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Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde – FEPECS Escola Superior de Ciências da Saúde – ESCS Habilidade e Atitude em Comunicação – 3º. Ano TÉCNICA DE ENTREVISTA MÉDICA QUEM É ESSA PESSOA? As vantagens de uma boa relação médico-paciente são largamente relatadas na literatura médica, tanto para a realização de um diagnóstico correto, quanto para o sucesso do tratamento. As patologias não ocorrem como eventos isolados na vida das pessoas, elas têm correlações com outros eventos importantes. Situações vivenciadas podem desencadear ou exacerbar sintomas e a doença pode, por sua vez, influenciar a qualidade de vida de uma pessoa em diferentes níveis. O simples conhecimento do roteiro de anamnese não proporciona ao médico a obtenção de informações necessárias para que esta correlação seja feita. Desta forma, ele terá que desenvolver também habilidades e atitudes para interagir com outro ser humano de forma adequada e saudável. A idéia da descrição da técnica denominada “Quem é essa pessoa?” surgiu da demanda dos estudantes da 3º série por um roteiro que os auxiliassem na aproximação com o paciente. O núcleo da técnica consiste no estudante ser capaz de responder ao final da entrevista a pergunta “Quem é essa pessoa?”, e não somente levantar hipóteses diagnósticas relacionadas aos aspectos biológicos da enfermidade. É claro que soa bem audacioso que, após alguns minutos de entrevista, alguém seja capaz de responder a essa pergunta. Para tanto seriam necessários muitos anos de convívio ou até mesmo de um processo psicoterapêutico. Porém, o objetivo da técnica é que o estudante entre em contato com a história de vida de uma pessoa para além do roteiro tradicional da anamnese desenvolvido de moto automático. Busca-se ver o ser humano que está por trás do paciente. Para que isso seja possível é imprescindível, primeiramente, que o estudante se desapegue das barreiras proporcionadas pelo roteiro de anamnese tradicional no seu formato de interrogatório, e seja capaz de conversar com a pessoa que se encontra à sua frente. O estudante deverá atentar aos aspectos que sejam relevantes para o paciente, correlacionando os eventos de vida marcante com o desencadeamento ou exacerbação dos sintomas. Insistir em interrogar mecanicamente sobre os antecedentes pessoais, familiares e sociais não responderá a pergunta “quem é essa pessoa?”. O paciente terá que ser visto como um ser humano que tem uma história de vida que influenciou, influencia e influenciará a sua doença, e que pode ser a chave do diagnóstico e do tratamento. O estudante será incentivado a deixar que o paciente discorra sua história de maneira livre, de forma a compreender o modo como a pessoa percebe seu processo de adoecimento. As perguntas virão para ajudar o diálogo, procurando não interromper o pensamento da pessoa. Muitas vezes, silêncios serão vivenciados para que o paciente possa organizar o seu pensamento, especialmente quando o conteúdo da fala é afetado por emoções. Sabemos que esta tarefa não é fácil e que ela será desenvolvida gradativamente ao longo do ano. Mas, é necessário conter a “pressa” e a ansiedade e exercitar a “escuta ativa”. Ao estarem com o roteiro da anamnese bem apreendido, a ordem com que ele transcorre pode ser diferente dependendo de cada pessoa entrevistada. Ao final da entrevista, o roteiro será consultado para verificar a ausência de alguma informação importante, assim como pode ser completado em entrevista posterior. Com a prática, esses ajustes ocorrerão de forma cada vez mais natural.

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  • Fundao de Ensino e Pesquisa em Cincias da Sade FEPECS Escola Superior de Cincias da Sade ESCS Habilidade e Atitude em Comunicao 3. Ano

    TCNICA DE ENTREVISTA MDICA

    QUEM ESSA PESSOA?

    As vantagens de uma boa relao mdico-paciente so largamente relatadas na literatura mdica, tanto para a realizao de um diagnstico correto, quanto para o sucesso do tratamento. As patologias no ocorrem como eventos isolados na vida das pessoas, elas tm correlaes com outros eventos importantes. Situaes vivenciadas podem desencadear ou exacerbar sintomas e a doena pode, por sua vez, influenciar a qualidade de vida de uma pessoa em diferentes nveis. O simples conhecimento do roteiro de anamnese no proporciona ao mdico a obteno de informaes necessrias para que esta correlao seja feita. Desta forma, ele ter que desenvolver tambm habilidades e atitudes para interagir com outro ser humano de forma adequada e saudvel. A idia da descrio da tcnica denominada Quem essa pessoa? surgiu da demanda dos estudantes da 3 srie por um roteiro que os auxiliassem na aproximao com o paciente. O ncleo da tcnica consiste no estudante ser capaz de responder ao final da entrevista a pergunta Quem essa pessoa?, e no somente levantar hipteses diagnsticas relacionadas aos aspectos biolgicos da enfermidade. claro que soa bem audacioso que, aps alguns minutos de entrevista, algum seja capaz de responder a essa pergunta. Para tanto seriam necessrios muitos anos de convvio ou at mesmo de um processo psicoteraputico. Porm, o objetivo da tcnica que o estudante entre em contato com a histria de vida de uma pessoa para alm do roteiro tradicional da anamnese desenvolvido de moto automtico. Busca-se ver o ser humano que est por trs do paciente. Para que isso seja possvel imprescindvel, primeiramente, que o estudante se desapegue das barreiras proporcionadas pelo roteiro de anamnese tradicional no seu formato de interrogatrio, e seja capaz de conversar com a pessoa que se encontra sua frente. O estudante dever atentar aos aspectos que sejam relevantes para o paciente, correlacionando os eventos de vida marcante com o desencadeamento ou exacerbao dos sintomas. Insistir em interrogar mecanicamente sobre os antecedentes pessoais, familiares e sociais no responder a pergunta quem essa pessoa?. O paciente ter que ser visto como um ser humano que tem uma histria de vida que influenciou, influencia e influenciar a sua doena, e que pode ser a chave do diagnstico e do tratamento. O estudante ser incentivado a deixar que o paciente discorra sua histria de maneira livre, de forma a compreender o modo como a pessoa percebe seu processo de adoecimento. As perguntas viro para ajudar o dilogo, procurando no interromper o pensamento da pessoa. Muitas vezes, silncios sero vivenciados para que o paciente possa organizar o seu pensamento, especialmente quando o contedo da fala afetado por emoes. Sabemos que esta tarefa no fcil e que ela ser desenvolvida gradativamente ao longo do ano. Mas, necessrio conter a pressa e a ansiedade e exercitar a escuta ativa. Ao estarem com o roteiro da anamnese bem apreendido, a ordem com que ele transcorre pode ser diferente dependendo de cada pessoa entrevistada. Ao final da entrevista, o roteiro ser consultado para verificar a ausncia de alguma informao importante, assim como pode ser completado em entrevista posterior. Com a prtica, esses ajustes ocorrero de forma cada vez mais natural.

  • Criao de um ambiente acolhedor Sabemos que um ambiente acolhedor difcil de ser criado em uma enfermaria. Procure minimizar a impessoalidade do ambiente. Quando possvel, feche a porta, guarde o seu material e sente-se prximo ao paciente. Evite permanecer em p durante a entrevista, exceto nos casos em que o prprio paciente ou informante se encontra nessa posio. Essa atitude pode denotar pressa em executar uma tarefa e no uma conversa interessada. O primeiro contato No primeiro encontro cumprimente o paciente, apresente-se e explique o seu papel. Antes de iniciar a historio clnica tente estabelecer um dilogo informal, at que voc e o paciente estejam mais vontade. Uma sugesto para o incio deste dilogo observar os objetos em torno do paciente ou utilizar a identificao para estabelecer esse primeiro contato. Por exemplo: pergunte algo a respeito da regio de origem, sobre o seu trabalho etc. Esse primeiro contato, quando bem realizado, ajudar ao paciente sentir-se seguro e confiante para contar detalhes de sua vida que podero auxiliar o diagnstico. A linguagem no verbal Fique atento sua linguagem no verbal: Sente-se prximo ao paciente, posicione o seu corpo, inclinando-o na direo do mesmo, criando um clima de maior interesse. No demonstre sinais de impacincia como olhar para o relgio, por exemplo. Procure olhar para o paciente, enquanto ele fala durante a entrevista, evitando fazer anotaes ou olhares vagos. Mantenha a linha dos seus olhos no mesmo nvel ou abaixo dele, pois acima pode aparentar arrogncia ou despertar um sentimento de inferioridade por parte dele. A observao do paciente fornece informaes importantes. A aparncia , a vestimentas, a atitude no leito, o modo de se movimentar e falar e as expresses faciais ajudam a conhecer a pessoa e a avaliar seu estado emocional. A linguagem verbal e a ateno Fale em tom baixo e pausadamente para transmitir tranqilidade. Use uma linguagem compatvel com o nvel de compreenso do paciente. Pergunte como ele gostaria de ser chamado. Busque adequar o tratamento pessoa. Por exemplo, evite tratar por senhor(a) uma pessoa muito jovem. No incio da entrevista d preferncia s perguntas abertas ao invs das fechadas. Por exemplo: O Sr(a) poderia me falar um pouco sobre a sua famlia? ao invs de O sr(a) convive bem com a sua famlia?. As fechadas so teis para esclarecer ou detalhar alguns assuntos abordados anteriormente. Certamente ser possvel obter um maior nmero de informaes e com maior sinceridade usando esta forma de entrevistar. Mais importante do que aprender a perguntar saber escutar. Demonstre ser um ouvinte atento, evite interromper. Mesmo tendo que anotar as informaes, pare em intervalos regulares e olhe o paciente nos olhos. Use expresses que demonstrem sua ateno, do tipo sim, sim, compreendo, claro, h, h, mostrando coerncia entre sua linguagem verbal e no verbal. Procure integrar um assunto e outro, evitando que a entrevista parea um interrogatrio. Cheque com o paciente se o que voc compreendeu o que ele realmente quis dizer.

  • Situaes de emoes Se houver situaes de grande emoo durante a entrevista, no se sinta na obrigao de emitir opinies. Evite conselhos, pois so geralmente ineficazes, muitas vezes, at prejudiciais. Permanecer em silncio pode ser uma soluo. Voc pode tambm demonstrar compreenso ou solidariedade, com expresses do tipo posso imaginar como isso deve ter sido difcil. Uma dificuldade levantada por diversos estudantes a abordagem de assuntos referentes sexualidade. Os pacientes percebem as inibies do interlocutor e reagem de forma no natural tambm. Para tratar com naturalidade o tema sexualidade necessrio que o entrevistador compreenda que esta rea faz parte da existncia humana, como qualquer outra. Mais difcil ainda, porm indispensvel, trabalhar seus prprios tabus. Portanto, esteja atento para no mudar o ritmo da entrevista ou a expresso facial durante a abordagem do assunto. Quando vivenciar uma situao de difcil abordagem, esta dever ser levada para o grupo de discusso para que possa ser melhor trabalhada. Final da entrevista Ao terminar, pergunte ao paciente como ele avalia a entrevista e despea-se, agradecendo a sua colaborao. Combine o seu retorno, explicando que voc e seu colega (observado) voltaro em outro momento para acompanhar a sua evoluo. Reunio Antes do incio da reunio, preencha os formulrios de verificao da entrevista. Durante a reunio, participe trazendo a experincia vivenciada, assim como contribua com opinies sobre as experincias dos demais colegas. Concluso A maneira pela qual o paciente reage sua doena e ao tratamento da mesma depende no apenas da natureza da enfermidade e da terapia, mas tambm da personalidade e das percepes de cada um. Mesmo que aparentemente no haja uma forte correlao entre o desencadeamento da doena e os fatores emocionais e sociais, esses aspectos estaro influenciando na sua recuperao. Este texto contm sugestes para estabelecer uma boa relao com o paciente. Porm como cada paciente e cada profissional de sade so seres nicos, no existem frmulas mgicas para um relacionamento eficiente. Esteja sinceramente interessado em conhecer e trocar experincias com o ser humano sua frente. Com a mente e o corao abertos, gratas surpresas surgiro ao longo de sua vida profissional.

    Equipe de Professores da Habilidades e Atitudes em Comunicao da 3 Srie.