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O TRABALHO OFF SHORE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA, ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E QUALIFICAÇÃO DO OPERADOR DE PRODUÇÃO NA BACIA DE CAMPOS, RJ ROBERTO MORAES PESSANHA COPPE / UFRJ DEZEMBRO DE 1994

Tese Mestrado O Trabalho Off Shore

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O TRABALHO OFF SHORE

INOVAÇÃO TECNOLÓGICA, ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E QUALIFICAÇÃO DO OPERADOR DE PRODUÇÃO NA BACIA DE CAMPOS, RJ

ROBERTO MORAES PESSANHA

COPPE / UFRJ

DEZEMBRO DE 1994

2

O TRABALHO OFF SHORE - INOVAÇÃO TECNOLÓGICA,

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E QUALIFICAÇÃO DO OPERADOR DE

PRODUÇÃO NA BACIA DE CAMPOS, RJ

ROBERTO MORAES PESSANHA

TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS

PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

MESTRE EM CIÊNCIAS ( M.Sc. ) EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO.

Aprovada por:

_________________________________

Prof. Mário César Vidal, D.Sc.

( Presidente )

__________________________________

Profa. Lídia Micaela Segre, D.Sc.

_________________________________

Prof. Ubirajara A. O. Mattos, D. Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

DEZEMBRO DE 1994

3

PESSANHA, ROBERTO MORAES

O Trabalho Off Shore - Inovação Tecnológica, Organização do

Trabalho e Qualificação do Operador de Produção na Bacia de Campos, RJ (

Rio de Janeiro ) 1994.

XXII, ... p. 29,7 cm ( COPPE/UFRJ, M. Sc., Engenharia de

Produção, 1994 )

Tese - Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE

1. Exploração de Petróleo Off Shore

2. Trabalho Off Shore

3. Inovação Tecnológica

4. Organização do Trabalho

5. Qualifificação

I. COPPE/UFRJ II. Título ( série )

4

Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos

necessários para obtenção do grau de de Mestre em Ciências ( M. Sc. )

O TRABALHO OFF SHORE - INOVAÇÃO TECNOLÓGICA,

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E QUALIFICAÇÃO DO OPERADOR DE

PRODUÇÃO NA BACIA DE CAMPOS, RJ

Roberto Moraes Pessanha

Novembro de 1994

Orientador : Prof. Mário César Vidal

Programa: Engenharia de Produção

Co-orientadora: Profa. Lídia Micaela Segre

Programa: Engenharia de Sistemas e Computação

O Trabalho Off Shore possui características extremamente peculiares em

função de ser uma atividade desenvolvida em ambiente restrito, confinado,

distante da sociedade e por sofrer, ao mesmo tempo, sob o ponto de vista,

tanto técnico como social, as mesmas influências que outra atividade

industrial, em regime contínuo. Desse modo, neste estudo, é feita uma

descrição das características desse tipo de trabalho, tendo como referencial o

Operador de Produção. Em seguida, são analisadas, a partir de sua

contextualização, as Inovações Tecnológicas, as Mudanças Organizacionais e

o Movimento de Qualificação vividos nesse tipo de atividade. Por fim, é

feita uma análise dos reflexos dessas mudanças sobre o conteúdo do trabalho

do objeto da pesquisa: o Operador de Produção Off Shore.

5

Abstract of Thesis presented at COPPE/UFRJ as partial fulfillment of

the requirements for the degree of Master of Science ( M. Sc. ).

THE OFF SHORE WORK – TECHNOLOGICAL INNOVATION, WORK

ORGANIZATION AND QUALIFICATIONS OF THE PRODUCTION

OPERATOR IN CAMPOS,RJ BASIN.

Roberto Moraes Pessanha

November, 1994

Thesis Supervisors: Mário César Vidal

Department: Engineering of Produccion

Thesis Co-supervisors: Lídia Micaela Segre

Department: Engineering Sistemms and Computacion

The Off Shore Work has extremely peculiar characteristics because it is an

activity developed in restrict and confined environment, distant from

society. At the same time, under technical and social viewpoint such an

activity presents the same influences common to anyother industrial activity

exercised in continuous system. Thus, in this study it is made a descripition

of the characteristics of this kind of work, taking as a reference the Operator

of Production. Next, from their contextualization, there comes an analysis of

the Technological Innovations, Organizational Changes and Qualification

Movement experienced in this kind of activity . Lastly, there comes an

analysis of the reflectons such changes upon the work’s content of the object

of the research: the Off Shore Production Operator.

6

à Ildinha, ao Caio, à Nina pela cessão do tempo e pela

paciência,

aos meus pais Joemio e Eliete, pelo estímulo constante à

capacitação,

aos bravos trabalhadores off shore da Bacia de Campos, pela

resistência e dedicação à luta da empresa pela auto-suficiência em petróleo,

nesse tipo de trabalho tão diferente, tão exigente de coragem e disposição e

de um necessário reconhecimento.

7

minha gratidão

à Escola Técnica Federal de Campos, por ter permitido, através

de seu projeto de capacitação, o meu afastamento para a realização do Curso

e para a elaboração desta tese;

à turma de 92 do Produto, colegas, professores e funcionários

pela cooperação;

aos diversos amigos de turma da época da Escola Técnica

Federal, aos alunos, vizinhos, parentes, petroleiros, amigos em geral, pela

colaboração e pela paciência no atendimento aos questionamentos mais

esdrúxulos e insistentes;

ao Sindicato de Petroleiros-RJ, pelas informações e meu

reconhecimento à seriedade e à preocupação com as causas mais amplas do

trabalhadores off shore, que extrapolam às questões financeiras;

ao amigo-parceiro de tese, Bagueira, pela companhia nos

sacrifícios das viagens ao Rio de Janeiro, do embarque compartilhado, às

discussões metodológicas e à contribuição na identificação da ênfase de cada

uma de nossas teses, que bem poderiam ser uma, se a academia fosse mais

flexível;

8

à colega de trabalho, professora Darcy Amorim C. de Almeida,

pelo duro trabalho de revisão de texto;

à empresa Petrobrás, pelo espírito democrático, profissional e

público que gerou a permissão a realização deste trabalho;

aos trabalhadores das plataformas que visitadas junto com o

Bagueira, que de uma forma tão cooperativa permitiram, através de gestos,

de palavras, de sentimentos e até da ausência destes, entrar fundo nos

meandros ainda não conhecidos de um trabalho que não se vê, mas com

certeza se sente.

9

Í n d i c e

Capítulo 1 - Introdução.........................................12

1.1 Os Antecedentes.. .......................................................................12

1.2 O que é a Tese ?...........................................................................15

1.3 Justificativa..................................................................................18

1.4 Metodologia................................................................................21

Capítulo 2

Os Novos Paradigmas da Produção e seus Desdobramentos...29

2.1 O que é Qualificação.......................................................................30

2.2 As Inovações Tecnológicas...............................................................33

2.3 A Organização do Trabalho..............................................................38

2.4 O que é Polivalência........................................................................44

2.5 O Tecnocentrismo e o Antropocentrismo...........................................48

2.6 A Polivalência e a Politecnia.............................................................52

10

Capítulo 3 - A Empresa

3.1 Breve Histórico...............................................................................56

3.2 A Bacia de Campos.........................................................................59

3.3 O que é a Plataforma ? ....................................................................65

3.3.1 Características de uma Planta de Processos de uma Plataforma.... 71

3.4 O Processo de Produção de Petróleo nas Plataformas..........................74

3.5 Inovações Tecnológicas na Bacia de Campos..................................... 77

3.5.1 Águas Profundas.................................................................... 79

3.5.2 O Caminho da Automação nas Plataformas................................ 84

Capítulo 4 - Como se Vive e Trabalha na Plataforma... 90

4.1 O Descanso e o Lazer nas Plataformas.............................................. 97

4.2 Síndrome Off Shore.......................................................................100

4.2.1 ( ... ) Com 14 x 14 nem eu estava me entendendo......................112

4.2.2 ( ... ) O Problema é só um: o medo de ser corno. O problema

trabalhar aqui é o chifre..................................................................116

4.2.3 ( ... ) Eu odeio o amanhecer ...................................................118

11

Capítulo 5 - O Operador de Produção

5.1 Quem é o Operador de Produção Off Shore ? ( Do Praticante de

Produção ao Operador Polivalente ) ............................................125

5.2 A Implantação da Polivalência.............................................. 129

5.3 Quantos são os Operadores Off Shore ...................................149

5.4 Sua Formação......................................................................152

5.5 Seu Trabalho......................................................................154

5.5.1 Relações de Trabalho....................................................164

5.6 Sua Qualificação .................................................................170

5.6.1 O Curso de Operador Polivalente...................................173

5.7 O Operador de Produção Frente às Inovações Tecnológicas, às

Mudanças Organizacionais e ao Movimento de Qualificação:

.........179

5.7.1 Posição do Sindicato sobre as Inovações Tecnológicas.....184

5.7.2 Impacto Sobre os Operadores........................................188

Capítulo 6 - Conclusões e Recomendações................. 194

Bibliografia....................................................................201

Anexos

12

13

Capítulo 1

I N T R O D U Ç Ã O

1.1 - Os Antecedentes:

A atividade de exploração de petróleo off shore vem, desde o

seu início no Brasil, por volta de 1968, ganhando importância na medida em

que vem aumentando sua participação na produção nacional de petróleo.

Hoje, só a Bacia de Campos responde por cerca de 66% da produção

nacional.

Nesse sentido, a Região de Produção Sudeste, órgão da empresa

estatal PETROBRÁS, monopolista na exploração ( perfuração e produção ) e

refino do petróleo no Brasil, vem sendo acompanhada, cada vez com mais

cuidado, com o objetivo de fazer crescer a produção na área considerada a

mais promissora do país. Suas reservas permitem traçar um prognóstico de,

pelo menos, mais 50 anos de atividades exploratórias e tentar alcançar a tão

sonhada auto-suficiência em petróleo para o país.

Para fazer isto acontecer, vem sendo produzidas, nos últimos

anos, algumas dissertações acerca do tipo de atividade de exploração de

petróleo off shore. Mas, quase todas elas seguem uma linha de pesquisa no

campo das aplicações de tecnologias específicas para esse tipo de atividade.

Assim tem sido o caso das pesquisas envolvendo a Engenharia

Oceânica e a Engenharia Eletrônica no desenvolvimento de robôs

14

submarinos que permitem a exploração de poços de petróleo em Águas

Profundas1, através de parcerias entre a própria COPPE/UFRJ e a

PETROBRÁS, através do seu Centro de Pesquisas - CENPES. Essa parceria,

na realidade, nasceu no início das atividades off shore na Bacia de Campos,

com os primeiros projetos em que o Programa de Engenharia Civil da

COPPE, também junto do CENPES, estudou as formas e executou os

cálculos das estruturas das primeiras grandes plataformas. Além dessas

pesquisas, que contaram com a contribuição de algumas teses, existiram

outras relativas sempre aos sistemas técnicos e às instalações do processo de

exploração.

Em 1991, a primeira tese que tratou, de alguma forma da

questão do trabalho foi elaborada e defendida por JÚNIOR, Nelson Choueri,

na Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de

Campinas, a UNICAMP, em Dezembro de 1991 e se intitula, "Equipes de

Perfuração Marítima - Uma Análise das Relações Sociais, das Condições de

Trabalho e de Produtividade".

Essa tese se fixa nas atividades de perfuração marítima com

características muito específicas em relação à produção, que são as duas

atividades que compõem o que se chama exploração de petróleo. Na área de

Perfuração, o autor descreve o trabalho de perfuração marítima, como atuam

as equipes e classifica as tarefas exigidas na perfuração. O principal objetivo

da tese é analisar a produtividade a partir do estudo dos dados sobre

¹ Águas Profundas são profundidades maiores do que determinada profundidade, a partir da qual a tecnologia difere grandemente da que tem sido usada. O valor pode variar em função da atividade e do tempo. Em perfuração tem sido considerado como águas profundas as lâminas d'água maiores que 500 metros. ( Chita e Cordeiro, maio 1988, cit. in JÚNIOR, Nelson Choeri, Dissertação de Mestrado, UNICAMP, 1991 ).

15

satisfação e insatisfação existentes em um questionário, que leva em conta as

particularidades deste tipo de trabalho no mar, como o confinamento, o

regime de trabalho, o transporte, as relações sociais no Trabalho e fora dele,

os Riscos da Atividade, a Restrição aos Hábitos e a Avaliação do Emprego.

Ainda dentro desta temática, existe uma pesquisa chamada O

Perfil do Homem Off Shore, realizada pela empresa, através do

Departamento de Relações Industriais, da Região de Produção Sudeste em

Macaé. Na Coordenação desses trabalhos atuou a Administradora, e então

Chefe do DIRIN/RPSE, ALBUQUERQUE, Marlene de Moura Cavalcanti e,

como autores, a Assistente Social, PEREIRA, Sandra Marin, o médico,

DIAS, Sérgio Terço e a médica SOARES, Sônia. Ainda como consultores

externos à Petrobrás, FISCHER, Frida Marina, Doutora em Saúde Pública da

USP, SENA, Marisa Alves de Oliveira, Doutora e Professora da Escola de

Serviço Social da UFRJ e MACIEL, Salvador Ferreira, Professor Assistente

de Método Quantitativo-Estatística, do Departamento de Matemática e

Doutorando em estatística no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (

IMPA ).

Os resultados desse estudo não foram divulgados externamente

pela Petrobrás. Porém, sabe-se que o mesmo se baseou em questionários

passados em 1988/1989 aos petroleiros embarcados. Os resultados foram

levantados após discussões metodológicas e estatísticas em dezembro de

1991. Esse estudo tratou das relações de trabalho, das relações familiares,

relações com grupos e organização da sociedade, condições gerais de vida,

aspectos motivacionais, adaptação ao trabalho, fatores limitadores da

permanência no regime Off shore, perspectivas pessoais e profissionais,

16

organização do trabalho e relações entre sintomatologia, aspectos sociais,

organização do trabalho e processo de trabalho.

Pelo que foi levantado bibliograficamente, o que existe hoje, no

Brasil, em termos de trabalho Off shore são basicamente estas duas

pesquisas: uma interna e, a outra, a dissertação de mestrado já referida.

1. 2 - O que é esta Tese ?

Esta dissertação nasce da vontade de ver contada, para além da

região, de forma mais ampla, um pouco da história do trabalho off shore nas

plataformas marítimas da Bacia de Campos, RJ.

Pela importância que a Bacia de Campos exerce dentro da

matriz energética nacional, e até em termos internacionais, se for comparado

o tamanho da Bacia e a sua produção, o trabalho humano aí desenvolvido já

deveria ter sido motivo de maiores estudos.

Se o Estado do Rio de Janeiro fosse um país, certamente este

país poderia ser comparado aos grandes produtores internacionais de

petróleo, em termos de produção per capita.

A importância da região acaba sendo realçada pelas próprias

administrações da empresa, na medida em que diretores de produção e até

presidentes da empresa, em nível nacional, têm saído desta Região de

Produção.

17

Por tudo isso, esta tese se propõe a ser uma contribuição a mais

nessa caminhada. Ela visa a começar, não só a contar a história de um

trabalho num tipo de atividade extremamente diferente dos normalmente

conhecidos, como também a apontar outros caminhos a serem pesquisados,

no futuro, por outras dissertações que tenham como base científica outras

áreas do conhecimento humano que não são do domínio deste pesquisador.

Ao falar do trabalho, a tese pretende situar, também, em que

contexto ele se coloca no presente momento em que ocorrem profundas

reformulações nos processos de trabalho. Elas decorrem das inovações

tecnológicas, de mudanças na sua organização e, também, do surgimento de

diferentes demandas de qualificação que acontecem a partir dessa

reformulação.

Assim, a primeira parte da tese faz um breve relato acerca das

teorias e das pesquisas dos novos paradigmas da produção. Procura entender

o contexto do surgimento da polivalência neste novo ambiente do trabalho.

Busca, também, situar a preocupação teórica do determinismo tecnológico

que tem gerado uma forma de ver a modernização e a produtividade do

trabalho como algo que prescinda da força de trabalho humano.

Na segunda parte, faz-se uma descrição do que é a Bacia de

Campos, do que é uma plataforma, sob o ponto de vista do tipo, das

características, etc. e como funciona o processo de produção de petróleo off

shore nas plataformas da região. Ainda nessa parte mostra-se a trajetória das

novas descobertas e das instalações que permitem, à empresa, a exploração

do petróleo em águas cada vez mais profundas. Por último, relata-se o

reflexo das inovações tecnológicas sobre as instalações da planta de processo

e, principalmente sobre a supervisão e sobre o controle dos processos.

18

A terceira parte, descreve mais profundamente o trabalho

propriamente desenvolvido nas plataformas. Aliás, não só o trabalho, mas

também o período de não trabalho, ou seja o descanso e o lazer nas

plataformas. Essa descrição partiu principalmente, de um documento

elaborado há 11 anos por um Engenheiro da Petrobrás, chamado Leonel

França e da fala de diversos trabalhadores desse tipo de atividade off shore.

Na quarta parte, centra-se a análise no objeto do estudo de caso,

o operador de produção, procurando-se caracterizar quem é esse operador,

sua trajetória até a implantação da polivalência, o número de operadores de

produção embarcados, a análise do seu trabalho, sua formação, sua

qualificação. Por último, o impacto de todas essas transformações de base

técnica e organizacional sobre o seu trabalho.

Terminando, procura-se levantar questões relativas à gestão da

força de trabalho, em especial dos operadores de produção, frente aos

inúmeros problemas que esta atividade peculiar apresenta. Acrescenta-se a

esses problemas, as transformações tecnológicas que acabam modificando,

por completo, a forma de organizar o trabalho, dentro do mesmo ambiente,

que é de confinamento e de distância da sociedade por 14 dias.

19

1.3 - Justificativa:

A justificativa para a escolha do tema deste estudo não se pauta

exclusivamente na ausência, ou melhor, na escassez de pesquisas sobre essa

particular atividade desenvolvida em alto mar e distante da sociedade. Em

consequência, as pessoas envolvidas nessa atividade, passam, por exemplo,

os últimos 10 anos de suas vidas, em torno de 4 anos, lá, na plataforma, num

ambiente confinado. Neste ambiente, envolvido em regras, predomina a

disciplina, o barulho e, principalmente, os sentimentos de medo, solidão,

ansiedade e saudade. Tudo isso vivido em nome da sobrevivência desse

trabalhador. Trabalhador ainda novo, na média, no caso dos operadores, em

torno de 35 anos, que troca este sacrifício por um posto de trabalho. Isso faz

com que toda uma comunidade que precisa sobretudo desses postos de

trabalho, tenha presente, em seu cotidiano, um pouco de cada um dos

sentimentos acima citados.

Nesta região, sempre o sentimento de ausência está presente nas

datas marcantes. Sempre há alguém da família ou das relações de amizade

trabalhando embarcado no Natal, no Ano Novo, nos aniversários, nos

casamentos, etc.. Nesses momentos de festa, em que o convívio entre a

família e os amigos é muito forte, o petroleiro acaba sendo aquela "falta"

sentida por todos. Os próprios petroleiros se sentem um pouco isolado da

sociedade: " nos tornamos um ser anti-social, quando desembarcamos, ficamos meio

perdidos, não somos chamados para casamentos, festas, etc, porque não sabem se

estamos embarcados ou em terra" (Entr. N° 16 ).

20

Os petroleiros acabam sendo atingidos por estes sentimentos e,

essas "faltas" marcam suas vidas: "no Natal é a data mais difícil, tem que chorar,

fazer a ceia, papai noel, etc... é pior faz a gente lembrar de tudo (...) (...)ou você não

pensa no problema, finge que não existe, se programa ... senão entra em parafuso( ...)

( ... ) se tivesse uma ponte para sair do trabalho ir para a terra, conversar com as

pessoas e voltar no dia seguinte, seria ótimo".

Esse quadro de sofrimento psíquico acaba sendo vivido, de

alguma forma, por grande parte da comunidade, como, por exemplo, por este

pesquisador, nas seguintes situações:

- quando viu grande parte dos seus colegas de Curso Técnico

serem absorvidos por esse tipo de emprego;

- posteriormente, como docente, na Escola Técnica Federal de

Campos, depararou-se com uma série de alunos egressos contratados pela

empresa;

- com a implantação do Curso de Técnico de Segurança do

Trabalho, também na ETFC, exercendo o cargo de Coordenador. Nesse caso,

questões relativas às condições e organização do trabalho passaram a ser

diárias. Como a população estudantil era ligada, de alguma forma, a esse

tipo de trabalho, que era e continua sendo a grande expectativa de emprego

do jovem da região, fica fácil compreender que as questões ligadas ao

confinamento, à jornada de trabalho, ao turno de revezamento e ao trabalho

noturno, assumissem importância na condição de docente e Coordenador do

Curso.

A discussão sobre o alcance da Ergonomia para discutir e

explicar tais fatos acabou sendo o motivo final para a decisão de Cursar o

21

Mestrado em Engenharia de Produção e ter, como tema de Dissertação, o

trabalho off shore. Os outros assuntos ligados ao tema, como o entendimento

do impacto das inovações tecnológicas sobre a organização do trabalho e a

qualificação dos trabalhadores, acabaram surgindo depois, à medida que se

estabeleceu, no Curso, a discussão que os novos paradigmas da produção

traziam também para este tipo de trabalho.

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1.4 - Metodologia:

A pesquisa para este trabalho, se realizou num contexto em que

a fala do trabalhador, no caso o operador, foi considerada a peça chave para

o entendimento da realidade que cercava o seu trabalho. Considerando o

Operador como um informante privilegiado2, a metodologia utilizada para se

alcançar os objetivos propostos acima se baseou em:

1. Antes de mais nada, é preciso dizer que o convívio com o

objeto da pesquisa, em família, ou na sociedade em que este pesquisador

vive, foi fundamental não só no estímulo à realização da mesma, como, de

certa forma, pela motivação para seu momento inicial, pelas conversas e

mais conversas com os alunos-petroleiros da Escola Técnica Federal de

Campos, com os parentes-petroleiros, com os amigos-petroleiros, com os

vizinhos-petroleiros, etc.. Um exemplo da importância dessa convivência

com o objeto da pesquisa é a existência no mesmo prédio em que reside este

mestrando, de dez petroleiros. No início desta pesquisa, os dez trabalhavam

embarcados. Atualmente, apenas 4 estão trabalhando off shore. Essa

2MINAYO, Maria Cecília em Os homens de Ferro, ao contextualizar sua pesquisa com os trabalhadores da Vale do Rio Doce em Itabira, diz que os operários são escolhidos como informantes privilegiados da sua história, além de serem considerados importantes atores sociais. Ela diz ainda que tal concepção se apoia na tradição da Antropologia Social que tem feito, dentro das Ciências Sociais, a "revolução" da relativização das culturas. Continua dizendo: "a posição que aqui se assume apoiada em outros autores ( Verret:1972; Leite Lopes:1976 e 1978; Barbosa Alvim: 1978; Hoggart: 1973 ) é a de que a classe trabalhadora é portadora de uma contribuição específica para a sociedade. Ela se afirma no ato de transformar a natureza e produzir, na marca que deixa nos objetos produzidos, no seu estilo de resistir e se subordinar ao capital, de viver e se reproduzir e nos bens simbólicos que são a expressão do seu modo de pensar o mundo em que vive. Pretende-se portanto, ler a história dos "mineiros de Itabira"através do seu próprio viés e em oposição à história institucional que elege como protagonistas principais, os dirigentes e presidentes".

23

observação reforçou a hipótese de que a redução dos efetivos embarcados é

grande. Foi fundamental, também, para a compreensão do comportamento

desse tipo de trabalhador, que se constitui num elemento com características

próprias, dentro da sociedade. Ele só é visto, por esta mesma sociedade,

unicamente em seu momento de lazer ou de descanso, e nunca exercendo o

trabalho propriamente dito, que para a sociedade é algo distante e abstrato.

As conversas de corredor, de elevador, foram, sem sombra de dúvida,

elementos de profunda significação para o transcurso da pesquisa.

Constituíram o marco inicial da pesquisa de campo, propriamente dita.

2. Um outro passo assim como o anterior iniciado antes do

Curso que se prolonga até o presente momento de término da pesquisa, e

serve de conclusão a esse Curso de Mestrado, é a análise de reportagens de

jornais da região em Campos: Folha da Manhã, A Cidade e o Monitor

Campista; em Macaé: O Debate e no Rio de Janeiro: Jornal do Brasil e O

Globo. As reportagens sobre assuntos relacionados ao trabalho off shore

mostram os acidentes nos transportes e no trabalho na plataforma, passando

pelas brigas sindicais, e tudo que diz respeito a esse tipo de trabalho. Um

exemplo marcante que coincide com a pesquisa, é a reportagem da revista de

Domingo N° 811, de 17 de Novembro de 1991, intitulada "Em Cima de um

Vulcão - O cotidiano de perigo e solidão dos homens que extraem petróleo

das entranhas do mar".

3. Antes da negociação com a empresa para a realização da

pesquisa de campo, foi realizado um amplo estudo teórico do processo de

Inovações Tecnológicas, da Organização do Trabalho, do movimento de

desqualificação e requalificação da força de trabalho, a partir das mudanças

tecnológicas e organizacionais, das novas formas de gestão, incluindo-se aí

24

as propostas participativas e o Controle Total de Qualidade ( TQC ), da

Ergonomia, principalmente no aspecto da negociação da demanda e da

análise das tarefas. A bibliografia é citada no texto e no final do trabalho.

4. Ainda antes da negociação foi feita uma entrevista em

Macaé, com o JÚNIOR, Nelson Choueri, que havia defendido sua tese

referenciada anteriormente, sobre o trabalho em perfuração nas plataformas.

O objetivo era a obtenção de dados sobre sua dissertação defendida e

aprovada junto à UNICAMP, mas ainda não liberada pela Petrobrás para

divulgação externa.

5. O próximo passo foi a negociação da demanda ( Vidal,

M.1993 ) com a empresa. Aqui, é importante dizer, que desde a etapa inicial

a pesquisa foi conduzida como um trabalho em equipe, envolvendo o

também mestrando da COPPE/UFRJ - Engenharia de Produção, turma de

1992, PIMENTEL, Nelson, C. P., em função da área de pesquisa ser a

mesma, ou seja, a influência do complexo da Petrobrás, na Bacia de Campos,

RJ, sobre o trabalho e a vida das pessoas depois de sua instalação. Em sua

pesquisa PIMENTEL, Nelson, pretende observar como a comunidade da

cidade de Campos reage com à presença da Petrobrás, que fisicamente está

instalada, através da RPSE ( Região de Produção Sudeste ) em Macaé.

Desde o início, da negociação da demanda, este estudo se realizou através de

um trabalho conjunto dos dois mestrandos. O primeiro contato com a

empresa ocorreu numa viagem à Macaé, para a formalização de uma proposta

dos dois pesquisadores ao Departamento de Relações Industriais, no sentido

de se criar uma demanda para o estudo que estava sendo proposto à empresa.

Dois contatos com o Setor de Recursos Humanos, na sede da empresa no Rio

de Janeiro e a apresentação, em Setembro de 1992, de uma proposta conjunta

25

dos dois pesquisadores ( vide anexo ), ao Departamento de Produção (

DEPRO ), permitiu que a pesquisa de campo fosse iniciada.

6. A sexta etapa foi a realização de uma pesquisa entre os

Operadores de Produção que atuam embarcados, entre os meses de

Novembro de 1992 e Março de 1993. Visava-se a um primeiro diagnóstico

do perfil desses operadores a respeito de questões sobre Escolaridade, tempo

de emprego, treinamento, do trabalho, repouso, sono, refeição, relações de

trabalho com pessoal da própria Petrobrás e das Empreiteiras, avaliação

funcional, adaptação ao trabalho, trabalho em turnos, ambiente de trabalho,

acidentes de trabalho, assistência dada pela empresa, lazer, saúde,

relacionamento social, familiar e sexual, perspectivas futuras pessoais e

ascensão funcional.

Esta pesquisa intitulada "Perfil do Operador de Produção Off Shore", cujo

questionário e relatório com os resultados se encontram nos anexos, foi

respondido por 82 Operadores, perfaz uma amostra de aproximadamente 8%

do total de operadores e mais de 10% dos operadores atualmente

embarcados.

O objetivo dessa pesquisa foi levantar questões a serem priorizadas na

observação participante3 ( durante o embarque ), que é a parte qualitativa da

pesquisa, considerada elemento essencial no delineamento desta dissertação.

Alguns de seus dados foram incorporados ao texto para ajudar na

contextualização de alguns pontos, mas o relatório completo desta pesquisa

está inserido nos anexos, ao final desta.

3 Termos como observação participante, entrevista, trabalho de campo, e outros relativos a uma pesquisa qualitativa podem ser melhor compreendidos em MINAYO, Maria Cecília, em "O Desafio do Conhecimento - Pesquisa Qualitativa em Saúde" e também em BECKER, Howard, S. através do livro "Métodos de Pesquisa em Ciência Sociais".

26

7. Após mais duas viagens à Macaé, para obter dados sobre a

pesquisa e acertar a metodologia de trabalho proposta no documento

entregue ao DEPRO, foi fechado, no dia 17-03-93, um roteiro de visitas às

plataformas, em seus diversos tipos: 1) uma plataforma fixa de grande porte

e de uma família tecnológica mais antiga: "Namorado-1"; 2) uma plataforma

fixa de grande porte pertencente a uma tecnologia mais avançada: "Pargo";

3) uma plataforma semi-submersível, pequena e contratada, que presta

serviços à Petrobrás; nela todo setor de utilidades é operado pelos "gringos",

só a operação é feita por pessoal da Petrobrás ): "SS-08 no campo de

Bonito"; 4) uma semi-submersível, que possuísse também trabalho de

perfuração: "SS-18 - Piraúna" ; 5) uma plataforma semi-submersível com a

idade tecnológica da planta de processo mais avançada à época: "SS-33 -

Marlim".

A viagem de helicóptero dos dois pesquisadores para as plataformas ocorreu

entre os dias 22 e 30 de Março de 1993, e obedeceu a seguinte ordem:

Dia 22-03-93 - Segunda feira: 11:00 h - Aeroporto; Saída: 12:30 h; Chegada

à SS-08: 13:25 h;

Dia 23-03-93 - Terça feira: Transbordo - Saída da SS-08: 14:15 h; Chegada a

SS-18: 14:20 h;

Dia 24-03-93 - Quarta feira: Transbordo - Saída da SS-18: 14:50 h; Chegada

a PNA-1: 15:00 h.;

Dia 26-03-93 - Sexta feira: Transbordo - Saída de PNA-1: 15:30 h; Chegada

a SS-33 Marlim: 15:45 h;

Dia 29-03-93 - Segunda feira: Transbordo - Saída de SS-33: 08:55 h;

Chegada a Pargo: 09:50 h. ( Obs.: O grande tempo de viagem se deveu à

parada de transbordo em 5 plataformas entre a SS-33 e a plataforma de Pargo

).

27

Dia 30-03-93 - Terça feira: Volta - Saída de Pargo: 16:45 h; Chegada ao

Aeroporto de Macaé 18:00 horas, depois de 5 paradas em plataformas para

transbordo.

Essa viagem, sem sombra de dúvida, é o elemento principal da pesquisa de

campo desta dissertação. Foram computadas em torno de 114 horas

trabalhadas durante esse embarque, por cada um dos pesquisadores4.

Foram entrevistadas aproximadamente 55 pessoas5; Algumas entrevistas

foram gravadas, outras não, num total 8 horas de entrevistas. Filmadas 4

horas em fita VHS. Tiradas 72 fotos e montados 52 slides durante o

embarque. Além deste material obtido no embarque, foram analisadas mais 4

fitas de vídeo VHS, sobre o trabalho off shore, obtido junto a petroleiros.

Foram gravadas em entrevistas, em terra, mais 6 horas de áudio. Foi feito um

Relatório do Embarque, para uso dos pesquisadores, sem levar em conta as

entrevistas gravadas. Nesse relatório se descreveu, em ordem cronológica,

todos os acontecimentos ( lembrados e/ou anotados ) ocorridos durante o

4 Aqui vai ser descrita uma observação feita no final do documento intitulado por esses dois pesquisadores de "Relatório do Embarque": Na realidade, as horas trabalhadas foram todas aquelas, ou talvez até aquelas dormidas na plataforma, porque tudo era motivo de curiosidade e de atenção para nós. Uma simples conversa no refeitório, na sala de TV, ou no corredor, ou até mesmo uma não conversa em qualquer um dos lugares acima. É impossível imaginar um trabalho desse tipo sem conviver com ele, por pelo menos uns 5 dias. A sensação de ter sentido um pouco do que esses trabalhadores sentem, ficou marcada na memória. É importante voltar a dizer da nossa descrença em qualquer metodologia que tente quantificar os sentimentos presentes nessa atividade tão peculiar. Tão peculiar que me fazia sentir estar na Ásia ou África, quando telefonava para casa ou mesmo quando pensava em casa. Não acreditava que, em linha reta, estava em torno de uns 120 Km de casa. O sentimento não era este.

5 No final da dissertação é feita uma referência através de um número dado de forma totalmente aleatória e que visa apenas a dar alguma indicação que ajude a compreender a posição do entrevistado em relaçào à empresa ou em relação à sua formação, sem revelar a sua identidade. Pode-se observar a grande diferença entre o número de entrevistados e o número de referências. Este fato se deve à não indicação formal de cada um dos entrevistados, em função de que nem toda entrevista foi gravada. Ao ser citada a entrevista, ela terá indicada, entre parênteses, o número do entrevistado para obtenção da referência no final da dissertação.

28

embarque. Algumas transcrições de conversas, que não foram gravadas, só

foram descritas quando se tinha absoluta certeza do seu conteúdo, podendo

ter, portanto, pequenas alterações na forma, somente.

8. A etapa seguinte foi a elaboração de um relatório de

pesquisa, intitulado "Documento N° 2 - Embarque às Plataformas; Propostas

de Tese e Intercâmbio Pesquisadores / Petrobrás ( vide anexo ) em Julho de

1993, que serviu de base para duas reuniões ( workshops ), com

representantes de diversos setores da RPSE ( Relações Industriais, Novos

Projetos, Automação Industrial e Treinamento ). Nessas reuniões havia troca

de informações, dentro do intercâmbio proposto pelos pesquisadores à

empresa, objetivando resultados a serem conseguidos por ambas às partes,

independente da apresentação formal para a Universidade, da Dissertação de

Mestrado. Essa etapa proporcionou importantes fontes de análises e de

consultas para o andamento da tese deste pesquisador.

9. A nona etapa consistiu em levantamento e coleta de dados de

arquivo, na seção do Sindicato dos Petroleiros de Campos, na entrevista a

um dos diretores atuantes em Campos. Houve, também, uma entrevista

realizada com um diretor do Sindipetro no Rio de Janeiro, que era o

Secretário Geral do Sindicato e que passou inúmeros dados disponíveis. Esse

diretor já havia sido o responsável, no Sindicato, pelo Departamento de

Saúde, Tecnologia e Meio Ambiente e realizou, inclusive, um Seminário

sobre Novas Tecnologias, Organização do Trabalho e Saúde do Trabalhador.

10. A décima etapa constou da descrição fiel do conjunto de

entrevistas gravadas e na classificação e organização de todo o material

recolhido na fase de pesquisa. Esse material compreende desde os recortes

de jornais, transcrição das fitas de entrevistas, relatório do embarque,

29

material de divulgação institucional da empresa, material de divulgação do

Sindipetro-RJ, ao material conseguido junto a uma série de operadores-

petroleiros, que, sabedores da pesquisa, procuravam este pesquisador para

dar a sua contribuição. Foi a partir daí que se percebeu a relação existente

entre os pontos tratados nesta dissertação.

11. Por fim, procedeu-se à elaboração do texto desta dissertação

em que se procura descrever com fidelidade o que foi visto, ouvido e

vivenciado. Assim ele pode servir tanto para a academia, que busca

compreender a realidade vivida nos mais diferentes setores de trabalho,

dando-lhe uma visão contextualizada, quanto para esses trabalhadores.

Deseja-se que a partir da leitura do que é o seu trabalho, eles possam,

também, dentro de uma visão mais contextualizada ter mais elementos para

uma transformação da realidade desse "peculiaríssimo" tipo de trabalho.

30

Capítulo 2

Os Novos Paradigmas da Produção e Seus Desdobramentos:

Neste final de século constata-se alterações profundas em todos

os processos de trabalho. A revolução tecnológica caracterizada pela

introdução da automação microeletrônica e as novas formas de Organização

do Trabalho nos sistemas produtivos tem provocado grandes mudanças nas

formas de gestão da produção e da força de trabalho, com consequências

significativas para as empresas e para a sociedade.

As transformações também têm acontecido de forma acentuada

na estruturação e na organização do trabalho. As empresas estão sendo

obrigadas a mudar a sua cultura organizacional e a adquirir novos padrões

gerenciais. Velhos paradigmas têm sido substituídos objetivando eficiência e

produtividade do trabalho.

As combinações de pessoas, máquinas e informações têm

gerado processos de trabalho com características quase individuais. Chega-se

a afirmar que a introdução de novas tecnologias tem caráter social sempre

distinto, ou seja, não existe uma relação causal obrigatória entre o uso de

determinadas tecnologias ( base técnica ou organizacional ) e a obtenção de

determinados resultados.

31

Aqui, neste capítulo, será feita uma breve análise dessa

mudança de paradigmas, procurando entender a Qualificação, as Inovações

Tecnológicas e as Mudanças Organizacionais observando suas relações com

as estratégias adotadas pelo setor produtivo para se adaptar a este novo

momento, que tem sido chamado de modernização industrial.

2.1 - O que é Qualificação?

A Qualificação é um conceito extremamente relativo. Nunca

poderá ser entendido como algo absoluto, definitivo, ou seja, não pode ser

visto como definidor de nada. A qualificação, desta forma, estará sempre

relacionada a alguma coisa teórica ( princípio ) ou prática ( tecnologia ).

Além disso, é preciso ter clareza que a Qualificação é um "atributo do

trabalhador" e não do processo. Nesse aspecto, pode-se entender que tanto

no período artesanal como na época atual, em que se utilizou sistemas

altamente automatizados, este atributo do trabalhador ( qualificação ) está

presente.

Se há concordância de que a intervenção humana é essencial em

qualquer processo de trabalho, é necessário compreender que a Qualificação

vem acompanhando o trabalhador nas mais variadas formas de intervenção.

MACHADO, L. reforça a tese de que a Qualificação é um

atributo do trabalhador. Afirma, porém, existir uma qualificação coletiva que

é dada pelas próprias condições da organização da produção social, da qual a

32

qualificação individual não só é pressuposto mas também resultado.

Machado, L. cita ROLLE, para dizer que Qualificação não é um modo de

reconhecimento e de codificação social das qualidades de trabalho, mas uma

maneira de mobilizar, de reproduzir e de adicionar as diversas formas

de trabalho.

ZAMBERLAN, F. L. ( 1987 ), de certa forma, contesta a

posição do Roller quando questiona a qualificação como codificação social

das qualidades de trabalho, ao dizer que a mão-de-obra, mesmo antes da

Revolução Industrial, era classificada por uma determinada escala

hierárquica. Nessa escala, o que era feito ( e permanece até hoje ), nada mais

era do que uma atribuição de qualidades aos trabalhadores, com posterior

ordenação hierárquica. Essa classificação da mão-de-obra, da qual resulta a

noção de Qualificação, vai aos poucos sendo extrapolada para outros setores

da economia, até fazer parte da linguagem cotidiana.

Ao se reconhecer a Qualificação como atributo do trabalhador e

de vê-la dentro do conceito de Marx, que diz ser a Qualificação um conjunto

de condições físicas e mentais que compõe a capacidade de trabalho ou a

força de trabalho despendida em atividades voltadas para a produção de

valores de uso em geral, pode-se entender a visão histórica citada por

Zamberlan. Ele reconhece esse atributo como mercadoria a ser negociada,

cujo valor passa a ser estipulado por uma tabela que vem a ser a escala

hierárquica ( Plano de Cargos e Salários ), apresentada pelo comprador da

força de trabalho em função da oferta do mercado. É regulada pela demanda

desse "atributo", por parte de quem dispõe das instalações e máquinas, e da

quantidade de trabalhadores existentes dentro de uma determinada região ou

da sociedade como um todo.

33

Demonstra-se assim, que reconhecer a Qualificação como

atributo, não é uma experiência recente. É natural que seu conceito venha se

transformando, que tenha níveis diferentes e acompanhe as transformações

do processo de trabalho, sem que se veja nisso um determinismo

tecnológico.

É fundamental ter este entendimento, porque só recentemente, a

partir das inovações tecnológicas, é que a discussão a respeito da

Qualificação volta a ganhar importância. E fica muito claro porque assim

ocorre.

Com as Inovações Tecnológicas, a discussão que se retoma é se

esse atributo continua a todo tempo, hora e circunstância a ser do

trabalhador, ou se ele ( o atributo, a qualificação ) pode estar sendo

transferido para o sistema técnico que passa a ser inteligente, tomando

decisões, escolhendo prioridades, etc., enquanto o operador passa a ser um

elemento passivo, frente a um sistema ativo, que o supervisiona. O sistema

automatizado, na sua função de supervisão, apenas aguarda a ocorrência de

anormalidades para seguir rotinas que garantam a não interrupção do

processo de trabalho.

O ponto de vista contrário ao citado é o de que as habilidades e

o conhecimento, que antes garantiam a produção, continuarão sendo

indispensáveis. Primeiro na projetação, segundo na instalação e, por último,

na manutenção do novo sistema. Para alguns, ainda, até mesmo a operação

demandará um trabalhador com conhecimentos que lhe permitam uma

intervenção segura, sem problemas, não só no sistema, como no próprio

processo que o sistema controla e supervisiona. Assim, a produtividade deste

novo sistema, estará garantida e, em última instância, será medida não só

34

pela redução das interrupções, como da redução do tempo delas, dos tempos

mortos, do retrabalho, etc..

2.2 - As Inovações Tecnológicas

Os procedimentos tomados a partir do desenvolvimento

tecnológico em termos de inovação de processos e procedimentos seguem

trajetórias determinadas, segundo CORIAT, B.6 embora, como diz SOARES,

R.M.S.deM.7, o caráter social da introdução de novas tecnologias é sempre

distinto, ou seja, sem uma relação causal obrigatória entre o uso de

determinada mudança tecnológica e a obtenção de determinados resultados.

Segundo Coriat, são dois os fenômenos que determinam os

rumos dos novos Paradigmas da Produção: 1 - O esgotamento relativo das

técnicas tayloristas e fordistas de Organização do Trabalho como suporte

para obtenção de ganhos de produtividade; 2 - O novo caráter que reveste a

exigência das empresas em épocas de crise: demanda por produtos

estandardizados são substituídos por produtos com séries limitadas e

características cada vez mais específicas.

6 Revista El Movimento Obrero Ante La Reconversión Productiva - México, Janeiro -

1988.

7 Reflexões sobre o Seminário Internacional Mudança Tecnológica, Organização do

Trabalho e Formas de Gestão - IPEA/ IPLAN/CENDEC - 1988.

35

Isso fez surgir a necessidade da Integração e da Flexibilidade

da Cadeia Produtiva. A Integração consiste em obter maior

compactividade da cadeia e diminuir o tempo de trabalho e de operação. De

maneira mais geral, consiste em converter os tempos mortos em tempos

efetivamentes produtivos. A Flexibilidade, na prática, significa ter

mobilidade para mudar o "modus operandi" ( as formas operatórias ), de

maneira a atender à demanda por produtos diferenciados em curtíssimo

espaço de tempo. De preferência isso deve ser feito através da

reprogramação das máquinas ou da planta, em caso de ser um modo de

produção por processo.8

Resumindo, a Flexibilidade e a Integração se traduzem em

alguns objetivos:

1- Reduzir o tempo de resposta às variações do mercado;

2- Estabelecer novos critérios de qualidade como forma de

diferenciar-se frente à concorrência;

3- Reduzir estoques e custos financeiros;

8 O modo de Produção por Processo se caracteriza pela unicidade entre processo e

produto. O processo e o produto representam uma única coisa. Se caracteriza ainda, por

ser um Sistema Integrado onde não há fases, nem peças, só o processo que vai determinar

o produto. Este modo tem ainda a cracterística de só produzir produtos para os quais o

sistema tenha sido projetado, ou seja tem a flexibilidade relativizada à reprogramação do

sistema, só permissível a partir da inserção no mercado dos Controladores Lógicos

Programáveis ( CLPs ).

36

4- Aumentar a taxa de ocupação do equipamento, para que um

investimento em máquinas possa produzir um volume maior de produtos;

5- Aumentar o controle sobre a produção e o trabalho como

forma de procurar manter, relativamente sob vigilância, o conflito social

dentro das empresas.

Conseguem-se esses objetivos através da utilização conjunta da

informática, da automação flexível e de mudanças organizacionais.9

Serão comentados, primeiramente, a informática e a automação,

neste item das Inovações Tecnológicas. Depois, será abordado o aspecto da

Organização do Trabalho e suas relações com a Qualificação e com as

Inovações Tecnológicas.

Sem sombras de dúvida, a grande inovação tecnológica vivida

nas fábricas, já há algum tempo, foi a inserção da automação microeletrônica

através dos equipamentos programáveis, que permitiu incluir instruções para

série alternativas e diferentes de operações.

Equipamentos programáveis são os controladores lógicos

programáveis ( PLCs ou CLPs ) usados em equipamentos isolados ou

diretamente nos processos, operando através de informações que lhe são

fornecidas pelos sensores. Eles são capazes de ativar automaticamente o

programa de operação correspondente a uma peça, em caso de ser uma

9 CORIAT, B. chama de automação o processo que abrange as máquinas e os

procedimentos de execução das operações, e de informatização a gestão automática das

informações necessárias à execução das operações.

37

máquina isolada, ou alterar variáveis de um processo, realizando seu

aprimoramento de controle.

A instalação de diversos desses controladores combinados

permite uma instalação automatizada, com maior ou menor complexidade.

Neste capítulo, procurar-se-á analisar melhor as alterações

provocadas em instalações de plantas industriais que trabalham com

processos contínuos, como é o caso do modo de produção das plataformas,

na qual se inserem mais especificamente os Operadores de Produção, objeto

final desta dissertação.

CASTRO, N. A & GUIMARÃES, A. S., ao estudarem a

inovação tecnológica e sua relação com a organização do trabalho na

petroquímica brasileira, já haviam identificado a escassez de pesquisas, no

Brasil, sobre os impactos de novas tecnologias nas atividades fabris

caracterizadas pelo fluxo contínuo do processo, como é o caso do petróleo e

petroquímica, siderurgia, cimento e outros.

No setor de petroquímica, as transformações tecnológicas de

maior repercussão estão ligadas ao aperfeiçoamento do controle de

processo. Os autores afirmam que isto se dá porque, neste tipo de atividade,

o ritmo de produção não depende do ritmo de trabalho. A produtividade

resulta do rendimento global das instalações e da exata performance dos

equipamentos.

Como se dá então a mudança nesta área? No modo de produção

por processo contínuo, a implantação dos controladores representa o

primeiro passo em direção a automação eletrônica. Os controladores, com a

presença ou não de computadores, realizam a supervisão e o controle através

38

da recepção e do processamento de informações no fluxo de produção. Neste

caso, por exemplo, os sensores avaliam permanentemente a temperatura, ou a

pressão, ou a vazão e transmitem suas informações aos controladores

individualmente, ou diretamente aos computadores, quando estes centralizam

unificadamente o controle e a supervisão de todo ou de parte do sistema.

Dependendo do software deste sistema, através dos

computadores se verifica, por exemplo, se a curva de evolução da

temperatura está dentro do previsto pelo programa teórico. Em caso de

anormalidade, o computador envia instruções ao maquinário automatizado

para realizar a abertura de válvulas, por exemplo, para restabelecer as

condições para um retorno à evolução de temperaturas conforme o previsto

originalmente. ( ibidem Coriat, B.)

Segundo Coriat, B., os dois tipos de equipamentos - os

computadores provêem-se de informações e as tratam e os meios de controle

programável são utilizados, freqüentemente, de forma simultânea. No caso

da produção por processo contínuo, essa utilização se dá promovendo a

intervenção sobre a matéria-prima, não mais através de operações de

manipulação e sim através da supervisão do desenrolar correto das reações

físico-químicas.

Continuando com Coriat, B., ele diz que a engenharia produtiva

consiste no processo de utilizar e otimizar, conjuntamente:

- os recursos disponíveis para a automação da produção,

visando otimizar a gestão dos complexos de micro-tempo de operação/

circulação;

39

- a informatização de tarefas e funções de gestão da produção

- a gestão da produção diz respeito, não à atividade material de fabricação e

transformação da matéria, mas aos intercâmbios de informação entre

diferentes meios de trabalho utilizados simultaneamente com instrumentos

de operação necessários à fabricação.

Em resumo, a informática da produção junta-se à automação

para absorver, na prática, as tarefas. Sendo assim, todo um conjunto de

atividades de regulação - outrora atribuídas ao trabalho vivo e cuja execução

constitui o coração das técnicas de organização do trabalho - passou a ser

desempenhado pela máquina. Dito de uma forma mais clara: a Informática

assegura - parcial ou totalmente - o desempenho de um papel antes atribuído

à Organização do Trabalho.

2.3 - A Organização do Trabalho

O novo papel atribuído à organização do trabalho, a partir das

inovações tecnológicas, não significa dizer que "todas" as recentes mudanças

decorrentes da forma de organizar o trabalho sejam originárias do

desenvolvimento tecnológico. Mas não há como negar que a decisão

gerencial de realizar transformações de base técnica, obriga, num segundo

momento, que se altere a maneira de combinar pessoas, máquinas e

informações para fazer um produto.

40

Isso não significa concordância com a visão do determinismo da

tecnologia, até porque tem sido comum, principalmente no Brasil, a

realização de mudanças organizacionais anteriores à mudança tecnológica,

como forma de se obter ganhos de produtividade10.

Por outro lado, a mudança organizacional que as novas

tecnologias passam a exigir, não se pauta em uma só alternativa.

Continuarão existindo diversas maneiras de se realizar este "novo trabalho".

As relações sociais e de poder continuarão presentes, não sendo, na maioria

das vezes, alteradas pelo novo ambiente tecnológico.

As mesmas condições que determinaram a mudança tecnológica

através da informática e da automação flexível estão presentes na mudança

organizacional. Estas procuram integrar e flexibilizar os sistemas

produtivos. Alguns exemplos: as células de produção, as mini fábricas, o

sistema just in time/kanban e a criação de operários polivalentes.

ZARIFIAN, P., ao questionar as limitações da antiga abordagem

taylorista da produtividade, em que o fundamental era que o trabalhador

aceitasse cumprir os trabalhos prescritos guiado pelas normas impostas pela

empresa, diz que, nos processos técnicos integrados e informatizados, o

conceito de posto de trabalho é alterado pela evolução técnica que produzirá

novas formas de trabalho.

10 Segundo FERRAZ, J.C.: "o fato das novas técnicas organizacionais não requererem, em

geral, grandes investimentos em equipamentos e serem aplicáveis, em muitos casos, a

pequenas escalas de produção torna-as muito apropriadas para a maioria dos setores da

indústria brasileira, onde prevalecem a descapitalização e a produção em pequenos lotes.

41

O posto de trabalho vai sendo substituído pela noção de zona ou

célula. Com isso ocorre o distanciamento entre o sistema técnico e o sistema

de trabalho que passam a ser ligados por um novo sistema chamado por

Zarifian, de "informacional". E mais: ele diz que isto não significa que as

intervenções manuais tenham desaparecido, mas que foram deslocadas para

as tarefas de regulagem, de correção de disfuncionamento e de reparação de

panes no sistema técnico. Prossegue afirmando que o ganho maior não

consiste em abreviar o tempo de reparação de panes, mas sim em prevenir

essas panes e as paralisações de máquinas e/ou de processos. É a nova

lógica da produtividade, é uma lógica de velocidade de ação do sistema

técnico em si. (grifo do autor)

A regra básica de trabalho, neste novo sistema, para garantir a

produtividade, passa a ser: não deixar a máquina/ ou o processo parar. Na

indústria de processo, isso é mais claro. Mesmo antes das inovações

tecnológicas, o ritmo da produção, não dependia do ritmo do trabalho e sim

do rendimento global das instalações. Desta forma, impedir a parada do

processo significa "tender a zero a porosidade" do processo produtivo,

permitindo assim, um resultado próximo da capacidade máxima da instalação

industrial.

Dentro desse contexto, Zarifian, defende que o taylorismo

apenas mudou de roupa. Segundo ele, no taylorismo clássico, os tempos

mortos são aqueles em que o operário não trabalha, não executa as operações

produtivas. Na nova abordagem, ou "o novo taylorismo", tempos mortos são

aqueles em que a máquina não funciona, as operações param. O controle

sobre o trabalho vivo deixa de ser feito diretamente pelo supervisor ou

capataz, e passa a ser realizado indiretamente sobre a equipe de produção,

42

numa intensidade muitas vezes superior, sobre o "tempo morto" da máquina

ou processo, que por sua vez vai determinar a produtividade.

Essa nova condição exige da empresa duas mudanças:

1 - a mudança do enfoque sobre a qualidade dos produtos a

serem fabricados;

2 - a mudança sobre o conceito do papel dos operadores,

reconhecendo a sua subjetividade e a sua capacidade de cooperação.

A primeira mudança leva à tentativa de aumentar a integração e

à certeza de que a qualidade não será conseguida no final do processo e sim

durante o mesmo. A atividade que determina o valor do produto não é a

inspeção, mas a produção. Para isso, torna-se indispensável a ruptura da

rígida concepção, que prevê a divisão entre o operador de produção e a

inspeção da qualidade.

A segunda mudança leva à tentativa de fazer com que os

operadores sejam capazes de reconhecer as variabilidades do novo sistema e

que intervenham rápido e eficazmente para reduzir o tempo de produção e

evitar paradas e panes. Para isso, torna-se necessário reconhecer o saber

operário que, na abordagem clássica do taylorismo, é menosprezado. Esta

abordagem afirmava que a análise científica do trabalho é que determinaria

as normas e os procedimentos a serem seguidos pelos operários, cujo

trabalho deveria ser supervisionado e controlado.

A nova abordagem parte da premissa de que existe um saber

operário e que é mais importante usá-lo, para atender aos novos objetivos da

empresa, do que continuar a retirá-lo e análisá-lo, usando a racionalidade

43

técnica, para depois devolvê-lo sob a forma de rotina, com definições de

novos padrões e estabelecimento de novas regras de controle.

Zarifian diz que, no taylorismo clássico, se excluía, da

atividade operária, a definição de produtividade e o papel desempenhado por

todos os saberes sociais adquiridos no trabalho ou fora dele, bem como a

importantíssima questão da combinação desses saberes. Isto acontecia

porque Taylor reconhecia o Saivoir-faire do operário, mas considerava que

seu conhecimento era muito empírico e aproximado para permitir um

incremento da produtividade. Este foi o motivo que fez com que se retirasse

dos operários o poder e a definição das suas rotinas de trabalho, e se partisse

para a análise científica do trabalho e se criasse a racionalidade técnica que,

naquele momento, segundo Taylor, era a forma de garantir o aumento da

produtividade.

O rompimento com esta visão exigirá novas formas de relações

de trabalho. Relações que passem a ver o trabalhador como parceiro

indispensável para o aumento da produtividade do sistema.

As diversas formas de gestão participativa se encaixam nessa

perspectiva. Como diz Storch, S.,: "a escola gerencial passa a atribuir

maior importância à participação à medida que os administradores se dão

conta do potencial criativo dos trabalhadores".

São diversas as formas, as dimensões, o grau de influência e os

níveis de participação. De todos os "modelos" que estão sendo

implementados, sem sombra de dúvida, os que se baseiam na Teoria do TQC

( Controle de Qualidade Total ), com as diferentes nuances na aplicação, são

os que têm tido maior divulgação.

44

É importante aqui, ressaltar que a Gestão Participativa tem

significado não apenas para a reorganização do trabalho, mas também na

reformulação deste novo ambiente de trabalho em que as Inovações

Tecnológicas necessariamente estão presentes, visando uma melhoria

qualitativa e quantitativa da produção.

O modelo participativo desta forma, prevê uma utilização mais

racional da mão de obra, considerando seu "savoir-faire", otimizando desta

forma a utilização das novas tecnologias instrumentalizadas nas instalações

automatizadas e informatizadas.

Neste cenário, percebe-se a necessidade da participação ter um

amplo escopo, que inclua o pessoal do "chão de fábrica", desde a fase de

projetação destes novos sistemas automatizados, por dois motivos principais.

Primeiro, porque o "saber fazer" operário precisa ser levado em conta e

permitir intervenções desde a fase anterior à instalação destes novos

sistemas, para que efetivamente se tenha um ganho de produtividade.

Segundo, tem-se necessidade que as negociações que surgirão a partir da

adaptação ao novo ambiente de trabalho se dê de uma forma ampla, que

permita o estabelecimento de novas relações de trabalho, que por, sua vez,

poderão levar o trabalhador a melhores condições de trabalho e a uma

participação nos ganhos de produtividade. Esta nova relação quebrará a

resistência dos trabalhadores a estes novos sistemas, por falta de

conhecimento e de participação dos mesmos na elaboração das novas

estratégias.

Se as premissas acima não ocorrem, estará se promovendo uma

grande contradição. Especialmente dentro do modelo do TQC, que prevê a

necessidade de um novo perfil de profissional, adaptável e flexível e com

45

autonomia para agir, para fazer face a um novo paradigma de produção. Para

isso, é preciso organizar máquinas e pessoas de tal forma que se otimize a

produção. A contradição se coloca na visão de se ver a técnica como algo

que preveja a eliminação da intervenção humana.

Dentro deste novo contexto dos sistemas técnicos, que prevê um

rearranjo organizacional é que surge a noção de trabalho polivalente.

2.4 - O QUE É POLIVALÊNCIA ?

Como já foi dito, é num ambiente de inovações tecnológicas e

organizacionais, com a integração e a flexibilidade de homens e máquinas,

que a polivalência aparece no cenário da reestruturação e/ou modernização

industrial.

A polivalência objetiva trazer mobilidade à força de trabalho

cuja atividade deixa de ser específica sobre uma tarefa; visa à redução dos

tempos mortos de determinada máquina ou parte do processo e passa a ser

mais abrangente em função do novo conjunto de atividades que um sistema

informatizado traz à tona. Essa atividade deixa de ser de execução e passa a

ser mais de supervisão e de controle de informações, no fluxo de produção.

Aqui, é preciso fazer uma distinção entre o trabalho polivalente,

implantado em fábricas de produção discreta, cujas atividades de produção

representam em seu final, peças em estruturas que podem ser rígidas (

antigas ) ou flexíveis ( novas ) e a indústria de processo contínuo, que é o

adotado, por exemplo, em uma refinaria.

46

Neste estudo, faz-se uma analogia entre o trabalho realizado

pelo operador, na plataforma, e o trabalho executado em uma indústria de

processo contínuo do tipo de uma refinaria. No caso da plataforma, a matéria

prima é o petróleo bruto extraído dos poços e os produtos finais são o óleo e

o gás separados um do outro, da água e de outras impurezas. No caso da

refinaria, a matéria prima é o óleo, cujo tratamento ou beneficiamento

primário ( separação da água, gás e principais impurezas ), já foi feito na

plataforma e, como produto final, diferentes derivados ( gasolina,

querosene, nafta, óleo diesel, etc. ), de acordo com os objetivos da planta de

processos montada.

O primeiro tipo de Polivalência implantado é aquele em que o

operador passa a controlar duas ou mais máquinas iguais dentro de uma

cadeia de produção. O segundo tipo é o que ocorre quando o operador, além

de operar uma ou duas máquinas, passa também a fazer o controle de

qualidade do seu trabalho. Tanto no primeiro quanto no segundo tipo, a

polivalência quase sempre é vista como uma possibilidade de intensificação

do trabalho, com a ampliação das tarefas que Friedmann, G., chamava de

"job enlargement".

O segundo tipo de Polivalência quase sempre é exercido por

operadores especialistas em determinados setores. Por exemplo, na tornearia,

ocorre a polivalência quando o operador passa a desempenhar também outras

funções de execução como a fresagem, soldagem, prensagem, furação, etc.,

numa organização quase sempre com características de uma célula de

fabricação. As células de fabricação, normalmente, têm a característica de

possuir um pequeno espaço físico com as máquinas bem agrupadas para

facilitar o transporte da peça, reduzir o deslocamento dos operadores e

47

permitir que eles se ajudem mutuamente ( como um trabalho em equipe ) e,

finalmente, que os operadores operem mais de uma máquina.

A Polivalência, nesse caso, está no trabalho em diferentes

máquinas. Também, nesse tipo de estrutura de produção, em um caso mais

avançado, num torno de comando numérico, em que o controle é efetuado

pelo computador. O operador apenas alimenta, aciona e monitora (

supervisiona ) a máquina. Aí a polivalência acaba sendo exercida através da

supervisão do trabalho da máquina que executa uma gama mais variada de

operações.

A polivalência, na indústria de processo contínuo, é

determinada por um rodízio de funções e/ou pelo controle e supervisão de

todo o processo, ou de parte dele.

Essas novas atividades no modo de produção por processo,

mesmo no que tange à supervisão, tendem a se reduzir à medida que a

informatização das linhas ou plantas vai aumentando. A redução acontece

porque a regulação das variabilidades, que são feitas pelos operadores,

tendem também a diminuir, à proporção que o sistema incorpora cada vez

mais e mais informações e seu tratamento, através da programação, permite-

lhe ter uma atuação mais confiável.

A polivalência, a partir da informatização / automação dos

processos de produção, conforme seja realizada esta automação, pode exigir

maior ou menor qualificação dos operadores. Se a automação leva a uma

integração do controle das diferentes etapas de um processo, certamente o

nível de qualificação sobe, porque o operador, que antes conhecia apenas

uma parte do processo, precisa conhecer todas as partes que o controle

48

automático integrou. Por outro lado, se a automação levar apenas a um

diagnóstico dos problemas gerados no processo, com a correção automática

do mesmo, a partir do software que incorporou o saber antes presente nos

operadores, o trabalho realizado pelos mesmos pode estar sendo reduzido a

um cumprimento de rotinas.

Certamente a Polivalência aliada ao processo de

informatização/ automação leva a uma redução de pessoal. Esta redução, em

alguns casos, é desejada pois tarefas pesadas, insalubres e perigosas passam

a ser executadas mecanicamente sem a necessidade da presença do operador.

Em outros casos, a redução pode ser questionada, pois a polivalência, está

levando a uma intensificação do trabalho, que pode gerar, por outro lado, a

uma diminuição da confiabilidade do sistema.

No caso das plataformas, o operador antes especialista e

executor de funções na parte do processamento apenas do óleo, passa a ficar

responsável também pelo gás e vice-versa. Ou na área de utilidades. O

especialista na elétrica assume também a responsabilidade na utilidade de

sistema e vice-versa. Num grau mais avançado se o sistema técnico de

supervisão e controle integrasse, além do controle do óleo e do gás, também

a utilidade de sistema e elétricas, seria exigida uma Polivalência mais ampla.

No caso das plataformas Semi-submersíveis, embarcação onde é

indispensável controle de navegação e lastro, se esse controle e essa

supervisão também se integrassem ao sistema anterior, a polivalência do

operador teria ainda maior abrangência.

Prosseguindo na análise, como o objetivo é integrar o controle e

a supervisão num único ponto, é certo que esses sistemas caminham para

gerar a figura do operador mantenedor. Este seria, pelo que se percebe em

49

termos de estratégia, o objetivo a atingir. Ou seja, um operador que além de

supervisionar e controlar as variabilidades do sistema na operação, também

interceda na manutenção do sistema, parcial ou totalmente, a partir da

indicação dos pontos de defeitos acusados pelo sistema.

Tem-se agora toda uma discussão da implantação e de suas

conseqüências para o trabalho do operador, à medida que, gradativamente, se

implantam estas mudanças.

2.5 - O Tecnocentrismo e o Antropocentrismo:

Partindo do pressuposto de que não é o avanço tecnológico, por

si só, o detonador de todo o processo de transformações pelo qual passa o

mundo da produção e do trabalho, é preciso ver, de forma mais clara, o que

determina essas mudanças e as relações daí decorrentes.

A maioria dos planejadores dos sistemas produtivos tem

seguido a estratégia de eliminar o trabalho humano, considerando-o fonte de

perturbações e custos. Brodner, P., aponta que: "o caminho baseado na

técnica mantém intacta a estrutura básica do processo produtivo e busca os

mesmos objetivos básicos que até agora têm sido empregados: reduzir custo

de pessoal e lograr um melhor controle do processo de produção".

Cada vez mais o sistema técnico se transforma em um meio que

impõe ao trabalho humano formas e normas determinadas.

50

Reforça-se assim, a divisão do trabalho entre os que pensam e

os que operam o sistema. Cada vez mais se projetam sistemas que prevêem

na sua operação pessoas mais desqualificadas.

Essa é a abordagem tecnocêntrica, segundo GARIBALDO, F.,

que tende a tornar o ser humano passivo e o sistema ativo. Dentro dessa

característica se reforça a busca pela integração, principalmente das

informações sobre a produção, de forma a se criar um modelo que pudesse

reconhecer e parametrizar todos os imprevistos e todas as variabilidades da

produção, incorporando-os à base técnica do sistema a caminho de um

controle total do processo.

O outro caminho é o antropocêntrico que, ao definir o homem

como sujeito e não como objeto, reconhece nos recursos humanos e na sua

interação com a máquina a forma de superar os pontos débeis e fortes de um

e de outro. Para se fazer isso é preciso partir de uma imagem adequada de

homem. É conceituar o homem como sujeito pensante e atuante.( Brodner,

P., 1990 )

O Projeto Fast ( explicar ) ao definir a conceituação do sistema

antropocêntrico de produção diz: "o conceito denota aqueles sistemas de

produção cujo princípio inspirador, desde a projetação, se fundamenta não

sobre a substituição da capacidade humana pela tecnologia e sim sobre as

definições de tecnologias e sistemas produtivos que exaltem esta

capacidade". ( Garibaldo, F., 1990 )

Ao se referir a uma forma social de automação atualmente

dominante, FREYSSENET, M., diz que essa automação tem como objetivo

básico a redução de mão de obra como fator de aumento da produtividade, ou

51

seja, deve-se automatizar o máximo para economizar mão de obra e

amortizar custos. E diz ainda, que isto se dá tanto pela cultura técnico-

científica do meio em que se desenvolvem os engenheiros projetistas, que

vêem sempre a solução técnica como a de maior eficiência e a mais

definitiva, quanto pela representação que eles, os projetistas, fazem dos

operários.

Essa é a grande contradição dos tempos atuais, quando se fala

em Qualidade Total, motivação do trabalhador e necessidade de um novo

perfil profissional. Do operário ao gerente, a palavra de ordem é ter um

recurso humano que seja adaptável e flexível. Como disse a diretora do

Sloan Fellows Program do Massachusetts Institute of Technology ( MIT )

dos EUA: "Se eu tivesse que usar duas palavras para descrever o executivo

que as empresas buscarão cada vez mais daqui em diante, eu diria que essa

pessoa terá que ser muito adaptável e muito flexível" 11. Por outro lado,

grande parte dos projetos, prevêem instalações cada vez mais automatizadas

que descartam a participação dos recursos humanos flexíveis.

FREYSSENET, M., ao falar dos novos projetos, insiste: "há

uma grande contradição neste ponto, pois hoje, enquanto os chefes de

oficina e os gerentes de produção, dentro do novo paradigma, intentam

fomentar as formas de organização do trabalho que permitam mobilizar a

inteligência e a competência dos trabalhadores, os projetistas continuam a

projetar máquinas ou sistemas em que sua operação se dê por pessoas

11 Esta afirmação foi feita em uma entrevista ao Jornal Folha de São Paulo de 22 de Maio

de 1994, no caderno de Empregos.

52

desqualificadas. ( ... ) A substituição da ação humana por um automatismo

adequado, se dá não só pela crença de que haverá redução do tempo de

trabalho e sim também pelo aumento da confiabilidade do conjunto ao

eliminar a incertitude que constituiria o operário".

Essa concepção reafirma a visão tecnocêntrica que vê sempre a

técnica como um fator de aumento da produtividade ao contrário do trabalho

humano que acaba sendo considerado fonte de perturbações e custos. Ao

contrário desta concepção e de certa forma defendendo a visão

antropocêntrica, Freyssenet, M. cita, não com um caráter ideológico, mas

como fator determinante para um aumento de produtividade dos sistemas

produtivos: "o operário pode ser fator do aumento da confiabilidade do

sistema técnico, graças a sua capacidade de síntese, interpretação e de

percepção multisensorial".

Esta confiabilidade pode ser a chave mestra que garanta, mesmo

num sistema com maior nível de automação, a produtividade a partir da nova

concepção do taylorismo colocada por Zarifian, quando afirma que a

produtividade está diretamente relacionada a não paralisação da máquina ou

do processo.

53

2.6 - A Polivalência e a Politecnia:

Como já foi falado, a polivalência pode se apresentar sob duas

formas: agregando novas funções para cada trabalhador, ou através da

rotação por diferentes tarefas, dentro de um processo que privilegia o

trabalho por equipes que se responsabilizam por toda uma etapa de

fabricação ou de um processo.

Não resta dúvida: o trabalhador que desempenhar uma dessas

duas formas tenderá a se aproximar mais da concepção anteriormente

colocada, do antropocentrismo, que vê nesse trabalhador um fator essencial,

alicerçado nas novas atribuições exigidas de adaptação e flexibilidade.

Porém, ainda se insere numa concepção que, segundo MACHADO, L., se

apoia no uso cientificista da ciência, sujeitando o trabalhador à mera

instrumentação utilitarista e a processos de adaptação definidos por regras

prescritas com anterioridade.

Essa visão da Polivalência se traduz, na prática, como um

avanço à profunda especialização e segmentação das atividades de trabalho

que o taylorismo clássico apresentava. Em função disso, ele acaba sendo

apresentado como a grande novidade e a principal alternativa de qualificação

que se molda aos requisitos do novo paradigma. Porém, ele ainda se situa ao

nível da dimensão operacional, que é como REZENDE PINTO, A.M., vê o

novo trabalhador polivalente: "o trabalhador portador de boa formação

geral, atento, leal, responsável, com capacidade de perceber um fenômeno

em processo, não dominando, porém, os fundamentos científicos-intelectuais

subjacentes às diferentes técnicas produtivas modernas".

54

A Polivalência é útil e se forja diretamente no trabalho a partir

da demanda que é provocada por mudanças tecnológicas e organizacionais

do ambiente de trabalho. A sua implantação quase sempre cumpre uma

trajetória que se inicia através de um curso em que novas informações são

passadas ao trabalhador polivalente, seja o operador, ou um técnico. Este

detém conhecimentos em determinadas especialidades e a polivalência vem

possibilitar a inserção, muitas vezes de forma insegura em outras áreas do

conhecimento próxima da atuação do operador ou do técnico.

O segundo passo é o treinamento "on job", ou seja, no próprio

local de trabalho. Para a Polivalência, que tem um caráter mais de

informação e algumas vezes de absorção de rotinas, esta parte tem uma

importância fundamental. Os próprios trabalhadores requerem e valorizam

esta etapa, porque a partir da decisão gerencial da implantação da

polivalência, o trabalhador sabe que a responsabilidade de assumir novas

atribuições vai exigir dele, na prática, habilidades e tomadas de decisão que

não permitirão uma elaboração teórica maior. É como se dissesse: vamos

resolver o problema mais urgente, os outros ficam para depois. Muitas vezes

este treinamento "on job" ocorre antes mesmo do treinamento formal de sala

de aula.

Segundo Machado, L., o tipo de habilidades e hábitos

requeridos numa atividade prática de caráter polivalente, possui certas

características específicas, básicas para uma qualificação politécnica, ainda

que insuficientes, tais como: saber transferir e usar de forma versátil

conhecimentos e experiências em diferentes oportunidades e situações; saber

manipular instrumentos básicos úteis a um leque amplo de tarefas ( cuja

expressão cada vez mais banal é a familiaridade com as operações em

55

computadores ) e saber trabalhar em equipes, o que pressupõe hábitos de

organização pessoal e habilidades de comunicação diferenciada. Essas

condições representam um avanço se comparadas com as atividades

taylorizadas e fordistas, pois possuem um caráter mais criativo que

reprodutivo, mais geral que específico, mais mental que físico e mais teórico

que prático. Mas, deixam a desejar, se o objetivo tiver maior amplitude.

A Politecnia em contraposição à Polivalência, pressupõe

segundo FRIGOTTO, G., basicamente 3 elementos: a concepção do homem

omnilateral; o trabalho produtivo e a articulação entre trabalho manual e

intelectual; as bases científico-técnicas, comuns na produção industrial.

Machado, L., reforça essa tese quando diz que a Politecnia representa o

domínio da técnica em nível intelectual e a possibilidade de um trabalho

flexível com a recomposição das tarefas em nível criativo. Pressupõe ainda,

a ultrapassagem de um conhecimento meramente empírico, ao exigir formas

de pensamento mais abstratas. Vai além de uma formação simplesmente

técnica ao requerer um perfil amplo de trabalhador, consciente e capaz de

atuar criticamente em atividades de caráter criador e de buscar com

autonomia os conhecimentos necessários ao seu progressivo

aperfeiçoamento.

Esta concepção, de certa forma, vem ao encontro de uma visão

antropocêntrica que reconhece que o trabalhador apresenta limitações, mas

que a partir da divisão de funções entre o ser humano e a máquina, pode-se

valorizar as capacidades específicas de ambos. A conjugação de atividades

complementares entre o homem e a máquina leva a uma verdadeira

flexibilidade e adaptação aos sistemas produtivos, como diz SEGRE, L.M.:

56

"a automação sem a intervenção do homem não funciona. A flexibilidade dos

sistemas é dada muito mais pelo homem que pelas máquinas".

A possibilidade de uma formação mais integral do trabalhador,

a caminho da politecnia, pode ser algo que atenda não só a ele, que terá

visão mais crítica da realidade e uma atuação mais ativa na sociedade através

do exercício da cidadania, mas também atenderá aos novos paradigmas da

produção que exigem um trabalhador mais criativo, integrado e participante.

Os interesses de classe daí surgidos exigirão negociações. Essa

é a palavra que talvez operacionalize, na prática, os desafios que os novos

paradigmas demandam. De um lado, os detentores dos processos produtivos,

que não conseguem alcançar maior produtividade sem a participação direta e

intensa dos trabalhadores. De outro lado, os trabalhadores que a partir desta

realidade, têm o desafio de avançar nas conquistas que garantam à sua classe

uma participação mais efetiva na tomada de decisões, para além das rotinas

de trabalho. Nesse caminho, os trabalhadores têm condições de exigir a

participação, não só das definições estratégicas de toda a empresa, mas

também numa interferência ainda maior, ampliando o escopo de sua

participação, visando, enquanto classe, interferir nos destinos da sociedade

como um todo.

57

Capítulo 3

A EMPRESA

3.1 - Breve Histórico:

Principais Dados da Situação da Petrobrás:

A Empresa PETROBRÁS surgiu em 3 de Outubro de 1953,

através da Lei N° 2.004 e iniciou suas atividades em 10 de Maio de 1954. É

uma Companhia de capital aberto ( Sociedade de Economia Mista ), cujo

maior acionista é o Governo Federal, que a controla, detendo 81% de seu

capital votante e 51% de seu capital integralizado.

A PETROBRÁS é ligada ao Governo Federal através de um

rígido controle e ampla fiscalização do Governo como:

1 - Aprovação, pelo Congresso Nacional, da programação anual

e plurianual, incluindo-se os orçamentos de investimentos e operações;

2 - Administração, pelo Departamento Nacional de

Combustíveis e Ministério das Minas e Energia, dos preços de venda de

todos os produtos e sua prévia ratificação pelos Ministérios da Fazenda e do

Planejamento;

3 - Coordenação das atividades, pelo Comitê de Coordenação

das Estatais, e exame das contas, pelo Tribunal de Contas da União e pelos

58

Ministérios de Minas e Energia e da Fazenda, sujeita a auditoria externa

independente e a Lei das S/A.

O Brasil depende do petróleo para fornecer 33% da energia que

necessita.

A PETROBRÁS é a 15ª maior companhia de petróleo do

mundo, segundo a publicação "Petroleum Intelligente Weekly". É

considerada como a de maior índice de crescimento desde 1987. Ocupa a

liderança mundial na produção em Águas Profundas e o 10° lugar em

capacidade instalada de refino. Sua produção média de 1992 foi de 653.000

barris por dia ( em Outubro/93, a média foi de 710.000 b/d e em

Fevereiro/94 720.000 b/d ) de óleo, e de 19 milhões de m³ por dia de gás

natural. Suas reservas provadas de petróleo somam 10 bilhões de barris.

Possui aproximadamente 50.000 empregados. Seu faturamento

médio anual é de 14 bilhões de dólares. O total de impostos, taxas e

contribuições gerados em 1992, correspondem a 4,3 bilhões de dólares. Seus

custos de pessoal, assim considerados os salários, vantagens e encargos

sociais, corresponderam em 1992 a 12,4% do faturamento bruto. Seu custo

médio de produção de US$ 3,05 é inferior à média calculada para as 20

companhias mais representativas do setor no mundo, de US$ 4,17 por barril,

não obstante seus poços operados situarem-se, em sua maior parte, no mar e

em lâminas d'água que atingem a 910 metros de profundidade, atual recorde

mundial.

Como todas as grandes corporações petrolíferas, a

PETROBRÁS opera em todas as atividades do setor petróleo, naquelas

monopolizadas ( exploração, perfuração, produção, refino, transporte,

59

importação e comercialização ) e nas que não estão monopolizadas, como a

distribuição.

Hoje, mais de 70% da produção de petróleo se dá no mar. A

Bacia de Campos, objeto deste estudo detinha, em 1993, em torno de 63% da

Produção de Petróleo no Brasil, conforme quadro abaixo:

PRODUÇÃO DE PETRÓLEO NO BRASIL (%)

RIO DE JANEIRO 63,0

RIO GRANDE DO NORTE 12,5

BAHIA 11.0

SERGIPE 7.0

CEARÁ 3.0

ESPÍRITO SANTO 2.0

ALAGOAS 1.0

PARANÁ 0.5

60

3.2 - A BACIA DE CAMPOS:

Em 1968, a Petrobrás deu início aos levantamentos geofísicos

na Bacia de Campos. Nesse ano foi perfurado o primeiro poço submarino,

que conduziu à perfuração de mais oito deles e à descoberta do Campo de

Garoupa em 1974, que coincidiu com um momento de crise no mercado

internacional. Naquela época, o Brasil tinha uma produção que atendia a

apenas 20% de seu consumo. A produção de hidrocarbonetos no Brasil, até

então estava restrita a duas áreas terrestres: a do Recôncavo Baiano e a dos

Estados de Sergipe e Alagoas.

O segundo poço descoberto foi o de Enchova, que começou a

produzir em 1977 em lâmina d'água de 120 metros. Em 1979, o Distrito de

Produção do Sudeste, que tinha sede em Vitória, ES, foi definitivamente

transferido para a cidade de Macaé, RJ e se transformou em Distritos de

Exploração, de Perfuração e de Produção do Sudeste. Em 1982, a Bacia de

Campos já produzia 145.000 barris por dia. Este expressivo volume elevou o

Distrito de Produção do Sudeste à categoria de Região.

As instalações da Petrobrás em Macaé, RJ, na ponta da praia de

Imbetiba, conta com duas áreas básicas: 1- o Distrito de Perfuração do

Sudeste ( DPSE ) que responde ainda pela perfuração nas bacias do Espírito

Santo ( terra e mar ), Paraná e Santos; 2- Região de Produção do Sudeste (

RPSE ). Existem trabalhando nestas áreas básicas, em torno de 7.800

61

trabalhadores, sendo aproximadamente 2.300 off shore e 5.500 on shore.

Destes, 1.800 são de nível superior e 6.000 são de nível técnicos e

elementar. Dos 1.800 de nível superior, aproximadamente 1.000 são

engenheiros.

Segundo Ribeiro, M.M.P., em Macaé está instalado o maior

complexo operacional da Petrobrás em todo o Brasil. A Petrobrás já investiu

o equivalente a US$ 12 bilhões na Bacia de Campos e obteve como receita

cerca de US$ 30 bilhões, referentes ao petróleo e gás produzidos.

A Bacia de Campos ocupa cerca de 100 mil Km², que se

estendem da costa até uma lâmina d'água de 3.000 metros. Nesse imenso

arco, numa área de 5.600 Km², erguem-se plataformas marítimas que distam

de 80 a 100 quilômetros do litoral.

A Bacia de Campos tem 3 pólos, cada qual abrangendo

determinado número de campos produtores onde estão instaladas as

plataformas:

- Pólo Nordeste, que abrange os campos de Pargo, Carapeba e

Vermelho, com um total de 7 Plataformas;

- Pólo Norte, campos de Garoupa e Garoupinha com 1

Plataforma, Cherne cuja 2 Plataformas atendem também aos poços de Bagre,

Parati e Anequim; o Campo de Namorado é atendido por 2 Plataformas e os

Campos de Viola, Corvina, Moréia, Marlim e Albacora, cada qual dotado de

um Sistema de Produção Flutuante ( Plataforma Semi-submersível ).

- Pólo Sul, composto pelos campos de Pampo, com 1

plataforma, Enchova com também 1 Plataforma, e um Sistema de Produção

62

Flutuante; Bicudo, Linguado, Badejo, Trilha, Piraúna e Marimbá cada qual

com uma SS ( Vide no Anexo 4 - Planta da Bacia de Campos ).

Em 13 de Agosto de 1992, a Bacia de Campos comemorou 15

anos de produção. O poço pioneiro foi o EN-1-RJS situado no Campo de

Enchova. Este poço, até esta data, já produziu 33 milhões de barris de óleo e

520 milhões de m³ de gás natural, com receita estimada em US$ 750

milhões.

Nas comemorações dos 15 anos, uma reportagem publicada no

Jornal Folha da Manhã, do dia 14 de Agosto de 1992, conta detalhes

interessantes vividos pelo Engenheiro de Produção, José Everaldo dos

Santos, que participou das comemorações. Havia trabalhado na Região de

Produção do Nordeste ( RPNE ) e estava embarcado na plataforma SS-6,

quando o óleo de Enchova começou a jorrar. Ele descreve esse

acontecimento:

"o poço pioneiro deveria ter entrado em operação no início de agosto de

77, mas um acidente não deixou lançarmos o mangote flutuante para o navio-tanque. À

noite um rebocador passou na área e cortou o mangote que felizmente, não tinha óleo.

Foi preciso comprar outros 500 metros de comprimento no Japão e fretar um avião

para trazê-lo, daí o atraso.

Mais problemas: na véspera do histórico dia, os técnicos resolveram

testar todo o sistema e a bóia de nível dos separadores de água alugados de uma

empresa francesa, não funcionou. Tivemos que improvisar uma bóia com madeira

pintada e recozida no forno da cozinha da plataforma.

O nervosismo era geral, pois os jornais haviam noticiado que o poço

entraria em produção no dia 13.

63

Às seis horas o EN-1-RJS começou a ser aberto, pois era prática iniciar

a operação à luz do dia - fato que hoje ocorre a qualquer hora. A equipe passou a

observar que o poço produzia muita areia e a primeira vez que encheu os tanques de um

navio, a areia decantou nos separadores e eles tiveram que ser abertos para proceder a

retirada de mais de dois metros cúbicos de material sólido".

(...) "em 1977 ainda não havia unidade da Petrobrás em Macaé e os

embarques eram feitos por Campos. As equipes cujos turnos eram de 14x14 dias de

folga, embarcavam em helicóptero em Vitória, que eram reabastecidos em Campos e

seguiam para as plataformas de perfuração e produção".

(...) "Em agosto de 1977, trabalhavam 12 técnicos da Petrobrás, mais os

empregados da Flopetrol... Era tudo pioneiro. No fundo do poço instalamos um BOP (

Blow Out Prevente ) com riser de perfuração e uma árvore de teste, quando atualmente

usamos a árvore de natal molhada, feita especialmente para operar em sistemas de

produção off shore. Na planta de processo, bastante simples, havia apenas um surge-

tank e duas bombas de transferência".

Ainda nesta reportagem, o Engenheiro José Everaldo não

esconde a ironia quando fala daqueles tempos: "A Petrobrás nos informou que

iria construir um conjunto habitacional para seus empregados, mas a realidade foi

outra. As firmas contratadas já estavam instaladas na cidade e o custo de vida era

altíssimo. Para piorar a situação, cortaram os 10% de adicional regional.

A adaptação dos empregados da Petrobrás não se restringia aos usos e

costumes da cidade, mas aos termos náuticos. Termos - través ( quando o vento está

perpendicular à embarcação ); estropo ( pedaço do cabo de aço com dois laços na ponta

); buzina ( nada a ver com o sinal de alerta ); garrar ( quando a âncora não agarra no

seu objetivo ) e solecar ( soltar os cabos ) passaram a ser assimilados pelos petroleiros.

64

O ambiente de trabalho era melhor. Acho que naquela época o pessoal

vibrava mais, fazia as coisas com maior comprometimento. Hoje quando abrimos um

novo poço, metade dos empregados só vai saber pela televisão. O ambiente não está

bom, os salários estão aviltados, o relacionamento empresa-empregado está pior do que

naquela época.

Uma das razões para tanta insegurança é o reflexo dos sucessivos cortes

nos investimentos da Bacia de Campos. Hoje está tudo parado no que diz respeito a

novos projetos, com exceção da fase I de Marlim e o de Marimbá. Com a série de

adiantamentos, em 95 o país não estará produzindo o que consome, quando a Bacia de

Campos poderia responder por 90% da produção nacional. A meta foi adiada para o

ano 2000".

Em Setembro de 1993, foi perfurado, no Campo de Marlim, o

1000° ( milésimo ) poço aberto na Bacia de Campos. Este marco teve a

comemoração dos grandes executivos da Companhia. A Bacia tem em

produção 383 poços e é detentora de 77% das reservas nacionais de óleo, e

de 63% da produção nacional de óleo. Segundo o Superintendente da RPSE,

Paulo Roberto Costa, "somente as reservas já conhecidas de óleo natural

demandarão, no mínimo mais 40 anos de atividades de produção".

Em 4 de Setembro de 1994, atingiu-se novo recorde na Bacia de

Campos: a produção atingiu 501.000 mil barris, chegando a produção

nacional à faixa de 751.000 barris. Essa produção já eleva o percentual de

participação da Bacia de Campos na produção nacional de óleo para 66,7%.

Esse recorde foi batido graças à ativação da nova plataforma Semi-

submersível ( a maior do mundo ) Petrobrás XVIII. Nas comemorações desse

65

novo recorde, o diretor da área Exproper da empresa, João Carlos França de

Luca falou: "se hoje a Bacia de Campos fosse um país estaria em 25° lugar

em produção mundial de óleo, superando países membros da OPEP, como

o Quatar"12.

12 Reportagem Jornal Folha da Manhã, do dia 09-09-94, com o seguinte título: "Recorde

de 500 mil barris é comemorado na Petrobrás.

66

3.3 - O QUE É A PLATAFORMA ?

"... o que é a plataforma ? Não se

sabia nem o que era uma plataforma. Nunca

ninguém tinha operado, então a gente botou o

modelo lá do Mar do Norte, ou até do Golfo do

México, então a gente desconhecia tanto que

considerou que uma plataforma era uma refinaria e

deu poderes para uma plataforma como se fosse

uma refinaria e nestes poderes do chefe da

plataforma, eles fizeram com que... como filosofia, a

maioria deles, que todos os serviços fossem feitos lá

em cima, lá no mar..." ( Ent. 12 )

Operam na Bacia 27 Sistemas de produção, sendo 13 ( treze )

Plataformas Fixas e 14 Plataformas Semi-submersíveis, que são

responsáveis, como já foi dito, por cerca de 66 % da produção nacional de

óleo. Da produção total de óleo da Bacia, 70 % são escoados via dutos e 30%

via navios.

A produção na Bacia de Campos, como já foi dito, se iniciou

através de uma plataforma semi-submersível, a SS-6 no Campo de Enchova.

A produção estava prevista inicialmente para o Campo de Garoupa, o

primeiro a ser descoberto e para o qual estava sendo preparado um sistema

antecipado. Mas, o sistema apresentou problemas e mais tarde a produção do

poço se viabilizou através de uma plataforma fixa.

67

Os dois tipos de plataformas, fixas e semi-submersíveis

( também chamadas de sistemas flutuantes de produção ) têm características

diferentes, que dependem basicamente da lâmina d'água do poço, ou melhor,

dos poços do campo que se está explorando e também da expectativa de

tempo de produção do campo. É impossível ter uma plataforma fixa para

exploração em grandes profundidades.13 Outra grande vantagem do sistema

flutuante é o reduzido prazo entre a descoberta de um poço economicamente

viável e a extração do petróleo. Isso se dá principalmente pela grande

flexibilidade e mobilidade desse sistema que independe da lâmina d'água e

pode ser facilmente remanejado.

Nas bacias marítimas de uma forma geral, da descoberta de uma

nova jazida até a fase de produção comercial, decorre, em média,

aproximadamente seis anos, pois sua construção só pode ser iniciada após a

delimitação do campo e determinação do local de sua instalação (lâmina

d'água).

Normalmente as plataformas fixas são de grande porte, como a

de Pargo, que é a maior, e na realidade, é composta por duas plataformas

interligadas através de duas pontes.

13 Esta é a situação para o atual estágio de desenvolvimento tecnológico. Existem

informações de pesquisas sobre a utilização de amarras que permitiriam a utilização de

plataformas fixas também em águas profundas, com poços com grande capacidade de

produção As plataformas fixas teriam uma relação custo-benefício maior que as semi-

submersíveis.

68

Uma das plataformas de Pargo tem instalada a planta de

processo e a outra contém: o setor de utilidades elétricas e de sistemas, o

setor de acomodações ( refeitório, sala de TV, sala de projeções, quadra de

esportes, sala de ginástica e os camarotes para repouso ) e o setor

administrativo. A geração de Energia Elétrica é de grande porte ( dá para

atender uma cidade maior que Macaé ) e atende, além de Pargo, as demais

plataformas do Polo Nordeste ( Vermelho I,II, e III e Carapeba I e II), que

também são fixas, mas de pequeno porte, por não precisar de geração de

energia e por ter uma planta de processo bem simples.

Existe plataforma SS de grande porte, como é o caso da SS-33,

no Campo de Marlim, que é uma plataforma adaptada para produção. Antes

era um flotel. Ela possui uma grande planta de processo, com produção de

51.000 b/d de óleo. Tem 5 Andares e as seguintes instalações ( cinema, sala

de TV, sauna, piscina ).

Outra plataforma, a Petrobrás VIII ( SS-29 ), iniciou no dia 23

de Junho de 1992. Sua produção tem a previsão de obter 46.000 b/dia de

óleo e 1 milhão, 440 mil m³ de gás natural oriundos dos 13 poços do Campo

de Marimbá e de 12 do Campo de Piraúna. Como a SS-33, funcionava como

um flotel ( hotel flutuante ), em diversas partes do mundo e, ultimamente,

dava apoio aos trabalhadores de outras plataformas da Bacia de Campos.

Nessa plataforma construída em Oslo, na Noruega, em 1976, foi adaptada, no

Estaleiro Mauá, RJ, uma planta de processo para atuar na produção. Ela tem

a altura de um edifício de 13 andares, pesa 22 mil toneladas. Possui 8

âncoras e está instalada a 90 quilômetros da costa. Possui ainda acomodação

para 120 pessoas.

69

No dia 01 de Março de 1994, foi entregue à Petrobrás a

Plataforma Petrobrás XVIII ( SS-44 ) atuando no Campo de Marlim. A

plataforma, cuja estrutura foi construída em Cingapura, terminou sua

montagem ( interligação de cabos e tubos e testes de equipamentos ), no

canteiro de obras da empresa brasileira Tenenge, no Porto de Paranaguá.

Está ancorada em uma área, cuja profundidade é de 910 metros de lâmina

d'água, que representou a quebra de novo recorde mundial de produção em

águas profundas. Esse sistema flutuante é o maior em capacidade de

produção já construído até hoje. São 100 mil barris diários de óleo de

capacidade instalada. A Plataforma mede 85,5 m de boca ( largura ), 98

metros de comprimento, 43,9 metros de pontal ( altura do nível d'água ao

topo ), 23,1 metros de calado, possui 5320 m² de convés principal e

comporta 130 tripulantes. Custou 272 milhões de dólares financiados pela

companhia japonesa Nisso Iwai e sua construção ficou a cargo do consórcio

Tobege-Fels14.

As plataformas fixas têm uma estrutura que é fixada no fundo

do mar. Nesta estrutura se apoia uma jaqueta e sobre ela, a plataforma

propriamente dita, com todos os equipamentos e instalações de apoio.

14 O empréstimo da Petrobrás será amortizado com os recursos gerados pelo petróleo que

a plataforma produzir. Está prevista para dentro de três anos, uma nova plataforma, a P

XIX, que será ligada a 31 poços, também no Campo gigante de Marlim. O Projeto está

sendo finalizado e no momento está se decidindo o formato da licitação para escolher a

firma responsável pela construção. ( Folha da Manhã 25 de Maio de 1994 ).

70

As plataformas semi-submersíveis são ancoradas da mesma

forma que um navio de grande porte. Possuem mecanismo de navegação e

têm um sistema de controle de lastro para compensar a movimentação do mar

e das marés, quando a mesma está ancorada. Nas plataformas mais novas o

controle do lastro é feito automaticamente.

A Bacia de Campos, já contou com um Navio, trabalhando na

Produção, o Prudente de Morais. Em Março de 1993 ( quando do nosso

embarque ), a Petrobrás substituiu definitivamente esse navio, que por um

bom tempo atuou na Bacia, com uma planta de processo garantindo o

aumento de produção na área. Era o único e foi substituído no Campo de

Albacora pela Plataforma Petrobrás XXIV, SS-10. Essa plataforma foi

construída em 1975, já tendo atuado no início da produção da Bacia, no

Campo de Enchova. Ela recebeu uma nova planta de processo com

capacidade de tratar até 60 mil barris diários de petróleo e um milhão de

m³/dia de gás natural.

Na entrevista ( N° 14 ) com um Engenheiro que atua

praticamente desde o início das operações na Bacia, percebe-se, mais uma

vez, que no início das operações off shore existia muito improviso e também

uma diretriz para a implantação do sistema muito diferente da situação atual.

O Engenheiro dizia: "pela minha experiência na Bacia de Campos, eu

embarcava no início em 80 para fazer serviços esporádicos, mas levava bastante tempo,

uma semana, dez dias e nós tínhamos um efetivo no início na Bacia de Campos, eu me

lembro bem... o que é a plataforma? Não se sabia nem o que era uma plataforma.

Nunca ninguém tinha operado, então a gente botou o modelo lá do Mar do Norte, ou

até do Golfo do México, então a gente desconhecia tanto que considerou que uma

plataforma era uma refinaria e deu poderes para uma plataforma como se fosse uma

71

refinaria e nestes poderes do chefe da plataforma, eles fizeram com que... como

filosofia a maioria deles, que todos os serviços fossem feitos lá em cima, lá no mar, é

como se desconsiderasse a terra e fizesse no mar, isto resultou em 200 pessoas de

efetivos. A gente ia para uma plataforma destas, o desconforto, porque você estar

confinado com conforto é uma coisa, agora você estar confinado, quase batendo cabeça

um com outro, quase com cama quente e com muitas pessoas em lugar fechado é

horrível, você tinha que dizer às 11 horas é a primeira turma de almoço, outra às onze

e meia, porque senão não dava. Era horrível. Então hoje, quando eu vou numa

plataforma, posso falar em qualquer plataforma é um conforto imenso em relação a

situação que eu vivi anteriormente. Isto é uma análise... se chega se sente bem... então

eu não vejo por aí, o confinamento existe, mas você tem que dar um conforto máximo

para que aquelas pessoas durante o período que elas estão ali. Você dá comida da

melhor qualidade, você tem tudo do melhor, mas o cara com 10 ou 12 dias, o cara já

está ... essa comida aqui ...eu estou de saco cheio com isso aqui ... isso aqui não

presta... ele não come nem da qualidade do que ele come em casa, mas é só da situação,

do momento em que ele está ali em cima. ( Ent. 14 )

Uma plataforma de petróleo, instalada em alto mar, é como se

fosse uma fábrica e uma pequena vila ao mesmo tempo, com a peculiaridade

de não se poder sair de lá por um período de 14 dias. O trabalho invade e

toma conta da vida dos seres que lá são obrigados a conviver num misto de

relação de trabalho e relações interpessoais. As relações de trabalho impõem

a hierarquia e a organização deste trabalho estabelece os limites da relação.

As relações interpessoais, também chamadas de humanas, se confundem com

as relações de trabalho no meio de uma complexa convivência de pessoas

com diferentes culturas, ideologias, religiões, sentimentos, etc..

72

3.3.1 Características de uma Planta de Processo de

Plataforma:

As plantas de processo diferem de uma para outra plataforma

em função das características dos poços, onde as mesmas estão instaladas,

mas via de regra as mesmas possuem as etapas que serão descritas a seguir.

Nesta descrição das instalações de uma planta de processo será

usada, como referencial, a Plataforma de Namorado-1- PNA-1, uma

Plataforma Fixa e Central, responsável pela exportação da produção de óleo

e gás das plataformas de PCH-1, PCH-2, PNA-2, Poços Satélites e a sua

própria, para Garoupa, que através de oleoduto e gasoduto remete ao

Continente. PNA - 1 também fornece energia elétrica e gás para "gás lift" (

para fazer a surgência de poços, que não o tem, naturalmente ) para PNA-2. (

Vide Anexo - 4 - Planta da Bacia de Campos ).

PNA-1 está localizada a uma distância de 85 Km do litoral. Sua

superfície total é de aproximadamente 12.000 m², distribuídos entre os

seguintes pisos: níveis superiores, "upper deck mezanine", "upper deck",

"main deck mezanine", "main deck" e "cellar deck". A altura entre os pisos é

de 6 m. O "cellar deck" está a uma altura de 15 metros da lâmina d‘agua.

O Sistema de Produção da plataforma é dividido nas seguintes

áreas de operação:

73

ÁREAS DE OPERAÇÃO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO DE UMA

PLATAFORMA

PRODUÇÃO DE

ÓLEO

PRODUÇÃO DE

GÁS

UTILIDADES

ELÉTRICAS

UTILIDADES DE

SISTEMAS

Sala de Controle Sala de Controle Sala de Controle

dos Turbo

Geradores

Sala de Controle

Cabeça dos Poços Sala de Controle

dos Turbo

Geradores

Área Externa dos

Turbo Geradores

Sistema de

Combate a

Incêndio

Separadores A,B e

Teste

Turbo

Compressores

Subestações

AT/BT

Bombas de

Incêndio

Bombas de

Transferência

Sistema

Alternativo

Motogerador Sistema de Ar

Comprimido

Sistema Água

Oleosa

Unidade de

Desisdratação e

Regeneração de

Glicol

Sistema de

Captação de Água

do Mar

Caisson EPs Sistema de Diesel

Slop Flare Água Potável

Poços Submarinos Ar Condicionado

e Frigorífico

74

PRODUÇÃO DE

ÓLEO

PRODUÇÃO DE

GÁS

UTILIDADES

ELEÉTRICAS

UTILIDADES DE

SISTEMAS

Manifold

Submarino de

Produção

Geração de

Hipoclorito

Sistema de Injeção

de Gás Lift

Abastecimento de

Produtos

Químicos

Sistema de Água

de Injeção

Sistema de Água

de Refrigeração

75

3.4 - O PROCESSO DE PRODUÇÃO DE PETRÓLEO NAS

PLATAFORMAS:

A produção de petróleo no mar, sob o ponto de vista técnico,

guarda muita semelhança com a produção em terra, com uma diferença

básica. No mar, a cabeça de produção está localizada ou na Plataforma (

Árvore de Natal Seca ), ou submersa ( Árvore de Natal Molhada ). Árvore de

Natal é um conjunto de válvulas de segurança que controla a vazão do poço (

Vide foto no Anexo 6 ). Essas árvores, secas ou molhadas são controladas

por painéis que, através de instrumentos, permitem a leitura de níveis de

pressão, temperatura, vazão, etc..

Existem dois tipos de poços: o surgente ( ou insurgente ) que

produz naturalmente a partir da perfuração do poço e o poço de injeção que

necessita de fluidos para pressionar a saída do óleo. Um poço, em final de

produção, pode passar de poço insurgente a poço de injeção, até deixar de

ser economicamente viável.

O Petróleo, em seu estado natural, passa por linhas de produção

chamadas de "header". Destas vai aos separadores, onde é feita a separação

óleo, gás e água. Ou seja, o separador irá fazer a separação das fases líquida

e gasosa do petróleo produzido. Aqui, nesse ponto, é onde se deixa a fase de

exploração do poço para se entrar na fase de processamento do Petróleo

extraído.

Existem dois tipos de separadores, os separadores de produção e

o separador de teste, sendo que este último flui apenas em um poço, a fim de

testá-lo, enquanto os separadores de produção são vasos de produção

76

coletiva, isto é flui mais de um poço por vaso ( separador ). O gás, que é

separado, vai para os "scrubbers" ( depurador de gás ) onde são retiradas as

gotículas de óleo que foram arrastadas por ele na saída dos separadores. É

então dirigido para a sucção do compressor, sendo logo após refrigerado e

purificado para ser exportado para a terra, podendo também, parte desse gás

ser utilizado para alimentação das turbinas a fim de gerar energia elétrica a

ser utilizada na plataforma.

O óleo que sai dos separadores é dirigido ao "surge-tank" (

tanque pulmão ), onde o restante do gás dissolvido é retirado a uma pressão

próxima da atmosfera, indo para um "scrubber" de baixa pressão. Dali é

enviado para a linha de gás de baixa do queimador ( flare ) existente em

todas as plataformas.

O óleo obtido é exportado pelas bombas de transferência para a

terra, através de oleodutos, diretamente, ou através de outra plataforma, que

centraliza a produção de um conjunto delas, como é o caso de Garoupa e

Enchova, por exemplo. Dependendo do tipo de poço existente na região da

plataforma, parte do óleo produzido poderá também ser utilizado para fazer a

injeção dos mesmos.

A água sofre vários processos. No primeiro estágio, vai para o

separador água/óleo ( "flash drum" ) . Feita a separação o óleo retorna ao

separador ( principal ) e a água vai para tratamento de água oleosa

( "skimmer" ). Nesse tratamento, o óleo volta ao separador principal e a

água vai para o Caisson, onde o óleo existente é bombeado para o "slop"

( tanque ) de reciclagem de óleo, sendo novamente bombeado para os

separadores.

77

Nesse processamento do petróleo, uma série de rotinas são

observadas pelos operadores no sentido de controlar o processo. Além das

atividades de leituras de temperatura, pressão e vazão em pontos diferentes

do processo, novas substâncias são injetadas em determinados pontos do

processo, como a "mistura anti espumante" ( silicone, querosene e diesel ).

Elas têm a função de evitar a formação de espuma que surgiria especialmente

no "surge-tank", e carrearia grande quantidade de óleo para o "scrubber" de

baixa. Outro produto químico injetado é o desemulsificante que tem o

objetivo de quebrar a emulsão óleo-água, permitindo maior eficiência na

separação óleo-água.

O processamento do petróleo sofre algumas diferenças de uma

para outra Plataforma, em função do tipo de poço, do tipo de petróleo e do

tipo de plataforma, que por sua vez obedece a um Planejamento Estratégico

em termos de definição do campo a ser explorado. Essas definições vão

estabelecer o tipo de Plataforma ( Fixa ou Semi-submersível - SS ) e o

estabelecimento de Plataformas centrais como as de Garoupa, Namorado,

Pargo e Enchova. Estas recebem o óleo e o gás exportado de outras

Plataformas satélites, exportando daí para o Continente através de Oleodutos

e Gasodutos. É comum a interligação entre as Plataformas, de forma que uma

complete o processo da outra, como por exemplo, a separação da água do

óleo, quase sempre feita pelas Plataformas Centrais. Outro exemplo, é a

geração de Energia Elétrica que é realizada em uma Plataforma e distribuída

com outras, por exemplo, a Plataforma de Pargo que distribui energia para

alimentar as 5 Plataformas Satélites do Polo Nordeste - Carapeba 1 e 2 e

Vermelho 1, 2 e 3.

78

3.5 - INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA BACIA DE

CAMPOS:

As Inovações Tecnológicas no Sistema Off Shore têm

basicamente 3 direções: a primeira visa a desenvolver tecnologias que

permitam a extração de petróleo em águas profundas. A segunda é sobre a

automação industrial, para supervisionar e controlar o processo de produção,

desde a exploração do óleo bruto até à remessa, já em separado, do óleo e do

gás para a terra. A automação já atinge também o setor de utilidades (

produção de água potável, geração de energia elétrica, refrigeração, etc. ) de

segurança, de lastro, etc., ou seja a produção e o apoio deste tipo de

Plataforma.

A terceira via das Inovações Tecnológicas se dá na difusão da

informática como ferramenta de integração das informações e de otimização

dos trabalhos de escritório como elemento de tomada de decisão.

Antes de se entrar na explicação de cada uma delas, deve-se

fazer parênteses para dizer que existem estudos, de longo prazo, que de certa

forma vislumbram a possibilidade de tornar desnecessária a instalação de

Plataformas em alto mar, ou, pelo menos, reduzi-la a um pequeno número,

para viabilizar a exploração do petróleo aí existente.

Basicamente esses estudos caminham no sentido de transferir o

petróleo diretamente para a terra através do que se chama "bombeamento

multifásico" e/ ou da "separação submarina". O primeiro visa à instalação de

bombas multifásicas no fundo do mar, junto com a ANM ( Árvore de Natal

Molhada ). Isso permitiria a remessa para a terra do petróleo bruto extraído,

79

sem a necessidade da separação do óleo, do gás, da água e de outros resíduos

que hoje é feita na plataforma, demandando a montagem de toda uma planta

de processos com grande quantidade de equipamentos ( bombas, válvulas,

vasos, tanques, compressores, etc.), que, desta maneira, poderiam ser

transferidos para a terra, logicamente reduzindo violentamente os custos de

produção.

A outra opção, a "Separação Submarina", é pesquisada como

uma alternativa à primeira. Ou seja, se não se consegue fazer essa remessa

direta até à terra, pode-se pensar em fazer um processamento primário de

separação no fundo do mar, eliminando também a necessidade de se possuir

uma plataforma para instalar essa planta de processo, tendo-se a mesma

instalada no fundo do mar.

Numa entrevista com um Engenheiro da empresa que

acompanha o desenvolvimento dessas novas tecnologias ( Entr. N° 14 ),

indagou-se ao mesmo a opinião sobre estas novas perspectivas:

( P ) Naquele outro caso da pesquisa das bombas multifásicas, que você

não teria as plataformas, neste caso aí, você teria a possibilidade de mandar a

produção, óleo, gás e água tudo misturado para ter o processo em terra. ( E ) Em

terra. ( P ) Esta seria a pesquisa que poderia redundar na desabitação? ( E ) Aí sim.

Aí já é uma outra coisa. ( P ) Parece que... existe alguma coisa a nível de RPSE? ( E

) De que? De bombeio multifásico? ( P ) É. ( E ) Existe. ( P ) O pessoal da DIVAP é

que pensa isto? ( E ) É DIVAP. Isso é um projeto no mundo todo, todo mundo está

pensando nisto. ( P ) Parece que tem um consórcio... ( E ) Aí não seria nem

desabitação, seria desplataformização... aí é o seguinte, é viabilizar a retirada de

óleo, porque você tem muito lugar que você não consegue... mas não é por causa do

número de pessoas é porque você não consegue fazer nem que o óleo saia de lá. Mas

80

aí não tem nada a ver com automação, aí você já está falando de processos, aí já são

problemas operacionais. Por exemplo você tem um reservatório que não tem uma

vazão suficiente para jogar o óleo cá em cima, tá botando... existe um outro projeto

que é a separação no fundo do mar, em vez de pegar aqueles vasos todos, botar o vaso

no fundo do mar, simplesmente para poder viabilizar, então aí não entra nada de

automação.

3.5.1 - Águas Profundas:

Sobre as pesquisas da Tecnologia da produção em águas

profundas, pode-se dizer que a empresa ocupa a liderança mundial neste

tipo de produção. A Petrobrás, inclusive, recebeu, em 1992, o Prêmio

DISTINGUISHED ACHIEVEMENT AWARD' 92 oferecido pela Offshore

Technology Conference, que é patrocinada por 13 associações americanas

ligadas à indústria do petróleo e realizada anualmente em Houston, no

Texas, sendo considerado o maior evento nesse tipo de segmento. Esse

prêmio foi considerado um reconhecimento internacional às importantes

conquistas obtidas no desenvolvimento da tecnologia de produção em águas

profundas. Muitos o consideram equivalente ao "Nobel" da indústria do

petróleo.

Afirmou o Superintendente da RPSE, Paulo Roberto Costa, ao

Jornal "O Fluminense", de 20-05-92, ao ser questionado sobre as atividades

da estatal durante a abertura dos trabalhos no 1° Encontro Ambiental da

Bacia de Campos realizado na Plataforma de Cherne-1: "A Petrobrás não

tinha outra alternativa senão explorar óleo e gás natural em águas cada vez

mais profundas... somente outras duas áreas no mundo possuem pólos em

81

águas mais profundas: o Mar do Norte e o Golfo do México, sendo a

primeira em lâminas d'água nunca superiores a 300 metros e no Golfo do

México um projeto em profundidade de 625 metros que fracassou pelo fato

do reservatório ser antieconômico".

Não resta dúvida: a exploração em águas profundas exige

esforço próprio da empresa e de Centros de Pesquisas nacionais no

desenvolvimento da Tecnologia que vai permitir ao país poder se utilizar das

imensas reservas de petróleo situadas a grande profundidade. O complexo de

Marlim está localizado em lâmina d'água de 400 a 2.000 metros e cobre uma

área de aproximadamente 300 km², com um volume original de óleo

estimado em 13,5 bilhões de barris, que corresponde a 30 % do volume

original de óleo do país.

O sistema Pré-Piloto do Campo de Marlim entrou em produção

no dia 16 de Março de 1991, seis meses após a sua descoberta. Já o sistema

Piloto entrou em produção em Julho de 1992, através da Plataforma

Petrobrás XX, que era um Flotel e foi transformada em unidade estacionária

de produção. Esse sistema teve investimento total da ordem de US$ 260

milhões, sendo que 65% desse total foi utilizado somente na parte

submarina.

As pesquisas são sempre no sentido de se obter materiais e

equipamentos ( robôs ) que permitam o trabalho de instalação de

equipamentos na boca dos poços a estas profundidades. Para se ter uma idéia

do que se tem conseguido em termos de aperfeiçoamento tecnológico nessa

área, podem-se observar os registros de recordes da empresa obtidos nas

operações do Campo de Marlim:

82

" - Operação de uma SS ancorada a 625 metros de lâmina

d'água ( Plataforma Petrobrás XIII );

- Instalação da primeira Árvore de Natal Molhada, sewn

cabos guias ( GLL ) em Lâmina d'água de 721 metros, com navio sonda de

posicionamento dinâmico;

- Instalação e Operação de monobóia a 405 metros de lâmina

d'água;

- Lançamento de duto rígido de 8" em 620 metros de

profundidade;

- Instalação de Árvore de Natal Molhada sem cabos guias (

GLL ) e lançamento de linhas flexíveis a 781 metros de profundidade, no

poço 7 MRL- 9- RJS ". ( * FM 10 -01-93 )

Uma reportagem do Jornal do Brasil de 8-3-92, destacava:

"Petrobrás investe em pesquisas- Cenpes pode ganhar programa para aprimorar

a prospecção de petróleo. O Cenpes ( Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da

Petrobrás ) está propondo a criação de um Programa de Inovação Tecnológica,

com duração de cinco anos e investimentos estimados em US$ 60 milhões

destinados a viabilizar novos avanços na produção e industrialização de

petróleo. Estamos capacitados para atuar até 1.000 metros de lâmina d'água (

distância da superfície ao fundo ). Agora temos que dar um novo salto, da

invenção, explicou o superintendente do Cenpes, Guilherme Estrela".

(...) "Mas o estudo considerado de maior importância dentro do

Cenpes, hoje é a definição das especificações básicas para a produção do Campo

de Albacora, na Bacia de Campos, que deve gerar 200 mil barris/dia até 1995. O

83

departamento de Engenharia Básica responde pelas características técnicas das

duas plataformas semi-submersíveis que ficarão a 900 metros de lâmina d'água,

100 metros a mais do que o recorde atual. Albacora produz hoje cerca de 40 mil

barris/dia, mas nos próximos três anos deverá fornecer junto com o Campo de

Marlim 40 % da produção nacional, cuja meta é chegar a 1 milhão de

barris/dia. No esforço de reduzir custos e aumentar a eficiência nos processos

de exploração de petróleo, o Cenpes também quer mais produtividade no

aproveitamento do óleo. Do petróleo localizado nos poços e no interior das

formações rochosas, aproveita-se atualmente apenas de 30% a 40%, taxa

conhecida como fator de recuperação.

Um grande desafio tem sido ampliar em pelo menos 10 % este

padrão. A reserva do Campo de Marlim soma, por exemplo, dois bilhões de

barris. Com um aproveitamento 10% superior, o país agregaria às suas reservas

estratégicas 200 milhões de barris"15.

15 No dia 2 de Setembro de 1994, o Jornal Folha da Manhã, anunciou em manchete:

"Petrobrás lança a 1ª Bomba Centrífuga Submarina do Mundo". Segundo a mesma

reportagem, este equipamento desenvolvido com o apoio de sete empresas privadas tem

como finalidade ajudar a produção de poços de petróleo, onde o atual sistema de elevação

do óleo - ogás lift - não esteja mais dando os mesmos resultados. Esse equipamento ainda

está em fase de testes. Uma de suas maiores vantagens é que o petróleo vai poder ser

retirado mesmo longe da plataforma. A capacidade é de bombear o óleo a uma distância

de até 25 quilômetros. Isso poderá economizar uma plataforma inteira: o poço vai

produzir sozinho. O percentual de aproveitamento do potencial energético dos poços que

hoje é de 60%, poderá passar para 70% em função do bombeamento de parte do óleo que

ficava no poço, a partir do fim da reserva de gás que permitia a sua extração".

84

O diretor da área Exproper da Petrobrás, João Carlos França de

Lucas, ao comentar sobre o milésimo poço aberto na Bacia de Campos, falou

ao Jornal Folha da Manhã, de 05/ 10/ 93: " O país tem reservas comprovadas

para produzir 1 milhão de barris/ dia de óleo e projeções quase garantidas

para 1,5 milhão b/d, dependendo de novas descobertas que virão do

programa exploratório. Trata-se de uma meta viável e previsível de

investimentos e da vontade política que está relacionada ao avanço da

tecnologia em águas profundas. Nosso limite hoje vai até 1.000 metros, mas

temos certeza de que dentro de três a quatro anos estaremos com o nosso

Procap 2000 pronto e com resultados tão bons quanto o Procap 1000".

Existe na empresa uma divisão que participa do

desenvolvimento dessa tecnologia, assim como coordena as diversas

operações que é a DIVAP ( Divisão Técnica em I nstalação em Águas

Profundas ) ligada ao Departamento de Produção ( DEPRO ). A execução das

atividades em alto mar fica a cargo da Divisão de Engenharia ( DIREN ) no

órgão operacional, neste caso, a Região de Produção Sudeste ( RPSE ).

Os trabalhos em Águas Profundas dependem sempre dos robôs

submarinos como ferramenta indispensável à instalação e manutenção de

equipamentos, já que o trabalho dos mergulhadores fica limitado a uma

profundidade próxima de 300 metros e, mesmo assim, a um alto custo, e

pode-se dizer também, a um alto risco. O CENPES e a COPPE / UFRJ,

através do Programa de Engenharia Oceânica e Engenharia Elétrica há

tempo, vêm pesquisando e desenvolvendo tecnologias que permitam a

utilização cada vez mais precisa dos robôs. Recentemente foi desenvolvido

um sistema que torna viável o posicionamento dinâmico dos ROVs ou VORs

( Veículo submarino de Operação Remota ). Um dos objetivos desse sistema

85

é o de manter o robô submerso praticamente parado diante de um alvo

determinado, minimizando os efeitos das correntes marinhas, através do

acionamento automático de seus propulsores ( posicionamento dinâmico )16.

As Inovações Tecnológicas nessa área são as que possibilitam

ampliar as reservas e a produção de petróleo no país. O desenvolvimento

tecnológico nessa área não traz questionamentos sobre os impactos sociais e

nem de segurança, pois a prospecção de poços em tais profundidades só se

viabilizam através do desenvolvimeto das pesquisas que garantam a

instalação, operação e manutenção de equipamentos em águas profundas.

3.5.2 - O Caminho da Automação nas Plataformas:

A segunda direção das Inovações Tecnológicas, a Automação

Industrial se verifica através da instalação de sistemas de Supervisão e

Controle nas plataformas e tem obedecido a um plano estratégico da

empresa. A decisão de incentivar cada vez mais sua instalação consta do

Plano Estratégico do Sistema Petrobrás, Plano Decenal 1992 - 2001, que

prevê como Objetivos Permanentes relativos ao desempenho do Sistema:

"- Desenvolver a capacitação tecnológica em articulação com a

comunidade científica e tecnológica;

16 Jornal Momento Coppe N° 12, Março de 1994 - pag. 2.

86

- Formar, desenvolver, valorizar seus empregados e integrá-los

ao Sistema Petrobrás;

- Assegurar padrões de saúde ocupacional e de segurança do

pessoal e do patrimônio do sistema".

Ainda no Plano, os chamados Projetos Estratégicos - "que visam

a transformação das orientações estratégicas em ações e resultados"

definem 14 temas a serem implementados, dentre eles a Automação

Industrial. Nesse caso, estão incluídas não só as atividades off shore, mas

todos os tipos de atividades do Sistema Petrobrás.

O processo de Inovação Tecnológica na exploração de Petróleo

off shore na Bacia de Campos, de uma forma geral se inclui em semelhante

trajetória das demais atividades produtivas, principalmente no que diz

respeito à automação de processos, visando à supervisão e ao controle do

mesmo.

Segundo entrevista ao Jornal "Folha da Manhã" de Campos, RJ,

em 18 de Setembro de 1992, o Superintendente da Região de Produção

Sudeste da empresa, Paulo Roberto Costa declara que: "o constante avanço

tecnológico ocorrido nos últimos quinze anos resultou na instalação de

plataformas com diferentes níveis de automação.

Esta falta de padronização das instalações e a necessidade de

reduzir os custos operacionais, forçaram a RPSE a promover um reestudo

dos sistemas instalados, tentando adequá-los e otimizá-los para o atual

momento".

Esses diferentes níveis de automação são assim classificados:

87

1ª Família de Plataformas ( São 7 Plataformas Fixas: Garoupa,

Enchova, Pampo, Cherne 1 e 2, Namorado 1 e 2 ):

As plataformas classificadas nessa primeira família constituem-

se de sistemas baseados em painéis de lógica fixa ou relés, controle

pneumático das malhas de entrada e supervisão através de painéis

semigráficos.

Segundo a empresa, esses sistemas apresentam pouca

flexibilidade e nenhuma possibilidade de integração dentro de um ambiente

de produção de grandes transformações, de acordo com a evolução do campo

petrolífero.

2ª Família de Plataformas ( Pargo e o Polo Nordeste:

Carapeba 1 e 2 e Vermelho 1, 2 e 3 ):

Essas Plataformas se caracterizam por possuírem sistemas que

contemplam a lógica programável e controladores eletrônicos que deram

início à utilização de microcomputadores para supervisão de toda a

plataforma. Nelas o controle continua sendo feito, ou diretamente no

processo ou nos painéis de CLP's. O Computador serve apenas para

supervisão da produção.

3ª Família de Plataformas ( Plataformas Semi-submersíveis

Marlim, Marimbá e Albacora ):

Essa é composta pelos sistemas mais novos, onde se utiliza a

tecnologia dos Controladores Lógicos Programáveis em conjunto com

estações gráficas para supervisão, integrando todas as informações referentes

88

à produção em bancos de dados que permitem confeccionar relatórios e

alimentar os "computadores corporativos" da base terrestre, cujos principais

aplicativos usados são Bancos de Dados de Material, Transporte,

Equipamentos e Informações à Produção.

Há um sistema que faz a integração de Software e Hardware

com a finalidade de ser interface entre o operador e os sistemas de operação,

monitorização e segurança da Plataforma que opera o Projeto Piloto do

Campo de Marlim ( SS-33 ). Esse sistema é chamado de ECOS ( Estação

Central de Operação e Supervisão ).

Segundo a empresa, a implantação desse Sistema vem substituir

o que antes era feito por grandes painéis sinóticos de processo e de

utilidades, constituído por relés e controladores analógicos existentes ainda

nas Plataformas da 1ª Família e também na Plataforma de Pargo da 2ª

Família. Esta possui também um Painel com os CLPs e ainda um

microcomputador que tem a função apenas de Supervisão. Embora já se

conte com esses novos recursos, ainda existe instalado, nesta plataforma, um

grande painel sinótico.

No sistema ECOS, através dos terminais, ligam-se e desligam-

se motores, abrem-se e fecham-se válvulas e também atua-se nas variáveis de

processo ( pressão, nível, temperatura ), alterando-se "set-points" ou

característica de controle ( ganho ou resposta ), fazendo-se intertravamento

de segurança, anunciação de alarmes, detecção de fogo e gás, operação e

controle de turbomáquinas, controle de lastro e amarração da plataforma (

nas SSs ). As telas são divididas entre os diversos sistemas ( processo,

utilidades, segurança, ventilação, lastro, etc. ). Os símbolos dos

equipamentos ( bombas, válvulas, vasos, tanques, etc. ) estão dispostos na

89

forma de fluxogramas e possuem dinâmicas que alertam o operador, através

de mudança de cor e de alarmes, sobre a necessidade de intervenção, para

correção de anormalidades.

São consideradas como vantagens a economia de espaço, peso,

fiação e a facilidade sobretudo da instalação, manutenção, bem como das

expansões e alterações no sistema, pois as telas de computador podem ser

feitas em terra e levadas prontas para atualização imediata na Plataforma.

A Estação Central de Operação e Supervisão está hoje instalada

em Marlim ( SS-33 ), na SS-29 - Campo de Marimbá, na SS-10 Albacora, na

Plataforma de Enchova e na Plataforma que foi ancorada em Abril de 1994,

na Bacia, a SS-44 ( PXVIII ). Praticamente são cinco operando na Bacia de

Campos. Esse sistema é considerado "um estado da arte em automação de

plataformas no Brasil " 17. A ECOS é constituída por um minicomputador

VAX e quatro estações de trabalho ( com quatro terminais coloridos com

dupla CPU - uma operadora e outra em "stand by" - quatro estações gráficas

que permitem a interface entre o operador e a máquina, três estações de

impressão ) instaladas por plataforma e interligados entre si e à RPSE

através de rede.

A filosofia do Sistema ECOS é a de que o operador, a partir do

mesmo ponto ( Sala de Controle ), " tenha acesso, de forma centralizada, às

informações vitais da plataforma de maneira clara e rápida que permita

17 Jornal da Bacia de Campos - Janeiro/ Fevereiro 1993, pag. 7.

90

uma intervenção rápida e correta"18. Também permite a emissão de uma

série de relatórios, que propiciam ao operador observar o comportamento das

variáveis. A partir desses dados é que são emitidos os relatórios gerenciais

da plataforma.19

No Capítulo 5 serão descritos e analisados os Impactos das

Inovações Tecnológicas sobre o trabalho de operação das plataformas.

18 Jornal da Bacia de Campos - Petrobrás, Julho de 1993, pág. 6.

19 BDP- Boletim Diário de Produção (Óleo) e BDG - Boletim Diário de Gás.

91

Capítulo 4

COMO SE VIVE E TRABALHA NA PLATAFORMA ?

As plataformas se dividem quanto ao aspecto da

funcionalidade, ou melhor, dos seus objetivos em 3 tipos:

As Plataformas de Perfuração, de Produção e as Plataformas

que são tanto de Perfuração quanto de Produção.

É importante registrar esta explicação técnica, pois ela irá

determinar o funcionamento da plataforma, ou melhor, o seu dia a dia. As

plataformas que são de perfuração e de produção, são maiores em termos de

espaço físico, porque possuem, além da planta de processo da área de

produção, a sonda de perfuração. As acomodações também deverão ser

maiores para poder alojar todo esse pessoal, da Produção, da Perfuração e da

Manutenção de ambos os setores. Existe ainda o pessoal de apoio

operacional. É o chamado pessoal da hotelaria, responsável tanto pela

preparação dos alimentos, quanto pela limpeza e arrumação dos camarotes,

da área administrativa, do setor de recreação e o de repouso. Esse setor é

todo terceirizado.

O trabalho na plataforma ocorre em 3 tipos diferentes de regime

de trabalho:

Administrativo ( 7h às 11h30min e 13h às 17h 30min ) - para o

pessoal de escritório ou de serviço burocrático;

92

Sobreaviso - para o pessoal de manutenção e para as chefias;

Turno ( normalmente de 12 horas em revezamento ) - pessoal

de produção e perfuração.

Pode-se chegar à plataforma somente de duas formas: pelo ar,

de helicóptero, e pelo mar, normalmente de lanchas. O pessoal da empresa

normalmente viaja de helicóptero. Essa rotina só é alterada em caso de

impossibilidade absoluta de vôo ou quando o petroleiro prefere o embarque

marítimo, por detestar viajar de helicóptero.

Durante a pesquisa feita nas plataformas, alguns depoimentos

colocaram esta questão, inclusive um operador de rádio. Ele voltava a

trabalhar embarcado depois de 5 anos e havia sido transportado para a

plataforma de helicóptero e agora rejeitava a hipótese de voltar neste mesmo

meio de transporte. Ele estava programando seu desembarque.

Alguns têm resistido à troca de plataformas, por não quererem

viajar mais tempo de helicóptero. As viagens de helicóptero têm como base

em terra, o Aeroporto da cidade de Macaé. As plataformas mais próximas do

continente se situam a um tempo de vôo até o continente, em torno de trinta

minutos. As plataformas instaladas em campos mais distante da base do

continente, que são as plataformas dos campos explorados mais

recentemente ( Marlim e Albacora ), se situam em torno de cinqüenta

minutos de vôo.

O pessoal de empreiteira normalmente viaja de lancha. Um

técnico em equipamentos de empreiteira, em uma das plataformas, que

ganhava em torno de 2 Salários Mínimos para trabalhar embarcado, disse que

a viagem de catamarã dura em média 5 horas. Dependendo da distância das

93

plataformas e das condições do mar, a viagem leva de 4 a 6 horas. Ele dizia

ainda: "esta viagem é horrível, muitos passam mal, vomitam, caem ... é o

pessoal todo jogado no chão, sentam nas pernas do sujeito, vem cheirando

limão, molhado do lado de fora, não dorme, treme de frio, parece um bando

de amotinados". Esse técnico disse, ainda, que as pessoas que se sentem

muito mal usam remédios contra enjôo e preferem viajar do lado de fora,

respirando o vento direto. Só que do lado de fora faz muito frio e eles ficam

molhados, porque quando o mar está muito forte respinga água nas pessoas.

Outra reclamação dos trabalhadores de empreiteira é com relação à revista a

que são submetidos no Porto da Petrobrás. Eles têm que chegar entre 22:30 e

23:00 horas para serem revistados e devem sair de lá por volta de uma ou

duas horas da manhã. Segundo ele, ainda, muitos torcem para que o mar

esteja muito ruim; assim a embarcação pode não sair e a viagem ficar para o

dia seguinte, de helicóptero. Acaba sendo uma contradição: se o mar estiver

bravo, mas não tanto a ponto de impedir a saída, a viagem será das piores.

Certamente tem-se aí um outro estudo a fazer: o trabalho das empreiteiras

nas plataformas.

Seja de helicóptero ou de lancha, é impressionante a sensação

que se tem quando se desce na plataforma. Após descer no heliporto,

continua-se a descer as escadas em direção à recepção. Nesta é feita a

identificação e logo após é realizado o "breafing" pelo Técnico de Segurança

do Trabalho. Após o "breafing" e a colocação do cartão no ponto de reunião

determinado para evacuação da plataforma em situação de emergência,

depois de soar o alarme, o petroleiro ou o visitante, no caso de pernoitar na

plataforma, é encaminhado ao camarote.

94

O "breafing"20, as exigências de segurança para abandono da

plataforma, em caso de necessidade e o local de descanso, praticamente no

mesmo local do trabalho, caracterizam a especificidade do confinamento em

alto mar. A divisão da parte administrativa da parte de produção da

plataforma é exatamente a mesma de qualquer empresa instalada no

continente. Aliás, é esta a sensação que se tem quando se percorre a planta

de processo. O barulho dos equipamentos, as tubulações cortando todos os

espaços como em qualquer indústria de processo, poucas pessoas circulando,

a não ser algumas da manutenção executando pequenos reparos durante o

dia... é tudo muito parecido. Mas, na realidade é como se fosse uma fábrica

instalada numa ilha. Sem comunidade ao redor. Uma ilha

antropotecnológica? Nas grandes plataformas fixas, até as colunas que

sustentam a estrutura passam a idéia de um grande galpão comum nas

fábricas do continente. Ninguém olha o mar. É um outro mundo. O tempo

passado neste mundo não parece ser o mesmo do mundo "real", do

continente, onde todas as coisas estão acontecendo simultaneamente. As

notícias deste mundo só chegam lá através da imprensa, TV, jornais, ou

através dos contatos telefônicos.

A adaptação é algo extremamente subjetivo. Identifica-se, nas

entrevistas, os problemas gerados por esse tipo de trabalho. Além da

pesquisa qualitativa realizada a partir de entrevistas, uma pesquisa

quantitativa, cujo resultado completo consta dos anexos, foi realizada entre

20 Breafing são as orientações gerais passadas sobre o comportamento necessário,

principalmente em situações de emergência, quando se está a bordo de uma plataforma.

95

os meses de Dezembro de 1992 e Março de 1993, entre os Operadores de

Produção que, naquele momento, trabalhavam embarcados.

Essa pesquisa do Perfil do Operador de Produção Off Shore,

com relação à adaptação ao trabalho embarcado, aponta que: apenas 19 % se

sente bem adaptado; 65% se considera regularmente adaptado e, 16 % afirma

não conseguir se adaptar. Entre os que não conseguem se adaptar e os que se

consideram regularmente adaptados, 94% atribuíram este fato ao afastamento

do convívio social e familiar, 80% ao confinamento, 45% ao trabalho em

turnos e 38% ao medo e à insegurança devido ao risco da atividade. Com

relação ao trabalho em regime de turnos, 63% diz que se adapta

regularmente, 23% se adapta bem e 14% não consegue se adaptar.

Um operador, numa longa entrevista com este pesquisador,

resumiu essa sensação falando de forma angustiada e impotente, porque ele

não via como resolver a questão. Ele dizia: "O problema aqui é que a gente

não volta para casa, se tivesse uma rua aqui que levasse para casa... o

pessoal de Cabiúnas do turno ganha igual a gente e está todo dia em casa.

O pessoal que trabalha em terra vai resolvendo seus problemas aos poucos,

nós não, interrompemos com 20 dias, largamos tudo e vamos embora". (

Ent. 9 )

Outro operador, ao fazer uma análise do seu trabalho, também

angustiado, falava das privações que o trabalho lhe provocava: "O vizinho

toma a mesma cerveja sua, faz as mesmas coisas e não precisa vir para cá.

Tá saindo muita gente, eles sabem..." ( Ent. 6 )

Certamente esse problema serve como tema para um sério

estudo que poderá ser de grande valia para o mundo da pesquisa e,

96

principalmente, para os trabalhadores. Através dele, poderão ter uma posição

com relação a algo que influencia tanto a sua vida. Essas pessoas devem

desenvolver maneiras diferentes de ver o mundo provocadas pelos longos

períodos de suas vidas, vividos longe da sociedade21.

Para reforçar o que foi dito acima, existe um outro exemplo:

quando acontecem eleições, durante o período de embarque dos petroleiros,

eles ficam sem votar. O trabalho retira deles o direito à cidadania plena, que

certamente passa pelo direito de eleger seus governantes. Na eleição de

1989, de Presidente da República, em diversos países do mundo, os

brasileiros lá residentes puderam manifestar sua opção eleitoral. Já os

petroleiros da Bacia de Campos que estavam no período de trabalho a 100

Km do continente, a aproximadamente 300 Km da famosa cidade do Rio de

Janeiro, não puderam depois de quase 30 anos, votar no Presidente da

República do seu país. Agora, em 1994, com as eleições gerais que o país

viveu, esse fato se repete, gerando novas frustrações e questionamentos

sobre a especificidade de um trabalho que impede o exercício de um dos

direitos sagrados do cidadão, que é o de escolher livremente, através do

voto, seus representantes nos poderes legislativo e executivo22.

21 Esse assunto merece um estudo antropológico. É possível que ele possa

identificar entre esse grupo de pessoas algumas características semelhantes ao dos povos

primitivos.

22 Reportagem do "Jornal do Brasil" de 4 de Outubro de 1994, diz: "Frustação em alto-

mar - Trabalhadores de plataformas não podem votar. Quase quatro mil eleitores

97

As vidas dessas pessoas, devem, de alguma forma, registrar as

marcas oriundas da especificidade desse trabalho. Isso certamente traz

conseqüências, mesmo para aqueles que, de uma forma global, vêem seu

trabalho com um sentimento de satisfação e de prazer, por verificar que, a

partir dele, conseguem o sustento e, ainda, como algo que permite a sua

realização profissional em função da importância estratégica desse tipo de

atividade, para o país.

Esta análise permite que se reafirme o trabalho como algo que

interfere diretamente sobre as vidas das pessoas. Interfere muito, para além

do aspecto físico, da carga de trabalho. Acarreta, principalmente, uma

sobrecarga mental, que deve, por outro lado, também influenciar a

comunidade onde vivem essas pessoas que exercem esse tipo de trabalho23.

brasileiros não votaram nesta eleição por estarem em plataformas em alto mar.

Funcionários da Petrobrás e de empreiteiras que prestam serviços à estatal vão receber

uma carta da empresa com chancela do TRE para, posteriormente, se justificar em sua

zona eleitoral... Eu gostaria de ir às urnas: exercer o voto é exercer a cidadania, ensina o

Engenheiro Paulo Lourenço, chefe da plataforma ( Cheplat ). ( ... ) Entre os quatro mil

homens que não irão votar, estão incluídos os prestadores de serviço do setor privado.

Para eles, situações como a falta de comparecimento às urnas são corriqueiras. Na final da

Copa, só os que estavam fora da escala assistiram à vitória nos pênaltis sobre a Itália".

23 Este é o tema principal da tese de mestrado, já citada no Capítulo 1, da Introdução, ora

em desenvolvimento, de autoria de PIMENTEL, Nelson C. P., também mestrando da

Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ.

98

4.1 - O descanso e o lazer nas Plataformas:

O trabalho na plataforma acaba por envolver o petroleiro além

das suas 12 horas da escala. As horas do "não trabalho", trazem à tona, nas

12 horas restantes, a realidade do confinamento. O confinamento na

plataforma, faz com que haja uma contaminação quase que total do trabalho

sobre o tempo livre ( 12 horas ).

As refeições e as atividades de lazer são realizadas em espaços

contíguos aos da produção. Durante esse período se descansa, se dorme e,

complementarmente, realiza-se alguma atividade física ou simplesmente de

lazer ( jogos, TV e vídeo, etc. ).

Na pesquisa do Perfil do Operador Off Shore, a pergunta 8.1

( Vide Anexo -3 ) procurou identificar o uso do tempo livre na plataforma e

o grau de importância que os operadores davam a cada uma deles. A

formulação da pergunta não ficou adequada o que acabou gerando dúvidas no

preenchimento das respostas, acabando por comprometer os resultados na

tabulação desse item.

Porém, eles se manifestaram sobre a qualidade das atividades

em tempo livre na plataforma: 58% consideram regular, 13% ruins, 1%

péssima, 27% boas e 1% ótima.

O lazer, nas Plataformas, fica limitado às condições oferecidas

por cada uma delas. Em todas existem as salas de TV; algumas possuem

ainda uma sala para vídeos, outras chegam a possuir cinema com

99

programação diária. As plataformas fixas maiores possuem quadras

esportivas no tamanho oficial. As menores e algumas Semi-submersíveis

possuem pequenas quadras. Algumas possuem salas de musculação e saunas

( Vide fotos no Anexo 6 ). Quase todas têm salão de jogos, com mesa para

jogo de cartas, ping-pong, sinuca e jogo de bonecos ( totó ). Em algumas

plataformas esse espaço é contíguo à sala de TV.

A quadra e/ou o heliporto são utilizados por muitos para as

caminhadas ou corridas, principalmente durante a noite, entre 19:00 horas e

19:45, antes dos telejornais na TV, principalmente o Jornal Nacional, da

Globo que, às 20:00 horas, é visto em praticamente toda a Bacia.

Os petroleiros se revezam nas diferentes atividades durante as

12 horas de não trabalho. Descansam entre 6 e 9 horas, dependendo da

pessoa e do turno de trabalho. Quando se trabalha no turno da noite, o tempo

gasto dormindo tende a ser maior do que no diurno. Quando se trabalha

durante o dia, o lazer tende a ser mais coletivo, porque une os trabalhadores

que trabalham nos diferentes regimes de trabalho (

administrativo, sobreaviso e turno ).

Os camarotes, dependendo da plataforma, possuem banheiros

próprios e acomodações para duas, quatro ou seis pessoas. O camarote

possui, quase sempre, som ambiente e armários próprios para cada pessoa.

Só os camarotes dos Chefes de Plataforma - Cheplat - e os Chefes de

Manutenção - Cheman ( algumas plataformas fixas de grande porte ) e os

Encarregados da Plataforma ( caso das SSs - espécie de gerente

administrativo da plataforma ) possuem TV.

100

Na pesquisa sobre o Perfil do Operador Off Shore os

Operadores se manifestam sobre as suas acomodações na Plataforma:

Quanto à Limpeza e Arrumação do Camarote: 44% consideram

boa e 39% regular. Em relação à troca e Lavagem de Roupas: 51% afirmam

ser regular e 36% boa. A maioria reclama da divisão do camarote com outros

petroleiros que têm horário de trabalho diferente: 37% reclamou da divisão

do camarote e ainda 24% disse que às vezes isso acontece; 39 % dizem que

isso não ocorre. Também a maioria, 54% considera seu camarote totalmente

inadequado para o descanso. Os operadores consideram a falta de

privacidade e hábitos diferentes entre os ocupantes do camarote como os

principais problemas enfrentados no camarote. 57% reclamam de mudanças

de camarotes entre um embarque e outro.

Sobre a alimentação nas plataformas, 48% consideram regular,

41% Boa e 10% Ruim.

4.2 - Síndrome de Off-shore

Um documento elaborado pelo Engenheiro da Petrobrás Leonel

França, na época Chefe do CORPREO, e entregue à Diretoria da Empresa em

1983, intitulado "SÍNDROME DE OFF-SHORE", já apontava questões

importantíssimas a respeito do que ele chama de ambientação do homem ao

trabalho offshore em regime contínuo.

101

Esse documento, portanto tem 11 anos. Seu autor fala, logo no

início, que no momento da sua elaboração não havia nenhuma previsão de

alteração de local e do regime de trabalho. Isso acabou ocorrendo em 1989,

após a promulgação da Constituição de 1988. Na época a relação entre o

regime de trabalho e de descanso passou de 14 x 14 para 14 x 21. ( Vide

item 4.2.1 ). Diz ainda que as referências relacionadas ao pessoal no

documento se prendia ao pessoal do DEPRO ( Departamento de Produção ).

Essa é exatamente a área - objeto desta pesquisa.

Esse documento, sem dúvida tem grande importância para esta

pesquisa e outras que poderão suceder a esta. Ele será comentado por partes,

procurando-se atualizá-lo com dados obtidos a partir da pesquisa de outros

documentos, do relatório do embarque e das diversas entrevistas com

petroleiros, especialmente os operadores de produção.

Logo no início, ele diz que: "atualmente toda a organização do

Departamento de Produção voltada para a atividade de pré-operação cuida com

satisfatória experiência da parte técnica e do treinamento técnico do pessoal. Porém, a

preparação do pessoal para o novo ambiente de trabalho nas plataformas ainda é

tremendamente falha, para não dizer inexistente" . Nesse aspecto o autor do

documento completa: "para não criar polêmica na área do Serviço de Pessoal da

Companhia, adiantamos que a preparação a que nos referimos envolve aspectos que a

"organização" da Petrobrás está longe ainda de poder realizar de imediato".

Esse comentário a respeito da "organização" da Petrobrás

parece traduzir o sentimento de que, a necessidade da produção de resultados

num curto prazo, impossibilitou um trabalho mais diferenciado para esta

mão de obra que atua num tipo de atividade totalmente diferente de tudo que

já existiu antes.

102

Neste ponto o Eng. Leonel afirma que: "considerar uma plataforma,

tecnicamente, como um misto de um navio ancorado em alto mar e uma refinaria é um

erro até aceitável, já que os enganos daí decorrentes não chegam a comprometer os

serviços".

Essa opinião, à época, do Eng. Leonel não é hoje compartilhada

pelo Engenheiro da Entrevista N° 14, que já foi citada anteriormente. O

mesmo havia afirmado que, no início, não se sabia exatamente o que era uma

plataforma e, desta forma, se considerou, na época, que fosse algo parecido

com uma refinaria, pelo fato de ser uma planta de processos e que seu

funcionamento pleno demandava grandes equipes de apoio e manutenção. A

compreensão que cada plataforma fosse uma refinaria dando pleno poderes

ao chefe da plataforma, para formação da sua equipe e de sua estrutura de

apoio, acarretou erros estratégicos importantes.

Ele diz: "eles fizeram com que... como filosofia a maioria deles, que

todos os serviços fossem feitos lá em cima, lá no mar, é como se desconsiderasse a terra

e fizesse no mar, isto resultou em 200 pessoas de efetivo. A gente ia para uma plataforma

destas, o desconforto, porque você estar confinado com conforto é uma coisa, agora você

estar confinado, quase batendo cabeça um com outro, quase com cama quente e com

muitas pessoas em lugar fechado é horrível, você tinha que dizer às 11 horas é a

primeira turma de almoço, outra às onze e meia, porque senão não dava. Era horrível".

Essa entrevista ( N° 12 ) recente, de Agosto de 1993, dez anos

depois do outro documento, mostra que, mesmo com relação aos serviços

técnicos, essa alternativa não era a melhor. Hoje, novas estratégias

caminham para resolver esse problema, através da mudança da organização

do trabalho na plataforma, com a redução, ao essencial, das atividades a

serem nela executadas. Essa é a forma de reduzir custos e melhor

103

operacionalizar o trabalho da produção off shore. ( Aqui não se faz

referência à redução do número de operadores na produção, assunto que será

tratada em capítulo posterior ).

Em 1983, apontava-se, com muita clareza, os problemas do

trabalho na plataforma: "... sob o ponto de vista de ambiente de trabalho e

esclarecemos que não se trata só de saúde ocupacional, os métodos aplicados pela

Empresa-Mãe têm de ser completamente revisados para os seus "filhotes" nas

plataformas".

Aqui cabem alguns comentários sobre essas palavras. Primeiro,

sobre o fato dos métodos da empresa não acarretarem apenas problemas de

saúde ocupacional. É preciso dizer que os problemas decorrentes da

organização, da jornada e do ritmo de trabalho dizem respeito sim, à saúde

ocupacional. Problemas de saúde ocupacional têm, quase sempre, origem em

equívocos relativos quanto ao método adotado para organizar o trabalho, em

todos os seus aspectos. A organização do trabalho vai influenciar,

principalmente, no aparecimento de problemas de ordem psicológica e

comportamental, que também são problemas de saúde ocupacional.

Segundo, na citação, as expressões "Empresa-Mãe e filhotes",

demonstram uma maneira patriarcal de se pensar a empresa. Esse

comportamento mereceria um estudo maior, inclusive aprofundando-se a

natureza dos problemas psicológicos gerados pelo trabalho off shore, dando

origem a outras teses. Seria da maior importância, não só para os

trabalhadores embora principalmente mas também para a empresa, sob o

ponto de vista estratégico, já que a Bacia de Campos tem uma perspectiva de

atuação de, pelo menos, mais 50 anos. Isso significa mais duas gerações de

trabalhadores. ( Pela legislação atual, o trabalho em ambientes periculosos,

104

tem um tempo mínimo para aposentadoria de 25 anos, seja em uma refinaria

em terra, seja no trabalho em alto mar, confinado. Esse assunto, talvez, já

seja também motivo para um outro estudo ).

A citação "filhotes" também induz a pensar nos cuidados da

mãe com o filho rico. Na época, 1983, a produção da Bacia de Campos - Off

shore tinha apenas 6 anos e representava em torno de 30% da produção de

óleo da Petrobrás. Hoje, esse filhote já produz mais de 66% da produção

nacional. Isso reforça a opinião do autor de que os cuidados dispensados aos

recursos humanos nessa área devem ser maiores.

Esses cuidados, defendidos pelo Eng. Leonel França, já estavam

colocados em seu documento que diz ainda: "não vamos ser ingênuos a ponto de

considerar uma atitude benéfica à companhia o fato de um empregado, trabalhando

insatisfeito na plataforma, pedir demissão. Isto poderia ser até certo ponto, se a

insatisfação fosse isolada, o que não é o caso".

Ele conta uma piada, a mesma que já contara a este pesquisador,

quando dos seus dez dias de embarque. Segundo ele, talvez traduza bem o

sentimento popular sobre o trabalho offshore e trabalho contínuo: "sem

conseguir resolver o problema de superlotação nas penitenciárias, decidiu-se comutar

pela metade todas as penas dos detentos. Perguntou-se, então, como seria feito com os

condenados à prisão perpétua. A resposta veio: isto é fácil, basta embarcá-los 15 por

15!".

Ao comentá-la, ele acrescenta: " Exagerando, este é o sentimento

latente na maioria dos que trabalham em regime que citamos. As perguntas que fazemos

são as seguintes: - está realmente ocorrendo este sentimento ? ; - Se está ocorrendo,

quais são as suas causas e efeitos ? ; - Como fazer para evitar esta síndrome offshore ?

105

Vamos tentar esclarecer o teor dessas indagações aos que aqui se encontram. Está

realmente ocorrendo este sentimento? É claro que sim. A experiência destes anos todos

que possuímos em pré-operação offshore nos permitem respondê-la sem hesitação".

Ao falar das causas, afirma que elas não estão na parte técnica:

"os grandes problemas das plataformas não são técnicos, pois estes são perfeitamente

identificados e delineados... os grandes problemas das plataformas convergem, portanto

para a área das ciências humanas, para o que a Organização da Companhia, de natureza

inteiramente técnica, não possui a devida intimidade, principalmente no que se refere às

atividades offshore.

Quando todos ou alguns daqueles equilíbrios de que falamos são

rompidos, somos desagradavelmente brindados com pessoas apresentando problemas

psíquicos e que via de regra, ficam totalmente inadequadas para o trabalho offshore,

ficando, em muitos casos, inadequadas para qualquer tipo de trabalho. Temos visto

colegas que mesmo após 1 a 2 anos do início da descompensação ( conforme vulgarmente

chamamos em Macaé, a perda de equilíbrio psíquico ) não conseguem recuperar o

equilíbrio original".

Essa insatisfação, presente também nos dias atuais, contribui

para a vontade de trocar de atividade, de largar o trabalho embarcado:

"Está saindo muita gente, não está aguentando...tá saindo muita gente,

eles sabem. Estão começando a se preocupar. Gente indo para as refinarias.... Só fico

aqui por causa de dinheiro. Sairia por menor salário se pudesse morar onde moro,

quero sair deste negócio de embarcado, todo mundo quer sair, ninguém gosta de

trabalhar embarcado, acabam ficando doidos. Conheço um que ficou maluco. Outro

que estava dando entrevista para vocês, eu já peguei dando cabeçada em válvula. Outro

perdeu 4 dedos do pé. Conheço um que abandonou no primeiro dia depois de um quase

106

acidente fatal... Quem quer ficar nestas condições? Você chega em casa até meio

estranho. Tenho um amigo que quando desembarca a filha chora com medo dele, tem

que chegar devagarinho.Ele cheio de saudade e a filha chorando...( Ent. 6 )

Voltando ao documento: " Paralelamente a todos os desequilíbrios, a

síndrome offshore apresenta o sintoma de angústia causada pela falta da perspectiva da

mudança de local e regime de trabalho".

A angústia citada no documento aliada à ansiedade pode ajudar

a compreender uma anotação deste pesquisador durante o embarque já

referido:

Neste momento, na sala dos operadores, no 4° dia de

embarque, uma quinta feira, por volta de 15:30, eu, Roberto, percebo em

mim, um sentimento já expressado pelos operadores, ou melhor pelo

pessoal embarcado e que se concretiza no seguinte comportamento: não

gosto de pensar em casa e no pessoal de casa. Na mesma hora,

automaticamente, faço força para esse pensamento fugir, senão dá

aquela vontade de ir embora e eu sei que não posso. Daí, começa uma

angústia e volto a fazer força para controlar o pensamento, para falar

qualquer coisa, até conseguir. Mas, aquele sentimento "down" fica

perpassando o psiquismo, parece que fica de "stand-by", esperando nova

recaída...

( A observação seguinte foi feita, quando se escreveu o relatório

do embarque: agora, desembarcado, escrevendo este relatório, relembro

perfeitamente aquele sentimento, aquelas sensações. Analisando mais

friamente, penso que o exercício de ter que esquecer as coisas e as pessoas

de casa, repetido muitas vezes no extenso período de 14 dias e por diversos

107

embarques seguidos, certamente vai trazer desdobramentos no

relacionamento familiar e social,de uma maneira geral para essas pessoas -

Conversar sobre isto com psicanalistas - essa será, certamente, outra tese e

acho que uma tremenda tese, principalmente, se junto forem avaliados os

problemas relatados por psicólogos, sobre os filhos dos petroleiros e sua

relação com o afastamento periódico do pai ).

Voltando ao Eng. Leonel França: "esta angústia causa uma queda de

rendimento impressionante em nossos Joões e Josés. A motivação para o trabalho cai a

níveis alarmantes. Para delinear as causas faremos um pequeno exercício para

reconstituir como seria a jornada de trabalho da média entre os milhares de empregados

que lá trabalham. Vamos hipoteticamente chamar de João o nosso trabalhador-padrão-

casado e José o nosso trabalhador-padrão-solteiro.

- João e José Têm que sacrificar o último dia das suas folgas para o

preparo para embarque, principalmente se optarem pelo embarque via marítima, uma

viagem que é um verdadeiro desafio ao estômago. João se despede da mulher e dos

filhos, que ele vê crescer por batelada. A família de João é compreensiva e não faz

drama como as famílias de alguns de seus colegas, quando se despedem.

José passou o último dia de suas folgas com a infalível noiva.

José se despede da noiva e dos pais, que não confiam muito nesse tal de

helicóptero!

Ao embarcar José e João são transportados do mundo exterior para o

mundo da plataforma. Os seus hábitos têm de ser rapidamente adaptados à vida da

plataforma sob pena deles se tornarem alienígenas entre seus pares.

108

A convivência forçada com colegas que possuem os mais variados hábitos

exige equilíbrio social razoável de José e João. Mas ainda, exige um equilíbrio

educacional que muitas vezes eles têm de se esforçar para tê-lo.

José e João passam a se alimentar em quantidade e qualidade no mínimo

2 a 3 vezes superior do que fazem normalmente nas folgas.

Os seus hábitos de lazer passam do sistema de livre escolha nas folgas,

para o sistema de quase escolha dirigida na plataforma.

Portanto, haja equilíbrio para os Joões e Josés: equilíbrio social,

educacional, emocional, alimentar, etc..

Esses novos hábitos e os novos costumes com que eles são

obrigados a conviver, parecem criar uma outra cultura. Alguns rejeitam,

também, a profunda disciplina em que são obrigados a conviver pelos 14

dias. Um petroleiro, que é funcionário da manutenção, disse, quando se

conversava sobre a rotina da plataforma: "quando a gente embarca, se programa

para as refeições, lanches, almoço, jantar, ceia, etc., quando desce toma 1/2 dúzia de

cerveja e 1 conhaque para se desprogramar". Esta nova cultura, fica evidenciada

em outra citação feita já no início desta tese, quando se falava do dentimento

de "falta": "nos tornamos um ser anti-social, quando desembarcamos, ficamos meio

perdidos, não somos chamados para casamentos, festas etc., porque não sabem se

estamos embarcados ou em terra. Comecei enfermagem e depois Educação Física, parei

no 4° período, ficou apertado, filho, família, mas não dá para ficar parado, já falei

para a mulher, vou morrer estudando, agora estou fazendo inglês". ( Entr. N°16 )

O documento continua:

109

"Queremos aqui deixar claro que a motivação do trabalhador offshore não

será reativada e/ou aumentada com iniciativas tipo CCQ, CPA, POUPE".

Existiram alguns comentários de operadores sobre tentativas de

estruturação de grupos de CCQs, que parecem não ter ido à frente. Hoje, ou

melhor, desde o final de 1992, intensificou na Bacia de Campos, na sede

principalmente, a discussão acerca do Controle Total de Qualidade. A

Superintendência da Região contratou a Fundação Cristiano Ottoni, ligada à

Faculdade de Engenharia da UFMG, como consultora desse processo de

implantação e treinamento no âmbito da Qualidade Total.

A síndrome offshore, tal como foi aqui descrita, é uma "doença" coletiva e

progressiva, cujo diagnóstico e terapia a medicina clássica desconhece.

Acreditamos que atualmente o maior remédio que vem mantendo esta

síndrome sob controle é a recessão ainda grande do mercado de trabalho no Brasil. A

necessidade do emprego ainda é o maior fator de pressão que mantém a síndrome no

controle que citamos.

Muitos falam em sair, mas temem a situação de desemprego no

mercado de trabalho. Alguns chegam a afirmar que a empresa tem explorado

esse fato: " ... A empresa precisa contratar gente de Campos, ela está preocupada

com a questão social. Se o cara de Campos não trabalhar aqui ele vai trabalhar aonde?

Para ser fichado agora e ser aprovado no concurso é melhor colocar que é de Campos,

pois lá não tem mercado, então o cara tem que trabalhar aqui mesmo". ( Ent. 6 )

Ou, outras afirmações divulgadas pela Revista de Domingo do

JB, de 17/11/91, do tipo: " Se fosse viver da minha profissão não estaria ganhando

nem Cr$ 300 mil ... aqui como um simples técnico, ganho quase o dobro" (

Arquiteto ); "Eu era professor de cursinho pré-vestibular, dava mais de 30 aulas por

110

semana, minha voz estava sumindo e o dinheiro sempre me faltava" (

Engenheiro Químico ). Nessa mesma revista, o salário parece já não atuar

como fonte de resistência: "Já se foi o tempo em que o salário compensava a

prisão, esse viver numa bomba-relógio que não escolhe a hora para estourar" (

Técnico ).

No entanto, não sejamos ingênuos novamente de pensar que isto é

suficiente. A longo prazo a Petrobrás tem muito a perder se permitir que o pessoal

trabalhe descriminada e ineficientemente com consequências imediatas, como perdas de

produção, avarias em equipamentos e queda dos níveis de segurança .

Paralelamente ao treinamento técnico defendemos a premente necessidade

de uma preparação dos homens que irão trabalhar no mar em regime permanente.

Até as próprias leis e regulamentações trabalhistas aplicadas ao trabalho

off shore apresentam-se com falhas de toda a sorte, o que obriga os gerentes e

advogados da PETROBRÁS a constantes debates para interpretação das mesmas.

Para respondermos a última pergunta é preciso que se faça um trabalho

no sentido de humanizar as plataformas. Não sejamos também descrentes, conforme

pensam alguns, de que humanizar significa contemporização ou concessão desmesurada.

Um dos pontos que precisa ser imediatamente revisto refere-se ao

aproveitamento de mulheres nos serviços offshore. As poucas iniciativas e experiências

conhecidas mostraram excelentes resultados; no entanto, na Petrobrás, continuamos

relutantes no aproveitamento de pessoas do sexo feminino nas plataformas".

Isso, atualmente, já é feito. No embarque, foram encontradas

diversas mulheres trabalhando, inclusive uma chefia de plataforma era

ocupada por uma mulher. Também curioso e interessante, é o caso de uma

111

operadora de produção, que trabalha junto ao marido, também operador, na

mesma plataforma. Sem dúvida, o que o Eng. Leonel apontava em 1983

parece estar correto. A presença da mulher, na plataforma, parece dar ao

ambiente um mínimo de normalidade.( Isso foi dito por algum petroleiro ). É

como se dissesse: isto aqui é um pouco da sociedade, não pode ser tão

diferente assim. A sensação foi de que essa medida ajuda. Num depoimento,

uma operadora embarcada afirmou que não achava o seu trabalho pesado

para mulher. Segundo sabe, há aproximadamente, 10 mulheres trabalhando

como operadoras na Bacia de Campos. Durante o embarque foram vistas

duas como operadoras e no total nas 5 plataformas, durante o embarque, um

total de 5 ou 6, sendo 3 da Petrobrás e as outras de empreiteira.

O documento continua, tratando de questões referentes aos

métodos: "A humanização das plataformas, conforme entendemos, compreende uma

completa reformulação de conceitos e métodos de treinamento e parcialmente de

instalações. Para esta reformulação devem participar psicólogos, médicos,

nutricionistas, sociólogos, etc. além dos técnicos que trabalham offshore. Supomos,

inclusive, que tal reformulação deve também abranger o DIGUAR e a RPNE que

certamente, possuem problemas semelhantes.

A RPSE vem fazendo malabarismos para resolver, com humanidade, os

problemas que vem ocorrendo com frequência preocupante. A posição compreensiva da

Superintendência da RPSE, diretamente envolvida na resolução dos problemas, nos tem

permitido sustentar a situação com palestras aqui e ali.

Aos que nos julgam alarmistas ou pessimistas esclarecemos que a

síndrome está apenas no seu início. Se ela ficar como está, tudo bem, porém, se evoluir,

as perdas de produção e os custos para reparos em equipamentos poderão ser

consideráveis.

112

A tecnologia offshore da PETROBRÁS, que já começa a ser exportada

baseia-se nos seus altos índices de produtividade, do contrário seria ridículo querer

exportá-la.

Não vamos, portanto, querer comprometer os nossos índices de

produtividade fechando os olhos da "organização" a este problema".

Este documento é muito forte e, de certa forma, mesmo depois

de 11 anos de sua apresentação, continua atual. Uma série de aspectos, nele

citados, são identificados no embarque de 10 dias a 5 diferentes plataformas.

Estão presentes, também nas diversas entrevistas realizadas em terra, quando

por exemplo, fala-se da recessão como fator que ainda prende as pessoas a

esse tipo de trabalho, certamente usando o que Dejours ( 1987 ) chama de

ideologia defensiva.

Aliás, parece ser esse o motivo que levou um Operador (Ent. 5)

e um Cheplat a dizer que é preciso ver o perfil das pessoas para saber se elas

têm condições de trabalhar off shore. Ou seja, é preciso sentir se esses

indivíduos têm condições psíquicas para construir uma ideologia defensiva

que lhes permita manter estável sua estrutura mental e psíquica, em troca do

seu trabalho. Para uns, o trabalho representa a sobrevivência, para outros a

satisfação profissional e para alguns outros um peso quase impossível de ser

carregado, mesmo tendo como referência a sobrevivência.

Nesse contexto, sem dúvida, a troca de 14 x 14 para 14 x 21 foi

fundamental para segurar, ou segundo o França, manter a síndrome sobre

113

controle. Essa questão do regime de 14 x 14 e 14 x 21 será tratada no item

4.2.1.

Este documento do Engenheiro Leonel França pode

perfeitamente se constituir, pelo que foi pesquisado, na primeira referência

sobre o trabalho off shore em exploração de petróleo no Brasil.

Volta-se a afirmar, é a primeira referência que levanta questões

sobre o trabalho off shore propriamente dito, porque diversas outras

referências técnicas, sobre as estruturas das plataformas, sobre o processo,

etc. já existiam. Este documento de circulação interna, levantou, há 11 anos,

questões concretas sobre o TRABALHO OFF SHORE.

4.2.1 ( ... ) Com 14 x 14 nem eu estava me

entendendo.

"O que segurou a barra do trabalho embarcado foi a

passagem de 14x14 para 14x21. Com 14x14 nem eu estava me entendendo.

Cheguei a ter dúvidas sobre a minha cabeça. Estou cansado do trabalho".

( Ent. 8 )

"O pessoal não está aguentando o trabalho embarcado. Muita

gente está descendo, os psicólogos vão logo perguntando, quanto tempo

tem de plataforma. Quando se responde 10 anos mais ou menos, eles dizem

é a fase crítica. O pessoal quer ir para terra. O pessoal de Campos

114

principalmente, pois agora depois do horário flexível, eles saem de Campos

às 06:30 retornam às 17:00 horas, chegando em Campos às 18:30 e sexta

feira sai mais cedo, porque todos os minutos que antecedem as 08:00 horas

da manhã é somado e permite sair mais cedo na sexta". ( Ent. 7 )

( P ) Você acha que a mudança de 14 para 21 dias de descanso

foi quase que uma válvula que conseguiu adiar a explosão ?

( E ) Conseguiu adiar, mas não adiou por tanto tempo assim

não, tanto é que você tá vendo o êxodo do pessoal do mar para terra e eu

sinto muito isso, depois do 10° dia como vai ficando difícil a relação da

gente lá, como qualquer discussão é levada para um nível de até quase

porrada do cara ficar... eu estou vendo que isso não vai continuar... eu

mesmo estou tendo um desgaste muito grande, eu tenho discutido demais

com o ATOP...dele não estar querendo ver uma série de problemas que

estão ocorrendo lá, quando vai chegando ao décimo dia, a gente tem

discutido demais e... eu fico chateado com isso, de ver que a gente tinha

uma boa relação de amizade e toda quinzena a gente pega e discute e são

duas, três discussões e aí tem que trabalhar com aquela cara que você

quebrou o pau e tudo mais... Teve uma quinzena até que eu não quis...ele

pegou e quis me punir, me deixar na sala de controle 12 horas, a gente

discutiu quebrou o pau lá, porque ... pela questão da planta que estava

parada e ele queria simplesmente que eu ficasse girando na área, eu disse

vou ficar parado, a planta está parada, não vou ficar ali ... porque tinha

um chefe de terra que estava embarcado, eu falei não tem nada para eu

supervisionar ali, além do mais que tem o sistema Ecos lá, tem a sala de

controle e eu não vou ficar aí rodando simplesmente ... não vou fazer e

115

falei prá ele mesmo, aí então você vai fazer o seguinte, você vai lá para

baixo e vai ficar na sala de controle, poderia ter armado o maior ... mas eu

fui lá para baixo e fiquei lá e a turma toda entrou na discussão, aí o

negócio começou... outro operador quis discutir com ele, aí eu disse espera

aí... foi onde eu falei deixa que eu vou, porque quando eu comecei a

resistir os operadores começaram, um operador particularmente começou

a tomar partido...

( P ) Estava no final do embarque isso?

( E ) Já no final do embarque. Depois do décimo dia fica

difícil. ( Entr. 15 )

Até 1989, um ano depois da Constituição de 1988, que

estabeleceu o tempo máximo de trabalho de 6 horas para turno de

revezamento ou de acordo com negociação ( ver texto da Constituição ), o

Sindipetro-RJ, conseguiu negociar um meio termo. A primeira pretensão era

um regime de 7 x 14 ( sete dias de trabalho para quatorze dias de descanso ),

a segunda pretensão de 10 x 20 dias, que também reduzia o tempo de

embarque, maior desejo dos petroleiros, e a terceira opção que era de 14 x 28

dias. A posição da empresa era a de manter os 14 x 14. Acabou prevalecendo

14 x 21 ( quatorze dias de trabalho para vinte e um dias de descanso).

A relação desejada entre o tempo de trabalho e o de descanso

era de 1 para 2. O que os petroleiros desejavam, em primeiro plano, era a

redução do período de embarque porque, segundo depoimentos quase

unânimes, a pior fase acontece depois do décimo dia. A empresa não aceitou,

argumentando que isso iria aumentar demasiadamente o fluxo de aeronaves,

116

já que o turno seria de apenas 7 dias. Alegou-se ainda, que a relação 7 x 14

implicaria numa implantação de mais 2 equipes por plataforma. Acabou

negociando-se os 14 x 21, ou seja, uma relação entre o tempo de trabalho e o

de descanso de 1 para 1,5. A nova relação manteve o número de embarques e

exigiu o aumento de uma equipe de trabalho, passando de 4 para 5 equipes,

por plataforma.

Essa mudança de 14x14 para 14x21, sem dúvida, aliviou muito

a carga de trabalho em cima dos petroleiros. Os trabalhadores porém,

reinvindicam um período de embarque ainda menor, mesmo que se continue

com a proporção de 1 dia de embarque para 1,5 de folga. É unânime a

reinvindicação do turno de 10 x 20.

A partir de uma pequena conta, pode-se verificar o tempo

vivido por estes trabalhadores nas plataformas. Por exemplo, quem está

trabalhando desde 1983, época da apresentação do documento do França,

"Síndrome Off-shore", há 11 anos, tem aproximadamente 5 anos de trabalho

embarcado. São 5 anos isolado da família, dos amigos, da comunidade e da

vida "normal" do continente. São 5 anos contribuindo para o

desenvolvimento do país, em busca da auto-suficiência em petróleo.

Outros trabalhadores sofrem esse desgaste, como os

marinheiros, os militares ou os profissionais do transporte marítimo. Diz-se

sempre: é preciso gostar muito desse trabalho. Mas pode-se falar que a falta

de opção de emprego para muitos jovens, torna absolutamente necessário

enfrentar condições adversas de trabalho e de vida para superar, enquanto

cidadãos, individualmente, as restrições impostas pela sociedade a alguns

tipos de trabalhadores. A redução do tempo de trabalho para aposentadoria,

25 anos, compensará as perdas para este grupo de trabalhadores ?

117

4.2.2 ( ... ) O problema é só um - o medo de ser

corno. O problema de trabalhar aqui é o chifre...

"O problema aqui é só um - o medo de ser corno. O problema

de trabalhar aqui é o chifre. O cara não agüenta pensar que a mulher dele

está saindo. Um cara pediu demissão pois disse que a filha dele só vivia

doente...pois a mulher dele só vivia na rua ... o principal problema é o

trabalho confinado, porque ele diminui a expectativa de vida. Tem um cara

que largou isto aqui para ser caminhoneiro, como pode? Levar a mesma

vida fora de casa". ( Ent. 5 )

"Está saindo muita gente, não está agüentando. O vizinho

toma a mesma cerveja sua, faz as mesmas coisas e não precisa vir para

cá". "tá saindo muita gente, eles sabem. Estão começando a se preocupar.

Gente indo para as refinarias... o que importa aqui é o dinheiro". (Ent. 6

)

"Eu sou mais casado com o "meu colega de trabalho" do que

com a minha mulher. Quando estou embarcado fico as 24 horas com ele,

as 12 horas do turno e ainda ficamos no mesmo camarote, fazemos quase

sempre as refeições juntos durante os quatorze dias e quando

desembarcamos costumamos nos encontrar. Já com as nossas mulheres

ficamos afastados direto por 14 dias e quando estamos desembarcados

118

temos que fazer uma série de coisas e não ficamos a maior parte do tempo

com elas. Só há uma diferença com a minha mulher eu escolhi para casar

e com o X não, foi uma obrigação imposta pelo trabalho". ( Ent. 12 )

"O problema aqui é que a gente não volta para casa, se

tivesse uma rua aqui que levasse para casa... o pessoal de Cabiúnas do

turno ganha igual a gente e está todo dia em casa. O pessoal que trabalha

em terra vai resolvendo seus problemas aos poucos, nós não,

interrompemos com 20 dias, largamos tudo e vamos embora". ( Ent. 9 )

"Tem que dar autonomia e responsabilidade para nossas

esposas resolverem os problemas. Todos deveriam fazer assim, eu deixei

meu carro para a mulher vender. Quero comprar uma casa em ...".( Ent. 3

)

Esses depoimentos de petroleiros refletem não só a angústia do

trabalho em ambiente confinado, como também as particularidades que ele

gera para além das relações de trabalho. Novos procedimentos acabam sendo

criados nas relações sociais e familiares. É o trabalho invadindo e inundando

a vida dos trabalhadores, mesmo quando está tão distante e parece algo

abstrato, não só aos familiares, mas para a sociedade como um todo.

119

4.2.3 - ( ... ) Eu odeio o amanhecer.

Esse tipo de vida vai criando procedimentos e manias, que

deveriam ser melhor estudadas. Esta entrevista N° 15 aponta algumas causas

e outras conseqüências que o trabalho off shore produz:

( P ) Com relação a questão do embarque mesmo, aquilo que se ouvia

que o cara na véspera de vir embora não dorme direito, acordava de madrugada e eu

tive vários desses sintomas, na véspera de vir embora e isso assusta um pouco... na sua

visão do trabalho embarcado, um negócio que nós conversamos muito lá, uma coisa que

nós achamos interessante é olhar o mar e nós nunca vimos ninguém olhar o mar hora

nenhuma...

( E ) Eu odeio o amanhecer. Eu estava falando isso com a YYY e ela

falou para eu não deixar acontecer com você... existem certas coisas que você se

espanta, porque você pensa que é neurose sua, mas eu estou odiando ver o dia

amanhecer aqui em terra inclusive, porque justamente no mar quando chega 5 horas da

manhã, no verão está amanhecendo, agora no inverno é 6 horas, você já está exausto e

o cara pede pelo radinho prá você descer para colher uma amostra e aí você faz um

serviço, faz outro e tá lá o sol bonito, amanhecendo só que o sol está no seu olho e aí

você tá puto da vida, o sol tá no seu olho tá clareando demais, não precisava ter aquele

sol todo em cima de você... e eu aqui em terra não quero nem mais ver o dia

amanhecer, porque prá mim o dia amanhecer já é sinônimo de eu estar estressado... até

na noite quando eu saio, antes de amanhecer o dia eu já estou indo embora prá casa,

não quero mais ver o dia amanhecer...

120

( P ) No verão é pior ?

( E ) Ah, não quero nem pensar... eu estava conversando isso com um

amigo e é a mesma coisa... eu falando isso com ele e ele também está sentindo a mesma

coisa, não está mais querendo ver ... já está sendo até traumatizante ver o dia

amanhecer, porque você já começa a lembrar um monte de coisa. Outra coisa que a

gente sente demais eu não sei se vocês sentiram é a questão do silêncio. Atualmente a

coisa que eu mais prezo em terra é o silêncio... quando eu entro no meu quarto e

consigo ouvir o silêncio...

( P ) Lá é impossível ?

( E ) É impossível, porque o nível de ruído da SS-10 está ...catastrófico.

A SS-33 tem um isolamento melhor porque era um flotel, era uma outra estrutura, já

preparada para você ter um máximo de conforto e... agora a SS-10 a gente vê... acho

que a última coisa que se levou em conta foi a questão do conforto do pessoal.

...

( P ) E a teoria da chavinha ? Muitos dizem que a solução você tem que

cobrar na terra. Quando embarca você não pode levar problemas...

( E ) Isso é que eu acho mais terrível, porque os próprios médicos da

Petrobrás colocam isso, como se você fosse um equipamento qualquer, como se você

tivesse um by pass e... convence o cara que ele tem que esquecer isso daqui, que ele tem

que deixar de ser o XXX e se tornar um petroleiro, vai se tornar o xxx (

matrícula ). O funcionário que trabalha na Plataforma Y, na equipe X e esquecer que

tem namorada, irmã e uma família toda em terra, tem que esquecer ?...

( P ) Estão com um programa agora de embarque da família, é um pouco

isso aí?

121

( E ) Isso tudo é passado para você de uma forma muito bonita, é tudo

muito bem falado e o sindicato está abrindo espaço para virem falar sobre isso daí, mas

nós vemos que a empresa ganha muito do funcionário da forma como eles colocam as

coisas, é tão cheia de termos técnicos que impressiona, mas as comparações feitas com

os EUA, Mar do Norte, nunca falam de segurança, os helicópteros usados pelo pessoal

no Mar do Norte são helicópteros tri-turbinados, são helicópteros de segurança

máxima, os mais modernos. O que tem os nossos aqui? Os mais modernos têm duas

turbinas. Falhou uma entra outra. O próprio gerente da VOTEC disse que é questão da

Petrobrás querer, só que o valor do contrato subirá muito, devido a necessidade de

importar equipamentos. Aí você ouve falar que aqui não há necessidades devido a

estudos feitos...

( P ) Pelo que consta no Mar do Norte a distância é menor, inclusive

essa distância de 100 Km ou mais não existe...

( E ) Não se discute se o problema é esse. Se fala de como lá se produz,

da automação de lá, da existência de silenciador para válvulas, mas não se tem nada de

concreto, como a questão do transporte marítimo que eles estão estudando há 10 anos,

desde que eu entrei na Petrobrás. Quanto à segurança, quanto à adaptação dos

equipamentos da produção, tudo é em cima de estudos, estudos que nunca se vê

concluídos ou quando são concluídos você não tem uma resposta e quando há resposta

diz-se que não existe viabilidade técnica e financeira, que os custos serão tão altos que

não compensa, que é melhor tirar a plataforma. Eu vejo que depois de 10 anos a

irresponsabilidade com a saúde do trabalhador aumentou. Em Enchova eles fizeram os

módulos de acomodação num lado da plataforma onde o nível de ruído era mínimo, isso

era uma queixa que não existia lá. Quando você entrava no camarote, você tinha

silêncio porque o pessoal de empreiteira ficava em MTA ( Módulo Temporário de

Acomodação ), com a sonda bem do lado, representando maior perigo para eles. Depois

122

com a redução do nosso pessoal, eles começaram a usar nossas instalações. Em SS-10

eu vejo cada vez menos respeito pelo ser humano, de empreiteira então, é terrível. Os

caras são tratados até como um ser inferior, por eles terem menos condições de

reinvindicações e tudo mais... então eles são tratados cada vez com menos respeito na

questão de segurança e tudo mais... e isso acaba refletindo no trabalho, porque a

maioria não sabe o que está fazendo ali. Eles não são informados de nada. Por

exemplo, a marreta que eles usam é de bronze, mas eles acham que é para não

danificar as válvulas ou coisa parecida e não para não causar fagulhas, então, isso é o

mínimo que você pode perceber, a falta de informação é muito grande, mas a maioria

prefere estar embarcado para fugir dos problemas em terra, pela alimentação e eles

admitem isso, que é melhor estar lá do que em terra. Teve um cara da limpeza que ficou

28 dias embarcado. Ele se ofereceu para ficar embarcado, então a realidade desses

caras é terrível, por isso acham aquilo lá excelente. Em parte, o pessoal da Petrobrás

quando vê o desemprego, vê esse quadro todo aqui, acha também que o emprego dele é

uma dádiva... e eu não vou mentir, assim que eu entrei na empresa eu achava isso

também, um salário enorme, eu comecei comprar carro, roupas, viajar, saia e gastava,

mas só que isso não dura muito tempo, você... acaba despertando para a realidade... é

terrível você estar trocando sua saúde por dinheiro, porque no final é isso o que

acontece. Aí começa a síndrome dos 7 anos... às vezes ele percebe antes, mas quando

chega a tomar uma atitude mesmo...(Ent. 15 )

Um aprofundamento sobre essas falas e sobre a especificidade

do trabalho off shore permite não só um estudo antropológico, como já foi

falado anteriormente, mas também um estudo psicológico que contribua para

uma alteração nesse quadro que parece ser de sofrimento.

123

Uma outra entrevista, N° 16, levantou uma questão interessante

a respeito dos problemas gerados pelo confinamento, numa plataforma, que

como se sabe sendo do tipo fixa ou Semi-submersível, está no trabalho de

prospecção de petróleo e fica ancorada num único local:

"( ... ) isso aqui é um ambiente hostil. Você está aqui a cento

e poucas milhas, você está a oitenta minutos da costa, num local que não

tem fuga... você vai cair na água e a água não é nosso meio, então essa

coisa toda normalmente você não consegue relaxar, mais o fato de você ter

14 dias para ficar aqui parado... a gente conversa muito com o pessoal da

Marinha e eles dizem o seguinte: você faz uma viagem para o Japão, você

tem o que? Você tem o ponto de partida e tem uma proposta de chegada,

então você tem um deslocamento e essa sensação de estar se deslocando te

faz bem, agora aqui você não tem essa sensação, você fica parado aqui 14

dias, entendeu?

O próprio caminho passa a rotina, você vai vendo coisas

diferentes, você tem trinta e poucos dias para chegar no Japão, o cara não

vê terra, mas você sabe que vai ter um momento que você vai encontrar

essa terra e você olha, você fica buscando um outro navio que passa, é um

pássaro, um peixe, então essa sensação que você está se deslocando, que

você vai chegar, que faltam tantos dias para você aportar, não sabe onde, o

navio vai fazer uma parada num porto tal, você pode até não pisar em

terra, mas você já chegou num porto... então o pessoal da Marinha

colocam que essa situação nossa de não se deslocar é angustiante... "(

Entr. N° 16 ).

Este tipo de colocação é interessante, sob o ponto de vista da

investigação. Este questionamento levantado, a partir das próprias conversas

124

entre os petroleiros, pode ser referenciais para estudos de maior

complexidade, que apontem atitudes e intervenções que contribuam por

melhorar as condições de trabalho e de vida dos petroleiros.

A empresa demonstra estar atenta a isso, quando estimula um

estudo, cujos resultados encontram-se no documento "Intervenção Clínico -

Institucional - Resumo Gerencial ", da empresa, de autoria de Losicer,

Eduardo Victor & Silva, Valdely Siqueira. Através do que eles chamam de

pesquisa-ação que usa como metodologia as "falas ditas e não ditas",

identificam essa reação ao trabalho em regime de confinamento como

"patologia do confinamento". E dizem ainda: "é a patologia das fronteiras,

é a patologia própria das situações extremas, que gera adaptações forçadas

e igualmente patológicas, mesmo que sem manifestação exterior. Ou

dizendo de outra forma, a fronteira entre o normal e o patológico, não é

uma linha, mas uma ampla faixa em que a psicopatologia ainda não

constitui uma doença caracterizada ou uma patologia específica".

Ainda nesse documento chama-se a psicopatologia do

embarcado de "paciente fronteiriço", que em suma trata-se de: " um sujeito

com profundas fraturas na sua identidade, sem manifestações exteriores

ou com manisfestações clínicas graves e repentinas tais como episódios

delirantes ou melancólicos".

A avaliação psíquica dos trabalhadores embarcados surge como

uma necessidade, seja do ponto de vista humano e ético, seja como uma ação

gerencial que leva em conta a demanda por trabalhadores em perfeitas

condições físicas e mentais, para operar um sistema que convive com fatores

de risco potenciais, de forma constante.

125

Essa preocupação é importante, haja vista o ritmo de trabalho

na plataforma. Lá, o trabalho é ininterrupto durante as 24 horas, embora só a

metade, a cada 12 horas, esteja exercendo suas atividades profissionais. No

turno ( escala ), eles se revezam. O trabalho ininterrupto se caracteriza,

principalmente, por confundir trabalho, descanso e lazer tudo num mesmo

espaço, que é a plataforma. É o confinamento que obriga os trabalhadores a

um convívio forçado durante os 14 dias de embarque. Sua diferença para o

trabalho em ambiente não confinado se pauta, exatamente, pelas atividades

que o trabalhador tem o direito de fazer no momento em que não está

trabalhando.

Aqui, pode-se perceber o quanto a Organização do Trabalho é

importante para esse tipo de atividade. É possível afirmar que o impacto da

Organização do Trabalho sobre os trabalhadores é bem maior do que as

questões tecnológicas. Odiar o amanhecer, desligar-se do "outro mundo"

através de uma chavinha, as diferenças com o pessoal de empreiteiras a

partir da terceirização, tudo isso exerce uma influência enorme sobre os

homens off shore. Conhecer estes problemas de perto possibilitam alterações

na forma de organizar o trabalho que tragam menores consequências na vida

destes seres humanos.

Capítulo 5

O OPERADOR DE PRODUÇÃO OFF SHORE

5.1 - QUEM É O OPERADOR DE PRODUÇÃO ?

126

( Do Praticante de Produção ao Operador Polivalente )

A exemplo do processo de produção que foi descrito em

Capítulo anterior, a figura do Operador de Produção já era conhecida nas

diferentes unidades da Empresa. Tanto nas unidades produtoras em terra,

quanto nas demais unidades de processamento do petróleo, como, por

exemplo, nas diversas refinarias instaladas pelo país, a especificidade é

exatamente o seu trabalho em ambiente confinado, distante da sociedade.

Isso traz desdobramentos que interferem não só no trabalho como na vida

dessas pessoas, com reflexos novamente sobre o trabalho.

O Operador de Produção é o trabalhador que vai atuar

diretamente no processo de exploração do petróleo. Realiza atividades (

operando equipamentos mecânicos e elétricos - válvulas, registros, bombas,

motores, etc. ) que garantem a retirada do óleo de dentro do poço, trazendo-o

à superfície da Plataforma. Nesta, o trabalho prossegue, agora no

acompanhamento do processo em que o óleo, a partir de seu estado natural, é

separado da água e do gás e onde também são retiradas outras impurezas24.

Aqui, neste ponto, pode-se observar a trajetória desse cargo ao longo de,

aproximadamente, 20 anos de atividades na Bacia de Campos.

Um documento elaborado por Petroleiros de 9 Plataformas,

aprovado em Plenária, na Delegacia Sindical de Campos e divulgado no

24 Vide Anexo Exemplos de Atribuições do Operador de Produção.

127

Seminário de Tecnologia, Saúde e Meio Ambiente do Sindipetro-RJ, em

Maio de 1991, faz um breve relato do início da produção off shore e aponta

o movimento da Organização do Trabalho que leva à implantação da

Polivalência:

" O início das atividades de prospecção e produção de petróleo na bacia

de Campos, no começo da década de 70, se caracterizava por termos em atividade 03 (

três ) tipos de unidades: Plataformas Semi-submersíveis, navios-sonda e plataformas

auto-eleváveis. Já havia nesta época, uma diferenciação quanto às atividades ligadas à

manutenção, ou seja, o eletricista cuidando da parte elétrica, o instrumentista

responsável pela instrumentação e assim por diante. No caso da operação, o trabalho

era conjunto para produção de óleo e gás e dava para ser feito sem maiores problemas

devido a três fatores: a ) Simplicidade da planta de produção; b) Espaço físico

reduzido; c) Não aproveitamento do gás produzido, que era todo queimado.

Com a entrada em operação, no início da década de 80, das grandes

plataformas fixas, tais como: Garoupa, Namorado 1 e 2, Enchova, primeiramente

através do sistema antecipado e depois com o sistema definitivo, houve um

redirecionamento na filosofia de trabalho gerada pelos novos desafios que se

apresentavam, tais como a produção de volumes cada vez maiores de óleo e o

aproveitamento crescente do gás natural, que passou a ser totalmente aproveitado, ou

sendo mandado para terra, ou sendo consumido na própria unidade produtora, para

alimentar turbinas de compressores e geradores por exemplo. Paralelamente, a

instalação destes equipamentos de grande porte ( vasos separadores, turbo-

compressores, turbo-geradores), além de novas tecnologias aplicadas ( por exemplo, em

sistemas de injeção d'água ), exigiram espaço físico maior para instalação dos mesmos.

O petroleiro começa a ser responsável também pela parte de utilidades de sistema /

elétrica, com pessoal específico para esta tarefa.

128

Assim, passamos a ter nas plataformas os operadores I / II / III, tal

como nas refinarias. Na área de produção, houve a segmentação, surgindo a produção

de óleo e a produção de gás. Também a manutenção segmentou-se ainda mais, com

cada função tendo mais níveis hierárquicos próprios ( por exemplo, instrumentista de

sistema / instrumentista de elétrica). Logicamente houve uma especialização maior da

mão-de-obra petroleira na plataforma, com as vantagens que tal fato traz a operação da

mesma como um todo. Ficou a empresa satisfeita com esta situação? Sim, até um

determinado momento, a partir do qual começou a alterar radicalmente sua política de

pessoal na plataforma. Aproveitou a entrada em operação das unidades do polo

nordeste ( Pargo, Vermelho I / II / III ) para acelerar esta mudança".

Começou a "Operação-Toalha, com redução de pessoal em todas as

áreas, nas diversas plataformas. Estas, mantendo normais suas rotinas de trabalho e

produção e com um número menor de pessoas a bordo, precisariam que estas pessoas

desempenhassem outras tarefas, a fora as suas já estabelecidas, com um aumento de

responsabilidade. É assim que surge o "operador polivalente". Alegou a empresa que

havia um inchaço em várias unidades. Pode até ser que tal fato se desse, no entanto, a

falta de participação dos trabalhadores nos critérios que definiam se havia ou não

necessidade de redução, deixava claro que a empresa tinha outros objetivos ao

implantar o "operador polivalente".

Além desse documento do Sindicato, as entrevistas realizadas

com diferentes petroleiros, de diversos cargos e formações, dos operadores a

engenheiros e gerentes, pode-se perceber a trajetória do cargo de operador de

produção.

Quando do início das atividades off shore, o nível mais baixo,

dentro da hierarquia, na área de produção, era a de praticante de produção.

Esta era a função que o funcionário admitido exercia durante o período

129

probatório ( estágio ) de cerca de 1 ano. Completado o período ele passava

para a função de Auxiliar de Produção. O nível imediatamente superior era o

Capataz de Produção. Na mesma época, já existia a função do operador de

utilidades de sistemas e de utilidades elétricas. Só que essas duas funções

eram diferenciadas da área de produção propriamente dita ( óleo e gás ),

inclusive na classificação de níveis dentro do Plano de Cargos e Salários. Na

Classificação dos Cargos da função dos operadores de utilidades, os cargos

acima eram de Operador de Utilidades II e, a seguir, o Operador de

Utilidades III. Por volta de 1988, foi feita uma reclassificação que enquadrou

os Auxiliares de Produção e os Operadores de Utilidades I como operadores

de produção, com equiparação dos níveis. Os Capatazes de Produção, assim

como os Operadores de Utilidades II, foram enquadrados como Assistente

Técnico de Operações de Produção - ATOP. Os Operadores de Utilidades III

e alguns Capatazes que passaram por novos Cursos, foram enquadrados

como Técnico de Operações de Produção - TOP. No Organograma da

Plataforma, a hierarquia do Setor de Produção, hoje é o Chefe de Plataforma

- CHEPLAT, depois o TOP, depois o ATOP e por fim o Operador de

Produção.

Mesmo após os enquadramentos, a organização do setor de

operações de produção continuou dividido em 4 distintas áreas de atuação:

produção de óleo, gás, utilidades elétricas e utilidades de sistemas. A

alteração seguinte foi a transformação dos operadores de produção em

operadores polivalentes.

130

5.2 - A Implantação da Polivalência:

A redução de pessoal está ligada à decisão da implantação da

Polivalência que, por sua vez, está relacionada a uma série de

transformações pelas quais passa não só a Bacia de Campos e a empresa

Petrobrás, como todo um contexto de rearranjo organizacional que surgiu

para fazer face aos novos paradigmas da produção, que estão sendo

colocados num quadro de modernização industrial.

Pode-se afirmar que a polivalência nasce de uma determinação

gerencial, provavelmente calcada num conjunto de medidas que visaria à

modernização do trabalho através de alterações em sua organização e que se

completaria com outras ações gerenciais, como a Gestão da Qualidade Total,

os Grupos de CCQ, etc.

Essa implantação começou a se efetivar a partir de 1991. A

transformação apontava para uma perspectiva de se ter todos os operadores

com funções e/ou habilidades capazes de intervir em qualquer das quatro

áreas: óleo, gás, utilidades elétricas e utilidades de sistema.

Nas plataformas, esta implantação começou, como já foi falado

anteriormente, nas plataformas do Polo Nordeste, as Satélites de Pargo. São

plataformas pequenas com processamento de óleo e gás. Seu setor de

utilidades é mais simples que o das grandes plataformas fixas ou Semi-

submersíveis.

Uma série de depoimentos faz referências à implantação da

polivalência:

131

"O que importa aqui é o dinheiro. Operador Polivalente só se for para

ganhar mais. Engenheiro Fiscal não faz nada, chega aqui e nada sabe sobre a

produção, só aprende depois de 8 anos e aí vai para a terra, onde pode passar a ser um

bom administrador".(Ent.6)

( P ) Com relação a questão da Polivalência, qual a sua visão em relação

a isso?

( E ) Eu acho que a Polivalência prá mim foi uma coisa que... como

quase tudo na Petrobrás. Algumas pessoas pensavam e outras achavam uma ótima

idéia, então eles jogaram prá frente, sem um estudo, sem uma elaboração maior. Não

houve um estudo para as consequências disso. Não houve uma elaboração para se fazer

isto daí, simplesmente acharam uma boa idéia e tocou isso para frente. E da parte do

Sindicato, eu acho que foi uma falta de respeito total com ...o trabalho. Não houve pré

informação. Não houve ... Surgiu assim. Eu acho que está sendo implantado o operador

polivalente e quando ... ia se ouvindo falar e ia se fazendo ... é uma total falta de

respeito com todos nós. Você que estava envolvido com aquilo ali não sabia o que

estava acontecendo. Você sabia o que as pessoas informavam. ( Ent. 15 )

"A automação e a polivalência, não sei não. Como operar o computador

e ir para a área fazer as manobras e se sujar todo de óleo? O Engenheiro "X" fala para

eu aprender computador, eu falo para ele que no meu horário não dá, a empresa não

paga para eu aprender". ( Ent. 2 )

Fazendo uma análise da organização e das relações de trabalho

no setor de produção, observa-se que estas têm características muito

132

distintas entre uma e outra plataforma. Pode-se ir mais longe ao afirmar que,

até mesmo entre as diferentes equipes de uma mesma plataforma, estas

características vão sendo moldadas. Essa auto-regulação é mais complexa, se

for levado em consideração o tipo de trabalho em ambiente confinado e o

distanciamento da "vida" propriamente dita do continente.

A organização e as relações de trabalho no setor de produção

têm características muito distintas entre as plataformas. Até mesmo entre as

diferentes equipes numa mesma plataforma. Essa distinção ocorre

principalmente, pelo tipo de Gestão empregado por cada um dos Chefes de

Plataforma - Cheplat ( antigo Engenheiro Fiscal ). Isso pode ser comprovado

no depoimento do operador ( Ent.15 ) ao ser indagado, pelo pesquisador,

sobre o rodízio feito entre os operadores nos diferentes pontos de trabalho de

um operador dentro da área de óleo e gás numa plataforma:

( E ) Olha a minha equipe tem uma metodologia de trabalho. A outra

equipe tem outra metodologia. Isso varia muito com o ATOP, o Cheplat e com o

operador que vai para o final na verdade.

( P ) Qual é a da sua equipe ? Sua equipe faz como ?

( E ) Olha é o seguinte. Parte muito da questão do operador também...

dele mostrar firmeza no que é necessário para ele operar bem e ele bater pé mesmo, que

ele não vai fazer daquela forma, eu preciso fazer desta forma, desta maneira aí você

está... você vai me prejudicar, parte muito por este lado aí... agora particularmente...

As diferenças entre as plataformas começam pelas próprias

instalações das mesmas. Tanto a planta de processo como o setor

administrativo, a área de acomodações ( camarotes ) e área de lazer guardam

profundas diferenças. A comida também é diferente. Os horários de

133

alimentação também são diferentes. Há plataformas em que são servidas seis

refeições. Em outras, esse número chega até a oito. Em algumas plataformas,

os lanches entre o café da manhã e o almoço, entre o almoço e o jantar e

entre o jantar e a ceia, para os operadores, são servidos na própria área, na

sala de controle. Os horários de trabalho também são diferentes de uma

plataforma para outra e estão muito relacionados com a hora de troca da

equipe embarcada. As relações de trabalho são extremamente diferentes

entre as plataformas.

A presença das empreiteiras, seja no serviço de hotelaria, ou em

outras atividades como determinados tipos de manutenção, reforça a questão

das diferenças não só nas relações de trabalho, como principalmente no

convívio dos momentos de não trabalho ( repouso e lazer ). Em Marlim,

penúltima plataforma visitada pode-se perceber claramente isso. Os

diferentes grupos não se juntam nas refeições, nem no lazer. Até numa

reunião da CIPA, realizada no cinema da plataforma com a presença de

todos, funcionários da Petrobrás e das Empreiteiras, que tinha o objetivo de

apresentar questões a serem levadas a uma reunião internacional da OIT, em

Genebra, sobre o trabalho off shore, os funcionários da Petrobrás estavam

sentados nas cadeiras e os de empreiteiras no chão (Vide Foto no Anexo 6).

Principalmente a forma de gerenciar cada plataforma, pela

autonomia que os Chefes de Plataformas possuem, influenciam de forma

proporcional e direta as demais relações existentes na plataforma. Tanto nas

relações de trabalho, quanto em todo tipo de relação. Aliás, é difícil falar em

outro tipo de relação que não seja de trabalho: em função do confinamento o

ambiente e o clima de trabalho perdura e envolve todo o período de

embarque.

134

As plantas de processo não apresentam profundas diferenças

sob o ponto de vista do processo em si, a não ser nas plataformas instaladas

em campos produtores. Nestas, o óleo vem à tona o junto com gases. Na

Plataforma de Pampo, por exemplo, junto do óleo há o gás sulfídrico ( H²S ).

Esse gás é altamente tóxico e inflamável. No caso da presença desse gás, a

planta de processo tem o acréscimo da unidade de MEA, que tem a função de

fazer a dessulfurização, ou seja, a retirada do enxofre que vem misturado ao

gás natural, anteriormente separado do óleo nos separadores. Outra alteração

está relacionada ao número de poços. É isso que vai determinar o tamanho e

a quantidade de equipamentos ( separadores, bombas de transferência ) que a

planta possuirá. Existirá ainda uma nova etapa nas plataformas instaladas em

campos que possuem poços em águas profundas. A profundidade desses

poços faz com que o óleo chegue à superfície com temperaturas

extremamente baixas ( Marlim: -50° C ). Esse fato faz com que as plantas

dessas plataformas tenham a inclusão de fornos no seu processo. Essas

diferenças são percebidas e anotadas pelos operadores que mudam de

plataforma:

( P ) O que você acha desta carga de trabalho do operador do óleo e gás

comparado com o PPMoraes?

( E ) A gente está tendo uma série de dificuldades, além da gente estar

operando equipamentos aos quais a gente não teve um outro contato, não teve

treinamento...

( P ) Com relação ao trabalho que você fazia no PPMoraes e o que você

faz lá, você acha que o trabalho ficou mais simples, mais complicado ou é mais ou

menos a mesma coisa ?

135

( E ) É muito mais complicado. É muito mais complicado mesmo.

( P ) Por quê ?

( E ) Olha, lá nós tínhamos 2 vasos e 2 trens de operação e na SS-10 nós

temos 3 trens de operação...

( P ) Então aumentou a carga ? Ou o trabalho é o mesmo ?

( E ) Não, mas aí nós temos supervisão de 3 vasos. Temos duas caldeiras,

dois fornos é ... tem mais poço, porque... até para você operar você tem que conhecer

todo o sistema. Então a SS-10 é umas quatro, cinco vezes mais equipamentos, mais

linhas, mais válvulas que o PPMoraes e muita SS aí da área.

( P ) Mas o sistema em si aumentou a quantidade de poços, é mais coisa

?

( E ) É, muito mais coisa.

( P ) Mas o serviço em si é mais difícil por ter mais equipamentos ? Você

tem que tomar mais decisões ? Ou é de qualidade diferente ?

( E ) Muito mais decisões. ( Ent. 15 )

Por último, em relação ao processo, existe uma grande diferença

entre as plantas que se relaciona ao tipo de Plataforma, ou seja, se elas são

Fixas ou Semi-submersíveis. Essa talvez seja a diferença que mais influi no

trabalho do operador. Isso ocorre porque as grandes plataformas fixas

tendem a possuir uma grande área física que torna o trabalho mais

desgastante sob o ponto de vista físico. As Plataformas de Pargo e

136

Namorado-1, por exemplo, possuem, pelo menos, 6 andares de planta de

processo.

Todas as especificidades relatadas acabam por provocar uma

grande interferência no trabalho do operador de produção. Isso acontecia

tanto na situação anterior, onde se tinha o operador especialista em óleo, ou

gás, ou utilidades de sistema, ou de elétrica, quanto agora, na condição de

operador polivalente com funções e/ou habilidades para intervir em qualquer

uma das 4 áreas especificadas acima.

Como decorrência desses fatos, fica fácil entender que a

implantação da polivalência, embora decidida pela gerência, tem nuances

diferentes, de acordo com a realidade de cada plataforma.

Na realidade, a Polivalência Completa ainda não se realizou na

Bacia. Basicamente, o que se conseguiu, até hoje, foi transformar o Operador

especialista em óleo ou em gás, em um único operador. Mesmo aí existem

dois casos basicamente. O primeiro pode ser considerado das plantas mais

antigas, da 1ª Família de Plataformas, em que o controle do processo é feito,

ainda, através de painéis de lógica fixa e controle pneumático das malhas,

com supervisão através de painéis sinópticos; ou da 2ª Família de

Plataformas, onde o controle já é eletrônico e baseado na lógica

programável. O segundo é o Sistema ECOS, que verdadeiramente automatiza

o controle do processo e muda radicalmente a supervisão de todo o sistema

que passa a ser feito através dos computadores.

No primeiro caso o trabalho do operador ainda é segmentado no

óleo ou no gás. O que muda, nesse caso, é que a partir da determinação das

chefias passou-se a fazer um rodízio entre os operadores, ora trabalhando na

137

área do óleo, ora na área do gás, ora, ainda, na sala de controle, junto ao

ATOP, na supervisão das duas áreas. Esse rodízio varia de equipe para

equipe e de plataforma para plataforma.

No segundo caso, tem-se um controle e uma supervisão mais

integrada em função da imposição que o próprio o Sistema ECOS impõe. Um

único equipamento, o computador, através das suas interfaces ( tela, mouse e

impressora ) não só possibilita a integração de todas as informações, como

permite um controle direto no processo através da mudanças de variáveis.

Essas alterações podem ser feitas pela ação do Operador ou, em alguns

casos, já previstos na programação específica, o próprio sistema toma

decisões e, através das interfaces, comunica ao operador o que está

acontecendo e qual medida foi tomada para corrigir a anomalia. Nesse caso,

exige-se que o Operador simultaneamente decida ações, tanto na área do óleo

quanto na do gás, através de um mesmo equipamento que realiza a

supervisão e o controle também simultâneo.

Em nenhuma plataforma esse mesmo operador realiza a

supervisão e/ou controle também da área de utilidades de sistema ou de

elétrica. Essa é a perspectiva que o desenvolvimento do sistema aponta, ou

seja, através também do Sistema ECOS poder controlar e supervisionar a

geração e distribuição das cargas elétricas da plataforma, do processo de

potabilização da água, da refrigeração, etc. , relativas a utilidades do sistema

da plataforma.

Essa medida, certamente, exigirá o Operador Polivalente

completo, com condições de intervir, através de um único equipamento

controlador e supervisionador, em qualquer das quatro distintas áreas.

138

A mudança na Organização do Trabalho exige um aumento de

qualificação pois a polivalência será exercida a partir da integração da

supervisão e do controle em mais de uma área, antes segmentada no conjunto

das operações. A integração das quatro áreas de produção: óleo, gás,

utilidades de sistemas e elétrica, em pelo menos duas áreas, óleo/gás e

utilidades de sistemas/elétrica, a partir da automação/informatização do

sistema exigirá uma nova formação para esses operadores.

Será descrito no item 5.6.1, o curso pelo qual o operador passa

para exercer essa polivalência.

Hoje, o sistema Ecos funciona em três plataformas: SS-33-

Marlim, SS-10- Albacora e SS-44 - Petrobrás XVIII - Campo de Marlim.

Uma questão administrativa coloca todo o processo de utilidades ( elétrica e

sistema ) ligado a uma outra estrutura gerencial. A produção na Bacia de

Campos, como já foi mencionado, possui uma estrutura hierárquica própria

através da Superintendência da chamada Região de Produção Sudeste ( RPSE

). A área de utilidades dessas plataformas, em função das diversas atividades

de navegação das SSs ( controle de lastro, etc. ) serem atividades sempre

historicamente ligadas à Perfuração, estão vinculadas, hierarquicamente, ao

Distrito de Perfuração do Sudeste ( DPSE ).

Fica fácil dizer que o processo para unificar o controle e a

supervisão, através de uma única sala e de uma única equipe, dependerá,

ainda, de decisões gerenciais que permitam a unificação das estruturas

administrativas, através de um controle e de uma supervisão total e unificada

que inclua, também, a navegação e o lastro da embarcação ( Plataforma ), em

caso de SS, além do controle do Processamento do óleo, gás, e de utilidades.

139

Até chegar a esse ponto é possível que pelo menos o controle das utilidades

seja unificado ao óleo e ao gás já existente.

A resistência dos operadores em fazer esta unificação total,

incluindo nas atribuições do "polivalente completo" as ações e decisões

acerca principalmente da parte de elétrica, já é muito grande. O operador do

óleo e do gás quase sempre não admite incorporar essa nova

responsabilidade que para ele exigiria uma "formação" completa nessa área.

É comum reações como essas:

"... eu acho o seguinte: eu tenho o curso de eletrotécnica, isso aí já me

ajuda bastante trabalhar com equipamento elétrico. Agora vá lá que o cara não tem

qualif icação elétrica nenhuma, eu noto colegas meus que tem medo até de botar a mão

em um painel... eu fiz um curso que é de 4 anos ... como é que a Petrobrás quer formar

um cara em polivalência em 4 meses?" ( Ent. 1 )

"Nós não aceitamos a polivalência. Quando foi imposto eu estava em

outra plataforma. Falei: pode desembarcar, fazer o que quiser, na elétrica eu não

mexo, acho que tem que ser de quem é da área". ( Ent. 4 )

Essas mudanças trazem profundas reflexões sobre os cuidados

que devem permear as decisões, ao nível dos limites que a automação traz

sob a discussão, da relação disso com o confinamento e, da redução dos

efetivos, com o estabelecimento de um número mínimo e seguro de

operadores em condições de operar todo esse sistema.

A redução dos efetivos, decidida a partir da automação e da

implantação da Polivalência, com a ampliação das tarefas e intensificação do

trabalho, pode estar sendo exagerada, sob o ponto de vista da carga de

trabalho física e mental dos que estão permanecendo embarcados, levando-se

140

em consideração o tempo de embarque e "a crise dos 7/10 anos". Isso não

acontece de forma igual em todas as plataformas. A especificidade, já citada,

de cada plataforma é que determinará a solução ideal para cada caso.

Por exemplo, a redução progressiva, já vista, das grandes

plataformas fixas ( 1ª Família ) traz à tona a discussão do desgaste físico.

Isso se dá pela quantidade de postos de trabalho que exigem para este tipo de

instalação e pela presença quase que constante de operadores. Na medida em

que se reduz o número de operadores, o turno de 12 horas seguidas obriga a

um descer e subir de escadas, pois, como já foi também dito, os setores de

óleo e gás se instalam por 3 ou 4 andares de plataformas. Os operadores,

destas plataformas, quando da pesquisa em seus locais de trabalho,

reclamaram deste desgaste físico que se acentuou enormemente após a

implantação da polivalência e da conseqüente redução do número de

operadores embarcados:

( P ) Quer dizer que quando você desembarca agora você desce muito

mais cansado do que descia antes ? Física e mentalmente ?

( E ) Esse sistema todo cansa a gente mentalmente e fisicamente.

( P ) Doze horas ali no pau, isso nos chamou a atenção, porque não dá

para aliviar um pouco, é meio complicado ...

( E ) Não tem condição mesmo...

( P ) E à noite, quando não tem Cheplat e está tudo funcionando bem,

não dá para descansar um pouquinho... porque durante o dia tem uma porrada de

atividades, trabalho a quente e ...

141

( E ) Não dá. Não existe perspectiva de pelo menos em um ano, de você

ter uma acomodação do sistema para você ficar ali... ( Ent. 15 )

" ...atualmente eu acho o seguinte: está muito cansativo para mim,

porque quem tem família, tem filho, é muito cansativo para mim embarcar. Agora eles

estão acenando para a gente aí porque talvez muita gente está pedindo para ir trabalhar

em terra, mesmo perdendo grana. Porque o problema é os 14 dias, o

confinamento."(Ent.1)

Também ocorre reclamações sobre o isolamento em que o

operador de área fica , quando das suas inspeções. Um operador chega a

afirmar:

"O trabalho aqui na produção não é difícil, trabalhar sozinho é que é

muito complicado."( Ent - 4 )

A partir, também, de diversas falas os operadores chegam a

mencionar certas improvisações que acabam sendo cometidas para poder

garantir a produtividade, que neste tipo de atividade ( indústria de processo )

está diretamente relacionada à redução das interrupções e ao tempo de

interrupções da planta.

"Essa plataforma já operou com quase todo o painel em by-pass, Deus

ajuda muito a não dar problema. A Polivalência? É muita sobrecarga de trabalho,

muito aumento de responsabilidade". ( Ent. 7 )

142

O Sindicato questionou a empresa, sobre uma série de acidentes

que estariam relacionados à redução de efetivos, com o conseqüente aumento

da sobrecarga de trabalho e da improvisação nas ações cotidianas da área de

operação. O documento do Sindicato sobre a polivalência, coloca:

A complexidade do tema nos dá vários aspectos a serem analisados, mas

dentre estes há alguns fundamentais:

1 - Os riscos de acidentes

Parece evidente que o aumento de trabalho, o acumulo de tarefas, além

da maior responsabilidade, trazem aos companheiros um duplo desgaste: O desgaste

físico e o desgaste emocional, este mais grave na medida que traz efeitos colaterais

nefastos à saúde do trabalhador, podendo ocasionar aumento de pressão arterial e

úlceras nervosas, por exemplo. O entendimento da empresa não é este. O próprio

superintendente da RPSE em reunião com o sindicato em 10 de abril último, apresentou

dados quanto aos acidentes em 1990, considerado por ele como bom, pelos poucos

acidentes e a pouca gravidade dos mesmos. Ao que perguntamos: Por isso vamos

desconhecer o que ocorre atualmente na bacia, com os companheiros trabalhando

pressionados e sobrecarregados? Vamos esperar que ocorram acidentes graves para

gritar contra esta situação? Não, não estamos esperando e por isso já estamos

denunciando inclusive na imprensa tal situação.

2 - A não capacitação profissional

É um absurdo colocar por exemplo um operador de produção para fazer

trabalhos que cabem ao operador de utilidades elétricas sem que esteja habilitado para

tal. O risco é muito grande ( ver documento n° 3, acidente ocorrido com petroleiro

ligado à elétrica, imagina se não fosse ). Os cursos que a empresa vem dando ( Vide

item 5.6.1 ), tentando suprir esta falha, deixam muito a desejar e funcionam mais como

143

tentativa de dar um caráter legal à situação. Ainda por cima como mais um elemento de

pressão, incluem a questão da polivalência nos critérios de avaliação ( ver documento

n° 4 ). Os próprios companheiros das plataformas, cientes dos riscos, tem denunciado

a situação em documentos ( ver documento n° 5 ).

3 - A opinião da empresa

Em entrevista ao jornal "Folha da Manhã" do dia 12 / 05 / 91 ( ver

documento n° 6 ) o presidente da empresa Alfeu Valença diz que "a redução de pessoal

é um problema somente de tecnologia ". Será mesmo? Ele não diz por exemplo, que o

avanço tecnológico tem que criar mecanismos capazes de permitir que um operador

faça, com plena condições de segurança, o que antes três faziam. Qualquer situação

que fuja disso não passa de exploração do trabalhador, expondo-o a acidentes graves.

Também não é correto afirmar que "as pessoas que sobram são alocadas em outras

plataformas. Temos hoje grande contingente de companheiros em terra, recebendo sem

adicionais, sacrificando ainda mais suas vidas nos planos pessoal / familiar.

Logicamente que o presidente também não fala em nenhum momento, no acréscimo de

remuneração que se exigiria por um aumento nas responsabilidades do trabalhador.

4 - A reação da categoria

Os petroleiros não aceitam a implantação do operador polivalente.

Entendem a questão política existente, a partir de um projeto que visa adequar a

Petrobrás ao modelo liberalizante do Governo Collor, para a seguir permitir a sua

privatização. E tem denunciado e discutido os fatos nas comissões de base e no

sindicato ( ver documentos 7,8 e 9 ). O setor jurídico do sindicato, em parecer

específico sobre o assunto, deixou claro que é preciso que a categoria resista, de forma

coesa e organizada ao operador polivalente. Vamos continuar denunciando e cobrando

144

providência por parte da empresa e dando à categoria os meios necessários ( ver

documentos 10 e 11 ) para continuar na luta contra a implantação do operador

polivalente ( sinônimo ) de exploração na bacia de Campos".

Uma série de outras declarações de sindicalistas colocam a

questão da redução dos efetivos: - Informativo do Sindipetro-RJ N° 2, Macaé

- 4 de Janeiro de 1991: "Operador Polivalente : Neste ponto a direção da empresa

foi bastante contundente em dizer que a unificação das áreas é um caminho

irreversível. Existiria a figura do OPERADOR DE PRODUÇÃO que ficaria responsável

inclusive pela parte elétrica. Admite apenas que precisa evoluir na questão do

treinamento".

Um informativo do SINDIPETRO- RJ, de 10 de Janeiro de

1989, intitulado SINDICATO DENUNCIA DESVIO DE FUNÇÕES,

questiona a decisão da empresa de insistir com a implantação da figura do

Operador Polivalente. Essa implantação se iniciou nas Plataformas do Polo

Nordeste. O Polo Nordeste é constituído por uma plataforma Central, a de

Pargo, e por cinco pequenas plataformas fixas, chamadas de satélites (

Vermelho I, II e III e Carapeba I e II). Essas plataformas recebem energia

elétrica de Pargo e fazem apenas um processamento primário do óleo bruto

extraído, remetendo-o para Pargo. A grande simplicidade desse processo

levou a empresa a atribuir ao Operador de Produção responsabilidades para

além de uma única especialidade, óleo, gás e utilidades. O informativo

esclarece:

"A diretoria do Sindipetro-RJ está exigindo que a Petrobrás cumpra a

cláusula 74 do Acordo Coletivo de Trabalho deste ano para verificar as condições de

segurança do trabalho de vários companheiros, que estão sendo desviados de suas

funções. 0 objetivo do Sindipetro é fazer com que uma comissão de médicos do trabalho

145

e engenheiros do trabalho, formada por representantes do Sindipetro-RJ, Ministério do

Trabalho e da empresa, visite as plataformas do polo Nordeste e PNA- 1 para

comprovar a denúncia de vários petroleiros, que estão sendo obrigados a exercer

funções para as quais não estão preparados, colocando em risco a sua própria vida e a

de seus companheiros, além de comprometer os equipamentos da empresa, que são

patrimônio do povo brasileiro.

A diretoria do Sindipetro-RJ enviará oficio a empresa exigindo o

cumprimento da cláusula e denunciando a impossibilidade de uma mesma pessoa

exercer as funções de Operador de Utilidades (que inclui a área de Sistema e Elétrica) e

Operador de Produção (que inclui as áreas de óleo e gás) .

Para o Sindipetro-RJ, a direção da Petrobrás está querendo ainda mais

ampliar a sua margem de lucro, ignorando as questões de segurança e o que é pior,

comprometendo a qualidade de nosso trabalho.

Portanto, vamos protestar contra a criação do Cargo de Operador

Polivalente. 0 nosso trabalho exige respeito. A verdade é que a Petrobrás quer

implantar o turno de seis horas contratando menos empregados do que seria

necessário. Vamos denunciar este desrespeito ao nosso trabalho!"

O Informativo traz uma ilustração que reflete bem a visão que o

Sindicato tem da ampliação das tarefas com a implantação da polivalência:

146

Dentre os casos muito citados pelo Sindicato sobre a ocorrência

de acidentes, a partir da implantação da polivalência, inclusive com vítimas

fatais, sem sombra de dúvidas, está o acidente em que morreu o operador

Hélvio. O operador Hélvio tinha 32 anos de idade e 8 anos de empresa.

Acidentou-se no dia 13-05-93, na plataforma SS-5, no Campo de Moréia.

Segundo a Petrobrás:

"Hélvio executava leitura de instrumentos por volta das

três horas do dia 13, quando escorregou sobre a passarela, vindo a cair com diferença

de nível sobre tubulações e acessórios, conforme registros constantes do relatório de

acidente com lesão (RAL), emitido pelo Técnico de Segurança, Marcus Vinícius Galvão

147

da Silva, com informações do próprio acidentado. Consta ainda que ele sofreu luxação

no ombro esquerdo".

Para o sindicato, "a atitude confirma a indiferença da empresa em

relação à saúde dos trabalhadores. Diz ainda que uma das causas desse tipo de acidente

é a saturação do trabalho proveniente dos cortes de escalas, que reduz o contingente de

trabalhadores embarcados".

No Jornal Monitor Campista, de 15-05-93, a delegada do

Sindipetro, Luíza Botelho, diz que "a entidade pretende tomar uma atitude

enérgica sobre o episódio, cobrando a responsabilidade da empresa. Hélvio deslocou a

clavícula por volta de 3h de quinta-feira, quando fazia leitura da planta e acabou

caindo. Segundo Luíza, ele estava sozinho no momento do acidente, e por isso teve que

se arrastar até encontrar um cozinheiro, que acionou um técnico de enfermagem,

porque não havia nenhum médico na SS-5.

Luíza critica a política da Petrobrás em diminuir o número de

funcionários, com a criação do polivalente. Segundo disse o fato de trabalhar sozinho

em determinados setores, gera insegurança para o petroleiro e tripulação".

A morte do Operador Hélvio gerou um "Manifesto dos Colegas

de Trabalho", publicado no informativo do Sindipetro de 17-05-93, no Jornal

Diário de Macaé, de 15-05-93 e veiculado no horário nobre, na repetidora da

TV Globo da região, no dia 14-05-93. ( Vide o Texto do Manifesto abaixo )

Observação: O acidente do operador Hélvio aconteceu na quinta

feira às 3 horas da manhã. Às 17 horas, foi encontrado morto em seu

camarote, quando se imaginava que o mesmo estivesse descansando do

trabalho noturno. A causa da morte gera controvérsias. O laudo aponta como

causa um distúrbio coronariano, gerado por uma crise hipertensiva. Os

148

parentes e o Sindicato questionam essa conclusão quando afirmam não

existir nenhuma relação do acidente com a causa da morte. O enterro de

Hélvio foi realizado no dia seguinte, 15-05-93. Sábado, às 8 horas, seus

companheiros de trabalho elaboraram um manifesto, divulgado pelos Jornais

e pela Televisão, na emissora local, repetidora da Rede Globo, em horário

nobre:

MANIFESTO DOS COLEGAS DE TRABALHO

A fatalidade une nossas crenças e convicções em torno de uma só

palavra: ESPERANÇA. Ela invade e percorre nossa perplexidade diante da fria

constatação: HÉLVIO JÁ NÃO ESTÁ ENTRE NÓS.

Na noite passada, em seu turno de operador solitário, caiu entre válvulas

e tubulações, deixando no ar um grito que a ninguém alcançou.

Hélvio foi medicado, seu braço enfaixado. A medicina distante lhes

prescreveu mais uns dias de observação à bordo. Uma autópsia dirá que faleceu

em tal hora, devido a causas que leremos sem compreender. Para nós só haverá

uma certeza: HÉLVIO MORREU.

149

A esperança que invocamos na gênese deste texto, não nos permite a

busca mesquinha de algo ou alguém para culpar, já é demasiado tarde. Nossa

esperança se renova em outras esperanças que Hélvio tragicamente vem

despertar:

- A esperança de que trabalhadores não farão mais vigílias solitárias;

- A esperança de que trabalhadores acidentados, descerão para exame

clínico acurado, que apure suas condições de trabalho;

- A esperança de que doravante, haverá na plataforma a ficha médica dos

trabalhadores, possibilitando assim diagnósticos e prescrições médicas precisas;

E finalmente a esperança de que pelo menos, alcancem vidas o valor dos

barris de óleo que produzimos.

Por Hélvio, por nós, Bacia de Campos, 13 de maio de 1993.

5.3 - Quantos são os Operadores de Produção?

Tem-se, hoje, em atividade, na função de Operador de

Produção / Utilidades (Polivalente), 1.017 trabalhadores na Bacia de

Campos. O número de Operadores embarcados ( na atividade off shore ) tem

se reduzido drasticamente, principalmente nos últimos anos. Atualmente, em

torno de 700 operadores estão trabalhando embarcados. A redução entre

1989 e 1992 foi de aproximadamente 30 %, como demonstra o quadro abaixo

que mostra a lotação das maiores Plataformas Fixas nesse período:

PLATAFORMA 1989 1990 1991 1992

150

PCH -1 82 83 66 54

PCH - 2 85 78 72 61

PGP - 1 85 87 78 68

PNA - 1 91 80 73 65

PNA - 2 57 56 47 43

PPG - 1 59 75 55 54

PPM 96 90 80 67

NÚMERO DE OPERADORES PRODUÇÃO / UTILIDADES

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1989 1990 1991 1992

PCH - 1

PCH - 2

PGP - 1

PNA - 1

PNA - 2

PPG - 1

PPM

O Sindipetro-RJ tem reclamado dessa redução como se pode

comprovar no Documento do Seminário de Tecnologia, Saúde e Meio

Ambiente, em maio de 1991, já citado. Ele aponta, inclusive, algumas

conseqüências que podem ter origem nessa redução de pessoal. O documento

diz:

"Começou a "Operação- Toalha", com redução de pessoal em todas as

áreas, nas diversas plataformas. Estes, mantendo normais suas rotinas de trabalho e

produção e com um número menor de pessoas a bordo, precisariam que estas pessoas

151

desempenhassem outras tarefas, a fora as suas já estabelecidas, com um aumento de

responsabilidade. E assim surge o "operador polivalente". Alegou a empresa que

havia um inchaço em várias unidades. Pode até ser que tal fato se desse. No entanto, a

falta de participação dos trabalhadores nos critérios que definiam se havia ou não

necessidade de redução deixavam claro que a empresa tinha outros objetivos ao

implantar o "operador polivalente". Pior que isso a empresa, após uma primeira

redução, a partir de 1986, vem agora com uma nova onda de corte de efetivos, indo

inclusive contra parecer emitido por engenheiros de várias plataformas, que

consideravam que os funcionários que ficaram nas plataformas após os cortes no

período 86/87 eram suficientes para tocá-las dentro dos padrões de segurança.

Esta redução acaba sendo confirmada em reportagem com o

presidente da empresa, Joel Mendes Rennó. Ao exibir os resultados, a partir

do que ele chama de profunda reestruturação, cita, entre outros itens, a

automação nas refinarias e nas plataformas como fatores do aumento da

eficiência da empresa25.

25 Jornal "O Globo" do dia 02-10-94, em matéria intitulada "Petrobrás se prepara para

mudanças", descreve no subtítulo: "Automação chega às plataformas": A reestruturação

passa pela descentralização das atividades com relocação de pessoal. A automação faz

com que as refinarias e plataformas funcionem cada vez com menos funcionários. As

plataformas estão operando com metade do pessoal que tinham há dois anos.

152

5.4 - Sua formação:

Segundo dados obtidos na própria empresa, datado de 27 / 10

/93 , a formação dos Operadores, quanto ao nível de instrução se divide da

seguinte maneira:

ESCOLARIDADE DOS OPERADORES OFF SHORE

NIVEL SUPERIOR COMPLETO 78

NIVEL SUPERIOR INCOMPLETO 38

SEGUNDO GRAU COMPLETO 801

SEGUNDO GRAU INCOMPLETO 20

PRIMEIRO GRAU COMPLETO 71

PRIMEIRO GRAU INCOMPLETO 9

T O T A L 1.017

De acordo com as exigências do Plano de Cargos da empresa, o

desempenho dessa função exige a formação de 2° Grau, acrescida de

153

treinamento específico com duração de até 6 meses. Diz ainda, ser

necessário possuir conhecimentos elementares de informática.

É importante aqui ressaltar, que a própria empresa reconhece a

possibilidade de seu cadastro não estar devidamente atualizado por falta de

informação do empregado, ao concluir um nível de escolaridade. Outro ponto

a ser destacado é a omissão do nível de escolaridade superior. Alguns

Operadores escondem essa informação quando submetidos ao processo

seletivo para o cargo, com receio de represálias. Mas, provavelmente, como

quase todos já passaram dos 3 anos de serviço, tempo mínimo exigido pela

empresa para ter direito a concorrer, através de Concurso Interno, aos Cargos

compatíveis com a sua formação, eles, em sua maioria, já devem ter

atualizado seus cadastros pessoais.

Na Pesquisa do "Perfil do Operador de Produção Off Shore", em

anexo, respondido por mais de 10 % do total de operadores embarcados,

pode-se observar que grande parte possui o 2° Grau Completo e tem a

formação de Técnico com as habilitações preponderantes em Eletrotécnica e

Mecânica.

O fato da Bacia de Campos estar localizada numa região em que

o nível de industrialização é baixo e o fato de existir uma Escola Técnica

Federal na cidade de Campos, distante 100 Km de Macaé, que é responsável

pela formação de uma mão de obra qualificada pouco absorvida, contribuiu

para a contratação maciça desses profissionais. Inicialmente contratava-se

para a área de supervisão e, mais adiante, para a área de operação,

concentrando-se no pessoal recém formado da região. É importante ressaltar

que neste momento inicial, no fim dos anos 70, início da década de 80, essa

mão de obra foi mesclada com outro pessoal de menor nível de formação,

154

mas com uma experiência prática maior, obtida nos campos de produção do

nordeste, especialmente da Bahia e de Sergipe.

A formação dos operadores e, principalmente, seu nível elevado

de informação, acaba produzindo um reflexo positivo nas mudanças

propostas, a partir das reestruturações determinadas pela inserção de novas

tecnologias e das mudanças organizacionais. Veja-se no item 5.6.1 as

informações sobre o treinamento/ formação oferecida pela empresa para o

exercício da Polivalência.

5.5 - Seu Trabalho:

O Trabalho do Operador de Produção embarcado é tenso,

angustiante e penoso. A carga horária é de 12 horas de trabalho por dia,

durante 14 dias, tendo o que eles chamam de "virada", no sétimo dia de

embarque, quando se faz a troca de turno do dia com a noite ou o inverso,

dependendo da plataforma. Nesse dia, uma das duas equipes embarcadas,

logicamente a que está no 14° dia, prepara-se para desembarcar, trocando

com a outra equipe que chega. Para facilitar os horários de quem sai, a

equipe que está virando trabalha em torno de 18 horas neste dia. ( Exemplos

de horários de virada das plataformas visitadas: SS-08 - 1ª Semana: 20:00 ~

07:00; Virada: Sai as 07:00 retorna às 12:00 horas indo até 20:00 horas; 2ª

Semana: 07:00 ~ 19:00 horas, Dia da Saída 07:00~12:00 - Obs.: 1- ) O

sacrifício do dia da virada é para antecipar o desembarque; 2-) Note-se que o

155

horário de chegada é 12:00 horas, havendo até começar, às 20:00 horas, um

tempo para um descanso; 3-) Os horários variam de Plataforma para

Plataforma.

Há sempre duas equipes a bordo e, semanalmente, sempre no

mesmo dia, uma equipe sai e outra chega juntando-se àquela que já está há 7

dias a bordo. O tempo de descanso desembarcado, em terra, é de 21 dias a

partir de 1989, depois da Constituição de 1988.

O dia da semana para embarque varia de plataforma para

plataforma. Segundo informações obtidas junto aos petroleiros, faz-se um

rodízio anual, entre as plataformas, desse dia de embarque. Entre eles há

opiniões divergentes sobre o melhor dia para embarcar e, logicamente, para

desembarcar. Observe-se que o dia da semana é o mesmo, ou seja, se o

embarque ocorre numa segunda, também numa segunda ocorrerá o

desembarque, visto que o tempo de embarque é de exatos 14 dias ). Alguns

preferem a sexta-feira porque o desembarque coincide logo com um final de

semana para curtir. Outros já discordam, porque quando se desembarca

sempre há muita coisa para agir ( providenciar dinheiro para o final de

semana, por exemplo ), e aí deve-se aguardar o início da semana seguinte.

Existe, ainda, o problema dos que moram muito longe de Macaé, que é a

base de apoio para embarque e desembarque da Bacia de Campos.

Por outro lado, existe também a desvantagem do último final de

semana durante a folga, quando vai chegando a hora para o petroleiro se

preparar para embarcar. Da mesma forma que uns criticam e outros elogiam

a sexta-feira, outros o fazem com a segunda.

156

Na hora de embarcar, normalmente, há uma preferência pela

segunda-feira, pois, dessa forma, há tempo de passar o final de semana com

a família e os amigos antes de embarcar. Os que moram longe de Macaé e

embarcam cedo ( 07:00 horas ) devem que sair ainda no domingo de casa. Na

hora do desembarque surge outro sentimento, logo após o final de semana.

De qualquer maneira eles dizem : "sempre se perdem dois finais de semana

" . ( Depois será comentado esse sentimento de "perda" ) Em dez anos

cada um "perdeu", aproximadamente, 4 anos embarcado. Segundo os

operadores offshore, o final de semana é sempre mais duro, como disse um

deles em uma das plataformas visitadas: "melhor dia para desembarcar é quinta-

feira, pois antes do final de semana pega um dia útil para resolver os problemas;

segunda-feira é um dia péssimo para embarcar, pois além de deixar problemas para

serem resolvidos, fica pensando durante o final de semana, amanhã é o dia. Para

embarcar é bom terça e quinta feira, pois passa-se dois dias de cada semana

embarcado. Aqui nos sábados e domingos é uma merda, a gente diz é sábado/ domingo

e a gente trabalhando, quando chega a segunda, aqui a gente fica mais tranquilo. É

mais uma semana para trás".

157

Percebe-se entre eles esse sentimento com relação ao tempo26.

26 Minayo, M. C. in, Os Homens de Ferro, diz que nada tem merecido tanto empenho do

capital na "educação" dos trabalhadores, como a ordenação racional do tempo e do

espaço, uma vez que no cálculo capitalista "tempo é dinheiro". Minayo fala ainda: "com

relação ao espaço, o dia-a-dia do trabalhador passa a ser demarcado por um percurso

que o subordina: o trabalho, a casa e o bairro tomam dimensão de mundo, reforçando,

de um lado as relações de lealdade da vizinhança, mas de outro a dicotomia entre a

empresa e a sociedade civil. ... A questão da ordenação binária do tempo e do espaço (

tempo de trabalho-tempo livre, mina-casa ) aparece bem cristalizada na mentalidade dos

operadores".

Essa dicotomia do tempo "embarcado e desembarcado" parece reproduzir essa mesma

ordenação que Minayo chama de "ordenação binária do tempo e do espaço". No caso da

plataforma está muito claro. A forma de se marcar o tempo com a ampulheta, reflete esse

sentimento parece produzir nos petroleiros a sensação de que, na prática, é como se eles

possuíssem duas vidas, uma profissional ( embarcado ) e a outra pessoal

( desembarcada ). É como se uma retirasse o tempo da outra. Reforça essa idéia o fato da

grande maioria dos familiares e amigos não conhecerem o tipo de trabalho desenvolvido

pelos mesmos. É comum ouvir relatos de petroleiros reclamamando da falta de

compreensão das pessoas que não entendem determinadas necessidades que os petroleiros

sentem quando desembarcam. Querem extravazar as angústias, as ansiedades e o medo

vivenciado intensamente durante os 14 dias de embarque:

"Quando chego em terra, preciso de 3 dias para adaptação. Eu passo na rua vejo um

monte de gente, carro indo prá lá e prá cá, eu fico tontinha. Quero fazer tudo que eu

não pude fazer, quero fazer tudo ao mesmo tempo. Eu tomo remédio para tensão. O

158

Dentro desta linha existe uma afirmação interessante, muito citada pelos

petroleiros e repetida lá dentro das plataformas: "para o petroleiro a semana só

tem dois dias: domingo e segunda. Quando se está embarcado todo dia é segunda-feira

e quando se está desembarcado todo dia é domingo". ( Dá para perceber o

problema aqui é que a gente não volta para casa, se tivesse uma rua aqui que levasse

para casa... o pessoal de Cabiúnas do turno ganha igual a gente e está todo dia em

casa. O pessoal que trabalha em terra vai resolvendo seus problemas aos poucos, nós

não, interrompemos com 20 dias, largamos tudo e vamos embora". ( Ent. 9 )

"Agora eu já comecei a descer o morro" ( afirmação do entrevistado -operador - ao se

referir ao 8° dia de embarque ). ( Ent. 2 )

"A visita da minha esposa à plataforma, no programa de visita de familiares às

plataformas implantado pela Petrobrás, arrumou meu casamento. Ela não esperava que

o meu trabalho fosse tão duro". ( Ent. 12 )

O entrevistado deixava entender que sua esposa ficou orgulhosa de seu trabalho. Isto é

bem provável, pois sem dúvida ele é o cara mais esperto no setor de operação da

plataforma. Conhece o processo como poucos e é respeitado profissionalmente por todos.

"Quando desembarco eu quero me expandir , quero relaxar, quero fazer coisas

diferentes, tomar umas cervejas com os amigos e nem sempre a esposa compreende isto.

Quando estou desembarcado bebo pelo menos 3 cervejas por dia, fora os "porraços"...

depois da visita da minha esposa nossas relações melhoraram muito, ela ficou mais

compreensiva". ( Ent. 12 )

159

sentimento do petroleiro com relação a sua folga, quando diz que qualquer

um desses 21 dias desembarcado é domingo ). Completando a afirmação

acima comentou-se

em uma das plataformas: " aqui se sabe que é domingo, pelo cheiro de churrasco.

Na Bacia inteira, em todas as plataformas, é dia de churrasco". Ou, "A gente aqui

sabe que é domingo porque tem churrasco na cozinha. O Chefe continua a pelar o saco.

O relógio nosso podia ser uma ampulheta".

Em algumas plataformas, a primeira semana de trabalho ocorre

durante o dia e a segunda, durante a noite. Em outras acontece o inverso: a

primeira semana de trabalho é durante a noite e a segunda é durante o dia.

Existem opiniões divergentes para essas preferências. Como é quase unânime

a opinião de que o turno da noite sobrecarrega mais o organismo humano.

Uns preferem enfrentar logo essa dificuldade na chegada à plataforma ( caso

da primeira plataforma visitada por este pesquisador ). Outros preferem

deixá-la para o momento de ir embora. Na última plataforma visitada, Pargo,

a segunda semana de trabalho se dá à noite e o horário, no dia da saída, é das

19 horas às 05:00 horas. Essas duas horas a menos são descontadas do dia da

virada quando se faz duas horas a mais. Outros preferem o trabalho noturno

porque, segundo eles, a carga mental é menor pois, à noite, não existem, na

área, atividades de manutenção que exigem grande preocupação; e não existe

também, trabalho de vistorias e inspeção para emissão das PTs ( Permissão

de Trabalho ) que são emitidas pelo pessoal da operação para autorizar

qualquer serviço ( a quente ou a frio ) em área de risco, principalmente

aquelas que têm a presença de gás.

Na Pesquisa do Perfil do Operador Offshore, 20% dizem que,

freqüentemente, têm dificuldade de sono nos dias em que trabalham à noite;

160

69% costumam sentir vontade de cochilar durante o trabalho noturno. 51%

afirmam que, às vezes, dormem mal durante o repouso quando estão

trabalhando à noite.

Ainda sobre o trabalho do Operador, esta pesquisa revela que o

ruído incomoda 89% dos pesquisados; 78% freqüentemente trabalham em

locais perigosos e sentem cansaço no dia da virada. Sobre o treinamento,

52% disseram que não houve treinamento específico para sua função, no

momento da admissão, e 41 % informam que não houve treinamento

adequado para o trabalho. 58% têm entre 9 e 11 anos de empresa.

Em relação ao trabalho desenvolvido atualmente pelos

Operadores, pode-se dizer que, em termos de conteúdo, ele tem avançado,

principalmente, com o incremento e o aperfeiçoamento dos mecanismos de

controle do processo. A partir do aumento da confiabilidade da leitura feita

nos painéis das salas de controle, a leitura feita diretamente nos

instrumentos tornou-se menos importante. A autonomia do operador, que na

época era chamado Praticante de Produção e depois Auxiliar de Produção,

aumentou, e o mesmo passou a poder realizar manobras para manter a

regularidade do processo. Essas tarefas só eram permitidas ao Capataz de

Produção ( hoje no novo PCS é o ATOP ). Isso pode ser verificado no

depoimento de um Operador: "Antigamente era assim: O ATOP ( Capataz ) chegava

para o Operador ( Auxiliar de Produção ) e dizia: Fica aí vigiando este nível, quando

se alterar me chame. Neste momento o ATOP mandava o Operador executar as tarefas

161

para normalizar a situação: Fechar válvulas, etc.. Hoje até "arrasta balde"27 mexe nos

controles".

Essa evolução já consta das atividades prescritas para o

operador, nas próprias normas estipuladas pela empresa ( vide anexo ). A

partir das observações feitas nas Plataformas e também pelas entrevistas

realizadas com os Operadores, pode-se listar, pela ordem de atuações, que as

atividades desenvolvidas pelos Operadores são:

1 - operar e verificar equipamentos e instalações nas atividades

de operação de produção de petróleo ( extração, processamento, tratamento,

movimentação, recuperação especial e secundária, geração de energia

elétrica, utilidades, completação e avaliação e restauração dos poços);

2 - efetuar leituras de painéis e instrumentos, medir e controlar

as diversas variáveis tais como: pressões, temperaturas, níveis, vazões,

consumo de produtos, etc.;

3 - realizar manobras e rotinas operacionais estabelecidas pela

chefia;

4 - liberar equipamentos e instalações para manutenção e

inspeção, acompanhando, fiscalizando e auxiliando nestes serviços em seus

postos de trabalho;

27 Arrasta Balde - referência que alguns petroleiros fazem aos serventes que trabalham

com baldes na sua atividade de limpeza; para eles a expressão tem um caráter pejorativo

em função dos serventes executarem um trabalho sem nehuma exigência de qualificação.

162

5 - executar tarefas de montagem e desmontagem de

equipamentos nas instalações de produção;

6 - efetuar coletas de amostras para análises de óleo, água, gás e

outras.

Sob o ponto de vista das atividades realmente desempenhadas

na prática, o trabalho do Operador se aproxima muito do trabalho do ATOP,

que hierarquicamente representa o seu chefe. ( Vide em anexo os exemplos

de atribuições do TOP, do ATOP e do Operador ). Essa aproximação

acontece à medida que o trabalho é desenvolvido em equipe. Essa, aliás, é

uma das características do trabalho desenvolvido em indústrias de processos

contínuos.

Existem profundas diferenças na forma de trabalhar entre as

equipes, como já foi falado. Nesse sentido, há plataforma onde não existe o

Engenheiro Chefe de Plataforma. Nesse caso, a Produção é gerenciada pelo

TOP, Técnico de Operações de Produção, que trabalha de sobreaviso. O

turno é comandado pelo ATOP. Diretamente pelos operadores, quando o

ATOP está em férias ou em curso. É também comum, mesmo nas plataformas

que têm Cheplat, a equipe de turno ser comandada por um operador, que

assume o papel do ATOP28.

28 ( P ) Me diz uma coisa em relação a essa questão da polivalência. Lá na SS-YY

quantos são os operadores de óleo e gás ?

( E ) 4 Operadores e 1 ATOP no Turno. Sendo que algumas equipes têm 3 operadores. Eu

mesmo tô saindo agora. Vou ficar liberado e meu grupo deve embarcar com 3 pessoas e

163

não existe nem perspectiva de ter outro operador para me substituir... O Cheplat está

sabendo que eu vou sair. Seria necessário embarcar alguém para treinar e tudo mais... e

não foi mandado ninguém... se não embarcar mesmo, meu grupo vai embarcar com três...

( P ) Então é normal trabalhar 3 ou 4 operadores sem ATOP ?

( E ) É normal. Está sempre acontecendo isso.

( P ) O que você acha desta carga de trabalho de óleo e gás comparado com o PPMoraes?

( E ) A gente está tendo uma série de dificuldades, além da gente estar operando

equipamentos com os quais a gente não teve um outro contato, não teve treinamento... a

gente tá tendo treinamento e ao mesmo tempo operando, então a dificuldade é imensa... e

o tempo todo são 40 mil barris e 40 mil barris e você é responsável por uma das maiores

produções da Bacia... você fica com essa responsabilidade.

(...) ( P ) As equipes lá todas tem Cheplats ?

( E ) É. São 3 Cheplats.

( P ) Tem alguns momentos que não tem Cheplat ?

( E ) Algumas equipes ...duas equipes... eu por exemplo trabalho com um Cheplat só.

( P ) Ele faz o horário do dia ?

( E ) Exato. Tem uma outra equipe que ele trabalha é a equipe que ficou lá. Esta equipe

trabalhou 7 dias com um Cheplat, aí ele desembarcou e trabalhou os outros 7 dias com

outro Cheplat.

( P ) Mas a plataforma fica em algum momento sem Cheplat ?

164

A capacidade dos operadores e o exercício com certa constância

do cargo de ATOP, leva a um descontentamento com relação à diferença

entre os níveis de um e outro29, e à falta de possibilidade para ascensão

funcional. Perde-se a motivação por um melhor desempenho no trabalho. Na

pesquisa de campo nas plataformas, assim como nas entrevistas, muito se

reclamou dos critérios da empresa e dos chefes para as avaliações de

desempenho. Na Pesquisa do Perfil dos Operadores off shore, 63 % disseram

que, freqüentemente, a avaliação anual provoca descontentamento e 56%

( E ) Não. Não fica. Fica um dia no máximo dois, quando o Cheplat desembarca para

fazer uma reunião em terra e embarca novamente.

( P ) Mas tem um projeto da Petrobrás de levar o Cheplat para terra...

( E ) Até agora não. Talvez por ser uma plataforma nova, tem um sistema de produção

particular que é o sistema submarino de águas profundas... então tem uma série de

problemas e eu sinto que eles sentem uma certa tranquilidade quanto a isso, porque eles...

eles acompanharam aquilo desde o início, então, eles estão vendo que eles não vão ter tão

cedo o domínio daquilo dali, eles é que têm domínio daquilo ali... principalmente 2

Cheplats, o outro não. O outro saca muito da planta, ele acompanhou a montagem nos

Estados Unidos, então ele conhece a planta em detalhes...( Ent. 15 )

29 "A diferença Salarial entre o Operador e o ATOP é muito grande. É de mais ou menos

100%( 20 Mil e 40 Mil ). Deveria ser Operador I, II e III. Não há diferença de trabalho.

Eu podia fazer e hoje já faço o trabalho do ATOP. O Fiscal não faz nada . Olha as posses

do ATOP e a nossa". Ao falar sobre satisfação ele diz: "Gosto do Trabalho não gosto é do

salário". ( Ent. 3 )

165

afirmam que existe dificuldade de enquadramento nos 3 níveis de avaliação

( S, M e I ).

5.5.1 - Relações de Trabalho

As relações de trabalho são influenciadas por uma série de

questões já levantadas. É óbvio que não possuem as mesmas características

das relações desenvolvidas, por exemplo, numa fábrica instalada numa

cidade, onde os trabalhadores não são obrigados a conviver com colegas

além das horas relativas ao desempenho de suas atividades, no posto de

trabalho. Em função disso, a Pesquisa sobre o Perfil dos Operadores

procurou classificar a opinião deles sobre essas relações e encontrou os

seguintes dados:

84% consideram como bom o relacionamento com os colegas da

Petrobrás e 77% com os colegas de empreiteira;

61% dizem que raramente/às vezes o relacionamento com a

chefia é bom;

52% dizem que só às vezes têm liberdade para falar de

problemas pessoais com a chefia direta, 33% não têm.

54% dizem que têm liberdade para dar opiniões em assunto de

trabalho e 40 %, às vezes;

166

61% dizem que às vezes participam com a chefia de atividades

de lazer e 33% não participam;

64% dizem que só às vezes sentem-se reconhecidos pelos

colegas;

63% dizem que só às vezes a chefia mantém bom clima no

grupo de trabalho e 23% dizem que a chefia não mantém;

45% dizem que não se dá ao empregado chance de defesa na

aplicação de normas disciplinares e 27% dizem existir rigor na sua

aplicação.

É interessante observar que os problemas do turno, tanto os de

natureza profissional quanto os pessoais, continuam presentes após o turno

de trabalho. É impressionante como se conversa de trabalho nos intervalos

entre o repouso e o lazer e, até mesmo nesse e, principalmente, nas

refeições. Isto se dá em função do confinamento e praticamente da

obrigatoriedade de convivência quase que de 24 horas entre os membros de

uma equipe de trabalho.

Num levantamento mais qualitativo, buscou-se identificar falas

que reproduzem situações ligadas às relações de trabalho acontecidas no

interior das plataformas:

"Quando aqui se chega, se tem muita coisa prá conversar, o que se fez

na terra, onde foi, o que fez e as coisas que comprou. Nos primeiros dias todo mundo te

trata bem, a relação é boa, nos últimos dias ninguém pode brincar mais a brincadeira

dos últimos dias" (Ent. 9)

167

"Eu podia regaçar os poços, botar para produzir tudo... f iscal chegar na

terra e dizer bati o recorde da plataforma, mas deixou tudo estourando, poço, bomba,

etc. a gente aqui se quiser pode botar o fiscal para cima, fazer o nome dele".( Ent. 3

)

"O pessoal da terra não faz nada direito para o embarcado. Tudo cai em

cima do pessoal embarcado, que é quem carrega a empresa. Antes da Coper era melhor

para resolver nossos problemas com DIRGAS ou DIROLEO. Hoje essas divisões só

estão com a parte técnica." ( Ent. 4 )

( ... ) ( E )Aquilo dali em cima de você... existe a questão da disputa

entre grupos... porque... uma equipe é melhor do que a outra...

( P ) Entre turnos ou entre embarques ?

( E ) Entre todas as cinco equipes. Eles ficam fazendo comparações, o

cara fica ...

( P ) E essas comparações, você acha que são estimuladas pela empresa?

( E ) Sem dúvida. O próprio Cheplat faz elogios... eu tenho mais

contatos... e a gente sabe de toda a psicologia que é aplicada na competição. Você está

sempre competindo com o seu colega, melhor do que a outra equipe ... essa equipe é a

melhor... o operador é o melhor...

( P ) É por causa do negócio da avaliação ?

( E ) é avaliação, é ...

( ... )( P ) Mas é comum esse rodízio ? Durante os 14 dias cada dia estar

num lugar ? Um dia na sala de controle, outro dia na área, ou é por embarque?

168

( E ) Olha a minha equipe tem uma metodologia de trabalho. A outra

equipe tem outra metodologia. Isso varia muito com o ATOP, o Cheplat e com o

operador que vai para o final na verdade.

( P ) Qual é a da sua equipe ? Sua equipe faz como ?

( E ) Olha é o seguinte. Parte muito da questão do operador também...

dele mostrar firmeza no que é necessário para ele operar bem e ele bater pé mesmo, que

ele não vai fazer daquela forma, eu preciso fazer desta forma, desta maneira aí você

está... você vai me prejudicar, parte muito por este lado aí... agora particularmente o...

ATOP com quem eu trabalho deixa muito a critério do operador, mas eu vejo que a

outra equipe não tem ... e às vezes eu me meto e acabo discutindo com o ATOP da outra

equipe, aí ele foi grosseiro comigo, aí parte para ameaça mesmo, aí olha, se você

trabalhar na minha equipe a coisa não vai ser assim não... aí eu falei, vamos ver se a

gente trabalha junto aí, vamos ver como é que a gente vai ficar, a gente se acerta aí...

eu procurei também não acirrar não ...

( P ) Essa relação assim com o ATOP meio complicada entre os

operadores... ela não é muito comum... geralmente o ATOP e o operador transam legal

...

( E ) Depois do operador polivalente principalmente acirrou demais. Tem

operador que simplesmente acabou, deteriorou mesmo a relação de amizade, uma boa

relação de trabalho...

( P ) E porque você acha que aconteceu isto ?

( E ) Porque grande parte dos ATOPs aceitaram e repassaram isso para

os operadores e os operadores que estavam na ponta da linha que sentiram mais...

( P ) O trabalho aumentou para eles, não para o ATOP ?

169

( E ) Também para o ATOP não vou dizer que não, mas o ATOP tem um

poder de pressão maior, eu vejo que eles tem um poder de pressão maior, a gente sente

isso aí, então no final foi o operador o que mais sentiu, ele foi o que mais resistiu e aí

ele foi em cima do chefe imediato dele que foi o ATOP e o ATOP simplesmente foi

repassando o que vinha lá de cima ele colocava e dizia que simplesmente não podia

fazer nada... se você quiser pode conversar com o Cheplat ou vai conversar com o TOP

e este por sua vez ia repassar pro Cheplat, ia repassando à medida que você fosse

resistindo ele ia repassando para cima, então houve muito desgaste de relação de ATOP

que aceitou, começou a repassar o serviço para os operadores que tiveram resistência e

eles... ( Entr. 15 ).

Pode-se perceber que existe um relacionamento dentro da

equipe, que está acima da posição hierárquica, porém isso não se dá em

todas as equipes. O fiel da balança quase sempre é o ATOP. Quando o

mesmo fortalece o sentimento de equipe, colocando os desafios como sendo

do grupo e não especificamente dele, o sentimento de solidariedade se

mostra presente e a produtividade parece ser muito melhor. Constatou-se

esse fato durante a visita, por mais de uma vez. Numa plataforma visitada,

ocorreu uma situação de emergência no início de uma madrugada. Toda

equipe atuou, de forma coesa e rápida, sem distinções de funções e

hierarquia.

O depoimento da Entr. 3, acima, diz claramente que quando se

tem interesse, pode-se aumentar a produção para favorecer os chefes de suas

equipes. Aqui, cabe ressaltar, chama-se de equipe, aqueles que trabalham os

14 dias juntos. Duas equipes revezam-se, no trabalho, durante os 14 dias. A

cada 7 dias, uma das equipes desembarca, enquanto a outra troca de turno.

Essas duas equipes são coordenadas por um Cheplat e/ou um TOP. Como já

170

foi dito, em algumas plataformas pequenas não existe Cheplat, sendo seu

trabalho realizado por um Técnico de Operações- TOP.

Há também um mal relacionamento entre o pessoal embarcado e

o pessoal de terra. Muitas reclamações são feitas, principalmente, sobre a

falta de apoio deste pessoal às necessidades daquele trabalhador, pois seu

único contato com a administração da empresa acontece via o trabalho na

plataforma.

Por fim, cabe um comentário sobre o acirramento de ânimos,

quando estremecem as relações no trabalho. Os atritos que devem preocupar

a empresa, em função da necessidade de segurança, são extremamente

traumáticos. Acabam por atingir todos os membros da equipe, aumentando a

ansiedade e a angústia já presentes nas atividades exercidas em um ambiente

confinado e de alto risco.

5.6 - Sua Qualificação:

A Qualificação é um atributo do trabalhador e não algo inerente

ao tipo de atividade que ele desenvolve. Embora o tipo de trabalho exercido

pelo operador apresente necessidades de atribuições ( de qualificação ), não

está por ela, diretamente determinada.

171

Mais ainda, sendo a Qualificação um atributo do trabalhador é

também considerada um conjunto de condições físicas e mentais que compõe

a capacidade de trabalho despendida em atividades voltadas para a produção

de valores de uso. Assim sendo, dentro de uma concepção marxista, o caso

do Operador de Produção pode ser avaliado dentro do tipo de atividade por

ele desenvolvida, como um exemplo de atividade que exige uma condição

mental de desenvolvimento lógico e abstrato, acima da média. Aliás, isso já

pode ser considerado uma característica dos operadores da indústria de

processo contínuo.

Deve-se aqui, fazer uma observação a respeito do processo de

evolução das atividades atribuídas ao Operador, nas atividades off shore. A

capacidade do Operador de Produção, nessas atividades, nem sempre foi

reconhecida. Isso fica evidenciado verificando-se as atribuições que ele

exercia na época em que ainda era classificado como Praticante de Produção.

Na prática, essas atribuições ficavam restritas a atividades que dispensavam

o conhecimento mais profundo do sistema, pois as decisões sempre eram dos

Capatazes de Produção, atuais ATOPs ( Auxiliar Técnico de Operações ).

Um operador descreve essa época: " O ATOP chegava para o

operador e dizia: fica vigiando este nível ( aí reproduziu os gestos de um

operador parado, diante do mostrador, vigiando o nível ). Quando acontecia

alguma coisa o operador falava: Chefe saiu de nível aqui. Aí o ATOP

mandava: então fecha esta válvula lá." ( Ent. 3 )

A evolução na forma de organizar o trabalho do operador, com

a agregação de novas responsabilidades, que reconhecem sua capacidade,

significa um avanço da empresa sob o ponto de vista gerencial, uma vez que

estava-se desperdiçando essa capacidade, como também rotinizando e

172

vulgarizando o trabalho de um profissional, o que também prejudicava a

produtividade.

É interessante observar, quanto ao aspecto da escolarização30,

que os operadores têm, em maioria de 90% ( 917 em 1.017 ), pelo menos, o

Segundo Grau. E mais: segundo a Pesquisa ( em anexo ) do Perfil do

Operador Off Shore, pelo menos 80 % possuem curso de formação

profissional, principalmente o Curso Técnico, mais especificamente o de

Eletrotécnica ou o de Mecânica. Aliás, isso ocorreu porque a própria

empresa preferiu esse tipo de formação quando dos processos seletivos.

Existem quase 10% com curso superior, número que somado ao

de técnicos acaba influenciando a empresa em atribuir atividades e decisões

30Aqui, cabe realçar que a escolarização não guarda uma relação direta com a

Qualificação. Quando a Escolarização vem acompanhada de uma boa formação,

logicamente haverá influência na Qualificação. A partir da concordância de que a

Qualificação é um conceito relativo e que, por isto, sempre está relacionada a algo, (

nesse caso, por exemplo, à tecnologia ). Ainda neste caso do Operador de Produção

Offshore, a Qualificação está diretamente ligada à relação que o operador faz entre os

conceitos que contribuiram para sua formação geral e o entendimento ( de forma mais

facilitada ) do processo de trabalho com o qual lida. Conseqüentemente pode-se deduzir

que a formação geral do Operador guarda uma relação direta com a sua Qualificação para

o trabalho.

173

que exigemem uma maior Qualificação. Isso gera reações contrárias destes

operadores que vêem de forma diferente essa questão31.

Insistindo na tese de que a formação não guarda uma relação

direta com a Qualificação32, pode-se analisar melhor o movimento de

Qualificação do Operador de Produção e também a mudança organizacional

com conseqüente alteração de cargos. Ou seja, a mudança de concepção do

trabalho do Praticante de Produção levou ao surgimento do Auxiliar de

Produção, num primeiro momento e, num passo mais firme, à criação do

Cargo do Operador de Produção. Isso fica mais evidente, observando-se que

31"...Todos na minha família têm curso superior (...) tenho ótimo currículo, já trabalhei

em empresa cheio de status, mas o que conta é dinheiro no bolso, por isso vim para cá ser

peão". "Entrei por baixo pensando em sair por cima (...) não escondi que tinha curso

superior para entrar na empresa". ( Ent. 2)

"Aqui quase todos têm nível superior. A empresa sabe, eu não escondi a formação, a

maioria não esconde. Por que estamos aqui ? Pela grana. Não ganhamos lá fora o que

ganhamos aqui. Eu já fiz Concurso e levei pau para Engenheiro, é muita gente e não tem

vantagem para o pessoal interno. Fiz para Engenheiro de Dutos porque não gosto da

Produção, não se aprende nada. Já disse, todos os Engenheiros que vieram para cá estão

caducos, pararam no tempo. No Concurso concorre-se com gente recém-formada do Brasil

inteiro. Estou há 7 anos, só trabalhei aqui. Fui para duas outras plataformas no início...

depois vim para cá, era para ficar uma semana... aí fiquei, já estava gostando e... o Fiscal

pediu... estou até hoje.

32Aqui deve-se fazer uma distinção entre Escolarização, Informação, Treinamento,

Formação e Qualificação.

174

na área de Utilidades, seja de elétrica, seja de sistemas, já existia a

nomenclatura de operador. Logicamente há uma relação com o tipo de

trabalho, já que desde essa época, a empresa considerava a tarefa na

utilidades como um trabalho mais qualificado. As atividades de operação de

óleo e gás não mereciam o mesmo tratamento, eram consideradas

possivelmente como uma atividade mais rotineira e mais simples.

A mudança seguinte, que ainda está em curso é a transformação

dos Operadores em Operadores Polivalentes. Neste momento, a empresa

passa a reconhecer a necessidade de valorizar e/ou de criar essa nova

capacidade do seu operador. Os novos paradigmas exigem esta decisão.

A empresa passa, a partir daí, a oferecer a todos os seus

operadores o Curso de Operador Polivalente.

5.6.1 - O Curso de Operador Polivalente:

A empresa fez uma programação visando a promover, para

todos os operadores, um Curso de Polivalência, que pudesse habilitar o

conjunto dos operadores, até então especialistas, em operadores

multihabilitados. Esse treinamento tem sido desenvolvido, de forma gradual,

com grupos formados geralmente, por 35 operadores de diferentes

plataformas, com carga horária total de aproximadamente 600 horas em 75

dias úteis ( ± 3 meses ).

175

Esse Curso tem um Programa Básico e um Específico, que

envolvem conteúdos relacionados as quatro áreas da produção; óleo, gás,

utilidades elétricas e utilidades de sistemas (água potável, ventilação, etc.)33.

33O conteúdo do Programa de Treinamento para Operadores Polivalentes é o seguinte:

Programa Básico:

Noções de Plataformas Marítimas ( 8 h ); Noções de Geologia e Reservatórios ( 20 h );

Noções de Perfuração ( 8h ); Noções de Completação ( 24 h ); Manutenção de Poços ( 8 h

); Equipamentos de Completação ( 8h ); Noções de Avaliação de Poços ( 16 h ); Noções

de Processamento de Óleo ( 32 h ); Noções de Processamento de Gás ( 23 h );

Desidratação e Injeção de Inibidor de Hidratos ( 5 h ); Dessulfurização ( 2 h ); Limpeza

de Gasodutos ( 2 h ); Compressores - 1ª Fase ( 7 h ); Medição de Gás ( 4 h ); Amostragem

de Gás ( 3 h); Noções de Mecânica dos Fluidos ( 16 h ); Noções de Utilidades ( 38 h );

Diagramas, Tubulações e Válvulas ( 8 h); Bombas ( 8 h ); Instrumentação ( 22 h ).

Programa Específico:

Planta de Processo de Óleo ( 15 h ); Planta de Processo de Gás ( 15 h ); Compressores de

Gás - 2ª Fase ( 5 h ); Trocadores de Calor ( 4 h ); Tratamento de Gás/ Problemas

Operacionais ( 6 h ); Sistema de Segurança e Lógica Shuntdown ( 16 h ); Sistema de

Utilidades Elétricas - Eletricidade Básica ( 120 h ); Produção Industrial de Energia

Elétrica ( 80 h ); Sistemas Elétricos ( 12h ); Equipamentos Elétricos ( 12 h ); Geração

Auxiliar ( 8 h ); Geração Principal ( 8 h ); Geração de Água Potável ( 5 h ); Tratamento

de Água e Captação e Injeção de Água (7h); Compressores de Ar ( 3 h ); Ventilação e Ar

Condicionado ( 13 h ); Utilidades - Manobras Operacionais (8h).

176

Dentro do conteúdo é também previsto um conjunto de Palestras

sobre Qualidade x Produtividade, Aspectos Humanos e Programas

Participativos da Qualidade e Produtividade. Esse Curso é desenvolvido,

normalmente, em três etapas e locais distintos: na sede da Região de

Produção Sudeste em Macaé, RJ, em um Hotel na cidade de Rio das Ostras

(vizinha de Macaé) e na Escola Técnica Federal de Campos.

Como o Curso está sendo oferecido aos operadores de cada

plataforma de forma paulatina, a mudança organizacional, através da

ampliação das responsabilidades da supervisão, controle e operação de

outras áreas, em quase todas as plataformas, vai ocorrendo independente da

habilitação teórica nas novas áreas. Dessa forma, o treinamento prático

acaba se realizando no próprio trabalho ( "on job" ), no estilo de

acompanhamento, também conhecido como "Cosme e Damião". O Operador

do óleo passa um período acompanhando o trabalho do operador do gás,

depois com o operador de utilidades de sistemas e por fim, com o operador

de utilidades elétricas34.

Obs.: Os operadores ficam isentos de assistirem as aulas das disciplinas refrentes à sua

respectiva área de atuação, embora não fiquem dispensados de prestar avaliação nestas

mesmas disciplinas.

34Nem todos os Operadores treinados nesse curso passaram, antes ou depois, pelo

treinamento prático na plataforma. Desses que passaram, nem todos fizeram treinamentos

nas outras 3 áreas diferentes da sua. Só nas últimas turmas, a partir de solicitações dos

próprios operadores, é que passou a ser obrigatório o estágio após o curso feito em um ou

dois embarques ( também de 14 dias ), preferencialmente em uma plataforma diferente

177

Ao se fazer uma reflexão sobre esse Curso e seu caráter de

formação ou de informação/ treinamento, é importante distinguir o

treinamento polivalente de uma formação politécnica. Segundo Machado,L.,

"a formação politécnica se situa na perspectiva do desenvolvimento de todas

as qualificações humanas no processo de superação das relações sociais de

alienação e exclusão, enquanto a polivalência se apoia no uso cientificista

da ciência, sujeitando o trabalhador à mera instrumentação utilitarista e o

trabalhador a processos de adaptação definidos por regras prescritas com

anterioridade".

Verifica-se que o Curso não apresenta a preocupação com uma

formação básica que permita aos operadores compreenderem as exigências

de sua atividade e uma visão mais abrangente para resolver problemas.

Aliás, essa compreensão mais ampla permitirá, não só uma elaboração mais

criativa nas soluções dos problemas, mas também à possibildade de se

antecipar aos mesmos.

Num tipo de atividade em que o importante para a

produtividade é a não interrupção do processo de trabalho, essa nova e mais

ampla dimensão da formação do novo Operador traz, não só a perspectiva de

maior autonomia de trabalho, de desenvolvimento social do Operador e de

toda a sua equipe, como também permite à empresa, com certeza, um

quinhão a mais de produtividade.

daquela em que o operador atua. Antes dessa decisão ser tomada, outra grande reclamação

dos operadores era de que o Curso tivesse uma parte prática maior. Falam inclusive, que o

ideal seria que o Curso fosse realizado na própria plataforma, com os instrutores

ministrando o mesmo diretamente nos locais de trabalho.

178

De qualquer forma, a perspectiva de se elevar o nível de

formação, visando-se a mais integração no processo de trabalho, pode

representar um avanço, se entender que isso possibilitaria uma visão mais

global e, consequentemente mais crítica de todo esse processo de alienação

que principalmente o trabalho taylorizado, profundamente especializado,

proporciona. É um avanço não muito grande uma vez que se percebe

claramente que o objetivo é de uma "multi-habilitação" ( Frigotto,1992 ),

com a simples transferência de informações, para o operador, das outras 3

áreas desconhecidas.

Observa-se no conteúdo, uma preponderância de temas que

falam de "noções". Conclui-se que o objetivo é um treinamento através de

informações. Não se visa propriamente à formação desse novo operador do

qual se solicitará ou não maior qualificação, conforme a visão, para operar,

com confiabilidade, mais de uma área dentro do processo de produção que as

diferentes plataformas possuem.

O assunto que mais assusta os operadores é a parte de elétrica,

que embora possua uma carga horária grande- 240 horas - ainda é

considerada pequena pelos Operadores35. Esse fato pode estar ligado à forma

35 "( ... ) eu acho o seguinte: eu tenho o curso de eletrotécnica, isso aí já me ajuda bastante

trabalhar com equipamento elétrico. Agora vá lá que o cara não tem qualif icação elétrica

nenhuma, eu noto colegas meus que têm medo até de botar a mão em um painel... eu fiz um curso

que é de 4 anos ... como é que a Petrobrás quer formar um cara em polivalência em 4 meses?" (

Ent. 1 - Começou trabalhando no óleo e hoje atua tanto no óleo quanto no gás. )

179

de representação extremamente abstrata que esse tipo de conhecimento

exige. Esse tipo de raciocínio não é absorvido com muita rapidez. Pela

periculosidade que o trato prático dessa ciência exige, é comportamento

comum as pessoas com pouco conhecimento do assunto rejeitarem qualquer

tipo de experiência prática.

É interessante ressaltar que os TOPs e os ATOPs também têm

passado pelo mesmo treinamento, inclusive mesmo conteúdo, apenas em

turmas diferentes.

Segundo entrevistas, os primeiros Cursos tiveram, na sua etapa

inicial, algumas disciplinas de embasamento teórico como: Matemática,

Física e Química. Ainda, segundo algumas entrevistas, os participantes do

Curso sempre reclamam da insuficiência da Carga Horária para uma

formação mais sólida nos assuntos que exigem um tempo maior para

maturação dos conteúdos.

5.7 - O Operador frente às Inovações Tecnológicas, às

Mudanças Organizacionais e ao movimento de Qualificação:

"Nós não aceitamos a polivalência. Quando foi imposto eu estava em outra plataforma. Falei:

pode desembarcar, fazer o que quiser, na elétrica eu não mexo, acho que tem que ser de quem é

da área". ( Ent. 4 - Começou trabalhando no Gás e hoje atua tanto no óleo quanto no gás.

)

180

As transformações promovidas nas plataformas, tanto de base

técnica quanto organizacional, se enquadram na chamada modernização dos

setores produtivos através da reestruturação e otimização e, principalmente,

integração dos sistemas instalados. O objetivo é provocar fundamentalmente,

uma redução nos custos operacionais e, complementarmente, uma melhor

visualização do processo que possibilite um sistema de supervisão

centralizado de forma total ou parcial.

Esse é o motivo que leva a empresa a necessitar de operadores

que supervisionem o funcionamento do sistema. É necessário, ainda, que os

mesmos tenham habilidades múltiplas para garantir a não paralisação do

processo ( como em todas as indústrias de processo é ele que vai determinar

a produtividade desse sistema ). E, no caso das plataformas, em que a

maioria tem um nível de automação ainda pequeno, é preciso ter operadores

com condições de diagnosticar e oferecer soluções para os problemas de

processo.

Na visita feita às plataformas, observou-se que ocorre hoje, em

praticamente todas elas, a unificação dos setores de óleo e gás e, em poucas,

dos setores de utilidades de sistemas com utilidades elétricas. Isso se dá

mesmo nas plataformas mais antigas ( maioria ), onde as salas de controle

ainda são específicas e em locais diferentes. Nesses casos há um rodízio dia

a dia durante o embarque, ou de um para outro embarque. Esse rodízio não

ocorre entre os operadores de utilidades de elétrica e de sistemas. Os

próprios operadores não acreditam nele, enquanto existirem plataformas com

salas de controle separadas.

181

É interessante observar que, raramente, esse revezamento

ocorre, mesmo entre os que já fizeram o curso de polivalência. A exceção só

se dá para aqueles que já possuíam curso profissionalizante, na área de

elétrica, antes de entrar para a empresa. Isso vale, inclusive, para as

plataformas mais novas, porque mesmo nestas, ainda não se integrou

totalmente o sistema num único equipamento ou mesmo numa única sala de

controle.

A integração dos sistemas através da unificação das salas de

controle e também da criação da polivalência parece não ser o problema. A

questão parece residir na qualificação necessária para a nova função, assim

como na garantia de não haver uma intensificação do trabalho.

Verifica-se uma diferença enorme entre as plataformas, tanto

em termos de idade tecnológica, quanto em termos de gerenciamento. Ela

eleva o nível de complexidade com a qual se reveste toda e qualquer

estratégia de implantação de mudanças a nível global nas atividades off

shore.

Em termos de tecnologia de controle de processo, a divisão das

plataformas nas 3 grandes famílias é a seguinte: a 1ª Família constitui-se de

sistemas baseados em painéis de lógica fixa ou relés, controle pneumático

das malhas e supervisão através de painéis sinópticos; a 2ª Família é

constituída pelos sistemas de lógica programável e dos controladores

eletrônicos; a 3ª Família constitui-se do Sistema ECOS- Estação Central de

Controle e Supervisão. A filosofia desse sistema é a de que o operador, a

partir do único ponto ( sala de controle de processo ), tenha acesso a todos

os dados do processo podendo a partir desses, intervir no mesmo.

182

Percebe-se, a partir daí, a existência de uma estratégia

empresarial, que aponta no seguinte sentido:

1° - É preciso modernizar.

2° - É necessário reduzir custos.

3°- Para realizar as duas ações anteriores é indispensável que

haja uma transformação de base técnica no processo de produção. Isso será

feito através da automação que supervisionará e controlará toda a produção.

4°- Para fazer tudo isso acima, é inevitável que se promovam

mudanças na forma de organizar o trabalho.

5° - É necessário uma nova formação de Recursos Humanos.

Estas estratégias vão ao encontro das diretrizes gerais da

empresa36.

36O Plano Estratégico do Sistema Petrobrás de 1992 define a missão e os objetivos

permanentes relativos às atividades-fim e relativos ao desempenho, onde cita entre outros:

- Desenvolver a capacitação tecnológica do Sistema Petrobrás, em articulação com a

comunidade científica e tecnológica;

- Formar, desenvolver e valorizar seus empregados e integrá-los ao Sistema Petrobrás;

- Assegurar padrões adequados de saúde ocupacional e de segurança do pessoal e do

patrimônio do Sistema Petrobrás;

183

- Preservar e respeitar o meio ambiente no âmbito de suas operações e na qualidade de

seus produtos;

Este mesmo Plano determina ainda as Opções Estratégicas e Objetivos Decenais. Nestes

objetivos define:

- Fazer da qualidade de seus processos, serviços e produtos, da proteção ambiental, da

segurança industrial e da saúde ocupacional fatores de destaque e reconhecimento do

Sistema Petrobrás;

- Ampliar a capacitação gerencial do Sistema Petrobrás;

- Ampliar a capacitação técnica e tecnológica do Sistema Petrobrás;

Como Projetos Estratégicos, que visa, segundo o documento, a transformar as orientações

estratégicas em ações e resultados, foram definidos 14 temas, que não estão listados em

ordem de prioridade: ( os que estão destacados são os que se referem claramente à Bacia

de Campos )

- Exploração e Desenvolvimento da Produção em Águas Profundas;

- Recuperação Avançada de Petróleo;

- Automação Industrial;

- Consolidadação do Processo de Qualidade Total;

- Modernização da Gestão Empresarial;

Nas Orientações para o Curto Prazo ( 1992/1993):

184

Numa posição mais recente, apresentada ao Sindicato pelo

Grupo de Automação da RPSE, com a participação da Superintendência (

portanto posição oficial ), sobre as estratégias futuras da empresa, afirmou-

se que esse processo de modernização é irreversível e que com os novos

estudos de Viabilidade Técnica e Econômica, objetiva-se continuar a

implantação de sistemas de automação, supervisão e controle de processos,

com a instalação do Sistema Ecos, não só nas novas unidades, mas também

através da substituição dos sistemas anteriores, a exemplo do que foi feito

em Enchova e se faz agora em Namorado2.

Dessa forma foram apresentados os quatro pontos do Plano de

Ação, aprovados pela Superintendência:

1- Rankear as plataformas ( pontuar as plataformas em função

de custos, estratégias, etc., para se determinar em qual plataforma deve ser

feito o 2° EVTE- Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica );

2- Definir uma matriz de atribuições que permita a articulação

dos diversos setores envolvidos com os estudos e a implantação dos

sistemas;

3- Criar uma Divisão que seja a responsável por essa

articulação, antes coordenada pela Divisão de Relações Industriais e

instrumentalizada pelo Grupo de Automação provisoriamente formado; (

- Aprimorar a Qualidade da Ação Gerencial;

- Considerar o Processo Petrobrás de Meio Ambiente, Qualidade e Segurança Industrial

Fator Fundamental na Obtenção Imediata das Melhorias Requeridas pela Sociedade;

185

Obs. Já foi criada a DIFAP- Divisão de Facilidades de Produção que é ligada

diretamente à Superintendência de Produção ( SUPROD ).

4- Acompanhar os desdobramentos de Recursos Humanos que

surgirão com o desenvolvimento dos projetos.

5.7.1 - Posição do Sindicato sobre as Inovações

Tecnológicas:

Ao se observar o Capítulo das Inovações Tecnológicas, que

constou do Acordo Coletivo de 199237, entre o Sindipetro e a Petrobrás, as

37ACORDO COLETIVO DE 1992 :

CAPÍTULO VIII - DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS:

Cláusula 86ª - A implantação de novas tecnologias de trabalho terá como objetivo o

aumento da eficiência, da qualidade dos trabalhos, da competitividade, da segurança e

saúde dos empregados .

Parágrafo Único - A implantação de novas tecnologias que tragam alterações substanciais,

será precedida de uma apresentação aos Sindicatos, cujas bases forem abrangidas, dos

objetivos, avanços e ganhos sociais que tais medidas acarretarão.

Cláusula 87ª - A Cia. assegura que, no seu esforço de modernização e dentro de sua

política e busca de inovações tecnológicas, promoverá, quando necessário, a relocação

dos empregados envolvidos, permitindo, ainda, treinamento nas novas funções,

186

propostas do Sindicato nas negociações do Dissídio de 1993/199438, e

finalmente, o Acordo fechado para o período 93/9439, pode-se observar

algumas questões referentes à posição sindical:

respeitadas as respectivas condições específicas, tabelas salariais e regimes de trabalho

dessas novas funções.

Cláusula 88ª - A Cia. asssegura que na implantação de Novas Tecnologias, quando

necessário, serão mantidos programas de treinamento voltados para os novos métodos e

para o exercício das novas funções.

38 PROPOSTAS PARA O ACORDO COLETIVO 93 / 94 DA FEDERAÇÃO ÚNICA

CUTISTA PETROLEIRA: CAPÍTULO VII - DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS:

Carro chefe da campanha reivindicatória: ( Pontos gerais )

- Estabilidade no Emprego; Não à Terceirização; Abertura imediata de Concurso

Público e Trabalho com Segurança e Saúde.

Cláusula 78ª - A Cia., quando adotar inovações no sistema de trabalho, determinando sua

racionalização com modificação da atividade desenvolvida pelo(s) empregado(s), deverá

cumprir as seguintes obrigações:

I - Constituir comissão paritária a nível regional e nacional para discutir o processo de

implantação de novas tecnologias e técnicas gerenciais, visando a garantia no emprego,

das condições de saúde no trabalho, do diagnóstico dos impactos no meio-ambiente e a

garantia de reciclagem dos trabalhadores em programas de treinamento nas novas funções.

II - Garantir emprego e salário durante o período em que a comissão paritária estiver

discutindo os procedimentos a adotar.

187

III - Distribuir os ganhos relativos ao aumento de produtividade entre os trabalhadores da

Cia.

Cláusula 79ª - A Cia. assegura que em busca de inovações tecnológicas, promoverá,

quando necessário, a recolocação dos empregados envolvidos, permitindo ainda

treinamento nas novas funções, respeitadas as respectivas condições específicas, tabelas

salariais, e regimes de trabalho dessas novas funções.

Cláusula 80ª - A Cia. assegura que na implantação de novas tecnologias, quando

necessário, serão mantidas programas de treinamento, voltados para os novos métodos, e

para o exercício das novas funções.

39 ACORDO COLETIVO APROVADO 93 / 94:

CAPÍTULO VIII - DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS:

IMPLANTAÇÃO: Obs.: Repetiu-se o texto do Acordo de 1992.

Cláusula 83 - A implantação de novas tecnologias de trabalho terá como objetivo o

aumento da eficiência, da qualidade dos trabalhos, da competitividade, da segurança e

saúde dos empregados.

Parágrafo Único - A implantação de novas tecnologias que tragam alterações substanciais,

será precedida de uma apresentação aos Sindicatos, cujas bases forem abrangidas, dos

objetivos, avanços e ganhos sociais que tais melhorias acarretarão. = Cláusula 86 ( 1992

)

Cláusula 84 ( Relocação de Pessoal ) = Cláusula 87 ( 1992 )

Cláusula 85 ( Programa de Treinamento ) = Cláusula 88 ( 1992)

188

1 - O Sindicato concorda e explicita, no acordo de 92, que as

Novas Tecnologias terão como objetivo o aumento da eficiência, da

qualidade dos trabalhos, da competitividade, da segurança e saúde dos

empregados e solicita, em troca, a apresentação das alterações mostrando

os seus ganhos sociais. O acordo garante a realocação dos empregados

envolvidos e treinamento para as novas funções respeitando as condições

específicas, tabelas salariais e regimes de trabalho dessas novas funções.

Esse ponto continua praticamente inalterado na Proposta de 1993.

2 - O principal avanço da Proposta de 1993, em relação ao

Acordo Coletivo de 1992, é sem dúvida, a inclusão da proposta de

distribuição dos ganhos relativos ao aumento de produtividade entre os

trabalhadores. ( Esse ponto foi rejeitado no fechamento da negociação )

3 - Outro avanço ocorre na proposta de constituição de

comissão paritária para discutir o processo de implementação de Novas

Tecnologias e técnicas gerenciais . Nesse ponto, inclusive, amplia a

discussão para as técnicas gerenciais. ( Certamente, caberia aqui, a discussão

sobre o TQC, a Polivalência, etc. ) ;( Esse item também foi rejeitado no

fechamento das negociações )

4 - Há uma mudança de enfoque com relação à forma de ver a

introdução das NT ( Novas Tecnologias ): em vez de se abrir o capítulo com

uma cláusula que defina os objetivos da implantação das NT, o Sindicato

propõe o cumprimento, por parte da Cia., de obrigações, quando as

inovações no sistema de trabalho determinar a racionalização através da

modificação das atividades desenvolvidas pelos empregados.

189

5.7.2 - Impacto Sobre os Operadores:

Sobre a atuação dos operadores, pode-se perceber que,

anteriormente, era prevista uma atuação segmentada dos operadores baseada

nas suas especialidades. Hoje, os novos sistemas de produção projetados

demandam conhecimentos integrados e globalizados, pois diversas

especialidades estão presentes no interior desses sistemas, através da

integração das informações, a respeito das variáveis que compõem o

processo de produção e os seus tratamentos. Aliado a isso, tem-se, ainda,

com a automação, a possibilidade de se eliminar as incertezas provenientes

da intervenção humana. É nesse contexto que surge a Polivalência. Num

cenário, onde se prevê na supervisão dos sistemas cada vez mais

sofisticados, trabalhadores com funções cada vez mais passivas e

desqualificadas.

A decisão da criação do operador polivalente é decorrente de

outra decisão que tem como centro a técnica e, como objetivos básicos, a

redução dos custos de pessoal e um melhor controle do processo de

produção. "O caminho baseado na técnica mantém intacta a estrutura básica

do processo produtivo e busca os mesmos objetivos básicos que até agora

tem sido empregados - reduzir custos de pessoal e lograr um melhor

controle do processo de produção" ( Brodner,1990 ).

Observa-se, por parte da empresa, a decisão de se projetar

sistemas cada vez mais automatizados que incorporem os conhecimentos do

processo, até então presentes no operador. Objetiva-se, assim, eliminar

postos de trabalho e relegar a tarefa passiva de supervisão do sistema, que,

por sua vez, passa a ter uma função ativa e determinante da ação dos

operadores.

190

Uma preocupação, nesse ponto, consiste na possibilidade da

perda de conhecimentos que não podem ser incorporados ao sistema

automatizado. Deve haver a incorporação pelo novo sistema, não do trabalho

prescrito, e sim, sobre o trabalho real. Não fica claro se essa questão está

sendo levada em conta.

Também se observa, claramente aí, o movimento de

Qualificação com a transferência do saber dos operadores para os projetistas

e uns poucos da manutenção; num grupo restrito, acumulam conhecimentos,

tornando-se superqualificados. Como afirma Enguita, M., "todo o processo

de desqualificação é por sua vez, um processo de superqualificação, com a

particularidade de que os desqualificados são muitos e os superqualificados

são poucos" .

Aqui, surge naturalmente a pergunta : para esse tipo de

atividade ( exploração de petróleo off shore ) em que o potencial de risco é

grande, pelas condições de trabalho geralmente adversas e pelo

confinamento ( trabalho e descanso no mesmo local durante 14 dias ), a

solução defendida pela Engenharia, apoiada na Higiene do Trabalho, é a do

afastamento do trabalhador do local de risco. Dessa forma, significa dizer

que o incremento da automação visando reduzir os efetivos embarcados é

uma estratégia correta? 40

40A Entrevista N° 14, com um Engenheiro que participa desse processo de automação das

plataformas, oferece uma visão sobre as conseqüências da automação: "agora o que

acontece com a automação? Ela permite que o operador tenha muito mais liberdade

hoje de se locomover, de não se preocupar, do que ele tinha anteriormente. O que

191

E mais, a busca pela integração dos processos de produção

objetivando um controle "fino" das ocorrências é um fator que não só

possibilita a otimização como também a segurança do sistema?

acontece? Você colocava um operador num vaso com um barulho imenso, ele tinha que

ficar olhando o tempo inteiro se as variáveis lá estavam ok. Ele não podia sair um

minuto, se ele quisesse ir no banheiro ele tinha que chamar um cara para substituí-lo.

O que acontece hoje? Através das estações e como elas são quase que inteligentes, no

caso elas alarmam. Elas fazem como se tivesse dizendo, fica você aqui para mim e me

diga pelo rádio se aconteceu alguma coisa. É isto que a estação faz, ela pode estar

alarmando, aí o cara diz tá assim, aí chama o operador para ele ver só aquele

determinado item . Conclusão: os operadores, eles ficam hoje, eles não estão doze horas

na frente de uma estação. Porque não tem um operador só é uma equipe e o que eles

fazem? Existem os operadores que ficam na estação, eu vi ali na SS-33, ficam dois

sempre, eles ficam com o rádio para falar com os outros operadores que estão na área.

Só que eles não estão na área, num daquele vaso específico, preso e eles ficam

revezando entre si, não sei se é de duas em duas horas, ou três horas eu não sei, mas

eles ficam toda hora, tá chegando um ali e o outro sai vai tomar café, vai fazer isto,

porque ele está com rádio e não tem obrigação de estar num determinado equipamento,

então ele tem um conforto de poder fazer outras coisas é só ser chamado nas horas de

necessidades, nas 12 horas que ele trabalha, então mudou em termos de conforto, está

bem melhor para eles. Eu estive na SS-33 e o cara falou: pô eu não vou nunca para

uma instalação que não tenha um sistema automatizado. O cara falou eu quero sair, eu

não gosto de helicóptero, eu quero sair de SS-33 que tem muito tempo de helicóptero

que é na área sul, mas como não tem nada automatizado lá, eu não saio daqui enquanto

não tiver, porque eu estou em outro nível em relação ao nível de conforto. Diga-se de

passagem em SS-33 você tem um nível de conforto maior...".

192

Como contraponto a essas duas perguntas surgem outras: será

que esses sistemas técnicos são tão confiáveis a ponto de permitir a

substituição total do saber, ainda presente nos operadores, sobre um tipo de

atividade com tão pouca experiência acumulada? Será que essa experiência

já permitiu a esses sistemas técnicos a incorporação de todas as variáveis de

um processo extremamente complexo que alia as atividades de exploração

dos poços às de transformação da matéria extraída? As reservas da Bacia

justificam os custos da implantação destes sistemas?

Algumas das respostas já podem ser esboçadas, como por

exemplo a última: as mudanças tecnológicas estão sendo processadas,

apenas, nas novas unidades de produção. Assim, volta-se à questão da

Organização do Trabalho, é possível promover uma mudança geral, com

soluções únicas, para estruturas tão desiguais? Como compatibilizar a

participação dos trabalhadores nessa definição, se as oportunidades criadas

pelo mecanismos de gestão da qualidade, se dão de forma rara sobre

problemas da ponta do sistema e nunca sobre definições de estratégia?

Uma questão importante a ser analisada a partir dessas

mudanças é sobre o número mínimo de operadores de que cada uma das

plataformas vai necessitar com a implantação destes novos sistemas. Esse

número será baseado no mínimo, para operações em condições normais de

operação, para condições de emergência ou para uma média entre estas duas

situações ? Quais serão os critérios ?

193

Como considerar a particularidade de cada plataforma tanto no

que diz respeito ao aspecto físico das instalações41, quanto nas

particularidades das relações de trabalho desenvolvidas por cada equipe?

Como levar em consideração o número de operadores, membro da equipe que

passou por treinamento da polivalência? Como relacionar o trabalho agora

de conteúdo muito mais abstrato com o trabalho confinado na plataforma,

considerando que a tendência é fazer com que o trabalho de 12 horas do

turno se faça na sala de controle? Como fazer para manter a atenção do

operador em um controle automatizado, durante 12 horas seguidas?

Como compatibilizar esse confinamento da sala de controle

durante 12 horas, com o confinamento de 14 dias na plataforma, e ainda com

a mudança radical na forma de trabalhar? O Trabalho fica mais simples, mais

fácil e rotineiro ? Qual o impacto disso perante a confiabilidade do sistema,

considerando a jornada e o novo tipo de trabalho que exige sempre e com

maior velocidade a tomada de decisões ? Ou, se o trabalho não fica mais

simples e, ao contrário, se torna mais complexo, como também

compatibilizar o stress que o tempo de embarque ( 14 dias ) provoca, a partir

dessa nova exigência com o confinamento duplo e a mudança radical da

simbologia do trabalho, que agora passa a ser decifrada através de uma tela

de computador?

Com essas perguntas pretende-se apontar algumas questões que

devem ser levadas em conta, no momento das definições das estratégias

futuras do trabalho off shore, especialmente dos Operadores de Produção.

41 Existe plataforma ( ex.: Pargo e Namorado-1 ) em que a planta de processo se situa em

6 diferentes andares.

194

Capítulo 6

Conclusões e Recomendações

Ao concluir, deve-se reafirmar que essa dissertação tem a

intenção de ser exploratória na análise deste tipo de atividade - o trabalho

195

off shore - assim como ser uma contribuição ao estudo dessa categoria de

análise chamada trabalho.

Pretendeu-se, também, apontar caminhos, a partir do

levantamento de algumas premissas / hipóteses, acerca das transformações

tecnológicas, da reorganização do trabalho e do movimento de qualificação

dos trabalhadores do setor de operação, dessa peculiar atividade de

exploração de petróleo off shore.

A implantação de novas tecnologias é uma operação bastante

complexa, segundo Lipietz e Leborgne, " a implantação de novas

tecnologias implica um processo de aprendizado que concerne ao mesmo

tempo aos equipamentos e seus modos de gestão e que mobiliza uma força de

trabalho qualificada relativamente importante ".

O processo de inovações tecnológicas nesse tipo de atividade,

está ligado, diretamente, à necessidade de aumento da eficiência e da

produtividade. A demanda por informações integradas e globalizadas é cada

vez mais essencial, num sistema de supervisão e controle que possibilita

intervenções rápidas e eficientes. A organização do trabalho, como

conseqüência, acaba também acontecendo de forma ampla.

Neste sentido processaram-se as mudanças no trabalho off

shore. Foram projetadas novas famílias de plataformas, com sistemas

técnicos que permitem cada vez mais integração e controle sobre o processo

(Sistema Ecos), de maneira que se possa, paulatinamente, ir prescindindo da

intervenção humana para sua operação. Como conseqüência dessa primeira

estratégia, surge a necessidade de um novo trabalhador para esse novo

conteúdo do trabalho. Daí surge a polivalência.

196

Na implantação da polivalência, exigida principalmente pelo

novo sistema de supervisão e controle da produção, deve-se ter um grande

cuidado com a redução indiscriminada do número de operadores e,

principalmente, levar em conta as particularidades de cada plataforma.

Deve-se reafirmar a necessidade de um estudo detalhado por

plataforma, para a identificação do número mínimo de operadores, a partir

das mudanças incrementadas. Não se pode ir fazendo experiências práticas a

partir da redução de pessoal para se chegar ao número ideal.

Para esse tipo de atividade complexa e problemática pelas suas

características de potencial de risco e de confinamento, é lógico que a

eliminação total ou parcial da intervenção humana diretamente no processo,

é algo que precisa ser melhor analisado. Junto a isso, precisa-se também

questionar os recursos humanos que poderão ser descartados nessa fase de

adaptação às mudanças. Aqui, é preciso levar em conta o ponto de saturação,

ou, como lá se fala, a "crise dos 7 ou 10 anos" de embarque. Na medida em

que esta é a mão de obra que possui o "savoir-faire" do processo, deve estar

presente a preocupação em se manter o padrão de confiabilidade do sistema,

quando se instala novos mecanismos ( automação ) que são meios para o

controle da produção.

Por tudo isso é preciso pensar, desde a fase de elaboração

dessas estratégias, uma política de reaproveitamento de pessoal. Todas essas

decisões, desde a primeira, deverão ser tomadas com a ampla participação

dos trabalhadores.

A transferência de pessoal do trabalho embarcado para o

trabalho "on-shore", não se dá de uma maneira simples. Muitas vezes esta

197

mudança vem acompanhada de uma alteração parcial e outras vezes de uma

alteração total das atividades desenvolvidas pelo petroleiro. Este

aproveitamento de pessoal que desembarca, é hoje feito de forma quase

aleatória, não existe uma diretriz, um estudo de remanejamento de pessoal.

À medida que as instalações vão se automatizando e também os operadores

vão chegando ao seu ponto de saturação, a operação desembarque, vai se

realizando. Alguns são aproveitados em novos projetos e outros passam a

exercer atividades de apoio ao trabalho de produção nas plataformas.

Não se percebe, por parte da empresa, uma política clara, de

médio e/ou longo prazo, que leve em consideração o potencial deste pessoal

como fator de aumento de produtividade. O alto grau de formação dos

Operadores enseja este questionamento. Não se pode ver este contingente

apenas como um fator de custo que precisa ser reduzido, à medida que os

postos de trabalho atuais vão sendo eliminados.

Uma política de capacitação, de retreinamento, de formação

deste novo perfil de trabalhador, adaptável e flexível, torna-se indispensável,

até porque a empresa não tem como diretriz a dispensa de funcionários. Será

necessário este aproveitamento de pessoal em outras tarefas, que garantam a

produtividade do sistema. A inevitável comparação, entre o número de

operadores embarcados ( a quem são atribuídos os méritos da produção e dos

recordes ) e o número de operadores desembarcados, acaba sendo cada vez

mais questionada, à proporção que esta relação vai se reduzindo. Este

planejamento precisa ser melhor executado, e é fundamental que o mesmo se

dê com a participação dos trabalhadores.

Também fica claro que, para os operadores, a polivalência

interessa na medida em que possa representar um aumento da sua

198

qualificação, da sua criatividade, da sua versatilidade, da sua intervenção no

processo de trabalho que represente maior segurança, da sua participação na

definição e implantação do processo de modernização, da sua autonomia e,

conseqüentemente, da garantia do seu emprego. Essa questão é importante

pois, sabe-se, que nos últimos 5 anos, a produção dobrou e os contingentes

do setor de produção se reduziram a menos da metade.

A polivalência não interessa aos trabalhadores quando

representa uma ampliação das suas tarefas intensificando o trabalho e

aumentando responsabilidades com a incorporação de funções tão distintas

sem nenhuma compensação financeira e num ambiente naturalmente hostil

pela distância da vida social. Ou seja, os trabalhadores querem a "poli" , mas

rejeitam a necessidade do "valente" .

O Curso para Operadores Polivalentes deve ampliar seu caráter

de formação a partir de uma concepção que propicie um aumento: da

capacidade de raciocinar de forma abstrata; do potencial de criatividade; da

capacidade de adaptação e, por último, que o curso possa ampliar a

capacidade de trabalhar em equipe, algo que estes novos sistemas exigem.

Esses cursos não podem ser, simplesmente, o repasse de

conhecimentos de outras áreas de atuação na operação em que serão

integradas. O novo conteúdo do trabalho não é uma soma de cada um deles

isoladamente. Aliás, está longe de ser assim. Nesse caso, 1 + 1 + 1 + 1, não

dão 4. Essa conta é difícil de ser efetuada levando-se em consideração a

especificidade de cada ambiente. A sobrecarga de trabalho sempre deve ser

levada em conta, pois as doze horas contínuas e o ambiente confinado não

mudaram. O curso pode tentar, também, preparar psiquicamente o

199

trabalhador para esse tipo peculiar de trabalho, à medida que adquire-se

melhores conhecimentos sobre a sua particularidade.

Outro ponto a ser considerado, principalmente quando a própria

empresa começa a se preocupar com a resistência dos trabalhadores off shore

a esse tipo de atividade e indaga se os mesmos aguentarão completar os 25

anos de trabalho embarcado necessários para a aposentadoria, é fundamental

compreender que um trabalho de suporte psíquico é necessário para não se

perder o pessoal mais qualificado, principalmente a nível de operação.

A proposta da "Intervenção Clínico-Institucional" que prevê,

numa primeira etapa, atendimentos a urgências tanto clínicas quanto

institucionais através de uma equipe multidisciplinar, com atuação direta nas

plataformas e, num segundo momento, buscando uma "nova concepção de

embarcado enquanto sujeito", tentando criar o que se chamou de "Engenharia

da Subjetividade Off Shore", surge como uma ação necessária e urgente

como os próprios autores dessa proposta a identificaram em termos não só

gerenciais, mas também humanos e éticos.

O atendimento ou o suporte psíquico ao pessoal embarcado, não

é solução definitiva, é preciso uma política de prevenção destes problemas

de desgaste mental no trabalho.

Nesse contexto, sem dúvida, a alternativa de redução do período

de embarque, mesmo guardando a atual proporção de 1 para 1,5, entre o

tempo de trabalho embarcado e o tempo de folga, deve ser uma opção

considerada, junto com as ações citadas acima. Os trabalhadores, de forma

quase unânime, defendem 10 x 20 dias. Essa alternativa esbarra, atualmente,

no aumento do custo de produção por intensificar o transporte, aumentando o

200

número de embarques e desembarques num mesmo período. Esse problema

poderá ser solucionado com a construção de um heliporto ( está em fase

de início de construção ), na praia do Farol de São Tomé, no município de

Campos,RJ. Dessa forma o tempo de vôo até às plataformas será bastante

reduzido, principalmente, para as do polo nordeste e para as das águas

profundas, que são hoje as de maior produção na Bacia.

Deve ser perseguida a redução e uma maior integração entre as

gerências e o nível operacional na produção das plataformas, dentro desse

novo enfoque da Organização do Trabalho, que prioriza o trabalho em

equipe, em detrimento do trabalho individual na busca de uma Qualidade que

se pretende total. Sendo mais explícito, entre o engenheiro responsável pela

produção, o técnico de Operações, o auxiliar técnico de operações ( ATOP )

e principalmente o Operador. Essa ação é fundamental em algumas

plataformas, pois os atritos nas relações acabam acentuando o quadro de

evasão por parte dos operadores.

Por fim, deve-se afirmar que não se questiona a automação, uma

vez que ela serve para retirar o operador da plataforma. Questiona-se sim, os

que estão permanecendo no trabalho embarcado, agora numa nova situação,

embora por si só já fosse justo, sob o ponto de vista ético, preocupar-se com

os seres humanos que estão, literalmente, deixando anos de suas vidas nesse

tipo de trabalho.

Questiona-se ainda se os fatores de risco não tendem a aumentar

quando a redução de operadores se torna excessiva, principalmente nas

plataformas de grande porte, ou quando se observa que os novos sistemas de

supervisão e controle alteram profundamente o trabalho dos operadores,

201

tendendo a se concentrar, cada vez mais, na sala de controle, exigindo-lhes

uma carga mental maior.

São muitas as nuances a serem consideradas Mas, para este

pesquisador ficam claras duas questões, para finalizar:

1ª - A necessidade da participação dos trabalhadores no

acompanhamento desses estudos e na tomada de decisões. Não só nas

decisões em nível operacional, mas principalmennte em um nível estratégico

de atuação no trabalho off shore de uma maneira geral, aí incluídos os novos

projetos;

2ª - De certa forma, reforçando a primeira: o Trabalho Off

Shore, talvez de forma mais clara do que qualquer outro tipo de trabalho,

exige uma análise multidisciplinar, para o seu desbravamento, adotando-se

diferentes enfoques necessários para uma compreensão mais ampla da

questão.

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