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FUNDAÇÃO INSTITUTO DE ADMINISTRAÇÃO, ENTIDADE INSTITUÍDA PELOS PROFESSORES DA FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO O Breakdown da Credicard Augusto Camargo José Vicente Veloso de Barros Odulpho G. P. Baracho Neto Orientador: Prof. Carlos Honorato São Paulo

TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

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Page 1: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

FUNDAÇÃO INSTITUTO DE ADMINISTRAÇÃO,

ENTIDADE INSTITUÍDA PELOS PROFESSORES DA FACULDADE DE

ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DA

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

O Breakdown da Credicard

Augusto Camargo

José Vicente Veloso de Barros

Odulpho G. P. Baracho Neto

Orientador: Prof. Carlos Honorato

São Paulo

2006

Page 2: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

O Breakdown da Credicard

Augusto Camargo

José Vicente Veloso de Barros

Odulpho G. P. Baracho Neto

Trabalho de Conclusão de

Curso apresentado à Fundação Instituto de

Administração, para conclusão do curso MBA Executivo

Internacional.

Orientador: Prof. Carlos Honorato

Prof. Dr. James Wright

São Paulo

2006

Page 3: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Prof. Carlos Honorato em manter nosso foco no formato de estudo

de caso e dirimir as dúvidas que tivemos ao longo do processo.

As nossas fontes, que por motivos de força maior, permaneceram anônimas nesta

empreitada.

Ao Sr. Mário Li que compartilhou conosco sua experiência e suas opiniões como

testemunha desse processo.

Ao Armando Levy que fez uma ponte sobre o passado, presente e futuro da

Credicard e seus sócios.

A todo time do MBA Executivo Internacional, que sempre nos proporcionou um bem

estar produtivo e amigável, mesmo durante as tarefas mais árduas.

Aos amigos da Turma 27 do MBA Executivo Internacional, que foram e sempre

serão motivo de inspiração, motivação e sabedoria.

As nossas companheiras que nos motivaram a perseguir a conclusão deste trabalho.

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Page 4: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

SUMÁRIO

1. Introdução: Tema do trabalho e justificativa...................................................................1

2. Descrição do caso........................................................................................................4

2.2. Competividade no setor financeiro no mercado atual...........................................5

2.3. A Credicard.................................................................................................................8

2.4. O Unibanco.................................................................................................................9

2.5. O Citibank.................................................................................................................10

2.6. O Itaú.........................................................................................................................11

2.7. O Breakdown............................................................................................................13

2.7.1. Cisão 1: Spin-off das operações afins...................................................................13

2.7.2. Cisão 2: Desinvestimento do Citibank e Unibanco na Orbitall...........................14

2.7.3. Cisão 3: Desinvestimento do Unibanco na Credicard.........................................15

2.7.4. Cisão 4: Divisão de ativos da Credicard entre Citibank e Itaú............................15

3. Questões......................................................................................................................16

3.1. Quais forças de Porter sofreram os acionistas para que eles gerassem cada uma das cisões?...................................................................................................................16

3.2. Dado a complexidade do contexto por que não houve conflitos que invializassem as cisões?.....................................................................................................16

4. Notas de Ensino com Referencial Teórico...............................................................17

4.1.1. As origens da Teoria dos Jogos............................................................................17

4.1.2. A Teoria dos Jogos.................................................................................................17

4.1.3. Análise de estratégias de equilíbrio......................................................................18

4.1.4. Antecipando os movimentos..................................................................................19

4.1.5. A influência da IO Economics e da New IO...........................................................20

4.1.6. Michael Porter e a Teoria dos Jogos.....................................................................20

4.1.7. Críticas à aplicação da Teoria dos Jogos na Administração Estratégica.........20

4.2. Barreiras de entrada e estratégias de entrada......................................................21

4.2.1. O modelo das cinco forças de Porter....................................................................21

4.2.2. As barreiras de entrada...........................................................................................21

4.2.3. Razões para a entrada.............................................................................................23

4.2.4. Formas para romper barreiras de entrada............................................................23

4.2.5. Janelas estratégicas e portões de entrada...........................................................25

4.3. Dissuasão de entrada..............................................................................................27

4.3.1. Mecanismos de Dissuasão de Entrada.................................................................27

4.3.2. Sinalização...............................................................................................................29

4.3.3. Credibilidade, Reputação e Comprometimento....................................................31

4.3.4. Posicionamentos Ofensivos e Defensivos...........................................................32

5. Conclusões..................................................................................................................35

6. Referências Bibliográficas.........................................................................................41

7. Anexos do Caso..........................................................................................................46

7.1. A Indústria de cartões de crédito...............................................................................46

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Page 5: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

1. Introdução: Tema do trabalho e justificativa

No quarto trimestre de 2004 o Unibanco transferiu suas participações na Credicard,

emissora de cartões de crédito, e na Orbitall, processadora de cartões de crédito. O

preço de alienação representou um múltiplo de 17,1 vezes o lucro combinado e de

10,4 vezes o patrimônio combinado das duas empresas. A transação foi paga em

dinheiro, produzindo entrada de caixa de R$ 1,7 bilhão. A participação de 33,3% na

Credicard foi adquirida pelos outros sócios, os bancos Itaú e Citibank, que passaram

a deter, cada um, 50% da companhia (OPERAÇÃO 2004).

O Itaú adquiriu a participação de 33,3% na Orbitall do Unibanco e também a

participação de 33,3% do Citibank, passando, então, a deter a totalidades das cotas

da empresa (o Itaú desembolsou o total de R$ 281 milhões na aquisição da Orbitall)

(SETUBAL 2004). O Unibanco não utilizava os serviços da Orbitall, uma vez que

possuía auto-suficiência no processamento de sua base de cartões de crédito e

private label. O Citibank continuou a utilizar a empresa para processar sua base de

cartões.

A Credicard, que foi oficialmente divida em duas em abril de 2006, teve em 2005 o

melhor desempenho dos seus 35 anos de existência. Os cartões da administradora

movimentaram R$ 22 bilhões, 27% acima de 2004. O número de plásticos aumentou

15%, para 8 milhões de cartões, informou ao Valor Econômico, Fernando Chacon,

diretor de marketing da Credicard (SILVA e CARVALHO 2004).

A Credicard era a empresa líder do segmento, benchmark (exemplo a ser seguido

de melhores práticas) de rentabilidade no mercado brasileiro de cartão de crédito.

Não se tratava, portanto, de uma empresa fragilizada em sua posição de mercado

ou em dificuldades financeiras. Dessa forma, estão excluídas as razões mais

freqüentes e intuitivas que justifiquem o término de uma sociedade.

Nesse trabalho pretende-se explorar as razões por que o Unibanco decidiu vender

sua participação na Credicard e na Orbitall e as motivações pelas quais o Itaú e o

Citibank decidiram dividir a empresa e extinguir a sociedade.

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Page 6: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

Adicionalmente, e cientes da pequena disponibilidade de dados públicos, tem-se a

intenção de discutir os desafios relacionados à divisão da base de clientes e de

funcionários entre os dois sócios: Itaú e Citibank.

Fatores que motivaram a construção desse caso:

1. Impacto do movimento da cisão da Credicard no setor de cartões de crédito e,

conseqüentemente, no sistema financeiro brasileiro.

2. Peculiaridade da decisão de dividir a empresa líder do segmento: o jogo de

poder e negociação que se pode depreender das notas divulgadas na

imprensa.

3. Fato (raro) de uma cisão ocorrer por motivadores estratégicos de médio prazo

dos sócios e não por pressões de organismos reguladores.

O pano de fundo das análises será a resultante distribuição do poder catalítico do

negócio de cartões de crédito, ou seja, ao longo do trabalho, buscar-se-á avaliar

os movimentos de cada sócio nesse intrincado tabuleiro estratégico tendo como

matizes não apenas o negócio de cartões de crédito propriamente dito, mas

também questões de penetração em mercados não-explorados (por exemplo,

private labels, que são cartões emitidos utilizando a própria marca do

estabelecimento comercial) e de vendas cruzadas (cross-selling), visto que o

produto cartão de crédito é tido como o tradicional produto de entrada de um

cliente em uma instituição financeira:

“Começa-se oferecendo aos portadores de cartões produtos como seguros,

previdência e linhas de crédito especiais, tais como financiamento imobiliário

e de veículos, por exemplo. Depois de reforçado o relacionamento com esses

clientes, o desafio é transformá-los em correntistas” (LIMA 2006).

Este estudo de caso pretende lançar um olhar crítico às decisões estratégias que

motivaram as cisões ocorridas na Credicard e em especial a que culminou no seu

breakdown em 2006.

Para os autores, os processos de cisão foram capitaneados pelos sócios (Unibanco,

Citibank e Itaú) e originários de pressões de mercado agindo sobre suas

corporações mãe. Nesse sentido, o breakdown foi fruto de ponderações e análises

que parecem ter incorporado elementos de posicionamento de mercado, conquista

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Page 7: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

de market share e ganho de escala e escopo em médio e longo prazo. Tudo isso

num contexto de decisões que remete e é amparado pelas Teorias dos Jogos e das

cinco Forças de Porter.

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Page 8: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

2. Descrição do caso

Há 30 anos, a associação entre Itaú, Unibanco e Citibank fazia todo o sentido. O

Citibank sabia fazer cartão e não tinha rede de distribuição. Itaú e Unibanco tinham

rede, mas não o know-how de cartões de crédito. E o governo vinha incentivando o

crédito ao consumo. Por razões quase “simbióticas” surgiu a Credicard.

Nos últimos 10 anos, a competitividade no setor bancário cresceu exacerbadamente,

fruto do amadurecimento natural no mercado interno, da entrada de novos bancos

do exterior, das F&A (fusões e aquisições) e da estabilização da economia brasileira.

Na busca por eficiência e crescimento mais que orgânico os sócios optam pela

autofagia dos ativos da Credicard. Esse processo de aquisição dos ativos originários

da Credicard é somente uma das muitas ações que o Unibanco, o Citibank e o Itaú

realizaram para conquistar um determinado posicionamento estratégico de longo

prazo e o acesso direto a novos mercados consumidores e uma linha de produtos

robusta no curto prazo.

A fim de entender o ambiente, as condições de contorno, as motivações, o

posicionamento e as estratégias dos principais atores dessa cisão, opta-se por se

fazer uma breve descrição do mercado, da empresa e dos sócios.

2.1.O panorama contemporâneo do mercado de cartões

Os analistas econômicos consideram que depois de um primeiro semestre com forte

crescimento, as projeções são de um segundo semestre também de expansão para

os meios de pagamento eletrônicos. Considerando apenas os cartões de crédito, o

crescimento deve ser de 25% este ano, com faturamento de R$ 160 bilhões, mostra

um levantamento da Credicard Itaú divulgado em 15/08/06 no Valor Econômico.

Já quando se incluem todos os tipos de cartões (débito, crédito e private label ou

cartões de loja), o aumento previsto para este ano deve ser de 22%, com transações

totais de R$ 247 bilhões, estima a Associação Brasileira das Empresas de Cartões

de Crédito e Serviços (VALOR 2006).

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Page 9: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

Segundo o estudo da Credicard Itaú, para o mês de agosto, o faturamento do crédito

deve atingir R$ 13,7 bilhões, um crescimento de 22,3% em relação ao mesmo

período do ano passado. Até então, agosto deve ser o mês deste ano com o maior

volume de operações: 152 milhões.

Pelos dados da Abecs, em dezembro haverá 387 milhões de plásticos no país, que

farão 4,4 bilhões de operações. O cartão de crédito deve liderar a expansão do

setor, com aumento de 23% no volume de compras. O débito deve crescer 21%. Já

os cartões de loja devem subir 17%.

2.2.Competividade no setor financeiro no mercado atual

O mercado de cartões eletrônicos continua a registrar taxas de crescimento

invejáveis de 20% a 30% ao ano (VIEIRA 2004) O chamado dinheiro de plástico se

incorporou ao hábito dos brasileiros e vem conquistando cada vez mais espaço nos

bolsos e carteiras dos consumidores em suas diversas versões: cartões de débito,

de crédito para pessoas físicas e empresas e private labels – estes levam a marca

de empresas. Pelas estimativas da Partner Consultoria, existe mais do que de 250

milhões de cartões de pagamentos eletrônicos em circulação no Brasil.

A grande aceitação desse sistema fez com que em 2004, pela primeira vez, os

cartões superassem as transações com cheques. Os dados divulgados pelo Banco

Central mostraram que os pagamentos com cartões de crédito e débito

representaram 37% das operações e com cheques 36%. Cinco anos antes, em

1999, os meios eletrônicos respondiam por apenas 16,2% das transações e os

cheques por 63,5% (VIEIRA 2004).

Parte da expansão do mercado deve-se também à firme inclusão bancária da

população de baixa renda, que vem sendo estimulada pelo governo federal. No

Banco do Brasil (BB), com 22 milhões de clientes no final de 2004, os 7 milhões de

cartões de crédito significaram um faturamento de R$ 13,6 bilhões (VIEIRA 2004).

O crédito consignado à folha de pagamentos foi uma dos produtos que possibilitou a

para a população de baixa renda ter acesso aos cartões de plástico (VIEIRA 2004).

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Page 10: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

“O Brasil é um dos mercados de crescimento mais acelerados da MasterCard em

todo o mundo”, diz Desmond Rowan, presidente da MasterCard International do

Brasil. Segunda maior bandeira de cartões do mundo, depois da Visa, a ampliação

da rede de aceitação dos plásticos é decisiva para seu crescimento. “Em 2004,

quebramos um recorde de 234 mil novos estabelecimentos credenciados”, diz. Hoje,

860 mil estabelecimentos estão ligados à rede. Em 2004, o faturamento foi

equivalente a US$ 16,8 bilhões, 29,2% a mais sobre o período anterior (VIEIRA

2004).

A Redecard, responsável pela captura e transmissão das transações da MasterCard,

alcançou um faturamento de R$ 53,5 bilhões em 2004 (VIEIRA 2004).

A American Express do Brasil, que não divulga dados de faturamento, também

estima uma expansão acima de 20% neste ano. O foco dessa bandeira continua

sendo as classes A e B, ou seja, renda acima de R$ 1.500,00. A estratégia de

crescimento é que os clientes aumentem os gastos médios das compras.

Atuando em todas as classes de renda, a Credicard apostava em crescimento acima

dos 20% previstos pelo mercado. De acordo com Fernando Chacon, vice-presidente

de marketing da empresa, quase metade das compras com cartões de crédito está

sendo parcelada em 4, 5 e até 12 vezes. “Há uma substituição dos cheques pré-

datados pelos cartões, o que facilita o controle de pagamento por parte de quem

compra e do lojista”

Do total de 250 milhões de cartões para pagamentos eletrônicos em circulação no

país (VIEIRA 2004), além dos cerca de 56 milhões de cartões de crédito, outros 120

milhões são de débito e uns 70 milhões ficam com o private label, ou seja, cartões

de marcas privadas, que procuram a fidelização dos clientes. “O crescimento de

private label tem sido da ordem de 20% ao ano”, ressalta.

A expansão acelerada de cartões, segundo Musa, acompanha o aumento do volume

de crédito ao consumidor. Logo depois do Plano Real, em 1995, o volume de crédito

ao consumidor era de R$ 25 bilhões, o que representava 2% do Produto Interno

Bruto (PIB) do país. Em 2004, o crédito ao consumidor chegou a R$ 124 bilhões, 8%

do PIB. Em três ou quatro anos deverá atingir 12% do PIB, o que é bastante

significativo (VIEIRA 2004).

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Page 11: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

Entre as empresas que possuem mais private labels estão: a C&A, com cerca de 12

milhões de cartões (criou o banco IBI para administrá-los); a Riachuelo, com 10

milhões; e a Pernambucanas, com 7 milhões. Destacam-se ainda a Renner e o

Carrefour, com cerca de 4,5 milhões cada um, além das Lojas Marisa, com 3

milhões.

Toda essa movimentação levou a uma série de parcerias entre o varejo e os bancos.

Em 2004, nasceu a parceria entre o Pão de Açúcar e o Itaú. Antes, o Unibanco tinha

já feito acordos com Ponto Frio, Magazine Luiza, Sonae e o distribuidor Martins.

Neste ano, o Unibanco fez parceria com o Makro para um private label em que o

cliente – pessoa física que compra em quantidade ou pequeno varejista – poderá

parcelar as compras em até 12 vezes.

Por muitos anos o mercado brasileiro não viu mudanças significativas de market

(vide figura 1)

5,0%

7,5%

10,0%

12,5%

15,0%

17,5%

20,0%

jan/01

mar/01

mai/01

jul/01

set/0

1

nov/01

jan/02

mar/02

mai/02

jul/02

set/0

2

nov/02

jan/03

mar/03

mai/03

jul/03

set/0

3

nov/03

jan/04

mar/04

mai/04

jul/04

set/0

4

Credicard

OurocardItaú

Bradesco

Unibanco

17,2%

13,9%

12,7%

10,8%

7,6%

Figura 1: Market Share de Cartões em 2004 (Fonte: SETUBAL 2004)

Outro segmento em que as instituições apostam suas fichas é o de cartões de

crédito corporativos. Cada vez mais empresas adotam esse instrumento para

controlar e ter maior transparência de seus gastos – pagamento de viagens de

funcionários, estadias em hotéis, alimentação e em compras indiretas como, por

exemplo, material de escritório. O pagamento pode ser feito em 30 ou 40 dias.

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Page 12: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

Os gastos das grandes e médias empresas com viagens, hotéis e alimentação de

gerentes e vendedores são elevados. Daí o interesse em controlar melhor essas

despesas. O Bradesco tem 24% desse segmento de mercado, o que representou

mais de 10% do faturamento de cartões de crédito.

Com o uso de cartões de crédito corporativos, as empresas chegam a economizar

de 15% a 18% nas despesas com viagens e compras indiretas, Os cartões de

crédito corporativos representam um terço do faturamento da Amex (American

Express) no país.

Promissor também é o segmento de cartões para os governos. Para a Visa do

Brasil, a revolução dos pagamentos eletrônicos melhora a eficiência dos governos

com o aumento da transparência e controle de gastos. Uma das negociações

iniciadas pela empresa é com a Receita Federal para pagamento do Imposto de

Renda com cartão de débito ou crédito em 2006.

2.3.A Credicard

A Credicard era a maior emissora de cartões de crédito do país, detentora (final de

2005) de uma base de 8,0 milhões (CREDICARD 2006) de cartões com as

bandeiras Visa, Mastercard e Diners Club. Era reconhecida como sinônimo da

categoria de cartões de crédito no Brasil.

De acordo com as informações postadas na página da própria Credicard

(CREDICARD 2006), a empresa oferecia ao cliente grande diversidade na sua linha

de produtos e serviços, adequados a diferentes faixas etárias, renda e estilos de

vida. No total, eram mais de 160 opções, desde a linha clássica aos cartões co-

brand e de afinidade, passando pelos cartões corporate, business e purchasing.

O desafio de se manter líder incluía a capacidade de se antecipar às novas

demandas do mercado, fazendo das prioridades do cliente as prioridades da

empresa. Com investimentos anuais em tecnologia, marketing e vendas que

superavam a casa dos R$ 215 milhões.

A preocupação em ser a referência do setor e buscar sempre a vanguarda ganha

dimensão clara, quando a empresa é avaliada pelos próprios consumidores, os

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Page 13: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

principais responsáveis pela difusão do nome Credicard como referência de cartão

de crédito. O índice de satisfação geral de seus mais de quatro milhões de clientes

chegou a 85%, acima dos padrões internacionais. A mesma cifra, de 85%, se repetiu

na avaliação geral de trabalho feita pelos próprios funcionários (CREDICARD 2006)

pesquisa de satisfação interna, nos moldes da Great Place to Work).

Ao longo de sua existência (de mais de três décadas), inovações e aprimoramentos

fizeram parte da rotina da empresa. A Credicard contribuiu para a difusão do

conceito que fortalece o crédito como instrumento capaz de impulsionar a economia,

ressaltando os diferenciais de praticidade, agilidade e segurança relacionados ao

cartão de crédito.

Em 2005, o Itaú e o Citibank anunciaram sua intenção de dividir a Credicard; na

verdade, de dividir os clientes e os funcionários da Credicard. Os dois bancos

decidiram compartilhar a marca até o final de 2008, quando um deles passará,

então, a deter direitos exclusivos sobre a marca Credicard.

2.4.O Unibanco

A estratégia de negócios do Unibanco tem consistido de agregar valor econômico

por meio de uma busca constante de maximização da eficiência, da escala e da

lucratividade.

Busca expandir sua base de clientes, inclusive por meio de vendas cruzadas entre

diferentes ramos de negócios, e atingir um alto grau de satisfação do cliente em

todos os produtos e serviços, por meio da excelência dos procedimentos internos,

como relacionamento com o cliente, distribuição otimizada, qualidade de crédito e

sinergia de processos.

Como outras instituições, o Unibanco acredita que, para manter uma escala

competitiva, precisa aumentar sua base de clientes, expandir a quantidade de

produtos e serviços oferecidos em cada um de seus segmentos de negócios e

identificar fontes adicionais de receitas. Viabilizadores desses planos são o

crescimento orgânico, as aquisições, as alianças estratégicas, as parcerias e o

controle de custos.

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Page 14: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

Nos últimos anos, o Unibanco reconheceu a oportunidade de aceleração do

crescimento de sua escala operacional na abordagem do segmento de baixa renda.

O desafio que se colocava era o de crescer de maneira rentável e sem afetar o

negócio principal do banco. A estratégia do Unibanco foi orientada às companhias

de crédito ao consumidor, pelas seguintes razões:

As companhias de crédito ao consumidor são filtros naturais, retendo apenas

os clientes de baixa renda tomadores de crédito, que são aqueles com reais

chances de se tornarem rentáveis; os demais, quando poupadores ou

orientados a transações desse segmento, são de difícil rentabilização.

O custo de aquisição de clientes é baixo, já que se faz dentro das lojas de

comércio, evitando-se despesas adicionais de estrutura.

O custo de atendimento também é baixo, na medida em que o atendimento

às necessidades dos clientes se faz primordialmente por meio de produtos de

relacionamento, tais como cartões de crédito e outros assistidos por mesas

telefônicas.

A boa relação receita-perda de crédito para adequada expertise de

concessão de crédito.

Oferta especialmente desenhada para esse perfil de cliente.

Oportunidade de bancarização completa de parte relevante dessa população.

2.5.O Citibank

O Citibank (Citi) tem demonstrado dificuldade em definir uma estratégia de

crescimento no País na última década. Decidido, inicialmente, a crescer sem apelar

para aquisições, não aproveitou as privatizações de bancos estaduais, tampouco as

negociações por bancos de varejo quebrados, como Nacional e Econômico. Durante

a gestão do CEO Sandy Weill, ameaçou partir para as aquisições, revelou interesse

pelo Banespa e pelo Banestado, mas não fechou nenhum desses negócios. Passou

quatro anos, entre 2000 e 2004, sem abrir uma única agência. Com foco declarado

nos clientes de alta renda.

10

Page 15: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

As idas e vindas lhe custaram posições no mercado. Em 2002, o Citibank ocupava a

oitava posição no ranking do Banco Central por volume de ativos, à frente de Nossa

Caixa, HSBC, Safra e Votorantim. Hoje, encontra-se na 12ª colocação, atrás de

todos eles (LIMA 2006).

No presente momento, o Citibank afirma estar empenhado em mudar o quadro que

denuncia sua tímida posição no Brasil, e há quem acredite que há elementos para

supor que, dessa vez, o plano pode dar certo.

Segundo matéria publicada no Isto é Dinheiro (LIMA 2006), o Citibank tem em mãos

uma ampla carteira de clientes fiéis à marca Credicard. A operadora de cartões tinha

seu controle dividido entre Citibank, Itaú e Unibanco. Com a saída deste último do

negócio, em novembro de 2004, a clientela foi dividida entre os sócios

remanescentes e o banco americano ganhou a preferência pela compra da marca

(dada como certa pelo mercado). Reorganizada em torno da bandeira Credicard Citi,

a operação de cartões do banco conta hoje com 4,4 milhões de plásticos – os 3,5

milhões oriundos da cisão, mais 600 mil do Citibank e 300 mil da bandeira Diners,

para clientes de alta renda. Na outra ponta do espectro social, a entrada do banco

no ramo do financiamento ao consumo popular, com a CitiFinancial, produziu uma

virada no balanço do banco. O prejuízo de R$ 334,9 milhões em 2004 transformou-

se em um lucro de R$ 198,6 milhões em 2005. Hoje, as operações de varejo já

respondem por metade da carteira de crédito da instituição (LIMA 2006).

O Citibank inicia sua investida oferecendo aos portadores de cartões Credicard Citi

produtos como seguro, previdência e linhas de crédito especiais (financiamento

imobiliário e de veículos, por exemplo). Depois de reforçado o relacionamento com

esses clientes, o desafio será transformá-los em correntistas. Paralelamente, a

Credicard Citi trabalhará para ampliar sua base de usuários. A meta é duplicar os

negócios da companhia até 2010.

2.6.O Itaú

Crescer com consistência é mais importante do que crescer rapidamente - eis aí

uma espécie de mandamento para o Itaú (ESPECIAL 2001). O segundo maior

banco do País não abre mão de seguir expandindo-se, mas não considera saltos no

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Page 16: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

escuro que possam tirar sua estratégia do rumo planejado pela diretoria. Manter um

padrão uniforme de serviços é o foco.

O atalho para acelerar o crescimento é por meio de aquisições. Comprador de três

dos quatro grandes bancos estaduais já postos à venda, o Itaú, nas palavras de seu

presidente, Roberto Setubal, é um banco "analisador". "Todas as instituições à

venda serão analisadas", afirma. "E não fazemos distinção de tamanho."

A experiência acumulada garante ao grupo uma posição privilegiada nos processos

de aquisição de instituições financeiras. Foi o Itaú que arrematou o primeiro banco

estadual transferido à iniciativa privada no País, o Banerj. Depois disso, adquiriu

ainda o Bemge, de Minas Gerais, e, no ano passado, o Banestado, do Paraná. Os

dois primeiros consumiram dois anos para se ajustar ao padrão de serviços do Itaú e

começar a dar lucro. O banco mineiro precisou até de um discreto corte de agências

pequenas demais, com menos de 300 clientes, que vinham de seu tempo como

instituição estadual. "Eram menores do que muitos postos de atendimento bancário

nossos", compara Setúbal (ESPECIAL 2001).

No Banestado, com toda a experiência acumulada, o processo foi mais acelerado. A

opção no Banerj foi pela manutenção da marca durante alguns anos, em função de

sua boa aceitação junto aos cariocas. No Bemge, 90% da rede já foi imediatamente

transferida (ESPECIAL 2001).

Uma das frentes que o Itaú vem testando é a dos negócios com a população de

baixa renda (ESPECIAL 2001).

A falta de conhecimento desse mercado se configurava uma desvantagem. O

investimento para atingir essa fatia do público tem sido grande e permanente (o

banco criou uma área inteira destinada a esse fim, a financeira Taií). O Itaú

acompanha tentativas em outras partes do mundo, na expectativa de achar um

modelo de sucesso.

No outro extremo, o banco achou o caminho para crescer na área de investimento. A

marca da instituição abriu, definitivamente, as portas a esse nicho com compra do

BFB (Banco Francês e Brasileiro), que ajudou a trazer conhecimento para dentro do

banco.

12

Page 17: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

2.7.O Breakdown

A Credicard nos últimos 10 anos passou por quatro processos de cisão (figura 2).

Fluxo do Breakdown

Em

isso

rA

cqui

rer

Pro

cesa

dora

Cisão 1 Cisão 4Cisão 3Configuração

InicialCisão 2

Credicard33% Citi33% Unb33% Itau

Credicard33% Citi33% Unb33% Itau

Redecard33% Citi33% Unb33% Itau

Orbitall33% Citi33% Unb33% Itau

Orbitall100% Itau

Credicard50% Citi50% Itau

CredicardCiti

CredicardItau

C2

C3

C4

C4

C1

Década de 70 Final da Década 90 2004 Final de 2004 2005-2006

Figura 2: Fluxo de Breakdown da Credicard

2.7.1. Cisão 1: Spin-off das operações afins

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Page 18: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

A Credicard gerou três empresas teoricamente independentes (a Credicard, a

Redecard e a Orbitall), mas vínculos históricos e benefícios econômicos

preservaram laços estreitos entre as três: praticamente dois terços dos negócios da

Orbitall eram feitos com a Credicard e outros 20% com a Redecard. Da mesma

maneira, 100% do processamento da Credicard era contratado da Orbitall.

Por outro lado, era também verdade que a Redecard contratava suas operações de

marketing telefônico (telemarketing) da Atento, uma subsidiária da Telefónica, ao

invés de contratar a Orbitall. Era importante que cada empresa desenvolvesse sua

própria filosofia. Em última instância, é o mercado que iria ditar as regras. Porém, a

atração de novos clientes era um enorme desafio que está relacionado à construção

das herméticas “muralhas da China” e da radical redução dos custos. Os três

bancos eram acionistas, clientes e concorrentes, ao mesmo tempo. O desafio era

administrar separando os três papéis de cada um.

Apesar de a Credicard apresentar resultados considerados excepcionais, era natural

que o acordo original, de trinta anos antes, precisaria ser revisitado, em decorrência

da evolução do mercado e da concorrência. Mas, obviamente, nenhuma mudança

poderia ser introduzida sem o consentimento unânime. Essa situação é denomida

como ‘coopetição’ (AZEVEDO, CARVALHO, SILVA, e SILVA 2002), ou seja,

cooperação e competição ao mesmo tempo.

2.7.2. Cisão 2: Desinvestimento do Citibank e Unibanco na Orbitall

Esse movimento representou uma clara especialização do Itaú no elo de

processamento da cadeia de valor de cartões; sem, todavia, significar

enfraquecimento dos demais sócios, visto que o Unibanco não utilizava a Orbitall

para o processamento de seus cartões desde 1999 (após a aquisição do Banco

Nacional, passou a investir na própria processadora ) e o Citibank estudava (e ainda

estuda) migrar essas atividades para plantas na América do Norte ou na Ásia.

No material da apresentação de resultados do Banco Itaú Holding Financeira

referente ao 3º Trimestre de 2004, dentre as principais motivações do Itaú para a

aquisição da Orbitall e para o aumento da participação na Credicard, constavam:

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Page 19: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

Reforço da estratégia de atuação no mercado de cartões de crédito;

Aumento das sinergias decorrentes da maior escala de emissão de cartões e

processamento de transações;

Diversificação de produtos de processamento ligados à utilização de cartões

como meios de pagamento;

Aumento significativo da participação de mercado: em quantidade de cartões, saindo

de 12,9% para 20,1% em um mercado de 51,1 milhões de cartões (SETUBAL 2004).

2.7.3. Cisão 3: Desinvestimento do Unibanco na Credicard

A decisão do Unibanco de vender sua fatia de 33% no Credicard Banco ao Citigroup

e ao Itaú foi justificada pela redução dos ganhos com estes ativos nos ganhos do

banco. No ano 2000 o resultado das operações com o Credicard representava cerca

de 48% do lucro do Unibanco referente a crédito ao consumo e cartões de crédito.

Hoje esse percentual limita-se a 15%. No lucro total da instituição, a margem de

participação das operações de vendas pela Credicard declinou de 20% em 2000

para 6% em 2004 (OPERAÇÃO 2004).

O montante da operação de venda das participações na Credicard e na Orbital, no

total de R$ 1,676 bilhão (que equivale, deduzidos os custos contábeis, a um lucro

não operacional antes de impostos de US$ 1,4 bilhão) foi utilizado na amortização

de ágios de aquisições de empresas feitas recentemente (Hipercard, operadora

nordestina de cartões de crédito adquirida por R$ 200 milhões, e o banco

Bandeirantes).

2.7.4. Cisão 4: Divisão de ativos da Credicard entre Citibank e Itaú

Conforme já mencionado, há 30 anos, a associação entre Itaú, Unibanco e Citibank

fazia todo o sentido. O Citibank sabia fazer cartão e não tinha rede de distribuição.

Itaú e Unibanco tinham rede, mas não o know-how de cartões de crédito. E o

governo vinha incentivando o crédito ao consumo.

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Page 20: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

O desenho começou a não fazer sentido em 1995, quando o Unibanco comprou

parte do Nacional. À época, a Credicard era emissora exclusiva de cartões

Mastercard. E o Nacional, emissor da bandeira Visa. O Unibanco passou a emitir

isoladamente seus cartões Visa, o que obrigou a Credicard a deixar de ter apenas

uma bandeira. Com o Nacional, o Unibanco ficou com uma enorme carteira e um

sistema próprio de processamento e que neste contexto não fazia sentido dividir isso

como os outros sócios da Credicard.

No fim da década de 90, o Citibank já tinha rede, embora pequena e seus dois

sócios na Credicard já haviam aprendido a trabalhar com cartões de crédito. Em

2000, mais um golpe. O Itaú criou sua própria emissora de cartões, a ItauCard. No

fim de 2003, mesma época em que a Credicard recebeu autorização para se

transformar em banco, Unibanco e Citibank criaram estruturas separadas, a Unicard

e o CitiCard.

Neste momento, todos os bancos começaram a lançar seus próprios produtos. Não

fazia sentido o Itaú e o Unibanco trabalharem uma terceira marca.

O golpe fatal na sociedade, porém, veio com dois negócios fechados no ano

passado: a compra pelo Unibanco da HiperCard (ligada ao Bompreço) e a

associação de Itaú e Pão de Açúcar para criação de uma financeira. A convivência

entre Itaú e Unibanco se tornou difícil e passou a ser mediada, em alguns casos,

pelo Citibank. Chegara a hora do divórcio. O Unibanco recusou-se a dividir a

empresa e preferiu vender sua parte aos dois sócios.

Menciona-se, inclusive, que a Credicard tinha interesse em adquirir a Hipercard e

que, na ocasião, fez uma proposta. Especulações permeiam o mercado financeiro

relativamente à extensão da proposta da Credicard era previamente conhecida pelo

Unibanco (então sócio da empresa) e se o lance vencedor foi feito com total isenção

e independência.

3. Questões

3.1. Quais forças de Porter sofreram os acionistas para que eles gerassem

cada uma das cisões?

3.2.Dado a complexidade do contexto por que não houve conflitos que

invializassem as cisões?

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Page 21: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

4. Notas de Ensino com Referencial Teórico

No caso presente propõe-se analisar a dinâmica sofrida pela Credicard sob o

arcabouço da Teoria de Jogos e das Forças de Porter.

Os textos que seguem neste referencial teórico foram transcritos de AZEVEDO

2002.

4.1.1. As origens da Teoria dos Jogos

Em 1944, o matemático John von Neumann e o economista Oskar Morgenstern

publicaram o livro Theory of Games and Economic Behavior (segunda edição em

1947). Este trabalho representou, segundo DI BENEDETTO (1987), o resultado do

esforço iniciado nos anos vinte por Borel e von Neumann. A Teoria dos Jogos

inicialmente criada por estes autores era a aplicação da matemática às situações

sociais onde indivíduos racionais procuravam obter o maior retorno possível em

circunstâncias estabelecidas (enfoque tipicamente "maximizador").

Muitos outros desenvolvimentos importantes, desde o início dos anos sessenta até

os anos oitenta, tornaram a Teoria dos Jogos uma ferramenta importante para os

estudos econômicos.

Entretanto, como apontado por BRANDENBURGER e NALEBUFF (1995), a Teoria

do Jogos teve a sua maturidade finalmente reconhecida em 1994, quando John

Nash, John Harsanyi e Reinhart Selten, três pioneiros deste campo de estudo,

receberam o Prêmio Nobel de Economia.

4.1.2. A Teoria dos Jogos

Segundo OSBORNE e RUBINSTEIN (1994), a Teoria dos Jogos é um conjunto de

ferramentas criadas para auxiliar o entendimento dos fenômenos observados

quando tomadores de decisão (jogadores) interagem entre si. Partindo do

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Page 22: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

pressuposto de que os tomadores de decisão agem racionalmente na busca de seus

objetivos, a Teoria dos Jogos leva em conta as capacidades, os conhecimentos e as

expectativas dos diversos jogadores para criar representações abstratas de uma

extensa classe de situações reais.

A Teoria dos Jogos é baseada, segundo CRAINER (1996), na premissa de que em

qualquer situação competitiva (que não seja determinada por puro acaso) existem

fatores que podem ser representados matematicamente e analisados de forma que

expliquem qual resultado prevalecerá.

Percebe-se, então, que a compreensão adequada destas relações amplia as

possibilidades de sucesso do jogador.

A Teoria dos Jogos faz uso da matemática para expressar formalmente as idéias

compreendidas pelo modelo. Entretanto, como destacam OSBORNE e

RUBINSTEIN (1994), ela não é inerentemente matemática, ainda que o uso do

instrumental matemático facilite a formulação dos conceitos, a verificação da

consistência das idéias e a compreensão das implicações do modelo composto.

Trata-se, na realidade, de um ferramental analítico para o estudo de situações onde

haja interação e conflitos de interesses entre diversos participantes. Situação típica

em negócios.

A classificação do jogo de acordo com os diversos tipos possíveis de jogos permite

que ele represente, com maior ou menor fidelidade, diversas situações de conflito

real. Entre as possíveis classificações para tipos de jogos (AZEVEDO, CARVALHO

e SILVA, 1999), temos: jogos baseados em regras x jogos de desenvolvimento livre,

jogos cooperativos x jogos não cooperativos, jogos de informação perfeita x jogos de

informação imperfeita e jogos de soma zero x jogos de soma não zero.

4.1.3. Análise de estratégias de equilíbrio

Uma das abordagens para analisar um jogo se faz por meio da análise das

estratégias que conduzem aos seus possíveis equilíbrios. Sob este aspecto, existem

dois tipos de equilíbrio básicos: o equilíbrio de estratégias dominantes e o de Nash.

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Page 23: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

RASMUSEN (1989) define uma estratégia dominante como sendo, estritamente, a

melhor resposta para qualquer estratégia que tenha sido escolhida pelos outros

jogadores, e que proporciona sempre o maior payoff. Quando estratégias adotadas

por jogadores permanecem inalteradas, diz-se que um equilíbrio de estratégias foi

montado. Um equilíbrio de estratégias dominantes é único, e representa a

combinação das estratégias dominantes de cada jogador. TAVARES (1995) define o

equilíbrio de Nash como sendo a combinação de estratégias ótimas de cada

jogador, ou seja, a melhor resposta às estratégias dos outros jogadores.

Uma vez atingido o equilíbrio de Nash, nenhum jogador tem incentivo para desviar-

se dele, dado que os outros jogadores também não desviam.

Nesse sentido, todo equilíbrio de estratégias dominantes é também um equilíbrio de

Nash, mas nem todo equilíbrio de Nash é um equilíbrio de estratégias dominantes.

4.1.4. Antecipando os movimentos

Nos jogos de estratégia em geral, prever como os competidores reagirão aos

movimentos e antecipar-se às suas próximas ações constitui uma enorme

vantagem. É sob esta ótica que a Teoria dos Jogos adquire especial relevância, uma

vez que seu instrumental analítico visa a permitir a identificação dos movimentos

mais adequados a se realizar, de acordo com a movimentação da concorrência.

Segundo BRANDENBURGER e NALEBUFF (1995), o jogo dos negócios deve ser

jogado utilizando-se da observação e da análise dos movimentos passados do jogo,

para determinar qual é a ação que, se tomada hoje, poderá conduzir a organização

a uma determinada posição no futuro.

Ou seja: "olhar para a frente, repensando o passado".

Nesse sentido, MAITAL (1991) complementa afirmando que "olhar para a frente,

repensando o passado" implica que se deva inicialmente escolher a situação final

que nos pareça a mais interessante para, depois, traçar o caminho de volta

identificando qual é a estratégia capaz de nos conduzir à situação desejada.

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Page 24: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

4.1.5. A influência da IO Economics e da New IO

Em 1973, Michael Porter apresenta sua tese de doutorado – Consumer Behavior,

Retail Power, and Manufacturer Strategy in Consumer Goods Industry –, marco

inicial de seus estudos que relacionam a Estratégia Empresarial com a Economia

Industrial. Diversos conceitos incorporados por Porter, por exemplo o conceito de

barreira de entrada, foram desenvolvidos na IO Economics (YIP, 1982).

Sete anos mais tarde, esse autor publica seu livro Competitive Strategy, que se

tornaria um clássico, revolucionando os estudos de Estratégia de Negócios. Em

PORTER (1985), o próprio autor relata, com clareza, a essência de seu primeiro

livro:

4.1.6. Michael Porter e a Teoria dos Jogos

Porter, de certa forma, percebeu que o desenvolvimento de seu trabalho caminhava

consistentemente no sentido de "olhar para dentro das empresas", ao invés de

manter o foco voltado para o conjunto das empresas que compõem o setor

industrial. Segundo FOSS (1996), o fato de a evolução do pensamento de Porter

estar baseada em um referencial eclético resultou em várias adaptações ad hoc em

seu trabalho. Recentemente, seu pensamento vem sofrendo influência da

abordagem resource based, que tem sido uma importante fonte de

complementaridade para a sua tipologia.

4.1.7. Críticas à aplicação da Teoria dos Jogos na Administração

Estratégica

Em seu artigo Towards a Dynamic Theory of Strategy, PORTER (1991) diz que os

modelos da Teoria dos Jogos falham em representar as escolhas simultâneas

relacionadas com um conjunto maior de variáveis. Esses modelos se concentram

apenas em um pequeno número de variáveis, tratando-as de forma seqüencial e

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Page 25: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

forçando, assim, uma homogeneidade de estratégias. Para ele, as distintas posições

competitivas só podem ser definidas a partir dos trade-offs, das interações e da

representação das muitas variáveis que compõem a cadeia de valor.

Por fim, PORTER (1991) alerta que os modelos da Teoria dos Jogos mantêm fixas

várias variáveis que, sabidamente, mudam, o que, segundo ele, é uma ironia, já que

esses modelos exploram a dinâmica de um mundo quase que estático. Ou seja, o

"jogo das empresas" é muito complexo para que os modelos aplicados da Teoria dos

Jogos – homogêneos, seqüenciais, simplificados e lentos – possam produzir

resultados válidos. Mesmo as abordagens mais completas, opostas às

simplificações do no fat, seriam ineficientes.

Esta também é a posição de GRUCA e SUDHARSHAN (1995), que, mesmo

considerando a aplicação da Teoria dos Jogos apenas ao entry deterrence, julgam

que esta seja limitada. Eles citam especificamente as seguintes deficiências:

mercado normalmente reduzido a um duopólio, dificuldade de modelar a assimetria

de informações e racionalidade questionável.

4.2. Barreiras de entrada e estratégias de entrada

4.2.1. O modelo das cinco forças de Porter

PORTER (1980) apresenta, na sua tipologia de estudo da competição, um diagrama

representativo das forças que dirigem a concorrência na indústria, que ficou

amplamente conhecido como "o modelo das cinco forças". Essas forças são:

ameaça de entrada, ameaça da rivalidade, ameaça dos substitutos, ameaça dos

fornecedores e ameaça dos compradores.

Monitoração constante dessas forças são essenciais para a formulação e

manutenção de uma estratégia competitiva, uma vez que evidenciam os pontos

fortes e fracos da empresa, a qual, conhecendo-se melhor, poderá tirar proveito das

oportunidades e se defender de maneira mais efetiva das ameaças que a cercam.

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Page 26: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

4.2.2. As barreiras de entrada

As barreiras de entrada são definidas por BARNEY (1997) como os atributos da

estrutura de uma indústria que aumentam o custo de entrada.

PORTER (1980) estabelece seis fontes principais de barreiras de entrada:

economias de escala, diferenciação do produto, necessidade de capital, custos de

mudança, acesso aos canais de distribuição e desvantagens de custo

independentemente de escala. Além dessas, ele menciona ainda a política

governamental como possível barreira. O autor afirma que os fatores que criam

barreiras de entrada são, em geral, resultantes da adoção de uma estratégia que

eleva o custo de entrada a outras empresas.

Economias de escala referem-se aos declínios nos custos unitários de um produto à

medida que o volume produzido aumenta. Elas detêm a entrada forçando a empresa

entrante a ingressar em larga escala e arriscar-se a uma forte reação das empresas

existentes, ou a ingressar em pequena escala e sujeitar-se a uma desvantagem de

custos.

Diferenciação do produto, por sua vez, refere-se a empresas que possuem marcas

identificadas e contam com certa lealdade por parte dos consumidores. A

diferenciação, por conseguinte, cria uma barreira à entrada, forçando os entrantes a

efetuar despesas para superar os vínculos estabelecidos com os clientes.

Necessidade de capital reflete-se, por exemplo, na necessidade de o entrante

despender grandes somas relacionadas ao produto, pesquisa e desenvolvimento,

produção e promoção, e ao mercado, vendedores e distribuidores.

Custo de mudança são custos do comprador decorrentes da mudança de um

fornecedor de produto para outro, e podem incluir custos de um novo treinamento

dos empregados, custo de utilização de novos equipamentos, custos de

incompatibilidade entre o produto novo e os de assistência técnica.

O controle e o restrito acesso aos canais de distribuição limita a penetração de

novos concorrentes.

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Page 27: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

Desvantagem de custos independentes de escalas refere-se, por exemplo, a fatores

críticos como tecnologia patenteada, acesso favorável às matérias-primas e curva

de experiência, que atribuem vantagem de custos às empresas estabelecidas.

Por último, a política governamental pode limitar ou até mesmo impedir a entrada,

entre outras formas, por meio da limitação ao acesso a matérias-primas, de

exigências de licenças especiais para operação em determinada indústria e de

controles em conformidade com padrões de poluição ambiental.

4.2.3. Razões para a entrada

De forma geral, os novos entrantes surgem em uma indústria em virtude de atrativos

identificados nesta indústria, extinção ou declínio de outras indústrias ou excedente

de capital a ser investido de forma diversificada. Os atrativos concernem à situação

presente e à expectativa futura, e apresentam diferentes graus dentro de

determinada indústria, em razão da existência de grupos estratégicos. Assim, uma

indústria que, por exemplo, possua elevado potencial de crescimento futuro, alta

lucratividade e baixa competição é uma indústria altamente atrativa para novos

entrantes.

PORTER (1980) afirma, corroborando as razões já apresentadas, que as empresas

entram em uma indústria porque elas percebem as oportunidades de crescimento e

lucros que superam os custos de entrada.

4.2.4. Formas para romper barreiras de entrada

Uma vez identificada uma indústria atrativa, os novos entrantes devem avaliar suas

barreiras de entrada. Busca-se então limitar a ação dessas barreiras a fim de

contorná-las ou rompê-las.

PORTER (1980) destaca alguns métodos de entrada que se baseiam na superação

de barreiras.

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Page 28: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

Empresas podem oferecer um produto superior, descobrir um novo nicho, introduzir

uma inovação no marketing e utilizar uma distribuição já estabelecida. Além disso, a

redução de custos do produto implica a fabricação do produto com um custo mais

baixo que o dos participantes da indústria. Por último, a aquisição pode ser uma

estratégia importante, principalmente para empresas que estão saindo de setores

em declínio e querem assegurar a sua sobrevivência (BARNEY, 1997).

Na perspectiva de PORTER (1980), as barreiras de entrada são fontes importantes

de vantagem competitiva uma vez que permitem a obtenção de lucros em mercados

protegidos. D’AVENI (1994) ressalta que a globalização, o desenvolvimento

tecnológico e a tecnologia da informação estão tornando os mercados mais

dinâmicos e competitivos. Em resposta a essas mudanças, os competidores estão

se tornando cada vez mais flexíveis e competitivos. Nesse cenário, os potenciais

entrantes e os concorrentes já estabelecidos vêem-se cada vez mais pressionados a

encontrar meios de superar as barreiras de entrada.

O atual dinamismo dos mercados mina as tradicionais fontes de vantagens

competitivas anteriormente duradouras. Como conseqüência, a duração das

barreiras de entrada diminui rapidamente, tornando seu tempo de vida cada vez

mais efêmero. Um exemplo disto é que à medida que os ciclos de vida dos produtos

ficam mais curtos, economias de escala e curvas de experiência passam a ter menor

importância.

Nesse contexto, a diferenciação do produto dá lugar à imitação ou à valorização de

atributos como qualidade e design. A necessidade de capital não é sempre

determinante: basta notar o número de casos de sucesso de empresas "pobres de

capital e ricas em cérebros". Os custos de mudança são superados pelo aumento da

compatibilidade dos produtos, reduzindo os custos de mudança para o consumidor.

O acesso aos canais de distribuição pode ser implementado por meio da aquisição

de uma rede de distribuição existente. O entrante supera suas desvantagens de

custos relativos à limitação de escala utilizando vantagens como o aumento da

produtividade e a inovação de processos.

Apesar da tendência de redução da eficácia das barreiras de entrada, D’AVENI

(1994) faz a ressalva de que isto não significa que todos os potenciais entrantes

terão a habilidade e a capacidade de romper as barreiras que cercam uma indústria;

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Page 29: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

em verdade, as barreiras serão obstáculos intransponíveis para a maioria deles.

Contudo, existe uma minoria capaz de superá-las, o que torna a missão de dissuadir

a entrada ainda mais inglória.

Existem também breves momentos de transição, como mudanças de padrão

motivadas por avanços tecnológicos, redefinição de mercados, mudanças nos

canais de distribuição e outros tipos de descontinuidades, nos quais as barreiras

deixam de existir. ABELL (1978) diz que nesses momentos são criadas strategic

windows (janelas estratégicas), pelas quais novos entrantes podem ter acesso ao

mercado.

4.2.5. Janelas estratégicas e portões de entrada

Observando o caráter dinâmico das barreiras de entrada, ABELL (1978) e YIP

(1982) investigaram em seus trabalhos clássicos a variação das oportunidades de

entrada no tempo. O conceito básico é que a conjunção de determinados fatores

pode permitir a abertura de uma "janela estratégica" quando, em períodos limitados

de tempo, os requerimentos-chave para a entrada em um mercado em particular e

as competências de uma dada empresa coincidem (ABELL, 1978).

O conceito de janela estratégica reforça a natureza dinâmica da entrada, até então

pouco reconhecida. A chave deste conceito está em basear o planejamento de

marketing nas previsões sobre o comportamento futuro do mercado e o

desenvolvimento da capacidade da empresa em lidar com mudanças. Esta postura

coincide com a base da Teoria dos Jogos, que é posicionar-se de acordo com os

movimentos previstos para os outros players.

ABELL (1978) identifica quatro maneiras básicas pelas quais um mercado pode

evoluir e criar janelas estratégicas para novos entrantes: (1) pelo desenvolvimento

de oportunidades de novas demandas primárias; (2) pela mudança da tecnologia

competitiva; (3) pela redefinição do mercado; e (4) pela mudança de canais de

distribuição. Dando exemplos destas mudanças, o autor nos permite compreender

que os "recursos requeridos" (financeiros, de marketing, de engenharia ou o que

mais possa ser) para a entrada em um dado negócio podem mudar radicalmente de

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Page 30: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

um momento para o outro. Ou, ainda, que os recursos e competências próprios de

uma dada empresa normalmente não podem ser ajustados rapidamente.

Essa situação particular representa a chance que os potenciais entrantes têm para

atacar. A utilização de uma janela estratégica criada por uma mudança de canal de

distribuição permitiu, por exemplo, que a Gillette entrasse no mercado de isqueiros

(com a marca Cricket), utilizando a sua rede capilarizada de distribuição e a sua

habilidade em comercializar produtos de baixo custo e de compra repetida.

Ainda, foi uma janela do tipo "redefinição de mercado" que permitiu que os grandes

fabricantes de computador entrassem no mercado de ATM's (máquinas de auto-

atendimento bancário) quando os bancos passaram a necessitar soluções mais

integradas.

Estudos empíricos citados por YIP (1982) mostram que a existência de barreiras a

ser superadas e a entrada de novos players costumam ser prejudiciais a ambos: aos

novos entrantes e às empresas já estabelecidas no mercado. A entrada forçada de

uma nova organização pode ter efeito kamikaze. Mesmo que os novos entrantes

apresentem uma performance fraca, as margens das vendas dos competidores

reduzem-se 7% em média.

A visão de YIP (1982), com os seus "portões de entrada" (gateways to entry),

aproxima-se da visão de ABELL (1978), mas admite uma postura mais ativa das

empresas para reduzir e evitar barreiras.

Ele destaca duas formas básicas de tentar reduzir uma barreira de entrada: ou

utilizando as mesmas estratégias competitivas vigentes no mercado, ou fazendo uso

de estratégias diferentes.

Utilizar a mesma estratégia dominante da indústria pode implicar menores riscos

mas exige uma atuação "força bruta", já que a demanda de capital e de esforço é

muito grande. A utilização de uma estratégia desafiadora, baseada no princípio das

janelas estratégicas de Abell, tende a ser uma forma mais "elegante" de entrada (e

mais barata também).

Entretanto, YIP (1982) ressalta que quanto mais maduro o mercado, menor tende a

ser o espectro de possíveis estratégias desafiadoras. Evidências empíricas

levantadas por YIP (1982) mostram ainda que a grande maioria dos novos entrantes

tende a ter um posicionamento estratégico pior do que os já estabelecidos. O autor

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Page 31: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

percebe aí fortes indícios de que o uso de "estratégias clones" é a melhor opção, por

implicar menor risco e exigir menos experiência específica.

Verificou-se aqui, então, as formas pelas quais as empresas entram em uma

indústria-alvo.

4.3.Dissuasão de entrada

Vai-se inicialmente apresentar uma revisão do tema e tratar de questões que lhe são

típicas, como sinalização, credibilidade, reputação, comprometimento e construção

de barreiras. Esta discussão caminhará, naturalmente, em direção à Teoria dos

Jogos. Para as empresas de uma dada indústria, quando existe o risco de um novo

entrante, emerge a possibilidade de escolha entre uma estratégia de dissuasão e

uma de acomodação da entrada. Esta escolha será discutida aqui.

Este capítulo encerra também a revisão da teoria, possibilitando então que se

verifique, na conclusão, quais são as contribuições que a Teoria dos Jogos oferece

ao tema e em quais situações as empresas devem fazer uso da dissuasão de

entrada.

4.3.1. Mecanismos de Dissuasão de Entrada

A literatura sobre o tema cita diversas formas possíveis de dissuasão de entrada,

entre as quais estão incluídas muitas variações dos mecanismos mais básicos.

Existe inclusive uma certa dificuldade em diferenciar ações que criam situações de

dissuasão de entrada e as barreiras de entrada inerentes a uma indústria.

Citam-se aqui alguns mecanismos de dissuasão de entrada relacionados por

SMILEY (1988):

Excesso de capacidade – Construir capacidade produtiva em quantidade

suficiente para que a empresa tenha condições de suprir toda a demanda do

mercado e "espante" as demais.

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Page 32: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

Curva de aprendizado – A experiência adquirida pela grande quantidade

produzida de um produto e o baixo custo unitário obtido em conseqüência

disto mantêm a concorrência afastada.

Propaganda intensiva - Anunciar e promover intensivamente um produto

pode criar um tal nível de lealdade que reduza a atratividade do mercado.

Coleção de patentes – Desenvolver ou adquirir grande quantidade de

patentes relacionadas com algum produto para impedir a entrada de

concorrentes.

Reputação – Dar a entender, por meio da mídia ou de outra forma de

comunicação possível, que qualquer tentativa de entrada será rigorosamente

combatida.

Limite de preço estático - Estabelecer um preço inicial baixo o suficiente

para que os concorrentes não se interessem em entrar no mercado.

Limite de preço dinâmico – Reduzir o preço progressivamente, de forma

que mesmo se ocorrerem novas entradas estas sejam progressivamente

combatidas.

Linha completa de produtos – Estender a linha de produtos de tal forma

que não sobre espaço para a entrada em nenhum segmento.

Ocultar os lucros – Empresas com diversos negócios podem

deliberadamente impedir que os lucros de cada produto sejam conhecidos,

impedindo assim que a concorrência perceba a atratividade dos mercados.

Contratos de longo prazo – Assinar contratos de longo prazo com

consumidores, intermediários e atacadistas.

Controlar as especificações – Encontrar uma forma de controlar as

especificações e os regulamentos vigentes, de maneira a tentar manter-se só

no mercado.

Atacar promoções e contatos iniciais – Os contatos iniciais com os

distribuidores e as promoções de lançamento podem ser minadas com

agressividade antes mesmo que ocorram.

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Page 33: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

Manter segredo – Manter ocultos o desenvolvimento, a pesquisa e os

processos produtivos, para impedir imitações.

Esgotar a matéria-prima – Adquirir todos os estoques ou as fontes de

matéria-prima.

Conquistar os líderes – Vender para os principais compradores e para os

formadores de opinião a qualquer preço.

Anunciar com antecedência exagerada – Anunciar os lançamentos muito

antes que eles aconteçam.

Existem, logicamente, outras maneiras de dissuasão de entrada, mas as

mencionadas acima são as mais usuais e importantes. Pode-se perceber que estas

envolvem ações a ser tomadas, relativas a fatores internos da empresa, aos

competidores e à relação da empresa com o ambiente.

4.3.2. Sinalização

A lógica por trás da dissuasão da entrada (entry deterrence) de um concorrente é

utilizar estratégias de defesa em conjunto com barreiras de entrada para impedir ou

dissuadir determinado concorrente de realizar um movimento estratégico que possa

prejudicar o posicionamento da empresa. Uma vez que a empresa esteja disposta a

dissuadir a entrada de concorrentes em potencial, deve avisá-los por intermédio de

sinais de mercado.

PORTER (1980) considera sinal de mercado qualquer ação de um concorrente que

forneça uma indicação direta ou indireta de suas intenções, motivos, metas ou

situação interna. A sinalização é a forma que a empresa possui para externalizar

seus propósitos estratégicos, podendo ser efetuada por meio de ações, a exemplo

da baixa de preços, ou por anúncios. As ações implementam diretamente

determinado movimento estratégico da empresa no mercado. Os anúncios são

veiculados publicamente, no mercado, ou em particular, às empresas interessadas,

e objetivam a divulgação de movimentos da empresa sinalizadora. Os movimentos

dessa empresa podem ser isolados ou poderá haver um apoio interno na indústria

para um movimento estratégico em conjunto.

29

Page 34: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

A razão principal para sinalizar no mercado é moldar o comportamento dos

concorrentes em prol de uma empresa ou da indústria como um todo.

DAY, HEIL e REIBSTEIN (1997) destacam que os sinais, ações ou anúncios podem

ser utilizados para influenciar movimentos dos concorrentes no sentido de: evitar um

ataque, bloquear a entrada, dividir mercado e testar a reação dos concorrentes.

Tratando-se de dissuasão de entrada, a divulgação das intenções estratégicas da

empresa, individualmente ou em conjunto com os concorrentes, indica possíveis

retaliações contra novos entrantes na indústria, possibilitando que eles sejam

dissuadidos de entrar no mercado. Da mesma forma, a sinalização da empresa

individualmente pode dissuadir movimentos estratégicos dos concorrentes dentro da

indústria.

Entre as atitudes possíveis de sinalização, GRUCA e SUDHARSHAN (1995) citam o

aumento da capacidade. Quando uma empresa aumenta a sua capacidade de

produção acima das perspectivas de crescimento da demanda, ela envia um sinal

aos possíveis entrantes de que está dando um passo irreversível para continuar

dominando o mercado e que, caso exista uma tentativa de entrada, será obrigada a

ir até as últimas conseqüências.

Esse exemplo é útil para mostrar que a sinalização, como qualquer outra forma de

comunicação, não está imune a mal-entendidos. Um investimento para aumentar a

capacidade pode ser interpretado, por um entrante potencial mal informado a

respeito do tamanho da demanda, como uma antecipação de crescimento de

demanda possível (GRUCA e SUDHARSHAN, 1995). Este possível entrante pode,

então, considerar o mercado como o alvo perfeito e tentar passar por uma janela

estratégica que não existe.

Aliás, na interpretação de TIROLE (1988), a dissuasão de entrada é um assunto

complexo, em grande parte graças às imprecisões na codificação e decodificação

das mensagens, ou seja, justamente por questões inerentes à comunicação entre

entrantes e já estabelecidos.

30

Page 35: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

4.3.3. Credibilidade, Reputação e Comprometimento

DAY, HEIL e REIBSTEIN (1997) ressaltam que as empresas podem optar por dois

tipos de sinais: ações ou anunciações. Ações são mais caras, mais acreditáveis,

difíceis de ser revertidas e de implantação mais lenta do que as anunciações. Para

que estas últimas possam ser úteis no caso da dissuasão à entrada, a empresa

dissuasora deve possuir uma reputação que dê credibilidade a sua anunciação.

DIXIT e NALEBUFF (1991) alertam para o fato de que a credibilidade é um problema

relacionado com todos os movimentos estratégicos: "Se o seu movimento

incondicional, promessa ou ameaça for ‘da boca para fora’, porque você o colocaria

em prática se não é do seu interesse fazê-lo?". Neste caso, os interessados na sua

anunciação olharão para o futuro e, repensando o passado (por meio do uso da

indução retrógrada – backward induction), concluirão que você não tem incentivo

para seguir em frente, e assim o seu movimento estratégico não terá o efeito

desejado. Estabelecer credibilidade significa, no sentido estratégico, que é esperado

que o jogador coloque em prática seus movimentos incondicionais, cumprindo suas

ameaças e promessas. Credibilidade implica não voltar atrás na palavra, e que o

comprometimento assumido não pode ser revertido. DIXIT e NALEBUFF (1991)

estabelecem alguns passos possíveis para alcançar a credibilidade, dos quais cinco

serão destacados. São eles:

Estabeleça e use sua reputação – o estabelecimento de uma reputação

deve ser feito com o objetivo de criar credibilidade para comprometimentos

incondicionais, ameaças e promessas.

Faça uso de contratos – os contratos ajudam a dar credibilidade aos

comprometimentos, e impõem punições no caso de não cumprimento de um

compromisso assumido. Contudo, os contratos por si sós não são capazes de

vencer o problema da credibilidade, já que ao firmar um contrato as partes

estão interessadas no cumprimento das ações prometidas e não nas

penalidades. Caso uma das partes tenha que sofrer as penalidades, sua

credibilidade será comprometida.

31

Page 36: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

Corte a comunicação – é uma maneira bem sucedida de dar credibilidade

aos comprometimentos e, a uma ação, um caráter verdadeiramente

irreversível.

Queimando as pontes atrás de você (Burning the Bridges behind You) –

implica que, por meio da diminuição das suas opções estratégicas, uma firma

pode melhorar sua posição estratégica. A idéia é eliminar as possibilidades de

voltar atrás.

Brinkmanship – é um conceito elaborado por SCHELLING (1960), que pode

ser definido como a arte ou política de trilhar um caminho perigoso até o limite

da catástrofe, antes de desistir. Nas suas palavras:

"Brinkmanship is thus the deliberate creation of a recognizable risk of war, a risk

that one does not completely control. It is the tactic of deliberately letting the

situation get somewhat out of hand, just because its being out of hand may be

intolerable to the other party and force his accommodation".

Em suma, trata-se de assediar e intimidar o adversário, expondo-o e a si

mesmo a um risco dividido, porém considerável. A empresa dissuasora,

ciente do grande risco que envolve a entrada de um novo player no mercado,

anuncia que a guerra é inevitável e independe da vontade dela, e que ambos

sairão perdendo com o embate.

4.3.4. Posicionamentos Ofensivos e Defensivos

A defesa contra movimentos de concorrentes deve partir, em primeiro plano, de uma

análise das posições e disposições estratégicas dos concorrentes, bem como da

situação da indústria no que diz respeito às forças competitivas. DAY (1990) afirma

que as ações ameaçadoras dos concorrentes podem ser gerenciadas e seu impacto

minimizado por meio de um desenvolvimento permanente de estratégias defensivas.

Na visão do autor, as empresas líderes que buscam continuamente novas fontes de

vantagem, para ampliar seu valor para os clientes ou reduzir seus custos relativos,

são difíceis de atacar.

32

Page 37: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

Motivadas pela afirmação de DAY (1990), as empresas partem para a dissuasão de

entrada.

Alguns fatores que indicam uma possível dissuasão de entrada são: a importância

do mercado-alvo para a empresa e a história de retaliações empreendidas pela

empresa. A dissuasão começa antes de o desafio acontecer. Persuadir os

desafiantes envolve uma sinalização de mercado que indique ao concorrente que

não vale a pena entrar ou tentar conquistar mais participação, ou que deve ser feita

uma abordagem mais cautelosa, para evitar uma custosa retaliação.

Os movimentos estratégicos corretos podem dissuadir alguns ou todos os possíveis

desafiantes.

Tornando as perspectivas de lucro pouco atraentes e arriscadas, indicam que não

vale a pena tentar ganhar participação no mercado. Um exemplo disto é que poucas

empresas de bens de consumo ousam atacar a P&G em seus mercados principais.

Com uma longa história de retaliação agressiva e sinais claros de como irá reagir no

futuro, a P&G está sempre indicando seu total compromisso com a proteção de sua

participação no mercado.

O posicionamento estratégico defensivo da empresa deve ser colocado em dois

planos, vistos como duas batalhas. Primeiro, a empresa busca dissuadir a entrada

dos concorrentes: é a técnica da espada embainhada de Sun Tzu — "quebrar a

resistência do inimigo sem lutar". Segundo, se osdesafiantes não puderem ser

dissuadidos, então a finalidade da estratégia defensiva é a de conter seus

movimentos e minimizar os danos (CLAVELL, 1997).

A comparação dos custos auxilia a empresa na decisão sobre empenhar-se na

dissuasão ou na defesa da entrada. A dissuasão tende a ser mais interessante nos

casos em que a defesa for muito custosa para a empresa estabelecida, tipicamente

quando a deflagração de "guerra total" represente perdas de lucratividade e de

participação que inviabilizem, ou comprometam seriamente, a continuidade do

negócio. Preparar a defesa é a melhor opção quando a própria dissuasão é custosa

demais ou improvável de ser atingida, pois um desgaste excessivo nesta fase pode

minar as possibilidades de defesa em um segundo momento.

Se os desafiantes não puderem ser dissuadidos, então a finalidade da estratégia

defensiva é a de conter seus movimentos e minimizar os danos. Para tanto, DAY

33

Page 38: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

(1990) afirma que a empresa se vale da combinação dos seguintes movimentos

estratégicos: sinalizar intenções de defesa; reduzir a atratividade do mercado por

meio de diminuições de preços e aumento de promoção e propaganda; e fechar as

avenidas para o ataque, por meio do alargamento da linha de produtos, dominação

dos canais, bloqueio das tecnologias alternativas via patentes e licenciamentos, e

ocupação das melhores fontes de suprimentos.

Além desses movimentos estratégicos, a dissuasão da entrada compreende a

utilização de barreiras de entrada contra movimentos competitivos dos concorrentes.

Posto isto, quanto às fontes de barreiras de Porter, as empresas devem agir no

sentido de ampliar a proteção de determinado mercado. Podem, por exemplo,

ampliar as economias de escala via aumento da produção; diferenciar e reforçar o

posicionamento do produto por meio de investimentos em promoção e em

propaganda; criar maior necessidade de capital introduzindo promoções e bancando

guerra de preços; introduzir custos de mudança para os consumidores do produto;

restringir o acesso aos canais de distribuição via contratos de exclusividade; e

influenciar a política governamental, tentando estabelecer maior normatização para

a indústria.

Um fenômeno interessante na ameaça de entrada é que algumas empresas reagem

passivamente a novos entrantes. DAY (1990) aponta algumas razões para a inércia

ante o ataque de mercado: não reconhecimento da ameaça; mesmo quando uma

ameaça é reconhecida, ela pode ser deixada de lado porque considerada como sem

importância ou demasiado difusa para ser enfrentada; e incapacidade ou

indisposição para reagir. A capacidade de combate competitivo e a garantia de que

reagirão a uma entrada são, neste caso, muito baixas.

Pode-se constatar então que a contribuição da Teoria dos Jogos para a análise de

decisões relacionadas com a dissuasão de entrada é ampla e relevante. Modelos de

estruturas relativamente simples, derivadas da Teoria dos Jogos, podem ser

utilizados adequadamente para a análise da dissuasão de entrada na Administração.

34

Page 39: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

5. Conclusões

A primeira cisão, que gerou a Redecard, a Orbitall e a Credicard, tem sua origem em

um movimento natural de busca de especialização e ganhos de escala.

Fazia sentido separar a Redecard, a Orbitall e a Credicard a fim que cada uma

dessas empresas pudesse atender outros clientes e, no caso da Credicard, ser

atendida por outros fornecedores que lhe garantissem melhor relação custo-

benefício.

A estrutura resultante dessa movimentação gera uma cadeia de valor semelhante a

que se observa no mercado de cartões de crédito mundial: acquirer, processador e

emissor (vide Anexos do Caso). No que tange a aspectos de negócio e de pessoas,

essa cisão ocorreu de maneira sem atrito, visto que já existia clara divisão de

orçamento, atividades e competências individuais.

Os desafios relacionavam-se à consolidação de cada empresa no mercado e à

adaptação dessas mesmas empresas às novas relações cliente-fornecedor.

A segunda cisão, desinvestimento do Citibank e do Unibanco na Orbitall, foi

impulsionada por razões semelhantes para ambos os bancos. Enquanto o Citibank

planejava concentrar o processamento de seus cartões em uma das suas plantas na

América do Norte ou na Ásia e, assim, ganhar eficiência e escala; o Unibanco, após

comprar o Nacional, passou a contar com sua própria processadora. Dessa forma, a

Orbitall deixou de ser ativo estratégico para esses bancos.

Do lado do Itaú, no entanto, o aumento da participação na Orbitall se justificava pelo

reforço da estratégia de atuação no mercado de cartões de crédito; pelo aumento

das sinergias decorrentes da maior escala de emissão de cartões e processamento

de transações e pela diversificação de produtos de processamento ligados à

utilização de cartões como meio de pagamento.

A segunda cisão ocorreu enquanto se discutiam a terceira e a quarta cisões e o

Citibank negociou com o Itaú condições que lhe garantiriam o processamento de sua

base de cartões e contas correntes por dois anos, a fim de que dispusesse de tempo

para a transição da operação do Brasil para outra planta. Adicionalmente, recebeu a

35

Page 40: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

opção de adquirir a marca Credicard após a quarta cisão (os dois bancos

compartilharão a marca Credicard até 2008).

O Unibanco não utilizava a Orbitall para o processamento de suas operações desde

1999.

A terceira cisão, desinvestimento do Unibanco na Credicard, vendendo sua fatia de

33% no Credicard Banco ao Citibank e ao Itaú justifica-se pela redução dos ganhos

com o ativo nos ganhos do banco.

Conforme mencionado anteriormente, no ano 2000 o resultado das operações com o

Credicard representava cerca de 48% do lucro do Unibanco referente a crédito ao

consumo e cartões de crédito. Em 2004, esse percentual limitou-se a 15%. No lucro

total da instituição, a margem de participação das operações de vendas pela

Credicard declinou de 20% em 2000 para 6% em 2004.

O montante da operação de venda das participações na Credicard e na Orbital, no

total de R$ 1,676 bilhão (que equivale, deduzidos os custos contábeis, a um lucro

não operacional antes de impostos de US$ 1,4 bilhão) seria utilizado na amortização

de ágios de aquisições de empresas feitas recentemente (Hipercard, operadora

nordestina de cartões de crédito adquirida por R$ 200 milhões, e o banco

Bandeirantes).

Cabe mencionar que o movimento do Unibanco em direção à aquisição da Hipercard

representou uma mudança de posicionamento estratégico, visto que reforçou seu

posicionamento como acquirer e junto ao público das classes C e D. Como acquirer,

o Unibanco conseguiu estreitar suas relações com estabelecimentos comercias

(relações business-to-business , ou B2B). A vantagem mais imediata é o aumento

de sua margem nas operações de adiantamento de recebíveis.

Observe que o Unibanco ganhou especialização como acquirer e aumentou a

barreira de entrada nesse elo da cadeia. Sem, todavia, perder sua atuação nos

demais elos da cadeia.

A quarta cisão, a divisão da base da Credicard entre o Citibank e o Itaú, representou

o fim da empresa. Os motivadores desse movimento parecem concentrar-se na

necessidade do Citibank de viabilizar sua operação no Brasil. Com isso aumentou

sua carteira, diluiu custos fixos e ganhou foco para investir no segmento de varejo.

36

Page 41: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

O Itaú, embora estivesse em posição mais confortável, desejava poder contar com a

base de clientes para operacionalizar o cross-selling de seus produtos. Outro

motivador parece ser o desejo de aprender com a maior eficiência da operação da

Credicard (sua base era apenas 10% maior do que a do Itaú em 2005, no entanto

seu faturamento era 40% maior).

Embora o capital humano tenha sido dividido de tal maneira que não proporcionasse

clara vantagem competitiva a nenhum sócio (os pormenores desse processo ainda

não foram revelados ao mercado), historicamente, o Citibank possuía maior

interação com a Credicard. O sentimento que se teve de combater entre os

funcionários foi a angústia, senão, a frustração de não poderem optar pela empresa

em que se inseririam.

Menciona-se que o Citibank teria feito uma oferta ao Itaú pela Credicard que era

estava aquém do valor pretendido por este. Não se tendo chegado a acordo de

preço, os dois sócios decidiram dividir a empresa. Essa decisão pode ser analisada

sob a ótica da Teoria dos Jogos:

Ao Citibank era importante aumentar sua base de operações, inclusive para

reverter os prejuízos amargados nos dois anos anteriores.

O Itaú tinha a chance de aumentar sua capilaridade e sua participação de

mercado (market-share). Após a divisão passou a ser o maior emissor de

cartões do Brasil.

O Bradesco, principal concorrente do Itaú, adquirira a operação da American

Express no Brasil.

O Itaú estava interessado no público das faixas A e B, enquanto o Citibank

passou a focar o público C e D.

Decidiram compartilhar a marca Credicard até 2008. Criando a Credicard Citi

e Credicard Itaú.

As cisões também vieram viabilizar um contexto de livre competição de cada um dos

sócios no segmento de private label. Este mercado está em franca expansão e ele

cria um tipo de consumidor (grandes varejistas) que aumenta o apetite dos bancos

em capturar esta fatia tão valiosa de mercado, pois além do benefício primário da

captura do valor destas transações varejista-cliente, e dos spreads (ganhos acima

37

Page 42: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

da taxa de captação dos bancos) dos créditos originários dela, o banco tem o

acesso facilitado a duas grandes novas oportunidades de renda: as transações do

varejista com sues fornecedores e o acesso a base de clientes deste varejista.

Existe um brilhantismo estratégico que não aparece claramente à primeira vista

nessas cisões: ela acaba por dissuadir novos entrantes no mercado de cartões, e

talvez até no mercado financeiro de varejo. Ao analisar o referencial teórico sobre a

Teoria de Jogos e sobre as forças de Porter, pode-se identificar para cada um dos

vetores desses arcabouços uma contingência produzida com as conseqüências das

cisões.

Observem-se os seguintes pontos (relatados no Referencial Teórico):

Houve claros ganhos de escala e de curva de aprendizado para os três

sócios (Unibanco com a Hipercard, Itaú e Citibank com a Credicard Itaú e

Credicard Citi, respectivamente);

Os sócios estão fazendo uso de propaganda intensiva: Unibanco tentando

mudar a percepção do Mercado em relação aos bancos; Itaú apelando para o

glamour na Credicard Itaú e Citibank apostando na sua popularização com a

Credicard Citi;

Trabalham intensamente a reputação dificultando a entrada de financeiras

não-ligadas a instituições financeiras e respondendo rapidamente a

movimentos do mercado;

Em função da dinâmica própria do mercado financeiro brasileiro, os sócios

têm estabelecido limites de preço dinâmico ainda tímidos, pois basicamente

acompanham os movimentos dos demais atores (comportamento de

oligopólio);

Um aspecto nítido relacionado às cisões descritas é aquele relacionado à

linha completa de produtos, porquanto todos os sócios fizeram movimentos

relacionados a estender seus portfólios de produtos de prateleira;

Embora os organismos reguladores procurem mapear a composição dos

spreads, ainda é prática do segmento ocultar os lucros no produto cartão de

crédito, considerados todos os elos da cadeia de valor. Isso dificulta a

mensuração de quão interessante é esse segmento;

38

Page 43: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

Unibanco (por intermédio da Hipercard) e Itaú (com a FIC e assemelhadas)

têm buscado estabelecer contratos de longo prazo com intermediários

(supermercados e lojas de varejo);

As disputas pelos principais distribuidores varejista e lojas (Casas Bahia,

Pernambucanas, Americanas, Carrefour, Wal-Mart etc) visam a conquistar

os líderes e estabelecer posições privilegiadas de proximidade da base

consumidora.

Sumarizando, com a série de cisões que ocorreram, na verdade, o que os bancos

buscaram foi a clonagem da Credicard inicial, a que era Acquirer, Emissora e

Processadora. Esta configuração de empresa contempla de ponta a ponta a cadeia

de valor da industria de cartões de plástico. Nascem as Credicards 2.0, uma nova

versão da empresa que surgiu na década de 70, só que agora 100% integrada ao

core business dos bancos, sem conflitos de interesses com outros acionistas e

posicionada como ativo estratégico.

Qual o objetivo das Credicards 2.0? O controle da cadeia de valor objetivando anular

praticamente todos os tipos de ataques descritos por Porter. Um exemplo da

qualidade da blindagem produzida pelas Credicards 2.0, é o que ocorre quando um

possível ataque de novos entrantes na cadeia de valor em nada resulta (figura 3).

2.3 Causa: Como as Credicards também são emissores, um nova Processadora tem que ser homologado por uma emissor, e como estamos falando da mesma empresa, obviamente esta nova emissora não o será.

2.4 Causa: Como as Credicards também são acquirers uma nova processadora tem que ser homologada por uma acquirer, e como estamos falando da mesma empresa, obviamente este nova processadora não o será.

2.2 Efeito: Entrada de novas processadoras está bloqueada;

3.3 Causa: Como as Credicards também são processadoras, um novo acquirer tem que ser homologado por uma processadora, e como estamos falando da mesma empresa, obviamente este novo acquirer não o será.

3.2 Efeito: Entrada de novos Acquirers está bloqueada.

1.3 Causa: Como as Credicards também são processadoras, um novo emissor tem que ser homologado por uma processadora, e como estamos falando da mesma empresa, obviamente este novo emissor não o será.

1.2 Efeito: Entrada de novos Emissores está bloqueada.

3.4 Causa: Como as Credicards também são Emissores, um novo acquirer tem que ser homologado por uma emissor, e como estamos falando da mesma empresa, obviamente este novo acquirer não o será.

Credicards 2.0

AcquirerEntrada

ProcessadoraEntrada

EmissorEntrada

1.1 Simulação da Entrada de um novo Emissor

3.1 Simulação da Entrada de um novo Acquirer

2.1 Simulação da Entrada de uma nova Processadora

Barreiras de Entradas

Figura 3: Simulação de Novos Entrantes na Cadeia de Valor

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Page 44: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

O Fenômeno observado frente novos entrantes, se repete para as outras quatro

forças de Porter. Uma possível saída para esta dominação da cadeia de valor, são

saltos tecnológicos e/ou quebras de paradigma. Porém como os bancos são muito

vorazes por novas tecnologias e sua capacidade de investimento é alta, qualquer

inovação no mercado pode ser rapidamente capturada ou adquirida pelos bancos,

mantendo assim a dominação conseguida com as Credicards 2.0.

O movimento realizado pelos fundadores da Credicard pareceu ser certeiro no

cumprimento das demandas de geração de valor para seus ativos de longo prazo,

porém um mercado que até hoje, quando eficiente, nunca sofreu quebras ou

mudanças de configurações por forças regulatórias, num futuro próximo, pode sentir

o peso da mão do estado.

40

Page 45: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

6. Referências Bibliográficas

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Page 50: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

7. Anexos do Caso

7.1.A Indústria de cartões de crédito

Cartões de crédito são meios eletrônicos de pagamento (às vezes denominados

“dinheiro de plástico”). Disponibilizam ao portador acesso à linha de crédito que

pode ser utilizada para compras.

Comumente, os cartões de crédito oferecem três tipos de serviços:

O de meio de pagamento;

O de empréstimo ao consumidor (diferentemente dos cartões de débito, nos

quais os valores das compras são imediatamente sacados da conta do

portador do cartão);

O de ferramenta de comercialização de produtos (como no caso dos

programas de milhagens gratuitas);

Dentro do universo do negócio “cartões de crédito” há cinco diferentes protagonistas,

cada um associado a uma etapa diferente da operação.

O portador do cartão, ao qual é concedido o uso do cartão tão logo o banco

emissor verifique sua qualidade e categoria de crédito. Ele é efetivamente que

utiliza o cartão para pagar suas compras e é cobrado por seu banco uma vez

por mês.

O emissor, que é responsável pelos serviços financeiros. A maioria desse

grupo é composta de bancos, que oferecem tais serviços a seus clientes,

embora empresas como a Diners Club e a Capital One e varejistas também

atuem nesse segmento. Nos últimos anos tem-se percebido estabelecimento

de parcerias entre bancos e instituições varejistas para explorar as

oportunidades desse elo, por exemplo, Unibanco e Wal-Mart e Bompreço por

meio da Hipercard; Itaú e CBD (Pão-de-açúcar, Sendas etc) com a FIC

(Financeira Itaú-CBD)

A adquirente (acquirer) que é a empresa responsável pelo desenvolvimento

do uso de uma bandeira em particular. No Brasil, a Redecard é responsável

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Page 51: TCC MBA Executivo O Breakdown Da Credicard

pela promoção da MasterCard, a Visanet pela Visa, Hipercard e a American

Express são suas próprias adquirentes. O papel da adquirente é de vendas e

relações comerciais: promove o uso do cartão de crédito; captura a

transação, envia-a ao emissor e realiza o pagamento da loja.

A bandeira (Mastercard, Visa, Hipercard etc), que é a parte mais conhecida

desse processo, responsável por assegurar a aceitação do cartão, facilitar o

processamento entre países e definir regras comuns a serem seguidas.

O processador é o elo associado à tecnologia da informação, cuja

incumbência é tratar e processar as transações e os documentos associados

à operação dos cartões. A Orbitall atua nesse elo da cadeia e é responsável

pelo processamento dos cartões do Itaú, Citibank. O Unibanco possui sua

própria processadora.

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