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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO O TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA COMO INSTRUMENTO DE DEFESA EXTRAJUDICIAL DO MEIO AMBIENTE ROBERTO HOSTIM DE OLIVEIRA JUNIOR ITAJAÍ, OUTUBRO DE 2007

Tac monografia roberto h

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Page 1: Tac monografia roberto h

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

O TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA COMO INSTRUMENTO DE DEFESA EXTRAJUDICIAL DO MEIO

AMBIENTE

ROBERTO HOSTIM DE OLIVEIRA JUNIOR

ITAJAÍ, OUTUBRO DE 2007

Page 2: Tac monografia roberto h

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

O TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA COMO INSTRUMENTO DE DEFESA EXTRAJUDICIAL DO MEIO

AMBIENTE

ROBERTO HOSTIM DE OLIVEIRA JUNIOR

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientadora: Professora MSc. Maria da Graça Mello Ferraciolli

ITAJAÍ, OUTUBRO DE 2007

Page 3: Tac monografia roberto h

AGRADECIMENTO

Primeiramente aos meus pais Roberto Hostim de Oliveira e Sônia Maria de Oliveira, por terem

sempre me apoiado e lutado para me dar o melhor possível;

Às minhas irmãs Renata de Oliveira Gomes e Fernanda de Oliveira Espíndola, que sempre me

incentivaram em minhas escolhas;

Aos meus grandes amigos que nunca esquecerei: Everton, Eduardo, Marcos, Marino, William,

Vinícius, pelo companheirismo; Fernando Correia pela grande lealdade que possui; Paulo “Viper”, o

cara mais parceiro que já conheci; Fernando Bellé pelos grandes conselhos; Francine, Gianini e

Mariana por terem sido grandes amigas ao longo desses anos de faculdade;

Agradeço também a todos os professores que lecionaram para mim, e em especial para Maria

da Graça Mello Ferraciolli, a minha orientadora, e aos grandes mestres: Leandro Morgado, José

Everton da Silva, Irineu João da Silva, Maria Fernanda do Amaral, Wanderley Godoy Júnior,

Alexandre Tavares, Marco Aurélio G. Buzzi e Rosan da Rocha;

Finalmente, todavia reservando aqui maior importância, a Deus que me proporcionou a

possibilidade de conhecer e conviver com todas essas pessoas que tanto contribuíram para meu

crescimento intelectual e moral.

Page 4: Tac monografia roberto h

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todas as pessoas que conheci nestes anos de faculdade e em especial à

minha família e amigos.

Page 5: Tac monografia roberto h

Pois acontece muito não darmos a que

temos o justo valor, enquanto o temos;

mas se o perdemos ou nos é tirado,

exageramos-lhe então o valor, e só então

descobrimos as qualidades que aquilo

não nos mostrava quando era nosso.

William Shakespeare1

1 SHAKESPEARE, William. In: NOGUEIRA, Arnaldo Junior. Projeto Releituras. Disponível em: http://www.releituras.com/wshakespeare_citacoes.asp. Acesso em 01 out. 2007.

Page 6: Tac monografia roberto h

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, 16 de Outubro de 2007

Roberto Hostim de Oliveira Junior Graduando

Page 7: Tac monografia roberto h

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Roberto Hostim de Oliveira Junior,

sob o título O Ministério Público na Defesa Extrajudicial do Meio Ambiente: Termo

de Ajustamento de Conduta, foi submetida em 13 de novembro de 2007 à banca

examinadora composta pelos seguintes professores: MSc. Cláudia Marisa Kellner

Berlim, MSc. Josemar Sidnei Soares e MSc. Maria da Graça Mello Ferracioli, e

aprovada com a nota 9,75 (nove e setenta e cinco).

Itajaí, 13 de Novembro de 2007

MSc. Maria da Graça Mello Ferraciolli Orientadora e Presidente da Banca

Antonio Lapa Coordenação da Monografia

Page 8: Tac monografia roberto h

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACP Ação Civil Pública

ART Artigo

CC Código Civil Brasileiro de 2002

CDC Código de Defesa do Consumidor

CEJURPS Centro de Ciências Jurídicas e Sociais

CRFB/1988 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

CGMP Corregedoria Geral do Ministério Público

CP Código Penal

CPC Código de Processo Civil

CPP Código de Processo Penal

CSMP Conselho Superior do Ministério Público

LACP Lei da Ação Civil Pública

LAP Lei da Ação Popular

LF Lei Federal

MP Ministério Público

TJ Tribunal de Justiça

UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí

Page 9: Tac monografia roberto h

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Dano

Constitui um dos alicerces essenciais da responsabilidade, podendo ser

conceituado como a lesão a um bem jurídico tutelado2.

Direito Ambiental

É o conjunto de princípios e regras destinados à proteção do Meio Ambiente,

compreendendo medidas administrativas e jurídicas, com a reparação econômica

e financeira dos danos causados ao ambiente e aos ecossistemas, de uma

maneira geral3.

Direitos Difusos

Denominados direitos de terceira geração, surgem no contexto do Estado

Democrático de Direito, no âmbito de uma sociedade hipercomplexa. Ultrapassam

a visão individualista, superando a dicotomia entre o público e o privado4.

Direitos Fundamentais

Os direitos fundamentais podem ser entendidos como direitos ínsitos à própria

noção de pessoa, como direitos básicos do indivíduo, como homem, no seu atual

patamar de dignidade5.

2 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 5 ed. ampl. – São Paulo: Saraiva, 2004, p. 34. 3 CARVALHO, Carlos Gomes de. Introdução ao direito ambiental. Rio de Janeiro: Verde Pantanal, 1990, p. 140. ��COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. Proteção jurídica do meio ambiente. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 09.�5 MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Coimbra: Coimbra Editora, 1993, p. 9.

Page 10: Tac monografia roberto h

Meio Ambiente

Bem jurídico de fruição eminentemente coletiva, destinado à satisfação de

necessidades transindividuais. O bem meio ambiente, num sentido macro, não se

insere no universo dos bens públicos, tampouco na seara dos bens privados.

Considera-se um bem da coletividade com elementos dotados de um regime

jurídico especial, enquanto essenciais à sadia qualidade de vida e vinculados,

assim, a um fim de interesse coletivo6.

Meio Ambiente Artificial

Diz respeito ao espaço urbano construído, ou seja, o conjunto de edificações

(chamado de espaço urbano fechado), e equipamentos públicos (espaço urbano

aberto)7.

Meio Ambiente Cultural

É o Meio Ambiente integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico,

paisagístico, turístico, que, embora artificial, em regra, como obra do homem,

difere do anterior (que também é cultural) pelo sentido de valor especial8.

Meio Ambiente Natural

É o Meio Ambiente constituído por solo, água, ar atmosférico, flora e fauna, os

quais, somados, resultam em um equilíbrio dinâmico entre os seres vivos e o

meio em que vivem9.

Meio Ambiente do Trabalho

Local onde as pessoas desempenham atividades laborais, sendo remuneradas ou

não, cujo equilíbrio está baseado na salubridade do meio e na ausência de

agentes que comprometam a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores10.

6 COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. 2003. p. 08. 7 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 21. 8 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 3 ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 03. 9 REBELLO, Wanderley Filho. e BERNARDO, Christianne. Guia Prático de Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Ed. Lúmen Júris, 1999, p. 19. 10 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 22 – 23.

Page 11: Tac monografia roberto h

Poluidor

Pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, que, direta ou

indiretamente, causa degradação ao Meio Ambiente através de sua atividade11.

Poluição

É a degradação de qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou

indiretamente: prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; afetem

desfavoravelmente a biota; afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio

ambiente; lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais

estabelecidos12.

Princípios

Mandamentos basilares de um ordenamento jurídico, possuindo natureza

normogenética (normas que estão na base ou constituem a ratio de regras

jurídicas)13.

Prevenção

É a forma de antecipar-se aos processos de degradação ambiental, mediante

adoção de políticas de gerenciamento de proteção dos recursos naturais14.

11 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 32. 12 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 35.�13 COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. 2003. p. 33. 14 SAMPAIO, José Adércio Leite. Princípios de direito ambiental. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 70.

Page 12: Tac monografia roberto h

SUMÁRIO

RESUMO.........................................................................................XIV

INTRODUÇÃO ................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 3

MEIO AMBIENTE: CONCEITO, PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DE PROTEÇÃO E RESPONSABILIDADE......................................... 3 1.1 MEIO AMBIENTE E CONSTITUIÇÃO..............................................................4 1.1.1 A PESSOA HUMANA COMO DESTINATÁRIO DO DIREITO AMBIENTAL ......................7 1.2 DEFINIÇÃO LEGAL DO MEIO AMBIENTE ...................................................10 1.3 CLASSIFICAÇÃO DO MEIO AMBIENTE.......................................................11 1.3.1 MEIO AMBIENTE NATURAL OU FÍSICO ..............................................................12 1.3.2 MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL ............................................................................13 1.3.3 MEIO AMBIENTE CULTURAL ............................................................................13 1.3.4 MEIO AMBIENTE DO TRABALHO .......................................................................14 1.4 PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988..............................................15 1.4.1 PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .............................................17 1.4.2 PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR .................................................................20 1.4.3 PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO E PREVENÇÃO ........................................................22 1.4.4 PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO ..........................................................................25 1.4.5 PRINCÍPIO DA UBIQÜIDADE ..............................................................................26 1.5 RESPONSABILIDADE POR DANOS CAUSADOS AO MEIO AMBIENTE...27 1.5.1 RESPONSABILIDADE CIVIL...............................................................................28 1.5.2 RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA..............................................................30 1.5.3 RESPONSABILIDADE PENAL ............................................................................32 1.5.3.1 A Distinção entre o Ilícito Civil e o Ilícito Penal....................................32 1.5.3.2 Tutela Penal do Meio Ambiente .............................................................33

CAPÍTULO 2 .................................................................................... 35

MEIOS PROCESSUAIS DE PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE..... 35 2.1 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE.....................37 2.1.1 INQUÉRITO CIVIL.............................................................................................39 2.1.2 PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO PRELIMINAR .................................................44 2.1.3 PEÇAS DE INFORMAÇÃO..................................................................................46 2.1.4 RECOMENDAÇÕES DO MINISTÉRIO PÚBLICO .....................................................46 2.2 A TUTELA COLETIVA AMBIENTAL .............................................................47 2.2.1 AÇÃO POPULAR CONSTITUCIONAL ..................................................................49 2.2.2 AÇÃO CIVIL PÚBLICA......................................................................................52 2.2.2.1 Condenação em dinheiro e o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos55

Page 13: Tac monografia roberto h

2.2.3 MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO AMBIENTAL............................................56 2.2.4 MANDADO DE INJUNÇÃO AMBIENTAL ...............................................................59

CAPÍTULO 3 .................................................................................... 63

COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA AMBIENTAL......................................................................................................... 63

3.1 COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA .................................63 3.1.1 NATUREZA JURÍDICA ......................................................................................65 3.1.2 LEGITIMIDADE.................................................................................................66 3.1.3 REVISÃO PELO CONSELHO SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO .........................69 3.1.4 ASPECTOS FORMAIS.......................................................................................70 3.1.5 EFEITOS DO COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA.............................71 3.1.6 A MUTABILIDADE DO COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA ...............73 3.1.7 PUBLICIDADE .................................................................................................73 3.2 COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA AMBIENTAL ...........75 3.2.1 OBJETO .........................................................................................................76 3.2.1.1 Obrigação de Fazer.................................................................................77 3.2.1.2 Obrigações de Não Fazer .......................................................................78 3.2.1.3 Obrigações de Dar Coisa Certa .............................................................79 3.2.1.4 Indenização em Dinheiro em Caso de Danos Irreparáveis..................80 3.2.1.5 Compensação por Equivalente..............................................................81 3.2.2 COMINAÇÃO...................................................................................................82 3.3 COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA AMBIENTAL PRELIMINAR........................................................................................................84 3.4 A EXECUÇÃO DO COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA AMBIENTAL.........................................................................................................87 3.4.1 EXECUÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER .............................................................87 3.4.2 EXECUÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER ......................................................89 3.4.3 EXECUÇÃO DE DAR COISA CERTA OU INCERTA ................................................90 3.4.4 EXECUÇÃO DE QUANTIA CERTA ......................................................................91 3.4.5 LEGITIMIDADE PARA A EXECUÇÃO DO TÍTULO ...................................................92 3.4.6 A EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO DE TÍTULO EXECUTIVO BASEADO EM COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA ...............................................................................94

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 96

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ........................................ 100

Page 14: Tac monografia roberto h

RESUMO

A presente Monografia tem como escopo estudar a tutela do Meio Ambiente

mediante a aplicação de Compromisso de Ajustamento de Conduta Ambiental,

buscando assim resolver a problemática da morosidade processual existente.

Quanto à Metodologia empregada, na Fase de Investigação foi utilizado o Método

Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados o Método Cartesiano, e, o Relatório

dos Resultados é composto na base lógica Indutiva. Atualmente, o Meio Ambiente

reveste-se de um valor de caráter fundamental, característica essa inerente ao

reconhecimento de que o direito ao Meio Ambiente sadio constitui valor relativo à

dignidade humana. Este ideal foi amparado pela Carta Magna de 1988, em seu

art. 225, que consagrou de forma nova e importante a essência deste bem

jurídico, ficando, desta forma, consignado que todos têm direito ao Meio Ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia

qualidade de vida. Assim, o instituto do Direito Ambiental compreende medidas

administrativas e jurídicas visando a reparação do ecossistema, ou, no caso de

impossibilidade, a indenização financeira dos danos causados. Desta forma,

foram conferidos ao Ministério Público e aos outros legitimados instrumentos e

poderes para alcançar este objetivo. Dentre estes instrumentos, destacam-se o

Inquérito Civil, amplamente utilizado na investigação de fatos que constituem ou

ameaçam constituir lesão ao Meio Ambiente; e, a Ação Civil Pública, efetivo

instrumento de reparação ambiental. Todavia, a grande problemática da defesa

ambiental encontra-se na morosidade dos citados instrumentos, já que o ideal

principal da tutela é a prevenção. Para resolver a questão, vê-se a utilização de

outro instrumento tipificado pela legislação vigente, menos complexo, contudo,

muito efetivo, o Compromisso de Ajustamento de Conduta. Tratando-se da

manutenção do equilíbrio ecológico, o fator temporal é primordial, haja vista o fato

de que quanto antes o dano for reparado, ou afastado for o perigo, melhor é

resguardado o direito da coletividade a um meio ambiente sadio.

Page 15: Tac monografia roberto h

INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto estudar sobre a

tutela do Meio Ambiente, em especial, mediante a aplicação de Compromisso de

Ajustamento de Conduta Ambiental, buscando assim resolver a problemática da

morosidade processual.

O seu objetivo é demonstrar a importância que o

Compromisso de Ajustamento de Conduta tem demonstrado possuir na defesa

ambiental, sobretudo nos dias atuais, onde o interesse econômico tem se

sobreposto ao equilíbrio sadio do Meio Ambiente.

Para tanto, principia–se, o Capítulo 1, tratando da

conceituação e classificação do Meio Ambiente, bem como, os princípios

constitucionais inerentes à matéria.

O Capítulo 2, falará especialmente sobre a importância dos

instrumentos processuais de tutela do Meio Ambiente, tanto os inerentes às

atribuições do Poder Público, como os meios de tutela coletiva assegurados pela

norma vigente.

O Capítulo 3, destacará o Compromisso de Ajustamento de

Conduta, sua importância, finalidade, especialmente tendo como escopo a defesa

do Meio Ambiente, tratando ao final sobre a execução deste, no caso de

inadimplemento.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

��O Meio Ambiente é um bem jurídico tutelado na legislação Brasileira?

Page 16: Tac monografia roberto h

2

��A legislação Brasileira prevê instrumentos jurídicos para a preservação e restituição ambiental?

��O Compromisso de Ajustamento de Conduta é um instrumento de defesa extrajudicial ambiental?

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados

o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente

Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa

Bibliográfica15.

15 PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. 10 ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2007.

Page 17: Tac monografia roberto h

3

CAPÍTULO 1

MEIO AMBIENTE: CONCEITO, PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DE PROTEÇÃO E RESPONSABILIDADE

Quando o homem finalmente percebeu que sua capacidade

de transformar a natureza poderia implicar graves perturbações ao equilíbrio

ecológico e, até mesmo, a deterioração irremediável de seu próprio habitat, iniciou

a disseminação da idéia de que o ambiente merece atenção específica do

Direito16.

A generalização mundial dessa convicção, na avaliação de

Santos, Dias e Aragão17:

[...] está na base da emergência recente do meio ambiente como

bem digno de proteção ou tutela jurídica, o mesmo é dizer, na

base da sua transmutação de mero interesse socialmente

relevante em autêntico bem jurídico.

Atualmente, o Meio Ambiente reveste-se de um valor de

caráter fundamental, característica essa inerente ao reconhecimento de que o

direito ao Meio Ambiente sadio constitui a expressão de um valor inerente à

dignidade humana18.

Conforme preconiza Miranda19:

[...] os direitos fundamentais podem ser entendidos prima facie

como direitos ínsitos à própria noção de pessoa, como direitos

básicos do indivíduo, como homem, no seu atual patamar de

dignidade.

16 COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. 2003. p. 10 – 11. 17 SANTOS, Cláudia Maria Cruz, DIAS, José Eduardo de Oliveira Figueiredo e ARAGÃO, Maria Alexandra de Souza. Introdução ao direito do ambiente. Lisboa: Universidade Aberta, 1998. p. 25. 18 SILVA, José Afonso da. 2000. p. 81. 19 MIRANDA, Jorge. 1993. p. 9.

Page 18: Tac monografia roberto h

4

Nessa perspectiva, Costa Neto20 afirma que:

[...] o meio ambiente é um bem jurídico de fruição eminentemente

coletiva, eis que destinado à satisfação de necessidades

transindividuais. Sob essa ótica, o bem meio ambiente, num

sentido macro, não se insere no universo dos bens públicos,

tampouco na seara dos bens privados. Considera-se um bem da

coletividade com elementos dotados de um regime jurídico

especial, enquanto essenciais à sadia qualidade de vida e

vinculados, assim, a um fim de interesse coletivo.

Essa idéia de “fundamentalização” do direito ao Meio

Ambiente sadio e ecologicamente equilibrado assume dimensão constitucional

exatamente para registrar que a sua incorporação na ordem jurídica, ao lado de

outros direitos fundamentais, ocupa um pleno superior de dignidade, exigindo

uma proteção jurídica reforçada21.

1.1 MEIO AMBIENTE E CONSTITUIÇÃO

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

consagrou de forma inovadora e importante a essência do Meio Ambiente como

um bem desprovido de características de bem público e, tampouco, privado,

voltado à realidade do século XXI, das sociedades de massa, caracterizada por

um crescimento desordenado e brutal avanço tecnológico22.

Vê-se, atualmente, que as estratégias de desenvolvimento

têm privilegiado o crescimento econômico à curto prazo, conseqüentemente

acarretando uma crise ambiental mundial, como suscita Milaré23:

[...] a paisagem natural está cada vez mais ameaçada pelas

usinas nucleares, pelo lixo químico, pelos dejetos orgânicos, pelas

20 COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. 2003. p. 08. 21 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Direitos Humanos e Meio Ambiente. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1993, p. 71. 22 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 11. 23 MILARÉ, Edis. Processo Coletivo Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993, p. 258.

Page 19: Tac monografia roberto h

5

chuvas ácidas, pelas queimadas, e pelo indiscriminado uso de

recursos naturais não renováveis.

Isto ocorre porque o desenvolvimento econômico se

estrutura na aplicação direta de tecnologias modernas com o escopo de elaborar

meios de substituir o que a natureza oferece, objetivando a obtenção de lucro,

que, materializado em pecúnia, significa para muitos uma melhor qualidade de

vida. Entretanto, a qualidade de vida humana é afetada pelo estado de qualidade

do Meio Ambiente, estando intimamente interligada ao ideal de preservação e

recuperação deste meio24.

Diante desse quadro, a Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988 estruturou a tutela dos valores ambientais,

reconhecendo-lhes características próprias, ou seja, desagregadas do instituto da

posse e da propriedade, amparando nova concepção a direitos que muitas vezes

transcendem ao tradicional ideal dos direitos difusos25.

Para Costa Neto26:

Os direitos difusos, denominados direitos de terceira geração,

surgem no contexto do Estado Democrático de Direito, no âmbito

de uma sociedade hipercomplexa. Ultrapassam a visão

individualista, superando a dicotomia entre o público e o privado.

Mencionado reconhecimento foi realizado por conta do art.

225 do texto constitucional, que oferece os fundamentos básicos para a

compreensão do instituto27. Dispõe seu caput:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

24 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1982, p. 6. 25 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 11. ���COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. 2003. p. 09.�27 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Dos direitos humanos aos direitos e garantias fundamentais: direitos difusos. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 145 – 149.

Page 20: Tac monografia roberto h

6

Fiorillo divide esse dispositivo em quatro partes para melhor

análise do ideal amparado pelo legislador. A primeira parte aponta para a

existência do direito a um Meio Ambiente ecologicamente equilibrado a todos,

evidenciando a característica de bem difuso28.

Conforme leciona Machado29:

O direito ao meio ambiente equilibrado é de cada um, como

pessoa humana, independentemente de sua nacionalidade, raça,

sexo, idade, estado de saúde, profissão, renda ou residência. [...]

é de cada pessoa, mas não só dela, sendo ao mesmo tempo

transindividual. Por isso, o direito ao meio ambiente entra na

categoria de interesse difuso, não se esgotando numa só pessoa,

mas se espraiando para uma coletividade indeterminada.

Na segunda parte do dispositivo encontra-se relação com a

compreensão do bem ambiental. Afirma Fiorillo30 que:

Quando a Constituição Federal diz que todos têm direito a um

meio ambiente ecologicamente equilibrado, aponta a existência de

um direito vinculado à hipótese de um bem de uso comum do

povo e essencial à sadia qualidade de vida.

A terceira análise da norma diz respeito à estrutura finalística

do Direito Ambiental, tendo em vista que esse bem de uso comum do povo tem

de ser essencial à sadia qualidade de vida. Machado31 aduz que “a sadia

qualidade de vida só pode ser conseguida e mantida se o meio ambiente estiver

ecologicamente equilibrado, ou seja, não-poluído”.

Finalmente, Fiorillo32 se reporta ao quarto ponto como o

mais relevante do art. 225 da CRFB/1988, por proporcionar a compreensão do

que seja um bem ambiental, isto é, um bem resguardado não só no interesse dos

que estão vivos, mas, também, ao direito das gerações vindouras.

28 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 11. 29 MACHADO, Paulo Affonso Leme. 1982. p. 108. 30 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 13. 31 MACHADO, Paulo Affonso Leme. 2004. p. 112. 32 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 1998. p. 149.

Page 21: Tac monografia roberto h

7

Desta forma, o art. 225 consagra a ética da solidariedade

entre as gerações, haja vista que as gerações presentes não podem usar o Meio

Ambiente fabricando a escassez e a debilidade para as gerações futuras33.

Nesta linha, Fiorillo34 conclui que:

[...] o art. 225 estabelece quatro concepções fundamentais no

âmbito do direito ambiental: a) de que todos têm direito ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado; b) de que o direito ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado diz respeito à existência de

um bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de

vida, criando em nosso ordenamento o bem ambiental; c) de que

a Carta Maior determina tanto ao Poder Público como à

coletividade o dever de defender o bem ambiental, assim como o

dever de preservá-lo; d) de que a defesa e a preservação do bem

ambiental estão vinculadas não só às presentes como também às

futuras gerações.

Cabe neste momento questionar-se: a quem o Direito

Ambiental serve? Seria somente ao homem ou a toda e qualquer outra forma de

vida?

1.1.1 A Pessoa Humana como destinatário do Direito Ambiental

Conforme este entendimento, acredita-se que o direito ao

Meio Ambiente tem como escopo a satisfação das necessidades humanas, fato

este que não impede que ainda seja protegida a vida em todas as suas formas,

conforme o art. 3º da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n. 6.938/81).

Partindo deste princípio, conclui-se que todos que a possuem são tutelados pelo

Direito Ambiental, tal como os bens essenciais à sadia qualidade de vida, em face

do que determina o art. 225 da CRFB/198835.

33 MACHADO, Paulo Affonso Leme. 2004. p. 115. 34 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 15. 35 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. O direito de antena em face do direito ambiental no

Page 22: Tac monografia roberto h

8

Vale ressaltar nesse sentido o Princípio nº 1 da Declaração

do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992: “Os seres

humanos estão no centro das preocupações com o desenvolvimento sustentável.

Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza”.

Seguindo este entendimento, complementa Fiorillo36, que:

Na verdade, o direito ambiental possui uma necessária visão

antropocêntrica, porquanto o único animal racional é o homem,

cabendo a este a preservação das espécies, incluindo a sua

própria.

Assim, não só existe uma visão antropocêntrica do Meio

Ambiente em sede constitucional, mas, também, uma indissociável relação

econômica do bem ambiental com o lucro que pode gerar, bem como, a

sobrevivência do próprio Meio Ambiente, sendo que a vida humana só será

possível com a permanência dessa visão antropocêntrica37.

Esse entendimento é passível de contestação, como se

pode perceber na defesa de Amaral38, o qual preceitua que:

[...] já não é mais possível considerar a proteção da natureza como um objetivo decretado pelo homem em benefício exclusivo do próprio homem. A natureza tem que ser protegida também em função dela mesma, como valor em si, e não apenas como um objeto útil ao homem. [...] A natureza carece de uma proteção pelos calores que ela representa em si mesma, proteção que, muitas vezes, terá de ser dirigida contra o próprio homem.

Nesta mesma linha, Costa Neto39 complementa afirmando

que:

Brasil. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 60. 36 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 16. 37 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco e RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de direito ambiental e legislação aplicável. Max Limonad, 1999, p. 55. 38 AMARAL, Diogo de Freitas do. Direito ao meio ambiente. apresentação. Lisboa: INA, 1994. p. 45. 39 COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. 2003. p. 30.

Page 23: Tac monografia roberto h

9

[...] a moderna tendência do Direito Ambiental avança

gradativamente, abeberando-se numa renovada ética ambiental

que tende a relegar o antropocentrismo excludente para partir do

suposto de que a natureza encerra um valor transcendente à mera

satisfação dos interesses e das necessidades do homem.

Nos últimos anos, ganhou força a tese de que um dos

objetivos do Direito Ambiental é a proteção da biodiversidade, fauna e flora, sob

uma diferente perspectiva: a natureza como titular de valor jurídico per se,

inerente a si mesma, vale dizer, exigindo, por força de profundos argumentos

éticos, proteção independentemente de sua utilidade para o homem40.

Aparenta-se inaceitável aludida concepção, visto que a

proteção da natureza é objetivo decretado pelo homem exatamente em benefício

exclusivo seu. Pensar de forma contrária significaria aceitar que a Constituição,

de maneira inédita, teria estendido o Direito Ambiental a todas as formas de vida,

ou seja, estaria assumindo uma interpretação literal do que estabelece o art. 3º, I,

da Lei nº 6.938/81, que reza ser meio ambiente “[...] o conjunto de condições, leis,

influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga

e rege a vida em todas as suas formas”41.

Levando em conta o posicionamento anteriormente citado,

os animais assumiriam papel de destaque em face da proteção ambiental,

enquanto destinatários diretos do Direito Ambiental brasileiro. Todavia, não

parece razoável a idéia do animal, da fauna, da vida em geral dissociada da

relação com o homem. Isso importa, uma vez mais, reiterar que a proteção do

Meio Ambiente existe, antes de tudo, para favorecer o próprio homem e proteger

as demais espécies42.

Desta feita, assevera Mazzili43 que:

40 BENJAMIN, Antônio Herman Vasconcelos e. Objetivos do Direito Ambiental. In: COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. Proteção jurídica do meio ambiente. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 30. 41 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 18 – 19. 42 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 19. 43 MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos direitos difusos em juízo. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 146.

Page 24: Tac monografia roberto h

10

[...] todos nós devemos combater, com veemência, qualquer forma

de crueldade contra os animais, ao mesmo tempo em que

devemos dedicar integral respeito a todas as formas de vida. Sem

dúvida, os animais e as plantas merecem proteção e respeito,

porque o princípio vital está acima da própria existência humana,

mas não porque tenham direitos ou interesses próprios, pois

Direito é apenas uma noção de valor e coerção que os próprios

homens criaram para viver em sociedade. [...] Sem os homens, a

noção de titularidade de direitos, interesses e deveres perderia o

sentido.

Feita uma análise inicial do Direito Ambiental na CRFB/1988,

passa-se a conceituá-lo.

1.2 DEFINIÇÃO LEGAL DO MEIO AMBIENTE

Inicialmente, verificando a própria terminologia empregada,

extrai-se que “meio ambiente” relaciona-se a tudo aquilo que circunda o homem.

Costuma-se criticar tal termo por ser redundante, em razão de “ambiente” já trazer

em seu conteúdo a idéia de “âmbito que circunda”, sendo desnecessário a

complementação pela palavra “meio”44.

O legislador infraconstitucional tratou de definir o Meio

Ambiente, conforme se verifica no art. 3º, I, da Lei nº 6.938/81 (a Lei da Política

Nacional do Meio Ambiente):

Art. 3º Para os fins previstos nesta Lei, entende- se por:

I – meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

44 MACHADO, Paulo Affonso Leme. 2004. p. 136.

Page 25: Tac monografia roberto h

11

A definição federal é ampla, pois vai atingir tudo aquilo que

permite a vida, que a abriga e rege. No entendimento de Odum45 estão

abrangidas as comunidades, os ecossistemas e a biosfera.

Observando a sistematização adotada pela CRFB/1988,

pode-se afirmar que o conceito de meio ambiente dado pela Lei da Política

Nacional do Meio Ambiente foi recepcionado, visto que a Constituição buscou

tutelar não só o meio ambiente natural, mas, também o artificial, o cultural e o do

trabalho.

1.3 CLASSIFICAÇÃO DO MEIO AMBIENTE

Como já mencionado, o termo “meio ambiente” possui

conceito jurídico indeterminado, cabendo ao intérprete o preenchimento do seu

conteúdo.

Ferraz, em estudo pioneiro no Brasil, designa esse direito de

Direito Ecológico, conceituou-o como “[...] o conjunto de técnicas, regras e

instrumentos jurídicos organicamente estruturados, para assegurar um

comportamento que não atente contra a sanidade mínima do Meio Ambiente”46.

Neste mesmo título, ensina Carvalho47 que:

O direito ambiental é o conjunto de princípios e regras destinados

à proteção do meio ambiente, compreendendo medidas

administrativas e jurídicas, com a reparação econômica e

financeira dos danos causados ao ambiente e aos ecossistemas,

de uma maneira geral.

Ressalta-se que Fiorillo e Abelha Rodrigues48, ao

classificarem o Meio Ambiente, o dividem em diversos aspectos, os quais buscam

45 ODUM, Eugere P. Ecologia. 2 ed. São Paulo: Pioneira, 1975, p. 140. 46 FERRAZ, Sérgio. Direito Ecológico: perspectivas e sugestões. São Paulo: Ver. da Cons. Geral do RGS, 1972, nº 4, p. 44. 47 CARVALHO, Carlos Gomes de. 1990. p. 140.

Page 26: Tac monografia roberto h

12

facilitar a identificação da atividade degradante e do bem imediatamente agredido.

Com isso, são enumerados quatro significativos aspectos: meio ambiente natural,

artificial, cultural e do trabalho.

1.3.1 Meio Ambiente Natural ou Físico

O Meio Ambiente Natural ou Físico é constituído por solo,

água, ar atmosférico, flora e fauna, os quais, somados, resultam em um equilíbrio

dinâmico entre os seres vivos e o meio em que vivem49.

Este bem natural é mediatamente tutelado pelo caput do art.

225 da CRFB/1988 e imediatamente, via de regra, pelo § 1º, I e VII, desse mesmo

artigo:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

[...]

VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

Assim, ficam todos incumbidos de preservar e defender o

meio ambiente, tal como a fauna e flora, buscando sempre evitar atividades que

apresentem riscos ao equilíbrio deste.

48 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 20. 49 REBELLO, Wanderley Filho. e BERNARDO, Christianne. 1999. p. 19.

Page 27: Tac monografia roberto h

13

1.3.2 Meio Ambiente Artificial

O Meio Ambiente Artificial diz respeito ao espaço urbano

construído, ou seja, o conjunto de edificações (chamado de espaço urbano

fechado), e equipamentos públicos (espaço urbano aberto)50.

Este aspecto está diretamente relacionado ao conceito de

cidade. Não está empregado em contraste com o termo “campo” ou “rural”,

qualifica-se assim como algo que se refere a espaços habitáveis, “não se opondo

a rural, conceito que nele se contém, pois, possui uma natureza ligada ao

conceito de território”51.

O Meio Ambiente Artificial é amparado na CRFB/1988 não

apenas no art. 225, mas, também, nos arts. 182, ao iniciar o capítulo referente à

política urbana52; 21, XX, que prevê a competência material da União Federal de

instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano53, inclusive habitação,

saneamento básico e transportes urbanos; 5º, XXIII54, entre alguns outros.

1.3.3 Meio Ambiente Cultural

O conceito de Meio Ambiente Cultural está previsto no art.

216 da CRFB/1988, que o delimita da seguinte forma:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

50 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 21. 51 SPANTIGATI, Frederico. Manuale di diritto urbanustico. Milano: Giuffrè, 1969, p. 11. 52 BRASIL. Constituição Federal de 1988. “Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes”. 53 BRASIL. Constituição Federal de 1988. “Art. 21. Compete à União: [...] XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos”. 54 BRASIL. Constituição Federal de 1988. “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXIII - a propriedade atenderá a sua função social”.

Page 28: Tac monografia roberto h

14

I – as formas de expressão;

II – os modos de criar, fazer e viver;

III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

IV – a obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;

V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

Ressalta Silva55 que o meio ambiente cultural:

[...] é integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico,

paisagístico, turístico, que embora artificial, em regra, como obra

do homem, difere do anterior (que também é cultural) pelo sentido

de valor especial.

Fiorillo e Rodrigues56 ainda evidenciam que o bem que

compõe o chamado patrimônio cultural traduz a história de um povo, a sua

formação, cultural e, portanto, os próprios elementos identificadores de sua

cidadania, que constitui princípio fundamental norteador da República Federativa

do Brasil.

1.3.4 Meio Ambiente do Trabalho

Considera-se Meio Ambiente do Trabalho o local onde as

pessoas desempenham atividades laborais, sendo remuneradas ou não, cujo

equilíbrio está baseado na salubridade do meio e na ausência de agentes que

comprometam a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores57.

Giampietro58 complementa aduzindo que o Meio Ambiente

do Trabalho caracteriza-se “[...] pelo complexo de bens imóveis e móveis de uma

55 SILVA, José Afonso da. 2000. p. 03. 56 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco e RODRIGUES, Marcelo Abelha. 1999. p. 61. 57 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 22 – 23. 58 GIAMPIETRO, Franco. La responsabilità per danno all´ambiente. Milano: Giuffrè, 1998, p. 113.

Page 29: Tac monografia roberto h

15

empresa ou sociedade, objeto de direitos subjetivos privados e invioláveis da

saúde e da integridade física dos trabalhadores que a freqüentam”.

O Meio Ambiente do Trabalho recebe tutela imediata pela

CRFB/1988 no art. 200, VIII, ao prever que:

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:

[...]

VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

Importante ressaltar que a proteção do Direito do Trabalho é

distinta da assegurada ao Meio Ambiente do Trabalho, já que esta última busca

salvaguardar a saúde e a segurança do trabalhador no ambiente onde desenvolve

suas atividades laborais59.

Assim, como em todos os outros casos, a tutela mediata do

Meio Ambiente do Trabalho concentra-se no caput do art. 225 da CRFB/1988, já

tratado anteriormente.

Neste momento faz-se necessário lembrar que a positivação

destes anseios da sociedade só foi possível perante a existência de princípios

basilares, os verdadeiros elementos diretores do sistema jurídico normativo

fundamental60.

1.4 PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL NA CONSTITUIÇÃO DA

REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Os princípios são mandamentos basilares de um

ordenamento jurídico, possuindo natureza normogenética, pois, nas palavras de

59 REBELLO, Wanderley Filho. e BERNARDO, Christianne. 1999. p. 20. 60 COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. 2003. p. 34.

Page 30: Tac monografia roberto h

16

Costa Neto61, “[...] são fundamentos de regras, isto é, são normas que estão na

base ou constituem a ratio de regras jurídicas”.

Sua relevância para a formação, desenvolvimento e

interpretação do sistema jurídico é inocultável, porquanto conduzem a uma

permanente otimização deste, calcada em exigências de justiça62.

O Direito Ambiental é uma ciência complexa e autônoma,

que se estrutura sobre uma grande diversidade de bases. Tal independência lhe é

assegurada pelo fato de o mesmo possuir seus próprios princípios diretores,

presentes no art. 225 da CRFB/198863.

Observa-se que com o advento da Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988, proporcionou-se a recepção da Lei n.

6.938/81 em quase todos os seus aspectos, e ainda, a criação de competências

legislativas concorrentes, dando prosseguimento à Política Nacional do Meio

Ambiente.

Conforme leciona Antunes64:

[...] no direito ambiental, a produção legislativa tende a perder as

suas principais características que são a abstração e a

generalidade, e em verdade, o que se observa é o crescimento de

províncias específicas que se multiplicam em uma verdadeira

metástase legislativa”.

Os princípios constituem pedras basilares dos sistemas

jurídicos dos Estados civilizados, sendo adotados internacionalmente como fruto

da necessidade de um Meio Ambiente equilibrado, e ainda, indicativos do

caminho adequado para a proteção ambiental, em conformidade com a realidade

social e os valores culturais de cada Estado65.

61 COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. 2003. p. 33. 62 MIRANDA, Jorge. 1993. p. 227. 63 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 23. 64 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 8 ed. ver. atual. ampl. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2005, p. 23. 65 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 24.

Page 31: Tac monografia roberto h

17

Previstos no artigo 225 da CRFB/1988, destacam-se como

princípios da Política Global do Meio Ambiente os adiante expostos.

1.4.1 Princípio do Desenvolvimento Sustentável

Tal princípio sintetiza um dos mais importantes pilares da

temática jus-ambiental, compondo o núcleo essencial de todos os esforços

empreendidos na construção de um quadro de desenvolvimento social menos

adverso e de um cenário de distribuição de riquezas mais equânime. Trata-se de

estabelecer um liame entre o direito ao desenvolvimento, em todas as suas

dimensões, e o direito a um ambiente sadio, edificando condições para que a

humanidade possa projetar o seu amanhã66.

Esta terminologia surgiu na Conferência Mundial de Meio

Ambiente, realizada em 1972, em Estocolmo, e foi repetida nas demais

conferências sobre Meio Ambiente, em especial na ECO-92, a qual empregou o

termo em onze de seus vinte e sete princípios.

Na Constituição de 1988, o princípio do desenvolvimento

sustentável encontra-se esculpido no caput do artigo 170 e seu inciso VI67, e

ainda no art. 225, que assim dispõe:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado [...], impondo-se ao Poder Público e à coletividade o

dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras

gerações.

Ocorre que os recursos ambientais não são inesgotáveis,

como já mencionado no início deste capítulo, tornando-se inadmissível que as

atividades econômicas desenvolvam-se alheias a esse fato.

66 COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. 2003. p. 57. 67 BRASIL. Constituição Federal de 1988. “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação”.

Page 32: Tac monografia roberto h

18

Assim sendo, deve-se sempre pretender a coexistência

harmônica entre economia e Meio Ambiente, exercício este difícil nos tempos

atuais onde, equivocadamente, o lucro de poucos se sobrepõe sobre a qualidade

de vida da coletividade. Permite-se sim o desenvolvimento, mas de forma

sustentável, planejada, para que os recursos hoje existentes não se esgotem ou

tornem-se inócuos.

Leciona Fiorillo68 que:

[...] o princípio do desenvolvimento sustentável tem por conteúdo

a manutenção das bases vitais da produção e reprodução do

homem e de suas atividades, garantindo igualmente uma relação

satisfatória entre os homens destes com o seu ambiente, para que

as futuras gerações também tenham oportunidade de desfrutar os

mesmos recursos que temos hoje à nossa disposição.

Com isso, a proteção do Meio Ambiente e o fenômeno

desenvolvimentista passaram a fazer parte de um objetivo comum, pressupondo a

convergência de objetivos das políticas de desenvolvimento econômico, social,

cultural e de proteção ambiental69.

É indiscutível que o direito ao desenvolvimento é um dos

mais importantes dos direitos humanos e que ele não é contraditório com o direito

ao Meio Ambiente saudável, ao contrário, são direitos complementares e

indissociáveis70.

Faz-se necessário, desta forma, que seja feito um

planejamento territorial que leve em conta os limites de sustentabilidade,

buscando assim um ponto de equilíbrio entre o desenvolvimento social, o

crescimento econômico e a utilização dos recursos naturais.

Atento a esses fatos, o legislador constituinte verificou que o

crescimento das atividades econômicas merecia um novo tratamento, passando a

68 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco e DIAFÉRIA, Adriana. Biodiversidade e patrimônio genético no direito ambiental brasileiro. São Paulo: Max Limonad, 1999, p. 31. 69 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 25. 70 ANTUNES, Paulo de Bessa. 2005. p. 27.

Page 33: Tac monografia roberto h

19

ser vinculado ao ideal de preservação do Meio Ambiente, a fim de assegurar a

qualidade de vida das presentes e futuras gerações.

Impende ressaltar que com este evento, a liberdade de agir

e dispor tratada pelo texto constitucional passou a ser compreendida de forma

mais restrita, buscando sempre o equilíbrio ecológico e a coexistência de ambos,

sem que a ordem econômica inviabilize um meio ambiente ecologicamente

equilibrado e sem que este obste o desenvolvimento econômico71.

A idéia principal é assegurar existência digna, através de

uma vida com qualidade. O princípio não objetiva impedir o desenvolvimento

econômico. Sabe-se que a atividade econômica, na maioria das vezes,

representa alguma degradação ambiental. Todavia, o que se procura é minimizá-

la, pois pensar de forma contrária significaria dizer que nenhuma indústria que

venha a deteriorar o meio ambiente poderá ser instalada72.

Nesse mesmo sentido, reafirma Araújo73 que:

A inserção deste princípio significa que nenhuma indústria que

venha deteriorar o meio ambiente pode ser instalada? A resposta

é negativa. A eficácia da norma consiste em fixar uma

interpretação que leve à proteção do meio ambiente. Todo o

esforço da ordem econômica deve ser voltado para a proteção do

meio ambiente, ao lado de outros citados no art. 170, em seus

incisos.

Em sumo, delimita-se o princípio do desenvolvimento

sustentável como o desenvolvimento que atenda às necessidades do presente,

sem comprometer as futuras gerações.

71 COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. 2003. p. 58. 72 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 27. 73 ARAUJO, Luiz Alberto David. Direito constitucional e meio ambiente. São Paulo: Revista do Advogado da AASP, 1992, p. 37.

Page 34: Tac monografia roberto h

20

1.4.2 Princípio do Poluidor-pagador

Aquele que degrada o Meio Ambiente deve arcar com os

ônus decorrentes dessa atividade, responsabilizando-se pelos custos referentes à

exploração dos recursos naturais, como também pelos custos destinados à

prevenção e reparação dos danos ao ambiente74.

Todavia, não significa que o pagar dê direito a poluir. Não se

podem buscar através deste princípio formas de contornar a reparação do dano,

estabelecendo-se uma liceidade para o ato poluidor.

Ao tratar deste tema, Fiorillo75 indica duas órbitas de alcance

deste princípio: a) busca evitar a ocorrência de danos ambientais (caráter

preventivo); e b) ocorrido o dano, visa sua reparação (caráter repressivo). Desse

modo é imposto ao poluidor o dever de arcar com as despesas de prevenção dos

danos ao Meio Ambiente que a sua atividade possa ocasionar, e ainda, ocorrendo

danos, o poluidor será responsável pela competente e integral reparação.

Segundo Correia76:

[...] este princípio indica, desde logo, que o poluidor é obrigado a

corrigir ou recuperar o ambiente, suportando os encargos daí

resultantes, não lhe sendo permitido continuar a ação poluente.

Além disso, aponta para a assunção, pelos agentes, das

conseqüências, para terceiros, de sua ação, direta ou indireta,

sobre os recursos naturais que degradou.

Na CRFB/1988, encontra-se o princípio previsto no art. 225,

§3º:

§3º. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio

ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a

74 COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. 2003. p. 77. 75 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 28. 76 CORREIA, Fernando Alves. O plano urbanístico e o princípio da igualdade. Coimbra: Coimbra Editora, 1989, p. 85.

Page 35: Tac monografia roberto h

21

sanções penais e administrativas, independentemente da

obrigação de reparar os danos causados.

Vale observar ainda que, na órbita repressiva do princípio do

poluidor-pagador, há incidência da responsabilidade civil, onde o pagamento

resultante da poluição não possui caráter de pena, o que não exclui a

cumulatividade de outras penas, como prevê a CRFB/1988 no referido §3º do art.

225.

Aragão77 salienta ainda que:

O poluidor que deve pagar é aquele que tem o poder de controle

sobre as condições que levaram à ocorrência da poluição,

podendo, portanto, preveni-las ou tomar precauções para evitar

que ocorram.

Ou seja, mesmo sem a indicação de culpa, basta que a

atividade do poluidor tenha causado dano ou exposto à perigo de dano o Meio

Ambiente para que este seja obrigado a repará-lo e/ou indenizá-lo, haja vista sua

responsabilidade civil objetiva de arcar com as conseqüências que sua atividade

venha a ocasionar.

Mencionado posicionamento é positivado no §1º, do art. 14

da Lei n. 6.938/81, que assim dispõe:

§1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste

artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de

culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio

ambiente e a terceiros afetados por sua atividade.

Assim, o poluidor é obrigado a indenizar ou reparar os danos

que causar ao Meio Ambiente, e a terceiros, desde que tanto o Meio Ambiente

como os terceiros tenham sido afetados por suas atividade.

77 ARAGÃO, Maria Alexandra de Souza. O princípio do poluidor pagador. Coimbra: Coimbra Editora, 1997, p. 139.

Page 36: Tac monografia roberto h

22

1.4.3 Princípio da Precaução e Prevenção

Prevenir a degradação do Meio Ambiente no plano nacional

e internacional é concepção que passou a ser aceita no mundo jurídico

especialmente nas últimas três décadas. A preocupação com a higiene urbana,

um certo controle sobre as florestas e a caça já datam de séculos, porém, inovou-

se o tratamento jurídico dessas questões procurando integrá-las e sistematizá-las,

evitando-se a fragmentação e até o antagonismo de leis, decretos e portarias78.

Neste tema, ensina Sampaio79 que “[...] a prevenção é a

forma de antecipar-se aos processos de degradação ambiental, mediante adoção

de políticas de gerenciamento de proteção dos recursos naturais”.

Vale observar que desde a Conferência de Estocolmo, em

1972, o princípio da prevenção tem sido objeto de profundo apreço. Na ECO-92,

encontramo-lo presente80:

Princípio 15 da Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento (1992):

Para proteger o meio ambiente medidas de precaução devem ser

largamente aplicadas pelos Estados segundo suas capacidades.

Em caso de risco de danos graves ou irreversíveis, a ausência de

certeza científica absoluta não deve servir de pretexto para

procrastinar a adoção de medidas efetivas visando a prevenir a

degradação do meio ambiente.

Com este objetivo a CRFB/1988 adotou tal princípio no

caput do art. 225, ao preceituar o dever do Poder Público e da coletividade de

proteger e preservar o Meio Ambiente para as presentes e futuras gerações.

Conforme o entendimento de Fiorillo81, a prevenção e

preservação devem ser concretizadas:

78 MACHADO, Paulo Affonso Leme. 2004. p. 55. 79 SAMPAIO, José Adércio Leite. 2003. p. 70. 80 COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. 2003. p. 72. 81 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 37.

Page 37: Tac monografia roberto h

23

[...] por meio de uma consciência ecológica, a qual deve ser

desenvolvida através de uma política de educação ambiental. De

fato, é a consciência ecológica que propiciará o sucesso no

combate preventivo do dano ambiental. Todavia, deve-se ter em

vista que a nossa realidade ainda não contempla aludida

consciência, de modo que outros instrumentos tornam-se

relevantes na realização do princípio da prevenção. Para tanto,

observamos instrumentos como o estudo prévio de impacto

ambiental (EIA/RIMA), o manejo ecológico, o tombamento, as

liminares, as sanções administrativas etc..

Além disso, para que haja efetiva prevenção do dano, deve

o Estado punir o poluidor, pois, dessa forma, ela passa a ser um estimulante

negativo contra a prática de agressões ao Meio Ambiente. Ou seja, uma

legislação severa que imponha multas e sanções mais pesadas funciona também

como instrumento de efetivação da preservação, sendo que tais penalidades

deverão estar atentas aos benefícios experimentados com a atividade

degradante, bem como com o lucro obtido à custa da agressão, de modo que

essa atividade, uma vez penalizada, não compense economicamente82.

Impende ressaltar que não se quer com isso inviabilizar a

atividade econômica, mas tão-somente excluir do mercado o poluidor que ainda

não constatou que os recursos ambientais são escassos, que não pertencem a

uma ou algumas pessoas e que sua utilização encontra-se limitada na utilização

do próximo, visto que o bem ambiental é um bem de uso comum do povo, como

já mencionado anteriormente.

Encontra-se ainda o princípio da prevenção sob a égide do

Poder Judiciário e da Administração, conforme Fiorillo83 comenta:

Com efeito, a aplicação da jurisdição coletiva, que contempla

mecanismos de tutela mais adaptados aos direitos difusos,

objetivando impedir a continuidade do evento danoso, bem como

a possibilidade de ajuizamento de ações que apenas visem uma

82 MUKAI, Toshio. 2005. p. 38. 83 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 38.

Page 38: Tac monografia roberto h

24

atuação preventiva, a fim de evitar o início de uma degradação, a

aplicação do real e efetivo acesso à justiça e o princípio da

igualdade real, estabelecendo tratamento paritário entre os

litigantes, são instrumentos com vistas a salvaguardar o meio

ambiente e a qualidade de vida.

Sob o prisma da Administração, encontra-se a aplicabilidade

do princípio da prevenção por intermédio das licenças, das sanções

administrativas, da fiscalização e das autorizações, entre outros tantos atos do

Poder Público, determinantes da sua função de tutela do meio ambiente.

Comparando-se o princípio da precaução com o da atuação

preventiva, observa-se que o segundo exige que os perigos comprovados sejam

eliminados, já o primeiro, determina que a ação para eliminar possíveis impactos

danosos ao ambiente seja tomada antes de um nexo causal ter sido estabelecido

com evidência científica absoluta84.

O princípio da precaução está presente no Direito alemão

desde os anos 70, juntamente com o princípio da cooperação e o princípio do

poluidor-pagador.

O ideal amparado por tal princípio é o de que a Política

Ambiental não se limita à eliminação ou redução de atividades danosas já

existentes ou em iminência de ocorrer, mas faz com que citada atividade seja

combatida desde o início85.

Assinala Lavieille86 que:

[...] o princípio da precaução consiste em dizer que não somente

somos responsáveis sobre o que nós sabemos, sobre o que nós

deveríamos saber, mas, também, sobre o de que nós deveríamos

duvidar.

84 ARAGÃO, Maria Alexandre de Souza. 1997. p. 68. 85 MACHADO, Paulo Affonso Leme. 2004. p. 56. 86 LAVIEILLE, Jean-Marc. Droit International de l´Environnement. In: MACHADO, Paulo Affonso Leme. 2004. p. 65.

Page 39: Tac monografia roberto h

25

Conclui-se assim, que tal princípio é aplicado quando existe

a incerteza, não se aguardando que esta se torne certeza.

A implementação do princípio da precaução não tem por

finalidade imobilizar as atividades humanas, mas sim, visa a durabilidade da sadia

qualidade de vida das gerações humanas e à continuidade da natureza existente

no planeta.

1.4.4 Princípio da Participação

Ao se falar em participação, tem-se em vista a conduta de

tomar parte em alguma coisa, agir em conjunto, e dada a importância dessa ação

conjunta, novamente a CRFB/1988 preceitua em prol da defesa do Meio

Ambiente.

Este princípio preconiza a integração da comunidade nos

processos de definição, implantação e execução de políticas públicas ligadas à

proteção ambiental87.

Neste ponto, entende Sampaio88 que:

[...] a democracia hodiernamente não se satisfaz apenas com as

instâncias deliberativas dos representantes eleitos e de corpos

burocráticos fiéis aos comandos legais. Exige-se, em

complemento, meios de participação direta do povo ou da

comunidade tanto em sede de macrodecisões (plebiscito,

referendo e iniciativa legislativa popular), quanto em processos

decisórios de menor extensão (decisões administrativas, judiciais

coletivas e sociais, condominiais e empresariais, por exemplo) que

digam respeito a todos ou os afetem direta ou indiretamente.

Como citado, a CRFB/1988, em seu art. 225, caput,

consagrou na defesa do Meio Ambiente a atuação presente do Estado e da

87 COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. 2003. p. 39. 88 SAMPAIO, José Adércio Leite. 2003. p. 79.

Page 40: Tac monografia roberto h

26

sociedade civil na proteção e preservação do Meio Ambiente, ao impor à

coletividade e ao Poder Público tais deveres. Disso retira-se uma atuação

conjunta entre organizações ambientais, sindicatos, indústrias, comércio,

agricultura e tantos outros organismos sociais comprometidos nessa defesa e

preservação.

Costa Neto89 aduz que:

A integração comunitária nessas tomadas de decisão constitui

corolário de idéia de um fortalecimento da democracia

participativa. A democracia de participação consiste na ativa

interação do povo-cidadão no processo de formação e

desenvolvimento das atividades primaciais do Estado, adensando-

as de legislação.

Assim, o princípio da participação representa a idéia de que

se faz imprescindível o engajamento efetivo dos titulares do direito difuso ao Meio

Ambiente sadio nos processos ambientais. Tal participação, guarda, aliás, plena

consonância com a diretriz firmada no Princípio 10 da Declaração do Rio de

Janeiro, referente à Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento, de 1992, preceituando que “a melhor maneira de tratar

questões ambientais é assegurar a participação, no nível apropriado, de todos os

cidadãos interessados [...]”90.

1.4.5 Princípio da Ubiqüidade

Este princípio busca evidenciar que o objetivo de proteção

do Meio Ambiente deve ser levado em consideração sempre que uma política,

legislação, atividade, obra, etc., tiver que ser criada e desenvolvida. Isso porque,

tudo que se pretende fazer, criar ou desenvolver deve antes passar por uma

consulta ambiental, para saber se há ou não a possibilidade de que o meio

ambiente seja degradado. 89 COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. 2003. p. 39. 90 MORATO, José Rubens Leite. Dano ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. 2 ed. ver. atual. ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, p. 52.

Page 41: Tac monografia roberto h

27

Diaféria e Fiorillo91 afirmam que este princípio:

[...] visa demonstrar qual é o objeto de proteção do meio

ambiente, quando tratamos dos direitos humanos, pois toda

atividade, legiferante ou política, sobre qualquer tema ou obra

deve levar em conta a preservação da vida e, principalmente, de

sua qualidade.

De fato, não há como pensar no meio ambiente dissociado

dos demais aspectos da sociedade, de modo que ele exige uma atuação

globalizada e solidária, até mesmo porque fenômenos como a poluição e a

degradação ambiental não encontram fronteiras e não esbarram em limites

territoriais.

Dessa forma, observa-se que o Direito Ambiental reclama

não apenas que se pense em sentido global, mas, também que atue em âmbito

local, pois, somente assim é que será possível uma atuação sobre a causa de

degradação ambiental e não simplesmente sobre seu efeito92.

Importante tratar neste momento sobre a citada

responsabilidade do poluidor pelos danos causados ao meio ambiente,

prerrogativa esta embasada nos princípios supra mencionados, buscando assim a

reparação e/ou indenização do bem tutelado, bem como a penalização do

poluidor.

1.5 RESPONSABILIDADE POR DANOS CAUSADOS AO MEIO AMBIENTE

O art. 225, §3º, da CRFB/1988 previu a tríplice penalização

do poluidor do Meio Ambiente: a sanção penal, por conta da chamada

responsabilidade penal, a sanção administrativa, em decorrência da denominada

responsabilidade administrativa, e a sanção civil, em razão da responsabilidade

civil.

91 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco e DIAFÉRIA, Adriana. 1999. p. 37. 92 MUKAI, Toshio. 2005. p. 37.

Page 42: Tac monografia roberto h

28

Desta forma, conforme o pensamento de Rebello Filho e

Bernardo93, “[...] há responsabilidade de pessoa física ou jurídica, de direito

público ou privado, sempre que suas condutas ou atividades causarem qualquer

lesão ao Meio Ambiente”.

Já Fiorillo94 ao tratar deste tema comenta que:

[...] os ilícitos civil, administrativo e penal encontram-se incertos

num mesmo conceito: a antijuridicidade, inexistindo assim uma

distinção embrionária, ou seja, todos os tipos estão relacionados

como uma reação do ordenamento jurídico contra a

antijuridicidade praticada. Todavia, há diferenças entre essas três

penalidades. Dentre os critérios identificadores da natureza dos

ilícitos, podemos indicar: a) o reconhecimento do objeto tutelado

por cada um; e b) o reconhecimento do órgão que imporá a

respectiva sanção.

Esclarece o autor que o elemento que identifica a sanção é o

objeto precípuo da tutela, ou seja, tratando-se de sanção administrativa, o objeto

de tutela é o interesse da sociedade. Assim, pode-se afirmar que o que irá

interessar ao jurista é a análise do conteúdo da lesão ou da reação, todavia, o

regime jurídico fica à disposição do Estado para aplicar as normas legais95.

1.5.1 Responsabilidade Civil

Como já destacado, a responsabilidade civil pelos danos

causados ao Meio Ambiente é do tipo objetiva, em decorrência de o art. 255, §3º,

da CRFB/1988 preceituar a “[...] obrigação de reparar os danos causados” ao

Meio Ambiente, sem exigir qualquer elemento subjetivo para a configuração da

responsabilidade civil96.

93 REBELLO FILHO, Wanderley. e BERNARDO, Christianne. 1999. p. 30. 94 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2003. p. 44. 95 ANTUNES, Paulo de Bessa. 2005. p. 174. 96 MORATO, José Rubens Leite. 2003. p. 132.

Page 43: Tac monografia roberto h

29

Ou seja, impõe ao infrator a obrigação de indenizar ou

reparar o prejuízo causado por sua conduta ou atividade, preceito este reforçado

através do §1º, art. 14, da Lei n. 6.938/81, que assim dispõe:

§1º - Sem prejuízo das penas administrativas previstas nos incisos

do artigo, o poluidor é obrigado, independentemente de culpa, a

indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a

terceiro, afetados por sua atividade.

Não há nesses casos, como ressalvado no texto legal,

necessidade de se provar a culpa, lembrando que o Estado também poderá ser

responsabilizado pelo critério objetivo97.

Os autores, quase que de forma unânime, afirmam que a

responsabilidade civil objetiva teve seu surgimento durante a Revolução

Industrial, fase esta onde ocorreu exacerbado aumento do número de acidentes,

razão esta que modificou o sistema da responsabilidade civil, “uma vez que a

necessidade de demonstração do trinômio dano, culpa e nexo de causalidade

criava embaraços para atender aos anseios da população”98.

Pereira99 pondera que:

[...] a responsabilidade objetiva não importa em nenhum

julgamento de valor sobre os atos do responsável. Basta que o

dano se relacione materialmente com estes atos, porque aquele

que exerce uma atividade deve assumir os riscos.

Explica ainda que:

[...] a doutrina objetiva, ao invés de exigir que a responsabilidade

civil seja a resultante dos elementos tradicionais (culpa, dano e

causalidade entre um e outro) assenta na equação binária cujos

pólos são o dano e a autoria do evento danoso100.

97 MUKAI, Toshio. 2005. p. 73. 98 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco e RODRIGUES, Marcelo Abelha. 1999. p. 122. 99 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil. Rio de Janeiro: Forense, 1990, p. 24. 100 PEREIRA, Caio Mário da Silva. 1990. p. 287.

Page 44: Tac monografia roberto h

30

Assim, o poluidor é obrigado a indenizar ou reparar os danos

que causar ao Meio Ambiente, e a terceiros, desde que tanto o Meio Ambiente

como os terceiros tenham sido afetados por suas atividade, e tudo isso, sem a

indagação de culpa do poluidor101.

1.5.2 Responsabilidade Administrativa

Segundo Silva102, “[...] a responsabilidade administrativa

resulta da infração a normas administrativas, sujeitando-se o infrator a uma

sanção de natureza também administrativa”. Perante tal conceito, ainda

complementa com as principais sanções: multa, interdição da atividade,

fechamento do estabelecimento, demolição, embargo de obra, destruição de

objetos, inutilização de gêneros, proibição de fabricação ou comércio de produtos

e vedação de localização de indústria ou comércio em determinadas áreas.

As infrações administrativas e respectivas sanções devem

estar previstas em lei, sempre obedecendo ao princípio da legalidade, sendo que

em alguns casos podem vir especificadas em regulamentos103.

Desta forma, ocorridas as hipóteses previstas pelos incisos I,

II, III e IV do art. 14 da Lei n. 6.938/81104 ou pelo art. 70, caput, da Lei n.

9.605/98105, haverá a possibilidade de imposição de sanção administrativa pelo

órgão competente.

101 MUKAI, Toshio. Direito Ambiental Sistematizado. 5 ed. ver. atual. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005, p. 64. 102 SILVA, José Afonso. 2000. p. 209. 103 MAZZILLI, Hugo Nigro. 2006. p. 534. 104 BRASIL. Lei Federal n. 6.938/81. “Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: I - à multa simples ou diária, nos valores correspondentes, no mínimo, a 10 (dez) e, no máximo, a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTNs, agravada em casos de reincidência específica, conforme dispuser o regulamento, vedada a sua cobrança pela União se já tiver sido aplicada pelo Estado, Distrito Federal, Territórios ou pelos Municípios; II - à perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público; III - à perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; IV - à suspensão de sua atividade”. 105 BRASIL. Lei Federal n. 9.605/98. “Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do

Page 45: Tac monografia roberto h

31

Conforme ensina Nery Junior106:

O fato de a Administração dever agir somente no sentido positivo

da lei, isto é, quando lhe é por ela permitido, indica a incidência da

cláusula due process no direito administrativo. A doutrina norte-

americana tem-se ocupado do tema, dizendo ser manifestação do

princípio do devido processo legal o controle dos atos

administrativos, pela própria administração e pela via judicial. Os

limites do poder de polícia da Administração são controlados pela

cláusula do due process”.

Portanto, é no próprio art. 5º, LIV, da CRFB/1988107 que tal

princípio é adotado pelo ordenamento jurídico brasileiro. Não bastasse tal

enunciado, diz ainda o inciso LV desse mesmo artigo que, tanto no processo

judicial quanto no administrativo, aos litigantes e acusados em geral são

assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela

inerentes.

Todavia, vale lembrar que além do disposto na Carta Magna

e na Lei de Crimes contra o Meio Ambiente, ainda temos as penalidades e multas

impostas pelo Decreto nº 3.179 de 21 de setembro de 1999108, que “[...] dispõe

sobre a especificação das sanções aplicáveis às condutas e atividades lesivas ao

meio ambiente, e dá outras providências”, e em seu art. 1º assim dispõe:

Art. 1º Toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção proteção e recuperação do meio ambiente e considerada infração administrativa ambiental e será punida com as sanções do presente diploma legal, sem prejuízo da aplicação de outras penalidades previstas na legislação.

meio ambiente”. 106 NERY, Nelson Junior. Princípios do processo civil na Constituição Federal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 33 - 34. 107 BRASIL. Constituição Federal de 1988. “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. 108 BRASIL. Decreto nº 3.179/99. Disponível no endereço eletrônico:�������� � ���������������� ����� ����� ��������� � ���� �� ��������� ��� �� �!�����. Acesso em 01 out. 2007.

Page 46: Tac monografia roberto h

32

Ou seja, novamente é amparado o ideal punitivo ao poluidor que com sua atividade causou danos ao meio ambiente, sem prejuízo à aplicações das demais penalidades (civis e criminais) previstas na legislação.

1.5.3 Responsabilidade Penal

1.5.3.1 A Distinção entre o Ilícito Civil e o Ilícito Penal

A distinção fundamental, trazida pelos doutrinadores, está

baseada nos valores estabelecidos pelo legislador ao determinar que certo fato é

contemplado com uma sanção penal, enquanto outro com uma sanção civil ou

administrativa109.

Assim, determinadas condutas, levando-se em conta a sua

repercussão social e a necessidade de uma intervenção mais severa do Estado,

foram erigidas à categoria de tipos penais, sancionando o agente com multas,

restrições de direito ou privação de liberdade.

Noronha110 aduz que, na verdade, a ilicitude é uma só, “[...]

em regra, deveria importar sempre uma pena, porém esta é tida como um mal

não só para o delinqüente e sua família como para o próprio Estado, obrigado a

gastos e dispêndios”.

Tendo em vista a falta de instrumentos compatíveis com a

finalidade da sanção penal, tem o Estado procurado intervir apenas em situações

que envolvam, em regra, ofensas de maior vulto à segurança de toda

coletividade. Trata-se do princípio da intervenção mínima do Estado, ou seja,

apresentando-se a sanção civil eficaz para a proteção da ordem legal,

desnecessário que ele intervenha, de modo a estabelecer através do legislador a

aplicação de sanção penal111.

109 PRADO, Alessandra Rapassi Mascarenhas. Proteção Penal do Meio Ambiente: fundamentos. São Paulo: Atlas Editora, 2000, p. 128. 110 NORONHA, Magalhães. Direito Penal. 31 ed., São Paulo: Saraiva, 1995, p. 72. 111 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 46.

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33

1.5.3.2 Tutela Penal do Meio Ambiente

A luta na defesa do Meio Ambiente tem encontrado no

Direito Penal um de seus mais significativos instrumentos. Muitas são as

hipóteses em que as sanções administrativas ou civis não se mostram suficientes

para a repressão das agressões contra o Meio Ambiente112.

Verificando a importância do Meio Ambiente o legislador

infraconstitucional elaborou a Lei n. 9.605/98, a qual disciplina os crimes

ambientais, atento ao preceito trazido pelo art. 5º, XLI, da Constituição Federal,

que determina que “[...] a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos

e liberdades fundamentais”.

Explica Fiorillo113 que foi através da citada Lei que

assegurou-se que a tutela do Meio Ambiente fosse implementada através da

forma mais severa no ordenamento brasileiro: pela tutela penal. Além disso, a Lei

n. 9.605/98 inovou consideravelmente o ordenamento jurídico penal, pois, em

conformidade com o art. 225, §3º, da CRFB/1988, trouxe a possibilidade da

penalização da pessoa jurídica.�

Importante salientar que, como mencionado, a possibilidade

de impor penalidade às pessoas jurídicas foi um dos grandes avanços trazidos

pela CRFB/1988, na medida em que se constata que as grandes degradações

ambientais não corriam por conta de atividades singulares, mas sim, eram

conseqüências de atividades de grande porte, desenvolvidas principalmente pelas

pessoas jurídicas114.

Realmente, a sanção penal em determinados casos se faz

necessária não só em relevância do bem ambiental protegido, como, também, da

sua maior eficácia dissuasória. No dizer de Martin115:

112 FREITAS, Vladimir Passos e PASSOS, Gilberto de Freitas. Crimes contra a natureza. 8ª ed. ver. atual. ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 31. 113 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 47. 114 PRADO, Alessandra Rapassi Mascarenhas. 2000. p. 128. 115 MARTIN, Eduardo Ortega. Os delitos contra a flora e a fauna. In: FREITAS, Vladimir Passos e PASSOS, Gilberto de Freitas. 2006. p. 32.

Page 48: Tac monografia roberto h

34

[...] o emprego de sanções penais para a proteção do meio

ambiente em determinadas ocasiões se tem revelado como

indispensável, não só em função da própria relevância dos bens

protegidos e da gravidade das condutas a perseguir, senão

também pela maior eficácia dissuasória que a sanção penal

possui.

Considerando que o bem ambiental tem natureza difusa,

como mencionado no começo do presente capítulo, e estando sua titularidade

concentrada nas mãos de pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias

de fato, sua proteção se concretiza mediante a possibilidade de abertura de

diversos meios processuais positivados, cada qual com suas particularidades.

Desta feita, passa-se a tratar dos meios processuais que

podem ser utilizados para efetivar a proteção do meio ambiente, amplamente

amparado pela norma vigente.

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35

CAPÍTULO 2

MEIOS PROCESSUAIS DE PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE

A preocupação com a preservação ambiental é antiga. Há

muito tempo os cientistas vêm alertando a população para os malefícios de uma

ocupação desordenada do solo, o esgotamento dos recursos naturais e a

necessidade de atrelar o desenvolvimento a uma política conservacionista116.

Com acerto observa Odum117 que:

[...] os princípios do desenvolvimento do ecossistema interferem

grandemente nas relações entre o homem e a natureza, dado que

a estratégia da máxima proteção, que caracteriza o

desenvolvimento ecológico, entre com freqüência em conflito com

o objetivo do homem da máxima produção. O reconhecer a base

ecológica para este conflito entre o homem e a natureza constitui

um primeiro passo no estabelecimento de uma política racional de

utilização da terra.

Tal como adverte Dorst118:

[...] pode-se constatar cada vez mais nitidamente que as

atividades humanas estão prejudicando nossa própria espécie. O

homem intoxica-se envenenando, no sentido literal do termo, o ar

que respira, a água dos rios e o solo de suas culturas. Práticas

agrícolas deploráveis empobrecem a terra de forma por vezes

irrecuperável, e uma exploração excessiva dos mares está

reduzindo os recursos que deles poderiam ser extraídos.

116 FREITAS, Vladimir Passos e PASSOS, Gilberto de Freitas. 2006. p. 18. 117 ODUM, Eugere P. Fundamentos da Ecologia. 4 ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1988, p. 428. 118 DORST, Jean. Antes que a natureza morra. In: FREITAS, Vladimir Passos e PASSOS, Gilberto de Freitas. 2006. p. 19.

Page 50: Tac monografia roberto h

36

Não se pense que estas considerações sobre Meio

Ambiente são teóricas e distantes da atual realidade. Não é assim. Na verdade,

elas influem diretamente na vida de todos os brasileiros, e é por este motivo que

se faz tão necessária a atuação do Direito Ambiental mediante citada situação,

buscando assim a efetiva proteção do bem jurídico em estudo119.

Este instituto é definido por Mukai120 como:

[...] um conjunto de normas e institutos jurídicos pertencentes a vários ramos do Direito reunidos por sua função instrumental para a disciplina do comportamento humano em relação ao seu meio ambiente.

Já nas palavras de Carvalho121, o Direito Ambiental:

[...] é um conjunto de princípios e regras destinados à proteção do meio ambiente, compreendendo medidas administrativas e judiciais, com a reparação econômica e financeira dos danos causados ao ambiente e aos ecossistemas de uma maneira geral.

Como tratado anteriormente, a CRFB/1988 trouxe

significativo avanço à proteção do Meio Ambiente em seu art. 225, disciplinando

de forma precisa e atualizada o assunto. Ficou desta forma, consignado que

todos têm direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso

comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida122.

Assim como a norma infraconstitucional pertinente ao tema,

a CRFB/1988/1988 pretende não apenas uma proteção virtual ao Meio Ambiente,

mas uma tutela que de fato se efetive, e, para tanto, confere ao Ministério Público

e outros legitimados (órgãos públicos ou não) a evocação de instrumentos e

poderes necessários para alcançar este objetivo.

Neste capítulo, tratar-se-á do papel do Ministério Público na

defesa deste bem jurídico tão importante, que, para atingir êxito em tal

119 FREITAS, Vladimir Passos e PASSOS, Gilberto de Freitas. 2006. p. 19. 120 MUKAI, Toshio. 2005. p. 10. 121 CARVALHO, Carlos Gomes de. Introdução ao direito ambiental. Cuiabá: Verde-Pantanal, 1990, p. 140. 122 FREITAS, Vladimir Passos e PASSOS, Gilberto de Freitas. 2006. p. 21.

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37

empreitada, utiliza-se de vários instrumentos judiciais e extrajudiciais, tais como o

Inquérito Civil, o Procedimento Administrativo Preliminar, a Recomendação

Ministerial, as Peças de Informação; e ainda as possibilidades de tutela coletiva

do Meio Ambiente, mediante Ação Civil Pública, Ação Popular, Mandado de

Segurança Coletivo, e Mandado de Injunção ambiental.

2.1 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE

Como citado, a CRFB/1988 estabeleceu um sistema de

atribuições bastante amplo para o Ministério Público em matéria de tutela do Meio

Ambiente123.

A doutrina é uníssona, afirmando que a CRFB/1988 atribuiu

ao Ministério Público um papel de grande relevância na proteção dos chamados

direitos difusos, sendo que em seus artigos 127 a 130 foi moldado o perfil do

parquet como um importante instrumento de expressão da sociedade, sendo que

tal preceito não encontra paralelo em nenhum outro país do mundo124.

Neste tema, asseverando a natureza autônoma do instituto

em estudo, Antunes125 afirma que:

[...] o nível de independência e autonomia que foi deferido ao

Ministério Público pelo constituinte é absoluto, haja vista que seus

integrantes somente se encontram submetidos à lei e à própria

consciência.

Observa-se que é no mencionado artigo 127 da CRFB/1988

que se encontra o cerne das atribuições do Ministério Público, que assim

preceitua:

Art. 127 - O Ministério Público é instituição permanente, essencial

à função jurisdicional do Estado, incumbindo-se a defesa da

123 MAZZILLI, Hugo Nigro. 2006. p. 76. 124 ANTUNES, Paulo de Bessa. 2005. p. 729. 125 ANTUNES, Paulo de Bessa. 2005. p. 729.

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38

ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e

individuais indisponíveis.

A partir desse conceito, percebe-se a importância e o papel

a ser desempenhado pelo Órgão do Ministério Público. Neste contexto, aduz

Mazzilli126 que:

O Ministério Público tem a destinação permanente de defender a

ordem jurídica, o próprio regime democrático e ainda os interesses

sociais e individuais indisponíveis, inclusive e principalmente

perante o Poder Judiciário, junto ao qual tem a missão de

promover a ação penal e ação civil pública.

Dentre as diversas funções institucionais mencionadas,

encontra-se no artigo 129 o exercício da Ação Civil Pública e do Inquérito Civil127,

os quais são considerados por grande parte dos doutrinadores como os principais

e mais atuantes instrumentos de defesa do Meio Ambiente128.

Ressalta-se que o Ministério Público é o principal autor de

Ações Civis Públicas e desempenha um papel de extraordinária relevância quanto

ao acompanhamento das demais ações impetradas por outros co-legitimados. De

fato, o precário nível de organização da sociedade brasileira não permite que ela

própria busque a defesa de seus interesses, e, desta forma, necessitando maior

atuação do Ministério Público129.

Assim, para efetivamente defender o bem jurídico em

estudo, o Promotor de Justiça poderá valer-se ainda de instrumentos

extrajudiciais de natureza investigatória e preparatória, na esfera administrativa,

em casos que envolverem lesão aos interesses difusos, coletivos ou individuais

homogêneos130.

126 MAZZILLI, Hugo Nigro. 1993. p. 72. 127 BRASIL. Constituição Federal de 1988. “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: [...] III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”. 128 ANTUNES, Paulo de Bessa. 2005. p. 729. 129 ANTUNES, Paulo de Bessa. 2005. p. 730. 130 MUKAI, Toshio. 2005. p. 101.

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39

Pode-se citar dentre estes instrumentos: o Inquérito Civil, o

Procedimento Administrativo Preliminar, o Compromisso de Ajustamento de

Conduta (instituto tratado especificamente no Capítulo 3 deste trabalho), as Peças

de Informações e as Recomendações que, a seguir, serão devidamente

esplanadas.

2.1.1 Inquérito Civil

Este instrumento constitui procedimento administrativo

exclusivo do Ministério Público Federal e Estadual, haja vista que os outros

legitimados à propositura da Ação Civil Pública podem coletar provas de outras

formas131.

Nesta linha, Oliveira132 se manifesta afirmando que:

[...] ao contrário dos demais legitimados para propor a ação civil

pública, só ao Ministério Público é que a lei concedeu a atribuição

de requisitar informações, bem como de instruir a ação principal

com base em inquérito civil. Procurou, portanto, o legislador,

instrumentalizar a instituição ministerial no sentido de capacitá-la

para cumprir efetivamente seu mister. Talvez seja essa a razão do

porquê de o Ministério Público ostentar o maior número de ações

civis públicas, sendo ainda tímida a participação dos outros

legitimados.

Diante dessa confiança dada pelo legislador ao Ministério

Público é que seus órgãos de execução devam sempre estar atentos à ocorrência

de fatos que possam ser objeto de investigação, agindo de ofício, sem ficar no

aguardo de representações, que nem sempre chegam, afastando assim a inércia

que não é característica da instituição133.

131 MORATO, José Rubens Leite. 2003. p. 249. 132 OLIVEIRA, Sílvio A. G. de. Inquérito civil e peças de informação: arquivamento. Curitiba: Juruá, 2000, p. 32. 133 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. Compromisso de ajustamento de conduta. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, p. 63.

Page 54: Tac monografia roberto h

40

Na área ambiental o impulso inicial por parte do próprio

órgão ministerial é crucial para a obtenção de bons resultados na defesa do Meio

Ambiente. Portanto, tomando o membro do Ministério Público conhecimento por

parte dos meios de comunicação ou mesmo “de ouvir dizer”, deve instaurar o

inquérito civil, e, no seu decorrer, verificar se as notícias eram ou não verídicas,

com absoluto embasamento técnico134.

Mediante os ensinamentos de Mazzilli135, não há dúvida de

que o inquérito civil teve como fonte inspiradora o inquérito policial, instrumento

este de investigação, que possui cunho administrativo e inquisitório, tendente a

elucidar fatos da ocorrência criminal.

Baseado naquele, e sabendo que era necessário conferir um

instrumento de investigação ao Ministério Público, co-legitimado mais estruturado

à propositura da ação civil pública, o legislador na Lei Federal n. 7.347/85 previu,

em seu art. 8º, §1º, que:

§1º - o Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência,

inquérito civil, ou requisitar, de qualquer organismo público ou

particular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo

que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis.

Assim, acolhendo o anteprojeto de lei apresentado pelos

estão Promotores de Justiça Antonio Augusto Mello de Camargo Ferraz, Édis

Milaré e Nelson Nery Junior no XI Seminário Jurídico dos Grupos de Estudos do

Ministério Público do Estado de São Paulo, o legislador garantiu na norma um

forte instrumento de proteção aos direitos e interesses difusos e coletivos, o

inquérito civil136.

Quanto a sua conceituação, pode-se citar as palavras de

Mazzilli137, para quem:

134 MORATO, José Rubens Leite. 2003. p. 250. 135 MAZZILLI, Hugo Nigro. O inquérito civil. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 400. 136 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 57 - 58. 137 MAZZILLI, Hugo Nigro. 1999. p. 46.

Page 55: Tac monografia roberto h

41

[...] o inquérito civil é uma investigação administrativa prévia a

cargo do Ministério Público, que se destina basicamente a colher

elementos de convicção para que o próprio órgão ministerial

possa identificar se ocorre circunstância que enseje eventual

propositura de ação civil pública ou coletiva.

Referido instrumento investigatório tornou-se tão importante

na defesa dos interesses da coletividade que ganhou contorno constitucional,

sendo que a CRFB/1988 previu em seu art. 129, inciso III, que é função

institucional do Ministério Público “[...] promover o inquérito civil e a ação civil

pública, para a proteção do patrimônio público e social, do Meio Ambiente e de

outros interesses difusos e coletivos”138.

Sendo o inquérito civil fundamental para a tutela ambiental, a

recusa, o retardamento ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à

propositura da ação civil pública, passaram a constituir crime, punido com pena

de reclusão de um a três anos e multa (art. 10 da Lei n. 7.347/85)139.

Ou seja, passou a haver um apoio do Direito Penal para a

realização do inquérito civil ou da recepção das informações técnicas de quem as

detenha, tornando assim mais célere a investigação, tal como a reparação no

caso de dano já ocorrido, ou ainda a prevenção no caso de risco140.

Diante de seus elementos conceituais, não pode-se

discordar de que a natureza jurídica do inquérito civil é de mero procedimento

administrativo, de cunho eminentemente inquisitório, o que afasta, portanto, a

imposição do contraditório141.

138 MACHADO, Paulo Affonso Leme. 2004. p. 350. 139 BRASIL, Lei Federal n. 7.347/85. “Art. 10. Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa de 10 (dez) a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério Público”. 140 MACHADO, Paulo Affonso Leme. 1982. p. 349. 141 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 58.

Page 56: Tac monografia roberto h

42

Neste sentido é a lição de Silva142, ao consignar que o

inquérito civil:

[...] é um procedimento administrativo criado pela lei com a

finalidade de coadjuvar o Ministério Público na tarefa de investigar

fatos ensejadores de propositura de ação civil pública. Não é

processo e tampouco procedimento judicial. É procedimento

administrativo investigatório.

No mesmo diapasão é a ponderação de Vigliar143 no sentido

de que:

[...] sendo um instrumento dispensável, constituindo, em seu

conjunto, peças de informação, não há que se cogitar da

incidência ou não dos princípios constitucionais do contraditório e

ampla defesa, para que se caracterize como um instrumento

válido.

Todavia, muito embora não haja a obrigatoriedade do

estabelecimento do contraditório no inquérito civil, é certo que sempre que

possível é válido dar ciência ao investigado acerca dos fatos em análise no

inquérito, até porque, mediante esta participação do investigado poderá ocorrer

melhor esclarecimento que venha a colaborar no resultado final da investigação.

Outro ponto a ser destacado é o fato de que os interessados

poderão solicitar cópias de documentos que constituem o inquérito, arcando com

as despesas da sua reprodução. Como aduz Machado144, “[...] a menos que se

trate de interesse de segurança nacional ou de sigilo comercial ou industrial, ou

de outra matéria protegida por lei, não há razão para não-publicidade do

procedimento”.

Sobre a finalidade do instrumento em estudo, Akaoui145

menciona que:

142 SILVA, José Luiz Mônaco da. Inquérito civil. Bauru: Edipro, 2000, p. 28. 143 VIGLIAR, José Marcelo Menezes. Tutela jurisdicional coletiva. São Paulo: Atlas, 1998, p. 99. 144 MACHADO, Paulo Affonso Leme. 2004. p. 349. 145 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 59.

Page 57: Tac monografia roberto h

43

[...] não fica dúvida no sentido de que ao Ministério Público o que

interessa é o estabelecimento da verdade, e, diante da ocorrência

de lesão ou ameaça a bem jurídico difuso ou coletivo,

notadamente, para nosso estudo, o meio ambiente, o inquérito

civil ajudará na colheita dos elementos necessários para que se

possa eventualmente convocar o investigado para tentativa de

conciliação por meio de compromisso de ajustamento de conduta,

ou na obtenção de provas suficientes a demonstrar o fumus boni

juris na ação civil pública.

Sua instauração ocorre por meio de portaria que deverá

estabelecer de forma clara qual o objeto da investigação, de sorte a dar a correta

publicidade à mesma, com registro em livro competente do órgão ministerial,

identificando a data da abertura do inquérito, a origem das informações que

motivaram a abertura, o investigado e um breve resumo dos fatos supostamente

ocorridos. Em caso de ampliação do objeto da investigação, deverá haver

aditamento à portaria inaugural146.

Também interessante que na portaria inaugural se dê um

mínimo de embasamento legal aos direitos em tese protegidos pela via da

investigação, bem como se determinem as diligências iniciais a serem

providenciadas.

Considerando que, ao final das investigações, não se

coletarem provas que possam ensejar justa causa à propositura de ação civil

pública, o que também afasta a possibilidade de estabelecimento de compromisso

de ajustamento de conduta, os autos deverão ser arquivados, submetendo-se à

apreciação do Conselho Superior do Ministério Público, nos termos do que dispõe

o art. 9º da Lei da Ação Civil Pública147.

Machado148 complementa afirmando que:

O arquivamento deve ser obrigatoriamente examinado pelo

Conselho Superior do Ministério Público. Este órgão é eleito pelos 146 MAZZILLI, Hugo Nigro. 1999. p. 400. 147 MORATO, José Rubens Leite. 2003. p. 251. 148 MACHADO, Paulo Affonso Leme. 2004. p. 352.

Page 58: Tac monografia roberto h

44

integrantes do Ministério Público de primeira instância. O espírito

de corporação e a política eleitoral interna não devem prevalecer

sobre o interesse indisponível, na homologação do arquivamento

ou na sua rejeição. Neste caso, não haverá constrangimento para

o promotor de justiça ou para o procurador da República que

promoveram o arquivamento em primeira instância, pois outro

membro do Ministério Público será designado para ajuizar a ação,

quando o arquivamento for rejeitado.

Ressalta-se que, em sua imensa maioria, os órgãos do

Ministério Público pátrio têm suprido as expectativas da coletividade, instaurando

milhares de inquéritos civis por ano, sendo que, destes, milhares se transformam

em ações civis públicas, e outros milhares redundam na obtenção de

compromisso de ajustamento de conduta, termo este que será melhor apreciado

no próximo capítulo deste trabalho149.

Contudo, vale lembrar que o Inquérito Civil não é o único

procedimento administrativo que o Ministério Público possui para fazer as

mencionadas investigações necessárias à abertura de Ação Civil Pública. Existem

ainda o Procedimento Administrativo Preliminar e a Peça de Informação, que a

seguir trataremos mais detalhadamente.

2.1.2 Procedimento Administrativo Preliminar

Interessante consignar que a Lei Orgânica do Ministério

Público criou a possibilidade de o órgão ministerial praticar atos administrativos

executórios, de caráter preparatório, como visto acima, caso receba informações

sobre possível dano ou risco ambiental, porém, sem ainda elementos suficientes

à propositura de inquérito civil, ou mesmo, ação civil pública (art. 26, inciso V)150.

149 MAZZILLI, Hugo Nigro. 1999. p. 407. 150 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 60.

Page 59: Tac monografia roberto h

45

Desta feita, dispõe o diploma legal acima citado, em seu art.

26, inciso I: “no exercício de suas funções, o Ministério Público poderá: instaurar

inquéritos civis e outras medidas e procedimentos administrativos pertinentes”.

Explicando o porquê da previsão legal de tal instrumento,

Silva151 aduz que:

[...] em algumas hipóteses, a instauração de procedimento

preparatório é de valiosa importância para a apuração de fatos

que possam ensejar a abertura de Inquérito Civil. Uma carta

anônima, recebida pelo Promotor de Justiça da comarca, caso

não conte com elementos suficientes para a instauração de

inquérito civil, ensejará a abertura de procedimento preparatório.

Desta forma, o Promotor recebendo representação,

requerimento, ou até mesmo informações, anônimas ou não, comunicando

possível lesão ou ameaça ao Meio Ambiente, é mais propício a ele instaurar um

Procedimento Administrativo Preliminar a instaurar um Inquérito Civil.

Portanto, conclui-se que o membro do Ministério Público

poderá utilizar tal instrumento para recolher elementos probatórios suficientes a

ensejar um Compromisso de Ajustamento de Conduta ou até mesmo uma Ação

Civil Pública.

Encontra-se ainda, com menor grau de complexidade que o

Procedimento Administrativo Preliminar, a Peça de Informação, outro instrumento

administrativo de investigação do Ministério Público, utilizado em grande escala

para apurar informações que, em tese, possam representar dano ao Meio

Ambiente.

151 SILVA, José Luiz Mônaco da. 2000. p. 127.

Page 60: Tac monografia roberto h

46

2.1.3 Peças de Informação

Ao tratar deste tema, Mazzilli152 conceitua as Peças de

Informação como “[...] elementos de convicção em que se possa basear o

membro do Ministério Público para propor eventual ação civil pública”.

Desta feita, caso o Promotor de Justiça tome conhecimento,

por qualquer ato que possa causar um dano ambiental, sua ocorrência ou em

eminência de ocorrer, este poderá autuar como Peças de Informação, nas quais

investigará a veracidade dos fatos aduzidos, podendo ao fim, impetrar ação civil

pública, instaurar inquérito civil ou procedimento preparatório preliminar, ou, caso

não encontre qualquer irregularidade, arquivar administrativamente os autos,

podendo retomar as investigações caso entenda necessário153.

Finalmente, passa-se às Recomendações Ministeriais, outro

instrumento inerente às atribuições do Ministério Público, pelo qual o promotor de

justiça dá ciência ao recomendado sobre a ocorrência do dano ambiental, ou

mesmo do risco de sua ocorrência, caso a atividade continue, recomendando

diretrizes a serem tomadas a fim de prevenir a degradação.

2.1.4 Recomendações do Ministério Público

Foi através da Lei Orgânica Nacional do Ministério Público

(LONM) que foram instituídas as recomendações dirigidas aos órgãos públicos,

aos concessionários e permissionários de serviço público estadual ou municipal e

às entidades que exerçam outra função delegada do Estado ou do Município, ou

executem serviço de relevância pública154.

Ressalta-se que as citadas recomendações não possuem a

mesma natureza das decisões judiciais, mas colocam o recomendado, isto é, o

órgão ou entidade que as recebe, em posição de inegável ciência da ilegalidade

de seu procedimento. 152 MAZZILLI, Hugo Nigro. 1999. p. 401. 153 MAZZILLI, Hugo Nigro. 1999. p. 402. 154 MACHADO, Paulo Affonso Leme. 2004. p. 352.

Page 61: Tac monografia roberto h

47

Mantendo esta linha de pensamento, entende-se que se

mesmo após entregue a recomendação, prosseguir o recomendado em sua

atividade ou obra, caracteriza-se seu comportamento doloso, com reflexos no

campo do Direito Penal ambiental. Para salvaguardar o controle de sua

efetivação, é inerente de sua natureza o princípio da publicidade, sendo que as

recomendações ambientais deverão ser imediatamente divulgadas por quem as

recebe, como, também, deverão ser respondidas155.

Nas palavras de Machado156:

O Ministério Público pode expedir recomendações: para a

elaboração de Estudo Prévio de Impacto Ambiental ou sua

reformulação; para o tipo de local e horário da audiência pública (a

simples solicitação do Ministério Público da realização da

audiência já a torna obrigatória); para a realização de inspeção em

determinados locais ameaçados de terem o meio ambiente

danificado ou onde o dano já foi produzido; para a apuração de

infração administrativa contra o meio ambiente; para que o órgão

público ambiental não expeça a licença. a autorização ou a

permissão enquanto o inquérito civil não termine.

Após todas estas considerações acerca dos instrumentos

inerentes à esfera de atribuições do Ministério Público, cabe comentar as formas

coletivas de tutela do bem ambiental, haja vista que a CRFB/1988 atribuiu não só

ao Poder Público, mas também à coletividade, o ônus de defender e preservar o

meio ambiente em prol de seu equilíbrio.

2.2 A TUTELA COLETIVA AMBIENTAL

Considerando que o bem ambiental tem natureza difusa,

estando sua titularidade concentrada nas mãos de pessoas indeterminadas e

155 MACHADO, Paulo Affonso Leme. 2004. p. 352 - 353. 156 MACHADO, Paulo Affonso Leme. 2004. p. 353.

Page 62: Tac monografia roberto h

48

ligadas por circunstâncias de fato, sua proteção se coaduna com o processo civil

brasileiro tradicional157.

Desta forma, encontra-se grande problema para tutelar o

bem jurídico em estudo, em face do despreparo das leis processuais para

recepcionar instrumentos que viabilizam a tutela civil coletiva, haja vista que o

Direito Ambiental é dinâmico, e depende de constantes aprimoramentos a fim de

que a tutela seja eficaz158.

Neste sentido Fiorillo, Rodrigues e Andrade Nery159,

advertem que:

[...] não há mais que se falar sequer na possibilidade de se usar o

ortodoxo sistema liberal individualista do Código de Processo Civil

e normas afins, para dirimir os conflitos de massa. Portanto, tratar-

se-ia, por certo, se assim fosse, de uma forma hedionda de

inconstitucionalidade à medida que impede o acesso efetivo à

justiça e fere, em todos os sentidos, o direito processual do devido

processo legal.

Impende ressaltar, que as regras processuais previstas na

Lei da Ação Civil Pública (LACP) e no Código de Defesa do Consumidor (CDC)

são indubitavelmente um grande avanço para a tutela coletiva, porém não

conseguem em todos os momentos fechar o circuito necessário para a obtenção

do provimento jurisdicional requerido, devendo todos aqueles que participam da

relação processual socorrer-se dos institutos legados pela lei processual de 1973,

que são aplicados subsidiariamente naquelas ações coletivas por expressa

disposição do art. 19160 da LACP161.

Não resta qualquer discussão quanto à tutela ambiental ter

como marco maior o advento da LACP, e, posteriormente, a promulgação da 157 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 41. 158 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 41. 159 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco; RODRIGUES, Marcelo Abelha e ANDRADE NERY, Rosa Maria. Direito processual ambiental brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, 1996, p. 99 – 100. 160 BRASIL. Lei Federal n. 7.347/85. “Art. 19. Aplica-se à ação civil pública, prevista nesta Lei, o Código de Processo Civil, aprovado pela Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, naquilo em que não contrarie suas disposições”. 161 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 42.

Page 63: Tac monografia roberto h

49

CRFB/1988, que legaram instrumentos de máxima importância na defesa do Meio

Ambiente162.

Como suscitado anteriormente, mediante o caput art. 225 da

CRFB/1988, fica também a coletividade incumbida de defender e preservar o

Meio Ambiente, e, desta forma, para que este preceito possa se concretizar,

aquela pode se valor de alguns instrumentos jurídicos, tais como a Ação Popular

Constitucional, Mandado de Segurança Coletivo, etc., os quais serão tratados

neste momento.

2.2.1 Ação Popular Constitucional

O objeto da tutela coletiva via Ação Popular foi ampliado

pela Carta Magna, que dispôs no art. 5º, inciso LXXIII:

LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação

popular que vise anular ato lesivo ao patrimônio público ou de

entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa,

ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o

autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do

ônus da sucumbência.

Seguindo a linha exposta, Machad163 reforça que “[...] esta

ação judicial pode ser intentada por qualquer cidadão. Dessa forma, é condição

da ação a prova de que o autor está no gozo de seus direitos políticos, isto é, que

é eleitor”.

Assim, verifica-se que, atualmente, o Meio Ambiente pode

ser tutelado pela via da Ação Popular em sua integralidade, e não apenas em

casos ligados a ato lesivo ao patrimônio da administração direta e indireta, como

o era no regime da Lei Federal n. 4.717/65164.

162 ANTUNES, Paulo de Bessa. 2005. p. 730. 163 MACHADO, Paulo Affonso Leme. 2004. p. 349. 164 ANTUNES, Paulo de Bessa. 2005. p. 731.

Page 64: Tac monografia roberto h

50

Com efeito, o novo regime constitucional da Ação Popular

ampliou a defesa do Meio Ambiente, que configura-se como res omnius, ou seja,

coisa de todos.

Mencionada previsão está em consonância com o comando

contido no art. 225, caput, do Texto Maior, haja vista a imposição da defesa e

preservação do bem ambiental à coletividade, a qual necessita conferir-lhe

instrumento hábil à tutela deste bem difuso165.

Conforme alerta Vitta166:

[...] a ação popular, embora não tenha sido muito utilizada na

proteção ao ambiente, pode corresponder a um dos mecanismos

de preservação e reparação dos danos causados a ele, bastando

termos em conta sua importância jurídica e social.

Todavia, mesmo com pouca utilização da via processual

analisada, Akaoui167 aduz que “[...] a mesma já foi de grande importância no

afastamento de riscos e reparação de danos efetivos causados ao Meio

Ambiente, mesmo antes do advento da vigente Carta Magna”.

Faz-se necessário que a coletividade se convença de que

legar a defesa do Meio Ambiente apenas aos órgãos públicos não é o suficiente,

posto que as ações degradatórias infelizmente se multiplicam a cada dia, e a

cooperação de todos é necessária para que se possa vencer esta guerra que se

estabeleceu entre a degradação do Meio Ambiente e a necessidade de

preservação de nossos valores ambientais168.

Importante lembrar que na Ação Popular, por expressa

disposição do §4º, do art. 6º, da Lei da Ação Popular, haverá obrigatória

intervenção do Ministério Público, que:

165 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 43. 166 VITTA, Heraldo Garcia. O meio ambiente e a ação popular. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 54 – 55. 167 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 44. 168 ANTUNES, Paulo de Bessa. 2005. p. 731.

Page 65: Tac monografia roberto h

51

[...] acompanhará a ação, cabendo-lhe apressar a produção da

prova e promover a responsabilidade civil e criminal, dos que nela

incidirem, sendo-lhe vedado, em qualquer hipótese, assumir a

defesa do ato impugnado ou dos seus autores.

Citada atuação deve ser ponderada por sua forma de atuar

em qualquer processo na área cível enquanto custos legis, pois, como anotado

por Guimarães169:

[...] tomando-se ainda como ponto de partida o perfil constitucional

do Ministério Público, já discutido, bem como a preocupação

onipresente com a efetividade da atuação institucional, temos que,

mesmo naqueles casos nos quais a intervenção no processo deva

subsistir, é de se esperar do promotor de justiça uma postura mais

instrumentalista. Nesse sentido, cumpre ao promotor encarar o

processo com uma visão teleológica, considerando-o como um

instrumento para a realização de determinados escopos.

Diante deste entendimento, seria inconcebível que pudesse

ser imposto ao órgão do Ministério Público o dever de se manifestar, sempre,

contrariamente ao ato impugnado pelo autor popular, até porque, ainda que seja

ínfimo o número, poderão ocorrer hipóteses de má-fé por parte daquele que

ajuizou a ação, até mesmo para utilizá-la como instrumento de pressão política.

Finalmente, é de se mencionar que, em caso de desistência

da ação por parte do autor, poderá o Ministério Público ou qualquer outro cidadão

legitimado dar prosseguimento ao feito (art. 9º da Lei da Ação Popular)170.

169 GUIMARÃES, João Lopes Júnior. Ministério Público: proposta para uma nova postura no processo civil. In: FERRAZ, Antonio Augusto Mello de Camargo. Ministério Público: instituição e processo. São Paulo: Atlas, 1997, p. 159. 170 BRASIL. Lei Federal n. 4.717/65. “Art. 9º Se o autor desistir da ação ou der motiva à absolvição da instância, serão publicados editais nos prazos e condições previstos no art. 7º, inciso II, ficando assegurado a qualquer cidadão, bem como ao representante do Ministério Público, dentro do prazo de 90 (noventa) dias da última publicação feita, promover o prosseguimento da ação”.

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52

2.2.2 Ação Civil Pública

Mesmo considerando-se a Ação Popular como

importantíssimo instrumento de tutela coletiva, a Ação Civil Pública, criada pela

Lei Federal n. 7.347/85, tem sido o meio mais efetivo na área de defesa dos

interesses difusos e coletivos171.

Citada importância se traduziu na previsão constitucional

como função institucional do Ministério Público (art. 129, inciso III), sem prejuízo

da legitimação a terceiros que vierem a ser apontados na Constituição ou em lei

(art. 129, §1º)172.

Fiorillo173, menciona que:

Com o advento do Código de Defesa do Consumidor, o campo de

incidência da Lei da Ação Civil Pública foi profundamente

aumentado, através de dispositivos que possibilitaram a defesa de

outros interesses difusos (art. 110 do CDC), bem como dos

interesses individuais homogêneos (arts. 91 a 100 do CDC). Além

disso, houve por bem aclamar, no seu art. 6º, inciso VI, a

possibilidade de cumulação da indenização por danos morais e

patrimoniais aos bens por essa lei protegidos.

O mencionado instrumento processual de defesa coletiva

tem como objeto as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais

causados: ao Meio Ambiente; ao consumidor; a bens e direitos de valor artístico,

estético, histórico, turístico e paisagístico; a qualquer outro interesse difuso e

coletivo; por infração da ordem econômica (art. 1º da Lei da Ação Civil Pública), e

teve o mérito de trazer amplo rol de legitimados à sua propositura.

Conforme leciona Machado174, “[...] a proteção desses

interesses e bens far-se-á através de três vias: cumprimento da obrigação de

fazer, cumprimento da obrigação de não fazer e condenação em dinheiro”. 171 FREITAS, Vladimir Passos e PASSOS, Gilberto de Freitas. Crimes contra a natureza. p. 352. 172 Brasil. Constituição Federal de 1988. “Art. 129. [...] § 1º - A legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei”. 173 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. 2004. p. 349.

Page 67: Tac monografia roberto h

53

Com efeito, prevê o art. 5º, caput, da LACP que:

Art. 5º - A ação principal e a cautelar poderão ser propostas pelo

Ministério Público, pela União, pelos Estados e Municípios.

Poderão também ser propostas por autarquia, empresa pública,

fundação, sociedade de economia mista ou por associação.

Importante ponto a ser mencionado ainda, é a legitimação

das associações para a propositura da ação civil pública, novidade bastante

positiva da Lei Federal n. 7.347/85, mesmo que impondo as restrições contidas

nas alíneas “a” e “b” do inciso V175 do art. 5º, pois o §4º do mesmo artigo permite

ao juiz da causa dispensar o requisito da pré-constituição176, quando haja

manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano,

ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido177.

Vale lembrar que, conforme o posicionamento de Akaoui178:

[...] as hipóteses permissivas da dispensa da pré-constituição

sempre presentes nas ações para proteção dos interesses e

direitos listados no art. 1º da LACP, notadamente em se tratando

de matéria ambiental, motivo pelo qual a regra nos parece inócua,

devendo o Magistrado zelar no curso da ação a fim de impedir a

litigância de má-fé, aplicando-se as penalidades previstas na

citada lei (art. 17) e no Código de Processo Civil (arts. 17 e 18).

Esta não é, entretanto, a posição adotada pos vários ilustres

doutrinadores, que vêem com excessiva preocupação a legitimação das

associações que não preencham requisitos preliminares.

174 MACHADO, Paulo Affonso Leme. 2004. p. 353. 175 BRASIL. Lei Federal n. 7.347/85. “Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: [...] V - a associação que, concomitantemente: a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico”. 176 BRASIL. Lei Federal n. 7.347/85. “Art. 5o. [...] § 4.° O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido”. 177 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 48. 178 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 48.

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54

Quanto aos chamados grupos sociais de fato ou não

personificados, vale trazer a lição de Mancuso179, para quem:

[...] a exigência da personificação jurídica do grupo, se é

adequada às ações individuais, deve ser vista com certos

temperamentos, quando se trate de ações objetivando a tutela de

interesses superindividuais, pela natureza mesma desses

interesses. Uma larga margem do fenômeno coletivo ficará

desprovida de tutela se os seus portadores, para obter legitimação

ativa, tiverem que, prévia e necessariamente, se aglutinarem em

pessoas jurídicas perfeitamente instituídas e reconhecidas pelo

Estado.

Trata-se de mais uma hipótese em que o rigorismo legal dá

margem a uma interpretação mais liberal com a finalidade de se poder obter o

máximo de tutela na área dos interesses difusos e coletivos.

Quanto a legitimidade dos sindicatos, tal possibilidade ainda

é muito discutida, sendo de se observar que o art. 8º, inciso III, da CRFB/1988180

dispõe que “[...] ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos e

individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas”.

Mancuso181 ao tratar desta questão afirma que:

[...] em verdade, a atenção inovadora que a Carta de 1988

dedicou às ações coletivas, referindo-se à legitimidade das

entidades associativas para representar seus filiados judicialmente

e à defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da

categoria pelos sindicatos, exige que se reconheça a legitimação

extraordinária dessas entidades para a propositura, em nome

próprio, como partes do processo, de ações relativas aos direitos

de seus associados ou da categoria.

179 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Interesses difusos. 2ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1991, p. 177. 180 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 49. 181 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação civil pública – Em defesa do meio ambiente, do patrimônio cultural e dos consumidores. 7ª ed. ver. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p. 145.

Page 69: Tac monografia roberto h

55

Nesta mesma linha as palavras de Fiorillo182, anotando que

os sindicatos:

[...] observadas as hipóteses contidas na Lei n. 7.347/85, em seu

art. 5º, possuem legitimação autônoma para a condução do

processo, podendo propor quaisquer ações necessárias para a

tutela dos direitos difusos.

Já em relação à prescrição da Ação Civil Pública, tanto a Lei

Federal n. 7.347/85, como também a Lei Federal n. 8.078/90 que lhe introduziu

alterações não cuidaram deste tema, portanto, a ação é considerada

imprescritível.

Neste mesmo entendimento, leciona Milaré183 que “[...] a

ação civil pública não conta com disciplina específica em matéria prescricional.

Tudo conduz, entretanto, à conclusão de que se inscreve ela no rol das ações

imprescritíveis”.

Mais uma das inovações da Lei Federal n. 7.347/85 foi

quanto ao destino das indenizações ou das multas processuais: não irão para as

pessoas vítimas diretas ou indiretas do prejuízo, mas para o Fundo de Defesa dos

Direitos Difusos184.

2.2.2.1 Condenação em dinheiro e o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos

Assim, a promoção de atividades e eventos, como o auxílio

para projetos de modernização administrativa dos órgãos públicos não pode

antepor-se à reconstituição dos bens lesados. Cumpre ademais, não ser

esquecido o outro Fundo que pode atender a essas necessidades, o Fundo

Nacional do Meio Ambiente185.

182 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Os sindicatos e a defesa dos interesses difusos no direito processual civil brasileiro. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1995, p. 116. 183 MILARÉ, Édis. A ação civil pública na nova ordem constitucional. São Paulo: Saraiva, 1990, p. 56. 184 MACHADO, Paulo Affonso Leme. 2004. p. 358. 185 MORATO, José Rubens Leite. 2003. p. 225.

Page 70: Tac monografia roberto h

56

Machado186 assinala que:

[...] o art. 13 da Lei Federal n. 7.347/85 previu a existência de dois

Fundos, um gerido por um Conselho Federal e outro gerido por

Conselhos Estaduais. O dinheiro oriundo das condenações nas

ações civis públicas propostas perante a Justiça Federal será

objeto de gestão do conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa

de Direitos Difusos, sendo que os recursos obtidos nas ações

propostas perante a Justiça dos Estados irão para os conselhos

Estaduais.

Ressalta-se que ambos os Conselhos citados deverão ser

integrados pelo Ministério Público e por representantes da comunidade. A

exemplo, temos o Conselho Federal, que é formado por 10 (dez) conselheiros,

sendo 3 (três) integrantes de entidades civis que atendam aos pressupostos do

art. 5º, da Lei n. 7.347/85187.

Não é, portanto, de ser desprezada a atuação fiscalizadora

da comunidade que, diante do Poder Executivo, com 6 (seis) assentos no

Conselho, detém 1/3 (um terço) de votos desse colegiado.

2.2.3 Mandado de Segurança Coletivo Ambiental

Muito embora os dois meios processuais acima apontados

tenham se mostrado ao longo dos anos como os mais utilizados, e mais eficientes

na defesa do Meio Ambiente, é certo que outros são apontados pela doutrina

como possíveis de serem invocados, com resultado satisfatório para o alcance

desta finalidade188.

Com efeito, tem-se apontado o mandado de segurança

coletivo e o mandado de injunção como instrumentos processuais de defesa

186 MACHADO, Paulo Affonso Leme. 2004. p. 359. 187 MACHADO, Paulo Affonso Leme. 2004. p. 358. 188 ANTUNES, Paulo de Bessa. 2005. p. 740.

Page 71: Tac monografia roberto h

57

ambiental, sendo certo que ambos foram inovações trazidas pela Carta

Constitucional de 1988.

Vale ainda esclarecer, antes de começar a tratar do

mencionado instrumento, que os termos writ e mandamus são aceitos pela

doutrina forense como sinônimos da figura do mandado de segurança189.

Inicialmente, perante os ensinamentos Fiorillo190, entende-se

que o mandado de segurança coletivo nada mais é que “[...] uma forma de se

impetrar o mandado de segurança tradicional”, haja vista que a norma que

ampara mencionado instrumento diz respeito a regras de direito processual.

A maior parte da doutrina distingue o mandado de

segurança individual do coletivo perante análise da legitimidade ativa e do objeto

da tutela.

O mencionado Mandado de Segurança Coletivo é amparado

no art. 5º, inciso LXX, da CRFB/1988, que assim preceitua:

LXX – o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:

a) partido político com representação no Congresso Nacional; b)

organização sindical, entidade de classe ou associação

legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um

ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados.

Se os sindicatos já estavam legitimados à propositura da

Ação Civil Pública, como já amparado neste trabalho, surge a possibilidade, por

meio do Mandado de Segurança Coletivo, de que novos atores possam se

engajar na luta pela preservação e recuperação do Meio Ambiente191.

Acerca da legitimidade dos sindicados, esclarece Nery192:

189 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. 2004. p. 363. 190 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. 2004. p. 368. 191 ANTUNES, Paulo de Bessa. 2005. p. 741. 192 NERY, Nelson Junior. Código brasileiro de Defesa do Consumidor. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000, p. 629 – 630.

Page 72: Tac monografia roberto h

58

Com o advento da Constituição Federal de 1988, os Sindicatos

deixaram de ser tutelados pelo governo e têm hoje o perfil da

associação civil. A estes foi dada legitimidade para a defesa,

inclusive em juízo, dos direitos e interesses coletivos e individuais

da categoria, podendo, outrossim, impetrar Mandado de

Segurança Coletivo.

De fato, por meio deste writ ficam legitimados os partidos

políticos a intentar medida judicial para defesa do bem ambiental, o que, se ainda

é novidade no País, poderá ser futuramente o meio mais adequado de esses

entes demonstrarem na prática seus planos de gestão para a área ambiental193.

Também se verifica, neste tema, a possibilidade de

entidades de classe se utilizarem desse instrumento processual para fazer valer o

direito que seus membros possuem de ter um Meio Ambiente ecologicamente

equilibrado194.

Assim, ocorrendo violação ou risco a direito líquido e certo

dos membros e associados dos partidos políticos, entidades de classe,

organização sindical e associações constituídas há mais de um ano, quando o

responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente

de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público, surgirá a

possibilidade de se impetrar o Mandado de Segurança Coletivo para afastar o

risco ou reparar o dano.

Fiorillo, Rodrigues e Andrade Nery195 discorrem sobre o

tema, anotando que:

[...] a legitimidade ativa para impetração do mandamus será

sempre estendida ao Ministério Público, principalmente quando se

tratar de defesa de direitos difusos, como é o nosso caso. Só se

poderá excluir tal possibilidade, quando o mandado de segurança

193 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 53. 194 ANTUNES, Paulo de Bessa. 2005. p. 741. 195 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco; RODRIGUES, Marcelo Abelha e ANDRADE NERY, Rosa Maria. 1996. p. 99 – 200.

Page 73: Tac monografia roberto h

59

coletivo tiver de ser usado para defesa de direito individual

disponível.

Quanto ao sujeito passivo do Mandado de Segurança, é

determinado pelo art. 5º, inciso LXIX, da Constituição Federal, sendo que a

atuação deste instrumento fica restrita às hipóteses em que a ofensa ao direito

líquido e certo seja oriunda de ilegalidade ou abuso de poder de autoridade

pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder

Público. Portanto, apenas essas pessoas é que podem figurar no pólo passivo do

mandado de segurança196.

2.2.4 Mandado de Injunção Ambiental

Finalmente, dentre os instrumentos processuais de tutela

ambiental encontramos o Mandado de Injunção, que consiste em uma Ação

Constitucional que tem por objeto possibilitar que o exercício dos direitos e

liberdades constitucionais não sejam viabilizados pela ausência de norma

regulamentadora197.

Segundo preceitua o art. 5º, inciso LXXI, da CRFB/1988:

LXXI – conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de

norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e

liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à

nacionalidade, à soberania e à cidadania.

Para Fiorillo198:

O mandado de injunção é instrumento hábil para tutelar o meio

ambiente, na medida em que o direito ambiental tem como objeto

uma vida de qualidade. Em outras palavras, não se tutela somente

a vida, acrescenta-se a esta uma exigência: qualidade.

196 MORATO, José Rubens Leite. 2003. p. 252. 197 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. 2004. p. 377. 198 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. 2004. p. 377.

Page 74: Tac monografia roberto h

60

Desta forma, é nítido, e assim tem se posicionado a

doutrina, que o cabimento do mandado de injunção pressupõe a ocorrência de

uma omissão, ou seja, se existir determinada norma, mesmo que seja injusta ou

imoral, o julgamento do mandado de injunção deverá ser dado por carência da

ação, justamente por faltar o requisito do interesse processual199.

No tocante à norma objeto de Ação Direta de

Inconstitucionalidade, não será cabível o referido writ, porque o interesse de agir

somente nascerá com a declaração da inconstitucionalidade da norma, uma vez

que as normas gozam de presunção de constitucionalidade e somente aludida

declaração retira o preceito inconstitucional do ordenamento jurídico200.

Quanto à importância deste writ já se pronunciou Nery201,

aduzindo que:

[...] o mandado de injunção veio, em boa hora, mitigar a omissão

legislativa no regramento das denominadas normas

constitucionais programáticas, que no sistema constitucional

revogado ficavam sem eficácia por falta de lei complementar ou

ordinária infraconstitucional que as regulamentasse. Por isso é

que, se a norma constitucional tiver eficácia, isto é, for auto-

aplicável, descabe o mandado de injunção.

Já no que diz respeito à legitimidade ativa para o Mandado

de Injunção, tem-se entendido que não há qualquer restrição quanto à pessoa

que irá impetrá-lo, posto que toda pessoa é sujeito de direitos, bastando que

esses direitos e liberdades estejam constitucionalmente previstos202.

Pfeiffer203 consigna que:

199 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco; RODRIGUES, Marcelo Abelha e ANDRADE NERY, Rosa Maria. 1996. p. 99 – 235. 200 MORATO, José Rubens Leite. 2003. p. 253. 201 NERY, Nelson Junior. Princípios do processo civil na Constituição Federal. 6 ed. ver. ampl. atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000, p. 112. 202 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 54 - 55. 203 PFEIFFER, Roberto Augusto Castellanos. Mandado de injunção. São Paulo: Atlas, 1999, p. 169.

Page 75: Tac monografia roberto h

61

[...] no mandado de injunção individual o legitimado ativo é aquele

que em tese é titular do direito, liberdade ou prerrogativa previstos

em norma constitucional, cujo exercício está inviabilizado por sua

não-regulamentação. Saliente-se que tanto poderá ser pessoa

física como pessoa jurídica, bastando a titularidade para embasar

a legitimação ativa.

Percebe-se que já se delineia na doutrina a ocorrência de

duas espécies de Mandado de Injunção, o individual e o coletivo, sendo que este

último seria limitado a viabilizar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas

de natureza difusa e coletiva, pensamento que leva à conclusão que todos

aqueles que possuem legitimidade para, de qualquer forma ajuizar ação em

defesa dos interesses difusos e coletivos, podem também impetrar o Mandado de

Injunção Coletivo204.

Assim, conclui-se que, ocorrendo omissão na

regulamentação de norma constitucional atinente ao Meio Ambiente, poderá ser

impetrado Mandado de Injunção com a finalidade de suprir a falta da norma

regulamentadora, devendo este ser dirigido tanto ao ente que deixou de editá-la,

como à pessoa jurídica de Direito Público ou Privado que não está satisfazendo o

direito do impetrante em razão da falta da norma.

Reforçando este ideal, esclarece Nery205 que:

Não se trata de integração de lacuna, porque o direito já existe e

se encontra expressamente previsto na Constituição. trata-se, na

verdade, de inexistência de regulamentação para a forma de

exercimento do direito assegurado pelo texto constitucional. O

impetrante tem o direito, mas não sabe como exercê-lo. Cabe ao

juiz determinar o modus faciendi a fim de que o impetrante não

fique privado de seu direito constitucionalmente garantido, a

pretexto de que não há norma inferior que o regulamente.

204 PFEIFFER, Roberto Augusto Castellanos. 1999. p. 262. 205 NERY, Nelson Junior. 2000. p. 103.

Page 76: Tac monografia roberto h

62

Quanto à legitimidade passiva, depreende-se do art. 5º,

inciso LXXI, da CRFB/1988 que a legitimação passiva será daquele que detenha

competência e poderes para atender ao objeto tutelado pelo writ. Com efeito, a

expressão “norma regulamentadora” apresenta conteúdo vasto, de modo que sua

ausência poderá estar vinculada à omissão de qualquer das pessoas políticas do

Estado ou ser oriunda de qualquer dos Poderes da Federação (Legislativo,

Executivo e Judiciário)206 .

Assim, mediante a inegável importância do bem ambiental, a

legislação amparou de forma ampla sua tutela preceituando todos os

instrumentos supra citados, tanto inerentes à atribuição exclusiva do Ministério

Público, como instrumentos cabíveis à coletividade.

Impende ressaltar, que considerando o dano ambiental ser

na esmagadora maioria das vezes irreversível, elevasse a importância da ação

preventiva, buscando evitar a continuidade de atividades que estejam causando

perigo de dano.

A Ação Civil Pública demonstra-se muito eficaz na busca da

indenização do dano, todavia, pode-se observar que sua atuação tem se

concentrado apenas na punição posterior à ocorrência do dano, tal como muitos

outros instrumentos de tutela ambiental.

O que se faz necessário ser entendido é que esta

indenização dificilmente alcança a reparação do Meio Ambiente, e assim,

pretende-se dar maior valor a instrumentos de tutela mais céleres, que consigam

de forma eficaz evitar o dano, impondo diretrizes à atividade, ou mesmo,

cessando esta em prol do equilíbrio ambiental.

Neste próximo capítulo, tratar-se-á do Compromisso de

Ajustamento de Conduta Ambiental, instrumento de tutela extrajudicial pelo qual o

poluidor se compromete em seguir determinadas estipulações, ou mesmo, cessar

sua atividade, buscando evitar assim o dano ao meio ambiente, o que por via

judicial poderia não ser alcançado a tempo.

206 MORATO, José Rubens Leite. 2003. p. 253.

Page 77: Tac monografia roberto h

63

CAPÍTULO 3

COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA AMBIENTAL

O legislador infraconstitucional, acatando o espírito

protecionista do constituinte, não apenas ao Meio Ambiente, mas, também quanto

aos demais interesses e direitos difusos e coletivos, introduziu por meio do CDC

mais um instrumento de proteção, denominado Compromisso de Ajustamento de

Conduta.

Com efeito, a celeridade imprimida pelo mesmo na busca da

reconstituição dos interesses difusos lesados, ou no afastamento das condutas

que causem risco de lesão, principalmente diante da morosidade da tramitação

dos feitos judiciais e pelo fato de constituir título executivo extrajudicial, tem

levado os legitimados a tomar esse compromisso dos interessados em número

cada vez mais expressivo.

Primeiramente, deve-se comentar sobre o Compromisso de

Ajustamento de Conduta de forma geral, para melhor entender a formação deste

instrumento extrajudicial. Logo após, tratar-se-á do Compromisso de Ajustamento

inerente à tutela ambiental, tal como sua execução.

3.1 COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA

Como citado, a partir da Lei Federal n. 6.938/81, houve

grande avanço legislativo na área de defesa dos direitos difusos e coletivos,

sendo que em seu art. 14, §1º207, legitima os Ministérios Públicos Federal e dos

207 BRASIL. Lei Federal n. 6.938/81. “Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: [...] § 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O

Page 78: Tac monografia roberto h

64

Estados para a propositura de Ação Civil visando a reparação de danos causados

ao meio ambiente208.

Citada evolução certamente concretizou-se com o advento

da Lei da Ação Civil Pública (Lei Federal n. 7.347/85), que mediante a criação de

um instrumento processual de tutela coletiva, possibilitou uma melhor efetivação

da proteção desses mesmos direitos e interesses, reservando ainda préstimos ao

Código de Defesa do Consumidor (Lei Federal n. 8.078/90), no que tange à

melhora na sistemática processual do mencionado instrumento209.

Como visto no Capítulo 2 deste trabalho, a Lei da Ação Civil

Pública ainda teve o mérito de criar um novo instrumento de investigação,

presidido exclusivamente pelo Ministério Público, denominado de Inquérito Civil,

que possibilitou a melhoria na obtenção de provas antes da propositura da ação

civil pública.

Conforme o entendimento de Akaoui210, “[...] a tutela

ambiental sofreu forte impacto positivo com sua previsão na Lei Federal n.

8.078/90, em seu art. 113, que acrescentou os §§ 4º, 5º e 6º ao art. 5º da Lei da

Ação Civil Pública”.

Com efeito, tal diploma legal resolveu a discussão

doutrinária e jurisprudencial no sentido de verificar se o Ministério Público e os

demais co-legitimados poderiam ou não efetuar acordos judiciais ou extrajudiciais

para solucionar as irregularidades apuradas no inquérito civil, procedimento

preparatório ou peças de informações coletadas211.

Assim, mediante a nova redação do art. 5º da Lei Federal n.

7.347/85, houve expressa disposição no sentido de que:

§6º - os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos

interessados compromisso de ajustamento de conduta às Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente”. 208 MORATO, José Rubens Leite. 2003. p. 260. 209 MAZZILLI, Hugo Nigro. 2006. p. 358. 210 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 67. 211 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 67.

Page 79: Tac monografia roberto h

65

exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título

executivo extrajudicial.

Tem-se que o objetivo do ajustamento de conduta é

readequar a conduta do degradador ou potencial degradador ao ordenamento

jurídico vigente, a fim de afastar o risco de dano ou recompor aqueles já

ocorridos. Desta forma, não pode o órgão público que toma aquele compromisso

deixar de pleitear todas as medidas tendentes ao efetivo e integral resguardo do

bem tutelado212.

Desta forma, criou-se a possibilidade de os órgãos públicos

co-legitimados poderem efetivar a tutela ambiental sem terem de levar a questão

ao Poder Judiciário, evitando assim a demanda de tempo que isso acarreta.

3.1.1 Natureza Jurídica

Impende ressaltar que vários especialistas se pronunciam no

sentido de que o compromisso de que trata a Lei 7.347/85, em seu art. 5º, §6º, é

transação.

Neste tema, Akaoui213 não coaduna com tal entendimento,

tendo em vista que o instituto da transação possui cunho eminentemente privado,

não podendo ser aplicado na defesa de interesses difusos.

Seguindo a mesma linha vê-se as palavras de Venosa214 no

sentido de que:

[...] o direito indisponível fica subordinado ao controle, maior ou

menos, do Estado. Certos direitos de família, por sua natureza,

são indisponíveis, porque a lei veda-lhes a disponibilidade ou

então lhes impõe certos limites. Assim, nos termos do art. 1.035,

não podem ser objeto de transação os direitos não patrimoniais e

os de natureza publica. O poder público só pode transigir quando 212 MORATO, José Rubens Leite. 2003. p. 262. 213 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 69. 214 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. São Paulo: Atlas, 2001, p. 280.

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66

expressamente autorizado por lei ou regulamento. Os direitos

indisponíveis, direta ou indiretamente, afetam a ordem pública.

Assim, levando em conta que o objeto do Compromisso de

Ajustamento de Conduta é direito indisponível, entende-se que a utilização do

termo transação não seja adequada a demonstrar o que de fato ocorre. Todavia,

como apontado anteriormente, a quase totalidade dos autores do tema se

posicionam no sentido de que se trata de transação, por não envolver o bem

ambiental em si, mas a situação periférica de resguardo do mesmo. Este é o

pensar de Fink215 que comenta que:

[...] em sendo transação, apesar de sua natureza peculiar por

envolver interesses não patrimoniais e não privados, o regime

jurídico do ajustamento de conduta deve obedecer, no que

couber, o regime da transação tal como previsto pelo direito civil.

No entanto, ainda que posto pela doutrina como uma forma

peculiar de transação, Akaoui216 entende que “[...] o Compromisso de

Ajustamento de Conduta se insere dentro de outra espécie de um gênero mais

abrangente, qual seja, o acordo”.

Assim, estes Compromissos de Ajustamento de Conduta às

exigências legais, mediante cominações, nada mais são que acordos

extrajudiciais, que dispensam homologação judicial217.

3.1.2 Legitimidade

Como já apontado no presente trabalho, a CRFB/1988 optou

corretamente por não concentrar a legitimidade para a propositura de Ação Civil

Pública na mão de um ou de poucos órgãos, ampliando a margem de proteção

dos interesses e direitos difusos e coletivos.

215 FINK, Daniel Roberto. Alternativa à ação civil pública ambiental. In. MILARÉ, Edis. 2001. p. 119. 216 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 70. 217 SHIMURA, Sérgio. Título executivo. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 379.

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67

Entretanto, ao introduzir no ordenamento jurídico a figura do

Compromisso de Ajustamento de Conduta, o legislador restringiu a legitimidade

para a obtenção deste título executivo extrajudicial, conferindo-a apenas aos

órgãos públicos co-legitimados ao ajuizamento da Ação Civil Pública, ou seja,

excluindo a possibilidade de as associações civis que constam do rol do art. 5º da

Lei Federal n. 7.347/85 firmarem o citado acordo218.

Akaoui219 comenta que, embora as associações civis tenham

presentes os requisitos constitutivos exigidos para que seja legitimada à

propositura da Ação Civil Pública, o legislador tentou evitar que tomassem

compromisso de ajustamento as entidade que não tenham capacidade técnica ou

moral para firmar o acordo para resguardo do bem jurídico difuso ou coletivo

tutelado.

Outro ponto de extrema relevância apontado pelo citado

doutrinador é quanto à publicidade do Compromisso de Ajustamento de Conduta,

pois:

[...] enquanto os órgãos públicos estão obrigados a dar ampla

publicidade de seus atos, em homenagem ao princípio insculpido

no caput do art. 37 de nossa Carta Magna, à mesma obrigação

não estariam ligadas as associações civis, o que poderia trazer

inúmeros prejuízos para a efetivação das medidas tendentes à

correção das ilegalidades praticadas em face dos interesses

difusos e coletivos220.

Realmente, não tendo a coletividade e os demais órgãos

públicos notícia do ajustamento de conduta, poderiam ser tomadas medidas

desnecessárias em face do responsável, tal como os termos daquele acordo não

seriam de conhecimento geral, para análise e eventual crítica.

218 MAZZILLI, Hugo Nigro. 2006. p. 363. 219 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 73. 220 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 73.

Page 82: Tac monografia roberto h

68

Relativamente ao campo doutrinário, são de se trazer a lume

as palavras de Mazzilli221, para quem:

[...] examinando-se o rol dos legitimados ativos, contidos no art. 5º

da Lei da Ação Civil Pública e no art. 82 do Código de Defesa do

Consumidor, podemos relacionar três categorias: A) a daqueles

legitimados que, incontroversamente, podem tomar compromisso

de ajustamento: Ministério Público, União, Estados, Municípios,

Distrito Federal e órgãos públicos, ainda que sem personalidade

jurídica, especificamente destinado à defesa de interesses

difusos, coletivos e individuais homogêneos; b) a dos legitimados

que, incontroversamente, não podem tomar o compromisso: as

associações civis, as fundações privadas, as empresas públicas e

as sociedades de economia mista; c) a dos legitimados sobre os

quais é questionável possam tomar esses compromissos, como

as fundações públicas e as autarquias.

Nesta linha de entendimento, a maior controvérsia

doutrinária reside na segunda categoria apontada por Mazzilli222, pois, nela se

incluem as sociedades de economia mista, as empresas públicas e outras

congêneres. Segundo sua ótica, as empresas públicas e sociedades de economia

mista somente estarão legitimadas a tomar o Compromisso de Ajustamento de

Conduta quanto tiverem como escopo a prestação de serviços públicos.

Outra questão bastante polêmica acerca do Compromisso

de Ajustamento de Conduta diz respeito a sua eficácia quando firmado por

membro do Ministério Público, uma vez que a doutrina debate sobre se ele teria

força executiva imediata ou se estaria sujeito a revisão de seus termos pelo

Conselho Superior da instituição.

221 MAZZILLI, Hugo Nigro. 1999. p. 303. 222 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 76.

Page 83: Tac monografia roberto h

69

3.1.3 Revisão pelo Conselho Superior do Ministério Público

A dúvida surge a partir do texto do art. 9º, caput e seus

parágrafos, da Lei da Ação Civil Pública, na medida em que impõe ao

arquivamento do Inquérito Civil uma obrigatória revisão por parte daquele órgão

da Administração Superior do Ministério Público, que poderá não homologar

aquela providência adotada, designando outro órgão da instituição para ajuizar a

competente ação.

Leciona Akaoui223 que o Compromisso de Ajustamento de

Conduta, por presumidamente encerrar as necessidades de reparação do dano

causado, ou por ter afastado o risco, afasta também a justa causa necessária ao

ajuizamento da Ação Civil Pública, impondo o arquivamento do procedimento

administrativo, devendo assim passar pelo crivo do colegiado competente.

Assim, para muitos, o termo por parte do investigado

somente ganharia eficácia após a homologação prevista no §4º do art. 9º da LF

7.347/85224, posicionamento que, para outros, ofenderia a mens legis. Ainda, uma

terceira corrente admite a possibilidade de regulamentação da norma mencionada

por meio das leis orgânicas dos Ministérios Públicos ou dos regimentos internos

dos Conselhos Superiores225.

A primeira corrente doutrinária posiciona-se no sentido de

que sem a homologação do arquivamento do Inquérito Civil, o título não possuiria

eficácia, já que o Colegiado não concordou com seus termos, devendo designar

outro órgão ministerial para proposição de Ação Civil Pública. Todavia,

considerando os apontamentos contrários advindos da segunda corrente citada,

extrai-se que o legislador não possui condição para que o compromisso de

223 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 79. 224 BRASIL. Lei Federal n. 7.347/85. “Art. 9º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da inexistência de fundamento para a propositura da ação civil, promoverá o arquivamento dos autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o fundamentadamente. [...] § 4º Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação”. 225 MORATO, José Rubens Leite. 2003. p. 263.

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70

ajustamento ganhe eficácia jurídica, residindo a desvantagem no fato temporal, já

que entre a assinatura do termo e sua homologação poderiam se passar

meses226.

Já com relação ao terceiro posicionamento, Akaoui227

comenta que:

[...] o legislador não enfrentou a matéria, mas abriu campo para

que os Ministérios Públicos, seja por meio de suas leis orgânicas,

seja por meio de regimentos internos dos seus Conselhos

Superiores, pudessem regulamentar a matéria atinente à extensão

da revisão dos arquivamentos, criando, inclusive, o mecanismo de

eficácia para o compromisso de ajustamento de conduta.

Neste mesmo sentido é a lição de Vieira228, para quem:

[...] é viável a fixação de regras que imponham a necessidade de

prévia homologação do órgão superior para eficácia da transação,

sem que se possa argüir, no caso, conflito com a LF 7.347/85,

uma vez que se trata de definição e limites de atribuições dos

órgãos da Instituição.

Assim, quando firmado por órgão do Ministério Público, a

eficácia plena do Compromisso de Ajustamento de Conduta estará vinculada à

prévia homologação de seu Conselho Superior, não em decorrência de eventual

norma estadual ao ato administrativo que nesta linha disponha, mas por

decorrência de interpretação da própria Lei Federal n. 7.347/85229.

3.1.4 Aspectos Formais

Conforme anteriormente exposto, o Compromisso de

Ajustamento de Conduta é título executivo extrajudicial, devendo manter o

226 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 80. 227 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 81. 228 VIEIRA, Fernando Grella. A transação na esfera da tutela dos interesses difusos e coletivos: compromisso de ajustamento de conduta. In: MILARÉ, Edis. 2001. p. 243. 229 MORATO, José Rubens Leite. 2003. p. 263.

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71

formato adequado a possibilitar sua eventual execução perante órgão do Poder

Judiciário.

Não esta se aduzindo que a incidência de tal fato seja alta,

mas, é certo que muitos fatos podem levar a que o ajustante deixe de dar cabo

daquelas obrigações acordadas. Seja por má-fé, por insolvência, negligência,

entre outros motivos, o título deve estar preparado para suportar o processo de

execução, a fim de se alcançar o escopo das cláusulas não cumpridas, reparando

os danos já causados e afastando os riscos de danos futuros ao meio

ambiente230.

Portanto, o título de que esta se tratando deverá ser objeto

de máximo cuidado, para que nenhum detalhe vital à sua execução e eficácia seja

posto de lado pelos legitimados a tomar o Compromisso de Ajustamento de

Conduta. Aliás, a exigência de que o título jurídico deva ser líquido e certo,

conforme determinação contida no art. 586, caput, do Código de Processo Civil231,

é pressuposto imprescindível para que possa ser objeto de execução, sendo esta

nula se o título não contiver tais preceitos (art. 618, inciso I, do CPC)232.

Importante analisar-se quais as conseqüências jurídicas

decorrentes do firmamento do Compromisso de Ajustamento de Conduta.

3.1.5 Efeitos do Compromisso de Ajustamento de Conduta

Considerando que no Termo de Ajustamento de Conduta

são acordadas medidas tendentes ao resguardo do interesse difuso ou coletivo,

conclui-se que em relação às suas cláusulas o mesmo impedirá a propositura de

Ação Civil Pública, seja pelo órgão público que o assina, seja pelos demais

legitimados, diante da inegável falta de interesse processual. Tal colocação

baseia-se no fato de que não haverá qualquer interesse dos órgãos co-

230 MAZZILLI, Hugo Nigro. 2006. p. 367. 231 BRASIL. Código de Processo Civil. “Art. 586. A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível”. 232 BRASIL. Código de Processo Civil. “Art. 618. É nula a execução: I - se o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida e exigível”.

Page 86: Tac monografia roberto h

72

legitimados a propor Ação Civil Pública para obtenção daquilo que já pode ser

executado por meio de documento com força executiva233.

Todavia, sabe-se que caso a medida acordada não esteja

adequada à proteção do bem tutelado, necessitando ser reparada ou suprida, os

órgãos púbicos legitimados poderão ajuizar Ação Civil Pública para sanar tal falta.

No que tange aos efeitos do Compromisso de Ajustamento

de Conduta, Akaoui234 entende que:

[...] verificada a existência de compromisso de ajustamento de

conduta que abranja os pedidos formulados em sede de ação civil

pública recém proposta, esta deverá ser extinta sem julgamento

do mérito, nos termos do art. 267, inciso VI, do CPC, ante a falta

de interesse processual. [...] Poderá ocorrer, no entanto, de a

ação civil pública já ter sido ajuizada antes da elaboração do

compromisso de ajustamento de conduta o que levará à carência

superveniente, com a mesma conseqüência prática acima

mencionada, qual seja, a extinção do feito sem análise da matéria

de fundo.

Com efeito, independentemente do co-legitimado que firmou

o ajustamento de conduta com o infrator, se o título abranger os pedidos da Ação

Civil Pública em trâmite, deverá ela ser extinta, pois a partir daí faltará ao autor o

interesse de agir, ante a obtenção de título executivo do qual o mesmo possui

legitimidade para promover o processo de execução.

Finalmente, em se tratando de pessoa jurídica, de direito

privado, especialmente, deve o tomador do ajustamento de conduta imputar a ela

a necessidade de transferir as obrigações contidas no título a sua eventual

sucessora na atividade em caso de alienação ou privatização, pois, caso

233 ARAÚJO, Carolina Lobato Góes de. Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta. Disponível em: ���������������������� ���"#$%�&'�(����. Acesso em 01 out. 2007. 234 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 97.

Page 87: Tac monografia roberto h

73

contrário, a nova empresa ou pessoa física que se estabelecer não estará

vinculada às obrigações do compromisso firmado235.

3.1.6 A Mutabilidade do Compromisso de Ajustamento de Conduta

Buscando sempre a melhor proteção possível do bem

tutelado, entende-se que se o título não se encontrar completo ou adequado,

poderá o órgão público que firmou o termo convocar novamente o signatário para

acordar novas medidas que resguardem o bem jurídico visado236.

Tal posicionamento é amparado por diversos doutrinadores,

tal como Akaoui237, o qual aduz que o Compromisso de Ajustamento de Conduta

obtido pelo órgão público, seja ele qual for, não se torna imutável, ou seja, não

sofre os efeitos da coisa julgada.

Destarte verificando-se a necessidade de reajustamento dos

termos do compromisso anteriormente firmado, não deverá o órgão público relutar

em tentar obter a composição com o interessado.

Ressalta-se que nem mesmo o Compromisso de

Ajustamento de Conduta firmado pelo Ministério Público, que passa

necessariamente pela homologação do Conselho Superior, ficará sujeito à

imutabilidade.

3.1.7 Publicidade

Conforme já acima discorrido, o Compromisso de

Ajustamento de Conduta é ato administrativo, devendo assim guardar respeito

aos princípios gerais que norteiam os atos desta natureza, entre eles aquele que

235 MAZZILLI, Hugo Nigro. 2006. p. 368. 236 MORATO, José Rubens Leite. 2003. p. 264. 237 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 99.

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74

mais relevância possui para a correta fiscalização por parte da coletividade e de

seus órgãos de tutela, o princípio da publicidade.

Leciona Machado238 que:

[...] o acordo, antes de ser assinado, merece ser tornado público.

Um dos pilares fundamentais do Direito ambiental é a informação

ampla, veraz, rápida e institucionalizada. Havendo transparência,

os interessados poderão trazer para os órgãos públicos

envolvidos outros subsídios ou a opinião de segmentos sociais

diversos.

De fato, é por meio da publicidade que a sociedade poderá

tomar conhecimento da existência daquele instrumento de defesa de seus

interesses, podendo, se for o caso, se insurgir contra seus termos.

Ressalta-se que se tratando do princípio da Administração

Pública encartado na Constituição Federal de 1988, no caput de seu art. 37239, a

sua não observância gera a ocorrência de ato de improbidade administrativa por

parte do agente que possuía o dever de dar cumprimento àquele escopo e não o

fez, como se depreende do art. 11, inciso IV, da LF 8.429/92240.

Já no caso do Compromisso de Ajustamento de Conduta

emanar de órgão de execução do Ministério Público, a publicidade do ato deverá

ser providenciada pelo Conselho Superior, após o reexame necessário do

arquivamento do inquérito civil ou das peças de informação, na medida em que

somente com a homologação por parte do citado órgão da Administração

Superior é que o compromisso ganha sua eficácia plena241.

238 MACHADO, Paulo Affonso Leme. 2004. p. 355. 239 BRASIL. Constituição Federal de 1988. “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...]”. 240 BRASIL. Lei Federal n. 8.429/95. “Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente: [...] IV - negar publicidade aos atos oficiais”. 241 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 102.

Page 89: Tac monografia roberto h

75

Após devidamente estudado o Compromisso de

Ajustamento de Conduta, segue-se com a tutela do Meio Ambiente como escopo

do termo, tido por inúmeros doutrinadores como o instrumento mais eficaz na

preservação deste grandioso bem.

3.2 COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA AMBIENTAL

Considerando o que já foi mencionado em relação ao

Compromisso de Ajustamento de Conduta em geral, quando o objeto do título

tenha por finalidade a proteção do bem de natureza ambiental, esse instrumento

mostra-se muito eficaz.

Tal pensamento fundamenta-se no fato de que obtendo-se o

ajustamento da conduta do degradador do Meio Ambiente ou daquele que está na

iminência de degradá-lo, rapidamente, evita-se a conhecida morosidade que os

processos judiciais têm sofrido242.

Tratando-se da manutenção do equilíbrio ecológico, o fator

temporal é primordial, haja vista o fato de que quanto antes o dano for reparado,

ou afastado for o perigo, melhor é resguardado o direito da coletividade a um

Meio Ambiente sadio.

Neste tema, comenta Akaoui243 que:

[...] é fácil de imaginar as vantagens da obtenção do compromisso

de ajustamento de conduta quando pensamos, por exemplo, em

uma indústria que se compromete em corrigir em tempo razoável

a emissão de sons e ruídos que estão causando incômodos e

danos à saúde da vizinhança ou a descontaminação do rio que

abastece uma ou mais cidades com suas águas, agora poluídas

em face da atividade do ajustante.

242 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 2004. p. 353. 243 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 106.

Page 90: Tac monografia roberto h

76

Assim, o Compromisso de Ajustamento de Conduta que

obtenha por meio de suas cláusulas o efetivo resguardo do Meio Ambiente

cumpre o mais importante dos princípios constitucionais do Direito Ambiental, qual

seja, o princípio da prevenção, anteriormente comentado no “Capítulo 1” do

presente trabalho.

Sobre esse princípio vale transcrever as palavras de Fiorillo

e Rodrigues244, que assim já se manifestaram:

Em sede principiológica de Direito Ambiental, não há como

escapar do preceito fundamental da prevenção. Esta é e deve ser

a palavra de ordem, já que os danos ambientais, tecnicamente

falando, são irreversíveis e irreparáveis. [...] Diante da importância

do sistema e face a impossibilidade lógico-jurídica de fazer voltar

a uma situação igual a que teria sido criada pela própria natureza,

adota-se, com inteligência e absoluta necessidade, o princípio da

prevenção do dano ao meio ambiente como verdadeira chave-

mestra, pilar e sustentáculo da disciplina ambiental, dado o

objetivo fundamentalmente preventivo do Direito Ambiental.

Sendo o escopo deste instrumento de tutela do Meio

Ambiente a proteção dos direitos indisponíveis, as obrigações a serem assumidas

no título deverão abranger de forma eficiente as medidas necessárias a afastar o

risco de dano ambiental ou à reparação do mesmo bem jurídico.

3.2.1 Objeto

No tocante ao que preceitua a própria Lei da Ação Civil

Pública, Akaoui245 comenta que:

[...] as obrigações deverão ensejar o reenquadramento do

interessado às exigências legais, sendo que o ordenamento

jurídico não se contenta com a assunção parcial dos deveres

244 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco e RODRIGUES, Marcelo Abelha. 1999. p. 140. 245 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 108.

Page 91: Tac monografia roberto h

77

necessários para com o meio ambiente, visando mantê-lo íntegro

às presentes e futuras gerações.

Desta feita, não se admite que possa haver o firmamento de

Compromisso de Ajustamento de Conduta que não abarque as condutas

necessárias à obtenção do resguardo ambiental.

Assim, passa-se ao estudo das obrigações que podem

figurar como objeto dos Compromissos de Ajustamento de Conduta Ambiental,

diretrizes estas necessárias à solução da problemática abordada.

3.2.1.1 Obrigação de Fazer

Levanto em conta o fato de que todo e qualquer pedido que

fosse lícito de ser formulado em Ação Civil Pública também seria possível de

constar como obrigação assumida pelo poluidor no Compromisso de Ajustamento

de Conduta, é certo que dentro destes estarão as obrigações de fazer.

Monteiro246 dá conta de que:

[...] nas obrigações de fazer, a prestação consiste num ato do

devedor, ou um serviço deste. Qualquer forma de atividade

humana, lícita e possível, pode constituir objeto da obrigação. Os

atos ou serviços, que se compreendem nas obrigações de fazer

se apresentam sob as mais diferentes roupagens: trabalhos

manuais, intelectuais, científicos e artísticos.

Importante salientar que na obtenção de obrigação de fazer,

muitos cuidados deverão ser tomados, a fim de que, em caso de ineficácia das

medidas adotadas pelo ajustante, não venha este a tentar impor ao órgão público

que lhe tomou o ajustamento a responsabilidade pelo resultado. Todavia,

Akaoui247 acrescenta que “[...] é de se considerar que as obrigações de fazer

246 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil – Direito das obrigações. 1 parte. vol. 4. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 88. 247 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 110.

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78

assumidas no Compromisso de Ajustamento de Conduta são de resultado e

realizadas por conta e risco do interessado”.

Outro ponto de cuidado a ser salientado é a fixação de prazo

para a apresentação do projeto ou medidas a serem implantadas, bem como novo

prazo para início da execução das obras ou outras formas de medidas corretivas,

ressalvando-se o apontamento de outra data mais adequada pelo órgão técnico

aprovador do documento formulado pelo ajustante e a ele submetido248.

Detalhe importante ao termo de ajustamento de conduta

firmado com o Poder Público é no sentido de se poder, e dever, exigir a

realização de obras tendentes à recuperação do meio ambiente degradado ou ao

afastamento do risco de dano, haja vista que o intuito maior do termo é

restabelecer o equilíbrio sadio do Meio Ambiente, ficando em segundo plano a

indenização no caso de dano irreversível249.

3.2.1.2 Obrigações de Não Fazer

Conceituada como uma obrigação negativa que tem como

finalidade principal a abstenção de um fato ou ato, a obrigação de não fazer

também possui suma importância dentre as medidas que constituem o

Compromisso de Ajustamento de Conduta250.

Contudo, tem-se que a obrigação de não fazer assumida em

sede de tutela de direitos ou interesses difusos ou coletivos tem uma natureza um

pouco diversa da que visa à abstenção da prática de um ato ou fato no âmbito do

direito privado. Para estabelecermos essa diferenciação, vale trazer o

ensinamento de Rodrigues251, que aduz que “[...] a obrigação de não fazer é

aquela em que o devedor assume o compromisso de se abster de um fato, que

poderia praticar, não fosse o vínculo que o prende”.

248 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 110 - 111. 249 MAZZILLI, Hugo Nigro. 2006. p. 368. 250 VENOSA, Sílvio de Salvo. 2001. p. 97 - 98. 251 RODRIGUES, Silvio. Direito civil – Parte geral das obrigações. 18 ed. Vol. 2. São Paulo: Saraiva, 1988, p. 43 – 44.

Page 93: Tac monografia roberto h

79

Desta forma, vê-se nitidamente a diferença que se pretende

demonstrar, pois, na defesa de bem de natureza difusa ou coletiva não se trata de

obter o compromisso do ajustante para deixar de praticar um ato ou fato que

poderia praticar, mas sim de abster-se de fazer aquilo que não pode praticar.

Na defesa do Meio Ambiente as obrigações de não fazer

têm como escopo fazer cessar a atividade poluidora, permitindo que, pelo menos

a partir desse momento, o Meio Ambiente deixe de ser agredido em face dos

impactos negativos que vem sofrendo, possuindo ainda, cunho preventivo,

visando a abstenção de novas práticas nocivas.

Finalmente, comenta Akaoui252 que “[...] tornando-se

impossível a abstenção do fato a que se obrigou o ajustante a não fazer, [...]

deverá ressarcir ou reparar os danos porventura ocorridos, arcando, ainda, com a

cláusula penal”.

3.2.1.3 Obrigações de Dar Coisa Certa

A prática demonstra que as obrigações de fazer e não fazer

constituem a imensa maioria dos objetos de Compromisso de Ajustamento de

Conduta Ambiental, todavia, não podemos destacar a possibilidade de este

instrumento de tutela do meio ambiente vir a prever obrigações de dar coisa certa,

sendo esta coisa o próprio bem jurídico protegido.

Citada hipótese poderia ocorrer no caso de indevidamente o

ajustante ter a posse ou detenção de coisa que tenha valor ambiental coletivo,

como uma imagem religiosa de inestimável valor histórico, ou estar criando em

cativeiro, e sem a devida autorização do Ibama, raro exemplar de animal silvestre

endêmico da Mata Atlântica253.

Vale lembrar ainda que, tratando-se de obrigação que

vincula a relação a um bem determinado, não poderá o ajustante entregar outro

em seu lugar, pois estaria descumprindo a estipulação do termo de ajustamento, 252 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 117. 253 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 117.

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80

não estando o credor, portanto, obrigado a aceitá-lo, nos exatos termos do art.

313 do Código Civil vigente254.

3.2.1.4 Indenização em Dinheiro em Caso de Danos Irreparáveis

Conforme preceitua a Lei da Ação Civil Pública, é lícito

peticionar indenização em compromisso de ajustamento que vise a tutela de

interesses difusos e coletivos, aí incluída a tutela ambiental, motivo pelo qual

poderá ser utilizada mencionada cláusula como obrigação possível de ser

alcançada em sede de Compromisso de Ajustamento de Conduta.

Entretanto, como já comentado anteriormente, o objetivo real

da tutela ambiental não é alcançar indenização pelos danos já causados e

irreversíveis, mas sim, evitar que tais atividades degradadoras possam ocorrer,

salvaguardando a qualidade de vida das presentes e futuras gerações255.

De fato, é princípio tácito que se extrai da CRFB/1988 (art.

225, caput, §1º, inciso I e §§ 2º e 3º)256 o da primazia da reparação específica do

dano ambiental, ou seja, existe uma absoluta prioridade de retorno do bem lesado

ao statu quo ante. Portanto, deverão os legitimados à tutela coletiva do bem

ambiental lesado buscar, de todas as formas possíveis, obter do degradador o

compromisso de recuperar a área afetada por sua atividade, ou seja, deve-se

sempre tentar a recomposição do bem ambiental lesado ao seu estado original.

Isto posto, somente quando não for possível a reversão do

dano é que se abrirá a possibilidade de indenização daquele em dinheiro,

254 BRASIL. Código Civil. “Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa”. 255 MAZZILLI, Hugo Nigro. 2006. p. 358. 256 BRASIL. Constituição Federal de 1988. “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas [...]”.

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81

anotando-se que a impossibilidade que ensejará essa medida é a impossibilidade

técnica, e não financeira ou de outra ordem qualquer257.

3.2.1.5 Compensação por Equivalente

A compensação por equivalente foi uma inovação que

ganhou força com a edição do Código de Defesa do Consumido, que, em seu art.

83, ampliou o leque de pedidos passíveis de serem formulados em sede de Ação

Civil Pública, uma vez que dispõe no sentido de que “[...] para a defesa dos

direitos e interesses protegidos por este Código são admissíveis todas as

espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela”258.

Assim, considerando ser possível toda e qualquer espécie

de ação que propicie a adequada tutela dos interesses difusos e coletivos, e,

sendo que a essas ações caberão infinitos pedidos correlatos, aí estarão incluídos

os pedidos de compensação, que, conforme o entendimento de Akaoui259, “[...]

nada mais são do que obrigações de dar coisa certa ou incerta”.

Seguindo tal entendimento, conclui-se que a compensação

por equivalente nada mais é do que a transformação do valor que deveria ser

depositado no fundo de reparação dos interesses difusos lesados em obrigação

de coisa certa ou incerta, que, efetivamente contribua na manutenção do

equilíbrio ecológico.

Para demonstrar as vantagens da compensação por

equivalência é pertinente recordar as palavras de Andrade e Villar260, para quem:

[...] sobressai-se a compensação, no entanto, sem prejuízo do

atendimento aos demais objetivos traçados, por possuir os

caracteres da celeridade e objetividade na resolução dos

problemas ambientais, notadamente onde inexistente a 257 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 119. 258 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 122. 259 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 122. 260 ANDRADE, Filippe Augusto Vieira e VILLAR, Maria Aparecida Alves Gulin. A compensação como forma de reparação por danos causados ao meio ambiente. In: PENTEADO, Jaques de Camargo. Justiça penal. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999, p. 199.

Page 96: Tac monografia roberto h

82

possibilidade de recuperação parcial ou total do ambiente

adversamente impactado.

Certamente a compensação por equivalente traz consigo

uma efetividade muito maior do que a destinação dos valores apurados em

relação ao dano ambiental aos fundos de reparação, que se encontram

absolutamente inertes.

3.2.2 Cominação

A cominação em sede de Compromisso de Ajustamento de

Conduta não é uma prerrogativa conferida ao Ministério Público ou aos demais

órgãos públicos, que poderão utilizá-la ou não, mas sim uma determinação legal.

De fato, em conformidade com os ideais amparados pelo

doutrinador Akaoui261:

[...] não há muita razão em estabelecer obrigações em título

executivo extrajudicial sem que o mesmo preveja, de forma

preventiva, aplicação de sanções de natureza pecuniária ou de

outra natureza, pois o descumprimento daquelas não implicaria de

forma imediata a ocorrência de sanções já executáveis. Sem as

cominações pecuniárias, o órgão público ajustante teria de se

valer apenas das execuções de obrigações de fazer e não fazer

como previsto no CPC, ficando a possibilidade de estabelecimento

de multa ao livre critério do juiz.

Acerca da importância do estabelecimento das cominações

traz-se a lição de Carvalho262, no sentido de que:

[...] se o interessado se compromete a ajustar sua conduta às

exigências legais, como admite a lei, de nada adiantaria a

promessa se não houvesse a previsão de penalidade para o caso

261 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 126. 262 CARVALHO, José dos Santos Filho. Ação civil pública: comentários por artigo. 2ª ed. ver. ampl. atual. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 1999, p. 188.

Page 97: Tac monografia roberto h

83

de descumprimento. [...] Para haver efetividade jurídica, é

obrigatório que no instrumento de formalização esteja prevista a

sanção para o caso de não cumprimento da obrigação.

Foi a Lei Federal n. 8.953/94 que possibilitou a execução

das obrigações de fazer e de não fazer contidas em título jurídico extrajudicial,

pela nova redação que deu ao art. 632 do Código de Processo Civil, tornando-se

regra geral263.

Em decorrências desses argumentos, fica nítido que:

[...] uma vez que a fase de conhecimento é substituída pela

transação, a fixação do prazo para adimplemento da obrigação há

de constar do compromisso, assim como, evidentemente, a pena

pecuniária diária a que estará sujeito o responsável em caso de

descumprimento264.

Sendo assim, comenta Akaoui265 que:

[...] em decorrência do que foi afirmado, não teríamos dúvida em

ponderar que a cominação não se traduz em ato discricionário do

representante do órgão público que elabora o compromisso de

ajustamento de conduta, mas, sim, em verdadeiro ato vinculado,

que não pode ser afastado da redação do termo próprio.

Com efeito, é pressuposto de validade do título a previsão

explícita de cominações, nos exatos termos do que determina o §6º do art. 5º da

LF n. 7.347/85, que visa de forma clara prevenir a ocorrência de inadimplemento

em relação às obrigações assumidas no Compromisso de Ajustamento de

Conduta266.

263 BRASIL. Código de Processo Civil. “Art. 632. Quando o objeto da execução for obrigação de fazer, o devedor será citado para satisfazê-la no prazo que o juiz Ihe assinar, se outro não estiver determinado no título executivo”. 264 VIEIRA, Fernando Grella. A transação na esfera da tutela dos interesses difusos e coletivos: compromisso de ajustamento de conduta. In: MILARÉ, Edis. 2001. p. 242. 265 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 127 - 128. 266 BRASIL. Lei Federal n. 7.347/85. “Art. 5º. [...] § 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial”.

Page 98: Tac monografia roberto h

84

O presente caráter inibitório da citada cominação não afasta

seu caráter de aplicação de pena ao responsável pelo adimplemento das

obrigações fixadas no título em não se atendo de maneira rigorosa aos termos

previstos no compromisso, tal como forma, prazo etc.

Cuidar-se-á agora de uma forma especial de composição

voluntária da lide: aquela que, referendada extrajudicialmente pelo Ministério

Público, envolve apenas uma solução parcial dos problemas investigados num

inquérito civil. São os chamados Compromissos Preliminares267.

3.3 COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA AMBIENTAL

PRELIMINAR

Como citado, é de se consignar que o termo Compromisso

de Ajustamento de Conduta Preliminar nasceu no seio do Ministério Público do

Estado de São Paulo, decorrente da verificação prática de que em determinadas

situações as Promotorias de Justiça tinham legítimo interesse em obter do

interessado obrigações que não resultavam necessariamente no encerramento

das investigações, uma vez que a tutela do interesse difuso ou coletivo em pauta

ainda não se encontrava efetivamente concretizada268.

Assim, a fim de regularizar a situação de caráter pragmático,

o Conselho Superior Paulista editou a Súmula de n. 20, com a seguinte redação:

Súmula n. 20 – Quando o compromisso de ajustamento de

conduta tiver a característica de ajuste preliminar, que não

dispense o prosseguimento de diligências para uma solução

definitiva, salientado pelo órgão do Ministério Público que o

celebrou, o Conselho Superior homologará somente o

compromisso, autorizando o prosseguimento das investigações.

267 MAZZILLI, Hugo Nigro. 2006. p. 369. 268 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 143.

Page 99: Tac monografia roberto h

85

Mazzilli269 ainda relata que compôs o Conselho Superior do

Ministério Público paulista no ano de 1994, data esta em que nasceu a referida

súmula. E assim, comenta que:

[...] a Súmula n. 20-CSMP-SP foi fruto de uma preocupação

surgida na Promotoria de Justiça de Acidentes do Trabalho da

Capital [...], onde, segundo os promotores paulistas [...], era muito

comum que instaurassem inquéritos civis e, ao investigarem

irregularidades no meio ambiente do trabalho, acabavam tomando

compromissos de ajustamento das empresas, que atendiam em

parte à solução dos problemas investigados. Entretanto, nem

sempre os acordos eram de todo suficientes para justificar o

arquivamento do inquérito civil. [...] Ponderavam eles que o

sistema da lei orgânica local do Ministério Público impunha,

porém, que a eficácia do compromisso de ajustamento ficaria na

dependência de ser a promoção de arquivamento do inquérito civil

homologada pelo Conselho Superior.

Verifica-se do espírito da mencionada súmula, que o

Compromisso Preliminar é um compromisso de ajustamento de conduta parcial,

porém, sua natureza jurídica não se afasta da natureza daquele que, porventura

firmado, venha a pôr termo às investigações e de fato resguarde o interesse

difuso ou coletivo que se pretende tutelar.

Como já mencionado, o Inquérito Civil permite ao Ministério

Público a coleta de dados necessários à verificação da ocorrência de danos ou

riscos aos bens de natureza difusa ou coletiva, tal como os causados ao meio

ambiente.

Na busca desses dados, pode haver necessidade da prática

ou abstenção de determinados atos que sejam tendentes à análise dos fatos,

sendo que sua busca pode se dar por meio de medida judicial ou de acordo

entabulado nos autos do Inquérito Civil. Todavia, os mencionados atos não

ensejam o firmamento de compromisso definitivo, vinculando os ajustantes a seus

269 MAZZILLI, Hugo Nigro. 2006. p. 369.

Page 100: Tac monografia roberto h

86

termos, com o propósito de se prosseguir nas investigações, ou se permitir a

continuidade das mesmas270.

Diante desse impasse, a doutrina passou a admitir a

possibilidade de se firmar um Compromisso de Ajustamento de Conduta

denominado Preliminar, posto que não se trata, ainda, do acordo definitivo

previsto no §6º, do art. 5º da Lei Federal 7.347/85, já citado anteriormente.

Mediante a imposição de Compromisso Preliminar o órgão

ministerial viabilizaria as demais diligências necessárias, permitindo chamar o

degradador, a posteriori, com mais segurança, para uma tentativa de ajustamento

definitivo271.

Destarte, não há qualquer necessidade de que o

Compromisso Preliminar seja formulado no bojo de Inquérito Civil, podendo

aflorar em procedimentos administrativos de qualquer daqueles órgãos públicos

legitimados.

Tendo em vista sua natureza jurídica similar à do

Compromisso de Ajustamento de Conduta definitivo, Akaoui272 comenta que

quando o ajustamento preliminar ampara parcialmente aquilo que deveria ter sido

exigido do infrator, pode gerar os mesmos efeitos jurídicos do primeiro, ou seja,

em alguns casos poderia redundar na extinção geral ou parcial de ação civil

pública já anteriormente ajuizada, diante da verificação de carência

superveniente. Da mesma forma, poderá o ajustamento preliminar obstaculizar a

formação de nova relação processual, em razão da existência do título executivo

extrajudicial, o qual poderá ser executado por qualquer um dos que possuem

legitimação.

Finalmente, conclui-se que caso o ajustamento preliminar

não englobe todas as medidas necessárias à correção dos danos causados, ou o

integral afastamento dos riscos existentes ao bem difuso ou coletivo, então o

270 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 144. 271 MAZZILLI, Hugo Nigro. 2006. p. 370. 272 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 148.

Page 101: Tac monografia roberto h

87

órgão público deverá continuar as investigações, até efetiva solução dos

problemas verificados.

3.4 A EXECUÇÃO DO COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA

AMBIENTAL

Considerando que o Compromisso de Ajustamento de

Conduta representa título executivo extrajudicial, contendo obrigações e

cominações, seu inadimplemento pode levar à execução, tal como no caso de

títulos judiciais. Desta feita, seguem os procedimentos de execução possíveis.

3.4.1 Execução de Obrigação de Fazer

Quando a obrigação de fazer estiver contida em pedido

formulado em Ação Civil Pública, devem-se aplicar por expressa disposição do

art. 21 da Lei Federal n. 7.347/85273 as regras atinentes ao Código de Defesa do

Consumidor, sendo que este previu no §5º de seu art. 84 que:

[...] para a tutela específica ou para a obtenção do resultado

prático equivalente, poderá o juiz determinar as medidas

necessárias, tais como busca e apreensão, remoção de coisas e

pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva,

além de requisição de forma policial274.

Regra idêntica foi transportada ao Código de Processo Civil

diante da nova redação ao art. 461 pela Lei Federal n. 8.952/94275, que, por

273 BRASIL. Lei Federal n. 7.347/85. “Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que for cabível, os dispositivos do Título III da lei que instituiu o Código de Defesa do Consumidor”. 274 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 150. 275 BRASIL. Lei Federal n. 8.952/94. “Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento”.

Page 102: Tac monografia roberto h

88

disposição do art. 19 da Lei Federal n. 7.347/85276, também se aplica

subsidiariamente às ações civis públicas de que trata.

Verificando o texto legal, anota-se que em momento algum o

legislador vinculou a regra ali contida ao processo de conhecimento, uma vez

que, dizendo ser de competência do juiz da ação que tiver por objeto obrigação

de fazer ou não fazer a determinação das medidas de apoio ali

exemplificativamente lançadas, não afastou a possibilidade de que essa ação seja

de execução277.

Impende ressaltar a importância do papel do órgão

jurisdicional na efetividade das medidas de proteção ambiental e dos demais

interesses difusos e coletivos em jogo na execução da tutela coletiva, pois, como

bem lembrado por Venturi278:

[...] a funcionalidade da tutela efetiva aos direitos difusos, coletivos

e individuais homogêneos, no âmbito executivo, está condicionada

à atuação incisiva do juiz, que tem o dever de exercer a função

estatal de pacificação social, ostentando, para tanto, ampla gama

de poderes discricionários que necessitam ser adequadamente

utilizados, flexibilizando-se, assim, a atuação judicial de acordo

com as peculiaridades e imposições que o caso concreto

compreende.

É bem verdade que o órgão público poderá antecipar a

ocorrência de eventual inadimplemento e prever nas cláusulas do compromisso

algumas dessas medidas de apoio. Todavia, também é certo que as hipóteses

são de tamanha magnitude que não poderão ser antevistas em sua plenitude.

Outro ponto a ser comentado é o fato de o executado ser

citado e não dar cumprimento à determinação judicial, o que acarretará na

incidência de multa diária estipulada no termo, podendo o órgão exeqüente

276 BRASIL. Lei Federal n. 7.347/85. “Art. 19. Aplica-se à ação civil pública, prevista nesta Lei, o Código de Processo Civil, aprovado pela Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, naquilo em que não contrarie suas disposições”. 277 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003.. p. 152. 278 VENTURI, Elton. Execução da tutela coletiva. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 88 – 89.

Page 103: Tac monografia roberto h

89

requerer que a obrigação seja executada à custa do devedor, quando fungível,

conforme previsto no art. 633, caput, do Código de Processo Civil279.

Ou seja, se é possível que a obrigação seja encetada por

terceiro, à custa do devedor, então assim deverá exigir o órgão que promove a

execução, não lhe sendo permitido optar por solução prejudicial ao equilíbrio

ecológico.

3.4.2 Execução de Obrigação de Não Fazer

Prevista no ajustamento de conduta obrigação de não fazer,

caso ocorra o ato proibido, deverá ser iniciado o processo de execução nesta

modalidade, requerendo-se ao juiz que assine prazo para o desfazimento do

mesmo, conforme o artigo 642280 do Código de Processo Civil281.

No caso de recusa ou mora do devedor no desfazimento do

ato, poderá ser requerido que se mande desfazer à custa daquele, respondendo o

mesmo, ainda, por perdas e danos, caso seja impossível o desfazimento do ato

(art. 643, parágrafo único282, do Código de Processo Civil).

Na maior parte dos casos, a prestação negativa é das que

se denominou chamar de permanentes, em oposição às classificadas como

instantâneas. Moreira283 aponta que:

[...] a distinção é relevante no que concerne às conseqüências do

inadimplemento: uma vez descumprida a obrigação de prestação

negativa espontânea, é impossível cogitar de desfazer-se o que 279 BRASIL. Código de Processo Civil. “Art. 633. Se, no prazo fixado, o devedor não satisfizer a obrigação, é lícito ao credor, nos próprios autos do processo, requerer que ela seja executada à custa do devedor, ou haver perdas e danos; caso em que ela se converte em indenização”. 280 BRASIL. Código de Processo Civil. “Art. 642. Se o devedor praticou o ato, a cuja abstenção estava obrigado pela lei ou pelo contrato, o credor requererá ao juiz que Ihe assine prazo para desfazê-lo”. 281 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 157. 282 BRASIL. Código de Processo Civil. “Art. 643. Havendo recusa ou mora do devedor, o credor requererá ao juiz que mande desfazer o ato à sua custa, respondendo o devedor por perdas e danos. Parágrafo único. Não sendo possível desfazer-se o ato, a obrigação resolve-se em perdas e danos”. 283 MOREIRA, José Carlos Barbosa. O novo processo civil. 10 ed. ver. atual. Rio de Janeiro: Forense, 1990, p. 290.

Page 104: Tac monografia roberto h

90

foi feito, de modo que o credor só poderá haver uma reparação

pecuniária; já quando contínua a prestação, torna-se viável, em

regra, a exigência de que cesse a violação ou se desfaça o que se

fez descumprindo a obrigação. Nesta última hipótese, em vez da

obrigação originária de não fazer, surge para o devedor outra

obrigação derivada, de natureza diversa: a obrigação de desfazer,

que no fundo se reduz a uma obrigação de fazer.

3.4.3 Execução de Dar Coisa Certa ou Incerta

Verifica-se a execução de dar coisa certa quando no

compromisso de ajustamento se tenha fixado obrigação de entrega de bens,

como compensação pelos danos ambientais praticados, ou quando se busque a

devolução de determinado bem que deva ser entregue para proteção ambiental.

Como preceitua Akaoui284:

No caso de a execução ser relativa a coisa certa, o devedor será

citado para que, no prazo de dez dias, satisfaça a obrigação, ou,

seguro o juízo, apresente embargos (art. 621, CPC285). O juízo

poderá restar seguro por meio do depósito da coisa, caso o

devedor não queira entregá-la para poder embargar (art. 622,

CPC286).

Ressalta-se, que no caso da coisa não ser entregue ou

depositada, e não sendo admitidos embargos suspensivos da execução, expedir-

se-á, em favor do credor, mandado de imissão na posse ou de busca e

apreensão, conforme se trate de imóvel ou móvel (art. 625, do Código de

Processo Civil)287.

284 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 158. 285 BRASIL. Código de Processo Civil. “Art. 621. O devedor de obrigação de entrega de coisa certa, constante de título executivo extrajudicial, será citado para, dentro de 10 (dez) dias, satisfazer a obrigação ou, seguro o juízo, apresentar embargos”. 286 BRASIL. Código de Processo Civil. “Art. 622. O devedor poderá depositar a coisa, em vez de entregá-la, quando quiser opor embargos”. 287 BRASIL. Código de Processo Civil. “Art. 625. Não sendo a coisa entregue ou depositada, nem admitidos embargos suspensivos da execução, expedir-se-á, em favor do credor, mandado

Page 105: Tac monografia roberto h

91

Estabelecido o objeto da execução, o rito processual passa

a ser o mesmo da execução de obrigação de dar coisa certa, conforme

estabelecido no art. 631 do CPC288.

3.4.4 Execução de Quantia Certa

Com relação à Execução de Quantia Certa, Akaoui289 leciona

que:

[...] quando o compromisso de ajustamento de conduta firmado

tiver como objeto indenização em dinheiro, ou, em face do

descumprimento das cláusulas ali inseridas, tenha incidido a

cominação necessariamente prevista, a execução da quantia

apurada deverá ser perseguida por meio de ação civil pública de

execução de quantia certa contra o devedor solvente.

Esta modalidade de execução não se diferenciará das

execuções fundadas em títulos judiciais obtidos em ações das mais variadas

espécies, tendo como amparo legal os arts. 646 e seguintes do CPC290.

Quando a executada for a Fazenda Pública, o que não é

raro de ocorrer, deverá ser observado o rito previsto nos arts. 730 e seguintes

daquele estatuto processual civil, para que não se ofenda o art. 100291 da

CRFB/1988292.

de imissão na posse ou de busca e apreensão, conforme se tratar de imóvel ou de móvel”. 288 BRASIL. Código de Processo Civil. “Art. 631. Aplicar-se-á à execução para entrega de coisa incerta o estatuído na seção anterior”. 289 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 159. 290 BRASIL. Código de Processo Civil. Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Disponível no endereço eletrônico: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5869.htm. Acesso em 01 out. 2007. 291 BRASIL. Constituição Federal de 1988. “Art. 100. à exceção dos créditos de natureza alimentícia, os pagamentos devidos pela Fazenda Federal, Estadual ou Municipal, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim”. 292 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 161.

Page 106: Tac monografia roberto h

92

3.4.5 Legitimidade para a Execução do Título

De nada adianta a ação do co-legitimado se após a

obtenção do título executivo judicial ou extrajudicial ele se matem inerte ante o

não cumprimento das cláusulas da sentença ou do acordo293.

Abre-se, assim, o único posicionamento coerente com a

tutela dos bens difusos e coletivos, a saber, a legitimidade para que qualquer um

dos co-legitimados possa executar o título executivo pelo outro obtido, pois, o

direito ali contido não é seu, mas da coletividade294.

Akaoui295, ao abarcar citado assunto, entende que:

[...] mesmo nos compromissos de ajustamento de conduta, em

que apenas os órgãos públicos detêm legitimidade para o seu

firmamento, qualquer co-legitimado poderá executar o título,

inclusive as associações civis. Tal fato se dá porque a proibição

àqueles que não se encontram no rol dos órgãos públicos de

firmar compromisso de ajustamento de conduta é superada no

momento em que o título já existe, e quem o firmou detinha

legitimidade.

Com efeito, não há qualquer motivo para proibir que uma

associação civil venha a executar o título firmado pelo Ministério Público, por

exemplo, se este vier a se tornar inerte ante as obrigações ali contidas, e que

estão sendo inadimplidas, pois, neste caso, o interesse da sociedade é maior e

deve prevalecer o sentimento de que todos devem estar aliados na proteção do

meio ambiente, o que afasta posicionamentos no sentido de restringir até mesmo

a execução do título firmado por quem detinha legitimidade.

Conclui-se assim, que qualquer um dos legitimados à

propositura da Ação Civil Pública, nos termos do art. 5º da Lei Federal n. 7.347/85

293 MAZZILLI, Hugo Nigro. 2006. p. 378. 294 ARAÚJO, Carolina Lobato Góes de. Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta. Disponível em: ���������������������� ���"#$%�&'�(����. Acesso em 01 out. 2007. 295 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 166.

Page 107: Tac monografia roberto h

93

(citado anteriormente), detém legitimidade para a ação de execução de título

obtido por qualquer outro daquele rol.

Sobre a matéria já se pronunciou Almeida296 no sentido de

que, como regra a execução será promovida pelo co-legitimado ativo que obteve

o título, mas, havendo o abandono da execução, qualquer outro legitimado poderá

assumi-la.

É de ressaltar, ainda, que, em face do princípio da

obrigatoriedade da propositura da Ação Civil Pública para o Ministério Público

quando haja elementos suficientes a ensejar tutela dos interesses difusos e

coletivos, a execução do Compromisso de Ajustamento de Conduta, que por ele

tenha sido firmado, também é obrigatória, posto que esse título substitui a

sentença condenatória que deixou de ser obtida em face da possibilidade de

obtenção das mesmas obrigações de maneira acordada297.

Por tal motivo, se o Ministério Público tiver figurado como o

órgão público que tomou o ajustamento de conduta, deverá promover a execução

do título executivo em caso de não cumprimento das cláusulas ali constantes.

Ressalta-se que no direito processual civil clássico, a

execução do título é mera faculdade concedida ao credor, que escolhe entre

promovê-la ou não. Todavia, quando estamos diante de um título executivo que

encerra obrigações em questões de ordem ambiental (interesse difuso), não pode

o órgão público que tomou o ajustamento se furtar de executar o título

inadimplido298.

Há neste instituto um dever peremptório de promover a

execução, posto que os direitos que ali estão assegurados como obrigações do

ajustante devem ser alcançados de qualquer forma, ainda que diante de

execução forçada.

296 ALMEIDA, João Batista de. Aspectos controvertidos da ação civil pública: doutrina e jurisprudência. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p. 163. 297 MAZZILLI, Hugo Nigro. 2006. p. 377. 298 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 169.

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94

3.4.6 A Extinção da Execução de Título Executivo baseado em Compromisso

de Ajustamento de Conduta

A extinção da execução do título executivo advindo de

Compromisso de Ajustamento de Conduta segue a sistemática encetada pelo

Código de Processo Civil em seus arts. 794 e seguintes299.

Tendo como base os ensinamentos de Akaoui300, conclui-se

que a natureza do bem jurídico tutelado não admite as hipóteses de extinção

previstas nos incisos II (“o devedor obtém, por transação ou por qualquer outro

meio, a remissão total da dívida”) e III (“o credor renuncia ao crédito”) do art. 794

do citado código.

De fato, não há como o credor (coletividade), representado

pelo órgão público, perdoar a dívida, seja ela pecuniária ou consubstanciada em

obrigação de fazer, não fazer ou dar. Da mesma forma, não poderá o órgão

exeqüente renunciar ao crédito, posto que ninguém pode dispor daquilo que não

lhe pertence.

A extinção fica assim restrita à hipótese prevista no inciso I

daquele artigo de lei, que diz respeito à satisfação do crédito pelo devedor.

Mencionada extinção deverá ser declarada por meio de sentença, pois só passa a

produzir efeitos, nos exatos termos do que dispõe o art. 795 do CPC301.

A doutrina, entretanto, tem trazido entendimento no sentido

de que essa sentença não produz os efeitos da coisa julgada, haja vista que o

bem jurídico tutelado é o meio ambiente, podendo a execução ter seu curso

retomado caso se verifique que aquelas obrigações assumidas em verdade não

foram cumpridas em sua totalidade.

Por fim, na medida em que a aplicação dos instrumentos

processuais tradicionais foram se mostrando demasiado lentos, caros e 299 BRASIL. Código de Processo Civil. Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Disponível no endereço eletrônico: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5869.htm. Acesso em 01 out. 2007. 300 AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. 2003. p. 170. 301 BRASIL. Código de Processo Civil. “Art. 795. A extinção só produz efeito quando declarada por sentença”.

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95

inacessíveis, as preocupações com o acesso à justiça voltaram-se para o

desenvolvimento de meios alternativos, mais próximos das aspirações atuais da

sociedade civil capazes de melhor compatibilizar os princípios que fundamentam

o direito do desenvolvimento sustentável.

O Compromisso de Ajustamento de Conduta surgiu como

um meio alternativo de proteção de direitos transindividuais, qualificando-se como

uma das novas fórmulas de aplicação da lei, através da participação ativa de seu

destinatário, e dos demais interessados, evitando assim a citada mora dos outros

instrumentos de tutela ambiental.

Em verdade, o Termo de Ajustamento de Conduta, além de

contribuir sobremaneira para a celeridade e obtenção de um resultado prático

efetivo, ainda prestigia a auto composição das partes, tão valorizada no atual

processo civil de vanguarda302.

De outra feita, não há como ignorar o movimento moderno

de prestígio às soluções extrajudiciais das demandas, evitando-se com isso a

sobrecarga que assola o Judiciário, a demora e os custos decorrentes do

acionamento da máquina estatal, além da assunção dos riscos de um provimento

jurisdicional desfavorável.

302 ARAÚJO, Carolina Lobato Góes de. Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta. Disponível em: ���������������������� ���"#$%�&'�(����. Acesso em 01 out. 2007.

Page 110: Tac monografia roberto h

96

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa teve como objeto estudar sobre a tutela

do Meio Ambiente, em especial, mediante a aplicação de Compromisso de

Ajustamento de Conduta Ambiental, buscando assim resolver a problemática da

morosidade processual.

Com o término deste trabalho, algumas considerações

acerca do tema “O Ministério Público na Defesa do Meio Ambiente: Compromisso

de Ajustamento de Conduta”, podem ser feitas, destacando-se, no entanto, a

complexidade e importância do assunto para a Ciência Jurídica.

Atualmente, o Meio Ambiente reveste-se de um valor de

caráter fundamental, característica essa inerente ao reconhecimento de que o

direito ao Meio Ambiente sadio constitui a expressão de um valor relativo à

dignidade humana.

A Carta Magna amparou a tutela ambiental em seu art. 225,

consignando assim que todos têm direito ao Meio Ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida.

A positivação destes anseios da sociedade só foi possível

perante a existência de princípios basilares, tais como o Princípio do

Desenvolvimento Sustentável, o Princípio do Poluidor-pagador, Princípio da

Precaução e Prevenção, e o Princípio da Participação.

Levando em consideração o fato de que a CRFB/1988

pretende não apenas uma proteção virtual ao Meio Ambiente, mas uma tutela que

de fato se efetive, foram conferidos ao Ministério Público e aos outros legitimados,

instrumentos e poderes para alcançar este objetivo. Contudo, a grande

problemática da defesa ambiental encontrasse na morosidade de citados

instrumentos, já que o ideal principal da tutela é a prevenção.

Page 111: Tac monografia roberto h

97

Para resolver a questão, vê-se a utilização de outro

instrumento tipificado pela legislação vigente, menos complexo, contudo, muito

efetivo, o Compromisso de Ajustamento de Conduta.

Finalmente, com relação às hipóteses levantadas, tem-se

que no caso da primeira hipótese, a CRFB/1988 amparou de forma nova e

importante a essência de um bem desprovido de características de bem público e,

tampouco, privado, voltado à realidade do século XXI.

Vê-se, atualmente, que as estratégias de desenvolvimento

têm privilegiado o crescimento econômico à curto prazo, conseqüentemente

acarretando uma crise ambiental mundial.

Diante desse quadro, a CRFB/1988 estruturou a tutela dos

valores ambientais, reconhecendo-lhes características próprias, amparando nova

concepção a direitos que muitas vezes transcendem ao tradicional ideal dos

direitos difusos. Isso foi realizado por conta do art. 225 do Texto Constitucional,

que oferece os fundamentos básicos para a compreensão do instituto.

Observando a sistematização adotada, pode-se afirmar que

o conceito de Meio Ambiente dado pela Lei da Política Nacional do Meio

Ambiente foi recepcionado, visto que a Constituição buscou tutelar não só o meio

ambiente natural, mas, também o artificial, o cultural e o do trabalho.

Com relação à segunda hipótese, vê-se que, considerando

que o bem ambiental tem natureza difusa, e estando sua titularidade concentrada

nas mãos de pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato, sua

proteção se concretiza mediante a possibilidade de abertura de diversos meios

processuais positivados, cada qual com suas particularidades.

O Ministério Público, na defesa deste bem jurídico tão

importante, utiliza-se de instrumentos judiciais e extrajudiciais, tais como o

Inquérito Civil, o Procedimento Administrativo Preliminar, a Recomendação

Ministerial, as Peças de Informação, etc. Ressalta-se que o Ministério Público é o

principal autor de Ações Civis Públicas e desempenha um papel de extraordinária

relevância quanto ao acompanhamento das demais ações impetradas por outros

Page 112: Tac monografia roberto h

98

co-legitimados. De fato, o precário nível de organização da sociedade brasileira

não permite que ela própria busque a defesa de seus interesses, e, desta forma,

necessitando maior atuação do Ministério Público.

Cabe comentar ainda as formas coletivas de tutela do bem

ambiental, haja vista que a CRFB/1988 atribuiu não só ao Poder Público, mas

também à coletividade o ônus de defender e preservar o Meio Ambiente em prol

de seu equilíbrio. Desta forma, destaca-se: a Ação Civil Pública, a Ação Popular,

o Mandado de Segurança Coletivo, e o Mandado de Injunção ambiental.

Faz-se necessário que a coletividade se convença de que

legar a defesa do Meio Ambiente apenas aos órgãos públicos não é o suficiente,

posto que as ações degradatórias infelizmente multiplicam-se a cada dia, e a

cooperação de todos é necessária para que se possa vencer esta guerra que se

estabeleceu entre a degradação do meio ambiente e a necessidade de

preservação de nossos valores ambientais.

Assim, mediante a inegável importância do bem ambiental, a

legislação amparou de forma ampla sua tutela preceituando todos os

instrumentos supra citados.

Quanto ao estudo voltado à terceira hipótese, tem-se que o

legislador infraconstitucional, acatando o espírito protecionista do constituinte, não

apenas ao Meio Ambiente, mas também quanto aos demais interesses e direitos

difusos e coletivos, introduziu por meio do Código de Defesa do Consumidor mais

um instrumento de proteção, o Compromisso de Ajustamento de Conduta.

Com efeito, a celeridade imprimida pelo mesmo na busca da

reconstituição dos interesses difusos lesados, ou no afastamento das condutas

que causem risco de lesão, principalmente diante da morosidade da tramitação

dos feitos judiciais e pelo fato de constituir título executivo extrajudicial, tem

levado os legitimados a tomar esse compromisso dos interessados em número

cada vez mais expressivo.

Quando o objeto do título tenha por finalidade a proteção do

bem de natureza ambiental, esse instrumento mostra-se muito eficaz. Tal

Page 113: Tac monografia roberto h

99

pensamento fundamenta-se no fato de que obtendo-se o ajustamento da conduta

do degradador do Meio Ambiente ou daquele que está na iminência de degradá-

lo, rapidamente, evita-se a conhecida morosidade que os processos judiciais têm

sofrido.

Neste instrumento de tutela extrajudicial o poluidor se

compromete em seguir determinadas estipulações, ou mesmo, cessar sua

atividade, buscando evitar assim o dano ao Meio Ambiente, o que por via judicial

poderia não ser alcançado a tempo.

Assim, o Compromisso de Ajustamento de Conduta que

obtenha por meio de suas cláusulas o efetivo resguardo do Meio Ambiente

cumpre o mais importante dos princípios constitucionais do Direito Ambiental, qual

seja, o princípio da prevenção.

Considerando que o Compromisso de Ajustamento de

Conduta representa título executivo extrajudicial, contendo obrigações e

cominações, seu inadimplemento pode levar à execução, tal como no caso de

títulos judiciais.

Impende ressaltar, que considerando o dano ambiental ser

na esmagadora maioria das vezes irreversível, elevasse a importância da ação

preventiva, buscando evitar a continuidade de atividades que estejam causando

perigo de dano.

A Ação Civil Pública demonstra-se muito eficaz na busca da

indenização do dano, todavia, pode-se observar que sua atuação tem se

concentrado apenas na punição posterior à ocorrência do dano, tal como muitos

outros instrumentos de tutela ambiental.

Tratando-se da manutenção do equilíbrio ecológico, o fator

temporal é primordial, haja vista o fato de que quanto antes o dano for reparado,

ou afastado for o perigo, melhor é resguardado o direito da coletividade a um

Meio Ambiente sadio. Assim, obtendo-se o ajustamento da conduta do

degradador do Meio Ambiente ou daquele que está na iminência de degradá-lo,

rapidamente, evita-se a morosidade que os processos judiciais têm sofrido.

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