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A Sustentabilidade na Moda: o Cenário Brasileiro Ereany Cristina REFOSCO Mestranda em Design e Marketing para Têxteis de Moda Programa de Pós-graduação do Centro de Ciência e Tecnologia Têxtil Universidade do Minho Guimarães - Portugal [email protected] Noémia Maria Ribeiro Almeida Carneiro PACHECO Professora Associada Centro de Ciência e Tecnologia Têxtil Universidade do Minho Guimarães - Portugal [email protected] Resumo Quando a questão da sustentabilidade da moda têxtil é analisada, os papéis desempenhados pelo consumidor, pelo fabricante e pelo designer devem considerar-se com um relevante impacto no ciclo de vida do produto e por conseqüência, na conservação do ambiente. O valor atribuído ao produto deve ser oposto ao do chamado lixo têxtil que tem sido ampla- mente produzido a fim de tornar o produto final mais barato, escolhendo matéria-prima de baixo custo e um processo produtivo muito desqualificado. Assim, os produtos obtidos vão ter um curto ciclo de vida e brevemente serão eliminados, de maneira inadequada. Somente quando os governos de todo o mundo compreenderem o impacto da produção dos têxteis no meio ambiente é que poderão acompanhar legislativamente o aumento da conscienciali- zação já manifestado por muitos sectores da população. A todos compete mudar procedi- mentos e é urgente propôr inovações tecnológicas e encontrar soluções de sustentabilidade imbuídas de um novo paradigma para a produção e uso de materiais têxteis. O caso da in- dústria têxtil e da moda brasileira foi usado para ilustrar os desenvolvimentos na procura destas soluções. Será um desafio de todos para todos: pôr na moda a moda de ser sustentá- vel. Palavras-chave: Moda Ecológica, Têxteis Ecológicos, Sustentabilidade. Abstract As far as the question of sustainability in textile fashion is under analysis, the roles played by the consumer, the manufacturer and the designer must be considered as having high impact in the lifecycle of the product and consequently, on environmental conservation. The value attributed to the final product should be opposed to the so-called textile waste which is be- ing widely produced in order to have a cheaper final product by choosing low cost raw mate-

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A Sustentabilidade na Moda: o Cenário Brasileiro Resumo Abstract Palavras-chave: Moda Ecológica, Têxteis Ecológicos, Sustentabilidade.

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A Sustentabilidade na Moda: o Cenário Brasileiro

Ereany Cristina REFOSCO Mestranda em Design e Marketing para Têxteis de Moda

Programa de Pós-graduação do Centro de Ciência e Tecnologia Têxtil Universidade do Minho

Guimarães - Portugal [email protected]

Noémia Maria Ribeiro Almeida Carneiro PACHECO

Professora Associada Centro de Ciência e Tecnologia Têxtil

Universidade do Minho Guimarães - Portugal

[email protected]

Resumo

Quando a questão da sustentabilidade da moda têxtil é analisada, os papéis desempenhados pelo consumidor, pelo fabricante e pelo designer devem considerar-se com um relevante impacto no ciclo de vida do produto e por conseqüência, na conservação do ambiente. O valor atribuído ao produto deve ser oposto ao do chamado lixo têxtil que tem sido ampla-mente produzido a fim de tornar o produto final mais barato, escolhendo matéria-prima de baixo custo e um processo produtivo muito desqualificado. Assim, os produtos obtidos vão ter um curto ciclo de vida e brevemente serão eliminados, de maneira inadequada. Somente quando os governos de todo o mundo compreenderem o impacto da produção dos têxteis no meio ambiente é que poderão acompanhar legislativamente o aumento da conscienciali-zação já manifestado por muitos sectores da população. A todos compete mudar procedi-mentos e é urgente propôr inovações tecnológicas e encontrar soluções de sustentabilidade imbuídas de um novo paradigma para a produção e uso de materiais têxteis. O caso da in-dústria têxtil e da moda brasileira foi usado para ilustrar os desenvolvimentos na procura destas soluções. Será um desafio de todos para todos: pôr na moda a moda de ser sustentá-vel. Palavras-chave: Moda Ecológica, Têxteis Ecológicos, Sustentabilidade. Abstract As far as the question of sustainability in textile fashion is under analysis, the roles played by the consumer, the manufacturer and the designer must be considered as having high impact in the lifecycle of the product and consequently, on environmental conservation. The value attributed to the final product should be opposed to the so-called textile waste which is be-ing widely produced in order to have a cheaper final product by choosing low cost raw mate-

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rials and wrong solutions for the productive processes. Thus, the textile products will have a short life cycle and will soon be disposed to the environment. Governments around the world must understand the impact of the production of textiles in the environment and so they will be able to legislate and correspond to the increasing awareness already expressed by many sectors of the population. Everyone is responsible by the change of attitudes and the proposal for technological innovations in order to find sustainable solutions imbued with a new paradigm for the production and use of textiles is mandatory. The case of brazilian textile industry and fashion has been used to illustrate the more recent developments to-wards these solutions. It will be a challenge for everybody: to bring trendy fashion to be sus-tainable. Keywords: Ecological Fashion, Ecological Textiles, Sustainability.

1. Introdução

moda entronca numa complexa conjugação de campos de conhecimento e de criatividade, e está, de certa forma, ancorada a pilares como a antropologia, sociologia, economia, comunicação, arquitetura e artes. Gilles Lipovestky (1989),

sociólogo francês, refere que o homem muda o mundo e os movimentos de moda são imperativos em tais transformações. Na questão relativa à sustentabilidade na moda, o consumidor, o fabricante e o designer desempenham papéis importantes no ciclo de vida do produto e por consequência, na conservação do meio ambiente. Cada produto consumido, se não for fabricado através de um processo ecologicamente correto, poderá deixar marcas irreparáveis no meio. Ao analisarmos as indústrias por ramos de atuação, é evidente que a indústria têxtil, seguida por toda a cadeia do vestuário, não tem desenvolvido, proporcionalmente à sua expansão no mundo inteiro, a preocupação com os materiais e processos utilizados, causando assim, graves consequências como o lixo têxtil e a quantidade exorbitante de resíduos provenientes do processo produtivo.

2 Design para a sustentabilidade O conceito de sustentabilidade teve início com o movimento de contracultura surgido nas décadas de 60 e 70, ao apontar à sociedade a relevância de assuntos relacionados com a e-cologia e a multiculturalidade. Em 1972, na Conferência de Estocolmo, sob influencia de Ig-nacy Sachs, economista e sociólogo naturalizado francês que foi precursor desses conceitos (Berlim apud Sachs, 2009), chegou-se à conclusão que o desenvolvimento, para ser conside-rado sustentável, deveria aliar simultaneamente a equidade social, a prudência ecológica e a eficiência económica. Para Manzini e Vezzoli (2002), Design para a Sustentabilidade é projetar produtos que resultem em alta qualidade social com o mínimo desperdício e prejuízo para a natureza e que, no futuro, produzam impactos positivos na sociedade e no meio ambiente. Sendo assim, os métodos para o desenvolvimento de um produto sustentável devem estar associados ao Life Cycle Design (LCD) e o idealizador do projeto deve estar atento a todas as fases do ciclo de vida de produto (Pires, 2008), nomeadamente:

A

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Pré-Produção: desde a extração da matéria-prima até a escolha dos processos utilizados para a produção dos materiais.

Produção: compreende os processos de transformação dos materiais, montagem e acabamentos.

Distribuição: abrange a embalagem, o transporte, armazenamento e todos os deslocamentos do produto durante o seu ciclo de vida.

Uso do Produto: envolve a utilização e funcionamento do produto e os processos relacionados.

Destino do Produto após uso: é preciso refletir como o produto será devolvido ao ambiente e se existem formas de reciclá-lo por inteiro ou apenas partes dos seus componentes.

Figura 1. Life Cycle Design

Devido à falta de atenção e à desresponsabilização em relação ao ciclo de vida do produto, o planeta está enfrentando problemas ambientais tais como a crescente escassez de recursos, as mudanças climáticas e variadas formas de poluição, ou seja a redução da camada de ozono, a eutrofização, a acidificação, as toxinas do ar, da água e do solo e a superprodução de resíduos. Seguindo o conceito de Life Cycle Design, atualmente, as empresas que anseiam oferecer ao cliente um produto sustentável devem, na fase de pré-produção e na produção, selecionar fibras têxteis ou misturas que sejam biológica e sustentavelmente produzidas, usar tecnolo-gias que diminuam os níveis de resíduos sólidos e de efluentes que são eliminados através da água, como os produtos utilizados nas estamparias, lavanderias, tinturarias e optimizar os seus respectivos processos. Para ser qualificado como biológico ou orgânico, o algodão ou a lã são controlados com muita exigência, não se podendo usar qualquer tipo de produtos químicos e substâncias tóxicas na sua produção. A indústria têxtil mundial encontra grande dificuldade para definir os padrões de qualidade mínimos necessários à criação de um pro-duto realmente orgânico e sustentável. Na fase de produção, a empresa deve manter os padrões exigidos pelas leis laborais, que preservem o bem-estar social e que sejam garantia do respeito pelos direitos dos trabalha-dores. Devem ser escolhidas as melhores técnicas disponíveis para assegurar a redução do impacto do seu processo produtivo. Na fase de distribuição, as embalagens devem ser progressivamente minimizadas e biode-gradáveis. Além disso, com a inexistência de fronteiras geográficas, os produtos percorrem milhares de quilômetros durante a sua industrialização, ocasionando níveis de poluição altís-

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simos e grande consumo de combustíveis, o que irá variar de acordo com o meio de trans-porte escolhido. O valor atribuído ao produto deve ser oposto ao do chamado lixo têxtil que tem sido am-plamente produzido a fim de tornar o produto final mais barato, escolhendo matéria-prima de baixo custo e um processo produtivo muito desqualificado. Assim, os produtos obtidos vão ter um curto ciclo de vida e brevemente estarão sendo eliminados, de maneira inade-quada, nos lixões das cidades. O destino do produto no término da sua vida útil, se corretamente planeado, poderá ser a-proveitado em parte ou totalmente para a confeção de outros produtos e assim recomeçar outro ciclo. A escolha de materiais mais facilmente biodegradáveis dá garantias de um ciclo de vida mais compatível com as regras de respeito pela preservação do meio ambiente. 1. Alternativas Para Um Modelo Sustentável A indústria têxtil transforma fibras em fios, fios em tecidos e tecidos em peças de vestuário, roupa de cama e mesa e ainda têxteis técnicos para muitas e diversas aplicações. A cadeia têxtil começa na matéria-prima, pelos insumos associados aos diversos processos de trans-formação, como fiação, tecelagem, tinturaria, confeção e beneficiamento, e chegando à venda final para o consumidor. Alguns dados relevantes sobre esta indústria são apresenta-dos: (Berlim, 209)

É considerada uma das maiores áreas industriais do planeta;

Movimenta mais de um trilhão de dólares só em vestuário;

Gera mais de 26,5 milhões de empregos diretos e indiretos

Mais de 25% da produção de roupas é sediada na China.

Alemanha e Itália ainda têm grande importância na exportação de vestuário e os Estados Unidos na exportação de tecidos.

Os preços de produtos têxteis vêm caindo, enquanto o volume de consumo e de negó-cios no setor vem aumentando; este fato se dá por conta do aumento do uso da fibra po-liéster, de novas tecnologias e de políticas públicas que dão suporte à produtividade, em especial nos Estados Unidos e na China.

No momento presente, de enorme convulsão mundial, as matérias primas têxteis atingem preços muito altos e dão clara indicação de desequilíbrios entre a oferta e a procura, o que se vai inevitavelmente reflectir nos preços ao consumidor. Segundo a ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), apresentam-se alguns dados da cadeia têxtil brasileira referentes ao ano de 2010:

Faturamento da cadeia Têxtil e de Vestuário: US$ 52 bilhões, crescimento de 10% em relação a 2009.

Exportações: US$ 1,44 bilhão, contra US$ 1,21 bilhão em 2009 (sem fibra de algodão).

Importações: US$ 4,97 bilhões, contra US$ 3,46 bilhões em 2009 (sem fibra de algo-dão).

Investimentos no setor: US$ 2 bilhões, contra US$ 867 milhões em 2009.

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Produção média de das Indústrias de Vestuário: 9,8 bilhões de peças.

Trabalhadores: 1,7 milhão de empregados, dos quais 75% são mão-de-obra feminina.

2º maior empregador da indústria de transformação, perdendo apenas para a constru-ção civil.

2º maior gerador do primeiro emprego.

Número de empresas: 30 mil.

Quinto maior produtor têxtil do mundo.

Segundo maior produtor e terceiro maior consumidor de denim do mundo.

Representa 13,15% dos empregos na Indústria de Transformação e cerca de 3,5% do PIB total brasileiro.

Apesar dos ambiciosos programas de exportações, a maioria das indústrias têxteis e de vestuário brasileiras estão voltadas ao mercado interno, já que existem 200 milhões de consumidores, acrescido de uma efectiva potencialidade de crescimento económico do país. A importância da indústria têxtil mundial e da brasileira, em particular, está perfeitamente evidente pelos números e indicadores apresentados, pelo que se torna fulcral conhecer os mais decisivos pontos de atuação que permitam uma larga margem de resultados na procu-ra de soluções sustentáveis: as fibras como a mais importante das matérias primas, os pro-cessos de transformação e a filosofia da oferta e do consumo. 2. A indústria têxtil de santa catarina O setor têxtil e de vestuário do Estado brasileiro de Santa Catarina é grande gerador de em-pregos e tem como característica o predomínio de empresas de micro e pequeno porte que crescem ao lado das empresas de grande porte, líderes de mercado. O setor têxtil catarinen-se teve seu início em Blumenau, localizando-se atualmente a maior concentração destas empresas na região do Vale do Itajaí e no norte do Estado. Em 2008, a cadeia da indústria têxtil no Estado somava 14 mil empresas e 154.400 empregos gerados. É o estado que mais produz malhas no país, aproximadamente 70% de toda a produção. O Vale do Itajaí conta com as maiores indústrias do segmento e é o maior polo das Américas na produção têxtil. (Luclktenberg, 2004) Algumas das empresas têxteis catarinenses são responsáveis por quase 70% da linha de algumas das marcas mais cobiçadas do país, além de produzir para a Puma, Adidas, Armani, entre outras. Os exemplos de intervenções levadas a cabo pelas empresas têxteis catarinenses com objectivo de promoção da sustentabilidade ambiental são diversos e demonstram uma efectiva consciencialização neste domínio. A Dudalina, uma das maiores empresas de camisaria da América Latina, vem desenvolvendo ações para a sustentabilidade com apreciável impacto no posicionamento da empresa nesta matéria. Para os acabamentos dos tecidos e malhas, a Dudalina exige que seus fornecedores de serviços utilizem produtos químicos que não agridam a natureza e que possuam tratamentos de efluentes. A empresa estará iniciando em 2011 o Projeto Dudalina de Sustentabilidade, o qual prevê metas para temas ambientais como água, energia, resíduos e emissões de carbono. Para alcançar tais metas, novas tecnologias de reuso de água em estamparia e reutilização de resíduos sólidos,

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estarão sendo implantadas nas suas quatro unidades industriais. O desenvolvimento de pro-dutos sustentáveis é também uma das ações deste Projeto que objetiva a redução no volu-me das embalagens e o aumento do uso de algodão orgânico e de insumos biodegradáveis, como tags em papel reciclado com sementes de flores e árvores. Para o desenvolvimento de produtos sustentáveis será incorporada a abordagem de ciclo de vida, de forma a priorizar matérias-primas e insumos que apresentem menor impacto ambiental na cadeia produtiva, desde o cultivo do algodão até ao descarte do produto final. Assim, espera-se reduzir a pegada ecológica dos produtos, incluindo a redução da emissão de gases durante o transporte entre as diferentes etapas de produção. Além disso, realiza ações de responsabi-lidade social, tal como o Projeto Geração de Renda, o qual capacita grupos de trabalho em comunidades carentes que por meio de kits com pedaços de tecidos e aviamentos que sobram da confeção de camisas confeccionam diversos produtos, como a sacola social, para posterior aquisição pela Dudalina que presenteia seus clientes, fornecedores e colaborado-res. Esse Projeto já doou 26.890 kg de kits, capacitou 375 pessoas em mais de 280 entida-des e produziu mais de 10 mil sacolas sociais.

Figura 2. Sacola Social Dudalina

Fonte: Portal Farol Comunitário

A Oceano, marca de surfwear, pretende poupar o meio ambiente das agressões que a humanidade lhe vem causando. Sendo assim, a empresa possui um projeto ambiental cha-mado “Keep the Ocean Blue” que tem por objetivo consciencializar e educar para que haja maior respeito e preservação da natureza, ajudando a manter as praias limpas. Durante todo o verão, promove coletas de lixos nas principais praias de Santa Catarina. A empresa conta também com estação de tratamento de efluentes líquidos, que provêm do setor de estamparia, com a finalidade de reutilizar a água nesse mesmo setor, o qual trabalha pelo processo de sublimação não sendo utilizados produtos quimicos. Alguns produtos da marca são fabricados com matéria-prima ecologicamente sustentável, pretendendo-se ampliar a sua utilização para provar que as necessidades do homem moderno podem ser conciliadas com o uso dos recursos naturais e que a ecologia, mais do que um conceito, também é um fator de cidadania. Figura 3. Projeto Oceano “Keep the Ocean Blue”

Fonte: Website Oceano

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A empresa Dalila Têxtil investe cada vez mais em processos industriais menos danosos ao meio ambiente e em atitudes sustentáveis que beneficiem seus clientes e a comunidade on-de atua. A empresa conta com uma linha de produtos sustentáveis, com malhas fabricadas com algodão orgânico, com algodão geneticamente colorido que dispensa tingimento e ain-dacom malhas elaboradas com fios de fibras de garrafas PET. A Dalila criou o Projeto Produ-zir e Preservar e mantém o Viveiro de Mudas Nativas e com a venda das mudas auxilia o no Centro de Recuperação e Reabilitação de Dependentes Químicos (CEREDE). A iniciativa visa preservar espécies nativas em parceria com a comunidade. O viveiro possui mais de 16 mil mudas em fase de germinação e cerca de quatro mil preparadas para o plantio em área defi-nitiva. A empresa também conta com uma Estação de Tratamento de Água, onde a água é tratada e reutilizada. A água purificada é devolvida ao ambiente e o lodo é encaminhado pa-ra secagem (corresponde a 2% do volume do efluente tratado), de onde segue para um ater-ro sanitário licenciado. A Dalila acredita que são pequenas ações destas que ajudam a con-firmar o seu compromisso e responsabilidade com o ambiente e sua preservação, já que e a sustentabilidade é uma necessidade vital para reduzir os danos que o ser humano provoca no meio em que vive e trabalha, garantindo um futuro melhor e um negócio mais saudável e duradouro.

Figura 4. Projeto Produzir e Preservar da Dalila Têxtil

Fonte: Portal Sinditêxtil

O Grupo Diana Têxtil, antiga Malharia Diana, fez a instalação de um sistema de absorção de fumaça, utilizando filtros nas chaminés da fábrica, que faz com que sejam neutralizados e eliminados diversos poluentes na atmosfera terrestre. Implementou um programa de reciclagem e redução de resíduos no processo produtivo, no qual a empresa dá um destino adequado para todos os resíduos sólidos gerados. Substituiu três máquinas de tingimento de fios que trabalhavam com relações de banho altas, entre 1:10 e 1:12, por máquinas novas que trabalham com relações de banho mais baixas, entre 1:6 e 1:8. Isso significa que, para cada quilo de material têxtil a ser tinto (fios ou tecidos), são necessários agora somente 6 ou 8 litros de água e menos produtos químicos empenhados nesse processo, provocando me-nor impacto ambiental. Infelizmente, a realidade logística no Brasil não é animadora. Praticamente o único meio de transporte de mercadorias do setor têxtil para o mercado interno é rodoviário. Pouco tem sido feito em relação à necessidade de substituir os meios de transportes rodoviários por marítimo ou ferroviário e também por meios que utilizam energia limpa (elétricos), a fim de ser conseguida uma efectiva redução da emissão de CO2.

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. Fibras e materiais têxteis mais sustentáveis As principais fibras com apelo sustentável atualmente utilizadas na indústria têxtil e para a produção de vestuário são: algodão orgânico, fibra de soja, fibra de milho, fibra de bambu, liocel e fibras obtidas a partir da reciclagem do polietileno tereftalado (PET). (Guimarães, 2009) 5.1 Algodão orgânico Uma simples t-shirt de algodão consome 1,7 kg de combustível fóssil, gerando 450g de resí-duos sólidos durante a sua fabricação, emite 4 kg de CO2 para a atmosfera, e este gasto mul-tiplica-se ao considerar a energia necessária para se lavar e passar esta camiseta durante a sua vida útil (Berlim apud Rodrigues et al, 2009). De acordo com um estudo feito pelo IISD (Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável), para produzir uma t-shirt de 250 gramas na China, principal produtor e importador de algodão cru e o maior exportador de tecidos de algodão e vestuário acabado do mundo, são necessários 160 gramas de agrotóxicos. Uma pesquisa do Departamento A-grícola dos Estados Unidos e da OMS (Organização Mundial da Saúde) salienta que cerca de um terço dos pesticidas e fertilizantes produzidos no mundo são pulverizados sobre o algo-dão e que grande parte deles são tóxicos. Sendo assim, o algodão necessita de um elevado grau de controlo ambiental devido à água de rega, aos agrotóxicos utilizados no seu cultivo que penetram no solo e contaminam a flora, aos resíduos deixados nos rios e aos restos despejados em aterros, deixando assim, uma grande marca na natureza. A quantidade de algodão processado no mundo é muito grande, o que justifica uma atenção muito especial ao impacto por ele produzido. Em 1995, o algodão correspondia a aproxima-damente 80% das fibras utilizadas nas fiações brasileiras, sendo que 65% dos tecidos são produzidos a partir de fios de algodão e o consumo do algodão representa 60% de todas as fibras têxteis. Já nesse período, o quadro começava a tender para o maior consumo de fibras artificiais e sintéticas na produção de tecidos. (Oliveira, 1995) Para obter o selo de algodão orgânico, a fibra não pode ter passado por tratamento de branqueamento com cloro, não pode ter sido tingida com corantes metalíferos e não pode ter sido submetida a algum acabamento químico. (Alves e Ruthschilling, 2008) A Pettenati S.A. Indústria Têxtil, localizada em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, comercia-liza algodão orgânico. O solo é cuidadosamente preparado e livre de pesticidas, fertilizantes ou outros produtos químicos por, no mínimo, três anos. Prezam por boas condições do tra-balho no campo e pelos mais adequados processos de produção. Na preparação do algodão, a fibra passa pelo processo de escovação para a retirada das impurezas e posteriormente para a preparação para a torção. As malhas são produzidas com fios de algodão certificados pela Control Union da Holanda e pela IMO Organic Regulation, da Suiça. A empresa está constantemente incorporando fios reciclados e inovando produtos com o objetivo de disse-minar os conceitos sustentáveis a toda a cadeia da indústria e comércio têxteis. Além das matérias-primas biodegradáveis, a indústria prima pela ausência de metais pesados e outros compostos químicos nocivos ao meio. O consumo de água e energia utilizados durante os

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processos são gerenciados, sendo que a água utilizada passa por um tratamento de efluen-tes através de processos biológicos e naturais que atendem aos mais rigorosos padrões de limpeza e pureza da água. A Menegotti Malhas, de Santa Catarina, é um dos maiores grupos têxteis do país, produz também malha de algodão 100% orgânico, mantendo a saúde do ar, do solo e da água, e as-sim conservando a saúde dos trabalhadores rurais contra as intoxicações agudas e crônicas causadas pelos produtos agrotóxicos e pelos pesticidas. A grife brasileira Algodão Colorido Natural foi convidada a participar pela 3ª vez no salão So Ethic de marcas que fazem a gestão sustentável de seus negócios, integrado à feira Prêt-à-Porter, que acontece em Paris. Para participar, as empresas precisam preencher três requisitos na condução de seus negócios: comércio justo, reciclagem e responsabilidade ambiental. A empresa, em parceria com a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), da Paraíba, desenvolveu peças que são confeccionadas a partir de fibras de algodão que já nascem com as variações naturais de cores, pois as sementes foram modificadas e a plantação acontece sem produtos químicos. Além do cultivo ecologicamente correto também dispensa o uso de corantes artificiais para o tingimento posterior. Desenvolvido pela O mix envolve produtos de moda masculina, feminina e bolsas, agora também, moda bebê, infantil, calçados e acessórios.

Figura 5. Algodão Colorido

Fonte: Portal EcoDesenvolvimento

Figura 6. Peças confecionadas com algodão colorido pela grife Algodão Colorido Natural

Fonte: Portal EcoDesenvolvimento

Em recente estudo, foram avaliadas as propriedades tintoriais de um artigo de malha de al-godão submetido a um processo de cationização mediante a ação de um plasma polimeri-zante. O resultado mostrou um aumento da intensidade do tingimento sobre o algodão tra-tado com plasma, uma redução da quantidade de corante necessária para obter a intensida-de desejada e redução no consumo de água. A utilização de processos físicos, nomeadamen-te de descarga plasmática, para activação superficial de materiais têxteis apresenta-se hoje

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em dia como um promissor caminho para a redução de contaminantes durante o processa-mento industrial, convencionalmente geradores de elevada poluição (Sánchez, 2004). Essa tecnologia está sendo estudada juntamente com uma Universidade Européia para ser colo-cada em prática por uma indústria de grande porte do estado de Santa Catarina.

5.2. Fibra PET Uma marcada tendência é o uso de novas fibras com base mais ecológica, mesmo sendo de natureza sintética, reflectindo em uma maior consciência ambiental dos consumidores. Entre elas está a fibra proveniente do politereftalato de etileno ou PET, um polímero termoplástico proveniente da reciclagem das famosas garrafas plásticas. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria do PET (ABIPET), em 2009 o Brasil reciclou 56% das garradas plásticas que foram introzidas no mercado, ficando atras do Japão que reciclou 78%, sendo que a industria têxtil foi responsável por 39% das PETs recicladas. (ABIT/TEXBRASIL, 2011) Esse número só não é maior devido a alguns problemas logísticos. (Berlim, 2009) Os benefícios da coleta das garrafas PET englobam também a formação de cooperativas de catadores, proporcionando renda a diversas famílias e diminuindo a quantidade de lixo espa-lhada pelas cidades que entope as valas e ajuda a causar as enchentes. A Cocamar – Cooperativa Agroindustrial, com mais de 30 postos situados no Estado do Para-ná, produz o Fio Cocamar Ecológico que surgiu a partir da necessidade de redução do impac-to que o PET causa no ambiente em todo o mundo. A indústria têxtil, que já tem no poliéster convencional uma participação expressiva, pode também contar com essa fibra obtida pela reciclagem do PET sem restrição ao uso e com a vantagem de livrar o meio ambiente dos e-feitos de um material que leva mais de 100 anos para se decompor. A garrafa PET reciclada é submetida a alguns processos e transformada em fibra. São necessários 22 garrafas de 2 li-tros para produzir 1 kg de fibra. O processo de fiação condiciona o material para a etapa de tecelagem ou malharia, que, em seguida, vai para a confeção de artigos de vestuário, cama, mesa, banho ou acessórios. O resultado final é um produto de qualidade tão boa quanto a-quele que foi confecionado com a matéria-prima não reciclada, mas com uma diferença fun-damental: o respeito ao meio ambiente através dos valores sociais e ecológicos agregados. Com intuito de valorizar ainda mais os produtos confecionados a partir do Fio Cocamar Eco-lógico e garantir toda a rastreabilidade do processo da Indústria de Fios Cocamar, foram dis-tribuídos mais de 200.000 tags aos clientes, desde o seu lançamento no final de 2007. As grifes brasileiras M.Officer, Mário Queiroz, Glória Coelho e Alexandre Herchtcovitch já tiveram em suas coleções roupas de PET. 5.3. Fibra de bambu A fibra de bambu é um tipo da fibra regenerada de celulose, obtida a partir da polpa de bambu. A renovação do bambu é quase imediata devido ao seu rápido crescimento. É uma fibra obtida sem aditivos químicos, é biodegradável, possui propriedades antibacterianas

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(mesmo após cinquenta lavagens, o tecido da fibra de bambu ainda mantém esta funcionali-dade), é biodegradável, é inibidora de odores, hipoalergênica, de secagem rápida, é extre-mamente macia e proporciona conforto, possui brilho natural e tem ação protectora de raios ultravioletas. Necessita de menos corantes do que a fibra de algodão e obtêm-se cores mais vivas. (Alves et al, 2006) Mesmo sendo recente, a fibra de bambu é já comercializada mundialmente com um volume altamente crescente. A fibra de bambu da Tanboocel tira o melhor partido das características únicas desta fibra, prometendo trazer o consumidor para dentro de todo o processo sustentado de obtenção da fibra e fazendo com que o ar fresco da cultura natural do Bambu seja percepcionado e interiorizado. A fibra do bambu Tamboocel é macia e saudável para a pele. Garante um bom tecido e nenhuma pressão para a pele. 5.4. Fibra de PLA A fibra de PLA é um polímero à base de fibra de milho e quimicamente é um ácido polilático. A fibra pode ser usada sozinha, ou em misturas nomeadamente com algodão ou com poliéster. É biodegradável. O PLA consome de 30 a 40% de combustível a menos em sua produção em comparação com outro polímero fibroso da indústria petroquímica. Além disso, é de fácil manutenção, boa capacidade de absorção de corantes, boa resistência mecânica, boa resistência à acão da radiação UV, é retardador de chama, é resistente à proliferação de bactérias e possui propriedades hipoalergênicas. Os tecidos obtidos com a fibra de milho podem ser finos e bri-lhantes como a seda ou espessos e aconchegantes. São resistentes à luz, à transpiração e a lavagens sucessivas. (Alves et al, 2006) 5.5. Fibra de juta Devido à parceria entre o curso de engenharia têxtil da FEI (Fundação Educacional Inaciana) e o estilista paranaense Caio Von Vogt foram desenvolvidas peças confeccionadas com teci-do feito a partir da fibra da juta com o intuito de despertar uma maior consciência ecológica para o desenvolvimento de processos e produtos com impacto nas áreas social, cultural e ambiental. O projeto envolveu também a pesquisa de novos corantes e de técnicas de colo-ração não-poluentes, novas técnicas de fixação e amaciamento do tecido. Os corantes utili-zados foram extraídos de plantas naturais, como folha de mamona, açafrão, macela e uru-cum, conseguindo-se cores em dez tonalidades diferentes. A juta é um produto muito rústi-co, tradicionalmente usada para sacarias, necessita de um cuidado técnico muito especial e normalmente é considerada de pouco valor para a indústria têxtil.

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Figura 7. Peças confecionadas com fibra de juta

Fonte: Portal Amigos do Peito

5.6. Fibra de bananeira A fibra de bananeira é colhida, secada e trançada pela comunidade de bananicultoras da ci-dade de Corupá, interior de Santa Catarina, para dar origem a diversos produtos, entre eles o chinelo ecológico criado pela designer Celaine Refosco, diretora do Orbitato (Instituto de Estudos, em Arquitetura, Moda e Design). A tira do chinelo é de látex biodegradável produ-zido no Amazonas e no Acre por famílias ribeirinhas com tecnologia desenvolvida pela Uni-versidade de Brasilia (UNB).

Figura 8. Chinelo ecológico produzido com fibra de bananeira

Fonte: Website Orbitato

Após participar em diversos projetos entre Universidade e comunidade, a estudante de Moda Bruna Vilas Boas, criou uma bolsa em fibra de bananeira para participar no 6° Prêmio Top Francal de Estilismo e obteve o 1° lugar na categoria de bolsa, com o acessório feito a partir de Fibra de Bananeira. A bananeira só dá o fruto uma vez, e após isso a planta pode ser cortada, podendo se transformar em adubo ou mesmo ser utilizada para artesanato. A fibra da bananeira, nesse caso, é extraida a partir do caule. Segundo a estudante, para evidenciar a utilidade desta fibra tão trabalhada pelos artesãos, recorreu aos processos mais comuns para a confeção do produto: separação e preparação das fibras, coloração, secagem e trança.

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Figura 9. Bruna Vilas Boas com a bolsa em fibra de bananeira

Fonte: Website Revista Manequim

5.7. Tecido Denim Para adquirir a tonalidade correta de azul, o denim passa por um processo de tingimento com corante índigo sintético. Posteriomente, na lavanderia, para obter diferentes efeitos, passa por repetidas lavagens e enxaguamentos, usando produtos abrasivos e alguns deles tóxicos para os efluentes e para os trabalhadores que com eles contactam directamente (Figueiredo e Cavalcante, 2010). Em 2006, a Levi´s Strauss & Co divulgou resultados da avaliação de ciclo de vida do seu icôni-co jeans 501, referindo gastos de 920 galões de água, 400.000 kW de energia e 32 kg de dió-xido de carbono expelidos. Também de acordo com a empresa em questão, seria o equiva-lente a manter uma mangueira ligada por 106 minutos, dirigir por 125.502 km e manter liga-do um computador por 556 horas (Figueiredo e Cavalcante, 2010). A calça jeans já foi sinônimo de liberdade de expressão, mas neste momento é preciso voltar a atenção para o seu ciclo produtivo para que todos se tornem mais conscientes de quão importante é produzir um produto limpo, livre de substâncias nocivas à pele, alérgicas ou cancerígenas. A Vicunha Têxtil, um dos maiores fabricantes de denim do Brasil, decidiu em 1995, dar início a um programa de qualidade para ter um produto com competitividade à escala mundial. O processo começou por visar a redução de consumo de água e uma maior eficiência energética. Passaram a utilizar corantes biodegradáveis e conseguiram a reutilização de até 65% de todo o efluente industrial produzido nas fábricas. A Vicunha considera a experiência muito importante já que os custos ambientais também podem ser considerados como investimento. Em 2010, renovou o certificado Oeko-Tex Standard 100, selo verde europeu, que atesta que o denim é ecologicamente produzido já que a empresa não utiliza substâncias nocivas ao ser humano na produção, nos tingimentos e nos acabamentos de seus tecidos. A empresa não tem mais obstáculos para comercializar o produto no mundo, pois atende aos requisitos dos países mais exigentes. A Tavex Corporation é o resultado da união realizada em 2006 entre a empresa espanhola Tavex e a empresa brasileira Santista Têxtil. As duas empresas são tradicionais na produção de tecido denim, flats e workwear. Com capacidade de produção de 185 milhões de metros lineares de tecido, a Tavex registra receita líquida anual de 350 milhões de euros. Presente em mais de 50 países, possui 10 fábricas em três continentes e emprega 5 mil pessoas. No

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Brasil, a Tavex tem-se destacado pela excelência de seus processos e produtos. Recentemente lançou um novo acabamento chamado de Alsoft Amazontex, que é um inovador acabamento natural, ecológico e sustentável obtido através do Cupuaçu, fruto da Amazônia brasileira. Esse acabamento não contém silicone, é hipoalérgico, biodegradável, produz um efeito amaciante e aumenta o conforto por absorver a umidade e os raios solares. É resultado de um projeto de colaboração para o desenvolvimento das comunidades locais da Amazônia, no qual 700 famílias são beneficiárias. Para o Inverno 2010, a Tavex Brasil apresentou três artigos com este acabamento: Organic Denim, Shutle Denim e White Denim. A empresa pretende expandir a utilização deste acabamento a um maior número de artigos dependendo da recepção por parte do mercado e respeitando as possibilidades de produção sustentável do produto. Outra novidade apresentada internacionalmente pela Tavex em parceria com o reconhecido estilista brasileiro, Carlos Miele, foi um modelo de calça jeans produzida com o BioJeans. Este denim é produzido com sobras de algodão, fibras e fios reciclados, substituindo processos químicos por naturais. Um amido natural da batata é usado no lugar da goma sintética e o amaciante natural feito de manteiga de cupuaçu substitui os amaciantes sintéticos. Assim se promove a responsabilidade social apoiando as comunidades locais da Amazônia, que cultivam os produtos.

Figura 10. Campanha BioJeans por Carlos Miele

Fonte: Website Santista Têxtil

5.8. Ecoeficiência A Fundação Espaço ECO é resultado de uma parceria entre a BASF (Líder Mundial em Produ-tos Químicos), a GTZ (Agência do Governo Alemão para a Cooperação Internacional), e a UNIDO (Organização para Desenvolvimento Industrial da ONU) e tem apoio da Prefeitura de São Bernardo do Campo, do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e do SESI (Serviço Nacional da Indústria). É o primeiro centro de Ecoeficiência Aplicada da América La-tina e constitui um centro de excelência em desenvolvimento sustentável para abrigar proje-tos de educação ambiental e reflorestamento de uma área que faz parte do cinturão verde da cidade de São Paulo e também é considerada pela UNESCO patrimônio ambiental mundi-al. As análises que serão realizadas comparam produtos e processos a fim de avaliar qual é o mais ecoeficiente através de requisitos econômicos, sociais e ambientais. A metodologia de avaliação do ciclo de vida dos produtos e processos foi desenvolvida e aperfeiçoada na BASF AG, Alemanha, combina, de acordo com conceitos, requisitos ambientais, avanços econômi-cos e necessidades sociais. A análise de ecoeficiência estará disponível às empresas interes-

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sadas e os resultados podem ser publicados e levados ao conhecimento do consumidor final podendo agregar vantagem competitiva ao produto e às empresas que a utilizam. (Revista Química Têxtil, 2004) 5.9. Fast Fashion O segmento de moda conhecido como fast fashion está posicionado entre o mercado de prestígio e o mercado de massas visando atingir o público ávido por variedade, com grande velocidade na troca das suas mercadorias nos pontos de venda e com rede de lojas no mun-do inteiro. O mais importante representante deste sector de moda é o grupo espanhol Indi-tex, que também possui lojas no Brasil, vendendo produtos de alguma qualidade a preços baixos, aumentando muito o descarte de roupas, que não podem ser reaproveitadas. Além disso, as roupas são confeccionadas em diversos países, a baixo custo de produção, inde-pendente da qualidade, das condições em que o produto é manufaturado e da distância que o produto percorre em todo esse ciclo. 5.10. Slow Fashion O Slow Fashion é o conceito que define a moda que integra peças duradouras, mais clássicas e, principalmente, com qualidade de matéria-prima e acabamento incomparáveis. Surgiu a partir das ideias geradas pelo slow design, que nada mais é do que uma nova visão para apresentar produtos que respeitam as condições humanas, a biodiversidade e a limitação dos recursos natuais. É ao mesmo tempo, antagônico aos produtos impessoais e homogêneos. A matéria-prima deve ser ecologicamente correta e adequada para muitos anos de uso. O processo produtivo envolve profissionais extremamente capacitados e bem valorizados. Os custos são muito mais elevados do que no caso fast fashion. As pesquisas são mais comple-xas. A produção é limitada, proporcionando, de certa forma, determinada exclusividade. Os produtos podem ser confecionados manualmente. A modelagem é perfeita, sendo que na maioria das vezes faz-se através da Moulage, que é uma técnica francesa de modelagem tri-dimensional em que a criação se dá diretamente sobre o manequim, ao invés de usar técnica de corte e modelagem plana, o que possibilita roupas com acabamento e caimento perfei-tos. (Jones, 2007) Tudo isso para proporcionar aos consumidores peças atemporais. Para o consumidor o resultado é a maior qualidade e durabilidade das peças. Para os trabalhadores das indústrias de moda representa maior valorização perante salários mais justos e melhores condições de trabalho. Para o ambiente significa menos lixo têxtil a ser jogado fora a todo o momento, pois são produzidos em ritmo mais lento, menor escala, com maior qualidade, de forma sustentável e, portanto, não precisam ser eliminadas rapidamente. 6. A moda de ser sustentável Atualmente, para estar na moda não é necessário consumir desenfreadamente, mas sim, consumir produtos de qualidade e multifuncionais, além de mesclar peças vintage às últimas tendências. A moda consciente ainda possui poucos adeptos, mas em geral, a forma de pen-

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sar em relação ao reflexo de cada uma de nossas atitudes para com o ambiente está mu-dando. São pequenas atitudes como a customização de peças, que nada mais é do que fazer modificações no produto com o objetivo de lhe dar uma nova função; usar sua própria eco-bag para ir às compras e substituir as sacolas plásticas comuns; analisar a composição dos artigos antes da compra; ou dar prioridade aos produtos Ecofriendly, que irão contribuir para uma mudança rumo ao consumo consciente. Em pouco tempo, poderá chegar o momento do consumidor fazer exigências para consumir apenas produtos ecologicamente sustentá-veis e as indústrias serão obrigadas a responder a isso. O ambiente irá agradecer. Os designers que aderiram à moda sustentável ganharam notoriedade. Stella McCartney, por exemplo, desenvolveu uma coleção para a C&A do Brasil que foi lançada em março des-te ano e esgotou rapidamente. A designer não utiliza couro em suas coleções e afirma que não é uma designer de peças descartáveis, mas sim atemporais, e que suas criações não se-rão queimadas, não irão acabar em aterros e prejudicar o ambiente. A grife carioca Osklen está em constante pesquisa e desenvolvimento de materiais naturais e reciclados para a produção de suas coleções. Esses matériais levam menos tempo para se decompor no ambiente e são denominados de e-fabrics: lã orgânica, couro ecológico dublado com sarja, tricô de palha de seda, shantung de seda, tresset de palha de seda, se-mentes, couro de peixe (tilápia), entre outros. A Osklen, com seu belo trabalho, transforma essas matérias-primas ecológicas em luxuosas criações integrando temas como a natureza, a cultura e a sociedade, associados a uma estética de bom gosto. Dessa forma, a marca conse-guiu ganhar espaço no mercado de moda não só como grife, mas como um veículo de co-municação de um estilo de vida. O movimento e-brigade, idealizado pelo proprietário da gri-fe, Oskar Metsavaht, surgiu com o objetivo de comunicar sobre o consumo consciente e combater a desinformação ambiental. A partir daí, ele criou o Instituto E, uma organização não governamental focada em promover os princípios do desenvolvimento humano susten-tável.

Figura 11. Tênis da Osklen confecionado com couro de peixe.

Fonte: Portal Projeto Pacu

7. Conclusão Os exemplos apresentados ainda significam pouco perante o gigantismo da cadeia têxtil mundial e dos problemas que a globalização da produção e dos mercados exibem, mas de-vem constituir modelos a serem seguidos. Somente quando os governos de todo o mundo compreenderem o impacto da produção dos têxteis no meio ambiente é que poderão a-companhar legislativamente o aumento da consciencialização já manifestado por muitos

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sectores da população. A todos compete mudar procedimentos, propôr inovações tecnológi-cas, encontrar soluções de sustentabilidade imbuídas de um novo paradigma para a produ-ção e uso de materiais têxteis. Será um desafio pôr na moda a moda de ser sustentável. Referências

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