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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM SANEAMENTO AMBIENTAL ANNELISE MACHADO DA SILVA HELLAYNE CAROLINE PACHECO FERREIRA PROJETO SANITÁRIO ECOLÓGICO SECO: EFICÁCIA, EFETIVIDADE E PROMOÇÃO DA SAÚDE

TAC 25 junho 2013

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SERVIÇO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁCURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM SANEAMENTO AMBIENTAL

ANNELISE MACHADO DA SILVAHELLAYNE CAROLINE PACHECO FERREIRA

PROJETO SANITÁRIO ECOLÓGICO SECO: EFICÁCIA, EFETIVIDADE E PROMOÇÃO DA SAÚDE

BELÉM2013

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM SANEAMENTO AMBIENTAL

ANNELISE MACHADO DA SILVAHELLAYNE CAROLINE PACHECO FERREIRA

PROJETO SANITÁRIO ECOLÓGICO SECO: EFICÁCIA, EFETIVIDADE E PROMOÇÃO DA SAÚDE

Trabalho Acadêmico de Conclusão de Curso apresentado ao Colegiado Específico do Curso Superior de Tecnologia em Saneamento Ambiental do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA, como requisito para obtenção do Grau de Tecnólogo em Saneamento Ambiental, sob orientação da Profª. Dra. Cezarina Maria Nobre Souza.

BELÉM2013

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Page 3: TAC 25 junho 2013

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM SANEAMENTO AMBIENTAL

ANNELISE MACHADO DA SILVAHELLAYNE CAROLINE PACHECO FERREIRA

PROJETO SANITÁRIO ECOLÓGICO SECO: EFICÁCIA, EFETIVIDADE E PROMOÇÃO DA SAÚDE

Data da Defesa: ___/___ /___

Conceito: ________________

Banca Examinadora

___________________________________________Profª. Dra. Cezarina Maria Nobre Souza, IFPA

(Orientadora)

__________________________________________Prof

Examinador Interno

____________________________________________Prof

Examinador Externo

3

Page 4: TAC 25 junho 2013

Aos nossos familiares e amigos, que estiveram sempre ao nosso lado nos apoiando em todos os momentos de nossas vidas, e que nos ajudaram a realizar esta conquista.

4

Page 5: TAC 25 junho 2013

AGRADECIMENTOS

À toda nossa família, especialmente nossos pais, que contribuíram de alguma

forma para que pudéssemos alcançar nossos objetivos.

À nossa orientadora Professora Cezarina Maria Nobre Souza, que apesar de

tudo, nunca desistiu de nós. Muito obrigado pela sua paciência em todos esses

anos, sua boa vontade e pelos seus ensinamentos.

À FAPESPA, que nos ajudou financiando esta pesquisa com bolsa de

iniciação científica.

Por último e não menos importante, à toda turma de Tecnologia em

Saneamento Ambiental do ano de 2009, pela contribuição mútua com nossos

estudos e projetos.

5

Page 6: TAC 25 junho 2013

“(...) A força decisiva terá de vir do nosso interior, onde se depositou a bagagem de nossa vida”.

Lya Luft

(Pensar é Transgredir, 2004, p.72)

6

Page 7: TAC 25 junho 2013

RESUMO

Este estudo se propôs a avaliar o Projeto Sanitário Ecológico Seco, implantado em

Belém, na ilha Jutuba, do ponto de vista de sua eficácia objetiva; de sua efetividade

subjetiva e da Promoção da Saúde. Para essa finalidade, se realizou entrevistas

com usuários, assim como pesquisas documentais e bibliográficas. Os resultados

obtidos indicam que a intervenção não alcançou eficácia objetiva e efetividade

subjetiva; e também não se alinha à proposta de um saneamento alicerçado na

Promoção da Saúde. Foram propostas recomendações com o objetivo de corrigir os

indicativos de ineficácia e não efetividade, realizando ações mais profundas e

efetivas de educação ambiental; exames parasitológicos do material compostado;

estabelecimento de parcerias para o fornecimento da serragem e da cal; dentre

outros.

PALAVRAS-CHAVE: Saneamento, Sustentabilidade, Sanitário Ecológico Seco,

Eficácia, Efetividade, Promoção da Saúde

7

Page 8: TAC 25 junho 2013

ABSTRACT

This study is proposed to evaluate the Ecological Dry Sanitation Project deployed in

Belém, on the island Jutuba, from the point of view of its effectiveness objective; his

subjective effectiveness and health promotion. For this purpose, were done

interviews with users, as well as documentary and bibliographic research. The results

obtained indicate that the intervention did not reach the effectiveness objective and

subjective effectiveness also; and does not line up to the proposal for sanitation

based on health promotion. Recommendations were proposed in order to correct the

inefficiency and indicative of not effectiveness, performing actions deeper and

effective environmental education; parasitological examinations of composted

material; partnerships for the supply of sawdust and lime, among others.

KEYWORD: Sanitation, Sustainability, Ecological Dry Sanitation, Efficiency,

Effectiveness, Health Promotion.

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Page 9: TAC 25 junho 2013

LISTA DE FIGURAS

1 Localização geográfica da Ilha de Jutuba...................................................... 21

2 Pirâmide etária da ilha Jutuba, ano 2010....................................................... 22

3 Distribuição de renda familiar, ilha Jutuba, ano 2010...................................... 23

4 Perfil da escolaridade dos moradores da Ilha Jutuba, ano 2010..................... 24

5 Imagem dos sanitários antes da aplicação do projeto..................................... 27

6 SES implantado na ilha de Jutuba, ano 2010.................................................. 28

7 Húmus Sapiens, IPEC-Góias, Brasil................................................................ 29

8 Vaso sanitário com separadores de dejetos.................................................... 30

9 Coletor de urina e a chaminé na parte de trás do sanitário............................. 31

10 Modelo do sanitário ecológico seco na ilha de Jutuba.................................... 32

11 Kit de construção do sanitário ecológico seco................................................. 33

12 Percentual de pessoas com sintomas digestivos na ilha de Jutuba................ 52

13 Percentual de pessoas com sintomas circulatórios na ilha de Jutuba............. 52

9

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LISTA DE TABELAS

1 População feminina distribuída por ocupação na ilha de Jutuba de 2008 a

2010)............................................................................................................ 22

2 População masculina distribuída por ocupação na ilha de Jutuba de 2008

a 2010............................................................................................................ 23

3 Número de domicílios, número de moradores das ilhas, média de tempo

de moradia por domicílio em anos e média de morador por domicilio na

ilha de Jutuba no ano de 2010....................................................................... 24

4 Distribuição percentual das famílias por situação de residência, segundo características selecionadas..........................................................................

25

5 Roteiro de perguntas destinadas aos usuários para avaliação da eficácia

objetiva e da efetividade subjetiva da intervenção......................................... 45

6 Roteiro de perguntas destinadas aos usuários para avaliação da

intervenção do ponto de vista da Promoção da Saúde................................. 46

7 Roteiro de perguntas destinadas aos idealizadores/executores da

intervenção para avaliação da intervenção do ponto de vista da Promoção

da Saúde e da efetividade subjetiva.............................................................. 47

8 Percentual de moradores que se queixam de doenças nas ilhas Jutuba,

Nova e Urubuoca, por doenças..................................................................... 50

9 Ideias centrais das respostas à pergunta 1 (Como está a ocorrência de

doenças intestinais na comunidade depois da implantação do

projeto?)......................................................................................................... 53

10 Ideias centrais das respostas à pergunta 2 (O que é ter saúde para

você?)............................................................................................................ 54

11 Ideias centrais das respostas à pergunta 3 (O que é ter higiene para

você?)............................................................................................................ 55

10

Page 11: TAC 25 junho 2013

12 Ideias centrais das respostas à pergunta 4 (Qual a importância do

ambiente para você?).................................................................................... 56

13 Ideias centrais das respostas à pergunta 5 (O que você acha dos direitos e

deveres que você tem como cidadão?)......................................................... 57

14 Ideias centrais das respostas à pergunta 6 (Como você produz o

adubo?).......................................................................................................... 58

15 Ideias centrais das respostas à pergunta 7 (Qual o destino que você dá ao

adubo que produz?)....................................................................................... 58

16 Resumo da Avaliação da Eficácia Objetiva................................................... 59

17 Ideias centrais das respostas à pergunta 11 (Como ficou sua vida depois

do projeto, em termos de facilidades e dificuldades)..................................... 60

18 Resumo da Avaliação da Efetividade Subjetiva............................................. 62

19 Ideias centrais das respostas à pergunta 1 (Qual o objetivo do projeto

Sanitário Ecológico Seco?)............................................................................ 63

20 Ideias centrais das respostas à pergunta 2 (Como está sendo o

funcionamento do projeto desde que foi implantado?).................................. 64

21 Ideias centrais das respostas à pergunta 3 (Que pessoas e instituições

atuaram no processo de implantação do projeto?)........................................ 64

22 Ideias centrais das respostas à pergunta 4 (Como você ficou sabendo do

projeto?)......................................................................................................... 65

23 Ideias centrais das respostas à pergunta 5 ( Que orientações você

recebeu sobre o funcionamento do sanitário ecológico seco? Quem

orientou?)....................................................................................................... 66

24 Ideias centrais das respostas à pergunta 6 (Quem foi o responsável pelo

projeto na época da implantação? Quem é responsável

atualmente?).................................................................................................. 66

11

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25 Ideias centrais das respostas à pergunta 7 (Quais as facilidades e

dificuldades que você, idosos e crianças têm no dia-a-dia para fazer uso

do vaso sanitário implantado pelo projeto?).................................................. 67

26 Ideia central da resposta à pergunta 1 (Qual o objetivo do projeto Sanitário Ecológico Seco?)...........................................................................................

68

27 Ideia central da resposta à pergunta 2 (Como está sendo o funcionamento

do projeto desde que foi implantado?)........................................................... 69

28 Ideia central da resposta à pergunta 3 (Que pessoas e instituições

atuaram no processo de implantação do projeto?)........................................ 70

29 Ideia central da resposta à pergunta 4 (Como foi a tomada de decisão

para a implantação do projeto?).................................................................... 70

30 Ideia central da resposta à pergunta 5 (Como e quais foram as ações de

educação realizadas?).............................................................................. 71

31 Ideia central da resposta à Pergunta 6 (Quem foi o responsável pelo

projeto na época da implantação? Quem é responsável atualmente?)......... 72

32 Ideia central da resposta à pergunta 7 (De onde foi adotada a tecnologia

implantada? Quem foi o responsável pelo projeto na época da

implantação?)................................................................................................. 72

33 Resumo da Avaliação do Ponto de Vista da Promoção da Saúde................ 73

12

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 15

2 OBJETIVO................................................................................................. 17

2.1 OBJETIVO GERAL.................................................................................... 17

2.2 OBJETIVO ESPECÍFICOS........................................................................ 17

3 JUSTIFICATIVA........................................................................................ 19

4 REVISÃO DA LITERATURA.................................................................... 21

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ARÉA DO ESTUDO.......................................... 21

4.1.1 Indicadoredemográficos............................................................................ 21

4.1.2 Indicadores socioeconômicos.................................................................... 22

4.1.3 Indicadores habitacionais.......................................................................... 23

4.1.4 Indicadores educacionais.......................................................................... 24

4.1.5 Indicadores Epidemiológicos..................................................................... 25

4.1.6 Indicadores de Saneamento...................................................................... 25

4.2 TECNOLOGIA SANITÁRIA E ECOLÓGICO A SECO.............................. 28

4.2.1 Aspectos Gerais........................................................................................ 28

4.2.2 Funcionamento e operação....................................................................... 30

4.2.3 Vantagens limitações................................................................................ 32

4.3 AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA E EFETIVIDADE DE POLÍTICAS E

AÇÕES....................................................................................................... 36

4.4 SAÚDE, AMBIENTE, HIGIENE, POLITÍCA, SANEAMENTO E

CIDADANIA............................................................................................... 38

4.5 SANEAMENTO E PROMOÇÃO DE SAÚDE............................................. 40

13

Page 14: TAC 25 junho 2013

5 METODOLOGIA........................................................................................ 43

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................ 49

6.1 AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA OBJETIVA.................................................... 49

6.1.1 Perfil Epidemiológico Local........................................................................ 49

6.1.2 Percepções dos usuários sobre saúde, higiene, ecologia e cidadania...... 54

6.1.3 Avaliação do rendimento das famílias após o projeto SES....................... 57

6.1.4 Resumo da avaliação da eficácia.............................................................. 59

6.2 AVALIAÇÃO DA EFETIVIDADE SUBJETIVA............................................ 60

6.2.1 Percepções da população usuária sobre o impacto do projeto em sua vida............................................................................................................

60

6.2.2 Percepções dos idealizadores/executores sobre o impacto do projeto na Vida dos usuários....................................................................................... 61

6.2.3 Resumo da Avaliação da Efetividade Subjetiva......................................... 61

6.3 AVALIAÇÃO DO PONTO DE VISTA DA PROMOÇÃO DA SAÚDE.......... 62

6.3.1 Percepções dos usuários........................................................................... 63

6.3.2 Percepções dos idealizadores/executores................................................. 68

6.3.3 Resumo da Avaliação do Ponto de Vista da Promoção da Saúde............ 73

7 CONCLUSÃO............................................................................................ 75

8 RECOMENDAÇÕES.................................................................................. 76

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................... 78

APÊNDICE 81

ANEXO 83

1. INTRODUÇÃO

14

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No mundo, pode-se observar constantemente a triste realidade da ocupação

humana em lugares onde não há condições adequadas e saudáveis. Esse fato

atinge o Brasil de maneira grave, uma vez que é precária a estrutura de saneamento

no País.

Mas, apesar das grandes dificuldades, estão sendo realizadas intervenções

com objetivo de transformar essa realidade e fazer com que a população possa não

só viver, como também conseguir isso de maneira mais saudável. A construção de

sanitários ecológicos secos é uma alternativa usada para promover essas mudanças

de vida na população.

Considerando as dificuldades enfrentadas nas ilhas do entorno de Belém em

relação à precariedade sanitária, a Cáritas Metropolitana de Belém (CAMEBE)

implantou o projeto Sanitário Ecológico Seco (SES) nas ilhas Jutuba, Urubuoca e

Nova, no período compreendido entre abril de 2008 e 2010, com os objetivos de

diminuir a incidência de doenças causadas pela falta de saneamento na

comunidade; promover a educação da população em relação à saúde, higiene,

ecologia e cidadania; promover melhores condições de higiene para as famílias

beneficiadas; contribuir para o aumento da renda familiar através da venda do adubo

orgânico produzido (CAMEBE, 2008).

Levando em conta a relevância de tal projeto e sua replicação prevista para

outras ilhas, o presente estudo visa a analisar especificamente o projeto implantado

em Jutuba, a partir de aspectos relacionados à sua eficácia e efetividade, assim

como à teoria da Promoção da Saúde.

Dessa forma, trata-se de um estudo avaliativo conduzido a partir,

basicamente, dos referenciais teóricos propostos por Figueiredo e Figueiredo (1986),

Souza, Freitas e Moraes (2007) e Souza e Freitas (2009), e cuja metodologia incluiu

15

Page 16: TAC 25 junho 2013

pesquisa bibliográfica e entrevistas com usuários dos sanitários ecológicos e

profissionais que fazem parte do corpo de voluntários da Cáritas.

Nas seções seguintes, são apresentados em detalhes os objetivos (seção 2)

e justificativas do trabalho (seção 3); a revisão da literatura (seção 4); a metodologia

(seção 5); os resultados obtidos e sua análise (seção 6) e, finalmente as

recomendações julgadas relevantes às futuras intervenções (seção 7).

2. OBJETIVOS

16

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2.1. OBJETIVO GERAL

Avaliar o projeto SES implantado em Belém, na ilha Jutuba, do ponto de vista:

de sua eficácia objetiva, ou seja, se os resultados alcançados são iguais,

superiores ou inferiores aos objetivos propostos;

de sua efetividade subjetiva, isto é, se, na percepção da população usuária,

os resultados alcançados se adéquam aos seus desejos, aspirações e

demandas;

da Promoção da Saúde (PS), ou seja, se sua forma de planejamento,

implantação e gestão, a tecnologia utilizada, sua sustentabilidade ao longo do

tempo e a participação da população local se alinham ao perfil de um

saneamento alicerçado no ideário da Promoção da Saúde.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Da avaliação da eficácia objetiva:

identificar o perfil epidemiológico da população local em relação a doenças

ligadas aos dejetos;

identificar a percepção de usuários sobre saúde, higiene, ecologia e cidadania;

avaliar a contribuição da intervenção para o aumento da renda das famílias

usuárias com a venda de adubo;

propor ações corretivas, caso os resultados indiquem ineficácia;

propor ações preventivas para que as possíveis dificuldades identificadas para

ao alcance da eficácia sejam evitadas em futuras intervenções.

Da avaliação da efetividade subjetiva:

17

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identificar a percepção de usuários sobre o impacto do projeto em sua vida;

identificar a percepção de membros da Cáritas que atuaram como

idealizadores/executores da intervenção sobre o impacto do projeto na vida

dos usuários;

comparar as percepções de usuários e idealizadores/executores;

propor ações corretivas, caso os resultados indiquem não-efetividade;

propor ações preventivas para que as possíveis dificuldades identificadas

para ao alcance da efetividade sejam evitadas em futuras intervenções.

Da avaliação do ponto de vista da Promoção da Saúde:

identificar percepções de usuários e idealizadores/executores a respeito da

intervenção a partir de aspectos relevantes para a Promoção da Saúde, tais

como a forma de planejamento, implantação e gestão do projeto, a tecnologia

utilizada, sua sustentabilidade ao longo do tempo, a participação da

população local, dentre outros;

propor ações que contribuam para que a intervenção a atual e as futuras

intervenções possam contemplar as ideias de Promoção da Saúde.

3. JUSTIFICATIVA

18

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Como já dito, o projeto SES foi implantado pela Cáritas em Jutuba e em

outras ilhas com o fim de atender aos seguintes objetivos: diminuir a incidência de

doenças causadas pela falta de saneamento na comunidade; promover a educação

da população em relação à saúde, higiene, ecologia e cidadania; promover melhores

condições de higiene para as famílias beneficiadas; contribuir para o aumento da

renda familiar através da venda do adubo orgânico produzido (CAMEBE, 2008).

Assim, é relevante avaliar se tal programa teve eficácia, efetividade e como

pode ser compreendido do ponto de vista do ideário da Promoção da Saúde

considerando que seus objetivos são significativos para a população local no que diz

respeito a sua saúde e sua qualidade de vida; que a Cáritas pretende estendê-lo

para outras ilhas, e que Jutuba foi a primeira ilha a recebê-lo e onde se supõe que já

tenha passado a fazer parte da vida cotidiana dos moradores beneficiados.

Quanto à eficácia, segundo Figueiredo e Figueiredo (1986), acerca de uma

ação ou política é importante avaliar se as metas traçadas foram alcançadas e em

que medida isto se deu. A esse parâmetro, os autores dão o nome de eficácia

objetiva, conforme apresentado na seção 4.3 (Avaliação da eficácia e efetividade de

ações e políticas), o que, no presente caso, consiste em avaliar se houve redução

da incidência de doenças ligadas aos dejetos após a intervenção; se as ações de

educação ambiental contribuíram para uma percepção ampliada de saúde, higiene,

ecologia e cidadania por parte da população; se as condições de higiene locais

sofreram impacto positivo; se houve aumento da renda familiar em decorrência da

venda do adubo produzido.

No que tange à efetividade, Figueiredo e Figueiredo (1986) afirmam que é

significativo avaliar o impacto de uma ação ou política, enquanto propiciadoras de

mudanças, sobre as condições de vida da população-alvo. No presente caso, esse

19

Page 20: TAC 25 junho 2013

parâmetro foi avaliado a partir de sua dimensão subjetiva, conforme apresentado na

seção 4.3 (Avaliação da Eficácia e Efetividade de ações e políticas), com base na

percepção da população local e dos membros da Cáritas, enquanto idealizadores e

executores das ações, em relação à melhoria da qualidade de vida após a

intervenção.

Finalmente, em relação à avaliação do ponto de Promoção da Saúde –

ideário apresentado na seção 4.5 (Saneamento e Promoção da Saúde) – sua

relevância é destacada por Souza, Freitas e Moraes (2007), ao considerarem que tal

ideário constitui suporte consistente e capaz de fortalecer as ações de saneamento

em seus impactos sobre a saúde pública e ambiental. No presente caso, a avaliação

consistiu em analisar os possíveis pontos de convergência e de afastamento entre o

projeto e o ideário.

4. REVISÃO DA LITERATURA

20

Page 21: TAC 25 junho 2013

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Jutuba, com 1.700 hectares de extensão territorial (CAMEBE, 2008), é uma

das 39 ilhas que compõem a região insular do município de Belém. A Figura 1, a

seguir, indica sua localização.

Figura 1: Localização geográfica da ilha JutubaFonte: Google Earth (2011)

Duarte e Silva (2011), em estudo realizado com dados de 2010,

identificaram o perfil da população da ilha Jutuba, por meio de indicadores

demográficos, socioeconômicos, habitacionais, educacionais, epidemiológicos e de

saneamento, os quais são apresentados nas subseções a seguir.

4.1.1- Indicadores Demográficos

Segundo Duarte e Silva (2011), a ilha de Jutuba apresenta população de 182

habitantes, sendo 105 homens e 77 mulheres. Entre os homens, a faixa etária

predominante está compreendida entre 15 e 25 anos. Entre as mulheres, predomina

a faixa etária entre 11 e 14 anos. São menos numerosos os habitantes que estão

entre 1 e 4 anos de ambos os sexos, e também os idosos, como mostra a Figura 2,

a seguir.

21

Belém/Continente

Jutuba

Page 22: TAC 25 junho 2013

Figura 2: Pirâmide etária da ilha Jutuba, ano 2010Fonte: Duarte e Silva (2011)

4.1.2- Indicadores Socioeconômicos

De acordo com os dados de Duarte e Silva (2011), a maior parte da

população feminina de Jutuba trabalha em casa (categorizada como “do lar”),

alcançando percentual de 46,51%, conforme a Tabela 1, a seguir. Em segundo lugar

aparece a ocupação de pescadora com 13,95%.

Tabela 1: População feminina distribuída por ocupação na ilha de Jutuba de 2008 a 2010 Ocupação Proporção da população feminina (%)

Saúde 2,33

Pescadora 13,95

Comércio 0

Do lar 46,51

Extrativista 0

Outros 9,3

Fonte: Duarte e Silva (2011)

22

Page 23: TAC 25 junho 2013

Quanto à população masculina, sua ocupação principal é a pesca, conforme

mostra a Tabela 2.

Tabela 2: População masculina distribuída por ocupação na ilha de Jutuba de 2008 a 2010Ocupação Proporção da população masculina

Feminina (%)

Pesca 77,94Extrativismo 1,47

Outros 7,35

Ignorado 13,24

Fonte: Duarte e Silva (2011)

No que tange à renda familiar, a Figura 3, a seguir, indica que há prevalência

da faixa salarial correspondente a menos de um salário mínimo, seguida da faixa

compreendida entre um e dois salários.

Figura 3: Distribuição de renda familiar, ilha Jutuba, ano 2010Fonte: adaptado de Duarte e Silva (2011)

4.1.3- Indicadores Habitacionais

De acordo com Duarte e Silva (2011), a ilha de Jutuba possui os seguintes

dados habitacionais:

23

Page 24: TAC 25 junho 2013

Tabela 3:Número de domicílios, número de moradores das ilhas, média de tempo de moradia por domicílio em anos e média de morador por domicilio na ilha de Jutuba no ano de 2010

Nº de domicílios Nº de moradores Média do tempode moradia por

domicilio em anos

Média de moradores/domicíli

o

79 182 25,75 2,3Fonte: Duarte e Silva (2011)

Na ilha há predominância de palafitas, que são casas de madeira suspensas

por colunas que asseguram sua sustentação em um nível acima das águas da Baía

de Guajará, de modo a não serem inundadas no período de cheia (DUARTE E

SILVA, 2011).

4.1.4- Indicadores Educacionais

Segundo Duarte e Silva (2011), a ilha de Jutuba possui uma única escola

com organização multisseriada, atendendo do 2º ao 5º ano do ensino fundamental,

que funciona dentro de uma igreja, em precárias condições físicas e pedagógicas.

Porém, em visita in loco realizada no âmbito do presente trabalho, as pesquisadoras

constataram a existência de outra escola de ensino fundamental, localizada do outro

lado da ilha, mais ampla e menos precária que a já citada. A Figura 4, a seguir,

apresenta o perfil de escolaridade da população da ilha.

Figura 4: Perfil da Escolaridade dos moradores da ilha de Jutuba, ano 2010Fonte: Duarte e Silva (2011)

24

Page 25: TAC 25 junho 2013

Segundo Duarte e Silva (2011), é prevalente, com percentual de 77,02%, o

grau de escolaridade relativo ao ensino fundamental; muito próximos se

apresentaram os percentuais de analfabetos (6,21%) e daqueles que cursam o

ensino médio (5,59%); alcançam o percentual de 10,56% aqueles que cursam

ensino técnico, pessoas que sabem ler e escrever, porém nunca estudaram e

ignorados,os quais foram contabilizados na categoria “outros”; é muito baixo (0,62%)

o percentual relativo aos possuidores de escolaridade em nível superior.

4.1.5- Indicadores Epidemiológicos

Duarte e Silva (2011) construíram indicadores epidemiológicos que

interessam a este estudo, uma vez que um dos objetivos aqui almejados, conforme

indicado na seção 2 (Objetivos), é identificar o perfil epidemiológico da população

local em relação a doenças ligadas aos dejetos.

Exatamente por essa razão, os mesmos são apresentados na seção 6

(Resultados), subseção 6.1.1 (Identificação do perfil epidemiológico).

4.1.6- Indicadores de Saneamento

A Tabela 4, a seguir, sumariza o perfil da ilha quanto ao saneamento básico.

Tabela 4: Distribuição percentual das famílias por situação de residência, segundo características selecionadas

Características % na ilha de JutubaProcedência da água para beber

Chuva 50,94

Poço ou Nascente 32,08

Rio 3,77

25

Page 26: TAC 25 junho 2013

Outros 1,89

Ignorado 11,32

Tratamento da água para beber

Filtração 5,66

Cloração 20,75

Filtrada e Clorada 0

Fervura 1,89

Sem tratamento 13,21

Ignorado 3,77

Destino do lixo

Queima 81,13

Queima e enterra 0

Rio 1,89

Céu aberto 3,77

Outros 9,43

Ignorado 13,21

Destino dos Dejetos

Fossa Séptica 9,43

Fossa Negra 58,49

Banheiro Ecológico 1,89

Céu aberto 18,87

Ignorado 1,89

Fonte: Duarte e Silva (2011)

Os dados da Tabela 4 revelam que na maioria das residências de Jutuba

(50,94%) a água utilizada para beber é proveniente da chuva. Isto se dá, segundo

26

Page 27: TAC 25 junho 2013

Duarte e Silva (2011), por conta da utilização do sistema de captação e tratamento

de água de chuva implantado pela CAMEBE no local.

Quanto ao destino do lixo, os dados mostram que há prevalência da queima

(81,13%). Compõe esse material tanto o lixo produzido no local quanto o

transportado do continente pelas marés, conforme observação feita por estas

pesquisadoras. São restos de comida, garrafas plásticas e latas, os quais ficam à

deriva às margens da Baía do Guajará ou acumulam-se no solo inundável, debaixo

das casas, onde animais domésticos criados pelos moradores, como porcos e aves

costumam procurar alimento.

No que diz respeito à destinação dos dejetos, a maior parte da população

(58,49%) utiliza a fossa negra, o que contribui para a poluição do solo e das águas

dos rios e igarapés locais.

A Figura 5, a seguir, revela a situação em que se encontravam os sanitários

utilizados pelos moradores, antes da implantação do projeto SES.

Figura 5: Imagem dos sanitários antes da aplicação do projetoFonte: CAMEBE (2008)

A implantação do citado projeto teve início em 2008 com a realização de

palestras de educação ambiental sobre temas ligados à saúde, higiene e cidadania e

27

Page 28: TAC 25 junho 2013

também voltadas ao treinamento dos moradores para o uso do sanitário. Nesse

período, foi implantado em apenas uma residência o primeiro SES da ilha, sendo

chamado de sanitário piloto, mostrado na Figura 6. Em 2010, um total de 54

sanitários foram entregues à comunidade para o atendimento dos 128 habitantes da

ilha.

Figura 6: SES implantado na ilha de Jutuba, ano 2010Fonte: CAMEBE (2008)

4.2 - TECNOLOGIA SANITÁRIO ECOLÓGICO

4.2.1- Aspectos Gerais

Essa tecnologia é simples e econômica que não utiliza água. Consiste em

um processo bioquímico que gera como produto final um adubo rico em nutrientes, a

partir das fezes. Também é produzido por um processo de transformação da ureia

em amônia um inseticida natural a partir da urina.

Denominada de “húmus sapiens”, essa tecnologia compreende um sistema

integrado de aproveitamento dos dejetos constituído de sanitários compostáveis e

um minhocário, conforme mostra a Figura 7, que ilustra o sistema adotado pelo

Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado – IPEC, localizado no município de

28

Page 29: TAC 25 junho 2013

Pirenópolis, no Estado de Goiás. As experiências desenvolvidas nesse Instituto

revelam que o emprego dessa tecnologia também propicia a implantação de eco-

centros, que são espaços criados para demonstrar a viabilidade dos princípios da

permacultura (cultura permanente), com a função de desenvolver e adaptar soluções

para problemas relacionados à ocupação humana em regiões onde o sistema de

saneamento básico é precário, principalmente em áreas rurais (IPEC, 2005).

Figura 7: Humus sapiens, IPEC – Goiás, BrasilFonte: IPEC (2005)

Apesar de recente no Brasil, onde ficou conhecida justamente por meio do

IPEC, não se trata de uma inovação, mas de um conjunto de adaptações

tecnológicas suscitadas pela preocupação com o ambiente, que se tornou crescente

com o passar dos anos. Instituições dos Estados Unidos, Inglaterra, Canadá,

Suécia, Noruega, Nova Zelândia e Austrália já desenvolvem essa tecnologia

(ALVES, 2009), além de outras que atuam em países como Chile, Finlândia, México,

Peru e Zimbábue e região da Palestina (BANHEIRO SECO ECOLÓGICO, 2010).

Para Alves (2009), o discurso sustentável e a bandeira de conservação

ambiental que envolvem essa tecnologia impulsionaram o surgimento, em alguns

países, de empresas especializadas na produção de sanitários ecológicos secos

29

Page 30: TAC 25 junho 2013

pré-fabricados e padronizados, com denominações de “drytoilet”, “compostingtoilet”,

“ecologicaltoilet” e “el baño ecológico seco”.

Trata-se de algo que atende as necessidades do homem e melhora sua

relação com a natureza, assegurando saúde pública, empoderamento comunitário e

preservação ambiental (BANHEIRO SECO ECOLÓGICO, 2010).

4.2.2- Funcionamento e Operação

Internamente o SES é composto por duas câmaras separadas entre si: uma

coleta a urina e a outra coleta as fezes.

A Figura 8, a seguir, ilustra o vaso sanitário.

Figura 8: Vaso sanitário com separadores de dejetosFonte: CAMEBE (2008)

A urina, coletada na câmara da frente do vaso, é conduzida para uma

garrafa do tipo PET (politereftalato de etila) com auxílio de uma mangueira. Durante

3 dias, em um recipiente fechado a urina se transforma em amônia (ureia natural). É

recomendado para cada 1 litro de preparo de urina 100 litros de água para a

pulverização a cada 15 dias (RECEITAS AGROECOLÓGICAS, 2011). A figura 9, a

30

Page 31: TAC 25 junho 2013

seguir, mostra a localização do coletor de urina e do tubo de ventilação também

existente.

Figura 9: Coletor de urina e a chaminé na parte de trás do sanitárioFonte: CAMEBE (2008)

As fezes são coletadas na câmara de trás, onde devem ser adicionadas cal

e serragem. Esse conteúdo é depositado em outro compartimento, denominado

câmara de armazenamento e compostagem, localizado embaixo do sanitário. Nessa

câmara a cal e a serragem são responsáveis por neutralizar odores e acelerar a

compostagem, ao final da qual há formação de uma mistura fermentada de restos

orgânicos, rica em húmus e microrganismos, e que pode ser utilizada como

fertilizante para o solo (MARTINS, 2007 APUD CETESB, 2007).

Quando a câmara de compostagem de um vaso está cheia, ela é selada,

enquanto outro conjunto de vaso sanitário e câmara de compostagem passam a ser

utilizados (processo de alternância). Assim, os resíduos devem ficar em

compostagem durante seis meses. Decorrido esse tempo, os resíduos compostados

são removidos, tornando a câmara ativa novamente (CAMEBE, 2008). Ao serem

removidos esses resíduos podem ser conduzidos a um minhocário, onde vira

húmus, composto utilizado como adubo. A Figura 10, a seguir, mostra o modelo do

31

Page 32: TAC 25 junho 2013

SES implantado pela CAMEBE em Jutuba. Ressalta-se que nessa ilha o sanitário

implantado não contém o minhocário.

Figura 10: Modelo do sanitário ecológico seco na Ilha de JutubaFonte: CAMEBE (2008)

4.2.3- Vantagens e Limitações

De acordo com Martins (2007), podem–se citar vantagens e desvantagens

da tecnologia SES.

A) Vantagens

São consideradas as seguintes vantagens:

Economia de água e recursos financeiros

Com o sistema SES não ocorre um desperdício de água e, quando instalado

em locais abastecidos por rede pública, influencia diretamente na diminuição dos

custos de forma geral.

Simplicidade na construção

Sua construção é simples, pois, como foi dito anteriormente, o SES não

necessita de instalações hidráulicas. Além disso, Martins (2007) afirma que pode ser

32

Page 33: TAC 25 junho 2013

construído em diversos modelos, em alvenaria ou madeira, e também com materiais

ecológicos como adobe (técnica de construção natural em que são fabricados blocos

a partir da mistura de barro, palha e água), superadobe (técnica de construção em

que sacos ou tubos de polipropileno preenchidos com terra são empilhados e

socados para dar formação a uma parede estrutural) ou taipa. A única exigência

para o bom funcionamento é que a câmara de compostagem seja impermeabilizada.

No caso de Jutuba, foram disponibilizados para os moradores kit’s para a

construção (Figura 11). Cada um possuía os equipamentos necessários para a

construção de um sanitário ecológico: dois vasos sanitários, tampa para lacrar os

vasos e a câmara de compostagem.

Figura 11: Kit de construção do sanitário ecológico secoFonte: CAMEBE (2008)

Fonte de adubo e inseticida

Uma das principais vantagens do SES é a capacidade, como já dito, de

produzir adubo rico em nutriente a partir das fezes, permitindo a reutilização do

material como composto orgânico, auxiliando na economia de adubos químicos,

assim como também o aproveitamento da urina para a produção de inseticida

natural.

33

Page 34: TAC 25 junho 2013

Divulgação de sistema de saneamento alternativo e ecológico

A eficiência do sistema implantado em um local poderá incentivar outras

comunidades do entorno a utilizarem a tecnologia. Além disso, é positivo incentivar

comunidades a criar estratégias para solucionar seus problemas, de modo a se

tornarem menos dependentes dos serviços das entidades governamentais

(MARTINS 2007), sem que isso, contudo, venha a diminuir a responsabilidade do

governo quanto à oferta de serviços como o de saneamento.

Tecnologia simples e fácil de ser replicada

Trata-se de uma tecnologia simples, e o modelo implantado em Jutuba não

foge à regra. Sendo utilizada corretamente, é capaz de gerar resultados efetivos,

como economia de água e capital, geração de renda, entre outros, tornando-se fácil

de ser introduzida em outras localidades onde haja ausência de serviços de

saneamento, principalmente em zonas rurais.

Além das vantagens a que Martins (2007) se refere, há outras como a

redução do contato humano com doenças contagiosas que são causadas pela

ingestão de água e alimentos contaminados ou pelo contato feco-oral; a prevenção

da contaminação de mananciais pelo lançamento de esgotos “in natura”, o que

contribui para a salubridade ambiental.

B) Limitações

São consideradas as seguintes limitações para o SES:

34

Page 35: TAC 25 junho 2013

Demanda por ações de educação

Para que o SES funcione corretamente buscando alcançar a

sustentabilidade das ações, é necessário que se tenha alguns cuidados no seu uso

como: não deixar de lacrar o segundo vaso sanitário com a tampa para que este não

seja utilizado até que se passem seis meses de uso do primeiro vaso ou que esteja

com seu volume útil ocupado; não jogar água ou qualquer tipo de material inorgânico

(absorventes higiênicos e papel higiênico, por exemplo) dentro do vaso sanitário,

pois estes podem comprometer a qualidade do material a ser compostado. O

tratamento de compostagem do material orgânico requer tempo e conhecimento

técnico para que assim este não ofereça riscos à saúde da população e ao ambiente

(MARTINS, 2007).

Necessidade de adição de material orgânico seco

De acordo com Alves (2009) existem pré-requisitos para o funcionamento

adequado do processo de compostagem (fermentação) dos dejetos humanos. Um

deles é a necessidade de adição de materiais orgânicos secos como folhas de

árvores, serragem, papel, entre outros, ricos em nitrogênio e carbono. Esses aditivos

absorvem a água presente nos dejetos, eliminando o mau cheiro pela dessecação

do material.

Outro pré-requisito informado por Alves (2009) é a adição da cal. Esta, por

ser um composto orgânico alcalino, elimina a presença de microrganismos

patogênicos.

35

Page 36: TAC 25 junho 2013

Disponibilidade de tempo

O processo de compostagem dos dejetos necessita de um período de

maturação que pode ser de seis a oito meses. Ao final, espera-se terem ocorrido

todos os processos bioquímicos, resultando em um produto limpo, organicamente

estabilizado e pronto pra ser usado como adubo (ALVES, 2009).

Aceitação cultural

Por ser uma tecnologia distante da convencional, pode-se encontrar uma

barreira cultural para sua aceitação, principalmente nas sociedades urbanas, pois

nas zonas rurais é possível encontrar menos resistência. Por isso, Martins (2007)

sugere que, antes de implantar a tecnologia em uma comunidade, deve-se verificar

se há possibilidade de aceitação de tal tecnologia.

4.3 – AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA E EFETIVIDADE DE AÇÕES E POLÍTICAS

Figueiredo e Figueiredo (1986) consideram que a eficácia de uma ação ou

política pode ser avaliada utilizando-se dois parâmetros: as metas a serem

alcançadas e os meios estabelecidos no âmbito dessa ação ou política, para o

alcance das metas.

No caso do primeiro parâmetro (avaliação de metas), os autores propõem o

conceito de eficácia objetiva, a partir da concepção de que as metas atingidas

podem ser iguais, superiores ou inferiores às propostas. Para Figueiredo e

Figueiredo (1986), verificar o sucesso ou o fracasso (eficácia ou não eficácia) de

uma ação consiste em analisar se a diferença entre a meta atingida e a proposta

está dentro de um limite tolerável.

36

Page 37: TAC 25 junho 2013

Quanto ao segundo parâmetro (avaliação dos meios), os autores propõem

os conceitos de eficácia moral e eficácia instrumental. A eficácia moral está ligada à

avaliação da moralidade executória de uma ação ou política e apresenta como

critérios a eficácia administrativa e a contábil, utilizando-se das auditorias como

modelos analíticos de aferição. Já a eficácia instrumental baseia-se no critério de

eficácia funcional, cujos modelos analíticos de aferição estão voltados para verificar

se os meios e a metodologia de realização da ação ou política estão de acordo com

o que foi previamente estabelecido.

Conforme os objetivos definidos para este trabalho, apresentados na seção

2 (Objetivos), no que concerne à eficácia, somente foi avaliada a eficácia objetiva do

projeto em estudo.

Ao se referir à avaliação da efetividade de uma ação, Figueiredo e

Figueiredo (1986) destacam três dimensões a considerar: a objetiva, a subjetiva e a

substantiva.

Para os autores, a efetividade objetiva tem como critério verificar

quantitativamente a mudança das condições de vida de uma população em

decorrência da ação ou política em avaliação, comparando-se o antes e o depois da

execução dessa ação ou política.

A efetividade subjetiva visa a conferir a percepção da população a respeito

dos resultados alcançados em decorrência da ação em avaliação e se os esses

estão adequados aos seus desejos e demandas.

A efetividade substantiva tem por fim aferir mudanças qualitativas nas

condições sociais de vida da população-alvo da ação ou política sob avaliação.

37

Page 38: TAC 25 junho 2013

Conforme os objetivos definidos para este trabalho, apresentados na seção

2 (Objetivos), no que concerne à efetividade, somente foi avaliada a efetividade

subjetiva do projeto em estudo.

4.4 – SAÚDE, AMBIENTE, HIGIENE, SANEAMENTO E CIDADANIA

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a definição mais

adequada para saúde está associada ao bem-estar físico, mental e social e não

apenas à ausência de doença. Nesse sentido, os chamados fatores determinantes

da saúde são categorizados em quatro grupos: estilo de vida, ambiente, organização

dos cuidados e biologia humana (HORTALE ET AL ., 1999).

Buscando discutir a saúde, contudo, apenas na perspectiva da doença, a

influência do saneamento na prevenção das mesmas, ainda que não se limite a isto,

conforme o que se discute na seção 4.5 (Saneamento e Promoção da Saúde), é

flagrante. Isto porque as intervenções em saneamento contribuem para a promoção

de práticas higiênicas, tanto do ambiente físico, como também no que diz respeito à

higiene pessoal de cada indivíduo, o que contribui para evitar doenças (SOUZA,

FREITAS E MORAES, 2007).

Dentre as doenças ligadas à carência de saneamento estão aquelas

causadas por parasitas intestinais. Os tipos mais comuns dentre estes são os

helmintos como os nematelmintos Ascaris lumbricoides e Trichuristrichiura e os

ancilostomatídeos Necatoramericanus e Ancylostomaduodenale. Já entre os

protozoários, destacam-se a Entamoebahistolytica e a Giardialamblia.

Os danos que os enteroparasitas podem causar aos seus portadores

incluem, entre outros agravos, a obstrução intestinal (Ascaris lumbricoides), a

desnutrição (Ascaris lumbricoides e Trichuristrichiura), a anemia por deficiência de

38

Page 39: TAC 25 junho 2013

ferro (ancilostomatídeos) e quadros de diarréia e de deficiência de absorção de

nutrientes (Entamoebahistolytica e Giardialamblia), sendo que as manifestações

clínicas são usualmente proporcionais à carga parasitária (FERREIRA ET AL.,

2000).

O reconhecimento de que a higiene contribui para saúde não está restrito

aos pesquisadores e profissionais de saúde; é notório também no seio da população

em geral. Nesse sentido, Remor et al. (2009), pesquisando sobre noções de práticas

higiênicas entre mães de crianças frequentadoras de uma creche pública em Porto

Alegre (RS), constatou que as mesmas de fato detêm essas noções.

Contudo, esses autores relatam também outro aspecto relevante a

considerar: é que entre a teoria e a prática, o discurso socialmente valorizado como

politicamente correto e a ação correspondente há grande distância. Em outras

palavras isto quer dizer que, ao observar o precário estado de higiene em que se

encontravam as crianças filhas dessas mulheres, percebia-se o quanto seu saber

sobre a importância da higiene estava distante de sua prática.

Assim, simplesmente conhecer determinados princípios, regras e

procedimentos parecer não ser suficiente para produzir uma ação promotora de

saúde. Faz-se necessário que esse conhecimento esteja vinculado a outro fator: o

exercício da cidadania.

A cidadania se traduz pelo reconhecimento de direitos e deveres, pela

consciência do cidadão quanto à suas obrigações e pela luta para que o justo e o

correto sejam colocados em prática (BRASIL, 2012). Em um processo de

empoderamento (SOUZA, FREITAS E MORAES, 2007), indivíduos e coletivos se

capacitam para alterar as condições em que vivem, inclusive seus hábitos e estilos

de vida, impactando sua saúde positivamente.

39

Page 40: TAC 25 junho 2013

4.5 – SANEAMENTO E PROMOÇÃO DA SAÚDE

O ideário da Promoção da Saúde (PS) nasceu no Canadá, em maio de 1974

a partir do lançamento do documento conhecido como A new perspective on the

health of canadians, conhecido também pelo nome de Informe Lalonde , por parte do

Ministério da Saúde daquele país (BUSS, 2006 apud FURTADO, 2012).

Desde sua proposição, ao longo dos anos vem recebendo contribuições

oriundas de conferências internacionais que buscam discutir a respeito, com

destaque para a primeira dessas conferências, ocorrida em 1986, na cidade de

Ottawa, no Canadá.

A Carta de Ottawa, documento final resultante dessa Conferência, define

que a PS se propõe a oferecer aos povos os meios necessários para beneficiar sua

saúde e obter um maior controle sobre ela.

Conforme Stachtchenko e Jenicek (1990), a PS se baseia na relação

indivíduo-ambiente, compreendendo a saúde como determinada pelas escolhas das

pessoas e seu envolvimento com o ambiente, combinando, assim, as

responsabilidades individuais com as sociais pelo seu bem-estar.

A PS compreende a saúde como sendo uma fonte de riqueza para a vida,

um recurso para o progresso de cada indivíduo, tratando-se, assim, de um conceito

positivo, acima da doença.

A partir da ótica da Promoção da Saúde, Souza, Freitas e Moraes (2007),

construíram um conceito de saneamento como sendo:

uma intervenção multidimensional que se dá no ambiente (considerado em suas dimensões física, social, econômica, política e cultural), visando à saúde (entendida como qualidade de vida; erradicação da doença pelo combate integral às suas causas e determinantes), por meio da implantação de sistemas de engenharia associada a um conjunto de ações integradas. (SOUZA, FREITAS E MORAES, 2007, p.371).

40

Page 41: TAC 25 junho 2013

Segundo os autores, não se trata somente de uma intervenção no meio

físico; atua também sobre outras dimensões ambientais como a social, a política, a

econômica e a cultural. Portanto compreende ações educativas socioambientais

para os usuários dos sistemas de engenharia implantados; um conjunto de políticas

que estabeleçam direitos e deveres dos usuários e dos responsáveis pela

implantação; uma estrutura capaz de gerenciar todas as ações, levando em conta

princípios de sustentabilidade, adaptação ao contexto em que são realizadas e

democratizadas.

Para caracterizar as práticas de saneamento fundamentadas na Promoção

da Saúde, Souza e Freitas (2009) estabeleceram sete categorias temáticas a partir

das quais definem o saneamento. São elas: 1) objetivos dos projetos; 2)

preocupação quanto à sustentabilidade das ações e benefícios; 3) articulação entre

políticas, instituições e ações; 4) modelo de intervenção; 5) estratégias de ação; 6)

executores dos projetos; 7) modelo de gestão.

Quanto à primeira categoria, para os autores, o objetivo do saneamento,

segundo a Promoção da Saúde, é mais do que a implantação de seus sistemas de

engenharia, é proporcionar o funcionamento pleno e duradouro desses sistemas,

com acessibilidade para todos, trazendo mudanças na situação dos indivíduos e do

ambiente.

Na segunda categoria, os autores tratam da sustentabilidade dos sistemas,

levando em conta que os objetivos descritos na primeira categoria devem ser

atingidos ampla e permanentemente ao longo do tempo, dentro do horizonte de

projeto estabelecido.

A terceira categoria, para os autores, refere-se à articulação entre políticas,

instituições e ações, uma vez que a área de saneamento deve se articular com as

41

Page 42: TAC 25 junho 2013

outras áreas ligadas aos determinantes de saúde, quais sejam: sociais, econômicos,

culturais, étnico-raciais, psicológicos e comportamentais.

Segundo a quarta categoria, relativa ao modelo de intervenção, as ações de

saneamento, para os autores, devem ser pautadas pela participação técnica

(profissionais da área) e não técnica (população alvo e outros atores sociais),

assumindo perfil participativo e intersetorial, o que se reflete fortemente na sua

apropriação por parte dessa população alvo.

No que tange à quinta categoria, como estratégias de ação, o saneamento,

para os autores, deve-se adotar abordagens facilitadoras que proporcionem a

capacitação da comunidade, ou seja, seu empoderamento (obtenção de poder

técnico e consciência política por parte dos indivíduos e da comunidade). Nesse

sentido, as ações de educação ambiental e sanitária devem abandonar as práticas

voltadas para “moldar” a população em seus hábitos e estilos de vida.

Na sexta categoria, os autores tratam da responsabilidade pela execução

dos projetos, ações e serviços de saneamento, que deve ser compartilhada entre

todos os atores sociais envolvidos, ou seja: engenheiros, gestores das organizações

e instituições relacionadas aos setores de saúde e ambiente, população, etc.

A sétima categoria aborda o modelo de gestão, que, para os autores, deve

ter caráter adaptativo não apenas no que se refere à adaptação de tecnologias às

condições físicas do ambiente onde serão implantadas. Para, além disso, devem

levar em conta os aspectos sociais e culturais, principalmente ao atender

populações isoladas, indígenas e tradicionais.

42

Page 43: TAC 25 junho 2013

5. METODOLOGIA

A metodologia empregada compreendeu a realização de pesquisa

bibliográfica e de entrevistas.

Para avaliação da eficácia objetiva foi identificado, por meio de revisão

bibliográfica, o perfil epidemiológico local em relação a doenças ligadas aos dejetos.

Não foi possível realizar pesquisa documental nos sistemas oficiais de informação

em saúde, tais como o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM); o Sistema de

Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e o Sistema de Informação de

Atenção Básica (SIAB), uma vez que, conforme ratifica Souza (2012), tais

documentos não dispõem de dados sobre Jutuba.

Com a finalidade de complementar as informações sobre a ocorrência das

doenças mencionadas, foram também realizadas entrevistas com 11 moradores

usuários dos sanitários ecológicos implantados na ilha. A composição dessa

amostra se deu de forma aleatória dentre o universo dos usuários do sistema,

buscando-se aprofundar o estudo sem a pretensão de esgotá-lo quantitativamente.

Assim, foram entrevistados quatro homens e seis mulheres, de idade entre

24 a 68 anos. Dentre eles, nove não completaram o ensino fundamental, sendo

somente dois aqueles que conseguiram fazê-lo. As mulheres asseguram sua

subsistência como donas de casa e pescadoras e os homens estão voltados apenas

à atividade da pesca, ambos alcançando renda abaixo de um salário mínimo.

Além disso, essas entrevistas possibilitaram identificar as percepções

desses usuários sobre saúde, higiene, ecologia e cidadania (temas das ações de

educação desenvolvidos no projeto), assim como permitiram que fosse avaliado se

houve aumento de renda das famílias em decorrência da venda do adubo produzido.

Com relação a este tópico da avaliação, foi investigado também o grau de

43

Page 44: TAC 25 junho 2013

conhecimento dos entrevistados a respeito dos procedimentos para a produção do

adubo, como também do inseticida. Sobre este último produto, igualmente foi

investigado se seu aproveitamento é realizado conforme orientado pela Cáritas.

Tais entrevistas igualmente foram úteis para a avaliação da efetividade

subjetiva. Além disso, para alcançar esse objetivo, foi realizada uma entrevista com

um diácono voluntário da Cáritas formado em economia e que atuou como

idealizador/executor da intervenção.

Quanto à avaliação do projeto do ponto de vista da Promoção da Saúde,

foram realizadas entrevistas com os usuários e com idealizadores/executores da

intervenção, as quais estiveram relacionadas com as categorias temáticas

propostas, Souza e Freitas (2009), a respeito de um saneamento alicerçado na

Promoção da Saúde (subseção 4.5).

Todas as entrevistas realizadas foram gravadas em áudio e desenvolveram-

se ao longo de um diálogo informal entabulado entre as pesquisadoras e cada

entrevistado. Na oportunidade, foi solicitado aos mesmos que assinassem um Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), apresentado no Apêndice, em

atendimento à legislação brasileira, o qual já havia sido aprovado pelo Comitê de

Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Instituto Evandro Chagas, conforme o

Parecer 017/2011 (Anexo).

Nas entrevistas foram utilizados roteiros com perguntas, apresentados nas

Tabelas de número 5, 6 e 7. As respostas então obtidas foram transcritas e

analisadas.

A Tabela 5, a seguir, apresenta o roteiro de perguntas direcionadas aos

usuários para avaliação da eficácia objetiva, sendo a pergunta 1 voltada para

identificação do perfil epidemiológico; as perguntas de 2 a 5 direcionadas para

44

Page 45: TAC 25 junho 2013

identificação das percepções sobre saúde, higiene, ecologia e cidadania; as

perguntas de 6 a 10 destinadas a avaliar o aumento de renda pela venda de adubo e

a produção de inseticida.

O mesmo roteiro foi utilizado para avaliação da efetividade subjetiva por

meio da pergunta 11, que busca revelar percepções dos usuários sobre o projeto em

estudo.

Tabela 5: Roteiro de perguntas destinadas aos usuários para avaliação da eficácia objetiva e da efetividade subjetiva da intervenção

Pergunta Objetivo da pergunta 1- Como está a ocorrência de doenças

intestinais na comunidade depois da

implantação do projeto?

Saber se, para o entrevistado, houve

alteração do perfil epidemiológico das

doenças infecto-parasitárias após a

intervenção

2 - O que é ter saúde para você? Identificar a noção de saúde dos

entrevistados como reflexo das ações

educativas realizadas

3 - O que é higiene para você?

Identificar a noção de higiene dos

entrevistados como reflexo das ações

educativas realizadas

4 - Qual a importância do ambiente

para você?

Identificar a noção de ambiente dos

entrevistados como reflexo das ações

educativas realizadas

5 - O que você acha dos direitos e dos

deveres que você tem como cidadão?

Identificar a noção de cidadania dos

entrevistados como reflexo das ações

educativas realizadas

6 - Como você produz o adubo? Saber se o entrevistado conhece e

executa os procedimentos para a

produção de adubo

7 - Qual o destino que você dá ao

adubo que produz?

Saber se efetivamente o adubo

produzido é vendido

45

Page 46: TAC 25 junho 2013

8 - Quanto dinheiro você ganha com a

venda do adubo que produz?

Quantificar o aumento da renda familiar

em decorrência da venda de adubo

9 - Como você produz o inseticida?

Saber se o entrevistado conhece e

executa os procedimentos para a

produção de inseticida

10 - Qual o destino que você dá ao

inseticida que produz?

Saber se efetivamente o adubo

produzido é aproveitado

11 - Como ficou sua vida depois do

projeto em termos de facilidades e

dificuldades?

Saber se, para o entrevistado, houve

melhora de sua qualidade de vida após

o projeto

A Tabela 6, a seguir, mostra o roteiro de perguntas direcionadas aos usuários

para a avaliação da intervenção do ponto de vista da Promoção da Saúde.

Tabela 6: Roteiro de perguntas destinadas aos usuários para avaliação da intervenção do ponto de vista da Promoção da Saúde

Pergunta Objetivo da pergunta

1- Qual o objetivo do projeto Sanitário

Ecológico Seco?

Avaliar o projeto sob a ótica da

categoria “objetivo dos projetos”

2 - Como esta sendo o funcionamento

do projeto desde que foi implantado?

Avaliar o projeto sob a ótica da

categoria “sustentabilidade das ações e

benefícios”

3 - Que pessoas e instituições atuaram

no processo de implantação do

projeto?

Avaliar o projeto sob a ótica da

categoria “estratégias empregadas”

(educação sanitária e ambiental)

4 - Como você ficou sabendo do

projeto?

Avaliar o projeto sob a ótica da

categoria “executores dos projetos”

(responsabilidade pelas ações)

5 - Que orientações você recebeu

sobre o funcionamento do sanitário

ecológico seco? Quem orientou?

Avaliar o projeto sob a ótica da

categoria “modelo de gestão”

(adaptabilidade das ações)

6 - Quem foi responsável pelo projeto Avaliar o projeto sob a ótica da

46

Page 47: TAC 25 junho 2013

na época da implantação? Quem é o

responsável atualmente?

categoria “executores dos projetos”

(responsabilidade pelas ações)

7- Quais as facilidades e dificuldades

que você, idosos e crianças têm no dia-

a-dia para o uso do vaso sanitário

implantado pelo projeto?

Avaliar o projeto sob a ótica da

categoria “modelo de gestão”

(adaptabilidade das ações)

A Tabela 7, a seguir, apresenta o roteiro de perguntas direcionadas aos

idealizadores/executores da intervenção para a avaliação da intervenção do ponto

de vista da Promoção da Saúde. A oitava pergunta foi utilizada para avaliação da

efetividade subjetiva (percepção dos idealizadores/executores sobre o impacto do

projeto na vida dos usuários).

Tabela 7: Roteiro de perguntas destinadas aos idealizadores/executores da intervenção para avaliação da intervenção do ponto de vista da Promoção da Saúde e da efetividade subjetiva

Pergunta Objetivo da pergunta

1- Qual o objetivo do projeto Sanitário

Ecológico Seco?

Avaliar o projeto sob a ótica da

categoria “objetivo dos projetos”

2 - Como está sendo o funcionamento

do projeto desde que foi implantado?

Avaliar o projeto sob a ótica da

categoria “sustentabilidade das ações e

benefícios”.

3 - Que pessoas e instituições atuaram

no processo de implantação do

projeto?

Avaliar o projeto sob a ótica da

categoria “articulação intersetorial de

políticas, instituições e ações”

4 - Como foi a tomada de decisão para

a implantação do projeto?

Avaliar o projeto sob a ótica da

categoria “modelo de intervenção”

(participação técnica e não técnica nas

decisões)

5 - Como e quais foram as ações de

educação realizadas?

Avaliar o projeto sob a ótica da

categoria “estratégias empregadas”

(educação sanitária e ambiental como

47

Page 48: TAC 25 junho 2013

estratégia)

6 - Quem foi o responsável pelo projeto

na época da implantação? Quem é

responsável atualmente?

Avaliar o projeto sob a ótica da

categoria “executores dos projetos”

(responsabilidade pelas ações)

7 - De onde foi adotada a tecnologia

implantada?

Avaliar o projeto sob a ótica da

categoria “modelo de gestão”

(adaptabilidade das ações)

8 - Quais as facilidades e dificuldades

que as pessoas têm no dia-a-dia para o

uso do vaso sanitário implantado pelo

projeto?

Saber se, para o entrevistado, houve

melhora da qualidade de vida dos

usuários após o projeto

48

Page 49: TAC 25 junho 2013

6. RESULTADOS OBTIDOS E DISCUSSÃO

A seguir são apresentados em conjunto os resultados obtidos e a discussão

referente a cada um dos três eixos de avaliação da intervenção em estudo: eficácia

objetiva; efetividade subjetiva; Promoção da Saúde.

6.1 - AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA OBJETIVA

A seguir são apresentados o perfil epidemiológico local; as percepções dos

usuários sobre saúde, higiene, ecologia e cidadania; a avaliação do rendimento das

famílias após o projeto, aspectos esses considerados para avaliação da eficácia

objetiva.

6.1.1- Perfil Epidemiológico Local

Este aspecto foi avaliado por meio da revisão da literatura científica existente

a respeito e da realização de entrevistas com usuárias.

A revisão da literatura constou do estudo de três trabalhos identificados

sobre essa temática: Duarte e Silva (2011), Santos (2011) e Souza (2012).

Duarte e Silva (2011), em seu trabalho, construíram dois indicadores

epidemiológicos que interessam a este estudo, apesar de também resultarem de

dados de outras duas ilhas próximas à Jutuba (ilhas Nova e Urubuoca): percentual

de moradores que se queixam de doenças; serviços de saúde acessados pelos

moradores.

Quanto ao percentual de moradores que se queixam de doenças, a Tabela

8, a seguir, apresenta os dados obtidos pelos autores em 2010 (embora só tenham

sido publicados em 2011), mas também dados que os mesmos reportam terem sido

identificados em estudo anterior, realizado em 2008. Nos dois casos, a coleta

49

Page 50: TAC 25 junho 2013

dessas informações se deu por meio de entrevistas, durante as quais foi aplicado

pelos autores um questionário para os moradores das três ilhas (Jutuba, Nova e

Urubuoca).

Tabela 8: Percentual de moradores que se queixam de doenças nas ilhas Jutuba, Nova e Urubuoca, por doenças

Doenças Moradores que se queixam de

doenças (%)

Hipertensão Arterial 4,96

Diabetes 1,38

Alergia 0,55

Dores Articulares 1,65

Anemia 1,65

Artrite 0,55

Asma 1,38

Colesterol 1,38

Dores (de Cabeça, de Dente e de

Coluna)

2,20

Acidente Vascular Cerebral 0,28

Epilepsia 0,28

Rubéola Congênita 0,28

Pneumonia 0,28

Falta de Ar 0,28

Hematêmese 0,28

Cálculo Renal 0,28

Glaucoma Congênito 0,28

Hérnia de Disco 0,28

50

Page 51: TAC 25 junho 2013

Hipertireoidismo Congênito 0,28

Problemas Sanguíneos 0,28

Reumatismo 0,83

Úlcera 0,28

Verminoses 0,28

Total 20,11

Fonte: Duarte e Silva (2011)

Para os autores, deve-se levar em conta a possibilidade de o viés de

memória ter atuado como fator influenciador das respostas dadas pelos moradores

durante o preenchimento do questionário no decorrer das entrevistas, resultando em

um indicador que deve ser analisado com o devido cuidado.

Essa ressalva de fato pode ter procedência, haja vista o percentual de 0,28%

relacionado a queixas por conta de verminoses, morbidade de interesse para este

trabalho e que supostamente deve ser prevalente na ilha pelas condições sanitárias

e ambientais existentes.

Em relação aos serviços de saúde acessados pelos moradores, a análise

dos dados de Duarte e Silva (2011) revela que estes se deslocam por grandes

distâncias em busca de atendimento. Os serviços mais procurados são a Unidade

Básica de Saúde (UBS) da ilha de Cotijuba, a UBS de Icoaraci e a UBS de Santo

Antônio (localizada em Icoaraci), havendo também casos em que buscam

atendimento particular.

Outro trabalho consultado foi o de Santos (2011), que avaliou clinicamente

53 moradores da ilha, os quais compareceram, no dia previamente marcado, a uma

51

Page 52: TAC 25 junho 2013

das duas unidades escolares existentes no local, onde foram realizadas consultas

médicas. Para cada paciente, foi aplicado um protocolo referente à história clínica,

sinais e sintomas apresentados. Os resultados foram classificados em função da

natureza dos sintomas identificados: neurológicos e sensoriais; digestivos;

circulatórios; respiratórios; músculo-esqueléticos; de pele e anexos.

Atendendo ao objetivo deste trabalho, são apresentados, nas Figuras 12 e

13, os resultados que, segundo a análise da própria autora, compõem o perfil

epidemiológico de doenças ligadas aos dejetos humanos.

Figura 12: Percentual de pessoas com sintomas digestivos na ilha de Jutuba Fonte: Santos (2011)

Figura 13: Percentual de pessoas com sintomas circulatórios na Ilha de Jutuba Fonte: Santos (2011)

52

Page 53: TAC 25 junho 2013

Segundo Santos (2011), a análise de sintomas como dor abdominal (o

segundo mais prevalente, atingindo 28,30% dos pacientes), diarreia (7,55% dos

pacientes) e palidez cutaneomucosa (16,98% dos pacientes) revela possível

ocorrência de enteroparasitismo em função das precárias condições de saneamento

básico locais.

Finalmente, o terceiro trabalho consultado foi o de Souza (2012), que

realizou estudos na ilha por meio de exames laboratoriais de material fecal coletado

de 98 moradores (53,84 % da população da ilha).

Os resultados revelaram a presença de quatro espécies de parasitas: a

Giardia lamblia (42 ocorrências = 42,85% dos moradores examinados), o Ascaris

lumbricoides (11 ocorrências = 11,22% dos moradores examinados), o

Tricocephalus trichiurus (1 ocorrência = 1,02% dos moradores examinados), e a

Entamoeba histolytica (25 ocorrências = 25,51% dos moradores examinados).

Relativamente às entrevistas com moradoras usuárias, a Tabela 9, a seguir,

apresenta as respostas obtidas a partir da pergunta 1(Como está a ocorrência de

doenças intestinais na comunidade depois da implantação do projeto?) do roteiro

apresentado na Tabela 5.

Tabela 9: Ideias centrais das respostas à pergunta 1 (Como está a ocorrência de doenças intestinais na comunidade depois da implantação do projeto?)

Nº de Respondentes Ideias centrais das respostas

5 Não houve mais ocorrência de doenças

intestinais

6 A ocorrência de doenças intestinais

diminuiu

Discutindo os dados obtidos, observa-se a existência de dois grupos de

resultados que divergem entre si. No primeiro grupo, têm-se os dados de Duarte e

53

Page 54: TAC 25 junho 2013

Silva (2011) e as informações obtidas a partir das entrevistas, os quais revelam

baixa ocorrência de verminoses. No outro grupo estão os dados Santos (2011) e de

Souza (2012), que indicam ocorrência de enteroparasitismo.

Apesar da divergência, deve-se ressaltar que a suspeita de Duarte e Silva

(2011) de que seus resultados estivessem alterados pelo viés de memória parece ter

sido confirmada. Mesmo considerando que os dados desses autores foram

coletados em 2010 e que os exames parasitológicos foram realizados em 2012, pela

precariedade continuada das condições ambientais locais, acredita-se que o quadro

de enteroparitoses já era bem preocupante em 2010, embora tendo merecido pouco

destaque por parte dos entrevistados.

6.1.2- Percepções de Usuárias sobre Saúde, Higiene, Ecologia e Cidadania

A partir das entrevistas realizadas com base no roteiro apresentado na

Tabela 5 (perguntas de 2 a 10), foram identificadas percepções, a seguir relatadas,

sobre cada um dos quatro temas em destaque.

Em relação à percepção sobre saúde (pergunta 2 – O que é ter saúde para

você?), a Tabela 10, na sequência, apresenta as ideias centrais das respostas

obtidas.

Tabela 10: Ideias centrais das respostas à pergunta 2 (O que é ter saúde para você?)Número de respondentes Ideias centrais das respostas

4 É ser uma pessoa saudável e feliz

2 É não adoecer

1 É não sentir dor

1 É estar se sentindo bem

54

Page 55: TAC 25 junho 2013

1 É ser assistido por alguém

1 É cuidar do lugar em que se mora

1 É fundamental

Pelas respostas, verificou-se que cinco dos entrevistados percebem a saúde

de ponto de vista abstrato, e três, de forma mais concreta. No primeiro caso,

associam-na à felicidade e à sensação de proteção pelos cuidados recebidos de

outrem. No segundo, à ausência de doença e dor e ao sentimento de físico de bem-

estar.

Essa dissociação entre mental e físico denota distanciamento de uma visão

mais ampla e holística de saúde, proposta pela OMS, ao considerá-la como estado

de bem-estar físico, mas também mental e social, conforme apresentado no item 4.4

(Saneamento, Saúde, Ambiente e Cidadania). Consequentemente, esse fato pode

fazer supor que as ações educativas realizadas no âmbito do projeto em estudo não

foram suficientes para que a população pudesse construir uma opinião mais acurada

sobre o tema.

Relativamente à percepção sobre higiene (pergunta 3 - O que é higiene para

você?), a Tabela 11 a seguir, apresenta as ideias centrais das respostas obtidas.

Tabela 11: Ideias centrais das respostas à pergunta 3 (O que é ter higiene para você?)Número de respondentes Ideias centrais das respostas

7 É sinônimo de limpeza

4 É fundamental

55

Page 56: TAC 25 junho 2013

Verificou-se que dos 11 entrevistados, sete consideram que higiene é

sinônimo de limpeza e quatro, que é algo fundamental. Todos afirmaram ter cuidado

com o lugar em que vivem, relatando que procuram sempre conservá-lo limpo.

Essas percepções convergem para o que Remor et al. (2009) relatam em

seu trabalho, conforme apresentado no item 4.4 (Saneamento, Saúde, Ambiente e

Cidadania), quando se referem à importância que suas entrevistadas informaram dar

à higiene.

56

Page 57: TAC 25 junho 2013

Da mesma forma, repete-se aqui o fato de que, comparando-se as respostas

com as precárias condições de higiene observadas na ilha (higiene pessoal e

ambiental), pode-se supor que os entrevistados buscaram muito mais relatar

percepções que julgaram ser socialmente aceitáveis e esperadas pelas

pesquisadoras (inclusive por terem sido veiculadas pelas ações de educação

ambiental desenvolvidas pela Cáritas), do que revelar o que realmente aplicam em

sua prática cotidiana.

No que tange à percepção sobre ambiente (pergunta 4 - Qual a importância

do ambiente para você?), a Tabela 12, na sequência, apresenta as ideias centrais

das respostas obtidas.

Tabela 12: Ideias centrais das respostas à pergunta 4 (Qual a importância do ambiente para você?)Número de respondentes Idéias centrais das respostas

4 É muito bom

4 É estar limpo

3 É alegre e saudável

Observa-se que as respostas dos entrevistados se referem ao bem-estar e à

limpeza relativos ao ambiente. Contudo, como discutido na análise das respostas

sobre higiene (pergunta 3), essa importância relatada não se constata na prática,

levando em conta as precárias condições de higiene do ambiente que as cerca.

Em relação à percepção sobre cidadania (pergunta 5 - O que você acha dos

direitos e dos deveres que você tem como cidadão?), a Tabela 13, a seguir,

apresenta as ideias centrais das respostas obtidas.

57

Page 58: TAC 25 junho 2013

Tabela 13: Ideias centrais das respostas à pergunta 5 (O que você acha dos direitos e deveres que você tem como cidadão?)

Número de respondentes Ideias centrais das respostas

5 Os direitos estão sendo atendidos

6 Os deveres estão sendo cumpridos

As respostas de todos os entrevistados giraram exclusivamente em torno do

projeto em estudo, sem alcançar uma percepção mais ampla de direitos e deveres

de cidadania, como exposto no item 4.4 (Saúde, Ambiente, Higiene, Saneamento e

Cidadania). Das 11 respostas, cinco demonstraram que, no que se refere aos seus

direitos, consideram que estes estão sendo atendidos com a implantação do projeto;

outros seis julgam que seus deveres estão sendo cumpridos, uma vez que realizam

a limpeza do sanitário e do ambiente.

58

Page 59: TAC 25 junho 2013

6.1.3- Avaliação do Rendimento das Famílias após o projeto SES

Conforme explicado na seção 5 (Metodologia), foram avaliados os

procedimentos para produção de adubo, o ganho obtido a partir de sua venda, assim

como as ações desenvolvidas para produção do inseticida. A partir das entrevistas

realizadas com base no roteiro apresentado na Tabela 5 (perguntas de 6 a 10),

foram obtidos os resultados a seguir relatados.

Sobre os procedimentos necessários à produção de adubo (pergunta 6 -

como você produz o adubo?), a Tabela 14, na sequência, apresenta as ideias

centrais das respostas obtidas.

Tabela 14: Ideias centrais das respostas à pergunta 6 (Como você produz o adubo?)Número de respondentes Ideias centrais das respostas

5 Adubo não produzido (tempo de

maturação ainda não alcançado)

3 Adubo não produzido (sanitário não

utilizado efetivamente)

3 Jogando cal, serragem e retirando após

seis meses com uso de enxada ou pá

As respostas revelam que cinco entrevistados não haviam retirado o

composto da câmara, pois o tempo necessário à maturação não teria sido alcançado

ainda; outros cinco informaram que efetivamente não utilizam o sanitário, dai não

terem produzido adubo; três relataram já ter feito a retirada do material utilizando

uma enxada ou pá.

59

Page 60: TAC 25 junho 2013

A respeito do destino dado ao adubo produzido (pergunta 7 - Qual o destino

que você dá ao adubo que produz?), a Tabela 15, a seguir, apresenta as ideias

centrais das respostas obtidas.

Tabela 15: Ideias centrais das respostas à pergunta 7(Qual o destino que você dá ao adubo que produz?)

Número de respondentes Ideias centrais das respostas

5 Ainda não produziram o adubo

3 Não produzem adubo, pois não utilizam

o sanitário

3 Depositam no solo

60

Page 61: TAC 25 junho 2013

As respostas revelam que os três entrevistados que já haviam feito a retirada

do material de uma das câmaras não venderam o produto; lançaram-no ao solo,

próximo às árvores.

No que se refere ao ganho pecuniário com a venda do adubo (pergunta 8 -

Quanto dinheiro você ganha com a venda do adubo que produz?), constata-se pelas

respostas obtidas que não há ganho algum, uma vez que nenhum usuário vendeu o

produto.

Relativamente à produção de inseticida (pergunta 9 - Como você produz o

inseticida?) e ao destino dado ao mesmo (pergunta 10 - Qual o destino que você dá

ao inseticida que produz?), as respostas dos 11 entrevistados revelam que nenhum

deles o produz e que, além disso, descartam a urina no ambiente por não saberem o

que fazer com ela.

6.1.4- Resumo da Avaliação da Eficácia Objetiva

A Tabela 16, a seguir, apresenta o resumo dos resultados obtidos sobre a

avaliação da eficácia objetiva do projeto em estudo.

Tabela16: Resumo da Avaliação da Eficácia ObjetivaAspecto avaliado Ideias centrais das respostas

Perfil epidemiológico Há ocorrência de enteroparasitoses

Percepções sobre saúde É ausência de doença e dor

Percepções sobre higiene É algo fundamental

Percepções sobre ambiente É ter bem-estar e viver em local limpo

Percepções sobre cidadania Estão sendo efetivados os direitos e os deveres

Rendimento das famílias com a venda do adubo

É nulo até o momento

61

Page 62: TAC 25 junho 2013

Considerando o exposto, a eficácia objetiva do SES se mostra

comprometida, uma vez que todos os aspectos investigados não alcançaram os

objetivos propostos.

6.2 - AVALIAÇÃO DA EFETIVIDADE SUBJETIVA

62

Page 63: TAC 25 junho 2013

As percepções de usuários quanto ao impacto do projeto em sua vida e as

percepções de idealizadores/executores quanto ao impacto do projeto na vida dos

usuários – as quais constituem os dois aspectos considerados para avaliação da

efetividade subjetiva – são apresentados a seguir.

6.2.1- Percepções de Usuários sobre o Impacto do Projeto em sua Vida

A partir das entrevistas realizadas com base no roteiro apresentado na

Tabela 5 (pergunta 11- Como ficou sua vida depois do projeto em termos de

facilidades e dificuldades?), foram obtidas diferentes respostas cujas ideias centrais

são relatadas na Tabela 17, a seguir.

Tabela 17: Ideias centrais das respostas à pergunta 11 (Como ficou sua vida depois do projeto em termos de facilidades e dificuldades?)

Número de respondentes Ideias centrais das respostas

5

Não há nenhuma dificuldade; só

depende de adaptação

4

O sanitário deixou de ser utilizado

devido à falta de serragem e cal

2

O sanitário ainda não foi utilizado devido

à falta de serragem e cal

Com base nas respostas, é possível identificar que, em função de

dificuldades para obtenção da cal e da serragem, dois dos entrevistados ainda não

utilizaram o sanitário e quatro deixaram de usá-lo. Além disso, outros cinco

afirmaram que não têm dificuldades para o uso da instalação e que se trata de uma

questão de adaptação, pois, depois de acostumados, tudo se tornará mais prático,

sem precisar dar descarga, sem odores, etc.

63

Page 64: TAC 25 junho 2013

Analisando essas últimas cinco respostas a partir do que se pôde observar

ao visitar a ilha, e mais particularmente as casas dos usuários entrevistados, é

possível concluir que, também neste caso, é válida a argumentação de Remor et al.

(2009), citada na seção 4.4 (Saúde, Ambiente, Higiene, Saneamento e Cidadania),

pois o discurso proferido não se coaduna com a realidade observada.

6.2.2 – Percepções de Idealizadores/Executores sobre o Impacto do Projeto na Vida

dos Usuários

A partir da entrevista realizada com um diácono, voluntário da Cáritas Belém,

de acordo com o roteiro apresentado na Tabela 7 (pergunta 8 - Quais as facilidades

e dificuldades que as pessoas têm no dia-a-dia para o uso do vaso sanitário

implantado pelo projeto?), foi possível identificar suas percepções acerca do projeto.

O entrevistado referiu-se à ocorrência de possíveis dificuldades criadas

pelos próprios moradores quanto ao funcionamento correto do sanitário, a despeito

das informações que receberam, como mostrado na transcrição a seguir:

As dificuldades que podem ser encontradas são causadas por eles mesmos em relação ao uso (coleta no tempo correto e a destinação final dos compostos). Demos informação, fizemos um acompanhamento para o uso correto.

6.2.3 – Resumo da Avaliação da Efetividade Subjetiva

A Tabela 18, a seguir, apresenta o resumo dos resultados obtidos sobre a

avaliação da efetividade subjetiva do projeto em estudo, tendo em vista as

percepções de usuárias sobre o impacto do projeto em sua vida e as percepções de

um idealizador/executor sobre o impacto do projeto na vida dos usuários.

Tabela 18: Resumo da Avaliação da Efetividade SubjetivaSujeitos das percepções Ideias centrais das respostas

64

Page 65: TAC 25 junho 2013

Usuárias Foi prejudicado pela dificuldade na

obtenção da cal e da serragem

Executor/idealizador Pode ter sido prejudicado por

dificuldades próprias dos usuários, uma

vez que a Cáritas forneceu instruções

adequadas

Analisando as respostas obtidas, constata-se que ambas referem-se às

dificuldades encontradas pelos usuários para obtenção de cal e serragem. A

serragem era fornecida para a população por meio de doações de uma madeireira

em Icoaraci, contudo, segundo os usuários, a dificuldade de deslocamento, os

impossibilitou de buscá-la. Quanto à cal, não foi reabastecida pelos usuários, por

não terem condições financeiras de obter o produto.

6.3 – AVALIAÇÃO DO PONTO DE VISTA DA PROMOÇÃO DA SAÚDE

A seguir, é apresentada a avaliação do projeto do ponto de vista da

Promoção da Saúde, a partir de cada uma das sete categorias temáticas discutidas

na seção 4.5 (Saneamento e Promoção da Saúde), tendo como base as respostas

obtidas por meio das entrevistas com usuários e com idealizadores/executores do

projeto.

6.3.1- Percepções de Usuários

A partir das entrevistas realizadas com base no roteiro apresentado na

Tabela 6 (perguntas de 1 a 7), foram obtidos os resultados a seguir relatados.

Sobre a categoria objetivo dos projetos (pergunta 1 - Qual o objetivo do

projeto Sanitário Ecológico Seco?), a Tabela 19, na sequência, apresenta as ideias

65

Page 66: TAC 25 junho 2013

centrais das respostas obtidas.

Tabela 19: Ideias centrais das respostas à pergunta 1 (Qual o objetivo do projeto Sanitário Ecológico Seco?)

Número de respondentes Ideias centrais das respostas

7 Melhorar qualidade de vida de todos os

moradores

4 (não souberam informar)

As respostas revelaram que quatro dos entrevistados não souberam explicar

ou de fato não sabiam qual teria sido o objetivo do projeto, enquanto que sete

afirmaram que o objetivo foi trazer melhores condições de vida para a comunidade.

Ao se reportarem a melhores condições de vida para a comunidade, esses

entrevistados podem estar revelando que, de seu ponto de vista, o projeto teve por

fim proporcionar mudanças na situação de cada morador local e no ambiente do

qual fazem parte, o que, segundo Souza e Freitas (2009), conforme apresentado na

seção 4.5 (Saneamento e Promoção da Saúde), se aproxima de uma visão de

saneamento associada à Promoção da Saúde.

A respeito da categoria preocupação quanto à sustentabilidade das ações e

benefícios (pergunta 2 - Como está sendo o funcionamento do projeto desde que foi

implantado?) a Tabela 20, abaixo, exibe as respostas obtidas.

Tabela 20: Ideias centrais das respostas à pergunta 2 (Como está sendo o funcionamento do projeto desde que foi implantado?)

Número de respondentes Ideias centrais das respostas

3 Não está sendo usado pela falta de

serragem e cal

8 Está em uso

66

Page 67: TAC 25 junho 2013

As respostas esclarecem que dos 11 usuários entrevistados, oito estão

usando o sanitário e três não, em função da falta de serragem e cal. Levando esse

dado em conta, não é possível dizer que o projeto teve a sustentabilidade de suas

ações e benefícios assegurada ao longo do tempo. Nesse sentido, a intervenção se

afasta de uma concepção de saneamento alicerçada na Promoção da Saúde.

Referente à categoria articulação entre políticas, instituições e ações

(pergunta 3 - Que pessoas e instituições atuaram no processo de implantação do

projeto?), a Tabela 21, a seguir, relata as ideias centrais das respostas obtidas.

Tabela 21: Ideias centrais das respostas à pergunta 3 (Que pessoas e instituições atuaram no processo de implantação do projeto?)

Número de respondentes Ideias centrais das respostas

6 A Cáritas

3 O Padre

2 (não souberam informar)

As respostas revelaram que seis entrevistados consideram a Cáritas como

sendo a instituição que atuou na implantação do projeto; três afirmaram ter sido o

Padre, cuja paroquia encampa a ilha, o responsável pelo projeto; dois nada

souberam informar a respeito.

Percebe-se, assim, que a maior parte dos entrevistados considera que a

iniciativa partiu de uma instituição religiosa, representada pela Cáritas ou o Padre;

que não há envolvimento com outras instituições e nem com o governo.

Esta não articulação não se confirma na verdade, como será explicado na

sequencia, na discussão da pergunta 3 da Tabela 7, dirigida aos

idealizadores/executores (Que pessoas e instituições atuaram no processo de

implantação do projeto?). Mas, observa-se que, do ponto de vista das usuárias,

tratou-se de uma ação particular do movimento católico no Pará, diferentemente do

67

Page 68: TAC 25 junho 2013

perfil das intervenções lastreadas na Promoção da Saúde, as quais buscam atuar

em rede.

Relativamente à categoria modelo de intervenção (pergunta 4 - Como você

ficou sabendo do projeto?), que busca avaliar a participação de técnicos e da

população no processo, a Tabela 22, a seguir, relata as respostas obtidas.

Tabela 22: Ideia central das respostas à pergunta 4 (Como você ficou sabendo do projeto?)Número de respondentes Ideia central das respostas

11 Por meio de palestras (reuniões) realizadas na ilha ministradas pela Cáritas e pelo Padre

As respostas revelam que houve participação técnica, por parte da Cáritas e

do pároco local, por meio das orientações repassadas em palestras (reuniões),

sobre a operação e a manutenção do SES.

A participação da população, contudo, se restringiu a estar presente nessas

reuniões, pois não houve um processo de discussão sobre sua realidade local,

crenças e valores, com vistas à construção de um rol de alternativas para a solução

dos problemas, como propõe a Promoção da Saúde. No presente caso, a solução foi

única – o SES – e, além disso, não foi construída coletivamente, o que se reflete,

como visto na seção 4.5 (Saneamento e Promoção da Saúde), sobre a capacidade

de apropriação da intervenção por parte da população.

Sobre a categoria estratégias de ação (pergunta 5 - Que orientações você

recebeu sobre o funcionamento do sanitário ecológico seco? Quem orientou?), a

Tabela 23, abaixo, apresenta as ideias centrais das respostas obtidas.

Tabela 23: Ideias centrais das respostas à pergunta 5 (Que orientações você recebeu sobre o funcionamento do sanitário ecológico seco? Quem orientou?)

68

Page 69: TAC 25 junho 2013

Número de respondentes Ideias centrais das respostas

10 Orientações da Cáritas sobre usar serragem e cal e retirar o adubo e a urina após 6 meses

1 (não soube informar)

As respostas indicam que os entrevistados participaram de ações de

educação ambiental que proporcionaram a eles orientações técnicas sobre o uso do

sanitário, porém um não soube informar. Entretanto, o processo de empoderamento

não foi desencadeado, visto que a comunidade não se apropriou da intervenção,

assumindo responsabilidades. Isto se afasta de uma perspectiva lastreada na

Promoção da Saúde, uma vez que, segundo esse ideário, a estratégia de educação

não se reduz apenas à oferta de treinamento à comunidade.

Sobre a categoria executores dos projetos (pergunta 6 - Quem foi o

responsável pelo projeto na época da implantação? Quem é responsável

atualmente?), a Tabela 24, na sequência, apresenta as respostas obtidas.

Tabela 24: Ideias centrais das respostas à pergunta 6 (Quem foi o responsável pelo projeto na época da implantação? Quem é responsável atualmente?)

Número de respondentes Ideias centrais das respostas

8 O Diácono e a Cáritas foram os responsáveis. Atualmente é a Cáritas

3 (não souberam informar)

As respostas revelam que oito dos entrevistados apontam determinado

diácono como o responsável pela implantação, juntamente com a Cáritas e, como

responsável atual, somente a Cáritas. Outros três entrevistados nada souberam

informar a respeito.

69

Page 70: TAC 25 junho 2013

Considerando que as unidades do SES foram entregues à comunidade em

2010, seria esperado dizerem que, atualmente, eles próprios são os responsáveis

pela continuidade do projeto. Assim, esse posicionamento de não assunção da

responsabilidade sobre a intervenção se afasta de um saneamento alicerçado na

Promoção da Saúde.

Sobre a categoria modelo de gestão (pergunta 7 - Quais as facilidades e

dificuldades que você, idosos e crianças têm no dia-a-dia para fazer uso do vaso

sanitário implantado pelo projeto?), a Tabela 25, a seguir, expõe as ideias centrais

das respostas obtidas.

Tabela 25: Ideias centrais das respostas à pergunta 7 (Quais as facilidades e dificuldades que você, idosos e crianças têm no dia-a-dia para fazer uso do vaso sanitário implantado pelo projeto?)

Número de respondentes Ideias centrais das respostas

4 Não há nenhuma dificuldade

3

Houve dificuldade de ensinar as crianças a não usar água no vaso, mas já foi superada

3 A dificuldade é a falta da serragem e da cal

1 A dificuldade é com a limpeza do vaso

para remover maus odores

Segundo as respostas, quatro entrevistadas afirmaram não ter nenhuma

dificuldade ao usar o SES; três informaram sua dificuldade inicial – e já superada –

de ensinar as crianças a não usar água no sanitário; três referem como dificuldade a

falta de serragem e cal; uma revela sua dificuldade por conta da falta da cal para

remover maus odores do vaso.

Pelas respostas, pode-se supor que o SES é uma tecnologia que se adaptou

às necessidades de sete das usuárias entrevistadas, ou, ao contrário, elas é que se

70

Page 71: TAC 25 junho 2013

adaptaram a ele. No entanto, quatro outras revelaram que essa adaptação não

ocorreu, pois não conseguiram solucionar o problema da falta de serragem e cal.

Assim, o caráter adaptativo de uma intervenção baseada na Promoção da

Saúde, no que se refere aos aspectos físicos, sociais e culturais do ambiente,

atendendo populações indígenas e tradicionais, no presente caso, ficou

comprometido, pela falta de cal e serragem.

6.3.2 – Percepções de Idealizadores/Executores

A partir da entrevista realizada com um voluntário da Caritas, com base no

roteiro apresentado na Tabela 7 (perguntas de 1 a 7), foram obtidos os resultados a

seguir relatados.

Sobre a categoria objetivo dos projetos (pergunta 1 - Qual o objetivo do

projeto Sanitário Ecológico Seco?), a Tabela 26, a seguir, apresenta a ideia central

da resposta obtida.

Tabela 26: Ideia central da resposta à pergunta 1 (Qual o objetivo do projeto Sanitário Ecológico Seco?)

Ideia central da resposta

Beneficiar a saúde da população e o ambiente

A resposta revela que o entrevistado considera que o objetivo do projeto foi

produzir benefícios para a saúde da população local, assim como para o ambiente.

Isto pode ser correlacionado à ideia de proporcionar melhores condições de

vida para a população o que revela uma percepção que se aproxima de uma visão

de saneamento alicerçada na Promoção da Saúde, de acordo com Souza e Freitas

(2009), conforme apresentado na seção 4.5 (Saneamento e Promoção da Saúde).

71

Page 72: TAC 25 junho 2013

Sobre a categoria sustentabilidade das ações e benefícios (pergunta 2 -

Como está sendo o funcionamento do projeto desde que foi implantado?), a Tabela

27, a seguir, apresenta a ideia central da resposta obtida.

Tabela 27: Ideia central da resposta à pergunta 2 (Como está sendo o funcionamento do projeto desde que foi implantado?)

Ideia central da resposta

Está sendo acompanhado pela Cáritas

De acordo com a resposta obtida, há, por parte da Cáritas, um

acompanhamento do funcionamento do SES. Contudo, essa resposta, em si, não

permite concluir que, para o entrevistado, o projeto tem mantido a sustentabilidade

de suas ações e benefícios ao longo do tempo.

Isto porque, levando em conta que, para ele, o projeto pode ter sido

prejudicado por dificuldades próprias dos usuários, conforme a ideia central da

resposta que deu à pergunta 8 do roteiro apresentado na Tabela 7 (avalia sua

percepção sobre o impacto do projeto na vida dos usuários), é possível, então,

concluir que o projeto tem sido acompanhado, inclusive nas dificuldades que

apresenta e que o prejudicam em seu funcionamento e produção de benefícios ao

longo do tempo.

Dessa forma, a intervenção se afasta de uma percepção de saneamento

associada à Promoção da Saúde.

Sobre a categoria articulações entre políticas, instituições e ações (pergunta

3 - Que pessoas e instituições atuaram no processo de implantação do projeto?), a

Tabela 28, a seguir, apresenta a ideia central da resposta obtida.

72

Page 73: TAC 25 junho 2013

Tabela 28: Ideia central da resposta à pergunta 3 (Que pessoas e instituições atuaram no processo de implantação do projeto?)

Ideia central da resposta

A Cáritas, o BASA e o IBAMA

Segundo o entrevistado, a Cáritas foi a instituição responsável, bem como o

BASA, em relação ao financiamento, e o IBAMA, por conta da doação de madeira

ilegal apreendida.

Observa-se, assim, que houve articulações interinstitucionais que, inclusive,

envolveram dois órgãos públicos, o que se aproxima da ideia de um saneamento

alicerçado na Promoção da Saúde.

Sobre a categoria modelo de intervenção (pergunta 4 - Como foi a tomada

de decisão para a implantação do projeto?), a Tabela 29, a seguir, apresenta a ideia

central da resposta obtida.

Tabela 29: Ideia central da resposta à pergunta 4 (Como foi a tomada de decisão para a implantação do projeto?)

Ideia central da resposta

A partir de visitas do Arcebispo de Belém à ilha

A resposta revela que a decisão da implantação do projeto foi tomada a

partir do momento em que o então Arcebispo de Belém visitou a ilha e observou que

os moradores lançavam seus dejetos no terreno por meio de fossas negras, o que

provocava um ciclo de contaminação na região.

Assim, com o objetivo de trazer melhorias para os moradores, a Cáritas se

propôs a implantar o SES. Durante o processo de implantação, houve a participação

técnica por meio da atuação dos profissionais voluntários da Cáritas e do pároco

73

Page 74: TAC 25 junho 2013

local, os quais foram responsáveis pelas ações educativas (palestras) que

informaram os moradores sobre como operar o SES.

A ação participativa da população, todavia, ficou restrita a estar presente

nessas palestras, pois não houve uma discussão sobre a realidade local com vistas

à construção de alternativas para solucionar os problemas, de acordo com a

Promoção da Saúde. Somente houve a apresentação de uma única alternativa: a

implantação do SES.

Sobre a categoria estratégias de ação (pergunta 5 - Como e quais foram as

ações de educação realizadas?), a Tabela 30, a seguir, apresenta a ideia central da

resposta obtida.

Tabela 30: Ideia central da resposta à pergunta 5 (Como e quais foram as ações de educação realizadas?)

Ideia central da respostaTrabalho de conscientização na educação, na formação, no uso e na manutenção

De acordo com a resposta do idealizador/executor foram desenvolvidas

ações de conscientização e educação que proporcionaram a capacitação da

população beneficiada quanto ao uso e à manutenção do SES.

Contudo, na prática, cruzando essa resposta com as respostas das usuárias

às perguntas 4 (Como você ficou sabendo do projeto?) e 5 (Que orientações você

recebeu sobre o funcionamento do sanitário ecológico seco? Quem orientou?) do

roteiro exibido na Tabela 6, tudo indica que tais ações se limitaram ao treinamento

da comunidade, pois, não contribuíram, de fato, para o processo de empoderamento

local, como ações de Promoção da Saúde.

Sobre a categoria executores dos projetos (pergunta 6 - Quem foi o

responsável pelo projeto na época da implantação? Quem é responsável

74

Page 75: TAC 25 junho 2013

atualmente?), a Tabela 31, a seguir, apresenta a ideia central da resposta obtida.

Tabela 31: Ideia central da resposta à pergunta 6 (Quem foi o responsável pelo projeto na época da implantação? Quem é responsável atualmente?)

Ideia central da resposta

Os responsáveis na época da implantação eram o engenheiro civil e o diácono. Atualmente é o engenheiro civil

Segundo a resposta, na implantação do SES, dois voluntários da Cáritas, um

deles com formação em engenharia civil, assumiram a responsabilidade de executar

e supervisionar o projeto. Atualmente, o responsável é o engenheiro civil.

De acordo com a categoria abordada, a PS ressalta que a execução dos

projetos e suas responsabilidades devem ser divididas entre todos os atores sociais

envolvidos. No entanto, não foi mencionada a participação da população nas

respostas obtidas, inclusive quanto à responsabilidade atual.

Sobre a categoria modelo de gestão (pergunta 7 - De onde foi adotada a

tecnologia implantada?), a Tabela 32, a seguir, apresenta a ideia central da resposta

obtida.

Tabela 32: Ideia central da resposta à pergunta 7 (De onde foi adotada a tecnologia implantada?)Ideia central da resposta

Adotada do município de Abaetetuba.

A resposta revela que a Cáritas tomou conhecimento da existência do SES

por meio da diocese do município de Abaetetuba, onde está em curso uma

experiência com essa tecnologia.

Certamente, a inciativa de implanta-la em Jutuba levou em conta sua

adaptabilidade às condições físicas do meio mas, e quanto aos aspectos sociais e

culturais da comunidade? Estaria ela devidamente adaptada para uso por parte de

senhoras de idade e crianças, por exemplo? E a comunidade estaria disposta a

75

Page 76: TAC 25 junho 2013

assumir responsabilidades quanto à operação e à manutenção corretas, inclusive

alterando seus hábitos? Estas são perguntas que uma intervenção lastreada na

Promoção da Saúde deve incorporar, desenvolvendo estratégias de educação para

o empoderamento individual e coletivo, o que não se verificou efetivamente na

intervenção em estudo. Em visitas às casas das usuárias, foi possível encontrar

em uso vasos sanitários com descarga, o que indica que a apropriação da

tecnologia não se verificou de fato.

6.3.3 - Resumo da Avaliação do Ponto de Vista da Promoção da Saúde

A Tabela 33, a seguir, apresenta o resumo dos resultados obtidos sobre a

avaliação do projeto em estudo na perspectiva da Promoção da Saúde, tanto do

ponto vista das usuárias, quanto dos idealizadores/executores.

Tabela 33: Resumo da Avaliação do Ponto de Vista da Promoção da SaúdeCategoria avaliada Avaliação dos usuários Avaliação dos

idealizadores/executores Objetivo dos projetos Melhorar qualidade de

vida dos moradoresBeneficiar a saúde da população e o ambiente

Preocupação quanto à sustentabilidade das ações e benefícios ao longo do tempo

Sustentabilidade não assegurada ao longo do tempo pela falta de cal e serragem

Sustentabilidade não assegurada ao longo do tempo pela falta de cal e serragem

Articulação entre políticas, instituições e ações

Ação particular do movimento católico no Pará, tendo a Cáritas como executora, com o apoio da paróquia local

Ação da Cáritas em conjunto com o BASA e o IBAMA

Modelo de intervenção(participação técnica e não técnica nas decisões)

Participação somente técnica; participação da população restrita a estar presente nas reuniões realizadas

Participação somente técnica; participação da população restrita a estar presente nas reuniões realizadas

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Page 77: TAC 25 junho 2013

Estratégias de ação(educação sanitária e ambiental como estratégia)

Orientações técnicas transmitidas em reuniões por parte da Cáritas sobre operação e manutenção do sistema

Ações de conscientização, educação e formação para capacitar a população quanto ao uso e manutenção do sistema

Executores dos projetos(responsabilidade pelas ações)

Cáritas e Diácono responsáveis pela implantação; Cáritas responsável atualmente

Engenheiro civil e diácono responsáveis pela implantação; Engenheiro civil responsável atualmente

Modelo de gestão(adaptabilidade das ações)

Comprometida pela falta de cal e serragem (nem todas as usuárias usam o sistema)

Comprometida pela não observância de hábitos e aspectos culturais das usuárias e pela fragilidade das ações educativas para empoderamento

Analisando o exposto, pode-se dizer que:

na percepção das usuárias e dos idealizadores/executores, a categoria

objetivos dos projetos se alinha com uma visão de saneamento proposta pela

PS;

há divergência entre a percepção das usuárias e a dos

idealizadores/executores quanto à categoria articulação entre políticas,

instituições e ações: segundo a visão destes pode-se considerar uma

aproximação da PS; a visão daquelas sugere afastamento da PS;

na percepção das usuárias e dos idealizadores/executores, todas as demais

categorias se afastam de uma visão de saneamento proposta pela PS.

7- CONCLUSÃO

Dentro dos limites desta investigação, os resultados obtidos indicam que o

projeto Sanitário Ecológico Seco, em Jutuba, não alcançou a eficácia objetiva, uma

77

Page 78: TAC 25 junho 2013

vez que todos os aspectos investigados não alcançaram os objetivos propostos.

Analisando a efetividade subjetiva, os resultados se mostraram insatisfatórios,

pois há dificuldade na obtenção da cal e da serragem, materiais indispensáveis para

o uso do SES.

Quanto à avaliação do ponto de vista da Promoção da Saúde, os resultados

indicam que na percepção dos usuários e dos idealizadores/executores, a categoria

objetivo dos projetos do SES, se alinha com uma visão de saneamento proposta

pela PS. Quanto à categoria articulação entre políticas, instituições e ações, há

divergência, no ponto de vista dos idealizadores/executores pode-se considerar uma

aproximação da PS e na percepção dos usuários propõe afastamento desta. No

entanto, todas as demais categorias se distanciam de uma visão associada na PS,

sugerindo que, em termos gerais, a intervenção não se coaduna com a perspectiva

de um saneamento alicerçado no ideário da PS.

Tais indicativos, apesar de serem contrários ao que usuários e

idealizadores/executores desejariam, não podem ser encarados como fonte de

desestímulo. Ao contrário, considera-se que constituem parâmetro que poderá

nortear de forma segura ações corretivas da intervenção já realizada, mas também,

e principalmente, as ações futuras que venham a ser implementadas em outras

localidades tão ou mais carentes que Jutuba.

Com essa finalidade, é que se apresenta, na seção seguinte, um conjunto de

recomendações julgadas oportunas.

8 - RECOMENDAÇÕES

Com o objetivo de corrigir os indicativos de ineficácia e não-efetividade,

recomenda-se:

78

Page 79: TAC 25 junho 2013

a realização de ações mais aprofundadas e efetivas de educação ambiental

para despertar o interesse e a compreensão da população em geral, desde

crianças até os mais idosos, sobre questões relacionadas à sustentabilidade,

permacultura (cultura permanente) e ecologia. Citam-se como exemplos, a

criação de cartilhas, a realização de oficinas de aprendizagem e orientação

para produção e venda do adubo e do inseticida, entre outros. Essa iniciativa

seria um estímulo à utilização do sanitário ecológico, uma vez que os

moradores teriam consciência sobre a responsabilidade do seu papel na

gestão do projeto. Aqui é importante falar dos aspectos de construção

conjunta de alternativas para os problemas da comunidade e de

empoderamento

o monitoramento periódico da fase de compostagem para produção do adubo

para avaliar seu desenvolvimento correto

a realização de exames parasitológicos do material compostado, a fim de

avaliar a eficácia do processo;

o estabelecimento de parcerias com madeireiras próximas ou qualquer outro

fornecedor de serragem;

fornecimento de cal através de doações realizadas por instituições

governamentais ou pela Cáritas

a integração do sistema a um minhocário para a produção de húmus e o

posterior uso dele na agricultura (o minhocário integrado à caixa de

compostagem teria a função de eliminar completamente qualquer risco de o

composto estar contaminado por agentes patogênicos);

estabelecimento de parcerias com agricultores próximos às ilhas para a

venda do adubo produzido

79

Page 80: TAC 25 junho 2013

a instalação de um modelo de vaso sanitário mais confortável, adequando

inovações ou buscando semelhanças com os assentos de um vaso comum.

9 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, B.S.Q. Banheiro Seco: análise da eficiência de protótipos em

funcionamento. Florianópolis: Santa Catarina, 2009.

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parasitoses intestinais na infância na cidade de São Paulo (1984-1996) . Revista.

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discurso sanitário da sociedade contemporânea. Saúde Sociedade. São Paulo,

v.21, n.4, p.811-821, 2012.

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Modelo Para Análise Comparada Da Organização De Serviços De Saúde. Rio de

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MAGNOLLI, M. M. Ambiente, espaço e paisagem. Vol.1 e 2. São Paulo: FAUUSP,

1986.

MARTINS, G.C.M. Proposta de um modelo para gestão ambiental comunitária

utilizando princípios da permacultura. Florianópolis-SC, 2007.

PHILIPPI. J. R. A; MALHEIROS, T. F. Saneamento saúde e ambiente:

fundamentos para um desenvolvimento sustentável. Integrando homem e meio

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SOUZA, C. M. N. Relação saneamento-saúde-ambiente: os discursos

preventivistas e da Promoção da Saúde. Saúde Sociedade. São Paulo:EDITORA

DO LIVRO. v. 16, n. 3, pag. 125-137, 2007.S FOR REVISTA ESPEC.

SOUZA, C. M. N; FREITAS, C. M. O saneamento na ótica de profissionais de

saneamento-saúde-ambiente: promoção da saúde ou prevenção de doenças?

Revista de Engenharia Sanitária e Ambiental. Rio de Janeiro: v. 13, n. 1, p. 46-

53,2008.

Discurso de usuários sobre uma intervenção em saneamento: uma análise na

ótica da Promoção da Saúde e da prevenção de doenças.Revista de Engenharia

Sanitária e Ambiental. Rio de Janeiro: v. 14, n.1, p. 59-68, 2009.

SOUZA, C.M.N; FREITAS, C.M; MORAES, L.R.S. Discursos sobre a relação

saneamento-saúde-ambiente na legislação: uma análise de conceitos e

diretrizes. Revista de Engenharia Sanitária e Ambiental. Rio de Janeiro: v. 12, n. 4,

p. 371-379, 2007.

Na internet.

ARQUITETURA de terra. UFSC. Disponível em:

www.arq.ufsc.br/arq5661/trabalhos_2004-1/arq_terra/superadobe.htm (Acessado em

13/07/2012).

82

Page 83: TAC 25 junho 2013

BANHEIRO seco e ecológico. Blog Spot. Disponível em: www.

banheirosecoecologico.blogspot.com.br (Acessado em: 19/09/2010).

BRASIL. Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH). Brasil.gov.br.

Disponível em: www.brasil.gov.br/sobre/cidadania/direitos-do-cidadao (Acessado em

17/08/2012).

HABITAÇÂO. ecocentroIPEC. Disponível em:

www.ecocentro.org/vida-sustentavel/habitacao (Acessado em 02/06/2012).

HUMUS SAPIENS_IPEC. ecocentroIPEC. Disponível em:

www.ieham.org/html/docs/ (Acessado em 24/07/2011).

RECEITAS AGROECOLÓGICAS. Consórcio Lambari. Disponível em:

http://www.consorciolambari.com.br/index.php?

option=com_content&view=article&id=79&Itemid=56 (Acessado em 18/06/13)

APÊNDICE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Projeto Sanitário Ecológico Seco: eficácia, efetividade e Promoção da Saúde

Você está sendo convidado(a) a participar do projeto de pesquisa acima

citado. O documento abaixo contém todas as informações necessárias sobre a

pesquisa que estamos fazendo. Sua colaboração neste estudo será de muita

83

Page 84: TAC 25 junho 2013

importância para nós, mas se desistir a qualquer momento, isso não causará

nenhum prejuízo a você.

Eu, _________________________________________, residente e domiciliado na

_________________________, RG ____________ e CPF_________________,

nascido(a) em _____ / _____ /_______, abaixo assinado(a), concordo de livre e

espontânea vontade em participar como voluntário(a) da pesquisa “Participação e

Controle Social no saneamento básico: proposição de tecnologias de apoio”.

Estou ciente de que:

I) O objetivo da pesquisa é avaliar o projeto Sanitário Ecológico Seco, a partir das

idéias de Promoção da Saúde;

II) Os dados necessários para alcançar esse objetivo serão coletados mediante

entrevistas norteadas por um roteiro básico;

III) Minha participação neste projeto consiste em responder às perguntas que me forem

dirigidas durante a entrevista e contribuirá para acrescentar à literatura dados referentes ao

tema, direcionando as ações voltadas para a promoção da saúde e não causará nenhum

risco a minha integridade física, psicológica, social e intelectual;

IV) Tenho a liberdade de desistir ou de interromper a colaboração neste estudo no

momento em que desejar, sem necessidade de qualquer explicação;

V) A desistência não causará nenhum prejuízo a minha pessoa;

VI) Não receberei remuneração e nenhum tipo de recompensa nesta pesquisa, sendo

minha participação voluntária;

VII) Os resultados obtidos durante este estudo serão mantidos em sigilo;

VIII) Concordo que os resultados sejam divulgados em publicações científicas, desde que

meus dados pessoais não sejam mencionados;

IX) Caso eu desejar, poderei pessoalmente tomar conhecimento dos resultados parciais

e finais desta pesquisa.

( ) Desejo conhecer os resultados desta pesquisa

( ) Não desejo conhecer os resultados desta pesquisa

Belém, ______, de ____________ de 2011

Declaro que obtive todas as informações necessárias, bem como todos os esclarecimentos

quanto às dúvidas por mim apresentadas.

______________________________________

84

Page 85: TAC 25 junho 2013

Entrevistado

______________________________________

Entrevistador

_______________________________________

Cezarina Maria Nobre Souza

Pesquisadora Responsável

Telefones para contato:

Instituição executora da pesquisa: Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia do Pará – 91 32011770

Pesquisadora Responsável: Cezarina Souza - 91 8882-2022

85

Page 86: TAC 25 junho 2013

ANEXO

PARECER DE APROVAÇÃO EMITIDO PELO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

COM SERES HUMANOS DO INSTITUTO EVANDRO CHAGAS

86