20
156 Tabela 2 Excertos das entrevistas realizadas às Instituições Temas e subtemas Entrevista nº 1 ACMET Entrevista nº2 ACMET Entrevista nº 3 C.M. Coimbra ACMET/ C.M. Coimbra Excertos “…é recente a associação, tem um ano e pouco, tem trinta e tal sócios, nós os nossos objectivos da associação é a inclusão, as tradições e as culturas, … os nossos apoios, a gente trabalha muito com o projecto…” “…o que nos levou a tomar medidas foi uma necessidade, porque isto já se arrasta em Tomar há 40 anos, isto levou-se a arrastar, por causa da habitação em Tomar.” Excertos “…foi um desafio poder pertencer a esta associação, não tivemos qualquer tipo de barreiras, porque nós já tínhamos desenvolvido um trabalho com a comunidade de Tomar, através do projecto Tomar o Rumo Certo, por isso, foi o continuar desse trabalho, mas em algo mais formalizado, não houve qualquer tipo de problema, antes pelo contrário.“…deparamo-nos com problemas ao nível da colocação de estágios, o emprego.Excertos “…foi em 2009, foi através do ACIDI, é um projecto que fez, portanto uma série de candidaturas, também há dinheiros do… dinheiros europeus, eu não tenho bem a certeza, e então as câmaras foram informadas, as câmaras que estavam informadas candidataram-se, foram 12 câmaras seleccionadas no 1º momento, depois passado um ano e meio foram seleccionadas mais algumas câmaras, actualmente somos 17 câmaras” “…um mediador municipal é bastante versátil, trabalha em várias áreas, embora se incida muito na área da educação, e depois pronto, são áreas muito mais difíceis que é a área do emprego, mas aí já por questões de preconceitos que é muito complicado”

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156

Tabela 2 – Excertos das entrevistas realizadas às Instituições

Temas e

subtemas

Entrevista nº 1

ACMET

Entrevista nº2

ACMET

Entrevista nº 3

C.M. Coimbra

ACMET/

C.M.

Coimbra

Excertos

“…é recente a associação, tem um ano e pouco,

tem trinta e tal sócios, nós os nossos objectivos

da associação é a inclusão, as tradições e as

culturas, … os nossos apoios, a gente trabalha

muito com o projecto…”

“…o que nos levou a tomar medidas foi uma

necessidade, porque isto já se arrasta em Tomar

há 40 anos, isto levou-se a arrastar, por causa da

habitação em Tomar.”

Excertos

“…foi um desafio poder pertencer a esta

associação, não tivemos qualquer tipo de

barreiras, porque nós já tínhamos desenvolvido

um trabalho com a comunidade de Tomar,

através do projecto Tomar o Rumo Certo, por

isso, foi o continuar desse trabalho, mas em

algo mais formalizado, não houve qualquer

tipo de problema, antes pelo contrário.”

“…deparamo-nos com problemas ao nível da

colocação de estágios, o emprego.”

Excertos

“…foi em 2009, foi através do ACIDI, é um

projecto que fez, portanto uma série de

candidaturas, também há dinheiros do…

dinheiros europeus, eu não tenho bem a

certeza, e então as câmaras foram informadas,

as câmaras que estavam informadas

candidataram-se, foram 12 câmaras

seleccionadas no 1º momento, depois passado

um ano e meio foram seleccionadas mais

algumas câmaras, actualmente somos 17

câmaras”

“…um mediador municipal é bastante versátil,

trabalha em várias áreas, embora se incida

muito na área da educação, e depois pronto,

são áreas muito mais difíceis que é a área do

emprego, mas aí já por questões de

preconceitos que é muito complicado”

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Ciganos

Portugueses

Percepções

sobre a

exclusão

“… sabes que a nossa cidade é muito

complicada, está muito enraizado o preconceito,

não falo tanto na discriminação e no racismo,

falo mais é no preconceito, por exemplo, eu

lembro-me na escola, os pais dos meus colegas

dizerem para os filhos não andarem com

ciganos, que os ciganos estavam muito mal

vistos, por exemplo, utiliza-se muito aquele

provérbio: «Se não comes a sopa, eu vou

chamar o cigano» … já faz parte da história

também, como a nossa cidade antigamente, era

uma cidade dividida entre os portugueses e os

espanhóis,… está dividida entre a parte nova e a

parte antiga da cidade, dantes havia ali uma

ponte velha, que era ali no centro da cidade,

tinha-se que pedir autorização para os espanhóis

passarem para o outro lado da cidade, só para

passar para o território português, e o português

tinha de pedir autorização para o território

espanhol, por isso é uma cidade cheia de

preconceito, já não digo tanto discriminação,

mas talvez preconceito.”

“…nós em Tomar termos quatro bairros sociais,

nenhum cigano foi incluído em nenhum dos

bairros sociais.”

“…agora estamos também a lutar pela higiene

diária, porque ali no acampamento não há água

canalizada, nem electricidade… Não têm

condições nenhumas, não têm luz, …não têm

saneamento, são feitas de restos de plátex”

“…há associações que se recusam a trabalhar

connosco…”

“…nós fomos com eles a sítios para arrendar, e

ninguém aceita, e depois diziam-nos: “Ah, oh

meninas, vocês não podem…então vocês

andam com ciganos, a tentar arrendar casas?

Não sabem que eles vos vão enganar?”

“…penso que a exclusão mais ao nível

espacial, se diz respeito às questões de

habitação, acho que sim, é um ponto, muito,

muito, muito importante, não é, porque isso

influencia depois os outros resultados a nível

de tudo não é, mas a nível social, penso que,

apesar de tudo acho que não se verifica tanto,

porque eles convivem com as pessoas, não

acho que … acho que não estão fechados.”

“A indiferença, o olhar desconfiante, eu não

consigo alugar casa, tem de ser a minha esposa,

eu estou numa casa alugada, e não vi a casa, a

minha esposa foi, porque não tem traços físicos

ciganos, conseguiu alugar a casa e eu não vi a

casa”

“…a opinião pública diz: «Ah, não, não, não

metam os ciganos juntos connosco!», e os

Presidentes da Junta são os primeiros a

levantarem e: «Não, não, não, só para os

ciganos aqui na minha Junta não façam!»”

“…ninguém aluga casa a ciganos, por

exemplo, há sub-ocupação, pelo menos na

minha cidade, de famílias em apartamentos T3,

que estão 11 e 12 pessoas.”

“ …as próprias escolas dizem que não há

vagas, as próprias Juntas de Freguesia, as

próprias câmaras, dizem assim: «Metam-nos a

correr!», são eles próprios a ligarem para a

GNR para os mandar embora, aplicam-lhes

multas, por mil euros, mil e tal euros, porque

ultrapassaram um x de dias, portanto há uma

série de coisas.”

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“Eu ando há um ano a lutar para ter um

balneário, para estas crianças terem o direito a

tomar banho, e apresentar estas mínimas

condições na escola, eu envio cartas, cartas para

a Câmara, a maior parte das vezes nem resposta

da Câmara Municipal de Tomar”

“…há escolas que se recusam a receber a

comunidade cigana,”

“…cá em Tomar a maior parte recebe o

Rendimento Mínimo de Reinserção Social,

…diz a lei é para incluir as pessoas na

sociedade, e cá em Tomar não acontece isso, cá

em Tomar é dado aos ciganos, para os excluir,

… não há trabalhos, cá em Tomar não temos

nenhum cigano a trabalhar”

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Percepção

sobre

racismo

“… o ano passado eu fiz uma denúncia para a

Europa dos Direitos Humanos, … houve uma

turma só de comunidade cigana, aqui na própria

escola…”

“Comecemos pela noite em Tomar, é outro

problema, por exemplo, muitos jovens querem

sair à cidade, vão aos bares, não entram…”

“… Os próprios cidadãos de Tomar, é que

fazem este estigma, este preconceito, isto

começa na escola, isto começa logo nas raízes

da escola, é muito complicado.”

“…a nível da habitação, eu já tive ciganos, ali

no acampamento que trabalharam e têm

algumas condições, e me vieram pedir ajuda

para tentar ajudar a alugar casa, é outro

problema em Tomar, o da habitação, mesmo

que os ciganos

queiram sair do acampamento, condições têm

para alugar uma casa, os proprietários das casas

é que não deixam à comunidade cigana.”

“…quando chega um cigano ao hospital

chamam logo a polícia, parece que chegou ali

um animal, ou um bicho”

“…os próprios ginásios recusam-se a fazer a

ficha de inscrição aos ciganos…”

“…enquanto que uma Câmara Municipal se

recusa a receber uma vereadora da habitação,

enquanto, que um deputado das minorias

étnicas não me recebe no Conselho de Ministros

é muito mau, não é?!”

“…em Tomar, existe ainda muito preconceito,

muitos estereótipos associados à comunidade

cigana.”

“…muitas das vezes às próprias ciganas

dizem: “Olha que vem aí um cigano roubar-te,

olha o cigano”

“…havia miúdos que nunca, ou tinham

contactado com os ciganos, ou não tinham de

todo contactado e tinham aquele preconceito

geral”

“…existe montado uma estrutura, o chamado

racismo estrutural, porque convém que existam

pessoas como bodes expiatórios, e neste caso

os ciganos têm servido como tal.”

“…o preconceito também existe por parte da

comunidade cigana, essa é que é a realidade,

porque o racismo é mútuo, existe por parte de

professores muito mal preparados”

“…isso faz parte do racismo estrutural

à pouco eu dizia, que eles já têm na mente que

eles não vão a lado nenhum, então não

apostam.”

“Eu já não falo no acesso ao emprego, que é

uma vergonha em Portugal, porque existe o

racismo subtil.”

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Tabela 3 - Excertos das entrevistas realizadas às Instituições, (continuação)

Temas e

subtemas

Entrevista nº 4

ONPC

Entrevista nº 5

GACI

ONPC/

GACI

Excertos

“…existem ciganos paupérrimos realmente, muito pobres, em que

houvesse uma Pastoral específica para os ciganos, em específico.”

“…a Obra tem 40, quer dizer, está a ver, aliás tem 41, já neste

momento…”

“Estes ciganos para serem apoiados pastoralmente, precisam da tal, um

termo muito simples que se usa na igreja que é a Pastoral específica, de

maneira que esta Pastoral foi constituída para apoiar os ciganos nas suas

necessidades.”

Excertos

“…os principais objectivos do GACI, para além de nós, tentamos

promover, tentamos trabalhar para a promoção social dos ciganos,

tentamos por um lado, fazer a sua capacitação, promovendo a sua

história e cultura, divulgando, e também tendo iniciativas que possam

ajudar as pessoas a ter melhores acessos, não é, e dar linhas directivas,

no sentido de as comunidades ciganas poderem terem melhores

acessos a bens e serviços e por outro lado também, promover e

mobilizar as comunidades ciganas para a educação, para que os seus

filhos vão à escola, para além da saúde, também da habitação, e

trabalhamos em articulação com diversas instituições nesse sentido,

justamente, para que se possam criar linhas de actuação nessas áreas.”

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Ciganos

portugueses

Percepções

sobre a

exclusão

“…no século XVI mais ou menos, quer dizer foram bem aceites na

altura, porque eram músicos, eram artesãos, uns tipos diferentes, e não

sei que mais e vieram dar animação à Corte e não sei que mais, etc, etc,

tudo aquilo foram bem aceites, mas depois não sei o que se passou,

começaram a excluí-los, e tiveram 5 séculos de exclusão em que eles há

alturas em que se auto protegem, e desconfiam percebe, e têm uma

reacção, muitas vezes a gente diz: «Ah, eles são uma população

fechada…», porque excluíram-no durante 5 séculos, e eles habituaram-

se a serem desconfiados, agora é preciso esta mudança progressiva da

mentalidade.”

“… a exclusão dos ciganos cá é grave, no leste da Europa é gravíssima,

porque são milhões de ciganos que estão à margem da coisa, e isto não

funciona, porque isto fica tudo em estudos.”

“…é exclusão de todo o género, são os que vivem em barracas, há tantos

que vivem ainda em barracas, é a miséria completa!”

“… já não é a primeira vez que quando uma família cigana, ou um

casal cigano quando vai tentar arranjar uma casa, e se apercebem que

são ciganos, dizem que já está alugada, isso

também é verdade.”

“…que entre várias, vários grupos culturais em presença de facto o

dos ciganos, é aquele o que mais posto de parte, o mais estigmatizado,

contra quem há mais preconceitos, é um fato, não quer dizer que eles

também não os tenham contra nós, porque eles têm muitos

preconceitos, também há o contrário, também, pois.”

Percepção

sobre racismo

“…a falta de autonomia, é a falta de reconhecimento, é serem

discriminados sistematicamente, é cigano, é discriminado, é mal tratado

muitas vezes pela polícia etc.”

“…e depois há também as franjas que cá…chegaram também da

extrema direita que querem realmente o racismo de todas as formas, e só

os não ciganos, portanto querem acabar com todas as diferenças étnicas,

porque há só uma etnia, que é a principal, que é a nossa!”

“…há aquele preconceito, são ciganos, vão partir, vão estragar, não

vão pagar, à partida pensam assim sem dar chance às pessoas de pelo

menos de…ficar à experiência…”

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Tabela 4 - Excertos das entrevistas realizadas aos Investigadores

Temas e

subtemas

Entrevista nº 6

Investigador A

CEMME-FCSH-UNL

Entrevista nº 7

Investigador B

CET/ISCTE

Ciganos

portugueses

Percepções

sobre a

exclusão

Excertos

“…vão continuar a ter muita dificuldade em todas as frentes, em tudo,

emprego, habitação, educação…”

“… nas feiras de Norte a Sul, onde continua a haver famílias a serem

expulsas sistematicamente, escorraçadas, de um campo para o outro,

dentro de um conselho para o outro, com os nossos presidentes de

câmara, com os nossos políticos, com os nossos representantes, mais

altos se quiseres da Assembleia da República, estão-se a borrifar”

Excertos

“ Mercado privado: preços elevados e discriminação no acesso, assente

no estereótipo da má vizinhança, de mau pagadores, de má utilização

do alojamento”

“…encontramos situações de mobilidade associadas a famílias que não

conseguem instalar-se numa dada localidade por tempo

indeterminado…”

Percepção

sobre racismo

“…emergem fenómenos, como o de Vila Verde, de milícias se

organizarem no terreno para expulsarem os ciganos à paulada com

armas, com tudo”

“…eu penso que a única razão para tu teres este discurso sobre alguém,

é “tu não és digno de estares aqui, não tens direito a estar aqui, és “…

ilegítimo”, ou tu para estares aqui é uma coisa legítima, tens

legitimidade para estares cá, só tem uma razão, que é racismo, só, não

tem outra razão.”

“…desvalorização do valor imobiliário ou fundiário decorrente de

realojamentos e em especial se estes visarem a população cigana.”

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“…o grande racismo dos portugueses, e isso pode-se dizer, não é com

imigrantes, é com ciganos, nós estamo-nos a borrifarmo-nos para os

imigrantes, acho que a nossa grande violência racista é com ciganos,

há muitos anos e de muitas maneiras.”

“…perdes a guerra contra o racismo, porque é tão galopante, esta

questão de tu imobilizares os ciganos logo na escola, por exemplo, os

pais, por exemplo, não é compreensível de Norte a Sul, que

associações de pais, ou grupo de pais que se juntem tenham força

suficiente para professores, e delegados regionais virem a dizer, que

aqueles meninos naquela escola não podem, porque os pais dos outros

meninos, não querem, isto não pode acontecer numa democracia, não

pode acontecer!”

“… impressionou-me ver que os casos de violência, continuam a

existir e não são isolados, não são localizados, o que denuncia que

existe realmente racismo contra os ciganos”

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Tabela 5- Análise das entrevistas realizadas às Instituições

Temas e subtemas

Entrevista nº 1

ACMET

Entrevista nº 2

ACMET

Entrevista nº 3

C.M. Coimbra

ACMET/

C.M. Coimbra

Análise

A ACMET, é uma associação cigana

recente na cidade de Tomar, que surgiu no

seguimento de um projecto que estava a

decorrer, “Tomar o Rumo Certo”,

inicialmente como forma de dar resposta à

situação de habitação precária em que vive

a população cigana de Tomar.

Análise

Afirma não ter existido dificuldades na

criação e formalização da própria

associação, uma vez que foi o continuar de

um projecto que já estava a decorrer

(“Tomar o Rumo Certo”).

Refere que o emprego é um problema, que

ainda está por resolver relativamente aos

ciganos de Tomar.

Análise

Refere-se ao financiamento de fundos

europeus, que foram cedidos às câmaras

municipais que se candidataram ao projecto

mediadores municipais, que surgiu em 2009,

através do ACIDI.

Revela a versatilidade em termos das

diversas actividades que desempenham em

áreas distintas, admite que a área do emprego

é a que revela maior fragilidade.

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Percepções sobre a

exclusão

Considera a cidade de Tomar, uma cidade

com algum preconceito, que começa

sobretudo nas escolas, entre crianças

ciganas e não - ciganas.

Expressa a forte dificuldade da população

cigana em ter acesso a uma habitação, que

se traduz numa forte exclusão habitacional.

Denota a precariedade e as más condições

de habitação em que vivem os ciganos de

Tomar.

A exclusão institucional, é enunciada como

uma das formas de exclusão social patentes

quer na educação (em escolas), na

formação e emprego, na área da saúde, e

na parte de sociabilização, onde as próprias

entidades colocam entraves à inserção da

população cigana.

A população local não cigana, mantém

uma atitude de exclusão face aos ciganos,

é-lhes rejeitado o acesso à habitação,

derivado da imagem negativa que as

pessoas têm dos mesmos.

Admite que a exclusão espacial é mais

sentida que a exclusão social no caso da

população cigana, pois considera que esta

em termos sociais ainda estabelece algum

contacto com a população não cigana.

Revela a dificuldade em ter acesso ao

mercado privado de habitação, neste caso,

pelo facto de os proprietários com base no

preconceito étnico excluírem os ciganos.

Demonstra a falta de interesse e a pressão

pública, que o poder local tem para resolver

os problemas relacionados com a habitação,

com que se depara a população cigana, neste

caso de Coimbra.

Existe a sub-ocupação de habitantes ciganos

a residirem em apartamentos.

A exclusão patente em várias áreas,

começando principalmente nas escolas, e as

instituições públicas a demonstrar uma falta

de interesse relativamente à situação dos

ciganos, tentam afugentá-los dos locais

através da aplicação de multas elevadas.

Percepção sobre

racismo

As crianças ciganas na escola são

colocadas numa turma todas juntas, ficam

socialmente segregadas, e discriminadas

por motivos raciais.

É vedado a entrada dos ciganos em bares

nocturnos, devido também à pressão da

população local não cigana, o estigma e

estereótipo, começa logo nas escolas.

Em Tomar a população local não cigana

tem uma imagem muito negativa sobre os

ciganos da cidade.

E essa má imagem é percepcionada

também nas escolas.

Os ciganos são utilizados como álibi, por

parte de determinadas instituições, baseado

num racismo estrutural.

O racismo existe de ambos os lados, tanto de

ciganos, como de não ciganos.

O racismo estrutural é revelado nas

instituições, que descredibilizam as

capacidades dos ciganos, e, por isso não

insistem na sua integração.

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Embora a ACMET tente ajudar na

aquisição de uma habitação, e mesmo os

alguns ciganos tenham condições para ter

uma habitação condigna, esse acesso é

rejeitado pelos próprios proprietários.

As instituições locais, são as que

demonstram também diversas formas de

racismo para com a população cigana de

Tomar.

O racismo subtil existe também, por exemplo

na área do emprego.

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Tabela 6 - Análise das entrevistas realizadas às Instituições, (continuação)

Temas e subtemas

Entrevista nº4

ONPC

Entrevista nº 5

GACI

ONPC/

GACI

Ciganos portugueses

Percepções sobre a

exclusão

Análise

A Pastoral tem cerca de 41 anos, e o seu principal objectivo é de

prestar ajuda aos ciganos, não só a nível espiritual, como também

nas suas necessidades em geral.

Os ciganos tiveram uma fase na história dos seus antepassados,

em que foram bem aceites em Portugal, pela sociedade de

acolhimento, por serem culturalmente diferentes da sociedade

dominante, mas posteriormente passaram por um período de

exclusão que ainda hoje se mantém, e como forma de se auto -

protegerem, os ciganos tornaram-se pessoas desconfiadas.

A situação de exclusão dos ciganos a nível nacional não é tão

grave quanto a dos ciganos do Leste Europeu, ainda assim,

existem muitos ciganos a viverem em barracas, em condições

degradantes.

Análise

O GACI tem como principais objectivos promover a integração

dos ciganos nas diversas áreas, que são a educação, a saúde, o

emprego e a habitação, assim como divulgar a cultura e as

tradições da população cigana.

Está muito latente a exclusão habitacional, nomeadamente no

mercado privado, em que basta apenas uma pessoa dizer que

pertence à etnia cigana, ou o proprietário se aperceber que se trata

de um cigano (a), que rejeita de imediato o aluguer.

De todos os grupos étnicos, os ciganos são os mais excluídos pela

sociedade, contudo ambas as partes proporcionam situações de

exclusão e afastamento.

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Percepção sobre

racismo

Os ciganos tornam-se alvos vulneráveis pela sua falta de

autonomia, e de reconhecimento, e acabam por ser mal tratados

por algumas entidades, como acontece por exemplo com a polícia.

A nível político (extrema direita), existe diversas formas de querer

terminar com todas as diferenças étnicas, e que se sobrevalorize

uma etnia apenas, que é a dos não ciganos.

A sociedade em geral faz primeiramente juízos de valor com

conotações negativas, sem antes lhes dar (à população cigana), a

oportunidade de tentarem, ou experimentarem uma única vez

(relativamente ao acesso à habitação).

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Tabela 7- Análise das entrevistas realizadas aos Investigadores

Temas e subtemas

Entrevista nº 6

Investigador A

CEMME-FCSH-UNL

Entrevista nº 7

Investigador B

CET/ISCTE

Ciganos portugueses

Percepções sobre a

exclusão

Análise

A população cigana em Portugal, conforme afirma André Clareza,

irá continuar a sentir entraves na sua integração na sociedade

portuguesa, a vários níveis.

A falta de interesse em termos políticos por esta temática, é

enorme, e irá continuar a existir expulsões de famílias ciganas de

conselhos para conselhos, de territórios para outros territórios, de

Norte a Sul do país.

Análise

Evidencia algumas razões que colocam entraves no acesso à

habitação no mercado imobiliário privado, para as famílias

ciganas que querem ter uma habitação, o que irá criar alguma

instabilidade em termos de mobilidade destas mesmas famílias.

Percepção sobre

racismo

As autoridades recorrem à violência para expulsarem a população

cigana, foi o que aconteceu em Vila Verde.

A nível territorial, o sentimento de pertença a um determinado

lugar relativamente à permanência dos ciganos num dado

território, é muitas vezes colocado em causa pela população

maioritária.

Perda de valor dos terrenos, e do valor das habitações,

nomeadamente se forem famílias ciganas realojadas nesse mesmo

espaço.

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O racismo dos não ciganos é muito mais notório e violento,

segundo o entrevistado, no caso do grupo étnico cigano, e não

tanto com imigrantes.

O racismo manifesta-se de várias formas e maneiras, e começa

logo nas escolas portuguesas, quando existem associações de pais

e dirigentes, que por causa do preconceito, e das percepções

negativas dos pais das outras crianças (não ciganas), reforçam a

ideia de proibirem as crianças ciganas de socializarem na mesma

escola que os seus filhos não ciganos.

Os casos de racismo contra os ciganos que acontecem em

Portugal, são na sua maioria, casos que acontecem um pouco por

todo o país.

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Tabela 8 - Análise dos inquéritos por questionário realizados aos ciganos de Tomar

1 Rendimento Social de Inserção

Questões

Número total de inquiridos (20)

I) Caracterização Sociográfica dos

Ciganos de Tomar

Sexo Feminino (13)

Sexo Masculino (7)

Idade

Idades compreendidas entre os 20 anos e os 65 anos.

Idades compreendidas entre os 24 anos e os 75

anos.

Naturalidade

São maioritariamente naturais do distrito de Santarém,

mais concretamente da cidade de Tomar, contudo

existem 2 casos, em que as inquiridas são naturais de

Lisboa e outra de Viseu.

São maioritariamente naturais do distrito de

Santarém, mais concretamente da cidade de

Tomar, contudo existe 1 caso, em que o

inquirido é natural da Guarda.

Estado Civil

A maioria das mulheres é casada segundo a “lei

cigana”.

São casados segundo a “lei cigana”.

Grau de escolaridade

Existe um baixo nível de escolaridade, existem apenas

duas inquiridas com o 9º ano, num total de 13

mulheres, as restantes têm entre o 2º e a 4º ano de

escolaridade do ensino primário.

Existe um baixo nível de escolaridade, que varia

entre o 2º ano do ensino primário e o 9º ano do

3º ciclo.

Tempo de residência em Tomar

O tempo de residência varia entre os 10 anos e os 45

anos.

O tempo de residência varia entre os 18 anos e

os 75 anos.

Situação Laboral

A maioria não tem trabalho, embora estejam inscritas

no Centro de Emprego, existem cerca de 4 que são

estudantes (frequentam cursos do IPEF-Tomar), 5 são

domésticas, 1 está reformada, e as restantes são

feirantes. Recebem o RSI.1

Existem 3 estudantes, frequentam cursos do

IPEF - Tomar), 2 feirantes, 1 desempregado,

estão inscritos no centro de emprego, 1 está

reformado. Recebem o RSI.

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Composição do Agregado Familiar

São maioritariamente jovens e trata-se de famílias com

um nº médio de filhos que ronda os 5 filhos, com

idades entre os 2 e os 30 anos.

São maioritariamente jovens e trata-se de

famílias com um nº médio de filhos que ronda os

5 filhos, com idades entre os 2 e os 30 anos.

II) Condições de habitação

A maioria das habitações não tem água canalizada,

nem saneamento básico, embora tenham electricidade.

Quanto aos equipamentos que dispõem no

acampamento, a maioria tem TV sem cabo, a maioria

não tem automóvel/carrinha, e todas têm telemóvel.

A maioria das habitações não tem água

canalizada, nem saneamento básico, embora

tenham electricidade.

Têm TV sem cabo, a maioria tem carro/carrinha

e possui telemóvel.

Tempo de residência no

acampamento do Flecheiro, (Tomar)

Varia entre os que habitam há cerca de 7 anos, e os

que já vivem lá há mais de 40 anos.

Varia entre os que habitam há cerca de 7 anos, e

os que já vivem lá há mais de 40 anos.

Nº de divisões da habitação

As habitações têm na sua maioria 2 divisões.

As habitações têm na sua maioria 2 divisões.

Principais carências sentidas no

Acampamento

Falta de saneamento básico e água canalizada.

Falta de saneamento básico e água canalizada.

III) Acessibilidade/Mobilidade

Tipo de transporte que mais utiliza

para se deslocar na cidade

Deslocam-se a pé na cidade.

Deslocam-se a pé na cidade.

Suficiência de transportes públicos

perto do acampamento do Flecheiro

A maioria diz que há transportes públicos suficientes

perto do acampamento (autocarros e comboios)

A maioria diz que há transportes públicos

suficientes perto do acampamento (autocarros e

comboios)

Principais problemas no

acampamento do Flecheiro

Más condições de habitação, falta de infra-estruturas

básicas.

Más condições de habitação, falta de infra-

estruturas básicas.

Page 18: Tabela 2 Excertos das entrevistas realizadas às Instituiçõesrepositorio.ul.pt/bitstream/10451/23043/2/igotul004029_anexo.pdf · condições na escola, eu envio cartas, cartas para

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2Associação de Solidariedade Social com a Comunidade Cigana e Minorias Étnicas do Médio Tejo

Tipo de serviços/espaços públicos

frequenta mais na cidade

Cafés, Jardins/Parques, Centro de Saúde/hospital,

Mercado Municipal, Escolas, Supermercado e

Farmácias.

Cafés, Jardins/Parques, Centro de Saúde/hospital,

Mercado Municipal, Escolas, Supermercado e

Farmácias.

IV) Relações de sociabilidade

Relação com os vizinhos não ciganos

A maioria relaciona-se muito bem com os seus

vizinhos.

A maioria relaciona-se muito bem com os seus

vizinhos.

Principais amigos (quem são e onde

residem?)

São os familiares, e residem em Tomar, têm também

amigos não ciganos do quotidiano, que residem na

cidade de Tomar.

São os familiares, e residem em Tomar, têm

também amigos não ciganos, que são/foram

colegas de escola e residem na cidade de Tomar.

Participação associativa ou em

alguma colectividade

A maioria não faz parte duma associação ou

colectividade, apenas 3 mulheres fazem parte

enquanto utentes do Programa Escolhas da ACMET2.

Sim, a maioria faz parte da ACMET e dividem-

se entre utentes e sócios.

Frequência de sociabilização com não

ciganos (na cidade de Tomar)

A maioria costuma socializar frequentemente com os

não ciganos na rua, em espaços públicos, como cafés,

estabelecimentos comerciais e na feira.

A maioria costuma socializar frequentemente

com os não ciganos na rua, e em espaços

públicos, como por exemplo, cafés.

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Como evoluiu nos últimos 10 anos, em

Tomar:

A atitude dos não ciganos para

com os ciganos?

A maioria revela que melhorou a atitude.

A maioria revela que piorou a atitude.

A atitude/aceitação das instituições

públicas?

A maioria revela que piorou a atitude.

A maioria revela que piorou a atitude.

Perda de rendimentos e controle

da actividade profissional - nas

feiras?

A maioria revela que manteve-se inalterada.

A maioria revela que a situação piorou.

A convivência entre ciganos e não

ciganos?

A maioria revela que melhorou.

A maioria revela que melhorou.

A integração social dos ciganos?

A maioria revela que melhorou a sua integração.

A maioria revela que melhorou a sua integração.

A exclusão social dos ciganos?

A maioria revela que manteve-se inalterada.

A maioria revela que a situação piorou.

As condições de habitação dos

ciganos de Tomar?

A maioria revela que manteve-se inalterada.

A maioria revela que manteve-se inalterada.

Participa em festas ou comemorações

municipais

A maioria costuma participar nas festas

municipais, dos tabuleiros, da cerveja, etc.

A maioria costuma participar nas festas

municipais, dos tabuleiros, da cerveja, etc.

Local onde passa a maior parte do dia-a-

dia

Passam a maior parte do tempo em casa, e

no acampamento.

Passam a maior parte do tempo no

acampamento.

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V) Percepções/ Retratos Sociais

Situação discriminação por parte de um

não cigano, em Tomar

A maioria revela não ter sido tratada de forma

discriminatória na cidade.

A maioria revela ter sido tratada de forma

discriminatória na cidade.

Percepção dos ciganos relativa à opinião

dos não ciganos sobre a etnia cigana

A maioria das mulheres ciganas refere que há

muito racismo da parte dos não ciganos de

Tomar, referem que estes pensam muito mal da

sua etnia, e que generalizam muito as situações

pelas quais são normalmente julgados, como

roubos, violência, …e os não ciganos, encaram

os como se fossem “bichos-de-sete-cabeças3”,

ou seja, estranhos.

A maioria dos homens ciganos refere à

semelhança das mulheres que há muito racismo

por parte dos não ciganos de Tomar, e que

também costumam generalizar certas situações

negativas que ocorrem, porque “por um pagam

todos”4, “acham que somos criminosos”

5, “uns

animais selvagens”6.

3 Expressão retirada das respostas dos inquéritos dirigidos à população cigana de Tomar

4 Expressão retirada das respostas dos inquéritos dirigidos à população cigana de Tomar

5 Expressão retirada das respostas dos inquéritos dirigidos à população cigana de Tomar

6 Expressão retirada das respostas dos inquéritos dirigidos à população cigana de Tomar