TEIXEIRA, F. Faces Do Catolicismo Brasileiro

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Faces Do Catolicismo Brasileiro

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  • Faces do catolicismo brasileiro contemporneoFAUSTINO TEIXEIRA

    FAUSTINO TEIXEIRA professor adjunto no Programa de Ps-Graduao em Cincia da Religio da Universidade Federal de Juiz de Fora, pesquisador do CNPq e consultor do Iser/Assessoria (Rio de Janeiro). autor de, entre outros, Os Encontros Intereclesiais de CEBs no Brasil (Paulinas).

  • Por motivos editoriais, as notas esto no nal do artigo.

    Quero punhado

    dessas, me

    defendendo em

    Deus, reunidas de

    mim em volta

    (Guimares Rosa).

    Com base dos dados do Censo de 2000, rea-

    lizado pelo IBGE, o catolicismo continua sendo a

    religio majoritria do Brasil, envolvendo cerca de

    125 milhes de membros, ou seja, trs quartos da

    populao brasileira (73,8%). Mas se os nmeros

    absolutos mostram essa presena massiva, o olhar

    atento sobre os censos brasileiros, sobretudo a

    partir da segunda metade do sculo passado, j

    revela uma progressiva reduo de membros.

    Em sua clssica anlise dos censos de 1940, 1950

    e 1960, Cndido Procpio Camargo j havia

    pontuado essa tendncia geral para um declnio

    moderado, mas constante, de adeptos da Igreja

    Catlica (1). Mas foi sobretudo a partir dos anos

    80 que a porcentagem de catlicos foi declinando

    cada vez mais: 90% em 1980, 83,3% em 1991

    e 73,8% em 2000. Entre os dois ltimos censos

    (1991 e 2000) a populao catlica cresceu um

    pouco mais de trs milhes, e continua crescen-

    do, mas em taxas bem inferiores s do cresci-

    mento populacional. Esse aumento esconde,

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    amplo como certas anlises do a enten-

    der. Os dados do ltimo censo do razo a

    Antnio Flvio Pierucci quando contesta

    a pretensa e ampla diversidade religiosa

    no Brasil. Na verdade, a soma da declara-

    o de crena dos catlicos e evanglicos

    nesse censo beira os 90%. Com a excluso

    daqueles que se declaram sem religio, a

    diversidade religiosa ca concentrada em

    3,5% da populao brasileira. Para Pierucci,

    o espectro do monotesmo que ainda

    predomina no Brasil, com todos os seus

    desdobramentos exclusivistas (4). Mas j se

    comea a apontar para uma situao nova,

    marcada pela destradicionalizao e pela

    pluralizao do campo religioso.

    A COMPLEXIDADE DO CAMPO RELIGIOSO CATLICO

    O catolicismo no Brasil revela uma

    grande complexidade. Trata-se de um

    campo religioso caracterizado por gran-

    de diversidade. A pluralidade um trao

    constitutivo de sua con gurao no Brasil.

    Na lcida viso de Pierre Sanchis, o modo

    como se rma a identidade catlica no pas

    envolve mecanismos de fagocitose bem

    peculiares, que traduzem uma roupagem

    singularmente plural: h religies demais

    nesta religio (5). Impressiona tambm

    a capacidade de adaptao e ajustamento

    dessa religio s novas situaes: quando

    observada de perto, vemos como ela se abre

    e se permite diversi car, de modo a oferecer,

    em seu interior, quase todos os estilos de

    crena e de prtica da f existentes tam-

    bm fora do catolicismo (6). Os diversos

    censos realizados no Brasil no conseguem

    captar essa plasticidade religiosa, e muito

    menos a realidade cada vez mais presente

    do trnsito religioso ou da dupla (ou tri-

    pla) pertena religiosa. Indaga-se sobre a

    a identidade religiosa do informante, mas

    deixa-se escapar suas prticas e crenas (7).

    No caso do catolicismo, constata-se que

    o nmero de praticantes, ao contrrio da

    tradio protestante, reduzido se compa-

    na realidade, um diferencial negativo de

    16 milhes, se o crescimento dos catli-

    cos tivesse se dado no mesmo ritmo que

    o da populao brasileira, ao longo desse

    perodo (2).

    O Censo de 2000 no apenas revela

    ssuras na tradicional hegemonia cat-

    lica, mas indica tambm o crescimento

    dos evanglicos e dos sem religio, que

    alcanaram, respectivamente, ndices de

    15,4% e 7,3% da populao brasileira. Mas

    vale ressaltar que o crescimento evanglico

    deve-se sobretudo expanso pentecostal,

    que responde sozinha por 10,4% do percen-

    tual evanglico. correto falar, como Pierre

    Sanchis, que a Igreja Catlica est perden-

    do o seu carter de de nidor hegemnico

    da verdade e da identidade institucional no

    campo religioso brasileiro (3). tambm

    pertinente reconhecer que h hoje no Brasil

    o incio de um processo de diversi cao

    religiosa, mas que ainda no assim to

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    rado com a grande massa dos catlicos, que

    mantm frouxos vnculos nominais com

    sua tradio religiosa. Na viso de Carlos

    Brando, ao contrrio do el protestante,

    que precisa ser para participar, o el

    catlico pode muito bem participar sem

    ser, ou participar a seu modo num quadro

    amplo e plural de maneiras de exercer sua

    vinculao (8).

    A plasticidade dos modos de ser catlico

    no Brasil expresso de uma genuinidade

    brasileira, caracterizada pela grande amplia-

    o das possibilidades de comunicao com

    o sagrado ou com o outro mundo. O que

    para o protestante tradicional ou catlico

    romanizado seria expresso de pernicioso

    sincretismo ou superstio, para boa parte

    dos is signica um modo de alargar as

    possibilidades de proteo (9). como

    expressa o personagem de Guimares Rosa,

    no livro Grande Serto: Veredas: Muita

    religio, seu moo! Eu c, no perco ocasio

    de religio. Aproveito de todas. Bebo gua

    de todo rio Uma s, para mim pouca,

    talvez no me chegue []. Tudo me quie-

    ta, me suspende. Qualquer sombrinha me

    refresca (10).

    AS MALHAS DO CATOLICISMO No d para situar o catolicismo brasi-

    leiro num quadro de homogeneidade. Na

    verdade, existem muitos estilos culturais

    de ser catlico, como vm mostrando

    os estudiosos que se debruam sobre esse

    fenmeno. So malhas diversicadas de

    um catolicismo, ou se poderia mesmo

    falar em catolicismos. H um catolicismo

    santorial, um catolicismo erudito ou

    ocial, um catolicismo dos realiados,

    marcado pela insero num regime forte

    de intensidade religiosa (CEBs, RCC) e um

    emergencial catolicismo miditico. No se

    trata de realidades estanques e cristalizadas,

    mas inserem-se num quadro geral marcado

    por relaes de comunicao, de proximi-

    dades, tenses e distanciamentos.

    O catolicismo santorial (11), para usar

    uma expresso de Cndido Procpio Ca-

    margo, uma das formas mais tradicionais

    de catolicismo presentes no Brasil desde

    o perodo da colonizao. Tem como ca-

    racterstica central o culto aos santos. Foi

    esse culto que marcou a peculiar dinmica

    religiosa brasileira, de carter predomi-

    nantemente leigo, seja nas confrarias e

    irmandades, seja nos oratrios, capelas de

    beira de estrada e santurios. O catolicis-

    mo brasileiro foi durante muito tempo um

    catolicismo de muita reza e pouca missa,

    muito santo e pouco padre. Os santos

    sempre ocuparam um lugar de destaque

    na vida do povo, manifestando a presena

    de um poder especial e sobre-humano,

    que penetra nos diversos espaos de vida

    e favorece, numa estreita aproximao e

    familiaridade com seus devotos, a proteo

    diante das incertezas da vida:

    Os santos penetram na vida dos que os

    veneram, misturando-se com seus proble-

    mas, suas necessidades mais urgentes, nos

    Detalhe do

    quadro Piet,

    de Giovanni

    Bellini

    Reproduo

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    negcios, na vida familiar, nos casamentos,

    nos amores. E tudo isto, sem cerimnia,

    sem se precisar de apresentao, sem in-

    termedirio. Tudo se passa entre o santo e

    seu devoto. Uma certa intimidade at, sem

    implicar desrespeito, mas intimidade que

    chega at mesmo imposio de certas

    punies, como santo de cabea para baixo,

    santo fora de sua capela, santo voltado para

    as paredes (12).

    Esse catolicismo das devoes populares

    mantinha uma relativa autonomia com res-

    peito ao catolicismo institucional. No havia

    uma oposio aos padres, e quando estes

    apareciam por ocasio das desobrigas ou

    misses populares eram acolhidos e feste-

    jados. Mas a dinmica dessa religiosidade

    dispensava a presena dos representantes

    ociais da igreja, gozando, assim, de ampla

    liberdade. Como mostrou Carlos Brando,

    em determinadas ocasies o povo ocupava

    padre, para certas bnos ou rituais de

    passagem, mas o resto da vida de f cava

    mesmo por conta dos recursos midos

    dos objetos simblicos de f dos agentes

    religiosos populares (13). um catolicismo

    que quase chega a constituir-se um pra-

    sistema religioso setorialmente autnomo

    frente a uma Igreja de que ele sempre se

    reconhece parte (14).

    Foi esse catolicismo do povo que so-

    freu o embate violento da assim chamada

    romanizao, que marcou o processo de

    instaurao no Brasil de um catolicismo

    universalista, caracterizado pelo maior

    controle sobre os leigos e suas associaes

    e de adequao do catolicismo brasileiro s

    diretrizes centralizadoras de Roma. Mas,

    como mostrou Pedro Ribeiro de Oliveira, o

    processo de romanizao foi forte, bastante

    para combater o catolicimo popular, mas no

    o suciente para implantar a forma romana

    na grande massa dos catlicos (15). No

    h como negar o impacto da romanizao

    sobre a forma tradicional da vida religiosa,

    mas as concepes basilares do catolicismo

    popular tradicional, como o culto aos santos

    e a crena nos milagres, permanecem vivas.

    E alm disso h uma incorporao original

    por parte do povo de traos da romaniza-

    o, o que evidencia o aspecto dinmico

    e criativo do catolicismo popular que se

    refaz continuamente (16).

    O fato de a Regio Nordeste do Brasil

    despontar no Censo de 2000 como a mais

    catlica revela algo da fora e presena da

    tradio do catolicismo santorial (17). Im-

    portantes estudos na rea de antropologia

    mostraram com vigor a coerncia, comple-

    xidade e diversidade desse catolicismo, que

    no pode ser apressadamente identicado

    como um aglomerado de supersties ou

    crendices. E, alm do mais, vem animado

    por impressionante poder de penetrao e

    reproduo nos meios populares (18). No

    caso especco do Nordeste, h sem dvida

    o inuxo da presena de guras do clero

    popular, como padre Ccero e frei Damio.

    Mas o que importante sublinhar aqui a

    fora e o enraizamento de uma teia de sm-

    bolos e valores catlicos tradicionais em

    determinadas regies que tem exercido, na

    prtica, uma forte resistncia penetrao de

    outras experincias religiosas, em particular

    das tradies pentecostais (19).

    O catolicismo ocial, como outras insti-

    tuies religiosas tradicionais, encontra-se

    num momento de crise e declnio. algo

    que se relaciona com a progressiva arma-

    o de uma sociedade ps-tradicional,

    que coloca em questo a forma usual de

    preservao da tradio e exige processos

    criativos de sua reinveno e insero no

    tempo. H hoje em dia nas instituies

    tradicionais uma desregulao identitria

    e uma grande diculdade de transmisso

    regular dos valores religiosos de uma ge-

    rao para outra. Deixa-se de assegurar a

    armao de uma memria coletiva, o que

    ocorria de forma garantida nas sociedades

    tradicionais (20). Instaura-se, assim, uma

    crise na construo individual da conti-

    nuidade crente. Uma crise que se traduz

    pelo progressivo enfraquecimento da gura

    do praticante regular, em geral associada a

    comunidades de sentido fortemente cons-

    titudas, em favor da irrupo da gura do

    peregrino, que traz consigo as marcas da

    mobilidade construda a partir de experin-

    cias pessoais (21). Como mostrou Antnio

    Flvio Pierucci,

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    []nas sociedades ps-tradicionais, et

    pour cause, decaem as liaes tradicionais.

    Nelas os indivduos tendem a se desencaixar

    de seus antigos laos, por mais confortveis

    que antes pudessem parecer. Desencadeia-

    se nelas um processo de desliao em que

    as pertenas sociais e culturais dos indi-

    vduos, inclusive as religiosas, tornam-se

    opcionais e, mais que isso, revisveis, e os

    vnculos, quase s experimentais, de baixa

    consistncia. Sofrem fatalmente com isso,

    as religies tradicionais (22).

    Os ltimos censos realizados no Brasil

    revelam claramente esse enfraquecimento

    ou mesmo declnio da gura do pratican-

    te catlico. Fala-se hoje no catolicismo

    como doador universal, na medida em

    que tornou-se o principal celeiro no qual

    outros credos arregimentam adeptos (23).

    Em sintonia com a conjuntura eclesistica

    internacional, marcada pela nfase no

    anncio explcito, o bloco do catolicismo

    institucional no Brasil vem apostando na

    reinstitucionalizao ou recatolizao,

    com campanhas bem precisas na linha de

    uma melhor internalizao dos valores

    religiosos institudos. Pode-se registrar o

    atual projeto nacional de evangelizao

    promovido pela CNBB, Queremos ver

    Jesus, que busca traduzir na prtica as

    Diretrizes da Ao Evangelizadora da Igreja

    no Brasil (2003-06) (24). H uma grande

    preocupao com o xodo de is para

    outras consses religiosas, em particular

    as denominaes pentecostais, mas tambm

    com o desligamento de muitos jovens, que

    no ltimo censo ampliaram as leiras dos

    sem religio (25).

    Nesse bloco mais amplo do catolicismo

    ocial, h baterias que buscam incentivar

    uma presena pblica mais denida da Igre-

    ja Catlica na sociedade, com o incentivo

    de projetos pastorais mais voltados para o

    social, como o Grito dos Excludos, o Mu-

    tiro Nacional contra a Fome e a Excluso,

    o Plebiscito da Dvida Externa e demais

    iniciativas relacionadas s Pastorais Sociais

    e Campanha da Fraternidade. Mas no

    h dvida de que essa presena no espao

    pblico distinta daquela exercida nos

    anos 70 e 80, quando a Igreja ocial e a

    CNBB em particular evidenciaram o rosto

    de uma igreja comprometida com o povo e

    os pobres. Essa situao foi se modicando

    medida que o processo de restaurao

    romana, de centralizao e uniformidade,

    foi se armando em mbito mais geral,

    provocando crescentes diculdades, incom-

    preenses e barreiras na atuao crtica da

    Igreja Catlica no Brasil. Hoje, como avalia

    Brenda Carranza, predomina no catolicis-

    mo ocial certa sensao de instabilidade,

    debatendo-se

    [] com as conseqncias dos modelos

    geogrcos de parquias, os quais se tor-

    naram obsoletos, se comparados mobi-

    lidade que as anidades eletivas dos is

    produzem, pois na procura de experincias

    religiosas e participao sacramental os

    paroquianos se tornam desterritorializados.

    s vezes atnito com os dados estatsti-

    cos da evidente migrao religiosa, e s

    vezes animado com o arrebanhamento

    de is em encontros multitudinrios, o

    bloco institucional sofre as presses da

    reinstitucionalizao romanizada presente

    em suas leiras, sejam padres ou bispos,

    sejam leigos ou religiosos. No centro da

    avenida esse catolicismo avana no ritmo:

    dois pra frente, um pra trs (26).

    Seguindo a pista aberta por Danile

    Hervieu-Lger, a situao de mobilidade,

    tpica de uma modernidade religiosa tecida

    pelas experincias pessoais, favorece a emer-

    gncia de uma outra gura na paisagem das

    religies, que a do convertido. Trata-se de

    uma gura que se encaixa bem para exem-

    plicar a armao identitria presente em

    algumas experincias religiosas em curso

    no Brasil, como a Renovao Carismtica

    Catlica (RCC) e as Comunidades Eclesiais

    de Base (CEBs). A converso vem aqui

    entendida no como mudana de religio

    ou insero religiosa de pessoas que jamais

    pertenceram a qualquer outra tradio, mas

    de reliao religiosa. uma experincia

    que envolve pessoas que descobrem ou re-

    descobrem uma identidade religiosa at ento

    vivenciada supercialmente, e que traduz a

  • REVISTA USP, So Paulo, n.67, p. 14-23, setembro/novembro 200520 REVISTA USP, So Paulo, n.67, p. 14-23, setembro/novembro 2005REVISTA USP, So Paulo, n.67, p. 14-23, setembro/novembro 2005REVISTA USP, So Paulo, n.67, p. 14-23, setembro/novembro 2005

    entrada num regime forte de intensidade

    religiosa. Na nova experincia comunitria,

    podem reorganizar sua vida e encontrar o

    necessrio apoio emocional (27).

    A RCC um bom exemplo desse ca-

    tolicismo de rea liados. um movimen-

    to fundado na pertena por opo e que

    promove uma re-adeso aos valores

    tradicionais do catolicismo, da sua busca

    de sintonia com a igreja o cial. Mas em

    funo de sua peculiaridade, como muitos

    autores tm hoje sublinhado, ela exerce um

    papel ambivalente no interior da Igreja

    Catlica. De um lado, insere-se numa es-

    tratgia de clara a rmao identitria e de

    zelo pela doutrina catlica tradicional; de

    outro, favorece uma dinmica espiritual que

    acaba incidindo numa perspectiva de auto-

    nomizao e transversalidade com respeito

    ao catolicismo o cial (28). Em razo dessa

    ambivalncia, a instituio o cial catlica

    oscila entre o incentivo e o temor. A RCC

    vista positivamente como um instrumento

    importante na estratgia de recatolizao

    em curso, mas simultaneamente torna-se

    motivo de controvrsia em razo de sua

    dinmica autonomista, que pode signi car

    uma ameaa ao modelo vigente de catoli-

    cismo clerical.

    Vrios autores tm chamado a ateno

    para a diversidade interna da Renovao

    Carismtica no Brasil. Segundo Ceclia

    Mariz,

    [] por mais que a liderana do movi-

    mento tente ao mximo homogeneiz-los,

    os grupos de orao da RCC, e at mesmo

    as lideranas clericais, podem ser bastante

    distintos entre si. A experincia de contato

    do leigo com o sagrado, que central para

    a RCC, desempenha papel importante na

    produo da autonomia e da diversidade

    de discursos e prticas (29).

    H razes plausveis para identi car a

    RCC como um movimento que demarca

    o campo identitrio e de ne uma adeso

    exclusiva. Muitos so os exemplos que vo

    nessa direo. Mas tambm verdade que

    a dinmica em curso vai desvelando novas

    perspectivas, sobretudo em razo dos desdo-

    bramentos de sua experimentao religiosa,

    que enfatiza o contato direto e ntimo com

    Deus. a tradicional tenso entre carisma e

    processo de institucionalizao (30). Alguns

    trabalhos etnogr cos tm hoje apontado,

    de forma surpreendente, experincias pon-

    tuais de grupos ou membros da RCC que

    transitam por outras tradies religiosas,

    ou acessam fragmentos de outras tradies,

    recompondo o seu mapa religioso. Veri -

    cam-se in uxos da tradio evanglica (o

    incentivo aos dons espirituais, a glossolalia,

    a cura e o exorcismo), da tradio esprita

    (31) (a crena na reencarnao) e dos circui-

    tos neo-esotrios, ligados Nova Era, bem

    como traos do catolicismo popular tradicio-

    nal (culto aos santos e aparies marianas)

    (32). O antroplogo Carlos Steil aventou

    essa possibilidade de tradies religiosas

    assumirem con guraes que as permitem

    conviver, na periferia de seus dogmas, com

    crenas e rituais que no se adequam ao seu

    regime religioso, criando zonas de fuga da

    ortodoxia em relao aos signi cados no

    interior da prpria tradio (33).

    Outro exemplo de catolicismo de rea-

    liados o das CEBs. uma experincia

    que traduz para seus participantes uma mu-

    dana signi cativa no campo do exerccio

    religioso. Pode-se falar com pertinncia de

    converso, como mudana acentuada na

    maneira pessoal e coletiva de se viver a

    experincia da prpria religio. O caso das

    CEBs evidencia a trajetria de indivduos

    que se rea liam a uma mesma tradio,

    que redescobrem uma nova identidade

    religiosa, at ento mantida formalmente.

    A insero nas CEBs provoca em mbito

    vital uma reorganizao tica e espiritual.

    Os participantes das comunidades pas-

    sam a compartilhar uma nova identidade

    (fala-se em novo jeito de ser Igreja),

    reorganizam seu aparelho de conversa

    sob novas bases e estabelecem uma nova

    relao com o sagrado, que implica agora a

    centralidade da conscientizao, um novo

    compromisso tico e poltico e a nfase

    na participao em lutas populares. Com

    base nos dados de pesquisas realizadas

    pelo Iser/Assessoria nas dcadas de 80 e

    90, Carlos Steil mostrou que as CEBs in-

  • REVISTA USP, So Paulo, n.67, p. 14-23, setembro/novembro 2005 21

    renovada de uma sensibilidade ecumnica

    e inter-religiosa (38).

    Um importante fenmeno emergente

    no campo religioso brasileiro o do ca-

    tolicismo miditico (39), que se encontra

    relacionado com a diversi cao da experi-

    ncia da Renovao Carismtica Catlica.

    Essa nova malha catlica envolve diversas

    prticas e grupos religiosos que podem ser

    aglutinados sob o imenso guarda-chuva

    chamado Renovao Carismtica Catlica

    que, junto a outros setores eclesisticos,

    implementaram um outro jeito de ser

    Igreja (40). sobretudo em razo de

    sua presena nos meios de comunicao

    de massa que a RCC marcou uma nova

    atuao pblica na sociedade brasileira.

    Esses meios de comunicao foram tam-

    bm os instrumentos privilegiados que ela

    encontrou para fazer frente ao progressivo

    processo de destradicionalizao em

    curso na sociedade brasileira e apostar na

    reinstitucionalizao catlica.

    Um dos grandes destaques desse cato-

    licismo miditico o padre Marcelo Rossi,

    que teve sua rpida ascenso na mdia no

    nal de 1998. Sua presena tem sido con-

    tante nos diversos meios de comunicao

    social e, em particular, na Rede Globo de

    Televiso. Alm de fazer grande sucesso

    na rdio e TV, tambm fenmeno dis-

    cogr co, com importantes registros na

    vendagem de CDs voltados para a evange-

    lizao catlica, bem como um fenmeno

    cinematogr co e tambm editorial (41).

    Mas o catolicismo miditico conta tambm

    com outros personagens, como o padre

    Jonas Abib, padre Antnio Maria, padre

    Joozinho e padre Jorjo. H que ressaltar no

    quadro desse novo catolicismo a a rmao

    de novas redes de televiso voltadas para

    a evangelizao, como a Cano Nova, a

    Rede Vida e a Sculo XXI. Merece destaque

    a Cano Nova, que foi adquirida pelos

    membros da comunidade de vida Cano

    Nova (42) em 1980, inaugurando em 1989 a

    primeira transmissora de televiso. Nasceu

    como um canal privilegiado para a misso

    evangelizadora e mantm ainda hoje esta

    funo primordial, mas numa linha marcada

    por forte tom apologtico.

    serem-se num projeto eclesial tipicamente

    moderno. Essas comunidades eclesiais

    [] se instituem no meio popular como

    um espao social produtor de uma nova

    inteligibilidade da experincia religiosa.

    Uma experincia que ganha plausibilidade

    na medida em que consegue inscrever as pr-

    ticas sociais e polticas no mbito religioso,

    de forma que a conscincia aparea como

    acesso privilegiado ao sagrado (34).

    Em razo dessa modernidade sistmi-

    ca presente nas CEBs, ocorreram tenses

    e embates com o catolicismo popular, seja

    mediante a assuno de uma linguagem

    racionalizadora que descarta a linguagem

    popular tradicional, seja na instrumen-

    talizao da religio popular, valorizada

    unicamente como espao para o exerccio

    da conscientizao. Isso ocorreu sobretudo

    no momento mais inicial da experincia das

    CEBs. Posteriormente, aproximaes mais

    salutares foram realizadas (35).

    As CEBs viveram o seu momento de

    maior efervescncia nas dcadas de 70 e

    80, envolvendo distintas formas de perten-

    cimento (36). A partir do nal dos anos 80,

    com os novos ventos da conjuntura eclesis-

    tica internacional, elas encontram inmeras

    resistncias e mesmo impedimentos para

    a continuidade de sua a rmao criadora.

    Mas sobrevivem crise e ampliam o campo

    de seu interesse para novos desa os, como

    os da cultura, etnia, gnero, subjetividade,

    ecologia, espiritualidade, ecumenismo e

    dilogo inter-religioso.

    Na viso de Luiz Alberto Gmez de

    Souza, seria simpli cador concluir de forma

    apressada, como tendem a fazer hoje certos

    analistas, que o momento atual marca a vi-

    talidade de novos movimentos eclesiais, e

    em particular da RCC, e o recuo das CEBs.

    Em sua viso, se o movimento carismtico

    aumenta, isso no indica que as pastorais

    sociais e as CEBs declinem (37). Os trs

    ltimos intereclesiais de CEBs, ocorridos

    em So Lus (1997), Ilhus (2000) e Itabira

    (2005), e pesquisas de campo apontam a

    vitalidade da experincia, ainda que com

    novas nuances, e a presena cada dia mais

  • REVISTA USP, So Paulo, n.67, p. 14-23, setembro/novembro 200522

    CONCLUINDO

    Depois de passar brevemente pelas

    distintas malhas do catolicismo brasileiro,

    pode-se retomar a questo levantada no

    incio a partir de uma indagao polmica

    de Antnio Flvio Pierucci sobre a pretensa

    diversidade religiosa no Brasil. Um olhar

    exclusivo para a declarao de crena do l-

    timo censo espelha, de fato, uma diversidade

    rala, apertada e rarefeita, concentrada

    na sobra dos 3,5% de declarantes que no

    so catlicos, evanglicos ou sem religio.

    Mas o olhar atento para as prticas e crenas

    reais favorece perceber outras vertentes que

    escapam aos dados quantitativos. O que se

    v, como no caso do catolicismo majoritrio,

    a presena de uma identidade plstica,

    NOTAS

    1 Cndido Procpio F. de Camargo, Catlicos, Protestantes, Espritas, Petrpolis, Vozes, 1973, p. 24.

    2 Cesar Romero Jacob, Dora Rodrigues Hees; Philippe Waniez & Violette Brustlein, Atlas da Filiao Religiosa e Indicadores Sociais no Brasil, Rio de Janeiro/So Paulo, PUC-Rio/Loyola/CNBB, 2003, p. 15.

    3 Pierres Sanchis, O Repto Pentecostal Cultura Catlico-brasileira, in Alberto Antoniazzi et alii, Nem Anjos nem Demnios, Petrpolis, Vozes, 1994, p. 36. E em texto posterior conrma essa tendncia: A estatstica revela um deslizar constante na direo de um irreversvel declnio institucional do catolicismo (Pierre Sanchis, Religies, Religio Alguns Problemas do Sincretismo no Campo Religioso Brasileiro, in Alberto Antoniazzi (org.), Fiis e Cidados. Percursos de Sincretismo no Brasil, Rio de Janeiro, Eduerj, 2001, p. 11.

    4 Antnio Flvio Pierucci, Cad Nossa Diversidade Religiosa?, 2005, mimeo. Praticamente todos os textos indicados como mimeo. nas notas esto para ser publicados em livro organizado por Faustino Teixeira e Renata Menezes sobre o Campo Religioso Brasileiro: Continuidades e Rupturas. Trata-se de textos que foram apresentados, numa primeira verso, em seminrio organizado pelo Iser/Assessoria em Juiz de Fora em agosto de 2004.

    5 Pierre Sanchis, Introduo, in P. Sanchis (org.), Catolicismo: Modernidade e Tradio, So Paulo, Loyola, 1992, p. 33.

    6 Carlos Rodrigues Brando, Fronteira da F Alguns Sistemas de Sentido, Crenas e Religies no Brasil de Hoje, in Estudos Avanados, v. 18, n. 52, 2004, p. 282 (Dossi Religies no Brasil).

    7 Os autores do Atlas da Filiao Religiosa mostram-se surpresos com o reduzido nmero de pessoas que no Censo de 2000 declararam pertencer a mais de uma religio (apenas 10.500 pessoas), e levantam a hiptese de que os recenseados ainda no se sentem vontade para assumir que possuem mais de uma liao religiosa (Cesar Romero Jacob et alii, Atlas da Filiao Religiosa e Indicadores Sociais no Brasil, op. cit., p. 9).

    8 Carlos Rodrigues Brando, Ser Catlico: Dimenses Brasileiras. Um Estudo sobre a Atribuio da Religio, in Rubem Csar Fernandes et alii, Brasil & EUA. Religio e Identidade Nacional, Rio de Janeiro, Graal, 1988, p. 50. Conforme Brando (1988, p. 51), ser apenas catlico signica haver sido incorporado por tradies familiares e, depois, por um difuso costume pessoal a uma religio de que se reconhece sendo sem o envolvimento de quem se arma praticando.

    9 Roberto Da Matta, O que Faz o Brasil Brasil, Rio de Janeiro, Rocco, 1986, p. 115; Ceclia Mariz & Maria das Dores C. Machado, Sincretismo e Trnsito Religioso: Comparando Carismticos e Pentecostais, in Comunicaes do Iser, v. 13, n. 45, 1994, p. 27.

    10 Joo Guimares Rosa, Grande Serto: Veredas, 14a ed., Rio de Janeiro, Jos Olympio, 1980, p. 15.

    11 Cndido Procpio F. de Camargo, Catlicos, Protestantes, Espritas, op. cit., p. 32.

    12 Francisco Cartaxo Rolim, Condicionamentos Sociais do Catolicismo Popular, in Revista Eclesistica Brasileira, v. 36, n. 141, 1976, p. 159. Ver ainda: Rubem Csar Fernandes, Pouco Padre, Pouca Missa e Muita Festa. Cf. http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/artecult/religiao/apre-sent/apresent.htm (acessado em 17/8/2005).

    13 Carlos Rodrigues Brando, Os Deuses do Povo, So Paulo, Brasiliense, 1980, pp. 125-6.

    14 Idem, Ser Catlico: Dimenses Brasileiras, op. cit., p. 268; Memria do Sagrado. Estudos de Religio e Ritual, So Paulo, Paulinas, 1985, pp. 33-4. E tambm: Duglas Teixeira Monteiro, Os Errantes do Novo Sculo, So Paulo, Duas Cidades, 1974, pp. 82 e 86-90; Rubem Csar Fernandes, Os Cavaleiros do Bom Jesus. Uma Introduo s Religies Populares, So Paulo, Brasiliense, 1982, p. 62.

    15 Pedro A. Ribeiro de Oliveira, Religies Populares, in Jose Oscar Beozzo (org.), Curso de Vero II, So Paulo, Paulinas, 1988, p. 121.

    16 Carlos Alberto Steil, O Serto das Romarias. Um Estudo Antropolgico sobre o Santurio de Bom Jesus da Lapa, Petrpolis, Vozes, 1996, p. 249 (nota 26) e p. 48. Em sua tese doutoral, a antroploga Renata Menezes dedicou-se ao estudo da devoo aos santos num convento franciscano do Rio de Janeiro.

    permevel ao inuxo de outras tradies

    e sistemas religiosos, ou, pelo menos, de

    seus fragmentos. E isso ocorre inclusive

    em expresses religiosas com propostas

    de exclusivismo religioso, como o caso

    da RCC. Tudo isso surpreendente e d

    razo a Pierre Sanchis quando fala da

    encruzilhada que o catolicismo, de sua

    pluralidade inusitada: uma religio que

    envolve muitas religies. O pluralismo

    religioso se expressa nas frestas de uma

    pretensa homogeneidade; ele brilha na

    metamorfose das prticas e crenas reela-

    boradas ou reinventadas. No h dvida,

    este um pas de sincretismo religioso e

    de intenso trnsito entre tradies que apa-

    rentemente se opem, mas que de forma

    enigmtica deixam no outro as marcas de

    sua tatuagem.

  • REVISTA USP, So Paulo, n.67, p. 14-23, setembro/novembro 2005 23

    Apontou em sua pesquisa de campo a dinmica autnoma da devoo aos santos, apesar das tentativas de controle por parte dos padres, bem como a prtica da combinao das devoes, como forma de ampliao das formas de proteo. Cf. Renata de Castro Menezes, A Dinmica do Sagrado. Rituais, Sociabilidade e Santidade num Convento do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Relume Dumar, 2004, pp. 194, 200 e 202.

    17 Como indica Marcelo Camura, dos dez estados com maior percentual de catlicos, os seis primeiros: Piau (95%), Cear (93%), Paraba (93%), Alagoas (81%), Sergipe (81,7%), Rio Grande do Norte (81,7%) so nordestinos (Marcelo Ayres Camura, A Realidade das Religies no Brasil no Censo do IBGE 2000, 2005, p. 7, mimeo.).

    18 Carlos Rodrigues Brando, Memria do Sagrado, op. cit., pp. 32 e 146.

    19 Idem, Crena e Identidade. Campo Religioso e Mudana Cultural, in Pierre Sanchis, Catolicismo: Unidade Religiosa e Pluralismo Cultural, So Paulo, Loyola, 1992, p. 51; Marcelo Ayres Camura, A Realidade das Religies no Brasil no Censo do IBGE , op. cit., p. 7.

    20 Danile Hervieu-Lger, Le Plerin et le Converti. La Religion en Mouvement, Paris, Flammarion, 1999, pp. 53 e 61 seg.

    21 Idem, ibidem, pp. 89-118.

    22 Antnio Flvio Pierucci, Bye Bye, Brasil O Declnio das Religies Tradicionais no Censo 2000, in Estudos Avanados, v. 18, n. 52, 2004, p. 19.

    23 Paula Monteiro & Ronaldo R. M. de Almeida, O Campo Religioso Brasileiro no Limiar do Sculo. Problemas e Perspectivas, in Henrique Rattner, Brasil no Limiar do Sculo XXI, So Paulo, Fapesp/Edusp, 2000, p. 330.

    24 Em entrevista publicada no portal da CNBB, o secretrio-geral desse organismo, Dom Odilo Pedro Scherer, abordou as vrias situaes no Brasil que vm desaando a misso evangelizadora, entre elas o xodo de is que buscam a resposta s indagaes existenciais e religiosas fora da comunidade catlica. Cf. http://www.cnbb.org.br/index.php?op=pagina&chaveid=1018 (acessado em 17/8/2005).

    25 Os ltimos censos vm registrando que a segunda opo de declarao de crena entre os jovens vai para os sem religio, que signica na prtica a adeso a formas no institucionais de espiritualidade que so normalmente classicadas como esotricas, nova era, holsticas, de ecologia profunda. E a tendncia da diminuio dos jovens que se declaram catlicos acentua-se entre aqueles que se encontram na faixa etria de 15 a 24 anos (cf. Regina Novaes, Os Jovens Sem Religio: Ventos Secularizantes, Esprito de poca e Novos Sincretismos. Notas Preliminares, in Estudos Avanados, v. 18, n. 52, 2004, pp. 321 e 323).

    26 Brenda Carranza, Continuum Creativo: o Catolicismo Miditico, 2005, p. 8, mimeo.

    27 Danile Hervieu-Lger, Le Plerin et le Converti, op. cit., pp. 119-29.

    28 Carlos Alberto Steil, Aparies Marianas Contemporneas e Carismatismo Catlico, in Pierre Sanchis (org.), Fiis e Cidados, op. cit., p. 119; Eliane Martins de Oliveira, O Mergulho no Esprito Santo: Interfaces entre Catolicismo Carismtico e a Nova Era (o Caso da Comunidade de Vida no Esprito Cano Nova), in Religio e Sociedade, v. 24, n. 1, 2004, p. 86.

    29 Ceclia Loreto Mariz, Catolicismo no Brasil Contemporneo, 2005, p. 6, mimeo.

    30 Eliane Martins de Oliveira, O Mergulho no Esprito Santo, op. cit., pp. 85-6.

    31 Diversos autores tm hoje sublinhado o fenmeno da impregnao esprita da sociedade brasileira, e as pesquisas vm conrmando esse fato, por exemplo, na constatao da crena na reencarnao por parte de catlicos praticantes (cf. Pierre Sanchis, O Repto Pentecostal, op. cit., p. 37).

    32 Carlos Alberto Steil, Renovao Carismtica Catlica: Porta de Entrada ou de Sada do Catolicismo?, in Religio e Sociedade, v. 24, n. 1, 2004, pp. 28-31; Eliane Martins de Oliveira, O Mergulho no Esprito Santo, op. cit., pp. 96-8; Ceclia Loreto Mariz, Catolicismo no Brasil Contemporneo, op. cit., p. 3. Carlos Steil vem sublinhando em recentes pesquisas a presena crescente de carismticos catlicos nos eventos das aparies marianas, um fenmeno que prolifera no s no Brasil, mas nos demais pases de tradio catlica (cf. Carlos Alberto Steil et alii, Maria Entre os Vivos. Reexes Tericas e Etnogrcas sobre Aparies Marianas no Brasil, Porto Alegre, UFRGS Editora, 2003).

    33 Carlos Alberto Steil, Renovao Carismtica Catlica, op. cit., p. 12. Esse autor levanta, assim, a hiptese de a RCC ser no apenas uma porta de entrada para a Igreja Catlica [], mas tambm uma porta de sada, na medida em que liberaria seus is para assumirem prticas e crenas que, em princpio, esto fora do sistema catlico (idem, ibidem, p. 28).

    34 Carlos Alberto Steil, CEBs e Catolicismo Popular, in Clodovis Boff et alii, As Comunidades de Base em Questo, So Paulo, Paulinas, 1997, p. 91. E tambm: Faustino Teixeira, A Espiritualidade nas CEBs, in Clodovis Boff et alii, As Comunidades de Base em Questo, op. cit., pp. 208-9.

    35 Clodovis Boff, CEBs: a que Ponto Esto e para Onde Vo?, in C. Boff et alii, As Comunidades de Base em Questo, op. cit., p. 285; Pedro A. Ribeiro de Oliveira et alii, Reforando a Rede de uma Igreja Missionria. Avaliao Pastoral da Prelazia de So Felix do Araguaia, So Paulo, Paulinas, 1997, pp. 83-4.

    36 Pedro Assis Ribeiro de Oliveira vai falar em crculos concntricos de pertencimento envolvendo os praticantes (15% a 30%), os participantes (5% a 10%) e os animadores ou animadoras (1% a 3%). Crculos que se inserem numa massa maior de populao catlica, envolvendo cerca de 75% (cf. Pedro A. Ribeiro de Oliveira, CEBs: Unidade Estruturante de Igreja, in Clodovis Boff et. alii, As Comunidades de Base em Questo, op. cit., pp. 145-6).

    37 Luiz Alberto Gmez de Souza, As Vrias Faces da Igreja Catlica, in Estudos Avanados, v. 18, n. 52, 2004, p. 87.

    38 Essa indicao de vitalidade foi igualmente apontada em recente pesquisa do Iser/Assessoria sobre o cotidiano das CEBs, realizada com quatro comuni-dades do estado do Rio e de Minas Gerais (cf. Ivo Lesbaupin et alii, As CEBs Hoje. Sntese de uma Pesquisa em Minas Gerais e Rio de Janeiro, Rio/So Leopoldo, Iser-Assessoria/Cebi, 2004, pp. 8 e 12). Constatou-se ainda, nessa mesma pesquisa, o inuxo indireto exercido pela RCC sobre as CEBs no momento atual (idem, ibidem, pp. 33-4).

    39 Trata-se de uma expresso utilizada pela sociloga Brenda Carranza.

    40 Brenda Carranza, op. cit, p. 9.

    41 Idem, Catolicismo em Movimento, in Religio & Sociedade, v. 24, n. 1, 2004, pp. 126-9. Como assinala essa autora, o padre Marcelo Rossi se apresenta como a imagem de uma Igreja rejuvenescida por meio de um sacerdote atleta, bonito, moderno, que inaugura Cyber-Cafs (idem, ibidem, p. 130).

    42 As comunidades de aliana e vida relacionam-se com a RCC mas no fazem parte da estrutura da RCC, ou seja, no so componentes que constituem a base ou a estrutura organizacional do movimento, como seriam os grupos de orao e outros rgos de direo do movimento. Entre as comunidades de aliana e vida podem ser citadas a Cano Nova (a mais antiga, sendo a primeira comunidade criada em 1978, na cidade de Queluz, SP), a Toca de Assis (fundada em 1994, na cidade de Campinas) e a Shalom (fundada em 1982, no estado do Cear) (cf. Ceclia L. Mariz, Comunidades de Via no Esprito Santo: um Novo Modelo de Famlia, s/d, mimeo.). Ver ainda: Antnio Mendes da C. Braga, TV Cano Nova: Providncia e Compromisso x Mercado e Consumismo, in Religio & Sociedade, v. 24, n. 1, 2004, pp. 113-23.