram muito nesse processo não é?F.S: Essa estrutura que nós desenvolvemos é fruto de muita experimentação. Começa-mos fazendo só o estudo dos números, mas a Estratégia de Saúde da Família não per-mite só isso. Analisar a atuação de qualquer profissional exige muito mais que avaliar indicadores. Precisamos fazer a análise quantitativa, mas precisamos também res-

forma, tranqüiliza as pessoas. Quando lan-çamos uma estratégia e tentamos mobilizar as pessoas, não encontramos resistência, porque elaboramos sempre em conjunto. E acho que as questões da saúde pública mexem com esses parâmetros todos, no sentido de você enxergar o poder do seu trabalho, a dimensão do serviço, na abran-gência de uma comunidade inteira. A idéia de trabalhar um dentista em um território gera um sentimento de co-responsabiliza-ção. Então talvez esse compromisso que a Estratégia de Saúde da Família trouxe, aliado à Escola e à vocação da cidade, te-nha oportunizado tudo isso.

Sustentação: E o que significa na prática supervisionar as equipes, que é um traba-lho que você também realiza? F.S: A supervisão faz parte da Coordenação Municipal de Saúde Bucal como assesso-ria. Nós temos um protocolo de atividades, um guia de ações e serviços construído em conjunto, coordenação e profissionais, que tem o passo-a-passo a ser executado na roti-na do cirurgião-dentista, na perspectiva das diferenças entre territórios, que também geram diferenças nos trabalhos das equi-pes. Então, faço visitas e tenho um roteiro de atividades para checar se as equipes es-tão tendo bons resultados, para tomar nota das dificuldades e verificar esses pontos todos. Estes encontros são sistematizados também com os gerentes dos centros de saúde e preceptores de território. Ou seja, eu procuro articular uma discussão envol-vendo toda a equipe.

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gatar dados qualitativos, no sentido de uma atuação adequada para se obter um determi-nado resultado. Entendemos que o indicador e a meta a ser cumprida é decorrência de um processo inteiro, que define a o dia-a-dia, a vi-vência dos problemas. Não dá para justificar tudo com números.

Sustentação: Como você analisa o papel do dentista na garantia dos direitos à saúde pre-conizados pelo SUS?F.S: O Sistema Único de Saúde (SUS) exige um processo de construção permanente, sendo fundamental a contínua discussão sobre seu modelo de atenção e o papel de diferentes pro-fissionais que nele atuam. Acredito que a atu-ação da ESB é indispensável durante todo este processo, desde a discussão e planejamento das Políticas Públicas até as ações de Vigilân-cia em Saúde propriamente ditas. Contudo, é necessária a re-adequação dos cursos de odon-tologia para formar profissionais capacitados a exercerem uma prática que atenda ao SUS, além de uma preocupação de cada instituição no treinamento contínuo dos profissionais já graduados atuando no sistema. Muitas facul-dades já incorporam esta temática na sua gra-de curricular, mas acredito que muito ainda deve ser feito. Em Sobral, a equipe gestora é bastante comprometida com este tipo de pro-cesso em saúde e fortemente incentivada pelo Dr Carlos Hilton, Secretário da Saúde e Ação Social e colega cirurgião-dentista.

Sustentação: Você se sente contribuindo com o SUS? Como você se imagina daqui a dez anos?F.S: Realmente me sinto envolvido por toda esta política pública que o SUS defende. Minha contribuição está direcionada para a melhoria da atenção à saúde da população. Acredito que executo isso mesmo de forma indireta sem estar em contato direto com o paciente em si. Mas não consigo prever de que forma estarei daqui a dez anos. O SUS hoje passa por um grande problema de finan-ciamento de suas ações e serviços de saúde e algo deve ser feito de forma urgente. Não é nada fácil administrar e pensar a Saúde Públi-ca universal num país de tão grandes propor-ções como o Brasil. Os desafios são realmente grandes, mas as vitórias também podem ser, e é com este sentido que tento contribuir com todo este processo.

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11Revista Sustentação.2008.n.23 opinião

O Odontólogo como Auditor em Saúde: Desafios e Perspectivas

As instituições de saúde sejam públicas ou pri-vadas têm paulatinamente incorporado aos seus proces-sos de trabalho ações de controle, avaliação, regulação e auditoria, seja por questões de sustentabilidade eco-nômica ou por cumprimento de requisitos e responsa-bilidades legais. O trabalho de auditoria no SUS possui características diferenciadas e exige do profi ssional da área formação especializada com compromisso ético e atuação autônoma. Segundo o Ministério da Saúde “O trabalho de auditoria no SUS, é extremamente complexo, necessitando de uma grande quantida-de de informações que precisam ser cuidadosamente extraídas, trabalhadas e interpretadas, pois muitos interesses e responsabilidades estão em foco quando se audita a saúde” (Brasil, 2004). E como o odontólogo pode se inserir neste contexto? Inicialmente o exercício da auditoria foi relacionado à profi ssão médica, já que suas ações se restringiam basicamente à Autorização de In-ternação Hospitalar (AIH) e avaliação da compatibilidade entre o procedi-mento médico realizado e a avaliação clínica do paciente. Durante a evolu-ção histórica dos conceitos e práticas nesta área, verifi camos a absorção das mais diversas categorias profi ssionais, já que as atividades desenvolvidas exigem conhecimentos dos mais variados e tem como premissa a atuação de equipes multiprofi ssionais. Neste contexto os odontológos vêm crescentemente ocupando es-paços no mercado de trabalho, sendo comum a presença destes profi ssio-nais nos Serviços Municipais de Controle, Avaliação, Regulação e Auditoria (C.A.R.A.) ocupando tanto cargos técnicos, como de coordenação. Hoje a auditoria em saúde se constitui num importante instrumento de gestão e tem conquistado espaços na tomada de decisões no âmbito das instituições de saúde, já que esta municia o gestor de informações estratégicas e avalia com frequência as ações e serviços ofertados pelo Sistema Local de Saúde sob a tríade infra-estrutura, processos e resultados. A adesão maciça dos municípios cearenses ao Pacto pela Saúde defi niu a necessidade urgente da estruturação dos serviços de C.A.R.A., haja vista, que as responsabilidades e requisitos pactuados nesta área têm repre-sentação expressiva na condução da gestão municipal, podendo gerar sérios prejuízos quando do desempenho insatisfatório, inclusive com sanções le-gais ao gestor municipal. Este cenário revela uma demanda crescente por profi ssionais qua-lifi cados que buscam a legalidade e cumprimento de normas e padrões esta-belecidos na condução da gestão em saúde. Assim sendo, o odontólogo pode contribuir de forma decisiva no fortalecimento nas ações deste setor, quer seja no exercício de atividades exclusivas (como por exemplo autorização de próteses dentárias), bem como naquelas de cunho geral que não envol-vem a análise de aspectos clínicos. Diante do exposto verifi camos que o odontólogo que se dedica a esta área deve ter uma atuação global no Sistema de Saúde, perpassando os limites de setor de C.A.R.A. e contribuindo de forma decisiva na melhoria da qualidade das ações e serviços ofertados.

Alessandra Pimentel de SousaOdontóloga e Mestra em Saúde Pública

Coordenadora da Especialização em Auditoria em Serviços de Saúde da ABO-CEAssessora Técnica de Gabinete SESA-CE

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O COSSEMS homenageia os profissionais da Saúde Bucal no estado do Ceará!

ANUNCIE AQUI(85) 32191498

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13Revista Sustentação.2008.n.23

Saúde Bucal: o resgate de uma dívida social

Durante séculos a saúde da boca foi comprometida pela negligência das políticas públicas. Sem ter a quem recorrer para solucionar seus problemas, milhões de pes-soas se submeteram a mutilações que as levaram, muitas vezes, a perca total dos dentes. A boca era considerada uma parte menor do corpo, com a justifi cativa da baixa morbidade causada por seus problemas. Mas o verbo está correto: era. Nesta edição, reportagens especiais sobre a Saúde Bucal no Ceará mostram que há algum tempo o estado tem reaprendido a sorrir.

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Brasil que reaprende a sorrir: história

Uma tenda livre montada sob o sol escaldante das cidades portuárias. De pé, uma multidão envolta, disputando espaço às cotoveladas. Muito barulho e confusão. Embaixo da tenda uma cadeira velha e um barbeiro arrancando rudemente o dente de um agricultor, que se debatia enquanto ur-rava de dor. Assistir às manipulações bucais feitas pelos barbeiros era uma das diversões preferidas dos passantes, feirantes do século XVIII na Europa. Por muito tempo os pro-blemas bucais foram tratados sem nenhu-ma seriedade, no mundo inteiro. Relatos de mais de 5 mil anos contam que os egípcios sofriam de uma grande variedade de enfer-midades dentais, causadas por falta de higie-ne e por sua alimentação. A farinha usada no pão, base da dieta egípcia, vinha carregada de grãos de areia. O hábito involuntário de

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átricas. Na década de 60, a Odontologia se-quer fazia parte da estrutura do Ministério da Saúde e a oferta de serviços do INAMPS era restrita às exodontias e alguns procedimentos restauradores, fi cando o restante das ações executadas pelos estados no âmbito escolar. Somente na década de 80 a Odontologia pas-sa a ocupar espaços nos encontros nacionais, como a VII Conferência Nacional de Saúde. Em 1986, durante a VIII CNS, ocorre a I Conferência Nacional de Saúde Bucal, que tinha como temas: o Diagnóstico da Saúde Bucal no Brasil; Reforma Sanitária e inser-ção da Odontologia no SUS; e fi nanciamento do setor Saúde Bucal. O primeiro documento ofi cial de caráter nacional foi elaborado em 1988 pela Divisão Nacional de Saúde Bucal: Política Nacional de Saúde Bucal, funda-mentada nos princípios do SUS. A II Conferência Nacional de Saú-de Bucal, em 1993, aponta a municipaliza-ção também como estratégia e declara em seu relatório fi nal: “As Políticas de Saúde Bucal devem favorecer a transformação da prática odontológica através da incorporação de pessoal auxiliar e de novas tecnologias, e o desenvolvimento das ações coletivas de saúde, sem as quais não será possível obter impacto na cobertura da população e nem alterar suas características epidemiológicas”. Mas na década de 90, grande parte das ini-ciativas na área ocorreram de modo isolado e retardatário em relação às demais políticas do SUS. Na área de Saúde Bucal, as ações que aconteciam nos municípios eram restri-tas aos procedimentos de Atenção Primária, e geralmente focadas na lógica da cura, com algumas iniciativas locais começando a ga-nhar destaque em cenário nacional.

mastigar areia causava desgaste nos den-tes, além de inúmeros abscessos, que eram tratados com furos na gengiva, aliviando a pressão feita pelas bolas de pus. No Brasil, até herói histórico já atuou de dentista. Ti-radentes aprendeu o ofício do padrinho, tão logo fi cou órfão dos pais, o que já lhe valeu o famoso apelido, com o qual se eternizaria. No nordeste, durante as décadas governadas pelos coronéis, a população tinham seus den-tes arrancados e substituídos por dentaduras improvisadas, às vezes sob o argumento de que as peças representavam moda e beleza. Demorou muito para que o cuidado com a boca passasse a ser uma questão de Saúde Pública. As ações odontológicas pú-blicas só foram iniciadas no fi nal do século XIX, destinadas a pequenos grupos como presidiários e internos de instituições psiqui-

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Brasil Sorridente

Em 2000, havia no Brasil cerca de 30 milhões de pessoas sem acesso à Saúde Bucal. Esse número impulsionou a decisão da Portaria 1444/GM, de 28 de dezembro de 2000, que estabelece a criação de duas Equipes de Saúde Bucal para cada Equipe de Saúde da Família. E foi no Governo Lula, com o programa denominado “Brasil Sorri-dente”, lançado em 2004, em Sobral, que a saúde bucal adquire defi nitivamente a prio-ridade nos níveis de atenção, com os eixos voltados para a prevenção, educação, recu-peração e reabilitação bucal. O documento que orienta a política, disponível no site do Ministério da Saúde (Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal), traz o seguinte texto como eixo de orientação: “A promo-ção de Saúde Bucal signifi ca a construção de políticas públicas saudáveis, o desenvol-vimento de estratégias direcionadas a todas as pessoas da comunidade, como políticas que gerem oportunidades de acesso à água tratada, incentive a fl uoretação das águas, o uso de dentifrício fl uoretado e assegurem a disponibilidade de cuidados odontológicos básicos apropriados. Ações de promoção da saúde incluem também trabalhar com abordagens sobre os fatores de risco ou de proteção simultâneos tanto para doenças da cavidade bucal quanto para outros agravos (diabetes, hipertensão, obesidade, trauma e câncer) tais como: políticas de alimentação saudável para reduzir o consumo de açúca-res, abordagem comunitária para aumentar o auto-cuidado com a higiene corporal e bucal, política de eliminação do tabagismo e de redução de acidentes”. A Política Nacional nascida em 2004 representa um marco porque pela pri-meira vez o país reconhece a necessidade de uma estratégia universal, de caráter na-cional, que atende aos mesmos princípios norteadores do SUS. O Programa Brasil Sorridente se destaca também pela inicia-tiva do governo federal de incorporar nas Políticas Públicas de Saúde Bucal os proce-

dimentos de atenção especializada, através da criação dos Centros de Especialidades Odontológicas – CEOs, unidades de refe-rência para as equipes de Saúde Bucal da Atenção Básica que ofertam, de acordo com a realidade epidemiológica de cada região e município, procedimentos clínicos odonto-lógicos complementares aos realizados na Atenção Básica. Entre esses procedimentos incluem-se, dentre outros, tratamentos ci-rúrgicos periodontais, endodontias e proce-dimentos cirúrgicos compatíveis com esse nível de atenção. A implantação desses ser-viços recebe os incentivos de infra-estrutu-ra, determinados pela Portaria 600/GM, de 23/03/2006. O Programa prevê também a implantação de Laboratórios Regionais de Próteses Dentárias (LRPDs), estabelecen-do critérios, normas e requisitos para seu credenciamento. Dentre as recomendações também está a de intensifi cação do proces-so de fl uoretação das águas, hoje realizada em 74 municípios do Ceará. O professor da Universidade Fe-deral do Ceará, autor do livro “Políticas de Saúde Bucal no Ceará – História, Aplicações e Perspectivas”, Moacir Tavares, diz que “com ‘Governo Lula’ o Brasil deu um salto de nenhum Centro de Especialidades Odon-tológicas nessa nova formatação, que tem dinheiro federal com aporte considerável para montagem e manutenção, para quase quinhentos. Isso é uma coisa surpreendente, aproximadamente oitenta Centros por ano! E não resta duvida também que sair de sete mil para dezenove mil Equipes de Saúde Bucal vinculadas ao PSF, praticamente 150% de aumento, também em seis anos, é uma coisa bastante interessante”, diz. Para o professor, a importância do documento se deve ao fato de que “antes do Brasil Sorridente não exis-tia uma política que dissesse quais são as linhas, as diretrizes, os principais eixos, um programa que apontasse quais são as metas, os indicadores, qual o estado de saúde bucal que se busca para a população”.

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Municipalização como estratégia

Os municípios são os maiores protagonistas dessa reversão na prática, seja no que concerne ao fi nanciamento, seja no que concerne aos serviços. A co-ordenadora da 3ª CRES Leni Lúcia, que chefi ou a então Divisão de Saúde Bucal do Estado em 1992, quando ainda nem havia Núcleo Estadual de Saúde Bucal, fala so-bre esse movimento dos municípios, no li-vro escrito pelo professor Moacir Tavares: “Nós não éramos vistos como área da saú-de, como uma necessidade da população. O que começou a sacudir isso foram as ações preventivas nos municípios, quando come-çamos a questionar: vale à pena ter saúde bucal? Então nós percebemos que a partir da base essa concepção mudaria”. Não é à toa que a Política Nacional foi inaugurada em Sobral, município no interior do Ceará. Hoje os números do estado do Ce-ará são animadores. Dentro do que a Polí-tica Nacional preconiza desde 2003 para a Atenção Básica, de uma Equipe de Saúde Bucal para cada Equipe de Saúde da Famí-

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lia, o Ceará apresenta 1209 ESB (somando as modalidades I e II) e 1625 ESF (DAB/MS), com uma equiparação muito próxima de acontecer. As primeiras equipes foram credenciadas pela CIB em 2001. Somente em Fortaleza, nos últimos três anos a Pre-feitura implantou 233 ESBs, compostas por dentistas e auxiliares de consultórios dentários, ampliando de 104 para 146 o nú-mero de equipamentos odontológicos. A as-sistência individual cresceu 240%. No que diz respeito à Atenção Secundária, existem no interior do estado seis CEOs, com a ex-pectativa de inaugurar um CEO para cada Coordenadoria Regional de Saúde-CRES, sendo quatro deles até o fi nal de 2008. São cinco com perfi l regional (Crato, Tauá, Sobral, São Gonçalo e Aracati) e um com perfi l municipal, em Iguatu. Fortaleza inau-gurou em setembro o seu primeiro CEO, que terá uma capacidade de atendimento mensal de 320 consultas para endodontia, 80 para periodontia, 80 para estomatologia e 120 vagas para cirurgia, totalizando 600

atendimentos. De acordo com a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Saúde, “pela capacidade instalada do CEO Floresta, este número pode ser ain-da maior, dependendo dos dias úteis e da quantidade de profi ssionais. A intenção é ampliar o serviço especializado e aumentar o quadro clínico com atendimento no tur-no da tarde”, já que inicialmente o atendi-mento será realizado das 7 às 13hs. Para o supervisor do Núcleo de Atenção à Saúde Bucal do Ceará, Ivan Mendes Júnior, existe no estado uma preocupação grande com a capacitação para o funcionamento desses Centros. “O governo federal entende como compromisso somente a inauguração dos CEOs, por isso nós estamos pensando em desenvolver processos de capacitação com os gestores municipais, particularmente os coordenadores municipais de Saúde Bu-cal, para que eles saibam, por exemplo, em que situações devemos encaminhar, o que é uma ação de promoção da saúde”, diz. O primeiro CEO inaugurado na atual gestão estadual foi no Crato, em julho de 2008, que atualmente está sendo gerenciado pelo Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar, que hoje gerencia o Hospital Valdemar Alcânta-ra, mas a perspectiva é de que esses Centros sejam administrados através de Consórcios Municipais. Para o governo estadual, algumas diretrizes de Saúde Bucal já se encontram bem defi nidas. “O que nós pensamos hoje como política pública é o foco no controle da doença cárie, principalmente através da instituição de hábitos de higiene, como a escovação dental supervisionada. Por isso é importante pensar em ações desenvolvi-das no nível de creches e de escolas. Não adianta o estado ter a preocupação simples de ofertar acesso especializado se nós não tivermos combatendo e prevenindo a do-ença de acordo com a evolução do ciclo de vida das pessoas”, diz Ivan. Hoje cada esfera de governo tem as suas responsabi-lidades, cabendo aos municípios as ações de Atenção Primária, e ao estado a oferta de alguns serviços que não são possíveis serem ofertados a nível municipal.

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Do barbeiro ao cirurgião: desafi os de mu-dar a política a partir da profi ssionalização

A história da saúde bucal no mun-do inteiro foi profundamente marcada pela falta de profi ssionalização. Durante as feiras públicas do século XVIII, quando a extração de dentes era espetáculo gratuito de divertimento, os dentes eram extraídos com alavancas rudimentares. Não se fazia tratamento de canais e as obturações eram de chumbo, sobre tecido cariado e polpas afetadas. Dentaduras eram esculpidas em marfi m ou osso, utilizando-se dentes hu-manos e de animais, retendo-as na boca por intermédio de molas ou amarrados com fi os aos dentes remanescentes. Barbeiros ou pa-dres atuavam como cirurgiões, até que al-guns médicos se interessaram pela área. Somente em 1854 uma reformula-ção estatutária da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro incluiu a realização de “exames dos dentistas e sangradores que quiserem habilitar-se a fi m de exercerem a sua profi ssão”, o que foi regulamentado

Invenção pra fi car na História

Nem telefone celular, nem computador. Na opinião dos brasileiros, a escova den-tal é a invenção mais importante de toda a História da humanidade. O modelo mais antigo de que se tem registro – um ramo pequeno com ponta desfi ada para ser esfregada contra a arcada dentária – data de 3 mil anos a.C. e foi descoberto em uma tumba egípcia. Já a primeira es-cova de cerdas, precursora da que usa-mos hoje, surgiu na China no fi nal do século 15. Era feita de pêlos de porco, da crina ou do rabo do cavalo, amarrados em ossos bovinos, marfi m ou varinhas de bambu. Os ingleses, em meados de 1780, inventaram a primeira escova de dentes moderna, na qual as cerdas vi-nham amarradas dentro de buracos per-furados na armação feita de osso.

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pelo Decreto nº. 1764, de 14 de maio de 1856. Em 19 de abril de 1879, outra grande reforma do ensino, explicitada pelo Decre-to nº. 7247, defi nia que “a cada uma das faculdades de medicina fi cam anexos uma escola de farmácia, um curso de obstetrícia e outro de cirurgia dentária”. Assim surgia um curso para aqueles que se dedicassem à “Arte Dentária”. Em 04 de julho de 1879, a decisão do Império nº. 10 estabelecia que aos aprovados no curso de cirurgia dentária seria atribuído o título de Cirurgião Dentis-ta. O ensino de odontologia foi ofi cialmen-te instituído no Brasil em 25 de outubro de 1884, pelo Decreto nº. 9311 do Governo Imperial, graças a Visconde de Sabóia, di-retor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. De início, o ensino foi vinculado às Faculdades de Medicina do Rio de Ja-neiro e da Bahia, programado em três sé-ries. Ao fi nal do curso, o aluno recebia o título de Cirurgião Dentista, sem colar grau ou outras formalidades. Hoje, a profi ssionalização do en-sino pode se considerar solucionada, mas à Saúde Bucal também coube a problemá-tica do profi ssional ideal para o SUS: quase tanto quanto os médicos, os dentistas aca-bam optando pela clínica como foco, não só

no sentido estrutural, mas na ideologia dos serviços. De acordo com o ex-secretário de saúde do Ceará Marco Penaforte, em de-poimento concedido à pesquisa de Moacir Tavares, “não se formou a princípio, den-tro da categoria dos cirurgiões-dentistas, nem mesmo nos seus órgãos de classe, uma massa crítica impulsionadora, em um pro-cesso de transformação de priorização. Isso até hoje fragiliza a categoria”. O secretário municipal de saúde de Deputado Irapuan Pinheiro, o odontólogo Rodrigo Carvalho, fala sobre o papel do dentista na Estratégia de Saúde da Família: “Se eu sou dentista num território, que ações e atividades eu tenho que desenvolver? Tenho que sentar na cadeira e fi car atendendo? Não é só isso. A Estratégia de Saúde da Família quer que você saiba que é responsável por um terri-tório, que identifi que as necessidades desse território, que facilite o acesso da popula-ção. Tenho que ter noção dos tipos de ser-viço, em que quantidade, e de que forma. A maior parte das equipes que observei de perto não tem isso. Tem algumas saídas, o pessoal se reúne, discute, mas isso quase nunca parte do profi ssional responsável. Aquele que se formou geralmente não tem esse tipo de comprometimento”.

Impressionantes dentuços!

Os mosquitos têm nada menos que 47 dentes. No entanto, esta não é a cifra mais surpreendente no reino animal, já que o tubarão baleia possui 4,5 mil den-tes e o peixe-gato (Amiurus nebulosus) tem 9.280 dentes. Os mosquitos costu-mam medir entre 4 e 6 mm, dependendo da espécie. Outro fato curioso é que são as fêmeas que picam animais e seres hu-manos, utilizando as proteínas contidas no sangue para alimentar aos ovos. Os machos se alimentam do néctar das fl o-res e de outros vegetais.

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E a profissionalização necessária não passa somente pelos cirurgiões-dentis-tas, mas pelos técnicos que podem compor as Equipes de Saúde Bucal: Técnico em Higiene Dental e Técnico em Prótese Den-tária. A Escola de Saúde Pública do Estado já formou técnicos nas duas áreas, mas so-mente em 2007 deu início a duas pesquisas que pretendem verificar a fundo a situação e a necessidade de investir nestas formações. A primeira, financiada pela FUNCAP, busca avaliar o processo de trabalho dos dentistas na Estratégia de Saúde da Família e o im-pacto da qualificação, realizada com cirur-giões dentistas, envolvendo as 21 coordena-dorias. A segunda tem o objetivo de analisar a situação dos 550 egressos dos Cursos em Higiene Dental realizados de maneira des-centralizada em 2007, buscando verificar a situação deles no mundo do trabalho e o nível de satisfação na visão do trabalhador e do empregador. Servirá para revisar os cur-rículos e acolher outras demandas. Na área de educação profissional,

a ESP desenvolve hoje dois projetos: o de Formação Técnica em Higiene Dental, fru-to de uma demanda apontada pelos gestores de saúde, destinada a profissionais que tra-balham na ESF e a qualificação de Auxiliar de Consultório Dentário, para pessoas que já aprenderam na prática e não tinham di-ploma para respaldar esse aprendizado. A ESP também está inserida no Projeto de Co-operação Brasil/Canadá, que vai possibilitar elaborar programas de ensino baseados na metodologia utilizada na Província de Ke-bec, que é a abordagem por competência. O Projeto prevê a elaboração de seis pro-gramas e formação em nível técnico, dois deles voltados à Saúde Bucal: Técnico em Radiologia e Prótese Dentária. Os cursos deverão ser ofertados a partir de 2009. Para a coordenadora do Programa de Formação de Técnico em Radiologia no âmbito do Projeto Brasil/Canadá, Carmem Cavalcan-te, “a abordagem por competência permite aproveitar o que o aluno adquiriu fora do sistema formal de ensino. Quem lida com

Urubus, alho e linho

Na Antiguidade, as civilizações romana, chinesa e gre-ga, cada qual a seu modo, já demonstravam preocu-pação com a saúde bucal. Plínio, o Jovem, de Roma, desaconselhava o uso de escovas confeccionadas com penas de urubu, por causar mau hálito. Para os chine-ses, as cáries eram provocadas por vermes de cabeça preta possíveis de serem enxergados durante a extra-ção do dente e, para combater a dor, usavam pílulas feitas de alho e salitre introduzidas no ouvido, do lado contrário ao do dente dolorido. Na Grécia, Aristóteles ensinou Alexandre, o Grande, a esfregar os dentes com uma toalha de linho fino, cuja superfície áspera garan-tia a limpeza bucal.

”a confecção de próteses hoje geralmente aprendeu com a prática, ofício que passou de pai de filho. Então ele não precisa co-meçar do zero, como se nunca tivesse en-trado em contato com o assunto. Isso reduz a evasão, diminui as despesas e valoriza o profissional. Ele vai apenas complementar as competências”. Os desafios da educação profis-sional também estão nos conteúdos repas-sados, especialmente nas Universidades. Rodrigo Carvalho, diz que “a Universida-de ainda é muito teórica. O discurso fala de um novo modelo de atenção, de um novo paradigma, saindo da perspectiva hospi-talocêntrica e assistencialista, mas falta a operacionalização das coisas na práti-ca. Acho que as experiências práticas são muito mais válidas do que a própria teoria. Quando você consegue dividir um distrito sanitário e coloca fichas de famílias em cores diferentes para cada território é uma jogada ótima, que operacionaliza a parte de descrição da clientela”.

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Desafios do financiamento

Durante muito tempo criou-se uma mística de que a Odontologia necessitava de um financiamento alto. Por causa disso, a Atenção Secundária e a Terciária não acom-panharam na prática o desenvolvimento das Equipes de Saúde Bucal na Atenção Primá-ria. Mas o Ceará está aprendendo a fazer pro-gramação e avaliação de indicadores. Isso porque planejar também é um desafio para a Saúde Bucal. A maior parte dos municípios já definiu inclusive seus grupos prioritários, geralmente seguindo as recomendações do MS (crianças de 0-5 anos, adolescentes, gestantes, doentes crônicos e idosos) a fim de recuperar o tempo perdido na assistência à população, que não aceita mais perder o atendimento, e que está se reeducando sobre o valor dos dentes e da boca. Uma questão que merece reflexão é o atrelamento das Equipes de Saúde Bucal às Equipes de Saúde da Família, com claro preju-ízo para a odontologia: aquela não pode fun-cionar sem esta. Desta maneira, o Ministério da Saúde pode estar preservando a centralida-de dos serviços na presença do médico, o que é extremamente contraditório para o SUS: sem médico não tem Equipe de Saúde da Família, e sem esta não se recebe financiamento para a Equipe de Saúde Bucal.

Homenagem

Francisco Ibiapina Barbosa nasceu em 1926. Quando ra-paz estudou interno em Canindé e logo em seguida transferiu-se para Fortaleza, onde estudou no Ginásio Liceu do Ceará, então o melhor e mais tradicional do Estado. Formou-se em Odontologia e com Mô-nica, natural de Monsenhor Tabosa, constituiu uma bela família, de cinco filhos. Seguiu carreira profissional brilhante, optando pelos gru-pos sociais menos favorecidos da sociedade. Um profissional do povo. Chamava atenção seu modus vivendis, pelo estilo de vida simples, mas muito ativo e cheio de sabedoria. Era um leitor voraz, cuja privilegiada inteligência e memória notável tornavam-no um intelectual. Considerado um homem culto, dominava assuntos com profundidade inquestionável, mesmo sem ser de sua área. Trabalhava com dedicação e realizava-se em sua profissão. Não via o ser humano dividido, mas de forma holística. Interessava-se pela coletividade! Quando diante de injustiças sabia se sair com maes-tria. Sua personalidade forte e seu senso de humor inabalável cativa-vam as pessoas. Quanto aos caminhos da humanidade, tinha seu senso crítico afinado e era capaz, com lucidez e bons argumentos, de arriscar previsões ousadas. Em 1964 fez curso de Especialização em Saúde Pública em Manguinhos, no Rio de Janeiro, que o credenciou de vez como um pro-fissional sanitarista. Realizou nos anos seguintes um belo trabalho na Secretaria de Saúde do Estado do Ceará. Dedicou-se como grande es-trategista na elaboração de massivas Campanhas de Vacinação, como a da Meningite. Teve grande atuação na erradicação da Poliomielite, Varíola, Sarampo, que tanto desespero gerou na população. Dedicou-se também ao controle da Tuberculose e outras doenças endêmicas, que sempre infernizaram a vida dos cearenses. Na cadeira de seu consultório fazia verdadeiras obras de arte na restauração de dentes e na confecção de próteses dentárias. Com seu ofício contribuía para recuperação da auto-estima de seus pacientes. O que mais chamava atenção era o cuidado que tinha com um doente, fosse quem fosse. Sua humanidade o impulsionava até o fim, se preciso ficando acordado, de plantão, noites seguidas. Ibiapina Barbosa faleceu em 1991. Assim como tantos outros, contribuiu no processo de pensar e fazer um sistema público de saúde mais justo e humanizado para todos. A Sustentação homenageia esse profissional por tudo o que ele representou e representa na vida de todos os que por ele foram influenciados.

Luiz De Araújo Barbosa - Pediatra

Francisco Ibiapina Barbosa

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Idéias simples: mudanças signifi cativas

Em 2008, o cirurgião-dentista Wilson Loures produziu um equipamento de fácil montagem, manuten-ção e transporte, que pode atender às necessidades de implementar políticas de baixo custo e grande efi ciência: um escovódromo portátil. Sua invenção foi apresentada durante a III Mostra de Saúde da Família, realizada em agosto, em Brasília, com grande aceitação e recomen-dação pelo Ministério da Saúde. Por aproximadamente R$ 850,00, ou seja, um valor 10 vezes menor que o de um consultório odontológico, o gestor municipal pode-ria além de estimular práticas de educação em saúde, estabelecer um elo efi ciente entre a secretaria de saúde e educação. Elo que pode ser estabelecido também pelo modelo de escovódromo criado em 2008 pelo odontólo-go e coordenador de saúde bucal de Mulungu, José Luiz Costa, que pode ser montado manualmente em qualquer local, e de baixíssimo custo, por ser operacionalizado através de materiais acessíveis em qualquer município: funis, garrafas peti, baldes e espelhos. Ainda no que se refere à promoção da Saúde Bu-cal, o Ministério da Saúde iniciou há dois meses a distri-buição de 1.000 escovas e 1.000 pastas dentárias para cada Equipe de Saúde Bucal da Estratégia Saúde da Família. O Ceará recebeu aproximadamente 1.500.000 Kits odontoló-gicos, que estão sendo distribuídos aos municípios. A demanda da Saúde Bucal permanece imensa, mas a prioridade que hoje o estado confere à promoção, prevenção e educação são indicativos de que a história da Saúde Bucal no estado só tende a melhorar.

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22 Revista Sustentação.2008.n.23opinião

Governo do estado quer promover equidade em saúde bucal

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Doenças tais como cárie dentária e doença periodontal têm provocado uma série de preocupações sociais. Estudos epidemiológicos mostram que apesar de todo avan-ço no controle das doenças bucais através do processo de fl uoretação das águas de abastecimento público, da inserção da Equipe de Saúde Bucal na Estratégia da

Família e do acesso aos Centros de Especialidades Odontológicas-CEO, muito ainda precisa ser feito. Além da dor de dente, mau hálito, dentes cariados, restos radiculares que incomodam, dentes tortos e falta de dentes, existem outras demandas silenciosas que necessitam urgentemente de atenção. Pacien-tes com fi ssuras lábio palatal, portadores de defi ciências, com lesões pré-cancerígenas e com traumas dentários e ósseos encontram-se, por vezes, órfãos de uma atenção mais do que justa, inclusive respal-dados de um dos princípios mais importantes do Sistema Único de Saúde, o da equidade. Então, há de se perguntar: onde estão estas pessoas que não se manifestam? Talvez à espera da iniciativa pública para o enfrentamento destes problemas. Neste sentido, o Governo do Estado do Ceará não medirá esforços para, além da ampliação do acesso aos serviços odontológicos básicos e especializados de qualidade, propiciar a estruturação de uma Política Integral e Humanitária de atenção aos mais necessitados. Daí faz-se necessário uma es-tratégia que possamos juntos construí-la. Entidades fi lantrópicas, públicas, sociedade civil organizada, enfi m, todos os interessados na construção de uma sociedade mais justa e equânime. Após uma série de discussões com entidades odontológicas e ofi cinas regionais realizadas em todo Estado, o Governo do Estado através da Secretaria da Saúde irá comprometer-se, principalmente, com os seguintes desafi os:Atenção Primária1. Assessorar os gestores municipais no processo de fl uoretação das águas de abastecimento público; 2. Realizar um levantamento epidemiológico em saúde bucal no período 2007-2010; 3. Promover ações de prevenção, detecção precoce, assistência e reabilitação de pacientes acometidos pelo câncer bucal e fi ssuras lábio palatina; 4. Incentivar as ações coletivas, em especial, a prática da escovação dental supervisionada; 5. Realizar cursos de aperfeiçoamento em Gestão Pública de Sistemas de Saúde para coordenadores municipais de saúde bucal e diretores dos CEO; 6. Publicar um Guia de Trabalho em Saúde Bucal que contenha informações básicas sobre como organizar/ estruturar um sistema público de saúde bucal; 7. Produzir materiais educativos em saúde bucal em parceria com o Núcleo de Atenção Primária à Saúde (NUAP). Atenção Secundária1. Construir e equipar 16 Centros de Especialidades Odontológicos (CEO) a serem instalados nas mi-crorregionais de saúde; 2. Custear em parceria com o Ministério da Saúde e Prefeituras Municipais 22 Centros de Especialidades Odontológicos (CEO) Regionais; 3. Realizar ofi cinas anuais com gerentes dos CEO regionais e municipais para esclarecimentos sobre o processo de trabalho, enfocando-se, principalmente, metas, organização do serviço, agendamento, faltas, avaliação, custeio, protocolos clí-nicos, referência e contra-referência; 4. Criação/estruturação do serviço de emergência odontológica no CEO Joaquim Távora; 5. Reestruturação do CEO Rodolfo Teófi lo; 6. Defi nir pactuação intermunicipal para os CEO Regionais junto às CIB - R; 7. Firmar convênio com a Universidade Federal do Ceará (UFC) com o objetivo da obtenção de laudos histopatológicos para o diagnóstico precoce de lesões pré-cancerígenas; 8. Estruturação do centro cirúrgico do CEO Centro para atenção ao paciente portador de necessidade especial; 9. Reestruturação de toda infra-estrutura da rede assistencial odontológica da Secretaria Estadual da Saúde; 10. Criação de um Centro de Especialidades Odontológicas- Meireles. Atenção Terciária1. Diagnosticar o perfi l dos serviços hospitalares público e da rede suplementar em atendimento odonto-lógico hospitalar; 2. Solicitar aos gestores municipais onde existam serviços de odontologia hospitalar que atualizem os registros das Fichas de Cadastro Ambulatorial, Sistema de Informação Hospitalar, Fi-chas de Programação Orçamentária e Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde dos municípios; 3. Viabilizar o atendimento cirúrgico hospitalar, reabilitação ortodôntica, fonoaudiológica, psicológica e fi sioterápica de pacientes com fi ssura labial palatal (Hospital Infantil Albert Sabin, Hospital Geral de Fortaleza, Cariri, Zona Norte e Quixadá); 4. Criar serviços de referências em Odontologia Hospitalar nas macrorregiões (Fortaleza, Sobral, Cariri) e Quixadá, para oferta de procedimentos de Cirurgia e Trauma-tologia Buco Maxilo Facial (CTBMF) e atendimento a pacientes portadores de necessidade especiais.

Ivan Mendes JúniorSupervisor do Núcleo de Atenção à Saúde Bucal do Ceará

[email protected]

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23Revista Sustentação.2008.n.23 cobertura

Saúde Bucal em Sobral: Evolução para um Modelo de Promoção de Saúde

O município de Sobral foi o primeiro do estado a construir um Centro de Especiali-dades Odontológicas. Também foi o primeiro a instituir Residência Multiprofi ssio-nal em Saúde da Família, com vaga para Odontologia. A própria gestão municipal de saúde é realizada por um odontólogo, Dr. Carlos Hilton Albuquerque. Todos essses fatores criaram um cenário favorável para a evolução no modelo de atendi-mento que pode ser exemplo para o Brasil. Confi ra a seguir um passeio pela rede de Saúde Bucal do município.

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bral. Era a primeira de uma série de visitas com o objetivo de realizar um levantamen-to das Ações e Serviços em Saúde Bucal do Sistema de Saúde de Sobral, que na aten-ção primária é composto por 40 Equipes de Saúde Bucal atendendo em 24 Centros de Saúde distribuídos na sede e nos distritos. Em relação à estrutura, a meta é atingir a proporção de uma ESB para cada ESF. Em Sobral, a defasagem é relativa-mente pequena, já que existem hoje no município 48 Equipes de Saúde da Família e com a previsão de inauguração de mais dois consultórios odontológicos esse ano,

no Centro de Saúde do Bairro Vila União, serão 42 Equipes de Saúde Bucal. Na ver-dade, visitar a estrutura de Sobral é quase sempre ter certeza de que é possível a inver-são da lógica referencial, que faz as políti-cas partirem do nível central para o restante do país. Muitas vezes estão neste municí-pio os melhores exemplos para o Brasil, ao menos no que se relaciona à organização e estruturação dos serviços. Foi exatamente por essa organização que o Ministério da Saúde escolheu Sobral para o lançamento da Política Nacional de Saúde Bucal, Brasil Sorridente, no ano de 2004 que contou com

A sala ampla chama atenção pela organização. Todos os instrumentais este-rilizados, embalados, e uma funcionária simpática fazendo um fi chamento enquan-to responde nossas perguntas e escuta uma música instrumental. Pode-se jurar que paga-se muito caro para usufruir daquilo. E paga-se sim, mas nada mais que os usu-ais impostos, porque o ambiente só atende usuários do SUS. Estávamos no Setor de Odontologia do Centro de Saúde da Fa-mília do Bairro do Junco, que funciona no complexo da Escola de Formação em Saú-de da Família Visconde de Sabóia, em So-

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a presença do Presidente da República. Mas nem sempre foi assim. Mes-mo pioneiro, o município chegou ao atual estágio de execução da sua política de Saú-de Bucal depois de um esforço conjunto e demorado, com a participação dos profi s-sionais durante a discussão e construção das ferramentas que tornaram Sobral a referência que é. Quem nos revela isso é o coordenador municipal de Saúde Bucal Dr. Edson Holanda. “Até 1999, Sobral só tinha atendimento odontológico na sede e o modelo praticado era o médico-privatista focado na doença. A partir daquele ano, vá-rios fatores como a Residência Multiprofi s-sional em Saúde da Família, a elaboração de um Plano Municipal de Saúde, além da fortifi cação do Controle Social através do Conselho Municipal de Saúde, colabora-ram para a implantação de um modelo para a promoção de Saúde. Foram montadas as Equipes de Saúde Bucal mesmo antes que o incentivo fi nanceiro ministerial existisse,

ou seja, implantadas e custeadas com te-souro municipal. Primeiramente eram duas Equipes de Saúde da Família para cada Equipe de Saúde Bucal e na época eu até dizia que deveria ser o inverso, porque du-rante meio século as pessoas não tiveram acesso adequado às ações e serviços de saúde bucal”, diz. A parceria com a educa-ção foi fundamental para que o município conseguisse o embasamento teórico e a disponibilidade necessária para a reversão da lógica mutiladora dentro de critérios de planejamento, execução e avaliação. Foi na Escola de Formação em Saúde da Família Visconde de Sabóia que os profi ssionais das ESB e a Coordenação Municipal de Saúde Bucal se reuniram para construir o “Guia de Ações e Serviços de Saúde Bucal”, que se confi gurou como parâmetro para o trabalho das equipes e funciona como instrumento de pactuação, execução e avaliação da política municipal. É quando entra o papel do supervisor de

ações e serviços, desempenhado pelo odon-tólogo Fábio Sólon (entrevistado desta edi-ção). É este guia que propõe o estudo dos indicadores, que faz toda diferença quando se pretende um futuro promissor. O ponto de partida é: se a participação efetiva das instituições de ensino, da gestão, dos pro-fi ssionais e do controle social foi capaz de criar um modelo ideal para cada território, o que é preciso para que isso se concretize? As respostas vão acontecendo no dia-a-dia e são compartilhadas duas terças-feiras por mês, durante os encontros de Educação Permanente, que convoca todos os odontó-logos a pensarem em conjunto suas metas e resultados. “Mais importante do que a quantidade de equipes é a qualidade do ser-viço. Nessa gestão nós conseguimos criar uma sistematização. Notávamos a difi cul-dade do profi ssional cirurgião-dentista em lidar com a Estratégia Saúde da Família. A maioria dos dentistas do país é formada para atender entre quatro paredes e conver-

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sar muito pouco. A multidisciplinaridade é um desafio. O dentista para o SUS é outro, precisa saber lidar com indicadores, peda-gogia, estratégia, gestão”, diz Edson. As discussões que geraram o Guia originaram também outros pontos da Polí-tica Municipal de Saúde Bucal. Entre elas a necessidade de pactuar as prioridades do atendimento diante da imensa demanda. Com o objetivo de promover saúde, e não dar continuidade à lógica clínica restrita ao ataque pontual do problema, alguns grupos de pessoas foram priorizados: crianças,

gestantes, idosos, hipertensos e diabéti-cos. “Começar a trabalhar pela promoção da saúde é priorizar alguns atendimentos na clínica e isso pode parecer um contra- senso quando se tem uma fila gigantesca de pessoas doentes, mas existe um fluxo nisso: as pessoas estão ficando doentes e caindo neste enorme “cesto” de quem precisa de tratamento odontológico clínico. Nunca va-mos conseguir esvaziar isso se quisermos “tratar” um a um, porque mesmo se exis-tisse um consultório para cada 500 pessoas no Brasil, não conseguiríamos erradicar o

problema, porque a pessoa tratada somente clinicamente com seis meses está de volta ao consultório com recidivas. E se nós tra-tamos e adequarmos uma criança promo-vendo saúde hoje, amanhã ela vai ser um adulto sem cárie”, continua o coordenador. Promover saúde consiste em atuar em diversas frentes: prevenir os problemas em quem ainda não os tem, assistir os que têm e recuperar os que não puderam ser atendidos ao longo de séculos inteiros de políticas de saúde bucal inadequadas. Neste sentido, Sobral abraçou mais um desafio: o

de confeccionar próteses dentárias em todas as Unidades de Saúde Bucal. O objetivo é a reabilitação oral de pessoas que perderam seus dentes por vários motivos, entre eles a de um modelo excludente e mutilador que existia no país há pouco tempo. Para isso, os cirurgiões-dentistas estão sendo capaci-tados a fazer próteses nos Centros de Saúde da Família. Mais de 30% dos Centros de Saúde já realizam o procedimento como rotina. “Devolver o sorriso a uma pessoa é muito mais do que uma ação clínica. Trata-se de uma satisfação para o profissional, que devolve não somente a mastigação, mas a estética e dignidade de um sorriso. É uma satisfação também para o gestor, visto que a cada entrega de prótese conseguimos sentir os princípios doutrinários do nosso sistema de saúde se cristalizando: Univer-salidade, Integralidade e Equidade”, com-pleta Edson.

A Semana Sobralense de Preven-ção de Câncer Bucal é uma outra ativida-de que nasceu dos encontros de Educação Permanente e com o Guia passou a ser es-tratégico no diagnóstico precoce de lesões. Durante a campanha de imunização contra a gripe, os cirurgiões-dentistas das Equipes realizam exames bucais na população aci-ma de 60 anos. Essa ação iniciou em 2005 e tornou-se rotina em Sobral com resultados e impactos importantes. “Hoje além dos in-dicadores de primeira consulta e escovação supervisionada, trabalhamos com a Co-bertura de Pré-Natal Odontológico e com a taxa de exames de prevenção de câncer. Isso com o intuito de qualificar ainda mais a nossa avaliação”, explica o coordenador. O Centro de Especialidades Odontológicas Sanitarista Sérgio Arouca é referência em atenção secundária para a décima primeira microrregião de Saúde do

Estado do Ceará. O CEO de Sobral foi o primeiro a ser inaugurado dentro da polí-tica Brasil Sorridente. O Centro funciona em três turnos através de consultas previa-mente agendadas oferecendo as seguintes especialidades: Periodontia, Endodontia, Estomatologia, Cirurgia e atendimento a pacientes com necessidades especiais. O CEO realiza em média 900 procedimentos por mês atendendo as demandas de proce-dimentos especializados das ESB. O Labo-ratório Regional de Prótese Dental (LRPD) funciona anexo ao CEO, executando os trabalhos necessários às Equipes que con-feccionam as Próteses Totais. Sobral vivencia hoje o resultado de um processo construído pela organização de uma gestão que priorizou a reversão de um modelo de assistência desumanizado e esti-mulou uma cultura profissional que aponta importantes resultados para o SUS.

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O COSSEMS comemora os 20 anos do SUS!

ANUNCIE AQUI(85) 32191498

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Para discutir Liberdade e Saúde Mental, cerca de 350 pessoas se reuniram entre os dias 4 e 7 de junho, em Iguatu, para o I Congresso Estadual de Saúde Mental, na cidade que instituiu o primeiro CAPS do Ceará. Nossa revista esteve lá e trouxe a síntese dessa avaliação histórica da Reforma Psiquiátrica cearense.

Iguatu sedia o I Congresso Estadual de Saúde Mental

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aconteceram entre os dias 4 e 7 de junho. A mesa de abertura do Congresso reuniu alguns dos protagonistas da história da Reforma Psiquiátrica no Ceará, na cida-de que instituiu o primeiro CAPS (1991) do estado: Hildernando Bezerra, prefeito à época da instalação; Weimar Santos, psi-quiatra à frente do projeto de Iguatu em 91; Nilson de Moura Fé, coordenador estadual de saúde mental; Jackson Sampaio, psi-quiatra que orienta a reforma cearense des-de o princípio; Agenor Neto, atual prefeito; Joab Soares, secretário municipal de saúde; e Erinton de Araújo, coordenador de saúde mental de Iguatu, presidente do Congresso. Para Weimar, o reencontro foi “talvez um dos momentos de maior felicidade de minha vida. A sociedade cearense sempre apoiou a Reforma Psiquiátrica e agora com todos esses eventos nos sentimos fortalecidos, com o desejo de que essa troca de experiên-cias se concretize plenamente”. Moura Fé destacou a importância do retorno à Iguatu: “Desde a década de 70 estivemos nesta ci-dade começando o movimento de mudar a saúde mental no Ceará. Em 91 montamos o primeiro CAPS com os temores de todos, e foi tão inovador que o Brasil hoje tem mais

Liberdade. Há algum provérbio oriental que diz: tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo. No conceito ocidental, isso não signifi ca nada mais do que ter saú-de física e mental. Ter autonomia e condi-ção psíquica de decidir e agir. Ter liberda-de. O desafi o da saúde é ter corpo e mente sãos, aptos a escolher, discernir e produzir. E quando se trata de saúde mental, eis o nó: saúde mental e liberdade são possíveis juntas? Em Iguatu, os 350 inscritos do I Congresso Estadual de Saúde Mental rece-beram esse tema para o debate, apresentado inicialmente pela conferência do psiquiatra Jackson Sampaio, no Teatro Pedro Lima Verde, na noite de 4 de junho. “Se desen-volvemos nossa existência na tensão na-tureza e cultura, se o conhecimento crítico está sendo expropriado pela alienação, se a compreensão da história se desmancha no ar, se lutamos por simulacros de necessida-des no mundo do consumo e nos realizamos no cerne das insatisfações, o tempo todo nos transformando em coisas dependentes de coisas, como pensar liberdade e saúde mental?”, foi a pergunta lançada à platéia atenta às perspectivas das atividades que

de 800 CAPS, 84 só no Ceará”. Erinton de Araújo encerrou as manifestações da mesa enfatizando o caráter histórico do evento: “Estamos vivendo esse resgate, somado ao trabalho de três anos e meio de governo, que nos proporcionou os equipamentos ne-cessários para a formação de uma rede de atendimento completa. Agora precisamos discutir o desafi o de fazer a integração des-se sistema”. O evento teve como objetivo con-gregar as iniciativas desenvolvidas no Cea-rá como protagonistas da Reforma Psiqui-átrica que marca o país desde a década de 70. O Congresso apresentou como espaços de discussão, além das palestras, ofi cinas, grupos de trabalho e apresentação de expe-riências (orais e pôsteres), este com 75 pro-fi ssionais inscritos. O evento teve o apoio do COSSEMS, do Governo do Estado e do Ministério da Saúde. Após a palestra de abertura, os presentes puderam conferir uma apresentação da Orquestra Eleazar de Carvalho, composta por crianças e adoles-centes da periferia de Iguatu, projeto que era um sonho do próprio músico Eleazar, natural de Iguatu, e que tem sido continua-do pela família do mesmo.

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As discussões em Mesas-Redondas

A primeira mesa-redonda, realiza-da na manhã do dia 5 de junho, teve como tema “O papel das instituições de ensino no campo da saúde mental”, coordenada pela enfermeira Lúcia do Nascimento. Foram convidados para expor suas experiências Dra. Vera Lúcia de Almeida – enfermeira, professora aposentada da UFC, coordenado-ra pedagógica da Escola de Saúde Pública de Iguatu – ESPI; Dra. Maria Salete Bessa Jorge – enfermeira, doutora em Saúde Cole-tiva em Associação Ampla UECE/UFC, co-ordenadora do Mestrado de Saúde Pública da UECE; e Emanuel Martins da Silva – en-fermeiro, especialista em Saúde Mental pela UECE, professor do Núcleo Descentraliza-do da URCA em Iguatu. Para Dra. Salete, “a formação é fundamental para a mudança de paradigmas, ainda voltados para a clínica, que é importante, mas deve ser ampliada”. E completou: “Precisamos nos envolver com

a atenção básica, porque saúde mental se faz até na casa da gente”. Emanuel Martins também destacou o papel da integração das redes de atendimento. “Nos preocupa a dis-pensação de tanto destaque ao CAPS, o que o torna um novo hospital psiquiátrico, sem considerar a importância da rede de atendi-mento, que inclui inclusive a atenção bási-ca. É necessário cuidado, tanto do serviço quanto dos profi ssionais, para uma atuação subjetiva e divisão de responsabilidades”, disse. A primeira mesa-redonda do dia 6 de junho teve como tema “Evolução histórica da Reforma Psiquiátrica no Ceará”, coorde-nada pelo secretário municipal de saúde de Iguatu Joab Soares, e contou com a partici-pação de Weilmar Santos, Hildernando Be-zerra e Moura Fé. A segunda mesa foi sobre Residências Terapêuticas e sentimento de pertença, coordenada pela psiquiatra Luisa Angélica Sales.

Mesas de trabalho

As mesas de trabalho ocorreram de forma simultânea, nos dias 5 a 7 de ju-nho, no complexo cultural Pedro Lima Ver-de. Foram construídas pelos relatos orais de experiências profi ssionais dos CAPS do estado, e destacaram temas como a Esqui-zofrenia, a Inclusão Social e os desafi os da liberdade de portadores de transtorno men-tal. Duas exposições de grande destaque fo-ram sobra a vivência dos CAPS II e CAPS AD, das regionais VI e I de Fortaleza, res-pectivamente. A primeira trouxe como tema “Xamanismo Moderno: um exercício de li-berdade existente nas entrelinhas das ações artísticas do Centro de Atenção Psicosso-cial de Fortaleza”, apresentada pelo artista plástico Barrinha. A outra foi o relato do coordenador do Grupo COM-PASSO, Ale-xandre Semearo, que usa jogos diversos, construídos na coletividade, como formas de resgatar a autonomia de dependentes químicos da periferia de Fortaleza. “Não se trata de copiar modelos, não se iludam com essa história. Modelos existem apenas como bússolas, para que a gente aplique neles nossa criatividade”, disse Alexandre.

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Ofi cinas, Cursos e Conferências

Além de convidar os participan-tes a trocar experiências realizadas, outra idéia do I Congresso Estadual de Saúde Mental foi abrir espaços para o aprendiza-do prático, o enfrentamento de situações contemporâneas com alternativas propostas pela Reforma Psiquiátrica. Neste sentido foram realizados cursos e ofi cinas, dentro de temas como: Avaliação do Desenvolvi-mento Infantil; Psicanálise e Saúde Mental; Dependência Química na Contemporanei-dade; e Supervisão de CAPS. Esta última ofi cina, ministrada pelo psiquiatra Carlos

Magno Barroso, apresentou possibilidades de abordar casos rotineiros dos CAPS. Para o psiquiatra, “o CAPS deve atender as de-mandas que chegam. Não deve normatizar condutas. Deve lidar com o imediato e com muita criticidade”. O espaço de conferências foi des-tinado às questões estruturais dos atuais dis-positivos de saúde mental do estado, sempre seguidas de debates. A de maior repersussão foi a que trouxe à tona a questão do fi nan-ciamento, no dia 5 de junho, exposta pela representante da Coordenação de Saúde

Mental do Ministério da Saúde Tânia Maris Grigolo – psicóloga, doutoranda em Psico-logia Clínica e Cultura pela UNB. “Sabemos que as políticas de fi nanciamento muitas ve-zes pioram as questões, engessam as coisas, mas devemos pensar também no quanto elas podem ser potencializadoras, refratárias de políticas efi cientes”, disse Tânia. Depois do debate foi elaborada a Carta de Iguatu. A outra conferência teve como tema: “Uma Questão Preliminar ao Tratamento das Psi-coses” e foi conduzida pelo psicanalista Mardônio Coelho Filho, no dia 6 de junho.

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Comenda Jacques Lacan de Realizações em Saúde Mental

No dia 6 de junho houve ainda, como parte da programação do Congresso, a entrega da Comenda “Jacques Lacan de Realizações em Saúde Mental”, aos profi s-sionais do CAPS de Iguatu em 1991, como o Dr. Weimar Gomes dos Santos, que ide-alizou aquela que foi a primeira equipe de CAPS do nordeste do país. Também recebe-ram a Comenda o gestor municipal quando da implantação do serviço, Dr. Hildernando Bezerra e o coordenador estadual de saúde mental, Dr. Nilson de Moura Fé. De acordo com coordenador municipal de saúde men-tal Erinto de Araújo, “a Comenda foi ofere-cida pela Coordenação de Saúde Mental de Iguatu em reconhecimento ao feito históri-co que marcou para sempre o pioneirismo do estado do Ceará nas ações em prol da Reforma Psiquiátrica no Brasil”. Com o I Congresso Estadual de Saúde Mental, o município de Iguatu ava-liou toda a sua história de Reforma Psiquiá-trica, bem como convidou todos os demais municípios a fazerem o mesmo. Apesar das soluções encontradas terem tornado-se re-ferências em Reforma Psiquiátrica, pensar em liberdade e saúde mental é um desafi o permanente.

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A revista Sustentação é quadrimestral com distribuição por todo o território nacional. É uma revista que mescla cien-tifi cidade e jornalismo, com espaços para publicações de artigos com experiências positivas no SUS, artigos de opi-nião, além de várias sessões para divulgação de notícias, eventos, entrevistas etc. O jornal do COSSEMS tem periodi-cidade mensal e destaca as ações implementadas no âmbito municipal. Nosso intuito é proporcionar uma verdadeira troca de informações entre os municípios, na área de saúde, além de gerar visibilidade para as ações desenvolvidas no âmbito da municipalização, tão fortalecida pelo Pacto pela Saúde. Para que essa troca seja de fato efetivada, pedimos a colaboração dos municípios no sentido de se associarem ao COSSEMS e permanecerem adimplentes com a instituição. Com isso, poderão ter disponíveis além da assessoria de comunicação, com esta revista, site e jornal, uma assessoria técnica construída para orientar os gestores na luta pela melhoria do SUS.

Faça parte do COSSEMS e comunique-se!

Convidamos todos a associarem-se e participarem!Anunciem! Divulguem suas ações!

Ganha o SUS, e ganhamos todos nós!e-mail: [email protected]

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Revista Sustentação.2008.n.23

Pela abrangência e nível de estru-turação organizacional, as equipes de PSF e de ACS podem desempenhar um papel fundamental na identificação precoce de novos casos e no encaminhamento para os centros de tratamento especializados, tor-nando-se uma estratégia importante, visto que, atualmente, 70% das crianças aco-metidas de câncer podem ser curadas, se diagnosticadas precocemente e tratadas em centros especializados. Um treinamento pi-loto já foi realizado em outubro de 2007, no município de Aquiraz-CE, envolvendo as equipes de PSF, com apoio da Dra. Anama-ria Cavalcante e Silva, secretária de saúde daquele município. O treinamento das equipes de PSF e Agentes Comunitários de Saúde, ação a ser implementada no segundo semestre de 2008, através de uma equipe multidisci-plinar itinerante de profissionais da APP/HIAS, acontece como fruto de uma parce-ria entre Associação Peter Pan, COSSEMS e SESA. Dentre o material didático desen-volvido pela equipe da APP, destaca-se o

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Associação Peter Pan lança o Programa do Diagnóstico Precoce do Câncer Infanto Juvenil

A Associação Peter Pan vem, ao longo de sua existência, contribuindo de for-ma decisiva para transformar a história do câncer infanto-juvenil no Ceará, atuando em três áreas fundamentais: o diagnóstico precoce, o tratamento especializado e atenção humanizada. Assim, em maio de 2007 promoveu o I Encontro Cearense do Diagnóstico Precoce do Câncer Infanto-Juvenil, que objetivou gerar um programa de diagnóstico precoce que inclui: políticas de saúde, estratégias de comunicação com foco na população em geral e edu-cação continuada envolvendo as equipes do Programa de Saúde da Família e os Agentes Comunitários de Saúde.

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lançamento da cartilha “O Papel do Agente Comunitário de Saúde no diagnóstico Pre-coce do Câncer Infanto-Juvenil”, impor-tante ferramenta de trabalho desses profis-sionais. Para atender a demanda gerada a partir dessa ação, a APP em parceria com o Hospital Infantil Albert Sabin, disponibili-zou um ambulatório de diagnóstico precoce para atendimento de crianças e adolescen-tes encaminhadas com suspeita diagnóstica de câncer. A taxa de incidência do câncer infantil tem crescido cerca de 1% ao ano. Este crescimento tem sido inversamente proporcional à taxa de mortalidade. É esti-mado que em 2010, um em cada 250 adul-tos seja um sobrevivente do câncer infantil. As neoplasias mais freqüentes na infân-cia são as leucemias (glóbulos brancos), tumores do sistema nervoso central e lin-fomas (sistema linfático). Também aco-metem crianças o neuroblastoma (tumor de gânglios simpáticos), tumor de Wilms (tu-mor renal), retinoblastoma (tumor da retina do olho), tumor germinativo (tumor das

células que vão dar origem às gônadas), osteossarcoma (tumor ósseo), sarcomas (tumores de partes moles). No adulto, em muitas situações, o surgimento do câncer está associado claramente aos fatores am-bientais como, por exemplo, fumo e câncer de pulmão. Nas malignidades da infância não se observa claramente essa associação. Logo, prevenção é um desafio para o futu-ro. A ênfase atual deve ser dada ao diagnós-tico precoce. Em nosso meio, muitos pacientes ainda são encaminhados ao centro de trata-mento com doenças em estágio avançado, o que se deve a vários fatores: desinformação dos pais, medo do diagnóstico de câncer (podendo levar à negação dos sintomas), desinformação dos médicos. Mas algumas vezes também está relacionado com as ca-racterísticas de determinado tipo de tumor. É importante que os pais estejam alertas para o fato de que a criança não inventa sintomas e que ao sinal de alguma anorma-lidade, levem seus filhos ao pediatra ou ao médico do PSF para avaliação.

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35Revista Sustentação.2008.n.23 (internacional) cobertura

Bolívia

Bolívia é um país intrigante que deixa qualquer um fascinado pela sua beleza na-tural, pelo colorido embreagante de sua cultura e pelo seu fervente clima político. Economicamente considerado o país mais pobre da América Latina, Bolívia vive atu-almente fortes transformações políticas e econômicas infl uenciando seu sistema público de saúde. A Sustentação traz um pouco de curiosidades sobre este país vizinho mostrando que o SUS esta ecoando sobre nossos “hermanos” latinos.

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Cercada por Brasil, Paraguai, Ar-gentina, Chile e Peru, a Bolívia ocupa o centro da América do Sul. Seus cenários naturais incluem desde picos cobertos de neve e frios desertos situados no alto da Cordilheira dos Andes até magnífi cas fl o-restas tropicais e savanas que se estendem pela bacia amazônica, numa notável varie-dade de climas e paisagens. Na Bolívia se encontra tudo o que o continente sul-ame-ricano tem de mais exótico e misterioso. Três séculos de domínio colonial espanhol deixaram profundas marcas no idioma ofi cial. Mais de 30 línguas indíge-nas são faladas no território boliviano, uma ampla extensão de terras que corresponde às áreas da França e da Espanha somadas. O país é habitado por quase 9 milhões de pessoas. A maioria da população em ci-dades fundadas pelos colonizadores espa-nhóis que abrigam algumas das mais repre-sentativas pérolas da arquitetura colonial do continente americano. Fo

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Do teu amor derramado nas calçadas de sagárnaga ... Das tuas noites incomodas de frio...Do teu cheiro ardido e saboroso de coca... Dos teus cafés escondidos... Das saltenhas ardentes que me queimam as gengivas... Da loucura de teu transito sem sentido... Dos vestidos de tuas chôlas... Suadas e cansadas... Das ladeiras que me tiravam a oxigenação... Das calles, madres e igrejas... Da inocente poluição... Da bravura de teu povo... Da alma de teus guerreiros... Dos que te deixaram metralhadoras... Dos montes es-

História

Em diversas ocasiões, a isolada Bolívia esteve nos planos expansionistas de seus vizinhos, mas agiu de maneira si-milar em muitas outras vezes. Depois do misterioso desaparecimento da tribo tihua-naco, o povo aimará tornou-se hegemônico até ser subjugado pelos incas, os quais, por sua vez, foram dominados pelos conquis-tadores espanhóis. Após uma guerra de independência que se estendeu por quase duas décadas, o país passou boa parte do século 19 envolvido em acirradas dispu-tas territoriais com o Peru, Chile, Brasil e

La Paz

Situada a mais de 3.500 metros acima do nível do mar, a cidade ocupa um estreito desfi ladeiro incrustado no Altipla-no. O conjunto formado pelas torres das igrejas e pelos edifícios, no centro urbano, parece pequeno diante da forte presença do monte Illimani, um dos grandes véus de neve das Cordilheiras, que se ergue, im-ponente, na região sudeste da cidade. De ambos os lados do monte, precárias casas tomadas pela população pobre da capital boliviana recobrem as encostas do vale, ocupando cada milímetro de espaço to-talmente íngreme. Com população pouco superior a 1 milhão de habitantes, La Paz é o centro político e comercial da Bolívia, embora o título de capital ainda pertença a Sucre, sede da Suprema Corte do país. A cidade preserva certo ar interiorano por ter fi cado à margem da onda mundial da globalização, talvez devido ao isolamento geográfi co ou pela intensa concentração de renda que se estampa em diferentes áreas da cidade.

Paraguai. Boa parte do século seguinte foi marcada pelo regime militar, com o retorno à democracia acontecendo somente a partir de 1982. Depois de alguns governos direi-tistas, Bolívia vive hoje um novo cenário político. Participando da onda esquerdista que vem se espalhando por toda a América Latina, Bolívia é governada pelo presiden-te Evo Morales que em dezembro de 2005 conquistou 54% dos votos depois de uma surpreendente campanha eleitoral com o apoio popular. Quando eleito, Evo polemi-zou em suas primeiras ações com a nacio-nalização do petróleo e do gás bolivianos.

Do teu amor derramado nas calçadas de sagárnaga ... Das tuas noites incomodas de frio...Do teu cheiro ardido e saboroso de coca... Dos teus cafés escondidos... Das saltenhas ardentes que me queimam as gengivas... Da loucura de teu transito sem sentido... Dos vestidos de tuas chôlas... Suadas e cansadas... Das ladeiras que me tiravam a oxigenação... Das calles, madres e igrejas... Da inocente poluição... Da bravura de teu povo... Da alma de teus guerreiros... Dos que te deixaram metralhadoras... Dos montes es-

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branquiçados de neve... Chakaltaia já não me espera mais... Aonde vou chegar?... Illimanj, canto por ti!... América unida... Bolívia corazon... Saudade da Plaza Murilo... De teu gobierno... Da tua sensibilidade feminina... Do teu imenso lago... Titicaca querido... De teus despenhadeiros... Onde me benzia por inteiro... Das brujas enfeitiçadas... Coca como te quero!... La hoja no es droga... Bolí-var, Mártir... Onde vamos chegar?... Frio em Copacabana...Isla Del Sol e de La Luna...

Cenário político atual

As emissoras de TV, como os ou-tros veículos de comunicação, demonstram a tensão que se confi gura hoje no cenário político do país. Segundo jornal transmiti-do pelo canal estatal, apresentado por uma jornalista em trajes de “chola”, o atual go-verno age em prol do reconhecimento dos direitos e das tradições indígenas, que com-põe a grande maioria da população, fato este também confi rmado pelos populares na grande La Paz. Além disso, segundo a jornalista, Morales quer mudar as estruturas do país para promover o desenvolvimento e pagar a dívida social dos secularmente explorados índios. A oposição, concentra-da em Santa Cruz, não economiza insultos, chamando o presidente de “macaco”. Hor-rorizam-se ante as idéias de departamentos de população indígenas com autoridades, costumes e leis próprias, da divisão dos seus recursos com as regiões mais pobres.

branquiçados de neve... Chakaltaia já não me espera mais... Aonde vou chegar?... Illimanj, canto por ti!... América unida... Bolívia corazon... Saudade da Plaza Murilo... De teu gobierno... Da tua sensibilidade feminina... Do teu imenso lago... Titicaca querido... De teus despenhadeiros... Onde me benzia por inteiro... Das brujas enfeitiçadas... Coca como te quero!... La hoja no es droga... Bolí-var, Mártir... Onde vamos chegar?... Frio em Copacabana...Isla Del Sol e de La Luna...

Hoje, Santa Cruz, um dos estados mais ricos, onde se concentra grandes criações de gado, devido desavenças políticas e in-teresses econômicos, tenta se desligar da Bolívia e se tornar independente. O governo faz ainda uma grande campanha pelo referendo popular sobre o projeto da nova Constituição do país, refor-ma aprovada pela Assembléia Constituinte em 2007 em meio a muitos protestos e boi-cote de grupos opositores ao governo. No dia 10 de agosto deste ano mais de 4 mi-lhões de bolivianos foram convocados às urnas para decidir sobre a continuidade ou revogação do mandato do presidente Evo Morales, do vice-presidente Álvaro García Linera e oito dos nove governadores do país, seis deles opositores.O presidente da Bolívia conseguiu o apoio de 67,4% dos eleitores, obtendo 2.103.872 votos a favor e 1.017.037 (33%) contra, na inédita consulta popular.

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Che Guevara

Médico e guerrilheiro. Ernesto entra

na Faculdade de Medicina da Universidade de

Buenos Aires, motivado em primeiro lugar por

sua própria doença, a asma, posteriormente de-

senvolvendo um especial interesse pela lepra.

Em 1952, realiza uma longa jornada pela Amé-

rica do Sul com o amigo Alberto Granado, per-

correndo 10.000 km em uma moto apelidada de

‘La Poderosa’. Durante oito meses desceram pela

costa atlântica da Argentina, passando através

das Pampas, atravessando os Andes para chegar

ao Chile, e depois rumo ao norte em direção ao

Peru e à Colômbia, para fi nalmente alcançar a

capital venezuelana, Caracas. No Peru, trabalhou

com leprosos e resolveu se tornar um especialista

no tratamento da doença. Che saiu dessa viagem

chocado com a pobreza e a injustiça social que

encontrou ao longo do caminho e se identifi cou

com a luta dos camponeses por uma vida melhor.

Mais tarde voltou à Argentina onde completou

seus estudos em medicina. Dois anos depois, Che

conheceu Fidel Castro e entrou no movimento

guerrilheiro pela libertação de Cuba do imperia-

lismo americano. Depois de assassinado pela CIA

na Bolívia, Che se transformou num ícone na his-

tória e num exemplo de coerência política. Sua

morte determinou o nascimento de um mito, até

hoje símbolo de resistência para os países latino-

americanos. Na Bolívia o médico e guerrilheiro é

reverenciado através de pinturas de seu rosto em

muros, camisas e adesivos em transportes popu-

lares. No dia 5 de julho deste ano o país fez uma

homenagem a Che Guevara com a construção de

uma grande estátua de sucata com cerca de sete

metros de altura em El Alto, a cidade mais pobre

da Bolívia. Che escreveu um diário sobre a via-

gem, onde conta o percurso pela América Latina

através de uma visão crítica, além de impressões

sobre a saúde pública da Bolívia e do Perú. Seus

escritos foram publicados no livro “De moto pela

América do sul, Diário de Viagem.”

A coca

A coca é uma planta nativa da Bolívia e do Peru. O princípio ativo analgésico contido na coca foi descoberto pelos Incas. Desde a época desse povo aos dias atuais a folha, considerada sagrada, é tradicionalmente mastigada nas áreas de relevo mais elevado, principalmente nas me-diações dos Andes. A coca possui propriedades curativas para o organismo humano, como a for-mação de células musculares. Também previne úlceras e gastrite, além de impedir o mal estar proveniente das altitudes. Após ter sido desven-dada a possibilidade de transformação em dro-ga, seu cultivo expandiu de forma signifi cativa. O aumento considerável desse tipo de produção ocasionou o declínio de culturas lícitas como o feijão e a laranja. Durante mais de duas décadas vários governos bolivianos, que trabalhavam com o apoio dos Estados Unidos, adotaram uma políti-ca de erradicação forçada dos cultivos de coca na Bolívia, na região do Chapare, através da política “Coca Zero”. Direitos humanos foram violados e pequenos agricultores fi caram impedidos de culti-var a folha para seu sustento. No atual governo, o ex líder do sindicato cocaleiro do Chapare e atual presidente, Evo Morales, implementou a política “Coca sim; Cocaína não”, autorizando o tradicio-nal cultivo de coca em áreas limitadas.

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Do teu amor derramado nas calçadas de sagárnaga ... Das tuas noites incomodas de frio...Do teu cheiro ardido e saboroso de coca... Dos teus cafés escondidos... Das saltenhas ardentes que me queimam as gengivas... Da loucura de teu transito sem sen-tido... Dos vestidos de tuas chôlas... Suadas e cansadas... Das ladeiras que me tiravam a oxigenação... Das calles, madres e igrejas... Da inocente poluição... Da bravura de teu povo... Da alma de teus guerreiros... Dos que te deixaram metralhadoras... Dos montes es

Do teu amor derramado nas calçadas de sagárnaga ... Das tuas noites incomodas de frio...Do teu cheiro ardido e saboroso de coca... Dos teus cafés escondidos... Das saltenhas ardentes que me queimam as gengivas... Da loucura de teu transito sem sen-

Saúde

O sistema público de saúde da Bo-lívia ainda é muito precário, com uma es-trutura em que grande parte da população, especialmente aquela de origem indígena e campesina, não tem acesso. Através da oferta dos serviços de saúde, 35% da população bo-liviana é atendida pelo Ministério da Saúde, através de hospitais e postos de saúde; 20% é atendida por hospitais e policlínicas dispo-nibilizadas pela Seguridade Social, serviço direcionado a trabalhadores formais e suas famílias, através do pagamento de imposto específi co descontado de suas rendas men-sais; 5% pelas ONG’s (Organizações Não Governamentais), e 2% pelas instituições privadas ou igrejas. Assim, quase metade da população (cerca de 40%) não têm acesso aos serviços de saúde. Segundo Walter Miranda, diretor da Policlínica Central, pertencente a Casa Na-cional de Saúde em La Paz, instituição que atende pela Seguridade Social, grande parte destas pessoas que não são atendidas está no campo. “O atual governo está empenhado em

Do teu amor derramado nas calçadas de sagárnaga ... Das tuas noites incomodas de frio...Do teu cheiro ardido e saboroso de coca... Dos teus cafés escondidos... Das saltenhas ardentes que me queimam as gengivas... Da loucura de teu transito sem sen-tido... Dos vestidos de tuas chôlas... Suadas e cansadas... Das ladeiras que me tiravam a oxigenação... Das calles, madres e igrejas... Da inocente poluição... Da bravura de teu povo... Da alma de teus guerreiros... Dos que te deixaram metralhadoras... Dos montes es

Do teu amor derramado nas calçadas de sagárnaga ... Das tuas noites incomodas de frio...Do teu cheiro ardido e saboroso de coca... Dos teus cafés escondidos... Das saltenhas ardentes que me queimam as gengivas... Da loucura de teu transito sem sen-

universalizar o acesso à saúde, em criar um sistema único, sem divisão no atendimen-to”, afi rma Miranda. Bolívia é um país que carrega uma forte tradição campesina. Tanto no campo como nas grandes capitais, principalmente em La Paz, as ruas estão profundamente marcadas pela cultura tradicional. Resultado disto, e do carente acesso desta população às estruturas de saúde, é o fato da cura de doen-ças estar bastante ligada às crenças decorren-tes das culturas indígenas aimarás. Assim, muitas pessoas recorrem às “cayaballas”, a chamada medicina tradicional. Nas cidades, principalmente no campo, existem consultó-rios que utilizam esta cultura “cayaballas”. Alguns programas de saúde são realizados em parceria com parteiras e rezadeiras, fi gu-ras tradicionais da cultura popular. Para o atual governo boliviano, o SUS é um exemplo de política pública a ser seguido, e algumas iniciativas brasileiras es-tão se desenvolvendo na Bolívia. Dentro de quatro anos, a taxa de mortalidade infantil

baixou signifi cativamente, de 120:1000 para 50:1000, uma baixa de 50%, o que compro-va que houve uma considerável melhoria na atenção básica dentro deste período. Apesar disto, visitas domiciliares são realizadas ape-nas para idosos assegurados na Seguridade Social. “Estamos querendo implementar nas Policlínicas a visita domiciliar programada, onde as pessoas precisem apenas solicitar o atendimento domiciliar. Isto já está previsto no programa, mas necessitamos de alguns meios para melhor efetivar a estratégia”, afi rma Miranda. “Necessitamos de recursos humanos, mas, mais que tudo, precisamos de equipamentos modernos que ainda não existem em muitos hospitais” complementa. Há também uma grande carência de profi s-sionais de saúde especializados na Bolívia. Para amenizar este quadro, existem parcerias com Cuba e Venezuela, através de intercâm-bios de profi ssionais que passam temporadas no serviço público boliviano. Médicos cuba-nos vêm trabalhar principalmente na área da oftalmologia.

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40 notícia Revista Sustentação.2008.n.23

Em março deste ano, durante o VIII Congresso do Conselho das Se-cretarias e Secretários Municipais de Saúde, o COSSEMS, em parceira com a Secretaria Estadual de Saúde, elegeu o ano de 2008 como “Ano da Atenção Básica à Saúde no Ceará”. O objetivo era lançar estratégias de fortalecimento deste nível de atenção dentro dos municípios, lutando para garantir sempre mais financiamentos para a saúde, para profissionalizar através de oficinas um número maior de técnicos e gestores e para apoiar quaisquer iniciativas que ajudassem a estruturar melhor a atenção primária no estado. Essa parceria resultou em grandes conquistas, como a assinatura do Decreto Estadual de Transferência de Recursos Fundo a Fundo, a assinatura da Portaria de Educa-ção Permanente, a adesão e orientação dos municípios sobre os Complexos Reguladores, cujas aquisições vão melhorar significativamente a organização dos serviços etc. Dentro dessa perspectiva, o COSSEMS resolveu lançar em julho a I Pesquisa Estadual das Necessidades de Infra-estrutura para a Atenção Básica, durante encontro realizado em Sobral. O COSSEMS elaborou um questionário simples e direto que visa congregar dados sobre a rede de Atenção Primária em cada município, como o número de Equipes de Saúde da Família, de Equipes de Saúde Bucal, número de Unidades Básicas de Saúde, tipos de equipamentos disponíveis para atendimento etc. Para o presidente do COSSE-MS, Policarpo Araújo, o objetivo é atingir 100% dos municípios cearenses. “O resultado dessa pesquisa é que vai orientar a nossa luta por recursos, vai mos-trar onde a Atenção Básica precisa melhorar sua estrutura e nós vamos procurar os financiadores nacionais e internacionais com argumentos concretos. Vai ser importantíssimo para o estado ter esse diagnóstico em mãos”, diz. A mobiliza-ção do COSSEMS com os municípios, para que enviem seus diagnósticos, está sendo diária e os resultados são esperados até o final de setembro.

Preencha o formulário da página seguinte, destaque-o e depois envie-o para nós: Conselho das Secretarias e Secretários Municipais de Saúde do Ceará - COSSEMS

Rua dos Tabajaras, 268 Praia de IracemaFortaleza-CE CEP 60060-440

Fones/Fax: (85)31015444 / 31015436 / 32199099 e-mail: [email protected]

site: www.conasems.org.br/cosems/ce

Atenção Básica no Ceará terá diagnóstico de estrutura!

Participe!!!

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Instruções de Preenchimento dos itens:

1. Preencher o nome do município; 2. Preencher o código do IBGE do município; 3.1. Preencher o número de equipes de saúde da família, que foram credencia-das na CIB e publicadas em portaria pelo Ministério da Saúde, anteriormente denominadas equipes qualificadas. 3.2. Preencher o número de ESB que foram credenciadas na CIB e publicadas em portaria pelo Ministério da Saúde, 3.3. Preencher o número de ESF que foram credenciadas na CIB e publicadas em portaria pelo Ministério da Saúde e que estão devidamente informadas no CNES e efetivamente funcionando com a equipe completa; 3.4. Preencher o número de ESB que foram credenciadas na CIB e publicadas em portaria pelo Ministério da Saúde e que estão devidamente informadas no CNES e efetivamente funcionando com a equipe completa; 4.O item diz respeito às informações relacionadas a cada US/Divisão Territorial a qual esteja vinculada uma ESF e/ou ESB, credenciada e/ou implantada. 4.1.Preencher o nome da US. Em caso de ESF e/ou ESB credenciada, mas que não exista unidade de saúde no território, preencha o nome da divisão territorial. Nesse caso não é necessário o preenchimento dos demais subitens; 4.2.Preencher o número do código no CNES da US; 4.3.Preencher o número de ESF credenciadas que estão vinculadas a US;4.4.Preencher o número de ESB credenciadas que estão vinculadas a US; 4.5.Preencher sim ou não para o item; 4.6.Preencher sim ou não para o item. 4.7.Preencher apenas em caso de resposta SIM ao subitem 4.5. Preencher sim ou não para o item;4.8. Preencher apenas em caso de resposta SIM ao subitem 4.5 e em caso de re-sposta NÃO ao subitem 4.7. Assinalar o valor em metros quadrados da necessi-dade de ampliação da US. Ampliação diz respeito à necessidade de área nova a ser construída; 4.9. Preencher apenas em caso de resposta SIM ao subitem 4.5 e em caso de resposta NÃO ao subitem 4.7. Assinalar o valor em metros quadrados da ne-cessidade de reforma da US Reforma diz respeito a áreas construídas mas que necessitam de adequação para atender às normatizações pertinentes.

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43Revista Sustentação.2008.n.23

vivências

Mande uma vivência do seu município [email protected]

As informações contidas nesta editoria são de inteira responsabilidade dos respectivos autores.

municipais

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O curso de Formação em Técnico em Higiene Dental e Auxiliar de Consultório Dentário visa desenvolver nos educandos um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias a torná-los capazes de contribuir para uma maior integração entre membros das Equipes de Saúde da Família, das Equipes de Saúde Bucal e os usuários do sistema de saúde. A Saúde Bucal é considerada parte integrante da saúde geral do indivíduo e está relacionada diretamente com as condi-ções sociais em que ele vive. Este conceito constitui-se no eixo determinante da atual Política Nacional de Saúde Bucal – o Brasil Sorridente – o qual está articulado às demais políticas públicas, de acordo com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde. Para que os resultados almejados sejam alcançados é ne-cessário que o processo de formação e capacitação dos profi ssio-nais envolvidos assuma um caráter estratégico, na lógica do tra-balho em equipe, do conhecimento compartilhado, da abordagem multidisciplinar e integral da assistência em saúde bucal. O Auxiliar de Consultório Dentário (ACD) e o Técnico em Higiene Dental (THD) são auxiliares na área de odontologia que, quando bem orientados, podem potencializar as ações de saúde bucal desenvolvidas no SUS. O Ministério da Saúde ela-borou o “Perfi l Profi ssional” dessas categorias que é baseado em competências exigidas pelas bases legais, políticas, e estratégias do Ministério da Saúde, bem como pela legislação da educação profi ssional (Lei de diretrizes e Bases da Educação N° 9394/96, Resolução CNE/CEB N° 2208/97). Essa lei possibilita que os cur-sos de nível médio proporcionem compreensão global do processo produtivo, com a apreensão do saber tecnológico, a valorização da

Formação de Técnicos em Higiene Dental e Auxiliar de Consultório Dentário pela Escola de Saúde Pública para a 8ª CRES

8a CRES

cultura e a mobilização dos valores necessários à tomada de deci-sões. O THD e o ACD são ocupações cujos exercícios se dão sob supervisão do cirurgião-dentista, sustentados no Código de Ética Odontológica (CFO,2003) e na Resolução CFO N° 185/93, altera-da pela Resolução N° 209/97. Em apoio às necessidades apontadas pelos municípios compreendidos pela 8ª CRES na educação permanente e conti-nuada dos ACDs e THDs a Escola de Saúde Pública do Ceará, em parceria com o Ministério da Saúde e com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) atua na formação desses profi ssionais na Regional de Quixadá, to-talizando até dezembro deste ano, juntamente com a 2ª turma de ACD e THD, 107 profi ssionais habilitados a ampliar as ações de odontologia, contribuindo assim com a melhoria da qualidade de saúde bucal dos seus usuários. A realização do curso, deve-se a necessidade dos muni-cípios em caráter Regional, solicitar a ESP-CE à capacitação de seus profi ssionais. A Instituição baseada do pedido, estuda a dis-ponibilidade do curso, o número de vagas a serem ofertadas para os municípios, a contratação dos profi ssionais através de inscrição e seleção e a capacitação dos facilitadores e coordenador em dar andamento e conclusão ao curso. Em contrapartida, os municípios disponibilizarão os profi ssionais e o custeio de translado e alimen-tação dos alunos. A Equipe representante da ESP-CE para desen-volver o curso é constituída por 02 facilitadores, Edlane Martins de Andrade e Fernando Freire de Holanda Neto; e 01 Coordena-dora, Érika de Oliveira Nicolau, que residem na cidade Sede da realização do curso.

Regina Gláucia Ribeiro de LucenaDulce Maria de Aguiar Lucena

Coordenação do Projeto de formação de THD/ESP-CEEdlane Martins de Andrade

Facilitadora do [email protected]

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O objetivo do projeto “Todos por um Sorriso” é trans-formar a prática odontológica e buscar parcerias que propiciem o desenvolvimento das ações de promoção à saúde bucal, para as-sim romper com o comportamento passivo das Unidades Básicas de Saúde e estender as ações junto à comunidade, criando uma co-responsabilidade na equipe multiprofissional na promoção à saúde bucal. O Projeto Todos por um Sorriso visa o desenvolvimento de ações para propiciar uma conscientização dos usuários e co-munidade acerca dos problemas relacionados à saúde bucal e do problema enfrentado pelas Unidades Básicas de Saúde, que é a demanda reprimida. O projeto fez parcerias com as escolas da área de abran-gência, os professores e coordenadores das escolas foram capa-citados para a realização das ações coletivas. Com a cooperação de usuários das Unidades Básicas de Saúde, foram reciclados ferros de cadeiras escolares em desuso e foram construídos os Escovódromos para realização da escovação supervisionada. Fo-ram criados com o apoio da comunidade recursos para motivar crianças, como o “Doutor Sorriso”, que visita as escolas para ati-vidades educativas e recreativas, utilizando um sistema de som capaz de transmitir mensagens e ensinamentos sobre educação em saúde bucal. As entidades organizadas que estavam em parceria pas-saram a desenvolver atividades de promoção e prevenção à saúde, com o apoio dos profissionais das Unidades de Saúde do municí-pio, como oficina sobre alimentação saudável, palestra com temas importantes para a saúde como o tabagismo, aleitamento materno, etc. Os grupos operativos como as gestantes realizam escovações supervisionadas nas Unidades Básicas de Saúde, onde foram cons-truídos escovódromos para realizações dessas ações. As gestantes recebem assistência individual em saúde bucal e são motivadas para o aleitamento materno, uma vez que o mesmo traz enormes benefícios para a saúde bucal. A construção de escovódromo móvel (carrinho da es-covação) facilitou a realização da escovação supervisionada nas escolas, uma vez que a mesma pode ser realizada até na porta de entrada da sala de aula. Os programas de rádio são realizados semanalmente por profissionais da Unidade Básica de Saúde, com os temas: As Medidas de Prevenção da Cárie, Câncer Bu-cal, Tabagismo, Alimentação Saudável e Aleitamento Materno e Muitos Outros. O Programa Todos Por Um Sorriso melhorou o nível de educação em saúde dos usuários e da comunidade, sendo notório durante o atendimento nas Unidades Básicas de Básicas de Saúde pelos Profissionais de Saúde o alcance da melhoria dos indicado-res de atenção básica, como a escovação supervisionada. O projeto

Todos por um Sorriso mudou o comportamento indiferente dos Agentes Comunitários de Saúde em relação à saúde bucal, e estes passaram a participar das atividades coletivas. A adesão de algumas entidades organizadas como a Pas-toral da Criança e Associação Comunitária de Moradores demons-trou que houve uma melhoria no nível de participação da comuni-dade em relação aos problemas relacionados à saúde. Com o desenvolvimento das ações do projeto “Todos por um Sorriso” as pessoas adquiriram novos conhecimentos sobre a promoção de saúde e a prevenção das principais doenças bucais. As demandas de usuários para o serviço odontológico passaram a ter atitudes mais compreensivas durante a marcação das consultas odontológicas.

Cristiane Mourão CarvalhêdoSecretária de Saúde

Maria Odalice Lima MagalhãesCoordenadora da Saúde Bucal

Cândida Maria Camelo de MesquitaEnfermeira da ESF

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Projeto Todos por um Sorriso

Hidrolândia

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A ESB efetuou um trabalho em conjunto com a ESF, os ACS (Agentes Comunitários de Saúde) e os comerciantes. A abordagem com o grupo de gestantes ocorre semanalmente (nos atendimentos clínicos, por demanda programada dos casos mais graves no momento do pré-natal) e mensalmente (momento em que são feitas atividades de prevenção e orientação à população). Neste último caso conta-se com a presença e apoio da equipe mul-tidisciplinar. Os ACS são responsáveis para avisar sobre o dia e horário da reunião e a ESF mobiliza os comerciantes, para sua par-ticipação com brindes e presentes para as mães e os bebês. Durante estas reuniões são realizadas atividades como palestras, gincanas, dinâmicas, debates. Também como forma de estimular a presença das gestantes realiza-se palestras, gincanas, sorteios e entrega de cestas básicas e presentes para aquelas mulheres mais necessitadas e que estão próximas de conceber, respectivamente. Ao longo destes 02 anos o atendimento clínico a este gru-po foi ampliado e facilitado, atingindo muitos tratamentos conclu-ídos. Percebeu-se a presença de conscientização das gestantes, o que refl etiu na redução da gravidade das aferições orais e algumas vezes até mesmo sua ausência. A contribuição dos comerciantes vem se mostrando evidente, nos revelando que a população tor-nou-se participativa, interessada na melhoria da qualidade de vida na sociedade. Em nossa experiência vemos diariamente como a teoria ainda é distante da realidade que podemos alcançar. Isto se deve às limitações fi nanceiras de cada município, difi culdades para mobi-lizar os gestores (que certamente possuem outros diversos campos para amparar) e falta de visão pela própria população (advinda da carga cultural e falta de educação em saúde, impostas ao longo de séculos). Contudo, estas foram barreiras superadas pelo empenho e pela associação com outros profi ssionais de saúde (ESF e ACS) e com representantes da própria população. É importante que o cirurgião dentista saiba trabalhar em conjunto com os profi ssionais do PSF, os ACS e quem mais es-teja interessado em contribuir para o aumento da viabilização da saúde. Vale lembrar, neste ponto de vista, que a saúde não é ape-

nas a ausência da doença, mas inclui o total bem estar físico, mental e social do indivíduo. Estas condições só podem ser geradas pela diversidade de pessoas em-penhadas neste papel. Portanto cabe a nós não apenas infl uenciarmos os indivíduos quanto à nossa área de atuação, mas também nos empenharmos e dar impor-tância ao trabalho multiprofi ssional.

José Hirvânio Costa CarneiroCoordenador de Saúde Bucal

Liana Andrade VeríssimoCirurgiã Dentista do PSF

Umbelina Fernandes VasconcelosGerente do PSF da Esperanç[email protected]

Irauçuba é hoje um município com 22.606 habitantes e há dois anos a presença da Odontologia era escassa no sistema públi-co de saúde. A cidade possuía uma Unidade Básica de Saúde, com equipe de saúde bucal e uma unidade mista de saúde, possuidora de um equipo para atendimento odontológico. Desta forma havia um número reduzido de profi ssionais da área. Preconiza-se que deve existir uma população de até 04 mil habitantes por unidade de saúde. Por iniciativa dos gestores, conta-se hoje com a presença de 06 Unidades Básicas de Saúde, com Equipe de Saúde Bucal (ESB) completa. Ainda assim, vemos que foi gerada uma grande quantidade de demanda reprimida ao longo de anos, fazendo com que os grupos populacionais passas-sem a ter muitas necessidades quanto à assistência curativa. Nos últimos dois anos, o PSF da “Esperança” (situado na sede do município) iniciou seu trabalho com os grupos populacio-nais, procurando suprir suas necessidades. Entre eles, o grupo de gestantes chamou bastante atenção da Equipe de Saúde da Família (ESF) por ser aquele que procurava mais o sistema público. Além disso, com uma população infantil de mais de dois terços do total do município, não houve dúvidas sobre a grande infl uência que as atividades voltadas às gestantes resultariam, exercendo forte im-pacto sobre a população como um todo. Desenvolver atividades de orientação para prevenção em saúde bucal das gestantes e bebês, visando impedir o aparecimento dos principais agravos desta po-pulação; aumentar acesso do grupo de gestantes aos atendimentos clínicos para tratamento curativo das doenças presentes; obter re-sultados expressivos na saúde bucal das gestantes e das próximas gerações, aumentando a qualidade de vida da população. Em todas as atividades o cirurgião dentista demonstra a técnica de escovação correta, com uso de um macro modelo, e método de higiene bucal nos bebês; fala sobre o uso inteligente do açúcar; aborda a importância da amamentação para formação do aparelho mastigatório e respiratório; alerta também sobre os danos causados por hábitos como a chupeta e sucção digital (como má oclusão, “dentes fora de posição”); e mostra que os cuidados ma-ternos também refl etem na saúde bucal de seus fi lhos.

Abordagem multidisciplinar da Equipe de Saúde Bucal junto às Gestantes, na Sede do Município de Irauçuba

Irauçuba

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levantamento de necessidade, as crianças são agendadas e levadas por seus responsáveis ou os coordenadores das escolas em um dia já estipulado para tratamento e posterior acompanhamento. Com isso podemos garantir um atendimento prioritário também a essas crianças. Conseguimos uma boa aceitação perante a comunidade com esse programa. A condição bucal dos adultos se devia a falta de um pro-grama de prevenção, o que não ocorre hoje em dia. De acordo com os resultados podemos enxergar que o índice de CPOD au-menta com a idade, chegando até o alarmante índice de 29,24 para o grupo etário de 65 a 74 anos. Fazemos reuniões bimestrais com os idosos, hipertensos e grávidas para uma melhor compre-ensão dos serviços ofertados. Nessas reuniões ensinamos noções de higiene oral, perigos que as doenças bucais podem trazer e principalmente fazemos exames rotineiros a procura de qualquer sinal de câncer bucal. O atendimento a esses grupos é prioritário, estando a população ciente, não criando reclamações na hora da marcação das fi chas. Hoje Tejuçuoca conta com uma cobertura de quase 100% dos munícipes, com 4 equipes de saúde bucal implantadas, uma já aprovada pelo Ministério da Saúde e mais uma a ser inscrita para o próximo semestre. Com o levantamento epidemiológico do Programa SB Brasil foi possível estabelecer um programa de aten-dimento por micro-áreas mais efetivo, com marcação de consultas e atendimento de visitas domiciliares a pacientes com difi culdade de locomoção, bem como as já realizadas palestras em escolas, creches e reuniões de idosos e hipertensos em todo o município.

Jorge Marcello Pisarro Varella FilhoCoordenador de Saúde Bucal

[email protected]

TejuçuocaSaúde Bucal em Tejuçuoca

O município de Tejuçuoca fi ca situado no Vale do Curú, região norte do estado do ceará, localizado a 145 Km de Fortale-za, com área territorial de aproximadamente 801 Km2. De acordo com a estimativa do Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE) para o ano de 2007, a cidade tem 14.974 habitantes, sendo 69,25% residente da zona rural. A cidade apresenta clima semi-árido, devido à baixa pluviosidade de 659,5 / ano. Os acessos à Tejuçuoca são pela BR 222 – CE 168 ou CE 341 – CE 253. Na língua indígena, Tejuçuoca signifi ca Morada do Tejuaçu – lagar-to grande. Limita-se ao norte com o município de Itapajé, ao sul com Canindé, leste com Pentecoste e ao oeste com o município de Irauçuba. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é baixo, em torno de 0,611 (PNUD / 2000). O Produto Interno Bruto (PIB) gira em torno de R$ 18.450,00 (IBGE / 2003), e o PIB per capita, em R$ 1.329,00 (IBGE / 2003). A agricultura de subsistência é predominante com o plantio de milho e feijão sobressaindo so-bre os demais produtos, com 63% de preferência para cultivo. A criação de animais de pequeno porte (ovinos, suínos e caprinos) chega a 10% e comércio e serviço público com 8%. Aposentados e benefi ciários, confecção de bordado à mão e extrativismo vegetal (carvão) são as demais atividades econômicas do município. Em Tejuçuoca foi realizado o Programa SB Brasil, pes-quisa que visava levantar a epidemiologia de cárie e outras neces-sidades bucais, onde verifi cou-se que a grande maioria da popula-ção ainda tem a velha máxima que se o dente tem cárie é melhor extrair para que não venha a doer, principalmente os de idade mais avançada. Hoje em dia são poucas as crianças e adolescentes que procuram os postos de saúde para arrancar os dentes. A grande maioria quer “obturar” e “fazer limpeza”. Podemos observar que nos resultados obtidos a popula-ção acima de 65 anos de idade apresenta-se quase com todos os seus dentes perdidos, cariados ou obturados. O que não acontece com a nova geração, pois a mesma apresenta satisfatória condi-ção de saúde bucal. As crianças pesquisadas de 05 anos de ida-de apresentaram CPOD de 2,86. Esse resultado é conseqüência do programa de prevenção que existe no município, feito pelos cirurgiões-dentistas junto às creches e escolas do município. O programa Sorriso Escolar tem como objetivo melhorar o acesso das crianças de 04 a 15 anos à saúde bucal. É feito um prévio

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Mutirão de Saúde Bucal: uma estratégia

Pedra Branca um levantamento epidemiológico das necessidades emergenciais dos usuários da área. Nesse momento houve uma grande partici-pação dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS’s), que atuaram como uma ponte entre os dentistas e usuários nos indicando aque-les que mais ansiavam por tratamento. Sequencialmente foi feita uma escala dos profi ssionais (CD’s e ACD’s) que participariam do Mutirão e o agendamento dos pacientes anteriormente triados. O Mutirão foi realizado durante o período noturno, no mês de março de 2008 durante 14 dias. Foram atendidos 78 pacientes, uma média de 5,57 pa-cientes por dia. Realizados 146 procedimentos, uma média de 1,87 procedimentos por paciente e uma média de 10,42 procedimentos/dia. Desses procedimentos 3 foram ações individuais de promo-ção e prevenção em saúde bucal, 7 de exame clínico e orientações sobre higiene bucal, 15 de dentística, 55 de cirurgia oral e 66 de periodontia clínica. Frente a esses números observamos resultados positivos diante dos objetivos traçados. Com a conclusão dos tra-balhos do Mutirão, a maioria dos procedimentos realizados resol-veu os casos de urgência e emergência, principalmente nos pacien-tes que chegavam relatando dor e incômodo. Além disso, todos os pacientes atendidos pelo o Mutirão foram encaminhados para os Programas de Promoção à Saúde Bucal e para dar continuidade ao tratamento. Quando se tem um objetivo traçado em comum, o apoio dos gestores, e uma equipe de profi ssionais dinâmicos fi ca fácil al-cançar as metas em um Projeto. Antes e durante o Mutirão de Saú-de Bucal, nossa equipe multiprofi ssional (CD’s, ACD’s e ACS’s) não perdeu o foco de atender prioritariamente os casos de urgência e emergência. Os números nos mostram dados de procedimentos realizados que fogem um pouco do objetivo, mas que só vêm so-mar ao andamento do tratamento. Uns dos poucos problemas enfrentados foi o deslocamen-to dos usuários da zona rural até a Unidade Básica de Saúde, já que nos encontrávamos, naquele mês, em período de muita chuva, assim algumas ausências de pacientes foram inevitáveis. A experiência de realizar um Mutirão para sanar ou di-minuir uma determinada demanda em uma área é muito válida e versátil. A aplicabilidade dos Mutirões é muito ampla, por exem-plo, as Campanhas de Vacinação, Mutirões de Prevenção à Dengue, Mutirão de Prevenção e Detecção de Lesões Precursoras de Câncer Bucal, ou até mesmo de Câncer de Colo de Útero, ou seja, em áreas distintas, cada uma com suas particularidades, o mutirão vai aten-der as expectativas de chamar a atenção para um problema e aten-der um grande número de pessoas num menor espaço de tempo. Esse trabalho foi aprovado pela comissão científi ca da III Mostra Nacional de Produção em Saúde da Família, realizada no período de 5 a 8 de agosto de 2008, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, Brasília-DF.

Garithuzy Macedo OliveiraCoordenadora de Saúde Bucal

Christiano Borges e Ermano Batista da Costa Dentistas do PSF

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Desde 2004 o município de Pedra Branca, localizado no sertão central do ceará, vem promovendo uma evolução signifi -cativa na Saúde Bucal. Naquele ano havia apenas 5 Equipes de Saúde Bucal (ESB) implantadas, hoje o município conta com 12 equipes, para um total de 40762 habitantes (fonte: IBGE 2007). Esse incremento determinou a equiparação das ESB com as ESF, como sugere a Portaria n° 673/GM de junho de 2003. Esse contexto nos remete a ampliação do acesso à Saúde Bucal na Atenção Básica através do acréscimo na cobertura po-pulacional e gradativamente à melhoria nas condições de saúde. Diante desse quadro foi idealizado o Projeto de Mutirão de Saúde Bucal no PSF Santa Maria que é formado por 14 microáreas na zona urbana e uma na zona rural, tem 1.030 famílias cadastradas, 4.242 pessoas acompanhadas e 5 Agentes Comunitários de Saúde (ACS’s) (fonte: SIAB). A ESB dessa Unidade foi implantada em meados de 2007. Frente a uma grande necessidade da população em resolver os casos de urgência e emergência de origem dentária o Projeto ganhou força e credibilidade. Diante dessas considerações o Projeto elegeu os seguin-tes objetivos: ampliar o acesso da população as ações promovidas pela ESB; avaliar e realizar a conduta de tratamento necessária para dirimir os casos de urgência e emergência de origem den-tária dos usuários da área de abrangência do PSF Santa Maria; encaminhar os pacientes atendidos para continuidade e posterior conclusão do tratamento; encaminhar os pacientes atendidos para os Programas de Promoção à Saúde Bucal que, rotineiramente, são executados pela ESB. Para dar início aos trabalhos, foi realizado pelos Cirurgi-ões-dentistas (CD’s) e Auxiliares de Consultório Dentário (ACD’s)

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Sorria Sol é um projeto de educação em Saúde Bucal re-alizado no município de Solonópole – CE, localizado no sertão central do estado. Esse projeto, que aconteceu na Sede do Mu-nicípio de Solonópole pela primeira vez em dezembro de 2006, permaneceu e melhorou o acesso dos usuários graças ao apoio dos profissionais de odontologia e gestores municipais que acreditam e investem nesse sonho de qualidade de vida para todos, onde são realizadas ações coletivas que buscam implantar a promoção da saúde bucal no município. Quando não havia ações de saúde bu-cal preventivas, através da educação em saúde para a população, implantamos o atendimento educativo, já que não é possível uma ação de tão grande abrangência ser realizada em consultório odon-tológico. Usamos um novo método de ação com o público: monta-mos uma tenda alocada no centro da cidade de Solonópole em dia de feira livre, para que todos tivessem acesso, inclusive os mora-dores dos distritos do município. Foram realizadas palestras atra-vés de 5 mesas demonstrativas com temas de higiene bucal, prevenção do câncer bucal, saúde bucal das gestantes e do bebê, saúde bucal do idoso e próte-se dentaria. Em cada mesa havia um cirurgião-dentista com uma atendente de consultório dentário e um agente comunitário de saúde, que abordaram o tema específico e realizaram as de-monstrações pertinentes a cada assun-to. Ao final das palestras, todos os par-ticipantes receberam um kit contendo uma escova dentária e um creme den-tal. O evento teve a participação dos diversos setores: escolas, creches, as-sociações e a população do município. A saúde bucal em geral e a situ-ação epidemiológica brasileira ainda são graves, devido às con-dições sociais e econômicas da população. Os investimentos que a Saúde Bucal recebe nos dias atuais, com os novos programas como Brasil Sorridente, nos dá subsídios para implantar meios de informações sobre os cuidados básicos de saúde. Embora a odon-tologia se mostre muito desenvolvida em tecnologia, não respon-de em níveis significativos às demandas dos problemas de saúde bucal da população no quesito prevenção. Nesse contexto, a edu-cação em saúde bucal tem sido cada vez mais requisitada, consi-derando o baixo custo e as possibilidades de impacto odontológico no âmbito público e coletivo. O desconhecimento sobre cuidados necessários de higiene bucal representa um fator a ser considera-do, uma vez que a informação, embora disponível nas grandes mí-dias, não chega a todas as camadas da população da mesma forma e, dificilmente, é apreendida de modo a produzir conhecimento e autonomia em relação aos cuidados com a saúde. A importância de programas odontológicos educativos, que levantem e interpretem as necessidades das populações de menor acesso aos serviços de saúde odontológicos precisa ser valorizada. A experiência foi tão positiva pela participação em massa da população no primeiro evento, (1.500 participantes e 1.500 kits

entregues), que entendemos que era necessário levar aos distritos de Solonópole a mesma ação para criarmos novos meios de acesso à população para prevenção e educação. Expandimos o evento ao distrito de São José, onde tivemos uma participação de 2.500 pes-soas e entregamos mais de 2.000 kits. Em seguida levamos o even-to ao distrito de Assunção, onde a resposta da população foi exce-lente, com uma media de 1.500 pessoas participando. Sentimos então a necessidade de levar o Sorria Sol aos colégios municipais e estadual, para os alunos do período de aula noturno, pelos rela-tos dos ACSs, afirmando que os alunos não tinham oportunidade de participarem dos eventos, mesmo quando aconteciam em seus distritos, porque muitos ajudavam os pais na lavoura. Realizamos nos colégios do município com um número de 400 alunos partici-pantes. Nos vários eventos realizados, vimos que a população ti-nha necessidade de ampliar a ação de educação para a prevenção e controle específico do câncer bucal, pelos hábitos nocivos loco – regionais. Realizamos então a 1º Campanha de Combate ao Câncer Bucal de Solonopóle, junto ao Sorria Sol. Na ocasião montamos uma estrutura com tendas e mesas demonstrativas, informando os causadores e perpetuadores das lesões bucais, e os meios de pre-venção das mesmas. O evento aconteceu no centro do município, com a realização de palestras e exames de prevenção ao Câncer

Bucal, e as lesões suspeitas foram en-caminhadas ao CEO – Solonopole, onde tivemos a participação de to-das as ESB do município. Foram realizados em media 1.500 exames durantes os três dias de evento. Uti-lizamos todos os meios de comuni-cação para esclarecimentos sobre o exame de combate ao câncer bucal, alem da conscientização sobre a im-portância do auto-exame duas ve-zes ao ano. Os pacientes com lesões confirmadas por biopsias feitas no CEO – Solonopole foram encami-nhados para UGF – Setor de Buco

Máximo Facial e patologia. Concluímos que prevenção é uma

questão de educação e acesso, para que a implantação de novos hábitos de saúde seja acrescentada e garanta valores a serem intro-duzidos na vida de todos no cotidiano. Porém, essas ações ainda precisam ser ampliadas para incluir, entre suas tarefas, o trabalho de conscientização com os grupos sociais, em especial os que têm menor acesso aos programas de saúde coletiva. As ações educa-tivas realizadas nos fizeram entender que a população é carente de saúde não apenas no quesito doença, mas também no quesito informação. Atualmente o Sorria Sol e Campanhas de Combate ao Câncer Bucal fazem parte da vida rotineira de educação e saúde de todos em nosso município, com uma aceitação e participação espetacular do povo. Levar a educação em saúde a todos os lu-gares onde existam pessoas, sejam eles uma vila, um distrito ou um sítio, e garantir através dos governantes municipal, estadual e federal, o acesso à saúde na promoção, informação e prevenção, junto ao atendimento técnico realizado pelo Programa de Saúde da Família, é o que chamamos de garantia de saúde em toda sua plenitude.

Jorge Lincolins Pereira SoaresWellington Vidal Costa

Francilda Rodrigues de [email protected]

Sorria Sol: Saúde e educação são tão importantes quanto respirar

Solonópole

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O perfil dos traumas de face tem sofrido consideráveis mudanças à luz da crescente violência urbana, observadas pelo aumento desta no trânsito e nas agressões físicas. Diante da rea-lidade sócio-econômica e dos dados epidemiológicos em questão, tornou-se necessário a estruturação de um serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial na cidade de Quixadá/CE em virtude de sua destacada posição em relação aos municípios inte-grantes do Sertão Central Cearense. A verificação de uma carência de serviços especializados adequados na Macrorregião de Quixa-dá (CE), limitando-se apenas a uma perspectiva de atendimento no Centro de Especialidades Odontológicas (CEO) e sem um ambien-te físico hospitalar adequado, justifica a necessidade do serviço. Com esse serviço implantado no Sertão Central (Quixa-dá), custos altos estão sendo evitados com o tratamento de seqüelas destes pacientes não operados no tempo devido, evitando também custos com transportes destes para a Capital do Estado. Importante aspecto é a satisfação popular, a qual será tratada integralmente e com acesso a um serviço que outrora o SUS não atendia de forma eficaz no interior do Estado. Para um trabalho dessa amplitude, a equipe conta com um Traumatologista Buco-Maxilo-Facial e um técnico de enfer-magem em total harmonia com os demais profissionais de saúde (cirurgiões-dentistas, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e auxi-liares de enfermagem), numa estrutura física planejada e de funda-mental importância para a resolutividade do serviço e eficácia no atendimento a população. Quixadá é um município brasileiro na região do Sertão Central do estado do Ceará a aproximadamente 167 km da capital Fortaleza. A população do município é estimada em 76.631 habi-tantes (IBGE 2007). A taxa de urbanização é de 67,3%, e segun-do os indicadores de recursos e cobertura da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, Quixadá é a cidade pólo na atenção a saúde e contempla 02 hospitais que oferecem atendimento pelo SUS. Dentre estes, o Hospital Municipal Eudásio Barroso, prestador do SUS, é referência para todo o sertão central do Ceará. Objetiva-se ofertar a população quixadaense o servi-ço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial no Hospital Eudásio Barroso, abrangendo através do sistema de referencia e contra-referencia os usuários do município, absorvendo encami-nhamentos de unidades de saúde como hospitais, postos, Centros de Especialidades Odontológias (CEO) e de forma indireta do Pro-grama de Saúde da Família (PSF). As atividades são em regime eletivo, associado ao atendimento ambulatorial e centro cirúrgico. Uma das mais significativas atuações no serviço de trau-matologia Buco-Maxilo-Facial realizado em Quixadá é a captação dos pacientes com traumas e deformidades naso-palatais, as quais estão sendo resolvidas no corrente ano.

Sormani Bento Fernandes de QueirozCirurgião Buco-Maxilo-Facial

Edlane Martins de AndradeCoordenadora de Saúde Bucal

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QuixadáExperiência do Serviço de Traumatologia Buco-Maxilo-Facial no Hospital Municipal Eudásio Barroso

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A saúde bucal representa uma porção indivisível da saúde geral do indivíduo. Ela refl ete diretamente o ambiente em que estamos inseridos, o nível de informações que possuímos, o acesso da população ao tratamento, a educação para a prevenção e promoção da saúde como um todo. O município de Senador Pompeu está localizado na re-gião do sertão central do Ceará, estando distante de Fortaleza, capital do estado, 280 Km. É construído por quatro distritos e com uma área territorial de 1.067Km². Dispõe de uma popula-ção de 27.225 mil habitantes. A evolução do Sistema Local de Saúde Bucal se deu através da realização de Planejamento estratégico e participati-vo. Até então, o modelo de atenção concentrava-se apenas em duas equipes, onde os atendimentos eram realizados somente em alguns dias da semana, no período da manhã, fi cando o trabalho desvinculado do Programa Saúde da Família. Em 2005 entrou em ação uma nova estratégia que bus-cou, através dos seminários de planejamento, o credenciamento de mais três novas equipes, bem como atendimento integral de 40 horas semanais e engajamento dos cirurgiões-dentistas nas equipes do Programa Saúde da Família, participando das reuni-ões semanais (Roda do PSF) com os demais membros das equi-pes. Dessa maneira criou-se um vínculo entre profi ssionais e a população adscrita, tornando o atendimento humanizado e inte-gral, não se limitando apenas ao atendimento de praticas curati-vas, mas requerendo o exercício de práticas intersetoriais e in-terdisciplinares, construídas a partir de diferentes atores e áreas do conhecimento. Professores, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, entre outros, começaram a realizar ações conjuntas para abrangência e a positividade da assistência à saúde bucal. No ano de 2006, após melhorias nas estruturas físicas das unidades, realizamos o projeto de grande ousadia para o Ser-tão Central. Implantamos o primeiro Centro de Especialidades Odontológicas (CEO), que veio servir de referência para a aten-ção básica nos procedimentos mais complexos, trazendo um grande potencial de resolubilidade aos casos de tratamento en-dodôntico, cirurgia oral menor, pacientes especiais e periodontia, muito comuns em nossa cidade.

A evolução da Saúde Bucal na busca do bem estar social

Senador Pompeu

Em 2007 o CEO ganhou mais uma especialidade, com a chegada da prótese dentária. Foi montado um laboratório que, ini-cialmente, confeccionava 60 próteses totais por mês. Hoje já con-seguimos dobrar esse número, chegando a 120 peças protéticas, fi -cando assim a população coberta pelos três níveis de atendimento, desde a promoção e prevenção, recuperação e pronto atendimento até a reabilitação oral. Já no primeiro semestre de 2008, foram credenciadas mais 02 (duas) novas equipes de saúde bucal, completando assim oito equipes cadastradas e em total funcionamento. Durante esses três anos e seis meses, foram realizadas vá-rias atividades de promoção e prevenção das doenças bucais, den-tre elas, visitas às escolas para escovação supervisionada, entrega de kits com escova e creme dental, palestras educativas, além de campanhas de rastreamento e detecção precoce do câncer de boca, com realização de biópsias e encaminhamento dos casos de lesões para tratamento na rede de referência. A organização da atenção a Saúde Bucal, estruturada jun-to à Estratégia de Saúde da Família, aliada a gestão participativa na perspectiva de operacionalizar os principio do SUS, deixou de ser um atendimento simplesmente curativo e multilante para ser, sobretudo, conservador e prevencionista. É a administração muni-cipal integrando as ações de saúde!

Luzia Lucelia Saraiva RibeiroSecretária de Saúde

Rodinelli Alencar de OliveiraCoordenador de Saúde Bucal

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Com a disseminação dos métodos de prevenção, base-ados principalmente nos tratamentos utilizando fl úor e na edu-cação dos pais ou responsáveis, observa-se hoje um declínio da incidência da cárie dental, principalmente devido ao fl úor da água de abastecimento, que representa um dos mais importantes meios de saúde publica, sendo considerado o método de prevenção mais efetivo em termos de abrangência coletiva. Distribuída de forma uniforme, favorece igualmente toda a população, diminuindo as desigualdades sociais. Sabendo-se do papel do fl úor na Odontolo-gia Preventiva, o objetivo deste trabalho foi mostrar a importância da incrementação da utilização do fl úor por meio dos cimentos de ionômero de vidro e escovação com o fl uoreto de sódio acidulado a 1,23% na estabilização do processo doença-cárie em pacientes com alto risco de cárie, como forma de diminuir os indicadores de exodontia no município de Mulungu, que não tem adição de fl úor na água de abastecimento. O fl úor tópico acidulado e o ionômero são usados como agentes moduladores. Levando em consideração a situação epidemiológica dos grupos populacionais locais, e também nas quais seja constatada uma ou mais das seguintes situações: exposição à água de abas-tecimento sem fl úor ou com teores abaixo de 0,4 ppmF, CPOD maior que 3 aos 12 anos de idade e menos de 30% dos indivíduos livres de cárie aos 12 anos de idade, caso em que se enquadra o município de Mulungu, algumas vezes torna-se necessário o uso de alguma medida preventiva adicional para estas populações, tais como a Aplicação Tópica de Flúor (ATF) e o Cimento de Ionô-mero de Vidro (CIV). O fl úor participa ativamente dos desafi os cariogênicos, interferindo na solubilidade do esmalte e propiciando não só a re-dução da progressão das lesões, mas viabilizando a remineraliza-ção. Possui ação atimicrobiana e antienzimática, uma vez que, ao penetrar na célula bacteriana na forma de HF (ácido fl uorídrico),

inibe a enzima enolase, di-minui a produção de ácido e interfere no metabolismo bacteriano e na geração de energia, provocando sua eliminação. Aumenta a tensão superfi cial, alteran-do a colonização bacteria-na na superfície dentária. Para tal é necessário que o fl úor esteja disponibi-lizado na cavidade bucal através da alta freqüência e concentração adequada. O ionômero de vidro é o material que apresenta atualmente o maior poten-cial de utilização na odon-tologia, tanto pelas carac-terísticas e propriedades quanto pela diversidade de uso. Isto se deve não só à grande capacidade de libe-

ração de fl úor destes materiais, como também à sua capacidade de sofrer um recarregamento, durante aplicações tópicas. Desta ma-neira, poder-se-ia pensar na sua utilização como um reservatório de fl úor, que estaria constantemente sendo liberado para o meio ou armazenado, o que parece ser de muito interesse para pacientes de alto risco à cárie. A saúde bucal de Mulungu, de posse des-sas armas poderosas, tenta mudar a triste realidade das mutilações dentárias que em algumas áreas ainda persistem. O Programa de Saúde da Família do município de Mu-lungu, situado no Ceará, na região de Baturité, atende hoje uma população de 10.975 pessoas, divididas em quatro equipes. Os atendimentos eram restritos à demanda espontânea, o agendamen-to era feito pelo agente de saúde, não existia triagem, nem ava-liação de riscos. Geralmente era dividido assim: um turno para exodontias (12 pessoas), no outro turno tratamento odontológico (8 a 10 pessoas, não tinha disponível o cimento de ionômero de vidro) e o trabalho nas escolas se concentravam mais ao coordena-dor de saúde bucal. Não satisfeitos com este modelo de atenção, a equipe começou a traçar uma nova estratégia: o dentista passou a realizar a triagem (busca ativa de clientes tanto na escola como nas comunidades), com o resultado alarmante de cáries em escolares foi criado um modelo de atenção chamado Programa Salve os Seis (visando a preservação dos 1º molares). Para efetivá-lo, incluímos cimento de ionômero de vidro por melhor condicionamento bucal e por seu efeito anticariogênico. Decidimos por uma atenção odontológica que contempla todas as fases da vida, atendendo na rotina bebê, pré-escolares, escolares, adolescentes, adultos, gestantes e idosos, com progra-ma de educação e medidas preventivas Notamos que o controle do consumo de açúcar é muito difícil de ser seguido, mas con-tinuamos tentando mudar estes hábitos. Entendemos que a pre-venção é a maneira mais efi caz, barata e simples de se promover a saúde bucal. A ESB Sede I e Lameirão tiveram signifi cativa melhora nos indicadores de redução de exodontia: ano 2005 com 845, em 2006 com 403, e em 2007 com 180 exodontias. Uma signifi cativa redução! Outra experiência que merece interesse é a que ocorre na ESB Conjunto Padre Pedrosa, área de intensa polarização epide-miológica e social, com uma população de alto risco de cárie, um grande desafi o! Mesmo com o advento do ionômero de vidro, o CD Antonio Clodomir atuando na equipe desde 2006, não satis-feito com os indicadores de exodontia, que ainda considera altos, resolveu adotar em outubro de 2007 o protocolo do “Manual de Fluorterapia”, que direciona para uma terapia intensiva de fl úor de acordo com a avaliação de risco do paciente, incrementando intensamente o uso de Flúor Tópico Acidulado em escovações su-pervisionadas. A ESB Conjunto obteve os primeiros resultados com uma redução também signifi cativa do número de exodontias: com mé-dias mensais em 2006 de 57 por mês, em 2007 de 43 exodontias mês, em 2008 até abril tivemos uma média de 27. Nota-se expres-siva melhora nos indicadores. A Equipe de Saúde Bucal de Mulun-gu, entretanto, não pode se acomodar e se iludir com os resultados. Sabemos que podemos e devemos melhorar em diversos aspectos. Nossa luta é contínua, as batalhas por uma odontologia de melhor qualidade para população são vencidas dia a dia.

Antonio Clodomir de Souza Araújo Junior Ana Maria Belli

Edna Mara de Albuquerque [email protected]

Desafi o: diminuir indicadores de mutilação dentária por exodontia em Mulungu

Mulungu

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De acordo com a Norma Operacional de Assistência à Saúde 01/02 (NOAS), do Ministério da Saúde, dentre as responsa-bilidades e ações estratégicas mínimas de Atenção Básica estão: o controle da Hipertensão Arterial, o controle da Diabete Melito, a Saúde da Criança, a Saúde da Mulher e a Saúde Bucal. Em 2004, o Ministério da Saúde formulou um documento com diretrizes para a política nacional de saúde. Uma das diretrizes deste documento foi o desenvolvimento de ações complementares e imprescindíveis voltadas para as condições especiais de vida, como saúde da mu-lher, saúde do trabalhador, portadores de necessidades especiais, como também hipertensos, diabéticos, dentre outras (BRASIL, 2004). Portanto é de fundamental importância o atendimento dos grupos prioritários também pela equipe de saúde bucal, não apenas fi cando limitado aos médicos e enfermeiros. O objetivo deste trabalho é relatar a experiência bem-sucedida de duas equi-pes de PSF no município de Quixeramobim. O PSF iniciou no município em 1996 e as equipes de saú-de bucal em 2002. Como em toda realidade municipal, a inclusão do dentista dentro das ações próprias do PSF é um desafi o, esta experiência vem relatar um trabalho que tem garantido com suces-so a ação interativa entre dentista e PSF, em prol da saúde integral dos usuários. Duas cirurgiãs-dentistas (Dra. Ana Maria Costa de Al-meida Sampaio e Dra. Liana Veras Holanda) deste município com o objetivo de organizar a demanda dos usuários de forma a ampliar o acesso, adequar-se ao perfi l epidemiológico da comunidade em que se atua e proporcionar tratamento preventivo e curativo em tempo hábil aos grupos de risco (gestantes, hipertensos, diabéti-cos, crianças e idosos), organizaram os atendimentos através de agendamentos aos grupos prioritários com a ajuda dos demais pro-fi ssionais da equipe, que encaminhavam ao dentista. Este trabalho conjunto médico-enfermeiro-dentista trouxe excelentes resulta-dos para a saúde do município, onde todos os usuários receberam orientação individual e coletiva sobre higiene e dieta num trabalho contínuo de educação em saúde através de vídeos, palestras, ofi ci-nas com temas de acordo com a necessidade de cada grupo, além do tratamento curativo. No que diz respeito ao tratamento curativo e preventivo, para cada grupo de estratégia do PSF foram reservados cuidados e atenção apropriados:. Grupos de gestantes: A esse grupo é ofertado pré-natal odontoló-gico em sintonia com o pré-natal de enfermagem, onde a gestan-te é agendada e recebe o tratamento odontológico de acordo com suas necessidades. Também são feitas as devidas orientações sobre os cuidados que a gestante deve ter com o seu futuro bebê.. Grupos de hipertensos, diabéticos e idosos: Em sintonia com o acompanhamento médico e de enfermagem e com as visitas da ACS é realizado o agendamento e o atendimento odontológico. Procura-se realizar freqüentes exames de prevenção de câncer de boca.. Grupos de crianças de 0 a 5 anos: Para esse grupo são dadas orientações aos pais e cuidadores. Acontecem visitas e acompa-

nhamentos dos grupos de mães e das creches onde os cuidados de higiene e dieta para uma boa saúde bucal são abordados. Também com este grupo é realizada semanalmente escovação supervisio-nada e semestralmente aplicação de fl úor gel. De acordo com a necessidade do tratamento curativo, essas crianças são agendadas e recebem o devido tratamento.. Grupos de 7 a 10 anos e adolescentes: este grupo recebe sema-nalmente orientações coletiva de escovação supervisionada e apli-cação de fl úor bochecho. Também são agendados e recebem trata-mento dentário de acordo com suas necessidades. Estas ações têm trazido benefícios para toda a população e mostra o quão é importante a presença atuante e integrada dos cirurgiões-dentistas dentro das estratégias do PSF. Para que este trabalho conseguisse o êxito que foi obtido, foram primordiais as reuniões semanais entre equipe de saúde bucal e demais membros da equipe de PSF onde eram analisados as atividades odontológi-cas realizadas de acordo com o perfi l epidemiológico da área e o impacto das mesmas em cada grupo atendido.

BRASIL, Ministério da Saúde. Regionalização da Assistência à Saúde aprofundando a descentralização com equidade no acesso: Norma operacional da Assistência à Saúde – NOAS – SUS 01/02 e portaria MS/GM 373 de 27 de fevereiro de 2002, e regulamentação complementar. Série A. Normas e Manuais Técnicos. Brasília, DF, 2002._____, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Coordenação Nacional de Saúde Bucal Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal - Brasília, 2004.

Ana Maria Costa de Almeida SampaioCirurgiã-dentista

Liana Veras Holanda Cirurgiã-dentista

Ana Paula Chaves Almeida Coordenadora de Saúde Bucal

[email protected]

Relato de experiência de duas equipes de saúde bucal do município de Quixeramobim

Quixeramobim

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O termo bruxismo foi inicialmente introduzido na literatu-ra odontológica em 1901, e desde aquela época tem sido utilizado de forma persistente para indicar “um hábito inconsciente e às ve-zes consciente de ranger, apertar e deslizar os dentes, sem objetivos funcionais aparentes”. Este hábito parafuncional é conhecido desde os tempos bíblicos e faz alusão ao comportamento, relacionando-o com a raiva e frustração reprimidas (MOLINA et al., 2002). O bru-xismo diz respeito ao desgaste ou ranger dos dentes que não tem um propósito funcional e pode ter início precoce ou tardio. Todavia, ocorre um apertamento involuntário dos dentes, que associadas aos movimentos mandibulares laterais e protusivos, resulta no rangido e desgaste dos dentes. Este seria um hábito freqüente, associado ao estresse emocional ou fadiga, nos quais os dentes mandibulares se movem lateralmente ou protusivamente, resultando em padrões de desgaste anormais sobre os dentes (BARONI et al., 2005). No que tange as alterações dentárias a partir do hábito de ranger os dentes, alguns autores referem-se às facetas de desgaste como a principal característica observada durante o exame intra-oral de um bruxôma-no, denotando também o grau de severidade do hábito. Para melhor evidencia-las, é indicado que o profissional seque bastante as super-fícies dos dentes e atente para a presença de desgastes regulares, po-lidos, brilhantes e durante os movimentos excursivos da mandíbula, também devem ser coincidentes entre si. É possível ainda a presença de desgaste excessivo generalizado dos dentes, causando assim a redução da dimensão vertical de oclusão (FURESE et al., 2003). O objetivo geral deste trabalho é analisar a prevalência de hábito parafuncional, bruxismo, nos prontuários dos pacientes atendidos nos PSF’s de Salitre - CE. Os objetivos específicos são: Avaliar a incidência das facetas de desgaste provocadas por bru-xismo, quanto ao ciclo de vida; criança, adolescente, adulto, idoso; gênero; dores no rosto pela manhã; uso de prótese e freqüentes dores de cabeça. Sobre a metodologia a presente pesquisa, baseada em Lakatos (1991), caracteriza-se por uma abordagem indutiva, com procedimentos comparativos, estatísticos, descritivos e técnica de observação direta extensiva e sistemática através da análise de fi-chas clinicas dos PSF’s de Salitre - CE. Tomando-se como base os dados fornecidos pela secretária de saúde concernente ao número de fichas clínicas dos pacientes atendidos nos PSF’s’ referente aos anos 2007 e 2008, com um universo de 200 pacientes e uma amostra de 150 fichas. Esta pesquisa foi realizada através de fichas selecionadas aleatoriamente, mediante sorteio. Após a coleta dos dados foi feita a análise estatística, através do programa excel 2000. Na distribuição da amostra com relação ao gênero mascu-lino e feminino, observou-se que 32% pertencia ao gênero masculi-no e 68% ao gênero feminino, conforme mostra o gráfico 1.

Gráfico 01 – distribuição quanto ao gênero dos pacientes dos PSF’s de Salitre – CE.

Na distribuição da amostra dos pacientes dos PSF’s de Sa-litre – CE com relação ao ciclo de vida (criança, adolescente, adulto e idoso), observou-se que 12% eram crianças, 16,66% eram ado-lescentes e 67,33% adulto e 4% eram idosos, conforme mostra o gráfico 2.

Gráfico 02 – distribuição dos pacientes dos PSF’s de Salitre – CE com relação ao ciclo de vida.

Os dados do gráfico 3 mostram a distribuição dos pacien-tes de Salitre – CE com relação à queixa principal (dores no rosto pela manhã, freqüentes dores de cabeça) e outros motivos.

Gráfico 3 – distribuição quanto à queixa principal dos pacientes do PSF’s de Salitre – CE.

No que concerne a distribuição da amostra em relação ao bruxismo observou-se que 28,66% apresentam bruxismo e 71,34% não apresentavam o mesmo.

Gráfico 04 – distribuição dos pacientes dos PSF’s de Salitre – CE com relação ao bruxismo.

Em relação à distribuição dos pacientes quanto ao uso de prótese, observou-se que 8,66% da amostra utilizam prótese e 91,34% não utilizam. Após os resultados dessa pesquisa, pode-se concluir que: foi elevado o número de pacientes portadores de bruxismo; o gênero feminino foi mais acometido em relação às desordens temporoman-dibulares; a queixa principal que obteve uma alta prevalência foi a freqüentes dores de cabeça; em relação ao ciclo de vida, os adultos apresentaram maior incidência em relação aos demais. Entre os pacientes que utilizam prótese, foi constatada uma baixa prevalência; o tratamento dos hábitos parafuncionais, entre eles o bruxismo, deve assumir um caráter multidisciplinar.

BARONI, D.A. et al. Bruxismo em Crianças; Relato de Caso Clínico. FOA – ver Fac de Anápolis, v.7, N-2, p.61-63, jul / dez. 2005.FURESE, A.Y. et al. Estética e Função no Restabelecimento da Guia Anterior Desgastada. J.B.C – Rev Ibero Americano de Odontol Estética & Dentistica, 2 (8), p.277-88 . 2003.MOLINA, O.F. et al. Uma Análise Crítica dos Sistemas de Classificação Sobre o Bruxismo: Implicação Com o Diagnóstico, Severidade e Tratamento dos sinais e sintomas de ATM associados com o Hábito. JBA, ATM. Dor orofacial, v.2, nº 5, p.61-69, jan / mar. 2002.

Hudson Higo Tavares AlvesCoordenador de Saúde Bucal

Cleonice F. de Sousa e Cristiano S. NascimentoColaboradores do Projeto

[email protected]

SalitrePrevalência de Hábitos Parafuncionais em Pacientes Atendidos nos PSF´s de Salitre

DISTRIBUIÇÃO DOS PACIENTES QUANTO AO GÊNERO

32%

68%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

MASCULINO E FEMININO

150

PA

CIE

NT

ES

32% MASCULINO

68% FEMININO

DISTRIBUIÇÃO DOS PACIENTES QUANTO AO CICLO DE VIDA

12%16,66%

67,33%

4%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

CICLO DE VIDA

150

PA

CIE

NTE

S

12% CRIANÇAS

16,66% ADOLESCENTES

67,33% ADULTOS

4% IDOSOS

DISTRIBUIÇÃO DOS PACIENTES QUANTO A QUEIXA PRINCIPAL

9,33%

30%

60,67%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

QUEIXA PRINCIPAL1

50

PA

CIE

NT

ES 9,33% DORES NO ROSTO PELA

MANHÃ

30% FREQUENTES DORES DECABEÇA

60,67% OUTROS MOTIVOS

DISTRIBUIÇÃO DOS PACIENTES QUANTO AO BRUXISMO

28,66%

71,34%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

BRUXISMO

150

PA

CIE

NT

ES

28,66% BRUXISMO

71,34% NÃO BRUXISMO

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O Município de Redenção possui hoje 9 (nove) Equipes de Saúde Bucal que contam com a inclusão do Técnico de Higiene Dental (THD) em cada uma delas. Os Técnicos de Higiene Den-tal são os profi ssionais que desenvolvem o projeto Meu Primeiro Dentinho sob a supervisão do Cirurgião-Dentista. Dessa forma, são desenvolvidas nas escolas atividades lúdicas, teatro de fanto-ches, brincadeiras e apresentação de vídeos educativos envolven-do temas relacionados à Saúde Oral. Ainda é realizada diariamente a escovação nas escolas. Os Técnicos de Higiene Dental do Município também realizaram um levantamento de necessidades das crianças par-ticipantes do projeto com a fi nalidade de aplicarmos com maior efi ciência o princípio da Equidade. Um momento de referência do Projeto Meu Primeiro Dentinho foi a realização, em conjunto com a campanha de vacinação no dia 14 de Junho do corrente ano, da 1ª Campanha de Saúde Bucal direcionada à Criança Pequena, que teve como público-alvo as crianças de 0 a 5 anos e os respectivos pais. A Campanha contemplou 364 crianças com ações de apli-cação de fl úor, distribuição de kits de higiene oral, brincadeiras, apresentação de vídeos educativos e palestras para pais e crianças sobre higiene bucal.

Ana Flavia Bonfi m de Melo DantasDentista Coordenadora de Saúde Bucal de Redenção

Luiza de Lourdes Bezerra MotaAssistente Social

Maria de Fátima CarvalhoSecretária Municipal de Saúde

[email protected]

A constante evolução dos conceitos de promoção de saú-de, do entendimento epidemiológico de multifatoriedade e da pro-posta de tratamento segundo o risco à cárie, fez com que a prática odontológica se voltasse para a promoção de saúde, enfatizando a necessidade de atuação nos agentes predisponentes ou causadores das doenças e não somente no tratamento cirúrgico-restaurador. Dessa forma, a saúde bucal deve estar integrada às demais práticas de saúde coletiva. A Secretaria de Saúde do Município de Redenção, atra-vés da Coordenação de Saúde Bucal, reconheceu ser imprescindí-vel prestar assistência primária às crianças de 0 a 5 anos no que diz respeito à Saúde Oral e implantou o Projeto Meu Primeiro Dentinho. Esse Projeto vem sendo desenvolvido em 24 escolas do Município de Redenção e abrange um total de 1058 crianças da Educação Infantil. Para que as ações do Projeto Meu Primeiro Dentinho mos-trassem maior efi cácia, foi realizada uma parceria com a Secretaria de Educação, uma vez que a escola se constitui como espaço de interação professor-aluno, e com a Secretaria de Ação Social, através do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) no desenvolvimento das ações de proteção social básica voltadas para o atendimento a criança de 0 a 6 anos e suas famílias. O Projeto Meu Primeiro Dentinho en-volve não somente alunos, professores e profi ssionais da Saúde Bu-cal como também os pais, pois é evidente que aqueles pais que não têm uma higiene bucal adequada, constituem-se principais vetores de transmissão de doenças para os fi lhos.

Primeira infância na pauta da saúde bucal

Redenção

Dentista Coordenadora de Saúde Bucal de RedençãoLuiza de Lourdes Bezerra Mota

Assistente SocialMaria de Fátima Carvalho

Secretária Municipal de Saú[email protected]

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A partir da portaria 1.444 de dezembro de 2000, quando houve a inserção do Cirurgião-dentista, do Auxiliar de Consultório Dentário e ainda do Técnico em Higiene Dental na Equipe de Saú-de da Família (ESF), a gestão do município de Quixeré optou por inserir a Equipe de Saúde Bucal (ESB) na ESF. Porém, na época a proporção era de uma ESB para duas ESF, regularizando posterior-mente a situação de modo a possuir atualmente 06 ESF e 05 ESB, com o propósito de brevemente equipará-las. Atualmente todos os profissionais das ESB são concursados. A Saúde Bucal do município de Quixeré prioriza algumas áreas a serem trabalhadas mais intensamente, com base no levan-tamento epidemiológico realizado no município em 2006. Dentre estas áreas, podemos destacar a atenção às crianças de 0 a 5 anos, quando observamos que, na faixa etária de 0 a 36 meses, a média encontrada foi de quase um dente afetado pela cárie por criança, ou seja, ceo-d (dentes cariados, extraídos e obturados) igual a 0,91, sendo que esse valor corresponde, em sua totalidade, ao componen-te cariado. Esse dado indica uma visível deficiência de acesso ao serviço de saúde pela faixa etária em questão. Na idade de 5 anos a situação é semelhante, com a mé-dia de um pouco mais de 2 dentes com experiência de cárie (ceo-d) por criança, e mais de 84% desses dentes correspondiam ao compo-nente cariado, indicando a neces-sidade de mais ações de caráter preventivo e restaurador para este grupo de indivíduos. Em abril de 2007, foi im-plantado o Programa Multiprofis-sional e Intersetorial Sorria Qui-xeré, com o intuito de trabalhar na reversão dessa situação, além da combater a desnutrição, estimular o aleitamento materno e moni-torar o cumprimento das condicionalidades da saúde do Programa Bolsa Família. O Sorria Quixeré tem uma cobertura de 1355 crian-ças de 0 a 5 anos cadastradas no município, tendo uma participação de 100% delas em alguma das atividades do programa. Durante o período de um ano, foram distribuídos 487 kits de saúde bucal para as crianças, contendo escova ou escova e creme dental, dependendo da idade. Essa distribuição ocorria no momento em que a criança comparecia à unidade de saúde para iniciar o tratamento, obtendo, assim, uma cobertura de 36% do total de crianças cadastradas. Tal cobertura foi considerada baixa após avaliação, passando-se, então, a distribuir os kits em domicílio, através dos ACSs, para todas as crianças entre 1 ano e 6 meses e 5 anos incompletos. Desse modo, obteve-se uma cobertura de 100% das crianças na faixa etária cita-da. Tais kits serão entregues com periodicidade semestral. As gestantes também estão inseridas neste programa. Du-rante o mesmo ano, foram distribuídos 423 kits contendo escova e creme dental, que são entregues trimestralmente. Houve participa-ção de 586 gestantes em palestras educativas e 1097 atendimentos clínicos direcionados a elas, resultando num total de 496 tratamen-tos concluídos (45 % dos tratamentos), com a produção de 3.613

procedimentos odontológicos (média de 3,29 procedimentos por gestante atendida) e realização de aplicação de flúor em 42% des-sas gestantes. A população para o ano de 2007, segundo o IBGE, foi de 19.466 habitantes, nos quais foram realizados 33.639 procedimen-tos, incluindo a primeira consulta, a continuação do tratamento e a emergência odontológica. Foram realizadas 3.864 primeiras con-sultas e um total de 1.975 tratamentos concluídos, o que significa que 51% dos tratamentos iniciados se completaram em 2007. Quanto aos procedimentos coletivos e educativos realiza-dos nas escolas e creches pelas equipes de saúde bucal e funcioná-rios daqueles estabelecimentos de ensino, houve participação, em 2007, de uma média de 4.570 crianças de 0 a 14 anos, realizando escovação supervisionada (43.752), bochecho fluorado (31.213), aplicação tópica de flúor gel (4.362) e palestras educativas (188), dando uma cobertura a 100% das crianças matriculadas. Houve também entrega de material de higiene bucal aos estudantes e re-alização de cerca de 160 visitas das ESB às instituições de ensino, dando uma média aproximada de 2,7 visitas a instituições/mês por profissional no ano de 2007. No mesmo ano, foram realizadas 190 visitas domiciliares (média de 3,1 visitas domiciliares/mês por dentista), realizadas aos recém-nascidos para que as mães sejam orientadas a cuidar da saúde bucal do bebê desde o nascimento. No total, as ESBs, durante o ano de 2007, realizaram 10.911

atendimentos, o que gerou uma pro-dução de 29.775 procedimentos individuais executados e um total de 1.975 tratamentos concluídos, sendo uma média de 33 tratamen-tos completados por profissional/mês. Cada equipe fez uma média mensal de 496 procedimentos (o Ministério da Saúde recomenda 294), significando uma média de 1,53 procedimento/habitante/ano (ideal é 0,944). O indicador de 1ª consulta odontológica atingiu o

valor de 19,8% (recomendado 13%, e a partir do Pacto pela Saúde 30%). Além disso, obteve-se 51% dos tratamentos iniciais completados (meta do MS 100%). A razão obtida entre restaurações e exodontias foi de 48% (não deve ultra-passar 30%) e o percentual de exodontias de dentes permanentes em relação aos procedimentos básicos individuais, com exceção da primeira consulta, foi de 3% (não ultrapassar 10%). O município ainda está longe de atingir, por completo, as metas da OMS, ainda que as ações realizadas nos últimos anos tenham sido extremamente significativas, contribuindo para evo-lução da Saúde Bucal de Quixeré. A população adulta apresenta grande incidência de doenças bucais a serem tratadas, exigindo maior assistência no que diz respeito à Saúde Bucal, bem como a continuidade nas abordagens preventivas, que poderão garantir a redução de doenças bucais nas gerações seguintes. A expectativa é que a Saúde Bucal possa realmente se fortalecer e buscar novas perspectivas para suas ações.

Márcia Lúcia de Oliveira GomesCoordenadora de Saúde Bucal

Marizângela Lissandra de Oliveira SantiagoCirurgiã-dentista do PSF

[email protected]

Quixeré: Uma Saúde Bucal que cresce

Quixeré

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A cárie é o problema mais grave na área odontológica e, juntamente com as periodontopatias e a má-oclusão, forma o conjunto de doenças de maior prevalência e incidência. Quando acomete bebês ou crianças nos primeiros anos de vida a cárie ge-ralmente apresenta-se de forma aguda e altamente devastadora, trazendo a destruição rápida dos dentes recém-erupciponados. Esse tipo de lesão, conhecida como cárie de mamadeira ou cárie rampante, é comumente causada por freqüente consumo de mama-deiras com leite açucarado, chupetas imersas em mel e outros pro-cedimentos similares, inclusive o uso prolongado do leite materno, sem a devida higienização. O presente trabalho objetiva relatar a experiência posi-tiva alcançada no PSF Bulandeira, no Município de Barbalha, na aplicação de uma técnica alternativa para restauração de dentes acometidos pela cárie rampante. A técnica é utilizada em substituição a técnica incremen-tal original e consta da confecção de uma matriz utilizando canudo plástico cortado em uma de suas extremidades para adaptar-se ao colo do elemento dental e preenchido com resina composta. Para a seleção do canudo é levada em consideração a largura do elemento dentário, testando-se para esse fi m canudos de diferentes diâmetros. Posteriormente, realiza-se o condicionamento ácido da estrutura remanescente e aplicação do agente de união, e sua poli-merização. Em seguida, canudo com o material resinoso é levado à boca e procede-se a fotopolimerização da resina composta. Com uma sonda exploradora, a cirurgiã-dentista remove o canudo e rea-liza então o aprimoramento anatômico do dente restaurado em alta

BarbalhaCárie Rampante: Tratamento Alternativo de Grande Aplicabilidade na Eatratégia Saúde da Família

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rotação, fi nalizando o procedimento com a checagem da oclusão. Com a aplicação da técnica alternativa proposta tem-se como resultado a reabilitação do elemento dental acometido pela cárie rampante, evitando a perda precoce do dente decíduo, que na grande maioria dos casos realizados no PSF da Bulandeira perma-neceu na boca até a esfoliação fi siológica. As vantagens obtidas com esse procedimento alternativo são: maior agilidade no atendimento e, com isso, melhor aceitabi-lidade por parte da criança; e menor contaminação pela saliva, pro-porcionando maior duração da restauração na boca. Dessa forma, podemos concluir que a técnica de construção de matriz com ca-nudo plástico merece ser estudada e avaliada mais profundamente, para que possa ser disseminada, já que se trata de algo tão positivo, de baixo custo e de tão grande aplicabilidade na Estratégia Saúde da Família.

ABDO, R.C.C.; NUNES, D.N.; SALLES, V. Revisão de Literatura: Cárie rampante, etilogia e soluções de tratamento. Disponível em: http://www.unifenas.br/pesquisa/revistas/download/ArtigosRev2_98/pag159-163.pdf Acessado em: 08/10/07 GUEDES-PINTO, A.C. Odontopediatria. In: GUEDES-PINTO, A.C.; CHEDID, R.R.; MACIEL, S.M. Cárie dentária. 4ª ed., São Paulo: Ed. Santos, 1993, cap.21, p. 353-401.KUHN, Eunice. Promoção da saúde bucal em bebês participantes de um programa educativo-preventivo na cidade de Ponta-Grossa-PR. [Mestrado] Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública; 2002. ZARDINI, F.; CARVALHO, K.; CASOTTI, K. Cárie de mamadeira ou de peito, o que fazer? Disponível em: www.escelsanet.com.br/sitesaude. Acessado em: 08/10/07.

Tatiana Didier Alencar Maria Soraya da Cruz Neves

Ana Maria Barreto de Araújo Couto [email protected]

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Odontológicas e realizada discussão com as Equipes de Saúde Bu-cal da Estratégia de Saúde da Família, para avaliação do trabalho desenvolvido até o presente momento. Os resultados apontam que no ano de 2005 ocorreu uma maior procura do serviço, tendo em vista que o seu início foi em agosto de 2004, por se tratar de algo inédito em nível de serviço publico. No ano de 2006 obtivemos uma queda com relação ao ano de 2005, em decorrência de um trabalho constante durante o ano, assim como reflexo do trabalho preventivo das equipes de saúde bucal e aumento do número de endondontias, contrapondo-se a queda do número de exodontias. Em 2007, obtivemos um aumento do serviço em virtude do crescimento do número de equipes de saúde bucal. Comparando os meses de janeiro a junho de 2008 em relação a 2007 há um crescimento no atendimento até então realizado. Após análise dos dados, conclui-se que no município de Barbalha o Centro de Especialidades Odontológicas vem de-senvolvendo um bom serviço odontológico, pois dentro das suas possibilidades consegue dar resolutividade aos que o procuram. Contudo, sabemos que tratamento protético reabilitador é oneroso, o que fez com que a população menos favorecida não tivesse aces-so a este tratamento. Estima-se que mensalmente são entregues em torno de 50 próteses nesta unidade. Portanto, no momento em que reabilitamos um paciente, devolvemos a ele a fonética, estéti-ca, mastigação, elevação da sua auto estima, e o que é ainda mais gratificante, devolvemos o seu sorriso.

COLUSSI, FLEMMING COLUSSI; FREITAS, SERGIO FERNANDO TORRES , 2002. Aspectos epidemio-lógicos da saúde bucal. Cad. Saúde Publico vol.18 Rio de Janeiro Sept/Oct. Manual de Autorização para pro-cedimentos de auto custo - APAC - Prótese total e removível . Maio 2006. / PUUCCA Jr., G.A., 2000. A saúde bucal do idoso. Aspectos demográficos e epidemiológicos. Medcenter, 7 abril 2000.

Úrsula Furtado SobralAna Maria Couto Barreto

Paulo Roberto Luna Sá[email protected]

Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs) são estabelecimentos de saúde que oferecem à população atenção es-pecializada na área de saúde bucal. Nessas unidades dispõem-se os seguintes serviços: diagnóstico bucal, com ênfase na detecção do câncer de boca; periodontia especializada; cirurgia oral menor; endodontia e atendimento a portadores de necessidades especiais. Dentro do CEO, funciona também o laboratório para confecção das próteses totais e removíveis. Segundo o Ministério da Saúde,

Avaliação do serviço de prótese dentária do Centro e Especiali-dades Odontológicas do município de Barbalha.

Barbalha

ao lado do câncer de boca, a ausência de dentes é um dos mais graves problemas de saúde bucal no Brasil. A gestão da saúde no município de Barbalha vem empenhando-se, a cada dia, em devol-ver o “sorriso perdido” àqueles pacientes mutilados por exodon-tias e que são atendidos para reabilitação protética conforme sua necessidade e disponibilidade do serviço. O objetivo deste trabalho é avaliar o desempenho das atividades desenvolvidas pelo Centro de Especialidades Odonto-lógicas do município de Barbalha, no tocante ao atendimento de prótese dentária realizado no período de janeiro de 2005 a junho de 2008. Foram analisados os prontuários de Autorização para procedimentos de alto custo (APAC`S) para prótese total e parcial removível, dos pacientes atendidos no Centro de Especialidades

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No ano de 2008 comemoram-se os 20 de anos do Sistema Único de Saúde. A criação do Programa das Agentes Comunitá-rias da Saúde e do Programa de Saúde da Família com a posterior inclusão da Saúde Bucal foram marcos desse período. A Saúde Bucal passou, fi nalmente, a fazer a parte das Políticas Públicas de Saúde do país. De acordo com os últimos dados do Ministério da Saúde, o Brasil possui hoje 16.916 Equipes de Saúde Bucal e o Estado do Ceará 1.269, o que signifi ca uma cobertura populacional de aproximadamente 37% e 62%, respectivamente. O município de Massapê, localizado a 244 km de Fortale-za e com população de 33.935 habitantes (IBGE, 2007), qualifi cou a sua primeira Equipe de Saúde Bucal em 2002. Mas foi a partir de 2005 que a Saúde Bucal de Massapê realmente deu os primei-ros passos para a sua consolidação. A criação da Coordenadoria das Ações de Saúde Bucal no organograma da Secretaria da Saú-de, a participação no Plano Municipal da Saúde, a realização do I Levantamento Epidemiológico de Saúde Bucal e a melhoria na reorganização dos recursos humanos e físicos foram algumas das ações imediatas realizadas. A seguir serão apresentados alguns desafi os, enumerados somente para efeito didático, sem que a numeração esteja relacio-nada ao grau de importância ou cronologia dos fatos. . 1º grande desafi o: planejar e executar conforme a realidade epi-demiológica. A atenção odontológica no município de Massapê era limitada e desenvolvia principalmente ações mutiladoras. Obje-tivando conhecer a situação de saúde e doenças relacionadas à Odontologia para adequada avaliação, planejamento e execução das ações dirigidas à melhoria da saúde e qualidade de vida dos massapeenses, foi então realizado o I Levantamento Epidemioló-gico em Saúde Bucal em 2005. Entre os vários resultados destaca-se o problema cárie, onde da composição percentual do CPOD Geral 34,10% foi de dentes cariados, 54,76% de dentes perdidos, 10,05% de dentes ob-turados e 1,09% de dentes obturados, mas com recidiva de cárie. Outro destaque diz respeito à necessidade de prótese, ou seja, da amostra específi ca examinada que corresponde ao grupo etário de 15 a 74 anos, 57,95% carecem de algum tipo de prótese. Para este mesmo grupo etário, a pesquisa mostrou, ainda, que 23,80% per-tencem a famílias compostas por 04 a 07 pessoas e que ganham somente até um salário mínimo; 20,45% nunca foram ao Cirur-gião-Dentista e 53,40% demandam ao serviço público. Finalmen-te, 54,54% responderam acreditar que o nível de saúde bucal tem infl uência em sua vivência e convivência sócio-comunitária. Desta forma a Atenção à Saúde Bucal passou a priorizar ações de promoção e prevenção de alcance coletivo, acesso a pri-meira consulta odontológica e procedimentos odontológicos para reabilitação e cura.. 2º grande desafi o: Financiamento, Gestão e Atenção à Saúde Durante o período de 2005 a 2007 foram investidos mais de 01 milhão de reais na Saúde Bucal de Massapê, sendo mais de 60% desse valor de contrapartida municipal, não sendo ainda sufi -ciente para atender a todas as demandas do sistema local de saúde, dentre estas o adequado e pleno funcionamento do Centro de Es-pecialidades Odontológicas - CEO. Destaque-se que a difi culdade

para manutenção do CEO não é, provavelmente, característica ex-clusiva de Massapê, mas de uma signifi cativa parte dos municípios que optaram pela implantação deste serviço e, conseqüentemente, investimento. Logo, considera-se que o fi nanciamento é uma das maiores difi culdades que um Coordenador de Saúde Bucal enfren-ta. A capacitação em gestão, incluindo noções de administração e economia, planejamento, controle e avaliação, foi essencial como forma de facilitar a tomada de decisões frente à escassez de recur-sos fi nanceiros. Como estratégia de gestão, de reorganização da atenção hierarquizada à saúde (oferta de serviço) e tentativa de ga-rantir a sustentabilidade do CEO de Massapê existe uma proposta de inclusão deste como serviço de referência a municípios como Senador Sá, Uruoca, Alcântara e Martinópole, que fazem parte de um projeto de Consórcio Intermunicipal. Junto à problemática do fi nanciamento surge outra cha-mada licitação; e este desafi o parece sem solução para qualquer gestor. Infelizmente, questões como a difi culdade em especifi car itens, acordos maliciosos entre empresas, falta de seriedade na entrega dos produtos, obrigam, muitas vezes, os profi ssionais a utilizarem produtos de baixa qualidade, comprometendo o serviço ofertado. A legislação sobre o assunto tem como principal objeti-vo a legitimidade dos processos, mas não vislumbra os princípios econômicos de custo e benefício. Mesmo assim, o município de Massapê deu um salto de qualidade no que se refere à aquisição de insumos e à modernização dos equipamentos, instrumentais e outros recursos físicos, como por exemplo, os aparelhos de radio-grafi as odontológicas, serviço antes não disponível à população. No entanto não se promove saúde somente com recursos físicos. Um bom gestor reconhece em seus profi ssionais a base para o sucesso de todas as ações. Em Massapê a preocupação com o reconhecimento e motivação dos profi ssionais também foi ime-diata e refl etida no aumento salarial e melhoria nas condições de trabalho. Em seguida fortalecida com a realização de Concursos Públicos e atualmente com o desenvolvimento do Plano de Car-reira, Cargos e Salários. Apesar de tantas conquistas não se pode ignorar o pouco compromisso por parte de muitos profi ssionais, uma vez que estes não acreditam no sistema público de saúde de qualidade e voltado para as demandas de saúde da população, o que favorece a inércia dos profi ssionais frente a tantas oportunida-des de mudança. A necessidade de capacitação dos profi ssionais também é um desafi o da gestão. No caso do Curso Técnico em Higiene

Os desafi os da gestão em saúde bucal no município de Massapê

Massapê

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Dental foi uma conquista. O Curso foi fruto das reuniões do Pólo de Educação Permanente de Sobral e após longa espera teve início em agosto de 2006, sendo realizado pela Escola de Saúde Públi-ca do Ceará e financiado pelo Ministério da Saúde e Prefeituras Municipais. A turma contaria somente com 06 alunas, sendo uma de Massapê, uma de Senador Sá e quatro de Uruoca. No entanto, foi sugerida a inclusão de mais 16 alunas para Massapê, o que foi aprovado em unanimidade pelo Colegiado do Pólo de Educa-ção Permanente de Sobral. Estas alunas tiveram todo o material necessário financiado pelo Município. Os desafios diários foram vivenciados e compartilhados pela gestão e pelas alunas do curso durante 18 meses. O curso foi concluído com êxito ao final do ano de 2007 com a certificação de três Auxiliares de Consultório Dentário e 14 Técnicas em Higiene Dental para o município de Massapê.3º grande desafio: mudança de paradigma Educar não é tarefa simples. Todo cirurgião-dentista que realmente se coloca na posição de educador sabe como é árdua a tarefa de educar pessoas, sejam elas gestantes, idosos ou crianças. Ao passar dos anos as velhas palestras e os mesmos vídeos já não causam efeito positivo. Devem ser buscadas novas metodologias pedagógicas adequadas aos ciclos de vida e às necessidades da co-munidade/famílias e não somente a aquisição de modelos e álbuns explicativos. Educar é muito mais que transmitir conhecimentos, mas despertá-los. Como diria Paulo Freire (1996), “Saber que en-sinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. No entanto, poucas equipes se preocupam em inovar nes-sa área e confundem a escovação supervisionada e a aplicação de

flúor gel com a prática de educar... Educar perpassa por segurança, competência e qualificação profissional, além da compreensão de que a educação é uma forma de intervenção no cotidiano que exige do educador (profissional de saúde) comprometimento, disponibi-lidade para o diálogo e dedicação a uma atribuição previamente regulamentada.. 4º grande desafio: controle social e participação popular Embora a Lei Orgânica da Saúde – LOS 8.142 estabe-leça como canais de participação popular e controle social, os Conselhos e as Conferências de Saúde, os gestores têm como desafio sempre presente estimular os cidadãos a exercerem este direito, e muitas vezes garantir que estes meios sejam proporcio-nados. Apesar da realização da Conferência Municipal de Saúde em 2007, durante a qual foram também discutidas as demandas de Saúde Bucal, ressalte-se que outros espaços de mobilização e participação, como fóruns locais, rodas de conversa, devem ser proporcionados com maior freqüência a fim de estimular a co-res-ponsabilidade dos usuários e permitir a contínua avaliação da ges-tão. Atualmente tem-se como uma das metas do Termo de Com-promisso de Gestão, enquanto responsabilidades na Participação e Controle Social, a implementação da ouvidoria municipal com vistas ao fortalecimento da gestão estratégica do SUS, conforme diretrizes nacionais. O maior desafio enfrentado como Coordenadora das Ações de Saúde Bucal de Massapê, durante o período de 2005 a 2008 foi encontrar soluções para os grandes e pequenos desafios diários atendendo aos mais diversos interesses, sem comprometer o objetivo maior que é a melhoria da saúde e da qualidade de vida da população.

Madeline Maria Frota de AmorimCoordenadora das Ações de Saúde Bucal

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Saúde Bucal em Tauá

Tauá

modo a desmistifi car a relação das doenças bucais com a gravidez e a impossibilidade de tratamento, já que muitas gestantes sofrem com dores de dente durante toda a gestação por medo de subme-terem-se a tratamento nesse período, assim como fornecerem as devidas orientações desde hábitos alimentares, higiene bucal e prevenção para os possíveis problemas inerentes desde a gestação e em cada etapa de desenvolvimento da criança, como erupção dos dentes decíduos, permanentes, riscos de fraturas dentais, etc. Todos os membros da ESF (ACS, médicos, enfermeiros e demais) também participaram desse processo de capacitação, havendo des-ta forma, uma sensibilização e envolvimento de todos que de for-ma direta ou indireta atendem a esse grupo. Outra ação de promoção em saúde desenvolvida no mu-nicípio é o Programa “Tauá Sorrindo Sempre”, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, que atende em média 14.000 alunos da rede de escolas. Esse programa funcionava desde 2001 de forma desarticulada das demais ações e agora, dentro deste mo-delo que trabalha a integralidade, ele é complementar ao projeto geração cárie zero. Realiza-se o cadastramento de todas as escolas e creches de cada ESF. São realizadas atividades coletivas de cará-ter universal: • Atividades educativas em saúde bucal e escovação supervisionada para todos os escolares, realizadas trimestralmente pelas THD’s e CD’s;• Escovação com fl úor gel para escolares maiores de 06 anos, rea-lizadas trimestralmente pela THD e CD;• Bochecho semanal fl uoretado a 0,2%, realizado semanalmente por aplicadores, capacitados anualmente, e sob a supervisão do THD de cada área.

O Município de Tauá vem investindo fortemente e valo-rizando a área de saúde bucal, a fi m de garantir uma assistência integral, com atendimento humanizado e qualifi cado. A inserção das ESB na ESF iniciou em 2002 e atualmente, o município de aproximadamente 53.000 habitantes tem uma cobertura de 100% da população, com 14 ESB, sendo 8 na modalidade II (compos-tas por cirurgião-dentista (CD), auxiliar de consultório dentário (ACD) e Técnico de Higiene Dental (THD). Garantir as condi-ções de infra-estrutura adequadas, aquisição de equipamentos e insumos odontológicos para a manutenção dessas equipes, refl ete o compromisso dos gestores em facilitar o acesso do usuário, tor-nando o atendimento universal e descentralizado. A organização das ações desenvolvidas pelas ESB é dis-cutida e avaliada nas reuniões mensais dos Conselhos Locais de Saúde, que foram criados um por cada ESF, onde usuários e profi s-sionais debatem sobre suas necessidades, contribuindo para o for-talecimento do controle e participação social nas políticas de saú-de bucal. As ESB desenvolvem atividades clínicas, direcionadas a pacientes pré-agendados e urgências odontológicas, e atividades coletivas, de acordo com o princípio da equidade, priorizando as faixas etárias e grupos de maior risco para doenças bucais. Por anos as políticas de saúde bucal coletiva desenvolvi-das restringiam-se aos escolares de 06 a 14 anos, e na maioria das vezes, essas crianças já apresentavam atividade cárie agudas. Des-te modo, o município de TAUÁ, implantou desde março de 2007 o projeto “Geração Cárie Zero” que tem como objetivo prestar atendimento odontológico às gestantes, puérperas e acompanha-mento semestral às crianças até 06 anos de idade, garantindo uma dentição saudável durante a infância. Durante o período gestacio-nal ocorre uma série de mudanças fi siológicas que modifi cam o funcionamento do organismo, inclusive o equilíbrio do meio bu-cal, aumentando o risco de cárie, infl uenciado por mudanças na dieta e hábitos de higiene das gestantes. As alterações hormonais também aumentam o risco de desenvolver doenças gengivais e pe-riodontais. Desta forma, é de extrema importância a manutenção da saúde bucal neste grupo, uma vez que seus hábitos alimentares e comportamentais infl uenciarão e determinarão o nível de saúde bucal dos fi lhos. Nesse programa todas as gestantes de cada ESB, duran-te suas consultas de pré-natal, recebem atividades educativas e orientações sobre a prevenção de doenças bucais e os principais cuidados com a saúde bucal durante a gestação, as alterações que ocorrem e os cuidados com o bebê. É realizada uma triagem e as que necessitam de tratamento são encaminhadas para o cirurgião-dentista, que o realiza durante a gestação. Após o nascimento do bebê, a THD realiza visitas domiciliares, fazendo as devidas orien-tações, voltando a visitá-los aos 06 meses, 01 ano, 02 anos, até 06 anos de idade. Nessas visitas, além de realizar atividades de prevenção e educação em saúde para toda a família, é realizada uma substituição das escovas velhas com a distribuição de kits de prevenção (compostos por escova e creme dental), as crianças são examinadas e se necessário, são encaminhadas para atendimento ainda no estagio inicial das lesões. Todos os membros das equipes de saúde bucal (CD, ACD e THD) foram capacitados e orientados a realizar esse trabalho, de

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O município de Deputado Irapuan Pinheiro tem dado especial atenção à saúde bucal, onde a cobertura realizada pelas equipes vem sendo mantida em 100%. As atividades de distribui-ção dos kits de higiene oral (odontológico) com pasta e escova, es-covação supervisionada e palestras educativas de instrução sobre higiene bucal nas escolas, utilizando o macro-modelo de boca e escova, desenvolvidas pelos profi ssionais dentistas estão dispostos na tabela a seguir. Está sendo realizado também o levantamento epidemio-lógico pela metodologia de Saúde Bucal Brasil (USB) com iden-tifi cação das áreas a serem visitadas em um processo denominado territorialização com a escolha de vinte de três (23) áreas por meio de sorteio com o respectivo mapeamento. Tabela . Atividades de saúde bucal durante a Administração Cons-truindo o Futuro

Dentre as ações programadas ainda para o ano de 2008 estão a confecção de nove (9) escovódromos móveis simplifi ca-dos, escovação supervisionada semanal monitorada pelos Téc-nicos de Higiene Dental (THD`s) com aplicação tópica de fl úor, entrega de novos kits de higiene oral nas escolas com palestras ins-trutivas sobre o uso desses e extensão da entrega dos kits de saúde bucal para grupos de risco, de acordo com a Portaria nº 1.097/2006 do Ministério da Saúde. Todas essas atividades serão destinadas a Sede e aos Distritos de Baixio e Betânia.

Rodrigo CarvalhoSecretário de Saúde

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Saúde Bucal

Deputado Irapuan Pinheiro

O THD realiza um levantamento das necessidades de saúde bucal, identifi cando os indivíduos com maior atividade de cárie e doença periodontal e encaminha-os para atendimento clíni-co prioritário. A inserção de profi ssionais de nível técnico qualifi -cados no sistema foi fundamental para o desenvolvimento dessas atividades de promoção em saúde, uma vez que o cirurgião-dentis-ta tem uma grande demanda reprimida por conta do atraso de sua inserção na ESF. A atuação do THD na ESF permite que o dentista permaneça mais tempo no consultório, sem perca no desenvolvi-mento de atividades coletivas. Além disso, as THD do município são preparadas para desenvolver material educativo e inovador, sempre direcionado para despertar no grupo a que as ações se des-tinam, o interesse pela saúde bucal. Outra atividade desenvolvida ainda no campo da promo-ção e prevenção em saúde é a prevenção das lesões de boca, reali-zada através de campanhas periódicas junto aos grupos de riscos, como etilistas, fumantes crônicos, idosos, trabalhadores expostos ao sol. São realizadas palestras, demonstração de auto-exame e busca ativa nas unidades básicas de saúde, casa da melhor idade e em outros espaços indicados pela população. São expostos car-tazes com lesões e realizada a divulgação em programas de rádio, onde um profi ssional capacitado esclarece a população sobre a im-portância de prevenção e diagnóstico precoce do câncer de boca. Para garantir a integralidade da assistência, foi implan-tado em outubro 2006 um Centro Especializado em Odontologia, em parceria com os governos federal e estadual. O CEO atende a demanda dos Municípios de Tauá, Parambú, Aiuaba e Arneiroz e funciona nas especialidades: Endodontia, Periodontia, Ortodon-tia Preventiva, Radiologia, Prótese Dentária, Pacientes Especiais e Cirurgia Buco-Maxilo-Facial, Estomatologia e Dor orofacial. O quadro do CEO é composto por 10 cirurgiões-dentistas especia-listas, que trabalham de modo integrado e interdisciplinar. Outra inovação do CEO de Tauá foi a incorporação do fonoaudiólogo que trabalha junto à ortodontia no tratamento de problemas oclu-sais causados por hábitos, e o fi sioterapeuta que trabalha junto à dor orofacial. Neste período de funcionamento foram realizados em média 681 tratamentos endodônticos, 795 próteses totais, 443 aparelhos ortodônticos, 2.608 procedimentos periodontais, 5.817 radiografi as, 3.553 procedimentos de cirurgia bucal e 3.313 pro-cedimentos realizados em pacientes especiais. Esse processo de valorização da saúde bucal, advindo do compromisso político, que proporciona o desenvolvimento dessas políticas públicas de saúde e incentiva a participação da comunidade, tem como principal ob-jetivo consolidar os princípios do SUS e melhorar a qualidade de vida da população.

AERTS, D.; ABEGG, C.; CESA, K. O papel do cirurgião-dentista no Sistema Único de Saúde. Ciênc. saúde coletiva, v.9, n.1, Rio de Janeiro, 2004.BALDANI, M. H.; et al. A inclusão da odontologia no Programa Saúde da Família no Estado do Paraná, Brasil. Cad. Saúde Pública, vol.21, n.4, Rio de Janeiro, Jul/Ago. 2005. BRASIL. Portaria N.º 1.444, de 28 de dezembro de 2.000, que estabelece incentivo fi nanceiro para a reorgani-zação da atenção à saúde bucal prestada nos municípios por meio do Programa de Saúde da Família. Publicada no DOU de 29/12/00, seção 1, pg. 85. CADERNOS DE ATENÇÃO BÁSICA: Saúde bucal. Brasília, v.17, 2006.CORDÓN, J. A construção de uma agenda para a saúde bucal coletiva. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 13, n.3, p. 557-563, jul-set, 1997. MATOS, P. E. S.; TOMITA,N. E. A inserção da saúde bucal no Programa Saúde da Família: da universidade aos pólos de capacitação. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 20, n. 6, p. 1538-1544, nov-dez, 2004. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Projeto SB 2000. Condições de saúde bucal da população brasileira 2002-2003. Brasília, 2005.NARVAI, P. C. Odontologia e Saúde Bucal Coletiva. São Paulo: Ed. Santos; 2001.

Rita Meire Gonçalves Coordenadora de Saúde Bucal

Moacir de Sousa SoaresSecretário de Saúde

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O envelhecimento populacional é um fenômeno novo e universal, ao qual tanto os países desenvolvidos como do terceiro mundo, inclusive o Brasil, tentam se adaptar. Segundo as proje-ções estatísticas da Organização Mundial da Saúde, entre 1950 e 2025 a população de idosos no país crescerá 15 vezes contra 5 vezes da população total, o que nos colocará em termos absolutos como a sexta população de idosos do mundo, isto é, com mais de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais (SILVESTRE et al.,1997). A velocidade com a qual esse processo vem ocorrendo deverá determinar grandes difi culdades. Numa situação na qual os idosos não encontram amparo adequado no sistema público de saúde e previdência, tem-se como conseqüência o acúmulo de se-qüelas de doenças e o desenvolvimento de incapacidades (CHAI-MOWICZ, 1997). Na perspectiva de estabelecer as condições de saúde bucal dessa população anteriormente mencionada e levan-do-se em consideração a pouca literatura disponível no Nordeste, foi realizado um levantamento epidemiológico em saúde bucal no Centro de Atenção ao Idoso do Hospital Walter Cantídio da Uni-versidade Federal do Ceará (UFC), que é um centro de referência no atendimento a idosos no Ceará. Trata-se de um estudo descritivo de caráter transversal que tem a intenção de produzir dados de prevalência e severida-de da doença (ALMEIDA & ROUQUAYROL, 1993), realizado a partir do exame bucal em uma amostra de representatividade para o nível local (o estudo foi realizado no Centro de Atenção ao Idoso do Hospital Walter Cantídio, vinculado a UFC). Situado no município de Fortaleza, o centro foi escolhido por tratar-se de um espaço de referência no atendimento à população idosa, prestando atenção e assistência àqueles que buscam esse serviço. Assim, compuseram a população de estudo as pessoas atendidas no referido Centro na faixa etária entre 65 a 74 anos de idade, devidamente identifi cadas através de prontuário, que qui-sessem participar da pesquisa e que fossem cooperativos. Foram examinados 115 pacientes que, ao se consultarem no Centro, se dispuseram a fazer o exame, e o estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da UFC. A pesquisa foi baseada na metodologia do projeto SB Brasil, levando em consideração todos os indicadores e índices para a idade em questão. Foram utilizados espelho bucal plano e a sonda periodontal milimetrada, sendo os idosos examinados numa cadeira comum sob luz natural. Foram estudados a cárie dentária (condições da coroa e da raiz e a necessidade de tratamento), a doença periodontal (Índice Periodontal Comunitário (CPI) e Perda de Inserção Periodontal (PIP)), o uso e a necessidade de prótese, bem como a presença de qualquer alteração de tecido mole. O estudo contou com uma equipe de 4 examinadores, 4 anotadores (todos alunos do curso de Odontologia da UFC) e 1 coordenador cirurgião-dentista. Foi realizada a calibração dos exa-minadores (concordância nos critérios diagnósticos) na Unidade de Abrigo Lar Torres de Melo (Fortaleza-CE), abordando os cri-

térios, os códigos e a técnica de exames discriminados no Manual do Examinador utilizado no Projeto SB Brasil, sendo atingidos os valores estipulados para a progressão do levantamento epidemio-lógico. A coleta de dados iniciou em fevereiro de 2005 e terminou em abril do mesmo ano. Todos os dados foram digitados em um software específi co desenvolvido para o projeto SB Brasil, geran-do gráfi cos e tabelas que se encontram em anexo. Na ocasião da coleta dos dados foram examinados 138 idosos na idade em estudo, dos quais 115 compuseram nos resulta-dos fi nais. A perda (17%) ocorreu pelo preenchimento inadequado das fi chas (caselas em branco e códigos não existentes ou inade-quados). Os resultados deixam claro que, nos idosos, a perda den-tária surge como problema mais grave, visto que o CPO-D mé-dio foi de 27,73 e destes 26,17 săo de componentes perdidos, que equivale a 94,34% do CPO-D. O número de dentes cariados e obturados foi de 0,67 e 0,85, respectivamente, correspondendo a 2,45% e 3,02% do total do CPO-D. As tabelas 1 e 2 mostram a distribuição do grau de eden-tulismo avaliado pelo uso e necessidade de prótese. A prevalência de prótese total é maior que os demais tipos de próteses, aproxi-madamente 67% do total de próteses superiores e 32% de próteses inferiores.

Tabela 1. Distribuição dos 115 idosos examinados no Centro de Atenção ao Idoso segundo o uso e o tipo de prótese por arcada. Fortaleza, 2005

Condição Bucal de Idosos de 65 a 74 anos de idade do centro de atenção ao idoso

Fortaleza

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Tabela 2. Distribuição dos 115 idosos examinados no Centro de Aten-

ção ao idoso segundo a necessidade e o tipo de prótese por arcada. Nesse estudo, 60% das pessoas examinadas necessitam de prótese superior e 74,79% necessitam de prótese inferior, portanto a necessidade maior é na arcada inferior. Na faixa etária examinada, somente 8,74% dos sextantes apresentavam-se hígidos e somente 0,32% dos sextantes apresentavam doença periodontal severa (bolsa periodontal maior que 4mm). A presença de cálculo foi a pior condição, ob-servada em 8,18% dos sextantes. A segunda condiçăo foi o sangramento, presente em 3,18% dos sextantes. A pre-valência de bolsa de 4 a 5 mm e bolsa de 6 mm ou mais foi muito baixa. Quanto ao Índice de Perda de Inserçăo Periodontal (PIP), predominou a perda de 0 a 3 mm como pior condiçăo, em 15,54% dos sextantes (sabendo que tal condiçăo indica normalidade), seguido da perda de 4 a 5 mm em 3,17% dos sextantes e com bolsa maior que 9 mm foi de 0,38%. Chama atenção o grande número de sextantes excluídos e năo examinados, que foi de 79,55%, ou seja, sextantes que năo apresentavam nenhum dente ou apenas um dente funcional, gerando desta forma uma baixa prevalência de doença periodontal severa. Mediante os resultados da presente pesquisa, confi rma-se o descaso político histórico com a populaçăo idosa no Brasil, visto o grande desinteresse em ameni-zar os danos sofridos por essas pessoas durante toda uma vida de mutilação. Há necessidade de programas preven-tivos e educativos tanto para idosos como para adultos, a fi m de que estes adultos cheguem à terceira idade com uma condiçăo de saúde bucal melhor que a relatada atu-almente. Existe também uma urgência em amenizar os danos já existentes com programas de confecçăo de pró-teses e atendimento direcionado a outras enfermidades comuns na terceira idade como, a doença periodontal e as alteraçőes de tecido mole. Com a inserção da Odontolo-gia no Programa Saúde da Família (PSF) e a implantação do Programa Brasil Sorridente pelo Ministério da Saúde, surge uma nova perspectiva de melhorar a situação de saúde bucal da populaçăo idosa brasileira, onde se espera benefícios por meio de ações preventivas e de reabilita-ção bucal.SILVESTRE, J.A.; KALACHE, A.; RAMOS, L.R.; VERAS, R.P. O envelhecimento popula-cional brasileiro e o setor de saúde. Rev. Secretários de Saúde, v.26, p.12-17,1997. CHAIMOWICZ, F. A saúde dos idosos brasileiros as vésperas do século XXI: problemas, pro-jeções e alternativas. Rev. Saúde Pública., São Paulo, v. 31, n. 2, p. 184-200, abr. 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em: 10 jun. 2007.ALMEIDA, F. N.; ROUQUAYROL, M.Z. Saúde & epidemiologia. 4.ed. Rio de Janeiro: ME-DSI, p.157-183, 1993.

Valquíria Vieira Camurça Cirurgiã-dentista do PSF

Maria Eneide Leitão de AlmeidaCoordenadora do Curso de Odontologia da FFOE/UFC

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O projeto pretende fortalecer a atenção à saúde bucal das crianças da rede escolar municipal com o apoio das 9 equipes do Programa Saúde da Família, capacitando os profi ssionais da área para o acolhimento dessas crian-ças na Unidade Móvel nas Escolas Públicas Municipais, proporcionando-as segurança e tranqüilidade para o atendimento. Além disso, sensibilizar e ca-pacitar os professores da rede pública. Assim o projeto tem como objetivos principais contribuir para redução e prevenção da doença cárie, diagnosticar e tratar possíveis patologias da cavidade oral existente em crianças das escolas da Rede Pública. Para isto apresenta-se tais ações: restauração e extração de dentes, aplicação de fl úor, atividades educativas sobre a utilização e a freqüên-cia da escovação, remoção de placas bacterianas, aconselhamento alimentar e higienização bucal. Os objetivos específi cos do projeto são: 1. Promover a melhoria do acesso das crianças; 2. Elevar a autoconfi ança da criança, reintegrando-a a so-ciedade; 3. Reduzir o índice de prevalência de cárie dental na população do mu-nicípio da faixa etária de 05 a 14 anos; 4. Inserir a família na participação das atividades de educação continuada de prevenção da cárie dental; 5.Capacitar os professores da rede municipal para formá-los como multiplicadores do proces-so de atendimento do projeto; 6. Contribuir para o campo de estágios do Curso de Técnico de Higiene Dental. Como metodologia: 1. Elaboração de escala com os dentistas para atendimento nas escolas/ Cadastramento das crianças a serem atendidas pelo Projeto/ Agendamento de atendimento nas escolas (Março, abril e maio de 2007); 2. Restauração de dentes decíduos/ Realização de exodontias em dentes não recuperáveis/ Detecção de possíveis patologias existentes na cavidade oral (De maio a dezembro de 2007); 3. Realização periódica de aplicação de fl úor nas crianças atendidas pelo projeto/ Desenvolvimento de atividades educativas sobre a utilização e a freqüência da escovação/ Remoção da placa bacteriana (De maio a dezembro de 2007); 4. Sistematização de reuniões com os pais nas escolas/ Realização de sessões educativas sobre aconselhamento dietético e higienização bucal (De maio a dezembro de 2007); 5. Realização de seminá-rio de sensibilização com profi ssionais das escolas para divulgação do projeto/ Desenvolvimento de treinamento modular para os professores em prevenção da cárie (Junho de 2007); 6. Orientação dos ACD’s do curso de THD quanto à realização da atenção integral em saúde bucal (Maio a dezembro de 2007). Resultados esperados: 1. Crianças da faixa etária de 05 a 14 anos com acesso garantido ao Serviço de Saúde Bucal; 2. Crianças reintegradas a socie-dade com preservação da arcada dentária; 3. Baixa prevalência de cárie dental na população do município na faixa etária de 05 a 14 anos; 4. Famílias inseridas no desenvolvimento do projeto; 5. Professores mobilizados para parceria na execução do projeto; 6. THD qualifi cadas para o atendimento de prevenção e promoção junto às escolas. Desta forma o Projeto Sorriso nas Escolas contribuiu para fortalecer a atenção às crianças no atendimento de Saúde Bucal em 14 escolas públicas mu-nicipais, atendendo um total de 3.421 alunos, no período de maio a dezembro de 2007. Além disso, inseriu a família dos alunos em atividades de educação continuada na prevenção de cárie dental, proporcionando acessibilidade, inte-gridade e participação social da comunidade envolvida. Como conclusão podemos colocar que através do Projeto Sorriso nas Escolas houve a integração das equipes de saúde bucal do município com as escolas públicas municipais e com as famílias envolvidas, garantindo assim aos alunos o acesso qualifi cado aos serviços odontológicos e instruindo-os sobre a importância da higiene bucal e sua relação com a doença cárie.

Gislana Gripp BomCoordenadora de Saúde Bucal

[email protected]

Projeto Sorriso nas Escolas

Ipu

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Amigos do Sorriso consiste numa estratégia desenvol-vida pela Coordenação de Saúde Bucal e operacionalizada pela equipe de Cirurgiões-Dentistas e Auxiliares de Consultório Den-tário da Atenção Primária, em especial os do Programa de Saúde da Família de Crato-CE, com apoio de Secretaria de Saúde deste município. Em tal iniciativa, conta-se com a colaboração de alguns parceiros, como as Secretarias de Educação, Ação Social, creches, escolas, pólos de atendimentos e hospitais. A promoção da saúde bucal dos cratenses constitui o principal objetivo desta atividade, onde seu sorriso é nossa maior alegria! O programa Amigos do Sorriso funciona com toda a Equipe de Saúde Bucal, formada por CDs e ACDs, e uma equi-pe de apoio, composta por palhaços, banda de música municipal, fotógrafo, um profi ssional responsável pela logística (armação de tendas, montagem e abastecimento dos escovódromos móveis etc.), tudo sob a supervisão da Coordenadora de Saúde Bucal, Dra. Verônica Alves de Sousa. Através de visitas previamente agendadas e obedecendo a um cronograma de atividades, os Amigos do Sorriso vão a espa-ços sociais como creches, associações comunitárias, escolas, igre-jas e participam de eventos sociais, desde que sejam solicitadas pelos interessados através de ofício para a Secretaria de Saúde-Coordenação de Saúde Bucal. O setor de transporte disponibiliza os veículos para lo-comoção da equipe e a instituição que solicitou o serviço garante o espaço físico, de preferência aberto, para a organização e mon-tagem de todo o aparato necessário. Todos os participantes são registrados e computados no respectivo mês como procedimento coletivo, contribuindo para que o município atinja seus indicado-res pactuados perante o Estado. Após dinâmica de apresentação com palhaços, banda de música e atividades educativas, o público infantil recebe escovas e cremes dentais.

Amigos do Sorriso

Crato

. Técnica Operacional 1. Cada criança passa pelo escovódromo, onde CDs e ACDs ensinam as técnicas de escovação; 2. Após a higiene oral adequada, as crianças serão exami-nadas por CDs para que seja avaliado o índice de dentes cariados, perdidos e obturados (CPO-D), efetuando assim o levantamento epidemiológico (SB-2000 Crato); 3. Posteriormente é feita a aplicação tópica de fl úor fosfa-to acidulado em moldeiras descartáveis, onde a criança permane-cerá 1 minuto com gel em contato com os dentes, sendo advertida para não ingerir e não levar nada à boca por pelos menos 30 minu-tos após a aplicação; 4. Em crianças com idade inferior a 4 anos, o fl úor é aplicado na própria escova pelo CD, evitando maiores riscos de ingestão; 5. Nas atividades de rastreamento de câncer bucal, os pa-cientes, geralmente idosos, são orientados quanto a fatores de risco como tabagismo, alcoolismo, exposição à radiação solar, além de serem instruídos como realizar o auto-exame da boca. Em se en-contrando alguma alteração, o paciente é orientado sobre a neces-sidade de se proceder a biópsia e encaminhado para tal serviço. Desde o lançamento do Programa Amigos do Sorriso fo-ram realizados em nossa cidade 10.693 atendimentos entre crian-ças e adolescentes.

Nizete Tavares Secretária de Saúde

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A Saúde bucal tem conquistado importantes avanços e isso foi propiciado por ações que primaram pela adoção de hábitos mais saudáveis pela população. Por meio dessas políticas foi imple-mentado um projeto que prioriza atividades de educação em saúde voltadas para o binômio mãe-filho. Deu-se início no ano de 2006, em um grande encontro com as gestantes adstritas nas equipes de Saúde da Família da sede do município, que contou com a presen-ça de todos os profissionais. Neste primeiro momento iniciou-se sessão educativa e apresentação do teatro de rua do município de Uruoca, abordando o tema: gestante e o bebê. Foram entregues às gestantes kits de higiene pessoal e panfletos educativos, visando adoção de novas práticas. O objetivo do projeto é orientar e motivar as gestantes acerca da importância do pré-natal odontológico e sobre os méto-dos preventivos das doenças periodontais e cárie dentária, por meio de sessões educativas e atendimento clínico educativo/preventivo de gestantes e bebês, visto que o tratamento odontológico durante a gravidez é ainda um mito a ser superado pela mulher. A gravidez é um período em que a mulher procura com freqüência o profissional de saúde, estabelecendo assim um forte vínculo entre o binômio gestante/bebê. Durante essa situação elas se encontram emocionalmente mais sensíveis e envolvidas com o bem estar de seu filho, tornando-se receptivas as mudanças de atitude, o que qualifica o período como ideal para a instalação de projetos educativos relacionados à saúde bucal.

A promoção de saú-de é o meio mais eficaz para o controle da doença cárie dentária e doença pe-riodontal principalmente, pois a educação e motiva-ção se destacam como fa-tores importantes para que hábitos bucais adequados possam ser estabelecidos. A conversa voltada para gestantes busca sen-

sibilizá-las de que as doen-ças periodontais e cárie dentária são infecções transmissíveis, no entanto controláveis, e que não é possível conviver passivamente com doenças infecto-contagiosas na boca, durante todo o período gestacional. Também busca motivá-las a tratar as doenças presen-tes e suas seqüelas ainda no período gestacional, visando com isto, alcançar a plenitude de saúde no momento do nascimento do filho. Os conhecimentos adquiridos durante a gestação, a mãe poderá colocar em prática no bebê após seu nascimento, não tendo desculpas em negligenciar as ações em saúde bucal para o filho. Outro aspecto que deve ser enfatizado é o esclarecimento quanto aos mitos e crendices populares que envolvem o atendimento odon-tológico durante a gravidez. Este fato necessita de discussão, por-que leva as gestantes a terem aversão ao tratamento odontológico, transferindo-o para o pós-parto. Padrões comportamentais dessa natureza advêm de traços culturais repassados através de gerações,

Causando impacto na saúde bucal de Uruoca: Projeto mamãe sorridente, bebê feliz

Uruoca por isso se apresentam como pontos sensíveis e merecedores de tratamento cuidadoso. A meta do projeto é alcançar a plenitude de saúde bucal no momento do nascimento do filho e repassar conhecimentos para a mãe visando que ela os use em prol do bebê. Além de fazer o acom-panhamento da criança até os 36 meses, impedindo, desse modo, cárie dental e doença periodontal principalmente. São realizadas sessões educativas às gestantes, sobre a im-portância do Pré-natal odontológico e acerca dos métodos preventi-vos das doenças bucais, enfatizando a importância da saúde bucal. São ministradas nas Unidades Básicas de Saúde da Família ou em ambientes sociais previamente articulados com seus respectivos res-ponsáveis (diretores de colégios, líderes comunitários, padre etc.). O teatro é um meio facilitador do entendimento pela população, pois busca uma linguagem popular para transmitir conhecimentos gerando reflexão. Ao término das discussões, são distribuídos kits contendo escova dental, creme dental, fio dental e sabonete; além de folhetos explicativos, onde há de forma sintetizada o assunto ministrado. Busca-se informar que após a primeira consulta médica/enfermagem a gestante será encaminhada para o consultório para dar início ao seu pré-natal odontológico. Nessa consulta, há uma explanação acerca de saúde bucal e é feita uma ficha odontológica onde constará toda anamnese e odontograma. Depois é realizado o exame clínico da gestante, sendo discutido seu tratamento. Após a 1ª consulta odontológica, a gestante sai com todas as datas e horá-rios de retorno para conclusão do tratamento. Após o nascimento da criança, o cirurgião-dentista, acom-panhado da ACD e da ACS, faz uma avaliação da criança na re-sidência da mãe ou no consultório odontológico, onde é avaliada a saúde bucal no bebê, condições de higiene e promovido o alei-tamento materno. A criança retorna ao consultório odontológico quando os primeiros dentes erupcionam, para que alguns aspectos sobre saúde bucal possam ser enfatizados. Após erupção dos pri-meiros dentes, é marcado retorno a cada três meses até a criança completar 36 meses de vida, para que o cirurgião-dentista possa avaliar com freqüência, impedindo, desse modo, as doenças cárie e periodontal principalmente. Após completar 36 meses de vida, a criança entra em um grupo chamado de “manutenção”, no qual retornará ao consultório odontológico pelo menos 02 (duas) vezes ao ano, não mais fazendo parte do Projeto Mamãe Sorridente, Bebê Feliz. Constatamos que este projeto tem uma grande repercussão social, pois iniciamos o acompanhamento ao bebê ainda no útero da mãe e a ela damos instruções acerca do pré-natal, enfatizando os cuidados com a criança após o nascimento. Acreditamos que com estes cuidados, o município, em longo prazo, terá uma diminuição em seu orçamento com saúde bucal, já que haverá minoração da quantidade de pacientes para tratamento curativo. Minimizaremos também atendimentos no hospital, em caráter de urgência, com queixas de pacientes com odontalgia e abscessos, bem como redu-zindo gastos no nível de atenção secundário e terciário.

Francisco Demosthenes Macedo SilvaCoordenador de Saúde Bucal

Sarah Mendes de SousaCirurgiã-dentista da ESF

Antônio Rodrigues Ferreira Junior Secretário de Saúde

[email protected]

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III Mostra Nacional de Saúde da Família

Dr. Carlile Lavor foi homenageado durante a III Mostra de Saúde da Família, realizada em agosto, em Brasília, com prêmio destinado a personalidades que contribuíram com o Programa de Saúde da Família. Carlile Lavor foi o idealizador do Programa de Agentes Comunitários de Saúde, modelo que serviu de referência para a implantação do Programa Saúde da Família em todo o Brasil. Ocupou diversos cargos na área de saúde pública, entre eles a Secretaria Estadual de Saúde, e a presidência do COSSEMS, tornando-se referência na reversão do modelo hospitalocêntrico de atendimento. Recentemente, em parceira com a Unesco, esteve na África com o mesmo objetivo, de implementar os ACSs em Angola. Dr. Carlile será o supervisor do Núcleo da Fiocruz que deverá ser montado no Ceará até o início de 2009. Parabéns!

Simpósio Brasileiro de Vigilância Sanitária será realizado em Fortaleza

A Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva – ABRASCO vai realizar, em parceria com a Fiocruz, INCQS, CONASS, CONASEMS, ANVISA, OPAS e SESA, o Simpósio Brasileiro de Vigilância Sanitária com o tema: Vigilância Sanitária e os 20 anos da Constituição Cidadã. O evento será realizado entre os dias 23 e 26 de novembro, no Centro de Convenções, em Fortaleza. Maiores informações no número 85. 3101-5280.

IV Encontro Nacional do Ministério Público em Defesa da Saúde

O Ministério Público recebeu inscrições de trabalhos acadêmicos das mais diversas áreas, durante o mês de agosto, relacionados à saúde, para o IV Encontro Nacional do Ministério Público em Defesa da Saúde, que será realizado em Fortaleza, no período de 10 a 12 de setembro de 2008. Maiores informações através do email: [email protected].

COSSEMS realiza Ofi cina para reestruturação dos Fundos Municipais de Saúde

COSSEMS realizou no dia 12 de agosto a Ofi cina para Reestruturação dos Fundos Municipais de Saúde, ministrada pela coordenadora da 3 CRES Leni Nobre. “Conversando com os auditores, com os conselheiros do Conselho Estadual, percebi que as dúvidas são as mesmas: ninguém entende essa linguagem técnica do fi nanciamento”, disse a coordenadora sobre os objetivos da Ofi cina, de aprimorar a gestão e organização dos Fundos Municipais de Saúde. O representante do TCM, Dr Luís Mário, que participou da Ofi cina, provocou o COSSEMS diante das demandas municipais a partir da transferência de recursos fundo a fundo: “Ao concluírem a ofi cina, formulem um documento sobre os resultados desse debate. Exponham suas difi culdades. Eu me coloco à disposição para encaminhar esse documento onde for preciso. O Tribunal também deve ser provocado para realizar eventos deste tipo. Demandem que eu ajudo”. A secretária de saúde de Mulungu, Valéria Viana, que representou o COSSEMS, falou sobre o objetivo da entidade ao realizar a Ofi cina: “A equipe do COSSEMS tem se dedicado para se antecipar nas mudanças buscando integrar e capacitar os municípios para isso”.

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68 Revista Sustentação.2008.n.23cultura

LIVRO“SUS: O Espaço da Gestão Inovada e dos Consensos Interfederativos”Autor: Odorico Monteiro

De acordo com a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza, o livro é dividido em três partes. “Na primeira, os autores fazem uma análise histórica do arcabouço jurídico-institucional do SUS no processo constitucional e infraconstitucional. Na segunda parte, são analisados os desafios da organização do SUS, que se propõe a ser um sistema único de saúde em um país federativo – experiência única no mundo. Nesse sentido, coloca-se como grande desafio os consensos interfederativos. Por último, os autores apontam os vácuos normativos atualmente existentes na regulamentação do SUS, propondo soluções”.

para ler para ler para ver

LIVRO“Recursos Humanos em Saúde -Diagnósticos e Reflexões - 2008”Org: João Bosco Feitosa dos SantosEditora: UECE

Esta obra concentra o resultado de oitopesquisas realizadas pelo ObservaRHCETREDE/UFC/UECE, integrante daRede Observatório de Recursos Humanosem Saúde - ROREHS, iniciativa doMinistério da Saúde, em parceria como Programa de Cooperação Técnica daRepresentação OPAS/OMS no Brasil.Os textos aqui apresentados buscamdiscutir a realidade dos RecursosHumanos em Saúde, especificamentevinculados ao Sistema Único de Saúdedo Ceará - SUS/CE, com o objetivo desubsidiar as políticas públicas de saúdeno Estado, e ao mesmo tempo manterinterlocuções com profissionais de outrosestados e participantes da ROREHS edemais interessados no tema.

FILME“Diários de motocicleta”Diretor: Walter Salles (Brasil,2004,Drama,126 min)

Um filme que retrata a viagem feita na década de 90 por Ernesto Che Guevara e seu amigo Alberto Granado pela América Latina. O objetivo, a princípio, era percorrer cerca de 8000 km e explorar o continente que até então só conheciam através dos livros, questão que os deixavam intrigados pois tinham um amplo conhecimento da Grécia Antiga e da Europa, mas em compensação não tinham o mesmo pelo seu próprio continente, sendo esses um dos motivos que os fizeram partir para explorar o território latino americano.Os viajantes partiram da Argentina passando por diversos lugares e chegando ao destino final que seria a Venezuela. No decorrer da viagem são surpreendidos pela extraordinária geografia física e humana do continente, no qual havia muita pobreza, fazendo com que os dois mudassem de mentalidade ao longo da viagem, principalmente Che.

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69Revista Sustentação.2008.n.23 cultura

para ouvir para ouvir para ouvir

CD“Maré”Adriana Calcanhoto

Declaração de Adriana Calcanhotto: Maré, este meu oitavo disco, é o segundo de uma trilogia. O primeiro é Maritmo, o álbum de 1998. E, como segundo, este tem como mote o mar de volta, o mar “mais uma vez”, Maré. E talvez por estar entre o primeiro e o terceiro é que ele tenha ficado tão entre a mulher e o peixe, entre a palavra e o emaranhamento quântico, entre a linguagem e o indizível. Ou entre Ferreira Gullar e Cazuza, entre Augusto de Campos e Dorival Caymmi, entre Cicero e Waly. As canções foram chegando aos poucos e com algumas, como “Mulher sem razão” ou “Onde andarás”, eu já flertava, há tempos. Em determinado momento tive repertório para um álbum triplo, mas como pra mim peneirar pode ser até mais interessante do que acumular canções, fazer as escolhas não foi muito difícil. Todo corte, toda canção que cai dá um certo aperto no coração, mas, por outro lado, é muito legal ver como elas vão se entreiluminando ou contradizendo dentro do quebra-cabeças que começo mas nunca sei direito onde vai dar.

CD“Que belo estranho dia pra se ter alegria”Roberta Sá

A potiguar Roberta Sá apresenta seu segundo cd Que Belo Estranho Dia Pra Se Ter Alegria. Nesse novo trabalho ela interpreta músicas de grandes compositores brasileiros como: “Cansei de Esperar Você” (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho) e “Alô, Fevereiro” (Sidney Miller). A cantora conta também com participações especiais de Lenine, Hamilton de Holanda, Zé da Velha e Silvério Pontes, Pedro Luis e o grupo Pife Muderno. “Neste seu segundo CD Roberta tem, nitidamente, uma intenção: a de mostrar que a sua (nossa) tão amada canção brasileira continua viva, atual, interessante. Roberta parece querer dar a sua visão do que seria o contemporâneo na música popular brasileira. Ambição que, evidentemente, vem espalhada nas canções, sem comprometer a fluidez desinteressada delas” (Hugo Sukman).

CD“Clandestino”Manu Chao

Filho de espanhóis e nascido na França, Manu Chao começou na música com o grupo Rockabilly Les Hot Pants. Depois disso criou, em 1987, o Mano Negra banda politicamente engaja que, apesar da postura alternativa fez relativo sucesso na França, chegando, inclusive aos ouvidos antenados de todo o mundo. Com o fim da banda Manu Chao passou quatro anos viajando pelo mundo, entre Colômbia, Brasil, Peru e México, e como síntese de sua jornada gravou, em 1998, o álbum “Clandestino”, que vendeu mais de três milhões de cópias e o alçou à condição de um dos principais artistas do eixo “world music”. No decorrer de suas caminhadas estreitou uma relação afetiva muito grande com o Brasil, onde conhece bem o sertão do Ceará, travando uma relação bem próxima com os Repentistas, seja no Rio de Janeiro onde se sente em casa na Lapa e Santa Tereza e até já morou, seja no mangue de Recife onde ficou hospedado na casa de amigos, sempre trocando informações musicais e culturais.

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70 Revista Sustentação.2008.n.23outras palavras

passe a barreirado passadocurta lembrançasde prazer e alegriaria

e,ao libertarlágrimas de saudade,chore sem pudora sua dor

(Chore,Chico Passeata)

passe a barreira

curta lembrançasde prazer e alegria

lágrimas de saudade,chore sem pudor

Chico Passeata)Chico Passeata)

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