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Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Graduação em Engenharia Biomédica Eduardo Morais Carvalho Protótipo de um dispositivo para captura de movimentos dos membros superiores em tempo real usando sensores inerciais Uberlândia 2016

TCC EDUARDO MORAIS CARVALHO - …€¦ · Eduardo Morais Carvalho Protótipo de um dispositivo para captura de movimentos dos membros superiores em tempo real usando sensores inerciais

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Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica

Graduação em Engenharia Biomédica

Eduardo Morais Carvalho

Protótipo de um dispositivo para captura de movimen tos dos membros superiores em tempo real usando sensores inerciais

Uberlândia 2016

Eduardo Morais Carvalho

Protótipo de um dispositivo para captura de movimen tos dos membros superiores em tempo real usando sensores inerciais

Trabalho apresentado como requisito parcial de avaliação na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso de Engenharia Biomédica da Universidade Federal de Uberlândia.

Orientador: Prof. Dr. Alcimar Barbosa Soares

______________________________________________ Assinatura do Orientador

Uberlândia 2016

Dedico este trabalho aos meus pais, Alberani

Fernandes Carvalho e Sirlene Morais Carvalho, ao

meu irmão Matheus Morais Carvalho e a todos

meus amigos.

AGRADECIMENTOS

Ao Professor Dr. Alcimar Barbosa Soares principalmente pelo incentivo, motivação e

orientação neste trabalho, agradeço também toda a equipe do Laboratório de Engenharia

Biomédica (BioLab) por todas oportunidades de conhecimento oferecidas, ao apoio durante todo

o projeto e pelo café todos dias.

Ao meus pais Alberani Fernandes Carvalho e Sirlene Morais Carvalho por sempre

acreditarem na minha capacidade, por me apoiarem em todas as minhas decisões e por sempre

permanecerem ao meu lado.

Aos meus amigos Leonardo Frederice Sciacca e Ingrid Wutke Oliveira por toda a ajuda

neste projeto e pela amizade em todos esses anos.

A todos os professores, técnicos e funcionários da Faculdade de Engenharia Elétrica que

fizeram parte da minha formação.

A Universidade Federal de Uberlândia pela formação de qualidade.

RESUMO

O interesse em rastrear e analisar o movimento do corpo humano tem sido motivado pela

grande matriz de suas aplicações, tais como, o controle de equipamentos eletrônicos, produção e

animação de filmes, videogames, treinamento de atletas, diagnóstico do estado de saúde de

pacientes, reabilitação, análise da biomecânica corporal e diversas outras aplicações.

Compreender o processo de funcionamento da biomecânica humana pode fornecer uma visão

importante sobre os mecanismos neurais de aprendizagem motora e adaptação, sabendo disso,

grupos de pesquisa de várias áreas, como a medicina e a engenharia, têm estudado o

movimento do corpo para melhor entender a motricidade humana e desenvolver métodos de

tratamento que visam reforçar a mobilidade de pessoas com limitações funcionais e motoras.

Atualmente, já existem no mercado diferentes formas e métodos para captura de movimento.

Sistemas mecânicos, ópticos, magnéticos, acústicos e inerciais, embora cada um desses

sistemas tenha suas próprias vantagens, todos eles sofrem de diversas limitações e

desvantagens. Para contornar todas as limitações desses sistemas, o objetivo desse projeto é

propor um protótipo de rastreamento de movimentos dos membros superiores utilizando sensores

inerciais (acelerômetro, giroscópio) em conjunto com sensores magnéticos (magnetômetros). O

protótipo consiste em um conjunto de módulos GY87 que contêm os sensores inerciais e

magnético, cada módulo é acoplado a um segmento do corpo (braço e antebraço) sendo que

uma é a referência posicionada no centro da dorsal ou peitoral do usuário. Para contornar os

problemas encontrados nas rotações usando os ângulos de Euler e matrizes de rotações, o

sistema proposto aborda o conceito dos quaternions. Para a aquisição, processamento e

representação tridimensional da estrutura biomecânica dos segmentos é feito em uma aplicação

em MATLAB. Para a validação do protótipo foi realizada uma sequência de testes para mensurar

os ângulos com um sensor, dois sensores, posteriormente três sensores foram acoplados aos

segmentos dos membros superiores de um usuário para avaliar a capacidade do protótipo em

capturar movimentos.

ABSTRACT

The interest in track and analyze human body movement has been driven by the large

matrix of its applications, such as the control of electronics devices, production and animation of

films, video games, training athletes, diagnosis of the health status of patients, rehabilitation,

analysis of body biomechanics and many other applications. Understand the working process of

human biomechanics can provide an important insight into the neural mechanisms of motor

learning and adaptation, knowing this, research groups from different fields, such as medicine and

engineering, have studied body movement to better understand the human motor skills and

develop treatment methods aimed at enhancing the mobility of people with functional and motor

limitations. Nowadays, there are already on the market different ways and methods for motion

capture. Mechanical, optical, magnetic, acoustic and inertial systems, although each of these

systems has its own advantages, they all suffer from several limitations and disadvantages. In

order to circumvent any limitations of these systems, the aim of this project is to propose a

tracking system of the upper limbs using inertial sensors (accelerometer, gyroscope) with

magnetic sensors (magnetometers). The prototype consists in a set of three GY87 containing

magnetic and inertial sensors on the same module, each board is coupled to a body segment

(arm and forearm) with the reference board positioned in the center of the back of the user. To get

around with the problems founded in rotations using Euler angles and matrices of rotations, the

proposed system addresses the concept of quaternions. For the acquisition, processing and three

dimensional representation of the biomechanics of the segments of the body an application is

made on MATLAB. To validate the prototype a sequence of tests was performed to measure the

angles with one and two sensors, later three sensor were attached to the segments of the upper

limbs of a user to validate the capacity of the prototype to capture motion.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Representação de um sistema ótico para captura de movimentos do corpo humano (OPTITRACK, 2016). ...................................................................................................................... 11 Figura 2: Principio do tempo de voo para determinação da distância entre a fonte e um objeto adaptado de (HANSARD, LEE e CHOI, 2013). .............................................................................. 12 Figura 3: Goniômetro mecânico - Régua e Transferidor. Extraído de (CARCI, 2016). ................ 13 Figura 4: Exemplo de aplicação dos ângulos de Euler. Adaptado de (KIM, 2013). ....................... 17 Figura 5: Representação do sistema de referência inercial. Adaptado de (ROBOTICS, 2016). ... 20 Figura 6: Visão sistêmica de um sensor inercial. ........................................................................... 26 Figura 7: Estrutura de um acelerômetro de dois eixos. Adaptado de (TORRES, 2016). .............. 28 Figura 8: Estrutura de um giroscópio de um eixo. Adaptado de (TORRES, 2016)........................ 29 Figura 9: Configuração original do efeito hall. ................................................................................ 30 Figura 10: Diagrama básico de conexão do barramento I2C. Adaptado de (RODRIGUES, 2014). ........................................................................................................................................................ 34 Figura 11: Instruções básicas para escrita e leitura usando I2C. Adaptado de (RODRIGUES, 2014). .............................................................................................................................................. 35 Figura 12: Diagrama de conexão e posicionamento dos sensores sobre os membros superiores e as posições que serão calculadas pela aplicação. ........................................................................ 43 Figura 13: Módulo GY 87. .............................................................................................................. 43 Figura 14: Esquema elétrico completo do modulo de comunicação dos sensores com o computador HOST. ......................................................................................................................... 46 Figura 15: Interface do aplicativo de aquisição e processamento dos sinais. ............................... 49 Figura 16: Acelerômetro. GY 87 parado sobre a mesa, com o eixo Z apontando para baixo. ...... 49 Figura 17: Giróscopio. GY 87 parado sobre a mesa, com o eixo Z apontando para baixo. .......... 50 Figura 18: Magnetómetro. GY 87 parado sobre a mesa, com eixo Z apontando para baixo. ....... 50 Figura 19: Esquema para medir ângulos no plano XY usando apenas um sensor. ...................... 52 Figura 20: Representação de um sensor no plano tridimensional formando um ângulo de 90º com o plano xy. ...................................................................................................................................... 53 Figura 21: Representação de um sensor no plano XY formando um ângulo de 90º com o plano XY. .................................................................................................................................................. 53 Figura 22: Representação de um sensor no plano XZ formando um ângulo de 90º com o plano XY. .................................................................................................................................................. 54 Figura 23: Representação de um sensor no plano XZ formando um ângulo de 90º com o plano XY. .................................................................................................................................................. 54 Figura 24: Estrutura de madeira para avaliação da aplicabilidade do quaternions. ...................... 56 Figura 25: Representação da segunda etapa de validação do protótipo usando a estrutura de madeira com dois sensores. ........................................................................................................... 56 Figura 26: Avaliação do protótipo - Posição T (Referência)........................................................... 58 Figura 27: Avaliação do protótipo - Posição T (Referência) – MATLAB. ....................................... 58 Figura 28: Avaliação do protótipo - Flexão do braço e antebraço. .................................. 60 Figura 29: Avaliação do protótipo - Flexão do braço e antebraço – MATLAB. .............................. 60 Figura 30: Avaliação do protótipo - Flexão do antebraço. .............................................................. 61 Figura 31: Avaliação do protótipo - Flexão do antebraço - MATLAB. ............................................ 61 Figura 32: Avaliação do protótipo - Rotação da articulação do ombro – MATLAB. ....................... 61

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Tabela de propriedades dos Quaternions – Adição. ...................................................... 19 Tabela 2: Tabela de propriedades dos Quaternions - Produto. ..................................................... 19 Tabela 3: Angulo Real mensurado pelo transferidor e Ângulo mensurado pelos sensores no plano xy. ......................................................................................................................................... 55 Tabela 4: Angulo Real mensurado pelo transferidor e Ângulo mensurado entre os dois sensores. ........................................................................................................................................................ 57

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

UFU – Universidade Federal de Uberlândia

FEELT – Faculdade de Engenharia Elétrica

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

MOCAP – Motion Capture

ADM – Amplitude do Movimento Articular

WBAN - Wireless Body Area Networks

MEMS - Microelectromechanical Systems

IMU – Inertial Measurement Unit

INS – Inertial Navigation System

I2C – Inter-Integrated Circuit

SLC – Serial Clock

SDA – Serial Data

CPU – Central Processing Unit

GPS – Global Positioning System

MARG – Angular Rate and Gravity Sensor

RMS – Root Mean Square

EKF – Extended Kalman Filter

MPU – Motion Processing Unit

CI – Circuito Integrado

DMP – Digital Motion Processor

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 11

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................... ............................................................................ 15

2.1 ÂNGULOS DE EULER ................................................................................................................................................................. 15 2.2 QUATERNIONS ......................................................................................................................................................................... 17 2.3 CINEMÁTICA DIRETA ................................................................................................................................................................ 23 2.4 MEMS - SISTEMAS MICROELETROMECÂNICOS ....................................................................................................................... 24 2.5 SENSORES INERCIAIS ................................................................................................................................................................ 25

2.5.1 ACELERÔMETRO .............................................................................................................................................................. 27 2.5.2 GIROSCÓPIO .................................................................................................................................................................... 29

2.6 SENSORES MAGNÉTICOS - MAGNETÔMETRO ......................................................................................................................... 30 2.7 UNIDADES DE MEDIÇÃO INERCIAL E MAGNÉTICA ................................................................................................................... 31 2.8 PROTOCOLO DE COMUNICAÇÃO I2C ....................................................................................................................................... 33

3 RASTREAMENTO INERCIAL – ESTADO DA ARTE .......... ...................................................... 35

4 PROPOSTA DE UM SISTEMA DE RASTREAMENTO INERCIAL P ARA MEMBROS SUPERIORES ................................................................................................................................ 42

4.1 MÓDULO INERCIAL GY87 ......................................................................................................................................................... 43 4.2 MÓDULO DE INTEGRAÇÃO DA COMUNICAÇÃO DOS SENSORES COM O COMPUTADOR HOST ............................................. 45 4.3 MODELAGEM MATEMÁTICA .................................................................................................................................................... 47 4.4 APLICATIVO DE SOFTWARE PARA COLETA E PROCESSAMENTO DE DADOS ............................................................................ 48

5 EXPERIMENTOS DE VALIDAÇÃO ....................... ..................................................................... 49

5.1 SENSOR ESTACIONÁRIO ........................................................................................................................................................... 49 5.2 UM SENSOR EM DESLOCAMENTO ANGULAR .......................................................................................................................... 51 5.3 DOIS SENSORES EM DESLOCAMENTO ANGULAR .................................................................................................................... 55 5.4 TRÊS SENSORES ACOPLADOS À MEMBROS SUPERIORES DE USUÁRIOS.................................................................................. 57

6 DISCUSSÃO ............................................................................................................................... 62

7 CONCLUSÃO ....................................... ....................................................................................... 64

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................... ..................................................................... 66

9 ANEXOS ...................................................................................................................................... 69

9.1 ESQUEMA ELÉTRICO MÓDULO GY 87 ...................................................................................................................................... 70 9.2 ESPECIFICAÇÕES DO SENSOR MPU6050 – ACELERÔMETRO ................................................................................................... 71 9.3 ESPECIFICAÇÕES DO SENSOR MPU6050 – GIRÓSCOPIO .......................................................................................................... 72 9.4 ESPECIFICAÇÕES DO SENSOR HMC5883L ................................................................................................................................ 73

1 INTRODUÇÃO

O interesse em rastrear

grande matriz de suas aplicações, tais como, o controle de equipamentos eletrônicos, produção

animação de filmes, videogames, treinamento de atletas, diagnóstico do estado de saúde de

pacientes, reabilitação, análise da biomecânica corporal e diversas outras aplicações

Compreender o processo de funcionamento da biomecânica humana pode fornecer uma

visão importante sobre os mecanismos neurais de aprendizagem motora e adaptação

sabendo disso, grupos de pesquisa de várias áreas como a medicina e a engenharia têm

estudado a biomecânica do corpo

desenvolver métodos de tratamento que visam reforçar a mobilidade de pessoas com limit

funcionais e motoras.

O rastreamento contínuo dos movimentos de uma pessoa

apresenta, potencialmente, um feedback mais preciso e intuitivo do que as configurações de um

laboratório podem fornecer.

movimento de um paciente a qualquer hora

instalações e dos próprios dispositivos de rastreamento, tais como os sistemas

e os dispositivos mecânicos,

Atualmente, já existem no mercado

movimento. Sistemas mecânicos, ópticos, magnéticos, acústicos e inerciais, embora cada um

desses sistemas tenha suas próprias vantagens, todos eles sofrem de dive

desvantagens.

Figura 1 : Representação de um sistema ótico para captura de movimentos do corpo humano

rastrear e analisar o movimento do corpo humano tem sido motivad

grande matriz de suas aplicações, tais como, o controle de equipamentos eletrônicos, produção

filmes, videogames, treinamento de atletas, diagnóstico do estado de saúde de

nálise da biomecânica corporal e diversas outras aplicações

Compreender o processo de funcionamento da biomecânica humana pode fornecer uma

visão importante sobre os mecanismos neurais de aprendizagem motora e adaptação

pos de pesquisa de várias áreas como a medicina e a engenharia têm

do corpo humano para melhor entender a motricidade

desenvolver métodos de tratamento que visam reforçar a mobilidade de pessoas com limit

contínuo dos movimentos de uma pessoa em ambientes naturais

apresenta, potencialmente, um feedback mais preciso e intuitivo do que as configurações de um

laboratório podem fornecer. Atualmente, no entanto, é difícil atingir o objetivo de ra

movimento de um paciente a qualquer hora e em qualquer lugar. Essa restrição vem das

instalações e dos próprios dispositivos de rastreamento, tais como os sistemas

, como os goniômetros.

, já existem no mercado diferentes formas e métodos para captura de

movimento. Sistemas mecânicos, ópticos, magnéticos, acústicos e inerciais, embora cada um

desses sistemas tenha suas próprias vantagens, todos eles sofrem de dive

: Representação de um sistema ótico para captura de movimentos do corpo humano 2016).

11

e analisar o movimento do corpo humano tem sido motivado pela

grande matriz de suas aplicações, tais como, o controle de equipamentos eletrônicos, produção e

filmes, videogames, treinamento de atletas, diagnóstico do estado de saúde de

nálise da biomecânica corporal e diversas outras aplicações.

Compreender o processo de funcionamento da biomecânica humana pode fornecer uma

visão importante sobre os mecanismos neurais de aprendizagem motora e adaptação ao meio,

pos de pesquisa de várias áreas como a medicina e a engenharia têm

motricidade humana e

desenvolver métodos de tratamento que visam reforçar a mobilidade de pessoas com limitações

em ambientes naturais

apresenta, potencialmente, um feedback mais preciso e intuitivo do que as configurações de um

ícil atingir o objetivo de rastreio do

em qualquer lugar. Essa restrição vem das

instalações e dos próprios dispositivos de rastreamento, tais como os sistemas de captura visuais

diferentes formas e métodos para captura de

movimento. Sistemas mecânicos, ópticos, magnéticos, acústicos e inerciais, embora cada um

desses sistemas tenha suas próprias vantagens, todos eles sofrem de diversas limitações e

: Representação de um sistema ótico para captura de movimentos do corpo humano (OPTITRACK,

12

Os sistemas de captura do tipo óptico, por exemplo, são compostos por: fontes de luz ou

refletores acoplados ao corpo da pessoa representando as articulações, sensores ópticos e

câmeras de vídeo que são posicionados no ambiente para fazer a captura das ondas

eletromagnéticas. O esquema de funcionamento desses sistemas é ilustrado na Figura 1.

Em geral os sistemas de captura de movimentos óticos disponíveis comercialmente são

caros, o que faz com que sejam acessíveis apenas a grandes empresas de entretenimento e

grandes laboratórios de pesquisa. Além do alto custo, os sistemas óticos de captura de

movimentos apresentam problemas como à oclusão dos marcadores, necessidade de pós-

processamento para a identificação das juntas.

Outros sensores utilizados para análise e captura dos movimentos do corpo humano são

os sensores ultrassónicos. Conhecendo a velocidade com o à qual o som se propaga através do

ar é possível medir o tempo que leva para enviar a onda de ultrassom e receber a onda refletida

de um determinado objeto, dessa forma, conhecendo o princípio do tempo de voo (Time of Flight

– TOF) de uma onda emitida e sua reflexão (HANSARD, LEE e CHOI, 2013), é possível

reconstruir uma imagem que representa o objeto alvo, Figura 2. Entretanto, sistemas de captura

que utilizam sensores ultrassónicos também estão sujeitos aos mesmos problemas que

apresentam os sistemas de captura baseados em câmeras de vídeo e refletores, como a oclusão

dos marcadores e as juntas articulares, erros de detecção do sinal refletido e principalmente o

preço.

Figura 2: Principio do tempo de voo para determinaç ão da distância entre a fonte e um objeto adaptado de

(HANSARD, LEE e CHOI, 2013).

Outra técnica para análise de movimentos bastante utilizada na área da saúde é a

Goniometria, técnica de medir ângulos (FERREIRA, 2010). A Goniometria, descrita na literatura

desde 1914, é amplamente usada, tanto na prática clínica quanto em pesquisas científicas, com a

finalidade de medir a Amplitude do Movimento Articular (ADM), de diversas articulações

(MARQUES, 2003). O dispositivo usado para realizar um procedimento de Goniometria é

13

denominado Goniômetro (Figura 3). Entre os goniômetros está o transferidor, um semicírculo de

plástico transparente ou um círculo graduado utilizado para medir ou construir ângulos.

A medida da ADM é uma componente importante na avaliação física pois identifica as

limitações articulares bem como permite aos profissionais acompanharem, de modo quantitativo,

a eficácia das intervenções terapêuticas durante o processo de reabilitação. O instrumento mais

utilizado pelos terapeutas para medir a ADM é o goniômetro. No entanto, há também outros

instrumentos capazes de mensurar a ADM, como o dinamômetro isocinético. Nas últimas

décadas houve um grande aumento no uso deste instrumento em várias áreas, dentre elas a

fisioterapia, que tem se beneficiado de forma particular e significativa desta tecnologia.

Estes dispositivos, os goniômetros, fornecem dados sobre os ângulos articulares e

através de algoritmos matemáticos e estudo da cinemática direta e inversa é possível determinar

a postura corporal e a amplitude de movimentação dos membros superiores e inferiores. A

principal vantagem desses dispositivos é o preço, entretanto, a fixação e o posicionamento dos

goniômetros apresentam diversos problemas. O tecido mole do corpo permite que o dispositivo

de medição se desloque durante o movimento das articulações, mesmo os goniômetros atuais

apresentam algumas dificuldades para estabelecer o alinhamento correto com as articulações do

corpo, especialmente as articulações com vários graus de liberdade como é caso do ombro.

Na tentativa de contornar todos esses problemas descritos, o uso de sensores inerciais

tornou-se uma prática comum na análise de movimento ambulatorial. Sensores inerciais foram

utilizados pela primeira vez para o rastreamento de movimentos do corpo humano na década de

1950 (SAUNDERS, INMAN e EBERHART, 1953). No entanto, estes sensores não estavam

comercialmente disponíveis até que, nos últimos anos, o seu desempenho foi drasticamente

melhorado. Como os sensores inerciais são compactos, leves e com um preço relativamente

Figura 3: Goniômetro mecânico - Régua e Transferidor. Extraído de (CARCI, 2016).

14

acessível eles têm sido uma escolha popular para aplicações na área da saúde, tais como

rastreamento de movimento, interface homem-máquina, animação gráfica e vídeo games.

O objetivo desse projeto é a concepção de um protótipo de rastreamento de movimento

dos membros superiores usando sensores inerciais, bem como a implementação de um software

para captura, tratamento e representação tridimensional em tempo real dos dados enviados pelos

sensores. Esse dispositivo permitirá ao pesquisador e ao profissional da área da saúde analisar a

biomecânica e a cinemática envolvida no movimento dos membros superiores. Como se trata de

um sistema compacto, o projeto pode ser estendido para aplicações onde o paciente possa se

movimentar com total liberdade e não haverá a necessidade do mesmo de estar localizado dentro

de uma clínica ou laboratório de pesquisa.

O projeto pode ser ainda dividido em objetivos parciais: integração dos sensores inerciais

e magnéticos, aquisição e tratamento dos sinais e dados de cada sensor, fusão dos dados dos

três sensores para estimar a melhor rotação em relação ao eixo referencial da terra utilizando o

conceito quaternions, exibição gráfica dos resultados e representação dos movimentos dos

membros superiores na plataforma de programação MATLAB.

Nós próximos tópicos desse relatório será feita uma revisão teórica embasada no

conceito de rotações, ângulos de Euler, o sistema numérico dos quaternions e quaternions

unitários, o avanço da tecnologia em sistemas microeletromecânicos, definição e classificação

dos sensores utilizados nesse projeto, sendo eles os sensores inerciais, giroscópio e

acelerômetro, e os sensores magnéticos, magnetômetros. A fusão desses três sensores em um

único circuito forma um módulo conhecido no mercado como unidades de medição inercial, ou

seja, é um conjunto de sensores que são capazes de sentir as forças inerciais descritas por

Newton e o campo magnético da terra. Como toda a parte de hardware do projeto é concebida

com a ajuda do microcontrolador Atmel SAM3X8E ARM Cortex-M3 CPU de 32 bits em uma placa

arduino, o protocolo de comunicação I2C também é revisado.

Posteriormente, é feita uma revisão do Estado-da-Arte sobre os sistemas de captura

inerciais. Esse tópico tem como objetivo ilustrar o cenário atual do mercado e das pesquisas

sobre os sensores inerciais, sensores magnéticos, unidades de medição inercial e suas diversas

aplicações, como por exemplo, sistemas de monitoramento e acompanhamento do movimento de

um corpo rígido, reabilitação e análise da biomecânica de uma pessoa. Por último, é discutido a

proposta do protótipo, experimentos de validação, resultados obtidos e discussão, permitindo a

conclusão do trabalho.

15

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Para o desenvolvimento desse projeto se faz necessária uma revisão teórica embasada

em sistemas referenciais, ângulos de Euler, quaternions, MEMS, sensores inerciais,

magnetômetros, unidades de medição inercial e comunicação utilizando o protocolo I2C.

2.1 ÂNGULOS DE EULER

Considere um corpo rígido e seus três eixos principais, ê�, ê�, ê�, que são ortonormais.

Defini-se o sistema de coordenadas fixo ao corpo rígido, S*, com os eixos ��, ��, ��, ao longo

dos versores ê�, ê�, ê�, respectivamente. Quando o corpo rígido gira em torno de algum ponto

que permanece fixo no espaço, tomamos a origem do S*, como sendo esse ponto fixo. No caso

em que o corpo rígido não tem um ponto que fica fixo no espaço, tomamos a origem de S* no

centro de massa. Quando dois dos momentos de inércia principais do corpo rígido são iguais,

sempre tomamos seus respectivos eixos principais como sendo ê� e ê�, por convenção. Também

considere um sistema de coordenadas cartesianas, S, com eixos x, y e z, e seus três versores

respectivos, �̂, ̂�.̂ A origem de S, tomamos como sendo a mesma origem de S*, de forma que

S não é necessariamente fixo no espaço, já que o corpo rígido pode ter seu centro de massa em

movimento, o que implicaria em uma origem de S* móvel. No entanto as direções �̂, ̂�,̂ são

tomadas como fixas no espaço. Logo são necessários três ângulos para determinar a orientação

de S* com relação a S. Esses ângulos podem ser chamados de ângulos de Euler.

O primeiro ângulo de Euler que consiste de uma rotação dos eixos x, y e z em torno do

eixo z, de um ângulo de ϕ (do grego, fi). A transformação de coordenadas para essa primeira

rotação é descrita matricialmente como:

Onde

�ø = cos ϕ sin ϕ 0− sin ϕ cos ϕ 0

0 0 1 (2)

Sendo �� a matriz de rotação obtida quando os eixos z e z’ são coincidentes.

�′′�′ = ��

�� (1)

16

O segundo ângulo de Euler é chamado de θ (do grego, theta) e consiste de

uma rotação de eixos x’, y’ e z’ em torno do eixo x’, de um ângulo de θ. As novas

coordenadas, depois dessa segunda rotação de Euler, são dados por:

�����

���= ��

���

�� (3)

Onde

�� = 1 0 00 cos θ sin θ0 − sin θ cos θ

(4)

Note que a substituição da equação (1) na equação (3) resulta em:

�′′��

�′′= ���ø

�′′�′

(5)

Finalmente, o terceiro ângulo de Euler chamamos de ψ (do grego, psi), que consiste de

uma rotação dos eixos x’’, y’’ e z’’ em torno do eixo z’’, de um ângulo ψ. As novas coordenadas

denotados ��, ��, ��, são as coordenadas do sistema S* mencionado acima. Então:

������

= ���′′′′�′′

(6)

Onde

�� = cos ψ sin ψ 0− sin ψ cos ψ 0

0 0 1 (7)

Substituindo a equação (5) na equação (6) obtemos:

������

= �����ø�� (8)

Isto é: � = �����ø: ,

� = cos ψ cos ϕ − sin ψ cos θ sin ϕ cos ψ sin ϕ + sin ψ cos θ cos ϕ sin ψ sin θ

−sin ψ cos ϕ − cos ψ cos θ sin ϕ −sin ψ sin ϕ + cos ψ cos θ cos ϕ cos ψ sin θsin θ sin ϕ −sin θ cos ϕ cos θ

(9)

17

De acordo com o teorema de rotações de Euler, qualquer rotação pode ser descrita com

três ângulos. As rotações de Euler são obtidas quando se altera um ângulo e deixa os demais

constantes (Figura 4). As rotações de Euler podem ser expressas utilizando o eixo de referência

inercial e o próprio eixo de rotação do corpo rígido.

Apesar da praticidade e facilidade de compreensão dos ângulos de Euler, esse sistema

de rotação apresenta um problema: “Gimbal lock”, é definido como a perda de um grau de

liberdade durante uma determinada sequência de rotações (KIM, 2013).

A melhor maneira de evitar o efeito “Gimbal lock” de utilizar matrizes de rotações ou

quaternions para realizar rotações no espaço 3D. Na próxima secção, a representação de

rotações usando Quaternions é explicado em detalhes.

2.2 QUATERNIONS

Antes de entrar nas definições e atribuições dos quaternions é necessário entender a

problemática, ou melhor, o problema matemático que deu origem a ideia e criação desse sistema

numérico.

Quando se trata de um espaço unidimensional (1D), os movimentos de translação de um

determinado objeto são definidos de forma bem simples, basta escolher a direção em relação a

referência e em quantas unidades o objeto será transladado. Em um espaço bidimensional (2D),

em coordenadas cartesianas, o movimento de translação do objeto se torna mais complicado,

agora é necessário definir a referência e um ponto no eixo das abscissas ou dos reais e outro

ponto no eixo das ordenadas ou dos imaginários. O ponto final, posição do objeto, pode ser

Figura 4: Exemplo de aplicação dos ângulos de Euler. Adapta do de (KIM, 2013).

18

definido da forma p = a + bi onde ‘i’ representa a parte imaginária e p, agora representa um

número complexo.

Analisando de outra forma, é possível definir que a soma de números complexos

representa o movimento de translação em um espaço bidimensional. Por outro lado, a

multiplicação de números complexos, representa rotações em um espaço 2D, por exemplo, dado

um número complexo da forma p = a + bi, a multiplicação de p por i representa uma rotação de

90º no plano dimensional.

= !" + #$% ∗ $

= "$ + #$�

(10)

Como i é um número imaginário e satisfação a condição, i² = -1, então

= −# + "$ (11)

As rotações são representadas, de uma forma mais clara, quando se utiliza coordenadas

polares p = (r, θ), onde r é a distância entre o ponto e a origem e θ é o ângulo formado entre o

segmento de reta que une esse ponto à origem e o eixo x, também chamado ângulo azimutal. A

transformação ou conversão de coordenadas cartesianas para coordenadas polares é realizada

da seguinte forma:

' = ("� + #² (12)

* = tan-�!#"%

(13)

Sabendo disso, muitos matemáticos tentaram expandir essa aplicação dos números

complexos para o espaço tridimensional (3D), porém sem muito sucesso. Vetores produzem

vetores quando são somados, subtraídos, multiplicados por um número real e multiplicados entre

si, no caso do produto vetorial, mas não podem ser divididos. A preocupação com a ausência de

qualquer conceito de multiplicação de números complexos e quociente de vetores no espaço

tridimensional e o desejo de ampliar as aplicações com o uso de um sistema que possibilitasse

substituir os vetores em todas as suas aplicações, fez com que o matemático irlandês William

Rowan Hamilton (1805-1865) em 1853 desenvolvesse o conceito de números hipercomplexos no

espaço 4D que ele denominou de quaternions (HAMILTON, 2000).

Quaternions são formados por quatro números, ou seja, representa um vetor em um

espaço de quatro dimensões. Desses quatro componentes, um é número real (a) e os outros três

são puramente imaginários (b,c,d).

. = " + #$ + /0 + 12 (14)

19

Onde,

$� = 0� = 2� = $02 = −1 (15)

De uma forma bem simples, quaternions é um sistema numérico hipercomplexo que

permite a rotação e orientação de vetores em um espaço tridimensional, utilizando uma expansão

do conceito de números complexos.

Sendo = 3"4, #4, /4, 145, . = 3"6 , #6 , /6 , 165, ' = !"7 , #7 , /7 , 17%, três quaternions

pertencentes ao sistema numérico dos quaternions, temos as seguintes propriedades.

Tabela 1: Tabela de propriedades dos Quaternions – Adição. Propriedades Adição

Comutatividade + . = . + Associatividade ! + .% + ' = +!. + '%

Identidade 0 + . = + 0 = Soma + . =("4 + "6) + (#4 + #6)i + (/4 + /6)j + (14 + 16)k

Diferença − . = ("4 - "6) + (#4 - #6)i + (/4 - /6)j + (14 - 16)k

Tabela 2: Tabela de propriedades dos Quaternions - Produto. Onde, 8 = !9, :, ;%; ‘*’ representa produto escalar de vetores e ‘x’ repre senta produto vetorial.

Propriedades Multiplicação

Não - comutatividade . ≠ .

Associatividade ! .%' = !.'% Distributividade !. + '% = . + '/!. + '% = . + '

Identidade 1 = 1 = Inverso ..-� = .-�. Produto . = ["4"6 + ?4 ∗ ?6 , !"4?6 +"6?4 +?4�?6% Divisão /. = ..-�

Analisando as Tabela 1 e Tabela 2 pode-se que concluir que o conjunto numérico dos

quaternions herdam quase todas as propriedades do sistema dos números complexos. A única

propriedade que não se aplica aos quaternions é a comutatividade da multiplicação.

Posteriormente muitos físicos, matemáticos e engenheiros tentaram reescrever as leis da

Física utilizando os quaternions, que foram abandonados no século seguinte ao de sua criação e

desapareceram completamente até o primeiro quarto do século passado. Hoje os matemáticos

estão interessados em estudar sistemas de números em sua totalidade, em aprender suas

propriedades e construir novos sistemas que tornem possíveis aplicações até agora restritas ao

uso da Álgebra tensorial tradicional. O sistema dos quaternions é por enquanto, a única álgebra

de divisão associativa não comutativa sobre o corpo dos números reais.

20

De forma geral, o quaternion estimado por sensores de orientação descreve uma rotação

do sistema de referência inercial inicial, para o sistema de referência inercial do corpo do sensor.

O sistema de referência inicial é o sistema de coordenadas fixo da terra, definido como o eixo x

apontando para o norte, o eixo y apontando para o leste e o eixo z apontando para baixo, como é

mostrado na Figura 5. Já o sistema de referência inercial do corpo do sensor se mantém alinhado

ao próprio sensor e não se altera durante as rotações.

Seja .@A como o quaternion unitário que descreve a rotação do sensor do sistema de

referência inercial fixo, para o sistema de referência inercial do corpo do sensor.

.@A = !"#/1%B (16)

Onde, T representa a operação de transposição de vetores. Os elementos b, c e d são a

parte “vetor” do quaternion. Já o elemento a, é a “parte escalar” que especifica o quanto a parte

Figura 5: Representação do sistema de referência inercial. Adaptado de (ROBOTICS, 2016).

21

vetor do quaternion deve ser rotacionado. Especificamente, se θ é o ângulo de rotação, e o vetor

(?C , ?D , ?E%B é um vetor unitário que representa o eixo de rotação, assim os elementos a, b, c e

d do quaternion são de definidos como:

(17)

O quaternion .@A pode ser usado para rotacionar qualquer vetor de três elementos usando

a seguinte operação matricial.

(18)

Isso é, o vetor v pode ser rotacionado considerando o mesmo como um quaternion onde

a parte real ‘a’ vale zero, e multiplicando v pelo quaternion .@A e o seu inverso. O inverso de um

quaternion é equivalente ao seu conjugado:

!.@A%-� = !", −#, −/, −1% (19)

Para entender melhor essa operação de rotação usando quaternions, deve se lembrar

que esse sistema númerico é composto por 4 elementos, ou seja, o quaternion rotaciona vetores

tridimensionais sobre a casca de uma esfera hipercomplexa que tem raio univalente. A

multiplicação do vetor tridimensional pela quaternion .@A rotaciona o vetor até metade do caminho,

e o quaternion invertido termina de realizar o movimento.

Definindo dois quaternions .� = !"�#�/�1�%B e .� = !"�#�/�1�%B, então o produto

.�.� é definido dado por:

(20)

Alternativamente, os quaternions podem ser usados para construir matrizes de rotações

3x3. Com essas matrizes é possível produzir rotação de um vetor no espaço tridimensional com

uma única operação de multiplicação de matrizes. A matriz de rotação a partir do eixo referencial

inicial para o eixo referencial do corpo rígido é definida como:

22

(21)

Então a rotação do eixo de referência inicial para o eixo de referência do corpo é definida

usando multiplicação de matrizes:

(22)

Através de um quaternion também é possível obter os ângulos de Euler e vice-versa. As

equações para a conversão são definidas como:

(23)

(24)

(25)

Uma rotação pura em um espaço tridimensional pode ser descrita por um quaternion

unitário. Quaternion unitário é um quaternion que tem a soma da raiz quadrada dos quadrados de

cada um de seus componentes igual a 1, ou seja, todos os quatro componentes do quaternion

são divididos pela magnitude do mesmo. Quaternion unitário é uma notação matemática simples,

capaz de descrever a orientação de corpos rígidos em um espaço tridimensional, considerando

que a rotação do objeto acontece em uma hipersfera com raio de valor unitário.

Rotações no espaço tridimensional podem ser descritas de diversas formas, tais como,

ângulos de Euler, matrizes de rotação e transformação, eixos e ângulos e quaternions. Cada um

desses sistemas apresenta suas vantagens e desvantagens. Para a concepção desse projeto, a

orientação de objetos e corpos rígidos no espaço será descrita no sistema numérico dos

quaternions. Em um primeiro momento pode ser difícil compreender o funcionamento dos

quaternions e suas operações já que se trata de um sistema de quatro dimensões, entretanto

esse sistema apresenta diversas vantagens em relação as matrizes de rotações e ângulos de

Euler.

• O processo de concatenar rotações é computacionalmente mais barato e

numericamente mais estável;

• Como o problema de Gimbal Lock está ligado a representação matricial dos

ângulos de Euler, esse problema não aparece na representação por quaternions;

23

• Ausência de ambiguidade;

• É possível extrair o eixo e o ângulo de rotação de um quaternion unitário;

• O processo de interpolação entre dois quaternions é mais direto.

Duas rotações puras sucessivas representadas por dois quaternions unitários, pode ser

atingida por uma única rotação em torno de um eixo escolhido adequadamente. O quaternion

unitário que representa essa operação de interpolação pode ser obtido através do produto de

quaternions descrito na Tabela 2.

Por meio de um estudo sobre a anatomia do corpo humano, corpos rígidos e rotações no

espaço, sabe-se que todo o movimento de qualquer segmento do corpo pode ser descrito através

da rotação do mesmo sobre um eixo fixo, por esta razão que o sistema numérico dos quaternions

foi utilizado neste trabalho. Para melhor ilustrar essa idéia, o próximo capitulo desse relatório

aborda uma revisão sobre corpos rígidos e cinemática direta.

2.3 CINEMÁTICA DIRETA

Cinemática é o ramo da física que se ocupa da descrição dos movimentos dos corpos

rígidos, sem se preocupar com a análise de suas causas, a dinâmica. Ou seja, cinemática é

estudo do movimento do corpo humano sem levar em consideração as forças que causaram o

mesmo. Essa análise envolve a descrição do movimento para determinar o quão rápido o corpo

se move, o quão longe ele viaja e a alteração da configuração de seus próprios segmentos e

juntas durante o movimento. Um exemplo é a observação do movimento das pernas, a sua

velocidade e aceleração durante a caminhada. Modelos biomecânicos do corpo humano são uma

das ferramentas mais utilizadas no rastreamento e análise de movimento do corpo humano.

Existem seis movimentos básicos, ou graus de liberdade, que ocorrem em diferentes

articulações do corpo humano (HAMILL e KNUTZEN, 2012). Para descrever esses movimentos,

define-se os ângulos articulares relativos entre dois segmentos. A descrição do movimento de

articulação é tipicamente expressa em relação a uma posição de partida, essa posição é referida

como sendo a posição inicial ou fundamental. Nessa posição o corpo humano está na vertical

com a cabeça virada para a frente, braços ao lado do tronco com as palmas das mãos viradas

em direção ao tronco e as pernas juntas com os pés apontando para a frente.

O primeiro conjunto dos seis movimentos básicos são flexão e extensão. Estes

movimentos ocorrem em muitas articulações do corpo, incluindo a cabeça, tronco, ombro, quadril

e joelho. Flexão é o movimento que diminui o ângulo relativo da junta entre dois segmentos

24

adjacentes. Extensão é um movimento de endireitamento que aumenta o ângulo relativo entre

dois segmentos adjacentes.

O segundo par de movimentos são abdução e adução. Estes movimentos não são tão

comuns como a flexão e extensão. Eles ocorrem nas articulações da escápula, ombro, punho e

quadril. Abdução é um movimento de afastamento da linha mediana do corpo. Levantar o braço

para a lateral do corpo é um exemplo de abdução. Adução, por outro lado, é o movimento de

retorno do segmento de volta para a linha mediana do corpo.

O terceiro e último par de movimentos básicos são a rotação interna e externa dos

segmentos do corpo humano. Eles ocorrem nas articulações da cabeça, tronco, ombro, quadril e

joelho. Rotação interna ocorre quando o segmento rotaciona em direção a linha mediana do

corpo, ao redor de um eixo vertical. Rotação externa é o movimento oposto para a frente que leva

o segmento para longe do corpo.

Além dos seis movimentos básicos descritos acima, existem alguns movimentos

especiais em diferentes partes do corpo. Um desses movimentos que pode é estudado nesse

projeto é a pronação e supinação. Eles ocorrem quando a extremidade distal do antebraço

rotaciona ao longo da articulação radioulnar. Supinação ocorre quando a palma da mão gira a

face para cima. Pronação é movimento inverso.

O corpo humano pode ser representado como um sistema de segmentos rígidos ligados

em sequência por articulações, representado por juntas. Um exemplo de uma cadeia cinemática

simples é o braço humano. O ombro, articulações do cotovelo e do punho estão ligados por dois

segmentos: a parte superior do braço e o antebraço.

Se uma determinada estrutura é formada por corpos rígidos e tem n graus de liberdade, a

mesma pode ser modelada como um conjunto de n juntas com 1 grau de liberdade conectadas

por n – 1 segmentos de tamanho zero.

2.4 MEMS - SISTEMAS MICROELETROMECÂNICOS

Desenvolvidos a partir dos anos 80, sistemas microeletromecânicos (ou simplesmente

MEMS – Micro ElectroMechanical Systems), podem ser utilizados, desde celulares a projetos

aeroespaciais, biotecnologia e medicina, essa classe de dispositivos causou uma revolução

eletrônica nas últimas décadas através da combinação da microeletrônica baseada em silício

com a tecnologia de microusinagem. A tecnologia MEMS é um processo de natureza

multidisciplinar, uma combinação de conceitos da microeletrônica, engenharia mecânica, ciência

dos materiais, física e química, reunidos para produzir sistemas integrados em um único chip,

25

gerando dispositivos capazes de desempenhar funções de sensoriamento, controle e atuação

(LIU, 2013).

Através do uso de técnicas de microfabricação, que nada mais são do que manipulações

do silício e outros substratos usando processos de microusinagem, é realizada a integração de

estruturas mecânicas, sendo elas móveis ou não, sensores, atuadores e eletrônica, tornando

possível a sintetização de sistemas completos em escala micrométrica. Basicamente, a

microeletrônica é o cérebro destes sistemas, responsável por toda a capacidade de

processamento, já a tecnologia MEMS acrescenta olhos, ouvidos e músculos a dispositivos antes

regidos, exclusivamente, pelas equações de Maxwell. Enquanto circuitos integrados tradicionais

são desenvolvidos explorando as propriedades elétricas do silício, MEMS também consideram

suas propriedades mecânicas

Um dispositivo MEMS é caracterizado, principalmente, pela presença de sensores ou

atuadores em conjunto com a microeletrônica, ou ainda, pela união de todos estes componentes

simultaneamente em um mesmo dispositivo.

Os microsensores são responsáveis por detectar as mudanças físicas do meio, sejam

elas mecânicas, térmicas, magnéticas, químicas ou eletromagnéticas, e convertê-las em um sinal

elétrico proporcional, ou seja, os microsensores se comportam como transdutores. A

microeletrônica, por sua vez, processa essa informação e aciona os microatuadores de forma que

eles possam criar uma resposta a esta mudança, convertendo sinais elétricos em energia

mecânica. Dependendo do mecanismo de sensibilidade e das grandezas observadas, estes

transdutores podem ser mecânicos, térmicos, magnéticos, químicos ou de radiação (LEE, 2011).

Dentre estes, talvez os mais conhecidos sejam os que exercem a função de sensores mecânicos,

como o acelerômetro (capaz perceber variações de aceleração), o giroscópio (permite medir a

velocidade de rotação e movimentos angulares), sensores de campo magnético ou

magnetómetro, que são capazes de sentir o movimento das linhas de campos magnéticos sejam

elas terrestres ou não.

2.5 SENSORES INERCIAIS

A inércia é uma propriedade física da matéria que foi estudada e formulada inicialmente

por Galileu e, posteriormente, provada por Newton. Esse princípio, que à primeira vista parece

ser óbvio, tornou-se a base para a tão conhecida 1ª Lei de Newton (HALLIDAY e RESNICK,

2012), e foi um dos responsáveis por provocar este cientista a desenvolver um ramo da

matemática específico para explicação de suas teorias: o cálculo diferencial e integral.

26

São chamados de sensores inerciais aqueles que têm por objetivo perceber os efeitos da

ação de forças que provoquem uma mudança do estado inercial de sistemas sobre os quais

estas forças são exercidas, sensores estes baseados na tecnologia MEMS.

Sensores inerciais são dispositivos MEMS capazes de monitorar variações de velocidade

e aceleração, linear ou angular, direta ou indiretamente, através da conversão de forças inerciais

em alguma mudança física conhecida que possa ser capturada por um transdutor correspondente

e convertida em um sinal elétrico. Este sinal elétrico é submetido a processos de filtragem linear e

não-linear a fim de se criar uma estimativa do sinal de entrada. A saída final representará um

valor calibrado da aceleração e velocidade angular.

Em um único circuito integrado encontramos estruturas mecânicas microusinadas

formando os transdutores mecânicos, responsáveis por realizar a tarefa de sensoriamento, e a

microeletrônica, competente o suficiente para nos fornecer sinais elétricos analógicos

correspondentes às forças as quais o sensor foi submetido. Em alguns chips, é possível

encontrar a tarefa mais facilitada, recorrendo a dispositivos que forneçam sinais já digitalizados,

filtrados digitalmente, processados, e até aos que armazenem leituras anteriores em memória,

tudo de forma autônoma, sem a interferência da CPU principal. O diagrama de funcionamento

desses sensores é ilustrado na Figura 6. Se o sensor fornecerá uma saída bruta, sem qualquer

tratamento, ou então uma saída processada, pronta para ser utilizada, dependerá das

características do dispositivo escolhido e claro, do valor investido.

Quando o ambiente ou sistema muda suas propriedades os transdutores mecânicos

transformam os fenômenos físicos aferidos em um sinal elétrico proporcional. Estes transdutores

estão sujeitos a interações com o encapsulamento do circuito integrado, normalmente causando

Figura 6: Visão sistêmica de um sensor inercial.

27

a transferência de calor e tensões mecânicas para o encapsulamento. A recíproca também é

verdadeira, de forma que estes fatores do ambiente podem ser transferidos para os transdutores

através do encapsulamento, mudando seu comportamento.

Posteriormente o sinal elétrico que vem dos transdutores entra em um estágio

amplificação, filtragem, processamento e digitalização do sinal. A eletrônica também deve gerar

sinais de controle necessários para configuração e ajuste do funcionamento do sensor. Na

prática, a fronteira entre a microeletrônica e os transdutores não é muito bem definida e,

frequentemente, estes dois formam um bloco indivisível, onde o estágio de entrada fornece a

polarização e excitação necessárias para o transdutor, ou partes da microeletrônica podem atuar

como componentes do transdutor.

A categoria de sensores inerciais baseados em MEMS é representada, principalmente por

dois dispositivos: acelerômetro e giroscópio. Já o magnetómetro é aplicado em IMUs para

melhorar a qualidade e a exatidão do sinal de saída dos sensores inerciais.

Acelerômetros: capazes de aferir a aceleração linear na direção de um eixo referencial.

Aceleração é a taxa de variação da velocidade no tempo, representada em m/s² (metro por

segundo ao quadrado) no Sistema Internacional de Unidades.

Giroscópios: capazes de medir a velocidade angular em torno de um eixo de referência.

A velocidade angular é uma grandeza que representa a taxa de variação da posição angular no

tempo, cuja unidade de medida no Sistema Internacional de Unidades é o rad/s (radianos por

segundo).

Magnetômetros: capazes de medir a intensidade, direção e sentido de campos

magnéticos em sua proximidade, cuja unidade no Sistema Internacional de Unidades é G

(Gauss). Apesar de não ser um sensor do tipo inercial, o magnetômetro é bastante utilizado em

sistemas de rastreamentos de movimentos em conjunto com o acelerômetro e giroscópio.

2.5.1 ACELERÔMETRO

Sensores de aceleração, mais conhecidos como acelerômetros, são sensores cujo sinal

de saída indica a aceleração em uma ou mais direções.

28

Basicamente, uma massa de prova de silício é suspensa e suportada por molas, também

de silício, conferindo a esta massa uma mobilidade conhecida. O acelerômetro, por estar fixado

ao sistema a ser medido, sofrerá a ação das mesmas forças impostas a este sistema. Uma

variação de velocidade provocará, pelo princípio da inércia, uma alteração entre a distância dos

eletrodos fixos e dos eletrodos móveis ligados à massa de prova. Em repouso, as capacitâncias

C1 e C2 são iguais. Sob efeito da aceleração, C1 e C2 variarão dependendo do sentido e

intensidade das forças que provoquem essa mudança de estado inercial (Figura 7). Daí em

diante, a microeletrônica assume a tarefa de tratar os sinais elétricos provenientes destas

variações de capacitância (MAENAKA, 2008).

Em aplicações que requerem maior resolução e estabilidade, como detecção de

terremotos, sistemas de navegação inercial e obtenção de perfis de reflexão sísmica, o mais

indicado é o uso de acelerômetros baseados em estruturas vibrantes (MAENAKA, 2007).

Figura 7: Estrutura de um acelerômetro de dois eixos. Adapt ado de (TORRES, 2016).

29

2.5.2 GIROSCÓPIO

Os giroscópios são mecanismos que se baseiam no princípio da conservação de

momento angular e são capazes de medir a orientação de um objeto.

Estruturalmente, um giroscópio é similar a um acelerômetro, possuindo, também, uma

massa de prova suportada por molas de silício. A principal diferença é que a velocidade angular é

obtida medindo-se a força Coriolis exercida na massa vibrante, ou seja, o movimento do corpo de

prova deve possuir, pelo menos, dois graus de liberdade (ACAR e SHKEL, 2009).

A versão clássica de um giroscópio consiste em um disco (rotor) montado em uma

estrutura que provê 3 graus rotacionais de liberdade. Ao ser girado, o disco tende a continuar em

rotação na mesma orientação, devido à conservação de momento angular. Assim, como o

mecanismo é feito de modo a minimizar o atrito nas juntas dos arcos, quando a estrutura é

girada, o disco continua na mesma orientação, girando quase independentemente do resto da

estrutura. Deste modo é possível medir o ângulo entre o eixo de rotação do disco e os arcos mais

externos e determinar quanto a estrutura girou em relação a sua orientação original. Os arcos de

suspensão são chamados gimbais1.

Os giroscópios MEMS, por sua vez, podem ser construídos de diversas maneiras. Uma

das mais simples e baratas é a que utiliza microestruturas vibrantes (Figura 8). Ao invés de um

disco girante, este tipo de giroscópio usa uma massa de prova que oscila apenas em uma

direção. Há dois conjuntos de molas de silício: Kx, suportando a estrutura externa e conferindo

mobilidade na direção do eixo x; e Ky permitindo uma constante vibração da parte interna na

1 Na maioria dos softwares 3D, utiliza-se um sistema de coordenadas e eixos geralmente baseadas nos chamados ângulos de

Euler (X, Y e Z). O efeito Gimbal Lock acontece quando dois desses eixos estão apontando para o mesmo lugar, ou seja, estão alinhados, dessa forma o giroscópio perde um eixo de rotação.

Figura 8: Estrutura de um giroscópio de um eixo. Adaptado de (TORRES, 2016).

30

direção do eixo y, causada por atuadores eletrostáticos. A força Coriolis proveniente de uma

rotação em torno do eixo z faz com que tanto a parte central quanto a parte externa da estrutura

se movam na direção x.

Este movimento da parte externa causa uma variação da capacitância entre eletrodos

fixos e móveis conectados a esta parte da estrutura, essa variação da capacitância é processada,

filtrada e digitalizada, produzindo o sinal de saída do giroscópio.

2.6 SENSORES MAGNÉTICOS - MAGNETÔMETRO

Magnetômetros são dispositivos empregados na medição da intensidade, direção e

sentido de campos magnéticos. Magnetômetros são amplamente utilizados para medir o campo

magnético da terra. Há dois tipos de magnetômetros: escalares e vetoriais; enquanto que os

magnetômetros escalares medem apenas a magnitude do campo magnético, os vetoriais são

capazes de medir a magnitude e sentido do campo magnético na direção em que estão

alinhados.

Os Magnetômetros podem ter diversos princípios de funcionamento, como por exemplo

os magnetômetros de Efeito Hall, de bobina rotativa e de precessão protônica (RIPKA, 2001). O

efeito Hall foi descoberto em 1879 por E. H. Hall. Aplicando um campo magnético perpendicular à

direção da corrente elétrica em um semicondutor elétrico induz uma diferença de potencial

elétrico nas laterais do condutor conforme ilustra a Figura 9.

Figura 9: Configuração original do efeito hall.

31

De um modo geral, um magnetômetro é formado por um conjunto de equipamentos

usados para medir o momento magnético de uma amostra para um determinado valor de campo

magnético aplicado.

Os componentes básicos de um magnetómetro são:

� Fonte de Corrente.

� Eletroímã.

� Sensor de Campo Magnético

� Sistema para movimentação da amostra

O funcionamento básico de um magnetômetro pode ser descrito da seguinte forma: a

fonte fornece corrente elétrica para as bobinas do eletroímã que geram um campo magnético na

região onde se encontra a amostra. A amostra é magnetizada e por sua vez produz um campo

induzido que é lido pelo sensor. Através deste campo induzido e de um modelo teórico, obtemos

o momento magnético da amostra para cada valor de campo aplicado.

Os sensores magnéticos possuem uma sensibilidade de acordo com alguns parâmetros.

Os mais importantes são, eletrônica para a leitura dos diferentes campos magnéticos e

geometria. Existem vários tipos de magnetômetros que são bem diferentes entre si nos aspectos

de construção e custo. Portanto, na hora da compra do sensor, deve-se levar em consideração, a

aplicação, resolução desejada e o tamanho físico.

Magnetômetros usualmente são aplicados em Unidades de Medição Inercial, porém

esses sensores não classificados como sensores inerciais, já que estes não fazem medições

inerciais e sim, são capazes de sentir o campo magnético terrestre e de outros equipamentos.

2.7 UNIDADES DE MEDIÇÃO INERCIAL E MAGNÉTICA

Unidades de Medição Inercial (do inglês, Inertial Measurement Unit – IMU) são

dispositivos eletrônicos que empregam acelerômetros, giroscópios e, eventualmente,

magnetômetros para medir aceleração, velocidade, orientação, campo magnético e posição do

sensor. Uma IMU tem diversas áreas de aplicação, desde simples dispositivos de equilíbrio para

veículos automatizados, sistemas complexos de navegação estimada (dead reckoning)

(SABATINI, 2009), e sistemas de captura de movimento do corpo humano, que é o objetivo

desse trabalho.

Por sua vez, Sistemas de Navegação Inercial (Inertial Navigation System – INS: sistemas

de estimativa de posição baseada na posição anterior, velocidade e tempo decorrido desde a

32

posição anterior) também utilizam IMUs, porém requerem outros dispositivos para auxiliar as

estimativas e corrigir os desvios inerentes a IMUs, como GPS, barômetro e sensores de

velocidade externos. A necessidade da correção das medidas e sinais de uma IMU por

equipamentos externos se origina do acúmulo de erros inerente a estes tipos de sistema. Os

erros, por sua vez, são oriundos da impossibilidade de se adquirir os dados dos sensores

continuamente, isto é, de se fazer a leitura do sensor em intervalos de tempo muito pequenos, ou

seja, de forma geral, quanto maior for a taxa de amostragem do sensor, melhor é a noção de

‘tempo real’ que o dispositivo irá transmitir ao usuário.

Os valores perdidos entre uma amostra e outra dos sensores são fonte dos erros

acumulativos de uma IMU. Se fosse possível criar um sistema com taxa de amostragem infinita, o

uso de sensores externos a IMU não seria necessária.

Numa IMU, o papel do acelerômetro é prover a característica do movimento a longo

prazo, contínuo. Acelerômetros apresentam alta taxa de ruído e, além disso, não são capazes de

medir, exclusivamente, as componentes lineares da aceleração sendo aplicada ao sistema,

medindo também as componentes angulares da aceleração, ou seja, ao se rotacionar um

acelerômetro ao redor do seu centro de massa, ele registrará aceleração, apesar de não estar

sendo submetido a aceleração linear. No entanto, os valores de aceleração do sensor não sofrem

de erros cumulativos.

O papel do giroscópio é prover a característica do movimento a curto prazo, ou

movimentos rápidos. Giroscópios são muito menos suscetíveis a ruídos que os acelerômetros, e

apresentam a resposta mais rápida e tem maior estabilidade. No entanto, como as leituras de um

giroscópio fornecem a velocidade angular, é necessário fazer a integração dessas medidas para

se obter o ângulo de rotação do sistema o que introduz erros cumulativos de integração. Assim, a

longo prazo, a estimativa baseada puramente em giroscópios deriva do valor real. A deriva ou

erro em relação ao valor real é conhecido como drift, que é uma característica inerente aos

sensores. De forma geral, quanto melhor forem os componentes, a montagem e a confecção do

sensor, menor é drift do mesmo, entretanto isso implica em um aumento exponencial do preço

total do dispositivo.

Integrando estes dois sensores em uma IMU, os problemas de cada sensor são

compensados um pelo outro. O giroscópio reduz a sensibilidade do acelerômetro a acelerações

não lineares, enquanto que o acelerômetro corrige a deriva do giroscópio, usando o vetor da

força gravitacional para determinar a direção vertical correta, diminuindo o erro de posição

angular do sistema.

33

A inserção de magnetômetros corrige a deriva da posição angular, da fusão sensorial

entre o acelerômetro e giroscópio, ao redor do eixo da força gravitacional. O acelerômetro não é

capaz de corrigir a deriva em rotações ao redor deste eixo, pois o vetor aceleração observado por

um objeto é invariante a rotações sobre eixo de gravidade. Por exemplo, um veículo trafegando

em uma esfera perfeita sempre observará o vetor da aceleração gravitacional apontando para

dentro da esfera, paralelamente ao seu próprio eixo vertical. O magnetômetro inclui a direção do

norte magnético da terra como elemento de correção no sistema.

Para realizar a fusão do acelerômetro, giroscópio e magnetômetro se faz necessário o

desenvolvimento de algoritmos que sejam capazes de captar os sinais dos três sensores nos

eixos x, y e z, e produzir na saída um sinal ou medida otimizada. A saída gerada depende da

necessidade do desenvolvedor do algoritmo ou do usuário. Os algoritmos mais citados na

literatura, como por exemplo os filtros de Kalman e o algoritmo de Mahonny e Madgwick, dão

como resultado, da fusão sensorial, os quaternions ou matrizes de rotações.

O filtro de Kalman se caracteriza como uma ferramenta estatística eficiente de estimação,

pois minimiza o erro quadrático, nesse caso, o filtro tem como objetivo diminuir o drift inerente

dos sensores inerciais.

A aplicação do filtro de Kalman é feita quando o modelo está descrito na forma espaço-

estado, mais especificamente quando é possível observar uma variável, chamada de variável

sinal ou de observação, e através dela obter uma estimativa eficiente para outra variável, a

variável estado. A estimativa da variável de estado pode ser feita para o passado da série de

observação, para o presente e até mesmo para o futuro (GREWAL e ANDREWS, 2014).

2.8 PROTOCOLO DE COMUNICAÇÃO I2C

Para este projeto a comunicação entre o microcontrolador, placa arduino DUE, e as

unidades de medição inercial (IMU) se dará pelo protocolo de comunicação I2C

I2C é a sigla de Inter-Integrated Circuit, e basicamente é um protocolo de comunicação

entre dispositivos que “falam” I2C.

O protocolo I2C descreve o funcionamento de um barramento de comunicação serial que

utiliza apenas dois fios, inventado pela Philips no início da década de 90, este protocolo é muito

utilizado para conectar periféricos de baixa velocidade a placas-mãe, microcontroladores e afins.

34

Como é possível a comunicação de um ou mais dispositivos usando apenas dois fios?

Para isso, cada periférico deve apresentam uma ID (número de identificação) predefinido, ou o

endereço de um dispositivo exclusivo, dessa forma o mestre da comunicação pode escolher com

que estará se comunicando.

Os dois fios são chamados de Serial Clock (SCL) e Serial Data (SDA). A linha SCL é o

sinal de relógio, responsável por sincronizar a transferência de dados entre os dispositivos

conectados ao barramento I2C, o sinal SCL é gerado pelo mestre. A outra linha, SDA é

responsável pelo transporte de dados (Figura 10).

O protocolo de comunicação I2C funciona da seguinte forma, o sinal com os dados é

transferido em uma sequência de 8 bits. Dessa forma, após a chegada de uma condição de

início, vem uma sequência de 8 bits que indica o endereço do dispositivo escravo para qual os

dados estão sendo enviados. Depois do endereço do escravo, vem 1 bit, chamado de

Acknowledge. Os próximos 8 bits indicam, na maioria dos casos, uma sequência de

endereçamento interna do dispositivo escravo. Posteriormente, os próximos bytes (sequência de

8 bits) representam os dados que são estão sendo transferidos, até a chegada da condição de

parada (Stop bit). A Figura 11 representa o diagrama de blocos básico da comunicação I2C.

Figura 10: Diagrama básico de conexão do barramento I2C. Ada ptado de (RODRIGUES, 2014).

35

3 RASTREAMENTO INERCIAL – ESTADO DA ARTE

O rastreamento e captura em tempo real do movimento do corpo humano tem diversas

aplicações tanto na engenharia quanto na medicina, tais como análise da marcha humana,

reabilitação, análise do movimento articular e outros. Várias tecnologias de rastreamento, como o

rastreamento mecânico utilizando goniômetros, estruturas eletromecânicas (GYPSY, 2016),

rastreamento magnético (LIBERTY, 2016) e rastreamento visual (VICON, 2016) (QUALISYS,

2016) (OPTITRACK, 2016) tem sido usadas e aprimoradas por muitos anos. No entanto essas

tecnologias, muitas vezes, demandam uma infraestrutura complexa, o que pode comprometer a

sua usabilidade em algumas aplicações, como por exemplo, a sua utilização em ambientes

externos e no dia-a-dia comum de uma pessoa. Sistemas de rastreamento inercial (XSENS,

2016) funcionam de uma forma mais natural e simples para rastrear o movimento do corpo

humano na vida diária. Além disso, o desenvolvimento da tecnologia dos sensores e dispositivos

MEMS possibilitou a criação de sistemas para rastreamento inercial sem fio, mais conhecidos

como sistemas wireless (wearable sensors). Dessa forma esses sistemas passaram a ser bem

mais aceitos, devido ao seu tamanho pequeno, portabilidade, instalação simples, baixo consumo

Figura 11: Instruções básicas para escrita e leitura usando I2C. Adaptado de (RODRIGUES, 2014).

36

de energia, custo e principalmente a possibilidade de monitorar, com exatidão, os movimentos do

corpo humano.

Um desafio nas pesquisas atuais de rastreamento de movimento com sistemas inerciais é

a sua relação com a eficiência computacional e a reconstrução de modelos do movimento do

corpo humano. Cálculos de alta complexidade, como os que são utilizados na reconstrução de

modelos do corpo humano requerem uma grande quantidade de tempo e capacidade de

processamento do computador (CPU) o que pode afetar a eficiência do sistema para aplicações

de rastreamento em tempo real. Rotações de estruturas angulares, como é o exemplo das juntas

e articulações do corpo são descritas por matrizes de rotações sendo que é necessária uma

matriz para cada eixo de rotação. Ao conectar vários segmentos do corpo humano ao sistema,

maior é o número de matrizes necessárias para descrever as possibilidades de movimento do

sistema, o que leva a um aumento do tempo de processamento da CPU para realizar todos os

cálculos necessários, para casos em que o sistema se torne muito complexo ou o número de

graus de liberdade seja muito alto, a noção de tempo real pode ser perdida.

Semelhante a função das matrizes de rotações, a representação por ângulos e eixos –

twist (SOMMER e ROSENHAHN, 2014) e mapas exponenciais (GRASSIA, 1998) são técnicas

capazes de descrever rotações das articulações, juntas e conectar corpos rígidos. Essas técnicas

são bastante exploradas em aplicações robóticas e rastreamento sem o uso de marcadores. A

vantagem dessas técnicas é que elas reduzem a complexidade dos cálculos representando cada

articulação com apenas uma matriz. Entretanto, essas técnicas não têm sido estudadas para

aplicações em sistemas inerciais até o presente momento, sendo que suas vantagens são

necessárias para aplicações em rastreamento de movimento em tempo real.

Para o rastreamento em tempo real do corpo humano os sensores inerciais são

acoplados aos membros do corpo. No entanto, estimar o melhor posicionamento do sensor sobre

o membro é um desafio. Definir o melhor posicionamento do sensor está ligado diretamente as

características anatômicas do corpo humano, deve-se levar em consideração o tecido mole e as

articulações, já que cada movimento pode induzir ruídos de artefato e criar interferências no sinal

dos sensores inerciais. Além disso a escolha da posição do sensor impacta diretamente sobre o

algoritmo de rastreamento e no cálculo da cinemática direta. Ambos os problemas são desafios

atuais para os pesquisadores. Encontrar a melhor forma de estimar com exatidão a posição do

sensor poderia reduzir a presença de ruídos no sinal dos sensores inerciais, principalmente os

ruídos de artefato, e também os erros de cálculo e rastreamento (LIN e KULIć, 2012).

37

Como foi discutido anteriormente, a maioria dos sistemas de rastreamento disponíveis no

mercado podem capturar os movimentos do corpo humano em um local delimitado pela

infraestrutura do próprio sistema. Para determinar o posicionamento e rastrear os movimentos de

uma pessoa em um ambiente externo podem ser aplicados outros tipos de tecnologia, como por

exemplo o Sistema de Posicionamento Global (GPS), porém esse sistema fornece apenas

informações sobre a posição exata de uma pessoa ou objeto, a resposta do GPS não é muito

confiável para ambientes fechados, por conseguinte o uso de sistemas com unidades de medição

inerciais e magnetômetros apresentam mais essa vantagem, a possibilidade de rastreamento dos

movimentos do corpo humano e também da posição do indivíduo no espaço em diferentes

ambientes, já que esses sistemas não demandam de uma infraestrutura grande para a aquisição

e tratamento dos sinais.

A maioria dos estudos que utilizam os sensores inerciais combinam acelerômetros e

giroscópios com sistemas wireless que se assemelham com roupas onde, cada membro contêm

pelo o menos um sensor inercial. Tradicionalmente, a orientação do corpo tem sido estimada

através da integração da velocidade angular medida pelo giroscópio, a partir de uma orientação

inicial conhecida. Do mesmo modo, a posição pode ser obtida pelo processo dupla integração da

aceleração mensurada pelo acelerômetro. Entretanto, existe um problema significativo com a

integração dos sinais dos sensores inerciais. O processo de integração é definido como a soma

cumulativa de um sinal durante um determinado período de tempo, como o acelerômetro é muito

sensível a qualquer tipo de força de aceleração ou perturbação e o giroscópio tem um drift interno

ao sistema e suas microestruturas qualquer erro, por menor que seja, introduz no sinal de saída

um erro cumulativo em relação as medidas reais que com o passar do tempo degrada

completamente o sistema de rastreamento. Roetenberg demonstrou que a integração do sinal do

giroscópio com o mínimo de ruído resulta em erro de medida de 10 a 25º em relação ao valor real

após um minuto de coleta (ROETENBERG DANIEL, 2006). Já a dupla integração do

acelerômetro com o mínimo de ruído resulta em um erro no cálculo da posição que cresce de

forma cúbica no tempo (FOXLIN, 2005).

Willemsen et al, desenvolveram uma técnica para medir o ângulo de flexão e extensão de

articulações do corpo humano. O sistema foi capaz de calcular o ângulo do joelho diretamente

usando oito acelerômetros uniaxiais ligados diretamente na coxa e na perna do indivíduo, sem o

processo de dupla integração (WILLEMSEN, ALSTE e BOOM., 1990). Os membros inferiores

foram moldados como um pendulo duplo onde o joelho representava um ponto de junção articular

permitindo rotação planar. O sistema foi preciso apenas durante movimentos lentos

38

(WILLEMSEN, FRIGO e BOOM, 1991). Posteriormente Williamson e al, usaram duas unidades

de sensores inerciais com giroscópios e acelerômetros, ligados a coxa e ao tornozelo para medir

a flexão e extensão do joelho através do cálculo da diferença do angulo de inclinação entre os

dois sensores (ANDREWS, 2001).

Para corrigir o drift inerente ao processo de integração do giroscópio durante o processo

de rastreamento de movimentos da cabeça, Foxlin, usou medidas ocasionais de um goniômetro

para detecção da inclinação e um filtro complementar de Kalman (FOXLIN, 1996). Um filtro

complementar de Kalman opera sobre os erros de orientação estimados pela integração do sinal

do giroscópio e os ângulos de inclinação obtidos a partir de outros sensores. Os sinais de erro de

cada sensor permitem que o filtro de Kalman possa estimar os próximos erros na orientação e

retira-los do sinal. Está técnica tem o inconveniente de que quaisquer acelerações da cabeça

corrompe a performance do sensor de inclinação, e o filtro de Kalman incorpora os dados

corrompidos na determinação da orientação, levando a um erro da orientação em relação ao

valor real. Para contornar esse problema, em um artigo posterior (FOXLIN e ALTSHULER, 1998),

a correção do drift foi aplicada apenas durante períodos estacionários, quando foi assumido que

o acelerômetro era capaz de medir apenas a aceleração da gravidade.

Luinge et al, mostraram que a orientação obtida a partir da integração da velocidade de

rotação do giroscópio pode ser melhorada por meio da fusão da informação de inclinação obtida

a partir do vetor gravidade dos acelerômetros (LUINGE, 2002) (LUINGE, H. e M., 1999). Em seu

sistema, a orientação obtida pelo processo de integração da velocidade angular foi dividida em

inclinação e orientação em torno do eixo vertical. A aceleração da gravidade foi usada para

calcular a inclinação durante os períodos estacionários. A diferença entre a inclinação do

acelerômetro e do giroscópio foi utilizada como entrada para o filtro de Kalman para se obter o

angulo de inclinação mais preciso. As estimativas foram então combinadas com a rotação em

torno do eixo vertical para produzir os ângulos de orientação mais próximos dos valores reais. No

entanto, os resultados mostraram que as estimativas foram precisas somente por períodos curtos

de tempo quando o indivíduo não estava se movendo e os acelerômetros estavam sujeitos

apenas a aceleração da gravidade.

Em um sistema de medição inercial sem giroscópio, Giansanti et al, usaram vários

acelerômetros para determinar a orientação e posição dos membros inferiores (GIANSANTI,

MACELLARI e MACCIONI, 2003). Eles mostraram que o erro de orientação era de dez graus

para um intervalo de observação bem curto, cerca de um a dois segundos. Em um segundo

estudo, eles combinaram giroscópios e acelerômetros para rastrear a posição e orientação

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durante um protocolo de três tarefas prescritas: sentar, levantar e início de marcha (GIANSANTI,

MACCIONI e MACELLARI, 2005). Os erros de estimação da orientação foram mínimos, no

entanto eles restringiram a aplicação para tarefas simples e limitaram a avaliação de

desempenho do sistema para períodos de tempo de curta duração, quatro segundos.

Bachmann et al, usaram acelerômetros e magnetômetros em um filtro complementar

baseado em quaternions para compensar o drift de orientação advindo do processo de integração

da velocidade angular (BACHMANN e MCGHEE, 2001). O sistema era composto de um

acelerômetro triaxial, giroscópio triaxial e magnetômetro triaxial, montados juntos em um único

módulo para produzir um sensor de referência magnética, ou, sensor de Velocidade Angular e

Gravidade (MARG). Em um estudo posterior, Bachmann et al, investigaram o efeito de

equipamentos eletrodomésticos e móveis feitos de materiais ferromagnéticos na exatidão da

detecção da orientação de um sistema MARG (BACHMANN, YUN e PETERSON, 2004). Eles

observaram erros que variavam de 12 a 16º em relação ao valor real de orientação, e afirmaram

que esses erros podem ser evitados se o indivíduo mantiver um distancia de pelo o menos 1

metro da fonte de perturbação eletromagnética. Isso limita a aplicabilidade de rastreamento do

sistema a um ambiente de laboratório personalizado.

Roetenberg et al, argumentaram que os erros devido à perturbação do campo magnético

poderiam ser compensados por um algoritmo adequado de fusão sensorial (ROETENBERG

DANIEL, 2005). Eles desenvolveram um filtro de Kalman que operava com duas entradas para

estimar a orientação do corpo humano. A primeira entrada é a diferença entre a inclinação

medida através do vetor gravidade do acelerômetro e a inclinação do giroscópio. A segunda

entrada é a diferença entre a inclinação calculada pelo magnetômetro e a inclinação do

giroscópio. Eles incluíram também no modelo do filtro, o erro de bias do giroscópio, perturbações

magnéticas e possíveis erros de orientação. O sistema foi testado sob condições estáticas e

dinâmicas com materiais ferromagnéticos próximos ao sensor. Os resultados mostraram que a

estimativa de orientação melhorou significativamente quando foi utilizado a correção de

interferência eletromagnética. Porém, os autores reportaram que o sistema de rastreamento foi

testado sobre condições limitadas e controladas, e que a estimativa de orientação estaria sujeita

a erros com movimentos mais rápidos e complexos. Em um outro estudo, Roetenberg et al,

combinaram um sistema magnético, montado sobre o corpo, com acelerômetros e giroscópios

para rastrear a posição e orientação do indivíduo usando um filtro complementar de Kalman

(ROETENBERG DANIEL, 2009). A orientação e posição foram obtidos a partir de um processo

de simples integração do giroscópio e dupla integração do acelerômetro, os resultados foram

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atualizados usando um magnetômetro, para melhorar a acurácia do sistema. Todo o sistema foi

testado sem metais e aparelhos eletromagnéticos nas proximidades, porém era esperado que os

erros calculados pudessem aumentar se materiais ferromagnéticos fossem colocados próximos

aos sensores.

Em uma série de estudos, Zhou et al, utilizaram dois sensores, com giroscópios e

acelerômetros, adaptados em uma roupa, para rastrear o movimento dos membros superiores do

corpo humano em um sistema de reabilitação (ZHOU, STONE, et al., 2008). Eles usaram a

notação de ângulos de Euler e conceitos de cinemática direta para localizar o punho e o cotovelo.

Três indivíduos foram convidados para testar o sistema, foram realizadas um conjunto de tarefas

onde o ombro do indivíduo deveria se manter na mesma posição durante todo o procedimento.

As tarefas foram atingir um alvo com a mão, levantar um objeto até a altura da cabeça e flexão do

cotovelo. Cada procedimento durou até vinte segundos. Os resultados mostraram grande

exatidão na estimativa de orientação e posição, quando comparados com um sistema de

rastreamento ótico como referência (ZHOU e HU, 2007) (ZHOU e HU, 2010).

Donghoon et al, implementaram um sistema inercial de captura de movimentos do corpo

humano, usando acelerômetros, magnetômetros e giroscópios. Acoplados em dispositivos

wireless, os sensores inerciais e magnéticos foram montados sobre cada segmento do corpo

humano para determinar, de forma independente, a orientação absoluta (KANG, JUNG, et al.,

2011). Para simular o corpo humano e a cinemática de movimento, foi construído um modelo

geométrico do tipo stick (Tree Model). Os resultados obtidos foram promissores, demostrando a

viabilidade e validade de sistemas de rastreamento usando IMUs, mesmo durante movimentos

mais agressivos, como a simulação de uma tacada de golf, dançar ou correr.

Nora et al, desenvolveram um algoritmo baseado em filtros polinomiais, interpolação e

transformadas usando wavelets, para diminuir e anular o efeito de drift do acelerômetro durante o

processo de cálculo da posição em movimentos periódicos (MILLOR, LECUMBERRI e GÓMEZ,

2013). O protocolo do estudo era bem simples, mais conhecido como o teste da cadeira, onde o

indivíduo deveria sentar e depois levantar em intervalos contínuos. Para a validação do sistema,

composto de um acelerômetro, giroscópio e magnetômetro, e do algoritmo proposto, foi usado

como referência um outro sistema de captura visual da VICON (VICON NEXUS 1.0). Os

resultados obtidos indicaram erros menores do que 1% e um coeficiente de correlação maior que

0.9. A relevância desse estudo é que depois de cancelar o drift no cálculo da posição, é possível

determinar a posição no eixo Z para movimentos cíclicos.

41

O sucesso dos sistemas e algoritmos de rastreamento inercial é limitado por vários

fatores. Uma abordagem típica na maioria dos estudos citados acima envolve a integração da

velocidade angular do giroscópio para obter os ângulos de orientação e a aplicação do filtro de

Kalman no acelerômetro para corrigir o erro cumulativo que tem origem no processo de dupla

integração para obter a posição do sensor. Nestes estudos, as estimativas de orientação são

confiáveis por breves períodos de tempo, quando a aceleração resultante é apenas a aceleração

da gravidade, dessa forma os acelerômetros foram utilizados apenas como sensores de

inclinação. Outros estudos utilizaram o magnetômetro como sensor de inclinação apenas para

determinar o ângulo de rotação do eixo vertical. Porém, o uso desses sensores MARG estão

sujeitos a perturbações magnéticas, o que pode comprometer a usabilidade do sistema.

O uso do filtro linear de Kalman em processos dinâmicos altamente não lineares introduz

mais erros no cálculo da orientação do sistema. Em alguns algoritmos, os pesquisadores usam o

filtro de Kalman estendido (EKF) para linearizar o processo e os sinais do modelo.

O EKF é baseado na linearização do estado de transição e da matriz de observação com

uma expansão de Taylor de primeira ordem (GREWAL e ANDREWS, 2014). Ele modela as

variáveis de estado com momentos de primeira e segunda ordem, que é o mais apropriado

quando a distribuição do processo é do tipo gaussiana. O processo de linearização leva ao mau

desempenho do sistema se as dinâmicas forem altamente não lineares. O EKF também pode

requerer o cálculo de matrizes Jacobianas, o que pode gerar mais erros e aumentar o tempo de

processamento total.

Outro fator limitante no sucesso dos sistemas de rastreamento IMU e MARG é número de

unidades inerciais de medida necessárias para acompanhar movimentos complexos do corpo

humano. Um grande número de sensores aumenta a quantidade de variáveis e cálculos do

sistema. Consequentemente, o aumento das dimensões do modelo e do número de equações

altamente não lineares tornam o EKF um algoritmo computacionalmente caro e com problemas

de estabilidade.

Sabendo disso, Sebastian Madgwick apresentou um novo algoritmo para um filtro de

correção da orientação para sistemas IMU (acelerômetro e giroscópio) e MARG (acelerômetro,

giroscópio e magnetômetro) (MADGWICK, 2010). Para os sistemas MARG, que inclui os

sensores inerciais e o magnetômetro, o filtro incorpora possíveis distorções magnéticas e o erro

de bias do giroscópio. O filtro usa a representação da orientação em forma de quaternion

permitindo que os sinais do acelerômetro e do magnetômetro sejam incorporados em um

algoritmo analítico que usa um método do gradiente descendente otimizado para o cálculo da

42

orientação e inclinação de ambos os sensores, permitindo a correção da orientação do giroscópio

resultando em um quaternion, na saída do algoritmo, otimizado. Os maiores benefícios desse

novo algoritmo são: uma necessidade de processamento bem menor, em relação ao filtro de

Kalman, exigindo até 277 operações escalares aritméticas para a implementação em sistemas

MARG e 109 operações escalares aritméticas para sistemas IMU; é eficaz em baixas frequências

de amostragem, por exemplo 10 Hz e contêm 1 (IMU) ou 2 (MARG) parâmetros ajustáveis de

acordo com a aplicação.

A performance do novo filtro foi avaliada usando sensores comerciais da XSENS, um

sistema de captura de movimento ótico foi usado como referência para o experimento. A

performance também foi avaliada contra um algoritmo baseado em filtro de Kalman. Os

resultados indicaram que o filtro alcança altos níveis de precisão, superior ao algoritmo de

Kalman, apresentando um valor eficaz de erro (RMS) menor que 0.6º para quando os sensores

estão parados e menor que 0.8º para situações em que o sensor está em movimento. Com a

baixa necessidade computacional, e a capacidade de operar em baixas taxas de amostragem, o

algoritmo de Madgwick abre novas oportunidades de aplicação para o uso de dispositivos IMU e

MARG

4 PROPOSTA DE UM SISTEMA DE RASTREAMENTO INERCIAL PARA MEMBROS SUPERIORES

Esse trabalho propõe o desenvolvimento de protótipo de uma rede de sensores inerciais

para captura de movimentos dos membros superiores, bem como a implementação de uma

aplicação para a visualização tridimensional das estruturas biomecânicas associadas em tempo

real.

Para tal, foram adquiridos 3 módulos de medição inercial, cada módulo será acoplado a

um segmento diferente dos membros superiores sendo que, o módulo 1 ou referência será

colocado sobre o osso externo no peitoral, o módulo 2 será posicionado ao braço próximo a

articulação do cotovelo e o módulo 3 será acoplado ao antebraço próximo a articulação radioulnar

como ilustra a Figura 12.

Figura 12 : Diagrama de conexão e posicionamento dos sensores sobre os membros superiores e as

Na Figura 12 os quadrados na cor preta representam os módulos inerciais, a linha verde

representa os segmentos e fios que ligam um modulo ao outro.

envia, via comunicação I2C

quaternions, realiza um processo de filtragem dos sinais e envia os resultados para CPU pela

USB. Na CPU os quaternions são usados para calcu

12, depois de cada movimento,

biomecânica dos membros sup

4.1 MÓDULO INERCIAL GY87

Para o protótipo do projeto, foram adquiridas

: Diagrama de conexão e posicionamento dos sensores sobre os membros superiores e as posições que serão calculadas pela aplicação.

os quadrados na cor preta representam os módulos inerciais, a linha verde

representa os segmentos e fios que ligam um modulo ao outro. Cada mó

envia, via comunicação I2C, um quaternion para o arduino. A placa arduino coleta todos os

quaternions, realiza um processo de filtragem dos sinais e envia os resultados para CPU pela

USB. Na CPU os quaternions são usados para calcular as novas posições, indicadas na

depois de cada movimento, dessa forma é possível estimar a posição final de toda a estrutura

biomecânica dos membros superiores.

MÓDULO INERCIAL GY87

Para o protótipo do projeto, foram adquiridas três unidades de medição inercial

Figura 13: Módulo GY 87.

43

: Diagrama de conexão e posicionamento dos sensores sobre os membros superiores e as

os quadrados na cor preta representam os módulos inerciais, a linha verde

ódulo inercial calcula e

. A placa arduino coleta todos os

quaternions, realiza um processo de filtragem dos sinais e envia os resultados para CPU pela

lar as novas posições, indicadas na Figura

estimar a posição final de toda a estrutura

idades de medição inercial GY 87, o

44

circuito é composto por um MPU (Motion Processing Unit) 6050, um magnetómetro HMC5883L e

um modulo de pressão, barômetro BMP180, ou seja, o circuito tem um total de 10 graus de

liberdade. A alimentação do circuito é feita com 3.3V, e a pinagem do módulo é ilustrado na

Figura 13.

O MPU6050 é fabricado pela InvenSense, este módulo inercial possui no mesmo,

encapsulamento, um acelerômetro e um giróscopio de alta precisão baseado em tecnologia

MEMS. No total são seis graus de liberdade, sendo três para o acelerômetro e três para o

giroscópio. Existe também a possibilidade da ligação de um magnetômetro externo através dos

pinos auxiliares. Processo que é executado nesse projeto.

O MPU6050 possui internamente um recurso ou biblioteca chamado DMP (Digital Motion

Processor). A DMP permite que o algoritmo de detecção de movimento seja processado pelo

próprio módulo livrando microcontrolador dessa tarefa. A DMP faz a aquisição dos sinais do

acelerômetro, giroscópio e do sensor externo e faz um processamento de dados. O resultado

pode ser lido diretamente ou colocado em um buffer do tipo FIFO (First In First Out) de 1024

bytes.

Além de todos esses recursos, o MPU6050 possui internamente conversores Analógico /

Digital de 16 bits de resolução para cada canal, dessa forma todos os sinais podem ser

amostrados ao mesmo tempo. Essa unidade de medição inercial apresenta também ganho

ajustável para os dois sensores. O acelerômetro pode ser regulado para ±2g, ±4g, ±8g e ±16g, já

o giróscopio pode ser regulado para um range sensibilidade de ±250, ±500, ±1000 e ±2000 graus

por segundo.

No projeto, o magnetómetro externo que já está embutido no módulo GY 87 é o

HMC5883L. Esse magnetómetro é um CI desenvolvido para campos magnéticos de baixa

intensidade, possui três graus de liberdade (X, Y e Z) e um conversor Analógico / Digital interno

de 12 bits que possibilita o CI de medir a direção do campo magnético com precisão de 1 a 2

graus.

Todas as características elétricas e especificações de cada CI e o esquemático do circuito

elétrico da placa GY 87 podem ser encontrados nos anexos 9.1, 9.2, 9.3, 9.4.

45

4.2 MÓDULO DE INTEGRAÇÃO DA COMUNICAÇÃO DOS SENSORE S COM O

COMPUTADOR HOST

Como foi discutido no item 2.8, no barramento I2C, a comunicação com qualquer

dispositivo externo ao microcontrolador é formado por apenas dois fios (SCL e SDA), sendo que

a quantidade de dispositivos é limitada pelo tamanho do endereço do mesmo e da capacidade de

processamento do microcontrolador. Para esse projeto foram necessários três módulos GY 87,

todos ligados ao mesmo barramento I2C.

Entretanto, por definição de hardware, todas as unidades de medição inercial apresentam

o mesmo endereço interno. O sensor MPU6050 (acelerômetro + giróscopio) é definido pelo

endereço 0x68 quando pino AD0 está conectado diretamente ao terra e 0x69 quando o pino AD0

está ligado diretamente à alimentação, o magnetómetro possui o endereço fixo 0x1E. Ou seja,

quando o microcontrolador da placa ARDUINO enviar um comando pelo barramento I2C todos os

sensores inerciais irão responder ao mesmo tempo, o que pode levar à perda de dados e colapso

total do sistema de aquisição de dados. Para contornar esse problema foi idealizado uma

configuração do protótipo utilizando uma porta logica AND para escolher para qual unidade de

medição inercial o pulso de clock (SCL) será enviado. Como os sensores só respondem se o

microcontrolador enviar um comando, não foi necessário aplicar a mesma lógica com a porta

AND para receber os dados, ou seja, todas as placas estão ligadas diretamente ao fio SDA do

barramento I2C. O esquemático completo foi montado no software PROTEUS, o resultado é

ilustrado na Figura 14.

46

Figura 14: Esquema elétrico completo do modulo de com unicação dos sensores com o computador HOST.

47

A frequência de amostragem do sistema e o baudrate da placa arduino foram

configurados em 100HZ e 115200 bits por segundo, respectivamente.

4.3 MODELAGEM MATEMÁTICA

Para calcular as posições de cada articulação dos membros superiores e a posição final

da mão (end effector), primeiramente, é necessário definir a posição de origem de cada um dos

sensores e associar a cada deles um vetor que representa um segmento dos membros

superiores. No total são definidos 4 vetores. O primeiro (?1) representa distância da origem do

sistema, no osso externo do peitoral, até a base do pescoço, o segundo vetor (?2% representa a

distância da base do pescoço até a articulação do ombro, o terceiro vetor (?3% é a distância da

articulação do ombro até a articulação do cotovelo, e o último vetor (?4% representa a distância da

articulação do cotovelo até a articulação radioulnar.

Definido as posições de origem do sistema, é necessário realizar o cálculo de offset da

posição estimada em relação a posição de referência, dessa forma, independente da posição

inicial do usuário a representação dos membros superiores na aplicação sempre terá posição

inicial igual a posição de referência escolhida nas configurações da aplicação. A posição inicial

escolhida para o sistema foi a posição T, onde o usuário deve ficar em pé, com o corpo ereto,

membros superiores levantados formando um ângulo de 90º com linha mediana do corpo e

palma da mão para baixo.

Para o cálculo do offset foi criado uma função que recebe a posição estimada pelo

quaternion e calcula a diferença de ângulo entre o vetor posição estimado e o vetor posição de

referência, considerando a posição T. Utilizando o conceito de produto vetorial, também é

calculado um vetor de rotação entre o vetor posição estimado e o vetor posição de referência.

Sabe-se que com um eixo de rotação e um ângulo, tem – se a representação de uma rotação em

eixos e ângulos, usando a equação 17 é possível obter a representação do eixo e ângulo na

forma de quaternion.

O quaternion calculado representa a rotação necessária que o vetor posição estimado

deve realizar para atingir a posição de referência. Dessa forma, a cada novo quaternion calculado

pela DMP do MPU6050 é necessário aplicar o produto de quaternions entre o novo quaternion e

o quaternion de offset aplicando-se a equação 20. Nesse caso, como a multiplicação de

quaternions é não comutativa, deve-se considerar a ordem de multiplicação, logo:

.7IJ = .KLJ ∗ .IMMLKJ (26)

48

Com o protótipo devidamente calibrado, deve-se calcular as posições de cada ponto das

articulações a cada novo quaternion que é recebido pela USB. A partir de uma posição inicial

conhecida do membro superior e de um vetor associado ao mesmo, é possível determinar a

próxima posição do segmento aplicando-se a equação 18, onde .@ é o quaternion unitário

calculado pela equação 26, e ?@ é vetor associado ao semento que será rotacionado e .-� é o

quaternion inverso do quaternion de rotação definido pela equação 19. Logo, serão calculados

quatro pontos novos que representam a nova configuração da estrutura biomecânica dos

membros superiores.

Para calcular ângulos entre os segmentos adjacentes, como por exemplo entre o braço e

o antebraço, é usado o conceito de produto escalar entre dois vetores no espaço tridimensional.

Dado dos vetores v = (x, y, z) e w = (x, y, z), o produto escalar é definido pela equação 27, onde

N é o ângulo entre v e w.

?. P = |?|. |P| ∗ cos!N% (27)

4.4 APLICATIVO DE SOFTWARE PARA COLETA E PROCESSAME NTO DE

DADOS

Foi desenvolvido um aplicativo em MATLAB para coleta e processamento de dados

recebidos pela porta USB, bem como a visualização tridimensional das estruturas biomecânicas

associadas aos movimentos dos membros superiores.

O script em MATLAB primeiro define os vetores que são associados segmentos do corpo,

e declara as posições iniciais de cada segmento e configura o plot da figura tridimensional que

fará a representação da estrutura biomecânica dos membros superiores em tempo real, depois

verifica qual porta USB a placa arduino está conectada, posteriormente executada um protocolo

de ‘handshake’ para iniciar a comunicação com o microcontrolador. Com a porta serial aberta, os

3 quaternions relacionados a cada sensor (S1, S2 e S3) são salvos em buffers diferentes.

Na execução do programa é calculado o quaternion de offset com relação a posição

inicial definida no aplicativo, posteriormente o script apresenta um loop infinito de aquisição de

dados, rotação de vetores, cálculo das novas posições dos segmentos e realiza o plot dos

resultados. A Figura 15 ilustra o plot tridimensional dos segmentos que representam os membros

superiores do corpo humano.

49

5 EXPERIMENTOS DE VALIDAÇÃO

5.1 SENSOR ESTACIONÁRIO

Na primeira etapa de experimentos para a validação do protótipo foi avaliada a leitura dos

sensores considerando o modulo de medição inercial parado com o eixo Z apontando para baixo

rumo ao centro da terra. Essa fase teve como objetivo a avaliação dos valores mínimos de erro

aceitáveis. Os resultados obtidos foram confrontados com os datasheets respectivos de cada

sensor para indicar possiveis falhas de fabriação ou mal funcionamento dos sensores.

Figura 16: Acelerômetro. GY 87 parado sobre a mesa, com o eixo Z apontando para baixo.

Figura 15: Interface do aplicativo de aquisição e processame nto dos sinais.

50

Como pode-se analisar pelas figuras acima, todos os sensores apresentavam um

pequeno ruído, porém este estava dentro das especificações técnicas. O acelerômetro, quando

está parado com o eixo Z apontando para baixo deve medir apenas aceleração da gravidade, ou

seja, +1g (1 unidade g é igual a 9,84 metros por segundo ao quadrado). O giróscopio é capaz de

medir velocidade angular e como o sensor estava parado, os valores medidos deveriam estar

próximos de zero, outro ponto importante a se destacar é o drift inerente ao sistema do giróscopio

e como esse problema influencia na diferença de medida entre os três eixos e também no

Figura 17: Giróscopio. GY 87 parado sobre a mesa, com o eixo Z apontando para baixo.

Figura 18: Magnetómetro. GY 87 parado sobre a mesa, com eixo Z apontando para baixo.

51

processo de integração para se obter os ângulos de rotação do sensor. Já o magnetómetro é

capaz de mensurar o campo magnético da terra e possíveis campos magnéticos externos de

outros equipamentos, esse sensor é bem estável e não apresenta nenhum tipo de drift ou offset,

o único problema está ligado a campos magnéticos externos que podem distorcer as medidas do

magnetómetro e inserir ruídos no sinal, esses campos são gerados por quaisquer dispositivos ou

materiais ferromagnéticos próximos ao sensor, geralmente a distâncias menores do que um

metro.

5.2 UM SENSOR EM DESLOCAMENTO ANGULAR

A segunda fase de experimentos abordou a capacidade que um sensor tem de medir

ângulos em um plano qualquer. Para tal, foi montado um sistema simples com a ajuda de uma

régua e um goniômetro (transferidor) para medir ângulos em relação ao eixo x em um plano xy.

52

Figura 19: Esquema para medir ângulos no pl ano XY usando apenas um sensor.

Para representar o experimento no aplicativo no software MATLAB foram criados quatro

gráficos diferentes, sendo um para representar o plano tridimensional, e os demais para

representar os planos XY, XZ e YZ, respectivamente. Os resultados são ilustrados nas figuras 20,

21, 22 e 23.

Representar a vista dos três planos (XY, XZ e YZ) ajuda a compreender melhor a

representação do sensor no plano tridimensional e também possibilita uma melhor análise gráfica

dos resultados para mensurar os ângulos obtidos.

Nas figuras a seguir, o sensor acoplado a régua foi levantado até atingir um ângulo de 90º

com relação ao plano XY.

53

Figura 20: Representação de um sensor no plano trid imensional formando um ângulo de 90º com o plano xy .

Figura 21: Representação de um sensor no plano XY f ormando um ângulo de 90º com o plano XY.

54

Figura 22: Representação de um sensor no plano XZ f ormando um ângulo de 90º com o plano XY.

Figura 23: Representação de um sensor no plano XZ f ormando um ângulo de 90º com o plano XY.

55

A Tabela 3 ilustra os resultados obtidos para um experimento onde o ângulo medido é

ângulo formado entre o módulo GY87 e o eixo X em um plano XY, desconsiderando o

comportamento do sensor no eixo Z (análise bidimensional). Os resultados obtidos para essa

fase de teste apresentaram uma variação de ±3 graus em todos eixos, ou seja, um erro de até

8% do valor real do ângulo aferido. Esse erro pode estar ligado a diversos fatores, como o

manuseio do sensor durante o experimento, características da placa e sensibilidade dos sensores

a pequenas variações das forças inerciais.

Tabela 3: Angulo Real mensurado pelo transferidor e Ângulo mensurado pelos sensores no plano xy.

Angulo Real (º) Ângulo Mensurado (º) Erro (%)

30 32 6.67 45 41 8.89 60 63 5.00 90 89 1.10

5.3 DOIS SENSORES EM DESLOCAMENTO ANGULAR

Para a terceira etapa de testes para a validação do protótipo foram usados dois sensores,

sobre uma estrutura de madeira que foi construída para simular o movimento do braço e do

antebraço, considerando apenas a articulação do cotovelo. A Figura 24 ilustra todo o

experimento. O objetivo dessa fase de experimentos consistia em avaliar a confiabilidade dos

quaternions para determinar o ângulo entre dois segmentos adjacentes usando dois módulos de

medição inercial

Para mensurar o ângulo formado entre os dois segmentos foram usadas as ferramentas

matemáticas descritas no capitulo 4.3.

A representação da estrutura de madeira na aplicação MATLAB é ilustrada na Figura 25.

Os resultados obtidos nessa etapa são apresentados na Tabela 4.

56

Figura 25: Representação da segunda etapa de validação do pr otótipo usando a estrutura de madeira com dois sensores.

Figura 24: Estrutura de madeira para avaliação da aplicabili dade do quaternions.

57

Tabela 4: Angulo Real mensurado pelo transferidor e Ângulo mensurado entre os dois sensores.

Angulo Real (º) Ângulo Mensurado (º) Erro (%) 45 47 4.45 60 52 13.00 90 85 5.55

180 181 0.55

Observa-se, que para esse experimento os erros de cálculo dos ângulos, são maiores do

que os erros obtidos na primeira fase de teste, esse problema está ligado diretamente a alta

sensibilidade dos sensores, principalmente do acelerômetro, onde qualquer variação das forças

inerciais por ele sentidas implica em uma variação ainda maior dos quaternions obtidos pela DMP

do MPU6050. No MATLAB esse comportamento dos sensores é visto sobre a forma de um

“balançar” ou instabilidade dos vetores (segmentos 1 e 2).

5.4 TRÊS SENSORES ACOPLADOS À MEMBROS SUPERIORES DE

USUÁRIOS

A última etapa de validação do protótipo proposto nesse projeto consistiu em acoplar os

três sensores em cada segmento dos membros superiores de usuários. Dessa forma, o sensor

de referência foi posicionado no peitoral do usuário, mais precisamente sobre o osso externo, o

segundo sensor foi acoplado no braço próximo da articulação do cotovelo e o último sensor foi

acoplado no antebraço próximo a articulação radioulnar.

A versão final do protótipo proposto montado sobre os membros superiores do usuário é

ilustrado na Figura 26. Os segmentos coloridos na Figura 26 ilustram a posição dos segmentos

que são representados na aplicação MATLAB.

Com todos os sensores devidamente calibrados deu-se início a fase final do projeto para

avaliar a confiabilidade ao se realizar movimentos simples e estimar a posição final de cada

membro.

Os movimentos realizados para a avaliação do protótipo foram simples e executados em

uma velocidade moderada para possibilitar a avalição gradativa da mudança na posição de cada

membro do corpo humano.

A primeira posição avaliada é a própria posição de referência

alguns segundos de coleta, é po

mesmos apresentam algum drift com o passar do tempo que possa deteriorar a performance do

software no MATLAB. A Figura

ilustra o resultado obtido na aplicação do

Figura

Como pode-se avaliar, os resultados obtidos s

sensores a posição inicial é de fato a posição de

Figura 27: Avaliação do protótipo

A primeira posição avaliada é a própria posição de referência (posição T)

alguns segundos de coleta, é possível avaliar a estabilidade na leitura dos sensores e se os

mesmos apresentam algum drift com o passar do tempo que possa deteriorar a performance do

Figura 26 ilustra a posição T (referência para o sistema) e a

a aplicação do MATLAB.

Figura 26: Avaliação do protótipo - Posição T (Referência).

se avaliar, os resultados obtidos são satisfatórios. Ao se iniciar a leitura dos

ição inicial é de fato a posição de referência, entretanto após um minuto de coleta

: Avaliação do protótipo - Posição T (Referência) – MATLAB.

58

(posição T). Considerando

ssível avaliar a estabilidade na leitura dos sensores e se os

mesmos apresentam algum drift com o passar do tempo que possa deteriorar a performance do

ilustra a posição T (referência para o sistema) e a Figura 27

Posição T (Referência).

ão satisfatórios. Ao se iniciar a leitura dos

, entretanto após um minuto de coleta

MATLAB.

59

os resultados no MATLAB apresentam um pequeno drift em relação a posição de origem, onde o

segmento base tem uma inclinação e o ângulo entre o segmento do braço e do braço é menor do

que 180º. Esse problema pode estar ligado a pequenos movimentos que usuário pode realizar

involuntariamente durante o tempo de coleta, até porque manter o braço esticado completamente

por um minuto é relativamente difícil e pode até ser um incômodo para o usuário.

A segunda posição avaliada é ilustrada na Figura 28, onde o antebraço está flexionado

formando um ângulo de 90º com o braço, e este possui um ângulo de 90º em relação a linha

mediana do corpo. Os resultados obtidos na aplicação em MATLAB estão ilustrados na Figura

29.

Foi realizado uma coleta com duração de um minuto para avaliar também a estabilidade

dos sensores nessa posição. Os resultados obtidos são satisfatórios e não apresentaram um drift

significativo em relação a posição real. Da mesma forma, os erros obtidos podem estar ligados a

capacidade do usuário em manter a mesma posição por um longo tempo e também a

estabilidade dos sensores.

Figura A última posição analisada é obtida através da sequência de dois movimentos, onde o

usuário inicia a coleta de dados

flexiona a articulação do cotovelo deixando o punho paralelo a linha mediana

seguida o usuário retorna para a posição T e depois rotaciona a articulação do ombro em 90º

com relação a linha mediana do corpo (eixo Z). As sequências dos resultados são

nas Figuras 31 e 32.

Figura 29: Avaliação do protótipo

Figura 28: Avaliação do protótipo - Flexão do braço e antebraço.A última posição analisada é obtida através da sequência de dois movimentos, onde o

a coleta de dados na posição de referência (posição T), posteriormente o usuário

flexiona a articulação do cotovelo deixando o punho paralelo a linha mediana

seguida o usuário retorna para a posição T e depois rotaciona a articulação do ombro em 90º

com relação a linha mediana do corpo (eixo Z). As sequências dos resultados são

: Avaliação do protótipo - Flexão do braço e antebraço

60

Flexão do braço e antebraço. A última posição analisada é obtida através da sequência de dois movimentos, onde o

posteriormente o usuário

flexiona a articulação do cotovelo deixando o punho paralelo a linha mediana Figura 30, em

seguida o usuário retorna para a posição T e depois rotaciona a articulação do ombro em 90º

com relação a linha mediana do corpo (eixo Z). As sequências dos resultados são apresentados

Flexão do braço e antebraço – MATLAB.

Figura

Figura 32: Avaliação do protótipo

Figura 31: Avaliação do protótipo

Figura 30: Avaliação do protótipo - Flexão do antebraço.

: Avaliação do protótipo - Rotação da articulação do ombro

: Avaliação do protótipo - Flexão do antebraço - MATLAB.

61

Rotação da articulação do ombro – MATLAB.

MATLAB.

62

6 DISCUSSÃO

Os resultados obtidos são satisfatórios, mas carecem de melhorias. Durante uma

sequência de movimentos, apesar de possíveis erros de exatidão, conforme mostram as tabelas

3 e 4, o erro mais significativo está ligado a posição do último segmento, ou seja, a posição da

articulação radioulnar.

Considera-se que, devido à instabilidade dos sensores, com um tempo maior de coleta e

uma sequência mais complexa de movimentos, o erro de cálculo da posição de cada segmento

dos membros superiores em relação a posição real dos membros do usuário, apresente valores

ainda maiores o que pode deteriorar a capacidade de rastreamento do sistema.

O protótipo apresentado nesse trabalho é estável mesmo durante longos períodos de

tempo de aquisição e movimentos realizados em uma velocidade mediana, porém carece de

exatidão para a determinação das posições de cada articulação do corpo humano. Quanto mais

63

complicados forem os movimentos realizados maior tende a ser erro da posição dos segmentos.

Caso que acontece durante o movimento de pronação e supinação dos membros superiores.

Os erros de cálculo da posição estão diretamente ligados a instabilidade dos sensores,

principalmente do acelerômetro, que é um sensor muito sensível a qualquer variação das forças

inerciais por ele aferidas.

Outro ponto importante que interfere na exatidão do protótipo é calibração dos sensores.

Para melhorar a exatidão dos sensores é necessário a implementação de uma rotina eficiente de

calibração, principalmente do acelerômetro e do magnetômetro que está sujeito a interferência de

campos magnéticos externos. Calibração é um conjunto de operações que estabelecem, sob

condições especificadas, a relação ente valores indicados por um instrumento de medição e os

valores correspondentes aos padrões utilizados, ou seja, é necessário determinar um offset entre

as leituras aquisicionadas e as leituras reais das unidades de medição inercial.

A despeito dos erros, o protótipo de rastreamento da posição dos membros superiores

usando sensores inerciais provou a viabilidade da técnica de rastreamento proposta. Os

quaternions são bem mais estáveis para realizar rotações de corpos rígidos e aplicação em

cinemática direta, da mesma forma, demandam da necessidade de um baixo processamento da

CPU para calcular todas as posições de cada segmento, em tempo real.

O mesmo protótipo abordando o conceito de ângulos de Euler ou matrizes de rotações

estaria sujeito a outros erros como por exemplo, o Gimbal lock, da mesma forma a necessidade

de processamento aumentaria principalmente para os cálculos que envolvem as matrizes de

rotação.

As principais dificuldades encontradas durante a concepção, confecção e validação do

protótipo, foram:

• Entender, estudar e aplicar os quaternions em cinemática direta;

• Realizar comunicação I2C entre o módulo GY87 e a placa arduino DUE;

• Fazer a leitura de mais de um sensor ao mesmo tempo sem a perda de dados;

• Criar uma rotina de calibração (acelerômetro, giroscópio e magnetómetro);

• Determinar a melhor forma de calcular o quaternion offset para a posição de

referência do sistema.

64

7 CONCLUSÃO

O projeto propõe um protótipo para rastreamento de movimentos do corpo humano que

apresenta diversas vantagens e desvantagens em relação aos sistemas de rastreamento

tradicionais, sejam eles sistemas mecânicos, ópticos, magnéticos ou acústicos. As principais

vantagens do protótipo proposto são: custo relativamente baixo; não existe a necessidade de

marcadores e pós processamento de imagens para estimar a posição do corpo humano, é

possível realizar coletas fora de laboratórios de pesquisa ou grandes estúdios; a portabilidade do

sistema permite aplicação in-home para avaliação da saúde de pacientes. Os pontos negativos

do sistema são: o custo dos sensores está ligado diretamente à sua qualidade, sensibilidade e

erros mínimos aceitáveis de leitura; complexidade dos cálculos, compressão do sistema numérico

dos quaternions e a concepção de uma rotina de calibração dos sensores inerciais e magnéticos.

65

Pode-se concluir que o trabalho obteve sucesso, a despeito das limitações do protótipo e

aos erros na determinação das posições das articulações dos membros superiores. O protótipo

projetado e montado funcionou corretamente, e a comunicação I2C com os sensores foi

implementada com sucesso. O cálculo da posição dos membros superiores, com a aplicação dos

conceitos de cinemática direta e quaternions apresentou os resultados esperados, respondendo

rapidamente e com um erro relativamente pequeno em relação a posição real do usuário.

O projeto avaliou a performance do sistema proposto realizando a análise da capacidade

dos sensores em medir ângulos em relação a pontos fixos ou em relação a outros sensores e

capacidade do sistema em rastrear cada segmento do corpo humano durante a realização de

alguns movimentos. Os resultados obtidos foram aceitáveis indicando que o sistema proposto

para rastreamento de movimentos pode ser integrado em diversas áreas como, controle de

equipamentos eletrônicos, produção e animação de filmes, videogames, treinamento de atletas,

diagnóstico do estado de saúde de pacientes, reabilitação e análise da biomecânica.

Os próximos passos do projeto são, melhorar a rotina de calibração dos sensores

inerciais e magnéticos para um cálculo mais preciso das posições finais de cada segmento;

aplicar o protótipo para a determinação de posições mais complexas como a pronação e

supinação e melhorar o design e portabilidade do protótipo usando o rádio NRF24LE1, que

apresenta um microcontrolador 8051 em mesmo chip, para comunicação por radiofrequência

entre os sensores, criando módulos que poderão ser acoplados a diferentes segmentos do corpo

humano. Dessa forma será possível estender o protótipo para aplicações na captura de

movimentos dos membros inferiores.

66

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9 ANEXOS

70

9.1 ESQUEMA ELÉTRICO MÓDULO GY 87

71

9.2 ESPECIFICAÇÕES DO SENSOR MPU6050 – ACELERÔMETRO

72

9.3 ESPECIFICAÇÕES DO SENSOR MPU6050 – GIRÓSCOPIO

73

9.4 ESPECIFICAÇÕES DO SENSOR HMC5883L