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TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS - Login - Pós-Estáciopos.estacio.webaula.com.br/Cursos/POS593/docs/Aula_03.pdf · compreender a influência do princípio da função social da propriedade

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1 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

Aula 3: Usucapião. Requisitos. ...................................................................................................... 2

Introdução ........................................................................................................................2

Conteúdo ................................................................................................................................ 3

Usucapião ............................................................................................................................ 3

Fundamentos da usucapião .............................................................................................. 4

Pressupostos da aquisição da propriedade pela usucapião ....................................... 4

Dos requisitos...................................................................................................................... 5

Conflito intertemporal de normas ...............................................................................7

Atividade proposta ........................................................................................................8

Espécies de usucapião de bens imóveis - Usucapião extraordinária ....................8

Espécies de usucapião de bens imóveis - Usucapião ordinária ............................9

Espécies de usucapião de bens imóveis - Usucapião rural ....................................9

Espécies de usucapião de bens imóveis - Usucapião urbana .............................11

Espécies de usucapião de bens imóveis - Usucapião matrimonial .....................12

Referências .......................................................................................................................... 14

Exercícios de fixação ........................................................................................................ 15

Chaves de resposta ..................................................................................................................... 20

Aula 3 ..................................................................................................................................... 20

Exercícios de fixação ....................................................................................................... 20

2 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

Introdução

Nesta aula, você irá reconhecer o instituto da usucapião como forma de

aquisição da propriedade: sua origem, seu conceito e seus fundamentos, além

dos requisitos gerais e específicos para a sua configuração. Também irá

compreender a influência do princípio da função social da propriedade na

criação e aplicação do instituto.

Você irá analisar as diversas espécies de usucapião previstas ao longo do

sistema jurídico brasileiro, suas particularidades e seus pressupostos especiais.

Objetivo:

1. Compreender o conceito de usucapião e seus requisitos;

2. Estabelecer as modalidades de usucapião e seus requisitos específicos.

3 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

Conteúdo

Usucapião

Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves, em Direito Civil Brasileiro, Volume V,

página 233:

“A usucapião é também chamada de prescrição aquisitiva, em confronto com a

prescrição extintiva, que é disciplinada nos arts. 205 e 206 do Código Civil. Em

ambas aparece o elemento tempo influindo na aquisição e na extinção de

direitos.”

“A primeira, regulada no direito das coisas, é modo originário de aquisição da

propriedade e de outros direitos reais suscetíveis de exercício continuado (entre

eles, as servidões e o usufruto) pela posse prolongada no tempo, acompanhada

de certos requisitos exigidos pela lei; a segunda, tratada na Parte Geral do

Código Civil, é a perda da pretensão e, por conseguinte, da ação atribuída a um

direito, e de toda sua capacidade defensiva, em consequência do não uso dela

durante determinado espaço de tempo.”

Como dito, é forma de aquisição originária da propriedade, o que justifica a

ausência de cobrança, pelo RI, de imposto de transmissão, quando do registro

do imóvel em nome do usucapiente. Na mesma linha de raciocínio, muitos

entendem que, se o imóvel, objeto de usucapião, estava hipotecado por dívida

contraída pelo antigo proprietário, a garantia se extingue a partir da aquisição

pelo usucapiente.

Assim, as regras gerais de suspensão e interrupção da prescrição serão

aplicadas ao instituto da usucapião, que é considerada uma forma originária de

aquisição da propriedade, pois não existe vínculo que ligue o adquirente pela

usucapião e o titular anterior do domínio.

A etimologia da palavra usucapião vem de usus, do latim, uso, e capionem,

também do latim, aquisição, o que significa aquisição pelo uso. Portanto,

podemos concluir que a aquisição da propriedade pela usucapião é uma

4 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

consequência do exercício da posse na sua modalidade ad usucapionem.

“O fundamento da usucapião está assentado, assim, no princípio da utilidade

social, na conveniência de se dar segurança e estabilidade à propriedade, bem

como de se consolidar as aquisições e facilitar a prova do domínio. Tal

instrumento, segundo consagrada doutrina, repousa na paz social e estabelece

a firmeza da propriedade, libertando-a de reivindicações inesperadas, corta pela

raiz um grande número de pleitos, planta a paz e a tranquilidade na vida social:

tem a aprovação dos séculos e o consenso unânime dos povos antigos e

modernos.”

Fundamentos da usucapião

O fundamento para a usucapião é matéria controvertida na doutrina. Uma

primeira corrente, denominada de subjetivista, entende que a usucapião se

baseia na presunção de abandono do bem pelo proprietário, que, tacitamente,

renuncia a propriedade da coisa.

Uma segunda corrente, a objetivista, acredita que a usucapião tem como

fundamento a consolidação da propriedade, dando juridicidade a uma situação

de fato, que é a união da posse e do tempo. A posse é o fato objetivo, e o

tempo, a força que opera a transformação do fato em direito.

Pressupostos da aquisição da propriedade pela usucapião

Existem tipos diferentes de usucapião. Cada espécie exige um número de

requisitos, mas cinco quesitos são básicos, devendo estar presentes em

qualquer tipo.

Posse contínua e notória Embora nenhum artigo exija, especificamente, que a posse, para fim de

usucapião, deva ser pública e notória, é sabido que enquanto houver

clandestinidade não se tem posse (art. 1.208 C.C.).

5 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

Posse contínua

A posse que tiver lapso temporal de interrupção não caracteriza o pressuposto

necessário para a usucapião.

Posse mansa e pacífica

Não pode haver resistência do proprietário, nem física, nem jurídica. Assim,

enquanto o proprietário estiver lutando através do desforço físico, ou em juízo,

através de algum interdito possessório, não se inicia a contagem do prazo para

a aquisição da propriedade pela usucapião.

Posse duradoura

A usucapião é a aquisição da propriedade pela posse prolongada de coisa

alheia. O lapso temporal necessário para aquisição do direito de propriedade

varia de 2 a 15 anos, dependendo da natureza do bem, se móvel ou imóvel, e

da espécie de usucapião que será utilizada.

Animus domini

O último pressuposto considera a intenção de propriedade em relação à coisa.

Esse avalia a exteriorização do possuidor de imagem de proprietário da coisa.

Atenção

Nas palavras de Nelson Rosenvald, em Direitos Reais, 3ª edição,

pág. 96, o animus domini:

“Consiste no propósito de o usucapiente possuir a coisa como se

esta lhe pertencesse. Em virtude da causa originária da posse,

excluem-se da usucapião os que exercem temporariamente a

posse direta por força da obrigação ou direito (art. 1.197 do CC).

Pessoas como locatários, comodatários e usufrutuários recebem

a posse em virtude de uma relação jurídica de caráter

temporário, que, ao seu final, exigirá a devolução da coisa.

Portanto, durante todo o período em que exerçam a posse

direta, não afastam a concomitância da posse indireta daqueles

de quem houveram a coisa.”

6 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

Dos requisitos

Subjetivos

Os requisitos pessoais referem-se às características pessoais para usucapir. O

adquirente deve ter capacidade jurídica. Além disso, devem ser observadas as

causas obstativas, suspensivas e interruptivas da prescrição, elencadas nos arts.

197 a 201 do Código Civil.

“Art. 197. Não corre a prescrição:

I – entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;

II – entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;

III – entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a

tutela ou curatela.

Art. 198. Também não corre a prescrição:

I – contra os incapazes de que trata o art. 3º;

II – contra os ausentes do país em serviço público da União, dos Estados ou

dos Municípios;

7 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

III – contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de

guerra."

Objetivos

Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:

I – pendendo condição suspensiva;

II – não estando vencido o prazo;

III – pendendo ação de evicção.

Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo

criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.

Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só

aproveitam os outros se a obrigação for indivisível.

Formais

Tais requisitos dizem respeito à posse, que precisa ser exercida com animus

domini, ao prazo e à sentença judicial, que tem natureza meramente

declaratória. Assim, a posse deve ser exercida de forma mansa, pacífica, pública,

contínua e duradoura.

Conflito intertemporal de normas

O conflito de normas é a existência de duas normas conflitantes que tratam da

mesma matéria. No caso da usucapião, os prazos reduzidos pela lei nova

(Código Civil de 2002), que iniciaram na vigência do Código Civil de 1916 e não

se esgotaram até a entrada em vigor do código atual, devem obedecer aos

artigos 2.028 e 2.029 do C.C.

“Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este

Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da

metade do tempo estabelecido na lei revogada.”

"Art. 2.029. Até dois anos após a entrada em vigor deste Código, os prazos

estabelecidos no parágrafo único do art. 1.238 e no parágrafo único do art.

8 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

1.242 serão acrescidos de dois anos, qualquer que seja o tempo transcorrido na

vigência do anterior.”

No Código Civil de 1916, o prazo da usucapião extraordinária era de 20 anos e

foi reduzido pelo atual Código para 15 anos, sendo que, em alguns casos, pode

ser abreviado para 10 anos. Portanto, devemos sempre observar de quanto foi

o tempo transcorrido entre a lei anterior e o início da vigência da lei nova, para

descobrir qual lei deve ser aplicada à hipótese.

“Art. 550 – Código Civil de 1916 – Aquele que, por 20 (vinte) anos, sem

interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquirir-lhe-á o

domínio, independentemente de título e boa-fé que, em tal caso, se presume,

podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual lhe servirá

de título para transcrição no registro de imóveis.”

9 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

Atividade proposta

Em 1987, João inicia posse ad usucapionem sobre um terreno de 1.000m²,

pertencente a Bino sem justo título, nem boa-fé, o qual lhe serve de depósito

de lixo. Quatro anos depois, o proprietário morre, sendo seu único herdeiro seu

filho de 12 anos de idade. Atualmente, João deseja ajuizar ação de usucapião,

considerando que sua posse sempre foi mansa e pacífica.

Diante do caso, seria viável a aquisição da propriedade por usucapião? Em caso

positivo, quando foi adquirida a propriedade? Justifique com base no

ordenamento em vigor.

Chave de resposta: Primeiro, é preciso identificar que o prazo ficou suspenso

por quatro anos, pois não corre contra absolutamente incapaz (art. 198, I, CC).

Logo, não se considera o lapso de tempo compreendido entre 1991 a 1995.

Ademais, em 2003, quando entrou em vigor o atual Código Civil, já havia sido

ultrapassada mais da metade do prazo prescricional aquisitivo da lei revogada –

20 anos. Logo, este deve ser mantido, conforme o art. 2.028, CC. Isto posto,

considerando que a usucapião ocorreria em 20 anos, porém o prazo

permaneceu suspenso por quatro, a propriedade foi adquirida em 2011.

Espécies de usucapião de bens imóveis - Usucapião extraordinária

A aquisição da propriedade pela usucapião extraordinária ocorre quando

alguém exerce posse mansa e pacífica, initerruptamente, com animus domini,

pelo prazo de 15 anos, conforme o que está previsto no caput do artigo 1.238

do Código Civil. Não precisa ter justo título, nem ter tomado posse de boa-fé. O

prazo dessa modalidade foi reduzido, pois, no Código Civil de 1916, era

necessário 20 anos de posse.

“Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição,

possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de

título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a

qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.”

10 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

O Código Civil, mais uma vez, exalta o princípio da função social e permite que a

propriedade seja adquirida em apenas 10 anos, se o possuidor der destinação

econômica adequada ao imóvel que possui.

“Art. 1.238 – Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a

dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual,

ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.”

Atenção!

O dispositivo não menciona que a posse deva ser pública e notória, mas já

sabemos que esse requisito é indispensável à própria configuração da posse.

Aliás, o legislador, nos artigos de usucapião, por falta de técnica, nunca

menciona os cinco requisitos básicos, mas é fato que sem eles o instituto não se

concebe.

Espécies de usucapião de bens imóveis - Usucapião ordinária

A usucapião ordinária, além dos requisitos comuns a todas as modalidades,

exige que o possuidor tenha justo título e boa-fé.

“Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e

incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.”

O prazo da usucapião ordinária cai para 5 anos se preenchidos os seguintes

requisitos: bem adquirido onerosamente; quem transferiu a propriedade era o

titular registrado no Registro de Imóveis; exercer função social e o registro for

posteriormente cancelada, caso tenha sido verificada alguma fraude.

“Art. 1.242 – Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo

se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro

constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os

possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos

11 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

de interesse social e econômico.”

Atenção!

Ex.: Um sujeito foi enganado e comprou um imóvel de quem não era o dono

conseguindo, entretanto, registrar a escritura. Cinco anos e meio depois, o

verdadeiro proprietário move ação reivindicatória, mas é surpreendido com uma

defesa baseada na usucapião, sob o argumento de que o adquirente já possui o

bem há mais de cinco anos, com posse pública e notória, mansa e pacífica,

contínua, duradoura, animus domini, justo título, boa-fé e lá reside. Provados

todos os requisitos, configurado está a usucapião.

Observação: A usucapião pode ser arguida em matéria de defesa (súmula 237

STF).

Espécies de usucapião de bens imóveis - Usucapião rural

A usucapião rural exige que o possuidor more e plante, com sua família, em

área rural, em terreno que não ultrapasse 50 hectares e que não seja

proprietário de outro imóvel, para que possa adquirir a propriedade do bem no

prazo de 5 anos. Essa usucapião é considerada por muitos como uma das mais

claras demonstrações do princípio da função social da propriedade.

A usucapião rural se originou na Constituição de 1934 e foi resgatada pela

Carta Magna de 1988, em seu artigo 191.

“Art. 191 – Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano,

possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em

zona rural, não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu

trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a

propriedade.

Parágrafo único – Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.”

12 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

Essa modalidade, também conhecida como usucapião pro labore, exige que o

possuidor trabalhe nas terras para que faça jus à aquisição da propriedade em

lapso temporal menor do que das outras espécies. O Código Civil reproduziu no

texto do artigo 1.239 o seguinte texto constitucional:

“Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano,

possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em

zona rural não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu

trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a

propriedade.”

O artigo 2º da Lei nº 6.969/81 autorizava a aquisição da propriedade pela

usucapião rural, também de terras devolutas, entendidas como tais, as que

pertencem a entidade públicas federais, mas não são utilizadas para nenhuma

finalidade pública.

Porém, a maioria entende que esse artigo não foi recepcionado pela

Constituição de 1988, pois o artigo 191 exclui a aquisição de qualquer área

pública.

Mas, vale lembrar, que alguns autores entendem que as terras devolutas não

são bens particulares, nem públicos, pois o texto constitucional a trata

separadamente.

Espécies de usucapião de bens imóveis - Usucapião urbana

Alguns autores, como Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenwald,

consideram essa usucapião, assim como a rural, uma “miniusucapião

extraordinária”, pois os requisitos de justo título e boa-fé são dispensados. A

aquisição da propriedade na usucapião urbana ocorre quando alguém, que não

é proprietário de outro imóvel, ocupa propriedade urbana de até 250 metros

quadrados, fazendo deste local sua moradia ou de família, pelo prazo de cinco

anos.

13 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

Essa espécie de usucapião foi criada pela Constituição de 1988, que trouxe no

texto do artigo 183 tal inovação:

“Art. 183 – Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e

cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição,

utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde

que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

§ 1º – O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou

à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.

§ 2º – Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.

§ 3º – Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.”

O Código Civil repetiu o texto constitucional no artigo 1.240.

“Art. 1.240 – Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e

cinquenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição,

utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde

que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

§ 1º – O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou

à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.

§ 2º – O direito previsto no parágrafo antecedente não será reconhecido ao

mesmo possuidor mais de uma vez.”

Alguns doutrinadores, por entender que esse instituto foi criado com a intenção

de proteger a população de baixa renda, afirmavam que os apartamentos só

poderiam ser adquiridos pela usucapião se suas frações ideais não

ultrapassassem 250 m². Para esclarecer essa discussão, o Conselho Federal de

Justiça, na Primeira Jornada de Direito Civil, pronunciou no enunciado 85 pela

possibilidade da aquisição de apartamento por usucapião urbana.

Enunciado 85 – “Art. 1.240: Para efeitos do art. 1.240, caput, do novo Código

Civil, entende-se por "área urbana" o imóvel edificado ou não, inclusive

unidades autônomas vinculadas a condomínios edilícios.”

14 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

Espécies de usucapião de bens imóveis - Usucapião matrimonial

“Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem

oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m²

(duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade dívida com ex-

cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia

ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja

proprietário de outro imóvel urbano ou rural.”

Esse novo instituto trouxe à baila diversos questionamentos sobre sua

aplicabilidade. Então, para tentar amenizar as dúvidas, o Conselho Federal de

Justiça, na V Jornada de Direito Civil, editou diversos enunciados:

O primeiro esclareceu que o prazo de dois anos, necessários para essa espécie

de usucapião, só se iniciou em 16 de junho de 2011, quando a lei entrou em

vigor.

“Enunciado 498 da V Jornada de Direito Civil – A fluência do prazo de 2 (dois)

anos previsto pelo art. 1.240-A para a nova modalidade de usucapião nele

contemplada tem início com a entrada em vigor da Lei nº 12.424/2011.”

O segundo ponto abordado trata da expressão “abandono de lar”, que deve ser

tratado dentro de um contexto, não considerando apenas o afastamento do lar

conjugal.

“Enunciado 499 da V Jornada de Direito Civil – A aquisição da propriedade na

modalidade de usucapião prevista no art. 1.240-A do Código Civil só pode

ocorrer em virtude de implemento de seus pressupostos anteriormente ao

divórcio. O requisito "abandono de lar" deve ser interpretado de maneira

cautelosa, mediante a verificação de que o afastamento do lar conjugal

representa descumprimento simultâneo de outros deveres conjugais, tais como

assistência material e sustento do lar, onerando desigualmente aquele que se

manteve na residência familiar e que se responsabiliza unilateralmente pelas

15 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

despesas oriundas de manutenção da família e do próprio imóvel, o que

justifica a perda da propriedade e a alteração do regime de bens quanto ao

imóvel objeto de usucapião.”

O enunciado seguinte reafirma a ideia de que esse tipo de usucapião diz

respeito à meação do imóvel pertencente ao casal, esclarecendo, ainda, que

toda forma de família pode ser beneficiada pela regra.

“Enunciado 500 da V Jornada de Direito Civil – A modalidade de usucapião

prevista no art. 1.240-A do Código Civil pressupõe a propriedade comum do

casal e compreende todas as formas de família ou entidades familiares,

inclusive homoafetivas.”

Ainda sobre o tema, o enunciado 501, da V JDC, informa que o instituto alcança

as separações de fato.

“Enunciado 501 da V Jornada de Direito Civil – As expressões "ex-

cônjuge" e "ex-companheiro", contidas no art. 1.240-A do Código Civil,

correspondem à situação fática da separação, independentemente de

divórcio.”

Por fim, o enunciado 502, da mesma jornada, ensina que a expressão “posse

direta”, inserida no art. 1.240-A, do C.C., não tem o mesmo sentido consolidado

no art. 1.197, do C.C., que trata do desdobramento da posse.

“Enunciado 502 da V Jornada de Direito Civil – O conceito de posse

direta referido no art. 1.240-A do Código Civil não coincide com a acepção

empregada no art. 1.197 do mesmo Código.”

Espécies de usucapião de bens imóveis - Usucapião Coletiva

Dispõe o caput, do art. 10, do estatuto da Cidade (Lei 10.257/01):

“Art. 10. As áreas urbanas com mais de duzentos e cinquenta metros

16 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

quadrados, ocupadas por população de baixa renda para sua moradia,

por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for

possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são

susceptíveis de serem usucapidas coletivamente, desde que os

possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.”

O comando consagra a usucapião coletiva que, a princípio, teve por

objetivo regularizar a situação de composse que normalmente se

estabelece nas comunidades. Entretanto, a regra não se faz muito

presente na prática, porque grande parte das comunidades se localiza

em terreno público, e a lei não permite a usucapião de bens públicos.

“Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião.”

Espécies de usucapião de bens imóveis - Usucapião Indígena

O Estatuto do Índio (Lei 6.001/73) prevê a usucapião especial indígena, no

seu art. 33:

“O índio, integrado ou não, que ocupe como próprio, por dez anos

consecutivos, trecho de terra inferior a cinquenta hectares, adquirir-lhe-

á a propriedade plena.

Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às terras do

domínio da União, ocupadas por grupos tribais, às áreas reservadas de

que trata esta Lei, nem às terras de propriedade coletiva de grupo

tribal.”

Espécies de usucapião de bens imóveis - Usucapião Extraordinário e Usucapião Ordinário

O art. 1.261, do C.C., permite a usucapião de móveis, em um prazo de

cinco anos, sem justo título e boa-fé, desde que presentes os requisitos

básicos, anteriormente mencionados (Usucapião Extraordinária).

17 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

O art. 1.260, do C.C., trata da Usucapião Ordinária de bens móveis,

exigindo prazo de três anos, justo título e boa-fé, além dos demais

requisitos e 191, respectivamente.”

Accessio Possessionis

O art. 1.243, do C.C., trata da acessão de posses, soma do tempo de

posses, para fim de usucapião: “O possuidor pode, para o fim de contar

o tempo exigido pelos artigos antecedentes, acrescentar à sua posse a

dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas sejam

contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e de

boa-fé.”

O dispositivo consagra a accessio possessionis, soma dos lapsos

temporais entre os sucessores. Ex.: um herdeiro pode continuar a posse

do de cujus para fim de usucapião; ou uma pessoa que adquiriu posse,

através de um instrumento de cessão, gratuita ou onerosa, pode somar

o seu tempo de posse com o do alienante, para o mesmo fim.

Contudo, o enunciado 317 da IV JDC dispõe: “A accessio possessionis,

de que trata o art.1.243, primeira parte, do Código Civil, não encontra

aplicabilidade relativamente aos arts. 1.239 e 1.240 do mesmo diploma

legal, em face da normatividade da usucapião constitucional urbano e

rural, arts. 183 e 191, respectivamente.”

A conclusão é de que o instituto não se aplica aos casos de usucapião

especial, urbana e rural, em razão do tratamento específico, dispensado

a esta espécie, pela Constituição Federal, mas vale esclarecer que, o

art. 9, da lei 10.257/01 (Estatuto da Cidade), que também trata da

usucapião espacial urbana, abre uma exceção, permitindo a soma do

tempo de posses entre sucessores por ato mortis causa:

“Art. 9o Aquele que possuir como sua área ou edificação urbana de até

duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos,

ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de

18 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de

outro imóvel urbano ou rural.

§ 3o Para os efeitos deste artigo, o herdeiro legítimo continua, de pleno

direito, a posse de seu antecessor, desde que já resida no imóvel por

ocasião da abertura da sucessão”

Usucapião sobre bem público

Como já falado, não cabe usucapião sobre bem público conforme o

art.102 do C.C.

Os arts. 183 e 191, da CF, confirmam a regra:

“Art. 183: ...

§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.”

“Art.191: ...

Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por

usucapião.”

A súmula 340, do STF, reforça ainda mais essa ideia:

“Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais

bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião”

A questão gera, entretanto, divergências.

Alguns juristas defendem a possibilidade de usucapião de bens

públicos, caso de Silvio Rodrigues, que apadrinha a aplicação do

instituto às terras devolutas. Na sua visão, se as terras devolutas são

alienáveis, também podem ser usucapidas. Todavia, o entendimento é

minoritário.

19 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

O art. 2, da Lei 6.969/81, admite, expressamente, a usucapião especial

rural de terras devolutas, mas uma maioria compartilha a tese de que o

dispositivo é incompatível com art. 191, parágrafo único, da CF/88, não

tendo sido recepcionado pela lei maior.

Ainda assim, Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves defendem a

possibilidade de usucapião de bens públicos, nos seguintes termos: “A

nosso viso, a absoluta impossibilidade de usucapião sobre bens públicos

é equivocada, por ofensa ao princípio constitucional da função social da

posse e, em última instância, ao próprio princípio da

proporcionalidade...”

Silvio Ferreira da Rocha abraça a mesma ideia, alegando que a função

social também se aplica aos bens públicos.

Por enquanto, a tese é minoritária, mas vem tomando vulto e impondo

reflexões ao tema.

O TJ, do Rio Grande do Sul, já concedeu usucapião de bem pertencente

à sociedade de economia mista, que embora tenha natureza privada,

envolve interesse público. Na mesma linha de raciocínio, o STJ deferiu

usucapião sobre área, objeto de enfiteuse.

Usucapião Imobiliária Administrativa

O art. 60, da Lei 11.977/09 (Lei Minha Casa, Minha Vida), criou

modalidade de usucapião administrativa, extrajudicial, efetivada

diretamente no RI, sem demanda judicial.

Aquele que possui título de legitimação da posse, devidamente

registrado, concedido pelo Poder Público, após cinco anos, pode

requerer, ao oficial do registro de imóveis, a conversão desse título em

registro de propriedade, tendo em vista sua aquisição por usucapião na

modalidade descrita no art. 183 da CF.

20 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

Embora a lei mencione a possibilidade de conversão de título de

legitimação de posse, sobre imóvel público ou privado, não cabe tal

conversão, no caso de bens públicos, em razão da proibição expressa,

constante do parágrafo terceiro, do art. 183 da CF:

“Art. 183: ...

§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.”

Contudo, o art. 60, da Lei 11.977/09, é aplicável somente no contexto

de projetos de regularização fundiária, de interesse social.

O Novo Código de Processo Civil acolheu a usucapião administrativa e

ampliou essa modalidade, para todas as espécies de usucapião

contempladas no Código Civil.

O art. 1.071, do CPC/15, que acrescentou o art. 216-A à Lei 6.015/73,

dispõe:

Art. 1.071. O Capítulo III do Título V da Lei no 6.015, de 31 de

dezembro de 1973 (Lei de Registros Públicos), passa a vigorar acrescida

do seguinte art. 216-A:

“Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de

reconhecimento extrajudicial de usucapião, que será processado

diretamente perante o cartório do registro de imóveis da comarca em

que estiver situado o imóvel usucapiendo, a requerimento do

interessado, representado por advogado, instruído com:

I - ata notarial lavrada pelo tabelião, atestando o tempo de posse do

requerente e seus antecessores, conforme o caso e suas circunstâncias;

II - planta e memorial descritivo assinado por profissional legalmente

habilitado, com prova de anotação de responsabilidade técnica, no

respectivo conselho de fiscalização profissional, e pelos titulares de

21 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula

do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes;

III - certidões negativas dos distribuidores da comarca da situação do

imóvel e do domicílio do requerente;

IV - justo título ou quaisquer outros documentos que demonstrem a

origem, a continuidade, a natureza e o tempo da posse, tais como o

pagamento dos impostos e das taxas que incidirem sobre o imóvel.

§ 1o O pedido será autuado pelo registrador, prorrogando-se o prazo

da prenotação até o acolhimento ou a rejeição do pedido.

§ 2o Se a planta não contiver a assinatura de qualquer um dos titulares

de direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados, na

matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis

confinantes, esse será notificado pelo registrador competente,

pessoalmente ou pelo correio com aviso de recebimento, para

manifestar seu consentimento expresso em 15 (quinze) dias,

interpretado o seu silêncio como discordância.

§ 3o O oficial de registro de imóveis dará ciência à União, ao estado, ao

Distrito Federal e ao município, pessoalmente, por intermédio do oficial

de registro de títulos e documentos, ou pelo correio com aviso de

recebimento, para que se manifestem, em 15 (quinze) dias, sobre o

pedido.

§ 4o O oficial de registro de imóveis promoverá a publicação de edital

em jornal de grande circulação, onde houver, para a ciência de

terceiros eventualmente interessados, que poderão se manifestar em 15

(quinze) dias.

§ 5o Para a elucidação de qualquer ponto de dúvida, poderão ser

solicitadas ou realizadas diligências pelo oficial de registro de imóveis.

22 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

§ 6o Transcorrido o prazo de que trata o § 4o deste artigo, sem

pendência de diligências na forma do § 5o deste artigo e achando-se

em ordem a documentação, com inclusão da concordância expressa dos

titulares de direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados

na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis

confinantes, o oficial de registro de imóveis registrará a aquisição do

imóvel com as descrições apresentadas, sendo permitida a abertura de

matrícula, se for o caso.

§ 7o Em qualquer caso, é lícito ao interessado suscitar o procedimento

de dúvida, nos termos desta lei.

§ 8o Ao final das diligências, se a documentação não estiver em ordem,

o oficial de registro de imóveis rejeitará o pedido.

§ 9o A rejeição do pedido extrajudicial não impede o ajuizamento de

ação de usucapião.

§ 10º Em caso de impugnação do pedido de reconhecimento

extrajudicial de usucapião, apresentada por qualquer um dos titulares

de direito reais e de outros direitos registrados ou averbados na

matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis

confinantes, por algum dos entes públicos ou por algum terceiro

interessado, o oficial de registro de imóveis remeterá os autos ao juízo

competente da comarca da situação do imóvel, cabendo ao requerente

emendar a petição inicial para adequá-la ao procedimento comum.”

23 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

Referências

AGHIARIAN, Hércules. Curso de direito imobiliário. 7ª ed. Rio de Janeiro:

Lumen Juris, 2007.

BRASIL. Código civil brasileiro: Lei nº 10.406/2002. Brasília: Diário Oficial

da União, 2002.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado

Federal, 1988.

FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Direitos Reais. 5. ed. Rio de

Janeiro: Lumen Juris, 2008.

GOMES, Orlando. Direitos Reais. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 7. ed. Rio de Janeiro:

Saraiva, 2010. v. 5.

MELO, Marco Aurélio Bezerra de. Direito das coisas. 4. ed. Rio de Janeiro:

Lumen Juris, 2010.

PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro:

Forense. v. 4.

ROSENVALD, Nelson. Direitos Reais. 3. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2004.

TARTUCE, Flávio. Direito Civil. Direito das Coisas. 4. ed. São Paulo: Método,

2012. v. 4.

VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2009. v. 5.

VIANA, Marco Aurelio S. Curso de Direito Civil. Direito das Coisas. 1. ed. Rio

de Janeiro: Forense, 2008.

24 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

Exercícios de fixação

Questão 1

Indique a alternativa correta:

I – O registro de título gera uma presunção absoluta de propriedade daquele

cujo nome constar junto à matrícula imobiliária como titular do direito.

II – A usucapião e o direito hereditário são modos de aquisição da propriedade

imóvel em que o registro do título não é o ato constitutivo.

III – A propriedade é limitada quando o bem é concedido ao uso do locatário,

porque o proprietário perde uma das suas faculdades jurídicas.

IV – A usucapião coletiva, novidade no ordenamento jurídico pátrio, está

disposta no Código Civil em vigor, no Artigo 1228, §§ 4º e 5º.

a) Somente estão corretas as afirmativas I e II

b) Somente estão corretas as afirmativas I e III

c) Somente estão corretas as afirmativas II e IV

d) Todas estão corretas, salvo a afirmativa II

e) Todas estão erradas, salvo a afirmativa II Questão 2

Assinale a opção correta acerca da usucapião.

I – O imóvel público é insuscetível de usucapião, devendo-se, entretanto,

reconhecer como possuidor o particular que ocupa, de boa-fé, aquela área, ao

qual é devido o pagamento de indenização por acessões ou benfeitorias ali

realizadas.

II – O direito do usucapiente funda-se sobre o direito do titular precedente e,

constituindo este o pressuposto daquele, determina-lhe a existência, as

qualidades e sua extensão.

III – Dois elementos estão normalmente presentes nas modalidades de

usucapião: o tempo e a posse, exigindo-se desta a característica ad

usucapionem, referente à visibilidade do domínio e a requisitos especiais, como

a continuidade e a pacificidade.

25 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

a) Somente estão corretas as afirmativas I e II

b) Somente estão corretas as afirmativas I e III

c) Todas estão corretas, salvo a afirmativa III

d) Todas estão corretas, salvo a afirmativa I

e) Todas estão incorretas

Questão 3

TRF – 4ª REGIÃO – 2012 – TRF – 4ª REGIÃO – Juiz Federal

Dadas as assertivas abaixo, assinale a alternativa correta.

I – Modo derivado de apossamento da coisa, é denominado de tradição,

podendo ser efetiva, também conhecida como traditio longa manu; simbólica,

também referida como fictio traditio; consensual, também aceita como traditio

brevi manu; e singular, também referida como constituto possessorio.

II – Ius possessionis é o direito fundado no fato da posse; ius possidendi é o

direito fundado na propriedade.

III – A existência de justo título instaura a presunção de que a posse é exercida

de boa-fé, mas a sua falta não autoriza a conclusão de que há má-fé.

IV – Direito real de habitação é o direito personalíssimo e temporário de residir

em imóvel, podendo ser cedido, e, quando conferido a mais de uma pessoa

conjuntamente, dispensa os coabitadores de pagar aluguel uns aos outros,

ainda que não residam todos no imóvel.

V – O artigo 1238, parágrafo único, do Código Civil de 2002, que trata da

usucapião extraordinária com prazo reduzido, tem aplicação imediata às posses

ad usucapionem já iniciadas, qualquer que seja o tempo transcorrido na

vigência do Código anterior, devendo apenas ser respeitada a fórmula de

transição, segundo a qual serão acrescidos dois anos ao novo prazo, nos dois

anos após a entrada em vigor do Código de 2002.

a) Está correta apenas a assertiva II

b) Está correta apenas a assertiva V

c) Estão corretas apenas as assertivas I e IV

d) Estão corretas apenas as assertivas I, III e IV

26 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

e) Estão corretas apenas as assertivas II, III e V Questão 4

FMP-RS – 2012 – TJ-AC – Titular de Serviços de Notas e de Registros – Remoção

Dispensa-se o registro do título para efeito de aquisição da propriedade

imobiliária na(o):

a) Compra e venda

b) Adjudicação compulsória

c) Usucapião

d) Arrematação

Questão 5

FCC – 2008 – TCE-AL – Procurador

NÃO são suscetíveis de aquisição por usucapião:

a) Os bens cujo domínio conste no serviço de registro de imóveis como

pertencentes às pessoas absolutamente incapazes e os bens das autarquias.

b) Quaisquer bens móveis e os bens públicos de uso comum do povo.

c) As terras devolutas e os imóveis gravados por testamento com cláusula de

inalienabilidade.

d) Os imóveis de que o possuidor for titular de propriedade resolúvel e os bens

cujo domínio constante do serviço de registro de imóveis pertencer a menor

de dezesseis anos ou a um pródigo.

Questão 6

FCC – 2014 – TJ-AP – Juiz

José e Maria, casados sob o regime da comunhão parcial de bens, adquiriram

um terreno em loteamento devidamente registrado com área de 300 m², nele

construindo uma casa para residência da família, que ocupa 250 m², sendo esta

área murada, embora restassem nos fundos 50 m², contíguos a uma outra área

destinada a uma praça que, entretanto, não foi concluída, nem pela

27 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

municipalidade, nem pelo loteador. José abandonou a família, e Maria pediu

separação judicial, convertida posteriormente em divórcio, sendo o cônjuge

citado por edital, mas não houve a partilha de bens. Decorridos seis anos do

divórcio, José retornou e passou a ocupar a área remanescente de 50 m² do

imóvel referido e mais 200 m² contíguos, onde se situaria a praça, nelas

construindo sua moradia. As casas de José e Maria são as únicas de cada um.

Passados dez anos do divórcio e cinco anos desde que José veio a residir, com

ânimo de dono, no local mencionado e sem que sofressem oposição às

respectivas posses.

a) Apesar do tempo decorrido, nem José, nem Maria adquiririam o domínio

exclusivo das áreas que ocupam, porque, após a separação judicial,

extinguindo-se o regime de bens do casamento, tornaram-se condôminos e o

condômino não pode adquirir, por usucapião, a totalidade do imóvel.

b) Maria só terá adquirido o domínio integral da área em que ficou residindo

após cinco anos, e José não poderá adquirir por usucapião a área total que

ocupa com exclusividade.

c) Maria terá adquirido o domínio integral da área em que ficou residindo com a

família após dois anos ininterruptos de sua posse exclusiva, mas José não

poderá adquirir por usucapião a área total que ocupa com exclusividade.

d) José e Maria terão adquirido pela usucapião a totalidade das áreas que

ocupam, cada um deles após dois anos de efetiva ocupação.

e) José e Maria adquiriram o domínio das respectivas áreas após cinco anos de

efetiva ocupação.

Questão 7

IESES – 2014 – TJ-PB – Titular de Serviços de Notas e de Registros – Remoção

Será considerado usucapião urbano quando o agente interessado adquirir uma

área urbana por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para

sua moradia ou de sua família, desde que não seja proprietário de outro imóvel

urbano ou rural, e condicionado o tamanho máximo da área urbana usucapível

de:

28 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

a) Duzentos e cinquenta metros quadrados.

b) Duzentos e vinte e cinco metros quadrados.

c) Trezentos metros quadrados.

d) Duzentos metros quadrados.

Questão 8

VUNESP – 2013 – TJ-SP – Juiz

Sobre o imóvel urbano de 350 m² que, sem interrupção e nem oposição, está

na posse de Cícero desde fevereiro de 2003, tanto que nele construiu casa pré-

fabricada de madeira, onde habita com sua família, é correto dizer que:

a) Em fevereiro de 2005, a usucapião especial se consumaria.

b) Em 2008, já poderia ter sido usucapido de acordo com a regra da usucapião

especial urbana.

c) Poderia ser usucapido somente em 2018, de acordo com a regra da

usucapião ordinária do Código Civil.

d) Em fevereiro de 2013, Cícero já pode ajuizar a ação de usucapião para ver

reconhecido seu direito de propriedade sobre o imóvel.

Questão 9

FUNCAB – 2010 – DER-RO – Procurador Autárquico

Acerca do tema usucapião, assinale a alternativa INCORRETA.

a) Os bens públicos imóveis não estão sujeitos à usucapião.

b) Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como

seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e

boa-fé.

c) A usucapião consiste em modo originário de aquisição de propriedade ou de

outros direitos reais.

d) A usucapião ordinária tem como requisitos a posse da propriedade imóvel

por dez anos entre presentes e quinze anos entre ausentes, de forma

29 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

contínua, mansa e pacífica, exercida com ânimo de dono, com justo título e

boa-fé.

Questão 10

CESPE – 2013 – PC-BA – Delegado de Polícia

Considere que Ana e João tenham vivido como companheiros em determinado

imóvel urbano de 100 m², cuja propriedade era dividida pelo casal, e que João

tenha abandonado o lar há dois anos. Nessa situação hipotética, Ana poderá

adquirir a propriedade do imóvel mediante usucapião, desde que tenha

exercido a posse direta sobre o bem ininterruptamente e sem oposição, e não

seja proprietária de imóvel rural superior a 50 hectares.

a) Certo

b) Errado

30 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

Aula 3

Exercícios de fixação

Questão 1 - E

Justificativa: “Artigos 1.245, § 2º, e 1.247 do Código Civil – presunção é

relativa; locação somente restringe a posse do l o c a d o r , mas não sua

propriedade; usucapião coletiva está prevista no artigo 10, EC, sendo a norma

apontada relativa à desapropriação judicial”.

Questão 2 - C

Justificativa: Pressupostos são posse contínua, mansa e pacífica, com animus

domini por determinado lapso temporal.

Questão 3 - E

Justificativa: Artigo 1.201 – É de boa-fé a posse se o possuidor ignora o vício ou

o obstáculo que impede a aquisição da coisa.

Parágrafo único – O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-

fé, salvo prova em contrário ou quando a lei expressamente não admite esta

presunção.

Questão 4 - C

Justificativa: A sentença é meramente declaratória. Questão 5 - A

Justificativa: Artigo 198, inciso I do Código Civil.

Questão 6 - C

Justificativa: Artigo 1.240-A do Código Civil

Questão 7 - A

Justificativa: Artigo 1.240 do Código Civil.

Questão 8 - D

31 TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS

Justificativa: Artigo 1.238, parágrafo único, do Código Civil.

Questão 9 - D

Justificativa: Artigo 1.242 do Código Civil.

Questão 10 - B

Justificativa: Ela não pode ser proprietária de nenhum outro imóvel urbano ou

rural.