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Biografia de Rui Barbosa
Rui Barbosa é recorrentemente descrito como um intelectual baiano, advogado,
jornalista, diplomata emembro da Academia Brasileira de Letras. Esses atributos não
dizem muito sobre esse personagem da nossa história, somente esclarece a sua natureza
baiana e sua formação acadêmica. Também aponta para sua rede de sociabilidade, pois
ser jornalista, diplomata e membro da Academia Brasileira de Letras demonstra mais
uma manifestação de poder do que uma habilidade intelectual, afinal essas eram funções
de indicação política. Assim, tal estratégia não esclarece muito sobre Rui Barbosa.
A opção pelo estudo biográfico não propõe abordar passagens da vida pessoal de
Rui Barbosa ou narrar episódios de sua vida de maneira isolada e cronológica. A
biografia aqui é o estudo da trajetória intelectual relacionada a suas intervenções
políticas em uma conjuntura social mais ampla. Rui Barbosa servirá como caminho de
entendimento de diferentes tópicos da História política e intelectual do Brasil.
Nada saberemos da biografia de Rui Barbosa se não a relacionarmos a sua
experiência histórica com as de outros atores políticos da história do Brasil, para assim
podermos sentir o clima intelectual que ele estava inserido e dialogando com
intensidade. Recorreremos à metodologia de LucienFebvre1 e o ambiente intelectual
será esboçado a partir da geração anterior a de Rui Barbosa, em seguida a geração do
próprio Rui Barbosa e a geração imediatamente posterior a ele.
O primeiro passo para o estudo dos debates no campo intelectual nacional é
aidentificação do conjunto dos intelectuais que serão analisados por meio da observação
de seu posicionamento frente aos temas Questão Social e Questão Religiosa no
intervalo entre os anos de 1860 e 1920. A expressão Questão Religiosa, foi ampliada
para dar conta das disputas sobre a interpretação ortodoxa do catolicismo no Brasil,
debate pulsante no período estudado. Tavares Bastos, Joaquim Nabuco, Sylvio Romero
1 FEBVRE, Lucien – Michelet e a Renascença. São Paulo: Editora Página Aberta, 1995.
2
e Oliveira Vianna foram chamados para compor o cenário proposto. Esse artigo irá
demonstrar esse mapeamento dos intelectuais como pressuposto fundamental para
entender a biografia de Rui Barbosa de maneira fecunda para o entendimento da história
do Brasil.
TAVARES BASTOS: LIBERDADE PARA TODOS E PRIVILÉGIOS PARA NINGUÉM
Representando uma geração anterior a de Rui Barbosa apresentamos Aureliano
Campos Tavares Bastos. T. Bastos nasceu em Alagoas em três de dezembro de 1839,
faleceu em 1875 aos 36 anos de idade. Formou-se pela Faculdade de Direito em São
Paulo no ano de 1858 e escreveu na década de 1860 uma série de artigos críticos com o
pseudônimo de “O Solitário”, que foram recepcionados pelos jornais Diários do Rio, da
Atualidade e do Jornal do Amazonas, e em 1862 as cartas ganharam uma edição. Em
nota, Tavares Bastos no prefácio da obra agradece ao senhor Alexandre Wagner, um
comerciante que viabilizou a publicação. Dessa nota já percebemos que o “O solitário”
não falava de um lugar tão sozinho assim!
Os assuntos anunciados versam sobre as necessidades de reformas políticas no
Império. Destacamos a organização administrativa e a crítica ao centralismo, por isso
Tavares Bastos ficou conhecido como o precursor do federalismo. As questões de
fronteira, de liberdade religiosa, de trabalho africano, de leis de navegação, entre outros,
são apresentados como problemas a serem solucionados.
É interessante, para esse trabalho, a peculiaridade da Questão Religiosa em
Tavares Bastos. Ao aproximar a sua ideia de religião à noção de costume, ele sintetiza
as duas questões norteadoras de nossa reflexão. Portanto, nos parece que a Questão
Social e a Questão Religiosa para Bastos se confundem frente à necessidade de
reformas políticas e sociais urgentes no Segundo Reinado, sobretudo quando se refere à
qualificação de competência do poder público e do poder eclesiástico frente à
administração dos seminários estipendiados pelos cofres públicos. Partindo de
3
concepções do campo jurídico, Tavares Bastos esmiúça o problema político do
padroado e argumenta sobre a necessidade de definição de competências tanto do clero
quanto do poder civil. Por exemplo, o fato de o bispo poder dar licença aos professores
dos seminários financiados pelos cofres públicos sem passar pela aprovação do poder
temporal que o dá crédito – Pedro II – demonstra uma nova conquista do poder
espiritual frente ao governo civil. Segundo T. Bastos: “... por meio de disfarces e com
branduras, que o sacerdotalismo vai ganhando o terreno na sociedade.”2
Essa pretensa autonomia observada na ação do bispo foi entendida como um
inconveniente político, um erro contra as normas jurídicas e, nas palavras de T. Bastos
um passo para o fanatismo. Acontecimentos cotidianos eram interpretados por T. Bastos
como sinais de vitória do catolicismo pró-papa, pois para Tavares Bastos os seminários
deveriam se submeter ao governo imperial. A instalação do Colégio São Vicente de
Paulo, administrado pelos jesuítas franceses, e o movimento aristocrático “União
Católica” são exemplos desse avanço, pois os jesuítas haviam sido expulsos do território
nacional pelo Marquês de Pombal. O veto à lei do casamento acatólico é outro fato que
coloca o próprio Imperador na disputa dentro do campo católico como um aliado ao
grupo pró-papa.
Esse debate demonstra a vertente heterodoxa dentro do campo católico.
Esclarece o seu ponto de vista dos sacerdotes a serviço da Igreja Católica no Brasil. Diz
que os ministros do altar presente no solo brasileiro não são “verdadeiros servos de
Deus, inteligentes e cultos [...] ilustrados [como os sacerdotes ingleses]”3. Promove
uma severa crítica à vida monástica ao criticar a indicação de uma jovem à vida no
claustro: “[...] nós conhecemos bem o fim último dessa teoria ascética, jesuítica e hoje
2 BASTOS, Tavares - Cartas do Solitário. São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre: Companhia Editora Nacional: 1938 3ª Edição. p. 94 3Idem. p. 91.
4
lazarista, segundo a qual o mundo é um lodo, que a virgem, branca pomba, não pode
habitar”4.
A proposta de T. Bastos aponta para uma política mais liberal. O governo não
deveria se envolver com a instrução do clero. Os bispos deveriam buscar a manutenção
dos estabelecimentos de ensino sacerdotal junto aos fiéis e assim poderiam administrá-
los de maneira autônoma, pois “Quando o Estado lhes presta auxílio pecuniário, ele
reserva-se o direito não só de regularizar o ensino, como de nomear professores”5. Por
certo, mesmo nesse caso, ainda caberia ao Estado a tarefa de fiscalizar a inspeção do
local, contudo, a administração ficaria a cargo dos eclesiásticos.Assume como modelo
de organização religiosa os Estados Unidos da América e reafirma sua posição dentro
do campo católico não papista e apresenta suas filiações teóricas com Lamennas e
Montalembert, e sintetiza: “Egreja livre no estado livre!”.6
“O Solitário” se posiciona como católico e acusa os ultramontanos de não serem
francos, pois querem a liberdade da Igreja frente ao padroado, mas não querem abrir
mão dos impostos. Essa propaganda jesuítica quer reforçar o poder temporal da Santa
Sé. Do ponto de vista dissonante, T. Bastos se defende da acusação de ser praticante do
protestantismo e sintetiza a sua intenção de fazer valer a autoridade do governo nos
seminários que são focos do “fanatismo e materialismo”7.
A fala de T. Bastos aponta para duas possíveis interpretações. A primeira seria
aquela na qual a Igreja se separaria completamente do Estado, teria autonomia
administrativa, financeira e ideológica (papista ou não). Contudo, teria de abrir mão dos
benefícios como isenção de impostos e auxílios. A outra possibilidade seria de
manutenção do padroado e dos benefícios, entretanto, o Imperador teria de fazer valer o
4 Idem 5 Ibidem p. 94 6 Ibidem p. 97 7 Ibidem p. 104
5
seu poder e barrar o papismo. Essa foi a sorte lançada para a Questão Religiosa pelo
“Solitário”.
A lição lida por Rui Barbosa sobre a liberdade religiosa lhe inspirou no processo
de separação da igreja do Estado. Ele articulou uma via conciliadora, pois deixou a
igreja administrativamente e teologicamente livre do Estado, contudo não ficou
desamparada legalmente dos seus direitos adquiridos, pois ganhou uma personalidade
jurídica. Tavares Bastos também foi o defensor do federalismo. Essa proposta foi
materializada na Constituição Republicana de 1891, forjada pela articulação política de
Rui Barbosa junto ao Marechal Deodoro da Fonseca.
JOAQUIM NABUCO: ESPECTADOR DO SÉCULO, COSMOPOLITA E POLÍTICO INTELECTUAL
As lendas hão de sempre viver, como raios de luz na treva amontoada do passado, mas a beleza delas não está em sua verdade, que é sempre pequena; está no esforço que a humanidade faz, para assim reter alguns episódios de uma vida tão extensa que, para abrangê-la, não há memória possível...8
Em tempo de História Positivista, onde se privilegiava os grandes personagens
históricos, Joaquim Nabuco se antecipa e se destaca pela proposta de dirigir o olhar
histórico para si próprio. Em “Minha Formação” Nabuco promove a versão oficial da
sua trajetória política. Para nós, o texto é importante por conter uma visão peculiar dos
acontecimentos da história nacional no período de 1849 a 1910, momento histórico
compartilhado pelos outros intelectuais Sylvio Romero e Rui Barbosa.
No texto, detectamos a narrativa de um monarquista tentando se inserir
politicamente no período republicano, intento conseguido por meio de sua rede de
8 NABUCO, Joaquim - Minha Formação. Obras Imortais da nossa literatura. Editora Três, Rio de Janeiro: 1974 p. 171.
6
sociabilidade9, se tornando funcionário público da República do Brasil, embaixador nos
Estados Unidos da América.
A Questão Religiosa não é içada como tal, mas sim submergida na sua narrativa
sobre sua trajetória política. Revertido na Inglaterra, junto aos oratorianos do padre
Newman, a sua militância maçônica e sua crítica aos ultramontanos passam a ser
consideradas fruto do ímpeto da juventude ou uma questão para a história da Igreja.
Contudo, é aí, na tentativa de apagamento da militância maçônica e anti-papal
que se encontra a Questão Social para os historiadores preocupados com a relação entre
o campo católico e o campo político no Brasil. Os intelectuais brasileiros tendem a
apagar sua militância religiosa, seja apoiando ou criticando o catolicismo romano ou
outro credos, contudo podemos pinçar as falas religiosas que submergem em seus
discurso desejos de espírito científico (é o retorno do recalcado).
As palavras de Joaquim Nabuco aqui transcritas demonstram esse esforço de
ajustar a sua imagem de antigo político radical contra o papado para a sua nova imagem
de aliado ao papa Leão XIII:
Nesse tempo, e durante alguns anos, o radicalismo me arrasta; eu sou, por exemplo, dos que tomam parte mais ativa na campanha maçônica de 1873 contra os bispos e contra a Igreja. Entro até nas ideias de Feijó, de uma Igreja nacional, independente da disciplina romana; faço conferências, escrevo artigos, publico folhetos. Não quisera mesmo hoje retirar uma só palavra do que disse então, advogando a liberdade religiosa mais perfeita; entendo ainda, hoje mais do que nunca, depois da esplêndida experiência do pontificado de Leão XIII, que a Igreja tem tudo a ganhar com a liberdade e que o futuro do mundo pode pertencer a aliança, já selada no atual pontificado, da Igreja católica e a democracia.10
Assim, Leão XIII marca o início de uma nova igreja católica casada com a
democracia e digna de ser defendida no Brasil por Joaquim Nabuco. A família é um
exemplo de difusão do princípio religioso interessante e a família passa a ser a proposta
9 BARCELOS, Ana Paula e NEDER, Gizlene– Intelectuais, circulação de ideias e apropriação cultural. 10 NABUCO, Joaquim – op. cit. p.44
7
concreta de Nabuco para a superação do problema moral da sociedade brasileira. Isso
explica a não existência de Eufrásia uma filha de um fazendeiro de café que teve um
romance de longos anos com Nabuco no texto “Minha Formação”.11
É bastante curioso a questão do negro lidas com um forte contorno no
abolicionismo, tanto de Nabuco de Araújo quanto de Joaquim Nabuco, não se relaciona
com o problema do negro pós-abolição. Ainda em 1873, Joaquim deixa o
republicanismo e passa a se dedicar à reflexão sobre a necessidade de mudanças na
Monarquia. Havia deixado a paixão política da juventude (republicanismo) e entrado
nos “primeiros teoremas de geometria política.”12(monarquista) Também é dessa data
o “furor iconoclasta da juventude”13 e a primeira viagem à Europa.
Segue Nabuco construindo a argumentação na direção de autojustificativa
política e se autoproclama cosmopolita, pois se interessava mais pelo o que ocorria na
humanidade do que passava na política nacional: “Sou antes um espectador do século
do que do meu país: a peça é para mim a civilização, e se está representado em todos
os teatros da humanidade, ligados hoje pelo telégrafo”14.
Diante do Brasil republicano, há o pessimismo analítico: a corrupção como um
mal profundo. Se na América do Norte a corrupção é uma erupção na pele, em outras do
mundo partes esta é visceral. Mesmo assim, a América do Norte não é um lugar de
referência política para Nabuco, afinal ele nutre mais afetos ao modelo inglês, onde a
tradição nobiliárquica se expressa mais forte do que a suposta igualdade perante a lei do
modelo norte-americano. A igualdade humana para os norte-americanos estava
vinculada à noção de raça, por isso os negros se travestiam de tipos diferentes – e
inferiores – de homens. Nabuco descarta a interpretação racial e se agarra na questão na
11 QUEIROZ, Eneida – A mulher e a casa: A paixão de uma historiadora pelo romance entre uma
senhora de escravos e um abolicionista. São Paulo: Baraúna, 2013. 12 NABUCO, Joaquim – op. cit. 46 13 Idem p. 49 14 NABUCO, Joaquim-- op. Cit. p. 47
8
nobreza, talvez por isso tenha se dedicado tanto a escrita da história de sua família.
Quanto ao apreço intelectual, os norte-americanos também são desfavorecidos frente os
ingleses. Nabuco busca na teoria de projeção de Spencer a justificativa para sua
desconfiança com os norte-americanos.
É possível que a civilização americana venha um dia a ser mais grandiosa do que qualquer que o mundo conheceu, mas eu consideraria perigoso, por enquanto, renunciar a Europa nos Estados Unidos a tarefa de levar a cabo a obra da humanidade. [...] Os americanos, em grande escala, estão inventado a vida, como se nada existisse feito até hoje.15
Os norte-americanos descartavam a força da tradição, elemento tão importante
para Joaquim Nabuco. A experiência republicana na América do Norte e no Brasil era
uma invenção problemática e desqualificadora para esse monarquista. Por isso, no plano
internacional, não seria uma boa estratégia política voltar-se contra a Europa a favor dos
Estados Unidos da América.
Essa perspectiva de conciliar a politica externa brasileira dando a atenção aos
dois lados do Atlântico Norte também é compartilhada por Rui Barbosa em seus
discursos em Haia e em Buenos Aires. A imagem de mundo anglófila também é
compartilhada por Rui Barbosa. Contudo, Rui percebe que diante da impossibilidade de
uma Monarquia Constitucional aos moldes da inglesa a saída histórica era se inspirar
naRepública Democrática de Direito experimentada pela América do Norte.
O fato de Rui e Joaquim terem estudados nas duas faculdade de Direito, terem
sido mações, serem anticlerical são elementos que os aproxima na vivência da história.
A abolição seria mais um dos tópicos que enlaçaria a história dos jovens bacharéis.
Contudo, Nabuco não reconhece a “poderosa máquina cerebral do nosso país”16como
integrante do grupo dos abolicionistas.
15 Idem p.140. 16 Ibidem.p.30
9
Nabuco elegeu a versão da abolição na qual o protagonismo cabia aos agentes
políticos da Igreja Católica. A rede de sociabilidade da Anti-SlaverySociety inglesa
promoveu uma audiência de Joaquim Nabuco com o papa para conversarem sobre a
abolição. O papa enviou uma carta para Princesa Isabel contendo a instrução
abolicionista, contudo, a epístola papal chegou ao solo nacional após abolição ter sido
proclamada.
Mesmo sem a eficácia política do encontro de Joaquim Nabuco com o papa, essa
versão apaga a militância aboliciosnista maçônica e, consequentemente, retira a
importância da militância política de Rui Barbosa na questão.
A Questão Religiosa para Nabuco foi resolvida com a mudança de diretriz do
papa Leão XIII; já a Questão Social não fica clara em “Minha Formação”.
SYLVIO ROMERO: UM BANDO DE IDEIAS NOVAS
Quase esquecido pela história, “Doutrina Contra Doutrina”17 somente ganha a
segunda edição em 1860. Sylvio Romero nasceu no Sergipe no ano de 1851, frequentou
o “Ateneu Fluminense” e cursou Direito em Recife, onde em 1868 estudou com
Joaquim Nabuco. Aos 18 aos escreveu acerca das supostas “bíblias falsificadas” e o
debate desse tópico entre o general Abreu e Lima e o padre Joaquim Pinto de Campos.
Diz Sussekind de Mendonça:
De um ponto de vista voltairiano, porém, e com a intuição de um velho católico [ultraliberal], muito antes da Infalibilidade e da cisão de Dollinger,ele dilucidou a questão das bíblias protestantes, ditas falsificadas e discutiu outros pontos controversos, como o purgatório, a inquisição, o culto as imagens [...]18
17 ROMERO, Sylvio – Doutrina Contra Doutrina: O Evolucionismo e o positivismo no Brasil. Obra Filosófica. Livraria José Olimpio Editora, Rio de Janeiro e Editora da Universidade de São Paulo: 1969. 18 MENDONÇA, Carlos Sussekind. Silvio Romero de sua formação intelectual. Coleção Brasiliana, São Paulo: Companhia Editora Nacional 1938.
10
O trecho acima apresenta a posição de Sylvio Romero dentro do campo católico
e marca importância da sua obra “Doutrina contra Doutrina: O Evolucionismo e o
Positivismo no Brasil”, na qual ao jogar luz no positivismo na conjuntura de 1892
coloca a Questão Religiosa, já na República, na sombra. É interessante frizar o fato de
Romero ter se manifestado contra as bíblias falsificadas, antes de Dollinger, portanto,
antes de Rui Barbosa, tradutor brasileiro da obra citada isso demonstra um debate amplo
sobre a Questão Religiosa. A expressão de Sussekind “velho católico” se refere aos
católicos não romanos, não reconhecia as determinações do Vaticano I.
Na introdução do referido livro percebemos uma espécie de autofagia do campo
católico das ideias de Sylvio Romero. Na data da segunda edição do texto a igreja
católica já havia feito o movimento de ecumenismo na tentativa de unificar o
cristianismo. O prefaciador Luís Washington Vita faz uma malabarismo teórico e
explica:
Porque, spencerianamente, não só as concepções metafísica como as teleologias subsistem perfeitamente ao lado das verdades cientificas, já que, Religião e Ciência, são necessariamente correlativas, representando no dizer de Spencer, “dois modos antitéticos da consciência que não podem existir separados”.19
O motivo de ignorar o debate do campo católico e se esforçar na crítica ao
positivismo, sobretudo, ao positivismo comteano religioso, está no fato deste último
lançar mão do conceito de ciência como sinônimo de Verdade. Sendo assim, o
empreendimento positivista objetivava a substituição da Verdade católica. A sua
posição critica a intenção positivista comteana, tinha a intenção de propor uma ciência
alternativa a positivista, seria a ciência aos moldes de Spencer clivada da experiência
religiosa. Devemos lembrar que Spencer foi um autor também citado por Joaquim
Nabuco.
19 ROMERO, Silvio – op. cit. p. XIX
11
Temperada com as noções da RerumNovarum, a Questão Social brasileira pelos
olhos do católico ultra-liberal Sylvio Romero, em 1992, ganha contorno temático
naquestão do partido operário brasileiro. Contudo, Romero descreve a cidade e a área
rural do Brasil e identifica os grupos sociais existentes em cada lugar e conclui não
haver proletariado em 1892 em números relevantes, por isso, a existência do partido
operário era um simulacro, uma artificialidade. Era uma questão que vinha de fora, não
era nacional. Sabemos de onde vinha – de Roma.
Romero lança mão de um discurso apocalíptico sobre a história do Brasil
daqueles anos de início de República. Para ele, o Brasil estava vivendo uma “Evolução
sem norte no mundo dos fatos.”20 A crise estava instaurada na economia, no direito, na
política e na religião com a queda do velho credo cristão, que defendia um catolicismo
liberal. O interessante de analisar nessa passagem do texto é o descrédito de qualquer
proposta partidária: positivista, sebastianista, militar, jacobino ou socialista.O Brasil
estava sem rumo. O positivismo crescendo, os operários sendo manipulados, a igreja
católica ligada a Roma estava em silêncio, os católicos liberais estavam sem espaço
político para o debate.
Todos os partidos apresentam problemas. Qual é a proposta para pensar a
inevitável “democracia social”, triunfo do quarto estado? Afirma que não há condição
para brotar o socialismo no Brasil, pois aqui temos poucos operários. Conclui:
A conclusão a tirar dos fatos é que um partido político e social operário no Brasil é uma criação prematura, artificial, que pode aproveitar a alguns jeitosos, porém decerto não vai servir ao operário, ao trabalhador nacional.21
Sobre o “operário político” ainda diz que se este não tivesse poder de voto, não
teria tantos amigos, e lança a seguinte observação: “Karl Marx dizia: ‘Uni-vos,
proletários!’ Nos dissemos aos nossos trabalhadores: ‘Abri o olhos, amigos.’”22
20 Ibidem. p. 271 21 Ibidem. p. 278
12
Sylvio Romero dialoga com a RerumNovarum, critica o velho credo católico
(aqui identificado com o papismo) e sopra no ar uma necessidade também de uma força
alternativa ao positivismo que seja compatível com as:
[...] tradições legitimas, nas suas aspirações de ordem e de integridade pátria, promover a participação direta de todas as classes para que tenham meio de ser atendidas em seus justos reclamos; combater espírito de separatismo (...) difusão de uma filosofia mais progressista e mais de acordo com o espírito dos novos tempos.23
Quais seriam tais tradições legítimas? A resposta mais simples e pouco
explicativa seria a adoção de uma doutrina naturalista e evolucionista compatível com
todos os progressos, fruto do progresso científico e da democracia, se sustentando no
princípio da luta secular contra a teocracia para, mais uma vez, criticar o apostolado
positivista e compará-los aos reacionários católicos da escola de Maistre e de Le
Bonald. Contudo, tal resposta é muito generalista. Será que ele propõe um partido
católico liberal?
Em outro pedaço do texto, ele se posiciona contra a lei de separação entre a
igreja e o Estado, dizendo que esse ato contribuiu para “a dissolução da pátria
brasileira!”24. Ainda denuncia ter sido esse fato associado ilegitimamente ao ideário do
positivismo. Diz que o decreto foi decretado pelos positivistas e arquitetado por outra
mão (Rui Barbosa e Dom Macedo). Qualifica os positivistas como os “Janus das
ideias”25 que iludem a direita e a esquerda. A expressão “Janus das ideias”, associada a
uma forma de enganação o diferencia dentro do campo católico, não sendo simpático ao
jansenismo e nem um adepto às antigas crenças. Abre-se aí outra perspectiva de
cristianismo, o cristianismo liberal que defende a liberdade de pensamento.
22Ibidem 23 Ibidem p. 313 24 Ibidem p. 299 25 Ibidem p 312
13
Explica que tal separação era um “artigo de fé do liberalismo universal”26e já
poderíamos assistir tal feito na América do Norte e na Suíça. O republicano Sylvio
Romero propõe:
[...] o grande partido democrata deve esforçar se para manter ileso o culto da liberdade, na expansão normal de todas as atividades ; manter e alargar o direito de voto e a intervenção da nação no governo, difundir a instrução primária dos dois graus gratuita e obrigatória, como obstáculo à ignorância, propício terreno de propagandas esdrúxulas; apoiar o espírito nacional nas suas tradiçõeslegitimas [grifo nosso – Que tradições seriam essas?], nas suas aspirações de ordem e de integridade pátria; promover a representação direta de todas as classes para que tenham meio de ser atendidas em seus reclamos; combater o espírito de separatismo, onde quer que ela surja, pugnando pela igualdade prática de todas os estados na gestão política do país; combater implacavelmente as opressivas ideias e quaisquer tendência e planos de ditatorianismos de qualquer gênero, pela difusão de uma filosofia mais progressista e mais de acordo com o espírito dos novos tempos.27
Caso a democracia unisse forças com a República, o período histórico das
“experiências extravagantes” seria superado e o Brasil assumiria uma trajetória política
de acordo com sua história. Afinal ele estava vivendo no período de 1892 e a República
ainda estava nas mãos dos militares o que a afastava do governo democrático.
O texto de Sylvio Romero é intrigante e abre possibilidades de reflexões
históricas alternativas para o desenvolvimento político nacional. Certos estamos da
importância do texto “Doutrina Contra Doutrina” e de nossa superficialidade aqui
exposta, contudo, cumprimos o objetivo estipulado, perceber a Questão Social e a
Questão Religiosa no bojo da nascente República do Brasil e demonstrar os debates
sobre o assunto. O esforço de Sylvio Romero de descrever e interpretar a sociedade
brasileira pelo prisma da ciência é reconhecido, sobre tudo por ser uma característica
forte da chamada geração de 1870, de um monte de ideias novas a qual Nabuco,
Romero e Rui Barbosa participam.
26 Ibidem 295 27 Ibidem p. 313
14
Destacamos a parte final da exposição, pela afinidade que temos em sua
proposta democrática e de autorrepresentação nacional dissociada da prática de um
governo autoritário. Sylvio Romero demonstra uma autonomia de pensamento, não
descartando a influência religiosa, enquanto experiência mística, e se afastando da
Igreja enquanto instituição. A introdução de uma reflexão positivista spenceriana e
científica demonstra uma inovação epistemológica da época, e a perseguição do padre
Perereca a Sylvio Romero é um indício de censura do campo católico a tal forma de
pensar. Além disso, a sua reedição somente da década de 1960 demonstra o censura
católica de grande fôlego, pois a publicação de Sylvio Romero só ocorrerá após o
Concílio Vaticano II.
A breve exposição de Tavares Bastos, Joaquim Nabuco e Sylvio Romero vem ao
encontro de nossa intenção de demonstrar os debates políticos nacionais na segunda
metade do século XIX. As aflições lidas nos textos ruiano são compartilhadas
socialmente no debate nacional, apesar das referências e das citações em Rui Babrosa
recorrem a um reportório estrangeiro. Situaremos brevemente Rui Barbosa para
podermos passar a Oliveria Vianna.
A Questão Religiosa e a Questão Social em Rui Barbosa dialogam com os outros
três intelectuais apresentados, personagens que estavam todos em um grupo reformista
no interior do campo católico brasileiro. Tanto Rui quanto Joaquim Nabuco e Sylvio
Romero viveram a geração de 1870 – um bando de ideias novas. A experiência
jansênica de Rui Barbosa faz com que a análise de seu estilo político e literário se
confunda com práticas protestantes ou atéias, como nomeavam seus inimigos políticos.
A trajetória de Tavares Bastos demonstra a crítica a igreja católica Romana. “O
Solitário” se defende da acusação de protestante, pois presumia a necessidade de
separação entre Estado e a igreja. Também devemos ressaltar o Federalismo defendido
por Bastos que é lido nos textos de Rui Barbosa e foi contemplado na Constituição de
1891 cujoteor é tributária ao pensamento de Tavares Bastos. Rui Barbosa parece dar
15
continuidade a T. Bastos nos assuntos como limites territoriais, imigração e liberdade
religiosa entre outros.
Nabuco, amigo de Rui Barbosa, apresenta elementos importantes para sentirmos
o clima intelectual nacional no qual estavam ambos inseridos. Do relato de Joaquim
Nabuco, recolhemos o seu esclarecimento sobre o olhar do intelectual cosmopolita e é
esse tipo de intelectual que identificamos Rui Barbosa. Sérgio Miceli sintetiza:
[...] é possível dizer que desde os reformistas liberais de finais do Império, passando pelos positivistas republicanos, pelos críticos conservadores ou radicais da República, pelos modernistas bem como seus sucedâneos [...]não foram poucos os intelectuais que procuraram justificar suas obras e as ações num ethos de missão civilizatória ou nacional, como se fossem portadores especiais dos interesses gerais da sociedade.28
Miceli também esclarece outro ponto importante sobre os intelectuais à
brasileira: a origem de muito deles em famílias decadentes regionalmente. Joaquim
Nabuco transita da grande propriedade agrária para o campo literário e Rui Barbosa,
filho de um médico baiano, vinha de uma classe média urbana de uma família
economicamente frágil e se desloca para um campo relativamente mais autônomo. João
Barbosa apostava na destreza intelectual do seu filho para a projeção política e
econômica da sua família. Cabe dizer que essa autonomia de Rui se dá pela perda dos
laços familiares muito cedo. Sua mãe Maria Adélia Barbosa de Oliveira, faleceu em
1867, sete anos depois (1874) morre o seu pai e em 1879 foi a sua única irmã, Brites.
Rui Barbosa adentra o campo literário por uma porta muito peculiar, aberta por
Sérgio Miceli quando reconhece a prática do jornalismo equivalente à do escritor de
romances. Assim, Rui Barbosa e Olavo Bilac puxam a fila do grupo do “Anatolianos”
que eram profissionais liberais e se dedicavam as letras e tinham características anti-
modernistas.
28 MICELI, Sérgio – Poder, Sexo e Letras na República Velha. São Paulo: Editora Perspectiva, 1977.
16
Não por acaso, Rui Barbosa proferiu o discurso em homenagem a
FrançoaisAnatole na Academia Brasileira de Letras, quando este indo a Buenos Aires e
fez uma escala no Rio de Janeiro. Tal episódio fazia parte das estratégias de Rio Branco
para valorizar a imagem do Brasil Exterior.
OLIVEIRA VIANNA: DEFESA DAS BASES ARGAMASSADAS NA ARGILA DA SOCIEDADE VIVA
Nascido em 1883, Oliveira Vianna representa a geração posterior de Rui
Barbosa. Bacharelou-se em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em
1906 e tornou-se professor da Universidade Federal Fluminense em 1916. Assumiu
outros diferentes cargos políticos, foi consultor do governo do presidente Getúlio
Vargas na década de 1930 e produziu uma rica obra de interpretação sociológica do
Brasil.
Católico apostólico romano, foi defensor da encíclica RerunNovarum e adepto
da Doutrina Social Católica, sobretudo no Direito do Trabalho e no princípio da
solidariedade. Também flertou com o Integralismo.29 Cabe ressaltar que Oliveira
Vianna não participou dos debates intelectuais sobre os limites entre a igreja e o Estado
e nem o processo de secularização do Brasil. Ele vinha de uma família rural de
Saquarema e referência na vida rural é lida abundantemente na obra desse autor e sua
vivência católica é tributária a essa sua experiência de vida.
Nossa referência central foi o texto “O Idealismo da Constituição”30, publicado
em 1927, uma vez que a nossa visita a esse autor tem a clara intenção de perceber como
ele observou a geração anterior à dele, sobretudo, a sua interpretação dos intelectuais da
29http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=137, acessado em 14 de janeiro de 2014, às 16h.
30OLIVEIRA VIANNA, Francisco José de – O Idealismo da Constituição. Companhia Editora Nacional:
São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre.3ª Edição: 1939.
17
geração anterior. A edição aqui estudada é a terceira, editada e aumentada no ano de
1939.
Adiantaremos essa concepção de Oliveira Vianna por meio da citação abaixo:
Eu cito de preferência Nabuco, porque Nabuco é nosso maior pensador político. Prevejo a objeção de que talvezmaiores do que ele fossem Ruy ou Tavares Bastos. Mas, nem Ruy nem Tavares Bastos são comparáveis a Nabuco sob esse aspecto: um e outro foram grandes doutrinadores políticos, mas não pensadores políticos propriamente ditos. Em Ruy, como em Tavares, há sempre o ponto de vista lateral – do advogado: só em Nabuco eu encontro a impersonalidade do pensador, isto é, o espírito que, por um esforço de abstração, consegue isolar-se do seu meio e ver os homens e os acontecimentos de fora – como se os visse de Netuno ou de Sirius.31
Segue comparando Joaquim Nabuco a FrançoaisAnatole e diz “Nabuco era
visceralmente um homem de elite, um ‘homem de raça’, no sentido particular que os
círculos aristocráticos europeus costumam dar a esta expressão”.32 Essa descrição tão
apaixonante de Nabuco não condiz com aquela lidas nas paginas anteriores, quando
analisamos o texto “Minha Formação” e identificamos um discurso partidário da
monarquia durante a época republicana.
O isolamento não é uma habilidade de Nabuco, muito pelo contrário. A adesão à
monarquia levou ao comprometimento de Nabuco de reescrita da história da sua família
e à dele próprio, assim como a forja de uma interpretação da política nacional tanto do
período monárquico, quanto do republicano em uma estratégia de construção muito bem
sucedida.
Voltando à citação. Oliveira Vianna não teve contato com Tavares Bastos,
poiseste faleceu em 1875, portanto, antes do nascimento de Oliveira Vianna. O
continuador das ideias de Tavares Bastos foi Rui Barbosa que no ano em que nascia
Oliveira Vianna, já se articulava na política Imperial e durante a sua formação na
31Idem p. 273 32 Ibidem
18
faculdade de Direito (1900–1906) Rui estava consolidado no campo do direito e da
política brasileira.O fato de Oliveria Vianna se afinar politicamente com o monarquismo
expica a sua predileção por Joaquim Nabuco.
Como veremos, a adesão a Nabuco, conforme a sua própria descrição, e a
pequena desqualificação de Rui Barbosa e de Tavares Bastos se concretizará em dois
conceitos muito interessantes apresentado por ele: idealismo orgânico e idealismo
utópico. Os conceitos apresentam alguns detalhes que os deixam complexos, apesar de
podermos rapidamente sintetizá-los, mas não teremos pressa para pescar a sutileza
ideológica ali contida.
Oliveira Vianna recorre ao argentino José Ingenieros33 para explicar o idealismo
como antevisão da realidade social futura e, assim, diferenciá-lo do idealismo que
envolvia uma ação arbitrária da fantasia. A razão se subordina à realidade social e, dos
tantos ideais apresentados pela sociedade, somente vingaria aquele que estivesse em
conformidade com a evolução social peculiar a cada sociedade. O destino do ideal não
estaria baseado na beleza e nem na grandeza. A conformidade com a experiência vivida
nacionalmente daria sustentação e viabilidade política de sucesso dessa intenção. Do
retorno crítico ao passado – passado como um arquivo das experiências – dependeria a
projeção do futuro. As leis da vida social são equivalentes à sabedoria do inconsciente
que sustenta a permanência da História34 – a expressão “sabedoria do inconsciente”
deve ser destacada e, por enquanto, reservada, pois voltaremos mais adiante nela.
A chave de interpretação está no reconhecimento da peculiaridade histórica, que
seria para Oliveira Vianna o ponto de diferenciação entre os idealistas utópicos e ou
idealistas orgânicos. Os idealistas utópicos, “sonhadores do racionalismo” na definição
33 José Ingenieros foi farmacêutico e médico por formação e seus trabalhos de pesquisa na Sociedade Argentina de Psicologia tiveram a influência dos filósofos Augusto Comte e Herbert Spencer. Nos anos de 1918-20, acirra a sua luta política pela reforma do Estado argentino em um campo próximo ao comunismo. 34 Oliveira Vianna apresenta uma bela epistemologia da História, dialogando com Taine, Carlyle.Vendal, Thomas Seccombe e Micheletdefente a História enquanto uma ciência interpretativa.
19
de Vianna, acreditam na possibilidade de transposição das ideais universais que não se
encontram presente na experiência histórica social. Já os idealistas orgânicos respeitam
a experiência histórica advindas da vida social.
Resgato outra passagem de Vianna:
Os idealistas românticos, os racionalistas, os metafísicos, todos eles desconhecem esta atitude, desdenham as leis do desenvolvimento social concebem a sociedade como simples matéria plástica, que eles presumem facilmente moldável à feição da sua vontade, segundo os modelos engenhados por sua imaginação. 35
Podemos ler na descrição do idealismo utópico a desqualificação política de tal
intelectual por meio de uma caracterização caricatural. Quando Oliveira Vianna cita o
desdenho às leis de desenvolvimento social está querendo dizer, na verdade, a não
adesão daqueles intelectuais ao princípio positivista de leis que regem a vida social, em
outras palavras: a “sabedoria do inconsciente”. Além disso, sabemos que essas leis que
fomentam a permanência de uma determinada experiência histórica não são naturais.
Existe um esforço político multifacetado para manter um determinado encaminhamento
político.
Em outra passagem ele explicita mais o que seria a “sabedoria do inconsciente”.
Diz existir em “um vasto mundo de forças organizadas, de tendências, de instintos, de
impulsões misteriosas, que formam o sistema das correntes subterrâneas que circulam
no subconsciente das nacionalidades”.36 Cada nação teria sua própria lei que regeria a
vida social. Cabe aqui a pergunta: Qual é a singularidade ibero-americana? Joaquim
Nabuco, intelectual idealista orgânico, diz que no Brasil existe a arte da construção
política no vácuo, baseando-se em teses e não em fatos. Oliveira Vianna busca estudar o
Brasil para propor uma política pública baseada em fatos, como sugere Nabuco.
35 Idem p. 308 36 Ibidem p. 346
20
A história do desenvolvimento da democracia e da liberdade no Brasil abundaria
em exemplos de movimentos políticos propostos pelos idealistas utópicos. O
movimento pela Independência, os da Constituinte Imperial, os de 7 de abril, a reação
liberal de 68, os Manifestos republicanos de 1870, a Constituição republicana seriam
exemplos de atuação política utópica. Nossa preocupação se restringe às impressões de
Oliveira Vianna da Constituição republicana de 1891, pois Rui foi o artífice de tal
Carta.
A princípio, Oliveira Vianna não nega a viabilidade da democracia no Brasil,
contudo a qualifica como uma democracia sem opinião organizada e chamada à elite
para ser agente do governo. Uma de suas críticas era a dinâmica eleitoral. Para ele o
corpo eleitoral deveria ser mais restrito do que aqueles oriundo do sufrágio universal e
mais amplo do que uma Assembleia Nacional. Os integrantes do corpo eleitoral
deveriam ser aptos ao exercício do voto, ter o conhecimento dos negócios públicos
nacionais e serem homens políticos de valor nacional. O grupo de eleitores se dividiria
em dois, grupo de eleitorado político e o grupo do eleitorado não político, como por
exemplo, os magistrados e professores universitários. Tal intenção denunciava e
acabava com o voto de cabresto, assim como, a impossibilidade de reeleição asseguraria
a rotatividade na representação.
Outra crítica era contra a organização do trabalho em sindicatos. Para Oliveira
Vianna, não haveria solidariedade na sociedade brasileira, isso invibializaria a
integração das classes, em uma ação que obedeceria às leis naturais. Frente à falta de
solidariedade, a opção era a criação de Conselhos Técnicos para representar as classes.
Estes Conselhos teriam de ser consultados obrigatoriamente caso houvesse a
necessidade de mudanças e seria seguido pela criação de órgãos corporativos.
O regime federativo não escapou às críticas. Aponta para a necessidade de uma
mudança constitucional que habilitasse legalmente a penetração do poder central nas
questões que aparentemente seriam regionais, quando na realidade seriam problemas
21
nacionais como, por exemplo, as secas, a proteção dos produtos agrícolas (café, açúcar e
mate) e o banditismo sertanejo.
Nesse tópico, assistimos a duas críticas ao projeto se secularização de Rui
Barbosa. O federalismo de Tavares Bastos e Rui é a mais óbvia, a segunda é a Questão
Social. Se para Rui a Questão Social estava inscrita nas questões operárias e no mundo
urbano, para Oliveira Vianna esse assunto estava identificado com o mundo rural
brasileiro. Os argumentos de um e do outro parecem antagônicos, um fala da cidade e
outro do campo, contudo se puxarmos o nosso outro mote de pesquisa a Questão
Religiosa podemos observar as falas como complementares.
A encíclica papal de Leão XIII, escrita em 1891, chamada de RerumNovarium,
ficou conhecida por se tratar do posicionamento da questão do operário. Tanto Sylvio
Romero quanto Rui Barbosa dialogam com essa temática e percebem que a causa
operária no Brasil se restringia a um pequeno grupo de pessoas, mas mesmo assim
debatem a política junto a ela. Já Oliveira Vianna, parece se aprofundar mais na questão
do trabalho, assunto que é discutido ao longo da encíclica papal. Ao recorrer ao texto da
RerunNovarum podemos ler além da questão operária a defesa da terra, enquanto
propriedade privada e, simultaneamente, garantidora da reprodução da vida material.
Ela significa, unicamente, que Deus não assinou uma parte a nenhum homem em particular, mas quis deixar a limitação das propriedades à indústria humana e às instituições dos povos. Aliás, posto que dividida em propriedades particulares, a terra não deixa de servir à utilidade comum de todos, atendendo a que não há ninguém entre os mortais que não se alimente do produto dos campos. Quem os não tem, supre-os pelo trabalho, de maneira que se pode afirmar, com toda a verdade, que o trabalho é o meio universal de prover às necessidades da vida, quer ele se exerça num terreno próprio, quer em alguma parte lucrativa cuja remuneração, sai apenas dos produtos múltiplos da terra, com os quais ela se comuta. De tudo isto resulta, mais uma vez, que a propriedade particular é plenamente conforme à natureza. A terra, sem dúvida, fornece ao homem com abundância as coisas necessárias para a conservação da sua vida e ainda para o seu aperfeiçoamento, mas não poderia fornecê-las sem a cultura e sem os cuidados do homem. Ora, que faz o homem, consumindo os recursos do seu espírito e as forças do seu corpo em procurar esses bens da natureza? Aplica, para assim dizer, a si mesmo a porção da natureza corpórea que cultiva e deixa nela como que um certo cunho da sua pessoa, a ponto que, com toda a justiça, esse bem será possuído
22
de futuro como seu, e não será lícito a ninguém violar o seu direito de qualquer forma que seja.37
O documento católico fala de ambos os mundos, rural e urbano. Nesse
sentido,Oliveira Vianna defende a mudança, nas palavras dele uma “evolução
transformadora”, na qual a peculiaridade histórica nacional seria levada em conta pela
política pública, idealista, por projetar o futuro, mas orgânica, por se basear na história
nacional vivida. Mas... que história é essa?
Na versão brasileira de Oliveira Vianna, o Brasil é fruto de dois tipos de guerra:
uma guerra material entre os clãs do feudo e outra guerra eleitoral para manutenção da
propriedade.38 Como consequência desse estado de guerra, as relações sociais entre o
senhor e a população, advinda desse modo de vida feudal, se baseavam na defesa do
domínio e no prestígio do proprietário. Estavam aí as bases “argamassadas da argila
viva” da sociedade brasileira.
Roberto Schwarz também identifica nas relações sociais brasileiras a violência e
vai além demonstrando como as relações de favor são estratégias de negociação entre
homens livres que não se isenta de violência, mas demonstra certa autonomia do
favorecido. As colocações de Oliveira Vianna são importantes para pensar as
estratégicas políticas republicanas, contudo, conclusões retiradas de sua ponderação
história devem ser pescadas e combatidas. Segundo Oliveira Vianna, a história é
composta por fenômenos complexos e sua síntese depende de métodos objetivos
(científicos) além da intuição e da indução rápida e conjectural. Assim, os historiadores
suprem as lacunas dos arquivos. Complexificou a noção de conjectura:
Há a conjectura arbitrária, pura obra da imaginação, sem ponto de pega nas realidades da vida [advinda do idealismo utópico], e há a conjectura disciplinada, apoiada e orientada no conhecimento das leis que presidem a
37http://www.vatican.va/holy_father/leo_xiii/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_15051891_rerum-novarum_po.html, acessada em 23 de novembro às 14h. 38 OLIVEIRA VIANNA, Francisco José – Instituições políticas brasileiras. Record: Rio de Janeiro, 3ª Edição: 1974.
23
estrutura e a filosofia das sociedades humanas [fruto do idealismo orgânico].39
É na concepção de história interpretativa em Oliveira Vianna que podemos
pescar a ideologia subjetivada em sua própria teoria. A conjuntura arbitrária e a
conjuntura disciplinada, antes de serem a face da mesma moeda, seja tal expressão
carregada do significado de complementariedade ou de oposição, demonstra no fundo
odebate político sobre o encaminhamento da modernidade brasileira. A alegoria
“utópico” ou “orgânico” apresenta as possibilidades de compreensão do Brasil, liberal
ou autoritário.
Vimos nessa breve apresentação a maneira pela qual se desenvolveu o debate da
Questão Social, Questão Religiosa e a tentativa de apagar a Questão Racial. Sendo este
balizado pelo princípio de disputa pela interpretação autoritária ou liberal do
encaminhamento da política nacional.
A ideia de que as ideias estão fora do lugar e as suas justificativas para
interpretação da história nacional, desvia a atenção do real problema: a construção
histórico-social do lugar das ideias que, a priori, não tem lugar! Assim, autoritarismo e
liberalismo devem ser tratadas como noções abstratas, que no limite de suas ações, se
confundem ao serem chamadas para o debate político. Faces da mesma moeda, também
não são, assim como também não se complementam.
A querela entre liberais e autoritários dentro do debate político deve ser
entendida de maneira relacional, pois ao adjetivar determinadas atitudes como
autoritárias se pressupõe a adoção de medidas contrárias a ela e que sejam próprias do
campo liberal. O valor dado à expressão “liberal” e “autoritário” deve ser entendido na
dinâmica de disputa de significado político, em contextos históricos específicos, pois
39 OLIVEIRA VIANNA, Francisco José de – O Idealismo da Constituição. Companhia Editora Nacional: São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre.2ª Edição: 1939 p. 324
24
como exemplifica Roberto Schwartz os sistemas de contra-sensos é o nó na vida
intelectual.
A proposta foi enxergar as intenções dos intelectuais aqui estudados para além
de colocá-los nas prateleiras do discurso liberal ou autoritário. Oliveira Vianna pode
classificar Rui Barbosa como liberal e assim propor um abordagem autoritária como
opção para a solução dos problemas da política nacional dos anos vinte, contudo o
historiador deve desconfiar dessa rápida classificação e buscar entendê-la como sintoma
de conquista ou tentativa de conquistas políticas de novos grupos que reclamam seu
protagonismo histórico.
Com esse mapeamento demonstrei os diálogos travados por Rui Barbosa sobre a
Questão Social e a Questão Religiosa e assim podemos passar ao entendimento
25
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