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1 Biografia de Rui Barbosa Rui Barbosa é recorrentemente descrito como um intelectual baiano, advogado, jornalista, diplomata emembro da Academia Brasileira de Letras. Esses atributos não dizem muito sobre esse personagem da nossa história, somente esclarece a sua natureza baiana e sua formação acadêmica. Também aponta para sua rede de sociabilidade, pois ser jornalista, diplomata e membro da Academia Brasileira de Letras demonstra mais uma manifestação de poder do que uma habilidade intelectual, afinal essas eram funções de indicação política. Assim, tal estratégia não esclarece muito sobre Rui Barbosa. A opção pelo estudo biográfico não propõe abordar passagens da vida pessoal de Rui Barbosa ou narrar episódios de sua vida de maneira isolada e cronológica. A biografia aqui é o estudo da trajetória intelectual relacionada a suas intervenções políticas em uma conjuntura social mais ampla. Rui Barbosa servirá como caminho de entendimento de diferentes tópicos da História política e intelectual do Brasil. Nada saberemos da biografia de Rui Barbosa se não a relacionarmos a sua experiência histórica com as de outros atores políticos da história do Brasil, para assim podermos sentir o clima intelectual que ele estava inserido e dialogando com intensidade. Recorreremos à metodologia de LucienFebvre 1 e o ambiente intelectual será esboçado a partir da geração anterior a de Rui Barbosa, em seguida a geração do próprio Rui Barbosa e a geração imediatamente posterior a ele. O primeiro passo para o estudo dos debates no campo intelectual nacional é aidentificação do conjunto dos intelectuais que serão analisados por meio da observação de seu posicionamento frente aos temas Questão Social e Questão Religiosa no intervalo entre os anos de 1860 e 1920. A expressão Questão Religiosa, foi ampliada para dar conta das disputas sobre a interpretação ortodoxa do catolicismo no Brasil, debate pulsante no período estudado. Tavares Bastos, Joaquim Nabuco, Sylvio Romero 1 FEBVRE, Lucien – Michelet e a Renascença. São Paulo: Editora Página Aberta, 1995.

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Biografia de Rui Barbosa

Rui Barbosa é recorrentemente descrito como um intelectual baiano, advogado,

jornalista, diplomata emembro da Academia Brasileira de Letras. Esses atributos não

dizem muito sobre esse personagem da nossa história, somente esclarece a sua natureza

baiana e sua formação acadêmica. Também aponta para sua rede de sociabilidade, pois

ser jornalista, diplomata e membro da Academia Brasileira de Letras demonstra mais

uma manifestação de poder do que uma habilidade intelectual, afinal essas eram funções

de indicação política. Assim, tal estratégia não esclarece muito sobre Rui Barbosa.

A opção pelo estudo biográfico não propõe abordar passagens da vida pessoal de

Rui Barbosa ou narrar episódios de sua vida de maneira isolada e cronológica. A

biografia aqui é o estudo da trajetória intelectual relacionada a suas intervenções

políticas em uma conjuntura social mais ampla. Rui Barbosa servirá como caminho de

entendimento de diferentes tópicos da História política e intelectual do Brasil.

Nada saberemos da biografia de Rui Barbosa se não a relacionarmos a sua

experiência histórica com as de outros atores políticos da história do Brasil, para assim

podermos sentir o clima intelectual que ele estava inserido e dialogando com

intensidade. Recorreremos à metodologia de LucienFebvre1 e o ambiente intelectual

será esboçado a partir da geração anterior a de Rui Barbosa, em seguida a geração do

próprio Rui Barbosa e a geração imediatamente posterior a ele.

O primeiro passo para o estudo dos debates no campo intelectual nacional é

aidentificação do conjunto dos intelectuais que serão analisados por meio da observação

de seu posicionamento frente aos temas Questão Social e Questão Religiosa no

intervalo entre os anos de 1860 e 1920. A expressão Questão Religiosa, foi ampliada

para dar conta das disputas sobre a interpretação ortodoxa do catolicismo no Brasil,

debate pulsante no período estudado. Tavares Bastos, Joaquim Nabuco, Sylvio Romero

1 FEBVRE, Lucien – Michelet e a Renascença. São Paulo: Editora Página Aberta, 1995.

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e Oliveira Vianna foram chamados para compor o cenário proposto. Esse artigo irá

demonstrar esse mapeamento dos intelectuais como pressuposto fundamental para

entender a biografia de Rui Barbosa de maneira fecunda para o entendimento da história

do Brasil.

TAVARES BASTOS: LIBERDADE PARA TODOS E PRIVILÉGIOS PARA NINGUÉM

Representando uma geração anterior a de Rui Barbosa apresentamos Aureliano

Campos Tavares Bastos. T. Bastos nasceu em Alagoas em três de dezembro de 1839,

faleceu em 1875 aos 36 anos de idade. Formou-se pela Faculdade de Direito em São

Paulo no ano de 1858 e escreveu na década de 1860 uma série de artigos críticos com o

pseudônimo de “O Solitário”, que foram recepcionados pelos jornais Diários do Rio, da

Atualidade e do Jornal do Amazonas, e em 1862 as cartas ganharam uma edição. Em

nota, Tavares Bastos no prefácio da obra agradece ao senhor Alexandre Wagner, um

comerciante que viabilizou a publicação. Dessa nota já percebemos que o “O solitário”

não falava de um lugar tão sozinho assim!

Os assuntos anunciados versam sobre as necessidades de reformas políticas no

Império. Destacamos a organização administrativa e a crítica ao centralismo, por isso

Tavares Bastos ficou conhecido como o precursor do federalismo. As questões de

fronteira, de liberdade religiosa, de trabalho africano, de leis de navegação, entre outros,

são apresentados como problemas a serem solucionados.

É interessante, para esse trabalho, a peculiaridade da Questão Religiosa em

Tavares Bastos. Ao aproximar a sua ideia de religião à noção de costume, ele sintetiza

as duas questões norteadoras de nossa reflexão. Portanto, nos parece que a Questão

Social e a Questão Religiosa para Bastos se confundem frente à necessidade de

reformas políticas e sociais urgentes no Segundo Reinado, sobretudo quando se refere à

qualificação de competência do poder público e do poder eclesiástico frente à

administração dos seminários estipendiados pelos cofres públicos. Partindo de

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concepções do campo jurídico, Tavares Bastos esmiúça o problema político do

padroado e argumenta sobre a necessidade de definição de competências tanto do clero

quanto do poder civil. Por exemplo, o fato de o bispo poder dar licença aos professores

dos seminários financiados pelos cofres públicos sem passar pela aprovação do poder

temporal que o dá crédito – Pedro II – demonstra uma nova conquista do poder

espiritual frente ao governo civil. Segundo T. Bastos: “... por meio de disfarces e com

branduras, que o sacerdotalismo vai ganhando o terreno na sociedade.”2

Essa pretensa autonomia observada na ação do bispo foi entendida como um

inconveniente político, um erro contra as normas jurídicas e, nas palavras de T. Bastos

um passo para o fanatismo. Acontecimentos cotidianos eram interpretados por T. Bastos

como sinais de vitória do catolicismo pró-papa, pois para Tavares Bastos os seminários

deveriam se submeter ao governo imperial. A instalação do Colégio São Vicente de

Paulo, administrado pelos jesuítas franceses, e o movimento aristocrático “União

Católica” são exemplos desse avanço, pois os jesuítas haviam sido expulsos do território

nacional pelo Marquês de Pombal. O veto à lei do casamento acatólico é outro fato que

coloca o próprio Imperador na disputa dentro do campo católico como um aliado ao

grupo pró-papa.

Esse debate demonstra a vertente heterodoxa dentro do campo católico.

Esclarece o seu ponto de vista dos sacerdotes a serviço da Igreja Católica no Brasil. Diz

que os ministros do altar presente no solo brasileiro não são “verdadeiros servos de

Deus, inteligentes e cultos [...] ilustrados [como os sacerdotes ingleses]”3. Promove

uma severa crítica à vida monástica ao criticar a indicação de uma jovem à vida no

claustro: “[...] nós conhecemos bem o fim último dessa teoria ascética, jesuítica e hoje

2 BASTOS, Tavares - Cartas do Solitário. São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre: Companhia Editora Nacional: 1938 3ª Edição. p. 94 3Idem. p. 91.

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lazarista, segundo a qual o mundo é um lodo, que a virgem, branca pomba, não pode

habitar”4.

A proposta de T. Bastos aponta para uma política mais liberal. O governo não

deveria se envolver com a instrução do clero. Os bispos deveriam buscar a manutenção

dos estabelecimentos de ensino sacerdotal junto aos fiéis e assim poderiam administrá-

los de maneira autônoma, pois “Quando o Estado lhes presta auxílio pecuniário, ele

reserva-se o direito não só de regularizar o ensino, como de nomear professores”5. Por

certo, mesmo nesse caso, ainda caberia ao Estado a tarefa de fiscalizar a inspeção do

local, contudo, a administração ficaria a cargo dos eclesiásticos.Assume como modelo

de organização religiosa os Estados Unidos da América e reafirma sua posição dentro

do campo católico não papista e apresenta suas filiações teóricas com Lamennas e

Montalembert, e sintetiza: “Egreja livre no estado livre!”.6

“O Solitário” se posiciona como católico e acusa os ultramontanos de não serem

francos, pois querem a liberdade da Igreja frente ao padroado, mas não querem abrir

mão dos impostos. Essa propaganda jesuítica quer reforçar o poder temporal da Santa

Sé. Do ponto de vista dissonante, T. Bastos se defende da acusação de ser praticante do

protestantismo e sintetiza a sua intenção de fazer valer a autoridade do governo nos

seminários que são focos do “fanatismo e materialismo”7.

A fala de T. Bastos aponta para duas possíveis interpretações. A primeira seria

aquela na qual a Igreja se separaria completamente do Estado, teria autonomia

administrativa, financeira e ideológica (papista ou não). Contudo, teria de abrir mão dos

benefícios como isenção de impostos e auxílios. A outra possibilidade seria de

manutenção do padroado e dos benefícios, entretanto, o Imperador teria de fazer valer o

4 Idem 5 Ibidem p. 94 6 Ibidem p. 97 7 Ibidem p. 104

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seu poder e barrar o papismo. Essa foi a sorte lançada para a Questão Religiosa pelo

“Solitário”.

A lição lida por Rui Barbosa sobre a liberdade religiosa lhe inspirou no processo

de separação da igreja do Estado. Ele articulou uma via conciliadora, pois deixou a

igreja administrativamente e teologicamente livre do Estado, contudo não ficou

desamparada legalmente dos seus direitos adquiridos, pois ganhou uma personalidade

jurídica. Tavares Bastos também foi o defensor do federalismo. Essa proposta foi

materializada na Constituição Republicana de 1891, forjada pela articulação política de

Rui Barbosa junto ao Marechal Deodoro da Fonseca.

JOAQUIM NABUCO: ESPECTADOR DO SÉCULO, COSMOPOLITA E POLÍTICO INTELECTUAL

As lendas hão de sempre viver, como raios de luz na treva amontoada do passado, mas a beleza delas não está em sua verdade, que é sempre pequena; está no esforço que a humanidade faz, para assim reter alguns episódios de uma vida tão extensa que, para abrangê-la, não há memória possível...8

Em tempo de História Positivista, onde se privilegiava os grandes personagens

históricos, Joaquim Nabuco se antecipa e se destaca pela proposta de dirigir o olhar

histórico para si próprio. Em “Minha Formação” Nabuco promove a versão oficial da

sua trajetória política. Para nós, o texto é importante por conter uma visão peculiar dos

acontecimentos da história nacional no período de 1849 a 1910, momento histórico

compartilhado pelos outros intelectuais Sylvio Romero e Rui Barbosa.

No texto, detectamos a narrativa de um monarquista tentando se inserir

politicamente no período republicano, intento conseguido por meio de sua rede de

8 NABUCO, Joaquim - Minha Formação. Obras Imortais da nossa literatura. Editora Três, Rio de Janeiro: 1974 p. 171.

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sociabilidade9, se tornando funcionário público da República do Brasil, embaixador nos

Estados Unidos da América.

A Questão Religiosa não é içada como tal, mas sim submergida na sua narrativa

sobre sua trajetória política. Revertido na Inglaterra, junto aos oratorianos do padre

Newman, a sua militância maçônica e sua crítica aos ultramontanos passam a ser

consideradas fruto do ímpeto da juventude ou uma questão para a história da Igreja.

Contudo, é aí, na tentativa de apagamento da militância maçônica e anti-papal

que se encontra a Questão Social para os historiadores preocupados com a relação entre

o campo católico e o campo político no Brasil. Os intelectuais brasileiros tendem a

apagar sua militância religiosa, seja apoiando ou criticando o catolicismo romano ou

outro credos, contudo podemos pinçar as falas religiosas que submergem em seus

discurso desejos de espírito científico (é o retorno do recalcado).

As palavras de Joaquim Nabuco aqui transcritas demonstram esse esforço de

ajustar a sua imagem de antigo político radical contra o papado para a sua nova imagem

de aliado ao papa Leão XIII:

Nesse tempo, e durante alguns anos, o radicalismo me arrasta; eu sou, por exemplo, dos que tomam parte mais ativa na campanha maçônica de 1873 contra os bispos e contra a Igreja. Entro até nas ideias de Feijó, de uma Igreja nacional, independente da disciplina romana; faço conferências, escrevo artigos, publico folhetos. Não quisera mesmo hoje retirar uma só palavra do que disse então, advogando a liberdade religiosa mais perfeita; entendo ainda, hoje mais do que nunca, depois da esplêndida experiência do pontificado de Leão XIII, que a Igreja tem tudo a ganhar com a liberdade e que o futuro do mundo pode pertencer a aliança, já selada no atual pontificado, da Igreja católica e a democracia.10

Assim, Leão XIII marca o início de uma nova igreja católica casada com a

democracia e digna de ser defendida no Brasil por Joaquim Nabuco. A família é um

exemplo de difusão do princípio religioso interessante e a família passa a ser a proposta

9 BARCELOS, Ana Paula e NEDER, Gizlene– Intelectuais, circulação de ideias e apropriação cultural. 10 NABUCO, Joaquim – op. cit. p.44

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concreta de Nabuco para a superação do problema moral da sociedade brasileira. Isso

explica a não existência de Eufrásia uma filha de um fazendeiro de café que teve um

romance de longos anos com Nabuco no texto “Minha Formação”.11

É bastante curioso a questão do negro lidas com um forte contorno no

abolicionismo, tanto de Nabuco de Araújo quanto de Joaquim Nabuco, não se relaciona

com o problema do negro pós-abolição. Ainda em 1873, Joaquim deixa o

republicanismo e passa a se dedicar à reflexão sobre a necessidade de mudanças na

Monarquia. Havia deixado a paixão política da juventude (republicanismo) e entrado

nos “primeiros teoremas de geometria política.”12(monarquista) Também é dessa data

o “furor iconoclasta da juventude”13 e a primeira viagem à Europa.

Segue Nabuco construindo a argumentação na direção de autojustificativa

política e se autoproclama cosmopolita, pois se interessava mais pelo o que ocorria na

humanidade do que passava na política nacional: “Sou antes um espectador do século

do que do meu país: a peça é para mim a civilização, e se está representado em todos

os teatros da humanidade, ligados hoje pelo telégrafo”14.

Diante do Brasil republicano, há o pessimismo analítico: a corrupção como um

mal profundo. Se na América do Norte a corrupção é uma erupção na pele, em outras do

mundo partes esta é visceral. Mesmo assim, a América do Norte não é um lugar de

referência política para Nabuco, afinal ele nutre mais afetos ao modelo inglês, onde a

tradição nobiliárquica se expressa mais forte do que a suposta igualdade perante a lei do

modelo norte-americano. A igualdade humana para os norte-americanos estava

vinculada à noção de raça, por isso os negros se travestiam de tipos diferentes – e

inferiores – de homens. Nabuco descarta a interpretação racial e se agarra na questão na

11 QUEIROZ, Eneida – A mulher e a casa: A paixão de uma historiadora pelo romance entre uma

senhora de escravos e um abolicionista. São Paulo: Baraúna, 2013. 12 NABUCO, Joaquim – op. cit. 46 13 Idem p. 49 14 NABUCO, Joaquim-- op. Cit. p. 47

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nobreza, talvez por isso tenha se dedicado tanto a escrita da história de sua família.

Quanto ao apreço intelectual, os norte-americanos também são desfavorecidos frente os

ingleses. Nabuco busca na teoria de projeção de Spencer a justificativa para sua

desconfiança com os norte-americanos.

É possível que a civilização americana venha um dia a ser mais grandiosa do que qualquer que o mundo conheceu, mas eu consideraria perigoso, por enquanto, renunciar a Europa nos Estados Unidos a tarefa de levar a cabo a obra da humanidade. [...] Os americanos, em grande escala, estão inventado a vida, como se nada existisse feito até hoje.15

Os norte-americanos descartavam a força da tradição, elemento tão importante

para Joaquim Nabuco. A experiência republicana na América do Norte e no Brasil era

uma invenção problemática e desqualificadora para esse monarquista. Por isso, no plano

internacional, não seria uma boa estratégia política voltar-se contra a Europa a favor dos

Estados Unidos da América.

Essa perspectiva de conciliar a politica externa brasileira dando a atenção aos

dois lados do Atlântico Norte também é compartilhada por Rui Barbosa em seus

discursos em Haia e em Buenos Aires. A imagem de mundo anglófila também é

compartilhada por Rui Barbosa. Contudo, Rui percebe que diante da impossibilidade de

uma Monarquia Constitucional aos moldes da inglesa a saída histórica era se inspirar

naRepública Democrática de Direito experimentada pela América do Norte.

O fato de Rui e Joaquim terem estudados nas duas faculdade de Direito, terem

sido mações, serem anticlerical são elementos que os aproxima na vivência da história.

A abolição seria mais um dos tópicos que enlaçaria a história dos jovens bacharéis.

Contudo, Nabuco não reconhece a “poderosa máquina cerebral do nosso país”16como

integrante do grupo dos abolicionistas.

15 Idem p.140. 16 Ibidem.p.30

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Nabuco elegeu a versão da abolição na qual o protagonismo cabia aos agentes

políticos da Igreja Católica. A rede de sociabilidade da Anti-SlaverySociety inglesa

promoveu uma audiência de Joaquim Nabuco com o papa para conversarem sobre a

abolição. O papa enviou uma carta para Princesa Isabel contendo a instrução

abolicionista, contudo, a epístola papal chegou ao solo nacional após abolição ter sido

proclamada.

Mesmo sem a eficácia política do encontro de Joaquim Nabuco com o papa, essa

versão apaga a militância aboliciosnista maçônica e, consequentemente, retira a

importância da militância política de Rui Barbosa na questão.

A Questão Religiosa para Nabuco foi resolvida com a mudança de diretriz do

papa Leão XIII; já a Questão Social não fica clara em “Minha Formação”.

SYLVIO ROMERO: UM BANDO DE IDEIAS NOVAS

Quase esquecido pela história, “Doutrina Contra Doutrina”17 somente ganha a

segunda edição em 1860. Sylvio Romero nasceu no Sergipe no ano de 1851, frequentou

o “Ateneu Fluminense” e cursou Direito em Recife, onde em 1868 estudou com

Joaquim Nabuco. Aos 18 aos escreveu acerca das supostas “bíblias falsificadas” e o

debate desse tópico entre o general Abreu e Lima e o padre Joaquim Pinto de Campos.

Diz Sussekind de Mendonça:

De um ponto de vista voltairiano, porém, e com a intuição de um velho católico [ultraliberal], muito antes da Infalibilidade e da cisão de Dollinger,ele dilucidou a questão das bíblias protestantes, ditas falsificadas e discutiu outros pontos controversos, como o purgatório, a inquisição, o culto as imagens [...]18

17 ROMERO, Sylvio – Doutrina Contra Doutrina: O Evolucionismo e o positivismo no Brasil. Obra Filosófica. Livraria José Olimpio Editora, Rio de Janeiro e Editora da Universidade de São Paulo: 1969. 18 MENDONÇA, Carlos Sussekind. Silvio Romero de sua formação intelectual. Coleção Brasiliana, São Paulo: Companhia Editora Nacional 1938.

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O trecho acima apresenta a posição de Sylvio Romero dentro do campo católico

e marca importância da sua obra “Doutrina contra Doutrina: O Evolucionismo e o

Positivismo no Brasil”, na qual ao jogar luz no positivismo na conjuntura de 1892

coloca a Questão Religiosa, já na República, na sombra. É interessante frizar o fato de

Romero ter se manifestado contra as bíblias falsificadas, antes de Dollinger, portanto,

antes de Rui Barbosa, tradutor brasileiro da obra citada isso demonstra um debate amplo

sobre a Questão Religiosa. A expressão de Sussekind “velho católico” se refere aos

católicos não romanos, não reconhecia as determinações do Vaticano I.

Na introdução do referido livro percebemos uma espécie de autofagia do campo

católico das ideias de Sylvio Romero. Na data da segunda edição do texto a igreja

católica já havia feito o movimento de ecumenismo na tentativa de unificar o

cristianismo. O prefaciador Luís Washington Vita faz uma malabarismo teórico e

explica:

Porque, spencerianamente, não só as concepções metafísica como as teleologias subsistem perfeitamente ao lado das verdades cientificas, já que, Religião e Ciência, são necessariamente correlativas, representando no dizer de Spencer, “dois modos antitéticos da consciência que não podem existir separados”.19

O motivo de ignorar o debate do campo católico e se esforçar na crítica ao

positivismo, sobretudo, ao positivismo comteano religioso, está no fato deste último

lançar mão do conceito de ciência como sinônimo de Verdade. Sendo assim, o

empreendimento positivista objetivava a substituição da Verdade católica. A sua

posição critica a intenção positivista comteana, tinha a intenção de propor uma ciência

alternativa a positivista, seria a ciência aos moldes de Spencer clivada da experiência

religiosa. Devemos lembrar que Spencer foi um autor também citado por Joaquim

Nabuco.

19 ROMERO, Silvio – op. cit. p. XIX

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Temperada com as noções da RerumNovarum, a Questão Social brasileira pelos

olhos do católico ultra-liberal Sylvio Romero, em 1992, ganha contorno temático

naquestão do partido operário brasileiro. Contudo, Romero descreve a cidade e a área

rural do Brasil e identifica os grupos sociais existentes em cada lugar e conclui não

haver proletariado em 1892 em números relevantes, por isso, a existência do partido

operário era um simulacro, uma artificialidade. Era uma questão que vinha de fora, não

era nacional. Sabemos de onde vinha – de Roma.

Romero lança mão de um discurso apocalíptico sobre a história do Brasil

daqueles anos de início de República. Para ele, o Brasil estava vivendo uma “Evolução

sem norte no mundo dos fatos.”20 A crise estava instaurada na economia, no direito, na

política e na religião com a queda do velho credo cristão, que defendia um catolicismo

liberal. O interessante de analisar nessa passagem do texto é o descrédito de qualquer

proposta partidária: positivista, sebastianista, militar, jacobino ou socialista.O Brasil

estava sem rumo. O positivismo crescendo, os operários sendo manipulados, a igreja

católica ligada a Roma estava em silêncio, os católicos liberais estavam sem espaço

político para o debate.

Todos os partidos apresentam problemas. Qual é a proposta para pensar a

inevitável “democracia social”, triunfo do quarto estado? Afirma que não há condição

para brotar o socialismo no Brasil, pois aqui temos poucos operários. Conclui:

A conclusão a tirar dos fatos é que um partido político e social operário no Brasil é uma criação prematura, artificial, que pode aproveitar a alguns jeitosos, porém decerto não vai servir ao operário, ao trabalhador nacional.21

Sobre o “operário político” ainda diz que se este não tivesse poder de voto, não

teria tantos amigos, e lança a seguinte observação: “Karl Marx dizia: ‘Uni-vos,

proletários!’ Nos dissemos aos nossos trabalhadores: ‘Abri o olhos, amigos.’”22

20 Ibidem. p. 271 21 Ibidem. p. 278

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Sylvio Romero dialoga com a RerumNovarum, critica o velho credo católico

(aqui identificado com o papismo) e sopra no ar uma necessidade também de uma força

alternativa ao positivismo que seja compatível com as:

[...] tradições legitimas, nas suas aspirações de ordem e de integridade pátria, promover a participação direta de todas as classes para que tenham meio de ser atendidas em seus justos reclamos; combater espírito de separatismo (...) difusão de uma filosofia mais progressista e mais de acordo com o espírito dos novos tempos.23

Quais seriam tais tradições legítimas? A resposta mais simples e pouco

explicativa seria a adoção de uma doutrina naturalista e evolucionista compatível com

todos os progressos, fruto do progresso científico e da democracia, se sustentando no

princípio da luta secular contra a teocracia para, mais uma vez, criticar o apostolado

positivista e compará-los aos reacionários católicos da escola de Maistre e de Le

Bonald. Contudo, tal resposta é muito generalista. Será que ele propõe um partido

católico liberal?

Em outro pedaço do texto, ele se posiciona contra a lei de separação entre a

igreja e o Estado, dizendo que esse ato contribuiu para “a dissolução da pátria

brasileira!”24. Ainda denuncia ter sido esse fato associado ilegitimamente ao ideário do

positivismo. Diz que o decreto foi decretado pelos positivistas e arquitetado por outra

mão (Rui Barbosa e Dom Macedo). Qualifica os positivistas como os “Janus das

ideias”25 que iludem a direita e a esquerda. A expressão “Janus das ideias”, associada a

uma forma de enganação o diferencia dentro do campo católico, não sendo simpático ao

jansenismo e nem um adepto às antigas crenças. Abre-se aí outra perspectiva de

cristianismo, o cristianismo liberal que defende a liberdade de pensamento.

22Ibidem 23 Ibidem p. 313 24 Ibidem p. 299 25 Ibidem p 312

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Explica que tal separação era um “artigo de fé do liberalismo universal”26e já

poderíamos assistir tal feito na América do Norte e na Suíça. O republicano Sylvio

Romero propõe:

[...] o grande partido democrata deve esforçar se para manter ileso o culto da liberdade, na expansão normal de todas as atividades ; manter e alargar o direito de voto e a intervenção da nação no governo, difundir a instrução primária dos dois graus gratuita e obrigatória, como obstáculo à ignorância, propício terreno de propagandas esdrúxulas; apoiar o espírito nacional nas suas tradiçõeslegitimas [grifo nosso – Que tradições seriam essas?], nas suas aspirações de ordem e de integridade pátria; promover a representação direta de todas as classes para que tenham meio de ser atendidas em seus reclamos; combater o espírito de separatismo, onde quer que ela surja, pugnando pela igualdade prática de todas os estados na gestão política do país; combater implacavelmente as opressivas ideias e quaisquer tendência e planos de ditatorianismos de qualquer gênero, pela difusão de uma filosofia mais progressista e mais de acordo com o espírito dos novos tempos.27

Caso a democracia unisse forças com a República, o período histórico das

“experiências extravagantes” seria superado e o Brasil assumiria uma trajetória política

de acordo com sua história. Afinal ele estava vivendo no período de 1892 e a República

ainda estava nas mãos dos militares o que a afastava do governo democrático.

O texto de Sylvio Romero é intrigante e abre possibilidades de reflexões

históricas alternativas para o desenvolvimento político nacional. Certos estamos da

importância do texto “Doutrina Contra Doutrina” e de nossa superficialidade aqui

exposta, contudo, cumprimos o objetivo estipulado, perceber a Questão Social e a

Questão Religiosa no bojo da nascente República do Brasil e demonstrar os debates

sobre o assunto. O esforço de Sylvio Romero de descrever e interpretar a sociedade

brasileira pelo prisma da ciência é reconhecido, sobre tudo por ser uma característica

forte da chamada geração de 1870, de um monte de ideias novas a qual Nabuco,

Romero e Rui Barbosa participam.

26 Ibidem 295 27 Ibidem p. 313

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Destacamos a parte final da exposição, pela afinidade que temos em sua

proposta democrática e de autorrepresentação nacional dissociada da prática de um

governo autoritário. Sylvio Romero demonstra uma autonomia de pensamento, não

descartando a influência religiosa, enquanto experiência mística, e se afastando da

Igreja enquanto instituição. A introdução de uma reflexão positivista spenceriana e

científica demonstra uma inovação epistemológica da época, e a perseguição do padre

Perereca a Sylvio Romero é um indício de censura do campo católico a tal forma de

pensar. Além disso, a sua reedição somente da década de 1960 demonstra o censura

católica de grande fôlego, pois a publicação de Sylvio Romero só ocorrerá após o

Concílio Vaticano II.

A breve exposição de Tavares Bastos, Joaquim Nabuco e Sylvio Romero vem ao

encontro de nossa intenção de demonstrar os debates políticos nacionais na segunda

metade do século XIX. As aflições lidas nos textos ruiano são compartilhadas

socialmente no debate nacional, apesar das referências e das citações em Rui Babrosa

recorrem a um reportório estrangeiro. Situaremos brevemente Rui Barbosa para

podermos passar a Oliveria Vianna.

A Questão Religiosa e a Questão Social em Rui Barbosa dialogam com os outros

três intelectuais apresentados, personagens que estavam todos em um grupo reformista

no interior do campo católico brasileiro. Tanto Rui quanto Joaquim Nabuco e Sylvio

Romero viveram a geração de 1870 – um bando de ideias novas. A experiência

jansênica de Rui Barbosa faz com que a análise de seu estilo político e literário se

confunda com práticas protestantes ou atéias, como nomeavam seus inimigos políticos.

A trajetória de Tavares Bastos demonstra a crítica a igreja católica Romana. “O

Solitário” se defende da acusação de protestante, pois presumia a necessidade de

separação entre Estado e a igreja. Também devemos ressaltar o Federalismo defendido

por Bastos que é lido nos textos de Rui Barbosa e foi contemplado na Constituição de

1891 cujoteor é tributária ao pensamento de Tavares Bastos. Rui Barbosa parece dar

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continuidade a T. Bastos nos assuntos como limites territoriais, imigração e liberdade

religiosa entre outros.

Nabuco, amigo de Rui Barbosa, apresenta elementos importantes para sentirmos

o clima intelectual nacional no qual estavam ambos inseridos. Do relato de Joaquim

Nabuco, recolhemos o seu esclarecimento sobre o olhar do intelectual cosmopolita e é

esse tipo de intelectual que identificamos Rui Barbosa. Sérgio Miceli sintetiza:

[...] é possível dizer que desde os reformistas liberais de finais do Império, passando pelos positivistas republicanos, pelos críticos conservadores ou radicais da República, pelos modernistas bem como seus sucedâneos [...]não foram poucos os intelectuais que procuraram justificar suas obras e as ações num ethos de missão civilizatória ou nacional, como se fossem portadores especiais dos interesses gerais da sociedade.28

Miceli também esclarece outro ponto importante sobre os intelectuais à

brasileira: a origem de muito deles em famílias decadentes regionalmente. Joaquim

Nabuco transita da grande propriedade agrária para o campo literário e Rui Barbosa,

filho de um médico baiano, vinha de uma classe média urbana de uma família

economicamente frágil e se desloca para um campo relativamente mais autônomo. João

Barbosa apostava na destreza intelectual do seu filho para a projeção política e

econômica da sua família. Cabe dizer que essa autonomia de Rui se dá pela perda dos

laços familiares muito cedo. Sua mãe Maria Adélia Barbosa de Oliveira, faleceu em

1867, sete anos depois (1874) morre o seu pai e em 1879 foi a sua única irmã, Brites.

Rui Barbosa adentra o campo literário por uma porta muito peculiar, aberta por

Sérgio Miceli quando reconhece a prática do jornalismo equivalente à do escritor de

romances. Assim, Rui Barbosa e Olavo Bilac puxam a fila do grupo do “Anatolianos”

que eram profissionais liberais e se dedicavam as letras e tinham características anti-

modernistas.

28 MICELI, Sérgio – Poder, Sexo e Letras na República Velha. São Paulo: Editora Perspectiva, 1977.

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Não por acaso, Rui Barbosa proferiu o discurso em homenagem a

FrançoaisAnatole na Academia Brasileira de Letras, quando este indo a Buenos Aires e

fez uma escala no Rio de Janeiro. Tal episódio fazia parte das estratégias de Rio Branco

para valorizar a imagem do Brasil Exterior.

OLIVEIRA VIANNA: DEFESA DAS BASES ARGAMASSADAS NA ARGILA DA SOCIEDADE VIVA

Nascido em 1883, Oliveira Vianna representa a geração posterior de Rui

Barbosa. Bacharelou-se em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em

1906 e tornou-se professor da Universidade Federal Fluminense em 1916. Assumiu

outros diferentes cargos políticos, foi consultor do governo do presidente Getúlio

Vargas na década de 1930 e produziu uma rica obra de interpretação sociológica do

Brasil.

Católico apostólico romano, foi defensor da encíclica RerunNovarum e adepto

da Doutrina Social Católica, sobretudo no Direito do Trabalho e no princípio da

solidariedade. Também flertou com o Integralismo.29 Cabe ressaltar que Oliveira

Vianna não participou dos debates intelectuais sobre os limites entre a igreja e o Estado

e nem o processo de secularização do Brasil. Ele vinha de uma família rural de

Saquarema e referência na vida rural é lida abundantemente na obra desse autor e sua

vivência católica é tributária a essa sua experiência de vida.

Nossa referência central foi o texto “O Idealismo da Constituição”30, publicado

em 1927, uma vez que a nossa visita a esse autor tem a clara intenção de perceber como

ele observou a geração anterior à dele, sobretudo, a sua interpretação dos intelectuais da

29http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=137, acessado em 14 de janeiro de 2014, às 16h.

30OLIVEIRA VIANNA, Francisco José de – O Idealismo da Constituição. Companhia Editora Nacional:

São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre.3ª Edição: 1939.

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geração anterior. A edição aqui estudada é a terceira, editada e aumentada no ano de

1939.

Adiantaremos essa concepção de Oliveira Vianna por meio da citação abaixo:

Eu cito de preferência Nabuco, porque Nabuco é nosso maior pensador político. Prevejo a objeção de que talvezmaiores do que ele fossem Ruy ou Tavares Bastos. Mas, nem Ruy nem Tavares Bastos são comparáveis a Nabuco sob esse aspecto: um e outro foram grandes doutrinadores políticos, mas não pensadores políticos propriamente ditos. Em Ruy, como em Tavares, há sempre o ponto de vista lateral – do advogado: só em Nabuco eu encontro a impersonalidade do pensador, isto é, o espírito que, por um esforço de abstração, consegue isolar-se do seu meio e ver os homens e os acontecimentos de fora – como se os visse de Netuno ou de Sirius.31

Segue comparando Joaquim Nabuco a FrançoaisAnatole e diz “Nabuco era

visceralmente um homem de elite, um ‘homem de raça’, no sentido particular que os

círculos aristocráticos europeus costumam dar a esta expressão”.32 Essa descrição tão

apaixonante de Nabuco não condiz com aquela lidas nas paginas anteriores, quando

analisamos o texto “Minha Formação” e identificamos um discurso partidário da

monarquia durante a época republicana.

O isolamento não é uma habilidade de Nabuco, muito pelo contrário. A adesão à

monarquia levou ao comprometimento de Nabuco de reescrita da história da sua família

e à dele próprio, assim como a forja de uma interpretação da política nacional tanto do

período monárquico, quanto do republicano em uma estratégia de construção muito bem

sucedida.

Voltando à citação. Oliveira Vianna não teve contato com Tavares Bastos,

poiseste faleceu em 1875, portanto, antes do nascimento de Oliveira Vianna. O

continuador das ideias de Tavares Bastos foi Rui Barbosa que no ano em que nascia

Oliveira Vianna, já se articulava na política Imperial e durante a sua formação na

31Idem p. 273 32 Ibidem

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faculdade de Direito (1900–1906) Rui estava consolidado no campo do direito e da

política brasileira.O fato de Oliveria Vianna se afinar politicamente com o monarquismo

expica a sua predileção por Joaquim Nabuco.

Como veremos, a adesão a Nabuco, conforme a sua própria descrição, e a

pequena desqualificação de Rui Barbosa e de Tavares Bastos se concretizará em dois

conceitos muito interessantes apresentado por ele: idealismo orgânico e idealismo

utópico. Os conceitos apresentam alguns detalhes que os deixam complexos, apesar de

podermos rapidamente sintetizá-los, mas não teremos pressa para pescar a sutileza

ideológica ali contida.

Oliveira Vianna recorre ao argentino José Ingenieros33 para explicar o idealismo

como antevisão da realidade social futura e, assim, diferenciá-lo do idealismo que

envolvia uma ação arbitrária da fantasia. A razão se subordina à realidade social e, dos

tantos ideais apresentados pela sociedade, somente vingaria aquele que estivesse em

conformidade com a evolução social peculiar a cada sociedade. O destino do ideal não

estaria baseado na beleza e nem na grandeza. A conformidade com a experiência vivida

nacionalmente daria sustentação e viabilidade política de sucesso dessa intenção. Do

retorno crítico ao passado – passado como um arquivo das experiências – dependeria a

projeção do futuro. As leis da vida social são equivalentes à sabedoria do inconsciente

que sustenta a permanência da História34 – a expressão “sabedoria do inconsciente”

deve ser destacada e, por enquanto, reservada, pois voltaremos mais adiante nela.

A chave de interpretação está no reconhecimento da peculiaridade histórica, que

seria para Oliveira Vianna o ponto de diferenciação entre os idealistas utópicos e ou

idealistas orgânicos. Os idealistas utópicos, “sonhadores do racionalismo” na definição

33 José Ingenieros foi farmacêutico e médico por formação e seus trabalhos de pesquisa na Sociedade Argentina de Psicologia tiveram a influência dos filósofos Augusto Comte e Herbert Spencer. Nos anos de 1918-20, acirra a sua luta política pela reforma do Estado argentino em um campo próximo ao comunismo. 34 Oliveira Vianna apresenta uma bela epistemologia da História, dialogando com Taine, Carlyle.Vendal, Thomas Seccombe e Micheletdefente a História enquanto uma ciência interpretativa.

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de Vianna, acreditam na possibilidade de transposição das ideais universais que não se

encontram presente na experiência histórica social. Já os idealistas orgânicos respeitam

a experiência histórica advindas da vida social.

Resgato outra passagem de Vianna:

Os idealistas românticos, os racionalistas, os metafísicos, todos eles desconhecem esta atitude, desdenham as leis do desenvolvimento social concebem a sociedade como simples matéria plástica, que eles presumem facilmente moldável à feição da sua vontade, segundo os modelos engenhados por sua imaginação. 35

Podemos ler na descrição do idealismo utópico a desqualificação política de tal

intelectual por meio de uma caracterização caricatural. Quando Oliveira Vianna cita o

desdenho às leis de desenvolvimento social está querendo dizer, na verdade, a não

adesão daqueles intelectuais ao princípio positivista de leis que regem a vida social, em

outras palavras: a “sabedoria do inconsciente”. Além disso, sabemos que essas leis que

fomentam a permanência de uma determinada experiência histórica não são naturais.

Existe um esforço político multifacetado para manter um determinado encaminhamento

político.

Em outra passagem ele explicita mais o que seria a “sabedoria do inconsciente”.

Diz existir em “um vasto mundo de forças organizadas, de tendências, de instintos, de

impulsões misteriosas, que formam o sistema das correntes subterrâneas que circulam

no subconsciente das nacionalidades”.36 Cada nação teria sua própria lei que regeria a

vida social. Cabe aqui a pergunta: Qual é a singularidade ibero-americana? Joaquim

Nabuco, intelectual idealista orgânico, diz que no Brasil existe a arte da construção

política no vácuo, baseando-se em teses e não em fatos. Oliveira Vianna busca estudar o

Brasil para propor uma política pública baseada em fatos, como sugere Nabuco.

35 Idem p. 308 36 Ibidem p. 346

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A história do desenvolvimento da democracia e da liberdade no Brasil abundaria

em exemplos de movimentos políticos propostos pelos idealistas utópicos. O

movimento pela Independência, os da Constituinte Imperial, os de 7 de abril, a reação

liberal de 68, os Manifestos republicanos de 1870, a Constituição republicana seriam

exemplos de atuação política utópica. Nossa preocupação se restringe às impressões de

Oliveira Vianna da Constituição republicana de 1891, pois Rui foi o artífice de tal

Carta.

A princípio, Oliveira Vianna não nega a viabilidade da democracia no Brasil,

contudo a qualifica como uma democracia sem opinião organizada e chamada à elite

para ser agente do governo. Uma de suas críticas era a dinâmica eleitoral. Para ele o

corpo eleitoral deveria ser mais restrito do que aqueles oriundo do sufrágio universal e

mais amplo do que uma Assembleia Nacional. Os integrantes do corpo eleitoral

deveriam ser aptos ao exercício do voto, ter o conhecimento dos negócios públicos

nacionais e serem homens políticos de valor nacional. O grupo de eleitores se dividiria

em dois, grupo de eleitorado político e o grupo do eleitorado não político, como por

exemplo, os magistrados e professores universitários. Tal intenção denunciava e

acabava com o voto de cabresto, assim como, a impossibilidade de reeleição asseguraria

a rotatividade na representação.

Outra crítica era contra a organização do trabalho em sindicatos. Para Oliveira

Vianna, não haveria solidariedade na sociedade brasileira, isso invibializaria a

integração das classes, em uma ação que obedeceria às leis naturais. Frente à falta de

solidariedade, a opção era a criação de Conselhos Técnicos para representar as classes.

Estes Conselhos teriam de ser consultados obrigatoriamente caso houvesse a

necessidade de mudanças e seria seguido pela criação de órgãos corporativos.

O regime federativo não escapou às críticas. Aponta para a necessidade de uma

mudança constitucional que habilitasse legalmente a penetração do poder central nas

questões que aparentemente seriam regionais, quando na realidade seriam problemas

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nacionais como, por exemplo, as secas, a proteção dos produtos agrícolas (café, açúcar e

mate) e o banditismo sertanejo.

Nesse tópico, assistimos a duas críticas ao projeto se secularização de Rui

Barbosa. O federalismo de Tavares Bastos e Rui é a mais óbvia, a segunda é a Questão

Social. Se para Rui a Questão Social estava inscrita nas questões operárias e no mundo

urbano, para Oliveira Vianna esse assunto estava identificado com o mundo rural

brasileiro. Os argumentos de um e do outro parecem antagônicos, um fala da cidade e

outro do campo, contudo se puxarmos o nosso outro mote de pesquisa a Questão

Religiosa podemos observar as falas como complementares.

A encíclica papal de Leão XIII, escrita em 1891, chamada de RerumNovarium,

ficou conhecida por se tratar do posicionamento da questão do operário. Tanto Sylvio

Romero quanto Rui Barbosa dialogam com essa temática e percebem que a causa

operária no Brasil se restringia a um pequeno grupo de pessoas, mas mesmo assim

debatem a política junto a ela. Já Oliveira Vianna, parece se aprofundar mais na questão

do trabalho, assunto que é discutido ao longo da encíclica papal. Ao recorrer ao texto da

RerunNovarum podemos ler além da questão operária a defesa da terra, enquanto

propriedade privada e, simultaneamente, garantidora da reprodução da vida material.

Ela significa, unicamente, que Deus não assinou uma parte a nenhum homem em particular, mas quis deixar a limitação das propriedades à indústria humana e às instituições dos povos. Aliás, posto que dividida em propriedades particulares, a terra não deixa de servir à utilidade comum de todos, atendendo a que não há ninguém entre os mortais que não se alimente do produto dos campos. Quem os não tem, supre-os pelo trabalho, de maneira que se pode afirmar, com toda a verdade, que o trabalho é o meio universal de prover às necessidades da vida, quer ele se exerça num terreno próprio, quer em alguma parte lucrativa cuja remuneração, sai apenas dos produtos múltiplos da terra, com os quais ela se comuta. De tudo isto resulta, mais uma vez, que a propriedade particular é plenamente conforme à natureza. A terra, sem dúvida, fornece ao homem com abundância as coisas necessárias para a conservação da sua vida e ainda para o seu aperfeiçoamento, mas não poderia fornecê-las sem a cultura e sem os cuidados do homem. Ora, que faz o homem, consumindo os recursos do seu espírito e as forças do seu corpo em procurar esses bens da natureza? Aplica, para assim dizer, a si mesmo a porção da natureza corpórea que cultiva e deixa nela como que um certo cunho da sua pessoa, a ponto que, com toda a justiça, esse bem será possuído

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de futuro como seu, e não será lícito a ninguém violar o seu direito de qualquer forma que seja.37

O documento católico fala de ambos os mundos, rural e urbano. Nesse

sentido,Oliveira Vianna defende a mudança, nas palavras dele uma “evolução

transformadora”, na qual a peculiaridade histórica nacional seria levada em conta pela

política pública, idealista, por projetar o futuro, mas orgânica, por se basear na história

nacional vivida. Mas... que história é essa?

Na versão brasileira de Oliveira Vianna, o Brasil é fruto de dois tipos de guerra:

uma guerra material entre os clãs do feudo e outra guerra eleitoral para manutenção da

propriedade.38 Como consequência desse estado de guerra, as relações sociais entre o

senhor e a população, advinda desse modo de vida feudal, se baseavam na defesa do

domínio e no prestígio do proprietário. Estavam aí as bases “argamassadas da argila

viva” da sociedade brasileira.

Roberto Schwarz também identifica nas relações sociais brasileiras a violência e

vai além demonstrando como as relações de favor são estratégias de negociação entre

homens livres que não se isenta de violência, mas demonstra certa autonomia do

favorecido. As colocações de Oliveira Vianna são importantes para pensar as

estratégicas políticas republicanas, contudo, conclusões retiradas de sua ponderação

história devem ser pescadas e combatidas. Segundo Oliveira Vianna, a história é

composta por fenômenos complexos e sua síntese depende de métodos objetivos

(científicos) além da intuição e da indução rápida e conjectural. Assim, os historiadores

suprem as lacunas dos arquivos. Complexificou a noção de conjectura:

Há a conjectura arbitrária, pura obra da imaginação, sem ponto de pega nas realidades da vida [advinda do idealismo utópico], e há a conjectura disciplinada, apoiada e orientada no conhecimento das leis que presidem a

37http://www.vatican.va/holy_father/leo_xiii/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_15051891_rerum-novarum_po.html, acessada em 23 de novembro às 14h. 38 OLIVEIRA VIANNA, Francisco José – Instituições políticas brasileiras. Record: Rio de Janeiro, 3ª Edição: 1974.

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estrutura e a filosofia das sociedades humanas [fruto do idealismo orgânico].39

É na concepção de história interpretativa em Oliveira Vianna que podemos

pescar a ideologia subjetivada em sua própria teoria. A conjuntura arbitrária e a

conjuntura disciplinada, antes de serem a face da mesma moeda, seja tal expressão

carregada do significado de complementariedade ou de oposição, demonstra no fundo

odebate político sobre o encaminhamento da modernidade brasileira. A alegoria

“utópico” ou “orgânico” apresenta as possibilidades de compreensão do Brasil, liberal

ou autoritário.

Vimos nessa breve apresentação a maneira pela qual se desenvolveu o debate da

Questão Social, Questão Religiosa e a tentativa de apagar a Questão Racial. Sendo este

balizado pelo princípio de disputa pela interpretação autoritária ou liberal do

encaminhamento da política nacional.

A ideia de que as ideias estão fora do lugar e as suas justificativas para

interpretação da história nacional, desvia a atenção do real problema: a construção

histórico-social do lugar das ideias que, a priori, não tem lugar! Assim, autoritarismo e

liberalismo devem ser tratadas como noções abstratas, que no limite de suas ações, se

confundem ao serem chamadas para o debate político. Faces da mesma moeda, também

não são, assim como também não se complementam.

A querela entre liberais e autoritários dentro do debate político deve ser

entendida de maneira relacional, pois ao adjetivar determinadas atitudes como

autoritárias se pressupõe a adoção de medidas contrárias a ela e que sejam próprias do

campo liberal. O valor dado à expressão “liberal” e “autoritário” deve ser entendido na

dinâmica de disputa de significado político, em contextos históricos específicos, pois

39 OLIVEIRA VIANNA, Francisco José de – O Idealismo da Constituição. Companhia Editora Nacional: São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre.2ª Edição: 1939 p. 324

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como exemplifica Roberto Schwartz os sistemas de contra-sensos é o nó na vida

intelectual.

A proposta foi enxergar as intenções dos intelectuais aqui estudados para além

de colocá-los nas prateleiras do discurso liberal ou autoritário. Oliveira Vianna pode

classificar Rui Barbosa como liberal e assim propor um abordagem autoritária como

opção para a solução dos problemas da política nacional dos anos vinte, contudo o

historiador deve desconfiar dessa rápida classificação e buscar entendê-la como sintoma

de conquista ou tentativa de conquistas políticas de novos grupos que reclamam seu

protagonismo histórico.

Com esse mapeamento demonstrei os diálogos travados por Rui Barbosa sobre a

Questão Social e a Questão Religiosa e assim podemos passar ao entendimento

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