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Teologia Sistematica- Hermann

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  • Au tor: HERMANN BA VINCK (1854 -1921)

    Bavinck pastoreou a Igreja Reformada em Franeker, foi Professor titular de Teologia Sistematica em Kampem e finalmente da Universidade Livre de Amsterda.

    Bavinck apresentou, atraves de sua pena, diversos assuntos da mais alta importancia sobre: educa

  • FUNDAMENTOS

    TEOLOGICOS DA FE CRISTA

    Autor: Hermann Bavinck Professor Titular de Teologia,

    Universidade Livre de Amsterda

    Traduzido do Ingles por Vagner Barbosa

  • ~

    TEOLOGIA SISTEMATICA Autor: Hermann Bavinck

    Tradutor: Vagner Barbosa

    Revisores: Ademar de Oliveira Godoy e Loyde Wenzel de Paula

    Editor Responsavel: Arival Dias Casimiro

    Setembro de 2001

    Dados Internacionais de Cataloga\ao na Publica\ao (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Bavinck, Hermann B354r Our reasonable faith. Traduzido da edi

  • PREFACIO A TRADU
  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    e 1901, dos quais somente o segun-do volume foi traduzido para o ingles como A Doutrina de Deus. Nao existe nenhuma obra de Bavink traduzida para o portugu-es. Bavinck influenciou profunda-mente muitos te6logos reforma-dos, holandeses e norte-america-nos, sendo Louis Berkho( o mais conhecido no Brasit por causa da sua Teologia Sistematica.

    Para Bavinck, a teologia era o estudo sistematico do conheci-mento de Deus, revelado em Cris-to e na Biblia, e resumido pela Igreja por meio dos credos, cate-cismos e confiss6es. Segundo ele, a religiao, o temor de Deus, deve ser o elemento que inspira e anima n in-vestigar;iio teol6gica. Isso deve mar-car a cadencin da ciencia. 0 te6logo e uma pesson que se esforr;a pnra falar sabre Deus. Professar a teologia e um trnbnlho santo. E realizar umn

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    ministrar;iio sacerdotal na casa do Se-nhor. Isso e par si mesmo um servir;o de culto, uma consagrar;iio da mente e do corar;iio em honra ao Seu nome.

    A SOCEP - Sociedade Cris-ta Evangelica de Publica

  • PREFAcio A Eoic;Ao EM INGLES

    A queles que estao familia-rizados com a hist6ria das igrejas Reformadas da

    Holanda- isto e, das gereformeerde como distintas das Hervormde Kerken- saberao que entre os her-deiros da Afscheiding de 1834 e a Dolenntie de 1886 nao ha nomes tao estimados quanto os de Abraham Kuyper e Hermann Bavinck. Eles foram figuras her6i-cas de realizac;:oes gigantescas no trabalho cristao. Suas carreiras, re-alizadas praticamente ao mesmo tempo, no final do seculo XIX e no comec;:o do seculo XX devem ser consideradas como urn favor es-pecial de Deus em beneficia do Cristianismo Hist6rico tanto na Europa quanto no N

  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    Holanda do seculo XIX. Hermann Bavinck nasceu

    em 13 de dezembro de 1854. 0 centenario de seu nascimento foi grandemente celebrado na Holanda em 1954, e a natureza e o escopo de suas contribui~5es foram revistas com grande apre-~o. Bavinck nasceu na cidade de Hoogeveen na provincia de Drenthe. Seu povo veio originari-amente do condado de Bentheim. Seu pai, o Rev. Jan Bavinck, foi urn ministro das igrejas que em 1834 se interessaram em manter a pura tradi~ao do Cristianismo Hist6ri-co separada da Igreja do Estado da Holanda.

    0 jovem Bavinck alcan~ou distin~ao como estudante de urn colegio em Zwolle e foi para a Es-cola Teol6gica de sua igreja em Kampben. Ali ele permaneceu por apenas urn ano. Ele quis ir para Leiden para realizar seus estudos teol6gicos superiores. Leiden deu a ele pelo menos duas coisas: urn grande respeito pela erudi~ao e uma confronta~ao, em primeira mao, com a moderna teologia li-beralmente afetada. Essas duas li-~5es foram de grande importan-cia para ele. 0 ideal de uma eru-di~ao teologicamente s6lida para o Cristianismo Reformado orto-doxo permaneceu firme em sua vida no decorrer de toda a sua car-reira. Seu conhecimento profundo sobre os mais novos pensamentos religiosos serviu para aprofundar

    8

    suas convic~5es Calvinistas e ha-bilitou-o a elaborar uma teologia realisticamente voltada para os problemas de seu tempo.

    Em 1880 ele se graduou em Leiden, tendo feito sua disserta~ao sobre a etica de Ulrico Zwinglio. Ele trabalhou como ministro de uma igreja em Franeker por urn ano, e foi entao nomeado Profes-sor de Dogmatica na Escola Teo-16gica de Kampben. 0 assunto de sua aula inicial, "A Ciencia da San-ta Divindade" (De Wetenschap der Heilige Godgeleerdheid, 1882), fasci-nou-o durante toda a sua vida. Durante a decada de seus arduos estudos e ensino eficaz em Kampben, Bavinck tres vezes foi convidado para lecionar teologia na Universidade Livre de Amster-da. Ele s6 aceitou depois do ter-ceiro convite, e s6 depois de satis-fazer sua consciencia (veja sua brochura Decline or Accept [Blijven of Heengaan], Kampben, 1902) de que isso nao prejudicaria a inte-gridade da educa~ao teol6gica em sua igreja. Foi s6 quando Abraham Kuyper trocou a pasta de catedratico em Amsterda pela pasta de Ministro no governo de Hague que Bavinck tornou-se seu sucessor em Amsterda.

    Bavinck era primariamente o te6logo, o dogmatico. Sua magnus opus sao os quatro volu-mes de sua Reformed Dogmatics (Gereformeerde Dognwtiek). Essa obra foi o fruto de seu trabalho em

  • PREFAcro

    Kampben, surgindo primeira-mente durante os anos 1895-1901 e, depois, em uma forma revisa-da, em 1906-1911. Urn volume de sua obra, A Doutrina de Deus, edi-tado e trad uzido pelo Dr. W. Hendriksen, foi publicado em Grand Rapids em 1951. 0 presen-te volume, Os Fundamentos de Nos-sa Fe, escrito em 1909 como a Magnalia Dei (As Maravilhosas ~has de Deus), e um resumo de ~:_:a Dogmatica em quatro volu-::-:'.

  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    Quando o Dr. J. C. Rullmann submeteu seu artigo sobre Bavinck ao Christelijke Ency-clopaedie em 1925, ele percebeu que dificilmente poderia explicar a obra de Bavinck melhor do que fazendo uma cita

  • PREFAC!O

    Dogmatica Reformada e Os Funda-mentos de Nossa Fe. Em 1888 ele lan

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    Fundamentos Teol6gicos da Fe Cristii

    Oorlog, 1915), e Cristianismo, Guer-ra, e a Liga das Nar;oes (Christendom, Oorlog, Volkenbond, 1920). Esta ul-tima obra nos mostra como Bavinck se interessava pelos pro-blemas do nosso seculo. Alem dis-so, deve ser dito que ele tinha urn fino "senso de sua propria epoca". Isso leva em conta sua pronunci-ada preocupac;ao com Psicologia e os principios de educac;ao. Em 1915 ele escreveu o tratado Sabre o Sub Consciente (Het Onbewuste), em 1897 Os Principios de Psicologia (Beginselen der Psycologie), e em 1920 a Psicologia Bfblica e Religiosa (Bijbelsche en Religieuse Psycologie). Sua maior obra sobre a teoria da educac;ao e Principios Pedag6gicos (Paedagogische Beginselen, 1904). Nao e de se admirar que essa area de estudos tenha atraido tanto sua atenc;ao. 0 livro Filosofia Educacio-nal de Hermann Bavinck, escrito pelo Dr. Cornelius J aarsma (Grand Rapids, 1935) eo livro De Paedagogiek van Bavinck, escrito pelo Dr. L. Van der Zweep (Kampben, sem data) falam sobre lSSO.

    Hermann Bavinck visitou a America duas vezes; a primeira em 1892, quando foi convidado pela Alianc;a das Igrejas Reforma-das que adotam o Sistema Presbiteriano, para ministrar uma palestra em Toronto sobre o tema: "A Influencia da Reforma Protes-tante nas Condic;6es Morais e re-ligiosas das Pessoas e Nac;oes"; e

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    a segunda foi em 1908, quando ele demonstrou atraves de suas Con-ferencias Stone de Princeton que merecia ser considerado com Kuyper, Warfield, Hodge, e Orr como urn destacado te6logo Calvinista moderno. Na vida po-litica pratica ele era menos ativo do que Kuyper, sendo mais incli-nado a filosofia politica do que a politica. Ele era, contudo, urn membro da Casa Alta, represen-tando o sul da Holanda nos Esta-dos Gerais desde o anode 1911 em diante. Seus melhores servic;os nesta area de atuac;ao foram da-dos como consultor e conselheiro na area da educac;ao. A traduc;ao das suas obras para o ingles tern sido intermitente e dispersa. Des-sa forma, desde muito tempo, ape-nas 0 Sacrificio do Louvor, 0 Reina de Deus, A Filosofia da Revelar;ao eo pequeno tratado Evolur;ao estao disponiveis em lingua inglesa. Os Fundamentos de Nossa Fe e, por isso, urn importante incremento. Ai esta tambem uma biografia nao definitiva. Tres precursores ja es-creveram sobre isso. 0 primeiro foi J. H. Landwehr com seu In Memoriam, de 1921.0 segundo foi o Dr. V. Hepp como seu Hermann Bavinck, escrito tambem em 1921-o prometido segundo volume que da sequencia ao primeiro nunca foi escrito. 0 terceiro foi A. B. W. Kok, com seu Hermann Bavinck, de 1945. Uma boa quantidade de es-tudos peri6dicos holandeses tern

  • PREFAcro

    analisado as ideias de Bavinck. Neste pais [USA] n6s temos, alem do livro do Dr. J aarma, a nao publicada disserta

  • Fu11dame11tos Teol6gicos da Fe Cristii

    creveu como conclusao da biogra-fia de Bavinck, as seguintes pala-vras:

    0 que outrora foi dito sobre Calvino serve tarnbern para ele: A posteridade "nao pode encontrar rnelhor forma de honrar seu pio-

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    neiro e rnestre do que confessar corn o cora~ao e corn os Llbios: Dele, por Ele e para Ele sao todas as coisas. A Ele, pois, seja a gloria para sernpre".

    Agosto de 1955. Henry Zylstra

  • ~

    INDICE

    Prefacio a Tradw;ao Brasileira ................................................................ 05 Pre facio a Edi

  • CAPITULO

    1l 0 MAIOR BEM oo HoMEM

    D eus, e somente Deus, eo maior bern do homem. Em um sentido geral po-

    demos dizer que Deus e o maior bern de todas as Suas criaturas, pois Deus e o Criador e o Sustentador de todas as coisas, a fonte de todo o sere de toda a vida e a fonte inesgotavel da qual flui tudo o que e born. Todas as cria-turas devem sua existencia so-mente aquele que e o Ser unico, eterno e onipresente.

    Mas a ideia do mais eleva-do bern, geralmente inclui o pen-samento de que este bern e reco-nhecido e desfrutado como tal pelas pr6prias criaturas. E claro que esse nao e o caso das criatu-ras inanimadas e nao racionais. As criaturas inanimadas possuem apenas o ser, mas nao possuem o principio da vida. Outras criatu-ras, tais como as plantas, possu-em o principio da vida, mas sao

    17

    desprovidas de consciencia. Os animais, e verdade, possuem, alem de sua existencia e de sua vida, um certo tipo de conscien-cia, mas essa consciencia alcan

  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    gloriosos atributos de conheci-mento, justi

  • 0 MAJOR BEM oo HoMEM

    procura urn bern que nao se torna born por causa das circunstanci-as, mas que e born em e atraves de si e para si mesmo, urn bern imuhivet espiritual e eterno. E novamente essa vontade s6 pode encontrar descanso nas ben

  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    criatura (Sl49.7-9).

    * * * * *

    Como geralmente acontece, muitas pessoas estao plenamen-te dispostas a admitir isso logo que os prazeres sensoriais e os tesouros terrenos sao citados. Elas prontamente reconhecem que es-sas coisas nao podem satisfazer o homem e nao correspondem ao seu destino elevado. Mas seu jul-gamento e mudado logo que OS assim chamados valores ideais -ciencia, arte, cultura, o exercicio da fidelidade, a bondade, a bele-za, a dedicac;ao da vida em favor do proximo, e o desejo de servir a humanidade- sao colocados em cena. Porem, todas essas coisas tambem pertencem ao mundo do qual as Escrituras dizem que e passageiro (1 Jo 2.17).

    A ciencia, o conhecimento, e o aprendizado certamente sao boas dadivas, que descem do Pai das Luzes, e portanto devem ser levadas em alta estima.

    Quando Paulo chama a sa-bedoria do mundo de loucura di-ante de Deus (1 Co 3.19), e quan-do ele em outro lugar nos adver-te contra a filosofia (Cl 2.8), ele tern em mente a falsa e inutil su-posta sabedoria que nao reconhe-ce a sabedoria de Deus em sua revelac;ao geral e em sua revela-c;ao especial (1 Co 1.21) e que se tornou nula em seus pr6prios ra-

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    ciocinios (Rm 1.21). Mas no restan-te, Paulo e as Sagradas Escrituras, em sua totalidade, colocam o co-nhecimento e a sabedoria em urn plano de grande importancia. E nao poderia ser de outra forma, pois a Biblia afirma que Deus e sabio, que Ele tern conhecimento perfeito de Si mesmo e de todas as coisas, que pela Sua sabedoria Ele estabeleceu o mundo, que Ele manifesta a Sua multiforme sabe-doria a Igreja, que em Cristo es-tao escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento, e que o Espirito e o Espirito da sabedoria e do conhecimento, que perscruta ate mesmo as profundezas de Deus (Pv 3.19; Rm 11.33; 1 Co 2.10; Ef3.10; Cl2.3). Urn livro do qual procedem mensa-gens como essas nao pode subes-timar o conhecimento nem pode desprezar a filosofia. Pelo contra-rio, nele aprendemos que a sabe-doria e mais preciosa do que pe-rolas, e tudo o que podemos de-sejar nao pode ser comparado a ela (Pv 3.15); ela e urn dom daque-le que e o Deus do conhecimento (Pv 2.6; 1 Sm 2.3).

    0 que a Escritura exige e urn conhecimento cuja origem seja o temor do Senhor (Pv 1.7). Quan-do essa conexao com o temor de Deus e rompida, o nome de co-nhecimento e mantido, embora sob falsas pretensoes, mas ele vai se degenerando gradualmente ate se transformar em uma sabe-

  • 0 MAJOR BEM DO HOMEM

    doria mundana, que e loucura diante de Deus. Qualquer ciencia, filosofia ou conhecimento que pense poder se manter sobre suas proprias pressuposic;:oes e que pode tirar Deus de considerac;:ao, transforma-se em seu proprio oposto, e qualquer pessoa que construa suas expectativas sobre isso ficara desiludida.

    Isso e facil de ser entendido. Em primeiro lugar, a ciencia e a filosofia sempre possuem urn ca-rater especial e podem tornar-se acessiveis a poucas pessoas. Es-sas pessoas privilegiadas, que podem dedicar toda a sua vida a disciplina do aprendizado, po-dem conhecer apenas uma peque-na parte do todo, permanecendo, assim, estranhos ao restante. Qualquer que seja a satisfac;:ao que o conhecimento possa dar, todavia, ele nunca podera, devi-do ao seu carater especial e limi-tado, satisfazer as necessidades profundas que foram plantadas na natureza humana na criac;:ao, e que estao presentes em todas as pessoas.

    Em segundo lugar, a filoso-fia, que depois de urn periodo de decadencia entra em periodo de fortalecimento, sempre cria uma expectativa extraordinaria e exa-gerada. Nessas epocas ela vive a esperanc;:a de que atraves de uma seria investigac;:ao ela resolvera o enigma do mundo. Mas sempre depois dessa fervente expectativa

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    chega a velha desilusao. Em vez de diminuir, os problemas au-mentam com os estudos. 0 que parece estar resolvido vern a ser urn novo misterio, eo fim de todo o conhecimento e en tao novamen-te a triste e as vezes desespera-dora confissao de que o homem caminha sobre a terra em meio a enigmas, e que a vida e o destino sao urn misterio.

    Em terceiro lugar, e born lembrar que tanto a filosofia quanto a ciencia, mesmo que pu-dessem chegar muito mais longe do que chegam agora, ainda as-sim nao poderiam satisfazer o co-rac;ao do homem, pois o conheci-mento sem a virtude, sem a base moral, torna-se urn instrumento nas maos do pecado para conce-ber e executar grandes males, e assim a cabec;:a que esta cheia de conhecimento passa a trabalhar para urn corac;:ao depravado. Nes-se sentido o apostolo escreve: Ainda que eu tenha o dom de pro-fetizar e conhec;:a todos os miste-rios e toda a ciencia; e ainda que eu tenha tamanha fe a ponto de transportar montes, se nao tiver amor, nada serei (1 Co 13.2).

    0 mesmo e verdade com re-lac;:ao a arte. A arte tambern e urn dom de Deus. Como o Senhor nao e apenas verdade e santidade, mas tambern gloria e expande a bele-za de Seu nome sobre todas as Suas obras, entao e Ele, tambem, que, pelo Seu Espirito, equipa os

  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    artistas com sabedoria e entendi-mento e conhecimento em todo tipo de trabalhos manuais (Ex 31.3; 35.31). A arte e, portanto, em primeiro lugar, uma evidencia da habilidade humana para criar. Essa habilidade e de carater espi-ritual, e da expressao aos seus profundos anseios, aos seus altos ideais, ao seu insaciavel anseio pela harmonia. Alem disso, a arte em todas as suas obras e formas projeta urn mundo ideal diante de nos, no qual as discordias de nossa existencia na terra sao subs-tituidas por uma gratificante har-monia. Desta forma a beleza reve-la o que neste mundo caido tern sido obscurecido a sabedoria mas esta descoberto aos olhos do ar-tista. E por pintar diante de nos urn quadro de uma outra e mais elevada realidade, a arte e urn conforto para nossa vida, levanta nossa alma da consterna

  • 0 MAIOR BEM oo HoMEM

    te somos mergulhados novamen-te em urn pessimismo profunda.

    Seja como for, uma coisa e certa: Se a vida de servi

  • Fundamenfos Teol6gicos da Fe Crista

    mendo e quando acorda descobre que sua alma esta vazia; e e como urn homem sedento que sonha que esta bebendo, e quando acor-da descobre que esta fraco e que sua alma esta desfalecida (Is 29.8).

    A ciencia nao pode explicar essa contradi

  • CAPITULO

    ~

    0 CONHECIMENTO DE DEUS

    D eus e 0 mais elevado bern do homem - esse e 0 tes-temunho de toda a Escri-tura.

    A Biblia come

  • Fzmdamentos Teol6gicos da Fe Crista

    e nos revela Seu nome, mas Ele nos mostra o Pai em Si mesmo e nos da o Pai. Cristo e a expressao de Deus e a dadiva de Deus. Ele e Deus revelando a Si mesmo e Deus compartilhando a Si mesmo, e portanto Ele e cheio de verdade e tambem cheio de Gra

  • 0 CoNHECIMENTo DE DEus

    eles Deus era o sole escudo, o pro-tetor, a luz e o fogo, a cascata e a nascente, a rocha eo abrigo, ore-ft:igio e a torre, o premio e a som-bra, a cidade eo templo. Todos os be11S que o mundo tern para ofe-recer eram considerados por eles como a imagem e semelhanc;:a das plenitudes insondaveis da salva-c;:ao, disponiveis em Deus, para o Seu povo. Foi por isso que Davi no Salmo 16.2 disse a Jeova o se-guinte: "Tu es o meu Senhor; ou-tro bern nao possuo, senao a ti so-mente1'. Da mesma forma Asafe tambem cantou no Salmo 73: "Quem mais tenho eu no ceu? Nao ha outro em quem eu me compraza na terra. Ainda que a minha carne e o meu corac;:ao des-falec;:am, Deus e a fortaleza do meu corac;:ao e a minha heranc;:a para sempre". 0 santo, coberto com todas essas benc;:aos, seria nulo e sem valor se nao tivesse Deus; e quando vive em comunhao com Deus ele nao se preocupa com o que e terreno, pois o amor de Deus supera todos os outros bens.

    Tale a experiencia dos filhos de Deus. Eles tiveram essa expe-riencia porque Deus se apresentou a eles, para alegria deles, na pes-soa do Filho de Seu amor. Nesse sentido Cristo disse que a vida eterna, isto e, a totalidade da sal-\'ac;:ao, consiste no conhecimento do unico e verdadeiro Deus e em Jesus Cristo, que foi enviado por Deus.

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    Cristo disse essas palavras em urn momento propicio. Ele es-tava atravessando o ribeiro Cedrom para entrar no jardim do Getsemani e travar ali a ultima batalha. Todavia, antes de chegar ao Getsemani, Ele se prepara como nosso Sumo Sacerdote para Sua paixao e morte e ora ao Pai para que o Pai o glorifique em Seu sofrimento para que depois o Fi-lho glorifique o Pai ao entregar todas as benc;:aos que Ele alcanc;:a-ria pela Sua obediencia ate a mor-te. E quando o Filho ora desta for-ma, Ele nada deseja alem de fazer a vontade do Pai. 0 Pai lhe deu poder sobre toda a carne para que o Filho pudesse dar a vida eterna a todos aqueles que o Pai lhe dera. Essa vida eterna consiste em co-nhecer o unico e verdadeiro Deus e Jesus Cristo, que foi enviado para revela-lo (Jo 17.3).

    * * * * *

    0 conhecimento do qual Je-sus fala aqui tern seu proprio ca-niter peculiar. Ele e diferente de qualquer outro conhecimento que possa ser obtido, e essa diferenc;:a nao e de grau, mas de principio e de essencia. Essa diferenc;:a surge, de forma clara, quando n6s come-c;:amos a comparar os dois tipos de conhecimento. 0 conhecimento de Deus do qual Jesus falou, dife-re do conhecimento das coisas cri-adas com relac;:ao a sua ongem,

  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    seu objeto, sua essencia e seus efei-tos.

    Ele difere, antes de mais nada, em sua origem, pois ele e completamente devido a Cristo. De certa forma podemos dizer que obtemos todo o outro conheci-mento pela razao, pelo discerni-mento e julgamento e pelo nosso proprio esfor

  • 0 CoNHECIMENTO DE DEus

    de filhos de Deus (Jo 1.12). Eles nasceram de Deus, partilham de Sua natureza, eles conhecem Deus sob as vistas de Cristo, Seu Filho. Ninguem conhece o Filho senao o Pai, e ninguem conhece o Pai se-nao o Filho, e aquele a quem o Fi-lho o quiser revelar (Mt 11.27).

    Em segundo lugar, o conhe-cimento de Deus difere do outro conhecimento com rela

  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    Palavra, a perfeita revela

  • 0 CONHECIMENTO DE DEUS

    natureza, em Sua palavra, em Seu servic;:o; Ele o amou acima de to-das as coisas e foi obediente a Ele em todas as coisas, ate mesmo na morte de cruz. Seu conhecimento da verdade era completo. 0 co-nhecimento e o amor caminham juntos.

    Alem disso, conhecer Deus nao consiste em ter uma grande quantidade de conhecimento so-bre Ele, mas em enxerga-lo napes-soa de Cristo, em leva-lo em con-ta nos caminhos de nossa vida, e em sentir na alma Suas virtudes, Sua justic;:a, Sua compaixao e Sua Grac;:a.

    E por isso que esse conheci-mento, em distinc;:ao ao outro co-nhecimento/ recebe o nome de co-nhecimento da fe. Ele nao e resul-tado de estudo cientifico nem de reflexao/ mas de uma fe infantile simples. Essa fe e1 nao apenas urn conhecimento seguro, mas uma firme certeza de que, nao somen-te para os outros, mas tambem para mim, a remissao dos peca-dos, a justic;:a e a salvac;:ao eterna foram dadas por Deus/ somente pela Sua Grac;:a, somente em con-siderac;:ao aos meritos de Cristo. Somente aqueles que se tornarem como criancinhas poderao entrar no reino dos ceus (Mt 18.3). 56 os puros de corac;:ao podem vera face de Deus (Mt 5.8). 56 aqueles que nasceram da agua e do Espirito podem entrar no reino (Jo 3.5). Aqueles que conhecem o nome de

    Deus confiam nEle (519.10). Deus e conhecido na mesma proporc;:ao em que Ele e amado.

    Se n6s entendemos o conhe-cimento de Deus dessa forma/ nao devemos nos surpreender com o fato de que sua operac;:ao e seu efei-to seja nada menos que a vida eter-na. De fato, parece existir pouca relac;:ao entre o conhecimento e a vida. Nao foi o au tor de Eclesiastes que disse que na muita sabedoria ha muito enfado; e quem aumen-ta ciencia aumenta tristeza; e ain-da que nao ha limite para fazer li-vros e o muito estudar e enfado da carne (Ec 1.18; 12.12)?

    Conhecimento e poder- isso n6s podemos entender/ pelo me-nos ate urn certo limite. Todo co-nhecimento e urn triunfo do espi-rito sobre urn certo assunto, uma sujeic;:ao da terra ao senhorio do homem. Mesmo na ordem natu-rat a profundidade e a riqueza da vida sao aumentadas pelo conhe-cimento. Quanto maior foro co-nhecimento, maior sera a intensi-dade da vida. As criaturas inani-madas nao possuem conhecimen-to/ e elas nao vivem. Quando os sentidos dos animais se desenvol-vem, sua vida tambem se desen-volve em satisfac;:ao e oportunida-de. Entre os homens, a vida mais rica e aquela que mais conhece. Alem disso, como a vida do insano, do imbecit do idiota, do subdesenvolvido? E pobre e limi-tada quando comparada com a de

  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    urn pensador e poeta. Mas qual-quer diferen

  • CAPITULO

    ~

    A REVELA

  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    chegaremos a saber". Se tallimita

  • A REVELA
  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    urn ato livre da parte de Deus. Nesse ato, como em todas as ou-tras coisas, Ele e absolutamente soberano, e age com perfeita liber-dade. De fato, ha alguns que re-pudiam a cren

  • A REVELA
  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    a revela

  • A REVELA
  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    da o suporte; e a Grac;a especiat por sua vez, ergue a grac;a com urn ao seu proprio nivel e coloca-a a seu servic;o. Ambas as revelac;oes tern como proposito a conserva-c;ao da rac;a humana; a primeira sustentando-a e a segunda redimindo-a; e desta forma as duas cumprem a sua finalidade, que e glorificar todas as excelen-cias de Deus.

    * * * * *

    0 conteudo de ambas as re-velac;oes, nao apenas o da especi-al, mas tambem o da geral, esta contido na Sagrada Escritura. A revelac;ao geral, apesar de estar contida na natureza, e, contudo, extraida da Sagrada Escritura, pois, sem ela, n6s, seres humanos, por causa da escuridao de nosso entendimento, nunca teriamos sido capazes de encontra-la na natureza. Sendo assim, a Escritu-ra lanc;a luz sobre nosso caminho atraves do mundo, e coloca em nossas maos a verdadeira compre-ensao da natureza e da historia. Ela nos faz ver Deus onde nos de outra forma nao o veriamos. Ilu-minados por ela nos contempla-mos as excelencias de Deus em toda a expansao das obras de Suas maos.

    A propria criac;ao, ensinada pela Escritura, demonstra a reve-lac;ao de Deus na natureza, pois ela e em si mesma um ato de re-

    40

    velac;ao, o inicio eo primeiro prin-cipia de toda a revelac;ao posteri-or. Se o mundo tivesse permane-cido eternamente sozinho, ou se tivesse sido eternamente descon-siderado por Deus, ele nao teria sido uma revelac;ao de Deus. Alias, tal mundo teria sido urn obstaculo a Deus e a Sua revela-c;ao de Si mesmo. Mas quem quer que o contemple junto com as Es-crituras, desde a criac;ao do mun-do, ere que Deus se revel a em to do o mundo. Toda obra da testemu-nho de seu realizador a tal ponto que em urn certo sentido pode ser chamada de produto de seu reali-zador.

    Por ser o mundo, em urn sentido absoluto, uma obra de Deus, e por clever, tanto sua natu-reza quanto seu ser, no comec;o e sempre depois, ao seu Criador, toda criatura manifesta algo das excelencias e das perfeic;oes de Deus. Logo que a revelac;ao de Deus na natureza e negada ou li-mitada somente ao corac;ao ou ao sentimento do homem, surge o perigo de que a criac;ao de Deus nao seja reconhecida, que a natu-reza seja governada por outro po-der que aquele que governa o co-rac;ao humano, e que desta forma, quer seja abertamente, quer seja de forma encoberta, o politeismo seja introduzido no pensamento humano. A Escritura, ao ensinar a criac;ao, sustenta a revelac;ao de Deus e ao mesmo tempo a unida-

  • A REVELA
  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Cristii

    os limites da sua habita

  • A REVELA
  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    tencia de Deus acima menciona-dos nao se dirigem ao homem como uma criatura meramente 16gica e capaz de racionar, mas como urn ser racional e moral. 0 apelo desses argumentos nao se refere somente a sua mente racio-nal e analitica, mas tambem ao seu corac;:ao e ao seu sentimento, sua razao e sua consciencia. Eles tern seu merito, fortalecendo a fee es-tabelecendo o vinculo de ligac;:ao entre a revelac;:ao de Deus fora do homem e a Sua revelac;:ao dentro dohomem.

    * * * * *

    Alem dis so, a revelac;:ao de Deus na natureza e na hist6ria nao teria efeito sobre o homem se nao houvesse algo no homem que re-agisse a ela. A beleza da natureza e da arte nao poderiam dar ao homem qualquer prazer a nao ser que ele tivesse urn sentimento de beleza em seu peito. A lei moral nao encontraria resposta nele se ele nao reconhecesse a voz da consciencia dentro de si. Os pen-samentos que Deus, por Sua Pala-vra, expressou no mundo seriam incompreensiveis ao homem se ele nao fosse em si mesmo urn ser pensante. E da mesma forma are-velac;:ao de Deus em todas as obras das suas rnaos seriam totalmente ininteligiveis ao homem se Deus nao tivesse plantado em sua alma urna inextinguivel noc;:ao de Sua

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    existencia e de Seu ser. 0 fato indisputavel, todavia, e que Deus acrescentou a Si mesmo a revela-c;:ao externa na natureza e a reve-lac;:ao interna no homem. As inves-tigac;:oes hist6ricas e psicol6gicas da religiao revelam repetidamen-te que a religiao nao pode ser explicada a nao ser sobre a base de uma noc;:ao nao criada pelo ho-rnem. Ao firn de seu estudo os pesquisadores sempre retornam a proposic;:ao que eles repudiavam des de o inicio, a de que o hom em e, no fundo, uma criatura religio-sa.

    A Escritura nao deixa qual-quer duvida sobre isso. Depois de Deus ter feito todas as coisas Ele criou o homem, e criou-o a Sua imagern e sernelhanc;:a (Gn 1.26). 0 homem e gerac;:ao de Deus (At 17.28). Embora, como o filho per-dido da parabola, o homem tenha fugido de sua casa paternal, rnes-mo em seus mais distantes afasta-rnentos ele acalenta uma memo-ria de sua origem e finalidade. Em sua mais profunda queda ele ain-da conserva certos resquicios da imagem de Deus segundo a qual ele foi feito. Deus se revela fora do homem; Ele se revela tarnbem dentro do homem. Ele nao deixa o corac;:ao e a consciencia humana sem testemunho de si mesmo.

    Essa revelac;:ao de Deus nao deve ser considerada como uma segunda revela

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    a Deus. Em outras palavras, a de-pendencia da qual 0 homem e consciente e urn tipo muito espe-cial de consciencia do ser divino. Ela contem em si o elemento de liberdade. Essa nao e a dependen-

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    cia de urn escravo, mas de urn fi-lho, em bora seja de urn filho per-dido. Esse senso de divindade, portanto, como disse Calvino, e a semente da religiao.

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    bora seu conhecimento e habilida-de em outras areas encontre limi-tes intransponiveis.

    Quando o primeiro homem e a primeira mulher transgredi-ram a ordem de Deus no paraiso sua puni

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    uma divisao entre o justo e o impio, entre o martir eo carrasco, entre a igreja e o mundo. E, ape-sar de Cairn ter cometido o assas-sinato, Deus ter tornado conta dele, procurando-o e admoestan-do-o a conversao e sendo-lhe mais favoravel em vez de condena-lo (Gn 4.9-16), a ferida ainda nao es-tava cicatrizada. A divisao se ex-pandiu e culminou com a separa-s;:ao entre os descendentes de Cairn e os descendentes de Sete.

    * * * * *

    No cia dos filhos de Cairn a incredulidade e a apostasia au-mentavam aos saltos e de geras;:ao em geras;:ao. E verdade que eles nao chegaram ao ponto da idola-tria e do culto a imagens; a Escri-tura nao menciona a existencia dessas perversoes entre os ho-mens antes do diluvio. Essas for-mas de falsa religiao nao sao ori-ginais, mas o produto de urn de-senvolvimento posterior, e sao uma evidencia do senso religio-so que os descendentes de Cairn abrigavam em seu coras;:ao. Os descendentes de Cairn nao se en-tregaram a superstis;:ao, mas tam-bern nao creram. Eles chegaram ao ponto de negar a existencia e a revela

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    hist6ria da humanidade e tera seu paralelo somente na conflagra

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    Mais uma vez, contudo, essa hist6ria e interrompida pela inter-venc;ao da mao de Deus na confu-sao de linguas em Babel. Depois do diluvio a rac;a humana viveu primeiramente na regiao de Ararate, nas montanhas da Armenia, e ali Noe tornou-se la-vrador (Gn 9.20). Como as pesso-as aumentaram em numero, uma parte delas se espalhou pelas margens dos rios Tigre e Eufrates, a leste do Ararate, e assim chegou as planicies de Sinear ou Mesopotamia (Gn 11.2). Ali eles criaram colonias e muito cedo, como cresceram em riqueza e po-der, fizeram planos de construir uma grande torre para fazer cele-bre o seu nome e evitar a disper-sao do grupo. Em desobediencia a ordem de Deus de multiplicar e dominar toda a terra, eles tenta-ram criar urn grande centro para manter a unidade e reunir toda a humanidade em urn reino mun-dial que encontraria sua susten-tac;ao na fore; a e na glorificac;ao do prop6sito e do esforc;o humano. Pela primeira vez na hist6ria sur-ge a ideia de concentrac;ao e orga-nizac;ao de toda a humanidade com toda a sua forc;a e sabedoria, com toda a sua arte, ciencia e cul-tura, contra Deus e Seu reino. Essa ideia foi ventilada varias vezes depois dos eventos de Babel, e sua realizac;ao tern sido o objetivo de todos os tipos de grandes homens no curso da hist6ria.

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    Isso tornou necessaria a in-tervenc;ao de Deus, fazendo com que todo o esforc;o para o estabe-lecimento de urn imperio mundi-al fosse infrutifero. Deus fez isso pela confusao das linguas, pois nessa epoca havia apenas uma lin-guagem. N6s nao somos informa-dos sobre como e em que perio-do de tempo essa confusao acon-teceu. 0 que aconteceu foi que pessoas fisiol6gica e psicologica-mente diferentes umas das outras comec;aram a ver e a dar nome as coisas diferentemente, e em con-sequencia eles foram divididos em nac;oes e povos, e se dispersa-ram em todas as direc;oes sobre toda a terra. Devemos nos lembrar que essa confusao de linguas foi preparada pela separac;ao em tri-bos e familias dos descendentes dos filhos de Noe (Gn 10.1 ss.) e pel a migrac;ao desses descend en-tes da Armenia para a terra de Sinear (Gn 11.2). Toda a ideia de uma torre de Babel nao teria sur-gido se a ameac;a de dispersao nao tivesse se apresentado de for-ma seria por longo tempo.

    Dessa forma, a Escritura ex-plica o surgimento de nac;oes e povos, e de linguas e dialetos. De fato, a surpreendente divisao da ras;a humana e urn fato singular e inexplicavel. Pessoas que tiveram os mesmos antepassados, o mes-mo espirito e a mesma alma, com-partilham a mesma carne e o mes-mo sangue, comec;aram a se tra-

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    as nac;:oes, quando separava OS fi-lhos dos homens uns dos outros, fixou os limites dos povos, segun-do o numero dos filhos de Israel (Dt 32.8). Na repartic;:ao da terra, Deus deu a Israel urn territ6rio que correspondia ao numero de israelitas; mas Ele tambem deu as outras nac;:oes a sua heranc;:a e fi-xou suas fronteiras. Ele de urn s6 fez toda a rac;:a humana para habi-tar sobre toda a face da terra, pois Ele nao a criou para ser urn caos, mas para ser habitada (Is 45.18). Consequentemente Ele tambem trac;:ou os tempos que tinham sido previamente fixados para a dura-c;:ao dos varios povos e das fron-teiras por eles habitadas. A dura-c;:ao da vida e o lugar da morada das nac;:oes foram determinadas pelo Seu conselho e fixadas pela Sua providencia (At 17.26).

    Embora nos tempos passa-dos Ele tenha permitido que to-dos os povos andassem em seus pr6prios caminhos, Ele nao os deixou sem testemunho de Si mesmo, fazendo o bern, dan do do ceu chuvas e estac;:oes frutlferas, enchendo o corac;:ao deles de far-tura e de alegria (At 14.16,17). Ele faz nascer o sol sabre maus e bons, e vir chuvas sabre justos e injustos (Mt 5.45). Atraves dessa revelac;:ao na natureza e na hist6-ria Ele fez ouvir Sua voz no cora-c;ao e na consciencia de todos (Sl 19.1). A todos os homens Deus manifestou Seus atributos invisi-

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    veis por meio das coisas que fo-ram criadas, isto e, Seu poder eter-no e Sua divindade (Rm 1.19,20). Embora as nac;:oes pagas nao te-nham recebido a lei como Israel a recebeu, e em urn sentido concre-to eles nao possuam lei, eles de-monstram por aquilo que fazem que sao dirigidos pela lei de sua natureza moral, servindo de lei para si mesmos, e tendo a lei gra-vada em seu corac;:ao. E isso e con-firmado pelo testemunho de sua propria consciencia e de seus pen-samentos, acusando-se ou defen-dendo-se (Rm 2.14,15).

    Portanto, o sensa religioso e moral dos gentios prova que Deus continuou a se importar com eles. Pelo Verbo que estava no comec;:o com Deus e que era Deus, todas as coisas foram feitas, e a vida e a luz dos homens estava no Verbo; o ser, a consciencia eo en-tendimento dos gentios sao devi-dos a esse Verbo, nao somente em seu ponto de origem, mas tam-bern pelo sustento que recebem do Verbo de Deus, pois Ele e nao apenas o Criador de todas as coi-sas, mas tambem o Mantenedor e o Governador de tudo o que ha no mundo. Assim como Ele deu aos homens a vida, atraves da consciencia, razao e entendimen-to Ele iluminou todas as pessoas do mundo (Jo 1.3-10).

    * * * * *

    ICTUS-IIHighlight

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    que nos divertimos com todos os tipos de noc;:oes fantasticas sobre os estados selvagens dos assim chamados povos primitives e, gui-ados pela hist6ria, tentamos pene-trar atraves do passado. Confir-mamos assim o relato da Escritu-ra de que o mais antigo periodo da civilizac;:ao depois de Noe, sob a lideranc;:a de homens como Ninrode, alcanc;:ou urn elevado nivel cultural.

    Alem disso, essa civilizac;:ao nao permaneceu confinada a ter-ra de Sinear. Como a especie hu-mana se espalhou mais e mais depois da confusao das linguas, os povos se instalaram por todas as partes da terra. Dessa forma al-gumas tribos foram se afastando cada vez mais do centro de cultu-ra e civilizac;:ao, fixando suas resi-dencias em terras selvagens e hos-tis da Europa, Asia e Africa. Nao e de se admirar que essas tribos e povos, vivendo isoladamente, te-nham cortado todo o comercio com outras nac;:oes e,lutando sem-pre contra uma natureza selvagem e indisciplinada, tenham estagna-do seu desenvolvimento cultural ou, em alguns casos, tenham ate regredido. Nos estudos hist6ricos n6s nos referimos a esses povos como "povos primitives", mas tal designac;:ao e enganosa e incerta, pois entre todos esses povos n6s encontramos as caracteristicas e propriedades que sao os elemen-tos basicos da civilizac;:ao. Todos

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    eles sao Seres humanos distintos dos nao humanos; todos eles pos-suem consciencia e vontade, razao e entendimento, familia e comu-nidade, ferramentas e ornamen-tos.

    Outro ponto que deve ser considerado e que nao existem muitas diferenc;:as entre essas na-c;:oes que nos permitam distingui-las como civilizadas e nao civili-zadas. Ha uma diferenc;:a marcante entre a cultura dos aborigenes sul africanos, a populac;:ao da Polinesia e as rac;:as negr6ides. In-dependente disso, todavia, eles possuem urn fundo comum de ideias, tradic;:oes - relacionadas ao diluvio, por exemplo- mem6-rias e esperanc;:as. Isso aponta para uma origem comum.

    Isso acontece tambem com os assim chamados "povos civili-zados", como os hindus, os chi-neses, os fenicios e os egipcios. As fundac;:oes do pano de fundo mundiat o Weltanschauung, que n6s encontramos entre todos es-ses povos, sao os mesmos que chamaram nossa atenc;:ao nas es-cavac;:oes de Sinear. Essa e a ori-gem da cultura, o ber

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    unico Deus para a glorifica

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    sonhos, e outras estratt~gias para conhecer a vontade dos deuses. Magia e o nome dado ao esfon;:o feito por meio de orac;oes formalisticas, sacrificios volunta-rios, flagelos e praticas similares para fazer com que a vontade dos deuses seja aplicavel a alguem.

    Naturalmente essas coisas tambem sao manifestas de formas variadas. Contudo elas estao sem-pre presentes nas religi6es e cons-tituem urn componente necessa-ria a religiao dos gentios. 0 ho-mem e a figura central e e ele quem procura obter sua salvac;ao. Em nenhuma dessas religi6es a real natureza da redenc;ao (recon-ciliac;ao) e da Grac;a sao compre-endidas.

    * * * * *

    Embora esse esboc;o sirva para caracterizar as religi6es pa-gas de forma geral, em muitas delas tern ocorrido modificac;6es que merecem nossa atenc;ao e con-siderac;ao. Quando por urn lado a religiao de urn povo perde seu carater em todos os tipos de for-mas de superstic;ao e adivinhac;ao grosseiras, e por outro lado a cul-tura ou civilizac;ao se desenvolve, urn conflito esta prestes a aconte-cer. E fora dessa divergencia, sem d uvida sob a providencia de Deus, ha aqueles homens que lu-tam por uma reconciliac;:ao e ten-tam tirar a religiao de sua profun-

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    da degenerac;ao. Urn desses ho-mens foi Zarathustra, que viveu na Persia provavelmente no seti-mo seculo antes de Cristo. Outro foi Confucio, na China, no sexto seculo antes de Cristo. Outro foi Buda, na India, no quinto seculo antes de Cristo e Maome, na Arabia, no setimo seculo depois de Cristo. Existiram muitos ou-tros, nem todos conhecidos pelo nome.

    Nao pode haver diferenc;a de opiniao sobre o fato de que a reli-giao fundada por esses homens e em muitos aspectos muito supe-rior as religi6es tribais nas quais eles foram criados. As hip6teses de evoluc;ao e de degenerac;ao apresentam-se, ambas, na religiao e em todas as outras areas da cul-tura, muito parciais e inadequa-das para prestar contas da pleni-tude de evidentes manifestac;oes em todas elas, ou pelo menos para prestar contas por meio de qualquer formulac;ao. Periodos de desenvolvimento e de decaden-cia, de avivamento e de recaida sao constantes na hist6ria de to-dos os povos e em todas as esfe-ras da vida.

    Alem disso, nao pode ser dito que esses homens foram em-busteiros, instrumentos ou agen-tes de Satanas. Eles foram homens serios e em sua propria alma lu-taram contra os conflitos que sur-giram na fe popular ou tribal e em suas pr6prias consciencias ilumi-

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    genera

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    A QuEsT Ao DA REVELA

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    semelhantes, e apelam a eles como guardiaes de uma revela-c;ao especial. Esse fato em si mes-mo e uma forte evidencia para a tese de que a revelac;ao geral e inadequada, e que todos sentem em seu corac;ao a necessidade de uma diferente e mais profunda revelac;:ao de Deus do que aquela que a natureza e a hist6ria podem dar. Mas essas revelac;:oes especi-ais, as quais o paganismo recorre claramente, demonstram tambem que o homem, que perdeu a ami-zade com Deus, nao pode enten-der Sua revelac;:ao na natureza e que por isso ele tateia procuran-do por Deus em seus pr6prios caminhos. Isso o afasta cada vez mais do conhecimento da verda-dee o conduz a uma dura escra-vidao a servic;o da idolatria e da injustic;:a (Rm 1.20-32).

    Consequentemente, a reve-lac;:ao especial de Deus e necessa-ria tambem para urn correto en-tendimento de Sua revelac;:ao ge-ral na natureza e na hist6ria, no corac;:ao e na consciencia. N 6s pre-cisamos dela para purgar o con-teudo da revelac;:ao geral de todo tipo de erro humano e assim dar a revelac;ao geral o seu justo va-lor. E quando n6s nos submete-mos a luz das Escrituras que co-mec;:amos a reconhecer que a re-velac;ao geral tern urn rico signifi-cado para toda a vida humana, e que, todavia, toda essa sua rique-za e insuficiente e inadequada

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    para alcanc;:ar o fim genuino do homem.

    Se, portanto, no intuito de facilitar o discernimento, n6s fa-lamas primeiro da revelac;:ao ge-ral e de sua insuficiencia, e n6s agora falaremos da revelac;:ao es-pecial, esse modo de tratar o as-sunto nao deve nos fazer pensar que enquanto tratavamos da reve-lac;ao geral deixavamos de lado a revelac;:ao especial. Pelo contrario, fomos guiados pela revelac;:ao es-pecial tambem quando tratava-mos da revelac;ao gerat e ela der-ramou sua luz sobre nossa apro-ximac;:ao do problema.

    Portanto, nesse estudo da revelac;ao especial que faremos agora, nossa proposta nao e con-duzir a investigac;:ao pelas assim chamadas pressuposic;:oes. N6s nao devemos, como fazem os cepticos de nossos dias, atraves-sar uma gama de varias religioes para verse nelas podemos encon-trar a revela

  • A QuEsTA aDA REVELA
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    gam essa palavra para as obras de Deus na cria~ao e na providencia. Disse Deus: Haja luz. E houve luz (Gn 1.3). Os ceus por Sua Palavra se fizeram e, pelo sopro de Sua boca, o exercito deles (Sl 33.6). Pois Ele falou e tudo se fez; Ele ordenou, e tudo passou a existir (Sl33.9). Ouve-se a voz do Senhor sobre as aguas; troveja o Deus da gloria. A voz do senhor quebra os cedros. A voz do Senhor despede chamas de fogo. A voz do Senhor apavora e destroi o inimigo (Sl 29.3-9; 104.7; Is 30.31; 60.6).Todas essas obras de Deus na cria~ao e na providencia podem ser chama-das de voz ou dizeres porque o Se-nhor Deus e urn ser pessoat cons-ciente e pensante, que traz todas as coisas a existencia pela palavra de Seu poder, e que poe os pen-samentos na cabe~a do homem, que, sendo Sua imagem e seme-lhan~a, pode entende-los e interpreta-los. Deus certamente tern algo a dizer ao homem em Sua obras.

    Ha urn pequeno desacordo sobre essa voz de Deus nas obras de Suas maos. Muitos que negam a revela~ao especial, apesar dis-so gostam de falar sobre a revela-c;ao de Deus na criac;ao. Entre os que fazem isso ha uma diferen~a consideravel. Alguns encontram a maior parte dessa revela~ao na criac;ao, enquanto outros encon-tram a maior parte dessa revela-c;ao na historia de homens famo-

    68

    sos, e outros a encontram na his-toria das religioes e dos lideres de varios segmentos religiosos. Alem disso, ha aqueles que enfatizam a revelac;ao que vern ao homem pelo lado de fora, seja na nature-za ou na historia, enquanto outros enfatizam a que e encontrada den-tro do proprio homem, em seu cora~ao, em sua mente e em sua consciencia. Cada vez mais vai ganhando terreno em nossos dias o pensamento de que a revela~ao e a religiao estao intimamente re-lacionados, que ambas possuem o mesmo contet1do e que sao ape-nas os dois lados de uma mesma moeda. A revela~ao, dessa forma, e considerada como o elemento divino e a religiao como o elemen-to humano na rela~ao de Deus com o homem. A ideia e que Deus se revela ao homem para que ele tenha uma religiao, e o hom em possui mais religiao na medida em que Deus se revela a ele.

    Essa ideia tern sua origem no panteismo, que identifica Deus e o homem, e portanto identifica tambem a revelac;ao e a religiao. Aqueles que aderem a esse pan-to de vista dificilmente poderao falar de qualquer revela~ao real de Deus, seja na natureza e na his-toria, ou no mundo e no homem, pois a revela~ao, quando correta-mente compreendida, assume, como mencionamos acima, que Deus e consciente de Si mesmo, que Ele conhece a Si mesmo, e

  • A QuEsTAo DA REYELA
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    de Deus em Sua revela

  • A QUESTAO DA REVELA
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    mos distinguir dois tipos de mei-os que o Senhor empregou para transmitir Sua revelac;ao.

    Ao primeiro tipo de trans-missao da revelac;ao especial, per-tencem aqueles meios que possu-em urn carater externo e objetivo. Atraves deles, Deus aparece ao homem e fala com ele. Ele frequentemente aparecia a Abraao, a Moises, ao povo de Is-rael no monte Sinai, sobre o tabernaculo e no Santo dos San-tos e nas colunas de nuvem e de fogo 4 Em outros momentos Ele transmite Sua mensagem atraves de anjos5, especialmente atraves do Anjo do pacto, que traz Seu nome (Ex 23.21). Posteriormente Ele faz uso de outros meios pe-dagogicos para revelar-se a Israel (Pv 16.33), o Urim e Tumim (Ex 28.30). Algumas vezes Ele fala com uma voz audivel6 , ou Ele mesmo escreve Sua lei nas tabu-as do testemunho (Ex 31.18; 25.16).

    Os milagres tambem fazem parte desse grupo de meios de revelac;ao. Nas Escrituras os mi-lagres ocupam urn espac;o impor-tante. Em nossos dias eles tern sido atacados por todos os lados. E urn esforc;o inutil tentar defen-der os milagres da Sagrada Escri-tura contra aqueles que rejeitaram a perspectiva escrituristica da

    vida e do mundo. Pois, se Deus nao existe - e essa e a tese tanto do ateismo quanto do materialis-mo - ou se Ele nao tern uma exis-tencia propria, pessoal e indepen-dente- como afirma o panteismo - ou se, depois da criac;ao, Ele abandonou o mundo aos seus proprios caminhos- como afirma 0 deismo - entao e evidente que milagres nao acontecem. E se a impossibilidade dos milagres e evi-dente desde o comec;o, nenhum argumento sobre sua realidade e necessario.

    Mas a Escritura tern uma ideia totalmente diferente de Deus e do mundo, e tambem da relac;ao que existe entre eles. Em primeiro lugar, ela ensina que Deus e urn ser consciente e oni-potente, que chamou a existencia todo o mundo com todas as suas energias e leis e que, ao fazer isso, fez uso apenas de Seu proprio poder. Ele possui em Si mesmo a plenitude da vida e da forc;a. Nada e maravilhoso demais ou dificil para Ele (Gn 18.14); para Ele todas as coisas sao possiveis (Mt 19.26).

    Alem disso a perspectiva biblica nao considera o mundo como uma unidade cujas muitas partes possuem a mesma nature-za e a mesma substancia, exibin-do diferenc;a apenas nas formas

    4 Gn 15.17; Ex 3.2; 13.21; 19.9; 33.9; Lu16.2, e em vcirios outros lugarcs. Gn 18.2; 32.1; On 8.13; Zc 1.9; Mt 1.20, c em vdrios outros lugrzres.

    " Ex 19.9; Ot 4.33; 5.26; Mt 3.17; 2 Pe 1.1 7.

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  • A QUESTAO DA REVELA
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    vilha que a planta possa crescer, para a plantae uma maravilha que o animal possa mover-se, para o animal e uma maravilha que o ho-mem possa pensar, e para o ho-mem e uma maravilha que Deus possa veneer a morte. Se e verda-de que Deus, com Seu poder oni-potente e onipresente, trabalha atraves de todas as criaturas usan-do Seus meios, por que Ele nao seria capaz de trabalhar de uma forma diferente com o mesmo poder- uma forma diferente, isto e, diferente daquela que nos e fa-miliar no curso normal da natu-reza e da hist6ria? Os milagres nao sao uma viola

  • A QuESTAO DA REVELA
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    sobre Satanas e sobre toda a do-mina

  • A QUESTAO DA REVELA
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    supersti

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    va da Grac;a nao foi dada a Abraao quando ele estava sob a circunci-sao, mas quando era ainda incircunciso (Gn 15.6), e que a ins-tituic;ao da circuncisao, que acon-teceu quatorze anos depois (Gn 17), presumiu a justic;a da fee ser-viu como urn sinal e selo dela. Consequentemente o perdao de pecados, e tambem toda a obra da salvac;ao, e independente da lei e de suas demandas. 0 mesmo pode ser dito sobre o alcance uni-versal desse favor: ele nao e pela lei, mas muito antes da lei e inde-pendente da lei a promessa veio a Abraao assegurando que ele seria o pai de muitas nac;oes e que her-daria o mundo.

    Todo o argumento do ap6s-tolo Paulo se baseia na propria hist6ria do Velho Testamento. 0 pano de fundo dessa hist6ria e esse: nao o que Abraao sabe sobre Deus e faz para Deus, mas o que Deus da a Abraao. Em primeiro lugar, e Deus quem procura Abraao, e o chama, e o envia a Canaa. Segundo, e Deus quem promete que sera o Deus de Abraao e de sua descendencia. Terceiro, Deus promete a Abraao que, apesar de tudo indicar o con-trario, ele tera uma posteridade, sera pai de uma grande nac;ao, e que essa nac;ao tera Canaa como sua heranc;a. Quarto, Deus diz que em sua posteridade Abraao sera

    uma benc;ao para todas as nac;oes da terra. E, por ultimo, Deus faz essa promessa no contexto do pac-ta, sela-a como sinal da circunci-sao e, depois da prova de fe de Abraao, confirma-a com juramen-to9.

    Todas essas promessas jun-tas constituem o conteudo da re-velac;ao de Deus a Abraao. 0 nu-cleo de todas elas e a grande e unica promessa: "Eu serei o teu Deus eo Deus da tua descenden-cia". Essas promessas se estendem do povo e da terra de Israel ate Cristo, e em Cristo a toda a rae; a humana e a todo o mundo (Rm 4.11 ss.). Nao a lei, mas o Evange-lho; nao as exigencias, mas a pro-messa; esse eo nucleo da revela-

  • 0 CONTEUDO DA REVELA
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    povo que nasceria do filho da pro-messa, de Isaque, e do qual nas-ceria Cristo, o descendente pree-minente.

    Quando Deus estendeu a salvac;:ao a Abraao e a sua descen-dencia como promessa na forma de urn testamento, essa a

  • 0 CONTEUDO DA REVELA
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    pelo proprio Filho de Deus. E, de nossa parte, nenhum mediador foi designado para nos representar e aceitar a promessa por nos. Em Cristo todos OS crentes vern pes-soalmente usufruir da promessa (Jo 1.17; Gl3.22,26).

    Terceiro, visto que a lei vern de Deus, ela e justa, santa, boa e espiritual; Ela nao provoca o pe-cado, apesar de ser usada pelo pecado para despertar a concupis-cencia. De fato, a lei em si mesma nao e desprovida de energia e for-c;:a, pois e a lei da vida; 0 que care-ce de energia e forc;:a e 0 homem, pois ele e carne pecaminosa. Mas mesmo diante dessas considera-c;:oes nao podemos negar que a lei difere da promessa nao meramen-te em grau, mas em especie. De fato, ela nao e oposta a promessa, nem entra em conflito com ela, mas ela nao pertence a promessa da fe. Portanto a lei nao pode ter sido dada para revogar a promes-sa. Sendo diferente da promessa em sua natureza, a lei tern urn pro-posito diferente12

    Quarto, esse proposito espe-cial que e proprio da lei e pelo qual Deus deu a lei tern urn carater duplo. Em primeiro lugar, ela foi acrescentada a promessa por cau-sa das transgressoes (Gl3.19), isto e, para fazer com que a transgres-sao fosse mais grave. De fato, ha-via pecado antes da entrega da lei

    12 Rm 7.7-14; 8.3; G/3.17,21.

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    (Rm 15. 12,13), mas esse pecado era diferente. Ele nao era uma "transgressao" no sentido em que Paulo faz distinc;:ao entre ela e o pecado em geral. Porem, como em Adao, que recebeu uma ordem de cuja obediencia dependia sua vida (Rm 5.12-14), assim tambem em Israel, que herdaria a vida ou a morte pela obediencia ou pela de-sobediencia, o pecado assume urn carciter diferente.

    Esse pecado, sendo cometi-do contra a lei a qual a vida e a morte estao ligadas, torna-se uma "transgressao". Ele assume o ca-rater de urn pacto quebrado, uma colocac;:ao de si mesmo fora e con-tra o peculiar relacionamento que Deus tinha estabelecido em Seu pacto de obras com Adao e em Seu pacto sinaitico com Israel. Onde nao ha lei tambem nao ha trans-gressao (Rm 4.15). Os pecados dos gentios certamente sao pecados, mas eles nao sao uma quebra do pacto como sao para Israel; e nao possuindo uma lei semelhante a que Deus deu a Israet os gentios sao condenados tambem sem lei (Rm 2.12).

    Em Israel, os pecados se tor-naram transgressoes, exatamente porque o povo recebeu a lei de Deus que estava acompanhada pela promessa de vida ou morte. Portanto, foi a lei que fez com que isso fosse possivel. Dessa forma

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    quanta Sua promessa, tanto sua religiao quanta seu lugar entre as na

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    que fazer uso do auxilio da lei. Isso era ainda mais necessa-

    rio porque Israel- como Paulo diz -era ainda uma crian~a. Israel ti-nha tido urn aprendizado diffcil no Egito, e tinha adquirido, pela sua experiencia de escravidao, urn profundo senso de dependencia, uma profunda consciencia de ne-cessidade de ajuda e suporte. Mas Israel nao estava imediatamente pronto para a independencia. Toda a sabedoria e mansidao de Moises era necessaria (Nm 12.3) para providenciar a lideran~a in-dispensavel para urn povo nessas condi~oes, tanto na saida do Egi-to quanto na peregrina~ao pelo deserto. Varias vezes esse povo e chamado de povo de dura cerviz porque nao cumpria as ordens de Deus (Ex 32.9; 33.3; 34.9; Dt 9.6). No deserto e, posteriormente, em Canaa, Israel constantemente mostrou sua natureza infantil. Esse nao era urn povo racional e razoavel; ele precisava adquirir consciencia de si mesmo, espirito investigativo, mente filos6fica eo poder do pensamento abstrato. Consequentemente, esse era urn povo de sentimento e emo~ao.

    Conseqiientemente Israel era urn povo muito receptivo a todos os tipos de influencias, sus-cetivel aos sentimentos do mun-do, e, portanto, muito inclinado a influencias terrenas e celestiais; para isso eles foram formados pelo proprio Deus para serem os

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    guardiaes de Sua revela~ao. Esse lado do carciter israelita nos con-fronta nas Escrituras em todos aqueles homens e mulheres de Deus que, honrados com a chama-cia do Senhor, tern apenas uma humilde e sincera resposta: "Aqui estou eu, fala, Senhor, pois teu ser-vo, tua criatura, ouve- seja feito conforme a tua palavra!" Eles acei-tavam a palavra do Senhor e con-servavam-na em seu cora~ao. Pelo outro lado, Israel era, como vemos em Ex 32.8, "disposto a voltar ra-pidamente pelo caminho", incli-nado a extraviar-se, instavet ca-prichoso, temperamentat teimo-so, facilmente desviado por algu-ma pessoa ou incidente, passional, capaz de alimentar urn 6dio ar-dente e de amar com urn amor profundo, suave, semelhante ao amor materno; em urn momento sofrendo com a morte e no mo-mento seguinte saltando aos ceus de alegria; nunca tendo a calma ocidental, mas sempre ardendo com a paixao oriental: gosta de comidas temperadas com alho e cebola (Nm 11.5), de lentilhas (Gn 25.34) e carne (Gn 27.14 ss.), gosta de cores brilhantes, lindas roupas, perfumes e pedras preciosas (Js 7.21; Is 3.18 ss.), e de tudo que bri-lha sob o sol. DaCosta e Heine sao filhos de Israel.

    Tal povo tinha que ser colo-cado sob a guarda e a disciplina da lei se quisesse conservar seu chamado atraves da promessa

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    do a promessa alcan

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    Fundamentos Teol6gicos da Fe Cristii

    Seu povo no caso de alguma trans-gressao nao anulam a promessa, mas sao apenas meios pelos quais Deus cum pre Sua promessa e evi-ta que 0 povo se entregue a incre-dulidade mesmo em dias de apostasia e ofensa.

    De todas as gerac;:6es da ter-ra, o Senhor escolheu apenas Is-rael; todavia Ele pune todas as ini-quidades de Seu povo.

    Quarta: Finalmente, a lei mosaica e tambem uma lei deli-berdade. Ela tanto assume quan-to garante uma larga margem de liberdade. Isso se torna aparente imediatamente quando o povo, de sua parte, voluntariamente aceita o pacto de Deus e voluntariamen-te se submete a Sua lei. Deus nao imp6e a Si mesmo e ao Seu pacto sobre Seu povo, Ele o convida a uma aceita

  • 0 CoNTEDoo DA REvELA
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    assegurava uma penalidade espe-cifica no caso de viola~ao, mas simplesmente fortes admoesta-~6es e advertencias. Elas eram dirigidas a consciencia e portanto davam urn alto grau de liberdade a Israel. Os tipos de puni~6es tam-bern eram limitados, consistindo principalmente de censuras fisicas e, no caso de viola~6es pesadas (b lasfemia, idola tria, fei ti~aria, maldi~ao de pais, assassinato e adulterio), morte por apedreja-mento. Nao se menciona inqui-si~ao, incinera~ao na estaca, deten~ao, exilio, confisco de pro-priedade, morte por enforcamen-to, e coisas semelhantes. Se Israel andasse no caminho do pacto, re-ceberia as ben~aos do Senhor; mas se nao obedecesse Sua voz, seria visitado com Sua maldi~ao e re-ceberia todos os tipos de calami-dade (Dt 28.29).

    0 prop6sito de Deus ao dar a lei a Israel torna-se evidente a partir dessas caracteristicas da lei. 0 Senhor define esse prop6sito quando, na conclusao do pacto do Sinai, Ele diz a Moises para falar ao povo de Israel que se o povo ouvir Sua voz e conservar o pac-ta, ele sera propriedade peculiar de Deus dentre todos os povos, urn reino de sacerdotes e na~ao santa (Ex 19.5,6). Por sera na~ao escolhida por Deus dentre todos os povos da terra Israel deve fir-mar-se no caminho do pacto. Is-rael nao foi escolhido por seus

    96

    meritos, mas pelo soberano amor de Deus e Seu juramenta aos seus pais (Dt 7.6-8). E Israel nao rece-beu esse gracioso privilegio para desprezar as outras na~6es e se exaltar sobre elas, mas para ser urn reino de sacerdotes, cuja tarefa sacerdotal se estende as na~6es para traze-las ao conhecimento e servi~o de Deus, e somente dessa forma reinar sobre elas. Israel s6 podera cumprir esse chamado se for uma na~ao santa, se for urn povo inteiramente consagrado ao Senhor, ouvir Sua voz e andar no caminho do pacto.

    Essa santidade para a qual Israel foi chamado nao alcan~ou seu cumprimento total no sentido profunda que a santidade recebe no Novo Testamento. Ela compre-ende nao apenas a santidade mo-ral, mas torna-se especialmente claro da lei de santidade em Levftico 17.26 que ela inclui tam-bern a santidade cerimonial. 0 que n6s devemos observar e que as partes moral e cerimonial da lei nao estao colocadas uma contra a outra. Elas sao os dois lados da mesma moeda. Israel e urn povo santo quando, tanto interna quan-ta externamente, em fee conduta, vive de acordo com a lei moral, social e cerimonial entregue ao povo no Sinai. E se esse povo -como o Senhor sabe- por causa de sua incredulidade nao puder cumprir esse chamado, e no de-correr de sua hist6ria tornar-se

  • 0 CONTEUDO DA REVELA
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    com a escolha de quem ele queria servir, Israel deu a mesma respos-ta: "Deus proibiu que nos aban-donassemos o Senhor para servir outros deuses (Js 24.16 ss.; Jz 2.7).

    Mas quando Josue e OS anciaos do povo que tinham tes-temunhado os poderosos feitos de Deus morreram e levantou-se ou-tra gerac;ao, que nao conhecia o Senhor nem os feitos que tinha realizado em favor de Israel, o povo se afastou do Senhor, o Deus de seus pais, que os tirou do Egi-to, e seguiu outros deuses, os deu-ses das nac;oes vizinhas (Jz 2.6-13). De fato, Israel nao produziu ido-latria. Israel nao criou sua propria falsa religiao, apenas tomou para si os deuses pagaos ou comec;ou a servir o Senhor na forma de ima-gens semelhantes as que OS pa-gaos usavam. No Egito e no de-serto o povo praticou o culto egip-cio aos idolos;24 Mais tarde, ja na Palestina, o povo tornou-se culpa-do por adorar os deuses cananitas, fenicios (Baal, Astarote, Ashera), e Assirios ( o fogo e as estrelas). Continuamente Israel violava o primeiro eo segundo mandamen-tos, e assim violava os fundamen-tos do pacto.

    Logo no comec;o dos dias dos juizes, esses herois do povo da lei, a historia de Israel foi uma mistura de apostasia, punic;ao e consequente temor, de urn lado, e

    24 Ex 16.28; Js 24.14; Ez 20.7,13.

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    de resgate e benc;ao de outro (Jz 2.11-23). Esse foi urn periodo de confusao, durante o qual as tribos de Israel perderam a visao dena-cionalidade, cada uma se engajou em sua propria politica, e todo homem fazia o que achava certo aos seus proprios olhos (Jz 17.6; 21.25). Essa situac;ao so chegou ao fim com Samuel e a instituic;ao do reino. Contudo depois de Salomao a unidade nacional foi totalmente quebrada e dez tribos se separaram da casa real de Davi. J eroboao transformou essa divisao politica em uma divisao religiosa ao construir urn santuario em Da, introduzindo o culto de imagens e abolindo o sacerdocio legitimo. Assim ele se tornou o rei que "fez pecar a Israel". A historia do rei-no de Efraim durante dois secu-los e meio transformou-se numa historia de afastamento progres-sivo de Deus. A profecia em vao levantou sua voz, e o fim dessa historia foi o cativeiro das dez tri-bos. Juda, de fato, foi muito mais privilegiado do que Israel, pois foi continuamente governado pela casa real de Davi, continuou com o sacerdocio legitimo e como tem-plo legitimo. Apesar de tudo isso e das muitas reformas realizadas por reis piedosos, a apostasia e a idolatria se espalharam tambem em Juda e o juizo de Deus se fez sentir. Aproximadamente 140

  • 0 CoNTEDDo DA REVELAc;:Ao EsPECIAL

    anos depois de Israet Juda tam-bern foi levado cativo.

    A apostasia do povo de Is-rael nao deve nos impedir de en-xergar o fato de que Deus, atra-ves dos seculos, preservou urn re-manescente entre eles de acordo com a eleic;ao da Grac;a. Houve urn grupo em Israel que permaneceu fiel ao pacto de Deus. Mesmo nos dias dificeis de Elias houve sete mil que nao dobraram seus joe-lhos a Baal. Esses eram os piedo-sos, os justos, os crentes, e, como aqueles que foram mencionados nos Salmos, continuaram colocan-do sua confianc;a no Deus de J ac6 e nao se portaram de forma ina-dequada com o pacto. Eles suspi-ravam por Deus assim como a corsa suspira pelas correntes das aguas; eles preferiram 0 templo de Deus a qualquer outro lugar; eles meditaram na lei de Deus e se ape-gar am as Suas promessas. Para eles a lei nao era urn fardo, mas urn prazer; eles se alegravam nela todos os dias. Eles repetiam as palavras de Moises e diziam que a guarda dessa lei provaria ser sabedoria e entendimento aos olhos das nac;oes. Quando o povo ouviu as ordenanc;as da lei, cla-mou: "Verdadeiramente este e urn povo sabio e entendido, pois que nac;ao e tao grande que tenha es-tatutos e juizos tao justos como toda esta lei que n6s hoje recebe-mos (Dt 4.6-8)?

    A medida em que os tempos 99

    ficavam mais carregados, mais fir-memente eles se apegavam a pro-messa. Deus nao abandonaria a obra de Suas maos. Em conside-rac;ao ao Seu nome e a Sua fama Ele nao podia quebrar o pacto que tinha estabelecido com os ances-trais do povo de Israel. De dentro desse remanescente fiel, Deus cha-mou homens que, como os profe-tas, OS salmistas e OS sabios, decla-raram a palavra de Deus e desdo-braram o significado da promes-sa de forma esclarecedora. Eles colocaram sua cabec;a para fora das profundidades de suas cala-midades. Pela luz do Espirito do Senhor eles viram o futuro e pro-fetizaram urn novo dia, o dia do Senhor, do Filho de Davi, do re-novo de Jesse, do Emanuel, do Carvalho de Justic;a, do Servo do Senhor, do Anjo do Facto, e da descida do Espirito Santo. 0 Ve-lho Testamento comec;a, depois da queda, com a promessa do des-cendente da mulher (Gn 3.15) e termina com o anuncio da vinda do Anjo do Pacto (Ml3.1).

    * * * * *

    Depois do cativeiro tambem houve urn remanescente fiel em Israel (Ml 3.16). Atraves do cati-veiro o povo, como povo, foi pur-gado, permanentemente limpo da idolatria e do culto a imagens, e foi colocado sob a firme discipli-na da lei por Esdras e Neemias.

  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    Isso trouxe novos perigos em sua esteira. Eles desenvolveram urn escolasticismo escrituristico que perscrutava a letra da lei mas que cegava os olhos para toda a essen-cia e espirito do velho pacto. Sur-giram seitas como ados fariseus, dos saduceus e dos essenios, que por urn tratamento arbitrario da revela

  • 0 CoNTEUDO DA REVELA
  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    can

  • CAPITULO

    If As SAGRADAS EscRITURAS

    N osso conhecimento dare-velac;:ao, tanto da geral quanto da especial, vern a n6s atraves das Escrituras.

    E importante entender are-lac;:ao entre a revelac;:ao e a Escri-tura. Por urn lado, ha uma dife-renc;:a importante entre elas. Are-velac;:ao, por exemplo, precedeu o seu registro em alguns casas por urn longo tempo. Dessa forma, embora certamente houvesse re-velac;:ao antes de Moises, ainda nao havia Escritura. Alem disso, a revelac;:ao continha muito mais do que foi posteriormente regis-trado. Os livros dos profetas, como por exemplo, o do profeta Amos, sao geralmente urn resumo do que ele falou pessoalmente aos seus contemporaneos. Alguns profetas do Velho Testamento e alguns profetas do Novo Testa-mento - e eles eram canais da re-velac;:ao especial - nao deixaram

    103

    registros escritos. E n6s somas ate mesmo informados de que Jesus realizou muitos outros sinais, tao numerosos que se cada urn deles fosse escrito o mundo nao pode-ria canter os livros (Jo 20.30; 21.25). E por outro lado Deus pode ter revelado algo aos Seus profetas e ap6stolos que eles nao sabiam ate o momenta em que comec;:aram a escrever, e portanto, algo sabre o que eles ainda nao tinham prega-do. Isso e verdade, pelo menos em parte, sabre a revelac;:ao que J oao teve em Patmos com relac;:ao ao futuro.

    Portanto, a Escritura nao e a revelac;:ao em si, mas a descric;:ao, o registro que pode ser conheci-do da revelac;:ao. Todavia, quan-do se diz que a Escritura e o re-gistro da revelac;:ao, n6s devemos evitar cair em outro erro. Ha aque-les que nao apenas distinguem entre a revelac;:ao e a Escritura,

  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    mas tambem separam as duas. Eles reconhecem que Deus esta-va agindo de forma especial na revela

  • As SAGRADAS EsCRITURAs

    Primeiro, Deus freqi.iente-mente envia Seus profetas nao meramente para proclamar a re-velac;:ao pela palavra de seus 1

  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    beram dele a Sua revela

  • As SAGRADAS EscruTURAs

    ensao, para a corre

  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    Teofilo a respeito das coisas que eram verdadeiramente cridas en-tre os santos com base nos teste-munhos dos apostolos (Lc 1.1-4). J oao escreve seu Evangelho para que nos creiamos que Jesus e 0 Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhamos vida em Seu nome (Jo 20.31); e em sua pri-meira carta ele tambem declara o que tinha visto e ouvido, e o que os seus olhos tinham contempla-do, e o que suas maos tinham apalpado, com rela

  • As SACRAD AS EscruTURAs

    ideias de outras pessoas podem ser introduzidos em nossa cons-ciencia, podem ser impostos a n6s e podem comandar nosso desejo e ac;:ao. Dessa forma as pessoas podem ser transformadas em ins-trumentos passivos que simples-mente carregam o desejo do hipnotizador. Tanto a Escritura quanto a experiencia nos ensinam que desta forma 0 ser humano e suscetivel a influencias e poderes de maus espiritos; em tais casos as pessoas nao falam e agem por si mesmas, mas sao governadas pelo mau espirito em seu pensa-mento e em sua conduta. Em Mar-cos 1.24, por exemplo, e 0 espiri-to impuro que fala atraves do ho-mem possesso e reconhece Jesus como sendo o Santo de Deus.

    Outro fenomeno que pode servir para lanc;:ar luz sobre ana-tureza da inspirac;:ao do Espirito Santo e a assim chamada inspira-c;:ao dos artistas. Todos os grandes pensadores e poetas aprenderam pela experiencia que devem a melhor e mais bonita parte de sua prod uc;:ao nao ao seu proprio es-forc;:o, mas a repentinos flashes de discernimento. Naturalmente uma experiencia nao exclui a in-vestigac;:ao preliminar e a reflexao. 0 genio nao faz esforc;:o e empre-endimentos desnecessarios.

    Apesar de, em tais casos o

    34 Gn 1.3; Sl 33.6; 104.30. 35 J6 33.4; 51139. 1-16 ss.

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    estudo ser uma regra geral, a in-dispensavel experiencia inspira-cional e o discernimento que dela resulta nao sao conseqiiencias 16-gicas ou frutos maduros do estu-do. Nos homens de genio sempre ha urn poder secreto que nao e suscetivel a elaborac;:oes 16gicas. Ao escrever para sua irma, Nietzsche disse a respeito desse poder secreto: "Voce nao imagi-na como sao poderosas essas ins-pirac;:oes; elas enchem a pessoa com urn apaixonado extase men-tal, que ela se sente transportada e totalmente alem de si mesma, nada ouve e nada ve - simples-mente aceita. 0 pensamento vern como uma luz. Tudo acontece involuntariamente, como sea pes-soa estivesse sob uma tempesta-de de liberdade, independencia, poder e divindade. Essa e a mi-nha experiencia de inspirac;:ao".

    Certamente, que se manifes-tac;:oes desse tipo acontecem na vida normal das pessoas e dos artistas, nao pode haver base para se atacar a influencia de Deus so-bre a vontade e o pensamento de Suas criaturas. Atraves de Seu Es-pirito, Deus opera em Suas cria-turas e esta presente nelas 34 . E dessas criaturas e mais particular-mente o homem que foi feito pelo sopro do Todo Poderoso e pelo Espirito de Deus35 . Em Deus n6s

  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista ------------------

    vivemos, enos movemos e existi-mos (At 17.28). Nosso pensamen-to, vontade e execw;ao, mesmo sob a maldi

  • As 5AGRADAS ESCRITURAS

    profetas (Mt 1.22; 2.15, 17, 23; 3.3; 4.14). 0 texto grego usa uma ex-pressao para essa forma que de-signa Deus como a fonte ou ori-gem daquilo que foi dito, e que designa os profetas como meios ou agentes daquilo que foi dito. A distin

  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    a escreveram. Quanta diferen

  • As SAGRADAS EscRITURAS

    ou evento tenha sido feito antes do tempo de Moises, alguma pa-lavra ou evento que tenha sido muito importante para a hist6ria da revelac;:ao e que por isso tenha sido posteriormente preservado nos livros de Moises.

    Nao faz muito tempo que o fa to dessa possibilidade ser admi-tida seria chamada de loucura, pois supunha-se que a arte da es-crita nao era conhecida no tempo de Moises. Mas em razao de des-cobertas feitas na Babilonia e no Egito n6s agora estamos melhor informados e sabemos nao so-mente que a arte da escrita era conhecida muito antes do tempo de Moises, mas que tambem era muito usada.

    N6s temos conhecimento de eventos e de leis dessa epoca que foram escritos. A escrita era co-nhecida varios seculos antes de Moises. Portanto nao e totalmen-te irrazoavel supor que Moises, antes de seus registros hist6ricos e da entrega da lei, tenha feito uso de fontes mais antigas. 0 registro de Genesis 14, por exemplo, pode muito bern ser urn desses casos.

    Mas n6s nao podemos ter certeza disso e em geral n6s po-demos dizer que antes de Moises nao ha registro da Palavra de Deus. E claro que havia a Palavra de Deus, pois a revelac;:ao especi-al comec;:ou logo depois da que-cia e, portanto, havia tambem nes-se sentido algo que poderia ser

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    chamado de canon, isto e, uma regra de fe e vida. A rac;:a humana jamais ficou totalmente desprovi-da da Palavra de Deus. Sempre, desde sua origem, o homem tern possuido nao apenas a revelac;:ao geral de Deus em sua consciencia, mas tambem a revelac;:ao especial de Deus na palavra e na hist6ria. Mas essa palavra de Deus nao foi escrita imediatamente; ela foi transmitida oralmente por famili-as e gerac;:oes, sendo passada dos pais aos filhos. Naqueles tempos antigos em que a populac;:ao da terra era bern pequena, quando as pessoas ainda desfrutavam da benc;:ao de urn a long a vida, quan-do o relacionamento familiar, o senso de familia e o respeito ao passado representavam muito mais do que em nosso tempo, essa forma de continuidade era suficiente para a preservac;:ao pura e a expansao da Palavra de Deus.

    Posteriormente, contudo, quando as pessoas comec;:aram a se espalhar pela face da terra, e quando cairam em todo tipo de idolatria e superstic;:ao, a tradic;:ao oral deixou de ser suficiente. E por isso Moises comec;:ou a regis-trar a Palavra de Deus. Pode ser que existissem registros que ele tenha resolvido incluir em seus escritos. Como foi dito, n6s nao temos certeza, mas a probabilida-de de que isso tenha acontecido aumenta quando em apenas

  • Fundamentos Teol6gicos da FC Crista

    umas poucas passagens mencio-na-se nos assim chamados cinco livros de Moises que ela tenha sido escrita pelo proprio Moises40 Portanto e perfeitamen-te possivel que varias pon;oes dos cinco livros de Moises tenham existido antes de seu tempo, e tambem que eles tenham sido re-visados por Moises ou mesmo depois de sua morte, por alguem

    las (1 Co 16.21). E o livro de Sal-mas e considerado, as vezes, to-talmente da autoria de Davi par-que ele foi o fundador da salm6dia, e isso e feito apesar de urn born numero de salmos nao terem sido escritos por Davi, mas por outros autores.

    * * * * *

    que tenha editado a sua obra e Sabre a base da lei mosaica, acrescentado essas pon;oes. Essa isto e, sabre a base do pacta de ultima possibilidade tern sido Deus, que Deus firmou com OS bern aceita em periodos recentes patriarcas, que Deus confirmou com rela

  • As SAGRADAS ESCRITURAS

    depois dele, acompanhando a his-t6ria de Israel ate depois do cati-veiro. Os livros dos profetas sao divididos no Velho Testamento Hebraico em dois grandes gru-pos, a saber, o grupo dos profe-tas anteriores e o grupo dos pro-fetas posteriores. 0 primeiro gru-po compreende os livros de Josue, Juizes, Samuel e Reis. A razao pela qual esses livros sao deno-minados anteriores e que eles fo-ram escritos por profetas que pre-cederam os profetas posteriores das Escrituras.

    Em outras palavras, havia muito mais profetas em Israel do que os quatro maiores e os doze menores, cujos livros foram pre-servados na Biblia. Os livros his-t6ricos mencionados acima estao cheios de nomes de profetas e em alguns casos incluem extensas descri

  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    atenc;ao ao presente do que ao fu-turo. Sua palavra de admoestac;ao e ameac;a tern, em sua maior par-te, urn proposito imediato e pra-tico. Esse e o periodo no qual, durante o reinado de Davi e de Salomao e muito tempo depois deles, ainda ha esperanc;a de que Israel mantenha o pacto de Deus e ande em Seus caminhos.

    Mas quando, no nono secu-lo antes de Cristo, Israel gradativamente vai se envolven-do na politica externa com seus vizinhos, e a despeito de seu des-tina e de sua vocac;ao, vai se dei-xando envolver, entao os profetas incluem os povos vizinhos em suas profecias. Eles nao esperam o cumprimento perfeito das pro-messas de Deus no presente apostata. Em vez disso eles olham para o futuro messHinico, urn futuro que o proprio Deus tra-ra. Permanecendo em suas tones de vigia esses profetas posterio-res olham por toda a extensao e profundidade da terra, e apontam os sinais dos tempos nao como eles mesmos entendem, mas de acordo com a luz do Espirito San-to48. Eles medem as situac;5es em Israet sejam eticas, religiosas, po-liticas ou sociais, tanto quanto as relac;5es de Israel com outros po-vos, tais como Edom, Moabe, Assur, Caldeia, e Egito que con-

    "8 1 Pe 1.4; 2 Pe 2.20,21.

    49 Is 8.1; He 2.2; Is 36.3.

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    trariam os preceitos do pacto que Deus firmou com Seu povo. To-dos eles, cada urn de acordo com sua propria natureza, em seu pro-prio tempo e de sua propria for-ma, prega essencialmente a rues-rna palavra de Deus: a proclama-c;ao dos pecados de Israel e a pu-nic;ao que eles acarretam; confor-tam o povo do Senhor com a imutabilidade de Seu pacto, com a promessa de seu cumprimento e como perdao para todas as in-justic;as; e dirigem todos os olhos para o futuro, no qual Deus, atra-ves de urn rei da casa de Davi ex-pandira seu dominio sobre Israel e sobre todos os povos.

    Dessa forma, a palavra que eles pregavam em nome de Deus, assume urn significado que vai alem do tempo em que eles pre-garam. Essa palavra nao tern seu limite e seu proposito no Israel antigo; em vez disso ela tern urn conteudo que se estende aos con-fins da terra, e so pode alcanc;ar seu cumprimento em toda a rac;a humana. E agora a palavra da pro-fecia esta pronta para ser escrita. Do nono seculo antes de Cristo em diante, ou seja, desde os tem-po de Joel e Obadias, os profetas comec;aram a colocar o conteudo de suas profecias em forma escri-ta, algumas vezes por ordem ex-pressa de Deus49 . Eles fizeram

  • As SACRAD AS EscruTURAS

    isso com o prop6sito claro de que sua palavra permanecesse ate o ultimo dia, ate a eternidade (Is 30.8) e ate que sua autenticidade pudesse ser reconhecida pelas gera

  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    fundamentais que a salm6dia posterior de Salomao, Jeosafa, Ezequias e que o periodo duran-te e depois do cativeiro colocou em uso. No final do salmo 72 os salmos de Davi sao chamados de ora

  • As SAGRADAS EscruTURAS

    Jotao (Jz 9.7 ss.), no enigma de Sansao (Jz 14.14t na parabola de Natan (2Sm 12), na conduta da rnulher de Tecoa (2 Srn 14), e ern outros casos. Mas essa literatura de sabedoria e dedicada especi-alrnente a Salornao51 e teve conti-nuidade nos proverbios do ho-rnern sabio (Pv 22.17 ss.) enos li-vros de J6, Eclesiastes e Canticos de Salornao, e continuou ate de-pois do cativeiro. A profecia re-vela a vontade de Deus para a his-t6ria de Israel e de outros povos; a salrn6dia da expressao ao que a vontade de Deus realiza na alma dos Seus santos; e os proverbios da literatura de sabedoria relatam a vontade de Deus para a vida pratica e para a conduta. Essa li-teratura de sabedoria tarnbem re-pousa sobre o fundarnento da re-vela

  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    c;ao entre os dois e como a do pe-destal e a estatua, entre a fecha-dura e a chave, a sombra eo obje-to. As designac;oes Velho Testa-mento e Novo Testamento faziam referencia as duas dispensac;oes do pacto da Grac;a que Deus deu ao Seu povo antes e depois de Cristd2 Posteriormente os termos foram transferidos aos dois cor-pos de escritos que constituem a descric;ao e a interpretac;ao dessas duas dispensac;oes do pacto. Em Exodo 24.7, a lei, que era o pro-nunciamento ou declarac;ao do pacto de Deus com Israel, e cha-mada o livro do pacto (compare com 2 Rs 23.2), e em 2 Corintios 3.14 Paulo fala de uma leitura do Velho Testamento- uma referen-cia naturalmente aos livros que compoem esse Testamento. De acordo com esses exemplos a pa-lavra testamento foi gradualmente sendo usada para designar os li-vros ou escritos contidos na Bfulia e que dao uma interpretac;ao da velha e da nova dispensac;ao da Grac;a.

    Assim como o Velho, o Novo Testamento tambem e com-posto por varios livros. Ele com-preende cinco livros hist6ricos ( os quatro Evangelhos e Atos dos ap6stolos), vinte e um livros dou-trinarios (as epistolas ou cart as dos ap6stolos) e urn livro profeti-co (Apocalipse). E apesar dos trin-

    52 Jr 31.31 ss.; 2 Co 3.6 ss.; Hb 8.6 ss.

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    ta e nove livros do Velho Testa-mento terem sido compostos du-rante um periodo de mais de mil anos, os vinte e sete livros do Novo Testamento foram todos escritos na segunda metade do primeiro seculo da era crista.

    Os Evangelhos vern primei-ro no Novo Testamento. Nova-mente a ordem nao e cronol6gi-ca, mas material. Muito embora varias das cartas dos ap6stolos tenham sido escritas antes do Evangelhos, OS Evangelhos vern primeiro porque tratam da pessoa e obra de Cristo que constituem a base de todo o esforc;o apost6li-co. A palavra Evangelho tinha urn sentido geral de mensagem agra-davel, mensagem boa. Nos dias do Novo Testamento ela passou a designar as boas noticias procla-madas por Jesus Cristo (Me 1.1). S6 mais tarde os escritores eclesi-asticos como Inacio, J ustino e ou-tros usaram-na para designar os livros ou registros escritos que contem a boa mensagem de Cris-to.

    Ha quatro Evangelhos no Novo Testamento. E claro que eles nao contem quatro Evangelhos diferentes, mas apenas urn Evan-gelho, o Evangelho do Senhor Je-sus Cristo (Me 1.1; Gl1.6-8). Mas urn Evangelho, uma boa nova de salvac;ao, e pregada de diferentes formas, por diferentes pessoas, de

  • As SAGRADAS ESCRITURAS

    quatro diferentes pontos de vis-ta. Essa ideia e bern expressa nos quatro livros de nossas Bfblias: o Evangelho segundo Mateus, segun-do Marcos e assim por diante. 0 pensamento e que nos quatro Evangelhos o unico Evangelho, a unica imagem da pessoa e obra de Cristo, e apresentado de pon-tos de vista diferentes. Por isso na igreja antiga os quatro evan-gelistas foram comparados aos quatro querubins de Apocalipse 4.7: Mateus foi comparado ao homem, Marcos ao leao, Lucas ao novilho e J oao a aguia. Isso aconteceu porque o primeiro evangelista descreveu Cristo como Ele era em Sua manifesta-c;:ao humana, o segundo, como Ele era em Sua manifestac;:ao profeti-ca, o terceiro como Ele era em Sua manifestac;:ao sacerdotat e o quar-to como Ele era em Sua natureza divina.

    Mateus, que era o publicano chamado Levi, escolhido para o oficio de ap6stolo (Mt 9.9; Me 2.14; Lc 5.27), originalmente escre-veu seu Evangelho, segundo Irineu, em linguagem aramaica, na Palestina, por volta do ano 62, e especialmente para os judeus e cristaos judeus da Palestina para mostrar-lhes que Jesus realmente era o Cristo e que todas as profe-cias do Velho Testamento se cum-priram nEle (Mt 1.1).

    Marcos era o filho de Maria (At 12.12), que muito provavel-

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    mente tinha sua propria casa em Jerusalem (At 1.13; 2.2). Marcos primeiramente trabalhou com Paulo e depois com Pedro (1 Pe 5.13), e, de acordo com a tradic;:ao, foi convidado pelos cristaos de Roma para registrar o comec;:o do Evangelho de Jesus Cristo (Me 1.1). 0 convite foi feito porque, tendo estado em Jerusalem e sido disdpulo de Pedro, estava muito bern informado sobre o assunto. Ele respondeu ao convite dos ro-manos, presumivelmente, entre os anos 64 e 67.

    Lucas, o medico amado, como Paulo o chama (Cl 4.14), pode ter vindo de Antioquia. Ele pertenceu a igreja dessa localida-de por volta do ano 40. Ele era urn companheiro de viagem e colega de trabalho de Paulo, e manteve sua lealdade a ele ate o fim (2 Tm 4.11). Ele escreveu urn livro de hist6ria, nao somente da pessoa e obra de Cristo (em seu Evange-lho), mas tambem da expansao inicial do Evangelho na Palestina, Asia Menor, Grecia e Roma (em Atos dos ap6stolos). Ele escreveu o segundo desses livros aproxi-madamente entre os anos 70-75 e endere

  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    culo de Seus discipulos. 0 quar-to Evangelho e diferente dos de-mais. Joao, o disdpulo amado, permaneceu em Jerusalem depois da ascensao de Jesus e, juntamen-te com Tiago e Pedro, foi urn dos tres pilares da igreja (Gl2.9). Mais tarde ele saiu de Jerusalem e per-to do fim de sua vida foi para Efeso trabalhar como sucessor de Paulo. De Efeso, sob o dominio de Domiciano, ele foi banido para a ilha de Patmos por volta do ano 95 ou 96, e morreu no ano 100 como martir. J oao nao teve uma participa

  • As SAGRADAS EscRITURAS

    profundamente, na verdade para a salva

  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    mente a eles, nao tendo sido es-critos por profetas e ap6stolos, mas que alegadamente tinham sido escritos por eles ou foram aceitos como tais, em alguns cir-culos, entao tornou-se necessario que a Igreja distinguisse os ver-dadeiros livros canonicos dos li-vros falsos, alegados, ap6crifos ou pseudo-epigrafos, e fizesse uma lista com os verdadeiros. Isso foi feito com os livros do Velho Testamento antes de Cristo, e com os livros do Novo Testamento no quarto seculo depois de Cristo. Ha uma ciencia que trabalha para in-vestigar essa questao e lan

  • As SAGRADAS EscruTURAS

    tos idiomas. 0 estudo dessas tra-dw;:oes, especialmente as mais antigas, e muito importante para o entendimento adequado da Sa-grada Escritura, pois cada tradu-\ao e urn tipo de interpreta\aO.

    Em quarto lugar, finalmen-te, urn tremendo amontoado de cuidado e esfor\o tern sido dedi-cado a interpreta\aO da Sagrada Escritura. Isso come\OU nos dias dos antigos judeus, e atravessou os seculos, e agora existem em

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    nosso tempo. E embora seja ver-dade que cada exegeta tern sua propria inclina\ao, e que boa par-te da interpreta\ao tern sido par-ciat a historia da interpreta\ao da Escritura tern tido urn progresso; urn progresso que cada seculo tern contribuido para aumentar. Em uma analise final e o proprio Deus que, apesar do erro huma-no, man tern Sua Palavra e faz com que Seus pensamentos triunfem sobre a sabedoria do mundo.

  • CAPITULO

    A EscRITURA E A CoNFissAo

    N ao havia na epoca dos ap6stolos e logo depois dela, escassez de diferen-

  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Crista

    E bastante natural que todos esses escritos, tendo vindo dos ap6stolos e de pessoas a eles re-lacionadas, que gozavam de ele-vada reputa

  • A EscRITURA E A CoNFissAo

    Essas Escrituras do Velho e do Novo Testamento, constituem a funda

  • Fundamentos Teol6gicos da Fe Cristii

    mo nas igrejas do periodo apos-t6lico surgiram varias heresias que tinham seu ponto de partida no paganismo ou no judaismo. Atraves da sucessao das eras es-ses sao dois recifes nos quais a Igreja continuamente amea

  • A EscRITURA E A CoNFissAo

    finalmente, as confissoes nao im-pedem o desenvolvimento do co-nhecimento, mas conservam-no no curso correto do mesmo, e sao elas mesmas checadas e revisadas a luz das Sagradas Escrituras, que sao a unica regrade fe. Tal exame e revisao podem acontecer a qual-quer tempo, apesar de terem que ser feitos de forma segura e legi-tima.

    0 Credo Apost6lico ( os doze artigos) e 0 mais antigo dos credos. Ele nao foi formulado pe-los ap6stolos, mas veio a existen-cia no comec;o do segundo secu-lo. Ele foi desenvolvido a partir do comando batismal de Mateus 28.19. Originalmente ele era urn pouco mais curta do que e agora, mas basicamente ele era o mesmo. Ele era urn curta resumo dos fa-tos sobre os quais o cristianismo repousa, e como tal ele continua s