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Revista Perspectivas do Desenvolvimento: um enfoque multidimensional
Volume 02, Nmero 03, Dezembro 2014.Pgina 2
A Revista Perspectivas do Desenvolvimento: um enfoque multidimensional uma publicaosemestral de iniciativa do corpo discente do Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento,Sociedade e Cooperao Internacional do Centro de Estudos Avanados e Multidisciplinar daUniversidade de Braslia (PPGDSCI/CEAM/UnB). Seu objetivo oferecer ao mundo acadmico, aospensadores e aos policy-makers anlises interdisciplinares, promovendo o intercmbio sobre oDesenvolvimento, a partir da diversidade de olhares que o tema suscita.
Conselho Editorial Conselho Cientfico
Cyntia Sandes Oliveira UnBEdison Bewiahn UnBHumberto Santana Jr UnBRaquel Koyanagi - UnBRenata Callaa G. dos Santos- UnBThais Mere Marques Aveiro UnB
Antonio Alves de Siqueira JuniorEdison Bewiahn
Leonildes NazarLuiz Fernando Koyanagi
Revista Perspectivas do Desenvolvimento: um enfoque multidimensional , 3 Edio, Nmero 03, jul-dez 2014.Braslia: Universidade de Braslia (UnB), Centro de Estudos Avanados multidisciplinares (CEAM), Corpo Discentedo Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperao Internacional. Foto da Capa:Renata Alves
SemestralISSN: 2318-681X
1. Desenvolvimento - Peridicos. 2. Cooperao Internacional Peridicos. 3. Sociedade Peridicos. I.Universidade de Braslia (UnB), Centro de Estudos Avanados Multidisciplinares (CEAM), Corpo Discente doPrograma de Ps-Graduao em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperao Internacional.
Alejandra Leonor Pascual UnBAna Lcia Eduardo Farah Valente UnBAna Maria Nogales Vasconcelos UnBBruno Ayllon Pino Universidade Complutense de MadriEduardo Giro Santiago UFCJoo-Young Lee Universidade de SeoulJair do Amaral Filho UFCJos Walter Nunes UnBMaria de Ftima R. Makiuchi UnBRicardo Wahrendorff Caldas UnBRodrigo Pires de Campos UCB
Pareceristas
Ad Hoc
Ana Cristina Nassif Soares Ana Elizabeth Neiro Reymo
Camilo Negri Daniel Marcelino da SilvaFabio Scorsolini-Comin Fernanda Natasha Bravo CruzIgor Castellano da Silva Ins da Silva MoreiraLeandro de Carvalho Leides Barroso Azevedo MouraLeila Chalub Martins Luis Fernando Macedo BessaMaria de Ftima Souza e Silva Maria Madalena GracioliNathaly Silva Xavier Schtz Paulo Fernandes BaiaTatiana Machiavelli Carmo Souza Thadeu de Souza BrandoPerla Carolina leal Silva Mller Ricardo Castro RabelloGustavo Librio de Paulo Oliveira Marques Oliveira
EXPEDIENTEVolume 02, nmero 03, dezembro 2014
Reviso de Texto
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Thais Mere Marques Aveiro1
com grande satisfao que lanamos este terceiro nmero da Revista
Perspectivas do Desenvolvimento (RPD), momento em que a Revista celebra seu
primeiro ano.
No decorrer deste ano, a RPD tem sido palco de importantes reflexes
acerca do desenvolvimento. A edio de nmero 3 da Revista retrata, com
propriedade, a diversidade de perspectivas acerca da temtica e corrobora oimportante papel conquistado pela publicao nesse debate. Esta edio traz
em seus onze artigos, entrevista, ensaio fotogrfico e resenha, os diferentes
olhares sobre o Desenvolvimento.
O artigo Desdobramentos jurdicos contemporneos na literatura
institucionalista sobre desenvolvimento, abre a edio apresentando os
desdobramentos jurdicos contemporneos no debate sobre desenvolvimento
com duas vertentes da literatura institucionalista ambientes e arranjos
institucionais. Nesse debate, Hugo Pena e Mrcio Valadares buscam contribuir
para aproximao de debates que se desenrolam em reas diferentes, e em
especial, promover contatos entre perspectivas econmicas e jurdicas acerca do
papel das instituies no desenvolvimento.
Em Indicadores alternativos de desenvolvimento econmico, social e
ambiental e as resistncias sua utilizao, Erivelton Guizzardi, Giovani de
Oliveira, Bruno Oliveira e Duarte Rosa Filho apresentam um ensaio terico
acerca dos novos indicadores alternativos e complementares ao Produto
Interno Bruto (PIB) para mensurar o desenvolvimento das naes ou regies. Os
autores argumentam que esses indicadores mostram a necessidade de aespolticas focadas na melhoria da qualidade de vida das pessoas, na reduo da
desigualdade social e na sustentabilidade ambiental, o que, muitas vezes,
adotarem-na sua no adoo pelos governantes. Eles observam que a utilizao
dos indicadores alternativos leva a um diagnstico mais preciso sobre as
1Doutoranda em cotutela pelo Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento, Sociedade e
Cooperao Internacional do Centro de Estudos Avanados Multidisciplinares (CEAM/UnB) e UniversitParis 13, analista em Cincia & Tecnologia da CAPES, Bolsista CAPES.
Editorial
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condies de vida das pessoas, contudo, concluem que as mudanas viro
apenas com uma discusso terica quanto ao papel do Estado e dos mercados.O artigo Os desafios do desenvolvimento brasileiro para o sculo XXI,
analisa o crescimento do pas a partir de indicadores socioeconmicos com
nfase na necessidade de aumento dos nveis atuais de investimento do pas e
na revitalizao do setor industrial fortemente dependente de inovao
tecnolgica. Com base em dados quantitativos, como os ora apresentados e
discutidos, Darly da Silva acena para a necessidade de o Governo traar as
polticas que nortearo o modelo de desenvolvimento do Brasil nas prximas
dcadas. Ainda sobre os desafios do Brasil, Natasha Silva e Pedro
Brancher fazem um balano da poltica econmica e externa do Governo Lula.
Os autores do artigo Economia e poltica externa: um balano do Governo Lula
(2002-2010) discorrem acerca da retroalimentao entre economia e poltica
externa demonstrando que a insero internacional do Brasil nesse perodo
fundamentou-se no projeto econmico calcado no crescimento com
distribuio de renda.
Livia Liria Avelhan, no artigo A presena brasileira na frica: um estudo
sobre o Programa Embrapa-Moambique, reflete acerca do crescimento da
Cooperao Sul-Sul (CSS) e principalmente da Cooperao Tcnica entre Pasesem Desenvolvimento (CTPD) no continente africano como um dos elementos
centrais da poltica externa brasileira, a partir do governo Lula. A autora analisa
um dos projetos de cooperao prestada pelo Brasil a Moambique, o
Programa Embrapa-Moambique, com destaque para um de seus
componentes, o ProSavana, verificando quais de suas caractersticas permitem
que ele seja identificado como um projeto de vertente exploratria e
subimperialista e quais indicam a prtica da cooperao para o
desenvolvimento.
Leonildes Nazar no artigo O papel da lusofonia das relaes entre Brasil eAngola apresenta a lusofonia por meio de um debate terico e ontolgico
investigando como seu aspecto identitrio implica em antagonismos, tenses e
expectativas entre esses pases.
J Promoo de envelhecimento ativo: o caso da universidade snior de
Mafra traz para o debate a questo da intensificao do envelhecimento e o
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crescimento das pessoas com mais de 65 anos tendo como foco a sociedade
portuguesa. Katia da Silva analisa a qualidade de vida, os laos familiares, asociabilidade e as oportunidades de participao social desses indivduos. A
autora relata que, no estudo realizado acerca da atuao da universidade snior
de Mafra, constatou-se a contribuio para a existncia de um ambiente com
mais autonomia e liberdade que so vivenciados de forma coletiva por esse
grupo.
Sob a perspectiva de Sociedade e Cultura, Josaida Gondar e Rosimere
Cabral em Bibliotecas de Alexandria: a produo dos conhecimentos a partir de
Gabriel Tarde analisam as suas formaes e manutenes sob o prisma da
produo dos conhecimentos e possveis usos polticos da memria mtica. As
autoras discutem ainda a questo da socializao de informaes durante o
movimento da Primavera rabe a partir das ideias de Gabriel Tarde sobre a
produo, preservao e socializao de conhecimentos.
Ainda sobre formao cultural, mas com enfoque nas identidades, Silvana
Bagno, Srgio Silva e Diana Pinto apresentam o senso de pertencimento e de
sentido de lugar atribudo pelos antigos moradores da comunidade do Fallet
em Santa Teresa, a partir de suas narrativas, memrias e experincias. A partir
da escuta das memrias desse grupo de idosos e da literatura sobre favelasconfirmou-se o discurso discriminatrio e a conotao pejorativa do termo
favelado. Comprovou-se, contudo que contar suas lembranas e experincias
contribui no s para o fortalecimento de suas identidades, mas tambm para a
ressignificao do seu habitat. Em Memrias, Identidades e pertencimento de
um grupo de moradores da comunidade do Fallet, bairro de Santa Teresa,
cidade do Rio de Janeiro vislumbra-se um intuito de resgatar, dignificar e
difundir a identidade deste lugar como uma comunidade que possui inmeros
recursos humanos e culturais.
O dcimo e o dcimo primeiro artigos apresentam seu foco nodesenvolvimento infantil. Em Criana em Acolhimento Institucional: Percepes
quanto estrutura e dinmica de sua famlia, Paula Monteiro, Hilda de Freitas e
Celina Magalhes investigam, por meio de um estudo de caso no estado do
Par, as percepes quanto estrutura e dinmica familiar de uma criana em
acolhimento institucional. A partir do Family System Test (FAST) e de um
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formulrio de caracterizao adaptado, para anlise scio-demogrfica do
participante os dados foram coletados e cotejados. Como resultado, as autorastrazem uma importante reflexo acerca das estruturas familiares e do papel da
criana nesse contexto. Nesse mesmo sentido, o artigo Produes orais de
crianas sobre o acolhimento institucional analisa a fala dessas crianas em
acolhimento no tocante s suas preferncias por atividades, pares e locais. Por
meio de entrevistas semi-dirigidas, Raquel Platilha e Celina Magalhes
analisaram as preferncias das entrevistadas apresentando possveis sugestes
para melhoria do ambiente institucional.
A interface entre desenvolvimento e gnero abordada por Marcelo de
Britto em Os Movimentos de Mulheres na Mudana do Paradigma do Controle
da Natalidade no Brasil em 1984. No artigo o autor analisa a atuao dos
movimentos de mulheres na criao do Programa de Assistncia Integral
Sade da Mulher (PAISM), em 1984, em contraposio ao paradigma do
controle da natalidade sob a perspectiva do ambiente internacional com a
influncia de conferncias internacionais de populao, instituies
internacionais financiadas pelos pases do primeiro mundo, a atuao dos
Estados Unidos, das Naes Unidas, e no ambiente domstico com a criao do
movimento feminista, das conferncias de mulheres realizadas, da imprensafeminista, da crise sanitria e da ambiguidade do governo brasileiro diante o
tema.
Tambm nessa temtica, Humberto Santana Junior, do Conselho
Editorial, realizou uma entrevista centrada no papel que as mulheres tm na
sociedade e sua luta por espao de participao e deciso com a Dra. Nadine
Gasman, representante do Escritrio da ONU Mulheres no Brasil.
Na sesso de Ensaios Fotogrficos Cest la vie au Brsilde Humberto
Santana Junior e Renata Alves nos brinda com a comovente estria de Nesly
Exantus que bem representa o penoso cotidiano dos imigrantes haitianos noBrasil, suas dificuldades de deslocamento para chegar ao pas e a luta para aqui
se estabelecerem na esperana de aqui encontrarem melhores condies de
vida.
Esta edio traz ainda a resenha do livro Why nations fail: the origens of
power, prosperity and povertyelaborada por Thais Aveiro em que resume como
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os autores do livro buscam explicar o processo de desenvolvimento ou
estagnao das naes. A formao de cada sociedade leva formao deinstituies, que conduziram ao xito econmico os pases ricos ou conduzem
ao descompasso os pases pobres.
com essa diversidade de olhares de nossos artigos, ensaio, entrevista e
resenha que convidamos voc a abrir-se s distintas perspectivas do
desenvolvimento. Boa leitura!!!
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ARTIGOS
Desdobramentos jurdicos contemporneos na literatura institucionalistasobre desenvolvimento
Hugo PenaMrcio Valadares..................................................................................10
Os desafios do desenvolvimento brasileiro para o sculo XXI
Darly Henriques da Silva33
Economia e Poltica Externa: um balano do governo Lula (2002-2010)
Natasha Pergher SilvaPedro Txai Brancher..63
Indicadores alternativos de desenvolvimento econmico, social eambiental e as resistncias sua utilizao
Erivelton GuizzardiGiovani Costa de OliveiraBruno Silva OliveiraDuarte de Souza Rosa Filho.85
A presena brasileira na frica: um estudo sobre o Programa Embrapa-Moambique
Livia Liria Avelhan.107
O papel da lusofonia nas relaes entre Brasil e Angola
Leonildes Nazar..................................................................................133
Promoo do envelhecimento ativo: o caso da Universidade Snior deMafra
Ktia Cristina Leal da Silva..............................................................160Bibliotecas de Alexandria: a produo dos conhecimentos a partir deGabriel Tarde
Josaida de Oliveira GondarRosimere Mendes Cabral187
Sumrio
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Memrias, identidades e pertencimento de um grupo de moradores dacomunidade do Fallet, bairro de Santa Teresa, cidade do Rio de Janeiro
Silvana BagnoSrgio Luiz Pereira SilvaDiana Souza Pinto...203
Produes orais de crianas sobre o acolhimento institucional
Raquel da Costa PlatilhaCelina Maria Colino Magalhes....................................................221
A participao dos movimentos de mulheres na mudana do paradigma docontrole da natalidade no Brasil at 1984
Marcelo Andreas Faria de Britto239
ENTREVISTA
Entrevista com Nadine Gasman
Humberto Santana Junior..259
ENSAIO FOTOGRFICO
Ces la vie au Brsil
Renata Elo Miranda Brando AlvesHumberto Santana Junior.....264
RESENHA
Why nations fail: the origins of power, prosperity, and poverty
Thais Mere Marques Aveiro..271
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Desdobramentos jurdicos contemporneos na literaturainstitucionalista sobre desenvolvimento
Hugo Pena1Mrcio Valadares2
Resumo
O artigo objetiva situar desdobramentos jurdicos contemporneos no debatesobre desenvolvimento com duas vertentes da literatura institucionalista,caracterizadas como literatura dos ambientes institucionais e dos arranjosinstitucionais. Num primeiro momento, o texto diferencia anlises demercado e institucionalistas acerca do desenvolvimento. Em seguida,
apresenta os principais contornos das abordagens dos ambientes institucionais,com foco nas ideias de Douglass North, e dos arranjos institucionais, voltando ateno as contribuies de Ha-Joon Chang e de Peter Evans. Por fim, procede-se descrio dos principais contornos da Anlise Econmica do Direito, doNovo Direito e Desenvolvimento e da Anlise Jurdica Econmica, que soperspectivas jurdicas interdisciplinares sobre instituies e desenvolvimento.Dado que o desenvolvimento multifacetado, a contribuio que o artigopretende apresentar a aproximao de debates que se desenrolam em reasdiferentes, e em especial, promover contatos entre perspectivas econmicas ejurdicas acerca do papel das instituies no desenvolvimento.
Palavras-chave: Desenvolvimento; Instituies; Anlise Econmica do Direito;Novo Direito e Desenvolvimento; Anlise Jurdica da Poltica Econmica.
Introduo
Existe um debate a respeito do lugar e do formato das instituies
jurdicas e sua relao com o funcionamento dos mercados e o
desenvolvimento. No Brasil, atualmente, discusses do tipo envolvem
literaturas como a Anlise Econmica do Direito (AED), o Novo Direito e
Desenvolvimento (NDD) e a Anlise Jurdica da Poltica Econmica (AJPE). Cada
uma destas correntes tem pontos de contato e distanciamento com as demais.
A importncia das instituies jurdicas para o desenvolvimento, no
entanto, nem sempre foi objeto de maior ateno. Por um tempo, nem a
1Doutorando em Direito, Estado e Constituio na Universidade de Braslia (UnB). Mestre em Direito, reade Relaes Internacionais, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Foi professor ecoordenador do Curso de Direito do Centro Universitrio do Cerrado Patrocnio (Unicerp), tendo lecionadotambm na Faculdade Pitgoras, Unidade Divinpolis, e na Universidade de Itana. Atualmente, bolsistade doutorado da CAPES, em regime de dedicao exclusiva.2Mestrando em Direito pela Universidade de Braslia. Participou de curso de extenso sobre Direito eRegulao do Mercado Financeiro na London School of Economics and Political Science. Procurador doBanco Central do Brasil em Braslia.
Artigos
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literatura sobre desenvolvimento considerou instituies como varivel
relevante, nem a literatura jurdica dedicou-se ao problema dodesenvolvimento.
Prevalecia, quanto a este, aquilo a que Ronaldo Fiani (2011) se refere
como abordagem dos mercados. Tributria do equilbrio geral de mercado
de Lon Walras, esta viso ortodoxa depositava forte crena na capacidade de
ajustes espontneos dos atores nos mercados. As interaes entre pessoas,
nesse sentido, seriam coordenadas automaticamente por meio do mecanismo
de preos. Nesta concepo, ainda que os agentes econmicos buscassem
apenas seus prprios interesses, os resultados de suas interaes nos mercados
seriam socialmente benficos. Com liberdade para trocas, haveria maior
especializao, mais diviso social do trabalho, mais produtividade, e, portanto
mais renda. O domnio econmico encarado como essencialmente privado:
a interferncia do Estado indevida e classificada como distoro. A receita
para o desenvolvimento , portanto, o funcionamento timo e desimpedido dos
mercados.
de se notar que mesmo a posio econmica mais ortodoxa pressupe
certos elementos jurdicos na base de seus raciocnios, como a segurana da
propriedade e dos contratos. A diferena entre a abordagem dos mercados eas abordagens institucionalistas do desenvolvimento consiste em que as
instituies no so pressupostas: so, elas mesmas, variveis que afetam o
desenvolvimento.
A abordagem institucionalista do desenvolvimento foi fortemente
influenciada pelas contribuies de Douglass North. O foco de North esteve na
influncia do grau de proteo da propriedade privada sobre o
desenvolvimento dos pases. De modo simplificado, pode-se afirmar que sua
principal recomendao para os pases consiste em criarem-se polticas pblicas
que favoream a segurana e a previsibilidade dos negcios, via fortalecimentoda propriedade privada e dos contratos. Sua abordagem classificada por Fiani
(2011) como perspectiva que enfatiza ambientes institucionais de forma mais
geral.
Em contraste, h uma vertente da literatura institucionalista que se
caracteriza pela ateno aos arranjos institucionais, mais especficos, e que
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conta com autores como Peter Evans e Ha-Joon Chang. Em comum, estes
autores rejeitam a nfase excessiva nos direitos de propriedade, e depositamimportncia nas interaes entre Estado e sociedade para fins de
desenvolvimento, tendendo a rejeitar receitas uniformizadas para todos os
pases.
E o direito? Como ingressa neste debate? Responder a esta pergunta o
principal propsito deste artigo. Para tanto, o texto procede da seguinte
maneira. Primeiro so sucintamente expostos os contornos das abordagens
institucionalistas dos ambientes e dos arranjos institucionais. Isto se faz por
meio de breve panorama das ideias centrais de Douglass North, Peter Evans e
Ha-Joon Chang. Em seguida, so apresentadas as vertentes jurdicas que se
ocupam do problema do desenvolvimento: a AED, o NDD e a AJPE. Busca-se,
ao faz-lo, compar-las entre si, e estabelecer pontos de contato com as
literaturas dos ambientes e dos arranjos institucionais. Ou seja, busca-se
identificar suas progenias.
A questo do desenvolvimento multifacetada. importante, neste
sentido, conectar os debates que ocorrem em diferentes reas. A contribuio
que este artigo pretende apresentar a aproximao dos debates sobre
desenvolvimento que correm na economia e no direito, e que do nfase aopapel das instituies.
Cumpre ressalvar, antes de passar prxima seo, que as tradues de
citaes de obras em lngua estrangeira foram feitas livremente para o
portugus, tendo-se optado por manter o texto em um s idioma.
Duas linhagens institucionalistas sobre desenvolvimento: ambientes e
arranjos institucionais
Esta seo tem como propsito abordar uma diviso existente naliteratura institucionalista sobre desenvolvimento. De um lado, h a vertente dos
ambientes institucionais. De outro, a dos arranjos institucionais. Para este fim, o
texto faz breve panorama dos aspectos centrais das contribuies de Douglass
North, associado primeira vertente, e de Peter Evans e Ha-Joon Chang, cujas
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ideias enquadram-se na segunda linhagem. importante comear pela
diferenciao entre ambientes e arranjos institucionais.Segundo Fiani (2011), o plano mais geral e abstrato das instituies o
ambiente institucional: a Constituio, o direito de propriedade, os direitos
fundamentais etc. Ele no caracterizado por transaes especficas. J o plano
mais local e concreto o dos arranjos institucionais, que definem a forma
particular como um sistema econmico coordena um conjunto especfico de
atividades econmicas. (2011, p. 4) Assim, por exemplo, escolas de ensino
tcnico para capacitao profissional, linhas de crdito subsidiadas por
incentivos governamentais e parcerias pblico-privadas so componentes dos
arranjos institucionais.
Principais contornos da literatura dos ambientes institucionais
A literatura dos ambientes institucionaisestabelece forte relao entre a
definio e garantia dos direitos de propriedade e o desenvolvimento (Fiani,
2011, p. 63). Em essncia, direitos de propriedade bem definidos e garantidos
funcionariam como a base institucional para o mecanismo de mercado entrasse
em operao: os indivduos teriam estmulos para buscar a atividade econmica,certos de poderem manter a titularidade sobre os resultados obtidos. H, aqui,
uma sutileza nesta abordagem institucionalista: no fundo, a receita consiste em
criar ambientes institucionais ancilares ao livre funcionamento do mercado. O
verdadeiro motor do desenvolvimento continua a ser o mercado. Nisto, h
certa proximidade entre a literatura dos ambientes institucionais e a abordagem
dos mercados. A diferena consiste em que, ao passo que a primeira toma as
instituies como variveis relevantes para a anlise (o formato das instituies
importa para o desenvolvimento), a segunda pressupe o bom funcionamento
destas instituies.Na perspectiva de Douglass North, as instituies fornecem a estrutura
de incentivos em uma economia. A depender dos incentivos existentes, a
economia pode crescer, estagnar-se ou declinar (1991, p. 97). Se os custos de
transacionar forem baixos, haver estmulo s trocas, mais especializao dos
agentes econmicos, e, portanto mais produtividade (1991, p. 33) Ou seja,
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haver desenvolvimento. Pelo contrrio, se as instituies impuserem altos
custos de transao, a tendncia ser a de se causarem recesses. O problemado desenvolvimento passa a ser, em North, o de encontrar as causas dos custos
de transao, e de fazer reformas para diminu-los.
Em geral, a receita para reformas a mesma, e independe do pas ou do
contexto em que se insere. Para North, uma das principais fontes de custos
altos de transacionar est nas incertezas que a definio ou a proteo fraca dos
direitos de propriedade privada gera. Sem a segurana de poder apropriar-se
dos benefcios das transaes econmicas, os indivduos so desestimulados a
interagir nos mercados. Por que investir, se no se tem a previsibilidade de
lanar mo dos frutos do investimento? Por que vender, se no se sabe se ser
pago pela mercadoria entregue?
Outra fonte de custos de transao est nas incertezas relacionadas aos
contratos. Se os contratos forem bem protegidos, os custos para conseguir o
seu cumprimento sero menores. Os credores, neste sentido, tero mais
segurana e facilidade para forar o cumprimento por parte de seus devedores.
Se o cumprimento dos contratos for incerto ou mais dificultoso, haver menos
estmulos atividade econmica (1991, p. 54). Em decorrncia disto, North v
como necessria a existncia de uma autoridade forte o Estado quecentralize a coero e garanta o cumprimento dos contratos (1991, p. 59).
A abordagem de North no pode ser interpretada, no entanto, como
sendo favorecedora do ativismo estatal na promoo do desenvolvimento. O
papel do Estado prover o ambiente institucional favorvel s transaes
comerciais, ao livre mercado, e no interferir diretamente no domnio
econmico. Como Fiani critica, a proposta de North pressupe que, havendo
forte definio e garantia da propriedade e dos contratos, tudo estar
resolvido (Fiani, 2011, p. 195). Ou seja, deposita-se crena de que, dado o
ambiente institucional correto, os custos de transao sero reduzidos, omercado funcionar de maneira tima, e se encarregar de operar a mgica do
desenvolvimento.
Um exemplo contemporneo de literatura desenvolvimentista associada
aos ambientes institucionais est nas contribuies de Daron Acemoglu e James
Robinson (2012). Por meio da identificao e classificao de instituies
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econmicas e polticas extrativas e inclusivas, os autores identificam ambientes
institucionais propcios aos crculos virtuosos ou viciosos de desenvolvimento.De modo geral, a obra destes autores associa o carter benfico das instituies
para a promoo do desenvolvimento a sua capacidade de favorecer o livre
funcionamento dos mercados. Assim como em North, as instituies corretas,
a serem adotadas pelos pases, so aquelas que permitem a atuao
desimpedida dos agentes nos mercados.
Principais contornos da literatura dos arranjos institucionais
Em contraste com a perspectiva de North, autores da linhagem dos
arranjos institucionaisassociam o problema do desenvolvimento dificuldade
de superar problemas de diviso do trabalho na sociedade. Cabe explicar o
ponto. A produo de bens e servios, numa economia de mercado, est
dividida em diferentes etapas produtivas, envolvendo diversas empresas e
indivduos. A transao, neste contexto, envolve a passagem de um ativo
atravs da fronteira que separa duas atividades econmicas distintas, mas
economicamente conectadas (Fiani, 2011, p. 65). Assim, por exemplo, a
produo moveleira envolve, ao menos, a extrao de madeira, seubeneficiamento, montagem e venda para o consumidor final. Todas estas etapas
so ainda intermediadas por servios de transportes. Os custos de transao
residiriam nas dificuldades de as diferentes atividades produtivas
interdependentes interagirem.
Assim, o aumento no grau de diviso do trabalho exige que mais bense servios sejam transferidos entre as diferentes etapas dos vriosprocessos produtivos, e que essa transferncia se d de formacooperativa e no conflituosa. O problema passa a ser ento saberque tipo de arranjo institucional tem a capacidade de realizar essatransferncia de forma adequada. (Fiani, 2011, p. 66)
A diferena de foco, passando dos ambientes para os arranjos
institucionais, reflete-se diretamente numa mudana na concepo do papel do
Estado na economia e na organizao da prpria sociedade. Ao passo que a
literatura dos ambientes institucionais reserva papel de certa forma passivo ao
Estado, que no deve intervir no domnio econmico, a literatura dos arranjos
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institucionais atribui-lhe protagonismo nas iniciativas para o desenvolvimento.
Como resultado, a nfase desta literatura no a forte proteo dos direitos depropriedade ou dos contratos, mas a maneira como o Estado e a sociedade
interagem na busca de arranjos institucionais adequados a promoo do
desenvolvimento segundo cada contexto especfico, tendendo a rejeitar
solues de aplicao universal.
Peter Evans um dos autores que Fiani (2011) classifica como
pertencentes linhagem dos arranjos institucionais. Evans no despreza a
importncia da proteo dos direitos de propriedade para o desenvolvimento,
mas discorda do peso que North atribuiu a este fator. Para Evans, no se pode
dizer que um modelo de proteo da propriedade privada v gerar
desenvolvimento sem olhar para as especificidades de cada contexto.
Tampouco seria adequado classificar os modelos de desenvolvimento como
melhores ou piores a partir da forma como a propriedade definida (Evans,
2007, p. 37).
Ao invs de focalizar direitos de propriedade, a abordagem de Evans
voltada discusso de casos concretos de interveno do Estado no
desenvolvimento industrial (Fiani, 2011, p. 199), sem que haja a proposio de
solues institucionais universais (one-size-fits-all, ou tamanho nico) para odesenvolvimento. Afastando-se da abordagem de mercados, Evans identifica
trs motivos para a necessidade de interveno do Estado na economia: (1)
superao de falhas de mercado; (2) superao de resistncias sociais ao
processo de desenvolvimento econmico; (3) superao de resistncias sociais
redistribuio de renda na sociedade. (Fiani, 2011, p. 200) Evans, porm, no
enxerga a interveno do Estado como soluo automtica ao problema do
desenvolvimento: o fato de que a racionalidade administrativa do Estado se faz
necessria no significa que ela ser aplicada de forma adequada e eficaz.
(Fiani, 2011, p. 201).Segundo Evans, muito da literatura institucionalista sobre o
desenvolvimento pressups que as nicas instituies relevantes seriam aquelas
diretamente envolvidas na facilitao das transaes nos mercados. Evans
apelida essa pressuposio de market as magic bullet (1997, p. 2), ou seja, de
mercado como soluo mgica. Passando a um nvel de anlise mais especfico,
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o autor prope que instituies sociais, como o capital social (significando a
reputao de uma pessoa ou organizao) importam. Os negcios sofacilitados quando as pessoas confiam umas nas outras. Ao lado dessas
instituies, as iniciativas estatais tampouco podem ser desprezadas: partindo
de exemplos de desenvolvimento acelerado no Leste Asitico nas ltimas
dcadas do sculo XX, Evans confere importncia ao ativismo estatal.
Na perspectiva do autor, no basta que o Estado seja forte. necessrio
que ele tenha certo grau de autonomia em relao classe governante. A
autonomia apresentada como condio necessria ao desenvolvimento, mas
no suficiente. A proposta do autor a de que haja sinergia entre o pblico e
o privado (1997, p. 3). A sinergia entre Estado e sociedade pode atuar como
catalisadora do desenvolvimento.
Como Fiani ressalta, ao passo que o Estado detm grande poder de
transformao das relaes econmicas e sociais, os agentes privados que so
afetados pelas polticas de Estado conhecem melhor a sua realidade do que as
agncias do Estado (Fiani, 2011, p. 208). Para a ortodoxia econmica, a
constatao de que os particulares conhecem sua realidade melhor do que os
formuladores de polticas uma receita para que o Estado no interfira na
economia. J em Evans, esta constatao usada como ressalva para que osarranjos institucionais construdos pelo Estado levem em conta as vises dos
envolvidos em cada setor econmico especfico.
A identificao da necessidade de interaes entre Estado e sociedade
para fins de desenvolvimento sugere que a coordenao dos interesses por
mecanismos que no o dos mercados necessria. Pode-se interpretar que a
afirmao de Evans consiste em dizer que o mecanismo de preos nem sempre
leva superao espontnea dos custos de transao associados diviso do
trabalho na sociedade. Ou seja, nem sempre os empecilhos para as dificuldades
de interao entre os diferentes setores econmicos so automaticamentesuperados. A sada so os arranjos institucionais especficos, estruturados por
parcerias entre Estado e os diferentes setores econmicos ou sociais, como
forma de superao dos custos de transao associados diviso do trabalho.
Nota-se, neste receiturio, maior espao para o protagonismo estatal na
promoo do desenvolvimento do que na perspectiva de North.
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Outro autor cuja produo se insere na literatura dos arranjos
institucionais Ha-Joon Chang. Em Kicking away the ladder chutando aescada , Chang (2003) dedica-se a desconstruir a ideia de que um conjunto de
instituies voltado diminuio dos custos de transao e ao incremento das
trocas comerciais baste para o desenvolvimento econmico. Em sua viso, os
pases economicamente desenvolvidos recomendam para as demais instituies
que eles mesmos no adotaram no seu processo de desenvolvimento. Baseado
em evidncias empricas, demonstra que livre comrcio, rgida proteo aos
direitos de propriedade, tutela da propriedade intelectual e a prpria
democracia tal como hoje concebida, entre outras instituies tidas como
essenciais prosperidade dos pases, no estiveram presentes nas economias
desenvolvidas at que elas passassem a merecer semelhante classificao. Estas
instituies vieram depois.
Esta argumentao configura a crtica ao que Chang se refere como
Global Standard Institutions (GSI), ou instituies de tamanho nico (one-size-
fits-all), que acarretam, segundo o autor, perigosa negao da diversidade
institucional. Especificamente, a crtica de Chang dirigida a instituies da
cooperao econmica internacional, como o Banco Mundial, o Fundo
Monetrio Internacional (FMI) e a Organizao para Cooperao eDesenvolvimento Econmico (OCDE), que articulam propostas de reformas
domsticas nas instituies dos Estados (sobretudo perifricos) de forma a
ocasionar a chamada convergncia ou harmonizao institucional. Segundo
Chang, os proponentes de GSI acreditam que h certas formas de instituies
que todos os pases tm que adotar para sobreviver num mundo globalizado
(2007, p. 20).
Entre os principais pontos enfatizados por instituies como o Banco
Mundial, o FMI e a OCDE esto os direitos de propriedade privada. Chang faz
uma crtica da limitao do discurso do desenvolvimento a este aspecto. Nacompreenso do autor, no h por que afirmar que o modelo de propriedade
privada seja superior aos que lhe so alternativos (2007, p. 23). Por exemplo,
num contexto em que valores egostas no imperam na cultura local, a proteo
da propriedade privada pode no ser a melhor instituio. A investida no
contra a ideia de proteo da propriedade em si, mas contra a receita de
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convergncia institucional em torno de um s modelo. Formas comunais de
propriedade podem ser mais adequadas a contextos especficos. O pontocentral a crtica generalizao de modelos nicos como receitas de
desenvolvimento aplicveis a todos os pases (Chang, 2007, p. 11).
A desconfiana quanto a modelos nicos leva tambm a que Chang
critique prticas de mimetismo institucional (2007, p. 29). Para ele, as
instituies que funcionam em um contexto podem no funcionar em outro,
dadas as especificidades polticas, econmicas, culturais e jurdicas de cada
cenrio.
Observa-se que as abordagens de Chang e de Evans trazem em comum a
desconfiana a respeito de receitas que propem ambientes institucionais
meramente ancilares ao livre funcionamento do mercado. No apenas enfatiza-
se a necessidade de se buscarem arranjos institucionais adequados a cada
contexto especfico, como tambm se atribui papel de importncia s iniciativas
estatais na economia e na sociedade para fins de desenvolvimento. Estabelece-
se no debate sobre o desenvolvimento, desta forma, forte contraste entre as
literaturas dos ambientes e dos arranjos institucionais.
Estes desdobramentos ocorreram sobretudo no campo do
conhecimento econmico. A prxima seo identifica perspectivas deorientaojurdicaacerca do debate sobre desenvolvimento. Em comum, est o
elemento da nfase nas instituies. evidente, como se ver, que estas
perspectivas jurdicas valem-se de olhares interdisciplinares, conjugando
elementos da economia, do direito, e de outras reas do saber. Nisto, se
diferenciam do discurso jurdico tradicional, de matizes conceitualistas e
formalistas, e para o qual o desenvolvimento seria um problema econmico,
externo ao direito.
Perspectivas jurdicas do debate institucionalista sobre desenvolvimento
O objetivo desta seo apresentar os contornos gerais de correntes
jurdicas que, desprendendo-se do formalismo e do conceitualismo do discurso
jurdico tradicional, valeram-se da interdisciplinaridade para abordar relaes
entre instituies econmicas e jurdicas, e assim posicionar-se sobre o formato
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de polticas pblicas propcias ao desenvolvimento. So considerados os
contornos principais da Anlise Econmica do Direito (AED), o Novo Direito eDesenvolvimento (NDD) e a Anlise Jurdica da Poltica Econmica (AJPE).
Anlise Econmica do Direito (AED)
A AED, tambm conhecida como Direito e Economia ou Law &
Economics, tornou-se uma perspectiva bastante influente a respeito do formato
de polticas pblicas, com curso em espaos institucionais como o FMI e o
Banco Mundial. A tradio desta literatura remete a ideias de expoentes como
Ronald Coase, Richard Posner e mesmo Douglass North (Zylbersztajn, Sztajn,
2005, p. 1-2).
A principal caracterstica da AED o emprego de instrumentais
econmicos para a avaliao e validao, rejeio ou reforma de instituies
jurdicas. Estes instrumentais so derivados, sobretudo da microeconomia
(Castro, 2012, p. 207). Especificamente, a AED procede a anlises de custo-
benefcio a respeito das normas e decises no direito. De matizes utilitaristas,
consequencialistas e pragmticos, a AED procura criticar e reformar instituies
jurdicas em termos de seus resultados para o todo social. Se os efeitos forembenficos para o bem-estar econmico, a instituio ser validada. Caso
contrrio, precisar ser reformada.
Diferentemente do raciocnio jurdico tradicional, que tende a buscar a
validade das instituies jurdicas em sua conformidade com as regras e
princpios contidos em leis, decises judiciais ou constituies, o critrio de
validao empregado pela AED, como em Posner, no se encontra no direito
positivo, mas em suas consequncias para a eficincia econmica. Assim, o
critrio do bom, do justo ou desejvel traduzido em termos de eficincia,
de custo-benefcio. Busca-se averiguar se a instituio jurdica contribui ou nopara o emprego timo de recursos econmicos, de modo a maximizar a
satisfao humana (Posner, 1973, p. 4). Neste sentido, pode-se afirmar que esta
perspectiva enxerga os direitos em funo de seu papel na eficincia
econmica.
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A AED volta a sua ateno estrutura de estmulos e desestmulos que o
direito pode prover. Assim, comportamentos economicamente eficientespodem ser estimulados por sistemas de prmios e punies (Sztajn, 2005, p. 75).
Um exemplo de anlise focada em incentivos dado por Guido Calabresi
(1965), em seu artigo sobre a relao entre o direito e os acidentes de carro em
que no h dolo do condutor. Nesse trabalho, o jurista afirma que o maior rigor
punitivo acarretaria o aumento do preo relativo de certas atividades praticadas
pelos condutores de veculos e tidas por arriscadas, e incentivaria a opo por
substitutos dessas atividades, como o transporte pblico (Calabresi, 1965, p.
719-720).
Como desdobramento da AEDna rea de finanas, o movimento Law &
Finance atrelou o bom desempenho dos mercados financeiros a dotaes
jurdicas corretas, de modo a gerar ambientes institucionais eficientes na
atrao de investidores. A literatura de Law & Finance faz duas vinculaes
fundamentais. A primeira delas entre a dotao jurdica correta e a
prosperidade dos mercados financeiros. Neste aspecto, correto tem o mesmo
significado de derivado do common law. A segunda vinculao entre a
existncia de mercados financeiros dinmicos e o prprio desenvolvimento (La
Porta et al, 1998). Juntas, estas vinculaes formam a receita do Law & Financepara o desenvolvimento: universalizar instituies tpicas do common law que,
por serem mais favorveis liberdade financeira, tm maior eficincia para
conduzir prosperidade. Esta literatura criticada por Mark Roe (2006), que
nega, a partir de estudos empricos, que instituies do common law resultem
em mercados financeiros mais robustos.
A literatura da AED e do Law & Finance tende a privilegiar instituies
jurdicas que contribuam para o funcionamento timo dos mercados. Neste
sentido, a nfase no est em como as instituies econmicas podem ser
reformadas para favorecer a fruio de direitos fundamentais, mas como asestruturas jurdicas podem ser reformadas para favorecer o desempenho
econmico. No se trata de uma anlise jurdica das instituies econmicas,
mas de anlise econmica das instituies jurdicas: estas ltimas sendo
encaradas como estando em funo das primeiras. Em comum com a literatura
dos ambientes institucionais, a AED favorece desenhos institucionais ancilares
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ao livre mercado, alm de compartilhar de receiturios de forte proteo de
direitos de propriedade e contratos como medidas imprescindveis aodesenvolvimento.
Em outros termos, possvel associar a AED sensibilidade econmica
de contornos mais ortodoxos, conhecida como economia neoclssica ou
neoliberal, contrria ao ativismo estatal e favorvel a reformas pr-mercado nas
instituies, como requisitos para o desenvolvimento.
Novo Direito e Desenvolvimento (NDD)
Ao longo da dcada de 1990, diversos pases em desenvolvimento foram
palco para a implementao de reformas relacionadas ao Consenso de
Washington e voltadas criao de ambientes institucionais mais homogneos
e supostamente favorecedores das transaes. A circunstncia de essas
reformas no terem sido suficientes para reduzir substancialmente a pobreza e
a desigualdade de renda, evitar crises ou gerar grande crescimento econmico
encorajou o estudo de novas estratgias para a orientao da relao entre
direito e desenvolvimento (Shapiro; Trubek, 2012, p. 42).
O NDD uma das expresses dessas novas estratgias, correspondentesa um novo ativismo estatal (Castro, 2014, p. 33). O novo ativismo estatal
distingue-se do velho desenvolvimentismono s por propor a necessidade de
conjugao das esferas pblica e privada, como tambm por no reservar papel
proeminente s solues tecnocrticas para o desenvolvimento (Castro, 2014, p.
57), atribuindo maior espao deliberao poltica democrtica. Os pensadores
filiados a essa orientao demonstram preocupaes com que a diminuio da
pobreza e o acesso a direitos fundamentais no sejam considerados apenas
decorrncias naturais do crescimento econmico, e passem a ser encarados
como fins em si mesmos. Ou seja, as instituies jurdicas no so encaradascomo estando em funodas instituies econmicas.
Ademais, recomendam a adoo de solues pragmticas para
problemas concretos, em detrimento da crena no formalismo jurdico (Trubek,
2006, p. 93). Essa crena, focada na necessidade de garantia de previsibilidade e
estabilidade de certas categorias especialmente o direito de propriedade e a
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liberdade de contratar para que a interao humana seja prspera, pressupe
que o mercado o ambiente ideal para a tomada de decises sobre a alocaode recursos, em que o direito no deve interferir.
Castro (2014) identifica um ponto em comum s anlises levadas a cabo
por autores brasileiros filiados ao NDD. Trata-se da concepo de que as
instituies jurdicas so elementos constitutivos, e no apenas instrumentais,
da mudana e do desenvolvimento econmico. No so variveis neutras em
processos decisrios. Da a preocupao com as consequncias econmicas e
sociais da estrutura (juridicamente determinada) dos fluxos financeiros (Castro,
2014, p. 41). A base desta preocupao a afirmao de que a baixa
disponibilidade de crdito e a existncia de altos spreads bancrios figuram
como obstculos aos objetivos de indivduos e grupos (Castro, 2014, p. 35). A
nfase do NDDna anlise dos fluxos financeiros justifica a referncia de Marcus
Faro de Castro a esta vertente como literatura de Public Capital Management ou
gerenciamento pblico do capital (2014, p. 36):
devido a sua influncia tanto sobre o volume quanto sobre o preo docrdito oferecido por bancos comerciais no Brasil, a estrutura dasregras e princpios jurdicos que apoiam a existncia do mercado decrdito vista como crucial para a realizao das aspiraes dasociedade. A reorganizao do mercado de crdito, por meio de
reformas das regras e princpios jurdicos sobre os quais ele sesustenta, portanto encarada como premissa do bem-estar social edo desenvolvimento econmico. A regulao em geral deve incluir apreocupao com a estrutura e as caractersticas jurdicas do mercadode crdito. (Castro, 2014, p. 36)
Esta nfase na anlise de fluxos financeiros verificada nos trabalhos de
Emerson Fabiani, sobre o crdito de curto prazo ofertado por bancos
comerciais; de Mario Schapiro, que trata de arranjos relacionados ao crdito
industrial de longo prazo e governana corporativa; e de Diogo Coutinho,
acerca de polticas de transferncia de renda para a reduo da pobreza e da
desigualdade (Castro, 2014). Para esses autores, nem todas as decises sobre aalocao dos fatores de produo devem se dar nos mercados, espao em que,
de acordo com Streeck (2011), a produtividade marginal o critrio definidor
para a aplicao dos recursos.
Com efeito, ao demonstrar certo ceticismo quanto afirmao de que
determinadas instituies gerariam desenvolvimento em qualquer lugar em que
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fossem adotadas (one-size-fits-all), o NDDsugere a adoo de diferentes tipos
de conciliao entre Estado e sociedade e Estado e mercado(Shapiro; Trubek,2012, p. 51). De acordo com autores filiados ao NDD, as solues para os
problemas identificados devem ser construdas a partir dos contextos locais,
embora a inspirao em modelos adotados por pases com caractersticas
semelhantes parea-lhes desejvel o que definem como dilogo horizontal. As
sociedades devem escolher desenhos institucionais satisfatrios aos seus
contextos, e devem faz-lo de forma democrtica, e no delegando decises
gesto tecnocrtica (Shapiro; Trubek, 2012, p. 56).
O NDD defende a afirmao dos direitos como fins em si mesmos, a
construo de solues jurdicas a partir de contextos locais e uma abordagem
experimentalista que condiciona a validade dessas solues sua efetiva
capacidade de atender a demandas econmicas e sociais em contextos
especficos. Entre suas caractersticas de destaque est a tentativa de destacar a
importncia da estrutura de fluxos financeiros para a realizao de finalidades
jurdicas por grupos e indivduos, assim promovendo tanto a liberdade quanto
o desenvolvimento. (Castro, 2014, p. 36)
Estes contornos aproximam o NDD da literatura dos arranjos
institucionais, e estabelecem pontos de atrito com a AED, o que remete a outravertente jurdica que se choca com a AED e com a literatura dos ambientes
institucionais: a Anlise Jurdica da Poltica Econmica.
Anlise Jurdica da Poltica Econmica (AJPE)
A AJPE prope que se deva conciliar a funcionalidade da economia, de
um lado, e, de outro, a equnime proteo aos direitos fundamentais dos
indivduos e grupos, promovendo assim a justia econmica. (Castro, 2009, p.
21) A ideia de justia econmica na AJPE, apesar de evidente contato comcategorias econmicas, como produo e consumo, proposta em termos
de direitos: trata-se de conciliar direitos de produocom direitos de consumo.
Direitos de produo esto associados propriedade (em seu uso
comercial) e liberdade de contratar, ao passo que direitos de consumo esto
associados ao que normalmente se refere como direitos sociais, embora os usos
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no comerciais de direitos individuais, como o direito propriedade de uma
residncia, tambm sejam categorizados como direitos de consumo (2009, p.49-50).
Nesse sentido, o ponto central da proposta da AJPE o de que a poltica
econmica, entendida como conjunto de regras politicamente institudas que
organizam a produo, a troca e o consumo na vi da social (2009, p. 22), deve
promover a efetividade de direitos fundamentais(tanto de produo quanto de
consumo), e no prejudic-la. As instituies econmicas, em outros termos,
so colocadas em funo da fruio de direitos, e no o contrrio.
No entanto, ao propor o balano entre direitos de produo e consumo,
a AJPE no fecha os olhos para o problema da escassez envolvido na expanso
de direitos. Uma outra maneira de se apresentar a ideia de justia econmica
para a AJPE , nesse sentido, a conciliao entre a eficcia e equidade
econmicas, entre o crescimento e a distribuio. Ou seja, trata-se da
construo de uma ordem social que seja ao mesmo tempo dinmica, do
ponto de vista econmico, e justa (2009, p. 22). Nisto est implicada uma
concepo de desenvolvimento que no tem apenas matizes econmicos, mas
tambm sociais e jurdicos.
A AJPE enfatiza como relevante a fruio emprica dos direitos deconsumo e de produo, em contraste com a previso ou existncia formal
destes direitos no ambiente institucional. Esta vertente prope instrumentais
analticos para avaliar esta fruio. Trata-se da ferramenta da anlise
posicional. Por meio dela, o jurista pode avaliar, a partir de critrios jurdicos, se
a poltica econmica, ou determinada poltica pblica, atende a requisitos de
concretizao ou efetividade de direitos fundamentais e direitos humanos.
(Castro, 2009, p. 40)
A anlise posicional feita em cinco etapas (Castro, 2014, p. 42-45). A
primeira etapa envolve a identificao de uma poltica pblica ou de umaspecto da poltica econmica sujeito a controvrsias, e a correspondente
especificao do direito fundamental correlato. Nesse sentido, o primeiro passo
cuida de estabelecer a ponte entre as polticas pblicas e sua expresso jurdica
(Castro, 2014, p. 43), de modo a identificar quais so os direitos fundamentais
(sejam de consumo, sejam de produo), possivelmente atingidos pela
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controvrsia no mbito da poltica pblica (Castro, 2009, p. 41). Assim, por
exemplo, uma poltica pblica de habitao pode ser versada em termos dodireito moradia.
A segunda etapa a decomposio analtica dos direitos envolvidos:
o jurista passa ento com base na considerao de que as polticaspblicas adquirem as formas de contedos de interesse pblicoinseridos em contratos organizados em redes ou agregadoscontratuais a analisar os componentes prestacionais decorrentes doscontratos. O entendimento a que tais componentes prestacionaisem conjunto do contedo ao fato emprico da fruio do direito emquesto. O trabalho de identificao dos componentes prestacionaiscorrespondentes fruio emprica do direito tem o nome dedecomposio analtica de direitos. (2009, p. 41)
Como exemplo, o direito moradia um direito de consumo est
situado num agregado contratual perpassado por prestaes como segurana,
fornecimento de gua, luz e esgoto, pavimentao e transporte pblico,
facilidade de acesso a servios pblicos como educao e sade, e afetado por
condies de financiamento para a construo civil, taxas de juros, incidncia da
tributao, custos cartoriais etc. Dessa forma, a decomposio analtica do
direito moradia envolveria a identificao dos componentes prestacionais
necessrios para possibilitar a fruio emprica deste direito.
A terceira etapa a quantificao emprica dos direitos analiticamentedecompostos (Castro, 2014, p. 43-4), com correspondente obteno de um
ndice de fruio emprica (IFE). A reunio de todos os indicadores,
correspondentes a todos os componentes prestacionais [...] produz um
referencial de ordem mais geral, que pode servir para expressar
quantitativamente [...] a fruio emprica do direito [...]. Este ser o ndice de
fruio emprica do direito em questo [...]. (Castro, 2009, p. 43) Cada elemento
prestacional que compe um direito (como o direito moradia, do exemplo
anterior) precisa ser quantificado com base em referenciais empricos.
Esse procedimento (quantificao) pode optar por utilizar dados einformaes j produzidos por autoridades ou especialistas, ou podeproduzir dados e informaes novos. H, evidentemente, tambm apossibilidade de utilizao de dados j prontos, mas de maneiracombinada com dados produzidos pelo prprio jurista pesquisador.De qualquer modo, o objetivo da quantificao produzir ndicesquantitativos que possam dar preciso caracterizao da experinciaemprica da fruio. (2009, p. 41-2)
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A quarta etapa a definio de um padro de validao jurdica (PVJ),
tambm versado quantitativamente. A elaborao do PVJ consiste naidentificao ou construo de um padro ou benchmark utilizado para
caracterizar o que corresponderia em termos quantitativos, efetividade
emprica juridicamente validada do direito considerado. (2009, p. 44)
Por fim, na quinta etapa, o PVJ e o IFE so contrastados. Verificando
discrepncia, ou seja, um IFE menor que o PVJ estabelecido, o jurista passa,
como parte integrante desta etapa, elaborao de propostas de reforma da
poltica pblica ou de aspectos da poltica econmica considerada (Castro, 2014,
p. 45). Deste modo, busca-se a reorientao da poltica pblica ou da poltica
econmica para possibilitar a melhora da fruio emprica do direito
fundamental em questo.
A AJPE pressupe que as instituies e polticas devem servir a ordenscompatveis com a equnime fruio dos direitos humanos efundamentais e que os indivduos e grupos no devem serescravizados a instituies cuja estrutura oponha obstculos a talfruio. Sendo plenamente convencionais, so as instituies (polticaspblicas, polticas econmicas, mecanismos de cooperaointernacional) que devem ser mudadas para se adaptarem ao exerccioda fruio de direitos humanos e fundamentais, no o inverso. (Castro,2009, p. 46)
Porm, como a AJPE define justia econmica como equilbrioempiricamente verificado entre direitos de consumo e de produo, no o
bastante identificar reformas que permitam a expanso da fruio emprica de
um direito isoladamente considerado, sem verificar seus impactos sobre direitos
correlatos.
As interconexes sociais e econmicas so traduzidas, nas categorias da
AJPE, por meio da noo de redes ou agregados de contratos. A caracterizao
da economia e das polticas pblicas como compostas por relaes contratuais
permite que o jurista analise as instituies envolvidas a partir de critrios
jurdicos.
A principal preocupao dos juristas que empregam a perspectiva daAJPE ser com as consequncias econmicas e sociais da estrutura ouarquitetura dos agregados contratuais existentes, incluindo impactosque tendem a congelar certos indivduos ou grupos ou, para estepropsito, os habitantes de regies inteiras em certas posies naeconomia nacional ou global. (Castro, 2014, p. 46)
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A principal ferramenta para anlise dos agregados contratuais na AJPE
a matriz da nova anlise contratual, que classifica as clusulas dos contratoscomo tendo elementos de interesse privado e pblico, bem como elementos
monetrios e de utilidade. As clusulas privadas so livremente pactuveis, mas
as clusulas de interesse pblico esto sujeitas aos pactos sociais expressos pela
via legislativa, administrativa ou judicial. As polticas pblicas e a poltica
econmica afetam os contedos de interesse pblico (quer de utilidade, quer
monetrios) dos agregados contratuais, representando contedos de que as
partes no podem dispor livremente. Em especial, a poltica monetria e a
tributria determinam contedos das clusulas monetrias de interesse pblico
(Castro, 2011, p. 43), configurando componentes monetrios estratgicos
(Castro, 2014, p. 47) em razo da transmisso intercontratual de valores
monetrios. Nesse sentido, os contratos em uma economia (e mesmo numa
escala global) encontram-se interligados, quer pelo compartilhamento de uma
mesma moeda (e dos efeitos sobre todos os contratos em virtude da taxa de
juros, de inflao ou deflao, por exemplo), quer pelos diferenciais de
competitividade, a afetar direitos de produo, em decorrncia das relaes de
cmbio e das diferentes taxas de juros praticadas pelo globo, quer ainda pelos
mltiplos encadeamentos de contratos nos setores da economia real efinanceira, e de um setor com o outro. Nenhum contrato uma ilha, pode-se
dizer. At mesmo pela afirmao da transmisso intercontratual de valores
monetrios, a nova anlise contratual da AJPE incorpora argumentao
jurdica aspectos dos agregados e dos fenmenos macroeconmicos.
No Brasil, os estudos de Albrio Lima, Daniele Fontes e Paulo Sampaio
so exemplos de aplicao da AJPE, com foco na interao entre instituies
econmicas e jurdicas no desenvolvimento. Albrio Lima (2014) realizou
anlise jurdica do incentivo ao microempreeendedor individual. Daniele Fontes
(2014) aplicou a AJPE ao Programa Nacional de Banga Larga. E Paulo Sampaio(2014), poltica pblica de microcrdito como forma de superao da pobreza.
Nota-se que a AJPE apresenta instrumentais jurdicos para a anlise das
instituies econmicas, como a anlise posicional e a nova anlise contratual.
Pode-se, ainda, afirmar que as instituies econmicas so encaradas como
estando em funo da fruio de direitos. Mas esta afirmao temperada por
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uma concepo de desenvolvimento, ou de justia econmica, que busca
alcanar distribuio equnime sem fechar os olhos para as necessidades deeficincia econmica, o que, em termos jurdicos, se traduz na proposta de
expandir de maneira conciliada a fruio de direitos de consumo e de produo.
De modo geral, os contornos da AJPE estabelecem dilogos com o NDD.
Ambos, afinal, compartilham vises que atribuem maior espao ao ativismo
estatal na promoo do desenvolvimento, e trazem concepes de
desenvolvimento que enfatizam a presena de elementos jurdicos, para alm
do crescimento econmico. H, tambm, desconfiana em relao
capacidade de o livre mercado gerar, espontaneamente, resultados econmicos
e sociais desejveis e socialmente justos. Estes aspectos fazem com que a AJPE,
tal qual o NDD, remeta literatura dos arranjos institucionais, estabelecendo
contatos com as ideias de Peter Evans e Ha-Joon Chang, aqui abordadas. Em
contraste, estas correntes se opem s prescries da AED e da literatura dos
ambientes institucionais, da progenia de North.
Consideraes finais
A partir do panorama feito neste artigo, observou-se ser possvel situarcontribuies jurdicas sobre o desenvolvimento em um plano mais amplo,
relacionando-as a literaturas institucionalistas na economia, que so a vertente
dos ambientes institucionais e a dos arranjos institucionais.
De um lado, foi possvel observar que as ideias de Douglass North, que
pautaram a corrente dos ambientes institucionais, guardam relao com as
propostas da Anlise Econmica do Direito (AED). H congruncias nos
receiturios de forte proteo dos direitos de propriedade, de condenao do
ativismo estatal na economia, e na preocupao com a criao de desenhos
institucionais ancilares ao funcionamento do livre-mercado. A eficincia dosmercados vista como o principal motor do desenvolvimento para os
partidrios deste alinhamento terico, havendo afinidades com a economia
ortodoxa, conhecida como neoclssica ou neoliberal.
De outro lado, as expresses jurdicas do Novo Direito e
Desenvolvimento (NDD) e da Anlise Jurdica da Poltica Econmica (AJPE)
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guardam maior proximidade com a literatura dos arranjos institucionais, e com
ideias de autores como Peter Evans e Ha-Joon Chang. H maior abertura para oprotagonismo estatal no desenvolvimento, alm de desconfiana em relao a
receitas padronizadas para todos os pases, bem como outros pontos de
contato.
Por fim, quanto relao entre instituies econmicas e jurdicas,
observou-se que ao passo que a AED coloca as instituies jurdicas em funo
do livre funcionamento dos mercados, o NDD e a AJPE invertem esta relao,
focalizando a anlise em reformas nas instituies econmicas com a finalidade
de atender a fruio de direitos. No caso da AJPE, h ainda a preocupao com
o balano entre equidade e eficincia econmica.
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Recebido em: 03/09/2014Aprovado em: 28/12/2014
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Os desafios do desenvolvimento brasileiro para o sculo XXI
Darly Henriques da Silva1
Resumo
Este artigo apresenta uma anlise baseada em indicadores socioeconmicos dedesenvolvimento do Brasil, comparando-os mundialmente e com o blocoeconmico BRICS (Brasil, Rssia, ndia, China e frica do Sul), utilizando-se, porum lado, os indicadores Produto Interno Bruto (PIB) e ndice de
Desenvolvimento Humano (IDH), e por outro lado, o grupo formado peloquarteto composto por ndices de inovao, de competitividade, deempreendedorismo e de talento (ICET), internacionalmente adotado para avaliaro desenvolvimento dos pases. Para o Brasil, o primeiro grupo no guardacorrelao com o segundo por vrias razes, como concentrao de renda eriqueza, baixo investimento em inovao, dependncia do setor produtivo emrecursos naturais, pouco adequado para os desafios de desenvolvimento dosculo XXI, este baseado na revitalizao do setor industrial fortementedependente de inovao tecnolgica.
Palavras-chave: Indicadores; Inovao; Competitividade.
Introduo
O Brasil, participante do processo de globalizao, exibe dados que
apontam uma liderana quando se considera o indicador Produto Interno Bruto
(PIB) mundial. Ocupa posio privilegiada com relao aos pases emergentes,
como os que compem os BRICS, por exemplo. Entretanto, no protagonista
quanto aos ndices de inovao, competitividade internacional,
empreendedorismo e talento. Constitui um enorme desafio para o Pas romper
os laos sociais tradicionais que o posicionam em lugares bem modestos
quanto aos ndices sociais, com alta taxa de concentrao de renda e riqueza,
no sentido de Adam Smith, e oferta de educao e sade insuficiente para oque se almeja como qualidade de vida para a populao. Entretanto, essas
1Analista Senior de C&T do CNPq, Graduada e Mestre em Fsica pela Universidade de Brasilia e CentroBrasileiro de Pesquisas Fsicas, em Brasilia e Rio de Janeiro,respectivamente, Doutor em Economia pelaUniversidade de Paris - Panthon -Sorbonne e Visiting Scholar ( 1 ano) na Universidade GeorgeWashington em Washington-DC em planejamento e gesto em C,T e Inovao. Coordenador Geral doMinistrio da Cincia, Tecnologia e Inovao ( 2004-2012), atualmente na Coordenao Geral deCooperao Internacional do CNPq.
Arti os
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polticas de resgate de excludos socialmente, quando aplicadas no longo prazo,
produziro efeitos positivos.Apesar de alguns progressos, o Brasil continua a conviver com contrastes
que justificaram ser chamado, em 1974, de Belndia,e, em 2014, de Italordnia,
pela Revista The Economist, misturando, neste ltimo caso, a parte rica com PIB
per capita prximo ao da Itlia com a mais pobre com PIB prximo ao da
Jordnia.
Tais contrastes aparecem nos indicadores sociais como o ndice de
Desenvolvimento Humano (IDH) e em outros mais atuais que medem o
desenvolvimento baseado em inovao, competitividade, empreendedorismo e
talento (ICET). A metodologia utilizada se baseia em comparar os dados
internacionais de desenvolvimento do Brasil com pases desenvolvidos e alguns
emergentes, os que compem os BRICS. Para isso, os indicadores foram
divididos em dois grupos: por um lado, o PIB e o IDH enquanto indicadores de
resultado, do lado de output e outcome, respectivamente,compondo a primeira
parte do trabalho.
O quarteto ICET formado por indicadores socioconmicos de input.
Renem as condies a serem satisfeitas para que um pas atinja seus
resultados que, no necessariamente, so traduzidos pelo PIB, assuntosanalisados na segunda parte do artigo. Ser enfatizado o papel da inovao
para o sistema produtivo face aos desafios do Sculo XXI e oferecidas
recomendaes para que o Brasil possa melhorar os seus indicadores
socioeconmicos. Esses dados so importantes porque refletem o modo como
os pases utilizam seus recursos humanos, financeiros e econmicos para o seu
desenvolvimento.
Assim, o objetivo principal do trabalho , utilizando dados
quantitativos, comparar os indicadores de desenvolvimento do Brasil com
pases industrializados e com os pases-membros dos BRICS. Os primeirosporque tm seus sistemas de cincia, tecnologia e inovao consolidados
(Lundvall, 1982) e se apiam fortemente no quarteto ICET e os pases
emergentes que os esto construindo, e, nesses ltimos, encontram-se os BRICS
como destaque, e que ainda apresentam deficincias quanto aos indicadores
ICET, embora tenham desempenho importante quanto ao PIB e heterogneo
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com relao ao IDH. Esses indicadores apontam o tipo e natureza do
desenvolvimento nos pases usados como comparao. Os dados seroapresentados a seguir por meio de tabelas e grficos.
O Brasil no cenrio socioeconmico global: produto interno bruto e
desenvolvimento humano
Posio com relao ao Produto Interno Bruto (PIB)
Em 2012, o Brasil ocupou a 7 posio (Tabela1) no rankingdas maiores
economias do mundo.
Tabela 1Produto Interno Bruto (PIB) - 2012
Ranking Pas (US$ milhes)
1 Estados Unidos 16.244.600
2 China 8.227.103
3 Japo 5.961.066
4 Alemanha 3.425.928
5 Frana 2.611.200
6 Reino Unido 2.475.782
7 Brasil 2.252.664
8 Federao Russa 2.014.775
9 Itlia 2.013.375
10 ndia 1.858.740
Fonte:http://data.worldbank.org/data-catalog/GDP-ranking-table.
E no grupo dos BRICS, ocupou o 2 lugar ( Tabela 2)
http://data.worldbank.org/data-catalog/GDP-ranking-tablehttp://data.worldbank.org/data-catalog/GDP-ranking-table7/24/2019 Terceira Edio RPD (3)
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Tabela 2Produto Interno Bruto ( PIB) 2012
Ranking Pas (US$ milhes)
1 China 8.227.103
2 Brasil 2.252.664
3 Federao Russa 2.014.775
4 ndia 1.858.740
5 frica do Sul 384.313
Fonte:http://data.worldbank.org/data-catalog/GDP-ranking-table.
Quanto ao desenvolvimento social expresso pelo IDH, a situao
diferente quando se comparam os dados internacionais.
Posio com relao ao desenvolvimento humano - IDH/2013
Embora alguns pases emergentes figurem nas primeiras posies no
rankingmundial do PIB, no reproduzem este comportamento quando se trata
dos indicadores sociais. Uma boa parte dos emergentes, mesmo as economias
mais dinmicas como a China, apresentam dficits antigos com relao ao setor
social. Muitos deles tentam superar a desigualdade crnica, com concentrao
da riqueza, e este um papel desempenhado pelo Estado que tem que
despender muitos recursos para reduzir a enorme diferena existente nas
sociedades.
O indicador mais utilizado para quantificar e qualificar o estgio de
desenvolvimento dos pases o ndice de Desenvolvimento Humano (IDH),
divulgado pelo Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)
da Organizao das Naes Unidas (ONU). Para 2013, o relatrio enfatiza a
Ascenso do Sul: Progresso Humano em um Mundo Diversificado, focando
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sobre um conjunto de economias de pases em desenvolvimento que tm
conquistado destaque no cenrio global (PNUD, 2014, p.6).A ascenso do Sul vista como sem precedentes na histria humana.
China e ndia, dois pases emergentes e membros dos BRICS, duplicaram seu
produto per capitaem menos de 20 anos. Enquanto na Gr-Bretanha, bero da
Revoluo Industrial, o prazo para que o produto duplicasse foi de 150 anos, e
para os EUA, o mesmo aconteceu em cerca de 50 anos! O alcance humano em
termos populacionais dessa transformao envolveu mais de cem vezes o
nmero de pessoas em relao Revoluo Industrial, embora os dados per
capitadevam ser considerados com cautela devido pouca homogeneidade na
populao dos pases emergentes.
Segundo a Federao das Indstrias do Estado de So Paulo, o Brasil se
ressente de um projeto nacional de desenvolvimento que objetive torn-lo
desenvolvido no curto prazo, ou seja, que o Brasil alcance uma renda mdia de
US$ 20 mil e um IDH de aproximadamente 0,809 entre 2029 e 2034. Em 2013, a
renda per capitabrasileira foi de US$ 14.275,00e o IDH de 0.744, colocando o
Brasil em 79 lugar no ranking em 2013, dentre 187 naes. Dois pases dos
BRICS, China e Rssia, foram classificados tambm em desenvolvimento
humano na categoria IDH alto. Segundo o Relatrio de DesenvolvimentoHumano 2014, o Brasil avanou graas ao aumento da renda e expectativa de
vida da populao. No h indicadores sobre distribuio da riqueza no Brasil,
no sentido de Adam Smith.
Mais recentemente, observa-se um re-equilbrio da economia mundial.
Potncias econmicas do Norte, com tradio na histria, pela primeira vez, se
equiparam ao nvel econmico de pases do Sul. O PIB conjunto do Brasil, China
e ndia (trs dos cinco membros dos BRICS) se aproxima soma do PIB do
Canad, Frana, Alemanha, Itlia, Reino Unido ou o dos EUA. Atualmente, o Sul
representa cerca de metade do produto da economia mundial e estudosprospectivos indicam que at 2050, Brasil, China e ndia contribuiro com cerca
de 40% da produo econmica mundial. (PNUD, 2014, p.13)
A ttulo de exemplo, o acesso Internet registrou aumento excepcional
no Sul, com taxa de crescimento superior a 30% no perodo 2000-2010. Alm
disso, dos cinco maiores usurios do Facebook, quatro esto no Sul: Brasil,
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ndia, Indonsia e Mxico, dois deles pases dos BRICS. Este percentual
importante, pois grande parte das transaes comerciais realiza-se com oauxlio da Internet, o que facilitaria o seu comrcio exterior. Nenhuma dessas
inovaes foi produzida no Sul, embora esta regio represente um imenso
mercado para elas.
Em 2013, o Brasil ocupou o 79 lugar, portanto, um pas com IDH alto.
Um IDH muito alto (0,800 a 1.000) representa posio tambm elevada nas
dimenses que o compem: Sade, Educao e Renda. A posio do Brasil no
ranking, embora considerada alta,revela concentrao excessiva de renda, alm
de Educao e Sade comprometidas em termos de qualidade e cobertura da
populao. Novamente, os pases europeus, e outros que dedicaram esforo
concentrado a esses setores, apresentam indicadores sociais positivos, e uma
distribuio de renda per capitamais eqitativa.
Ranking ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) - 2012 - Top10 paises
Tabela 3Ranking
Pas
1 Noruega
2 Austrlia3 Estados Unidos4 Pases Baixos5 Alemanha6 Nova Zelndia7 Irlanda8 Sucia9 Suia10 JapoFonte: Relatrio do Desenvolvimento Humano - 2013/PNUD.
Desenvolvimento humano dos municpios no Brasil - IDHM 2013
Ainda no contexto do IDH, o PNUD divulgou o Atlas do Desenvolvimento
Humano no Brasil para 2013. O levantamento cobre os 5.565 municpios
brasileiros segundo 180 variveis. Os temas abordados so agrupados em:
demografia, sade, trabalho, renda, educao, habitao e vulnerabilidade
social. (PNUD, 2013). importante conhecer os dados por municpios para que
o indicador IDH do Brasil no fique distorcido e induza a concluses incorretas.
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A distoro deve-se a heterogeneidade dos indicadores sociais por regies e
municpios. A evoluo do IDH dos municpios mostrada a seguir.Evoluo do Desenvolvimento Humano nos Municpios Brasileiros nas trs
ltimas dcadas
Fonte: Atlas do desenvolvimento Humano no Brasil - 2013, disponvel em:http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/destaques/faixas_idhm/
A Figura 1 mostra a evoluo do IDHM:
http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/destaques/faixas_idhm/http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/destaques/faixas_idhm/http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/destaques/faixas_idhm/7/24/2019 Terceira Edio RPD (3)
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Figura 1:
Fonte:http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/destaques/faixas_idhm/.
Esses dados corroboram a concentrao de renda, as baixas taxas, em
alguns casos, em Educao e Sade das populaes, embora j se observem
avanos para reduzir as diferenas regionais e intra-regionais. Em nvel nacional,
algumas polticas pblicas voltadas para insero social da populao de muito
baixa renda j apresentam resultados positivos, como aponta o Instituto de
PesquisaEconmica Aplicada (IPEA).
Assim,segundo estudo do IPEA, que tem como base a Pesquisa Nacional
por Amostra de Domiclios (PNAD), houve mudanas em indicadores de renda e
consumo das famlias no Brasil de 1992 a 2012. Os nmeros da PNAD serviram
para alimentar os dados de Educao para o IDH do Brasil publicado em 2014
pelo PNUD, aps as crticas do Governo Brasileiro com relao ao IDH
divulgado em 2013, colocando o Brasil na 85 posio no ranking mundial.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), registrou-secrescimento das seguintes variveis relacionadas ao rendimento e ao consumo
no perodo mencionado: Renda per capita(mdia), Renda per capita(mediana),
Salrio Mnimo, PIB per capita , Consumo das Famlias per capita e, Renda
Disponvel per capita( IBGE,2014) com taxa de variao desses indicadores no
perodo conforme a Tabela 4 .
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Taxa de variao anual dos indicadores de rendimento e de consumo em
perodos selecionados (%)
Tabela 4
O crescimento registrado no perodo 1992/2012, relacionado posse debens durveis e ao acesso a servios pblicos essenciais (IBGE, 2014, p.6) quanto
ao segundo item foi de 40,6% para 59,2% da populao, aponta melhorias. Isso
mostra a incluso de parte da populao no mercado de consumo, o que faz
movimentar o comrcio e a economia de bens, embora no mostre distribuio
de riqueza no Brasil, no sentido de Adam Smith. Da mesma maneira, com
relao ao Conjunto bsico de servios, o crescimento para o mesmo perodo
passou de 11,1% para 46,6% da proporo populacional, demonstrando uma
melhoria na qualidade de vida da populao mais carente.
Tais melhorias responderam presso na demanda reprimida por bens e
servios por parte da parcela populacional que passou a ser um pouco mais
bem informada dos seus direitos, e que foi inserida no mercado de consumo
graas a polticas sociais recentes, algumas exitosas, como as que tiveram como
consequncia um aumento da renda da populao menos favorecida.
Indicador 1992/2012 1992/2002 2002/2012 2011/2012
PIB per capita 1,94 1,29 2,59 0,06
Consumo das famlias
per capita2,44 1,73 3,15 2,23
Renda per capita
(mdia)3,09 2,53 3,65 7,98
Renda per capita
(mediana)3,85 2,1 5,64 7,6
Salrio mnimo 2,49 -0,22 5,26 7,89
Populao com
conjunto bsico de bens
(p.p.)
1,78 1,72 1,84 2,16
Populao com
conjunto bsico de
servios (p.p.)
0,93 1,06 0,81 0,98
Formatado:Fonte: (Padro) KhmerUI, 12 pt, No Itlico, Cor da fonte:
Automtica
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Indicadores socioeconmicos: quarteto ICET
Quandose levam em conta outros indicadores alm do PIB e IDH, como
os que compem o quadro de input scio-econmico mais atual, as
vulnerabilidades dos pases emergentes, como os membros dos BRICS, tornam-
se evidentes. Dentre eles, figuram os ndices de inovao, de competitividade,
de empreendedorismo e de talento (ICET) que esto sendo utilizados na
literatura internacional para medir o grau de desenvolvimento de um pas, com
base nas condies iniciais que contam como vantagens para cada um deles na
economia globalizada, e que definem o perfil de seus d