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HILDEBRANDO GOMES O BEM-ESTAR SUBJETIVO NA VELHICE: variáveis apontadas por idosos relacionadas à qualidade de vida Projeto de pesquisa, apresentado como requisito parcial, para obtenção de créditos na disciplina Supervisão de Trabalho de Conclusão de Curso em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientador: Profª. Kátia Ploner Itajaí 2006

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HILDEBRANDO GOMES

O BEM-ESTAR SUBJETIVO NA VELHICE: variáveis apontadas

por idosos relacionadas à qualidade de vida

Projeto de pesquisa, apresentado como requisito parcial, para obtenção de créditos na disciplina Supervisão de Trabalho de Conclusão de Curso em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí.

Orientador: Profª. Kátia Ploner

Itajaí

2006

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INSTANTES

por Jorge Luiz Borges

"Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima,

trataria de cometer mais erros.

Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.

Seria mais tolo ainda do que tenho sido;

na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.

Seria menos higiênico.

Correria mais riscos, viajaria mais,

contemplaria mais entardeceres,

subiria mais montanhas, mais rios.

Iria a mais lugares onde nunca fui.

Tomaria mais sorvete e menos lentilha,

teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da

sua vida, claro que houve momentos de alegria, mas, se não sabem, disso é

feita a vida, só de momentos; não os perca agora.

Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de

água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas;

se voltasse a viver, viajaria mais leve.

Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da

primavera e continuaria assim até o fim do outono.

Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria

com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente.

Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo."

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AGRADECIMENTOS

À Deus, representado por todo o universo, que conspirou para que tudo pudesse, assim, ser realizado.

À minha família, docemente representada pelas minhas filhas, Ademilde, Kristine,

Letícia, Alessandra e Alethéia, que sempre me incentivaram e me apoiaram a trilhar

os caminhos da academia. Agradeço aos meus irmãos e, principalmente à minha

sogra Maria Eleutéria (93 anos) que foi muito mais que a inspiração para realizar

este trabalho, mas a companhia de minhas noites “enterrado” em leitura.

À minha orientadora, Kátia Ploner, pela paciência e pelos momentos de exigência,

os quais foram a luz que iluminaram meu caminho durante esta jornada. Agradeço

ainda, pois deu-me a certeza que conseguiria atingir meus objetivos. Em especial a

minha banca, a prof Mirela e a prof Hebe pela disponibilidade de virem de tão longe,

apreciar este momento tão importante em minha vida, me indicando leituras, com

sugestões para um melhor desenvolvimento deste trabalho.

Não podendo deixar de agradecer aos entrevistados, sem os quais este trabalho não

poderia ser realizado.

Aos meus amigos da faculdade que me adotaram, estendendo suas mãos para que

apoiado nelas pudesse chegar até aqui.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a ti Ada, minha mulher, minha companheira de todos estes

anos, sempre dividindo comigo todas as angústias e, claro, todo momento de

felicidade. Que soube administrar excelentemente bem a minha ausência, fazendo,

muitas vezes, tanto o teu papel como o meu. Obrigado pelo teu amor e apoio

mesmo quando meu tempo é absorvido por completo pelo estudo e pelo trabalho.

Sempre presente ao meu lado, apesar de todos os desafios encontrados, agradeço

o privilégio de compartilhá-los contigo. E, assim, continuamos vivendo essa linda

jornada que a vida tem nos beneficiado com tantos anos, sempre buscando dar

significações as nossas vidas, juntos seguimos envelhecendo.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................ 7

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................... 10

2.1 Velhice no atual contexto histórico-social ..................................... 10

2.2 Envelhecimento bem sucedido .....................................................

14

3. MATERIAIS E MÉTODOS ..............................................................

21

4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............. 26

4.1 Variáveis relacionadas ao bem-estar subjetivo ..................................... 26 4.1.1 Família ......................................................................................... 26 4.1.2 Saúde .......................................................................................... 29 4.1.3 Trabalho/Atividade ....................................................................... 31 4.2 Auto-percepção da saúde ..................................................................... 32

4.3 A idade relacionada ao bem -estar subjetivo ........................................ 35

4.4 Estratégias visando bem estar ..............................................................

38

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................

41

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................

45

APÊNDICES ....................................................................................... 48

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O BEM-ESTAR SUBJETIVO NA VELHICE: VARIÁVEIS APONTADAS POR IDOSOS RELACIONADAS À QUALIDADE DE VIDA

Novembro de 2006 Acadêmico: Hildebrando Gomes Orientadora: Kátia Simone Ploner Os estudos realizados sobre a velhice trabalham com conteúdos que explicam a construção social do idoso, bem como a forma como o próprio idoso se enxerga. Estes conteúdos podem interferir no bem-estar dos sujeitos, tendo em vista que a concepção de saúde/doença, envelhecimento saudável entre outras variáveis que influenciam no bem-estar são construções sociais. Desta forma, esta pesquisa pretende contribuir para estas discussões no sentido de investigar quais variáveis estão relacionadas ao bem-estar subjetivo a partir do relato de idosos; identificar de que forma o conceito e a auto-percepção da saúde interferem no bem-estar subjetivo do idoso; levantar quais variáveis do contexto de vida o idoso relaciona com seu bem-estar; identificar se, na percepção dos entrevistados, a idade interfere no bem-estar subjetivo e de que forma isso ocorre e listar diferentes estratégias apontadas pelos idosos para alcançar bem-estar subjetivo. Esta pesquisa tem caráter qualitativo com delineamento exploratório e foram entrevistados 7 (sete) idosos, de ambos os sexos, com idade superior a 60 anos, que residiam na cidade de Itapema. Os dados foram analisados e discutidos a partir da análise de conteúdo. Os resultados alcançados indicam que os idosos compreendem o bem-estar como um construto multicausal, que pode sofrer interferência de variáveis como a perda da autonomia, a perda da saúde, o distanciamento da família e da sociedade e a falta de atividades que os mantêm ativos. Palavras-chave: Envelhecimento; Qualidade de Vida; Auto- Avaliação.

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1 INTRODUÇÃO

“Qualquer ser humano não pode manter sua vida sem propósitos. É preciso ter objetivos, uma meta” (KLINGER, 1998 apud NERI, 2001).

Nas últimas décadas observou-se um nítido processo de envelhecimento

demográfico. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) o período de 1975

a 2025 foi considerado a Era do Envelhecimento. Nos países em desenvolvimento,

esse processo de envelhecimento populacional foi ainda mais significativo e

acelerado (SIQUEIRA et al, 2002).

De acordo com Cançado (1996), o aumento do número de idosos tem sido

acompanhado por um acréscimo significativo nos anos de vida da população

brasileira. A expectativa de vida, que era em torno de 33,7 anos em 1950/1955,

passou para 66,25 em 1995 (SIQUEIRA et al, 2002).

Com a ampliação do tempo de vida das pessoas, tendo em vista o não

preparo dos países para lidar com a população cada vez mais velha, existe a

preocupação com o modo como estas pessoas estão vivendo esses anos

conquistados neste último século. Neste sentido, a sociedade moderna encontra-se

diante de um dilema, pois enxerga o aumento da população idosa, decorrente do

aumento da expectativa de vida e continua agindo de forma preconceituosa frente à

velhice (PAPALÉO NETO e PONTE, 1996).

Há de se considerar que a maneira pela qual o idoso encara a velhice pode

interferir no seu modo de viver. Neri e Freire (2000) defendem que o próprio idoso

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possui preconceito a respeito deste evento do ciclo vital, pois este está associado à

doença, afastamento e dependência.

Dentre as formas de se conceber a velhice em nossa sociedade, percebe-se

que existem maneiras preconceituosas, mas, também, maneiras positivas de

encarar o processo de envelhecimento (FRAIMANN, 1995).

Para Tormena (2002) o estilo de vida das pessoas idosas está relacionado a

variáveis como a cultura, o nível sócio-econômico e, até mesmo, a própria maneira

de encarar a velhice. Envolvido com esta questão, pois observo pessoas idosas

vivendo de diferentes formas me interessei em pesquisar a seguinte questão: O que

as pessoas relacionam com o viver bem na velhice? Está associado com saúde,

contexto social e idade para essas pessoas? Qual a ”receita” para viver e envelhecer

bem?

A relevância deste estudo está na identificação destas variáveis relacionadas

ao “bem estar subjetivo”, tendo em vista que o idoso está imerso num contexto

sócio-cultural e possui formas distintas de conceber a velhice. Assim, através da

divulgação e reflexão sobre o que gera a possibilidade de se viver bem na velhice,

pautada no referencial de bem estar, poderemos adotar novos hábitos, estratégias e

atitudes.

A psicologia tem muito a contribuir na promoção de qualidade de vida e, para

que esta estratégia seja eficaz, é necessário que os estudos nesta área sejam

exaustivos e possam ouvir o que as pessoas idosas identificam como

agentes/fatores promotores de bem-estar. O profissional psicólogo deve estar apto

para atuar com pessoas idosas tendo como referencial o envelhecimento saudável

e, para tanto, é necessário despir-se de preconceitos e “mergulhar” na realidade.

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A partir destas questões, o presente trabalho visou alcançar os seguintes

objetivos:

� Investigar quais variáveis estão relacionadas ao bem-estar subjetivo a

partir do relato de idosos;

� Identificar de que forma o conceito e a auto-percepção da saúde

interferem no bem-estar subjetivo do idoso;

� Levantar quais variáveis do contexto de vida o idoso relaciona com seu

bem-estar;

� Identificar se, na percepção dos entrevistados, a idade interfere no

bem-estar subjetivo e de que forma isso ocorre;

� Listar diferentes estratégias apontadas pelos idosos para alcançar

bem-estar subjetivo.

Com a análise dos dados coletados pode-se discutir qual a visão dos idosos

perante a velhice, bem como as estratégias encontradas para lidar de forma

saudável com essa fase do desenvolvimento.

Cabe ressaltar que os idosos entrevistados foram escolhidos aleatoriamente,

de ambos os sexos e que referiram não possuir problemas mentais que pudessem

comprometer a coleta de dados.

O presente trabalho tem como princípio norteador a teoria do curso de vida, e

perspectiva sócio-histórica. A análise das entrevistas foi feita com o propósito de

identificar as principais variáveis relacionadas ao bem-estar em consonância com as

referencias teóricas sobre envelhecimento e qualidade vida.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Velhice no atual contexto histórico-social

Os seres humanos são constituídos a partir de suas relações, absorvendo

delas conteúdos simbólicos que estruturaram sua maneira de pensar e agir. Esses

conteúdos simbólicos são concebidos a partir de crenças, valores, ideologias etc., ou

seja, são formados a partir da cultura que nos permeia.

Segundo Vygotsky (1993), a cultura é produto e produção do homem. Para o

autor, falar em cultura é compreender a dialética e o movimento existentes na

constituição do sujeito. Uma vez que o sujeito é constituído por suas relações, essas

são constituídas pelos valores já aceitos e pré-estabelecidos pela cultura.

Percebe-se o eterno movimento de construção e “desconstrução cultural”. Na

medida em que a tecnologia e as pesquisas avançam, novos conhecimentos são

apropriados pelo sujeito. Conseqüentemente, novas ideologias, crenças e valores

são cristalizados nas relações, o que indica o movimento cultural (VYGOTSKY,

1993).

Ao discutir sobre avanços culturais, tecnológicos e científicos, discutem-se

também aspectos como movimento, adaptação, crescimento, desenvolvimento,

maturação e desuso. Concomitante ao desenvolvimento de um conceito, surge o

esquecimento de outro e seu conseqüente desuso.

Contudo, não são todos os sujeitos que conseguem sempre acompanhar tal

desenvolvimento frenético, como, por exemplo, os idosos. Segundo Veloz et al

(1999), muitas das crenças e valores atuais nem sempre podem ser acompanhados

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pelos idosos, levando em consideração algumas mudanças e perdas que

freqüentemente se associam à velhice.

A velhice historicamente foi relacionada com esse aspecto biológico de

perdas. Com isso pode-se explicar parcialmente a visão negativa do processo de

envelhecimento, relacionada à maior incidência de eventos negativos e inesperados,

como, por exemplo, a maior suscetibilidade às doenças crônicas, perdas e

acidentes. Segundo Peixoto (1997), a representação social da velhice está atrelada

a atributos negativos, onde ninguém quer ser identificado como velho. Desta forma,

muitas pessoas não querem ser vistas como velhas, uma vez que a velhice está

associada a aspectos como: doença, incapacidade, dependência e perdas.

Vivemos em uma sociedade onde aproveitar a vida, ser saudável, ter

disposição e vitalidade é atributo dos jovens. A própria mídia reforça esta idéia.

No Brasil, segundo Veloz (1999), existem pesquisas que mostram como os

próprios idosos simplificam o envelhecimento humano, representando o processo

com predisposições desfavoráveis, estereótipos negativos e preconceitos. Medrado

(1994), na cidade de Carnaíba (Bahia), encontrou uma relação entre o conceito de

idoso e características como: “não serve para nada, inútil, não vai para frente, não

tem saúde, só doença, não tem destino, não volta (p. 6)”.

Em outro trabalho desenvolvido por Santos (1990) acerca da influência da

aposentadoria sobre a identidade do sujeito, a pesquisadora cita que nas

sociedades modernas a ênfase continua sendo dada à juventude e à capacidade de

produção, onde ser velho representa um afastamento do mundo social.

Cabe, neste sentido, uma reflexão acerca da pesquisa desenvolvida por

Santos (1990). Dentro de uma perspectiva capitalista, onde as informações estão

cada vez mais rápidas, onde a tecnologia está cada vez mais avançada, é

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necessário criar “robôs humanos” para suprir a tanta demanda. Os idosos estão

literalmente sendo excluídos do mercado de trabalho ao serem trocados por

pessoas mais novas, ditas mais aptas às novas tecnologias e às demandas.

A mesma autora aponta que a marginalização dos idosos, por não estarem

aptos a trabalharem com as novas tecnologias, aumenta cada vez mais sua

exclusão social. Afinal, como estar preparado para o mercado de trabalho, aos

avanços tecnológicos e científicos não fazendo parte deste contexto?

Neste sentido, a perspectiva da velhice enquanto uma dimensão negativa do

ser humano traz diversas conseqüências no dia-a-dia dos idosos. Afinal, sendo a

velhice construída socialmente, através de símbolos e significações e através da

própria relação com o mundo (PLONER, 2000), pode o ser humano se identificar

enquanto velho na medida em que se enxerga descontextualizado e

descomprometido com as atualizações da sociedade.

Na medida em que os idosos se descomprometem com a evolução do mundo,

falta uma razão de ser, falta um sentido de vida. Isso afeta diretamente a auto-

estima dos mesmos, onde muitos vivem de nostalgias, relembrando a beleza e o

poder da juventude, não aceitando suas rugas no rosto e seus cabelos brancos

(PASCHOAL, 1996).

Segundo Birman (1995), o conceito de velhice adquiriu sentido após o século

XVIII, quando a ciência da época inaugurava a ideologia do evolucionismo. Começa

a se falar nos estágios da vida: nascer, crescer, reproduzir, envelhecer e morrer. É

também nesse momento que se discute o ser humano em termos filosóficos, ou

seja, inserido num contexto histórico. Desta forma, a existência humana passa a ser

entendida nas dimensões do tempo e da história (BIRMAN, 1995). Conforme o

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mesmo autor, o conceito de velhice é construído historicamente, de acordo com a

ética, política e a estética de determinada cultura.

Existem autores (SALGADO, 1982; VERAS, 1994) que compreendem o

processo de envelhecimento como um evento complexo de se caracterizar. Para os

mesmos, existem formas distintas de se delimitar a velhice. Veras (1994) enxerga os

distintos padrões político-sociais e ideológicos do mundo como responsáveis pelas

diversas compreensões de velhice.

Carvalho Neto (2000) entende que a velhice em si não existe. O que existe é

uma multiplicidade de seus aspectos enfatizados de acordo com a história. Para o

autor, cada época, cada sociedade, cada momento histórico trará seu referencial de

velhice, bem como seus parâmetros, idéias, compreendidos a partir dos interesses

da massa. E há quem defenda, conforme Haddad (1986), que o homem começa seu

processo de envelhecimento no ventre materno.

Para Comfort (1979) existem dois tipo de envelhecimento. O primeiro é de

caráter biológico, manifestando-se em alterações físicas, tais como o acinzentar dos

cabelos, a perda da acuidade visual e a suscetibilidade a contração de doença. Já o

segundo caracteriza-se enquanto um envelhecimento sociogênico, representado

pelos papéis impostos pela sociedade quando uma pessoa atinge uma certa idade

cronológica.

Estas compreensões divergentes sobre velhice elucidam a amplitude das

discussões sobre o processo de envelhecimento, mas provêem dados que

comprovam a importância dos valores, crenças e ideologias de determinado

contexto histórico para se compreender a velhice.

Segundo Bosi (1994), até o período pré-industrial, as pessoas mais idosas

eram detentoras, guardiãs do passado e tinham a tarefa de passar as informações

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unindo a história do começo ao fim. Mas, com o avanço capitalista no período da

industrialização, os detentores do poder foram se transformando em resíduos,

marginalizados pelo fato do jovem ser mais ágil e render mais. Segundo Bianchi (s/d

apud MALDONATO e GOLDIN, 1995) para a moderna sociedade tecnocrática o

saber, ao invés de crescer, torna-se obsoleto com o passar das décadas, ou seja,

com a idade vem a desqualificação.

Atualmente, a imagem do idoso carrega os pré-conceitos desta sociedade

tecnocrática. A imagem negativa do envelhecimento, enquanto um processo doentio

e improdutivo para o trabalho, pode estar sendo amparado por pesquisas científicas

equivocadas, que associam o envelhecimento a perdas (SOMMERHALDER e

NOGUEIRA, 2000).

Todas essas formas de compreensão do processo de envelhecimento

provêem informações que favorecem a ampliação da forma como os idosos são

vistos e quistos e, conseqüentemente, a promoção da qualidade de vida na velhice.

2.2 Envelhecimento bem sucedido

Neri (1997) compreende o envelhecimento como uma propriedade exclusiva

dos organismos vivos, onde sofrem um processo de desgaste e degradação que

implica a diminuição gradual da probabilidade de sobrevivência, acompanhada de

mudanças contínuas na aparência, comportamento, experiência e nos papéis

sociais. Para a autora, ocorre uma desorganização crescente do seu sistema,

determinada por elementos biológico-genéticos, ecológicos, psicológicos e sócio-

culturais.

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As teorias do envelhecimento bem sucedido vêem o sujeito como pró – ativo,

que regula a sua qualidade de vida através da definição de objetivos e luta para

alcançá-los, acumulando recursos que são úteis na adaptação à mudança e

ativamente envolvidos na manutenção do bem-estar. Assim, um envelhecimento

bem sucedido é acompanhado de qualidade de vida e bem estar e deve ser

fomentado ao longo dos estados anteriores de desenvolvimento.

Baltes e Bandura (1987, apud NERI 1997) afirmam que o ambiente histórico-

cultural no qual o ser humano está inserido possibilita-lhe uma interação contínua e

fundamental à sua socialização, produzindo uma agenda de desenvolvimento

altamente influenciável, sobrepujando a sua própria ontogênese.

A velhice, segundo Silva (1999), é apontada como uma etapa da vida onde o

comportamento do ser humano está mais sujeito a frustrações, desajustes e

conflitos, ao enfrentar situações novas.

No processo de desenvolvimento do ser humano estão presentes suas

conquistas e seus medos. Esse processo forma um aglomerado de situações

registradas, que são as experiências vivenciadas, responsáveis pelo referencial do

sentido de conquistas, motivações, críticas, assim como as ferramentas para uma

plasticidade própria do ser humano, capacitando-o para a sua adaptabilidade. A este

processo, soma-se a aprendizagem das crenças ditadas pela sociedade e o

empenho gerado para se alcançar determinados objetivos individuais ou coletivos

através da incorporação pessoal dessas crenças (SILVA, 1999).

Para a mesma autora, envelhecer não é um momento, mas um processo

muito complexo. De acordo com Silva (1999), as pessoas, no momento da

aposentadoria, se deparam com um grande impasse: abdicar de suas atividades e

submeterem-se à pressão social ou lutarem pelos seus direitos pessoais de

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permanecerem ativos, afinal o homem tem condições de aprender e ensinar, de ser

produtivo durante toda a sua existência. Ou seja, as pessoas contribuem para a

construção da sociedade, desde que em condições sociais promotoras de

oportunidades.

Para a teoria do curso de vida, a velhice e o envelhecimento são construções

sociais com múltiplas dimensões: biológica, cronológica, social, demográfica,

cultural, psicológica, ideológica e política, entre outros determinantes de cada

sociedade e de cada momento histórico. Segundo Neri (1995) a periodização da

velhice é inadequada devido a existente variabilidade individual e social em relação

à época em que as pessoas aparecem, se declaram ou se comportam como velhas.

Essas construções sociais, conforme Silva (1999), podem produzir

sentimentos e situações como: solidão, abandono, rejeição, marginalização,

inutilidade, angústia, medo, desespero, sensação de fracasso, conflito de gerações e

falta de energia para mudar, que dificultam a integração social das pessoas idosas

ao trabalho.

Contudo, a pessoa idosa pode sentir-se ativa e capaz de continuar

produzindo. Este fato está associado à mudança dos conceitos de bem estar, onde

antes somente a disponibilidade de bens materiais como dinheiro, casa, comida e

até mesmo acesso a serviços de saúde estavam ligados à satisfação com a vida.

Hoje este conceito está relacionado à dignidade pessoal, a ter um sentido de

segurança, alegria, poder atingir objetivos pessoais e principalmente ter um sentido

para si. O mesmo ocorre com o conceito de qualidade de vida que engloba os

recursos como o direito de aproveitar a vida (SILVA, 1999).

Neste sentido, Baltes & Baltes (1990 apud Neri 1997), precursores da teoria

do curso de vida, utilizam para compreender o envelhecimento humano o contexto

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histórico e cultural, sendo que a partir deste entendimento podem desmistificar a

compreensão acerca do envelhecimento. Afirmam que o conceito de velhice bem-

sucedida depende do equilíbrio entre as potencialidades e limitações individuais que

possibilitarão ao indivíduo tratar dos graus de ganhos e perdas do processo de

envelhecimento. O equilíbrio está em processar e selecionar a otimização de

competências comportamentais procedentes do envelhecimento, compensando as

perdas deste mesmo processo.

Baltes & Baltes (1990 apud Guimarães, 1997) tratam do conceito da velhice

bem-sucedida como dependente da confluência de fatores econômicos, sociais,

psicológicos, biológicos e culturais. Essa avaliação se sustenta numa perspectiva

multidimensional, com fatores objetivos e subjetivos considerados no seu contexto

cultural com demandas específicas. Os fatores objetivos representam o estado de

saúde física (as normas de saúde de acordo com padrões sociais e o contexto

sócio-cultural) e os subjetivos integram-se à satisfação com a sua vida, ao seu

controle pessoal percebido.

O modelo de Baltes & Baltes (1990 apud Guimarães, 1997) sobre a velhice

bem-sucedida possui sete proposições que fundamentam a sua teoria. São elas:

1) existem diferenças entre o envelhecimento normal, o envelhecimento ótimo

e o envelhecimento patológico;

2) a variabilidade inter-individual no envelhecimento é grande;

3) preserva-se muita capacidade de reserva na velhice;

4) as perdas no envelhecimento estão próximas dos limites de capacidades

de reserva;

5) a utilização dos conhecimentos da pragmática cognitiva e da tecnologia

pode ser acrescentada aos declínios na mecânica cognitiva;

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6) ao envelhecer, o balanço entre ganhos e perdas passa a ser menos

positivo;

7) o autoconceito se mantém no envelhecimento como mecanismo de

autoregulação.

A teoria do envelhecimento bem-sucedido, segundo Neri (1997), decorre da

teoria do curso de vida, que compreende o desenvolvimento enquanto mudanças

multilineares e descontínuas, aplicando-se à análise de vários padrões

comportamentais, onde a aquisição, manutenção e aperfeiçoamento e extinção de

comportamentos sociais e cognitivos são processos que podem surgir na infância,

na vida adulta e na velhice.

A qualidade de vida na velhice tem sido, muitas vezes, associada a questões

de dependência x autonomia. As dependências observadas nos idosos resultam

tanto de alterações biológicas (deficiências ou incapacidade) como de mudanças

nas exigências sociais (desvantagens) e, freqüentemente, as últimas parecem

determinar as primeiras. Baltes & Silvenberg (1990 apud Guimarães, 1997)

descrevem três tipos de dependência:

• Estruturada: onde o significado do valor do ser humano é determinado, em

primeiro lugar, pela participação no processo produtivo (na velhice salienta-se a

dependência gerada pela perda do emprego).

• Física: incapacidade funcional individual para realizar atividades de vida

diária.

• Comportamental: com freqüência antecedida pela dependência física; é

socialmente induzida independentemente do nível de competência do idoso, em que

o meio espera incompetência.

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Diante de toda discussão acerca do processo de envelhecimento, torna-se

imprescindível enxergar a velhice com “olhos desmistificantes”. No qual o próprio

idoso consiga visualizar seus potenciais e suas limitações e, a partir delas, estruturar

sua vida. Da mesma forma, espera-se que a própria sociedade se conscientize e dê

oportunidades para o idoso continuar com seu convívio social.

No que tange as responsabilidades da sociedade em prover oportunidades

aos idosos, pode-se observar o movimento realizado pelo governo federal quando

este consolidou o Projeto de Lei da Câmara que dispõe sobre o Estatuto do Idoso.

Esta consolidação foi concebida a partir da visualização, por parte do governo

federal, das transformações sociais, da expansão demográfica e das condições de

saúde dos indivíduos, que é afetada com o passar dos anos (BRASIL, 2003).

O Estatuto do Idoso estabelece os direitos das pessoas com idade igual ou

superior a 60 (sessenta) anos, assegurando-os como dever não somente da família,

mas da sociedade como um todo (o que inclui, também, o poder público), com a

absoluta prioridade de que o idoso desfrute de vida plena e saudável, segura e

satisfatória, em condições de liberdade e dignidade de viver.

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3 MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho utilizou o método qualitativo do tipo exploratório, pois

como afirma Gil (2002) “têm o objetivo de proporcionar maior familiaridade com o

problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses” (p.41).

Minayo (2001) entende que este tipo de pesquisa trabalha com o que corresponde a

um espaço profundo das relações e dos fenômenos que não podem ser reduzidos a

operacionalizações de variáveis.

A pesquisa qualitativa se justifica, também, pela liberdade dada ao

pesquisado para expressar suas próprias experiências a respeito do tema proposto,

explicitando seu ponto de vista, singular dentro de seu contexto social e histórico,

enriquecendo o tema a partir de seu discurso.

Cabe ressaltar que tal método é o mais utilizado no estudo da Psicologia e

velhice, como argumenta Tormena (2002) ao analisar alguns autores deste campo

de pesquisa.

3.1 População

Por se tratar de um trabalho de abordagem qualitativa, não se fez necessário

uma grande amostra, pois segundo Oliveira (1999), esta metodologia não emprega

dados estatísticos, ou seja, não tem a pretensão de numerar ou medir unidades. Na

pesquisa qualitativa, o objetivo é a descrição de situações complexas ou

particulares, medindo sua qualidade.

Cabe ressaltar, que participaram deste estudo idosos, de ambos os sexos,

escolhidos de forma aleatória que foram indicados por conhecidos. A pesquisa foi

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realizada na cidade de Itapema e fizeram parte da amostra as pessoas que se

dispuseram a participar da pesquisa.

Segue a caracterização dos participantes:

Quadro 1: Caracterização dos participantes

Fonte: Entrevistas realizadas com idosos na cidade de Itapema – SC. 07/2006

A partir da análise do quadro 1, pode-se observar que os participantes

entrevistados pertencem a uma determinada camada social, os quais não

representam grupos populares. Desta forma, os dados coletados desta amostra, nos

remetem a uma particularidade que, talvez, não possam ser generalizados para a

população geral.

Nota-se, também, que mais da metade dos entrevistados mantém-se ativos

em suas profissões, o que pode indicar uma condição financeira mais elevada dos

demais. Este dado pode interferir nos resultados encontrados a partir das suas falas.

Participante

Idade

Sexo

Profissão

Ativo/inativo

Nome Fictício

E1

65

F

Aux. de

Enfermagem

Aposentada

LIZ

E2

64

F

Consultora de Imóveis

Ativa

ROSA

E3

66

M

Empresário

Ativo

CRAVO

E4

62

M

Comerciante

Ativo

LOTUS

E5

71

M

Portuário

Aposentado

LIRIO

E6

62

F

Professora / Médica

Naturalista

Ativa

VIOLETA

E7

64

M

Advogado

Aposentado

GIRASSOL

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3.2 Coleta de Dados

Os participantes da pesquisa foram escolhidos aleatoriamente e convidados a

participar de forma espontânea. Após um breve esclarecimento da pesquisa e de

seus objetivos, os entrevistados assinaram o termo de ciência e consentimento livre

e esclarecido (APÊNDICE 1).

Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas (APÊNDICE 2) com os

idosos. Cabe ressaltar que, segundo Triviños (1987) a entrevista semi-estruturada

valoriza a presença do investigador e oferece toda a liberdade e espontaneidade

necessária ao informante a respeito de seu pensamento e experiências dentro do

foco colocado pelo investigador, enriquecendo a pesquisa.

Utilizou-se um gravador para registrar as entrevistas, entendendo que o

mesmo auxilia a obtenção das entrevistas de forma fidedigna a conseqüente

transcrição e análise dos dados.

Este trabalho foi realizado dentro das normas do Comitê de Ética e Pesquisa,

estando o pesquisador ciente de que os procedimentos éticos são de vital

importância para o sucesso da pesquisa. Desta forma, esta pesquisa foi orientada

pelas resoluções CNS – 196/96 e CFP – 016/2000, procurando respeitar os

seguintes itens:

• Assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido por parte

de cada participante da pesquisa antes de iniciar a coleta de dados;

• Acesso livre dos participantes às suas informações que forem

coletadas, assim como aos resultados obtidos;

• Respeito aos valores éticos, morais, sociais, religiosos e culturais dos

participantes;

• Respeito em relação à recusa do participante para ser entrevistado;

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• Manter o anonimato dos participantes da pesquisa;

• Garantia da não ocorrência de danos ou prejuízos pela participação na

pesquisa.

Os dados obtidos foram transcritos da forma mais fidedigna possível para

garantir a qualidade das respostas e a confiabilidade da pesquisa. Para tanto se

tornou imprescindíveis os seguintes procedimentos:

• Esclarecer aos participantes os procedimentos e métodos utilizados;

• Obter as informações necessárias para posterior análise;

• Procurar não induzir os participantes às respostas;

• Estabelecer uma relação de respeito entre pesquisador e participante.

3.3 Instrumento

O instrumento de investigação utilizado para proceder à coleta de dados foi à

entrevista semi-estruturada, a qual seguiu um roteiro previamente elaborado e

ocorreu individualmente, a partir da disponibilidade dos participantes.

A escolha desta técnica para o trabalho em questão justificou-se visto que a

mesma permitiu uma adequada obtenção de informações acerca do que as pessoas

sabem, sentem, crêem ou esperam, permitindo que o entrevistado fale livremente

sobre o assunto.

Gil (1999,p.117) define entrevista como:

“A técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formulam perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam á pesquisa. A entrevista é portanto, uma forma de interação social. Mais especificamente é uma forma de dialogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informações”.

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3.4 Análise e Interpretação dos Dados

Após a coleta de dados, as entrevistas foram transcritas e analisadas a partir

do método de Análise de Conteúdo, que consistiu em uma técnica de investigação

de caráter interpretativo que tem como função buscar significados, construir ligações

entre premissas de análise e os elementos que aparecem no texto (BARDIN, 1991).

Moraes (1993) e Minayo (2001) entendem que a construção da análise de

conteúdo passa por fases que se organizam em três grandes etapas: pré-análise,

exploração do material e tratamento dos resultados, conforme breve explicação:

Pré-análise: Esta fase tem como objetivo a organização de todos os dados

que foram coletados, bem como a leitura do material levantado. Assim, neste

momento as entrevistas foram lidas exaustivamente a fim de compreender os

conteúdos trazidos pelos idosos.

Exploração do material: Nesta etapa foram definidas as unidades de análise,

a fim de identificar quais relatos eram referentes aos objetivos, selecionando o

material que de fato interessava a pesquisa, que posteriormente foram submetidos à

classificação e sistematização dos dados coletados nas entrevistas.

Tratamento dos dados: Nesta fase foram definidas as seguintes categorias

(APÊNDICE 3) que respondem aos objetivos propostos:

1.1 Variáveis relacionadas ao bem-estar subjetivo;

1.1.1 Família;

1.1.2 Saúde;

1.1.3 Trabalho/atividade.

1.2 Auto-percepção da saúde;

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1.3 A idade relacionada ao bem -estar subjetivo;

1.4 Estratégias visando bem estar.

Após a identificação e seleção dos relatos foi realizado o enquadramento em

sua conseqüente categoria de análise, o que possibilitou um maior contato com os

conteúdos das categorias, permitindo, além de uma melhor exploração dos dados

obtidos, a compreensão das singularidades de cada entrevistado.

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4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O capítulo a seguir discutirá os resultados encontrados a partir das entrevistas

realizadas. Cabe ressaltar que o capítulo foi dividido em subunidades, as quais

apresentarão os dados de cada categoria de análise. Seguem as discussões de

cada categoria pautadas no referencial da teoria do curso de vida e textos

relacionados ao envelhecimento humano.

Participaram da pesquisa 3 (três) mulheres e 4 (quatro) homens. Todos os

participantes tinham idade superior a 60 anos. Torna-se necessário salientar que as

pessoas entrevistadas receberam nomes fictícios com o intuito de preservar suas

identidades (conforme quadro 1 apresentado na metodologia).

4.1 VARIÁVEIS RELACIONADAS AO BEM-ESTAR SUBJETIVO

Através dos relatos dos idosos podemos identificar algumas subcategorias

que estão relacionadas ao bem-estar subjetivo dos mesmos, como: Família, Saúde,

trabalho/atividade.

4.1.1 A Família

A velhice traz consigo muitos questionamentos, lutos e desconfortos. Ao

mesmo tempo, traz a sabedoria dos anos vividos e muitos ganhos afetivos.

É dado científico que a velhice caracteriza-se pelo declínio das funções biológicas, da resiliência e da plasticidade. Ainda que ocorram de forma diferenciada entre pessoas, as perdas que caracterizam a velhice provocam o aumento da dependência dos indivíduos em relação aos elementos da cultura e da sociedade. Por outro lado, e ao contrário do que se pensa, é possível a preservação e ganhos evolutivos em determinados domínios do funcionamento, como o intelectual e o afetivo, sendo este último capaz de atuar de maneira compensatória sobre as limitações cognitivas (NERI, 2004).

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Muito além de servir como componente compensatório das limitações

cognitivas, as relações afetivas que os idosos estabelecem com as pessoas e com o

próprio meio caracterizam-se como variáveis que geram bem-estar em suas vidas.

Este fato pode ser corroborado pelos relatos dos idosos pesquisados. Violeta

(62 anos) afirma que "estar junto dos meus (entes queridos), da minha família, me

proporciona bem-estar, dos meus amigos. Me faz feliz hoje fazer parte desta

comunidade (...), sou uma pessoa bem aceita (...), saio na rua dando bom dia, boa

tarde, isso me deixa feliz". Girassol (64 anos) entende que o bem-estar "...seria estar

de bem com todos, com tudo aquilo que nos rodeia, com tudo aquilo que nós

fazemos e com tudo aquilo que a vida nos proporciona". Nestes relatos podemos

perceber a importância das relações, das redes sociais, que o idoso estabelece

durante sua vida. Neri (1999) aponta para a importância da continuidade ou relações

informais em grupos primários na velhice e a relaciona com a qualidade de vida.

Neste momento entra em cena a família. Segundo Leme e Silva (1996) a

família pode ser considerada o habitat natural das pessoas. Muito além disto, pode,

também, ser compreendida enquanto o ambiente no qual as pessoas são aceitas

“nuas e cruas” sem, necessariamente, vestir máscaras sociais.

Desta forma, a relação que o idoso estabelece com sua própria família é de

extrema importância, tendo em vista esta pode ser, em alguns casos, a relação mais

estreita estabelecida pelo idoso. Souza (2005) afirma que a família é apontada por

estudiosos do envelhecimento como o elemento mais freqüentemente mencionado

por idosos como importante ao seu próprio bem-estar. Este dado foi confirmado

através dos seguintes relatos:

Liz (65 anos) afirma que "o que eu considero (como bem-estar), é ter o meu

lar, minha família em paz e todos os meus familiares bem”. Lírio (71 anos) quando

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questionado sobre as variáveis que geram bem-estar, ressalta que "a boa esposa e

companheira que tenho, mãe e irmãos com saúde, filhos bem encaminhados na vida

e estar em paz com todos" são fatores determinantes da sua felicidade. Cravo (66

anos) e Lótus (62 anos) também destacam que o relacionamento com a família é

fundamental para o bem estar.

Pode-se perceber que todos os participantes da pesquisa concordam com a

relação que a família tem com bem-estar subjetivo. Silverberg et al. (1995)

compreende que esta “segurança propiciada por um ambiente acolhedor, assim

como a autonomia permitida por um ambiente estimulador são, ambas, necessárias

ao bem-estar do idoso” (p. 102). Os relatos mostram que os participantes sentem-se

felizes por conviver com suas famílias, mas esta felicidade é proveniente da boa

estruturação da rede familiar, da forma com que o idoso é tratado e percebido

nestas relações.

Teixeira (2000) entende que cabe aos membros da família compreender a

pessoa idosa em seu processo de vida, de transformações, conhecer suas

fragilidades e seus potenciais, modificando sua visão e atitude sobre a velhice e

colaborar para que o idoso mantenha sua posição junto ao grupo familiar e a

sociedade.

O Estatuto do Idoso, aprovado e sancionado em 2003 com o intuito de

ampliar os direitos dos cidadãos com idade igual ou superior a 60 anos, aponta a

responsabilidade, também, da família no cuidado para com o idoso. O art. 4º do

Estatuto determina que “nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência,

discriminação, violência ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou

omissão, será punido na forma da lei” (p.3). Com estas medidas o governo federal

reforça a importância da família no bem-estar e na saúde dos idosos. Pois como

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afirma Rosa (64 anos) “eu não quero ficar sozinha (...) eu tenho medo da solidão”.

Afinal somos seres de relação, não conseguimos sobreviver sem o outro, muito

menos sem o cuidado, carinho e atenção dos familiares.

Enfim, nota-se que o ambiente familiar é fundamental para a consolidação do

bem-estar na velhice. Todavia, alguns participantes compreendem que existe uma

relação inerente entre família e saúde. Pois como afirma Rosa (64 anos) “vida ótima

é saúde, estar bem com a família, sempre junto com a família, isto é muito

importante”. Para a participante não adianta ter somente saúde se a relação com a

família, com seus entes queridos não está bem. Lírio (71 anos) apóia esta relação e

ressalta que "para ter qualidade de vida é preciso estar bem de saúde, mas ao

mesmo tempo ver os outros em boa situação também".

4.1.2 A Saúde

Podemos perceber que saúde é fator intrínseco ao bem-estar. Independente

da boa relação com a família deve-se garantir, também, ao idoso boas condições de

saúde. O artigo 3° do Estatuto do Idoso infere que “é obrigação da família, da

comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta

prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à

cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao

respeito e à convivência familiar e comunitária” (BRASIL, 2003. p 2). Este artigo vai

ao encontro da necessidade de Cravo (66 anos) quando afirma que "uma vida ótima

seria uma vida onde o idoso aspira, pelo menos, saúde e fartura. Nesta fartura

devem estar incluída boa alimentação, assistência médica, habitação, lazer,

transporte e o respeito da sociedade pelos idosos".

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Leme e Silva (1996) reflete sobre o conceito de saúde da Organização

Mundial da Saúde – OMS – que a compreende enquanto o estado de bem-estar

físico, psíquico e social. Por mais, utópico que este conceito seja, não se pode negar

que este carrega consigo uma forma global de encarar a saúde. Desta forma, falar

em saúde necessariamente passa por questões como família, trabalho, lazer,

habitação entre outros aspectos. Quando o idoso percebe que não tem o respeito

devido da sociedade, uma habitação, um lazer, uma boa alimentação este pode-se

perceber enquanto doente. Estar doente neste contexto está muito além do âmbito

de doenças físicas, implica uma negação de toda sua história de vida, ou como

conceitua Leme e Silva (1996) uma negação da sua riqueza biográfica.

Outro aspecto percebido nas entrevistas que podem interferir no seu bem-

estar é a perda da capacidade de auto-gestão. Em outras palavras, o medo da

dependência. Este tema demonstra que o conceito clássico de saúde, como a

ausência de qualquer patologia, não é o mais adequado para entender o universo de

saúde dos idosos, “já que a ausência de doenças é privilégio de poucos, e o

completo bem-estar pode ser atingido por muitos, independentemente da presença

ou não de doença” (RAMOS, 2003 p.1).

Não se pode negar, contudo, que por mais autônomo que o idoso seja, o

mesmo depara-se com um corpo que já não tem mais a vitalidade de antes. Um

corpo que denuncia o cansaço e que precisa de certos cuidados e atenção

redobrada. A velhice, em muitos casos, pode estar associada à sabedoria, a

vivência e a afetividade. Mas, também, traz as conseqüências de uma vida, que nem

sempre, foi permeada de cuidados. Assim, para manter-se saudável o idoso precisa

encarar a triste realidade do sistema de saúde pública brasileiro ou pagar por uma

atenção privilegiada, como relata Cravo (66 anos): "pra ter uma boa qualidade de

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vida eu considero que tem que ter saúde, tem que poder (dinheiro), se é necessário

pagar por essa saúde". Entende-se neste caso que o participante tem a consciência

de suas debilitações e, muito mais do que isso, sabe que para se ter um bom

tratamento de saúde precisa-se pagar, e muito.

4.1.3 O Trabalho / Atividade

“Os elementos responsáveis pelo martírio da velhice na sociedade em que vivemos normalmente não decorrem do processo de envelhecimento biológico, mas sim do envelhecimento sociogênico - em outras palavras, dos papeis impostos pela sociedade aos seres humanos assim que estes atingem uma determinada idade cronológica. Chegado este momento, aposentam-se, ou, em termos mais chão, se vêem desempregados, inúteis e, em alguns casos, na miséria” (COMFORT, 1979)

Comfort (1979) faz uma interessante leitura sobre a vida. Para ele, as

pessoas não são orientadas a viver, mas a conquistar uma única meta: o trabalho.

Entende que estas pessoas, durante sua trajetória, recebem um “treinamento” que

pode durar de doze a vinte anos, para no fim, na velhice, serem descartados.

Esta leitura nos remete a compreender a forma como o trabalho está

significado em nossas vidas. “A pior desgraça para o idoso é ser expulso de uma

sociedade tradicionalmente baseada no trabalho” (COMFORT, 1979 p. 15). Lírio (71

anos) afirma "me aposentei aos quarenta e quatro (cedo), depois disso é que veio a

velhice". Em outras palavras, para essa pessoa a velhice é a ausência de trabalho.

Violeta (62 anos) ao ser questionada sobre as variáveis que geram bem-estar,

sem refutar diz: "Sou produtiva, trabalho ainda o dia todo”. Este relato confirma a

discussão sobre a importância de manter-se ativo numa sociedade que prioriza o

trabalho. Lótus (62 anos) ressalta que bem-estar “é ter alguma coisa para fazer” e

conclui: “continuo ativo”.

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Quando o idoso se percebe integrado com a sociedade, seja no trabalho, na

família ou nas conversas com os amigos, compreende que pode continuar sempre

alcançando novos horizontes. Lírio (71 anos) confirma esta discussão no instante

em que diz que “nada me impede de lutar para continuar vivendo e alcançando as

metas pequenas e desejadas". O idoso que identifica um sentido na vida faz como

Cravo (66 anos): "fazer o que falei que eu mais gosto que é esporte (..) a diferença

para mim está nisso aí", encontra estratégias para lidar com esse processo inerente

ao homem - o envelhecimento.

4.2 AUTO-PERCEPÇÃO DA SAÚDE

“Vários autores criticam as abordagens de saúde mental que explicam a saúde apenas como a ausência de doença. Estas abordagens negativas falham na medida em que não atendem as capacidade e potencialidades do indivíduo” (COUTO et at. 2006 p. 330).

Andrade (1996) comenta que a qualidade de vida da população idosa pode

estar associada, também, a impressão (percepção) subjetiva do seu estado de

saúde. Para o autor, a influência dessa opinião é maior do que a própria saúde

constatada.

Ribeiro et al (2002) realizaram uma pesquisa com um grupo de idosos e

constataram que a classificação de velho para os entrevistados são baseadas não

na aparência física ou na idade cronológica, mas na falta de autonomia e falta de

saúde.

Leme e Silva (1996) compreendem que na realidade, o que está em jogo na

velhice é a autonomia. A capacidade de determinar e executar seus próprios

desígnios, e não depender do outro, traz a realização e o completo bem-estar na

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velhice. Violeta (62 anos) corrobora com esta idéia ao dizer: "Eu ainda saio, eu ainda

dirijo, eu ainda vou onde quero, eu viajo...”, e complementa: "... Acordar de manhã é

uma benção e poder passar o dia em pé, andando, indo e vindo, tendo direito de ir e

vir a hora que quer, quando quer e como quer". Estes fatores geram bem-estar e

estão atrelados à percepção de saúde.

A perda da autonomia pode ser compreendida no relato de Rosa (64 anos), a

qual afirma que “a dependência pra mim seria a pior coisa”. E, acrescenta “poder

fazer as coisas, ser bem independente (...) isso é saúde. Estes relatos demonstram

o entendimento que o idoso tem da saúde, pois segundo Ramos (2003) o fato do

idoso possuir hipertensão, diabetes ou outras doenças crônicas não é tão fortemente

marcado como a perda da autonomia. Neste sentido, o idoso que conseguir manter

sua autonomia e se sentir integrado socialmente, conseqüentemente, considerar-se-

á uma pessoa saudável.

Estas discussões a cerca da saúde trazem em si o significado, o conceito que

esta palavra carrega. Traz, também, a forma como cada um a percebe e a vivencia.

Rosa (64 anos) entende que “uma pessoa feliz, né, é quando ela tem saúde (...) não

tem coisa melhor no mundo que ter saúde". Cravo (66 anos) diz: “saúde para mim é

essencial e talvez mais importante do que alimentação”. Violeta (62 anos) ressalta

que “se a gente não está bem de saúde, então a gente fica de mau humor, fica de

mal com a vida, fica de mal com as pessoas que nos rodeiam..." Girassol (64 anos)

salienta que “as pessoas que não tem saúde, não tem condições de se

apresentarem em local nenhum e nem de ter uma vida com lazer, com participação

na sociedade".

A maioria dos entrevistados retratam claramente que a saúde é percebida,

sentida e concebida de forma única, singular. Todavia, em cada relato observa-se

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uma única verdade: independente do conceito de saúde de cada um, independente

da forma de se posicionar diante da mesma, fica evidente que falar em saúde é falar

em bem-estar, é falar em qualidade de vida, é falar de autonomia.

Outro ponto importante identificado é a relação existente entre saúde,

conceito de velhice e qualidade de vida. Por qualidade de vida pode-se entender

enquanto uma noção que tem sido aproximada ao grau de satisfação encontrado na

vida familiar, amorosa, social e à própria estética existencial (MINAYO et al, 2000).

Este termo, segundo os autores, abrange muitos significados, os quais refletem

conhecimentos, experiências e valores de indivíduos e relatividade cultural.

Ribeiro et al (2002), numa pesquisa realizada com idosos, complementa a

compreensão de qualidade de vida ao relatar que:

“a qualidade de vida (...) significa, também, uma existência que satisfaça as exigências deste cotidiano, onde viver impedido acarretará sofrimento que se quer evitar através das ações de saúde” (p. 93).

Esta citação pode ser reforçada pelas falas de alguns idosos: Rosa (64 anos)

entende que ter saúde “é poder fazer as coisas, ser bem independente (...) isso é

saúde". Cravo (66 anos) divide sua angústia ao relatar que a saúde interfere muito

em sua vida “por exemplo eu até pouco tempo fazia musculação, jogava futebol (...)

agora vai se limitar daqui para frente a fazer um pouco de exercícios em casa,

abdominais, nada mais, pois os demais estou proibido, e eu noto que é um sacrifício

para mim”. Lírio (71 anos) entende que a saúde “quase sempre limita as pessoas".

Pode-se observar, enfim, que a qualidade de vida pode ser compreendida de

várias formas, incluindo o posicionamento do idoso perante suas limitações. Lírio (71

anos) entende que a saúde “não impede de ter uma vida de certa forma feliz e de

viver pensando numa vida melhor para todos". Em outras palavras, para Lírio (71

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anos) a saúde pode ser um agente limitador em certos aspectos, como a perda da

vitalidade física, mas as limitações físicas não impedem os idosos de se

posicionarem no mundo de forma ativa, buscando estratégias para driblar os

inevitáveis limites adquiridos com o avanço da idade.

4.3 IDADE RELACIONADA AO BEM-ESTAR SUBJETIVO

“A menos que já pertençamos ao clube dos idosos, devemos ter em mente que os velhos do futuro seremos nós. A possibilidade de sermos ou não vitimados pelo mesmo tipo de tratamento dispensado aos hoje senis depende de até que ponto a sociedade conseguirá nos passar a perna. Nenhuma pílula ou regime de que se tem notícia pode transformar os últimos anos de nossas vidas tanto quanto uma mudança no modo de encarar a velhice e os esforços para alcançar essa meta” (COMFORT, 1979. p. 14).

Machado (s/d) compreende o envelhecimento humano como um processo

biopsicosocial de transformações ocorridas ao longo da existência provocando

diminuição progressiva de eficiência de funções orgânicas, bem como a atribuição

de um novo papel social que poderá ser positivo ou negativo de acordo com os

valores sociais e culturais do grupo ao qual o idoso pertence e pelos aspectos

psíquicos vistos tanto pela sociedade quanto pelo próprio idoso.

O ser humano se perceberá como velho, de acordo com a relação que o

mesmo estabelece com seu meio atrelado as influências culturais e da sociedade.

Esta relação dialética viabiliza a maneira de como o idoso se percebe e como o

mesmo é percebido. Beauvoir (1990 apud FALCÃO e DIAS, 2005) reforça este

posicionamento citando o conto de Grimm:

“Um camponês alimentava seu velho pai numa pequena gamela de madeira, separada da família. Certo dia, ele surpreendeu seu filho pequeno catando uns tocos de pau. Ao indagar porque o menino fazia aquilo, este lhe respondeu que estava preparando a gamela do pai, para quando ficasse velho, assim como o avô. O camponês, impressionado com a situação decidiu convidar o avô para voltar a sentar à mesa” (p. 64).

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Este conto ilustra a representação do idoso perante a sociedade. Reforça a

forma como as pessoas, as quais ainda não fazem parte do “clube dos idosos”, são

educadas quanto à velhice, demonstrando o rótulo que o idoso recebe destas que

não enxergam que um dia chegarão a esta idade.

Esta questão pode ser observada no relato de Lírio (71 anos) que percebe a

forma como os idosos são tratados: "porque por parte de muitos, o sujeito é bem

interpretado, mas outros não nos ouvem e não valorizam o que a gente pensa e fala,

para alguns pouco sentido faz". Este relato denuncia a função social do idoso, que

deixou de ser o velho sábio respeitado para ser visto pela sociedade enquanto um

ser improdutivo destinado à exclusão.

Não se pode negar que a velhice traz consigo as limitações biológicas. Lótus

(62 anos) afirma que “existe uma limitação no próprio corpo, de fazer alguma coisa,

de trabalhar seis horas ou oito horas né, com cinqüenta anos trabalhava e não ficava

cansado, então hoje já tenho uma limitação". Girassol (64 anos) reforça que “nós,

com a idade avançada que estamos, não temos a mesma disposição para trabalhos

pequenos, ou trabalho na sua plenitude mesmo, nem para o lazer. Temos limitações

e devemos observá-las". E finaliza "porque com essa idade nós não temos mais a

mesma energia que tínhamos a vinte anos atrás".

Contudo, alguns entrevistados não entendem que a idade seja fator

determinante e exclusivo quanto à interferência em sua qualidade de vida. Podemos

observar alguns relatos: Liz (65 anos) relata que "eu me sinto surpresa porque

nunca pensei que fosse chegar nessa idade tão bem como estou. Estou ótima". E

acrescenta "acreditar que (a idade) interfere no meu bem estar eu não acredito,

porque até agora não teve interferência nenhuma". Cravo (66 anos) afirma que "não

parei para pensar isso aí. Está sendo ótimo, por isso não parei para pensar". Lótus

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(62 anos) revela que "com relação a minha idade me sinto muito bem". O mesmo

participante acrescenta que "não me sinto uma pessoa velha, me sinto uma pessoa

com sessenta e dois anos (...), mas não me sinto velho". Violeta

(62 anos) afirma que deve-se "encarar a idade não como um castigo, mas como um

benefício" e, finaliza que “tem pessoas que se posicionam como idosas, querem

tratamento de idoso, querem benefícios de idosos e tal, e eu acho que esses

benefícios a gente só deve querer só na última mesmo".

Há idosos que relatam que o bem-estar e a qualidade de vida na velhice só

será afetada se esta vier acompanhada a problemas de saúde. Violeta (62 anos)

corrobora esta idéia ao relatar que "(a idade) não interfere (...) a não ser que seja,

então impedido pela falta de saúde". Rosa (64 anos) entende que a autonomia é o

fator primordial para se ter qualidade de vida, pois "eu tenho medo da minha velhice.

Que um dia eu posso chegar a depender muito de uma pessoa, talvez aquela coisa

de incomodar, de não poder eu mesma fazer as minhas coisas".

Enfim, os relatos demonstram o modo que idosos se posicionam diante da

velhice. Uns acreditam que o envelhecimento não altera significativamente suas

vidas, outros, conforme assevera Lótus (62 anos) a velhice "nos dá sabedoria, mas

nos tira outros tipos de condições, né, prazeres" afirmam que esta etapa da vida

trazem certas limitações.

Esta perda dos prazeres, conforme o relato de Lótus (62 anos), confirma a

necessidade de buscar novas concepções de prazeres na velhice, ou seja, de

ampliar o leque de consideração a cerca do prazer. Esta necessidade se configura

enquanto a estratégia que cada idoso fará para buscar seu bem-estar e qualidade

de vida nesta fase do desenvolvimento. Afinal, como afirma Violeta (62 anos), “a

idade é uma questão mais psicológica”.

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Lembramos que os entrevistados pertencem a faixa etária entre 60 - 74 anos

considerada de menor risco para problemas de saúde (VERAS et al., 2002).

4.4 ESTRATÉGIAS VISANDO O BEM-ESTAR

“Prolongar o máximo possível a capacidade de controlar a própria vida é anseio da maioria das pessoas que envelhecem. Mas essa capacidade não depende apenas da vontade de cada um, e sim de fatores econômicos, sociais, culturais, biológicos, psicológicos e psicossociais” (KHOURY e GÜNTHER, 2006, p. 311).

As transformações ocorridas durante o ciclo de vida, tais como as mudanças

físicas e fisiológicas, bem como as alterações dos papéis sociais que o idoso passa

a representar podem influenciar a forma como o mesmo encara a vida. Estas

questões, segundo Khoury e Günther (2006) podem conduzir ao surgimento de

sentimentos negativos, ou seja, sentimento de abandono, inutilidade, falta de

autonomia e controle sobre si e seu meio.

Estes fatores podem ser observados através dos relatos dos idosos, os quais

demonstram as diferentes estratégias encontradas para encarar esta nova fase da

vida. Girassol (64 anos) tem uma preocupação maior relacionada a sua saúde,

quando afirma que "nós temos que cuidar da alimentação, cuidar com os exercícios

que fazemos". Este relato demonstra que adota o cuidado com a saúde como

principal estratégia para seu bem estar. Estas preocupações podem ser observadas,

também, no relato de Cravo (66 anos) o qual afirma que "ter bom condicionamento

físico, não fumar, beber moderadamente e levar uma vida, não metódica, mas com

limites, sem exageros". Para ele essa é a receita para um envelhecimento mais

estável e feliz.

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Khoury e Günther (2006) compreendem que é de extrema importância que o

idoso desenvolva estratégias cognitivas e comportamentais que lhe habilite a

enfrentar as diversas situações de risco que o acompanham nesta etapa do

desenvolvimento humano capacitando-o na adaptação às mudanças, minimizando

as perdas, protegendo sua auto-estima, preservando seu senso de controle, e sua

identidade. Entende-se que identidade é a forma como o individuo se reconhece no

desempenho de seus papéis sociais e de como é reconhecido pelos outros

(GALINDO, 2004). Contudo, percebe-se a necessidade de garantir uma velhice

bem-sucedida.

Violeta (62 anos) ratifica estes pensamentos ao afirmar que "procurando ser

feliz, fazer as coisas que gosta, as coisas que quer e que pode, perseguindo sempre

uma posição que nos proporcione alegria e realização" constitui-se na principal

estratégia para se ter qualidade de vida. Liz (65 anos) corrobora esta forma de se

posicionar diante da velhice ao relatar que "não fazer planos para daqui um ano. É

viver o agora, o momento" é condição básica para alcançar o bem-estar.

Lírio (71 anos) comenta sobre um outro aspecto de suma importância que

está intimamente relacionado à velhice, manter-se ativo. Segundo ele "como me

encontrava inativo profissionalmente passei a exercer outros trabalhos, mas tudo

sem função definida e mais definitiva e passei, a partir daí a me dedicar mais a

leitura, sendo jornais e revistas, livros não, TV, enfim uma vida mais voltada para

casa”. Este relato remete a necessidade da busca de novas metas admitindo que

estas proporcionam o sentimento de pertença.

Rosa (64 anos) enfatiza a importância da família para a consolidação deste

sentimento, pois "aconselharia que todo mundo vivesse bem com a família pra

nunca ficar sozinha”.

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Cabe, em face desta discussão, resgatar o papel da representação social da

velhice como aspecto contundente na busca por estratégias que façam os idosos

vislumbrarem a sensação de pertença na sociedade. Assim, as estratégias

representam o modo como o idoso se sobrepõe às limitações físicas, biológicas e

psicossociais na tentativa de conquistar novo sentido de vida.

Girassol (64 anos) reforça a discussão ao compreender que "com toda

certeza os idosos deveriam ser aceitos em todo e qualquer local (...) então me

parece que deve haver uma conscientização de toda sociedade para que isso

efetivamente aconteça". Este comentário confirma a importância da valorização

social e aceitação da velhice como estratégia pública para melhorar a qualidade de

vida dos idosos que pertencem a esta sociedade.

O bem-estar na velhice seria o resultado do equilíbrio entre as diversas

dimensões da capacidade funcional do idoso, sem necessariamente significar

ausência de problemas em todas as dimensões (RAMOS, 2003). Assim, pode-se

observar que o envelhecimento saudável passa a ser a resultante da interação entre

saúde física, saúde mental, independência na vida diária, integração social, suporte

familiar e independência econômica. Em outras palavras, qualquer evento do

cotidiano, como um acidente, uma doença crônica, falecimento de um ente querido,

podem juntos ou isoladamente, comprometer a capacidade funcional de um

indivíduo.

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5. CONSIDERAÇOES FINAIS

“Os disparates sobre a velhice são excepcionalmente difíceis de serem desfeitos. Quando a sociedade condenava negros, judeus e mulheres, as vítimas passavam o resto de suas vidas marcadas pelo preconceito e algumas até encontravam tempo para se livrar do peso dos rótulos e passar a combatê-los, construindo os alicerces dos direitos civis sobre os quais seus semelhantes pudessem erigir suas vidas. Porém, não nascemos velhos. Os preconceitos sociais doutrinam o indivíduo para depois lhes deferirem o golpe final. Assim, quando os ponteiros do relógio anunciam a hora, todos condescendem em se extinguir como seres humanos” (COMFORT, 1979. p. 10-11).

Envelhecer, definitivamente, não é tarefa fácil. Além de suportar toda

mudança biológica que, gradativamente, acomete os indivíduos mais idosos, estes

se deparam com um ambiente histórico-social que rejeita com todas as forças a

idéia de um dia ser velho. Isto, porque a imagem de velho que se construiu ao longo

da história relaciona-se a idéia de inutilidade, futilidade, dependência entre outros

adjetivos negativos.

Reconstruir uma imagem, repensar o significado já cristalizado da velhice na

nossa sociedade não é do dia para a noite. Mas, aos poucos, novos olhares são

lançados ao processo de envelhecimento, olhar este de potencialidade, de

autonomia. Quanto mais se conhece sobre a velhice, graças ao avanço da medicina

e das pesquisas na área, mais se descobre que envelhecer não é sinônimo de

doença, muito menos de incapacidade.

Este trabalho se propôs a investigar quais variáveis estão relacionadas ao

bem-estar subjetivo do idoso a partir dos relatos coletados. Foram identificados,

durante a análise dos dados, vários fatores que influenciam o bem-estar e a

qualidade de vida dos mesmos.

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Pode-se identificar, neste contexto, a importância do papel da família e do

contato social na manutenção do bem-estar subjetivo dos idosos. A família carrega a

imagem de ambiente seguro e acolhedor, no qual o idoso pode ser compreendido e

aceito da forma como é. Estabelecer relações, estar inserido num ambiente social

faz com que o idoso sinta-se vivo, útil e capaz.

Outro aspecto que pode ser observado diz respeito à saúde. Estar saudável

não significa, necessariamente estar livre de doenças, mas ter a autonomia de ir e

vir, de comandar a sua própria vida. Observa-se que todos temem a doença, mas

não como um fator limitante em suas vidas. Sentem que a idade pode pesar em

certos momentos, devido às transformações biológicas e fisiológicas, mas procuram

buscar alternativas para se sentirem ativos.

Ser ator de suas vidas, mas estar conscientes de suas limitações são fatores

essenciais para atingir bem-estar na velhice. Independente da idade ou da condição

financeira torna-se necessário criar estratégias para lidar com o novo corpo, com os

novos papéis sociais. Estas estratégias configuram-se em metas na vida dos idosos,

as quais vão tecer novos horizontes que sobreponham suas limitações.

Enfim, este trabalho contribui com a re-significação do papel do idoso na

sociedade, ao passo que apontam variáveis e estratégias encontradas pelos idosos

que desmistificam a idéia de inutilidade e incapacidade. Apresenta, ainda, a

dificuldade de ser velho diante de uma sociedade que ainda não acolhe a velhice,

pois estes velhos, para conseguirem continuar sendo reconhecidos em suas

subjetividades, são obrigados a lutar contra suas limitações físicas e, principalmente,

contra a negação de uma sociedade que não pode envelhecer.

Contudo, entende-se a necessidade de aprofundar e ampliar este estudo com

pesquisas, apontando aspectos como gênero, sexualidade e fatores sócio-

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econômicos, pois estes também interferem no bem-estar subjetivo. Através de uma

pesquisa ampla que discuta a velhice como um todo é que surgirão os novos olhares

diante a esta etapa tão significativa e valiosa da vida.

Aproveito o espaço para expressar meus sentimentos com relação aos

momentos vividos durante este trabalho. Pode até parecer simplório, aos olhos dos

mais jovens que tem um coração mais forte diante das emoções, mas para um

homem que entrará no “clube dos idosos” daqui a dois meses, esta emoção fica

muito mais difícil de ser administrada.

Este trabalho representa muito mais do que uma pesquisa que alcançou

objetivos acadêmicos, mas configura-se na finalização de mais uma etapa em minha

vida. Ghandi possui uma frase, a qual me serviu como o norte na minha travessia,

que diz o seguinte: Viva como se fosse morrer amanhã, e aprenda como se fosse

viver para sempre (WOODCOCK, 1978). Lembro-me dos momentos angustiantes

pelos quais passei. Me deparava nos corredores da faculdade, em meio a tantos

jovens, ávido pelo conhecimento sem saber ao certo onde conseguiria chegar. Por

fim, finalizei esta pesquisa e sinto-me orgulhoso por tudo que aprendi.

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APENDICE 1

TERMO E CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Gostaria de convidá-lo (a) para

participar de uma pesquisa cujo objetivo é

investigar quais variáveis estão relacionadas

ao bem-estar subjetivo a partir do relato de

idosos.

Sua tarefa consistirá na participação em

uma entrevista semi-estruturada falando

sobre como você se sente em relação ao

envelhecimento.

Quanto aos aspectos éticos, gostaria

de informar que:

a) seus dados pessoais serão

mantidos em sigilo, sendo garantido o seu

anonimato;

b) os resultados desta pesquisa serão

utilizados somente com finalidade acadêmica

podendo vir a ser publicado em revistas

especializadas, porém, como explicitado no

item (a) seus dados pessoais serão mantidos

em anonimato;

c) não há respostas certas ou erradas,

o que importa é a sua opinião;

d) a aceitação não implica que você

estará obrigado a participar, podendo

interromper sua participação a qualquer

momento, mesmo que já tenha iniciado,

bastando, para tanto, comunicar aos

pesquisadores;

e) você não terá direito a

remuneração por sua participação, ela é

voluntária;

f) esta pesquisa é de cunho

acadêmico e não visa uma intervenção

imediata;

g) durante a participação, se tiver

alguma reclamação, do ponto de vista ético,

você poderá contatar com o responsável por

esta pesquisa.

Pesquisador responsável: Profªº. Kátia

Ploner

E-mail: [email protected]

Telefone: 3341 7542

Curso de Psicologia da Universidade do

Vale do Itajaí – CCS

R: Uruguai, 448 – bloco 25b – Sala 401.

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Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí –CCS

IDENTIFICAÇÃO E CONSENTIMENTO

Eu_________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Declaro estar ciente dos propósitos da pesquisa e da maneira como será

realizada e no que consiste minha participação. Diante dessas informações aceito

participar da pesquisa.

Assinatura:__________________________________________________________

Data de nascimento: __________________________________________________

Pesquisador: Hildebrando Gomes

Telefone: 9977 54 91

Assinatura:______________________________________________________

Pesquisador Responsável: Kátia Ploner

Telefone: 3341 7679

E-mail: [email protected]

Assinatura:______________________________________________________

UNIVALI – CCS – Curso de Psicologia

Rua Uruguai, 438.

Itajaí - SC

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APÊNDICE 2

ROTEIRO PARA ENTREVISTA

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Iniciais (nome): ______________

Idade: ______ anos

Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

PERGUNTAS 1) Como você se sente atualmente em relação à idade que tem?

2) O que você relaciona com uma vida ótima?

3) Qual a visão que você tem da sua velhice? De que forma você a avalia?

4) O que você pensa a respeito da sua saúde?

5) Acredita que a saúde interfere no bem estar e de que forma?

6) Acredita que sua saúde interfere na qualidade de vida? Por que?

7) O que lhe proporciona bem-estar?

8) Acredita que a idade interfere no bem-estar? E de que forma isso ocorre?

9) Quais fatores fazem diferença para se ter qualidade de vida?

10) Como se deveria viver para se ter qualidade de vida na sua idade?

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APÊNDICE 3

Categorias de análise, divididas por entrevistados.

Categorias de Análise Entrevistas - ROSA

"vida ótima é saúde, estar bem com a família, sempre junto com a família, isso é muito importante" Variáveis relacionadas ao

bem-estar subjetivo "... Eu não quero ficar sozinha (...) eu tenho medo da solidão.

Como a idade interfere no bem-estar

"eu tenho medo da minha velhice. Que um dia eu posso chegar a depender muito de uma pessoa, talvez aquela coisa de incomodar, de

não poder eu mesmo fazer as minhas coisas"

“A dependência pra mim seria a pior coisa”.

"Uma pessoa feliz, né, quando ela tem saúde (...) não tem coisa melhor no mundo que ter saúde"

Conceito e auto-percepção de saúde

"poder fazer as coisas, ser bem independente (...) isso é saúde"

Estratégias "...eu aconselharia que todo mundo vivesse bem com a família pra nunca

ficar sozinha"

Categorias de Análise Entrevistas - LIZ

Variáveis relacionadas ao bem-estar subjetivo

"O que eu considero, é ter o meu lar, minha família em paz e todos os meus familiares bem."

"Eu me sinto surpresa porque nunca pensei que fosse chegar nessa idade tão bem como estou. Estou ótima" Como a idade interfere no

bem-estar "Acreditar que interfere no meu bem estar eu não acredito, porque até

agora não teve interferência nenhuma"

Estratégias "...também não fazer planos para daqui um ano. É viver o agora, o

momento"

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Categorias de Análise Entrevistas - CRAVO

"fazer o que falei que eu mais gosto que é esporte (..) a diferença para mim está nisso aí"

"pra ter uma boa qualidade de vida eu considero que tem que ter saúde, tem que poder (dinheiro), se é necessário pagar por essa saúde" Variáveis relacionadas ao

bem-estar subjetivo "uma vida ótima seria uma vida onde o idoso aspira, pelo menos, saúde e

fartura. Nesta fartura devem estar incluída boa alimentação, assistência médica, habitação, lazer, transporte e o respeito da sociedade pelos idosos".

Como a idade interfere no bem-estar

"não parei para pensar isso aí. Está sendo ótimo, por isso não parei para pensar"

“por exemplo eu até pouco tempo fazia musculação, jogava futebol (...) agora vai se limitar daqui para frente a fazer um pouco de exercícios em

casa, abdominais, nada mais, pois os demais estou proibido, e eu noto que é um sacrifício para mim”.

Conceito e auto-percepção de saúde

"saúde para mim é essencial e talvez mais importante do que alimentação.

Estratégias "teria ainda que estudar, ter bom condicionamento físico, não fumar, beber

moderadamente e levar uma vida, não metódica, mas com limites, sem exageros".

Categorias de Análise Entrevistas - LÓTUS

Variáveis relacionadas ao bem-estar subjetivo

"para mim bem estar é viver bem, ter comida dentro de casa, bom relacionamento com a esposa, com filhos, ter alguma coisa para fazer

(...), continuo ativo, isto é o bem estar"

"com relação a minha idade me sinto muito bem"

"não me sinto uma pessoa velha, me sinto uma pessoa com sessenta e dois anos (...) mas não me sinto velho"

"nos dá sabedoria, mas nos tira outros tipos de condições, né, prazeres" Como a idade interfere no

bem-estar

"existe uma limitação no próprio corpo, de fazer alguma coisa, de trabalhar seis horas ou oito horas né, com cinqüenta anos trabalhava e

não ficava cansado, então hoje já tenho uma limitação"

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Categorias de Análise Entrevistas - LÍRIO

"me aposentei aos quarenta e quatro (cedo), depois disso é que veio a velhice"

"nada me impede de lutar para continuar vivendo e alcançando as metas pequenas e desejadas"

"a boa esposa e companheira que tenho, mãe e irmãos com saúde, filhos bem encaminhados na vida e estar em paz com todos"

Variáveis relacionadas ao bem-estar subjetivo

"para ter qualidade de vida é preciso estar bem de saúde, mas ao mesmo tempo ver os outros em boa situação também".

Como a idade interfere no bem-estar

"porque por parte de muitos o sujeito é bem interpretado, mas outros não nos ouvem e não valorizam o que a gente pensa e fala, para alguns pouco sentido faz".

"sim, porque ela (saúde) quase sempre limita as pessoas" Conceito e auto-percepção

de saúde "sim, mas (a saúde) não impede de ter uma vida de certa forma feliz e de viver pensando numa vida melhor para todos".

Estratégias

"como me encontrava inativo profissionalmente passei a exercer outros trabalhos, mas tudo sem função definida e mais definitiva e passei, a partir daí a me dedicar

mais a leitura, sendo jornais e revistas, livros não, TV, enfim uma vida mais voltada para casa.

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Categorias de Análise Entrevista 2 - GIRASSOL

Variáveis relacionadas ao Bem-Estar Subjetivo

"...seria estar de bem com todos, com tudo aquilo que nos rodeia, com tudo aquilo que nós fazemos e com tudo aquilo que a vida nos proporciona"

"nós, com a idade avançada que estamos, não temos a mesma disposição para trabalhos pequenos, ou trabalho na sua plenitude mesmo, nem para o

lazer. Temos limitações e devemos observá-las" Como a Idade Interfere no Bem-Estar

"porque com essa idade nós não temos mais a mesma energia que tínhamos a vinte anos atrás"

Conceito e Auto-percepção de Saúde

"as pessoas que não tem saúde, não tem condições de se apresentarem em local nenhum e nem de ter uma vida com lazer, com participação na

sociedade"

"Nós temos que cuidar da alimentação, cuidar com os exercícios que fazemos"

Estratégias "Com toda certeza os idosos deveriam ser aceitos em todo e qualquer local

(...) então me parece que deve haver uma conscientização de toda sociedade para que isso efetivamente aconteça"

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Categorias de Análise Entrevista 1 - VIOLETA

"Sou produtiva, trabalho ainda o dia todo".

Variáveis relacionadas ao Bem-Estar Subjetivo

"Estar junto dos meus (entes queridos), da minha família, me proporciona bem-estar, dos meus amigos, me faz feliz hoje fazer parte desta comunidade (...), sou uma pessoa bem aceita (...), saio na rua dando bom dia, boa tarde,

isso me deixa feliz".

"... Não interfere (...) a não ser que seja, então impedido pela falta de saúde"

"encarar a idade não como um castigo, mas como um benefício"

“tem pessoas que se posicionam como idosas, querem tratamento de idoso, querem benefícios de idosos e tal, e eu acho que esses benefícios a gente só

deve querer só na última mesmo".

Como a Idade Interfere no Bem-Estar

"A idade é uma questão mais psicológica".

Acordar de manhã é uma benção e poder passar o dia em pé, andando, indo e vindo, tendo direito de ir e vir a hora que quer, quando quer e como quer"

"Eu ainda saio, eu ainda dirijo, eu ainda vou onde quero, eu viajo...” Conceito e Auto-percepção de Saúde

"... Se a gente não está bem de saúde, então a gente fica de mal humor, fica de mal com a vida, fica de mal com as pessoas que nos rodeiam..."

Estratégias "procurando ser feliz, fazer as coisas que gosta, as coisas que quer e que

pode, perseguindo sempre uma posição que nos proporcione alegria e realização".

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

HILDEBRANDO GOMES

O BEM-ESTAR SUBJETIVO NA VELHICE: variáveis apontadas

por idosos relacionadas à qualidade de vida

Itajaí

2006