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1 www.revistabravo.com.br 06/2011 TRAJETÓRIA OFICINAS PROJETOS De uma escola de música surge um grupo que hoje é referência no mundo 165 MÚSICA + CINEMA + ARTES + ARTES PLÁSTICAS + TEATRO + DANÇA O MELHOR DA CULTURA EM JUNHO DE 2011 R$ 14,90 . www.revistabravo.com.br As oficinas ressaltam, desde o início, o foco do grupo em uma proposta pedagógica Em julho o grupo começa o Tum-pá, espetáculo voltado ao público infantil BARBATUQUES ORQUESTRA DE CORPOS

TCC Barbatuques na Bravo

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Este é TCC do curso de jornalismo concluído em julho de 2011 na Universidade Anhembi Morumbi. Apresentamos uma grande reportagem sobre o grupo de percussão corporal Barbatuques. Autores: Alexandra Marques, Paula Pereira e Sirlene Ribeiro Afradecimentos à produção do grupo Barbatuques e seus integrantes e aos que cederam imagens para a realização deste projeto.

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TRAJETÓRIA OFICINAS PROJETOSDe uma escola de música surge um grupo que hoje é referência no mundo

165

MÚSICA + CINEMA + ARTES + ARTES PLÁSTICAS + TEATRO + DANÇA

O MELHOR DA CULTURA EM JUNHO DE 2011R$ 14,90 . www.revistabravo.com.br

As ofi cinas ressaltam, desde o início, o foco do grupo em uma proposta pedagógica

Em julho o grupo começa o Tum-pá, espetáculo voltado ao público infantil

TRAJETÓRIA OFICINAS

BARBATUQUESORQUESTRA DE CORPOS

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UNHO

DE

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MÚSICA EDITORIAL

3

ILUSTRAÇÃO PAULA PEREIRAFOTO INAÊ COUTINHO

PROPOSTA DE CONCLUSÃO DO CURSO DE JORNALISMOQuinze anos marcam o

aniversário do grupo paulista

de percussão corporal

Barbatuques. Conheça nesta

reportagem a proposta

pedagógica do grupo, sua

trajetória e quais são seus

próximos planos.

Este trabalho foi elaborado

como trabalho de conclusão do

curso de Comunicação Social,

com ênfase em Jornalismo da

Universidade Anhembi Morumbi

- São Paulo, junho 2011.

Orientação: prof. Francisco

Bicudo

Alunas:

Alexandra Marques

Paula Pereira

Sirlene Almeida

ORQUESTRA DE CORPOS

Reportagem:

Alexandra Marques

Paula Pereira

Sirlene Almeida

Diagramação: Paula Pereira

Revisão: Maria A Monteiro Bessana

Edição-geral: Francisco Bicudo

Agradecimento a todos

integrantes do Barbatuques:

Fernando Barboza

André Hosoi

Gilba Alves

André Venegas

Helô Ribeiro

Bruno Buarque

Lu Horta

Charles Raszl

Marcelo Pretto

Dani Zulu

Mairah Rocha

Flávia Maia

Maurício Maas

Renato Epstein

João Simão

E às produtoras:

Nancy Silva

Luisa Ferraz

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explicada pelo fato de o artista estar absolutamente confortável com a escolha artística que fez. Diante das infinitas possibilidades que uma carreira convencional no mundo da música lhe oferecia, optou por desbra-var o território inovador e primitivo da música corpo-ral. Inovador e primitivo são adjetivos que, à primeira vista, parecem contraditórios. Mas basta acompanhar o fundador do Barbatuques a uma das reuniões de seu grupo de estudos para descobrir que conceitos contra-ditórios podem conviver em harmonia. Reunidos em círculo num estúdio acanhado, fazendo percussão com nada mais do que o seu próprio corpo, cerca de vinte pessoas, entre integrantes do Barbatuques e apren-dizes do grupo, compõem um ritual que é impossível de não ser entendido como música tribal – composta por sons de percussão ritmada, palmas, batidas de pés, como era prática comum entre as sociedades pré-históricas. Ao mesmo tempo, temos a agradável sen-sação de estar vendo algo inusitado e criativo. E assim, misturando o ancestral ao experimental, a proposta do Barbatuques parece fazer uma ponte musical entre os sons mais antigos e os mais modernos que o homem já foi capaz de produzir. Isso é o que Barba chama de per-cussão corporal. “A palavra ‘percussão corporal’ é um pouco recente. A gente usa esse termo, ou música cor-poral. Lá (no exterior) eles falam ‘body music’, ou ‘body drumming’. Body drumming seria o batuque. Então são palavras que querem dizer a mesma coisa. Mas como uma manifestação artística contemporânea, existem poucos grupos de percussão corporal no mundo”.

O grupo Barbatuques este ano completa quinze anos de carreira, mas foi em 1990, com trabalhos de pesquisa e investigação musical, que as batucadas deixaram de ser apenas uma brincadeira que Barba fazia. Em 1991, Barba ingressou no curso de Música Popular da Universidade Estadual de Campinas (Uni-camp), onde teve aulas com o músico e também pro-

GRUPO PAULISTA BARBATUQUES COMPLETA QUINZE ANOS DE CARREIRA

COMO REFERÊNCIA MUNDIAL

ORQUESTRA DE CORPOS

A casa de Fernando Barbosa, o Barba, fundador do grupo Barbatuques, reflete a inquietude de um artista intensamente conectado com seu trabalho. Discos de MPB instrumental, livros de arte e CDs dos mais varia-dos estilos musicais encontram-se espalhados por to-dos os cantos, como se estivessem sendo manuseados ao mesmo tempo – e é até provável que seja assim. Em meio ao aparente caos, Barba parece tranquilo e per-feitamente integrado às inúmeras referências artísticas. À primeira vista, o cenário sugere que o apartamento não difere muito dos típicos ambientes que abrigam e acolhem um agitador cultural, que mora sozinho. Ex-ceto por um detalhe: além de um piano, cuja função parece ser mais decorativa, não há qualquer outro in-strumento musical no local. A ausência chama a aten-ção. Mas a dúvida rapidamente se desfaz. Na verdade, não é possível encontrar instrumentos que nos acostu-mamos a ver, como violão, tambores, baterias e baixos. Mas, ainda assim, encontra-se ali, para quem quiser conferir, com um pouco mais de sutileza, um poderoso instrumento. Trata-se do corpo de Barba, um dos mais respeitados artistas internacionais de percussão corpo-ral. E é isso que o torna tão diferente dos modelos que idealizamos de instrumentistas.

A tranquilidade de Barba pode, de certa forma, ser

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fessor José Eduardo Gramani, e teve a oportuni-dade de aprofundar o trabalho de coordenação motora e rítmica que já desenvolvia sozinho. “Na Unicamp, nós vínhamos fazendo um trabalho de coordenação motora e mistura de ritmos, uma ideia que já circulava entre as pessoas. Eu tinha aulas com o professor José Eduardo Gramani, que estimulava este tipo de trabalho”, relembra Barba. Em 1993, com os amigos André Hosoi e Marcos Azambuja, Barba fundou, em São Paulo, a Escola Auê de Música. “Quando a gente abriu essa escola, já tínhamos interesse em percussão corporal, tínhamos necessidade de ter uma ofi-cina disso”, diz Barba. A partir de 1995, na Auê, Barba passou a dar aulas de percussão corporal e foi aí que conheceu o músico e pesquisador de música corporal, Stênio Mendes. “A primeira vez que eu vi o Barba, foi numa reportagem da TV Cultura, quando ele demonstrava o uso de seu corpo como se fosse uma bateria completa, com chibal, bumbo e caixa! Ele já estava divulgando a sua arte, abrindo um curso para desenvolver essas habilidades.”, relembra Stênio.

O encontro entre Barba e Stênio proporcionou uma experiência musical corporal e pedagógica para ambos, transformando Stênio em um im-portante parceiro e colaborador do trabalho de Barba. Essa colaboração daria início ao grupo Barbatuques, em 1996. “A gente decidiu lan-çar um curso de percussão corporal semelhante ao que a gente fazia na Unicamp, onde nos

formamos. Nós vimos que, didaticamente, era muito interessante. Então, resolvemos abrir o curso, e o grupo Barbatuques surgiu a partir dos alunos desse curso, com a colaboração importante do Stênio”, relata André Hosoi. Mas foi somente em 1997 que eles fizeram o primeiro show com repertório e dinâmica para uma hora de duração. “A gente pensava: Nossa, será que as pessoas vão aguentar um show de uma hora de percussão cor-poral?”, diz Barba. Em tom de brincadeira, Barba diz que ainda está tentando responder a essa per-gunta. “Na verdade, ao longo desses quinze anos a gente ainda vem desenvolvendo melhor os vários ritmos e técnicas da percussão corporal”, explica. À percussão corporal, o Barbatuques acrescentou a técnica de usar estalos, palmas e batidas no peito, criando assim um código de sons que vai do grave ao agudo. Uma importante contribuição do grupo para o desenvolvimento da música foi o uso da improvisação. “Em um determinado momento do show, fazemos música convidando o público a participar, quebrando as barreiras e entrando tam-bém nessa relação um pouco tribal”, analisa Bar-ba. Para a funcionária pública Camila Stachetine, o momento de improvisação durante o show na cidade de Limeira, em abril deste ano, foi o mais surpreendente. “O momento em que eles fizeram a intervenção com o público foi muito marcante. Aconteceu uma ligação muito bacana entre plateia

e artistas, como se fôssemos todos uma tribo fazendo nossa música.” Para o barbatuque Mauricio Maas, essa intervenção com o público é a marca registrada do grupo. “O maior desafio é provar para as pessoas que elas são capazes de brincar musicalmente com seu corpo. É uma maneira de mostrar que a gente não estava lá só para mostrar uma técnica, mas sim mostrar do que o ser humano pode fazer com o seu corpo”. O Barbatuques é formado por quinze integrantes e Lu Horta, que está na trupe desde sua formação inicial, e foi a respon-sável por criar o nome pelo qual o grupo ficou conhecido. Ela conta que o nome surgiu

de forma espontânea. “Foi muito natural. Fui brincando com as palavras. O batuque do Bar-ba, o Barbatuque”, recorda Lu.

Entre os anos de 1998 e 2001, o grupo par-ticipou de diversos programas de TV, fez shows e

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criou o repertório para o primeiro CD do grupo, intitulado “O Corpo do Som”, que seria lançado em 2002. Barba afirma que a maior dificuldade de gravar um CD de percussão corporal em estú-dio é o microfone. “No palco, todos tocam juntos e a gente usa o microfone de lapela para extrair ao máximo o som de cada um. Num estúdio, a gente não usa lapela porque lá tem um micro-fone ainda mais sensível e não tem o problema de microfonia. Mas até pequenos ruídos são cap-turado pelo microfone, tornando a gravação mais demorada do que se espera”, analisa.

As influências pessoais e regionais oferecidas pelos diferentes “Barbatuques” são a garantia da diversidade musical e de um repertório criativo, como afirma Barba: “Aqui tem o coco, o xaxado, a catira e o fandango do Sul. Todos eles têm sa-pateado. A catira tem palmas, mas tem a viola e tem outros instrumentos. Como manifestação de grupo de percussão corporal, acho que essa tendência é algo recente”. A Barbatuque Daniela Fried, conhecida como Dani Zulu, trouxe sua ex-periência na área de cultura popular brasileira para o grupo. “Eu já fazia vários trabalhos ligados

à percussão corporal e tinha um envolvimento muito grande com a cultura popular, que até hoje preservo. Tudo começou quando eu fui fazer ca-poeira, conheci algumas pessoas e fui batucar na roda de capoeira. Eu levei isso para o Bar-batuques”, conta. O grupo acredita também que seu processo de criação não está restrito apenas à música regional brasileira, e sofre influências de ritmos de outros países, como a dança irland-esa e o flamenco espanhol – ambos com forte presença do sapateado –, os movimentos per-cussionistas de países da África e do Oriente, o body drumming, desenvolvido por artistas norte-americanos, e até os sons feitos com a boca, típi-cos de certas tribos africanas, como os Xhosa, da África do Sul, que incorporam estalos de língua à fonética de suas palavras, transformando sua fala num misto de linguagem e percussão. Se-gundo Barba, ao longo dos anos de pesquisa e descobertas, o grupo desenvolveu uma nomen-clatura para os sons e os ritmos, cujo registro de partitura seria o próprio corpo.

OS 15 ANOS DE BARBATUQUES

“O MAIOR DESAFIO É PROVAR PARA AS PESSOAS QUE ELAS SãO CAPAZES DE BRINCAR MUSICALMENTE COM SEU CORPO”

ANDRÉ HOSOI

O desenhista

e designer

gráfico. Hosoi

lançou em

2000 seu

primeiro álbum

solo “Junina”,

considerado pela

Bravo! o melhor

CD instrumental

do ano

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A PROPOSTA PEDAGóGICA DO GRUPO

Imaginar uma escola na qual alunos e pro-fessores não estabelecem hierarquia de conheci-mento é quase impensável. Esse foi, desde o início, o desejo da Auê. Patrícia Pederiva é uma professora da Faculdade de Educação da Uni-versidade de Brasília (UnB) que acredita na ideia da proximidade entre alunos e educadores e de-fende que a música não é produto da escola, e sim, um processo no qual a vivência musical e a troca de experiências por meio de brincadeiras com diversos tipos de sonoridades estimula o a criação das crianças. “Alunos e professores de-veriam trazer aquilo que sabem e compartilhar isso um com o outro. É isso o que deveria existir na escola”. E foi exatamente assim que nasceu o Barbatuques, da troca de experiências entre alunos e professores.

Em Higienópolis, quando Fernando Barba, An-dré Hosoi e Márcio Azambuja ministravam cursos de percussão corporal na escola Auê, o grupo foi tomando forma e criando um objetivo cada vez mais consolidado As aulas de percussão corporal não abandonaram o caráter espontâneo de ser e até hoje essa informalidade serve como base para a criatividade desses músicos. Heloiza Ri-beiro de Oliveira, conhecida como Helô Ribeiro, uma das integrantes do Barbatuques, conhe-

ceu o grupo depois de receber um convite de Fernando Barba, antes de o grupo ser fundado em 1996, para dar uma passada na escola Auê, local onde brincavam de fazer música uma vez por semana. “Eram encontros informais, mais de improvisação, pesquisas, descobertas, eram os amigos ali tirando um som. Não tinha uma intenção inicialmente de formar um grupo, nada muito nesse sentindo”, comenta a barbatuque Helô Ribeiro.

Sem nunca abandonar o lado pedagógico, a escola Auê, que inicialmente era uma escola de música, alcançou o status de uma produtora artís-tica. Atualmente, chama-se Núcleo Barbatuques, atuando em várias frentes e ampliando os espa-ços ocupados pelo Barbatuques: fazem apresen-tações, dão conta de um grupo de estudos para desenvolver suas técnicas, promovem eventos e ainda ministram oficinas para aqueles que têm vontade de conhecer e colocar em prática a per-cussão corporal em escolas, empresas e ONGs.

Ainda assim, ensinar esse tipo de trabalho envolve alguns tabus. Conhecer a si próprio sig-nifica, nessas aulas, se permitir toca. “A gente tem de mostrar que não é feio se tocar, então você vê as pessoas se soltarem e perceberem as possibilidades do seu corpo. Quebrar este tipo de

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LEIAa íntegra da entrevistaexclusiva com oBarbatuques no sitewww.revistabravo.com.br

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O GRUPO ACREDITA

TAMBÉM QUE SEU

PROCESSO DE CRIAÇãO

NãO ESTÁ RESTRITO

APENAS À MÚSICA

REGIONAL BRASILEIRA,

E SOFRE INFLUÊNCIAS

DE RITMOS DE OUTROS

PAÍSES

LU HORTA

Cantora e

compositora, a

barbatuque Lu

Horta lançou , em

2003, seu primeiro

CD solo intitulado

“Lu Horta”

tabu é uma das coisas mais gostosas que já fi z”, afi rma o barbatuque André Venegas.

E talvez não haja melhor momento para con-hecer a si mesmo do que quando ainda somos crianças. Esses pequenos seres exercem música corporal sem se darem conta e talvez por esse motivo tenham afi nidades muito grandes com a proposta do Barbatuques. André Hosoi dá um exemplo: cantar parabéns. Qual criança não aprende a bater palmas sem nem mesmo apren-der a falar? Nas festas de aniversário, o corpo humano é o único instrumento musical pre-sente, e ele sozinho realiza uma canção inteira de parabéns, com palmas e o uso da voz. E essa relação das crianças com o Barbatuques pode vir a tomar uma dimensão ainda maior devido a uma lei que vai entrar em rigor em agosto deste ano.

A Lei nº 11.769 tornará as aulas de música obrigatórias em todo o ensino básico das esco-las públicas. A disciplina, já oferecida em algu-mas escolas particulares, poderá ser inserida nas aulas de artes, logo os professores que irão le-cionar essa matéria não serão, necessariamente, músicos formados. Esse fato já levanta hoje um questionamento importante: quais instrumentos musicais essas escolas oferecerão? Segundo a professora Patrícia Pederiva, a percussão corpo-ral não exige recursos fi nanceiros para ser feita, por isso, já que instrumentos musicais como

violão, piano e violoncelo são caros, a saída en-contrada poderia ser vivenciar a música por meio do próprio corpo. “A musicalidade é, primeiro, a possibilidade humana de expressar estados afe-tivos e é também a possibilidade de organizar as sonoridades em forma de música na cultura”, conclui a professora Pederiva. Portanto, o ensino musical pode auxiliar esses alunos a se expres-sarem melhor, além de trabalhar a capacidade de concentração e o senso de organização deles. A mesma opinião é compartilhada pelo músico Stênio Mendes quando perguntado sobre o es-paço para a percussão corporal no Brasil. “Eu vejo primeiro na sala de aula, antes dos instrumen-tos musicais convencionais, depois acho que seja ideal para quebrar aquela parede entre músico e plateia”. Para Stênio Mendes, a interação gerada pela música deve ser demonstrada também nos palcos, situação no qual músicos e espectadores constroem uma relação mais próxima; importante para que todos possam de fato vivenciar a música e não apenas ouvi-la.

Quando as aulas de percussão corporal são realizadas nas empresas, uma das iniciativas co-locadas em prática pelos Barbatuques, a meta também não é apenas ensinar música. Hosoi co-menta que essas aulas aumentam a união entre os funcionários: “Nos treinamentos corporativos a gente usa não só um repertório de música, mas de jogos, de treinos, mostramos um jeito de se pensar música”. As aulas demonstram a im-portância de saber ouvir o próximo e a trabalhar em sintonia, o que no fi m das contas resulta em

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um trabalho mais organizado e eficiente. Outro objetivo desse trabalho corporativo é aumentar a autoestima das pessoas e isso acontece tanto entre adultos quanto en-tre crianças.

Nessa linha educacional, um dos próximos projetos a ser viabilizado pelo grupo Barbatuques é o lançamen-to de um livro pedagógico sobre percussão corporal. A obra, que ainda está sendo elaborada, como proposta pedagógica, surge num momento muito apropriado a essas novas mudanças no ensino público nacional. Ho-soi reconhece o fato e afirma: “Meu sonho e desafio é que este livro seja entendido por pessoas mais tradi-cionais da música e possa entrar nas escolas como um recurso legal, didático e dinâmico”.

Quando existia a escola Auê de música, Fernando Barba já ministrava suas aulas de percussão corporal por meio dessas oficinas. Pessoas interessadas se in-screviam e faziam parte desse universo de experimen-tações musicais. Hoje, de forma mais experiente e or-ganizada, os membros Barbatuques são convidados a ministrar essas oficinas em diferentes cidades, estados e países, inclusive no Chile e na Colômbia. “Nessas ofici-nas, a gente tenta fazer que as pessoas se sensibilizem para uma linguagem da música corporal como fonte de expressão e uma forma de se comunicar”, relata o barbatuque João Paulo Simão. Embora as oficinas não aconteçam com frequência determinada, nem mesmo na cidade de São Paulo, onde está situada a sede ad-ministrativa do grupo, muitos fãs e interessados aguar-dam o anúncio dessas oficinas em agendas culturais e

no site oficial do Barbatuques. André Hosoi acredita que esses “emissários da linguagem” exercem uma função importante com um custo final menor. “Quando a gente consegue enviar essas pessoas para dar aula em outros lugares, o custo é bem menor, porque a gente não tem de alugar um espaço grande, coisa que em São Paulo é caro de se fazer”, conta o músico. E o resultado final é que todos os interessados, alunos de lugares tão dis-tantes, têm a chance de aprender percussão com um barbatuque sem ter de necessariamente se deslocar até a capital paulista.

Érica Giesbrecht é professora e participa da disciplina Antropologia do Som no Programa de Pós-graduação em Música da Universidade Estadual de Campinas (Uni-camp). Ela já esteve em uma das oficinas do grupo Bar-batuques e relata sua experiência da seguinte maneira: “Eu participei de uma oficina que era uma delícia, não é que nem o ensaio de coral em que contralto canta isso, faz aquilo. Era um negócio muito livre, um processo de improvisação muito bacana”. A primeira vez que Érica ouviu falar em Barbatuques foi por meio de um amigo de um grupo de coral do qual ela fazia parte. Ela conta que durante um intervalo do ensaio um amigo do coral fez alguns sons “à la Barbatuque”, e a partir da expli-cação que esse seu amigo deu sobre o grupo, ela se interessou e resolveu participar de uma das oficinas que o grupo ministrou na cidade de Campinas, interior de São Paulo.

As oficinas também envolvem momentos marcantes. Numa delas, ministrada pelos barbatuques Helô Ribeiro

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e Maurício Maas, uma garotinha chamou a atenção de todos e encantou quem estava presente. Num grupo, principalmente de crianças, sempre há aquele que é mais tímido, recatado, que prefere mais ouvir e assistir a participar. E nada mais justo do que dar àquela menina o tempo de que ela precisava para sentir-se à vontade. “A menina ficou no canto durante a oficina inteira, qui-eta, fechada, travada. Ela nem sentava no chão, ficou sentada na cadeira com uma saia longa”, descreve Helô. Num dado momento da oficina, os presentes formaram uma roda e cada um deu sua contribuição: um tipo de som que vai ser repetido e compartilhado com o grupo. Quando chegou a vez dessa garotinha fazer sua parte, ela surpreendeu a todos. “Ela fez uma frase melódica, soltou um vozeirão e todo mundo começou a cantar com ela, de forma que aquilo virou o refrão do improviso. De-pois escreveram a letra da música no caderno e foi uma loucura. Uniu as pessoas através da música”, completou Helô

Atualmente, o Núcleo Barbatuques mantém ainda semanalmente um grupo de estudos. Dele participam alguns membros do Barbatuques e outros aprendizes e músicos com interesse nessa área. De modo mais infor-

mal e sem horário para começar, todas as quartas-feiras essas pessoas vão se reunindo aos poucos. O grupo não tem um professor. Nesse momento de troca de conheci-mentos e informações sobre ritmos e sons, ninguém dita as regras. Barba, nos dias em que está presente, leva seu violão e se torna o maestro das batucadas. Mas não há uma ordem de regência. O grupo é heterogêneo, composto por músicos experientes e por aprendizes. No ensaio que acompanhamos no dia 23 de fevereiro deste ano, estavam presentes Karrine Binaux, uma jo-vem francesa, Rafael Perez Verga, músico argentino, e outro integrante do grupo de estudos, Carlos Eduardo de Souza Campos, mais conhecido como Cadu. O grupo de estudos não faz divulgação e não é aberto ao públi-co. Trata-se, na verdade, de um grupo de pessoas com maior afinidade e conhecimento musical que buscam, semanalmente, trocar experiências e aprimorar seus conhecimentos em percussão corporal. Em roda, todos se veem, todos se ouvem e vão aos poucos entrando numa sintonia sonora – e podemos até dizer, quase es-piritual, enquanto acompanham o som do instrumento com batucadas. A formação do ritmo é a manifestação mais visível durante as quase três horas de ensaio.

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Além de produzir música, a prática da per-cussão corporal pode fazer bem à saúde. “Se você pensar na percussão corporal como parte da vida das pessoas, independentemente do fato de trabalhar com isso, é possível dizer que ela traz muitos benefícios para a saúde. Por exem-plo, o simples fato de você se reunir com um grupo de pessoas numa roda para improvisar, cada um fazendo uma parte, já muda seu estado mental, de descontração, escuta e presença”, diz Barba. Fazer o ritmo com a voz, com as mãos ou com os pés ajuda a trabalhar a coordenação motora do indivíduo. “Você está trabalhando a lateralidade, está trabalhando os hemisférios cerebrais no sentido de integração, tanto do lado técnico quanto do lado criativo”, acrescenta. O músico e integrante do grupo Barbatuques André Hosoi acredita que a percussão corporal faz bem

à saúde porque melhora a autoestima das pes-soas. Ele crê que a partir do momento em que a pessoa compreende que ela própria pode ser um instrumento, sente-se obrigada a se escutar e a escutar o outro: “Isso leva a um parâmetro que não é somente musical, é um parâmetro de vida, porque as pessoas precisam aprender a se escutar mais”.

A percussão corporal está mais presente na vida das pessoas do que se imagina. Você pode encontrá-la nas aulas de educação física das es-colas, nas apresentações de dança e nos aque-cimentos vocais e corporais que os atores fazem antes de suas performances. “Começa com a fala”, diz Barba, enquanto exemplifica fazendo sons com a boca. “Pensando numa criança, ela vai desenvolver os movimentos, o ritmo, a es-cuta, a fonética. E, em seu grupo, ela vai perce-

O batuque

que faz bem à saúde

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MARCELO PRETO

Marcelo Preto

foi fundador do

grupo “A Barca”

que há doze

anos pesquisa

músicas da

cultura popular

brasileira

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ber que existem outras fazendo as mesmas coisas, mas com sons diferentes. Então, como é o som do outro? Como eu encaixo meu som no do outro?”. Através dessa mistura toda, desse conflito de sons e ritmos diferentes, talvez essa criança desenvol-va alguns parâmetros musicais, como o volume, o ritmo, o timbre, a diferença de um tipo de palma para outra. “Está nada mais do que desenvolvendo a escuta”, conclui Barba.

Apesar de não conhecer o grupo Barbatuques, o especialista em Medicina Tradicional Chinesa e em Podoposturologia (reprogramação postural através do uso de palmilha específica), Dr. Leonardo Si-

gnorini, afirma que a percussão corporal faz bem à saúde, citando como exemplo três técnicas de per-cussão corporal usadas na medicina. “Existe uma técnica da Medicina Oriental Chinesa chamada de Tui-Ná ou Tuiná que utiliza a percussão para ati-var os pontos de acupuntura e os canais de energia chamados de Meridianos para equilibrar a energia corporal e restabelecer a função de todos os órgãos e vísceras”, afirma o médico. Na Medicina Ociden-tal também há uma técnica tapping que utiliza a percussão para estimular a circulação sanguínea e aumentar o tônus muscular, um exemplo disso são os nadadores que começam a percurtir nos princi-

pais músculos para “acordá-los” antes do mergulho. Outro exemplo é utilizado na fisioterapia respiratória que utiliza a per-cussão chamada de tapotagem para tra-tar doenças respiratórias com o objetivo de mobilizar as secreções pulmonares e eliminá-las com maior facilidade.

Para Dani Zulu, integrante do grupo Barbatuques, além de ser uma forma de se expressar musicalmente, de tocar e emitir som sem nenhum elemento ex-tra, a percussão corporal é uma forma de alguém conhecer o próprio corpo e se respeitar fisicamente. A Barbatuque Lu Horta defende que a percussão corpo-ral, dentro de uma medida, do limite de cada um, faz muito bem à saúde: “É uma ferramenta, assim como existem outras. Não é a única, mas é sem dúvida uma ferramenta para você se conhecer mel-hor, para se musicalizar”. Já para o músi-co Stênio Mendes, a prática da percussão corporal propicia momentos de harmonia da mente-corpo-coração, ultrapassando a barreira entre um estado artístico e um estado de cura.

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Percussão corPoral

No mundo da convergência digital em que vivemos, o que mais se ouve são perguntas com expressões como: “Você já tem esse aplicativo?, Baixou aquela música que te mandei?, Postou o que no Facebook?, Já saiu a nova versão para o i-Pad?”. Em meio a tanta modernidade, será que ainda há lugar para a percussão corporal? A evolução tecnológica é, de fato, um grande de-safio para a percussão corporal continuar gan-hando espaço e sendo ouvida, tanto por meio dos novos aparelhos reprodutores de música quanto pelos meios tradicionais. É possível com-parar a música eletrônica com a corporal, pois, na primeira, durante o processo de reprodução dos sons, o artista é o instrumento e o instrumen-tista ao mesmo tempo. O músico André Hosoi, ao comparar a percussão corporal com a música eletrônica, analisa que elas têm muito mais prox-imidade do que se pensa: “Não exatamente no ato de se fazer música eletrônica, mas o som da rave é tão alto que você acaba ouvindo com o corpo”.

Barba acredita que uma forma de se fazer percussão é orgânica e bastante ligada ao corpo – como batucar no peito –, enquanto outra for-ma possível é eletrônica, tendo a máquina como

fonte. “Mas as duas são muito parecidas, porque não passam de busca de timbres. Na verdade a música eletrônica vem da eletroacústica e de outras que a precederam. Tem muita depuração da música do timbre, de outras maneiras de com-posição, de improvisação, de música aleatória ou coisas assim”. Para o fundador do Barbatuques, há um diálogo entre as duas formas, porque o corpo pode imitar a música eletrônica, buscar os efeitos e brincar com eles. Também é pos-sível fazer o contrário, ou seja, processar sons orgânicos, gravá-los e, em seguida, manipulá-los eletronicamente. “Vários DJs já remixaram músi-cas do Barbatuques e ficou muito bom. Não tem nenhum problema. Nós mesmos, integrantes do grupo, tocamos instrumentos e alguns estão até envolvidos com música eletrônica ou tecnologia. Eu acho que tem muito mais coisas em comum do que parece”, esclarece Barba.

Helô Ribeiro, outra integrante do Barbatuques, diz que o fato de uma pessoa gostar de música eletrônica não significa que ela não possa gostar de uma música primitiva. “Tem lugar para tudo, inclusive interação e comunicação com diferentes tipos de música e essas influências somadas ger-am outra coisa, diferente, mas igualmente boa”.

música eletrônica

Há lugar para as duas?

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Essa mescla existe no próprio grupo. Alguns inte-grantes são mais hightechs e apreciadores da músi-ca eletrônica, enquanto outros são mais ligados à cultura popular e à música de raiz. Essa mescla, em vez de polarizar os integrantes, acaba tornando o som do Barbatuques mais plural e inovador. Para Maurício Maas, também integrante do Barbatuques, a música eletrônica é feita de uma forma diferente. “Ela não é uma música para você sentar e apreciar. É música fundamentalmente para ser dançada. Já a percussão corporal ao vivo é especial. Ela pode te fazer chorar ou rir”.

O professor na área de Música e Tecnologia do Departamento de Música da Escola de Artes da USP e pesquisador do Laboratório de Acústica Musical e Informática (LAMI), Fernando Iazzetta, acredita que os equipamentos eletrônicos são recursos que se so-

mam ao trabalho de percussão corporal. “Podemos dizer que hoje quase tudo que se escuta é, em al-guma medida, mediado por equipamentos eletrôni-cos, pois 99,9% da música que se ouve vem de um alto-falante. A ideia do banquinho e do violão no nosso cotidiano é rara”, diz Iazzetta. O especialista ainda citou como exemplo o programa acústico da MTV que usa apenas instrumentos não eletrônicos, como violões e atabaques – mas, para que o som do instrumento chegue ao ouvinte, há toda uma ca-deia de processamento de áudio e equipamentos de produção, que é toda tecnológica.

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Um diferencial do grupo é o uso da improvisação em suas apresentações tanto nas composições das músicas como no palco. Nos shows, em um determinado momento, a plateia é convocada a interagir, estabelecendo uma relação quase tribal. O fi gurino aparentemente comum visto pela plateia é resultado de todo um processo de estudo. O calor do corpo, os gestos e os ritmos foram levados mais a sério do que a própria questão estética, como explica Barba: “O que se pode dizer é que, dependendo do tecido, o som sai diferente. Se for uma roupa muito quente, a gente vai suar muito. Na questão da camisa, se for um tecido grosso demais, o som vai sair muito grave, sem defi nição. Se o tecido for muito fi no, não chega a dar um som grave no peito”. Os sapatos também foram cuidadosamente escolhidos visando um solado que proteja os joelhos e absorva o impacto das pisadas; estes, porém, não podem ter um solado grosso demais porque os integrantes precisam produzir um som defi nido através dos pés. A grande preocupação geral na verdade é com o resultado sonoro. Os integrantes usam microfones de lapela individuais, o que torna necessário um bolso na calça para carregá-lo e assim permitir os movimentos cênicos no palco.

No palco, as apresentações do Barbatuques seguem uma estrutura técnica de am-pliação de sons, como afi rma o operador de áudio Daniel Martins Gouveia da Silva: “O Barbatuques é mais defi nição do que pressão sonora. Um equipamento de qualidade é o que faz a diferença”. A passagem de som é sempre feita antes dos shows, porque cada ambiente possui uma acústica diferente, por isso é necessário um tempo para ajustar a microfonia e testar os microfones de cada integrante.

O trabalho cênico tem sido feito desde 2001pela cenógrafa Deise Alves. Barba garante que ela aperfeiçoou o que eles já faziam, partindo do som para o mo-vimento. “Ela teve a sensibilidade de não impor uma coreografi a, na verdade extraiu da gente quais eram as formações e as possibilidades de se fazer”,

afi rma Barba. Em contribuição a esse trabalho cênico, a iluminadora Camila Martins de Campos, conhecida como Miló Fernandes, trouxe os efeitos de luz q u e compõem um visual capaz de tirar o público do cotidiano. “Esse visual

criado tem o efeito de fotos e não de um show normal, onde as luzes se movimentam muito, proporcionando uma sensação diferente a cada música”, afi rma Miló.

O resultado fi nal é um espetáculo dinâmico e intera-tivo, que atrai crianças e adultos. Um exemplo disso é a

presença da professora de História da Arte Kátia Codama no show realizado na cidade de Ourinhos, em 19 de março. Ela, que já acompanha os shows do grupo há algum tempo, defi ne: “O Barbatuques signifi ca o resgate da infl uência de um gênero de música brasileira que as pessoas não con-hecem e é apresentado de uma forma acessível a todos,

sem estereotipo”. Para Daniel Martins, diretor de teatro, que esteve no show em Limeira no dia 26 de fevereiro, o Barbatuques cumpre bem o objetivo de conquistar a plateia: “Na hora do bis, a plateia não bate palma, eles batem os pés no chão”. E acrescenta: “Essa proposta de que o corpo é um instrumento de onde você tira sons faz que você se sinta parte disso. Não importa se esta lá em cima ou se está sentado”.

Luz, CeNÁrIO,

JOãO SIMãOAlém de ter

participado de

diversos projetos

artísticos, o

músico também

foi professor de

educação física e

artista de circo

microfonia e testar os microfones de cada integrante.O trabalho cênico tem sido feito desde 2001pela cenógrafa Deise Alves. Barba garante que ela aperfeiçoou o que eles já faziam, partindo do som para o mo-vimento. “Ela teve a sensibilidade de não impor uma coreografi a, na verdade extraiu da gente quais eram as formações e as possibilidades de se fazer”,

afi rma Barba. Em contribuição a esse trabalho cênico, a iluminadora Camila Martins de Campos, conhecida como Miló Fernandes, trouxe os efeitos de luz q u e compõem um visual capaz de tirar o público do cotidiano. “Esse visual

criado tem o efeito de fotos e não de um show normal, onde as luzes se movimentam muito, proporcionando uma sensação diferente a cada música”, afi rma Miló.

O resultado fi nal é um espetáculo dinâmico e intera-tivo, que atrai crianças e adultos. Um exemplo disso é a

presença da professora de História da Arte Kátia Codama no show realizado na cidade de Ourinhos, em 19 de março. Ela, que já acompanha os shows do grupo há algum tempo, defi ne: “O Barbatuques signifi ca o resgate da infl uência de um gênero de música brasileira que as pessoas não con-hecem e é apresentado de uma forma acessível a todos,

sem estereotipo”. Para Daniel Martins, diretor de teatro, que esteve no show em Limeira no dia 26 de fevereiro, o Barbatuques cumpre bem o objetivo de conquistar a plateia: “Na hora do bis, a plateia não bate palma, eles batem os pés no chão”. E acrescenta: “Essa proposta de que o corpo é um instrumento de onde você tira sons faz que você se sinta parte disso. Não importa se esta lá em cima ou se está sentado”.

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músICa Na PaLma das mÃOs

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músICa Na PaLma das mÃOs

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MOMEnTOS MARCAnTES DE QUInzE AnOS DE bATUCADAS

A produtora do grupo Nancy Silva diz que a originalidade artística e o comprometimento dos integrantes são as principais razões que fazem do Barbatuques um grupo musical tão especial: “Eles têm uma conexão impressionante, se gostam muito e relacionam-se como se fossem uma família, com todos os defeitos e inúmeras qualidades que isso implica”. Além das virtudes como membros de uma equipe, os integrantes, individualmente, são músi-cos excelentes, que conseguem potencializar o mel-hor de cada um em benefício do grupo. Durante esses quinze anos de sucesso, o reconhecimento internacional que o grupo adquiriu e as apresenta-ções mais marcantes ficaram na lembrança, deix-ando uma marca diferente em cada barbatuque. Para André Hosoi, o show durante o evento da FIFA na África do Sul para o anúncio da Copa de 2014 (Brasil), com a presença do presidente Lula e de autoridades do mundo todo, foi inesquecível. “O que interessava lá era a apresentação da Copa do Mundo de 2014, mas, para nós, estar ao lado do Romário, do Denílson e de Zidane foi demais”. As barbatuques, Helô Ribeiro e Lu Horta, que estão no grupo há mais de dez anos, guardam com carinho a apresentação que fizeram em Lyon, na França.

“Em 2008, houve um festival em Lyon, em um te-atro medieval, lindo. Era uma arena toda de pedra e estava lotada. Tinha aquelas almofadinhas que as pessoas usam para sentar na arquibancada e quando termina o show, se eles gostam muito, eles jogam as almofadinhas. Nós fomos ovacionados por almofadas!”, conta Lu.

Outro show importante, apontado por alguns in-tegrantes, foi o que aconteceu em 2006, em Bogotá, na Colômbia, no teatro da Universidade Nacional. “Gritos de expectativa da plateia e luzes de celu-lares por todo lado, num teatro lotado, com 6.600 lugares. A gente viu aquilo e ficou muito arrepiado. Foi incrível, porque nunca havíamos estado lá e fo-mos recebidos como pop stars. Para mim foi um dos nossos melhores shows”, conta Marcelo Preto. Para Mairah Rocha, a apresentação que fizeram com Bob-by McFerrin, considerado pelos Barbatuques um de seus mestres na percussão corporal, foi o destaque. Já Nancy Silva conclui: “Para mim a melhor apre-sentação está sempre por vir, acho que a obrigação do artista e das pessoas que trabalham com arte e cultura é sempre fazer algo melhor, que supere o que foi feito. Porém, há momentos marcantes; o que vem à minha cabeça agora foi a apresentação em Xangai em 2010, quando a plateia participou e improvisou. A música é mesmo uma linguagem universal”.

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APRESENTAÇãO DO BARBATUQUES

NA ÁFRICA DO SUL, EM 2010, NO

EVENTO DA FIFA

Cais

Cul

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Entre os novos planos do Bar-batuques está o projeto de um livro didático, que pretende reunir todo o material que o grupo desenvolveu ao longo de muitos anos de oficinas. O livro será direcionado principalmente a educadores ou professores que tenham interesse em desenvolver a percussão corporal como uma ferramenta para ajudar no processo de ensino de suas disciplinas. Barba ressalta que o livro será útil para o público em geral, ainda que seu uso preferencial seja mesmo pedagógico: “Faremos um impresso com textos, imagens e partituras, ex-plicando em detalhes cada movimento. Também haverá uma parte em vídeo, para ajudar a visualizar os movimentos, já que se trata de um tema bastante específico”. Barba acrescenta que o processo de ensinar os professores já vem acontecendo, mas ele acredita que o livro potencializará o alcance da ini-ciativa. O livro está em fase inicial de organização, mas deverá ser editado em volumes, dedicados às partituras do grupo, ao trabalho com crianças, à per-cussão corporal e, possivelmente, um volume específico, direcionado à tra-jetória do grupo. Em maio deste ano, o Barbatuques fará apresentações por toda a Europa e, em julho, estará en-volvido, pela primeira vez, com um es-petáculo destinado ao público infantil. “A gente quer aprofundar mais esse uni-verso da descoberta, das brincadeiras, das possibilidades dos pés, das mãos, dos movimentos. Será um espetáculo para crianças, mas terá um pouco de tudo”, revela Barba.

De alunos a professores. Mas para sempre alunos. Os barbatuques con-tinuam sempre ensinando e apren-dendo. E nessas ações contribuem para o crescimento de indivíduos e levam a um novo patamar o reconhecimento da cultura brasileira. Uma “antropofagia”,

BarBatuques:

O que vem POr aí

palavras de Helô Ribeiro para mostrar o quanto as influências e as misturas culturais estão presentes no grupo. “Cada um traz sua influência e o ponto em comum é fazer esse som sair do próprio corpo. É a diversidade que se comunica e se fala”, relata Helô. Divul-gar os gêneros musicais brasileiros não é, nem parece ter sido, uma preocupa-ção do Barbatuques, mas, como afirma o integrante André Venegas, “A gente acaba divulgando porque faz parte da gente, é cultura nossa”. E é assim que o Barbatuques trilha na área musical, levando um pouco do Brasil ao restante do mundo. Um grupo de destaque na percussão corporal que com quinze anos de estudo, aprofundamento e conquistas ainda encontra um campo fértil para desenvolver novos espetácu-los e propostas pedagógicas.

HELÔ RIBEIRO

Barbatuque

desde a

formação do

grupo, Helô

Ribeiro também é

flautista e gravou

CD solo em um

projeto que reúne

música e literatura

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Formado em Música pela Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) em 1988, o professor da área de Música e Tecnologia da Universidade de São Paulo (USP), Fernando Iazzetta, já escreveu diversos artigos sobre o assunto e de-senvolveu estudos sobre a influência dos gestos musicais e das novas tecnologias na produção artística sonora. Com doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Uni-versidade Católica de São Paulo (PUC/SP), Iazzetta discute, na entrevista a seguir, a ancestralidade e a universalidade da percussão corporal. Contrário do que acredita e defende o grupo Barbatuques, para Iazzetta a percussão corporal não pode ser entendida como uma das primeiras formas que o homem atual encontrou para se fazer música. E, a seu ver, nem mesmo é possível dizer que a ausência de uma língua nas canções torna a percussão corporal com-preendida em todo o mundo.

bRAVO!: É possível determinar quais foram as primeiras manifestações musicais idealizadas pela espécie humana?É difícil você falar isso, né? Quando começou a humani-dade? De que homem estamos falando? Dá para pegar os últimos 3 mil anos de história, dá para ter alguma noção do que algumas culturas fizeram. A Grécia Antiga, que é uma das referências de origem da nossa civilização, tem uma história com alguma documentação do que se fazia. Tem alguma coisa da China. Enfim, tem algumas culturas que você tem alguma documentação do que se fazia. E tem alguns estudos antropológicos que tentam achar a origem da manifestação musical.

Então seria arriscado dizer com certeza que o primeiro instrumento musical do homem foi o próprio corpo? É, é arriscado. Não há como afirmar que o primeiro instru-mento tenha sido o corpo, tenha sido a voz e, muito menos, que os primeiros usos do corpo e da voz para produzir sons estavam ligados diretamente a uma manifestação musical, como a gente entende música hoje.

ANCESTRALIDADE DA PERCUSSÃO CORPORAL EM XEQUE

Sendo que os gestos humanos fazem parte do que entendemos como “comunicação corporal” existe alguma relação entre esta forma de comunicação e a “percussão corporal”? A percussão é uma manifestação musical que tem uma raiz corporal muito forte. Se você analisar os instrumentos de percussão, a maioria deles demanda um contato físico direto muito maior do que outros instrumentos. A gente pode fazer uma escala de proximidade do gesto com o in-strumento. Por exemplo, em alguns instrumentos de per-cussão, como instrumentos de pele, que você toca com a palma da mão, com os dedos, você tem uma relação direta com a parte vibrante do instrumento. Existem outros em que essa relação é um pouco mais distante. Então o instru-mento de percussão já guarda essa relação corporal muito forte, gestual. Quando você traz isso para o corpo é como se você diminuísse ainda mais essa distância. Você não tem mais o corpo como instrumento, mas o seu próprio corpo já é o instrumento. E essa relação se estreita muito mais.

As músicas de percussão corporal não costumam usar nenhuma língua em suas canções, tal como português, inglês ou espanhol. Você acredita que por esta razão a música de percussão corporal pode ser compreendida em qualquer lugar do mundo?Não. Acho que não. Primeiro, dizer que determinada música não tem uma linguagem já é algo totalmente questionável; por outro lado, dizer que existem universais em música também é algo que não existe um acordo sobre isso.É óbvio que algumas manifestações são mais fáceis de serem compreendidas por um número maior de pessoas e outras são mais restritas. Mas nada garante que uma tribo lá de um país no meio da África vá compreender uma percussão corporal feita por um grupo brasileiro, da mesma maneira que os brasileiros vão compreender aqui. Uma coi-sa é dizer que esse grupo viaja para aquela tribo, toca lá e aquela tribo bate palmas e diz que gostou e achou bacana, outra coisa é falar que a compreensão dos dois grupos é a mesma. Isso não funciona assim.

“Não tem como afirmar que o primeiro iNstrumeNto teNha sido o corpo, teNha sido a voz

e muito meNos que os primeiros usos do corpo, da voz pra produzir soNs, estavam liga-

dos diretameNte a uma maNifestação musical”

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“... Nada garaNte que uma tribo,

lá de um país No meio da áfrica

vá compreeNder uma percussão

corporal feita por um grupo

brasileiro”

“talvez o que esteja por trás é que é uma

liNguagem mais acessível, mais simples para

qualquer pessoa”

Geralmente essas músicas são mais acessíveis porque têm traços em comum que são possíveis identificar: elas têm regularidade rítmica, são músicas que têm estruturas re-petitivas, estruturas mais simples. Daí é óbvio, qualquer coisa que for regular, repetitiva e simples é mais fácil de ser compreendida por um número grande de pessoas. Isso não quer dizer que seja, por ser uma linguagem corporal, algo universal. Talvez o que esteja por trás é que é uma lingua-gem mais acessível, mais simples para qualquer pessoa.

CORPO DO SOM

Lançado

em 2002, “O

Corpo do Som” é

primeiro CD do

Barbatuques. O

trabalho mostra

as primeiras

experiências do

grupo.

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Bobby McFerrin e Keith Terry estão entre os mais conceituados artistas norte-americanos que abraçam a percussão corporal. O primeiro é cantor, compositor, maestro e arranjador e foi vencedor do Grammy em 1998 com o sucesso Don’t worry be happy. Embora nunca tivesse ouvido falar no Barbatuques, apresentou-se com o grupo, em junho de 2008, no Teatro Municipal, em São Paulo, du-rante o Festival Internacional de Música Corporal. “O apresentador do festival me mostrou um vídeo de um show deles e me pareceu um ajuste perfeito. Foi divertido conhecê-los e fazer um barulho juntos”, relembra McFerrin, que combina uma impressionante ex-tensão de voz, que possibilita a criação de sons semelhantes aos obtidos por instrumentos – com a habilidade de realizar percussão corporal para marcar o ritmo. O resultado é comparável ao de um conjunto musical completo, com voz, percussão, instrumentos de corda e sopro, “O termo percussão corporal é o ‘pega-tudo’. Uma expressão para descrever todas as muitas e diferentes maneiras que podemos usar nossos corpos para fazer sons e ritmos”, diz Mc Ferrin. Para Fernando Barba, ter se apresentado com McFerrin foi uma experiência inesquecível. “Para a gente ele já era um velho amigo, no sentido de ser uma cara que a gente já conhecia muito. E a sensação foi a de ter conhecido uma pessoa especial”.

Já o músico Keith Terry adotou, em 1979, por sugestão do

MESTRES DA PERCUSSãO CORPORAl

KEITH TERRYIB

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23www.revistabravo.com.br06/2011

amigo pianista Paul Arslanian, a expressão ‘body music’ para definir seu trabalho de percussão corporal. Atuando durante maior parte de sua carreira como artista solo, Terry também já realizou parcerias com outros grupos e ministrou cursos relacionados à música e dança na Universidade da Califór-nia. “A música de corpo é provavelmente a primeira música. Antes de começarmos a usar cabaças e rochas, provavel-mente estávamos usando os sons de nossos corpos para ex-pressar idéias musicais”, diz. Entre os anos de 2005 e 2006, Terry estava navegando na internet tarde da noite quando se deparou com um vídeo do Barbatuques. Ele gostou do que viu e ouviu e imediatamente escreveu para Fernando Barba. Por coincidência, Barba respondeu quase que imedi-atamente, dizendo que estava prestes a entrar em contato com Terry. “Alguém recentemente tinha dado ao Barba um

dos meus dvds e ele estava interessado em falar comigo. Foi uma conexão imediata que nós compartilhamos. Ele sentiu e eu ainda sinto como se irmãos tivessem se encon-trado”, relembra Terry.

Para o fundador do Barbatuques, Terry foi um impor-tante colaborador em toda a divulgação não só da per-cussão corporal, mas também do próprio trabalho do grupo brasileiro no cenário internacional, já que o norte-america-no foi criador do IBMF (International Body Festival Music), que é um Festival de Música Corporal, produzido de dois em dois anos, sem fins lucrativos, dedicado à percussão corporal. “O festival era um sonho antigo do Terry. Ele é um cara que já pesquisa há muito tempo as percussões tradi-cionais do mundo e de várias outras tradições de música com percussão corporal ritualística”, complementa Barba.

E bOb MCFERRIn

O SEGUINTE É ESSE

Lançado

em 2005, o “O

Seguinte É Esse”

é o segundo

CD do grupo e

contou com a

participação do

músico Stênio

Mendes

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ulga

ção

KEITH TERRY

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SHOW NO MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA

ABRIL DE 2011

BARBATUQUES

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Uma apresentação do Barbatuques começa bem antes de o grupo entrar em cena. E termina somente quando o público tem a chance de estar muito perto e de interagir com os músicos, já em cima do palco. Não foi diferente no espetáculo do último dia 10 de abril de 2011, no Memorial da América Latina, em São Paulo, com o auditório com capacidade para 1.700 pessoas completamente lotado. O clima era de perfeita integração e harmonia entre os Barbatuques e seus fãs e admiradores.

Não há como negar: as performances do grupo são cercadas de uma atmosfera especial. Talvez por guardar inegável semelhança com ritmos tribais, os sons primitivos e ancestrais, trata-se de um convite para participarmos de um ritual, muito mais do que para apenas acompanhá-lo, quietos e passivos na cadeira do teatro. Não é assim – bem ao contrário.

Desde o momento em que as filas na bilheteria começam a se formar, os fãs parecem sentir um incontrolável desejo de produzir sons. Uns estalam os dedos, outros marcam ritmos batucando os próprios corpos, uns poucos arriscam a típica percussão com as mãos espalmadas sobre os lábios, enquanto palmas são ouvidas por todos os cantos. O movimento vai se intensificando. As pessoas vão aos poucos se acomodando na sala de concerto. E quando finalmente o Barbatuques entra em cena, a audiência já está totalmente

quente, viva e conectada com a música que nasce no palco.

O desejo de fazer a mesma batucada feita pelos músicos cresce na plateia a cada instante. Naquele momento singular, ali no auditório do Memorial, essa tarefa parecia fácil de ser cumprida. Parecia que tínhamos nascido com tal habilidade. Nos shows, chama também a atenção como as crianças se encantam de um jeito especial por conta do que veem e ouvem. Muitas delas costumam comparecer com frequência às apresentações do grupo. Na hora do bis, quando o desejo do público de fazer parte do espetáculo foi finalmente atendido, as crianças roubaram a cena. Subiram ao palco em desabalada carreira. Perfeitamente integradas com os músicos, reagiam a cada proposta rítmica, com enorme espontaneidade. Os adultos seguiram o exemplo e, por alguns instantes, deixaram tudo de lado para se entregar de forma ancestral ao irresistível apelo da percussão corporal.

E esse é justamente o grande fascínio da proposta do Barbatuques: fazer uma música tão primitiva, que, por razões que parecem contraditórias, acaba se tornando extremamente moderna. Com as pessoas se esforçando para, cada uma a seu jeito, produzir sons usando os próprios corpos, o espetáculo – ou seria a reunião de uma tribo? – chegou ao fim.

CORPO DO SOMAO VIVO

O DVD, lançado

em 2007, no

SESC Pinheiros,

é primeiro registro

visual do grupo

que resgata sons

orgânicos e tribais

triBo reunidaQUANDO FINALMENTE O BARBATUQUES ENTRA EM CENA, A AUDIÊNCIA JÁ ESTÁ TOTALMENTE

QUENTE, VIVA E CONECTADA COM A MÚSICA QUE NASCE NO PALCO

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