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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE VIANÓPOLIS - GO
Rua Felismino Viana, nº 174, 1º andar, salas 01, 02 e 03 – Centro - Vianópolis – Go - CEP 75260-000
Telefone/Fax: (0xx62) 3335-1209 e E-mail: [email protected]
Home Page: www.mp.go.gov.br
Referência
Origem : Promotoria de Justiça da Comarca de Vianópolis
Autos/Protocolo : Procedimento Administrativo nº 040
Autor(a)(es) : Ministério Público do Estado de Goiás
Requerido(a)(s) : Antônio Divino de Rezende
Natureza : Ação por Ato de Improbidade Administrativa
Promoção MP : Inicial
Promotor de Justiça Maurício Alexandre Gebrim Página
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE
VIANÓPOLIS – ESTADO DE GOIÁS.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por seu
Representante Legal ao final assinado, titular da Promotoria de Justiça de
Entrância Inicial da Comarca de Vianópolis - Goiás, no uso de suas atribuições,
com suporte nos artigos 37, § 4º e 129, inciso III, ambos da Constituição
Federal; artigo 25, inciso IV, alínea “b” da Lei nº 8.625/93; artigos 46, inciso
VI e 47, inciso I, ambos da Lei Complementar Estadual nº 25 de 06 de Julho de
1.998; artigos 1º, inciso IV, 2º e 5º, todos da Lei 7.347/85; artigos 1º, 2º e 17,
todos da Lei nº 8.429/92 e demais legislações atinentes à matéria, vêm à
presença de Vossa Excelência ajuizar a presente
AÇÃO POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
em desfavor de ANTÔNIO DIVINO DE RESENDE, brasileiro, casado,
médico, natural de Pires do Rio, nascido aos 09/05/1947, filho de Antônio
Sebastião de Resende e de Maria da Conceição Resende, residente e
domiciliado na Rua Antônio José Quinan, s/nº, centro, nesta urbe, encontradiço
ainda no Hospital e Maternidade São Sebastião Ltda., também nesta cidade;
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1. - DOS FATOS
Na data de 07/10/2005 este Órgão de Execução recebeu do Secretário
Municipal de Governo do Município de Vianópolis o Ofício nº 161/2005, protocolado no
Ministério Público sob o nº 249/2005 (fl. 06 do PA1 nº 040), informando que a partir do dia
10/10/2005 o horário de funcionamento da Prefeitura Municipal de Vianópolis, por motivo de
retenção de despesas, seria reduzido, passando a ser das 07h00 às 12h00.
Em razão do comunicado recebido, a Secretaria de Governo no dia
18/10/2005 foi oficiada no sentido de que fornecesse ao Ministério Público cópia do Decreto
Municipal que alterou o horário de funcionamento das repartições públicas municipais (Ofício
Vps/Go nº 445/2005 – fls. 07 do PA nº 040), no que, neste mesmo dia, qual seja,
18/10/2005, encaminhou em resposta o cópia do Decreto Municipal nº 119, de
18/10/2005, com efeito retroativo à data de 10/10/2005 (fls. 08 e 09 do PA nº 040).
No dia 21/10/2005 o Secretário de Governo do Município de Vianópolis
protocolou na Promotoria de Justiça de Vianópolis o Ofício nº 166/2005 (Protocolo MP no nº
267/2005), através do qual encaminhou cópia do Decreto Municipal nº 120, de 21/10/2005,
através do qual foi anulado o Decreto Municipal nº 119, de 18/10/2005 (fls. 10/11 do PA
040).
Em razão da mudança de horário de funcionamento dos órgãos públicos
municipais, num primeiro momento de forma verbal, e num segundo, sem qualquer
fundamentação e disciplinamento, bem como a “anulação” de um Decreto Municipal baixado
de forma retroativa somente após provocação ministerial (Ofício Vps/Go nº 445/2005), sob o
argumento de que foi editado com incorreções e falta das fundamentações adequadas, foi
instaurado através da Portaria nº 003/2005, na data de 25/10/2005, o Procedimento
Administrativo nº 040 (fls. 02 a 05 do PA 040), para apurar tais atos praticados por parte do
Senhor Prefeito Municipal de Vianópolis, Antônio Divino Resende, eis que, a princípio,
atentaram contra os princípios da administração pública e causarem lesão ao erário, posto que
1 PA – Procedimento Administrativo
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a prestação dos serviços públicos foi drasticamente reduzida, sem qualquer benefício, a
princípio, para a municipalidade, constituindo, em tese, Ato de Improbidade Administrativa.
Realizada e concluída a investigação por esta Promotoria de Justiça,
encontrando-se o Procedimento instruído com os documentos relacionados ao caso em
apuração (fls.18/286, 287/297, 302/340 e 341/345), requisitados à Secretaria de Governo de
Vianópolis, à Secretaria Municipal de Finanças (fls. 13/14 e 299/300), chegou-se à conclusão
que por decisão do então Prefeito Municipal de Vianópolis, Antônio Divino de Rezende, ora
requerido, diversos funcionários da Administração Municipal de Vianópolis, a maioria
em exercício de cargos comissionados (fls. 19, 20, 288, 289, 291, 292, 295 e 297 do PA nº
040), embora remunerados para uma jornada de trabalho de 8(oito) horas diárias, apenas
trabalhavam 5 (cinco) horas, sem proporcional redução dos salários, resultando prejuízo ao
erário de forma direta, na forma dos salários e demais benefícios pagos a maior para os
servidores e de forma indireta, em conseqüência dos vários encargos sociais, verbas
previdenciárias etc. (fls. 21 a 286 do PA nº 040), enquanto outros servidores públicos
municipais cumpriram a jornada normal de trabalho sem o proporcional aumento dos salários
(fls. 290, 293, 294, 296 e 297do PA nº 040), o que também gerou uma desigualdade
inaceitável.
A bem da verdade tal ato somente não se perpetuou no tempo em razão da
pronta intervenção do Ministério Público, que levou a que o ora Requerido “Anulasse” o
Decreto Municipal nº 119/2010.
Aliás, se o Requerido Antônio Divino de Rezende anulou o Decreto Municipal
nº 119/2005 é porque era ilegal. Senão teria sido revogado por não ser mais conveniente à
Administração Pública.
Revogação é a supressão de um ato administrativo legítimo e eficaz, realizado
pela Administração – e somente por ela – por não mais lhe convier sua existência. Toda
revogação pressupõe um ato legal e perfeito, mas inconveniente ao interesse público.
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Quanto o ato é ilegal ou ilegítimo não enseja revogação, mas sim, anulação,
seja pela própria Administração, seja pelo Poder Judiciário. Baseia-se, portanto, em razões de
legitimidade ou legalidade, diversamente da revogação.
Doutra banda, um Prefeito Municipal, que conta com assessoramento jurídico,
e, mesmo assim, pratica atos administrativos desprovidos de conteúdo constitucional, legal e
moral, não pode se valer da alegação de que não agiu com culpa ou dolo, sob pena de
prevalecer o interesse particular na Administração Pública. Já é momento de o Poder
Judiciário acabar com a desfaçatez de alguns péssimos administradores. Não se pode mais
admitir que a ""Lei de Gérson"" (aquela de sempre levar vantagem em tudo, mesmo que
indevidamente) ou que o ""jeitinho brasileiro"" prevaleçam sobre os princípios da legalidade,
impessoalidade, moralidade e economicidade na Administração da coisa pública, sob pena de
o Poder Judiciário contribuir para o sentimento de impunidade que assola o nosso País.
Há que se salientar, ainda, que além da mudança de horário de funcionamento
dos órgãos públicos municipais, num primeiro momento de forma verbal, e num segundo, sem
qualquer fundamentação e disciplinamento, bem como a “anulação” de um Decreto Municipal
baixado de forma retroativa somente após provocação ministerial (Ofício Vps/Go nº
445/2005), sob o argumento de que foi editado com incorreções e falta das fundamentações
adequadas, não foi realizado previamente nenhum estudo acerca da economia a ser gerada
com a mudança de horário de funcionamento a partir do dia 10/10/2005, atingindo em sua
grande parte ao servidores comissionados, de livre contratação e exoneração por parte do
chefe do executivo, ou seja, serviu mais para beneficiar os apadrinhados políticos,
enquanto garis, pedreiros, professores e outros profissionais que “pegam no pesado”
tiveram que permanecer cumprindo a jornada costumeira sem qualquer aumento de
remuneração, o que, no mínimo, deveria ter ocorrido. Do contrário seria e é injusto.
De posse de suficiente lastro probatório, torna-se imperativo ao Ministério
Público a propositura da presente Ação Civil Pública por Ato de Improbidade
Administrativa, que se afigura um instrumento com resultados até mais contundentes que
eventuais sanções de natureza criminal, atingindo o que já se convencionou a parte mais
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sensível do corpo humano: “O BOLSO”.
De todo o exposto, restou comprovado, estreme de dúvidas, que o Requerido
Antônio Divino de Rezende, quando Prefeito do Município de Vianópolis, com dolo (ou
seja, com consciência e vontade dirigidas à prática da conduta ilícita), permitiu que
funcionários públicos municipais de Vianópolis percebessem remuneração proporcional a
uma jornada de 8(oito) horas diárias mas trabalhassem apenas 5(cinco) horas por dia, gerando,
de forma simultânea, enriquecimento ilícito (dos funcionários beneficiados) e dano ao
Erário, além de atentarem contra os princípios da Administração Pública.
Após séculos de luta o homem contemporâneo conseguiu inserir, no
ordenamento jurídico, princípios destinados a evitar a costumeira confusão entre os interesses
particulares do detentor do poder e os interesses da sociedade, distinguindo a vontade da lei
da vontade do príncipe.
Governar passou a significar, acima de tudo, administrar, dirigir ações, regular
atividades sob a inspiração de um ordenamento jurídico democrático e, em última instância,
sob a vontade do verdadeiro detentor do Poder, no caso, o POVO.
A Administração Pública tornou-se atividade de quem “não é senhor absoluto,
transformando o administrador em “curador de interesses coletivos”,2 sujeitando-o à
sanções ou punições pelos abusos, erros ou omissões praticadas no exercício da função
administrativa.
Com tal conduta o Requerido violaou expressamente disposição de lei, o
que leva o Ministério Público do Estado de Goiás a pedir a tutelar jurisdicional do
Estado, configuradas que está a conduta ilítica.
Eis os fatos.
2 ARAÚJO, Florisvaldo Dutra de, Motivação e Controle do Ato Administrativo, p. 47, 1992.
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2. – DO DIREITO
2.1. – Da Ação Civil Pública
A Ação Civil Pública, ex vi do disposto no artigo 1º da Lei n.º 7.347/85, como
fator de mobilização social, é a via processual adequada para impedir a ocorrência ou reprimir
danos ao patrimônio público, meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, protegendo, assim, os interesses difusos,
coletivos e individuais homogêneos da sociedade, sendo que, diante de sua magnitude e
excelência, mereceu assento constitucional, como se extrai do art. 129, inciso III da
Constituição da República Federativa brasileira.
Não se presta a ação civil pública, à luz dos ensinamentos do insigne João
Batista de Almeida, a amparar direitos individuais subjetivos, cujos titulares deverão valer-se
das vias ordinárias para pleito de ressarcimento de dano sofrido ou para sustação de ato que
possa afetar seu direito. Tutelados são apenas os interesses dimensionados coletivamente,
transcendentes do indivíduo e os direitos individuais homogêneos socialmente relevantes,
como se pretende demonstrar no caso em tela (ALMEIDA, João Batista de. Aspectos
Controvertidos da Ação Civil Pública. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001).
Não restam dúvidas de que o patrimônio público é um interesse de dimensão
difusa, o que autoriza sua tutela processual por intermédio da ação civil pública. Nesse
diapasão, caracterizando a tutela do patrimônio público, inclusive na dimensão da moralidade
administrativa, como um interesse metaindividual de natureza difusa, e, ainda, considerando
que o Ministério Público é parte legítima para aforar ação de improbidade com a finalidade de
punir os agentes ímprobos que violam os princípios da Administração Pública, é a farta
jurisprudência do colendo Superior Tribunal de Justiça, in verbis:
EMENTA: ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA CONTRA CHEFE DO PODER EXECUTIVO MUNICIPAL.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. UTILIZAÇÃO DE FRASES DE
CAMPANHA ELEITORAL NO EXERCÍCIO DO MANDATO.
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ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO
PÚBLICO. VIOLAÇÃO DO ART. 267, IV, DO CPC, REPELIDA. OFENSA
AOS PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS. INTERPRETAÇÃO DO ART. 11
DA LEI 8.429/92. LESÃO AO ERÁRIO PÚBLICO. PRESCINDIBILIDADE.
INFRINGÊNCIA DO ART. 12 DA LEI 8.429/92 NÃO CONFIGURADA.
SANÇÕES ADEQUADAMENTE APLICADAS. PRESERVAÇÃO DO
POSICIONAMENTO DO JULGADO DE SEGUNDO GRAU.
1. Cuidam os autos de ação civil pública por improbidade administrativa
ajuizada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo em face de José
Cláudio Grando, à época Prefeito Municipal de Dracena/SP, objetivando, em
síntese, a sua condenação nas sanções previstas na Lei nº 8.429/92 por suposta
utilização irregular das frases "Dracena Todos por Todos Rumo ao Ano 2000"
e "Dracena Rumo ao Ano 2000" em fachadas de órgão públicos municipais,
veículos e placas de inauguração, uniformes dos alunos das escolas e creches
públicas, jornais da região, carnês de pagamento de tributos e publicações
especiais. Sobreveio sentença julgando parcialmente procedente o pedido para
suspender os direitos políticos do réu pelo período de três anos, proibi-lo de
contratar, receber benefício, incentivos fiscais ou creditícios, diretos ou
indiretos, junto ao poder público, ainda que por intermédio de pessoa jurídica,
pelo mesmo prazo, bem como para condená-lo a pagar o equivalente a dez
vezes sua atual remuneração, a título de multa civil e a ressarcir ao Município
os gastos comprovadamente efetuados com recursos públicos na inserção da
expressão e símbolo de sua campanha eleitoral em bens e atos da
administração, a serem liquidados no momento oportuno, bem como a arcar
com as custas e eventuais despesas processuais, extinguindo o processo nos
termos do art. 269, inciso I, do CPC. O réu interpôs apelação a fim de que fosse
julgado improcedente o pedido do apelado com a inversão dos ônus
processuais aduzindo, preliminarmente, a incompetência absoluta do Juízo
monocrático por considerar que o TJSP seria o competente para julgar o feito e
carência de ação por considerar que, em sede de ação civil pública, é descabido
o pedido de eventual reparação por danos ao erário em virtude de ato de
improbidade administrativa. No mérito, aduziu ausência de prova do dano,
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cerceamento de defesa e que a sentença não apreciou a contestação. O
Tribunal, por maioria, rejeitou as preliminares e negou provimento ao recurso.
Insistindo pela via especial, fundamentado nas alíneas "a" e "c", aponta o réu
violação dos artigos 267, IV, do CPC, e 11, caput e inciso I, e 12, ambos da Lei
nº 8.429/92. Requer seja decretada a extinção do processo sem julgamento do
mérito em virtude de carência de ação ou seja reconhecida a improcedência do
pedido formulado na exordial. Contra-razões apresentadas. Recurso
extraordinário interposto concomitantemente, tendo sido contra-arrazoado.
Juízo positivo de admissibilidade apenas ao recurso especial no que concerne à
alínea "c" do permissivo constitucional. Houve interposição de agravo de
instrumento em relação à alínea "a". O Ministério Público Federal ofereceu
parecer opinando pelo improvimento do recurso especial.
2. A ação civil pública protege interesses não só de ordem patrimonial como,
também, de ordem moral e cívica. O seu objetivo não é apenas restabelecer a
legalidade, mas também punir ou reprimir a imoralidade administrativa a par
de ver observados os princípios gerais da administração. Essa ação constitui,
portanto, meio adequado para resguardar o patrimônio público, buscando o
ressarcimento do dano provocado ao erário, tendo o Ministério Público
legitimidade para propô-la. Precedentes. Ofensa ao art. 267, IV, do CPC, que se
repele.
3. A violação de princípio é o mais grave atentado cometido contra a
Administração Pública porque é a completa e subversiva maneira frontal de
ofender as bases orgânicas do complexo administrativo. A inobservância dos
princípios acarreta responsabilidade, pois o art. 11 da Lei 8.429/92 censura
“condutas que não implicam necessariamente locupletamento de caráter
financeiro ou material” (Wallace Paiva Martins Júnior, “Probidade
Administrativa”, Ed. Saraiva, 2ª ed., 2002).
4. O que deve inspirar o administrador público é a vontade de fazer justiça para
os cidadãos, sendo eficiente para com a própria administração. O cumprimento
dos princípios administrativos, além de se constituir um dever do
administrador, apresenta-se como um direito subjetivo de cada cidadão. Não
satisfaz mais às aspirações da Nação a atuação do Estado de modo compatível
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apenas com a mera ordem legal, exige-se muito mais: necessário se torna que a
gestão da coisa pública obedeça a determinados princípios que conduzam à
valorização da dignidade humana, ao respeito à cidadania e à construção de
uma sociedade justa e solidária.
5. A elevação da dignidade do princípio da moralidade administrativa ao
patamar constitucional, embora desnecessária, porque no fundo o Estado possui
uma só personalidade, que é a moral, consubstancia uma conquista da Nação
que, incessantemente, por todos os seus segmentos, estava a exigir uma
providência mais eficaz contra a prática de atos dos agentes públicos violadores
desse preceito maior.
6. A tutela específica do art. 11 da Lei 8.429/92 é dirigida às bases axiológicas
e éticas da Administração, realçando o aspecto da proteção de valores
imateriais integrantes de seu acervo com a censura do dano moral. Para a
caracterização dessa espécie de improbidade dispensa-se o prejuízo material na
medida em que censurado é o prejuízo moral. A corroborar esse entendimento,
o teor do inciso III do art. 12 da lei em comento, que dispõe sobre as penas
aplicáveis, sendo muito claro ao consignar, “na hipótese do art. 11,
ressarcimento integral do dano, se houver...” (sem grifo no original). O objetivo
maior é a proteção dos valores éticos e morais da estrutura administrativa
brasileira, independentemente da ocorrência de efetiva lesão ao erário no seu
aspecto material.
7. A infringência do art. 12 da Lei 8.429/92 não se perfaz. As sanções aplicadas
não foram desproporcionais, estando adequadas a um critério de razoabilidade
e condizentes com os patamares estipulados para o tipo de ato acoimado de
ímprobo.
8. Recurso especial conhecido, porém, desprovido. (REsp 695.718/SP, Rel.
Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 16.08.2005, DJ
12.09.2005 p. 234).
Corrobora a tese ministerial a festejada doutrina dos Promotores de Justiça do
Rio de Janeiro Emerson Garcia e Rogério Pacheco, senão vejamos:
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“Partindo de tais premissas, é possível compreender que a Lei nº 7.347/85
busca disciplinar, antes de tudo, uma nova técnica de tutela dos interesses
coletivos e difusos, trazendo, só para citar dois exemplos, uma nova
mentalidade sobre a legitimação para a causa (art. 5º) e a extensão da coisa
julgada (art. 16), institutos que, remodelados, se prestam ao resguardo dos
“novos direitos”. Não se prende, assim, propriamente, ao disciplinamento do
procedimento, que é o ordinário, e não de filia, de igual forma, ao sistema
romano da tipicidade de ações. Entra pelos olhos, desta forma, que a
incidência, ou não, das regras previstas na Lei da Ação Civil Pública, de sua
técnica de tutela, independentemente do nome que se queira dar à ação e ao rito
que se deseje imprimir, vai depender, fundamentalmente, ou não, de um
interesse coletivo ou difuso, objeto do referido diploma legal. Se
considerarmos que a Lei nº 8.429/92 compõe, ao lado de outros instrumentos
constitucionais e infraconstitucionais, o amplo sistema de tutela do patrimônio
público, interesse difuso, a possibilidade de manejo da ação civil pública na
seara da improbidade, quer pelo Ministério Público, quer pelos demais co-
legitimados, torna-se clara. Claríssima, de lege lata, em razão da regra contida
no art. 129, III e § 1º, da Constituição Federal, o que, a nosso juízo, torna até
desimportante a discussão sob o enfoque puramente pragmático. Equivocada,
assim data vênia, a assertiva do descabimento da ação civil pública com vistas
ao ressarcimento dos danos causados ao erário e à aplicação das sanções do art.
12 da Lei nº 8.429/92 em razão do suposto rito especial adotado pela Lei nº
7.347/85. Equivocada, rogata vênia, não só porque o rito da ação civil pública
não é especial, como também, mesmo que especial fosse, ou venha a ser,
porque a questão do procedimento, para fins de incidência da Lei, de sua
técnica protetiva, como visto, é de nenhuma importância” (Improbidade
Administrativa. Rio de Janeiro: Lumem Júris, 2006, pág. 620-621).
É certo que a Constituição Federal de 1988 conferiu ao Parquet o status de
guardião da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis, sendo que, no afã de instrumentalizar o ombudsman com mecanismos idôneos
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Origem : Promotoria de Justiça da Comarca de Vianópolis
Autos/Protocolo : Procedimento Administrativo nº 040
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para a consecução de suas finalidades institucionais, estabeleceu expressamente dentre suas
funções a de promover o inquérito civil e a ação civil pública (art. 129, III).
A Constituição da República de 1988 confia ao Ministério Público, em seu
artigo 129, a atribuição de zelar pela preservação do patrimônio público e social por
intermédio da Ação Civil Pública, que é o instrumento processual idôneo para a defesa da
probidade administrativa e para a punição do agente ímprobo, senão vejamos o enunciado
normativo estampado na Lei Fundamental da República:
“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do
patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e
coletivos”.
Em consonância com essa orientação, a Lei Orgânica do Ministério Público –
Lei federal n.º 8.625/93 – assim estatui:
“Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e Estadual, na
Lei Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público:
...
IV – promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei:
a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados ao meio
ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico, e a outros interesses difusos, coletivos e
individuais indisponíveis e homogêneos;
b) para a anulação ou declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio
público ou à moralidade administrativa do Estado ou de Município, de
suas administrações indiretas ou fundacionais ou de entidades privadas de
que participem.”
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Em termos mais específicos, o artigo 17 da Lei n.º 8.429/92 confere ao
Ministério Público legitimidade para propor ação de improbidade administrativa nos seguintes
termos:
“Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo
Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta dias da
efetivação da medida cautelar”.
Dirimindo-se, portanto, quaisquer controvérsias sobre tal legitimidade,
especialmente, quanto ao manejo da presente ação de improbidade administrativa para punir o
agente ímprobo, em atenção ao mandamento constitucional do artigo 37, § 4º, a jurisprudência
do egrégio Superior Tribunal de Justiça é pacífica no sentido de reconhecer legitimidade ao
Ministério Público para a promoção da ação civil pública com o escopo de tutelar o
patrimônio público:
EMENTA: “Ação Civil Pública. Atos de Improbidade Administrativa. Defesa
do Patrimônio Público. Legitimação ativa do Ministério Público. Constituição
federal, arts. 127 e 129, III. Lei 7.347/85 (arts. 1º, IV, 3º, II e 13). Lei 8.429/92
(art. 17). Lei 8.625/93 (arts. 25 e 26).
1. Dano ao erário municipal afeta o interesse coletivo, legitimando o
Ministério Público para promover o inquérito civil e a ação civil pública
objetivando a defesa do patrimônio público. A Constituição Federal (art.
129, III) ampliou a legitimação ativa do Ministério Público para propor
Ação Civil Pública na defesa dos interesses coletivos.
2. Precedentes jurisprudenciais.
3. Recurso não provido”. (Resp. n.º 154.128/SC, 1ª Turma, relator Ministro
LUIZ PEREIRA).
EMENTA: “Processual Civil. Ação Civil Pública. Defesa do Patrimônio
Público. Ministério Público. Legitimidade Ativa. Inteligência do art. 129, III,
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da CF/88 c/c o art. 1º, da Lei n.º 7.347/85. Precedente. Recurso especial não
conhecido.
I – O campo de atuação do MP foi ampliado pela Constituição de 1988,
cabendo ao Parquet a promoção do inquérito civil e da ação civil pública para
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros
interesses difusos e coletivos, sem a limitação imposta pelo art. 1º da Lei
7.347/85 (Resp. n.º 31.547-9/SP).
II – Recurso especial não conhecido” (Resp n.º 67.148/SP, relator Ministro
Adhemar Maciel).
A remansosa jurisprudência da Corte Superior Federal culminou com a edição
da Súmula 329, assim redigida: “O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil
pública em defesa do patrimônio público”.
No mesmo sentido é a jurisprudência do Tribunal de Justiça goiano:
"Ação Civil Pública. Atos de improbidade administrativa. Defesa do
patrimônio público. Legitimidade do Ministério Público. O Ministério Público
tem legitimidade para propor ação civil pública que objetiva a proteção do
erário municipal. 2. Sentença ultra e extra petita. Não há se falar em sentença
ultra ou extra petita quando ela é proferida nos estritos limites do petitum. 3.
Nomeação de menor impúbere para o exercício de cargo comissionado.
Caracteriza-se ato de improbidade administrativa a nomeação de filho menor
de 18 anos para a função pública, uma vez que ofende os princípios da
administração. Apelo conhecido e improvido. Decisão unânime" (TJGO, 2ª
CC, AP nº 54530-7/188, rel. Des. Fenelon Teodoro Reis, j. em 21/11/00, DJ de
06/12/00, p. 6).
Patente, portanto, que o Ministério Público é parte legítima para aforar ação
civil pública em defesa do patrimônio público e da moralidade administrativa, além de ter
legitimidade ativa para a promoção de ação de improbidade tendente a punir o agente ímprobo
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responsável por violações aos princípios estruturais do regime jurídico administrativo, pela
lesão ao erário público e enriquecimento às custas dos cofres públicos.
2.2. – O Requerido como Agente de Improbidade Administrativa
A norma primeira que prevê a inclusão dos atos atentatórios aos princípios
constitucionais entre os atos de improbidade, encontra insculpida no artigo 37 da Constituição
Federal, in verbis:
“Art. 37 - A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte:
omissis
§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos
direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o
ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da
ação penal cabível.”
Regulamentando tais dispositivos constitucionais, temos a Lei Federal nº
8.429/92, que, dentre outras matérias, estabelece as infrações contra a probidade
administrativa e relaciona as respectivas sanções a serem aplicadas quando de sua prática por
qualquer agente público que delas se beneficie. Inclusive em seu artigo 4º acha-se renovada a
ordem constitucional retro:
“Art. 4° - Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a
velar pela estrita observância dos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos.”
Para os fins desta lei, considera-se agente público todo aquele que exerce, ainda
que transitoriamente, com ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação ou
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qualquer outro vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em qualquer entidade pública ou
mesmo privada (artigo 2º).
Nesse conceito encontra-se inserido o Réu Antônio Divino de Rezende, o qual,
por ser o agente público (latu sensu) - então Prefeito Municipal de Vianópolis – responsável
pelos atos de improbidade em comento, figura no pólo passivo da presente ação em razão,
também, da disposição contida no caput do artigo 1º, in verbis:
“Art. 1º. Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público,
servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de
entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com
mais de 50% (cinqüenta por cento) do patrimônio ou da receita anual, serão
punidos na forma desta Lei.”
Por outro lado, as disposições da Lei nº 8.429/92 são aplicáveis, no que couber,
àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de
improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta (artigo 3º).
Vale observar que estão também sujeitos às sanções da lei os atos de
improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção, benefício ou
incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como daquelas para cuja criação ou
custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de cinqüenta por cento do patrimônio
ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito
sobre a contribuição dos cofres públicos.
Ademais, como se vê, é amplíssimo o universo de pessoas cujo procedimento
pode ser apontado como ímprobo, desde servidores ou terceiros, incidam nas situações
apontadas pela lei. Exemplificativamente, estariam também sujeitos às cominações legais,
membros de colegiados que não são remunerados, dirigentes de entidades privadas,
fornecedores, enfim todos os que concorram para a prática dos atos previstos na lei.
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Bastante largo é, também, o número de entidades cujo patrimônio se acha
protegido pelas disposições legais em referência. Para se ter uma idéia da amplitude do
alcance da lei, basta observar que empresas que gozam de incentivos fiscais, a exemplo das
que eram favorecidas através da extintas SUDENE, SUDAM e outros organismos nacionais
ou estaduais, como o FAIN, acham-se reguladas pela legislação ora comentada, em relação à
conduta irregular de seus administradores, dolosa ou culposa, em que pese sua condição de
empresas privadas.
2.3. – Individualização dos Atos de Improbidade Administrativa
A Lei nº 8.429/92 conhece três tipos de atos ímprobos na administração, a
saber:
a) atos que importam em enriquecimento ilícito (artigo 9º);
b) atos que causam prejuízo ao erário (artigo 10); e
c) atos que atentam contra os princípios da administração pública (artigo 11).
A primeira classe de atos de improbidade administrativa compreende os
seguintes (artigo 9º, caput, e incisos I a XII, da Lei nº 8.429/92):
“Art. 9º. Constitui ato de improbidade administrativa importando
enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida
em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas
entidades mencionadas no artigo 1º desta Lei, e notadamente:
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer
outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão,
percentagem, gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou
indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente
das atribuições do agente público;
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II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição,
permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços
pelas entidades referidas no artigo 1º por preço superior ao valor de mercado;
III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação,
permuta ou locação de bem público ou o fornecimento de serviço por ente
estatal por preço inferior ao valor de mercado;
IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos
ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer
das entidades mencionadas no artigo 1º desta Lei, bem como o trabalho de
servidores públicos, empregados ou terceiros contratados por essas entidades;
V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para
tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico,
de contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar
promessa de tal vantagem;
VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para
fazer declaração falsa sobre medição ou avaliação em obras públicas ou
qualquer outro serviço, ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou
característica de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das entidades
mencionadas no artigo 1º desta Lei;
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego
ou função pública, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à
evolução do patrimônio ou à renda do agente público;
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou
assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de
ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do
agente público, durante a atividade;
IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou aplicação de
verba pública de qualquer natureza;
X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente,
para omitir ato de ofício, providência ou declaração a que esteja obrigado;
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XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou
valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no artigo
1º desta Lei;
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do
acervo patrimonial das entidades mencionadas no artigo 1º desta Lei.”
O artigo 9º retro-citado envolve 12 (doze) diferentes hipóteses de atos de
improbidade que importam enriquecimento ilícito. Não é rol taxativo ou exaustivo, o que fica
claro pela utilização, no caput, do advérbio notadamente para enunciar a dúzia de incisos
exemplificativos do enunciado.
Tanto o caput quanto os incisos do artigo 9º guardam entre si uma
característica: o agente público aufere vantagem econômica indevida, para si ou para outrem,
em razão do exercício ímprobo de cargo, mandato, função, emprego ou atividade pública.
Ainda que não concorra o prejuízo ao erário ou ao patrimônio das entidades
referidas no artigo 1º, a percepção, ainda que indireta, de dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou
qualquer outra vantagem econômica já realiza o “tipo”.
A segunda classe de atos de improbidade, na conformidade da disposição legal,
é a dos que causam lesão ao erário, compreendendo as seguintes práticas (artigo 10 da Lei nº
8.429/92):
“Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário
qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial,
desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das
entidades referidas no artigo 1º desta Lei, e notadamente:
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio
particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores
integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no artigo 1º desta
Lei;
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II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens,
rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no artigo 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais
ou regulamentares aplicáveis à espécie;
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda
que de fins educativos ou assistenciais, bens, rendas, verbas ou valores do
patrimônio de qualquer das entidades mencionadas no artigo 1º desta Lei, sem
observância das formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie;
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem integrante do
patrimônio de qualquer das entidades referidas no artigo 1º desta Lei, ou ainda
a prestação de serviço por parte delas, por preço inferior ao de mercado;
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por
preço superior ao de mercado;
VI - realizar operação financeira sem observância das normas legais e
regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea;
VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das
formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente;
IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou
regulamento;
X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que
diz respeito à conservação do patrimônio público;
XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou
influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular;
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas,
equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição
de qualquer das entidades mencionadas no artigo 1º desta Lei, bem como o
trabalho de servidor público, empregados ou terceiros contratados por essas
entidades.”
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O artigo 10 retro-citado envolve 13 (treze) diferentes hipóteses de atos de
improbidade que importam lesão ao erário. Não é rol taxativo ou exaustivo, o que fica claro
pela utilização, no caput, do advérbio notadamente para enunciar a dúzia de incisos
exemplificativos do enunciado.
Finalmente, a terceira classe dos atos de improbidade administrativa contempla
os atos que atentam contra os princípios da administração pública, violando os deveres de
honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições, e notadamente os seguintes
(artigo 11 da Lei nº 8.429/92):
“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os
princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os
deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições, e
notadamente:
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele
previsto na regra de competência;
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e
que deva permanecer em segredo;
IV - negar publicidade aos atos oficiais;
V - frustrar a licitude de concurso público;
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da
respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de
afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço.”
O artigo 11 retro-citado envolve 07 (sete) diferentes hipóteses de atos de
improbidade que atentam contra os princípios da administração pública, violando os deveres
de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições. Da mesma forma que o
artigo 9º e o artigo 10, o rol não é taxativo ou exaustivo, o que fica claro pela utilização, no
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caput, do advérbio notadamente para enunciar a dúzia de incisos exemplificativos do
enunciado.
Pois bem.
Com base nos eventos narrados tem-se que o Requerido Antônio Divino de
Rezende realizou comportamento que permitiu o enriquecimento ilícito por parte de terceiros
(alguns servidores municipais que tiveram a jornada de trabalho reduzida sem a conseqüente
redução salarial) e causou lesão ao erário municipal de forma direta, na forma dos salários e
demais benefícios pagos a maior para os servidores e de forma indireta, em conseqüência dos
vários encargos sociais, verbas previdenciárias etc. (fls. 21 a 286 do PA nº 040), atentando
ainda contra os princípios da administração pública, violando os deveres de honestidade,
moralidade, legalidade, imparcialidade e lealdade às instituições, eis que outros servidores
públicos municipais cumpriram a jornada normal de trabalho sem o proporcional aumento dos
salários (fls. 290, 293, 294, 296 e 297do PA nº 040), o que também gerou uma desigualdade
inaceitável, ferindo, por conseguinte, as disposições contidas no artigo 9º, caput, 10, caput, e
11, caput, da Lei nº 8.429/92.
O Requerido, ao reduzir verbalmente a jornada de trabalho de alguns servidores
públicos municipais, e posteriormente assinar o Decreto Municipal nº 119/2005 com data
retroativa a 10/10/2005, após questionamento do Ministério Público, permitiu que alguns
funcionários públicos municipais de Vianópolis, de forma ilícita, ao arrepio das disposições
legais, obtivessem indevida remuneração, correspondente a jornada de trabalho superior à
efetivamente praticada, cometeu ato de improbidade administrativa que importou no
enriquecimento ilícito desses funcionários públicos, nos termos do art. 9°, caput, da Lei n°
8.429/1992, combinado com o art. 3° desse mesmo Diploma, in verbis:
Art. 3°. As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, àquele que,
mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato
de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.
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Origem : Promotoria de Justiça da Comarca de Vianópolis
Autos/Protocolo : Procedimento Administrativo nº 040
Autor(a)(es) : Ministério Público do Estado de Goiás
Requerido(a)(s) : Antônio Divino de Rezende
Natureza : Ação por Ato de Improbidade Administrativa
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Ademais, o Requerido, por ocasião de sua assunção do cargo de Prefeito do
Município de Vianópolis, efetuou a promessa solene de cumprir as leis e as Constituições
Federal e Estadual, o que não fez.
Destarte, ao fixar para os servidores públicos municipais jornada de trabalho
inferior à legalmente prevista, sem o correspondente desconto na remuneração e demais
vantagens, o Requerido cometeu ato de improbidade administrativa que importa em
enriquecimento ilícito (de terceiros, qual seja, dos referidos servidores), na medida em que
propiciou que tais servidores auferissem vantagem patrimonial indevida em razão do
exercício de cargo junto ao Município – agindo dolosamente, eis que alterou a jornada
verbalmente e depois assinou o Decreto Municipal nº 119/ de forma livre e consciente –,
concorrendo para a prática do ato de improbidade administrativa capitulado no art. 9°, caput,
da Lei n° 8.429/92.
De resto, desde já se aduz ser absolutamente improcedente eventual alegação
de que o ato de improbidade foi praticado por subordinados do então Prefeito Municipal, ora
requereido, ao largo da sua responsabilidade, até porque se aplica, quanto a esta questão, as
regras atinentes à culpa in eligendo e in vigilando.
A primeira, na medida em que os cargos de confiança são de livre provimento
do Prefeito Municipal, há responsabilidade solidária entre os auxiliares diretos do Prefeito
Municipal e este.
Assim, podendo o Prefeito prover livremente os cargos, nomeando e
exonerando os Secretários Municipais, Diretores e demais ocupantes de cargo em comissão,
conclui-se que seus ocupantes hão de merecer sua confiança,3 até porque, como bem ensina
HELY LOPES MEIRELLES,4 “a responsabilização dos servidores públicos é dever genérico da
Administração e específico de todo chefe, em relação a seus subordinados”.
3 “os cargos de provimento em comissão (cujo provimento dispensa concurso público) são aqueles vocacionados para serem ocupados em caráter transitório por pessoa de confiança da autoridade competente para preenchê-los, a qual também pode exonerar ad nutum, isto é, livremente, quem os esteja titularizando” [in MELLO, Celso Antônio Bandeira de, Curso de Direito Administrativo, 13ª ed., Malheiros, p. 276]. 4 Direito Administrativo Brasileiro, 26ª ed., Malheiros, 2001, p. 461.
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A culpa in vigilando caracteriza-se na medida em que o Chefe do Executivo
Municipal não exerceu o controle sobre os atos de seus subordinados, omitindo-se no
cumprimento de disposição expressa de lei.
Por óbvio, tais institutos do direito obrigacional, cuja gênese está no Direito
Privado, devem ser analisados sob a ótica do Direito Público.
Preciosos, ainda, os seguintes comentários à Lei Orgânica do Município de São
Paulo:5
“Os Secretários Municipais são auxiliares diretos do Prefeito, por ele nomeados
como agentes políticos sobre os quais tem o nutum, podendo exonerá-los, como
os nomeou, sem necessidade de autorização do Poder Legislativo.
[…]
A administração municipal, como toda organização governamental, tem sua
cúpula administrativa, que concebe a política a ser seguida, estabelecendo o
plano a ser executado no quatriênio ou os planos temporários ou ainda os
planos setorizados e os põe em execução, escolhendo os meios e a
oportunidade. A cabeça da estrutura do governo local formada pelos
Secretários Municipais, pelo Procurador-Geral do Município, pelos consultores
e assessores técnicos, formam a direção superior da administração municipal,
cuja direção cabe ao Prefeito, que dá a decisão, expressa ou tácita,
aprovando ou não, as medidas desse primeiro escalão.
A atribuição de decidir é do Prefeito. Os auxiliares diretos que compõem a
cúpula, coadjutores de confiança, têm competência delegada para executar o
decidido pelo Prefeito, ainda que essa decisão não seja formal. A ação da
direção superior da administração é tomada como conseqüência do querer do
Prefeito, porque, se não o quisesse, bastaria o nutum para demonstrar o
contrário.
5 GODOY, Mayr, A lei orgânica do município comentada, Livraria e Editora Universitária de Direito, 1990, p. 143-4.
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A Administração superior tem caráter subordinado e hierarquizado ao Prefeito,
razão por que este responde por ela. O Prefeito é o governo, que decide
politicamente” [sem os destaques no original].
Com a competência de sempre, aborda a questão HELY LOPES MEIRELLES:6
“As atribuições do prefeito são de natureza governamental e administrativa;
governamentais são todas aquelas de condução dos negócios públicos, de
opções políticas de conveniência e oportunidade na sua realização, e, por isso
mesmo, insuscetíveis de controle por qualquer outro agente, órgão ou Poder;
administrativas são as que visam à concretização das atividades executivas do
Município, por meio de atos jurídicos sempre controláveis pelo Poder
Judiciário e, em certos casos, pelo Legislativo local. Claro está que o prefeito
não realiza pessoalmente todas as funções do cargo, executando aquelas que
lhe são privativas e indelegáveis e traspassando as demais aos seus auxiliares e
técnicos da Prefeitura (secretários municipais, diretores de departamentos,
chefes de serviços e outros subordinados). Mas todas as atividades do
Executivo são de sua responsabilidade direta e indireta, quer pela sua
execução pessoal, quer pela sua direção ou supervisão hierárquica” [sem
os grifos no original].
Ainda, oportuno à colação decisão da pena do Douto Juiz de Direito Doutor
FLÁVIO RENATO CORREIA DE ALMEIDA, à época titular da 3ª Vara Cível da Comarca de
Maringá, no curso dos Autos de ação civil pública nº 650/2000, em que ocupava o pólo
passivo o Prefeito Municipal de Paiçandu, versando a lide especificamente sobre a omissão do
Administrador Público no cumprimento do dispositivo do art. 27, § 2º, da Constituição do
Estado do Paraná, que determina a publicação semestral dos gastos com propaganda e
publicidade, que sintetiza brilhantemente a questão posta:
“No mérito, razão assiste ao autor. Embora tenha o réu tentado afastar sua
responsabilidade sob a alegação de que o Chefe do Gabinete é quem teria a
6 Direito Municipal Brasileiro, 10ª ed., Malheiros, 1998, p. 543.
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incumbência de fazer publicar os relatórios, é sabido que toda a estrutura de
governo é escolhida, e nomeada, pelo Prefeito, nos moldes do que ocorre nas
outras esferas de poder.
Por isso, ao escolher e nomear alguém para exercer o cargo, que é de confiança,
o Chefe do Poder Executivo carreia para si toda a responsabilidade pelos atos
praticados pelo escolhido, até porque este age a mando daquele. É evidente
que, por existir a cadeia de comando, aquele que tem o poder de ordenar tem
também a responsabilidade pelos atos dos subordinados.
Na condição de administrador da coisa pública, cabe ao Prefeito velar pelo fiel
cumprimento dos deveres da Administração, como ressalta TOSHIO MUKAI:7
„Para a concretização do interesse público, que, em última análise, resume-
se no bem coletivo, os administradores públicos detêm poderes e deveres, ou
seja, meios e responsabilidades para o exercício das respectivas funções
públicas em prol de todos os que se achem no âmbito territorial ou funcional
de suas atribuições legais. O administrador público tem principalmente
deveres a serem bem e fielmente cumpridos com os poderes e recursos
materiais, financeiros e humanos ao seu dispor.‟
Assim, não se trata, como pretende o réu, de afirmar que o Prefeito deva,
pessoalmente, cuidar de todos os atos praticados pela Administração. É óbvio
que existem muitas pessoas praticado atos administrativos, mas o comando
parte do Prefeito, a quem incumbe escolher pessoas que, efetivamente,
cumpram com os deveres do administrador.
Aliás, o ato omissivo não tem a minimização que o réu pretende lhe dar. Não se
trata de „mero ato administrativo‟, porque nenhum ato administrativo é „mero‟.
À Administração compete, estritamente, cumprir a lei. E esta, no presente caso,
foi desrespeitada.”
Logo, o Requerido é responsável direto pelo ato de improbidade
administrativa que implicou o enriquecimento ilícito narrado.
7 Direito administrativo sistematizado, Saraiva, 1999, p. 154.
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Ao mesmo tempo, de se concluir que o ato supranarrado atribuído ao
Requerido Antônio Divino de Rezende também caracteriza ato de improbidade administrativa
que causou prejuízo ao erário, nos termos do artigo 10, caput e incisos I, IX e XII, da Lei n°
8.429/92.
Com efeito, os mesmos atos de redução ilícita da jornada de trabalho sem a
correspondente adequação salarial dos referidos servidores públicos, cometidos com dolo
também causaram lesão ao erário, vez que ensejaram perda patrimonial, apropriação e
malbaratamento de haveres pertencentes ao Município de Vianópolis (Lei n° 8.429/92, art.
9°), na medida em que o Requerido Antônio Divino de Rezende:
a) facilitou/concorreu para a incorporação ao patrimônio dos citados agentes
públicos, de valores integrantes do acervo patrimonial do Município (inciso I);
b) ordenou/permitiu a realização de despesas relativas ao pagamento de
pessoal, não autorizadas em lei (inciso IX); e
c) permitiu/facilitou/concorreu para que terceiros (os multicitados funcionários
públicos) enriquecessem ilicitamente (inciso XII).
Valem, aqui, os mesmos argumentos já expendidos quanto à responsabilidade
do Prefeito Municipal, inclusive a questão quanto à responsabilidade advinda da culpa in
eligendo e in vigilando.
Simultaneamente, os atos supranarrados atribuídos a Requerido Antônio
Divino de Rezende, também caracterizam atos de improbidade administrativa que causam
prejuízo ao erário, nos termos do artigo 11, caput e inciso I, da Lei n° 8.429/1992, na medida
em que atentaram contra os princípios da Administração Pública, por violarem aos deveres de
honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições, eis que os atos de
improbidade administrativa foram praticados visando fim proibido em lei. Adiante, será
explorado com mais profundidade o tema dos Princípios da Administração Pública.
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O Requerido Antônio Divino de Rezende desprezou as disposições
estabelecidas no art. 37 da Constituição Federal, as quais preconizam que:
Art. 37. A administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
§ 4º. Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos
direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o
ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da
ação penal cabível.
De fato, extrai-se da conduta do réu a ofensa aos princípios norteadores da
Administração Pública: legalidade, impessoalidade, moralidade administrativa, publicidade e
eficiência, todos previstos na regra Constituição acima mencionada.
No dizer de PAULO BONAVIDES,8
“as regras vigem, os princípios valem; o valor que neles se insere se exprime
em graus distintos. Os princípios, enquanto valores fundamentais, governam a
Constituição, o regímen, a ordem jurídica. Não são apenas a lei, mas o
Direito em toda a sua extensão, substancialidade, plenitude e abrangência”
[sem os destaques no original].
Para CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO:9
“Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer.
A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico
mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave
forma de ilegalidade ou de inconstitucionalidade, conforme o escalão do
8 Curso de Direito Constitucional, Malheiros, 5ª ed., 1994, p. 260. 9 Curso de Direito Administrativo, Malheiros, 5ª ed. 1994, p. 451.
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princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema,
subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu
arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra. Isso porque, com ofendê-
lo, abatem-se as vigas que o sustêm e alui-se toda a estrutura nelas
esforçada.”
Os princípios da Administração previstos na Constituição Federal, são
reproduzidos na Constituição Estadual e na Lei Orgânica do Município de Vianópolis, não
havendo razão para que o Requerido possa alegar ignorância ou qualquer outra circunstância
para descumpri-los.
No tocante ao princípio da legalidade infringido pelo Requerido, CELSO
ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO em magistral lição pontua que:10
“... o princípio da legalidade é o da completa submissão da Administração às
leis. Esta deve tão somente obedecê-las, cumpri-las, pô-las em prática. Daí que
a atividade de todos os seus agentes, desde o que lhe ocupa a cúspide, isto é, o
Presidente da República, até o mais modesto dos servidores, só pode ser a de
dóceis, reverentes, obsequiosos cumpridores das disposições gerais fixadas
pelo Poder Legislativo, pois esta é a posição que lhes compete no direito
brasileiro” [sem os destaques no original].
Quer significar que o ato de todo o servidor público, de todo o agente público,
deve ser realizado nos termos da Lei. Enquanto para o particular o que não é proibido é
permitido, ao administrador, e à própria Administração, somente é permitido fazer o que
a lei expressamente autoriza, ou seja, o que não é permitido pela lei é proibido.
O sempre lembrado DIÓGENES GASPARINI, aponta que:11
10 Op. cit., p. 48. 11 Direito Administrativo, 4ª ed. Saraiva, 1995, p. 6.
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“O princípio da legalidade, resumido na proposição suporta a lei que fizeste,
significa estar a Administração Pública, em toda a sua atividade, presa aos
mandamentos da lei, deles não se podendo afastar, sob pena de invalidade do
ato e responsabilidade de seu autor. Qualquer ação estatal, sem o
correspondente calço legal ou que exceda o âmbito demarcado pela lei, é
injurídica e expõe-se à anulação. Seu campo de ação, como se vê, é bem
menor do que o do particular. De fato, este pode fazer tudo o que a lei
permite, tudo o que a lei não proíbe; aquela só pode fazer o que a lei autoriza
e, ainda assim, quando e como autoriza. [Na seqüência arremata, dizendo:] A
este princípio também se submete o agente público. Com efeito, o agente da
Administração Pública está preso à lei e qualquer desvio de suas imposições
pode nulificar o ato e tornar seu autor responsável, conforme o caso,
disciplinar, civil e criminalmente” [sem os destaques no original].
Vislumbra, outrossim, ter o Requerido contrariado o princípio da moralidade
administrativa, princípio pelo qual, na lição de DIÓGENES GASPARINI:
“o ato e a atividade da Administração Pública devem obedecer não só à lei
mas a própria moral, porque nem tudo que é legal é honesto, conforme
afirmavam os romanos”.12
Referido autor, continuando a comentar o princípio da moralidade
administrativa, diz que:13
“Para Hely Lopes Meirelles, apoiado em Manoel Oliveira Franco Sobrinho, a
moralidade administrativa está intimamente ligada ao conceito de bom
administrador, aquele que, usando de sua competência, determina-se não só
pelos preceitos legais vigentes mas também pela moral comum, propugnando
pelo que for melhor e mais útil para o interesse público. A importância desse
princípio já foi ressaltada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (RDA
12 Direito Administrativo, 4ª ed. Saraiva, 1995, p. 7. 13 Op. cit., p. 7.
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89/134), ao afirmar que a moralidade administrativa e o interesse coletivo
integram a legalidade do ato administrativo”.
Discorrendo sobre o tema, CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO assevera
que:14
“… compreendem-se em seu âmbito, como é evidente, os chamados princípios
da lealdade e da boa-fé, tão oportunamente encarecidos pelo mestre espanhol
Jesus Gonzales Peres em monografia preciosa. Segundo os cânones da
lealdade e boa-fé, a Administração haverá de proceder em relação aos
administrados com sinceridade e lhaneza, sendo-lhe interdito qualquer
comportamento astucioso, eivado de malícia, produzido de maneira a
confundir, dificultar ou minimizar o exercício de direitos por parte dos
cidadãos”.
MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO, citando Manoel de Oliveira Franco
Sobrinho, de modo mais radical enfatiza que:15
“Mesmo os comportamentos ofensivos da moral comum implicam ofensa ao
princípio da moralidade administrativa”.
E mais adiante sentencia:16
“Em resumo, sempre que em matéria administrativa se verificar que o
comportamento da Administração ou do administrado que com ela se
relaciona juridicamente, embora em consonância com a lei, ofende a moral, os
bons costumes, as regras de boa administração, os princípios de justiça e de
eqüidade, a idéia comum de honestidade, estará havendo uma ofensa ao
princípio da moralidade administrativa”.
14 Curso de Direito Administrativo, 5ª ed., 1994, Malheiros Editores, p. 59-60. 15 Direito Administrativo, 8ª ed., 1997, Atlas, p. 71. 16 Op. cit., p. 71.
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Assim é a atitude do Requerido, ao desrespeitar, deliberadamente, às
determinações legais, reduzindo verbalmente e por decreto, a jornada de trabalho sem a
necessária compensação da remuneração dos servidores públicos.
Portanto, restou claro e evidente, a ocorrência de atos atentatórios aos
princípios da legalidade, moralidade administrativa e eficiência da Administração Pública,
praticado pelo Requerido, considerado ato de improbidade administrativa, na medida em que,
com seu atuar, violou aos deveres de legalidade e lealdade às instituições (especificamente, ao
Município de Vianópolis), previsto no art. 11, caput, da Lei n. 8.429/1992.
Todavia, não sem antes em dizer que dentre os deveres do servidor público,
ressai o dever de probidade, que segundo HELY LOPES MEIRELLES:17
“está constitucionalmente integrado na conduta do administrador público,
como elemento necessário à legitimidade de seus atos”
Discorrendo sobre o dever de probidade, DIÓGENES GASPARINI pondera que:18
“Esse dever impõe ao agente público o desempenho de suas atribuições sob
pautas que indicam atitudes retas, leais, justas, honestas, notas marcantes da
integridade do caráter do homem. É nesse sentido, do reto, do leal, do justo e
do honesto que deve orientar o desempenho do cargo, função ou emprego
junto ao Estado ou entidade por ele criada, sob pena de ilegitimidade de suas
ações”.
Na lição do insigne administrativista,19
“os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou
não, contra a Administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos 17 Op. cit., p. 91. 18 Op. cit., p. 51. 19 Op. cit., p. 7.
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poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de
empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação
ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de 50% do
patrimônio ou receita anual, serão punidos com base na Lei federal n.
8.429/92”.
Com efeito, a Lei 8.429/1992, cujo teor do art. 1º é acima reproduzido pelo
ilustre jurista, estabelece no que consistem os atos de improbidade administrativa, qual é a sua
punição e quais são seus responsáveis, legitimando o Ministério Público, em seu artigo 17, à
propositura de ação civil, com rito ordinário, contra estes últimos.
No caso em apreço, verifica-se que a conduta do Requerido violou os deveres
de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições, in casu, o Município de
Vianópolis, na medida em que, ilegal e arbitrariamente, reduziu a jornada de trabalho sem a
contrapartida, qual seja, redução de vantagens, dos funcionários públicos municipais de
Vianópolis.
Também vale consignar as disposições do art. 4º da Lei 8.429/1992 no tocante
a conduta que se espera de qualquer agente público:
Art. 4º. Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a
velar pela estrita observância dos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos.
A punição do agente público que viola, deliberadamente, os princípios
basilares da Administração Pública é absolutamente necessária e deve ser exemplar, ainda
mais em um momento que se busca o resgate da seriedade com o trato da coisa pública, em
que se objetiva a probidade no serviço público e a responsabilização dos funcionários
descumpridores de seus deveres.
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2.4. – Das sanções aplicáveis ao Réu
A Lei nº 8.429/92 não se preocupa em definir crimes. Os atos tipificados nos
artigos 9°, 10 e 11 não constituem crimes no âmbito da referida lei. Muitas das condutas ali
descritas são de natureza criminal, assim definidas, porém, em outras leis, a exemplo do
Código Penal, do Decreto-Lei 201, da Lei n° 8.666/93 etc.
Não sendo crimes, têm, contudo, uma sanção, de natureza política ou civil,
cominada na lei sob comentário, independentemente das sanções penais, civis e
administrativas previstas na legislação específica.
Assim, os atos de improbidade administrativa praticados pelo Réu e que
importaram em enriquecimento ilícito estão sujeitos às seguintes cominações (artigo 9º c/c
artigo 12, inciso I, ambos da Lei nº 8.429/92):
a) perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio;
b) ressarcimento integral do dano, quando houver;
c) perda da função pública;
d) suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos;
e) pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial;
f) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez
anos.
Em relação ao prejuízo ao erário, as sanções aplicáveis são (artigo 10 c/c artigo
12, inciso II, ambos da Lei nº 8.429/92):
a) ressarcimento integral do dano, se houver;
b) perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se
concorrer esta circunstância;
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Referência
Origem : Promotoria de Justiça da Comarca de Vianópolis
Autos/Protocolo : Procedimento Administrativo nº 040
Autor(a)(es) : Ministério Público do Estado de Goiás
Requerido(a)(s) : Antônio Divino de Rezende
Natureza : Ação por Ato de Improbidade Administrativa
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c) perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito
anos;
d) pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano;
e) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditício, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de
cinco anos
Finalmente, a prática dos atos de improbidade praticados pelo Réu, que
atentaram contra a moralidade e demais princípios da administração, acarretam como sanção
(artigo 11 c/c artigo 12, inciso III, ambos da Lei nº 8.429/92):
a) ressarcimento integral do dano;
b) perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco
anos;
c) pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida
pelo agente;
d) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefício ou
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três
anos.
Forçoso reconhecer, que neste lamentável fato, reprovável ao extremo foi o
comportamento do Réu.
2.5. – Da Prescrição
Cumpre-nos referir ao prazo para ajuizamento das ações destinadas a levar a
efeito as sanções previstas na lei 8.429/92. Segundo esta, as mencionadas ações podem ser
propostas até cinco anos após o término do exercício de mandato, cargo em comissão ou
função de confiança (artigo 23, inciso I).
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Nos casos de exercício de cargo efetivo ou emprego, devem as ações ser
propostas dentro do prazo prescricional previsto na lei específica para faltas disciplinares
puníveis com demissão a bem do serviço público (artigo 23, inciso II).
No caso em comento se percebe que a presente ação não se encontra atingida
pelo instituto da prescrição, posto que o fato ilícito ocorreu a partir de 10/10/ e o mandato do
Réu Antônio Divino de Resende, como Prefeito Municipal de Vianópolis, findou-se aos
31/12/2.008.
III – DO PEDIDO
ANTE O EXPOSTO DE TAIS CONSIDERAÇÕES, requer o Ministério
Público do Estado de Goiás, por seu Representante Legal ao final assinado, no uso de suas
atribuições:
a) Seja a presente petição recebida, autuada e processada na forma e no
rito preconizado no artigo 17 da Lei n° 8.429/92, com a alteração produzida através da
Medida Provisória nº 2.225-45, de 04 de setembro de 2001 e demais legislações atinentes à
matéria, juntando para tanto os documentos que acompanham essa inicial;
b) Digne-se seja o Réu notificado para oferecer manifestação por escrito,
instruindo-a, se assim lhe aprouver, com documentos e justificações, dentro do prazo de
quinze dias;
c) Recebida ou não a manifestação do Réu, seja aceita a presente petição e
citado pessoalmente, no local inicialmente indicado para, querendo, vir responder aos termos
da presente ação no prazo legal, sob pena de aplicação dos consectários jurídicos legais da
revelia, o que desde já requer, produzindo as provas que porventura possuir, acompanhando-a
até final julgamento, facultando ao Oficial de Justiça para a comunicação processual, a
permissão estampada no artigo 172, § 2°, do Código de Processo Civil;
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No sentido do recebimento, julgados do Egrégio Tribunal de Justiça de Goiás e
de Minas Gerais, respectivamente:
ORIGEM.....: 2A CAMARA CIVEL FONTE......: DJ 159 de 22/08/2008
ACÓRDÃO....: 05/08/2008 LIVRO......: (S/R)
PROCESSO...: 200702391250 COMARCA....: TURVANI
A
RELATOR....: DES. ZACARIAS NEVES COELHO
RECURSO....: 56580-0/180 - AGRAVO DE INSTRUMENTO
EMENTA.....: "AGRAVO DE INSTRUMENTO. ACAO CIVIL PUBLICA POR ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA C/C DECLARACAO DE
INCONSTITUCIONALIDADE INCIDENTAL. LEGITIMIDADE ATIVA DO
MINISTERIO PUBLICO. COMPETENCIA. RECEBIMENTO DA INICIAL. ART.
17 DA LEI 8.429/92. 1 - A JURISPRUDENCIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL FIRMOU ENTENDIMENTO DE QUE E POSSIVEL O CONTROLE
DE CONSTITUCIONALIDADE EM ACAO CIVIL PUBLICA, DESDE QUE DE
FORMA INCIDENTAL. 2 - O MINISTERIO PUBLICO E PARTE LEGITIMA
PARA PROPOR ACAO CIVIL PUBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA E TAMBEM PARA PROVOCAR O CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO, SEJA NA QUALIDADE DE PARTE OU
DE FISCAL DA LEI (ART. 5 DA LEI N. 7.347/85 E ART. 17 DA LEI N.8.429 /92).
3 - A COMPETENCIA PARA O PROCESSAMENTO DA ACAO CIVIL PUBLICA
E A DO FORO DO LOCAL DO DANO (ART. 2 DA LEI 7.347/85). 4 -
VERIFICANDO O JULGADOR INDICIOS SUFICIENTES DA EXISTENCIA DO
ATO DE IMPROBIDADE (ART. 17, PARAGRAFO 6, LEI N. 8.429/92), DEVE
RECEBER A PETICAO INICIAL DA ACAO CIVIL PUBLICA E MANDAR
PROCESSA-LA, DEPOIS DE FACULTAR AO REU A OPORTUNIDADE DE
PREVIA MANIFESTACAO."
DECISÃO....: "ACORDAM OS INTEGRANTES DA 3A TURMA JULGADORA DA 2A
CAMARA CIVEL DO EGREGIO TRIBUNAL DE JUSTICA DO ESTADO DE
GOIAS, POR UNANIMIDADE DE VOTOS, EM CONHECER DE AMBOS OS
RECURSOS E NEGAR-LHES PROVIMENTO, NOS TERMOS DO VOTO DO
RELATOR."
PARTES.....: AGRAVANTE: EDILSON APARECIDO DA SILVA E OUTROS
AGRAVADO: MINISTERIO PUBLICO
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Número do processo 1.0460.05.019071-5/003(1)
Relator: CÉLIO CÉSAR PADUANI
Data do Julgamento: 10/07/2008
Data da Publicação: 22/07/2008
Ementa:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RECEBIMENTO DE PETIÇÃO
INICIAL. INDÍCIOS DE IMPROBIDADE. SUFICIÊNCIA. RECURSO A QUE SE NEGA
PROVIMENTO. 1. Não merece reparo a decisão interlocutória que recebe a petição inicial de ação
civil pública, determinando a citação da parte contrária, por vislumbrar a existência de indícios dos atos
de improbidade administrativa narrados na inicial, não sendo de se exigir, nesta fase preliminar, um
maior aprofundamento dos fatos discutidos, nem tampouco extensa fundamentação. 2. Nega-se
provimento ao recurso.
Súmula: NEGARAM PROVIMENTO.
Número do processo 1.0529.07.018606-7/002(1)
Relator: WANDER MAROTTA
Data do Julgamento: 22/04/2008
Data da Publicação: 05/06/2008
Ementa:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA - IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - COMPRA DE MATERIAL SEM
O DEVIDO PROCESSO DE LICITAÇÃO - MATÉRIA DE PROVA. Na ação civil pública, como em
qualquer outra ação civil, cabe ao Juiz verificar as condições da ação e os pressupostos processuais,
que, estando presentes, ensejam o recebimento da inicial, e nada mais. Não cabe, nesta fase, discussões
aprofundadas a respeito da autoria e da existência do ato de improbidade administrativa passível de
sanção, questões de mérito a serem analisadas após a instrução processual. O agravo só pode atacar a
matéria efetivamente decidida, sendo vedada a sua utilização como via para conhecimento originário de
questões não apreciadas na origem.
Súmula: NEGARAM PROVIMENTO.
d) Seja o pedido julgado procedente em todos os seus aspectos para condenar o
Réu Antônio Divino de Rezende nas sanções civis relacionadas nos artigos 12, incisos I, II e
III pela prática das infrações descritas nos artigos 9º, 10 e 11, todos da Lei nº 8.429/92;
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e) Seja o Réu condenado, também, ao pagamento das custas e emolumentos
processuais, como ônus da sucumbência;
f) A cientificação da Prefeitura Municipal de Vianópolis, na pessoa do atual
Prefeito Municipal, para, querendo, integrar a lide, nos termos do artigo 17 § 3º, da Lei nº
8.429/92, devendo ser observado que essa cientificação deverá preceder a citação do réu.
Nesse sentido julgado do Egrégio Tribunal e Justiça do Estado de Minas
Gerais:
Número do processo: 1.0000.00.279333-9/000(1)
Relator: PEDRO HENRIQUES
Data do acordão: 13/09/2002
Data da publicação: 22/02/2003
Ementa:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA PROMOVIDA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO - IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA - COMISSÃO MUNICIPAL DE LICITAÇÃO - EMPRESA HABILITADA -
REQUISITOS DO EDITAL - PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - PREJUÍZO AO
ERÁRIO - SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA - LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO -
ARTIGO 17, § 3º, DA LEI N.º 8.429/92 - INEXISTÊNCIA DE CITAÇÃO DO MUNICÍPIO -
SENTENÇA CASSADA, DE OFÍCIO. Em se tratando de ação civil pública promovida pelo
Ministério Público em face de membros de Comissão Municipal de Licitação por suposto ato de
improbidade administrativa, consistente na violação aos termos de edital e aos princípios da
Administração Pública, com prejuízo aos cofres públicos, com fulcro na Lei nº 8.429/92, mister a
citação, como litisconsorte necessário, da pessoa jurídica de direito público interessada, 'in casu', o
Município, a teor do § 3º do artigo 17 daquele diploma, cuja ausência acarreta, em sede revisora e de
ofício, a cassação da sentença, para que se proceda àquela formalidade essencial.
Súmula: CASSARAM A SENTENÇA, DE OFÍCIO.
Salienta-se que nos termos legais o Município não pode defender o réu,
sendo-lhe permitido somente defender a validade do ato.
Requer e protesta, ainda, provar o alegado por qualquer meio de prova
admitida em direito, máxime provas testemunhais (cujo rol será depositado em cartório
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Natureza : Ação por Ato de Improbidade Administrativa
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oportunamente), periciais e documentais, e, inclusive pelo depoimento pessoal do réu,
pleiteando desde já a juntada dos documentos anexos, constantes do Procedimento
Administrativo nº 040.
Dá-se a causa o valor de R$ 12.0000 (doze mil reais) para efeitos meramente
fiscais.
Gabinete da Promotoria de Justiça da Comarca de Vianópolis-Goiás, em 1º de
setembro de 2.010.
Promotor de Justiça Maurício Alexandre Gebrim
PGJ/GO nº 489