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Universidade Federal Fluminense (UFF) – Mídia e política na América Latina: globalização, democracia e identidade Dr. Carolina Matos Government Department Universidade do Essex

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Universidade Federal Fluminense (UFF) – Mídia e política na América Latina:

globalização, democracia e identidade

Dr. Carolina MatosGovernment DepartmentUniversidade do Essex

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Pontos-chave

Perspectivas internacionais sobre a democratização da mídia

A mídia latino-americana em análise comparativa A mídia no Brasil desde os anos 90A mídia na Grã-Bretanha: da BBC à política de

regulaçãoTV, cultura popular e identidade nacionalResumo dos resultados da pesquisaAs estruturas de comunicação pública no Brasil e

na América LatinaOs desafios da democratização da mídia no

continente

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Quatro linhas de pesquisa em Midia e Politica na America Latina

Uma análise da evolução histórica da tradição de mídia pública na Inglaterra e no Brasil;

O relacionamento entre a mídia pública com o Estado, a esfera pública e o interesse público;

Os debates em relação à ‘qualidade’ da programação e a informação tanto na mídia pública como privada;

Um exame da “crise” das formas cívicas de comunicação, e como elas ainda podem ser relevantes.

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Partes de Mídia e Política na América Latina• Parâmetros de comparação para o serviço de mídia pública• Comunicação pública e regulação na América Latina • A esfera pública e o interesse público: o papel do Estado no serviço de

mídia pública• Televisão, entretenimento, e o interesse público• Percepções da audiência da qualidade da programação e da mídia pública• Televisão, cultura popular e identidade latino-americana e brasileira• A internet para o interesse público: os limites e usos da internet na

América Latina• Mídia e política na América Latina: cinismo político e divisão digital• Política midiatizada nas eleições brasileiras de 2010• Democratização da mídia na América Latina: em direção a uma política de

desenvolvimento nacional e a uma globalização “alternativa”• Em direção a um novo parâmetro regulatório para a mídia

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Perspectivas internacionais sobre o papel da mídia no desenvolvimento

nacional Como diz Norris (2004), sistemas de mídia podem fortalecer a boa governança e promover o desenvolvimento se houver uma imprensa livre capaz de realizar a função de cão-de-guarda, investigando o poder e agindo como um forum cívico de debate entre os interesses conflitantes da sociedade

Uma mídia independente mais balançeada e livre só pode operar se esta não estiver sujeita às pressões políticas e/ou econômicas (i.e. Hallin e Mancini, 2004)

• A literatura internacional sobre democratização da mídia (i.e. Voltmer e Schmitt-Beck, 2006; Curran e Myung-Jun, 2000; Sparks, 2007) tem frisado como países diferentes como a África do Sul, Chile e China também encontraram vários problemas para democratizar as suas estruturas de comunicação política

• Voltmer e Schmitt-Beck (2006) afirmam que alguns países da Europa do Leste no entanto conseguiram implementar a mídia pública com algum grau de independência tanto do Estado como do mercado

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Perspectivas internacionais sobre o papel da mídia no desenvolvimento nacional

• Voltmer (2006) assinala ainda que a informação de qualidade e a necessidade de orientação são ainda mais significativas nas novas democracias num contexto de colapso de antigos regimes autoritários. Os cidadãos nas novas e transitórias democracias precisam procurar entender todas as informações provenientes de vários setores, que não só contém ligações com determinadas orientações políticas, mas que também estão sujeitos ao legado autoritário histórico e cultural do país em questão.

• As estruturas dos meios de comunicação e o relacionamento que os mesmos tem com o projeto democrático, com os políticos e com a opinião pública, são pertinentes tanto para as sociedades em desenvolvimento como as sociedades desenvolvidas.

• Para se poder comparar os sistemas de mídia, precisamos de um quadro para a análise, um que seja capaz de levar em consideração o impacto de fatores históricos, as tradições sociais e culturais, e o sistema político e econômico de uma dada sociedade no tipo de mídia que foi criada.

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Comparação entre os sistemas de mídia: a América Latina e a Europa do Sul (Hallin and Papathanassopoulos (2002, 3)

• Hallin e Mancini (2004) apresentaram quatro dimensões para se analisar os sistemas de mídia de forma comparativa:

• 1) o desenvolvimento do mercado de mídia – a evolução de uma imprensa escrita fraca ou forte (i.e. de massa);

• 2) O paralelismo político – o grau e a natureza das ligações entre a mídia e os atores políticos, ou a forma como a mídia reflete as divisões políticas da sociedade;

• 3) O desenvolvimento do jornalismo profissional – que se refere às normas e aos códigos da profissão jornalística, como a tradição de neutralidade

• 4) O grau e a natureza da intervenção do Estado nos sistemas de mídia – o papel por exemplo do Estado e a sua relação com a mídia.

• Semelhanças entre os sistemas de mídia na América Latina e os da Europa do Sul: a) a baixa circulação dos jornais; b) a tradição da reportagem militante; c) a instrumentalização (uso político) da mídia privada; 4) politização da radiodifusão e da regulação e 5) desenvolvimento limitado da autonomia jornalística.

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Mídia pública na Europa e na Grã-Bretanha em crise

• Na Grã-Bretanha, a mídia pública, com canais como a BBC e C4, tem sido um veículo de fortalecimento do debate

• BBC e o seu papel democrático – contribuiu para melhorar a conversação, tornando-a mais espontânea e menos constrangida (Scannell, 1989)

• Serviu como um veículo de emancipação cultural e educacional; estímulo à diversidade política

• Funciona como uma contra-ponto à mídia de mercado• Ataques de conservadores e/ou defensores da mídia de

mercado questionam: • 1) a necessidade da mídia pública; • 2) o pagamento da “licence fee”; • 3) “dar ao público o que ele quer”.

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A qualidade na mídia pública: o caso da BBC

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A dicotomia do público versus o privado

Privado PublicoDireita/Conservador/Centro/Esquerda – o consumidor

Centro/Esquerda/Liberal/alguns conservadores – o cidadão

‘Objetividade’, com jornalismo informativo

‘Objetivo’/’público’/jornalismo “sério”

Talk shows/sit-coms/reality TV – Programação dos EUA, com algum conteúdo proveniente de outros países

Realismo nos filmes/documentários/reality TV – filmes de arte e programação Européia, algum material dos EUA

Publicidade/estética do consumo – o ser/intimidade/a esfera privada (ex. Sci-fi, terror)

Estética da qualidade/Material inovador - coletivo/a esfera pública

Fantasia/Textos ’escapistas’ – ocasionalmente material mais “sério”

Material histórico/análises aprofundadas – algum entretenimento (ex. Novelas, drama, sci-fi, terror).

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A regulação na Grã-Bretanha e o mercado de mídia• O mercado de mídia na Inglaterra e considerado “misto” (público e

comercial), e dividido entre os jornais de “qualidade” (i.e. Financial Times, The Times, The Guardian, etc) e os tablóides (i.e. The Sun, Daily Mail)

• Os jornais britânicos operam com um sistema de autorregulação (i.e. a Press Complaints Commission e um corpo de autorregulação independente), enquanto que a radiodifusão britânica tém sido fortemente regulada pelo Estado desde os anos 70

• A regulação na Grã-Bretanha é apoiada por orgãos regulatórios que estabeleceram códigos de conduta.

• Dunleavy (1987) argumenta que a regulação da radiodifusão pública na Inglaterra tem servido de contra-ponto à imprensa, neutralizando os preconceitos dos tablóides ingleses;

• De acordo com Forgan e Tambini (2000, 03 em Santos e Silveira, 2007, 73), a regulação da mídia pública gradualmente melhorou na Inglaterra;

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A regulação da radiodifusão e a Ofcom

• Criado por um projeto de lei de 2003, o orgão de regulação da Grã-Bretanha, a Ofcom, tem sido um exemplo de referência de regulação da mídia na Europa.

• A Ofcom afirma em seu site que entre as suas principais funcões estão o avanço dos interesses dos cidadãos e dos consumidores, que não e afetada pela competição partidària e que quer a competição justa.

• A Ofcom é responsável por limitar a publicidade, criando quotas de genero, produção independente, a proteção a privacidade e o combate ao conteúdo ofensivo, bem como o estabelecimento de critérios de imparcialidade.

• O orgão ainda se reúne com setores do público para analisar o conteúdo, permitindo que a população possa expressar uma visão critica da mídia. A Ofcom deixa claro que tem “preconceito” contra a intervenção.

• A Ofcom realiza constantemente estudos de audiência com o público para discutir a mídia, e os últimos estudos têm apontado como o público ainda acredita na BBC e na importância da mídia pública para o pais

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A regulação da radiodifusão na Grã-Bretanha: princípios democráticos e de interesse público

• A participação do Estado no controle e na regulação da radiodifusão nas democracias liberais européias tem se baseado no compromisso com padrões de “neutralidade”, minimizando o preconceito político...A comunicação pública na Europa e a regulação têm sido criadas de forma para atender ao interesse público, sem afetar a liberdade de expressão

• A concessão pública é dada a um limite de atores que ocupam o espectro público, portanto é preciso preservar uma pluralidade interna e o equilíbrio.

• O recente escândalo dos grampos telefônicos no Reino Unido suscitou o debate sobre os limites da autorregulação dos jornais britânicos, e do Press Complaints Commission

• Os tres principais partidos no Reino Unido concordaram em criar um orgão independente de regulação para jornais, revistas com o poder de multar em até 1 milhão de libras e obrigar jornais a imprimir desculpas. A proposta prevê um organismo de autorregulação com compromissos e financiamento independentes, um código de normas robusto, um serviço de arbitragem livre para as vítimas e um sistema de reclamação rápido.

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A América Latina: do sub-desenvolvimento à globalização

• Desde de meados dos anos 80 com o fim das ditaduras militares e o retorno a democracia, e com a crescente inserção da América Latina na globalização e a adocao de modelos “neo-liberais” (i.e. privatização, de-regulação do sistema financeiro, etc), o continente tém enfrentado vários desafios, incluindo a redução da pobreza e da desigualdade ao fortalecimento da economia dos países da região e a expansão da política democrática.

• As reformas na mídia para torná-la mais democrática, com um sistema de mídia complexo, com menos concentração, que atenda a diversos públicos, que represente a voz da maioria da população, é uma entre as muitas reformas que o país precisa.

• A melhoria da mídia está diretamente ligada a melhorias na educação, saúde e à expansão da cultura para vários segmentados da população, que assim terão condicções de usufruir melhor de uma mídia de melhor qualidade, podendo participar mais da esfera pública midiática e terão assim mais condições para exercer seus direitos de cidadão, entendendo melhor como funciona a política e exigindo mais de seus governantes.

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A democracia e a mídia na América Latina

• Desde os anos 90, os sistemas de mídia na América Latina têm sido influenciados pelas mudanças internacionais, incluindo a deregulação e a expansão da rede comercial (TV a cabo):

• 1) a crescente comercialização da mídia; • 2) a proximidade dos departamentos de marketing

das redações; • 3) a formação de corporações multimídia; • 4) a professionalização das empresas de midia e • 5) a queda do modelo da empresa familiar• 6) o professionalismo nas redações versus a

continuidade do partidarismo da mídia• I.e. O Brasil e o Chile têm históricos de falhas e

várias tentativas de fortalecer o seu sistema de mídia pública desde o retorno à democracia

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Partidarismo versus jornalismo democrático militante

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Trabalho empírico e pesquisa realizada para Mídia e Política na América Latina

• Método sofisticado de triangulação (vários métodos para compensar os limites de cada um)

• Pesquisa online aplicada a 149 estudantes de comunicação da UFRJ• Entrevistas com 12 jornalistas, assessores e especialistas• Discussão de programas da mídia pública, principalmente a TV Brasil,

em contraste com a TV Globo • Análise do uso da Internet em campanhas políticas e blogging nas

eleições de 2010 • a) novas mídias como uma contra-esfera pública; • b) política de gênero e representação • Semelhante aos resultados dos estudos que eu observei da Ofcom, a

sondagem da UFRJ destacou como as audiências dão importância a qualidade dos programas. Em relação à questão sobre o que atraiu mais a atenção na TV, a resposta foi “a qualidade do programa” (58%), e em segundo lugar foi a “informação” (22%). As expectativas em torno da TV, seja na Inglaterra ou Brasil, são de que ela seja capaz tanto de entreter como de informar.

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Alguns resultados da pesquisa empírica

• Pesquisa revelou uma falta de conhecimento sobre a mídia pública• Maioria ainda assiste a TV Globo e canais a cabo e satélite e também

usam muito a Internet • 71% dos estudantes no entanto defenderam a mídia pública, afirmando

que ela pode exercer um papel de reversão das “falhas de mercado”, contribuindo para a democratização

• A maioria no entanto vê pouca diferença em relação ao tipo de informação vinculada na TV comercial e na TV pública

• As diferenças no entanto são sutis, relacionadas ao estilo e escolha de programas, como a ênfase em programas “sérios” em detrimento do excesso de entretenimento

• Quando perguntados sobre o que entendem por “qualidade”, muitos responderam “o roteiro e o fornecimento de informações aprofundadas” (53%), bem como a criatividade e a originalidade de um programa (27%).

• Nem todos viram a mídia pública como necessariamente com mais capacidade de ser imparcial, mas a maioria escolheu respostas que podem ser interpretadas como vendo a comunicação cívica como tendo um papel na democratização.

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A TV comercial no Brasil e a identidade nacional• A TV no Brasil, assim como na América Latina, tem sido voltada

sobretudo para o entretenimento de massa. A mídia pública, assim como a valorização de outros serviços públicos, passa também por uma mudança de mentalidade em relação a coisa pública

• Ao contrário da Europa, no Brasil não se tém tradição de mídia pública, e a relação que se estabeleceu com o público tem sido sobretudo uma voltada para o entretenimento

• A novela brasileira é vista como tendo contribuído em grande medida para a criação de um determinado tipo de personalidade no Brasil, excessivamente individualista, e que tém uma relação com a TV como sendo um veículo para a fuga da realidade, e não para a construção da cidadania.

• Neste período da redemocratização, com o aumento dos níveis educacionais da população, uma classe média mais conectada com o que está acontecendo no resto do mundo, a sociedade civil começou a exigir investimentos numa programação de qualidade, mais “séria” e não manipuladora; mais participativa, menos concentradora, etc.

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Mudanças na mídia da América Latina

• O fato é que a história da construção da mídia pública na América Latina tém tido uma vida complicada: houve tentativas de construir essa plataforma por governos no Peru, Chile, Venezuela e México desde os anos 20.

• Políticas públicas têm se voltado muito mais para atender interesses de grupos privados

• Políticas de liberalização na região a partir dos anos 90 facilitaram a criação de conglomerados de mídia gigantes, incluindo duopólios na Argentina (Grupo Clarin e Telefonica); (Grupo Santo Domingo e Ardilla) na Colômbia e (Grupo Phillips e Cisnero) na Venezuela.

• A Lei de Cabo de 1995 no Brasil começou com o processo de maior internacionalização da mídia brasileira, quebrando com a tradição protecionista e acelerando a entrada de companhias de mídia globais

• Na Argentina depois dos anos 1980, a TV se tornou livre do controle governamental , com os governos de Alfonsín em 1983 e Menem em 1989 liberando a TV para a exploração pelo capital privado

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Reformas na mídia e regulação na América Latina• Na Argentina, a Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual aprovada

em 2009 estabeleceu limites ao poder dos conglomerados de mídia. A lei impede qualquer companhia privada de televisão de ser dona de mais de 35% da mídia, requer que a publicidade seja regulada e estipula que licenças sejam renovadas a cada 10 anos em vez de 20. Nenhuma firma sozinha pode ter mais do que 10 concessões de rádio e TV.

• O espectro radioelétrico foi dividido em tres terços: um para o setor comercial, outro para o Estado e um terceiro para inicitativas sem fins lucrativos.

• No Chile, houve a inclusão na legislação de medidas para garantir a diversidade na programação e a autonomia financeira, além de financiamento para produção independente para a TV durante o governo de Michele Bachelet.

• A Constituição equatoriana de 2008 por exemplo proíbe os acionários de entidades financeiras de possuir meios de comunicação.

• Vimos que a Inglaterra e outros paises europeus também adotaram várias medidas, e pergunta-se hoje porque o recúo do governo no Brasil….

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Reformas na mídia e regulação na América Latina• Na Bolívia Evo Morales recebeu o aval de deputados para a Lei de

Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação. O texto estabelece que o setor privado so poderá controlar 33% das licenças de rádio e TV, e outro um terço fica com o poder do Estado, 17% com organizações sociais e 17% com grupos indígenas.

• Na Venezuela em 2004, Chávez assinou o decreto de aplicação da lei de responsabilidade social de rádio e televisão com o objetivo de regulamentar os conteúdos. A lei impôs cotas mínimas de programas nacionais e buscou colocar a Venezuela em conformidade com a Convenção Americana de Direitos Humanos ao regulamentar o uso de imagens de caráter sexual ou violento e priobir a publicidade de alcóol e tabaco.

• No Brasil, o debate sobre a democratização da comunicação atingiu um ponto alto em 2009 com a realização da Confecom. Alguns meses antes de deixar o Planalto, Lula apresentou um projeto de lei para regular os meios de comunicação, com medidas de regulãção do conteúdo e também da redução da concentração da propriedade.

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Debates sobre reforma da mídia, democratização e regulação no Brasil

• Em relação à democratização da mídia, os avanços no Brasil incluem a realização dos debates da Confecom em 2009; a implementação da TV Brasil e os compromissos manifestados pelo governo anterior em relação à criação de um novo marco regulatório para a mídia, mais adequado para a atual realidade de convergência, e substituindo leis ultrapassadas criadas antes da ditadura, como o Código Brasileiro de Telecomunicações (1962)

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Comunicação pública no Brasil: conquistas e futuros desafios – 2

• Pesquisadores acreditam que um novo marco regulatório para a mídia pode ser capaz de contemplar as diferenças entre as TVs de Estado e públicas em relação ao setor comercial

• O programa para o setor de comunicação da candidatura de Lula em 2006 ressaltou que a democratização das comunicações é algo necessário para se aprofundar a democracia

• Mídia pública real não existe no Brasil, mas canais educativos controlados pelo Estado ou outros que representam os poderes Legislativo, Executivo e Judicial (ex. TV Senado);

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Alguns dados em relação à mídia pública no Brasil

• Legislação da radiodifusçao é datada de 1962. O Código Brasileiro de Telecomunicações combinou o autoritarismo do regime de Vargas, como o poder de distribuir licenças, com o liberalismo econômico

• Setor de mídia pública fraco, com a respeitada instituição TV Cultura (SP), que possui poucos recursos, e a TV Brasil, ambos também controlados indiretamente por partidos políticos e dependentes do Estado.

• Ministério das Comunicações em Maio de 2011 publicou um mapa afirmando que 56 deputados são donos ou têm parentes em estações de rádio e TV

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Estações de rádio e TV controladas por políticos no Brasil (1994) (Lima, 2001,

107 em Azevedo, 2006, 34)

Canais Total no Brasil

Políticos atuais e do passado

%

TV 302 94 31.12%

Rádio 2908 1169 40.19%

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Comunicação pública no Brasil: conquistas e futuros desafios

• Em relação à democratização da mídia, o Ministério das Comunicações do governo anterior identificou cinco áreas de atuação:

• 1)criação de um novo marco regulatório; • 2) regulação do artigo 221 da Constituição

Brasileira de 1988; • 3) direitos autorais; • 4) regulação da Internet; • 5) regulação da TV pública.

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Citações de entrevistas ‘ ...sempre quando um governo destinou recursos para a TV pública, ele queria ser compensado com uma cobertura positiva..... Nós ainda não incorporamos totalmente a noção que a televisão pública atende aos direitos do cidadão..... Se tivermos realmente um fortalecimento da mídia pública – que so sera “publica” se for independente dos governos - nos teremos avançado historicamente ....No Brasil a idéia que o governo deve interferir na comunicação social é como um consenso multi-partidário. Nós podemos ver que nenhuma televisão pública tem total autonomia..... Nós conseguimos ver a enorme quantidade de dinheiro público que e investida diariamente na compra de espaço publicitário na televisão comercial para a transmissão de propaganda política….A democracia brasileira não adotou parâmetros regulatórios em padrões democráticos….que inibem a concentração da audiência e o monopólio; que reservam espaço para a televisão pública, ao lado da comercial; que impedem a televisão pública de competir por anúncios com o setor privado, assim criando um ambiente para a criatividade…..’

(Eugenio Bucci, jornalista e professor da USP)

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Citações de entrevistas

“Em 2005, quando os escândalos do mensalão surgiram, isso foi quando eles “venderam” à idéia ao Lula para ter a TV Brasil, de ter uma plataforma pública forte capaz de competir com a mídia privada, como o governo queria uma mídia que lhe seria mais favorável...O governo queria um instrumento para se defender, e ele achou que isso seria importante. Essa é uma contradição com o papel que a TV pública deveria realmente ter....Há realmente muito idealismo e hipocrisia nessa discussão toda... As pessoas dizem que só o que você precisa é de outra opção para a TV Globo para as pessoas mudarem de canal, mas a realidade é que elas não fazem, elas não mudam para a TV Brasil. Eu acredito que esse assunto está diretamente ligado à questão da educação, porque uma educação de melhor qualidade produz audiências de melhor qualidade.....”

(Gabriel Priolli, vice-diretor de jornalismo da TV Cultura)

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Citações de entrevistas• “Todos os canais sao emissoras transvestidas de estações de mídia

‘pública’. Nós não conseguimos garantir nem educação nem saúde pública de qualidade. Essa ‘mídia pública’ nada mais é do que uma questão de vaidade que consome milhões de reais e garante bons empregos para o amigo do amigo. O público ignora a sua programação e continua a assistir a novelas e futebol. A televisão não deveria ser uma prioridade do governo…. Assim, a gente adora falar bem e mal da mídia pública, e depois assistir a comercial….Não há um ‘real’ interesse do governo ou dos políticos brasileiros em confrontar a Globo…Semelhantes as discussões sobre a reforma agrária, as cartas estão marcadas contra vôce. Há muita conversa, mas pouco se faz realmente……A BBC, por exemplo, é excelente para os britânicos, mas o modelo não se aplica para a América Latina. Os governos da região não estariam preparados para viver com o poder e a independência da BBC….”

• (Antonio Brasil, professor da UFSC, ex-correspondente da TV Globo)

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Algumas conclusões e futuros desafios

• 1)Construção de um marco regulatório para a radiodifusão comprometido com o interesse público e independente;

• 2) reforço do equilíbrio e do profissionalismo nas redações, incluindo a regulação da profissão do jornalista e a auto-regulação da imprensa;

• 3)Fortificação da plataforma de mídia pública, seguido por um engajamento no debate sobre o que vem a ser “qualidade”

• 4) Fortalecimento da mídia regional, local e alternativa

• 5) Maior acesso a setores menos privilegiados da população a Internet por toda América Latina

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Bibliografia selecionadaBanerjee, Indrajit and Seneviratne, Kalinga (2006) (eds.)

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