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Publicações
Temas Penitenciários 6 e 7 - Série 2 - Sumário
Criminogénese e perigosidade a propósito do "bairro social degradado": problematizações -
Luís Fernandes
Neste artigo faz-se um exercício que consiste em reproblematizar a figura urbana do bairro social
degradado. Parte-se da leitura habitual do seu estatuto de área "naturalmente" criminógena,
inventariando os principais estereótipos a seu respeito e a sua legitimação científica através dum
certo catastrofismo sociológico; reequacionam-se em seguida enquanto zonas onde se exprimem as
contradições das sociedades do capitalismo avançado e os paradoxos do processo de globalização,
salientando as suas incidências sobre a estrutura do trabalho e o papel da escola. Em síntese a
problematização que aqui propomos sublinha a necessidade do corte epistemológico entre o
pensamento do senso comum e a constituição de uma grelha analítica que complexifique a leitura
das figuras do urbano degradado
Aplicação das penas: reflexões e práticas - João Luís de Moraes Rocha
O autor comenta de forma crítica alguns dos problemas que afectam o sistema prisional português,
estendendo a sua apreciação a alguma da legislação recentemente produzida. São referidos,
nomeadamente, as questões relativas à sobrelotação, à tipologia de crimes, às medidas alternativas
à pena de prisão e ao volume de trabalho acometido aos Tribunais de Execução de Penas. Por
último, é salientada a importância do pendor humanista, presente desde sempre na nossa
legislação, mas que, segundo o autor, deve ser contrabalançada com uma mais-valia baseada na
observação realista dos actuais problemas que grassam nos estabelecimentos prisionais
portugueses.
A avaliação da perigosidade em contexto forense (uma perspectiva psico-criminológica) -
José Martins Barra da Costa, Nuno Miguel Ferreirim Carneiro e Pedro Miguel de Campos Silva e
Costa
Neste artigo, o conceito de perigosidade é abordado segundo vários enfoques, nomeadamente, as
suas raízes históricas, e os contributos da antropologia, da sociologia , da psicologias e das ciências
jurídicas. Em particular, discute-se a questão da predição do comportamento criminoso e a eficácia
das várias medidas juridico-penais presentes na legislação portuguesa, tendo em vista a prevenção
geral do crime. Os autores concluem pela importância central da avaliação psicológica na
determinação do grau de perigosidade dos sujeitos.
Perturbações da ansiedade em ambiente prisional - João Paulo Ventura e Maria Rute David
Com referência ao modelo teórico desenvolvido por Spielberger ( 1966; 1972; 1983; 1989 ) e
recurso ao instrumento de medida expressamente concebido, por aquele autor, para avaliar as
componentes estado e traço de ansiedade - o State-Trait Anxiety Inventory ( STAI ) - estudou-se
uma amostra de 48 indivíduos, distribuídos de acordo com a respectiva condição perante o sistema
prisional e a lei processual penal: preventivos primários ( Grupo 1 ), preventivos reincidentes ( Grupo
2 ) e reclusos já condenados (Grupo 3 ). Os resultados mostram que os níveis de ansiedade-estado
são mais elevados entre os participantes dos dois grupos de detidos preventivos, por comparação
com os sujeitos condenados. Uma razão plausível para explicar esta diferença, destaca a natureza
ansiogénica e potenciadora de sentimentos de tensão face à aproximação do julgamento que os
indivíduos dos grupos 1 e 2 haverão de defrontar. Curiosamente, tendência inversa se verifica ao
nível dos indicadores de ansiedade-traço que revelam valores mais elevados entre os condenados,
por comparação com os detidos em prisão preventiva. Semelhante evidência resultará, certamente,
de prévias experiências ansiogénicas dos indivíduos mais atingidos ( condenados ) visto que a
ansiedade-traço decorre de exposição mais estável e prolongada a situações potenciadoras de
ansiedade.
Psicopatia em portugal: investigações em contextos prisionais - Rui Abrunhosa Gonçalves
Inseridos num projecto mais vasto de avaliação do índice e prevalência da psicopatia na população
recluída portuguesa, apresentam-se resultados obtidos com a versão portuguesa da Psychopathy
Checklist-Revised (PCL-R; Hare, 1991), junto de várias amostras de sujeitos recluídos tomando
como pontos de referência o tipo de estabelecimento prisional em que se encontram, os crimes
cometidos, a pertença a grupos de risco e a adaptação à prisão. Os resultados, todavia preliminares,
demonstram a boa fiabilidade da versão portuguesa da PCL-R sendo depois discutidos à luz da sua
implicação no tratamento penitenciário e na gestão interna da prisão.
Tratamento de reclusos toxicodependentes e reinserção social: a experiência do
estabelecimento prisional de Sintra - Mónica Barbosa
Neste artigo identificam-se algumas das características presentes em reclusos consumidores de
substâncias e as dificuldades com que deparam ao longo do cumprimento da pena de prisão. São
referidos os principais objectivos da intervenção de apoio e aconselhamento levada a cabo pelo
Serviço de Psicologia do Estabelecimento Prisional de Sintra, e é feita uma breve apresentação de
algumas novas experiências em curso, em articulação com a comunidade.