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AS MATÉRIAS DESTA PUBLICAÇÃO SÃO DE CONTEÚDO LIVRE TANGOLOMANGO PROMOVE DIVERSIDADE E INTERCÂMBIO CULTURAL EXPOSIÇÃO NO CAU PROMOVE A DIVERSIDADE E A PLURALIDADE DE AÇÕES CULTURAIS DE DIVERSOS GRUPOS DO PAÍS. DURANTE DOIS DIAS, PALESTRANTES VÃO DEBATER A DEMOCRATIZAÇÃO AO ACESSO ÀS NOVAS TECNOLOGIAS. MOSTRA IDENTIDADES APRESENTA A DIVERSIDADE CULTURAL ATRAVÉS DE FILMES DE VÁRIOS PAÍSES UM DOMINGO REPLETO DE ATIVIDADES CULTURAIS NO CIRCO VOADOR. apresenta

Tangolomango 2005

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Tangolomango 2005

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PROMOVE A DIVERSIDADE

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AÇÕES CULTURAIS

DE DIVERSOS GRUPOS

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DURANTE DOIS DIAS,

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A DEMOCRATIZAÇÃO

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MOSTRA IDENTIDADES

APRESENTA A DIVERSIDADE

CULTURAL ATRAVÉS DE

FILMES DE VÁRIOS PAÍSES

UM DOMINGO REPLETO DE

ATIVIDADES CULTURAIS

NO CIRCO VOADOR.

apresenta

Page 2: Tangolomango 2005

Direção geral:

Editora Chefe:

Supervisão e Edição dos textos:

Estagiários / Repórteres:

Programação Visual:

Marina Vieira

Ilana Strozenberg

Fabiane Pereira e Raquel Diniz

Bianca Nascimento, Bruno Boghossian,

Carla de Toledo Camargo, Elaine Cotrim, Isabella Guerreiro, Mariana Ribeiro, Mariana Schreiber e Thaís Canella

Maria Clara Moraes

E assim, em 2002, o Tangolomango

reuniu a produção cultural de grupos

locais para que apresentassem seus

trabalhos, trocassem experiências e

debatessem as possibilidades de

sustentabilidade de suas ações.

No segundo encontro, em 2003,

avançamos mais um pouco, abrindo

espaços para projetos que promoviam a

democratização da comunicação, uma

das grandes dificuldades dos grupos

locais que atuam na área cultural,

conforme foi apontado no debate da

primeira edição.

Em sua terceira edição, o Tangolomango apresentou um panora-

ma dos novos canais de expressão das comunidades e das ações

culturais locais que estão interagindo com os movimentos

culturais contemporâneos.

Em seu quarto ano, o Tangolomango se consolida como uma rede

de produtores culturais. Esse ano, o evento destacará a democra-

tização do acesso às novas tecnologias que incentiva e desenvolve

a verdadeira inclusão social.

Nesta edição, estarão presentes projetos de diferentes regiões

do país, que estarão interagindo entre si, mostrando a riqueza e a

qualidade das manifestações culturais presentes nas comunida-

des brasileiras.

Ao longo do próximo ano, estaremos ampliando e consolidado

nossa proposta de reunir, trocar, difundir e criar oportunidades

para que os cidadãos brasileiros se conheçam, reconheçam e

respeitem as suas diferenças. E, quanto mais conhecemos

projetos de comunicação e cultura espalhados por todo o país,

mais acreditamos que é através da imaginação e da capacidade

de realização do povo brasileiro que superaremos as barreiras

para o verdadeiro desenvolvimento social.

"Que tal trabalharmos em parceria?" Para nós, o convite de Marina Vieira para colaborarmos com o Tangolomango 2005 chegou como um verdadeiro presente. Estava nos sendo oferecida a oportunidade de participar de um projeto cultural, que nos últimos quatro anos vem se destacando por unir o debate intelectual à realização, na prática, dos princípios de diversidade, multiplicidade e colaboração que há cerca de 10 anos orientam o nosso trabalho na Universidade. Rápida, nossa resposta foi um entusiasmado "mãos à obra!".

Criado em 1994, o Programa Avançado de Cultura Contemporânea - PACC - é um programa de ensino, pesquisa e documentação vinculado ao Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, situado na perspectiva dos Estudos Culturais - um viés metodológico interdisciplinar para estudos na área da cultura que assume o compromisso de interagir diretamente com as práticas políticas, sociais e culturais. Organizado como um ambiente de troca e convivência acadêmica, o PACC abriga pesquisadores permanentes e associados; um Programa de Pós-Doutorado em Estudos Culturais; um Programa de artista/escritor residente; a Coordenação Interdisciplinar de Estudos Culturais - CIEC, um núcleo de pesquisa vinculado à Escola de Comunicação da UFRJ; além de um vasto acervo de documentação.

Questões como cidadania, desigualdade social e a influência da mídia e da expansão das redes eletrônicas de informação sobre as novas políticas de inclusão social e produção cultural na sociedade contemporânea e, em especial, nas sociedades de desenvolvimento capitalista tardio, como o Brasil, têm sido objeto de estudo prioritários de nossas pesquisas.

A princípio, nossa parceria seria voltada especificamente para a organização do Seminário "Software Livre - novos rumos para a cultura e a comunicação", campo em que Heloísa Buarque de Hollanda, coordenadora do PACC, vem investigando do ponto de vista de seu impacto sobre produção cultural brasileira. Por minha vez, há cerca de dois anos desenvolvo uma pesquisa sobre formação de lideranças de projetos culturais voltados para a inclusão social e sua articulação com o mercado e a mídia. Juntas, as equipes do Tangolomango e do PACC discutem formato, conteúdos e nomes, em reuniões nas quais, confesso, aprendemos muito e onde pudemos exercitar, na prática, a autoria colaborativa.

Mas conversa puxa conversa, uma colaboração sugere outras, e - numa dinâmica muito própria das redes -, incorporam-se novas pessoas para novas ações. E foi assim que encampamos mais uma tarefa, ampliando os caminhos do trânsito e o universo das trocas. Dessa vez, com a participação dedicada, criativa e eminentemente colaborativa de sete alunos da Escola de Comunicação da UFRJ. No prazo de poucas semanas, Bianca Nascimento, Bruno Boghossian, Carla de Toledo Camargo, Isabella Guerreiro, Mariana Ribeiro, Mariana Schreiber e Thaís Canella atuaram como repórteres, fotógrafos e redatores, participando de oficinas, visitando projetos, fazendo entrevistas, percorrendo a cidade e navegando na internet. Assim, produziram as matérias que compõem todo o conteúdo de informação desse fanzine. A cada encontro das equipes, falávamos das informações reunidas e das dificuldades encontradas, organizávamos o andamento dos trabalhos e estabelecíamos novos prazos. Mais importante que isso, no entanto, foi fazer circular, entre nós, as impressões surgidas do contato com expressões culturais que representam as muitas e diversas identidades que integram a sociedade brasileira e com iniciativas, na área de comunicação, que investem na construção de uma realidade efetivamente mais inclusiva e democrática. Para os alunos da ECO, futuros comunicadores, a participação no Tangolomango 2005 abre, com certeza, a possibilidade de um olhar mais esperançoso para o futuro.

Para nós, do PACC, a experiência dessa parceria reforça a aposta numa Universidade em que a generosidade intelectual e a livre circulação dos saberes seja a palavra de ordem.

Ilana Strozenberg

Vice-coordenadora do PACC

Conheça mais sobre o PACC visitando www.pacc.ufrj.brPR

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Page 3: Tangolomango 2005

São cada vez mais freqüentes - e intensas - as menções e referências à principal característica da nossa cultura: a diversidade. Assim, é fácil confirmar que também acontece, e há algum tempo, um reforço visível na tentativa de incluir nesse debate os novos ingredientes - inclusive inovações tecnológicas - que afetam as maneiras de se buscar democratizar e ampliar o acesso à cultura e suas formas de expressão. Em outras palavras: estimular o reconhecimento e expandir as potencialidades dessa diversificação cultural que nos é tão peculiar.O projeto Tangolomango tem como proposta central a reflexão, o intercâmbio de experiências e o debate sobre o impacto que a tecnologia exerce na criação de novas possibilidades de acesso à produção cultural brasileira em todas as suas vertentes. Para cumprir com seu objetivo, se debruça sobre projetos nas áreas de inclusão digital, música, dança, cinema e vídeo desenvolvidos em diferentes regiões do país. Tudo isso em oficinas, mesas-redondas, seminários, mostras e exposições.Sempre atenta à sua responsabilidade social, a Petrobras, maior empresa brasileira e maior patrocinadora das artes e da cultura em nosso país, apóia a realização do Tangolomango. E faz isso por entender que as artes e a cultura são ferramentas essenciais para assegurar aos brasileiros o direito à cidadania plena. É cada vez mais urgente estimular a reflexão e intensificar a discussão sobre identidade cultural e cidadania, rompendo barreiras que separam criador e público. Para a Petrobras, apoiar iniciativas como esta faz parte de sua missão principal: contribuir, por todos os meios, para o desenvolvimento do Brasil. Um país sem arte e sem cultura, sem estímulo para sua capacidade criativa, jamais será um país desenvolvido.

No Tangolomango 2005 cariocas, baianos,

pernambucanos, mineiros, paulistas,

cambodjanos, portugueses, vietnamitas,

franceses, finlandeses, venezuelanos e

colombianos terão voz e vez.

Mais uma vez o Tangolomango estará

centrado na promoção da diversidade e

pluralidade de ações culturais. A questão,

que permeará todo o evento, será a

preservação, a integração, a renovação e a

recombinação dessa diversidade através do

uso das novas tecnologias.

Colaborativismo, generosidade intelectual,

ativismo, troca, criação livre e produção

compartilhada. Queremos apontar para as

novas possibilidades que integram produção

cultural e desenvolvimento local, e para este

momento único de reapropriação da arte,

mídia e tecnologia, por aqueles que até

agora foram excluídos do acesso à cultura e à

comunicação.

Vamos conectar reis, rainhas, deuses, foliões,

funkeiras, grafiteiros, jongueiros,

capoeiristas, metarecicleiros, artistas

populares, povos da floresta e moradores de

rua, para que troquem saberes e

experiências ou para que, simplesmente,

vivam intensamente esta multiplicidade. E

que para que possam se apresentar sem

filtros ou pasteurização, usando seus

próprios ritmos, suas próprias linguagens,

seus ruídos e seus silêncios.

AS MATÉRIAS DESTA PUBLICAÇÃO

SÃO DE CONTEÚDO LIVRE

Para a UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura, a missão expressa em seu mandato serve a um

ambicioso propósito: o de construir a paz na mente dos homens , através da cooperação intelectual internacional nos campos da

educação, da ciência, da cultura e da comunicação. Somente através da defesa dos direitos humanos fundamentais e a existência de uma

cultura democrática que garanta o respeito às diferenças e o reconhecimento das diversas formas de expressão e modos de vida, é que

o sonho de construir uma cultura de paz poderá ser alcançado.

Neste contexto, a diversidade cultural deve ser entendida como matéria prima fundamental. É preciso considera-la sob amplos

aspectos: como processo evolutivo e fonte de expressão, criação e inovação, que assegure a sobrevivência da humanidade; como um

canal de diálogo e respeito entre as culturas e civilizações e como uma das fontes do desenvolvimento, "entendido não somente em

termos de crescimento econômico, mas também como meio de acesso a uma existência intelectual, afetiva, moral e espiritual

satisfatória". Consciente do mandato específico confiado à UNESCO dentro do sistema das Nações Unidas, de assegurar a preserva-

ção e a promoção da diversidade das culturas, a Organização vem buscando forjar um novo paradigma, elevando a diversidade cultural à

categoria de "patrimônio comum da humanidade", "tão necessária para a humanidade como a biodiversidade biológica para os

organismos vivos" e cuja defesa é um imperativo ético indissociável do respeito à dignidade individual.

Sua preservação, num mundo marcado por um acelerado processo de globalização, de acirramento das desigualdades socioeconômi-

cas e dos chamados conflitos de "natureza cultural", encontra suporte na elaboração e aplicação dos instrumentos normativos

desenvolvidos pela Organização nos últimos anos. A "Declaração Universal da UNESCO sobre a Diversidade Cultural" aprovada por

unanimidade em 2001 e a "Convenção sobre a proteção da diversidade dos conteúdos culturais e das expressões artísticas", apresenta-

da na última Conferência Geral da UNESCO, expressam a preocupação da comunidade internacional na busca de princípios orientado-

res e instrumentos jurídicos que garantam a proteção da diversidade cultural.

Esta preocupação encontra eco nas diversas ações que vem sendo desenvolvidas no Brasil, onde podemos dizer que há um grande

movimento em torno da questão que vem sendo amplamente debatida por diversos setores da sociedade.

Há quatro anos, a UNESCO vem apoiando o Tangolomango, canal de discussão e diálogo em torno dos temas ligados a comunicação,

cultura e cidadania que promove o intercâmbio, a troca de idéias e o reforço dos laços entre as diferentes comunidades do Rio de

Janeiro, através de suas manifestações e expressões culturais. A discussão em torno da diversidade cultural ganha reforço como eixo

temático principal nesta edição de 2005. Para a UNESCO é importante a participação local associando suas aspirações com as metas

mais amplas de desenvolvimento. O que é desenvolvimento, afinal, se este for destituído de qualquer identidade cultural?

Marina Vieira

Page 4: Tangolomango 2005

Em 2005, o Tangolomango leva sua apresentação de filmes para o Circo Voador. No dia 06 de novembro, serão exibidos os documentários “Sou feia mas tô na moda”, de Denise Garcia, e “Jongo da Serrinha”, de Beatriz Paiva.O primeiro filme da sessão é “Sou feia mas tô na moda”, documentário de Denise Garcia, que mostra o mundo do movimento funk carioca e a crescente atuação das mulheres, nesse ambiente originalmente masculino.A diretora percorreu bailes funk durante um ano, documentando as performances e o dia-a-dia de artistas do funk carioca. Gravado em vídeo digital e com aproximadamente uma hora de duração, o filme conta com as participações dos MCs Cidinho e Doca, do DJ Marlboro e, em especial, das funkeiras Deise da Injeção, Vanessinha Pikachú e Tati Quebra-Barraco.“Sou feia mas tô na moda” faz sucesso tanto no Brasil quanto no exterior. O filme participou de festivais de cinema como de Belo Horizonte e de Londres e foi tema de reportagens em jornais e revistas como O Globo, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo, The Times e The Washington Post.O segundo filme é o média-metragem “Jongo da Serrinha”, da diretora Beatriz Paiva. O documentário mostra, através da visão das crianças, a história do jongo - uma dança de roda, que, segundo a tradição oral, era dançada pelos africanos que chegavam ao Brasil.O ponto central do filme é a Serrinha - casa da escola de samba Império Serrano e grande reduto do jongo -, localizada em Madureira, no Rio de Janeiro. O documentário, com 52 minutos de duração, conta com a participação de Sandra de Sá, Beth Carvalho e Xangô da Mangueira.A diretora assistiu às apresentações e entrevistou componentes do Grupo Cultural Jongo da Serrinha, associação cultural criada em 2000, formada pela quinta geração de jongueiros, por crianças e por jovens da comunidade. O grupo tem a missão de preservar e de divulgar o patrimônio cultural afro-brasileiro.

Segundo Valter Gáudio, organizador das sessões do Cinema no Circo do Tangolomango, a intenção deste evento é formar platéias, ou seja, criar gosto e proporcionar a experiência de assistir a filmes àqueles que não têm acesso à produção cinematográfica.- A nossa prioridade é o cinema nacional. E, no Tangolomango, a escolha do filme é relacionada a uma questão social e cultural - explica o organizador do evento.Valter ressalta, porém, que ainda há certa resistência do público em geral ao documentário. No Tangolomango, a intenção do Cinema no Circo também é apresentar o gênero aos espectadores, a fim de apresentar à platéia uma outra linguagem cinematográfica e de criar um público mais interessado neste tipo de filme.- Acho que o fato de os temas dos dois documentários tratarem de casos bastante conhecidos ajuda a atrair o público. E também são ótimos filmes - completa.

Formação de platéias é o principal objetivo

Durante o evento, dois documentários brasileiros serão exibidos no Circo Voador, na Lapa

Por Bruno Boghossian e Mariana Ribeiro

Como surgiu a idéia para o documentário?

O que me chama atenção para o funk é o fato de se tratar de um movimento muito genuíno e espontâneo, que bota milhões de jovens para dançar todos os finais de semana. O funk é a festa e é também o emprego de milhões de pessoas, entre MCs, DJs, motoristas, carregadores de caixas, vendedores ambulantes, etc. Além disso, promove o rompimento da invisibilidade de pessoas que estavam fadadas ao desemprego, a viver de salário mínimo, sem instrução, sem condições de participar ativamente do desenvolvimento tecnológico do mundo, fadados a lavar o chão que a classe média pisa. Não acho isso justo. Não acho justo barrar a expressão cultural de uma quantidade tão significativa da população brasileira.Então, nesse sentido, o funk vem para contribuir com uma visão muito clara de como é a vida de quem está lá dentro

da favela. E de um jeito bem humorado, que diverte.O papel das mulheres com suas letras desbocadas também ajuda a romper com a hipocrisia que cerca o assunto "sexo" quando vindo de vozes femininas. Os homens sempre cantaram sobre sedução, sexo, amor, agora as mulheres estão se expressando.Também admiro a capacidade do movimento sobreviver sem a ajuda de grandes gravadoras, sem a renda que poderia vir de contratações para shows em boates da zona sul, sem que a imprensa dê apoio. É uma demonstração muito clara da força deste movimento. Tudo isso me chamou a atenção e espero que tenha conseguido colocar no documentário.

Na sua opinião, por que o filme atraiu

tanta atenção, não só do público, mas

também da crítica e nos festivais de

cinema?

O fato é que o movimento do funk carioca está cheio de pessoas espontâneas que sabem falar sobre as suas comunidades com muita propriedade, tanto nas músicas quanto nas entrevistas que dão. O que procurei fazer foi justamente unir o discurso sem interferência de antropólogos, sociólogos e outros estudiosos do assunto, pois acho que ninguém melhor que funkeiros para falar do funk.

Qual a importância de o filme ter sido

escolhido para exibição em um evento da

linha social e cultural do Tangolomango?

Acho uma oportunidade importantíssima para o filme, pois levaremos este recorte do universo funkeiro a mais funkeiros, que muitas vezes não têm tempo ou dinheiro de ir ao cinema. Nós ainda aguardamos fechar com uma distribuidora para lançar o filme comercialmente nas salas no Rio.

Você acha que há um público definido para o "Sou feia mas tô na moda"? De jeito nenhum há público definido. “Sou Feia mas tô na moda” é um documentário sobre cultura brasileira. Espero que este assunto sempre desperte a atenção das pessoas, brasileiras ou não.

Entrevista com Denise Garcia, diretora de “Sou feia mas tô na moda”. O documentário, que já é considerado um sucesso de crítica e de público, será exibido no Cinema no Circo, no dia 06 de novembro.

Cena do documentário Sou feia mas tô na moda, de Denise Garcia

Page 5: Tangolomango 2005

De 10 a 12 de novembro, durante a Mostra Identidades, serão exibidos filmes recentes, produzidos em todo o mundo, que abordam questões sociais e de identidade cultural de diversos países. Os vídeos serão exibidos na Casa França Brasil, das 14h às 20h, com áudio original e legenda eletrônica em português para os filmes produzidos no exterior.Durante os três dias da mostra, passarão pelas telas quatro horas de filmes brasileiros e seis horas de filmes estrangeiros. A intenção é expor para os freqüentadores do evento a diversidade cultural da produção de vídeos e a realidade social de diferentes países.As abordagens dos filmes brasileiros são bastante diversificadas. “Missionários”, de Cleisson Vidal e Andréa Prates, é um documentário que acompanha a vida de três detentos do presídio Frei Caneca, no Rio de Janeiro. Fugir parece ser a melhor solução para se livrar da longa pena que precisariam cumprir, mas eles abandonam a intenção de escapar quando montam o grupo musical "Missionários do Rock".

“A pessoa é para o que nasce”, documentário brasileiro dirigido por Roberto BerlinerUm filme conhecido do público será uma das atrações da Mostra Identidades. O filme conta a história de Regina, Maria e Conceição, três irmãs cegas, cantadoras de côco em Campina Grande, que se tornaram celebridades depois que foram personagens de um premiado curta lançado em 1998. As irmãs se tornaram tão famosas que chegaram a fazer shows com Gilberto Gil e foram entrevistadas em vários programas de tevê.Zé Pureza, Nós em rede, Acorda, O dia em que o Brasil esteve aqui, Cólera, Ira e O menino que come livro são os outros brasileiros em cartaz.

FILMES BRASILEIROS E ESTRANGEIROS ESTARÃO EM CARTAZ NO EVENTO QUE ACONTECERÁ NA CASA FRANÇA-BRASIL

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AFILMES DE OUTROS PAÍSES TAMBÉM MARCAM PRESENÇA NO EVENTO

Já os filmes estrangeiros exibidos durante o evento serão os vídeos mais recentes produzidos pelas oficinas dos Ateliers Varan, um renomado projeto francês de formação de cineastas, que ajudou a produzir documentários na Sérvia, Camboja, Venezuela e em muitos outros países. A diretora portuguesa Mariana Otero, membro da equipe do Ateliers Varan desde 2000, estará presente durante a Mostra Identidades para falar sobre os filmes exibidos.O projeto Varan teve sua primeira experiência em 1978 em Moçambique, com a intenção de realizar filmes que retratassem a mudança pela qual a população do país estava passando desde sua independência. O documentarista francês Jean Rouch propôs que, em vez de enviar cineastas franceses, fossem realizadas oficinas para que os moçambicanos pudessem filmar sua própria realidade.

Chantal Roussel, uma das diretoras dos Ateliers Varan

No Tangolomango, serão exibidos filmes produzidos na Colômbia, na Venezuela, na França, no Vietnã, em Portugal, na Sérvia e no Camboja. Segundo Chantal Roussel, uma das administradoras dos Ateliers Varan, a finalidade é mostrar um panorama do trabalho da instituição.- Através dos filmes, podemos perceber como culturas tão diferentes muitas vezes apresentam problemas iguais - explica a representante da organização. - O projeto Varan representa isso muito bem, porque atua em vários países, mostrando essa

diversidade de identidades.“Eu, uma moça como as outras”: curta-metragem do Camboja será exibido na Casa França-Brasil“Cha da ve” (em português, "Papai Voltou"), um dos filmes do Vietnã, narra a trajetória de camponeses que decidem deixar a vida rural e tentar a sorte na cidade de Hanoi. O Camboja é representado por “Eu, uma moça como as outras”, que conta a história de uma mulher que vive com seus quatro filhos sob uma árvore no meio de Phnom Pehn, enquanto Cedo o Sol, da Venezuela, documenta a forma como o cotidiano de três velhos camponeses venezuelanos é pontuado pela presença da sobrinha de um deles.A organizadora dos Ateliers Varan contou que, quando o documentário vietnamita estava sendo gravado, em 2004, um membro do governo acompanhava as gravações para censurar qualquer conteúdo que criticasse o regime político do país.- Foi uma grande dificuldade. Mas isso também é algo interessante para o filme, pois reflete a questão social do Vietnã - completa Chantal.

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Page 6: Tangolomango 2005

A Casa França-Brasil acolhe com prazer a programação de cinema e vídeo do projeto Tangolomango no Rio de Janeiro.

Simultanea e simetricamente uma parte da produção audiovi-sual brasileira com ênfase naquilo que se relaciona com a inclusão social será apresentada na França como uma das etapas finais deste 2005 que foi o Ano do Brasil na França.

Nas duas vertentes procura-se dar visibilidade e oportunidade a jovens documentaristas que buscam, com vigorosa inspiração mas recursos limitados, apresentar suas idéias através desse meio exigente e rigoroso que é o gênero documental.

As mostras, no Rio e em Paris, atrairão jovens criadores e espectadores de todas as idades interessados em uma forma de expressão artística tão dramaticamente capaz de mostrar o cotidiano com seus desafios e suas esperanças.

A ênfase dos documentários aqui e lá será a apresentação da diversidade cultural e a identificação de alguns fragmentos e cores deste grande, complexo e variado mosaico que é a vida cultural contemporânea.

Nada é mais agradável que a identificação de novos talentos; oferecer espaço e audiência a quem tem algo novo a dizer; abrir portas, olhos e o espírito para uma nova maneira de ver e sentir e, finalmente, saber que de todos os esforços, aqui e lá, irá emergir alguma outra maneira de ver, sentir, compreender e valorizar o humano.

Vamos ver com olhos brasileiros o que nos será mostrado assim como olhos franceses e de outros olharão a nossa produção em Paris. Aqui e lá o olhar do espectador completará a obra do criador naquela permanente e indispensável cumplicidade entre quem cria e quem vê.

Marcos de AzambujaPresidente da Fundação Casa França-Brasil

Igualdade de direitos, liberdade de expressão, fraternidade nas relações. Os princípios que regeram há mais de dois séculos a Revolução Francesa são os mesmos que regem neste início do século XXI o encontro entre a escola francesa Ateliers Varan e o projeto brasileiro Tangolomango. Cada qual à sua maneira, ambos buscam dar vazão às expressões de grupos menos favorecidos no afunilamento sócio-econômico-cultural dos tempos atuais. De sua parte, a escola Varan ensina a linguagem do cinema documental como instrumento para o registro das experiências e vivências desses grupos encontrados no continente europeu. Por sua vez, o Tangolomango procura a visibilidade e a valorização das mais diversas manifestações culturais produzidas por brasileiros que se encontram em situação de baixa (íssima) renda. Neste encontro que acontece mais que perfeitamente na Casa França-Brasil, o Tangolomango mostra a diversidade da realidade nacional através de uma novíssima safra de filmes produzida por uma nova

safra de realizadores que estão focados em mostrar que o "continente" brasileiro vai muito além do samba e do futebol. Já a Varan apresenta documentários de lugares que a grande maioria de nós só conhece através de jornais, tv, livros: Sérvia Montenegro, Vietnã, Cambodja, ou mesmo Colômbia, Portugal e a própria França. Lugares distantes para nós brasileiros, seja pelo corte de um imenso oceano ou pelo corte de uma imensa dificuldade financeira. O desconhecimento no entanto pára por aí. O interessante da Mostra Identidades é que ao confrontar as realidades tão diversificadas, atingimos suas semelhanças. Descobrimos que as sociedades, assim como os seres humanos, são iguais quando sentem dor; ou alegria. Que independente de sua cultura, educação, tradição, estão os interesses mais básicos de qualquer ser: viver bem, de preferência com igualdade, liberdade e fraternidade.

MOSTRA IDENTIDADESMOSTRA IDENTIDADES

Andréa Cals: Jornalista, produtora e fotógrafa, coordenadora da Mostra Identidades do Projeto Tangolomango 2005

É com enorme satisfação que mais uma vez a Prefeitura do Rio, por intermédio da Secretaria das Culturas, apóia o Projeto Tangolomango. O foco principal do Projeto em 2005 é promover a diversidade cultural, através da discussão de novas formas de expressão, democratizando as linguagens do novo mundo que se forma no século XXI. A exemplo do que ocorreu em 2004, o Tangolomango vai às Lonas Culturais Herbert Vianna (Maré) e João Bosco (Vista Alegre). A filosofia das Lonas condiz perfeitamente com a proposta de democratização da cultura deste projeto. Questões acerca da globalização, da inclusão digital e da evolução tecnológica ganham destaque. Entre elas, "como os projetos sociais têm sido impactados pela tecnologia?", "como estão se beneficiando ou não das novas formas de acesso à cultura?", "a realidade tecnológica massifica culturas ou é a chave para a valorização da diversidade?".

O Tangolomango promove um evento reflexivo, que reunirá projetos nas áreas de inclusão digital, música, dança, cinema e vídeo de comunidades de diferentes regiões do Brasil, apresentando, difundindo e valorizando suas diversidades. As atividades desta edição, todas gratuitas, serão agrupadas em espaços específicos que valorizam e destacam as mais variadas ações desenvolvidas. Cada espaço vai promover a troca de experiências entre os grupos, que associam cultura e inclusão social, incentivando o surgimento de novas iniciativas que ampliam o exercício dos direitos de expressão e de participação. Entre as atividades estão exposições de multimídia, de fotografia, de objetos reciclados, palestras sobre gestão global da internet, democratização e software livre, mostra de cinema e vídeo, além de muitas outras atividades.

No ano em que será assinada a Declaração Universal Sobre a Diversidade Cultural, a Secretaria das Culturas apóia o Projeto Tangolomango, que em parceria com a Unesco e outras importantes instituições, apresentará diversos trabalhos de comunidades, que têm atuação relevante na promoção da diversidade cultural em nossa cidade.

Ricardo MacieiraSecretaria das CulturasP

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Andréa Cals

Page 7: Tangolomango 2005

Por Bianca Nascimento e Isabella Guerreiro

NAS OFICINAS E APRESENTAÇÕES DO TANGOLOMANGO 2005

Os dias 06, 13 e 20 de novembro prometem emocionar e proporcionar uma experiência singular para o público, por-que esse ano o Tangolomango inova ainda mais. Alguns dos grupos convidados para o evento se apresentarão juntos. São eles: a Cia. Étnica de Dança e o Tambolelê (06/11), o Re:Combo e os Anárquicos (13/11), o Cortejo Abayomi e o Mulungu(20/11). A escolha dos grupos e a combinação das apresentações não foram por acaso. "Os grupos convidados trabalham com arte, educação, cultura e estão à frente de questões importantes ligadas à diversidade cultural como o resgate da tradição popular e a democratização do acesso à cultura. E estas são as principais questões trabalhadas pelo Tangolomango", explica Marina Vieira, diretora geral do evento. Segundo ela, a proposta é "reunir trabalhos importantes que possuam grande afinidade, mas que ainda não tinham tido a oportunidade de se apresentarem juntos".Além desses grupos, a Casa de Cultura da Baixada Fluminense levará para o palco do Circo Voador na Lapa, no centro da cidade, no dia 06 de novembro, os jovens da Orquestra de Berimbau e as atrações

da Companhia de Jovens Griot's. Nesse mesmo dia, a Lapa vai parar com a apresentação do tradicional Grupo de Folia de Reis que existe, há cerca de 30 anos, na comunidade Santa Marta, no Rio de Janeiro, além das apresentações da Companhia Étnica de Dança e do Tambolelê.Nos dias 13 e 20 de novembro, as apresentações vão acontecer nas Lonas Culturais Herbert Vianna (Maré) e João Bosco (Vista Alegre), respectivamente. A iniciativa faz parte do objetivo do Tangolomango de levar as principais atrações do evento para outras regiões da cidade. "A escolha das lonas foi baseada na proposta de democratização do acesso à cultura, já que as lonas representam um dos poucos, se não for o único, equipamento cultural em regiões menos favorecidas", afirma Marina.Confira a seguir o trabalho de cada um dos principais grupos convidados para o Tangolomango 2005.

Page 8: Tangolomango 2005

O grupo de percussão mineiro é um dos maiores do país e surgiu em 1995 durante o Festival de Arte Negra. Santonne Lobato, Sérgio Pererê e Geovane Sassá integram o Tambolelê. O nome é uma junção das palavras tambor e lelê, a primeira do idioma português e a segunda do idioma Yorùbá que significa objeto cilíndrico ou roliço. Segundo Santonne esta é uma referência à possibilidade de se "criar um som de infinito repetindo o círculo". De fato a alusão representa a proposta de proporcionar ao ouvinte uma releitura musical do imaginário da cultura popular brasileira.A criatividade dos integrantes não está apenas na produção de novos ritmos, mas também na utilização de instrumentos convencionais e não-convencionais, alguns confeccionados por Santonne Lobato, que afirma utilizar materiais como peles de jacaré (com autorização do IBAMA), de boi e de cabra, madeira e latas. Esses instrumentos já foram testados com sucesso por grandes nomes da música, como "Paralamas do Sucesso", "O Rappa", "Djavan" e "Maurício Tizumba". O Tambolelê participou da "criação da identidade do Grupo Cultural AfroReggae" no Rio de Janeiro e da montagem da trilha sonora do BH Fhasion Week no ano 2000. Nesse mesmo ano, conquistou o terceiro lugar no Festival da Música Brasileira (realizado pela Rede Globo). Em 2001, eles lançaram o primeiro Cd Tambolelê. O último

"É preciso informar e capacitar o público sobre outras

manifestações e comportamentos culturais além dos apresentados pela TV e pela

rádio FM."

Contato:Tels.: (31) 3473-4010 / (31) 3077-2962 e-mail: [email protected]ÊTAMBOLELÊ

Ser ao mesmo tempo um lugar de luta social e política e um espaço democrático de formação artística e cultural, é a proposta principal dos idealizadores da Casa de Cultura da Baixada Fluminense, criada em 1991, em São João de Meriti - RJ.O centro oferece atividades educativas, culturais, esportivas e sociais para crianças, adolescentes e adultos como instrumento de conquista da cidadania. A instituição já recebeu o prêmio Criança 2000 da Fundação Abrinq no ano 2000 e o primeiro lugar do prêmio Itaú-Unicef - Direito de Aprender em 2001.No dia 06 de novembro, a Casa de Cultura da Baixada Fluminense levará ao palco do Circo Voador (Lapa-Centro do Rio de Janeiro) o espetáculo IGBADU (a cabaça da existência) que fala da criação do mundo através do olhar do povo africano, com técnicas circenses, teatro, música e dança. Além disso, a Orquestra de Berimbaus do Grupo de Capoeira Angola Ypiranga de Pastinha, promete emocionar a público. Leia mais sobre a Casa de Cultura da Baixada Fluminense na matéria "Retalhos Culturais, Multiplicidade em foco no Centro de Arquitetura e Urbanismo".

Contato:Endereço: Rua Machado de Assis, Lt 12/Q 84 - São João de Meriti - RJ CEP: 22560-140Assessoria de Comunicação da Ong Casa da Cultura- Centro de Formação Artística e Cultural da Baixada Fluminense (Renata Oliveira)Tel.:(21) 2751-3538 / 2751-5825 / 9619-4515e-mail: [email protected] site: www.casadaculturabaixada.org.br

Formação artística e cultural para a conquista da cidadania

Trio Tambolelê

Educação, arte e lazer nos ritmos dos tambores de Minas Geraisálbum do grupo foi batizado de "Kianda" e conta com as participações especiais de Chico César e Maurício Tizumba. Mas esses mineiros não fazem somente música e, em 1999, eles criaram o Centro Cultural Tambolelê. De acordo com Santonne, presidente e integrante do grupo, a idéia "surgiu da vontade de se criar um espaço que gerasse a possibilidade de acesso a todas as artes e devido à falta de investimento público na comunidade".Visando promover a integração com a arte, a profissionalização e a inserção no mercado de trabalho e através de parcerias com empresas privadas, o centro, atualmente, desenvolve projetos como o Bloco Oficina Tambolelê, o Grupo Xicas da Silva e o Grupo Mané Chico, além de várias oficinas, destinadas principalmente aos jovens. A proposta é "gerar possibilidade de acesso às artes, além de espaço de entretenimento relacionamento social e humano", afirma Lobato.O Tambolelê participa desta edição do Tangolomango produzindo a percussão musical da apresentação da Cia. Étnica de Dança e Teatro no dia 06 de novembro, no Circo Voador. Um espetáculo que promete ser inesquecível como experiência artística e humana. Por isso, para os participantes do evento, o grupo deseja uma "feliz troca e vida longa a todos".

Page 9: Tangolomango 2005

"O Re:Combo é mais que uma banda pop: é um ensaio teórico sobre autoria e propriedade intelectual no século XXI feito para dançar." (www.recombo.art.br)

O Re:Combo surgiu em 2001, em Recife, para que músicos moradores de cidades diferentes pudessem fazer música juntos. Tudo começou com as trocas de arquivos de som pela internet.O grupo é um coletivo de músicos, artistas plásticos, engenheiros de software, DJs, professores e acadêmicos, em que todos os participantes podem usar a produção uns dos outros para criar objetos novos.O nome vem dos "Combos" (pequena formação de jazz cujo número de executantes não excede os 6 a 8 músicos) e do "re:" que precede o assunto das respostas de emails. O Re:Combo é formado por cerca de 200 pessoas e sua intenção é que, futuramente, não sejam mais conhecidos como um grupo, e sim como uma atividade porque todos podem fazer Re:Combo, isto é, refazer, recombinar.O coletivo se autodenomina como "ensaio teórico" ao invés de banda pop. Um dos motivos para isso, segundo explica Yellow - integrante do grupo - é o fato de que "o Re:Combo já ultrapassou em muito os limites de uma banda, criando mais do que música. O coletivo cria de tudo, desde imagens até documentos legais, como, por exemplo, a Licença de Uso Completo Re:Combo".O Re:Combo desenvolve seus projetos de arte digital e música em cidades como Recife, João Pessoa, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Caruaru, recebendo imagens e sons de lugares tão distantes quanto Lima e Budapeste. Tudo de uma forma descentralizada e colaborativa. O coletivo produz também vídeo digital, literatura, media art e software.No Tangolomango 2004, o Re:Combo deu uma palestra explicando o que é o coletivo. Este ano, eles vão subir ao palco junto com grupos do Rio de Janeiro para mostrar ao público a criatividade de seu trabalho. A apresentação promete animação, espontaneidade e interatividade: "vão subir no palco cinco participantes. Esperamos que o número se multiplique ao fim da apresentação", conta Yellow. Leia mais sobre o Re:Combo na matéria "Artistas do Mundo, uni-vos!"Contato: Site: www.recombo.art.br

"A criação coletiva é uma atividade divertida e gratificante, que pode ser feita por qualquer pessoa.”

Yellow

Em 28 de outubro de 1994, motivada pelo "desejo de desenvolver uma experiência artística que incorporasse elementos da diáspora negra e promovesse auto-estima de grupos discriminados por razões de diversas ordens, seja econômica, étnica ou sexual", a coreógrafa Carmen Luz funda a Companhia Étnica de Dança e Teatro. Durante onze anos, o grupo construiu um projeto cultural e social na comunidade do Andaraí, no Rio de Janeiro, para onde foram em 1997. A carência de centros culturais na região incentivou o grupo e ajudou no despertar de muitos talentos.Alguns de seus espetáculos alcançaram muito sucesso, como "Cobertores", patrocinado pela Petrobrás em 2000 e apoiado pela 1ª Mostra BNDES - Arte em ação social e "Oferenda 13" em parceria com o coreógrafo David Parson, apresentada em 2003 no Teatro Municipal.Mas a companhia também enfrentou e ainda enfrenta muitas dificuldades. Segundo Carmem Luz, "a Cia. Étnica é um grupo de arte e, como a maioria das companhias sem subvenção do Estado, padece da falta de grana e tranqüilidade para desenvolver seus projetos". Apesar disso, o Projeto Encantar - Oficina de Capacitação em Artes Cênicas que tem o patrocínio da Petrobrás e é dedicado a atividades de dança, teatro e técnicas para realização de espetáculos, vem cada vez mais encantando e até profissionalizando jovens da comunidade.

Carmen esclarece que o objetivo deste projeto é capacitar, deixando os adolescentes livres para se dedicarem ou não a uma carreira profissional, já que alguns levam mais tempo do que outros para entrar em "contato consciente com o corpo e a experiência artística".- A onda do projeto é capacitar, colaborar para que o outro se torne capaz de ver, aprender, conviver com as Artes Cênicas e depois que passamos por essa experiência nunca mais somos os mesmos. Isso independente se queremos ou podemos tornar a experiência artística uma profissão -, explica a coreógrafa.O grupo já se tornou veterano no Tangolomango. A apresentação de 2004 foi acompanhada de um debate no Sesc de São Gonçalo que, na opinião da coordenadora, foi de "arrepiar". Este ano, o evento representa um novo desafio para a companhia que se apresentará no Circo Voador (Lapa - Rio de Janeiro), no dia 06 de novembro, em conjunto com o grupo musical mineiro Tambolelê.Carmen adiantou que uma equipe de quinze bailarinos está empenhada na criação e planejamento da coreografia para o evento, que será uma homenagem ao grupo mineiro porque ela acredita que o Tambolelê produz "uma música forte e sensual, que é uma lição de som."A Cia. Étnica espera que essa experiência inovadora traga um enriquecimento de vida para todos os envolvidos e deseja que o Tangolomango 2005 "encante e contamine" o público. A mensagem deixada por este grupo para todos os participantes do evento não podia ser mais emblemática: "Viva as pontes que ligam os rios!”C

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"QUANDO UM CORPO SE

A SOCIEDADE INTEIRA NÃO FICA MAIS QUIETA”

Contato:Endereço: Rua Barão de Mesquita, 712 - Andaraí - RJ |Tel.: 2258-5986

Page 10: Tangolomango 2005

A Cooperativa Abayomi nasceu em 1998 a partir do trabalho da artesã, educadora popular e militante das mulheres negras Waldilena Martins, que desenvolveu uma técnica de fazer bonecas sem o uso de cola ou costura. A palavra "Abayomi" é de origem Yorùbá e um de seus significados é "meu presente, meu momento". As bonecas negras são feitas com matéria-prima oferecida pela natureza e lixo urbano reciclado. Podem representar figuras do cotidiano, personagens de contos de fada, do circo ou orixás. A idéia do projeto é conscientizar e socializar o indivíduo através da arte popular.A organização, localizada no bairro de Santa Tereza, conta com 15 mulheres e cada uma tem a sua função: fazer bonecas, pesquisas, participar do cortejo e cuidar da administração.É a segunda vez que a Abayomi participa do Tangolomango. Este ano estará apresentando, em conjunto com o grupo de mulheres Mulungu, da Bahia, o Cortejo Brincante Abayomi, no dia 20 de novembro, na Lona Cultural João Bosco, em Vista Alegre. O Cortejo envolve músicas, poesias e brincadeiras populares, que estimulam a imaginação e a interatividade. As mulheres do grupo chegam cantando e rodando suas fartas saias e depois o público é convidado a participar também. Sobre a origem do Cortejo, a coordenadora Waldilena Martins conta que:

- O Cortejo nasceu depois que sofremos um incêndio que acabou com tudo que tínhamos desde um acervo de 400 bonecas até computador, fotos etc. O que ficou foi a cantoria, as brincadeiras e o desejo de um mundo melhor.Durante a apresentação, o público vai poder aprender a fazer flores a partir da técnica Abayomi, sem cola e sem costura!A Abayomi espera que sua participação no Tangolomango reacenda as melhores memórias do público e que a força cultural afro-brasileira contida nas tradições populares reforce sua identidade e auto-estima.Sobre o evento de 2005, cujo tema é diversidade cultural, a cooperativa deseja que seja uma vivência geradora de intercâmbio, reconhecimento, respeito, tolerância e celebração dos grupos participantes e do público.

"Esperamos que nossa brincadeira provoque alegria e se as cantorias e

brincadeiras que sempre alguém tem guardado no coração

estiverem dormindo, acordem.”

Lena Martinscoordenadora da Abayomi.

O Mulungu é uma comunidade negra do município do Boninal, na região da Chapada Diamantina, Bahia. O povoado é antigo, existe há mais de 150 anos e tem cerca de 600 moradores. Mulungu é também o nome de uma árvore do local que dá uma semente vermelha com o formato de um caroço de feijão. Os membros da comunidade fazem parte da Associação Comunitária de Moradores e Produtores Rurais e vivem da agricultura de subsistência. Muitos são aposentados rurais e outros trabalham temporariamente em São Paulo.No Mulungu, todas as pessoas são negras e ligadas ao catolicismo popular. E é no universo dos pastoris, reisados e lapinhas que o grupo manifesta a sua devoção religiosa. O pastoril é uma apresentação cantada e dançada, assim como o reisado, que recolhe donativos para a festa do santo. As lapinhas são presépios armados dentro das casas que recebem a visita dos Reisados, montando diversos objetos de forma criativa e pessoalOs Reisados são grupos de devotos que cantam para louvar o nascimento de Jesus, entre os dias 25 de dezembro e 6 de janeiro, em diferentes localidades. A princípio a manifestação era feita só por homens mas e acabou quando, entre 1950 e 1980, muitos reiseiros migraram para São Paulo atraídos pelas ofertas de emprego e fugindo da seca. A pesquisadora Eloisa Brantes Mendes explica como começou a participação das mulheres no Reisado:- Por causa de um surto de meningite que na década de 1970 ameaçava a região, uma das mulheres do Mulungu fez uma promessa pedindo para São Sebastião impedir a chegada da doença no lugar. Depois do milagre feito, Augusta Maria Mendes e Maria Caetano dos Santos (...) decidiram pagar a promessa cantando o Reis durante três dias e três noites na cidade de Boninal, sede do Município. (...) [e] os moradores gostaram do Reisado (...) que além da cidade de Boninal também visita muitas comunidades rurais do dia 13 de dezembro ao dia 20 de janeiro, quando todo dinheiro arrecadado pelo Reis é consumido na festa de São Sebastião.Hoje, a atual liderança do Reisado é feminina, mas os homens também participam do ato de devoção.A apresentação dos cantos e danças do Mulungu no Tangolomango 2005 vai acontecer no dia 20 de novembro, na Lona Cultural João Bosco. O grupo estará presente também na exposição realizada no Centro de Arquitetura e Urbanismo.

Leia mais sobre a exposição do Mulungu na matéria "Retalhos Culturais:multuplicidade em foco no Centro de Arquitetura e Urbanismo”

MULUNGU DO BONINAL

A DEVOÇÃO RELIGIOSA É UMA CONDIÇÃO DE VIDA

Contato:

Sede: Rua Hermenegildo de Barros 77,

Santa Teresa, Rio de Janeiro, RJ.

Tel.: 2224-6538.

Email: [email protected]

Contato:

e-mail: [email protected] (Ieda Marques)

"Mulheres do Abayomi"

Page 11: Tangolomango 2005

Muita gente ainda acredita que as sociedades indígenas têm culturas primitivas

e são extremamente arraigadas aos valores tradicionais. Essa visão, entretanto,

não passa de preconceito. É verdade que eles travam uma dura batalha pela

valorização de sua cultura, que foi muito perseguida e desprezada nos últimos

cinco séculos. Mas isso não significa que estejam fechados às novidades

tecnológicas. Pelo contrário, não só os indígenas sabem da importância do

acesso às novas tecnologias de comunicação para o desenvolvimento auto-

sustentável de suas sociedades, como estão lutando pela sua inclusão digital.

Através dos modernos meios de comunicação, os indígenas podem divulgar

seus costumes e sua sabedoria e ter contato com outros universos. Eles

acreditam que, com essa interação entre diferentes culturas, será possível

promover relações de maior tolerância e respeito em nossa sociedade.

Segundo Eliane Potiguara, escritora e professora indígena, que participará do

debate sobre "O Impacto Cultural das Novas Tecnologias", no dia 09 de

novembro, às 16hs, o contato dos indígenas com as novas tecnologias é

essencial para que eles saiam da invisibilidade cultural e possam mostrar ao

mundo sua importância histórica.

- A inclusão digital é muito importante pois facilita o acesso dos povos

indígenas à comunicação e à informação, favorecendo o exercício dos direitos

indígenas e incluindo esses povos no processo de crescimento do país, inclusive

dando visibilidade a esse segmento tão discriminado social e racialmente - disse

a professora.

Segundo Eliane, as novas ferramentas tecnológicas estão sendo utilizadas pelos

indígenas em telecentros, em rádios comunitárias, na produção de programas

de televisão e na Rede de Comunicação Indígena, o Grumin

(www.grumin.blogspot.com), criada em 1987.

- O contato com essas tecnologias tem proporcionado o acesso à comunicação

e informação, além da formação dos alunos, dos professores e dos agentes de

saúde e desenvolvimento comunitário. Tivemos experiências na realização de

boletim on-line, livro eletrônico, educação à distância, video-conferências,

material para rádios e tvs - explicou Eliane.

Uma das iniciativas nesse sentido é o projeto de inclusão digital Rede Povos da

Floresta, que conta com cinco pontos de acesso à internet instalados junto a

povos indígenas no Brasil. Entretanto, é necessária a instalação de mais 300

pontos, em até três anos, e outros 250, em cinco anos, para conectar todas as

aldeias indígenas. O grupo pretende conseguir o apoio do Ministério do Meio

Ambiente, pois os pontos instalados podem servir para o monitoramento e

controle ambiental e sua implementação seria mais barata do que criar uma

infra-estrutura governamental. O fortalecimento das redes de comunicação

entre as aldeias também é essencial para a valorização da cultura indígena. Na

Conferência sobre Tecnologias de Informação, realizada em junho, no Rio de

Janeiro, foi assinado um protocolo, entre os povos indígenas Navajo e os do

Brasil, para que o uso dessas tecnologias possa ser realmente efetivado através

de projetos nas comunidades. A conferência foi um evento preparatório para a

Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, que será realizada pela ONU na

Tunísia, em novembro, onde os indígenas também estarão representados.

Contato: e-mail: [email protected] (Eliane Potiguara)

Site - www.elianepotiguara.org.br

Inclusão digital é ferramenta importante para valorização da cultura indígena

MODERNIDADE E TRADIÇÃO

LADO A LADOMODERNIDADE E TRADIÇÃO

LADO A LADO

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Nos dias 8 e 9 de Novembro, o Tangolomango promove, no auditório Arte Sesc,

no Flamengo, o seminário "Software Livre - Novos Rumos da Cultura e da

Comunicação" para discutir a importância da inclusão digital na promoção dos

direitos de expressão e de participação.

O Seminário será aberto com o palestrante Christopher Csikszentmihalyi -

diretor do Media Lab do Instituto de Tecnologia de Massachussets - MIT -, nos

EUA, e a professora da Escola de Comunicação e pesquisadora do Programa

Avançado de Cultura Contemporânea - PACC - da UFRJ, Ilana Strozenberg, fará

as apresentações iniciais.

Na mesa "Democratização e Software Livre" serão discutidas questões sobre a

relação entre código aberto e democratização do conhecimento, e as possibilida-

des de aplicação do software livre na cultura e na comunicação. Maria Inês Bastos,

coordenadora do Setor de Comunicação e Informação da Unesco no Brasil, será

uma dos palestrantes da mesa.

Para falar sobre "Inclusão Digital e Social", foram convidados coordenadores de

projetos que possibilitam o acesso às novas tecnologias de informação por parte

populações que, na ausência desse tipo de iniciativas, seriam "digitalmente

isoladas". Ailton Krenak falará sobre a Rede Povos da Floresta, que leva o compu-

tador e a internet a aldeias indígenas: um exemplo bastante emblemático de como

projetos dessa ordem podem ter sucesso, mesmo enfrentando condições

adversas.

No segundo dia do seminário, Carlos Afonso, diretor de planejamento e estraté-

gia da Rede de Informação para o Terceiro Setor (Rits), será o mediador do debate

sobre "A gestão global da Internet", abordando temas como soberania comparti-

lhada, a cooperação entre países e a criação de um Fórum global.

O software livre e o direito autoral, a criação compartilhada e as diferentes modalidades

de licença sob as quais programas podem ser partilhados são tópicos na pauta da mesa

"Propriedade Intelectual", mediada por Caio Mariano, integrante do "Re:Combo",

projeto que trabalha a produção musical de forma colaborativa.

O último debate irá tratar o "Impacto cultural das novas tecnologias", levantando

questões polêmicas como a dos efeitos do binômio "tecnologias e cultura" sobre os

processos de massificação ou de valorização da diversidade, e a do impacto da

tecnologia na democratização do acesso à cultura. César Piva, do Projeto Fábrica do

Futuro, falará de sua experiência como idealizador e gestor de um centro produtor de

conteúdo audiovisual na cidade de Cataguases, em Minas Gerais. Ao abordar a questão

do software livre e de como ele abre novos rumos para a cultura e a comunicação sob

diversos pontos-de-vista, o seminário será, sem dúvidas, uma contribuição valiosa para

os que se interessam pela busca de novas iniciativas de combate às desigualdades e à

exclusão social nos seus diferentes contextos e manifestações.

Software Livre

Novos Rumos da Cultura e da ComunicaçãoPalestrantes debaterão sobre a

democratização no acesso às novas tecnologias

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Page 12: Tangolomango 2005

Não faz nem 20 anos que a internet começou a se tornar realidade no Brasil. Em

1988, um grupo reduzidíssimo - formado basicamente por pesquisadores

universitários e militares - tinha acesso à rede. E no mesmo ano, exatamente no

dia 8 de dezembro, um acontecimento mostraria de forma exemplar o poder e a

repercussão que ela poderia ter nas vidas de todos nós.

Naquele dia, no Acre, o líder ambientalista Chico Mendes foi assassinado. Um

ativista que tomou conhecimento da notícia imediatamente acionou a rede para

denunciar o crime. A mensagem logo se espalhou, multiplicando-se mundo afora

pela ação voluntária de diversos cidadãos, gerando uma mobilização de grandes

proporções. O caso gerou repercussão internacional, pressionando as autorida-

des a investigar o caso e identificar os culpados. O episódio chamou atenção para

as possibilidades de uso das tecnologias de informação e comunicação no trabalho

em rede, em benefício de causas sociais.

A internet é um meio democrático e plural na sua essência: horizontal, descentra-

lizado, aberto à participação e à expressão de qualquer pessoa. Falta, porém,

democratizar o acesso à rede, colocá-la ao alcance de quem quer ou precisa ouvir

e ser ouvido. Esse é o grande desafio. Desafio que serve de mote para esta edição

do Tangolomango.

São novas formas de expressão e comunicação. Novos canais e ferramentas de

acesso à cultura. E uma outra realidade surgindo a partir das questões suscitadas

por esse mundo cada vez mais globalizado e tecnológico. Temas como esses

estarão em debate durante o evento. Aliás, não apenas em debate, mas também

em prática. A exemplo da edição anterior, jovens integrantes de projetos sociais

de comunidades de baixa renda do Rio de Janeiro estarão participando da Agência

de Notícias. Esses meninos e meninas, supervisionados pela equipe da Rede de

Informações para o Terceiro Setor (Rits), farão a cobertura diária dos painéis,

apurando, escrevendo e publicando as reportagens no site do evento, em tempo

real.

A participação desses jovens se reveste de um forte simbolismo do imenso

potencial das tecnologias de informação e comunicação e da necessidade de lutar

para que cada cidadão tenha acesso a elas. Citando Graciela Selaimen e Paulo

Lima, no livro "Inclusão digital e software livre" (Conrad Editora), "é ingenuidade

esperar que as forças e interesses dominantes, que têm conduzido o rumo da

história, se ocupem de defender direitos humanos e de

Page 13: Tangolomango 2005

Em 2004 o Seminário do Tangolomango teve como foco do debate a comunicação

comunitária e o direito universal à comunicação. Ficou claro que um dos gargalos para a

disseminação do conhecimento é a falta de acesso à tecnologia e de consciência crítica

para utilizá-la. Deste então, procuramos conhecer iniciativas que oferecessem alternati-

vas concretas a essa exclusão tecno-cultural.

Foi durante o V Fórum Social Mundial que finalmente despertamos para a utilização do

Software Livre. Pudemos perceber que estávamos diante de novos rumos sócio-tecno-

culturais e o Tangolomango em 2005 precisava chamar atenção para esse fato. Daí então,

foi fácil escolher o tema "Software Livre" para guiar nossos debates em 2005. Já tinha sido

muito importante descobrir que este era um instrumento de difusão do conhecimento de

forma livre, mas no entanto nem imaginávamos o que estava por vir...

Aos poucos fomos conhecendo que sua criação era feita de forma descentralizada e

colaborativa e isso muda muita coisa.

Mario Teza (Associação Software Livre), que conhecemos durante o Fórum Internacional

de Software Livre em Porto Alegre, nos deu as primeiras coordenadas, nos mostrou o

caminho. Assim fomos amadurecendo nosso projeto aos poucos. Cada convidado

contribuiu com alguma parte, de alguma maneira. Ficamos muito impressionadas como

cada um tinha a maior liberdade e voluntariedade para indicar nomes, fazer contatos,

colocando seus conhecimentos à disposição do Tangolomango.

Foi aí que começamos a realmente entender o que estava por trás do software livre, os

conceitos, as novas formas de comportamento e, sobretudo a interação. O programa do

nosso seminário foi produzido colaborativamente, a partir de uma combinação de

conhecimentos e idéias diversas. E isso só é possível por que, como Reinaldo Pamponet*

nos ensinou o que havia aprendido com Mabuse**, há Generosidade Intelectual. O que

significa dizer essa tal generosidade? Confiança, reciprocidade, cooperação, ajuda mútua,

coesão social, solidariedade, compartilhamento, liberdade criativa!

Acreditamos que essa é a fórmula perfeita para fazer florescer o capital social, tão

indispensável à equidade e justiça social. Se já tínhamos visto revoluções tecnológicas

gerarem novos bens e serviços, hoje podemos dizer que estamos vendo gerar capital

social. É essa toda a diferença desse movimento de reapropriação tecnológica, de criação

colaborativa, diversidade cultural e generosidade intelectual.

Podemos utilizar estas forças para fazer mudanças profundas na realidade de desafios tão

difíceis, como a pobreza e desigualdade. Chegou a hora de superá-los e explorar ativa-

mente as múltiplas contribuições que a cultura, mídia e tecnologia podem trazer ao

desenvolvimento social e econômico.

Queremos gerar um ciclo de comunicação, que vivencie na prática o direito à comunica-

ção e que em última analise a apropriação de forma crítica e criativa da tecnologia - do

conhecimento. Queremos divulgar, discutir, multiplicar todo esse conhecimento com o

público do nosso seminário, formado principalmente por organizações sociais e movi-

mentos culturais, universitários, pesquisadores e jornalistas. Democratizar e fomentar a

utilização de ferramentas tecnológicas a favor do desenvolvimento é o objetivo deste

seminário. Se tivermos atraído novos parceiros para essa luta pelo acesso à comunicação,

cultura e cidadania: teremos cumprido nossa missão.

* Reinaldo Pamponet do Instituto Eletrocooperativa (www.eletrocooperativa.org)

** Mabuse do Re:combo (www.rebombo.art)

Raquel Diniz G. Ezequiel - Coordenadora do Seminário

É especialista em Desenvolvimento Local e Máster em Responsabilidade Social e Terceiro Setor

pela UFRJ

AS MATÉRIAS DESTA

PUBLICAÇÃO SÃO

DE CONTEÚDO LIVRE

Page 14: Tangolomango 2005

Pelo segundo ano consecutivo, o SESC Rio integra o evento Tangolomango, que acontece simultaneamente em vários espaços culturais da cidade do Rio de Janeiro. Neste ano de 2005, em que será assinada a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, Tangolomango elege a diversidade como temática, divulgando a cultura brasileira nas suas inúmeras vertentes e a partir de múltiplos ângulos e perspectivas.

A riqueza das manifestações culturais e a multiplicidade de tradições e de expressões artísticas que caracterizam a nossa cultura estão contempladas nesta verdadeira maratona cultural. A pluralidade étnica, de costumes, de crenças, de tradições e de valores é que torna tão rica e, ao mesmo tempo, tão singular a cultura brasileira. Uma cultura generosa que acolhe todas as contribuições, respeitando suas origens, mas reelaborando-as em novos significados, imprimindo-lhes as cores e os costumes locais.

Porém, não só os fazeres culturais estão presentes neste evento. Entre a fruição, a admiração, o experimentalismo, há espaço também para areflexão. O SESC Rio associa-se ao Tangolomango através do apoio quepresta à realização do seminário Software livre: Novos Rumos para a Cultura e Comunicação, excelente ocasião para se discutir uma questão de extrema contemporaneidade, ou seja, a revolução tecnológica no campo da informação.

Na atualidade, a informação tornou-se um dos principais determinantes darelação de força e de desenvolvimento sócio-econômico-cultural.Conceituados especialistas reúnem-se para debater as novas formas de expressão e de comunicação nos tempos da globalização e da triunfal entrada das sociedades contemporâneas na era digital.

Como lidar com as conseqüências de uma inovação tecnológica que cada vez mais torna interdependentes os países e as populações em escala planetária? Como aproveitar essas conquistas, consideradas por muitos massificadoras e esterilizadoras, nem sempre solidárias e integradoras, em benefício da ampliação do conhecimento, do exercício da tolerância e da preservação do patrimônio e da diversidade cultural?

Os seminário Software livre: Novos Rumos para a Cultura e Comunicação foi idealizado com o objetivo de responder a essas e a outras inúmeras perguntas. O SESC Rio firma parceria nesse empreendimento, com a convicção de que constitui um aporte significativo para vencer os novos desafios: garantir o direito de livre expressão e promover seu uso conscien-te e alargar as fronteiras do conhecimento e da informação.

Quem assistir ao Seminário sobre Software Livre receberá um Cd-Rom

com o Almanaque da Cultura Digital. Embora tenha sido criado para

auxiliar as atividades dos Pontos de Cultura, esse almanaque será útil para

todos que queiram produzir na área da cultura, de forma colaborativa e

livre, usando ferramentas digitais. Por meio dele, é possível aprender o

que é "metareciclagem", "generosidade intelectual", "software livre", entre

outros conceitos, e como utilizar diversas ferramentas tecnológicas para

produzir e fazer circular produtos culturais nas suas mais diversas expres-

sões, como músicas, filmes, programas de rádio, televisão e computador.

Durante o período do Seminário, o almanaque também estará disponível

no site do Tangolomango (www.tangolomango.com.br).

A equipe de produção do almanaque foi integrada por mais de 50 pessoas.

Paulo Bicarato, um de seus integrantes, explicou que o texto foi escrito de

maneira simples, para que pudesse ser compreendido mesmo por

aqueles que nunca tiveram contato com os princípios de Cultura Digital.

- Todo o conteúdo foi produzido levando-se em consideração a diversida-

de dos integrantes dos Pontos de Cultura. Temos pessoas com graus

variados de conhecimento e o almanaque foi elaborado para ser inteligível

por todas essas pessoas - disse Paulo.

Para incentivar a produção cultural brasileira, o Ministério da Cultura

criou o Programa Cultura Viva e implementou Pontos de Cultura em todo

o país. No dia 6 de outubro, foi anunciada a criação de 328 novos pontos;

com isso assim, existirão mais de 500 unidades até o fim do ano. Segundo o

Ministro Gilberto Gil, "cada Ponto de Cultura será um amplificador das

expressões culturais de sua comunidade". Assim, cada um deles deve

oferecer as ferramentas para que a população local possa produzir cultura

e divulgá-la tanto na sua região, quanto no Brasil e em todo o mundo.

Nesse sentido, não se trata de uma intervenção autoritária do Estado,

definindo o que deve ser produzido em cada comunidade, mas de um

esforço com intuito de potencializar as atividades culturais existentes.

Almanaque explicando como utilizar

tecnologia digital na produção de cultura

será distribuído no Seminário sobre

Software Livre.

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COMO PRODUZIR C

Page 15: Tangolomango 2005

ULTURA DIGITAL, L IVRE E COLABORATIVAO Ponto de Cultura é dotado dos equipamentos e da tecnologia necessária

para viabilizar a produção artística e a criação intelectual. Como explica Gil,

"onde se faz (ou se quer fazer) música, haverá um estúdio de gravação digital,

com capacidade para gravar, fazer uma pequena tiragem de CDs e botar na

Internet o que foi gravado. Onde se faz (ou se quer fazer) vídeo, cinema ou

televisão comunitária, haverá um estúdio de vídeo digital, com câmera, ilha de

edição, microfones e mala de luz. E mais: dança, teatro, leitura, artes visuais,

web, enfim, o que a comunidade quiser e puder, ousar e fizer, sonhar e materi-

alizar".

Todo o programa se baseia nos princípios da Cultura Digital. Isso significa

aproveitar ao máximo as possibilidades geradas por meio da democratização

do acesso às tecnologias digitais, estimulando, através do uso dessas ferramen-

tas de maneira crítica e criativa, os valores da liberdade, autonomia, colabora-

ção e compartilhamento em rede. É justamente para tornar essas idéias mais

claras e explicar como se pode utilizar tecnologia para produzir cultura que foi

criado o almanaque, composto de três partes. Como explica Paulo Bicarato:

- O almanaque foi previsto desde o início do contrato entre o Ministério da

Cultura (agência executora), o IPTI (Instituto de Pesquisas em Tecnologia da

Informação - agência implementadora) e o PNUD (Programa das Nações

Unidas pelo o Desenvolvimento). Ele pretende ser um guia com os princípios

que norteiam todo o projeto da Cultura Digital, desde conceituações teóricas

até as ferramentas práticas colocadas à disposição dos Pontos de Cultura.

Na primeira parte, o almanaque discute o entrave que o direito da

Propriedade Intelectual representa para a livre circulação das produções

artísticas, mostrando a relevância da generosidade intelectual, exercida por

meio de licenças de uso livre, para garantir a troca de experiências entre os

Pontos de Cultura.

A segunda parte trata das diversas ferramentas existentes na Internet para

promover a troca de conhecimento, produção cultural e informação. O

argumento central, aqui, é a importância da comunicação entre os Pontos de

Cultura e destes com outros agentes sociais, para promover a troca de

experiências, tornar visível a produção desses pontos e dar voz aos indivíduos

que neles atuam. Segundo explica Paulo Bicarato:

- Todos os Pontos precisam interagir e trocar informações e conhecimento

entre si, para a efetivação do projeto Cultura Digital. O modo de produção do

software livre é um dos exemplos mais claros de como o colaborativismo gera

e multiplica o conhecimento, de forma livre e autônoma. Colaborativismo,

solidariedade entre os Pontos, generosidade intelectual: esses, entre outros

conceitos, fundamentam a verdadeira revolução - não só digital, mas cultural e

social - nas comunidades espalhadas por todo o país e no exterior.

A terceira parte do almanaque mostra como colocar este projeto em prática.

Ensina como utilizar diversas tecnologias digitais - seja na produção de metareci-

clagem, software livre, arte gráfica, vídeo digital, áudio e rádio livre - e como

licenciar uma obra segundo modelos livres de utilização. Um trecho do próprio

almanaque justifica a importância disso tudo: "a partir do acesso a estas ferramen-

tas as pessoas voltam a ter o poder da fala, de participar da escrita da história. Por

isso é importante dominar as linguagens de comunicação e, para isso, é necessá-

rio que se domine também a técnica". O objetivo do Almanaque da Cultura

Digital é exatamente esse: permitir que todos possam utilizar as ferramentas

digitais para se expressar e produzir cultura.

Por Mariana Schreiber

Contato: Paulo Bicarato - [email protected]

Page 16: Tangolomango 2005

O principal objetivo do Instituto Eletrocooperativa é gerar

inclusão social através da inclusão musical. Criado em 2003, em

Salvador, a Eletrocooperativa já atendeu mais de 400 jovens de

famílias de baixa renda, promovendo sua inclusão social através

do acesso à música e à tecnologia e agregando a esse trabalho a

formação cidadã e a geração de renda. O filme "Futuro

Primitivo", produzido pela Academia da Cultura e com roteiro

escrito pela Eletrocooperativa, explica mais detalhadamente

essa proposta. Ele será exibido na Mostra Identidades, que

ocorrerá na Casa França Brasil, entre os dias 10 e 12 de novem-

bro. Reinaldo Pamponete, membro da Eletrocooperativa,

descreveu o conteúdo do filme: - "Futuro Primitivo" fala sobre a

promoção da inclusão social e econômica por meio da música.

Esse processo aconteceu fortemente na Bahia, já na década de

80. E como nossa missão é a inclusão musical com apoio da

tecnologia, o filme aborda justamente essa proposta de unir o

"tambor" e o "computador".

Os participantes da Eletrocooperativa têm acesso a programas

de informática de última geração, específicos para a produção

musical, que são utilizados como suporte à composição, arranjo,

gravação, edição e masterização. Nesses dois anos de atuação,

foram gravados seis CD's, 196 alunos fizeram o curso de

Produção Musical e 211 jovens participaram das Oficinas de DJ.

No Instituto, também nasceram duas bandas: a

Eletropercussiva, que já atua profissionalmente, e outra que une

música tecno e percussão. Na Eletrocooperativa, também são

trabalhados temas transversais como: empreendedorismo,

educação sexual, cooperativismo, paternidade responsável,

empregabilidade, ética, postura, higiene, relações interpessoais,

entre outros. Além disso, foi implementada a Cooperativa de

Produção e Serviços, composta inicialmente por 30 jovens que já

passaram por todo o processo de formação previsto no Instituto.

Trata-se de um projeto de auto-sustentação que visa à geração

de renda e à aplicação prática do conceito de trabalho associati-

vo com compartilhamento dos lucros.

O Instituto pretende promover a distribuição e divulgação das

obras por meio da Internet, dentro dos novos moldes de genero-

sidade intelectual, tendo como suporte jurídico as licenças do

Creative Commons. Para tanto, foram criadas duas ferramentas:

a Rádio Eletrocooperativa (http://radioeletro.multiply.com) e o

Portal Eletrocooperativa (www.eletrocooperativa.org). A Rádio

é integralmente mantida pelos alunos, desde a seleção musical e

produção de textos, entrevistas e gravações, até a edição do

material, disponibilização na web e sua divulgação. A Rádio

pretende difundir não só os trabalhos do Instituto, mas a produ-

ção musical da cidade de Salvador e de outras localidades, além

de servir como canal de comunicação entre os alunos, comuni-

dade artística, produtoras, núcleos de pesquisa, faculdades e

fóruns musicais. Atualmente, o Portal oferece apenas algumas

informações sobre as atividades da Eletrocooperativa, mas, a

partir de novembro, estará totalmente reformulado. A proposta

é criar uma ferramenta de difusão, comercialização e divulgação

da produção artística de uma forma alternativa, inovadora e gratuita.

Os seis CD's produzidos pelos alunos do Instituto estarão disponíveis

no Portal. Para saber mais sobre as propostas e a filosofia do Instituto,

leia o artigo "O que me interessa é o main-stream de Irará", de

Reinaldo Pamponete. Ele também participará do debate sobre “O

Impacto Cultural das Novas Tecnologias”, dia 09 de novembro, às

16hs.

Contato: Reinaldo Pamponete - reinaldo@eletrocooperativa@org

Site - www.eletrocooperativa.org

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Eletrocooperativa une o batuque dos tambores da Bahia às bases eletrônicas para promover inclusão social

Page 17: Tangolomango 2005

De que adianta todo esse movimento de inclusão

digital e de globalização se a população de Irará não

puder conhecer a obra do Mestre Almiro Oliveira?

Para que que serve todo esse movimento batizado

de "world music" se o meu "world" não está lá?

O que significa a opinião de uma gravadora

multinacional que a seguinte música de raiz não

vende. Ah! o sabonete já não é mais o mesmo, diga-

se de passagem.

De que adianta toda essa potencialização de home

studios e dos próprios artistas produzirem os seus

próprios trabalhos com independência e liberdade?

Que bom, esse gargalo já não é mais o mesmo.

Fazer um disco hoje não é mais um bicho de sete

cabeças, isso para quem leva a sua arte a sério.

A Eletrocooperativa surgiu com muito poucas

respostas e com muitas perguntas e

questionamentos. Tínhamos e temos a sensação de

que o desafio estava e está em possibilitar e pregar o

exercício do fazer em busca de possibilidades

concretas, recheada de um compromisso de realizar

mais e discursar menos.

Na Eletrocooperativa temos o objetivo claro de

promover a inclusão musical - buscar a música e

potencializá-la, abrindo espaço para que ela se

manifeste e siga o seu caminho. Enfrentamos hoje

uma crise, crise esta na indústria que muitos ainda

insistem em chamar de indústria do disco...ufa! ainda

temos uma grande oportunidade de buscar modelos

que privilegiem a música e não o seu formato

industrial. Como é bom se ver e se identificar...e

como é maléfico ser forçado a pertencer e a

consumir o que o mercado define como regra.

Abaixo a censura mercadológica para a arte!

A nossa força está em Irará, em Arcoverde, em

Cachoeira e em diversas outras cidades do nosso

país que produzem música e, acima de tudo, arte,

cultura e história.

Quem gosta de música eletrônica que escute música

eletrônica, quem gosta de música clássica também,

se outros gostam do que se intitula de música brega,

música sertaneja, entre outras, que curtam as suas

respectivas preferências. O que não vale é definir

que a música do Brasil agora é o pagode, a sertaneja,

o hip-hop, o rock'roll, o axé. Opa... cada um na sua,

meu irmão. Cada cidadão tem o direito de ouvir o

que quiser, o que lhe dá prazer, alegria e, acima de

tudo, o que faz sentido para si e/ou para a sua

história. Vamos dar o próximo passo...vamos

construir o Futuro Primitivo. Vamos potencializar a

música regional, a música local, a música municipal, a

música "bairral", a música comunitária. Ela fala mais

no coração de cada um. Nem todo mundo quer ser

cidadão do mundo. Conheço muito mais pessoas

que não fazem questão de ir além de Macajuba ou de

Feira de Santana. O que há de errado nisso? Será que

o erro não está em querermos direcionar as pessoas

para irem para onde não se encontram?

Pois é. É chegada a hora de pararmos de vez com

defesas de modelos falidos ou interesses de

determinados grupos que não contribuem em nada

para preservar nem promover os movimentos

culturais brasileiros.

Sejamos acima de tudo generosos intelectualmente e

vamos nos preparar para o salto. O que fazer com a

música de raiz? A proposta da Eletrocooperativa é

potencializá-la para que crie o seu próprio público e,

por que não dizer, o seu próprio mercado. É

pretenciosa essa proposta? O artista precisa do

público e o que estamos fazendo é simplesmente

facilitar o acesso do público aos conteúdos

produzidos pelos artistas estabelecendo, assim, o

retorno da identificação entre artistas e suas

respectivas artes e o seu público.

Em 2001, o Re:Combo, até então "apenas" um grupo de música pernanbucano,

percebeu a enorme importância da abertura das fontes de seus trabalhos e

resolveu permitir que eles fossem utilizados livremente por outras pessoas. Na

sua própria definição, atualmente o Re:Combo é "um coletivo de músicos,

artistas plásticos, engenheiros de software, DJs, professores e acadêmicos, que

trabalha em projetos de arte digital e música de uma forma descentralizada e

colaborativa". Sua proposta é que pessoas espalhadas por todo o globo

produzam arte e informação em conjunto. Esse projeto é viabilizado pelo o uso

de mídias digitais modernas e pelo o princípio da Generosidade Intelectual, que

defende a criação livre de amarras jurídicas e burocráticas, exatamente o oposto

do que representa o direito de Propriedade Intelectual. Além disso, toda obra

desse coletivo - seja música, imagem estática ou em movimento, textos,

instalações - pode ser reutilizada em outras produções artísticas, contribuindo

para um verdadeiro mosaico de criação que desafia a noção de autoria. Como

explica o advogado Caio Mariano, integrante do Re:combo: - O Re:combo

questiona o conceito de autoria ao longo de seu processo colaborativo de

criação. Realmente, é difícil atribuir a autoria a uma obra criada

colaborativamente por co-autores que muitas vezes nem se conhecem ou que

não têm como definir sua parcela de colaboração dentro do processo criativo.

Buscando assegurar que os produtos desse processo colaboracionista de criação

não fossem nunca registrados como propriedade intelectual, mesmo depois de

modificados, fez-se necessária a criação da Licença de Uso Completo Re:combo

(LUCR). A LUCR saiu efetivamente em 2003 e sua criação foi colaborativa, assim

como as músicas e demais produções do coletivo. Segundo disse o VJ Yellow,

integrante do Re:combo, em palestra na edição de 2004 do Tangolomango,

nenhuma criação feita sob a LUCR estará sujeita a direito autoral:

- Qualquer pessoa pode usar, contanto que a obra fruto do uso desse objeto

também seja submetida à mesma licença. Com o tempo, os membros do

coletivo repararam que essa iniciativa era uma semente para a expansão do

direito autoral livre. - A partir do momento que vários objetos começassem a

ser feitos sob essa licença, isso se expandiria exponencialmente e, com o tempo,

o direito autoral seria eliminado - explicou Yellow. Em reconhecimento à

importância de seu trabalho, o Creative Commons homenageou o coletivo, em

2004, modificando o nome de sua licença voltada para a recombinação de

músicas para Licença Recombo. A recombinação musical baseia-se na técnica de

sample, que consiste em capturar e registrar digitalmente sons, frases musicais

ou timbres sonoros, por meio de um aparelho chamado sampler, com o

propósito de manipulá-los e recombiná-los musicalmente. Em busca de um

nome mais explicativo, o Creative Commons renomeou mais uma vez a licença,

que agora se chama Samplemy. A discussão em torno dos direitos autorais dá

muito pano pra manga. Caio Mariano, outro integrante do coletivo, falará mais

sobre o assunto no debate sobre Propriedade Intelectual, dia 09 de novembro,

às 14hs. Este ano, o Re:Combo também fará uma apresentação musical coletiva,

como tudo que é produzido pelo o grupo. O show será na Lona Cultural

Herbert Vianna, na favela da Maré, dia 13 de novembro, a partir das 17hs.

Re:combo prova que com tecnologia e generosidade intelectual é possível produzir arte em conjunto.

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Page 18: Tangolomango 2005

1. De que forma o uso de novas tecnologias de

informação abre caminho para democratização do

acesso à cultura?

H: Num livro clássico, Arjum Appadurai define os

novos tempos, entre os outros vetores, como um

mediascape (a nova paisagem promovida pelo

avanço e onipresença da mídia) e como um

ideoscape (o horizonte aberto pelas novas

possibilidades de divulgação intensiva de idéias e

ideologias). Ou seja, aposta todas as suas fichas

nas transformações tecnológicas em curso como

um panorama propício à consolidação de uma

disseminação, sem precedentes, da informação e

das manifestações culturais transnacionais e

locais. Eu compartilho do otimismo de

Appadurai, sabendo, entretanto, que, nos paises

periféricos ou semiperiféricos da globalização, a

luta deve ser no sentido de possibilitar esse

acesso aos segmentos sociais excluídos dos

recursos disponíveis nas classes media e alta

destas sociedades.

Heloísa Buarque de Hollanda é professora da Escola da Comunicação da UFRJ e coordenadora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC/UFRJ). Nesta entrevista, ela fala sobre a questão do impacto cultural das novas tecnologias, tema que também será abordado na mesa de que fará parte como palestrante, dentro do seminário produzido pelo Tangolomango.

2. Quais são os pressupostos dessa

democratização? Ela se resume ao acesso à

máquina? Qual a sua importância dentro do

projeto de inclusão social?

H: Acho que não se trata apenas do acesso à

máquina e à alfabetização digital. Isso é,

obviamente, fundamental, mas a agenda do

momento deve ainda incluir como preocupação

também muito importante a discussão do

software livre e das questões em torno da

propriedade intelectual. Senão essa

democratização continuará dependente das

grandes corporações transnacionais, limitando o

poder de inclusão real de todos no novo universo

possibilitado pela tecnologia e pela revolução

digital.

A Fábrica do Futuro é uma iniciativa focada na produção de conteúdo audiovisual e suporte digital, envolvendo jovens da cidade de Cataguases e municípios vizinhos, em Minas Gerais. Todo conteúdo criado é baseado na cultura regional e difundido através de novas mídias e de novos suportes criados com o avanço da tecnologia. Segundo César Piva, idealizador e gestor cultural da Fábrica, na prática, os jovens participam da produção de uma televisão comunitária local:- Na Fábrica do Futuro, eles participam de núcleos de pauta, pesquisa, jornalismo, edição e filmagem, produção e logística, luz e áudio e vídeo, ilhas de edição, camarim... Eles estão tendo uma experiência completa do que seria produzir um programa de televisão para transmissão ao vivo, inclusive - explicou César.- Esses jovens participam da produção, na prática, de uma televisão comunitária local. Estão participando de núcleos de pauta, pesquisa, jornalismo, edição e filmagem, produção e logística, luz e áudio e vídeo, ilhas de edição, camarim... Eles estão tendo uma experiência completa do que seria produzir um programa de televisão para transmissão ao vivo, inclusive - diz César Piva, idealizador e gestor cultural da Fábrica.A principal missão do projeto - que ainda está em fase inicial - é contribuir para a transformação social, com a experimentação de políticas públicas inclusivas baseadas na tríade "cultura, comunicação e cidadania".César Piva, que será um dos palestrantes da mesa sobre "O impacto cultural das novas tecnologias", prevê que a Fábrica do Futuro criará as condições para que Cataguases possa receber, dentro de pouco tempo, um Pólo de Criação e Produção Audiovisual que atenda a demanda do setor em Minas Gerais. O projeto pretende ainda mobilizar ações em rede de vários municípios, sobretudo, com o intercâmbio de jovens, visando a instalação de novas unidades do projeto, em especial, na região mineira.

3. Como estas novas tecnologias modificaram o

tráfego de informações entre projetos culturais? A

troca de experiências é maior hoje? A diversidade

cultural tem sido absorvida ou rechaçada?

H: A importância das novas tecnologias para a

criação de trabalhos em colaboração, troca de

experiências, e construção de redes culturais ou

de solidariedade está sendo testado com evidente

sucesso. Como esse fluxo de trocas se intensifica,

o contato entre diferentes projetos culturais

regionais e nacionais possibilita a abertura de

novos espaços públicos virtuais ou presenciais de

grande importância. Os debates em torno do

direto à informação e à cultura, à singularidade

das experiências locais e aos diretos humanos

adquirem fóruns privilegiados de solidariedade e

afirmação política.

4. Qual a importância de eventos como o

Tangolomango abrirem espaço para a discussão

sobre como as novas tecnologias de informação

transformam as relações do cenário cultural?

H: Nesse momento, a criação de espaços onde se

encontrem e dialoguem representantes dos

movimentos sociais, ONGs, artistas e

representantes da academia são vitais para a

troca de experiência e saberes, para a formulação

de estratégias de ação e tomadas de decisão

política. É nesses encontros onde se privilegia o

saber compartilhado e não hierarquizado, como

é o caso do Tangolomango, que vejo como

possível o desenho de um futuro mas

democrático e socialmente justo.

Por Mariana RibeiroPERFIL

Page 19: Tangolomango 2005
Page 20: Tangolomango 2005

forma, é necessário girar a tampa até a seta incidir sobre a parte cortada do

papelão. O fotógrafo deve mirar o objeto a ser fotografado, apoiar a máquina

em alguma superfície fixa para não tremer, e esperar alguns segundos. O

tempo de exposição varia de 6 a 12 segundos, se o objetivo for tirar fotos no

sol ou na sombra, respectivamente.

A idéia de fazer uma oficina com essa técnica no Tangolomango surgiu de

um projeto semelhante realizado pelo fotógrafo Miguel Chikaoka no

mercado "Ver o Peso", em Belém, quando ele recebeu uma proposta da

prefeitura de Belém para fotografar o mercado, que é considerado um

cartão postal da cidade: "O mercado Ver o Peso é multifacetado. É como o

Corcovado ou o Pão-de-Açúcar aqui no Rio de Janeiro", diz Chikaoka. Sua

foto seria exposta no museu da cidade, mas o fotógrafo achou mais

interessante realizar um trabalho coletivo. "As fotos a partir de câmeras

artesanais permitem que pessoas que não conhecem fotografias façam as

fotos", disse, esclarecendo a escolha da técnica. Chikaoka veio, à convite

de Marina Vieira, para o Rio ensinar aos jovens como fazer as máquinas,

retornando depois para a fase intermediária do projeto, com o objetivo de

ensinar os jovens a montar o painel. A preparação foi intensa, pois, em duas

semanas, a equipe do Sobrado Cultural teve que montar todos os tripés e

máquinas. A oficina previa produzir aproximadamente seiscentas fotos por

dia. As máquinas eram colocadas dentro de um saco preto e desmontadas.

Logo em seguida, elas eram retiradas do tripé e colocadas novamente em

outro saco preto, para acrescentar um novo tubinho com papel fotográfi-

co. A turma do Sobrado é composta por oito pessoas que se dividiam em

dois grupos: quatro pessoas participavam das saídas para fotografar e

descarregavam os tripés dentro dos sacos pretos. As outras quatro, no

laboratório do Sobrado Cultural, revelavam e positivavam as fotos em

diversos tons de cinza. Esses oito ajudantes são jovens que trabalham no

núcleo fotográfico do Instituto de Imagem e Cidadania. Já os participantes

da oficina chagaram até ela de diferentes maneiras.

Tatiana Altberg, 30 anos, é designer e dá aulas de fotografia no conjunto de

favelas da Maré, em um projeto da ONG Centro de Estudos e Ações

Solidárias na Maré - CEASM - e tem sete alunos, que estudaram com ela

por um ano, que agora fazem exposições e trabalhos diversos. Amiga de

Miguel Chikaoka, foi convidada a participar da oficina, e levou seus alunos

para participarem da produção de fotos.

Bruno Cândido, de 17, já conheceu a oficina de maneira diferente. Ex-aluno do

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O Tangolomango apresentará no CAU (Centro de Arquitetura e

Urbanismo, na Rua São Clemente nº 117) um trabalho artesanal realizado

por jovens do Rio de Janeiro: um painel de fotos tiradas por meio da técnica

pinhole. Uma imagem do Pão de Açúcar pixelizada (ou seja, em resolução

tão baixa que é possível visualizar os píxeis) servirá como modelo para a

montagem do mural, com cinco metros de largura e dois e meio de compri-

mento. Os retratos foram resultado de uma oficina oferecida pelo Instituto

de Imagem e Cidadania, que funciona no Sobrado Cultural, em Vila Isabel.

A chuva adiou as atividades por quatro dias de trabalho, mas o mau tempo

não desanimou os jovens participantes. A princípio, a oficina se realizaria no

Centro de Tradições Nordestinas, a popular Feira de São Cristóvão.

Contudo, a idéia foi se modificando e outros lugares foram escolhidos para

os ensaios fotográficos, cujo tema foi a diversidade cultural. Quando o

tempo melhorou, um sol forte aqueceu os ânimos e mobilizou a todos.

Munidos de câmeras artesanais, lá se foram eles registrar imagens em preto

e branco, utilizando o princípio da câmara escura, base do pinhole.

Essa técnica consiste na utilização de uma câmera fotográfica de fabricação

artesanal e de um tripé. A câmera é feita com um tubo de embalagem de filme

fotográfico fechado, contendo,em seu interior, um pedaço de 4cmx4cm de

papel fotográfico. Na lateral do tubo, faz-se um furo minúsculo com a ponta de

uma agulha, por onde um feixe de luz deve passar. Para que o papel não seja

velado devido ao excesso de luz, o tubo é protegido com uma tira de papelão.

Na tampa da máquina, uma seta indica a posição exata do furo. Tudo isso fora

apoiado em uma placa de madeira, que serve de tripé. Para tirar fotos dessa

Por Thaís Canella

COM QUANTAS FOTOS SE FAZ UM PÃO-DE-AÇÚCAR?Oficina de Pinhole monta painel no Tangolomango

Page 21: Tangolomango 2005

Sobrado Cultural, ele havia estudado com Josye Santos, da equipe do Instituto

de Imagem e Cidadania. Após dois anos do término de suas aulas, Josye o

contactou e convidou para integrar a oficina. Como já havia trabalhado com

pinhole antes, aceitou na hora. Bruno gosta dessa técnica por ser artesanal.

Para ele, o melhor momento é ver a sua foto revelada. O mais curioso é que

Bruno conheceu o Sobrado através de um primo, que já conhecia os cursos, e

só então teve um contato direto com a fotografia. - Eu pretendo trabalhar

com fotografia sim, no futuro. Por enquanto não dá, porque estou em outro

trabalho. Fiquei muito feliz quando a Josye me chamou para tirar essas fotos,

pois sou apaixonado por fotografia - disse o rapaz, sem conter a satisfação.

Outro jovem, Kleyton Lucas, de 17 anos, tomou conhecimento do Sobrado

Cultural através de um projeto de aulas de fotografia na Cidade Alta, onde

reside. Foram cinco meses de cursos sobre as fotos, os filmes, as poses e os

enquadramentos, além de outros. Nunca tinha tido conhecimento das

técnicas fotográficas antes, porém, como Bruno, se apaixonou pela arte. - Mas

eu não quero trabalhar com fotografia não. Eu gostaria de ter sempre essa

prática, mas como um hobby e não como meio de vida - esclareceu em

seguida.

Para a montagem do painel, o trabalho foi ainda maior. Chikaoka escolheu uma

foto que tirou do Pão-de-Açúcar, a partir do plano (a foto foi tirada no Aterro

do Flamengo) e diminuiu a sua resolução, para que fosse possível ver os pixeis,

e tratou a imagem em um programa de edição para torná-la preto e branco.

Enquanto isso, a equipe do Sobrado Cultural separava todas as fotos, que

O espaço do Sobrado Cultural pertencia, antigamente, ao produtor cultural Emílio Paulino Sobrino. Após sua morte, o lugar foi alugado e passou a funcionar como uma oficina mecânica. Seu filho Cláudio Paulino e sua esposa Marjorie Botelho, para homena-gear o antigo dono, decidiram transformar o espaço na sede do Instituto de Imagem e Cidadania. Fundado em Oito de Março de 1998, o local se reduzia apenas ao primeiro andar. Hoje, após sete anos, o Sobrado ocupa três andares e já ganha importância na região da grande Tijuca.Segundo Marjorie, o principal objetivo do Instituto de Imagem e Cidadania é a democratização da educação e da cultu-ra, estimulando a garotada ao contato com a produção de vídeos, fotos, docu-mentários, jornais e mais ações relacio-nadas à comunicação. - Como a zona

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norte é bastante desprovida de espaços culturais, a possibilidade de novas intera-ções permite expandir o conhecimento dos jovens - disse a coordenadora princi-pal do Sobrado. Apesar da possibilidade de formação profissional, a ONG não trabalha na perspectiva do mercado. Para a equipe do sobrado, o mais impor-tante é que os alunos participem ativa-mente das atividades da casa e do Instituto. Assim, os apoios que a institui-ção recebe não sustentam as práticas desenvolvidas no sobrado. Quando a situação financeira está complicada, são os próprios coordenadores que arcam com os gastos. Às vezes, até abrem mão de horas-aula para ajudar nos pagamen-tos de contas. O vínculo com jovens pró-ativos também ajuda a manter o instituto em funcionamento. Esses jovens, em

geral, são ex-alunos que passam a atuar nos núcleos do Sobrado. As atividades do Instituto de Imagem e Cidadania estão divididas em três programas: a formação, a nucleação e a produção. A formação consiste em cursos de rádio, fotografia, teatro, vídeo dentre outros, oferecidos aos jovens. A nucleação é a fase seguinte. Terminado os cursos, os participantes podem fazer a formação continuada e atuar no núcleo de imagem (fotografia e vídeo). Por último, a produção envolve o desen-volvimento do jornal Geração e da TV Tela Livre. Além disso, o Sobrado conta com um banco de imagens de registros de movimen-tos culturais. Esse banco possui fotogra-fias do MST, encontros GLS e da Grande Tijuca.

Fotos tiradas durante a oficina de pinhole pelo fotógrafo Miguel Chikaoka

chegaram a quase seiscentas, em quatro categorias, de acordo com a sua

revelação : branco, preto, cinza e normal. Como as fotos foram positivadas em

diferentes tons de cinza, é possível encontrar até mesmo três imagens iguais

em escalas de cores diferentes. Para montar o painel, o retrato do Pão-de-

Açúcar foi dividido em seis blocos e mapeado, sendo que cada píxel é associa-

do a uma fotografia. Finalmente, as fotos foram coladas em seus devidos

pontos, de acordo com a sua cor. O resultado desse trabalho pode ser

conferido durante o mês de Novembro, no CAU.

Page 22: Tangolomango 2005

“Reapropriação tecnológica para transformação social". Este é o lema do

grupo MetaReciclagem. Indo além da inclusão digital, o objetivo é reciclar.

Não somente as máquinas em si mas, principalmente, o posicionamento das

pessoas em relação a elas e ao sistema de intercomunicação global. Para os

metarecicleiros, como Ricardo Ruiz, dar acesso não é sempre sinônimo de

produção crítica. Ao contrário, uma postura passiva caracteriza a interação

com o computador: para Ricardo, quem se conecta via telecentro "não

necessariamente produz, mas acessa bate-papo, Globo.com, UOL, os

grandes portais". Reciclar significa, portanto, retrabalhar esta interação, para

que a máquina possa se tornar um instrumento de expressão do indivíduo - e

não um objeto distante contemplativo. Por isso, dar nomes e novas aparênci-

as (através do graffiti, por exemplo) à máquina são estratégias adotadas para

construir uma relação pessoal com o computador. - O mais bacana é a

subversão da técnica. A pessoa precisa conhecer a técnica para isso. É

aí que o software livre entra na jogada. Não porque é de graça, mas

porque não teria como fazer tudo isso com software proprietário.

Quem acessa via telecentro não tem como conhecer a técnica do

software proprietário, porque é fechado.- explica Ricardo.

O MetaReciclagem surgiu de uma rede de pessoas espalhadas pelo

país, ligadas à produção de mídia independente. Em 2003, o evento

Mídia Tática Brasil - Arte, Mídia e Tecnologia - aconteceu em São

Paulo, como parte da 4a edição do festival holandês "The Next Five

Minutes". Isto possibilitou o contato com instituições estrangeiras

como Waag Society, da Holanda, e Sarai, da Índia, que hoje apóiam o

projeto. A partir daí, também foi possível a parceria com o Governo

Brasileiro, especialmente com o Ministério da Cultura. Nos últimos

meses, 260 Pontos de Cultura aderiram ao projeto de reapropriação

tecnológica e se tornaram metarecicleiros.

Apesar do financiamento do MinC e dos apoios internacionais, o

projeto enfrenta dificuldades:

Em sua 4a edição, o Tangolomango investe em duas principais linhas de ação, que se confundem e se complementam. Por um lado, o debate intelectual estará centrado nas questões de software livre e propriedade intelectual. Por outro, o evento foca a promoção da diversidade e pluralidade de ações culturais em comunidades do Rio de Janeiro e de outros pontos do Brasil.É com esta proposta que o Centro de Arquitetura e Urbanismo (Rua São Clemente, 117, Botafogo) abriga o espaço "Multiplicidade". De 4 a 27 de novem-bro, o público poderá visitar uma exposição multimídia, que conta com trabalhos de fotografia, grafite, vídeo, instalação e outras formas de expressão. Palco da confrontação de trabalhos tão diferentes entre si, a exposição do CAU certamente comprirá os objetivos dos organizadores do Tangolomango: mostrar "manifestações culturais de grande qualidade e singularidade". Mosaico de expressões artísticas originais, o Centro de Arquitetura e Urbanismo é parada obrigatória durante o mês de novembro.Os protagonistas da mostra do CAU estão relacionados abaixo. Antes de visitar a exposição, saiba mais sobre a história, a proposta e o trabalho desenvolvido por cada um deles.

Multiplicidade em foco no Centro de Arquitetura e UrbanismoPor Carla de Toledo Camargo e Elaine Cutrim

- A gente vai sobrevivendo. Não há separação entre a vida pessoal e a vida

profissional. Não é que vai fácil, mas também não vai difícil: vai organica-

mente. Mantém-se. E se não se manter, acaba. As máquinas ficarão

esperando para acontecer em outros momentos. Nós não somos um

lugar físico. - diz Ricardo Ruiz. "Nós" se refere a metarecicleiros em São

Paulo, Brasília, Recife, Belo Horizonte, Manaus, Rio Grande do Norte e

localidades no interior do país. O MetaReciclagem acontece, portanto, de

maneira descentralizada. Seus participantes não encaram aquilo que

fazem como uma organização, mas como um modo de abordar e pensar a

tecnologia. Não há uma sede, mas esporos responsáveis pela pesquisa e

estudo das estruturas do projeto. Não há lideranças ou fundadores: todos

são metarecicleiros. Qualquer um, em qualquer lugar, pode fazer

MetaReciclagem.

MetaRecicleiros

Page 23: Tangolomango 2005

No ano em que o software livre e a questão da propriedade intelectual

estão em foco no Tangolomango, a participação do MetaReciclagem é

indispensável.

Durante a primeira quinzena de novembro, haverá oficinas funcionando

no Ponto de Cultura da Estação Barão de Mauá, na região central do Rio

de Janeiro. Aí será produzido um "telecentro metareciclado" que, depois

de pronto, será exposto no Centro de Arquitetura e Urbanismo.

Enquanto o telecentro não fica pronto, haverá no CAU projeções do que

ocorre na Estação Barão de Mauá em tempo real, e de oficinas já realiza-

das em outras regiões do país.

Uma vez exposto o telecentro, o foco passa a ser a "mimoSa", uma

máquina de correção informacional e intervenção urbana que coletará

depoimentos de pessoas nas redondezas das oficinas e de diferentes

pontos de atividade do Tangolomango, inclusive as imediações do

próprio CAU, em Botafogo. A mimoSa não tem forma ou procedimento

pré-definidos. Ela pode ser um banheiro químico, um capacete gigante,

um mini gravador ou um computador convencional. Ela se define por sua

função: coletar depoimentos, criando informação. A mimoSa é, funda-

mentalmente, mídia independente. À semelhança do que ocorre na

primeira quinzena, as oficinas da mimoSa serão projetadas no CAU,

mostrando intervenções passadas.

Na Estação Barão de Mauá, haverá várias outras atividades: Burn Station

(na qual os participantes poderão gravar em CD virgem material disponi-

bilizado em Copy Left); palestras sobre MetaReciclagem, generosidade

intelectual e software livre; produção de áudio e vídeo; xilogravura;

fotografia digital; criação de página web, entre outros. As oficinas são

direcionadas especialmente aos participantes de Pontos de Cultura do

Rio de Janeiro e do Espírito Santo. No entanto, qualquer um que deseje

participar será bem-vindo: o Tangolomango será metarecicleiro.

Em 1976, moradores da favela Santa Marta fundavam o Jornal ECO. Das reivindicações

do jornal surgiu a motivação para propôr soluções aos problemas da comunidade.

Formava-se, assim, o Grupo ECO, organizado pelos fundadores do Jornal.

Itamar Silva, Josafá do Nascimento e José Henrique Silva foram três destes fundadores.

29 anos depois, eles ainda lideram a ONG que ajudaram a criar. Todos os domingos, os

integrantes do Grupo ECO se reúnem sob sua tutela para discutirem projetos e eventos

que organizam, além de tratarem de questões relativas à vida da comunidade.

O principal projeto da ONG é a Colônia de Férias, que acontece todos os anos e chega à

sua 27a edição. Durante o mês de janeiro de 2006, 320 crianças do Santa Marta passea-

rão pela cidade, conhecendo praias, museus e diferentes bairros, acompanhadas por

voluntários de dentro e fora da comunidade. "Com a colônia de férias, eles podem ir a

lugares que não iriam normalmente", afirma Juan de Souza Silva, membro da ONG e filho

de Itamar.

A ONG é responsável também por uma escola de informática, transformada em

telecentro em 2001. É uma escola independente, que também funciona como cyber

café para a comunidade. Os moradores dispõem ainda de uma intranet gerenciada pelo

próprio Grupo ECO como parte do projeto Favela On-Line, que repassa computadores

reciclados a famílias por um preço acessível, além de fornecer acesso à Internet com

banda larga compartilhada.

O Grupo investe em outras atividades, como dança de salão - temporariamente sem

aulas, mas contando com muitos dançarinos -, coral e o grupo cênico-musical (que

trabalha com a interpretação teatral de canções), além do TV Favela, projeto nascido em

1999, com o objetivo de registrar os eventos e discutir a vida da comunidade. Há ainda

cursos de rádio e a proposta ("para um futuro próximo", segundo Itamar) de criar uma

rádio da comunidade. A ONG organiza outros eventos como "ECOS de alegria" -

oficinas de pintura de rosto e lambaeróbica, esportes e brincadeiras com crianças -,

Festa Junina, exposições fotográficas e apresentações de música e dança.

Para o Tangolomango, o Grupo ECO prepara parte de seu grande acervo fotográfico, a

ser exposto no Centro de Arquitetura e Urbanismo. Ismael Santos, coordenador de

projetos do Grupo, é o responsável pela organização da mostra, que contará ainda com

vídeos sobre a comunidade. A prosposta é que o ambiente da exposição remeta o

visitante a uma casa de favela.

O Grupo ECO inaugurará o evento no dia 3 de novembro, com a tradicional Folia de Reis

do Mestre Diniz. A Folia começará no Santa Marta e terminará no Centro de Arquitetura

e Urbanismo, marcando o início das atividades.

Durante o mês de novembro, membros do Grupo pretendem fazer a cobertura do que

acontece nos diferentes pontos do Tangolomango. Os recursos dos cursos de rádio e da

TV Favela serão utilizados para recolher imagens e informações que planejam mostrar

no encerramento do evento, no Circo Voador. Simone Lopes, ex-moradora do Santa

Marta, entrou no Grupo ECO em 1986, através do grupo de teatro (cujas atividades

estão paralisadas). "Mas foi a colônia de férias que realmente mexeu comigo. A alegria

das crianças me tocou muito" , conta ela. Simone é mãe de Cairé, 2 anos, e Aruana, 5

meses. Hoje estudante de Jornalismo na FACHA, afirma que seu envolvimento com

projetos como o TV Favela motivou seu ingresso na universidade. "Eu gosto dessa

convivência que há no grupo. Gosto de ajudar. Uma coisa legal aqui é que você contribui

e participa até onde você pode".

Além de moradores e ex-moradores, como Simone, o Grupo ECO conta com parceiros

e colaboradores fora do Santa Marta e, até mesmo, fora do país. Itamar e Juan estão em

permanente contato com estudantes estrangeiros, como italianos, americanos e suecos,

interessados no projeto.

O interesse desses estudantes é compreensível. A ONG, com sua pluralidade de

atividades e campos de ação, luta pelo acesso - digital e social - de maneira dinâmica,

promovendo no interior da própria comunidade a diversidade cultural, este ano

celebrada no Tangolomango.

GRUPO

ECOEcos Diversidadede

Page 24: Tangolomango 2005

A ONG Spectaculu foi formada em 2000, com o objetivo de complementar a formação de jovens de comunida-

des de baixa renda na área da produção artística e cultural. O projeto foi concebido pela atriz Marisa Orth, o

artista visual Gringo Cardia e a diretora cultural Lúcia Coelho. A escola funciona num galpão industrial na área

portuária do Rio de Janeiro e conta com a participação de 180 jovens em diferentes cursos. Primeiramente

voltada para as Artes Cênicas, com o núcleo Spectaculu (Escola Fábrica de Espetáculos), a ONG conta hoje com

quatro outros núcleos, notadamente a Kabum! Escola Telemar de Arte e Tecnologia, fundada em 2003 e

responsável por atividades ligadas ao que poderíamos chamar de "artes digitais", como Design, Computação

Gráfica, Vídeo e apesar de ofecerem especializações em áreas diferentes, ambas as escolas têm uma base

comum. Matérias obrigatórias no currículo são História da Arte, Oficina da Palavra, Temática e Inclusão Digital.

Os participantes do projeto dispõem de almoço, lanche e uma bolsa mensal de R$80,00. Há ainda o suporte do

núcleo Encontro Marcado, que pretende incluir as famílias dos jovens no processo da escola, através de suporte

psicológico e psicanalítico, além de oferecer oportunidades de aprimoramento profissional. Os dois núcleos

restantes são Núcleos de Trabalho nos quais se organizam alunos já formados por suas escolas. Aí desenvolvem

projetos para eventos e empresas como o Fashion Rio e o Canal Futura (no caso da Kabum!) ou são direciona-

dos a trabalhos remunerados em produções artísticas da cidade (no caso da Spectaculu). Durante o mês de

novembro, a diversidade da ONG entra em cena no CAU. A Escola Fábrica de Espetáculos expõe bolsas

confeccionadas pelos jovens que aprendem Adereço Cênico e maquetes de palco italiano concebidas pelos

alunos de Carpintaria Cênica. A Kabum! também participa da mostra com fotos e videos animações.

O trabalho do grupo Nós do Morro já é amplamente reconhecido em todo o

país - e até fora dele - graças à qualidade de seus espetáculos teatrais e ao

destaque de seus atores no cinema e na televisão. O absoluto sucesso do filme

"Cidade de Deus" e da série televisiva "Cidade dos Homens" é naturalmente

vinculado ao grupo e à atuação de jovens como Douglas Silva. Guti Fraga, ator,

diretor e idealizador do projeto nascido em 1986, sempre lutou pela qualidade de

suas intervenções. Apesar dos objetivos sociais de acesso e de quebra de

estereótipo em relação às comunidades carentes e seus moradores, o Nós do

Morro tem a produção artística de qualidade como sua prioridade absoluta. O

que certamente explica o porquê de tamanho sucesso. Há três anos o grupo

participa do Tangolomango através de mostra de filmes, documentários e

materiais audiovisuais em geral. No ano passado, foi montada no Castelinho do

Flamengo uma instalação que consistia num barraco com apresentação de

imagens e sons da favela. Este ano, em que participam de uma mostra de filmes

brasileiros na França, com produções como "Mina de Fé", "O jeito brasileiro de

ser português" e "Neguinho e Kika", vão expor no Tangolomango uma faceta um

pouco escondida do grupo: seu trabalho na área de artes plásticas. O grupo tem

aulas de artes visuais desde 2002, ano em que a artista Gabriela Maciel e o

professor Pedro Rossi iniciaram as aulas de desenho. - Afinal, para o Nós do

Morro, a formação de seus integrantes deve abraçar, senão todas, o maior

número possível de expressões artísticas. - justifica Ester Moreira, responsável

pela parte administrativa do grupo.

Nós do MorroPintura teatral

A questão da formação no campo das artes, destacada por Ester, soma-se à

necessidade de auxiliar as turmas na reflexão acerca das peças que criam e/ou

participam. Pedro Rossi explica em que consiste este auxílio:

Os temas das peças são desenvolvidos em sala de aula através de exercícios de

desenho e pintura, estabelecendo uma ponte conceitual e formal com o tema a

ser abordado. Por exemplo, no ano da montagem do espetáculo "Sonhos de

uma noite de verão" os alunos foram orientados a fazer um passeio por seus

sonhos. Atualmente, o grupo está trabalhando o retrato, mais especificamente,

o "busto". A ênfase maior é na produção de auto-retratos. Alguns deles

apontam mesmo para um aprofundamento em direção à abstração: a figura do

pintor é mesclada a personagens emblemáticos, como Baudelaire e Mao Tse

Tung (as grandes preferências dos jovens artistas). Esse trabalho estará sendo

inaugurado no dia 4 de novembro no CAU. Pela primeira vez, será exposto

como um conjunto de obras, e não pinturas isoladas.

“Eu diria que todas as pinturas destes artistas estarão formando um só trabalho,

que discute as particularidades estéticas da vida na favela”. - conclui Pedro Rossi.

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"A Kabum! Escola Telemar de Arte e Tecnologia é um projeto do Instituto Telemar coordenado em conjunto com a ONG Spetaculu."

Page 25: Tangolomango 2005

A Casa de Cultura da Baixada - Centro de Formação Artística da Baixada Fluminense - é

uma Organização Não Governamental que atua em São João de Meriti desde 1991 e

tem como preocupação fundamental a promoção da cidadania da população local, que

vive em condições sócio-econômicas precárias. Para alcançar esse objetivo, a Casa de

Cultura é organiza movimentos artísticos e sociais, como a Semana do Meio Ambiente,

a Semana de Conscientização da Sociedade sobre o Negro, a Semana de Combate à

Violência contra a Mulher e o Mutirão de Combate à Desnutrição Materno-Infantil.

O problema da desnutrição ainda é um dos maiores obstáculos de São João de Meriti,

por isso o Mutirão acontece mensalmente na sede da Casa de Cultura ou em outros

pontos da cidade e consiste na pesagem das crianças de 0 a 5 anos, que são acompanha-

das por médicos e assistentes sociais e encaminhadas para programas públicos de

assistência.

Para as crianças de 3 a 14 anos, a Casa de Cultura oferece aulas de música e técnicas

circenses, além de reforço escolar e futebol. Já as mulheres, mães de crianças atendidas

ou vítimas de violência doméstica, participam de cursos de artesanato, aulas de

biodança e 'capacidad', uma terapia que contribui para o alívio do estresse.

Além disso, em parceria com a Petrobrás, a instituição criou o Projeto Jornadas

Culturais. Os adolescentes acima de 14 anos têm aulas de capoeira, oficina de contado-

res de história (especificamente história negra), balé afro e teatro.

O trabalho que a Casa da Cultura desenvolve com as crianças já foi reconhecido

socialmente em 2000, quando a instituição recebeu o prêmio Criança 2000 da

Educar através da comunicação. Esta é a bandeira que a ONG Cipó-Comunicação Interativa levanta desde 1999, quando foi

fundada em Salvador (BA). A ONG comporta uma pluralidade de projetos: desde portais jovens que estimulam atitudes políticas

(www.soudeatitude.org.br) a ações de formação e inclusão digital (Cibersolidário), passando por estudos de mídia em questões

relativas à infância e à juventude (Central Cipó de Notícias - CCN). Assim, o aluno participa ativa e permanentemente de sua

própria educação. Um dos principais objetivos do Cipó é incitar à reflexão e à análise do mundo midiático tal como ele se

apresenta aos jovens, baseando-se sempre em valores éticos e humanitários.

Convidada a participar do Tangolomango, a ONG vem ao Rio de Janeiro mostrar no CAU mais um de seus muitos projetos. A

exposição Design Popular - Cultura da Bahia é parte de uma pesquisa maior: o Museu de Soluções. Adolescentes e educadores

do Núcleo de Webdesign desenvolveram exaustiva pesquisa acerca da cultura popular regional baiana. Fruto deste estudo, a

exposição vem mostrar objetos que surgem da criatividade de pessoas geralmente simples para solucionar necessidades

cotidianas. Muitos dos materiais utilizados vêm do lixo das indústrias para se encaixar no dia-a-dia dessas pessoas, na forma de

candeeiro, carrinho de café, fogão.

O objetivo da exposição é, portanto, exaltar a riqueza da criação popular, mostrando suas curiosidades e inovações.

A riqueza da simplicidade

Fundação Abrinq, concedido a empresas, entidades, Ong's e personalidades que desenvol-

vem ações em benefício da criança e adolescente. Em 2001, eles ganharam o primeiro lugar

do prêmio Itaú-Unicef - Direito de Aprender.

A Casa de Cultura vai apresentar quatro trabalhos diferentes no Tangolomango. A exposi-

ção de fotos "IGBADU" estará no CAU e é um trabalho desenvolvido com base no espetá-

culo da Cia. de Jovens Griôt's, que retrata a grandiosidade da cultura negra, seus reis e

rainhas, deuses e deusas e todo o misticismo da natureza e do ser humano.

"Dos becos a avenida, passos a transformação" também poderá ser visto no CAU e mostra

o cotidiano dos foliões, o trabalho no barracão e a magia da transformação de pessoas

comuns em destaques na passarela. Junto à exposição serão apresentados os figurinos que

estão nas fotos. Os dois trabalhos foram produzidos pelo artista plástico e fotógrafo amador

Marcos Paulo da Silva.

No Circo Voador, no dia 6 de novembro, será apresentado o espetáculo "IGBADU, a

cabaça da existência", que fala da criação do mundo através do olhar do povo africano.O

espetáculo tem duração de 90 minutos e conta com técnicas circenses, teatro, música e

dança. O roteiro é baseado no livro de Adilson de Oxalá e dirigido por César Marques.

A outra apresentação fica por conta da Orquestra de Berimbaus do Grupo de Capoeira

Angola Ypiranga de Pastinha com o trabalho do Mestre Manel. A representação de vários

ritmos ganha uma interpretação afro, que será acompanhada pelo som do berimbau e terá

duração de 60 minutos. O grupo de capoeira tem parceira com a Casa da Cultura e possui

sede em Bonsucesso.

Page 26: Tangolomango 2005

Lembra do filme Cidade de Deus? Pois é, a história do Nós do Cinema está bastante ligada a ele. Em agosto de 2000, os diretores Fernando Meirelles e Kátia Lund iniciaram um processo seletivo de jovens atores para compor o elenco do filme. Depois das filmagens, a diretora Kátia Lund continuou oferecendo sessões semanais de estudo por mais um ano para 50 jovens que tiveram destaque durante as gravações. Em 2001, o Nós do Cinema ganha vida, e forma a primeira turma que aprendeu todas as etapas de uma produção cinematográfica. Desde então, são oferecidos cursos profissionalizantes, capacitação em cinema e capacitação em informática. Os alunos já participaram de produções próprias e estagiaram em grandes produções, como Olga, um filme do diretor Jaime Monjardim.No Tangolomango, os jovens do Nós do Cinema vão apresentar uma exposição de fotografias da comunidade da Cidade de Deus, RJ.

Muita força de vontade aliada a uma boa dose de ousadia são os principais

ingredientes do sucesso alcançado pelo CEASM - Centro de Estudos e

Ações Solidárias da Maré, uma associação civil sem fins lucrativos criada em

15 de agosto de 1997 e que atua nas 16 comunidades da Maré, complexo de

favelas do Rio de Janeiro, com cerca de 130.000 moradores.

A Associação, fundada principalmente por moradores que chegaram à

universidade, tem por objetivo intervir na sociedade, através de educação e

cultura. Os projetos desenvolvidos visam superar as condições de exclusão

e pobreza na Maré, apontado como o terceiro bairro de pior índice de

Desenvolvimento Humano na cidade.

A sede da Ong está localizada no Morro do Timbau e no início abrigava o pré-

Jovens ligados ao Hip Hop, artistas, lideranças comunitárias e trabalhadores em

geral decidem se encontrar tendo um objetivo em comum: valorizar os talentos das

periferias. Dessa reunião surge a Central Única das Favelas (CUFA), que atua em

diversas comunidades cariocas e tem o hip hop como principal forma de expressão.

Na CUFA são desenvolvidas atividades que visam à capacitação dos jovens através

de cursos, promoção de debates, mesas-redondas e congressos. Além disso, busca-

se desenvolver a cultura hip hop através da produção e veiculação de discos, vídeos,

shows, programas de rádio, festivais, oficinas de arte, exposições e outros.

Dentre os projetos desenvolvidos pela Ong estão o 'Lendo o Rap', que consiste na

criação de bibliotecas públicas a partir da doação de livros, o 'Núcleo de Vídeo da

CUFA', que capacita integrantes para a produção audiovisual, a Oficina de Graffiti,

onde os grafiteiros das comunidades carentes têm a oportunidade de expressar sua

arte e outros. Para o Tangolomango, a CUFA traz o trabalho dos graffiteiros, que

vão deixar a marca dessa arte em painéis que ficarão expostos na fachada do

Centro de Arquitetura e Urbanismo durante o período da exposição.

O CINEMA FOTOGRAFA A COMUNIDADE

A favela vista de dentro

vestibular comunitário. Atualmente, nas salas de aula batizadas com os nomes de

moradores importantes para a história da comunidade, são oferecidos cursos de

informática, pré-vestibular, idiomas, fotografia, produção gráfica, formação em

vídeo música, capoeira, entre outros. As atividades são desenvolvidas através de

parcerias com os poderes públicos, empresas públicas e privadas, Ongs, institui-

ções e pessoas físicas.

Para o Tangolomango, o artista plástico e morador da Maré, Marcelo Pinto Vieira

vai montar uma instalação com roupas penduradas em um varal e nelas projetar

fotografias dos moradores das comunidades. "Eu já venho trabalhando o conceito

da estética da favela há algum tempo, o cotidiano, aquilo que a gente vê todos os

dias. Agora vou colocar esse trabalho em prática", conta o cenógrafo.

Page 27: Tangolomango 2005

A "Zona do Beco" é uma instalação onde o público entra

e se depara com fotografias, desenhos e diversos objetos

espalhados junto com materiais utilizados pela constru-

ção civil. Este é mais um dos projetos de Gabriela

Gusmão, que também produziu "Rua dos Inventos",

retratando a arte da sobrevivência de vendedores

ambulantes e moradores de rua de diferentes cidades.

Esse trabalho começou em 2002, com um livro e uma

exposição, viajou por várias capitais do Brasil, como

Fortaleza, Salvador, Brasília e São Paulo e será apresen-

tado na França no mês de novembro.

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MULUNGUAs mulheres da região de Mulungu, município de Boninal, na Chapada

Diamantina, Bahia, vão trazer um pouco do canto e da dança que se

manifesta no catolicismo popular para o Rio de Janeiro. A apresentação

vai acontecer no dia 20 de novembro, na Lona Cultural João Bosco. No

CAU, o grupo expõe um painel de fotos retratando o cotidiano da popula-

ção do Boninal. As fotografias serão fixadas sobre uma colcha de retalhos,

trabalhada em diferentes técnicas artesanais.

Leia mais sobre o Mulungu na matéria "Oficinas e Apresentações do

Tangolomango 2005".

Retalhos do cotidiano

Contatos:

Page 28: Tangolomango 2005

DIREÇÃO GERAL: MARINA VIEIRAASSISTÊNCIA DE DIREÇÃO: RAQUEL DINIZPRODUÇÃO: VALTER GAUDIOCOORDENAÇÃO EXECUTIVA: ELAINE MATTOSCOORDENAÇÃO DE BASE: FABIANE PEREIRAPROMOÇÃO E MARKETING: MARCIA SUZARTASSESSORIA DE IMPRENSA: CLAUDIA OLIVEIRAPROGRAMAÇÃO VISUAL: MARIA CLARA MORAES FOTOGRAFIA: VANOR CORREIAIDENTIDADES - MOSTRA DE CINEMA E VÍDEOCOORDENAÇÃO: ANDRÉA CALSMULTIPLICIDADES - EXPOSIÇÃO:CURADORIA DA EXPOSIÇÃO: MARINA VIEIRACOORDENAÇÃO DA EXPOSIÇÃO: LILIU CASTELLO BRANCO INCLUSÃO - SEMINÁRIOCOORDENAÇÃO RAQUEL DINIZ / PRODUÇÃO: ELAINE MATTOSDIVERSIDADE - APRESENTAÇÕESCOORDENAÇÃO: VALTER GAUDIOSITE: TERESA GUILHON, NENA BRAGA E BENITO RODRIGUES

AD JUNIOR; ADRIANA KOMIVES, ADRIANE GAZZOLLA, ANA BORELLI, ANA LÚCIA RIBEIRO, ANA LUNA, ANA TONI, ARNALDO NISKIER, CARLOS ANTONIO, CECÍLIA OSWALDO CRUZ, CECÍLIA CASTELLO BRANCO, CELINA LYRA, CÉSAR PIVA, CHANTAL ROUSSEL, CLARA NUNES, CLÁUDIO PAOLINO, CLOTILDE VIDAL, DENISE GARCIA, DELANIA CAVALCANTE, DIDADO AZAMBUJA, DUDA FERNANDES, EDMILSON ALVES DE SOUZA; ELIANE COSTA, ELEONORA FIGUEIREDO, ELOÍSA BRANTES, EURICO ROCHA, EURICO ZIMBRES, FABIANNE BALVEDI; FAUSTO REGO, FERNANDA ALFINITO, FERNANDA SENATORI, FRANCISCO CÉSAR FILHO, GRACIELA SELAMEIN, GIULIANO DJAHJAH BONORANDI; GUILHERME LUSTOSA, GRACIELA SELAMEIN, HELANO; HELOISA BUARQUE DE HOLLANDA, HERMANO VIANNA, IEDA MARQUES, ILANA STROZENBERG,JACQUELINE THOMPSON, JAQUELINE VEIGA, JÔ SOUZA; JOANA FONSECA PEREGRINO, JOSÉ ARIADNE COSTA;JOSY DE ALMEIDA, JOYCE BOER; LENA (ABAYOMI); LOANA MAIA, LOUIS MARCELO, LUISA NUNES, MARIA ARLETE GONÇALVES, MARIA EDUARDA MATTAR, MARIA INÊS BASTOS, MARIA JUÇÁ, MARJORIE BOTELHO, MARTA GERUDE, MARIA TEREZA MORAES, MARIO TEZA, MIGUEL CHIKAOKA; MILTON GURAN; MIRANE ALBUQUERQUE, NÁDIA REBOUÇAS, NÉWITON CALDAS, PAULA IBARRA, PATRÍCIA COSTA, PATRÍCIA MONTE-MÓR; PATRICIA MENEZES; PEDRO NUNES, REGINA NOVAES, REINALDO PAMPONET, RICARDO FILIPO, RICARDO MACIEIRA, RICARDO RUIZ, SANTONE LOBATO, SEBASTIÃO SANTOS, SILVIA SENISE, SIMONE BUSTAMANTE, STELA COSTA, VJ YELLOW, VERA SANTANA.

ABAYOMI; ASSOCIAÇÃO FOTOATIVA; ATELIERS VARAN; BECO DOS INVENTOS; CASA DA CULTURA; CASA DAS ARTES DA MANGUEIRA; CEASM; CIA ÉTNICA DE DANÇA; CIPÓ COMUNICAÇÃO INTERATIVA; CONEXÃO FELIPE CAMARÃO; CUFA; FACHA/NECC; FOLIA DE REIS; GRUPO ECO;

INSTITUTO DE IMAGEM E CIDADANIA; ADAIR AGUIAR; AMANDA GOMES. AMANDA DE OLIVEIRA, ANA LUIZA SILVA, ANGÉLICA PAULO, DAVID FERREIRA, EVELYN MOREIRA, FAGNER FRANGO, FELIPE OLIVEIRA, JOSY DE ALMEIDA, LEANDRO SOARES, LEONARDO, LUANA OLIVEIRA, MOISÉS, KARINE PAES, RENATO

ROSA, RAFAEL VASCONCELOS, PRISCILA LOPES, REJANE PEREIRA, ROSALI SODRÉ, PATRÍCIA COSTA, TATIANE ALTBERG, CINTHIA SANTIAGO, LAÍS NUNES;

RENAN FERNANDES, INSTITUTO ELETROCOOPERATIVA; KABUM!; JONGO DA SERRINHA; MÃO NA LATA; METARECICLAGEM; MULUNGU DO BONINAL;NÓS DO CINEMA; NÓS DO MORRO; OFICINAS KINOFORUM; ORQUESTRA DE BERIMBAUS; PERCUSSÃO SANTA MARTA; RE:COMBO, SPECTACULU, TAMBOLELÊ;

TV MORRINHO, TV VIVA; VILLA-LOBINHOS

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