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TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO PARA MONITORAR REQUISITOS DE SAÚDE E SEGURANÇA DE TRABALHO NO SISTEMA PRODUTIVO DA CONSTRUÇÃO CIVIL RENAN CERATTO (IGTECH SIST) [email protected] LUIZ HENRIQUE CAMPATO DE MORAES (IGTECH SIST) [email protected] CLAUDIO HENRIQUE MIRANDA (UEM) [email protected] GISLAINE CAMILA LAPASINI LEAL (UEM) [email protected] EDWIN CARDOZA (UEM) [email protected] O setor da construção civil tem apresentado crescimento expressivo na economia nacional. Entretanto, observa-se que o sistema produtivo (canteiro de obras) não evoluiu na mesma proporção quanto as dimensões competitivas de qualidade, produtividade, segurança do trabalho e uso da Tecnologia de Informação (TI). É um sistema de produção que carece de soluções tecnológicas e inovadoras para apoiar e agilizar o processo de tomada de decisão, principalmente quando se trata de estabelecimentos de menor porte e monitoramento dos ambiente de trabalho. A partir dessas observações foi identificada a oportunidade de desenvolver uma ferramenta tecnológica para gerenciar requisitos de Segurança e Saúde do Trabalho no Canteiro de Obras, exigidos por meio das Normas Regulamentadoras (NRs) publicadas pelo Ministério de Trabalho e Emprego (TEM) do Brasil. É uma solução tecnológica baseada em computação móvel e cloud computing que integra as dimensões de produção: qualidade e segurança do trabalho com o objetivo de oferecer suporte à tomada de decisão durante a fase de execução do projeto de edificações. O tecnologia se encontra em fase de validação junto a uma construtora e disponível pra usuários na versão freemiun. Palavras-chaves: Tecnologia de Informação, Segurança e Saúde do Trabalho, Canteiro de Obras XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO PARA MONITORAR REQUISITOS DE ... · A análise de acidentes de trabalho que ocorrem nos sistemas produtivos torna ... a proteção das pessoas no trabalho

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TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO PARA

MONITORAR REQUISITOS DE SAÚDE E

SEGURANÇA DE TRABALHO NO SISTEMA

PRODUTIVO DA CONSTRUÇÃO CIVIL

RENAN CERATTO (IGTECH SIST)

[email protected]

LUIZ HENRIQUE CAMPATO DE MORAES (IGTECH SIST)

[email protected]

CLAUDIO HENRIQUE MIRANDA (UEM)

[email protected]

GISLAINE CAMILA LAPASINI LEAL (UEM)

[email protected]

EDWIN CARDOZA (UEM)

[email protected]

O setor da construção civil tem apresentado crescimento expressivo na

economia nacional. Entretanto, observa-se que o sistema produtivo (canteiro

de obras) não evoluiu na mesma proporção quanto as dimensões

competitivas de qualidade, produtividade, segurança do trabalho e uso da

Tecnologia de Informação (TI). É um sistema de produção que carece de

soluções tecnológicas e inovadoras para apoiar e agilizar o processo de

tomada de decisão, principalmente quando se trata de estabelecimentos de

menor porte e monitoramento dos ambiente de trabalho. A partir dessas

observações foi identificada a oportunidade de desenvolver uma ferramenta

tecnológica para gerenciar requisitos de Segurança e Saúde do Trabalho no

Canteiro de Obras, exigidos por meio das Normas Regulamentadoras (NRs)

publicadas pelo Ministério de Trabalho e Emprego (TEM) do Brasil. É uma

solução tecnológica baseada em computação móvel e cloud computing que

integra as dimensões de produção: qualidade e segurança do trabalho com o

objetivo de oferecer suporte à tomada de decisão durante a fase de execução

do projeto de edificações. O tecnologia se encontra em fase de validação

junto a uma construtora e disponível pra usuários na versão freemiun.

Palavras-chaves: Tecnologia de Informação, Segurança e Saúde do Trabalho,

Canteiro de Obras

XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10

Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10

Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

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1. Introdução

Os modelos de gestão empresarial vêm passando por um processo de transformação iniciado

com a adoção de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) e, recentemente,

impulsionado com a popularização de dispositivos móveis (tablet e smartphones). É um

cenário que se torna robusto à medida que os diferentes sistemas operacionais: Android, Apple

iOS, BlackBerry, e Windows Phone, permitem desenvolver sistemas confiáveis para o

processamento e transferência de dados via redes 3G / 4G ou wireless e criar ambientes

(interfaces/funcionalidades) que dão agilidade e suporte ao processo de tomada de decisão.

Um exemplo de sucesso é o Sistema Conta Azul (https://contaazul.com.br), criado em 2011 e

proposto para a gestão on-line dos processos de controle financeiro, estoque e vendas de

micro e pequenas empresas, popularizado com mais de 260 mil usuários no Brasil (CONTA

AZUL, 2014).

Para o setor da construção civil é um desafio usar tecnologias devido às características

organizacionais e culturais (MICHALOSKI; COSTA, 2010). Chen e Kamara (2011) e

Bowden et al. (2006) destacam que aplicar computação móvel na construção civil é um dos

temas de pesquisa mais importantes na área de Tecnologia de Informação (TI). Nesse

processo de intervenção é necessário pesquisar sobre as necessidades dos usuários (Project

Manager), Tecnologia móvel disponível (Tablet, Smartphone, PDA), Infraestrutura de

telecomunicação (wireless network), Projeto do SI (Servidor e Banco de Dados) e Tipo de

Informação do Setor da Construção Civil (CHEN; KAMARA, 2011).

A partir dos trabalhos desenvolvidos pelos pesquisadores no setor da construção civil,

especificamente, no canteiro de obras foi identificada como oportunidade a carência de TIC’s

dando suporte ao processo de gestão de desempenho do sistema produtivo (ALONSO, 2013;

SOUZA, 2013; MORAES, 2012). As oportunidades são relacionadas com as próprias

características dos processos executados no projeto de uma edificação: Engenharia de

Operações, Meio Ambiente, Qualidade e Engenharia de Segurança do Trabalho, entre outros.

O objetivo deste trabalho é apresentar os requisitos funcionais e não funcionais de uma

ferramenta tecnológica que dá suporte ao processo de gestão de segurança do trabalho em um

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canteiro de obras. É uma ferramenta que permite monitorar o cumprimento dos requisitos das

Normas Regulamentadoras (NRs) e a atualização contínua das exigências dos órgãos

regulamentadores de Segurança e Saúde do Trabalho (SST).

Para o desenvolvimento do trabalho foi utilizado como procedimento metodológico a

Pesquisa Bibliográfica e entrevistas para coletar e validar os requisitos (Funcionais e Não

Funcionais) dos usuários / clientes.

No próximo item é destacada a revisão bibliográfica dos temas de Segurança do Trabalho –

Setor Construção Civil e Tecnologia de Informação. Em seguida, é descrita a proposta e as

contribuições no processo de tomada de decisão no sistema produtivo. Para finalizar são

apresentadas as considerações finais do trabalho.

2. Segurança e Saúde do Trabalho

A Lei Federal n° 8.213/91, publicada em 24 de julho de 1991, no Art. 19 define que acidente de

trabalho “... é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do

trabalho dos segurados” provocando doenças profissionais e/ou ocupacionais ou equivalentes ao

conceito de acidente de trabalho. O Ministério de Previdência Social (MPS) destaca que acidente de

trabalho é considerado qualquer situação que decorra no local e horário de trabalho, contaminação

e/ou deslocamento que provocou doença e/ou acidente e/ou lesão (MPS, 2013).

Para um controle estatístico de acidentes de trabalho, concessão de benefícios acidentários e

flexibilizar as alíquotas de contribuição das empresas junto aos órgãos governamentais são

estabelecidos dois tipos de registro de acidentes de trabalho: Acidentes com CAT Registrada e

Acidentes sem CAT Registrada que representam o número de acidentes cuja CAT não foi cadastrada

no INSS (MPS, 2013).

A SST promove um conjunto de ações de caráter preventivo com o objetivo de reduzir os

riscos de acidentes de trabalho, prevenir a saúde ocupacional, as doenças crônicas não-

transmissíveis (diabetes e hipertensão) e o sedentarismo do trabalhador. Com esse objetivo o

Ministério do Trabalho, por meio da Portaria n° 3.214, de 8 de Junho de 1978, aprovou um

conjunto de Normas Regulamentadoras (NR), do Cap. V, Título II, da Consolidação das Leis

do Trabalho, relativas à Segurança e Medicina do Trabalho (ABNT, 2014), constantemente

revisadas e atualizadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), conforme as

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características das atividades industriais e demandas do trabalhador.

O Quadro 1 destaca NRs relativas à segurança e medicina do trabalho consideradas

obrigatórias ou básicas para as empresas do Setor de Construção Civil e que do ponto de vista

preventivo podem compor um Programa de Segurança e Saúde do Trabalho, conforme

estabelecido pela NR 7 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (ABNT,

2014).

Quadro 1 – Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho

Norma Regulamentadora Descrição

NR 6 – EPI

Define as diretrizes do uso do Equipamento de Proteção Individual

(EPI), utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos

suscetíveis de ameaçar a segurança e saúde no trabalho.

NR 7 – PCMSO

Determinar os aspectos obrigatórios do Programa de Controle Médico

de Saúde Ocupacional (PCMSO), que as empresas devem elaborar ou

implementar com os objetivos de promover e preservar a saúde de

todos os trabalhadores.

NR 12 – Segurança no

Trabalho em Máquinas e

Equipamentos

É uma norma que regulamenta aspectos técnicos, princípios

fundamentais e medidas de proteção para garantir a saúde e

integridade física dos trabalhadores e estabelece requisitos mínimos

para a prevenção de acidentes e doenças do trabalho nas fases de

projeto de utilização (construção, transporte, montagem, instalação,

ajuste, operação, limpeza, manutenção, inspeção, desativação e

desmonte) de máquinas e equipamentos de todos os tipos.

NR 17 – Ergonomia

Define os parâmetros que permitem a adaptação das condições de

trabalho (levantamento, transporte e descarga de materiais,

mobiliário, equipamentos, as condições do posto de trabalho e

ambiente industrial: ruído, temperatura, iluminação etc.) às

características psicofisilógicas dos trabalhadores, de modo a

proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho

eficiente.

NR 18 - Condições e Meio

Ambiente de Trabalho na

Indústria da Construção

Estabelece diretrizes gerenciais e operacionais sobre medidas de

controle e sistemas preventivos de segurança nos ambiente de

trabalho na indústria de construção civil.

NR 23 – Proteção contra

Incêndios

Define parâmetros para a instalação de medidas de proteção contra

incêndios no ambiente de trabalho.

NR 24 – Condições Norma aplicada às instalações sanitárias, Vestiários, Refeitórios,

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Sanitárias e de Conforto

nos Locais de Trabalho

Cozinhas, Alojamento e Condições de Higiene e Conforto por Ocasião

das Refeições.

NR 26 – Sinalização de

Segurança

O objetivo desta norma é determinar as cores que devem ser usadas

nos locais de trabalho para prevenção de acidentes, identificando os

equipamentos de segurança, delimitando áreas de circulação,

canalizações industriais e advertindo contra riscos.

NR 35 Define os requisitos mínimos e as medidas preventivas para executar o

trabalho em altura.

Fonte: ABNT (2014)

A análise de acidentes de trabalho que ocorrem nos sistemas produtivos torna-se fundamental nas

empresas para desenvolver planos de prevenção ou implantar ações SST. Abordagem que ajuda a

reduzir os riscos e criar uma metodologia de Gestão de Riscos, solucionando problemas relacionados

com fatores humanos, ergonômicos e organizacionais. Além disso, promove a qualificação de

recursos humanos e, principalmente, a proteção das pessoas no trabalho (GRUENZNER, 2011).

2.1 Tecnologia de Informação na Construção Civil

A Tecnologia de Informação (TI) consiste em um conjunto de componentes tecnológicos

(hardware, software, rede, base de dados e serviços) que fornecem suporte para os sistemas de

informação da empresa. É a plataforma que apóia o funcionamento dos sistemas de

informação (SI), os quais têm por objetivos facilitar os processos operacionais e gerenciais da

organização (LAUDON e LAUDON, 2009). Neste contexto, as tecnologias móveis e

dispositivos portáteis possibilitam a mobilidade da informação, coleta de dados de forma mais

eficiente, monitorar e analisar em tempo real as operações, apoiar o processo de tomada de

decisão baseado em fatos, incorporar processos de coleta, armazenamento, distribuição e

análise de informações (NEIVA NETO et al., 2013; MORAES et al., 2006).

A TI apresenta potencial para alavancar o desempenho das organizações, mas isto não pode

ser considerado como regra geral, pois cada organização tem a sua especificidade, modelo de

negócio, cultura, política e processos organizacionais. Neste sentido, destaca-se que esses

elementos devem ser considerados para a definição da TI no negócio (TURBAN, 2003;

ALBERTIN, 2009).

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A TI associada às tecnologias móveis pode reduzir os desperdícios citados na maioria dos

trabalhos que tratam sobre a execução do projeto (Canteiro de Obras) como, por exemplo,

falta de monitoramento do planejado e executado; escassez de informações para os tomadores

de decisão; falta de registros ou históricos da fase de execução do projeto; falta de visão de

processos; entre outras (BOWDEN et al., 2006; WINCH e KELSEY, 2005).

Com a introdução de tecnologias é possível reduzir o tempo de construção, custos de má

qualidade, operação e manutenção, acidentes de trabalho, desperdícios e promover a

produtividade, troca de informações entre o escritório e o local de trabalho em tempo real e

monitorar o plano de execução do produto (Projeto de Edificação) (ALONSO, 2013; SOUZA,

2013; MORAES, 2012; BOWDEN et al., 2006).

Entre as principais tecnologias que existem no país para atender características gerenciais

(Qualidade, Planejamento, Auditoria e Engenharia) no canteiro de obras estão: Colaborativo

(Construtivo), Mobuss (Teclógica), Sienge (Sienge) e AutoDoc. Em geral, observa-se que

essas tecnologias são utilizadas por grandes construtoras que comumente executam

empreendimentos de maior porte. Para empresas (construtoras) de pequeno e médio porte tais

tecnologias na maioria das vezes são desconhecidas, conforme demonstram as pesquisas

realizadas por Michaloski e Costa (2010). Além disso, são tecnologias que exigem um

elevado investimento e focam principalmente aspectos gerenciais relacionados com o Projeto

da Edificação, Gestão da Empresa e Gestão do Plano de Execução.

3. Sistema de Monitoramento da Segurança e Saúde do Trabalho – Construção Civil

3.1 Situação Atual de SST do Setor da Construção Civil

O setor da construção civil é considerado um dos pilares do desenvolvimento econômico do

Brasil, representado pela participação na População Ocupada, 7,12% (96 milhões / População

Ocupada / Brasil) e pelo valor adicional bruto na indústria nacional (5,7%). Nos próximos

anos, também é previsto um volume de investimento (Copa do Mundo, 2014, Olimpíadas

2016 e Programa de Aceleração do Crescimento - PAC), equivalente a um montante de R$

45,39 bilhões de reais em obras, em 2013. Com relação ao número de estabelecimentos os

Grupos de Construção de Edifícios e Empreendimentos Imobiliários representam cerca de 105

mil estabelecimentos, distribuídos em todas as Regiões do país. Desse grupo, as 100 maiores

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construtoras, em 2011, foram responsáveis pela execução de 87 milhões de m2, distribuídos

em projetos de Habitação de Interesse Social e edificações de pequeno e médio porte

(ALONSO, 2013; SOUZA, 2013).

Contraditório a esses parâmetros positivos são os índices de Acidentes de Trabalhos que

ocorrem com trabalhadores que atuam nas atividades econômicas do setor da construção civil,

consideradas pela Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). Os dados

estatísticos do Ministério da Previdência Social (MPS) demonstram um crescimento no

período de 2010 – 2012, aproximadamente, 10% de acidentes relacionados com atividades

típicas de um Canteiro de Obras, Trajeto Residência - Trabalho e Doenças do Trabalho,

conforme pode ser constatado na Tabela 1, dando destaque aos acidentes com registro e sem

registro da CAT.

Tabela 1 – Quantidade de Acidentes do Trabalho – 2010 - 2012

Atividades

Econômicas Construção Civil

(CC) – CNAE

QUANTIDADE DE ACIDENTES DO TRABALHO

Total / Ano

Com CAT Registrada

Sem CAT Registrada Total / Ano

Motivo

Típico Trajeto Doença do Trabalho

2010 2011 2012 2010 2011 2012 2010 2011 2012 2010 2011 2012 2010 2011 2012 2010 2011 2012

TOTAL CC 25405 27079 27571 20317 21774 22722 16912 18068 19105 2950 3152 3181 455 554 436 5088 5305 4849

Fonte: MPS (2013).

Uma forma de reduzir essas estatísticas do setor é oferecer qualidade e segurança das

informações usadas no processo de tomada de decisão na auditória do trabalho, realizada

sobre os itens que devem ser atendidos das NRs publicadas pela ABNT (ABNT, 2014).

Os números expressivos do crescimento do setor e as estatísticas de acidentes de trabalho vêm

despertando o interesse de outros setores da economia nacional para oferecer produtos e

serviços tecnológicos às construtoras, especificamente, a indústria de Tecnologia de

Informação (TI) que adota um modelo de negócio business-to-business (B2B) para o

desenvolvimento de tecnologias móveis (Mobile). Entretanto, é destacado que a maioria das

empresas focada em soluções tecnológicas visa às grandes construtoras deixando uma lacuna

significativa para estabelecimentos de porte menor.

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3.2 Requisitos Funcionais e Não Funcionais para Monitorar o SST

As oportunidades para desenvolver soluções inovadoras e tecnológicas são identificadas a

partir das necessidades relacionadas com os processos gerenciais de Planejamento, Execução,

Monitoramento / Controle e Encerramento de Projeto de Edificações em construtoras de

pequeno e médio porte.

As Fases de Execução e Monitoramento / Controle do Projeto de Edificações são

consideradas as mais críticas do sistema de produção (Canteiro de Obras) devido aos riscos

associados ao planejamento, à complexidade do projeto, problemas logísticos, resíduos

industriais, retrabalho, custos, produtividade, qualidade da obra e fornecedores, qualificação

da mão de obra, exigências dos stakeholders (clientes, financiadores e órgãos

regulamentadores do setor) e variações climáticas. Dificuldades que influenciam o processo

de tomada de decisão, extensão dos prazos de entregas dos produtos (unidades habitacionais)

aos clientes, informalidade no controle das atividades, falhas de acabamento, entre outros.

Associado a estes problemas também existem os riscos de acidentes de trabalhos:

afastamentos, invalidez e óbitos, causados pela falta de atendimento as exigências previstas

nas normas de segurança no trabalho, aumentando com isso os custos do projeto e a dimensão

social da construtora na sociedade.

A partir dos trabalhos desenvolvidos pelos pesquisadores no setor da construção civil,

especificamente, no canteiro de obras foi identificada a oportunidade e viabilidade de

desenvolver uma solução tecnológica adequada as características do sistema.

Como oportunidade pode-se destacar a carência de TI dando suporte ao elevado fluxo de

informações diário, que ocorre entre o escritório de projeto e canteiro de obras. Esse

apontamento é realizado de forma artesanal (uso de papel) no canteiro de obras, o que

ocasiona atraso, retrabalho, falhas de comunicação e perda de informações para futuros

projetos de edificação. Foi identificada, também, a necessidade de desenvolver tecnologia que

fornece suporte ao processo de auditória do trabalho (checklist dos requisitos das NR),

agilizando a implantação de ações preventivas de acidentes de trabalho. Isto é, observa-se que

o sistema produtivo da construção civil carece de soluções tecnológicas e inovadoras baseadas

em práticas da Engenharia de Produção e Engenharia de Segurança do Trabalho.

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Os principais requisitos que devem ser considerados para uma solução tecnológica no

processo de monitoramento de SST no Canteiro de Obras são:

Disponibilidade de módulos (soluções tecnológicas) baseados em métodos e ferramentas

de Engenharia de Produção, Lean Manufacturing e Gestão Ágil de Projetos.

Apoiar o processo de tomada de decisão dos Engenheiros, Projetistas, Mestre-de-obras e

Gestores, de uma forma ágil e enxuta, emitindo relatórios baseados em estatísticas

descritivas e métodos de otimização, usados na análise dos dados coletados no Canteiro de

Obras.

Monitorar os processos críticos (Produção, Qualidade e Segurança) do Canteiro de Obras

a partir de métricas-chave de desempenho (Key Performance Indicators – KPI’s).

Acompanhar o desempenho do Canteiro de Obras (Fase de Execução) em tempo real,

indicadores que permitem ações preventivas quanto ao previsto na Fase de Planejamento

(Engenharia) do Projeto de Edificação.

Promover um processo de gestão visual (Andon - mostra o estado das atividades /

operações em uma área e comunica quando ocorrer algo de anormal) no Canteiro de

Obras, indicadores alinhados com as atividades industriais realizadas pelos trabalhadores e

gestores do sistema produtivo, gerando informações para desenvolver planos de

nivelamento do tipo e da quantidade de produção durante um período de tempo (heijunka

box) e ações preventivas de segurança do trabalho.

Suporte ao Sistema de Gestão da Qualidade exigido pelo Programa Brasileiro da

Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H), normatizado pelo Sistema de Avaliação

da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras da Construção Civil (SiAC de

dezembro de 2012), cujo objetivo é contribui para a evolução da qualidade no setor.

Certificado que está sendo usado como uma exigência para acessar os recursos financeiros

do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal (CAIXA

ECONÔMICA FEDERAL, 2013). Neste caso, são usadas métricas de produtividade,

custo e tempo para análise dos investidores do Setor da Construção Civil como, por

exemplo, Caixa Econômica, Banco do Brasil, Itaú e Bradesco.

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Beneficiar o trabalhador a partir da inserção de TIC’s nas rotinas de trabalho,

possibilitando o acesso à tecnologia, a valorização do trabalho e qualificação.

3.3 Ferramenta de TI para Monitorar a SST no Canteiro de Obras – Versão Beta

A solução tecnológica é um projeto desenvolvido com a metodologia do Lean Startup

(construir-medir-aprender) e práticas de Gestão Ágil de Projetos (Metodologia Scrum). A

transformação da idéia (oportunidade tecnológica identifica em trabalhos de campo) em

produtos (Módulos) segue um processo de avaliação de resultados, validando inicialmente os

conceitos propostos no Módulo de Segurança e Saúde do Trabalho.

Uma visão geral do projeto do Sistema de Informação é destacada na Figura 1. Envolve

recursos computacionais (Servidor), Infraestrutura de telecomunicações, Dispositivos Móveis

e Profissionais habilitados na área de Engenharia de Segurança do Trabalho.

Figura 1– Projeto do Sistema de Informação

Fonte: Chen; Kamara (2011).

O módulo de SST é definido a partir das Normas Regulamentadoras NR 7 – Equipamento de

Proteção Individual (EPI), NR 18 – Condições e meio ambiente de trabalho na indústria de

construção e NR 35 – Trabalho em Altura. Os objetivos são: registrar dados sobre o

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fornecimento dos EPI’s ao trabalhador, atestado de saúde ocupacional (ASO), acidentes de

trabalho, treinamentos (admissional e periódico) e o apontamento automatizado das medidas

de controle e sistemas preventivos de segurança nos processos, nas condições e no meio

ambiente de trabalho na Indústria de Construção.

O valor da inovação deste módulo é associado ao processo de tomada de decisão que pode ser

reforçada por meio das informações do canteiro de obras, isto é, relatórios emitidos (Word,

Excel, PDF) sobre dados estatísticos de acidentes, não-conformidades e registro de ações de

melhoria contínua que garantam a saúde e segurança do trabalhador. O MVP (Minimum

Viable Product) deste módulo validado em uma construtora é destacado na Figura 2. É um

aplicativo (APP) desenvolvido pelos pesquisadores disponível na versão freemiun na Google

Play.

Figura 2–MVP do Módulo Segurança do Trabalho – MOBLEAN

A ferramenta tecnológica apresenta características de mobilidade e agilidade no processo de

monitoramento dos requisitos previamente estabelecidos pelos responsáveis técnicos de

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Engenharia de Segurança do Trabalho. Além da interface com usuário em campo, o sistema

também oferece a plataforma web, ambiente interno do usuário que permite customizar as

características ou itens de verificação, controlar / autorizar usuários, definir requisitos e

planejar os ambientes de trabalhos (Canteiros de Obras) monitorados com a ferramenta. Entre

as principais funcionalidades do sistema é a geração de relatórios (.doc ou .pdf) para avaliação

das situações de risco, controladas ou ações preventivas que devem ser implantadas pela

empresa. É uma solução disponível no ambiente cloud computing, garantindo segurança,

agilidade e recursos tecnológicos disponíveis para trabalhar on-line ou off-line.

4. Considerações Finais

As práticas de Segurança e Saúde no Trabalho são condicionadas aos processos ambientais e

comportamentais de todos os envolvidos em um ambiente industrial, desde operadores até a

direção da empresa. O ambiente de trabalho envolve aspectos como postos de trabalho,

utilização das máquinas, manuseio de substâncias perigosas, iluminação, bem-estar dos

colaboradores, instalações e organização do trabalho. Para a prevenção de acidentes de

trabalho é fundamental a participação de empresários e gerentes na implantação e manutenção

de práticas, oferecer condições psicológicas e físicas e meios de educação.

Para evitar que muitos problemas ocorram na empresa, os quais produzem inúmeras

consequências para a segurança e saúde do trabalhador, é necessário que o trabalhador

conheça os procedimentos operacionais da atividade ou tarefa a ser executada e a execute da

forma mais segura, confortável e eficiente possível. Iida (2005) ressalta que é necessário

analisar as principais fontes de insatisfação dos trabalhadores e atuar sobre estas fontes, tendo

como conseqüência a melhoria da qualidade e aumento da produtividade.

Um dos principais desafios é inserir tecnologia no processo de tomada de decisão na

dimensão de Segurança e Saúde do Trabalho no sistema produtivo do Canteiro de Obras.

Neste sentido, o projeto vem realizando esforços para desenvolver TI mais integrada as

necessidades e características dos usuários. Para isso vem trabalhando com métodos e técnicas

de engenharia de produção que permitem mapear os fluxos de informação e materiais do

sistema de produção, além disso, elaborar uma análise específica dos principais problemas

que decorrem no Canteiro de Obras.

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A limitação do projeto é a própria resistência cultural que ainda existe sobre o uso de TI. Uma

das principais iniciativas é divulgar a solução tecnológica no modelo freemiun com intuito de

motivar o usuário e demonstrar o potencial da ferramenta. Uma das principais atividades

futuras é definir / desenvolver e implantar novos módulos ao projeto do software: Módulo de

Diário de Obras, Engenharia de Qualidade e Controle de Resíduos Industriais, atendendo os

próprios requisitos das Normas Regulamentadoras.

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Referências

ABNT. Segurança e Medicina do Trabalho. NR -1 a 36. Atlas: São Paulo, 2014.

ALBERTIN, A.L. Tecnologia de Informação e desempenho empresarial: as dimensões de seu uso e sua relação

com os benefícios de negócio. 2. Ed. São Paulo: Atlas, 2009.

ALONSO, M.O. Uma Ferramenta para o Acompanhamento de uma Obra de Construção Civil. Monografia.

Engenharia de Produção. Universidade Estadual de Maringá. 76p., 2013.

BOWDEN et al. Mobile ICT supprto for construction process improvement. Automation in Construction, v.15,

p.664-676, 2006.

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. Demanda Habitacional do Brasil. Brasília: CAIXA, 2011. Disponível em:

http://downloads.caixa.gov.br/_arquivos/habita/documentos_gerais/ demanda_habitacional.pdf. Acesso em

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CHEN, Y.; KAMARA, J.M. A framework for using mobile computing for information management on

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