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JOAO CARLOS PALHANO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E ENSINO FUNDAMENTAL OBRIGATÓRIO

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JOAO CARLOS PALHANO

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E ENSINO

FUNDAMENTAL OBRIGATÓRIO

PONTA GROSSA2012

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JOÃO CARLOS PALHANO

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E ENSINO OBRIGATÓRIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para obtenção do título de Bacharel em Direito da Faculdade Educacional de Ponta Grossa – Faculdade União.

Orientadora: Professora Alessandra Comel Mocelin Cordeiro.

PONTA GROSSA2012

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TERMO DE APROVAÇÃO

JOÃO CARLOS PALHANO

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E ENSINO OBRIGATÓRIO

Trabalho de conclusão de curso aprovado como requisito parcial para obtenção

de grau de Bacharel no curso de Bacharelado em Direito da Faculdade

Educacional de Ponta Grossa – Faculdade União, pela seguinte banca

examinadora:

Orientadora: Alessandra Comel Mocelin Cordeiro

Faculdade União

Cleverson Sant’Ana Costa

Faculdade União

Sayonara Saukoski

Faculdade União

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Dedico este trabalho a minha esposa que apoiou

essa jornada e a minha mãe que ensinou-me o princípio do

estudo.

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Agradeço a todos que permitiram e apoiaram essa

conquista: minha esposa e filhos, meus pais e os

professores.

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“Não existe algo difícil e sim algo que ainda não

conhece”. (Abraao Lincon)

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RESUMO

O presente estudo tem como tema “o estatuto da criança e do adolescente e o

ensino fundamental obrigatório”. Para o desenvolvimento desta investigação

organizou-se a seguinte problemática: Qual a política correta para tratar a

evasão escolar e o ensino fundamental obrigatório de acordo com o estatuto da

criança e do adolescente e demais legislações? Quando encontra a resposta

para essa indagação verifica-se que é uma equação diretamente proporcional

entre as evasões escolares no ensino obrigatório e a delinquência juvenil pois,

os adolescentes infratores em geral tem, no máximo, a 5º série do ensino

fundamental. Devem-se aplicar as medidas cabíveis pelo desrespeito ao direito

de crianças e de adolescentes se estes não tiverem acesso ao ensino

fundamental obrigatório. Ainda tem-se como objetivos preceituar a necessidade

de aplicar as medidas socioeducativas cabíveis, de forma preventiva, para

evitar que adolescentes evasivos hoje sejam os adolescentes infratores de

amanhã. Sabe-se, também, que o Estatuto da Criança e do Adolescente

(E.C.A.) e o Código Penal estabelecem diretrizes para o ensino fundamental e

o abandono intelectual.

Palavras chave: Estatuto da Criança e do Adolescente; abandono intelectual;

prevenção, ensino fundamental obrigatório.

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SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

..........................................................................................................8

CAPÍTULO 1

ADOLESCENTE INFRATOR............................................................9

1.1 CARACTERÍSTICAS.................................................................................9

1.2 SUJEITOS DE DIREITOS........................................................................12

1.3 MEDIDAS PROTETIVAS.........................................................................13

1.4 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS.............................................................18

CAPÍTULO 2

DIREITO À EDUCAÇÃO.................................................................24

2.1 DIREITO À EDUCAÇÃO - UM DIREITO FUNDAMENTAL......................24

2.2 ENSINO FUNDAMENTAL.......................................................................25

2.3 OBRIGATORIEDADE DO ENSINO FUNDAMENTAL.............................27

2.4 CARGA HORÁRIA DO ENSINO FUNDAMENTAL..................................31

CAPÍTULO 3

FATORES DE RISCO.....................................................................33

3.1 EVASÃO ESCOLAR................................................................................33

3.2 FAMÍLIA...................................................................................................38

CAPÍTULO 4

ADOLESCENTES INFRATORES E EVASÃO ESCOLAR............41

4.1 EVASÃO ESCOLAR E ESTATÍSTICAS..................................................41

4.2 ADOLESCENTES INFRATORES CUMPRINDO MEDIDA SOCIOEDUCATIVA.......................................................................................44

4.3 ENTES QUE ZELAM PELO ENSINO FUNDAMENTAL OBRIGATÓRIO 47

4.4 PERFIL DO ADOLESCENTE INFRATOR EM RELAÇÃO À ESCOLA....50

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................53

REFERÊNCIAS...............................................................................54

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Esse trabalho constitui-se uma pesquisa bibliográfica da temática:

Estatuto da Criança e do Adolescente e o ensino fundamental obrigatório.

Estudar-se-á também as medidas que são utilizadas para prevenção do

abandono escolar, medidas para assegurar o direito à educação de crianças e

de adolescentes e quais as sanções cabíveis para quem desrespeita esse

direito.

O interesse para o referido estudo são as relações entre evasão escolar

e delinquência juvenil, as quais apresentam uma proporcionalidade.

Além das considerações iniciais e finais o texto se divide em quatro

capítulos, sendo que o primeiro discorre sobre o adolescente e suas

características, medidas de proteção à criança e ao adolescente e as medidas

socioeducativas. Ainda nesse título, apresentam-se também as medidas que

visam à prevenção, as quais são mais adequadas e devem ser aplicadas logo

que seja detectado o problema, principalmente com respeito ao abandono

escolar e a delinquência juvenil.

O segundo capítulo traz um apanhado sobre a educação básica como

direito fundamental, a definição de ensino fundamental obrigatório e suas

características assim como a carga horária.

No penúltimo capítulo tem-se a exposição dos fatores de risco para as

crianças e adolescentes. Faz-se uma análise da importância da família e da

escola na formação do individuo e ainda, as consequências do abandono

familiar e escolar.

No último capítulo, finaliza-se a abordagem do tema com os dados

estatísticos de adolescentes infratores, escolarização e da evasão escolar

sendo que, nesse encerramento traz-se uma análise detalhada das condições

da educação básica no Brasil, bem como algumas entidades que zelam pelo

ensino e o perfil de adolescentes infratores.

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CAPÍTULO 1

ADOLESCENTE INFRATOR

1.1 CARACTERÍSTICAS

Na fase da adolescência, são enfrentadas muitas pressões e mudanças

para definir o lugar do indivíduo na sociedade, através dos estudos, da

profissão ou das relações familiares e sociais, entre outras. Nesse contexto de

mudanças e decisões, o adolescente tenta formas mágicas para solucionar

seus problemas, partindo até mesmo para a criminalidade. Ainda, nessa idade

se envolve em riscos, medos e amadurecimento, como ensina BESSA:

A adolescência é uma fase de metamorfose. Época de grandes transformações, de descobertas, de rupturas e de aprendizados. É, por isso mesmo, uma fase da vida que envolve riscos, medos, amadurecimento e instabilidades. As mudanças orgânicas e hormonais, típicas dessa faixa etária, podem deixar os jovens agitados, agressivos, cheios de energia e de disposição em um determinado o momento. Mas, no momento seguinte, eles podem acometidos de sonolência, de tédio e de uma profunda insatisfação com seu próprio corpo, com a escola, com a família, com o mundo e com a própria vida.1

Portanto, é nesta fase que estão mais inseguros acerca de suas

capacidades e predispostos a receber as influências alheias, em particular, se

estas estão associadas a outros adolescentes do mesmo grupo e faixa etária a

que pertencem. Os adolescentes também anseiam por pertencer ao mundo

dos adultos para quebrar de vez o vínculo com a fase da infância.

Assim como qualquer ser humano, os adolescentes são seres sociáveis,

não vivendo isolados no mundo, sendo necessário, então, analisá-los no

contexto da vida familiar e social. Segundo FERREIRA:

(...) na busca da identidade, o adolescente desloca o sentimento de dependência dos pais para o grupo de companheiros, onde todos se identificam com cada um. (...) Transfere para o grupo grande parte de dependência que tinha da família. (...) Quando os pais ainda desempenham um papel muito importante na vida do jovem, e ele quer afirmar sua independência, procura um líder no grupo, ao qual passa a submeter-se ou, então, ele mesmo assume a liderança grupal, para poder exercer o papel do pai ou da mãe.2

1 PINSKY, Ilana; BESSA, Marco Antonio (Org.). Adolescência e drogas. São Paulo: Contexto, 2004. pag.11.

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Outra explicação sobre o fenômeno da adolescência é dada por

OSÓRIO, que diz ser uma etapa evolutiva e um processo de maturação

biopsicossocial do indivíduo, devendo ser estudado no contexto geral:

A adolescência é uma etapa evolutiva peculiar ao ser humano. Nela culmina todo o processo maturativo biopsicossocial do indivíduo (...) não podemos compreender a adolescência estudando separadamente os aspectos biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Eles são indissociáveis e é justamente um conjunto de suas características que confere unidade ao fenômeno da adolescência3

Nesse processo de formação e desenvolvimento da pessoa, alguns

fatores extrínsecos, como a família, os amigos e a escola ajudam e, às vezes,

determinam o caráter e personalidade dos indivíduos, conforme explica

ABERASTURY:

A adolescência é uma fase de transição, em que há um constante questionamento dos jovens, estes apresentam muitas incertezas sobre o que escutam e acabam se rebelando. Neste período da vida, diversos fatores intrínsecos – biológicos, emocionais e genéticos e também os extrínsecos – a família, escola, os amigos e a comunidade onde vivem, tornam-se determinantes na sua formação, e caso haja falhas neste processo de amadurecimento, as conseqüências tornam complexas e podem produzir danos individuais e para a sociedade4.

Para atender esses sujeitos em constantes mudanças e

desenvolvimento, o legislador criou a Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990,

denominada Estatuto da Criança e do Adolescente, que regulamenta a

proteção para as crianças e adolescentes, assim como, utiliza terminologias

próprias, a exemplo do “ato infracional”.

Os atos praticados por adolescentes, embora sejam descritos na lei

como crime ou contravenção penal, pelas circunstâncias da idade daqueles,

são qualificados como sendo um ato infracional. Assim, para os atos

infracionais praticados por pessoas menores de dezoito anos, não se comina

pena, mas se aplicam medidas socioeducativas.

Denomina-se criança a pessoa com idade inferior a doze anos

incompletos e adolescentes pessoas com mais de doze anos até dezoito anos

2 FERREIRA, Berta Weil. Adolescente: teoria e pesquisa. Porto Alegre: Sulina, 1978, p.43-45.3 OSÓRIO, Luiz Carlos. Adolescente Hoje. Porto alegre: Artes Médicas, 1989. p. 10.4 ABERASTURY, Arminda. Adolescência. Porto Alegre: Arte Médicas, 1980, p. 29.

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de idade. CURY, referindo-se à distinção que o Estatuto da Criança e do

Adolescente dá à criança e ao adolescente, ensina:

A distinção entre “criança” e “adolescente”, como etapas distintas da vida humana, tem importância no estatuto. Em geral, ambos gozam dos mesmos direitos fundamentais, reconhecendo-se sua condição especial de pessoa em desenvolvimento, o que pode ser percebido principalmente no decorrer do Livro I5.

A mesma lei, o ECA, chama adolescentes infratores de penalmente

inimputáveis, conforme o caput do artigo 104. Ainda, prescreve que é

considerada a idade do adolescente à data do fato para aplicar o Estatuto,

adotando-se, para tanto, o critério cronológico-puro, nunca se analisando o

discernimento da pessoa menor de idade, mesmo que a apuração do fato

venha a ocorrer depois de ser alcançada a maioridade penal, conforme

MACIEL escreve quando comenta o supra citado artigo:

Os adolescentes a que se refere este artigo são aqueles na faixa etária entre 12 anos completos e 18 anos incompletos, estando excluídas as crianças, devendo ser observadas, para a aplicação de qualquer das medidas previstas, a idade com a qual contava o adolescente na data da prática do ato infracional, mesmo que a apuração do fato venha a ocorrer depois de atingida a maioridade penal6.

Como adolescentes, mesmo infratores, são pessoas que ainda estão em

constante fase de desenvolvimento, necessitam de proteção integral e absoluta

da família, da sociedade e do Estado, para se desenvolver de forma saudável.

1.2 SUJEITOS DE DIREITOS

Adolescentes infratores, apesar de infringir a lei, têm todos os direitos

assegurados no ordenamento jurídico brasileiro.

A doutrina da proteção integral, após o advento da Constituição Federal

de 1988, representou uma nova era na proteção às crianças e aos

adolescentes. Em conformidade com essa doutrina, pessoas com até dezoito

5 CURY, Munir, Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. 10º edição. São Paulo: Malheiros editores, 2010. p. 21.6 KÁTIA, Maciel, Curso de Direito da Criança e do Adolescente: Aspectos Teóricos e Práticos. 4º edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2010, p . 796.

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anos de idade, independentemente da situação em que se encontrem, devem

ser protegidos e seus direitos devem ser assegurados.

Essa doutrina tem por base a ideia de que crianças e adolescentes são

sujeitos de direitos universais, titulares não apenas de alguns direitos que são

comuns também aos adultos, mas, adicionalmente, de direitos especiais vindos

para atender a condição peculiar de pessoas em desenvolvimento em que se

encontram e esses direitos devem ser atendidos pela família, pelo Estado e

pela sociedade.

A proteção com prioridade absoluta é um dever também da sociedade e,

como ordenamento constitucional, não é um conselho ou uma sugestão, e sim

uma determinação. VERCELONE escreveu sobre a proteção da infância e

juventude:

...o termo ‘proteção’ pressupõe um ser humano protegido e um ou mais seres humanos que o protegem, isto é, basicamente um ser humano que tem necessidade de outro ser humano. Obviamente, este segundo ser humano deve ser mais forte que o primeiro, pois deve ter capacidade para protegê-lo. Como corolário lógico, a proteção pressupõe uma desigualdade (um é mais forte que o outro) e uma redução real da liberdade do ser humano protegido: ele deve ater-se às instruções que o protetor lhe dá e é defendido contra terceiros (outros adultos e autoridade pública) pelo protetor.7

Acertadamente, o autor registrou sobre a proteção integral, pois existe o

protegido (criança e adolescente) e os entes protetores, que são a família, o

Estado e a sociedade.

Sendo assim, deve-se compreender que esta proteção está sempre

vinculada à idade, pois é dirigida às crianças e aos adolescentes, que são

definidos na lei por um critério puramente biológico.

1.3 MEDIDAS PROTETIVAS

As medidas de proteção são aplicadas com o propósito de fazer

cessar as situações de risco, proteger a infância e a adolescência, além de

garantir o pleno gozo dos direitos ameaçados ou violados e resgatar a

fruição desses direitos.

7 VERCELONE, Paolo. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. São Paulo: Malheiros.1992, p. 18-19.

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A Constituição Federal, em seu art. 227, caput, descreve sobre o dever

de colocar crianças e adolescentes a salvo de toda forma de negligência,

devendo ser imperativo que a família, entes públicos e a sociedade assegurem

com absoluta prioridade o direito à vida, à saúde, à educação, entre outros.

A Constituição Federal utiliza o termo “a salvo” referindo-se à proteção,

ou seja, às medidas cabíveis para proteger aqueles que se encontram em

processo de formação e desenvolvimento.

Em 1990, com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente,

ficaram claras quais eram as medidas de proteção, qual a aplicabilidade das

mesmas e quais entes deveriam zelar pelo cumprimento delas. Ressalta-se

que pode ser necessária a proteção por ação ou omissão do Estado, abuso

dos pais e em razão da própria conduta de crianças e adolescentes, conforme

dispõe o art. 98, do Estatuto da Criança e do Adolescente.

O Estado, os cidadãos e as entidades públicas foram chamados para

zelar pela criança e pelo adolescente, conforme escreveu CHAVES:

Aumentou muito, como era indispensável, com o estatuto, a preocupação do atendimento à formação do menor, antes exercida exclusivamente, ou quase, pelo Estado. A assistência, proteção e vigilância são agora tarefas para as quais foram conclamados todos os cidadãos, as entidades particulares e estatais, através da regionalização de todas as providencias cabíveis8.

Entretanto, quais são as medidas de proteção? O Estatuto da Criança e

do Adolescente traz o rol delas elencado no art. 101, caput, rol este não

taxativo.

Essas medidas podem ser aplicadas tanto à criança quanto ao

adolescente que estejam em situação de risco, ou seja, quando estiverem com

seus direitos ameaçados ou violados. Ainda, especificamente, essas medidas

podem ser aplicadas pela autoridade judiciária a adolescentes autores de ato

infracional.

O encaminhamento aos pais ou responsável mediante termo de

responsabilidade é uma medida adequada nas hipóteses em que não há maior

gravidade. Mas, para tanto, devem ser utilizadas cautelas, como ensinou

DIGIÁCOMO:

8 CHAVES, Antonio, Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 2º edição. São Paulo: Ltr. 1997, p. 63.

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Não por acaso relacionada em primeiro lugar, esta medida mostra a preocupação do legislador em realizar as intervenções necessárias com a criança ou o adolescente junto à sua família. Isto não significa, no entanto, que o encaminhamento da criança ou adolescente a seus pais ou responsável (notadamente quando constatado que este se encontra numa situação “de rua” ou tenha fugido de casa, por exemplo) deva ocorrer de forma “automática” e/ou sem maiores cautelas. Como nos demais casos, antes da aplicação desta medida é necessário submeter a criança ou o adolescente atendidos a uma avaliação interprofissional, de modo a descobrir o porquê da situação, que pode ter se originado por grave omissão ou abuso dos pais ou responsável e determinar alguma intervenção (ainda que a título de mera orientação) junto a estes. Deve a medida, enfim, estar amparada por um verdadeiro programa de atendimento, que contemple inclusive previsão de recursos para eventual deslocamento dos pais ou responsável pela criança ou adolescente até o local em que esta se encontre, de modo que aqueles mesmos a tragam de volta a seu local de origem, quando se constatar que esta providência é viável...9.

A orientação, o apoio e o acompanhamento temporários podem ser

realizados pelo Conselho Tutelar ou por serviço de assistência social, ou,

ainda, por serviços especializados do Poder Judiciário, se existirem. Essa

medida tem aplicação nos casos que não sejam hipóteses de tratamento

médico-psicológico e onde não tenha ocorrido omissão imputada aos pais ou

responsável que justifique a aplicação das medidas dos incisos VII ou VIII do

art. 101 do Estatuto.

Ainda, deve restar claro que essa medida tem caráter temporário, para

não se prolongar indefinidamente no tempo, além de conter etapas e metas a

serem cumpridas. São medidas voltadas para um atendimento mais próximo da

criança ou do adolescente, seja em decorrência da própria conduta ou por

conflitos familiares, como explica CURY:

A medida de orientação, apoio e acompanhamento temporário volta-se às crianças e aos adolescentes que necessitam de um suporte mais próximo, seja por sua conduta, seja por conflitos familiares. Ela está intimamente relacionada aos programas oficiais ou comunitários de proteção à família como aos cursos e programas de orientação, embora tenham autonomia.10

9 DIGIÁCOMO, Murillo José. Estatuto da criança e do adolescente anotado e interpretado, Curitiba. Ministério Público do Estado do Paraná. Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente, 2010. Disponível em: http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/42/docs/eca_comentado_murillo_digiacomo.pdf.Acesso em 19 de abril de 2012.10 CURY, Munir, Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. 10º edição. São Paulo: Malheiroseditores, 2010, p. 442-443.

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A matrícula e frequências obrigatórias em estabelecimento oficial de

ensino são ligadas à evasão escolar e às faltas injustificadas à escola. Dentro

desse contexto, observa-se que existem vários problemas que atacam o direito

à educação, a exemplo dos acima citados. Assim, desponta um desafio a todos

que estão envolvidos com o direito à educação. A educação é algo

importantíssimo, a tal ponto que o Estatuto da Criança e do Adolescente

estabeleceu a necessidade de ser dividido o problema, para assim, evitar a sua

ocorrência, deixando de ser um problema somente das instituições de ensino e

passando a ser também de responsabilidade da sociedade e da família.

Verificando-se que o direito à educação está sendo desrespeitado e

violado, é justificada a intervenção dos órgãos responsáveis, conforme

apontados na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Destaca-se que combater a evasão escolar ou reiteração de faltas

injustificadas de crianças e adolescentes são formas de garantir o direito à

educação, ou seja, é uma obrigação de todos, que devem trabalhar de maneira

independente e harmoniosa, para garantir o sucesso da educação. Ressalta-

se, ainda, que o ensino fundamental, mencionado no art. 101, inciso III, do

Estatuto da Criança e do Adolescente é meramente exemplificativo, sendo

possível aplicar essa medida às crianças do ensino infantil e aos adolescentes

do ensino médio, conforme relata DIGIÁCOMO:

Embora a lei faça referência expressa apenas ao ensino fundamental, como o rol de medidas do art. 101, do ECA, é meramente exemplificativo, nada impede a aplicação de medida similar para inclusão de crianças na educação infantil e adolescentes no ensino médio.11

O estudo mais detalhado da evasão escolar e do direito à educação será

feito no próximo capítulo do presente estudo.

As situações do inciso IV do art. 101 presumem violações de direitos de

crianças e adolescentes, envolvendo dificuldades econômicas e financeiras.

11 DIGIÁCOMO, Murillo José. Estatuto da criança e do adolescente anotado e interpretado, Curitiba. Ministério Público do Estado do Paraná. Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente, 2010. Disponível em: http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/42/docs/eca_comentado_murillo_digiacomo.pdf. Acesso em 19 de abril de 2012.

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Assim, a inclusão em programas sociais do Governo tende a amenizar o

problema, principalmente nas ocorrências que envolvem a desnutrição.

Na continuação do art. 101, os incisos V e VI versam sobre hipóteses

que estão envolvidas direta ou indiretamente a questões de saúde ou de

dependência química ou psíquica de drogas ou álcool, ou ainda, qualquer

substância que possa causar dependência. Esses são problemas de saúde

pública e devem ser resolvidos pela sociedade e pelo Estado. A autoridade

aplicadora da medida pode exigir do órgão público o cumprimento dela e, se

não cumprir, estará praticando crime de desobediência, conforme explica

MACIEL:

Ambas as providências vinculam-se ao direito à saúde que, em se tratando de crianças ou adolescentes, deve ser garantido de forma prioritária. É importante lembrar que, juridicamente, requisição é sinônimo de exigir, de determinar, sob pena de o destinatário estar sujeito à sanção. Assim, o não atendimento, pela autoridade competente, à determinação do tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial, importará na prática de crime de desobediência. Embora a lei não utilize o termo requisição para a medida de proteção consistente na inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos,-, certo é que tal medida,quando imposta, não pode ser ignorada pela entidade ou órgão responsável pela sua execução...12

Nos incisos VII e VIII tem-se o acolhimento institucional e a inclusão em

programa de acolhimento familiar. Essas medidas têm, por força de lei, um

caráter provisório e excepcional, sendo uma exceção à regra. Essas medidas

privam as crianças e os adolescentes do direito básico de conviver e ser criada

no seio da família natural. Como essas medidas podem ter consequências

gravíssimas, devem ser aplicadas com cautela, utilizadas apenas em casos

que a convivência da criança ou adolescente em determinado ambiente familiar

lhe seja visivelmente prejudicial, como explica CURY:

As medidas de acolhimento, seja ela institucional-novo nome dado à antiga medida de abrigo em entidade-,seja a familiar, quanto a de colocação em família substituta são uma exceção à regra e ao direito subjetivo da criança e do adolescente de ser criado no seio da família natural...A excepcionalidade significa que o acolhimento é o último

12 KÁTIA, Maciel, Curso de Direito da Criança e do Adolescente: Aspectos Teóricos e Práticos. 4º edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2010, p. 531.

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recurso a ser utilizado, devendo, por isso, ser devidamente fundamentada sua aplicação, porque implica em restrição de direito.13

Conforme dispõe o art. 101, § 2º, do Estatuto da Criança e do

Adolescente, a competência para a aplicação das medidas de acolhimento

familiar, acolhimento institucional e colocação em família substituta é exclusiva

da autoridade judiciária. Entretanto, para situações emergenciais, o Conselho

Tutelar, excepcionalmente, pode retirar a criança ou adolescente do local de

risco onde se encontra, informando o Poder Judiciário imediatamente.

Os acolhimentos institucional e familiar têm como objetivo a proteção de

crianças e adolescentes que estejam em situação de risco e que, por algum

motivo, precisam ser afastados de suas famílias.

No acolhimento familiar, a criança (ou adolescente) é acolhida em uma

família previamente cadastrada, por tempo determinado. A pessoa acolhida

não se torna “filho” daquele lar, mas recebe apoio e carinho desta outra família,

até que sobrevenham condições de voltar à sua família biológica e à

comunidade na qual estava inserida.

Por fim, a colocação em família substituta é uma medida excepcional,

cabível em uma situação de especial gravidade e, de acordo com o art. 28 do

Estatuto da Criança e do Adolescente, "far-se-á mediante guarda, tutela ou

adoção". O objetivo principal dessa medida de proteção é inserir a criança ou

adolescente em uma família que suprirá os encargos da paternidade e da

maternidade, conforme leciona PEREIRA:

As famílias substitutas e os pais sociais cumprem também a função de suprir o abandono e o desamparo, ou pelo menos parte dela, das crianças e adolescentes que não tiveram o amparo dos pais biológicos. Assim, podemos dizer que o ECA, além de ser um texto normativo, constitui-se em uma esperança de preenchimento e resposta às várias formas de abandono social e psíquico de milhares de crianças.14

13 CURY, Munir, Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. 10º edição. São Paulo: Malheiros editores, 2010. p. 449.

14 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. “Pai porque me abandonaste?”. apud KÁTIA, Maciel, Curso de Direito da Criança e do Adolescente: Aspectos Teóricos e Práticos. 4º edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2010, p.151.

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Quanto às medidas de proteção, brevemente aqui expostas, o estudo

será aprofundado no próximo capítulo, no tocante à matrícula e frequência

obrigatória em estabelecimento oficial do ensino fundamental.

Ainda, o Estatuto da Criança e do Adolescente apresenta alguns

princípios aplicados à infância e juventude, para nortear a escolha da medida

de proteção a ser aplicada no caso concreto. Um dos princípios encontra-se

previsto no art. 100, parágrafo único, inciso VI, tendo importância fundamental

na proteção preventiva, pois relata que a “intervenção das autoridades

competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo seja conhecida”,

para que tenha o resultado esperado da prevenção. E, essa é a forma mais

eficaz de proteger os direitos de crianças e adolescentes: o trabalho preventivo.

1.4 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

As medidas socioeducativas encontram-se previstas no art. 112, do

Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo aplicáveis apenas aos

adolescentes que cometem atos infracionais, ou seja, que praticam algum ato

descrito na lei como crime ou contravenção penal.

As medidas socioeducativas são a expressão do Estado em resposta a

um ato infracional cometido por adolescentes, tendo essa aplicação o objetivo

educativo primordialmente, conforme explica FERNANDES:

A natureza jurídica dos atos infracionais é de uma sanção-educação, porque leva em conta não só a retribuição pelo mal praticado, mas principalmente a ressocialização e reinserção do adolescente no convívio social.15

Para a aplicação de qualquer medida, deve-se levar em conta a

capacidade do adolescente de cumpri-la e a gravidade da infração praticada,

conforme dispõe o art. 112, § 1º, do Estatuto da Criança e do Adolescente.

O rol das medidas socioeducativas é taxativo, ou seja, não se pode

aplicar qualquer outra medida sem que exista previsão legal. O juiz pode,

entretanto, aplicá-las isoladas ou cumulativamente. Ainda, não existe uma

ordem para aplicá-las, conforme explica DIGIÁCOMO:

15 FERNANDES, Márcio Mothé. Ação Sócio-Educativa Pública. 2. ed. Revista, atualizada e ampliada. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002, p. 75.

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Por se tratarem de sanções estatais, posto que se constituem na resposta à prática de ato infracional por adolescente,Sendo de natureza coercitiva, as medidas socioeducativas estão sujeitas ao princípio constitucional da legalidade (art. 5º, inciso XXXIX, da CF), não podendo ser aplicadas, a este título, outras medidas além das expressamente relacionadas neste dispositivo. Importante também destacar que não existe prévia correlação entre o ato infracional praticado e a medida socioeducativa a ser aplicada, assim como não existe qualquer “ordem de aplicação” para as medidas socioeducativas aqui previstas...16

O art. 112, do Estatuto da Criança e do Adolescente traz o rol das

medidas socioeducativas que são: advertência, obrigação de reparar o dano,

prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, inserção em regime

de semiliberdade e internação em estabelecimento educacional. Diante do

caso concreto, devem ter prevalência as medidas voltadas ao caráter educativo

e permanência do adolescente em sua família natural, pois se apresentam

mais eficazes na socioeducação e reinserção do mesmo ao meio social, como

explica CURY:

...as técnicas educativas voltadas à autocrítica e à reparação do dano se mostram muito mais eficazes, vez que produzem no sujeito infrator a possibilidade de reafirmação dos valores éticos-sociais, tratando-se-o como alguém que pode se transformar, que é capaz de aprender moralmente e de se modificar...17

A medida de advertência, de acordo com o art. 115 do Estatuto da

Criança e do Adolescente, consiste em admoestações verbais, as quais serão

aplicadas pela autoridade judiciária, sendo reduzidas a termo e colhidas as

assinaturas do adolescente e de seus pais ou responsável. É a medida

socioeducativa mais branda e, para sua aplicação, não são necessárias provas

robustas, sendo suficiente a existência de materialidade e indícios de autoria,

conforme art. 114, parágrafo único do Estatuto da Criança e do Adolescente.

A obrigação de reparar o dano está prevista no art. 116 do Estatuto da

Criança e do Adolescente e prescreve a possibilidade de aplicação da medida

16 DIGIÁCOMO, Murillo José. Estatuto da criança e do adolescente anotado e interpretado, Curitiba. Ministério Público do Estado do Paraná. Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente, 2010. Disponível em: http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/42/docs/eca_comentado_murillo_digiacomo.pdf.Acesso em 19 de abril de 2012. 17 CURY, Munir, Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. 10º edição. São Paulo: Malheiros editores, 2010. p. 537.

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socioeducativa consistente na reparação do dano quando o ato infracional

causar prejuízo patrimonial. A autoridade judiciária tem a faculdade para aplicar

essa medida, devendo analisar o caso concreto, pois em algumas situações,

ainda que exista dano patrimonial efetivo, pode a medida não se mostrar

eficiente à reeducação, caso em que deverá ser substituída por outra mais

adequada ao fim pretendido.

No art. 112, inciso III, do Estatuto da Criança e do Adolescente, tem-se a

previsão da prestação de serviço à comunidade e as condições para sua

aplicação estão elencadas no art. 117. Então, observa-se que a aplicação da

medida de prestação de serviços à comunidade depende de alguns aspectos,

tais como: natureza da infração praticada, compatibilidade com o ato infracional

cometido e capacidade de regeneração e resocialização do adolescente,

conforme explica FERNANDES:

Além de questões tais como aptidão e jornada, pensamos que deve haver uma estreita ligação entre o ato infracional cometido e a tarefa comunitária conferida ao infrator. Pois a medida visa essencialmente um trabalho educativo, de forma que o adolescente possa se conscientizar da gravidade do ato infracional praticado, bem como das consequências dele oriundas. Entendemos serem serviços bastante acertados, por exemplo, atribuir a um adolescente pichador, a obrigação de limpar os muros da cidade; ou aplicar a um atropelador sem habilitação, determinada tarefa no setor de emergência de um manicômio.18

Tem-se, ainda, que essa medida não poderá ultrapassar o prazo de seis

meses e não poderá prejudicar os estudos do adolescente, assim como, seu

cumprimento não poderá exceder oito horas semanais.

A medida socioeducativa de liberdade assistida encontra-se descrita no

art. 118, do Estatuto da Criança e do Adolescente e será aplicada para auxiliar

e orientar os adolescentes infratores, ou seja, sempre que as outras medidas

mostrarem-se inadequadas e insuficientes; é uma medida com um

acompanhamento mais próximo do adolescente.

No cumprimento dessa medida, o adolescente permanece com sua

família, mas é assistido por um orientador que o acompanhará, prestando

auxílio e orientação e garantindo seus direitos fundamentais. O orientador

18 FERNANDES, Márcio Mothé. Ação Socioeducativa Pública. 2º edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002, p. 87.

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21

também transmitirá orientações para a família do adolescente infrator, trazendo

benefícios ao convívio familiar e social, para facilitar a ressocialização daquele.

O orientador estará presente na vida do adolescente e participará

ativamente durante a execução dessa medida, ou seja, em virtude das

restrições pessoais do adolescente, o orientador deve ser um profissional

capacitado, como leciona DIGIÁCOMO:

A liberdade assistida é a medida que melhor traduz o espírito e o sentido do sistema socioeducativo estabelecido pela Lei n° 8.069/1990 e, desde que corretamente executada, é sem dúvida a que apresenta melhores condições de surtir os resultados positivos almejados, não apenas em benefício do adolescente, mas também de sua família e, acima de tudo, da sociedade. Não se trata de uma mera “liberdade vigiada”, na qual o adolescente estaria em uma espécie de “período de prova”, mas sim importa em uma intervenção efetiva e positiva na vida do adolescente e, se necessário, em sua dinâmica familiar, por intermédio de uma pessoa capacitada para acompanhar a execução da medida, chamada de “orientador”, que tem a incumbência de desenvolver uma série de tarefas, expressamente previstas no art. 119, do ECA19.

A medida socioeducativa de semiliberdade está prevista no art. 120 do

Estatuto da Criança e do Adolescente e será aplicada após a instauração do

contraditório e do devido processo legal, quando concluída a apuração do ato

infracional. A semiliberdade é uma medida privativa de liberdade e deve ser

aplicada observando os princípios da excepcionalidade e da brevidade.

No cumprimento da medida de semiliberdade, é obrigatório ao

adolescente a escolarização e a profissionalização. Ainda, essa medida não é

aplicada pelo juiz com prazo determinado, entretanto, não poderá ser superior

a três anos, devendo ser reavaliada, no máximo, a cada seis meses.

A internação é uma medida socioeducativa privativa de liberdade e

restringe o direito fundamental de liberdade do adolescente, devendo, portanto,

ser aplicada somente nos termos do artigo 122 do Estatuto da Criança e do

Adolescente. Dessa forma, evita-se o cometimento de ações que prejudiquem

o desenvolvimento do adolescente.

19 DIGIÁCOMO, Murillo José. Estatuto da criança e do adolescente anotado e interpretado, Curitiba. Ministério Público do Estado do Paraná. Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente, 2010. Disponível em: http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/42/docs/eca_comentado_murillo_digiacomo.pdf. Acesso em 24 de maio de 2012.

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22

O art. 121 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe sobre a

internação e que devem ser observados os princípios da excepcionalidade,

brevidade e respeito à condição peculiar de pessoa em processo de formação

e desenvolvimento em sua aplicação. Dessa forma comenta ISHIDA:

O ECA, visando garantir os direitos do adolescente, contudo, condicionou-a a três princípios mestres: (1) o da brevidade, no sentido de que a medida deve perdurar tão-somente para a necessidade de readaptação do adolescente; (2) o da excepcionalidade, no sentido de que deve ser a última medida a ser aplicada pelo Juiz quando da ineficácia de outras; e (3) o do respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, visando manter condições gerais para o desenvolvimento do adolescente, por exemplo, garantindo seu ensino e profissionalização.20

Sendo essa medida excepcional, o próprio Estatuto da Criança e do

Adolescente prescreveu as hipóteses taxativas em que será cabível sua

aplicação.

A primeira das hipóteses de aplicação é o cometimento de ato infracional

mediante grave ameaça ou violência contra a pessoa. Então, deve haver a

efetiva apuração do ato infracional, garantindo-se o devido processo legal, o

contraditório e a ampla defesa.

A segunda hipótese refere-se ao cometimento de outros atos

infracionais, sendo devidamente apurados e considerados graves, os quais

ensejaram a aplicação de outra medida socioeducativa, com exceção da

internação.

A terceira hipótese constitui-se na conjugação de duas situações que

devem estar presentes, ao mesmo tempo, para que seja aplicada ao

adolescente a medida de internação, sendo elas o descumprimento reiterado

de medidas impostas anteriormente e a ausência de justificativa para esse

descumprimento. Essa medida deve ser aplicada quando as outras se

mostraram ineficazes e não há outra mais adequada, como leciona CURY:

Sem dúvida alguma, o aspecto mais importante do art. 122 se encontra no § 2º, que, literalmente, “inverte o ônus da prova”, obrigando a autoridade judicial a demonstrar que não existe outra medida mais adequada que a internação. A expressão “em hipótese alguma” deve ser entendida no sentido de que, mesmo nas hipóteses

20 ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. 10º edição. São Paulo: Atlas. 2009, p.188.

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dos incs. I e II do art. 122, a privação da liberdade deve ser evitada, existindo, antes dela, outras medidas de caráter mais adequado.21

Diante do exposto, pode-se concluir que a medida socioeducativa será

aplicada ante a demonstração de efetiva necessidade, observando-se o caso

concreto, pois pode impor até mesmo restrição à liberdade do adolescente.

Entretanto, independentemente de qual medida seja aplicada ao caso concreto,

sempre deverá visar o caráter educativo do adolescente infrator.

CAPÍTULO 2

DIREITO À EDUCAÇÃO

2.1 DIREITO À EDUCAÇÃO - UM DIREITO FUNDAMENTAL

A Constituição Federal de 1988 trata do direito à educação de modo

detalhado e o insere no rol dos direitos fundamentais, nos seus art. 205 a 214.

No art. 205, a Carta Magna estabelece a educação como direito de

todos e dever do Estado e da família, tendo por objetivo o pleno

desenvolvimento da pessoa e seu preparo para o exercício da cidadania e

qualificação para o trabalho. Nos artigos 206 e 207, estão previstos os

princípios relativos ao ensino, acesso, gestão, qualidade e profissionais da

educação. As diretrizes obrigatórias do modus operandi estatal no cumprimento

desse direito estão previstas no art. 208. Os conteúdos mínimos do ensino

fundamental, a organização dos sistemas de ensino em regime de colaboração

entre os entes federados, a aplicação de recursos públicos e o plano nacional

de educação estão previstos nos artigos 210 a 214.

A Constituição Federal qualificou a educação como direito fundamental e

social, pois assim prevê o art. 6º: “são direitos sociais a educação, a saúde, o

trabalho (...).” Ademais, existe o caráter social, pois tem-se que esses

21 CURY, Munir, Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. 10º edição. São Paulo: Malheiros editores, 2010. p. 586.

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dispositivos constitucionais, artigos 205 a 214, próprios da educação, estão

inseridos no Capítulo III do Título VIII, denominado “Da ordem social”.

Ainda, o caráter fundamental do direito à educação, citado no artigo

acima, está localizado dentro do Capítulo II - Dos Direitos Sociais, assim como,

contido no Título II, nomeado dos direitos e garantias fundamentais.

Tem-se, assim, a natureza do direito à educação como um direito

fundamental e social explícito no texto constitucional, como leciona NUNES:

(...) os direitos sociais se integram aos chamados direitos fundamentais. Afigura-se estreme de dúvidas que o objetivo de promover a adequada qualidade de vida a todos, colocando o ser humano “a salvo” da necessidade, promove uma “fundamentalização” dos direitos sociais, uma vez que não se pode pensar em exercício de liberdades, de preservação da dignidade humana, enfim, de direitos intrínsecos ao ser humano, sem que um “mínimo vital” esteja garantido caudatariamente a própria vida em sociedade22.

O direito fundamental à educação deve ser assegurado a todos os

brasileiros, de forma indiscriminada e universal. Ainda, constitui pressuposto

para a efetivação do Estado Democrático de Direito, que tem como

fundamento, conforme dispõe o art. 1º, da Constituição Federal, “a cidadania” e

“a dignidade da pessoa humana”. Assim, ao designar a educação como direito

fundamental, o legislador fez uma exposição explícita do valor que atribui à

educação.

Tem-se que toda norma prevista na Constituição Federal deve ser

cumprida e respeitada pelos poderes constituídos, como explica BARCELLOS:

O Estado de Direito constitucional exige que a ação do Poder Público esteja subordinada, isto é, juridicamente vinculada, aos termos da Constituição Federal. Isso não significa que as iniciativas e os atos das autoridades já estejam inteiramente predeterminados pela Carta, mas certamente significa que tudo o que a Constituição dispõe haverá de ser cumprido e respeitado pelos poderes constituídos23.

Conforme entendimento acima, a educação descrita na Constituição

Federal deve ser entendida e efetivada como sendo um direito fundamental.

22 NUNES JUNIOR, Vidal Serrano. A Cidadania social na Constituição de 1988: estratégias de positivação e exigibilidade judicial dos direitos sociais. São Paulo: Verbatim. 2009, p. 63. 23 BARCELLOS, Ana Paula. A Constituição de 1988, a dignidade humana e o direito a educação. Em: ORTIZ, Maria Helena Rodriguez (Org.). Justiça social: uma questão de direito. Rio de Janeiro: FASE, DP&A, 2004, p. 163

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25

2.2 ENSINO FUNDAMENTAL

Antes de 2006, o ensino fundamental obrigatório durava oito anos, tendo

início quando a pessoa tinha sete anos de idade. A partir de 2006, com a

entrada em vigor da Lei 11.274/06, que alterou a Lei 9.394/96 (Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional), a duração passou para nove anos e com

matrícula obrigatória a partir dos seis anos de idade, conforme dispõe o art. 32.

Em 11 de novembro de 2010, com a Emenda Constitucional nº 59, foi

alterado o art. 208 (e seus incisos), da Constituição Federal e, com essas

alterações, foi ampliada a obrigatoriedade do ensino dos 04 aos 17 anos de

idade, regra essa que deve ser implantada até 2016. Então, a educação básica

obrigatória será gratuita de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos de idade,

assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram

acesso na idade própria.

Busca-se atingir, com esse aumento de um ano e a inserção da pessoa

aos seis anos de idade, um número maior de crianças no sistema educacional

brasileiro, especialmente aquelas pertencentes aos setores de risco da

sociedade. É uma medida formada pelas políticas educacionais, focada na

melhoria do ensino. Essa medida tem como meta proporcionar, para crianças e

adolescentes, mais tempo de vivência escolar, assim como melhores

oportunidades de aprender e, com isso, um aprendizado produtivo e uma

escolarização com mais qualidade. O desenvolvimento da Nação tem seus

alicerces no ensino fundamental, conforme PICAWY leciona:

...o desenvolvimento e a sustentabilidade da nação brasileira têm seus alicerces no ensino fundamental, na forma e no conteúdo veiculado no currículo escolar. O ensino fundamental representa o maior e o mais abrangente campo de ação de produção do conhecimento da educação básica; nele ocorre o maior tempo hábil de vida escolar de todos os alunos brasileiros e, portanto, é ele a maior fonte de construção da cidadania brasileira; nele se dão as fases de desenvolvimento humano – afetivo, cognitivo, biológico – perenes ao que todos somos.24

Assim, resta clara a importância da educação básica, tendo em vista que

na infância e na adolescência a personalidade da pessoa adquire força e vigor.

Portanto, deve-se iniciar o processo de aprendizado, para a fase acadêmica e

24 PICAWY, Maria Maira et.al. O Ensino Fundamental no Século XXI. Canoas: ULBRA, 2005, p. 27.

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26

para a vida. Tem-se, ainda, que é um elemento vital para a sociedade, pois a

moral é formada com o ensino, que a transforma em conduta, segundo as

palavras de PEQUENO:

Conjunto de regras, princípios e valores que determinam a conduta do indivíduo, teria sua origem nas virtudes ou ainda na obrigação de o sujeito seguir as normas que disciplinam o seu comportamento. Todavia, a boa conduta poderia também ser determinada pela educação (Paideia) na medida em que o processo educacional forneceria as regras e ensinamentos capazes de orientar os julgamentos e decisões dos indivíduos no seio de sua comunidade.25

O ensino fundamental tem suas regras previstas na Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional (LDB), assim como em outros textos normativos,

como as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, o Plano

Nacional de Educação (Lei nº 10.172/2001), os pareceres e resoluções do

Conselho Nacional de Educação (CNE) e as legislações de cada sistema de

ensino.

2.3 OBRIGATORIEDADE DO ENSINO FUNDAMENTAL

O ordenamento jurídico brasileiro traz muitas referências à

obrigatoriedade do ensino fundamental.

O inciso XXV do art. 7º da Constituição Federal trata sobre a educação

infantil, que deve ser gratuita para os “filhos e dependentes desde o

nascimento até cinco anos de idade em creches e pré-escolas”. Então, até

cinco anos de idade, é garantida pela Constituição Federal a educação infantil

em creches e pré-escolas. Ainda que os pais ou responsáveis não tenham a

obrigação de matricular seus filhos, os órgãos públicos devem oferecer as

vagas para os que assim desejarem.

Também, a educação deve ser promovida e incentivada com a

colaboração da sociedade, conforme dispõe o art. 205 da Constituição Federal,

que diz ser a educação direito de todos e dever do Estado e da família, sendo

promovida e incentivada com a colaboração da sociedade.

25 PEQUENO, Marconi. O fundamento dos direitos humanos. EmZENAIDE, Maria de Nazaré Tavares et al. Direitos humanos: capacitação de educadores. João Pessoa: Universitária/UFPB, 2008, p.36.

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27

Tem-se, ainda, que o Estado tem o dever de garantir que exista o ensino

fundamental em oferta regular para todos os que se encontrarem na faixa

etária própria. De acordo com o disposto no art. 208, inciso I e § 2º da

Constituição Federal, a educação será efetivada “mediante a garantia de

ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que não tiveram

acesso na idade própria“.

De acordo com SILVA, o direito à educação é de todos, cabendo ao

Estado a promoção e a prestação do mesmo:

O art. 205 contém uma declaração fundamental que, combinada com o art. 6º, eleva a educação ao nível dos direitos fundamentais do homem. Aí se firma que a educação é direito de todos, com o que esse direito é informado pelo princípio da universalidade. Realça-lhe o valor jurídico, por um lado, a cláusula – a educação é dever do Estado e da família -, constante do mesmo artigo, que completa a situação jurídica subjetiva, ao explicitar o titular do dever, da obrigação, contraposto àquele direito. Vale dizer: todos têm o direito à educação e o Estado tem o dever de prestá-la, assim como a família.26

Então, quando a legislação determina que a educação é direito de todos

e dever do Estado e da família, significa que o Estado tem o dever de fornecer

a educação para todos universalmente. Sendo assim, a Constituição colocou a

educação entre os direitos essenciais, competindo ao Poder Público, sua

efetivação a todos de forma igualitária. Continuando as palavras de SILVA, que

afirmou sobre o dever do Estado:

Obrigatória, gratuita e universal, a educação só poderia ser ministrada pelo Estado. Impossível deixá-la confiada a particulares, pois estes somente podiam oferecê-la aos que tivessem posses (ou a ‘protegidos’) e daí operar antes para perpetuar as desigualdades sociais, que para removê-las. A escola pública, comum a todos, não seria, assim, o instrumento de benevolência de uma classe dominante, tomada de generosidade ou de medo, mas um direito do povo, sobretudo das classes trabalhadoras, para que, na ordem capitalista, o trabalho (não se trata, com efeito, de nenhuma doutrina socialista, mas do melhor capitalismo) não se conservasse servil, submetido e degradado, mas, igual ao capital na consciência de suas reivindicações e dos seus direitos.27

26 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito constitucional positivo. 33ª edição, rev. e atual. São Paulo: Malheiros. 2009, p. 312. 27 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito constitucional positivo. 33ª edição, rev. e atual. São Paulo: Malheiros. 2009, p. 839.

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28

O Estatuto da Criança e do Adolescente vem ao encontro da

Constituição Federal, conforme dispõe em seu art. 54, incisos I e IV e § 3º, que

fala ser dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente “o ensino

fundamental, obrigatório e gratuito” e atendimento em creches e pré-escolas,

sendo competente o Poder Público para “recensear os educandos no ensino

fundamental, fazer-lhe a chamada e zelar, junto aos pais e responsáveis, pela

frequência à escola”.

Conforme o artigo citado acima, a competência do Poder Público é

recensear, fazer a chamada e zelar pela frequência das crianças e dos

adolescentes à escola, para não se tornar uma lei existente e de império, mas

que não será cumprida e nem exigida a sua efetivação. Assim, o texto manda o

Poder Público averiguar, periodicamente, através de recenseamento e da lista

de presença, a frequência à escola e isso é de vital importância para a

concretização do objetivo buscado. Deve haver, também, um diálogo constante

da escola com pais e responsáveis, para minimizar as faltas e otimizar a

educação dos menores de idade. Assim explica CURY:

Atribui-se ao poder público a competência para recensear os educandos no ensino fundamental, assim como propiciar sua convocação e, mais que isso, estabelecer diálogo permanente com os pais ou responsável, a fim de que se obtenha um alto índice de frequência, o que é de todo certo e salutar28.

O recenseamento escolar é a forma de cadastrar, fazer a lista e

identificar as crianças e os adolescentes de um Município.

A chamada escolar é a comparação da listagem dos alunos matriculados

na escola ou classe do ensino fundamental com a lista dos alunos cadastrados

no recenseamento, tendo como objetivo identificar os alunos ausentes do meio

escolar, a fim de que sejam pressionados e incentivados para a frequência à

escolarização obrigatória. Com tudo isso em mãos, a Promotoria de Justiça

terá a lista das crianças e dos adolescentes aos quais poderá ser aplicada

eventual medida protetiva de matrícula em estabelecimento oficial de ensino.

28 CURY, Munir, Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. 10º edição. São Paulo: Malheiros Editores, 2010, p. 268.

Page 31: TCC Mandar Para Prof

29

Cada sistema de ensino deve procurar o cumprimento da instrução

obrigatória e buscar ajuda em outros órgãos para a efetivação desse direito,

como bem comenta DIGIÁCOMO:

...cada Sistema de Ensino deve desenvolver uma política própria de combate à evasão escolar, devendo prever ações a serem desencadeadas no âmbito da escola e do próprio Sistema, se necessário com a colaboração de outros órgãos públicos (como é o caso das Secretarias de Assistência Social, Saúde, Cultura, Esporte e Lazer - de acordo com a estrutura administrativa de cada Ente Federado), com ações a serem deflagradas desde o momento em que são registradas as primeiras faltas reiteradas e/ou injustificadas. A comunicação ao Conselho Tutelar e ao Ministério Público somente deve ocorrer, portanto, após constatado que tais iniciativas não surtiram o efeito desejado, devendo ser o relato efetuado a tempo de permitir o retorno à escola, ainda com aproveitamento do ano letivo, com a informação acerca de todas as ações desencadeadas junto à criança ou adolescente e também junto a seus pais ou responsável.29

Com esses dados do recenseamento, pode o Poder Público ser

acionado para sancionar o ente que está omisso, com o propósito de fazer

cumprir o direito à educação para as crianças e os adolescentes que deveriam

estar frequentando a escola.

Paralelamente a esse dever e atribuição de zelar pela frequência à

escola, tem-se também a responsabilidade administrativa pelo ensino infantil,

fundamental e médio, distribuída entre os entes da Administração Pública.

Os Municípios têm a responsabilidade pelo ensino fundamental,

enquanto os Estados e o Distrito Federal são responsáveis pelo ensino

fundamental e médio, conforme dispõe o art. 211 da Constituição Federal, que

diz que “a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em

regime de colaboração seus sistemas de ensino” e os Municípios atenderão

prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil, enquanto os

Estados e o Distrito Federal atenderão com prioridade o ensino fundamental e

médio.

Enfim, existem as legislações que versam sobre a obrigação do Estado

de propiciar a educação de forma cooperada ou não, mas como objetivo

principal a educação efetiva, conforme ensina SACRISTAN:29 DIGIÁCOMO, Murillo José. Estatuto da criança e do adolescente anotado e interpretado, Curitiba. Ministério Público do Estado do Paraná. Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente, 2010. Disponível em: http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/42/docs/eca_comentado_murillo_digiacomo.pdf.Acesso em 29 de abril de 2012.

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30

O exercício do direito à educação, [...]. Exige condições materiais que o tornem realidade: a) que seja possível o acesso material a uma vaga na escola, garantia que compete ao Estado assegurar. Os Estados costumam aceitar o direito em suas legislações antes de prever as condições necessárias para exercê-lo; b) possibilidade de assistir regularmente às aulas e permanecer na escola durante a etapa considerada como obrigatória, sem obstáculos provenientes das condições de vida externas ou das práticas escolares internas que possam levar à exclusão ou à evasão escolar; [...]30

Nos próximos capítulos, serão estudados os entes encarregados de

fiscalizar o cumprimento do ensino obrigatório.

2.4 CARGA HORÁRIA DO ENSINO FUNDAMENTAL

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) dispõe sobre

os direcionamentos e procedimentos no ensino. O artigo 23, da LDB enuncia

que a educação pode ser organizada em:

...séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar.

Portanto, como descreve o artigo, a escola tem maleabilidade para

escolher entre fazer o ensino em períodos, semestres, ciclos, entre outros

procedimentos, visando o interesse do processo de aprendizagem. Ainda, no

artigo 23, § 2º, da LDB, tem-se que o calendário escolar deve se adequar às

“peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a critério do

respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o número de horas letivas

previsto nesta Lei”; ocorre, então, uma maleabilidade no horário escolar. Assim,

o horário escolar pode ser adequado às condições climáticas, econômicas e às

peculiaridades locais, desde que não reduza as horas letivas, a critério de cada

ente federativo.

A carga horária obrigatória tem uma padronização nacional mínima,

podendo ser maior, mas não menor do que o estipulado na LDB, que é de

oitocentas horas, distribuídas entre duzentos dias letivos e excluindo-se o

30 SACRISTAN, José Gimeno. A Educação Obrigatória seu sentido educativo e social. Porto Alegre: Artmed. 2001, p.19.

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31

período para a realização dos exames, conforme dispõe o artigo 24 da referida

lei:

A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de acordo com as seguintes regras comuns:I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver;31

Outra particularidade do horário escolar é que existe uma frequência mínima

para aprovação do aluno e será controlada pela escola conforme o seu

regimento. A frequência mínima é de 75% (setenta e cinco por cento) do total

das horas letivas, como descreve o art. 24, inciso VI, da LDB. Sobre isso,

escreveu MENEZES:

...a LDB valoriza a permanência do aluno na escola, aumentando, inclusive, as exigências de freqüência. Na legislação anterior, o aluno com freqüência de até 60% poderia ser promovido mas, pela LDB de 1996, a freqüência de 75% tornou-se compulsória para todos do ensino fundamental e médio. Além disso, estabeleceu aumento do ano letivo de 180 para 200 dias. Apesar de orientar para a ampliação da permanência do aluno na escola, a recomendação da LDB é de que, no ensino fundamental, a jornada escolar seja de pelo menos quatro horas.32

Portanto, o ensino obrigatório tem as próprias particularidades e, vencido

esse tema, analisar-se-ão os benefícios da escola como entidade protetora da

criança e do adolescente e alguns fatores de risco.

31 BRASIL, Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei 9394 de dezembro de 1996, Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em: http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%209.394-1996?OpenDocument. Acesso em: 26 de abril de 2012. 32 MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. "Jornada escolar" (verbete). Dicionário Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora. 2002. Disponível em: http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=16. Acesso em 13/5/2012.

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32

CAPÍTULO 3

FATORES DE RISCO

3.1 EVASÃO ESCOLAR

A escola tem papel importante na sociedade, não só pelo aprendizado

que proporciona, mas por ser um instrumento de educação social e prevenção

à delinquência juvenil. Ainda, adiciona-se a ela a função de integrar os

indivíduos à sociedade, conforme as palavras de ROLIM:

A educação não se manifesta, na sociedade, como um fim em si mesma, mas como um instrumento de manutenção ou transformação social. Com essa compreensão, a educação se mostra como redentora da sociedade, integrando harmonicamente os indivíduos no todo social já existente. Nessa perspectiva, ela é uma instância social voltada à transformação dos indivíduos, tornando-os autônomos, críticos, criativos e produtivos, capazes de desenvolver habilidades, de construir conhecimentos e de se apropriar dos valores éticos, necessários à convivência social.33

Estende-se à escola e aos educadores o dever de estar

harmonicamente empenhados em mudar a realidade da violência, além de

procurar aperfeiçoar as qualidades humanas dos discentes. Assim agindo,

poderão proporcionar mudanças que beneficiarão a sociedade. Segundo

FREIRE:

33 ROLIN, Maria José Esmeraldo. A violência na escola pública: como prevenir e corrigir. Artigos.com: 2008. Disponível em: http://www.artigos.com/artigos/humanas/educacao/a-violencia-na-escola-publica:-como-prevenir-e-corrigir-4248/artigo/ . Acesso em 16/05/2012.

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33

Educador e educando (liderança e massa), co-intencionados à realidade, se encontram numa tarefa em que ambos são sujeitos no ato, não só de desvelá-la e assim, criticamente conhecê-la, mas também no de recriar esses conhecimentos. Deste modo, a presença dos oprimidos na busca de sua libertação, mas que pseudo-participação, é o que deve ser: engajamento34.

No empenho de cumprir sua missão, a escola e os educadores

encontrarão alguns adolescentes que enfrentam problemas de comunicação e

de aprendizagem, e esses fatores podem ser associados a outros, vindo a

somar para a configuração da conduta delinquente. Quando esses problemas

aparecem, começam as dificuldades dentro da escola e, assim, esses

problemas podem culminar em uma série de transtornos escolares, chegando a

problemas de comportamento e evasão escolar.

A escola ainda aparece, em alguns casos, como um local pouco atrativo,

sendo um dos fatores para a evasão escolar. Tem-se, também, o problema da

escola ser um local onde os alunos podem encontrar pessoas viciadas em

drogas, com os quais acabam envolvendo-se no uso delas. Outro problema é a

violência dentro ou nas proximidades da escola, tornando essa instituição

menos atrativa. Assim afirma ASSIS:

A escola apareceu como um local com poucos atrativos para muitos adolescentes, algumas vezes lhes possibilitando encontrar amigos com os quais acabam se envolvendo no uso de drogas ou no cometimento de outras infrações. Dentro dela ou no seu entorno são freqüentes as narrativas de violências vividas ou cometidas por eles. Fica clara, no presente estudo, a precária vinculação que se estabelece entre essa instituição e seus educadores e o adolescente. Também é falho seu papel na disseminação dos conteúdos educacionais formais e como formadora dos princípios éticos e morais. Para a maioria dos entrevistados fracassou como instituição de formação para a vida cidadã.35

Associa-se à escola outra dificuldade que pode levar adolescentes à

área de risco: são as dificuldades de aprendizagem, pois em muitos casos gera

baixos rendimentos acadêmicos, ocasionando repetência de séries e, ainda,

levando-os a ter baixa autoestima. Um bom nível intelectual age como forma de

proteção, ajudando adolescentes a não cometerem atos delituosos, ou seja, os

34 FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 9º ed. Rio de Janeiro: Paz e terra. 1981, p. 61.35 ASSIS, Simone Gonçalves de. et al. Criando Caim e Abel - Pensando a prevenção da infração juvenil. Ciênc. saúde coletiva vol.4 nº1. Rio de Janeiro: 1999. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81231999000100011&script=sci_arttext. Acesso em 16/05/2012.

Page 36: TCC Mandar Para Prof

34

adolescentes com baixo nível intelectual têm maior probabilidade de praticar

atos infracionais violentos do que aqueles com escolaridade normal. A falta de

aprendizado na escola e delinquência são problemas que caminham juntos,

conforme afirma ASSIS:

Uma dificuldade de leitura pode levar uma criança à delinquência juvenil? Cremos que sim. Há uma relação muito estreita entre leitura e pensamento, entre leitura e atitude e mais estreita ainda é a relação entre rechaço e maus leitores, de que modo que as investigações recentes, na psicopedagogia, apontam para um grau de contiguidade entre leitura e delinquência juvenil. O comportamento do delinquente, no meio escolar, em geral está associado com alguma dificuldade de aprendizagem relacionada linguagem. Observamos e constatamos que as dificuldades de leitura e a delinquência juvenil são tipos de problemas que caminham juntos e, portanto, exigem uma intervenção por parte dos agentes e autoridades educacionais...36

Ainda, existe em muitos adolescentes um sentimento de insegurança,

sentimento de que não pertencem à instituição escolar e um sentimento de

fracasso. Isso ajuda a aumentar a baixa autoestima e compromete as

perspectivas futuras, dando ensejo a problemas de comportamento, como

escreveu GALLO:

Quando tais dificuldades estão presentes, surgem dificuldades na escola e, por sua vez, tais dificuldades podem levar a uma série de problemas escolares, culminando em problemas de comportamento. Do mesmo modo, as habilidades verbais inadequadas associam-se a uma multiplicidade de problemas psicossociais37.

A escola é um ente de proteção e gera aprendizado para os indivíduos,

devendo estar pronta e preparada para trabalhar com adolescentes portadores

de distúrbios de aprendizagem. Deve ser dada especial atenção a esse grupo,

pois podem vir a entrar na vida de delinquência. O aluno que fracassa por

diversas vezes na escola é empurrado para a frustração e, se não tiver ajuda,

pode apresentar comportamento antissocial, vindo até a ocasionar a evasão

escolar.

36 MARTINS, Vicente. Delinquencia juvenil e leitura: Pedagogia em Foco. Fortaleza, 2001. Disponível em: <http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/spdslx04.htm>. Acesso em: 16/05/2012.37 STRAUS, M. B. apud GALLO, Alex Eduardo; WILLIAMS, Lúcia Cavalcanti de Albuquerque. Adolescentes em conflito com a lei: uma revisão dos fatores de risco para a conduta infracional. Psicol. teor. prat.: 2005, vol.7, no.1, p.04. ISSN 1516-3687

Page 37: TCC Mandar Para Prof

35

A evasão escolar deve-se também à baixa eficiência dos métodos

educacionais, em sua totalidade, por falhar em ensinar os conteúdos

necessários, levando os discentes à exclusão social por parte dos colegas e

professores da escola. Essa exclusão, por sua vez, leva-os a serem rotulados

de alunos problemáticos, agressivos e outros rótulos depreciativos. Em geral,

esses adolescentes evadem-se das escolas e preferem ser chamados de

bandido, como explica MARTINS:

Quanto mais a criança compreende ideologicamente o mundo mais se envolve com uma práxis da concidadania e se inquieta com as questões de ordem social. Os alunos com dificuldades de leitura e, a cada tentativa, frustrados, são levados a gazear aulas e a freqüentar companhias indesejáveis. Um aluno que fracassa na leitura, fracassa também na hora de ler um problema na matemática ou na hora de fazer um exercício de gramática. Um aluno que fracassa na leitura não encontra sentido algum em ler um Machado de Assis ou ler os versos de um Camões que estão parafraseados na sua canção predileta de Legião Urbana. Um aluno que constantemente fracassa é empurrado de forma perversa para a delinquência38.

Portanto, adolescente que frequenta a escola tem menos chances de

apresentar comportamento antissocial e delinquente, pois com a vivência com

outros que não têm o mesmo comportamento, poderá ser influenciado por eles.

Então, deve ser evitada a evasão escolar para prevenir a delinquência juvenil

ao máximo possível.

Ainda, tem-se que a sociedade age como um termômetro de condutas

sociais que estão ou não de acordo com os seus ditames. A sociedade exerce

o controle do que é social através de sua característica, por vezes até sendo

injusta, taxando determinadas condutas para que as pessoas por ela se

delimitem, ou seja, o individuo está restrito ao controle de seu modo de agir

pela sociedade e, em caso negativo, estará sujeito a uma repreensão, como

explicou QUEIROZ:

(...) sendo incapaz de fazer justiça, prevenir a criminalidade e reinserir o desviado na sociedade, ocorre que o seu impacto nela converte a pena em uma resposta intrinsecamente irracional e criminógena, porque exacerba o conflito social em lugar de resolvê-lo39.

38 MARTINS, Vicente. Delinquencia juvenil e leitura. Pedagogia em Foco. Fortaleza, 2001. Disponível em: <http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/spdslx04.htm>. Acesso em: 18/05/2012.39 QUEIROZ, Paulo de Souza. Do caráter subsidiário do direito penal: lineamento para um direito pena mínimo. Belo Horizonte: Del Rey.1998, p. 45.

Page 38: TCC Mandar Para Prof

36

Assim, devem ser concentrados esforços para adotar mecanismos de

prevenção e supressão da delinquência, valorizando a escola e erradicando a

evasão escolar. Devem-se evitar as faltas reiteradas para que estas não sejam

transformadas em evasão escolar.

Ainda, há o problema que as entidades escolares estigmatizam os

alunos que apresentam problemas de comportamento, não apresentando um

ambiente instrucional adequado, ou seja, não estão utilizando a metodologia

educacional adequada a esses discentes.

A exclusão social que ocorre por causa dos problemas de conduta são

efeitos da ineficiência dos métodos educacionais. Em geral, no ambiente

escolar, o aluno com comportamento agressivo e antissocial que não se

enquadra nas normas da escola é expulso ou convidado a se retirar. Isso tem

um fim trágico, pois esse aluno pode se tornar um adolescente infrator. Dessa

forma, a escola não cumpre um de seus papeis principais, como explica

CAMACHO:

Onde se constatou a ausência de uma ampla abrangência da socialização, a escola não funcionou como retradutora dos valores sociais e terminou por permitir que idéias de discriminação e preconceito invadissem e se estabelecessem no espaço escolar.40

A escola, por ser um ente importantíssimo na sociedade, deve exercer

bem seu papel, para minorar o problema das evasões escolares e diminuir a

delinquência juvenil, como afirma GOMIDE:

A incapacidade de aprendizagem tem sido associada com delinquência juvenil. Quando a criança é rotulada pela professora e pelos colegas como diferente e este diferente tem valoração negativa, poderá ser alienada da sociedade normal. Rejeitada pela instituição, busca outras alternativas, possivelmente as atividades antissociais. Os fracassos escolares que resultam em baixos resultados acadêmicos frequentemente levam a criança a ser rejeitada pelos colegas e hostilizada pela professora. Esta ação, consequentemente, leva a criança ou adolescente a rejeitar os valores do sistema educacional e social e a engajar-se em atividades antissociais para satisfazer suas necessidades emocionais41.

40 CAMACHO, L. M. Y. As sutilezas das faces da violência nas práticas escolares de adolescentes. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 27, n. 1, p. 123, jan./jun.2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ep/v27n1/a09v27n1.pdf>. Acesso em: 18/05/2012. 41 GOMIDE, Paula Inez Cunha. Menor Infrator: A caminho de um novo tempo. 2ºedição. Curitiba: Juruá. 1998, p. 43.

Page 39: TCC Mandar Para Prof

37

Na escola atual, vê-se que ela deixou de cumprir com sua função

preventiva para ser somente repressiva. Ela está sendo uma instituição com

um amontoado de regras que não são explicadas de forma clara. As violações

das regras, dentro da escola, geram autoritarismo pelos administradores e

ainda, o cumprimento delas é feito sem expor os limites e discuti-los. Ao agir

assim, definindo as regras e as penalidades sozinha, a escola se torna

repressiva e a violência é evidente, conforme expõe ORTEGA:

Um exemplo do que consideramos complementar é observar como a intervenção, que melhora a resolução de conflitos, conseguindo que as pessoas aprendam a resolvê-los de forma dialogada, pode melhorar o clima na rede de convivência e, assim, prevenir os fenômenos violentos42.

Portanto, conforme visto, a atuação eficiente da escola é vital para a

prevenção da delinquência juvenil.

3.2 FAMÍLIA

A prevenção da delinquência focada somente na escola não é

recomendada, pois as crianças e os adolescentes devem ser auxiliados em

outras áreas de desenvolvimento e não somente na educacional, a exemplo da

área familiar.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu art. 19, trata do direito

à convivência familiar, já previsto no artigo 227, caput, da Constituição Federal.

No mesmo norteamento, a Resolução n° 2.542 da Assembleia Geral da

Organização das Nações Unidas também consagra a importância da família

para o necessário desenvolvimento da criança e do adolescente, dizendo que

“a família, enquanto elemento básico da sociedade é o meio natural para o

crescimento e o bem-estar de todos os seus membros, em particular das

crianças e jovens”.

A valorização dos laços familiares é muito importante, mesmo na fase da

adolescência, fase essa que precisa de certa autonomia frente aos laços

familiares e suas exigências.

42 ORTEGA, Rosario; Del Rey, Rosario. Estratégias Educativas para a prevenção da violência. Brasília: Ed. Unesco,2002, p.27.

Page 40: TCC Mandar Para Prof

38

A dissolução da família faz com que ela deixe de ser uma instituição

educadora e exemplar para a próxima geração. Com a perda da autoridade do

pai e da mãe, a estrutura familiar deixa de fornecer elementos essenciais às

crianças e aos adolescentes, que são as leis, as regras e os limites.

O pai e a mãe, que representam a autoridade na família, assim como

outros símbolos de autoridade na sociedade pós-moderna, vêm se tornando

obsoletos.

O enfraquecimento da autoridade paterna e materna no seio da família

se torna um enfraquecimento da sociedade, tendo em vista que as gerações

vindouras começam a acreditar que tudo podem e, também, no sucesso fácil a

qualquer preço. Assim, pais e filhos transformam-se em sujeitos plenos de

direitos e sem qualquer dever; sujeitos que pensam que os outros lhes devem

assegurar todos os direitos, no entanto eles nada devem a ninguém.

O enfraquecimento e a dissolução da família são, nas mesmas

proporções, o enfraquecimento e a dissolução da sociedade, pois, crianças e

adolescentes para se desenvolverem saudáveis, moral e psicologicamente,

devem crescer no seio da família, conforme explica WINNICOTT:

A unidade familiar possibilita uma segurança indispensável à criança pequena. A ausência dessa segurança terá efeitos sobre o desenvolvimento emocional e acarretará danos à personalidade e ao caráter... O provimento de coisas materiais, de alimentação entre outros são aspectos importantes para o desenvolvimento de crianças e adolescentes, porém, mesmo que sejam fornecidas em abundancia, o essencial estará faltando se os próprios pais, ou os pais adotivos, ou os guardiões da criança não forem pessoas que assumam a responsabilidade pelo seu desenvolvimento.43

Ainda, pode-se indicar a sociedade do Brasil como um exemplo que

reflete a crise do homem e da sociedade moderna em relação ao controle

social. A escola e a família têm, gradualmente, perdido suas forças para a

fixação de normas que expressem interesses difusos e individuais,

transformando o homem solidário em uma pessoa egocêntrica e competitiva.

Um dos resultados dessa nova sociedade foi o aumento da delinquência;

a família, que deveria ser a base fundamental de toda e qualquer sociedade,

43 WINNICOTT, D. W. Privação e delinquência. Traduzido por: Álvaro Cabral. 3º edição. São Paulo: Martins Fontes. 1999, p. 18-25.

Page 41: TCC Mandar Para Prof

39

está sendo gradualmente esquecida. O Estado deve adotar medidas políticas

cabíveis para o fortalecimento e a revitalização da família.

Ainda, tem-se que os problemas familiares afetam diretamente na

aprendizagem das crianças e dos adolescentes e, consequentemente, podem

acarretar a evasão escolar e a delinquência juvenil, conforme afirma ASSIS:

A importância do fracasso escolar na vida dos entrevistados, principalmente dos infratores, deve ser vista sob diversos ângulos. Os jovens com tais problemas familiares tendem a ir mal na escola; o mau desempenho estimula a ampliação do grupo de amigos, em muitos casos, ligados ao mundo infracional, e também contribui para o sentimento de fracasso na vida e para a baixa autoestima, importantes fatores associados à delinquência.44

A família proporciona uma fonte de ligações básicas à ordem social e

atua como uma trava contra as influências a comportamentos antissociais. O

funcionamento adequado da família ajuda a inibir comportamentos

delinquentes, como descreve FERREIRA:

De acordo com a imagem do delinquente subsocializado, a família convencional proporciona uma fonte de ligações básicas à ordem da sociedade e de envolvimento com as suas instituições e actividades. A família actua como um travão contra as influências desviantes, proporcionando ao jovem uma fonte de motivações para se conformar com as normas e regras sociais. O funcionamento adequado da família ajuda a inibir os impulsos desviantes, limitando a probabilidade de os comportamentos delinquentes ocorrerem. Neste sentido, o controle social é uma variável explicativa da conformidade. Quando a estrutura família se dissolve ou se altera, a família perde a capacidade de supervisionar e controlar os comportamentos dos filhos, aumentando a probabilidade da delinquência.45

Portanto, o Estado deve intervir para mudar a realidade da sociedade

atual, criando políticas públicas para a prevenção da delinquência e auxiliando

as famílias a se manter fortes.

44 ASSIS, Simone Gonçalves de. Filhas do mundo: infração juvenil feminina no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Fiocruz. 2001, p.75.45 FERREIRA, Pedro Moura. Análise social: Delinquência juvenil, família e escola, Lisboa: Iscul. Vol. 32 ISSN 0003-2573 4.a série. 1997. Disponível em: http://opac.iefp.pt/ipac20/ipac.jsp?session=13Y76X047294M.229301&profile=crc&uri=link=3100027~!42462~!3100024~!3100022&aspect=basic_search&menu=search&ri=2&source=~!formei&term=Delinqu%C3%AAncia+juvenil%2C+fam%C3%ADlia+e+escola&index=ALTITLE#focus. Acesso em: 21/05/2012.

Page 42: TCC Mandar Para Prof

40

CAPÍTULO 4

ADOLESCENTES INFRATORES E EVASÃO ESCOLAR

4.1 EVASÃO ESCOLAR E ESTATÍSTICAS

A evasão escolar ocorre quando o aluno deixa de frequentar a escola,

caracterizando o abandono durante o ano letivo.

Devido ao caráter importante e fundamental da educação para as

crianças e para os adolescentes, a evasão escolar torna-se um grande desafio

para as escolas, para os pais e para o sistema educacional. Apesar das

chances de retornarem à escola, crianças e adolescentes voltam em uma

situação de defasagem de idade e série, ocasionando conflitos com os demais

alunos e professores e, possivelmente, outra evasão.

As causas da evasão escolar são muitas e variadas, podendo ser

decorrentes de condições socioeconômicas, culturais, geográficas ou mesmo

questões de encaminhamentos didáticos e pedagógicos e a baixa qualidade do

ensino; todas essas podem ser apontadas como causas prováveis para a

evasão escolar no Brasil.

Os seguintes dados estatísticos do INEP46 (Instituto Nacional de Estudos

e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), considera os alunos matriculados

na rede pública de ensino.

O Brasil tem 194.932 estabelecimentos de educação básica e estão

matriculados 50.972.619 alunos, sendo 43.053.942 (84,5%) em escolas públicas e

7.918.677 (15,5%) em escolas da rede privada.

As escolas municipais têm quase metade das matrículas (45,7%), o

equivalente a 23.312.980 alunos e a rede estadual atende a 38,2% do total, ou

seja, 19.483.910 alunos. A esfera federal, com 257.052 matrículas, tem 0,5% da

totalidade dos alunos.

46 Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Resumos Técnicos. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/resumos-tecnicos. Acesso em: 28 de maio de 2012.

Page 43: TCC Mandar Para Prof

41

Em 2007, 4,8% dos alunos matriculados no ensino fundamental

abandonaram a escola, o que corresponde a quase um milhão e meio de

alunos. Nesse mesmo ano, 13,2% dos alunos que cursavam o ensino médio

também abandonaram a escola, o que significa mais de um milhão de alunos.

Tem-se que em 2010, no Paraná, 37.559 alunos de 6 a 14 anos e

109.214 adolescentes de 15 a 17 anos estão fora da escola. O Estado com

mais crianças e adolescentes de 6 a 14 anos fora da escola é São Paulo, com

164.053, conforme tabela 1, abaixo:

Tabela 1 - Taxas de atendimento escolar da população de 4 a 17 anos em 2000 e 2010 e metas intermediárias do Todos Pela Educação para 2010 e

2011, para as unidades da federação.Taxa de atendimento de 4 a 5 anos (%)

Crianças de 4 a 5 anos fora da escola

Taxa de atendimento de 6 a 14 anos (%)

Crianças e jovens de 6 a 14 anos fora da escola

Taxa de atendimento de 15 a 17 anos (%)

Jovens de15 a 17anos fora da escola

Acre 64,1 11.868

91,8

12.483

77,8

10.741

Alagoas 78,1 24.869

95,2

27.814

80,8

37.306

Amapá 66,7 9.277

95,2

6.547

83,3

7.553

Amazonas 67,2 50.735

91,2

62.297

80,4

44.656

Bahia 84,0 71.563

96,9

72.416

83,7

133.711

Ceará 92,2 20.733

96,9

43.451

81,6

96.604

Distrito 80,7 15.138

97,5

9.549

88,4

15.240

Espírito 80,2 20.289

96,9

15.762

81,0

34.519

Goiás 67,0 60.654

96,8

29.076

83,5

53.267

Maranhão 88,2 31.723

96,2

47.644

83,1

70.172

Mato 71,0 30.087

96,3

18.004

81,3

32.467

Mato 72,4 22.076

96,9

11.689

79,4

28.691

Minas 77,7 121.544

97,5

69.931

83,5

172.506

Pará 72,3 85.653

94,5

80.723

81,5

89.947

Paraíba 85,5 17.578

97,1

17.199

82,0

38.837

Paraná 73,2 81.032

97,5

37.559

80,7

109.212

Pernambu 83,3 47.298

96,3

52.739

82,0

89.158

Piauí 89,3 11.149

97,6

12.742

85,5

26.711

Rio de 85,2 61.331

96,9

67.572

86,9

100.585

Rio 90,1 9.846

97,2

14.178

82,7

32.035

Rio 58,6 114.181

97,2

40.202

82,7

91.871

Rondônia 57,1 23.485

95,9

10.865

80,2

18.965

Roraima 71,1 5.578

91,7

7.551

82,2

5.157

Santa 80,0 33.999

97,8

19.038

80,2

64.579

São Paulo 86,5 151.388

97,1

164.053

85,3

291.797

Sergipe 87,5 8.749

97,2

9.971

85,2

18.593

Tocantins 71,2 15.023

97,0

7.401

84,7

13.135

Page 44: TCC Mandar Para Prof

42

Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010 - Sidra/IBGE.

Em 2008, na 5ª série do ensino fundamental, foram matriculados

4.231.765 alunos. Entretanto, em 2011, na 8ª série, só restavam matriculados

3.065.110 alunos, ou seja, 1.166.655 estavam fora da escola, demonstrando

que existe um problema grande de evasão escolar no Brasil, conforme tabela

2, abaixo:

Tabela 2 - Número de Matrículas no Ensino Fundamental por Série/Ano Brasil 2007 a 2011

Ano Total 1º ano 2º ano 3º ano 4º ano 5º ano 6º ano 7º ano 8º ano 9º ano

2007 1.957.337 4.029.748 4.102.657 3.856.011 3.836.615 4.277.648 3.769.816 3.278.540 3.013.9012008 2.266.667 3.749.503 3.899.166 3.884.405 3.820.698 4.231.765 3.760.732 3.365.933 3.107.831

2009 2.528.631 3.582.152 3.706.870 3.661.063 3.816.902 4.199.197 3.703.875 3.354.061 3.152.777

2010 2.883.191 3.216.170 3.589.029 3.489.360 3.577.958 4.150.365 3.675.161 3.333.061 3.091.046

2011 2.889.679 3.256.130 3.353.203 3.409.352 3.452.406 3.910.955 3.716.031 3.305.774 3.065.110

∆% 2010/2011

-2,1 0,2 1,2 -6,6 -2,3 -3,5 -5,8 1,1 -0,8 -0,8

Fonte: MEC/Inep/Deed 2011

Algumas metas foram traçadas pelo Governo Federal em 2000 para

minimizar o problema de crianças e adolescentes fora da escola. Mas, após 11

anos, essas metas não foram alcançadas. Na região Sul, em 2010, tinha-se a

meta de alcançar 92,7% de atendimento escolar à criança e ao adolescente,

mas cumpriu-se somente 90,2 %, conforme tabela 3, abaixo:

Tabela 3 - Taxas de atendimento escolar da população de 4 a 17 anos em 2000 e 2010, e metas intermediárias de 2010 e 2011 para o Brasil e regiões.

Taxa de atendimento (%) Metas (%)

2000 2010 2010 2011Brasil 83,8 91,5 93,4 94,1

Norte 76,9 87,8 91,8 92,7

Nordeste 84,0 92,2 93,4 94,0

Sudeste 85,8 92,7 94,3 94,8

Sul 82,7 90,2 92,7 93,5

Centro-Oeste 82,8 90,3 92,8 93,6

Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010 - Sidra/IBGE

No Paraná, constata-se que em 2010 a população total era de

“10.444.526, sendo que nessa população 2.392.805 são estudantes de 04 a 17

Page 45: TCC Mandar Para Prof

43

anos. A taxa de abandono da escola, na região sul, em 2010, foi de 3,90%, ou

seja, quase 100 mil alunos”47 estão fora da escola.

No Município de Ponta Grossa, Estado do Paraná, a população

estimada em 2011 era de 314.527 habitantes. Nesse Município, existem 232

estabelecimentos de ensino de educação básica, conforme análise da tabela 4,

sendo que a população em idade escolar, de 5 a 15 anos, é de 71.669 crianças

e adolescentes, conforme tabela 4, sendo o percentual de evasão escolar para

a região Sul de 3,9%. Então, nesse Município, ter-se-ão 2.795 alunos do ensino

fundamental obrigatório fora da escola. Os dados numéricos da tabela 4

seguem abaixo:

Tabela 4 - Docentes e Estabelecimentos de Ensino na Educação Básica - 2011

EDUCAÇÃO BÁSICA DE ENSINO

DOCENTESESTABELECIMENTOS DE

ENSINO

Creche

Pré-escolar

Ensino Fundamental

Ensino Médio

209 79

316 129

2.210 150

981 39

TOTAL 3.504 232

FONTE: MEC - INEP e SEED

Tabela 4 - POPULAÇÃO CENSITÁRIA SEGUNDO FAIXA ETÁRIA E SEXO - 2010

FAIXA ETÁRIA (anos) MASCULINO FEMININO TOTAL

Menores de 1 ano 2.385 2.184 4.569

De 1 a 4 9.404 9.234 18.638

De 5 a 9 12.544 12.324 24.868

De 10 a 14 14.479 13.994 28.473

De 15 a 19 14.392 14.078 28.470

FONTE: IBGE/2012

47SENNA, VIVIANE. Coord.. De olho nas metas 2011 - 4º Relatório de Monitoramento. Disponível em: http://www.todospelaeducacao.org.br/biblioteca/1440/de-olho-nas-metas-2011---4-relatorio-de-monitoramento/. Acesso em: 28 de maio de 2012.

Page 46: TCC Mandar Para Prof

44

4.2 ADOLESCENTES INFRATORES CUMPRINDO MEDIDA

SOCIOEDUCATIVA

Foi feito um levantamento nacional, quantitativo, sobre

adolescentes em conflito com a lei no período de 20/12/2009 a 22/02/2010,

coletando-se informações sobre a execução da medida de internação

provisória e das medidas de internação e semiliberdade no País.

Essas informações foram prestadas pelos gestores estaduais, que as

informaram à Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do

Adolescente (SNPDCA), sendo considerado o período de 20/12/2009 a

30/12/2009 para a coleta dos dados.

Em 2010, havia 17.856 adolescentes cumprindo medidas

socioeducativa. O Estado com menor índice de adolescentes cumprindo

medidas é Roraima, com 49; o Estado com maior índice é São Paulo, com

6.506 adolescentes. No Paraná, verifica-se que o número de adolescentes

infratores é 2.612, de acordo com a tabela 5.

TABELA 5

Levantamento Nacional do Atendimento Socioeducativo ao Adolescente em Conflito com a Lei - 2009

ESTADO

MEDIDAS PRIVATIVAS DE LIBERDADEA) INTERNAÇÃO B) INTERN PROVISÓRIA C) SEMILIBERDADE A+B+C D) OUTRAS TOTAL

GERAL A+B+C+DMASC. FEM. TOTAL MASC. FEM. TOTAL MASC. FEM. TOTAL TOTAL TOTAL

MG 735 29 764 211 11 222 144 10 154 1.140 32 1.172RJ 293 10 303 167 15 182 139 9 148 633 0 633

SP 4.567 202 4.769 913 44 957 472 28 500 6.226 280 6.506

ES 317 7 324 95 13 108 11 0 11 443 65 508

SUDESTE 5.912 248 6.160 1.386 83 1.469 766 47 813 8.442 377 8.819

RN 134 11 145 34 1 35 19 0 19 199 0 199

AL 79 8 87 26 0 26 16 0 16 129 0 129

SE 72 1 73 43 1 44 19 3 22 139 93 232

PI 47 1 48 31 2 33 15 0 15 96 34 130

PE 965 37 1.002 303 27 330 130 9 139 1.471 176 1.647

PB 214 9 223 16 0 16 8 0 8 247 0 247

MA 45 1 46 34 3 37 19 0 19 102 7 109

CE 600 15 615 237 10 247 73 8 81 943 42 985

BA 182 6 188 108 6 114 7 0 7 309 1 310

NORDESTE 2.338 89 2.427 832 50 882 306 20 326 3.635 353 3.988

GO 142 5 147 107 1 108 9 0 9 264 24 288

MS 138 11 149 46 0 46 10 0 10 205 0 205

MT 181 6 187 41 5 46 0 0 0 233 0 233

DF 372 11 383 139 4 143 73 0 73 599 10 609

C.-OESTE 833 33 866 333 10 343 92 0 92 1.301 34 1.335

PR 670 31 701 186 15 201 57 9 66 968 0 968

RS 824 23 847 111 9 120 42 0 42 1.009 28 1.037

SC* 160 4 164 213 10 223 100 11 111 498 109 607

Page 47: TCC Mandar Para Prof

45

SUL 1.654 58 1.712 510 34 544 199 20 219 2.475 137 2.612

AP 50 1 51 39 0 39 12 1 13 103 0 103

PA 123 8 131 73 4 77 38 2 40 248 4 252

TO 51 0 51 9 0 9 21 1 22 82 0 82

AC 225 4 229 51 5 56 22 0 22 307 0 307

AM 65 0 65 17 1 18 10 1 11 94 0 94

RO 189 6 195 13 6 19 1 0 1 215 0 215

RR 14 0 14 15 0 15 9 0 9 38 11 49

NORTE 717 19 736 217 16 233 113 5 118 1.087 15 1.102

11.454 447 11.901 3.278 193 3.471 1.476 92 1.568 16.940 916 17.856Fonte: SNPDCA/SDH/PR

A tabela seguinte apresenta as taxas de crescimento das medidas de

internação, internação provisória e semiliberdade, por Estados, no período de

2008 a 2009. Tem-se, ainda, a taxa nacional de crescimento de internações

inferior a 1%, no período de 2008 a 2009. Entretanto, verifica-se em alguns

Estados a alta nas taxas dessas medidas.

No Paraná houve, nesse período, aumento do número de adolescentes

cumprindo medida de internação e semiliberdade, bem como a diminuição do

número de internação provisória, conforme tabela 6.

Tabela 6

Taxas de crescimento dos Sistemas Socioeducativos

estaduais

ESTADOINTERNAÇÃO INTERNAÇÃO PROVISÓRIA SEMILIBERDADE TOTAL

2.007 2008 2.009 2.007 2008 2.009 2.007 2008 2.009 2.007 2008 2009

MG 618 634 764 231 265 222 69 82 154 918 981 1140

RJ 510 664 303 252 196 182 272 247 148 1.034 1.107 633

SP 4.538 4.328 4769 995 1.011 957 215 422 500 5.748 5.761 6226

ES 320 366 324 188 178 108 0 3 11 508 547 443

RN 155 81 145 36 33 35 36 38 19 227 152 199

AL 59 48 87 22 21 26 12 11 16 93 80 129

SE 73 68 73 56 36 44 13 34 22 142 138 139

PI 34 41 48 60 48 33 5 12 15 99 101 96

PE 894 1.027 1002 307 266 330 100 90 139 1.301 1.383 1471

PB 228 243 223 88 50 16 3 3 8 319 296 247MA 58 55 46 49 39 37 25 18 19 132 112 102

CE 588 584 615 189 168 247 129 94 81 906 846 943

BA 136 165 188 156 123 114 16 2 7 308 290 309

GO 238 108 147 54 54 108 12 7 9 304 169 264

MS 218 219 149 41 46 46 13 53 10 272 318 205

MT 158 167 187 27 35 46 0 0 0 185 202 233

DF 357 388 383 168 200 143 59 59 73 584 647 599PR 570 636 701 227 259 201 35 44 66 832 939 968

RS 923 880 847 217 191 120 21 33 42 1.161 1.104 1009

SC 115 181 164 156 205 223 59 89 111 330 475 498AP 38 34 51 42 33 39 10 11 13 90 78 103

PA 273 278 131 109 92 77 51 30 40 433 400 248

TO 18 29 51 32 11 9 14 15 22 64 55 82

AC 155 182 229 98 95 56 28 12 22 281 289 307

AM 52 61 65 11 26 18 12 3 11 75 90 94

RO 99 251 195 32 27 19 0 2 1 131 280 215

RR 18 16 14 9 7 15 5 5 9 32 28 38

Page 48: TCC Mandar Para Prof

46

BR 11.443 11.734 11.901 3.852 3.715 3.471 1.214 1.419 1568 16.509 16.868 16.940

Fonte: SNPDCA/SDH/PR

As informações trazidas na tabela 7, abaixo, são documentais e

referentes ao período de 2008 sobre a escolaridade de adolescentes infratores

no Paraná. Essas informações indicam que 67,03% estavam evadidos da

escola e 26,79% tinham matrícula regularizada. Ainda, percebe-se que 110

adolescentes (3,75%) já haviam concluído o ensino médio, ou seja, 13

adolescentes eram não alfabetizados (0,49%).

Tabela 7 – Adolescentes infratores no Paraná 2009 ESCOLA ENSINO FUNDAMENTAL

ESTAVAMNÃO

ESTAVAMOUTROS TOTAL

FUNDAMENTALFASE I 102 446 - 548

FASE II 554 1301 - 1855

MÉDIOINCOMPLETO 58 93 - 151

COMPLETO - 110 - 110

NÃO ALFABETIZADOS

- - 13 13

NÃO INFORMARAM - - 22 22

TOTAL 2699Fonte: Secj, 2009.

Tem-se, ainda, que aproximadamente 76% dos adolescentes infratores

abandonaram o ensino fundamental no Paraná, como expõe OLIVEIRA:

As informações estatísticas da SECJ comprovam que a situação da baixa escolaridade é verificada entre os adolescentes em conflito com a Lei do Estado do Paraná, significando que 76,3% dos adolescentes atendidos nos programas de internação provisória e 68,6% dos adolescentes dos programas de internação abandonaram a escola antes de terminar o Ensino Fundamental.48

48 OLIVEIRA, Thelma Alves de; et al ; MARTINS, Deborah Toledo , PEIXOTO, Roberto Bassan ; orgs. Compreendendo o adolescente. 2º edição. Curitiba: Secretaria de Estado da Criança e da Juventude, 2010, p. 54.

Page 49: TCC Mandar Para Prof

47

4.3 ENTES QUE ZELAM PELO ENSINO FUNDAMENTAL OBRIGATÓRIO

A instituição que tem o dever primordial de zelar pela frequência de

crianças e de adolescentes no ensino fundamental obrigatório é a família,

conforme descrito no art. 55, do Estatuto da Criança e do Adolescente: “os pais

ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede

regular de ensino”. Assim, é dever dos pais ou responsáveis matricular e

acompanhar a frequência e aproveitamento dos filhos na escola.

O descumprimento dessa obrigação pelos pais configura crime de

abandono intelectual, como versa o art. 246 do Código Penal: “deixar, sem

justa causa, de prover a instrução primária de filho em idade escolar”, sendo

cabível a prisão do responsável, pelo período de 15 dias a 1 mês.

Os pais devem acompanhar a frequência e o aproveitamento do aluno

na escola. Caso contrário, cometerão uma infração administrativa passível de

multa ou outra medida aplicada pelo Conselho Tutelar. Ainda, a eles podem ser

aplicadas as medidas administrativas do art. 249, do Estatuto da Criança e do

Adolescente, como explica DIGIÁCOMO:

A falta de matrícula do filho ou pupilo, enquanto criança ou adolescente, no ensino fundamental configura, em tese, o crime de abandono intelectual, previsto no art. 246, do CP. Por determinação do Conselho Tutelar ou autoridade judiciária, pais ou responsável podem ser obrigados a matricular seus filhos ou pupilos e acompanhar sua frequência e aproveitamento escolar também no ensino médio, sob pena da prática da infração administrativa prevista no art. 249, do ECA (cf. art. 129, inciso V, do ECA).49

A escola é um fator preponderante para o sucesso na educação, pois

além do ensino que propicia, ela é o ente que faz o controle da frequência dos

alunos. Ainda, compete-lhe a atribuição de comunicar ao Conselho Tutelar, ao

juiz competente e ao representante do Ministério Público os casos de maus-

tratos à criança e ao adolescente, evasão escolar e faltas reiteradas de alunos,

conforme dispõe o art. 12, inc. VIII, da LDB:

49 DIGIÁCOMO, Murillo José. Estatuto da criança e do adolescente anotado e interpretado, Curitiba. Ministério Público do Estado do Paraná. Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente, 2010. Disponível em: http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/42/docs/eca_comentado_murillo_digiacomo.pdf. Acesso em 24 de maio de 2012.

Page 50: TCC Mandar Para Prof

48

Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:(...)VIII - notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz competente da Comarca e ao respectivo representante do Ministério Público a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinqüenta por cento do percentual permitido em lei.50

Tem-se que a instituição de ensino deve esgotar todos os recursos para

trazer o aluno faltoso ou evasivo à escola, como descreve o art. 56 do Estatuto

da Criança e do Adolescente: “os dirigentes de estabelecimentos de ensino

fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de reiteração de faltas

injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares”.

Então, tem-se por dever e competência das escolas e do sistema de

ensino a criação de mecanismos e articulações com a rede de atendimento à

criança e ao adolescente, para o combate à evasão escolar preventivamente.

A escola deve interceder junto à família para saber a razão das faltas dos

alunos, a fim de iniciar as orientações necessárias. Com isso, é feito um

resgate do aluno faltoso. Caso persista o problema, a escola deve fazer uma

avaliação detalhada da condição sociofamiliar.

Após esgotados os recursos que a escola e o sistema de ensino dispõem,

deverão ser feitas as comunicações das faltas reiteradas, enviando-se um

relatório ao Conselho Tutelar e demais autoridades responsáveis, com as

intervenções já realizadas.

O Conselho Tutelar, ao receber a comunicação da escola sobre a evasão

da criança ou do adolescente, deve adotar as providências que achar

necessárias para que essa situação não perdure. O Conselho Tutelar deve agir

como um controle externo da escola, como leciona FERREIRA:

O Conselho Tutelar corresponde ao controle externo da Escola quanto à manutenção do aluno no referido estabelecimento de ensino. Este controle não envolve a atuação da escola e sim o aluno evadido ou infreqüente e seus pais ou responsáveis. Por isso, sua intervenção é supletiva, somente ocorrendo após a escola ter esgotado os recursos para a manutenção do aluno. Está amparada nos artigos 56, II e 136, I e II do Estatuto da Criança e do Adolescente.51

50 BRASIL, Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei 9394 de dezembro de 1996, Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em: http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%209.394-1996?OpenDocument. Acesso em: 01 de maio de 2012.

Page 51: TCC Mandar Para Prof

49

Tem-se ainda que, em relação aos alunos evadidos ou com faltas

reiteradas da escola, o Conselho Tutelar poderá aplicar as medidas de

proteção previstas no art. 101, I a VI, do Estatuto da Criança e do Adolescente.

4.4 PERFIL DO ADOLESCENTE INFRATOR EM RELAÇÃO À ESCOLA

Buscando definir o perfil de adolescentes infratores no Brasil, o

Conselho Nacional de Justiça fez uma avaliação social visando a

implementação de programas voltados para a prevenção da delinquência

juvenil e garantias dos direitos. A pesquisa foi realizada nos seguintes termos:

A pesquisa foi realizada por uma equipe multidisciplinar que visitou, de julho de 2010 a outubro de 2011, os 320 estabelecimentos de internação existentes no Brasil, a fim de analisar as condições de internação a que os 17.502 adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de restrição de liberdade estão sujeitos. Os dados relativos aos estabelecimentos foram registrados por meio de preenchimento de questionários de múltipla escolha. Durante estas visitas, a equipe entrevistou 1.898 adolescentes internos, utilizando questionário específico como instrumento de pesquisa. Além disso, servidores de cartórios judiciais coletaram dados de 14.613 processos judiciais de execução de medidas socioeducativas de restrição de liberdade em tramitação nos 26 estados da Federação e no Distrito Federal.52

Segundo a pesquisa, em média, os adolescentes declararam ter deixado

de estudar entre 8 e 16 anos, parando completamente aos 14 anos. Duas

regiões estão abaixo da média nacional, a região Norte e a Nordeste, como

mostra a tabela 7, abaixo:

Tabela 7 - Média da idade em que o adolescente interrompeu os estudos por região

Região Idade Média

Centro-Oeste 14,2

51 FERREIRA, Luiz Antonio Miguel. Evasão Escolar. Associação Brasileira do Ministério Público. Disponível em: http://www.abmp.org.br/textos/159.htm. Acesso em: 02 de junho de 2012.52 CARVALHO, Reinaldo Cintra Torres de; ISSLER, Daniel,( Coord.). Panorama Nacional - A Execução de Medidas Socioeducativas. Programa Justiça ao jovem. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/images/programas/justica-ao jovem/panorama_nacional_justica_ao_jovem.pdf. Acesso em: 02 de junho de 2012.

Page 52: TCC Mandar Para Prof

50

Nordeste 13,7

Norte 13,7

Sudeste 14

Sul 14,3

Total 14

Fonte: DMF/CNJ - Elaboração: DPJ/CNJ

Os adolescentes foram questionados sobre a vida escolar antes da

internação, sendo que 57% deles declararam que não estavam frequentando a

escola antes da internação nas unidades.

Com referência à escolaridade, a última série cursada por 86% dos

adolescentes infratores entrevistados estava dentro do ensino fundamental, ou

seja, esses adolescentes nem chegaram a concluir a formação básica. Ainda,

tem-se percentual grande cuja última série cursada foi a 5ª ou a 6ª série do

ensino fundamental, conforme conclusão da pesquisa:

Já a escolaridade dos internos apresentou variações regionais. No Centro-Oeste e no Sul os jovens apresentaram percentuais mais altos de educação do que nas Regiões Norte e Nordeste, considerando-se que o mais baixo índice de alfabetização está na Região Nordeste. Quando comparado, por exemplo, com a Região Sul (20% e 1%, respectivamente). No cômputo nacional, houve parcela significativa de analfabetos (8%), não obstante a obrigação dos estabelecimentos em promover a escolarização do jovem privado de liberdade. Os adolescentes, em sua maioria, interromperam seus estudos aos 14 anos, entre a quinta e a sexta série, e não mais frequentavam a escola à época da internação. Verificou-se, portanto, que parcela substantiva não concluiu a formação básica compreendida entre a primeira e a oitava série (89%).53

Assim, analisando-se todos os dados acima trazidos, verifica-se que a

baixa escolaridade dos adolescentes é um fator importante que acaba levando-

os à vida de prática de atos infracionais. Embora o direito à educação seja um

direito fundamental e a internação em estabelecimentos educacionais seja

excepcional no atual ordenamento jurídico brasileiro, verifica-se que são dois

dados intimamente ligados, ou seja, a falta de escolaridade e a prática de atos

53 CARVALHO, Reinaldo Cintra Torres de; ISSLER, Daniel,( Coords.). Panorama Nacional - A Execução de Medidas Socioeducativas. Programa Justiça ao jovem. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/images/programas/justica-ao jovem/panorama_nacional_justica_ao_jovem.pdf. Acesso em: 02 de junho de 2012.

Page 53: TCC Mandar Para Prof

51

infracionais que justificam a internação, que é a medida mais gravosa, pois

priva totalmente a liberdade do adolescente.

Embora a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do

Adolescente tragam a previsão do direito à educação como direito fundamental,

enquanto ele não for retirado do papel e aplicado com efetividade, inúmeros

adolescentes poderão continuar na vida infracional, já que a falta de

escolaridade acaba por acarretar a falta de colocação profissional. Em não

achando um emprego ou um meio de viver, fatalmente acabará o adolescente

recorrendo à vida infracional.

Entretanto, a consciência de garantir o direito à educação à criança e ao

adolescente não é apenas do Estado, sendo coresponsáveis também a família

e a sociedade em geral. Basta que cada um cumpra devidamente com o seu

papel.

Page 54: TCC Mandar Para Prof

52

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da exposição do presente trabalho, alcança-se o objetivo de

analisar o Estatuto da Criança e do Adolescente e o ensino fundamental

obrigatório, ainda os diversos fatores que influenciam crianças e adolescentes

na formação do caráter.

Verifica-se na fase de adolescência, a busca por um lugar na sociedade

e a busca por soluções rápidas para os problemas indo muitas vezes achar a

respostas na criminalidade.

Nesse processo de desenvolvimento, de crianças e adolescentes, o

Estado procurou protegê-los com a criação de medidas de proteção,

exemplificadas no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Observa-se que existem medidas que visam evitar que a criança e o

adolescente abandonem a escola criando assim uma barreira preventiva à

evasão e consequentemente à delinquência juvenil.

Conforme dados apresentados, consideram-se ainda ineficientes os

métodos adotados para combater a evasão escolar existindo no Brasil em

2011, fora da escola, 1.166.655 alunos.

Os adolescentes, ao abandonar a escola, têm maiores chances de

ingressarem na delinquência, conforme lecionam doutrinadores e mostram os

dados estatísticos. Os adolescentes infratores pesquisados haviam

abandonado a escola à época da infração.

Existe uma quantidade alarmante de adolescentes infratores que não

concluíram o ensino fundamental obrigatório e um percentual elevado evadiu-

se da escola na 5º ou 6º série.

Devem-se aumentar a integração das entidades ligadas à proteção dos

direitos das crianças e dos adolescentes com as entidades da educação

fundamental para juntas prevenirem o abandono escolar e a delinquência

juvenil.

Page 55: TCC Mandar Para Prof

53

Com tais considerações, finaliza-se esse breve trabalho, porém, existem

inesgotáveis reflexões acerca do assunto para serem debatidos.

Page 56: TCC Mandar Para Prof

54

REFERÊNCIAS

ABERASTURY, Arminda. Adolescência. Porto Alegre: Arte Médicas, 1980.

ASSIS, Simone Gonçalves de; et al. Criando Caim e Abel: Pensando a

prevenção da infração juvenil. Ciênc. saúde coletiva vol. 4 nº1. Rio de

Janeiro: 1999. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-

81231999000100011&script=sci_arttext. Acesso em 16/05/2012.

ASSIS, Simone Gonçalves de. Filhas do mundo: infração juvenil feminina

no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2001.

BARCELLOS, Ana Paula. A Constituição de 1988, a dignidade humana e o

direito a educação. Em: ORTIZ, Maria Helena Rodriguez (Org.). Justiça

social: uma questão de direito. Rio de Janeiro: FASE, DP&A, 2004.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. Presidência

da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm.

Acesso em: 26 de abril de 2012.

_______. Diretrizes e Bases da Educação Nacional.Lei 9394 de dezembro de

1996,Presidência da República,Casa Civil,Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Disponível em:

http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei

%209.394-1996?OpenDocument. Acesso em:26 de abril de 2012.

_______. Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Nº8.069 de 13 julho de

1990,Casa civil,Subchefia para Assuntos Jurídicos;disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm,acesso em 19 de abril de

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