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i www.rffadvogados.pt Praça Marquês de Pombal, 16 – 5º (Recepção)/6º 1250-163 Lisboa • Portugal T: +351 215 915 220 • F: +351 215 915 244 [email protected] TAX & BUSINESS A presente Informação Fiscal destina-se a ser distribuída entre Clientes e Colegas e a informação nela contida é prestada de forma geral e abstracta. Não deve servir de base para qualquer tomada de decisão sem assistência profissional qualificada e dirigida ao caso concreto. O conteúdo desta Informação Fiscal não pode ser reproduzido, no seu todo ou em parte, sem a expressa autorização do editor. Caso deseje obter esclarecimentos adicionais sobre este assunto contacte [email protected]. *** Esta Informação Fiscal é enviada nos termos dos artigos 22.º e 23.º do Decreto-Lei n.º 7/2004, de 7 de Janeiro, relativa ao envio de correio electrónico não solicitado. Caso pretenda ser removido da nossa base de dados e evitar futuras comunicações semelhantes, por favor envie um email com “Remover” para o endereço email [email protected]. 01 JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA UNIÃO EUROPEIA (4º. TRIMESTRE DE 2014) Best Lawyers - "Tax Lawyer of the Year" 2014 Legal 500 – Band 1 Tax “Portuguese Law Firm” 2013 International Tax Review –"Best European Newcomer" (shortlisted) 2013 Chambers & Partners – Band 1 “RFF Leading Individual “ 2013 Who´s Who Legal – “RFF Corporate Tax Adviser of the Year” 2013 IBFD – Tax Correspondents Portugal, Angola and Mozambique Pretende-se, com a presente Informação Fiscal, apresentar uma síntese trimestral dos principais Acórdãos proferidos pelo Tribunal de Justiça da União Europeia (“TJUE” ou “Tribunal”) – à semelhança do que fazemos em relação às decisões do Centro de Arbitragem Administrativa (“CAAD”) e do Tribunal de Contas –, relacionados com o domínio da Fiscalidade, analisando, caso a caso, o impacto e o contributo que tais decisões poderão vir a ter, do ponto de vista nacional. A presente Informação Fiscal é relativa ao 4.º Trimestre de 2014.

TAX & BUSINESS · 2. 22.. 2. Número do processo:Número do processo: C-112/14 Nome:Nome: Comissão Europeia / Reino Unido Data:Data: Acórdão de 13 de Novembro de 2014 AssuntoAssunto:

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Page 1: TAX & BUSINESS · 2. 22.. 2. Número do processo:Número do processo: C-112/14 Nome:Nome: Comissão Europeia / Reino Unido Data:Data: Acórdão de 13 de Novembro de 2014 AssuntoAssunto:

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TAX & BUSINESS

A presente Informação Fiscal destina-se a ser distribuída entre Clientes e Colegas e a

informação nela contida é prestada de forma geral e abstracta. Não deve servir de base para

qualquer tomada de decisão sem assistência profissional qualificada e dirigida ao caso

concreto. O conteúdo desta Informação Fiscal não pode ser reproduzido, no seu todo ou em

parte, sem a expressa autorização do editor. Caso deseje obter esclarecimentos adicionais

sobre este assunto contacte [email protected].

***

Esta Informação Fiscal é enviada nos termos dos artigos 22.º e 23.º do Decreto-Lei n.º

7/2004, de 7 de Janeiro, relativa ao envio de correio electrónico não solicitado. Caso

pretenda ser removido da nossa base de dados e evitar futuras comunicações semelhantes,

por favor envie um email com “Remover” para o endereço email

[email protected].

01

J U R I S P R U D Ê N C I A D O T R I B U N A L D E J U S T I Ç A D A U N I Ã O E U R O P E I A ( 4 º . T R I M E S T R E D E 2 0 1 4 )

Best Lawyers - "Tax Lawyer of the Year" 2014

Legal 500 – Band 1 Tax “Portuguese Law Firm” 2013

International Tax Review –"Best European Newcomer" (shortlisted) 2013

Chambers & Partners – Band 1 “RFF Leading Individual “ 2013

Who´s Who Legal – “RFF Corporate Tax Adviser of the Year” 2013

IBFD – Tax Correspondents Portugal, Angola and Mozambique

Pretende-se, com a presente Informação

Fiscal, apresentar uma síntese trimestral dos

principais Acórdãos proferidos pelo Tribunal

de Justiça da União Europeia (“TJUE” ou

“Tribunal”) – à semelhança do que fazemos

em relação às decisões do Centro de

Arbitragem Administrativa (“CAAD”) e do

Tribunal de Contas –, relacionados com o

domínio da Fiscalidade, analisando, caso a

caso, o impacto e o contributo que tais

decisões poderão vir a ter, do ponto de vista

nacional.

A presente Informação Fiscal é relativa ao 4.º

Trimestre de 2014.

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02

1.1.1.1.

Número do processoNúmero do processoNúmero do processoNúmero do processo: C-492/13

NomeNomeNomeNome: Traum EOOD

DataDataDataData: Acórdão de 9 de Outubro de 2014

Assunto:Assunto:Assunto:Assunto: Obrigação de registo noutro Estado-Membro para efeitos de isenção de IVA

FactosFactosFactosFactos

O presente Processo opôs uma empresa búlgara – a Traum –, que tem como objecto social a

construção geral de edifícios e obras de construção civil, e as autoridades tributárias búlgaras.

A Traum, durante os meses de Setembro e Outubro de 2009, vendeu a uma empresa grega – a

Evangelos gaitadzis – porta-lâminas e peças em bruto. Por se tratar de uma aquisição

intracomunitária de bens, a Traum considerou tratar-se de uma operação isenta de IVA, tendo,

contudo, emitido duas facturas com o número de IVA grego da Evangelos gaitadzis, os protocolos

de entrega, as guias de transporte internacionais e um documento comprovativo da recepção da

mercadoria em causa.

Posteriormente, no seguimento de um pedido de reembolso, as autoridades búlgaras procederam a

uma verificação na base de dados electrónica do Sistema de Intercâmbio de Informações sobre o

IVA (doravante denominada de VIES), tendo verificado que a sociedade grega se encontrava

registada para efeitos de IVA e que dispunha de um número de IVA válido desde 15 de Novembro de

2005, pelo que, reembolsou a Traum do montante solicitado.

Contudo, as autoridades búlgaras voltaram, mais tarde, a fazer outro controlo fiscal, tendo

consultado novamente a base de dados VIES. Desta feita, constatou que a sociedade grega já não

estava registada para efeitos de IVA desde 15 de Janeiro de 2006. Nestes termos, emitiu um aviso

rectificativo à Traum, sujeitando as operações em causa a IVA, com fundamento no facto de a

sociedade grega não estar registada para efeitos de IVA, requisito que, de acordo com a legislação

búlgara, é conditio sine qua non da aplicação de isenção de IVA nas operações de transmissão

intracomunitária de bens.

Para além do argumento apresentado, as autoridades fiscais búlgaras entenderam, ainda, que não

havia prova suficiente do efectivo transporte dos bens para fora do território búlgaro e da

correspondente recepção pelo adquirente.

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03

A Traum defendeu-se destas acusações alegando que forneceu todos os documentos

comprovativos da existência de uma entrega intracomunitária e, bem assim, que procedeu de boa-

fé, ao ter verificado o numero de IVA da sociedade grega na base da dados VIES antes de concluir as

operações em causa.

O Tribunal Administrativo búlgaro, confrontado com um problema de interpretação de legislação da

União Europeia, colocou ao TJUE a questão de saber se é possível que um Estado-Membro, à luz das

regras da União Europeia, possa recusar o direito à isenção de IVA, no âmbito de uma transmissão

intracomunitária de bens, com fundamento no facto de o adquirente não estar registado para

efeitos de IVA noutro Estado-Membro.

Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal

Para o TJUE, a questão centra-se em saber quais os elementos de prova que as autoridades

tributárias podem impor ao fornecedor para comprovar as condições de isenção de IVA nas

transmissões intracomunitárias de bens.

O TJUE começa, então, por salientar que, na falta de regras específicas na legislação da União

Europeia sobre os elementos de prova que os sujeitos passivos devem fornecer às autoridades

fiscais dos Estados-Membros, cabe a estes definir essas regras. Porém, não o podem fazer à

margem das próprias regras da União Europeia, nem dos princípios gerais de direito comuns,

nomeadamente, o princípio da segurança jurídica e da proporcionalidade.

O princípio da segurança jurídica tem importantes implicações na medida em que impõe que o

Estado defina concretamente e de forma clara e precisa quais as obrigações fiscais que devem ser

cumpridas aquando de uma certa operação.

Deste modo, o TJUE começa por afirmar que seria contrário ao princípio da segurança jurídica que

um Estado-Membro, que tenha previsto certas condições para a aplicação da isenção de IVA,

fixando quais os documentos a entregar à autoridade fiscal em causa e que aceitou inicialmente os

documentos apresentados pelo contribuinte como provas suficientes para a aplicação da isenção,

tendo inclusive reembolsado o sujeito passivo, possa vir, mais tarde, afirmar que esses documentos

não eram, afinal, suficientes para a aplicação da referida isenção.

Quanto ao princípio da proporcionalidade, o TJUE evidencia, também, que, tendo em conta que a

obrigação de verificar se o adquirente tem número de identificação para efeitos de IVA cabe à

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autoridade fiscal, não se pode imputar ao fornecedor uma eventual irregularidade no registo,

privando-o do direito à isenção a que tinha direito.

Assim, o TJUE afirma peremptoriamente que a actuação da autoridade fiscal ao aceitar, num

primeiro momento, com base em toda a informação exigida pela legislação búlgara e prestada pelo

fornecedor, a isenção e, num momento posterior, recusar a mesma isenção, por factos não

imputáveis ao fornecedor, consubstancia uma violação do princípio da segurança jurídica e da

proporcionalidade.

No entendimento do TJUE, o argumento de que a Traum devia ter comprovado por outros meios

que a operação efectuada entre si e a sociedade grega estava sujeita a IVA não colhe, porquanto a

lei búlgara não o impõe.

DecisãoDecisãoDecisãoDecisão

Em face do exposto, o TJUE concluiu que os Estados-Membros não podem recusar o direito à

isenção de IVA no âmbito de uma transacção intracomunitária de bens com fundamento no facto de

o adquirente não estar registado, para efeitos de IVA, noutro Estado-Membro, quando o fornecedor

apresentou todos os documentos exigidos pela legislação do Estado-Membro em causa e que

tenham sido aceites, num primeiro momento, como provas suficientes e justificativas da

transmissão intracomunitária dos bens.

Implicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito português

Esta decisão contribuiu para clarificar o alcance dos princípios da segurança jurídica e da

proporcionalidade, designadamente nas situações de aplicação de isenções de IVA.

2. 2. 2. 2.

Número do processo:Número do processo:Número do processo:Número do processo: C-112/14

Nome:Nome:Nome:Nome: Comissão Europeia / Reino Unido

Data:Data:Data:Data: Acórdão de 13 de Novembro de 2014

AssuntoAssuntoAssuntoAssunto: Livre circulação de capitais – Imputação de rendimentos a sócios de entidades não

residentes – Diferença de tratamento entre entidades residentes e não residentes

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FactosFactosFactosFactos

Em 23 de Novembro de 2009, a Comissão informou o Reino Unido que determinadas normas

constantes da sua legislação e referentes à imputação de rendimentos a sócios de entidades não

residentes seriam incompatíveis com o Direito da União Europeia.

As referidas normas prevêem que, salvo determinadas excepções, haverá uma imputação directa de

rendimentos a sócios de uma entidade não residente no Reino Unido, caso a mesma seja uma “close

company”, ou seja, uma entidade cujo controlo se encontra concentrado em não mais do que cinco

sócios ou em sócios que, também, constituem directores da entidade.

Já quanto a entidades residentes, a legislação do Reino Unido prevê que só haverá lugar a tributação

aquando da efectiva distribuição de rendimentos aos sócios.

Por sua vez, o Reino Unido considerou que a referida legislação estaria sempre justificada pelo

combate à evasão fiscal, mas que, ainda assim, iria emendá-la.

Uma vez que o Reino Unido não procedeu à alteração da referida norma no prazo determinado, a

Comissão submeteu a questão do eventual incumprimento, por parte do Reino Unido, ao TJUE.

Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal

A título preliminar, o TJUE concluiu que uma norma como a que está em causa constitui uma

restrição à livre circulação de capitais, pois esta diferença de tratamento fiscal entre entidades

residentes e não residentes desencoraja investimentos fora do Reino Unido.

De seguida, o TJUE ponderou se a referida restrição era compatível com o Direito da União

Europeia, ou seja, se a referida diferença de tratamento, poderia ser objectivamente justificada.

Neste âmbito, em linha com a jurisprudência existente, o Tribunal considerou que a prevenção do

combate à evasão fiscal poderá justificar uma restrição, desde que a mesma seja apropriada a

atingir o referido objectivo e desde que não vá para além do necessário, apenas podendo ser

justificada se impedir especificamente expedientes puramente artificiais que não reflictam uma

realidade económica e que tenham apenas como objectivo evitar a tributação.

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O Tribunal considerou que a presente norma é apta a combater a evasão fiscal, mas viola o princípio

da proporcionalidade por excesso, uma vez que, também, incide sobre expedientes cuja realidade

económica não pode ser contestada.

DecisãoDecisãoDecisãoDecisão

Em face do exposto, o TJUE concluiu que o Reino Unido, ao adoptar uma norma referente à

imputação directa de rendimentos a sócios de entidades não-residentes, abre caminho a uma

diferença de tratamento entre actividades domésticas e transfronteiriças que resulta na violação da

livre circulação de capitais.

Implicações no direito poImplicações no direito poImplicações no direito poImplicações no direito português rtuguês rtuguês rtuguês

A referida decisão contribui para clarificar o alcance do princípio da livre circulação de capitias,

designadamente com respeito à consagração de normas específicas anti-abuso, que distingam

regimes aplicáveis a residentes e não residentes.

3.3.3.3.

Número do Processo:Número do Processo:Número do Processo:Número do Processo: C-678/11

Nome:Nome:Nome:Nome: Comissão Europeia / Reino de Espanha

Data:Data:Data:Data: 11 de Dezembro de 2014

Assunto:Assunto:Assunto:Assunto: Restrições à livre prestação de serviços

FactosFactosFactosFactos

Em 2008, a Comissão Europeia notificou o Reino de Espanha para que este sanasse as

incompatibilidades verificadas entre as disposições respeitantes à livre prestação de serviços no

espaço europeu e as disposições do direito espanhol que impunham aos fundos de pensões

estabelecidos noutros Estados-Membros e ainda a certas entidades e pessoas singulares não

residentes, a obrigação de indicarem um representante fiscal residente em Espanha.

Apesar da posição da Comissão, o Reino de Espanha reiterou o entendimento de acordo com o qual

a obrigação de indicar um representante fiscal, no contexto ora em análise – para efeitos de

retenção do montante do imposto devido por aquele rendimento e, bem assim, do seu pagamento

por conta à Administração Tributária –, se justifica pela necessidade de uma fiscalização tributária

eficaz e de combate à fraude fiscal, tratando-se de medidas que não vão além do necessário para

atingir esses objectivos.

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No entender do Reino de Espanha, o combate à fraude fiscal não seria possível, ou, pelo menos, de

forma eficaz, através do recurso ao mecanismo de assistência mútua das autoridades competentes

de diversos Estados-Membros, para efeitos de troca de informações e de cobrança de créditos, no

domínio dos impostos directos e dos impostos sobre os prémios de seguro, dada, por um lado, a

inoperacionalidade de tal mecanismo e, por outro, atendendo à não assunção por parte de alguns

Estados terceiros de compromissos de assistência mútua.

Para mais, argumenta o Reino de Espanha que estando os organismos de gestão de fundos de

pensões estabelecidos em Espanha obrigados a proceder, por si próprios, à retenção do imposto

devido pelos rendimentos auferidos no âmbito dos planos de pensões – dada a complexidade do

cálculo do seu montante –, também os fundos de pensões e as companhias de seguros de outros

Estados-Membro que operem em Espanha têm de estar sujeitas às mesmas obrigações, por forma a

respeitar o principio da igualdade de tratamento e o bom funcionamento do mercado interno.

A Comissão submeteu a questão do eventual incumprimento, por parte do Reino da Espanha, ao

TJUE.

Apreciação Apreciação Apreciação Apreciação do Tribunaldo Tribunaldo Tribunaldo Tribunal

O Tribunal entendeu que as medidas nacionais susceptíveis de dificultar ou tornar menos atractivo o

exercício das liberdades fundamentais garantidas pelo direito da União Europeia podem, ainda

assim, ser admitidas desde que prossigam um objectivo de interesse geral, sejam adequadas a

garantir a sua realização e não vão além do necessário para o atingir. Mais referiu o Tribunal que,

nestes casos, caberá às autoridades nacionais, quando adoptam uma medida derrogatória a um

princípio consagrado no direito da União Europeia, provar, em cada caso concreto, que essa

condição está preenchida.

Neste sentido, concluiu, por um lado, o Tribunal que a afirmação de que a condição de residência

constitui uma melhor garantia de que as obrigações de ordem fiscal, que incubem ao representante

fiscal serão cumpridas de modo eficaz, não corresponde à verdade. Com efeito, no entender do

Tribunal, as dificuldades administrativas não constituem um fundamento capaz de justificar um

entrave a uma liberdade fundamental.

Por outro lado, os mecanismos de cooperação existentes entre as autoridades dos Estados-

Membros ao nível da União Europeia são suficientes para permitir ao Estado-Membro em causa

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efectuar a cobrança do imposto devido noutro Estado-Membro, excepção feita, claro está, aos

casos de Estados terceiros que não assumiram compromissos de assistência mútua.

Concluiu, ainda, o Tribunal que, ao contrário do que o Reino de Espanha dá a entender nos seus

articulados, a petição da Comissão não se refere à obrigação de retenção enquanto tal, mas sim à

obrigação de nomear um representante fiscal para efeitos de efectuar essa mesma retenção.

Pelo que, o argumento avançado pelo Reino de Espanha para justificar esta medida, de que a

obrigação de retenção do imposto por parte dos fundos de pensões e companhias de seguros

estabelecidos noutros Estados-Membros respeitaria o princípio da igualdade de tratamento e o bom

funcionamento do mercado interno não colheu junto deste Tribunal.

DecisãoDecisãoDecisãoDecisão

O Tribunal considerou que o Reino de Espanha, ao determinar a obrigatoriedade de nomeação de

representante fiscal nos casos ora em apreço, não cumpriu as obrigações a que está adstrito, por

força da aplicação do direito da União Europeia, violando, neste caso, a disposição que prevê a

proibição genérica de restrições à livre prestação de serviços na União Europeia.

Contudo, improcede a pretensão da Comissão, por não se poder considerar demonstrado que a

obrigação de nomear um representante fiscal residente em Espanha vá além do necessário para

atingir o objectivo de garantir a eficácia da fiscalização tributária e do combate à evasão fiscal, nos

casos em que não foi celebrado acordo sobre a troca de informações entre um Estado-Membro e

um Estado terceiro.

Implicações no Direito PortuguêsImplicações no Direito PortuguêsImplicações no Direito PortuguêsImplicações no Direito Português

A presente decisão contribui para clarificar o alcance do princípio da livre prestação de serviços e,

bem assim, das restrições admissíveis ao referido princípio, designadamente nos casos de

imposição de nomeação de representante fiscal.

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4.4.4.4.

Número do pNúmero do pNúmero do pNúmero do processorocessorocessorocesso: C-590/13

Nome:Nome:Nome:Nome: Idexx

Data:Data:Data:Data: Acórdão de 11 de Dezembro de 2014

Assunto:Assunto:Assunto:Assunto: Exigências substantivas e formais para obtenção do direito à dedução

FactosFactosFactosFactos

No presente Processo, encontram-se em litígio uma empresa italiana – a Idexx – e as autoridades

fiscais italianas.

A Idexx efectuou aquisições intracomunitárias de bens a uma empresa francesa e a outra empresa

holandesa.

Contudo, quanto à empresa francesa, não inscreveu no registo a que estava obrigada a manter o

IVA de algumas facturas emitidas e, quanto à empresa holandesa, apenas registou as facturas

emitidas no seu registo de compras, com a menção “sem IVA”.

As autoridades italianas detectaram estas irregularidades, por via de uma inspecção tributária, e

emitiram as respectivas liquidações adicionais de IVA.

A Idexx recorreu para o tribunal de 1.ª instância italiano, que concedeu provimento ao pedido, mas

em sede de recurso, o tribunal de 2.ª instância anulou a decisão de 1.ª instância, alegando que as

disposições de direito nacionais e da União Europeia impunham ao sujeito passivo a obrigação de

numerar e completar a factura no momento da aquisição intracomunitária com todos os elementos

constitutivos da base tributária da operação e, bem assim, de inscrever separada e

tempestivamente as facturas emitidas. Concluiu, ainda, o Tribunal de recurso que a infracção em

causa consubstanciou uma infracção atinente aos requisitos substantivos das aquisições

intracomunitárias em causa.

Considerando não assistir razão ao Tribunal de 2.ª instância, a Idexx interpôs recurso daquela

decisão para o Tribunal Superior italiano, manifestando o entendimento de que a falta de registos

nos termos ora expostos não tem efeitos substantivos sobre as aquisições, pelo que, não poderia a

autoridade fiscal italiana corrigir a declaração de IVA e exigir-lhe o pagamento do imposto, negando-

lhe o direito à dedução. Nestes termos, as infracções cometidas apenas poderiam dar origem à

aplicação de coimas.

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Em face do exposto, o Tribunal Superior italiano considerou serem necessários esclarecimentos

quanto à interpretação de normas da União Europeia, questionando o TJUE sobre se a exigência

segundo a qual os sujeitos passivos devem manter registos das operações efectuadas em IVA são

exigências formais do direito à dedução ou se, pelo contrário, prevêem exigências de fundo ou de

substância do direito à dedução, cuja não observância pressupõe a perda do referido direito.

Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal

O TJUE começa por salientar que o direito à dedução é um princípio fundamental do sistema

comum do IVA. Com efeito, conforme é exaustivamente salientado pelo TJUE, o direito à dedução

do IVA devido ao IVA pago pelas vendas ou prestações de serviços efectuadas é um direito que

constitui parte integrante do sistema do IVA e não pode, em princípio, ser limitado.

Note-se que, como salienta o TJUE, o direito à dedução é um dos mecanismos que permite garantir

a neutralidade do IVA, enquanto sua característica essencial.

Por outro lado, a legislação da União Europeia, em sede de IVA, permite que os Estados-Membros

imponham certas formalidades quanto ao exercício do direito à dedução.

Contudo, as formalidades impostas pelos Estados-Membros não podem exceder o que é necessário

para assegurar a correcta autoliquidação do imposto. Exige-se, neste âmbito, uma

proporcionalidade nas exigências feitas pelos Estados-Membros, que não podem, em caso algum,

comprometer a neutralidade do IVA.

Ora, recordando o que já havia sido afirmado noutro Acórdão, o TJUE reitera a necessidade, imposta

pela legislação da União Europeia, de garantir as exigências de fundo do direito à dedução.

Deste modo, as exigências formais não podem limitar o exercício do direito à dedução, na exacta

medida em que essa situação poderia comprometer excessivamente a característica de

neutralidade do IVA.

Efectivamente, o Tribunal considerou que as autoridades fiscais italianas tinham ao seu dispor

todos os dados necessários para saber que as exigências de fundo estavam todas preenchidas, não

podendo impor condições suplementares ao direito do sujeito passivo de deduzir o IVA e que

possam limitar o exercício desse direito.

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DecisãoDecisãoDecisãoDecisão

Em face do exposto, o TJUE entendeu que não poderia ser recusado o direito da Idexx de deduzir o

imposto em causa apenas porque esta não cumpriu as obrigações formais previstas na legislação

nacional. Com efeito, o direito à dedução surge no momento em que o imposto dedutível se torna

exigível, não podendo ser posteriormente limitado por não terem sido cumpridas as formalidades de

registo.

Implicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito português

Esta decisão contribuiu para clarificar o alcance do princípio do direito à dedução, designadamente

no que respeita aos limites inerentes aos seus formalismos.

5.5.5.5.

Número do processo: Número do processo: Número do processo: Número do processo: C-133/13

Nome:Nome:Nome:Nome: Q

Data:Data:Data:Data: Acórdão de 18 de Dezembro de 2014

Assunto:Assunto:Assunto:Assunto: Livre circulação de capitais – Imposto sobre as doações – Isenção fiscal aplicável a uma

propriedade rústica – Inexistência de isenção fiscal quando está em causa uma propriedade situada

no território de outro Estado-Membro

FactosFactosFactosFactos

Q, residente fiscal nos Países Baixos, é proprietária de um bem imóvel rústico situado no Reino

Unido, o qual tem a intenção de doar ao seu filho.

Nos Países Baixos vigora a Lei da Beleza Natural, que isenta, total ou parcialmente, de imposto uma

doação, quando a propriedade a ser transmitida seja rústica, na acepção da referida Lei, e que se

situe nos Países Baixos.

Q solicitou a aplicação da referida lei para que a doação do seu imóvel beneficiasse do benefício

fiscal decorrente da Lei da Beleza Natural. Contudo, as Autoridades fiscais neerlandesas não

reconheceram o referido estatuto.

Não se conformando, Q interpôs recurso, tendo o Tribunal concluído que o direito à isenção do

imposto sobre as doações não pode ser limitado às propriedades rústicas situadas nos Países

Page 12: TAX & BUSINESS · 2. 22.. 2. Número do processo:Número do processo: C-112/14 Nome:Nome: Comissão Europeia / Reino Unido Data:Data: Acórdão de 13 de Novembro de 2014 AssuntoAssunto:

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1250-163 Lisboa • Portugal

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12

Baixos, por constituir um entrave à livre circulação de capitais que não poderá ser justificada com os

fundamentos defendidos pela Autoridade tributária neerlandesa, designadamente a protecção do

património natural e cultural holandês e a necessidade em garantir a eficácia das fiscalizações

tributárias.

Em face do exposto, foi submetida a seguinte questão prejudicial ao TJUE: “O artigo que determina

a livre circulação de capitais deve ser interpretado no sentido de que se opõe à legislação de um

Estado-Membro, por força da qual uma isenção do imposto sobre as doações relativo a

determinados espaços protegidos está limitada aos espaços protegidos situados no território do

referido Estado-Membro?”.

ApreciaçApreciaçApreciaçApreciação do Tribunalão do Tribunalão do Tribunalão do Tribunal

A título preliminar, o TJUE concluiu que uma norma como a que está em causa – a qual subordina a

aplicação de uma isenção do imposto sobre as doações à condição de o bem imóvel se situar no

território nacional – constitui uma restrição à livre circulação de capitais, dado que coloca uma

carga fiscal mais pesada numa doação efectuada por um residente num Estado-Membro quando

tiver um imóvel situado noutro Estado-Membro.

De seguida, o TJUE ponderou se a referida restrição era compatível com o Direito da União

Europeia, ou seja, se a referida diferença de tratamento, diz respeito a situações que não são

objectivamente comparáveis.

O TJUE concluiu que, uma vez que o objectivo prosseguido pela legislação nacional é a protecção da

integridade das propriedades rústicas típicas da paisagem neerlandesa, não se pode considerar que

um sujeito passivo que tem a intenção de doar um prédio rústico situado nos Países Baixos, esteja

em situação objectivamente comparável à de um sujeito passivo que pretende doar um prédio

rústico situado noutro Estado-Membro, ainda que este inclua monumentos protegidos nos termos

da legislação aplicável neste Estado-Membro.

Na opinião do TJUE, a única excepção seria a doação de um imóvel situado noutro Estado-Membro

que constituísse um elemento do património cultural e histórico neerlandês, o que não ocorre no

caso concreto.

Page 13: TAX & BUSINESS · 2. 22.. 2. Número do processo:Número do processo: C-112/14 Nome:Nome: Comissão Europeia / Reino Unido Data:Data: Acórdão de 13 de Novembro de 2014 AssuntoAssunto:

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DecisãoDecisãoDecisãoDecisão

Em face do exposto, o TJUE concluiu que o artigo relativo à livre circulação de capitais deve ser

interpretado no sentido de que não se opõe à legislação de um Estado-Membro, como a que está em

causa no processo principal.

Implicações no direito português Implicações no direito português Implicações no direito português Implicações no direito português

A presente decisão contribui para aprofundar o que se deve entender por uma restrição compatível

com o Direito da União Europeia.

Lisboa, 11 de Março de 2015

Rogério Fernandes Ferreira

Marta Machado de Almeida

Filipa Belchior Coimbra

Francisca Landerset Gomes

Gonçalo Grade Monteiro