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Universidade Federal de Santa CatarinaPrograma de Pós-graduação em Engenharia de Produção
Maria Inês Bez Kroeger
FATORES QUE INFLUEM NO TRABALHO DO TERAPEUTANATURAL DURANTE O ATENDIMENTO DE TRABALHADORES
COM DEPRESSÃO
Dissertação de Mestrado
Florianópolis2003
1
Maria Inês Bez Kroeger
FATORES QUE INFLUEM NO TRABALHO DO TERAPEUTANATURAL DURANTE O ATENDIMENTO DE TRABALHADORES
COM DEPRESSÃO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção da
Universidade Federal de Santa Catarina comorequisito parcial para a obtenção do grau de Mestre
em Engenharia de Produção – Área deconcentração: Ergonomia.
Orientadora: Profª Zuleica Maria Patrício, Dra.
Florianópolis
2003
2
Maria Inês Bez Kroeger
FATORES QUE INFLUEM NO TRABALHO DO TERAPEUTA NATURALDURANTE O ATENDIMENTO DE TRABALHADORES COM DEPRESSÃO
Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de “Mestre” emEngenharia de Produção e aprovada em sua forma final pelo programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção.
Florianópolis, 24 de junho de 2003.
________________________________________Prof. Edson Pacheco Paladini, Dr.
Coordenador /PPGEP
Banca Examinadora:
____________________________ ____________________________
Profª Dra. Zuleica Maria Patrício Prof° Francisco Antonio Pereira Fialho Orientadora
_____________________________
Maria Helena Bittencourt Westrupp
3
Agradecimentos
A Deus (Fonte de Energia Cósmica),
pela sincronia com minha Fonte de Vida,
Campo das Infinitas Possibilidades.
Ao Nano, meu amigo e meu amor,
pela compreensão, dedicação
e apoio em todos os momentos de nossa vida.
Às minhas filhas: Juli e Dani,
com quem tenho aprendido a reconectar com minha essência.
Aos meus pais Lenoir e Neide,
pelas orações e apoio incondicional.
À minha orientadora Zuca,
pelos ensinamentos, incentivo, paciência, confiança
e por compreender e respeitar o meu ritmo.
Aos meus irmãos Rogério e Toni,
pelo afeto e apoio em todos os momentos.
Aos amigos Rosângela, Tânia e Jonas,
pelo companheirismo, amizade e apoio.
Aos sujeitos da pesquisa,
que tornaram possível este estudo.
Às amigas Ângela, Myrna, Nazaré e Sandra,
pelo estímulo, trocas solidárias e construtivas.
4
RESUMO
KROEGER, M. I. B. Fatores que influem no trabalho do terapeuta naturaldurante o atendimento de trabalhadores com depressão. 2003. 132f.Dissertação (Mestrado em Ergonomia) – Programa de Pós-graduação emEngenharia de Produção, UFSC, Florianópolis.
Pesquisa qualitativa, baseada em estudo de caso, cujo objetivo é conhecer osfatores que influenciam o trabalho do terapeuta natural durante o atendimento atrabalhadores com depressão. Conta com a participação de seis trabalhadores emsituação de depressão, residentes na cidade de Florianópolis/SC. Tem comoreferencial teórico-metodológico princípios do Cuidado Holístico-ecológico e daMedicina Tradicional Chinesa, focalizados na compreensão da depressão e noequilíbrio energético dos trabalhadores. Demonstra que, em todos os participantesdeste estudo, as causas que favoreceram o desequilíbrio energético que culminouem depressão foram as emoções reprimidas: medo, raiva, revolta, ódio, abdicaçãodas atividades de lazer e físicas e dificuldade no sono; e que todas essas situaçõesforam desencadeadas por questões relacionadas ao trabalho. A análise dos dadosevidenciou que: 1) o estado interno do terapeuta (ansiedade, preocupação,desatenção) interferem na resposta terapêutica; 2) a oração é um elementofacilitador para a redução do controle racional, pois favorece a sintonia do terapeutaconsigo mesmo e facilita a interconexão dele com a Fonte de Energia Cósmica,tornando-o um Ser empático; e 3) a atitude empática é importante no processointerativo e auxilia no compartilhamento de vibrações energéticas (ressonância).Conclui que o trabalho do terapeuta natural é amplamente fortalecido, comrepercussão positiva sobre as medidas terapêuticas, quando esses três aspectosinteragem harmonicamente. Espera sensibilizar os terapeutas naturais, bem comotodos os trabalhadores da área da saúde, no sentido de que estabeleçam umacomunicação de Ser para Ser (essência) com o cliente, procedendo comomediadores na potencialização da autocura do outro.
Palavras-chave: terapeuta natural; oração; atitude empática; estado interno.
5
ABSTRACT
KROEGER, M. I. B. Factors that influence the job of natural therapist whiletreating workers suffering from depression. 2003. 132f. Dissertação (Mestradoem Ergonomia) – Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção, UFSC,Florianópolis.
This is a qualitative research, based on a case-study and its goal is to know thefactors that influence the job of natural therapists while treating workers sufferingfrom depression. As empirical support, data from six Florianópolis/SC residentworkers with depression were collected and analyzed. Its theoretical andmethodological support are the principles of the Holistic-ecological Caring (CuidadoHolístico-ecológico) and the Chinese Traditional Medicine, both focusing onunderstanding workers’ depression and energetic balance. It shows that what led allparticipants of the study to the energetic unbalance that ended up in depression wererepressed emotions – in this case: fear, anger, rage, revolt, abdication of leisure andphysical activities and having problems to sleep –; and that these feelings werecaused by facts related to work. The data analysis demonstrates that: 1) the internalconditions of the therapist (being anxious, unaware or worried) influence the patientresponse to therapy; 2) prayer facilitates the rational control reduction, once it favorstherapist to stay harmonically in touch with his self and helps interconnectionbetween him and the Cosmic Energy Source (as a result, the therapist becomesempathic); and 3) the empathic attitude is important in the interactive process andhelps sharing energetic vibrations (resonance). As conclusion, it shows that, if thosethree findings interact harmonically, this may strengthen the natural therapist workand acts positively on the therapeutic steps in order to cure the patient. This researchintends to sensitize natural therapists and Health Area workers to establish Being toBeing (essence) communication with the patient, in regard to facilitate others self-cure.
Key words: natural therapist; prayer; empathic attitude; internal conditions.
6
SUMÁRIO
Lista de Figuras.........................................................................................................8
Lista de Quadros.......................................................................................................8
INTRODUÇÃO ............................................................................................................9
1 MARCO TEÓRICO REFERENCIAL.......................................................................131.1 Referencial do Cuidado Holístico-Ecológico...................................................141.2 Referencial do Cuidado segundo princípios da Medicina TradicionalChinesa......................................................................................................................181.3 Terapeuta Natural...............................................................................................32
2 O PROCESSO DE ADOECIMENTO DO SER HUMANO......................................352.1 A Concepção da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) .................................352.2 A Concepção Segundo o Referencial Holístico-ecológico............................37
2.3 O trabalho como Fator de Adoecimento: a Situação de Estressee Depressão .......................................................................................................... ..392.4 O trabalho do Terapeuta Natural no adoecer Humano ..................................46
3 METODOLOGIA DO ESTUDO..............................................................................493.1 O Método do Estudo .........................................................................................493.2 Tipo de Estudo .................................................................................................523.3 Local e Sujeitos do Estudo..............................................................................543.4 Aspectos Éticos da Pesquisa..........................................................................563.5 Estratégias de Levantamento, Registro e Análise dos Dados .....................57
4 PROCESSO DE TRABALHO DO TERAPEUTA NATURAL ................................604.1 Primeiro Momento – Preparando para receber o cliente ...............................604.2 Segundo Momento – Recebendo o cliente: as primeiras impressões .........604.3 Terceiro Momento – Iniciando a interação: reflexão......................................614.4 Quarto Momento – Prosseguindo a avaliação diagnóstica..................................684.5 Quinto Momento – Elaborando o diagnóstico situacional:continuação da terapia ........................................................................................ ..79
7
5 O TRABALHO DO TERAPEUTA NATURAL INFLUENCIADO PELO SEUESTADO INTERNO, PELA ORAÇÃO E EMPATIA............................................... ..995.1 O Estado Interno do Terapeuta Natural ....................................................... 1065.2 A Oração como Instrumento de Sintonia do Terapeuta eFacilitadora da Sincronia com o Cliente .............................................................1105.3 Empatia, Fenômeno Interacional? .................................................................117
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 123
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 129
APÊNDICES .......................................................................................................... 133
ANEXOS ............................................................................................................... 142
8
LISTA DE FIGURASFigura 1: Símbolo Yin-Yang...................................................................................... 14
Figura 2: Equilíbrio do Yin e Yang..............................................................................24
Figura 3: Excesso de Yin............................................................................................24
Figura 4: Excesso do Yang........................................................................................24
Figura 5: Consumo do Yang.......................................................................................25
Figura 6: Consumo do Yin..........................................................................................25
Figura 7: Representação do desequilíbrio corpo/mente.............................................37
Figura 8: Tomada do Pulso........................................................................................75
Figura 9: Pontos Bei-Shu...........................................................................................77
Figura 10: Pontos Mo.................................................................................................78
Figura 11: Manobras faciais e cefálicas. ...................................................................81
Figura 12: Microssistema dos pés – pé esquerdo. ....................................................83
Figura 13: Microssistema dos pés – pé direito. .........................................................83
Figura 14: Moxabustão com bastão...........................................................................85
Figura 15.: Ventosaterapia.........................................................................................87
Figura 16: Aplicação de ventosa de copos plástico com bomba de sucção..............87
Figura 17: Efeito ‘ponta’ das agulhas e aumento da polaridade pelo poder da ponta
dos dedos...................................................................................................................89
Figura 18: Inserção da agulha através de mandril e manobras para estimulação ....92
Figura 19: Pontos auriculares.....................................................................................97
Figura 20: Elementos do Sistema Nervoso Central.................................................100
Figura 21: Opinião clássica da neurociência............................................................101
Figura 22: Descoberta de LeDoux............................................................................102
LISTA DE QUADROSQuadro 1: Correspondências entre opostos ............................................................. 21
Quadro 2: Princípios de oposição..............................................................................23
Quadro 3: Caracteres de algumas estruturas corpóreas...........................................23
Quadro 4: Circulação dos principais canais de energia.............................................29
Quadro 5: Localização energética dos órgãos e vísceras no pulso radial.................76
Quadro 6: As emoções e a Energia dos Órgãos........................................................94
9
INTRODUÇÃO
O interesse profissional por abordagens terapêuticas naturais surgiu em 1989,
quando foi desenvolvido um Projeto de Pesquisa na Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), que envolvia o toque terapêutico e tinha como principal objetivo a
avaliação da qualidade energética de pessoas que recebiam energizações por meio
da imposição das mãos. O instrumento de avaliação utilizado foi a Kirliangrafia, que
consiste na fotografia da aura dos seres vivos com a máquina Kirlian. Durante a
análise e interpretação das fotos kirlian, observou-se que em alguns indivíduos com
queixa de certos sintomas clínicos – como por exemplo o desconforto no estômago –
não eram identificadas alterações nos exames de diagnóstico, porém essa pessoas
apresentavam modificações energéticas, de acordo com a fotografia kirlian, no local
correspondente à manifestação clínica.
Durante o acompanhamento, por aproximadamente três meses, dos indivíduos
que mantinham os desequilíbrios na aura, identificou-se uma alteração física
comprovada nos exames de diagnóstico, como na endoscopia, quando foi
identificada a presença de gastrite. Essa constatação é respaldada por Yamamura
(1995) que diz que toda a enfermidade manifesta-se, primeiramente, pela alteração
do estado energético da pessoa, sendo esse desequilíbrio energético ainda não
traduzido em alterações funcionais graves ou de comprometimento estrutural.
Após esse estudo, a prática profissional desenvolvida para o atendimento às
necessidades psicobiológicas de crianças hospitalizadas passou a ser questionada.
Partiu-se então para uma busca de modalidade terapêutica que proporcionasse uma
intervenção precoce, ou seja, em nível energético, antes de ocorrerem alterações
funcionais.
Dentre as múltiplas opções de terapias naturais, identificou-se que a medicina
tradicional chinesa é uma terapia adequada para uma intervenção precoce. Essa
modalidade abrange um vasto conhecimento sobre o equilíbrio energético e suas
concepções estão voltadas muito mais para a identificação dos fatores
potencializadores do adoecimento, a maneira de tratar os desequilíbrios energéticos
conforme os estágios de evolução no processo de adoecer e, principalmente, o
10
estudo das formas de prevenir o adoecimento.
A formação profissional da pesquisadora na área da medicina tradicional chinesa
deu-se inicialmente com o Tui-ná (massagem chinesa); moxabustão, que consiste
na aplicação de cones e bastões feitos com folhas secas de artemísia (Artemisia
Vulgaris) sobre determinadas regiões da pele, com o objetivo de desbloquear, fazer
circular e fortalecer as energias. Posteriormente, realizou-se a formação em
acupuntura, que é um tratamento feito por meio da inserção de agulhas metálicas
em determinados pontos do corpo situados nos trajetos dos canais de energia.
Durante a prática profissional dentro dos princípios da medicina tradicional
chinesa, em março de 1998, iniciou-se um projeto de extensão em conjunto com
outro profissional da saúde (um fisioterapeuta), no Centro de Ciências da Saúde da
UFSC, com o objetivo de prevenção e tratamento do estresse e dor na coluna
vertebral, para professores, alunos e funcionários do Departamento de Enfermagem.
Nesse período, a maioria dos trabalhadores atendidos apresentava diagnóstico de
depressão, sendo predominante em docentes em fase de conclusão de dissertação
ou tese.
As tensões geradas na vida cotidiana desses trabalhadores, quer socialmente
quer no ambiente de trabalho, se mantidas por determinado tempo, acabam
propiciando o desenvolvimento de uma das mais importantes doenças do terceiro
milênio: a depressão. Trata-se de uma doença incapacitante, a pessoa fica sem
energia, perde concentração, sua atenção é reduzida, há perda de interesse e
humor deprimido. Nessas condições, a pessoa não consegue atingir suas
potencialidades e ocorre queda na sua produção diária, com conseqüente
desvalorização pessoal e profissional.
O trabalho é um elemento mediador da qualidade de vida do ser humano, uma
vez que o significado que cada trabalhador assume pode contribuir ou não com o
seu equilíbrio físico, psicológico e energético.
A falta de reconhecimento perante si mesmo, colegas, orientadores e
administradores gera grande sofrimento. Entretanto, durante a realização do
trabalho, o sofrimento fica completamente alienado, muitas vezes, as ações são
contrárias aos sentimentos, numa luta constante.
Codo (1994, p. 267) afirma que “...foi-se concretizando a cisão entre o trabalho e
o afeto, a razão e a paixão [...]. Este homem, obrigado a recolher do trabalho os
pedaços de sua subjetividade, empurrado a manifestar-se apenas depois do
11
expediente, só pode expressar o seu sofrimento depois que soa o apito, depois do
cartão de ponto”.
As medidas terapêuticas (os antidepressivos) são importantes; entretanto, é
necessário associá-las à terapia natural, especificamente a medicina tradicional
chinesa, que favorece o equilíbrio energético, a conexão do deprimido com ele
mesmo, no reconhecimento das causas que predispuseram a desarmonia, o modo
de viver e enfrentar os fatos do seu cotidiano.
A proposta terapêutica natural instituída no projeto de extensão constituiu-se de:
acupuntura, Tui-ná, moxabustão, ventosaterapia, auriculoterapia e a conexão com
as emoções, integradas ao processo de viver.
No tratamento instituído para trabalhadores em depressão, têm-se observado
respostas terapêuticas diferenciadas em clientes submetidos a tratamentos
idênticos. Acredita-se que essa diferenciação possa estar associada à força
constitucional que, segundo Maciocia (1996), é resultante da energia (Jing) herdada
dos pais na concepção e da energia (Qi) extraída dos alimentos, dos líquidos e da
respiração. Contudo, além disso, observa-se que há algo que diferencia a resposta
terapêutica no momento do atendimento.
De posse dessa reflexão, uma questão impôs-se: quais fatores influenciam otrabalho do terapeuta natural durante o atendimento de trabalhadores comdepressão?
Então, este trabalho destina-se a buscar a resposta para essa questão, a partir
do Referencial Holístico-ecológico e dos Princípios da Medicina Tradicional Chinesa,
que não são justapostos, mas sim complementares. Também há a intenção de
compreender o processo de adoecimento do Ser Humano, o processo de trabalho
do terapeuta natural e o trabalho do terapeuta natural influenciado pelas categorias
que emergiram do processo de cuidar-pesquisando. Assim, este trabalho divide-se
em seis capítulos articulados, que constituem o pensar-intuir-fazer natural do
terapeuta.
No primeiro capítulo, discute-se o marco referencial norteador de todo o processo
de cuidar-pesquisando, sob a ótica de evidenciar os elementos estruturais do
cuidado holístico-ecológico e dos princípios da medicina tradicional chinesa,
buscando os elementos interconectadores desses referenciais, bem como criar o
pressuposto teórico sobre o terapeuta natural.
No segundo capítulo, discute-se o processo de adoecimento do Ser Humano
12
sobre a concepção da medicina tradicional chinesa e do referencial holístico-
ecológico interligados, dando-se ênfase ao aparecimento do estresse e da
instalação da depressão no viver cotidiano do trabalhador, bem como o trabalho do
terapeuta natural efetivado no processo do adoecer humano.
O terceiro capítulo versa sobre a metodologia do estudo, em que se pondera o
tipo do estudo, o local e os sujeitos do estudo, os aspectos éticos da pesquisa e as
estratégias de levantamento, registro e análise dos dados.
O quarto capítulo integra a teoria e a prática expressas no processo de trabalho
do terapeuta natural e traduz-se em detalhamento minucioso dos momentos que
envolvem a realização desse processo. São transcritas declarações dos
participantes do estudo, reproduzidas figuras ilustrativas sobre o sentimento deles e
expostos o diagnóstico situacional e as medidas terapêuticas necessárias para o
atendimento dos desequilíbrios energéticos manifestados nos canais de energia, nos
órgãos e vísceras.
Já no quinto capítulo, responde-se à questão que gerou o desenvolvimento deste
estudo. As categorias que emergiram da análise e reflexão dos dados foram o
estado interno do terapeuta, a oração e a empatia, constituindo-se
verdadeiramente em instrumentos potencializadores ou não da autocura do
trabalhador em depressão. A contribuição literária, neste capítulo, fortalece a
compreensão dos mecanismos científicos e sensitivos dessas categorias. Procura-
se explicar, muitas vezes, aquilo que a emoção traduzia, sabendo-se que essa
explicação é limitante, pois a emoção não se explica, vivencia-se.
Finalmente, no último capítulo, procura-se pôr em evidência os pontos fortes
contributivos deste estudo para as ciências da ergonomia, enfermagem, medicina,
psicologia e terapias naturais, sem a pretensão de constituir uma verdade absoluta
em um momento conclusivo.
Este trabalho pretende ser uma porta aberta para outros estudos qualitativos que
se preocupam com a integralidade do Ser e das medidas de cuidado que venham a
contribuir para a manutenção e recuperação do estado natural desse Ser. Neste
momento, recomenda-se a ampliação da dimensão investigada para o individual
(trabalhador em depressão) relacionado com seu ambiente de trabalho. Assim,
convida-se o leitor a mergulhar nesta proposta de trabalho, pensando em uma
orquestra sintonizada consigo mesmo, abrindo-se para a sincronia com o
espectador.
13
1 MARCO TEÓRICO REFERENCIAL
Este trabalho sustenta-se por dois referenciais teóricos – na verdade,
complementares – que permitiram a construção do pressuposto sobre terapeuta
natural. Primeiramente, são abordadas algumas idéias do marco referencial
holístico-ecológico de Zuleica Maria Patrício1. Com base no estudo e
desenvolvimento de idéias das obras de Roberto Crema, Denis Brandão, Pierre Weil
e Ubiratan D’Ambrósio, Fritjof Capra, Dora Fried Schnitman, assim como nos autores
citados por Guitta Pessis-Pasternak no seu livro Do Caos à Inteligência Artificial.
Fundamentados por esses autores, este referencial enquanto compreendido como
novo paradigma, traz conceitos e princípios para que o ser humano tenha uma
melhor qualidade de vida, processo de viver saudável na sua interação com ele
mesmo, os outros, o Cosmo.
Em segundo lugar, são levantados os princípios da Medicina Tradicional Chinesa
(MTC). Esses princípios são extraídos do livro mais antigo da medicina chinesa, o
Nei Ting, compilado a cerca de 300 a 200 a.C., a partir de textos ainda mais antigos
que, segundo a tradição, teriam sido escritos pelo lendário imperador amarelo Huang
Di e seus médicos conselheiros. O livro aborda aspectos importantes como: O TAO2,
que é a fonte da vida e a energia do universo. No início da criação, esse constituinte
básico que forma todas as coisas estava caótico. Do caos há um início de
organização, quando surgem dois princípios opostos e complementares chamados
Yin e Yang, conforme representados na figura nº 1. Assim sendo, “todos os
fenômenos relativos que se originam no universo são estruturados entre duas forças
antagonistas e complementares: Yin e o Yang” (MACIOCIA,1996 p. 83).
O ser humano é parte integrante do universo e ambos estão em constante
mutação. Desta forma, o homem está em ressonância com que acontece no
universo e com as outras pessoas. Isso significa que para ter saúde (equilíbrio) o
homem tem de estar adaptado às exigências externas e internas, sem que isso
comprometa o equilíbrio das forças Yin e Yang. Portanto, a saúde depende da 1 Ref. Tese de doutorado, 1995, e livro Qualidade de Vida do Trabalhador (1999).2 TAO é uma palavra chinesa que significa “caminho”.
14
postura física, mental e espiritual que se tem perante a vida e a natureza. Além
disso, o corpo humano tem os seus constituintes fundamentais que são: o Qi
(energia), o Xue (sangue), o Jin Ye (fluído corporal) e o Jing (substância essencial).
Todos eles são fundamentais e devem estar em equilíbrio para a pessoa estar
saudável.
☯ Figura 1 – Símbolo Yin – Yang
O referencial holístico-ecológico possui uma abertura que lhe permite incorporar
as idéias da Medicina Tradicional Chinesa no processo proposto, pela autora, de
cuidar e pesquisar. Além disso, a concepção de transdisciplinaridade, de
complementação de situações que se colocam como extremos de uma ação, mas
que, ao mesmo tempo, não constituem polarizações (MTC), está presente nos dois
referenciais adotados neste estudo. Finalmente, a complementaridade dos
pensamentos ocidental e oriental, sendo que o primeiro está impregnado no
segundo, culminou na formulação da concepção de um terapeuta natural.
1.1 Referencial do cuidado Holístico-Ecológico
A visão holística vai para além do corpo do ser humano, para promover a saúde
integral do indivíduo. Esse referencial busca caracterizar e fazer a reflexão critica
dos componentes éticos e político-econômicos do processo de viver, ou seja, é
voltado para questões de cidadania: harmonias individuais e coletivas estão em
15
constante interação. Segundo a autora que elaborou esse referencial, “as vivências
individuais e grupais costumam promover no indivíduo situações de bem-estar que o
tornam mais saudável para a vida coletiva” (PATRÍCIO, 1999, p. 32).
Segundo seu pensamento,
através do diálogo reflexivo de conteúdo cultural e de terapêuticasalternativas de diferentes culturas, o cuidado holístico parte doprincípio de que, ‘corpo-mente’, ser humano consciente e energizadopodem interagir mais efetivamente – política e energeticamente – nocoletivo, inclusive nas questões de cidadania (PATRÍCIO, 1992, p.102).
No referencial do cuidado Holístico-Ecológico (Patrício, 1995, 1996)
Pensar e fazer holístico e ecológico significa a vivência compartilhadade consciências que mobilizem perceber o caráter biológico e culturaldo ser humano, a diversidade, a unicidade e universilidade, aintegralidade e totalidade de cada ser, na relação consigo mesmo eem interações com outros seres humanos e as outras naturezas, emmovimentos de tempo e espaço, particulares e coletivos; as relaçõesdo ser humano com a vida do planeta e do universo. Além disso,como proposta inter-transdisciplinar na produção de conhecimento,seja conhecimento fundamental ou aplicado, busca extrapolar ocampo da ciência tradicional, integrando filosofia, tradição e arte,envolvendo razão, sensação, intuição, sentimento e mística, tendocomo base princípios éticos e estéticos de viver individual e coletivo(PATRÍCIO, 1999, p. 36, 37).
Esse referencial, percebe a parte, em certas circunstâncias, refletindo sobre o
todo e contendo-o, extrapolando a idéia de a parte ser apenas um fragmento do
todo. Além disso, enfatiza que “é possível integrar várias áreas do conhecimento
num fio condutor que busca entender e agir nos microcosmos – micromundos –
tendo consciência do contexto global” (p. 37, 38).
Dessa forma,
busca o sentido de humanidade, tendo clareza de que mesmo assim– nessa amplitude de abordagem – não é possível dar conta decompreender toda a complexidade da vida e de seus fenômenosparticulares, mas em síntese, busca compreender o máximo possívelde um dado fenômeno, através do conhecimento das múltiplas
16
dimensões e conexões que expressam esta situação (PATRÍCIO,1990, p. 37).
Dentro de tal concepção, a contradição é integrada na diversidade das interações
humanas. O paradigma holístico “incorpora o conceito de ‘paradoxo’ como elemento
constitutivo da vida humana, incluindo a produção do conhecimento” (1999, p. 38), e
aceita como conceito de paradoxo aquele expresso por Russ e por Ferreira (apud
PATRÍCIO, 1999, p. 38). Para Russ, paradoxo é a “afirmação ou proposição
contrária à opinião comum geralmente admitida em choque com o pensamento
corrente e que, desconcertando-nos, permite chamar melhor a atenção e pôr em
relevo toda a idéia ou o ponto de vista”. Para Ferreira, paradoxo é “conceito que é ou
parece contrário ao comum, contra-senso, absurdo, disparate [...] contradição pelo
menos na aparência”.
Ainda, segundo a autora,
o paradigma holístico considera cada elemento de um campo comoum evento, refletindo e contendo todas as dimensões do campo. Éuma visão na qual o todo, e cada uma de suas sinergias estãoestreitamente ligadas em interações constantes e paradoxais(BRANDÃO e CREMA, apud PATRÍCIO, 1999, p. 38).
Logo, a visão holística de uma realidade consiste em compreendê-la pela
“conjunção harmoniosa” de diferentes saberes que olham o mesmo objeto sob
diferentes ângulos, integrando as diferentes abordagens, de maneira que
mantenham a sinergia do objeto estudado e a ação do pesquisador sem perder de
vista “as interações do ser humano com os demais ecossistemas” (p. 39).
A autora sustenta que “pensar holístico é pensar transdisciplinar” (idem) no qual
os artistas, os poetas, os filósofos e os místicos vêm compor a sinergia junto com os
cientistas do mundo racionalista. Assim, existe uma inter-relação e uma
interdependência dos fenômenos que transcendem as disciplinas e os conceitos
existentes, ou seja, os objetivos das várias disciplinas podem ser diversificados, mas
eles põem-se em comum para descrever uma realidade, guardando certa autonomia
teórica e metodológica.
O senso comum e o saber científico são integrados para abordagem da
realidade. Integra a autora em seu referencial a idéia de complexidade da realidade:
17
[...] o real, em razão da teia de suas relações, é, por sua próprianatureza, complexo. Mil fatores, elementos, energias, conjunturastemporais irreversíveis entram em sinergia e em sintonia naconstituição concreta de cada ecossistema e de suas interfaces. Aecologia é uma maneira de organizar o conjunto de relações dosseres humanos entre si, com a natureza e com sentido nesteuniverso (BOFF apud PATRÍCIO, 1999, p. 40).
Portanto, pode-se compreender sinergia quando subjetividade/sensibilidade e
objetividade/razão estão juntos no ato de se conhecer e, ao mesmo tempo, de
produção de conhecimento.
Pensando no ser humano, a mesma autora enfatiza que: “todos os seres estão
interligados e, por isso, sempre re-ligados entre si: um precisa do outro para existir”
(p. 40). A autora não percebe o momento atual como sugere Boff: de existência de
uma “solidariedade cósmica ou base”. Patrício (1995, p.40) acredita que ainda
estamos no “processo de sentir necessidade de desenvolver esta solidariedade” A
preocupação da proposta de Patrício (1995) é justamente recuperar o ser ecológico
que habita em cada ser humano, por meio do pensar-fazer o mundo, repensando
“sobre novas formas de administrar, de cuidar da vida, sobre como estamos
‘cultivando’ nossa vida individual e coletiva, em casa, no trabalho e na comunidade e
na sociedade de forma geral” (p. 46-47). Assim sendo, saúde faz parte da
subjetividade, da singularidade do indivíduo e/ou do grupo. É um conceito construído
“a partir de suas representações sociais e o momento vivido” (p. 47), na troca
constante de energia, crenças, valores, conhecimentos, sentimentos, desejos,
sonhos e práticas, num constante movimento interacional do cotidiano (ir e vir).
Segundo Patrício (p. 49) “A qualidade dos encontros que o ser humano vai
fazendo ao longo desses movimentos – desse processo de viver – vai mediando a
construção de sua qualidade de vida individual e coletiva, de seu bem viver e mal
viver”. Logo, é o próprio ser humano quem constrói a sua história e permite aos
outros uma construção maior, coletiva, que se coloca no campo das infinitas
possibilidades, num processo de possíveis mutações e transformações.
Retomando o pensamento, Patrício (1995), entende a qualidade de vida como
produto e processo, que diz respeito aos atributos e às propriedadesque qualificam essa vida, e ao sentido que tem para cada serhumano. Diz respeito às características do fenômeno da vida, ao‘como esta se apresenta’, ao ‘como se constrói’ [e] como o indivíduo
18
sente o constante movimento de tecer o processo de viver nasinterações humanas (p. 50).
Ela sugere que ser humano saudável “é aquele que está eternamente buscando
situações de prazer e felicidade, a partir de princípios éticos e estéticos da vida,
individual e comunitária, em integração com a natureza” (PATRÍCIO, 1999, p. 55).
Portanto, ele toma uma determinada atitude (estética) frente ao seu processo de
viver, envolvida por concepções que lhe permitem interagir consigo mesmo, com o
outro e com o cosmos. Nesse aspecto, este estudo buscou num primeiro momento,
o diálogo com o cliente no sentido de perceber e de fazê-lo perceber como ele
estava lidando com sua própria vida naquele momento, ou seja, ele sabia ler e
interpretar os sinais de seu corpo-mente, frente ao seu estado de ser saudável, e os
fatores que poderiam ser determinantes da sua desarmonia.
1.2 Referencial do Cuidado segundo Princípios da Medicina TradicionalChinesa
Compreender os princípios da Medicina Tradicional Chinesa não é tarefa que se
concretize a partir de uma simples leitura, porque, muito mais que intelectual, é
vivencial, intuitiva, resultado de introspecção e profundas observações da natureza e
do homem.
Existe uma enorme diferença entre os padrões de pensamento ocidental e
chinês. Entretanto, como já visto no início deste capítulo, não são pensamentos que
se polarizam, mas que se complementam desde que a mente do
terapeuta/pesquisador esteja aberta para o encontro desses saberes. Partindo-se
disso, tentou-se estabelecer uma comunicação entre esses dois pensamentos – e
para tal é preciso que o leitor deixe de lado suas exigências intelectuais e procure
abstrair das palavras um sentido que está muito além delas mesmas.
1.2.1 Energia e Matéria
A energia e a matéria não são vistas separadamente, mas sim como dois
19
extremos contínuos de algo, ou seja, a matéria é uma forma densa de energia. Os
chineses denominam a energia de Qi.
Ao usar a palavra ‘energia’ para designar Qi, corre-se o risco de confundir este
conceito com aquele que a física clássica estabeleceu:
Na física clássica, a energia é abordada em seus vários aspectos –térmica, cinética, potencial, elétrica, eletromagnética, mecânica,química, radiante, nuclear, etc. E procura-se mostrar que, muitasvezes, não identificamos a energia em si, por ser algo sutil, masidentificamos, sim, seus efeitos. E procura-se mostrar que a energiase transforma, de um aspecto, de uma forma de manifestação paraoutra. Mas a energia ainda é encarada como algo distinto da matéria(GUERRA, 2000, p. 64).
O conceito contemporâneo de energia – matéria, Express o na forma da
equação de Einstein, e = mc², que apresenta uma equivalência fundamental entre
energia (e) e matéria (massa, m) – aproxima a física contemporânea do conceito
tradicional chinês. Mas o sentido tradicional de Qi é ainda mais amplo que o conceito
físico de energia, ou seja, matéria (p. 64).
Os chineses antigos identificaram tipos diferentes de Qi, de acordo com a
localização e função, embora sejam fundamentalmente o mesmo. Nesses diversos
tipos incluem-se:
• Wei Qi – Consiste no Qi defensivo, circula sob a pele e nos músculos, sua
principal função é proteger o organismo do ataque de fatores externos, tais como
o vento, calor, frio e umidade;
• Yuan Qi – É a energia ancestral herdada dos pais, guarda estreita relação com
os conceitos de hereditariedade;
• Gu Qi – É o Qi dos grãos dos alimentos;
• Yong Qi – Consiste no Qi proveniente da essência dos alimentos, é responsável
por toda a nutrição energética das estruturas do corpo.
A energia Qi, ou seja, a forma imaterial que promove o dinamismo, a atividade,
do ser vivo, manifesta-se sob dois aspectos principais: um de característica Yang,
que representa a energia que produz calor, expansão, claridade, e outro de
característica Yin, a energia que produz retraimento, repouso, a diminuição de todas
20
as atividades. Este assunto será discutido amplamente neste capítulo.
O pensamento ocidental tende a ser redutivo e analítico, enquanto o pensamento
chinês tende a ser sintético e intuitivo. A ciência ocidental tenta reduzir os
fenômenos aos seus componentes mais simples e relatar os componentes lineares
de causa e efeito.
Já a Medicina Tradicional Chinesa trata o indivíduo em seu todo; o ser humano
não é simplesmente uma máquina física, mas uma sutil e complexa combinação de
corpo, mente e espírito, o resultado de uma consciência universal. Qualquer um
desses fatores pode causar problemas de saúde ou contribuir para que eles
ocorram.
Baseado nesses aspectos, o profissional da medicina tradicional chinesa não
procura isolar um agente de doença e empreender uma guerra contra ele, mas
procura um padrão de desarmonia e trata o paciente de modo a ajudar na
restauração do seu equilíbrio, sempre tendo presente que a relação estabelecida
entre o sujeito e o agente causador da doença vai além do corpo físico.
O pensamento chinês não dicotomiza os conceitos básicos e as estruturas da
natureza – noção essa que é relatada na Teoria da Polaridade Universal de Yin e
Yang, o Nei Ting (300 a 200 a.C.):
Todo objeto ou fenômeno no universo consiste de dois aspectosopostos chamados Yin e Yang, que se acham em conflito einterdependências. Essa relação entre Yin e Yang é a lei universaldo mundo material, o princípio e fonte da existência de coisas. É aorigem e causa para o florescimento e perecimento das coisas(GOMES et al, 1993, p. 9).
1.2.2 Yin e Yang
Os conceitos de Yin e Yang são radicalmente diferentes de qualquer idéia
filosófica ocidental. Em geral, a lógica ocidental é baseada na oposição dos
contrastes, sendo essa a premissa fundamental da lógica aristotélica, de acordo com
a qual os opostos não podem ambos ser verdadeiros, por exemplo: a mesa é
quadrada e a mesa não é quadrada.
Yin e Yang representam qualidades opostas mas também complementares. Cada
coisa ou fenômeno poderia existir por si mesmo ou pelo seu oposto. Além disso, Yin
21
contém a semente do Yang e vice-versa, de maneira que, contrastando com a lógica
aristotélica, A pode também ser anti-A (MACIOCIA, 1996).
Yin e Yang são uma expressão de dualidade no tempo, uma alternância de dois
estágios opostos no tempo. Cada fenômeno no universo alterna-se por meio de um
movimento cíclico de altos e baixos e a alternância do Yin e Yang é a força motriz
dessa mudança e de seu desenvolvimento. O dia transforma-se em noite, o verão
em inverno, o crescimento em deterioração, e vice-versa. Dessa maneira, o
desenvolvimento de todos os fenômenos no universo é resultado de uma interação
de dois estágios opostos e cada fenômeno contém em si ambos os estágios em
diferentes graus de manifestação (idem). O dia pertence ao Yang, mas, após
alcançar o seu pico ao meio-dia, o Yin dentro dele começa, gradualmente, a se
desdobrar e a se manifestar com o início da tarde, até atingir o ponto máximo à
meia-noite, quando o Yang dentro dele começa a se desdobrar, iniciando o dia.
A melhor maneira de compreender a idéia do Yin e Yang é enumerar qualidades
ou condições opostas que se relacionam com um ou com outro. No quadro a seguir,
são mostradas algumas dessas correspondências:
Quadro 1: Correspondências entre opostos
YANG YIN
Céu Terra
Calor Frio
Luz Escuridão
Vida Morte
Fogo Água
Energia Matéria
Masculino Feminino
Razão Emoção
Atividade Descanso
Exterior Interior
Na observação da natureza, Yin corresponde à noite, com a escuridão, quietude,
22
o repouso, frio; enquanto Yang corresponde ao dia, com a luz, o movimento, a
atividade, o calor. Um somente existe em relação ao outro e ambos fazem parte do
mesmo ciclo, do mesmo todo indissolúvel. Dessa forma, todo o objeto ou fenômeno
do universo consiste de dois aspectos polares: Yin e Yang, ao mesmo tempo em
oposição e dependência.
Ao observar como os aspectos opostos comportam-se, identificou-se que eles
obedecem a certas leis: a oposição, a interdependência, o crescimento, a diminuição
e a transmutação.
• OPOSIÇÃO – Yin e Yang são tanto estágios opostos de um ciclo como estágios
de agregação, conforme citado anteriormente. Isso significa que todo o fenômeno
ou fato da natureza tem ao mesmo tempo dois aspectos opostos; portanto, a
oposição é relativa e não absoluta. Tudo contém a semente de seu oposto.
• INTERDEPENDÊNCIA – Embora Yin e Yang sejam opostos, são também
interdependentes: um não pode existir sem o outro. Se somente existir Yang ou
Yin, eles perdem a condição de sua existência, pois não pode haver dia sem
noite, contração sem expansão.
• RELAÇÃO DE CRESCIMENTO E DECRESCIMENTO – Significa que as duas
partes opostas de todo o fenômeno encontram-se em movimento, em constante
equilíbrio dinâmico. Por exemplo, as mudanças das quatro estações do ano: da
primavera ao verão, o frio vai diminuindo e o calor vai aumentando – isso é um
processo de diminuição de Yin e de crescimento do Yang; do outono ao inverno,
o calor vai diminuindo e o frio vai aumentando – isso é um processo de
diminuição de Yang e de crescimento do Yin. Quando uma das duas partes
decresce demasiadamente ou cresce de maneira excessiva, o equilíbrio é
destruído.
• TRANSMUTAÇÃO – Os dois aspectos opostos podem mutar-se entre si. Isso
acontece, quando o sistema chega a um extremo. Yin e Yang não são estáticos,
mas transformam-se um no outro. Todos os fenômenos da natureza seguem
essa lei: no máximo da noite começa o dia, o verão transforma-se em inverno, a
grande euforia que ocorre após uma bebedeira é rapidamente seguida de uma
depressão decorrente da ressaca na manhã seguinte. No processo de
adoecimento, sob certas condições, observa-se também síndrome Yin convertida
em síndrome Yang.
23
1.2.3 Aplicação do Yin e Yang na Medicina Tradicional Chinesa
A Medicina Tradicional Chinesa em seu todo – fisiologia, patologia, diagnóstico e
tratamento – pode ser reduzida à teoria básica e fundamental dos princípios Yin e
Yang.
O princípio de oposição, nessa medicina, é refletido na sintomatologia e na
estrutura corpórea, como, por exemplo, observa-se a seguir, no Quadro 2:
Quadro 2: Princípios de oposição
YIN YANGQuietude Agitação
Úmido Seco
Inibição Excitação
Agitação, insônia e nervosismo indicam excesso de Yang. Comportamento quieto
e sonolência indicam excesso de Yin. Qualquer sintoma de secura nos olhos e na
garganta, constipação ou sede indica excesso de Yang (ou deficiência de Yin).
Qualquer sinal de excesso de umidade, olhos lacrimejantes, pele oleosa, fezes
soltas e ausência de sede indicam excesso de Yin (ou deficiência de Yang).
Qualquer função que se manifeste no estado de hiperatividade indica excesso de
Yang, caso manifeste-se num estado de hipo-atividade, indicará excesso de Yin.
Cada parte do corpo humano apresenta um caráter preponderantemente Yin e
Yang. Porém, esse caráter é relativo. Por exemplo, a área do tórax é Yang em
relação ao abdome por ser mais alta, mas é Yin em relação à cabeça (Quadro 3).
Quadro 3: Caracteres de algumas estruturas corpóreas
YIN YANG
Corpo Cabeça
Frente Costas
Abaixo da cintura Acima da cintura
Interior Exterior
24
Segundo Maciocia (1996), no corpo humano, as funções fisiológicas encontram-
se em atividade, consomem sem cessar substâncias nutritivas e, ao mesmo tempo,
adquirem energia constantemente, de modo que o crescimento e o decrescimento
em Yin e Yang mantêm-se em equilíbrio relativo. Se uma das duas partes decresce
ou cresce demasiadamente, o equilíbrio relativo entre Yin e Yang é destruído,
havendo excesso ou deficiência de uma parte e, como conseqüência, ocorre a
enfermidade.
Do ponto de vista patológico, pode haver quatro situações diferentes: excesso de
Yin, excesso de Yang, consumo se Yang e consumo de Yin. As figuras abaixo,
apresentadas por Maciocia (1996), demonstram de forma clara o equilíbrio (Figura 2)
e os desequilíbrios (Figura 3, Figura 4, Figura 5 e Figura 6):
Figura 2: Equilíbrio do Yin e Yang
Figura 3: Excesso de Yin
Figura 4: Excesso do Yang
Yin
Yang
Yin
Yang
Um exemplo: ocorre quando o
excesso de frio interior ou exterior
no organismo consome o Yang.
Chamado de Frio-Cheio.
Yin
Yang
Um exemplo disso ocorre quando o
excesso de calor, que pode ser
exterior ou interior, consome os
fluídos corpóreos e conduz à
secura, chamado Calor-Cheio.
25
Figura 5: Consumo do Yang
Figura 6: Consumo do Yin
Com base nos diagramas anteriores, cabe afirmar que toda a estratégia
terapêutica da Medicina Tradicional Chinesa pode ser resumida a tonificar o Yin ou
Yang deficientes ou dispersar o Yin ou Yang em excesso.
Para melhorar o entendimento da medicina tradicional chinesa, é necessário
definir os termos: Jing, Jin ye e Xue, que são conhecidos como substâncias vitais, e
esclarecer Zang Fu.
Jing é traduzido como ‘essência’, termo utilizado em três contextos diferentes:
essência (Jing) pré-celestial, essência (Jing) pós-celestial e essência (Jing) do rim.
A essência pré-celestial é formada das energias sexuais do homem e da mulher,
no momento da concepção, e nutre o embrião e o feto durante a gravidez, sendo
também dependente da energia da mãe. É também ela que determina a constituição
básica de cada pessoa, sua força e vitalidade – isso faz cada indivíduo ser único.
Uma vez herdada dos pais na concepção, pode-se dizer que é fixa em quantidade e
qualidade; entretanto, ela pode ser positivamente afetada, mesmo não havendo
acréscimo quantitativo.
A essência (Jing) pós-celestial é originária dos alimentos. Após o nascer, o
Yin Y
ang
Yin
Yang
Acontece quando a energia Yin do
organismo está depauperada. Pode
resultar em sintomas como excesso
de calor, semelhante ao excesso de
Yang. É chamado de Calor-Vazio.
Acontece quando a energia Yang
do organismo é deficiente. Favorece
resfriados e calafrios, que até são
parecidos com os sintomas de
excesso de Yin. É chamado de Frio-
Vazio.
26
recém-nascido começa a se alimentar, beber e respirar, de forma que o estômago,
pulmão e baço em funcionamento produzem o Qi a partir dos alimentos e do ar.
A essência (Jing) do rim é mais um tipo específico de energia. É derivada tanto
da essência pré-celestial como da pós-celestial e é armazenada no rim (também
denominada Shen).
O Xue, cuja tradução aproximada é ‘sangue’, apresenta um significado diferente
do que obtém na medicina ocidental. Na medicina tradicional chinesa, o sangue é,
em si mesmo, uma forma densa Qi. Ele depende do Qi nutritivo, do líquido corporal,
da essência da medula óssea e do Qi defensivo; além de depender também do Qi
para circular.
Jin ye é o nome que sintetiza todos os líquidos normais do corpo, incluindo suor,
lágrima, saliva, suco gástrico e secreção nasal.
Zang Fu corresponde ao sistema de órgãos e vísceras. Zang são os órgãos
sólidos e considerados os mais importantes na fisiologia corporal. Sua função é
produzir e estocar as substâncias vitais, ou seja, energia (Qi), sangue (Xue),
essência (Jing) e o líquido corporal (Jin ye). Os órgãos Zang são em número de seis
e correspondem a: coração, pulmão, rim, fígado, baço e pericárdio. Fu são as
vísceras ocas e correspondem a: bexiga, estômago, intestino delgado, intestino
grosso, vesícula biliar e triplo aquecedor. O triplo aquecedor não tem correspondente
na medicina ocidental. Como o nome indica, é um conjunto de três aquecedores:
superior, médio e inferior, associado a uma divisão corporal. Essa divisão
assemelha-se à divisão ocidental de tórax, abdome e pelve, mas com diferenças
funcionais, como, por exemplo: distribuir o Qi ancestral e distribuir o líquido corporal
entre os órgãos. Portanto, o triplo aquecedor pode ser definido como uma rede de
canais que interconecta os órgãos Zang Fu e os aquecedores.
A teoria Zang Fu é uma teoria holística, que visa a compreender as relações das
partes do corpo entre si com o todo. No Zang Fu, os órgãos e as vísceras possuem
funções fisiológicas semelhantes às atribuídas a eles na medicina ocidental,
entretanto são muitas as diferenças entre as duas medicinas.
Na concepção chinesa, os órgãos e vísceras são responsáveis pela integração
dos fenômenos energéticos que agem tanto nas manifestações somáticas como
mentais. Por exemplo, O coração junto com o rim são considerados os órgãos Zang
mais importantes, pois relacionam-se com funções primordiais, ou seja, o coração é
como um ‘monarca’, ele controla a mente, os cinco órgãos Zang e as seis vísceras.
27
Controlar a mente tem o significado de consciência (capacidade de dosar razão e
emoção) e pensamento.
A formação da energia mental depende das essências congênita e adquirida
depois do nascimento. As essências, Qi, Xue e os líquidos orgânicos formam as
bases substanciais das atividades fisiológicas. Por isso, quando as essências e o Qi
estão plenos, a mente é boa e vice-versa.
O consumo ou o esgotamento das essências e da energia, a perda de sangue e
dos líquidos orgânicos causam as alterações fisiológicas da energia mental.
O coração relaciona-se com a língua, influencia a cor e o formato dela, associa-
se principalmente com a sua ponta. A fala é comandada pela língua, portanto,
quando existe algum distúrbio da fala (afasia, gagueira, mutismo etc.), isso significa
que o coração está afetado energeticamente.
O fígado é o responsável por todas as atividades fisiológicas conhecidas do
próprio fígado e também pela atividade mental, raciocínio, decisão, emoções como
raiva, ódio, ira, tensão etc. A energia de fígado controla os tendões e ligamentos,
fazendo com que eles movam-se livremente. Se a circulação energética estiver
alterada, aparecerão contraturas musculares das mãos ou dos pés, relaxamento e
rigidez anormais das articulações. Os olhos estão relacionados a todos os órgãos
internos, especialmente ao fígado: a pálpebra inferior relaciona-se ao rim, baço e
estômago, a pálpebra superior ao coração e à bexiga etc.; porém, o canal de energia
do fígado emite um ramo que se conecta aos olhos. Explica-se, portanto, porque
muitas manifestações patológicas do fígado são exteriorizadas nos olhos, como
icterícia, prurido ocular, irritação ocular etc.
O rim na MTC, é considerado ‘a raiz da vida’. Como mencionado, relaciona-se à
função de armazenar a essência, que é a fonte de todas as estruturas do corpo. A
essência e o Qi ancestral relacionam-se com o núcleo da célula, com o DNA e a
informação genética. Conseqüentemente, várias funções dos rins, na MTC, estão
relacionadas à essência e ao Qi ancestral, não correspondendo ao conhecimento
ocidental, apesar de a medicina chinesa reconhecer o rim como órgão que filtra o
líquido corporal e excreta o líquido túrbido.
Uma das funções dos rins na MTC é de estocar a essência e dar origem a vida.
Para Yamamura (1993, p. 7), o embrião forma-se às custas da ‘energia ancestral
essencial’, que origina os esboços energéticos dos órgãos e vísceras. A partir da
fase trofoblástica, com a integração do Qi materno, a energia ancestral essencial,
28
associada a esse Qi materno, forma a ‘energia fetal’, que passa a formar os órgãos,
as vísceras e as demais estruturas do corpo.
“No período fetal, a parte Yang dos órgãos e das vísceras procura exteriorizar-se,
formando verdadeiros Canais de Energia que, após a incorporação da matéria, irão
constituir a forma física dos membros e do tronco” (p. 7).
Os canais de energia constituem um meio de ligação dos órgãos e vísceras com
o exterior e deste com o interior, transmitindo e recebendo as diversas formas de
energias desses meios.
Segundo o Nei Ting, citado por Gomes et al (1993), os canais ligam-se entre si,
seguindo uma certa ordem e formam uma rede que se estende por todas as regiões
do corpo com circulação permanente de energia.
Os ocidentais denominam os canais de energia de meridianos, em
correspondência aos meridianos terrestres (linha imaginária de energia). A
circulação de energia ocorre de modo semelhante aos canais da rede nervosa e da
rede sangüínea. À medida que a energia se mobiliza, o sangue a acompanha.
Os meridianos têm função essencial de manter a homeostasia de energia vital,
resultando, por um lado, no funcionamento constante dos órgãos internos e, por
outro, promovendo defesa às agressões constantes das energias cósmicas (calor,
frio etc. Essas energias cósmicas podem ocorrer em excesso real ou falsa, em
relação à vitalidade do corpo).
Essa modulação de energia, nos meridianos, permite assegurar ao mesmo tempo
o equilíbrio do corpo, dos diferentes órgãos e também o equilíbrio do ser vivo com o
seu ambiente.
Os canais de energia dividem-se em três categorias: principais, curiosos e
distintos. Há, ainda, as ramificações e os canais secundários. Neste estudo, serão
abordados os 12 canais principais e curiosos, pois são os mais importantes dentre
os sistemas de canais de energia.
Os principais canais de energia apresentam uma parte profunda que corresponde
ao trajeto dentro das cavidades torácica e abdominal, onde acontecem trocas
energéticas internas entre órgãos e vísceras acopladas. Uma vez que emergem das
cavidades torácicas e abdominais, os canais de energias principais correm por entre
os ossos e os músculos ou por entre os músculos do tronco e dos membros, até
atingir as extremidades dos dedos das mãos e dos pés. Os 12 canais principais são
formados pelos canais da mão e do pé, e podem ter características Yin e Yang. São
29
constituídos por quatro grupos: três canais Yin da mão, três canais Yang da mão,
três canais Yin do pé e três canais Yang do pé. São denominados de Yang ou Yin
segundo a natureza Yin e Yang dos órgãos. Os canais Yang pertencem às vísceras
(Fu) e circulam pelo lado externo dos membros; os canais Yin pertencem a Zang
(órgãos) e circulam pelo lado interno dos membros; os canais da mão percorrem os
membros superiores, enquanto os do pé circulam pelos membros inferiores,
conforme demonstrado abaixo:
Quadro 4: Circulação dos principais canais de energia
Classificação dos doze Canais PrincipaisCanais Yin (pertencem
a Zang)Canais Yang
(pertencem a Fu)Parte que percorrem (osCanais Yin, pelo lado interno, eos canais Yang, pelo ladoexterno)
Canal do Pulmão Canal do IntestinoGrosso
Canal da Circulação-sexo
Canal do TriploAquecedorDa mão
Canal do Coração Canal do IntestinoDelgado
Membrossuperiores
Linha anterior
Linha média
Linha posterior
Canal do Baço-Pâncreas
Canal do Estômago
Canal do Fígado Canal da Vesícula BiliarDo péCanal dos Rins Canal da Bexiga
Membrosinferiores
Linha anterior
Linha média
Linha posteriorNa parte inferior da perna e no dorso do pé, o Canal do Fígado está na frente e o Baço-Pâncreas no meio, e depois de cruzar-se a oito tsun (extremos das pregas interfalângicas dodedo médio da mão equivalem a um tsun) acima do tornozelo na face medial, o Canal doBaço-Pâncreas vai pela frente e o do Fígado pelo meio.
Fonte: Chonghuo, T.Tratado de Medicina Chinesa.São Paulo:Roca, 2003.
É importante notar que cada um dos meridianos principais está presente tanto do
lado esquerdo quanto do lado direito do corpo, simetricamente. Têm-se, portanto, 24
meridianos principais.
A circulação externa do meridiano do ‘pulmão’ inicia-se no tórax, na região
subclavicular, percorre o braço e o antebraço pela face inferior e termina no polegar;
o meridiano do ‘coração’ nasce na cavidade axilar, passa à face interna do braço,
segue pelo antebraço, cruza o punho por sua parte mais interna (posterior) e termina
na extremidade do dedo mínimo; e, entre ambos, está o meridiano da ‘circulação-
30
sexo’, que parte do tórax externamente ao mamilo, passa para o braço e termina na
extremidade do dedo médio.
Pela face externa ou posterior do braço tem-se três meridianos Yang, também
um para cada nível ou estágio de Qi: O meridiano do ‘intestino grosso’, que inicia na
ponta do dedo indicador, percorre a mão, o antebraço, o braço, o ombro, o pescoço,
a face e termina junto à asa do nariz; o meridiano do ‘intestino delgado’, que
principia na extremidade do dedo mínimo, continua pelo bordo da mão, do antebraço
e braço, cruza o ombro e a espádua em zinguezague, entra no pescoço e chega à
face, vindo terminar no pavilhão da orelha; e, entre ambos, há o meridiano do ‘triplo
aquecedor’, que nasce na extremidade do dedo anular, sobe pelo dorso da mão,
antebraço e braço, ganha o ombro, a nuca, contorna o pavilhão da orelha e termina
no fim da sobrancelha.
Partindo da cabeça e chegando ao pé, tem-se mais três meridianos Yang,
descendentes e externos, um para cada nível ou estágio de Yang Qi: o meridiano do
‘estômago’, que parte do meio da cavidade orbitária inferior, desce pela face, atinge
o pescoço, o tórax e o abdome, introduz-se na perna e termina na extremidade do
segundo dedo do pé; o meridiano da ‘bexiga’, que começa no ângulo interno do
olho, sobe pela fronte, cruza o crânio da frente para trás, por fora da linha mediana
desce pela nuca, ganha a espádua e a percorre de cima para baixo perto da linha
meridiana, chegando até a extremidade do cóccix, onde desaparece da superfície e
reaparece na parte alta da espádua, seguindo um curso paralelo à linha anterior,
entrando na perna, que percorre em sua face posterior e depois na externa,
terminando na extremidade do quinto dedo do pé; há ainda o meridiano da ‘vesícula
biliar’, que se origina no ângulo externo do olho e percorre o crânio, descrevendo
uma série complexa de curvas, chega ao ombro, continua pela face lateral do tórax e
desce pela perna, passando por sua face lateral externa, para terminar na
extremidade do quarto dedo do pé.
Por fim, para cada um dos três níveis ou estágios de Yin Qi, tem-se mais três
meridianos ascendentes e internos, que fazem o caminho inverso, do pé ao tórax,
completando o ciclo do Qi: O meridiano do ‘baço-pâncreas’, que sai do grande
artelho, passa pelo bordo interno do pé, face interna da borda da perna e coxa, face
anterior do abdome e lateral do tórax e termina no sétimo espaço intercostal; o
meridiano dos ‘rins’, que inicia na planta do pé, sobe por sua face interna, pela face
interna da perna e da coxa, percorre o abdome e o tórax próximo à linha mediana e
31
termina sob a clavícula; e o meridiano do ‘fígado’, que começa na extremidade do
dedo grande do pé, segue por seu bordo interno, continua pela face interna da perna
e coxa, ganha o abdome e termina no sexto espaço intercostal.
Os canais de energia ‘curiosos’ também chamados de ‘extras’, ‘maravilhosos’,
têm a finalidade de levar o Qi e o Xue para os espaços situados entre os canais de
energia principais, assim como de promover ligações entre o Zang Fu e os canais de
energia.
Os canais de energia ‘curiosos’ são oito. Deles, serão demonstrados o Du Mai e
o Ren Mai, também conhecidos como ‘vaso governador’ e ‘vaso concepção’,
considerados importantes por suas relações com os canais de energia principais e
também por interligar-se. Du significa ‘governador comandante’. O canal de energia
Du Mai tem por função comandar todos os canais de energia Yang do corpo. O
trajeto externo inicia-se na região perineal entre a ponta do cóccix e o ânus e
ascende na linha média do corpo da região posterior até a face interna do lábio
superior.
Ren significa ‘responsabilidade’. O canal de energia Ren Mai tem por função
comandar todos os canais de energia Yin do corpo. Inicia-se no centro do períneo,
ascende na linha média do corpo da região anterior até a mandíbula, na linha
mediana, numa depressão óssea situada entre o queixo e o lábio inferior.
Ao longo de todo o corpo estão distribuídos 108 meridianos. Neles estão situados
os pontos de acupuntura, que correspondem aos pontos de comunicação entre o
exterior e o interior do corpo.
Segundo Yamamura (1995, p. 40), os pontos de acupuntura são locais
circunscritos da pele, com alguns milímetros quadrados, por onde a energia dos
canais de energia e dos órgãos internos atinge a superfície. Esses pontos
apresentam características bioelétricas próprias, podendo, na dependência do grau
das variações energéticas, tornarem-se dolorosos. Os pontos comunicam-se com os
canais de energia, onde formam um conglomerado de energia e de sangue, que age
como um propulsor da circulação de energia, direcionando-a para as mais diversas
partes do corpo. Essa distribuição de energia é feita pelos meridianos principais,
observando os princípios do Yang e do Yin, além de os canais ‘curiosos’, ‘distintos’ e
‘tendino-musculares’. Dessa forma, um ponto de acupuntura, situado numa
determinada parte do corpo, pode ter ação nas diversas partes do corpo.
O número total de pontos de acupuntura é aproximadamente 340, distribuídos
32
nos meridianos. O meridiano com maior número de pontos é o da bexiga, com 67
pontos. Cada ponto do meridiano específico possui características e funções
próprias, tais como: tonificação de Qi, dispensão de Qi excessivo, remoção da
obstrução de Qi, eliminação de energia perversa3 etc.
A circulação de energia nos canais de energia pode ser dificultada por vários
fatores, o que acarreta adoecimento do ser humano.
1.3 Terapeuta Natural
Partindo da concepção de Leloup (1998), que enfatiza que o Terapeuta Natural é
aquele que cuida do SER em todas as suas dimensões (corporal, psíquica e
espiritual), ou seja, da sua integralidade, chega-se à conceptualização do que seja
um terapeuta natural.
A palavra ‘natural’ soma-se à palavra ‘terapeuta’ no sentido de retomar as idéias
dos cuidados que acompanharam a espécie humana. Sabe-se que os tratamentos
que pertencem às terapias naturais são, provavelmente, tão antigos quanto a
espécie humana. Entretanto, nos últimos 200 anos, muitas dessas terapias naturais
foram esquecidas devido ao progresso da moderna medicina científica (tecnicista,
racionalista, especialista), tendo uma ação direta na formação e na prática dos
profissionais que se destinam a cuidar de seres humanos.
Então, nos primórdios da humanidade, os cuidados eram feitos segundo o ciclo
da vida natural, portanto, atrelados aos fenômenos da natureza (clima, ciclo da terra,
ciclo da lua, dos planetas...). Essa natureza era tanto interna (sintonia4) quanto
externa (sincronia) com o outro e o cosmos. Esses cuidados eram prestados por um
SER que se percebia integrado à natureza, aceitava seu potencial intuitivo, sem
negar o estudo aprofundado dos elementos que a natureza terra e lua, sobretudo,
forneciam-lhe.
Com o avanço gradual e progressivo da razão, deixando de lado tudo o que é da
ordem da emoção, do sensível, da intuição, porque não são passíveis de se explicar,
3 São energias do meio ambiente (frio, vento, umidade) quando vencem as barreiras naturais deproteção, penetram no corpo através dos pontos de acupuntura.4 Ocorre a sintonia quando o ser humano consegue detectar suas emoções vividas no momento eintegra-las, entrando num perfeito estado de equilíbrio.
33
o cuidado gradativamente e progressivamente ficou ao encargo daqueles que
dominavam a escrita, e o saber dito científico (racional). Como conseqüência desse
inegável avanço científico e tecnológico, houve um distanciamento maior da
interação pessoa à pessoa, e desvalorização dos processos naturais.
As pessoas, dando-se conta da nocividade e da artificialidade do seu processo
de viver, retomaram a prática das terapias naturais como meio de atingir uma melhor
qualidade de vida. O ser humano não é simplesmente uma máquina física, mas uma
sutil e complexa combinação de corpo, mente, espírito e natureza, sendo que todos
ou qualquer um desses fatores em desequilíbrio podem causar problemas de saúde
ou contribuir que ocorram.
Ora, se o cuidador de saúde é uma pessoa vista dentro dessa compreensão, seu
preparo para a ação de cuidar não pode ser dissociado dessa complexa relação ser
humano – natureza – saúde. Logo, sua formação precisa recuperar a natureza como
elemento forte no processo de cuidar: a pessoa não pode ser cuidada isoladamente
por seus sintomas físicos a partir de uma padronização de soluções indistintas de
suas condições emocionais, sociais, espirituais. Cada pessoa é um ser
completamente original e individual, que não pode ser cuidado exatamente da
mesma maneira que outra pessoa foi. Da mesma forma, um cuidador é uma pessoa
original e individual que não pode ser ‘moldada’ exatamente da mesma maneira que
outro cuidador. Ele possui crenças e valores que interferem na sua compreensão
sobre ser humano, saúde e cuidado. Se esse cuidador acredita que existe uma força
natural de cura no universo, como ele pode negligenciar a sua crença no ato de
cuidar?; como ele pode fazer de conta que o próprio ser humano não é uma força
potencializadora de cura?; como ele pode negar a influência do ambiente no
processo de cuidar?; como ele pode ignorar a fé do outro em algo maior que o
simples ato medicamentoso de cuidar?; como ele pode impor uma forma de cuidar
sem colocar-se no lugar do outro?.
Das reflexões acima, estruturou-se a concepção do Terapeuta Natural como
sendo aquele que cuida do ser humano na sua integralidade sem negar a sua
própria integralidade, buscando a todo o momento entrar em sintonia consigo
mesmo para sincronizar-se com o Cosmo e com o outro. Assim sendo, ele coloca-se
como um elemento mediador entre a grande Fonte de Energia Cósmica e a grande
fonte de energia do próprio cliente. Logo, estabelece uma comunicação para a ação
34
(cuidado) de SER para SER5.
Sua tarefa é cuidar, já que a natureza é quem cura:
Antes de tudo cuidar do que não é doente em nós, do ser, do soproque nos habita e inspira. Também cuidar do corpo, templo doespírito, cuidar do desejo, reorientando-o para o essencial; cuidar doimaginal das grandes imagens arquetípicas que estruturam a nossaconsciência e cuidar do outro [...] (LELOUP, 1998, p. 9-10).
A comunicação de Ser para Ser, entende-se como a comunicação de
essência para essência. A poesia a seguir demonstra como o ser humano no seu
cotidiano passa cada vez mais se distanciar de sua essência:
Apertam-me a garganta para que eu não grite, e eu não grito;Matam-me a criança que em mim ensaia um sorriso, e eu não sorrio;Pisam-me os calos pra que eu não me alegre, e eu não me alegro;Chamam-me de bobo quando faço graça, e eu não me descontraio;
Fazem-me gracejos quando a dor me dilacera o peito,Para que eu não chore, e eu não choro;
Convencem-me que faz mal sentir saudades, e eu não sinto saudades;Ensinam-me que é feio ficar triste, e eu não entristeço;
Dizem-me para amar quando sinto ódio, e eu não odeio;Cobram-me a competição e o desamor,
Quando quero apenas amar, eu não amo.Depois, onipotentes, vêm-me falar
De minha apatia,De mina impotência,
De minha falta de energia,De minha insensatez,
De minha frigidez,De minha insensibilidade,
E com já não mais lhes entendo a linguagem,E como já não mais faço parte do mundo deles,
E como já não mais percebo a realidade,Rotulam-me um nome qualquer
E me marginalizam em uma das prateleiras da vida.
(Poesia de José Roberto da Silva Fonseca)
5 A princípio para se entender como esta comunicação se dá, é importante colocar em evidência aconcepção de essência, já que a construção desta comunicação se dá ao longo de todo o estudo.Entende-se por essência o estado que o ser humano traz consigo naturalmente, um estadoespontâneo e de paz original, que garante a conexão consigo, com o outro e com a Fonte de EnergiaCósmica.
35
2 O PROCESSO DE ADOECIMENTO DO SER HUMANO
Até este capítulo, a preocupação foi mostrar a influência de duas formas de
pensar complementares na construção do processo de ser saudável do ser humano.
Entretanto, como o próprio nome ‘processo’ indica, existe um dinamismo entre as
duas forças paradoxais constitutivas do ser saudável: a saúde e a doença. Neste
momento, a ênfase é dada no processo de adoecimento humano, sob as duas
ópticas teóricas até então discutidas, partindo-se da premissa de que a doença é o
resultado do desequilíbrio entre aquilo que alguém parece ser aos olhos dos outros
e a ele mesmo, e aquilo que ele realmente é, muitas vezes, camuflado sob diversas
máscaras do viver.
A palavra doença, nessa acepção, compreende também mal-estar que faz parte
do cotidiano da vida do ser humano. Afirma-se, junto com Leloup (1998, p. 79), que
“a saúde está na harmonia entre a palavra e o pensamento, entre a palavra e a vida
[...] entre o SER essencial e ser existencial”. Conseqüentemente, a doença é a
manifestação dessa desarmonia.
Para elucidação do processo de adoecimento, a depressão põe-se como sendo o
estado de doença/desequilíbrio energético. Ela foi o elemento determinante deste
estudo, dentro do processo de cuidar. A partir de sua compreensão, como
manifestação da ausência do estado de felicidade humana, de busca de prazer,
focalizam-se as ações do terapeuta natural.
2.1 A Concepção da Medicina Tradicional Chinesa (MTC)
O equilíbrio é o objetivo fundamental da medicina tradicional chinesa para que o
ser humano seja saudável. Esse equilíbrio deve estar dentro do indivíduo, entre o
indivíduo e a natureza e entre o indivíduo e a sociedade. Na concepção holístico-
ecológica de Patrício (1996), o ser humano vem a este mundo de relações com os
outros com possibilidades de ser, estar, fazer e ter, onde a construção de sua
consciência guiará seus caminhos no processo de viver. Significados, imagens,
36
razão e sentimentos orientam suas atitudes éticas e estéticas na vida e seu objetivo
é a busca da melhor qualidade de vida.
Para a Medicina Tradicional Chinesa, o processo de adoecimento inicia-se com a
desarmonia do Yang e do Yin, que pode ocorrer no nível dos canais de energia ou
dos órgãos e vísceras. Os responsáveis pela desarmonia tanto podem ser de origem
interna como de origem externa.
Quanto aos fatores externos, o clima (vento, frio, calor, umidade, secura, calor de
verão) é a principal fonte de adoecimento. De modo geral, se o corpo está saudável
e forte, o Yin e Yang estão em equilíbrio. O Qi será suficiente e o corpo não será
afetado pelas variações climáticas, a menos que estas sejam extremas, assim como
prolongadas. Se houver uma desarmonia interna, e o corpo (principalmente o Wei Qi
- energia de defesa) estiver enfraquecido, os fatores climáticos poderão invadir o
corpo. Esses fatores serão considerados ‘perversos’, que se tornam lesivos quando
envolvidos com a desarmonia correspondente dentro do corpo, provocando
dificuldades de circulação de energia, ou mesmo estagnação e bloqueios, com
conseqüente aparecimento de dor. Caso essas ‘energias perversas’ não sejam
liberadas ou neutralizadas, podem penetrar mais profundamente e atingir órgãos
internos.
Os fatores internos referem-se à alimentação irregular, emoções reprimidas,
estresse, à fadiga física, mental e sexual e às intoxicações:
• A alimentação é considerada um fator determinante da saúde do ser humano.
Portanto, muitos princípios relativos a ela devem ser respeitados, por exemplo:
Os alimentos devem ser ingeridos quando ocorre a elevação do Yang cósmico
(período da manhã) e devem ser ricos em energia e matéria; a alimentação
noturna deve ser feita até às 21h – se feita após esse horário, favorece
deficiência de energia dos órgãos e aumento da energia Yin do corpo; os
alimentos excessivamente condimentados aumentam o Yang do corpo e, com o
tempo, acabam lesando o Yin dos órgãos; a alimentação em excesso lesa a
energia do baço-pâncreas.
• A fadiga física consome a energia Yin dos rins e do fígado, a mental consome a
energia do baço-pâncreas e do fígado e a sexual leva à deficiência da essência
(Jing) pelo enfraquecimento do Qi dos rins.
37
• As intoxicações causadas por drogas inalantes afetam o Yin do pulmão e as de
consumo por via oral ou parenteral podem afetar o Yin do fígado e/ou dos rins.
• As emoções, de maneira geral, quando excessivas, lesam o Yin dos órgãos.
Entretanto, as emoções nem sempre são consideradas fatores patológicos, pois
o fluxo inconstante das emoções é parte do comportamento saudável e varia com
a pressão ambiental, tendência hereditária, idade, duração etc. As emoções
somente são relacionadas à desarmonia quando provocam alteração do fluxo de
Qi, dos Zang Fu. Por outro lado, os distúrbios do Zang Fu podem resultar em
distúrbio emocional, estabelecendo-se freqüentemente o círculo vicioso como
demonstrado (Figura 7) abaixo:
Desarmonia de órgãos e vísceras
Desarmonia emocional
Figura 7: Representação do desequilíbrio corpo-mente
Por exemplo, um desequilíbrio do fígado pode aumentar a raiva e a depressão,
as quais agravam o desequilíbrio do fígado. A relação existente entre a desarmonia
dos Zang Fu e o desequilíbrio emocional irá se manifestar no comportamento,
podendo, às vezes, provocar alteração do meio ambiente. Esse fato tende a agravar
ainda mais a desarmonia interna do indivíduo, conseqüentemente, seu desequilíbrio
corpo/mente.
Em resumo, a doença, segundo a medicina tradicional chinesa, resulta dacirculação inadequada da energia nos canais de energia, nos órgãos e nas
vísceras.
2.2 A Concepção segundo o Referencial Holístico-ecológico
Para o referencial holístico-ecológico de Patrício, existem contextos que podem
38
limitar o processo de desenvolvimento do ser humano na sua relação com o outro e
com o mundo, na busca de sua felicidade, de seu prazer de viver. É claro que existe
uma dualidade nesses contextos, pois eles podem também servir de potencialidade
para o ser humano atingir a sua incessante busca de ser saudável, de ser feliz. Para
a autora (1998, p. 46-51), os contextos são: o ambiente, a família, as necessidades
do ser humano e seus recursos:
• Ambiente: É entendido como o contexto e o espaço (ambos nas dimensões
macro e microssocial) onde o ser humano vive.
É a natureza física, energética (natural ou já modificada pela cultura-ação), representada pela terra, sol, lua, ar e água, pelos seresvegetais, minerais e animais... sendo assim, o homem também e anatureza e sua essência. O ambiente é o meio sociocultural eenergético-afetivo, espiritual, e todo o que ele envolve (PATRÍCIO,1998, p. 46).
Então, esse macro contexto é constituído por microcontextos (família, escola,
religião etc.) que estão em constante dinamismo, influenciando uns aos outros, como
também o contexto macro. Se o ambiente oferece ao ser humano possibilidades de
crescimento, de criação, de desenvolvimento, ele contribuirá positivamente para sua
qualidade de vida. Em contrapartida, um ambiente limitante, castrador, desencadeia
o processo de adoecimento no ser humano.
• Família: É caracterizada “como um conjunto interpessoal e cultural, formado por
seres humanos que interagem por diferentes motivos, tais como afetividade,
reprodução ou mesmo por necessidade de convívio coletivo ou por outras
razões” (idem p. 49). A família é um ambiente de relação social dinâmica. Ela
reage às influências do ambiente em que está inserida, podendo ser tanto um
recurso para o “crescimento e desenvolvimento saudável dos seus membros”
quanto uma limitação mediante a “imposição de normas e tarefas que não façam
parte do sistema de valores dos seus membros”.
A família é, ao mesmo tempo, uma unidade prestadora de cuidados e uma
unidade que necessita de cuidados. Logo, se esse ambiente entra em
desequilíbrio, no tocante às suas necessidades e potencialidades, isso
contribuirá fortemente para o processo de adoecimento de seus membros, bem
39
como de si mesma.
• Necessidades do Ser Humano:
São eventos essenciais à vida e ao bem viver, incluindo o morrer; [...]têm caráter dinâmico no processo de viver; possuem dimensão física(natureza, transformada ou não), sociocultural, biológica, espiritual,afetiva... Dentre essas necessidades, estão a felicidade e o prazerem diversas dimensões, desde as primitivas àquelas culturais; ocuidado do corpo e do ambiente que se integram para a qualidade devida do ser humano e do planeta (idem p. 50).
Assim, para que o ser humano atenda às suas necessidades, ele busca recursos
em si mesmo, no Cosmo e na relação com o outro.
• Recursos do Ser Humano:
São suas possibilidades concretas e em potencial [...] ele próprio,consciência, liberdade, energia, criatividade, processos biológicos,suas potencialidades, necessidades motivadoras, expectativas, seusvalores, desejos e objetivos de vida, suas crenças e práticas. [...]Motivação para viver, para ser, para criar; para fazer; determinaçãopara lutar por crenças, valores e direitos; conhecimentos; [...]trabalho; produção de bens de sobrevivência e de transcendência;capacidade para amar e compartilhar, de reproduzir-se; ser feliz, terprazer; possibilidades de desenvolver reflexão crítica de seuprocesso de viver; [...] ética e estética; receptividade para estímulos;solidariedade; participação política; visão ecológica; cuidadoindividual e coletivo (idem).
Do exposto, seguindo a linha de pensamento holístico-ecológico, quando o ser
humano tem dificuldades (limitações) para satisfazer suas necessidades de bem
viver, que são manifestações nos contextos citados anteriormente, ele adoece. Ele
perde o desejo de buscar a felicidade e o prazer.
2.3 O trabalho como Fator de Adoecimento: o Estresse e a Depressão
Atualmente, o homem moderno tem apresentado muitos distúrbios
comportamentais, acompanhados de distúrbios psicossomáticos. Um dos principais
fatores responsáveis está relacionado à insegurança profissional, em um mundo
40
onde os meios de trabalho e a informação transformam-se rapidamente, gerando um
mercado de trabalho altamente competitivo. A esse fator conjugam-se outros.
Segundo Ross (1994), o trabalho em excesso é apontado como um dos
responsáveis pelo desequilíbrio energético, e pode resultar de um ou mais fatores:
insegurança, pressão de companheiros do grupo, perfeccionismo, ambição, poder
ou fama.
Mendes (1988) cita Levi, pesquisador sueco, que se destaca em estudos sobre o
estresse e seus fatores psicossociais no trabalho:
• Sobrecarga quantitativa: muita coisa para fazer, em pouco tempo;
• Carga qualitativa inferior às possibilidades: atividades pouco estimulantes ou
desafiadoras, que não exigem criatividade, monótonas e repetitivas;
• Conflitos de papéis e responsabilidades;
• Falta de controle sobre onde e como fazer, ritmo e velocidade do trabalho;
• Falta de apoio social por parte de chefias, colegas de trabalho etc.;
• Estressores físicos: barulho, calor e frio extremos, iluminação deficiente ou
excessiva, odores incômodos e outros;
• Estressores específicos da indústria: tecnologia de produção em massa,
processos de trabalho altamente automatizados e trabalho em turnos.
Dean (1995), considerou a sobrecarga de trabalho como um fator chave na
gênese do estresse, freqüentemente devido às muitas horas seguidas de trabalho. O
estresse age como um fator de tensão para a saúde física e psicológica e resulta na
dificuldade das relações interpessoais.
O estresse ocupacional é uma questão de importância crítica para as
organizações, que podem vir a arcar com os custos do estresse relacionado a
saídas, incluindo desempenho pobre no trabalho, absenteísmo, funcionários
insatisfeitos, alta rotatividade e uma variedade de problemas de saúde (ROSSI apud
BRIDI, 1997, p. 26).
Estresse é uma palavra derivada do latim, popularmente usada durante o século
VII para representar ‘adversidade’ ou ‘aflição’. Em fins do século XVIII, seu uso
evoluiu para denotar ‘força’, ‘pressão’ ou ‘esforço’, exercidos primariamente pela
própria pessoa, seu organismo ou mente.
No século XIX, engenheiros anglo-saxões passaram a usar o termo ‘estresse’
41
para indicar a tensão resultante de uma força aplicada sobre um corpo, ou seja,
estressava-se o objeto até seu ponto de ruptura, para testar sua resistência.
Foi apenas no século XX que as ciências biológicas e sociais iniciaram a
investigação de seus efeitos na saúde física e mental das pessoas. Para este
estudo, a mente tem uma concepção mais ampla do que puramente o aspecto
intelectual, cognitivo. Ela é a consciência transcendental, aquela que vai além do
sujeito e do objeto. Aquela que é mais sutil do que a própria emoção, em que o
estresse está vinculado à sensibilidade do sujeito frente ao seu objeto (doença), ou
seja, sua percepção. “[...] há uma visão de mundo, um panorama mental, em que
certas coisas são desejadas e certas coisas pretende-se evitar; e, não se podendo
ter o que se quer ou não se podendo evitar o que não se quer, emoções negativas
surgem” (GUERRA, 2000, p. 197-198), transformando-se em lutas internas,
conseqüentemente, em situações estressantes.
Do ponto de vista biológico, Seyle (1956, 1976) conceituou estresse como: “uma
resposta inespecífica do corpo a qualquer demanda, independentemente de sua
natureza, que inclui uma série de reações fisiológicas”, à qual denominou Síndrome
de Adaptação Geral (SAG). Portanto, estresse indica que há dificuldades no
processo de adaptação. Em intensidades e freqüências elevadas, o organismo
tornar-se-á incapaz de reequilibrar-se homeostaticamente e adoecerá .
A adaptação é um processo individual e contínuo, ao longo da vida das pessoas.
Cada indivíduo possui diferentes níveis de capacidade para enfrentar e responder
aos agentes estressores. Isso significa que alguns estímulos podem se processar
positivamente para certos indivíduos e negativamente para outros.
Selye (1956, 1976) afirma que a capacidade de resistir ao estresse (SAG),
desenvolve-se em três fases distintas:
• Reação de alarme, de alerta: Chamada também de fase aguda ou de defesa
inicial. Nessa fase, o corpo procura se adaptar à nova situação, resistindo até
certos limites. O organismo prepara-se para a reação de luta ou fuga, que é
essencial para a preservação da vida. Portanto, os sinais e sintomas presentes
nessa fase, tais como: mãos e pés frios, boca seca, aumento da sudorese,
taquicardia e outros, referem-se ao preparo do corpo e da mente para uma
possível batalha.
42
• Fase de Resistência também chamada fase de adaptação: Se o estresse
persiste, o organismo tenta uma adaptação, para manter sua homeostase
interna. A duração desse período depende da adaptabilidade inata do indivíduo.
É nessa fase que começam a aparecer as primeiras conseqüências mentais,
emocionais e físicas do estresse crônico. Aqui as reações são opostas àquelas
que surgem na primeira fase e muitos dos sintomas iniciais desaparecem dando
lugar a outros como: perda de concentração, instabilidade emocional, depressão,
palpitações cardíacas, formigamento das extremidades, mudança de apetite,
dores musculares, dores de cabeça freqüentes etc. Tudo isso provoca uma
sensação de desgaste, mas muitas pessoas ainda não conseguem relacioná-la
ao estresse. Assim, a síndrome pode prosseguir para a sua fase final e mais
perigosa.
• Fase de exaustão: Se o estressor for contínuo e superior à capacidade de
resistência e a pessoa não possuir estratégia para lidar com o estresse, o
organismo exaure sua reserva de energia adaptativa e, a partir de então,
sucumbe aos efeitos do estresse, ocorrendo a instalação de doenças físicas ou
psíquicas. Nessa fase, alguns sintomas iniciais reaparecem e outros novos
desenvolvem-se, tais como: diarréia freqüente, excesso de gases, tontura
freqüente, doenças dermatológicas, gastrite, hipertensão e depressão.
A capacidade de resistência aos estímulos estressores varia de pessoa para
pessoa. Segundo Wisner (1994 ,p.19), todo indivíduo chega ao trabalho com seu
potencial genético, “remontando o conjunto de sua história patológica a antes do
nascimento, à sua existência in útero, e com as marcas acumuladas das agressões
físicas e mentais sofridas na vida. Ele traz também seu modo de vida, seus
costumes pessoais e étnicos, seus aprendizados”.
Kawakami apud Bridi (1997), em um estudo longitudinal, conclui que o estresse,
devido a inadaptabilidade ao trabalho, está significantemente associado aos
sintomas de depressão.
Portanto a relação entre estresse e depressão é inequívoca, tanto do ponto de
vista psicológico, biológico e social quanto do ponto de vista transcendental.
A depressão pode ser considerada “o mal do século” tal sua incidência (Arsego,
1996). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 200
43
milhões de pessoas em todo o mundo padecem desse sofrimento. A cada ano,
aparecem dois milhões de novos casos. No Brasil, cerca de oito milhões de pessoas
estão sofrendo de depressão. Esses números explicam o fantástico consumo de
remédios antidepressivos. O psiquiatra Jorge Alberto Costa e Silva, diretor da
Divisão Geral de Saúde Mental da OMS afirma: “para nós, a depressão é hoje um
problema maior de saúde pública”. (ARSEGO, 1996, 38).
A palavra depressão é usada para designar estados ou transtornos clínicos
(substituindo a antiga ‘melancolia’), ou seja, é uma entidade nosológica que consiste
em um grupo de sintomas que formam padrões reconhecíveis e, às vezes, mostram
uma evolução clínica, com recuperação maior ou menor entre os ataques agudos
(FURLANETTO, 1995).
Já em 450 a.C., Hipócrates, médico de Cós, descreveu um quadro de tristeza,
apatia, perda da auto-estima, ao qual denominou ‘melancolia’, pois acreditava ser
originada pela bílis negra (melanos = negro, cholle = bílis). Esse termo foi usado
durante muitos anos, inclusive por Galeno (129-199 d.C.).
O diagnóstico dos transtornos depressivos é essencialmente clínico e se baseia
na presença de sintomas psíquicos e somáticos os quais, de acordo com sua
intensidade e evolução, definirão a gravidade do quadro clínico e os subtipos
diagnósticos. De acordo com a Classificação Internacional da Doença – CID 10 –
(OMS, 1993), o indivíduo usualmente sofre de humor deprimido, perda de interesse
e inabilidade para experimentar prazer (anedonia) e energia reduzida, o que leva ao
aumento da fatigabilidade e a atividade diminuída, sendo esses os sintomas mais
típicos da depressão. Outros sintomas comuns são:
• Concentração e atenção reduzida;
• Diminuição da auto-estima e autoconfiança;
• Idéias de culpa e inutilidade;
• Visões desoladas e pessimistas do futuro;
• Idéias ou tentativas de suicídio e atos autolesivos;
• Sono perturbado;
• Apetite diminuído.
Segundo os critérios dessa classificação, para se diagnosticar um episódio
depressivo leve, são necessários pelo menos dois dos sintomas típicos (humor
44
deprimido, perda de interesse e prazer e fatigabilidade aumentada) e pelo menos
dois dos outros sintomas comuns.
Caso haja a presença de dois sintomas típicos e três comuns ou três sintomas
típicos acompanhados de quatro ou mais sintomas comuns, os diagnósticos mudam
para episódio depressivo moderado e grave, respectivamente. A duração mínima
dos sintomas para um diagnóstico confiável é de cerca de duas semanas. Quando
os sintomas são particularmente graves e iniciam-se rapidamente, o diagnóstico
pode ser estabelecido em menor período de tempo.
Entretanto, pode-se prever um quadro de depressão, bem como defini-lo, a partir
do modo como a pessoa vive e enfrenta os fatos de seu cotidiano. Existe uma
emoção maior (sutil) que origina a manifestação das emoções negativas. É um
processo interno, resultado da forma como cada sujeito vê, cria um hábito mental
que se transforma em uma reação condicionada, que gerará um impulso, uma
emoção, provocando uma ação e assim por diante6. É a instalação do ciclo vicioso
que, para ser rompido, exige uma mudança de atitudes e não puramente focalizar ou
direcionar o pensamento para mudar o que está impregnado na mente. É preciso
mudar a consciência por meio de novas possibilidades de percepção e ação. Não
basta apenas tomar antidepressivos, fazer acupuntura, sem localizar a causa que
originou o aparecimento da emoção inicial, deve-se se conectar com essa causa,
integrando-a ao seu processo de viver.
Nesta pesquisa, não será realizado o diagnóstico da depressão, dado que os
clientes deste estudo foram previamente diagnosticados.
A depressão, segundo a medicina tradicional chinesa, está relacionada com a
qualidade do ambiente onde o indivíduo vive, a qualidade de energia interna do
corpo, o bom estado da circulação do Qi Xue nos meridianos, o vigor da energia que
faz funcionar os órgãos internos, o estado do Qi dos rins e fígado (QUING, 1998).
Dessa forma, faz-se importante compreender essas dimensões de desequilíbrio
energético:
• Qualidade do ambiente:
Quing afirma que a sociedade atual impõe regras básicas que vão contra os
princípios da natureza humana.
6 Este ciclo vicioso foi proposto por Guerra (2000, p. 200).
45
Se uma pessoa está sendo forçada a ir além de suas possibilidades,a pressão mental se faz cada vez mais forte. Se chega a ummomento em que se supera o limite dessa pressão, o equilíbriomental se deteriora, aparecem os sentimentos negativos, perde-se aconfiança em si mesmo e o resultado é a doença mental (p.234 ).
Outros aspectos da qualidade do meio ambiente estão relacionados à
contaminação atmosférica e contaminação por agrotóxicos dos alimentos e da
água. Quando o fígado não consegue mais eliminar a toxidade, a pessoa pode
se tornar triste, fica mais sensível e esse estado evolui para a doença;
• Qualidade de energia interna:
Existem pessoas que, de nascimento, tem pouca capacidade para manter o
equilíbrio das vísceras. O funcionamento destas é fraco e falta-lhes a energia do
corpo, ou seja, o Qi. Por essa razão, tais pessoas não tem a capacidade
necessária para que o Qi Xue (sangue e Qi) circule bem por todo o corpo e sua
temperatura é mais baixa em relação à temperatura considerada normal.
Essas pessoas não podem absorver muito oxigênio e não podem mantê-lo em
quantidade suficiente no corpo. Finalmente, como também no cérebro o sangue e
o oxigênio necessários deixam de circular corretamente, aumenta a possibilidade
de que o funcionamento da cabeça torne-se lento e a pessoa torne-se triste,
pessimista e progressivamente desenvolva a depressão.
• Condição da circulação de Qi Xue nos meridianos:
Dos 14 meridianos que desempenham no corpo o papel de manter a saúde, três
– experimentalmente, o da bexiga, o do estômago e o dos rins, por serem canais
importantes no envio do Qi Xue pelo corpo – têm a delicada missão de fazer com
que circule bem a energia na cabeça, como descritos no capítulo 1.. Quando o Qi
do corpo e o sangue não conseguem circular livremente por esses três
meridianos, não é possível chegar oxigênio e alimento suficientes à cabeça e é
inevitável que o estado da mente e das emoções piore. Ainda, dada a
constituição física fraca e falta de Qi Xue, facilmente uma energia perversa
(vento, frio, umidade, calor etc.) do exterior pode invadir os canais de energia do
fígado, baço, pulmões, estômago e outros. Uma vez que essa energia nociva
46
penetra, o Qi Xue já não pode circular normalmente para a cabeça.
• Influência do vigor da energia no funcionamento dos órgãos:
O bom funcionamento da energia do fígado, dos pulmões e do estômago influi
diretamente na parte emocional e psíquica de uma pessoa.
• Influência do estado de Qi dos rins na mente e nas emoções:
A circulação do meridiano dos rins, na parte mais interna, percorre ambos os
lados da medula espinhal e prolonga-se até a parte central do cérebro. Daí se
compreende que o bom funcionamento dos rins esteja estreitamente relacionado
com o equilíbrio do cérebro.
Quando se armazena Qi prejudicial à saúde nos rins, aparecem sintomas, tais
como: muito sono, por mais que se durma o suficiente; a pessoa cansa-se com
facilidade; e tristeza. Isso aumenta a possibilidade de se desenvolver a
depressão.
2.4 O trabalho do Terapeuta Natural no adoecer Humano
O terapeuta natural normalmente cuida do cliente percebendo-o e analisando as
situações do seu viver cotidiano, sob a luz da integralidade do ser humano: aspectos
sociossomáticos e psíquico-espirituais.
Entretanto, como premissa básica para cuidar do outro, está a necessidade de
cuidar de si e que isto faça parte do cotidiano do terapeuta, constituindo-se, assim,
num estilo de vida. Portanto, é necessário o equilíbrio entre o cuidar de si e o cuidar
do outro, pois não se pode pensar em ser um facilitador da melhor qualidade de vida
do outro sem pensar e trabalhar a sua própria qualidade de vida.
Corroborando a afirmação acima, Heinrich e Killen (apud RADÜNZ, 1999, p. 41-
44) afirmam:[...] a sua habilidade para cuidar de seus pacientes depende emgrande parte de quão bem você cuida de você mesmo [...] e vocêchegará à conclusão de que quanto melhor você cuidar de vocêmesmo tanto melhor você viverá, tanto melhor você amará e tantomelhor você trabalhará.
Todavia, se, ao contrário, esquece-se esse cuidado cultivado diariamente em
47
todas as atividades do cotidiano humano, adoece-se, pois o equilíbrio é rompido.
Logo, o terapeuta natural precisa trabalhar a si próprio para não adoecer, pois
somente assim poderá atuar integralmente no processo de cuidado do outro. Para
tanto, existem princípios fundamentais normatizadores que ratificam o código de
ética dos terapeutas holísticos, aqui entendidos como terapeutas naturais. Esses
elementos normativos sustentam as atividades cabíveis na profissão, bem como
permitem ao usuário sancionar qualquer atitude que não corresponda a esse código
de ética. Portanto, considera-se que os terapeutas naturais pertencem a uma
entidade auto-reguladora que “se limita a aplicar sanções estatutárias aos seus
associados espontaneamente filiados e, quando muito, excluir um membro do
quadro social” (VIEIRA FILHO, 2000, p. 17). Julga-se importante a compreensão dos
elementos normativos que sustentam essa categoria de profissionais, por isso,
esses elementos são colocados em anexo (Anexo3).
Com base no seu código de ética, o terapeuta natural utiliza as mais diversas
técnicas terapêuticas naturais de cuidado, adequando-as às necessidades de cada
cliente, pois cada ser é considerado integral e único. Isso facilita a melhoria da
qualidade de vida, estabelecendo um processo interativo com o cliente, favorecendo
o seu autoconhecimento e inter-relacionando os aspectos da natureza humana. O
terapeuta avalia as condições físicas e psíquicas do cliente, juntamente com os
desequilíbrios energéticos, suas predisposições e possíveis conseqüências, além da
causa inicial que desencadeou a luta interna, a emoção negativa.
Além de mediar o auto-equilíbrio do cliente, ele crê que o próprio cliente é uma
força potencializadora de sua cura. Assim, o adoecer é também vinculado a uma
redução e/ou talvez anulação dessa força potencializadora. Logo é na revitalização
de sua força que o terapeuta natural atuará, respeitando sempre as crenças e
valores do cliente, no contexto mais amplo de seu significado.
Dessa forma, não basta apenas a aplicação de métodos e técnicas específicas
do mundo ocidental e oriental complementados. É preciso pôr-se no lugar do outro,
procurar compreender a leitura que o outro faz do mundo, do Cosmo, do seu viver
cotidiano e, embebido com esse olhar, sem perder o seu próprio olhar, cuidar
integralmente do ser humano. Para tal, é preciso ter claro que esse cuidado passará
por todos os aspectos que constroem o viver cotidiano do ser, inclusive o aspecto
religioso e/ou espiritual. Para o terapeuta natural, por exemplo, orar com o cliente
constitui uma terapia natural, em que há o resgate do Ser com a Fonte de Energia
48
Cósmica. É nesse campo que o cliente rearticula-se à sua força revitalizadora,
potencializadora de cura.
Junto com o ato de orar, o Terapeuta Natural procede também ao preparo do
ambiente, segundo os princípios da cromoterapia, de acordo com os quais cada cor
tem significado energético (cor das paredes, cor dos móveis, cor das lâmpadas:
relação direta entre visão e hemisfério direito do cérebro); da musicoterapia, que
considera que o estilo de música e sons selecionados influenciam diretamente o
sistema nervoso central do ser humano e determinam uma resposta comportamental
conseqüente (sons da natureza: pássaros, água corrente, vento, chuva sempre
associados à tipologia constitucional do ser humano, segundo a medicina tradicional
chinesa); da aromaterapia (por exemplo, uso de incenso); e da acústica ambiental,
ou seja, um local que preserve o silêncio, não permitindo a invasão de ruídos
externos durante o trabalho terapêutico, causadores de desvio de atenção e
fragmentação da percepção.
Faz parte também da terapia natural o processo interativo estabelecido entre o
terapeuta e o cliente, iniciado pelo cuidado com o ambiente, citado acima. A forma
de recepcioná-lo, do diálogo estabelecido determinam o sucesso ou não da
aplicação de métodos e técnicas específicas.
Neste estudo, buscou-se sempre permitir ao cliente reflexão sobre os possíveis
fatores responsáveis pelo seu processo de adoecimento e a escolha do melhor
caminho a ser tomado, numa incansável busca de conexão com a essência. A essa
atitude estava associada a proposta terapêutica muitas vezes fundamentada na
intuição do terapeuta, sobre as técnicas mais adequadas para o momento.
Não se pode deixar de lado o que é anterior à aplicação das medidas
terapêuticas em si (massagem chinesa, moxabustão, ventosaterapia etc.), ou seja, o
fato de o terapeuta proceder à coleta de dados clínicos e exame físico,
complementando os princípios da medicina tradicional chinesa e a formação
biopsicossocial do enfermeiro no mundo ocidental, para o estabelecimento do
diagnóstico situacional do cliente.
É esse o processo de cuidar do terapeuta natural no adoecer humano. Como
cuidar-pesquisando?
49
3 METODOLOGIA DO ESTUDO
Neste capítulo, apresentam-se os passos seguidos para o alcance do objetivo a
que este estudo se propõe: conhecer os fatores que influenciam no trabalho do
terapeuta natural durante o atendimento a trabalhadores com depressão. Trata-se
de um estudo qualitativo que permitiu a construção dialética do conhecimento,
voltada para o cuidado do trabalhador em depressão, bem como para o cuidado do
próprio terapeuta natural.
O estudo evidencia uma proposta teórico-metodológica para a ação, explicitada
durante a abordagem da realidade e traduzida por métodos e técnicas de cuidar-
pesquisando, dentro de um contexto ético.
O ponto de partida é a visão holístico-ecológica do ser, num contexto macro e
microssocial, que inclui a medicina tradicional chinesa, bem como se apóia na teoria
fundamentada em dados, caracterizando-se como uma pesquisa participante, ou
seja, uma pesquisa em que o pesquisador não precisa abstrair-se do seu objeto de
estudo para compreendê-lo, já que o próprio pesquisador está envolvido na
pesquisa.
3.1 O Método de Estudo.
Parte-se do preceito de que, por meio da reflexão crítica – não perdendo de vista
os princípios éticos e estéticos e tendo como elementos subsidiadores os métodos e
as técnicas metodológicas apropriadas a este estudo e a objetividade do observador
embebida pela subjetividade dos clientes – pode-se perceber a realidade de cada
pessoa, mediante a identificação, descrição, análise e interpretação de suas
“subjetividades objetivadas” (PATRÍCIO, 1995, p. 63).
Segundo Patrício:
A partir da visão holístico-ecológica concebe-se que todas asdisciplinas que trabalham com o ser humano, seja na produção deconhecimento ou de prestação de serviços, precisariam resgatar acompreensão da diversidade e unicidade do ser humano nas suasespecificidades biológico-cultural e espirituais, bem como osaspectos ecológicos mais amplos da vida (idem).
50
Reafirmando o que diz essa autora (1995; 1999), os métodos qualitativos de
pesquisa permitem:
• Ampliar o conhecimento já existente, tanto do ponto de vista teórico como prático,
sobre a realidade social;
• Construir novos marcos referenciais a partir da própria realidade estudada;
• Estudar e aplicar as concepções de ‘processo’ e de ‘movimento’ nas interações
humanas;
• Ouvir sensivelmente aquilo que o cliente diz, seja pela verbalização, pelo silêncio
e pelos gestos;
• Concretizar uma pesquisa holística – em que se percebem os fenômenos
humanos nas interações do contexto no qual a pesquisa se processa –,
buscando a sua totalidade, mas, ao mesmo tempo, com a consciência de que se
pode apenas aproximar-se dela;
• Considerar os fenômenos como sendo construídos pela subjetividade humana
em seus mais amplos significados, conjugando individual e coletivo, singular e
universal, natureza e cultura e assim por diante;
• Conceber e aceitar a não neutralidade do pesquisador na pesquisa, valorizando
a objetivação dos dados;
• Valorizar a criatividade do pesquisador em todo o processo da pesquisa;
• Lidar com toda a complexidade do objeto de estudo, o que permite rever os
objetivos e os métodos escolhidos, bem como “recriar instrumentos e estratégias
de abordagem que nos permitam chegar o mais próximo do fenômeno que se
deseja conhecer e compreender” (PATRÍCIO, 1999, p. 68);
• Compreender que o ser humano é um campo integrado do holomovimento
(modelo holográfico da física quântica), no qual cada um “é também um
microcosmo que reflete e contém o macrocosmo”, a nova concepção da relação
entre parte e todo (BOHM, apud PATRÍCIO, 1999, p. 68).
• Colher os dados onde as situações temáticas de estudo ocorrem;
• Observar e dialogar com os clientes selecionados para um conhecimento mútuo,
para apresentação e discussão da proposta de estudo, das técnicas a serem
aplicadas, das questões éticas, dos dias, horários e local para os encontros;
51
• Transformar a entrevista em diálogo reflexivo;
• Aplicar técnicas diversificadas para colher dados;
• Ao pesquisador utilizar sua razão e sensibilidade, sobretudo a intuição como
processo de comunicação humana (PATRÍCIO, 1995);
• Criar o diário de campo para descrever a realidade, registrando as notas de
campo e as notas do pesquisador:
Nas primeiras são registrados dados referentes ao contexto físico,cultural, social e afetivo que se está estudando: tudo o que seobserva (mais objetivamente possível) no ambiente, e nos diálogos,acompanhados de todas as expressões verbais e não verbais queocorrem. Nas outras notas, constam as reflexões do pesquisador,referentes ao método empregado, ao tema e aos seus sentimentosem relação ao estudo. No diário de campo há locais apropriados paraa análise, visto que esta é feita no decorrer do processo delevantamento dos dados (idem);
• Analisar o dado concomitante à coleta de dados, o que permitirá o
desenvolvimento gradativo do tema estudado, o ir e vir da análise para o cliente e
vice-versa, da análise para o conhecimento teórico-prático e vice-versa;
• Validar os dados com o cliente para ver sua compreensão e suas impressões;
• Analisar os dados intuitivamente de forma reflexiva e criativa (PATRÍCIO, 1995);
• Ao cliente repensar seu modo de ver e levar a vida (idem).
Além disso, o pesquisador deve demonstrar flexibilidade, valorizar e respeitar a
cultura e os sentimentos do cliente, não julgar, saber interagir por meio de técnicas
de comunicação adequadas ao momento e ter consciência de que não existem
verdades absolutas.
O método qualitativo proposto abrange, dentre outras características (PATRÍCIO,
1999, p. 20-21):
a. A identificação da história de vida e do cotidiano presente dos sujeitos
como indivíduos e coletividade.
b. A abordagem transdisciplinar das dinâmicas transpessoal e transcultural
dos indivíduos em diferentes contextos.
c. A integração das concepções da ciência, tradição, filosofia e arte.
52
d. Questões da bioética, mas a partir de uma visão sistêmica: individualidade
humana na complexidade de suas múltiplas interações naturais e sociais,
no caldo de cultura e sentimentos.
Esse método focaliza:
Analisar, refletir e fazer sínteses sobre os fenômenos humanos, num
dado contexto para conhecer e compreender o sujeito em seus
valores, desejos, crenças, mitos e conhecimentos, suas emoções de
prazer e dor, e as práticas que expressam sua linguagem particular e
coletiva (p. 20).
e, mais especificamente: “Identificar possibilidades e limites individuais e coletivos de
viver saudável, de ter a qualidade de vida de vontade e de direito” (p. 21).
3.2 Tipo de Estudo
As ciências sociais, seguindo o exemplo das ciências naturais, que classificaram
os animais, as plantas, em gênero ou tipo, ou espécies, em função de suas
características essenciais, também sentiram a necessidade de colocar em ordem, de
categorizar o que estava em estudo a fim de permitir as comparações e sobretudo a
identificação das diferenças. Entretanto, tipo e categoria não são elementos
semelhantes. A categoria tem um objetivo prático, ela ordena, classifica um
conjunto. Enquanto que um tipo de estudo vai explicitar uma combinação lógica de
atributos essenciais de um conjunto de elementos para chegar a um significado. O
tipo de estudo que se escolhe é imbricado pelo sistema filosófico no qual a pesquisa
se sustenta.
A fim de atingir o objetivo desta pesquisa, escolheu-se como tipo de estudo
qualitativo, para este trabalho, o estudo de caso múltiplo, que implica,
necessariamente, utilizar elementos da Teoria Fundamentada em Dados, na qual, a
partir da análise dos dados empíricos colhidos junto aos clientes estudados,
fundamenta-se a pesquisa na literatura pertinente. Pode-se dizer que este estudo se
53
caracteriza em uma pesquisa participante e, de certo modo, em uma pesquisa-ação,
à medida que o processo de conhecimento sobre o tema estudado foi construído no
próprio processo de pesquisa e a intenção era possibilitar a transformação da
realidade de saúde-doença envolvida nessa produção “através de processos de
educação participante” (PATRÍCIO, 1999, p. 65).
Assim sendo, ‘participação e ação’ são atividades aqui consideradas como
‘trabalho de campo’, em que a ação faz parte do momento de levantamento de
dados, ou seja, quando a análise dos dados é concomitante ao processo que se
desenvolve com o cliente (pesquisado) e ela determina a intervenção (cuidado) no
mesmo momento.
O alcance social – ou seja, as práticas de cuidado, as instituições formadoras e
prestadoras de serviço de saúde e o próprio conhecimento científico em si –,
previsto numa pesquisa-ação, dar-se-á pela divulgação e discussão do trabalho
realizado nas esferas institucionais, nas coletividades que se interessam por
beneficiar a saúde individual e coletiva, assegurando assim uma melhora na
qualidade de vida dessas comunidades.
Portanto, o ponto de pesquisa-ação ao qual este trabalho está engajado é,
justamente:
[...] contribuir simultaneamente para o alívio das preocupações deordem prática das pessoas que estão em situações problemáticas epara o desenvolvimento das ciências sociais e através decolaboração que as reuna de acordo com um esquema éticomutuamente aceitável (BARBIER, 1985, p. 38).
A opção pelo estudo de caso vem diretamente do objetivo de retratar os
fenômenos de forma aprofundada e complexa. Um estudo de caso permite que as
situações de interesse sejam observadas e analisadas na intensidade que o
pesquisador deseja. Sobre esse aspecto, Ludke e André (1986) esclarecem:
O pesquisador procura revelar a multiplicidade de dimensõespresentes numa determinada situação ou problema, focalizando-ocomo um todo. Esse tipo de abordagem enfatiza a complexidadenatural das situações, evidenciando a inter-relação de seuscomponentes (1986, p. 19).
Esse tipo de estudo consiste na observação detalhada de um contexto, que pode
ser um indivíduo, de uma única fonte de documentos ou de um acontecimento
54
específico. Os estudos de caso podem ter graus de dificuldade variável; tanto
participantes como investigadores experientes os efetuam, apresentam como
característica o fato de serem mais fáceis de realizar do que os estudos
desenvolvidos em múltiplos locais, simultaneamente, ou com múltiplos sujeitos
(SCOTT apud BOGDAN e BIKLENS, 1994).
3.3 Local e Sujeitos do Estudo
O estudo, inicialmente, foi realizado no laboratório da disciplina Métodos
Terapêuticos Alternativos. A área física, que mede aproximadamente 30m², está
situada no terceiro andar do prédio do Curso de Graduação e Pós-graduação em
Enfermagem, no Centro de Ciências da Saúde da UFSC. A escolha desse local
deve-se ao fato de que tal ambiente é utilizado para desenvolver o projeto de
extensão O Corpo como facilitador, promovendo harmoniosa integração física e
mental num processo de ensino-aprendizagem, para professores, alunos e
funcionários do Departamento de Enfermagem, o que facilitou a escolha dos sujeitos
com os quais se trabalhou nesta pesquisa.
A sala é arejada, bem iluminada, há persianas que permitem controlar a
luminosidade, e isso facilita o relaxamento dos clientes. Também possui almofadas,
colchonetes, uma maca, aparelho de som, TV e videocassete. As paredes são
revestidas com material próprio para isolamento acústico.
Esse ambiente oferece as condições mínimas necessárias para o atendimento ao
cliente, segundo a proposta terapêutica deste estudo. Contudo, ao mesmo tempo,
possui características desfavoráveis para tal, uma vez que se localiza no
Departamento de Enfermagem. Funcionários, professores e estudantes, sabendo da
presença do terapeuta e do cliente no local, interrompiam o trabalho de pesquisa
freqüentemente, quer batendo na porta, quer telefonando para o laboratório.
Logo a necessidade de não interrupção da atividade impôs-se, o que resultou na
troca de local de atendimento, que foi transferido para um espaço reservado na
residência do terapeuta, montado exatamente de acordo com os critérios mínimos
de atendimento estabelecidos pela medicina tradicional chinesa, propiciando ao
cliente e ao terapeuta conforto e bem-estar.
55
Essa sala tem aproximadamente 40m², amplas janelas que se abrem para um
jardim bem arborizado, de onde é comum ouvir o canto dos pássaros; ainda, possui
uma maca, luz direta e indireta, abajur de cromoterapia, tapetes, mesa de consulta,
porta-incenso, balança, flores naturais e material específico para a realização de
técnicas da medicina tradicional chinesa.
Percebe-se que o ambiente, no processo de trabalho terapeuta-cliente,
pesquisador-pesquisado, representa uma “unidade espacial, energética, cultural,
intelectual, afetiva”, na qual a individualidade espacial de cada um é preservada
(PATRÍCIO, 1995). Isso significa que é necessário, da parte do
terapeuta/pesquisador, um preparo adequado tanto espacialmente quanto
interiormente.
Os sujeitos do estudo são seis clientes que, na ocasião da pesquisa, possuíam
diagnóstico de depressão. Três eram integrantes do projeto de extensão O corpo
como facilitador, promovendo harmoniosa integração física e mental, num processo
de ensino-aprendizagem; além deles, colegas que atuam na área de saúde
encaminharam outros dois clientes que atendiam à proposta de pesquisa; e o último
foi selecionado pela pesquisadora, devido a sua fisionomia, que indicava sinais de
grande desarmonia energética, sendo posteriormente confirmado que ele estava
com depressão.
Por questões éticas, a esses indivíduos foi atribuída uma identificação fictícia,
representada por nomes de instrumentos musicais, porque se considerou a
harmonia energética equivalente à harmonia musical. Assim, denominam-se: Harpa,
Violino, Piano, Flauta, Violão e Teclado.
O compromisso assumido entre clientes e pesquisadora foi por escrito (Anexo 1),
envolve autorização para utilizar os dados na pesquisa e enfatiza o
comprometimento com relação ao sigilo das informações, bem como a discussão
dos dados coletados, de sua análise e compreensão pelo pesquisador.
Todas essas pessoas foram previamente informadas sobre a pesquisa que se
pretendia desenvolver, os seus objetivos, o tratamento segundo as práticas da
medicina tradicional chinesa (integradas e sem contra-indicações para o tratamento
alopático a que os clientes vinham se submetendo) e do sigilo ético. Solicitou-se
permissão para incluí-las na pesquisa, a qual foi concedida pelas seis pessoas.
56
3.4 Aspectos Éticos da Pesquisa
Segundo o Conselho Nacional de Saúde, Resolução n. 196, de outubro de 1996
(Anexo 2), as pesquisas que envolvem seres humanos devem atender a algumas
exigências éticas e científicas fundamentais. Isso implica:
1. Contar com o consentimento livre e esclarecido do sujeito da pesquisa e/ou do
seu representante legal. Exige-se que o esclarecimento dos sujeitos se faça em
linguagem acessível e que se incluam necessariamente os seguintes aspectos:
a. A justificativa, os objetivos e os procedimentos utilizados na pesquisa;
b. Os desconfortos e riscos possíveis e os benefícios esperados;
c. Os métodos alternativos existentes;
d. A forma de acompanhamento e assistência, assim como seus
responsáveis.
2. Prever procedimentos que assegurem a confidencialidade das informações, a
privacidade do sujeito, a proteção da sua imagem e a não estigmatização dele,
garantindo que as informações não serão utilizadas em prejuízo das pessoas
e/ou da comunidade, inclusive em termos de auto-estima e prestígio econômico-
financeiro.
3. Assegurar aos sujeitos da pesquisa os benefícios resultantes do projeto, seja em
termos de retorno social, acesso aos procedimentos, produtos ou agentes da
pesquisa.
4. Dar liberdade ao sujeito de se recusar a participar ou retirar o seu consentimento,
em qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma e sem prejuízo ao seu
cuidado. O termo de consentimento livre e esclarecido obedece aos seguintes
requisitos:
a. Ser elaborado pelo pesquisador responsável e expressar o cumprimento
de cada uma das exigências do Conselho Nacional de Saúde (Resolução
n. 196, de 10 outubro de 1996);
b. Ser aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, que referenda a
investigação;
c. Ser assinado ou identificado por impressão dactiloscópica, por todos e
cada um dos sujeitos da pesquisa ou por seus representantes legais;
57
d. Ser elaborado em duas vias: uma delas é dada ao sujeito da pesquisa
e/ou ao seu representante legal e a outra é arquivada pelo pesquisador.
5. Considera-se que toda a pesquisa que envolve seres humanos oferece riscos. O
dano eventual poderá ser imediato ou tardio e comprometer o indivíduo ou a
coletividade. Não obstante os riscos potenciais, as pesquisas envolvendo seres
humanos são admissíveis quando:
a. Oferecem elevada possibilidade de gerar conhecimento para prevenir ou
aliviar um problema que afete o bem-estar dos sujeitos e dos outros
indivíduos;
b. O risco se justificar pela importância do benefício esperado, isto é, se o
benefício for maior ou, no mínimo, igual ao de outras alternativas já
estabelecidas para a prevenção, o diagnóstico e o tratamento.
Além dos aspectos éticos relativos à pesquisa, os constitutivos éticos da
medicina tradicional chinesa estão implícitos nas ações terapêuticas:
1. O ser humano é uma rede de complexos campos de energia em contato com
os sistemas físico e celular;
2. A medicina tradicional chinesa, em lugar de procurar curar as doenças,
manipulando as células e os órgãos por intermédio do uso de drogas e da
realização de cirurgias, tenta atingir os mesmos objetivos manipulando os
campos energéticos sutis, favorecendo o equilíbrio energético;
3. Compreender e aceitar esses princípios implica uma atitude ética a cada
momento do tratamento.
3.5 Estratégias de Levantamento, Registro e Análise dos Dados
Os dados da pesquisa foram coletados pela pesquisadora durante três meses, no
ano de 2001, com quatro clientes, e, em tempo equivalente ao anterior, com dois
clientes, em 2002. A coleta deu-se por meio do preenchimento do instrumento de
observação, ou um instrumento de entrevista semi-estruturado (Apêndice 1),
referente ao comportamento do terapeuta frente ao cliente e às respostas não
verbais dele. Esse instrumento tem por finalidade permitir ao pesquisador conhecer
58
aspectos relativos aos fatores geradores de desequilíbrios energéticos e, ao mesmo
tempo, permitir ao cliente reflexão sobre os fatores determinantes do seu processo
de ser saudável e estar doente, bem como permitir ao pesquisador estabelecer o
diagnóstico situacional e o plano terapêutico adequado.
Nessa etapa, visualizaram-se as condições do ambiente, as condições
emocionais da pesquisadora, a qualidade da interação, se o esquema terapêutico
era seguido conforme o planejado ou se o esquema seguiu a intuição do terapeuta
no momento, a intenção de auxiliar na cura, as orações e o toque terapêutico
puramente intuitivo.
Dessa maneira, o objeto de estudo foi construído e mostrou-se além da
linguagem e da aparência, consolidando-se pelos fatos que ligavam cliente e
terapeuta no sistema de interação.
Assim, os dados obtidos nesse instrumento tiveram, em um momento, a
participação do cliente, e, em outro, a observação contextual da pesquisadora. A
análise desses dados foi textual e enfatizou a comunicação não verbal registrada na
parte de notas de campo. Daí foram identificados os núcleos temáticos das
situações vivenciadas. Após essa etapa, procurou-se respaldo teórico, para
desenvolver a parte que segue no capítulo 5.
A identificação das categorias de análise para posterior reflexão e discussão
buscou sempre o objetivo geral do estudo. Portanto, a análise visou identificar os
fatores que interferiram no processo de trabalho do terapeuta, suas inter-relações,
aqueles que contribuíram para a melhora das condições do cliente no momento da
terapia, bem como os que interferiram nesse processo: tanto os fatores internos
quanto os fatores externos do momento terapêutico
A inter-relação entre os fatores que facilitaram e/ou alteraram a resposta do
cliente ao processo terapêutico foi sustentada na complementação do referencial
holístico-ecológico com o referencial da medicina tradicional chinesa.
A análise dos dados colhidos compreendeu o diagnóstico energético em si, foi
realizada segundo os princípios da medicina tradicional chinesa em decorrência dos
dados clínicos explicados no capítulo sobre o processo terapêutico.
A técnica de análise contemplou a não linearidade e integrou a leitura intuitiva
dos dados. A análise, nesse método, utilizou a intuição reflexiva e criativa, da qual
surgiram as categorias que interferiram na resposta terapêutica, na percepção do
terapeuta. Não se trata de justapor fragmentos de teorias múltiplas, mas sim de
59
buscar a compreensão do objeto de estudo mediante o pensamento crítico-reflexivo.
A análise do método da medicina tradicional chinesa também parte de um olhar
global do cliente, porque entende que as alterações emocionais e comportamentais
do sujeito partem do desequilíbrio energético de órgãos e vísceras que
correspondem à situação saúde/doença vivenciadas no momento:
Emoções reprimidas;• Excesso de fadiga física;
• Sono/repouso prejudicados;
• Conflitos no trabalho e na família;
• Alimentação equilibrada etc.
Considerou-se um momento importante da etapa metodológica deste estudo a
devolução dos dados analisados para os participantes do estudo de forma individual,
a fim de socializar a construção mental sobre o processo vivenciado e contribuir,
ainda, como um momento de reflexão para o cliente sobre as condições que
determinaram o seu desequilíbrio energético e as condições que contribuíram para a
sua religação com o Eu interior, influenciando diretamente no seu reequilíbrio
energético.
Como um caleidoscópio, as informações, junto com as sensações do
pesquisador, vão revelando a estrutura da vivência figurativa da saúde/doença do
cliente em terapia; isso quer dizer que cada ser cria suas próprias crenças interiores
negativas ligadas ao desequilíbrio de órgãos e vísceras, como se fossem faces de
uma mesma unidade.
Faz-se necessário articular a exposição feita neste capítulo, sobre a metodologia
de pesquisa, primeiramente com o processo de trabalho do terapeuta natural, o qual
se desenvolve a seguir.
60
4 PROCESSO DE TRABALHO DO TERAPEUTA NATURAL
Neste ponto, põe-se em evidência o processo de trabalho do terapeuta,
enfocando os momentos da terapia, em uma seqüência de cinco subseções, obtida
mediante a análise dos dados, referentes aos seguintes aspectos: 1) preparando
para receber o cliente; 2) recebendo o cliente – as primeiras impressões; 3) iniciando
a interação-reflexão; 4) prosseguindo a avaliação diagnóstica; e 5) elaborando o
diagnóstico situacional – continuando a terapia.
Esse conjunto de reflexões-ações-reflexões traduz-se no que foi designado
‘processo de trabalho do terapeuta natural’. Designa-se ‘processo’ porque é
dinâmico, dialético e impõe um constante vaivém entre o que o momento da prática
mostra (razão e emoção), tanto do ponto de vista do cliente como do terapeuta
natural, e o que a teoria propõe como elementos de discussão. Dessa forma, esse
processo permite uma aquisição de conhecimentos no nível teórico, prático e
também emocional. Portanto, é o momento em que a intuição do terapeuta natural
vem contribuir para a integralidade do cuidado do trabalhador. Já a designação
‘trabalho’ justifica-se, porque se considera que o cuidado se operacionaliza de uma
forma sistematizada, organizada, conciliando razão e emoção, em prol da melhoria
da qualidade de vida do trabalhador.
4.1 Primeiro Momento – preparando para receber o cliente
Momentos antes de receber o cliente, o ambiente é preparado com música
suave, com sons da natureza. Um incenso é aceso e ligado o abajur de
cromoterapia, com a cor rosa que, na terapia das cores, significa afetividade.
O terapeuta veste o jaleco branco, senta-se, com a coluna reta e os pés apoiados
no chão, e inicia os exercícios respiratórios, inspirando profundamente pelo nariz e
expandindo o abdome, expirando também pelas narinas e contraindo o abdome, até
sentir-se relaxado. Em seguida, faz uma oração com o objetivo de ligar-se à
verdadeira fonte de energia e postar-se como instrumento mediador durante o
processo terapêutico.
4.2 Segundo Momento – recebendo o cliente: as primeiras impressões
61
O cliente é recebido na ante-sala e conduzido ao consultório. Nesse período, são
observadas as primeiras informações transmitidas pelo corpo: movimentos
corporais, expressão facial, gestos, postura, tom de voz, cor da face. Todos esses
itens fornecem o indicativo do diagnóstico Yin/Yang e dos órgãos/vísceras
energeticamente comprometidos. Por exemplo, os indivíduos que se movimentam
intensamente, expressam-se em voz alta e têm faces avermelhadas pertencem à
síndrome de Yang, com alteração energética do coração. Os indivíduos que
caminham lentamente, apresentam olheiras, rosto escuro e sem brilho pertencem à
síndrome Yin, com alteração energética de rins ou bexiga.
Nesse contexto, vale ressaltar dois exemplos. Harpa chegou caminhando com
pequenos passos, lentamente, expressando cansaço. Seu corpo estava encurvado
para frente, os braços caídos, sem movimentos. Seu olhar era parado e sem brilho.
Havia palidez acentuada de face, olheiras, queixava-se de ‘frio na barriga’, falava
pouco e com voz baixa. Todas essas características correspondem à síndrome Yin e
alteração energética de rim. Por outro lado, Violão chegou caminhando rapidamente,
com movimentos bruscos e gesticulando muito, postura ereta, rija. Seus olhos
estavam muito abertos e as sobrancelhas elevadas. Ele movimentava a cabeça de
um lado para o outro, falava muito e rápido e tinha as bochechas avermelhadas.
Essas características correspondem à síndrome Yang, alteração energética de
coração.
Nos seis clientes em terapia, a predominância era de síndrome Yin.
4.3 Terceiro Momento – iniciando a interação-reflexão
O atendimento ao cliente é feito por hora marcada e segundo a sua necessidade.
Quando ele chega ao consultório, após os cumprimentos iniciais, é convidado a
sentar-se em uma poltrona confortável. Sentado do seu lado, o terapeuta questiona
o cliente sobre como ele está se sentindo.
Os questionamentos iniciais têm por objetivo favorecer uma reflexão sobre os
fatores predisponentes do processo de desequilíbrio energético, relacionados aos
hábitos de vida, aos aspectos emocionais e profissionais (Apêndice 1). Nesse
momento, inicia-se o processo terapêutico, pois o terapeuta, estando disposto a
62
ouvir, facilita ao cliente verbalizar os agentes responsáveis pela diminuição de sua
vitalidade e ao mesmo tempo favorece o cliente escutar-se.
Se o cliente permanece em silêncio, isso requer do terapeuta muita paciência.
Nesse momento, o terapeuta fica atento a outros aspectos do comportamento do
cliente até então ignorados. De forma sutil e com a finalidade de facilitar a
comunicação, ele começa a imitar a postura do cliente, sua forma de comunicação
não verbal. Essa é uma técnica, utilizada pela Programação Neurolingüística
denominada rapport, que facilita o processo integrativo. No caso de o cliente tentar
responder, repetindo algumas palavras, sem conseguir concluir/expressar seu
verdadeiro pensamento/sentimento, da mesma forma, o terapeuta pode utilizar
recursos de comunicação terapêutica.
Segundo Stefanelli (1993), as técnicas de comunicação terapêutica facilitam o
processo terapêutico e o alcance dos objetivos. O autor afirma também que as
técnicas não existem para ser memorizadas mecanicamente; são linhas gerais de
ação. Ao usá-las, é necessário conhecimento e criatividade, a fim de que sejam
particularizadas, para cada situação específica.
Durante os questionamentos, são utilizados recursos da comunicação terapêutica
para facilitar que o cliente descreva suas experiências e verbalize seus sentimentos.
Por exemplo, Teclado tinha dificuldade de expressar o que se passava com ele,
limitando-se a responder sucintamente às questões que lhe eram postas.
Percebendo isso, o terapeuta passou a imitar sutilmente a sua postura física:
cruzando as pernas, colocando a mão direita no queixo; enquanto sustentava o
braço com a mão esquerda na altura da cintura, curvou o corpo para a frente, com a
intenção de lhe demonstrar interesse; passou a repetir frases (“E então?”, “E
depois...?”). Repetia informações dadas pelo cliente sem inflexão de voz, o que
favoreceu o cliente a continuar a falar. Esses recursos ajudam no processo interativo
e facilitam o exercício da empatia. O diálogo manteve-se por uma hora e trinta
minutos. O terapeuta neste dia encontrava-se tranqüilo, sentia que havia uma
verdadeira “troca de energia”.
A pergunta seguinte é: “Numa escala de 0 a 10, quanto você considera estar o
seu equilíbrio energético neste momento de sua vida?” Quando se atribui o valor, é
questionado qual o motivo desse valor. Nesse momento, o cliente responde
objetivamente o que naquele momento o está mais perturbando. Algumas respostas
foram as seguintes:
63
Fico com medo de não dar conta de terminar a tese, o prazo estábem próximo.
(Flauta)
Não sei o que sou depois que me aposentei. (Violão)
Várias coisas de minha vida: muita responsabilidade com meutrabalho, a metodologia é muito difícil, me sinto incapaz, filhosadolescentes...
(Piano)
Aperto na garganta, frio na barriga, choro muito, sensação de tremorinterno, não durmo, não tenho fome. Acho que não conseguireiconcluir minha tese.
(Harpa)
O ambiente do meu trabalho estava péssimo, ninguém tinha contatodireto com ninguém, era muita competição. Por isso resolvi sair.
(Violino)
Baseando-se nas primeiras respostas, são realizados questionamentos para
aprofundar as situações verbalizadas pelos sujeitos, não seguindo a ordem e nem
fazendo as mesmas perguntas do instrumento de coleta de dados. Se a primeira
causa apontada como fator de desequilíbrio energético está relacionada ao trabalho,
imediatamente é solicitado: “Fale-me sobre o seu trabalho... o que o trabalho
representa para você?”; “Como está o seu relacionamento no trabalho?”
Neste estudo, as situações que predominaram relacionam-se ao trabalho.
O trabalho era minha segurança, sabia que com aquele trabalhodava conta de tudo...
(Violão)
O trabalho representa a construção de minha personalidade, deminha vida, o que eu sou é muito em função do trabalho. Fico commedo de não dar conta de terminar a tese, o prazo está bempróximo.
(Flauta)
Acho que está tudo errado com a minha tese, não consigo fazer aconclusão, que vergonha...
(Harpa)
Não estou satisfeita com meu trabalho, faço muitas coisas que nãosão consideradas, também há muitos conflitos de valor...
64
(Piano)
Com a finalidade de favorecer a identificação de sua auto-imagem é solicitado
que o cliente, por meio de um desenho, represente como se vê atualmente. Neste
estudo, obtiveram-se as seguintes expressões:
Comentário: Me vejo com a mesa cheia de trabalho (Piano).
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Comentário: Esta é a minha sala de trabalho, onde vejo uma árvore. Estou de costas parao computador com um livro na mão, com vontade de largar o que estou fazendo, no entantoo trabalho está ali me esperando (Flauta).
Comentário: Me sinto uma árvore seca, só galho. (Harpa)
66
Comentário: Quero alcançar a felicidade, mas tenho um longo caminho. Não estou nem noprimeiro degrau. (Violão)
Comentário: Estou me sentindo amarrada. (Teclado)
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Comentário: A minha vida é como um caminho queimado, escuro, porém começo a veruma luz no fim do túnel. (Violino)
Refletindo sobre os fatores predisponentes do desequilíbrio energético, o que
predomina, em todos os clientes, são dificuldades relacionadas ao sono e a
abdicação das atividades de lazer e físicas, em prol do trabalho.
Durmo e acordo várias vezes. Costumo levantar às 6h, trabalho atémeia-noite, nos últimos seis meses, o sono tem sido de seis horas. Oideal para mim é um sono de oito horas.
Adoro fazer ginástica e caminhar, parei por causa do trabalho.
(Harpa)
Acordo várias vezes, vivo cansada. Se deito durante o dia já cochilo,mas tenho uma coisa da culpa, de achar que não posso.
(Violão)
68
Não sei o que é lazer, há muito tempo. Sempre trabalhei muito.
(Teclado)
A reflexão sobre os fatores que predispuseram ao adoecimento dos clientes
contribuiu no processo terapêutico. Por exemplo, Violão, quando, por ocasião do
primeiro retorno, questionado sobre o valor que atribuía ao seu equilíbrio energético
respondeu:Hoje me dou 1,5 pontos a mais, porque estou ganhando consciência,estou enxergando as coisas, mas ainda não estou fazendo... nãoestou me enganando, estou começando a me enxergar.
No encontro com Violão, o terapeuta encontrava-se preocupado, por ter que
cumprir muitas atividades e temia não possuir tempo suficiente para cumpri-las.
Logo após os cumprimentos iniciais, o terapeuta iniciou os questionamentos com o
objetivo de avaliar a evolução do tratamento. Neste momento, passou a utilizar
recursos para facilitar a comunicação, espelhando sutilmente alguns movimentos do
cliente: elevando sobrancelhas, adotando suas posições enquanto permanecia
sentado ao seu lado. Entretanto, o cliente limitava-se a responder sucintamente os
questionamentos. O terapeuta, neste dia, sentiu que, mesmo utilizando-se dos
recursos de comunicação terapêutica, não houve interação.
4.4 Quarto Momento – prosseguindo a avaliação diagnóstica
• Coleta dos dados clínicos e exame físico
Dando continuidade à avaliação diagnóstica, foram realizados o exame físico e a
coleta dos dados clínicos7 (Apêndice 1 – itens 3 e 4), com base no referencial da
medicina tradicional chinesa. A principal diferença dessa medicina para a ocidental
está no fato de que todos os passos da investigação, no processo chinês, são
componentes de um todo único, na valorização da subjetividade do cliente, diante do
relato de suas impressões e da forma de sentir a doença.
O diagnóstico é voltado para a compreensão das relações dos órgãos e partes do
corpo todo. Assim, os olhos são considerados a janela da energia do fígado e da
7 Dados clínicos correspondem a anamnese oriental: história da doença, investigação dos órgãos esistemas.
69
vesícula biliar; o ouvido relaciona-se com a energia de rins; as alterações na boca
estão relacionadas ao baço-pâncreas e assim por diante. Ele também visa a
estabelecer padrões básicos de reação do organismo na perda do equilíbrio
Yin/Yang excesso ou deficiência etc. Por exemplo:
a) Desconforto no estômago que melhora ao apertar corresponde a desequilíbrio
de Yin; se piora ao apertar, corresponde a desequilíbrio Yang.
b) Preferir inverno equivale a pessoa com predomínio de energia Yang.
c) Gostar de calor, bem como sentir-se mais disposto no verão, equivale a
predomínio de energia Yin.
• Inspeção da língua
Uma das bases essenciais para a diferenciação de doenças na medicina
tradicional chinesa é a inspeção da língua. Os antepassados descobriram que partes
do corpo da língua estão vinculadas a certos órgãos internos/vísceras. Ao examinar
a língua, está-se olhando para o interior do organismo.
Para que o exame possa ser feito, ao cliente deve ser esclarecido que não pode
forçar a língua para fora e que deve tentar relaxá-la o máximo possível. A avaliação
divide-se em três etapas: inspeção da saburra, do corpo da língua e de veias da
base da língua. As disfunções nos diversos órgãos/vísceras vão se refletir no corpo
da língua quanto à cor, ao tamanho e formato. Por exemplo, cor pálida, quase
branca, pode ser causada por deficiência de Yang, deficiência de Qi, deficiências de
sangue; língua larga com ponta fina, caso esteja vermelha, representa deficiência de
Qi do coração.
Em todos os clientes deste estudo foi observada marca de dentes (impressões
côncavas) no bordo da língua, que representa deficiência de Qi de baço.
• O-Ring teste
Concluída a inspeção da língua, é solicitado ao cliente que fique em pé, para a
realização do O-Ring teste, que consiste em avaliar a resposta frente a alimentos
que se harmonizam ou não com o seu biótipo.
O O-Ring teste, segundo Lee (1991), é a avaliação da força muscular, em função
da compatibilidade ou não da pessoa com os alimentos que lhe são fornecidos. Ele
foi criado por Dr. Myong, na Coréia, baseado nos testes de cinesiologia. O teste é
70
feito da seguinte forma:
- Instrui-se o cliente previamente para retirar objetos metálicos dos braços e
das mãos. Em seguida, solicita-lhe fazer um anel com os dedos polegar e
indicador da mão direita, para as pessoas destras, ou na mão esquerda, para
os canhotos. O terapeuta avalia a força muscular do cliente, procurando
romper a resistência dos dedos em forma de anel, usando para isso seus dois
dedos indicadores. Esse procedimento visa a estabelecer um parâmetro de
comparação, antes de testar os alimentos.
- Feito isso, pede-se ao cliente que segure algum alimento a uma distância de
aproximadamente 30cm do corpo. Novamente, testa-se a resistência dos
dedos do anel. Se o alimento for compatível, nota-se que a força de
compressão do paciente estará igual ou até aumentada. Se houver uma
perda de força pelo cliente, a resistência muscular dos dedos será menor, o
que significa dizer que o alimento que ele segura é incompatível com ele.
- Repete-se o procedimento com os dedos polegar e indicador da mão não
dominante, para verificar se há tipologia mista, ou seja, um lado diferente do
outro. Conforme a literatura pertinente, 20% da população apresentam o
hemicorpo direito diferente do hemicorpo esquerdo.
Esse teste tem por objetivo determinar a tipologia constitucional do cliente e
fornecer uma orientação alimentar.
A teoria da tipologia constitucional surgiu no século XIX com o mestre Je Ma Lee,
da Coréia, que se baseou em literatura antiga da medicina tradicional chinesa. De
acordo com essa teoria, existem quatro tipos básicos de constituição com
características físicas e psíquicas semelhantes e de desequilíbrio funcional próprio
de cada tipo. Je Ma Lee estabeleceu, também, tratamento pela acupuntura e ervas
medicinais para cada biótipo. A partir de uma longa pesquisa, O Dr. Eu Won Lee
(1991) associou conhecimentos da medicina grega hipocrática à medicina oriental,
determinando quatro biótipos constitucionais:
Tipo I – Neo-sangüíneo
A pessoa desse biótipo possui excesso de elemento Ar (hiper-energia de pulmão
71
e hipo-energia de fígado). Indivíduos com ênfase excessiva no elemento ar possuem
uma mente ativa em demasia, que deve ser guiada e controlada. São pessoas que
podem agir sem reflexão prévia. A mente pode fazê-las fugir da realidade, levando-
as, às vezes, a um mundo de imaginação e de esplendor.
A energia de madeira (fígado), quando está em baixa, favorece a contratura
tensional em região cervical e dorsal superior, levando a pessoa a irritar-se
facilmente, passando a impressão de ser uma pessoa nervosa, o que a torna
insatisfeita consigo mesma.
Quanto ao temperamento, caracteriza-se esse tipo, essencialmente, pela
inteligência extraordinária, pensamento criativo, excessivo orgulho e amor próprio,
assim como autoconfiança absoluta em relação aos seus próprios valores e idéias.
São pessoas progressistas que, quando se realizam, podem se tornar grandes
gênios, líderes revolucionários; porém, algumas vezes, não são bem compreendidos
pela sociedade convencional. Quando em alguma situação não conseguem atingir
seus propósitos, ficam momentaneamente furiosas e revoltadas com os outros e
consigo mesmo.
Tipo II – Neocolérico
Pessoas desse biótipo possuem baixa energia Yin de rim e excesso de energia
de Yang de coração e estômago.
O elemento fogo explica que os indivíduos sejam dinâmicos, ativos, agitados,
extrovertidos, alegres. São nervosos, explosivos, impacientes, embora não tolerem a
injustiça. Tais indivíduos têm características de não guardar raiva, rancor ou mágoa
de alguém, esquecendo-se facilmente do que lhes desagrada.
O fogo em excesso também pode conduzir à impulsividade e ao desejo de agir
diretamente, levando a um modo extremamente insensível e grosseiro de abordar as
outras pessoas.
A falta do elemento água manifesta-se com uma desconfiança inata do
conhecimento intuitivo. Essas pessoas não confiam em si mesmas.
Tipo III – Neomelancólico
Pessoas desse biótipo possuem excesso do elemento madeira (hiper-energia de
72
fígado e hipo-energia de pulmão).
Os indivíduos com ênfase no elemento madeira tendem a acreditar mais em seus
sentidos e razão prática do que em inspirações. Persistência e teimosia são as
características principais dessas pessoas que, mesmo sabendo-se erradas,
raramente mudam de opinião ou atitude. Não são espontâneas, não costumam
revelar facilmente seus pensamentos e sentimentos. No relacionamento pessoal,
são do tipo ‘8 ou 80’ e, quando simpatizam com alguém, são demasiadamente
generosas e compreensivas.
Os indivíduos com pouca ênfase no elemento ar apresentam dificuldades para se
ajustar rapidamente às idéias novas. Podem, em alguns casos, apresentar
problemas psicossomáticos. Essas pessoas podem ter reações violentas quando
ouvem uma idéia que não conseguem assimilar mental e emocionalmente.
Tipo IV – Neofleumático
Indivíduos pertencentes a esse biótipo possuem excesso do elemento água
(hiper-energia Yin de rim e hipo-energia Yang do coração e estômago).
As pessoas do elemento água estão em comunicação com os seus próprios
sentimentos, afinados com a nuança e as sutilezas que muitos outros nem
percebem. Freqüentemente, têm acentuada capacidade imaginativa e uma sintonia
natural com as realidades espirituais e ocultas.
A falta do elemento fogo manifesta-se como uma falsa animosidade e tendência
a não confiar na própria vida. A alegria de viver está, muitas vezes, marcadamente
ausente. Essas pessoas têm medo de enfrentar qualquer desafio.
São indivíduos calmos, muito introvertidos, quietos, tímidos. Pessoas
perfeccionistas, costumam se apegar demasiadamente a pequenos detalhes.
Compatibilidade alimentar de cada tipo constitucional
Pesquisas recentes da Escola de Acupuntura Constitucional apontam para o fato
de que existe uma compatibilidade energética entre os vários alimentos e cada
biótipo constitucional.
Por exemplo, se um cliente, no O-Ring teste, perde força considerável frente a
alimentos como cebola, que é exclusivamente incompatível com o Tipo II, ele é
73
classificado como biótipo II. Num outro exemplo, a cenoura é benéfica somente ao
Tipo III; o ovo é prejudicial ao Tipo I; já clientes que não toleram o pepino são
considerados Tipo IV.
Ao término da avaliação constitucional, são prestadas orientações quanto às
características do biótipo específico. Além dos aspectos emocionais citados
anteriormente, cada biótipo possui características físicas bem definidas: o biótipo I
tem tórax desenvolvido, seio grande (mulher) ombros largos, cintura
proporcionalmente fina; o biótipo II feminino possui seio grande, muito brilho nos
olhos; o biótipo III masculino apresenta abdome proeminente, pescoço grosso,
transpira excessivamente; o biótipo IV é fisicamente equilibrado, transpira pouco.
Todas as características biotípicas da pessoa são resultantes da tipologia
constitucional energética herdada dos ancestrais.
Em seguida, é fornecida uma relação com os alimentos considerados
energeticamente positivos e negativos do biótipo específico.
Dos clientes participantes deste estudo, três foram classificados como
homogêneos e três como heterogêneos (tipologia mista). Por exemplo, Violão no
lado direito é do tipo II e no lado esquerdo é tipo IV. Nesse caso, os alimentos
prejudiciais energeticamente para ambos os tipos são principalmente a cenoura e o
açúcar branco. Teclado é do tipo III em ambos os lados; então os alimentos que
devem ser evitados são principalmente feijão preto, banana, camarão, chocolate. As
características emocionais e físicas também podem ser diferentes, o que é
confirmado pelos relatos a seguir:
Que engraçado! Sempre notei que o meu lado esquerdo do rosto eradiferente, o meu olho também é menor, os meus problemas nasarticulações são todos no lado esquerdo.
(Violão)
Essa forma física é igual à de minha mãe. (Teclado)
Violão afirmou que durante a sua vida predominou um comportamento do tipo
espontâneo, extrovertido, muito ativo, agitado (características do tipo II). No entanto,
disse que, com freqüência, sente vontade de ficar quieto, sozinho, sem estar triste
(característica do tipo IV). Essa oscilação ocorre em intervalos curtos, muitas vezes,
no mesmo dia.
74
Teclado apresenta tórax não muito desenvolvido, tem o corpo em forma de pêra,
mãos e pés grandes e úmidos; transpira muito (características do biótipo III). Ele
confirmou que, no relacionamento pessoal, é do tipo ‘8 ou 80’, bastante inflexível e
não costuma revelar facilmente seus pensamentos e sentimentos.
• Exame dos pulsos radiais, pontos Bei Shu e pontos Mo
Após O-Ring teste, é solicitado ao cliente que deite na maca em decúbito dorsal,
numa posição confortável, para ser realizada a palpação do pulso radial. O exame
dos pulsos constitui uma forma de diagnóstico preciso da medicina tradicional
chinesa. Por meio do pulso, é possível obter dados sobre o Qi, o sangue, os órgãos
e as vísceras.
No oriente, a prática da tomada dos pulsos é tão antiga quanto a própria
acupuntura. O primeiro livro sobre medicina Chinesa, o “Nei Ting”, ou o Tratado
Clássico, refere-se ao pulso como forma de diagnosticar e diferenciar as doenças.
Vários cuidados devem ser observados durante a tomada do pulso radial, para que
os dados obtidos sejam o mais preciso possível:
- O terapeuta deve evitar atividades pesadas ou com impacto com as mãos
para preservar a sensibilidade dos dedos;
- Deve estar com as mãos aquecidas no momento do exame;
- Nesse momento, o terapeuta deve se concentrar, para que toda a sua
atenção esteja voltada para os seus dedos;
- Não é recomendável que se fale8 muito durante o exame, tanto para não
atrapalhar a concentração do terapeuta como para não solicitar muitas
emoções ao paciente;
- Não se deve apertar com muita força ou palpar por muito tempo os pulsos;
- O cliente deve ser acomodado de forma confortável para que possa relaxar
durante a tomada dos pulsos.
8 Falar muito com o cliente e apertar muito o seu pulso modificam a forma do pulso, confundindo osresultados do exame.
75
Quando o cliente emociona-se ao relatar a sua história, ocorrem modificações
energéticas no pulso. No caso de Violino, somente foi realizado o exame após algum
tempo. Primeiro, foi necessário realizar um toque terapêutico, executado da seguinte
forma:
1) Friccionar bem as mãos até aquecê-las;
2) Posicionar a mão direita na nuca do cliente;
3) Posicionar a mão esquerda na região frontal, e deixá-la assim de três a cinco
minutos.
Em seguida, iniciaram-se as manobras de massagem chinesa (Tui-ná) até o
momento em que Violino ficou bem relaxado. Somente então é que foi verificado o
pulso.
Para efetuar a tomada correta dos pulsos radiais, o terapeuta deve pegar o pulso
do cliente com a mão contrária (a direita pega a esquerda e a esquerda pega a
direita), pondo primeiramente os dedos médios em cima das apófises estilóides de
ambos os rádios. Após, os dedos indicadores e anulares são posicionados
imediatamente distal e proximal ao dedo médio, como mostra a figura (8) a seguir.
Figura 8: Tomada do PulsoFonte: HILL, S.; FIREBRACE, P. Acupuncture: How it works, How it cures. New Canaan:Keats Publishing, 1994.
76
A avaliação do pulso dá uma idéia geral do Qi e de qual é o tipo de
desarmonia que está acometendo o cliente. O exame do pulso é bastante complexo:
utiliza-se diferente pressão sobre a artéria radial e, conforme essa pressão
(superficial ou profunda), obtém-se o quadro topográfico das condições energéticas
dos órgãos internos e das vísceras, como mostrado abaixo.
Quadro 5: Localização energética dos órgãos e vísceras no pulso radial
Posição Esquerda DireitaDedoindicador
Superficial – intestino delgadoProfundo – coração
Superficial – intestinogrossoProfundo – pulmão
Dedo médio Superficial – vesícula biliarProfundo – fígado
Superficial – estômagoProfundo – baço epâncreas
Dedo anelar Superficial – bexigaProfundo – rins
Superficial – triploaquecedorProfundo – pericárdio
A freqüência normal do pulso, segundo a Medicina Tradicional Chinesa, é de
quatro batimentos por incursão respiratória desde que o cliente respire normalmente.
O terapeuta pode usar a sua própria respiração como parâmetro. Isso dá uma
freqüência de 64 a 80bpm.
A interpretação é baseada nos parâmetros básicos da medicina tradicional
chinesa, que descrevem 27 pulsos chineses. Um dos parâmetros mais simples de
ser avaliado corresponde ao pulso de um órgão. Caso ele esteja mais forte ou mais
fraco que os demais, isso indica respectivamente síndrome de excesso ou de
deficiência naquele órgão. Entretanto, outros parâmetros requerem muita
sensibilidade como, por exemplo, o ‘pulso em corda’. O ‘pulso em corda’ é duro e
tenso, como uma corda de instrumento musical muito esticada, e não desaparece
nem com uma pressão forte do dedo. Isso significa que o Qi está alterado, como em
síndromes de fígado, quando o livre fluxo de Qi está perturbado, ou síndromes de
vesícula biliar, dentre outras.
Cabe ainda ressaltar, para mostrar como o diagnóstico energético dos clientes do
estudo vinha se consolidando, os aspectos congruentes das várias avaliações até
aqui feitas. Para tal, tomar-se-á por base Violino – tipologia constitucional
classificada como biótipo IV (homogêneo), ou seja, neofleumático. Ele é fisicamente
equilibrado, tem pele fina, pouca transpiração, possui caráter organizado,
77
responsável, perfeccionista e persistente (característica do biótipo IV). Falava com
tom de voz baixo, fazia movimentos lentos, queixava-se de uretrite com evolução
para pielonefrite, possuía olheiras, sentia sono excessivamente – essas
características demonstram predomínio de Yin de rim. A língua encontrava-se todo
pálida, é de pequeno volume, ou seja, quase não há como ser exteriorizada, mal
atinge o limite dos lábios – o que significa deficiência do Yang de rim e deficiência de
Qi –, havia marcas dentárias nas bordas, que determinam alteração energética do
baço-pâncreas. O pulso estava Yin, isto é, o terapeuta sentia-o debilmente;
encontrava-se com freqüência normal, estava fraco e fino (esse estado é
tradicionalmente conhecido como ‘pulso em pena de pássaro’, é como se uma pena
passasse sob o dedo no momento da tomada do pulso) – essa é uma característica
de deficiência do Qi do rim ou do baço. De acordo com a topografia, estão alterados
energeticamente: rim, baço-pâncreas e coração.
Correlacionando a tomada dos pulsos com a história do cliente e achados
clínicos sobre ele, parte-se para a palpação dos pontos dos canais de energia, da
pele, abdome, mãos e pés, para se completar a avaliação diagnóstica.
A palpação dos pontos dos canais de energia do tronco – região anterior e
posterior, especialmente os pontos Bei-Shu (figura 9), situados no meridiano da
bexiga, na região posterior do tronco e os pontos Mo (figura 10), situados na região
anterior do tronco – indica as condições energéticas dos órgãos e vísceras.
Conforme mostram as figuras abaixo, os pontos dos meridianos correspondem a
órgãos e vísceras.
Figura 9: Pontos Bei-ShuFonte: KIM,D.K. Medicina Tradicional Chinesa. São Paulo: SBEMO, 1990.
78
Figura 10: Pontos MoFonte: KIM,D.K. Medicina Tradicional Chinesa. São Paulo: SBEMO, 1990.
Violino apresentava dor à palpação do ponto VB25 (alarme de rim) e F13 (alarme
de baço-pâncreas). Quanto aos pontos Bei-Shu, Violino apresentava: nódulo em
B15 (alarme de coração) sentia muita dor à palpação; desconforto em B21 (alarme
de estômago); e seus pontos mais dolorosos eram o B20 (alarme de baço-pâncreas)
e B23 (alarme de rim).
Por meio de muitas práticas clínicas descobriu-se que uma dor que se manifesta,
uma hipersensibilidade, um nódulo ou uma irradiação, em determinado ponto desses
canais de energia determina as alterações dos órgãos internos e vísceras.
79
4.5 Quinto Momento – elaborando o diagnóstico situacional: continuação daterapia
Após a etapa anterior, é elaborado o diagnóstico situacional (Apêndice 1 – item
4), que é constituído pela relação dos desequilíbrios energéticos, pelos fatores que
contribuem para a desarmonia e pelo planejamento global de assistência. Nesse
momento, o terapeuta conjuga razão e sensibilidade, para registrar e traçar seu
plano intervencionista. Enquanto isso, o cliente permanece deitado na maca,
ouvindo uma música suave com sons da natureza, e é solicitado que ele respire de
maneira que, ao inspirar, expanda o abdome e, ao expirar, contraia o abdome,
suavemente, sem forçar.
O esquema terapêutico é individualizado, composto pelas seguintes técnicas da
medicina tradicional chinesa: massagem chinesa, reflexologia, moxabustão,
ventosaterapia, acupuntura, auriculoterapia e o trabalho com as emoções negativas.
Tomando como exemplo Teclado, os fatores que contribuem para sua
desarmonia energética (fígado, baço-pâncreas e pulmão) são: excesso de trabalho
e, ao mesmo tempo, insatisfação com a equipe de trabalho; sono interrompido e
insuficiente; alimentação irregular e inadequada, com excesso de doce; falta de
atividade física. Os estados emocionais que predominaram nos últimos seis meses,
antes do início deste estudo, são raiva e tristeza.
O esquema terapêutico de Teclado foi elaborado a partir de uma seleção de
técnicas e uma seqüência em que seriam aplicadas. Entretanto, no momento da
aplicação, o esquema foi totalmente modificado pela intuição do terapeuta: iniciou
com Tui-ná, após reflexologia, moxabustão e ventosaterapia. O retorno foi agendado
com intervalo de três dias. O planejamento do retorno varia de acordo com as
condições do cliente.
Três dias após o primeiro atendimento, Teclado retornou para a continuidade do
tratamento. Relatou que se intensificaram os sintomas da depressão: teve falta de
apetite, choro freqüente, insônia e pensamentos suicidas. Foi orientado que a
exacerbação dos sintomas significa que houve mobilização de Qi, sem, no entanto,
ter ocorrido desbloqueio completo dos canais de energia, porém isso representa um
bom prognóstico terapêutico.
O terapeuta no momento do atendimento orou com verdadeira intenção na
potencialização da energia de auto-cura do cliente. Em seguida, Teclado tornou-se
80
com a face corada e dormiu profundamente. Após 25 minutos, foram retiradas as
agulhas de acupuntura. O paciente ainda permaneceu dormindo por mais 20
minutos e acordou com uma expressão de serenidade.
Tui-ná é uma técnica terapêutica da medicina tradicional chinesa em que se
procura desbloquear a circulação de energia dos canais de energia, por meio de
técnicas de massagem e aquecimento, além de estimular os centro e pontos de
energia situados mais superficialmente no corpo. O nome Tui-ná vem do chinês tui,
que significa empurrar, e ná, que significa segurar.
Essa técnica caracteriza-se por massagem e pressão com os dedos ou com as
mãos sobre os pontos e meridianos de energia, sempre com o objetivo de obter o
livre fluxo energético. É uma técnica tão antiga e natural, que muitas pessoas
praticam algumas de suas manobras, sem saber o que estão fazendo, como
sustenta o pensamento de Grigorieff (apud GUERRA, 2001, p. 63):
Existe um gesto intuitivo, de utilização cotidiana, que consiste emmassagear as partes enfermas. Assim procede a mãe com seu filhocom dores, o animal se lambe em caso de doença, e todos nósatuamos do mesmo modo quando sentimos dor. Em presença de umser que sofre (homem ou animal) intuitivamente o acariciamos, oumassageamos.
Nessa massagem, são utilizadas manobras que geram energia Yang (movimento
horário, percussão, deslizamento, aquecimento) e manobras que dispersam a
energia com movimentos anti-horários. O fortalecimento dos órgãos é realizado por
meio dos movimentos articulares e dos estímulos dos microssistemas localizados
nos pés, olhos, nas mãos, orelhas, na boca, no nariz e crânio.
Para a realização do Tui-ná, é necessário conhecimento dos meridianos de
energia, seus trajetos e pontos de comando. Os pontos geralmente são dolorosos,
quando ocorre uma desarmonia energética.
As manobras para favorecer o livre fluxo de energia devem respeitar o sentido de
descendência dos canais de energia da pessoa. Inicia-se massageando a região
cefálica (figura 11), estende-se para o pescoço, os ombros, a região
toracoabdominal, os membros superiores, membros inferiores, a região dorsolombar
e, por último, faz-se reflexologia, ou seja, microssistema dos pés.
81
Figura 11: Manobras faciais e cefálicas.Fonte: HILL, S.; FIREBRACE, P. Acupuncture: How it works, How it cures. New Canaan:Keats Publishing, 1994.
Os critérios para emprego dessa técnica são:
• As manobras devem ser realizadas sempre no sentido de descendência dos
canais de energia (meridianos). Caso seja realizada no sentido contrário à
circulação energética, prejudicará o cliente.
• O cliente deve estar calmo, tranqüilo. Deve-se evitar fazer Tui-ná após
refeições, esforços físicos, ingestão de bebida alcoólica e se houver estado
de agitação. Para gestantes, cuidados especiais devem ser observados, pois
muitos pontos, quando estimulados, provocam contração uterina; por
exemplo, IG4 (intestino grosso 4) e B67 (bexiga 67).
• O terapeuta deverá estar repousado, sem agitação, estar pleno de energia.
Evitar aplicar essa técnica quando estiver esgotado ou doente.
• A terapeuta grávida está impossibilitada de aplicar o tratamento, pois durante
o contato do terapeuta com o paciente ocorre sempre uma transferência de
energia ativa ou passiva entre eles.
82
Segundo Yamamura e Oliveira (1991), o Tui-ná é uma técnica de massagem
preventiva no processo de adoecer, pois, na fase precoce da doença, rapidamente
desbloqueia os canais de energia. Também é uma técnica restauradora de energia,
uma vez que os seus estímulos e sua transferência são capazes de restabelecer as
perdas energéticas do corpo. Ela pode ser usada como técnica de diagnóstico, pois
existe uma correspondência entre certas áreas de toque e alteração do estado
energético dos órgãos internos e vísceras. Acima de tudo, é uma técnica curativa,
pois, associando-se as diferentes manobras de Tui-ná, pode-se realmente curar
afecções, sobretudo aquelas que somente apresentam manifestações energéticas e
funcionais, isto é, não se manifestam fisicamente. Também é auxiliadora no
tratamento das doenças orgânicas.
Todas as alterações dos órgãos e das vísceras manifestam-se em determinadas
regiões do corpo, denominadas microssistemas, que estão localizados na cabeça,
no olho, nariz, na boca, mão e no pé. Dentre eles, destacam-se os da orelha e os
dos pés.
O microssistema do pé é o que tem mais importância no fortalecimento dos
órgãos, vísceras e tecidos. Além disso, drena a energia estagnada acima do pé, de
maneira que o estímulo das regiões energéticas correspondentes promove a
melhoria ou a cura das doenças.
As regiões do dorso e da planta dos pés apresentam nítida correspondência com
os órgãos e vísceras. Essa associação é feita imaginando-se o corpo dividido
longitudinalmente em duas partes: hemicorpo esquerdo com o pé esquerdo (figura
12) e hemicorpo direito com o pé direito (figura 13), de tal maneira que a coluna
vertebral situa-se na face medial dos pés; a cintura corresponde ao meio do pé,
onde o arco longitudinal medial é mais encavado. A partir dessa relação, todas as
estruturas do corpo podem se manifestar no pé. Pode-se visualizar melhor essas
colocações, observando-se os desenhos dos pés nas páginas que seguem.
Segundo Yamamura e Oliveira (1991, p. 144), as alterações energéticas,
funcionais e orgânicas dos tecidos manifestam-se ao nível correspondente ao pé,
provocando uma dor espontânea, ou se expressam com a pressão digital. Se as
alterações energéticas dos tecidos forem maiores, podem ocorrer alterações no pé,
tais com nódulos, úlceras, descamações, hiperceratose, atrofia da pele e do tecido
conjuntivo ou mesmo coleções hídricas. Por isso, o exame morfológico e sensorial
do pé pode levar a um diagnóstico do processo de adoecimento.
83
A massagem do pé é realizada tocando-se todas as áreas, principalmente as
regiões onde houver dor, persistindo-se até a remissão do processo doloroso.
Figura 12: Microssistema dos pés – pé esquerdo.Fonte: KIM,D.K. Medicina Tradicional Chinesa. São Paulo: SBEMO, 1990.
Teclado apresentava nódulo doloroso na área reflexa do centro energético do
fígado e dor da região reflexa do pulmão.
Figura 13: Microssistema dos pés – pé direito.Fonte: KIM,D.K. Medicina Tradicional Chinesa. São Paulo: SBEMO, 1990.
Teclado apresentava grande debilidade energética, encontrava-se num processo
crônico de adoecimento.
84
Em seguida é realizada a moxabustão. A moxabustão é uma técnica da medicina
tradicional chinesa que consiste em aquecer os pontos de acupuntura pela queima
de ervas. A erva utilizada mais freqüentemente é a artemísia (Artemísia vulgaris).
Atualmente, usa-se pó de artemísia, obtido das folhas da planta, bem secas e
desprovidas de nervuras, que são posteriormente trituradas.
A moxabustão tem como finalidade básica aquecer e fazer circular o Qi e o
sangue nos canais de energia principais e secundários, restabelecer a deficiência de
energia Yang Qi, e eliminar o frio e a umidade internos. É indicada para pacientes
debilitados, idosos e crianças, pois seu principal efeito é de tonificação energética.
Segundo Yamamura (1995), a moxabustão, em muitos casos, é mais efetiva do que
a acupuntura.
Para a aplicação da moxabustão, existem duas técnicas básicas: a direta e a
indireta. Tradicionalmente, utiliza-se a técnica direta, em que se queima a moxa
sobre a pele do cliente nos pontos de acupuntura. Essa técnica, em virtude da
queimadura da pele, forma uma cicatriz irreversível. Atualmente, usa-se a técnica
indireta, em que são interpostas entre a moxa e a pele do cliente rodelas de
gengibre, ou de alho, ou sal marinho ou grosso. Nesses casos, o produto ou a
substância que é interposta tem ação coadjuvante e sinérgica com o efeito da moxa.
Utilizam-se também bastões de artemísia com a técnica indireta de moxa.
Aplica-se a moxabustão em forma de bastão, por meio de duas técnicas:
• Com calor moderado. Acende-se um extremo do bastão e aproxima-se-lhe
do ponto (figura 14), a uma distância de 0,5 a 1,0 tsun da pele (medida
que corresponde ao comprimento da falange central do dedo médio do
cliente; é usada para determinar a localização dos pontos de acupuntura,
fornece as medidas proporcionais próprias para cada pessoa), sem chegar
a queimá-la. O tratamento dura de três a cinco minutos, até que o cliente
sinta um calor e a pele fique um pouco avermelhada. Devem-se tomar
cuidados nos tratamentos de crianças e pacientes com alteração da
sensibilidade cutânea (como por exemplo, após cirurgia plástica de
abdome). Nesses casos, o terapeuta pode perceber o calor que a moxa
transmite com os seus próprios dedos, devendo colocar o indicador e o
85
dedo médio ao lado da área tratada, e assim pode regular a distância do
bastão para não queimar o cliente.
• Em forma de pistonagem sobre a pele. Aplica-se o bastão com um
extremo aceso sobre a pele, movendo-o de cima para baixo ou de um lado
para o outro, circulando a área sem se fixar na distância.
Figura 14: Moxabustão com bastãoFonte: CHONGHUO, T., Tratado de Medicina Chinesa: Roca, São Paulo. 1993.
A moxabustão é indicada nos seguintes casos:
• Doenças do frio e umidade;
• Síndromes de deficiências de energia e sintomas de frio;
• Enfermidades crônicas e debilitantes;
• Doenças degenerativas;
• Clientes idosos, crianças e debilitados energeticamente;
• Como preventivo das doenças e manutenção da saúde;
• Em todas as circunstâncias em que eventualmente a agulha não possa ser
usada.
Para os clientes do estudo, o uso da moxabustão deu-se em função da
debilidade energética e com predomínio de energia Yin (Harpa, Flauta, Piano,
Violino).
Contra-indicações do tratamento com moxabustão:
• Em doenças Yang e enfermos com sinais de plenitude de calor (febre
86
alta);
• No meridiano BP (baço-pâncreas) e nos pontos do abdome: IG4, BE60,
BE67, E12, F11, E36 e F3, em caso de gravidez;
• Em fontanela e crânio de crianças;
• Em casos de intoxicação e embriaguez;
• Sobre as mamas;
• Durante fortes manifestações climáticas ou mudanças de estação.
Em Violão, por ele apresentar síndrome Yang, a moxabustão não foi utilizada.
As vantagens do tratamento com moxabustão são as seguintes:
• O aquecimento dos pontos energéticos é ideal para condições climáticas
de frio e umidade, elimina dores e contrações musculares, dentre outras.
• Não implica risco de contaminação.;
• É de fácil administração;
• Pode ser aplicada em clientes que têm medo de agulhas e clientes com
doenças crônicas.
As desvantagens desse tratamento são:
• Há risco de queimaduras em pacientes sensíveis, diabéticos e com
diminuição de sensibilidade (hemiplegia).
• Requer muito tempo;
• Fumaça, cheiro, sujeira (cinza).
Em certos casos, observa-se que, quando a área do corpo está muito dolorosa, a
dor piora com a pressão digital, especialmente em regiões com formação de
nódulos. Essa situação ocorre em conseqüência do congestionamento de energia e
de sangue, devido a acometimento energético de órgãos e vísceras, que repercute
no exterior, no nível do tronco e dos membros, ou também pode ser devido à
penetração de energia perversa (vento, frio, umidade etc.) nos canais de energia.
87
Nesses casos, é indicada outra forma de tratamento, com ventosas.
A ventosa consiste numa cúpula oca de vidro ou de plástico que é aplicada na
superfície da pele, após ter sido produzido em seu interior uma pressão negativa
causada pelo fogo (vidro) ou por uma bomba de sucção (plástico). A ventosaterapia
favorece o descongestionamento de energia e do sangue.
Nas ventosas de vidro, com o objetivo de formar a pressão negativa no seu
interior, para que fique aderida à pele, procede-se da seguinte forma:
• Pega-se uma bola de algodão com uma pinça, embebe-se em álcool a
95% e coloca-se fogo;
• Em seguida, faz-se um giro rápido da bola de algodão acesa no interior da
ventosa, retirando-a imediatamente e posicionando a ventosa no lugar
desejado (figura 15)
Figura 15.: VentosaterapiaFonte: CHONGHUO, T., Trata do de Medicina Chinesa: Roca, São Paulo. 1993. 384 p.
A Coréia do Sul desenvolveu um moderno sistema de copos plásticos e bomba
de sucção para ventosaterapia (figura 16). Nesse sistema, pode-se controlar o
vácuo, quando se aplica a ventosa sobre a pele do cliente, sendo que não é
recomendável exagerar no estímulo da sucção, porque isso provoca hematomas
severos e dor.
Figura 16: Aplicação de ventosa de copos plástico com bomba de sucçãoFonte: CUNHA, A.A., Ventosaterapia.São Paulo:Ícone, 2001, p. 20.
88
À medida que a sucção produz o seu estímulo, aparecem dilatações capilares e
vasculares, incluindo o extravasamento de fluidos do tecido profundo para a
superfície da pele, o que leva a diferentes reações.
Após alguns segundos, essa concentração de fluidos pode ser vista através da
transparência do corpo da ventosa como uma forte mancha avermelhada ou
arroxeada. Dependendo do caso, podem aparecer manchas de diferentes tons,
conforme evidenciado por Cunha (2001), que têm relação direta com a doença
apresentada pelo cliente:
• Cor muito escura significa doença crônica ou complexa, é necessário
tratamento mais demorado;
• Cor clara indica pouca circulação sangüínea no local, é necessário
tratamento apropriado;
• Cor pouco escura indica doença mais simples, não é necessário
tratamento prolongado.
Essa técnica foi aplicada também em Violino. Teclado e Violino tiveram a pele
bem arroxeada, confirmando a necessidade de um tratamento mais demorado.
Violino permaneceu quatro meses em terapia e Teclado três meses.
O tempo de tratamento com ventosas para doenças comuns, com um cliente em
condições normais, pode ser de cinco a 15 minutos; mas quando o cliente é
debilitado energeticamente, não pode exceder três minutos.
No retorno de Teclado, prosseguindo com o trabalho terapêutico, após a
realização da massagem chinesa, reflexologia, moxabustão e ventosaterapia,
novamente foi verificado o pulso radial. Como o desequilíbrio energético persistiu,
utilizou-se outro recurso da medicina tradicional chinesa, a acupuntura. Todos os
clientes deste estudo necessitaram de acupuntura.
A acupuntura (acus – agulha + puntura – punção) consiste na inserção de
agulhas muito finas na pele, nos locais dos pontos dos canais de energia.
Atualmente, são utilizadas agulhas confeccionadas em aço inoxidável, apesar de
que, na evolução histórica, vários objetos já foram usados, como lasca de pedra, de
madeira, osso e espinhos.
89
Teclado foi questionado sobre se já havia usado esse tipo de recurso terapêutico.
Como respondeu que não e comentou sobre o medo de agulhas, o terapeuta fez
uma demonstração, aplicando em si uma agulha, com o objetivo de dissipar crenças
negativas. O tratamento só foi iniciado quando o cliente encontrava-se relaxado.
Não pode ser feita a acupuntura quando o cliente:
• estiver com sede ou em jejum;
• tiver acabado de passar susto ou medo;
• tiver feito uma refeição há pouco;
• tiver realizado o ato sexual há pouco;
• estiver nervoso, irritado ou muito cansado;
• estiver grávido, pois há muitos pontos que não podem ser estimulados
(citados anteriormente);
• ou quando o tempo estiver turbulento (relâmpago, trovões).
Também, antes de iniciar o tratamento com acupuntura, o cliente foi orientado
sobre o mecanismo de ação das agulhas.
A agulha metálica de acupuntura, pelo efeito ‘ponta’ (Figura 17) gera, na sua
extremidade pontiaguda, um campo eletromagnético de polaridade negativa e, no
cabo, na extremidade oposta, gera polaridade positiva. Essa bipolaridade pode ser
intensificada, dependendo dos diferentes metais (prata, ouro) que são utilizados na
sua confecção. Além disso, a polaridade positiva aumenta por causa do poder de
‘ponta’ da extremidade dos dedos do terapeuta.
Figura 17: Efeito ‘ponta’ das agulhas e aumento da polaridade pelo poder da pontados dedosFonte: YAMAMURA, Y., Acupuntura Tradicional – A arte de Inserir: Roca, São Paulo,1995.
90
Continuando a reflexão a partir de Yamamura (1995), durante muitos milênios,
acreditou-se que o mecanismo de ação da acupuntura fosse puramente energético.
No entanto, com a difusão da medicina tradicional chinesa no ocidente, muitos
pesquisadores evidenciaram também mecanismos de ação neural e humoral. O
mecanismo neural é considerado atualmente um dos mais importantes, em virtude
da sua correlação com o sistema nervoso.
Os pontos de acupuntura, quando comparados com regiões adjacentes,
apresentam as seguintes características: maior concentração de terminações
nervosas lineares e encapsuladas; correspondência com o local de penetração de
nervos em massa muscular; e uma concentração aumentada de capilares e células,
principalmente mastócitos.
Essas características criam no ponto de acupuntura um potencial elétrico
diferente do das regiões adjacentes e favorecem uma maior condução dos estímulos
efetuados nesses pontos, facilitando a formação de potencial de ação nas fibras
nervosas locais, as quais conduzem esses estímulos ao sistema nervoso central.
Farber e Timo-laria (apud ROSS, 1994), demonstram que estimular um ponto de
acupuntura, através da pele, ou diretamente o nervo correspondente evoca idênticos
potenciais de ação no sistema nervoso central (SNC). Esses fatos permitem admitir
que um ponto de acupuntura é uma região da pele em que é grande a concentração
de terminações sensoriais e sua estimulação possibilita acesso direto ao SNC.
Nesse aspecto, constatou-se a ação imediata da acupuntura, quando os clientes
chegavam ao consultório, verbalizando estarem ansiosos e tensos, e isso era
confirmado pela avaliação do pulso, da língua e de pontos de alarme
correspondentes à energia do coração muito sensíveis. Após 20 minutos da
aplicação da agulha, os clientes fechavam os olhos, respiravam profundamente,
dormiam, o pulso radial harmonizava-se. Alguns clientes verbalizavam, ao levantar,
que se sentiam melhor, como, por exemplo:
Que coisa boa! Estou me sentindo mais leve.
(Flauta)
É uma sensação maravilhosa, como se eu estivesse entorpecida.
(Harpa)
91
Os estímulos originados no nível do ponto de acupuntura são conduzidos pelo
sistema nervoso periférico até a medula espinhal e daí ao encéfalo, promovendo
ação local ou sistêmica por meio de arcos reflexos medulares ou respostas em nível
encefálico.
O mecanismo humoral diz respeito à produção de neuro-hormônios e
neurotransmissores que são secretados no sangue por ação da acupuntura. O efeito
humoral depende também indiretamente do sistema nervoso central que determina a
liberação, no nível endócrino, das substâncias encontradas no sangue.
Existem vários tipos de agulhas de acupuntura, diversos calibres e diversas
finalidades. Os calibres variam de 0,1 a 0,5mm e o comprimento varia de 1,5 a
10cm. As agulhas filiformes são formadas por um corpo, ponta e cabo.
Em geral, quando a agulha penetra na pele, ocorre a sensação de uma leve dor,
que deixa de ser sentida à medida que a agulha vai se aprofundando. A dor durante
a inserção depende de alguns fatores, tais como:
• se a pele e o local da inserção da agulha apresentam sensibilidade,
especialmente nas extremidades;
• a agulha ser grossa ou a ponta da agulha estar romba;
• a velocidade de penetração de a agulha ser lenta.
Existem várias técnicas de inserção de agulhas de acupuntura. Nesta pesquisa,
por se acreditar ser a forma menos dolorosa, utilizou-se um mandril. Essa técnica é
feita da seguinte maneira:
• Com a mão esquerda, aplica-se o mandril com a agulha sobre o ponto de
acupuntura;
• com o dedo indicador da mão direita, dá-se um golpe sobre a cabeça da
agulha, que fica de 0,5 a 1cm para fora do mandril, perfurando a pele;
• retira-se o mandril e completa-se a inserção até a profundidade desejada,
com movimentos de vaivém.
A profundidade de inserção da agulha varia de acordo com a localização do
ponto, a constituição física e o estado geral do paciente.
92
A agulha, quando alcança a profundidade necessária para atingir o ponto de
acupuntura, produz uma sensação de peso, formigamento ou um leve choque, que é
uma sensação local, mas pode propagar-se pelo canal de energia no sentido de sua
corrente. Essa sensação é chamada de Te Qi, que significa ‘captar energia’,
podendo ser traduzida como ‘sensação’. A ocorrência o Te Qi significa que a agulha
atingiu o centro do ponto de acupuntura do canal de energia. A sensibilidade do Te
Qi é diferente para cada ponto de acupuntura e para cada cliente. No caso do
meridiano estar em vazio de energia, o Te Qi pode estar ausente. Nessas situações,
procura-se fazer movimentos de rotação na agulha. (Figura 18)
Figura 18: Inserção da agulha através de mandril e manobras para estimulaçãoFonte: YAMAMURA, Y., Acupuntura Tradicional – A arte de Inserir: Roca, São Paulo,1995, p. 510.
Nos casos de doenças agudas, pode-se retirar as agulhas após o Te Qi. Porém,
nas situações em que não se consegue obter a ‘sensação’ ou se deseja prolongar a
ação das agulhas, deve-se deixá-las no local de 15 a 30 minutos.
Neste estudo, os clientes permaneceram com as agulhas por 25 minutos,
excetuando-se os casos em que a pessoa estava em profundo sono. O vazio de
energia era freqüente nos clientes Yin.
93
Outro fator relevante para este estudo, que proporcionou profundas reflexões, foi
o fato de Violino ter verbalizado dor intensa em todos os pontos de aplicação de
agulhas, em um dia em que o terapeuta sentia-se muito tenso e angustiado. Violino
chegou a chorar; e ele jamais havia se queixado de dor durante a aplicação das
agulhas de acupuntura.
Além disso, Flauta, Teclado e Piano, quando o terapeuta estava ansioso,
manifestavam que os pontos de aplicação estavam mais dolorosos, ao mesmo
tempo em que permaneciam com os olhos abertos e os pulsos radiais não ficavam
totalmente harmônicos. É importante lembrar que o esquema de tratamento não
tinha sido alterado, ou seja, eram os mesmos procedimentos que estavam sendo
aplicados.
Essas queixas e não respostas terapêuticas não aconteciam quando o terapeuta
estava tranqüilo, quando friccionava bem as mãos buscando a movimentação de
energia, mantinha os dedos sobre o cabo das agulhas aplicadas em pontos
importantes do tratamento e quando ficava em estado de oração, com a verdadeira
intenção de ajudar o cliente.
A modificação energética muitas vezes era percebida pelos clientes:
Estou sentindo a energia entrar. É uma sensação de bem-estarinterior, estou amortecendo.
(Harpa)
Um outro ponto a ser evidenciado, que gerou reflexão e estava diretamente
relacionado com a aplicação da acupuntura, diz respeito às condições do local de
trabalho. Flauta verbalizou que se sentia tensa e preocupada, quando chegou ao
laboratório de terapias alternativas, o que foi confirmado pelo diagnóstico energético.
O terapeuta sentia-se tranqüilo, com verdadeira intenção de auxiliá-la. Foi realizada
a energização das mãos e posicionados os dedos nos cabos das agulhas, também
foi orado profundamente. No entanto, nesse dia, havia muito barulho externo:
bateram à porta várias vezes, o telefone tocou, interrompendo o processo
terapêutico. Durante a sessão, Flauta permaneceu com os olhos abertos, os pulsos
radiais não responderam harmonicamente, mesmo sendo aplicado o mesmo
tratamento de sessões anteriores. No término, Flauta despediu-se sem fazer
qualquer comentário.
94
Após a retirada das agulhas, os clientes são orientados para que, num período
mínimo de duas horas, sejam respeitadas algumas condutas, sobre ações que não
devem ser realizadas, a saber:
• Molhar os pontos estimulados;
• Tomar bebidas alcoólicas;
• Irritar-se;
• Fazer trabalhos pesados;
• Comer excessivamente;
• Ter relações sexuais;
• Permanecer faminto ou com sede.
Volta-se a frisar que o tratamento é planejado individual e previamente. No
entanto, no momento de sua aplicação, com base numa observação cuidadosa da
face do cliente e na intuição do terapeuta, ele pode ser totalmente modificado, e
muitas vezes, a primeira opção de intervenção consiste no trabalho com o estado
emocional do cliente. As emoções, quando reprimidas excessivamente, lesam o Yin
dos órgãos. Na medicina tradicional chinesa, há correspondência entre as emoções
excessivas ou reprimidas e as alterações energéticas dos órgãos, conforme o
quadro (6) abaixo:
Quadro 6: As emoções e a Energia dos Órgãos
Emoções Excessivasou Reprimidas
AlteraçãoEnergética
Dos ÓrgãosRaiva, ódio, revolta, agressividade,
nervosismo, irritaçãoFígado
Alegria excessiva, ansiedade,preocupação
Coração
Reflexão, pensar excessivo,preocupação
Baço-pâncreas
Tristeza, angústia PulmãoMedo, insegurança, pavor, terror Rins
Neste estudo, constatou-se que Teclado tinha alteração energética de fígado,
baço-pâncreas e pulmão e as emoções manifestadas eram irritabilidade, tristeza e
95
preocupação. Harpa tinha alteração energética de rim, fígado, coração e baço-
pâncreas, manifestava medo, raiva, angústia, preocupação e tristeza. Flauta
apresentava comprometimento energético de fígado, rim e baço-pâncreas e
manifestava medo, tristeza, irritabilidade e raiva. Piano estava com alteração do
centro energético de rim e coração e apresentava tristeza e raiva. Violino tinha
alterações nos centros energéticos de rim, fígado e pulmão e apresentava raiva e
tristeza. Violão tinha alteração da energia do coração e da bexiga e manifestava
ansiedade raiva e tristeza.
Neste estudo, observou-se que, em todos os clientes, a raiva, o ódio, a revolta e
o nervosismo foram as emoções que predominaram no início do processo de
adoecimento, todos em resposta a um medo constante: por Harpa acreditar que
estava tudo errado com sua tese; Flauta estar com medo de não terminar a tese no
prazo; Violão sentir medo ao afirmar: Não sei o que sou, depois que aposentei;
Piano achar que a metodologia de sua tese era muito difícil e sentir-se incapaz.;
Violino achar que no seu trabalho havia muita competição: O ambiente estava
péssimo, ninguém tinha contato direto com ninguém, por isso resolvi sair; Teclado
sentia vontade de sair da casa de sua mãe, ter sua própria casa, porém, agora que
isso estava muito próximo de se concretizar, ele tinha medo de não saber
administrar a casa e temia também pelo bem-estar de sua filha de dez anos de
idade.
Vale lembrar que o medo gera nas pessoas energeticamente equilibradas a
resposta de luta ou fuga. No caso dos clientes do estudo, associaram-se a esse
sentimento outros fatores que auxiliaram o desequilíbrio energético e a manutenção
do estado de medo, sem possibilidade de lutar ou fugir, e isso gerou um estado de
raiva impotente que culminou em depressão.
Para a medicina tradicional chinesa, as emoções não devem ser combatidas,
nem ignoradas. Os orientais afirmam que as emoções estão em nosso interior e
fazem parte da nossa história; logo, não podem ser rotuladas como certas, erradas
ou reprimidas, apenas são o que são.
No processo terapêutico, favorece-se ao cliente a conexão com suas emoções
negativas, com a orientação de que ele não as julgue nem as critique, mas integre-
as de forma que passem a fazer parte do fluxo natural e espontâneo de sua
existência.
96
Uma vez que o diagnóstico situacional está definido, revela-se para o cliente o
nome da emoção que corresponde ao órgão energeticamente comprometido. Com
isso, tenciona-se fazer o cliente repetir o nome da sua emoção várias vezes, para
integrá-la à sua consciência e então conseguir abrandar o seu estado de
negatividade.
Esse procedimento foi realizado com todos os clientes deste estudo. Flauta, por
ocasião do seu retorno à terapia, entregou o conjunto de suas agulhas e deitou-se,
para que fosse realizada a acupuntura, afirmando que, naquele dia, tinha pouco
tempo. Após questioná-la sobre como se sentia, o terapeuta decidiu que
primeiramente deveria ser trabalhado com suas emoções. A necessidade de realizar
o trabalho das emoções, ou seja, a confirmação da percepção do terapeuta, veio
pelas nas palavras de Flauta:
Estou me sentindo outra. Parece mágica! Que coisa incrível.
O último procedimento terapêutico realizado com os clientes deste estudo foi a
acupuntura auricular (auriculoterapia). Como mencionado anteriormente, a orelha é
também um microssistema, e todos os órgãos/vísceras e regiões do corpo refletem-
se no pavilhão auricular.
A orelha não está isolada, relaciona-se diretamente com os canais de energia
Yang e indiretamente com os canais de energia Yin, por intermédio dos canais
distintos (OLIVEIRA, 1990). Quando um órgão/víscera ou uma parte do corpo
apresenta um desequilíbrio energético, aparece uma reação ao nível da região
específica da orelha, que são os pontos auriculares. Essa alteração pode manifestar-
se por descamação, dor, formação de pápulas, edema, mudança de cor (cor branca
significa acometimento por energia perversa, como frio) etc.
A distribuição dos pontos auriculares corresponde a diferentes partes do corpo e
é semelhante a um feto de cabeça para baixo. Geralmente, os pontos que
correspondem à cabeça e ao rosto estão localizados nos lóbulos. Já os membros
inferiores estão distribuídos na região superior da orelha, como demonstra a figura
19.
97
Figura 19: Pontos auricularesFonte: Kim,D.K. M.T.C. – Apostila de aula teórica , São Paulo: SBEMO, 1990.
Esse tratamento consiste no estímulo dos pontos auriculares, que pode ser feito
de várias formas: com agulhas de acupuntura, agulhas semipermanentes9,
sementes etc. Cada ponto da orelha tem relação direta com um ponto cerebral, o
qual está ligado pela rede do sistema nervoso ao órgão ou região do corpo.
Portanto, o estímulo dos pontos auriculares ativa sua função específica e não faz a
circulação dos Zang Fu.
Para estimular os pontos auriculares de todos os clientes deste estudo, foram
utilizadas sementes de mostarda. A opção por essa alternativa teve o objetivo de
manter o estímulo, de maneira permanente, com menor risco de inflamação no local,
já que as sementes não rompem a pele. As sementes permaneceram fixadas com
9 Agulha semipermanente é um tipo de agulha em forma de caracol, cuja finalidade é permanecer nolocal por vários dias.
98
esparadrapo e os clientes foram orientados para realizar pressão digital sobre elas –
em média, 30 pressões, duas vezes ao dia. Por ocasião do retorno, eram trocadas
as sementes e alternado o pavilhão auricular.
Os pontos comuns aplicados em todos os clientes foram: ponto de pulmão e
shemen (ver Figura 19). O ponto de pulmão promove aumento da secreção das
endorfinas, proporcionando tranqüilidade e analgesia. O ponto shemen tem a função
de acalmar o coração e a mente, diminui a dor e acalma o nervosismo.
Como se pode perceber, todo o processo de trabalho do Terapeuta Natural
envolve aquilo que ele abstraiu das ciências ocidentais, assim como os princípios da
Medicina Tradicional Chinesa. Complementar esses saberes implica em
potencializar no terapeuta tanto a sua subjetividade, quanto a sua objetividade, seu
intelecto e sua sensibilidade, seu hemisfério direito e seu hemisfério esquerdo do
cérebro. Assim sendo passa-se a seguir a refletir sobre as categorias emergentes
durante o trabalho terapêutico.
99
5 O TRABALHO DO TERAPEUTA NATURAL INFLUENCIADOPELO SEU ESTADO INTERNO, PELA ORAÇÃO E EMPATIA
Serve como base científica para a estruturação e compreensão deste capítulo o
trabalho de LeDoux feito em Synaptic Self (2002) e em O Cérebro Emocional (1996),
nos quais, respectivamente, são discutidos: 1) o fato de o ser humano ser único em
função das sinapses que ele realiza ao longo de sua vida; e 2) a ação das amígdalas
corticais como elemento influenciador das emoções no comportamento humano,
independentemente da atuação da razão.
O sistema nervoso humano herdou características específicas de cada etapa da
evolução. Dessa herança, permanecem três níveis neurológicos principais, que são:
nível medular (respostas reflexas); nível encefálico inferior (bulbo, ponte,
mesencéfalo, hipotálamo, tálamo, cerebelo e gânglios da base), no qual ocorre a
maior parte das atividades do organismo chamadas subconscientes: padrões
emocionais, equilíbrio, respiração etc.; e nível encefálico superior ou córtex cerebral
(funções cognitivas caracteristicamente humanas). O funcionamento do sistema
nervoso, que se dá por meio da transmissão de impulsos entre neurônios
sucessivos, ou seja, entre um neurônio e outro próximo, é chamado de sinapse.
Para que isso ocorra, são liberados pelos botões sinápticos10, dentro da fenda
sináptica, os neurotransmissores, que são substâncias transmissoras e incluem:
acetilcolina, noroadrenalina, dopamina, serotonina e GABA, dentre outras.
LeDoux (2002, p. 302-303) afirma que a vida exige muitas funções cerebrais –
funções que requerem sistemas feitos de neurônios conectados sinapticamente.
Todos os seres humanos têm o mesmo sistema cerebral e também mais ou menos a
mesma quantidade de neurônios nele. Contudo, o modo como cada neurônio está
conectado é distinto e essa singularidade, em resumo, é o que faz o que os seres
humanos são.
“Você é as suas sinapses. Elas são quem você é”, afirma LeDoux (p. 323).
Conexões sinápticas conservam o ‘eu’ junto na maioria das pessoas, na maior parte
10 Botões Sinápticos são estruturas que se assemelham a pequenos nodos ovais e redondos,localizados no soma (corpo) e nos dendritos (prolongamentos do corpo principal do neurônio).
100
do tempo. Nesse processo, as emoções são elementos fortemente marcantes.
Quando as emoções correm sem controle, como nas desordens ansiosas ou na
depressão, a pessoa muda seu comportamento. Também, quando motivações são
dominadas pelo vício em drogas, os aspectos emocionais e intelectuais da vida
sofrem. Portanto, o ‘eu’ sináptico pode ser uma maldição, mas também uma bênção,
já que há sempre novas conexões esperando para ser feitas e que possibilitarão a
transformação de um estado negativo em algo positivo.
Com base nessas afirmações, pode-se deduzir que a natureza, ou seja, a Fonte
de Energia Cósmica, está presente, em toda a sua totalidade. Depende apenas de
se captar um maior número de informações possíveis, quer pela percepção11
consciente, quer pela percepção inconsciente, segundo o aperfeiçoamento e
refinamento dos receptores humanos, das sinapses.
LeDoux, neurocientista do Centro de Ciência Neural da Universidade de Nova
Iorque, foi o primeiro a descobrir o papel importante que as amígdalas corticais
desempenham no desenvolvimento das emoções no cérebro humano (ver figura 20).
Figura 20: Elementos do Sistema Nervoso Central
11 A percepção será discutida no item 5.1
101
As amígdalas corticais, situadas imediatamente debaixo da superfície ventral do
córtex, têm por função, diante de um perigo iminente, identificar para o ser humano,
por meio de uma emoção, que algo não está bem, ativando o sistema de segurança
do cérebro e enviando estímulos para o hipocampo, hipotálamo, tronco cerebral,
como um circuito interno. Nesse circuito, existe toda a comunicação que
desencadeia a liberação de neurotransmissores, como corticropina, noradrenalina,
dopamina, acetilcolina – que preparam o corpo humano para lutar ou fugir.
A opinião clássica da neurociência era que o olho, o ouvido e outros órgãos
sensoriais transmitiam sinais ao tálamo e de lá para as áreas do processamento
sensorial do neocórtex onde são classificados para que o cérebro reconheça o que é
cada objeto e o que significa a sua presença. Do neocórtex, os sinais eram enviados
para o sistema límbico, e de lá a resposta apropriada se irradiava pelo cérebro e
resto do corpo, como mostra a figura 21.
Figura 21: Opinião clássica da neurociência
Mas LeDoux descobriu que alem desse caminho mais longo, há um feixe de
neurônios que vai direto do tálamo às amígdalas (ver figura 22). Isso faz que se
inicie uma resposta antes que eles sejam plenamente registrados no neocórtex.
Das amígdalas e o vizinho hipocampo (importante local para armazenamento
da memória) rapidamente faz comparações com memórias similares. Se a
conclusão for tranqüilizadora o processo neural acaba aí. Caso contrário, amígdalas
disparam o alarme, ativando todo o sistema de segurança do cérebro, enviando
estímulos ao hipotálamo, tronco cerebral e Sistema Nervoso Autônomo.
102
Figura 22: Descoberta de LeDoux
A emoção, nesse circuito, pode vencer a razão. Por isso, Goleman (1995, p. 31)
chama as amígdalas corticais de “sentinela emocional”. As amígdalas também
funcionam como reservatório da memória emocional e têm papel crucial quando um
sentimento domina a razão.
As diferentes partes da amígdala recebem informações diferenciadas. Para o
núcleo central das amígdalas são enviadas projeções para o tálamo e os córtices
auditivos e visuais. Os cheiros, via bulbo olfativo, seguem para a área córtico-medial
da amígdala; os gostos e as mensagens vindas das vísceras são enviados para a
área central (GOLEMAN, 1995). Portanto, esse mecanismo faz com que as
amígdalas mantenham-se como sentinelas de qualquer experiência sensória,
influenciando diretamente o equilíbrio corpo-mente-espírito do ser humano.
LeDoux (1996), verificou que a amígdala possui um número maior de conexões
com o córtex do que o córtex com a amígdala. Isso faz com que seja impossibilitada
a desativação do sistema de alarme emocional, por meio do pensamento, do
raciocínio lógico. Portanto, não adianta tentar dominar a emoção com a razão, pois
não há uma trilha fisiológica de suporte para tal ação. O caminho mais provável para
a dominação consciente da emoção será a própria desativação das amígdalas.
Então, uma questão impõe-se: como desativá-las?
Com base nessas premissas e na análise dos elementos oriundos do processo
de trabalho do terapeuta natural, emergiram as categorias de análise que
fundamentam a importância da ativação do hemisfério direito do cérebro e o seu
103
correspondente equilíbrio com o hemisfério esquerdo, para chegar-se à melhor
qualidade de vida. Portanto, antes de discutir propriamente as categorias de análise,
precisa-se compreender as possibilidades que existem para o equilíbrio desses dois
hemisférios.
Após isso, passa-se a desenvolver as seguintes categorias: estado interno do
terapeuta, oração e empatia. Vale ressaltar que as discussões e reflexões que
seguem têm por foco o terapeuta.
Sabe-se que, a partir dos estudos de MacLean (apud NEWBERG, D’AQUILI e
RAUSE, 2002), que pesquisou o comportamento de diversos tipos de animais,
identificou-se a existência nos seres humanos do cérebro trino, ou seja, três mentes
distintas e independentes, embora não completamente autônomas: cérebro
reptiliano (medular), cérebro mamífero (sistema límbico) e cérebro neocortical
(neocórtex); cada um com sua própria inteligência especial, sua própria
subjetividade, seu próprio sentido de tempo; cada um correspondendo a uma etapa
evolutiva do ser humano.
Segundo Newberg, D’aquili e Rause (2002, p.49), “O cérebro réptil é ancorado no
tangível, no incorporado, no concreto. As abstrações estão além da sua
compreensão”. São funções da mente réptil fornecer ao ser humano e aos animais
reflexos e mecanismos de resposta rápida, que indicarão seu comportamento
básico, como: estabilização e marcação de território, formação de lutas internas em
defesa do território, procura por comida e armazenamento de suprimentos, formação
de grupos sociais, estabelecimento de hierarquia sociais por exibições ritualísticas,
agrupamento e reprodução, dentre outros. No ser humano, muitas vezes,
predominam essas funções, como meio único de sobrevivência, ou seja, ele
concentra toda a sua dinâmica de vida na busca de aspectos concretos do viver.
Para o réptil, o mundo tangível, a concretude da comida, do território, do parceiro, a
terra, a água e o ar são os elementos básicos da vida. Da mesma forma, sem esses
elementos, o ser humano não existiria. Existe nele uma persistência e uma teimosia
instintiva animal, logo selvagem, da sua herança réptil. Sem isso, como poderia ele
prover seu ambiente físico, suas necessidades básicas? Todavia, sabe-se que as
emoções influenciam os pensamentos e conseqüentemente o equilíbrio, a saúde e a
qualidade de vida do ser humano. Mas, afinal, onde no cérebro humano, localizam-
se essas emoções?
Para Paul MacLen, como citado, o complexo do sistema límbico ou a mente
104
emocional corresponde ao cérebro mamífero que cobre o cérebro reptiliano, possui
funções próprias, todas envolvidas com as emoções. Assim, o ser humano não
reduz o ato simples de comer à satisfação de sua necessidade física. Ele inclui
nesse ato o prazer de saborear uma refeição. Do mesmo modo, a copulação não é
um ato puro e simples como resultado instintivo, pois associada a ela há o prazer da
complementação do amor, do desejo entre duas pessoas. Portanto, a emoção é um
elemento motivador e mobilizador, que impulsiona o ser humano, bem como outros
mamíferos, a traçar uma trilha através da vida, em busca de suprir as necessidades
básicas. Portanto, a emoção é cognitiva, motivacional e relacional, básica para a
sobrevivência e crucial na adaptação.
Em resumo, o sistema límbico12 propicia sentir alegria, amor, raiva, medo. Logo,
as emoções fazem parte do viver cotidiano do ser humano, porém, quando em
desproporção, interferem no córtex, no sistema nervoso autônomo, nas funções
endócrinas, ou seja, influenciam todo o organismo, predispondo o desenvolvimento
de doenças psicossomáticas (úlcera, câncer etc.).
Dessa correlação, pode-se inferir que as amígdalas, estando constantemente
ativadas, ocasionam o alerta no circuito neuronal, não permitindo a potencialização
do neocórtex, pois a emoção está tomando conta do corpo, impedindo o raciocínio, o
entendimento e o discernimento.
O cérebro neocortical é aquele que diferencia o ser humano dos animais. Nele
estão concentradas “todas as informações que coletamos durante a vida: religião,
educação, eventos, memórias que formam impulsos que impactam o Sistema
Nervoso”, Newberg, D’aquili e Rause (2002, p.52). O neocórtex é uma aquisição
humana que tem o poder de selecionar e atingir automaticamente a atenção para
onde preferir, identificando cada informação e dando-lhe um significado. Se ele é
impedido de se desenvolver, as infinitas possibilidades que possui atrofiam-se,
impossibilitando o aprendizado e o condicionamento do equilíbrio corpo-mente-
espírito.
Dessa forma, o desenvolvimento do neocórtex está indiscutivelmente relacionado
à aquisição de capacidades inéditas. No processo evolutivo, originaram-se dois
hemisférios cerebrais: o direito e o esquerdo, e cada hemisfério possui
características distintas: O hemisfério esquerdo corresponde ao verbal, racional,
12 Sistema límbico corresponde hipocampo, amígdala, giro do cíngulo, tronco cerebral, corposmamilares – toda a parte autônoma que influencia o comportamento
105
seqüencial, temporal, predominante na forma do pensamento ocidental; o hemisfério
direito corresponde ao não verbal, visual, espacial, intuitivo, simultâneo,
predominante no pensamento oriental.
Cada um dos hemisférios cerebrais divide-se em quatro lobos, teoricamente
separados por sulcos demarcatórios, são eles: o lobos frontais (relacionados à
execução das ações motoras complexas), lobos parietais (responsáveis pela
informação sensorial), lobos temporais (área auditiva e linguagem) e lobos occipitais
(processamento visual).
Existem inúmeras interconexões no cérebro, porém, um das mais importantes é o
corpo caloso, que conecta o hemisfério direito ao hemisfério esquerdo. Se as fibras
desse corpo caloso são cortadas, a principal linha de comunicação entre os dois
hemisférios é abatida e dificilmente qualquer informação interior passa entre eles: o
hemisfério direito não pode dizer o que sabe, nem o hemisfério esquerdo sabe o que
o hemisfério direito conhece, pois ele não encontra significado para o que vê, não há
palavras. Entretanto, o corpo reage à comunicação visualizada pelo hemisfério
direito por meio de manifestações gestuais, comportamentais, cutâneas, sudoríparas
(NEWBERG, D’AQUILI e RAUSE, 2001).
Por exemplo, em uma experiência feita com uma paciente de cérebro dividido
(desconectado), uma seqüência de fotos é mostrada numa tela – fotos banais,
monótonas – até que a figura de uma mulher nua é mostrada para o cérebro direito
da paciente. Quando indagada sobre o que viu, respondeu “nada”. O que aconteceu
é que seu hemisfério esquerdo não tinha conhecimento sobre o que o hemisfério
direito estava vendo. Logo, não tinha algo a dizer. Entretanto, ao mesmo tempo,
ficou vermelha de vergonha, retorceu-se, sorriu e olhou confusa e desconfortável.
Seu hemisfério direito estava reagindo emocionalmente à figura nua.
Dessa experiência, pode-se aprender que a emoção afeta a explicação, quando
os hemisférios estão conectados. Caso contrário, a emoção manifesta-se
independentemente da explicação.
Portanto, os processos de busca e significado no cérebro são de tal forma
integrados que eles orientam o ser humano para o que é básico, o que é complexo e
o que é fatal. Depende do desenvolvimento do Ser a captação dessa integralidade
cerebral.
106
5.1 O Estado Interno do Terapeuta Natural
Nesse contexto, a síntese da situação vivenciada pelo terapeuta no momento da
relação com Violino, Flauta, Teclado e Piano, abordada no capítulo anterior (dor
intensa no local de aplicação das agulhas de acupuntura, não resposta do equilíbrio
energético esperado), é tomada como ponto de partida para as reflexões sobre a
importância de o terapeuta identificar suas condições internas no momento do
atendimento (ansiedade, preocupação, desatenção), bem como a influência do
ambiente externo (ruído, agitação, vaivém de pessoas). Desse modo, a questão que
emerge é: Qual a relação do estado interno do terapeuta com as condições do
ambiente externo e a resposta terapêutica?
Como visto anteriormente, devido ao circuito neural, a emoção pode vencer e
razão. Portanto, a atenção do terapeuta no ato de cuidar é influenciada consciente
e/ou inconscientemente pela emoção que invade o seu pensamento e influencia o
raciocínio, a clareza da atitude a ser tomada e, conseqüentemente, a capacidade de
decisão sobre o que fazer fica limitada. Instala-se a ansiedade e com ela surgem os
pensamentos repetitivos e indesejáveis e a intensificação de um estado energético
negativo. Se o estado interno do terapeuta está em desarmonia, quando em contato
com as agulhas de acupuntura, estará transferindo esse estado energético,
provocando alteração na polarização das agulhas e conseqüentemente produzindo
alteração da sensibilidade. Certamente, foi o que ocorreu quando Violino, Flauta,
Teclado e Piano manifestaram intensificação da dor no momento da introdução das
agulhas, em um determinado atendimento a eles, quando o terapeuta encontrava-se
ansioso por viver situações de ruído externo, interrupção freqüente do tratamento e
preocupação com o excesso de atividades, além dos atendimentos agendados.
Dossey (1998) demonstra que os estados de espírito podem influenciar as coisas
a nossa volta. Em uma pesquisa realizada por Grad, as sementes regadas com água
em recipientes segurados por trinta minutos por pessoas com depressão,
desenvolveram-se mais lentamente do que as regadas por um homem otimista.
Entretanto, o estado de ansiedade do terapeuta não é captado pelo cliente
somente quando é feita uma técnica terapêutica que mantém o contato das mãos do
terapeuta com as agulhas de acupuntura e/ou com o cliente. Existe uma
comunicação não verbal, que se coloca no ambiente e que é percebida, sentida,
107
pelo outro sutilmente. O fazer do terapeuta natural traduzirá aquilo que ele sente e
pensa. Pode-se dizer, como Fialho e Santos (p. 62), que “após o instante em que
sentimos, captamos energias do mundo externo ou resultante de processos internos
e transformamos essa informação através de algum isomorfismo em percepção”.
Logo, a percepção se dá por meio de um processo.
Assim, percepção é “um conjunto de informações selecionadas e estruturadas
em função de uma experiência, de uma necessidade e de intenções do organismo
frente a uma determinada situação” (REUCHLIN apud FIALHO e SANTOS, p.81).
Contudo, não se pode negligenciar que existem mecanismos inconscientes no
cérebro humano, que fazem a filtragem daquilo que deve ou não ser de ordem da
percepção consciente. Portanto, a percepção é também de ordem do inconsciente,
uma vez que o cérebro humano está em constante funcionamento, filtrando aquilo
que deve ou não passar para a percepção consciente do ser humano, bem como
acessando a Fonte de Energia Cósmica. Por exemplo, pode-se dizer que a intuição
é um fenômeno registrado, captado pela percepção inconsciente, quando não se
está em processo de raciocínio lógico frente a um objeto. A captação da globalidade
desse objeto está fora do espectro dos sentidos usuais. Por uma sinapse qualquer,
há um flash, uma passagem desse registro para a consciência psicológica e age-se
em função daquilo que foi sentido, intuído. Isso foi vivenciado várias vezes durante o
processo interativo com os clientes deste estudo. A título de exemplo, escolheu-se o
atendimento com Violão. Ele chegava, o terapeuta fazia o diagnóstico situacional e
planejava a terapia a ser aplicada. No entanto, em determinado dia, observou-se
que o tratamento deveria incluir a acupuntura e moxabustão, mas o estímulo que
surgiu no terapeuta, no momento da aplicação das medidas terapêuticas planejadas,
foi o de trabalhar com as emoções do cliente. Ao final do atendimento, o cliente
expressou: Que coisa boa, estou me sentindo bem mais leve.
Ainda dentro do pensamento de Fialho e Santos, existe uma busca de
informações por parte do cérebro, como resultado de uma atividade auto-organizada
do sistema límbico, que busca excitar o sistema motor, para posteriormente enviar “a
mensagem de referência” a todo o sistema sensório, que preparará o organismo
para responder à nova informação. Nesse momento, aciona-se a janela da atenção
que pode ficar dirigida para aquilo que é mais evidente (um barulho intenso, uma
preocupação maior), ignorando todo o resto da experiência vivenciada no momento,
nesse caso específico, o ato do cuidado terapêutico. “Quando a informação é
108
adquirida, a atividade síncrona de cada sistema é transmitida de volta ao sistema
límbico, onde é combinada com outros estímulos para formar a Gestalt” (FIALHO e
SANTOS, p. 81), ou seja, o todo.
Quando o estímulo é grande demais e contínuo frente à situação vivenciada, por
exemplo, uma ameaça evidente, ele transforma-se em ansiedade. Concorda-se com
Goleman (1997, p. 45), quando ele diz que “a ansiedade é o limite extremo do
estímulo contínuo do estresse”.
Logo, segundo a psicologia da atenção, quando a atenção é significativamente
voltada para os processos mentais do próprio indivíduo e/ou para o mundo exterior
ou para o corpo, isso gerará o fenômeno da distração, uma anormalidade da
atenção, que limitará o alcance da percepção para outras áreas. Nesse caso, o
estresse impulsionará a atenção na ameaça do momento, sem permitir o
enfrentamento dessa ameaça e seu conseqüente aniquilamento, culminando por
permitir a “intrusão” (HOROWITZ, apud GOLEMAN, 1997) da ansiedade no corpo e
na mente do terapeuta. Essa “intrusão” manifesta-se de formas diferenciadas,
podendo ser por meio de preocupação e ruminação de um evento estressante que
se repete incontrolavelmente, impedindo a busca de resolução para ele; ou por
pensamentos repentinos, indesejáveis, que nada têm a ver com o trabalho do
momento; ou ainda por sentimentos, pensamentos, emoções ou idéias persistentes
que não podem ser refreados, e assim por diante.
Ainda segundo Goleman (1997, p. 47) “[...] quando a ansiedade abafa a atenção,
todo o desempenho sofre”. A forma como construiu-se ao longo da vida um evento é
que determinará a percepção de sua ameaça, é que indicará a interpretação da
pessoa sobre ela mesma. O estresse somente se instalará quando as demandas do
ambiente interno e externo excederem aos recursos pessoais de enfrentamento.
Portanto, o estresse, nessa concepção, é um produto do ato cognitivo, da avaliação.
Quando o terapeuta está com a intenção de potencializar o equilíbrio do cliente por
meio da medida terapêutica e há interferências ambientais que podem prejudicar
essa intenção, se ele deixar-se dominar pelo estresse gerado por elas, interpretando
o estímulo como algo extremamente prejudicial, não conseguirá avaliar
adequadamente a situação e conseqüentemente não vencerá a ameaça, entrando
em ansiedade. Ele não encontrará respostas mais sintonizadas e o ciclo vicioso
manter-se-á. Entretanto, se ele conseguir reavaliar a situação e recuperar sua
109
sintonia interna, será banhado por um estado de serenidade e a sincronia com o
cliente efetuar-se-á dentro daquilo que ele almejou.
A situação de entrada de estresse pelo ruído intenso, gerando ansiedade no
terapeuta, foi vivenciada no atendimento a Violino. Nesse dia, o terapeuta não
conseguiu entrar em sintonia consigo mesmo antes do atendimento a Violino,
porque havia um ruído intenso de corte de árvores na proximidade de seu
consultório, o que ativou em si o botão: ‘destruição da natureza’. A ansiedade foi
crescendo e abafou a atenção do terapeuta na hora da aplicação do esquema
terapêutico. O estresse gerado foi fruto da interpretação por parte do terapeuta de
risco de destruição da natureza. Ele foi dominado pelo estresse e a resposta do
cliente foi a dor intensa no momento da aplicação das agulhas de acupuntura.
É preciso destacar que há coisas que não se podem mudar. A serenidade para
aceitá-las, mediante “uma série de manobras cognitivas que aliviam o estímulo do
estresse, mudando a reação do indivíduo mais do que alterando a situação
estressante” (GOLEMAN, 1997, p. 52), bem como as manobras sensitivas, ou seja,
de conexão com as emoções, são o caminho para se atingir essa serenidade. Além
disso, Goleman e Harwile enfatizam que, além da intrusão da ansiedade, existe a
negação de uma ameaça que tem o objetivo de apagar da percepção um fato
desagradável, como técnica de contra-ataque à intrusão. A negação é o outro lado
da atenção, aquele que a evita, como um mecanismo de defesa.
Quando o estímulo fornecido pela amígdala é apropriado à situação do momento,
é gerada uma motivação que se direciona a um objetivo intencional, focando a
atenção naquilo que se propõe a realizar.
A atenção focalizada é aquela que permite ao terapeuta desligar-se dos fatores
internos e externos geradores de distrações ou ignorá-los. Desse modo, permite-lhe
fazer a leitura das suas emoções internas, das situações ambientais,
compreendendo-as e sabendo como agir frente a elas, o que o leva ao estado de
sintonia.
Nesse sentido, como facilitadora desse processo, encontra-se a oração.
110
5.2 A Oração como Instrumento de Sintonia do Terapeuta e Facilitadora daSincronia com o Cliente
O título desta seção explicita a percepção da influência da oração pelo
pesquisador-terapeuta, tanto para equilíbrio interno dele próprio quanto para a
potencialização das medidas terapêuticas tomadas para melhorar o equilíbrio
energético do cliente.
Assim sendo, uma primeira questão impõe-se: O que significa ‘oração’?
5.2.1 O que significa oração?
Primeiramente, não se compreende oração como o ato de rezar. A reza é
compreendida como uma repetição de palavras decoradas, de preces, sem emoção,
sem busca de estabelecimento maior com a Fonte de Vida613, com a consciência
universal (LELOUP, 1998) ou com a mente não-localizada14 (DOSSEY, 1998). Orar
significa voltar-se para dentro de si mesmo, estabelecendo uma religação do ser
com a sua Fonte de Vida (LELOUP, 1998), recentrando-se nele. “Esse ato de
‘recentramento’ é eficaz não só para si mas também para outrem” (p. 31). Portanto,
tanto para Leloup como para Dossey, o ser humano religa-se a algo que é aqui
compreendido como Fonte de Energia Cósmica.
Segundo Dossey (1993), existem diferentes formas de pedir algo para si próprio
ou para outrem. Esse autor não utiliza o termo ‘orar’ mas sim pedir por meio de uma
prece, que pode ter intenções diferentes, a saber: a petição (pedir para si); a
intercessão (pedir para outrem); a confissão (declaração de arrependimento); a
lamentação (pranto de um sofrimento); a adoração (honra e elogio a uma entidade);
a invocação (convocar a presença do Todo-poderoso); e o agradecimento
13 Para Leloup, Fonte de Vida significa que existe uma Única Fonte de todo Real, a fonte de tudo oque vive e respira; um real que é relativo, pois nada é absoluto, e permite ao desejo umareorientação, uma volta do esquecimento, uma religação a Fonte do Real (1998, p. 29).14 Mente não-localizada, para Dossey, significa aquela que ultrapassa os limites da relação tempoespaço, matéria-energia que é onipresente, infinito e imortal, e única.
111
(expressar gratidão). Na maior parte da explanação desse autor sobre o assunto, o
termo oração advém como sinônimo de ‘prece’.
A oração passa pela linguagem oral mas também pela intenção mental de
potencializar a energia de autocura do cliente. A intenção mental foi fortemente
utilizada durante o processo terapêutico deste estudo. A mente do terapeuta estava
ligada à essência do próprio Ser transcendendo ao seu objeto de cuidado. Ele não
estava ligado a algo colocado no exterior do sujeito, mas como algo que habita,
como Fonte de Energia Cósmica, potencialidade de autocura. Explicando melhor, o
ser humano é o ser das infinitas possibilidades. Isso significa dizer que ele tem todo
potencial para, segundo a descoberta de Newberg, D’aquili e Rause (2001),
interligar as três mentes que o caracterizam (reptiliana, mamífera e neocortical),
acessando o campo energético sutil e potencializando o processo de religar-se à
Fonte de Energia Cósmica. Isso quer dizer que essa fonte não está instalada fora
dele, muito acima dele mesmo, e que ele, o ser humano, não está isolado dentro de
um segmento do tempo e do espaço, confinado a seu próprio corpo. No processo
terapêutico, a vivencia desse mecanismo deu-se quando o terapeuta atingiu o
estado de serenidade, seu estado natural, facilitado pela oração, e por meio de
flashes intuitivos, conseguiu traduzir o estado da emoção vivido pelo cliente (Flauta),
desarmando suas amígdalas corticais e facilitando o seu acesso à sua percepção
inconsciente. Relembrando: após trabalhar as emoções, Flauta verbalizou: Parece
mágica!
Quando se funciona somente com a mente reptiliana, na concepção de Newberg,
D’aquili e Rause (2001), a oração é expressa como uma prece repetitiva para uma
divindade acima de si, hierarquicamente superiora, absoluta, vigilante e que deve,
por definição, ser a que ganha. Com o funcionamento da mente mamífera, na qual
as emoções já passam a intervir no ser, ter e fazer do ser humano, a oração
encontra significado: conexão com a natureza e com a fé em prol do sentido do ‘Eu’,
sua interação consigo mesmo e com o outro. Todavia, quando a mente neocortical
põe-se em ação, a oração abandona a busca do significado e da necessidade da
ligação com a fé religiosa e atinge o campo de todas as possibilidades, o da Fonte
de Energia Cósmica. As interações razão e emoção, subjetividade e objetividade,
percepção consciente e percepção inconsciente, processam-se naturalmente,
porque o ser humano atinge o espaço infinito que os católicos denominam “de união
com Deus” e os budistas “de interconexão” (idem, 2002, p.36).
112
Em síntese, a oração é um potencial importante para o equilíbrio de si mesmo e o
equilíbrio do outro, como um vetor que religa o ser a si, no outro e no Cosmo. Mas,
como se dá neurofisiologicamente essa potencialização?
5.2.2 Como a oração age neurofisiologicamente no ser humano
Funcionalmente, o cérebro humano é uma orquestra sutilmente sincronizada,
feita pelos neurônios, hormônios e órgãos, articulada como um circuito perfeito entre
corpo e mente. As emoções circulam por esse circuito e são captadas não somente
pelos cinco órgãos dos sentidos conhecidos. Das amígdalas corticais e hipotálamo
vão ao córtex pré-frontal para serem tratadas e ao hipocampo para acionar a
memória cognitiva e afetiva. Tudo isso finaliza no trabalho do neocórtex, que pode
ser chamado de ‘cérebro pensante’.
A memória humana é um fenômeno complexo não controlado e/ou comandado
pelo ser humano. Ela acompanha todos os instantes da vida. Cem milhões de
neurônios religados por milhões de sinapses ativam-se permanentemente numa
infinidade de circuitos. A memória põe em jogo a linguagem, a emoção e o
pensamento. Ela pode ser implícita, espontânea e automática, bem com explícita,
fundamentada em processos conscientes. Existe um complexo mecanismo entre os
locais e tipos de memórias no cérebro, que estabelece o vaivém entre as diferentes
operações mentais que assegurarão o equilíbrio do indivíduo quando ele é
submetido a qualquer tipo de agressão da vida cotidiana. Porém, se o indivíduo tem
uma memória extremamente impactada frente a um determinado estímulo, esse
mecanismo gerará um desequilíbrio.
Assim, a memória tem um importante papel na ação da oração sobre o ser
humano, potencializando ou não uma técnica terapêutica. É por meio da memória
que o hipocampo registra as percepções do ser humano sobre a oração, atribuindo-
lhe um sentido, um significado, constituindo o eu sináptico, e que o ser humano
utiliza-se ou não desse vetor de cuidado terapêutico.
A partir do conhecimento de que o sistema límbico é a sede da memória
emocional, ou seja, o registro de raiva, alegria, amor, medo, ódio, fé etc., é ele que
aciona o que é prazeroso ou não numa experiência, influenciando o comportamento
113
do ser humano em todas as etapas de sua vida por meio do sistema de crenças:
noção do sagrado e do profano, do entendimento da religião, de vida, de cura, de
terapeuta, entre outros. Aquilo que está escondido na memória, captado pela
percepção inconsciente, constitui uma tendência latente que agirá sobre o corpo
humano causando tensões, conflitos, transferências, ansiedade, potencialidades
positivas, ou seja, a vida é vista como momento de prazer ou de desprazer.
É nesse ponto que a oração atua para modificar esse paradigma, permitindo o
trabalho integrado do hemisfério direito e do esquerdo do cérebro. Os sentimentos
que traduzem uma emoção são elementos importantes, indispensáveis como
constitutivos do pensamento intelectual. Existe um sentimento de amor incondicional
que liga um ser ao outro e que é potencializado pela oração. Para Newberg, D’aquili
e Rause:
Na psicologia bíblica, o coração é equivalente ao que as pessoashoje definem como personalidade, que inclui a emoção, o intelecto,vigor, a vida moral e o ponto de contato com Deus. Em termostécnicos, teologia e ontologia são dependentes na epistemologia eepistemologia depende do funcionamento do cérebro. O que aspessoas sabem, conhecem (epistemologia) está relacionado ao queé para ser conhecido (ontologia) e como isso tem importância(teologia). (2001, p.21).
Ora, se as pessoas vivem demais no mundo racional e não se espiritualizam, no
sentido de busca constante de identificação e compreensão do seu Eu interior, não
conseguem acessar sua intuição, o seu mundo perceptivo, sensitivo, e perceber a
importância da oração nesse momento integrador. Por meio da oração, a pessoa
consegue reduzir o controle racional e ouvir seu Eu interior (essência), amar
incondicionalmente o outro, despir-se de prejulgamentos, facilitando a entrada ao
estado empático, e passar do estado reacional ao relacional.
Segundo a teoria de Newberg, D’aquili e Rause (2001, p.3), que explora a ciência
da neuroteologia, afirmando a existência de ligações entre a espiritualidade e o
cérebro, comprovada por tomografias, existe um fluxo sanguíneo claramente
evidenciado no cérebro do indivíduo, em estado de oração contemplativa, indicando
redução de níveis de atividade neural quando esse indivíduo atinge “um intenso
clímax religioso”.
114
Ao analisar essas imagens (ver anexo 4), Newberg, D’aquili e Rause (2001, p.4),
identificaram, numa porção do lóbulo parietal esquerdo (área de associação e
orientação) que representa a fronteira entre o Eu físico e o restante da vida, a
existência de redução de fluxo constante de informações neurais nos momentos de
pico da oração e da meditação. Com isso, conclui que “com a área de orientação
privada das informações necessárias para separar o eu do mundo, o indivíduo
experimentaria uma sensação de percepção ilimitada, fundindo-se ao espaço
infinito” (p. 4-5). Essa experiência reforça a possibilidade do ser humano em chegar
ao estado de transcendência mística, à intuição da mente Una, não polarizada
(CHOPRA, 1999), ou seja, aquela que integra o eu, o mundo e o Eu superior (o Eu
da Fonte de Energia Cósmica).
De posse dessas constatações, pergunta-se: Como a oração pode contribuir para
potencializar as medidas terapêuticas?
5.2.3 Como a oração contribui para a potencialização das medidas terapêuticas?
Uma vez que o terapeuta, auxiliado pela oração, religa-se à Fonte de Energia
Cósmica, atingindo assim o seu equilíbrio interno, ele põe-se num estado de
serenidade que mantém uma via de mão dupla entre si e a Fonte de Energia
Cósmica, numa inesgotável comunhão energética. Imbuído desse estado interno, o
terapeuta põe em todas as suas atitudes uma verdadeira intenção de potencializar a
energia de autocura do outro; intenção essa que não é transmitida por palavras, mas
que permite a comunicação sentida-intuída de Ser para Ser; intenção que se traduz
em oração, verdadeiro sentimento de amor incondicional frente ao outro.
Essa ausência de palavras verbalizadas não impede a comunicação entre o
terapeuta e o cliente, que serão tocados em seu íntimo, quando a intenção de ajuda
ao outro é autêntica, profunda. Segundo Piere Weil,
é como se a essência da vida batesse dois corações ao mesmotempo; é um sentimento recíproco da totalidade do ser de cada umque acaba por constituir um só; é a constatação, a sensação que anossa essência é a mesma; é a descoberta, em nós e no outro, aomesmo tempo, do ‘spons’, o sopro vital, da força da energia quemove o universo (2000, p.132).
115
Quando o terapeuta e o cliente atingem esse ponto de comunicação, a atitude
empática instala-se naturalmente, os sentimentos e os desejos são transmitidos
pelos gestos, pelo olhar, pela atitude corporal e a comunicação dá-se de Ser para
Ser. Existe um verdadeiro compartilhamento de vibrações energéticas, de forma que
os indivíduos envolvidos nesse processo sentem seu sopro vital se revigorar. Eles
mobilizam a energia que faz parte deles mesmos e podem autocurar-se, bem como
potencializar a medida terapêutica adotada, ajudando assim o outro a se autocurar.
As mãos, as agulhas de acupuntura, as ventosas, as sementes, a moxa, a intenção,
a percepção consciente e a atitude amorosa transformam-se em instrumentos
energéticos da oração para agir concretamente sobre corpo-mente do outro.
Toda a energia circulante entre duas pessoas é sentida por elas (LASKOW,
1997), gerando uma resposta imediata. O pensamento e as emoções do ser humano
são energias padronizadas que habitam o corpo humano, atravessando campos de
energia. Portanto, aquilo que o terapeuta pensa, ou melhor, sua intenção (oração
para restabelecer o equilíbrio e/ou potencializar a autocura do outro), tem uma ação
direta sobre aquele que ressente no seu corpo a energia integradora circulante.
Analogamente, pode-se dizer o mesmo em relação à oração, pois orar é se pôr
em atitude amorosa perante si próprio, o outro, o mundo e o Cosmo. Orar é assumir
a ética da estética que o terapeuta escolhe e pratica. Orar faz parte da mente Una.
Orar é ativar o campo do amor poderoso que é um campo energético da harmonia,
do equilíbrio e da paz. Segundo Laskow (2000, p. 60) “na presença de um campo de
amor poderoso, se a gente tem intenção e vontade de curar, as capacidades de
autocura inerente ao campo serão estimuladas e aumentadas”. Laskow concebe o
amor como um padrão universal de energia em ressonância e, quando as ondas de
energia de cada ser em relação vibram em uma mesma freqüência, o resultado é
uma “dupla ressonância”. Cada ser está em conexão com o outro de maneira única
e harmoniosa. É a máxima conexão existente: de Ser para Ser.
Entretanto, se o terapeuta faz todo o processo referido anteriormente,
concentrando toda a sua intenção de ser mediador da potencialização de cura para
um cliente por meio da energia positiva, em uma determinada técnica, essa intenção
é captada pelo campo energético do outro. O corpo do cliente, os seus pontos
energéticos podem demonstrar esse mecanismo de influência-captação-
transformação, sem que o cliente tome consciência (conhecimento) do que se
passou.
116
Há várias medidas terapêuticas que podem levar o indivíduo a entrar em
ressonância. Segundo Laskow (2000), se o problema é uma alteração específica do
corpo, para entrar em ressonância, deve-se colocar a atenção sobre a alteração
física, ou seja, ter a percepção consciente do corpo doente e chegar à parte onde o
problema manifesta-se. Nesse momento, sente-se o que acontece, quais são as
sensações que se manifestam. É preciso integrá-las à consciência para poder
transformá-las. Nesse processo, nos momentos de silêncio, a oração é um elemento
forte para que o cliente consiga ultrapassar as etapas do processo, aceitando a
situação, pondo-se pronto para agir e para transformar a realidade. Dessa forma, o
cliente coloca-se em ressonância com ele mesmo e com o terapeuta, realizando o
grande salto para além do mundo das formas, para a certeza de que tudo no
universo é energia (Energia Cósmica), sendo a oração uma forma potencialisadora
de autocura.
Dessas considerações, a questão que se impõe é: Como o cliente manifesta a
atuação da oração em si mesmo?
Uma das maneiras dessa manifestação é quando o cliente passa a perceber as
potencialidades do seu crescimento pessoal. Logo, a cura pela oração também se
manifesta quando esse cliente busca, partindo de si mesmo, não o porquê das
situações, mas para que certas situações ocorrem em sua vida. A partir de então,
ele muda a sua visão. Não vê mais a vida, o trabalho, o casamento etc. como algo
sem cor, sem objetivo... Ele passa a ter uma mente não fragmentada. Ele percebe a
simultaneidade dos opostos. Ele toma consciência de que na depressão é
necessário olhar para dentro de si, não bastando apenas tomar medicamentos que
eliminam os sintomas da doença, mas sim integrar na consciência os fatores que
levaram ao estresse crônico que culminou em depressão.
Na vivência do terapeuta, houve a confirmação dessa manifestação em muitas
situações que não foram expressas pelos clientes deste estudo. Por exemplo, um
determinado cliente, que vivia uma situação conflituosa na relação conjugal,
chegando ao consultório com muita raiva do seu cônjuge, vendo a situação apenas
sobre o seu prisma óptico, chorou muito no momento do atendimento. Nessa hora, o
terapeuta orou intensamente, pondo toda a sua intenção para que o cliente pudesse
ver a situação sob outros ângulos. No final, o cliente abriu os olhos, espreguiçou-se
e verbalizou: Tenho que ter mais paciência com o meu marido, deve ter algo que eu
preciso aprender com isso”.
117
Outro tipo de manifestação que ocorreu na pesquisa de campo, em função da
prática da oração, foi a resposta mucoso-cutânea, em que há uma modificação na
coloração da pele, que passa de pálida a corada. Também, o relaxamento completo,
manifestado pelo sono intenso e a expressão facial de serenidade, foi observado
quando a prática da oração veio somar a medida terapêutica da acupuntura.
Dossey (1998) cita vários estudos que demonstram os efeitos da oração e da
meditação, dentre eles o estudo de Randolph Byrd, realizado em São Francisco
(EUA) em unidades de cardiologia. Nenhum dos pacientes do grupo alvo de orações
necessitou de entubação e respiração artificial, enquanto que doze membros
participantes do grupo controle precisaram dessa intervenção.
A partir dessas manifestações, não se pode dizer que algo passou do terapeuta
para o cliente e vice-versa, mas sim que eles entraram em sincronia, no sentido que
simultaneamente eles acessavam as mesmas informações do campo quântico. Todo
o ser humano pode ter acesso a esse campo, pois ele tem a capacidade intuitiva
dentro de si mesmo, que foi deixada de lado em função de um processo de vida que
é extremamente racional. O trabalho consiste exatamente em flexibilizar o
pensamento racional para se conectar com o espaço de consciência universal
(quântico). O ser humano é individual, mas ao mesmo tempo uno, pois está
interconectado com todos e com tudo.
Nesse processo de interconexão, a oração prepara o indivíduo para exercer
atitude empática na sua relação com o outro.
5.3 Empatia, Fenômeno Interacional?
A compreensão sobre empatia varia de autor para autor, segundo a óptica que
utiliza para perceber e compreender aquela que está à sua frente. De maneira geral,
as definições sobre empatia estão vinculadas a uma relação de Ser para Ser.
Entretanto Dossey (1993, p. 127-130) apresenta estudos que apontam a existência
de vínculos empáticos, por exemplo, entre as interações de pessoas com máquinas.
Neste estudo, a compreensão que se faz de empatia, após este fenômeno ter
sido grandemente e gradativamente evidenciado no processo terapêutico, está
118
vinculado ao processo interativo entre pessoas, distinguindo-se a interação de Ser
para consigo mesmo e dele para com o outro.
5.3.1 Empatia e a arte de interagir
O primeiro pensamento sobre empatia é aquele que vem de dentro do Ser; ela é
o sentimento interior que permite ao cliente e ao terapeuta estabelecer uma
cumplicidade com o seu objetivo de estudo e terapia, em que não há espaço para
prejulgamento e para imposição de opiniões e ações.
Diz-se que um pesquisador-terapeuta está em estado empático quando ele não
precisa abstrair-se de seu objeto de estudo e cuidado, pois ele faz parte daquilo que
descreve e cuida. Ele participa do dinamismo da vida, pois está no interior dessa
vida, e ele mesmo é a própria vida. Voltar-se para o seu interior e fazer a leitura das
emoções que estão presentes e como ele pode administrá-las facilita-lhe o processo
de sintonia interna, abrindo-lhe o caminho para a instalação do estado empático.
Perceber esse estado, interagir consigo mesmo e adotar atitudes pessoais de vida é
buscar a abertura para a sincronia com o outro e com a Fonte de Energia Cósmica.
Portanto, ter uma atitude empática é desprover-se do seu individual,
interconectando-se para ver a realidade através do olhar do outro, mantendo o seu
próprio olhar, lembrando sempre que cada ser humano é um ser único, Uno e fonte
de infinitas possibilidades. Logo, todo o ser humano pode exercer a atitude empática
consigo mesmo, com o outro e o Cosmo, dando um grande salto qualitativo do
estado de individualidade reacional para o de integralidade relacional. Para que a
atitude empática manifeste-se, seja no terapeuta ou no cliente, é necessário um
estado interno de serenidade, a fim de que os sinais da energia sutil que os envolve
possam ser captados, sentidos, compreendidos e tornem-se vetores de
transformação.
Quanto mais consciente a pessoa é das emoções que a habitam e de que elas
são fundamentadas nas crenças que construímos ao longo de nossas vidas, quanto
mais consciente das possibilidades de compreendê-las e de agir frente a elas, mais
facilmente a pessoa entra num estado empático.
119
A empatia, juntamente com o processo perceptivo do ser humano, constitui
elementos de base do processo interativo do cuidado terapêutico.
Entende-se por processo interativo aquele em que o terapeuta e o cliente tornam-
se um só, interligados por um sentimento de amor incondicional, para a execução de
uma medida terapêutica que extrapola os limites impostos pelo espaço, pelo tempo e
pelo corpo físico. É importante também salientar que para que o processo interativo
se concretize não é obrigatória a presença física e espacial do outro, porque sempre
existe a possibilidade de haver o processamento das interconexões de Ser para Ser
e a Fonte de Energia Cósmica, que vai além das limitações citadas. Isso quer dizer
que, quando um ser (terapeuta) tem uma atitude empática perante si mesmo em
primeiro lugar, ou seja, encontra-se num estado de serenidade interna que lhe foi
permitido uma interconexão com o seu Ser (essência), ele consegue facilmente
interconectar-se com o Ser do outro, mesmo à distância, de tal modo que pode
captar, muitas vezes, inconscientemente, toda a intenção de cura colocada no
campo das interconexões das essências. Esse mesmo processo pode ocorrer
partindo do cliente em direção ao terapeuta, e mesmo entre pessoas nas suas
relações cotidianas.
Então, existe também uma atitude empática voltada para si mesmo, que permite
ao ser o exercício do não julgamento e do amor incondicional a si próprio. Assim,
pode-se dizer que a empatia é um fenômeno voltado tanto para o Eu interno do
indivíduo quanto para a interconexão com o Eu interno do outro.
Segundo Ambrose e Olga (apud DOSSEY, 1993, p.123) “Devemos nos importar
profunda e urgentemente pelos outros, de maneira completa e imediata; as nossas
mentes, os nossos espíritos devem ir ao encontro do outro”. Logo, a relação
estabelecida por esses elementos não é somente mental, biológica e química, mas
sim uma relação natural, um resultado de ressonância15 existente de Ser para Ser.
Quando se efetiva a interação, são mobilizadas no cliente e no terapeuta
reservas energéticas por eles mesmos insuspeitadas, mas que os tornam mais
fortes e capazes de superar as suas dificuldades. Portanto, cabe a eles potencializar
essas forças energéticas naturais, mediante a criação de condições para si mesmo e
15 Ressonância é o que ocorre quando duas pessoas conseguem vibrar energeticamente na mesmaonda (frequência) e com isso transferir energia mutuamente, de forma contínua, cíclica. Esse é umprocesso auto-regulado, em que não há perda Quando se fala de ressonância de Ser para Ser, ouseja, vibração entre essências, significa dizer que duas pessoas entram em sincronia.de energia, paraqualquer pessoa que o integre.
120
para seu processo interativo de atingir o equilíbrio energético. Para exemplificar o
que se diz, trace-se o exemplo vivenciado na relação entre o terapeuta e Harpa que,
no momento da terapia, referiu estar com dificuldade para dormir, apesar da
manutenção da medicação prescrita. O estado interno do terapeuta estava sereno,
com uma verdadeira intenção de ajuda, orando profundamente no momento da
aplicação das agulhas de acupuntura e realização do Tui-ná; pondo-se em atitude
empática, ou seja, colocando-se no lugar de Harpa, porém acreditando na sua
potencialidade para reativar suas energias de autocura. Harpa, além de verbalizar, a
intenção de conciliar o sono, sua expressão facial e postura (rosto não contraído,
braços estendidos ao longo do corpo, pernas naturalmente abertas), no momento da
terapia, indicavam receptividade ao procedimento que estava sendo realizado e
solidificação do processo interativo. Durante esse processo, não houve nenhuma
interrupção. Harpa foi relaxando progressivamente e dormiu, o terapeuta sentiu
intensificação de calor nas mãos (o que significa uma energia potencializada),
sensação de bem-estar e leveza. Pode-se dizer que, nesse momento, o terapeuta e
o cliente estavam em estado de ressonância, determinando o processo interativo.
Assim, a empatia põe-se como a possibilidade silenciosa de acesso a Fonte de
Energia Cósmica permitindo chegar ao estado de sincronia (ressonância) entre o
terapeuta e o cliente. Pode-se dizer que ter essa atitude empática é entrar no estado
de amor incondicional por si mesmo, em primeiro lugar, e, conseqüentemente, pelo
outro, propiciando ao Ser Humano que a experimenta a conquista da liberdade
interior.
5.3.2 A concepção biológica e neurológica da empatia
Como visto, perante um estímulo, o organismo humano desencadeará um circuito
normal que preparará o indivíduo para a ação: (resposta fisiológica) fugir ou lutar,
frente ao sistema de alarme disparado pelas amígdalas corticais que acionam o
circuito neural. Esse processo, conhecido como sinapse neural, constitui a
personalidade do indivíduo, o seu ‘eu sináptico’, construído ao longo de sua
vivência, por meio de suas experiências (LEDOUX, 2002). Cabe aqui enfocar que o
ser humano, ao nascer, é essência pura, ou seja, um ser natural e que interconecta-
se consigo mesmo, com o outro e com o Cosmo. Portanto, um ser naturalmente
121
empático, integral (ecológico), que se traduz em Fonte de Energia Cósmica.
À medida que ele começa a realizar a construção do seu ‘eu sináptico’, pelo meio
no qual está inserido, ele pouco a pouco toma conhecimento espacial e temporal do
mundo e do seu Ser, ‘domesticando-se’, tornando-se ‘educado’, desenvolvendo mais
e mais a parte cognitiva de seu cérebro, deixando cada vez mais adormecida a sua
essência, o seu ser natural.
Nesse processo, a empatia natural que o caracterizava, fica escondida sob a
construção cognitivo-emocional, que é fruto de uma hipertrofia das amígdalas
corticais, que disparam sem cessar um sinal de alarme que, se não encontrar
resposta adequada no circuito neural, gerará um estado de tensão, de estresse, de
ansiedade, em que a atitude empática fica completamente obscurecida.
Além do aspecto neurológico, a empatia é considerada também como resposta
fisiológica, segundo as pesquisas de Levenson (apud GOLEMAN, 1995), feitas com
um casal, com o objetivo de identificar as reações fisiológicas manifestadas no corpo
de cada um deles, durante a discussão que mantinham. A conclusão a que
Levenson chegou foi a de que
o corpo de um imitava as mais sutis reações físicas do outro [...]sugerindo que quando o cérebro emocional dirige o corpo em umaforte emoção – o calor da fúria, diga-se – há pouca ou nenhumaempatia. Empatia exige bastante calma e receptividade para que ossutis sinais de sentimento da outra pessoa sejam recebidos eimitados por nosso cérebro emocional (p.117-118).
Essa é a concepção fisiológica da empatia, segundo a qual o corpo de um
manifesta a dor do outro em si próprio, das mais variadas formas. O ser empático,
nessa concepção, é aquele que é capaz de sentir a dor do outro. Associada a essa
concepção, põe-se a de cunho psicológico, em que, apesar de a pessoa ser capaz
de sentir a dor do outro, não se deixa envolver pela dor, ou seja, faz a distinção
entre o seu corpo e o corpo do outro, o seu sentimento e o do outro. Logo, a
ausência de atitude empática pode ser encontrada quando, fisiologicamente, instala-
se uma anomalia neural, uma anomalia do funcionamento das amígdalas corticais e
circuitos relacionados.
Isso foi comprovado por pesquisas feitas em psicopatas, as quais mostram que
aqueles que seriam submetidos ao tratamento de choque não demonstravam medo,
pois a relação entre o choque elétrico e a dor não existia. Ora, se eles não sentiam
122
medo, dor, como poderiam ser empáticos com o outro? (GOLEMAN, 1995). Ainda,
segundo esse autor, quando as pessoas vibram num estado energético qualquer
(positivo ou negativo), uma pode sutilmente captar a energia que a outra transmite,
pois mediante um estímulo qualquer, o sistema perceptivo vai desencadear uma
ação emocional e ocasionar no outro um processo de imitação, de contágio
emocional, que é sutil.
Cacioppo (apud GOLEMAN, 1995, p.129) estudou esse sutil intercâmbio
emocional e constatou que, quando as pessoas interagem, as emoções ou a
transferência do estado de espírito são sentidos pelo outro, mesmo que ele não
tenha consciência psicológica de que está imitando o comportamento do outro
(como angústia, dor, espanto). Isso se dá porque existe uma sincronia de estados de
espírito.
O ser empático, no processo de interação, consegue exercitar essa sua
sensibilidade em assumir a atitude empática, fazendo com que a utilização da
técnica de imitação do comportamento do outro seja um elemento facilitador do
processo interativo, sem se deixar dominar por ele, como foi utilizado neste estudo,
como as técnicas de comunicação terapêutica e de espelhar o comportamento dos
clientes.
123
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta etapa deste estudo – resultante de uma trajetória feita de buscas,
reflexões, esforço, crises, enfrentamento de crenças e que oportunizou maior
sintonia do terapeuta-pesquisador consigo mesmo, facilitando a sincronia com o
outro e com o campo das Infinitas Possibilidades – resgatam-se os pontos de
destaque que nortearam a sua construção, operacionalização e conclusão.
Todo o processo de cuidar-pesquisando emergiu dos dados vividos pelo
terapeuta natural e pelo trabalhador em depressão, acrescidos de leituras que
contribuíram para validar o pressuposto deste estudo sobre o terapeuta natural.
Percebe-se que esse terapeuta desempenha suas atividades a partir do
conhecimento de si mesmo, integrado com a natureza, aceitando o seu potencial
intuitivo que se soma ao conhecimento técnico-científico, e põe-se como mediador
entre a Fonte de Energia Cósmica e a fonte de energia do próprio cliente, numa
ressonância em que as capacidades de autocura são potencializadas.
Um dos pontos fundamentais para este estudo foi a complementação dos
referenciais teóricos norteadores do processo de cuidar-pesquisando, destacando-
se: 1) O aspecto de focalizarem suas reflexões e ações sobre o ser humano, um ser
único, Uno, ou seja, integrado consigo mesmo e com a natureza, numa única
consciência; 2) A possibilidade de transcender o que já é posto, por meio da
compreensão da transdiciplinaridade como existência de uma incompletude do ser
humano que se complementa na relação do outro, de tal modo que existe um
partilhamento de conhecimentos que aceitam a decodificação de seus conceitos
fundamentais para se recombinar conhecimentos em prol de enriquecimento mútuo.
Nesta congruência de saberes, como o Referencial Holístico-ecológico e a
medicina tradicional chinesa, vários conceitos foram tomando forma e ocupando um
lugar mais permanente nas análises que se sucederam ao processo de trabalho do
terapeuta natural. Dentre eles, o próprio significado de terapeuta natural, energia
sutil, percepção consciente e inconsciente, atenção, sintonia, diálogo, sincronia,
empatia, processo interativo, essência e consciência. Esses conceitos, explicados no
124
corpo do estudo, desencadearam um árduo trabalho mental, obviamente não
dissociado da vivência terapêutica, que culminou na construção reflexiva sobre a
busca do ser humano, não somente de sua harmonia, mas da liberdade do encontro
com seu caminho, o TAO, o caminho do equilíbrio entre ambiente interno e ambiente
externo.
Essa busca de liberdade é dirigida ao encontro da essência do ser humano.
Nesta busca incessante, que leva ao caminho da liberdade, a intenção que o
terapeuta põe em seu fazer para potencializar a autocura do outro é a grande força
de amor incondicional presente na relação terapêutica. A intenção posta é a entrega
maior que um Ser pode ter frente ao outro, pois nada impõe, nada espera,
simplesmente é uma comunicação de Ser para Ser.
Para isso, o terapeuta natural deve fazer cotidianamente o profundo exercício de
conhecer a si próprio, de ignorar as distrações oriundas do ambiente externo e
interno e encontrar o seu equilíbrio. Nessas condições, o terapeuta natural deixa de
pensar em si e nas necessidades do outro, mas passa a vê-lo como alguém real,
não um ser de necessidades, que precisa manipular, seduzir, exigir, mas um ser que
simplesmente permite ao outro existir por inteiro. Sem julgamento, não há mais
necessidade de luta contra algo no seu interior, ou contra os outros, porque a
pessoa encontrou o caminho e integrou-se à força orientadora, à sua essência. A
pergunta que o terapeuta natural faz ao trabalhador com depressão não é mais ‘por
que’ se instalou a depressão, mas sim ‘para que’. Essa intercorrência é uma grande
oportunidade de conhecimento de si mesmo, de crescimento interior, de encontro
com a essência.
Existem situações em que o ser humano desconecta-se da sua energia natural,
ou seja, da natureza, deixando-se envolver por uma desordem emocional em função
do não exercício de desativação das amígdalas corticais, hipertrofiadas. Como visto
neste trabalho, a desordem emocional gera o estresse, porque as emoções não são
compreendidas e integradas em seu EU interior, gerando cada vez mais ansiedade e
permitindo a instalação de desequilíbrios físicos e psicossomáticos como a
depressão. Assim, a emoção integrada ao EU interior do terapeuta-cliente é um
mecanismo capaz de desativar as amígdalas corticais.
Trabalhando-se a situação interna, atinge-se a serenidade, que o ponto de
partida para a atitude empática. Sugeriu-se neste estudo que são instrumentos para
atingir esse estado: a integração das emoções; a oração, como forma de
125
recentramento do Ser religando-se com a Fonte de Energia Cósmica; a abertura
para o outro mediante a intenção verdadeira do amor incondicional; e a
compreensão de que o ser humano é o ser das infinitas possibilidades (energia sutil
que se religa à Fonte de Energia Cósmica). Assim sendo, a oração auxilia no
controle racional e permite o acesso ao EU interior, modificando as relações, que
passam de pura e simples reação para o processo relacional interativo.
Ao orar, entra-se num estado de transcendência mística, em que o ser humano
separa-se do mundo físico, religa-se ao espaço infinito, religando-se também à
Fonte da Vida, por meio de uma inesgotável comunhão energética para entrar no
estado de serenidade. Quando se atinge esse estado, a intenção põe-se como a
comunicação sentida e intuída de Ser para Ser, em que as vibrações energéticas
são compartilhadas (entram em ressonância) para revigorar o sopro vital.
Nesse processo, não existe passagem de algo do terapeuta para o cliente e vice-
versa. O que existe é a sincronia das energias sutis. O trabalho do terapeuta natural
é voltado, principalmente, para o ser humano, não só valorizando a sua capacidade
para discernir os fatos cotidianos, uma atitude a ser tomada e/ou a aplicação de uma
determinada técnica. Ele integra a essas capacidades humanas seus aspectos
emocionais e espirituais, pois seu foco é o ser humano centrado consigo mesmo,
com o outro e com o cosmo, para que possa valorizar o seu equilíbrio e chegar à
liberdade de ser.
Todavia, para que esse fim seja atingido, é de suma importância o contexto
ambiental, familiar e social em que esse Ser está inserido. Indo para um
microcontexto, o ambiente de trabalho, o terapeuta natural também focaliza sua
atenção nas condições ambientais de trabalho, como um elemento essencial para a
realização da interação terapêutica no contexto mais amplo da palavra. Existe uma
passagem sutil de envolvimento com o processo interativo global para o de
comprometimento com esse processo. Portanto, as pessoas precisam ser
preparadas para esta realidade do trabalho feito além da obrigação: um trabalho
intencional, no qual o amor, o autoconhecimento, juntamente com a habilidade, o
conhecimento, a flexibilidade e a comunicação (verbal e não verbal) constituem os
fatores essenciais para que o terapeuta natural possa contribuir para a melhor
qualidade de seu atendimento, conseqüentemente, com a melhor qualidade de vida
ao trabalhador em depressão: um terapeuta em equilíbrio interno, motivado, e um
126
ambiente de trabalho em harmonia propiciarão a mesma construção no outro e
juntos atingirão a excelência na qualidade total do processo de trabalho.
Do que foi exposto neste estudo, enfatiza-se que é possível conciliar o racional
(tudo o que é exigido de conhecimentos, habilidades, técnicas e até mesmo, porque
não dizer, lucro empresarial) com o emocional e alcançar o equilíbrio entre a
dualidade de interesses daquele que cuida, daquele que precisa de cuidado com a
daquele que gerencia a empresa onde o cuidado é prestado. No Referencial
Holístico-ecológico e energético, o Ser deve vir sempre em primeiro lugar para
conciliar o pensar, o fazer e o ter por meio do viver compartilhado do aqui e agora
entre o terapeuta natural e o cliente em depressão.
Esse viver compartilhado é pleno de diferenças, mas elas não devem ser
tomadas como algo que divide e perpetua o estigma de ser depressivo. Elas devem
ser vistas como uma possibilidade interveniente na construção da qualidade de vida
do terapeuta natural e do cliente deprimido, em processo interativo. Essa
integralidade entre aquele que presta um cuidado natural (Holístico-Ecológico-
Energético) e aquele que o recebe não reforça o restabelecimento energético pela
fragmentação do ser humano, mas, ao contrário, integra os vários saberes para
demonstrar ao trabalhador em depressão aquilo que ele perdeu ao longo de seu
caminho, ou seja, o desvio do rumo da vida. Os ressentimentos e as lutas internas
desviam o estado original de harmonia. A depressão indica que é preciso mudar o
alvo, fazer a metanóia, retomar o caminho de volta.
Esse equilíbrio é conseguido quando se busca investir no crescimento contínuo
do ser humano, seja ele terapeuta, cliente e/ou empresário, para que ele possa
aprender novos conceitos, quebrar velhos paradigmas, abrir-se para a empatia e
utilizar-se de todo o seu potencial criativo, para chegar a uma melhor qualidade de
vida, fazendo uma organização melhor. Esse processo promoverá uma sintonia
entre os valores das pessoas nele envolvidas, quer seja o terapeuta, quer o
administrador da empresa onde o terapeuta está repercutindo no processo de
trabalho em si, porque há um equilíbrio dos valores dessas pessoas. Existe amor no
ambiente que os circunda: as pessoas fazem a diferença. São os talentos humanos
reunidos e unidos para o trabalho diferencial, mais humano, mais feliz, no qual as
emoções não são negadas e os valores são considerados elementos
desencadeadores do equilíbrio entre o ser, o ter e o fazer.
127
O ser livre é criativo e comprometido com a vida e seu trabalho. Não há mais
espaço para os preconceitos, os dogmas e o enquadramento em paradigmas sociais
ou estruturais. O ser humano que está em sintonia consigo mesmo é livre para
pensar, criar, agir, expor-se, errar e acertar. Ele não se frustra, não entra em
depressão, porque tem liberdade de tentar e de errar, até acertar com convicção. Ele
é um ser mais motivado. A liberdade de expressão é a mola para a criatividade, para
a satisfação interna e para a motivação. Não há mais necessidade de o trabalhador,
em suas relações cotidianas, prender-se a relações competitivas, buscando sempre
o reconhecimento no outro daquilo que faz. Não há mais necessidade de ver na
condição do trabalho empobrecido de significado a condição de sua própria
existência. Não há mais a necessidade de se manter amarrado a um ritual de cuidar
que assegure ao outro a imagem do terapeuta natural. O trabalhador é livre para
abandonar todas as lutas internas oriundas do mundo competitivo do trabalho e
redescobrir o prazer em executar o seu trabalho. Trabalho que se constrói a partir do
reconhecimento de si mesmo e da relação que ele estabelece com os outros
trabalhadores com quem convive.
A partir da aceitação de que não se é o dono da verdade absoluta, de que os
outros são seres feitos de suas crenças e valores, capazes de opinar, sugerir e,
portanto, merecedores de atenção igualitária, de que existem instrumentos internos
que facilitarão o processo empático, como a oração, o terapeuta natural conciliará
em seu ambiente de trabalho e, mesmo durante o processo terapêutico, a razão e a
emoção. Nesse momento, haverá equilíbrio entre habilidades técnicas, humanísticas
e conhecimentos, integridade para assumir uma atitude, o cultivo do silêncio, a
confiabilidade, a agilidade para atuar frente às emergências, a imparcialidade na
decisão a ser tomada e a flexibilidade para tomar decisões sempre que essa atitude
gere em si e no outro um crescimento.
Somente se atinge uma ótima qualidade de trabalho, de vida, quando se está em
equilíbrio consigo mesmo, conectado à sua essência, conseqüentemente, em
sintonia, para se poder sincronizar com o outro e com o Universo, numa dança entre
o Ser, o ter e o fazer.
Neste estudo, a relação entre a qualidade de vida do terapeuta natural e a do
trabalhador em depressão com o ambiente interno do Ser e as condições ambientais
de trabalho tanto do terapeuta quanto do trabalhador em depressão trouxe uma
nova concepção de trabalho direcionada para o equilíbrio espacial, mental e também
128
não local. O mundo laboral é contribuidor da qualidade de vida do trabalhador. Se
nesse mundo ele tem espaço para contar suas histórias, expressar seus medos e
anseios livremente, dificilmente ele será acometido pela depressão e/ou outra
qualquer manifestação psicossomática de que algo não está bem no seu corpo físico
e na sua mente. Portanto, da análise e da reflexão dos dados obtidos, constatou-se
que é necessário ao trabalhador, e ao ser humano em geral, também ressignificar a
doença, o desequilíbrio, no sentido de que ela é um alerta de que o caminho foi
desviado do que ele era naturalmente. Ele cometeu excessos. Foi além de sua
capacidade natural. Não soube ouvir e interpretar os sinais que o seu corpo lhe
enviava em função do contexto em que se encontrava.
Das considerações feitas neste espaço, pode-se concluir que o objetivo a que
este trabalho se propôs: conhecer os fatores que influenciam o trabalho do terapeuta
natural durante o atendimento de trabalhadores em depressão, foi atingido.
Entretanto, recomenda-se que esse objetivo seja ampliado para a dimensão do
trabalhador em depressão, uma vez que, segundo o próprio referencial escolhido,
então, ter-se-á a visão integral do processo interativo, da resposta de Ser para Ser.
Espera-se que os terapeutas naturais, juntamente com os profissionais da área
da saúde, a partir da leitura e da reflexão do que contém este estudo, possam
investir na percepção do seu estado interno, não lutar contra as situações vividas,
mas trabalhar suas crenças, suas emoções e abrir-se, primeiramente, para a atitude
empática consigo mesmo, pois este estudo mostrou que, se o terapeuta natural não
compreende a si mesmo, não perdoa a si mesmo e não ama a si mesmo (condições
essenciais para entrar em estado empático), ele não poderá ser empático com outro.
Espera-se que mais estudos qualitativos transitem por esta área, para contribuir
significativamente com a proposta de cuidado natural, de Ser para Ser.
Também, espera-se que os terapeutas naturais, os profissionais da área da
saúde e os trabalhadores em desequilíbrio energético possam experienciar e
vivenciar a importância da oração para facilitar a sincronia com a Fonte de Energia
Cósmica.
Além disso, tenciona-se que os terapeutas naturais, profissionais da área da
saúde e os trabalhadores reconheçam o processo de adoecimento, especialmente a
depressão, como um momento que oportuniza a volta do Ser para ele mesmo, como
o momento de ressignificar paradigmas, despertar para a vida e viver com mais
qualidade.
129
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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133
APÊNDICE
133
APÊNDICE 1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINAPROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃODISSERTAÇÃO DE MESTRADO, ÁREA DE ERGONOMIAORIENTADORA:Profa. Dra. Zuleica Maria PatrícioMESTRANDA: Maria Inês Bez Kroeger
Parte 1
1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃOCodinome: (instrumento musical) !Sexo ! Estado Civil ! Data Nascimento !Etnia: (paterna/materna) !Endereço !Cidade ! Telefone !Formação Universitária !Ocupação ! Atividade Profissional !
2 QUESTIONAMENTOS
2.1 Numa escala de 0 a 10 quanto você considera estar o seu equilíbrio energético neste
momento de sua vida?
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
2.2 Por que você se atribui esse valor?
2.3 Através de desenho represente como você se vê atualmente?
2.4 O que você tem feito nestes últimos seis meses por você mesmo?
2.5 O que você mais gosta de fazer nas horas de lazer?
134
2.6 Quantos horas de sono dorme diariamente?
2.7 De acordo com o seu biorritmo quantas horas são necessários para o seu restabelecimento
energético?
2.8 Quais atividades físicas você pratica (freqüência)?
2.9 Como está o relacionamento na família?
2.10 Como está o seu relacionamento no trabalho/estudo?
2.11 O que o trabalho representa para você?
2.14 Qual desses estados emocionais abaixo está sendo predominante nos últimos 6 meses?
• Raiva
• Medo
• Angústia
• Tristeza
• Outros
3 HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL
135
4. DADOS CLÍNICOS
Olho(ardência, coceira, sensibilidade à luz, conjuntivite ...)
Ouvido(zumbido, coceira, diminuição da audição ...)
Boca(afta, sangramento gengival, cor)
Nariz(rinite, secreções características)
Aparelho cardiovascular(palpitações, dor pré-cordial, cansaço, hipertensão, hipotensão, dispinéia após esforço)
Aparelho respiratório(tosse seca/produtiva, cor da secreção, secreção espessa, piora com o frio, sente falta de ar,usa agasalho)
Aparelho digestivo(Estômago: dor/queima/ou não? Piora com frio ou calor? Melhora ao apertar Yin? Piora aoapertar Yang?)
Obstipação Intestinal(sangramento vivo, parte final diarréia, excesso de gases)
Genito Urinário(quantidade, espuma, ardência, edema)
Menstruação(ciclo, dor, quantidade)
Secreção vaginal(características, tem prurido)
Varizes?
Preferência por frio ou calor?
Transpiração(noturna, falta Yin)
Sede(quantidade, tipo de bebida)
Apetite
136
(come pouco, fome voraz porém emagrece – fogo em excesso, não tem vontade de comer -alteração do Yin - vazio)
Amargo na boca(f, vb), não tem sabor, disfunção do baço/pâncreas)
Preferências(alimentos salgados, doces, ácidos, picantes)
5.INSPEÇÃO
PULSO RADIAL
PONTOS BEI-SHU/ PONTOS MO
LÍNGUA
6.DIAGNÓSTICO SITUACIONAL
Desequilíbrios/fatores predisponentes/terapêutica orientada
137
7. PROCEDIMENTO TERAPÊUTICO:
Procedimento Análise
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8.RETORNOS
Avaliação Procedimento Análise
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9.SINTESE DA EVOLUÇÃO (Avaliação do processo)
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Parte 2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINAPROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃODISSERTAÇÃO DE MESTRADO, ÁREA DE ERGONOMIAORIENTADORA:Profa. Dra. Zuleica Maria PatrícioMESTRANDA: Maria Inês Bez Kroeger
Instrumento de Observação
NOTAS DE CAMPO ANÁLISE
ANEXO 1
Declaração
Eu ....................................................................., trabalhador, declaro atravésdeste documento, meu consentimento em participar do estudo “Os fatores queinfluenciam no trabalho do terapeuta natural durante o atendimento detrabalhadores em depressão”, e autorizo a utilização dos dados coletados napesquisa. Declaro ainda que estou ciente do seu objetivo, método e técnicas, bemcomo de meus direitos de anonimato e desistência a qualquer momento.
______________________________Sujeito da pesquisa
Eu Maria Inês Bez Kroeger, mestranda da Engenharia de Produção,comprometo-me a utilizar o conteúdo das informações coletadas na presentepesquisa, de forma sigilosa, mantendo o anonimato dos participantes, bem comonão publicar dados que não forem de acordo com a vontade dos mesmos.
______________________________Pesquisador
Florianópolis, dezembro de 2000.
ANEXO 2
Aspectos Éticos da Pesquisa
Segundo o CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, RESOLUÇÃO Nº 196, deoutubro de 1966 (anexo nº 03), as pesquisas envolvendo seres humanos devematender às exigências éticas e científicas fundamentais. Isso implica em:
1. Contar com o consentimento livre e esclarecido do sujeito da pesquisae/ou seu representante legal. Exige-se que o esclarecimento dossujeitos se faça em linguagem acessível e que inclua necessariamenteos seguintes aspectos:
a) A justificativa, os objetivos e os procedimentos que serãoutilizados na pesquisa;
b) Os desconfortos e riscos possíveis e os benefícios esperados;c) Os métodos alternativos existentes;d) A forma de acompanhamento e assistência assim como seus
responsáveis.2. Prever procedimentos que assegurem a confidencialidade e a
privacidade, a proteção da imagem a não estigmatização, garantindoa não utilização das informações em prejuízo das pessoas e/oucomunidade, inclusive em termos de auto-estima, de prestígio e/oueconômico-financeiro.
3. Assegurar aos sujeitos da pesquisa os benefícios resultantes doprojeto, seja em termos de retorno social, acesso aos procedimentos,produtos ou agentes da pesquisa.
4. Dar liberdade ao sujeito de se recusar a participar ou retirar seuconsentimento, em qualquer fase da pesquisa sem penalizaçãoalguma e sem prejuízo ao seu cuidado.O termo de consentimento livre e esclarecido obedecerá aosseguintes requisitos:
a) Ser elaborado pelo pesquisador responsável expressando ocumprimento de cada uma das exigências do ConselhoNacional de Saúde, Resolução nº 196 de 10 de outubro de1996;
b) Ser aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa quereferenda a investigação;
c) Ser assinado ou identificado por impressão dactiloscópica, portodos e cada um dos sujeitos da pesquisa ou por seusrepresentantes legais; e
d) Deve ser elaborado em duas vias, sendo uma retida pelosujeito da pesquisa e/ou por seu representante legal e umaarquivada pelo pesquisador.
5. Considera-se que toda pesquisa envolvendo seres humanos envolveriscos. O dano eventual poderá ser imediato ou tardio,comprometendo o indivíduo ou a coletividade.
Não obstante os riscos potenciais, as pesquisas envolvendo seres humanosserão admissíveis quando:
a) Oferecerem elevada possibilidade de gerar conhecimento paraatender, prevenir ou aliviar um problema que afete o bem estar dossujeitos e de outros indivíduos;
b) O risco se justifique pela importância do benefício esperado;c) O benefício seja maior, ou no mínimo igual a outras alternativas já
estabelecidas para a prevenção, diagnóstico e o tratamento.Os sujeitos participantes tiveram seus verdadeiros nomes no anonimato. E
todas as normas descritas anteriormente foram seguidas pela pesquisadora.