Teoria Critica da Arquitetura

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    1/29

    Introdução à Teoria Crítica da Arquitetura Profa. Silke Kapp

    Aula 7 - 05/05/16

    Tema

    Produção do urbano

    Pergunta

    Por que as cidades brasileiras pioram?

    Textos neste documento

    MONTE-MÓR, Roberto Luis de Melo. O cotidiano e a produção doespaço. Palestra proferida no III Colóquio de Pesquisas em Habitação.

    Belo Horizonte: EA-UFMG, 2006.

    BRENNER, Neil. What is critical urban theory? CITY , V. 13, N.2–3, June–

    September, 2009, p.198-207.

    Capítulos do compêndio

    Loteadores associativos [2014]

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    2/29

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    3/29

     

    O COTIDIANO E A PRODUÇÃO DO ESPAÇOProf. Dr. Roberto Luis de Melo Monte-Mór

    Transcrição: Felipe Gontijo

    Revisão: Silke Kapp

    [Henri] Lefebvre fez um percurso muito peculiar: sai de uma vilazinha nos Pirineus e

    se torna uma espécie de cidadão do mundo, mas com base em Paris, ou seja, passa

    de uma abordagem completamente rural para a questão urbana. Lefebvre é muito

    próximo dos arquitetos. Imagino que a maioria de vocês já tenha tomado algum

    contato com seus livros. O mais conhecido, O Direito à Cidade, foi escrito em 1968.

    Em 1969, eu era aluno desta escola e o D.A. já tinha um exemplar, traduzido para o

    português, de modo que fomos 'aplicados' no Lefebvre muito rapidamente. Isso é

    curioso porque é um autor muito difícil, confuso de ler e de entender. Os alunos em

    geral reclamam que ele fica dando voltas, pois não tem pragmatismo nem nenhuma

    proximidade de um pensamento positivista. Eu diria até que ele é um precursor do

    pensamento pós-moderno, porque leva a dialética para uma dimensão que não cabe

    no marco da ciência social moderna.

     Acho que a razão de ele ser tão querido e, de uma certa maneira, tão bem recebido

    entre os arquitetos, seja o fato de ter sido o autor que mais avançou em assentar as

    bases da questão do espaço e da relação espaço-sociedade. Lefebvre talvez seja o

    único 'não-espacialista' (chamo de 'espacialistas' a nós, arquitetos, geógrafos ou

    quem foi formado numa perspectiva espacial, de tentativa de compreensão do

    espaço – Lefebvre é sociólogo e filósofo) que entendeu, escreveu a respeito e

    avançou com profundidade na idéia de que o espaço é o elemento central de

    estruturação da sociedade, e particularmente da sociedade contemporânea. Ao fazer

    isso, ele mistura questões, como um debate tradicional entre agência ou ação e

    estrutura. Ele rompe com a dicotomia (que é também um confronto de áreas) entre

    o indivíduo, agente isolado capaz de mudar o mundo e, de outro lado, a estrutura

    como condicionante e a necessidade de mudanças estruturais. Ele tem uma

    perspectiva que um autor já chamou de 'trialética', nome considerado infame e

    indesejável por muita gente. Ele mesmo a chama de dialética da tríade, que é

    pensar uma dialética para além dos dois termos; seja articulando três elementos,

    como, por exemplo, espaço, tempo e sociedade; seja articulando os dois elementos

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    4/29

    opostos da dialética e um terceiro elemento resultante, mas que não se esgota e se

    mantém como uma terceira questão, como, por exemplo, prática e praxis.

     Acho que uma das questões fundamentais do Lefebvre, que é um pensadororiginalmente marxista (poderíamos chamá-lo de neo-marxista, pois o marco sem

    dúvida nenhuma é Marx mesmo que avance, rompa ou modifique sua abordagem) é

    a economia política. O elemento principal, além da questão do espaço, é a questão

    da alienação, diretamente ligada à do próprio espaço. Lefebvre resgata de Marx a

    questão da alienação, mas coloca-a no espaço, no território, e dá ao espaço uma

    dimensão fundamental. Ele diz: "não há realidade social inespacial"; qualquer

    realidade social é, por definição, espacial. Vários geógrafos, depois dele, já disseram

    isso, mas essa perspectiva é de uma concretude. É impossível pensar a dimensãosocial fora do espaço. E não se trata de uma projeção do espaço, trata-se de uma

    relação ontológica, fundante. A sociedade, por definição, é  espacial, e todos os

    processos sociais são espaciais, geram formas espaciais.

    Há um autor americano, Bertell Ollman, que, na década de 1970, sem trabalhar

    Lefebvre, escreveu um livro muito interessante sobre alienação:  Alienation. Marx's

    Conception of Man in Capitalist Society. O livro é pouco conhecido no Brasil, mas

    fez um sucesso muito grande no mundo anglo-saxônico, porque de uma certa

    maneira traduziu a questão da alienação e alguns conceitos marxistas para um

    público que não tem hábito de ler Marx e não passou pela leitura d'OCapital. Ollman

    resgata uma dimensão da alienação que está também em Lefebvre. O elemento

    fundamental do capital são as relações sociais; o capitalismo é antes de tudo um

    sistema de relações sociais, de relações de produção. E a questão do capital é

    também de relações internas, e não de relações externas. A coisa se dá de dentro

    para fora.

     Acho que quando tentamos entender a vida cotidiana, estamos chegando um pouco

    nessas duas dimensões. A questão da alienação é fundamental: o que é a vida

    cotidiana e como a gente se aliena de si e do mundo ao não perceber, não pensar,

    não estudar e não tentar compreender a vida cotidiana. E a vida cotidiana tem uma

    espacialidade muito marcada. Nós, arquitetos, sabemos disso, pois lidamos com ela

    por aí. Mas lidamos num nível imediato, que Lefebvre chamaria de espaço percebido

    ou espaço pensado, e não de fato com o espaço vivenciado. A nossa tentativa de

    desalienação, enquanto projetistas ou analistas do espaço construído, vai na direção

    de um processo de compreensão dessa terceira dimensão do espaço que Lefebvrepropõe – voltarei nisso adiante –, mas a minha interpretação é de que não temos

    2

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    5/29

    elementos teóricos para trabalhar com ela. Percebemos e sentimos isso, mas não

    conseguimos elaborar. E é uma elaboração difícil. Acho que é nesse sentido que

    esse ciclo de conversas e as pesquisas que buscam a 'desalienação' na habitação

    podem avançar, para chegarmos a um marco mais contemporâneo da questão davida cotidiana.

    Trata-se de um temática extremamente difícil. O que é o cotidiano? Lefebvre tem

    uma definição que diz o seguinte: "É o que subsiste quando se subtrai do vivido

    todas as atividades especializadas". Quando se tira do vivido, da prática, da

    vivência, todas as atividades especializadas, o que sobra é o cotidiano. Acho que é

    uma definição muito fluida, difícil, e esse cotidiano é completamente mutável. Vários

    pensadores tentaram e ainda tentam discutir o cotidiano, e sempre enfrentam adificuldade de agarrar esse objeto de estudo. O que na verdade seria o cotidiano?

    Lefebvre começa a escrever sobre o cotidiano no pós-guerra. Em 1947 escreve um

    trabalho que ele chama de Crítica da vida cotidiana. A idéia é de uma ruptura crítica

    com o próprio marxismo ocidental tradicional. É interessante entender que em 1947,

    isto é, depois da guerra, com a importância da Rússia no mundo ocidental como

    parceira dos Aliados e, ao mesmo tempo, com todos os males do stalinismo,

    Lefebvre acaba rompendo com o Partido Comunista Francês e se desloca, assim

    como acontece em outras áreas do conhecimento, da grande questão da

    emancipação, colocada em termos marxistas, centrada no trabalho, na relação

    capital-trabalho, para a relação do cotidiano. É a partir disso que ele chega ao

    espaço e ao urbano; quando entende que, na verdade, a revolução – e ele vai

    caminhar no sentido de uma revolução cultural permanente – não está na porta da

    fábrica, não está na dimensão pura da relação capital-trabalho, mas na

    transformação do cotidiano. Eu mencionei a junção que Lefebvre faz entre ação,

    agência e estrutura. Passa por aí também toda uma abordagem idealista: ele diz que

    você tem que mudar o pensamento, mudar a cabeça, mudar os valores etc. versus a

    revolução estrutural. Quando você pensa na revolução do cotidiano, as duas coisas

    estão juntas. Porque o seu cotidiano necessariamente implica a mudança da sua

    cabeça, implica a mudança da sua prática cotidiana, mas isso é colocado num

    marco estrutural.

     Assim, Lefebvre diz várias vezes ao longo da vida que a questão do cotidiano é sua

    questão fundamental. Isso está documentado no fato de que ele ter uma trilogia a

    respeito. Em 1947 começa a Crítica da vida cotidiana; em 1962, escreve uma Crítica

    da vida cotidiana 2 , onde vai se propor a criar os fundamentos de uma sociologia da

    3

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    6/29

    cotidianeidade; em 1981, já próximo do final de vida, ele faz uma Crítica da vida

    cotidiana 3, cujo subtítulo é Da modernidade ao modernismo, com a proposta de

    uma meta-filosofia do cotidiano.

    Na verdade, se o cotidiano é o que subsiste depois que se tira todas as

    especializações, então o cotidiano é a própria essência da vida. Sou arquiteto, tenho

    uma série de especializações, profissionais, pessoais e de prática etc., mas isso

    tudo é adjetivo, o substantivo é na verdade como eu construo a minha vida. E como

    eu construo a minha vida é, em última instância, como eu construo o meu espaço.

    Existe uma correspondência direta. A construção da vida social é, por definição, a

    construção do espaço social.

    E o quê seria então estudar a vida cotidiana? Na década de 1960, Lefebvre monta

    um grupo de estudos sobre a questão do cotidiano com o pessoal ligado ao

    movimento situacionista, do qual ele participa. Há um trabalho de Guy Debord dessa

    época (1961) chamado Perspectivas da transformação consciente da vida cotidiana,

    no qual ele diz: "estudar a vida cotidiana seria uma empresa perfeitamente ridícula, e

    além disso condenada desde o princípio a perder de vista o seu próprio objeto, se

    não propuser explicitamente o estudo da vida cotidiana para transformá-la".

    Esse sentido transformador do imediato, do dia-a-dia, da coisa pequena, é visto – e

    o Lefebvre foi muitas vezes criticado por isso – como uma ideologia, como uma

    fragilização da grande luta transformadora socialista, da emancipação socialista.

    Quando se propõe transformar tudo o que não é especialização, o dia-a-dia, então

    aparentemente se cai numa dimensão muito idealista, muito pouco transformadora,

    que lembra o tipo de proposição que se vê em filmes americanos: 'eu sozinho faço a

    diferença, tenho que mudar minha cabeça'.

    Mas o termo crítica da vida cotidiana poderia ser entendido também de uma maneira

    inversa: a crítica da vida cotidiana se exerce, basicamente, sobre tudo o que é

    exterior a ela. Então na verdade passa a ser a crítica do mundo no qual ela está

    inserida. E essa é a grande questão que remete novamente à da alienação. Por que

    a crítica da vida cotidiana? Porque a gente vai se alienando de si, vai se alienando

    da vida em função das demandas do mundo especializado. E isso se articula com a

    questão do capitalismo, na medida em que o capital é um modo de relações sociais

    impessoalizado, com uma lógica que não está presa na dimensão humana, nas

    necessidades, nos acontecimento ou no acaso. Sua lógica é externa, desumana –

    ou inumana, se quiserem –, centrada na acumulação do capital, e que mina as

    4

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    7/29

    próprias relações originais do mercado, as próprias relações originais das trocas

    humanas.

    Se estou falando de mercado, estou falando de economia, mas também podemospensar em trocas humanas como um todo. Quem já passou um tempo em países

    capitalistas avançados percebeu que as relações sociais capitalistas permeiam o

    dia-a-dia, o cotidiano. Quem tiver parentes ricos, de alta burguesia, também pode

    perceber isso com facilidade aqui. O que domina é a lógica da mediação, que passa

    além de qualquer sentimento humano, a lógica da troca, da acumulação, da riqueza.

     A crítica do cotidiano, esse processo de desalienação, é na verdade uma crítica da

    prática pessoal, dos valores internos do agente, mas também necessariamente uma

    crítica da estrutura, porque, como eu disse antes, criticar o cotidiano é criticar o quelhe é externo. O cotidiano não existe sem o mundo especializado, não existe em si

    mesmo. Mesmo que você esteja morando no meio do mato, num grupo indígena

    com uma divisão do trabalho baixíssima, há processos de especialização: fulano é

    bom nisso, ciclano é bom naquilo. Mas na verdade não é nisso que consiste o cerne

    da vida social.

     A vida privada é quando você sai do universo (no mundo contemporâneo cada vez

    mais difícil) de uma vida pública. No caso da cidade isso é muito marcado: a cidade

    como espaço do encontro e do convívio, hoje, nos obriga cada vez mais a nos

    fecharmos na vida privada, fugindo do encontro e do espaço público. A vida privada

    é privada de quê? No argumento de Lefebvre é muito simples: é privada da vida. A

    vida, no sentido social e humano mais intenso, está cada vez mais ausente.

    Cruelmente ausente, é o termo que ele usa. Ela é privada da realização de si

    mesma, como possibilidade de viver criticamente a totalidade do cotidiano, e

    privada, na maioria das vezes, de fazer pessoalmente sua própria história. Esse

    então é o substrato, que eu consigo colocar em palavras para vocês, da questão do

    cotidiano que move Lefebvre originalmente.

     A primeira manifestação mais completa de ligação entre essa perspectiva e a

    questão da habitação está em O Direito à Cidade, de 1968. A crítica que Lefebvre

    faz nesse texto é uma crítica da habitação, tal como ela vinha sendo tratada nas

    vertentes funcionalistas de políticas públicas. O que é "o direito à cidade"? De uma

    certa maneira, é a negação da habitação em si mesma. Existe uma estratégia da

    burguesia para colocar o proletariado e as outras classes não dominantes para fora

    do espaço do poder, para fora do espaço do excedente coletivo e para fora do

    espaço da festa cultural. Isso se estabelece no momento em que se rompe a

    5

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    8/29

    possibilidade de um pacto social proposto pela burguesia, com igualdade,

    fraternidade, etc. É impossível a liberdade, a igualdade, a fraternidade no contexto

    da cidade industrial. Essa possibilidade de democracia urbana se esgota no final do

    século XIX, na Europa. Quando nós importamos o modelo de Belo Horizonte, jácolocamos o proletariado do lado de fora da [avenida do] Contorno. Aqui dentro

    estão os oligarcas da pequena burguesia, os funcionários públicos, as classes

    dominantes; e os trabalhadores, sejam rurais ou industriais, vão para a área

    suburbana. Essa lógica funcional (que de certa maneira os arquitetos compraram,

    desenvolveram e para a qual fizeram n  propostas sem questionar sua essência,

    como a cidade radiosa, a cidade jardim, etc.) é que Lefebvre questiona a partir da

    discussão da alienação da vida cotidiana, quando ele percebe que existe um

    processo de exclusão do poder, da cultura, da festa, da riqueza coletiva, do espaçopúblico, da monumentalidade. Tanto é, que ele passa a discutir a rua e o

    monumento, fazendo essa contraposição. Acho que um sinal de que ele não está

    tirando nada da cartola, mas expressando um sentimento daquele momento (1968),

    é que a autora norte-americana Jane Jacobs, de uma vertente liberal,

    completamente diferente do pensamento de Lefebvre, diz mas mais ou menos a

    mesma coisa na mesma época: a importância da vida cotiana e como as cidades

    estão morrendo na medida em que se tenta impôr especializações, externalidades a

    ela, negando a prática cotidiana. O Direito à Cidade  é um livro que não teve

    questionamento. Ele não é facilmente traduzido para o mundo anglo-saxão, pouca

    gente leu, embora, como eu disse antes, tenha chegado ao Brasil e a todo o mundo

    de língua ibérica apenas um ano depois de sua publicação em francês.

    Mas Lefebvre não pára aí. Ele escreve um livro, no mesmo ano, que se chama  A

    vida cotidiana no mundo moderno, em que propõe elementos novos dessa crítica,

    aprofundando o conceito. Enquanto todo o mundo discute a cidade industrial, ele

    abandona essa discussão e se volta à sociedade burocrática de estado. O estado do

    bem-estar costuma ser apresentado como uma solução, pois passaria o excedente,

    a produtividade ou a riqueza para as mãos dos trabalhadores mediante o aumento

    do salário real, etc. Lefebvre denuncia que, na verdade, esse é o estado burocrático

    de consumo, pelo qual se cria e se viabiliza o capital, trazendo mais profundamente

    para a vida cotidiana uma lógica que lhe é externa, que é a lógica do consumo

    capitalista dirigido. Então a sociedade burocrata é dirigida para o consumo; mas

    dirigida por quem? Dirigida pelo capital junto com o estado. E, segundo Lefebvre,

    para se implantar isso, é preciso minar o que não cabe ali, tirar fora todas as crenças

    e os valores antigos que não são compatíveis com as relações capitalistas. O jargãoque se usa é des-envolver . O que envolve o subdesenvolvido? É exatamente uma

    6

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    9/29

    "irracionalidade", uma "falta de lógica" funcionalista, uma falta de adequação aos

    comandos externos. E o processo de modernização cumpre esse papel de

    desmontagem.

    Nesse contexto, Lefebvre fala de 'sociedade repressiva', que se torna hiper-

    repressiva e finalmente se transforma numa sociedade terrorista. Não se aceitam

    desvios, se controla isso, se fecha aquilo. Na sociedade terrorista – e Lefebvre diz

    isso em 1968, antevendo como a sociedade terrorista avança na sua dimensão

    dialética – aumentam a repressão e o controle, até que, necessariamente, explode o

    descontrole. No nosso caso, isso ocorre com mais visibilidade (estamos vendo aí,

    PCC e tudo o mais); nos países desenvolvidos (conheço melhor os Estados Unidos)

    se dá de uma maneira mais sutil. Como me disse um amigo indiano uma vez: agente antigamente podia fazer brincadeira na rua. Hoje você não pode mais porque,

    com o celular, ligam para a polícia e ela chega em um minuto, menos de um minuto.

    Então brincadeiras que faziam, de fazer caretas para as pessoas e coisas desse

    tipo, hoje não dá para fazer mais. Em determinadas áreas, você está completamente

    monitorado por câmeras. Há o sentimento de que você está constantemente vigiado

    nessas sociedades "avançadas".

    Lefebvre se pergunta qual é o ardil por trás disso tudo e tenta desmontá-lo: "ocapitalismo moderno necessita incrementar o consumo, elevar o nível de vida". E ele

    questiona o que seria "elevar o nível de vida". Aumentar o nível de consumo? O que

    é elevar o nível de vida? Qual é o sentido dessa expressão? "As condições de

    produção são parcelalizadas e cronometradas até um grau extremo, chegando a ser

    completamente insustentáveis. E a alienação é tamanha que o tempo perdido é o

    tempo do trabalho, que só se justifica pelos diversos graus de lucro e remuneração

    que procura, e que permite comprar o repouso, o consumo, o tempo de ócio". Ou

    seja, vivemos numa passividade cotidiana fabricada e controlada pelo capitalismo,

    onde é esvaziado todo o discurso sobre a lógica do trabalho, lá do nascedouro do

    capitalismo, de Max Weber e outros. O trabalho passa a ser um tempo morto, do

    ponto de vista da vida, em que você reúne condições para comprar o seu direito ao

    repouso, ao lazer. Isso se reflete em várias coisas: tomem-se os parques – você

    entrega tudo para o capital, para a lógica do capital, para a destruição, mas mantém

    parques, reservas, onde você vai nos fins de semana. Aí sim, aquilo ali é um lugar

    não alienado.

    Lefebvre escreve então, em 1970, sobre  A RevoluçãoUrbana, amplificando e

    radicalizando a questão de O Direito à Cidade mas trazendo também uma

    7

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    10/29

    dimensão otimista que já estava embutida no livro anterior. Existe um antídoto

    possível para toda essa alienação, para toda essa manipulação da vida, que é a

     praxis política urbana. É como se, em reação a 1968 – esse ano louco da

    contracultura, do movimento estudantil, de todas as rebeliões pelo mundo afora –estivesse nascendo na cidade em 1970 algo em que ele vê uma revolução urbana;

    uma coisa nova que vai pôr limites a todo esse processo. Lefebvre ainda está

    falando do industrial, do urbano versus o industrial. Hoje, poderíamos ampliar isso

    para formas de organização social não capitalistas que estão colocando em xeque

    as formas capitalistas dominantes. Mas naquele momento Lefebvre fala do urbano

    como uma prática coletiva centrada no valor de uso e no cotidiano, isto é, num outro

    cotidiano não dirigido, que nasce de um espaço vivenciado, de uma  praxis. A idéia

    de  praxis é essa: uma prática teorizada, reflexiva, não alienda. Começa a seanunciar uma sociedade urbana que pode modificar a lógica dominante na medida

    em que lhe coloca limites, subordina-a. Sociedade urbana dois sentidos: o urbano no

    sentido extensivo, a sociedade toda ela urbanizada, mas também o urbano no

    sentido da sua lógica principal ser a reprodução coletiva e não a acumulação, típica

    do capitalismo industrial. Isso manifesta-se numa nova organização.

    Na verdade, as coisas parecem ter ido na direção sugerida por Lefebvre. Pouco

    tempo depois de  A Revolução Urbana, vários cientistas sociais são obrigados a

    estudar os movimentos sociais urbanos, essa grande novidade dos anos 70. De

    repente, todo o discurso higienista e racionalista, todo o nosso discurso de arquitetos

    que desenham a cidade ideal, tudo isso cai por terra. E não é um problema

    brasileiro, de país subdesenvolvido; é uma questão mundial. Surge uma mobilização

     – Espanha, França, Estados Unidos, Itália – em função das condições do cotidiano

    ou, simplificando, das condições de vida. A esquerda dizia que era uma bobagem,

    que a luta não era essa, mas do sindicato, a luta capital versus  trabalho; dizia que

    ficar discutindo rede de esgoto, creche etc. não teria importância nenhuma. Mas

    Lefebvre provou estar certo, e a maioria da esquerda, errada. Houve de fato um

    deslocamento e a questão da cotidianidade venceu.

     Agora, qual é a questão teórica importante? Um pouco mais tarde Lefebvre escreve

    um livro que se chama Espaço e Política – que ficou conhecido como O Direito à

    Cidade 2 , não sei em que sentido – no qual reafirma a questão que não estava tão

    clara: tudo isso se dá no  espaço, é territorializado, se dá nos lugares. E é

    interessante que Lefebvre não usa o termo lugar , caro aos geógrafos como Milton

    Santos e outros. O lugar é aquela porção do território e do espaço social onde todo oprocesso social e histórico se condensa. Mas em Lefebvre essa idéia de lugar está

    8

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    11/29

    embutida na idéia de vida cotidiana e de espaço vivenciado, espaço vivido. Ele

    então reitera essa questão da cidade: não é apenas o direito à cidade, mas a

    consciência da dimensão política do espaço que permeia tudo, inclusive o cotidiano.

    Se eu luto pela política no meu espaço de vida imediato, estou na verdade fazendouma luta muito maior, que tem articulações, projeções e possibilidades muito

    maiores.

    Como Lefebvre é muito criticado pela idéia da revolução urbana (dizem que parece

    conto de fadas: vai acontecer uma grande mobilização nas cidades que vai mudar o

    curso da história, e não-sei-o-quê; leva paulada de tudo quanto é lado), ele escreve

    um livrinho que se chama  A Sobrevivência do Capitalismo.  A reprodução das

    relações de produção. Ele pergunta por que o capitalismo sobrevive, entra em crise,volta, entra em crise. E ele diz mais ou menos o seguinte: o capitalismo sobrevive

    por duas questões fundamentais. A primeira é a reprodução das relações sociais de

    produção. Muita gente, inclusive inimigos de Lefebvre como Althusser, já havia dito

    que os aparelhos ideológicos do estado  são fundamentais para reproduzir as

    relações sociais de produção. A peculiaridade do Lefebvre é que a reprodução das

    relações de produção tem um complemento fundamental, que é a produção do

    espaço. Como é que o capitalismo sobrevive? Sobrevive reproduzindo as relações

    de produção e produzindo espaço. Se não existe relação social que não tenha uma

    dimensão espacial, então a equação está fechadinha.

    Lefebvre, portanto, abandona um pouco a discussão do urbano e da cidade – que é

    de mais fácil percepção para nós, arquitetos – e começar a discutir a produção do

    espaço como um todo, isto é, a produção do espaço social. Ele tenta mostrar que

    essa produção do espaço se dá de uma maneira extremamente complexa. Ela se dá

    no nível do cotidiano, do espaço abstrato, econômico, distante. Você tem uma ordem

    próxima e a ordem distante, que interage nesse espaço vivido, que de alguma

    maneira se aproxima da idéia de lugar. E como é que essas coisas se articulam num

    capitalismo – e aí é uma interpretação minha – que não está conseguindo reproduzir

    suas relações de produção? Não há crise na acumulação, a gente faz mil coisas,

    invade países, destrói, avança com a tecnologia e consegue manter o grau de

    acumulação, mas a reprodução das relações de produção está em crise. A proposta

    inclusiva, que no início alimentou a burguesia e depois o próprio capitalismo, deixou

    de existir, não é mais inclusiva. As relações sociais de produção não estão sendo

    mais reproduzidas de forma abrangente, de forma a incluir todo mundo, de forma a

    se viabilizar.

    9

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    12/29

    Como se dá a produção do espaço? Acho que essa é nossa questão central, e que

    faz voltar à questão da habitação. A minha geração tentava resolver isso por uma

    desalienação do capital. Quando entrei na escola, no final dos anos 60, a idéia

    dominante era de que teríamos um processo de industrialização muito avançadodentro do próprio capital e que isso resolveria o problema. Apesar de estarmos

    vivendo todo esse questionamento do Lefebvre e de outros teóricos, não

    conseguíamos trazer isso para dentro da arquitetura. Nosso marco era

    completamente modernista; pensávamos que a industrialização da construção seria

    a solução. Hoje definitivamente não é mais assim, ainda que também não se trate de

    voltar ao pré-industrial, ao pré-urbano. Há uma coisa a ser reconhecida, descoberta,

    investigada, inventada. Não se trata mais de reproduzir relações assalariadas,

    formar grandes empresas capitalistas ou buscar soluções dentro das relações deprodução tradicionais. Mas também não podemos simplesmente buscar formas

    tecnológicas, sociais e espaciais de tempos passados, numa espécie de nostalgia.

    Temos que buscar uma terceira coisa, recriar, reinventar. Isso não será possível, a

    meu ver, se a questão lefebvriana não for central: a consciência da alienação do

    espaço de vida, de si, da própria história; a consciência do quanto estamos

    impregnados das especializações, das forças externas, das determinações externas,

    como já perdemos qualquer perspectiva de controle e a nossa produção do espaço

    é desligada de nós mesmos, incapaz de um sentido revolucionário. Obrigado, acho

    que era isso.

    Platéia  – Roberto, quando você estava falando do livro O Direito à Cidade, do

    processo de exclusão e tudo isso, fiquei pensando se seria também essa exclusão

    proposta pelo próprio instrumento que é o planejamento. Andamos discutindo o

    planejamento nesse viés: a arquitetura é planejamento despregado da prática e do

    cotidiano. Isso não seria um dos problemas?

    Roberto  – O planejamento, de uma certa maneira, é criado para isso. O

    planejamento, no sentido genérico, é um instrumento importado do comunismo

    quando o capitalismo entra em crise. Antes disso havia o planejamento de cidades,

    mas que era muito mais desenho de cidades. O planejamento como prática

    sistemática é trazido na perspectiva de que há uma ordem da qual o mercado

    capitalista não dá conta. Torna-se necessário um novo pacto, uma intervenção, e o

    planejamento nasce no contexto desse novo pacto, nos Estados Unidos de

    Roosevelt, importando a idéia de que existem bens públicos ou determinados

    elementos centrais da sociedade moderna de que o liberalismo puro e simples não

    dá conta. Mas tenta-se resolver a melhor forma de organizar os recursos humanos e

    10

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    13/29

    naturais e o espaço urbano, regional e nacional dentro do marco do progresso

    capitalista. A crítica de Lefebvre e de outros, na verdade, vai ao cerne disso. O

    planejamento – dizendo de uma maneira meio radical e quase grosseira – é o

    instrumento de fato do poder hegemônico constituído para tentar resolver a questãosem mudar nada, sem nenhuma transformação. E por isso mesmo ele é

    marcadamente excludente. Ele é iluminista, é de cima para baixo e está dentro do

    marco do 'físico' social: o grande sociólogo ou estudioso social que é capaz de ver

    de fora qual é o problema da sociedade e resolvê-lo em função de um bem comum

    ou uma ordem comum. Que ordem é essa? É a ordem do capitalismo, a ordem

    burguesa. Então o planejamento na verdade é uma sofisticação e racionalização de

    um processo que já ocorria espontaneamente. Aí você pode dizer: o planejamento

    mudou muito. Essas vertentes – a lefebvriana e outras – geraram um planejamentooposto, especialmente na América Latina. Temos vários pensadores que não

    acreditam na construção de modelos racionalistas e invertem a questão: em vez de

    vir de cima para baixo, segue de baixo para cima. Há vanguardas política que

    deitaram e rolaram quando surgiram os movimentos sociais urbanos significativos.

    Temos um exemplo forte no Brasil. Quem está no planejamento hoje, no Ministério

    das Cidades, vem da luta popular, do movimento pela reforma urbana, é a

    vanguarda política ligada à esquerda brasileira que estava lá, desde 63 e retomada

    no período da Constituinte, mobilizando uma população. Hoje fala-se de um

    planejamento horizontalizado, com uma articulação entre o saber técnico – e existe

    um saber técnico sistematizado – e o povo. A população que era objeto de

    planejamento – no máximo se colocavam sondas para ouvir melhor canais muito

    limitados de participação – começa a ser tomada hoje como sujeito do planejamento.

     Acho que ainda é uma discussão em construção, não está resolvida. Mas há um

    processo apontando numa direção que se poderia considerar otimista.

    Essa questão já foi falada lá atrás. Eu ia terminar com um textinho interessante do

    Guy Debord e me esqueci – então vou aproveitar. Ele é de 61. Diz o seguinte:

    "A crítica e recriação perpétuas da totalidade da vida cotidiana, antes que seja

    efetuada de forma natural por todos os homens, deve ser empreendida sob

    condições de opressão total e com o objetivo de arruinar tal opressão."

    É interessante, porque a nossa discussão sobre planejamento nos anos 70 era bem

    por aí. Quem é o inimigo? Queríamos identificar estratégias, precisávamos saber

    quem é o inimigo, uma coisa de guerra. Era uma situação de opressão mesmo e

    tínhamos que lutar contra essa opressão. Isso vicejou inclusive dentro dos órgãos de

    planejamento aqui em Minas. Tínhamos um 'bunkerzinho' dentro da Fundação João

    Pinheiro, que era o centro de desenvolvimento urbano, e brigávamos com o restonessa linha.

    11

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    14/29

    "Entretanto, não é um movimento social de vanguarda que pode cumprir semelhante

    programa, por maior que sejam suas simpatias revolucionárias. E tampouco pode

    realizá-la um partido revolucionário de modo tradicional, por muito que conceda um

    lugar primordial à crítica da cultura, entendendo esse termo como um conjunto deinstrumentos artísticos ou conceituais, mediante os quais uma sociedade se explica

    a si mesma, estabelecendo objetivos para a vida. Uma e outra – essa cultura e essa

    política – já estão esgotadas. Por isso não é de se estranhar que a maior parte das

    pessoas se sintam indiferentes a elas."

    Ele está falando de Paris, não era bem o nosso caso, está aí o PT que não me deixa

    mentir.

    "A transformação revolucionária da vida cotidiana não está reservada a um futuro

    vago. O desenvolvimento do capitalismo e de seus insustentáveis imperativos aestabelece, imediatamente, na medida em que sua alternativa não é outra senão a

    perpetuação da escravidão moderna. E essa transformação assinalará o fim de toda

    expressão artística unilateral e armazenada sob a forma de mercadoria, ao mesmo

    tempo que o fim de toda a política especializada. Essa será a tarefa de uma nova

    organização revolucionária, tarefa que começa, agora, a partir da sua própria

    formação."

    Essa idéia é a de que, na verdade, nem as vanguardas políticas, nem o partido

    organizado dão conta. Tem que ser uma mudança que vai nascer, mesmo, visceral,

    do seio da sociedade, da vida cotidiana, em última instância.

    Platéia  – Os movimentos populares, surgem, crescem e tomam o poder, mas

    reproduzem a mesma coisa quando chegam lá em cima.

    Roberto – Eu acho que estamos num momento de muita transição. Cai um rei e o

    que você põe no lugar? Não há dúvida de que em curto prazo, sim. Depende de nós

    conseguirmos criar mecanismos de renovação. A proposta de Lefebvre é de

    revolução cultural permanente. Há várias vertentes de revolução cultural

    permanente, várias maneiras. Implica em criar instituições, mecanismos, formas. Eu

    diria o seguinte: quando se cai na ordem dominante – econômica, jurídica etc. – o

    tempo de transformação é muito mais lento; melhor será conseguir criar coisas

    paralelas, que não neguem a articulação para fora. Vou dar um exemplo dentro da

    economia solidária. Existem vários exemplos de moedas, circuitos internos, formas

    alternativas, sistemas humanitários, sistemas de troca, etc., mas recentemente me

    relataram uma experiência em Vitória ou Vila Velha (se alguém souber disso melhor,

    por favor, fale) que é curiosa, porque lá parece que isso avançou muito. Existe uma

    12

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    15/29

    moeda e todas as transações internas são feitas com ela. O que isso significa?

    Evita-se vazamento de renda, porque a moeda só vale ali. Em Minas usavam isso –

    o famoso Boró no século XIX. Havia uma economia fechada dentro das fazendas,

    muito forte, e pagavam os empregados numa moeda interna, que obrigava acomprar no barracão. Se uma comunidade faz isso diante de um sistema maior, cria-

    se um processo que eu não saberia dizer em que vai dar, mas que questiona na

    base a lógica do que está aí. Ele cria uma outra lógica, concorrente.

    Platéia – Vocês estavam falando do planejamento, então quero emendar uma outra

    pergunta. Paulo Bicca comentou que exatamente nessa época os departamentos de

    projeto e as disciplinas de projeto arquitetônico se transformaram em departamentos

    de planejamento e disciplinas de planejamento arquitetônico. Não sei se você selembra disso ou se isso teve alguma importância, mas você acha que houve uma

    mudança de abordagem ou era apenas uma moda, em que muda o nome mas

    continua tudo igual? Porque antes disso parece que ainda estavam lá no registro

    das grandes, médias e pequenas composições…

    Roberto – É, minha geração é das composições. É interessante você brincar com

    isso porque claramente há uma inspiração artística – composições –, e depois se

    passa para o projeto, que pressupõe uma lógica dada e uma abordagem muito mais

    analítica, acho. Existe uma totalidade – a cidade ou o que for – e se faz um projeto

    ali dentro, em escala muito pequena. O planejamento envolve uma organização

    maior, muda-se de escala. Não sei, mas imagino que isso deva ter ocorrido quando

    o curso de urbanismo se fundiu ao de arquitetura. Porque antigamente era

    arquitetura só, e o urbanismo era um outro curso, completamente separado. Eu

    tenho dois diplomas de graduação, um em arquitetura e um em urbanismo. Então

    quando se inclui o urbanismo, a idéia de projeto pode parecer pequena. Pensar que

    Brasília é um projeto? Brasília é um plano. Imagino que haja uma dimensão de

    escala, mas há também o fim de uma certeza. O projeto pressupõe uma certeza, é

    uma visão de futuro acabada lá na frente. No planejamento você tem menos

    controle. Ele permite interação com o outro, intervenções do outro, você tem que ter

    um certo distanciamento, pode não ser exatamente do jeito que você quis. O projeto,

    não, o projeto é um negócio fechado, tende a ser assim.

    Platéia – Seu diploma é de engenheiro-arquiteto.

    Roberto – Engenheiro arquiteto, sim. A única coisa que eu sabia quando era garoto éque não queria ser engenheiro.

    13

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    16/29

    Platéia  – Quando você estava falando de como Lefebvre trabalha a questão do

    cotidiano, disse que pelo cotidiano pode-se mudar uma lógica geral, pois a própria

    lógica da sociedade é construída a partir do cotidiano, ou seja, a partir das partesmenores da vida. A construção da casa, por exemplo, também pode ser uma forma

    de modificar a lógica geral, construir uma nova sociedade através de uma parte

    menor? Você acha que a arquitetura pode ter esse papel, ser associada com outras

    preocupações?

    Roberto – Eu sou uma pessoa extremamente otimista, então eu vejo as coisas em

    geral dessa maneira também. A articulação que Lefebvre faz entre ação e estrutura

     – e não só ele, hoje tem muita gente mexendo com isso – é um tema que voltou. Agência é a ação individual, a diferença que você pode fazer enquanto agente. A

    estrutura é onde se colocava esse agente, ou de uma maneira meio alienada e

    onipotente (a estrutura é uma merda, mas ele é brilhante, etc.), ou, ao contrário,

    impotente (não há nada que você possa fazer a não ser derrubar a estrutura). Isso é

    como a gente tendia a fazer, particularmente a esquerda no Brasil: então vamos

    para a luta armada, porque você sozinho não consegue fazer nada. Eu acho que

    Lefebvre junta essas coisas quando trata do cotidiano e coloca o foco ali, no menor,

    que na verdade é o maior. Como se diz, as estruturas se manifestam, se juntam a

    partir disso. E hoje, no pensamento contemporâneo, na forma contemporânea de ver

    o tecido social, com suas estruturas de poder e de construção, estamos percependo

    cada vez mais essa obviedade de que as coisas se constróem em relações

    pessoais, completamente fora da lógica econômica pura. Tudo converge para lá,

    mas você tem n elementos diferenciados do cotidiano que também contam. Veja um

    estudo sobre cidade global, por exemplo: "é uma expressão da organização mundial

    do capitalismo globalizado contemporâneo…", e você vai ver que está falando do

    cotidiano de uma cidade, de como é que se dão as articulações em Nova York, de

    como as pessoas se relacionam. Essa junção, ou a quebra dessa dicotomia, hoje,

    no pensamento pós-moderno, está cada vez mais evidente. Não se trata mais de

    escolher entre isso ou aquilo, mas dos dois, como é que você combina esses dois.

    Então, para chegar à sua pergunta: num processo de mutirão, por exemplo, qual é a

    capacidade transformadora? Ele não é a revolução das armas, da minha geração,

    mas, dentro da perspectiva lefebvriana, é a verdadeira revolução. É a idéia de

    Debord: não são as vanguardas políticas nem os grandes partidos que vão fazer

    isso, mas vai ser uma coisa que se constrói a partir do cotidiano. Aí volta a questão

    anterior – mas a tendência não é cair nos velhos esquemas? É. Em qualquer nívelem que se confere poder, capacidade de consumo e todos esses elementos, a

    14

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    17/29

    tendência é cair nos velhos esquemas. O que a gente pode confiar é que nesse

    processo tem transformações. Se você cai num mesmo esquema de relações

    capitalistas, vai ser empurrado para isso. Mas se as relações sociais de produção

    são outras, você consegue reinventar, de alguma maneira, nessa produção doespaço, relações sociais de produção diferenciadas, até influenciar a transformação.

    Então talvez não se trate mais nem de evolução nem de revolução, mas de

    transformação consciente. Eu gosto desse trechinho do Guy Debord: perspectivas

    da transformação consciente da vida cotidiana. São muitas, mas são limitadas.

    15

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    18/29

    BRENNER, Neil. What is critical urban theory? CITY , V. 13, N.2–3, June–

    September, 2009, p.198-207.

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    19/29

    CITY , V OL . 13, NOS. 2–3, JUNE–SEPTEMBER  2009

     What is critical urban theory?

    Neil Brenner TaylorandFrancis

    What is critical urban theory? While this phrase is often used in a descriptive sense, to char-acterize the tradition of post-1968 leftist or radical urban studies, I argue that it also hasdeterminate social–theoretical content. To this end, building on the work of several Frank-

     furt School social philosophers, this paper interprets critical theory with reference to four,mutually interconnected elements—its theoretical character; its reflexivity; its critique of instrumental reason; and its emphasis on the disjuncture between the actual and the possi-ble. On this basis, a brief concluding section considers the status of urban questions withincritical social theory. In the early 21st century, I argue, each of the four key elements withincritical social theory requires sustained engagement with contemporary patterns of capitalisturbanization. Under conditions of increasingly generalized, worldwide urbanization, the

     project of critical social theory and that of critical urban theory have been intertwined asnever before.

    Introduction

    hat is critical  urban theory? Thisphrase is generally used as ashorthand reference to the writ-

    ings of leftist or radical urban scholarsduring the post-1968 period—for instance,those of Henri Lefebvre, David Harvey,Manuel Castells, Peter Marcuse and alegion of others who have been inspired orinfluenced by them (Katznelson, 1993;

    Merrifield, 2002). Critical urban theoryrejects inherited disciplinary divisions of labor and statist, technocratic, market-driven and market-oriented forms of urban knowledge. In this sense, criticaltheory differs fundamentally from whatmight be termed ‘mainstream’ urbantheory—for example, the approachesinherited from the Chicago School of urban sociology, or those deployed within

    technocratic or neoliberal forms of policyscience. Rather than affirming the currentcondition of cities as the expression of 

    transhistorical laws of social organization,

    bureaucratic rationality or economic effi-ciency, critical urban theory emphasizesthe politically and ideologically mediated,socially contested and therefore malleablecharacter of urban space—that is, itscontinual (re)construction as a site,medium and outcome of historicallyspecific relations of social power. Criticalurban theory is thus grounded on anantagonistic relationship not only to

    inherited urban knowledges, but moregenerally, to existing urban formations. Itinsists that another, more democratic,socially just and sustainable form of urban-ization is possible, even if such possibilitiesare currently being suppressed throughdominant institutional arrangements,practices and ideologies. In short, criticalurban theory involves the critique of ideol-ogy (including social–scientific ideologies)and 

     the critique of power, inequality, injus-tice and exploitation, at once within andamong cities.

    W

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    20/29

    BRENNER : W HAT IS CRITICAL  URBAN THEORY ? 199

    However, the notions of critique, andmore specifically of critical theory, are notmerely descriptive terms. They have deter-minate social–theoretical content that isderived from various strands of Enlighten-ment and post-Enlightenment socialphilosophy, not least within the work of Hegel, Marx and the Western Marxiantradition (Koselleck, 1988; Postone, 1993;Calhoun, 1995). Moreover, the focus of critique in critical social theory has evolvedsignificantly during the course of the lasttwo centuries of capitalist development(Therborn, 1996). Given the intellectualand political agenda of this issue of  CITY , it

    is worth revisiting some of the key argu-ments developed within the aforemen-tioned traditions, particularly that of theFrankfurt School, which arguably providea crucial, if often largely implicit, referencepoint for the contemporary work of criticalurbanists.

    One of the main points to be emphasizedbelow is the historical specificity of anyapproach to critical social theory, urban or

    otherwise. The work of Marx and theFrankfurt School emerged during previousphases of capitalism—competitive (mid- tolate-19th century) and Fordist–Keynesian(mid-20th century), respectively—that havenow been superseded through the restless,creatively destructive forward-motion of capitalist development (Postone, 1992, 1993,1999). A key contemporary question, there-fore, is how the conditions of possibility for

    critical theory have changed today, in theearly 21st century, in the context of an increas-ingly globalized, neoliberalized and financial-ized formation of capitalism (Therborn,2008).

    Such considerations also lead directly intothe thorny problem of how to position urbanquestions within the broader project of criticalsocial theory. With the significant exceptionof Walter Benjamin’s Passagen-Werk, none of the main figures associated with the FrankfurtSchool devoted much attention to urban ques-tions. For them, critical theory involved the

    law, including their mediations, for instance,through family structures, cultural forms andsocial–psychological dynamics (Jay, 1973;Kellner, 1989; Wiggershaus, 1995). This orien-tation had a certain plausibility during thecompetitive and Fordist–Keynesian phases of capitalist development, insofar as urbaniza-tion processes were then generally viewed asa straightforward spatial expression of other,purportedly more fundamental social forces,such as industrialization, class struggle andstate regulation. I argue below, however, thatsuch an orientation is no longer tenable in theearly 21st century, as we witness nothing lessthan an urbanization of the world —the ‘urban

    revolution’ anticipated nearly four decadesago by Henri Lefebvre (2003 [1970]). Underconditions of increasingly generalized, world-wide urbanization (Lefebvre, 2003 [1970];Schmid, 2005; Soja and Kanai, 2007), theproject of critical social theory and that of crit-ical urban theory have been mutually inter-twined as never before.

    Critique and critical social theory

    The modern idea of critique is derived fromthe Enlightenment and was developed mostsystematically in the work of Kant, Hegeland the Left Hegelians (Marcuse, 1954;Habermas, 1973; Jay, 1973; Calhoun, 1995;Therborn, 1996). But it assumed a new signif-icance in Marx’s work, with the developmentof the notion of a critique of political econ-

    omy (Postone, 1993). For Marx, the critiqueof political economy entailed, on the onehand, a form of Ideologiekritik, an unmask-ing of the historically specific myths, reifica-tions and antinomies that pervade bourgeoisforms of knowledge. Just as importantly,Marx understood the critique of politicaleconomy not only as a critique of ideas anddiscourses about capitalism, but as a critiqueof capitalism itself, and as a contribution tothe effort to transcend it. In this dialecticalconception, a key task of critique is to revealthe contradictions within the historically

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    21/29

    200 CITY  V OL . 13, NOS. 2–3

    This approach to critique is seen to haveseveral important functions. First, it exposesthe forms of power, exclusion, injustice andinequality that underpin capitalist socialformations. Second, for Marx, the critique of political economy is intended to illuminatethe landscape of ongoing and emergentsociopolitical struggles: it connects the ideo-logical discourses of the political sphere tothe underlying (class) antagonisms and socialforces within bourgeois society. Perhapsmost crucially, Marx understood critique as ameans to explore, both in theory and in prac-tice, the possibility of forging alternatives tocapitalism. A critique of political economy

    thus served to show how capitalism’s contra-dictions simultaneously undermine thesystem, and point beyond it, towards otherways of organizing social capacities and soci-ety/nature relations.

    During the course of the 20th century,Marx’s critique of political economy hasbeen appropriated within diverse traditionsof critical social analysis, including the tradi-tional Marxism of the Second International

    (Kolakowski, 1981) and the alternativestrands of radical thought associated withWestern Marxism (Jay, 1986). It was argu-ably within the Frankfurt School of criticalsocial theory, however, that the concept of critique was explored most systematically asa methodological, theoretical and politicalproblem. In confronting this issue, the majorfigures within the Frankfurt School alsodeveloped an innovative, intellectually and

    politically subversive research program onthe political economy, social–psychologicaldynamics, evolutionary trends and innercontradictions of modern capitalism(Bronner and Kellner, 1989; Arato andGebhardt, 1990; Wiggershaus, 1995).

    It was Max Horkheimer (1982 [1937]) who,writing from exile in New York City in 1937,introduced the terminology of ‘criticaltheory’. The concept was subsequently devel-oped and extended by his associates TheodorAdorno and Herbert Marcuse, and later, invery different directions, by Jürgen Habermas,

    conception, critical theory represented adecisive break from the orthodox forms of Marxism that prevailed under the SecondInternational, with its ontology of labor andits invocation of proletarian class struggle asthe privileged basis for social transformationunder capitalism. Additionally, during thecourse of the mid-20th century, the FrankfurtSchool of critical theory was animated byseveral other contextually specific concernsand preoccupations—including the critique of fascism in Germany and elsewhere; thecritique of technology, mass consumerism andthe culture industry under postwar capitalismin Europe and the USA; and, particularly in

    the later work of Herbert Marcuse, the critiqueof suppressed possibilities for human emanci-pation latent with present institutionalarrangements.

    The Frankfurt School notion of criticaltheory was initially elaborated as an episte-mological concept. In Horkheimer’s classic1937 essay ‘Traditional and CriticalTheory’, it served to demarcate an alterna-tive to positivistic and technocratic

    approaches to social science and bourgeoisphilosophy (Horkheimer, 1982 [1937],pp. 188–252). This line of analysis wasfamously continued by Adorno in the1960s, in the Positivismusstreit  (positivismdispute) with Karl Popper (Adorno et al .,1976), and again in a totally different formin his philosophical writings on dialecticsand aesthetic theory (for a sampling, seeO’Connor, 2000). The notion of critical

    theory was developed in yet another newdirection by Habermas in his debate ontechnocracy with Niklas Luhmann in theearly 1970s (Habermas and Luhmann,1971), and in a still more elaborate, matureform in his magnum opus, The Theory of Communicative Action, in the mid-1980s(Habermas, 1985, 1987).

    The most politically charged vision of crit-ical theory was arguably presented byHerbert Marcuse in the mid-1960s, above allin his 1964 classic book, One-Dimensional Man. For Marcuse, critical theory entailed an

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    22/29

    BRENNER : W HAT IS CRITICAL  URBAN THEORY ? 201

    current form: it is concerned, he insisted,with ‘the historical alternatives which hauntthe established society as subversive tenden-cies and forces’ (1964, pp. xi–xii; italicsadded). There is thus a direct link betweenMarcuse’s project and a central aspect of Marx’s original critique of political econ-omy—the search for emancipatory alterna-tives latent within the present, due to thecontradictions of existing social relations (asemphasized systematically by Postone,1993).

    Key elements of critical theory: four

    propositions

    There are, of course, profound epistemologi-cal, methodological, political and substantivedifferences among writers such as Horkhe-imer, Adorno, Marcuse and Habermas.Nonetheless, it can be argued that their writ-ings collectively elaborate a core, underlyingconception of critical theory (for an alterna-tive but compatible reading, see Calhoun,

    1995). This conception can be summarizedwith reference to four key propositions: crit-ical theory is theory; it is reflexive; itinvolves a critique of instrumental reason;and it is focused on the disjuncture betweenthe actual and the possible. These proposi-tions should be understood as being inextri-cably intertwined and mutually constitutive;

    the full meaning of each can only be graspedin relation to the others (Figure 1).Figure 1 Fourmutually constitutive propositions oncriti cal theory.S ource: Author.

    Critical theory is theory

    In the Frankfurt School, critical theory isunapologetically abstract. It is characterizedby epistemological and philosophical reflec-tions; the development of formal concepts,generalizations about historical trends;deductive and inductive modes of argumen-tation; and diverse forms of historical analy-sis. It may also build upon concreteresearch, that is, upon an evidentiary basis,

    whether organized through traditional orcritical methods. As Marcuse (1964, p. xi)writes, ‘In order to identify and define thepossibilities for an optimal development, thecritical theory must abstract from the actualorganization and utilization of society’sresources, and from the results of this orga-nization and utilization.’ It is, in this sense, atheory.

    Critical theory is thus not intended to

    serve as a formula for any particular courseof social change; it is not a strategic map forsocial change; and it is not a ‘how to’-styleguidebook for social movements. It may—indeed, it should —have mediations to therealm of practice, and it is explicitly intendedto inform the strategic perspective of progressive, radical or revolutionary social

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    23/29

    202 CITY  V OL . 13, NOS. 2–3

    and political actors. But, at the same time,crucially, the Frankfurt School conception of critical theory is focused on a moment of abstraction that is analytically prior to thefamous Leninist question of ‘What is to bedone?’

    Critical theory is reflexive

    In the Frankfurt School tradition, theory isunderstood to be at once enabled by, andoriented towards, specific historical condi-tions and contexts. This conceptualization hasat least two key implications. First, critical

    theory entails a total rejection of any stand-point—positivistic, transcendental, meta-physical or otherwise—that claims to be ableto stand ‘outside’ of the contextually specifictime/space of history. All social knowledge,including critical theory, is embedded withinthe dialectics of social and historical change; itis thus intrinsically, endemically contextual.Second, Frankfurt School critical theorytranscends a generalized hermeneutic concern

    with the situatedness of all knowledge. It isfocused, more specifically, on the question of how oppositional, antagonistic forms of knowledge, subjectivity and consciousnessmay emerge within an historical socialformation.

    Critical theorists confront this issue byemphasizing the fractured, broken or contra-dictory character of capitalism as a socialtotality. If the totality were closed, non-

    contradictory or complete, there could be nocritical consciousness of it; there would be noneed for critique; and indeed, critique wouldbe structurally impossible. Critique emergesprecisely insofar as society is in conflict withitself, that is, because its mode of develop-ment is self-contradictory. In this sense, criti-cal theorists are concerned not only to situatethemselves and their research agendas withinthe historical evolution of modern capitalism. Just as crucially, they want to understandwhat it is about modern capitalism thatenables their own and others’ forms of criti-

    Critical theory entails a critique ofinstrumental reason

    As is well known, the Frankfurt Schoolcritical theorists developed a critique of instrumental reason (analyzed at length inHabermas, 1985, 1987). Building on MaxWeber’s writings, they argued against thesocietal generalization of a means–endsrationality oriented towards the purposive-rational (Zweckrationale), an efficient link-ing of means to ends, without interrogationof the ends themselves. This critique hadimplications for various realms of industrialorganization, technology and administration,

    but most crucially here, Frankfurt Schooltheorists also applied it to the realm of socialscience. In this sense, critical theory entails aforceful rejection of instrumental modes of social scientific knowledge—that is, thosedesigned to render existing institutionalarrangements more efficient and effective, tomanipulate and dominate the social andphysical world, and thus to bolster currentforms of power. Instead, critical theorists

    demanded an interrogation of the ends of knowledge, and thus, an explicit engagementwith normative questions.

    Consistent with their historically reflexiveapproach to social science, Frankfurt Schoolscholars argued that a critical theory mustmake explicit its practical–political andnormative orientations, rather than embrac-ing a narrow or technocratic vision. Instru-mentalist modes of knowledge necessarily

    presuppose their own separation from theirobject of investigation. However, once thatseparation is rejected, and the knower isunderstood to be embedded within the samepractical social context that is being investi-gated, normative questions are unavoidable.The proposition of reflexivity and thecritique of instrumental reason are thusdirectly interconnected.

    Consequently, when critical theoristsdiscuss the so-called theory/practice prob-lem, they are not referring to the question of how to ‘apply’ theory to practice. Rather,

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    24/29

    BRENNER : W HAT IS CRITICAL  URBAN THEORY ? 203

    in exactly the opposite direction—namely,how the realm of practice (and thus, norma-tive considerations) always already informsthe work of theorists, even when the latterremains on an abstract level. As Habermaswrote in 1971:

    ‘The dialectical interpretation [associated withcritical theory] comprehends the knowingsubject in terms of the relations of socialpraxis, in terms of its position, both within theprocess of social labor and the process ofenlightening the political forces about theirgoals.’ (Habermas, 1973, pp. 210–211)

    Critical theory emphasizes the disjuncturebetween the actual and the possible

    As Therborn (2008) argues, the FrankfurtSchool embraces a dialectical critique of capitalist modernity—that is, one that affirmsthe possibilities for human liberation that areopened up by this social formation while alsocriticizing its systemic exclusions, oppres-sions and injustices. The task of critical

    theory is therefore not only to investigate theforms of domination associated with moderncapitalism, but equally, to excavate the eman-cipatory possibilities that are embeddedwithin, yet simultaneously suppressed by,this very system.

    In much Frankfurt School writing, thisorientation involves a ‘search for a revolu-tionary subject’, that is, the concern to findan agent of radical social change that could

    realize the possibilities unleashed yetsuppressed by capitalism. However, giventhe Frankfurt School’s abandonment of anyhope for a proletarian-style revolution, theirsearch for a revolutionary subject during thepostwar period generated a rather gloomypessimism regarding the possibility for socialtransformation and, especially in the work of Adorno and Horkheimer, a retreat into rela-tively abstract philosophical and aestheticconcerns (Postone, 1993).

    Marcuse, by contrast, presents a verydifferent position on this matter in the

    Here he agrees with his Frankfurt Schoolcolleagues that, in contrast to the formativeperiod of capitalist industrialization, late20th-century capitalism lacks any clear‘agents or agencies of social change’; in otherwords, the proletariat was no longer operat-ing as a class ‘for itself’. Nonetheless,Marcuse (1964, p. xii) insists forcefully that‘the need for qualitative change is as pressingas ever before […] by society as a whole, forevery one of its members’. Against thisbackground, Marcuse proposes that therather abstract quality of critical theory,during the time in which he was writing, wasorganically linked to the absence of an obvi-

    ous agent of radical, emancipatory socialchange. He argues, moreover, that theabstractions associated with critical theorycould only be blunted or dissolved throughconcrete-historical struggles: ‘The theoreticalconcepts’, Marcuse (1964, p. xii) suggests,‘terminate with social change.’ This powerfulproposition thus returns us to the idea of critical theory as  theory. Just as the critical thrust of critical theory is historically condi-

    tioned and historically oriented, so too is itstheoretical   orientation continuously shapedand reshaped through ongoing social andpolitical transformations.

    Marcuse’s position is reminiscent of Marx’s famous claim in Volume 3 of Capital that all science would be superfluous if therewere no distinction between reality andappearance. Similarly, Marcuse suggests, in aworld in which radical or revolutionary

    social change were occurring, critical theorywould be effectively marginalized or evendissolved—not in its critical orientation, butas theory: it would become concrete practice.Or, to put the point differently, it is preciselybecause revolutionary, transformative, eman-cipatory social practice remains so tightlycircumscribed and constrained undercontemporary capitalism that critical theoryremains critical theory—and not simplyeveryday social practice. From this point of view, the so-called theory/practice divide isan artifact not of theoretical confusion or

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    25/29

    204 CITY  V OL . 13, NOS. 2–3

    alienated, contradictory social formation inwhich critical theory is embedded. There isno theory that can overcome this divide,because, by definition, it cannot be overcometheoretically; it can only be overcome inpractice.

    Critical theory and the urbanizationquestion

    While Marx’s work has exercised a massiveinfluence on the post-1968 field of criticalurban studies, few, if any, contributors tothis field have engaged directly with the writ-

    ings of the Frankfurt School. Nonetheless,I believe that most authors who positionthemselves within the intellectual universe of critical urban studies would endorse, at leastin general terms, the conception of criticaltheory that is articulated through the fourpropositions summarized above:

    ! they insist on the need for abstract, theo-retical arguments regarding the nature of 

    urban processes under capitalism, whilerejecting the conception of theory as a‘handmaiden’ to immediate, practical orinstrumental concerns;

    ! they view knowledge of urban questions,including critical perspectives, as beinghistorically specific and mediated throughpower relations;

    ! they reject instrumentalist, technocraticand market-driven forms of urban analysis

    that promote the maintenance and repro-duction of extant urban formations; and! they are concerned to excavate possibili-

    ties for alternative, radically emancipatoryforms of urbanism that are latent, yetsystemically suppressed, within contem-porary cities.

    Of course, any given contribution to criticalurban theory may be more attuned to someof these propositions than to others, but theyappear, cumulatively, to constitute an impor-tant epistemological foundation for the field

    has developed on an intellectual and politicalterrain that had already been tilled exten-sively not only by Marx, but also by the vari-ous theoreticians of the Frankfurt School.Given the rather pronounced, even divisivecharacter of methodological, epistemologicaland substantive debates among criticalurbanists since the construction of this fieldin the early 1970s (see, for instance, Saunders,1986; Gottdiener, 1985; Soja, 2000; Brennerand Keil, 2005; Robinson, 2006), it is essen-tial not to lose sight of these broad areas of foundational agreement.

    However, as the field of critical urbanstudies continues to evolve and diversify in

    the early 21st century, its character as a puta-tively ‘critical’ theory deserves to besubjected to careful scrutiny and systematicdebate. In an incisive feminist critique of Habermas, Fraser (1989) famously asked,‘What’s critical about critical theory?’Fraser’s question can also be posed of thefield of study under discussion in this issue of CITY : what’s critical about critical urbantheory? Precisely because the process of 

    capitalist urbanization continues its forward-movement of creative destruction on a worldscale, the meanings and modalities of critiquecan never be held constant; they must, on thecontrary, be continually reinvented in rela-tion to the unevenly evolving political–economic geographies of this process and thediverse conflicts it engenders. This is, in myview, one of the major intellectual and politi-cal challenges confronting critical urban

    theorists today, and it is one that severalcontributors to this issue of CITY   grapplewith quite productively.

    As indicated above, the concept of critiquedeveloped by Marx and the vision of criticaltheory elaborated in the Frankfurt Schoolwere embedded within historically specificformations of capitalism. Consistent withtheir requirement for reflexivity, each of these approaches explicitly understood itself to be embedded within such a formation, andwas oriented self-consciously towardssubjecting the latter to critique. This require-

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    26/29

    BRENNER : W HAT IS CRITICAL  URBAN THEORY ? 205

    must also figure centrally in any attempt toappropriate or reinvent critical theory, urbanor otherwise, in the early 21st century.However, as Postone (1993, 1999) hasargued, the conditions of possibility for criti-cal theory have been thoroughly reconsti-tuted under post-Fordist, post-Keynesiancapitalism. The nature of the structuralconstraints on emancipatory forms of socialchange, and the associated imagination of alternatives to capitalism, have been qualita-tively transformed through the accelerationof geoeconomic integration, the intensifiedfinancialization of capital, the crisis of thepostwar model of welfare state intervention,

    the still ongoing neoliberalization of stateforms and the deepening of planetary ecolog-ical crises (Albritton et al ., 2001; Harvey,2005). The most recent global financialcrisis—the end result of a ‘roller coaster’ of catastrophic regional crashes that have beenrippling across the world economy for atleast a decade (Harvey, 2008)—has generateda new round of worldwide, crisis-inducedrestructuring that has still further rearticu-

    lated the epistemological, political and insti-tutional conditions of possibility for anycritical social theory (Brand and Sekler, 2009;Gowan, 2009; Peck et al ., 2009). While thefour aforementioned elements of criticaltheory surely remain urgently relevant in theearly 21st century, their specific meaningsand modalities need to be carefully reconcep-tualized. The challenge for those committedto the project of critical theory is to do so in a

    manner that is adequate to the continuedforward-motion of capital, its associatedcrisis-tendencies and contradictions, and thestruggles and oppositional impulses it isgenerating across the variegated landscapes of the world economy.

    Confronting this task hinges, I submit, ona much more systematic integration of urbanquestions into the analytical framework of critical social theory as a whole. Asmentioned above, the problematic of urban-ization received relatively scant attentionwithin classical Frankfurt School analyses;

    Benjamin’s wide-ranging sketches (2002) onthe capitalist transformation of 19th-centuryParis have engendered significant scholarlyinterest (Buck-Morss, 1991). Even duringthe competitive and Fordist–Keynesianphases of capitalist development, urbaniza-tion processes—manifested above all in theformation and expansion of large-scale urbanregions—figured crucially in the dynamics of capital accumulation and in the organizationof everyday social relations and politicalstruggles. Under present geohistorical condi-tions, however, the process of urbanizationhas become increasingly generalized on aworld scale. Urbanization no longer refers

    simply to the expansion of the ‘great towns’of industrial capitalism, to the sprawlingmetropolitan production centers, suburbansettlement grids and regional infrastructuralconfigurations of Fordist–Keynesian capital-ism, or to the anticipated linear expansion of city-based human populations in the world’s‘mega-cities’. Instead, as Lefebvre (2003[1970]) anticipated nearly four decades ago,this process now increasingly unfolds

    through the uneven stretching of an ‘urbanfabric’, composed of diverse types of invest-ment patterns, settlement spaces, land usematrices and infrastructural networks, acrossthe entire world economy. Urbanization is,to be sure, still manifested in the continued,massive expansion of cities, city-regions andmega-city-regions, but it equally entails theongoing sociospatial transformation of diverse, less densely agglomerated settlement

    spaces that are, through constantly thicken-ing inter-urban and inter-metropolitan infra-structural networks, being ever more tightlyinterlinked to the major urban centers. Weare witnessing, in short, nothing less than theintensification and extension of the urbaniza-tion process at all spatial scales and across theentire surface of planetary space (Lefebvre,2003 [1970]; Schmid, 2005).

    As during previous phases of capitalistdevelopment, the geographies of urbaniza-tion are profoundly uneven—but theirparameters are no longer confined to any

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    27/29

    206 CITY  V OL . 13, NOS. 2–3

    defined as a city, a city-region, a metropoli-tan region or even a mega-city-region.Consequently, under contemporary circum-stances, the urban can no longer be viewedas a distinct, relatively bounded site; it hasinstead become a generalized, planetarycondition in and through which the accu-mulation of capital, the regulation of politi-cal–economic life, the reproduction of everyday social relations and the contesta-tion of the earth and humanity’s possiblefutures are simultaneously organized andfought out. In light of this, it is increasinglyuntenable to view urban questions asmerely one among many specialized sub-

    topics to which a critical theoreticalapproach may be applied—alongside, forinstance, the family, social psychology,education, culture industries and the like.Instead, each of the key methodological andpolitical orientations associated with criticaltheory, as discussed above, today requiressustained engagement with contemporaryworldwide patterns of capitalist urbaniza-tion and their far-reaching consequences for

    social, political, economic and human/nature relations.

    This is an intentionally provocative asser-tion, and this brief paper has offered no morethan a modest attempt to demarcate the needfor such an engagement and some of thebroad intellectual parameters within which itmight occur. Clearly, the effective elabora-tion of this ‘urbanistic’ reorientation of criti-cal theory will require further theoretical

    reflection, extensive concrete and compara-tive research, as well as creative, collaborativestrategizing to nourish the institutionalconditions required for an effervescence of critical knowledges about contemporaryurbanization. I argued above that criticalurbanists must work to clarify and continu-ally redefine the ‘critical’ character of theirtheoretical engagements, orientations andcommitments in light of early 21st-centuryprocesses of urban restructuring. Given thefar-reaching transformations associated withsuch processes, the time seems equally ripe to

    more systematically and comprehensivelyinto the intellectual architecture of criticaltheory as a whole.

    Acknowledgements

    Thanks are due to Peter Marcuse, MargitMayer and Christian Schmid for helpfuldiscussions and critical feedback.

    References

     Adorno, T., Albert, H., Dahrendorf, R., Habermas, J.,

    Pilot, H. and Popper, K. (1976) The Positivist Disputein German Sociology. Trans. G. Adey and D.Frisby. London: Heinemann.

     Albritton, R., Itoh, M., Westra, R. and Zuege, A. (eds)(2001) Phases of Capitalist Development: Booms,Crises, Globalizations. New York: Palgrave.

     Arato, A. and Gebhardt, E. (eds) (1990) The EssentialFrankfurt School Reader. New York: Continuum.

    Benjamin, W. (2002) The Arcades Project. Ed. R.Tiedemann, trans. H. Eiland and K. McLaughlin.Cambridge, MA: Harvard University Press.

    Brand, U. and Sekler, N. (eds) (2009) ‘Postneoliberalism:

    a beginning debate’ [Special issue], DevelopmentDialogue  51, pp. 3–211.Brenner, N. and Keil, R. (eds) (2005) The Global

    Cities Reader. New York: Routledge.Bronner, S. and Kellner, D. (1989) Critical Theory and

    Society: A Reader. New York: Routledge.Buck-Morss, S. (1991) The Dialectics of Seeing: Walter

    Benjamin and the Arcades Project. Cambridge, MA:MIT Press.

    Calhoun, C. (1995) ‘Rethinking critical theory’, inC. Calhoun, Critical Social Theory, pp. 1–42.Cambridge, MA: Blackwell.

    Fraser, N. (1989) Unruly Practices. Minneapolis:University of Minnesota Press.

    Gottdiener, M. (1985) The Social Production of UrbanSpace, 2nd edn. Austin: University of Texas Press.

    Gowan, P. (2009) ‘Crisis in the heartland: consequencesof the new Wall Street system’, New Left Review  55,pp. 5–29.

    Habermas, J. (1973) Theory and Practice. Trans. J. Viertel. Boston: Beacon.

    Habermas, J. (1985) The Theory of Communicative Action,Volume 1. Trans. T. McCarthy. Boston: Beacon.

    Habermas, J. (1987) The Theory of Communicative Action,Volume 2. Trans. T. McCarthy. Boston: Beacon.

    Habermas, J. and Luhmann, N. (1971) Theorieder Gesellschaft oder Sozialtechnologie—wasleistet Systemforschung?  Frankfurt: Suhrkamp

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    28/29

    BRENNER : W HAT IS CRITICAL  URBAN THEORY ? 207  

    Harvey, D. (2005) The New Imperialism. New York:Oxford University Press.

    Harvey, D. (2008) ‘The right to the city’, New Left Review  53, pp. 23–40.

    Horkheimer, M. (1982 [1937]) ‘Traditional and criticaltheory’, in M. Horkheimer, Critical Theory: SelectedEssays, pp. 188–243. Trans. M.J. O’Connell. New York: Continuum.

     Jay, M. (1973) The Dialectical Imagination. Boston: Little,Brown.

     Jay, M. (1986) Marxism and Totality. Berkeley:University of California Press.

    Katznelson, I. (1993) Marxism and the City. New York:Oxford University Press.

    Kellner, D. (1989) Critical Theory, Marxism andModernity. Baltimore: Johns Hopkins University Press.

    Kolakowski, L. (1981) Main Currents of Marxism,Volume 2: The Golden Age. Oxford: Oxford

    University Press.Koselleck, R. (1988) Critique and Crisis. Enlightenment

    and the Pathogenesis of Modern Society. Cambridge, MA: MIT Press.

    Lefebvre, H. (2003 [1970]) The Urban Revolution. Trans.R. Bononno. Minneapolis: University of MinnesotaPress.

    Marcuse, H. (1954) Reason and Revolution: Hegel andthe Rise of Social Theory. London: Humanities Press.

    Marcuse, H. (1964) One-Dimensional Man. Boston:Beacon.

    Merrifield, A. (2002) Metro-Marxism. New York:

    Routledge.O’Connor, B. (ed.) (2000) The Adorno Reader. Oxford: Wiley-Blackwell.

    Peck, J., Theodore, N. and Brenner, N. (2009)‘Postneoliberalism and its discontents’, Center forUrban Economic Development (CUED), University ofIllinois at Chicago, unpublished manuscript.

    Postone, M. (1992) ‘Political theory and historicalanalysis’, in C. Calhoun (ed.) Habermas and thePublic Sphere, pp. 164–180. Cambridge, MA: MITPress.

    Postone, M. (1993) Time, Labor and SocialDomination: A Re-interpretation of Karl Marx’s

    Critical Social Theory. New York: CambridgeUniversity Press.

    Postone, M. (1999) ‘Contemporary historicaltransformations: beyond postindustrial theory andneo-Marxism’, Current Perspectives in Social Theory  19, pp. 3–53.

    Robinson, J. (2006) Ordinary Cities. London:Routledge.

    Saunders, P. (1986) Social Theory and the UrbanQuestion, 2nd edn. New York: Routledge.

    Schmid, C. (2005) ‘Theory’, in R. Diener, J. Herzog, M.Meili, P. de Meuron and C. Schmid, Switzerland: AnUrban Portrait, pp. 163–224. Basel: Birkhäuser Verlag.

    Soja, E. (2000) Postmetropolis. Cambridge, MA:Blackwell.

    Soja, E. and Kanai, M. (2007) ‘The urbanization of the world’, in R. Burdett and D. Sudjic (eds) The Endless

    City, pp. 54–69. London: Phaidon Press.Therborn, G. (1996) ‘Dialectics of modernity: on critical

    theory and the legacy of 20th century Marxism’, New Left Review  I/215, pp. 59–81.

    Therborn, G. (2008) From Marxism to Post-Marxism?  London: Verso.

     Wiggershaus, R. (1995) The Frankfurt School: Its History,Theories and Political Significance. Trans. M.Robertson. Cambridge, MA: MIT Press.

     Neil Brenner is Professor of Sociology and 

    Metropolitan Studies at NYU. He is theauthor of New State Spaces: Urban Gover-nance and the Rescaling of Statehood(Oxford University Press, 2004); co-editor of Spaces of Neoliberalism (with Nik Theodore;Blackwell, 2002); and co-editor of The GlobalCities Reader  (with Roger Keil; Routledge,2006). His research interests include critical urban theory, sociospatial theory, state theoryand comparative geopolitical economy.

    Email: [email protected]

  • 8/17/2019 Teoria Critica da Arquitetura

    29/29