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Pontifícia Universidade Católica – PUC/SP
Curso de Jornalismo
Instantes de Uma Vida Criada
Mariana Guimarães de Araujo
São Paulo
2014
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Pontifica Universidade Católica – PUC/SP
INSTAGRAM – Instantes de Uma Vida Criada
Trabalho de Conclusão de Curso da
Faculdade de Filosofia, Comunicação,
Letras e Artes (FAFICLA), do curso de
Jornalismo da Pontifícia Universidade
Católica (PUC-SP).
Orientador: Prof. Dr. Silvio R. Mieli
Mariana Guimarães de Araujo
São Paulo
2014
3
Araujo, Mariana Guimarães de
Instagram – Instantes de Uma Vida Criada
Mariana Guimarães de Araujo. -- São Paulo : [s.n.], 2014.
48p.
Bacharelado em Jornalismo – Faculdade de Filosofia,
Comunicação, Letras e Artes da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo.
Orientador: Prof. Dr. Silvio R. Mieli
4
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais e a minha irmã, que acompanharam todo o processo de
desenvolvimento do meu trabalho e me fortaleceram nas horas difíceis desta
trajetória.
Ao professor Silvio Mieli, pela orientação, apoio, paciência e por ter me ajudado
a enxergar além do visível.
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SUMÁRIO
Apresentação......................................................................................................6
Introdução...........................................................................................................7
Consumo e Desejos............................................................................................9
Indústria da Experiência....................................................................................12
Publicidade e Marketing....................................................................................13
Instagram..........................................................................................................17
Selfie.................................................................................................................23
Imagem e Controle............................................................................................37
Conclusão.........................................................................................................44
Referências Bibliográficas
1.1 Livros...........................................................................................................46
1.2 Estudos........................................................................................................47
1.3 Textos Eletrônicos.......................................................................................47
1.4 Acervos Digitais...........................................................................................47
1.5 Fontes..........................................................................................................48
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APRESENTAÇÃO
Após 1880 as relações entre a compra dos produtos e os desejos mudaram
graças a três invenções: a marca, o marketing e a publicidade. Empresas de
diversos segmentos passaram a investir em pesquisas e novos artifícios de
venda com o intuito de conhecer o seu consumidor.
Os investimentos destas marcas em publicidade cresceram tanto, que esta
atingiu limites que vão para além do visível. Somos condicionados a admitir
imagens carregadas de valores há décadas, principalmente após a criação da
internet, quando a publicidade se uniu à mídia.
Estamos sobre influência dos conceitos difundidos pela publicidade e em razão
disso, passamos a carregar alguns signos invisíveis das imagens. Estes são
espelhados na nossa vida real e os admitimos como verdadeiros e absolutos.
Por causa do avanço da tecnologia, compartilhamos esta personalidade criada
por nós mesmos em diversas redes sociais. Entretanto reduziremos o foco
desta análise para a ferramenta Instagram e as influências deste
bombardeamento de imagens pela publicidade.
Por que compartilhamos estes instantes íntimos? Como isto influencia a nossa
vida pessoal e nossas interações sociais? Quais são os efeitos na nossa vida
real com a criação de um “eu” virtual?
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INTRODUÇÃO
“Ai meu Deus! Ele curtiu minha foto no Instagram! O que você acha que isso
significa?”, uma amiga me confidenciou. A minha resposta veio
automaticamente, como o disparo de uma câmera: “não significa
absolutamente nada além de um clique no botão curtir, ele gostou da sua foto,
achou interessante e ponto final”. Mas nesta era das relações via curtidas, eu
estava errada. Significava, sim, alguma coisa.
Um mero curtir no Instagram em tempos de amizades virtuais pode ser
traduzido de diversas maneiras. A pessoa achou sua foto legal, ela está
interessada em você ou então vê, por meio da curtida em uma foto sua, uma
maneira de mostrar que existe.
“Nossa, esse cara é demais! As fotos dele no Instagram são incríveis! Ele tem
tudo a ver comigo”, disse outra amiga. Ainda não consigo entender como as
pessoas encontram afinidades, mesmo que mínimas, por meio de fotos. Mas
elas com certeza encontram. Apesar de ser apenas uma imagem, em um
museu, na praia ou na balada, e mesmo que a pessoa em questão tenha ido
apenas uma vez a qualquer um destes lugares, uma imagem transmite
interesse naquilo. Mesmo que essa pessoa não goste de arte, deteste ir à
praia, odeie balada e só tenha gostado daquela foto em particular.
Acho que é por isso que nos decepcionamos tanto quando conhecemos essas
pessoas na vida real: elas são tão mais interessantes na vida virtual, têm tantos
amigos, uma vida tão agitada e maravilhosa. Mas será que elas realmente têm
uma vida tão intensa assim? O problema é que nos acostumamos a julgar as
pessoas apenas pela sua imagem que, na maioria das vezes, podem ser
editadas, manipuladas e compartilhadas.
“Ele nem é tudo isso que parece ser no Instagram dele. Eu o achava muito
bonito, mas ao vivo, brochei”, comentou outra pessoa. E novamente, meu
pensamento veio a milhão (e ainda bem que não compartilhamos nossos
pensamentos da maneira que compartilhamos fotos, caso contrário eu seria
considerada uma pessoa muito insensível): mas é claro que ele não é igual ao
que ele mostra no Instagram dele, porque ele, como ser humano, vai muito
além de um perfil em uma rede social.
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Como minha cabeça (às vezes) funciona muito mais rápido do que qualquer
máquina, pensei em seguida: “por que se decepcionar com aquele cara que
não é tão bonito quanto você imaginou? Você o conhece? Se não, que
diferença faz se ele é ou não menos interessante na vida real?”
Veja só, não faz diferença, porque essa minha amiga talvez jamais conheça
aquele cara. Ou conheça e perceba que ele é realmente uma pessoa muito
interessante e nem ligue mais pro Instagram dele. A questão é que a imagem
pela imagem virou assunto rotineiro nas conversas.
Julgamos os outros a partir da imagem: “Você viu as fotos dela? Ela engordou
demais!”, “Nossa, ele está viajando de novo, não para nunca!”, “Esse aí tá bem
de vida!”, “Que inveja dessas fotos! Queria muito ter ido naquela festa, deve ter
sido incrível!”. Estes são alguns exemplos de comentários que escuto quase
todos os dias e, como também não sou tão perfeita quanto o meu perfil no
Instagram, sem querer me vejo pensando as mesmas coisas.
Mas como escapar deste ciclo se, quando me reúno com meus amigos, me
vejo sentada em uma roda onde todos só conseguem olhar para a tela do
celular? Ou quando estamos todos juntos conversando, mas o motivo principal
daquela reunião parece ser, adivinhe, uma foto em grupo para ser
compartilhada imediatamente? Como posso fugir disso se essa compulsão
doentia pela imagem me persegue o tempo inteiro?
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CONSUMO E DESEJOS
E se houvesse um lugar onde podemos ser quem nós quisermos? E se
pudéssemos estar sempre felizes nesse lugar? E se, nesse lugar, tudo fosse
ser perfeito?
Com a crescente evolução da tecnologia, conseguimos criar este lugar: o
Instagram. Esta ferramenta permite que qualquer pessoa ou marca crie e
exponha sua identidade da maneira que escolher, de modo que uma vida
inteira possa ser reduzida a algumas fotos, alguns momentos, perfeitos e
imutáveis. Vale ressaltar que quando digo "qualquer pessoa ou marca", é
porque ambos têm oportunidade de criar a sua imagem e vender, um produto
ou sua própria identidade, através desta mesma vitrine, o Instagram.
Nosso sistema de consumo mudou antes mesmo da criação da publicidade e
do marketing, porém, a evolução destas técnicas fez com que a maneira que
desejamos e compramos coisas mudassem, influenciando diretamente na
nossa felicidade. Propagandas vendem mais do que apenas produtos, vendem
valores, imagens e conceitos de amor, sexo e sucesso. Ainda mais do que
isso, elas nos dizem quem somos e até pior, quem devemos ser.
Com o uso crescente de smartphones em todo o mundo o site eMarketer
calculou que até o final de 2014 teremos 1.75 bilhões de pessoas usando
smartphones a publicidade alcança um novo patamar, onde é possível
postar e atingir possíveis compradores e seguidores em tempo real.
Porém, este cenário nem sempre foi configurado dessa maneira. Antes da
publicidade e de toda a tecnologia, as marcas vendiam apenas produtos de
acordo com a necessidade básica dos consumidores. Já atualmente, as
marcas vendem estilos de vida e conceitos que interferem não só nos nossos
desejos, mas também na nossa personalidade e vida pessoal. Mas como isto
aconteceu?
Com o surgimento das máquinas após a segunda revolução industrial ocorre a
democratização dos bens materiais. Nesta mesma época, que se estende
aproximadamente entre 1880 e o final da Segunda Guerra Mundial, com a
produção em maior escala de produtos, surgem as marcas, o que foi apenas o
início de uma transformação na maneira em que compramos.
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Antes do surgimento das marcas, as pessoas compravam apenas porque
precisavam de produtos para sua subsistência, como açúcar, farinha, arroz e
assim por diante. Esta foi a primeira mudança significativa na maneira de
consumir: o ato de comprar não é mais motivado apenas pela necessidade, os
produtos agora são escolhidos pelo seu nome, pela sua marca.
A partir daí surgem grandes hipermercados e magazines, a produção, rotação
dos produtos e criação de novas marcas cresce em um ritmo muito acelerado.
Esta nova maneira de produzir fez com que o ritmo do consumo também
aumentasse, criando uma nova lógica: compro não apenas para suprir minhas
necessidades básicas, mas sim para acompanhar a moda. Esta mudança cria
uma nova sociedade de consumo, termo que apareceu pela primeira vez em
1920. Em seguida passamos para a fase da democratização do desejo: as
marcas passam a convencer o comprador pela sua variedade.
Mais produtos são colocados à disposição do consumidor e substituídos
rapidamente por novos, fazendo com que a lógica da moda seja rápida e
reciclável. Assim, as marcas passam a criar novos desejos para que o seu
público compre cada vez mais. As novas facilidades fazem com que a
"sociedade de consumo de massa" busque freneticamente um cotidiano
confortável e fácil, que passa a ser visto como sinônimo de felicidade. A lógica
básica é: quanto mais eu satisfizer meus desejos, terei mais conforto e as
coisas materiais que "preciso", portanto serei mais feliz.
Logo podemos concluir que nesta fase possuir bens materiais é uma das
coisas que mais nos satisfaz e nos faz feliz. Essa "necessidade" que temos de
obter coisas materiais para ser "feliz", foi bem descrita por Clarice Lispector
neste trecho do seu conto "A menor mulher do mundo":
Foi em outra casa que um menino esperto teve uma ideia esperta: — Mamãe, e se eu botasse essa mulherzinha africana na cama de Paulinho enquanto ele está dormindo? quando ele acordasse, que susto, hein! que berro, vendo ela sentada na cama! E a gente então brincava tanto com ela! a gente fazia ela o brinquedo da gente, hein! A mãe dele estava nesse instante enrolando os cabelos em frente ao espelho do banheiro, e lembrou-se do que uma cozinheira lhe contara do tempo de orfanato. Não tendo boneca com que brincar, e a maternidade já pulsando terrível no coração das órfãs, as meninas sabidas haviam escondido da freira a morte de uma das garotas. Guardaram o cadáver num armário até a freira sair, e brincaram com a menina morta, deram-lhe banhos e comidinhas, puseram-na de castigo somente para depois poder beijá-la, consolando-a. Disso a
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mãe se lembrou no banheiro, e abaixou mãos pensas, cheias de grampos. E considerou a cruel necessidade de amar. Considerou a malignidade de nosso desejo de ser feliz. (Lispector, 1960. Laços de Família).
Nesse caso, a falta de uma boneca, fez com que as órfãs passassem por cima
de valores morais e éticos, e brincassem com uma menina morta, apenas para
suprir sua necessidade de ser feliz, para ter com o que brincar.
Neste mesmo conto de Lispector, um explorador descobre a menor raça de
pigmeus do mundo no Congo Central e lá se aproxima da menor mulher já
vista no mundo, que estava grávida. Sendo esta a menor raça já encontrada
em todo o mundo, os pigmeus estavam próximos da extinção, por isso suas
preocupações e necessidades se resumem a apenas uma coisa: não ser
comido.
Na profundeza da floresta, amor tem um significado diferente do que estamos
acostumados. Amor é sinônimo de não ser comido. Já dentro da lógica do
consumo o amor também tem significados diferentes, considerando que o
dinheiro e as coisas materiais, para algumas pessoas, são mais valiosos do
que uma pessoa caridosa, educada, inteligente, enfim, com uma personalidade
louvável. Clarice dá ênfase à "suscetibilidade que exige que seja de mim, de
mim! que se goste, e não de meu dinheiro". Ou seja, esperamos que valorizem
o nosso ser e não as nossas posses, mas quando vivemos em uma sociedade
movida por desejos de consumo, o ter às vezes fala mais alto do que o ser.
No final do conto, a menor mulher do mundo, que até então só conhecia a
felicidade de não ser comida, ficou feliz ao ganhar do explorador uma árvore só
sua para morar e, apesar de não se comunicar com palavras, já que sua vida
curta e ameaçada constantemente por predadores fez com que sua tribo
usasse apenas sinais simples para palavras como sim e não, "seus olhos se
tornaram tão escuros que o disseram" que possuir é muito bom e também
exerce um grande papel em nossa felicidade.
Aqui a excitação por causa da novidade também está presente. Antes, sua
felicidade se resumia apenas em não ser comida, mas quando o explorador
oferece à menor mulher do mundo uma árvore só sua para morar ela
experimenta algo novo, a sensação de posse, que faz o seu coração se encher
de alegria.
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INDÚSTRIA DA EXPERIÊNCIA
A felicidade que o consumidor sente quando possui algo material ainda existe,
porém este passa a buscar menos a posse das coisas por si mesmas e mais a
multiplicação de experiências, a felicidade por meio de sensações e emoções
novas.
A indústria da experiência entra em ação, cria ambientes estereotipados e faz
com que o consumidor experimente o inesperado nestes locais mercantis
programados. Ele espera mergulhar em um fluxo de sensações excepcionais,
acessar um estado quase mágico, totalmente desconectado do real, um estado
permanente de euforia criada, onde o começo e o fim estão cronometrados,
assim como nos filmes.
Isso não significa que exista confusão entre o real e a ilusão, o que ocorre é um
deslumbramento pelos artifícios e efeitos utilizados, um prazer ligado a um
universo concreto, mas que é estruturado pelo imaginário, pelas sensações, e
que dura apenas até o consumo terminar.
Este comprador busca ocupar seu tempo com diversas atividades, como
festas, excursões, práticas ao ar livre e musicais. Esta organização de seu
tempo é o desejo de retomar o controle sob seus próprios prazeres, de
escolher suas próprias experiências, uma tentativa de se desvencilhar do
mercado. Surge aí um paradoxo, pois de um lado, o consumidor quer
experiências quase irreais, de outro, quer um mundo real e íntimo que se
pareça com ele, uma maneira de tentar descobrir o seu "eu" autêntico.
O consumo dos bens materiais segue a mesma lógica do consumo do lazer,
com uma lógica de experiências. O shopping, por exemplo, cria uma atmosfera
recreativa e de distração, uma ocupação, um divertimento para todos. Mas
como funciona essa compra interativa? Como as marcas conseguem atrair este
consumidor que busca novas experiências? É aí que entram as táticas da
publicidade e do marketing, onde a imagem difundida pelas marcas e a
interação por meio das redes sociais, cria uma experiência totalmente nova na
hora de realizar a compra, porque além de adquirir certo bem material, as
pessoas tomam a imagem arquitetada pela marca, como sua.
13
PUBLICIDADE E MARKETING
A lógica do consumo já estava presente há muitos anos, mas surge depois o
que influenciou intensamente na maneira que desejamos e no nosso conceito
de felicidade: a publicidade e o marketing. Estas ferramentas eram utilizadas
inicialmente apenas como um meio de divulgação, para que a marca tivesse
maior reconhecimento no mercado, porém, após algum tempo, a publicidade e
o marketing passam a usar técnicas que opõem as classes sociais, sendo o
consumo interpretado como uma lógica de diferenciação social.
Devemos aqui fazer outra constatação: no capitalismo sempre haverá
diferenças entre as classes sociais, logo, se o consumo é interpretado com
esta lógica, os desejos jamais chegarão a um limiar de saturação das
necessidades. Assim, a compra abandona totalmente sua função inicial de
suprir necessidades e satisfazer desejos e assume um novo papel, o de status
na sociedade.
A compra em si já não traz mais prazer ao consumidor, o prazer vem do que
aquele objeto representa na camada social em que aquela pessoa vive e se
este atende às exigências de status e reconhecimento. Atender aos desejos
instantaneamente e comprar, obter, passam a ser sinônimo de felicidade,
mesmo que momentânea.
À medida que cresce a quantidade de produtos no mercado, a publicidade e
marketing passam a se especializar e focam suas táticas de acordo com faixas
etárias, fatores socioculturais e seduzem o consumidor de maneira individual,
tentando segmentar os desejos e preencher a todos. A lógica é simples, quanto
mais necessidades e desejos, mais produtos e serviços podem ser criados e
vendidos.
Porém, atualmente este cenário mudou. Na fase do hiperconsumo a marca já
não tem interesse apenas em realçar os produtos, mas passar mensagens,
valores e ideias, visando fidelizar os clientes. Antes, a mercadoria era colocada
sob os holofotes, mas não se trata mais apenas de estimular necessidades, e
sim, criar laços emocionais com a marca.
Com um número imenso de produtos que possuem a mesma finalidade, além
de exaltar a marca, a publicidade também exerce o papel de diferenciação.
Como escolher entre 10 marcas diferentes que vendem a mesma coisa, como
14
arroz, por exemplo? É preciso criar uma imagem para representar aquele
produto que desperte algum sentimento no consumidor, sentimento de
familiaridade ou segurança, para que este tenha preferência, por exemplo, por
aquela marca de arroz.
A publicidade está tão presente em nossas vidas que é impossível passar um
dia inteiro, e talvez até algumas horas, sem se submeter a referências de
marcas. Por exemplo, se você se machuca e precisa de um curativo, diz que
precisa de um "band-aid". Quando uma mulher está menstruada e precisa de
um absorvente interno, diz que precisa de um "O.B.", e assim por diante.
Algumas marcas estão dentro da rotina de uma sociedade há tanto tempo, que
perdem seu status de marca, e se tornam parte de nosso dia-a-dia sem
percebermos.
É por meio de imagens criadas para ações publicitárias que as marcas passam
a enraizar os seus conceitos em áreas particulares de nossas vidas. Os
consumidores passam a escolher os produtos de acordo com o sucesso da
marca, ou seja, o sucesso das imagens criadas e disseminadas pela própria
marca. As empresas passam a valorizar mais as imagens do que os produtos,
o que é algo incrível para os publicitários, que não precisam se ater apenas à
funcionalidade do bem produzido, mas estão livres para criar qualquer conceito
além de nossa imaginação.
Muito mais do que um estilo de vida, os publicitários criam uma alma e
essência para as marcas. Já os consumidores ficam tão acostumados com o
bombardeamento constante de imagens, que passam a levar essa cultura das
marcas para sua vida pessoal, onde a imagem e o conceito que você cria é
muito mais importante do que o produto, ou seja, o que você mostra que é, por
meio de imagens, vale muito mais do que sua personalidade, quem você é em
essência.
Em outro trecho de "A menor mulher do mundo" uma das personagens compra
um terno novo para seu filho, como solução para criar uma boa imagem, para
que ele seja bem aceito pela sociedade, com sua "superficialidade
tranquilizadora". Ou seja, ter não significa ser, mas o avanço desenfreado do
consumo age juntamente com a publicidade e muda essa lógica, onde ter uma
boa imagem é ser, é poder.
Para o sociólogo Gilles Lipovetsky a função da publicidade se resume a
15
"controlar a esfera das necessidades, condicionar o consumidor, tirar-lhe o
poder de decisão para transferi-lo a empresa" (Lipovetsky, G. 2006. A
felicidade paradoxal – Ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo). A
publicidade cria e recria estas necessidades, sufocando o consumidor com
imagens de felicidade e prometendo saúde e beleza.
Deslumbrados com estas promessas, acabamos nos decepcionando ainda
mais, porque com a distração criada por estas técnicas de persuasão,
acabamos esquecendo o que realmente nos torna felizes e somos engolidos
pelos maravilhosos estilos de vida criados pela publicidade.
A filósofa Olgária Matos reforça esta dimensão ao dizer que:
Quanto ao mundo contemporâneo, a mercadoria separa-se de sua imagem, assim como a embalagem de seu "corpo", vindo a ser mais importante que ele. A mercadoria está encoberta, dissimulada ou esquecida atrás das imagens espetaculares. (MATOS, 2005. O sex appeal da imagem e a insurreição do desejo. NOVAES. Muito além do espetáculo).
Agora não são apenas as mercadorias que possuem embalagens: as marcas
desenvolvem uma embalagem para si, o seu estilo de vida, sua alma, seu
espírito. Criam conceitos para chegarem o mais próximo da personalidade de
um ser humano. E é exatamente desta maneira que a publicidade ajuda as
marcas a conquistarem seus compradores, porque estes se identificam e
querem ter essa “vida”.
A publicidade explora a imagem e torna presente até aquilo que não existe. Isto
ocorre graças ao poder da imaginação do ser humano, que consegue enxergar
coisas em certas imagens porque as interpreta de maneira individual a partir de
detalhes íntimos da sua vida, como costumes, gostos e outros rastros da
memória.
Então uma peça publicitária que usa foto de uma família de mãos dadas pode
me remeter a um sentimento de felicidade e conforto, outra de uma mulher
dançando me remete ao glamour de uma grande festa, pessoas na praia
tomando sol despertam tranquilidade e me fazem lembrar da maresia, entre
outros exemplos.
O visível desta imagem é invisível, porque apesar de termos em mãos uma
imagem real, ela é coberta por camadas de realidade que necessitam ser
16
exploradas mais a fundo. Assim como diz Merleau-Ponty em sua obra “O
Visível e o Invisível, "Ver é sempre mais do que se vê... Na medida mesmo em
que vejo, não sei aquilo que vejo” (Merleau-Ponty, M. 1971. O visível e o
invisível).
17
Antes mesmo da criação do Instagram, em 2003, um caso recebeu grande
atenção mundial, quando soldados norte-americanos abusaram e violentaram
prisioneiros de Abu Ghraib, uma prisão no Iraque. Mais de uma década após
estes acontecimentos, as imagens que mostram prisioneiros desnudos, apenas
com capuzes sinistros na cabeça; prisioneiros acuados e encolhidos e diversas
fotos de humilhações pornográficas, como posições de sexo simuladas e
corpos nus empilhados em uma terrível pirâmide humana, ainda causam terror.
Obviamente que os soldados responsáveis pelas fotos não esperavam que isto
fosse a público, mas com a criação das câmeras digitais e da internet, aquele
abuso foi transformado em um grande espetáculo midiático depois que as
imagens foram descobertas e reveladas pelo soldado Joseph Darby.
Transformadas em um show, porque estas imagens foram vistas pelos seus
responsáveis como prova de conquista, poder e força. Além disso, estas
também são uma afirmação do controle dos Estados Unidos sobre a sociedade
Iraquiana, que ficou revoltada ao ter acesso às imagens.
Há tempos que a fotografia vem sendo usada para ampliar os efeitos
psicológicos da violência e, no caso de Abu Ghraib, foi muito bem representada
pela oficial Sabrina Harman, que enviou uma foto sua, sorrindo com o polegar
para cima, ao lado de um cadáver. Na carta enviada ao seu pai junto à foto, ela
diz “hoje vi o meu primeiro cadáver” e parece feliz com isso.
Houve grande repercussão no julgamento dos responsáveis, que afirmavam ter
recebido ordens de superiores, comandos para “amolecer” as testemunhas
antes de interrogá-las. Aqui a imagem dos torturadores é modificada e rodeada
de sentimentalismo, o que traz a tona o termo utilizado por Hannah Arendt: “a
banalidade do mal”.
Por causa da estética destas fotos, onde os soldados aparecem sorrindo em
meio à violência, os torturadores não têm uma imagem sinistra associada aos
fatos, mas sim, imagem de um cidadão comum, um jovem imaturo que estava
apenas seguindo ordens.
Após a automatização da imagem, registrar a realidade se tornou parte da
nossa vida, o que provocou certa erosão na privacidade e inversão dos
conceitos de público e do privado. Na era do Instagram, ferramenta que nos diz
18
que o mundo é melhor se partilharmos tudo, estamos sujeitos a imagens que
misturam uma experiência de prazer com desconforto, que jamais deveriam ser
vistas.
Certos eventos parecem desaparecer quando não são acompanhados de
imagens. Será essa a razão pela qual o compartilhamento de fotos nas redes
sociais faz tanto sucesso? Por causa do medo de sermos esquecidos? Por
meio do Instagram fazemos questão de não sermos esquecidos, ou melhor, de
sermos lembrados a todo instante, uma forma de mostrarmos que estamos
aqui, que existimos.
Assim como define Guy Debord em “A Sociedade do Espetáculo”, o espetáculo
é a afirmação da aparência e se apresenta como algo grandioso e positivo,
com uma única mensagem: “o que aparece é bom, o que é bom aparece”
(Debord, G. 2000. A sociedade do espetáculo).
Quando o mundo real é convertido e reduzido a imagens, estas se tornam
seres reais, porém, são seres reais do sonho de uma sociedade que dorme
acordada. Indivíduos transferem os seus desejos para a realidade por meio de
imagens criadas, por eles próprios.
Este espetáculo, que está em diversos lugares, representa uma alienação,
onde quanto mais o indivíduo aceita estas imagens e signos impostos pela
publicidade e lógica do consumo como sua necessidade, menos ele entende a
complexidade do seu interior e seus próprios desejos. Nesta análise o foco
fecha-se na ferramenta Instagram e quais os níveis da espetacularização da
realidade ela promove no âmbito das redes sociais.
O Instagram, nosso objeto de análise, foi criado pelo norte-americano Kevin
Systrom e pelo brasileiro Mike Krieger, e lançado no dia 6 de outubro de 2010.
Em dezembro de 2010 atingiu 1 milhão de usuários e em setembro de 2012 já
chegava a 10 milhões. Hoje já atinge a marca de 200 milhões de usuários, com
20 bilhões de fotos compartilhadas no total, contabilizando todos os dias uma
média de 60 milhões de fotos compartilhadas e 1,6 bilhões de curtidas (Fonte:
site oficial do Instagram. Disponível em: http://instagram.com/press/).
Este aplicativo atrai cada vez mais usuários pela sua eficácia: fazendo uso
apenas de imagens e vídeos de até 10 segundos é perfeito para o
hiperconsumidor, que está sempre em busca de novidades e, melhor ainda,
fácil de entender, sem precisar de mais que um segundo para ser
19
compreendido.
Esta ferramenta também possibilita que marcas e empresas paguem para que
suas fotos ou vídeos apareçam em anúncios patrocinados. Já os usuários têm
a possibilidade de escolher não visualizar estes anúncios ou dar feedback para
as empresas. Atualmente, mais de 2.500 marcas possuem perfis na ferramenta
e as mais populares são Nike, Starbucks e Adidas.
A BI Intelligence, segmento de pesquisa da revista Business Insider, calculou
que a cada cinco pessoas no mundo, uma possui smartphones e, a cada 17
pessoas, uma possui algum tipo de tablet. Atualmente as marcas utilizam estes
dados a seu favor e usam as redes sociais como sua nova vitrine, onde podem
expor, vender e difundir o seu estilo de vida com mais facilidade.
Mas por que escolher o Instagram como vitrine, se o Facebook, por exemplo,
tem mais usuários? Exatamente porque o Instagram exalta a mesma coisa que
a publicidade: a imagem. Apesar de o Facebook possuir mais usuários (uma
média de 864 milhões de usuários ativos diariamente e 1.35 bilhões de
usuários ativos por mês), ele utiliza muito mais do que apenas imagens e seus
usuários utilizam a ferramenta principalmente para compartilhar conteúdo já
existente online, façam check-in em algum local e expressem sua opinião de
maneira escrita no seu status (Fonte: Company Info. Disponível em:
http://newsroom.fb.com/company-info/).
Enquanto isso, o Instagram utiliza exatamente o que a publicidade nos
condicionou a assimilar, a imagem. Apesar de algumas pessoas
compartilharem conteúdo criado por outras pessoas, o espaço desta
ferramenta é quase que inteiramente dedicado a fotos e vídeos próprios. Assim
como as marcas, pessoas comuns também utilizam esta vitrine online para
mostrar e criar o seu próprio estilo de vida.
A descrição oficial do Instagram, retirada do site do aplicativo, faz todo o
sentido: "Faça uma foto ou vídeo, escolha um filtro para mudar sua aparência e
publique no Instagram - é fácil assim. Você pode até compartilhar com o
Facebook, Twitter, Tumblr e outros aplicativos. É uma nova maneira de ver o
mundo". Tire uma foto sua, mude a aparência (para melhor, é claro) e veja o
mundo de outra maneira, ou seja, crie o seu mundo, o seu novo “eu” e seja
muito mais feliz!
A Nike, por exemplo, utiliza frases em suas propagandas como “A vida é um
20
esporte” ou seu slogan mais famoso “Just do it” (em tradução livre, “Apenas
faça”). Essas e outras frases motivacionais são a “alma” desta marca, que
busca incentivar os seus compradores e seguidores a mudar e aproveitar sua
vida neste instante. A Adidas utiliza slogans semelhantes, como “Nada é
impossível”, ou seja, use e siga nossa marca e alcance os seus sonhos.
Muito além do uso de fotos em locais paradisíacos, grandes marcas também
fazem parcerias com artistas famosos, para chamar ainda mais a atenção de
seus consumidores e até de outros usuários do Instagram que podem aderir ao
estilo de vida da marca por gostarem de determinada celebridade.
As grandes marcas também utilizam o Instagram e criam hashtags (#justdoit,
por exemplo), para unir o seu estilo de vida com o de seus seguidores. Por
meio das hashtags publicamos fotos pessoais interligando nossa vida com o
estilo de vida da marca. Isto reforça a tese de que a personalidade que
compartilhamos, nem mesmo é nossa, mas uma junção de imagens e
conceitos criados pela publicidade: nós nos identificamos, mesmo que um
pouco, com certos conceitos, reunimos diversos deles e com pequenas
modificações, criamos o nosso “eu”.
Passamos tanto tempo na frente da televisão ou imersos no mundo digital,
locais onde a lógica da publicidade assume uma dinâmica diversificada e
ininterrupta que passamos a consumir muito mais do que produtos. Éramos
consumidores de objetos, informações e experiências e agora, somos também
consumidores de intimidade.
Nesse contexto, as fantasias, o banal, o erotismo, os sentimentos subjetivos, tudo se torna objeto a ser expresso e consumido em profusão. (...) Depois do sensacionalismo das notícias e dos furos da vida política, nossa época é magnetizada pelo exibicionismo da intimidade do homem comum. (Lipovetsky, 2006. A Felicidade Paradoxal – Ensaio Sobre a Sociedade do Hiperconsumo).
A publicidade permeia a mídia, que prolifera narrativas e imagens que retratam
"a vida como ela é". Tentamos nos aproximar da vida destes artistas e, ao
comprar um produto da marca que este representa, criamos um sentimento de
afinidade e intimidade, por termos os mesmo gostos.
21
Crédito: Foto retirada do Instagram da Nike
Legenda: Se você não correr riscos, sempre terá arrependimentos #justdoit
Crédito: Foto retirada do Instagram da Adidas
Parceria da marca com o cantor e produtor Pharell Williams
22
Enquanto isso a vida tende a se ficcionalizar, voltando-se aos códigos
midiáticos e aos recursos dramáticos da mídia audiovisual, os quais fomos
condicionados a assimilar ao longo das últimas décadas.
Espetacularizar o eu consiste precisamente nisso: transformar nossas personalidades e vidas (já nem tão) privadas em realidades ficcionalizadas com recursos midiáticos. (...) Um tipo de subjetividade que responde à lógica da visibilidade e da exteriorização do eu, uma autoconstrução que utiliza recursos audiovisuais e, portanto, seu cenário preferencial só pode ser uma tela. (Sibilia, 2008. O Show do Eu).
Ocorre uma intensificação e valorização da experiência vivida, como se o real
já não bastasse, não fosse o suficiente. Ao mesmo tempo cresce cada vez
mais o fascínio pela vida real, não é mais requisito ser famoso ou ter uma vida
interessante, contanto que sejam vidas autênticas, protagonizadas por um eu
de verdade (ou que pelo menos pareça real).
O Instagram pode ser comparado a uma biografia composta apenas por
imagens que focam o seu conteúdo na fofoca, em testemunhos e confissões.
Assim como afirma Paula Sibilia, "há uma persistente obsessão pelo nível mais
epidérmico do verdadeiro, por mais trivial que este seja" (Sibilia. P. 2008. O
Show do Eu). Não queremos apenas conhecer a música de certo cantor, o
trabalho de determinado artista, queremos conhecer o sujeito, sua vida,
intimidades, gostos.
23
SELFIE
Em 1839, Robert Cornelius foi o primeiro a tirar uma foto de si próprio.
Aproveitando-se do processo lento das máquinas da época, o norte-americano
retirou a lente da máquina, correu para frente da lente, onde ficou por um
minuto, para depois cobrir a lente. Para mim, isso ainda não é uma selfie
porque Cornelius não estava segurando a câmera, mas representa uma
inovação para a época, a primeira expressão deste desejo de retratar a si
próprio.
A primeira selfie, termo usado nas redes sociais para autorretratos, registrada
na história é de 1914, e foi tirada pela princesa da Rússia, Anastasia
Nikolaevna, filha do czar Nicolau II. Na época com 13 anos de idade, ela
apontou uma câmera para o espelho e registrou sua imagem.
Ela encaminhou a foto para o seu pai com uma carta, onde em certo trecho diz:
“Eu tirei esta foto minha olhando no espelho. Foi muito difícil porque minhas
mãos estavam tremendo”.
Robert Cornelius, 1839
24
Já a primeira selfie em grupo registrada na história, foi tirada em dezembro de
1920, em um telhado em Nova York, por um grupo de fotógrafos da Byron
Company. Atualmente este tipo de foto foi nomeado pelos usuários do
Instagram de usie, junção de “us” (nós, em inglês) com selfie.
Após a mecanização da imagem, a fotografia veio para popularizar o retrato,
para ajudar na reprodução do real, sem permitir amplas interpretações do que
fora registrado. Para alimentar os desejos das pessoas comuns, a indústria
investiu na produção de máquinas que atendessem às necessidades dos
consumidores e em 1888 a Eastman Kodak Company, fundada por George
Eastman, lançou o filme em forma de rolo.
Podemos dizer que foi a partir da criação da cabine fotográfica que surgiu o
primeiro formato das selfies e usies. Sozinho ou em grupo, já era popular tirar
fotos deste tipo para recordação, a diferença é que estas eram impressas em
papel, ao invés de serem compartilhadas constantemente para que os outros
vejam as nossas memórias.
Princesa da Rússia, Anastasia Nikolaevna, 1914
25
Fonte: Fotografias da coleção do Museu da Cidade de Nova York
26
As inovações tecnológicas chegaram ao alcance do público e apesar de já
existir muito antes da criação do Instagram, o autorretrato foi popularizado e se
expandiu em 2009 após a Apple lançar a câmera frontal no Iphone 4. Foi a
partir daí que a febre da selfie tomou conta das redes sociais, principalmente
no Instagram.
Com essa novidade, tirar fotos de si mesmo se tornou muito mais fácil, já que a
partir deste momento não é mais necessário virar o celular e direcionar a
câmera. Mas por que queremos compartilhar nossa imagem? Porque de
alguma maneira, é por meio desta ferramenta que buscamos aceitação de
nossos amigos, conhecidos e até mesmo desconhecidos. Compartilhamos para
receber curtidas e comentários, uma forma de autoafirmação do nosso eu, da
nossa personalidade e também da nossa felicidade.
Pesquisadores da universidade norte-americana Harvard fizeram um estudo
em 2012 que prova que falar de nós mesmos e receber curtidas em nossas
fotos gera liberação de dopamina, o hormônio do prazer, em nosso corpo.
Este mesmo estudo também testou a teoria de que as pessoas valorizam muito
mais suas próprias experiências do que a de outros. A pesquisa concluiu que
as pessoas preferem falar sobre a sua opinião ao invés de julgar opinião de
outros ou responder questões factuais. Falar sobre si traz mais prazer e
compartilhar coisas pessoais, também.
No Instagram podemos encontrar diversas confirmações deste narcisismo
movido pela imagem. Em alguns perfis, o usuário comemora o seu próprio
aniversário com a publicação de uma foto sua. Assim, mostra que não precisa
que ninguém se lembre de seu aniversário ou lhe dê parabéns, quando pode
comemorar sozinho e avisar a todos por meio da ferramenta, que é “o seu dia”
e exaltar este momento, que é apenas seu.
Os usuários da ferramenta procuram sempre mostrar o quanto são felizes, o
quanto sua vida é maravilhosa e, aos olhos de quem vê, possuem uma vida
perfeita, o que obviamente é irreal, já que a felicidade é um estado passageiro.
Já foi dito que buscamos aceitação por meio de publicações, mas como isso
acontece? Quando publicamos fotos do nosso rosto ou de momentos pessoais,
calmamente calculados, esperamos receber comentários que elogiam nossa
imagem. Mas o que mais outros poderiam comentar, quando se trata de uma
foto do seu rosto, por exemplo? Além de não comentar nada ou comentar algo
27
positivo sobre sua beleza, é impossível dizer qualquer coisa que vá além disso,
já que o foco está totalmente voltado para o “eu” e não há informação alguma
nesta imagem além do seu rosto.
Isto é exatamente o que alguns buscam com auxílio do Instagram para inflar o
seu ego e se sentir mais atraentes. Além disso, quanto maior a quantidade de
curtidas, maior é a autoconfiança, porque esta é a aprovação, apesar de ser
banal, de que nossos seguidores gostaram da foto.
Ou seja, ao mesmo tempo em que refletimos nosso “eu” com segurança,
felicidade extrema e uma vida maravilhosa, se não tivermos curtidas ou bons
comentários, isto pode refletir de maneira negativa, provocando o efeito
contrário do esperado e aumentado a insegurança. Podemos dizer que isto
gera ainda mais insegurança, pois precisar de aprovação por meio de redes
sociais em si, demonstra que esta insegurança já existe.
Fonte: http://johnholcroft.com (imagem modificada)
28
Apesar de não haver nada de errado em querer se sentir bonita ou ter
aprovação de amigos e conhecidos, tirar mais de 30 selfies, até encontrar a
melhor foto e esperar ansiosamente e constantemente por aprovação no
mundo virtual, pode aumentar a insegurança. É neste momento que certos
usuários passam a publicar e compartilhar fotos de si mesmo
compulsivamente, para que a todo instante tenham uma confirmação de sua
beleza.
Quando uma pessoa tira diversas selfies, pode acabar desenvolvendo um
senso de si próprio baseado em como está sua aparência nestas fotos. Além
disso, a reação de outros às nossas fotos também pode influenciar na maneira
que vemos nós mesmos.
Logo, as selfies podem ser vistas como a manifestação de uma obsessão da
sociedade pela imagem e o seu narcisismo. Há uma sensação de que as
pessoas que compartilham selfies estão estrelando o seu próprio reality show,
inflando o seu eu, o que as faz acreditar que os seus amigos ou seguidores
estão realmente interessados em vê-las deitadas na cama, acordando,
mandando beijos para a câmera. É como se olhar no espelho durante o dia
todo e deixar os outros assistir você fazendo isso.
Mostrar quem você é, não apenas para os outros, mas também para si próprio,
apenas pela sua aparência, no fim das contas, não diz nada sobre você. Essa
obsessão pela imagem nos deixa tão distraídos, mergulhados por inteiro na
nossa timeline do Instagram, analisando a imagem compartilhada de nossos
amigos e conhecidos, que acabamos nos descolando da vida real e
esquecemos, mesmo que por um instante, que a vida de qualquer um vai muito
além daquelas imagens. O problema é quando sua vida é apenas reduzida a
aquelas imagens e aos efeitos que elas causam em outros. Segundo Paula
Sibilia:
Quanto mais a vida cotidiana é ficcionalizada e estetizada com recursos midiáticos, mais avidamente se procura uma experiência autêntica ou verdadeira. Busca-se o realmente real, algo não encenado – ou, pelo menos, que assim pareça. Uma das manifestações dessa fome de veracidade na cultura contemporânea é o anseio por consumir lampejos da intimidade alheia. (Sibilia, 2008. O Show do Eu).
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Então além do interesse pelo compartilhamento do meu eu, consumir o eu dos
outros também faz parte deste movimento, do qual a internet é o palco. Ao
mesmo tempo em que nos dá prazer compartilhar o nosso eu, nos sentimos
mais próximos e gostamos de ter acesso a detalhes íntimos e banais da vida
do outro, por meio de curtidas e comentários “participamos” da vida de outros.
De acordo com Paula Sibilia, estes são “pequenos espetáculos descartáveis,
algum entretenimento engenhoso sem maiores ambições, ou então
celebrações da mais vulgar estupidez”.
Um estudo feito em 2013 na Birmingham Business School, no Reino Unido,
descobriu que o fenômeno da selfie pode causar danos nas relações da vida
real, concluindo que o excesso de compartilhamento de imagens – incluindo
autorretratos – torna as pessoas menos simpáticas aos olhos dos
expectadores.
O mesmo estudo também concluiu que aumentar a frequência de publicações
de selfies está relacionado a uma diminuição de intimidade com outros. Em
primeiro lugar, colocar tanta ênfase na sua imagem pode fazer com que outros
se sintam mais conscientes em relação a sua própria imagem quando estão
perto de você. E, além disso, a pressão para estar sempre pronto e perfeito
para fotos podem aumentar os problemas com autoestima e também
sentimentos de competição entre amigos.
Sempre devemos nos questionar sobre o motivo de estarmos tirando e
publicando fotos: o que elas fazem por mim? Publicar fotos pode ajudar a
reajustar os padrões ideais de beleza, como faz a atriz Lena Dunham, por
exemplo, com suas fotos divertidas e que mostram o seu corpo, que não se
encaixa em um traje com tamanho 36, difundido pelas imagens da publicidade
como o “ideal”, mas mostra que é feliz e aceita o seu verdadeiro eu.
Apesar disso, compartilhar fotos compulsivamente também pode ajudar a
reafirmar a ideia de que o que mais importa neste mundo é a imagem, das
coisas e pessoas. Todos estão tão fixados em sua própria imagem, na das
pessoas ao seu redor e também em controlar esta imagem, para que estejam
sempre perfeitas, que frequentemente acabam não aproveitando o momento
na vida real. Quando a sua prioridade se volta para a captura de imagens ao
invés de se focar nas suas reações em pessoa, naquele momento, é quando
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documentar e compartilhar estas ocasiões se tornam mais importantes do que
vivê-las.
Precisamos questionar o conceito de Punctum e Studium, desenvolvidos por
Roland Barthes no livro "A Câmara Clara". O punctum forma, juntamente com o
studium, a dualidade que norteia o interesse pela foto. Seria em outras
palavras: o objetivo (studium) e o subjetivo (punctum) da foto.
Para Barthes, o studium é um interesse guiado pela consciência, o objeto de
análise geral nas fotografias, como aspectos que determinam o contexto de
época e a cultura, por exemplo; já o punctum tem caráter subjetivo, é um
interesse que se impõe a quem olha a foto, diz respeito a detalhes que tocam
emocionalmente o espectador e variam de pessoa para pessoa, é o que instiga
na foto, o que fere o apreciador.
O punctum interessa justamente porque é a própria subjetividade do leitor: ele
Crédito: Foto retirada do Instagram da atriz Lena Dunham
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é pessoal e intransferível, cada um enxergará o seu. Pergunto-me, qual seria o
Punctum neste momento de obsessão profunda pelas selfies? Para mim, este
é o momento em que o Punctum é assassinado, porque com milhares de fotos
de rostos, este conceito deixa de ser subjetivo e passa a ser o mesmo para
todos: o eu, meu rosto, minha vida.
O studium, por outro lado, também desaparece nas selfies, porque o foco está
totalmente voltado para o eu e não para o ambiente. Desta maneira, é quase
impossível determinar o contexto em que estas imagens foram registradas.
Um indivíduo vai a um festival de música, por exemplo, e registra na memória
do seu celular momentos que ele não quer esquecer. As imagens têm o seu
foco voltado para o eu, mesmo com diversas outras coisas acontecendo: eu no
show de certo artista, onde a imagem só registra o seu rosto e não mostra
nada mais ao seu redor. Isso mostra que todo o ambiente e o contexto, o
studium, são descartados em detrimento da exaltação do eu, aqui e agora.
A tristeza é um tabu nas redes sociais, um imaginário criado onde buscamos
mostrar o quanto somos felizes o tempo inteiro, ou seja, onde criamos nossa
personalidade, que é orientada para e pelos outros. Pensando nisso, o guia de
viagem online Jetpac conduziu um estudo um tanto controverso focado no
Instagram para descobrir onde estão as pessoas mais felizes do mundo.
Primeiro os pesquisadores identificaram os locais mais populares ao redor do
mundo, se baseando na quantidade de usuários que haviam compartilhado
fotos nestes locais. Depois, analisaram mais de 150 milhões de fotos
compartilhadas nestes locais nos últimos 12 meses para comparar o "placar de
sorrisos" de 124 países. De acordo com o CEO e co-fundador do Jetpac, Julian
Green, "quanto maior o sorriso, maior a pontuação". Apesar de todos os
problemas existentes em nosso país, o Brasil é o lugar onde as pessoas são
mais felizes, pelo menos no Instagram.
Sabemos que não podemos julgar a felicidade de ninguém com base apenas
em sorrisos, mas com a publicidade nos convencendo há décadas de que a
imagem é o que mais importa, as personalidades e estilos de vida
compartilhados no Instagram fazem todo o sentido, mas não necessariamente
são reais.
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O Instagram ajuda diversas pessoas a difundirem o seu estilo de vida e, por
causa dessa busca obsessiva pelo real e pelo íntimo, muitos acabam se
sensibilizando ou apoiando outros por causa de seus compartilhamentos. Por
exemplo, um casal (Aline Molinari e Rodrigo Saad) resolveu mudar seus
hábitos alimentares e emagrecer juntos e, para acompanharem o seu
progresso criaram uma conta no Instagram, chamada @rodridrialiliteam.
Tudo começou como algo direcionado apenas para eles e seus amigos, mas
com o tempo, sua conta no Instagram começou a receber engajamento de
desconhecidos. Diversas pessoas passaram a acompanhar a vida saudável do
casal, que hoje já conta com mais de 7.000 seguidores em seu perfil.
Outro rosto muito conhecido atualmente, quando se fala em vida saudável, é o
de Gabriela Pugliesi, de 27 anos, que trabalhava no escritório de uma joalheria,
mas se demitiu para conseguir agenciar a fama do seu perfil no Instagram.
Com mais de 800 mil seguidores e apoiadores do estilo de vida saudável em
seu perfil, que envolve exercícios físicos e uma alimentação balanceada, a
baiana também compartilha outras dicas em seu blog, o Tips 4 Life.
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Ela recebeu tanta atenção da mídia que acabou criando a geração Pugliesi,
onde adeptos do mesmo estilo de vida alimentam o Instagram com milhares de
fotos todos os dias de treinos e receitas lights, com a hashtag
#geracaopugliesi. Pugliesi, que se diz viciada em exercícios, hoje em dia dá
palestras para contar como se mantém saudável, o que come e como treina.
Estes são exemplos de como uma pessoa comum, como eu, você e todos nós,
pode se tornar famosa se conseguir chamar a atenção da mídia. Com ajuda da
internet nos identificamos, nos vemos em diversos destes perfis e muitos se
sensibilizam ou usam esta ferramenta como apoio moral.
Recentemente um movimento ocorreu em torno de uma conta de um cachorro
no Instagram. O cão foi chutado e resgatado por Aline Harada, mas perdeu a
mobilidade das pernas traseiras. Por causa do perfil criado na ferramenta pela
a dona, diversas pessoas se mobilizaram e começaram a mandar doações
para ajudar a pagar as fraldas e consultas médicas do cachorro.
A mídia transforma este tipo de situação em notícia, um grande show,
utilizando sentimentalismo para comover os seus leitores, como fez o jornal O
Estado Online ao publicar a notícia “Página no Instagram ajuda cãozinho que
perdeu movimentos após agressões”. (Fonte: O Estado Online. Acesso em:
30/10/2014. Disponível em: http://www.oestadoonline.com.br/2014/10/pagina-
no-instagram-ajuda-caozinho-que-perdeu-movimentos-apos-agressoes/).
Na notícia, o jornal exalta principalmente as características do cão, retratado
como alegre, agitado e “como qualquer outro cachorro, não dispensa
brincadeiras”. Além disso, os “episódios de sofrimento do passado” são
contados de certa maneira para humanizar este cachorro, para que o leitor se
envolva na situação.
Não estou aqui dizendo que este cão não merece ajuda ou não merece ser
salvo, estou apenas criticando o tipo de notícia propagado pela mídia, que
enaltece este tipo de situação e estimula esta falsa fama em vista a
acontecimentos banais e fúteis.
A publicidade também exalta certos estilos de vida focados na moda, por
exemplo, onde marcas pagam para blogueiras, que também são famosas no
Instagram, para divulgar o seu produto. Nomes como Camila Coelho
(@makeupbycamila), com mais de 1,8 milhões de seguidores ou Thássia
34
Naves (@thassianaves), com 865 mil seguidores, são vistos em sites e revistas
como referências de moda o tempo todo.
Com posts de imagens de viagens, comida, acontecimentos do dia-a-dia, fotos
com famosos, maquiagem e moda, o Instagram foi invadido por milhares de
fotos de pessoas comuns que têm ou curtem “o mesmo” estilo de vida. Garotas
comuns, com vidas comuns, que são famosas e hoje já podem considerar o
seu perfil na ferramenta como sua profissão.
Pode ser considerado o seu sustento porque devido à grande visibilidade
destes novos famosos nas mídias por pessoas comuns, como eu e você, as
marcas passaram a investir nestes para divulgar o seu produto. Já que há
interesse pelas intimidades destas celebridades do Instagram, os seus
seguidores se interessam em saber a marca das roupas, cor de esmalte,
cosméticos e até, por exemplo, o local onde estas cortam o cabelo.
Visto o aumento de interesse das pessoas em difundir o seu estilo de vida
criado, este ano a Faculdade Belas Artes de São Paulo lançou um curso de
graduação de curta duração (4 semestres), chamado Mídias Sociais Digitais.
Com disciplinas que abordam moda, design, estilo de vida, styling,
empreendedorismo, estratégia de negócios e marketing pessoal para preparar
o aluno a produzir conteúdo relevante e fazer disso sua profissão. (Fonte:
Faculdade Belas Artes. Disponível em: http://www.belasartes.br/processo-
seletivo/?pagina=cursos-oferecidos&curso=midias-sociais-digitais&matriz).
Estes são exemplos de como a espetacularização da mídia e as técnicas de
publicidade permearam a nossa vida pessoal e estamos transformando nossas
vidas em um produto. A ex-modelo e blogueira de moda Martha Graeff, por
exemplo, publica diariamente fotos impecáveis da sua vida (perfil
@marthagraeff), porém, a maioria delas é de campanhas publicitárias. Para a
fashionista, o Instagram é uma ferramenta crucial para o seu trabalho, pois por
meio dela consegue atingir pessoas de diversos países e também vender
produtos das marcas que é associada.
“Normalmente as pessoas que usam o Instagram refletem a imagem que
querem. Não acho que minha vida seja sempre glamorosa, cheia de viagens,
roupas lindas e sorrisos. Mas preciso passar uma imagem do que realmente é
minha paixão: a moda. Não acho que as pessoas gostariam de me ver de
pijamas assistindo televisão”, comenta Graeff.
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Para ela, o Instagram é utilizado muito mais como uma ferramenta de trabalho,
do que uma ferramenta pessoal, então suas imagens são direcionadas para o
que os seus seguidores querem ver, não necessariamente como ela se vê.
Apesar de ela saber disso, muitas vezes, expectadores do seu perfil podem se
sentir inferiores ao invejar sua vida “perfeita”, mas esquecem de que aquela
imagem, refletida por meio de uma rede social, não exclui aquela pessoa como
um ser humano, que tem problemas e desafios pessoais como qualquer outro.
Diversos perfis do Instagram possuem patrocínio e acabam refletindo sua vida
de outra maneira, com influências de marcas. O corredor Leopoldo Longo
(perfil @poldolongo), possui patrocínios diversos, sendo o principal da Everlast.
Para ele, o lado positivo deste apoio é a redução do custo em equipamento e
também um contato maior com pessoas do segmento do esporte. Porém o
esportista também destaca os lados negativos desta parceria.
“Você para de viver sua vida como um ser humano e se torna uma extensão
daquela marca, então você precisa se policiar com tudo o que faz, aonde vai e
com quem anda, pois qualquer erro pode ser negativo para a sua imagem e a
da marca”, diz Longo. Outro ponto negativo citado por ele é que diversas
pessoas passam a te julgar pelos produtos que ele recebe. “Seus amigos
acham que você está rico e, sem perceber, te excluem por achar que você está
se “achando”. Além disso, você também acaba atraindo pessoas que só
querem estar ao seu lado pelas coisas materiais que você tem e, tenho
certeza, que estas fariam qualquer coisa para ter as mesmas coisas que você”.
Apesar de o patrocínio ser bom para a evolução da sua carreira, as pessoas
passaram a ver sua imagem de uma maneira diferente, ou seja, mude sua
imagem e você mudará também o seu “eu”, ou pelo menos como outros
enxergam este “eu”. Este exemplo nos faz perceber claramente que a
influência da publicidade nos transformou em um produto.
Mas não somos um produto comum, como um carro ou uma peça de roupa,
somos a junção das experiências proporcionadas por diversas marcas e os
seus estilos de vida, onde nos transformamos, ou melhor, criamos a nossa
personalidade, o nosso “eu” único:
Mas se é isso que se constrói e se cultiva com esmero nesses espaços da internet saturados de eu, o que seria mesmo uma personalidade? Existem
36
várias definições possíveis para esse termo tão rico em conotações. Neste contexto, porém, a personalidade é sobretudo algo que se vê: uma subjetividade visível, uma forma de ser que se cinzela para ser mostrada. Por isso estas personalidades são um tipo de construção de si alterdirigida, ou orientada para e pelos outros – em oposição ao caráter introdirigido ou orientado para dentro de si mesmo... (Sibilia, 2008. O Show do Eu).
Sibilia define o nosso tempo como o “... império das subjetividades
alterdirigidas, o que se é deve ser visto – e cada um é aquilo que mostra de si”.
É como ver uma pessoa com uma máscara, onde precisamos chegar mais
perto, nos envolver, para conseguir retirar a máscara e enxergar o real. Porém
com as relações sociais, a cada dia mais, sendo transferidas para o plano
digital, nos comunicamos com esta máscara colada ao nosso rosto.
“Ver é sempre mais do que se vê", porque somos mais do que imagens e
perfis digitais. Se nossa visão se acostumar e aceitar tudo o que vê e não tiver
curiosidade para ir além das banalidades e futilidades da intimidade,
enxergaremos tudo sempre com a mesma profundidade. Precisamos nos
esforçar para desdobrar a visão do mundo para além do fútil e do espetáculo,
para multiplicar as imagens com o poder da imaginação, para além do visível.
37
IMAGEM E CONTROLE
Mas esta unicidade e individualidade são reais até que ponto? Aqui a influência
da publicidade e das marcas vai além e atinge nossa vida pessoal. Não
queremos apenas comprar, queremos vivenciar aquela compra e aquele estilo
de vida, então passamos a encaixotar modos de viver e estilos "individuais"
fabricados.
Apesar disso, o consumidor não é totalmente passivo e hipnotizado pela
publicidade, ele continua a ser um sujeito que filtra essas informações de
acordo com os seus gostos, interesses e valores. Porém, acaba se distraindo
facilmente com o mundo de possibilidades apresentado pela publicidade.
Consideremos a definição de sociedade de controle do filósofo Gilles Deleuze.
Para ele trata-se de um sistema criado para moldar as subjetividades e que se
encontra apodrecido por estar "inteiramente penetrado pelo dinheiro: não por
acidente, mas por natureza". Assim, entendemos sua sentença à sociedade de
massa: "O marketing é agora o instrumento de controle social, e forma a raça
imprudente de nossos senhores" (Deleuze, G. 1992. Conversações).
Estes senhores manipulam um fantástico instrumento que tem poder de instalar
os ideais das massas em nós mesmos. Então a sociedade acredita e atesta
que somos todos diferentes, mas só existem mais modelos e tipos de vida
criados para seguirmos ou ainda, para aceitarmos.
No Instagram, somos solicitados o tempo todo a participar, interagir com
nossos amigos ou outros perfis, e a compartilhar, mostrar o nosso autêntico
“eu”. Ou como aponta Foucault:
Em todo caso, o que gostaria de assinalar é que, de qualquer maneira, quando vemos hoje a significação, ou antes, a ausência total de significação e pensamento que conferimos a expressões - ainda que muito familiares e percorrendo incessantemente nosso discurso, como: retornar a si, libertar-se, ser si mesmo, ser autêntico, etc. -, quando vemos a ausência de significação e pensamento em cada uma dessas expressões empregadas, parece-me não haver muito do que nós orgulharmos nos esforços que hoje fazemos para reconstituir uma ética do eu. (Foucault, 2004. A Hermenêutica do Sujeito).
Talvez seja possível que esta ausência de pensamento e sentido mencionada
por Foucault, tenha a ver com a produção de diferença que não faz diferença
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alguma. O sujeito é livre para ser quem ele quer, mas ele já é de antemão um
ser massa. O sistema de comunicação atualmente propagandeia o respeito às
diferenças, mas no final das contas está apenas dizendo: seja igual a todo
mundo, do seu jeito.
Desta maneira nossa própria vida passa a ser um produto influenciado por
imagens criadas e vendidas pela publicidade, acabamos espetacularizando e
vendendo a nós mesmos por meio desta vitrine virtual, o Instagram. Segundo a
psicanalista Maria Rita Kehel:
Essa imensa tolerância das sociedades da hipermodernidade não é, como parece, uma abertura para o novo, e sim prova do triunfo do individualismo do mercado. Diferentes manifestações do mesmo convivem pacificamente no mundo contemporâneo sob uma mesma forma dominante: a mercadoria. (Kehel, 2005. Muito Além do Espetáculo. NOVAES. Muito além do espetáculo).
É por isso que as imagens da cultura de massa são "vazias", porque têm uma
forma sem especialidade, que abrange o maior número de significados
possíveis. A comunicação se perde nas banalidades e procura despertar
emoção, para isso ela procura ser, ao mesmo tempo, uma coisa, seu oposto e
qualquer outra coisa entre os dois.
Este espetáculo é criado para chamar atenção e, às vezes, ocorre em
correntes, com engajamento mundial em diversas redes sociais. Como por
exemplo, as hashtags #nomakeup #nomakeupselfie, que invadiram todas as
redes sociais, onde mulheres compartilharam selfies sem maquiagem. Este é
um exemplo deste show em que transformamos nossa vida virtual, onde
podemos retocar as fotos para encobrir qualquer coisa indesejada na nossa
imagem e ainda assim utilizar a hashtag #nomakeup em nossas fotos.
Este movimento busca incentivar as mulheres a não usarem maquiagem e
exaltar a beleza natural, mas também pode ser visto como uma crítica a nossa
sociedade, que segue os padrões de beleza definidos pela publicidade, com
imagens de mulheres e homens jovens, atléticos e glamourosos.
Estes modelos estéticos são difundidos com ajuda dos meios midiáticos,
penetram as mídias sociais e nós refletimos estes na nossa personalidade e
fotos. Além disso, diante de todas as ferramentas de edição disponíveis online,
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todos nós podemos editar uma foto, removendo manchas, rugas, olheiras,
aumentar os lábios, enfim, modificar a nossa aparência para algo próximo a
nossa aparência real.
Ao mesmo tempo em que as participantes do movimento #nomakeup querem
criticar estes modelos estéticos criados pela publicidade, entram em
contradição, porque não querem compartilhar uma foto onde a sua aparência
não as agrada, quando acreditam que não estão bonitas, então modificam sua
imagem, exatamente da maneira que a publicidade nos condicionou a fazer.
Então como poderíamos provar que esta ou qualquer imagem são reais?
Nem precisamos ter este trabalho, porque estas imagens são apenas grãos de
instante, um milésimo de segundo da nossa vida que é transformado em algo
maior do que a própria realidade, para que sejamos notados em meio a fotos
do cotidiano de milhares de pessoas.
As pessoas gostam de ser vistas, de criar e controlar sua individualidade, sua
vida, e compartilhar esta não ficção autocentrada, este espetáculo do eu. O
foco das imagens é totalmente voltado ao autor/personagem e seu estilo de
vida, sua personalidade. As fotos são voltadas para o eu, eu com meus
amigos, eu em um show, eu na praia. O importante aqui não é o ambiente, mas
sim o eu nestes locais, como um comprovante de uma vida feliz.
Além de ter perdido o amparo de todo um conjunto de instituições tão sólidas como os velhos muros do lar, o eu já não se sente mais protegido pelo perdurável rastro do passado individual e nem pela âncora de uma intensa vida interior. Para se fortalecer e para constatar sua existência deve, a todo custo, tornar-se visível. (Sibilia, 2008. O Show do Eu).
À medida que a realidade virtual se difunde, as distâncias entre presença e
experiência, representação e referente, produtor e espectador tendem a
desaparecer. O mundo concreto ganha novas dimensões até que o real e o
artificial se unam por completo: "agir" nas redes sociais não é diferente de
colocar seu corpo em movimento, ambos têm resultados no mundo material.
Esta é a prova concreta de que a virtualização digital tem o poder de produzir
"realidades".
40
Bruno Ribeiro começou um movimento chamado Real Life Instagram
(Instagram da Vida Real, em tradução livre), em 2013, que critica esta confusão
entre o real e o virtual, onde fica cada vez mais difícil separar os dois.
O brasileiro desenvolveu um quadro de cartolina com filtros idênticos aos do
Instagram e espalhou estes pela cidade de Londres. Atualmente, também
difundiu o projeto nas ruas de Tóquio, no Japão. Qualquer pessoa que cruzar
com estes quadros e registrarem uma imagem podem compartilhar a foto com
a hashtag #reallifeinstagram.
Um projeto inovador feito para criar uma reflexão em torno da imagem, mas
pode servir de inspiração para alguma marca, rede de hotéis ou companhias de
viagem, por exemplo. Empresas que estão bem localizadas em relação a
pontos turísticos ou recebem um evento nestes locais poderiam incentivar este
compartilhamento de imagens, para assim aumentar sua visibilidade.
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Apesar de ser um projeto que propõe uma visão diferente em relação ao
compartilhamento de imagens nas redes sociais, se for utilizado pelas pessoas
apenas para tirar mais algumas fotos interessantes, sem reflexão alguma em
torno da real intervenção que o seu criador buscava alcançar, este perde o seu
sentido.
Não podemos desprezar o uso da criatividade nas redes sociais para a
construção de um mundo inteiramente novo, como uma cidade em ruínas que
possui milhares de fragmentos, que quando unidos formam um todo. Porém se
cairmos no comum, ou seja, onde tudo é sempre maravilhoso ou um grande
show, a imaginação perde sua força e pode ser descartada. Luiz Alberto
Oliveira observa que:
O novo problema é: se agora qualquer fábula - qualquer País das Maravilhas, Sítio do Pica-pau Amarelo ou Reino das Amazonas Marcianas que se quiser - estiver disponível para ser visualizada, a imaginação pode ser dispensada, basta substituí-la pela percepção direta. (Oliveira, 2005. Virtualidades Reais. NOVAES. Muito além do espetáculo).
Fonte: Conta oficial do Instagram do criador do projeto @nitchows
Fonte: Instagram oficial @nitchows
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Em outras palavras, se qualquer e toda pessoa for uma celebridade, autor,
cantor, escritor, modelo, em algum tempo, todos seremos tudo, mas na
realidade não seremos nada. As habilidades irão se perder em um mar de
senso comum, ninguém será especialista em nada e todos irão vestir a
embalagem pré-pronta de alguma marca (ou de várias).
A maior cegueira causada por este bombardeio de imagens nas redes sociais,
é a que aceita tudo que é oferecido primeiro, que considera a visão imediata
como verdadeira. Desta maneira a imaginação e o pensamento se tornam
dispensáveis e a exclusão dessa condição da subjetividade deixa os homens
presos apenas à imagem exterior e completamente desconectados do seu eu
interior.
Nossa alienação é semelhante à do operário analisado por Marx: uma parte de nosso tempo de vida é cedida à acumulação do capital, pela via do consumo das imagens, sem que nós tenhamos consciência disso; ou seja, uma parte de nosso tempo de vida é cedida para a acumulação do capital, pela via do consumo das imagens, enquanto nós pensamos que estamos apenas nos divertindo e usufruindo do "excesso" de liberdade de escolhas que nos é oferecido. Não nos damos conta de que todas essas escolhas são a mesma escolha, e que nossa liberdade se limita à liberdade de nos deixar seduzir pela paixão da servidão. A alienação, no modo de produção do capitalismo avançado que é, predominantemente, produção de imagens, abarca a todos na medida em que as imagens convocam a todos sem exceção. (Kehel, 2005. Muito Além do Espetáculo. NOVAES. Muito além do espetáculo).
O espetáculo da nossa sociedade abrange todos os cantos da nossa vida
social, porque ele se traduz em forma de imagens industrializadas. Mesmo as
nossas imagens pessoais, no perfil do Instagram, remetem a estas imagens
criadas e produzidas, que nós refletimos, como espelhos, como parte da nossa
personalidade, da nossa vida.
Durante o período eleitoral no Brasil, ainda em 2014, pudemos ver outro
movimento construído em torno da imagem que se tornou viral no Instagram e
em outras redes sociais. O segundo turno das eleições, onde Dilma Roussef e
Aécio Neves disputaram a presidência, impulsionou uma guerra de imagens
nas redes, onde cada indivíduo, com uma foto sua e hashtags como #ForaPT
ou #EuSouDilma, mostrava o seu apoio ou o seu ódio político direcionado a
determinado candidato.
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Por causa da proliferação de imagens e notícias espetaculares em torno das
eleições, cada um tomou um partido e expressou os seus argumentos com
reprodução de notícias da grande mídia e fotos. Por este argumento ter sido
formado pela própria mídia, a opinião de cada um sobre a política do nosso
país foi transformada em um espetáculo de intolerância, irracionalidade e, é
claro, imagens.
Não importa para onde movemos o nosso olhar dentro da sociedade do
espetáculo, nos deparamos com imagens que buscam nos representar. Então
o que podemos observar não são nossas relações pessoais, mas sim nossas
relações com as coisas, marcas, produtos e mercadorias que nos transportam
para uma zona de conforto, de modo que não podemos enxergar além.
A lógica é simples: quanto mais tempo passamos conectados ao mundo virtual,
mais facilmente iremos aceitar e incorporar estas imagens industrializadas e,
assim, nos afastaremos das nossas relações sociais. Além disso, se distrair o
tempo inteiro, mergulhando no mundo virtual, faz com que a reflexão sobre o
verdadeiro eu e seus desejos se dissipe, porque o sujeito se encontra
demasiadamente conectado ao seu eu criado.
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CONCLUSÃO
Se voltarmos algumas décadas, antes da criação da internet, podemos traçar
claramente as diferenças nas relações sociais entre o passado e o agora.
Quando existia apenas telefone fixo, as pessoas utilizavam o aparelho para
conversar e, principalmente, para marcar encontros.
Não era preciso mandar mensagens ou ligar novamente, a palavra e o
combinado eram seguidos, independente destes outros serviços criados na era
da tecnologia. Encontros cara a cara eram muito mais comuns quando ainda
não havia esta distração criada pelos smartphones, com redes sociais, email e
também telefone - sim, o seu telefone ainda faz ligações, apesar de você não
usar este serviço com tanta frequência.
Por causa disso as pessoas eram “obrigadas”, olha só, a conversar. Algo que
acontece cada vez mais raramente quando me reúno com um grupo de amigos
meus, onde mostramos fotos de lugares que visitamos ou interagimos no meio
virtual.
Vejam o paradoxo que aqui se forma, interagimos com pessoas no mundo
virtual enquanto existem pessoas reais bem na nossa frente. Ou seja, além de
não conhecermos estas pessoas para além do que está visível, também não
refletimos sobre o nosso próprio eu real, nos focando apenas na nossa e na
personalidade virtual dos outros.
Quero viver o agora, eu estou aqui nesse momento, mas olhando para esta tela
que me paralisa. Estou aqui, mas não estou aqui. Estou lá, dentro da minha
vida criada por mim mesma.
Aqueles que não fazem parte das redes sociais ou não tem internet no celular,
acabam excluídos desta sociedade virtual. Muitos diriam que têm “pena” destas
pessoas ou não conseguem entender o porquê destes não participarem desta
comunidade, já que é tão simples e mais fácil de se comunicar com os outros.
Mas, na realidade, invejo estes que ainda conseguem se privar do virtual.
Acredito que estes têm um contato maior ou pelo menos diferenciado com
outros e com si próprio, porque não se distraem com o virtual, com as
personalidades e shows criados no plano digital e, portanto, estão mais
conectados ao real.
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Enquanto isso, me espanto com a quantidade de pessoas que ficam
hipnotizadas pelo virtual, porque estes estão hipnotizados pelo seu próprio
reflexo, e transpõem o seu eu criado para a sua vida real, mesmo que de
maneira inconsciente.
Essa superficialidade me assusta principalmente quando me vejo naquele
espelho, o meu celular, mandando beijinho para a câmera. Ou melhor,
mandando beijos para mim mesma. Desligar-se das redes sociais e se
desconectar da imagem é muito mais difícil do que parece, já que a publicidade
passou décadas nos convencendo e nos condicionando a julgar tudo e a todos
pela sua imagem.
Acabamos esquecendo até mesmo quem somos realmente, porque passamos
metade do nosso dia nos preocupando com quem somos na nossa vida virtual.
Ou seja, esta se torna uma extensão da nossa vida real. Assim como nossa
vida virtual espetacular, acredito que a criação de um movimento espetacular
nas redes possa convencer alguns a se desconectar: #desligueocelular.
Desligue o celular e se desconecte da sua vida virtual. Viva e valorize o real.
Aproveite o momento presente e, depois, compartilhe as fotos que quiser. Não
estou aqui lançando um movimento antirredes sociais, mas sim, um movimento
a favor da vida real.
Acredite, não são as fotos que você tirou que vão ficar na sua memória. Elas só
ficarão na memória do seu celular e no mural da sua rede social. Os momentos
marcantes de verdade, os acontecimentos importantes, os que valeram a pena,
são aqueles que jamais esqueceremos independente de serem capturados
pela câmera. E os momentos que estão longe de serem perfeitos, no final das
contas, são aqueles que vão nos ensinar lições para toda a vida.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1
1.1 LIVROS
DEBORD, Guy. 2000. A Sociedade do Espetáculo. Editora Contraponto, Rio de
Janeiro. 240p.
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GREVE, Bent. Felicidade. Editora Unesp, 2013. 220p.
GUMBRECHT, Hans U. Modernização dos Sentidos. Editora 34, 1998. 320p.
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do hiperconsumo. Primeira Reimpressão. Companhia das Letras. 408p.
LISPECTOR, Clarice. Laços de Família. Rocco, 1960. 136p.
NOVAES, Adauto. 2005. Muito Além do Espetáculo. SENAC SP, São Paulo.
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SIBILIA, Paula. O show do eu - A intimidade como espetáculo. Nova Fronteira,
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Delight? Disclosure and liking behaviour in Facebook: the effects of sharing
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1.3 TEXTOS ELETRÔNICOS
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Disponível em: http://www.alexanderpalace.org/palace/adiaries.html#slide
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Disponível em: http://www.loc.gov/pictures/item/2004664436/ . Acesso em:
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smartphones-in-the-world-22013-2 . Acesso em: 07/02/2013.
1.4 ACERVOS DIGITAIS
Acervo digital do Museu da Cidade de Nova York.
http://collections.mcny.org
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1.5 FONTES
Matthew Pietropaoli. Professor de psicologia em Washington (DC), nos Estados
Unidos, na Catholic University of America.
Salomon Cytrynowicz. Fotógrafo e professor na Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo.