17
1 Os Guarani s Guarani s Guarani s Guarani O povo indígena Guarani está localizado na Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Brasil. Em nosso país, as aldeias Guarani são encontradas em sete estados (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul). A população Guarani no Brasil está estimada em 50.000 indivíduos 1 . As disputas envolvendo seus territórios e a morosidade do governo em proceder as demarcações geram uma situação de insegurança que ameaça a sustentabilidade física e cultural do povo Guarani e os coloca em situação de extrema vulnerabilidade. Essa realidade é ainda pouco conhecida. A presença indígena nas regiões Sul e Sudeste é ignorada por grande parte da opinião pública. Os índios dessas regiões são alvo do preconceito e discriminação, sendo sua identidade étnica freqüentemente questionada. Os Guarani compõe a maior população indígena presente na Mata Atlântica. A garantia de seus territórios representa mais uma forma de proteção da diversidade biológica e sociocultural da Mata Atlântica, complementando o papel desempenhado pelas unidades de conservação. No entanto, a sua contribuição para a conservação de um dos biomas mais ricos e mais ameaçados do mundo é ainda desconsiderada. O Monitoramento Terras Guarani desenvolvido pela CPI-SP objetiva contribuir para evidenciar a realidade e subsidiar a ação dos índios e seus parceiros na defesa dos direitos territoriais do povo Guarani. 1 Fonte: CIMI, “Povo Guarani, grande povo”, 2008.

Terras Guarani - mar o 2009 · Em 2008, observou-se um avanço na condução dos processos de demarcação das terras Guarani. As portarias declaratórias das Terras Indígenas Ribeirão

  • Upload
    hadan

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

1

OOOOs Guarani s Guarani s Guarani s Guarani

O povo indígena Guarani está localizado na Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Brasil. Em nosso país, as aldeias Guarani são encontradas em sete estados (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul). A população Guarani no Brasil está estimada em 50.000 indivíduos1. As disputas envolvendo seus territórios e a morosidade do governo em proceder as demarcações geram uma situação de insegurança que ameaça a sustentabilidade física e cultural do povo Guarani e os coloca em situação de extrema vulnerabilidade. Essa realidade é ainda pouco conhecida. A presença indígena nas regiões Sul e Sudeste é ignorada por grande parte da opinião pública. Os índios dessas regiões são alvo do preconceito e discriminação, sendo sua identidade étnica freqüentemente questionada. Os Guarani compõe a maior população indígena presente na Mata Atlântica. A garantia de seus territórios representa mais uma forma de proteção da diversidade biológica e sociocultural da Mata Atlântica, complementando o papel desempenhado pelas unidades de conservação. No entanto, a sua contribuição para a conservação de um dos biomas mais ricos e mais ameaçados do mundo é ainda desconsiderada. O Monitoramento Terras Guarani desenvolvido pela CPI-SP objetiva contribuir para evidenciar a realidade e subsidiar a ação dos índios e seus parceiros na defesa dos direitos territoriais do povo Guarani.

1 Fonte: CIMI, “Povo Guarani, grande povo”, 2008.

2

Índice Índice Índice Índice Terras Guarani do Sul e Sudeste do Brasil

Página 3

Situação Fundiária

Página 4

Ações Judiciais

Página 6

Situações de Disputa

Página 13

Créditos

Página 17

3

Terras Guarani Terras Guarani Terras Guarani Terras Guarani nnnno Sul e Sudeste do Brasilo Sul e Sudeste do Brasilo Sul e Sudeste do Brasilo Sul e Sudeste do Brasil

Nas regiões Sul e Sudeste do Brasil estão localizadas 109 terras Guarani sendo 93 com população exclusiva Guarani e 13 com população Guarani, Kaingang, Xokleng e Xetá. Esse montante representa 17% do total de terras indígenas existentes no País (630 terras)2.

Número de Terras GuaraniNúmero de Terras GuaraniNúmero de Terras GuaraniNúmero de Terras Guarani por UFpor UFpor UFpor UF Região Sul e SudesteRegião Sul e SudesteRegião Sul e SudesteRegião Sul e Sudeste

Data: fevereiro de 2009 Fonte: CPI-SP

2 Fonte: Instituto Socioambiental (consultado em 1/02/2009): http://pib.socioambiental.org/pt/c/0/1/2/situacao-juridica-das-tis-hoje

RSRSRSRS

SPSPSPSP

PRPRPRPR

SCSCSCSC

MGMGMGMG

RJRJRJRJ

ESESESES

GOGOGOGO

MSMSMSMS

MTMTMTMT

BABABABA

18

21

29 7

2

32

4

Situação FundiáriaSituação FundiáriaSituação FundiáriaSituação Fundiária Em fevereiro de 2008, apenas 24 das 109 terras Guarani encontravam-se homologadas sem qualquer pendência. Quase metade delas (50 terras) não foi sequer identificada.

Situação Fundiária Situação Fundiária Situação Fundiária Situação Fundiária Terras Guarani Terras Guarani Terras Guarani Terras Guarani –––– Região Sul e SuRegião Sul e SuRegião Sul e SuRegião Sul e Sudestedestedestedeste

UFUFUFUF TotalTotalTotalTotal

HomologadaHomologadaHomologadaHomologada com registro com registro com registro com registro no CRI e/ou no CRI e/ou no CRI e/ou no CRI e/ou

SPUSPUSPUSPU

HomologadaHomologadaHomologadaHomologada Reservada ou Reservada ou Reservada ou Reservada ou Dominial Dominial Dominial Dominial IndígenaIndígenaIndígenaIndígena

DeclaradaDeclaradaDeclaradaDeclarada IdentificadaIdentificadaIdentificadaIdentificada Em Em Em Em

IdentificaçãoIdentificaçãoIdentificaçãoIdentificação A A A A

IdentificarIdentificarIdentificarIdentificar

ES 2 1 1

PR 21 5 1 3 1 11

RJ 7 3 2 2

RS 32 8 1 3 1 4 15

SC 18 3 2 3 4 1 5

SP 29 10 1 1 17

TTTTotalotalotalotal 109109109109 30303030 2222 8888 7777 5555 7777 50505050

Dados de fevereiro de 2009 Fonte: CPI-SP, Funai, CIMI e ISA

Das 40 terras Guarani homologadas ou reservadas, 11 encontram-se em processo de revisão dos seus limites e 5 aguardam o início desse processo.

Terras GuaranTerras GuaranTerras GuaranTerras Guarani Homologadasi Homologadasi Homologadasi Homologadas com Pendênciascom Pendênciascom Pendênciascom Pendências Região Sul e SudesteRegião Sul e SudesteRegião Sul e SudesteRegião Sul e Sudeste

Homologas Homologas Homologas Homologas ---- Revisão de limitesRevisão de limitesRevisão de limitesRevisão de limites TotalTotalTotalTotal SPSPSPSP RJRJRJRJ ESESESES PRPRPRPR SCSCSCSC RSRSRSRS

Em processo de revisão de limites 11 6 2 1 1 1

Com reivindicação de revisão de limites 5 1 1 3

Número de terrasNúmero de terrasNúmero de terrasNúmero de terras 16161616 7777 2222 0000 1111 2222 4444

Dados de fevereiro de 2009 Fonte: CPI-SP, Funai, CIMI e ISA

Dentre as 73 terras indígenas homologadas no governo Lula3, apenas duas são Guarani: a TI M’biguaçu, em Santa Catarina, homologada no ano de 2003 e a TI Canta Galo, no Rio Grande do Sul, homologada em 2007.

3 Dados do Instituto Socioambiental (ISA) - Gestão do Presidente Luís Inácio Lula da Silva (01/ 2003 a 08/ 2008).

5

Em 2008, observou-se um avanço na condução dos processos de demarcação das terras Guarani. As portarias declaratórias das Terras Indígenas Ribeirão Silveira (São Paulo)4 e Morro dos Cavalos5 (Santa Catarina) foram publicadas pelo Ministério da Justiça no Diário Oficial da União. Nesse mesmo ano, a Funai aprovou os relatórios de identificação e delimitação de quatro terras Guarani em Santa Catarina: Morro Alto, Pindoty, Pirai e Tarumã6. Atualmente, estão em curso GTs de identificação de sete terras Guarani e GTs de revisão de limites de onze terras Guarani.

4 Portaria declaratória do Ministério da Justiça Nº 1.236, publicada em 1 de julho de 2008. 5 Portaria declaratória do Ministério da Justiça Nº 771, publicada em 22 de abril de 2008. 6 Despachos 16, 17, 18,19 publicados no DOU em 12 de maio de 2008.

6

Ações JudiciaisAções JudiciaisAções JudiciaisAções Judiciais As terras Guarani são alvo de disputas de diversas ordens. Em fevereiro de 2009, a CPI-SP tinha informação de disputas envolvendo 53 terras Guarani no Sul e Sudeste, ou seja, metade dos territórios localizados nessa região. Parte significativa de tais disputas resulta em ações judiciais. Em fevereiro de 2009, a CPI-SP tinha conhecimento da existência de 83 ações judiciais em curso, envolvendo pelo menos 44 das 109 terras Guarani do Sul e Sudeste. As ações correm em diferentes instâncias do Poder Judiciário, até mesmo no Supremo Tribunal Federal, onde aguardam julgamento ações envolvendo duas terras habitadas pelos Guarani.

NNNNúmero de úmero de úmero de úmero de Terras Guarani com Ações JudiciaisTerras Guarani com Ações JudiciaisTerras Guarani com Ações JudiciaisTerras Guarani com Ações Judiciais Região SRegião SRegião SRegião Sul e Sudesteul e Sudesteul e Sudesteul e Sudeste

Dados referentes às ações em curso Data: fevereiro de 2009 Fonte: CPI-SP

RSRSRSRS

SPSPSPSP

PRPRPRPR

SCSCSCSC

MGMGMGMG

RJRJRJRJ

ESESESES

GOGOGOGO

MSMSMSMS

MTMTMTMT

BABABABA

5555

13131313

7777

15151515 2222

2222

7

Dentre as 83 ações identificadas, 40 foram propostas em defesa dos direitos dos Guarani, enquanto 43 são contrárias. O Ministério Público Federal é requerente de 21 ações em defesa dos Guarani, o que o qualifica como principal e mais importante defensor dos direitos territoriais Guarani no âmbito do Poder Judiciário. Em seguida aparece a Fundação Nacional do Índio que figura como requerente de 13 ações favoráveis, sendo que duas delas foram propostas em parceria com o Ministério Público Federal. Dentre os propositores de ações contrárias aos índios, estão empresas como a Aracruz Celulose (no Espírito Santo) e a Odebrecht Madeireira (em Santa Catarina), o Movimento da Defesa da Propriedade e da Dignidade (que representa fazendeiros de Santa Catarina) e a Associação Catarinense de Preservação da Natureza (ONG ambientalista com sede em Blumenau – SC). Foram encontradas também ações contrárias aos Guarani propostas pelos Estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, os município de Saudades e Cunha Porã (ambos em Santa Catarina) e a Fundação do Meio Ambiente (órgão ambiental do governo de Santa Catarina).

Tipo de Ações LevantadasTipo de Ações LevantadasTipo de Ações LevantadasTipo de Ações Levantadas Terras GuarTerras GuarTerras GuarTerras Guarani ani ani ani ---- Região Sul e SudesteRegião Sul e SudesteRegião Sul e SudesteRegião Sul e Sudeste

AçãoAçãoAçãoAção

Possessória 39

Ação Civil Pública 23

Ação Ordinária 11

Medida Cautelar 4

Ação cautelar 3

Ação Civil Originária 2

Ação Popular 1

TotalTotalTotalTotal 88883333 Dados de fevereiro de 2009 Fonte: CPI-SP

8

Ações no Ações no Ações no Ações no Supremo Tribunal FederalSupremo Tribunal FederalSupremo Tribunal FederalSupremo Tribunal Federal Atualmente há três ações no Supremo Tribunal Federal envolvendo duas terras habitadas pelos Guarani. Terra Indígena Ibirama LaTerra Indígena Ibirama LaTerra Indígena Ibirama LaTerra Indígena Ibirama La----KlãnõKlãnõKlãnõKlãnõ

Duas das ações no STF envolvem a TI Ibirama La-Klãnõ, habitada pelos povos Kaingang, Xokleng e Guarani e localizada nos municípios José Boiitex, Itaiópolis e Vítor Meireles, em Santa Catarina. O alvo dos questionamentos é o procedimento de revisão de limites da terra indígena que, por meio da Portaria nº 1.128 de 13.08.03 (DOU 14.08.03) do Ministério da Justiça, declarou a área com 37.108 hectares.

Ação Civil Originária 1100

Proposta em 2007 por mais de trezentos particulares em face da Funai, da União Federal e da Comunidade Indígena de Ibirama Lá-Klanô. Os requerentes pediram a anulação da Portaria nº 1.128 de 13.08.03 do Ministério da Justiça alegando ilegalidades no procedimento administrativo de demarcação. Liminar foi concedida pelo juízo de primeira instância, que determinou a suspensão dos estudos para a demarcação da área indígena. O julgamento é do âmbito de competência do STF pelo fato de se chocarem interesses da União Federal e do Estado de Santa Catarina que ingressou no processo n.º 2003.72.01.006083-9 da Justiça Federal de Santa Catarina em 2007, como assistente dos autores. Em novembro de 2008, os autores se manifestaram sobre as contestações apresentadas pela Funai e pela União Federal, e desde de 19 de novembro os autos estão conclusos ao relator.

Ação Cautelar 2031

Ajuizada pela União Federal e pela Funai em 2008, a ação visa garantir a continuidade do procedimento administrativo de revisão de limites de Ibirama La-Klanõ que foi suspenso em 2007 por liminar na ACO 1100 (referida acima).

9

Terra Indígena NonTerra Indígena NonTerra Indígena NonTerra Indígena Nonooooaiaiaiai

A TI Nonoai, localizada no Rio Grande do Sul, é habitada por índios Guarani e Kaingang. Foi demarcada em 1911, com 34.907 hectares. No entanto, nesse mesmo ano, o Governo do Rio Grande do Sul declarou a área de utilidade pública e constitui a Reserva Florestal Nonoai, com 19.998 hectares. O decreto estadual nº 658, de 10/03/49, alterou a Reserva Florestal Nonoai, reduzindo-a em 2.499 hectares, loteados e distribuídos a 143 pequenos agricultores. Em 1968, a resolução nº 1.605, de 24/10, da Assembléia Legislativa, volta atrás e reconhece a legitimidade da demarcação da terra indígena de 19117.

Ação Civil Originária 442

Ajuizada pela Funai em face do Estado do Rio Grande do Sul, em 1991, a ação pede a inconstitucionalidade do Decreto Estadual nº 658, de 10 de março de 1949, alterado parcialmente pelo Decreto Estadual nº 13.795, de 10 de julho de 1962 que criou a Reserva Florestal de Nonoai dentro da Terra Indígena Nonoai. O julgamento é do âmbito de competência do STF pelo fato de se chocarem interesses da União Federal e do Estado do Rio Grande do Sul. Em março de 2009, os autos estavam conclusos ao relator.

Ações Ações Ações Ações Civis PúblicasCivis PúblicasCivis PúblicasCivis Públicas Em março de 2009, a CPI-SP tinha conhecimento de 22 ações civis públicas em curso propostas em defesa dos Guarani, o que representa 55% das ações favoráveis. As ações envolvem 16 terras indígenas dos estados de Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Há também uma ação civil pública contrária aos interesses dos Guarani da Terra Indígena Ibirama La-Klãnõ proposta pela entidade ambientalista Associação Catarinense de Preservação da Natureza e a Fundação do Meio Ambiente, órgão do governo do Estado de Santa Catarina. Esta ação pede a revisão do laudo antropológico de identificação da Terra Indígena Ibirama Lã-Klanõ; a nulidade da Portaria n. 1128/03 do Ministério da Justiça e a

7 Funai - http://www.Funai.gov.br/mapas/fundiario/rs/rs-nonoai.htm

10

exclusão da Área de Relevante Interesse Ecológico - Serra da Abelha e a Reserva Biológica Estadual do Sassafrás da nova e pretendida delimitação da terra indígena. Do total de 22 ações em defesa dos direitos dos índios, 12 foram propostas exclusivamente pelo Ministério Público Federal, 01 foi proposta Fundação Nacional do Índio e 02 ações civis públicas foram propostas em parceria entre MPF e Funai.

Ações Civis Públicas em Defesa dos Direitos GuaraniAções Civis Públicas em Defesa dos Direitos GuaraniAções Civis Públicas em Defesa dos Direitos GuaraniAções Civis Públicas em Defesa dos Direitos Guarani

AutorAutorAutorAutor Terras Guarani (UF)Terras Guarani (UF)Terras Guarani (UF)Terras Guarani (UF)

Ministério Público Federal (MPF) Jaraguá (SP) Barragem (Tenondé Porã) (SP) Krukutu (SP) Piaçagüera (SP) Renascer (SP) Laranjinnha (PR) Pinhalzinho (PR) São Jerônimo (PR) Araçaí (SC) Cambirela (SC) Ibirama Lã-Klanõ (SC) M’biguaçu (SC) Campo Bonito (SC e RS) Passo da Instância (RS)

Fundação Nacional do Índio (Funai) Tupiniquim (ES)

MPF e Funai Piaçagüera (SP) Rio Branco – Itanhaém (SP)

Associação Nacional dos Atingidos por Barragens (ANAB)

Laranjinnha (PR) Pinhalzinho (PR) São Jerônimo (PR)

Comunidade Indígena da TI Lã Klanõ Ibirama Lã-Klanõ (SC)

ONG Liga Ambiental Laranjinnha (PR) Pinhalzinho (PR) São Jerônimo (PR)

ONG Meio Ambiente Equilibrado Laranjinnha (PR) Pinhalzinho (PR) São Jerônimo (PR)

Dados: de fevereiro de 2009 Fonte: CPI-SP

Estas ações tentam proteger os índios e seus territórios que se encontram em situações de perigo e risco (potencial ou efetivo). Em geral, estão relacionadas a grandes empreendimentos, estatais ou privados, como é o caso do Plano de Uso da Bacia do Rio Tibagi, no Estado do Paraná, que afetaria as Terras Indígenas Laranjinha, Pinhalzinho e São Jerônimo. Há 09 ações civis públicas em andamento

11

e elas requerem reconhecimento das deficiências nos estudos de impactos socioambientais para a construção das usinas hidrelétricas de Telêmaco Borba e Mauá. São autores dessas ações: o Ministério Público Federal e as organizações Liga Ambiental, Meio Ambiente Equilibrado e Associação Nacional dos Atingidos por Barragens.

Ações Ações Ações Ações PossessóriasPossessóriasPossessóriasPossessórias O levantamento da CPI-SP identificou, em março de 2009, 39 ações possessórias em curso, sendo 11 favoráveis e 28 contrárias aos Guarani. A maioria das ações contrárias é movida por particulares. No entanto, existem cinco ações possessórias de iniciativa de governos municipais, estaduais ou instituições públicas. Em São Paulo, a Fundação para a Conservação e a Produção Florestal do Estado de São Paulo e o próprio Estado de São Paulo movem ação de reintegração de posse em face da Funai, a fim de impedir a construção de uma escola indígena na aldeia Peguaoty, alegando que a área do Parque Estadual Intervales é de propriedade da Fundação. Em Santa Catarina, o Município de Joinville é autor de ação de reintegração de posse envolvendo a TI Yaka Porã. O município requer área que alega ser sua. Na maioria das possessórias a FUNAI configura o pólo passivo das demandas. Foram encontradas algumas ações em que lideranças também são réus, ou que a comunidade indígena é genericamente identificada. Já nas ações em defesa dos direitos Guarani, a FUNAI propôs exclusivamente seis ações. Em parceria com o Ministério Público Federal, a União Federal e a própria comunidade indígena, a FUNAI também é responsável pela propositura de mais duas possessórias. As outras duas ações em defesa foram propostas pelo Ministério Público Federal.

12

Ações Possessórias Contrárias aAções Possessórias Contrárias aAções Possessórias Contrárias aAções Possessórias Contrárias aos Direitos Indígenasos Direitos Indígenasos Direitos Indígenasos Direitos Indígenas

Terra Terra Terra Terra Indígena (UF)Indígena (UF)Indígena (UF)Indígena (UF)

RequerenteRequerenteRequerenteRequerente Ano Ano Ano Ano

Nonoai (RS) Aristides Schvartz 1991 Não especificada (SP) * Joanna Jacques 1991 Pinhalzinho (PR) Funai 1994 Não especificada ( (RS) Estado do Rio Grande do Sul 1994 Não especificada ( (SP) João Rino Mendes 1996 Ibirama Lã-Klanõ (SC) Modo Battistella Reflorestamento S/A – Mobasa, Battistella

Indústria e Comércio Ltda. 1998

Ibirama Lã-Klanõ (SC) Madeireira Oldebrecht LTDA. 1998 Nonoai (RS) Agro Pastoril Alto Uruguai Ltda. 1999 Nonoai (RS) Ceval Alimentos S/A Renascer (SP) Hiromi Tozaki 2000 Não especificada (SP) Lino Koskoday 2000 Peguaoty (SP) Fundação para a Conservação e a Produção Florestal do Estado de

São Paulo 2001

Sambaqui (PR) Âncora Agro Florestal LTDA, Âncora Empreendimentos e Participações S/A

2002

Ibirama Lã-Klanõ (SC) Manoel Marchetti Ind. 2003 Laranjinha (PR) Funai 2004 não especificada ( (SC) Pedro Bedin, Iomara Terezinha Hamester Bedin 2004 Paranapuã (SP) Febem 2004 Tupiniquim (ES) Aracruz Celulose 2005 Pindoty (SP) Ivo Zanella Junior 2005 Yaka Porã (SC) Município de Joinville 2005 Ibirama Lã-Klanõ (SC) Anísio de Souza 2006 Laranjinha (PR) Benedito Menossi (Espólio), Fátima Teixeira Menossi, Sandro

Teixeira Menossi, Karina Teixeira Menossi 2006

Não especificada ( (PR) Ary Carneiro, Ítalo Mario Bazzo Junior, Irene Martini Carneiro 2006 Pindoty (SP) Ivo Zanella Junior 2006 Tupiniquim (ES) Portocel – Terminal Especializado de Barra do Riacho S/A 2006 Acampamento na Estrada do Conde em Eldorado do Sul (RS)

Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária – FEPAGRO, Estado do Rio Grande do Sul

2008

* Em diversas ações, a terra indígena não é especificada.

Ações Possessórias em Defesa dos Direitos IndígenaAções Possessórias em Defesa dos Direitos IndígenaAções Possessórias em Defesa dos Direitos IndígenaAções Possessórias em Defesa dos Direitos Indígena

Terra Terra Terra Terra Indígena (UF)Indígena (UF)Indígena (UF)Indígena (UF)

RequerenteRequerenteRequerenteRequerente AnoAnoAnoAno

Caieiras Velhas II (ES) Funai 1993 Não especificada (RJ) Funai 1993 Guarita (RS) MPF 1994 Pinhalzinho (PR) Funai 1994 Mangueirinha (PR) Funai 2000 Não especificada (SP) Funai 2001 Piraí e Tarumã (SC) União Federal; Funai; MPF; Comunidade Indígena de Piraí-Tarumã 2002 Piraí e Tarumã (SC) União Federal; Funai; MPF; Comunidade Indígena de Piraí-Tarumã 2002 Rio das Cobras (PR) MPF 2005 Tupiniquim (ES) Funai 2006 Não especificada (SP) Funai 2007

Dados: de fevereiro de 2009 Fonte: CPI-SP

13

Situações de DisputaSituações de DisputaSituações de DisputaSituações de Disputa

Em todos estados do Sul e Sudeste com presença Guarani há ocorrência de disputas envolvendo os territórios indígenas. As ameaças são verificadas inclusive em áreas já regularizadas. Assim, 21 das 40 terras Guarani homologadas apresentam algum tipo de conflito.

NNNNúmero de úmero de úmero de úmero de Terras Guarani com ConflitoTerras Guarani com ConflitoTerras Guarani com ConflitoTerras Guarani com Conflito Região Sul e SudesteRegião Sul e SudesteRegião Sul e SudesteRegião Sul e Sudeste

Data: fevereiro de 2009 Fonte: CPI-SP

RSRSRSRS

SPSPSPSP

PRPRPRPR

SCSCSCSC

MGMGMGMG

RJRJRJRJ

ESESESES

GOGOGOGO

MSMSMSMS

MTMTMTMT

BABABABA

13131313

12121212

12121212

13131313 1111

2222

14

As ameaças levantadas podem ser classificadas em oito categorias como demonstra o quadro abaixo. Os principais conflitos advêm da disputa pela titularidade do território, seguidos dos danos ambientais causados por terceiros e das situações onde a terra é insuficiente para a reprodução física e cultural dos índios.

Terras Guarani AmeaçaTerras Guarani AmeaçaTerras Guarani AmeaçaTerras Guarani Ameaçadasdasdasdas ---- Sul e SudesteSul e SudesteSul e SudesteSul e Sudeste

Categoria de Ameaças Categoria de Ameaças Categoria de Ameaças Categoria de Ameaças Nº de Nº de Nº de Nº de ocorrências ocorrências ocorrências ocorrências

LocalizaçãoLocalizaçãoLocalizaçãoLocalização

Disputa pela titularidade do território 13 SP, PR, SC e RS

Danos ambientais sobre o território indígena 12 ES, SP, PR e SC

Área insuficiente para a reprodução física e cultural 12 SP, PR, SC e RS

Sobreposição com Unidade de Conservação 11 RJ, SP, PR, SC e RS

Ocupação do território indígena por terceiros 8 PR, SC e RS

Expulsão dos indígenas 3 PR e RS

Exploração ilegal dos recursos naturais do território indígena 2 PR e SC

Arrendamento de terra em área indígena 1 RS

TOTALTOTALTOTALTOTAL 62626262 Dados: de fevereiro de 2009 Fonte: CPI-SP

Muitas das terras Guarani são insuficientes para a reprodução física e cultural das comunidades. Tal situação resulta em uma grande dependência de doação de cestas básicas e de programas de transferências de renda do governo federal, que, todavia, não são suficientes para garantir a seguridade alimentar das comunidades.

As três terras Guarani localizadas no município de São Paulo (Jaraguá, Krukutu e Tenondé Porã) se enquadram nessa categoria. A Terra Indígena Jaraguá onde vivem cerca de 300 índios é o caso mais extremo. A área homologada em 1987 com 1,75 hectares é a menor terra indígena no Brasil. Desde 2001, essa terra indígena encontra-se em processo de revisão de limites. Nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul também encontramos comunidades Guarani vivendo em áreas pequenas e degradadas. É o caso da Terra Indígena Awá Guarani do Ocoí, no Paraná, onde vivem mais de 600 indígenas. Na década de 1980, quando o seu território tradicional foi inundado pelo reservatório da Hidrelétrica Binacional de Itaipu, uma nova área de 232 hectares foi demarcada para esse grupo indígena. No entanto, a área é insuficiente para sua reprodução

15

sócio-econômica. Em maio de 2008, 22 famílias ocuparam terras às margens do Rio São Francisco Falso, como forma de pressionar a Funai a regularizar as terras Guarani da região. A empresa Itaipu reivindica a área retomada e o Ministério Público de Foz do Iguaçu acompanha o caso.8

No município de Viamão, no Rio Grande do Sul, a TI Estiva é outro triste exemplo do descaso com o povo Guarani. Cerca de 80 Guarani vivem em apenas sete hectares. A área ainda não foi identificada pela Funai. Esse confinamento em um território exíguo traz diversos problemas para comunidade, como o alcoolismo, a prostituição, doenças e desnutrição.9

Chama atenção também o número de casos de sobreposição com unidades de conservação. Com exceção do Espírito Santo, em todos os demais estados pesquisados10 foram identificadas situações de sobreposições de terras indígenas com unidades de conservação.

Terras Guarani com Sobreposição em UCsTerras Guarani com Sobreposição em UCsTerras Guarani com Sobreposição em UCsTerras Guarani com Sobreposição em UCs Sul e SudesteSul e SudesteSul e SudesteSul e Sudeste

Terra IndígenaTerra IndígenaTerra IndígenaTerra Indígena MunicípioMunicípioMunicípioMunicípio Unidade de ConservaçãoUnidade de ConservaçãoUnidade de ConservaçãoUnidade de Conservação

São PauloSão PauloSão PauloSão Paulo

Paraíso Iguape Estação Ecológica Juréia-Itatins Peguaoty Sete Barras Parque Estadual Intervales Yvyty Parapau Cananéia Parque Estadual da Ilha do Cardoso Paranapuã São Vicente Parque Estadual Xixová Japuí

Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Tekoa Itarypu (Camboinhas) Niterói Parque Estadual da Serra da Tiririca

Santa Catarina Santa Catarina Santa Catarina Santa Catarina

Ibirama-La Klãnõ José Boiitex, Itaiópolis e Vítor Meireles

Área de Relevante Interesse Ecológico Serra da Abelha Reserva Biológica Estadual do Sassafrás

Morro dos Cavalos Palhoça Parque Estadual da Serra do Tabuleiro.

ParParParParaná aná aná aná

Morro das Pacas Guaraqueçaba Parque Nacional do Superagui Ilha do Superagui Guaraqueçaba Parque Nacional do Superagui

Rio Grande do Sul Rio Grande do Sul Rio Grande do Sul Rio Grande do Sul

Nonoai Nonoai Reserva Florestal de Nonoai Itapuã Viamão Parque Estadual Itapuã

Dados: de fevereiro de 2009/ Fonte: CPI-SP

8 Fonte: Cimi Regional Sul – Equipe Paraná/ Guarapuava, PR, 30 de maio de 2008. 9 Fonte: Cimi – Violência contra os Povos Indígenas no Brasil – Relatório 2006-2007. 10 RJ, SP, PR, SC e RS.

16

Tais sobreposições geram disputas territoriais entre comunidades Guarani e órgãos ambientais estaduais, como a Fundação para a Conservação e a Produção Florestal do Estado de São Paulo, a Fundação do Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina e a Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul. A postura habitual dos órgãos ambientais é considerar os Guarani invasores das áreas de unidades de conservação e considerar sua presença incompatível com os objetivos de preservação e conservação da Mata Atlântica. Refutando tal julgamento as mulheres Guarani de diversas aldeias do Estado de São Paulo ressaltam:

“Para nós, a terra não é para vender, ela é para viver. A gente precisa

de espaço, precisa da mata. Nós não vamos derrubar a mata para

construir prédios. Levantamos com os passarinhos cantando, as

crianças brincando. Por que a gente iria destruir isso?!” Carta das Mulheres Guarani do Estado de São Paulo – 3ª Oficina da Mulheres Guarani /2006.

17

CréditosCréditosCréditosCréditos

O Monitoramento Terras Guarani do Sul e Sudeste da Comissão Pró-Índio de São Paulo objetiva:

– disponibilizar aos Guarani e seus aliados subsídios para atuarem na defesa de direitos. – ampliar a visibilidade e a solidariedade à luta do povo Guarani.

A Comissão Pró-Índio de São Paulo espera assim contribuir com a concretização da principal demanda do povo indígena Guarani: a garantia e proteção de seus territórios tradicionais. As pesquisas do monitoramento são realizadas por Selma Gomes e Carolina Bellinger sob a coordenação de Lúcia M. M. de Andrade. Para a realização do monitoramento a CPI-SP conta com o apoio de:

A partir do segundo semestre de 2009, os resultados do monitoramento estarão disponíveis para consulta no sítio eletrônico da CPI-SP.

Rua Padre Carvalho 175 São Paulo – SP – CEP 05427-100 Fone/fax: (11) 3814 7228/ 3518 8961

Email: [email protected] www.cpisp.org.br