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Tema de Capa 28 O cluster dos colchões em São João da Madeira A região é o berço desta indústria em Portugal, um negócio que vale 75 milhões de euros anuais, metade dos quais relativos à exportação

Tema de Capa 28 - ClipQuick a cada um dos membros do casal. Mais antiga, a Almeida & Peres nasceu em São João da Madeira, em 1964, quando o industrial de calçado António Gomes

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Tema de Capa

28O cluster dos colchõesem São João da MadeiraA região é o berço desta indústriaem Portugal, um negócio que vale75 milhões de euros anuais, metadedos quais relativos à exportação

Cluster decolchões

São João da Madeira é o berçoda indústria de colchões emPortugal e de um cluster comramificações nos concelhosvizinhos. Estas duas dezenasde empresas garantem partesignificativa da produçãonacional de colchões, umnegócio de 75 milhões deeuros, metade dos quaisrelativos à exportaçãoTexto Margarida CardosoFoto Egídio Santos

E conhecida como a capital nacional do calçado, com título

registado no Instituto Nacional de Registo de Marcas e umsapateiro gigante em bronze, criado por Baltasar Oliveira,para homenagear a arte numa das rotundas da cidade.Mas São João da Madeira é, também, o berço da indústriade colchões em Portugal e de um cluster que se estende aosconcelhos vizinhos: Oliveira de Azeméis, Santa Maria daFeira, Ovar, Arouca, Vale de Cambra e Estarreja. Estas 20

empresas são responsáveis pela maior parte da produçãonacional de colchões, um negócio avaliado em 75 milhões de

euros, metade dos quais realizado nos mercados externos, deacordo com o último estudo mundial sobre o sector da CSILCentre for Industrial Studies. Na origem esteve a Molaflex.

O início da história deste polo industrial

começa com as Indústrias Molaílex e a fa-mília Moreira, uma verdadeira escola paramuitos dos que arriscariam, mais tarde,fazer colchões por conta própria. "Era um

grupo vertical, com unidades de tecidos,

espumas e molas para lá dos colchões,

e um grande centro empregador. Paradar resposta às necessidades internas de

pessoal, o grupo tornou-se um centro de

formação. Acabou por ser, também, umcentro de inspiração para outras pessoas

replicarem o negócio e um polo agrega-dor de fornecedores à sua volta", sintetizaVictor Marinheiro, atual diretor-geral da

Molafex.

Seguindo o rastro destas ligações, enu-mera alguns exemplos, nem todos bem

sucedidos, como a Euromola, Molibel e

Molarte, criadas por antigos funcionáriosda Molaflex, ou a Climax, fundada mais

a sul por membros da família Moreira e

agora no grupo Aquinos.

Cronologicamente, o boom deste poloocorreu no pós-25 de Abril. A vinda de 500mil pessoas das ex-colónias de África fez

disparar a procura de colchões, elevou as

vendas a valores recorde e multiplicou as

empresas na zona.

Molarte enfrenta o mercado

Fundada por Manuel Francisco Valente,

precisamente em 1975, em Oliveira de

Azeméis, a Molarte é uma das sobrevi-

ventes desta fase. Sob o comando de Maria

João, filha de Manuel, a empresa procuraagora ultrapassar os constrangimentos do

mercado e compensar a quebra de clientes

com novos distribuidores em Espanha e

em França.Já fez 600 colchões por dia. Hoje, os

seus 35 trabalhadores produzem diaria-

mente 250 unidades, entre molas e es-

puma. O volume de negócios, garantidoem 70% no mercado externo, está "em

queda" devido à conjuntura económica e

à crise no sector da construção, "com umdesempenho diretamente ligado ao da

indústria da colchoaria", comenta a em-presária. Abrir lojas próprias é um projetoadiado, por "representar um investimento

elevado", diz.Neste quadro, só a concorrência asiá-

tica não parece ser um problema. "O mer-cado é pequeno para justificar a atençãoda China e trabalhamos com medidas di-ferentes, pouco interessantes aos grandes

produtores, menos flexíveis na oferta",comenta.

A exportação como saída

Em Santa Maria da Feira, Manuel Silva

aproveitou a experiência ganha como di-retor de produção da Molarte para fundar,em 1991, a Dormiflex, onde emprega 46

pessoas, fatura cerca de 3,5 milhões de

euros e faz 400 colchões por dia, 60% dos

quais para Espanha. Na empresa, todos sa-

bem que a quebra da procura no mercadonacional é inevitável. "Um colchão vai-se

degradando, mas como não avaria, comoos eletrodomésticos, é um investimento

que tende a ser adiado", comenta a chefe

de escritório Angela Pinho.A longevidade dos colchões é um dos

problemas desta indústria. Estudos inter-nacionais dizem que o tempo de vida de

um colchão deve situar-se nos seis anos e

as substituições no mercado europeu são

feitas, em média, ao fim de dez. Quantoaos portugueses, só compram um colchão

novo a cada 20 anos.Com um mercado doméstico dupla-

mente limitado, pelo número de camas

e pelo ritmo das substituições, resta às

empresas olharem para o exterior. Mas

na frente exportadora surgem de imediato

novos constrangimentos. "O volume do

colchão condiciona o custo do transportea grandes distâncias", referem os empre-sários, preocupados com a urgência de

diversificar mercados. Ter Espanha como

principal destino, obriga a vigília forçada.

Tecnif lex luta pela sobrevivênciaEntre problemas financeiros e proces-sos de insolvência, algumas empresas docluster não podem dormir descansadas. É

o caso da Tecniflex, em Oliveira de Aze-

méis, que tem a sua origem na Brandão &

Monteiro, fundada em 1975. Em processode recuperação desde 2008, faturou ummilhão de euros em 2009, 1,6 milhões em2010 e 1,05 milhões no último exercício,marcado pelo regresso aos lucros. Ter umsaldo positivo de 5 mil euros e os salários

dos 30 trabalhadores, pagos à semana,em dia, não chegam, no entanto, comorazões para festejar. A administração tem25% da dívida para pagar até 2022 e res-sente-se do aperto crescente da banca nasua ginástica diária entre fornecedores e

clientes.O mercado interno, Espanha, França

e Angola são os principais destinos desta

empresa que reforçou a quota de exporta-ções de 50% para 80% chegando a novosdestinos como a Rússia ou a Líbia, onde

equipou um hotel com camas de 2 me-tros de largura antes da queda de MuamarKadafi. Na estratégia da Tecniflex para ul-

trapassar as atuais dificuldades, uma das

armas é recuperar a carteira de clientes de

empresas entretanto encerradas como a

Belaflex ou a Sonho de Ouro, propriedadede famílias amigas.

Entre a tradição e a inovaçãoMas o cluster também continua a mostrarter capacidade para se renovar e multipli-car, como prova a Soundsleep, criada há

seis anos, em Santa Maria da Feira, porManuel Correia e mais dois sócios com30 anos de experiência na indústria.

Aqui, com máquinas desenvolvidas in-ternamente e 21 trabalhadores, fazem-secolchões em moldes, ao ritmo de 1200unidades por mês. As vendas somam dois

milhões de euros, 70% dos quais obtidos

no mercado externo, de Espanha à Suíçae Holanda. "Criada para inovar e trabalhar

novas tecnologias", já patenteou o trans-

pirai, uma solução com 85 quilogramasde densidade por metro cúbico que pro-mete "grande circulação de ar" e pode ser

personalizada em função do peso de cada

pessoa ou até combinar moldes, para se

ajustar a cada um dos membros do casal.

Mais antiga, a Almeida & Peres nasceu

em São João da Madeira, em 1964, quandoo industrial de calçado António Gomesdecidiu seguir o exemplo da Molaflex e

tentar a sua sorte também nos colchões.

Em sociedade com um fabricante de te-cidos, lançou os colchões de molas Alper,que têm hoje como principais clientes

empresas de mobiliário de Portugal e

Cabo Verde. Na empresa, 13 pessoas ga-rantem a produção de 12 modelos diferen-

tes, ao ritmo diário de 60 colchões. "Tudo

graças à automatização da unidade", co-menta Manuel António, na casa já há 38anos e guardador de memórias do tempoem que 25 pessoas produziam apenas 25colchões por dia.

Neste polo colchoeiro, a Alper é umcaso exemplar de fidelidade aos colchõesde molas, preferidos pelos portugueses,mas sob concorrência crescente dos mo-

delos em espuma, que já valem 40% domercado mundial, o que levou a gene-ralidade das fábricas a diversificarem aoferta, de forma a cobrir as duas frentesdo mercado.

Na Colreis, o modelo de negócio privi-legia exatamente esta capacidade de adap-tação. Na origem da empresa, com maisde 30 anos de história, está António Reis

Oliveira, um antigo estofador regressadoda Alemanha para se estabelecer por conta

própria em Santa Maria da Feira. Come-

çou por fazer colchões de palha e aparasde cortiça, passou às molas e, posterior-mente, à espuma. Nesta PME Excelência,com 25 funcionários, parte dos quais da

família proprietária, "a flexibilidade é o

principal trunfo", comenta Rafael, filhode António.

"Aqui, todos estão prontos a fazer tudo.Isso facilita a nossa adaptação contínua ao

mercado", diz. Produz 200 colchões pordia, exporta para Espanha e África 10% do

volume de negócios da empresa, admite

"alguma dificuldade" em escoar a produ-ção. A solução, para já, é manter o ritmo e

aumentar o stockem armazém, confiando

que "apesar de tudo, a procura irá mantera sazonalidade tradicional e acelerar nos

meses de verão".

A lógica do clusterNo livro As Vantagens Competitivasdas Nações, publicado em 1990,Michael Porter definiu o conceito

de cluster como uma concentraçãoregional de empresas concorrentes,

complementares e interdependentescom necessidades comuns de talento,

tecnologia e infraestruturas. Quatroanos depois, convidado a apontar o

caminho que colocaria Portugal no

trilho da competitividade, o economistanorte-americano sensibilizou o país

para as vantagens dos clusters ao

nível da produtividade, inovação e

empreendedorismo mesmo emsectores tradicionais. O célebreRelatório Porter deixou claro quePortugal devia agregar valor à volta das

cadeias de produção, de forma a geraremprego local e, com isso, núcleos de

produtividade capazes de dinamizar a

sua competitividade externa em áreas

como a indústria automóvel, saúde,

cortiça, têxtil, calçado ou vinho.

Vencer o individualismo

As histórias quase sempre semelhantes

e por vezes cruzadas, a vizinhança geo-gráfica e os problemas comuns não têm,no entanto, impulsionado a capacidadede união deste polo industrial, criado à

volta de São João da Madeira. "Ter antigos

patrões e empregados a competirem lado

a lado dificulta as relações", reconhecem

os empresários. O facto "de as vendas semfatura serem um flagelo do sector", comodenuncia Victor Marinhais, não facilita o

espírito de abertura."Existe muito individualismo, mas to-

dos teríamos a ganhar se conseguíssemosalguma união", acredita Pedro Duarte, da

Colmol, consciente de que em conjuntoseria mais fácil melhorar a notoriedadeda indústria portuguesa de colchões e

das suas marcas no exterior, alertar o

consumidor sobre as regras de higiene,

conservação e renovação do produto e,

até trabalhar novos mercados.Habituado a dominar durante anos o

negócio dos colchões em Portugal, o clus-

ter de colchões de Aveiro está, no entanto,consciente de que terá de responder cada

vez mais à concorrência de fabricantes de

peso fora deste eixo, como a Colunex, emRecarei, a Novaqui, do grupo Aquinos, emTábua, e, sobretudo, a Lusocolchão, do

grupo J. J. Louro, em Santarém, a crescer

para disputar o título de maior fabricantenacional de colchões.

MOLAFLEX

Fundação A Sociedade de

Indústrias Molaflex nasceuem 1955, dedicada a várias

atMdades, e lançou o primeirocolchão de molas portuguêsem 1955.

Volume de negócios 17 milhõesde euros,

Produção 120 mil colchões porano.

Trabalhadores 170

Integração de componentesnacionais 95%

Exportações 50%

Victor Marinheiro, diretor-geralda Molaflex, empresa que liderao mercado nacional , com 18% nosegmento lar e 50% na hotelaria

PIONEIRA NAS MOLAS

s indústrias Molaflexnasceram em 1951

para fazer bancos

e outros elementosusados no interior dos

vagões dos comboios.

O grupo empresarialfundado por Rui Moreira diversificou a

atividade por várias áreas, dos tecidos as

espumas, mobiliário e molas, acabando porcriar uma pequena unidade de colchões

que garantiu um lugar na história da indús-tria portuguesa ao lançar o primeiro col-chão de molas made in Portugal, em 1955.

Passados 60 anos, autonomizada e

com novos donos, A Molaflex Colchões,

SA, farura 17 milhões de euros a fazer 120

mil colchões de molas e espuma por ano,em São João da Madeira, numa unidadeindustrial onde combina "experiência e

inovação". "O objetivo é continuar a lide-

rar o mercado de descanso nacional", dizo diretor-geral, Victor Marinheiro, citandoa consultora GFK que dá à empresa quotasde 18% no segmento lar e 50% na hotelaria.

A ambição da empresa está, também,na frente externa. As exportações, queabsorvem metade das vendas, têm Espa-nha e Angola como principais destinos,

chegando, ainda, a Moçambique, Marro-cos, Argélia, Rússia, Irão, Iraque e Dubai.

"Alguns destes mercados são negóciospontuais, na área da hotelaria", comentaVictor Marinheiro, que reúne na sua lista

de clientes insígnias como a Marriott, Me-lia, Tivoli, Vila Galé ou Amorim Turismo.

Angola, pais onde a Molafex entrouatravés de operadores portugueses, comoa Amorim Turismo, pode vir a ganhar pro-tagonismo na estratégia da empresa. "Te-

mos um projeto para fazer uma fábrica de

raiz em Angola, mas está em stand by, até

ganharmos massa crítica, capacidade de

vendas para rentabilizar o investimento",diz o diretor-geral.

OS PRODUTOS COM MAIOR VALORACRESCENTADO SOBREVIVEM MELHOR

AOS ELEVADOS CUSTOS DE TRANSPORTE

Exportar tecnologiaO ambiente recessivo da economia nacio-nal justifica a cruzada em destinos cada

vez mais longínquos. Exportar colchões

tem custos de transporte consideráveis,

mas o gestor sabe que "os produtos commais tecnologia incorporada permitemconviver melhor com isso".

Com uma gama alargada que combina16 modelos de molas e 13 de tecnologiassem molas no catálogo geral, a empresaacredita estar preparada para esse desafio

com produtos como o novo Bx3, com tec-

nologia biocerâmica que promete benefí-cios ao nível do aumento do fluxo sanguí-neo, ou o Platinium Excelence, com fios

de carbono e prata, conhecidos como bons

condutores de eletricidade estática.

Capacidade de adaptação é a imagemde marca desta empresa, pioneira nas mo-las, mas sem dificuldade em dar respostaà procura de novas soluções em espuma.Se Portugal gosta de colchões mais duros

e continua a privilegiar as molas, mas o

Norte da Europa prefere soluções maismaleáveis, em espuma, a empresa traba-lha nessa base. Tal como já trabalhou comtecidos mais coloridos para convencer al-

guns mexicanos a dormir em colchões

Molaflex ou fabrica tamanhos XXL paraas camas de Angola.

Ao longo de seis décadas, a Molaflexsoube adaptar-se a sucessivas mudançasde mãos, resistindo à prisão do seu fun-dador e pai do atual presidente da Asso-

ciação Comercial do Porto, Rui Moreira,no pós-25 de Abril, a uma passagem pelafamília Mello, ao controlo dos franceses da

Faurecia. Em 1989, o grupo espanhol Flex,

que nasceu em 1912, em Saragoça, esco-lheu Portugal para iniciar a sua interna-

cionalização, com a aquisição da Molaflex.

Para o desenvolvimento de novas tec-

nologias e materiais, a marca beneficiade acordos com fornecedores e parce-rias com laboratórios externos e com a

Universidade de Barcelona. No entanto,95% dos componentes usados nos seus

colchões são made In Portugal, apesardo grupo Flex ter empresas de espumaem Espanha.

A Molaflex fabricou o primeirocolchão de molas português,em 1955, mas soube adaptar-see hoje produz colchões de espumamais apreciados no Norte da Europa

Crescer com a recessão

No processo de produção, a empresarecorre a fornecedores externos para a

espuma, tecido, arame e algumas molas"mais tradicionais". As estruturas de mo-las mais tecnológicas e avançadas conti-nuam a ser produzidas internamente na

fábrica, que foi ampliada e recebeu novo

equipamento em 2011, num investimentode 1 milhão de euros a replicar em 2012,

para reforçar a sua capacidade industrial.

A cobertura do mercado nacional é

feita através de 800 pontos de venda, com

presença em todos os canais, do comércio

tradicional à grande distribuição alimentar

e de mobiliário. A esta rede, junta um ser-

viço de assistência pós-venda e a preocu-pação de "conhecer e antecipar tendências

de mercado", o que significa trabalhar cada

vez mais materiais verdes, como a fibra de

bambu, e soluções técnicas, para oferecercolchões ignífugos ou antibaeterianos.

Depois de crescer 13,3% em 2011, a Mo-laflex espera continuar a reforçar as suas

vendas este ano. "Prevemos crescer mais10% e subir 10% a 15% no mercado nacio-nal apesar da atual conjuntura", antecipaVictor Marinheiro

"Este ano será muito difícil para as

unidades menos estruturadas e trará al-

guma mortalidade industrial ao sector,mas trará, também, grandes oportunidades para a Molaflex", diz o gestor, convicto

de que a empresa que lidera poderá conti-nuar numa posição confortável, apesar do

ambiente recessivo em que esta indústria

se deita.

Carlos Pereira, administrador da Flex2000, de Ovar, que produz espumaspara colchões e outras indústrias

FLEX 2000

Fundação A produção de

espuma no grupo Cordex

autonomizou-se em 1982,mas existe desde 1976.

Volume de negócios78 milhões de euros,

Produção 50%destina-seà indústria de colchões,

Trabalhadores 200Investimento em I&D3 milhões de euros, nos últimosdois anos.

Exportações 60% da produção

NA FILEIRA

Flex 2000 faz espu-mas, a Spring Markfabrica molas e a

Flexitex produz tecl-dos. As três empresasdo eixo São João da

ÊÊ^Ê Madeira/Ovar têmclientes comuns na indústria de colchões,sector que precisa, também, da dinâmicados fornecedores para dar sonos repou-sados em novos mercados. "Procuramos

encorajar os nossos clientes a exportar,porque sabemos que o sucesso deles será,

também, o nosso e sabemos que a espumae os produtos que a incorporam podemcorrer mundo", comenta Carlos Pereira,administrador da Flex 2000.

Atento aos números globais da fileira,vê, aqui, "uma grande oportunidade de

negócio" para Portugal "ter uma indústriamais exportadora". A convicção é apoiadapor números de um estudo da CSLI - Cen-

tre for Industrial Studies sobre o mundodos colchões: o consumo nos 30 maioresmercados duplicou para 13 mil milhõesde euros em dez anos, impulsionado pelocrescimento dos países emergentes. Neste

período, Polónia e China ganharam fôlegocomo produtores e assumiram a liderançadas exportações mundiais, chegando adestinos como a Alemanha, Estados Uni-dos, Reino Unido, Japão ou Austrália.

"Porque é que nós não exportamostambém para estes países? Os grandesfabricantes de colchões italianos estão a

vender na China. Não podemos fazer o

mesmo? A Austrália importa anualmente68 milhões de euros em colchões. Será quealguém já pensou em ir lá?", interroga o

empresário.

Flex cresce a dois dígitosDecidido "a não ser um mero vendedorde espuma, mas partilhar e participar na

estratégia de negócios do clustef, paraCarlos Pereira "faz sentido exportar paradestinos distantes quando estão em causa

produtos de alto valor acrescentado",como a espuma Viscoflex, usada inicial-mente pela NASA, como assento para os

astronautas, e adotada com sucesso pelaindústria dos colchões depois dos anos 80.

Em Ovar, a sua estratégia tem garan-tido crescimentos anuais de dois dígitos a

produzir espuma de poliuretano para col-chões e sofás, têxteis, automóveis, calçado,embalagens, materiais de segurança, áreahospitalar, isolamentos acústicos e pueri-cultura. Os clientes são muitos, da Europaaos Estados Unidos, desde fornecedores daIkea e Conforama, à indústria de colchões

e a empresas que trabalham com marcasautomóveis como a General Motors, VW,Renault, Peugeot ou Citroen.

Combina atenção ao mercado, investi-mento em investigação e desenvolvimento(I&D) e uma renovação contínua do parqueindustrial, onde guarda tecnologia própriae alguns segredos industriais. Nos últimosdois anos, investiu 3 milhões de euros emI&D, em 2012, serão mais 2,5 milhões emequipamento porque "esta é uma área queexige atualização constante", justifica.

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OO<u

Cordex vai a jogo internacionalNo grupo Cordex, fundado por ManuelArmando Pereira, o interesse pela es-

puma surgiu em 1977, para dar corpo a

uma oportunidade de diversificação do

negócio da família, centrado na cordoaria.

O incêndio que destruiu a fábrica, a 16 de

julho de 1998, acendeu a ambição de inves-

tir num projeto de raiz, à escala ibérica. Por

essa altura, o concorrente belga que era o

maior fabricante europeu de espuma de-

cidira, também, instalar-se em Espanha,

para atacar o mercado português. A Flex2000 "foi a jogo" , apostou na qualidade daoferta e na agressividade dos preços, criouuma rede de vendas no país, avançou em

Espanha e renasceu mais forte.

O investimento na nova unidade, nofinal dos anos 90, totalizou 35 milhões de

euros. Hoje, a empresa emprega 200 pes-soas, fatura 78 milhões de euros, metadedos quais em ligação direta com a indústriados colchões, e exporta 60% da produção.É a maior fábrica de espumas da Península

Ibérica e uma das maiores da Europa. É,

também, a única produtora de espumas de

base vegetal (óleo de soja), produto de alto

valor acrescentado que ajuda a almofadaro negócio contra o choque dos custos de

transporte a longas distâncias.

No grupo Cordex, atualmente geridopelos irmãos Manuel Alberto, Carlos ePaulo Pereira, há a convicção de que 2012

será um ano difícil e trará desaceleraçãoaos negócios. "Mas estamos a trabalhar

para ultrapassar as dificuldades e encon-trar mercados alternativos", sublinha o

administrador desta empresa

A FLEX 2000 FATURA 78 MILHÕES DE EUROS.METADE DOS QUAIS PARA COLCHÕES.

É A MAIOR FÁBRICA DE ESPUMA NA IBÉRIA

Nos últimos dois anos. a Flex 2000investiu 3 milhões de euros eminvestigação e desenvolvimento.E, em 2012, investirá mais 2,5milhões de euros em equipamento

Aposta na especializaçãoNa vizinha Spring Mark, José Guimarãesda Costa especializou-se no fabrico de

carcaças de mola. Antigo sócio da Moli-bel, entretanto extinta, e ex-presidenteda Apicol - Associação Portuguesa dosIndustriais de Colchões, já desativada, o

empresário apostou na especialização,

"seguindo a tendência espanhola" e hojereúne boa parte dos fabricantes portugue-ses de colchões na sua carteira de clientes.

Com 32 trabalhadores e vendas de 3,2milhões de euros, 55% dos quais prove-nientes de Espanha, trabalha para a indús-tria de colchões e mobiliário, mas admite

"alguma quebra no negócio". Por isso,

procura novos clientes à escala mundiale tem em África um dos alvos para a suas

estruturas de molas, que apresenta como"a alma dos colchões".

Em São João da Madeira, nas instala-

ções onde nasceu a Molaflex, a Flexitex

optou por dedicar-se em exclusivo aos

revestimentos dos colchões. Criada porAntónio Leite Castro em sociedade com a

Molaflex, a empresa foi durante anos seufornecedor exclusivo, mas acabaria porautonomizar-se e hoje, sob a direção de

Domingos Leite Castro, filho de António,

exporta 70% dos seus tecidos e malhas

para revestir colchões.

As vendas desta têxtil ao exterior co-

meçaram na década de 70 e abarcam to-dos os continentes. Austrália foi uma das

últimas fronteiras vencidas pela empresa,a trabalhar em contínuo, com 94 traba-lhadores. "É essencial diversificar paradiminuir riscos", diz o gestor, que está a

diminuir a quota do mercado ibérico paracrescer em destinos como o México, Mar-rocos, Reino Unido, Taiwan e África do Sul.

A sua oferta combina mais de 30 trata-mentos diferentes, para responder à pro-cura de soluções termorreguladoras, igní-fugas ou aritibacterianas, entre outras. "O

mercado está em evolução permamentee nós temos de acompanhar e antecipartendências", comenta o empresário, quecomeçou por trabalhar apenas com teci-dos, mas alargou a produção às malhas

para responder à apetência crescente do

segmento médio /alto por este produto,que já representa quase metade das suas

vendas.

FLEXIDREAM

Fundação Em 2009, quandoa Molibel, fábrica onde AndréAvelar trabalhava, faliu.

Volume de negócios 50 mil

euros mensais.

Produção 40 a 60 colchões

por dia.

Trabalhadores 5 (sendo quatroda família).

A família Avelar e umafuncionária constituem a pequenaequipa da Flexidream, que somaclientes em Portugal, Espanha eÁfrica

TUDO EM FAMÍLIA

Cadaum faz a cama em que

se deita, é um velho ditado

popular bem conhecido de

André Avelar e Vítor Godi-nho, dois jovens empresá-rios decididos a conquistar

a pulso um lugar ao sol na história na in-dústria da colchoaria com trabalho, algunseuros e o apoio da família.

OPERÁRIOS DE EMPRESASFALIDAS ARRISCAMO SEU NEGÓCIO

Colchões a quatro mãosNa Flexidream, em São João de Ver, Andrétrabalha com os pais e o irmão quase semhorário, para fazer 40 a 60 colchões diários

e faturar 50 mil euros por mês. É uma his-tória que começou há três anos, quando

viu a fábrica onde trabalhava render-sea um processo de insolvência e arriscou

arregaçar as mangas.Bastou um investimento de 10 mil

euros e algum equipamento usado paralançar o negócio e tentar a sua sorte nomercado dos colchões de molas e es-

puma. Ao seu lado, tem a mãe, tal comoele ex-funcionária da Molibel, o pai, quetrocou o mundo das tintas para se dedicarao negócio da família, o irmão Francisco e

uma funcionária.Para dar resposta às encomendas, esta

pequena equipa trabalha, às vezes, até à 1

hora, mas vai somando clientes em Por-

tugal, Espanha e África, em especial entre

lojas de mobiliário e armazenistas, com-binando marca própria e dos clientes. Nos

primeiros tempos, limitavam-se a mon-tar colchões simples, para vender. Mas o

crescimento do negócio permitiu compraruma máquina nova, de acolchoar, um in-vestimento de 60 mil euros que veio "au-mentar o potencial e dar mais autonomia"à Flexidream, que agora só compra fora a

estrutura de molas.

A família passou a oferecer uma gamade 12 modelos, dos 36 aos 300 euros, adap-táveis a pedido dos clientes, está à esperade uma nova máquina de 25 mil euros,vinda de Itália, para fazer fachas laterais,

duplicou as vendas em 2011 e, apesar da

quebra de 10% sentida no início do ano,acredita que "o mercado vai melhorar".

O sonho tornado realidadeA menos de 7 quilómetros, também emSanta Maria da Feira, Vítor Godinho conta

uma história de contornos semelhan-tes, iniciada há seis anos. "Estava numa

empresa quase falida, com salários ematraso. Tornou-se evidente que não podiacontinuar assim, mas não tinha alterna-tivas de emprego, por isso, arregacei as

mangas, juntei 10 mil euros com o apoioda família e fui à luta. Sozinho, cheguei a

fazer 100 colchões em três dias", recorda

o empresário.Seis anos depois, tem a mulher a tra-

balhar ao seu lado no Planeta dos Sonhos.

A quatro mãos, fazem, em média 60 col-

chões por semana, distribuídos por 15 mo-delos. A curto prazo, vai mudar de instala-

ções para ganhar 1000 metros quadradosde área e poder responder melhor às en-comendas que vão chegando. Em 2011, "a

faturação disparou para os 250 mil euros" ,

o melhor ano na curta história de vida da

empresa, que escoa 90% da produção em

Portugal, mas também vende para Espa-nha e Suíça, mercado onde chega através

da imigração.Para 2012, as perspetivas "são boas".

Tem 20 mil euros de material "já pago"

em stock, uma carteira de encomendasconfortável e "disposição para continuara trabalhar sem contabilizar as horas, das

5 às 24 horas". O principal problema são

as cobranças, diz o empresário, forçado a

"passar cada vez mais tempo ao telemóvel

para tentar convencer clientes a pagar".

COLMOL

Fundação 1972

Capacidade de produção750 colchões por dia

Trabalhadores 75

Volume de negócios7 milhões de euros

Exportações 70% da produção

Pedro Duarte, administradore filho do fundador da Colmol,aposta no trinómiopreço/qualidade/des/gn

VENCERA CHINA

uma disputa recente,a Colmol ganhou umcliente europeu à Chi-

na. Esta vitória vale 70

contentores por ano,mas na empresa todos

celebram, também, o

facto de o seu produto ter conseguido batero chinês, apesar do preço 10% mais caro.

A oferta de colchões da empresa, comuma gama de 650 modelos ativos em di-ferentes versões de molas e espumas, fa-

cilita a entrada em todos os desafios. "Na

venda ao público, temos um leque de pre-

ços amplo, dos 99 aos 1900 euros, o quenos permite cobrir uma grande parte do

mercado", destaca o administrador Pedro

Duarte, filho do fundador da empresa.Criada em 1972, a Colmol tem hoje, em

Oliveira de Azeméis, capacidade instalada

para produzir diariamente 750 colchões.

Ao longo do ano, os números vão

variando até às 500 unidades pordia em função da sazonalidade da procura,mais ativa no verão, da dimensão e das exi-

gências específicas ditadas pelo segmento

qualitativo de cada produto.Em 2011, a atividade da empresa e dos

seus 75 trabalhadores traduziu-se em ven-das de 7 milhões de euros, em linha com2010. O mercado português contribuiucom um crescimento de 14% para este re-sultado, compensando a quebra registada

nalguns mercados externos. As exporta-ções para países como Espanha, França,Bélgica, Inglaterra, Angola, Cabo Verde e

Congo valem quase 70% da produção. A

vocação internacional sempre foi um mo-tor da Colmol, que não exclui a possibili-dade de investir numa fábrica no exterior.

PARA VENDER NO ESTRANGEIRO, A COLMOLINVESTE NA INOVAÇÃO. NA DIFERENCIAÇÃO

E NA PRESENÇA EM FEIRAS INTERNACIONAIS

A Colmol investiu 2 milhõesde euros numa unidade de motas paraincorporar nos colchões que fabrica epara fornecer empresas concorrentes,em Portugal e no estrangeiro

Produção vertical

"Quando se transporta colchões a milha-res de quilómetros de distância, faz sen-tido ponderar um investimento em pro-dução. Mas temos de criar primeiro massacrítica de vendas no local", refere o admi-nistrador que já desistiu de um "projetoem fase avançada, em África, ao perceberque a parceria não era a adequada".

Na batalha das exportações, a empresa"aposta no trinómio preço/qualidade/de-sigrí' e, consciente de que o made in Por-

tugal não tem um histórico de notoriedadeinternacional na área dos colchões, investe

em inovação e na diferenciação dos seus

produtos, a par da presença em feiras in-ternacionais.

Com uma estrutura de produção ver-ticalizada, a Colmol concluiu há um ano

um investimento de 2 milhões de eurosnuma unidade de molas para construiros seus próprios colchões, mas, também,para consumo de empresas concorrentesem Portugal e no estrangeiro e para a in-dústria de estofos.

A resposta just-in-time às encomendastem de ser compatível com a flexibilidade

da oferta e soluções à medida, persona-lizadas a pedido do cliente. Quando está

em causa o processamento de grandesvolumes, como as carcaças metálicas, os

rolos de espuma ou os próprios colchões,o problema dos stocks ganha especialimportância, por isso, a Colmol tem for-necedores que fazem duas a três entregasdiárias da mesma matéria-prima. Para

prevenir ruturas na produção e garantiro cumprimento de prazos, tem, também,fornecedores diferentes para o mesmo tipode matéria-prima. Desta forma, a área de

stock passou a ocupar apenas 10% do es-

paço em vez dos 60% iniciais.

O jogo do mercadoConsciente de que "as estratégias têm deter capacidade de flutuar de acordo comas oportunidades e as empresas precisamde saber adaptar-se às mudanças", Pedro

Duarte diz que a sua prioridade, agora, é

"estar focado no mercado". Um dos indi-cadores desta atenção é a oferta com teci-dos de soja ou fibra de bambu, adequadaàs novas tendências ecológicas.

Presente em 900 pontos de venda emPortugal, nos três primeiros dos maioresfabricantes nacionais de colchoaria, a Col-mol tem na hotelaria um dos seus novos al-

vos, do Inatel aos hotéis Tivoli Angola e CS

Madeira. Apostada em diversificar clientes

e mercados, a empresa acredita poder cres-

cer no segmento turístico e arrisca olhar a

China, "um mercado com muita apetência

por produtos europeus, que pode interes-

sar-se pela oferta de gama alta da Colmol" .

Uma das possibilidades para conquis-tar as camas chinesas é um modelo quecombina ventilação, o triplo de pontosde contacto do sistema convencional deforma a individualizar zonas de conforto

independentes para um casal, reforço dazona lombar, um tecido antiestático à base

de celulose de madeira e uma camada devisco elástico automoldável, que se adaptaao peso e à temperatura do corpo. 0