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64 AméricaEconomia Fevereiro, 2013 DEBATES INVESTIMENTOS Demanda governamental por TI em 2013 gera euforia e atrai projetos para o Brasil Bruno de Oliveira, de São Paulo A portes em TI (tecnologia da in- formação) estão na pauta do Poder Público para este ano, as- sim como a estratégia de alçar o mercado nacional ao status de produtor de componentes eletrônicos imprescin- díveis à fabricação de aparelhos de alto valor agregado, como smartphones e ta- blets. Estas são as expectativas das em- presas que atuam no Brasil e que, quase na mesma sintonia, apostam suas fichas na demanda existente nas esferas muni- cipal e federal. Serviços básicos como saúde e saneamento, além de outros de infraestrutura, como portos, aeroportos e telecomunicações, serão as áreas que receberão mais investimentos, com o es- tado de São Paulo à frente desta onda de inovação que pode se espalhar por todo o território nacional. Só em 2012, foram anunciados em São Paulo investimentos privados da or- dem de R$ 1,175 bilhão em tecnologia. De acordo com balanço da Investe SP (Agência Paulista de Promoção de Inves- timentos e Competitividade), este mon- tante pode crescer 10% em 2013 e ser aplicado na construção de novas fábri- Tecnologia ponto gov Fotos: Shutterstock; Divulgação 64 AméricaEconomia Fevereiro, 2013

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Demanda governamental por TI em 2013 gera euforia e atrai projetos para o Brasil

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Demanda governamental por TI em 2013 gera euforia e atrai projetos para o Brasil Bruno de Oliveira, de São Paulo A portes em TI (tecnologia da in-

formação) estão na pauta do Poder Público para este ano, as-sim como a estratégia de alçar o

mercado nacional ao status de produtor de componentes eletrônicos imprescin-díveis à fabricação de aparelhos de alto valor agregado, como smartphones e ta-blets. Estas são as expectativas das em-presas que atuam no Brasil e que, quase na mesma sintonia, apostam suas fichas na demanda existente nas esferas muni-cipal e federal. Serviços básicos como saúde e saneamento, além de outros de

infraestrutura, como portos, aeroportos e telecomunicações, serão as áreas que receberão mais investimentos, com o es-tado de São Paulo à frente desta onda de inovação que pode se espalhar por todo o território nacional.

Só em 2012, foram anunciados em São Paulo investimentos privados da or-dem de R$ 1,175 bilhão em tecnologia. De acordo com balanço da Investe SP (Agência Paulista de Promoção de Inves-timentos e Competitividade), este mon-tante pode crescer 10% em 2013 e ser aplicado na construção de novas fábri-

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O modelo de inovação brasileiro é baseado em investimentos da iniciativa públi-ca. Para se aproximar de países que são referência, como Coreia do Sul, EUA, Ale-manha e Japão, o Brasil deve elevar os investimentos em P&D (Pesquisa & Desen-volvimento) de 1,16% do PIB (Produto Interno Bruto) para 1,8%, e a participação do setor privado nos investimentos de 45% para 60%. Ainda segundo a pesquisa do IBCD (Índice Brasscom de Convergência Digital), de 2012, existe um distanciamen-to entre as universidades e as empresas privadas no Brasil. Ao todo, 25% dos dou-tores e pesquisadores brasileiros estão em empresas privadas, enquanto na Ale-manha e na França a participação é de 57%; 61% na China; e 76% na Coreia do Sul.

Falta investir em P&D

cas e na expansão das já existentes em municípios como Jundiaí e Itu. “Por su-as características, São Paulo é um gran-de mercado consumidor e possui muitas

empresas e escritórios instalados. En-tretanto, existe um déficit em importa-ção de componentes que fará com que

passemos de montadores a produtores de equipamentos e componentes no curto prazo”, diz o diretor de Investimentos e Negócios da Investe SP, Hans Schaeffer.

“Atualmente, estudamos projetos de grupos que ainda não atuam no Brasil, principalmente asiáticos, e que viram no estado um potencial interessante pa-ra suportar a produção de componentes,

tanto pela sólida cadeia de fornece-dores que a região possui, quanto

pela presença de grandes uni-versidades”, diz Schaeffer.

Dados da Investe SP apontam que TI foi o quinto

setor que mais recebeu inves-timentos em 2012, ficando atrás

dos mercados automotivo, de logís-tica, de máquinas e de vidros. Por ou-

tro lado, assumiu a liderança na geração de empregos no período, com 13 mil no-vos postos de trabalho.

No lado da iniciativa privada, a gigan-te americana IBM é uma das em-

presas integradoras de servi-ços de TI que vislumbram

no Poder Público gran-des oportunidades de negócio. A companhia vem trabalhando nos países em que se apli-ca o conceito de smart

cities (ou cidades inte-ligentes) e o Brasil está

incluído neste processo de implantação de sistemas que

integram serviços públicos.

“O governo é um cliente que precisa oferecer um melhor serviço para o ci-dadão. Temos um relacionamento com companhias do setor privado que inves-tem em inovação e cujos projetos não suportam apenas a agenda da empre-sa, mas também a do país, como é o ca-so da parceria que fizemos na fábrica de processadores de Minas Gerais”, conta o vice-presidente de Sistemas e Tecno-logia da IBM Brasil, Freddy Vaquero. O executivo refere-se ao contrato costura-do em novembro de 2012, no qual a Six Semicondutores, sociedade capitaneada pelo Grupo EBX e a IBM, anunciou in-vestimento da ordem de R$ 1 bilhão na construção de uma fábrica de semicon-dutores em Minas Gerais.

Recentemente, a empresa também participou da implantação de um projeto na cidade do Rio de Janeiro, que envolve modelos de previsão de chuvas. De acor-do com Vaquero, a iniciativa faz parte de um plano estratégico que pode envolver outros municípios do Brasil. “Definimos agora no início de 2013 fazer investimen-tos em algumas cidades, as quais recebe-rão suporte de consultoria para solucio-nar desde problemas de tráfego até de segurança”, completou.

MEgAEvEntOSA alemã T-Systems, do grupo Deutsche Telekom, por sua vez, vislumbra nos se-tores de telecomunicações e aeropor-tos a possibilidade de prospectar negó-cios junto ao governo federal em 2013.

“O governo é um cliente que precisa oferecer melhor serviço para o cidadão”,

diz Vaquero, da IBM

A previsão é que os

investimentos privados em

tecnologia cresçam 10% neste ano

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A empresa, que desembarcou no Brasil há 12 anos, traz da Alemanha o know--how de diversos projetos de tecnologia em portos, aeroportos, telefonia e de re-des inteligentes, ou smart grids. “Temos projetos aplicados em Minas Gerais, na Cidade do Futuro [cidade inteligente lo-calizada no município de Sete Lagoas], em smart grid. Estamos em negociação para a realização de um projeto em um aeroporto do país”, revela o diretor-ge-ral da operação brasileira da T-Systems, Ideval Munhoz.

Para o executivo, muitos investimen-tos com origem no governo federal fo-ram represados para serem aplicados em 2013, por conta da proximidade de me-gaeventos como a Copa das Confedera-ções, a ser realizada neste ano, e a Co-pa do Mundo de Futebol, em 2014. “Os principais aeroportos do país passarão por processos de modernização para se expandir. Em telecomunicações, as ope-radoras de telefonia celular sofrem cada vez mais pressões por parte do governo para ampliar a cobertura e melhorar a qualidade do sinal. São fatores que ani-mam o mercado fornecedor para os pró-ximos meses”, explica Munhoz.

Também de olho na demanda relacio-nada às telecomunicações, a Promonlo-gicalis espera para este ano um cresci-mento maior e contínuo em relação ao cenário de 2012. Áreas como educação, saúde, transporte e logística também es-tão na pauta de negócios da empresa. “A nossa visão é a de que o mercado de te-lecom irá crescer. No caso das opera-doras, elas continuarão investindo por conta da oferta de banda larga, do 4G, e

isso garante um cenário de investimento com pouco risco”, diz o diretor de Con-sultoria da Promonlogicalis, Luis Mi-noru Shibata.

EntrAvESOs maiores gargalos para o desenvolvi-mento do ambiente de negó-cios e de competitivida-de no Brasil ainda são a pesada carga tribu-tária, a burocracia, a infraestrutura de-ficitária e a falta de mão de obra espe-cializada, aponta o Ranking da Compe-titividade dos Estados de 2012, realizado pe-lo grupo inglês Economist Intelligence Unit.

“Apesar da desoneração da folha [de pagamento], a mão de obra é cara. E principalmente a burocracia, a dificul-dade de se fazer negócio. O contexto atu-al do país é saudável, mas o crescimen-to poderia ser ainda maior. O mercado

O ranking da Competitividade dos Estados de 2012, feito pelo grupo inglês Eco-nomist Intelligence Unit, analisou 26 indicadores divididos em oito categorias e deu notas de zero a 100 para os estados. Os cinco primeiros lugares do levantamento mais recente são os mesmos do ano passado, com São Paulo à frente (77,1 pon-tos), rio de Janeiro (71,8), Minas gerais (62,8), rio grande do Sul (60,5) e Para-ná (59,5). A média nacional ficou em 41,5 pontos. O último colocado de 2012 foi o Amapá, com 17,7 pontos. O Piauí, último lugar no ranking anterior, desta vez ficou em penúltimo, com 22,6 pontos.

muDança no ranking

poderia ter fechado 2012 com uma re-ceita entre US$ 150 bilhões e US$ 260 bilhões [mas encerrou com US$ 120 bi-lhões]”, explica Antonio Gil, presidente da Brasscom (Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação

e Comunicação). Alberto Paradisi, do CPqD (Centro de Pesquisa e

Desenvolvimento em Te-lecomunicações), diz

que o ponto crítico do mercado para 2013 é uma des-continuidade dos investimentos por parte da iniciati-

va privada, resul-tado das incertezas

da economia mundial. “Existem muitas tecno-

logias novas para serem im-plementadas e não podemos deixar de investir na pesquisa e aplicá-las no mer-cado”, explica.

A advogada especialista no mercado de tecnologia, Esther Nunes, do escri-tório Pinheiro Neto Advogados, apon-ta também a legislação e a falta de um marco regulatório no segmento como entraves para o crescimento. “Clientes da área de software, por exemplo, en-frentam vários problemas trabalhistas por conta de uma legislação que não deixa às claras as condições de contra-tação de mão de obra terceirizada. Pou-co se é falado, também, da formaliza-ção de um marco regulatório, da falta de um projeto e a respeito das consul-tas públicas”, diz.

O desembarque de estrangeiros deve aumentar a produção local de semicondutores

A chegada dos grandes

eventos esportivos deve destravar os

investimentosdo governo

federal

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