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1250-163 Lisboa • Portugal
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TAX & BUSINESS
A presente Informação Fiscal destina-se a ser distribuída entre Clientes e Colegas e a
informação nela contida é prestada de forma geral e abstracta. Não deve servir de base para
qualquer tomada de decisão sem assistência profissional qualificada e dirigida ao caso
concreto. O conteúdo desta Informação Fiscal não pode ser reproduzido, no seu todo ou em
parte, sem a expressa autorização do editor. Caso deseje obter esclarecimentos adicionais
sobre este assunto contacte [email protected].
***
Esta Informação Fiscal é enviada nos termos dos artigos 22.º e 23.º do Decreto-Lei n.º
7/2004, de 7 de Janeiro, relativa ao envio de correio electrónico não solicitado. Caso
pretenda ser removido da nossa base de dados e evitar futuras comunicações semelhantes,
por favor envie um email com “Remover” para o endereço email
01
J U R I S P R U D Ê N C I A D O T R I B U N A L D E J U S T I Ç A D A U N I Ã O E U R O P E I A ( 4 º . T R I M E S T R E D E 2 0 1 4 )
Best Lawyers - "Tax Lawyer of the Year" 2014
Legal 500 – Band 1 Tax “Portuguese Law Firm” 2013
International Tax Review –"Best European Newcomer" (shortlisted) 2013
Chambers & Partners – Band 1 “RFF Leading Individual “ 2013
Who´s Who Legal – “RFF Corporate Tax Adviser of the Year” 2013
IBFD – Tax Correspondents Portugal, Angola and Mozambique
Pretende-se, com a presente Informação
Fiscal, apresentar uma síntese trimestral dos
principais Acórdãos proferidos pelo Tribunal
de Justiça da União Europeia (“TJUE” ou
“Tribunal”) – à semelhança do que fazemos
em relação às decisões do Centro de
Arbitragem Administrativa (“CAAD”) e do
Tribunal de Contas –, relacionados com o
domínio da Fiscalidade, analisando, caso a
caso, o impacto e o contributo que tais
decisões poderão vir a ter, do ponto de vista
nacional.
A presente Informação Fiscal é relativa ao 4.º
Trimestre de 2014.
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1.1.1.1.
Número do processoNúmero do processoNúmero do processoNúmero do processo: C-492/13
NomeNomeNomeNome: Traum EOOD
DataDataDataData: Acórdão de 9 de Outubro de 2014
Assunto:Assunto:Assunto:Assunto: Obrigação de registo noutro Estado-Membro para efeitos de isenção de IVA
FactosFactosFactosFactos
O presente Processo opôs uma empresa búlgara – a Traum –, que tem como objecto social a
construção geral de edifícios e obras de construção civil, e as autoridades tributárias búlgaras.
A Traum, durante os meses de Setembro e Outubro de 2009, vendeu a uma empresa grega – a
Evangelos gaitadzis – porta-lâminas e peças em bruto. Por se tratar de uma aquisição
intracomunitária de bens, a Traum considerou tratar-se de uma operação isenta de IVA, tendo,
contudo, emitido duas facturas com o número de IVA grego da Evangelos gaitadzis, os protocolos
de entrega, as guias de transporte internacionais e um documento comprovativo da recepção da
mercadoria em causa.
Posteriormente, no seguimento de um pedido de reembolso, as autoridades búlgaras procederam a
uma verificação na base de dados electrónica do Sistema de Intercâmbio de Informações sobre o
IVA (doravante denominada de VIES), tendo verificado que a sociedade grega se encontrava
registada para efeitos de IVA e que dispunha de um número de IVA válido desde 15 de Novembro de
2005, pelo que, reembolsou a Traum do montante solicitado.
Contudo, as autoridades búlgaras voltaram, mais tarde, a fazer outro controlo fiscal, tendo
consultado novamente a base de dados VIES. Desta feita, constatou que a sociedade grega já não
estava registada para efeitos de IVA desde 15 de Janeiro de 2006. Nestes termos, emitiu um aviso
rectificativo à Traum, sujeitando as operações em causa a IVA, com fundamento no facto de a
sociedade grega não estar registada para efeitos de IVA, requisito que, de acordo com a legislação
búlgara, é conditio sine qua non da aplicação de isenção de IVA nas operações de transmissão
intracomunitária de bens.
Para além do argumento apresentado, as autoridades fiscais búlgaras entenderam, ainda, que não
havia prova suficiente do efectivo transporte dos bens para fora do território búlgaro e da
correspondente recepção pelo adquirente.
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A Traum defendeu-se destas acusações alegando que forneceu todos os documentos
comprovativos da existência de uma entrega intracomunitária e, bem assim, que procedeu de boa-
fé, ao ter verificado o numero de IVA da sociedade grega na base da dados VIES antes de concluir as
operações em causa.
O Tribunal Administrativo búlgaro, confrontado com um problema de interpretação de legislação da
União Europeia, colocou ao TJUE a questão de saber se é possível que um Estado-Membro, à luz das
regras da União Europeia, possa recusar o direito à isenção de IVA, no âmbito de uma transmissão
intracomunitária de bens, com fundamento no facto de o adquirente não estar registado para
efeitos de IVA noutro Estado-Membro.
Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal
Para o TJUE, a questão centra-se em saber quais os elementos de prova que as autoridades
tributárias podem impor ao fornecedor para comprovar as condições de isenção de IVA nas
transmissões intracomunitárias de bens.
O TJUE começa, então, por salientar que, na falta de regras específicas na legislação da União
Europeia sobre os elementos de prova que os sujeitos passivos devem fornecer às autoridades
fiscais dos Estados-Membros, cabe a estes definir essas regras. Porém, não o podem fazer à
margem das próprias regras da União Europeia, nem dos princípios gerais de direito comuns,
nomeadamente, o princípio da segurança jurídica e da proporcionalidade.
O princípio da segurança jurídica tem importantes implicações na medida em que impõe que o
Estado defina concretamente e de forma clara e precisa quais as obrigações fiscais que devem ser
cumpridas aquando de uma certa operação.
Deste modo, o TJUE começa por afirmar que seria contrário ao princípio da segurança jurídica que
um Estado-Membro, que tenha previsto certas condições para a aplicação da isenção de IVA,
fixando quais os documentos a entregar à autoridade fiscal em causa e que aceitou inicialmente os
documentos apresentados pelo contribuinte como provas suficientes para a aplicação da isenção,
tendo inclusive reembolsado o sujeito passivo, possa vir, mais tarde, afirmar que esses documentos
não eram, afinal, suficientes para a aplicação da referida isenção.
Quanto ao princípio da proporcionalidade, o TJUE evidencia, também, que, tendo em conta que a
obrigação de verificar se o adquirente tem número de identificação para efeitos de IVA cabe à
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autoridade fiscal, não se pode imputar ao fornecedor uma eventual irregularidade no registo,
privando-o do direito à isenção a que tinha direito.
Assim, o TJUE afirma peremptoriamente que a actuação da autoridade fiscal ao aceitar, num
primeiro momento, com base em toda a informação exigida pela legislação búlgara e prestada pelo
fornecedor, a isenção e, num momento posterior, recusar a mesma isenção, por factos não
imputáveis ao fornecedor, consubstancia uma violação do princípio da segurança jurídica e da
proporcionalidade.
No entendimento do TJUE, o argumento de que a Traum devia ter comprovado por outros meios
que a operação efectuada entre si e a sociedade grega estava sujeita a IVA não colhe, porquanto a
lei búlgara não o impõe.
DecisãoDecisãoDecisãoDecisão
Em face do exposto, o TJUE concluiu que os Estados-Membros não podem recusar o direito à
isenção de IVA no âmbito de uma transacção intracomunitária de bens com fundamento no facto de
o adquirente não estar registado, para efeitos de IVA, noutro Estado-Membro, quando o fornecedor
apresentou todos os documentos exigidos pela legislação do Estado-Membro em causa e que
tenham sido aceites, num primeiro momento, como provas suficientes e justificativas da
transmissão intracomunitária dos bens.
Implicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito português
Esta decisão contribuiu para clarificar o alcance dos princípios da segurança jurídica e da
proporcionalidade, designadamente nas situações de aplicação de isenções de IVA.
2. 2. 2. 2.
Número do processo:Número do processo:Número do processo:Número do processo: C-112/14
Nome:Nome:Nome:Nome: Comissão Europeia / Reino Unido
Data:Data:Data:Data: Acórdão de 13 de Novembro de 2014
AssuntoAssuntoAssuntoAssunto: Livre circulação de capitais – Imputação de rendimentos a sócios de entidades não
residentes – Diferença de tratamento entre entidades residentes e não residentes
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FactosFactosFactosFactos
Em 23 de Novembro de 2009, a Comissão informou o Reino Unido que determinadas normas
constantes da sua legislação e referentes à imputação de rendimentos a sócios de entidades não
residentes seriam incompatíveis com o Direito da União Europeia.
As referidas normas prevêem que, salvo determinadas excepções, haverá uma imputação directa de
rendimentos a sócios de uma entidade não residente no Reino Unido, caso a mesma seja uma “close
company”, ou seja, uma entidade cujo controlo se encontra concentrado em não mais do que cinco
sócios ou em sócios que, também, constituem directores da entidade.
Já quanto a entidades residentes, a legislação do Reino Unido prevê que só haverá lugar a tributação
aquando da efectiva distribuição de rendimentos aos sócios.
Por sua vez, o Reino Unido considerou que a referida legislação estaria sempre justificada pelo
combate à evasão fiscal, mas que, ainda assim, iria emendá-la.
Uma vez que o Reino Unido não procedeu à alteração da referida norma no prazo determinado, a
Comissão submeteu a questão do eventual incumprimento, por parte do Reino Unido, ao TJUE.
Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal
A título preliminar, o TJUE concluiu que uma norma como a que está em causa constitui uma
restrição à livre circulação de capitais, pois esta diferença de tratamento fiscal entre entidades
residentes e não residentes desencoraja investimentos fora do Reino Unido.
De seguida, o TJUE ponderou se a referida restrição era compatível com o Direito da União
Europeia, ou seja, se a referida diferença de tratamento, poderia ser objectivamente justificada.
Neste âmbito, em linha com a jurisprudência existente, o Tribunal considerou que a prevenção do
combate à evasão fiscal poderá justificar uma restrição, desde que a mesma seja apropriada a
atingir o referido objectivo e desde que não vá para além do necessário, apenas podendo ser
justificada se impedir especificamente expedientes puramente artificiais que não reflictam uma
realidade económica e que tenham apenas como objectivo evitar a tributação.
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O Tribunal considerou que a presente norma é apta a combater a evasão fiscal, mas viola o princípio
da proporcionalidade por excesso, uma vez que, também, incide sobre expedientes cuja realidade
económica não pode ser contestada.
DecisãoDecisãoDecisãoDecisão
Em face do exposto, o TJUE concluiu que o Reino Unido, ao adoptar uma norma referente à
imputação directa de rendimentos a sócios de entidades não-residentes, abre caminho a uma
diferença de tratamento entre actividades domésticas e transfronteiriças que resulta na violação da
livre circulação de capitais.
Implicações no direito poImplicações no direito poImplicações no direito poImplicações no direito português rtuguês rtuguês rtuguês
A referida decisão contribui para clarificar o alcance do princípio da livre circulação de capitias,
designadamente com respeito à consagração de normas específicas anti-abuso, que distingam
regimes aplicáveis a residentes e não residentes.
3.3.3.3.
Número do Processo:Número do Processo:Número do Processo:Número do Processo: C-678/11
Nome:Nome:Nome:Nome: Comissão Europeia / Reino de Espanha
Data:Data:Data:Data: 11 de Dezembro de 2014
Assunto:Assunto:Assunto:Assunto: Restrições à livre prestação de serviços
FactosFactosFactosFactos
Em 2008, a Comissão Europeia notificou o Reino de Espanha para que este sanasse as
incompatibilidades verificadas entre as disposições respeitantes à livre prestação de serviços no
espaço europeu e as disposições do direito espanhol que impunham aos fundos de pensões
estabelecidos noutros Estados-Membros e ainda a certas entidades e pessoas singulares não
residentes, a obrigação de indicarem um representante fiscal residente em Espanha.
Apesar da posição da Comissão, o Reino de Espanha reiterou o entendimento de acordo com o qual
a obrigação de indicar um representante fiscal, no contexto ora em análise – para efeitos de
retenção do montante do imposto devido por aquele rendimento e, bem assim, do seu pagamento
por conta à Administração Tributária –, se justifica pela necessidade de uma fiscalização tributária
eficaz e de combate à fraude fiscal, tratando-se de medidas que não vão além do necessário para
atingir esses objectivos.
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No entender do Reino de Espanha, o combate à fraude fiscal não seria possível, ou, pelo menos, de
forma eficaz, através do recurso ao mecanismo de assistência mútua das autoridades competentes
de diversos Estados-Membros, para efeitos de troca de informações e de cobrança de créditos, no
domínio dos impostos directos e dos impostos sobre os prémios de seguro, dada, por um lado, a
inoperacionalidade de tal mecanismo e, por outro, atendendo à não assunção por parte de alguns
Estados terceiros de compromissos de assistência mútua.
Para mais, argumenta o Reino de Espanha que estando os organismos de gestão de fundos de
pensões estabelecidos em Espanha obrigados a proceder, por si próprios, à retenção do imposto
devido pelos rendimentos auferidos no âmbito dos planos de pensões – dada a complexidade do
cálculo do seu montante –, também os fundos de pensões e as companhias de seguros de outros
Estados-Membro que operem em Espanha têm de estar sujeitas às mesmas obrigações, por forma a
respeitar o principio da igualdade de tratamento e o bom funcionamento do mercado interno.
A Comissão submeteu a questão do eventual incumprimento, por parte do Reino da Espanha, ao
TJUE.
Apreciação Apreciação Apreciação Apreciação do Tribunaldo Tribunaldo Tribunaldo Tribunal
O Tribunal entendeu que as medidas nacionais susceptíveis de dificultar ou tornar menos atractivo o
exercício das liberdades fundamentais garantidas pelo direito da União Europeia podem, ainda
assim, ser admitidas desde que prossigam um objectivo de interesse geral, sejam adequadas a
garantir a sua realização e não vão além do necessário para o atingir. Mais referiu o Tribunal que,
nestes casos, caberá às autoridades nacionais, quando adoptam uma medida derrogatória a um
princípio consagrado no direito da União Europeia, provar, em cada caso concreto, que essa
condição está preenchida.
Neste sentido, concluiu, por um lado, o Tribunal que a afirmação de que a condição de residência
constitui uma melhor garantia de que as obrigações de ordem fiscal, que incubem ao representante
fiscal serão cumpridas de modo eficaz, não corresponde à verdade. Com efeito, no entender do
Tribunal, as dificuldades administrativas não constituem um fundamento capaz de justificar um
entrave a uma liberdade fundamental.
Por outro lado, os mecanismos de cooperação existentes entre as autoridades dos Estados-
Membros ao nível da União Europeia são suficientes para permitir ao Estado-Membro em causa
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efectuar a cobrança do imposto devido noutro Estado-Membro, excepção feita, claro está, aos
casos de Estados terceiros que não assumiram compromissos de assistência mútua.
Concluiu, ainda, o Tribunal que, ao contrário do que o Reino de Espanha dá a entender nos seus
articulados, a petição da Comissão não se refere à obrigação de retenção enquanto tal, mas sim à
obrigação de nomear um representante fiscal para efeitos de efectuar essa mesma retenção.
Pelo que, o argumento avançado pelo Reino de Espanha para justificar esta medida, de que a
obrigação de retenção do imposto por parte dos fundos de pensões e companhias de seguros
estabelecidos noutros Estados-Membros respeitaria o princípio da igualdade de tratamento e o bom
funcionamento do mercado interno não colheu junto deste Tribunal.
DecisãoDecisãoDecisãoDecisão
O Tribunal considerou que o Reino de Espanha, ao determinar a obrigatoriedade de nomeação de
representante fiscal nos casos ora em apreço, não cumpriu as obrigações a que está adstrito, por
força da aplicação do direito da União Europeia, violando, neste caso, a disposição que prevê a
proibição genérica de restrições à livre prestação de serviços na União Europeia.
Contudo, improcede a pretensão da Comissão, por não se poder considerar demonstrado que a
obrigação de nomear um representante fiscal residente em Espanha vá além do necessário para
atingir o objectivo de garantir a eficácia da fiscalização tributária e do combate à evasão fiscal, nos
casos em que não foi celebrado acordo sobre a troca de informações entre um Estado-Membro e
um Estado terceiro.
Implicações no Direito PortuguêsImplicações no Direito PortuguêsImplicações no Direito PortuguêsImplicações no Direito Português
A presente decisão contribui para clarificar o alcance do princípio da livre prestação de serviços e,
bem assim, das restrições admissíveis ao referido princípio, designadamente nos casos de
imposição de nomeação de representante fiscal.
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4.4.4.4.
Número do pNúmero do pNúmero do pNúmero do processorocessorocessorocesso: C-590/13
Nome:Nome:Nome:Nome: Idexx
Data:Data:Data:Data: Acórdão de 11 de Dezembro de 2014
Assunto:Assunto:Assunto:Assunto: Exigências substantivas e formais para obtenção do direito à dedução
FactosFactosFactosFactos
No presente Processo, encontram-se em litígio uma empresa italiana – a Idexx – e as autoridades
fiscais italianas.
A Idexx efectuou aquisições intracomunitárias de bens a uma empresa francesa e a outra empresa
holandesa.
Contudo, quanto à empresa francesa, não inscreveu no registo a que estava obrigada a manter o
IVA de algumas facturas emitidas e, quanto à empresa holandesa, apenas registou as facturas
emitidas no seu registo de compras, com a menção “sem IVA”.
As autoridades italianas detectaram estas irregularidades, por via de uma inspecção tributária, e
emitiram as respectivas liquidações adicionais de IVA.
A Idexx recorreu para o tribunal de 1.ª instância italiano, que concedeu provimento ao pedido, mas
em sede de recurso, o tribunal de 2.ª instância anulou a decisão de 1.ª instância, alegando que as
disposições de direito nacionais e da União Europeia impunham ao sujeito passivo a obrigação de
numerar e completar a factura no momento da aquisição intracomunitária com todos os elementos
constitutivos da base tributária da operação e, bem assim, de inscrever separada e
tempestivamente as facturas emitidas. Concluiu, ainda, o Tribunal de recurso que a infracção em
causa consubstanciou uma infracção atinente aos requisitos substantivos das aquisições
intracomunitárias em causa.
Considerando não assistir razão ao Tribunal de 2.ª instância, a Idexx interpôs recurso daquela
decisão para o Tribunal Superior italiano, manifestando o entendimento de que a falta de registos
nos termos ora expostos não tem efeitos substantivos sobre as aquisições, pelo que, não poderia a
autoridade fiscal italiana corrigir a declaração de IVA e exigir-lhe o pagamento do imposto, negando-
lhe o direito à dedução. Nestes termos, as infracções cometidas apenas poderiam dar origem à
aplicação de coimas.
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Em face do exposto, o Tribunal Superior italiano considerou serem necessários esclarecimentos
quanto à interpretação de normas da União Europeia, questionando o TJUE sobre se a exigência
segundo a qual os sujeitos passivos devem manter registos das operações efectuadas em IVA são
exigências formais do direito à dedução ou se, pelo contrário, prevêem exigências de fundo ou de
substância do direito à dedução, cuja não observância pressupõe a perda do referido direito.
Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal
O TJUE começa por salientar que o direito à dedução é um princípio fundamental do sistema
comum do IVA. Com efeito, conforme é exaustivamente salientado pelo TJUE, o direito à dedução
do IVA devido ao IVA pago pelas vendas ou prestações de serviços efectuadas é um direito que
constitui parte integrante do sistema do IVA e não pode, em princípio, ser limitado.
Note-se que, como salienta o TJUE, o direito à dedução é um dos mecanismos que permite garantir
a neutralidade do IVA, enquanto sua característica essencial.
Por outro lado, a legislação da União Europeia, em sede de IVA, permite que os Estados-Membros
imponham certas formalidades quanto ao exercício do direito à dedução.
Contudo, as formalidades impostas pelos Estados-Membros não podem exceder o que é necessário
para assegurar a correcta autoliquidação do imposto. Exige-se, neste âmbito, uma
proporcionalidade nas exigências feitas pelos Estados-Membros, que não podem, em caso algum,
comprometer a neutralidade do IVA.
Ora, recordando o que já havia sido afirmado noutro Acórdão, o TJUE reitera a necessidade, imposta
pela legislação da União Europeia, de garantir as exigências de fundo do direito à dedução.
Deste modo, as exigências formais não podem limitar o exercício do direito à dedução, na exacta
medida em que essa situação poderia comprometer excessivamente a característica de
neutralidade do IVA.
Efectivamente, o Tribunal considerou que as autoridades fiscais italianas tinham ao seu dispor
todos os dados necessários para saber que as exigências de fundo estavam todas preenchidas, não
podendo impor condições suplementares ao direito do sujeito passivo de deduzir o IVA e que
possam limitar o exercício desse direito.
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DecisãoDecisãoDecisãoDecisão
Em face do exposto, o TJUE entendeu que não poderia ser recusado o direito da Idexx de deduzir o
imposto em causa apenas porque esta não cumpriu as obrigações formais previstas na legislação
nacional. Com efeito, o direito à dedução surge no momento em que o imposto dedutível se torna
exigível, não podendo ser posteriormente limitado por não terem sido cumpridas as formalidades de
registo.
Implicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito português
Esta decisão contribuiu para clarificar o alcance do princípio do direito à dedução, designadamente
no que respeita aos limites inerentes aos seus formalismos.
5.5.5.5.
Número do processo: Número do processo: Número do processo: Número do processo: C-133/13
Nome:Nome:Nome:Nome: Q
Data:Data:Data:Data: Acórdão de 18 de Dezembro de 2014
Assunto:Assunto:Assunto:Assunto: Livre circulação de capitais – Imposto sobre as doações – Isenção fiscal aplicável a uma
propriedade rústica – Inexistência de isenção fiscal quando está em causa uma propriedade situada
no território de outro Estado-Membro
FactosFactosFactosFactos
Q, residente fiscal nos Países Baixos, é proprietária de um bem imóvel rústico situado no Reino
Unido, o qual tem a intenção de doar ao seu filho.
Nos Países Baixos vigora a Lei da Beleza Natural, que isenta, total ou parcialmente, de imposto uma
doação, quando a propriedade a ser transmitida seja rústica, na acepção da referida Lei, e que se
situe nos Países Baixos.
Q solicitou a aplicação da referida lei para que a doação do seu imóvel beneficiasse do benefício
fiscal decorrente da Lei da Beleza Natural. Contudo, as Autoridades fiscais neerlandesas não
reconheceram o referido estatuto.
Não se conformando, Q interpôs recurso, tendo o Tribunal concluído que o direito à isenção do
imposto sobre as doações não pode ser limitado às propriedades rústicas situadas nos Países
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Baixos, por constituir um entrave à livre circulação de capitais que não poderá ser justificada com os
fundamentos defendidos pela Autoridade tributária neerlandesa, designadamente a protecção do
património natural e cultural holandês e a necessidade em garantir a eficácia das fiscalizações
tributárias.
Em face do exposto, foi submetida a seguinte questão prejudicial ao TJUE: “O artigo que determina
a livre circulação de capitais deve ser interpretado no sentido de que se opõe à legislação de um
Estado-Membro, por força da qual uma isenção do imposto sobre as doações relativo a
determinados espaços protegidos está limitada aos espaços protegidos situados no território do
referido Estado-Membro?”.
ApreciaçApreciaçApreciaçApreciação do Tribunalão do Tribunalão do Tribunalão do Tribunal
A título preliminar, o TJUE concluiu que uma norma como a que está em causa – a qual subordina a
aplicação de uma isenção do imposto sobre as doações à condição de o bem imóvel se situar no
território nacional – constitui uma restrição à livre circulação de capitais, dado que coloca uma
carga fiscal mais pesada numa doação efectuada por um residente num Estado-Membro quando
tiver um imóvel situado noutro Estado-Membro.
De seguida, o TJUE ponderou se a referida restrição era compatível com o Direito da União
Europeia, ou seja, se a referida diferença de tratamento, diz respeito a situações que não são
objectivamente comparáveis.
O TJUE concluiu que, uma vez que o objectivo prosseguido pela legislação nacional é a protecção da
integridade das propriedades rústicas típicas da paisagem neerlandesa, não se pode considerar que
um sujeito passivo que tem a intenção de doar um prédio rústico situado nos Países Baixos, esteja
em situação objectivamente comparável à de um sujeito passivo que pretende doar um prédio
rústico situado noutro Estado-Membro, ainda que este inclua monumentos protegidos nos termos
da legislação aplicável neste Estado-Membro.
Na opinião do TJUE, a única excepção seria a doação de um imóvel situado noutro Estado-Membro
que constituísse um elemento do património cultural e histórico neerlandês, o que não ocorre no
caso concreto.
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DecisãoDecisãoDecisãoDecisão
Em face do exposto, o TJUE concluiu que o artigo relativo à livre circulação de capitais deve ser
interpretado no sentido de que não se opõe à legislação de um Estado-Membro, como a que está em
causa no processo principal.
Implicações no direito português Implicações no direito português Implicações no direito português Implicações no direito português
A presente decisão contribui para aprofundar o que se deve entender por uma restrição compatível
com o Direito da União Europeia.
Lisboa, 11 de Março de 2015
Rogério Fernandes Ferreira
Marta Machado de Almeida
Filipa Belchior Coimbra
Francisca Landerset Gomes
Gonçalo Grade Monteiro