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  • Terceirizao e Desenvolvimento

    Uma conta que no fecha

    Dossi sobre o impacto da terceirizao sobre os trabalhadores e propostas para garantir a igualdade de direitos

    Setembro, 2011

  • FICHA BIBLIOGRFICA

    Ttulo: Terceirizao e Desenvolvimento, uma conta que no fecha. DIEESE/CUT: So Paulo,

    2011.

    Autoria: Subseo DIEESE - CUT Nacional, Secretaria das Relaes de Trabalho/CUT,

    Secretaria da Sade do Trabalhador/CUT

    Equipe Tcnica responsvel: Adriana Marcolino, Alexandre Sampaio Ferraz; Leandro Horie e

    Patrcia Toledo Pelatieri, Sergio Godoy, Rita Maria Pinheiro, Crystiane Perez, Claudia Rejane

    Lima. Apoio Tcnico: David Roberto de Oliveira.

    Resumo: Dossi sobre o impacto da terceirizao sobre os trabalhadores e propostas para

    garantir a igualdade de direitos.

    Palavras-chave: terceirizao; precarizao; condies de trabalho; sade e segurana no

    trabalho.

    Diretrio: \\Cut-ds01\dieese$\TERCEIRIZAO\2011\dossie\DOSSI FINAL

  • SUMRIO

    Introduo 03

    Nmeros da terceirizao 05

    Faces da Terceirizao 13

    Calote das empreses terceirizadas 13

    Sade, segurana, mortes no trabalho 14

    Ataque aos direitos dos trabalhadores 17

    Discriminao contra os trabalhadores terceirizados 18

    Propostas de Diretrizes para a regulamentao da Terceirizao 20

    Bibliografia 23

    Documentos sobre impactos da terceirizao nos Setores 24

    Setor Financeiro 25

    Setor Petroqumico 288

    Setor Eltrico 330

    Setor Metalrgico 396

    Outras Contribuies dos Setores 408

    Setor de Papel 409

    Setor do Comrcio 412

    Ferrovirios 416

  • 3

    Terceirizao e Desenvolvimento uma conta que no fecha1

    Introduo

    Esse debate est relacionado diretamente com o tema do desenvolvimento do Brasil,

    sobre como iremos caminhar, do ponto de vista social e econmico.

    Na teoria, enfatizam-se os ganhos da especializao e da cooperao advindos da

    nova relao entre empresas. Consultores apontam o outsourcing como o caminho

    para a modernidade. Sublinham tambm a vantagem que a terceirizao traz na

    transformao de gastos fixos em variveis (e nesse caso, os trabalhadores tambm

    so transformados em custo varivel...).

    Mas a realidade imposta pela terceirizao no a da modernidade, mas a de um pas

    com relaes arcaicas de trabalho, que fere os preceitos de igualdade. Para se ter

    uma idia, em uma pesquisa realizada pela FUP (Federao nica dos Petroleiros)

    em 2010, 98% das empresas foram motivadas a terceirizar devido ao menor preo e

    apenas 2% devido especializao tcnica.

    Com a terceirizao:

    Do ponto de vista econmico, as empresas procuram otimizar seus lucros, em

    menor grau pelo crescimento da produtividade, pelo desenvolvimento de

    produtos com maior valor agregado, com maior tecnologia ou ainda devido

    especializao dos servios ou produo. Buscam como estratgia central,

    otimizar seus lucros e reduzir preos, em especial, atravs de baixssimos

    salrios, altas jornadas e pouco ou nenhum investimento em melhoria das

    condies de trabalho. Do ponto de vista social, podemos afirmar que a grande

    maioria dos direitos dos trabalhadores desrespeitada, criando a figura de um

    cidado de segunda classe com destaque para as questes relacionadas

    vida dos trabalhadores(as), aos golpes das empresas que fecham do dia para

    a noite e no pagam as verbas rescisrias aos seus trabalhadores empregados

    e s altas e extenuantes jornadas de trabalho.

    No deveria ser essa nossa opo de desenvolvimento econmico.

    1 Este documento foi elaborado pela Subseo do DIEESE/CUT Nacional, pela Secretaria de Relaes do

    Trabalho da CUT, pela Secretaria de Sade da CUT, com contribuies dos Ramos da CUT.

  • 4

    As empresas terceirizadas abrigam as populaes mais vulnerveis do mercado de

    trabalho: mulheres, negros, jovens, migrantes e imigrantes. Esse abrigo no tem

    carter social, mas justamente porque esses trabalhadores se encontram em

    situao mais desfavorvel, e por falta de opo, submetem-se a esse emprego.

    No verdade que a terceirizao gere emprego. Esses empregos teriam que existir,

    para a produo e realizao dos servios necessrios grande empresa. A empresa

    terceira gera trabalho precrio, e pior, com jornadas maiores e ritmo de trabalho

    exaustivo, acaba na verdade por reduzir o nmero de postos de trabalho.

    A terceirizao est diretamente relacionada com a precarizao do trabalho. Destacar

    os setores mais precarizados no pas, destacar os setores que comumente exercem

    atividades terceirizadas no Brasil.

    No esse o compromisso que os atores sociais devem ter com a construo do pas.

    Em especial, porque essa relao aumenta os custos para a sociedade, com a perda

    da qualidade de servios e produtos, com agresses ambientais a comunidades

    vizinhas, com o empobrecimento dos trabalhadores, com a concentrao de renda,

    com a monetizao da vida humana, e com a atuao estatal como fomentador da

    precarizao das relaes de trabalho, e ainda, com as fraudes em licitaes, evaso

    fiscal, focos de corrupo, aumento das demandas trabalhistas e previdencirias,

    entre outros custos como a to propagada competitividade.

    Finalmente, vale destacar que as estatsticas oficiais dificultam a anlise dos efeitos da

    terceirizao. Essa realidade dificilmente captada pelas pesquisas vigentes. No

    entanto, apresentamos esse dossi para dar visibilidade a uma realidade que existe e

    sentida cotidianamente pelos trabalhadores (as) e por suas representaes

    sindicais.

    Nesse documento procuramos refletir sobre o tema a partir de dados estatsticos e de

    informaes obtidas junto s representaes sindicais dos trabalhadores.

  • 5

    Nmeros da terceirizao

    Abaixo apresentamos uma anlise do mercado de trabalho atravs do agrupamento

    dos setores tipicamente terceirizados e dos trabalhadores terceirizados que exercem

    suas atividades em empresas contratadas, a partir do qual, iremos debater os efeitos

    da terceirizao que, dado o atual cenrio de regulamentao insuficiente, resulta na

    precarizao do trabalho, como os dados e os relatos de vrias entidades sindicais

    tm revelado.

    Como dito acima, as estatsticas oficiais tem limites para captar essa realidade sentida

    no cotidiano pelos trabalhadores e suas representaes e procura-se, a partir dos

    critrios descritos a seguir, indicar caractersticas gerais da terceirizao no Brasil.

    Para tanto, utilizamos trs fontes de pesquisa:

    PED Pesquisa de Emprego e Desemprego do DIEESE/SEADE/MTE/FAT e

    Convnios regionais, destacando o tipo de emprego indicado pelo trabalhador

    entrevistado (emprego subcontratado, que pode ser Assalariados Contratados

    em Servios Terceirizados ou Autnomos que Trabalham para uma Empresa);

    Rais/Caged/MTE atravs da classificao CNAE 2.0, e do reagrupamento

    das classes setoriais de acordo com seu perfil principal (tipicamente terceira,

    tipicamente contratante). Nesse caso, por impossibilidade de reagrupamento, o

    setor agrcola no est contido;

    CUT - Pesquisa de percepo dos trabalhadores realizada em 2010/2011 em

    setores e empresas selecionadas.

    O resultado desses dados confirma os relatos e indicadores parciais apresentados

    pelos trabalhadores e suas representaes sindicais.

    Na Tabela 1 possvel observar que os trabalhadores terceirizados perfazem cerca de

    25,5% do mercado formal de trabalho. Destaca-se que parte considervel dos

    trabalhadores terceiros esto alocados na informalidade e que, portanto, esse nmero

    est subestimado.

  • 6

    TABELA 1 - Distribuio dos trabalhadores em setores tipicamente terceirizadas e tipicamente contratantes, 2010

    Setores Nmero de

    trabalhadores %

    Setores tipicamente terceirizados 10.865.297 25,50

    Setores tipicamente contratantes 31.740.392 74,50

    Total 42.605.689 100,00

    Fonte: Rais, 2010. Elaborao DIEESE/CUT Nacional, 2011. Nota: setores agregados segundo Classe/CNAE 2.0. No esto contidos os setores da agricultura.

    Na Tabela 2 observa-se trs indicadores relevantes das condies de trabalho que

    reforam que a estratgia de otimizao dos lucros via terceirizao est fortemente

    baseada na precarizao do trabalho.

    O primeiro dado, sobre a remunerao, demonstra que em dezembro de 2010 ela foi

    de menos 27,1% para os trabalhadores terceirizados.

    Esse fato reforado pelos dados da pesquisa realizada pela CUT junto a

    trabalhadores (Tabela 3), que demonstra uma concentrao nas faixas de 1 a 2

    salrios mnimos e de 3 a 4 salrios mnimos. Por outro lado, os trabalhadores diretos

    esto mais distribudos nas diversas faixas salariais.

    Em relao jornada de trabalho contratada esse grupo de trabalhadores realiza uma

    jornada de 3 horas a mais semanalmente, isso sem considerar as horas extras ou

    banco de horas realizadas que no so objeto do levantamento realizado pelo MTE

    (Ministrio do Trabalho e Emprego). Se a jornada dos trabalhadores terceirizados

    fosse igual jornada de trabalho daqueles contratados diretamente, seriam criadas

    cerca de 801.383 vagas de trabalho a mais, novamente, sem considerar a hora extra,

    banco de horas e o ritmo de trabalho, que como relatado pelos dirigentes sindicais,

    so maiores e mais intensas entre os terceiros.

    O tempo de emprego demonstra uma diferena ainda maior entre trabalhadores

    diretos e terceiros. Enquanto a permanncia no trabalho de 5,8 anos para os

    trabalhadores diretos, em mdia, para os terceiros de 2,6 anos. Desse fato decorre a

    alta rotatividade dos terceirizados 44,9% contra 22% dos diretamente contratados.

    Esse fato tem uma srie de conseqncias para o trabalhador, que alterna perodos

    de trabalho e perodos de desemprego resultando na falta de condies para organizar

    e planejar sua vida, inclusive para projetos pessoais como formao profissional, mas

    tem tambm um rebatimento sobre o FAT (Fundo de Amparo do Trabalhador) uma vez

    que essa alta rotatividade pressiona para cima os custos com o seguro desemprego.

  • 7

    TABELA 2 - Condies de trabalho e terceirizao

    Condies de trabalho Setores

    tipicamente Contratantes

    Setores tipicamente

    Terceirizados

    Diferena Terceirizados/ Contratante

    Remunerao de dezembro (R$) 1.824,2 1.329,4 -27,1

    Tempo de emprego (anos) 5,8 2,6 -55,5

    Jornada semanal contratada (horas) 40h 43h 7,1

    Fonte: Rais, 2010. Elaborao DIEESE/CUT Nacional, 2011. Nota: setores agregados segundo Classe/CNAE 2.0. No esto contidos os setores da agricultura. Esses dados foram obtidos na RAIS 2010 On line.

    GRFICO 1

    Fonte: Rais, 2010. Elaborao DIEESE/CUT Nacional, 2011.

    Nota: setores agregados segundo Classe/CNAE 2.0.

    No esto contido os setores da agricultura. Esses dados foram obtidos na RAIS 2010 On line.

    TABELA 3 - Distribuio percentual dos trabalhadores diretos e terceirizados por faixa salarial, 2010

    Faixa Salarial Terceiros Diretos

    De 1 a 2 salrios mnimos (de R$546,00 a 1.090,00) 48% 29%

    De 2 a 3 salrios mnimos (de R$1.091,00 a R$1.635,00) 36% 23%

    De 3 a 4 salrios mnimos (de R$ 1.636,00 a R$2.180,00) 12% 13%

    De 4 a 6 salrios mnimos (de R$2.181,00 a R$3.270,00) 4% 17%

    Acima de 6 a 8 salrios mnimos (de R$3.271,00 a R$4.360,00) 0 10%

    Acima de 8 salrios mnimos (acima de R$4.361,00) 0 8%

    Total 100% 100%

    Fonte: Pesquisa de Percepo dos Trabalhadores em Setores e empresas selecionados, CUT, 2010-2011.

  • 8

    Segundo a PED (onde esto includos os trabalhadores formais e informais), nas 5

    regies metropolitanas e no Distrito Federal os trabalhadores em emprego

    subcontratado esto divididos em Assalariados contratados em servios terceirizados

    e Autnomos que trabalham para uma empresa. O primeiro grupo observou um

    crescimento em uma dcada, enquanto o trabalho autnomo apresentou queda de

    cerda de 10 pontos percentuais.

    TABELA 4 - Distribuio dos subcontratados, segundo forma de insero ocupacional - Regies Metropolitanas e Distrito Federal, 1999 e 2009

    Forma de Insero Ocupacional Total (1)

    1999 2009

    Emprego subcontratado 100,0 100,0

    Assalariados Contratados em Servios Terceirizados 37,3 47,9

    Autnomos que Trabalham para uma Empresa 62,7 52,1

    Fonte: Convnio DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convnios regionais. PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego.

    Elaborao: DIEESE. (1) Correspondem ao total das Regies Metropolitanas de Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, So Paulo e o Distrito Federal.

    Quanto distribuio dos trabalhadores subcontratados por setores de atividade

    observa-se uma concentrao grande e crescente no setor de servios ao longo da

    dcada. Destaca-se que apesar de executar tarefas, predominantemente, em outros

    setores de atividade, as empresas buscam classificar suas atividades no segmento de

    servios, dado o carter de prestao de servios e desconsiderando sua atividade

    final, tendo como um dos benefcios menores salrios do que, por exemplo, no setor

    industrial que teve o nmero de terceirizados reduzido em 4 pontos percentuais, mas

    isso no se reflete no nmero de trabalhadores que continuam exercendo atividades

    nas unidades industriais.

  • 9

    TABELA 5 - Distribuio dos subcontratados, segundo setor de atividade econmica - Regies Metropolitanas e Distrito Federal, 1999 e 2009

    Forma de Insero Ocupacional e Setor de Atividade Total (1)

    1999 2009

    Emprego subcontratado 100,0 100,0

    Indstria 17,9 13,9

    Comrcio 14,6 10,0

    Servios 60,1 69,1

    Construo Civil 5,6 6,1

    Outros(2) (3) (3)

    Fonte: Convnio DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convnios regionais. PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego.

    Elaborao: DIEESE. (1) Correspondem ao total das Regies Metropolitanas de Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, So Paulo e o Distrito Federal. (2) Incluem agricultura, pecuria, extrao vegetal, embaixadas, consulados, representaes oficiais e outras atividades no classificadas. (3) A amostra no comporta a desagregao para esta categoria.

    Na distribuio dos terceirizados por estados destaca-se o Cear, Minas Gerais,

    Esprito Santo, Rio de Janeiro, So Paulo e Santa Catarina como uma concentrao

    maior de terceirizados, acima da mdia nacional de 25,5%. Por regio, destaca-se a

    Sudeste, que possui 28% de terceirizados.

  • 10

    TABELA 6 - Distribuio dos trabalhadores em empresas tipicamente terceirizadas e tipicamente contratantes, por estados, 2010

    Estados

    Setores tipicamente terceirizados

    Setores tipicamente contratantes

    Total

    Nmero de trabalhadores

    % Nmero de

    trabalhadores %

    Nmero de trabalhadores

    %

    Rondnia 68.742 21,23 255.046 78,77 323.788 100,00

    Acre 17.067 14,47 100.851 85,53 117.918 100,00

    Amazonas 129.039 22,53 443.586 77,47 572.625 100,00

    Roraima 13.086 16,83 64.659 83,17 77.745 100,00

    Para 155.604 17,12 753.091 82,88 908.695 100,00

    Amap 15.715 14,67 91.436 85,33 107.151 100,00

    Tocantins 26.296 11,76 197.284 88,24 223.580 100,00

    Maranho 120.614 19,60 494.663 80,40 615.277 100,00

    Piau 63.875 17,23 306.765 82,77 370.640 100,00

    Ceara 356.849 27,38 946.657 72,62 1.303.506 100,00

    Rio Grande do Norte 119.484 21,31 441.276 78,69 560.760 100,00

    Paraba 91.094 16,11 474.223 83,89 565.317 100,00

    Pernambuco 365.683 24,62 1.119.651 75,38 1.485.334 100,00

    Alagoas 63.116 13,69 398.043 86,31 461.159 100,00

    Sergipe 77.882 21,89 277.967 78,11 355.849 100,00

    Bahia 505.823 24,73 1.539.252 75,27 2.045.075 100,00

    Minas Gerais 1.138.487 26,00 3.239.940 74,00 4.378.427 100,00

    Esprito Santo 225.732 27,25 602.739 72,75 828.471 100,00

    Rio de Janeiro 1.085.286 26,75 2.971.523 73,25 4.056.809 100,00

    So Paulo 3.675.757 29,32 8.863.018 70,68 12.538.775 100,00

    Paran 628.917 23,50 2.047.248 76,50 2.676.165 100,00

    Santa Catarina 535.176 27,82 1.388.839 72,18 1.924.015 100,00

    Rio Grande do Sul 686.017 25,22 2.034.313 74,78 2.720.330 100,00

    Mato Grosso do Sul 91.651 18,47 404.468 81,53 496.119 100,00

    Mato Grosso 99.738 17,58 467.651 82,42 567.389 100,00

    Gois 263.847 21,42 967.684 78,58 1.231.531 100,00

    Distrito Federal 244.720 22,38 848.519 77,62 1.093.239 100,00

    Total 10.865.297 25,50 31.740.392 74,50 42.605.689 100,00

    Fonte: Rais, 2010. Elaborao DIEESE/CUT Nacional, 2011.

    Nota: setores agregados segundo Classe/CNAE 2.0. No esto contidos os setores da agricultura.

  • 11

    TABELA 7 - Distribuio dos trabalhadores em empresas tipicamente terceirizadas e tipicamente contratantes, por regio 2010

    Regies

    Setores tipicamente terceirizados

    Setores tipicamente contratantes

    Total

    Nmero de trabalhadores

    % Nmero de

    trabalhadores %

    Nmero de trabalhadores

    %

    Regio Norte 425.549 18,25 1.905.953 81,75 2.331.502 100,00

    Regio Nordeste 1.764.420 22,73 5.998.497 77,27 7.762.917 100,00

    Regio Sudeste 6.125.262 28,09 15.677.220 71,91 21.802.482 100,00

    Regio Sul 1.850.110 25,27 5.470.400 74,73 7.320.510 100,00

    Regio Centro-Oeste 699.956 20,66 2.688.322 79,34 3.388.278 100,00

    Total 10.865.297 25,50 31.740.392 74,50 42.605.689 100,00

    Fonte: Rais, 2010. Elaborao DIEESE/CUT Nacional, 2011.

    Nota: setores agregados segundo Classe/CNAE 2.0. No esto contidos os setores da agricultura.

    Um dado que desconstri argumentos que afirmam que os baixos salrios dos

    terceirizados ocorrem em funo de estarem alocados em pequenas empresas, e que

    estas, no tem possibilidade de pagar melhores salrios no se justifica j que 53,4%

    dos trabalhadores terceirizados trabalham em empresas com mais de 100

    empregados contra 56,1% dos trabalhadores diretos, percentuais bastante prximos.

    TABELA 8 - Distribuio dos trabalhadores em empresas tipicamente terceirizadas e tipicamente contratantes, por tamanho do estabelecimento, 2010

    Tamanho dos

    estabelecimentos

    Setores tipicamente terceirizados

    Setores tipicamente contratantes

    Total

    Nmero de trabalhadores

    % Nmero de

    trabalhadores %

    Nmero de trabalhadores

    %

    At 4 vnculos ativos (VA) 787.926 7,25 2.499.879 7,88 3.287.805 7,72

    De 5 a 9 VA 866.786 7,98 2.484.540 7,83 3.351.326 7,87

    De 10 a 19 VA 914.651 8,42 2.932.543 9,24 3.847.194 9,03

    De 20 a 49 VA 1.389.192 12,79 3.607.502 11,37 4.996.694 11,73

    De 50 a 99 VA 1.101.061 10,13 2.424.008 7,64 3.525.069 8,27

    De 100 a 249 VA 1.455.468 13,40 3.047.757 9,60 4.503.225 10,57

    De 250 a 499 VA 1.103.591 10,16 2.663.471 8,39 3.767.062 8,84

    De 500 a 999 VA 1.004.847 9,25 2.680.488 8,45 3.685.335 8,65

    1000 ou mais VA 2.241.775 20,63 9.400.204 29,62 11.641.979 27,32

    Total 10.865.297 100,0 31.740.392 100,0 42.605.689 100,0

    Fonte: Rais, 2010. Elaborao DIEESE/CUT Nacional, 2011.

    Nota: setores agregados segundo Classe/CNAE 2.0. No esto contidos os setores da agricultura.

  • 12

    Outro argumento comumente difundido que estes trabalhadores recebem menos

    porque possuem menor escolaridade. De fato, os terceiros possuem uma escolaridade

    menor, mas no um hiato gigante: 61,1% dos trabalhadores em setores tipicamente

    terceirizados possuem ensino mdio ou formao superior, enquanto entre os

    trabalhadores dos setores tipicamente terceiros esse percentual de 75,7%.

    TABELA 9 - Distribuio dos trabalhadores em empresas tipicamente terceirizadas e tipicamente contratantes, por escolaridade, 2010

    Escolaridade

    Setores tipicamente terceirizados

    Setores tipicamente contratantes

    Total

    Nmero de trabalhadores

    % Nmero de

    trabalhadores %

    Nmero de trabalhadores

    %

    At 5 ano do ensino fundamental

    1.160.067 10,68 2.040.422 6,43 3.200.489 7,51

    Ensino fundamental completo

    3.062.716 28,19 5.681.954 17,90 8.744.670 20,52

    Ensino mdio completo

    5.448.456 50,15 16.168.017 50,94 21.616.473 50,74

    Mais que ensino mdio completo

    1.194.058 10,99 7.849.999 24,73 9.044.057 21,23

    Total 10.865.297 100,00 31.740.392 100,00 42.605.689 100,00

    Fonte: Rais, 2010. Elaborao DIEESE/CUT Nacional, 2011.

    Nota: setores agregados segundo Classe/CNAE 2.0. No esto contidos os setores da agricultura.

  • 13

    Faces da terceirizao

    Calote das empresas terceirizadas

    Alm das desvantagens durante a execuo dos servios as quais os trabalhadores

    terceirizados esto expostos se comparados queles contratados diretamente, o fim

    dos contratos tambm costuma ser um momento especialmente difcil para

    trabalhadores terceirizados. Principalmente nos setores de vigilncia e asseio e

    conservao os calotes so constantes, ou seja, a empresa desaparece e os

    trabalhadores(as) no recebem as verbas indenizatrias as quais tem direito com o fim

    do contrato. A contratao destes servios, seja pelo setor pblico ou pelo setor

    privado, no cercada dos devidos cuidados mnimos com relao empresa

    contratada, dando margem a seguidos golpes contra os trabalhadores/as.

    No caso do setor pblico, com o objetivo de vencer o processo licitatrio e serem

    contratada para execuo do servio, muitas empresas, criadas exclusivamente com

    este objetivo, apresentam valores de contrato abaixo dos valores necessrios para

    cumprimento das obrigaes trabalhistas cabveis em processos rescisrios, ou seja,

    os chamados preos inexeqveis.

    O resultado desta prtica para os trabalhadores o desemprego repentino,

    acompanhado da falta de pagamento. Alm disso, as perspectivas de regularizao da

    situao muito pequena, os trabalhadores acionam a justia e no so assistidos

    pela empresa contratante da terceirizada.

    Segundo o Sindicato dos Rodovirios do Distrito Federal apenas no Tribunal Superior

    do Trabalho (TST), mais de 40 motoristas aguardam a restituio de salrios, as frias

    e a resciso do contrato com a extinta Serviter, que fechou as portas e desapareceu.

    No Palcio cerca de 300 funcionrios da copa e da limpeza aguardam a resciso do

    contrato com a Visual Locao de Servios e Construo Civil, que deixou de atuar na

    Presidncia da Repblica em dezembro de 2010. A Unio conseguiu autorizao na

    Justia para bloquear R$477,7 mil que seriam pagos empregadora e repass-los

    diretamente aos funcionrios. No entanto, embora j estejam contratados pela Apec

    Servios Gerais, os trabalhadores no foram desligados oficialmente da Visual.

    No ms de setembro de 2011, cerca de 300 trabalhadores fizeram uma passeata pela

    Avenida Paulista at a sede da empresa, onde houve protestos e manifestaes

    porque o contrato da Worktime com a Petrobrs ser encerrado no prximo 25/09/11 e

    por isso os trabalhadores esto sendo obrigados a pedir demisso, abrindo mo de

  • 14

    40% do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Servio), entre outros direitos, para

    que outra prestadora de servios inicie novo contrato com a estatal.

    No ano passado, a Petrobrs foi autuada em R$383,3 milhes evaso fiscal

    previdncia por parte das empresas terceiras.

    No caso dos contratos fechados com governos das trs esferas, as brechas esto no

    processo de licitao com a escolha baseada apenas no critrio do menor preo, sem

    considerar outras condicionantes. Sendo assim as firmas apresentam um valor que

    no pode ser executado e que no cobre os servios, assim, ficam seis ou sete

    meses, quebram e vo embora.

    Sade, segurana, mortes no trabalho

    Uma das repercusses mais contundentes da precarizao do trabalho gerada pela

    terceirizao a elevada incidncia de acidentes de trabalho graves e fatais entre

    trabalhadores terceirizados. Embora encobertos das estatsticas oficiais do Ministrio

    da Previdncia Social, dados da fiscalizao do trabalho do Ministrio do Trabalho e

    Emprego, divulgados em 2005 em um seminrio sobre o tema, indicam que de cada

    dez acidentes de trabalho ocorridos no Brasil, oito so registrados em empresas

    terceirizadas e nos casos em que h morte, quatro entre cinco ocorrem em empresas

    prestadoras de servio (Gazeta do ES, 2005).

    Em setores perigosos como o de energia eltrica, extrao e refino de petrleo e

    siderurgia esta realidade tem se expressado de forma cruel. Estudo da subseo do

    Dieese do Sindieletro Minas Gerais, realizado em 2010 com base em dados da

    Fundao Coge, revela que entre 2006 e 2008, morreram 239 trabalhadores por

    acidente de trabalho, dentre os quais 193, ou 80,7% eram trabalhadores terceirizados.

    O mesmo estudo indica que a taxa de mortalidade2 mdia entre os trabalhadores

    diretos no mesmo perodo foi de 15,06 enquanto que entre trabalhadores terceirizados

    foi de 55,53. Vale destacar que no mesmo perodo a taxa mdia de mortalidade

    nacional, do conjunto dos setores econmicos abrangidos pela Previdncia Social, foi

    2 A taxa de mortalidade um indicador estatstico que estabelece relao entre determinada populao e os bitos

    ocorridos neste conjunto de indivduos, anulando a influncia exercida pelo tamanho do grupo. Ao estabelecer esta relao, o referido indicador possibilita a realizao de comparaes entre os bitos ocorridos entre populaes distintas, definindo uma escala de risco. Em sntese, a taxa de mortalidade compara bitos ocorridos com conjuntos de trabalhadores de tamanho e caractersticas diferentes, de forma que se estabelea uma relao de mortes por conjuntos de 100.000 trabalhadores, permitindo fazer um diagnstico mais preciso do risco de morte por acidente do trabalho (DIEESE, 2010).

  • 15

    de 9,8, ou seja, no setor eltrico o risco de um trabalhador terceirizado morrer por

    acidente de trabalho 5,66 vezes maior que nos demais segmentos produtivos.

    Conforme tabela abaixo, dados da mesma Fundao, relativos aos anos de 2009 e

    2010 confirmam situao de maior vulnerabilidade dos trabalhadores terceirizados

    verificada nos anos anteriores. O nmero de trabalhadores acidentados com

    afastamento das empresas contratadas quase o dobro dos trabalhadores diretos. No

    mesmo perodo, as mortes entre trabalhadores terceirizados no s aumenta como

    evidencia ainda mais a vulnerabilidade dos trabalhadores terceirizados: em 2009,

    foram 4 mortes de trabalhadores diretos contra 63 de terceirizados; em 2010, 7 mortes

    de trabalhadores diretos, contra 75 de trabalhadores terceirizados.

    TABELA 10 - Acidentes tpicos de trabalho nas empresas do Setor Eltrico, 2009 e

    2010

    Itens 2009 2010

    1. Empresas 80 81

    2. Empregados prprios 102.766 104.857

    3. Acidentados tpicos com afastamento 781 741

    4. Empregados das Contratadas 123.704 127.584

    5. Acidentados tpicos com afastamento das contratadas 1.361 1.283

    Fonte: Fundao Coge, Relatrio Estatstico do Setor Eltrico Brasileiro, 2010.

    Dados da FUP Federao nica dos Petroleiros da CUT indicam que de 1995 at

    2010 foram registradas 283 mortes por acidentes de trabalho no sistema Petrobrs,

    das quais 228 ocorreram com trabalhadores terceirizados. De um ano para c, o

    nmero de mortes j ultrapassa 300, alm de um nmero tambm elevado de

    mutilaes e adoecimentos. Somente em agosto de 2011 oito trabalhadores morreram

    vtimas de acidentes de trabalho na estatal, todos ao acidentes envolvendo

    trabalhadores terceirizados.

    Estudo realizado no setor papel, na Klabin, tambm evidencia maior exposio dos

    terceiros ao risco de acidentes. Em 2008, foram registrados 127 [cento e vinte e sete]

    acidentes com afastamento; destes, 69% eram trabalhadores terceirizados. A taxa de

    frequncia de acidentes entre os trabalhadores terceirizados praticamente o dobro

    [5,95%] da taxa dos acidentes que acontecem com empregados diretos da tomadora

    [2,65%], conforme se pode verificar na tabela abaixo.

  • 16

    TABELA 11 - Acidentes de trabalho na Klabin, 2008

    Empregados Terceiros

    Acidentes com afastamentos 40 87

    Acidentes sem afastamento 102 68

    Taxa de freqncia de acidentes 2,65 5,95

    Fonte: relatrio de sustentabilidade da KLABIN - 2008

    Os exemplos poderiam se estender indefinidamente nos setores mencionados e em

    outros segmentos produtivos, onde um grande nmero de trabalhadores terceirizados

    adoece e morre lentamente por acidentes de trabalho. Diversos estudos e a

    experincia emprica dos sindicatos indicam que os trabalhadores terceirizados

    ocupam os postos de trabalho mais precrios e arriscados.

    Ao terceirizar as empresas contratantes transferem para empresas menores a

    responsabilidade pelos riscos do seu processo de trabalho, isto , terceiriza-se,

    quarteriza-se, etc. os riscos impostos por sua atividade de trabalho para empresas que

    nem sempre tm condies tecnolgicas e econmicas para gerenci-los. No setor de

    sade, por exemplo, limpeza e lavanderia so reas extensamente terceirizadas e

    onde os acidentes prfuro-cortantes so uma rotina, expondo os trabalhadores a

    riscos graves como HIV-AIDS e hepatites. Situao semelhante vive os trabalhadores

    da limpeza urbana. O critrio de menor preo nas licitaes um dos fatores que

    aprofunda a precarizao, pois, via de regra, o menor preo obtido custa de

    intensificao do trabalho (em termos de jornada, ritmo e exigncias da tarefa) e da

    negligncia das medidas de proteo da sade dos trabalhadores.

    Um aspecto comum nas relaes de terceirizao de praticamente todos os

    segmentos produtivos, que repercute de forma importante na sade dos

    trabalhadores, o cumprimento de prazos contratuais entre a empresa principal e as

    terceirizadas, o que em si impe ritmos e outras exigncias que extrapolam os limites

    fsicos e psquicos dos trabalhadores.

    Lamentavelmente as estatsticas oficiais de acidente de trabalho no Brasil no

    permitem fazer estudos consistentes sobre o perfil de morbimortalidade relacionada

    com o trabalho, pois os dados so subestimados (no abrange segmentos importantes

    no mercado de trabalho, como parte do funcionalismo pblico, trabalhadores

    domsticos e trabalhadores informais); h uma subnotificao crnica, pois as

    empresas se recusam a emitir a CAT (Comunicao de Acidente de Trabalho),

  • 17

    principal fonte de dados da Previdncia Social; os dados disponibilizados para a

    consulta pblica no site da previdncia social no permitem identificar

    quantitativamente e qualitativamente os danos sade causados pelo trabalho,

    tampouco os setores e empresas adoecem, matam e mutilam os trabalhadores. Por

    sua importncia social e para as aes de vigilncia em sade estes dados deveriam

    ser pblicos.

    Ainda assim, mesmo com dados subestimados, a taxa de mortalidade por acidente de

    trabalho no Brasil bastante elevada em comparao com pases europeus que tm

    tradio de polticas pblicas efetivas dirigidas promoo da sade e segurana dos

    trabalhadores. Na Dinamarca, por exemplo, a taxa de mortalidade por acidentes de

    trabalho de apenas, 2,90 x 100 mil.

    A realidade demonstra que a terceirizao vem contribuindo de forma significativa para

    incrementar as taxas de morbidade e de mortalidade por acidente de trabalho e para

    encobrir os dados, aumentado tambm a invisibilidade deste grave problema social e

    de sade pblica. Longe de serem fruto do acaso, fatalidade ou negligncia dos

    trabalhadores, as doenas e mortes causadas pelo trabalho so absolutamente

    previnveis e evitveis, portanto inadmissvel e injusto que as pessoas continuem

    morrendo e adoecendo por causa do trabalho

    Ataques aos direitos dos trabalhadores

    Os diversos relatos de Sindicatos de trabalhadores e as estatsticas disponveis

    descrevem de forma contundente que o processo de terceirizao rebate diretamente

    sobre os direitos dos trabalhadores de forma negativa.

    No setor bancrio, que possui uma jornada de trabalho especfica, definida de acordo

    com o tipo de trabalho executado, tem se utilizado da terceirizao como forma de

    driblar esse direito do trabalhador. Ao invs de contratar trabalhadores com jornadas

    de 30 horas semanais, possvel contratar trabalhadores para servios financeiros,

    mas que no so contratados diretamente pelos bancos, com jornadas de 44 horas

    semanais.

    Em sua maioria esses trabalhadores so jovens, e alm da jornada contratual so

    convidados a realizar horas extras, muitas vezes, sem remunerao. Alm do

    alongamento da jornada, as metas dirias elevam o ritmo de trabalho. Alguns

    empresrios j falam em no contratar os trabalhadores de tele atendimento porque

    seriam uma bomba relgio do ponto de vista da sade.

  • 18

    No setor bancrio, a cada 100 trabalhadores terceirizados, com jornadas de 44 horas

    semanais, so cerca de 47 empregos a menos gerados.

    Outro ponto de destaque so os direitos previstos nos Acordos e Convenes

    Coletivas. No quadro abaixo, podemos observar essa diferena entre os direitos dos

    trabalhadores diretos e os terceirizados na Petrobrs.

    TABELA 12 - Quadro comparativo de direitos na Petrobrs entre trabalhadores diretos

    e terceiros

    Direitos Diretos Terceira

    Formao acadmica Superior completo Superior completo

    Exigncias da funo Prestou concurso para nvel mdio

    Nvel mdio

    Salrio mdio R$ 2.800,00 R$ 1.300,00

    Auxilio refeio R$ 600,00 R$ 291,00

    PLR R$ 17.000,00 No recebe

    Horas extras 100- 150% Segue a lei (50% - 100%)

    Transporte Funcionrio paga 6% (recebe antecipado)

    Funcionrio paga 6% (recebe atrasado)

    Auxilio educao Dependentes e aps 28 anos se for solteiro

    No tem

    Fonte: Relatrio de Pesquisa, IOS, 2011.

    Discriminao e preconceito contra os trabalhadores terceirizados

    Outra diferenciao entre trabalhadores diretos e terceirizados a discriminao, o

    preconceito sofrido porque o trabalhador subcontratado visto como

    trabalhador/cidado de segunda classe. Essa face da terceirizao no aparece em

    nenhuma estatstica, mas bastante dolorida para quem vivencia em seu cotidiano.

    Criam-se nos locais de trabalho uma distino entre trabalhadores diretos e terceiros

    seja porque o tipo de trabalho desenvolvido pelo terceirizado considerado menos

    importante, ou porque as desigualdades de salrio, qualificao, jornada e condies

    de trabalho, reforam essa percepo.

    Os trabalhadores terceiros relatam como sentido o fato de no ambiente de trabalho,

    ter que utilizar refeitrios, vestirios, uniformes, tudo de pior qualidade, em condies

    precrias.

  • 19

    Esses fatores no implicam apenas nas questes financeiras e de sade, mas atingem

    sua dignidade humana, um dos princpios fundamentais previstos na Constituio

    Federal de 1998 em seu artigo primeiro.

    Fere-se o princpio da dignidade, ampliando os problemas estruturais, e provocando

    inclusive, doenas ligadas sade mental entre os terceirizados. A condio de

    terceiro torna-se ento um muro invisvel que impe uma subcondio e impede o

    desenvolvimento dos trabalhadores terceiros.

    Esta segregao interfere tambm na solidariedade entre os trabalhadores,

    dificultando a organizao sindical e a negociao coletiva, o que acaba por reforar a

    reduo dos direitos dos terceiros.

    Esta situao de difcil enquadramento jurdico. No existem estatsticas que

    amparem estudos e argumentos; as doenas psicolgicas relacionadas a este tipo de

    precarizao no so reconhecidas; e, a pulverizao da representao sindical

    dificulta a organizao dos trabalhadores para uma soluo poltica para a questo.

    Enfim, esta talvez seja uma face invisvel da precarizao do trabalho provocada pela

    terceirizao, invisvel como os trabalhadores terceirizados em seus ambientes de

    trabalho.

  • 20

    Propostas de Diretrizes para a regulamentao da Terceirizao

    A terceirizao instaurou uma nova dinmica nas relaes de trabalho, que afetou os

    direitos, aumentou a ocorrncia de acidentes e doenas, degradou o trabalho, mas

    tambm interferiu de forma importante na organizao sindical, nas relaes de

    cooperao e de solidariedade entre os trabalhadores e na prpria identidade de

    classe.

    A inexistncia de uma legislao que regulamente a terceirizao contribuiu para sua

    difuso de forma incontrolvel nos setores pblico e privado, assim como nos mais

    diferentes campos de atividade. Hoje a terceirizao usada indiscriminadamente e

    atinge a todos os setores do publico ao privado, do campo cidade, da indstria, a

    servios.

    Nestes ltimos dez anos a CUT e as entidades sindicais filiadas e que integram sua

    estrutura, tm lutado constantemente para que essa prtica seja coibida e para que os

    trabalhadores e trabalhadoras das empresas terceirizadas tenham direito a tratamento

    digno, a sindicalizao e negociao coletiva.

    Contabilizamos avanos importantes, como o projeto de lei PL 1621/2007, elaborado

    pela CUT e encampado pelo deputado Vicentinho (PT-SP) que prope a

    regulamentao da terceirizao, estabelecendo a igualdade de direitos, a

    obrigatoriedade de informao prvia, a proibio da terceirizao na atividade-fim, a

    responsabilidade solidria e a penalizao de empresas infratoras, fatores decisivos

    no combate precarizao. Alm desse projeto que ainda tramita no Congresso

    Nacional, existe outro, com premissas idnticas ao PL 1621/07 elaborado pelas

    centrais e MTE parado na Casa Civil.

    No sentido oposto esto tramitando dois projetos sobre a terceirizao, que na

    verdade, so contrrios aos nossos interesses: o PL 4302/1998 (ainda do perodo

    FHC), que prope a regulamentao da terceirizao usando como artifcio a

    ampliao do tempo contratual do trabalho temporrio, transformando-o em padro

    rebaixado de contratao, com direitos reduzidos; e, PL 4330/2004, de Sandro Mabel

    (PL-GO) que, descaracteriza a relao de emprego, e normatiza a terceirizao em

    atividades-fim ou atividades inerentes, acessrias ou complementares atividade

    econmica da contratante (artigo 4 PL4430).

    Se aprovados, estes projetos derrubaro a Smula 331, que probe a terceirizao na

    atividade-fim que hoje a nica salvaguarda legal dos trabalhadores,

    institucionalizando a precarizao do trabalho como padro de contratao,

    aprofundando ainda mais todos os problemas dela decorrentes (reduo dos postos

  • 21

    de trabalho, intensificao do trabalho, incremento dos acidentes e doenas,

    rebaixamento dos direitos, fragmentao da organizao sindical, etc.).

    Sob um ponto de vista mais amplo, a CUT tem reafirmado sua ao sindical pela

    incluso social, a distribuio de renda, a gerao de mais e melhores empregos e a

    valorizao do trabalho, como pilares fundamentais para a consolidao de um

    modelo de desenvolvimento voltado para os interesses do conjunto da sociedade, em

    especial dos trabalhadores(as), na qual se insere o combate a todas as formas de

    degradao do trabalho, dentre elas a terceirizao.

    Considerando que a inexistncia de um marco regulatrio favoreceu a expanso das

    terceirizaes de forma incontrolvel e tendo como caracterstica principal a

    precarizao, acreditamos que algumas diretrizes so fundamentais para reverter esse

    cenrio, que tem como nico critrio, garantir a igualdade entre os trabalhadores:

    1. A terceirizao na atividade-fim (permanente) da empresa proibida.

    2. Nas relaes de trabalho relativas atividade-fim da empresa (atividades

    permanentes) no pode haver pessoa jurdica contratada. Nestas atividades, haver

    apenas trabalhadores diretamente contratados com vnculo de emprego.

    3. A empresa tomadora deve garantir aos empregados de prestadoras de servios que

    atuem em suas instalaes fsicas ou em outro local por ela determinado as mesmas

    condies de:

    a) Salrio;

    b) Jornada;

    c) Benefcios;

    d) Condies de sade e segurana no ambiente de trabalho;

    e) Ritmo de trabalho.

    4. A empresa deve fornecer informao prvia aos sindicatos em seus projetos de

    terceirizao. Estas informaes devem ser fornecidas com pelo menos seis meses de

    antecedncia.

    5. A empresa tomadora proibida de manter empregado em atividade diversa daquela

    para a qual ele foi contratado pela prestadora de servios a terceiros.

    6. Os empregados da prestadora de servios a terceiros no podero ser

    subordinados ao comando disciplinar e diretivo da empresa tomadora. A tomadora no

    poder exigir a pessoalidade na prestao de servios.

  • 22

    7. A contratao de prestadoras de servios constitudas com a finalidade exclusiva de

    fornecer servios de mo-de-obra proibida, ainda que no haja subordinao ou

    pessoalidade destes empregados com a empresa tomadora, ressalvados os casos

    especficos j permitidos na Lei n. 6.019/74 (servios temporrios) e os previstos na

    Smula 331 do TST (servios de vigilncia, asseio e conservao e especializados)

    8. A empresa tomadora ser solidariamente responsvel pelas obrigaes trabalhistas

    e previdencirias garantidas pela Lei, no tocante ao perodo em que ocorrer a

    prestao dos servios pelos empregados da prestadora de servios.

    9. A empresa prestadora de servios a terceiros obrigada a fornecer empresa

    tomadora, mensalmente, a comprovao do pagamento dos salrios, do recolhimento

    das contribuies previdencirias e do FGTS. Estas informaes sero fornecidas

    tambm s representaes sindicais sempre que solicitadas.

    10. A empresa tomadora assegurar o pagamento de salrios, 13 salrio, frias e

    recolhimento de FGTS, se a empresa prestadora deixar de cumprir estes

    compromissos com seus trabalhadores.

    11. Haver vnculo empregatcio entre a empresa tomadora e os empregados da

    prestadora de servios a terceiros, sempre que presentes os elementos que

    caracterizam uma relao do emprego prevista na CLT (Consolidao das Leis do

    Trabalho).

    12. O sindicato representativo dos trabalhadores poder representar os empregados

    judicialmente, na qualidade de substituto processual, com o objetivo de assegurar o

    cumprimento no disposto da lei.

  • 23

    Bibliografia

    DAU, D.M., RODRIGUES, I.J. & CONCEIO, J.J. (Orgs.). Terceirizao no Brasil: do

    discurso da inovao precarizao do trabalho. Anablume/CUT: So Paulo, 2009.

    DIEESE. Terceirizao e morte no trabalho: um olhar sobre o setor eltrico no Brasil. Estudos

    e Pesquisa DIEESE, No 50, maro de 2010. DIEESE: So Paulo, 2010.

    DIEESE/SEADE. Microdados da PED Pesquisa de Emprego e Desemprego

    DIEESE/SEADE/MTE/FAT e convnios regionais. DIEESE: So Paulo, 1999.

    DIEESE/SEADE. Microdados da PED Pesquisa de Emprego e Desemprego

    DIEESE/SEADE/MTE/FAT e convnios regionais. DIEESE: So Paulo, 2009.

    FUNDAO COGE. Relatrio Estatstico do Setor Eltrico Brasileiro, 2010. Fundao COGE:

    Rio de Janeiro, 2010.

    FUP/CUT. Subsistncia do critrio da atividade-fim do tomador de servio para declarar a

    licitude ou ilicitude da terceirizao. Apresentao Audincia publica sobre a

    terceirizao da mo-de-obra, outubro de 2011. FUP, 2011.

    KLABIN. Relatrio de sustentabilidade da KLABIN 2008. Klabin: So Paulo, 2008.

    MTE. CAGED Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, Agosto 2011. MTE:

    Braslia, 2011.

    MTE. RAIS Registros Administrativos de Informaes Sociais, 2010. MTE: Braslia, 2011

    OBSERVATRIO SOCIAL BRASIL. A terceirizao na Petrobrs: caractersticas do processo

    de terceirizao e iniciativas de representao dos trabalhadores. Relatrio preliminar.

    IOS: So Paulo, janeiro, 2011.

  • 24

    DOCUMENTOS SOBRE

    IMPACTOS DA

    TERCEIRIZAO NOS

    SETORES

  • 25

    Setor

    Financeiro

  • Terceirizao no SeTor Bancrio BraSileiroSindicato doS bancrioS e financirioS de So paulo, oSaSco e regio - cut filiado contraf-cut

    Terceirizao no SeTor Bancrio

    BraSileiro

    Mapeamento e anlise a partir da viso dos trabalhadores do setor

    filiado confederao nacional dos trabalhadores

    do ramo financeiro contraf-cutoutubro 2011

  • Terceirizao no SeTor Bancrio BraSileiroSindicato doS bancrioS e financirioS de So paulo, oSaSco e regio - cut filiado contraf-cut

    O Brasil vive um momento nico de expanso econmica. Que se difere de outros perodos de crescimento de sua histria por aliar democracia e desenvolvimento com distribuio de renda e incluso social.

    De acordo com estudo do DIEESE, de 2002 a 2011, por exemplo, o salrio mnimo nacional acumula um ganho real de 54,25%. Este resultado tem forte impacto na estratgia de distribuio de renda do pas, pois se estima que 47 milhes de pessoas tenham seu rendimento baseado no salrio mnimo. Nas regies mais pobres do pas os efeitos positivos so ainda mais importantes, visto que o percentual de ocupados que recebe at 1 salrio mnimo chega a 58,4% no Nordeste e 41,7% no Norte do Brasil.

    A taxa de desemprego medida pela Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) do DIEESE/Seade tambm aponta o bom desempenho econmico e social do Brasil nos ltimos anos. Em 2001 a taxa de desemprego estava em 18,8% e na ltima pesquisa de agosto de 2011 caiu para 10,9%, com rendimento mdio real dos ocupados em trajetria crescente, com crescimento mdio de 18% nas regies metropolitanas pesquisadas.

    Mas promover distribuio de renda e justia social passa tambm por garantir condies civilizadas de emprego. E a terceirizao, uma das principais estratgias do capital para flexibilizar e fraudar a legislao trabalhista, est na contramo desse projeto.

    SeTor Financeiro

    Os bancos acompanharam esse contexto de crescimento da economia brasileira e constituem um dos setores mais fortes e lucrativos do pas. Na ltima dcada, o lucro lquido dos maiores bancos que atuam no Brasil passou de R$ 8,09 bilhes em 2001 para R$ 48,41 bilhes em 2010, um salto de 498% em termos reais. bom lembrar que em 2001 eram onze grandes instituies financeiras atuando no pas: Caixa Econmica Federal, Banco do Brasil, Bradesco, Ita, Unibanco, Banespa, Banco Real, Santander, Safra, Nossa Caixa e HSBC. Em 2010, aps as privatizaes e fuses, os bancos concentraram ainda mais capital e hoje somam sete grandes empresas: BB, que adquiriu a Nossa Caixa; Santander, com a compra do Real e Banespa; Ita que adquiriu o Unibanco; Caixa Econmica Federal, HSBC e Safra.

  • Terceirizao no SeTor Bancrio BraSileiroSindicato doS bancrioS e financirioS de So paulo, oSaSco e regio - cut filiado contraf-cut

    Esse crescimento exorbitante d ao setor plenas condies para gerar empregos diretos no pas com condies dignas de trabalho. Mas ao invs de cumprirem suas responsabilidades sociais, os bancos promovem a precarizao do emprego, sendo um dos setores da economia brasileira que mais terceiriza mo de obra.

    4,14

    -6,53 -9,72

    12,03 10,36 11,68

    8,79 8,09

    20,27 19,88 21,90

    29,83 30,07

    38,58 35,90 36,66

    48,41

    -20,00

    -10,00

    -

    10,00

    20,00

    30,00

    40,00

    50,00

    60,00

    1994 1995* 1996* 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

    R$ B

    Ilhe

    s

    Evoluo do Lucro Lquido dos maiores bancos1 no Brasil1994 a 20102 (Em R$ de 2010)

    Fonte: Demonstraes Financeiras dos bancosNotas: (1) Inclui o lucro lquido consolidado dos maiores bancos atuantes no Brasil: BB, CEF, Bradesco, Ita, Unibanco, Banespa, Banco Real, Santander, Safra, Nossa Caixa, HSBC. Vale lembrar que ao longo do perodo ocorreram diversas fuses e aquisies entre estas instituies e tambm a incorporao de outros bancos menores.

    (2) Valores deflacionados pelo IPCA-IBGE* O resultado consolidado de 1995 e 1996 foi distorcido pelo Banco do Brasil que apresentou prejuzos significativos nos dois anos

    4,14

    48,41

    -

    10,00

    20,00

    30,00

    40,00

    50,00

    60,00

    1994 2010

    R$ B

    Ilhe

    s

    Crescimento real do Lucro Lquido dos maiores bancos brasileiros1994 e 2010

    Variao de 1.069 %

    Fonte: Demonstraes Financeiras dos bancosNotas: (1) Inclui o lucro lquido consolidado dos maiores bancos atuantes no Brasil: BB, CEF, Bradesco, Ita, Unibanco, Banespa, Banco Real, Santander, Safra, Nossa Caixa, HSBC. Vale lembrar que ao longo do perodo ocorreram diversas fuses e aquisies entre estas instituies e tambm a incorporao de outros bancos menores.

    (2) Valores deflacionados pelo IPCA-IBGE

  • Terceirizao no SeTor Bancrio BraSileiroSindicato doS bancrioS e financirioS de So paulo, oSaSco e regio - cut filiado contraf-cut

    O processo de terceirizao no setor financeiro avana desde o incio da dcada de 1990 e envolve muito mais que as atividades consideradas meio, como limpeza, segurana e manuteno. Cada vez mais os bancos contratam empresas para a realizao de tarefas essenciais para o funcionamento do sistema financeiro, as chamadas atividades-fim.

    De 1999 a 2010, os maiores bancos no Brasil, tanto privados quanto pblicos, aumentaram de R$ 2,2 bilhes para R$ 10,5 bilhes suas despesas com servios de terceiros. Uma variao de 368% em termos reais.

    2,2 2,5

    3,5

    4,2 3,8

    4,7

    5,5

    7,0 7,5

    8,1

    10,1 10,5

    -

    2,0

    4,0

    6,0

    8,0

    10,0

    12,0

    1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

    R$ B

    Ilhe

    s

    Evoluo das Despesas com Servios de Terceiros nos maiores bancos1 no Brasil1999-20102

    (Em R$ de 2010)

    Fonte: Demonstraes Financeiras dos bancosNotas: (1) Inclui as despesas com servios de terceiros dos maiores bancos atuantes no Brasil: BB, CEF, Bradesco, Ita, Unibanco, Banespa, Banco Real, Santander, Safra, Nossa Caixa, HSBC. Vale lembrar que ao longo do perodo ocorreram diversas fuses e aquisies entre estas instituies e tambm a incorporao de outros bancos menores.

    (2) Valores deflacionados pelo IPCA-IBGE

    2,2

    10,5

    -

    2,0

    4,0

    6,0

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    10,0

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    1999 2010

    R$ B

    Ilhe

    s

    Crescimento real das Despesas com Servios de Terceiros nos maiores bancos no Brasil - 1999 e 2010

    Fonte: Demonstraes Financeiras dos bancosNotas: (1) Inclui as despesas com serrios de terceiros dos maiores bancos atuantes no Brasil: BB, CEF, Bradesco, Ita, Unibanco, Banespa, Banco Real, Santander, Safra, Nossa Caixa, HSBC. Vale lembrar que ao longo do perodo ocorreram diversas fuses e aquisies entre estas instituies e tambm a incorporao de outros bancos menores.

    (2) Valores deflacionados pelo IPCA-IBGE

    Variao de 368%

  • Terceirizao no SeTor Bancrio BraSileiroSindicato doS bancrioS e financirioS de So paulo, oSaSco e regio - cut filiado contraf-cut

    Esse processo interessa s empresas do ponto de vista financeiro e poltico. Por um lado resulta em economia de gastos com mo de obra, j que os terceirizados ganham em mdia 1/3 dos salrios dos bancrios e no usufruem dos direitos previstos na Conveno Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria, como participao nos lucros, verbas adicionais (vales refeio e alimentao e auxlio-creche/bab) e jornada de seis horas.

    Por outro, ataca o poder de organizao dos trabalhadores na medida em que mina a base social dos sindicatos que aps dcadas de luta conquistaram uma CCT vlida em todo o territrio nacional.

    FormaS de Terceirizao

    O processo de terceirizao nos bancos se d basicamente de duas formas. Uma delas a contratao de empresas para realizarem a funo de correspondentes bancrios, uma terceirizao que j nasce fora do banco. Segundo dados do Banco Central, em maio de 2011 os correspondentes bancrios j totalizavam mais de 160 mil em todo o territrio nacional (leia mais na pgina 16).

    Outra forma de terceirizao a contratao de empresas para execuo de determinadas tarefas bancrias. Assim, delega-se a terceiros etapas essenciais do servio bancrio, etapas essas que podem continuar sendo feitas dentro do espao fsico do banco contratante, ou fora dele, nas dependncias das terceirizadas.

    Entre as etapas mais terceirizadas do servio bancrio, todas elas essenciais para a concluso das operaes financeiras, esto:

    Compensao bancria;Procedimentos vinculados ao Caixa Eletrnico (classificao de cheque, validao, autenticao, lanamento e pesquisa na conta do cliente);Teleatendimento (receptivo e ativo);Diversas modalidades de crdito (imobilirio, veculos, CDC- Crdito Direto ao Consumidor, consignado, microcrdito);Formalizao de contratos (juntada de documentos do cliente);Carto de Crdito;Anlise de crdito;Contato com cliente para tratar de documentao; Gerenciamento e auditoria de contratos de crdito;Cobrana;Recuperao de crditos;Cadastro dos clientes;Digitalizao de documentos e digitao de dados dos clientes;Pesquisa sobre situao financeira dos clientes;

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    Captao de clientes;Abertura de contas correntes;Pagamentos, transferncias, saques e depsitos (correspondente bancrio);Tesouraria (numerrio); TI - Tecnologia da Informao (analistas e programadores dos sistemas operacionais dos bancos);Telecomunicaes; Suporte a clientes que utilizam a Internet; Custdia de cheques e documentos bancrios;Classificao e anlise de documentos bancrios dos clientes das agncias (contratos, ttulos, boletos, etc.)Combate fraude

    Um exrciTo noS poreS do SeTor Financeiro

    Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (Pnad), realizada pelo IBEGE, de 2009, 1.131.833 entrevistados declararam trabalhar no setor financeiro. Porm, dados de 2009 do Ministrio do Trabalho e Emprego (Relaes Anuais de Informaes Sociais Rais), apontam um total de 741.263 trabalhadores formalmente vinculados ao ramo financeiro. H, portanto, 390.570 pessoas que, apesar de trabalharem no setor, esto pulverizadas e no recebem os devidos direitos. Um verdadeiro exrcito nos pores do setor financeiro.

    A terceirizao diferencia trabalhadores que muitas vezes cumprem a mesma funo, estabelecendo uma segunda categoria de funcionrios, segmentada e discriminada.

    Os terceirizados ganham menos, no dispem de direitos estabelecidos na CCT dos bancrios e trabalham em condies degradantes. Cumprem metas elevadas, estabelecidas pelos tomadores de servios (os bancos). Em geral executam servios repetitivos, em ritmo intenso e sob presso e assdio moral de superiores, em jornadas de trabalho extenuantes.

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    Veja holerite de trabalhador terceirizado:

    Quando trabalham no banco, so discriminados como uma subcategoria de funcionrios. Quando realizam suas funes fora do banco, em geral esto acomodados em locais precrios, sem ventilao ou ar condicionado adequado, com banheiros com ms condies de uso e mobilirio inadequado. Um cenrio propcio para o adoecimento fsico e mental dos trabalhadores.

    Abaixo e ao longo deste material, depoimentos de trabalhadores terceirizados do setor financeiro, enviados por e-mail para o Sindicato dos Bancrios de So Paulo, Osasco e Regio, ilustram as questes levantadas no texto.

    (...) o banheiro um lixo, o ar condicionado no funciona, a iluminao ruim e o refeitrio tem baratas. (Empregada da Contax que atende Santander)

    (...) tem pombo fazendo sujeira na praa de alimentao, o bebedouro muito sujo, os lanches na maioria das vezes esto azedos, comemos marmita/lanche frio. Os banheiros tm odor insuportvel, somente os coordenadores, gerente, diretores e clientes do banco tm direito ao estacionamento. (terceirizado da Contax que atende Ita)

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    L existem baratas, ratos, ar condicionado sem funcionamento, com ventilao natural precria, retorno da tubulao de esgoto com mal cheiro nos ambientes, falta total de higiene, limpeza e conservao para os funcionrios que ali labutam diariamente. (terceirizado do SAC Santander)

    As pessoas ali so tratadas como propriedades particulares dos senhores, trabalhamos sob condies precrias... o piso afundando, muitos j caram, os computadores so da idade jurssica... so muito lentos e quando perdemos tempo somos descontados no dia do pagamento, as PAs (Portal de Atendimento) so imundas, tenho muito medo de contaminao... um local sujo e maquiado com fitas isolantes at nos pisos, tudo imendado. (funcionrio Contax que presta servio para Fininvest)

    Executo todos os dias o mesmo trabalho e atividade que os representantes do banco realizam. Tenho os mesmos acessos e senhas de sistemas que so liberados pelo banco, recebo e envio e-mails para vrios setores do banco. A presso imensa por produtividade. J vi caso de mal trato por parte de representantes do banco com o operador. Ou seja, sou quase um bancrio porm terceirizado e mal remunerado. (Funcionrio da Contax, que presta servios para o Ita Unibanco)

    Tambm prestamos servios bancrios terceirizados, sendo humilhados pelos clientes e representantes do banco e continuamos sorrindo para ambos. No podemos mais nem ficar doentes, pois mesmo com atestados justificados perdemos toda a nossa varivel que nossa bonificao. Nosso salrio o mnimo de R$ 540. Ir ao banheiro quando der vontade? Nem pensar! S nas nossas pausas, sendo os horrios determinados por eles. (Terceirizado da Caixa Econmica Federal)

    Somos escravizados e temos nossos direitos negados. Aps a integrao dos bancos, somos convidados a trabalhar aos sbados e domingos com pagamento de horas-extras (que nem sempre so pagas corretamente e no temos direito a nenhum outro dia para descanso), mas no fundo no temos opo de escolha porque os superiores informam que se no comparecermos seremos mandados embora. Somos obrigados a atender todos os produtos (...) nos pressionam, nos humilham.

    (...) Temos os mesmos acessos que os bancrios: podemos acessar contas, contratar e cancelar produtos, etc. A nica diferena entre ns o salrio e os benefcios, ou seja, com o salrio e benefcios de 1 bancrio, o Santander consegue pagar 3 ou 4 terceiros para realizarem o mesmo trabalho. (Funcionrio da Contax, que presta servios para o Santander)

    Nossas condies de trabalho so precrias, nosso salrio uma vergonha. Estamos fazendo trabalho de gerente, atendendo at clientes jurdicos; fazemos at dbitos em conta de clientes. Nossa varivel outra vergonha, ganhamos 10% em cima de um salrio de R$ 545, enquanto recuperamos milhes para o banco. Pra podermos folgar em feriados temos que trabalhar aos domingos, sem contar o constrangimento de pedir pros superiores pra ir ao banheiro. (Empregado da Contax, que presta servios para o Santander)

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    -----*spread a diferena entre os custos que os bancos tm na captao e administrao do capital e o que eles ganham com os juros dos emprstimos

    Os supervisores riem da cara do funcionrio, tiram barato, expem notas de monitoria em e-mails para toda equipe, expem tempo de pausa com folhas na operao. Enfim, somos lixo para a empresa, ganhamos pouco e ainda temos que sorrir. (Funcionrio da Contax que atende o Santander)

    Trabalhamos 6 horas e 20 minutos, ganhando muito pouco, com 20 minutos para fazer um lanche. No refeitrio no podemos esquentar a marmita, somos obrigados a comer lanches frios (...) nosso TR (ticket refeio) de R$ 4 ao dia. justo fazermos o trabalho de bancrios e receber migalhas? Eles recebem o dobro do nosso salrio, 1 hora de almoo, benefcios decentes como VA (vale alimentao) e VR (vale refeio) e trabalham seis horas ao dia. (...) Vivo no mdico com dores de ouvido, infeces causadas por falta de higienizao. (Contax, para Santander)

    Ressalta-se que tal cenrio de degradao promovido por um setor que, s no primeiro semestre de 2011, teve um lucro lquido de R$ 26,5 bilhes (somados os resultados dos sete maiores bancos: Caixa Federal, Banco do Brasil, Bradesco, Ita Unibanco, Santander, HSBC e Safra). Quase 20% de crescimento em relao ao mesmo perodo de 2010.

    Um setor que conivente com o desrespeito legislao trabalhista, fragilizando o discurso de responsabilidade social amplamente propagado pelos bancos. E que, ao mesmo tempo, vale-se de elevadas taxas de juros e de um dos maiores spreads* do mundo.

    FraUde TraBalhiSTa

    A terceirizao nos bancos em grande parte contratao fraudulenta de mo de obra por empresa interposta. E isso se caracteriza pela subordinao empresa demandante e pelo controle da contratante sobre o processo de trabalho da contratada. Controle que se d tanto remotamente, por meio de relatrios on line gerados pelo sistema operacional do banco; quanto diretamente, atravs do preposto do banco na terceirizada.

    Fiscalizao do MTE

    Fotos (e legendas) do relatrio de fiscalizao do Ministrio do Trabalho e Emprego / SIT - Secretaria de Inspeo no Trabalho, sobre terceirizao no Bradesco, realizada em outubro de 2006.

  • Terceirizao no SeTor Bancrio BraSileiroSindicato doS bancrioS e financirioS de So paulo, oSaSco e regio - cut filiado contraf-cut0

    Malotes recebidos das agncias com numerrios, envelopes e pastas de clientes para que os pagamentos, depsitos e cheques sejam processados pelos terceirizados

    trabalhador contratado por intermdio de empresa prestadora de servios em atividade de preparao de documentos bancrios para processamento comum em todas as prestadoras de Servio.

    Viso geral de parte do ambiente de trabalho de prestadora de Servios. observe-se a uniformidade dos postos de trabalho no quais os trabalhadores fazem uso de terminais de computadores.

    diferentes imagens dos documentos dos clientes do banco sendo manipulados pelos trabalhadores contratados por intermdio das prestadoras de Servios, bem como dos malotes recebidos.

    trabalhadores contratados por intermdio de empresa prestadora de servios capturan-do documentos bancrios e autenticando tais documentos

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    documentos afixados no mural identificando a produtividade e o alcance ou no das metas impostas pelo banco

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    Mito da especializao A fraude caracteriza-se ainda pelo fato de ser o banco o detentor do know how do servio que contrata. O que contradiz o argumento do empresariado de que terceirizar seria delegar determinadas etapas do processo de produo a empresas especializadas.

    Quando terceiriza, o banco tambm se encarrega de ensinar o servio, o qual, cabe destacar, executado no prprio sistema operacional da instituio financeira. Assim, a contratante fornece manuais, orienta sobre como operar seu sistema e monitora passo a passo a execuo das tarefas, exigindo alta produtividade.

    Ao contrrio do que alegam como justificativa, as instituies financeiras no terceirizam atividades-meio, mas sim e cada vez mais, suas atividades-fim. Os bancos tm amplamente delegado a terceiros, servios que se vinculam a trabalhadores da base da pirmide de cargos e salrios dos bancrios, fundamentais para a efetivao de qualquer operao financeira.

    Veja depoimentos:

    Somos funcionrios da empresa TMS/Tellus e prestamos servios para o Santander (anlise de preveno fraude). Trabalhamos no prdio que pertence nossa empresa, mas utilizamos toda a estrutura, ferramentas e programas que pertencem ao banco. Inclusive, temos como superiores funcionrios bancrios do Santander.

    Existe sempre um funcionrio do prprio banco passando todas as coordenadas. A seleo para fazer parte dos principais produtos do Ita (atendimento cartes Personnalit, atendimento de carto dos diretores e investidores do banco, atendimento aos gerentes entre outros) so sempre realizados pelo prprio banco. O nosso treinamento de uma forma geral ministrado pelo banco, somos at monitorados por eles e temos uma nota/avaliao do banco. (trabalhador da Contax que atende banco Ita)

    trabalhadores contratados por intermdio de prestadora de Servios em atividade de processamento dos servios bancrios oferecidos pelo bradeSco (munidos de micro-computador, trabalhando em ambiente de trabalho do banco - aplicativo, de mquina de captura de cdigo de barras e de mquina caixa).

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    O engraado que dizem que no somos banco, mas por que se eu tenho senha de banco, acesso um sistema de banco e fao o mesmo trabalho de um gerente de banco? E ele ganha 5 mil por ms e eu 450 reais... (terceirizada da Contax)

    Mito da gerao de emprego Outro mito, tambm muito propagado pelos bancos, a de que a terceirizao gera empregos.

    Na verdade, ela vem reduzindo o nmero de postos de trabalho. E faz isso na medida em que amplia em muito a jornada do trabalhador terceirizado, j que este funcionrio geralmente se enquadra em categorias profissionais com jornadas superiores a do bancrio, que de seis horas por dia.

    Um exemplo o terceirizado classificado como comercirio, que cumpre uma carga semanal de 44 horas, ao invs das 30 horas semanais dos bancrios. Isso sem contar as horas extras, muitas vezes no remuneradas, realizadas pelos terceirizados.

    Jornada de trabalho individual contratada nos bancos e nas empresas terceirizadas

    Trabalhadores Bancrios trabalhadores terceirizados

    0 horas semanais 44 horas semanais

    Jornada de Trabalho contratada nos bancos e nas empresas terceirizadas por Grupo de Trabalhadores

    0 Trabalhadores Bancrios (Jornada 6 horas)

    1500 horas semanais

    Trabalhadores Terceirizados(Jornada 8:48 horas) 1496 horas semanais

    A jornada maior inclusive no teleatendimento, onde o mximo de seis horas dirias tambm determinado por lei.

    Isso porque nas terceirizadas contratadas pelo banco, os funcionrios do teleatendimento so enquadrados em categorias que trabalham aos sbados, extrapolando, portanto, a jornada semanal do bancrio, que de segunda a sexta-feira.

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    poSToS de TraBalho no SeTor Financeiro

    Na ltima dcada, o nmero de postos de trabalho nos bancos cresceu em proporo muito menor que o de contas correntes dos clientes. De 2000 a 2010, o total de contas correntes passou de 63,7 milhes para 141,3 milhes, um aumento de 121,8%. As contas poupanas subiram de 45,8 milhes em 2000 para 97,2 milhes em 2010, um salto de 112,2%. Em compensao, as contrataes nesse setor em plena expanso aumentaram apenas 20% nesses 10 anos, passando de 402.425 empregados em 2000 para 483.097 mil em 2010.

    O resultado a sobrecarga de trabalho: se em 2000 havia 158 contas correntes por funcionrio, em 2010 j eram 292 contas por bancrio, ou seja, um crescimento de 84,8% da carga de trabalho.

    Apesar dos altos lucros e do crescimento de produtos e servios, as instituies financeiras geraram pfios 0,95% do total de empregos gerados no Brasil no primeiro semestre de 2011 em todos setores da economia, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministrio do Trabalho e Emprego.

    clienTeS TamBm pagam a conTa da Terceirizao

    O processo de terceirizao no setor financeiro resulta no somente em segregao dos trabalhadores, mas tambm dos clientes.

    Os correspondentes bancrios, por exemplo, so usados como estratgia para empurrar o atendimento de clientes de baixa renda para fora das agncias bancrias.

    Nos correspondentes, os correntistas acabam por ser atendidos por profissionais sem treinamento adequado e necessrio para operar com produtos financeiros que envolvem risco.

    importante esclarecer que no se deve culpar o trabalhador. Sem treinamento adequado que deveria ser garantido pelo empregador , com baixos salrios,

    nmero de contas correntes por empreGados

    000 00 00 00 00 00 00 00 00 00/000

    contas correntes (em milhes) 63,7 87,0 90,2 95,1 102,6 112,1 125,7 133,6 141,3 121,8%

    contas poupanas (em milhes) 45,8 62,4 67,9 71,8 76,8 82,1 92,0 91,1 97,2 112,2%

    empregados 402.425 389.074 382.786 402.977 424.993 430.839 459.494 462.164 483.097 20,0%

    contas correntes/empregados 158 224 236 236 241 260 274 289 292 84,8%

    Fonte: Relatrio Social da Febraban e RAIS.

    Elaborao: DIEESE Subseo SESE/ Sindicato dos Bancrios de So Paulo, Osasco e Regio.

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    submetidos a pssimas condies de trabalho e num setor onde, at por consequncia de todos esses fatores, a rotatividade muito alta, a qualidade dos servios prestados fatalmente comprometida.

    Depoimentos:

    Eu como todos os funcionrios de l temos que atender no mnimo 3 produtos por dia sem ao menos entendermos do que eles esto falando por no conhecermos o produto (...) no temos suporte algum. (terceirizado da Tivit, Santander)

    O atendimento nos correspondentes leva os clientes tambm a riscos de segurana, j que esses estabelecimentos situados em lotricas e correios no esto includos na lei federal 7.102/1983, que estabelece normas de segurana para agncias bancrias e PABs (postos de atendimento bancrio).

    Alm disso, os clientes so enganados quando procuram atendimento bancrio e desconhecem que no esto sendo atendidos por um funcionrio do banco, mas sim por um trabalhador de outra empresa, que est intermediando a relao do cliente com o banco.

    Depoimentos:

    Quando entramos em contato com o cliente temos que nos passar por funcionrios do banco Ita Personnalit, pois o cliente no se sentiria seguro falando com uma terceirizada. (...) em todo contato com os clientes dizemos que somos do Ita e o cliente pensa que est falando com algum funcionrio do banco. (empregado da Contax)

    Somos obrigados a nos passar por gerente ou funcionrio do banco para passar maior confiabilidade aos clientes. (...) as responsabilidades so imensas, afinal carregamos conosco o nome do banco. (Funcionria da Contax que presta servios ao Santander)

    Atendemos como funcionrios do Santander, e a maioria dos clientes pensa que est falando com um gerente. E at quando temos que ligar pra um cliente, nosso script Senhora (o) ... quem fala Fulana da central de previdncia do Banco Santander... (Funcionria da Contax)

    Sigilo Os clientes so expostos ainda no que diz respeito ao sigilo bancrio, protegido por lei, e sequer desconfiam que, por meio de documentos e do prprio sistema do banco, seus dados so acessveis a um grande nmero de funcionrios de empresas terceirizadas.

    O sigilo bancrio garantido pela Lei Complementar 105/2001, que determina o resguardo dos dados dos clientes pelas instituies financeiras e estabelece que a quebra do sigilo s pode se dar por autorizao judicial.

    Apesar de terceirizar, a responsabilidade continua sendo do tomador do servio, no caso o banco, que responde autoridade constituda pelo Banco Central.

  • Terceirizao no SeTor Bancrio BraSileiroSindicato doS bancrioS e financirioS de So paulo, oSaSco e regio - cut filiado contraf-cut

    Depoimentos:

    Temos acesso a todas as informaes do cliente. Somos to responsveis civil e criminalmente pela segurana das informaes quanto qualquer bancrio. (Funcionria da Contax que presta servios para o Santander)

    (...) possumos at acesso aos sistemas do banco (...) acesso s telas de apontamento cadastral onde no rodap est at escrito que o uso restrito somente para funcionrios do Ita e no pode ser disponibilizado a terceirizados, porm somos terceirizados e podemos utilizar pois temos funcional e senha. (Empregada da Contax)

    (...) quero denunciar que os operadores tm acesso total ao sistema do banco. Quando o cliente pergunta voc trabalha pra quem?, a gente foi orientado a falar que trabalhamos pro banco. (terceirizada da Contax que presta servios para o Bradesco)

    Tenho acesso completo s informaes pessoais (CPF, RG, profisso, endereo, etc) de

    qualquer consorciado, bem como aos resultados de anlise de crdito de cada um.

    Queixas O comprometimento da qualidade do servio bancrio evidenciada pelo aumento das reclamaes nos rgos de defesa do consumidor. Dados do Procon-SP, divulgados pelo Jornal da Tarde (edio de 19 de agosto de 2011), mostram que com 25.391 registros, os bancos lideraram as queixas dos consumidores no primeiro semestre de 2011, respondendo por 27,6% das reclamaes. E entre as principais queixas esto dbitos no autorizados e tarifas irregulares, sabe-se que grande parte dessas reclamaes se associa a processos de trabalho terceirizado.

    correSpondenTeS Tm FUno deSvirTUada

    Autorizados pelo Banco Central em 1999, os correspondentes surgiram como forma de oferecer servios bancrios populao de municpios desassistidos de agncias. Nos ltimos 12 anos, no entanto, essa funo foi sendo desvirtuada.

    Segundo o BC, em maio de 2011 j haviam 160 mil correspondentes em todo o territrio nacional, e 45% deles concentrados no Sudeste, regio que abriga tambm 55% das agncias bancrias. Ou seja, estados e municpios com maior nmero de agncias so tambm os que abrigam a maior parte dos correspondentes, numa clara distoro da funo inicialmente prevista pelo rgo regulamentador.

    Em trs anos e meio, de dezembro de 2007 quando o total era de 95,8 mil a maio de 2011, o nmero de correspondentes cresceu 68%. Enquanto que, no mesmo perodo, o nmero de agncias bancrias cresceu apenas 8%.

  • Terceirizao no SeTor Bancrio BraSileiroSindicato doS bancrioS e financirioS de So paulo, oSaSco e regio - cut filiado contraf-cut

    Mesmo que informaes do prprio Banco Central as contradigam, as instituies financeiras insistem em repetir o discurso da incluso bancria como justificativa para a ampliao cada vez maior dos correspondentes. Os dados, porm, so evidentes: a concentrao de correspondentes nos centros economicamente mais fortes no promove a bancarizao, mas sim a excluso e discriminao de clientes, principalmente os de baixa renda. E servem a um propsito: gerar economia para o setor mais lucrativo do pas.

    Essa economia de custos comea pela mo de obra. Os funcionrios de correspondentes bancrios ganham, pela remunerao mdia, apenas do salrio do bancrio, segundo estudo realizado em abril de 2011 pela Confederao dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e pelo Departamento Intersindical de Estatstica e Estudos Socioeconmicos (Dieese). A maioria est classificada como comercirios e alm dos salrios menores, tm menos direitos e benefcios e cumprem jornadas muito mais extensas que os bancrios e financirios.

  • Terceirizao no SeTor Bancrio BraSileiroSindicato doS bancrioS e financirioS de So paulo, oSaSco e regio - cut filiado contraf-cut

    Assim, o setor mais lucrativo da economia brasileira gera cada vez menos empregos diretos, precariza o trabalho, no promove a incluso bancria da populao e no contribui para o desenvolvimento do pas como poderia.

    Por outro lado, a terceirizao promove um padro de contratao inferior, em detrimento de outro que referncia de conquistas trabalhistas no pas e que elevou a patamares mais civilizados as relaes entre capital e trabalho. Patamares esses que colocam os trabalhadores numa perspectiva de crescimento e distribuio de renda.

  • Terceirizao no SeTor Bancrio BraSileiroSindicato doS bancrioS e financirioS de So paulo, oSaSco e regio - cut filiado contraf-cut

    A terceirizao no setor financeiro, portanto, resulta em maior concentrao de renda e poder nas mos dos banqueiros. Enfraquece a classe trabalhadora e suas entidades representativas e paralelamente empobrece os trabalhadores.

    Os sindicatos fazem parte da histria da democracia brasileira. Atuam no s na defesa dos interesses de seus filiados, mas tambm pautando temas importantes para toda a sociedade. Foram, vale lembrar, agentes fundamentais do processo de reabertura poltica do pas, aps 20 anos de ditadura militar. A terceirizao tem promovido a fragmentao desse poder de organizao, esvaziando as bases sociais de sindicatos com tradio de luta e dividindo os trabalhadores em subcategorias.

  • 45

    Setor Financeiro

    Relatrios da Fiscalizao do MTE sobre a Terceirizao nos

    Bancos

    No final de 2006 foi realizada Fiscalizao Nacional coordenada pela Secretaria de

    Inspeo do MTE (Ministrio do Trabalho e Emprego) sobre atividades bancrias

    terceirizadas. Neste processo, que envolveu diversos estados, foram somados mais

    de 6 volumes de farta documentao que apontam para a fraude nos processos de

    terceirizao no sistema bancrio investigados.

    Trs bancos foram investigados: 1) ABN; 2)Bradesco e 3) Unibanco.

    A marca ABN no existe mais, pois foi assumida pelo estrangeiro Santander. O

    Unibanco agora passou a ser Ita-Unibanco. A maior empresa prestadora de servios

    terceirizados para o segmento bancrio chama-se poca Proservv, hoje a Fidelity,

    uma multinacional estrangeira. Mas, apesar destas mudanas os problemas persistem

    nos bancos.

    Assim a documentao disponibilizada se mostra atual diante da continuidade das

    prticas nela descritas. Explicamos que temos em nosso poder os volumes completos,

    o que segue so apenas os Relatrios Sntese.

    O Sindicato dos Bancrios de So Paulo, Osasco e Regio tm observado

    crescimento contnuo dos processos de terceirizao nas mais diversas reas dos

    bancos. Isso tem significado, infelizmente, o rebaixamento brutal das condies de

    trabalho e remunerao que os trabalhadores conquistaram aps muitos anos de luta,

    no setor que mais obtm lucros na economia brasileira.

    Abaixo, o documento final elaborado pelo MTE.

  • SECRETARIA DE INSPEO DO TRABALHO SIT

    Relatrio Fiscal Volume 1

    _________________________________________________

    Parte Integrante do Auto de Infrao n 01215715-5

  • 47

    Autuado: UNIO DE BANCOS BRASILEIROS SA

    CNPJ: 33.700.354/0001-40

    Equipe Nacional de Fiscalizao

    Eduardo Joo da Costa

    Gustavo Gonalves Silva

    Jos Maria Coutinho

    Luis Alexandre de Faria

    Maria Cristina Serrano Barbosa

    Maria de Lourdes Moure

    Paulo Antnio Barros Oliveira

    AFT-DRT/SC

    AFT-DRT/CE

    AFT-DRT/SP

    AFT-DRT/SP

    AFT-DRT/PE

    AFT-DRT/SP

    AFT-DRT/RS

    OUTUBRO/2006

  • 48

    SUMRIO

    Objetivo da Ao Fiscal___________________________________________________

    Objeto da Ao Fiscal ____________________________________________________

    Equipe Nacional de Fiscalizao_____________________________________________

    Empresa Fiscalizada______________________________________________________

    Histrico da Ao Fiscal___________________________________________________

    Relatrio da Fiscalizao__________________________________________________

    1. Situao Encontrada Formalidades_______________________________________

    1.1.Qualificao das empresas contratadas___________________________________

    A- Servios de Retaguarda_________________________________________________

    B - Servios de Tesouraria _________________________________________________

    1.2.Anlise dos contratos firmados com Banco_________________________________

    1.2.1. Contrato com a Proservvi Empreendimentos. _____________________________

    1.2.2. Contrato com a Service Bank__________________________________________

    1.2.3. Contrato com a ATP /ASBACE________________________________________

    1.2.4. Contrato com a Transforte ___________________________________________

    1.2.5. Contrato com a Sebival______________________________________________

    1.2.6. Contrato com a Preserve_____________________________________________

    1.2.7. Contrato com a Nordeste_____________________________________________

    1.2.8. Contratos com outras empresas________________________________________

    1.3. Qualificao da empresa subcontratada__________________________________

    1.4. Anlise da subcontratao_____________________________________________

    1.4.1. Contrato firmado entre a Service Bank e a Porsol__________________________

    2. Situao Encontrada Realidade__________________________________________

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    2.1. Panorama nacional____________________________________________________

    2.2. Estabelecimentos fiscalizados em So Paulo________________________________

    2.3. Estabelecimentos Fiscalizados em Belo Horizonte___________________________

    2.4. Estabelecimento fiscalizado em Fortaleza__________________________________

    2.5. Estabelecimentos fiscalizados em Curitiba_________________________________

    2.6. Estabelecimentos fiscalizados em Florianpolis_____________________________

    2.7. Estabelecimentos Fiscalizados no Recife __________________________________

    2.8. Estabelecimentos fiscalizados em Porto Alegre_____________________________

    3. Da Ilegalidade da terceirizao - Intermediao de mo-de-obra_______________

    3.1. Atividades bancrias__________________________________________________

    3.1.1. Atividades bancrias realizadas nas Multiagncias_________________________

    3.1.2. Atividades bancrias realizadas nas Tesourarias___________________________

    3.2. Subordinao Jurdica Controle Diretivo_________________________________

    3.2.1. Gesto Hierarquizada________________________________________________

    3.2.2. Elaborao, treinamento e controle dos procedimentos_____________________

    3.2.3. Emisso de ordens pelo banco_________________________________________

    3.2.4. Fornecimento de controle de senhas de acesso aos sistemas________________

    3.2.5. Acesso a informaes sigilosas_________________________________________

    3.2.6. Subcontratao_____________________________________________________

    3.2.7. Propriedade dos equipamentos e sistemas_______________________________

    3.3. Caracterizao da relao de emprego com o banco_________________________

    3.3.1. Pessoalidade/ No-eventualidade______________________________________

    4. Das condies de segurana e sade_______________________________________

    4.1.Das condies da edificao e das condies sanitrias dos estabelecimentos______

    4.2. Da organizao do trabalho_____________________________________________

    4.3. Mobilirio e equipamentos_____________________________________________

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    4.4. Do Programa de Preveno de Riscos Ambientais PPRA____________________

    4.5. Do Programa de Controle Mdico e Sade Ocupacional PCMSO______________

    4.5. Das irregularidades encontradas_________________________________________

    5. Conseqncias da terceirizao ilcita - Intermediao de mo-de-obra____________

    5.1. Instituies financeiras e trabalho dos bancrios____________________________

    5.2. Trabalho bancrio executado por empregados contratados por empresa interposta

    5.3. Conseqncias_______________________________________________________

    6. Concluses___________________________________________________________

    Apndice A Fundamentao jurdica

    Apndice B Aspectos relacionados sade e segurana no trabalho

    Relao de Anexos

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    RELAO DE DOCUMENTOS ANEXOS

    Relao de Anexos Volume 1

    01. Estatuto Social do UNIBANCO

    02. Atas da eleio da diretoria e mandato pra representao do UNIBANCO

    03. Estatuto Social da PROSERVVI Banco de Servios (AGE de 16.12.2004)

    04.13 alterao do Contrato Social da PROSERVVI Empreendimentos e Servios Ltda,

    de 01 de junho de 2005

    05. Estatuto Social ATP Tecnologia e Produtos S.A e Atas (AGO 16.03.2005 e AGE

    10.04.2006)

    06. Estatuto Social da PROSEGUR Brasil S/A. Transportadora de Valores e Segurana

    (AGE 31.10.2005)

    07. 20 alterao do Contrato Social da PRESERVE Segurana e Transporte de Valores

    Ltda

    08.2 alterao do Contrato Social da Nordeste Transporte de Valores Ltda

    09.Contrato Social da RODOBAN Segurana e Transporte de Valores Ltda

    10. Contrato Social da TRANSFORTE Alagoas Vigilncia e Transporte de Valores Ltda

    11. Estatuto Social da SERVICE BANK Servios Tecnolgicos e Representaes

    Comerciais Ltda, AGE de alterao de estatuto de 02 de junho de 2004

    12. Estatuto Social da PORSOL Cooperativa dos Trabalhadores em Processamento de

    Servios Administrativos

    13. Contrato Prestao de Servios celebrado entre o UNIBANCO e o Consrcio CSP -

    SIEMENS PROSERVVI, de 15 de setembro de 2004

    13 A. Anexo A do Contrato UNIBANCO-PROSERVVI

    13 B. Anexo B do Contrato UNIBANCO-PROSERVVI

    13 C. Anexo C do Contrato UNIBANCO-PROSERVVI

    13 D. Anexo D do Contrato UNIBANCO-PROSERVVI

  • 52

    13 E. Anexo E do Contrato UNIBANCO-PROSERVVI

    13 F. Anexo F do Contrato UNIBANCO-PROSERVVI

    13 G. Anexo G do Contrato UNIBANCO-PROSERVVI

    13 H. Anexo H do Contrato UNIBANCO-PROSERVVI

    13 I. Anexo I do Contrato UNIBANCO-PROSERVVI

    13 J. Anexo A do Contrato UNIBANCO-PROSERVVI

    13 K. Anexo A do Contrato UNIBANCO-PROSERVVI

    Relao de Anexos Volume 2

    14. Termo de Compromisso firmado entre UNIBANCO e PROSERVVI

    15. Contrato Prestao de Servios UNIBANCO/ SERVICE BANK;

    16. Contrato (e aditivos) Prestao de Servios UNIBANCO/ PRESERVE; 17. Contrato Prestao de Servios UNIBANCO/ NORDESTE Segurana de Valores Ltda; 18. Contrato (e aditivos) Prestao de Servios UNIBANCO/ RODOBAN 19. Contrato Prestao de Servios UNIBANCO/ SEBIVAL Segurana Bancaria Industrial

    e de Valores Ltda; 20. Contrato Prestao de Servios UNIBANCO/ PROSEGUR; 21. Contrato Prestao de Servios SERVICE BANK/ PORSOL Coo