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Tabela 2 – Excertos das entrevistas realizadas às Instituições
Temas e
subtemas
Entrevista nº 1
ACMET
Entrevista nº2
ACMET
Entrevista nº 3
C.M. Coimbra
ACMET/
C.M.
Coimbra
Excertos
“…é recente a associação, tem um ano e pouco,
tem trinta e tal sócios, nós os nossos objectivos
da associação é a inclusão, as tradições e as
culturas, … os nossos apoios, a gente trabalha
muito com o projecto…”
“…o que nos levou a tomar medidas foi uma
necessidade, porque isto já se arrasta em Tomar
há 40 anos, isto levou-se a arrastar, por causa da
habitação em Tomar.”
Excertos
“…foi um desafio poder pertencer a esta
associação, não tivemos qualquer tipo de
barreiras, porque nós já tínhamos desenvolvido
um trabalho com a comunidade de Tomar,
através do projecto Tomar o Rumo Certo, por
isso, foi o continuar desse trabalho, mas em
algo mais formalizado, não houve qualquer
tipo de problema, antes pelo contrário.”
“…deparamo-nos com problemas ao nível da
colocação de estágios, o emprego.”
Excertos
“…foi em 2009, foi através do ACIDI, é um
projecto que fez, portanto uma série de
candidaturas, também há dinheiros do…
dinheiros europeus, eu não tenho bem a
certeza, e então as câmaras foram informadas,
as câmaras que estavam informadas
candidataram-se, foram 12 câmaras
seleccionadas no 1º momento, depois passado
um ano e meio foram seleccionadas mais
algumas câmaras, actualmente somos 17
câmaras”
“…um mediador municipal é bastante versátil,
trabalha em várias áreas, embora se incida
muito na área da educação, e depois pronto,
são áreas muito mais difíceis que é a área do
emprego, mas aí já por questões de
preconceitos que é muito complicado”
157
Ciganos
Portugueses
Percepções
sobre a
exclusão
“… sabes que a nossa cidade é muito
complicada, está muito enraizado o preconceito,
não falo tanto na discriminação e no racismo,
falo mais é no preconceito, por exemplo, eu
lembro-me na escola, os pais dos meus colegas
dizerem para os filhos não andarem com
ciganos, que os ciganos estavam muito mal
vistos, por exemplo, utiliza-se muito aquele
provérbio: «Se não comes a sopa, eu vou
chamar o cigano» … já faz parte da história
também, como a nossa cidade antigamente, era
uma cidade dividida entre os portugueses e os
espanhóis,… está dividida entre a parte nova e a
parte antiga da cidade, dantes havia ali uma
ponte velha, que era ali no centro da cidade,
tinha-se que pedir autorização para os espanhóis
passarem para o outro lado da cidade, só para
passar para o território português, e o português
tinha de pedir autorização para o território
espanhol, por isso é uma cidade cheia de
preconceito, já não digo tanto discriminação,
mas talvez preconceito.”
“…nós em Tomar termos quatro bairros sociais,
nenhum cigano foi incluído em nenhum dos
bairros sociais.”
“…agora estamos também a lutar pela higiene
diária, porque ali no acampamento não há água
canalizada, nem electricidade… Não têm
condições nenhumas, não têm luz, …não têm
saneamento, são feitas de restos de plátex”
“…há associações que se recusam a trabalhar
connosco…”
“…nós fomos com eles a sítios para arrendar, e
ninguém aceita, e depois diziam-nos: “Ah, oh
meninas, vocês não podem…então vocês
andam com ciganos, a tentar arrendar casas?
Não sabem que eles vos vão enganar?”
“…penso que a exclusão mais ao nível
espacial, se diz respeito às questões de
habitação, acho que sim, é um ponto, muito,
muito, muito importante, não é, porque isso
influencia depois os outros resultados a nível
de tudo não é, mas a nível social, penso que,
apesar de tudo acho que não se verifica tanto,
porque eles convivem com as pessoas, não
acho que … acho que não estão fechados.”
“A indiferença, o olhar desconfiante, eu não
consigo alugar casa, tem de ser a minha esposa,
eu estou numa casa alugada, e não vi a casa, a
minha esposa foi, porque não tem traços físicos
ciganos, conseguiu alugar a casa e eu não vi a
casa”
“…a opinião pública diz: «Ah, não, não, não
metam os ciganos juntos connosco!», e os
Presidentes da Junta são os primeiros a
levantarem e: «Não, não, não, só para os
ciganos aqui na minha Junta não façam!»”
“…ninguém aluga casa a ciganos, por
exemplo, há sub-ocupação, pelo menos na
minha cidade, de famílias em apartamentos T3,
que estão 11 e 12 pessoas.”
“ …as próprias escolas dizem que não há
vagas, as próprias Juntas de Freguesia, as
próprias câmaras, dizem assim: «Metam-nos a
correr!», são eles próprios a ligarem para a
GNR para os mandar embora, aplicam-lhes
multas, por mil euros, mil e tal euros, porque
ultrapassaram um x de dias, portanto há uma
série de coisas.”
158
“Eu ando há um ano a lutar para ter um
balneário, para estas crianças terem o direito a
tomar banho, e apresentar estas mínimas
condições na escola, eu envio cartas, cartas para
a Câmara, a maior parte das vezes nem resposta
da Câmara Municipal de Tomar”
“…há escolas que se recusam a receber a
comunidade cigana,”
“…cá em Tomar a maior parte recebe o
Rendimento Mínimo de Reinserção Social,
…diz a lei é para incluir as pessoas na
sociedade, e cá em Tomar não acontece isso, cá
em Tomar é dado aos ciganos, para os excluir,
… não há trabalhos, cá em Tomar não temos
nenhum cigano a trabalhar”
159
Percepção
sobre
racismo
“… o ano passado eu fiz uma denúncia para a
Europa dos Direitos Humanos, … houve uma
turma só de comunidade cigana, aqui na própria
escola…”
“Comecemos pela noite em Tomar, é outro
problema, por exemplo, muitos jovens querem
sair à cidade, vão aos bares, não entram…”
“… Os próprios cidadãos de Tomar, é que
fazem este estigma, este preconceito, isto
começa na escola, isto começa logo nas raízes
da escola, é muito complicado.”
“…a nível da habitação, eu já tive ciganos, ali
no acampamento que trabalharam e têm
algumas condições, e me vieram pedir ajuda
para tentar ajudar a alugar casa, é outro
problema em Tomar, o da habitação, mesmo
que os ciganos
queiram sair do acampamento, condições têm
para alugar uma casa, os proprietários das casas
é que não deixam à comunidade cigana.”
“…quando chega um cigano ao hospital
chamam logo a polícia, parece que chegou ali
um animal, ou um bicho”
“…os próprios ginásios recusam-se a fazer a
ficha de inscrição aos ciganos…”
“…enquanto que uma Câmara Municipal se
recusa a receber uma vereadora da habitação,
enquanto, que um deputado das minorias
étnicas não me recebe no Conselho de Ministros
é muito mau, não é?!”
“…em Tomar, existe ainda muito preconceito,
muitos estereótipos associados à comunidade
cigana.”
“…muitas das vezes às próprias ciganas
dizem: “Olha que vem aí um cigano roubar-te,
olha o cigano”
“…havia miúdos que nunca, ou tinham
contactado com os ciganos, ou não tinham de
todo contactado e tinham aquele preconceito
geral”
“…existe montado uma estrutura, o chamado
racismo estrutural, porque convém que existam
pessoas como bodes expiatórios, e neste caso
os ciganos têm servido como tal.”
“…o preconceito também existe por parte da
comunidade cigana, essa é que é a realidade,
porque o racismo é mútuo, existe por parte de
professores muito mal preparados”
“…isso faz parte do racismo estrutural
à pouco eu dizia, que eles já têm na mente que
eles não vão a lado nenhum, então não
apostam.”
“Eu já não falo no acesso ao emprego, que é
uma vergonha em Portugal, porque existe o
racismo subtil.”
160
Tabela 3 - Excertos das entrevistas realizadas às Instituições, (continuação)
Temas e
subtemas
Entrevista nº 4
ONPC
Entrevista nº 5
GACI
ONPC/
GACI
Excertos
“…existem ciganos paupérrimos realmente, muito pobres, em que
houvesse uma Pastoral específica para os ciganos, em específico.”
“…a Obra tem 40, quer dizer, está a ver, aliás tem 41, já neste
momento…”
“Estes ciganos para serem apoiados pastoralmente, precisam da tal, um
termo muito simples que se usa na igreja que é a Pastoral específica, de
maneira que esta Pastoral foi constituída para apoiar os ciganos nas suas
necessidades.”
Excertos
“…os principais objectivos do GACI, para além de nós, tentamos
promover, tentamos trabalhar para a promoção social dos ciganos,
tentamos por um lado, fazer a sua capacitação, promovendo a sua
história e cultura, divulgando, e também tendo iniciativas que possam
ajudar as pessoas a ter melhores acessos, não é, e dar linhas directivas,
no sentido de as comunidades ciganas poderem terem melhores
acessos a bens e serviços e por outro lado também, promover e
mobilizar as comunidades ciganas para a educação, para que os seus
filhos vão à escola, para além da saúde, também da habitação, e
trabalhamos em articulação com diversas instituições nesse sentido,
justamente, para que se possam criar linhas de actuação nessas áreas.”
161
Ciganos
portugueses
Percepções
sobre a
exclusão
“…no século XVI mais ou menos, quer dizer foram bem aceites na
altura, porque eram músicos, eram artesãos, uns tipos diferentes, e não
sei que mais e vieram dar animação à Corte e não sei que mais, etc, etc,
tudo aquilo foram bem aceites, mas depois não sei o que se passou,
começaram a excluí-los, e tiveram 5 séculos de exclusão em que eles há
alturas em que se auto protegem, e desconfiam percebe, e têm uma
reacção, muitas vezes a gente diz: «Ah, eles são uma população
fechada…», porque excluíram-no durante 5 séculos, e eles habituaram-
se a serem desconfiados, agora é preciso esta mudança progressiva da
mentalidade.”
“… a exclusão dos ciganos cá é grave, no leste da Europa é gravíssima,
porque são milhões de ciganos que estão à margem da coisa, e isto não
funciona, porque isto fica tudo em estudos.”
“…é exclusão de todo o género, são os que vivem em barracas, há tantos
que vivem ainda em barracas, é a miséria completa!”
“… já não é a primeira vez que quando uma família cigana, ou um
casal cigano quando vai tentar arranjar uma casa, e se apercebem que
são ciganos, dizem que já está alugada, isso
também é verdade.”
“…que entre várias, vários grupos culturais em presença de facto o
dos ciganos, é aquele o que mais posto de parte, o mais estigmatizado,
contra quem há mais preconceitos, é um fato, não quer dizer que eles
também não os tenham contra nós, porque eles têm muitos
preconceitos, também há o contrário, também, pois.”
Percepção
sobre racismo
“…a falta de autonomia, é a falta de reconhecimento, é serem
discriminados sistematicamente, é cigano, é discriminado, é mal tratado
muitas vezes pela polícia etc.”
“…e depois há também as franjas que cá…chegaram também da
extrema direita que querem realmente o racismo de todas as formas, e só
os não ciganos, portanto querem acabar com todas as diferenças étnicas,
porque há só uma etnia, que é a principal, que é a nossa!”
“…há aquele preconceito, são ciganos, vão partir, vão estragar, não
vão pagar, à partida pensam assim sem dar chance às pessoas de pelo
menos de…ficar à experiência…”
162
Tabela 4 - Excertos das entrevistas realizadas aos Investigadores
Temas e
subtemas
Entrevista nº 6
Investigador A
CEMME-FCSH-UNL
Entrevista nº 7
Investigador B
CET/ISCTE
Ciganos
portugueses
Percepções
sobre a
exclusão
Excertos
“…vão continuar a ter muita dificuldade em todas as frentes, em tudo,
emprego, habitação, educação…”
“… nas feiras de Norte a Sul, onde continua a haver famílias a serem
expulsas sistematicamente, escorraçadas, de um campo para o outro,
dentro de um conselho para o outro, com os nossos presidentes de
câmara, com os nossos políticos, com os nossos representantes, mais
altos se quiseres da Assembleia da República, estão-se a borrifar”
Excertos
“ Mercado privado: preços elevados e discriminação no acesso, assente
no estereótipo da má vizinhança, de mau pagadores, de má utilização
do alojamento”
“…encontramos situações de mobilidade associadas a famílias que não
conseguem instalar-se numa dada localidade por tempo
indeterminado…”
Percepção
sobre racismo
“…emergem fenómenos, como o de Vila Verde, de milícias se
organizarem no terreno para expulsarem os ciganos à paulada com
armas, com tudo”
“…eu penso que a única razão para tu teres este discurso sobre alguém,
é “tu não és digno de estares aqui, não tens direito a estar aqui, és “…
ilegítimo”, ou tu para estares aqui é uma coisa legítima, tens
legitimidade para estares cá, só tem uma razão, que é racismo, só, não
tem outra razão.”
“…desvalorização do valor imobiliário ou fundiário decorrente de
realojamentos e em especial se estes visarem a população cigana.”
163
“…o grande racismo dos portugueses, e isso pode-se dizer, não é com
imigrantes, é com ciganos, nós estamo-nos a borrifarmo-nos para os
imigrantes, acho que a nossa grande violência racista é com ciganos,
há muitos anos e de muitas maneiras.”
“…perdes a guerra contra o racismo, porque é tão galopante, esta
questão de tu imobilizares os ciganos logo na escola, por exemplo, os
pais, por exemplo, não é compreensível de Norte a Sul, que
associações de pais, ou grupo de pais que se juntem tenham força
suficiente para professores, e delegados regionais virem a dizer, que
aqueles meninos naquela escola não podem, porque os pais dos outros
meninos, não querem, isto não pode acontecer numa democracia, não
pode acontecer!”
“… impressionou-me ver que os casos de violência, continuam a
existir e não são isolados, não são localizados, o que denuncia que
existe realmente racismo contra os ciganos”
164
Tabela 5- Análise das entrevistas realizadas às Instituições
Temas e subtemas
Entrevista nº 1
ACMET
Entrevista nº 2
ACMET
Entrevista nº 3
C.M. Coimbra
ACMET/
C.M. Coimbra
Análise
A ACMET, é uma associação cigana
recente na cidade de Tomar, que surgiu no
seguimento de um projecto que estava a
decorrer, “Tomar o Rumo Certo”,
inicialmente como forma de dar resposta à
situação de habitação precária em que vive
a população cigana de Tomar.
Análise
Afirma não ter existido dificuldades na
criação e formalização da própria
associação, uma vez que foi o continuar de
um projecto que já estava a decorrer
(“Tomar o Rumo Certo”).
Refere que o emprego é um problema, que
ainda está por resolver relativamente aos
ciganos de Tomar.
Análise
Refere-se ao financiamento de fundos
europeus, que foram cedidos às câmaras
municipais que se candidataram ao projecto
mediadores municipais, que surgiu em 2009,
através do ACIDI.
Revela a versatilidade em termos das
diversas actividades que desempenham em
áreas distintas, admite que a área do emprego
é a que revela maior fragilidade.
165
Percepções sobre a
exclusão
Considera a cidade de Tomar, uma cidade
com algum preconceito, que começa
sobretudo nas escolas, entre crianças
ciganas e não - ciganas.
Expressa a forte dificuldade da população
cigana em ter acesso a uma habitação, que
se traduz numa forte exclusão habitacional.
Denota a precariedade e as más condições
de habitação em que vivem os ciganos de
Tomar.
A exclusão institucional, é enunciada como
uma das formas de exclusão social patentes
quer na educação (em escolas), na
formação e emprego, na área da saúde, e
na parte de sociabilização, onde as próprias
entidades colocam entraves à inserção da
população cigana.
A população local não cigana, mantém
uma atitude de exclusão face aos ciganos,
é-lhes rejeitado o acesso à habitação,
derivado da imagem negativa que as
pessoas têm dos mesmos.
Admite que a exclusão espacial é mais
sentida que a exclusão social no caso da
população cigana, pois considera que esta
em termos sociais ainda estabelece algum
contacto com a população não cigana.
Revela a dificuldade em ter acesso ao
mercado privado de habitação, neste caso,
pelo facto de os proprietários com base no
preconceito étnico excluírem os ciganos.
Demonstra a falta de interesse e a pressão
pública, que o poder local tem para resolver
os problemas relacionados com a habitação,
com que se depara a população cigana, neste
caso de Coimbra.
Existe a sub-ocupação de habitantes ciganos
a residirem em apartamentos.
A exclusão patente em várias áreas,
começando principalmente nas escolas, e as
instituições públicas a demonstrar uma falta
de interesse relativamente à situação dos
ciganos, tentam afugentá-los dos locais
através da aplicação de multas elevadas.
Percepção sobre
racismo
As crianças ciganas na escola são
colocadas numa turma todas juntas, ficam
socialmente segregadas, e discriminadas
por motivos raciais.
É vedado a entrada dos ciganos em bares
nocturnos, devido também à pressão da
população local não cigana, o estigma e
estereótipo, começa logo nas escolas.
Em Tomar a população local não cigana
tem uma imagem muito negativa sobre os
ciganos da cidade.
E essa má imagem é percepcionada
também nas escolas.
Os ciganos são utilizados como álibi, por
parte de determinadas instituições, baseado
num racismo estrutural.
O racismo existe de ambos os lados, tanto de
ciganos, como de não ciganos.
O racismo estrutural é revelado nas
instituições, que descredibilizam as
capacidades dos ciganos, e, por isso não
insistem na sua integração.
166
Embora a ACMET tente ajudar na
aquisição de uma habitação, e mesmo os
alguns ciganos tenham condições para ter
uma habitação condigna, esse acesso é
rejeitado pelos próprios proprietários.
As instituições locais, são as que
demonstram também diversas formas de
racismo para com a população cigana de
Tomar.
O racismo subtil existe também, por exemplo
na área do emprego.
167
Tabela 6 - Análise das entrevistas realizadas às Instituições, (continuação)
Temas e subtemas
Entrevista nº4
ONPC
Entrevista nº 5
GACI
ONPC/
GACI
Ciganos portugueses
Percepções sobre a
exclusão
Análise
A Pastoral tem cerca de 41 anos, e o seu principal objectivo é de
prestar ajuda aos ciganos, não só a nível espiritual, como também
nas suas necessidades em geral.
Os ciganos tiveram uma fase na história dos seus antepassados,
em que foram bem aceites em Portugal, pela sociedade de
acolhimento, por serem culturalmente diferentes da sociedade
dominante, mas posteriormente passaram por um período de
exclusão que ainda hoje se mantém, e como forma de se auto -
protegerem, os ciganos tornaram-se pessoas desconfiadas.
A situação de exclusão dos ciganos a nível nacional não é tão
grave quanto a dos ciganos do Leste Europeu, ainda assim,
existem muitos ciganos a viverem em barracas, em condições
degradantes.
Análise
O GACI tem como principais objectivos promover a integração
dos ciganos nas diversas áreas, que são a educação, a saúde, o
emprego e a habitação, assim como divulgar a cultura e as
tradições da população cigana.
Está muito latente a exclusão habitacional, nomeadamente no
mercado privado, em que basta apenas uma pessoa dizer que
pertence à etnia cigana, ou o proprietário se aperceber que se trata
de um cigano (a), que rejeita de imediato o aluguer.
De todos os grupos étnicos, os ciganos são os mais excluídos pela
sociedade, contudo ambas as partes proporcionam situações de
exclusão e afastamento.
168
Percepção sobre
racismo
Os ciganos tornam-se alvos vulneráveis pela sua falta de
autonomia, e de reconhecimento, e acabam por ser mal tratados
por algumas entidades, como acontece por exemplo com a polícia.
A nível político (extrema direita), existe diversas formas de querer
terminar com todas as diferenças étnicas, e que se sobrevalorize
uma etnia apenas, que é a dos não ciganos.
A sociedade em geral faz primeiramente juízos de valor com
conotações negativas, sem antes lhes dar (à população cigana), a
oportunidade de tentarem, ou experimentarem uma única vez
(relativamente ao acesso à habitação).
169
Tabela 7- Análise das entrevistas realizadas aos Investigadores
Temas e subtemas
Entrevista nº 6
Investigador A
CEMME-FCSH-UNL
Entrevista nº 7
Investigador B
CET/ISCTE
Ciganos portugueses
Percepções sobre a
exclusão
Análise
A população cigana em Portugal, conforme afirma André Clareza,
irá continuar a sentir entraves na sua integração na sociedade
portuguesa, a vários níveis.
A falta de interesse em termos políticos por esta temática, é
enorme, e irá continuar a existir expulsões de famílias ciganas de
conselhos para conselhos, de territórios para outros territórios, de
Norte a Sul do país.
Análise
Evidencia algumas razões que colocam entraves no acesso à
habitação no mercado imobiliário privado, para as famílias
ciganas que querem ter uma habitação, o que irá criar alguma
instabilidade em termos de mobilidade destas mesmas famílias.
Percepção sobre
racismo
As autoridades recorrem à violência para expulsarem a população
cigana, foi o que aconteceu em Vila Verde.
A nível territorial, o sentimento de pertença a um determinado
lugar relativamente à permanência dos ciganos num dado
território, é muitas vezes colocado em causa pela população
maioritária.
Perda de valor dos terrenos, e do valor das habitações,
nomeadamente se forem famílias ciganas realojadas nesse mesmo
espaço.
170
O racismo dos não ciganos é muito mais notório e violento,
segundo o entrevistado, no caso do grupo étnico cigano, e não
tanto com imigrantes.
O racismo manifesta-se de várias formas e maneiras, e começa
logo nas escolas portuguesas, quando existem associações de pais
e dirigentes, que por causa do preconceito, e das percepções
negativas dos pais das outras crianças (não ciganas), reforçam a
ideia de proibirem as crianças ciganas de socializarem na mesma
escola que os seus filhos não ciganos.
Os casos de racismo contra os ciganos que acontecem em
Portugal, são na sua maioria, casos que acontecem um pouco por
todo o país.
171
Tabela 8 - Análise dos inquéritos por questionário realizados aos ciganos de Tomar
1 Rendimento Social de Inserção
Questões
Número total de inquiridos (20)
I) Caracterização Sociográfica dos
Ciganos de Tomar
Sexo Feminino (13)
Sexo Masculino (7)
Idade
Idades compreendidas entre os 20 anos e os 65 anos.
Idades compreendidas entre os 24 anos e os 75
anos.
Naturalidade
São maioritariamente naturais do distrito de Santarém,
mais concretamente da cidade de Tomar, contudo
existem 2 casos, em que as inquiridas são naturais de
Lisboa e outra de Viseu.
São maioritariamente naturais do distrito de
Santarém, mais concretamente da cidade de
Tomar, contudo existe 1 caso, em que o
inquirido é natural da Guarda.
Estado Civil
A maioria das mulheres é casada segundo a “lei
cigana”.
São casados segundo a “lei cigana”.
Grau de escolaridade
Existe um baixo nível de escolaridade, existem apenas
duas inquiridas com o 9º ano, num total de 13
mulheres, as restantes têm entre o 2º e a 4º ano de
escolaridade do ensino primário.
Existe um baixo nível de escolaridade, que varia
entre o 2º ano do ensino primário e o 9º ano do
3º ciclo.
Tempo de residência em Tomar
O tempo de residência varia entre os 10 anos e os 45
anos.
O tempo de residência varia entre os 18 anos e
os 75 anos.
Situação Laboral
A maioria não tem trabalho, embora estejam inscritas
no Centro de Emprego, existem cerca de 4 que são
estudantes (frequentam cursos do IPEF-Tomar), 5 são
domésticas, 1 está reformada, e as restantes são
feirantes. Recebem o RSI.1
Existem 3 estudantes, frequentam cursos do
IPEF - Tomar), 2 feirantes, 1 desempregado,
estão inscritos no centro de emprego, 1 está
reformado. Recebem o RSI.
172
Composição do Agregado Familiar
São maioritariamente jovens e trata-se de famílias com
um nº médio de filhos que ronda os 5 filhos, com
idades entre os 2 e os 30 anos.
São maioritariamente jovens e trata-se de
famílias com um nº médio de filhos que ronda os
5 filhos, com idades entre os 2 e os 30 anos.
II) Condições de habitação
A maioria das habitações não tem água canalizada,
nem saneamento básico, embora tenham electricidade.
Quanto aos equipamentos que dispõem no
acampamento, a maioria tem TV sem cabo, a maioria
não tem automóvel/carrinha, e todas têm telemóvel.
A maioria das habitações não tem água
canalizada, nem saneamento básico, embora
tenham electricidade.
Têm TV sem cabo, a maioria tem carro/carrinha
e possui telemóvel.
Tempo de residência no
acampamento do Flecheiro, (Tomar)
Varia entre os que habitam há cerca de 7 anos, e os
que já vivem lá há mais de 40 anos.
Varia entre os que habitam há cerca de 7 anos, e
os que já vivem lá há mais de 40 anos.
Nº de divisões da habitação
As habitações têm na sua maioria 2 divisões.
As habitações têm na sua maioria 2 divisões.
Principais carências sentidas no
Acampamento
Falta de saneamento básico e água canalizada.
Falta de saneamento básico e água canalizada.
III) Acessibilidade/Mobilidade
Tipo de transporte que mais utiliza
para se deslocar na cidade
Deslocam-se a pé na cidade.
Deslocam-se a pé na cidade.
Suficiência de transportes públicos
perto do acampamento do Flecheiro
A maioria diz que há transportes públicos suficientes
perto do acampamento (autocarros e comboios)
A maioria diz que há transportes públicos
suficientes perto do acampamento (autocarros e
comboios)
Principais problemas no
acampamento do Flecheiro
Más condições de habitação, falta de infra-estruturas
básicas.
Más condições de habitação, falta de infra-
estruturas básicas.
173
2Associação de Solidariedade Social com a Comunidade Cigana e Minorias Étnicas do Médio Tejo
Tipo de serviços/espaços públicos
frequenta mais na cidade
Cafés, Jardins/Parques, Centro de Saúde/hospital,
Mercado Municipal, Escolas, Supermercado e
Farmácias.
Cafés, Jardins/Parques, Centro de Saúde/hospital,
Mercado Municipal, Escolas, Supermercado e
Farmácias.
IV) Relações de sociabilidade
Relação com os vizinhos não ciganos
A maioria relaciona-se muito bem com os seus
vizinhos.
A maioria relaciona-se muito bem com os seus
vizinhos.
Principais amigos (quem são e onde
residem?)
São os familiares, e residem em Tomar, têm também
amigos não ciganos do quotidiano, que residem na
cidade de Tomar.
São os familiares, e residem em Tomar, têm
também amigos não ciganos, que são/foram
colegas de escola e residem na cidade de Tomar.
Participação associativa ou em
alguma colectividade
A maioria não faz parte duma associação ou
colectividade, apenas 3 mulheres fazem parte
enquanto utentes do Programa Escolhas da ACMET2.
Sim, a maioria faz parte da ACMET e dividem-
se entre utentes e sócios.
Frequência de sociabilização com não
ciganos (na cidade de Tomar)
A maioria costuma socializar frequentemente com os
não ciganos na rua, em espaços públicos, como cafés,
estabelecimentos comerciais e na feira.
A maioria costuma socializar frequentemente
com os não ciganos na rua, e em espaços
públicos, como por exemplo, cafés.
174
Como evoluiu nos últimos 10 anos, em
Tomar:
A atitude dos não ciganos para
com os ciganos?
A maioria revela que melhorou a atitude.
A maioria revela que piorou a atitude.
A atitude/aceitação das instituições
públicas?
A maioria revela que piorou a atitude.
A maioria revela que piorou a atitude.
Perda de rendimentos e controle
da actividade profissional - nas
feiras?
A maioria revela que manteve-se inalterada.
A maioria revela que a situação piorou.
A convivência entre ciganos e não
ciganos?
A maioria revela que melhorou.
A maioria revela que melhorou.
A integração social dos ciganos?
A maioria revela que melhorou a sua integração.
A maioria revela que melhorou a sua integração.
A exclusão social dos ciganos?
A maioria revela que manteve-se inalterada.
A maioria revela que a situação piorou.
As condições de habitação dos
ciganos de Tomar?
A maioria revela que manteve-se inalterada.
A maioria revela que manteve-se inalterada.
Participa em festas ou comemorações
municipais
A maioria costuma participar nas festas
municipais, dos tabuleiros, da cerveja, etc.
A maioria costuma participar nas festas
municipais, dos tabuleiros, da cerveja, etc.
Local onde passa a maior parte do dia-a-
dia
Passam a maior parte do tempo em casa, e
no acampamento.
Passam a maior parte do tempo no
acampamento.
175
V) Percepções/ Retratos Sociais
Situação discriminação por parte de um
não cigano, em Tomar
A maioria revela não ter sido tratada de forma
discriminatória na cidade.
A maioria revela ter sido tratada de forma
discriminatória na cidade.
Percepção dos ciganos relativa à opinião
dos não ciganos sobre a etnia cigana
A maioria das mulheres ciganas refere que há
muito racismo da parte dos não ciganos de
Tomar, referem que estes pensam muito mal da
sua etnia, e que generalizam muito as situações
pelas quais são normalmente julgados, como
roubos, violência, …e os não ciganos, encaram
os como se fossem “bichos-de-sete-cabeças3”,
ou seja, estranhos.
A maioria dos homens ciganos refere à
semelhança das mulheres que há muito racismo
por parte dos não ciganos de Tomar, e que
também costumam generalizar certas situações
negativas que ocorrem, porque “por um pagam
todos”4, “acham que somos criminosos”
5, “uns
animais selvagens”6.
3 Expressão retirada das respostas dos inquéritos dirigidos à população cigana de Tomar
4 Expressão retirada das respostas dos inquéritos dirigidos à população cigana de Tomar
5 Expressão retirada das respostas dos inquéritos dirigidos à população cigana de Tomar
6 Expressão retirada das respostas dos inquéritos dirigidos à população cigana de Tomar