12
TENHO FEITO PECAS EM OUE AS SALAS ESTÃO SEMPRE CHEIAS Quando lhe perguntavam o que queria ser quando crescesse, não respondia actor. A paixão pelo cinema e pelo teatro veio já na idade adulta, mas entranhou-se. Agora, Albano Jerónimo não se imagina fora do palco. E CATARINA MADEIRA

TENHO FEITO PECAS OUE AS ESTÃO SEMPRE CHEIAS

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: TENHO FEITO PECAS OUE AS ESTÃO SEMPRE CHEIAS

TENHO FEITO PECASEM OUE AS SALAS ESTÃO

SEMPRE CHEIASQuando lhe perguntavam o que queria ser quando crescesse, não respondia actor.

A paixão pelo cinema e pelo teatro veio já na idade adulta, mas entranhou-se. Agora, AlbanoJerónimo já não se imagina fora do palco.

E CATARINA MADEIRA

Page 2: TENHO FEITO PECAS OUE AS ESTÃO SEMPRE CHEIAS

/ __j^^__sfotografias foram tira-das sob a luz morna do sol de Inverno, mas no fim não

sobrou tempo para a entrevista com o actor Albano Je-

rónimo. Estávamos em Évora, na Fundação Eugênio de

Almeida, e esperava-o um directo para a televisão em

Lisboa. Têm sido assim os últimos dias. Uma correria.

Encontramo-lo novamente, dias depois, entre o rit-

mo alucinante das gravações da novela Dancin' Days.Não falta muito para que a co-produção entre a SIC e a

TV Globo termine. Foi um ano de trabalho intensivo e

de uma exposição à qual ainda não se habituou. Ape-sar da agenda complicada que tem de gerir, é com voz

pausada que a conversa corre entre uma dentada num'croissant' e um golo numa meia de leite. Fala apaixona-damente de trabalho, mas sobre a sua vida pessoal é me-

nos expansivo.O actor- que foi um agente da polícia em "The Pillo-

wman" (2006), o cristão António em "O mercador de Ve-

neza" (2012) e Mário Lage, o último marido de Florbela

Espanca no filme sobre a sua vida (201 2) - subiu ao palco

pela primeira vez com 19 anos. A partir daí, a represen-

tação ficou-lhe no sangue. Perdeu o interesse pelas ciên-

cias e pela fisioterapia, mesmo sem a aprovação dos pais

que viam na vida de actor um futuro de incerteza. Hoje,no papel de pai, diz que compreende a essa preocupação.

Aos 33 anos, Albano Jerónimo tem planos que che-

O MEU TRABALHOÉ PRECIOSO E TENHO DERESPEITAR ISSO PARA MERESPEITARA MIM. AGORA,MAIS DO QUE NUNCA,O MEU TRABALHO É MAISDO QUE PERTINENTE,É URGENTE.

Na abertura, casaca de malha (146 euros) Carolina Herrera. 'T-shirt'(12,95 euros) e écharpe (22,95 euros), ambos Zara. Calças (169,95euros) Hugo Boss. Cinto (55 euros) Purificación Garcia. Sapatos(120 euros) Fly London. Em cima, blazer (1326 euros) Gucci, naFashion Clinic. 'T-shirt' (19 euros) e casaco de malha (65 euros),ambos Purificación Garcia. Calças (39,95 euros) Zara. Écharpe (176euros) Etro, na Fashion Clinic. Ao lado, fato (940 euros) e camisa(221 euros), ambos Paul Smith, lenço (73 euros) e gravata (117

euros), ambos Etro, tudo na Fashion Clinic. Camisola (135 euros)Carolina Herrera.

Page 3: TENHO FEITO PECAS OUE AS ESTÃO SEMPRE CHEIAS

gam para uma vida e uma vontade obstinada de os rea-

lizar. Não fica à espera de convites, tem os seus próprios

projectos que passam por desenvolver a companhia Te-

atro Nacional 21, que fundou com a mulher, Cláudia Lu-

cas Chéu, e com Francisco Leone e que deverá habitar,em parceria com outra companhia, um espaço cedido

pela Câmara de Lisboa. Em Fevereiro, no Teatro Rápido

(Chiado) vai estrear "Europa, ich liebe dich" e, em Maio,sobe ao palco na Sala Estúdio do Teatro Nacional D. Ma-ria 11, com "Violência - Fetiche do Homem Bom".

Nos dois últimos anos esteve envolvido em muitos

projectos. Espera que este ano a sua agenda se man-tenha tão atarefada?Sim. E isso não é à toa, significa que agora, mais do quenunca, o meu trabalho e aquilo que desenvolvo é maisdo que pertinente, é urgente.

Apesar disso, tornou-se mais selectivo em relaçãoaos trabalhos que aceita? Quais são os critérios queo levam a escolher os projectos?

Completamente. O mais importante são as pessoas quefazem parte do projecto e, num segundo plano, o texto...

sobretudo em teatro e em cinema, porque em telenovela

já não é tanto o texto...

A novela continua a ser aquilo que um actor tem defazer para se sustentar?

Também... No caso da telenovela que estou a fazer ago-

ra, não é só isso. É uma produtora em que me reconhe-

ço, onde tenho muitos amigos. Foi como juntar o útil ao

agradável. A co-produção com a TV Globo também me

interessou, porque existe todo um 'know-how' para ab-

sorver. Há cinco anos que não fazia novela e, para voltar,tinha de ser uma coisa específica. Não farei algo só porfazer. O meu trabalho é precioso e tenho de respeitar is-

so para me respeitar a mim. E a partir deste princípio

que me torno mais selectivo.

Tem trabalhado muito em cinema. É o seu "palco"favorito?Há alguns cineastas com que adoro trabalhar - o

Sandro Aguilar, o Marco Martins e o Sérgio Gracia-

no - são pessoas que sabem mais do que eu, que me

inspiram e que me obrigam a sair dos sítios que eu

conheço. Isso é óptimo para eu me educar. O cinemaé uma linguagem diferente, uma das formas de per-

petuarmos o nosso trabalho. Em teatro, fica uma fo-

tografia na memória das pessoas, mas depois morre.

Mas também tem feito muito teatro.No teatro, interessa-me sobretudo a dramaturgia por-

tuguesa, não só porque temos uma nova vaga de au-

tores portugueses, mas também porque é uma lacu-

na no nosso meio. Fundei, com a Cláudia Lucas Chéu

e o Francisco Leone, uma companhia de teatro que se

chama Teatro Nacional 21, com o intuito de desen-

volver apenas dramaturgia portuguesa. Vamos terum centro de dramaturgia portuguesa, uma revistaliterária que vai acompanhar este percurso e vamos

encenar dois a três textos portugueses por ano.

Quais são os seus autores portugueses favoritos?

Destaco a Claudia Lucas Chéu e também o Micha-el Oliveira e o Miguel Castro Caldas. Existe matéria-

-prima e criadores altamente talentosos, portugue-ses, novos e que vêm cheios de ideias contemporâ-neas e actuais que reflectem a atenção dos autores à

nossa realidade.Há público para esse tipo de projecto?Há. O teatro tem imenso público. Felizmente tenho

feito peças em que as salas estão sempre cheias e 70%desse público é gente nova. A falta de apoios é que tem

quebrado o desenvolvimento deste processo. Lá fora- em Berlim ou Londres - há toda uma estrutura pa-

ra apoiar o que surge de novo. Os ingleses costumamdizer "we are looking for the next big thing" (estamos

à procura da próxima grande novidade). A verdade é

que não sabemos se pode estar a nascer um Shakespe-

are ou um novo Gil Vicente. O futuro é investir nos

novos criadores, fomentando novos públicos.

Essa falta de apoios revela insensibilidade para a

cultura ou nesta altura é natural que a cultura seja

uma preocupação secundária para o país?Os nossos políticos não têm qualquer noção de cultura,

não são inteligentes, não são pessoas viradas para aqui...São certamente muito entendidas em economia e ges-

tão, mas no que respeita à cultura são zero. Temos um se-

cretário de Estado da Cultura que é inexistente. Para to-

dos estes pequenos nichos que são fundamentais para a

dinamização da cultura, os apoios são inexistentes. Este

país tem a felicidade imensa de ter uma série de criado-

res que são persistentes e que amam aquilo que fazem,

porque este país é perfeito para sair daqui.

A carreira internacional faz parte dos seus planos?Sim, já tive propostas para isso, já fui lá fora fazer al-

gumas coisas, embora nada de muito contínuo. Mas

não descarto que seja a preparação de algo mais con-

sistente para ir lá para fora, é inevitável.

O que gostava de fazer? Poderia partir da parceriacom a TV Globo?Lá fora, a primeira coisa em que penso é em cine-

ma. E uma linguagem universal e em que nos pode-

Page 4: TENHO FEITO PECAS OUE AS ESTÃO SEMPRE CHEIAS

mos exprimir globalmente. Teatro é uma coisa maishermética por causa da língua... Novela com a Glo-

bo também seria uma possibilidade e, se surgir, vou

sem medo.Com que realizadores gostava de trabalhar?Tantos... o Paul Thomas Anderson, Scorsese...

Independente das dificuldades que existem cá, tra-balhar no estrangeiro é sempre importante para a

construção de um actor.

Sim, mas preferia construir um produto cá que tives-

se visibilidade lá fora. Mas se tiver um convite paraum filme em França, por exemplo, claro que irei.

Ainda não surgiu?Está aí uma proposta. Vou encontrar-me com um re-

alizador no final deste mês, para rodar um filme lá.

Não sei se se vai concretizar, mas o importante é sur-

girem convites. Agora, para mim, se é vital ter esse

percurso internacional para me reconhecer como ac-

tor? Não, não é vital.

Page 5: TENHO FEITO PECAS OUE AS ESTÃO SEMPRE CHEIAS

Já tem apostas para os Óscares?

Não. Sou muito desportista a ver os Óscares. Normal-

mente, não estou a par dos nomeados para cada catego-

ria, é mais um pretexto para estar com os amigos. Não

faço grande alarido porque aquilo é altamente tenden-

cioso, corresponde a determinadas vontades, é comple-tamente político.

Quando decidiu ser actor já pensava no cinema e noteatro ou houve algum deslumbramento com a te-levisão e o ser famoso?

NAO SABEMOS SE PODEESTARÁ NASCER UMSHAKESPEAREOUUMNOVO GIL VICENTE. 0FUTURO É INVESTIRNOS NOVOS CRIADORES,FOMENTANDO NOVOSPÚBLICOS.

Isto foi crescendo, não foi nada que tivesse pensado. Ti-

nha a ideia de ir para ciências ou fisioterapia, mas en-

trei no grupo de teatro amador "Esteiros", em Alhan-dra. O meu primeiro mestre de teatro foi o Mário Rui,

que me chamou à atenção para a relação com a pala-vra que é infindável e que me apaixonou. Na altura,estava longe de pensar em cinema, novelas... Depois,fui para o Conservatório e comecei a ser mais específi-

co. No primeiro ano do Conservatório fiz um 'casting'

para uma novela - a "Lusitana Paixão", na RTPi - e fi-

quei. Era totalmente verde, inexperiente. Foi a minha

primeira experiência e todo o deslumbramento a queum actor tem direito no início eu tive, faz parte. Isso

potenciou a vontade para mais. Continuei a fazer tea-

tro e estive cinco anos sem parar de fazer novelas. Pon-

tualmente, ia fazendo coisas em cinema que me foram

aguçando a curiosidade. Hoje, estou dentro disto e não

consigo ver-me de outra forma.

A família aceitou bem essa opção?Mais ou menos. E muito complicado, agora que sou

pai também compreendo isto de outra forma. Não é

fácil ter um filho que diz que quer ir para uma profis-são que é algo incerto...

Os seus pais tentaram demovê-lo?

Obviamente. Esta profissão é altamente desgastan-te e está muito descaracterizada. Fiscalmente só há

obrigações, portanto que futuro pode vir daí? A não

ser que consigas ir beber a várias coisas e consigas ter

um nível de rendimento que te permita ter uma fa-

mília. Mas isso dá muito trabalho.Sente-se um actor consagrado?Sinto-me um actor que tem tido a sorte de ter trabalho e,

fundamentalmente, oportunidades para experimentar.Isso sim, agora consagrado não! Sou muito n0v0...

Como olha para as novas gerações de actores que co-

meçam na televisão, com formação e sem?

E preciso distinguir uma coisa: as pessoas que têm a

possibilidade de fazer uma novela sem formação não

são actores. Que fique bem claro! A descaracterizaçãoé tal, que vale tudo. Parece que, hoje, qualquer pessoa

pode ser actor e isso não é verdade. Depois, em televi-

são, há o lado físico que pode abrir portas...No seu caso o lado físico foi importante?Óbvio! Tenho 1,90 metros, olhinho verde, na alturaera muito mais engraçadinho do que sou hoje. Ob-

viamente que isto me abriu portas e assumo isso co-

mo factor inerente ao meu inicio. Mas o importanteé como isso me transformou para outras coisas. Se és

mais atraente, amanhã podes fazer uma novela e is-

so acontece.... Mas acredito que é a qualidade do tra-balho que nos pode distinguir, mesmo não tendo o

tal lado bonitinho.Como é que lida com o outro lado desta carreira, o

lado da exposição pública, de ser apontado na rua?Não é fácil... Isso só acontece quando se faz um produtotelevisivo, nomeadamente novelas. A exposição é bru-

tal, diária e começo a sentir que isso está a mais, não faz

parte da profissão. Mas é uma coisa que se aprende a ge-rir. Para mim, é uma consequência do tipo de trabalho e

quando se faz teatro ou cinema é mais tranquilo.Então não vê a hora para que a novela acabe.. .

Sim, nesse sentido sim. Até porque isso potência coi-

sas na imprensa da especialidade que te esventram,

que te rasgam, coisas que não fazem parte de ti. Essa

parte dispensaria sem problema nenhum.

Fora do trabalho como é que é a sua vida?Estou com a família, com os amigos. Gosto de ler, lere ler. Gosto de ir ao cinema e ao teatro.Em cima, camisola (49,95 euros) Zara. Calças (129 euros) Levi's.Cinto (76 euros) Gant. Sapatos Ermeneqildo Zeqna (preço sobconsulta). Ao lado, qabardine (340 euros) Carolina Herrera. Camisa(59 euros) e cachecol (52 euros), ambos Purificación Garcia.Casaco (160 euros) Diesel. Calças (276 euros) Ralph Lauren, naFashion Clinic. Cinto (80 euros) Diesel. Sapatos (99,90 euros)Fly London. Na página seguinte, blusão (220 euros) e casaco demalha (175 euros), ambos Lacoste. Camisa (99,95 euros) HugoBoss. Calças (150 euros) Diesel. Cinto (109 euros) Henry Cotton's.Sapatos Zegna Sport (preço sob consulta).

E de viajar?

Page 6: TENHO FEITO PECAS OUE AS ESTÃO SEMPRE CHEIAS

Sim, costumo ir a Berlim, sobretudo ver espectáculos, e

a Paris. Vou três ou quatro dias e venho logo a borbulhar.

O sentido da viagem abre-me mais para a perspectiva de

um mundo que é cada vez mais global.

Entrou também no filme "Florbela", sobre a vida de

Florbela Espanca, uma pessoa à frente do seu tem-

po. Este tipo de personagens fascina-o?

Sim, são pessoas que assumiam a viagem delas peranteos outros, na sociedade e no ambiente em que estavam

inseridas. Pouca gente faz isso. A Florbela foi uma pessoafranca, no sentido em que se expôs e disse "eu sou isto".

Os portugueses são envergonhados quando se tratade reconhecer estas figuras?Mais do que envergonhados, são conservadores, mes-

quinhos e pouco conhecedores. Na gravação do fil-

me, houve muitas Câmaras que recusaram associar-

-se ao projecto, devido à conduta dela, aos valores, ao

que ainda hoje ela representa na cabeça das pessoas.Como surgiu o convite para se envolver com o traba-lho da Fundação Eugênio de Almeida?A vontade de fazer algo ligado ao voluntariado e à filan-

tropia já existia há cerca de um ano e meio. Sempre es-

tive, ao longo do meu percurso, associado a causas quedessem a devida utilidade ao conceito de figura pública.

Aqui sentimos, eu e o Rui Calapez (meu agente e ami-

go) que tínhamos espaço e plataforma para desenvolver

uma coisa de base e é isso que está a nascer.

A situação do país impulsionou essa vontade?Também. Como artista, só posso estar atento ao que merodeia. E, se tenho esta profissão que me permite ter umavisibilidade diferente, tenho de a usar nesse sentido. ($TENHO UM METRO E 90,OLHINHO VERDE, NAALTURA ERA MUITO MAISENGRAÇADO DO QUE SOUHOJE. OBVIAMENTE QUEISTO ME ABRIU PORTAS.Moradas: CAROLINA HERRERA: Av. da Liberdade, n° 144 B - Lisboa.Tel.: 213529294; COCHES COM CAVALOS: Rua da Eufusina, n° 5- Évora. Telm.: 915571801; DIESEL: Praça Luís de Camões, n° 30 -Lisboa. Tel.: 2134219 80; ERMENEGILDO ZEGNA: Av. da Liberdade,n° 151 - Lisboa. Tel.: 213433710; FASHION CLINIC: Av. da Liberdade,n° 192 A - Lisboa. Tel.: 213142828; FLY LONDON: Av. da Liberdade, n°230 - Lisboa. Tel.: 253559140; HENRY COTTON'S: Mais informaçõescom Ricon Serviços através do 252093000 ou em www.henrycottons.it; HUGO BOSS: Av. da Liberdade, n° 141 - Lisboa. Tel.: 213433664;LACOSTE: Estrada Nacional n° 9, Centro Comercial Cascaishopping,loja n° 1106 - Cascais. Tel.: 214601188; LEVI'S: Rua Nova do Almada,n° 107 - Lisboa. Tel.: 213466309; PURIFICACIÓN GARCIA: Av. daLiberdade, n° 144 - Lisboa. Tel.: 213259767.

Page 7: TENHO FEITO PECAS OUE AS ESTÃO SEMPRE CHEIAS
Page 8: TENHO FEITO PECAS OUE AS ESTÃO SEMPRE CHEIAS
Page 9: TENHO FEITO PECAS OUE AS ESTÃO SEMPRE CHEIAS
Page 10: TENHO FEITO PECAS OUE AS ESTÃO SEMPRE CHEIAS
Page 11: TENHO FEITO PECAS OUE AS ESTÃO SEMPRE CHEIAS
Page 12: TENHO FEITO PECAS OUE AS ESTÃO SEMPRE CHEIAS