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TESE: Quando os doutorandos visitam o ciberespaço: o uso de suportes digitais na produção acadêmica em um período de transições

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A presente tese tem como objetivo compreender, com maior profundidade, os processos emergentes na vida do acadêmico com a apropriação dos suportes digitais e seu formato específico de armazenamento, tratamento e acesso à informação. Essa apropriação ocorre especialmente a partir do início dos anos 90 em que se processa a expansão da computação pessoal e da rede internet em larga escala, em ritmo diferente em diversos países, com o aprofundamento da sociedade em rede nos anos 2000. Analisa-se o modo de agir dos intelectuais acadêmicos contemporâneos e suas práticas, em uma fase na qual a mídia tradicional analógica, representada pelos meios de comunicação impressos (livros e revistas científicas) é mesclada com a nova mídia digital, que redesenha os antigos formatos e propõe outros novos. Para isso foram selecionados dezesseis doutores ligados à área de Educação que se formaram entre os anos de 2005 e 2010, oito no Brasil (PUC-Rio) e oito na Itália (UCSC Milano), para compor um estudo de casos múltiplos (Yin, 2001) através de entrevistas semi-estruturadas. Pela exaustiva análise de conteúdo das transcrições (Bardin, 1977), emergiram sete grandes Eixos temáticos, a saber: (I) Trajetória de vida acadêmica e digital; (II) Usos da tecnologia; (III) Modo de leitura; (IV) Modo de escrita; (V) Uso de fontes; (VI) Modo de organização; (VII) Modo de comunicação. Entre os resultados encontrados, a atividade autoral do acadêmico usando tecnologias digitais possui inúmeros fatores de influência: o tema de pesquisa escolhido, os agentes de interesse inicial pelo uso das tecnologias, a predisposição em explorar novos recursos disponíveis, o tipo de empiria (presencial ou via internet) e o tipo de fontes necessárias para formar a base teórica. O modelo de análise aplicado a cada entrevista mostrou que esta multideterminação se traduz em inúmeras práticas individuais originais, como a busca circular contínua em diferentes suportes, a leitura de textos em tela, a escrita simultânea e em camadas, o uso das novas fontes empíricas e a re-análise de bases de dados disponíveis na internet. Embora o processo de digitalização de fontes e meios de buscá-las esteja em plena marcha através de buscadores generalistas e bases de dados universitárias, no quetange aos modos de leitura ainda persiste a conservação de hábitos ligados ao meio impresso e analógico e a subutilização dos potenciais oferecidos para a comunicação com outros pesquisadores, especialmente o receio de compartilhar projetos e resultados de pesquisa em meios informais e comunidades virtuais abertas. Visando traçar um conjunto de informações úteis que auxiliem nos futuros programas de formação do professor-pesquisador, esta tese pode servir para a construção de atividades e cursos que ajudem a desenvolver uma aprendizagem mais sólida no uso das mídias digitais nos cursos de doutoramento em Educação e nas ciências humanas em geral.Palavras-chaveProdução acadêmica; autoria acadêmica; suportes digitais.

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Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, da autora e do orientador.

Luiz Alexandre da Silva Rosado Graduou-se em Comunicação Social pela UGF (Universidade Gama Filho) em 2004 e é Mestre em Educação pela UNESA (Universidade Estácio de Sá). É integrante desde 2008 do Diretório de Pesquisas Jovens em Rede, no Departamento de Educação da PUC-Rio. É professor do curso de pós-graduação em Educação com Aplicação da Informática na UERJ desde 2007.

Ficha Catalográfica CDD: 370

Rosado, Luiz Alexandre da Silva

Quando os doutorandos visitam o ciberespaço: o uso de suportes digitais na produção acadêmica em um período de transições / Luiz Alexandre da Silva Rosado ; orientadora: Maria Apparecida Campos Mamede-Neves. – 2012.

478 f. : il. (color.) ; 30 cm

Tese (doutorado)–Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Educação, 2012.

Inclui bibliografia

1. Educação – Teses. 2. Produção acadêmica. 3. Autoria acadêmica. 4. Suportes digitais. 5. Doutores em educação. I. Mamede-Neves, Maria Apparecida Campos. II. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Educação. III. Título.

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A todos os estudiosos das transformações que a mídia e a sociedade vêm passando com a introdução do formato

digital e seus suportes ao longo das últimas três décadas, nos tornando cidadãos hiperconectados e

hipertextuais, seja lá que consequências isso tiver em nosso futuro.

Aos entrevistados que carinhosamente (ou nem tanto) cederam suas experiências para este estudo, permitindo

que fossem registradas suas falas e memórias.

Aos futuros leitores que farão este trabalho circular nas infovias, sejam as dos espaços digitais na internet, quanto a dos espaços físicos de nossas bibliotecas

tradicionais, se apropriando e gerando novas conexões ideativas, sempre mais amplas e profundas que aquelas

alcançadas por este trabalho hoje.

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Agradecimentos

Aos meus pais, por apoiarem minha ida à Itália, em todos os sentidos possíveis (incluindo o financeiro), e principalmente depois que se tornou inevitável. Graças ao período na Itália que minha mãe teve que aprender a usar um teclado e um mouse e conhecer o que significava a palavras “Skype”, entrando definitivamente na Era digital ;))) Muito obrigado por tudo!

À Cristiane Taveira, por mais uma vez estar ao meu lado em outro empreendimento de pesquisa, ajudando na busca de fontes, deixando eu “roubar” alguns referenciais que descobriu para sua própria pesquisa, deixando ela roubar outros da minha, discutindo os dados após minhas longas transcrições de entrevistas e aturando as horas de divagações a respeito do mundo acadêmico e seus doutores. Também não posso deixar de agradecer a paciência das horas e horas dispendidas via Skype enquanto eu estava “em exílio” na Itália.

À minha orientadora, por confiar em meu trabalho desde a defesa de mestrado na UNESA e pelo convide para participar das pesquisas do JER, incluindo a escrita de artigos em publicações não antes almejadas, até a entrada no doutorado e o apoio recebido nos momentos mais críticos enquanto estava em um país desconhecido.

Ao meu orientador na Itália e coordenador do CREMIT, já quase naturalizado brasileiro depois de mais de 10 anos de relações internacionais intensas com nosso país, Pier Cesare Rivoltella, que com sua paciência, português fluente, cultura vasta e internacional a respeito de TICs e Educação, vontade de aprender com seus orientandos, bem mais do que somente ensinar, os oito e intensos meses de convivência e aprendizado obtidos em Milão.

Aos integrantes e aos hoje ex-integrantes do JER, oficiais e extra-oficiais, tratados aqui pelo primeiro nome somente devido à intimidade criada desde a primeira participação deste pesquisador em 2008: Marcela, Ana Val, Agenor, Stella, Flavia, Castanheira, Tatiane, Ana Lúcia e Gabriel. Obrigado pelas ricas trocas de materiais via lista de e-mails, pelo apoio no dia a dia com muitas dicas fornecidas e pelos inesquecíveis almoços de domingo com todo grupo sempre promovidos pela “Cida” e “Seu Mamede”!

Às integrantes do CREMIT (Francesca, Gloria, Elena, Alessandra, Simona, Chiara B., Letizia), pela rica troca vivencial obtida ao longo dos meses, a boa vontade em responder prontamente sempre que solicitadas, local que usei com toda liberdade e acolhimento como “base de operações” em longas transcrições de entrevistas, pesquisas pela internet e acompanhamento do cotidiano de trabalho de um centro de pesquisa tão diferente em sua estrutura daquela que encontramos comumente no Brasil.

Ao meu professor de italiano Antonio Bottino, pelo seu imenso esforço para que eu chegasse na Itália sabendo o mínimo de italiano, seu bom humor perante minha

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impaciência diante de tantas palavras novas e conjugações verbais estranhas, me mostrando detalhes sobre a Itália que somente um italiano autêntico poderia explicar.

Aos meus colegas de convivência no apartamento que passei meus oito meses na Itália, Antonio Greco e Clemente Maesano, meus revisores nativos oficiais das transcrições que fazia, se oferecendo prontamente a me ajudar, a corrigir minhas falhas na escrita e interpretação de palavras e expressões diversas presentes no coloquialismo dos entrevistados. Graças ao gentil convite dos dois que pude conhecer o sul da Itália, região menos “desenvolvida”, porém muito mais acolhedora e orgulhosa de sua cultura.

Aos meus professores do curso de doutorado, especialmente...

José Maurício Arruti pelos inesquecíveis debates a respeito do estranhamento e da alteridade com suas longas leituras de autores clássicos da Antropologia. Foram esses autores e suas reflexões que me permitiram entender o que estava passando nos longos meses em Milão, meus estranhamentos e inadaptações, as rejeições por parte dos nativos e a sensação constante de ser apontado como um estrangeiro.

Ana Maria Nicolaci-da-Costa pelas broncas e dicas bem humoradas a partir da minha resistência em ouvir e entender o outro (“Não vá a campo querendo ouvir o que você já sabe!”), dicas estas que me ajudaram a montar todo escopo de roteiro e ida a campo para realização das entrevistas, entendendo a realidade de cada entrevistado e me adaptando de acordo com as falas inesperadas e o temperamento de cada doutor entrevistado.

Sonia Kramer por apresentar autores que debatem a sociedade contemporânea como Richard Sennett e outros que eu já conhecia como Zygmunt Bauman, dando um enfoque diferenciado e nos incitando sempre a debater, mas “de forma civilizada” ;)

Zena Eisenberg por ter ajudado no aprofundamento dos processos de ensino e aprendizagem, auxiliando no mergulho sobre autores tão marcantes como Piaget e Vygotsky, assim como nas suas abordagens teóricas e derivações práticas, autores esses que pude entender depois no contexto do campo das representações mentais, da dinâmica de formação do indivíduo em sociedade.

Ao superágil e sempre disposto Geneci e à colega Nancy, ajudando nas horas mais difíceis da burocracia institucional cotidiana!

Aos doutores em Educação, que além de suas pesquisas originais também deram seu contributo vivencial atendendo ao chamado deste pesquisador, já sabendo como é o mundo de nós doutorandos, farejadores de fontes e de sujeitos para nossas pesquisas!

À Itália, por ter me desafiado no âmbito das relações sociais (convivendo com italianos e falando a língua deles) e habilidades do lar (gerência de um espaço doméstico), oferecendo novos desafios a quem deve sobreviver por alguns meses, fisicamente distante, dos amigos e dos parentes, fazendo-me viver na pele o que é ser um estrangeiro em terra de nativos.

E finalmente às agências financiadoras CNPq e CAPES pelo apoio tanto no Brasil quanto na Itália, assim como todo esforço na PUC-Rio em manter a gratuidade de seus cursos de pós-graduação em Educação, permitindo o ingresso e a conclusão do mesmo.

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Resumo

Rosado, Luiz Alexandre da Silva; Mamede, Maria Apparecida Campos. Quando os doutorandos visitam o ciberespaço: o uso de suportes digitais na produção acadêmica em um período de transições, Rio de Janeiro, 2012. 478p. Tese de Doutorado - Departamento de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. A presente tese tem como objetivo compreender, com maior profundidade,

os processos emergentes na vida do acadêmico com a apropriação dos suportes

digitais e seu formato específico de armazenamento, tratamento e acesso à

informação. Essa apropriação ocorre especialmente a partir do início dos anos 90

em que se processa a expansão da computação pessoal e da rede internet em larga

escala, em ritmo diferente em diversos países, com o aprofundamento da

sociedade em rede nos anos 2000. Analisa-se o modo de agir dos intelectuais

acadêmicos contemporâneos e suas práticas, em uma fase na qual a mídia

tradicional analógica, representada pelos meios de comunicação impressos (livros

e revistas científicas) é mesclada com a nova mídia digital, que redesenha os

antigos formatos e propõe outros novos. Para isso foram selecionados dezesseis

doutores ligados à área de Educação que se formaram entre os anos de 2005 e

2010, oito no Brasil (PUC-Rio) e oito na Itália (UCSC Milano), para compor um

estudo de casos múltiplos (Yin, 2001) através de entrevistas semi-estruturadas.

Pela exaustiva análise de conteúdo das transcrições (Bardin, 1977), emergiram

sete grandes Eixos temáticos, a saber: (I) Trajetória de vida acadêmica e digital;

(II) Usos da tecnologia; (III) Modo de leitura; (IV) Modo de escrita; (V) Uso de

fontes; (VI) Modo de organização; (VII) Modo de comunicação. Entre os

resultados encontrados, a atividade autoral do acadêmico usando tecnologias

digitais possui inúmeros fatores de influência: o tema de pesquisa escolhido, os

agentes de interesse inicial pelo uso das tecnologias, a predisposição em explorar

novos recursos disponíveis, o tipo de empiria (presencial ou via internet) e o tipo

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de fontes necessárias para formar a base teórica. O modelo de análise aplicado a

cada entrevista mostrou que esta multideterminação se traduz em inúmeras

práticas individuais originais, como a busca circular contínua em diferentes

suportes, a leitura de textos em tela, a escrita simultânea e em camadas, o uso das

novas fontes empíricas e a re-análise de bases de dados disponíveis na internet.

Embora o processo de digitalização de fontes e meios de buscá-las esteja em plena

marcha através de buscadores generalistas e bases de dados universitárias, no que

tange aos modos de leitura ainda persiste a conservação de hábitos ligados ao

meio impresso e analógico e a subutilização dos potenciais oferecidos para a

comunicação com outros pesquisadores, especialmente o receio de compartilhar

projetos e resultados de pesquisa em meios informais e comunidades virtuais

abertas. Visando traçar um conjunto de informações úteis que auxiliem nos

futuros programas de formação do professor-pesquisador, esta tese pode servir

para a construção de atividades e cursos que ajudem a desenvolver uma

aprendizagem mais sólida no uso das mídias digitais nos cursos de doutoramento

em Educação e nas ciências humanas em geral.

Palavras-chave

Produção acadêmica; autoria acadêmica; suportes digitais.

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Abstract

Rosado, Luiz Alexandre da Silva; Mamede, Maria Apparecida Campos (Advisor). When doctoral students visit cyberspace: the use of digital media in academic production in a period of transition, Rio de Janeiro, 2012. 478p. PhD Thesis - Departamento de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. This thesis aims to understand, in depth, the processes emerging in the

academic life with the appropriation of digital media and its specific format

storage, treatment and access to information. This appropriation is especially true

since the early 90s in which proceeds the expansion of personal computing and

internet network on a large scale in different countries, with the deepening of the

network society in the 2000s. It analyzes the mood of the contemporary

intellectual and academic practices in a phase in which the traditional analog

media, represented by print media (books and journals) is merged with the new

digital media, which redraws the old formats and proposes new ones. For this we

selected sixteen doctors related to the field of Education who graduated between

the years 2005 and 2010, eight in Brazil (PUC-Rio) and eight in Italy (UCSC

Milano), to compose a multiple case study (Yin, 2001) through semi-structured

interviews. Through exhaustive content analysis of the transcripts (Bardin, 1977),

emerged seven major thematic axes, namely: (I) Trajectory of digital and

academic life; (II) Uses of technology; (III) Reading mode, (IV) Writing mode;

(V) Use of sources; (VI) Mode of organization; (VII) Communication mode.

Among the findings, the author of scholarly activity using digital technologies has

numerous influencing factors: the research topic chosen, the agents of initial

interest in the use of technology, the willingness to explore new resources

available, the type of empiricism (in person or via internet) and type of resources

needed to form the theoretical basis. The analysis model applied to each interview

showed that this multiplicity is reflected in numerous unique individual practices,

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such as continuous circular search in different media, reading texts on screen,

writing and simultaneous layers, the use of new empirical sources and re-analysis

of available databases on the Internet. Although the process of scanning sources

ways to pick them up is well underway through general search engines and

academic databases, with respect to ways of reading persists conservation habits

linked to print and analog and underutilization of potential available for

communication with other researchers, especially the fear of sharing projects and

research results in informal ways and open virtual communities. Seeking to draw

a set of useful information to assist in future training programs of teacher-

researcher, this thesis can serve to build activities and courses that will help

develop a stronger learning in the use of digital media in Education PhD courses

and in the humanities in general.

Keywords

Academic research; academic authoring; digital media.

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Sumário

1  Considerações introdutórias 25 

1.1 Procurando conexões no campo da autoria com suporte digital 26 

1.2 Questões norteadoras de estudo 32 

1.3 Estrutura da tese 34 

I.  A CULTURA ACADÊMICA E A CIBERCULTURA 38 

2  Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 39 

2.1 A cibercultura e o ciberespaço: nascimento, discurso e herança 45 

2.1.1  Cultura hacker, copyleft e o ideal de acesso livre à informação 51 

2.2 O suporte digital e as mudanças na leitura, na escrita e no acesso às informações 60 

2.2.1  Do modelo emissão-canal-mensagem-recepção à co-criação em rede 63 

2.2.2  A emergência dos leitores-navegadores-autores no ciberespaço 65 

2.2.3  A arquitetura hipertextual em rede do ciberespaço: a co-autoria em potencial 69 

2.2.4  A convergência dos formatos e a liberação da produção autoral: entre a liberdade e a qualidade 79 

2.2.5  O hipertexto veloz, a explosão de informações e a tradição dos suportes analógicos 85 

2.2.6  A tradição da autoria acadêmica e as brechas abertas pelos suportes digitais 92 

2.2.7  Bases de dados online: plataformas de comunicação científica? 100 

2.3 Mapeando as brechas: em que pontos o suporte digital pode mudar a autoria dos acadêmicos? 106 

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3  Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêmicos do computador e da internet 110 

3.1 Anos 90: apropriação da internet em seus recursos básicos 112 

3.1.1  Considerações sobre os estudos dos anos 90 121 

3.2 Anos 2000-2005: caminhando para os padrões atuais de utilização 123 

3.2.1  Considerações sobre os estudos entre os anos 2000 e 2005 136 

3.3 Anos 2006-2010: as rotinas básicas de pesquisa permanecem 139 

3.3.1  A internet e o computador entre os graduandos 148 

3.4 O que os estudos anteriores apontam? Entre a conservação e o avanço no uso dos suportes digitais 153 

II.  PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DA PESQUISA 160 

4  Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 161 

4.1 As etapas do sistema educacional italiano e brasileiro 162 

4.2 O curso de doutorado em dois países “em recuperação” 165 

4.3 O processo institucional do ensino superior italiano e brasileiro 171 

4.4 O acesso à mídia analógica e digital nos dois países 184 

5  Os componentes da pesquisa II: o eu e os outros mais próximos 188 

5.1 Breve descrição dos locais de realização da pesquisa 192 

5.1.1  Traçando pontos de convergência: o JER no Brasil e o CREMIT na Itália 193 

5.1.2  Estrutura, história e aproximações entre a PUC-Rio e a UCSC 196 

6  Metodologia 202 

6.1 Tipo de pesquisa 202 

6.1.1  Alguns apontamentos sobre limitações desta pesquisa 205 

6.2 Atores da pesquisa 207 

6.2.1  Critérios para escolha dos atores 209 

6.2.2  Exclusões de entrevistas e algumas exceções 212 

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6.3  Instrumentos utilizados na coleta de dados 214 

6.3.1  A entrevista 214 

6.3.2  Diário de campo 216 

6.4 Procedimentos para coleta de dados e preparação do material empírico 217 

6.4.1  Entrevistas-piloto e entrevistas de ambientação 217 

6.4.2  Estudo de casos múltiplos com entrevistas semi-dirigidas 217 

6.4.3  Procedimentos quanto à transcrição das entrevistas e resumo dos pontos principais 220 

6.5  Instrumentos e procedimentos para a análise de dados via criação de categorias temáticas 223 

III.  ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS COLETADOS 230 

7  Análise dos dados coletados: a autoria acadêmica em uma década de transição midiática vista através dos sete eixos temáticos tomados separadamente 231 

7.1 Trajetória de vida acadêmica e digital: de onde vêm e o que faziam antes 234 

7.2 Usos da tecnologia: quando e como os suportes digitais entraram na vida cotidiana 241 

7.3 Modo de leitura: como os suportes digitais estão sendo apropriados na leitura 262 

7.4 Modo de escrita: como os suportes digitais estão sendo apropriados na escrita. 285 

7.5 Uso de fontes: os usos, os locais de acesso e os tipos de fontes. 314 

7.6 Modo de organização: os suportes digitais na sistematização dos materiais coletados 353 

7.7 Modo de comunicação: os suportes digitais no contato cotidiano com pesquisadores e outros sujeitos 370 

8  Considerações conclusivas 390 

8.1 As transições em múltiplos níveis: principais tendências e permanências detectadas a partir da análise crítica da empiria 390 

8.2 Novos suportes, novos produtos? O que fazer quando se exige mais do mesmo? 409 

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9  Referências bibliográficas 416 

10  Anexos 426 

I.  Roteiro de entrevista utilizado na Itália (versão 5 – bilíngue) 426 

II.  Carta aos doutores formados na UCSC entre 2005 e 2010 429 

III.  Roteiro de entrevista utilizado no Brasil (versão 5) 430 

IV.  Carta aos doutores formados na PUC-Rio entre 2005 e 2010 432 

V.  Descrição das 45 categorias-dimensões da atividade autoral 433 

VI.  Gráficos com as 45 categorias-dimensões da atividade autoral aplicadas a cada um dos 16 casos 451 

VII. Dados detalhados que deram origems aos gráficos de cada um dos 16 casos 467 

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Lista de figuras

Figura 1 -  Representação de parte da rede internet em 15 de janeiro de 2005, em que cada linha correponde a ligação de dois endereços da rede e as cores dividem os vários tipos de domínios (Fonte: The Opte Project, 2005). 71 

Figura 2 -  Topologias de redes de comunicação segundo Paul Baran (1964). 73 

Figura 3 -  Uma típica página de jornal já prepara o leitor para a hipertextualidade ao remeter a leitura para diversos pontos internamente e externamente (Fonte: Wikimedia Commons, 2011). 78 

Figura 4 -  Tela do site Scielo contendo os volumes e números da Revista Brasileira de Educação. 88 

Figura 5 -  Programa da plataforma móvel Android simulando estante e página de livro impresso sendo virada. 89 

Figura 6 -  Tela principal dos sistemas de busca de teses e dissertações da Unicamp e da USP contendo milhares de trabalhos acadêmicos para download. 101 

Figura 7 -  Pesquisa integrada de documentos da PUC-Rio em que dezenas de bases de dados são vasculhadas simultaneamente a partir de palavras-chave. 102 

Figura 8 -  Fatores que intervém nos estudos sobre acadêmicos e uso de TICs. 111 

Figura 9 -  Comparativo dos sistemas de ensino italiano e brasileiro em ordem crescente no tempo por faixas etárias e duração média dos cursos (Fonte: ilustração do próprio autor). 165 

Figura 10 -  Ferramentas digitais mobilizadas pelo autor durante a pesquisa da tese. 190 

Figura 11 -  Critérios de seleção dos sujeitos participantes da pesquisa 210 

Figura 12 -  Exemplo de uma ficha com o resumo dos pontos principais da entrevista. 222 

Figura 13 -  Exemplo de uma seção da ficha de análise de entrevista contendo 5 categorias temáticas no lado esquerdo e seus subitens. 228 

Figura 14 -  Resumo das etapas de pré-análise das entrevistas e análise de conteúdo. 229 

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Figura 15 -  Formas de contato inicial com a internet presentes nos depoimentos. 239 

Figura 16 -  Computador Commodore 64, lançado em 1982, ligava-se diretamente em aparelhos de televisão (Fonte: fotografia de Bill Bertram, Wikimedia Commons). 243 

Figura 17 -  Computador TK 2000 Color, da empresa Microdigital, lançado em 1984, ligava-se diretamente em aparelhos de televisão (Fonte: Wikimedia Commons). 244 

Figura 18 -  Notas resgatadas do arquivo de David Foster Wallace, romancista norte-americano, a partir da leitura do livro Carrie de Stephen King (Fonte: http://io9.com/) 289 

 

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Lista de tabelas

Tabela 1 -  Comparativo Brasil-Itália através de alguns indicadores de desenvolvimento. 162 

Tabela 2 -  Descrição dos itens da Variável 1. 235 

Tabela 3 -  Descrição dos itens da Variável 2. 235 

Tabela 4 -  Descrição dos itens da Variável 3. 236 

Tabela 5 -  Descrição dos itens da Variável 4. 236 

Tabela 6 -  Descrição dos itens da Variável 5. 238 

Tabela 7 -  Descrição dos itens da Variável 7. 242 

Tabela 8 -  Descrição dos itens da Variável 11. 245 

Tabela 9 -  Descrição dos itens da Variável 6. 247 

Tabela 10 - Descrição dos itens da Variável 8. 249 

Tabela 11 - Descrição dos itens da Variável 10. 250 

Tabela 12 - Descrição dos itens da Variável 12. 253 

Tabela 13 - Descrição dos itens da Variável 13. 255 

Tabela 14 - Descrição dos itens da Variável 9. 259 

Tabela 15 - Descrição dos itens da Variável 14. 263 

Tabela 16 - Descrição dos itens da Variável 15. 268 

Tabela 17 - Descrição dos itens da Variável 18. 270 

Tabela 18 - Descrição dos itens da Variável 16. 272 

Tabela 19 - Descrição dos itens da Variável 17. 274 

Tabela 20 - Descrição dos itens da Variável 19. 278 

Tabela 21 - Descrição dos itens da Variável 20. 286 

Tabela 22 - Descrição dos itens da Variável 21. 292 

Tabela 23 - Descrição dos itens da Variável 22. 295 

Tabela 24 - Descrição dos itens da Variável 23. 298 

Tabela 25 - Descrição dos itens da Variável 24. 299 

Tabela 26 - Descrição dos itens da Variável 25. 303 

Tabela 27 - Descrição dos itens da Variável 26. 306 

Tabela 28 - Descrição dos itens da Variável 27. 308 

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Tabela 29 - Descrição dos itens da Variável 28. 314 

Tabela 30 - Descrição dos itens da Variável 29. 322 

Tabela 31 - Descrição dos itens da Variável 30. 327 

Tabela 32 - Descrição dos itens da Variável 31. 327 

Tabela 33 - Descrição dos itens da Variável 36. 330 

Tabela 34 - Descrição dos itens da Variável 32. 336 

Tabela 35 - Descrição dos itens da Variável 33. 337 

Tabela 36 - Descrição dos itens da Variável 34. 339 

Tabela 37 - Descrição dos itens da Variável 35. 340 

Tabela 38 - Descrição dos itens da Variável 37. 346 

Tabela 39 - Descrição dos itens da Variável 38. 353 

Tabela 40 - Descrição dos itens da Variável 39. 357 

Tabela 41 - Descrição dos itens da Variável 40. 360 

Tabela 42 - Descrição dos itens da Variável 41. 365 

Tabela 43 - Descrição dos itens da Variável 42. 370 

Tabela 44 - Descrição dos itens da Variável 43. 378 

Tabela 45 - Descrição dos itens da Variável 44. 381 

Tabela 46 - Descrição dos itens da Variável 45. 386 

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Lista de gráficos

Gráfico 1 -  Expansão do período de vigência da lei de direito autoral nos EUA ao longo dos séculos XVIII, XIX, XX e XXI (Bell, 2008). 55 

Gráfico 2 -  Modelos de rede variando de acordo com o tamanho da comunidade e a viabilidade da comunicação entre seus membros (Fonte: Shirky (2012) com modificações). 75 

Gráfico 3 -  Percentual de utilização da internet (1990-2010) nos países onde os estudos foram realizados (Fonte: Banco Mundial, Indicadores do Desenvolvimento Mundial. Google Public Data Explorer). 153 

Gráfico 4 -  Número de doutores formados na Itália (Fonte: Relatório L´Università in Cifre 2009-2010 (MIUR, 2011, p. 63)). 168 

Gráfico 5 -  Número de doutores formados no Brasil (Fonte: Relatório CGEE (2010) a partir dos dados da Coleta Capes (Capes, MEC) e MCT (2010)). 170 

Gráfico 6 -  Percentual de utilização da internet nos EUA, Itália e Brasil (Fonte: Banco Mundial, Indicadores do Desenvolvimento Mundial. Google Public Data Explorer). 187 

Gráfico 7 -  Variável “1. Relação com a Academia (Academicidade)”. 234 

Gráfico 8 -  Variável “2. Posição universitária (Autoridade)”. 235 

Gráfico 9 -  Variável “3. Momento (Temporalidade)”. 236 

Gráfico 10 - Variável “4. Área de procedência (Anterioridade)”. 236 

Gráfico 11 - Variável “5. Uso de TICs (Tecnicidade)”. 237 

Gráfico 12 - Variável “7. Período inicial (Temporalidade)”. 241 

Gráfico 13 - Variável “11. Objetivos de uso (Finalidade)”. 245 

Gráfico 14 - Variável “6. Interesse inicial (Causalidade)”. 247 

Gráfico 15 - Variável “8. Aprendizado inicial (Formalidade)”. 249 

Gráfico 16 - Variável “10. Conhecimento (Familiaridade)”. 250 

Gráfico 17 - Variável “12. Análise dos dados (Tecnicidade)”. 253 

Gráfico 18 - Variável “13. Atividades (Atividade)”. 255 

Gráfico 19 - Variável “9. Imersão (Profundidade)”. 259 

Gráfico 20 - Variável “14. Suporte (Materialidade)”. 263 

Gráfico 21 - Variável “15. Local das anotações (Localidade)”. 268 

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Gráfico 22 - Variável “18. Técnicas de destaque (Recordabilidade)”. 270 

Gráfico 23 - Variável “16. Compartilhamento (Coletividade)”. 272 

Gráfico 24 - Variável “17. Prestígio do autor (Autoridade)”. 273 

Gráfico 25 - Variável “19. Técnicas de confiabilidade (Confiabilidade)”. 278 

Gráfico 26 - Variável “20. Ordem (Simultaneidade)”. 286 

Gráfico 27 - Variável “21. Ambiência (Localidade)”. 292 

Gráfico 28 - Variável “22. Co-autoria (Coletividade)”. 295 

Gráfico 29 - Variável “23. Temática (Tematicidade)”. 298 

Gráfico 30 - Variável “24. Autoria própria (Originalidade)”. 299 

Gráfico 31 - Variável “25. Instrumento (Instrumentalidade)”. 302 

Gráfico 32 - Variável “26. Presença da internet (Conectividade)”. 305 

Gráfico 33 - Variável “27. Técnicas (Tecnicidade)”. 307 

Gráfico 34 - Variável “28. Busca no tempo (Acumulabilidade)”. 314 

Gráfico 35 - Variável “Local de busca”. 321 

Gráfico 36 - Variável “30. Abrangência (Proximidade)”. 326 

Gráfico 37 - Variável “31. Objetivo (Finalidade)”. 327 

Gráfico 38 - Variável “36. Produção da empiria (Verificabilidade)”. 330 

Gráfico 39 - Variável “32. Tradição (Durabilidade)”. 336 

Gráfico 40 - Variável “33. Origem no tempo (Antiguidade)”. 337 

Gráfico 41 - Variável “34. Suporte (Materialidade)”. 339 

Gráfico 42 - Variável “35. Posse dos materiais (Materialidade)”. 340 

Gráfico 43 - Variável “37. Tipo utilizados”. 345 

Gráfico 44 - Variável “38. Sistematização (Sistematicidade)”. 353 

Gráfico 45 - Variável “39. Suporte (Materialidade)”. 357 

Gráfico 46 - Variável “40. Classificação (Tematicidade)”. 360 

Gráfico 47 - Variável “41. Local de armazenamento (Disponibilidade)”. 365 

Gráfico 48 - Variável “42. Abrangência (Proximidade)”. 370 

Gráfico 49 - Variável “43. Tradição (Durabilidade)”. 378 

Gráfico 50 - Variável “44. Objetivo (Finalidade)”. 381 

Gráfico 51 - Variável “45. Ideias novas (Originalidade)”. 386 

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Lista de quadros

Quadro 1 -  Alternativas para a autoria e distribuição de obras intelectuais provenientes da cultura hacker gestada na cibercultura nascente. 59 

Quadro 2 -  Processos de leitura e escrita emergentes com a cibercultura e o ciberespaço (digitalização dos dados). 84 

Quadro 3 -  Desafios dos suportes digitais hipertextuais aos autores acadêmicos. 92 

Quadro 4 -  Tendências nos usos de TICs por acadêmicos nos anos 90. 122 

Quadro 5 -  Tendências nos usos de TICs por acadêmicos no início dos anos 2000. 139 

Quadro 6 -  Considerações gerais sobre os estudos anteriores 158 

Quadro 7 -  Principais assuntos presentes na revisão de estudos empíricos que influenciam nos usos da internet e do computador. 159 

Quadro 8 -  Semelhanças entre Brasil e Itália nos cursos de Ensino Superior. 171 

Quadro 9 -  Tendências da pós-graduação no Brasil e na Itália nos últimos 10 anos. 183 

Quadro 10 -  Aproximações entre as universidades PUC-Rio e UCSC de Milão. 200 

Quadro 11 -  Resumo das entrevistas realizadas e procedência dos sujeitos. 214 

Quadro 12 -  Escolhas metodológicas para as entrevistas 220 

Quadro 13 -  Síntese dos eixos temáticos surgidos a partir da leitura flutuante do material empírico. 223 

Quadro 14 -  Eixos temáticos com suas variáveis / categorias temáticas de análise correspondentes. 233 

Quadro 15 -  Considerações resumitivas sobre as trajetórias de vida acadêmica e digital relatas pelos doutorandos. 241 

Quadro 16 -  Condiderações resumitivas sobre os usos da tecnologia relatados pelos doutorandos. 262 

Quadro 17 -  Considerações resumitivas sobre os usos da tecnologia pelos doutorandos. 285 

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Quadro 18 -  Considerações resumitivas sobre os modos de escrita relatados pelos doutorandos. 313 

Quadro 19 -  Condiderações resumitivas sobre os uso de fontes relatados pelos doutorandos. 352 

Quadro 20 -  Condiderações resumitivas sobre os modos de organização relatados pelos doutorandos. 369 

Quadro 21 -  Condiderações resumitivas sobre os modos de comunicação relatados pelos doutorandos. 389 

Quadro 22 -  Indícios de transição, encontrados nos depoimentos, que merecem destaque. 405 

Quadro 23 -  Síntese dos modelos tradicionais e emergentes detectados na pesquisa (binômios e trinômios). 408 

Quadro 24 -  Multideterminação dos usos: principais fatores encontrados na empiria. 409 

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Lista de abreviaturas

ANVUR – Agenzia di Valutazione del Sistema Universitario e della

Ricerca.

ARPA – Advanced Reserarch Projects Agency.

AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem.

BIT – BInary digiT.

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior.

CC – Computador Conectado.

CC – Creative Commons.

CFE – Conselho Federal de Educação.

CINECA – Consorzio interuniversitario per la gestione del centro di calcolo

elettronico dell’Italia Nord-orientale.

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

CREMIT – Centro di Ricerca sull´Eduzazione ai Media all´informazione e

ala Tecnologia.

ECTS – European Credits Trasfer Sistem.

ENQA – European Network for Quality Assurance.

EUA – Estados Unidos da América.

FDL – Free Documentation License.

FTP – File Tranfer Protocol.

GCC – Gestão do Conhecimento Científico.

GPL – General Public License.

GUI – Graphical User Interface.

HTTP – Hypertext Transfer Protocol.

IRC – Internet Relay Chat.

ISTAT – Istituto nazionale di statistica.

JER – Jovens em Rede.

LAN – Local Area Networks.

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LDB – Lei de Diretrizes e Bases.

M.A. – Master of Arts.

MEC – Ministério da Educação.

MinC – Ministério da Cultura.

MIT – Massachusetts Institute of Technology.

MIUR – Ministero dell'Istruzione, dell'Università e della Ricerca.

OA – Open Access.

PDF – Portable Document Format.

PC – Personal Computer.

Ph.D. – Philosophiae Doctor / Philosophy Doctor.

PNPG – Plano Nacional de Pós-Graduação.

RI – Repositório Institucional.

TCP/IP – Transmission Control Protocol / Internet Protocol.

TIC ou NTIC – (Novas) Tecnologias da Informação e Comunicação.

UCSC – Universitá Cattolica del Sacro Cuore di Milano.

UE – União Europeia.

URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

VQR – Valutazione della Qualità della Ricerca.

WAN – Wide Area Networks.

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1 Considerações introdutórias

Como se inicia o fazer de uma tese? Talvez ou quase sempre de algumas

das inquietações surgidas no campo da investigação, pensadas desde o início, a

partir de questionamentos que, muitas vezes, constituem exatamente o final de um

trabalho acadêmico.

É assim com muita gente; foi assim comigo. Foi interrogando sobre que

rumos o processo de autoria de caráter formal, institucionalizado através de curso

universitário de pós-graduação, estava tomando, em relação aos modos

emergentes de escrita e publicação autoral não formal observados na internet.

Essas particularidades que me incentivaram a realizar este estudo, já

estavam um tanto percebidas, quando realizei pesquisa anterior sobre o grupo de

autores extra-acadêmicos da Wikipédia (Rosado, 2008), minha dissertação de

mestrado. Na época, verifiquei que as fontes de origem acadêmica, ou seja, artigos

científicos, livros de autores universitários, exerciam papel fundamental em suas

construções textuais coletivas.

Por isso, como a cultura derivada do formato digital, a princípio, vem

atingindo com maior velocidade todas as classes de autores-produtores, sejam

institucionais como os não-institucionais, resolvi voltar a minha atenção para este

grupo tão especial que são os autores acadêmicos e toda tradição histórica que os

cerca (Verger, 1999; Le Goff, 2010).

Através de uma maior aproximação, em estudo qualitativo, procurei

entender com detalhes em que dimensões os suportes digitais vem sendo

apropriados (ou não) por eles, em sua rotina durante a escrita de suas teses

acadêmicas ao longo do doutoramento. Está posto, portanto, o ponto de partida de

minha tese.

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Considerações introdutórias 26

1.1 Procurando conexões no campo da autoria com suporte digital

No meu trabalho sobre a Wikipedia, pude observar os movimentos de

autoria coletiva informal de textos, visto que ela se constitui e tem por objetivo a

compilação de verbetes sobre todos os assuntos através de contribuições feitas por

autores de diversas partes do mundo em processo coletivo e, a princípio,

cooperativo. É uma enciclopédia construída desde o seu início no espaço digital,

inaugurada em 2001 e que permanece na lista dos sites mais acessados do mundo

(Google, 2011), alcançando a 6ª posição em julho de 2011, se mantendo entre as

referências textuais mais acessadas na internet e sendo o projeto de autoria

coletiva mais conhecido e consultado.

Desde quando concluí esse estudo, tomei contato com diversos livros que

vem abordando os novos fenômenos de autoria. Uns, o fazem pelo lado otimista,

através da repercussão nas novas maneiras de se criar produtos via ações coletivas

na internet, por exemplo: Clay Shirky (2011; 2012) e Don Tapscott e Anthony D.

Williams (2007). Outros vão pelo lado pessimista, como Andrew Keen (2009)

com sua crítica aos amadores e ainda pelo lado neutro, mas conservador, como

Umberto Eco e Jean-Claude Carrière (2010) a respeito do valor do livro impresso

e Robert Darnton (2010) sobre as transformações e ameaças que o digital traz para

o acervo das bibliotecas físicas.

Todos, de alguma forma, têm em comum a surpresa frente aos fenômenos

de produção autoral coletiva e a digitalização de seus produtos surgidos na década

de 2000.

Do ponto de vista educacional, a Wikipédia se constituiu como um local

de aprendizado, por parte de seus colaboradores, de estratégias antes usadas entre

os muros universitários, em processos de pesquisa institucionalizados, estratégias

estas agora compartilhadas para resolver uma tarefa coletivamente organizada de

autoria: a escrita de verbetes enciclopédicos. Esta tradução de práticas de um

espaço a outro surgida em um ambiente online, de maneira coletivamente

organizada, é uma das manifestações do que se convencionou chamar Web 2.0,

em que ferramentas de construção coletiva permitem a criação de comunidades

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Considerações introdutórias 27

voltadas a alimentar bases de dados em comum para determinados objetivos a

serem alcançados.

Em minha pesquisa, pude ainda notar que os autores, chamados entre eles

de wikipedistas, apesar de trabalharem com a construção de um texto aberto à

participação de todos que desejam editar e contribuir com novas informações

criaram sua própria maneira de gerir burocraticamente a escrita, através de um

espaço interno do site denominado portal comunitário. Nesse espaço as regras e

valores são discutidos, principalmente pelos participantes mais ativos da

comunidade de autores (por volta de 300 na época de realização do meu estudo).

Para um observador desatento aos detalhes do processo, o caso poderia ser

reduzido à pura anarquia autoral, tanto na pesquisa quanto na escrita,

especialmente se for visto por um observador não consciente do processo “por

dentro”, observando, nos registros deixados pelos wikipedistas, o desenrolar das

discussões feitas através do tempo.

Entre os três princípios fundamentais, não modificáveis e aplicáveis a

todas as Wikipédias existentes (mais de 200 em idiomas diferentes) geridas pela

Fundação Wikimedia, está o princípio da verificabilidade (Rosado, 2008, p. 184),

que indica a necessidade de apontar a fonte de origem de determinada informação

citada no verbete para que outros leitores possam acessá-la e verificar a

consistência dos dados1.

Foi marcante observar que, entre os critérios de seleção e uso de fontes

expressos pelos wikipedistas, estavam aquelas que seriam as mais certificadas, as

válidas e confiáveis no entender deles, por refletirem resultados de pesquisas e de

revisão pelos pares; ou seja, as de origem preferencialmente acadêmica ou que

tenham passado por processo semelhante ao acadêmico utilizado em revistas

científicas. No discurso observado nos manuais da Wikipédia, é comum apontar-

se os blogs e sites pessoais, por exemplo, como fontes pouco confiáveis, por

serem publicações feitas pelo próprio autor sem passar por critério algum de

revisão ou parecer científico.

Assim, perceber a academia, com seus princípios e métodos de validação,

ser tomada como referência me motivou a ir para o outro polo da autoria, o

acadêmico, e ver como as fontes e espaços digitais (computador e a internet),

1 Ver o seguinte endereço: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:Verificabilidade>.

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Considerações introdutórias 28

sejam coletivas ou não coletivas, entram no processo de escrita do pesquisador e

autor acadêmico, aquele que gera boa parte das fontes certificadas para consulta

nesses espaços emergentes de autoria coletiva.

Dessa forma, tomei como uma das premissas de meu trabalho buscar as

estratégias e práticas emergentes de autoria no espaço acadêmico que pudessem

gerar alguns vislumbres da relação de dois polos tão distintos e até mesmo vistos

como contrários, antagônicos, um associado à produção confiável (espaço

universitário) e outro associado à produção inconsistente (espaço digital) de

textos.

Se observada a datação das primeiras universidades medievais na Itália

(Bolonha, ano 1088), França (Paris, ano 1090), Inglaterra (Oxford, ano 1096) e

posteriormente nos outros países europeus, a academia tem um peso de 900 anos

de história na produção cultural em instituições formais no Ocidente. Por outro

lado, a internet e os espaços de escrita individual (e-mail, blogs, websites

pessoais, repositórios de notícias, comunidades virtuais, listas de discussão, redes

sociais) ou coletiva (wikis, editores de texto online) são proporcionalmente muito

recentes, com cerca de 30 anos para os mais antigos e pouco mais de 10 anos para

os pertencentes à Web 2.0.

Esses espaços emergentes de escrita não contam com o peso

institucionalizado da universidade, conseguindo seus habitantes andarem de forma

mais livre de procedimentos padronizados, com projetos e propostas ainda

embrionários, embora já com alcance mundial pela própria característica da

internet que permite facilmente este alcance de conexão entre as pessoas. Embora

propício a rápidas inovações (veloz), o espaço digital é mais instável (maleável),

justamente pela liberdade e não consolidação de suas regras de trabalho, exigindo

enorme esforço para se estabelecer espaços de discussão mais ou menos

organizados, conforme pude constatar ao observar o portal comunitário da

Wikipédia.

Não é a toa que o perfil dos wikipedistas que constatei naquele trabalho

(Rosado, 2008, p. 155-171) era o jovem do sexo masculino e solteiro, com três

quartos situando-se na faixa dos 16 aos 40 anos de idade (nenhum se situando

acima dos 60 anos), pertencentes às classes média e alta, com grau de instrução

entre o ensino médio (23,8%) e a graduação (46,5%), e morador dos grandes

centros urbanos (Rio de Janeiro, São Paulo e Lisboa). Os mais jovens, ainda

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Considerações introdutórias 29

independentes de família constituída (filhos), possuindo tempo disponível e com

grau suficiente de instrução, no contato com a dinâmica da vida urbana, dominam

a produção das informações e os movimentos pioneiros no ciberespaço, mesmo

sem o perfil acadêmico típico (pesquisadores pós-graduados), pelo menos nesse

caso que pude analisar.

Por todo o exposto, a primeira hipótese, de caráter mais geral, que levantei

na constituição do projeto de tese foi a de que, em decorrência de mudanças

profundas nos suportes de autoria, ocorrida principalmente nos últimos 30 anos

(1981-2011), poderiam ter se processado transformações no ato de pesquisa,

envolvendo a busca, seleção e uso de fontes acadêmicas e extra-acadêmicas em

textos científicos.

Fundamentava-me o fato de que as mudanças nos suportes são

representadas principalmente pela difusão da computação pessoal (o personal

computer ou IBM PC), acessível de forma crescente à grande massa de pessoas e

especialmente aos estudantes de mestrado e doutorado (a internet se expande no

ambiente universitário antes de entrar na sociedade de maneira aberta no início

dos anos 90), assim como o acesso a redes digitais mundiais de dados nos últimos

20 anos (web, internet, WWW).

É uma hipótese que aposta no processo de mudança quando um elemento

novo, no caso o suporte de configuração digital, entra em cena. Porém, como toda

hipótese formulada, ela exige ida a campo para verificação de sua validade e

especialmente dos detalhes de adoção e uso desses suportes. Não parto aqui de um

determinismo tecnológico, em que a tecnologia diz às pessoas o que devem fazer

com elas sem permitir atos criativos e inesperados, mas sim do que é feito no

cotidiano a partir da introdução desses novos suportes-objetos técnicos.

Posso afirmar, de modo geral, através dos estudos da cibercultura surgidos

nos anos 90 (Lévy, 1999; Lemos, 2007; Kerckhove, 2009), que estamos em plena

fase de transição midiática, passando de estruturas analógicas de difusão e

compartilhamento de saberes, representadas por livros em papel e revistas

científicas impressas, para novas formas de construção e compartilhamento

digitais, representados por bancos de dados online contendo materiais em diversos

formatos, adicionando novos elementos na ecologia das possiblidades e dos

objetos que dão suporte a dados e informações.

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Considerações introdutórias 30

Mas o que a Academia, representada nesse caso por instituições

universitárias, teria a ver com tudo isso? Como estariam as suas práticas nesse

novo contexto, segundo a visão e o próprio relato dos pesquisadores? E no

ambiente da Educação, como esta construção autoral formalizada estaria se

configurando com a introdução dos suportes digitais na vida dos acadêmicos? E

na vida de doutorandos em programas de pós-graduação, que são, a princípio, os

autores de nível mais avançado na educação formal?

Foram questões dessa natureza que me vinham à mente, quando

testemunhava o processo em curso de formação de uma comunidade de autores

como a Wikipédia, que tanto incômodo trazia quando apresentava minha pesquisa

a acadêmicos, que não se continham em comentar sobre os “perigos” (ou mesmo

“malefícios”) das construções autorais coletivas no ciberespaço e sua falta de

certificação e credibilidade.

A importação de práticas acadêmicas por parte dos wikipedistas mostrava

que os entrelaçamentos de culturas a princípio tão diferentes, a cultura acadêmica

baseada na tradição institucional e a cultura ciberespacial (cibercultura) baseada

nas possibilidades dos novos meios digitais, não eram algo tão distante. Só

restaria então saber como isso ocorria e se ocorria de fato, perguntando

diretamente a quem estava nos últimos anos produzindo os textos na Academia,

sendo os doutores uma amostra ideal desse perfil procurado, pois estão no mais

alto grau concedido na academia (curso de doutorado) e têm, como função

principal a pesquisa e a produção de textos.

Mas não se pode esquecer que as permanências também precisam ser

estudadas, pois não se opõem, em um simples binômio novidade-tradição,

ocorrências como se fossem antagônicas, na qual uma deveria eliminar a

existência da outra. Quando abordo de modo mais específico os acadêmicos, e

complemento a cultura surgida no ambiente digital, na observação do cotidiano

das atividades de um programa de pesquisa de mestrado e doutorado, no qual eu

sou simultaneamente participante (no papel de estudante) e observador (no papel

de pesquisador), sou levado a crer na existência de uma cultura acadêmica

constituída pelos valores, hábitos e crenças compartilhadas no ambiente da

universidade em cursos de pós-graduação stricto sensu expressas nas falas e

posturas dos doutores.

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Considerações introdutórias 31

Tinha a percepção de que a cultura acadêmica provavelmente possuía

variações de acordo com a carreira optada pelo doutor (cultura relativa à

profissão) e a universidade em que foi formado (cultura relativa às histórias e

inclinações ideológicas de seus administradores e professores), embora a

cooperação entre pesquisadores seja hoje mais intensa, ultrapassando a divulgação

mais tradicional em congressos e reuniões científicas, pela possibilidade do uso da

internet, de ferramentas oferecidas para comunicação no ciberespaço. Nesse caso,

esses fatores poderiam tornar essa cultura mais permeável e flexível, apesar da

força dos laços forjados em contatos presenciais e cotidianos dos pesquisadores

dentro de suas instituições.

Algumas dúvidas embrionárias então surgiram. A cultura acadêmica seria

uma cultura, de fato, em transformação? Ou, pelo menos, estaria sob forte

influência dos espaços emergentes na internet? Ou estaria sendo um universo mais

conservador em que prevalece o girar ao redor da credibilidade e validade de

fontes de dados, no qual as práticas remetem à tradição da consulta a fontes

devidamente produzidas por autores vinculados ao debate científico universitário?

O que sabemos é que a cultura acadêmica é permeada por hábitos ligados à

escrita em suportes analógicos, principalmente livros e revistas científicas

impressas, utilizados há pelo menos nove séculos, no caso dos livros, e três

séculos e meio, no caso das revistas científicas, para a troca de reflexões, teorias e

resultados científicos e o desenvolvimento de diversos campos da ciência.

Este conjunto de indagações e incertezas delineou o percurso

metodológico que escolhi para o estudo, em que procurei acessar na memória de

doutores o modo de elaboração de seus textos, o jogo das referenciações e formas

de certificação de credibilidade de fontes, os tipos de fontes consultadas, o modo

de organização desses dados e as estratégias de leitura de fontes e escrita dos

textos que tomam a forma final e são chamados de teses.

O que procurei fazer foi mergulhar nas descrições das práticas cotidianas

do pesquisador, no modo de fazer relatado pelos recém-formados doutores em

Educação, naquele momento ainda no papel de doutorandos. Arrisco dizer que

esta é uma pesquisa-puzzle, em que pequenas peças são deixadas ao longo das

falas dos entrevistados – nem sempre completas ou explícitas, se ligando com

outras peças deixadas por outros, sem que ao término consigamos montar o

quebra-cabeça definitivo, mas que tenhamos fragmentos de sua paisagem que nos

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Considerações introdutórias 32

apontem tendências de como esta autoria formal, acadêmica e institucional,

caminha hoje frente ao turbilhão de recursos e possibilidades oferecidas ao

acadêmico pelo computador e pela internet.

1.2 Questões norteadoras de estudo

De maneira sintética, o problema de pesquisa que se impõe para esta tese é

compreender com maior profundidade as brechas em que o suporte digital e seu

formato específico de armazenamento, tratamento e acesso à informação traz na

vida do acadêmico do campo da educação, na fase em que os acadêmicos do curso

de doutorado estão construindo suas teses, em um momento que a cibercultura se

encontra bastante difundida na sociedade e fazendo parte do dia a dia dos cidadãos

“comuns”.

Do problema chego à questão central, ponto de partida de meu trabalho:

Como os ex-alunos de pós-graduação do curso de doutorado, ligados à

área de Educação, hoje doutores já formados, desenvolveram o processo de

pesquisa e autoria de sua tese acadêmica usando suportes digitais?

Esta questão central se desdobra em outras que, uma vez formuladas,

permitem operatividade ao processo da investigação. São elas:

O que mais caracteriza o uso dos suportes digitais na elaboração das

teses acadêmicas de doutores formados na área de Educação, entre os

anos de 2005 e 2010, a partir do conjunto de casos coletados?

Dentro do conjunto de casos coletados, é possível a identificação de um

ou mais perfis de uso marcantes, ou seja, pontos que convergem as

experiências nos usos e práticas com suportes digitais relatadas por estes

doutores?

Há diferenças significativas na construção autoral e no uso dos suportes

digitais desses doutores (participantes da amostra de casos),

considerando os contextos culturais de diferentes continentes (América

do Sul – Brasil e Europeu – Itália)?

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Considerações introdutórias 33

Tendo por base as perguntas de partida da investigação, propus o seguinte

objetivo:

Investigar as práticas emergentes envolvidas na pesquisa científica

acadêmica de doutores ligados à área de Educação, formados entre os

anos de 2005 e 2010, particularmente na PUC Rio e na UCSC2, usando

suportes digitais, no que tange ao processo autoral envolvendo a busca e

leitura de fontes, a leitura de documentos, a escrita da tese, a

organização dos materiais coletados e a comunicação com outros

pesquisadores e sujeitos.

Na consecução deste objetivo, procurei atingir a seguinte meta:

Elaborar um trabalho, a partir dos dados recolhidos do campo empírico,

no qual estivessem explicitadas práticas em curso pelo uso do

computador e da internet como fonte de pesquisa e construção autoral a

partir de entrevistas realizadas com doutores formados na área de

Educação, particularmente na PUC-Rio e UCSC, entre os anos 2005 e

2010.

As duas principais hipóteses com as quais dei início à execução deste estudo

foram:

A primeira se fundamentou no fato de que estamos em uma década de forte

expansão no uso de suportes digitais que alteram os modos estabelecidos de

pesquisa acadêmica através de séculos de uso dos suportes analógicos impressos.

Esta é a hipótese central, pois a variável nova que se procura entender são os

efeitos dos suportes digitais representados pelo computador e pela internet.

A segunda hipótese levantada e que permeou todo o estudo é que essas

alterações provocadas pela entrada dos suportes digitais abarcam o campo

acadêmico da busca e leitura de fontes, da escrita do texto, da organização dos

materiais coletados e da comunicação com outros pesquisadores e sujeitos

estudados.

Essas hipóteses lançaram boas perguntas para compor o roteiro de

entrevistas e ofereceram esquemas de análise interessantes para a estruturação do

2 Assumo ao longo do texto a sigla UCSC para Universitá Cattolica del Sacro Cuore di Milano,

ou simplesmente Universidade Católica de Milão. A pesquisa na Itália ficou concentrada neste campus, embora existam outros campi em outras cidades italianas como Brescia e Roma.

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Considerações introdutórias 34

primeiro corpo de categorias temáticas e seleção dos trechos correspondentes dos

dados. Contudo, o melhor achado foi, realmente, a descoberta de tendências de

uso do computador e da internet, novos hábitos de pesquisa com suportes digitais,

estratégias particulares usadas por algum dos doutores, ou seja, o microuniverso

de suas práticas, o objeto cuidadosamente recolhido e enormemente valorizado

nesta tese.

1.3 Estrutura da tese

Para desenvolver as questões de estudo elencadas acima, necessitei me

apoiar em estudos que dão suporte teórico a temas como cibercultura (cultura das

redes informáticas), novas formas de autoria em formato digital, características da

hipertextualidade, comunicação científica e mesmo a cultura formada

historicamente pelos indivíduos letrados, que forjaram modelos institucionais de

pesquisa e ensino cujo modelo central, ora em análise, é a universidade.

Pela natureza deste trabalho, foram tópicos e temáticas desenvolvidos ao

longo do texto resultante dessa pesquisa, ajudando na análise e interpretação

posterior dos dados coletados. Para abordá-los em uma ordem lógica, indo do

aspecto teórico até o aspecto mais prático-empírico, além deste capítulo

introdutório, dividi a tese em três partes: I. A cultura acadêmica e a cibercultura

(capítulos 2 e 3), II. Planejamento e execução da pesquisa (capítulos 4, 5 e 6) e

III. Análise e discussão dos dados coletados (capítulos 7 e 8).

No capítulo 2, tive como objetivo tratar, em primeiro lugar, dos conceitos

envolvidos nas transformações midiáticas a partir da introdução dos suportes de

característica digital na sociedade contemporânea, além de pensar quais pontos

são realmente inovadores, o que de fato trazem de contribuição e de características

particulares diferenciadoras em relação aos anteriores. É uma abordagem que

contém binômios que revelam contrastes do tipo antes-depois, a exemplo do

suporte analógico-suporte digital, do meio de massa-meio personalizado, do

sujeito receptor-sujeito interagente, para que possamos ressaltar as novidades

específicas destes suportes digitais emergentes.

Foram comparados os suportes digitais com os meios de comunicação

analógicos e de transmissão em massa clássicos, apesar do computador e da rede

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Considerações introdutórias 35

internet irem muito além de meros meios de comunicação, pois possuem uma

capacidade aglutinadora de reunirem funções em um único local. São postas,

nesse capítulo, questões sobre as possibilidades trazidas pelo que é considerado

novo, ou seja, os suportes de característica digital, que estão compondo uma

variável muito recente na ecologia dos objetos comunicacionais e informacionais

se compararmos com outros objetos consolidados, a exemplo da longa história do

livro e do jornal em suas versões manuscrita e impressa.

No capítulo 3, pude evidenciar, com a ajuda de estudos que se passaram

em diferentes ambientes acadêmicos pelo mundo, que a atividade dos

pesquisadores universitários possui variâncias e especificidades que levam a

apropriações particulares das TICs no cotidiano de suas atividades, ou seja, é uma

apropriação multideterminada, composta de fatores que vão além da

disponibilidade das tecnologias digitais, envolvendo escolhas pessoais, o ambiente

técnico da pesquisa, as alianças e interesses do campo de pesquisa.

Foram elencados estudos empíricos que surgiram ainda na primeira

metade dos anos 90, momento inicial de expansão da internet pelo mundo, e que

persistem até os dias de hoje, acompanhando a rápida evolução dos equipamentos

informáticos em duas décadas de transformações. O objetivo específico desse

capítulo foi, portanto, apresentar os dados surgidos na empiria de outros

pesquisadores em outros países como forma de contraponto para a interpretação

dos meus dados, detectando tendências e recorrências nos achados, tanto a

respeito dos indivíduos quanto a respeito das condições de entorno em que

viviam.

A segunda parte envolve três capítulos: 4º, 5º e 6º.

Os capítulos 4 e 5 tratam do contexto da pós-graduação italiana e brasileira

e das especificidades dos dois locais onde se passou a pesquisa que compôs o

quadro empírico desta tese. São vistas, de forma sumária, as etapas de ensino

existentes hoje em cada um dos países, assim como as suas políticas para os

cursos de pós-graduação, que tiveram forte expansão nos últimos 20 anos, embora

estejam ainda muito aquém de países mais desenvolvidos e que lideram a

produção da pesquisa no mundo.

Vemos, então, que tendências como a implantação de agências e políticas

de avaliação da pós-graduação, a transformação do mestrado em preparação

inicial do pesquisador, o aumento do número de publicações de menor qualidade e

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Considerações introdutórias 36

a maior competição entre docentes são comuns aos dois países e refletem um

cenário mundial mais amplo de políticas do ensino superior.

No capítulo 5, são analisadas as estruturas de funcionamento tanto da

PUC-Rio quanto da UCSC procurando-se características comuns (particulares, de

origem católica, fundadas há menos de um século, com áreas diversificadas), pois

foram universidades que serviram de base para a coleta de dados desta tese.

Também é feito um breve histórico a respeito dos grupos de pesquisa JER e

CREMIT, grupos ligados à pesquisa sobre educação e uso de mídias e que

compuseram, com seus integrantes, metade do conjunto de casos analisados neste

estudo.

Para encerrar a segunda parte, no capítulo 6 é detalhado o desenho

metodológico da pesquisa, com base na modalidade de estudo de casos múltiplos

e no tratamento de dados através de técnicas de análise de conteúdo. Contempla,

assim, a fala dos que foram entrevistados, no total, dezesseis sujeitos, oito na

Itália e oito no Brasil, que se formaram no curso de doutorado ao longo da

segunda parte da década de 2000, ajudando a mapear o atual período de fortes

mudanças nos suportes midiáticos (analógico para o digital) e os modos como

estão sendo apropriados no ambiente acadêmico. O capítulo apresenta, ainda, com

base nos dados coletados um quadro com eixos e variáveis de análise aplicadas a

cada caso, compondo a base empírica utilizada na terceira parte.

No capítulo 7, o primeiro da terceira parte, com o objetivo de observar os

pontos de convergência entre os dezesseis casos analisados, reuniu em 45 gráficos

as variáveis de análise correspondentes, utilizadas para compor o perfil de cada

entrevistado. Surgiu, dessa forma, um gráfico para cada uma das variáveis, que

foram, por sua vez, agrupados em cada um dos sete eixos temáticos sedimentados

durante a análise de conteúdo das entrevistas.

Foi possível esboçar algumas inferências por esta aproximação numérica

com os dados. E, na medida em que o valor dos casos analisados só se completa a

partir das considerações feitas sobre os depoimentos dos participantes e

observações aprofundadas, esse cruzamento entre dados quantitativos e análise

qualitativa dos depoimentos é o cerne deste capítulo. Para facilitar a leitura , ao

final de cada eixo temático, sintetizei os pontos principais, em resumos dos

achados empíricos, escalas criadas e conceitos propostos.

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Considerações introdutórias 37

O capítulo 8 traz as considerações finais, extraídas da articulação entre os

sete eixos temáticos, que compuseram a análise de dados, e a revisão de estudos

anteriores Nele estão expostas as principais tendências (e permanências)

encontradas no uso de suportes digitais pelos acadêmicos ao longo do processo de

escrita de suas teses, discussão que permitiu algumas considerações finais a

respeito do padrão ainda conservador encontrado nos modos de uso e apropriação

dos suportes digitais pelos acadêmicos.

As recomendações, sempre esperadas de uma tese, estão expostas neste

trabalho como final do capítulo 8, em torno da construção de um perfil autoral que

use novos suportes de característica digital, da exigência de formatos acadêmicos

diferentes dos usuais e da possibilidade imprescindível de mudança da burocracia

institucional universitária.

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Page 38: TESE: Quando os doutorandos visitam o ciberespaço: o uso de suportes digitais na produção acadêmica em um período de transições

I. A CULTURA ACADÊMICA E A CIBERCULTURA

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Page 39: TESE: Quando os doutorandos visitam o ciberespaço: o uso de suportes digitais na produção acadêmica em um período de transições

2 Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura

Basta que alguns grupos sociais disseminem um novo dispositivo de comunicação, e todo o equilíbrio das representações e das imagens será transformado, como vimos no caso da escrita, do alfabeto, da impressão, ou dos meios de comunicação e transporte modernos (Lévy, 1993, p. 16)

O capítulo atual tem como função preparar conceitualmente para o

entendimento do próximo, em que veremos de maneira bem clara, na revisão de

estudos empíricos, que a apropriação e uso por parte dos acadêmicos é composta

de fatores externos que vão além da disponibilidade das tecnologias digitais,

envolvendo escolhas pessoais, o ambiente técnico da pesquisa, as alianças e

interesses do campo de pesquisa, ou seja, essa multideterminação ligada à história

de vida do sujeito por si só evidencia a direção para um discurso de que nega o

puro determinismo tecnológico e uma suposta natureza boa ou má da técnica.

Detectar transformações não quer dizer detectar determinações.

Oferecemos, neste capítulo, uma síntese de conceitos-chaves que giram ao

redor do suporte digital e suas potencialidades (não são determinações), conceitos

esses surgidos a partir de reflexões sobre a sociedade e sobre a técnica, que unidos

trazem transformações sócio-técnicas, reafirmando a ideia de que objetos

produzidos pelos humanos em sociedade geram transformações na própria

sociedade, de modo circular, contínuo e – porque não? –, imprevisível, pois a

velocidade de criação de novos meios de tratar a informação e a comunicação

surgem a todo momento e alteram, em algumas situações, a própria lógica em que

foram construídos e ofertados. Foi assim com a oralidade, com a escrita, com a

imprensa, com a máquina a vapor, com as estradas de ferro, com o telégrafo,

telefone, televisão, rádio e agora com os computadores em seus múltiplos

formatos.

Pensar, portanto, os modos contemporâneos de apropriação e uso pelos

acadêmicos dos suportes de característica digital em seu processo de formação no

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 40

curso de doutorado, ou seja, os modos como buscam informações, escrevem suas

teses, realizam suas leituras, se comunicam com os pares, armazenam suas

informações, usando seus computadores e a rede internet, requer pensar

primeiramente quais pontos são realmente inovadores a partir do surgimento

destes novos suportes, o que de fato trazem de contribuição e de características

particulares diferenciadoras em relação aos anteriores.

Exige pensar em que pontos os suportes digitais merecem a alcunha de

transformadores, ou seja, o que ocorria antes e o que ocorreu (e ocorre) depois de

seu surgimento, mesmo que esse mapeamento seja datado e saibamos que

transformações na “ecologia dos suportes”3, com o surgimento de novos objetos,

ocorram a todo momento, assim como os usos possíveis não sejam sempre

realizados em todas as circunstâncias e por todos aqueles que fazem suas imersões

nos ambientes digitais.

Em verdade, Santaella (2010) aponta que as primeiras tecnologias digitais

faziam-nos entrar na era das tecnologias do acesso, ou seja, na convergência de

som, imagem, texto provenientes dos supotes anteriores e permitindo o acesso

interativo por parte de quem está imerso nesse novo espaço construído nas redes

informáticas, em contraponto às tecnololgias que limitavam as pessoas a receber

conteúdos já prontos e disponibilizados em massa. Esse movimento, embora com

menos de 30 anos de idade, já está cedendo espaço para a era das tecnologias da

conexão contínua, em que celulares com internet e os novos tablets inserem a

variável espaço geográfico no dia a dia dos internautas, libertando-os da

necessidade de ir até a rede, passando a ter a rede disponível o tempo todo junto a

si através desses objetos móveis.

Pensar em transformação exige também a reflexão sobre o que é

considerado “antigo” ou de “velha guarda”, ou seja, pensar sempre em

3 O exemplo mais recente de objeto-suporte surgido foram os computadores portáteis, sem teclado, com tela sensível ao toque, chamados de tablets. Poucos anos depois que os celulares sensíveis ao toque invadiram a realidade de milhões de pessoas e trouxeram a computação para o patamar da mobilidade, a simples mudança de tamanho da tela acrescentando mais algumas polegadas a esses equipamentos, passando a chama-los de tablets, foi suficiente para a criação de todo um novo mercado, com aplicações específicas com uma miríade de programas para acesso com a ponta dos dedos. Todo esse processo tem menos de 4 anos, ou seja, mal foi detectado nos 16 depoimentos coletados para compor a pesquisa desta tese, um fato que realmente surpreende e mostra a força da transformação dos suportes em curso.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 41

comparação ao que era (e ainda é) possível se fazer com meios ditos analógicos4,

a exemplo do papel impresso, incluindo os livros, os jornais, as revistas, as cartas,

assim como a transmissão eletrônica em massa de imagens e sons, com a TV, o

rádio e o cinema, via películas, fitas magnéticas e ondas hertzianas.

Isso porque estamos comparando os suportes digitais com os meios de

comunicação analógicos e de transmissão em massa clássicos, apesar do

computador e da rede internet irem muito além de meros meios de comunicação,

pois possuem uma capacidade aglutinadora de reunirem funções em um único

local (incluindo a comunicação), algo somente esboçado (e pouco viável) antes do

formato digital de tratamento da informação. Estamos pondo em questão as

possibilidades trazidas pelo que é considerado novo, ou seja, os suportes de

característica digital, que estão compondo uma variável muito recente na

ecologia dos objetos comunicacionais e informacionais se compararmos com

outros objetos consolidados, a exemplo da longa história do livro e do jornal em

suas versões manuscrita e impressa.

Esses novos suportes para a circulação da informação, esboçados nos anos

40 em ambiente exclusivamente militar no auge da Segunda Guerra Mundial e

consolidados ao longo dos anos 60 e 70 em laboratórios estadunidenses de alta

tecnologia nas mãos de acadêmicos do campo das ciências exatas, hoje

miniaturizados e presentes em nosso cotidiano, trazem de novidade o seu formato

de armazenamento e processamento totalmente diferente do anterior (formato

binário) e a forma como interligam as informações e seus meios de escoamento

(redes) com funções que assimilam as anteriores e acrescentam novas

possibilidades não existentes até então.

Materialmente, estamos falando dos computadores, mas também de algo

“imaterial”, a rede formada por estes suportes chamada internet e o formato que

4 Analógico aqui se refere a registros que não recebem uma codificação e posterior decodificação eletrônica, sendo representados através de meios materiais que procuram reproduzir com a máxima analogia o sinal original. Na eletrônica digital todos os sinais são reduzidos em bits, enquanto no registro analógico procura-se registrar o maior nível possível de variações originais do sinal, como os tons de cores através do registro químico de uma imagem em um filme ou todas as variações de ondas sonoras no registro magnético de uma música. A reprodução sucessiva de um registro através da analogia resulta na perda de qualidade em relação à fonte original, processo esse que não ocorre no formato digital eletrônico, a não ser que alguns de seus bits seja corrompido no processo de cópia. O transporte eletrônico em bits possibilita a cópia infinita e sempre igual da fonte original e, a princípio, quanto mais bits são utilizados, maior a precisão com que sons, imagens e vídeos são capturados.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 42

perpassa sua existência, as memórias compostas por bits5 e que fervilham com a

interação de bilhões de usuários6 que trocam mensagens, conectados em

ambientes digitais denominados uniformemente de ciberespaço. De um fenômeno

pertencente inicialmente à esfera técnica e burocrática de instâncias

governamentais passamos então para um fenômeno social abrangente, que permite

a criação de redes de pessoas através da infra-estrutura das redes de

computadores.

Muito mais do que suporte para informações chegarem de um produtor

para um receptor, a internet se transformou potencialmente em uma zona de

intermediação entre seus diferentes usuários, um local “imaterial” em que além de

ser leitor-espectador-usuário, qualquer um é potencialmente co-criador,

interagente, produtor e interventor caso tenha motivação, um ambiente que

possibilite tal ação e algum conhecimento técnico para exercer esse papel. Todo

um movimento para promover o acesso livre à informação e a criação de

comunidades de criadores de conteúdos surgiu a partir das facilidades trazidas

pelo suporte digital (Shirky, 2012).

É uma abordagem que contém binômios que revelam contrastes do tipo

antes-depois, a exemplo do suporte analógico-suporte digital, do meio de massa-

meio personalizado, do sujeito receptor-sujeito interagente, para que possamos

ressaltar as novidades específicas destes suportes digitais emergentes, mas que

não são necessariamente excludentes ou mesmo portadores intrínsecos de uma

nova modalidade de viver e de estar em comunidade, pois a cultura que emerge

com o uso desses suportes não é inerente a eles, como se fosse emanada de forma

autônoma e nós fôssemos somente seus receptores obedientes cumprindo uma

promessa previamente programada.

5 O bit vem da contração da expressão inglesa BInary digiT, sendo a menor unidade de informação a ser armazenada e emitida. O bit assume somente dois valores, um falso e um verdadeiro, chamado de maneira didática de zero (0) e um (1). Um conjunto de 8 bits convencionou-se chamar de byte, em que 256 combinações diferentes são possibilitadas (28), permitindo associá-los em códigos programados para exercerem determinadas funções, os programas de computador. 6 Embora mais a frente eu faça a distinção conceitual entre usuário e interagente proposta por Primo (2003), optei por me referir a quem acessa a internet e o computador como aquele que os utiliza e, portanto, é um usuário, podendo fazer ou não interações com outros usuários, dependendo do ambiente e das possibilidades permitidas por quem o tenha programado. Somente em casos onde o usuário interage explicitamente com outros optei por chama-los de interagentes, pois nem todo uso mobiliza uma interação plena entre pessoas, podendo ser um uso somente de respostas provenientes da máquina (interação reativa).

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 43

Pelo contrário, as transformações e inovações na cultura estão acontecendo

a partir desses novos suportes, com o uso cotidiano deles, na prática diária das

pessoas que os acessam, usam e readaptam conforme suas necessidades, uma

mútua e constante influência de humanos com objetos não-humanos (Latour,

2001), pessoas e coisas formando um coletivo que partilha significação e tem

como resultado a mútua transformação, de forma contínua, criando novas

possibilidades antes não pressentidas e ressignificando práticas estabelecidas e

estáveis até o momento.

É muito mais fácil hoje criarmos programas de computador (a parcela que

domina a técnica) e sites na internet (a parcela disposta a gerar novos ambientes),

assim como materializarmos as redes sociais através de grupos de interesse (a

parcela disposta a compartilhar), sendo o resultado disso uma rápida ascenção de

produtos criados pelos que acessam a rede, que emergem de maneira imprevista

(Shirky, 2012).

Se Bruno Latour (2000, 2001) constatou em seus estudos sobre a ciência e

os cientistas que uma pesquisa procura esconder as suas atividades instáveis, as

surpresas e erros cometidos, as intermináveis testagens e escolhas, em um produto

final com uma “caixa-preta”7 inacessível a quem o recebe (público-alvo final), a

cibercultura e o ciberespaço evidenciam a dificuldade de existirem produtos finais

quando os espaços abertos ao coletivo estão a todo momento sendo construídos e

todos podem, a princípio, observar fluxos e alterações em tempo real. As

comunidades formadas em redes online estão eternamente em versão beta,

fervilhando de interações, sem que alguém de fato consiga “fechar a caixa aberta”,

a não ser que o espaço seja desativado e apagado de seus servidores8 por aqueles

que possuem o poder para isso.

No ciberespaço a construção coletiva é muito mais evidente do que as

produções da ciência, produção essa oculta dos nossos olhos nos laboratórios de 7 Latour (2000, p. 14) afirma que “a expressão caixa-preta é usada em cibernética sempre que uma máquina ou um conjunto de comandos se revela complexo demais. Em seu lugar, é desenhada uma caixinha preta, a respeito da qual não é preciso saber nada, senão o que nela entra e o que dela sai.” 8 Um servidor, no jargão da informática, é todo computador (ou conjunto de computadores) que oferece de maneira dedicada algum serviço para a rede em que está conectado, a exemplo da armazenagem de websites, recebimento e gerenciamento de mensagens de correio eletrônico, gerenciamento de mensagens trocadas através de mensageiros instantâneos. Sem estes computadores, em geral ligados em redes de desempenho muito acima de um computador isolado utilizado em casa ou em escritório (computadores clientes), que permitem o funcionamento de serviços da internet que exigem alto grau de processamento (motores de busca) e de largura de banda (sites que exibem vídeo e som).

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 44

alta e baixa tecnologia, nas residências de pesquisadores que analisam seus dados

coletados e nas produções textuais acadêmicas em repositórios que podem ser

interpretados por poucos “iniciados”. No ciberespaço podemos observar parte

desse processo de construção coletiva em websites que reúnem milhões de

usuários-interagentes, embora tenha também seu grau de “caixas-pretas” através

de inúmeras interfaces construídas, sobrepostas e que nos separam da produção

das memórias eletrônicas, do fazer cotidiano dos softwares e do aparato industrial

por trás da fabricação dos microchips (Lévy, 1993, p. 176-184).

O acesso ao ciberespaço e a permissão de alteração via co-criação

funcionam através de camadas de dificuldade representadas pelo conhecimento

técnico (quem domina o saber para alterar) e pelo poder econômico (quem domina

o recurso para direcionar). Apesar disso, as camadas mais fáceis e abertas à

intervenção são bem mais abrangentes que as existentes até então nos suportes

analógicos dos meios de comunicação de massa, ou seja, os suportes digitais

abrem mais brechas à participação individual e coletiva e expõe mutuamente

mensagens e produções individuais para a análise e intervenção dos pares.

No âmbito acadêmico, a caixa preta pode ser vista quando se pensa nos

espaços ocultos existentes entre a produção autoral por parte de pesquisadores-

doutorandos no campo da Educação, quando entregam seus produtos finais

através de teses em formato de texto. Eles ocultam o que ocorreu entre o momento

de sua entrada no curso (matrícula) e a entrega da versão final do texto escrito

(defesa de tese). Nesse longo processo que os suportes digitais excerceram alguma

influência, pouco ou nada ficou visível, a não ser os discursos dos sujeitos

(entrevistas) que vivenciaram o processo e se dispuseram a doar seus depoimentos

para a realização da pesquisa desta tese.

Pela sua importância conceitual para o presente trabalho nos deteremos, de

modo mais específico, nos discursos sobre a nova cultura que emerge dos espaços

digitais criados na internet, a cibercultura e em seu formato de comunicação em

rede, o hipertexto, sob diferentes pontos de vista. Os dois conceitos, em comum,

nos oferecem uma lente mais precisa para entender os movimentos ocorridos e as

práticas relatadas pelos nossos entrevistados que compuseram os estudos de caso

dessa pesquisa, novos leitores-autores em potencial a partir do uso e constante

recriação desse novo espaço digital.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 45

2.1 A cibercultura e o ciberespaço: nascimento, discurso e herança

Podemos definir cibercultura como o campo de práticas, relações, valores,

narrativas e discursos surgidos a partir da difusão e do uso de tecnologias digitais

eletrônicas que formam em rede o ciberespaço, não sendo somente um fenômeno

técnico, embora seja fundado a partir dele. O ciberespaço é definido, a princípio,

como um novo espaço simbólico e cultural fora das normas do “mundo real”

físico e das suas organizações formais (Macek, 2005), que existe a partir da

interconexão de múltiplos terminais de computadores em rede.

A cibercultura, como a conhecemos hoje, nasce já nos anos 1960 quando

as redes informáticas começam a ser testadas nos laboratórios universitários do

MIT (Massachusetts Institute of Technology). A rigor, essas primeiras redes não

eram universais, eram chamadas de Local Area Networks (LANs), pois eram

limitadas a um local e a computadores próximos. Com a diminuição dos

computadores e dos custos para fazê-los surge a necessidade de transferir

informações (dados em bits) entre eles, incluindo computadores muito distantes.

Dessa forma surgem as Wide Area Networks (WANs).

O problema de compatibilidade entre as redes nascentes será resolvido

alguns anos mais tarde pela ARPA, a Advanced Reserarch Projects Agency, que

criará o conceito de internetwork ou simplesmente internet (Campos, 2003). A

vantagem da internet, comparada aos computadores isolados em redes

proprietárias, está no fato de diferentes tipos de computadores e com diferentes

tipos de sistemas os operando poderem trocar informações entre si de maneira

compatível9 por diferentes vias, como cabos, linhas telefônicas, frequência de

rádio e mesmo por satélites. Dessa forma as bases para a interconexão de milhões

de computadores estava formada e o ciberespaço poderia se concretizar e florescer

9 A base mais rudimentar da internet está em seus protocolos de comunicação que permitem mensagens serem traduzidas de uns para os outros. O mais conhecido e utilizado protocolo de transporte é o TCP/IP, o Transmission Control Protocol / Internet Protocol. Segundo Campos (2003, p. 17), “um protocolo é uma linguagem para a comunicação entre dois computadores distantes geograficamente, permitindo a troca de mensagens entre os dois computadores, para a transmissão de dados.” Basicamente o TCP/IP organiza a transmissão e a recepção dos pacotes de dados (bytes) que viajam por diferentes rotas na rede até chegarem aos seus destinos, atribuindo a cada um dos pacotes informações de endereço de origem e esperando a confirmação de recebimento por parte do computador que o solicita. Cada computador da rede recebe uma identificação IP, o que permite que os pacotes cheguem ao destino indicado.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 46

nas décadas seguintes, através da produção de programas e conteúdos para estes

programas por parte dos seus usuários, agindo ou não em rede.

No início dos anos 70 o hardware dos computadores muda a partir do

advento dos microchips, que possibilitam toda uma nova geração de

computadores em pequena escala. Os primeiros “computadores de garagem”, por

serem reduzidos em tamanho e transportáveis sem grande esforço, são construídos

na Califórnia, EUA (Campos, 2003, p. 13 a 24), aumentando exponencialmente o

interesse e a formação de diversos grupos ao redor da computação pessoal10.

Existe uma relação fundamental entre este campo e o surgimento material

das redes informáticas, ou seja, o suporte técnico digital é pré-requisito para que

as novas práticas dos grupos formados ao redor delas sejam estabelecidas.

Segundo Macek (2005), a concepção atual de cibercultura é derivada de

uma primeira fase que vai da virada dos anos 1950-60 até a metade da década de

1990 denominada de cibercultura nascente (early ciberculture). No começo desta

primeira fase, as práticas eram restritas a um pequeno grupo que acessava os

suportes informáticos para usos restritos (principalmente para o campo do

trabalho, estudo e da pesquisa acadêmica), podendo especular sobre sua natureza e

atribuir características supostamente inerentes a estes novos suportes.

O fato de estarem acessíveis a um grupo restrito se dava pelo ao alto custo

de manutenção desses equipamentos e o computador ainda precisava de sujeitos

altamente especializados para operar seus estranhos códigos de programação,

tornando inacessível a computação para sujeitos comuns que não fossem experts

no campo das ciências exatas. A camada de dificuldade ainda estava bem espessa

nesse momento.

Estes grupos perdem sua força discursiva quando as novas tecnologias de

informação e comunicação (NTICs) em formato digital são absorvidas pelos

setores político, econômico e midiático e se tornam parte da sociedade de maneira

generalizada, não mais podendo se definir em contraste com a maioria. Essa

popularização em parte vem pelo avanço da própria tecnologia informática em

10 O primeiro microprocessador (microchip) comercial foi lançado pela Intel em 1971, chamado de 4004, baseado na ideia de circuito integrado, sendo a terceira geração da computação baseada no padrão digital de tratamento de dados, sendo a primeira a baseada em válvulas e a segunda em transistores. Um microprocessador é um dispositivo maleável, que pode ser programado para atender a funções específicas, recebendo dados converdidos em sinais binários (zeros e uns), os processando via cálculos e devolvendo o resultado ao final da operação.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 47

que os computadores vão adquirindo para “dentro de si” as interfaces que antes

eram exteriores a eles, como os cabos, os cartões de perfuração e as válvulas

(Lévy, 1993, p. 101), até chegar ao ponto que a manipulação dos dados passa a ser

realizada de forma “limpa” em telas, através de programas que simulavam

graficamente os dados digitais e levam os componentes mais “brutos” para o

interior de carcaças de plástico, os tornando acessíveis e amigáveis aos não-

experts11.

É nos anos 80 que a cibercultura, como grupo particular de sujeitos ao

redor dos suportes digitais, tem o seu ápice, com livros de ficção científica que se

tornam best-sellers (Neuromancer, publicado em 1984 por William Gibson, é um

marco), com a popularização das revistas especializadas na cultura emergente do

uso das NTICs (Mondo 2000, fundada em 1989), com a divulgação de novos

equipamentos que alimentam a nascente indústria da microinformática

(popularização das marcas Apple, Microsoft e IBM) e também quando os hackers,

pessoas especializadas em códigos de programação informática começam a se

destacar e serem vistos inclusive como ameaça para a estabilidade de sistemas de

computação de grandes corporações (Macek, 2005).

Os hackers dos anos 80 não são mais os especialistas ocultos nos

corredores de institutos de pesquisa programando em enormes máquinas que

ocupavam salas inteiras, e já podem ser caracterizados como jovens comuns com

interesse intenso e especializado nos computadores pessoais (PC – personal

computers), a essa altura presentes em massa nos escritórios e casas de países

desenvolvidos da Europa ocidental e dos EUA12. Revistas como a Wired tornam

na virada dos anos 1980 para os anos 90 o estilo de vida hacker em produto pop

11 O fenômeno da mobilidade com tablets e celulares conectados em redes de dados de alta velocidade (3G) e que permitem aos seus usuários interagirem na rede internet em qualquer lugar que estejam, evidencia o alto grau de sofisticação e “escondimento” de interfaces computacionais, a ponto de bilhões de pessoas os utilizarem sem precisar entender nada sobre códigos de programação e os componentes de hardware envolvidos em sua fabricação, incluindo crianças. Mais uma vez percebemos o padrão “caixa-preta” de Bruno Latour (2000) se manifestando. 12 O poder computacional ao alcance de jovens comuns é retratado no filme de ficção WarGames, de 1983, em que o personagem principal é um adolescente que consegue ter acesso via computador pessoal ao sistema bélico dos EUA, ativando armamentos que poderiam causar uma nova guerra mundial. O exagero retratado no filme é oportuno e de certa forma retrata os grupos de jovens anônimos que na atualidade invadem sistemas de governos do mundo todo como sinal de protestos de ordem política, social e econômica. A guerra ao redor da propriedade intelectual com as redes Torrent em que filmes, seriados e programas de computador são compartilhados e copiados também evidencia o poder de jovens comuns em criar tecnologias a partir do formato digital.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 48

para consumo. No Brasil a tendência do jornalismo voltado a este novo mercado

veio através das revistas de popularização da informática representada pela PC

World, de matriz norte-americana surgida em 1983 e a InfoExame editada desde

1986 pela Editora Abril.

Para Macek (2005) o declínio da cibercultura nascente, formada por

subculturas mais ou menos coerentes e comunidades restritas de indivíduos com

interesses comuns em algum tópico relacionado à computação eletrônica,

acessando os suportes digitais e dividindo concepções a respeito dos mesmos, está

no fato dela deixar de ser marginal e passar a fazer parte do poder e das normas

comuns, se tornando a cibercultura contemporânea, fase esta que estamos

atualmente vivenciando.

O fato de hoje podermos usar computadores em casa sem necessitar de

conhecimento técnico avançado (diminuição da camada de dificuldade e aumento

do escondimento das interfaces) demostra que a rede foi apropriada e de certa

forma “mercantilizada” quando seus dispositivos passam a ser de uso comum

equivalente a um eletrodoméstico (computadores hoje são vendidos em redes de

lojas varejistas). O poder computacional se torna acessível a baixo custo para uma

parcela significativa da população que pode se conectar em rede e formar

comunidades baseadas em interesses.

Já a visão de Lemos (2007) vai à contramão do discurso do declínio

quando ele afirma que a cibercultura ganha impulso e desenvolve-se a partir dos

anos 1980 justamente quando o público não-acadêmico e não-militar se apropria

de técnicas de processamento de dados, antes localizadas exclusivamente em

grandes centros de pesquisa e em indústrias, e passa a utilizar programas e

equipamentos voltados ao uso doméstico, automatizando o tratamento de

informações através da linguagem digital, transformando os computadores em

ferramenta de convívio, comunicação e lazer. Para Lemos, portanto, a cibercultura

de fato toma corpo quando se integra no cotidiano da sociedade, quando a própria

sociedade como um todo se torna “cibercultural”, ou seja, a sua realização

máxima vem com sua popularização e normalização.

Por outro lado, buscando uma conciliação de visões sobre o fenômeno

cibercultural, podemos atribuir à popularização dos suportes digitais um impulso

para que as narrativas da cibercultura nascente se tornem parte do imaginário da

sociedade, indo ao encontro de Macek (2005). Lemos (2003, p. 12) define a

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 49

cibercultura como “a cultura contemporânea marcada pelas tecnologias digitais”,

ou seja, vivemos imersos na cibercultura a partir do momento que estamos

imersos em seus objetos técnicos, “uma relação simbiótica entre a sociedade, a

cultura e as novas tecnologias”.

Para Macek (2005), a força dos discursos ciberculturais permaneceu e as

NTICs passaram a ser equipadas com um conjunto de significados próprios, a ter

uma identidade, que mescla e reflete elementos da ficção científica, do jornalismo

de popularização e nos escritos acadêmicos. Logo, o núcleo dos discursos sobre as

NTICs, gerado por estes grupos pioneiros de técnicos superespecializados, está no

suposto potencial transformador a partir do uso destas novas tecnologias,

atribuindo a elas características “naturais”, inerentes, seja em visões de cunho

otimista como em seu oposto pessimista.

O fato é que os discursos falam de um futuro que deve ser, um futuro

previamente anunciado por seus pensadores. Este futuro tecnológico pode, por um

lado, libertar o indivíduo e o fortalecer frente aos sistemas centralizados (e

hierárquicos) de poder, através do incentivo de habilidades comunicacionais,

cogniticas e criativas, visando maior autonomia; ou então realizar a operação

contrária, fortalecendo os mecanismos de controle e poder através de novas

ferramentas opressivas criadas pelas elites econômicas. Esse dualismo, com

otimistas (tecnofílicos) e pessimistas (tecnofóbicos), foi tratado por Breton (2000)

que procurou uma corrente mais neutra de análise para entender o processo em

que os discursos sobre a internet e os computadores nasceram e se moldaram.

Breton (2000) atribui à internet um objeto de novo culto em que

tecnologias surgidas nos anos 40 através da cibernética, que trata a comunicação

como transmissão da informação, são misturadas a elementos de misticismo

provenientes da contracultura dos anos 60 e 70 com seus apelos a uma

transcendência para um mundo imaterial e um mundo novo, harmônico, pacífico e

transparente. É a técnica emergente que se junta ao contexto social sessentista,

com visões anticapitalistas, coletivistas, contestadoras do poder e juvenis, que

alimenta as visões das décadas seguintes13.

13 O filme Piratas do Vale do Silício (Pirates of Silicon Valley), de 1999, conta de maneira romanceada a história de vida de Bill Gates e Steve Jobs entre os anos 70 e 80, momento em que surgem as empresas Microsoft e Apple, retratando um Bill Gates pragmático e focado simplesmente na produção de softwares para computadores pessoais e evidenciando que Jobs mantinha traços da contracultura contestadora, ao mesmo tempo mesclada com a agressividade de

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 50

Junto a isto, Breton (2000) também analisa a expansão liberal dos anos 80,

que se mescla à cibercultura ainda nascente e anuncia um mundo livre de

barreiras, mais harmônico e transparente a partir de uma cultura juvenil oposta a

um passado que deve ser superado por ser lento. A lentidão, vista como algo

negativo, é representada pelas leis restritivas, os Estados reguladores e os corpos

físicos que não podem dar conta da livre circulação de informações agora

almejada, uma circulação libertadora.

A ideia do ciberespaço e dos corpos simulados velozes, os novos espíritos

imateriais, se adapta então perfeitamente aos discursos liberais de rapidez e

acelaração dos fluxos (pessoas, capitais, objetos), uma libertação dos

restringimentos do mundo material e turbulento, em que os contatos físicos

presenciais são perigosos e pouco desejáveis. O ciberespaço então encarna o

desejo de um mundo mais pacífico e harmonioso a partir da conexão planetária de

seus habitantes, carregando junto a si todo um ideário de uma nova fase do

capitalismo, agora planetário.

Dessa forma, desejos utópicos são mesclados com uma ideologia

capitalista em estágio avançado, alimentando toda uma nova indústria ao redor da

produção dos computadores e seus derivados. Paradoxalmente, Breton (2000)

também alerta que o próprio ciberespaço é potencialmente perigoso, com seus

diversos bancos de dados que controlam os movimentos dos cidadãos e seus atos

de consumo, com o acesso digital desigual criando uma classe de analfabetos

digitais e o risco de um coletivo de ideias sem a presença física ou negociação

política efetiva. O ideário da máquina coletiva tomando a frente com suas

decisões a partir de programas superinteligentes é em sua visão é uma atitude anti-

humanista, que retira as pessoas e suas identidades da esfera pública presencial e

da regulação dos espaços.

Mesmo procurando a neutralidade, o discurso de Breton ainda reforça o

dualismo sobre as tecnologias digitais, evidenciando o “lado potencialmente bom”

e o “lado potencialmente ruim” das mesmas. Nos tópicos elencados a seguir

preferimos deixar este julgamento para o leitor, e então afirmar que uma visão

mercado para que sua empresa (Apple) ganhasse terreno sobre a IBM, que considerava representante de valores hierárquicos e uniformizadores, tendo então que ser superada pela informalidade e jovialidade presente em sua empresa (o principal contraste estético estava entre a calça jeans e camisetas da Apple com os ternos pretos uniformizados da IBM).

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 51

com viés otimista ou pessimista sempre colocará a tecnologia como portadora de

traços inerentes a ela e nós, humanos, somente como receptores-vítimas de suas

alegrias e desgraças. Então optamos pela alternativa de pensar suas

potencialidades, buscando saber que novas características podem surgir a partir de

seus usos cotidianos.

2.1.1 Cultura hacker, copyleft e o ideal de acesso livre à informação

Macek (2005) resume a partir de Steven Levy (1984) os principais pontos

que sustentaram a cultura hacker dos anos 60 e que ecoam até hoje no ideário

sobre os suportes digitais e suas supostas “missões”. Entre os pontos defendidos

por esse grupo inicial, ele cita: (a) o acesso aos computadores deve ser ilimitado e

para todos, (b) toda informação deve ser obrigatoriamente livre, (c) a autoridade

deve ser enfraquecida com vistas a uma maior descentralização, (d) os

computadores podem mudar a vida das pessoas, e para melhor, (e) os hackers

devem ser julgados pelo trabalho que fazem e não por graus e titulações e (f) as

pessoas podem criar arte e coisas belas nos computadores.

São pontos que claramente atacam a rigidez da cultura predominante

naquele período (e que continua existindo em diversos níveis), a exemplo das

inúmeras cadeias hierárquicas empresariais, governamentais, acadêmicas e

escolares (instituições de controle e manutenção do poder); assim como a

disponibilidade restrita dos suportes que permitiam o acesso e a produção de

informação (controle e poder através da exclusividade de acesso). Se a rede

ciberespacial nascente funcionava de maneira descentralizada e permitndo a

participação potencial de todos, porque não estender o padrão para toda a

sociedade, abolindo hierarquias e democratizando o acesso em massa à

informação?

Dessa forma, a ideologia presente a respeito do ciberespaço como “terra a

ser conquistada” e sem os restringimentos formais e normativos do “mundo real”

passa a transbordar para a sociedade como um todo, um projeto em que o sujeito

deve ser empoderado para conquistar sua liberdade frente aos aparatos restritivos

que a sociedade impõe (Macek, 2005): hierarquia, corporações, governo. Ter

acesso aos computadores e os utilizar de maneira livre, produzindo

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 52

colaborativamente e cooperativamente conteúdos abertos e compartilhando ideias

e obras que antes não tinham espaço de publicação é uma forma de driblar as

restrições impostas pelos suportes analógicos, que centralizam a produção e a voz

a poucos produtores-transmissores, característica marcante da indústria cultural

(Mantovani et al, 2006).

Essa liberdade trazida nos discursos nascentes da cibercultura, uma

concepção surgida com a cultura hacker e banhada na contracultura sessentista, é

a liberdade de se lidar com dados binários, de transformar o mundo em cadeias

binárias de informação para serem livremente manipuladas pelos humanos

(Lemos, 2003, p. 13). A relação humana com os suportes digitais se torna então

uma relação em que os restringimentos espaço-temporais do “mundo real”

desaparecem no ciberespaço, onde tudo passa a ser informação convenientemente

acessada via suportes digitais, sejam os computadores de mesa, os celulares ou os

atuais tablets.

Essa diminuição ou anulação radical dos restringimentos através dos

suportes digitais é o que Shirky (2012) chama atenção quando fala do processo de

redução abrupta dos custos transacionais, ou seja, os suportes digitais em rede

criam uma facilidade extrema de comunicação e coordenação entre os seus

usuários, algo não permitido até então ou, se permitido, tinha uma camada de

dificuldade muito elevada para que fosse posto em prática. Em termos simples,

ficou muito mais fácil criar grupos (redes sociais e comunidades de prática)

através de interesses e causas comuns e criar conteúdos de maneira coletiva, o que

não era permitido antes, sem os elevados custos gerenciais (pessoas e dinheiro)

para manutenção organizacional existentes nas empresas formais.

As organizações coletivas e informais surgidas na internet, sem (ainda) o

estatuto legal suportado pelo Estado, podem concorrer ou criar novos produtos

não possibilitados em seu surgimento até então pelas organizações formais e

estatais, incapazes de mobilizar pessoas em ideais de trabalho voluntário e não-

remunerado. Shirky (2012) evidencia que as organizações informais na internet

(grupos e redes suportadas por ferramentais digitais) quebram a lógica de

produção existente em organizações formais com seu modo aberto de produção,

podendo agregar muito mais pessoas motivadas em uma causa gerida

coletivamente, devido ao baixo custo para agregar e coordenar pessoas.

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Acreditamos poder resumir a ideologia nascida no ambiente hacker com a

palavra liberdade, tanto a liberdade de deslocamento e manipulação da

informação quanto a ubiquidade possibilitada pela extensão do corpo utilizando

computadores como próteses de atuação a distância.

De maneira prática, esse conjunto de ideias da cultura hacker pode ser

visto atualmente nos discursos de defesa do software livre14 e da informação livre,

como no caso do projeto coletivo da Wikipédia que se denomina como uma

enciclopédia livre, nos sistemas operacionais de código aberto como o

GNU/Linux15 distribuídos gratuitamente16 e também nas políticas de abertura dos

escritos acadêmicos a todos os interessados sem a cobrança de acesso via editoras

através do movimento open access17 e open archives, que só puderam existir

objetivamente após a criação das redes digitais e sua facilidade de formação de

grupos (menor cursto) a partir de metas e interesses comuns.

São movimentos baseados em uma nova estrutura em que o trabalho

material (manufatura) é substituído pelo trabalho imaterial, centrado na produção

da informação (softwares, vídeos, imagens, textos), um trabalho essencialmente

intelectual no qual o produto final é resultado da manipulação de bits e passa,

portanto, a ser realizado do começo ao fim em suportes digitais (Lima & Santini,

2008). O trabalho imaterial pode ou não ser coletivo, usar ou não a rede digital

para ser compartilhado, embora sejam estas condições necessárias para que se

14 O software livre, software aberto ou software open source é o programa de computador cujo código-fonte é disponibilizado para que outros programadores possam fazer uso, copiar, estudar e redistribuí-los com acréscimos. O software livre é oposto ao software de código fechado e restritivo, ou seja, código proprietário, mas não se opõe ao software comercializado, desde que o código-fonte esteja anexado e aberto a modificações. A liberdade que se defende é de acessar o que o outro escreveu nas linhas de código e poder alterá-las para versões mais completas e melhoradas. 15 O Linux nasce em 1991 através do programador Linus Torvalds que desenvolve um núcleo de sistema operacional (kernel) competível com o sistema Unix, chamando-o de Linux. O projeto GNU, comandado por Richard Stallman, junta-se a essa iniciativa, pois ainda não tinha concluído o núcleo que os faria de fato ter um sistema operacional totalmente de código aberto. A essa junção de projetos denominou-se GNU/Linux (Stallman, 2000). 16 Era comum no início dos projetos de código aberto a venda de fitas magnéticas, disquetes ou CD-ROMs para distribuir os programas, sendo que o próprio Stalman, ao abandonar o MIT para se dedicar ao projeto GNU, cobrava pelas fitas magnéticas que enviava aos interessados em programar ou utilizarem os sofwtares livres (Stallman, 2000). Atualmente inúmeras distribuições Linux são disponibilizadas gratuitamente através de sites na internet. Um exemplo é a distribuição Ubuntu, disponível em < http://www.ubuntu-br.org/>. 17 O open access (OA) é a forma de se referir ao acesso livre ao conhecimento, em que a produção científica deve estar disponível integralmente para uso e cópia, com texto integral de artigos, livros e outras formas de fontes de informação do meio acadêmico. A iniciativa pode tanto se originar no veículo de publicação, como em uma editora científica ou quando o próprio autor resolve disponibilizar abertamente suas produções (Targino, 2007).

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instale um ambiente comunitário e chegue mais próximo ao que Lévy (1993)

chamou de inteligência coletiva.

O discurso ao redor do software livre e da informação livre é um discurso

subversivo, no sentido de se opor à lógica de produção e venda focada

exclusivamente no lucro, sob contratos restritivos que regem as relações

capitalistas de propriedade intelectual privada (copyright – All rights reserved), ou

seja, se nega a transformar a produção intelectual automaticamente em mercadoria

e se nega a ter somente uma parcela dos discursos recebendo o privilégio de

divulgação e disseminação.

É um discurso que vai contra a cultura predominante nas relações de troca

surgida quando os meios de comunicação de massa tinham o papel de filtrar quem

poderia produzir algo relevante e quando poderia ser exibido ao grande público.

Esse discurso procura promover produtos que são distribuídos por seus produtores

abertamente aos seus usuários finais (podendo ou não ter custo), pois podem ser

copiados livremente na internet ou em outros meios de base digital, estando

abertos, de acordo com a escolha do autor, para a intervenção autoral de quem os

usa (copyleft – Some rights reserved).

A “guerra ao copyright” não é de toda infundada quando percebemos que

as restrições de uso sofreram uma escalada em sua rigidez desde que o direito

autoral foi criado na Inglaterra em 1710 para proteger e regular o mercado editoral

de textos. Nesse primeiro momento, a proteção abrangia 14 anos, tornando a obra

de domínio público após esse período. Em 1831 o período já se extendia por 42

anos, em 1909 para 56 anos e atinge a partir de 1962 o período de 70 anos

contatos a partir da morte do autor. Os EUA lideram o processo, pois para

proteger sua indústria cultural forçam estas leis restritivas a se tornarem leis

internacionais, e assim a indústria como um todo procura reduzir o debate a uma

simpels oposição entre propriedade sujeita a direitos e a “pirataria” praticada pelo

cidadão comum nas redes digitais (Montavani et al, 2006, p. 262-263).

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 55

Gráfico 1 - Expansão do período de vigência da lei de direito autoral nos EUA ao longo dos séculos XVIII, XIX, XX e XXI (Bell, 2008).

O movimento da informação livre criou outras propostas de licenciamento

alternativas ao copyright, propondo licenças como a GPL (General Public

License) para softwares18, a FDL (Free Documentation License) para documentos

e páginas de internet e a CC (Creative Commons) para trabalhos intelectuais em

diversos formatos, através de licenciamentos progressivos em que o autor escolhe

quais direitos cede a quem acessa suas obras. O que elas tem em comum é a

separação do direito moral, do produtor ter sempre a autoria reconhecida, do

direito comercial, de optar por receber financeiramente ou não pela obra criada e

limitar ou não a sua modificação e redistribuição (Lima & Santini, 2008).

Esse modo emergente de produção e regulação atinge a indústria

estabelecida formada ao redor da venda de softwares de código fechado, portanto

restrito (com copyright), que perde parte de seus lucros potenciais para pessoas

que acessam e copiam softwares livres (código aberto) com funções similares de

18 Os softwares livres são acompanhados de licenças que especificam o que é possível fazer a partir deles, como, por exemplo, a Licença GPL (General Public License) criada por Richard Matthew Stallman, pesquisador do MIT, em 1985 (Lima & Santini, 2008) que prevê as 4 liberdades fundamentais para os criadores de softwares: executar, acessar o código-fonte, redistribuir e aperfeiçoar. A GPL é uma licença que não desaparece quando o software é modificado, pois ele só pode ser redistribuído se o autor das alterações mantiver a mesma forma de licença e as liberdades originais, impedindo que se torne proprietário. Stallman defende que todo código deve ser compartilhado e estar aberto para um trabalho cooperativo contínuo (Lima & Santini, 2008). O projeto mais conhecido sob a licença GPL é o sistema operacional Linux, nascido em 1990.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 56

maneira gratuita ou com taxas menores de distribuição, assim como músicas,

filmes e outras obras licenciadas fora do domínio do copyright. Por outro lado,

também atinge setores produtivos que passam a utilizar estes softwares abertos

para otimizar tarefas e reduzir custos de produção, especialmente em empresas de

pequeno porte ou escolas que não possuem orçamento para adquirir os sistemas

comerciais.

Quem produz um software livre, ou outro tipo de modalidade de obra

aberta, espera que os seus usuários aperfeiçoem sua produção e retorne ao

produtor original uma nova versão melhorada, na qual ele mesmo será novo

beneficiário; um processo colaborativo e solidário, oposto ao processo

competitivo e restritivo em que grupos e empresas competem entre si para

alcançar nichos de mercado e os dominar, mesmo que temporariamente.

A ideia de abrir conteúdos para serem acessados, e com isso receber novas

ideiais e produtos em troca, lembra a própria lógica acadêmica de produção das

revistas científicas, em que o resultado de pesquisa, ao ser disponibilizado a

outros pesquisadores, potencializa novos caminhos e novas pesquisas, não sendo

por acaso que a ideologia hacker tenha nascido a partir de acadêmicos nos centros

de pesquisa norte-americanos de tecnologia de ponta. A diferença é que essa

lógica comunitária pode ser facilmente extendida através da internet em redes que

permitem o encontro de pessoas com ideais e objetivos similares.

Segundo Lima & Santini (2008), o meio digital permite burlar dois tipos

de fatores típicos da produção seriada industrial dos bens materiais (trabalho

material): (a) o desgaste do bem com o passar do tempo e (b) a escassez de

disponibilidade de recursos materiais para sua reprodução. A princípio, um

software, ou outros tipos de produtos digitais (textos, imagens, vídeos), pode ser

copiado e refeito infinitas vezes por quem os possua em seu computador pessoal,

disponibilizando para outras pessoas através das redes de informação digital, sem

perder a qualidade original e por um custo próximo a zero. Manipular bits em

redes de trabsmissão de dados, através de um computador pessoal conectado, é

um processo bem mais fácil que manipular ou criar objetos físicos, daí a razão da

indústria como um todo não ter colapsado, embora alguns setores estejam em

crise frente aos produtos gerados por comunidades via internet, conforme os

protestos de Keen (2009) a respeito da indústria cultural.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 57

O fato é que o meio digital reduz drasticamente os custos de aquisição dos

meios de produção (hardware), os tornando populares em relação aos custosos

equipamentos antes necessários para se produzir e distribuir o mesmo tipo de

produto, assim como permite que o trabalhador intelectual use seu tempo livre,

fora do trabalho formal, na produção de outros bens imateriais sem uma

recompensa financeira direta, como no caso dos programadores de softwares

livres (interessados da liberdade de acesso), dos músicos e produtores de

audiovisual independentes (interessados em divulgar suas obras) e dos autores de

textos enciclopédicos da Wikipédia (interessdados no acesso livre à informação

do mundo). São formas de produção que antes de eliminar as anteriores, as

desafiam e desestabilizam em setores específicos da economia, como a indústria

cultural legitimada pelas leis de copyright e formada ao redor da produção e venda

de bens como músicas, filmes de cinema, programas de TV, livros de literatura e

outros bens artísticos e intelectuais.

Ao contrário do sistema tradicional de licenciamento, que restringe o

acesso para que a relação de troca capitalista se estabeleça e recompense

financeiramente a cadeia de produção de um bem imaterial (editores, revisores,

impressores), o princípio defendido para a informação livre é de que a liberdade e

o compartilhamento livres permitem o acesso a produções realizadas pela

coletividade que, por sua vez, incentivam a criatividade e a inovação dos que a

acessam. A recompensa financeira à cadeia de produção tem mais sentido quando

a produção de um bem imaterial requer um custo elevado que não pode ser

bancado por um grupo de pessoas “bem motivadas e intencionadas”, porém perde

o sentido quando os meios para que esta produção ocorra caem abruptamente e

permitem a concretização da produção.

Para aqueles que a defendem, a informação livre é uma forma de legitimar

o conhecimento comum, a cultura comum que é viva e vivida em comunidade,

não podendo ter barreiras em sua circulação, ou seja, ser privatizada (Lima &

Santini, 2008), sendo de certa maneira um retorno à cultura de grupo, só que

realizada agora com a mediação dos suportes digitais em escala potencialmente

global. Em suma, por um lado, via o copyright, a recompensa financeira

incentivaria a inovação constante pelos produtores que detém o poder de restringir

e ditar as regras de acesso, e por outro, via copyleft, o foco estaria no acesso aos

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 58

bens culturais imateriais de modo irrestrito para que novos bens fossem

produzidos.

É sensato então assumir que a cibercultura contemporânea traz toda uma

herança discursiva proveniente da fase em que estava restrita a pequenos grupos

de acadêmicos privilegiados, mesmo que esta herança não seja explícita, mas

implícita em ideologias como as que suportam a existência do software livre e do

open access. Esses grupos, na cibercultura nascente ao longo dos anos 60 e 70,

trocavam livremente entre si códigos de programação, em uma fase que a

indústria ainda não tinha se apoderado desse nicho e não havia um mercado

potencial de consumo para softwares.

A manutenção do modo de ser desse grupo é reafirmada pelo propositor da

GPL e do sistema operacional aberto GNU, Richard Stallman, ao dizer que sua

motivação para a liberação dos códigos vem a partir dos anos 80 com o

fechamento progressivo dos mesmos com objetivos comerciais (Stallman, 2000).

Para Stallman, os sistemas de código aberto são parte de uma luta pela

manutenção da liberdade de acesso à informação, algo que foi subtraído de sua

comunidade (acadêmica) pelas empresas nascentes nos anos 70 e 80.

Os acadêmicos contemporâneos formados no ambiente cibercultural

emergente acabam por entrar em contato com o discurso da informação livre,

especialmente no Brasil em que cada vez mais temos revistas científicas e textos

acadêmicos sendo disponibilizados em espaços gratuitos e com licenças de uso

abertas (Scielo, Banco de Teses e Dissertações da CAPES, Portal Domínio

Público, sites universitários). A lógica desse processo é a de que a informação

gerada pelos cientistas deve circular e se tornar acessível aos outros, sem

barreiras, de forma dinâmica, contínua e cumulativa, sendo visto como obstáculo

a esse processo a cobrança de acesso a bancos de dados de revistas científicas

realizada por editoras comerciais.

Lemos (2004) defende estes ideais quando chama a cultura gestada pelas

redes informáticas de “cultura copyleft”, em oposição às leis de direitos autorais, o

copyright, assumindo que “a cibercultura potencializa aquilo que é próprio de toda

dinâmica cultural, a saber o compartilhamento, a distribuição, a cooperação, a

apropriação dos bens simbólicos” (p. 2).

Logo, percebemos que os discursos da cibercultura nascente de defesa da

liberdade de acesso à informação e o compartilhamento ilimitado com todas as

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 60

2.2 O suporte digital e as mudanças na leitura, na escrita e no acesso às informações

A nova dinâmica técnico-social da Cibercultura instaura uma estrutura midiática ímpar na história da humanidade onde, pela primeira vez, qualquer indivíduo pode, a priori, emitir e receber informação em tempo real, sob diversos formatos e modulações (escrita, imagética e sonora) para qualquer lugar do planeta (Lemos, 2003, p. 14). A eletricidade é também o meio que liga o mundo inteiro numa só rede. As trocas biotécnicas locais entre corpo, mente e máquina estão agora ligadas a uma ambiente global pelo processamento de dados e transmissões mundiais. O verdadeiro objeto de informatização é estender ao ambiente eletrônico o tipo de controle e verificação que as pessoas experimentam em si próprias (Kerckhove, 2009, p. 227).

Mesmo com as ponderações de Macek (2005) a respeito da ideologização

sobre os novos suportes digitais, especialmente as visões mais otimistas que

atribuem “missões” como se estas fossem intrínsecas aos novos suportes, vale a

pena mergulharmos em suas possibilidades concretas, vermos suas características

particulares, sem necessariamente atribuir a elas uma transformação automática de

práticas culturais ou uma obrigatoriedade única de apropriação por parte dos

coletivos humanos.

Começemos assumindo que cibercultura forma um campo aberto de

múltiplas possibilidades de apropriação por parte das pessoas que integram as

redes informáticas, um campo não completamente mapeado (talvez nunca seja)

porque está em curso, a partir de um conjunto de mudanças derivadas da simbiose

entre a sociedade, a cultura e os suportes de configuração digital como sintetiza

Lemos (2003).

Se derivarmos nossas conclusões da história humana registrada até o

momento presente, podemos afirmar que esse conjunto de mudanças nunca

chegará a um fim determinado (completamente acabado) e está funcionando de

base para a ocorrência de outras metamorfoses possíveis a partir da interação

humanos/não-humanos, das pessoas com os novos formatos e os novos suportes

que carregam a informação. A cibercultura é a nossa fronteira atual, mas não a

fronteira final, e o suporte digital um dos fatores que marcam a sociedade

contemporânea, especialmente pela facilidade de formação de redes de pessoas

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 61

interconectadas através desses suportes e todas as consequências que isso acarreta

na sociedade e gerenciamento da coletividade (Shirky, 2012).

Pensando na universidade como instituição integrante da sociedade

contemporânea, a cibercultura é também um campo de práticas emergentes que

atinge as novas gerações de pesquisadores-autores que fazem uso delas em seu dia

a dia acadêmico e em outros campos da vida (em casa, nas relações interpessoais

cotidianas, nos espaços de trabalho).

Não podemos compartimentalizar as experiências, pois formamos nossa

identidade com o ciberespaço através das relações que desenvolvemos nele e com

ele em todos os setores de nossas vidas, sendo que cada vez mais dependemos de

operações dentro destes ambientes, nas atividades mais banais do cotidiano

(pagamento de contas em bancos online, contatos em redes sociais de trabalho e

lazer, envio de fotografias digitais, comunicações pessoais por e-mails, compras

em lojas virtuais).

Atualmente, em sociedades nas quais a rede internet possui alto nível de

penetração, não se pode tratar mais o ciberespaço como um universo isolado com

sua cultura destacada do restante da sociedade, à parte do cotidiano do “mundo

físico”, pois os objetos eletrônicos vão aos poucos formando uma espécie de pele

ao redor do globo terrestre e com isso se tornam parte da cultura dos povos, das

ações de seus integrantes, mudando inclusive a percepção de si e do espaço ao

redor (Kerckhove, 2009).

O pesquisador acadêmico contemporâneo se vê, em maior ou menor grau

de acordo com a carga experiencial, junto aos suportes digitais, imerso e envolto

em uma miríade de objetos técnicos baseados em sistemas computacionais

(celulares, tablets, câmeras digitais, tocadores de músicas mp3) e novos espaços

criados por estes objetos (redes sociais, ambientes virtuais de aprendizagem,

grupos de discussão online). Viver em sociedade atualmente implica

obrigatoriamente deixar “rastros digitais” por onde se passa (recibos de cartão de

crédito, operações financeiras no caixa eletrônico, imagem capturada por circuito

fechado de câmeras), mesmo que seja de forma involuntária.

Esta carga experiencial vivenciada hoje, o pesquisador acadêmico formado

na cultura permeada pela mídia de massa clássica não poderia sequer vislumbrar.

O centro de sua atividade de pesquisa eram as bibliotecas com os suportes

impressos para consulta de informações, a escrita se dava com folhas de papel

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 62

usando lápis e caneta, ou então em máquinas de escrever para a redação final dos

textos cuidadosamente escritos e pensados previamente. As ferramentas da

internet que possibilitam a auto-publicação e a edição não-linear não passavam de

vislumbres dentro dos restritos círculos da cibercultura nascente nos anos 1960 e

70, quando as primeiras interfaces gráficas19 em monitores monocromáticos,

teclados portáteis, rudimentos do que chamaríamos de mouse e redes de

transmissão de dados começavam a ser gestadas20.

A hipótese fundamental levantada neste estudo é que a difusão dos

suportes digitais, com a criação do ciberespaço, e as práticas derivadas dessa

difusão, a cibercultura, afetam também o modelo acadêmico de autoria em algum

nível ou fase. Afetam tanto em sua construção textual, através de equipamentos

para editoração instantânea de documentos e processamento de dados (editores

eletrônicos), outrora com custos elevadíssimos e agora abruptamente reduzidos,

assim como no processo de acesso, consulta e seleção de fontes de informação

textuais, gráficas e áudio-visuais disponíveis on-line (base de dados públicas e

restritas), assim como na comunicação e acesso a pessoas que sejam interessantes

para a realização de pesquisas (sujeitos de uma empiria, pesquisadores com temas

afins). Se não fosse levantada essa hipótese, a própria pesquisa que constitui o

cerne deste trabalho não teria razão de ser.

Por processo autoral são entendidas aqui todas as etapas – se podemos

falar em etapas quando muitas das atividades do pesquisador ficam sobrepostas

em seu percurso –, que vão desde a concepção inicial da pesquisa, passando pela

busca de informações necessárias à sua realização, até a sua apresentação em um

produto final redigido. Logo, cabe entender em que pontos o processo autoral é

afetado, ao menos em que pontos eles são mais sensíveis e visíveis, para uma

19 As interfaces gráficas voltadas aos usuários finais, chamada em inglês de Graphical User Interface (GUI) foram de fundamental importância na popularização da informática a partir dos anos 80. Nela, os dados digitais armazenados em memórias e processados pelos microchips podem aparecer de forma agradável através de elementos como janelas, ícones e outros indicadores visuais, em contraste com a linha de comando em que complexas sequências de palavras e parâmetros devem ser aprendidas para o acesso às diversas funções do computador. A empresa Xerox foi responsável pela primeira interface gráfica aprimorada além do texto e pelo refinamento da proposta do mouse com a seta para indicar o comando através de cliques, através do computador chamado Xerox Alto. Mas a GUI foi de fato popularizada pela empresa Apple a partir da década de 80 com o Apple Macintosh. 20 Ver o documento de Paul Baran (1964) que já esboçava a arquitetura de redes a ser adotada pela internet e os vislumbres trazidos por Bush (2011) no ano de 1945 a respeito das formas de organização da informação baseadas na associação.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 63

possível identificação de dimensões e perfis de uso de acordo com a trajetória e as

consequentes relações desenvolvidas pelos sujeitos.

Vale dizer que não cabe mais questionar sobre se o processo autoral é

realmente afetado pelo advento dos suportes digitais, mas sim como ele está sendo

afetado por estes suportes. É por isso que apresento a seguir as principais

mudanças que o suporte digital trouxe para quem exerce o papel de pesquisador-

leitor-autor através da rede digital, mapeando de maneira geral mutações em

andamento na ordem de produção, disponibilização e acesso aos discursos no

ciberespaço.

2.2.1 Do modelo emissão-canal-mensagem-recepção à co-criação em rede

De maneira geral, a transição tecnológica – ou poderíamos falar de

hibridização e convergência de técnicas em um mesmo suporte? – das mídias de

massa analógicas clássicas (TV, Cinema e Rádio), voltadas à difusão e

reprodução de conteúdos a um público homogêneo de espectadores, para o

formato de comunicação digital através de CCs – computadores conectados

(Lemos, 2007) e PCs – personal computers, afeta também os modos de ser autor e

de produzir obras relevantes para o público e com o público, sejam pessoas

próximas da rede de convivência pessoal ou com pessoas desconhecidas e

geograficamente distantes.

Se antes o custo transacional para se realizar produções coletivas era

elevado, precisando encontrar as pessoas certas e coordená-las em sua

comunicação e objetivos através de processos hierárquicos bem definidos, ele cai

praticamente a zero com os suportes digitais, permitindo que grupos possam agora

se comunicar facilmente e se coordenar em obras coletivas sem a intermediação

ou formação de organizações formais. Conforme constatou Shirky (2012), os

computadores conectados fizeram cair drasticamente os custos de reunião e

coordenação de pessoas, permitindo o encontro de indivíduos com interesses afins

e desejosos de compartilhar experiências e tarefas que não poderiam realizar

sozinhos.

Dessa forma, o pioneiro esquema emissor-canal-mensagem-receptor

construído pelos teóricos da informação nos anos 1940 (Shannon, 1948; Logan,

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 64

2012), focado em meios de comunicação lineares, de mão-única, não se

compatibiliza mais com a dinamicidade e bidirecionalidade dos suportes digitais,

pois ambos os pólos, da emissão e da recepção, agora podem interagir e ficarem

indistintos em uma mútua influenciação, permitindo a co-criação de mensagens

em diferentes níveis, desde comentários a respeito de determinado conteúdo

emitido até a intervenção e participação direta e conjunta na construção de um

conteúdo em comum (Santaella, 2004; Silva, 2006).

Lévy (1993) questiona até mesmo a validade do modelo emissor-receptor

para as operações realizadas com a mídia de massa, pois a teoria da informação

somente atendia a um momento da comunicação e dos fluxos envolvidos nela,

uma fotografia de um processo muito mais complexo que envolvia a construção

de sentido durante um determinado contexto, sempre transitório, e que envolvia

elementos muito além da mensagem explícita e do canal por onde era trasmitida.

Dessa forma:

O diagrama dos fluxos de informação é apenas a imagem congelada de uma configuração de comunicação em determinado instante, sendo geralmente uma interpretação particular desta configuração, um “lance” no jogo da comunicação. Ora, a situação deriva perpetuamente sob o efeito das mudanças no ambiente e de um processo ininterrupto de interpretação coletiva das mudanças em questão. (Lévy, 1993, p. 22)

O computador conectado (CC) em redes de troca de informação, e cada

vez mais móvel (portátil) e ubíquo (presente em todos os espaços), transformou

em algum grau a atividade autoral em atividade coletiva, mesmo que não

percebamos o processo e já tenhamos naturalizado nossas participações em

fóruns, listas de discussão, blogs e redes sociais tal como foram naturalizadas as

conversas face a face realizadas em uma praça pública da cidade ou com um

grupo de amigos.

A autoria exercida pelo coletivo em espaços de interação mútua (Primo,

2000), em que mensagens são respondidas e tarefas são negociadas entre pessoas

de maneira contínua, faz emergir hoje o que Lévy (2003) havia previsto como

inteligência coletiva, ou seja, locais onde as pessoas podem pensar conjuntamente

e criar técnicas, sistemas de signos, outras formas de organização social através da

concentração de forças e do compartilhamento de experiências e ideias.

Solucionar problemas de maneira coletiva e compartilhada seria a essência desses

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novos espaços de conexão, algo não muito distante dos ideais da ciência em que

os cientistas lutam para chegar a explicações precisas a partir de produções

disponibilizadas pelos pares ou mesmo diretamente, em conjunto, com outros

colegas que investigam a mesma temática.

O fato é que profissionalmente ou amadoristicamente acabamos por

escrever e publicar textos (com fotografias, vídeos e áudios) nos inúmeros

ambientes digitais que entramos e nos manifestamos, a não ser que

deliberadamente nos afastemos deles e fiquemos restritos ao uso de recursos

“mínimos de sobrevivência” e indispensáveis da rede. Sem o rigor do modo de

pensar a autoria proveniente da mídia impressa, podemos ressignificar a expressão

“texto” e assumirmos que textos publicados podem ser também fotografias e

vídeos, criações hipermidiáticas e hipertextuais como blogs e apresentações de

slides, ampliando a noção de textualidade tal qual foi proposto por Santaella

(2004).

2.2.2 A emergência dos leitores-navegadores-autores no ciberespaço

Para entender o processo específico dos autores acadêmicos é preciso ver

primeiro como os processos autoriais e também de leitura vem sendo realizados

no ciberespaço. Essa nova configuração da escrita, em formato digital, trouxe

novas formas de produção, nas quais o espectador-receptor de outrora torna-se

potencialmente um híbrido de leitor-navegador-autor no presente, a partir do

momento que a internet estimula a formação do que Landow (2006, p. 6) chamou

de leitores muito ativos.

O leitores muito ativos são verdadeiros “garimpeiros” que exploram e

utilizam textos diversos na composição de seus próprios, interagindo e

interferindo tanto na mídia de massa clássica, que aos poucos também vem sendo

convertida em bits para permitir sua manipulação e edição, como nas produções

nativas feitas para e no suporte digital. O caráter de atividade aqui evidenciado

está no pólo da criação e não simplesmente no pólo da atividade de leitura-

recepção, que embora produza opiniões, expectativas, críticas por parte do

receptor, veta a sua manifestação direta no próprio suporte, ou a limita a pequenos

espaços de manifestação como nas seções de cartas dos leitores.

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Santaella (2004), por sua vez, identifica o nascimento dos leitores

imersivos que exploram os espaços incorpóreos criados pelos suportes digitais de

maneira desembaraçada, pois são suportes que permitem a navegação através de

hiperlinks que carregam dentro de si toda forma de mídia anteriormente dispersa e

geograficamente localizada, visto que as diferentes modalidades de informação

agora são convertidas em “zeros e uns” da linguagem digital.

É outro modo bem diferente de leitura, que envolve a possibilidade de

participação e intervenção nos discursos presentes na rede internet, permitindo ao

sujeito ser um autor a partir do momento que os textos digitais se abrem para

alteração coletiva. Cabe evidenciar que nem todo texto digital é automaticamente

aberto à intervenção e participação nele, por isso usamos reiteradamente palavras

como “possibilidade” e “potencialidade”, tal o grau de multiplicidade de aberturas

e fechamentos encontrados no ciberespaço.

Esse novo modo de leitura se difere drasticamente daquele surgido a partir

dos suportes textuais fixos que formaram os leitores contemplativos, que liam de

forma concentrada os materiais impressos (livros, revistas, jornais) e pouco ou

nada se comunicavam com os outros leitores dentro do mesmo ambiente. A leitura

imersiva é uma forma de leitura que também se difere daquela dos leitores

moventes que se admiravam e tropeçavam nos signos físicos, materiais, mas não

podiam interferir, a exemplo dos anúncios publicitários, letreiros de lojas, filmes e

fotografias presentes nas ruas dos grandes centros urbanos nascentes.

Para o leitor imersivo, pleno de possibilidades de ação, a informação vem

até ele através dos cliques do mouse e do toque nas telas, em um universo de

signos sempre disponíveis em um único equipamento de acesso, em que o roteiro

linear guiado pelos suportes impressos cede lugar a um “roteiro multilinear,

multissequencial e labiríntico que ele próprio ajudou a construir ao integarir com

os nós” (Santaella, 2004, p. 33). A leitura é feita através da perambulação pelos

links disponíveis, em um caminho não finito, juntando-se fragmentos e os unindo

através de uma lógica associativa, formando um mapa cognitivo da navegação

feita (idem, p. 175).

O modo de realizar essa imersão é variável e não está ligado diretamente

ao sujeito, mas sim ao momento que ele está vivenciando no ciberespaço e os

territórios que está explorando. A princípio, Santaella (2004) os classificou de três

maneiras: como um errante, como um detetive e como um previdente.

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O leitor-navegador errante é um sujeito que explora os ambientes digitais

sem ter uma lógica clara, indo de forma aleatória dentro de um campo de

possibilidades e não teme o risco de errar, ainda estando em um estado em que

não domina o terreno e por isso navega sem um rumo certo. Já o leitor-navegador

detetive é mais disciplinado, já aplicando uma lógica do provável, aprendendo

com a experiência. Por fim, o leitor-navegador previdente já passou por um

processo de aprendizagem mais longo, está familiarizado com o ambiente que

acessa e nevaga seguindo uma lógica da previsibilidade, antecipando as

consequências de suas escolhas.

Os três níveis mapeados por Santaella (2004) mostram que a experiência

do internauta com o ambiente digital que acessa cresce com o passar do tempo, ele

se torna mais ordenado, e com isso aplica o que aprendeu em seu estilo de

navegação. Apesar da tríade novato-leigo-experto ser associada a estes estilos, a

autora adverte que o ideal é misturar de modo equilibrado os três, para que a

navegação não se torne uma rotina sem imaginação por lugares previsíveis e nem

somente um modo desordenado e sem rumo algum. A desorientação permitida no

ciberespaço, segundo a autora, é “provocativa para que o leitor não perca de vista

sua posição de explorador, cúmplice e co-criador.” (Santaella, 2004, p. 180).

Nenhum internauta, nem mesmo o previdente, abarcará com maestria todos os

ambientes do ciberespaço, simplesmente pela tarefa ser impossível e o ambiente

estar se reconfigurando a cada momento, a partir das intervenções dos outros

internautas.

Mas vale ressaltar que não queremos aqui construir um antagonismo

radical a partir de uma idéia de substituição de mídias e de hábitos de leitura e

navegação, ou seja, não queremos dizer que anteriormente o processo autoral

estava vetado totalmente aos leitores contemplativos de obras impressas e aos

leitores moventes espectadores de múltiplas mídias analógicas expostas nos

espaços em que circulavam. Nem muito menos podemos afirmar que a

hipertextualidade é uma característica exclusiva dos suportes digitais.

É importante observar a característica complementar dos suportes, ao

menos enquanto as modalidades coexistirem e não forem inviabilizadas

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 68

comercialmente21, em que a construção dos atos de leitura acontecem de maneira

sobreposta e mutuamente influentes, conforme constatado por Ribeiro (2006) em

sua pesquisa na qual afirma que, a rigor, todo processo de leitura é complexo,

não-linear e portanto, hipertextual, visto que:

Navegar por um texto não é algo restrito ao suporte digital, como a tela, por exemplo, mas refere-se ao percurso que o leitor pode fazer em determinado objeto de leitura (texto, gráfico, legenda, sumário, índice), de acordo com suas escolhas, a partir de opções de caminho. (p. 22)

O leitor formado na contemplação de um texto impresso, a exemplo de um

jornal impresso, desenvolve uma atividade interna (associação de ideias, opiniões

pessoais) e externa (gestos com as páginas e direcionamento do olhar) durante sua

leitura em que busca informações em uma rede de matérias e de índices, sendo

que aprende modos de ler e pode transferir esses modos de “navegação” no

impresso para a sua leitura de textos em formato digital, ainda que as

possibilidades de autoria (deixar marcas pessoais) estejam bem mais fortes nos

suportes digitais. Se o hipertexto precede a codificação digital tal como Ribeiro

(2006) tão enfaticamente alerta, a autoria tem um novo impulso através da

maleabilidade dos bits em rede, algo pouco comparável com o formato impresso e

analógico.

Cabe então evidenciar que a inserção destes sujeitos como produtores de

obras e conteúdos (serem autores de fato) era e ainda é muito mais difícil nos

suportes analógicos – lembremos dos custos transacionais apontados por Shirky

(2012) –, restrita a um pequeno universo de criadores autorizados pertencentes a

organizações formais (editoras, emissoras, gravadoras), sendo necessária a

mobilização de significativos montantes de recursos financeiros para a

21 Embora ainda exista a ideia de que um suporte não elimina o outro, temos o exemplo do formato digital MP3 que fez praticamente desaparecer os Compact disks (CDs), do mesmo modo que os CDs provocaram praticamente a extinção dos Long Plays (LPs) e trouxeram uma outra lógica no compartilhamento e distribuição de músicas, através da venda individualizada em lojas online. Autores a exemplo de Eco & Carrière (2010) afirmam veementemente que o formato livro não desaparecerá com o advento do hipertexto, pois “o livro venceu seus desafios e não vemos como, para o mesmo uso, poderíamos fazer algo melhor que o próprio livro. Talvez ele evolua em seus componentes, talvez as páginas não sejam mais de papel. Mas ele permanecerá o que é.” (p. 17). Tal certeza deveria ser revista, pois a história das mídias vem se mostrando surpreendente nos últimos 30 anos e pouco sujeita a previsões são categóricas, ora afirmando desaparecimentos tidos como certos e ora exaltando a imortalidade de suportes e formatos estabelecidos.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 69

distribuição de obras produzidas e equipes complexas de gerenciamento e suporte

ao processo de produção.

Tais equipes e orçamentos não desapareceram, as grandes obras

hollywoodianas como filmes e seriados continuam sendo produzidas e as novelas

de TV nacionais mantêm seus complexos de produção e audiência diária

significativa, mas, na ecologia das produções autorais, o ciberespaço acrescentou

possibilidades de produção, coordenação de pessoas e auto-publicação não

existentes até então.

Percebemos então que os tipos contemporâneos de leitura, e

consequentemente de leitores, não anulam a prática das modalidades anteriores e

herdam habilidades desenvolvidas com eles, pois ainda andamos pelas ruas dos

centros urbanos admirando os objetos midiáticos presentes nelas (cartazes,

letreiros, outdoors), não podendo interferir em sua produção e publicização, e

ainda lemos livros, revistas e jornais impressos em nossas casas sem poder alterá-

los diretamente.

Mas vamos atentar aqui para as especificidades dos suportes digitais,

especialmente o potencial liberado para a autoria, pois a ecologia de suportes

aponta para uma mútua influenciação meio digital-meio de massa, pelo menos na

forma como os tradicionais emissores já estabelecidos vem produzindo suas

mensagens22.

2.2.3 A arquitetura hipertextual em rede do ciberespaço: a co-autoria em potencial

A palavra hipertexto foi utilizada pela primeira vez por Theodor Nelson na

década de 1960. Ele via o surgimento e uma nova textualidade eletrônica a partir

da tecnologia informática, uma forma não sequencial e que permitia ao leitor uma

escolha entre caminhos possíveis (Mantovani et al, 2006). O hipertexto, com o

seu modo de distribuir as informações nas memórias dos computadores formando

uma rede de nós associativos, permitiu a criação das bases do modelo

22 Os meios de comunicação de massa cada vez mais têm sido influenciados pelas manifestações dos internautas, que criam e divulgam conteúdos entre si que por sua vez são exibidos ou comentados em canais de TV, rádios e jornais. Movimentos surgidos exclusivamente na rede internet estão “vazando” e produzindo conteúdos para a mídia tradicional.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 70

contemporâneo de produção e circulação da informação na internet, que Pierre

Lévy (1999, p. 63) denominou de modelo todos-todos.

No modelo todos-todos, a distribuição não é concentrada em um conjunto

de centros irradiadores como no modelo um-todos (canais de TV, estações de

rádio, redações de jornais impressos), mas cada ponto participante da rede (um

indivíduo, um website, um canal de vídeo) se torna um produtor irradiador em

potencial e as trocas entre os centros produtores se tornam prática comum entre

eles, caso a rede esteja programada para permitir essas trocas.

Um exemplo para se visualizar esse processo são os comentários de

leitores em postagens de blogs, as intervenções sucessivas e coletivas em textos

wiki (Primo & Recuero, 2003) e a troca de mensagens em listas de discussão e

fóruns. O mesmo padrão de intervenção coletiva ocorre hoje nas redes sociais no

qual são formadas redes de contato entre pessoas afins e ligadas por temáticas

comuns, e em alguns portais de matérias jornalísticas de empresas de

comunicação que permitem a participação dos leitores com suas opiniões,

enviadas aos autores e compartilhadas entre os leitores.

Além do tipo de comunicação, dentro das redes hipertextuais temos os nós,

que para Santaella (2004) são estruturas modulares, uma forma de dividir em

unidades pequenas os múltiplos formatos que a rede permite armazenar, como

textos, imagens, vídeos e sons, e o link é a forma de se unir esses nós criando

nexos de associação entre eles. Dessa forma, a rede internet é um grande

hipertexto em que os links são construídos, destruídos, refeitos, perdidos em

tempo real, uma rede de nós que mudam se reconfigurando a todo instante.

A imagem a seguir, representando a rede internet através de dados

coletados sobre seus nós (computadores representados por endereços IP),

demonstra de maneira gráfica um instante “fotográfico” desse emaranhado vivo,

nos transmitindo a ideia de uma rede “cerebral" rica e vasta em relações

associativas, nos lembrando neurônios conectados por dendritos.

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Figura 1 - Representação de parte da rede internet em 15 de janeiro de 2005, em que cada linha correponde a ligação de dois endereços da rede e as cores dividem os vários tipos de domínios (Fonte: The Opte Project, 2005).

O modelo todos-todos é um modelo de múltiplos pontos que

potencialmente podem acessar todos os demais, é uma rede em que um nó pode,

através do acesso a inúmeros outros nós intermediários, chegar no ponto desejado,

o que nos leva a pensar em uma organização que não possui necessariamente um

centro para onde todos os outros devem convergir como no modelo um-todos, mas

múltiplos agenciamentos com múltiplos centros em potencial, que podem mudar

de acordo com o fluxo dinâmico dos agentes presentes em determinado momento

na rede (Lévy, 1993, p. 26). A rede internet pode conter inúmeras outras subredes

com maior ou menor centralização.

Conforme aponta Shirky (2012) é bom enfatizar que o modelo todos-todos

não quer dizer que sempre todos vão se comunicar com todos que estão em uma

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 72

rede, pois nesse modelo o número de participantes da rede pode aingir cifras na

ordem dos milhares de integrantes. Em uma lista de discussão com 5 mil pessoas

inscritas, provavelmente não leremos as mensagens postadas por todos e nem

muito menos conversaremos com cada um dos participantes individualmente. O

mesmo em um blog que recebe a visita de milhares de pessoas não permitirá ao

autor ou conjunto de autores responsáveis conversarem com todos os que

visitarem o seu site.

A comunicação no modelo todos-todos é sempre potencial, sendo

plenamente funcional em grupos de pequena escala (algumas dezenas de pessoas),

chamados de mundos pequenos, e inviável em grupos de grande escala (alguns

milhares ou milhões de pessoas) em que o modelo um-todos pode voltar a

predominar (um autor de blog muito acessado), mesmo que a rede permita uma

comunicação direta com cada um dos seus membros. O limite deixa de ser

estrutural e a viabilidade da comunicação passa a ser de tempo disponível. Shirky

(2012) afirma que quanto mais fama o indivíduo tem em sua rede, menos

interação individual com os membros ele terá, por incapacidade cognitiva e de

tempo disponível.

O contraste um-todos e todos-todos já foi explicitado por Paul Baran23

(1964) conforme nos aponta Franco (2008) a respeito dos diferentes tipos de

topologias das redes de comunicação. Para Baran (1964) existem 3 tipos básicos

de redes: a rede centralizada ou em formato “estrela”, em que um nó centraliza a

maior parte ou todas as conexões possíveis; a rede descentralizada, que possui

vários centros e com isso grupos de conexões se aglutinam em nós e estes se

conectam entre si; e por fim a rede distribuída onde todos os nós possuem mais

ou menos a mesma quantidade de conexões e não há valoração hierárquica desses

nós (Recuero, 2009, p. 57). A imagem a seguir reproduz o esquema original

contido no documento publicado por Paul Baran.

23 O caso de Paul Baran, que redige um documento em nome da RAND Corporation para orientações a respeito da construção de redes digitais distribuídas e mantinha contrato de pesquisa com a Força Aérea dos EUA, evidencia os contrastes presentes nos anos 60 com a cibercultura nascente. Embora as redes digitais propostas tenham sido interpretadas como elemento de incentivo à não-hierarquização, portanto mais democráticas e menos autoritárias (centralizadas), elas nascem no contexto militar de defesa contra possíveis ataques de inimigos externos, no contexto da Guerra Fria, projeto este guiado dentro e um ambiente extremamente hierarquizado e com objetivos bélicos e de defesa.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 73

Figura 2 - Topologias de redes de comunicação segundo Paul Baran (1964).

A internet pode se configurar nesses três tipos de topologias conforme a

configuração das tecnologias digitais que a compõe permita. Dessa forma, a

princípio a configuração de rede descentralizada pode existir plenamente nela,

mas não pode existir através dos meios de comunicação de massa analógicos, que

permitem somente a distribuição centralizada da comunicação (somente um nó

central distribuidor). Estamos pensando aqui em modelos de comunicação

mediados por suportes analógicos (TV, rádio, cinema), embora os nós de uma

rede centralizada, a exemplo dos espectadores de TV e Cinema, possam em

pequenos grupos comunicar-se entre si, caso estejam simultaneamente em um

mesmo ambiente: a sala de estar de casa ou a sala de cinema do shopping center.

A rigor a internet pode conter nichos que possuem nós centralizadores e

outros nichos em que os nós estão plenamente conectados entre si e onde a

hierarquia é reduzida ou mesmo anulada. Um olhar atento para a imagem

produzida pelo The Opte Project (Figura 1) evidencia que alguns dos nós

mapeados naquele instante eram mais centralizadores do que outros, o que nos

leva a concluir que a internet é uma rede que pode abarcar, de fato, todos os três

modelos propostos por Baran (1964).

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 74

Conforme observa Shirky (2012, p. 76-77), cada vez mais aumenta a

indistinção entre mídia de transmissão (um-todos) e mídia de comunicação

(todos-todos) quando mesmo em redes que são distribuídas e permitem a

interação plena de todos com todos, deve-se observar o conteúdo da mensagem

postada, pois conteúdos distribuídos para todos podem ser na verdade mensagens

direcionadas a uma ou poucas pessoas conhecidas.

Um exemplo são as atualizações de status vistas em redes sociais por todos

que a acessam, mas que somente alguns conhecidos da pessoa que a postou

podem entender o seu significado, porque compartilham um contexto comum

entre eles. Essa “comunicação pessoal coletiva” é comumente interpretada como

lixo virtual por aqueles que esperam que toda comunicação na rede internet seja

direcionada para públicos gerais e, portanto, apresentem conteúdos úteis a todos

que acessam. Não é incomum encontrarmos acusações de que hoje “qualquer um”

pode criar seu próprio blog e que isso gera um excesso de informações inúteis na

internet, mas lembremos de que a maioria dos blogs é acessada por um pequeno

público pertencente ao universo de relações do blogueiro.

Na prática, conforme constata Shirky (2012, p. 79), “grande parte do que é

postado em qualquer dia é público, mas não se destina ao público”, sendo que

para ele a internet e seus autores apresentam um desequilíbrio de emissão-

recepção previsível, em que uma grande parte de seus integrantes escreve

mensagens para um pequeno público pertencente ao seu universo pessoal de

interesse (familiares, amigos, colegas de profissão), enquanto uma pequena parte

escreve para um grande público geral. Esse padrão pode se manifestar tanto na

relação emissão-recepção (padrão dos blogs) quanto na relação de produção

coletiva, no caso um conteúdo sendo produzido por um pequeno conjunto de

autores com mais intensidade e com um grande conjunto de autores intervindo

pouco (padrão das wikis24).

O gráfico a seguir, extraído da obra de Shirky (2012, p. 111) com pequena

modificação aplicada ao padrão dos blogs, sintetiza o padrão comumente

24 Na pesquisa que realizei (Rosado, 2008) pude constatar que somente uma pequena parte dos autores da Wikipédia, cerca de 300 na época em que o estudo foi feita, concentrava a maior parte das edições, sendo que milhares de autores tinham realizado, cada um, algumas dezenas de intervenções. O padrão da “cauda longa” estava explícito naquela comunidade de wikipedistas, assim como em outras como o site de compartilhamento de fotografia Flickr, narrado no estudo de Shirky (2012), no qual pequeno número de fotógrafos era responsável pela maior parte das postagens de fotografias em sua comunidade.

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encontrado em redes todos-todos a partir do critério/variável quantidade de

elementos que acessam e elementos que produzem os conteúdos, mostrando que a

cooperação par-a-par ou a comunicação todos-todos nem sempre é plenamente

viável em redes contendo milhares ou milhões de pessoas (apesar da

potencialidade presente em sua abertura) e muito mais fácil de coordenar em redes

abertas e menores.

Gráfico 2 - Modelos de rede variando de acordo com o tamanho da comunidade e a viabilidade da comunicação entre seus membros (Fonte: Shirky (2012) com modificações).

Essa capacidade potencial da rede de se modificar a cada instante através

da ação de seus componentes, essa maleabilidade das memórias digitais em serem

apagadas, reconfiguradas, regravadas com extrema facilidade, é que permite a

cada “antigo receptor” ser agora um agente coautor em potencial, a partir do

momento que realiza sua intervenção nos inúmeros ambientes presentes no

ciberespaço e altera de maneira ativa os bits gravados nestas memórias (Santaella,

2004), resultando em uma alta quantidade de mensagens produzidas em rede, boa

parte direcionada a pequenos públicos aos quais o autor pertence e exigindo filtros

por parte de quem as lê. Lévy (1993, p. 102) define essa maleabilidade do digital

dizendo:

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 76

O digital é uma matéria, se quisermos, mas uma matéria pronta a suportar todas as metamorfoses, todos os revestimentos, todas as deformações. É como se o fluido numérico fosse composto por uma infinidade de pequenas membranas vibrantes, cada bit sendo uma interface, capaz de mudar o estado de um circuito, de passar do sim ao não de acordo com as circunstâncias. O próprio átomo de interface já deve ter duas faces.

Para Alex Primo (2003), as discussões que ficam restritas simplesmente à

capacidade tecnológica da rede e suas características como meio de transmissão

de dados e informações (bidirecionalidade, multissequesncialidade,

maleabilidade), corre o risco de criar a ilusão de que todos que a acessam são co-

autores de seus conteúdos (determinismo tecnológico), algo que o ciberespaço

possui em potência, mas que nem sempre é realizado por aqueles que constroem

seus programas e ambientes na rede, cabendo uma análise mais minuciosa dos

tipos de hipertexto existentes, a partir do grau de centralização ou abertura ao

diálogo entre os que acessam estas diferentes redes.

Na abordagem de Primo (2003) sobre a arquiterura hipertextual do

ciberespaço, existem três tipos básicos de hipertextos a partir do critério da

relação entre os que acessam determinado ambiente online. Dessa forma ele cria

uma escala que vai de um modelo mais fechado, uma subrede no ciberespaço

centralizada em um autor único que intervém e modifica o espaço que criou

(hipertexto potencial), passando pela colagem de pedaços produzidos

individualmente e anexados ao ambiente (hipertexto colagem ou colaborativo) até

o arranjo que permite a intervenção livre e contínua dos que acessam o ambiente,

podendo intervir em seus conteúdos de maneira aberta, de forma cooperativa e

negociando as transformações através do diálogo (hipertexto cooperativo).

A divisão proposta então revela que muitos sites e ambientes da rede

internet podem se apresentar como interativos, mas na prática o que acontece é

uma navegação por caminhos construídos e imaginados previamente pelo autor,

um hipertexto potencial, uma rede centralizada. O ideal para uma realização plena

da interação (interação mediada por computador) é que o sujeito possua também

poderes para intervir e deixar suas marcas para que outros possam ver e a partir

delas agir também, para que uma comunidade seja construída a partir das relações

entre os que acessam o ambiente.

Para Primo (2003) o que interessa é como o sujeito pode interagir na rede

internet e não somente aquilo que a arquitetura hipertextual possui em potência,

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evitando um tecnicismo que esconderia os sujeitos participantes da rede. Na obra

de Shirky (2012) todas as transformações detectadas com a formação de grupos e

comunidades de interesses, através da diminuição dos custos transacionais da rede

internet, passaram por sites em que o hipertexto é modificado por quem os acessa,

espaços que permitem, embora nem sempre se realizerm, criações cooperativas e

coletivas.

Primo (2003) critica o termo usuário, aquele que apensas usa o que já é

apresentado pronto por algum programador ou autor, termo importado da

indústria da informática, pois seria próximo à ideia de receptor do modelo

clássico da comunicação, não modificando a conotação impositiva e centralizada

dos meios analógicos. A partir dessa crítica ele intriduz o termo interagente,

reforçando que a rede internet deve ser um espaço que promova efetivamente a

troca e a participação dos que acessam seus espaços, portanto, uma co-autoria que

vá além de simplesmente percorrer caminhos pré-fabricados por uma

personalidade criadora central.

Outro ponto que foi levantado por Ribeiro (2006) é o de que a

hipertextualidade não é exclusiva dos suportes digitais, sendo que a estrutura de

links (algo que liga um ponto a outro) pode ser encontrada também em jornais e

revistas impressos, assim como em enciclopédias. A essa forma de organizar a

informação ela chamou de hipertexto impresso em contraste com o hipertexto

digital. Se no hipertexto digital a infinitude de links sugere uma navegação sem

fim pelo imediatismo do acesso, as leituras no impresso sempre remetem a outros

textos e podem resultar em leituras também infinitas.

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Figura 3 - Uma típica página de jornal já prepara o leitor para a hipertextualidade ao remeter a leitura para diversos pontos internamente e externamente (Fonte: Wikimedia Commons, 2011).

O que ocorre com o texto impresso é que existe uma linearidade típica

manisfestada nesse suporte, como no caso dos livros que desenvolvem seu

argumento com começo, meio e fim, algo distinto de uma enciclopédia que

subdivide em blocos textuais os assuntos e os interligam através de remissões. Um

hipertexto potencial (Primo, 2003) pode ser tão ou mais linear quanto um

hipertexto impresso (Ribeiro, 2006), com o seu autor dominando todo processo de

intervenção e disposição dos assuntos, embora a rede internet traga uma facilidade

muito maior de linkagem de textos, imagens, vídeos e sons que dificilmente

deixará um site totalmente isolado de outros.

De maneira concreta, um exemplo de construção aberta em que todos

podem participar, com níveis de repercussão significativos para aqueles que as

acessam e usam, vem dos projetos de autoria coletiva e compartilhada que se

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tornam fonte de referências, nem sempre consensuais ou aceitas em sua validade e

precisão, como a polêmica enciclopédia Wikipédia (Rosado, 2008; Vieira, 2008;

Primo & Recuero, 2003), escrita em tempo real e com suas regras e acordos

negociados enquanto o projeto vai se desenrolando e os problemas vão surgindo.

Outro exemplo no campo da produção textual vem da possibilidade de

publicação dos escritos individuais potencialmente acessíveis a todo público

presente na internet que venha a solicitá-lo em suas buscas, como em blogs ou

websites pessoais, nos quais a produção escrita, a exemplo da acadêmica, pode ser

disponibilizada independentemente de veículos formais de publicação (revistas

científicas) e da finalização da pesquisa (preprints e prepapers). Um acadêmico

hoje pode publicizar seus escritos através de websites geridos individualmente ou

coletivamente com outros parceiros e utilizar tal espaço como balão de ensaio

junto a seu público leitor, ao modo de um preprint aberto à visita de todos25.

2.2.4 A convergência dos formatos e a liberação da produção autoral: entre a liberdade e a qualidade

Quanto à questão dos formatos publicados, a rede e sua ligação

potencialmente bidirecional (comunicação em dois sentidos, ida e volta), com sua

estrutura digital maleável e descentralizada no formato hipertextual, com

múltiplos nós ou links entre blocos de textos, imagens e sons (Lévy, 1993, p. 33;

Landow, 2006, p. 2-3), possibilitam outro tipo de construção da autoria, mais

fluida e menos ligada à materialidade do suporte que a transmite (Chartier, 2002).

A materialidade dos suportes que definia categorias de formatos mais

precisos, como o livro e o jornal para textos, o filme de 8, 16 ou 35 mm para

vídeos, o caderno para um diário pessoal, a folha de papel para a carta, agora

perde sua visibilidade facilmente identificável quando todas as formas de se criar

informação ficam unidas em uma tela luminosa de computador convertidas para

uma única linguagem universal: os bits. Basta que olhemos para um tablet e nos

25 Um exemplo de blog em que o autor acadêmico publica resumos a partir de pesquisas que está desenvolvendo e apresentações diversas em seminários é o Medialog, do professor da UCSC Pier Cesare Rivoltella, no endereço < http://piercesare.blogspot.com.br/>. Outro exemplo que será desenvolvido mais a frente é o site arXiv < http://arxiv.org/>, voltado para o campo das ciências exatas, em que os autores publicam seus artigos sem passar por revisão criteriosa dos pares.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 80

questionemos se ele é um e-book, um leitor de e-mails, um gerenciador de

fotografias ou tudo ao mesmo tempo.

Os programas de computador podem simular todos os formatos anteriores

de exibição da informação (incluindo a unidirecionalidade do modelo um-todos),

e podem criar outros novos formatos baseados na potencialidade co-criadora e

interativa da rede, dependendo da criatividade dos programadores, a exemplo dos

blogs, wikis e fóruns de discussão, impossíveis de existir através de um suporte

analógico, pois dependem de uma rede maleável de dados na qual possam ser

atualizados em tempo real os seus indexadores de informação. A esse respeito

Lévy (1993, p. 102) reitera sobre a convergência dos formatos em um único

suporte dizendo que:

A principal tendência neste domínio é a digitalização, que atinge todas as técnicas de comunicação e de processamento de informações. Ao progredir, a digitalização conecta no centro de um mesmo tecido eletrônico o cinema, a radiotelevisão, o jornalismo, a edição, a música, as telecomunicações e a informática. (...) Ora, a codificação digital relega a um segundo plano o tema do material. Ou melhor, os problemas de composição, de organização, de apresentação, de dispositivos de acesso tendem a libertar-se de suas aderências singulares aos antigos substratos.

Logo, a escrita hipertextual digital permite um acesso e uma construção

não-linear do texto, com a possibilidade de acréscimos sucessivos, em tempo real,

em oposição às edições estáticas e definitivas condicionadas pelo suporte

impresso, que fixava o discurso do autor em uma caixa fechada e o atualizava

lentamente em edições sucessivas.

Adiciona-se a este processo, a capacidade do autor ligar com facilidade

imagens, sons e vídeos através de edição hipertextual, o que enriquece sua autoria

e a transforma em autoria digital multimídia. O texto linear e estático do autor

único e isolado, fortemente preocupado com a coerência e do formato início-meio-

fim não cabe mais como única possibilidade nesse novo tipo de escritura, embora

a escrita hipertextual possa conter essa modalidade de produção caso o autor a

deseje: um hipertexto potencial centralizado e com edição predeterminada fechada

ao público (Primo, 2003).

Este novo tipo de autoria nos remete à capacidade associativa do próprio

pensamento humano, pois quando interpretamos um texto, quando ouvimos um

som e nos lembramos de determinado assunto ou lugar, estamos pondo em ação a

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 81

nossa própria rede hipertextual com nossos fragmentos de memória, sendo que

para Lévy (1993, p. 70-73) a nossa mente agora pode materializar essa rede de

nexos (nós) em computadores, e de modo mais complexo ainda quando estes

computadores se ligam em redes de elaboração hipertextual coletiva, os

computadores conectados.26

Fazendo um paralelo entre os tradicionais suportes materiais e os suportes

digitais emergentes, Chartier (2002, p. 109) afirma que:

A ordem dos discursos é assim estabelecida a partir da materialidade própria de seus suportes: a carta, o jornal, a revista, o livro, o arquivo etc. Isso não acontece mais no mundo digital. Onde todos os textos, sejam eles quais forem, são entregues à leitura num mesmo suporte (a tela do computador) e nas mesmas formas (geralmente as que são decididas pelo leitor). É assim criada uma continuidade que não mais distingue os diferentes gêneros ou repertórios textuais que se tornaram semelhantes em sua aparência e equivalentes em suas autoridades. Daí a inquietação de nosso tempo diante da extinção dos critérios antigos que permitiam distinguir, classificar e hierarquizar os discursos.

Logo, com a sofisticação dos programas e das tecnologias que compõe a

rede internet, abriu-se caminho para a construção de fontes de informação (novos

formatos) dirigidas diretamente por pessoas “comuns” na internet, não

oficialmente qualificadas ou institucionalizadas, liberadas agora de todo processo

formal de editoração e publicação criado após a difusão da imprensa, uma rede de

autores que estavam desautorizados a publicar suas obras devido aos filtros

existentes até então. Shirky (2012) denomina esse processo de amadorização em

massa, em que profissões ora firmamente estabelecidas e regulamentadas são

solapadas por pessoas não-certificadas, mas que produzem em grandes

quantidades obras expostas na rede internet com a mesma facilidade que os

profissionais (fotografias, vídeos, textos, músicas).

26 Vannevar Bush (2011) em seu texto “Como podemos pensar” datado de 1945 já previa que a lógica de indexação de textos deveria obedecer a uma lógica associativa equivalente ao modo como nossa mente funciona. Ele combatia os modos alfabéticos e numéricos de indexação que dificultvam as pessoas no resgate de determinado registro informacional. Ele apostava então que a seleção de informação por associação criaria trilhas de pensamento que poderiam ser compartilhadas e transferidas a quem se interessasse por elas, tendo como vantagem a permanência registrada dessa trilha, enquanto a mente humana falha ou perde elos de associação de acordo com a frequência de seu uso. Vannevar Bush pode ser considerado um pioneiro no conceito de hipertextualidade e seu artigo ficou conhecido pela proposta de um arquivo pessoal mecanizado que funcionaria com a lógica associativa, contendo livros, registros e comunicação pessoais, uma máquina apelidada por ele de Memex, pois ampliaria a memória de quem o utilizasse. A transformação em bits não era ainda cogitada por ele, sendo o processamento baseado em microfilmes.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 82

Tais processos formais presentes da indústria de obras analógicas,

incluindo a presença de editores e revisores profissionais e uma regulação

restritiva de acesso (copyright), justamente serviam para selecionar quem deveria

e quem não deveria ter seu discurso publicado, principalmente devido aos altos

custos financeiros e gerenciais envolvidos e a necessidade de se vender as obras

produzidas para garantir o retorno necessário e realimentar o processo industrial

de gráficas e editoras (Chartier, 2007).

Ao mesmo tempo em que a imprensa, o cinema, a TV e o rádio criaram

todo um conjunto de categorias profissionais para cuidar do processo de produção

e distribuição das obras, os suportes digitais estão redefinindo ou eliminando estas

profissiões quando permitem a qualquer pessoa praticar a mesma atividade antes

restrita a certas categorias profissionais (Shirky, 2012).

O que acontece hoje, com a consolidação e expansão dos espaços digitais

na internet, é a eliminação de maneira repentina das limitações anteriormente

existentes nos custos de publicação e coordenação de atividades, nos custos

materiais envolvidos na replicação analógica da informação, e com isso vive-se o

dilema da carência de outras formas de validação da produção emitida pelos

elementos dos coletivos antes represados. Estamos hoje numa Era de Fartura em

que a quantidade de mensagens produzidas e levadas a público aumentou

exponencialmente, permitindo tanto a produção de obras de grande valor para um

grande público interessado quanto obras menos sofisticadas, mas de grande valor

para pessoas próximas do círculo de amizades do autor.

O fato é que os coletivos estão produzindo e replicando os conteúdos

gerados através das redes digitais que permitem tal manifestação (hipertextos

colaborativos e cooperativos), e a indústria criada ao redor dos meios de

distribuição analógicos, como as indústrias fonográfica e cinematográfica, está em

crise face ao modelo de comunicação digital emergente, que avança com

velocidade, desintegrando categorias profissionais até pouco tempo admiradas e

de grande prestígio (Shirky, 2012).

Este movimento de proliferação de discursos até então represados,

chamado por Lemos (2003) de liberação do pólo de emissão, a partir de uma

conexão quase generalizada à internet e entre aqueles que a acessam (modelo

todos-todos), gerou insegurança maior quanto à validade de fontes consultadas,

uma questão importante, porém polêmica e que promove discussões apaixonadas.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 83

Não surpreende que tenha gerado discursos radicais, com forte carga

retórica e conservadora, através de posturas “apocalípticas” como as de Keen

(2009), ao afirmar que a Web 2.027 gerou um culto às produções feitas por pessoas

amadoras e, portanto, desqualificadas, em sites como YouTube, Myspace, e os

inúmeros Blogs e Wikis, enfraquecendo a indústria formada ao redor dos direitos

autorais juridicamente regulamentados (copyright), em especial as editoras de

livros e as gravadoras de música. A amadorização em massa assusta aqueles que

estavam acostumados com os filtros de conteúdos gerenciados pelas organizações

formais, mas ao mesmo tempo pode apresentar obras que poderiam nunca chegar

ao público se não fossem disponibilizadas na rede internet.

Esta fase de transição pode afetar justamente a cultura acadêmica marcada

pela referenciação a livros e artigos científicos e gerar conseqüente subestimação

ou mesmo negação de outras fontes e formas de produção de conhecimento não-

acadêmicas (Targino, 2000, p. 12) ou extra-acadêmicas. O pesquisador acadêmico

é posto diante de um dilema no acesso às fontes, pois outras formas de produção e

distribuição extra-acadêmicas e extraoficiais juntam-se às formas tradicionais

reproduzidas no ciberespaço, muitas vezes não se distinguindo claramente as

fontes “certificadas” provenientes dos centros de pesquisa.

Se nos anos 40, Vannevar Bush (2011) estava preocupado com o aumento

no número de publicações e buscava uma forma de guarda-las e ao mesmo tempo

torna-las facilmente acessíveis e indexadas através de ligações associativas, –

objetivo esse alcançado décadas mais tarde pelas redes informáticas e seus

motores de busca super-rápidos –, nos anos 2000 o problema se volta para a

qualidade e quantidade das fontes produzidas, necessitando de outras formas de

validação além do formato material em que ela se apresenta ou da simples seleção

de seus produtores pelos que detém o poder de publicação.

27 O conceito de Web 2.0 foi discutido por O´Reilly em seu pioneiro artigo no ano de 2005. A internet como centro para o oferecimento de serviços on-line, acessíveis em qualquer plataforma ou computador, sem necessidade de instalação local, assim como a produção de conteúdos pelos próprios usuários (incluindo remixagem de programas), com ou sem parceria de outros, caracterizam esta nova fase da internet, em que pequenos e grandes produtores de mídia convivem simultaneamente (nem sempre harmonicamente), disponibilizando fotos, vídeos, áudios, seja respeitando ou não os direitos autorais e as respectivas leis de proteção de propriedade intelectual de cada país (copyright). Empresas que priorizaram a formação de bases de dados para hospedar conteúdos de autores pequenos e anônimos, incentivando sua participação, obtiveram grandes resultados financeiros e de repercussão entre internautas nesta primeira década do século XXI.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 85

2.2.5 O hipertexto veloz, a explosão de informações e a tradição dos suportes analógicos

A revolução do texto eletrônico é, de fato, ao mesmo tempo, uma revolução da técnica de produção dos textos, uma revolução do suporte do escrito e uma revolução das práticas de leitura (Chartier, 2002, p. 113).

Em parte, as possibilidades de mudança na autoria acadêmica com a internet

perpassam a própria lógica da rede hipertextual, aberta a intervenções em sua

estrutura com acréscimos por parte de seus usuários (liberação do pólo da

emissão), permitindo processos de auto-publicação e de indexação automática de

textos com buscas quase instantâneas, uma hipervelocidade.

O que Chartier (2002) e Shirky (2012) nos evidenciam é que o formato

digital altera toda cadeia de produção, gerenciamento e circulação da informação

criada pelos autores, em qualquer formato que tenha sido produzida (texto, áudio,

vídeo), pois o instrumento onde ela é editada e finalizada é também local onde ela

será guardada e transmitida.

O formato digital e o texto eletrônico trazem mais uma vez o sonho do

acesso a toda produção acadêmica e cultural do mundo, pois “tal como a

biblioteca de Alexandria, ele promete a universal disponibilidade de todos os

textos já escritos, de todos os livros já publicados” (Chartier, 2002, p. 114), isso se

nos limitarmos a ver a rede internet como um grande depósito de dados e

informações produzidas até hoje, uma megabase de dados ou um mega-armazém

digital.

O contraste se torna claro quando pensamos que uma fase de levantamento

de dados e buscas de pesquisas semelhantes, quando contávamos apenas com os

suportes impressos, poderia levar meses com solicitações a inúmeras bibliotecas e

acervos, até se completar o envio de fotocópias de artigos, teses e dissertações via

correio, com alto custo (principalmente de tempo e depois financeiro) para o

pesquisador.

Isso porque estamos aqui restringindo os dados a documentos da

comunicação científica formal, mas lembremos de que a fase de coleta de dados

também demantava tempo caso fosse realizada com questionários via correio e

entrevistas com pessoas distantes geograficamente, processo agora facilitado pela

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 86

participação de sujeitos através da própria rede, sem deslocamento físico do

pesquisador (Nicolaci-da-Costa, Romão-Dias & Di Luccio, 2009).

O fato de se oferecer informações no formato digital e de se recuperar

outras de modo quase instantâneo, através de bases de dados de conteúdo

científico, parece-nos fundamentais para a aceleração de descobertas científicas,

quando pesquisas localizadas em diferentes partes do planeta podem ser acessadas

em conjunto pelo pesquisador através de seu computador pessoal

(internacionalização das buscas), sem necessidade de deslocamento físico ou

mesmo de espera para o recebimento dos materiais solicitados.

Comparando a leitura do texto impresso, que permite um processo interno,

mas não visível, de interconexões e associações de idéias (memória associativa do

leitor, busca de outros livros, consultas a outros textos), Lemos (2007, p. 123)

percebe que existe uma especificidade no hipertexto digital relativa à velocidade

de resposta, e chega à conclusão que a “diferença situa-se no fato de que, no

ciberespaço, a conexão é em tempo real, imediata, live”. É exatamente a mesma

constatação que Lévy (1993, p. 37) tece ao indagar:

O que, então, torna o hipertexto específico quanto a isto? A velocidade, como sempre. A reação ao clique sobre um botão (lugar da tela de onde é possível chamar um outro nó) leva menos de um segundo. A quase instantaneidade da passagem de um nó a outro permite generalizar e utilizar em toda sua extensão o princípio da não-linearidade. Isto se torna a norma, um novo sistema de escrita, uma metamorfose da leitura, batizada de navegação. A pequena característica de interface “velocidade” desvia todo o agenciamento intertextual e documentário para outro domínio de uso, com seus problemas e limites. Por exemplo, nos perdemos muito mais facilmente em um hipertexto do que em uma enciclopédia.

A navegação nada mais é então que o percurso veloz realizado pelo leitor

durante a clicagem realizada nos múltiplos nós disponíveis pela rede (a leitura

imersiva e muito ativa), algo que antes seria realizado de forma muito mais lenta

quando os “links” que achávamos em um texto impresso estavam distantes

fisicamente de nós, presentes em bibliotecas e outros locais de armazenamento

dos suportes impressos, cabendo realizar uma leitura contemplativa, focada em

um único texto e objeto por vez, ou então com poucos “saltos” entre um texto e

outro. Seguindo a temática da velocidade e nos fazendo pensar a respeito da

explosão de informações científicas, Targino (2000, p. 7) nos informa que:

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 87

A partir dos anos 50, o avanço tecnológico favorece a ampliação do número de pessoas envolvidas na produção e no processamento de dados, além de permitir a redução de custos da produção. Assim, na atualidade, a quantidade de informação disponível, em termos genéricos, duplica a cada oito anos, e há indícios de que, em breve, dobrará a cada quatro anos. Só nas últimas três décadas, produziu-se um volume de informações novas maior do que nos cinco mil anos anteriores. Cerca de mil livros são editados no mundo a cada dia. (...) No ritmo atual dos avanços tecnológicos, o indivíduo atravessará quatro ou cinco revoluções tecnológicas, o que agrava a chance de defasagem e torna o processo de educação continuada inevitável.

Tais características levam a uma sensação de instabilidade da informação

acessada, que pode mudar e ser ampliada a todo instante de modo veloz, e não

podem ser vistas somente como positivas e benéficas para o campo científico,

visto que põe em jogo referenciais relacionados ao tempo e ao espaço necessários

ao processo científico, ao menos do modo que a ciência é vista até o presente

momento.

Cabe enfatizar que a própria quantidade de dados gerados, mesmo com o

refinamento de buscas através de palavras-chave em buscadres on-line, pode gerar

uma quantidade de fontes impossível de se analisar por parte do pesquisador, por

mais cuidadoso e atento que seja, pois existe a limitação do tempo disponível para

leitura e compreensão dos conteúdos.

O êxito do processo de comunicação científica pressupõe um crescimento e

refinamento contínuo de informações que são dependentes de referenciais

temporais (faz-se pesquisa a partir de dados anteriores de outros pesquisadores) e

espaciais (é preciso dizer qual fonte se consultou), conforme nos aponta Oliveira

& Noronha (2005) e os modelos de ciclo de gestão do conhecimento científico

(GCC) descrito por Leite & Costa (2006).

Para isso, as revistas impressas e os livros em papel exercem sua função

plenamente, datando e fixando a escrita no tempo e espaço, e mesmo limitando a

quantidade de informações a serem compartilhadas com os pares. O suporte

impresso e suas limitações, como a fixação em edições bem definidas no tempo e

espaço, determinaram, em certa medida, o próprio modo de se fazer ciência,

divulgar os dados e fazer uso dos mesmos.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 88

Figura 4 - Tela do site Scielo contendo os volumes e números da Revista Brasileira de Educação.

Não é por acaso que o modelo número-volume-ano-local condicionado pelo

formato impresso das revistas científicas é atualmente copiado por publicações

exclusivamente on-line, que a rigor não precisariam de tais indexadores, mas que

os utilizam a fim de separar textos espacial e temporalmente, facilitando sua

referenciação em outros textos acadêmicos28.

Saber a data de realização e publicação de um estudo científico é, talvez,

algo essencial em um campo onde informações podem ser atualizadas a todo

momento e comparadas com os estudos passados. A lógica científica é diferente,

por exemplo, da forma de proceder de um grupo de fiéis em relação a um texto

religioso em que a data de sua publicação, ou mesmo a identidade do autor, pode

ser ignorada (muitos vindos de uma época em que a oralidade primária

predominava), pois o que está em jogo ali é a sua tradição e fidelidade a uma ideia

28 Exemplo neste caso é a RENOTE (Revista Novas Tecnologias na Educação), publicada exclusivamente on-line pelo Centro Interdisciplinar de Novas Tecnologias na Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a cada final de semestre, estando atualmente no volume 7, número 2. Apesar de manter um formato tradicional da revista impressa, a RENOTE também possui um índice de autores e um índice de títulos onde reúne toda produção de todos os volumes publicados.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 89

original e não o seu uso como referência para a elaboração sucessiva de novas

ideias.

Figura 5 - Programa da plataforma móvel Android simulando estante e página de livro impresso sendo virada.

Seguindo o mesmo raciocínio, temos os e-books que continuam

reproduzindo estruturas do suporte impresso, tais como capítulos sequenciais,

páginas com o mesmo formato e tamanho, notas de rodapé, em muitos casos com

ausência de recursos multimídia (áudio e vídeo), procurando manter a identidade

com elementos que o leitor se acostumou a encontrar em impressos (texto e

imagem), tornando a leitura digital um pouco menos “traumática” em sua

transição. Um leitor de e-book em um tablet, por exemplo, procura até mesmo

simular a virada das páginas através do toque dos dedos em suas bordas.

Os dois casos corroboram o pensamento de Chartier (2002, p. 112) ao

afirmar que “a longa história da leitura mostra com firmeza que as mutações na

ordem das práticas são geralmente mais lentas do que as revoluções das técnicas e

sempre em defasagem em relação a elas”. Outros caminhos na produção textual e

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 90

em seus modos de entrelaçamento e referências devem surgir à medida que a

internet for incorporada no dia a dia de todos, incluindo os modos de produção e

divulgação de textos acadêmicos, fortemente ancorados no modelo de publicação

impressa.

Para Moreira (2005), a auto-publicação e a acessibilidade de documentos

antes restritos às bibliotecas, como teses e dissertações agora on-line, levam a uma

indistinção cada vez maior entre literatura branca (publicada) e cinzenta (restrita e

não publicada), aumentando o volume de informações disponíveis para o

pesquisador e trazendo a tona um antigo medo dos leitores, agora também

navegadores: se perder no emaranhado da teia hipertextual com seus bilhões de

hiperlinks e textos produzidos pela coletividade, disponíveis de maneira

horizontal em páginas igualmente acessíveis em um mesmo suporte.

Podemos cogitar, por hipótese, que mais do que um apego à tradição das

revistas científicas e dos livros impressos, a manutenção da identidade dos

elementos de ambos seja justamente uma maneira de destacar os produtos de uma

comunidade que se tornou com o passar dos séculos institucionalmente coesa – os

pesquisadores acadêmicos divididos em seus respectivos subcampos de

conhecimento – dos produtos de outros tipos de comunidades em ascenção hoje

no ciberespaço, voltadas para diversos fins.

Para Meadows (1999), entre os elementos que formam o feitio da revista

científica, a partir de sua unidade básica, o artigo científico, estão: o título do do

artigo, o nome ou nomes dos autores, a data de recebimento e aprovação , o

resumo, o corpo do texto, as notas ou referências bibliográficas. Se para nós hoje

estes elementos são óbvios, eles são resultados de necessidades detectadas no

longo processo de organização da comunicação formal científica construído desde

os primeiros periódicos surgidos na França (Journal des Sçavans) e Inglaterra

(Philosophical Transactions) no século XVI.

Embora o acesso a informações cresça, para Targino (2000) é importante

que este manancial ajude a produzir compreensão do que se está pesquisando e,

conseqüentemente, gere conhecimento. Para a autora, existe uma hierarquia na

produção científica, que começa pelos dados, que ao serem reunidos e imbuídos

de significado se tornam informação, se tornando conhecimento quando

incorporados ao repertório cognitivo do ser humano.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 91

Acumular dados e informações em estoque não implica produzir

conhecimento significativo para resolução de problemas, embora seja parte

essencial do processo, com a revisão periódica do que se compreende até o

momento a respeito de um fato ou fenômeno, visto que a ciência é uma atividade

em que a mutação dos saberes é fundamental (Targino, 2007). Nessa acepção da

pesquisa acadêmica, um bom pesquisador, portanto, é aquele que efetua a

“alquimia” da transformação de dados e informações em conhecimento útil à

coletividade que faz parte.

Dessa forma se tornam claros os problemas trazidos pelo ciberespaço e

pelos dados hipertextuais dentro do processo cíclico de pesquisa na ciência. O

primeiro se refere aos mecanismos construídos para discernir entre uma

publicação científica e não científica, pois estão menos visíveis e mais fluidos no

ciberespaço com a junção de todos os formatos em um único local, indistintos

pela sua materialidade e liberados para que todos sejam autores publicados. Em

síntese: os antigos filtros exercidos pelos suportes impressos (custos materiais)

estão agora mais fragilizados devido à imensa facilidade de se publicar uma obra

na rede internet.

O segundo é relativo à quantidade de informação liberada, mesmo pelos

órgãos oficiais e pelas universidades, sendo tão grande e consequentemente difícil

de ser assimilada e tratada pelos seres humanos em um tempo razoável, pelo

simples fato de que nosso equipamento cognitivo e memória continuarem sendo

os mesmos e podendo processar a mesma quantidade de informação de 50 anos

atrás.

Targino (2007) então chama a atenção para o papel exercido por pessoas

auxiliares no momento da seleção das fontes de informações: os bibliotecários.

Em nossa revisão de estudos empíricos (próximo Capítulo) ficarão também

visíveis outros tipos de pessoas consultadas pelos acadêmicos: colegas de grupos

de pesquisa, orientadores, professores. Cresce então em importância as fontes

humanas, que apresentam uma inteligência mais sofisticada na avaliação da

informação que as fontes computacionais.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 93

não ser pelos vislumbres dos primeiros informatas que faziam nascer a cultura

hacker naquela mesma década. Dessa forma, a comparação e junção de textos

visando a atribuição de um nome que exercesse a função autor e denominasse

esse conjunto de obra era o modo de pensar sobre a produção de discursos antes

do surgimento da rede eletrônica e a instabilidade gerada com o advento da

autoria liberada às coletividades.

Já o ataque ao autor era para Barthes (2004), em texto publicado em 1968

com o provocativo título “A morte do autor”, um ataque à ordem estabelecida

desde o fim de Idade Média quando através do empirismo inglês e do

racionalismo francês cresce o prestígio do indivíduo. É através dessa valorização

do sujeito que se busca juntar em pedaços a biografia do autor, seus gostos e a sua

história pessoal e com isso dar sentido à produção da sua obra, como mera

confidência pessoal.

Essa “tirania” do autor para Barthes (2004) não cabe quando se concebe o

texto como um espaço de dimensões múltiplas, em que convergem e se casam

escritas variadas. O autor se torna então um misturador de escritas anteriores a si e

por isso torna-se inútil a sua decifração como se fosse originária de um sujeito

único ou mesmo como se o sentido estivesse fechado em si mesmo. Nesse ponto

assemelha-se à Bourdieu (1996) quando disserta sobre a ilusão da biografia

contínua, coerente e independente de uma rede social de relações e mútuas

influenciações. Ou seja, cai-se nesse discurso o primado do sujeito autor que

controla totalmente os efeitos de sua escrita.

O foco de Barthes então volta-se a quem lê e atribui sentido a um texto, ao

leitor que reúne em si todas as referências que a escrita tem por base. Fazendo-se

livremente uma analogia, o que interessa é como o texto é entendido através do

“hipertexto mental” que o leitor carrega em sua memória e não a decifração de um

sentido único que supostamente o autor queria atribuir ao texto.

Logo, o foco é mudado do autor para o leitor, aquele que realmente constrói

uma unidade no texto que acessa. Barthes (2004) então ironiza o processo de

busca de um autor pelos críticos literários ao dizer que um leitor não tem história,

não tem biografia, não tem uma psicologia, é somente um alguém que pratica o

ato da leitura, figura essa que a crítica literária nunca se preocupou em descrever.

Na cultura contemporânea, com as redes digitais, o ato de escrita-leitura se tornou

importante, visto que os rastros dessa leitura agora podem se tornar visíveis nos

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 94

ambientes do ciberespaço, ao menos nas redes que permitem a autoria do “leitor”,

que comenta, interfere e se autoriza a participar de obras e debates coletivos

abertos, nos hipertextos cooperativos e colaborativos (Primo, 2003).

Voltemos então nossa atenção para o modelo de autor acadêmico. Para o

acadêmico, de modo geral, construir um texto, ser autor, é utilizar de maneira

prática fontes de dados e informação, selecionando-as e organizando-as de acordo

com o objetivo proposto na pesquisa, assim como situar-se no campo representado

pelas produções dos demais pesquisadores (intertextualidade) através da citação e

da referência a teses, dissertações, artigos, relatórios, censos, documentos

históricos, registros governamentais entre outras fontes, objetivando publicar os

resultados em um relatório final. Esse é o ciclo da informação científica, uma

eterna circulação de resultados, um “fluxo informacional intenso que configura o

processo de comunicação científica, processo este, que propicia a soma dos

esforços individuais dos membros da comunidade científica, por meio da troca de

informações” (Targino, 2007, p. 97). Temos aí a síntese da atividade acadêmica.

A rigor, um autor acadêmico jamais escreve um texto sozinho, no sentido de

que não pode prescindir da consulta a fontes que representam os registros dos

pesquisadores que o antecederam (intertextualidade), mas pode operar as

associações de ideias em seu texto sem o auxílio efetivo de outros autores durante

essa operação, sem trabalhar diretamente com outros sujeitos que pratiquem a

fase final da escrita junto a ele, exercendo dessa forma uma autoria individual, em

contraste com a autoria coletiva permitida pelos espaços digitais.

Ser acadêmico é ser, antes de tudo, um letrado, alguém que domina o

idioma nativo, e eventualmente idiomas estrangeiros, e manipula a linguagem

escrita através de códigos alfabéticos em algum suporte que os fixe. Assim como

a pesquisa e os métodos empregados para se chegar aos dados almejados, a escrita

é parte fundamental, inseparável, da vida do acadêmico, pois é a partir dela que o

trabalho cria vida própria e pode ser apropriado pelos demais em uma cadeia de

constantes referenciações. O lema “Publique ou pereça” é a extrema evidência do

quanto o acadêmico é direcionado para a atividade de registro, composição e

publicação.

Dessa forma, é fundamental a consulta às fontes produzidas pelos que

percorreram caminhos em pesquisas anteriores (localização no tempo e espaço),

sendo que a ciência só pode se consolidar a partir do momento em que teve a

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possibilidade de se fixar em suportes que pudessem ser consultados por outros

leitores-pesquisadores e acima de tudo pudessem facilmente ter suas cópias

enviadas aos interessados. Sem fontes fixadas em suportes não existe ciência.

A autoria acadêmica, ao menos no campo das ciências humanas (ao qual

pertence a área de Educação), é um modo de autoria que depende

fundamentalmente da linguagem escrita, dos registros deixados por outros autores

em algum momento do tempo passado, as fontes, processo esse que situa o autor

como co-partícipe de uma construção coletiva sempre em andamento, sempre

situada historicamente e cumulativa a medida que os rastros deixados possam ser

armazenados e acessados por gerações futuras. A escrita não pode ser comparada

à oralidade primária (Lévy, 1993) das primeiras organizações sociais, pois a fala

depende muito mais da memória, da associação de ideias da rede menemônica de

quem a emite, da fugacidade de um discurso que se modifica de acordo com as

circunstâncias, com o auditório que o ouve e do modo como o mesmo reage.

Nas três fases das tecnologias da inteligência enumeradas por Lévy (1993),

a oralidade, a escrita e o digital, o ato de escrever é o intermediário, representa o

momento em que as sociedades orais começam a fixar seus discursos na forma de

signos em tabuletas, pedras e pergaminhos de papiro, em que os Estados começam

a exercer seu controle sobre os cidadãos através de registros e cobrança de taxas.

A escrita representa o momento em que a dupla emissor-receptor geograficamente

se separa, em que o suporte fixador da linguagem, e portanto da mensagem, cria

um fosso temporal e espacial entre aquele que redige e aquele que a recebe e

procura de alguma maneira interpretá-la.

O texto acadêmico na forma como o conhecemos hoje possui já alguns

séculos de história e é, portanto, herdeiro da escrita fixada em suportes impressos

e ainda opera na lógica de uma emissão para um conjunto de receptores-

interpretadores, em geral os próprios pares de determinada área científica que os

acessam e os interpretam. O “jogo” científico se torna então uma série de

sucessivos atos gerados a partir de dúvidas e questões, geração de dados e

informações para que ao final seja realizada uma operação de redução em relação

à complexidade original do mundo (Latour, 2001, p. 88), em que as conclusões do

cientista podem se tornar depois ampliadas para serem aplicadas em situações

similares. É a fixação dessas conclusões em textos escritos, diagramas, esquemas,

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 96

gráficos que permitem tais processos, facilitando o acesso a outros pesquisadores

de todo um percurso de pesquisa, agora condensado em uma publicação.

Mas a escrita também possui suas fases internas, e são essas fases que Lévy

(1993) distingue quando fala dos manuscritos, das obras copiadas a mão de

geração em geração, e também dos impressos, em que as cópias passam a ser

feitas em formas e caracteres pré-fabricados. A impressão permite maior precisão

dos dados, um registro que pode ser copiado sem o risco de perda de dados ou

alteração dos mesmos, em que ciências como a astronomia, anatomia, geografia e

cosmologia podem finalmente reproduzir seus esquemas, mapas e tabelas

numéricas sem o risco de adulteração.

A difusão dos métodos de impressão garante fidelidade e oferece suporte

para a revolução renascentista, e esta fidelidade permite que a ciência acumule

informações, o que, nas palavras de Lévy, causa uma “explosão do saber” a partir

do século XV (1993, p. 98). Com a imprensa nasce a ideia de edições sucessivas

aperfeiçoadas e de progresso rumo a um futuro mais aperfeiçoado e preciso, uma

ideia de evolução ao longo de uma linha temporal (história). Um modo de

enxergar o mundo e agir sobre ele é inaugurado, tal como Santaella (2004)

detectou através do surgimento dos leitores imersivos quando percebeu que outro

estilo cognitivo estava nascendo com os suportes digitais.

Apesar de operar na lógica da emissão-recepção, a escrita acadêmica não

deixa de ser também uma escrita hipertextual, não no sentido informático dos

suportes de característica digital, mas do ponto de vista da criação de nós entre

fragmentos textuais que são traçados pelo autor, quando reúne em seu texto

referências a outros textos para compor seus próprios argumentos a respeito de um

determinado tema em foco, processo muito bem detectado por Barthes (2004) ao

declarar metaforicamente a morte do autor como sujeito isolado em sua produção.

Os produtos da escrita acadêmica, em geral, não são hipertextuais no

sentido informático da hipermídia que apresenta de maneira explícita as ligações

entre os nós, mas são lineares, com começo, meio e fim muito bem definidos, tal

como nos livros impressos, mesmo que sejam atualmente publicados digitalmente

como arquivos PDFs29 em bases de dados acadêmicas. A explicitação da

29 Um PDF (Portable Document Format) é um formato de arquivo desenvolvido pela empresa Adobe Systems e lançado em 1993, como proposta de exibição de documentos de modo universal sem dependência de sistema operacional, pois é um padrão aberto para ser adaptado por

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 97

intertextualidade, da ligação de um texto com outro, está na convenção firmada

para que todo autor acadêmico indique as fontes consultadas e as liste em notas de

rodapé ou ao final do livro/artigo como lista de referências consultadas, tal como

nos afirma de modo metafórico Meadows (1999, p. 13): “as referências

funcionam como um vínculo entre trabalhos novos e antigos: representam a

argamassa que une os tijolos novos aos anteriores à medida que o edifício sobe.”

Com base nos escritos de Popper (1972), Targino (2000) afirma que em

ciência não existe um processo de acumulação contínua de resultados positivos,

mas uma desconstrução permanente de hipóteses e teorias, ora corroborando

resultados e ora refutando-os, após análise criteriosa pela comunidade científica

formada por pesquisadores que compartilham um histórico de estudos sobre a

temática em questão. A ciência é mutável e provisória, com aproximações da

verdade, porém situada historicamente e sujeita a redefinições contínuas, inclusive

em sua interação com a sociedade e o surgimento de novas problemáticas e

necessidades. A ciência é, a rigor, um campo de permatente reunião de fracassos

para que poucos trabalhos se tornem sucessos e continuem válidos para as

gerações seguintes de pesquisadores.

De maneira resumida, a atividade do acadêmico é organizar a informação,

aqui entendida como dados brutos ou que já sofreram algum tratamento, e

produzir um conhecimento organizado, que permita compreender determinado

fenômeno social ou natural de maneira mais precisa, ou seja, responder questões

propostas. Segundo Targino (2000, p. 9), “dentre o manancial de informações às

quais se tem acesso, só o que se consegue reter, apreender e compreender é

conhecimento”.

Em termos gerais, para os cientistas que utilizam os suportes digitais em

suas investigações (há aqueles que ainda não têm contato direto com o meio

digital, somente através de seus assistentes-intermediários), a autoria científica, ou

acadêmica, vem sofrendo transformações em seus fluxos comunicacionais,

principalmente pela introdução da internet, hoje utilizada em larga escala e

imprescindível em atividades de comunicação científica. Mais do que transformar

padrões anteriores, os supoprtes digitais instauram outra lógica de produção e

programadores a qualquer sistema. As plataformas que hospedam artigos científicos, teses e dissertações usam amplamente este formato para evitar edição por parte de quem os lê e acessa e para manter a fidelidade de formatação do documento original.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 98

recepção dos escritos, diferente daquela surgida na fixação e reprodução dos

discursos proveniente da revolução da prensa tipográfica, pois é maleável, mais

instável e potencialmente coletiva. Resta saber em que grau esses usos vem se

desenvolvendo atualmente e se estão se apropriando plenamente das

potencialidades trazidas pelos suportes digitais.

Atividades como trocas de e-mail e participação em listas de discussão

substituem as comunicações por carta manuscrita característica dos antigos

colégios invisíveis de pesquisadores. As consultas de revistas científicas são feitas

agora por buscadores on-line e sistemas de publicação integrados30, substituindo o

monopólio de distribuição de artigos científicos em editoras pelo modelo dos open

archives31, herdeiros da cultura hacker conforme vimos no início desse capítulo

(Sena, 2000; Moreira, 2005; Targino, 2007). A publicação de textos acadêmicos

em revistas totalmente on-line vai se tornando rotina pouco a pouco entre os

professores e os alunos de cursos de pós-graduação stricto sensu.

A comunicação serve potencialmente então para diferentes fins: para unir

esforços entre pesquisadores de carreiras e orientações teóricas semelhantes;

somar idéias a respeito de determinado assunto; travar disputas a partir de pontos

de vistas divergentes; divulgar dados de pesquisas concluídas ou em andamento,

com o foco na atualização contínua a respeito dos progressos científicos

alcançados pelos pares; e na própria inserção e visibilidade do cientista no debate

acadêmico (Targino, 2000). Ou seja, comunicar com os pares é atividade

fundamental para que exista e se mantenha uma comunidade de pessoas

interessadas em compartilhar desafios e utilizar métodos de trabalho semelhantes.

Oliveira & Noronha (2005) enfatizam que a comunicação via internet

facilita o trabalho cooperativo entre os pesquisadores, pois disponibiliza em meio

30 Um exemplo difundido amplamente no meio acadêmico brasileiro é o Scielo (Scientific Electronic Library Online) contando em fevereiro de 2012 com 938 periódicos científicos que reuniam 370.121 artigos. Foi a primeira iniciativa na América Latina de disponibilizar acesso aberto ao conteúdo integral de periódicos científicos, proposta pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) em parceria com o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme) (Targino, 2007). Disponível em < http://www.scielo.org/php/index.php>. 31 A respeito das lógicas aberta e fechada de distribuição de artigos acadêmicos, Chartier (2002, p. 27) afirma que “A batalha encetada entre pesquisadores – que cobram o acesso livre e gratuito aos artigos e às revistas científicas, que impõem altos preços de assinatura, até dez mil ou doze mil dólares ao ano, e que multiplicam os dispositivos capazes de impedir a redistribuição eletrônica dos artigos – ilustra hoje a tensão entre as duas lógicas que atravessam o mundo da textualidade digital.”

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único uma interface para contato e produção, juntando pesquisadores de diversas

instituições, suplantando limitações geográficas e unindo via interesses comuns de

pesquisa. Todos esses processos, é importante afirmar, são potenciais, não

existindo com a intensidade desejada por estes autores em todas as áreas de

conhecimento e com todos os pesquisadores.

Em termos de produção acadêmica formal (publicada e estruturada), a

internet possibilitou a realização mais fácil de autorias coletivas entre

pesquisadores (mestres e doutores) na produção de comunicações científicas

diversas, como artigos e livros, embora nem sempre esta potencialidade seja

utilizada pelos acadêmicos ou outros tipos de produção textual sejam testados. Ao

mesmo tempo a rede digital trouxe um sem-número de opções para formação de

colégios invisíveis da ciência com trocas informais intensas entre pesquisadores,

incluindo dados de pesquisas em andamento.

Apesar de tais distinções entre o formal e o informal, determinadas

inicialmente pelo formato do suporte material da comunicação, concordamos com

Targino (2000, p. 21-24) quando considera que com o advento da internet, a

fronteira entre comunicação científica formal (normalmente associada ao papel e

aos textos estruturados) e informal (normalmente associada à oralidade das

reuniões em grupo e a textos pouco estruturados) está sofrendo mudanças,

tornando-se o que denominou comunicação eletrônica. Essa modalidade é

caracterizada pela diluição de fronteiras e serve para as duas modalidades de

comunicação simultaneamente, hibridizando-as através de formatos que servem

para os dois fins ou disponibilizando seus conteúdos em um único ambiente

(Moreira, 2005).

Mesmo com as modificações permitidas pelos suportes digitais nos setores

de comunicação científica, de busca e seleção de fontes acadêmicas e de autoria a

múltiplas mãos (em alguns tipos de produções textuais), a

estrutura/esquema/modelo geral de autoria acadêmica continua preservada, sendo

verificadas algumas brechas potenciais nesse processo. Uma dessas brechas em

que o formato digital vem penetrando, embora mantendo boa parte das

características do impresso, são as bases de dados digitais contendo as produções

científicas acessíveis online, que veremos com mais profundidade a seguir.

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2.2.7 Bases de dados online: plataformas de comunicação científica?

Os suportes digitais e sua forma de armazenar informações em bits

maleáveis e conectados através de elos associativos (nós em rede), permitiram o

surgimento de bases de dados digitais nas quais convergem as produções

científicas dos autores acadêmicos e também informações que servem de base às

suas pesquisas como documentos de suporte. São artigos, teses, dissertações,

livros, censos, relatórios, registros multimídia entre outros tipos de documentos

agora reunidos em um único lugar, ou então em plataformas de pesquisa integrada

que agregam em uma só ferramenta de busca várias outras bases associadas32.

Essas bases de dados nada mais são do que aglutinadores de documentos

publicados no meio acadêmico e em instituições de pesquisa públicas e privadas

(indústrias, laboratórios, hospitais, entre outros); arquivos para download

geralmente fechados para edição por parte de quem os lê (PDFs). Esses espaços

são hoje fundamentais na fase de busca e seleção de dados e informações

necessários para o embasamento de uma pesquisa em determinado campo de

conhecimento. Nessas bases de dados o pesquisador começa sua tarefa e, caso a

conclua, ele mesmo passa a fazer parte como autor de nova publicação.

Entre todas as fases33 convencionais de uma pesquisa – coleta de dados

empíricos, comunicação com outros pesquisadores, escrita do relatório, leitura de

documentos, organização pessoal dos arquivos – as bases de dados online

representam uma das mudanças mais marcantes e visíveis, pois deslocam o sujeito

dos acervos que contém artefatos físicos (bibliotecas e centros de documentação)

e trazem para o computador pessoal, através da internet, um acervo gigantesco de

dados e informações. Através de tais bases o pesquisador pode organizar no

próprio computador suas fontes e juntá-las a documentos em formatos diversos

(gravações em áudio e vídeo, documentos históricos digitalizados, mapas,

anotações de campo, entre outros formatos e gêneros).

32 Um exemplo é a Pesquisa Integrada da PUC-Rio. A lista de bases de dados assinadas pela universidade pode ser acessada em < http://remoto.dbd.puc-rio.br/bases_dados/bases_dados.php>. 33 Destaco que estas fases não são lineares, ou seja, são sobrepostas e eventualmente ao longo do tempo uma se destaca mais que as outras, sem haver necessariamente uma ordem temporal obrigatória. Um indivíduo pode começar sua escrita teórica desde o começo de sua tese quando possui maior precisão dos objetivos que quer alcançar e realizar a coleta de dados antes de ter sua base teórica pesquisada e consolidada, assim como pode estar realizando leituras novas quando está alcançando o fim da escrita da tese.

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Figura 6 - Tela principal dos sistemas de busca de teses e dissertações da Unicamp e da USP contendo milhares de trabalhos acadêmicos para download.

Dessa forma, as informações podem ser selecionadas e filtradas pelo

pesquisador, diminuindo o tempo entre o surgimento da necessidade

informacional (questões e dúvidas) e o alcance efetivo da fonte, embora, por outro

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lado, aumente exponencialmente o leque de opções de pesquisa e possa causar

uma sensação de excesso de informações disponíveis, um efeito paradoxal na

relação velocidade de busca-aumento dos resultados. Além disso, conforme a

internacionalização das bases acessadas, pesquisas realizadas em outros países

podem rapidamente ser recuperadas e integrarem o acervo de referências do

pesquisador. Fatores então ligados à velocidade de acesso e abrangência das

fontes obtidas são claramente a favor do uso de bases de dados online.

Figura 7 - Pesquisa integrada de documentos da PUC-Rio em que dezenas de bases de dados são vasculhadas simultaneamente a partir de palavras-chave.

São nesses espaços, bases de dados digitais online, que se manisfestam as

características emergentes dos suportes digitais (convergência de formatos,

velocidade quase instantânea de acesso e hipertextualidade), mas também se

preservam, na maioria dos casos, os elementos da escrita linear e analógica

tradicional dos livros e revistas impressas, aplicando pouco do potencial interativo

e de comunicação bidirecional que a internet e sua arquitetura permite. Tal

processo fica evidente na lentidão de resposta entre os autores acadêmicos

(encontrados através de suas produções textuais) que pode demorar meses ou

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 103

mesmo anos através da inserção de nova publicação assinada pelo autor em um de

seus veículos, em geral revistas científicas ou bases de teses e dissertações.

De acordo com a classificação de Primo (2003) essas bases de dados, como

não aceitam em sua maioria que os usuários deixem marcas próprias sem

intermediários (se tornem de fato interagentes), são hipertextos potenciais,

apresentam um conjunto de alternativas para quem as acessa busque o que precise,

mas não permitem a interação direta com os outros que a acessam. Embora

apresente vantagens muito claras, as bases de dados online são vistas como

repositórios de dados nos quais instituições depositam conteúdos, principalmente

na forma de textos prontos para impressão ou leitura em tela, a exemplo do banco

de teses e dissertações da Unicamp34 e USP35, do banco de artigos científicos

Scielo e inúmeros outros.

A interação que elas permitem, então, é uma interação reativa36 e não uma

interação de mútua influência (Primo, 2000, 2003), pois mesmo que sejam

acessadas por milhões de pessoas, sempre permanecem no mesmo estado e

oferecem sempre as mesmas respostas para as mesmas perguntas (buscas)

efetuadas, a não ser que aqueles que as controlam e filtram conteúdos (editores) as

atualizem. Grosso modo, as bases de dados simulam uma gigantesca biblioteca

contendo milhões de estantes com livros e revistas, primando pela organização

cronológica em volumes seriados. Não é por acaso que são chamados também de

RI – Repositórios Institucionais (Leite & Costa, 2006), locais onde se depositam

documentos, apesar do potencial de interação permitido no ciberespaço.

Iniciativas para promover a comunicação e compartilhamento de fontes

entre pesquisadores, ao modo de uma biblioteca de sites favoritos etiquetados com

palavras-chave e comentados (social bookmarking), já foram descritas, a exemplo

do site Connotea37 (Pavan et al., 2007) desenvolvido pelo Nature Group

Publishing, porém sem repercussão nas bases de dados mais utilizadas até o

momento em universidades, que não adotam sistemas de comunicação internos

34 Disponível em: < http://www.prpg.unicamp.br/teses_defesa.phtml>. 35 Disponível em: < http://www.teses.usp.br/>. 36 Para Primo (2003, p. 5), “entender-se-á que a interação varia qualitativamente de acordo com a relação mantida entre os envolvidos, variando progressivamente da interação mais reativa (programada e determinística) à de maior envolvimento e reciprocidade, a interação mútua”. A plena realização da interação mútua está na co-criação do hipertexto cooperativo e não somente na navegação por caminhos previamente construídos pelo autor do hipertexto potencial. 37 Disponível em: < http://www.connotea.org/>.

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para quem as acessa, eliminando o potencial coletivo de gerenciamento de grupos

que a rede internet permite (Shirky, 2012).

Apesar disso, sites como o Connotea são propostas válidas e que permitem

uma conversa direta entre interagentes a respeito de um artigo científico e através

da formação de comunidades de interesses, embora seja realizada em espaço

paralelo ao site original onde está hospedada a fonte. A formação de comunidades

de interesses específica para pesquisadores e acadêmicos é o ponto forte desse

espaço e materializa na internet as redes de troca características dos antigos

colégios invisíveis da ciência (Moreira, 2005). Porém Pavan et al. (2007, p. 89)

destacam que boa parte delas são comunidades fechadas, seguindo a lógica atual

da ciência focada no ineditismo e originalidade das produções e descobertas, ou

seja, no autor individual em detrimento das produções assinadas coletivamente.

Do ponto de vista de quem publica textos científicos na forma de artigos,

existem também alternativas emergentes que fazem frente ao modelo de

publicação baseado na lógica da revista científica impressa revisada pelos pares.

Embora seja um hipertexto potencial, sem espaços de interação entre os que o

acessam, o site arXiv38, fundado por físicos em 1991, direcionado para a área de

ciências exatas (Sena, 2000), é um bom exemplo de atendimento baseado na

demanda dos autores e que privilegia a rapidez da publicação em detrimento do

controle centralizado por editores. A principal característica do site é não passar

pelo longo processo de revisão pelos pares, ou seja, são preprints que podem,

inclusive, serem atualizados pelos autores que fizeram a publicação no site.

Conforme vimos no começo desse capítulo, a ideologia da informação livre

nascida nos anos 60 através da cultura hacker resultou nos projetos voltados à

liberdade da informação (Macek, 2005), tanto aquela ligada aos programas de

computador via software livre com seus cógidos abertos e licenças que desafiam o

direito autoral estabelecido (copyright) quanto a informação científica, a exemplo

do open access e open archives.

Dessa forma, hoje existem dois tipos básicos de bases de dados online, as de

acesso livre e as de acesso restrito. Essas últimas tem seu acesso vinculado a

venda de pacotes e assinaturas a bibliotecas universitárias ou clientes

governamentais, como no caso do Portal de Periódicos da CAPES. Já as de

38 Disponível em < http://arxiv.org/> e gerido pela Universidade de Cornell.

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acesso livre podem ser pagas ou não pelos próprios autores que as publicam,

desde que estejam online disponíveis para todos que quiserem consultar,

independente de assinaturas e pacotes, visando a circulação de informações e

dados entre os cientistas e a população em geral (Targino, 2007), como no caso do

Scielo.

O que caracteriza estas bases de dados, portanto, é a manutenção do formato

tradicional das revistas científicas impressas, com edições periódicas de artigos

divididas em volumes e edições numeradas (ver Figura 4), mantendo a tradição e

evitando o uso pleno das potencialidades dos suportes digitais. Mesmo que o

formato digital permita novos arranjos de publicação, – como o lançamento de

textos de acordo com a liberação pelos pares (cada texto estando em uma data

diferente de lançamento), a associação de imagem e som (conteúdo multimídia) e

a disponibilização de artigos em quantidade variada de acordo com o volume de

recebimento dos autores, – o esquema clássico que simula as revistas impressas

limitando o tempo (periodicidade) e espaço (quantidade de texto) se mantém com

toda sua força.

Outro ponto que carece de atenção nas bases de dados online é a opção pela

manutenção da lógica da disponibilização e download de arquivos. A

bidirecionalidade e comunicação coletiva permitida por estruturas mais abertas

(hipertexto cooperativo e colaborativo), como os blogs e wikis, com a permissão

de comentários e mesmo sugestões aos autores não parece estar próxima de ser

adotada por estas bases, fechadas a funções de interação e avaliação comunitária.

Elas são, de fato, depósitos de arquivos, em geral no formato PDF de

armazenamento, o que não permite aos autores o recebimento de comentários e

sugestões pelo público leitor. Tal como nas revistas científicas impressas, o

retorno é somente permitido em novas publicações, ou seja, em novos artigos; ou

então via canais informais e não públicos, como o e-mail pessoal do autor e canais

públicos como os sites de social bookmarks, a exemplo do Connotea.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 106

2.3 Mapeando as brechas: em que pontos o suporte digital pode mudar a autoria dos acadêmicos?

No ponto que chegamos neste capítulo, podemos ser mais ousados e

provocadores a ponto de propor a seguinte questão:

Como um mundo permeado pelos suportes digitais, que está formando

outros leitores e autores, outras formas de armazenar, compartilhar e debater

informações em rede, produz em seus cursos de pós-graduação um acadêmico

que repete os mesmos passos que seus pares faziam há mais de cem anos e que,

na prática, poderia prescindir completamente das tecnologias da inteligência

hoje disponíveis, visto que a tarefa exigida, produzir uma tese essencialmente

textual, é exatamente a mesma?

A resposta sociológica para esta pergunta foge do escopo desta tese, porém

podemos propor a detecção de algumas brechas que estão sendo abertas, apesar da

exigência desse mesmo produto final (tese escrita) e de seu depósito em bases de

dados online (upload de PDFs). Uma brecha é uma abertura, uma fenda que se

abre em uma muralha, em uma estrutura que era sólida e que passa a apresentar

pontos de passagem, ajudando a modificar o seu interior e transformar de dentro

para fora.

Esta metáfora cabe bem para este estudo, pois estamos falando de um muro

formado pelos suportes analógicos, especialmente os impressos, que se manteve

forte na proteção dos modos de autoria, através da construção de aparatos como a

noção de obra, autor e direitos de distribuição e cópia ao longo de séculos de

história acumulada e fixada nas instituições acadêmicas de pesquisa. Aos poucos

esta muralha começa a apresentar rupturas com o avanço e adoção dos suportes de

característica digital.

Entre as brechas que foram detectadas até agora e que compuseram este

capítulo e as polêmicas (situações-limite) que geram com suas aberturas, podemos

listar as seguintes:

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 107

1. Brechas na leitura

A leitura se tornou mais veloz com o acesso quase instantâneo a fontes de

informação, seja através de buscas na internet ou através de links diretos deixados

ao longo do texto lido, não se comparando à contemplação dos textos impressos e

ao ritmo mais lento para se passar de um “nó” a outro da rede intertextual (notas

bibliográficas, referências, índices). Ler se tornou um ato de leitura/navegação39 e

imersão, em que se percorrem caminhos através de uma rede de associações

presentes num único suporte físico (a tela do computador), permitindo ou não a

intervenção e co-criação da mensagem lida, um ato de participação em potencial.

2. Brechas na escrita / autoria

Escrever deixou de ser um ato essencialmente solitário, podendo no

ciberespaço se tornar também coletivo, através de comunidades de pessoas

interconectadas e geograficamente distantes que criam conjuntamente obras que

estão em constante mutação. Escrever, ser autor, se torna um ato muito mais

complexo quando as respostas para as intervenções feitas chegam quase em tempo

real, estreitando os laços temporais entre o ato de leitura e de escrita e aumentando

a exigência de negociação de conflitos. A polêmica da escrita coletiva está no ato

de abrir ou não abrir mão do nome de autor e da noção de obra como criação

individual, visando um texto coletivo de maior qualidade e editado continuamente

pelos leitores.

3. Brechas na busca da informação

Se a informação estava presa em suportes materiais que ocupavam espaços

significativos e demoravam a ser resgatados em bibliotecas, centros culturais,

acervos de museus, arquivos de jornais e revistas, agora podem ser buscados em

bases de dados online interconectadas, pouco importando em qual parte do planeta

estão localizados, desde que possam ser compartilhados através da conversão em

bits. A polêmica surge a partir do momento em que os donos das bases decidem

fechar o acesso a pessoas e instituições registradas mediante pagamento de taxas

ou abrirem para que todos possam consultar as obras, impasse crucial nas

39 A tese de Marcela Afonso Fernandez (2009) detalha casos empíricos em que se constatou dois tipos básicos de leitura/navegação entre jovens universitários: percursos de ida e volta, com um site de busca sendo utilizado como ancoragem para as navegações, e percursos de aba em aba em que salta por diferentes sites atendendo objetivos específicos ou simultâneos não relecionados, sendo mais liberto e ao mesmo tempo mais dispersivo. São modos de lidar com os espaços online que evidenciam a ligação direta entre as associações intrapsíquicas e a imediaticidade do clique do mouse na tela do computador.

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 108

discussões sobre o open access e as novas licenças de publicação (copyleft e

creative commons).

4. Brechas no modo de se comunicar com os pares

O e-mail, as listas de discussão, os fóruns, a videoconferência tornou o ato

de comunicação mais barato e mais veloz. Dessa forma, se comunicar com um

autor individual ou com uma comunidade de autores se tornou muito mais fluido e

ajuda a revigorar a proposta da comunicação informal nos colégios invisíveis da

ciência. A polêmica surge quando não se distingue mais o que são comunicações

informais, abertas e menos compromissadas, e as comunicações formais, resultado

de maior apuro e refinamento, devido à perda da materialidade associada aos

diferentes tipos de discursos quando todos podem ser publicados. Outro ponto são

as formas de se validar a informação ou não pelo lento processo de revisão pelos

pares, valorizando-se mais a velocidade ou a qualidade do que é publicado.

5. Brechas nos modos de armazenar as informações

Se o ambiente digital é maleável e permite múltiplos formatos coexistirem,

temos agora em um só lugar, codificados através de bits, toda uma série de

formatos antes distintos por sua materialidade. São textos, fotografias, vídeos,

músicas, reunidos em computadores que os codificam, decodificam e permitem a

mixagem através de uma escrita multimídia e hipertextual. Com o aumento da

velocidade (banda) e capacidade de armazenamento na internet o criou-se o

conceito de nuvem, ou seja, a armazenagem remota de dados, acessíveis em

qualquer computador da internet. A polêmica surge quando o armazenamento se

torna tão extenso que passa a sensação de que nunca se conseguirá assistir, ouvir e

ler toda a massa de informações encontradas, o que não deixa de ser verdade,

exigindo novos modos de seleção e retenção da informação.

6. Brechas no modo de fazer a empiria

Se antes a única possibilidade de chegar nos sujeitos era a sua abordagem

física, presencial, direta, através de entrevistas, questionários, observação de

campo ou participativa, com a rede digital amplia-se a velocidade e a abrangência

da abordagem, tornando viável o contato a distância com retornos muito mais

imediatos. Além disso, cada vez mais os indivíduos e as comunidades no

ciberespaço deixam marcas, rastros através de conversas em fóruns, listas de

discussão e produção de vídeos, sons, textos e imagens, facilitando o

levantamento de documentos espontaneamente gerados. É possível atualmente se

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Os acadêmicos contemporâneos e o contexto emergente da cibercultura 109

coordenar pesquisas sem sair da frente de uma tela de computador conectado em

rede.

Após revisarmos conceitos e suas consequências na forma de “rupturas” na

“base da muralha” formada pela tradição acumulada pelos suportes impressos,

vamos no próximo capítulo mapear em detalhes como foram detectadas essas

brechas em outros estudos realizados em diversas partes do mundo nos últimos 20

anos, privilegiando os trabalhos que se basearam em dados empíricos, sejam

questionários em larga escala ou entrevistas com grupos restritos.

O objetivo é reunir estudos que abriram, em algum grau, a “caixa-preta” dos

pesquisadores acadêmicos e como estavam utilizando o computador e a internet

em suas atividades de pesquisa.

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3 Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêmicos do computador e da internet

Para que pudesse ter mais elementos para a interpretação dos dados deste

estudo, realizei um levantamento dos assuntos importantes surgidos na empiria de

outros pesquisadores em outros países, detectando tendências e recorrências nos

achados, tanto a respeito dos indivíduos quanto a respeito das condições de

entorno em que viviam. Assim sendo, analisei as pesquisas acadêmicas sobre o

uso dos suportes digitais no meio universitário, com maior enfoque para os

acadêmicos, tanto professores como os pesquisadores, provenientes de cursos de

pós-graduação. Nessa empreitada, elenquei estudos que surgem ainda na primeira

metade dos anos 90, momento inicial de expansão da internet pelo mundo, e

persistem até os dias de hoje, acompanhando a rápida evolução dos equipamentos

informáticos em duas décadas de transformações.

Vale aqui destacar três fatores que são decisivos para se analisar estudos

que abrangem duas décadas. O primeiro deles é que o grau de adoção e difusão da

internet e do computador dependem do nível econômico e das políticas de

investimento do país onde o estudo foi realizado. Junto a este fator está o ano de

coleta de dados que é determinante também a respeito dos tipos de aplicações e da

capacidade dos computadores disponíveis naquele momento (antes de depois da

Web 2.0, antes e depois da adoção em massa dos navegadores de internet com a

WWW, antes e depois da expansão dos bancos de dados de artigos acadêmicos).

O último fator é o público e o grau de recursos disponíveis na universidade onde o

estudo foi realizado, indo desde universidade situada em país periférico e com

baixo orçamento até as ricas universidades americanas, pioneiras na adoção de

tecnologias digitais.

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Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 112

3.1 Anos 90: apropriação da internet em seus recursos básicos

Os estudos sobre a academia e o modo como seus pesquisadores estavam

se apropriando da rede mundial de computadores, rede eletrônica ou

simplesmente internet40 começam já na primeira metade da década de 90 com o

artigo pioneiro de Walsh & Bayma (1996), sociólogos interessados no campo da

Comunicação Mediada por Computador (CMC).

Neste trabalho, realizado nos Estados Unidos da América, os autores

estavam preocupados com a inter-relação dos artefatos tecnológicos com os

arranjos sociais em que os diferentes grupos de pesquisadores estavam vinculados

em seus campos de pesquisa, visando traçar comparativos entre os diferentes

nichos e como tais arranjos mudavam de grupo para grupo. Para isso Walsh &

Bayma entrevistaram 67 cientistas entre os meses de janeiro de 1991 e outubro de

1992, provenientes de uma universidade estatal e uma universidade privada, nas

seguintes áreas: matemática, física, química e biologia experimental. Não houve

interesse no campo das ciências humanas, talvez por não existir naquele período

muitos usuários ativos.

Mesmo tendo se passado 20 anos da época de coleta de dados, o estudo

levantou questões bem atuais sobre os fatores envolvidos na vida de um cientista

que interferem nos usos que são feitos do computador e da internet pelos mesmos.

Os autores argumentam que a tecnologia informática é bem maleável, portanto

seria razoável se esperar que os fatores sociais sejam atuantes na maneira como a

tecnologia computacional é incorporada no trabalho desses cientistas, a exemplo

de posições de status em um grupo ou rotinas estabelecidas previamente e que

podem ser ameaçadas pela nova tecnologia. Segundo os autores, se as tecnologias

fossem totalmente autônomas a sua adoção seria realizada da mesma maneira

pelos diferentes grupos e locais, o que na prática não foi constatado no estudo.

O primeiro fator que vale a pena ser comentado aqui é a comunicação

entre os cientistas, que pode ser mais informal com mensagens trocadas sem

compromissos e com linguagem e formato mais livres; ou direcionada a acessos

40 A quantidade de nomes equivalentes varia nos artigos, mas querem dizer a mesma coisa: a rede mundial de dados que conecta computadores pelo mundo e que usam interfaces diversas, se destacando os navegadores de internet que ao longo dos anos 2000 vão se tornando a plataforma onde as aplicações de internet são acessadas.

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formais, como no caso da publicação de artigos científicos em revistas. Os autores

constaram que o tamanho do campo de pesquisa pode influenciar na aproximação

ou indiferença entre os cientistas, alguns se conhecendo pelo nome devido ao

pouco número de autores presentes em publicações, algo que se torna mais difuso

em campo de pesquisa com milhares de pesquisadores-autores.

Outro ponto levantado é a barreira representada pelo mercado, pela

lógica do capital representada pela disputa financeira no registro de descobertas.

A lógica de mercado acaba por inibir os pesquisadores de distribuir

informalmente mensagens que podem ser vitais para sua sobrevivência financeira

e mesmo das indústrias aos quais estejam vinculados. Vale a pena lembrar que o

estudo tratava de campos ligados à produção tecnológica, mas nada impede dos

mesmos receios existirem no campo de humanas com a escrita de trabalhos

originais, levando alguns pesquisadores e preservarem suas descobertas e as

vincularem somente em canais formais de comunicação (congressos, revistas

científicas, livros)41.

Um outro fator levantado por Walsh & Bayma (1996) seria o grau de

interdependência entre os pesquisadores, pois certos campos de pesquisa exigem

a formação de equipes de investigação e estas equipes podem estar espalhadas por

diversas partes do mundo, exigindo meios de comunicação para trocas entre seus

membros, de preferência rápidos e baratos. Cabem aqui as trocas via e-mail e

listas de discussão, que permanecem como recursos válidos até a presenta data.

Essa interdependência também tem ligação com a distribuição de dados

entre os pesquisadores que se comunicam com maior intensidade quando os dados

que necessitam não estão presentes no próprio ambiente de trabalho. Se os dados

necessários estão presentes em bancos de dados formais, como repositórios de

artigos e bases de dados informatizadas de um centro de pesquisa, a comunicação

pessoal com outros pesquisadores tende a cair. Aqui caberia o fator velocidade de

publicação, mais crítico no campo das ciências exatas e biológicas do que no

41 No Brasil existe o hábito de disponibilizar a tese ou dissertação em bancos de dados online de universidades ou em repositórios governamentais como o site Domínio Público < http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaPeriodicoForm.jsp>. Porém na Itália pude observar que a obra acadêmica era preservada para publicação em formato de livro, partindo esse desejo de muitos doutores formados que não disponibilizavam os arquivos para o público, opção esta oferecida pela própria biblioteca. Logo, a lógica de mercado para os trabalhos científicos não era exclusiva das ciências exatas e tecnológicas, se estendendo para a área de humanas, de acordo com a tradição acadêmica do país.

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campo das ciências humanas, o que pode gerar os canais paralelos de publicação

de rascunhos, os pre-prints, para que colegas de profissão acessem em rede

descobertas que demorariam meses para serem publicadas nos canais formais. Foi

constatado também que grupos pequenos e menos interdependentes, usavam com

mais intensidade outros meios de comunicação, como telefone, conversas

pessoais, fax e correios.

Interessante notar que no estudo de Walsh & Bayma (1996) há também o

fator desconhecimento da tecnologia, algo que persiste até hoje, com todo avanço

nos usos que tivemos, pois muitos recursos continuam a surgir e nem todos os

cientistas estão dispostos a acompanhar tais atualizações. Naquela época os

cientistas acusavam a internet e o computador de não permitir, por exemplo, o

envio de textos formatados, algo que já era possível. Por outro lado havia de fato

limitações tecnológicas para a atividade acadêmica de envio de gráficos e

fotografias, algo hoje em dia já superado pelo aumento da largura de banda. Dessa

forma, se observa que ainda havia uso intenso de aparelhos de fax no lugar do

envio de e-mails.

Por fim, os pesquisadores viram que nem sempre se aplicava a regra de

que o uso intenso de computador e de internet no campo científico se reflete no

uso intenso para atividades de comunicação. Eles constataram que no caso dos

matemáticos o uso intenso do papel e caneta para formulação de seus estudos

formava um contraste com a intensa troca de mensagens online que realizavam.

Dessa forma, Walsh & Bayma (1996) concluíram que o uso das novas

tecnologias era multideterminado e que se adaptavam ao modo de trabalho

previamente existente entre os cientistas, como por exemplo, a estrutura

organizacional geral e o ambiente de pesquisa específico dos mesmos (o contexto

local), assim como as mudanças institucionais decorrentes tendiam a forçar o

grupo de cientistas a adotar em sua totalidade as tecnologias quando estas se

encaixavam bem no perfil estrutural do campo de pesquisa. Com esta constatação

os autores recomendaram que as políticas de acesso a cientistas levem em conta o

campo de estudo ao qual pertencem, pois certas formas de conexão via internet

são mais adaptáveis a certos campos de pesquisa, enquanto em outros podem se

tornar nocivas ou pouco relevantes e consequentemente menos adotadas.

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Alguns anos depois, em maio de 1995, Lazinger, Ba-Ilan & Peritz (1997)

realizam uma pesquisa sobre usos da internet por acadêmicos da Universidade

Hebraica de Jerusalém, evidenciando que eram ainda poucos os estudos do gênero

e em geral bem limitados quanto ao escopo de realização, tratando de segmentos

bem específicos da universidade ou somente de usuários, não abrangendo os não

usuários (algo que nos dias de hoje não teria muito sentido, pois a atividade

acadêmica atualmente não se pode realizar, em sua totalidade, sem internet e

computador).

Na pesquisa os autores estavam interessados no comportamento de busca

de informação e nos usos propriamente ditos do computador e da internet, assim

como no modo como aprendiam a utilizá-la (modo formal ou autodidata),

procurando encontrar diferenças entre as disciplinas universitárias. Participaram

do estudo 462 acadêmicos (nas categorias professor, professor associado e

professor sênior) que responderam a um questionário enviado por correio

contendo 26 questões, a maioria de múltipla escolha. A participação entre ciências

humanas/sociais (Humsoc) e exatas/agricultura (Sciagr) foi equilibrada, não

apresentando um padrão definido entre os cursos. O único padrão de retorno foi

que os grupos com maior taxa de participação eram os que apresentaram maior

taxa de uso do computador e internet, tendendo aqueles que não usam não

perceberem utilidade em retornar o questionário.

No total dos respondentes 80,3% usavam a internet e 87,7% usavam

computador, sendo que o grupo de humanas/sociais (Humsoc) apresentava

percentual mais baixo com 70,4% de uso da internet em comparação com os

90,4% do grupo exatas/agricultura (Sciagr). Uma explicação possível para esta

diferença poderia ser o fato de que as instalações dos cursos de humanas e

ciências sociais não terem sido ainda, naquele momento, contempladas com

equipamentos informáticos suficientes e acesso amplo à internet (carência de

infraestrutura). Entre as faixas etárias, os professores sênior tinham taxas de uso

abaixo dos mais jovens, sendo essa diferença muito mais acentuada entre os

professores do grupo Humsoc, sendo importante lembrar que a internet e o

computador ainda eram tecnologias muito recentes, mesmo nas universidades.

Quanto aos recursos utilizados o que predomina é o e-mail, na quase

totalidade dos respondentes, usado principalmente para fins de pesquisa, embora

59% já o tivessem usando para contatos sociais. Curioso notar que alguns se

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Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 116

qualificaram como usuários de internet somente por terem uma conta cadastrada,

mas não a acessavam efetivamente. Um número expressivo de 25% dos usuários

de e-mail usavam a internet somente para este propósito, e outros usavam para

baixar arquivos, fazer buscas e participar de listas de discussão e newsgroups. Na

época do estudo o pico de mensagens de e-mail por semana era de cerca de 20,

com 28% dos respondentes recebendo mais de 20 mensagens no período, um

padrão bem abaixo dos atuais volumes de trocas de mensagens.

O percentual de usuários que aprende sozinho a usar a internet é alto, 90%

para o grupo Sciagr e 81% para o grupo Humsoc. Nesta época boa parte tinha

interesse em aprender mais sobre os navegadores de internet e as interfaces

gráficas, tecnologias recentes e, portanto, que chamavam a atenção frente aos

terminais operados com comandos de texto. Quanto ao contato com outros

colegas para fazer pesquisa cerca da metade dos entrevistados usava a internet

(57%) e 83% afirmaram que a cooperação com os colegas havia aumentado. Os

hábitos de contato estavam mudando também, com 53% usando menos o telefone,

mas essa mudança era mais lenta no grupo Humsoc. Já o acesso a bancos de dados

online crescia, substituindo serviços bibliotecários, para 46% deles, ajudando em

uma atualização mais rápida das pesquisas (43%), embora um pequeno número

tenha afirmado que a internet estava substituindo suas buscas em materiais

impressos.

Ainda no ano de 1995, Bane & Milheim (1995) publicam um estudo sobre

o uso que os acadêmicos estavam fazendo da internet, sem informar exatamente o

período de coleta de dados. O estudo foi feito através de questionário dividido em

14 áreas específicas, com questões sobre competência no uso do computador,

frequência de uso de e-mail, acesso a sites Telnet42, conexão aos recursos da

internet, aos serviços de FTP43 e aos softwares gráficos, assim como perguntas

sobre a importância do uso da internet para os respondentes. Foi enviado por e-

42 Telnet é um protocolo antigo, desenvolvido a partir de 1969, para ligar computadores em rede, ao modo do popular HTTP hoje utilizado na maioria das conexões feitas em navegadores de internet. O Telnet é um protocolo inseguro, pois transmite texto puro, sem criptografia, entrando por isso em decadência e abandono. 43 O FTP (File Transfer Protocol) é um protocolo para se transferir arquivos na internet, bastante utilizado nos anos 90 através de comandos textuais redigidos por quem acessava suas bases de arquivos. Atualmente existem inúmeros programas que escondem as linhas de comando através de interfaces gráficas.

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Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 117

mail a 231 listas de discussão de acadêmicos obtida na Kent State University, de

Ohio, nos Estados Unidos da América. Das 231 listas, 88 não estavam disponíveis

aos pesquisadores. Com os questionários respondidos via e-mail os pesquisadores

obtiveram um total de 1536 respostas.

Não houve intenção no estudo de distinguir acadêmicos de diferentes

campos de pesquisa, e sim os seus hábitos de uso de modo geral, especialmente as

frequências de acesso a recursos online. Embora o estudo tenha sido realizado nos

EUA e os participantes predominantes serem americanos (64%) e ingleses (12%),

países como Brasil, Austrália, Canadá, Dinamarca, Finlândia, França, Israel,

Itália, Japão, Suíça, África do Sul, Nova Zelândia e Alemanha também

participaram enviando respostas, mas em número bem menor.

O perfil encontrado foi de veteranos no uso do computador, em média 12,8

anos e já familiarizados com e-mail, média de 5,7 anos de uso e internet, com

média de 3,4 anos de uso. São respondentes que pertenciam à elite mundial de

internautas, que naquele período ainda eram aproximadamente 4,5 milhões em

todo planeta. Quanto à área de atuação em geral, 87% eram do setor acadêmico

educacional, enquanto 7,5% trabalhavam no setor comercial e 2,6% no setor

governamental.

Novamente constatou-se quem o e-mail era o recurso mais utilizado, com

88% dos respondentes declarando acesso mais de uma vez por semana. Como as

listas de discussão eram via e-mail não surpreende que 73% as acessavam várias

vezes por semana também. Com menos acesso estavam as revistas científicas, em

que 57,5% acessavam uma vez ao mês ou menos e 20% várias vezes ao mês,

semelhante aos bancos de dados especializados, com 58,9% de acesso uma vez ou

menos ao mês e 24,7% várias vezes ao mês. Estes números indicam que o hábito

de acessar documentos científicos eletrônicos ainda estava no início de sua

expansão.

Na época os navegadores de internet (protocolo HTTP) ainda não eram

populares e o serviço que predominava no acesso dos acadêmicos era o Gopher44.

O Gopher era utilizado mais de uma vez por semana por 30% dos respondentes.

44 O Gopher era um protocolo criado em 1991 para acesso de modo hierárquico a documentos através de menus de texto, no qual programas como Archie, Veronica e WAIS eram utilizados para acesso a essa base, tal como utilizamos hoje o Google Chrome, o Firefox e o Internet Explorer para as páginas da World Wide Web via protocolo HTTP.

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Serviços de FTP e alguns dos mais conhecidos sites de internet eram usados uma

ou menos vezes ao mês em média por 90% dos respondentes.

Os maiores problemas relatados no artigo eram sobre a dificuldade técnica

para se navegar na internet, com suas interfaces operadas de modo obscuro para

um usuário iniciante, assim como o acentuado tráfego de dados em certos sites

que os deixavam lentos. São problemas que hoje as modernas interfaces gráficas

resolveram em parte, assim como o aumento da largura de banda que permite hoje

o acesso a vídeos e acervos multimídia online.

Outro obstáculo, derivado de um período onde a internet ainda era

concentrada nos EUA, era a dificuldade de se achar os colegas na internet,

problema este hoje praticamente inexistente, visto que catálogos mundiais de

pessoas, as redes sociais, permitem a comunicação imediata com conhecidos em

todas as partes do mundo. Os autores relataram também que os acadêmicos

sentiam falta de um sistema de busca de recursos que fosse mais centralizado,

papel esse exercido hoje por motores de busca mundiais como o Google, Altavista

e Yahoo.

Outro estudo passado nos anos 90 que reportaremos aqui vem da África,

realizado na Universidade de Botswana por Fidzani (1998), interessado no

comportamento emergente de busca de informação e necessidades de informação,

a partir da introdução de novas tecnologias informáticas, com foco principalmente

na relação dos pós-graduandos (mestrandos) com as bibliotecas e os recursos por

ela oferecidos.

Os dados do estudo são referentes à coleta realizada entre janeiro e

fevereiro de 1997, a partir de um questionário distribuído para 223 pós-

graduandos, dos quais 144 retornaram, abrangendo as áreas de Educação,

Humanidades, Ciências exatas e Ciências sociais. A Universidade de Botswana

era um ambiente privilegiado no acesso aos recursos eletrônicos naquele país, um

“oásis no deserto” visto que em 1998 o acesso da população à internet, segundo os

dados do Banco Mundial45, era de apenas 0,6% (em 2010 chegou ao baixo índice

de 6%).

45 Todos os dados de taxas de acesso à internet podem ser consultados no site Google Public Data, disponível em < http://www.google.com/publicdata/directory>, que usa as informações geradas pelo Banco Mundial.

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Recursos como CD-ROMs e o OPAC (Online Public Access Catalogue)

tinham acabado de ser introduzidos pela biblioteca da universidade e a

preocupação central dos bibliotecários era que o treinamento inicial com os

estudantes que chegavam à universidade era insuficiente para que aprendessem

habilidades de longo prazo na busca de informação. Estavam preocupados com a

formação deles para que soubessem localizar, avaliar e utilizar a informação que

necessitassem ao longo de seus cursos. Os dados da pesquisa de Fidzani (1998)

serviam para dar suporte à organização de um curso que atendesse as necessidades

dos alunos da universidade.

Na revisão de literatura do autor, ele constatou que são inúmeros os fatores

envolvidos na obtenção da informação, listando três principais: (1) a atualidade da

informação apresentada, (2) a consciência da pessoa sobre os recursos para obter

informação e, por último, (3) a habilidade no uso de ferramentas de acesso a esta

informação. Muitos dos estudos revisados apontavam para a ausência de suporte

aos estudantes, mesmo os de pós-graduação, no uso dos recursos disponibilizados

pelas bibliotecas e que os professores partem da ideia de que seus alunos já sabem

como fazer a busca dos dados.

Vejamos então alguns dados obtidos no estudo de Fidzani (1998) quanto

aos pós-graduandos respondentes do questionário. Começando pelos recursos

mais utilizados durante os trabalhos feitos para o curso de mestrado, eles

relataram acessar com mais frequência os livros da biblioteca (60%), seguido

pelos livros didáticos (52%) e pelas revistas científicas (43%). Relataram também

o uso de apostilas (handouts) (38%), anotações de aula (35%) e dissertações

(12,5%). Quanto os recursos utilizados para pesquisa estavam em primeiro lugar

as revistas científicas (56%), os livros da biblioteca (53%), os livros didáticos

(26%) e com menos frequência as dissertações (20,1%), as apostilas (13,9%) e as

anotações de aula (13,2%).

Quanto aos locais utilizados para se achar tais recursos, somando as

porcentagens de respostas para “muitas vezes” e “às vezes”, se destacaram o

OPAC (busca em catálogo online), com uso frequente por 48% dos respondentes

e a busca de títulos de revistas científicas na própria biblioteca, também com 48%

de uso frequente. A busca nas estantes da biblioteca e nas fichas de catálogo da

biblioteca tiveram 40% e 41% de frequência de uso respectivamente. Como

interessam aqui os recursos digitais, cabe destacar que um pouco menos que o

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OPAC, os CD-ROMs eram usados com frequência por 30% dos mestrandos e

nunca por 26%.

Diante dos resultados, Fidzani (1998) afirma que os mestrandos

precisavam aprender mais sobre as ferramentas de busca como o OPAC, os CD-

ROMs e mesmo as fichas de catálogo da biblioteca, assim como dependerem

menos de notas de aula e apostilas como fontes de pesquisa. Ele atribui a falta de

atenção dos estudantes a fontes essenciais em uma pesquisa, como as dissertações

acadêmicas, a uma deficiência no suporte e na formação que os estudantes de

mestrado recebem, incluindo aquela feita nas bibliotecas, que supõe um saber que

os mestrandos não tinham.

Fechando a década, em 2000 foi realizado por Chang & Perng (2001) um

estudo semelhante ao de Fidzani (1998), desta vez na Universidade Tatung, em

Taiwan, com questionários respondidos por 416 estudantes de pós-graduação (362

de mestrado e 54 de doutorado) de nove departamentos (de um total de 550 pós-

graduandos). Depois da aplicação do questionário, 25 entrevistas foram

conduzidas para maior aprofundamento. O objetivo era conhecer as necessidades

de informação e hábitos de busca e saber os efeitos que as novas tecnologias

estavam trazendo no comportamento desses pós-graduandos.

Cabe como dado contextual que a universidade é de caráter privado e

estava recebendo forte concorrência dos altos investimentos públicos em novas

universidades por parte do governo, que atraía para si pesquisadores do setor

privado. Ela tinha 2506 estudantes no ano 2000, tendo a particularidade de

integrar o setor de pesquisa ao atendimento de necessidades do setor da indústria.

Ao contrário da baixa penetração da internet em Botswana, Taiwanm, a partir de

dados do Banco Mundial, tinha a taxa de 43% no ano 2000, já superior naquele

momento à atual taxa alcançada no Brasil, devido especialmente à ampla política

de acesso mantida pelo governo.

Entre os meios mais utilizados por eles estavam as revistas científicas,

tanto eletrônicas como impressas (85,9%) e as monografias / dissertações.

Também entre os resultados obtidos, está o baixo uso dos bancos de dados

eletrônicos, considerado intenso por apenas 20% dos pós-graduandos. Entre as

razões do baixo uso de bancos de dados eletrônicos estava a noção de que não

eram rápidos e facilmente acessíveis, incluindo a questão da língua, pois a maioria

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Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 121

estava disponível somente em inglês, assim como o próprio desconhecimento de

sua existência.

Entre as fontes de informação mais utilizadas pelos respondentes, em

ordem de importância, estavam: as citações e referências bibliográficas em

artigos; os materiais de coleções pessoais; a internet em geral; o OPAC; e por fim

as conversas com amigos de classe e professores. Os catálogos da biblioteca, os

índices de livros e os bancos de dados eletrônicos foram pouco citados (todos

esses itens foram apresentados listados no questionário). O uso de newsgroups já

vinha baixando nesse momento e a WWW já detinha 66% da fatia de utilização

entre os pós-graduandos.

Dessa forma, na Universidade de Tatung se percebeu que apesar o alto

nível de acesso à internet pelos pós-graduandos (93,5%), o uso de bancos de

dados eletrônicos ainda era baixo e metade dos respondentes admitiam que os

meios tradicionais eram ainda os mais importantes em suas pesquisas. Aprender

sobre esses novos meios talvez fosse a barreira mais forte, visto que muitos

priorizavam a facilidade de acesso e uso dos dados. Apesar disso, o estudo

constatou que as fichas de catálogo estavam migrando rapidamente para o sistema

de busca eletrônico da biblioteca e caindo rapidamente em desuso.

3.1.1 Considerações sobre os estudos dos anos 90

O que os estudos dos anos 90 mostram é uma preocupação inicial com a

utilização ainda recente do computador e da internet no universo acadêmico e, em

termos gerais, procurando diferenças entre departamentos e cursos quanto ao

perfil de uso e acesso. São estudos ainda não focados nos processos de autoria,

visto que a incorporação da internet e computador na escrita ainda estavam no

começo e suscitava questões como, por exemplo, o aprendizado técnico dos

recursos e mesmo a necessidade de se informar sobre a existência dos mesmos

através de cursos e treinamentos.

As diferenças entre o grupo de humanas e ciências sociais e o grupo de

ciências exatas mostrava um avanço maior de utilização no segundo grupo,

embora pudesse ser em decorrência da presença de equipamentos inicialmente nos

departamentos mais ligados à área tecnológica e mesmo devido à pouca exigência

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que os acadêmicos de humanas tinham quanto a materiais digitais para comporem

suas pesquisas, com o essencial estando em formato impresso.

Quanto aos usos nota-se que ainda estavam focados na comunicação

eletrônica via e-mail, o recurso mais usado e difundido entre os acadêmicos, que

ia aos poucos mudando a forma de comunicação entre eles, substituindo em parte

o uso, por exemplo, do telefone, do fax e dos correios.

Também já crescia o acesso a serviços de busca de referências online,

serviço antes feito por intermédio das bibliotecas e agora de maneira mais

autônoma conforme as bases de dados de artigos e materiais acadêmicos iam se

tornando amigáveis e abrangentes o suficiente para que o pesquisador não

precisasse ir presencialmente até o bibliotecário requisitar uma busca em seu tema

de pesquisa. Apesar disso, a ida à biblioteca e o acesso aos impressos

predominavam nos hábitos acadêmicos, até mesmo pela disponibilidade dos

materiais que ainda não se encontravam facilmente digitalizados nesses bancos de

dados.

Quadro 4 - Tendências nos usos de TICs por acadêmicos nos anos 90.

Tendências dos anos 90

Uso de recursos anteriores aos navegadores de internet

Lentidão de acesso e interface obscura como problemas.

Predomínio do e‐mail e listas de discussão

Substituição dos meios de comunicação tradicionais pelos digitais

Ciências humanas com uso mais baixo do computador e da internet que as ciências exatas

Serviços online começando a substituir o acesso presencial na biblioteca

Preocupação em informar sobre o acesso aos novos recursos e criar estrutura de suporte.

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Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 123

3.2 Anos 2000-2005: caminhando para os padrões atuais de utilização

O primeiro estudo dos anos 2000 foi realizado por Seyal, Rahman &

Rahim (2002) e vem da Ásia, de um pequeno país chamado Brunei, um sultanato

com cerca de 300 mil habitantes e que apresentava na época uma política de

investimentos em tecnologia da informação, visando o mercado externo, visto que

sua população e território eram muito reduzidos.

Em 2002, segundo dados do Banco Mundial, Brunei apresentava uma taxa

de penetração da internet em 15,6% e em 2009 chegou a 81,4%. Apesar da

infraestrutura impecável e de alto padrão, de modo semelhante ao estudo de

Chang & Perng (2001), os autores identificaram uma subutilização da internet

pelos acadêmicos de escolas técnicas e profissionais em Brunei, atribuindo a

fatores culturais e sistemas de crença.

Com este problema em mente os autores resolveram investigar nos

acadêmicos quais determinantes estariam por trás da adoção da internet, a partir

de um modelo composto de cinco fatores a serem testados: (1) facilidade de uso

percebida (o grau em que a pessoa acredita que usando um determinado sistema

estaria livre de esforço), (2) utilidade percebida (grau em que a pessoa acredita

que usando um determinado sistema poderia aumentar a performance em um

trabalho), (3) exposição ao computador (horas de uso), (4) posse do computador

(utilização em casa, por exemplo) e (5) características das tarefas.

Foram distribuídos questionários que continham quatro seções para medir

estes cinco fatores, a maioria das questões utilizando uma escala de Likert de

cinco níveis. Dos 340 acadêmicos das quatro escolas técnicas e profissionais de

Brunei, retornaram respondidos 166 questionários. O perfil dos respondentes era

de maioria masculina (69%) e grande parte abaixo dos 40 anos de idade (70%),

pertencentes a área de ciências exatas (computação em 24%, engenharia em 37%

e ciências em 10%) e com uso prolongado do computador (entre 1 e 5 anos em

32%, entre 5 e 10 anos em 30% e mais de 10 anos em 28%), correspondente ao

perfil das escolas técnicas e profissionalizantes selecionadas.

Entre os resultados encontrados, na escala que vai até cinco pontos, entre

os usos mais relatados pelos acadêmicos está a obtenção de informações para se

manterem atualizados sobre os novos desenvolvimentos (3,41), a busca de

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materiais de pesquisa (3,21), a busca de materiais para aulas (2,87), os usos

recreativos (2,73) e o aumento dos conhecimentos gerais (2,56). Os resultados

mostram um uso mais voltado a tarefas acadêmicas. A maioria, 51%, considerou a

internet muito importante e indispensável em seus trabalhos profissionais.

Após testes estatísticos os pesquisadores perceberam que os fatores posse

do computador e características das tarefas não eram fundamentais no uso da

internet para este conjunto de acadêmicos. Entre as descobertas feitas estava o

contraste de que enquanto 89% dos respondentes possuíam computador próprio,

cerca de 40% usavam somente processadores de texto e aplicativo de planilha

eletrônica. Um dado importante foi também a baixa variedade de tarefas exercidas

com o uso do computador e internet, pois dos sete itens perguntados (envio de e-

mails, download de materiais, visita a websites, ida a banco de dados, ligações

com voz sobre IP, criação de site para ensino e criação de site pessoal) somente

dois foram relatados pelos acadêmicos, indicando uma subutilização da internet.

Logo, o uso da internet tinha relação direta com a experiência de uso do

computador, a utilidade percebida e a facilidade de uso percebida. O caminho

então para a adoção da nova tecnologia passava primeiro pela avaliação da função

que a tecnologia exercia (utilidade) e de modo secundário pela facilidade de uso

que esta tecnologia tinha.

Seguindo nossa linha do tempo, Uddin (2003) conduziu um estudo com

acadêmicos da Universidade Rajshahi, em Bangladesh, que tem 25 mil alunos e

800 professores, sendo a segunda maior das onze universidades públicas do país.

Bangladesh é um país asiático de 140 milhões de habitantes no qual somente 200

mil acessavam a internet no início da década de 2000 (0,2%), devido a problemas

de infraestrutura e alto custo por parte dos provedores de acesso. Em 2009 a

situação não havia se modificado muito, com o acesso chegando a somente 0,42%

da população, segundo dados do Banco Mundial.

O objetivo do estudo era a identificação das necessidades de informação e

atividades de comunicação dos acadêmicos (professores), público privilegiado no

acesso à internet naquele país. As instalações de acesso à internet na universidade

eram recentes (janeiro de 2001), sendo que desde 1997 os serviços de e-mail eram

oferecidos aos acadêmicos em modo off-line. A coleta de dados foi realizada entre

janeiro e fevereiro de 2002, um ano após a entrada efetiva da internet na

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universidade, com 218 professores respondendo a um questionário impresso

elaborado pelo autor.

O perfil dos respondentes era de maioria do sexo masculino (90,3%) e

jovem (entre 25 e 32 anos eram 33,5% e entre 33 e 40 anos eram 25,2%). O

conhecimento sobre computador ainda era básico, com 30,3% se limitando

somente usar processadores de texto e 34% limitando seus usos locais a

processado de texto e planilha eletrônica. Um percentual de 8,7% deles indicava

nunca ter entrado em contato com um computador e 12% nunca teve contato com

a internet. O acesso à internet era basicamente institucional, pois somente 8,2%

acessavam em casa.

Entre os recursos mais utilizados na internet vinha em primeiro lugar o e-

mail (88%), seguido pela navegação na WWW (71%) e o download de arquivos e

revistas científicas (56%). O uso de newsgroups (18%), listas de discussão (8%),

multimídia (6%), chat (16%) e voz sobre IP (10%) eram um indicativo de que

aplicações que exigiam mais tempo (participação em listas e chats) ou mais

largura de banda (vídeo e áudio) eram evitadas, pela própria infraestrutura

limitada do local. Em uma escala de 1 a 6, o uso de newsgroup (1,9) e recreação

(1,82) foram citados como os menos frequentes no uso da internet, talvez porque

o local de acesso em sua maioria era feito em ambientes formais de trabalho.

Entre as atividades de busca de informação constantes no questionário as

que mais se destacaram entre os acadêmicos foram as de busca de informação

sobre outras instituições de pesquisa (74,3%), a busca de informações sobre

publicações (68,8%). Uma diferença geracional significativa estava na tendência

dos professores mais novos em procurar mais informações sobre locais para novos

estudos, como mestrado e doutorado, chegando a 80% enquanto os professores

mais antigos não usavam tanto para esta finalidade (21%). Na média os serviços

da biblioteca eram acessados por 29,3% dos respondentes, se destacando entre os

professores mais antigos um percentual de 48,4%, embora fossem limitados ao

OPAC e catálogos off-line disponíveis em CD-ROMs. O percentual mais baixo de

uso foi para a busca de locais de trabalho (18,3%), talvez pelo fato de sites

oferecendo esse tipo de serviço não existirem ou serem limitados na época em que

o estudo foi realizado.

Quanto ao uso da internet para comunicação, os professores mais jovens

ou iniciantes na carreira tenderam a predominar no total dos que contatavam

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especialistas no tema (53,4%) e dos que se comunicavam com instituições de

pesquisa no exterior (70,6%). A comunicação com colegas no exterior era

equilibrada e bem alta, usada por 63,5% dos respondentes. Em Bangladesh o

acesso à internet mesmo pelos estudantes universitários era baixo, logo, apenas

4,6% dos professores usavam a internet para esta finalidade. A comunicação face-

a-face ainda era preferida por mais da metade dos respondentes, sendo que na

média somente 48,3% enviavam mensagens de e-mail aos colegas locais na

universidade.

De modo geral, o estudo de Uddin (2003) demonstra que limitações

técnicas, junto à baixa experiência dos acadêmicos com a internet, inibem certos

tipos de utilização como entretenimento e comunicação pessoal, assim como

acesso a funções que exijam maior largura de banda, como multimídia e

downloads. Para 82,7% dos respondentes o principal problema estava na baixa

velocidade da internet e para 67,3% o problema também era a insuficiência de

instalações para acesso aos computadores e à internet. Por outro lado o estudo

revelou que os usos variam em boa parte pelo momento em que o acadêmico está

em sua carreira, algo não levado em conta em outros estudos relatados até o

momento, não perceptível quando o recorte está vinculado ao nível de ensino

(graduação, mestrado e doutorado).

Avançando um pouco mais temos o estudo de Junni (2007), realizado na

Universidade de Helsinki e na Universidade Sueca de Economia e Administração

de Negócios, ambas na Finlândia, sobre o efeito da internet na busca de

informação de estudantes de mestrado para suas dissertações. A Finlândia atingia

em 2003, segundo dados do Banco Mundial, uma taxa de 69,2% de penetração da

internet.

A pesquisadora analisou 219 listas de referências bibliográficas nos anos

de 1985 (71 listas), 1993 (75 listas) e 2003 (73 listas) com o objetivo de medir a

influência da internet na escolha das fontes de informação, incluindo a quantidade

de referências e a idade de publicação das mesmas46. Na segunda fase do estudo

46 Cabe esclarecer que no estudo a pesquisadora não fez a distinção entre suportes e sim entre os tipos de fontes de referência (artigos científicos, publicações de eventos, teses e dissertações, artigos jornalísticos, entre outros), justamente porque ao citar uma referência obtida na internet, nem sempre é obrigatório indicar o endereço eletrônico, quando é possível encontra-la em formato impresso (parte dos artigos científicos sai nos dois formatos).

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entrevistou, por telefone e e-mail, 48 mestres que concluíram seus cursos no ano

de 2003, abrangendo os cursos de Economia (15 entrevistados), Psicologia (17

entrevistados) e Matemática (16 entrevistados), 46% homens e 54% mulheres. As

entrevistas incluíram também dados quantitativos, obtidos em escala Likert de 5

níveis, 1 para nunca e 5 para muitas vezes.

Na primeira fase, os resultados apontaram que entre 1985, 1993 e 2003 o

número médio de referências aumentou no período 1993-2003, saltando de 25

para 27 e depois para 45 em Economia e de 54 para 53 e depois para 79 em

Psicologia. A área de Matemática não apresentou variação significante, indo 13

em 1985 para 10 em 1993 e 16 em 2003. Percebemos que a estrutura e os

objetivos do curso de Matemática são mais fortes que as escolhas dos indivíduos

quanto ao uso maior ou menor de fontes. Essa diferenciação quanto ao uso de

fontes se refletiu em todo resto do estudo, na maioria das vezes ficando bem

distante dos resultados de Psicologia e Economia que tiveram maior similaridade.

Um outro fato interessante no estudo foi que o aumento do número de fontes não

refletiu no número médio de páginas, que teve até queda significativa entre 1985 e

1993.

Quanto à idade média das fontes houve uma queda, porém o curso de

Economia apresentou estabilidade ficando em 7,5 anos em 1985, 7 em 1993 e 7,9

em 2003. O curso que teve maior queda foi o de Matemática, passando de 17,2

anos em 1985 para 18,6 em 1993 e 12 em 2003. O curso de Psicologia teve leve

queda, passando de 11,2 anos em 1985 para 12,8 em 1993 e 9,8 em 2003. De

maneira geral a internet parece ter influenciado essas quedas, mas também

evidencia que a literatura de base, mais antiga, continua sendo importante na

escrita das dissertações de mestrado, indo ao encontro de outros estudos que

apontam equilíbrio entre as consultas na internet e as consultas a materiais

impressos nas bibliotecas.

Já quanto aos tipos de fontes a internet parece ter influenciado

decisivamente, especialmente no uso de artigos científicos, que passou de uma

média 23,2% em 1985 para 27,9% em 1993 e 37,3% em 2003. Esse incremento

tem relação direta com o aumento do acesso às bases de dados online contendo

literalmente milhares artigos, o que permite maior internacionalização das

dissertações com estudos de diversos países além do de origem. A literatura cinza,

embora mais disponível na internet do que nunca, não teve aumento de

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participação, sendo que os mestrandos afirmaram que embora as encontrem em

buscas gerais na internet, eles não as citam por não inspirarem confiança e

qualidade.

As diferenças entre os campos de estudo foi bem marcante, sendo que 55%

das referências em Psicologia eram artigos científicos, caindo para 21% em

Economia e somente 13% em Matemática, campo este que utilizava em sua maior

parte (79%) livros do próprio curso, compêndios e anotações tomadas em aula.

Isso demonstra mais uma vez que a estrutura e objetivos de cada área definem as

proporções dos materiais utilizados, a exemplo da Economia que acessa mais

notícias de jornais e informações empresariais para compor seus casos, embora a

internet de maneira geral influencie todas elas, em maior ou menor intensidade.

Indo para a segunda fase do estudo, as entrevistas, quanto aos métodos de

busca de informação, o mais utilizado foi seguir as referências presentes em outras

publicações, chamado de citation chaining ou citation chasing, com a média de

3.8. É um método relatado por quem inicia a pesquisa e não conhece muito bem o

campo de pesquisa. O segundo método de busca foi acessar a biblioteca, com

média de 3.7 pontos, mantendo-se popular mesmo com a ascensão dos meios

eletrônicos de acesso. Os bancos de dados online, sejam de livre acesso ou os

pagos pela biblioteca da universidade, apareceram em terceiro lugar com a média

de 3.5 pontos, praticamente empatado em importância com a biblioteca física,

evidenciando o equilíbrio entre os vários meios de obtenção de informação.

As buscas não orientadas a um assunto apareceram com 3.3 pontos de

média, fossem elas presenciais ou no banco de dados das obras cadastradas da

biblioteca, indicando que a busca por novidades de modo não específico ainda

tem sua validade para se inteirar de assuntos recentemente debatidos. O

recebimento de materiais através de pessoas, colegas e professores, teve o índice

de 2.8 e a busca por ferramentas generalistas, clicando em links obtidos nas

pesquisas, esteve em sexto lugar com média 2.7, indicando que não agrada aos

estudantes de mestrado a grande quantidade de dados obtidos e o tempo

necessário para ver os links um a um. Os sites buscadores também tiveram média

semelhante, somente 2.6, coerente com a categoria anterior e indicando que o

excesso de dados retornado leva os estudantes e usar os serviços oferecidos pelas

bases de dados especializadas. Os métodos menos utilizados foram as dicas

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recebidas de amigos, professores e especialistas (2.6) e os serviços de alerta de

novas publicações (1.1).

Quanto ao uso da internet para obter informações, a média de referências

obtidas nela foi de 32% do total citado na dissertação, a partir da estimativa dada

pelos entrevistados e não aquela contada nas próprias dissertações. Esse resultado

é coerente quando vemos que em primeiro lugar, com média 4, os mestrandos

obtinham suas fontes por empréstimos com a biblioteca da universidade ou

mesmo copiando partes dos materiais, índice equilibrado entre as diferentes áreas

entrevistadas. Já os bancos de dados online, com download de textos, tiveram nota

média bem mais baixa, em 2.7, sendo surpreendente a diferença entre as áreas de

economia (3.3), psicologia (3.6) e matemática (1.3), pois se esperava que uma

ciência exata fosse protagonista nesse tipo de fonte.

Com menor significância vieram as páginas de editores (1.7) e de autores

(1.4) mostrando que a biblioteca gera maior confiança sobre a relevância e

validade dos materiais obtidos. Com média 1.4 o empréstimo bibliotecário

também evidenciou a falta de paciência dos mestrandos em esperar o material que

precisam, assim como não se mostraram muito confiantes em entrar em contato

diretamente com autores para solicitar cópias impressas (1.3) ou cópias

eletrônicas (1.1), alegando que não gostariam de aborrecê-los. O fato de já

encontrarem os materiais nos bancos de dados online pode ter contribuído para

este baixo contato direto com autores.

A formação formal dos mestrandos foi detectada como deficitária para a

busca de informação. Cerca de 48% receberam treinamento, mas para 39% não foi

suficiente o tempo do curso, e faltava conectar com algum seminário ou curso que

falasse de metodologia. Muitos não sabiam, por exemplo, que poderiam acessar

bases de dados em casa, outros não sabiam usar palavras-chave em buscas que

retornassem eficientes e alguns se achavam incapazes de lidar com o excesso de

informações obtidas em suas buscas.

De modo geral, o estudo apontou que o uso de bases de dados online foi

umas das principais mudanças que a internet vem causando no acesso dos

mestrandos à informação, aumentando o percentual de presença dos artigos

científicos. Apesar disso, o uso de recursos tradicionais convive e ocupa lugar de

destaque nas buscas, não tendo sido necessariamente substituído. No geral, houve

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Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 130

um aumento do número médio de fontes, mantendo as tradicionais e fazendo a

média de idade das mesmas diminuir.

O quarto estudo selecionado foi realizado por Barret (2005) na University

of Western Ontario, no Canadá, a respeito dos hábitos de busca de informação de

pós-graduandos em ciências humanas. Foi um estudo qualitativo de caráter

exploratório com dez entrevistas abertas, três com participantes do curso de

mestrado e sete de doutorado, alguns no início do curso, outros no meio e outros

já formados. As entrevistas foram realizadas em junho e julho de 2004. A

importância deste trabalho está em separar o grupo de humanas dos outros pós-

graduandos e evidenciar algumas de suas singularidades. Como o estudo relata

hábitos através de depoimentos e não de estatísticas, cito aqui os assuntos que são

mais relevantes a respeito dos suportes utilizados no dia a dia dos pesquisadores.

Quanto aos usos de TICs, os participantes apresentaram um perfil

multivariado de acesso aos meios de informação, incluindo bancos de dados de

revistas eletrônicas, CD-ROMs, buscadores via internet e sites, utilizados muitas

vezes como ponto de partida para encontrar fontes impressas em bibliotecas e

livrarias. Evidenciou-se pelos depoimentos que as TICs se tornaram muito mais

presentes e comuns no dia a dia de pesquisa dos pós-graduandos em ciências

humanas e que inclusive se tornaram elas mesmas tema de pesquisa para alguns

deles.

O rastreamento de fontes pelas citações e referências de artigos e livros

(citation chasing) foi frequentemente citado como técnica para se lidar com o

excesso de fontes disponíveis, ao modo de um trabalho de detetive para se

conhecer mais profundamente a literatura do campo de estudo escolhido. Outro

método de busca comum seria o rastreamento físico de fontes através da visita às

estantes de livros da biblioteca, pois o título de um trabalho nem sempre evidencia

o seu conteúdo.

Essa forma de busca, ou “saber como fazer as coisas” foi a principal

diferença detectada pelos entrevistados em relação aos estudantes de graduação,

um senso de responsabilidade por estar fazendo um trabalho mais profissional.

Quanto aos seus orientadores e professores, os pós-graduandos disseram que eles

possuem maior experiência e entendimento do campo de estudo e com isso são

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Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 131

mais eficientes e gastam menos tempo nos estágios iniciais de pesquisa. São

diferenças relacionadas ao momento de carreira do pesquisador acadêmico.

Os entrevistados enfatizaram a necessidade de se trabalhar com fontes

primárias em ciências humanas, a exemplo de arquivos institucionais e coleções,

entrevistas, manuscritos originais e livros mais raros, tendo necessidade inclusive

de viajar em busca de tais materiais. Não seriam fontes facilmente encontradas em

buscas online.

Os colegas e os orientadores foram citados como influentes na descoberta

de fontes eletrônicas. Eles reconhecem a rapidez dos meios eletrônicos em relação

aos catálogos impressos, mas reclamam do gap entre as gerações mais novas,

incluindo professores mais novos, com as gerações mais velhas quanto ao acesso

aos meios eletrônicos, identificando que a geração atual irá suplantar o antigo

medo em relação às tecnologias digitais na área de ciências humanas.

Quanto ao contato com outras pessoas, eles admitiram que o caráter da

pesquisa em humanas é mais solitário e com raras colaborações, somente em

projetos que as exigem. O contato mais citado foi com os orientadores e depois

com especialistas no tema, com conselhos sobre a temática e dicas de fontes. Os

bibliotecários foram citados para ajudar quando materiais são difíceis de serem

encontrados.

Outro estudo destacado deste período vem de George et al. (2006), feito

com entrevistas semi-estruturadas em larga escala com 100 pós-graduandos, de

mestrado (36%) e doutorado (64%), representando todos os departamentos e

disciplinas da Carnegie Mellon University, na Pensilvânia, Estados Unidos da

América. As entrevistas foram feitas entre março e junho de 2004 e abarcaram as

disciplinas de Arte e Arquitetura, Política e Negócios, Ciência da Computação,

Engenharia, Humanidades e Ciências exatas.

O objetivo proposto foi investigar o comportamento de busca de

informação durante a condução da pesquisa, a partir de fatores como influência de

pessoas, da internet e da biblioteca na vida acadêmica dos entrevistados. Com

entrevistas curtas e devidamente categorizadas o estudo pode traduzir então em

números o perfil de respostas dos entrevistados e também detalhar os usos mais

comuns da internet naquele momento.

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Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 132

A primeira constatação dos pesquisadores foi que os estudantes de pós-

graduação formam suas redes de contato com aqueles que estão mais próximos,

como orientador, professores, colegas de pesquisa e mesmo os responsáveis pela

biblioteca, para obtenção de recomendações (65% para professores e 34% para

colegas de curso) ou obtenção de materiais (58% para professores e 30% para

colegas). Cerca de 40% dos entrevistados afirmaram pedir auxílio ao pessoal

especializado na biblioteca que os ajudam a focar melhor a pesquisa e as palavras-

chave utilizadas, assim como indicar novas fontes de informação.

São poucos os que relataram contatos fora da universidade (12%),

proporção essa que avança entre os que estão fazendo o curso de doutorado. O

contato é uma forma de cortar caminho e obter fontes para seus assuntos de

interesse, tais como livros, artigos, websites, nomes de pessoas que são centrais no

campo de pesquisa e dados que sejam cruciais. Só 4% não relataram esse tipo de

contato com professores e 27% não relataram contato com colegas. Entre as

formas de contato temos a conversa face-a-face, e-mails, seminários de pesquisa,

grupo de pesquisa ou congressos. É comum os grupos de pesquisa desenvolveram

bases de dados com materiais a disposição de seus integrantes e desenvolverem

debates internos e trocas de experiências.

Quanto à internet, todos relataram utilizá-la, tanto em serviços de intranet

da biblioteca quanto no uso pessoal da rede. Para 77% a internet se tornou um

método primário e essencial para realizar os primeiros passos da pesquisa (saber

por onde começar) ou aprofundamentos após conversas com o orientador. A

internet, para 48% dos entrevistados, serve para ganhar tempo nas buscas, para se

pesquisar em grandes massas de dados de forma cômoda, baixando-se e

imprimindo-se os materiais. Entre os que usam a internet fora da biblioteca 73%

faziam suas buscas via Google e 48% através de citações e referência no próprio

material (citation chaining). Nas buscas via Google, 50% buscavam artigos

científicos para manterem-se atualizados e 68% websites em geral, como sites

pessoais, do governo, acadêmicos, de notícias e de empresas. Apesar disso, 16%

reclamaram da variedade de informações obtidas nas buscas, com muitos sites não

confiáveis e sem revisão dos pares.

Uma parte relevante do estudo foi sobre técnicas utilizadas na busca de

informação. Aqueles que não conheciam ou sabiam pouco sobre seu campo de

pesquisa tendiam a fazer buscas gerais (principalmente no Google) para sentir

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melhor o campo, o que gerava maior dispêndio de tempo e quantidade de fontes

irrelevantes acessadas, passando depois para o estágio de pesquisa onde as fontes

são mais conhecidas e os resultados mais relevantes. É no estágio de busca

avançada que ocorrem as buscas via citações e referências (citation chaining) a

partir de uma ou mais publicações relevantes (um livro ou um artigo),

percebendo-se a cadeia de citações e onde aparecem os autores com mais

frequência. Com a internet essa busca encadeada se torna facilitada, permitindo

acesso quase instantâneo aos materiais.

Quanto ao papel desempenhado pela biblioteca universitária, 55% dos pós-

graduandos responderam ser importante, sendo mais expressivo na área de artes

(75%) e humanidades (60%) e tendo o menor índice entre aqueles da área de

ciência da computação (21%). O uso de bancos de dados e acesso às revistas

científicas também foi bem alto, 78% e 61% respectivamente, pois são

considerados mais precisos que a internet em geral. A migração do formato

impresso para os documentos digitalizados já é bem evidente, se destacando entre

aqueles que justamente dão o suporte a essa migração, os pós-graduandos em

ciência da computação que lideram em velocidade tal acesso. O grupo de ciências

humanas também teve índices bem altos no uso de todos os serviços online

oferecidos pela biblioteca, com 95% para bancos de dados e 74% para revistas

eletrônicas online.

Apesar desse alto uso, 82% dos entrevistados relataram continuar indo na

biblioteca física, 83% buscando livros e 58% buscando revistas científicas

impressas. Não houve muita diferença entre as disciplinas, se destacando as

humanas pelo alto índice de acesso a revistas científicas impressas, em 80%,

talvez por estes materiais ainda não estarem digitalizados e por terem vida útil

maior do que em outros campos do saber. Outra questão relatada foi a dos livros

impressos serem mais cômodos para leitura que os e-books e da biblioteca

apresentar materiais que só existem em formatos como microfilme e gravações de

áudio, não encontradas ainda em formato digital. Também foi relatada a

necessidade de ir à biblioteca para se aproveitar a infraestrutura para trabalho,

impressão de materiais e mesmo entretenimento. A área de humanas, frente à

média de 58%, teve 75% de uso do serviço de empréstimos entre bibliotecas,

indicando um não contentamento com o acervo local oferecido.

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Embora o acesso seja alto dos serviços online, a dificuldade técnica de

acesso às plataformas foi citada por 42% dos entrevistados, incluindo problemas

com interface dos sites, confusão para se achar bancos de dados relevantes, buscas

internas não adequadas, falta de materiais mais antigos e configuração de acesso

remoto.

Já no Brasil destacamos o estudo de Pinheiro (2003) cujo interesse foram

as práticas de comunicação e informação de comunidades científicas brasileiras na

internet. Para tal intento, foram respondidos 1307 questionários de um total de

7805 pesquisadores do CNPq contatados pela pesquisadora. Pela pesquisa ter sido

realizada entre 1998 e 2002 e sem especificação de data do envio do questionário,

optou-se então por coloca-la no fim desta seção de revisão, considerando-se a

coleta de dados e seu tratamento já na década de 2000.

O perfil dos respondentes foi de pesquisadores experientes, com mais da

metade na faixa dos 41 e 50 anos de idade e depois entre os 51 e 60 anos. Os

cientistas jovens, entre 20 e 30 anos tiveram participação pouco significativa. A

maior parte, 73,3% iniciou o uso das redes eletrônicas (incluindo as redes pré-

internet) entre os anos 1990 e 1999 e um expressivo número (16,1%) entre 1980 e

1989, acompanhando desde o início da antiga RNP (Rede Nacional de Pesquisas)

lançada em 1989, algo que não surpreende, pois é no segmento da pesquisa

universitária que a internet começou a ser implantada. A pesquisa também

demonstrou a incorporação da internet no dia a dia dos pesquisadores brasileiros,

com 87,2% a utilizando diariamente.

O Brasil já mostrava um desenvolvimento considerável quanto ao acesso

dos pesquisadores à internet no início dos anos 2000. Cerca 31,8% tinha acesso

somente no local de trabalho e 62,4% apresentava acesso simultâneo em casa e no

trabalho. As dificuldades maiores naquele momento eram derivadas da conexão à

rede, sendo para 66,7% um problema muito relevante ou relevante, e sem segundo

lugar a falta de suporte técnico com o índice de 49%. Já a barreira linguística era

um problema irrelevante para 67,3% seguida pela falta de treinamento vista como

irrelevante ou pouco relevante para 73,1%. Os resultados então mostram que antes

de serem pessoais (conhecimento) os problemas eram, naquele momento, mais de

infraestrutura e manutenção dos equipamentos, em uma época que predominava

ainda o acesso discado, via linha telefônica, à internet.

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Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 135

Foi interessante notar que as atividades de comunicação dentro do âmbito

científico já dominavam a vida dos pesquisadores no Brasil, tanto no âmbito

formal quanto informal. A comunicação com os pares era uma rotina para 96,4%

dos respondentes e com pesquisadores de outras áreas alcançava 73,5%,

ampliando as possibilidades de laços de escrita numa rede maior que a própria

base física de pesquisa (empresa, universidade, indústria).

Fazia parte da rotina a submissão de trabalhos a congressos (92,5%) e a

periódicos (83,4%) e a comunicação com fins didáticos (89,1%) indicando que o

acesso à internet por parte dos alunos universitários já era bem significativo. A

circulação de trabalhos antes da publicação (pre-prints) atingia 75,4% dos

pesquisadores. Dessa forma, apesar dos obstáculos, a internet entrava como fator

indispensável na rotina de compartilhar e submeter publicações aos pares, até

mesmo porque a comunicação via internet é extremamente necessária em países

fora do eixo Europa-EUA e com grande extensão geográfica como o Brasil, além

de apresentar a vantagem de cortar custos com correios para envio de materiais e

telefone para debates sobre os trabalhos científicos.

Quanto ao uso das TICs em termos de serviços de comunicação

oferecidos, os que receberam maior percentual de avaliação como muito relevante

e relevante foram o e-mail (98,1% de 1140 respostas) e as listas de discussão

(42,4% de 941 respostas), meios assíncronos e que exigem pouco uso de dados da

rede. Os serviços que envolviam comunicação direta, em tempo real ou que

exigiam maior largura de banda, foram avaliados como pouco relevantes e

irrelevantes por grande parte dos respondentes, tendo os seguintes índices de

rejeição: salas de chat (92,3% de 808 respostas), teleconferência (79,7% de 793

respostas), IRC47 (90,8% de 586 respostas) e newsgroup (79,2% de 776

respostas). A participação direta, com recebimento e transmissão de informações

em listas de discussão e chats foi considerada pequena, 21.5% dos respondentes.

Apesar da baixa diversidade de recursos utilizados no início da década

para comunicação interpessoal, a internet era a primeira fonte de informação para

61,5% dos respondentes para uma busca inicial de um tema, seguida pela

47 O IRC, sigla para Internet Relay Chat, é um protocolo de comunicação via internet, ao modo do conhecido HTTP, só que utilizado para salas de bate papo, conversas privadas e troca de arquivos. Foi criado na Finlândia em 1988 e amplamente utilizado nos anos 90 através de programas que serviam para acessar os servidores que faziam uso do protocolo. O manejo das salas, como criação e convite de pessoas, era feito principalmente através de comandos em formato de texto.

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Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 136

biblioteca com 22,7%. A maioria também disse privilegiar os recursos eletrônicos

(quase 800 respondentes) em comparação aos que usam somente o impresso

(cerca de 250 respondentes) e os dois simultaneamente (cerca de 200

respondentes). As diferentes modalidades de acesso a documentos eletrônicos

estavam equilibradas em termos de relevância, somando-se as categorias muito

relevante e relevante: bibliografias (89,1% de 980 respostas), bases de dados

(85,9% de 965 respostas), sites de eventos (83,7% de 989 respostas), bibliotecas

virtuais (81,9% de 977 respostas). A pesquisadora enfatizou que as respostas

podem se misturar, visto que na rede os diferentes recursos se mesclam, como

certas bibliotecas virtuais que também possuem bases de dados e catálogos de

bibliografias.

Logo, esta pesquisa evidenciou um amadurecimento progressivo da

comunidade científica brasileira no uso de recursos eletrônicos já bem

incorporados no cotidiano dos pesquisadores, embora estejamos falando da

primeira parte da década de 2000, em que o predomínio dos usos estava em listas

de discussão e e-mails, com o acesso a sites de eventos, revistas científicas online

e bases de dados online ainda em plena expansão.

3.2.1 Considerações sobre os estudos entre os anos 2000 e 2005

O início dos anos 2000 ainda mostra que embora a internet estivesse

avançando a passos largos, a variedade de usos por parte dos acadêmicos ainda

estava sendo baixa, muitas vezes se limitando a tarefas como envio de e-mails,

participação em listas de discussão, uso de processadores de texto e planilhas

eletrônicas. Os serviços ligados a protocolos como FTP, IRC, Gopher diminuíam

e davam espaço ao uso predominante da internet através do protocolo HTTP, com

suas páginas reunindo serviços antes espalhados em outras aplicações. Dessa

forma, o problema de reunir as buscas em um só lugar, evidenciado nas pesquisas

dos anos 90, era resolvido pelas buscas em motores de larga escala de penetração,

como o Google, o Altavista e o Yahoo.

Limitações técnicas e de acesso eram frequentes, pois em países que não

faziam parte do eixo dos países desenvolvidos ainda faziam-se investimentos

iniciais para o acesso, com os acadêmicos apresentando consequentemente menor

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Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 137

experiência de uso e menor diversidade de aplicações acessadas, até mesmo pela

falta de conhecimento das mesmas. O Brasil encontrava-se no meio termo, com

alto índice de uso diário, mas com pouca diversificação, especialmente em

aplicações síncronas (chats) e de alto consumo de largura de banda

(teleconferências e aplicações multimídia em geral).

O momento da carreira, a geração a qual pertence, a área de estudo do

acadêmico, a infraestrutura oferecida na universidade, o momento em que o

acadêmico está em sua formação (graduação, mestrado e doutorado) são fatores

estudados e que influenciam o acesso e uso da internet, pelas próprias

necessidades e demandas que cada um desses fatores condiciona. Logo, estudar o

computador e a internet isoladamente não é eficaz para se entender sua adoção

pelo acadêmico e localizar o sujeito em seu contexto pessoal, profissional e social

se torna fundamental em qualquer pesquisa.

Um fato interessante nos estudos de Junni (2007), Barret (2005) e George

et al. (2006) foi a constatação de que os acadêmicos de ciências humanas estão já

nesse período familiarizados com a internet e o computador, não sendo mais os

usos como fonte de busca de informação uma especialidade das ciências exatas.

Porém, a especificidade da área de humanas, com pesquisas que necessitam

muitas vezes de materiais que só se encontram impressos ou em ambientes

afastados da universidade acabam por limitar certas pesquisas usando a internet

como fonte, pela falta de digitalização desses materiais. Talvez com o tempo a

digitalização dos materiais mais antigos aumente e essa especificidade não fique

mais tão evidente.

Os estudos de Junni (2007) também mostraram que antes de substituir a

busca de materiais físicos, as busca em bases de dados na internet se tornaram

complementares e mais intensas quando se referem a materiais mais recentes e em

revistas científicas, diminuindo a média de idade das referências bibliográficas. É

uma época em que tablets para leitura de livros ainda não existiam, sendo a leitura

em tela do computador algo desconfortável. Logo, o equilíbrio entre o acesso ao

impresso e ao online é a tônica dos hábitos de pesquisa dos acadêmicos.

Quanto aos modos de busca, a técnica do encadeamento de citações

(citation chasing) como atalho frente a pesquisas que resultariam em muitas

referências e poderiam gerar confusão e perda de tempo é algo que foi

potencializado pela internet, pela facilidade de buscar e acessar documentos

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Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 138

rapidamente no próprio computador e também pelo próprio aumento exponencial

do número de materiais disponíveis.

Tal fato não impediu o relato de ajuda humana, como professores,

orientador, bibliotecários, colegas de classe e grupo de pesquisa, em geral as

pessoas mais próximas dos pós-graduandos. Assim, a internet entra como

complemento na delimitação do campo de pesquisa, não tomando lugar de

documentos impressos que também sejam centrais, como livros de referência. O

que percebemos então é uma forte inter-relação entre os meios humanos, físicos

(materiais) e eletrônicos, um levando ao outro de forma circular durante o período

de busca e uso de referências. Talvez a tendência, com o passar do tempo, seja o

domínio dos meios eletrônicos com o aumento e abrangência dos acervos e sua

disponibilidade em computadores móveis de fácil leitura.

O estudo de George et al. (2006) evidenciou que independente da área de

atuação, o contato com pesquisadores externos pelos pós-graduandos ainda era

baixo, aumentando somente com o avanço no curso de doutorado, não sendo um

problema somente da área de humanas em que pesquisas em geral são solitárias.

Já no Brasil, Pinheiro (2003) evidenciou que para os pesquisadores mais

experientes, já tendo passado pelos cursos de pós-graduação, a troca com os pares

era essencial e foi relatada por boa parte dos entrevistados, o que evidencia que o

momento da carreira e a experiência acumulada condiciona comportamentos de

busca da informação e comunicação entre os pares.

Embora já mais consolidada em acesso, as TICs ainda geravam problemas

para serem acessadas plenamente nas universidades, mostrando a necessidade de

cursos mais eficazes para a formação do pós-graduando em assuntos como busca

da informação e seleção de materiais. Já nos pesquisadores experientes (com

maior tempo de acesso e contato com computador e internet), em locais com

menor investimento em TICs, o problema era mais relacionado à falta de

infraestrutura e suporte técnico, pois quanto ao acesso aos recursos de pesquisa

esses já estavam incorporados no dia a dia dos mesmos.

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Quadro 5 - Tendências nos usos de TICs por acadêmicos no início dos anos 2000.

3.3 Anos 2006-2010: as rotinas básicas de pesquisa permanecem

Ainda nos estudos sobre busca de informação e comunicação entre

acadêmicos, Lopes & Silva (2007) realizaram, no Brasil, uma pesquisa com 324

docentes e pesquisadores de pós-graduação da Universidade Federal de Santa

Catarina, envolvendo 50 cursos de mestrado e 34 cursos de doutorado, nas áreas

de Ciências Exatas e da Terra, Ciências Humanas e Sociais e Ciências da Vida. A

novidade no estudo foi o trabalho com o conceito de desintermediação,

“considerada como a ausência de intermediários entre os recursos de informação e

os pesquisadores” (p. 21), sendo o acesso via internet a recursos informacionais

em formato eletrônico o principal responsável por este processo.

O perfil dos pesquisadores era de maioria masculina (66,7%), com 50% na

faixa acima de 40 anos de idade e 89,5% trabalhando vinculados em tempo

integral (dedicação exclusiva) à UFSC, sendo todos doutores formados na década

de 90. O estudo foi realizado através de um questionário contendo 20 questões

Tendências no início dos anos 2000

Acesso via navegadores de internet se consolida

Buscadores genaralistas, como o Google, crescem e se tornam complementares

Ainda existe o predomínio do e‐mail e listas de discussão

Apesar do crescente acesso, os acadêmicos se concentram em recursos básicos

Ciências humanas se igualando aos usos das exatas

Serviços online se consolidam frente ao acesso presencial na biblioteca, mas em equilíbrio.

A infraestrutura ainda é preocupação, especialmente a largura de banda e equipamentos em países não desenvolvidos.

A formação para uso dos recursos através da instituição ainda permanece deficitária e recebe crítica dos pós‐graduandos

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(abertas e fechadas) para coleta de dados, que foi enviado por e-mail ou entregue

de forma impressa.

A primeira opção no percurso de busca da informação foi a internet,

seguida pela biblioteca particular e depois pelas bibliotecas centrais e setoriais da

universidade. A proximidade física e a disponibilidade foram apontadas como

fatores determinantes para a escolha das duas primeiras opções. A falta de

recursos destinados ao sistema de bibliotecas e a obsolescência do acervo foram

apontados como problemas, levando 22,2% dos respondentes a um uso esporádico

da mesma.

Apesar de tais problemas, os pesquisadores relataram recorrer à biblioteca

para busca de periódicos científicos seguido pela busca de livros e uso das bases

de dados. Há um uso simultâneo dos formatos impresso e digital na busca de

informação. Para 51,5% o formato eletrônico era o preferido, seguido por 44,1%

que preferiam o impresso e somente 4,4% preferiam ambos. Isso mostra uma forte

polarização entre os meios e uma transição lenta para o formato eletrônico. A

acessibilidade, seguida pela praticidade e agilidade, fatores de ordem pessoal,

foram decisivos nessa escolha por formatos.

Na busca da informação os colegas e membros do grupo de pesquisa foram

indicados como primeira opção de mediadores, seguidos por colegas de outras

universidades, evidenciando a importância das fontes humanas, em especial

aquelas que estão mais próximas. Os bibliotecários tiveram índice baixo de

solicitação (o maior foi entre os pesquisadores de ciências humanas e sociais),

mostrando o ocultamento dessa categoria como mediadores diretos e que

proporcionaram, com o passar do tempo, uma maior autonomia para os

pesquisadores via uso de recursos eletrônicos em bancos de dados online. Isso se

reflete quando foram perguntados sobre recursos informacionais indispensáveis e

apontaram as bases de dados com texto completo e os portais de pesquisa online.

Mantendo a tendência dos anos 90, o e-mail foi o recurso mais utilizado

pelos pesquisadores, seguido pela consulta a revistas eletrônicas e bases de dados

online. Já as listas de discussão e demais recursos tiveram índice baixo, mostrando

ainda a pouca diversificação no uso da internet pelos acadêmicos. Quanto à

finalidade para 65,4% dos respondentes a internet serve principalmente para

comunicação e 22,2% para levantamento bibliográfico, coerente com os recursos

mais utilizados pelos mesmos. Surpreende o baixo índice de respostas para a

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circulação de pre-prints e para o envio de trabalhos a periódicos e eventos

científicos, levando a crer que a internet é altamente associada à comunicação

informal pelos pesquisadores da UFSC.

Com o avanço do acesso à internet não surpreende o acesso diário por

81,8% dos respondentes. Somente 0,9% declararam não usar internet. Nos

serviços de bases de dados online, o maior acesso foi ao Portal Capes, que na

UFSC reúne diversos bancos de dados como Web of Science, Institute for

Scientific Information, Elsevier/Science Direct, Medline e Scielo.

Seguindo resultados de estudos anteriores já referenciados neste capítulo, a

infraestrutura foi apontada por 33,3% como fator que dificulta o acesso à internet,

seguido pelo suporte técnico para 21,3%. Fatores que dependem do empenho

pessoal (dificuldade devido à língua e falta de habilidade de uso) foram

insignificantes. Já quanto à relação de uso da internet como opção preferida para

busca de informações não houve correlação significativa para faixa etária, regime

de trabalho e área de atuação, contrariando pesquisas feitas anteriormente que

mostravam gaps geracionais e também diferenças entre áreas de atuação. Isso

demonstra que a penetração da internet nas buscas está rapidamente se difundindo

e se normalizando como suporte padrão independente de idade e área de pesquisa.

Também não houve diferença entre as áreas de atuação quanto ao acesso

aos bancos de dados online oferecidos pelo sistema de bibliotecas da UFSC,

mostrando mais uma vez que a equalização do acesso entre as áreas está atingindo

um alto grau de amadurecimento. Por outro lado, o estudo ainda detectou que a

área de ciências humanas de sociais sofria mais com as barreiras de acesso de

infraestrutura, faltando equipamentos e suporte técnico a estes pesquisadores, algo

que não era relacionado com o perfil, mas com as condições de entorno.

Como reflexão geral dos autores, seguindo as tendências dos estudos

anteriores, foi recomendado aos bibliotecários divulgarem com maior precisão

seus serviços e ajudar no treinamento de seus usuários pesquisadores, formando-

os para que sejam competentes em lidar, avaliar e detectar necessidades de

informação. O investimento em interfaces mais amigáveis para os serviços

oferecidos também foi recomendado, visto que nem todos são experts no uso da

informática e do computador. O papel, portanto, da biblioteca, se torna oculto na

seleção e disseminação da informação para quem usa seus serviços, cada vez mais

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presentes em formato eletrônico, embora não dispense a manutenção do acervo

impresso, gerando o que os autores chamam de biblioteca híbrida.

O estudo de Aqil & Ahmad (2011), embora mais simples quanto a

formulações teóricas sobre os resultados obtidos, pode nos trazer algumas ideias

sobre a adoção da internet entre acadêmicos e pós-graduandos na Universidade

Aligarh Muslim (AMU), na Índia. A universidade foi fundada em 1920 e conta

com 250 cursos, sendo caracterizada como laica e aberta e todos os tipos de

estudantes. É preciso lembrar que na Índia em 2010, segundo dados do Banco

Mundial, a internet atingiu a taxa de penetração de apenas 7,9%, mostrando que o

país ainda possui forte desigualdade de acesso e infraestrutura precária.

O estudo dos autores, ambos bibliotecários, foi identificar as preferências

no uso da internet, especialmente os tipos de serviços usados e as fontes de

informação acessadas, questionando o grau de dependência e satisfação com estes

serviços. Foram distribuídos questionários ao público-alvo da pesquisa e

retornaram 91 respondentes.

Os locais de maior acesso são aqueles presentes na própria universidade,

sendo em primeiro lugar a biblioteca universitária com 43,7%, depois o próprio

Departamento (33,7%), o laboratório de informática (12,6%) e por último o cyber

café (9,9%). Nota-se, pelo menos entre os locais declarados, que o acesso em

meios individuais ainda não é padrão entre os acadêmicos e pós-graduandos

respondentes.

Entre as finalidades de uso, o estudo mostrou que em primeiro lugar está a

pesquisa (51,2%), seguida pelas atividades de comunicação (19,5%), se manter

atualizado (16,4%) e desenvolvimento profissional (12,8%). Sobre o acesso para

pesquisa, cinco bases de dados foram relatadas como as principais acessadas,

estando em primeiro lugar a J-Gateway (45%) e a Science Direct (20%).

Importante notar que o estudo não evidenciou usos relacionados ao

entretenimento e lazer pessoal, mas como o questionário não constava no artigo,

não foi possível saber se fazia parte das opções de resposta.

Quanto perguntados sobre a fonte de informação que mais os satisfazia,

para 46% era a internet, seguida pelos periódicos e revistas científicas (32,9%).

Bem distante apareciam os jornais (13,1%) e os colegas e amigos (3,3%). Para

30,8% dos respondentes a internet preenche de 50 a 100% de suas necessidades de

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informação quando comparada aos meios impressos e para 48,4% os meios

digitais preenchem de 26 a 50%. A internet também foi bem avaliada quanto ao

seu uso para objetivos acadêmicos, pois para 39,6% o uso era alto e para 52,7%

era médio. A satisfação com os meios eletrônicos, quando comparados aos

impressos, era muito alta para 15,4%, alta para 45% e média para 39,6% dos

respondentes.

Quanto aos obstáculos para utilização da internet se destacaram: a

velocidade lenta (47,7%) e a falta de computadores disponíveis (18,5%). Mais

uma vez este estudo apontou que as carências eram estruturais e não de falta de

domínio ou conhecimento de como utilizar as TICs na universidade, ao contrário

dos estudos com graduandos que mostram muitas vezes a necessidade de

formação e maior conhecimento sobre os recursos disponíveis online.

O que se conclui com este estudo é que apesar da Índia ainda possuir

problemas estruturais, o uso da internet passou a ser a principal forma dos

acadêmicos e pós-graduandos obterem informações científicas, especialmente

pelo acesso a periódicos eletrônicos, sendo necessária a resolução de barreiras

referentes à qualidade do serviço prestado, como compra de equipamentos novos

e aumento da velocidade de acesso. No geral o que se percebe é que os meios

impressos estão cedendo seu lugar aos meios eletrônicos, porém os tipos de

materiais acessados continuam sendo as tradicionais revistas científicas (os outros

formatos não foram detalhados no artigo dos autores).

É justamente o detalhamento do uso de revistas científicas eletrônicas que

o estudo realizado por Khan & Ahmad (2009) na mesma Universidade Aligarh

Muslim (AMU) e na vizinha Universidade Hindu Banaras (BHU) se aprofundou,

a partir da constatação do aumento dos mesmos e a substituição gradual das

revistas em formato impresso ao longo da década. Nele os autores objetivaram

entender o uso de revistas científicas eletrônicas pelos acadêmicos pesquisadores,

que responderam a um questionário entre os meses de outubro e novembro de

2007, 246 sujeitos na AMU e 232 na BHU.

Um percentual bem alto de acadêmicos estava consciente da existência dos

periódicos eletrônicos, 89,8% na AMU e 94% na BHU, sendo os locais mais

utilizados para acesso a biblioteca central da universidade, depois o laboratório

central de informática, os computadores do próprio departamento e por último o

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Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 144

cibercafé. Mais uma vez não foi relatado acesso em casa, talvez pela inexistência

do recurso de acesso remoto.

Entre os propósitos de uso estava o estudo para desenvolver trabalhos de

pesquisa (90%), a atualização de conhecimentos (84,4%), a escrita de artigos

(74,9%) e por último o desenvolvimento da própria carreira (48,9%). Foi

interessante notar o alto nível de frequência de consulta aos periódicos

eletrônicos, que para 51,8% dos respondentes era acessado diariamente e 2 a 3

vezes por semana para 23,5%. Isso mostra a integração e o acesso à internet

fazendo parte do cotidiano de pesquisa da grande maioria dos cientistas.

Para se informar sobre a existência das revistas eletrônicas, a maioria disse

que foi através dos periódicos impressos (84,3%) e pelos colegas próximos

(73,4%), o que surpreende, pois a internet só aparece em terceiro lugar com o

índice de 60%. Dessa forma percebe-se que a ida do pesquisador à biblioteca traz

novas informações, assim como a conversa com os colegas de trabalho e pesquisa,

para acessar posteriormente na internet as novas revistas eletrônicas sugeridas e

encontradas. Esse dado mostra uma complementariedade, ainda existente, entre os

meios impressos que levam aos digitais, talvez pela grande quantidade de

materiais ainda não digitalizados ou simplesmente pelo hábito dos acadêmicos de

ir ao encontro de fontes impressas.

Embora o uso dos periódicos eletrônicos seja alto entre os respondentes, o

grau de satisfação não foi absoluto. Somando-se as respostas de altamente

satisfeito (19%) com satisfeito (42,5%) chega-se a um total de 61,5%. As razões

para a insatisfação não foram mapeadas no estudo. Apesar disso, quando

perguntados sobre a utilidade dos materiais eletrônicos em seus trabalhos de

pesquisa, as respostas para muito útil (50,8%) e útil (31,6%) somaram 82,4%,

indicando que a aplicação dos periódicos eletrônicos é alta entre os pesquisadores

investigados. Para se chegar aos artigos e aos periódicos os motores de busca

Google (92,7%), Yahoo (74,5%) e Altavista (42,8%) eram os mais utilizados,

muitas vezes de maneira simultânea, provavelmente para se reverificar resultados

ou pelas funcionalidades específicas de cada buscador.

E para finalizar, o estudo confirmou a baixa qualidade da infraestrutura nas

duas universidades indianas. Entre os principais obstáculos relatados pelos

respondentes para acessar os periódicos eletrônicos estava o número limitado de

computadores (87,3%) e a baixa velocidade da conexão para downloads (92,2%).

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Por outro lado, a economia de tempo (67,6%) e a facilidade de uso (52,6%) e de

localizar os materiais (33%) foram apontadas como motivos para a escolha dos

periódicos eletrônicos, o que compensaria as dificuldades apontadas. No estudo

também foi constatado que os acadêmicos sentem ainda a falta de conhecimento

técnico mais apurado (64%) e de treinamento no uso dos periódicos (79%), o que

exigiria da universidade a realização de cursos para formação mais aprofundada

para o uso de suas bases de dados.

O estudo então aponta que embora as dificuldades técnicas ainda sejam

grandes em países menos desenvolvidos como a Índia, com baixo acesso à

internet e conexões mais precárias, a utilidade e facilidade do acesso eletrônico às

bases de dados mantém os pesquisadores cada vez mais “dependentes” dos meios

eletrônicos. Como em alguns dos estudos analisados até o momento, é preciso

desenvolver uma formação mais adequada aos acadêmicos para esse uso, visto

que com o avanço desta modalidade de acesso a tendência é que o uso de

periódicos impressos seja realizado muito mais para levantamentos de dados

históricos de uma disciplina do que para atualização da produção mais recente.

Partimos então para o estudo a seguir, que confirma essa tendência quanto aos

formatos tradicionais em novos meios, evidenciando que a “forma padrão” do

trabalho acadêmico se mantém, apesar do surgimento de novos tipos de fontes

online.

Trabalhando também com pós-graduandos, mas acompanhando o período

inicial de seus cursos de doutorado na Universidade de Hong Kong, Kai-Wah Chu

& Law (2007) realizaram um estudo com 12 sujeitos, 3 homens e 3 mulheres na

área de Educação e 3 homens e 3 mulheres na área de Engenharia, visando

comparar efeitos de cada área nas escolhas de fontes de informação.

O objetivo foi realizar um acompanhamento longitudinal para perceber a

importância e o entendimento sobre diferentes tipos de fontes de pesquisa ao

longo do tempo, indo da fase em que o pós-graduando é um novato até o

momento em que amadurece e se torna especialista em busca de informações.

Foram utilizados diferentes meios de coleta de dados, como entrevistas,

questionários e observação direta ao longo de 1 ano, com seis encontros, um a

cada 2 meses.

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Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 146

Em três momentos da pesquisa os pós-graduandos preencheram um

questionário com 26 tipos de fontes de informação, atribuindo notas de 1 a 5 de

acordo com a importância de cada um. Os 15 primeiros colocados foram: as

revistas científicas (4.7), os artigos de revisão de literatura (4.6), o orientador

acadêmico (4.5), os livros (4.3), as bibliografias (4.1), o autor do estudo (3.9), os

especialistas externos (3.9), as publicações de eventos (3.8), conferências

assistidas (3.8), teses (3.7), guias de escrita de tese (3.5), empréstimos

bibliotecários (3.4), outras bibliotecas locais (3.2) e bibliotecários de referência

(3.1).

O que se percebe é um predomínio de fontes formais e tradicionais usadas

na pesquisa, todas nas primeiras colocações, sendo que os artigos científicos estão

em primeiro lugar, seguindo a tendência do aumento da disponibilidade dos

mesmos pelos meios digitais. As fontes-pessoas, como orientadores e

especialistas, continuam em alta, confirmando o que estudos anteriores apontaram

como espécies de atalho para encontrar fontes mais precisas, assim como a

consulta a bibliografias e revisões de literatura como técnica de citation chaining.

A biblioteca está em posição intermediária acompanhada pelos eventos

científicos.

Na segunda metade, os meios menos utilizados são: os relatórios técnicos

(2.6), os grupos de discussão online (2.5), as publicações governamentais (2.4), os

livros de estudo durante o doutorado (2.3), as fontes estatísticas (2.3), os

documentos de padronização (2.3), as revistas (2.3), os jornais (2.1), as revistas

técnicas (2.1), as enciclopédias (2.1) e as patentes (1.8). Dessa forma, embora em

menor intensidade, esses meios ainda são bem equilibrados entre si e mostram

uma diversidade alta de tipos de fontes, incluindo as fontes não tradicionais, como

fontes jornalísticas e os grupos online para debate e discussão de assuntos. De

modo geral, o universo de pós-graduandos se mostrou tradicional com pequenos

focos de inovação trazidos pelo acesso a bancos de dados digitais, mas sem os

novos recursos informacionais gerados na Web 2.0.

As fontes foram agrupadas por Kai-Wah Chu & Law (2007) em 6

categorias distintas, sendo que as mais destacadas foram: Fontes orientadas à

pesquisa, Comunidade de pesquisadores e Suporte bibliográfico. As Fontes

profissionais, os Livros de ajuda acadêmica e as Fontes midiáticas e estatísticas

vieram na segunda metade, como menos utilizados. Logo, fontes tradicionais

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Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 147

como artigos científicos, teses e livros, assim como as fontes-pessoas como os

colegas de pesquisa, especialistas, bibliotecários, conferencistas e orientador estão

no topo das opções dos pós-graduandos. As outras são consultadas em menor

intensidade provavelmente para necessidades pontuais para composição do

estudo.

Ao longo do tempo, com o passar dos encontros realizados com os pós-

graduandos, categorias como Fontes midiáticas e estatísticas e Fontes

profissionais apresentaram queda de importância ao passo que Suporte

bibliográfico e Fontes orientadas à pesquisa aumentaram em importância. Entre

as causas para esta variação nas fontes consultadas os autores do estudo citam a

(1) falta de conhecimento, no início, de quais fontes seriam as mais relevantes, (2)

a habilidade em buscar as informações necessárias e (3) as mudanças nas

necessidades de estudo com o passar do tempo.

Muitas fontes não eram conhecidas em seu potencial no início do curso de

doutorado, por falta de conhecimento, e outras perderam importância, como os

artigos com revisão de literatura, as revistas técnicas e os livros de introdução ao

tema, após o doutorando ter se situado bem no campo de estudo e ter começado a

ir em artigos mais específicos. Dessa forma, o movimento de progresso do

doutorando vai do conhecimento geral do assunto escolhido, traduzido nos tipos e

qualidade de fontes que consulta, até o grau de especialista, objetivo este último

que se traduz na tese apresentada.

A busca por informações mais atuais possíveis se torna então muito

importante para o doutorando, se traduzindo na busca de artigos de revistas e de

eventos científicos como prioridade número um, seguida pelos outros tipos de

fontes, a exemplo dos livros e teses que possuem informações de embasamento,

mais sólidas que fontes midiáticas (jornais e revistas), porém um pouco menos

atualizadas que os artigos.

O estudo constatou também diferenças entre a área de engenharia e de

educação, especialmente quanto às necessidades de informação na área de estudo

escolhida que condicionam as fontes, a exemplo do maior uso de relatórios

técnicos e patentes entre os doutorandos de engenharia, visto que suas descobertas

refletem no campo profissional de maneira muito mais rápida. A autonomia do

doutorando em escolher seu tema também foi decisiva, sendo maior na área de

educação, que possui maior número de pesquisas independentes, do que na de

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Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 148

engenharia, onde os assuntos estão intimamente ligados à pesquisa do orientador e

ao orçamento recebido.

Um exemplo da relação tema-fonte de informação é a natureza mais

internacionalizada dos estudos de engenharia, que procuram consensos

tecnológicos globais ou soluções técnicas que precisam ser buscadas e

compartilhadas, o que leva os doutorandos a usarem mais os grupos de discussão

online, com avaliação média de 3.4 pontos, do que os de educação, com avaliação

média de 1.6 pontos. Outro exemplo é que no campo da educação estar a par das

notícias na mídia (jornais e revistas) é importante na compreensão de tendências

da sociedade, tendo alcançado média de 2.6 pontos, algo não muito relevante para

os pós-graduandos em engenharia que avaliaram com 1.6 pontos a importância

desses meios.

Dessa forma a pesquisa de Kai-Wah Chu & Law (2007) teve como mérito

a sua metodologia, pois ao contrário de todos os estudos relatados até aqui, os

autores optaram por não fazer somente uma “fotografia” de um momento

determinado dos pós-graduandos e nem misturar os sujeitos de diferentes períodos

de realização de suas pesquisas de tese. A visão longitudinal permitiu perceber as

mudanças de valorização de determinados tipos de fontes para outros tipos de

acordo com o andamento da pesquisa, evidenciando um movimento mais

dinâmico dos pesquisadores em um fluxo em que fatores como a necessidade de

informação, a área de atuação e estágio de maturidade da pesquisa vão

determinando os tipos mais acessados. A exemplo de outros estudos analisados

aqui, os autores recomendam uma personalização da formação dos doutorandos,

com ênfase nos tipos de fontes mais utilizados em cada área de pesquisa.

3.3.1 A internet e o computador entre os graduandos

Embora o foco nesta tese sejam os pós-graduandos, o estudo de Pimentel,

Carniello & Santos (2009) com estudantes de graduação nos oferece uma visão

bem atual sobre a formação universitária recebida para o uso de fontes acadêmicas

e não acadêmicas, visto que a coleta de dados ocorreu em fevereiro de 2009,

período em que, supõe-se, a internet e o computador já estão consolidados no

cotidiano dos universitários. Participaram do estudo 590 estudantes de uma

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Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 149

universidade em Taubaté, no Vale do Paraíba em São Paulo. Eles responderam a

um questionário que posteriormente deu origem a uma análise quantitativa dos

dados.

Quando solicitados a responder sobre o uso da internet como fontes de

consulta para estudo e pesquisa, 99% apontaram a utilização, sendo que para 90%

a consulta era realizada sempre e para 10% ocorria ocasionalmente, indicando alto

nível de utilização e frequência. Cerca de 28% consultavam sempre e 56%

ocasionalmente os livros próprios, um percentual alto, mas que não superava a

consulta à biblioteca universitária, visitada sempre por 41% e ocasionalmente por

49%.

Cerca de 33% nunca consultaram revistas científicas para seus estudos e

pesquisas e somente 16% as consultavam sempre, o que mostra a falta de

conhecimento dos estudantes sobre este meio de divulgação acadêmica. Quando

aos jornais e revistas jornalísticas impressas os percentuais foram muito parecidos

com o de consulta às revistas científicas, evidenciando que antes da falta de

conhecimento sobre a existência das mesmas, outros fatores estavam envolvidos,

como a agilidade de consulta às fontes digitais em comparação com o trabalho de

folhear as publicações na biblioteca. Dessa forma, a internet se destacou como

meio mais acessado pelos estudantes na busca da informação, seguido pela

biblioteca e pela consulta a livros próprios.

Quanto aos tipos de textos usados no estudo e pesquisa em primeiro lugar

vinham os capítulos de livros (421 respostas), algo coerente com as fotocópias tão

comuns entre os estudantes, e em segundo lugar surpreendia a categoria artigos

científicos (323 respostas), seguida pelos artigos jornalísticos em revistas (319

respostas). As notícias jornalísticas na internet, em portais online, somavam 297

respostas e os verbetes em enciclopédias online tinha 226 respostas. Dessa forma,

percebe-se um equilíbrio entre as modalidades de textos consultados, porém não

se sabe até que ponto os estudantes sabiam de fato distinguir artigos de revistas

científicas dos artigos de periódicos jornalísticos.

Para encontrar essas fontes, 386 estudantes afirmaram utilizar o motor de

busca Google, seguido em menor proporção por outros motores como Yahoo e

Cadê. Apenas 46 relataram utilizar a busca pelo Scielo, o que evidencia que o alto

uso de artigos científicos afirmado por eles talvez não seja compatível com o

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conceito de revista científica utilizado pelos pesquisadores profissionais e mais

atrelado às revistas jornalísticas de divulgação científica.

Por outro lado, um número alto de respondentes afirmou conhecer o Portal

de Periódicos da CAPES (127 respostas), mas não se traduzia em visitas e

consultas práticas aos artigos das bases de dados presentes no site. O site do

Google para consulta de artigos científicos, o Google Acadêmico, era conhecido

por 238 estudantes, o que se configura um possível atalho fora das bases de dados

assinadas pela biblioteca, visto que somente 126 estudantes relataram conhecer o

Scielo. Outros sites bem conhecidos dos estudantes eram o Universia Brasil (242

respostas) e o IBGE (393 respostas), mas são secundários para realização de

pesquisas acadêmicas.

Os usos da internet eram multifacetados para os universitários, sendo que a

atividade de lazer era praticada sempre por 74% deles e nunca por apenas 2%. O

uso para o trabalho era sempre para 58% e ocasionalmente para 27%. Já para o

estudo 74% a usavam sempre e somente 3% nunca. Dessa forma, ao contrário das

atividades relatadas pelos acadêmicos profissionais, o uso da internet pelos

estudantes brasileiros se configurava mais equilibrado, ou menos focado,

dependendo da interpretação.

O que se percebe nesse estudo é que o momento em que os estudantes

estão e as atividades solicitadas aos mesmos não exige o rigor e a atualização que

os pesquisadores de pós-graduação vivenciam em seu cotidiano, levando os

estudantes a trabalhar mais com as fontes tradicionalmente visíveis, como os

livros, ou as mais facilmente disponíveis como os websites da internet. Apesar

disso, seguindo a linha de outras pesquisas que detectaram esse problema, o

estudo recomenda dar-se maior atenção na formação do graduando para que se

alcance maior refinamento de informações, com estratégias que abarquem

diferentes tipos de fonte, com maior peso às que possuem caráter científico com

avaliação e controle de qualidade pelos pares.

Do mesmo modo que a pesquisa de Pimentel, Carniello & Santos (2009),

Selwyn (2008) nos oferece mais pistas sobre o universo dos graduandos e o uso da

internet com seu estudo feito na Inglaterra com 1222 estudantes de várias

universidades, durante o ano acadêmico de 2006/2007. O foco dele foram fatores

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sociais como gênero, etnia, passado educacional e experiência com a tecnologia,

sendo distribuído um questionário de autopreenchimento.

É importante observar que a ordem cronológica dos estudos foi invertida

para que sejam feitos os comparativos com o caso brasileiro, pois os dois focam

os suportes digitais como novos meios para o acesso de informações acadêmicas e

cabe aqui apontar semelhanças e diferenças nas pesquisas.

A ideia do autor foi entender o uso real das tecnologias pelos estudantes e

não o que eles deveriam estar fazendo, partindo de uma visão de que o jovem não

é “naturalmente” guiado para o uso de TICs e nem de que o não-uso seria somente

consequência de alguma causa psicológica como ausência de motivação,

conhecimento da técnica ou de habilidade com a mesma. Ele observa que a maior

parte dos estudos se refere a um jovem que estaria inerentemente inclinado a fazer

buscas de informação via internet, abordando, portanto, a infraestrutura

universitária, os investimentos feitos para facilitar o acesso do universitário à

internet e dos programas de formação e avaliação crítica de fontes de informação.

O perfil dos respondentes era composto 57% por mulheres, 89% por

“brancos ingleses” e 99% pertencentes à própria Inglaterra, com média de idade

de 19 anos. As ciências sociais tiverem 30% de respondentes, as humanidades

tiveram 20%, administração 11%, ciências médicas 10%, direito 9%, ciências

naturais 8%, artes 5% e exatas e engenharia somavam 8%. Dessa forma a

amostragem era bem equilibrada e representava o estudante médio inglês.

Vejamos então os usos da internet pelos estudantes a partir da pergunta

sobre frequência de uso nos últimos 12 meses. Começando pelo recurso mais

utilizado temos o e-mail, 80% usavam o tempo todo e 17% algumas vezes. Para

comunicação os newsgroups, as salas de chat e os mensageiros instantâneos eram

utilizados o tempo todo por 64% e algumas vezes por 22%. As redes sociais e

autopublicações (blogs) vinham em terceiro lugar, sendo utilizadas, o tempo todo,

por 55% e às vezes por 23%. A busca por informações para estudos universitários

e tarefas vinha em terceiro lugar, sendo usada o tempo todo por 50% e as vezes

por 40%. Dessa forma o uso para atividades requeridas nos cursos era bem alto e

estava próximo à frequência de uso para atividades tipicamente de lazer social

(chats, redes sociais) e de comunicação (blogs, e-mails).

Uma série de outras atividades vinha depois com taxas menores de uso,

como a navegação a esmo na internet, a leitura de notícias, o uso de bancos

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online, a compra de produtos, a busca de informações de lazer, os jogos

eletrônicos e downloads de programas e multimídia. Em último lugar estava a

participação em cursos online (EAD), com 4% participando o tempo todo, 11% as

vezes, 26% quase nunca e 59% nunca tendo participado. No caso inglês, a

disponibilidade de recursos complementares de educação online não era

suficientemente atrativa para os graduandos participantes do estudo.

O estudo também revelou que entre os graduandos que procuravam por

informações para seus estudos universitários e tarefas requisitadas em seus cursos,

os que tinham maior frequência de acesso eram os que possuíam equipamento

privado de acesso (frequência de consulta em 52%), em casa, por exemplo; para

os cerca de 10% dos respondentes só tinham acesso à internet no laboratório da

universidade e na biblioteca, a frequência de consulta era de 27%. Essas

diferenças se revelaram também entre os gêneros, sendo que as mulheres

acessavam mais frequentemente a internet para fins de estudo e tarefas dos cursos

(56%) do que os homens (46%).

Entre as áreas de saber, as menores taxas de acesso para esta finalidade

estavam entre os estudantes de humanidades (37%), artes e design (25%) e os de

arquitetura (37%). As ciências médicas apresentaram o índice mais alto, 59%,

seguido pelas ciências sociais (58%), mas a média entre os graduandos de outras

áreas se manteve próxima aos 50%. Idade, etnia e passado educacional não

tiveram influência nas atividades de busca de informações para estudos e tarefas

universitárias.

Dessa forma, enquanto os estudos com pós-graduandos tende a mostrar um

uso mais equilibrado entre os cursos universitários na busca e uso da informação

disponível na internet, principalmente após sua difusão e estabilização nos anos

2000, o estudo de Selwyn (2008) aponta que entre os graduandos a diferença para

finalidades acadêmicas continua existindo, ao menos entre os estudantes ingleses.

Uma hipótese para esta permanência é que a atividade de busca de

informação certificada em bases de dados online não se constitui um requisito

básico para cursos de graduação, sendo que materiais como livros, apostilas

distribuídas por professores e mesmo anotações feitas em aula são provavelmente

suficientes para a realização de tarefas acadêmicas requisitadas em áreas como

humanidades, artes e design e arquitetura.

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Tal fato já não ocorre em cursos de pós-graduação, onde a obtenção de

fontes seguras e que representem o debate acadêmico, ao modo das revistas

científicas online, faz parte das tarefas requeridas aos pós-graduandos. O

momento em que o estudante se encontra (início de carreira) e a cultura própria ao

curso escolhido (materiais requeridos para realização das tarefas) seriam então

fatores decisivos para a escolha dos modos de busca de informação.

Gráfico 3 - Percentual de utilização da internet (1990-2010) nos países onde os estudos foram realizados (Fonte: Banco Mundial, Indicadores do Desenvolvimento Mundial. Google Public Data Explorer).

3.4 O que os estudos anteriores apontam? Entre a conservação e o avanço no uso dos suportes digitais

Uma reflexão sobre os estudos feitos até a presente data é que o modelo

geral de atuação do acadêmico, com a busca de fontes em revistas científicas,

livros, teses, eventos e materiais complementares não parece ter sido alterado de

maneira profunda pelo aparecimento da internet. As fontes cinza, como

documentos trocados pelos pesquisadores com resultados ainda precoces e não

publicados em meios oficiais, e os sites da internet, em que textos são publicados

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Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 154

pelos próprios donos ou grupo de visitantes, pouco foram citados ou relatados nas

pesquisas.

Dessa forma, os estudos revelaram que a produção coletiva da Web 2.0

não tem chegado aos índices de referências citadas pelos pós-graduandos, que

preferem a segurança do material tradicional, buscando-os em repositórios

certificados pelos pares tanto na internet como nas bibliotecas universitárias.

Do mesmo modo, conforme já havia concluído em pesquisa anterior

(Rosado, 2008), o acadêmico formal, com titulação de mestre ou doutor, também

não se torna um agente produtor direto de textos característicos da fase atual da

cibercultura, negociados de forma coletiva e abertos a todo tipo de editores,

mesmo que entre os graduandos tais fontes contemporâneas sejam acessadas e

utilizadas como referências, a exemplo da Wikipédia e dos blogs de maneira

geral. Talvez isso ocorra porque ao entrar no ambiente acadêmico da pós-

graduação esse mesmo graduando que antes acessava tais fontes “aprenda” que

elas não são confiáveis ou são somente pontos de partida para fontes certificadas e

com isso devem ser evitadas nas publicações científicas.

Logo, percebe-se que esse modus operandi do pesquisador parece ter se

mantido estável nestes últimos 20 anos, com a diferença fundamental de estar

sendo acelerado no caso da fase onde ocorre a pesquisa de dados, em que ocorre a

busca de informações em um campo delimitado de conhecimento, incluindo o

contato com outros acadêmicos via e-mails e outros recursos de comunicação

como em listas de discussão.

Essa aceleração se traduz também em quantidade de materiais utilizados e

referenciados nos estudos, especialmente os artigos científicos, mais fáceis de

serem encontrados e utilizados e com alto nível de credibilidade entre os

acadêmicos. A técnica de encadeamento de citações, que eu chamo de busca

circular em contraponto com a busca linear, foi acelerada de modo extremo pelos

suportes digitais, pois permite acesso imediato, incluindo o download dos

mesmos, através da checagem dos itens de referência bibliográfica.

Quanto aos meios digitais, o que ocorreu na prática foi uma diversificação

dos modos de acesso à informação produzida pelos cientistas, que servem então

para se chegar aonde antes o formato impresso predominava via biblioteca

universitária e livrarias. O que não ocorreu efetivamente foi a diversificação do

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Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 155

formato de tais fontes, mantendo ainda a estrutura artigos-revistas periódicas-

volumes anuais assim como a tríade dissertações-teses-livros.

Dessa forma explica-se o alto sucesso dos bancos de dados online, que

facilitam em velocidade, facilidade e comodidade a busca da informação pelos

acadêmicos. Curiosamente a busca guiada pelos orientadores e por colegas do

meio acadêmico (grupos de pesquisa, outros pós-graduandos), o “banco de dados

humano”, é citada como boa fonte de informação, visto que ajudam a selecionar

as fontes certas em meio a tantas referências disponíveis, especialmente pelo

aumento do número delas em formato digital. A tríade fonte humana-fonte

impressa-fonte digital parece então ser a tendência no uso para os próximos anos

por parte da comunidade de pesquisadores acadêmicos, pelo menos enquanto a

migração para o formato digital não tiver atingido um ponto em que somente os

materiais mais raros e muito antigos estarão preservados nas bibliotecas.

O mesmo aconteceu no campo da comunicação interpessoal e grupal, pois

o e-mail como novo recurso substitui as mensagens enviadas por correio físico

que serviam para manter o debate de materiais escritos em fase de elaboração, ou

seja, o colégio invisível dos pesquisadores. Este movimento, ao menos em seu

começo e agora parecendo estar em declínio incluiu também as listas de

discussão, especialmente para os pesquisadores que procuravam debates mais

globais em um campo de conhecimento, fora dos muros universitários locais, uma

forma mais ágil de manter trocas acadêmicas. Aceleram-se as atividades que antes

eram feitas por outras vias, embora a sua essência, como a busca de novidades,

trocas de materiais e dicas sobre o campo de estudo, continue a mesma.

Em contraste com as facilidades trazidas pela mídia eletrônica, ainda são

significativas na vida do acadêmico, embora em menor escala, as dificuldades de

ordem técnica e de infraestrutura, pois o formato eletrônico depende de todo um

conjunto de equipamentos de alta tecnologia e custosos, necessitando não somente

de aquisição, mas de manutenção e atualização constante. Essa dificuldade foi

mais acentuada nos estudos que envolviam países pobres e com baixa penetração

da internet, apresentando padrões de uso e dificuldades relatadas mais de 10 anos

antes em países ricos.

Dessa forma, percebe-se que existe um tempo local em comparação a um

tempo global, ou seja, é importante se verificar as condições locais de

infraestrutura, as adaptações alcançadas e a cultura acadêmica vigente, e não

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Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 156

somente os grandes movimentos de transformações globais, muitas vezes

centrados em fenômenos registrados em países ricos e com farta disponibilidade

de recursos tecnológicos avançados. A cibercultura chega, primeiro, a países com

infraestrutura.

A falta de formação do acadêmico para busca da informação também foi

citada em muitos dos estudos, o que leva a crer que cursos promovidos para este

fim devem existir o tempo todo, face às mudanças constantes nos softwares e

interfaces de pesquisa. Junto com as facilidades, os bancos de dados online trazem

o ônus da atualização contínua de hardware e software.

Os grupos mais jovens e, portanto, novatos em pesquisa, como graduandos

e mestrandos, sofrem mais com a falta de informação sobre as fontes online, o

que, através da prática da pesquisa ao longo do tempo, tende a ser menor entre os

doutorandos em estágio avançado, doutores formados e professores. O que se nota

é que a atividade científica possui seus macetes e para isso não basta estar em

contato com a internet, ser “nativo” em seu uso, mas saber onde a informação

pode ser buscada e qual tipo (formato) é mais valorizado nas atividades

desenvolvidas dentro do grupo acadêmico. Seria este somente um problema dos

bibliotecários, como muitos estudos apontaram a necessidade de se realizar

formação dentro das bibliotecas? Ou também dos professores dos cursos de pós-

graduação (e mesmo graduação) que pressupõem um conhecimento dos

estudantes sobre fontes de informação quando estes na verdade não os possuem?

Quanto à área específica de educação, o conjunto dos estudos mostrou que

de fato as áreas do saber se diferenciam quanto aos usos por fatores tais como

características de seus objetos de estudo, ambientes de trabalho e objetivos de

pesquisa. Porém as diferenças quanto ao acesso às TICs, evidentes nos anos 90

quando tendia mais aos acadêmicos de áreas tecnológicas e exatas, vem

rapidamente diminuindo e tendendo a se equalizar, à medida que a experiência de

uso e a disponibilidade de equipamentos aumentam.

O pós-graduando em educação, de maneira geral, tende a ter pesquisas

mais solitárias, sem os grandes financiamentos externos de empresas, portanto não

vinculadas a interesses imediatos de mercado e com menor participação em listas

de discussão e outros meios de debate globais. Quanto aos materiais utilizados, é

comum as pesquisas em humanas dependerem de materiais mais antigos, ainda

em formato impresso e com pouca probabilidade de serem digitalizados, a

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Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 157

exemplo de manuscritos, obras raras, documentos de registro, coleções, cartas

antigas, matérias jornalísticas e artigos científicos pioneiros, entre outros tipos.

Apesar disso, o acesso a bases de dados mundiais com artigos, teses e dissertações

favorece os estudos com referências bibliográficas mais amplas. Não podemos

também esquecer os movimentos subterrâneos de digitalização entre os próprios

pesquisadores que disponibilizam documentos para acesso e download, mesmo

que violando direitos autorais.

Por tudo isso, conclui-se que a atividade de busca de informação e uso dos

materiais eletrônicos não está condicionada simplesmente em função da chegada e

implementação das novas tecnologias de informação de comunicação no meio

universitário. A mudança deve ser acompanhada por uma lente que leve em

consideração os múltiplos fatores, como a idade do sujeito, o momento da

carreira, o momento dentro do curso que está fazendo, a área de atuação

escolhida, o tema de pesquisa que está envolvido, os interesses de mercado no

objeto de pesquisa escolhido, as relações que desenvolve dentro e fora da

universidade que pode isolar ou levar a grupos de trabalho amplos, as condições

estruturais de sua universidade e residência e também as condições econômicas e

políticas do país em que reside.

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Alguns estudos empíricos sobre os usos por acadêm. do comp. e da internet 159

1. Uso do computador e internet a. Facilidade de uso b. Utilidade da tecnologia

2. Momento na carreira a. Carreira consolidada b. Carreira iniciante

i. Necessidade de novos cursos ii. Busca de contato com

especialistas iii. Busca de contato com instituições

3. Momento dentro do curso a. Especializado

i. Busca por fontes mais especializadas

b. Iniciante i. Necessidade de fontes mais

generalistas 4. Busca de informação

a. Técnicas de busca i. Acesso direto às estantes da

biblioteca ii. Citation chasing / chaining iii. Dica de fonte inicial importante iv. Busca geral sem foco

b. Recursos utilizados i. Bancos de dados online

1. Fechados (OPAC; Proquest; Medline) e Abertos (Google; Open access; open archives)

2. Catálogo bibliotecário online

3. Dificuldades técnicas de acesso

4. Desintermediação da informação

ii. Contato com pessoas próximas 1. Orientador 2. Professores 3. Colegas

a. Grupo de pesquisa

iii. Biblioteca física particular iv. Biblioteca física universitária

1. Livros / Teses e dissertações

2. Revistas impressas 3. Catálogos impressos 4. Multimídia 5. CD-ROMs

v. Apostilas e anotações de aula vi. Literatura cinza vii. Eventos, seminários e congressos viii. Outros tipos de documentos

físicos 1. Manuscritos originais 2. Obras raras 3. Documentos oficiais 4. Coleções

5. Formação do pós-graduando a. Pela biblioteca b. Pelos professores c. A política de formação institucional

6. Coleta de dados a. Quantitativa

i. Questionários b. Qualitativa

i. Entrevistas ii. Observação

c. Abrangência do público i. Universidade local ii. Várias universidades do país iii. Amostra internacional

d. Período i. Longitudinal ii. Fotografia do momento

e. Tipos de público i. Graduandos ii. Mestrandos iii. Doutorandos iv. Professores

7. Fatores sociais / ambientais a. Escolha pessoal

i. Área de pesquisa 1. Tecnológica 2. Humanas e sociais 3. Diferenças entre áreas

ii. Interdependência 1. Coletiva em equipes 2. Solitária

iii. Necessidade da informação 1. Rápida ou Lenta 2. Atual ou Antiga

b. Derivados da escolha realizada i. Interesses de Mercado

1. Pesquisas financiadas 2. Segredos de pesquisa

ii. Estrutura organizacional 1. Ambiente de pesquisa 2. Investimentos em TICs

iii. Tamanho do grupo 1. Poucos pesquisadores 2. Muitos pesquisadores

c. Derivados do contexto Econômico e Político i. País com forte investimento em

TICs ii. País com baixo investimento em

TICs 8. Comunicação científica

a. Formal i. Artigos científicos ii. Congressos e seminários iii. Grupo de pesquisa.

b. Informal i. E-mails ii. Listas de discussão iii. Newsgroups iv. Pre-prints v. Telefone e fax vi. Correios vii. Conversas com colegas e

professores 9. E a escrita? 10. E a leitura?

Quadro 7 - Principais assuntos presentes na revisão de estudos empíricos que influenciam nos usos da internet e do computador.

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II. PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DA PESQUISA

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Page 161: TESE: Quando os doutorandos visitam o ciberespaço: o uso de suportes digitais na produção acadêmica em um período de transições

4 Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países

Tentar compreender uma vida como uma série única e por si suficiente de acontecimentos sucessivos, sem outro vínculo que não a associação a um "sujeito" cuja constância certamente não é senão aquela de um nome próprio, é quase tão absurdo quanto tentar explicar a razão de um trajeto no metrô sem levar em conta a estrutura da rede, isto é, a matriz das relações objetivas entre as diferentes estações (BOURDIEU, 1996, p. 189-190).

Para compor este capítulo, recolhi alguns dados estatísticos sobre o

sistema de ensino italiano e brasileiro, de modo comparativo e aproximativo, e o

uso de mídias, pois esse é foco principal que propus neste estudo e caberia ao

leitor possuir uma visão “mais objetiva”, traduzida em números, do estado atual

do campo. Considero que o olhar geral é benéfico antes de entrarmos no olhar

mais específico que a modalidade de pesquisa qualitativa nos permite.

Em termos gerais, percebemos nos dados atuais expostos na tabela a seguir

que o Brasil se encontra em estágio de amadurecimento, tanto na média de idade

de sua população quanto em índices como renda e alfabetização, que ainda estão

distantes do ideal. Por outro lado, a Itália é um país maduro, com população mais

velha, com menores taxas de natalidade e alto índice de alfabetização e renda. Há

índices que se aproximam, como por exemplo, a divisão de setores de atividades e

a taxa de ocupação urbana, o que, porém, não evidenciam as desigualdades de

distribuição de renda bem mais acentuadas no caso brasileiro.

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Page 162: TESE: Quando os doutorandos visitam o ciberespaço: o uso de suportes digitais na produção acadêmica em um período de transições

Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 162

Aspectos gerais 48 Brasil Itália

IDH49 - Índice de

Desenvolvimento Humano (2011)

0,718 (84º.) 0,874 (24º.)

População (2011) 203.429.773 hab. (5º.) 61.016.804 hab. (23º.)

Média de idade. 29,3 anos. 43,5 anos.

Área total 8,514,877 km² 301,340 km²

Produto Interno Bruto (2010) US$ 2,172 trilhões (9º.) US$ 1,774 trilhões (11º.).

Renda per capita (2010) US$ 10,800 (102º.). US$ 30,500 (43º.)

Setores de atividades (2010) Agricultura: 5,8%.

Indústria: 26,8%.

Serviços: 67,4%.

Agricultura: 1,9%.

Indústria: 25,3%.

Serviços: 72,8%.

Taxa de urbanização (2010) 87%. 68%.

Expectativa de vida (2011) 72,53 anos. 81,77 anos.

Despesas com educação (2007) 5,08 % do PIB. 4,3% do PIB.

Taxa de alfabetização 88,6 % (2004) 98,4% (2001)

Expectativa de vida escolar50

(2008)

13,8 anos. 16,3 anos.

Linhas telefônicas fixas (2010) 62.000.00051 21.600.000

Linhas telefônicas móveis (2010) 202.944.000 82.000.000

Usuários de internet (2009) 75.982.000 29.235.000

Tabela 1 - Comparativo Brasil-Itália através de alguns indicadores de desenvolvimento.

4.1 As etapas do sistema educacional italiano e brasileiro

Para entendermos a Educação na Itália e no Brasil, comecemos com uma

descrição geral das etapas do ensino e seus equivalentes nos dois países.

O sistema italiano de ensino é composto inicialmente pela Pré-escola

(scuola dell'infanzia) com duração de 3 anos; no Brasil o ensino até os 6 anos de

48 Todos os dados foram obtidos do CIA The World Factbook nos endereços <https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/br.html > e < https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/it.html>. Os que não foram são indicados em nota separada. 49 Obtido no site nas Nações Unidas no endereço < http://hdr.undp.org/en/media/HDR_2011_EN_Table1.pdf>. 50 Idem. 51 Obtido do site da Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) em <http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalNivelDois.do?acao=&codItemCanal=1634&codigoVisao=12&nomeVisao=Anatel%20Dados&nomeCanal=Relat%F3rios%20Consolidados&nomeItemCanal=N%FAmeros%20do%20Setor>

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Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 163

idade é chamado de educação infantil, não sendo uma etapa obrigatória, mas

recomendada.

Depois o sistema italiano prevê a escola primária (scuola primaria), com 5

anos de duração, em que a criança de 5 ou 6 anos de idade inicia seus estudos até

os 10 anos aproximadamente. Entre os 10 e 11 anos de idade inicia-se na Itália a

escola secundária (istruzione secondaria) que se subdivide em 3 anos de escola

secundária de primeiro grau (scuola secondaria di I grado) e 5 anos de estudo em

uma das três modalidades possíveis: o liceu (licei), o instituto técnico (istituti

tecnici) e o instituto profissional (istituti professionali), terminando o aluno seus

estudos por volta dos 17 ou 18 anos de idade.

No Brasil, entre os 6 e 14 anos de idade temos o ensino fundamental,

composto de 9 séries escolares divididas em ensino fundamental I (1º ao 5º ano) e

ensino fundamental II (6º ao 9º ano). Após esta etapa temos no Brasil o ensino

médio, composto de 3 anos, com finalização prevista para os 17 ou 18 anos de

idade.

Nos anos seguintes, está prevista na Itália a entrada na universidade

(istruzione superiore) composta então por 3 anos, em média, de graduação

(laurea), mais 2 anos de mestrado (laurea magistrale) e os 3 anos, em média, de

doutorado (dottorato di ricerca). No Brasil temos a educação superior que inclui o

curso de graduação com média de 4 anos, o mestrado com 2 anos e o curso de

doutorado com 4 anos.

Não podemos esquecer que a pós-graduação também possui sua

subdivisão. A lógica para a existência dos cursos de pós-graduação, segundo a

proposta oferecida pelo Parecer 977 do Conselho Federal de Educação (Brasil,

2005) está em primeiro lugar no aprofundamento como especialista em

determinado segmento ou como pesquisador familiarizado com os procedimentos

para se alcançar novos saberes no campo escolhido. A pós-graduação existe

porque não haveria como abarcar todas as possibilidades de aprofundamento e

pesquisa em um único curso de graduação, até mesmo porque nem todos os

alunos de graduação possuem tempo, recursos e interesse em chegar a níveis tão

altos de especialização, contentando-se com a formação profissional e cultural

oferecida na primeira etapa universitária.

Segundo a definição oferecida por Saviani (2000), a modalidade lato

sensu assume a função de prolongar a graduação com o objetivo de aperfeiçoar

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Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 164

(aprimorar) e especializar (aprofundar) conhecimentos que não foram tratados

durante a formação básica do aluno, tendo como objetivo fundamental o ensino a

partir dos resultados mais recentes alcançados e publicados pelos pesquisadores

em um campo definido de saber. Pertence a essa modalidade os cursos de

especialização, sendo na Itália denominados de master universitário, com duração

média de 1 ano, mas podendo chegar a 2 anos em alguns casos.

A modalidade stricto sensu seria a pós-graduação propriamente dita em

que o objetivo principal está na formação do pesquisador acadêmico para

promover o avanço do conhecimento no campo em que resolveu se dedicar, algo

que está fora do escopo de uma graduação. Logo, o mestrado, segundo Saviani

(2000), deve ter o papel de iniciar a formação do pesquisador, rumo a sua

autonomia intelectual e domínio teórico-prático das etapas de uma pesquisa, e no

doutorado, já familiarizado com esses procedimentos, ocorreria a consolidação do

processo.

A escrita de um trabalho final (dissertação ou tese) materializa esse

percurso quando o aluno realiza um projeto próprio de investigação. Saviani

(2000, p. 15) define dissertação como “um trabalho relativamente simples,

expresso num texto logicamente articulado, ou, como se diz em linguagem

corrente, que tem começo, meio e fim, dando conta de um determinado tema.” A

tese teria o sentido de tomar posição, pois em uma defesa de tese o que se faz é a

“defesa uma posição diante de determinado problema”.

De maneira geral, os sistemas de ensino brasileiro e italiano são parecidos,

compostos por etapas bem definidas e sendo necessário o cumprimento gradual de

cada uma delas para se alcançar os cursos de alta especialização que compõe a

pós-graduação (lato sensu e stricto sensu). No Brasil a educação superior é de

competência do Governo Federal, já os estados devem atuar no ensino

fundamental e médio, e os municípios no ensino fundamental e educação infantil.

O Governo Federal deve prestar assistência técnica e financeira aos estados e

municípios.

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Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 165

Figura 9 - Comparativo dos sistemas de ensino italiano e brasileiro em ordem crescente no tempo por faixas etárias e duração média dos cursos (Fonte: ilustração do próprio autor).

4.2 O curso de doutorado em dois países “em recuperação”

O curso de doutorado italiano, assim como o brasileiro, possui um

processo de seleção anual, chamado de bando di dottorato, gerido autonomamente

por cada universidade para a entrada em seus ciclos, concurso este que pode ou

não resultar em bolsa de auxílio para o candidato admitido52. A conclusão do

52 É fixada atualmente em 1040 euros. A uma taxa de cãmbio aproximada de 2,5 reais para 1 euro, temos o valor da bolsa em 2600 reais. No Brasil a bolsa de doutorado fixada pelo CAPES está em

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Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 166

curso é ligada à elaboração da tese de doutorado, denominada na Itália de tesi di

dottorato.

O sistema educacional superior italiano se comparado ao restante da

Europa está relativamente em atraso no percentual de investimentos e resultados

obtidos. Segundo Gemma (2006, p. 13-22) usando dados da pesquisa do Istituto

nazionale di statistica (ISTAT) 2003, a Itália investe pouco em pesquisa e

desenvolvimento, com queda contínua de investimentos até aquela data, que

chegaram a 1,07% do PIB quando a média de investimentos na União Europeia

era de 2% e na Alemanha chegava a 2,49%; em termos reais a Itália investia 216

Euros por pessoa frente a uma média de 444 Euros na UE.

Em 2008 (ISTAT, 2011), os dados não se mostravam muito animadores

embora tenham ligeiramente melhorado, estando a Itália (em relação a toda UE)

em um precário 17º lugar em investimentos em pesquisa e desenvolvimento, com

1,23% do PIB, quando a média europeia girava em 2% e a meta fixada para 2020

pela UE era de 3%. Para se ter uma ideia da distância, os dois primeiros colocados

em investimentos apresentavam as seguintes taxas: Finlândia 3,7% e Suécia 3,6%.

Segundo o relatório ISTAT 2011 (p. 230), usando dados de 2009, a Itália

estava à frente apenas da Eslováquia, República Checa e Romênia em percentual

de pessoas possuidoras de um título universitário na faixa dos 30 a 34 anos de

idade, cerca de 19% (homens 15% e mulheres 23%), enquanto a média da UE

estava em 32,2% e países do norte (Irlanda, Dinamarca, Luxemburgo e Finlândia)

alcançavam taxas de 45%. A mesma taxa, só que relativa a 2007, para pessoas

portadoras de título universitário apontava o Brasil na faixa dos 10%, metade do

total italiano em termos proporcionais (OCDE, 2009, p. 39).

Dentro da Itália os valores percentuais de possuidores de diploma

universitário são mais altos na parte Centro e Norte, mais rica e desenvolvida, e

são mais baixos na parte Sul, sendo que a região da Lombardia, onde se localiza a

UCSC de Milão, ocupava o sexto lugar com uma taxa de 23% (ISTAT, 2011, p.

248), ainda assim bem abaixo da média europeia.

Vale destacar, segundo o ISTAT 2011, que o número de jovens que

completam o Ensino Médio na Itália (scuola superiore) e chegam à universidade

vem caindo, passando de 74,5% em 2003 para 66% em 2009, talvez em

1800 reais. Ver o seguinte site para valores atualizados de bolsa de estudos: <http://www.capes.gov.br/bolsas/valores-das-bolsas> .

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decorrência da própria crise que o país vem passando. Em 2009 estavam cursando

o ensino superior um total de 1.780.653 estudantes, sendo 310.600 matriculados

naquele ano e 107.148 docentes ativos em 89 atenei (universidades) (p. 362).

No Brasil, para fins comparativos usando dados do INEP (2010) do Censo

da Educação Superior de 2009, foram registradas 2314 instituições de ensino

superior (IES) em 2009 sendo destas 245 instituições públicas e 2069 privadas.

Desse total, 186 são universidades, 127 são centros universitários e 1966 são

faculdades (p. 10-11). Para se ter uma ideia da rápida evolução numérica, em

2003 o Brasil apresentava 207 instituições públicas e 1652 privadas, sendo 163

universidades, 81 centros universitários e 1403 faculdades (INEP, 2003, p. 6). O

governo não parou de abrir instituições públicas ao longo da primeira década,

porém a grande concentração de estudantes de graduação no ensino privado se

manteve, que reprersentava, em 2003, 88,9% das instituições e em 2009, 89,4%.

Estavam matriculados em 2009 um total de 5.954.021 estudantes em todas

essas instituições, sendo desse total 1.819.728 ingressaram naquele ano (p. 31) e

959.197 concluíram seus cursos, indicando um aumento gradual ano após ano dos

matriculados. Este total de alunos matriculados no sistema de ensino superior

representava 2,92% da população brasileira, enquanto na Itália o índice chegava a

2,91% da população total.

Os dados do INEP (2010) indicavam ainda que o curso de Pedagogia era o

terceiro curso com maior número de matrículas, 573.898, atrás de Administração

e Direito (p. 16). O número de funções docentes (não de professores, pois estes

podem ocupar mais de uma função) era de 340.817, sendo destas 122.977 no setor

público, com perfil bem jovem: 44 anos em média no setor público e 34 no setor

privado, evidenciando um grande número de contratação de docentes nos últimos

anos, compatível com os elevados aumentos na taxa de formação de doutores

verificados nos últimos 15 anos.

Já os dados da pesquisa da Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Econômico53 (OCDE) Education at a Glance relativos a 2006

(OCDE-EAG, 2009, p. 211 e 218) mostravam que a taxa italiana de investimentos

na educação superior (pós-Ensino Médio) se manteve muito próxima à taxa de

53 O Brasil, por fazer parte da OCDE é incluído no relatório anual da organização, quando os dados fornecidos são suficientes para comparação. Em muitos casos o Brasil não forneceu dados em contraste com a maioria dos países da União Europeia.

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Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 168

2003, em 0,9% do PIB, comparada a uma taxa de 0,8% no Brasil. Os dois países

também tiveram taxas próximas no investimento pré-Universitário (ensino

Fundamental, Médio e outros tipos de educação não-universitária), sendo o Brasil

com 3,8% do PIB, um pouco acima da Itália com 3,5%.

Gemma (2006) ainda constatou que o número de pesquisadores também é

baixo na Itália, destacando que no ano de 2003 o total apresentado era de 66.110,

sendo que em países de população numericamente próxima como a França e

Inglaterra o total chegava a três vezes mais, 177.323 e 157.662. A Alemanha é a

nação com maior número de pesquisadores da UE, registrando em 2003 o número

de 264.384. Porém, a partir dos dados fornecidos pelo MIUR (2011, p. 63)

notamos que a Itália vem mantendo o seu aumento no número de doutores

formados anualmente, chegando a 12.219 no ano escolar de 2008/2009.

Gráfico 4 - Número de doutores formados na Itália (Fonte: Relatório L´Università in Cifre 2009-2010 (MIUR, 2011, p. 63)).

Já no Brasil, utilizando-se dados do ano de 2008, temos um total

aproximado de 132.000 doutores (CGEE, 2010, p. 19), mas se regredirmos até

2003, chegamos a um número de 85.000 doutores, um pouco acima do total de

formados na Itália no mesmo período. Apesar deste quadro nada favorável ao

Brasil, vemos que a tendência há duas décadas é de crescimento constante no

número de doutores formados, sendo que em 1987 o Brasil formava o equivalente

a 3,1% do total de doutores formados nos EUA (país com a maior taxa de

doutores por 1000 habitantes), e em 2008 chega-se ao patamar de 21,9% do total

de doutores americanos formados no mesmo ano (CGEE, 2010, p. 22).

6353,0

8466,0

9604,010188,0 10508,0

12219,0

,0

2000,0

4000,0

6000,0

8000,0

10000,0

12000,0

14000,0

2003/2004 2004/2005 2005/2006 2006/2007 2007/2008 2008/2009

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Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 169

O enorme crescimento registrado no período, com 278% de aumento no

número de doutores formados entre 1996 e 2008, refletiu nesse primeiro momento

a forte demanda universitária por docentes com alto nível de formação para a pós-

graduação e o sistema universitário em geral, que chega a ocupar 76,77% dos

formados e empregados nesse período (p. 37).

Esse processo vem apresentando sinais de término de ciclo com a perda de

capacidade de absorção de formados na região sudeste, atualmente na fase de

desconcentração dos empregos que deslocam os doutores formados para outras

regiões do país fora do eixo Rio-Minas-São Paulo e também para outros setores

da economia que vem absorvendo a taxas maiores que o setor educacional

(CGEE, 2010, p. 40), como a administração pública (11,06%), a saúde (3%), a

ciência de tecnologia (3,78%) e a indústria (1,39%).

Dessa forma, vemos que o setor de formação de doutores no Brasil está em

fase de amadurecimento e diversificação, inclusive quanto à proporção de gêneros

que em 2008 registrou a taxa de 51,5% de mulheres tituladas doutoras, um avanço

em comparação à taxa de 1996 que era de 44,2% (CGEE, 2010, p. 43); se

compararmos com a taxa italiana, o Brasil atingiu o mesmo índice no ano de 2004

com 50,6% aqui e 50,9% lá, índice equivalente ao das economias mais avançadas

do mundo (p. 45). Quantos às áreas de formação, a área de humanas, que inclui os

cursos em Educação, em 2008 representava 17,4% do total de doutores formados

entre 1996 e 2008 (p. 31), crescendo mais que as ciências exatas e da terra, as

ciências biológicas e engenharias no mesmo período.

Ainda segundo os dados do relatório do CGEE (2010, p. 34-36), vale

também enfatizar que apesar do forte crescimento no período 1996-2008 (396%),

as universidades particulares ainda apresentam taxa pequena no total de doutores

formados, somente 9,5%, no qual se inclui a PUC-Rio, local em que se realizou

parte do estudo que compõe esta tese. As universidades estaduais intitularem

39,7% dos doutores e as federais 50,8%. Esse fenômeno se explica devido à forte

concentração de faculdades particulares sem estrutura adequada para iniciar

cursos de mestrado e doutorado (certificação CAPES), concentrando a titulação

em cursos de graduação, sem produzir pesquisa. Do total de doutores formados

nesse período, 77,7% pertenciam à programas de pós-graduação da região sudeste,

evidenciando forte concentração do setor de ciência e tecnologia nesta parte do

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Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 170

país, embora proporcionalmente esteja em declínio gradual e abrindo espaço para

forte crescimento das outras regiões do país.

Gráfico 5 - Número de doutores formados no Brasil (Fonte: Relatório CGEE (2010) a partir dos dados da Coleta Capes (Capes, MEC) e MCT (2010)).

A partir de dados de 1999 elencados por Gemma (2006), a Itália apresenta

uma das mais baixas taxas de pesquisadores por 1000 habitantes da UE, com 2,8,

muito abaixo dos 5,4 da Inglaterra, 6,1 da França e 6,4 da Alemanha. Segundo os

dados do CGEE (2010), referentes ao ano de 2008 o Brasil apresentava taxa ainda

mais baixa, ou seja, 1,4 doutores para cada 1000 habitantes54. O relatório (p. 19)

recomenda enfaticamente que “caso o Brasil queira contar em seu esforço de

desenvolvimento com doutores em proporções similares às de países

desenvolvidos, ainda será necessário multiplicar por 4, 5 ou mais vezes a

participação de doutores em sua população.”.

Diante do também desfavorável quadro italiano, a recomendação de

Gemma (2006) então é para que a Itália dobre seu investimento em pesquisa e

desenvolvimento, com o risco de perder competitividade frente aos seus vizinhos

europeus, recomendação esta que não vem sendo cumprida ao analisarmos os

54 O relatório do CGEE (2010) aponta que a estimativa de 132.000 doutores formados no Brasil é baseada em uma média aproximada de doutores de 22,64% do total de portadores de títulos de mestre e doutor referentes ao período de 1987 a 2008. A faixa etária selecionada para aplicar a proporção é a dos 25 aos 64 anos de idade, semelhante ao conceito de forza di lavoro adotado no livro da pesquisadora italiana.

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Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 171

dados mais atuais. Também é destacado pela autora (p. 16-18) o grave êxodo de

pesquisadores (fuga de cérebros), pois apesar dos centros de excelência italianos

produzirem pesquisadores de alto nível de qualidade, os postos de trabalho são

escassos e precários e a tendência é a migração para países europeus mais

desenvolvidos e para os EUA, resultando em um círculo vicioso de diminuição da

capacidade de competição e desenvolvimento italiana. Dificuldades do sistema de

ensino também são citadas como empecilho para a permanência de pesquisadores.

Quadro 8 - Semelhanças entre Brasil e Itália nos cursos de Ensino Superior.

4.3 O processo institucional do ensino superior italiano e brasileiro

Em termos institucionais, o atual Ministério da Educação (MEC)

brasileiro nasceu em 1930 no governo de Getúlio Vargas, unido à área da saúde

quando se chamava Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública, pois

até aquele momento o assunto era tratado pelo Departamento Nacional do Ensino

ligado ao Ministério da Justiça. O ministério, durante a longa gestão de Gustavo

Capanema (1900-1985) entre 1934 e 1945, foi renomeado em 1937 para

Ministério da Educação e Saúde, dupla função que persiste até 1953 quando se

cria o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação e Cultura (MEC). Outro

desmembramento ocorre em 1985, ano que marca o fim da ditadura militar,

quando se cria o Ministério da Cultura (MinC) separado do agora Ministério da

Educação, embora sua sigla permaneça com o “C” de cultura até os dias atuais.

Vale lembrar que antes de surgir um ministério específico para a área de

Educação em 1930, nos anos 20 o Brasil já tinha três universidades criadas a

Semelhanças entre Brasil e Itália nos cursos do Ensino Superior

Baixo investimento total em relação ao PIB.

Baixa taxa de doutores por 1000 habitantes.

Diferenças acentuadas entre as regiões do país.

Problema da "fuga de cérebros" para países com melhor infraestrutura e incentivos.

Mesma proporção de alunos no ensino superior em relação ao total de habitantes.

Aumento constante do número de doutores nos últimos 15 anos.

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Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 172

partir das antigas escolas profissionais: a UFPR, criada em 1912, a PUC-RS, que

surge em 1924 e a UFMG de 1927. Foram resultado de mais de um século de

maturação, desde que a vinda de D. João VI em 1808 permitiu a criação de cursos

de ensino superior em áreas como Medicina, Engenharia, Direito, Agricultura,

Farmácia, Agronomia e Veterinária, aos poucos agregadas em universidades.

Até os anos 50, o Brasil foi aumentando de forma lenta seu aparato

institucional, realizando acordos com os EUA para intercâmbio de estudantes,

pesquisadores e professores (Santos, 2003), tendo uma expansão mais forte ao

longo dos anos 6055 a partir da ideologia desenvolvimentista e, a princípio,

nacionalista adotada pelo governo, dando impulso principalmente através da

criação de universidades federais e comunitárias (Steiner, 2005).

Já o “correspondente” italiano ao MEC é denominado atualmente através

da sigla MIUR (Ministero dell'Istruzione, dell'Università e della Ricerca),

fazendo o caminho contrário do brasileiro, sendo instituído na atual configuração

em 1999 como resultado da união dos antigos Ministero della Pubblica Istruzione

(MPI), surgido em 1861 com o Ministero dell'Università e della Ricerca

Scientifica e Tecnologica (MURST), surgido em 1989. Um novo desdobramento

ocorre em 2006, mas logo em seguida o novo governo de Berlusconi retoma a

estrutura unificada do MIUR, não tendo mais sido modificada (Ano-base: 2012).

A sede do MIUR fica em Roma, no Palazzo del Ministero e tal como o MEC é

atualmente responsável por todos os níveis de ensino.

Embora a estrutura burucrática do Estado italiano moderno voltada às

universidades, seja mais recente, datando do século XIX, a fundação de

universidades naquele país remonta ao período em que as cidades renascem

econômica e politicamente no século XII. É nesse período que os intelectuais da

Igreja Católica resgatam via contato com o mundo árabe as obras intelectuais da

antiguidade, principalmente a filosofia aristotélica. De lições inicialmente 55 É de 1965 o Parecer 977/65 (Brasil, 2005) do Conselho Federal de Educação (CFE) que sugeriu ao ministro da Educação os contornos do modelo que atualmente são utilizados nos cursos de pós-graduação, esclarecendo a noção ainda vaga naquele período e presente na Lei de Diretrizes e Bases (art. 69) de 1961 sobre as categorias dos diferentes níveis de cursos universitários. O parecer se baseia no modelo norte-americano, considerado pela Comissão de Educação Superior o mais bem sucedido até aquele momento, que divide a pós-graduação nos níveis de mestrado e doutorado, com período inicial de cursos, seminários e atividades frequentados por graduados de áreas afins, visando a especialização em uma ramo do saber e a posterior elaboração de uma dissertação ou tese. Este parecer também sugere a criação de critérios para a avaliação dos novos cursos e a aprovação dos mesmos para que tenham seus diplomas validados pelo Ministério da Educação.

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Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 173

organizadas de maneira informal, em Bolonha se forma o primeiro núcleo

acadêmico a se oficializar em 1088, a Alma Mater Studiorum, atual Universidade

de Bolonha. Outros núcelos surgem em seguida por toda Itália, a partir do

incentivo dos governos locais e do próprio clero católico, se espalhando

rapidamente para outros países europeus56.

A relação atual do MIUR com os programas de doutorado nas

universidades italianas é, de modo geral, mais frágil em termos de controle, não se

podendo fazer paralelos com a forte organização centralizada exercida no Brasil

pela agência CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior) na gerência e avaliação dos programas de pós-graduação, desde o ano

de 1976, quando o Sistema de Avaliação da Pós-graduação foi implantado no

Brasil (Moreira, 2009) durante o I PNPG (Plano Nacional de Pós-Graduação) que

cobria o período 1975 a 1979.

O modo brasileiro de administração e avaliação dos programas de pós-

graduação é uma clara herança do modo de governar e gerir a máquina pública no

período militar (1964-1985), que seguiu a tendência já iniciada nos anos 50 a

partir do modelo norte americano de fortalecer o papel do Estado no pós-guerra,

centralizando investimentos, incluindo a concessão de bolsas de estudo para

formação no exterior, e criando ou organizando nesse período agências de

controle e avaliação. Tais medidas fortaleceram o sistema de pesquisa, via atuação

das universidades, a partir da idéia de autonomia e desenvolvimento científico

nacional (Moreira & Velho, 2008).

Nesse primeiro momento era preciso preencher a carência de recursos

humanos qualificados para alcançar os objetivos grandiosos traçados pelo

nacionalismo desenvolvimentaista dos anos 70, que envolvia a construção de

hidrelétricas, usinas nucleares, rodovias, ferrovias e o fortalecimento da indústria

bélica e aeronáutica, espacial e de telecomunicações (Kuenzer & Moraes, 2005).

A interpretação sobre o início da pós-graduação brasileira via aproximação

com modelos externos já consolidados, principalmente o norte-americano57, mas

também o europeu, oferece margem a outras interpretações que a do simples

56 Foi dedicado, mais frente, um capítulo voltado a este tema, com a história dos intelectuais e das universidades. 57 O Parecer 977/65 (Brasil, 2005) informa que a primeira pós-graduação norte-americana nasce no ano de 1876 na Universidade John Hopkins, criada com esta finalidade a partir da ideia de creative scholarship, ou seja, local para a elaboração de novos conhecimentos via pesquisa.

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Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 174

desenvolvimentismo do período militar, como a oferecida por Santos (2003) que a

denomina de “parceria subordinada”, por haver limitações por parte do país

central para que o país periférico não ofereça ameaças com a concorrência

científica e tecnológica, sendo mais uma compradora de know-how estrangeiro do

que produtora de soluções originais.

Santos (2003) enfatiza que até hoje o modelo de pós-graduação valoriza

através de sua avaliação a publicação em periódicos internacionais, importanto

teóricos e teorias, condicionando os pesquisadores para as temáticas e soluções de

problemas em voga no cenário internacional, mas que pouco contribuem para o

contexto brasileiro; problema este que atinge de modo mais sensível a área de

ciências humanas, muito mais dependente de assuntos que envolvem a cultura e o

contexto local. Nesse ponto de vista, a inspiração em modelos consolidados em

outros países é vista mais como imitação e reprodução de um modo de fazer

ciência, repetindo padrões sem buscar uma real autonomia. Ele destaca, por

exemplo, que embora o Brasil tenha adotado a estrutura norte-americana de pós-

graduação, não adotou o modo de pesquisa voltado a soluções e à utilidade prática

do conhecimento, revelando nos mestrados uma postura academicista exigente e

característica dos europeus, pouco voltada à vida profissional.

No campo da Educação, esse processo de busca da qualificação da mão de

obra nacional se refletiu na queda da importância das antigas instituições que

faziam pesquisa em educação desvinculadas das universidades e na ascenção dos

programas de mestrado e doutorado vinculados aos departamentos de pesquisa

universitários (Bittar, 2009), especialmente com o envio de professores

universitários para realizar seus cursos de pós-graduação no exterior, o que visava

a melhoria do corpo docente nacional e dos cursos de graduação onde lecionavam.

A preocupação nesse primeiro momento era que as universidades

deixassem de ser somente formadoras-reprodutoras com cursos de graduação e se

tornassem centros de criação de novos conhecimentos via estruturas de pós-

graduação, sendo necessário para isso o aumento da qualificação dos docentes,

visto que muitos atuavam de forma improvisada, segundo a visão dos pareceristas

do Conselho Federal de Educação (Brasil, 2005).

A fase atual do sistema brasileiro de pós-graduação, iniciada nos anos 90,

pode ser caracterizada como aquela em que a avaliação se torna mais estruturada,

permanente e periódica, e a centralidade dos objetivos sai da qualificação docente

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Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 175

para a qualificação da pesquisa, prioridade esta surgida a partir da publicação do

IV PNPG (2005-2010), confirmando a liderança do Estado como condutor das

metas neste setor (Kuenzer & Moraes, 2005).

Acostumado com esta herança derivada de nossas políticas públicas

centralizadoras e condutoras dos objetivos para o setor universitário e de pesquisa,

enquanto estive na Itália foi bem difícil entender esse contexto, e sempre estar

questionando “onde está a CAPES da Itália?” ou “onde está o Qualis das revistas

italianas?”.

A resposta é que não adianta procurar uma equivalência direta de sistemas,

visto que não existe uma equivalência histórica de regimes políticos e metas

institucionais. Cabe, porém, entender a existência de tendências gerais que os

governos nacionais procuram acompanhar a partir da observação da atuação dos

países centrais e mais bem sucedidos. No caso italiano o processo de avaliação do

sistema universitário só será pensado de fato com a concretização do acordo

europeu para a construção do Espaço Europeu do Ensino Superior, no fim dos

anos 90, visando que todos os países membros tivessem seus sistemas de

avaliação compreensíveis e comparáveis em nível internacional (Balisicata, 2010).

Conforme nos informa Basilicata (2010), nos anos 80 poucos países

tinham agências de avaliação na Europa, sendo que em 2003 quase todos já

apresentavam políticas e sistemas próprios para este fim, mas com metodologias

ainda bem diferentes. O esforço europeu de criação de padrões de avaliação vem

sendo feito através da ENQA (European Network for Quality Assurance) que

reúne 36 organizações e 30 membros de governos do continente.

Pelo menos até o momento em que estive na Itália (outubro de 2010 a

maio de 2011), não existia uma atuação tão forte e estruturada do governo italiano

na definição e no monitoramento dos cursos de doutorado (da pós-graduação em

geral), dos periódicos científicos e da atuação dos acadêmicos como se realiza no

Brasil com a CAPES há pelo menos 40 anos e mais intensamento nos últimos 15

anos. O que se percebia é que o caminho estava em construção naquele momento

na Itália, pois o hábito que tinha de acessar os periódicos brasileiros na internet e

saber sobre a sua última avaliação oficial (Qualis) não poderia se repetir na Itália,

pois nem o acesso às revistas científicas italianas em uma lista unificada era

possível obter.

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Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 176

O que existia de concreto era um curto histórico nacional de avaliações,

cerca de uma década, mas não comparável às avaliações periódicas de revistas

científicas como a existente no Qualis e o monitoramento dos discentes e docentes

como o existente na plataforma Lattes, facilmente acessíveis a quem tenha

interesse em consultar essas bases de dados. Mesmo sem toda essa centralização

na publicização e acesso a perfis individuais de pesquisadores, a qualidade geral

dos dados estatísticos divulgados sobre a educação superior italiana era bem

abrangente e constante através dos inúmeros relatórios anuais publicados pelo

MIUR através do CNVSU (Comitato Nazionale per la Valutazione del Sistema

Universitário).

A primeira grande avaliação nacional da atividade de pesquisa italiana foi

conduzida pelo CIVR (Comitato di Indirizzo per la Valutazione della Ricerca),

para o triênio 2001-2003, em que participaram 77 universidades estatais, 12

instituições públicas de pesquisa e 13 instituições privadas, envolvendo cerca de

64 mil pesquisadores italianos e 17 mil produtos de pesquisa avaliados (artigos,

capítulos de livros, entre outros). Nela, os pesquisadores tiveram que submeter

publicações previamente selecionadas por eles, entre aquelas consideradas

melhores, para serem avaliados de modo qualitativo ao menos por 2 pares, a partir

de critérios como relevância da pesquisa, originalidade, nível de

internacionalização, somando-se os índices de impacto da publicação (impact

factor) e o índice de citações (quotation index) do autor (Kostoris, 2008). Junto a

outros critérios institucionais definidos pelo CIVR formou-se um ranking das

instituições italianas, o primeiro gerado no país, mas não dos pesquisadores

individualmente.

Mas vale dizer que seguindo a tendência internacional de criação de

aparatos de avaliação e controle, recentemente, em 2010, instituiu-se as regras de

funcionamento da Agenzia di Valutazione del Sistema Universitario e della

Ricerca (ANVUR – Agência de Avaliação do Sistema Universitário e de

Pesquisa), já prevista em lei desde 2006 (Italia, 2010; 2006). A agência, segundo a

lei inicial de 2006, não tinha necessariamente fins de avaliação da qualidade

educacional, mas sim o claro objetivo econômico-financeiro de medir a eficiência

dos programas de financiamento e incentivos estatais às atividades de pesquisa e

inovação, visando a racionalização da aplicação dos recursos públicos. A ANVUR

deve com o tempo unir as atividades de avaliação realizadas atualmente pelo

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Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 177

CNVSU e pelo CIVR, conforme indicação presente no último relatório editado

(MIUR CNVSU, 2011).

Dessa forma, a ANVUR deve substituir os comitês anteriores e nos

próximos anos deve servir ao MIUR como forma de conferir a aplicação dos

recursos públicos a entidades públicas e privadas que os recebem, e seus relatórios

serão a forma do ministério direcionar seus recursos para universidades e

instituições de pesquisa, bem similar ao que ocorre hoje com as avaliações trienais

da CAPES no Brasil.

No caso italiano a avaliação é chamada atualmente de Valutazione della

Qualità della Ricerca (VQR – Avaliação da Qualidade da Pesquisa) e abrange o

período de 2004 a 2010, procurando continuar o trabalho iniciado no triênio 2001-

2003 pelo CIVR quando foi chamada de VTR (Valutazione Triennale della

Ricerca), em que os pesquisadores participantes devem inserir seus dados de

produção em um site específico para esta finalidade58. Existe a previsão de

recebimento de cerca de 200 mil produtos de pesquisa, ou seja, artigos, capítulos

de livro e textos em geral selecionados pelo pesquisador, entre 3 e 6 produtos

considerados melhores, dentro do período avaliado (ANVUR, 2012).

Fiorella Kostoris (2008) destaca que a falta de continuidade da avaliação

no triênio seguinte, atribuindo a entraves burocráticos dentro do até então MUR

(Ministero dell'Università e della Ricerca) não permitiu que fosse feito qualquer

comparativo de evolução e melhoramento (ou piora) das instituições e o próprio

objetivo de distribuir os recursos a partir do mérito de cada instituição ainda não

tinha se realizado.

Cabe enfatizar que não julgo aqui se o quadro italiano hoje existente é

melhor ou pior do que o brasileiro e se alcança resultados mais ou menos eficazes

por não avaliar nacionalmente seus meios de divulgação científica (Qualis) e seus

agentes de produção acadêmica (Lattes) como o Brasil vem fazendo de maneira

regular. Até mesmo porque os modelos baseados em avaliação e construção de

rankings, em ascensão desde os anos 90 através de notas atribuídas a programas

58 Todos os documentos referentes a este processo de avaliação estão presentes no site da ANVUR, no endereço < http://www.anvur.org/?q=schema-dm-vqr-definitivo>. O site de inserção dos dados é gerenciado pelo CINECA, um consórcio universitário criado em 1969 com dezenas de universidades e instituições de pesquisa italianas, com o objetivo de ter um espaço para processamento de dados em grande quantidade. Serve tanto a entes acadêmicos como a empresas e administração pública. Site disponível em < http://www.cineca.it>.

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de pós-graduação, instituições de ensino e revistas científicas, vem sofrendo fortes

críticas na década de 2000, justamente por reproduzirem ou criarem novas formas

de poder, traduzidos em mais recursos e pontuações para alguns beneficiários, e

consequente exclusão dos que possuem menor tradição acadêmica ou recursos

para se manter no topo.

Tais modelos avaliativos são associados a uma cultura da

performatividade, que antes de ser neutra em sua forma de avaliar, é feita por

pessoas que estão permanentemente disputando poder e posição com seus pares,

provocando reajustes e direcionando ações dentro da comunidade acadêmica, que

termina por se adequar aos critérios classificatórios estabelecidos pelos

avaliadores (Silva, 2009; Moreira, 2009).

Bittar (2009) situa o momento brasileiro (do ano de 1985 até a presente

data) como resultado da ascensão do modo neoliberal de avaliar e gerir a ciência

após forte crítica a narrativas que procuravam explicações universalizantes e que

não deram conta de modificar e explicar “o real”, tal como o marxismo que se viu

enfraquecido naquele momento após a queda da antiga URSS e o esfacelamento

dos países socialistas do leste europeu. Bittar (2009) então evidencia, dentro de

uma revisão histórica do campo educacional brasileiro, que o enfoque nos últimos

20 anos esteve no aumento da oferta de cursos, a exigência do aumento da

produção acadêmica e o aligeiramento59 dos cursos, deixando o mestrado como

mero agente inicial de introdução do aluno à pesquisa, um complemento para a

realização posterior do doutorado60.

59 Embora o tempo para cumprimento dos cursos de pós-graduação tenha diminuído, Kuenzer & Moraes (2005, p. 1345) destacam que os programas iniciais tinham seus currículos muito extensos, contendo temáticas diversas e voltadas aos próprios estudos dos docentes, um currículo pouco articulado com o desenvolvimento da dissertação e tese dos alunos e que demandava um período muito maior de articulação teórica, muitas vezes iniciada somente após o aluno cumprir todos os créditos necessários. Nessa primeira fase as dissertações tinham porte equivalente às atuais teses de doutorado. 60 Curiosamente, a discussão levantada no Parecer 977/65 (Brasil, 2005) revela que a pós-graduação norte-americana, embora emitisse o título de mestre (M.A. – Master of Arts), derivado da tradição inglesa que mantinha o conceito medieval das disciplinas literárias e científicas básicas (trivium ao quadrivium), não oferecia o mesmo status que o título de doutor (Ph.D. – Philosophiae Doctor – para os cursos em Ciências Humanas), este sim válido para a docência no ensino superior. O título de mestre até o final do século XIX era emitido ao final da graduação nos EUA, só exigindo posteriormente, após sua reformulação, o cumprimento de exames e matérias a serem cursadas, se tornando um título associado à competência profissional de quem o obtia (maior remuneração e docência no ensino médio), e não de competência para pesquisa acadêmica. O atual aligeiramento dos cursos e a diminuição da importância do título de mestre no Brasil seguem exatamente as tendências apontadas pelos pareceristas já no ano de 1965, indicando que o valor do mestrado naquela época já era discutido nos EUA, incluindo a necessidade ou não de obtê-lo para

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Steiner (2005) confirma a tendência do aumento da oferta de cursos,

evidenciando que se fortalece nos anos 90, a partir dos ideais renovados do

liberalismo econômico e como forma de expandir o ensino sem participação direta

do Estado, o setor das universidades particulares, especialmente aquelas que

oferecem somente a graduação, cabendo às universidades públicas a concentração

dos programas de mestrado e doutorado. Para se ter uma ideia, em 2003, das 117

universidades e instituições de pesquisa que ofereciam mestrado e doutorado,

somente 15 eram particulares em um universo de 1075 estabelecimentos, ou seja,

1,4%.

Essa reorganização dos cursos de pós-graduação teve por consequência a

diminuição da qualidade teórica das produções que não alcançam o estágio

adequado de maturação antes de serem publicadas em eventos e revistas. Esse

modo de pensar não é exclusivo dos brasileiros e acompanha movimentos

internacionais, evidenciado nos números crescentes de formandos italianos nos

cursos de pós-graduação e no encurtamento europeu dos cursos de graduação e

pós-graduação através das diretrizes do Processo de Bolonha, iniciado ainda na

década de 1990 e assinado pelos ministros que compõe a União Européia.

Dessa forma, é marca do período atual a superprodução de artigos e livros,

com o aumento das coautorias sem mérito adequado, com banalização do formato

de coletâneas e mistura indistinta de produções docentes e discentes, publicações

essas interessadas em criar pontuações e participações em revistas e eventos, “um

verdadeiro surto produtivista em que o que conta é publicar, não importa qual

versão requentada de um produto, ou várias versões maquiadas de um produto

novo” (Kuenzer & Moraes, 2005, p. 1348).

Surgem também modificações nos hábitos dos acadêmicos que podem

justamente causar o efeito inverso almejado pelos avaliadores, pois ao invés de

um aumento da qualidade da produção, as pontuações passam a valer mais que a

qualidade das ideias publicadas, visando o alcance de promoções institucionais

(cargos), financiamentos através de editais públicos e outros benefícios disputados

entre os pesquisadores (Silva, 2009).

poder cursar o doutorado. A flexibilidade norte-americana com seu próprio modelo não foi seguida no Brasil, que o adotou, ao menos em sua estrutura formal. A própria inexistência de programas de doutorado colocou uma carga de exigência muito maior nos cursos de mestrado, sofrendo atualmente seus reajustes.

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Logo, o sistema de avaliação é um faca de dois gumes quanto aos

resultados obtidos, pois nos oferece precisão numérica e “domínio” sobre a

produção, uma “exacerbação quantitativista” segundo Kuenzer e Moraes (2005),

mas às custas de uma imprecisão quanto à qualidade do objeto avaliado e

aumentando de forma crescente as disputas por poder e concorrência entre os

acadêmicos.

O impasse se mantém, pois ainda não foi encontrado um modo de avaliar

qualitativamente os programas de pós-graduação no Brasil, o que exigiria a leitura

e grandes volumes de materiais, como teses, dissertações, livros e outros tipos de

produção, além de medir o impacto social e econômico de tais produções. Não é a

toa que no caso italiano a primeira avaliação no triênio 2001-2003 se resumiu a

poucos artigos selecionados pelos próprios pesquisadores, sofrendo críticas

justamente por não ter incluído os trabalhos “medianos”, sendo argumentado por

Kostoris (2008) que naquele momento o que se procurava era o mapeamento dos

locais de excelência, além de racionalizar o uso do tempo e os cursos para mover

tal aparato avaliador. De modo geral se percebe que para uma avaliação

qualitativa parte dos escritos deverão ser deixados de lado visando a valorização

dos melhores produtos61, mesmo que sejam reduzidos.

Apesar do monitoramento italiano por parte do MIUR ser nesse momento

mais frágil e menos articulado que o brasileiro, existem outras diretrizes

reguladoras, como o Decreto ministeriale número 224 de 30 de abril de 199962,

que regularizou o modo como seriam avaliados e estruturados os doutorados,

chamados na Itália de dottorrato di ricerca. Tais diretrizes servem para que as

universidades produzam seus relatórios justificando o cumprimento de parâmetros

de avaliação estipulados (número mínimo de professores, publicações nos últimos

5 anos, orçamento disponível para cada curso, participação de professores

externos ao programa), mas sem que estas avaliações sejam produzidas

diretamente pelo MIUR em detalhes como aqueles que encontramos nos

61 Kostoris (2008) cita como exemplo o caso inglês, em que a avaliação denominada de RAE (Research Assessment Exercise) seleciona 4 papers por pesquisador em um período de 7 anos de produções. 62 Os regulamentos podem ser baixados e lidos através do site < http://attiministeriali.miur.it/>, sendo os documentos disponibilizados desde o ano de 1996.

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Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 181

documentos de avaliação padronizados da CAPES63. A própria criação da

ANVUR parece indicar que este órgão gerenciará diretamente os núcleos internos

de avaliação das universidades e instituições de pesquisa64, conforme o texto que

a instituiu (Italia, 2006, art. 138).

Voltando-se um pouco para a História, o curso de doutorado é bem jovem

na Itália, tendo sido instituído através do Decreto do Presidente da República nº

382 de 31 de julho de 1980 nos artigos 68-74 e 75-80, sendo efetivamente

implementado para o ano escolar de 1983/1984 no que foi convencionado chamar

de I Ciclo (Gemma, 2006), sendo um ciclo para cada ano decorrido, atualmente

estando no XXVII Ciclo (2011/2012).

No Brasil, o processo foi um pouco mais precoce, com os primeiros

programas de doutorado em Educação surgindo em 1976 na PUC-Rio e na

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Saviani, 2000), impulsionados pelos

investimentos estatais do período militar conforme afirmamos. Em outras áreas os

programas começaram mais precocemente, a partir dos anos 60, conforme nos

informa Santos (2003, p. 628) sobre os cursos em Ciências Físicas, Biológicas e

Engenharia que firmaram convênios com instituições internacionais. Um exemplo

deste período incial é o doutorado no Instituto de Matemática Pura e Aplicada que

oferecia o curso em 1962, mas com diplomação dada pelo UFRJ, possibilidade

essa somente alcançada de forma autônoma pela instituição em 1971.

Os últimos dados disponibilizados pelo MIUR mostravam que 13.802

novos doutorandos foram admitidos no XXIII Ciclo, número esse relativamente

estável desde o XX Ciclo que apresentou 13.289 doutorandos iniciando seus

cursos (MIUR, 2011). Um grande crescimento ocorreu entre o XIV Ciclo, com

4.865 doutorandos novos, e o XIX Ciclo, com 12.519 (MIUR, 2005).

63 Os critérios de avaliação da CAPES, para cada área / curso podem ser encontrados no endereço < http://www.capes.gov.br/avaliacao/criterios-de-avaliacao>. A descrição dos critérios de avaliação vigentes em 2010 da área de Educação para os periódicos e livros acadêmicos (Qualis) e a ficha de avaliação dos cursos de pós-graduação em Educação pode ser encontrada no endereço < http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/EDUCA_19jun10.pdf>. O sistema é baseado em escalas que vão de A1 a A2, B1 a B5 e C para periódicos e L4 a L1 para livros e em pontuações para os programas de Pós-graduação. As pontuações no caso dos programas de pós-graduação levam para a avaliação final de 7 níveis, onde 7 é a nota máxima que pode ser alcançada. As avaliações são trienais. 64 As informações fornecidas pelos Núcleos de Avaliação das universidades referentes ao ano de 2011 podem ser acessados no CINECA através do endereço <https://nuclei.cineca.it/cgi-bin/2011/sommario.pl>. Os dados dos anos anteriores (2000-2010) estão dispostos com links através da ANVUR no endereço <http://www.anvur.org/?q=content/rilevazioni-annuali#>.

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Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 182

Quanto à estrutura atual, os doutorados italianos possuem duração de três

anos, com direito a solicitação de prolongamento pelo aluno, e no caso da UCSC,

está agrupado por cursos, a princípio, afins, nas denominadas Escolas de

Doutorado (Scuola di Dottorato), processo esse inexistente no Brasil. Estas três

determinações: tempo mais curto de duração, Escola de Doutorado e

fragmentação da gestão pública (maior independência dos agentes locais nas

instituições de pesquisa) são muito importantes para se compreender o contexto

onde esta pesquisa foi desenvolvida e os relatos obtidos nas entrevistas realizadas.

Sobre a atual duração dos cursos de doutorado, cabe enfatizar que o ano de

1999 marca o início efetivo das reformas no ensino superior europeu e sua

integração continental, denominado de Processo de Bolonha, relativo à cidade que

reuniu na época 29 ministros de diversos Estados europeus culminando na

assinatura da Declaração de Bolonha65 em 19 de junho daquele ano. O processo

de Bolonha faz parte de um conjunto maior de processos de integração entre os

Estados europeus, iniciado em 1958 com os seis países da Comunidade

Econômica Europeia e aprofundado no Tratado de Maastricht, em 1992, com

doze países compondo o que se denominou União Europeia, tendo tanto em um

quanto em outro o princípio da circulação de pessoas em um espaço sem

fronteiras (Azevedo, 2007).

O objetivo do Processo de Bolonha foi criar um movimento de reforma e

integração do ensino superior na Europa visando “harmonizar os sistemas

universitários europeus, de modo a equiparar os graus, diplomas, títulos

universitários, currículos acadêmicos, e adotar programas de formação contínua

reconhecíveis por todos os Estados membros da União Europeia” (Azevedo, 2007,

p. 134). Na declaração é enfatizada a necessidade de criação do Espaço Europeu

do Ensino Superior, visando claramente o aumento da competitividade da Europa

em relação a outros países e a atração de estudantes estrangeiros para as

universidades da UE.

A preocupação central é com a circulação dos estudantes pela Europa,

objetivando a emissão de maneira mais uniforme dos graus acadêmicos,

permitindo equivalência nos cursos e acesso a créditos universitários oferecidos

65 O texto completo da Declaração de Bolonha pode ser acessado no seguinte endereço: < http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2006/08/11/435613/ratado-bolonha-integra.html>.

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em qualquer país da União Europeia, tendo sido formalizado em 2001 o ECTS

(European Credits Trasfer Sistem), já presente anteriormente no chamado

programa Erasmus-Socrates. Cursos de doutorado na Itália, que antes poderia se

prolongar por 5 ou 10 anos e cursos de graduação em que o estudante prolongava

a obtenção de créditos por períodos extensos, hoje estão sendo uniformizados para

atender a fórmula 3/5/8, ou seja, três anos para a graduação (licenciatura), dois

anos para o mestrado e três anos para o doutorado (3+2+3).

O mestrado (laurea magistrale), de 2 anos de duração, tem seguido a

mesma tendência detectada no Brasil, pois tem se integrado à formação dos

alunos de graduação (laurea triennale - bacharelado) que desejam ser iniciados

em pesquisa, uma extensão da graduação que foi encurtada para três anos no

Processo de Bolonha. Antes do ano de 1999 o curso de graduação em Pedagogia

(Scienze della formazione) tinha duração de 4 anos, e hoje é denominado pelos

universitários de vecchio ordenamento (antiga graduação). No sistema antigo, o

aluno não precisava passar pela laurea magistrale (equivalente ao curso de

mestrado no Brasil), acessando diretamente o curso de doutorado. Alguns sujeitos

que entrevistei na Itália fizeram esse percurso antigo, pois sua graduação era dos

anos 1990, antes do processo de reforma.

Quadro 9 - Tendências da pós-graduação no Brasil e na Itália nos últimos 10 anos.

Tendência da pós‐graduação nos últimos 10 anos

Aligeiramento dos cursos de pós‐graduação.

Mestrado como preparação inicial para pesquisa, com 2 anos de duração.

Agências de avaliação direcionando os esforços acadêmicos.

Diminuição da qualidade das produções acadêmicas.

Publicações em grande quantidade, repetidas e aumento das co‐autorias.

Competição docente por financiamentos públicos a partir de pontuações e avaliações

Itália no estágio inicial da ANVUR e CAPES consolidada no Brasil

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Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 184

4.4 O acesso à mídia analógica e digital nos dois países

Após analisarmos as condições históricas e educacionais vejamos com

maiores detalhes o campo da infraestrutura midiática. De modo geral, a Itália tem

um perfil de país avançado quanto ao uso de mídia de massa analógica e digital

(rádio e TV), mas no caso da internet, tal como os indicadores do ensino superior,

ainda está bem distante do ideal para um país desenvolvido economicamente.

Segundo o relatório do CENSIS66 (2009), a taxa de penetração da internet

chegou a 47% no ano de 2009, um avanço em relação ao ano de 2001 quando

estava em 20,1%, mas foi lento em relação a 2007 (45,3%) em consequência da

grave crise econômica iniciada no período a partir da crise norte-americana. O

relatório aponta que as gerações mais recentes, os jovens, e os mais bem

instruídos dominam o acesso à rede mundial com respectivamente 80,7% e 67,2%

do total de entrevistados nesses dois segmentos.

Segundo a pesquisa TIC Domicílios e TIC Empresas 2010 do CGI BR

(Comitê Gestor da Internet no Brasil) (2011), no Brasil a taxa média em 2010 de

acesso urbano ao computador em domicílios chegou a 39%, com diferenças

regionais e entre classes sociais significativas, em especial a região Nordeste com

somente 19% e a região Sudeste a mais desenvolvida com 47% de acesso.

A taxa em 2010 de acesso à internet em domicílios no Brasil chegou a

31%, um avanço se comparada a 2005 quando estava em 13%, embora a

distribuição entre classes sociais tenha diferenças alarmantes: apenas 3% para as

classes D e E, 24% para a classe C, 65% para a classe B e 90% para a classe A. As

diferenças também são evidenciadas quando se comparam as diferentes regiões

brasileiras, com Nordeste e Norte tendo taxas de 15% e 17% e Sudeste e Sul com

taxas de 39% e 32%.

Em números absolutos, somando áreas urbanas e rurais, o Brasil teve 41%

de sua população com acesso à internet em 2010, um avanço em relação aos 24%

registrados em áreas urbanas em 2005 e os 45% registrados em 2010, sendo que

as diferenças regionais se mantêm e o Nordeste e Norte registram taxas de 28% e

66 O CENSIS é o Centro Studi Investimenti Sociali (Centro de Estudos e Investimentos Sociais), equivalente ao IBGE no Brasil. Este instituto de pesquisa foi fundado em 1964 e gera relatórios anuais que incluem a evolução no uso de mídias. O mais atual que foi possível obter é relativo aos dados do ano de 2009.

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34%, evidenciando que meios alternativos de acesso fora de casa ainda, como as

lanhouses, são presentes nessas regiões, embora a pesquisa tenha apontado que

estão em queda a partir do ano de 2007 em contraste com o aumento do acesso em

domicílio (CGI BR, 2011, p. 138, 155 e 159).

O uso do computador e da internet no Brasil segue o padrão da Itália e

também é maior entre os mais jovens e bem instruídos, com 83% de acesso ao

computador, alguma vez na vida, dos que estão na faixa dos 10 aos 24 anos. Algo

semelhante ao que ocorre com o acesso à internet, em 75% para a faixa dos 10 aos

24 anos, caindo progressivamente para 62% (25 aos 34 anos), 41% (35 aos 44

anos), 23% (45 aos 59 anos) e apenas 6% entre os que tem acima de 60 anos. A

internet foi acessada alguma vez na vida por apenas 52% dos que tem ensino

fundamental e 88% pelos que tem formação no ensino superior e 90% aos que

pertencem à classe A e apenas 16% aos que estão nas classes D e E (p. 413 e 416).

Quanto ao tipo de conexão nos domicílios, o relatório do CGI BR (2011)

evidenciou um decrescimento das conexões discadas, que foram de 31% em 2008

para apenas 13% em 2010. A banda larga fixa alcançou taxas de 68% para zonas

urbanas e 64% para zonas rurais, evidenciando um equilíbrio na distribuição.

Entre as regiões do Brasil a maior discrepância ocorreu entre o Norte, com 53% e

o Sul com a taxa de 78% de acesso via banda larga. Já a banda larga móvel, como

o 3G em celulares e modens para computadores saltou de 1% para 10% nas zonas

urbanas e de 8% para 13% nas zonas rurais (p. 149). Para os que não possuem

conexão de internet em casa a causa mais apontada foi o ainda elevado custo da

conexão para 49% dos respondentes, seguido por 23% que alegaram falta de

disponibilidade na região onde moravam (principalmente nas áreas rurais) e 16%

que não tinham interesse em acessar a rede (p. 152).

Já a TV na Itália tem a taxa mais alta de uso entre todos os meios

analisados pelo CENSIS (2009), chegando em 97,8% da população, seguida pelo

celular, com 85% e o rádio com 81,2%. Destacou-se no período o aumento da TV

por assinatura, que atinge 35,4% da população e da TV Digital Terrestre que

chegou a 28%, sendo que a última é um movimento natural de transição de

padrões semelhante ao que passa o Brasil.

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O acesso à internet via celular é algo mais comum na Itália, onde os planos

de acesso tem baixo custo em relação às taxas cobradas no Brasil67; apesar disso o

relatório do CENSIS (2009) apontou que o uso de funções mais custosas, como o

acesso à web via smartphones e de videochamadas caiu fortemente entre 2007 e

2009, com o uso das funções de base saltando de 48,3% para 70%, outra vez

devido à grave crise econômica europeia iniciada nesse período.

O ano de 2007 na Itália, portanto, foi marcado pela queda no uso de meios

de comunicação pagos, incluindo os jornais impressos e a revistas mensais; a

leitura de livros permaneceu relativamente estável na casa dos 56,5%, sendo

maior a taxa entre os jovens com 75,4%. Quanto aos comportamentos na internet

o CENSIS (2009) detectou uma diminuição do acesso aos periódicos online que

cederam espaço para as redes sociais e blogs.

Segundo o CGI BR (2011, p. 173-176), o acesso à telefonia celular no

Brasil vem crescendo e alcançando taxas muito superiores à telefonia fixa. Em

2010 a taxa de penetração dos celulares em domicílios chegava a 84%, bem acima

dos 38% da telefonia fixa, que inclusive registrou queda em relação a 2009,

quanto estava em 40%. Nesse item as classes A, B e C apresentam taxas de uso

muito próximas, 96%, 91% e 82% respectivamente. Somente 6% dos possuidores

de celular no Brasil acessam a internet, com a grande maioria, 92%, acessando via

planos pré-pagos, evidenciando mais uma vez os altos custos da telefonia

brasileira.

Abaixo, através da ferramenta Google Public Data Explorer, usando dados

do Banco Mundial, construiu-se um gráfico comparativo do desenvolvimento do

acesso à internet entre EUA, pioneiro e criador da rede mundial, Itália e Brasil,

desde o ano 1990 até o ano de 2009. Enquanto os EUA estão alcançando uma

curva de estabilidade na casa dos 80% de acesso, o Brasil vem em uma escala

ascendente ainda próximo dos 40% e não muito distante da Itália que chega hoje

próxima aos 50% de acesso.

67 Um das empresas mais fortes na Itália para acesso à internet e uso de pacotes de voz por celular é a Wind < http://www.wind.it>. Um plano mensal de 150 minutos de chamadas de voz, 150 mensagens (SMS) e acesso sem limite à internet custa 17 Euros, ou 42,50 Reais a uma taxa média de conversão de 1 Real = 2,5 Euros. Um plano semelhante na TIM Brasil (voz e acesso à internet) custa, em média, 100 Reais, levando-se em conta o mais básico de 100 minutos com acesso ilimitado à internet (TIM Liberty).

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Os componentes da pesquisa I: o contexto de dois países 187

É bom notar a curva acentuada (salto) obtido na Itália entre 1998 e 2001,

corresponde exatamente ao período de início do acesso privado à internet relatado

nas entrevistas feitas na Itália, como será visto no capítulo de análise dos dados.

No Brasil este salto ocorre de forma mais gradual a partir do ano de 2001.

Gráfico 6 - Percentual de utilização da internet nos EUA, Itália e Brasil (Fonte: Banco Mundial, Indicadores do Desenvolvimento Mundial. Google Public Data Explorer).

Encerrando este sobrevoo sobre o sistema de ensino e sobre a mídia na Itália

e Brasil vamos a seguir focar na especificidade dos locais em que foi concentrada

a busca de sujeitos que compuseram este estudo tanto na PUC-Rio quanto na

UCSC Milão.

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5 Os componentes da pesquisa II: o eu e os outros mais próximos

Produzir uma história de vida, tratar a vida como uma história, isto é, como o relato coerente de uma seqüencia de acontecimentos com significado e direção, talvez seja conformar-se com uma ilusão retórica, uma representação comum da existência que toda urna tradição literária não deixou e não deixa de reforçar (Bourdieu, 1996, p. 185).

Uma primeira observação que faço, dentro dos contrastes que

inevitavelmente tive que elencar, é sobre o próprio processo de pesquisa e seu

entrelaçamento com minha vida de pesquisador. A todo o momento que analisei

os outros sujeitos, fazendo perguntas estruturadas sobre seus processos de

pesquisa, em um roteiro previamente estruturado, não pude deixar de me ver

representado ali em suas experiências.

Analisar o modo como o outro sujeito pesquisa, ao mesmo tempo em que

se passa por experiências tão próximas às que ele relata, é como ver o final do

filme estando ainda no meio dele, sendo, de certo modo, uma forma de

autocobrança por resultados ajustados e uma autorreflexão sobre os passos e

decisões tomadas até o momento. Ver a forma como o outro realizava sua

narrativa, dava sentido ao conjunto de experiências vividas, me fazia refletir sobre

meu próprio trajeto e comparar a coerência do entrevistado com as inconsistências

de meu trajeto.

Não se pode exigir dos outros pesquisadores uma coerência absoluta em

suas pesquisas68, pois ela de fato não existe, mesmo que eles a queiram

demonstrar em seus discursos públicos. Bourdieu (1996), ao falar da ilusão

biográfica, analisa o processo de construção de autobiografias e nos aponta a

falha que existe na busca de uma trajetória lógica da vida tal qual aquelas

encontradas em romances, de uma ordem sucessiva de acontecimentos como se

68 Entendo aqui coerência como uma representação mental na qual a pesquisa deve ter encaixes perfeitos em sua execução, seguindo de maneira linear uma série de etapas consecutivas previstas em manuais, sem imprevistos, como se o objeto de estudo e o campo de pesquisa fossem totalmente controláveis e conhecidos desde o começo.

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Os componentes da pesquisa II: o eu e os outros mais próximos 189

fossem previamente organizados em um objetivo maior, com começo, meio e fim,

desenvolvendo-se a partir de uma razão de ser original. Basta perceber que a

nossa própria pesquisa apresenta muitos detalhes, reviravoltas, surpresas,

empecilhos e ajustes burocráticos nem sempre levados em conta no momento do

planejamento e na comportada escrita de um projeto de pesquisa.

Dessa forma, toda estruturação desta tese em capítulos e subtópicos pode

ocultar o cotidiano dinâmico do pesquisador num mundo digital complexo e

instável, portanto, é sempre bom alertar para o engano com as aparências de

simplicidade e coerência, pois meus próprios fragmentos de pesquisa foram

reunidos e selecionados aqui do modo mais disfarçadamente (i)lógico que

consegui, dezenas de vezes revistos e reeditados para facilitarem a leitura. Se

fôssemos criar uma analogia de ordem informática aos casos que coletei na

pesquisa através de entrevistas, seriam como fotografias em baixa resolução, em

relação com a exuberância de detalhes vivos que somente o sujeito que as viveu

pode possuir com alto nível de clareza.

Confesso que ao fazer cada uma das entrevistas e transcrevê-las, os modos

de se portar, as ferramentas utilizadas, as estratégias de leitura e escrita, os

conteúdos experienciais relatados por estes pesquisadores, eram absorvidos e

testados por mim em minha própria pesquisa. Tal processo me fez recordar certo

personagem de seriado de televisão que, ao tocar em seus colegas, absorvia por

mimetismo suas características mais preciosas e marcantes. Não era esse o

objetivo da pesquisa, porém foi um resultado secundário muito enriquecedor,

quase automático quando me deparava com as transcrições e releituras dos

depoimentos. Graças aos relatos, conheci e utilizei outras ferramentas disponíveis

na internet que me foram muito úteis.

Outra curiosidade, além dos mimetismos desenvolvidos, foi o aumento da

percepção de atitudes pessoais nos usos das mídias digitais enquanto fazia a

pesquisa. Observar a disposição dos materiais em minha própria mesa de estudo,

comparando a quantidade de livros comprados em livrarias e artigos que tinha

obtido na internet e impresso, assim como os tipos de fontes que mobilizava em

minhas buscas por materiais na internet, o modo como armazenava meus arquivos

no computador e as técnicas que utilizava durante minha escrita em arquivos

digitais, todos esses itens refletiam hábitos e posturas encontrados nos outros

pesquisadores. As categorias que formaram a primeirra classificação que eu usei

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Os componentes da pesquisa II: o eu e os outros mais próximos 191

estar “limpo”, sem “ruídos”, mas aqui eles exemplificam aquilo que procurei

encontrar nos discursos dos sujeitos entrevistados.

O primeiro reajuste surgiu a partir dos resultados encontrados em quatro

entrevistas conduzidas no Brasil antes de minha incursão à Itália. Estas entrevistas

foram inicialmente consideradas piloto, mas depois foram incorporadas ao estudo

pela variedade e profundidade dos relatos obtidos, orientação esta dada por Pier

Cesare Rivoltella, durante reunião no CREMIT, ao analisar o resumo das

entrevistas quando as apresentei a ele, após realizada a primeira fase de

transcrições. Foi com essa mudança, que ficou decidido que metade dos

entrevistados em cada país pertenceriam aos grupos de pesquisa JER e CREMIT.

A segunda mudança metodológica foi derivada da constatação que a fase

de transição tecnológica mais importante e impactante dos suportes digitais vem

depois do ano de 2005, com o desenvolvimento da Web 2.0 (O´Reilly, 2005) e

suas ferramentas on-line de disposição dos dados. Eu pensava, no início, em

pesquisar doutores entre 1998 e 2009, acompanhando uma transição longa, mas

que em si se mostrou improdutiva, pois na prática o formato digital entrava no

cotidiano do doutorando a partir dos anos 2000-2001, com estes se formando em

2004-2005.

Lembro que a internet veio a se consolidar como fonte de pesquisa e de

interação de dados em rede depois de 2005, quando a Web assume espaço maior

na gestão dos dados e na escrita dos doutores (nem todos, conforme pude

constatar em algumas entrevistas), superando a noção de computador como

simples “máquina de escrever” de última geração, típica das limitações

tecnológicas dos anos 90, apesar das exceções. Dessa forma, a preferência para o

ano de conclusão de curso dos doutores passou a girar entre 2005 e 2010, até

mesmo pela possibilidade de abrangência dos casos, que deveria ser limitada pelo

caráter solitário da pesquisa.

A terceira mudança que operei foi quanto ao campo de abrangência da

pesquisa. Se inicialmente eu tinha pensado em abarcar as ciências humanas como

um todo, esta tarefa seria para um grupo amplo de pesquisadores e não somente

para um doutorando. Entrevistar e transcrever entrevistas em profundidade foi um

processo que percebi ser muito longo, não só com o trabalho braçal (2 semanas

em média por transcrição e 1 semana de revisão), mas de trabalho interpretativo.

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Assim sendo, reduzi de forma prudente a pesquisa ao campo da Educação o que

resultou na limitação do campo de sujeitos potenciais.

Com estas considerações feitas, serão detalhadas a seguir as duas

universidades onde se realizou a pesquisa e depois a metodologia adotada em

todas as etapas desenvolvidas para a coleta e o tratamento do campo empírico

escolhido.

5.1 Breve descrição dos locais de realização da pesquisa

Números podem não nos dizer muita coisa a respeito do cotidiano dos

pesquisadores e seus comportamentos individuais, mas podem nos oferecer uma

ideia da dimensão do campo onde estão inseridos. Foi pensando nisso que acessei

o Censo de 2010 feito pelo CNPq, uma fotografia obtida a cada 2 anos por esta

agência de fomento de pesquisa a partir de sua base de dados online, o Diretório

dos Grupos de pesquisa69. Infelizmente a Itália não nos oferece um cadastro

centralizado de seus grupos de pesquisa.

Tínhamos, portanto, em 2010, 27.523 grupos de pesquisa cadastrados no

Brasil, sendo 46,8% deles concentrados na região Sudeste e 12% somente no Rio

de Janeiro. A área de Educação era a predominante deste total, representando

8,1% de todos os grupos de pesquisa no Brasil (2.236), seguida pela Medicina

(1437), Agronomia (1040), Química (1036), direito (776) e Ciência da

Computação (776). A PUC-Rio tinha exatamente 200 grupos de pesquisa que

representavam 0,7% do total ou 964 pesquisadores, sendo destes 810 doutores.

Estes dados nos fazem refletir sobre o universo imenso de “trabalhadores do

conhecimento” presentes hoje nas nossas universidades, mais precisamente em

452 instituições brasileiras participantes deste Censo 2010. Com estes números

em mente proponho agora o detalhamento de duas dessas “estrelas dentro da

imensidão da Galáxia”, ou seja, me concentrarei em 1 destes grupos aqui no

Brasil e outro pertencente à UCSC na Itália.

69 Disponível em: < http://dgp.cnpq.br/censos/>.

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Os componentes da pesquisa II: o eu e os outros mais próximos 193

5.1.1 Traçando pontos de convergência: o JER no Brasil e o CREMIT na Itália 70

Penso que é importante, nesse momento da tese, desenvolver um pouco

mais as conexões com os dois grupos de pesquisa que participaram de modo

fundamental na estruturação empírica deste estudo, pois ajudaram a localizar

candidatos para realização de entrevistas a partir de suas redes de

relacionamentos. O objetivo aqui é familiarizar o leitor com estes dois ambientes

e a conexão dos mesmos com meus objetivos de pesquisa.

Comecemos então pelo JER. O Diretório de Pesquisa Jovens em Rede

(JER), vinculado ao Departamento de Educação da PUC-Rio e coordenado pela

professora doutora Maria Apparecida Mamede-Neves, desenvolve há mais de 10

anos pesquisas voltadas para o jovem e o uso de mídias (jornal, TV, internet),

tendo sido fundado em 1998.

Tanto em sua pesquisa realizada entre 2005 e 2008, sobre representação e

significação da Internet pelo olhar de jovens universitários, quanto na pesquisa de

2008 a 2011, sobre representação e significação da Internet por professores de

Ensino Médio, o grupo Jovens em Rede (JER) vem se interessando na

problemática dos usos da mídia, em especial a mídia de configuração digital,

sendo que, na primeira o foco esteve nos jovens recém-formados no ensino médio

e iniciantes em curso universitário e na segunda pesquisa, concluída recentemente,

o foco esteve nos professores destes mesmos alunos, selecionados em amostra

intencional a partir das escolas com maiores índices de aprovação no vestibular na

PUC-Rio.

Já o centro de pesquisa parceiro na Itália, o Centro di Ricerca

Sull’Educazione ai Media all’Informazione e alla Tecnologia (CREMIT), foi

fundado novembro de 2006 a partir de um trabalho que já vinha sendo

desenvolvidos desde 1998 com uma equipe de trabalho participante do Corso di

Perfezionamento in Media Education.

70 Síntese feita a partir do projeto integrado de pesquisa enviado ao CNPq pelo Diretório de Pesquisa Jovens em Rede a respeito da pesquisa Mestres na Web: representação e significação da Internet por professores de Ensino Médio (2008-2011), no qual o histórico da pesquisa e suas relações inter-institucionais são detalhadas. Também foram consultados os sites dos grupos de pesquisa em < http://jovensemrede.wordpress.com/> e < http://www.cremit.it>.

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No CREMIT, são desenvolvidos por seus colaboradores projetos

contratados e pagos por escolas, universidades e governo, na área de educação e

mídia (ou mídia-educação, expressão mais utilizada por seus pesquisadores) e

tecnologia da educação (ensino a distância, tecnologia na didática, projetos e

avaliação online, tutoria online), não havendo períodos fixos de realização para

estes projetos e se desenvolvendo vários destes projetos de modo simultâneo. O

CREMIT se localiza em Milão, na Região da Lombardia, no norte da Itália.

O público-alvo do CREMIT são principalmente os professores de escolas,

alunos e famílias de alunos. É um centro de pesquisa que deve se sustentar

financeiramente, ou seja, a renda gerada deve manter o centro de pesquisa, sua

estrutura e funcionários, assim como pagar à própria universidade pelo espaço que

utiliza. Tal modus operandi se distingue dos Diretórios de Pesquisa que pertencem

e são mantidos pelos Departamentos de Educação nas universidades no Brasil e

recebem bolsas a partir de projetos enviados e aprovados por agências de

fomento, como a FAPERJ (no caso do Rio de Janeiro), o CNPq e CAPES (no

Brasil todo).

Tal como no Brasil, participam do CREMIT doutores, mestres, estudantes

de pós-graduação e estudantes de graduação, com a diferença que somente alguns

recebem bolsas de estudo financiadas pela universidade, sendo que outros

recebem bolsas de estudo financiadas pelos projetos no qual o CREMIT oferece

seus serviços. Todos os projetos e seus participantes foram selecionados por Pier

Cesare Rivoltella através de suas atividades como dirigente do centro de pesquisa

e também como professor e orientador de estudantes na UCSC.

A parceria com o Cremit iniciou-se a partir dos resultados da pesquisa

Ragazzi del Web a respeito da internet e tendo como sujeitos pesquisados pré-

adolescentes, beneficiando-se de um convênio já existente entre a PUC-Rio, no

Brasil, e a UCSC, na Itália, em que dados da pesquisa Jovens em Rede –

representação e significação da Internet pelo olhar de jovens universitários

puderam ser confrontados com os resultados da pesquisa Screen Generation

realizada pelo professor doutor Pier Cesare Rivoltella, como a parte italiana do

projeto europeu Mediappro (Mamede-Neves, 2008).

De minha parte, na pesquisa que realizei durante o curso de Mestrado em

Educação, estive imerso em temáticas contemporâneas que envolviam a autoria

coletiva de textos e formas de cooperação e construção autoral na cibercultura,

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através do estudo de caso sobre o site Wikipédia (Rosado, 2008). A construção

autoral desta enciclopédia on-line esteve marcada pela grande quantidade de

jovens de ensino médio e universitários como autores da mesma. Essa relação de

proximidade (internet e jovens) levou-me ao encontro do JER, cuja coordenadora

participou de minha banca de mestrado e atualmente orienta-me nesta fase de

doutoramento.

Conforme citado, o foco atual do JER encontra-se nos mestres, no caso, são

docentes do segmento de ensino médio que utilizam (ou se recusam a utilizar) a

internet em seu cotidiano docente. O diretório JER tem, assim, a possibilidade de

estar analisando a díade aluno-professor, com relação à inclusão destes na cultura

midiática digital.

Partindo de um ângulo diferente desta relação, o foco proposto nesta tese é

pesquisar outro período de formação acadêmica, em nível de pós-graduação

stricto sensu, no qual se formam futuros professores universitários qualificados,

que provêm de uma imersão em cultura acadêmica fortemente marcada, em sua

história, pela materialidade do meio impresso representado em livros e revistas

científicas. Serão estes doutores que receberão os jovens egressos de cursos de

ensino médio na universidade, já imersos e atuantes na cultura digital. Dessa

forma a tríade crescente jovem aluno-professor do ensino médio-doutores

professores de graduação poderá ser confrontada pelo JER, embora este não seja

o objetivo principal desta tese e não tenhamos conduzido esta análise aqui neste

texto de modo específico.

Com esta visão maior de integração em mente, pude então realizar alguns

questionamentos, tais como: Haverá então mudanças em curso na cultura

acadêmica universitária, especificamente na área de Educação, que apontem para

um uso intenso de mídias digitais, em uma atividade que exige amplo esforço de

pesquisa, seleção e acesso a fontes, como a elaboração de uma tese? Houve

mudanças significativas na relação entre o doutor em formação e a internet ao

longo de seu curso nestes últimos 10 anos?

Sabemos, por exemplo, que o grupo de jovens que foram pesquisados entre

2005 e 2008 pelo JER considerou a internet com elemento fundamental e fonte

fidedigna de informações para a aprendizagem nas disciplinas do seu futuro curso

universitário, em quase pé de igualdade com livros, e muito além do que as mídias

impressas ou televisivas possam contribuir (Mamede-Neves, 2008). Como ainda

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estavam recém-saídos do ensino médio, era certo que este jovem não passara

ainda pela provável influência de seus futuros professores e da cultura acadêmica

universitária, que introduz novos elementos ao cotidiano destes, a exemplo da

consulta a fontes acadêmicas formais na composição de trabalhos universitários.

Da mesma forma que o jovem elegeu a internet como espaço privilegiado de

construção de seu conhecimento, questiono se o recém-doutor, mergulhado em

uma cultura cada vez mais influenciada pela mídia digital, está caminhando na

mesma direção e de que forma está aplicando em sua construção autoral a mídia

digital.

Entendemos aqui a diversidade de papéis que recém-doutores vestem

durante sua formação, ora alunos em seus cursos de doutorado e sujeitos a uma

cultura acadêmica institucional específica, ora professores universitários que

recebem alunos recém-formados do ensino médio para os cursos de graduação que

fazem parte como docentes (pelo menos uma parte deles que decide se dedicar a

esta carreira). São exatamente essas relações que este estudo levará em

consideração ao analisar o contexto cultural e social de produção autoral destes

recém-doutores, porém sem esquecer o direcionamento do nosso olhar

prioritariamente para a autoria deste doutor e os usos da mídia digital ao longo

deste processo.

5.1.2 Estrutura, história e aproximações entre a PUC-Rio e a UCSC

Além dos grupos de pesquisa, é importante também conhecer um pouco da

história e estrutura dos locais onde se realizou a busca dos doutores para compor

este estudo, universidades que abrigam os grupos de pesquisa e os cursos de

doutorado onde se formaram a maioria dos entrevistados e onde se passou parte

de suas atividades de busca de fontes, relação com professores e colegas e a

construção da autoria de suas teses.

A PUC-Rio71, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,

caracteriza-se como instituição de ensino, pesquisa e extensão de caráter privado,

porém sem fins lucrativos, com orientação no “respeito aos valores humanos e na

71 Síntese feita a partir de sua História, Missão e Marco Referencial presentes no site < http://www.puc-rio.br/sobrepuc/historia/index.html>.

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ética cristã”, entendido como “primado da pessoa sobre as coisas, do espírito

sobre a matéria, da ética sobre a técnica” de acordo com seu Marco Referencial.

Ela se posiciona como universidade confessional (ligada á fé cristã difundida pela

Igreja Católica) e comunitária, prestadora de serviço de interesse público.

A PUC-Rio tem em sua direção os jesuítas pertencentes à ordem religiosa

Companhia de Jesus, aprovada em sua criação em 1540 a partir da congregação

religiosa fundada em 1534 por um grupo de estudantes da Universidade de Paris.

A Companhia de Jesus é fortemente ligada à fundação de instituições de ensino

desde seu começo (escolas, liceus, seminários), sendo muitos jesuítas também

educadores. Os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil em 1549, em grupo de seis,

liderados pelo português Manuel da Nóbrega (1517-1570), fundando em 1554 um

colégio para educação de indígenas, onde se desenvolveu ao redor o que é hoje a

cidade de São Paulo. Importante notar-se que o primeiro superior geral dos

jesuítas e propositor da ordem foi o espanhol Inácio de Loyola (1491-1556).

A PUC-Rio desenvolve, segundo seu plano político-pedagógico, uma “visão

cristã de mundo”, mas afirma-se também em seu pluralismo cultural, diálogo e a

busca da excelência acadêmica. Atua tanto no ensino como na extensão e na

pesquisa, com ampla variedade de cursos. Em sua estrutura de pós-graduação

predominam as ciências humanas e sociais, equilibradas com as carreiras de

ciências exatas.

O título de Universidade é adquirido em 1946, após a junção da instituição

católica “Escola de Serviço social” com as “Faculdades Católicas”, que tinham

formado sua primeira turma de Filosofia em 1943. Vem a se tornar “Pontifícia”

em 1947, por decreto da Santa Sé. Em 1948 surge a Escola Politécnica da PUC

(EPPUC), inaugurando a área de cursos de Engenharia. Seu estabelecimento no

bairro carioca da Gávea se dá na década de 1950, com a inauguração do campus

em 1955. Na mesma década surgem os cursos nas áreas de Administração,

Jornalismo, Psicologia e Sociologia. Cursos nas áreas médicas, como Medicina e

Odontologia também surgem, porém apenas em nível de pós-graduação.

Os anos 1960 marcam o avanço de cursos de pós-graduação stricto sensu,

primeiro com o curso de Mestrado em Engenharia Mecânica e, no ano seguinte, o

de Engenharia Elétrica na área de Telecomunicações. Importante notar que em seu

pioneirismo, o Departamento de Educação tem o primeiro curso de mestrado

certificado pela CAPES no ano de 1966 e a primeira mestra em Educação no

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Brasil formada no início da década de 70. Este esforço por parte da PUC-Rio já

havia se iniciado alguns anos antes com o envio e preparação no exterior dos

futuros docentes e pesquisadores contratados para o curso de Pedagogia (Fávero,

2005, p. 38-40).

Em termos administrativos, a PUC-Rio é composta de 4 vice-reitorias, a

saber: Acadêmica, Comunitária, Administrativa e de Desenvolvimento. Também

é composta de 4 centros que aglutinam os cursos da instituição, a saber: CTCH -

Centro de Teologia e Ciências Humanas, CTC - Centro Técnico Científico, CCS -

Centro de Ciências Sociais e CCBM - Centro de Ciências Biológicas e de

Medicina.

Todos os departamentos da Universidade, totalizando 23, mais os 8

institutos, 3 núcleos e 2 centros estão localizados no mesmo campus da Gávea e

incluem os cursos de Administração, Arquitetura e Urbanismo, Ciências

biológicas, Comunicação Social, Design, Direito, Economia, Engenharias (Civil,

Elétrica, Mecânica, Industrial, de Materiais, Mecânica, de Produção), Filosofia,

Física, Geografia, História, Informática, Letras, Matemática, Pedagogia,

Psicologia, Química, Relações Internacionais, Serviço Social, Sistemas de

informação, Sociologia e Teologia. Com exceção de Arquitetura e Urbanismo e

Ciências biológicas, todos os cursos tem seus equivalentes de mestrado e/ou

doutorado, com duração média de 2 anos e 4 anos respectivamente.

Em termos numéricos, o site da PUC-Rio informa que “atualmente a

Universidade possui 113 salas, 2 auditórios com sistema informatizado de

apresentações e diversos laboratórios muito bem equipados que acomodam,

aproximadamente, 10.400 alunos de graduação, 1.500 em cursos de mestrado e

doutorado, além de mais de 4.000 matrículas por ano em pós-graduação lato

sensu. Distribuído em 23 departamentos, seu quadro de funcionários conta com

mais de 1.000 professores, 20 auxiliares de Ensino e Pesquisa e mais de 800 entre

pessoal administrativo, técnico e operacional.” Em termos de acesso à internet a

PUC-Rio conta com pontos de conexão Wi-Fi (sem fio) e rede de laboratórios de

informática disponíveis para seus alunos de graduação e de pós-graduação.

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A Universitá Cattolica del Sacro Cuore72, por sua vez, foi fundada em 1921

em Milão, na Itália, por Agostino Gemelli com um grupo de intelectuais católicos

(Ludovico Necchi, Francesco Olgiati, Armida Barelli e Ernesto Lombardo) na

presença do arcebispo de Milão, o cardeal Achille Ratti, o futuro Papa Pio XI,

tendo o reconhecimento legal por parte do Estado em 1924 como universidade

livre. Os dois primeiros cursos foram de Ciências Sociais e Filosofia. Na mesma

década, nasce a faculdade de Ciências Políticas, Economia e Comércio. Em 1936

é criado o Instituto Superior de Ensino, atual curso de Ciências da Educação e em

1947 a de Economia.

Em 1928, o Padre Agostino Gemelli comprou o antigo mosteiro cisterciense

de Santo Ambrósio, que se tornou a sede da Universidade Católica em 30 de

outubro de 1932. Na década de 50 e 60, ocorre a expansão a criação de outros

campi e cursos superiores além de Milão. É a maior Universidade não-estatal da

Europa, em torno de 42 mil estudantes e 1400 professores em seus campi. Possui

atualmente cinco campi localizados em Milão, Brescia, Piacenza-Cremona, Roma

e Campobasso. Semelhante à PUC-Rio, a UCSC também apóia o diálogo com

todas as culturas, ressaltando em seu site a “amizade entre razão e fé”.

Em sua estrutura administrativa, o reitor é eleito pelo Conselho de

Administração para um mandato de 4 anos, renováveis por até duas vezes. O

Conselho é formato por professores com pelo menos 5 anos de atividade de

ensino na instituição. Na sede de Milão a UCSC conta com 18 departamentos

ativos, 10 institutos e mais de 30 centros de pesquisa, incluindo o CREMIT. Com

a sua especificidade, são os locais designados para a realização e promoção de

pesquisa, sejam institucionais ou encomendadas por terceiros. Possui mais de 500

convenções e acordos com universidades em todo mundo, o que inclui a PUC-

Rio, recebendo em 2009 cerca de 2100 estudantes não-italianos.

Entre os departamentos do campus de Milão estão os de Filosofia,

Pedagogia, Economia e Gestão de Negócios, Psicologia, Ciências da

Comunicação, Ciências Políticas, Sociologia, História Moderna e Contemporânea

e Estudos Medievais e do Renascimento humanista. A sede de Milão é marcada

72 Síntese feita a partir das seções Ateneo, Tutti i corsi e Ricerca Scientifica presentes no site <http://www.unicattolica.it/>. A seção referente ao campus Milano, no endereço <http://milano.unicatt.it/>, serviu-nos para detalhamento das especificidades do local onde foi realizada a pesquisa. O site <http://www.unicattolica.it/2168.html> contém informações específicas sobre as principais escolas e programas de doutorado, de todos os campi da UCSC.

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Os componentes da pesquisa II: o eu e os outros mais próximos 200

fortemente pelos estudos em ciências sociais e humanas, com programas de

doutorado vinculados à maioria destes departamentos. História, Psicologia,

Pedagogia, Administração, Direito, Economia, Sociologia, Comunicação,

Linguística e Literatura incluem-se entre os programas de doutoramento. Cursos

de mestrado têm em média 2 anos e os de doutorado 3 anos, podendo ser

estendidos pelo aluno mediante requisição.

As características de aproximação cultural entre as universidades PUC-Rio e

UCSC que justificam a escolha delas como locais de pesquisa convergentes e

complementares se constituem do seguinte modo:

Quadro 10 - Aproximações entre as universidades PUC-Rio e UCSC de Milão.

Todas estas convergências ajudaram na coleta mais aproximada e uniforme

de dados assim como seu tratamento, além de possuírem, ambas, grupos de

pesquisas ligados à Educação e o uso de mídias digitais, enriquecendo o

intercâmbio acadêmico já em curso entre o JER e o CREMIT e oferecendo

possibilidades de estudos e levantamentos de dados originais, visto que a Europa e

em particular a Itália é berço de uma cultura latina letrada e universitária que

Aproximações entre a PUC‐Rio e a UCSC Milano

Universidades católicas

São universidades de origem e administração ligada à Igreja Católica desde sua fundação.

Criação recente São constituídas e têm seus períodos de expansão iniciados na primeira metade do século XX.

Estrutura de excelência

Mantém compromisso com ensino de excelência e boa estrutura de atendimento a seus estudantes. 

Do setor privado São universidades não‐estatais.

Áreas diversificadas

Valorizam a presença de diversas áreas de conhecimento no mesmo campus.

Programas de doutorado

Possuem programas consolidados de doutorado na área de ciências humanas e sociais. 

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influenciou as demais universidades no mundo, tópico este desenvolvido adiante

com maior detalhamento.

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6 Metodologia

6.1 Tipo de pesquisa

O desenho metodológico adotado nesta investigação se constituiu num

estudo de casos múltiplos, nos termos propostos por Yin (2001), culminando na

análise de conteúdo via categorias temáticas segundo a orientação de Bardin

(1977), objetivando uma coleta e uma posterior análise dos dados empíricos que

chegasse, da melhor maneira possível, a algumas respostas às questões propostas

inicialmente.

Para a consecução dos objetivos da pesquisa, nos inspiramos nos processos

usados em pesquisas de trajetória de vida através de entrevistas em profundidade,

sendo que todas as entrevistas, em conjunto, ofereceram suporte a um estudo de

casos múltiplos representados pela unidade básica do processo de construção

autoral da tese dos sujeitos-doutores.

Inúmeras razões podem levar à escolha da modalidade estudo de caso em

uma pesquisa, mas a primeira delas a ser analisada é o tipo de questão proposta, e

consequentemente que objetivo se deseja alcançar com o estudo. Comparando

modalidades como experimento, levantamento de dados, análise de arquivos,

pesquisa histórica e estudo de caso, Yin (2001, p. 24-25) utiliza o artifício de

interrogar a modalidade da questão feita pelo pesquisador.

No caso do presente trabalho, entre as possibilidades como, porque, quem,

o que, onde, quanto, a que pareceu melhor se encaixar foi a como, isto porque

procuramos indagar como se realizava um processo, ou seja, de que maneira se

desenvolveu uma determinada atividade ao longo do tempo, com o objetivo de

entender e descrever as características e as tendências dessa atividade. Para este

fim, indagar diferentes sujeitos a respeito de sua atividade de autoria acadêmica,

que se desenvolveu ao longo de alguns anos de suas vidas, através do estudo de

caso de cada um deles, foi uma alternativa adequada ao tipo de questão proposta.

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Metodologia 203

A modalidade de investigação escolhida requer a definição de sua unidade

básica de análise. Por isso foi definido o processo de construção autoral de uma

tese acadêmica como unidade básica de estudo, não sendo analisado, embora

possa ser em outras situações de estudo, nem um evento e nem uma instituição

específica, constituindo-se o número de estudos de caso de acordo com o número

de sujeitos participantes nesta fase do estudo (para cada sujeito uma tese e um

processo de construção autoral correspondente). Como limitador dessa escolha,

podemos adicionar que os processos estudados foram aqueles em que o sujeito fez

uso de recursos digitais (computador e internet) para sua pesquisa e construção

autoral, critério este fundamental na escolha dos sujeitos participantes.

O número de casos não foi um número fixo, a priori, pois o trabalho de ida

a campo indicou maior ou menor necessidade de procurar sujeitos, à medida que

respostas para as questões de estudo foram sendo alcançadas e novas

circunstâncias encontradas mudaram o próprio desenho da pesquisa.

Não constou, desde o início da pesquisa, o objetivo de coletar uma

amostragem significativa do universo total de sujeitos. Pelas características da

pesquisa, optamos pela procura de sujeitos que pudessem gerar contrastes de

experiências e diversidade de situações ao serem comparados entre si em seus

depoimentos, interessando mais do que simplesmente a constatação estatística de

comportamentos previamente supostos.

Logo, procuramos seguir as recomendações oferecidas por Alves-Mazzotti

(2006), que a partir de Robert Yin (1984) afirma:

Tal como os experimentos, os estudos de caso, portanto, não representam “amostra” cujos resultados seriam generalizáveis para uma população (generalização estatística), o pesquisador não procura casos representativos de uma população para a qual pretende generalizar os resultados, mas a partir de um conjunto particular de resultados, ele pode gerar proposições teóricas que seriam aplicáveis a outros contextos. A isto Yin (1984, p.39) denomina “generalização analítica”.

Segundo Yin (2001, p. 58), “na generalização analítica, o pesquisador está

tentando generalizar um conjunto particular de resultados a alguma teoria mais

abrangente”. Dessa forma, os resultados encontrados poderão ser testados em

outros casos, replicados em outras situações em que o objeto de pesquisa seja o

mesmo, confirmando ou não a teorização gerada inicialmente. A generalização

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Metodologia 204

analítica funciona através da lógica da replicação, e nos estudos de casos

múltiplos essa replicação pode ser testada no conjunto de casos obtido.

Convém também especificar que o estudo de casos múltiplos se contrapõe

ao estudo de caso único. No estudo de caso único, de acordo com Yin (2001, p.

61-63), contamos com três situações principais para seu uso: ser decisivo para a

testagem de uma teoria; ser raro ou extremo e, portanto, não facilmente

localizável; ser revelador a respeito de um fenômeno previamente inacessível à

investigação científica. Não pensamos que este estudo se localize em nenhuma

destas situações listadas, pois a elaboração de uma tese com o uso do computador

e da internet por doutorandos vem se tornando cada vez mais uma obrigatoriedade

no meio universitário nesta fase de transição dos suportes de leitura e de escrita,

especialmente a partir dos anos 2000, conforme foi indicado na revisão de estudos

empíricos no Capítulo 3.

O que se percebe é que essa modalidade processual de pesquisa ajudou a

entender, pouco a pouco e de maneira comparativa e cumulativa, o fenômeno

mais amplo do uso de tecnologias digitais na construção autoral de doutores em

suas teses e na própria dinâmica específica de trabalho na academia, sendo mais

importante do que a escolha de algum caso específico e seu aprofundamento

ultradetalhado, o que pode limitar as descobertas às idiossincrasias de um único

sujeito. Foi pensando nessa modalidade de estudos de caso que na fase de análise

foi produzida uma ficha resumitiva de cada caso, o que Yin (2001, p. 73) chama

de relatório de caso individual, assim como um gráfico na forma de mapa mental

evidenciando as especificidades de cada um deles (ver Anexo VI), para

comparação de tendências e possibilidades de elaboração de perfis.

Optamos por este desenho metodológico por dois motivos. O primeiro é

que após a construção autoral e sua defesa frente à banca, o sujeito já distante do

“calor dos acontecimentos” que caracterizam a tensão de sua fase final de

doutoramento, provavelmente tem maior distanciamento ao fazer a recapitulação e

análise dos acontecimentos vividos por ele durante a elaboração do texto

acadêmico, tendo inclusive a visão completa do processo. O segundo motivo é

que o desenvolvimento da coleta dos depoimentos, mesmo que focados apenas no

processo acadêmico, demandou encontros presenciais para entrevistas em

profundidade, incompatível com um período de vida em que a dedicação e os

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Metodologia 205

esforços de atenção estão todos direcionados para a feitura do texto da tese (fase

final da pesquisa), uma questão de respeito ao momento vivido pelo sujeito.

Quanto à significância dos casos propostos para a análise, podemos dizer

que ela é contextual e de ordem tecnológica, ligada principalmente à

contemporaneidade do caso e não a acontecimentos distantes como em uma

pesquisa histórica, visto que o período proposto é o de realização da construção

autoral da tese na primeira década deste século (2000-2010), marcada por uma

expansão vertiginosa de técnicas e tecnologias em suportes digitais que, por

hipótese, estão afetando, de alguma maneira, o processo de desenvolvimento da

pesquisa acadêmica. Tal expansão gera, a princípio, repercussões na autoria

acadêmica estudadas muitas vezes de maneira geral (Oliveira & Noronha, 2005),

sem o devido aprofundamento em casos particulares em que os meios digitais se

mesclam com a utilização de meios convencionais de armazenagem e transporte

do saber científico, gerando novas formas de acesso, de busca, de leitura, de

escrita, de organização e de comunicação entre pesquisadores acadêmicos.

Portanto, antes de avaliar isoladamente as condições tecnológicas

instrumentais de produção de teses (uso do computador e da internet) através, por

exemplo, de questionários e obtenção de dados estatísticos (dominante quando

analisada a literatura a respeito desse tema), propomos aqui uma imersão em

variáveis sociais, acadêmicas, contextuais e familiares dos sujeitos, com possíveis

convergências em suas trajetórias e a consequente generalização analítica quando

possível.

6.1.1 Alguns apontamentos sobre limitações desta pesquisa

É sempre bom realizar uma reflexão sobre fatores limitantes da pesquisa, a

fim de esclarecer aquele que lê o texto e evitar a apreensão de resultados sem tais

avisos prévios. De maneira objetiva serão analisados aqui quais fatores foram

limitantes nesta pesquisa.

O primeiro fator seria o conjunto de casos obtidos para o estudo. Tivemos

plena consciência de que para realmente haver uma análise completa de cada

perfil, através das categorias temáticas obtidas na análise de conjunto inicial,

seriam necessárias entrevistas seriadas com o mesmo sujeito, ao modo das

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Metodologia 206

histórias de vida, mais completas no conteúdo, porém com foco dirigido. Isso

porque o sujeito nunca se revela totalmente em uma primeira entrevista, ainda

mais quando não conhece o entrevistador, e segundo porque o entrevistador nunca

saberá perguntar tudo que necessita, justamente porque só o saberá quando a

análise dos dados estiver em andamento e as lacunas de informação e questões

surgirem por completo (e o completo nunca será completo de fato, exigindo outras

rodadas). Portanto, um quadro que mostre a fotografia de um caso nunca é o caso

completo em si, não reflete a totalidade de experiências do sujeito, mas aquilo que

foi permitido pelo sujeito ser mostrado naquele momento em que se realizou a

entrevista.

O segundo fator de limitação deste estudo se refere à própria limitação

imposta na amostra de sujeitos, ou seja, eles pertenciam a duas universidades

distintas (salvo alguns que tinham estado em outras universidades antes do

doutorado e os dois casos de exceção apresentados anteriormente). Além disso,

são sujeitos de duas regiões distintas e com culturas e histórias próprias, Rio de

Janeiro e Milão (ver o Capítulo 4 e 5). Dessa forma, foi possível esboçar alguns

fatores gerais, mas nunca saberemos se são gerais até um estudo de maior

amplitude ser realizado, preferencialmente de maneira quantitativa com aplicação

ampla de questionários buscando efetiva generalização estatística de fenômenos

apontados como tendências no próximo capítulo em que são analisados os dados.

O terceiro fator é o da abrangência bibliográfica. Reconhecemos que

nunca será possível saber quantos estudos de fato já foram feitos dentro dessa

temática, mesmo rastreando bases de dados recentes e integradas, em diversas

línguas, pois o número de periódicos, assim como de teses e dissertações é

verdadeiramente imenso. Dessa forma, este estudo sempre correrá o risco de dizer

o que já foi dito e investigado em outras partes do mundo, cabendo aqui sinceras

desculpas pela impossibilidade real, em plena era de expansão da atividade

científica em redes mundiais, de fazer a requisição de originalidade. A única

originalidade que podemos garantir é desta amostra de doutores obtida e de suas

experiências particulares relatadas.

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Metodologia 207

6.2 Atores da pesquisa

Foram atores principais da pesquisa doutores formados entre os anos 2005 e

2010, com graus diferentes de disponibilidade e apropriação de recursos

comunicacionais digitais (entendidos aqui basicamente como uso do computador

e da internet) e diferenças culturais em seus usos, ligados a universidades de

origem católica (PUC-Rio e UCSC) e com histórico de ensino situado entre as

melhores universidades em cada país, uma no Brasil e outra na Itália.

Entre as características que os uniram quando classificados como sujeitos da

pesquisa estão: (1) serem doutores formados, entre os anos 2005 e 2010,

preferencialmente com doutorado pela PUC-Rio e na UCSC, admitindo-se

exceções a partir dos casos encontrados em campo, mas sempre com alguma

formação ligada a uma das duas universidades (graduação e pós-graduação lato

sensu ou algum trabalho desenvolvido dentro da universidade, por exemplo), (2)

terem pertencido a cursos de doutorado em Educação (maioria) ou com temas

ligados à Educação em outro curso de doutorado (minoria) e seus equivalentes no

sistema educacional italiano, (3) terem tido acesso ao computador e razoável

utilização da internet como uma das fontes de pesquisa e elaboração da tese

durante o doutoramento.

Quanto ao número de atores, inicialmente pretendia-se limitá-los ao ponto

de saturação da pesquisa, ou seja, quando os dados obtidos começassem a se

repetir com frequência e a realização de novas entrevistas pouco ou nada

acrescentaria de novidade ao estudo. Porém inúmeras contingências encontradas

na pesquisa de campo levaram ao número de 16 entrevistados como total para o

conjunto de casos e procuraremos indicar estes fatores limitantes a seguir. Cabe

assim evidenciar que esta limitação ao final do estudo não foi fator

comprometedor, visto que as recorrências encontradas foram satisfatórias, sendo

de igual importância as ausências e contrastes encontrados nos usos do

computador e da internet na construção das teses desses doutores.

Em primeiro lugar, procuramos um equilíbrio numérico entre os

entrevistados no Brasil e na Itália, para que a representatividade e o volume de

dados fossem aproximadamente iguais e consumissem tempo e esforços de análise

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Metodologia 208

em igual proporção. Seguindo esta estratégia chegamos a um total de 8

entrevistados na Itália e 8 entrevistados no Brasil.

Na Itália, o contato com os entrevistados foi o tempo todo intermediado

pelo orientador de pesquisa no período de permanência por lá (outubro de 2010 a

maio de 2011), o coordenador do CREMIT e professor Pier Cesare Rivoltella,

pois, diferente dos brasileiros, entre os italianos (ao menos aqueles que habitam a

parte norte do país) não é comum o hábito de responder a solicitações de pessoas

desconhecidas.

É bom enfatizar que essa intermediação se alongava no tempo por dois

motivos principais. O primeiro era o agendamento de compromissos, algo

dificultoso no meio acadêmico italiano, levando a realização de entrevistas após

algumas semanas da realização do contato inicial e em alguns casos pela demora

em responder aos e-mails enviados. Somou-se a este processo a não

disponibilidade da maioria dos doutores em participar como sujeitos da pesquisa,

fato este evidenciado pela ausência de respostas ao convite enviado via e-mail

para 50 pessoas formadas no doutorado em Educação da UCSC entre 2005 e

2010.

Dessa forma, o total de 4 entrevistados ligados ao CREMIT e 4

entrevistados extra-CREMIT limitou a amostragem total a ser feita no Brasil,

seguindo o critério escolhido de existir uma equivalência numérica de casos. Cabe

enfatizar que, após o retorno ao Brasil, a fase de entrevistas extra-JER foi

extremamente facilitada pela disponibilidade dos sujeitos que responderam

prontamente à carta enviada a eles em nome da orientadora, com respostas

positivas ultrapassando o necessário para o estudo em pouco mais de 24 horas

após o envio (a diferença cultural de abertura a pessoas desconhecidas foi

marcante).

Os contatos no Brasil foram facilitados também pela vantagem de encontrar

os e-mails atuais dos pesquisadores através de buscas na plataforma Lattes do

CNPq e nos sites das universidades que pertenciam, algo difícil de obter na Itália

pela inexistência de plataforma online pública de currículos. Na Itália a

dependência da secretaria do curso de doutorado no envio dos contatos por e-mail,

mais a intermediação do orientador transformaram um processo a princípio

simples em algo que demandou longo período de espera e posterior ausência de

respostas.

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Metodologia 209

Outro fator determinante na limitação de sujeitos foi o processo de

transcrição ser extremamente lento, mas que, por outro lado, oferecia em cada

entrevista transcrita, um caudal de dados que ultrapassava de muito as

expectativas.

O último fator limitante foi a questão do tempo disponível para realização

do estudo, pois cada entrevista, para ser realizada, consumia em média um mês de

trabalho, envolvendo as seguintes etapas: (1) a busca do sujeito, (2) o contato

inicial, (3) o agendamento em local pré-acordado, (4) a realização propriamente

dita da entrevista, (5) a transcrição, (6) a impressão para leitura, (7) a análise

inicial, (8) o fichamento da entrevista em tópicos e (9) a inserção da mesma no

corpo de dados geral. O período de realização de entrevistas se estendeu de maio

de 2010 a setembro de 2011, um total exato de 16 meses.

6.2.1 Critérios para escolha dos atores

A escolha dos doutores participantes deste estudo foi determinada pelos

seguintes critérios:

O primeiro critério foi o período em que a tese foi gestada. Os doutores

foram selecionados de acordo com sua formação entre os anos 2005 e 2010, por

um motivo bem definido: a segunda parte da década de 2000 se caracteriza pela

de expansão de ferramentas da Web 2.0 (O´Reilly, 2005), tais como a Wikipédia,

Orkut, Facebook, Twitter e Blogs automáticos, assim como o desenvolvimento de

mecanismos de buscas textuais avançados, tanto por empresas de busca como o

Google através dos serviços Google Books e o Google Acadêmico, quanto por

universidades que integraram seus bancos de dados e os disponibilizaram através

de buscadores de abrangência mundial, devidamente adaptados pelas bibliotecas

universitárias ou por portais de conteúdos abertos.

É um período em que o uso da Web 2.0 se consolida e a disponibilização

de textos pelos internautas cresce significativamente (blogs, wikis, redes sociais),

com a proliferação tanto de textos não-acadêmicos, como de textos acadêmicos a

partir do crescimento da disponibilidade de teses e dissertações on-line

(bibliotecas online universitárias) e de repositórios de revistas científicas (Scielo,

ERIC, JSTOR). É um período também marcado pela expansão da banda larga e

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Metodologia 211

nível, mesmo que mínimo. Sem este uso a pesquisa seria inviável, pois seu objeto

de estudo não seria encontrado nos depoimentos obtidos nas entrevistas e mesmo

em sua realização as perguntas básicas do roteiro não poderiam ser respondidas

(fase 1).

É preciso enfatizar que não foi critério de seleção a pesquisa acadêmica

realizada pelo doutor propriamente dita, ou seja, não foi aplicado qualquer critério

referente à pertinência, originalidade, coerência e validade da tese defendida em

seu campo científico, visto que este trabalho foi realizado pelo orientador e pela

banca examinadora que concedeu a titulação ao doutor entrevistado. Procurou-se

chegar ao momento da entrevista com o mínimo de informação a respeito do

entrevistado, tendo em geral aquelas especificadas pelo orientador de pesquisa, no

caso italiano, e pela listagem de doutorandos, informações ditas pela orientadora

de pesquisa e temas da tese ou currículo Lattes no caso brasileiro. Optamos

sempre por descobrir os detalhes da trajetória de vida através da própria fala do

sujeito e não por meio de documentos que pudessem influenciar de modo

determinante a abordagem e seleção de perguntas.

Porém, a verificação de seus trabalhos acadêmicos e a continuidade no

desenvolvimento de artigos em novos projetos de pesquisa, após a conclusão do

doutorado, foi critério relevante para escolha, quando possível a sua obtenção,

visto que o desenvolvimento de uma carreira acadêmica e produtiva é forte sinal

de que houve interesse e motivação elevados na pesquisa realizada durante a fase

de doutoramento, aspecto este que poderia oferecer rica quantidade de dados

traduzidos em experiências vividas. No Brasil este acompanhamento pôde ser

feito via consulta breve ao currículo na Plataforma Lattes, porém na Itália

dependeu diretamente dos contatos e relacionamentos do co-orientador da

pesquisa, Pier Cesare Rivoltella, que fazia a seleção dos sujeitos a partir dos

critérios que eram informados a ele. Todos os 16 entrevistados para este estudo

tinham um vínculo universitário, mesmo que no momento fosse em atividades

administrativas institucionais, não-docentes, como administração de cursos junto a

professores ou participação em grupos/laboratórios de pesquisa.

Um critério amadurecido durante o decorrer das entrevistas foi dividir os

sujeitos em dois subgrupos numericamente proporcionais. O primeiro subgrupo

seria formado por 4 sujeitos ligados a cada um dos grupos de pesquisa parceiros

nas duas universidades, o JER na PUC-Rio e o CREMIT na UCSC. O segundo

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Metodologia 212

subgrupo seria composto por 4 sujeitos fora do círculo de relações dos dois grupos

de pesquisa. Adotamos esse critério primeiro pela escassez de sujeitos disponíveis

para entrevista na Itália, levando à entrevista de pessoas próximas ao CREMIT e

em segundo lugar pelo rico material obtido nas 4 entrevistas iniciais feitas no

Brasil com 3 integrantes do JER e 1 por indicação de integrante do JER, que se

encaixavam nos critérios definidos para a pesquisa. Outro ponto a ser ponderado é

que a ligação a grupos de pesquisa que versam sobre TICs na Educação garantiria,

por hipótese, que ao menos metade dos entrevistados fossem sujeitos com certo

grau de uso acima da média das mídias digitais, mesmo que visando o tema de

pesquisa adotado e o trabalho acadêmico formal.

6.2.2 Exclusões de entrevistas e algumas exceções

Destacamos a existência de 3 sujeitos que foram exceção nos critérios de

seleção para este estudo, mas por apresentarem conteúdo relevante em suas

entrevistas foram incorporados na pesquisa. O primeiro foi na primeira fase de

estudo no Brasil (sujeito N4), uma doutora atuante em universidade particular e

outra pública no Rio de Janeiro e colega de uma das entrevistadas do JER,

trabalhando na mesma instituição que esta integrante do JER trabalha atualmente

como professora.

A segunda exceção ocorreu na Itália, com uma estudante do curso de

doutorado em fase avançada de pesquisa (sujeito N5), no terceiro ano e em vias de

se formar, apresentando dados relevantes sobre características do curso de

doutorado na UCSC recentemente modificadas pela direção do curso, impossíveis

de se obter com outros sujeitos formados em anos anteriores e com utilização

intensiva de mídias digitais em sua pesquisa.

O sujeito N8, embora não se caracterize totalmente como uma exceção ele

teve formação fora da UCSC, porém tem ligação direta e constante com os

trabalhos desenvolvidos pelo professor Pier Cesare Rivoltella no CREMIT, se

constituindo um sujeito atuante na área de Educação e valendo a pena ser incluído

na amostra. Nenhuma das três entrevistas prejudicou o entendimento do objeto de

pesquisa, pelo contrário, contribuíram para melhor entendimento dos usos da

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Metodologia 213

internet e do computador na escrita da tese por diferentes ângulos e aspectos

detalhados no capítulo de análise de dados desta tese.

Foi necessário optar pela exclusão de duas entrevistas e cabe aqui explicar

os motivos. Uma delas foi realizada na Itália e a entrevistada não se mostrou

disponível a responder as perguntas, estava com pressa para uma reunião

agendada e não estava concentrada no que era perguntando, dando respostas vagas

e sem aprofundar-se nos temas questionados, pois estava sempre preocupada com

a chamada que ia receber no celular.

A segunda entrevista excluída se realizou no Brasil e a entrevistada relatou

que o processo dela de uso do computador e da internet na escrita da tese era bem

limitado, sendo boa parte das tarefas, como a formatação do material, realizadas

por suas secretárias, limitando o uso do computador a aspectos tão básicos que

não valeria a pena transcrever todo material, apresentando respostas muito mais

centradas em sua história de vida do que na escrita da tese propriamente dita. Em

ambos os casos a transcrição das entrevistas exigiria um esforço de trabalho com

retorno mínimo de dados relevantes.

Dessa forma, sinteticamente, apresentamos os sujeitos de acordo com a

tabela a seguir, em ordem cronológica de entrevistas:

Subgrupo Código do

Sujeito

Data da entrevista

(ordem cronológica)

Formação no

doutorado

Idioma

Ligados ao

JER

BR.N1 5 de maio de 2010 2005-2009 Português

Todas as entrevistas

foram realizadas no Rio

de Janeiro.

BR.N2 18 de maio de 2010 2003-2007

BR.N3 9 de set. de 2010 2004-2008

Indicação do

JER, formada

fora da PUC

BR.N4 23 de set. de 2010 2004-2009

Ligados ao

CREMIT

IT.N5 18 de nov. de 2010 2008-2011 Italiano

Período de pesquisa de

doutorado sanduíche

passado na Itália entre

outubro de 2010 e maio

de 2011.

Todas as entrevistas

foram realizadas e

transcritas durante a

estadia em Milão.

IT.N6 2 de dezembro de 2010 2003-2006

IT.N7 11 de janeiro de 2011 2002-2005

Formado fora

da UCSC

IT.N8 25 de janeiro de 2011 2004-2007

Fora do

CREMIT

IT.N9 21 de fevereiro de 2011 2004-2007

IT.N10 15 de março de 2011 2003-2007

IT.N11 04 de abril de 2011 2006-2008

IT.N12 06 de abril de 2011 2005-2008

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Metodologia 214

Fora do JER BR.N13 11 de agosto de 2011 2004-2008 Português

Todas as entrevistas

foram realizadas no Rio

de Janeiro, com exceção

de uma entrevista em

Nova Iguaçu.

BR.N14 19 de agosto de 2011 2004-2008

BR.N15 5 de setembro de 2011 2007-2010

BR.N16 13 de set. de 2011 2006-2010

Quadro 11 - Resumo das entrevistas realizadas e procedência dos sujeitos.

6.3 Instrumentos utilizados na coleta de dados

Para a coleta de dados, foram utilizados os seguintes instrumentos:

entrevista semi-estruturada e o diário de campo.

6.3.1 A entrevista

As entrevistas se configuraram como semi-estruturadas e seguiram um

roteiro inicial que teve por objetivo não haver o afastamento de seu

desenvolvimento do foco da pesquisa. Assim sendo, construiu-se o roteiro

contendo questões que foram agrupadas por assuntos logo no início da

investigação, obedecendo em sua estrutura as questões problematizadas na fase do

projeto de pesquisa. O roteiro se encontra nos Anexos I (versão em italiano) e III

(versão em português).

Esse roteiro sofreu algumas modificações para seu aprimoramento, sem que,

contudo, comprometesse a qualidade e a sua fidedignidade aos propósitos iniciais,

pois alcançamos desde o começo os principais aspectos objetivados nas

entrevistas, embora menos estruturadas na sequência de perguntas feitas, mas não

nos assuntos abordados. Este fato pode ser comprovado na fase de análise do

material, quando as primeiras entrevistas forneceram trechos que preenchiam

quase todas as categorias de análise elencadas (nenhuma entrevista preencheu

todas as categorias criadas).

O roteiro foi dividido em 3 fases.

Na primeira fase, chamada “Aquecimento”, o objetivo era que o

entrevistado narrasse como foi sua formação acadêmica, que cursos escolheu, em

que época estudou e que temas teve interesse de explorar durante suas pesquisas

de especialização, mestrado e doutorado. Nessa fase, o entrevistado teve como

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Metodologia 215

tendência contar detalhes de sua vida, como escolhas profissionais e acadêmicas,

ficando mais a vontade. Também nesta fase era perguntada a história pessoal

quanto ao uso do computador e da internet, visando resgatar memórias

relacionadas aos primeiros usos dos suportes digitais e como foram se

desenvolvendo esses usos ao longo do tempo. Além de servir de aquecimento,

nesta fase foi possível captar elementos que serviram de gancho nas etapas

seguintes, assim como preparar o terreno para as perguntas mais específicas,

deixando o entrevistado mais a vontade.

Chamamos a segunda fase do roteiro de “Construção da tese”. Nesse

momento, os objetivos de pesquisa eram materializados na forma de questões.

Essa fase envolvia o uso do computador e da internet durante o doutorado, na

escrita da tese; o uso de fontes de referência formais, impressas ou digitais, e o

modo como as buscou; o momento de escrita da tese; a organização do texto da

tese; a organização dos arquivos no computador e na internet; os modos de

comunicação com outros pesquisadores e sujeitos da pesquisa, como foram

realizados; a percepção sobre confiabilidade de fontes.

Denominamos a fase final de “Revisão e encerramento”, quando convidava-

se o entrevistado a refletir sobre o que mudou em seus usos do computador e da

internet nos últimos 10 anos, entre 2000 e 2010. O objetivo aqui era observar que

pontos o entrevistado levantava quanto ao seu uso da internet e do computador, as

percepções que possuía sobre a última década, marcada pelo aprofundamento e

expansão da Web 2.0 e dos serviços online. Questões mais gerais como excesso

de informações, velocidade das tecnologias e uso do tempo puderam ser feitas,

caso não tivessem sido mencionadas nas fases anteriores da entrevista. Essa parte

final me serviu de balanço e espaço para preenchimento de lacunas percebidas e

que poderia-se trazer à tona, deixando o entrevistado mais livre para mencionar

aspectos não evidenciados pelas perguntas iniciais aplicadas. Dependendo do

tempo que a entrevista havia consumido e dos sinais de cansaço do entrevistado

esta última fase era encurtada ou expandida.

É importante reafirmar que todas as entrevistas foram gravadas em áudio e

transcritas na íntegra.

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Metodologia 216

6.3.2 Diário de campo

Durante a pesquisa, o diário de campo foi um instrumento fundamental para

acompanhar todo o processo de entrevistas e experiências em campo, visando a

composição da história de vida do entrevistado.

É evidente que a pesquisa nunca teve a pretensão etnográfica, porém o

princípio de utilização do diário de campo foi o mesmo, ou seja, como

instrumento de acúmulo de dados para posterior análise, reflexão e inserção, caso

necessário, no texto final do estudo.

O diário foi sendo preenchido logo após os encontros com os entrevistados,

detalhando-se os lugares visitados, as pessoas entrevistadas e seus hábitos,

acontecimentos extras e não previstos, complementando, por exemplo, gravações

em áudio. O diário de campo permite a formulação posterior de sínteses baseadas

em recorrências, ou seja, em padrões manifestos e somente percebidos com o

acúmulo de anotações, porém neste estudo teve papel bem menor em relação às

entrevistas transcritas.

As anotações realizadas nesse diário de campo e nas fichas resumidas das

entrevistas contiveram detalhes do ambiente onde se realizou a entrevista,

sensações e sentimentos surgidos durante a entrevista, impressões gerais sobre o

entrevistado, entre outros elementos essenciais para reflexões posteriores.

O uso mais intenso do diário ocorreu no período de estadia em Milão, pois

as anotações serviam para detalhar as experiências vividas no dia a dia da

universidade, notando-se diferenças marcantes. A participação em defesas (bancas

de mestrado e graduação), a observação de eventos com os alunos de doutorado e

a participação em aulas de mestrado foram os pontos principais das anotações,

permitindo entender melhor como o doutorando vai sendo formado no ambiente

da UCSC. Foram essas questões que levaram a buscar posteriormente os dados

que compuseram a seção intermediária da tese, quando procurou-se detalhar os

sistemas de ensino italiano e brasileiro (Capítulo 4).

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Metodologia 217

6.4 Procedimentos para coleta de dados e preparação do material empírico

Serão descritos a seguir os procedimentos que foram adotados nas duas

fases da pesquisa, um voltado para a exploração do campo com a sondagem

inicial das apreensões e experiências dos sujeitos e outro para a realização do

estudo propriamente dito.

6.4.1 Entrevistas-piloto e entrevistas de ambientação

Foram realizadas na fase inicial do estudo 4 entrevistas com os sujeitos

ligados ao JER, que depois por recomendação do orientador de pesquisa na Itália,

Pier Cesare Rivoltella, acabou-se por incorporá-las ao material empírico de estudo

devido à riqueza de detalhes a respeito do processo autoral usando mídia digital,

mesmo que estivessem menos estruturadas devido à fase inicial de aprimoramento

do roteiro de entrevistas.

Na Itália também foi realizada uma entrevista inicial de ambientação com

uma das integrantes do CREMIT. Esta entrevista serviu para compreender

principalmente o modo em que o curso de doutorado da UCSC se estruturava, não

sendo posteriormente transcrita. Questões a respeito da escola de doutorado, o

novo modelo adotado na UCSC, puderam ser esclarecidas ou ao menos sondadas,

assim como a busca de livros e artigos a respeito do sistema universitário italiano.

Esta entrevista de ambientação também serviu como treino no uso da língua

italiana, de modo descompromissado e para identificação de expressões

idiomáticas comumente utilizadas.

6.4.2 Estudo de casos múltiplos com entrevistas semi-dirigidas

Sobre a narrativa de vida, faz-se importante evidenciar que nenhum relato

é neutro ou fiel ao ocorrido, pois é repleto de interpretações, cortes, seleções e

filtros do entrevistado. Não é a toa que boa parte das entrevistas continha trechos

de experiências não relacionadas diretamente às perguntas feitas ou ao que se

esperava ser respondido. Mesmo assim eram em sua maioria úteis, até certo

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Metodologia 218

ponto, para abrir a mente sobre aspectos não pensados até aquele momento, que

surpreendiam por não fazerem parte do repertório estabelecido previamente.

Para amenizar tais ocorrências quando excessivamente fora do escopo da

pesquisa, procurou-se fazer perguntas que levassem o entrevistado a fornecer

dados mais objetivos de sua vivência e foi oferecido menos espaço a

considerações interpretativas a respeito dos temas em questão, embora nem

sempre fosse uma tarefa viável face aos imprevistos que uma entrevista oferece

(não podemos sempre prever o que o sujeito irá fazer ou que ideias serão

associadas por ele).

Não tivemos como objetivo neste estudo obter toda trajetória de vida do

sujeito (desde o nascimento até o momento atual, com todas suas relações

familiares, sociais, econômicas, políticas, tecnológicas etc), mas somente os

pontos significativos e relevantes de acordo com o foco da pesquisa.

No contexto deste estudo, decidiu-se por um encontro e uma entrevista

somente, pois optamos pela diversidade contida na variedade de experiências do

conjunto dos 16 casos e menos pelo aprofundamento em um caso específico, até

mesmo porque o objetivo era captar práticas emergentes, efetuar contrastes e

variações, e não necessariamente o aprofundamento minucioso de cada uma

destas práticas.

A consequência evidente de tal decisão é a ausência de certos detalhes,

vistos posteriormente quando no momento de análise de cada entrevista, porém

não comprometedores do conjunto, pois o objetivo foi a análise de práticas e

tendências da autoria dos acadêmicos usando suportes digitais e não o caso

específico de um deles.

Outro ponto que pudemos observar é que boa parte dos sujeitos não estaria

disposta a ser entrevistada novamente, especialmente no caso das entrevistas

realizadas na Itália onde a resistência era maior, assim como seria inviável a

massa de dados transcrita, o que forçosamente diminuiria o número de sujeitos e a

diversidade de experiências.

Dessa forma reafirmamos que o procedimento de gravação (registro em

áudio) das entrevistas foi muito importante, permitido por todos os entrevistados e

assumido como pré-requisito para a validade e incorporação da entrevista ao

conjunto de casos, assim como anotações realizadas em diário de campo e nas

fichas resumidas das entrevistas, contendo detalhes do ambiente onde se realizou

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Metodologia 219

a entrevista, sensações e sentimentos surgidos, impressões gerais sobre o

entrevistado, entre outros elementos para reflexões posteriores.

Entre os diálogos e entrevistas de aculturação, destacamos a conversa

agendada com a coordenadora do programa de pós-graduação da UCSC a respeito

do curso de doutorado e da escola de doutorado recém-implantada, a conversa

informal com a coordenadora administrativa do CREMIT, as conversas informais

com alunos de mestrado e doutorado da UCSC e com o próprio orientador italiano

da pesquisa a respeito da universidade e do sistema italiano de ensino.

Outra estratégia de ambientação na UCSC foi a priorização de se trabalhar

sempre que possível dentro da universidade, na sala de atividades do CREMIT,

visando a observação diária dos trabalhos de doutorandos, pesquisadores,

funcionários e outros personagens presentes no dia a dia universitário. Quando

convidado ou permitido, foi possível também participar de eventos e solenidades

ao longo do ano letivo na universidade, como defesas de doutorado e mestrado e

seminários internos promovidos pelos alunos de doutorado em Educação.

Quanto à pesquisa documental, esta ocorreu em alguns momentos após a

realização das entrevistas, em que foi recolhido, por exemplo, entre muitos outros

tipos de documentos, as teses defendidas (quando disponíveis), os currículos

disponíveis na rede, o acesso a sites pessoais dos entrevistados na universidade ou

fora dela, assim como sua presença em redes sociais gerais (Facebook) e

específicas (Linkedin) e outras marcas deixadas pela internet.

Infelizmente, não houve viabilidade para a coleta ou mesmo observação

dos arquivos coletados pelos pesquisadores e armazenados em seus computadores

pessoais ou na rede, ao menos quando os mesmos faziam questão de exibi-los, o

que ocorreu em somente 2 dos 16 casos, pois se encontravam no ambiente de

trabalho dos mesmos. Entre os motivos, primeiro está (a) a questão delicada de

acesso a um dispositivo que, acima de tudo, é de uso pessoal, (b) depois pela

diversidade de formas de armazenamento e não-armazenamento, com a

desorganização de parte dos sujeitos com seus arquivos perdidos, (c) também pelo

caráter autoral da seleção de dados que podem servir para pesquisas futuras e que

demandaram certo tempo de trabalho em sua garimpagem e organização e (d) por

último o local escolhido pelos sujeitos para realização das entrevistas, quase todos

fora do ambiente e dos equipamentos onde foram produzidas as teses.

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Metodologia 220

No caso italiano, houve a recusa, pela quase totalidade dos sujeitos

entrevistados, em enviar o arquivo de suas teses, devido a direitos autorais (no

caso europeu onde esse valor é bem mais forte que na filosofia de acesso livre

brasileira) e por muitos já a terem publicado em formato de livro.

Quadro 12 - Escolhas metodológicas para as entrevistas

6.4.3 Procedimentos quanto à transcrição das entrevistas e resumo dos pontos principais

Todas as 16 entrevistas realizadas foram transcritas e impressas, sendo

criados alguns recursos ao longo do processo que explicaremos brevemente, pois

serão visíveis quando os dados forem exemplificados no próximo capítulo.

O primeiro recurso utilizado veio a partir da necessidade de evidenciar

movimentos, sons e pausas que não poderiam ser registradas em áudio ou em

palavras. A solução encontrada foi colocar entre parênteses uma descrição do que

acontecia no contexto, ajudando a entender determinada fala ou determinado

ruído. Por isso foi importante a transcrição imediata de cada entrevista, para que

as memórias sobre estes pequenos ocorridos não fosse perdida, o que

comprometeria a compreensão posterior devido ao volume de dados ser extenso.

Exemplo:

Escolhasmetodológicas para asentrevistas

Roteiro semi‐estruturado sempre presente

Somente uma entrevista por sujeito

Entrevistador define o rumo e os assuntos da entrevista

Foco na variedade de casos e diversidade de experiências

Todas as entrevistas gravadas e transcritas pelo própriopesquisador

Documentação complementar quando disponível

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Metodologia 221

É muito bacaninha esse sebo.. aí você põe lá e compra... eu tava... esse aqui não (ela aponta o livro que deixou sobre a mesa), mas eu tava querendo um livro português, do Augusto Santos Silva (Entrevista 16, p. 9)

Um segundo recurso utilizado foi indicar pequenas pausas através de

reticências ao final da última palavra dita, evidenciando as hesitações e trocas de

palavras, assim como repetições seguidas da mesma palavra pelo entrevistado,

mostrando em que momento estava construindo seu pensamento e onde vacilava

em seu raciocínio. Sons como “é...”, “hummm...” foram todos transcritos tais

como pronunciados, não havendo nenhuma interpretação ou omissão que visasse

somente a estética do texto. Fiz o mesmo com as palavras cortadas a exemplo de

“estud.. lia isso”, palavras estas que pudessem apontar para uma hesitação e troca

de palavras por parte do entrevistado.

O terceiro e último recurso que se lançou mão foi a utilização de um

parênteses com reticências, ao modo de “(...)” para indicar um som que não foi

entendido durante a gravação, orientando o leitor a respeito de uma frase que

possa ter ficado entrecortada pela ausência de uma ou mais palavras. O parêntese

com palavras dentro seguida de uma interrogação, ao modo de “(fornecia?)”

indicava uma suspeita sobre a(s) palavra(s) pronunciada(s), mas sem ter a certeza

exata e preferindo-se indicar esse fato ao leitor. Essa incerteza acontecia diante da

pronúncia fraca ou entrecortada do entrevistado ou pela própria qualidade da

gravação e ruídos de fundo.

Para ajudar a situar a transcrição no tempo e espaço, foi criado um

pequeno cabeçalho em cada arquivo contendo as seguintes entradas: (1) Data da

entrevista; (2) Local da entrevista; (3) Hora da entrevista; (4) Tempo total da

entrevista.

Mais tarde, depois das entrevistas impressas, também acrescentou-se o

número da entrevista em relação à ordem que foi feita no tempo, a exemplo de:

BR N01 para a primeira entrevista e que foi feita no Brasil e IT N07 para a sétima

entrevista e que havia sido feita na Itália.

Após a transcrição, o material era impresso para uma leitura flutuante

inicial (Bardin, 1977), destacando-se pontos interessantes, temáticas que surgiam

e eram recorrentes nas entrevistas, já preparando a fase seguinte de análise de

conteúdo. Fizemos então, para cada entrevista, uma redução com duas ou três

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Metodologia 223

Quadro 13 - Síntese dos eixos temáticos surgidos a partir da leitura flutuante do material empírico.

Esta sequência seguia os principais temas tratados no roteiro de entrevistas

e também foi utilizada na criação posterior de uma tabela com as dimensões

detalhadas de análise (ver Anexo V), para obter então um quadro de categorias

temáticas. As fichas resumitivas, junto com o material impresso, serviram de base

para a fase seguinte, a análise dos dados propriamente dita.

6.5 Instrumentos e procedimentos para a análise de dados via criação de categorias temáticas

O campo de técnicas escolhido para a análise dos dados coletados (e

transcritos) foi a Análise de Conteúdo da comunicação, compilada em suas

diferentes fases, dimensões de aplicação, variações de métodos e campos

disciplinares de utilização por Laurance Bardin (1977).

Eixos temáticos

(I) Trajetória de vida acadêmica e digital

Com assuntos relacionados principalmente aos cursos que fez antes do doutorado e os trabalhos que esteve envolvido, assim os momentos iniciais de contato com o computador e a internet.

(II) Usos da tecnologia

Tudo relacionado ao uso cotidiano de recursos do computador e da internet, academicamente ou fora da academia.

(III) Modo de leitura

Usos da tecnologia envolvendo modos de se ler, tanto nos suportes impresso quando nos digitais. 

(IV) Modo de escrita

Modos de se escrever, tanto nos suportes impressos como nos digitais.

(V) Uso de fontes Diversas posturas, estratégias e práticas na pesquisa e no uso de fontes para o desenvolvimento da tese acadêmica.

(VI) Modo de organização

Relação com as estratégias de organização dos materiais coletados durante a tese, tanto digitais quando impressos.

(VII) Modo de comunicação

Maneiras de se comunicar com sujeitos da pesquisa ou pesquisadores acadêmicos, caso tenham existido, tanto via suportes tradicionais quanto os mais recentes e emergentes. 

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Metodologia 224

A análise de conteúdo (seria melhor falar de análises de conteúdo), é um método muito empírico, dependente de tipo de “fala” a que se dedica e do tipo de interpretação que se pretende como objetivo. Não existe o pronto-a-vestir em análise de conteúdo, mas somente algumas regras de base, por vezes dificilmente transponíveis. (1977, p. 30-31)

Segundo Bardin (1977, p. 32), “qualquer comunicação, isto é, qualquer

transporte de significações de um emissor para um receptor controlado ou não por

este, deveria poder ser escrito, decifrado pelas técnicas de análise de conteúdo”.

Aqui se incluem as entrevistas transcritas, ou seja, uma transposição para a

linguagem escrita de uma conversa entre dois indivíduos, um relato oral

registrado, sendo todo processo guiado ou não por um roteiro.

Cabe lembrar que a análise de conteúdo não é uma análise linguística, não

está preocupada com as regras de funcionamento da língua, mas sim com a língua

sendo utilizada em ato, de forma prática, por emissores identificáveis. Não é

tampouco uma análise documental, mais preocupada em classificar e indexar

documentos, os representando de maneira condensada para consulta e

armazenagem do que com a criação de indicadores que permitam gerar inferências

sobre a comunicação em análise (1977, p. 43-46). Classificar e indexar em

categorias temáticas compõe parte das etapas da análise de conteúdo, mas não a

análise em si.

A técnica tanto pode servir a fins de medida quantitativa, por exemplo, o

número de incidências de determinada palavra ou conjunto de expressões

(indicadores), como também para classificar em categorias (temas, assuntos) o

conteúdo dos textos, agrupando-os por significação. Bardin (1977, p. 117) define

categorias como “rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos

(unidades de registro, no caso da análise de conteúdo) sob um título genérico,

agrupamento esse efectuado em razão dos caracteres comuns destes elementos”.

O que importa na análise de conteúdo é que sirva para a criação de

condições práticas para se ultrapassar a simples apreensão ingênua ou intuitiva

sobre os dados, ou seja, a ilusão de que os documentos são transparentes e falam

espontaneamente sobre si, evitando o risco de produzir conclusões que somente

reforçariam convicções pessoais. É, enfim, uma técnica de ruptura com as

primeiras impressões a respeito do objeto de pesquisa, ajudando a enriquecer a

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Metodologia 225

leitura e dar maior subsídio na produção de generalizações sobre os textos que

possam ser compartilhadas por outros pesquisadores.

Esses aspectos devem servir para fazerem-se inferências, chegar-se a

deduções sobre as condições de produção de determinado fenômeno usando-se,

para tal finalidade, indicadores, que podem ser semânticos (frequência de termos

ou presença de temas a partir de seus significados), linguísticos (extensão de

frases, ordem dos elementos significantes) ou mesmo paralinguístico (entonação,

pausas).

A inferência é a etapa intermediária entre a fase de descrição do material,

resumida após tratamento em um conjunto de características do texto, e a

interpretação final quando se atribui a significação a estas características, ou seja,

novas significações atingidas depois da análise dos significantes e significados

iniciais. Sobre essa atividade do analista, Bardin (1977, p. 41) ensina que:

A tentativa do analista é dupla: compreender o sentido da comunicação (como se fosse o receptor normal), mas também e principalmente desviar o olhar para uma outra significação, uma outra mensagem entrevista através ou ao lado da mensagem primeira. A leitura efectuada pelo analista, do conteúdo das comunicações não é, ou não é unicamente, uma leitura “à letra”, mas antes o realçar de um sentido que se encontra em segundo plano.

Para isso, pode-se utilizar recursos informáticos, aplicados a partir dos

anos 60 e que se valem hoje de todo avanço de processamento e cálculo, com

programas que selecionam automaticamente expressões e palavras a partir de

dicionários já configurados para esse fim (foco quantitativo), ou então pela

simples separação manual em arquivos de computador de trechos correspondentes

– palavras, frases, parágrafos – a categorias pré-definidas pelo pesquisador (foco

qualitativo).

Como unidade básica de codificação (e sentido) para que se realize a

análise, escolhemos o tema (Bardin, 1977, p. 105), entendido como o destaque de

um conjunto de frases ou mesmo de uma única frase ou fragmento, pois dessa

forma a significação de tais blocos poderia expor facetas da autoria usando

suportes digitais contidas nas entrevistas transcritas e ao mesmo tempo servirem

como objetos de citação a serem evidenciados no relatório final de pesquisa.

A opção por selecionar fragmentos, frases e parágrafos temáticos como

unidade se deve a escolha por não priorizar a produção de estatísticas e

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Metodologia 226

verificação numérica de recorrências, e sim explicitação qualitativa desta autoria,

suas características e tendências. Dessa forma abriu-se mão das vantagens que a

recorrência de determinadas palavras ou expressões poderia oferecer.

Quando possível, procurou-se explicitar a unidade de contexto, ou seja, o

parágrafo ou pequeno conjunto de frases em que a unidade temática se

encontrava, a fim de situar o leitor de maneira mais ampla no momento da

entrevista em que o trecho foi retirado. Já o trecho a qual o tema se manifestava

com maior intensidade foi destacado através de sublinhamentos.

Continuando a seguir as orientações de Bardin, adotamos o métido de

categorias, “rubricas significativas que permitem a classificação dos elementos de

significação constitutivas, da mensagem (...) um método taxionómico bem

concebido para satisfazer os colecionadores preocupados em introduzir uma

ordem, segundo certos critérios, na desordem aparente” (Bardin (1977, p.37)

A autora ainda complementa dizendo que é um método simples, porém

trabalhoso (ela diz exatamente “fastidioso”) quando feito manualmente,

comparando a caixas de sapato em que selecionamos objetos baseados em

características previamente definidas, o que depende de nosso problema de

pesquisa, e os distribuímos para cada caixa correspondente.

De fato o método consumiu dois meses de atividade, classificando cada

um dos 16 casos transcritos e selecionando os trechos que correspondiam a cada

uma das 45 categorias temáticas (variáveis) criadas. Procurou-se selecionar o

subitem correspondente ao que era dito pelo entrevistado, pelo primário recurso

do copiar e colar fornecido pelo editor de textos. Foram então, falando de maneira

metafórica, 720 “caixas” preenchidas com as centenas de falas (trechos

selecionados correspondentes ao tamanho de um parágrafo) dos entrevistados,

ajudando na montagem de perfis de uso para cada um deles.

Para a criação das 45 categorias temáticas (dimensões de análise autoral

ou variáveis de análise) que serviram de base para a análise de cada entrevista, foi

necessário primeiro uma releitura de todas as fichas resumitivas, estas resultantes

da leitura flutuante da entrevista bruta logo após sua transcrição, através de

sublinhamentos para destacar pontos principais e anotações na lateral das

entrevistas impressas, ainda de modo bastante artesanal.

O processo de criação das categorias foi, portanto, a partir do que emergia

dos discursos e não de categorias previamente criadas, embora as leituras de

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Metodologia 227

teóricos a respeito das novas tecnologias de informação e comunicação, assim

como aqueles dedicados aos intelectuais e seus modos de fazer pesquisa tenham

influenciado decisivamente, desde o começo da pesquisa, aquilo que era

perguntado e, portanto, obtido nos depoimentos dos entrevistados. Dessa forma,

com as fichas resumitivas em mãos, realizou-se a comparação por atacado de cada

uma das 7 subdivisões (eixos temáticos) surgidas de cada uma das 16 fichas. Esta

foi a fase de pre-análise ou preparação do material, descrita de maneira mais

completa no tópico anterior quando foi relatada a fase da transcrição.

A criação das categorias temáticas foi um modo de organizar conteúdos

dispersos ao longo dos depoimentos obtidos em um total de 319 páginas. Não foi

um processo fácil, as categorias temáticas / variáveis foram sendo acrescidas

pouco a pouco, a partir da percepção que se tinha de recorrências, de processos

em comum, de aspectos que os entrevistados iam revelando ao longo de seus

depoimentos e que ficavam pouco a pouco mais claros durante a leitura flutuante.

Podemos dizer que a criação do quadro com as categorias temáticas, chamado de

“dimensões da análise autoral”, ocorreu ao modo de um quebra-cabeça montado

pouco a pouco de acordo com o desenvolvimento da leitura das transcrições.

Dessa forma, por exemplo, na subdivisão chamada de “Trajetória de vida

acadêmica e digital” tínhamos em mãos, ao final, 16 conjuntos de parágrafos

resumindo o que cada um dos 16 entrevistados falou a respeito desse tema,

resultando então em variações de usos, conjunto de práticas, diferentes graus e

tipologias que poderiam ser resumidas para cada uma das categorias temáticas

encontradas. Essa foi a forma escolhida para analisar em conjunto e que depois,

com as categorias criadas, foi possível a análise minuciosa de cada um dos 16

entrevistados, caso a caso, fala por fala.

A figura a seguir mostra, de maneira resumida, uma das 7 subdivisões

(Eixo temático I) contendo variáveis e cada uma das variáveis com as variações

internas generalizadas a partir da leitura dos resumos das 16 entrevistas.

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Metodologia 228

Figura 13 - Exemplo de uma seção da ficha de análise de entrevista contendo 5 categorias temáticas no lado esquerdo e seus subitens.

O objetivo com a formação dessas variáveis foi obter de maneira mais

clara o perfil de cada caso exposto em cada uma das 16 entrevistas e com isso

permitir uma comparação interna dos casos, a partir de uma observação inicial por

generalizações representadas nas categorias temáticas.

Podemos complementar aqui que não foi objetivo somente a exibição

exemplificativa dos trechos das entrevistas. O primeiro objetivo da pesquisa foi a

criação das próprias categorias temáticas de análise, com seus graus e tipologias

(ver Anexo V), abstraindo sua complexidade a partir de todos os casos, visando

uma avaliação posterior do processo de escrita da tese por outros doutorandos em

um instrumento prático e objetivo (um questionário ou uma ficha avaliativa, por

exemplo). O segundo objetivo nesta análise foi obter tendências na escrita das

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Metodologia 229

teses usando mídias digitais através da exemplificação contida nos perfis

encontrados, ou seja, produzir generalizações analíticas.

Cabe também esclarecer que a opção por não utilizar um software de

análise qualitativa dos dados deu-se pela limitação destes softwares de exibirem o

conjunto eixo-categria-subitem-conteúdo ao mesmo tempo, de modo visualmente

agradável e claro, tal como é permitido com as tabelas criadas no Microsoft Word.

Uma tentativa inicial com o software nVivo 8 foi feita, porém a exibição por

barras laterais das variáveis em relação ao texto não permitia sua visualização em

conjunto (45 variáveis simultaneamente e seus 204 subitens).

Na etapa final da análise, usamos um software para obter um “mapa”

visual do resultado final da aplicação de cada uma das 45 variáveis em cada

entrevista-caso (ver Anexo VI), o software MindManager 9.

O caminho percorrido pode, assim, ser visualizado pelo quadro abaixo:

Figura 14 - Resumo das etapas de pré-análise das entrevistas e análise de conteúdo.

1. Transcrição da entrevista no idioma original 9português ou 

italiano)

2. Leitura flutuante com sublinhamentos e 

destaque de assuntos recorrentes

3. Criação dos 7 eixos temáticos inspirados no roteiro de entrevista

4. Ficha resumitiva com parágrafos isolados para 

cada eixo temático

5. Criação das 45 categorias temáticas 

distribuídas em cada Eixo Temático

6. Criação dos subitens para cada uma das 45 categorias temáticas, totalizando 204 itens.

7. Aplicação das 45 categorias temáticas a cada entrevista, ou seja, em cada um dos 16 casos

8. Obtenção de 16 fichas analíticas com citações refletindo a categoria 

temática correspondente

9. Criação do gráfico resumitivo contendo o perfil do entrevistado

10. Criação de 45 gráficos reunindo a frequência total para cada subitem de cada variável (próximo 

capítulo)

11. Criação de um resumo textual com o perfil de 

cada caso

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III. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS COLETADOS

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Page 231: TESE: Quando os doutorandos visitam o ciberespaço: o uso de suportes digitais na produção acadêmica em um período de transições

7 Análise dos dados coletados: a autoria acadêmica em uma década de transição midiática vista através dos sete eixos temáticos tomados separadamente

Com o objetivo de observar os pontos de convergência entre os dezesseis

casos analisados, reuni em 45 gráficos as variáveis de análise correspondentes,

utilizadas para compor o perfil de cada entrevistado. Surgiu, dessa forma, um

gráfico para cada uma das variáveis, que foram, por sua vez, agrupados em cada

um dos sete eixos temáticos criados durante a análise de conteúdo das entrevistas

(ver o resumo no Quadro a seguir). Cada gráfico representa a contagem dos itens

marcados a partir releitura da entrevista de cada um dos dezesseis casos.

Embora este tipo de pesquisa não permita generalizações estatísticas mais

amplas, consideramos possível esboçar algumas inferências por esta aproximação

numérica com os dados, mas, não temos dúvidas que o valor dos casos analisados

só se completa a partir das considerações feitas sobre os depoimentos dos

participantes e observações aprofundadas, separadas em cada um dos grandes

eixos temáticos. Pensando nessa complementariedade, os trechos contendo as

falas dos entrevistados serviram de exemplificação e também como forma de

evidenciar as convergências temáticas colhidas nos discursos de cada um deles.

Sobre a construção de cada uma das variáveis é bom esclarecer algumas

dúvidas possíveis que podem surgir ao longo da leitura deste capítulo. O primeiro

ponto é que existiram subitens dentro de algumas das variáveis / categorias que

ficaram em branco, pois foram, ao longo do processo, se completando por simples

inferência, ou por serem opostos (formando uma parte de extremos) ou

complementares (por serem intermediários em uma escala crescente) aos subitens

que foram criados através das respostas dos entrevistados.

Exemplo: o item “(4) Professor com destaque e carreira consolidada”

presente na variável “2. Posição universitária” representa o ápice da escala de

autoridade possível de ser exercida na academia, mas em nenhum dos casos

tivemos um entrevistado com esta característica.

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Análise dos dados coletados 232

Dessa forma, ao longo do processo de criação das 45 categorias temáticas

foi possível visualizar, por exemplo, os extremos de possibilidades de respostas,

ou contrastes que eventualmente não apareceram naqueles dezesseis casos, mas

que podem aparecer em outros, deixando a escala mais completa e clara para ser

apreendida e aplicada em futuras pesquisas com outros grupos de sujeitos.

Aproveitei também para que através dos gráficos pudesse explicar alguns

assuntos e termos propostos, antes de utilizá-los no texto dissertativo, definindo-

os de modo sucinto para que fizessem sentido durante a análise estendida

contendo, como exemplos, as falas dos entrevistados. Abaixo de cada gráfico está

o resumo, em tópicos, sobre cada um dos itens presentes em cada gráfico de cada

variável / categoria, ajudando na leitura prévia antes da análise mais estendida.

Ao final de cada grande eixo temático, também foram criadas tabelas

resumitivas, facilitando a leitura através do resumo dos principais achados

empíricos, escalas criadas e conceitos propostos.

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Análi

Quadcorre

E

Eix

Eixo

se dos dado

dro 14 - Eixosespondentes.

Eixo I. Trajeacadêmi

Eixo II. Usos

Eixo III. Mo

Eixo IV. Mo

Eixo V. Us

xo VI. Modo

o VII. Modo

os coletados

s temáticos c.

etória de vidica e digital

s da tecnolo

odo de leitu

odo de escri

so de fontes

o de organiz

o de comuni

com suas var

da 

ogia

ura

ita

s

zação

icação

riáveis / cate

•1. Relação com

•2. Posição unive

•3. Momento (T

•4. Área de proc

•5. Uso de TICs (

•6. Interesse inic

•7. Período inicia

•8. Aprendizado

•9. Imersão (Pro

•10. Conhecime

•11. Objetivos d

•12. Análise dos 

•13. Atividades (

•14. Suporte (M

•15. Local das an

•16. Compartilha

•17. Prestígio do

•18. Técnicas de

•19. Técnicas de

•20. Ordem (Sim

•21. Ambiência (

•22. Co‐autoria (

•23. Temática (T

•24. Autoria pró

•25. Instrumento

•26. Presença da

•27. Técnicas (Te

•28. Busca no te

•29. Local de bu

•30. Abrangênci

•31. Objetivo (F

•32. Tradição (D

•33. Origem no 

•34. Suporte (M

•35. Posse dos m

•36. Produção d

•37. Tipos utiliza

•38. Sistematiza

•39. Suporte (M

•40. Classificaçã

•41. Local de arm

•42. Abrangênci

•43. Tradição (D

•44. Objetivo (Fi

•45. Ideias nova

egorias temá

 a academia (Aca

ersitária (Autorid

emporalidade)

cedência (Anterio

(Tecnicidade)

cial (Causalidade)

al (Temporalidad

 inicial (Formalid

ofundidade)

nto (Familiaridad

e uso (Finalidade

dados (Tecnicida

(Atividade)

aterialidade)

notações (Localid

amento (Coletivid

o autor (Autorida

e destaque (Recor

e confiabilidade (c

multaneidade)

(Localidade)

(Coletividade)

Tematicidade)

pria (Originalidad

o (Instrumentalid

a internet (Conec

ecnicidade)

empo (Acumulabi

usca (Localidade)

ia (Proximidade)

inalidade)

Durabilidade)

tempo (Antiguida

aterialidade)

materiais (Materi

da empiria (Verific

ados

ação (Sistematicid

aterialidade)

o (Tematicidade)

mazenamento (D

a (Proximidade)

Durabilidade)

inalidade)

s (Originalidade)

ticas de aná

ademicidade)

ade)

ridade)

)

e)

ade)

de)

e)

ade)

ade)

dade)

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rdabilidade)

confiabilidade)

de)

dade)

ctividade)

ilidade)

ade)

alidade)

cabilidade)

dade)

)

isponibilidade)

233

álise

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Análise dos dados coletados 234

7.1 Trajetória de vida acadêmica e digital: de onde vêm e o que faziam antes

O primeiro eixo temático não serve necessariamente para revelar os modos

de apropriação dos suportes digitais no processo de feitura da tese, mas sim para

situar algumas particularidades do conjunto de sujeitos que compuseram o grupo

de dezesseis casos para este estudo. Este primeiro eixo é resultado do que os

sujeitos relatavam a respeito de seu passado com os suportes digitais, ajudando a

entender como se “formou digitalmente” essa geração de recém-doutores, ao

menos nos casos que compuseram este estudo.

Embora boa parte dos entrevistados atuasse na academia e tivesse mais de

5 anos de atuação como professores, ou mesmo tivessem sempre pertencido ao

meio universitário, eles não eram veteranos na carreira, pois tinham menos de 5

anos de formados no curso de doutorado e, portanto, não haviam construído

carreira acadêmica consolidada, com obras de relevância publicadas e grupos de

pesquisa próprios e consolidados.

Lembremos que nos últimos 15 anos houve um forte crescimento no

número de doutores formados tanto no Brasil quanto na Itália (ver Capítulo 4),

levando a obtenção do grau de doutor pré-requisito mínimo para a construção da

uma carreira acadêmica. No caso italiano o mestrado tem se incorporado como

formação complementar na graduação, tal como uma pós-graduação já acoplada

ao curso de graduação, sendo que a pós-graduação padrão e “de fato” atualmente

é o doutorado, na fórmula 3-2-3 instituída pelo processo de Bolonha.

Os gráficos 7 e 8 permitem uma visão melhor desse fenômeno:

Gráfico 7 - Variável “1. Relação com a Academia (Academicidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

(1)  Sempre se dedicou

(2)  Chegou recentemente (menos de 5 anos)

(3)  Veterana na academia (mais de 5 anos)

(4) Nunca se dedicou

1. Relação com a Academia (Academicidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 235

(1) Sempre se dedicou

1. A pessoa fez o mestrado e doutorado e sempre trabalhou dentro da Universidade. 2. A pessoa nunca teve trabalho formal, foi bolsista.

(2) Chegou recentemente (menos de 5 anos)

1. A pessoa vem de uma carreira em que trabalhava em empresa ou instituição e recentemente entrou para a academia.

(3) Veterana na academia (mais de 5 anos)

1. A pessoa vem de uma carreira em que trabalhava em empresa ou instituição, mas entrou depois para a academia. 2. Trabalha há mais de 5 anos na academia.

(4) Nunca se dedicou

1. A pessoa fez o mestrado e o doutorado, mas trabalhou sempre em instituições e empresas fora da academia.

Tabela 2 - Descrição dos itens da Variável 1.

Gráfico 8 - Variável “2. Posição universitária (Autoridade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Professor sem influência alguma

1. Sem cargo de influência na instituição. 2. Sem publicações de destaque. 3. Sem grupo de pesquisa próprio. 4. Pouca ou nenhuma experiência profissional. 5. Rede de contatos pequena.

(2) Tinha somente contrato de pesquisador

1. Comum na Itália, onde o doutor se ocupa de pesquisa exclusivamente.

(3) Professor pouco influente e ainda sem ocupar função de destaque

1. Alguma influencia na instituição. 2. Desenvolvendo suas pesquisas ligadas a um professor de maior prestígio. 3. Sem grupo de pesquisa próprio ou com grupo de pesquisa recém iniciado. 4. Rede de contatos em expansão.

(4) Professor com destaque e carreira consolidada

1. Prestígio acadêmico. 2. Publicações significativas e referenciadas. 3. Grupo de pesquisa formado e consolidado. 4. Referência aos que iniciam a carreira. 5. Rede de contatos vasta e com ampla penetrabilidade no campo em que estuda e trabalha.

(5) Não era professor

1. Não ocupava nenhuma posição na academia, trabalhava em empresa ou era exclusivamente bolsista.

Tabela 3 - Descrição dos itens da Variável 2.

Dessa forma, é condizente que mais da metade dos entrevistados estivesse

acima de 35 anos e no meio de suas carreiras profissionais (11 casos), conforme

mostra o Gráfico 9. Dois casos extremos foram o N13, em que a entrevistada

estava prestes a se aposentar quando concluiu o doutorado (com 54 anos), já tendo

constituído carreira em escola do ensino técnico, e o caso N5 em que a

entrevistada estava se formando no doutorado (28 anos de idade) e se dedicava a

0 1 2 3 4 5 6 7 8

(1)  Professor sem influência alguma

(2)  Tinha somente contrato de pesquisador

(3)  Professor pouco influente e ainda sem ocupar funçãode destaque

(4)  Professor com destaque e carreira consolidada

(5)  Não era professor

2. Posição universitária (Autoridade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 236

atividades de pesquisa desde a graduação, mas sem experiência acadêmica

docente.

Gráfico 9 - Variável “3. Momento (Temporalidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Jovem

1. Com idade entre 20 e 35 anos. 2. Lecionando ou não.

(2) Meio de carreira

1. Entre 36 e 50 anos. 2. Lecionando há muitos anos, pesquisando há muitos anos ou reconstruindo carreira.

(3) Fim de carreira

1. Entre 51 e 70 anos. 2. Lecionando há muitos anos, pesquisando há muitos anos ou reconstruindo carreira.

Tabela 4 - Descrição dos itens da Variável 3.

Com relação à área de procedência, temos a seguinte distribuição no

Gráfico 10:

Gráfico 10 - Variável “4. Área de procedência (Anterioridade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Educação 1. Graduação em pedagogia ou ciências da educação.

2. Mestrado em educação. (2) Exatas em geral 1. Graduação em ciências exatas em geral.

2. Mestrado em educação ou em ciências exatas em geral. (3) Humanas em geral 1. Graduação em ciências humanas em geral.

2. Mestrado em educação ou em ciências humanas em geral. (4) Tecnológica em geral 1. Graduação em área tecnológica.

2. Mestrado em educação ou em área tecnológica em geral.

Tabela 5 - Descrição dos itens da Variável 4.

0 2 4 6 8 10 12

(1)  Jovem

(2)  Meio de carreira

(3)  Fim de carreira

3. Momento (Temporalidade)

Total BR IT

0 2 4 6 8 10 12 14

(1)  Educação

(2)  Exatas em geral

(3)  Humanas em geral

(4)  Tecnológica em geral

4. Área de procedência (Anterioridade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 237

Como se pode notar, grande parte também provinha da própria área de

educação (13 casos), fazendo o curso de Graduação em Pedagogia / Ciências da

Educação e depois entrando para os cursos de mestrado e doutorado em Educação

para se aperfeiçoarem e crescer na carreira.

Há também os casos de transição de carreira, como o N16, em que a

entrevistada fez primeiro o curso de Direito, atuou em escritório de advocacia, e

depois optou por fazer o curso de Pedagogia, o N15 em que a entrevistada passou

mais de uma década trabalhando como psicóloga escolar até entrar para a área de

pesquisa e docência no ensino superior e se dedicar à educação somente; e N8 em

que o entrevistado disse ter iniciado, sem concluir, o curso de Informática e

depois optado pela Pedagogia.

Em menor número estavam quatro casos de “não pedagogos” em que uma

entrevistada provinha da área de Matemática (licenciatura), outra de Artes/Música

(licenciatura), outra da Psicologia (trabalhando com rede de escolas), outro da

área de Sociologia/Filosofia (licenciatura), todos com vínculos diretos com

escolas, a maior parte lecionando em Ensino Médio ou prestando serviços como o

de atendimento psicológico. É importante enfatizar que todos os entrevistados na

Itália fizeram sua formação em Pedagogia, mesmo tendo um caso em que o

entrevistado havia feito parte do curso de Informática (sem conclusão) antes de

mudar para a área de Educação.

Com relação ao uso das TICs, o grupo se distribuiu da seguinte forma

(Gráfico 11):

Gráfico 11 - Variável “5. Uso de TICs (Tecnicidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Forte dependência das TICs na profissão

1. O uso de TICs é fundamental para o trabalho. 2. O estudo contínuo das TICs é fundamental para a realização do trabalho.

(2) Média dependência das TICs na profissão

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

(1)  Forte dependência das TICs na profissão

(2)  Média dependência das TICs na profissão

(3)  Baixa dependência das TICs na profissão

5. Uso de TICs (Tecnicidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 238

(3) Baixa dependência das TICs na profissão

1. O uso das TICs é superficial e não fundamental para o trabalho. 2. A atualização sobre as TICs é opcional, não influenciando o trabalho.

Tabela 6 - Descrição dos itens da Variável 5.

Apontando certo equilíbrio do grupo de casos, exatamente a metade

apresentava forte uso e dependência do computador e da internet em suas

carreiras, estando esses casos evidentemente ligados principalmente aos

participantes dos grupos de pesquisa JER e CREMIT, pois ingressaram nesses

grupos justamente pelo interesse nas tensões entre educação e tecnologias.

Um bom exemplo é o caso N7 em que a entrevistada já atuava com EAD

desde a segunda metade dos anos 90. O caso N14 é exceção, pois embora formado

em Sociologia/Filosofia, o forte contato com computadores em escola de elite nos

anos 80, através dos fortes investimentos dos diretores em tecnologia de ponta, o

levou ao aprendizado autodidata e depois à aplicação de multimeios mais simples

(TV, LP e VHS) em aulas que ministrava também na rede pública de ensino.

O contato inicial com os suportes digitais teve nos depoimentos alguma

diversificação de caminhos percorridos pelos entrevistados e que vale a pena um

comentário mais extenso, especialmente porque os entrevistados têm em comum a

passagem pela escassez inicial de acesso à computação nos anos 90 quando a

informática começava a se tornar pública e comercial e a internet dava seus

primeiros passos com o grande público. Somente em três casos, o N8, o N10 e o

N14 o contato com a informática se deu nos anos 80, principalmente pelo

autodidatismo (interesse pessoal) e a influência de pessoas próximas que tinham

entusiasmo com os primeiros modelos de computadores.

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Análise dos dados coletados 239

Figura 15 - Formas de contato inicial com a internet presentes nos depoimentos.

O primeiro tipo de contato foi o local de trabalho, em especial com a

compra de computadores em escolas particulares antes que os próprios

profissionais os tivessem em casa, permitindo um aprendizado inicialmente

formal ou para funções formais dentro da escola, desde elaboração de materiais de

auxílio ao ensino até o ensino propriamente dito da informática para os alunos

(instrumental). Por local de trabalho também se entende a própria universidade,

como no caso N7, em que a entrevistada ainda na graduação, no meio dos anos

90, fazia uso dos computadores institucionais enquanto realizava um estudo fora

do país e precisava se comunicar com amigos e orientador.

Ainda fora do círculo familiar, outro modo, semi-formal, de ter contato

com os suportes digitais era através de cursos acadêmicos, nos quais alguns

colegas de turma já faziam seus trabalhos através de programas de edição de texto

e não em manuscritos. Em ambos os casos os usos começavam por pressão do

meio (contexto acadêmico) e só depois se tornavam mais incorporados ao dia a

dia, até a pessoa comprar um equipamento próprio.

A própria tarefa de fazer um trabalho acadêmico (monografia, dissertação,

tese) no início dos anos 2000 (boa parte fazia o mestrado ou estava concluindo a

graduação nesse período) foi um estimulante para o uso intenso do computador no

lugar da escrita mais demorada usando máquina de escrever, conforme foi visto

no caso N6 em que a entrevistada nunca tinha feito uso por não ter um PC em

Contato inicial com o 

computador/internet

Interesse autodidata

Contato com Parentes e amigos

Demandas do Local da trabalho

Infra‐estrutura do Laboratório da 

Universidade ou da Escola

Atividade do Curso acadêmico

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Análise dos dados coletados 240

casa, mas se viu obrigada a fazê-lo. Caso similar foi o N3, em que a entrevistada

para poder concluir a dissertação a tempo começou a digitar todos os dados no

computador, abrindo mão do trabalho manuscrito. Na Itália o caso N11 evidencia

o mesmo padrão, pois em 1998 a entrevistada solicitara um notebook emprestado

para poder fazer a monografia de conclusão da graduação.

Outra forma de ter contato com os computadores era com amigos e

parentes que já os possuíam primeiro, aprendendo de maneira mais informal com

eles e depois expandindo o aprendizado para outros campos da vida, como o

trabalho formal até a aquisição de um computador próprio.

E por fim estão aqueles que tiveram contato com computadores por

interesse pessoal autodidata, antes do próprio local de trabalho, especialmente nos

casos em que eram provenientes ou tinham alguma influência da área de ciências

exatas nas quais os computadores eram um instrumento obrigatório para se

manterem no campo de trabalho. Todos os tipos de influência aqui expostos

podem ocorrer de maneira sobreposta na vida dos sujeitos, sendo uma categoria

por vezes mais marcante que outra.

Vale destacar que os entrevistados que sabiam detalhar com profundidade

seu contato inicial com o computador e com a internet eram também os que

possuíam maior interesse no tema, que de alguma forma estudam ou usam de

maneira mais intensiva a informática em suas vidas e trabalho. Do mesmo modo

aqueles que relataram um uso básico, até mesmo superficial, dos recursos

oferecidos pelos suportes digitais e pela internet foram os que tinham a lembrança

mais difusa do início de contato. O interesse intenso no uso dos suportes digitais

foi evidenciado pela memória precisa e detalhada ao longo do depoimento.

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Análise dos dados coletados 241

Quadro 15 - Considerações resumitivas sobre as trajetórias de vida acadêmica e digital relatas pelos doutorandos.

7.2 Usos da tecnologia: quando e como os suportes digitais entraram na vida cotidiana

Este eixo apresentou características interessantes com relação ao momento

em que o computador entrou na vida dos entrevistados, como foi usado e de que

modo a internet se apresentava naquela época:

Gráfico 12 - Variável “7. Período inicial (Temporalidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Computador isolado

1. Usado como máquina de escrever, de registros. 2. Centralidade do editor de textos. 3. Característico dos anos 80 e 90. 4. Provavelmente ainda sem interface gráfica ou em modo misto (DOS / Windows).

(2) Computador com internet lenta

1. Alto custo de acesso (discado) 2. Acesso aos dados e gravação para leitura posterior. 3. Característico da primeira metade dos anos 2000 e dos últimos anos da década de 90.

(3) Computador com internet 1. Usado como fonte mais ampla de pesquisa, de dados, de buscas.

Trajetória de vida acadêmica e digital (resumo)

Nenhum era veterano de carreira Recém‐formados e acompanhando o crescimento de formados dos últimos 15 anos

Maioria com mais de 35 anos de idade e no meio da carreira

Maioria vindo da área de educação Exceções: matemática, artes, psicologia, sociologia e filosofia feitos durante a graduação.

Metade com forte dependência dos suportes digitais na vida profisisonal

O maior interesse nos suportes digitais se relacionava com o maior grau de detalhamento do contato inicial 

0 2 4 6 8 10 12

(1)  Computador isolado

(2)  Computador com internet lenta

(3)  Computador com internet rápida

7. Período inicial (Temporalidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 242

rápida

2. Acesso contínuo aos dados. 3. Centralidade da Web. 4. Característico da segunda metade dos anos 2000.

Tabela 7 - Descrição dos itens da Variável 7.

O período inicial de uso da maioria dos entrevistados foi na segunda

metade da década de 90 com os computadores inicialmente desconectados da

internet ou com conexão muito lenta (acesso via linha discada), passando depois

para conexões de banda larga contínua. Ou seja, eles sofreram inicialmente com

as limitações de acesso (ter computador próprio) e velocidade, assim como a

precariedade inicial dos programas de computador para acesso à internet e à

comunicação pessoal, muito mais difíceis de utilizar e instáveis.

Nos casos N4, N11 e N13 as entrevistadas relatam o uso inicial como

“máquina de escrever”, pois eram computadores sem conexão com a internet,

servindo basicamente para a digitação de trabalhos em editor de texto e

armazenamento de arquivos.

e essa imagem ficou muito presente porque naquele momento as pessoas estavam começando a usar a internet.. e a minha história pessoal... o meu primeiro computador foi comprado na época da produção da dissertação de mestrado, mas naquele momento eu não usava a internet, eu tinha o computador e ele era para mim uma máquina de escrever, eu depositava lá os meus arquivos.. (N4, p. 2) Però si di inizio non… lo fatto solo per necessità, inizialmente, non c’era particolare interesse, anche perché poi con la volta non è che si parlava di suo blog, social network , cioè, quella volta l’utilizzo era strumentale, a scrivere un testo e basta, come in machina da scrivere. (N11, p. 4)73 em 93 que eu fui pra escola e, bom, a gente não tinha internet ainda.. é... eu usava o computador, como que eu usava? Hoje o computador é uma coisa tão diferente do que era naquela época que fica... Eu usava para, eu usava pra escrever texto.. é.. (N13, p. 6)

Alguns iniciaram o uso bem antes (anos 80) com computadores que mal

lembram os que utilizamos hoje, especialmente aqueles entrevistados que

trabalhavam diretamente com tecnologia, tinham alguém na família interessado

pela informática ou eletrônica, possuíam computador em casa, ou foram iniciados

73 Trad. livre: “Porém de início não... o fiz somente pela necessidade, inicialmente, não havia interesse particular, também porque então naquela época não é que se falava de blog, rede social, isto é, naquela época a utilização era instrumental, para escrever um texto e basta, como uma máquina de escrever.”

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Análise dos dados coletados 243

no uso do computador dentro da profissão, seja através de cursos formais ou por

necessidade prática de trabalho.

No caso N10 o entrevistado cita o contato inicial através de videogames

quando tinha oito anos de idade, com jogos como o Pong, e somente depois na

adolescência começa com o uso de um computador Commodore e depois um IBM

PC. No Brasil, devido ao bloqueio de produtos de informática realizado nos anos

80, computadores menos avançados, de produção nacional, eram utilizados, como

no caso N14 em que o entrevistado narra a aquisição de um computador TK 2000

Color.

Figura 16 - Computador Commodore 64, lançado em 1982, ligava-se diretamente em aparelhos de televisão (Fonte: fotografia de Bill Bertram, Wikimedia Commons).

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Análise dos dados coletados 244

Figura 17 - Computador TK 2000 Color, da empresa Microdigital, lançado em 1984, ligava-se diretamente em aparelhos de televisão (Fonte: Wikimedia Commons).

O caso N8 mostra claramente a influência familiar precoce quando o

entrevistado narra que quando criança ia junto com o pai a feiras de computação

para acompanhar a evolução dos equipamentos, se apaixonando pelos

computadores e se tornando precocemente um programador. Ele relata que primos

e amigos já tinham computadores que ele começa a utilizar antes de ter o próprio

em 1985. Depois dessa imersão na computação ele acaba indo fazer, em um

primeiro momento, de 1993 a 1996, o curso de graduação em Informática na

universidade, para depois escolher a Pedagogia. Essa formação inicial na

computação, incluindo o acesso na universidade à internet em seus primeiros

rudimentos, irá marcar as pesquisas dele na educação, que tratam do uso de

ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs).

Sigamos agora para a finalidade do uso do computador.

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Análise dos dados coletados 245

Gráfico 13 - Variável “11. Objetivos de uso (Finalidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Uso para trabalho+estudo

1. Aprende recursos para uso em atividades no trabalho principalmente.

(2) Uso para trabalho+estudo -> pessoal+comunicação

1. Aprende para usar no trabalho e também na vida pessoal, equilibrando os dois lados.

(3) Uso pessoal+comunicalção -> trabalho+estudo

1. Aprende a usar na vida pessoal e usa também no trabalho, de maneira equilibrada.

(4) Começou a utilizar para todas as finalidades ao mesmo tempo

1. Aprende a usar ao mesmo tempo o computador para o trabalho, estudo, comunicação e vida pessoal.

Tabela 8 - Descrição dos itens da Variável 11.

Como se pode observar, vemos que esses casos de uso mais precoces, em

geral, não eram somente educadores (pedagogos), mas que trabalhavam em locais

fora do ambiente escolar, a exemplo de universidades com laboratórios de

informática pioneiros e empresas privadas que tinham equipamentos de ponta.

Um dos casos apreciados foi o da ex-advogada (N16) que utilizava computadores

no escritório em que trabalhava no início dos anos 90, por necessidade de trabalho

da firma (escritório de advocacia), tendo o marido também acesso à tecnologia de

ponta por trabalhar em um banco.

Na Itália, o caso N9 é do atual professor universitário que aprendeu a usar

os programas básicos de escritório (Word, Excel, Access) no emprego que tinha

nos anos 90 em uma empresa de recursos humanos, embora já tivesse contato

inicial com o computador Macintosh da Apple que a irmã tinha em casa. Outro é o

da professora de matemática (N13) que realizava trabalhos estatísticos com seus

alunos na escola técnica e precisava ter computadores para a realização dos cursos

que envolviam cálculo.

E a gente usava pra fazer gráfico, pra trabalhar... com gráficos, com... gráficos matemáticos e enfim, a gente usava.. eu usava um dos.. eu usava com os alunos

0 1 2 3 4 5 6 7 8

(1)  Uso para trabalho+estudo

(2)  Uso para trabalho+estudo ‐>pessoal+comunicação

(3)  Uso pessoal+comunicalção ‐>trabalho+estudo

(4)  Começou a utilizar para todas as finalidadesao mesmo tempo

11. Objetivos de uso (Finalidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 246

esse material, sabe? Ou seja, computador pra isso, pra fazer gráfico, nos projetos que a gente fazia (N13, p. 6)

Mesmo no caso N3, em que a entrevistada é professora e trabalha com

ensino de Artes, foi o marido que a iniciou na informática, por observar nas

empresas que visitava o uso intenso do computador, decidindo pela compra de um

próprio a partir das vantagens de uso que observava. Isso nos leva a perceber que

a escola comum, não-técnica e fora do padrão de escola de elite favorecida

financeiramente, entra na computação um pouco mais tarde que empresas

privadas e escolas particulares, que dependem da atualização de equipamentos

para se manterem ativas no mercado e manterem seus clientes / alunos.

O caso N5, em que a entrevistada era aluna de um liceu italiano nos anos

90, evidencia esse problema do acesso dentro do ensino público: a escola manteve

até 1998 o sistema operacional DOS nos computadores, apesar das interfaces

gráficas estarem disponíveis há mais de 10 anos no mercado de softwares. Ela

então só pode ter contato com a internet e o sistema operacional Windows quando

os pais adquiriram o primeiro computador em casa e, com isso, teve a

oportunidade de aprender por conta própria.

No caso N14 fica evidente a migração dos usos e habilidades adquiridas

em um ambiente mais rico, em que o entrevistado era professor de uma escola de

elite da Zona Sul do Rio de Janeiro, com amplo acesso a equipamentos de ponta

junto aos alunos da instituição, e ao mesmo tempo de uma escola pública na Zona

Norte que carecia desses equipamentos, levando sua experiência com os suportes

analógicos e digitais para a escola mais pobre em recursos, incentivando a

aquisição de equipamentos junto aos outros professores.

agora o [NOME DA ESCOLA] me proporcionou um salto muito grande. Eu me lembro quando eu fui pedir pra fazer um curso de computação... para poder entender os meus filhos, que eu já tava com filho pequeno na época.. afinal “eles vão precisar do computador, eu nunca vou precisar do computador pra trabalhar” (risos) A coisa era na época da reserva ainda de software... (N14, p. 9) [NOME DA ESCOLA] estava muito a frente... É... eu me lembro, porque eu era muito ocupado né? Mas era superinteressado... e um grupo de alunos começou, era febre das BBS... né... então tinha que.. o.. o.. como é? É... cibercafé... não. Como é que eles chamavam? Kidcafe... kidcafe... era uma BBS em português, acho que era uma raridade, se eu não me engano foi o [B.] que descobriu essa coisa. (N14, p. 10)

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Análise dos dados coletados 247

O mesmo caso ocorre na escola particular no caso N15, em que a

entrevistada relata ter começado seu uso do computador no início dos anos 90,

pois a escola particular que trabalhava tinha um diretor de informática que

incentivava o uso livre do computador entre os professores (incluindo

mensageiros instantâneos como o ICQ), conseguindo linha de crédito para

aquisição de equipamento e realização de cursos para quem tivesse dificuldade.

Muito cedo.. em... acho que em 94... a escola que eu trabalhava sempre investiu muito em informática e tinha um diretor de informática, assim, absolutamente genial (N15, p. 3) e ele tinha uma visão de que a informática devia ser algo amigável desde o início... então as primeiras coisas que ele fez foi liberar na época o ICQ, né... (N15, p. 3) e aí o colégio desenvolveu uma intranet muito bacana que na época... hoje eu não sei em que pé estão, mas na época era algo assim revolucionário em termos de intranet, especialmente em escolas que tem uma visão mais atrasada... então a vida da gente passou a ser informatizada desde aquela época e continuou.. (N15, p. 4)

Qual teria sido o interesse inicial pelo uso do computador pelos membros

do grupo observado?

Gráfico 14 - Variável “6. Interesse inicial (Causalidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Interesse formal

1. Necessidade de trabalho. 2. Necessidade na escola, graduação ou pós-graduação. 3. Necessidade de docência. 4. Necessidade do trabalho acadêmico de escrita. 5. Participação em curso formal para aprender a usar o computador ou/e internet.

(2) Interesse informal

1. A partir de Amigos que usavam e despertaram a curiosidade. 2. A partir de parentes próximos como marido, irmãos, filhos, pais ou tios.

(3) Interesse misto 1. Necessidade formal (trabalho, escola, universidade) aliada ao mesmo tempo à ajuda informal de parentes ou amigos.

Tabela 9 - Descrição dos itens da Variável 6.

0 2 4 6 8 10 12

(1)  Interesse formal

(2)  Interesse informal

(3)  Interesse misto

6. Interesse inicial (Causalidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 248

O interesse inicial dos entrevistados para o uso do computador em sua

maior parte foi formal, antes de ser um interesse pessoal, mesmo que depois as

habilidades adquiridas passassem para a vida pessoal. Era derivada, por exemplo,

da atividade profissional, como a necessidade de usar o computador com alunos

em escolas, fazer alguma pesquisa que envolvia as tecnologias como tema

principal ou simplesmente utilizar o computador para a digitação de um trabalho

acadêmico, como no caso N11 em que a entrevistada relata que pegou emprestado

um notebook para fazer o trabalho de conclusão de curso de graduação, em 1998.

A hipótese que podemos tecer é que nos anos 90 os computadores

entraram primeiro nos locais de trabalho, escolas particulares de áreas mais

favorecidas financieramente, tais como universidades e empresas, levando a um

uso formal e profissional antes do uso particular e mais livre em casa, até mesmo

porque eram muito mais custosos e difíceis de adquirir. Talvez hoje em dia os

casos tendam para o inverso, ou seja, o jovem adquire habilidades nos

computadores já presentes em casa e depois começa a utilizar funções ligadas à

vida profissional. Apesar disso foram relatados cinco casos em que os usos

começaram em casa para comunicação, pesquisa ou mesmo jogos e depois

passaram para o dia a dia do trabalho.

quando eu conheci eu achei fantástico, aí achei muito mais fácil pra você organizar e eu trouxe pra minha vida profissional também.. (N2, p. 13) piano piano lo ha diventato, prima di divertimento, ecco forse prima era solo un divertimento, poi… poi di studio, poi di lavoro… (N9, p. 3)74

Um exemplo de forte interesse é o caso N2, em que a entrevistada relata

todo o encanto inicial com o uso do computador e das antigas redes BBS do início

dos anos 90 (por conexão discada) na casa do irmão que já possuía um

computador, passando a noite toda lá para descobrir como funcionavam os

recursos que nunca havia entrado em contato antes.

É interessante porque o padrão de automotivação, com consulta de

materiais e guias para aprender a utilizar os recursos computacionais, se alastra

para o uso intenso dos suportes digitais nas pesquisas que fez (mestrado e

74 Trad. livre: “Aos poucos ele se tornou, primeiro para divertimento, então primeiro era somente um divertimento, depois.. depois de estudo, de trabalho...”

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Análise dos dados coletados 249

doutorado), nos cursos a distância que realizou como aluna, e na própria opção

por trabalhar exclusivamente com EAD.

eu não tinha a menor idéia, de como era, aí uma noite eu fui pra casa dele, meu marido ficou com os filhos né, com os meninos né, ficou em casa... e eu fui dormir na casa do meu irmão, que a gente ia virar a noite, pra... eu me lembro assim até um pouco da emoção [pausa para desligar o ar condicionado] quando eu vi aquilo li [som de conexão dial-up] ... (N2, p. 1) aí eu tinha umas revistas que eu não vou lembrar o nome, que eu tenho até hoje lá guardadas (...) já é peça de museu, que fala sobre BBS, coisas que podia fazer ou usar na escola... (N2, p. 1) aí quando eu fui pra [NOME DA CIDADE]... minha cidade é [NOME DA CIDADE] né... acho que é interessante a data... noventa e... cinco... quando cheguei lá chegou uma pessoa que foi morar lá também que ela usava ... é... ela fazia, tinha terminado o curso de comunicação aqui na Federal... então ela começou a contar de rede, das comunicações que tinha.. e uma outra colega que tinha muito interesse em mexer... ela trabalhava muito com software e tal com a garotada... nós ficávamos assim curiosas né... (N2, p. 1)

O caso de N2 nos remete a outro item desta mesma categoria, qual seja,

como se deu a aprendizagem inicial: do autodidata ao formal.

Gráfico 15 - Variável “8. Aprendizado inicial (Formalidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Autodidata solitário 1. Começou a usar os recursos digitais sozinho.

2. Consultava revistas, sites e manuais para se informar. (2) Autodidata assistido 1. Começou a usar os recursos sozinho e também com ajuda de amigos e cursos que

fez. (3) Educação formal 1. Fez curso formal para começar a usar os recursos digitais.

Tabela 10 - Descrição dos itens da Variável 8.

O padrão então apresentado foi de aprendizagem não formal, autodidata, a

partir de uma influência horizontal dos pares e com aprofundamento pessoal a

partir do interesse gerado pelas possibilidades apresentadas pelos novos meios.

0 1 2 3 4 5 6 7 8

(1)  Autodidata solitário

(2)  Autodidata assistido

(3)  Educação formal

8. Aprendizado inicial (Formalidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 250

Onze dos dezesseis entrevistados não passaram por atividade formal para

aprender a usar o computador e a internet, a ida a cursos formais de informática,

sendo que sete receberam ajuda de amigos e familiares durante a aproximação

inicial com as tecnologias digitais.

Desse total, somente dois entrevistados tiveram receio de se aprofundar de

maneira rápida ou mesmo moderada nos suportes digitais, demonstrando o

predomínio do padrão de “encantamento” inicial que a informática exerceu na

maior parte das pessoas entrevistadas, através de seus novos recursos e

possibilidades de manipulação e edição da informação digital, as conduzindo para

uma adoção mais ou menos veloz.

E como estavam eles em matéria de uso do computador quando realizavam

seu mestrado / doutorado?

Gráfico 16 - Variável “10. Conhecimento (Familiaridade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Iniciante

1. Descoberta e uso básico da internet e do computador. 2. Pela descrição que faz dos usos percebe-se que a pessoa não se aprofundou na informática e computação. 3. Ainda na fase de aquisição de palavras novas utilizadas no ambiente informático.

(2) Familiarizado

1. Uso de alguns recursos de forma básica e apresentando conhecimento razoável em outros, sem aprofundar os detalhes e recursos mais sofisticados. 2. É o usuário que sabe instalar programas básicos e utiliza programas diversos, mas não sofisticados. 3. Usa alguns serviços na internet como banco, compras, pesquisas diversas, comunicação com outras pessoas.

(3) Avançado

1. Maior aprofundamento e uso de recursos mais avançados, pouco relatados em geral. 2. Possui desenvoltura com programas avançados e sabe a fundo o funcionamento da computação, da internet e da informática em geral. 3. Tem grande chance de ter vindo de uma área técnica / tecnológica.

Tabela 11 - Descrição dos itens da Variável 10.

Passados mais de 10 anos do contato inicial, a maioria deles começava a

usar o computador no fim dos anos 90. Nenhum entrevistado relatou se sentir

iniciante com os meios digitais, embora somente três tivessem atingido o nível de

experts, atribuição evidenciada através do uso de termos técnicos presentes em

0 2 4 6 8 10 12 14

(1)  Iniciante

(2)  Familiarizado

(3)  Avançado

10. Conhecimento (Familiaridade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 251

seus discursos, dominando o conhecimento sobre a estrutura de funcionamento

dessas novas tecnologias, sabendo profundamente detalhes a respeito da técnica e

da manipulação avançada de dados (programação).

Dois casos italianos, o N8 e o N10, vinham desde os anos 80 utilizando a

informática no cotidiano, começando ainda criança a utilizar os primeiros

computadores disponíveis no mercado italiano, com alto nível de interesse em se

aprofundar na técnica e nos recursos disponíveis.

allora c’erano, non c’era neanche PC, c’erano sistemi tipo Comodore o Sinclair.. erano microcomputer, quelli che si utilizzavano allora e poi dopo ci stato diversi modelli fino alle… il primo computer, credo il primo PC a 14 anni, 1984.. uno 80, credo che sia stato un 8088 Intel credo, non ricordo più precisa… era un PC che aveva un disco fisso da 20 mega.. (N10, p. 3)75 Avevo computer, non era collegato a internet.. non aveva regolarmente…beh ma io ho cominciato a usare il computer a sei, sette anni… prime consolle per videogiochi, il Philips Videopack 2006 e poi mi sembra in quinta elementare o in prima media, adesso non mi ricordo bene ho comprato uno Spank una 48K sarà stato nel…beh adesso qui fa un po’ di calcoli allora… 94.. non, non, 84 scusa.. 84/85, ah occhio… (N8, p. 4)76

Desse modo, grande parte utilizava o computador e a internet para atingir

seus objetivos profissionais e pessoais cotidianos, comuns, e não como objeto

para aprofundamento técnico, ou seja, não tinha interesse em se aprofundar no

modo de funcionamento dos suportes digitais, preferindo mais aproveitar as

possibilidades práticas que o meio oferecia.

Um exemplo dessa postura está no caso N7 em que a entrevistada afirmava

que o aprendizado de recursos informáticos sempre serviu a alguma finalidade e

necessidade prática de trabalho e nunca meramente por curiosidade em aprender

algo novo, tarefa essa que deixava para os amigos que gostavam de explorar as

novidades que surgem na computação.

75 Trad. livre: “Então existiam, não existiam ao menos PC, existiam sistemas tipo Commodore ou Sinclair... eram computadores, aqueles que se utilizavam então e depois apareceram diversos modelos até... o primeiro computador, creio o primeiro PC foi quando tinha 14 anos, 1984... um 80, creio que tenha sido um 8088 Intel creio, não recordo precisamente... era um PC que havia um disco fixo de 20 megas...” 76 Trad. livre: “Eu tinha um computador, não era ligado à internet... não tinha regularmente... mas eu comecei a usar o computador com seis, sete anos de idade... primeiro um console de videogame, o Philips Videopack 2006 e depois me recordo que na quinta elementar ou na primeira série do médio, então não me recordo bem, eu comprei um Spank 48k que foi no ano... bem, agora faço um pouco de cálculo então... 94... não, não, 84 desculpe.. 84/85, de olho...”

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Análise dos dados coletados 252

… non sono mai stata… é… tanto in curiosità, in poi io vedo alcuni colleghi che hanno più questa passione, alla sera si mettono scarica, lo provano programmi e mio approcci è più utilitaristico, mi serve questa cosa, chiedo a chi già carica, naviga, cerca, me indirizzino e vado (…) quello chi mi serve (risos). (N7, p. 4)77

Os usos cotidianos também ficaram evidentes no caso da entrevistada N13

que, ao sair para um período de doutorado sanduíche, teve que utilizar

intensamente sites de auxílio em viagens (passagens, roteiros, idiomas, redes de

aprendizagem) e programas para comunicação com familiares a distância (Skype),

algo semelhante ao caso N9 em que o entrevistado passou um período de 6 meses

fora da Itália e se viu na obrigação de utilizar a internet para se comunicar com

amigos, encontrar pessoas, se localizar na cidade, acessar serviços diversos e

encontrar recursos nos locais em que morou.

Esse uso cotidiano é evidenciado também no caso N5, em que a

entrevistada relata que hoje em dia faz tudo pela internet, como organizar viagens,

obter informações sobre uma cidade, controlar a conta do banco e procurar imóvel

para alugar, dizendo que a internet se tornou a primeira fonte de referência quando

precisa ir a algum lugar ou explorar algum serviço novo.

Si, anche, si, si, si... faccio praticamente... al momento faccio qualsiasi cosa in internet .. prenoto le vacanze, controllo il conto corrente, pago il bollette (risos)... Tutto.. si, si, tutto... vaso... cerco la casa, qualsiasi cosa, quando ho cercato a casa qui a Milano, cercato in internet, qualsiasi c’è la è diventata forse la mia prima fonte di riferimento. (N5, p. 11)78

Para a entrevistada N16, a maior mudança que teve em seu uso da

computação nos últimos 10 anos foi a entrada na rede social Facebook,

evidenciando um uso cotidiano e pouco aprofundado na natureza dos suportes

digitais, visto que muitas outras mudanças ocorreram na década de 2000, além do

surgimento da rede social.

Relacionado ao acima exposto, está a utilização dos softwares para a

análise dos dados pelos professores consultados:

77 Trad. livre: “Eu nunca estive... é... como curiosidade, então eu vejo alguns colegas que tem mais essa paixão, de noite vão baixar e testar programas e a minha aproximação é muito mais utilitária, se me serve esta coisa, pergunto a quem já carregou, navegou, procurou, me direciono a essa pessoa e vou (...) aquilo que me serve.” 78 Trad. livre: “Sim, também, sim, sim, sim... faço praticamente... no comento faço qualquer coisa na internet... agendo as férias, controlo a conta corrente, pago os boletos (risos)... Tudo... sim, sim, tudo... procuro uma casa, qualquer coisa, quando eu procurei uma casa aqui em Milão, procurei na internet, ela se tornou a minha primeira fonte de referência...”

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Análise dos dados coletados 253

Gráfico 17 - Variável “12. Análise dos dados (Tecnicidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Utiliza software avançado para análise dos dados

1. SPSS. 2. nVivo. 3. Sphinx.

(2) Utiliza software básico de análise de dados

1. Tabelas e gráficos em Excel.

(3) Analisou os dados manualmente

Tabela 12 - Descrição dos itens da Variável 12.

Mesmo com toda aproximação e uso das tecnologiais digitais no cotidiano,

sete entrevistados relataram que o tratamento de dados de suas pesquisas não

envolvia software específico para essa finalidade, sendo analisados manualmente.

Esse dado não quer dizer que tenham sido tecnofóbicos ou não apresentassem

conhecimento técnico para realizar as análises digitalmente, mas sim pela própria

natureza dos dados que coletaram.

Ao que tudo indica, esse fato deriva do próprio modo de atuar dos

pesquisadores de ciências humanas, neste caso os do campo da Educação, em que

as análises interpretativa e qualidativa de dados e documentos se sobrepõem a

projetos que envolvem análise numérica e estatística em grande escala, para qual o

computador seria fundamental. Entretanto, isso não excluiu um menor número

entrevistados que utilizaram bases de dados que exigiam alto nível de

processamento automatizado.

Dois exemplos são os casos N14 e N16, em que os entrevistados usaram

programas para processar bases de dados disponibilizadas pelo governo federal,

com um volume de registros muito grande.

no doutorado onde eu tive mais ajuda da tecnologia foi na... na fundamentação teórica e estatística também, porque eu comecei a pensar assim: quantos professores trabalham em muitas escolas? Né... daí comecei a entrar no INEP. Eu tive uma fase ali de quase um meio ano de estatística mesmo. Pô, fui estudar

0 1 2 3 4 5 6 7 8

(1)  Utiliza software avançado para análise dos…

(2)  Utiliza software básico de análise de dados

(3)  Analisou os dados manualmente

12. Análise dos dados (Tecnicidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 254

estatística pra dar conta de resolver, entender tudo que o INEP levantava de dados sobre a profissão docente, em números (N14, p. 15-16) Também com essas bases de dados, você tem que ter um bom computador, porque senão demora... do PISA... o processamento é lentíssimo né... e.. é... então eu peguei logo no início, logo no início... (N16, p. 8) e aí eu fiz uma comparação do Brasil, México, Argentina e Colômbia, peguei os 20% mais ricos da amostra dos estudantes e fiz uma regressão logística para ver se os brasileiros de fato tinham o mesmo... alunos de camada mais alta tinham mesmo chance de risco de reprovar, que nem as outras camadas. (N16, p. 2) Isso eu acho importante, agora eu tou vendo você com entrevista, eu usei o... pra entrevista eu usei muito no, no mestrado aquele nVivo... pô, fundamental o nVivo, fundamental... me ajudou muito o nVivo, muito, muito, muito... e, bom, e pra os dados de... eu usei o SPS né, o SPSS, eu usei muito, né... tanto o PISA como o censo. A própria base que eu montei da escola eu fiz em SPSS, que eu acho também um supersoftware, só que é difícil de conseguir, infelizmente a gente usa pirateado, eu odeio coisa pirata, mas... (N16, p. 21)

O caso N11 também é bem representativo, pois a entrevistada coletou

dados online, através de fóruns e discussões de grupos via internet, mas depois os

tratou manualmente, sem a ajuda de software específico. A decisão do modo de

tratamento independe se a coleta de dados foi ou não proveniente da internet,

estando mais ligado ao tipo de dado e à quantidade de respostas coletadas.

Quanto às atividades realizadas na internet, os grupos de Rio de Janeiro e

de Milão não se diferençaram.

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Análise dos dados coletados 255

Gráfico 18 - Variável “13. Atividades (Atividade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Comunicação pessoal 1. Uso de e-mail e comunicadores instantâneos. (2) Comunicação coletiva 1. Newsgroups, listas de discussão. (3) Ferramentas de autopublicação

1. Blogs, fotologs.

(4) Redes sociais e relacionamento

1. Orkut, Facebook e outras redes em que se criam perfis públicos.

(5) Jogos online e offline 1. Jogos em rede, jogos off-line. (6) Comércio eletrônico e home banking

(7) Serviços de armazenamento online

1. Álbum de fotos e vídeos online, slides e textos online, compartilhamento de arquivos na nuvem.

(8) Serviços de download 1. Baixar músicas e filmes online. (9) Serviços de compartilhamento 1. Delicius.

a. Nobii. (10) Pesquisa em motores de busca

(11) Leitura de jornais eletrônicos (12) Serviços de orientação 1. Utilização de sites para se situar no local onde está (hospedagem, passagens,

mapas).

Tabela 13 - Descrição dos itens da Variável 13.

As duas atividades que mais se destacaram no uso do computador e da

internet foram a (a) comunicação pessoal e coletiva, seja por e-mail (a mais

frequente) e comunicadores instantâneos (MSN, Skype, ICQ) ou por listas de

discussão e redes sociais (Facebook, Orkut); assim como a (b) pesquisa através de

motores de busca, seja aqueles típicos do final dos anos 90, como o Yahoo!, o

Cadê e o Altavista e o contemporâneo Google.

Embora constando nos usos de maior frequência (10 dos entrevistados

relataram), quando muitos disseram estar inscritos nas redes sociais, uma parte

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

(1)  Comunicação pessoal

(2)  Comunicação coletiva

(3)  Ferramentas de autopublicação

(4)  Redes sociais e relacionamento

(5)  Jogos online e offline

(6)  Comércio eletrônico e home banking

(7)  Serviços de armazenamento online

(8)  Serviços de download

(9)  Serviços de compartilhamento

(10)   Pesquisa em motores de busca

(11)   Leitura de jornais eletrônicos

(12)   Serviços de orientação

13. Atividades (Atividade)

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Análise dos dados coletados 256

afirmou não ser participante ativo, associando as redes sociais a um simples

espaço de diversão e distração, dizendo que prefere se encontrar pessoalmente

com os amigos ou que não tem tempo para se manter presente nos sites de

relacionamento.

As entrevistadas N11, N12 e N7 utilizaram justificativas semelhantes para

este afastamento das redes sociais, ao menos as redes mais populares como o

Facebook e o Orkut.

a rispetto alla dimensione sociale io non sono 2.0, io non ho Facebook, non ho profilo, cioè, uso il profilo degli altri per fare la ricerca ma io non ho il mio profilo… (N7, p. 17)79 perché è comunque è… preferisco sentirmi meno spesso con i miei amici, ma sentirmi al telefono o vedermi, che dire tutti giorni so come stano, ecco… sono ancora vecchia, cioè sono in questa, questo aspetto, quindi questa cosa non.. del tenere la rete non c’è lo ancora, non mi appartiene, un po’ perché ho paura, perché non ho tempo per fare anche quella cosa li… (N7, p. 17)80 Io ho ad esempio su Facebook, ho aperto il profilo, però non, non lo sto coltivando molto perché da un lato non ho il tempo e dal altro, si soprattutto non ho il tempo, ti direi e poi appunto non servendomi adesso, è... capito il meccanismo, capito come funziona, io non le trovo più le utilità per me, in questo momento, non? E quindi non, non utilizzo semplicemente, però sicuramente se avessi altri interesse o mi interessasse contattare qualcuno, sicuramente quello sarebbe molto più interessante e utile che non, ha telefonata o comunque insomma (risos)… (N11, p. 15)81 Non, é… ma perché non è prettamente legato a… alle finalità di ricerca, ne senso che, é… non, non ho… moltissimo tempo per cui, é… non mi interessa fare parte nel social network per coltivare delle amicizia o per parlare… cosi… perché io ho pochissimo tempo, quindi quel tempo che io ho, preferisco parlare vis-a-vis… (N12, p. 15)82

79 Trad. livre: “no que diz respeito à dimensão social eu não sou 2.0, eu não tenho Facebook, não tenho perfil, isto é, uso o perfil dos outros para fazer pesquisa, mas eu não tenho o meu perfil...” 80 Trad. livre: “contudo... eu prefiro entrar em contato com os amigos com menos frequenência, mas contatar via telefone ou os ver, do que dizer todos os dias “como está?”, enfim... sou ainda velha, isto é, sou neste aspecto, então com esta coisa não... de ter em rede não tenho ainda, não pertenço, um pouco por medo, porque não tenho tempo também para aquela coisa lá...” 81 Trad. livre: “Eu, por exemplo, no Facebook, abri um perfil, porém não, não estou cultuvando muito porque de um lado não tenho tempo e de outro, sim sobretudo não tenho tempo, te direique não está me servindo agora, é... eu entendo o mecanismo, como funciona, eu não encontro uma utilidade para mim, neste momento, não? E então não, não utilizo simplesmente, mas com certeza se tivesse outros interesses ou me interessasse contatar alguém, com certeza aquilo me seria muito mais interessante e útil que, mas tem o telefonema (risos)...” 82 Trad. livre: “Não, é... mas porque não é estritamente ligado à.. à finalidade de pesquisa, no sentido que, é... não, não tenho... muitíssimo tempo para isso, é... não me interessa fazer parte em um rede social para cultivar a amizade ou falar... assim... porque eu tenho pouquíssimo tempo, então aquele tempo que eu tenho, prefiro falar face-a-face.”

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Análise dos dados coletados 257

non avrei tempo di seguire un social network per puro piacere, quindi… faccio una selezione. (N12, p. 15)83

Redes sociais menores, mais específicas, como a de resenhas de livros

chamada aNobii citada pela entrevistada N12 ou o LinkedIn citado pelo

entrevistado N10, parecem atender melhor os objetivos do que as redes maiores e

menos focadas.

Ahh si, poi mi ero inscritta da aNobii, che è questo, questo social network per condividere libri, di condivisione praticamente di lettura… di libri… Si, si… praticamente una… una piattaforma, un social network in cui ogni uno… é… carica sugli scaffali la propria libreria e si discute sui libri… é…ti avvicinano a delle persone che hanno gli stessi gusti.. (N12, p. 14)84

Esses dados revelam o nível básico de uso dos suportes digitais pela

maioria dos entrevistados, basicamente como ferramenta de comunicação e como

fonte de informação através de buscadores online, mesmo que outros usos tenham

sido relatados por alguns dos entrevistados, evidenciando a plasticidade da

internet e do computador em substituir serviços antes acessados presencialmente.

As atividades tipicamente relacionadas ao lazer, como os jogos online,

estiveram praticamente ausentes do discurso dos entrevistados, assim como os

serviços de “computação na nuvem85” como o compartilhamento de arquivos e

armazenamento online de documentos, recursos ainda bem recentes e

desconhecidos pela maioria dos entrevistados.

Apesar dos usos básicos relatados pela maioria, o uso dos suportes digitais

tende a se tornar integrado com a vida cotidiana, se tornando mais móvel e

presente através de dispositivos como celulares, netbooks e tablets e de conexões

permanentes. A entrevistada N6 relatou a presença das conexões 24 horas à 83 Trad. livre: “não terei tempo de seguir uma rede social, por puro prazer, então... faço uma seleção...” 84 Trad. livre: “Ahh sim, então eu era inscrita na aNobii, que é essa, essa rede social para dividir livros, uma co-divisão de leitura... de livros... Sim, sim... praticamente uma... é... carrega na estante sua própria biblioteca e se discute sobre os livros... é.. você se aproxima das pessoas que possuem os mesmos gostos...” 85 Entende-se como computação na nuvem todo tipo de armazenamento e processamento de dados realizado fora do computador pessoal de quem utiliza o serviço, processado em redes de computadores (cloud computing) que retornam os dados processados ou os arquivam até que o usuário os solicite para uso local. Exmeplo de serviços do tipo são: e-mails online (Gmail), arquivamento de dados (DropBox, SkyDrive), armazenamento e visualização de vídeos (YouTube). A computação na nuvem tem relação direta com os serviços da Web 2.0, embora estes últimos tenham um caráter mais coletivo, de construção participativa, e não um mero serviço realizado automaticamente por redes de computadores.

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Análise dos dados coletados 258

internet que existem hoje, levando-a ao acordar a já se conectar e só desligando os

dispositivos ao ir dormir, um tipo de onipresença da rede que a leva a procurar

qualquer informação assim que uma dúvida surge, comparando a rede a um “ruído

de fundo”, sempre presente.

io da fatto mi sveglio sono in rete, ne senso che io appena mi sveglio accendo il computer e lo spengo quando vado a dormire, sia chi se è a casa o che se è al lavoro, anche se sono a casa perché ho una connessione 24 per 24, quindi non sto a pagare ogni volta che mi conetto e quindi mi accendo il computer quando mi sveglio e lo spengo quando vado a letto e lo uso per tutto, dal lavoro alla, alle parte più ludiche (N6, p. 15)86

Curiosamente, no caso dela só começou a utilizar o computador a partir de

2001 por necessidade de estudo e trabalho, e a internet de banda larga somente

acessou em 2008, pois a universidade não oferecia conexão rápida, ou seja, em 10

anos ela passa do uso zero para um uso de conexão 24 horas por dia, sendo um

dos casos mais radicais de mudança de hábito através do contato e uso de suportes

digitais.

A entrevistada N15 relatou algo semelhante, ao dizer que somente nos

momentos em que se desloca não tem acesso imediato à internet, pois ainda

possui um celular que não permite o acesso à rede (3G), mas que no trabalho e em

casa está constantemente conectada, a ponto de não mais comprar aparelhos de

TV novos ou ler jornais impressos, pois passa a maior parte do tempo no

computador portátil, tendo cinco computadores em casa.

Aos poucos a substituição das mídias clássicas analógicas vem ocorrendo

com os suportes digitais cada vez mais presentes e flexíveis, começando com usos

específicos e pontuais para trabalho e estudo e aos poucos ocupando outras

funções como as compras (e-commerce), os serviços de informação e orientação e

o uso de bancos online.

Quanto aos perfis gerais de uso do computador e da internet temos dois

extremos que se destacaram, mas que não são proporcionalmente iguais em

quantidade. O primeiro é o uso através de uma forte imersão e diversidade de

86 Trad do autor: “Eu me levanto e estou na rede, no sentido que eu logo que me levanto ligo o computador e o desligo quando vou dormir, seja em casa ou no trabalho, também se estou em casa é porque eu tenho uma conexão 24 horas, então não estou pagando toda vez que me conecto e então ligo o computador quando me levanto e o desligo quando vou para a cama e o uso para tudo, de trabalho até a parte mais lúdica.”

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Análise dos dados coletados 259

recursos utilizados, desde e-mails passando por redes sociais e e-commerce, a

exemplo dos casos N2, N3 e N13, até o outro extremo da pessoa que reduz suas

idas à internet ao mínimo possível, como a simples troca diária de e-mails.

Gráfico 19 - Variável “9. Imersão (Profundidade)”.

Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Lento / Restrito

1. Cuidadoso no uso. 2. Seletivo no uso. 3. Uso tardio de recursos já disseminados e comuns. 4. Medo de entrar e usar um recurso novo. 5. Medo de usar muitos recursos e não dar conta de responder. 6. Pessoa “não 2.0”.

(2) Rápido / Amplo

1. Abrangente, com adesão a muitas ferramentas. 2. Pouco criterioso nas escolhas, experimentando muitas novidades que vai encontrando. 3. Uso simultâneo ou quase simultâneo com o surgimento do recurso. 4. Incômodo pela não adesão de outras pessoas na mesma velocidade. 5. Encantamento com as novas tecnologias e entrega.

(3) Moderado / Seletivo

1. Uso de poucos recursos, porém contemporâneos e recentes. 2. Gestão das ferramentas que acessa, focando na necessidade que tem. 3. Não tem medo de novos recursos, mas analisa o que vai utilizar sem ter encantamento.

Tabela 14 - Descrição dos itens da Variável 9.

Os itens 2 dessa imersão (rápido/amplo) e 3 (moderado/seletivo) mostram

resultados inversamente proporcionais. Enquanto o grupo italiano tem maior

número de moderados/seletivos, o grupo brasileiro apresenta maior número de

rápidos/amplos.

No Brasil, o caso N4 foi exemplar para exemplificar este extremo do uso

controlado, em que a entrevistada procura medir todos os passos e serviços que

usa do computador, afirmando-se como “perfil peculiar”, pois a internet “nunca

foi algo que me fascinou”. O caso dela é de controle das possiblidades, um medo

de abrir outras frentes que novos sites ou programas poderiam criar e ela não dar

conta, um medo da aceleração trazida pela internet na vida das pessoas, no

0 1 2 3 4 5 6 7 8

(1)  Lento / Restrito

(2)  Rápido / Amplo

(3)  Moderado / Seletivo

9. Imersão (Profundidade)

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Análise dos dados coletados 260

aumento dos contatos online, de que haja uma perda das rédeas sobre o tempo e a

dedicação ao trabalho.

E é um caminho mesmo, é um processo que vai nos tomando né? Porque começa com as comunicações por e-mail, mas depois vai abrindo assim um universo de possibilidades de pesquisa, de acesso a textos e isso veio muito lentamente porque eu não sou uma pessoa ligada às novas tecnologias, elas vêm para mim para responder uma necessidade.. (N4, p. 3) eu penso assim, que eu vim num caminho mesmo muito lento... de aproximação da internet.. nunca foi algo que me fascinou.. como eu disse, não sou aquela pessoa muito ligada ao que é novo, ou a tecnologias.. (N4, p. 5) porque mesmo as pessoas da minha geração já são muito mais interessadas, né, e participam dessa rede de relacionamentos pela internet.. e eu não, eu tenho uma resistência (N4, p. 6)

Ao mesmo tempo esse cuidado e cautela reflete também uma ausência de

informações sobre o funcionamento dos computadores e seus programas, como no

momento em que a entrevistada N4 relata recopiar arquivos para diversos

computadores, ignorando a função de backups e o armazenamento de arquivos na

internet (armazenamento em nuvem), e também ao relatar que imprimia os e-

mails que enviava, guardando em arquivos no editor de textos.

Um ponto que se deve refletir é que mesmo na ausência de diversidade de

usos, o acadêmico típico, que trabalha com a escrita de artigos e a ida a eventos

científicos, ainda consegue viver perfeitamente à margem da maioria das

aplicações da internet, podendo se restringir ao uso de materiais na biblioteca, a

um editor de texto eletrônico e ao envio de e-mails.

Essa possibilidade de ser tradicional (mais conservador) nos usos dos

suportes digitais vem da própria estrutura universitária-acadêmica que vem

exigindo os mesmos produtos de pesquisa (artigos, livros, relatórios), iguais aos

exigidos antes da existência da computação e da rede internet. Mesmo com maior

dificuldade para efetuar correções e cópias, uma tese poderia ainda hoje ser feita

usando uma máquina de escrever, visto que o modo de editar e expor os

resultados de pesquisa continua o mesmo.

O caso italiano N9 evidenciou exatamente essa possibilidade, pois o

entrevistado reduzia suas atividades basicamente à checagem constante de e-

mails, à edição de textos e a visitas a sites de notícias, dizendo que às vezes

utilizava um mensageiro instantâneo, mas que nunca criou nenhuma página

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Análise dos dados coletados 261

pessoal, seja um blog ou em rede social, a não ser a que a universidade cria para

os professores. Em sua pesquisa de doutorado ele narrou ter utilizado só os livros

e artigos impressos que buscou fisicamente em bibliotecas, tal como no caso da

entrevistada N4.

Mesmo assim a entrevistada N4 revelou ao final da entrevista que já se vê

fazendo pesquisa de artigos (revisão bibliográfica) diretamente em periódicos

online, o que demonstra que nos últimos anos a migração para o formato

eletrônico das publicações vem forçando o acadêmico a utilizar cada vez mais

materiais publicados exclusivamente em formato digital.

Exemplos são os repositórios abertos como o Scielo, que abriga boa parte

das revistas científicas nacionais de educação; ou então os serviços de busca em

repositórios fechados oferecidos pela própria universidade. Outros processos

acadêmicos vêm migrando também para o formato digital, como a inscrição e

acompanhamento de eventos e a submissão de trabalhos para revistas científicas,

embora a essência dessas atividades não tenha se modificado.

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Análise dos dados coletados 262

Quadro 16 - Condiderações resumitivas sobre os usos da tecnologia relatados pelos doutorandos.

7.3 Modo de leitura: como os suportes digitais estão sendo apropriados na leitura

No que se refere aos suportes digitais, há pouca diferença entre os italianos

e os brasileiros ouvidos, como se pode comprovar no gráfico abaixo.

Dois períodos de uso inicial Anos 80 = computadores rudimentares

Anos 90 = internet discada e programas rudimentares (maioria)

"Máquina de escrever" e "Depósito de arquivos"

Financiamentos: acesso inicial diferenciados em escolas públicas e privadas.

Ambientes com maior orçamento tinham equipamentos mais atuais e acessíveis.

O acesso inicial que predomina é aquele em ambiente formal, por falta de acesso pessoal em casa.

Aprendizagem autodidata informal com ajuda amigos e parentes (sem cursos formais).

As atividades principais básicas: para comunicação e realização de buscas online.

Pouca adesão às redes sociais populares (associadas a diversão e distração).

Uso básico e para atividades cotidianas (compras, viagens, consultas em geral) e profissionais.

Análise de dados, em geral, não automatizada (qualitativa sem softwares).

Reflete as pesquisas nas ciências humanas.

Alguns relataram softwares especializados em análise de dados.

O uso mínimo de recursos ainda é aceito na academia: comunicação por e‐mail + visita à biblioteca.

Dois extremos no uso dos suportes digitais: lento e cuidadoso ou rápido e abrangente

Os produtos exigidos (artigos, livros, relatórios) permanecem os mesmos.

Estado atual Conhecimento técnico mediano e alguns experts.

Presença digital aumentada com as conexões 24hs.

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Análise dos dados coletados 263

Gráfico 20 - Variável “14. Suporte (Materialidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Predomínio do Impresso 1. No papel, sublinhado e anotado a mão.

2. Em geral os textos mais longos. (2) Predomínio da Tela do computador

1. Na tela do computador, com ou sem anotações. 2. Na tela do tablet. 3. Em geral os textos mais curtos se for tela do desktop. 4. Exceção relatada eram textos de teses e dissertações, que por serem muito grandes não eram impressos e eram vistos na tela.

(3) Leitura equilibrada entra o impresso e a tela do computador

1. Uso dos dois modos de leitura de maneira equilibrada.

Tabela 15 - Descrição dos itens da Variável 14.

Analisando os suportes utilizados pelos pesquisadores entrevistados, pode-

se perceber claramente a transição para o uso da tela do computador na leitura de

documentos, sendo somente um entrevistado (N9) que utilizava de modo

predominante o suporte impresso, como livros e revistas científicas nas

bibliotecas onde fez o levantamento de dados para o doutorado ou documentos

que imprime quando a leitura exige um tempo mais prolongado, pois disse se

sentir cansado com a leitura em tela. Mesmo assim, afirmou que no cotidiano só lê

os jornais no computador, parando de comprar a versão impressa, pois são textos

mais curtos.

Sobre essa transição impresso-tela, é bom destacar a fala da entrevistada

N13 e do entrevistado N8.

e também por outro lado me habilitando a ler um texto que estava na tela, na tela do computador... e enquanto ia acontecendo isso eu estava, é.. a questão de ler no papel já tava ficando, tava me distanciando porque isso foi uma coisa que foi muito marcante pra mim... na hora de ler o texto, de ler, ou seja, de estudar eu precisava de ter o texto escrito. Hoje eu já consigo, estudar, ler o texto, mas eu tenho que escrever, mas eu escrevo esquematicamente o texto e essa foi uma mudança que pra mim foi bem interessante, bem interessante e... (N13, p. 9)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

(1)  Predomínio do Impresso

(2)  Predomínio da Tela do computador

(3)  Leitura equilibrada entra o impresso e a telado computador

14. Suporte (Materialidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 264

hoje eu já estudo um texto, é... na tela do computador... eu já faço isso.. e.. eu já grifo lá com aquele, aquele marcador do PDF, eu já... o que antes eu fazia no papel... (N13, p. 9) eu leio, eu marco na tela, como eu fazia quando eu... com os livros eu marcava de alguma maneira e depois num papel eu esquematizava, eu fazia um primeiro esquema assim, de idéias... essa, depois essa, mais ou menos.. no final não saía nada daquilo mas era minha, era o pontapé inicial. (N13, p. 17) Tendo a leggere su schermo e questo non, durante la tesi dottorato stampavo ancora abbastanza adesso ho preso un tablet e quindi leggo diretto su schermo e sottolineo su schermo, questo nell’ultimo anno. (N8, p. 11)87

Para a entrevistada N16, a impressão de textos foi escolhida quando o uso

de um material era exigido muitas vezes ao longo da escrita da tese (critério de

frequência), e caso fossem muitos longos, como dissertações e teses baixadas no

computador, ela optava por não imprimir, mantendo e consultando no

computador. O mesmo aconteceu no caso da entrevistada N6, que só imprimia os

materiais que ela considerava mais interessantes, caso contrário lia tudo na tela,

inclusive artigos.

A leitura em tela também se divide para alguns em textos curtos, fáceis de

ler no monitor do computador, e os textos mais longos, com conteúdos mais

complexos, que acabam sendo impressos pelo conforto exigido no longo período

de leitura e onde podem ser aplicadas também técnicas de destaque e anotações,

tal como narrado pela entrevistada N5 e N12:

Cartaceo poi o libri o alcuni articoli, perché magari quali articoli che io ho trovato in internet anche sono molto molto lunghi io stampati per comodità di lettura per potere prendere le (altri?) di reflessione. Quale che me ci sono un po’ più brevi che li posso tranquillamente leggere a video non, quelli non li ho... non li ho stampati.. (N5, p. 13-14)88 di solito quelli un po’ più pesante sa leggere a video, oppure perché hanno tanti contenuti e quindi a video non riuscirebbe, non riesce neanche a ver mi (...) magari strutturato il documento, allora me lo stampo così, anche solo sfogliando riesce avere una prima idea di come se organizzano i contenuti e magari a video

87 Trad. livre: “Eu tendo a ler na tela e neste não, durante a tese de doutorado imprimia ainda bastante, então eu adiquiri um tablet e aí leio direto na tela e sublinho na tela, neste último ano.” 88 Trad. livre: “Papel ou então livros ou alguns artigos, porque talvez aqueles artigos que eu encontrei na internet também são muito muito longos, eu os imprimia por comodidade de leitura, para poder realizar algumas reflexões. Aqueles que são um pouco mais breves, que eu posso tranquilamente ler no monitor, aqueles eu não... eu não os imprimia.”

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Análise dos dados coletados 265

non subito te restituisce, anche per una pesantessa di leggere ottanta pagina a video.. (N5, p. 14)89 Allora… i materiali più interessante li stampavo… si, perché spesso erano scritto in lingua inglese e quindi avevo bisogno di un pochino più di tempo… é… poi, invece, non so… é… i post sui blog, piuttosto che li leggevo tranquillamente, però tanto materiale l’ho stampato, si… di articoli più lunghi, cosi… (N12, p. 9)90

Já a entrevistada N4, embora fosse extremamente controladora dos usos

que fazia do computador, reduzindo ao mínimo de recursos utilizados no dia a dia,

disse que se sentia muito a vontade com a leitura em tela, incluindo textos longos,

imprimindo textos somente quando era necessária a leitura nos deslocamentos em

transporte público que fazia:

pelo contrário, eu imprimo atualmente cada vez mais o mínimo, porque eu aprendi e ler no computador.. (N4, p. 8) tem pessoas que tem dificuldade né, preferem ler no papel, eu aprendi a ler, tenho facilidade na leitura direto ali no computador, então eu não preciso imprimir o texto que eu abro (...) né.. eu vou ler aquele capítulo da dissertação ali no computador mesmo e vou guardar... (N4, p. 8)

Encontrei casos mais radicais, em que a leitura se dá exclusivamente em

tela de computador quando o material está já em formato digital, como as

entrevistadas N7 e N11 e os entrevistados N8 e N10, que não imprimem mais

nenhum material baixado na rede.

No caso da entrevistada N7, ela prefere utilizar somente o computador

para que suas anotações de leituras sejam facilmente localizadas, usando o

notebook como unidade móvel para anotações e leituras no trem. Já para o

entrevistado N8, as anotações e leituras são no tablet. Ele relata que antes utilizava

caderno de anotações, mas o abandonou com o tempo, pois a comodidade do

digital com a cópia/colagem/busca a levou a passar tudo para o computador.

89 Trad. livre: “Normalmente aqueles um pouco mais pesados de se ler no monitor, ou porque possuem tanto conteúdo e então no monitor não se consegue, não se pode ao menos se ver... talvez o documento estruturado, então eu o imprimo assim, também só folheando pode-se ter uma primeira ideia de como se organizam os conteúdos e talvez no monitor imediatamente não se permite, também por ser pesado ler oitenta páginas no monitor...” 90 Trad. livre: “Então... os materiais mais interessantes eu imprimia... sim, porque frequentamente eram escritos em língua inglesa e portanto precisava de um pouco mais de tempo... é.. então, em vez, não sei... é... as postagens em blogs, uma vez que eu ali eu lia tranquilamente, mas muito material eu imprimia, sim... os artigos mais longos, assim...”

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Análise dos dados coletados 266

Ma io la tendenza è sempre stata quella di usare il computer come aggregatore… per cui.. é… mi leggevo i libri e mi riassunti, le miei cosi, le miei annotazioni sempre sul computer in modo d’avere tutto li, poi non avrò più bisogno di libro, quello che di libro mi servivano, non è che trascrivevo tutto, trascrivevo l’idea, il concetto, il pensiero e averlo sul computer… (N7, p. 12)91 Allora diciamo che io già dalle superiori stavo cominciando ad utilizzare molto il computer al posto della carta quindi nel 2000 io ero già una persona che non utilizzava la carta e faceva tutto col computer (N8, p. 17)92

A tela do computador inclui também os tablets, mas como só entraram

efetivamente no mercado no ano de 2008, foi muito cedo para se entender o

impacto deles nos hábitos de leitura dos acadêmicos, sendo que somente um

entrevistado na Itália (N8) e dois entrevistados no Brasil (N14 e N16) relataram o

uso desse novo suporte. Muitos doutores haviam se formado antes dos tablets se

popularizarem, e não chegaram a ter esse suporte como facilitador de leituras de

textos em formato digital.

Para a entrevistada N16, embora o Kindle seja um bom suporte de leitura

de livros, ela não compra aqueles que usa na universidade, técnico-científicos, por

não ter como fotocopiar para seus alunos, porém outras categorias de livros ela lê

perfeitamente no tablet:

lê aí em Kindle é maravilhoso de ler também... eu gosto muito de ler em Kindle, porque não tem aquela tela brilhosa né? Pra viajar é a melhor coisa que tem, porque você não carrega... não sei como é que você é, mas quando eu viajo eu sempre levo três livros, sei lá qual que eu vou querer ler... no Kindle você leva todos os livros né?... Todos, aí você “pô, tou afim de ler qual? Ahh tá.” E cabe, é pequenininho, é show de bola, vai na bolsa, é leve né? (N16, p. 17) É muito bom, muito bom... muito bom, gosto muito, não tenho nenhum problema com isso, nenhum... essa coisa de ter o suporte, “ahh, eu preciso de ter o livro nas mãos”... (N16, p. 17)

No caso N14, o entrevistado diz que atualmente faz as leituras de PDFs

direto na tela no tablet ou na tela do notebook, usando o programa Kindle para

livros, assim como os códigos para o curso de graduação em Direito que está 91 Trad. livre: “mas eu sempre tive a tendência de usar o computador como um agregador... para o qual.. é... eu leio os livros e faço os resumos, as minhas coisas, as minhas anotações sempre no computador de modo que eu tenho tudo ali, e depois não terei mais a necessidade do livro, aquilo que me serve no livro, não é que eu transcreva tudo, transcrevo a ideia, o conceito, o pensamento e o tenho no computador.” 92 Trad. livre: “Mas digamos que já desde a graduação estava começando a utilizar muito o computador no lugar do papel, desde o ano 2000 eu era já uma pessoa que não utilizava papel e fazia tudo com o computador.”

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Análise dos dados coletados 267

fazendo atualmente, mantendo todos no tablet, sendo um dos poucos que disse

não imprimir mais nada em papel. O caso é semelhante ao entrevistado N8 que lê

e anota na tela do tablet, mas critica, por outro lado, a falta de um formato

universal para se guardar as anotações que faz e as transportar a outros lugares,

uma limitação de software e não do suporte em si mesmo.

Eu faço tudo na tela até com muito mais conforto, né? E daí já faço a correção, geralmente se manda em Word, faço a correção no próprio texto e mando ali... olha os comentários... (N14, p. 18) Então eu pego o arquivo, com a modificação, salvo e mando junto... então o autor ele sabe exatamente que eu tou comentando. “esse parágrafo aqui tem um equívoco...” “esse autor não diz isso” Mas eu ponho ali, entendeu? (N14, p. 18) Stampavo e sottolineavo su carta, adesso sottolineo direttamente sullo schermo; è più comodo perché il cartaceo l’ho sempre…lo perdo alla fine e poi mi si accumula negli scaffali e si tende…invece io così mi salvo il pdf in un formato che posso sottolineare, lo sottolineo direttamente lì con gli appunti, lo salvo e ce l’ho già, i miei appunti sottolineati sul mio computer e il file rimane… (N8, p. 12)93

Dessa forma, percebemos a transição ocorrendo em três níveis, quando

encontramos casos em que se predomina a maioria da leitura em papel, em livros,

artigos e outros formatos impressos, passando por aqueles que dividem a leitura

entre a tela e o impresso, imprimindo materiais de acordo com algum critério

pessoal e aqueles que já usam totalmente a tela do computador para a leitura, indo

para o impresso somente quando não há outra opção disponível. Parece-nos que

essa transição está sendo possível porque cada vez mais se publicam artigos, teses,

dissertações, relatórios de pesquisa e documentos diretamente no formato digital,

tal como nos aponta o entrevistado N10:

Oltrafatto con università ha una banca dati sulle riviste internazionale che é tutto in digitale e per me le articolo compro in digitale… e non lo stampo neanche, lo leggo direttamente sul reader… Un e-bookreader si… (N10, p. 16)94

93 Trad. livre: “Imprimia e sublinhava no papel, agora sublinho diretamente na tela; é mais comodo porque o papel eu sempre... eu no final o perco e então o papel se acumula na estante e tende a... ao invés disso eu salvo em PDF em um formato que posso sublinhar, o sublinho diretamente com as anotações, salvo e tenho já os meus apontamentos sublinhados no meu computador e o arquivo permanece...” 94 Trad. livre: “com a universidade existe um banco de dados de revistas internacionais que está tudo em digital e eu compro para mim os artigos em digital... e não os imprimo, os leio diretamente no leitor... sim, um leitor de e-books.”

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Análise dos dados coletados 268

Talvez com o tempo a leitura migre e predomine na tela dos

computadores, visto que cada vez mais temos suportes que permitem a leitura em

tela e que são facilmente transportáveis, como os tablets, que exercem outras

funções além da leitura de textos, e os e-books mais especializados como o

Kindle, produzido pela livreria online Amazon.

Consequentemente, o uso do computador para a realização de anotações

superou o uso do papel, como se pode ver no gráfico abaixo.

Gráfico 21 - Variável “15. Local das anotações (Localidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Produção de Anotações diretas no arquivo digital original

1. Anota-se diretamente no arquivo PDF ou no e-book. 2. Problemas em exportar as anotações em modelos de e-books com formatos fechados. 3. Problemas ainda em anotar em arquivos PDF.

(2) Produção de Anotações separadas no computador e/ou internet

1. Usa-se um editor de texto para anotar e copiar citações. 2. Pode-se ou não usar um programa específico para juntar as anotações, como o Biblos.

(3) Produção de Anotações separadas em papel

1. Usa-se um caderno para anotações.

(4) Produção de anotações diretas no material impresso

1. Anota-se diretamente no material impresso.

(5) Produziu pouca ou nenhuma anotação

Tabela 16 - Descrição dos itens da Variável 15.

Apesar da tendência de uso do computador de maneira predominante, os

que anotam no material impresso e anotam em folhas de papel separadas ainda

totalizam cinco entrevistados, cerca de um terço. Devemos ponderar e assumir que

boa parte dos materiais acadêmicos ainda está em suporte impresso,

principalmente os livros e alguns tipos de periódicos que não foram digitalizados.

Isso não impede a ocorrência de casos como o N11, em que a entrevistada

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

(1)  Produção de Anotações diretas no arquivodigital original

(2)  Produção de Anotações separadas nocomputador e/ou internet

(3)  Produção de Anotações separadas em papel

(4)  Produção de anotações diretas no materialimpresso

(5)  Produziu pouca ou nenhuma anotação

15. Local das anotações (Localidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 269

procurava fazer todas as anotações diretamente no computador para não ter que

retornar aos materiais impressos que consultava, evitando manter registros em

papel.

Um caso interessante é o da entrevistada N6 que relata a impressão de

alguns materiais provenientes da internet para fazer os sublinhamentos, caso

fossem muito difíceis e longos, convertendo dessa forma o digital em impresso

para a leitura, retornando depois com os trechos de volta no computador durante

redação final da tese.

O mesmo ocorreu na fala do entrevistado N9, indicando que atualmente se

tornou inevitável o uso do computador ao menos na fase final da escrita mesmo

que se evite o uso da tela nas fases intermediárias com a impressão dos materiais,

não existindo, portanto, mais a possibilidade da escrita ser manual ao longo de

todo o processo de elaboração da tese, somente em alguns momentos.

passava molto via computer, ecco… ne senso che spesso gli appunti venivano buttati direttamente; io avevo sempre un computer con me… gli appunti venivano buttati direttamente di solito sul, sul computer, alcuni cose significative cercavo di… e… trasportare subito sul computer, già in qualche maniera confezionate… (N9, p. 8)95 normalmente gli appunti andavano subito sul computer si… e cercavo di farli già il più ordinati possibile già sapendo che poi magari sarebbero state cose dal utilizzare… (N9, p. 8)96

Dessa forma, nos processos intermediários, surgem diversas técnicas

manuais para a realização dessas marcações, como o uso de setas desenhadas

indicando categorias de anotações, escrita em post-its para depois passar para o

computador, destaque com dobras em folhas ou o uso de sublinhamentos em

diversas cores:

95 Trad. livre: “Passava para o computador, aqui... logo, muitas vezes as anotações eram colocadas diretamente; eu tinha sempre um computador comigo... as anotações eram colocadas diretamente, normalmente, no computador, algumas coisas significativas procurava... e... transportar direto para o computador, já de alguma maneira elaborados...” 96 Trad. livre: “normalmente as anotações andavam imediatamente para o computador sim... e procurava fazer já o mais ordenado possível, já sabendo que depois, talvez, seriam coisas para se utilizar...”

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Análise dos dados coletados 270

Gráfico 22 - Variável “18. Técnicas de destaque (Recordabilidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Sublinhamentos diretos no material

(2) Post-its para marcação no material

(3) Post-it para passar ao computador posteriormente

(4) Anotações diretas no próprio material

(5) Anotações no computador 1. Durante a leitura. 2. Após a leitura. 3. Com bloco de notas.

(6) Anotações no papel ou no caderno

(7) Fichamentos dos materiais (8) Uso de diferentes cores para o destaque

(9) Não usa nenhuma técnica

Tabela 17 - Descrição dos itens da Variável 18.

Destaco aqui três exemplos dessas técnicas vindas das entrevistadas N15 e

N6 e do entrevistado N8:

eu me disperso muito fácil, então a cada vez que eu vou usar algum material, ou que eu preciso ler algum texto ou voltar nele, eu preciso fazer uma marcação nova sobre o que eu já fiz, aí eu trabalho com esquema de cores diferentes, então se antes eu usei uma caneta amarela, agora vai um lápis, pra poder sempre estar fazendo as anotações que tem muito mais a função de me prender ao texto do que qualquer outra... (N15, p. 12)

pra ter certeza que eu não ia perder o que era fundamental eu trabalhei com aquele sistema daquelas etiquetinhas coloridas, porque aí ali eu sabia que eu tinha que voltar pra pegar uma citação, alguma coisa assim, mas que de alguma maneira geral se eu achasse alguma coisa que ia ser útil como citação eu já

0 2 4 6 8 10 12

(1)  Sublinhamentos diretos no material

(2)  Post‐its para marcação no material

(3)  Post‐it para passar ao computador…

(4)  Anotações diretas no próprio material

(5)  Anotações no computador

(6)  Anotações no papel ou no caderno

(7)  Fichamentos dos materiais

(8)  Uso de diferentes cores para o destaque

(9)  Não usa nenhuma técnica

18. Técnicas de destaque (Recordabilidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 271

puxava, eu já digitava, eu já botava com a referência completa pra não correr o risco de depois não me situar ou deixar passar... (N15, p. 12) ma sempre comunque leggevo, sottolineavo e poi é… tenevo a mente con un post-it ad esempio le citazione che poi copiavo al computer come citazione e poi scrivevo sempre a computer chiaramente.. (N6, p. 7) A volte disegno un post it e me lo tengo sul computer e lo tengo li finché la cosa non è stata fissata però passa molto tempo, generalmente poi viene, poi prendo powerpoint e creo lo schema direttamente. (N8, p. 14)97

A mesma entrevistada (N15) disse também que não produzia anotações

separadas a partir de suas leituras, escrevendo diretamente no material enquanto

lia, não voltando aos textos depois, algo que surpreende tal a padronização na fala

dos entrevistados do esquema leitura-fichamento-escrita:

pra poder sempre estar fazendo as anotações que tem muito mais a função de me prender ao texto do que qualquer outra... eu não volto nas minhas anotações necessariamente pra... pra retirar dali alguma coisa, o que eu quero eu já vou retirando e aí se tiver que entrar num texto, enfim, já tá ali retirado... (N15, p. 12)

Para o entrevistado N14, ao contrário, se ele lê um livro e não faz

anotações (no caso dele todas no computador) é como um trabalho perdido, tendo

que reler o livro. Já a entrevistada N3 relatou não anotar em arquivos PDF quando

lê na tela do computador, afirmando não ter esse recurso disponível e com isso

confiar na própria memória sobre os textos que já leu. A entrevistada demonstra

um desconhecimento técnico sobre as possibilidades oferecidas pelos softwares

que trabalham com esse formato:

Porque muitos são em PDF, quando é PDF você não consegue.. né.. quando é assim eu abro o texto, deixo o texto numa janela e vou trabalhando no meu.. como eu já dei uma lida superficial aquilo fica na minha cabeça. (N3, p. 21)

Apesar da desenvoltura com os tablets, a entrevistada N16 narra ainda sua

dúvida sobre se as anotações em caderno, em folhas de papel, a partir das leituras

que faz de materiais acadêmicos são mais ou menos eficientes que aquelas feitas

no computador.

97 Trad. livre: “As vezes desenho em um post-it e o coloco no computador e o tenho ali até porque a coisa não está fixada mas passa muito tempo, geralmente depois, depois uso o powerpoint e crio um esquema diretamente.”

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Análise dos dados coletados 272

... aí o que acontece é o seguinte, quando eu faço.. é.. escrito, direto no computador, o que eu vejo é o seguinte: é que eu... não cheguei à conclusão do que que é melhor, esse é que é o lance, ainda não cheguei à conclusão, ainda tou... nas.. nas tese.. dissert... na dissertação... e no doutorado e no mestrado os dois eu fiz sempre no caderno (N16, p. 13) (...) digitando, mas eu não sei se é melhor, porque às vezes o computador conserta a palavra, você não reparou o que que você escreveu, se tá certo ou tá errado... mas é verdade também que eu escrevendo às vezes eu depois não entendo a minha própria letra, então (risos)... então eu ainda não cheguei à conclusão que que eu foco mais, porque eu já notei que quando eu transcrevo muitas vezes eu viajo, eu não sou uma pessoa muito focada... (N16, p. 13)

Houve o interesse em se saber se as anotações se davam para uso próprio

ou se eram compartilhas na web.

Gráfico 23 - Variável “16. Compartilhamento (Coletividade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Predomínio de Leituras e/ou anotações compartilhadas na web

1. Disponibiliza online os links de leituras que fez. 2. Comenta suas leituras em comunidade virtual de leitores (aNobii).

(2) Predomínio de Anotações armazenadas localmente no PC

1. Anota (passando ou não antes por algum meio analógico) e guarda em arquivo pessoal no computador. 2. Usa algum programa de organização de anotações como o Biblos.

(3) Predomínio de Anotações armazenadas em papel

1. Anota diretamente nos artigos e livros. 2. Mantém um caderno de anotações sem passar posteriormente para o computador.

Tabela 18 - Descrição dos itens da Variável 16.

Todos, sem exceção, disseram não colocar suas anotações ou referências

de leitura compartilhadas na web, preferindo ou guarda-las no próprio

computador, mais da metade deles, ou armazená-las em papel. Pode-se assim,

supor não haver ainda a ideia de uma produção mais coletiva e disponível a outros

autores.

A entrevistada N5 narra em detalhes como construiu sua ficha de

anotações para cada livro que lia, armazenando tudo no computador:

0 2 4 6 8 10 12 14

(1)  Predomínio de Leituras e/ou anotaçõescompartilhadas na web

(2)  Predomínio de Anotações armazenadaslocalmente no PC

(3)  Predomínio de Anotações armazenadas empapel

16. Compartilhamento (Coletividade)

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Análise dos dados coletados 273

e, per i libri ho per ogni libro che io letto fatto una scheda.. una scheda in che io mi sono salvate digitalizzata in cui io ho scritto l’autore, l’anno, la casa editrici per quando mi servirà per fare indice bibliografico e una breve sintesi del libro che io letto e poi citazione del libro o punti, aspetti che in quel libro (sono affrontati?) che io ritengo interessante per il mio lavoro di tesi gli ho inseriti in questa scheda. Di modo che… con la pagina di riferimento… di modo che quando sto scrivendo il mio capitolo mi apro la scheda del libro di riferimento e prendo direttamente da li riflessione (N15, p. 13)98

O uso de caderno para anotações em papel foi relatado por duas

entrevistadas, N3 e N16, e brevemente pela entrevistada N7, embora as duas

primeiras também tivessem em transição para o armazenamento no computador

durante a realização e após o doutoramento e a outra já não usasse mais caderno.

O único entrevistado que narrou o uso de software específico para armazenar

anotações (fichamentos) no computador foi o N14, usando o programa Biblos,

inicialmente instalado por ele para catalogar CDs de música.

Quanto ao modo de consultar e citar a autoria, foi encontrada a seguinte

distribuição (Gráfico 24):

Gráfico 24 - Variável “17. Prestígio do autor (Autoridade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Leitura de autores acadêmicos consagrados

1. Autores acadêmicos reconhecidos. 2. Textos considerados científicos, que circulam já em estruturas reconhecidas. 3. Basicamente é padrão citá-los nas teses.

(2) Leitura de autores acadêmicos em geral

1. Autores acadêmicos sem prestígio ou consagração, não entraram ainda no rankings dos mais citados. 2. Textos considerados científicos, que circulam já em estruturas reconhecidas. 3. Basicamente é padrão citá-los nas teses.

98 Trad. livre: “e, para os livros, para cada livro que li eu fiz uma ficha... uma ficha que eu salvei digitalizada na qual eu escrevi o autor, o ano, a editora para quando me servirá fazer o índice bibliográfico e uma breve síntese do livro que eu li e depois a citação do livro ou os pontos, aspectos que são abordados naquele livro e que eu retenho de interessante para o meu trabalho de tese, os inserindo nessa ficha. De modo que... com a página de referência... de modo que quando estou escrevendo o meu capítulo eu abro a ficha do livro de referência e obtenho diretamente a reflexão.”

0 2 4 6 8 10 12 14 16

(1)  Leitura de autores acadêmicos consagrados

(2)  Leitura de autores acadêmicos em geral

(3)  Leituras de autores marginais sem citação

(4)  Leituras de autores marginais com citação

17. Prestígio do autor (Autoridade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 274

(3) Leituras de autores marginais sem citação

1. Textos de sujeitos não pertencentes ao mundo acadêmico. 2. Reflexões consideradas não científicas. 3. Exclusão da citação dos mesmos no corpo do texto da tese.

(4) Leituras de autores marginais com citação

1. Textos de sujeitos não pertencentes ao mundo acadêmico. 2. Reflexões consideradas não científicas. 3. Porém o escritor da tese chega a citar falas de fontes não reconhecidas academicamente.

Tabela 19 - Descrição dos itens da Variável 17.

Assim sendo, quanto ao modo de consultar e citar a autoria, dez

entrevistados disseram usar autores consagrados em seu campo de pesquisa e

quinze usavam autores acadêmicos em geral. Quanto a fontes extra-acadêmicas,

ou seja, marginais ao uso comum como textos coletivos (wikis), blogs e

comunicades virtuais, sete afirmaram que as consultavam, mas não relatavam seu

uso no texto final da tese, sendo que, nesse item, a maioria foi de entrevistados

italianos.

Para ilustrar como se dá essa preferência segundo o prestigio do autor, a

fala da entrevistada N2 deixa claro isso:

eu procuro ver textos que eu tenho uma mesma referência... por exemplo, eu sei que um artigo que tá lá no Scielo é um artigo que tá, né... ou então um site que você sabe que é de um autor, alguma coisa assim.. o que tem que ter muito cuidado é pra não pegar um blog de não sei quem que colocou qualquer coisa e você achar que aquilo é uma referência, isso eu acho que tem que ter cuidado... (N2, p. 18) uma coisa que você conhece melhor do que eu, que é a wikipedia e tal que eu também acho que tá sendo utilizada em excesso... todo mundo faz dela uma referência e coloca assim porque está lá.. só que hoje, amanhã pode não estar exatamente aquilo... eu acho que ela é um bom canal de entrada... quando eu tenho uma dúvida tum, vou lá.. é um ótimo canal de entrada, mas eu não posso ficar só nele.. acho que você tem que ir além disso, né.. agora ajuda um bocado... (N2, p. 19)

Dessa forma, percebe-se, a princípio, que a apreciação pelos pares das

fontes de consulta acaba por servir de agente inibidor do uso de informações

provenientes de blogs, wikis, fóruns e outros espaços que não são suficientemente

legítimos para serem referenciados, pois implicitamente haveria essa rejeição,

visto que ao publicar um trabalho acadêmico os seus futuros leitores realizarão a

mesma checagem, ou seja, consultarão as fontes que foram utilizadas.

Outro fator que se pode pensar, complementar à checagem pelos pares, é

que existe uma representação já consolidada de fontes aceitáveis e fontes não

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Análise dos dados coletados 275

aceitáveis de pesquisa, ou seja, o valor que um livro, em formato impresso ou

disponibilizado na internet (e-book), uma tese ou dissertação, e um artigo de

revista científica carregam é muito mais forte e legitimado pelo grupo de

pesquisadores do que outras fontes emergentes e mais recentes em formato digital.

A opção pelo uso de fontes tradicionais e seu modo de anotar e destacar trechos

fica claro na fala da entrevistada N15:

eu fui criada numa cultura de papel, né, a minha idade é a idade de uma pessoa de cultura de papel e eu sempre fui leitora, desde muito cedo, então a minha relação com o livro tem... eu tenho uma relação carinhosa com o livro de papel... (N15, p. 12) eu ainda gosto bastante do livro de papel porque eu rabisco muito o que eu tou lendo (N15, p. 6) Porque lá eu não consigo rabiscar, vou ter que copiar, colar, nããã.... e aí dá muito trabalho, eu prefiro, eu gosto muito de ler rabiscando, anotando, porque eu sou muito dispersa... (N15, p. 6)

Percebe-se a força dos materiais acadêmicos “pra pesquisa”, um

contrapondo com os materiais que não são para a pesquisa, nas falas das

entrevistadas N6, N11, N13 e N16 e do entrevistado N8:

se il materiale che scarico viene scaricato ad esempio al interno di sito delle università o di centro di ricerca non rifiuto affidabili perché chi lo mette a disposizione sa un po’ di… lo ha valutato non.. lo ha letto, lo ha valutato il prodotto.. é.. bisogno vedere un po’ chi la scritto, é... se è una rivista ufficiale o invece non è una rivista ufficiale, dipende un po’ di cerca sempre di capire chi lo pubblica e chi lo scrive, non? Quindi se sono siti certificati, siti di università e sito di centro di ricerca e sito della rivista, é… tendenzialmente c’è più affidabilità perché sai che stato selezionato no? (N6, p. 13)99 Mas essa parte das dissertações e das teses, que eu acho que tem que procurar, sabe assim, eu acho que você vai escrever uma tese de doutorado, uma dissertação, você tem que procurar o que seus colegas escreveram sobre isso... não só os autores consagrados, mas quem fez dissertação mesmo sobre o tema. (N16, p. 13)

99 Trad. livre: “Se o material que baixo vem, por exmpelo, de um site universitário ou de um centro de pesquisa, não questiono sua confiabilidade porque quem o disponibiliza sabe um pouco de... o avaliou... o leu e avaliou o produto... é... preciso ver um pouco quem o escreveu, é... se é uma revista oficial ou ao contrário não é uma revista oficial, depende um pouco de procurar sempre entender quem publica e quem escreve, não? Então se são sites certificados, sites de universidades e sites de centros de pesquisa, ou site de revistas, é... tendenciosamente tem mais confiabilidade porque sabe-se que foi selecionado, não?”

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Análise dos dados coletados 276

eu falo isso site confiável, e pra pesquisa, pra estudar.. né? Aí o que que é, eu tenho esses sites, eu tenho a minha base de dados, eu tenho os periódicos.. é.. então, sabe, são sites que eu chamo, sites de várias universidades e nesse sentido... (N13, p. 25) Intanto solo di autori conosciuti e quindi non ho mai dato credibilità a cosa scritte da singolo, se non come spunto di riflessione, però non.. cioè, tutto quello che ha riportavo, io ho riportato nella tesi come diciamo citazione, erano tutti citazione di libri o comunque di articoli, pubblicazione scientifiche. (N11, p. 13)100 Un articolo recuperato su internet se è all’interno di una rivista scientifica o un comitato scientifico e tutti i sacri crismi vale quanto un concetto che ho trovato su un libro, per me non c’è differenza al cartaceo, tanto per dare l’idea perché quello che io valuto è la referenza scientifica della fonte no? (N8, p. 18)101

Mesmo assim a entrevistada N7 narrou a utilidade dessas fontes não

reconhecidas, não certificadas pela academia ou não levadas ao público

oficialmente, especialmente os pequenos pesquisadores, mas que são úteis na

elaboração de ideias para o próprio trabalho, embora ela não relate a citação

dessas “fontes subterrâneas”, fazendo do mesmo modo que os outros

entrevistados fizeram quando não explicitaram o uso. O entrevistado N8 também

narrou a ida a comunidades virtuais para encontrar temas emergentes nos debates

informais dos participantes, mas sem usar esses fóruns como referência em seus

trabalhos.

Poi tendenzialmente comunque in rete trovano spazio, una serie di materiali… più (…) ricercatore che appunto non sono ancora stati pubblicati, documentati, etc… che secondo me sono materiali prezioso… (N7, p. 16)102 internet ti restituisce anche tutti quei piccoli ricercatori… che comunque non sono ancora quel livelli, non hanno ancora degli spazi così codificati ma risultano interessante (N7, p. 16)103

100 Trad. livre: “Entretanto somente autores conhecidos e assim nunca dei credibilidade a coisas escritas independentemente, senão como inspiração para reflexão, porém não... tudo aquilo que eu reportava, reportava na tese como, digamos, citação, eram todas citações de livros ou então artigos, publicações científicas.” 101 Trad. livre: “Um artigo obtido na internet se é dentro de uma revista científica ou um comitê científico com todas as “bênçãos” vale quanto um conceito que eu encontrei em um livro, para mim não há diferença em relação ao papel, tanto que para se ter uma ideiai aquilo que eu avalio é a referência científica da fonte, não?” 102 Trad. livre: “então tendencialmente se encontra espaço na rede, uma série de materiais... mais... pesquisadores que digo que não foram ainda publicados, documentados, etc... que no meu ponto de vista são materiais preciosos...” 103 Trad. livre: “a internet te oferece também todos aqueles pequenos pesquisadores... que não são ainda daquele nível, não possuem ainda os espaços assim codificados, mas são interessantes.”

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Análise dos dados coletados 277

alcuni sperimentazione, alcuni prove, alcuni ogetti che sono stati presentati in maniera quasi sotterranea, mi sembra che internet consenta sia di ricuperare (…) grossi pensieri, ma soprattutto di raccogliere questo, questi aspetti più, più piccoli ma ben fatti insomma, che poi sono quelli che ti aprono idea diversi… (N7, p. 16)104

Já as técnicas de leitura foram bem variadas, mas houve maior incidência

de três delas. Em primeiro lugar os fichamentos de materiais lidos, técnica citada

por dez entrevistados, vindo depois as anotações no computador, com nove

relatos, e os sublinhamentos diretos no material, com sete entrevistados lançando

mão da técnica, seja em meio digital ou no meio impresso. O uso de ferramentas

inerentes ao meio digital não apareceu aqui, sendo reproduzidas as mesmas

técnicas utilizadas e aprendidas com os materiais impressos, agora transpostas

para o computador.

E por fim, quanto à credibilidade dos materiais consultados, o maior

destaque foi dado ao prestígio da fonte e do autor, com onze e sete entrevistados

as relatando respectivamente.

104 Trad. livre: “alguma experimentação, alguma evidência, algum objeto que foi apresentado de maneira quase subterrânea, me parece que a internet permite que seja recuperado (...) seja o grande pensamento, mas sobretudo de recolher este, estes aspectos menores, mas bem feitos, que depois são aqueles que te permitem ter ideias diferentes”.

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Análise dos dados coletados 278

Gráfico 25 - Variável “19. Técnicas de confiabilidade (Confiabilidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Checagem da qualidade das referências citadas pelo autor

(2) Checagem em outras fontes para autores não conhecidos

Ida ao google, ao site da universidade ou ao Lattes para ver quem é o autor.

(3) Checagem com outros pesquisadores sobre quem é o autor

Consulta outros colegas na temática que estuda para confirmar a reputação do autor.

(4) Checagem da produção anterior do autor

Ida a sites que mostrem o histórico de obras do autor, como o Lattes e os sites de universidades.

(5) Prestígio do local de publicação do autor

1. Revista científica consolidada. 2. Sociedade científica consolidada. 3. Livraria consolidada. a. Amazon. b. Cultura.

(6) Prestígio do autor da fonte

1. Se conhece a pessoa e a produção anterior dela, seja como acadêmico seja como especialista no assunto (Ex: jornalista de tecnologia, professor de escola).

(7) Conteúdo ter sido escrito a partir de uma experimentação que prove a hipótese

Exemplo dos escritores de blog sem ter pesquisas por trás.

(8) Conteúdo ser útil para o objetivo da pesquisa

(9) Conteúdo estar discrepante com tudo que foi dito até o momento

(10) Conteúdo ser confrontado com a produção de outros autores

(11) Tipo do arquivo em que o conteúdo foi publicado

1. Se o arquivo está, por exemplo, em PDF ou em DOC.

(12) Exclusão, a priori, de um tipo de fonte suspeita

1. A não utilização de blogs ou wikis, por exemplo.

(13) Consulta a pessoas de referência que validam fontes principais

(14) Consulta às principais publicações no tema de pesquisa para se orientar

Tabela 20 - Descrição dos itens da Variável 19.

0 2 4 6 8 10 12

(1)  Checagem da qualidade das referências citadas pelo autor

(2)  Checagem em outras fontes para autores não conhecidos

(3)  Checagem com outros pesquisadores sobre quem é o autor

(4)  Checagem da produção anterior do autor

(5)  Prestígio do local de publicação do autor

(6)  Prestígio do autor da fonte

(7)  Conteúdo ter sido escrito a partir de uma experimentação…

(8)  Conteúdo ser útil para o objetivo da pesquisa

(9)  Conteúdo estar discrepante com tudo que foi dito até o…

(10)   Conteúdo ser confrontado com a produção de outros…

(11)   Tipo do arquivo em que o conteúdo foi publicado

(12)   Exclusão, a priori, de um tipo de fonte suspeita

(13)   Consulta a pessoas de referência que validam fontes…

(14)   Consulta às principais publicações no tema de pesquisa…

19. Técnicas de confiabilidade (Confiabilidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 279

Um tipo de fonte de prestígio são as revistas científicas, citadas, por

exemplo, pela entrevistada N1 que afirma confiar no Scielo por acreditar que a

informação contida ali passou por um crivo formado por pareceristas.

O mesmo é afirmado pela entrevistada N5, que cita os locais que considera

mais confiáveis para a sua pesquisa, e a entrevistada N12 que expressa a

confiança na força dos autores que consulta, sabendo sua origem, sua profissão,

ou seja, que vínculos e prestígio possuía:

quando trovo un testo in internet.. humm.. cerco sempre di verificare l'attendibilità della contenitore, quindi se è studio nella biblioteca, se è un articolo di una rivista scientifica, se è il sito del’autore che pubblica i propri testi, quindi già questi sono alcuni criteri che ti dicono questo articolo è attendibile, una fonte sicura..(N5, p. 15)105 poi dipendi dai contenuti.. ne senso nel mio caso per il mio tipo di ricerca saranno (...) le banche dati (...) sistemi bibliotecari generici saranno (...) di riviste e siti degli enti scolastici o degli enti di formazione (N5, p. 17)106 Non mi sono posta problema della validità, comunque erano tutte informazione… é… autografate, quindi, sapevo qual era l’autore, dove scriveva, etc… hummm… (N12, p. 12)107 o anche chi aveva un blog personale era magari un scrittore o un giornalista, o un professionista, quindi un docente che non avrebbe avuto motivo di… é… riportare informazione errate… non… più di tanto non mi sono posta al problema… non… (N12, p. 12)108

Esse resultado está de acordo com o processo de citação de fontes, no qual

as “fontes marginais”, de autores desconhecidos ou sem prestígio acadêmico, não

são efetivamente utilizadas. Se forem utilizadas, elas no fim não aparecem em

destaque como fonte de referência, mas como parte, por exemplo, dos dados

empíricos.

105 Trad. livre: “quando encontro um texto na internet... humm... procuro sempre verificar a credibilidade de quem o hospeda, se é um estudo na biblioteca, se é um artigo de uma revista científica, se é um site de um autor que publica seus próprios textos, então esses já são alguns critérios que te dizem se um artigo é confiável, uma fonte segura...” 106 Trad. livre: “então depende dos conteúdos... no meu caso, para o meu tipo de pesquisa serão... os bancos de dados... os sistemas bibliotecários genéricos serão... de revista científica ou sites de instituições escolares ou das instituições de formação” 107 Trad. livre: “Não tive problema com a validade, já que eram todas informações... é... autografadas, eu sabia qual era o autor, onde escrevia, etc...” 108 Trad. livre: “ou que também tinha um blog pessoal era talvez um escritor ou um jornalista, ou um professor, então um docente que não teria tido motivo de... é... reportar informação errada... não... não tive esse problema... não...”

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Análise dos dados coletados 280

Exemplo foram os fóruns de discussão que serviram de base para a

pesquisa da entrevistada N7; os blogs de autores consultados para se situar no

campo de pesquisa pela entrevistada N12; ou as comunidades virtuais de

programadores e utilizadores de softwares abertos, consultadas pelo entrevistado

N10 por terem, na visão dele, alto nível de confiabilidade, pois o público era

seleto (nível universitário) e contribuíram com informações para o tema de

pesquisa dele.

Outra forma de utilizar as fontes marginais, não oficializadas, é partir delas

para a leitura dos autores acadêmicos indicados, utilizando o texto de pouco

prestígio como ponte de ligação para outros com maior visibilidade e autoridade,

mas sem citar a fonte inicial, tal como narrado pelas entrevistadas N3, N5, N6 e

N11:

Tem textos que você vê que são resenhas e essas resenhas elas não ficam agregadas a revistas confiáveis, vamos dizer assim: Caderno de Pesquisa, Caderno CEDES... (N3, p. 15) magare in vece c’è la riflessione di un dottorando di un altro paese che ha scritto una propria riflessione personale sul concetto di competenza... non dico che lo cito come fonte diretta, però magare me può essere un spunto di riflessione comunque in ogni caso.. (N5, p. 16)109

e se capito in un blog che parla di un argomento che me interessa cerco di capire quell’autore. (N6, p. 13)110 Se trovo invece online un simpatico concetto espresso in un blog vado a tentare di verificare l’accuratezza di quanto viene descritto se è citato qualche cosa, se ci sono delle altre fonti più autorevoli o comunque il tipo di fonte se l’autore è comunque una persona che lavora in ambito di ricerca, se è all’interno di una società che fa ricerca quindi quello che viene è scritto è fonte di un lavoro descrittivo di un’esperienza di ricerca. (N8, p. 18)111

109 Trad. livre: “as vezes existe uma reflexão de um doutorando de um outro local que escreveu sua própria reflexão pessoal sobre o conceito de competência... não digo que vou citá-lo como fonte direta, mas talvez possa ser um ponto de partida para reflexão, no entanto, em qualquer caso..” 110 Trad. livre: “e se obtenho de um blog que fala de um assunto que me interessa eu trato de procurar sobre aquele autor”. 111 Trad. livre: “Se encontro online um simpático conceito expresso em um blog vou tentar verificar a acuidade do que vem escrito, se foi citada alguma coisa, se existem outras fontes mais oficiais ou então o tipo de fonte se é o autor uma pessoa que trabalha no ãmbito da pesquisa, se está dentro de uma sociedade que faz pesquisa, então aquilo que vem escrito é uma fonte de um trabalho descritivo, de uma experiência de pesquisa.”

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Análise dos dados coletados 281

Tutto resto che leggevo, lo leggevo solo per, per farmi delle idea (…)ive, però non era riportato e non era argomento di… non era argomento di teoria per me. (N11, p. 13)112

Checar a qualidade das referências utilizadas pelo autor e o histórico de

sua produção anterior estavam em terceiro lugar, relatada por três entrevistados

cada uma, o que evidencia que existe um caminho seguido pelo doutorando em

observar a rede de relações acadêmicas, simbolizada pelos autores citados, e o

prestígio acumulado pelos autores que consulta, simbolizado pelas citações e

obras que publicou.

Essa checagem visava certirficar-se antes de inserir a referência em seu

próprio texto, algo que se aprende no dia a dia, uma forma de se integrar a uma

rede de produção sem correr o risco de utilizar autores que não são aceitos como

válidos pela comunidade científica do seu campo de pesquisa. Isso fica explícito

nas falas das entrevistadas N3, N6, N13 e N15:

eu indico sempre as fontes que a gente aprende que são confiáveis.. que é o Scielo, que tem todos os cadernos de pesquisa, né.. porque é a pesquisa mais recente.. a Anped, outros sites que eu tenho até linkado lá nos meus favoritos... alguns grupos de pesquisa de universidades também.. (N3, p. 17) vá buscar a fonte.. confie mas não aceite tudo na internet, tenha cuidado e veja sempre quem é que esse povo tá usando, tá falando da onde? E conversando com quem? (N3, p. 16) o que que eu coloco como confiável ou não, é justamente buscar a fonte daquele que está ali me dando aquele discurso, da onde essa gente fala? Quem tá acompanhando? (N3, p. 17) e aí como que eu tiro a prova? Vamos ver quem essa gente tá usando.. né, até pra ver a linha teórica daquele grupo.. (N3, p. 17) se non lo conoscesse cercherei di vedere chi é.. e come potrei fare? Vedendo ad esempio la lista di sua pubblicazione. Se vedo che autore ha 90 pubblicazione sui tema, magari lui sa qualcosa non? Del tema. Se è conosciuto, cerco di capire che cosa scrive e di vedere se potrebbe avere fondamento, insomma cerco di capire che è l’autore (N6, p. 13)113

112 Trad. livre: “Todo resto que lia, lia somente para ter uma ideia (...), mas não era reportado e não era assunto de... não era assunto teórico para mim.” 113 Trad. livre: “se não o conheço procurarei ver quem é... e como poderei fazer? Vendo, por exemplo, a lista de suas publicações. Se vejo que o autor tem 90 publicações sobre o tema, talvez ele saiba alguma coisa não? Do tema. Se é conhecido, procuro entender que coisa escreve e ver se existe fundamento, enfim procuro entender quem é o autor.”

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Análise dos dados coletados 282

os temas do meu interesse, os assuntos do meu interesse, eu digo em estudo, interesses mais pessoais, eu... eu já tenho mais ou menos uma rede... (N13, p. 25) nesse nível de confiabilidade, no nível de confiabilidade teórica, você vai buscar a afiliação do cara, você vai buscar os caras que ele tá citando, você vai... enfim, você vai situar em relação à produção dele, se ele parecer interessante... se ele não parecer interessante deixa pra lá, nem vai adiante... (N15, p. 14)

Observar rede e prestígio é um tipo de técnica implícita e aprendida na

rotina da pesquisa, antes feita através da consulta a pessoas que dominavam um

tema e com isso orientavam o novato no campo de pesquisa, técnica utilizada, por

exemplo, pelo entrevistado N9 quando pediu a alguns pesquisadores indicações

dos principais livros no para o tema de sua pesquisa:

Se devi fare un lavoro rigoroso allora, é… bisogna… bisogna stare attenti a quello che si consulta, bisogna crearsi appunto una base di orientamento prima, é… bisogna parlare prima con qualcuno (N9, p. 18)114

Agora esta busca é facilitada pela internet que permite checagens

instantâneas através da busca do nome do autor em sites como o Google, nos sites

de universidades e grupos de pesquisa vinculados, e no caso do Brasil e ida direta

ao currículo Lattes e no banco de dados da CAPES em que a produção toda fica

exposta, indicando a linha de pesquisa e as referências utilizadas pelo autor. Mais

uma vez vemos a entrevistada N3 classificando o site de currículos Lattes como a

“bibliografia de gente”:

já que eu não tenho bibliografia, né, de títulos, eu tenho bibliografia de gente, e o Lattes pra mim é bibliografia de gente.. Referência né, referência bibliográfica de gente. (N3, p. 18) Estaria a internet reforçando rotinas acadêmicas preexistentes? Ou seria

uma forma de se lidar com a grande quantidade de informação existente hoje na

rede, produzida por uma massa de autores antes impedida de se expressar? Talvez

estejam em jogo os dois motivos, pois o discurso dos entrevistados se mostrou

pouco vanguardista no uso de autores fora do meio acadêmico, mantendo um jogo

interno de referenciação. Apesar desse conservadorismo, alguns se demonstraram

114 Trad. livre: “Deve-se fazer um trabalho rigoroso então, é... precisa... precisa estar atento àquilo que se consulta, precisa criar uma base de orientação primeiro, é.. precisa falar primeiro com alguém”.

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Análise dos dados coletados 283

indiferentes quanto ao excesso de informações ou confiam na capacidade dos

sujeitos em selecionar as fontes, aproveitando-se do excesso:

Quindi, secondo me se c’è un eccesso di informazione, ma è un eccesso se uno non ha o non sa crearsi dei criteri per selezionare le informazione in torno di questo eccesso. Quindi, se poi non hai criteri, non è più eccesso di informazione, perché tu esce a selezionare quello che ti serve. (N5, p. 17)115 se sei capace di selezionarle è tutto vantaggio perché hai a disposizione tantissimi informazione e tu poi selezionare. Se invece acesse tutto senza nessun tipo di discriminazione è un problema perché hai troppi stimoli, hai tanti stimoli non? Se riesce a selezionare, a capire qual è il tipo di informazione che può funzionare e quale non, c’è un vantaggio… (N6, p. 16)116 è ovvio che ci vuole dalla parte di chi legge l’internet o libro, ma consapevolezze alta, cioè, chiunque poi magari vai in rete non ha gli strumenti per valutare… se un pensiero è buono o non è buono, come se (…) ma un libro non valuta se è un libro da buttare nel cestino o è un libro valido, e ne li è il lettore in la sua consapevolezze critica che fa la differenza (N7, p. 15)117 tem muito mesmo, mas esse excesso de informação via internet não me achaca não, não me... eu, eu... essa informação que a gente fica lendo andando pela cidade, acho que ela é mais assustadora, ou via televisão, ou via jornal... não... internet num... eu acho excelente esse excesso de informação (N16, p. 16)

Essa capacidade de selecionar, a “sabedoria” que o sujeito desenvolve ou

deve desenvolver, obtida com o tempo e a leitura de materiais diversos, é refletida

na fala da entrevistada N7, que utiliza como técnica de confiabilidade não o

suporte em que o texto está, mas sim se existe uma experimentação científica que

sustente as afirmações que o autor diz, a mesma estratégia relatada pelo

entrevistado N8. Esse critério associa claramente a validade de um texto ao modo

acadêmico de produção discursiva, ou seja, a produção de uma empiria

115 Trad. livre:“Então, na minha opinião se existe um excesso de informação, é um excesso se alguém não tem ou não sabe criar os critérios para selecionar a informação em torno desse excesso. Então, se não existem critérios, não é mais o excesso de informação, porque permite que você selecione aquilo que te serve.” 116 Trad. livre: “se você é capaz de selecionar, é tudo vantagem, porque você tem a disposição tantas informações e pode selecionar. Se ao contrário acessa tudo sem nenhum tipo de discriminação é um problema porque existe tanto estímulo, tem tanto estímulo não? Se consegue selecionar, entender qual tipo de informação que pode funcionar e qual que não, é uma vantagem...” 117 Trad. livre: “é óbvio que se deseja da parte de quem lê na internet ou em um livro, uma sabedoria elevada, isto é, então talvez nem todos que vão na rede possuem as ferramentas para avaliar... se um pensamento é bom ou não é bom, como se.. (...) mas um livro não se avalia se é um livro de se jogar na lixeira ou é um livro váliado, e ali é o leitor em sua sabedoria crítica que faz a diferença.”

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Análise dos dados coletados 284

documentada e referenciada é aquilo que validará a fonte para ser reutilizada pelo

outro pesquisador.

dove vedi che c’è dietro una… una sperimentazione, quindi una documentazione di quello che la persona ti sta dicendo è un buon indicatore che… anche se non è riuscito a pubblicarlo e lo mete in rete sul suo sito è garanzia di affidabilità. (N7, p. 15)118 Poi magari potrebbe anche essere il miglior pensiero del mondo, quello bisogna sempre valutarlo però ad essere sincero generalmente se non c’è dietro una ricerca o un qualche cosa tutti questi pensieri sono abbastanza sterili. Cioè si vede, una volta che approfondisci la tematica ti accorgi che non stava dicendo cose poi così validabili, ecco direi cosi. (N8, p. 18)119 nell’esposizione non ci sono dei dati di ricerca né dei riferimenti ad altri la probabilità che queste siano delle elucubrazioni, delle buone intuizioni che rimangono tali è piuttosto elevata. (N8, p. 8)120

Uma curiosidade sobre as técnicas de confiabilidade está no modo de

seleção de fontes pelo tipo de arquivo em que é disponibilizada, valorizando-se o

formato PDF, o mais utilizado hoje em dia para a disponibilização de relatórios,

teses, dissertações e artigos científicos, no lugar do original que pode ser editado e

adulterado. Se as bases de dados reproduzem a lógica do formato impresso,

transformando textos em arquivos PDF, sem a interação mútua com os autores,

esse modo de disponibilização parece que já foi absorvido e normalizado entre os

acadêmicos. Vejamos a fala da entrevistada N2:

uma outra mania que eu tenho é que a maior parte dos documentos interessantes estão em PDF... então quando eu tou com pouco tempo, aí eu já coloco assim: seleção é só arquivos apresentados em PDF... que a maior parte dos textos , bons, que vale a pena, estão em PDF.. aí quando eu tou com mais tempo eu jogo DOCs, também... se é válido eu não sei, mas tem funcionado.. (N2, p. 25) Eu acho que tem funcionado... o pessoal fecha né o PDF... muita gente aí prefere publicar em PDF.. acho que por isso.. essa é a questão de evitar o negócio do plágio na internet, eu acho que é um problema muito sério ... (N2, p. 25)

118 Trad. livre: “onde se vê que há por trás uma... uma experimentação, ou seja, uma documentação daquilo que a pessoa está dizendo, é um bom indicador que... também se não conseguiu publicar-lo e o colocou na rede no seu site, isso é uma garantia de confiabilidade”. 119 Trad. livre: “Então talvez poderia ser o melhor pensemento do mundo, mas necessita sempre avalia-lo, mas para ser sincero geralmente se não existe uma pesquisa por trás ou alguma coisa, todos esses pensamentos serão bastante estéreis. Então se vê, uma vez que você se aprofunda em uma temática você percebe que não estava dizendo coisas assim não válidas, eu diria assim.” 120 Trad. livre: “Na exposição não existem os dados de pesquisa nem as referências, então é alta a probabilidade que sejam elucubrações, boas intuições que permanecem assim bastante elevadas.”

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Análise dos dados coletados 285

Quadro 17 - Considerações resumitivas sobre os usos da tecnologia pelos doutorandos.

7.4 Modo de escrita: como os suportes digitais estão sendo apropriados na escrita.

O modo de escrita se mostrou equilibrado com entrevistados adotando

sistemas diferentes de organização da escrita e seus capítulos ao longo do

doutorado, uns se aproximando mais do modelo sequencial, linear, e outros

tendendo para a escrita simultânea de diversas partes da tese.

Três níveis de leitura Leitura predominante em tela.

Leitura em tela e impressos.

Leitura predominante em papel.

Existe uma transição para a leitura em tela.

Alguns leem somente em tela (tablets, monitores).

Outros preferem imprimir documentos mais densos, maiores ou mais frequentemnte usados.

Migração para o digital Existem agora publicações que são exclusivas em suporte digital.

O impresso ainda "resiste" Obras exclusivamente em formato impresso.

Anotações em folha impressa ou em fichamentos no computador.

Anotações e reflexões pessoais a partir das leituras não foram compartilhadas online.

Todos armazenavam no próprio computador e não em sites e serviço disponíveis na internet.

Predomínio das leituras individuais, não‐compartilhadas.

O esquema padrão de leitura e destaque foram mantidos

leitura‐fichamento‐escrita.

Mesmas técnicas de destaque e anotação usadas no impresso.

As citações são feitas, em sua maioria, pelo prestígio do local e a consagração dos autores.

As fontes extra‐acadêmicas tem a tendência de serem ocultadas, não citadas, embora sejam usadas, sendo menos valorizadas (certificadas) pelos pares.

Atribuição a certos locais como propícios a encontrar fontes confiáveis (repositórios de revistas científicas).

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Análise dos dados coletados 286

Gráfico 26 - Variável “20. Ordem (Simultaneidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Linear 1. Um capítulo por vez, escrito de forma separada.

2. Medo de se perder na escrita. (2) Simultânea controlada 1. Vários capítulos editados ao mesmo tempo, com recortes e colagens sucessivos.

2. Concentração em um ou dois capítulos por vez, mesmo que editando outros. (3) Simultânea radical

1. Todos os capítulos editados ao mesmo tempo, com recortes e colagens sucessivos. 2. Sem início, meio e fim, não obedecendo uma ordem cronológica de escrita.

Tabela 21 - Descrição dos itens da Variável 20.

No geral vemos que atualmente o modo de escrita deles está tendendo para

a escrita simultânea de capítulos, embora para 5 entrevistados ela tenha ocorrido

parte por parte, iniciando e completando cada uma antes de iniciar a seguinte, um

jeito mais conservador para quem acredita que pode se perder e não saber

adminstrar múltiplas frentes de escrita.

Dessa forma o caminho adotado pelos mais conservadores era primeiro a

coleta bibliográfica, depois a esquematização dos pontos principais e por fim a

escrita linear dos capítulos, cada um por vez.

por capítulos, eu preciso por capítulo, senão não dá, aí eu... eu não dou conta... escrever dois capítulos ao mesmo tempo, não... toda energia tá numa coisa, depois toda... senão não... aí a minha desorganização ia tomar conta... aí não dá... (N15, p. 13) Lineare, cioè dal primo all’ultimo… non ho fatto salti, né senso. Ho scritto prima la parte teorica, poi la parte più di analisi e poi le conclusione, il finale (N6, p. 8)121 quindi, capitolo di modello, capitolo di ricerca e poi sono tornato indietro fatto il capitolo di… è… che per me era più semplice da una parte… e… perché era quella parte più di… teorico non? (N7, p. 12)122

121 Trad. livre: “Linear, isto é, do primeiro ao últim... não fiz saltos, nesse sentido. Eu escrevi primeiro a parte teórica, depois a parte mais de análise e depois a conclusão, o final.” 122 Trad. livre: “Então, capítulo de modelo, capítulo de pesquisa e depois retornei e fiz o capítulo de.. é.. que para mim era mais simples de uma parte.. e.. porque era aquela parte mais.. teórica não?”

0 1 2 3 4 5 6 7

(1)  Linear

(2)  Simultânea controlada

(3)  Simultânea radical

20. Ordem (Simultaneidade)

Total BR IT

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e di fatti non ci sono, non sono riuscita a stare a passo con i tempi perché poi io avevo raccolto molto materiale e non riuscivo più ad organizzarmelo, dividendo in capitoli poi mi sono concentrata a secondo dei mesi che io avevo a disposizione su un capitolo, un altro e un altro e quindi sono andata un po’ avanti cosi. (N11, p. 14)123

Saber sobre essa linearidade ou não-linearidade é importante a partir do

momento que o computador desestabiliza um modo de escrita que tendia a ser

linear pelas próprias limitações do suporte impresso, que não facilitava a inserção

de texto em uma folha de papel após a composição básica ser formulada.

Podemos então inferir que o modo de escrita linear é uma herança do

suporte impresso, que não permitia inserções aleatórias no texto e condicionava o

escritor a seguir uma ordem do tipo “passo-a-passo de autoria”, com detalhes e

esquemas previamente planejados, não somente na escrita, mas também com as

diversas fases da pesquisa. O que se observou foram relatos em que os

entrevistados usavam o computador o tempo todo durante a escrita, incluindo

notebooks, e inseriam trechos e novos parágrafos em locais diferentes, copiando e

colando internamente os minitextos e abrindo várias frentes de escrita

simultaneamente.

Apesar de no momento da impressão o texto corresponder a qualquer tese

que se encontrava antes da existência do computador (índices, páginas numeradas,

folhas do mesmo tamanho, capítulos e subtítulos), no momento da escrita foi

exercida plenamente a melabilidade que o formato digital permite no tratamento

da informação, levando-se trechos de um lugar para outro sem dificuldades. A

linearidade de alguns dos entrevistados é mais uma opção, uma forma de entender

como se deve escrever um texto, do que um condicionamento exercido pelo

suporte.

Um capítulo que vai surgindo aos poucos, com inserções de parágrafos à

medida da necessidade e do aparecimento de novas ideias não seria um relato

muito comum para um autor utilizado folhas de papel, em que acréscimos surgiam

nas margens ou entre as linhas; hábito esse que mantemos até hoje em nossos

livros impressos e mesmo em e-books, com sublinhamentos e anotações diversas,

123 Trad. livre: “E de fato não, não pude estar em sintonia com o tempo porque eu recolhi muito material e não pude mais organiza-lo, dividindo em capítulos e depois fiquei concentrada segundo os meses que eu tinha a disposição sobre um capítulo, um outro e um outro e então andei um pouco adiante assim.”

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Análise dos dados coletados 288

embora elas não sirvam para compor edições futuras de uma obra na qual não

somos autores.

Apesar de utilizar o modo não linear de escrita, comparando a um quebra-

cabeça que aos poucos vai se montando, o entrevistado N9 relatou ainda se sentir

incomodado com esse modo de escrita, em que o resultado final não lhe agrada

tanto quando um texto escrito linearmente, que na sua visão se torna mais coeso

do que um texto realizado com “colagens”. Vejamos alguns trechos em que os

entrevistados comentam a não-linearidade de sua escrita.

a estrutura né... ela foi surgindo.. o que que precisa... a própria ordem foi modificada algumas vezes né, e alguns capítulos tiveram que ser subdivididos, porque ficariam grandes demais.. então, a verdade a estrutura final foi final mesmo, foi no fim.. né.. no início eu fui escrevendo , fui reunindo o material que eu tinha.. um provisório, tinha nenhuma ordem.. depois eu fechei no final.. (N2, p. 17) ... antes eu era obrigada a trabalhar mais um capítulo de cada vez, como não tinha recursos... as vezes não é só a internet, é o próprio computador, tinha que trabalhar um capítulo de cada vez, fechar, senão ia enlouquecer né.. e agora não, você pode trabalhar tudo ao mesmo tempo... (N2, p. 18) Você lê mais no início né? Mas você continua lendo, porque pelo movimento de pesquisa é um movimento de vai e volta, né, a gente nunca termina... “ahh, agora essa etapa está concluída, agora vou passar pra próxima etapa”, não funciona assim né Alexandre? (N16, p. 13) perché quando fai ricerca scrivi, scrivi e fai ricerca le due cose vanno insieme e continui a ristrutturare; fermo restando che l’impianto base rimane cioè se tu devi seguire un percorso dove inizialmente uno due e tre sono i punti che voglio trattare, un due e tre sono i punti che tratto…è la loro collocazione interna e il loro rimando che continuo a…scrive in un modo un po’ intertestuale, decisamente non sequenziale; quindi potrei anche a volte scrivo una parte di un terzo capitolo senza aver cominciato il secondo perché ad un certo punto del primo faccio un riferimento al terzo, mi serve scrivere subito quel punto lì, lo tengo poi lì e poi dopo vado avanti tanto per riempire…non sono sequenziale assolutamente. (N8, p. 9)124

124 Trad. livre: “Porque quando você faz pesquisa escreve, escreve e faz pesquisa e as duas coisas vão juntas e você continua a refazer; paro e deixo que a planta de base permaneça, isto é, se você deve seguir um percurso onde inicialmente um, dois e três são os pontos que deseja tratar, um, dois e três são os pontos que eu trato... é a colocação interna deles e as suas referências que continuo a... escrever de um modo um pouco intertextual, decisivamente não sequencial; então poderei também as vezes escrever uma parte de um terceiro capítulo sem haver começado o secundo porque a um certo ponto o primeiro faço uma referência ao terceiro, me serve escrever imediatamente aquele ponto ali, o tenho e depois vou apenas para preencher... não sou sequencial absolutamente.”

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Figura 18 - Notas resgatadas do arquivo de David Foster Wallace, romancista norte-americano, a partir da leitura do livro Carrie de Stephen King (Fonte: http://io9.com/)

Este processo é radicalmente diferente daquele existente com a máquina de

escrever ou com o texto manuscrito, uma modificação profunda na lógica de

produção, mesmo que a lógica do formato ainda esteja intimamente ligada, senão

totalmente baseada, nos elementos acordados como válidos para uma obra escrita.

primeira monografia que eu fiz pro curso de especialização.. suplício... porque eu escrevia muita coisa à mão, datilografava, entregava pra orientadora, ela rabiscava tudo, aí eu datilografava tudo de novo com aquelas coisas... aí quando eu fechei tudo, não acredito... valeu uma tendinite também né... quando eu terminei aquilo tudo, aí eu contratei uma pessoa, que tinha uma máquina elétrica, pra poder apresentar tudo de uma forma que... a minha era uma maquininha simples né... arrumado, perfeito pra apresentação... (N2, p. 18)

Dessa forma, chama a atenção que somente quatro entrevistados estejam

utilizando plenamente a potencialidade permitida pelo formato digital de edição

simultânea total do texto, ou seja, trabalhar o início, meio e fim sem apresentar

uma ordem pré-definida. No caso da entrevistada N5, ela até admite uma escrita

de capítulos fora de ordem, mas prefere manter o foco sempre em cada um deles

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de cada vez, coisa que a entrevistada N12 não fazia, pois procurava envolver a

empiria com a escrita teórica e os dados provenientes dos contatos que fazia com

pessoas em eventos e pela internet.

Non ha una ordine di scrittura, ne senso che... che si adesso sto scrivendo il capitolo tre e non scriverò il capitolo quattro contemporaneamente, però non scrivo consequenzialmente, ho scritto l’uno e due io scriverò (...) Adesso sto scrivendo il terzo... a seconda anche delle materiale che ho a disposizione decido quali capitoli lavorare. (N5, p.12)125  Era tutto, tutto insomma collegato… ricerca sperimentale, sia la ricerca teorica che quella pratica collegati, contatti, ricerca in internet, vicinato di blog, libri, libri rimandi a articoli, etc… quindi sono… tutto insieme (risos). (N12, p. 8)126 E poi andavo a riempire paragrafi, se nella, nella stesura di paragrafi, mi veniva a mente qualcosa altro, oppure trovavo altre, altre risorse le andavo a inserire… e le versione però dei capitoli non erano mai definitive, cioè non sono mai stati definitive fino al ultimo (N12, p. 11)127

Podemos assim perceber que o modo intermediário então predominou com

seis entrevistados, mas ainda assim indica um equilíbrio entre as gradações e

confirma a hipótese de que o formato digital trouxe uma fase de transição de

hábitos de autoria que está em andamento, de modalidades de escrita, não se

podendo ainda definir plenamente um padrão dominante.

A entrevistada N13 relata esse momento de passagem entre duas lógicas,

procurando ancorar sua descrição de escrita com o computador ao modo como

utilizava os livros impressos:

aí eu já estava, eu ganhei né, cada vez mais ganhando habilidade de construir o texto já sem escrever, eu já não escrevia mais.. mais o texto... O que eu escrevo até hoje, é... eu leio, eu marco na tela, como eu fazia quando eu... com os livros eu marcava de alguma maneira e depois num papel eu esquematizava, eu fazia um primeiro esquema assim, de idéias... essa, depois essa, mais ou menos.. no final não saía nada daquilo mas era minha, era o pontapé inicial. E isso foi

125 Trad. Livre: “Não existe uma ordem de escrita, no sentido que... que se agora estou escrevendo o capítulo três não escreverei o quatro ao mesmo tempo, mas não escrevo um depois do outro, eu escrevi o um e o dois eu escreverei (...) Agora estou escrevendo o terceiro... também dependendo do material que tenho a disposição decido quais capítulos vou trabalhar.” 126 Trad. livre: “Era tudo, tudo enfim conectado... pesquisa experimental, seja a pesquisa teórica que aquela prática conectada, contatos, pesquisa na internet, junto aos blogs, livros, livros referindo a artigos, etc... então foram... todos juntos (risos).” 127 Trad. livre: “E então eu ia preencher os parágrafos, se na, se na escrita dos parágrafos, me vinha a mente alguma outra coisa, ou então encontrava outras, outras fontes eu ia inserir... e a versão dos capítulos não eram nunca definitivas, isto é não foram nunca definitivas até o último.”

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importante, essa forma de criar o texto que é bem diferente. Hoje eu vejo que é bem diferente que eu já faço com uma, uma tranquilidade grande... (N13, p. 17)

Um exemplo de escrita intermediária é a da entrevistada N1, que elaborou

um sumário e o foi seguindo em sua escrita. A elaboração de um sumário serve

como um guia frente a um editor de texto que poderia deixa-la sem a noção total

de sua obra, sem o encadeamento desejado de sua argumentação e informações

utilizadas.

pra eu chegar naquele capítulo... então eu peguei esses materiais que eu já havia organizado em arquivos e categorizado de alguma maneira, e eu inseri nesse sumário, nesse esquema que eu havia, é.. fechado, amadurecido e lapidado com a minha orientadora, e aí justamente naquele momento é que eu comecei a fazer as articulações dentro do capítulo, né, já dentro da estrutura da tese que havia sido, é... elaborada, enfim, pensada... (N1, p. 9)

Como veremos adiante, o uso de técnicas auxiliares na escrita, como mapa

conceitual ou sumário, técnicas semelhantes, mas que dispõe os elementos de

maneiras diferenciadas, evidencia o quanto ainda é necessário para a autoria a

redução dos assuntos em tópicos para o controle da produção escrita, para se

realizar a visão de conjunto de uma obra em andamento. Seria uma forma de

organização paralela da escrita que serve enquanto a obra está sendo elaborada,

perdendo o sentido quando se decreta a sua conclusão.

Eu fiz um sumário, não ficou bom, aí eu fiz outro sumário e aí ficou bacana... fiz alguns esqueletos tipo um mapa conceitualzinho de que que eu iria trabalhar e submeti aquilo a um determinado conceito que poderia se remeter ao outro e isso poderia estar num determinado capítulo... é... e aí, depois de várias tentativas e de um refinamento que foi acontecendo nesse processo que eu cheguei a uma... um sumário, né... e paralelo ao sumário fiz um esqueleto do meu trabalho, que conceitos eu ia trabalhar e que relações eles tinham, como se fosse um mapa conceitual... um esquema... um esquema da minha tese, do meu trabalho... me reportando a esses conceitos... (N1, p. 8)

Quanto aos locais em que escreviam, a grande maioria preferia trabalhar

em casa, onde se sentiam mais a vontade e relaxados sem as formalidades

exigidas em outros locais, com os materiais necessários a disposição e usando

técnicas particulares que poderiam ser executadas plenamente.

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Gráfico 27 - Variável “21. Ambiência (Localidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Durante viagens 1. Trem.

2. Quarto de hotel. (2) Em casa 1. Escritório em casa. (3) No local de trabalho (4) Local isolado 1. Um período hospedado em convento ou instituição similar de isolamento. (5) Na universidade

Tabela 22 - Descrição dos itens da Variável 21.

Um bom exemplo é o da entrevistada N11 que relatou utilizar dois

monitores em sua escrita, um para o editor de texto e outro com os documentos

abertos que utilizava para referências e citações, processo que depois

implementou em seu próprio escritório de trabalho.

Já no caso da entrevistada N6, ela recorria à universidade para consultas de

materiais disponíveis na internet por não ter conexão banda larga em casa, uma

condição circunstancial, mas depois montava seus arquivos e escrevia em casa,

com suas pastas devidamente organizadas e parte dos materiais impressos para

análise mais aprofundada.

fora isso geralmente eu sentava pra escrever com a cervejinha do lado... isso que não pode entrar (risos)... (N15, p. 8)

O caso mais radical de escrita foi aquele em que o entrevistado N14 se

isolou por uma semana em uma instituição religiosa por certo período, para poder

concluir sua fase final de escrita, evitando estímulos e interrupções externas,

apesar de utilizar os suportes digitais com alto grau de apropriação e

conhecimento técnico dos mesmos.

Eu me lembro que eu peguei uma semana, me internei no convento, lá no mosteiro [NOME DO LOCAL], minha mulher trabalha lá, conversei lá com o

0 2 4 6 8 10 12

(1)  Durante viagens

(2)  Em casa

(3)  No local de trabalho

(4)  Local isolado

(5)  Na universidade

21. Ambiência (Localidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 293

diretor e disse: “olha, preciso me isolar, onde não tem nem internet. Eu vou com meus arquivos...” E sentava... ali no mosteiro eu chegava a escrever 14 horas por dia. E depois eu fui.. o resto do tempo em casa também produzindo assim aos montes, mas pegava coisa que eu já tinha aqui, daí eu tinha que... ia arrumando né, daí submetia o capítulo pra... pra orientadora.. né.. tinha orientação, vinha pra lá... então em três meses eu resolvi tudo.. (N14, p. 19)

Esse caso demonstra que, para alguns entrevistados, mesmo com os

computadores e a internet, o momento da escrita exige certo isolamento físico e

mental, incluindo o corte da própria rede internet e seus meios de comunicação e

relacionamento. Caso semelhante é o da entrevistada N16, que ficou uma semana,

no período de carnaval em imersão escrevendo a tese em casa, longe da família

que viajava e do caso N8 em que o entrevistado realizava pequenas imersões em

finais de semana, levando consigo os materiais necessários ao trecho que estava

trabalhando, tanto em formato digital quanto impresso.

por exemplo, eu me lembro que no carnaval, logo antes de eu entregar minha tese, minha dissertação, eu trabalhava 12 horas por dia e nem me ligava, entendeu, assim... meu ex-marido levou os nossos filhos pra, pra viajar pra me deixar em paz para eu terminar minha tese, minha dissertação, e eu fiquei escrevendo... (N16, p. 10) con il computer, libri intorno più o meno posizionati secondo una certa logica per recuperare facilmente le… le informazione e é… se possibile tendo addirittura a volte con la musica a volte senza, comunque senza musica se lavora in modo più approfondito e si riesce… a volte stacco il telefono perché se non… (N8, p. 10)128

Esses períodos de imersão, de concentração exclusiva na escrita da tese,

não são incomuns e também foram expressos na fala da entrevistada italiana N5,

que alternava as imersões com pequenas correções e ajustes posteriores feitas no

local de trabalho quando havia menor demanda e algum tempo livre. Tais

imersões são formas de conciliar trabalho, cuidados com a família e a atividade de

pesquisa, quando não existe uma dedicação total à escrita e esta é dividida com

outras frentes de atuação, o que leva a exigir certos períodos mais intensos de

recuperação ou adiantamento de partes da tese.

128 Trad. livre: “com o computador, livros em torno mais ou menos posicionados, segundo uma certa lógica para recuperar facilmente a... a informação e.. se possível tendo, as vezes, música e as vezes sem, contudo sem música se trabalha de modo mais aprofundado e se pode... as vezes tiro o telefone do gancho, porque senão...”

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Análise dos dados coletados 294

E... la scrittura della tesi procede a periodi.. non ci dedico tempo tutti giorni, perché avendo anche lavoro presso il centro non mi è possibile.. per esempio queste state mi sono presa una settimana in cui io ho lavorato solo esclusivamente alla tesi e non ero collegato in internet, non ero riferibile a nessuno e quindi in quella settimana tutti giorni della mattina alla sera ho scritto... (N5, p. 12)129

Por trabalho em casa entendemos também a escrita em residência

temporária durante os longos períodos de um doutorado sanduíche, como no caso

da entrevistada N4 que narra a escrita em um ambiente em que se sente totalmente

a vontade, mesmo estando fora do país de origem:

E o lugar que eu tinha pra escrever era um lugar muito confortável... o escritório, uma janela bem assim, com uma varanda em frente né, e eu tinha toda a vista da cidade... então, também foi.. tudo isso foi propício.. eu tinha um espaço, um tempo, completamente dedicados a essa escrita né. (N4, p. 10)

A falta de portabilidade do computador, no caso da entrevistada N3, a

levou a trabalhar em sua varanda no período de verão, utilizando folhas de papel

para as anotações. Comparando-se aos que já liam em tablets e os que não

conseguiam ler textos longos em tela por utilizarem um desktop, nota-se a

crescente liberação dos usos móveis através dos equipamentos portáteis. Escrever

durante viagens, como no caso do entrevistado N8, evidencia que o notebook

permitiu a liberação da escrita em formato digital para ambientes que antes se

tornaria muito mais limitada ou mesmo inviável.

era uma época de muito calor e eu não ficava dentro de casa, o computador ficava desligado, então eu lia na varanda.. (N3, p. 20) Quindi il mio testo è sul portatile, a quel punto io che sia sul treno, che sia a casa che sia in vacanza che sia…apro il mio portatile e vado avanti a scrivere. (N8, p. 9)130

Quanto à co-autoria, e aqui falamos sobre a escrita de artigos e não sobre a

tese (ninguém escreveu ou poderia escrever a tese conjuntamente), para a maioria,

129 Trad. livre: “E... a escrita da tese acontece em períodos... não dedico tempo a ela todos os dias, porque havendo também trabalho no centro de pesquisa não é possível... por exemplo, neste verão dediquei uma semana na qual eu trabalhei exclusivamente na tese e não era conectada à internet, não era disponível a ninguém e então naquela semana todos os dias, da manhã até a tarde, eu escrevi...” 130 Trad. livre: “Então o meu texto é no portátil, a tal ponto que seja no trem, seja em casa ou seja em férias... abro o meu portátil e vou adiante escrevendo.”

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Análise dos dados coletados 295

a escrita com parceiros ou era de projetos e relatórios de pesquisa, instrumentos de

pesquisa, documentos de trabalho e outros materiais não-científicos, ou era de

material científico distribuído em partes, sem que os “co-autores” interferissem na

parte destinada a cada um.

Gráfico 28 - Variável “22. Co-autoria (Coletividade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Texto inteiro em co-autoria 1. Os autores escrevem um texto inteiriço em co-autoria (2) Partes do texto distribuídas para cada autor

1. Os autores dividem em partes e cada um escreve a sua isoladamente. 2. Todos terminam por juntar o resultado em um texto final.

(3) Co-autoria de materiais não publicados

1. Projetos de pesquisa. 2. Instrumentos de pesquisa.

(4) Não escreve em co-autoria

Tabela 23 - Descrição dos itens da Variável 22.

Logicamente, somente três dos entrevistados relataram o modo de escrita

usando a internet como meio. Na verdade, naquela época já se podia utilizar

algum programa de auxílio à escrita colaborativa, como o Google Docs ou alguma

plataforma interna universitária como a relatada pela entrevistada N12 ao escrever

um artigo para um congresso com autores a distância. Apesar dos programas de

co-autoria estarem facilmente acessíveis, também houve relatos a respeito de uma

simples troca de e-mails com versões atualizadas do documento com o texto

sendo trabalhado.

di solito quando scrivo qualche articolo o capitolo con qualcuno ci dividiamo le parti e quindi io scrivo la mia, invio, l’altro legge e scrive la sua.. è capitato forse… ma non su articoli, è capitato di usare il Google Docs, ma non per articoli scientifiche, solo per documento di lavoro, progetti, magare qualche tipo, anche progetto, qualche documento ma non articoli scientifiche che vanno poi in riviste

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5

(1)  Texto inteiro em co‐autoria

(2)  Partes do texto distribuídas para cada autor

(3)  Co‐autoria de materiais não publicados

(4)  Não escreve em co‐autoria

22. Co‐autoria (Coletividade)

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Análise dos dados coletados 296

o in testi.. sul quello abbiamo sempre usato la mail, ogni uno scriveva la sua parte. (N6, p. 10)131 generalmente si trovi persona, inizialmente si stabiliscono queste regole interne di scrittura, poi ogni uno scrive la sua parte ce la rimanda e poi ci si trova di persona ancora per metterla posto, correggerla e.. fare le ultime revisioni, controllare la bibliografia comune… diciamo che le fasi decisionale di persona, sempre… e fasi più operative, che sono state incanalate, organizzate ognuno le fa per conto suo… (N8, p. 16)132 ho scritto degli articoli, dei saggi in volume insieme dal altra persone… a me di solito mi piace scrivere individualmente… in fatti mi piace quando, ma si scrivi in due si dice: ok, prima facciamo ideazione comune, poi ciascuno fanno sua parte… (N9, p. 11)133

O entrevistado N8 declarou que a escrita a muitas mãos, com muitos

autores discutindo o tema, pode se tornar trabalhosa demais; então ele procurava

sair das discussões e desenvolver a parte que lhe cabe sozinho. Já para o

entrevistado N9 o problema estava na escrita fisicamente próxima a outra pessoa,

ele não conseguia desenvolver um texto com alguém o observando, mas a

distância conseguia dividir uma tarefa de escrita e executar a parte que lhe cabe,

enviando para a outra pessoa.

se lavori con persone che lavorano… organizzate diversamente da te, la cosa diventa più complessa… li tendo a cercare di chiudermi dentro il mio ricinto perché.. è… perché mi da molto fastidio e io ho difficoltà passare una giornata intera a dover negoziare o definire con persone che non hanno le idee chiaro, oppure che hanno diverse dalle mie e lì diventa problematico perché o cerchi e allora la lasci andare oppure devi combattere, ma non mi paice combattere per le idee , perché preferisco arrivare alla serata a casa tranquillo. (N8, p. 17)134

131 Trad. livre: “Normalmente quando escrevo qualquer artigo ou capítulo com alguém nós dividimos as parte e então eu escrevo a minha, envio, o outro lê e escreve a sua... talvez... mas não de artigos, aconteceu de usar o GoogleDocs, mas não para artigos científicos, somente para documentos de trabalho, projetos, talvez algum tipo, também projeto, qualquer documento mas não artigos científicos que vão depois para revistas ou textos.. nesses usamos sempre e-mail, cada um escrevia a sua parte.” 132 Trad. livre: “Geralmente se encontra a pessoa, inicialmente se estabelece estas regras internas de escrita, depois cada um escreve a sua parte, a envia de volta e depois se encontra uma pessoa para por em ordem, corrigir o texto e... fazer a última revisão, controlar a bibliografia em comum... digamos que a fase de tomada de decisão com as pessoas, sempre... e a fase mais operativa, que foram canalizadas, organizadas para cada um fazer por conta própria...” 133 Trad. livre: “Eu escrevi os artigos, o ensaio em um volume junto com outra pessoa... a mim me agrada as vezes escrever individualmente... de fato me agrada quando, mas se escreve com duas pessoas se diz: ok, primeiro façamos a idealização comum, depois cada um faz a sua parte...” 134 Trad. livre: “Se você trabalha com pessoas que trabalham... organizadas diferentemente de você, a coisa se torna mais complexa... ali tendo a procurar fechar-me dentro do meu recinto porque... é.. porque me dá muito cansaço e eu tenho dificuldade de passar uma tarde inteira a ter que negociar ou definir com pessoas que não têm as ideais claras, ou então que tenham ideais

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Análise dos dados coletados 297

E… io non riuscirei mai, questo è interessante perchè io non riuscirei mai, invece a mettermi di fianco una persona e dire scriviamo insieme, per me è impossibile.. .. invece, però se lo si fa con il computer io riesco (risos)… (N9, p. 11)135

Vemos aqui que o padrão individualista ou de escrita-colagem predomina

no hábito destes acadêmicos que se vêem pouco dispostos a um debate coletivo

visando a elaboração textual, optando por desenvolver isoladamente suas partes e

procurando verificar a coerência de cada uma ao final.

Também se percebeu nos depoimentos que a co-autoria se realiza, em

geral, com pessoas mais próximas no convívio, conhecidas da vida acadêmica do

doutorando e facilmente acessíveis. Os entrevistados N14 e N15 relataram que os

orientadores restringiam o recebimento da escrita em modo impresso, limitando

com isso a interação e a co-autoria online.

Olha só, eu já... isso... mas com as pessoas já conhecidas que tem convívio físico, além do virtual... com alguém só virtual nunca escrevi... tá, mas assim, eu tenho publicação com [NOME DA PROFESSORA], eu tenho publicação com outras pessoas do grupo de pesquisa da [PROFESSORA].. [NOME DAS COLEGAS].. eu tenho... e o... não.. o resto é sozinha, o resto é sozinha, não tenho. É, manda pra lá, manda pra cá... quando a gente publica junto é assim... (N15, p. 17)

E a respeito da tamática? Em verdade, optamos por não detalhar os temas

de pesquisa dos entrevistados para evitar a identificação dos mesmos, não sendo

pertinente para a resolução das questões propostas para esta tese. Apenas os

situamos a seguir em relação à presença ou não das novas tecnologias de

informação e comunicação (os suportes digitais) como temática em suas teses.

diferentes das minhas e se torna problemático porque ou procura deixar andar ou deve combate-las, mas não me agrada combater por ideais, porque prefiro chegar de noite em casa tranquilo.” 135 Trad. livre: “E... eu não poderei nunca, isto é interessante porque eu não poderei nunca, ao invés disso me meter em frente a uma pessoa e dizer para escrevermos juntos, para mim é impossível... ao invés disso, se eu faço com o computador eu consigo (risos)...”

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

(1)  Temática da tese centrada em TICs

(2)  Temática da tese não centrada em TICs

(3)  Temática da tese mista

23. Temática (Tematicidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 298

Gráfico 29 - Variável “23. Temática (Tematicidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Temática da tese centrada em TICs

1. O assunto desenvolvido trata diretamente de tecnologias digitais.

(2) Temática da tese não centrada em TICs

1. O assunto não envolve nenhuma dimensão das TICs.

(3) Temática da tese mista 1. O assunto envolve as TICs, mas sendo estas usadas de maneira secundária.

Tabela 24 - Descrição dos itens da Variável 23.

Exatamente 50% dos entrevistados tinham temas ligados às TICs em suas

pesquisas e outros 50% não tinham, sendo que alguns estavam completamente

imersos no uso do computador e da internet desde cedo em suas vidas, como foi o

caso do entrevistado N10, que apresentava um alto domínio técnico do campo de

estudo.

Essa proporção de certa forma veio ao encontro do que desejava para a

minha pesquisa, pois interessava não ter todos os entrevistados ligados à área de

tecnologias na educação, para evitar que os padrões de autoria encontrados fossem

somente representativos deste grupo, em geral muito mais imerso e familiarizado

com as recentes tecnologias digitais.

Aqui não contamos com a realização de pesquisas com a temática das

TICs antes do doutorado, como no caso da entrevistada N2 que embora esteja

imersa nesta temática resolveu trabalhar com outra durante o doutorado, levando

sua experiência com o uso do computador e internet para a sua nova pesquisa,

encontrando materiais importantes através da rede como em comunidades virtuais,

contato com sujeitos e visualização de repositórios de imagens via buscador

online.

mas meu tema de doutorado, [TEMA DE PESQUISA] né.. e aí a internet, cadê a internet? e no entanto a internet foi muito interessante.. eu acho que muito mais que no (...), porque também tem pessoas que as vezes podem ter temas que até tem muito material na internet, mas que elas num.. não usam porque não gostam, não se sentem a vontade, acham que é complicado (N2, p. 20)

Pesquisando sobre a inovação na autoria, encontramos a seguinte

distribuição:

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Análise dos dados coletados 299

Gráfico 30 - Variável “24. Autoria própria (Originalidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Autoria compilativa 1. O autor expõe uma síntese compilativa de textos escolhidos em sua temática.

2. Mais comum acontecer na Itália nas teses exclusivamente teóricas. (2) Autoria compilativa + acréscimos pessoais

1. O autor compila textos, mas acrescenta sua visão pessoal da temática. 2. É a escrita a partir dos outros e acrescentando algo do pensamento próprio.

(3) Autoria inovadora 1. O autor compila textos, mas seu acréscimo é considerado inédito dentro da temática escolhida.

Tabela 25 - Descrição dos itens da Variável 24.

Ve-se que somente um entrevistado assumiu que sua tese foi bastante

original em seu campo (N10), sem trabalho previamente feito em seu país, e com

a maioria das referências vindas dos EUA. O tema por ser muito específico não

era tratado em língua italiana, havendo, segundo o entrevistado, apenas

aproximações.

Os outros relataram o apoio e o uso de autores consagrados e acadêmicos

para ir compondo o texto e inserir os pontos de vista pessoais, processo esse que

podia demorar mais ou menos tempo para acontecer, podendo ou não ter realizado

anotações prévias na composição de sua escrita.

depois eu tinha na minha frente os fichamentos disponíveis e ia no computador e fazendo a costura, o entrelaçamento do que precisava pegar, precisava do outro né... teve uma hora que não deu mais para ficar nesse escritório, eu tive que ir para uma sala de jantar, que tinha uma mesa enorme.. e aí eu tirei tudo de cima daquela mesa e era fichamento na mesa inteira, né.. e eu, o computador do lado, e eu ia mesmo literalmente levantando, pegando os fichamentos e ia lá, escrevia e voltava pra fazer outras costuras.. (N4, p. 10)

Mas no final assim os livros mais assim referência mesmo, eu trabalhei com essas marcações pra... pra me levar de volta se eu precisasse, né... Do contrário assim, quando eu me aproprio eu me aproprio, mas o problema é até me apropriar, isso é que leva um tempo. (N15, p. 12) la prima fase era sicuramente la lettura dei materiali, quindi, lettura… seconda fase schedatura, che vuol dire schedava o libro o la risorsa, terza fase

0 2 4 6 8 10 12 14 16

(1)  Autoria compilativa

(2)  Autoria compilativa + acréscimos pessoais

(3)  Autoria inovadora

24. Autoria própria (Originalidade)

IT BR Total

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Análise dos dados coletados 300

rielaborazione personale a computer, quarta fase citazione che mettevo, quinta fase a rilettura (N6, p. 8)136 … quindi un po’ diciamo, gli step son stati questi, prima da ipotesi da ricerca bibliografica grossa, il… insomma, iniziare un po’ a spendere, come dire, dei… anche dei moduli in qualche maniera di scrittura o comunque appunti è cosi e poi, la scrittura, la scrittura vere propria… (N9, p. 7)137

No caso do entrevistado N9, a tese foi totalmente teórica, única em todos

os depoimentos, se baseando em um conjunto de autores para ir compondo o seu

texto, sem se embasar em dados coletados empiricamente, sendo a linha de

pensamento própria o fator inovador no texto. Para ele, uma tese deve ter algo de

novo para valer a pena ser escrita, mostrando o valor da originalidade para aqueles

que estão praticando sua autoria no campo acadêmico.

deve essere rischiosa anche, perché università è un posto in cui… bisogna anche mettersi in gioco, inventare, non fa sempre cosa ripetitive, non fa sempre, non scrivere per scrivere, ma in qualche maniera sempre, fare un passettino avanti, non? (N9, p. 18)138

Já a entrevistada N1 relata até certa dificuldade de se posicionar perante o

que os outros acadêmidos diziam, tornando sua escrita inicial uma costura de

textos, próximo ao que foi dito pela entrevistada N7, ambas procurando manter a

fidelidade ao original e aos poucos se posicionarem diante do campo de pesquisa

que estavam se inserindo. Para manter essa fidelidade ao original, o entrevistado

N8 diz que mantinha a internet ligada enquanto escrevia para conferir a origem

exata das referências e citações que encontra, antes de as por em sua tese,

primando pela precisão da origem da fala e de seu autor.

Esse relato não é incomum nos entrevistados, denotando que, aos poucos,

o doutorando vai tomando maior conhecimento do tema e com isso consegue

formar uma concepção mais própria do assunto focado, assumindo uma maior

136 Trad. livre: “A primeira fase era certamente a leitura dos materiais, então, leitura... segunda fase o arquivamento, que significa que arquivava ou o livro ou recurso, terceira fase a reelaboração pessoal no computador, quarta fase a citação que colocava, quinta fase a releitura.” 137 Trad. livre: “... então um pouco, digamos, os passos foram estes, primeiro a hipótese da pesquisa bibliográfica grossa, o... enfim, iniciar um pouco a gastar, como dizer, os... também os módulos de alguma maneira escrever ou então as anotações assim e depois, a escrita, a escrita propriamente dita...” 138 Trad. livre: “Deve ser arriscada também, porque universidade é um lugar em que... precisa também colocar-se em jogo, inventar, não fazer sempre a mesma coisa, não fazer sempre, não escrever por escrever, mas de alguma maneira sempre, fazer sempre um passo avente, não?”

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Análise dos dados coletados 301

segurança em sua escrita e com isso se autorizando a inserir posições próprias, se

inserindo na rede de textos produzidos até aquele momento.

e poi gli ultimi sono venuti quasi da sole e si vedeva anche nel processo che era un altro tipo, di una altra qualità di scrittura, si cresce molto durante, durante una tesi… (N9, p. 6)139 Quindi io ho cercato di, di inserire molti miei parti, cioè, quelli che erano i miei commenti, a quella… insomma, l’argomento, le discussione, però poi, è… tutto parte da, invece una ricerca sugli autori di riferimento… (N11, p. 13)140

O computador auxiliava esse processo à medida que servia de ponto

aglutinador das anotações realizadas a partir das leituras feitas, pois tudo que se

lia era passado como fichamento para o computador, um conjunto de arquivos que

permite a rápida visualização e o exercício da “costura”.

pegava todo material que eu havia garimpado que estava organizado na rede em arquivos, no computador, por arquivos, e aí eu ia fazendo, estabelecendo esses diálogos, fazendo essas posturas, mas já tecendo algum comentário... tecendo algum.. fazendo algo.. é... fazendo alguma apreciação, mas já me posicionando.. já expondo o que eu achava.. onde havia algum ponto de convergência entre esses autores, onde eu percebia lacunas, que me inspiravam uma análise mais adensada daquele ponto, daquele tópico. (N1, p. 5) allora, lo scrivevo con una doppia attenzione, da una parte.. è… mantenendo fede a quello che era ai pensiero delle autore, e quindi dicevo: allora, questo libro dice tan tan tan… magari anche già mettendo la citazione che me interessava perché la… rispondeva quello che mi ha serviva… e poi c’era una parte invece che era il mio.. quindi di questo che, cosa posto distorcere, manipolare, cosa me interessa per seguire che lo mettevo a parte, così, questa parte mi sarebbe comunque servita, poi nel percorso di scrittura a reale, per avere già pronto il mio capitolo… (N7, p. 11)141

Mas esse processo de crescente apropriação do tema não é algo isento de

tensão, sendo descrito pela entrevistada N16 como gerador de sofrimento e pela

139 Trad. livre: “E depois os últimos [capítulos] vieram quase sozinhos e se via também no processo que era de um outro tipo, de uma outra qualidade de escrita, se cresce muito durante, durante uma tese...” 140 Trad. livre: “Então eu procurei, inserir muitas partes minhas, isto é, aquelas que eram os meus comentários, aquelas... enfim, o assunto, a discussão, mas depois, é... começou como, com uma pesquisa com os autores de referência.” 141 Trad. livre: “Então, o escrevia com uma dupla atenção, de uma parte... é... mantendo fiel àquilo que era o pensamento do autor, e então dizia: então, este livro diz tan tan tan... talvez também já inserindo citações que me interessavam porque.. respondia àquilo que me servia... e depois tinha uma parte que era o meu... então o lugar para distorcer, manipular, que coisa me interessa seguir eu as colocava a parte, assim, esta parte me será útil, então no percurso de escrita real, para ter já pronto o meu capítulo...”

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Análise dos dados coletados 302

entrevistada N7 como uma dificuldade de criar um pensamento próprio, dizer

aquilo que não foi ainda dito pelos outros autores que foram lidos e sintetizados

por ela. A tensão então estaria inserida no momento em que o pesquisador deve se

situar nessa rede de autores, fazer sua abordagem pessoal do tema e com isso

evidenciar suas afiliações teóricas, traduzida pela entrevistada N16 como uma

“exposição enorme”.

ahh, era muito sofrido, nossa, eu sofri muito... nossa senhora... não, porque o negócio é o seguinte (pausa) (risos) ai, ai... essa coisa de escrever... na dissertação do mestrado, etc... você se expõe muito né Alexandre? É uma exposição... é... enorme, né... quando você escreve uma tese... bom... tem gente que não liga pra isso, eu sou superligada nisso, então eu ficava muito nervosa... (N16, p. 10) ovviamente quello più difficile è stato in terzo, quello di creare un modello perché li i materiali non avevano una organizzazione, mentre per li altri, mi facevo guidare da una parte sul quello chi trovavo sul campo, negli altri due da.. dei teorici che già avevano detto dalle cose, nella parte (…) più creativa non c’era un modello che mi aiutava, quindi creavo, spostavo continuamente li… (N7, p. 13)142

E que usavam os entrevistados na produção escrita: caneta/lápis ou

computador?

Gráfico 31 - Variável “25. Instrumento (Instrumentalidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Predomínio do uso do lápis e/ou caneta na produção de textos

1. Aqui são os meios analógicos de escrita. 2. Alguns podem ter experimentado também a escrita em máquina de escrever. 3. A escrita é feita em versões consecutivas e com alto índice de reescrita e cópia.

(2) Predomínio do uso do 1. O texto desde o seu esboço já é feito no computador, sem passar antes pelo papel e

142 Trad. livre: “Obviamente o mais difícil foi o terceiro, aquele de criar um modelo porque os materiais não tinham uma organização, enquanto que para os outros, me fazia guiar em parte por aquilo que encontrava no campo, nos outros dois.. dos teóricos que já haviam dito as coisas, na parte (...) mais criativa não existia um modelo que me ajudasse, então criava, movia constantemente ali...”

0 2 4 6 8 10 12 14 16

(1)  Predomínio do uso do lápis e/ou caneta naprodução de textos

(2)  Predomínio do uso do computador na produçãode textos

(3)  Uso equilibrado dos instrumentos na produçãoda escrita

25. Instrumento (Instrumentalidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 303

computador na produção de textos

pela escrita a mão.

(3) Uso equilibrado dos instrumentos na produção da escrita

Tabela 26 - Descrição dos itens da Variável 25.

Quinze dos dezesseis entrevistados usaram o computador exclusivamente

em sua escrita da tese, sendo que os modos de escrita ainda possuem herança de

hábitos adquiridos e observados de quem utilizava (ou ainda utiliza) a escrita em

papel, conforme citamos a respeito da escrita linear ainda ser significativa e do

próprio conjunto de elementos que devem compor o texto.

Na prática, observando os depoimentos dos entrevistados, percebemos que

o computador, mesmo com as heranças do impresso, se tornou um aglutinador da

pesquisa, senão de todo, ao menos de parte do trabalho de busca, armazenamento

e escrita de textos.

E questo è…non riuscirei a farlo su carta, non so più scrivere su carta devo essere sincero…scrivo direttamente su file in questo modo. Poi per quanto riguarda, poi ho preso questa abitudine da súbito (N8, p. 9)143

Apesar de tais heranças, consolidadas pela rica história dos suportes

impressos, especialmente a partir da difusão da tipografia no século XV, esse

dado nos revela uma plena inserção do computador no cotidiano de escrita dos

entrevistados, algo que contrasta com o eixo “Modo de leitura” em que o

computador ainda aparece dividindo espaço com os suportes impressos por vários

motivos. Entre os motivos talvez esteja a persistência da editoração de uma obra

somente no formato impresso, em papel, ou a própria dificuldade de ler em tela de

computadores de mesa (desktops) e, por fim, os problemas com a fixação de

anotações pessoais no texto.

Um exemplo de que o computador se tornou habitual para a escrita é a

dificuldade, que hoje se apresenta para muitos, de se escrever a mão, de se

concatenar pensamentos no suporte papel depois de se utilizar a escrita digital,

pois contrasta com as facilidades de cópia e colagem, de mover livremente

pedaços de texto na tela, de se inserir elementos a qualquer hora que se desejar. 143 Trad. livre: “E esta é... não poderei faze-lo no papel, não sei mais escrever no papel devo ser sincero... escrevo diretamente no arquivo deste modo. Então no que diz respeito a isso, eu adquiri esse hábito de imediato”

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Análise dos dados coletados 304

Essa consolidação do computador fica evidente na fala das entrevistadas N2, N3,

N14 e N15:

eu hoje em dia tenho maior dificuldade de escrever à mão muita.. muita... porque acho que a questão é de pensamento, de aquele pensamento ser hipertextual... você não vai escrever em ordem.. introdução... na hora que eu for apresentar vai ter início, meio e fim, não é? introdução, aquele conteúdo no meio e a conclusão, mas na hora de escrever não precisa fazer isso.. eu ponho lá, vou pra cá, vai, vem... pra mim foi uma coisa.. (N2, p. 17) Mas escrever tá muito difícil... até porque fico pensando numa economia de tempo.. falo “Meu Deus, que idiotice fazer tudo na mão para depois passar pro computador?”... Então eu só uso manuscrever quando não tem o mesmo recurso por perto. (N3, p. 3) Eu não consigo pensar com caneta, não consigo mais. Eu só consigo escrever digitando... (N14, p. 18) e aí a minha escrita era direta no computador, eu não escrevo no papel, tenho dificuldade de escrever no papel hoje em dia, eu fiz prova pra cá foi um inferno escrever a responder aquilo tudo a mão... dá até tendinite, porque antes dava o computador e esse dá... (N15, p. 8)

O computador inaugura outra forma de escrever que se torna claramente

contrastável com a escrita manual, outra forma de se pensar o texto através de

uma maleabilidade não existente com a tinta e o papel, assim como a inserção de

elementos complementares ao texto, em especial imagens, gráficos e tabelas. Ao

contrário da leitura nos suportes digitais que ainda apresenta obstáculos,

especialmente no período pré-tablets, seja para realização de anotações ou

portabilidade dos aparelhos, a escrita no computador se tornou mais cômoda e

vantajosa que aquela realizada no papel, se consolidando no cotidiano dos

entrevistados.

però di solito sempre scrivevo al computer, sempre ho scritto a computer perché è decisamente più comodo, quindi non ho fatto passato in carta al computer, direttamente al computer. (N6, p. 7)144 qualcosa che mi colpiva durante la ricerca me lo annotavo in digitale, quindi, sintesi del libro, delle, degli aspetti che a me interessavano di quel libro, di quel articolo.. (N7, p. 11)145

144 Trad. livre: “Mas normalmente sempre escrevia no computador, sempre escrevi no computador porque é decisivamente mais cômodo, então não passei do papel ao computador, era diretamente no computador.” 145 Trad. livre: “Algo que me chamasse atenção durante a pesquisa eu anotava em digital, então, síntese de livro, dos aspectos que me interessavam daquele livro, dawuele artigo.”

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Análise dos dados coletados 305

questo credo, da quello che mi ricordo è stato un po’ il mio utilizzo delle tecnologie ovviamente per… per la scrittura avevo il mio computer portatile che portavo da per tutto… (N9, p. 4)146

Torna-se um privilégio acompanhar doutores, que 10 ou 15 anos antes só

possuíam a tecnologia da escrita manual, refletirem sobre como atualmente

desenvolvem suas criações, falando inclusive de um novo modo de pensar, de

conceber a escrita, a partir das capacidades novas aprendidas com o computador e

a internet e daquelas capacidades “atrofiadas” a partir do pouco uso da escrita à

mão:

Ainda tava... quer dizer, eu fazia poucas coisas, não fazia muito não, mas eu fazia nesse sistema que eu tou te falando.. eu fazia, eu escrevia, aí depois digitava.. parece que meu pensamento só funcionava com a minha mão.. (N3, p. 4) Mas é como eu te falei, eu acho que essa transcrição foi realmente a porta pra eu entender que eu podia fazer direto, que eu tinha condição de expressar minhas ideias também diretamente na tela do computador... aí dali pra frente, cada vez mais.. (N3, p. 4) e eu vejo que hoje eu já penso no que eu posso produzir ou o que eu já produzi esse fato da... de uma ilustração, é... poder estar, eu poder incluir, inserir essa ilustração, isso já muda a minha forma de conceber o meu texto... [...] é claro que antes eu nunca produzi artigo como eu produzo hoje, mas a gente escrevi..., a gente escrevia projetos, a gente tinha uma produção escrita... e... a ilustração não tava ali, ela não tava naquele texto... (N13, p. 22)

Gráfico 32 - Variável “26. Presença da internet (Conectividade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável

146 Trad. livre: “Este acredito, daquilo que me recordo foi um pouco a minha utilização da tecnologia obviamente para... para a escrita tinha o meu computador portátil que levava para tudo...”

0 1 2 3 4 5 6 7 8

(1)  Uso da internet no momento da escrita

(2)  Uso do computador desconectado no momentoda escrita

(3)  Alternância de uso e não uso da internet nomomento da escrita

26. Presença da internet (Conectividade)

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Análise dos dados coletados 306

(1) Uso da internet no momento da escrita

1. Escreve-se o tempo todo com a internet ligada para consultas a fontes. 2. Busca-se diretamente na internet as citações e fontes para confirmar os argumentos e a origem.

(2) Uso do computador desconectado no momento da escrita

1. Desconecta-se completamente da internet quando vai escrever seu texto

(3) Alternância de uso e não uso da internet no momento da escrita

1. Relata-se tanto situações onde a internet era usada como as que se isolava e desconectava-se.

Tabela 27 - Descrição dos itens da Variável 26.

Se dois dos entrevistados relataram desligar a internet durante a escrita

para evitar dispersão, sete fizeram o oposto, pois usavam o computador conectado

para complementar os escritos e verificar dados em tempo real através de

buscadores como o Google ou GoogleBooks, evidenciando que a internet alterou a

lógica temporal de acesso às fontes e de checagem da fala ou da origem dos dados

citados por um autor, servindo como uma gigantesca memória auxiliar e

facilmente acessível.

foi muito interessante, que as vezes eu tava escrevendo... me ajudou né? que as vezes eu tava escrevendo alguma coisa e tal, eu tinha uma dúvida , eu podia recorrer a uma pesquisa né? ali na hora, você não tem que pensar... acho que facilita a questão de vou na biblioteca.. as vezes você encontrava um texto e queria ter um acesso, pedia pra biblioteca, quando eu achava né? (N2, p. 16) eu tou lá com a internet e tou com um bolo de livros aqui, então coisa que eu não achava nesse livro, por conta desse limite físico, eu complementava com o uso da internet. (N3, p. 8) o que eu vejo também na forma de escrever é que o uso do livro, da consulta, do material impresso, foi sendo, esse uso foi sendo substituído pela consulta material digitalizada. (N13, p. 23) Quindi tendenzialmente io anche quando scrivo ogni mezz’ora ho appuntato sul browser a fare una serie di ricerche interne; avere la conferma di un particolare argomento di una particolare citazione o comunque che qualcuno, qualcun altro, qualche altro autore aveva o no quello stesso idea rispetto ad un concetto esposto da un altro per poter confermare o disconfermare una visione per dire. (N8, p. 10)147 Quindi, si, su questo mi sono dovuta affidare per forza al online perché altrimenti non avrai potuto trovare i nuovi cose in libreria o biblioteca. (N11, p. 18)148

147 Trad. livre: “Então tendencialmente eu também quando escrevo a cada meia hora uso o navegador para fazer uma série de pesquisas na internet; ter a confirmação de um assunto particular ou de uma citação ou então o que alguém, algum outro, algum outro autor tenha ou não aquela mesma ideia a respeito de um conceito exposto por um outro para poder confirmar ou não confirmar uma visão para dizer.” 148 Trad. livre: “Então, sim, eu tive que contar necessariamente com o que está online porque de outra forma não poderia encontrar as novidades na livraria ou na biblioteca.”

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Análise dos dados coletados 307

O entrevistado N8, forte utilizador da internet para verificação de fontes,

relata que o único momento que não utitilizou a internet foi em um local na Suíça

em que esteve e que não havia conexão disponível, tendo que anotar tudo que

precisaria verificar posteriormente. De certa forma a internet acaba por servir para

a realização de buscas tanto por confirmações a respeito de pesquisas e teóricos,

quanto para se traçar de maneira facilitada as redes de autores aos quais estão

ligados.

A entrevistada N4 foi um caso “fora da curva”, pois relatou um uso bem

estanque, divididos em etapas sequenciais, na realização da escrita. Dessa forma

as etapas não se limitaram à escrita de um capítulo por vez, mas também na

presença do computador para a coleta de fontes, utilizando na etapa inicial e

depois estancando o uso da internet no momento da escrita, utilizando somente as

fontes coletadas durante a fase inicial de busca, refletindo um medo de se

dispersar caso acessasse e fizesse uso de novas fontes.

Finalmente, quanto às técnicas de escrita, encontramos a seguinte

distribuição:

Gráfico 33 - Variável “27. Técnicas (Tecnicidade)”.

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(1)  Construção de mapa conceitual

(2)  Construção de índices

(3)  Escrita em camadas

(4)  Escrita com 2 monitores

(5)  Idéias por parágrafos

(6)  Escrever já no formato final

(7)  Escrever textos logo após a leitura

(8)  Retiros de escrita

(9)  Arquivos abertos ao mesmo tempo

(10)   Empiria integrada à escrita

(11)   Escrever em várias cores

(12)   Escrever em editor online

(13)   Montar um banco de referências

(14)   Guardar a referência bibliográfica

27. Técnicas (Tecnicidade)

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Análise dos dados coletados 308

Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Construção de mapa conceitual

1. Faz-se o mapa conceitual com os tópicos do futuro texto e da inter-relação das idéias. 2. Onenote, Mindmap, Powerpoint para esquematizar os mapas.

(2) Construção de índices 1. Parecido com o mapa conceitual, só que apresentado em forma estruturada linearmente.

(3) Escrita em camadas 1. Começa com uma idéia-base e vai confeccionando o texto em camadas, aos poucos, acrescentando novas informações no entorno.

(4) Escrita com 2 monitores 1. Ampliar a área de escrita com dois monitores instalados no menos computador. (5) Idéias por parágrafos 1. Cada parágrafo contém um idéia central, sendo mais fácil trabalhar em algo coeso e

autossuficiente caso desloque-se o texto para outro local. (6) Escrever já no formato final 1. Respeitar as regras de escrita da tese desde o começo, evitando retrabalho. (7) Escrever textos logo após a leitura

1. Articular em pequenos textos as leituras feitas. 2. Não é o mesmo que fichar resumindo a leitura.

(8) Retiros de escrita 1. Pegar um período, como de uma semana, e se dedicar a escrever intensamente uma parte da tese.

(9) Arquivos abertos ao mesmo tempo

1. Ter várias janelas com textos abertos de artigos e materiais utilizados no momento da escrita. Como se fosse uma mesa com vários materiais sobre ela.

(10) Empiria integrada à escrita 1. Na fase de coleta de dados já ir escrevendo como parte da tese. (11) Escrever em várias cores 1. Uma cor para cada etapa ou tipo de texto escrito, classificando visualmente a

escrita. (12) Escrever em editor online 1. Assim a pessoa acessa e edita em qualquer lugar, como o Google Docs. (13) Montar um banco de referências

1. Cria bancos de referências com sites e outros tipos de mídia.

(14) Guardar a referência bibliográfica

1. Os sites e livros podem se perder, então é bom anotar sempre a referência completa.

Tabela 28 - Descrição dos itens da Variável 27.

A principal técnica de escrita foi usar de um planejamento através da

construção de um sumário (índice), totalizando sete relatos, que era seguido junto

com o orientador e com maior frequência entre os entrevistados italianos. Depois

veio a escrita em camadas (cinco relatos), em que o autor ia acrescentando no

computador novos trechos, citações e idéias ao texto que estava naquele momento

trabalhando, algo que somente a escrita no computador permite, visto que no

papel para se realizar novos acréscimos deve-se realizar uma reescrita de todo

material, fundindo anotações realizadas nas margens.

então daquelas, daquelas... daqueles miniparágrafos, eu dali ia pegando, ia desenvolvendo, ia colocando a citação, ia crescendo aquele texto.. e foi assim que, que eu faço até hoje e é assim que eu faço... (N3, p. 20) mas eu sou muito... é... esquemática, eu tenho uma capacidade.. assim, eu monto os roteiros do que eu pretendo fazer, eu visualizo o que vai acontecer e depois eu vou recheando com as informações que eu já sei que quero buscar... então isso de alguma maneira ajuda na minha organização interna e talvez na própria organização do texto... porque eu tinha uma idéia já, então o que eu abria já tava ali com o propósito daquela parte que eu tava trabalhando naquele momento.. né... (N15, p. 8) poi traccio una mappa, un elenco degli argomenti che voglio trattare e il mio indice non è mai definitivo, il mio indice è work in progress continuo perché

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mentre approfondisco e faccio il mio indice viene continuamente modificato (N8, p. 9)149 A fa.. a scrivere un po’ utilizzando un… facendo una specie di puzzle, non so come dire non? quindi tu stai magari hai un centro di discorso che mette li e comincia poi a confezionare attorno… (N9, p. 6)150 E quindi sono andata sempre più scremando, come se avessi fatto una cosa grezza, e poi mano a mano tutte le volte che la rivedevo, cercavo di riorganizzarla, facendo attenzione appunto. Alle fonti, alle citazione a questi aspetti qua… (N11, p. 14)151 E quindi è stato un lavoro proprio paragrafo per paragrafo. Diciamo che la struttura, la progettazione era stata questa: io scrivevo su un foglio le… i titoli dei paragrafi e cercavo di ricostruire per ogni titolo scrivevo le risorse principali… (N12, p. 11)152

A escrita em camadas, junto com a capacidade de se deslocar com

extrema facilidade pedaços de texto, oferece a vantagem de se construir

parágrafos com sentido próprio que vão se complementando e formando os

capítulos, podendo-se modificar o local dos mesmos, caso apresentem certa

autossuficiência de sentido. É exatamente esta percepção do entrevistado N8, que

relata o processo a seguir com a escrita visando futuramemente tais

deslocamentos:

tanto è vero che terminata la tesi io addirittura ho cambiato il mio modo di scrivere sulla base dell’evidenza che ho riscontrato, dove tendo a parcellizzare i paragrafi in unità non dico auto consistenti ma tento di tenerli più auto consistenti possibili, indipendenti uno dall’altra al massimo con riferimenti che tanto poi si fanno, dei rimandi per poter facilmente spostare i paragrafi all’interno del testo. (N8, p. 9)153

149 Trad. livre: “Então traço um mapa, um elenco dos assuntos que desejo tratar e o meu índice não é nunca definitivo, o meu índice é um trabalho em andamento contínuo, porque enquanto eu aprofundo eu faço o meu índice ser continuamento modificado.” 150 Trad. livre: “A faz.. a escrever um pouco utilizando um... fazendo uma espécie de quebra-cabeças, não sei como dizer ok? Então você talvez tenha um centro de discurso que os coloca e começa depois a confeccionar ao redor...” 151 Trad. livre: “E então fui sempre melhorando mais, como se tivesse feito uma coisa bruta, e depois mão a mão todas as vezes que revia, procurava... reorganiza-la, me certificando. Às fontes, às citações, a estes aspectos aqui...” 152 Trad. livre: “E então era um trabalho de parágrafo por parágrafo. Digamos que a estrutura, o projeto era esse: eu escrevia em uma folha os... os títulos dos parágrafos e procurava reconstruir para cada título que escrevia as fontes principais...” 153 Trad. livre: “Tanto é verdade que terminada a tese eu mudei o meu modo de escrever com base nas evidências que encontrei, onde eu tendo a parcelar os parágrafos em unidades, não digo auto-consistentes, mas tento as ter o mais consistente possível, independente uma da outra ao máximo com referências que então você faz, referências utilizadas para se deslocar facilmente os parágrafos no interior do texto.”

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Análise dos dados coletados 310

Semelhante à elaboração de índice houve a elaboração de mapa conceitual

por quatro dos entrevistados, um modo diferente de representar os temas e o

planejamento da escrita, com possibilidade de associações dos temas graficamente

reunidos em uma mesma folha que depois se tornam um índice para organizar a

escrita.

prima di tutto costruito una mappa, non proprio.. una mappa, una mappa concettuale dei vari argomenti che avevo avuto affrontare. (N5, p. 12)154 È, ho iniziato a costruirla usando software che crea una mappa concettuale… é… prima usato mind manager per gestire questo processo… E organiz… cerca di mappare certi tipi di struttura, soprattutto certi tipi di area di contenuto perché erano complesse, perché si intersecavano.. (N10, p. 8)155

Cinco deles procuravam guardar as referências já no momento em que as

liam, afim de não perder a origem do texto quando fosse escrever o relatório final,

decorrência essa do modo convencionado da escrita científica de sempre apontar

com precisão a origem das fontes.

Um problema mais recente nesse caso, relatado por alguns, são as fontes

que rapidamente mudam de lugar ou somem na internet, sendo necessária uma

dupla atenção para textos extraídos de websites, sendo citadas na entrevista N8 as

vantagens de sistemas automatizados e que guardam os dados da referência como

o DOI, Digital Object Identifier. Guardar a origem das fontes, fichando suas

informações principais, também foi exemplificado como recurso pelo entrevistado

N9 que utilizou a maioria dos textos provenientes das bibliotecas que consultou,

não os possuindo para consulta posterior.

sempre me preocupava em colocar a referência né.. da onde eu tinha pescado ela, porque se eu precisasse de usa-la, eu tinha que ter essa referência e depois eu não ia saber qual a palavra que eu coloquei.. (N3, p. 9)

154 Trad. Livre: “Antes de tudo eu contruí um mapa... um mapa, um mapa conceitual dos vários tópicos que eu teria que abordar.” 155 Trad. livre: “É, eu comecei a construí-la usando um programa que cria um mapa conceitual... é... primeiro usei o mindmanager para gerir este processo... E organiz... procurar mapear certos tipos de estrutura, sobretudo certos tipos de áreas de conteúdo porque eram complexas, porque se entrecruzavam.”

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Análise dos dados coletados 311

Scrivevo sempre l’indirizzo. Quando gli stampi non sempre si compare sotto. Se tu fai una selezione e copy su word non sai poi da dove l’hai.. e ho lo copiavo anche l’URL.. (N6, p. 9)156 e citazione subito inserivo il riferimento bibliografico, cioè la bibliografia evolve mentre scrivo, mentre scrivo il testo, mentre scrivo la tesi...la bibliografia… Finita la tesi avevo già la bibliografia fatta, non ho dovuto fare niente se non magari apposto le posizioni degli anni…queste cose qui…cioè la normativa che si vuole seguire. (N8, p. 9)157

Se a construção de índices e mapas para guiar e controlar uma escrita

potencialmente anárquica foi relatado por alguns como técnica de contenção, para

outros o desktop (mesa de trabalho) foi utilizado ao pé da letra e nele se abriam

vários documentos simultaneamente para visualização, próximo ao que foi

relatado pela entrevistada N4 ao dizer que dispunha sobre a mesa da sala suas

anotações em papel lado a lado para construir seus capítulos da tese. A

entrevistada N11 chega a relatar o uso de dois monitores para expandir a sua área

de trabalho e com isso conseguir abrir e manter o tempo todo a vista os

documentos de referências que utilizava para a escrita. Vejamos os relatos dos

entrevistados N13, N15 e N11:

nessa escrita uma coisa que foi importante, pra mim, quando eu penso agora assim, o fato de tá, né, lá digitando o texto é que eu abria não sei quantas janelas, sabe? E eu podia, eu podia já na tela do computador, eu acessava as coisas, várias coisas.. é... é como você ter vários livros e você... ou seja, o que eu fazia manualmente, eu estava fazendo, é a mesma coisa, ou seja, me servia.. é... estava atendendo à mesma necessidade de eu ter cinco livros abertos e ou tá lá escrevendo meu texto e com seis arquivos abertos, eu minimizava e... sabe, isso foi uma coisa muito interessante.. (N13, p. 17) Eu ia minimizando e abrindo em função da necessidade... não tinha... por exemplo, eu não gosto de trabalhar com janela paralela, me atrapalha.. eu preciso ter alguma janelona aberta na minha frente e aí quando eu sinto que preciso de alguma outra coisa eu vou buscar... (N15, p. 8) poi io a casa ho due monitor praticamente, non? Quindi io lavoro molto meglio con due monitor, anche al mio ufficio c’è lo, perché comunque mi è proprio più funzionale e quindi da una parte tutte le rielaborazione che avevo fatto, dal altra

156 Trad. livre: “Escrevia sempre o endereço. Quanto os imprimia nem sempre se acha [o endereço] embaixo da folha. Se você faz uma seleção e copia no Word não sabe depois de onde tirou... e eu copiava também o endereço de internet...” 157 Trad. livre: “E citação eu imediatamente as inseria como referência bibliográfica, isto é, a bibliografia enquanto escrevo, enquanto escrevo o texto, enquanto escrevo a tese... a bibliografia... Finalizada a tese eu tinha já a bibliografia feita, não tive que fazer nada a não ser fixar a posição dos anos... esta coisa aqui... isto é, as normas que se deve seguir.”

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Análise dos dados coletados 312

foglio bianco e cercavo proprio di scrivere le cose che mi, che mi sembravano interessante ecco, facendo riferimenti, le citazione… (N11, p. 14)158

O uso de ferramentas de editoração na própria web (nuvem) foi relatado

por somente dois dos entrevistados, um baixo índice de utilização para um recurso

que permite o acesso ao texto em qualquer lugar que o autor esteja conectado, sem

necessidade de transportar fisicamente os arquivos, mas que se justifica pelo

caráter recente desse tipo de serviço, a exemplo do GoogleDocs, surgido em 2005,

e o Microsoft Office Online.

É, isso aqui tudo eu leio ali, porque... porque eu posso criar aqui, isso aqui não precisa ter nada instalado... já tenho o Word, tudo isso aqui eu tenho... tenho no online. Então isso aqui eu.. é da Microsoft né, então... não tenho muita confiança, não ponho muita coisa aí, mas são as coisas que eu posso (risos). (N14, p. 21)

Algumas formas mais peculiares de escrita, relatadas por um ou alguns

entrevistados valem a pena serem citadas. Um exemplo é o da entrevistada N2 que

utiliza plenamente a possibilidade oferecida pelo editor de textos do computador

para colorir trechos, dizendo “eu escrevo colorido”, diferenciando em cores

estágios de sua escrita, classificando dessa forma trechos de autoria externa,

trechos de sua própria autoria e já consolidados, trechos que merecem atenção e

trechos que estão em andamento. É uma forma de mapear visualmente estágios de

várias partes de sua tese.

Outro exemplo é o entrevistado N8 que procura já deixar seu texto na

forma final utilizando diretamente o computador, inserindo referências assim que

as utiliza, colocando os elementos do texto, como tabelas e figuras já na

formatação exigida, assim como o corpo do texto. Essa é uma técnica que

somente a editoração eletrônica permite, pois nela podemos unir diversas funções

antes dispersas nas diversas etapas que estavam entre o autor e o leitor: autoria

propriamente dita, cortes e revisão de texto, editoração gráfica, impressão, entre

outras. Esse acúmulo de funções em um só programa de edição de texto permite

esse total domínio do autor sobre sua produção e como ela chegará ao leitor.

158 Trad. livre: “Depois eu em casa tenho dois monitores praticamente, ok? Então eu trabalho muito melhor com dois monitores, também no meu escritório eu tenho, porque contudo me é mais funcional e então de uma parte toda a reelaboração que fiz, e da outra folha em branco e procurava escrever as coisas que me, que me pareciam interessantes, fazendo referências, as citações...”

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Análise dos dados coletados 313

Quadro 18 - Considerações resumitivas sobre os modos de escrita relatados pelos doutorandos.

Três níveis de escrita, com tendência para a escrita simultânea de diversas partes do texto.

Escrita linear (um capítulo por vez).

Escrita simultânea (com controle) .

Escrita simultânea radical (tudo ao mesmo tempo).

A escrita se mantém ainda conservadora frente às novas possibilidades dos suportes digitais

Modelo da busca de fontes‐esquematização‐escrita linear como opção.

A escrita simultânea não linear é uma possibilidade que não existe no suporte impresso, mas o produto final é semelhante ao anterior.

A escrita no computador se tornou padrão, e não estamos mais em transição como no caso da leitura.

Alguns relataram que a capacidade de escrita a mão "atrofiou".

A obra escrita permanece, mesmo no computador, com seus elementos básicos importados do modelo impresso.

A numeração de página, índice, notas de rodapé, bibliografia ao final.

Mobilizam‐se técnicas auxiliares para controle da escrita.

Mapa conceitual (esquematização visual).

Sumário previsto (esquematização em tópicos).

Algumas técnicas emergiram a partir dos suportes digitais.

Escrita em camadas, Parágrafos ao modo de blocos com sentido próprio, Uso de dois monitores, Escrita "colorida", Escrita na formatação final, Escrita em editores de texto online, Consulta online em tempo real a fontes citadas.

Colagem e costura: os tipos de escrita predominantes.

A escrita‐colagem, individualista, com pessoas mais próximas.

A escrita costurada a partir dos textos lidos em um processo gradual de posicionamento no campo de pesquisa.

O computador se tornou um aglutinador da produção escrita com sua portabilidade.

Anotações em um só suporte e lugar.

Busca de fontes (memória auxiliar via internet).

Escrita final do texto da tese.

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Análise dos dados coletados 314

7.5 Uso de fontes: os usos, os locais de acesso e os tipos de fontes.

A maioria dos entrevistados, tanto no Brasil como na Itália, relatou buscar

de maneira circular, indo de um suporte e de uma referência a outra, de maneira

contínua ao longo do tempo de elaboração da tese.

Gráfico 34 - Variável “28. Busca no tempo (Acumulabilidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Busca Linear Limitada (BLL)

1. Primeiro a busca de fontes e depois a escrita do texto. 2. Não se volta a buscar novas fontes ou com pouco incremento depois da busca inicial.

(2) Busca Circular Contínua (BCC)

1. Em cascata, ampliando a rede de textos, indo e voltando nas fontes e usando a internet junto. 2. Com aprofundamentos sucessivos nas bibliografias durante a escrita da tese. 3. Tendência ao confronto de fontes e autores em mídias diversas, buscando cruzar conceitos e dados.

(3) Busca por Aprofundamento em Camadas (BAC)

1. Pode ocorrer na busca linear limitada e na circular contínua, em que o sujeito vai adquirindo novos termos e novas referências conforme vai acessando as fontes que pesquisa, em aprofundamentos sucessivos.

Tabela 29 - Descrição dos itens da Variável 28.

Utilizo aqui a metáfora do círculo para evidenciar que o movimento é

contínuo e que uma fonte tem a potencialidade de indicar outras, em uma rede

contínua de associações, facilitada agora pela internet na complementação de

informações. É com esse movimento que o doutorando, ao menos os que

relataram esse tipo de busca, vai se situando no campo de estudo e tecendo o

refencial que utilizará em seu próprio texto, um hábito adquirido na prática de

pesquisa e traduzido como “vício em bibliografia” pela entrevistada N3.

Na escrita científica é a bibliografia que evidencia as conexões evocadas

por cada um dos autores e se tornam assim um dos principais pontos de partida

para a busca de novas referências, mas não os únicos. Um nome de autor ou de

um grupo de pesquisa citado em uma conferência ou em um blog pode ser o

0 2 4 6 8 10 12 14

(1)  Busca Linear Limitada (BLL)

(2)  Busca Circular Contínua (BCC)

(3)  Busca por Aprofundamento em Camadas (BAC)

28. Busca no tempo (Acumulabilidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 315

disparador para que o pesquisador busque através da internet novas produções e

materiais, em atos sucessivos de busca contínua.

Então isso ajuda muito, porque você vai numa tese, só olha a bibliografia que tá atrás e você vê: não conheço esse, não conheço esse, não conheço esse... Daí você começa a centrar, né? Então pra atualizar a leitura eu acho fundamental... é isso que a tecnologia, as bibliotecas hoje todas permitem... (N14, p. 17) muitas vezes né, você vai pela bibliografia dos livros, aí você põe direto no Google, mas sem dúvida que o Google foi o grande... não, o Google, o Google, o Scielo, Capes e... bibliografia de artigos, né? Que aí você vai através de outros e acha... (N16, p. 6) quindi magari ritrovavo sul libro di testo la citazione di un articolo presente online... allora in internet cercava l’autore e andava a vedere tutti gli articoli che lui aveva scritto sul quel argomento.. ok... mi scaricavo, mi stampavo... (N5, p. 9)159 Si, articoli su Google… é… per vedere appunti gli articoli caricate in rete e poi legge le bibliografie di libri.. legge la bibliografia e cerchi tutti gli altri libri.. Classico.. in fondo a libro c’è tutta la bibliografia e sono andata un po’ internet e un po’ in biblioteca.. (N6, p. 7)160 e quindi dopo, dopo aver sottolineato andava su internet e ricercavo quella, quella stessa fonte e quindi partiva un altro, un altro filone di ricerca… Anche per tenere tracia appunto del filone di ricerca che seguivo… (N12, p. 9)161

A busca circular e por aprofundamentos sucessivos em camadas envolve

inúmeras estratégias práticas de busca, além da observação das referências

bibliográficas. Entre os relatos está a busca por autores “primários”, ou seja, que

embasam o campo de pesquisa investigado pelo doutorando, ou então a análise de

título-resumo-bibliografia conforme relatado pela entrevistada N3 e o

entrevistado N14 para uma aproximação inicial com os textos, e ainda a leitura de

resenhas que resumem e ajudam a aproximação inicial com a temática, para

depois se partir para sites específicos.

Entre as técnicas utilizadas que chama a atenção pelo automatismo é a do

uso de bots (robôs) que avisam sobre novas publicações através de palavras-chave 159 Trad. livre: “então poderia encontrar no livre de texto a citação de um artigo que está presente online... então na internet procurava o autor e ia ver todos os artigos que ele tinha escrito sobre aquele assunto.. ok.. baixava e os imprimia...” 160 Trad. livre: “Sim, artigos no Google... é... para ver as anotações, os artigos baixados da rede e depois ler a bibliografia dos livros... ler a bibliografia e procurar todos os outros livros... Classico... no fim do livro está toda a bibliografia e fui um pouco na internet e um pouco na biblioteca...” 161 Trad. livre: “e então depois, depois de ter sublinhado ia na internet e pesquisava aquela, aquela mesma fonte e então partia para uma outra, uma outra linha de pesquisa... Também tomava nota do percurso da linha de pesquisa que seguia...”

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Análise dos dados coletados 316

pré-configuradas, utilizados pelo entrevistado N10, junto com os RSS Feeds que

advertem sobre novas postagens em sites cadastrados pelo internauta. É como se

um bibliotecário estivesse sempre atento para indicar ao pesquisador todas as

novas publicações surgidas em determinada área de interesse.

A entrevistada N15 relatou a visita aos resultados mais afastados do motor

de busca, para encontrar novas informações além do que está habituada a ver. Já o

entrevistado N9 relatou que ao realizar a busca física, estante por estante, na

biblioteca que esteve por alguns meses durante o doutoramento, permitiu que

achasse referências que não encontraria de outra forma, uma maneira de se

surpreender com materiais que nunca pensaria em procurar. Ambos os modos de

buscar materiais permitem o surgimento e temas e autores inéditos, que não

estavam ainda presentes nas intenções de busca dos pesquisadores.

às vezes eu leio o título, falo “talvez isso me interesse”, aí dou uma lida no resumo, às vezes não esclarece muito, aí eu já ponho lá encima, se é PDF a última página, vou pra bibliografia.. aí eu menos se por aquela bibliografia eu consigo mais ou menos mapear qual é o assunto que ele tá falando dentro do texto.. Aí eu vejo: me serve.. não, tá muito distante, eu faço outro caminho, eu tou procurando alguma coisa de Educação, ele vai lá de psicologia, nesse momento não me interessa, aí eu deleto.. (N3, p. 15) E às vezes até acho textos simplinhos , mas que num primeiro momento de aproximação, eles me servem pra eu já ir arrumando a minha cabeça, pra depois buscar alguma coisa mais .. (N3, p. 15) então isso eu acho um pouco complicado porque eu sou meio obrigada a concordar que se eu só olhar o que eu tou habituada a ver eu não vou encontrar muitas opiniões discordantes e tal.. então isso é meio chatinho, mas tendo consciência disso, então a gente vai buscar as páginas mais pra frente, as mais longínquas também, enfim, vai procurar por outras vias né... (N15, p. 14) non solo motore ma anche spybot per la informazione, quindi ricerche con software che… fanno, sono specializzati nel information research che fanno ricerche multipiattaforma e multimotore che agiscono non solo su quel in web ma ti fascono anche su gopher, database e questi tipi di informazione.. (N10, p. 5)162

Todos esses processos vão criando a rede de associações necessárias para

compor a própria bibliografia do doutorando, que não deixa de ser uma busca de

inserção no campo de pesquisa almejado. A entrevistada N15 deixa muito clara

162 Trad. livre: “não somente motores de busca, mas também spybot para a informação, então pesquisa com software que... que fazem, são especialistas em pesquisa de informações que fazem pesquisa em múltiplas plataformas e múltiplos motores de buscas, que atuam não somente na web, mas fazem também pesquisa no gopher, bancos de dados e estes tipos de informações...”

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Análise dos dados coletados 317

essa intenção, pois em sua busca era prioridade entender quais autores estavam

dialogando com os principais pesquisadores em sua temática, visando se situar

mais próxima ou mais afastada deles.

O mesmo é relatado pela entrevistada N5 que chama sua busca inicial de

um assunto, feita no Google através de palavras-chave, de “pesquisa preventiva”,

para ter a panorâmica do que está sendo dito no campo de estudo pretendido.

Segue a mesma linha de pensamento a entrevistada N7, evidenciando que a fase

inicial da busca é aquela em que o foco está menos ajustado, sendo que os

buscadores generalistas exercem hoje uma ajuda fundamental e à medida que o

processo avança vão sendo refinadas as palavras-chave utilizadas.

Dessa forma, vão surgindo locais mais específicos para se procurar as

fontes (sites de grupos de pesquisa, bases de dados oficiais, sites de universidades,

entre outros) e que irão constituir a bibliografia mais refinada do tema estudado. A

entrevistada N7 relatou que ao acessar em sua busca, através de leituras de artigos,

palavras-chave pertencentes ao jargão da área estudada (no caso dela a

Psicologia), é que podia então voltar aos motores de busca gerais e realizar nova

pesquisa com a terminologia utilizada pela comunidade científica. Esse

aprendizado de novos termos ao longo da pesquisa alimenta a própria

circularidade das buscas, incentivando novas investidas em ramos de

conhecimento ainda desconhecidos.

As buscas de fontes bibliográficas não são somente um ato de curiosidade,

de interesse temático visando a satisfação intelectual do doutorando, ou seja, não

são buscas totalmente desinteressadas, mas visam um maior ajuste e tomada de

posição frente ao que outros autores dizem.

Eu buscava o que as pessoas tavam falando sobre esses autores e sobre a minha temática, pra ver se o que eu tava, né, levantando... primeiro se era muito batido... não era, o que foi bom... e segundo assim, se de repente a minha leitura tá mais ou menos coerente com a leitura que algumas pessoas... que aí você começa meio a perceber quem são as pessoas que se destacam na tua área e vai ali procurar o que que elas tão colocando e tal.. então era um pouco um pé no chão pra mim em relação ao que eu tava fazendo na minha produção.. né... se eu ia ao encontro ou de encontro a essa galera pra me situar e tomar minhas decisões teóricas sabendo ou que eu estava indo junto com a grande maioria ou que eu tava indo contra e o que que isso podia me acarretar pra eu me fundamentar um pouco mais pra sustentar aquela posição.. (N15, p. 5)

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Análise dos dados coletados 318

quindi prima di cercare direttamente competenze in generale, faccio una ricerca preventiva che me circoscrive il campo di ricerca, poi in internet vado mirata a prendere quello che mi serve. (N5, p. 17)163 la fase iniziale più di mappatura mia in cui anch’io non avevo ben focalizzato, era più una ricerca, diciamo tradizionale random, quindi usando i motori di ricerca e mia parole chiave… sto cercando di ricostruire, il raffinamento della ricerca. (N7, p. 6)164

Do ponto de vista dos suportes digitais utilizados, esse movimento

contínuo entre fontes é potencializado pela rapidez que a internet permite para se

encontrar textos, materiais adicionais que complementem a pesquisa, fazer

contatos com autores e pessoas de referência via e-mail, fóruns e listas de

discussão, de modo que é possível encontrar itens de maneira quase imediata

quando comparamos com as buscas em suporte impresso.

Essa rapidez permite atender a vontade de encontrar um novo item assim

que se acessa a referência, o nome de autor, o grupo de pesquisa ou qualquer outro

elemento que seja uma “pista” para se localizar a fonte citada.

então às vezes o caminho era ao contrário... de repente surgia um autor, me despertava a curiosidade e aí eu ia confrontando, eu fazia muito essa... eu tentava estabelecer alguns nexos entre os textos, sempre analisando as referências bibliográficas, o que os pesquisadores estavam consultando, né, os autores que eles estavam investigando. (N1, p. 6) ... mas você tá falando da rede, então eu vou muito assim, autor que citou tal autor, citou tal autor e vou vendo.. as vezes eu chego e não, não tem nada a ver , mas outras vezes eu descubro, coisas que eu não teria a menor idéia, né.. acho bom... tanto no livro papel quanto em artigo, e tal... (N2, p. 20) Então essa fome da bibliografia, você saber onde está o início do que você tá lendo ali naquela ponta... e pra isso a internet me ajudou muito, porque era assim que eu fazia: comprava o livro, me chamava atenção o título, eu ia lá e ia na bibliografia.. então me interessa, comprava... a partir dali fui observando que tinha alguns textos que eu poderia usá-los como fonte primária que estavam disponíveis na internet.. então eu abandonava aquela leitura do livro momentaneamente e pegava aqueles textos e ia pra internet e daqueles textos eu ia pra outros que às vezes também eram referenciados pela própria internet. Então eu usava como uma busca, né... até chegar nessa fonte primária, entre aspas aí, se existe isso.. (N3, p. 9)

163 Trad. livre: “então antes de buscar diretamente compatência em geral, faço uma pesquisa preventiva que me circunscreve o campo de pesquisa, depois na internet vou direcionada a obter aquilo que me serve” 164 Trad. livre: “A fase inicial era mais de mapeamento no qual eu também não estava focada, era mais uma pesquisas, digamos, tradicional aleatória, então usando os moteres de pesquisa e minhas palavras-chave... estou procurando reconstruir, o refinamento da pesquisa.”

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Análise dos dados coletados 319

Seis dos entrevistados também relataram buscar referência em

aprofundamentos sucessivos, em camadas, ao modo de ondas de novas buscas a

partir da abertura de novas frentes e questões de estudo, ampliando a visão a

respeito da produção textual sobre o tema. O aprofundamento em camadas pode

ser pensado como uma ampliação do alcance dos nós na rede de citações entre os

autores, seja em suporte impresso levando ao digital ou seja o digital levando para

o impresso.

Você lê mais no início né? Mas você continua lendo, porque pelo movimento de pesquisa é um movimento de vai e volta, né, a gente nunca termina... “ahh, agora essa etapa está concluída, agora vou passar pra próxima etapa”, não funciona assim né Alexandre? (N16, p. 13) che consentivano una analisi, una lettura più quando mi serviva, quindi mi portavo a casa in digitali una serie di articoli, me le guardavo, me annotavo chi concetti o qui gli autori chi mi sembravano interessante per il mio pensiero e usavo questi come parole chiave per la ricerca in rete, andando a cercare o il sito delle università di riferimento, delle università etc, che alcuni poi erano psicologi che avevano dei centri di ricerca sul tema… non tanto magari della comunicazione mediata da computer, ma sul tema della socialità in rete e quindi mi collegavo a loro sito del centro di ricerca o al sito della persona seconda, per vedere appunto che tipo di percorso di ricerca stavano facendo, quali pubblicazione avevano a disposizione dove erano in digitali e accessibili… o invece è rimandando a delle pubblicazione in cartacce tornavo alla biblioteca. (N7, p. 7)165

Somente dois separaram o momento de busca com o momento de escrita, o

que evidencia que etapas antes mais bem definidas pela distância com os meios

físicos onde as referências se encontravam (os prédios das livrarias, mudeus,

acervos e bibliotecas) agora vem se mesclando com os momentos de escrita, pois

tanto a editoração quando a busca de fontes pode se realizar no mesmo suporte, o

computador, e ao mesmo tempo.

Um modelo muito próximo da busca linear também foi relatado pela

entrevistada N5, concentrando a maior parte das buscas no primeiro ano do

165 Trad. livre: “que permitiam uma análise, uma leitura mais quando me servia, então levava para casa em formato digital uma série de artigos, os guardava, anotava os conceitos ou quais autores que me pareciam interessantes para o meu pensamento e usava estes como palavra-chave para a pesquisa na rede, procurando ou indo no site da universidade de referência, da universidade, etc... que alguns então eram psicólogos que tinham seus centros de pesquisa no tema... não tanto da comunicação mediada por computador, mas sobre o tema da sociedade em rede e então me conectava ao site do centro de pesquisa ou ao site pessoal para ver que tipo de percurso de pesquisa estavam fazendo, quais publicações tinham a disposição e quais eram em digital e acessíveis... ou então ia nas publicações em papel retornando à biblioteca.”

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Análise dos dados coletados 320

doutorado, embora tenha continuado depois a se atualizar e a agregar novas

fontes, com intensidade menor, através do monitoramento de autores e pesquisas

em andamento via internet.

No processo da escrita eu já tinha fechado aquela etapa da busca, e aí é a mesma forma (...) naqueles textos ali da produção... [...] nos momentos de busca a internet teve um papel importante, e aí aqueles textos que estavam ali também eram resultado de uma pesquisa prévia que eu já tinha feito, né.. (N4, p. 11)

c’è continua a cercare.. io ho fatto 80 percento da ricerca bibliografica nel primo anno, però continuo a cercare materiale e risorse... anzitutto perché sono passati due anni e qualcosa di nuovo magare uscita o stato pubblicato.. sia biblioteca, i libri che... in rete... e secondo perché magari allora non trovato qualcosa che c’era in altre volte... non c’è secondo me un momento di dire basta o concluso la ricerca delle fonti, posso ritenermi sodisfatta. (N5, p. 16)166

Já a entrevistada N6 e o entrevistado N8 relataram que na primeira etapa

de suas pesquisas os livros impressos, tradicionais, predominaram, para um

levantamento mais histórico do campo que estava investigando e um maior

aprofundamento teórico. Fato este semelhante à entrevistada N11 que mesmo

utilizando a maior parte dos materiais em formato digital apontou o uso do

impresso para a formação inicial do quadro teórico. Somente com o

desenvolvimento da pesquisa surgiram os documentos online, mais atuais, como

os relatórios de agências governamentais e os documentos empíricos.

Este relato evidencia que os textos de base teórica mais densos

(“clássicos”) não estão, pelos menos em sua maioria, disponíveis

predominantemente no formato digital, necessitando da aquisição ou do

empréstimo bibliotecário de cópia impressa; o que acaba por gerar uma

circularidade nas buscas, em que documentos online podem se referir a textos de

base teórica que estão em suporte impresso. O entrevistado N8 relatou que uma

vez ao mês necessitava ir à biblioteca pegar emprestados livros que não tinha

acesso online, sendo que alguns já conseguia realizar buscas gratuitas através do

Google Books.

166 Trad. livre: “é uma busca contínua... eu fiz 80 porcento da pesquisa bibliográfica no primeiro ano, mas continuo a procurar materiais e recursos... primeiro porque já se passaram dois anos e alguma coisa nova talvez tenha sido publicada... seja na biblioteca, os livros que... em rede... e segundo porque talvez eu não tenha achado alguma coisa que existia antes... não existe na minha opinião um momento de dizer basta ou concluída a pesquisa de fontes, que posso me sentir satisfeita.”

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Análise dos dados coletados 321

Si si, libri fisiche, testi, materiali... poi, i documenti del Unesco che sono online, sul il sito. É… e poi come prima parte teorica... sulla seconda parte tutti i documenti in rete, che vuol dire: report di ricerca, homepage, é… descrizione, è… progetti, é.. tutte le page in rete. Se non quelli dei (…) di caso, che erano anche cartacce... (N6, p. 6)167 generalmente io parto sempre dai libri e poi faccio continue ricerche come ho detto prima delicious, Google e molto le fonti elettroniche, nel senso elettroniche, metto un po’ tutto insieme ecco però il criterio è sostanzialmente la validità scientifica della fonte. (N8, p. 18)168 c’erano dei libri storici, erano tutte riviste, pubblicazione, quindi, si, (…) la alcuni libri che io avevo, perché comunque erano.. facevano la storia delle tecnologie, però poi le cose più recenti non erano ricuperabile cosi e quindi… non utilizzavo la biblioteca… (N11, p. 7)169

Correlacionado com a busca de fontes, acha-se o local em que se realizou

essas buscas.

Gráfico 35 - Variável “Local de busca”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Busca física 1. Em estantes de bibliotecas.

2. Em índices de revistas impressas. 3. Em banco de imagens impressas.

(2) Busca online em buscadores generalistas

1. Google. 2. Altavista.

(3) Busca online em bancos de dados especializados

1. Bancos de revistas científicas. 2. Bancos de teses e dissertações. 3. Busca em cadastros de currículos acadêmicos.

167 Trad. livre: “Sim, sim, livros físicos, textos, materiais... depois, os documentos da Unesco que estão online, no site... É... e depois como a primeira parte teórica... na segunda parte todos os documentos em rede, que quer dizer: relatórios de pesquisa, homepage, é... descrição, é... projetos, é... todas as páginas na rede. A não ser aquelas dos casos, que eram todas em papel...” 168 Trad. livre: “geralmente eu parto sempre dos livros e depois faço continuamente pesquisa como eu disse antes no Delisius, Google e muito as fontes eletrônicas, no sentido eletrônico, coloco tudo junto mas o critério é substancialmente a validade científica da fonte.” 169 Trad. livre: “eram os livros históricos, eram todas revistas, publicações, então, sim (...) alguns livros que eu tinha, porque contudo eram... fazia a história das tecnologias, mas então as coisas mais recentes não eram obtidas dessa maneira e então... não utilizava a biblioteca...”

0 2 4 6 8 10 12 14 16

(1)  Busca física

(2)  Busca online em buscadores generalistas

(3)  Busca online em bancos de dadosespecializados

29. Local de busca (Localidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 322

4. Pesquisa integrada da biblioteca. 5. Arquivos de grupos de pesquisa. 6. Arquivos de institutos de pesquisa.

Tabela 30 - Descrição dos itens da Variável 29.

No uso do computador com internet, grande parte dos entrevistados

acessou os bancos de dados online oferecidos por bibliotecas e por sites de fontes

abertas (open access), com 15 ocorrências, enquanto o uso de buscadores

generalistas, como o Google, foi relatado por 14 entrevistados.

O entrevistado N8 relatou usar mecanismos de busca criados por ele

mesmo, através de sites da Web 2.0, como o site Delicius, um site em que se

criam listas de endereços favoritos da internet (social bookmarking), podendo ser

compartilhadas para que outras pessoas as acessem. São listas de endereços que,

quando agrupadas por temas, se tornam valiosas para reduzir o tempo de busca

dos outros internautas, evitando o retrabalho.

O entrevistado N10 destacou o uso de bots e de RSS Feeds, uma categoria

que não envolve necessariamente a criação coletiva de bancos de dados com

referências compartilhadas, mas automatiza os caminhos de busca com as

palavras-chave frequentemente utilizadas pelo pesquisador, ganhando tempo ao

receber periodicamente novas publicações lançadas na internet.

Já os novos portais de busca oferecidos pelas universidades reúnem um

conjunto de bancos de dados internacionais que facilitam a pesquisa por atacado

do tema de interesse do pesquisador, assim como o acesso imediato aos

documentos (artigos, teses, dissertações), em geral no formato PDF, tal como

narrado pelo entrevistado N8, que se lembra do período em que o acesso tinha que

ser feito em cada base de dados individualmente.

Logo, os motores de busca generalistas e os indexadores produzidos pelos

internautas servem como filtros iniciais para buscas mais refinadas em acervos

especializados, geralmente ligados a universidades e associações de pesquisa.

Google... google é a minha fonte primária aí nesse ponto.. aí depois eu vou, aí eu vou mais específico.. vou pro Scielo, dentro das revistas, eu vou pra Anped.. vou para um outro site de psicopedagogia on-line que também é bem legal, tem algumas coisas interessantes.. (N3, p. 15)

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Análise dos dados coletados 323

Allora, la rete prima di tutto, quindi, ricerca in Google… Google non c’è ancora Google libri, Google Book… (N6, p. 6)170 naturalmente poi utilizzo ricerche in rete generali, ma anche semplicemente con Google per andare a scovare alcuni sito o comunità che parlano di alcuni tematiche… (N8, p. 5)171 Quella li.. é… moltissimo motore di ricerca Google come tutti… è questo di fatto… (N9, p. 13)172

A internet, ao menos na fase de busca de fontes, está plenamente

incorporada ao cotidiano dos pesquisadores, uns com maior e outros com menor

intensidade. A tendência geral deles é tornar suas buscas mais diversificadas

quanto aos locais, e mais independentes da presença física na biblioteca ou em

outros tipos de acervos agora acessíveis tanto pelos processos de digitalização de

documentos quanto pelo aumento da largura de banda para obtenção de fontes

multimídia (fotografias, livros antigos, sons e músicas).

claro que na rede você também consegue fazer esse tipo de busca.. coloca a palavra-chave por exemplo no Google ou então em algum portal, em alguma biblioteca digital e você consegue garimpar alguns textos bem interessantes.. (N1, p. 5) joga as palavras e acha o link... antes eu ficava neurótica , agora não... [risos] agora não, ponho lá no Google, ele acha tudo... (N2, p. 14) E invariavelmente eu achava tudo.. achava tudo.. é só você colocar a palavra certa que você acha.. e esse recurso da imagem, no meu caso foi muito precioso, porque se eu tou propondo, né, eu propus uma narrativa visual e uso a fotografia como texto, então eu tinha que achar referências visuais também e achei muita coisa, muita coisa.. (N3, p. 8) Si, beh, utilizzo… sicuramente le, le… siti di biblioteche, l’OPAC, sistema nazionale di.. é… database di, di, volume… é… dove so magari che ci possono essere delle, delle riviste… articoli online che mi possono servire (N9, p. 13)173 cioè il fatto che io posso a ricercare, usare motori sempre più raffinati o software sempre più raffinati per la ricerca, posso accedere a librerie, banche dati in digitale con sempre maggior facilità… é… posso avere preview, anteprime,

170 Trad. livre: “Então, a rede antes de tudo, então, pesquisa no Google... Google pois não havia ainda o Google livros, o Google Books...” 171 Trad. livre: “naturalmente utilizo então a pesquisa geral na rede, mas também simplesmente com o Google para encontrar alguns sites ou comunidades que falam de algumas temáticas...” 172 Trad. livre: “Aquele.. é... muitíssimo buscador de pesquisa na internet Google como todos.. é... este de fato...” 173 Trad. livre: “Sim, bem, utilizo... seguramente o... sites das bibliotecas, o OPAC, o sistema nacional de... é... banco de dados, dos volumes... é... onde talvez possam ter as, as revistas... artigos online que possam me servir.”

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Análise dos dados coletados 324

lettura, novanta percento del testo già in formato digitale e per e-book reader, quindi cosa che posso tranquillamente trasferirmi… (N10, p. 15)174

Três deles relataram que a busca predominante foi de material impresso

em bibliotecas, mas isso não impedia que em determinados momentos buscas

online fossem realizadas em bancos de dados online oferecidos pela universidade.

O entrevistado N9 concentrou suas buscas em duas cidades em que residiu

durante o doutoramento, Genebra e Grenoble, aproveitando o vasto acervo das

bibliotecas nas duas cidades, sendo que em uma deles teve que realizar buscas

manuais por não haver ainda um sistema eficaz digitalizado de buscas, indo de

estante em estante e folheando os materiais um a um. Para ele as duas bibliotecas

foram o suficiente para sua pesquisa.

a Grenoble mi ricordo quando sono stato io era 2004, 2005, c’era ancora un sistema bibliotecario abbastanza tradizionale con la scheda in cartacce per cui si andavo proprio… e anche a Ginevra dove c’era un belle, una bella banca dati informatica, di tutti libri… in realtà però la biblioteca era molto grande (…) Ginevra e si andava a scaffale, era devi veramente sfogliare il libro per libro, tutto quello che c’era, quindi in realtà dal punto di vista della ricerca bibliografia abbastanza tradizionale dal punto di vista dell’impostazione. (N9, p. 4)175

Assim sendo, a biblioteca mantém seu papel crucial na busca de materiais

acadêmicos, mesmo que seja oferecendo a busca e acesso online através dos

bancos de dados especializados que assina para os alunos da universidade,

permitindo o download de documentos provenientes de revistas científicas de

diversas partes do mundo. A entrevistada N6 relatou também o fato de que para

ela, como aluna, os artigos podiam ser baixados gratuitamente.

ma il sistema bibliotecario dell’università offre anche la possibilità di collegarsi ad altre banchi dati di altri università o di altri sistemi bibliotecari… quindi (...)

174 Trad. livre: “isto é, o fato que posso pesquisar, usar motores sempre mais refinados ou softwares sempre mais refinados para a pesquisa, posso acessar livrarias, bancos de dados em digital com facilidade crescente... é... posso ter a previsão, leitura, noventa porcento dos textos já em formato digital e para leitor e-book, então é uma coisa que posso tranquilamente baixar...” 175 Trad. livre: “Em Grenoble me recordo quando estive em 2004, 2005, existia ainda um sistema bibliotecário bastante tradicional com ficha em papel para o qual... e também em Genebra onde existia um bom, um bom banco de dados informatizado, de todos os livros... na verdade a biblioteca era muito grande (...) Genebra e se andava pelas estantes, e deveria folhear livro por livro, tudo aquilo que tinha, então na realidade do ponto de vista da pesquisa bibliográfica bastante tradicional do ponto de vista da configuração.”

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Análise dos dados coletados 325

utilizzare il sistema bibliotecario interno, ho utilizzato anche questi banchi dati online di altre biblioteche, di altri sistemi bibliotecari.. (N5, p. 9)176 quando potevo passava a andare in biblioteca perché sono gratis.. é… non mai se per due siti, due riviste.. non mai ha raccolto materiale a pagamento… tutto resto era gratuito, oppure se non era gratuito provavo tramite Google magare c’era qualche strato se non internet. (N16, p. 12)177

Com o processo de desintermediação, ou seja, de não haver mais

empecilhos entre o pesquisador e a busca e aquisição de determinado item

bibliográfico, poucos depoimentos falam de recorrer à ajuda de um bibliotecário, a

exemplo da entrevistada N2 que solicitava artigos ou textos mais difíceis de obter

ou que precisavam ser comprados pela biblioteca.

O entrevistado N10 critica a biblioteca universitária que usava, por não

conseguir acompanhar os lançamentos de livros impressos, tendo ele mesmo que

indicar a compra de novas obras para os bibliotecários, afirmando que a grande

maioria dos materiais que adiquiriu já estava em formato digital, seja através de

downloads gratuitos ou via e-books, não dependendo tanto da biblioteca para a

sua pesquisa.

A mesma situação se repetiu com a entrevistada N11, que afirmou que,

para o tipo de tema de pesquisa que escolheu, não havia materiais na biblioteca e

nem os saberiam ajudar, sendo que os livros impressos ela teve que adiquirir em

livrarias ou via internet e o resto dos materiais diretamente em formato digital.

Não tão extremo, mas próximo aos entrevistados N10 e N11, a entrevistada N12

relatou o uso de poucos livros e que noventa porcento dos materiais que obteve

foram online, especialmente pelo tema de pesquisa que escolheu.

noi qua siamo abbonati a parecchie riviste elettroniche quindi riusciamo a scaricarci direttamente il PDF delle.. delle… degli articoli… e questo devo dire

176 Trad. livre: “Mas o sistema bibliotecário da universidade oferece também a possibilidade de conectar-se a outros bancos de dados de outras universidades ou de outros sistemas bibliotecários... então (...) utilizar o sistema bibliotecário interno, utilizei também estes bancos de dados online de outras bibliotecas, de outros sistemas bibliotecários...” 177 Trad. livre: “Quando podia passava na biblioteca porque são grátis... é.. nunca se não fosse por dois sites, duas revistas... nunca tinha obtido materiais por pagamento... todo resto era gratuito, ou se não era gratuito eu tentei através do Google, talvez houvesse alguma parte ao menos na internet.”

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Análise dos dados coletados 326

ha decisamente semplificato e potenziato le miei possibilità di ricerca… (N8, p. 5)178

In biblioteca il materiale non c’è niente.. (N10, p. 11)179 cioè io devo dire che la biblioteca da subito non lo considerata una fonte privilegiata perché ho pensato subito al online, quindi mi sono proprio… ho iniziato a fare le mie ricerche… e devo dire che, ti dico, io in biblioteca non ci sono mai andata… mai… e i libri che avevo a disposizione, li ho consultati ne senso che li ho comprati, acquistati e poi… e quindi quelli che mi interessavano li avevo, quelli che é… dovevo acquistare, li acquistavo, però non… devo dire che ecco, per il tipo della mia… di ricerca che ho svolto io non… in biblioteca non… secondo me non l’avrebbero neanche saputo aiutarmi… (N11, p. 18)180

Continuando a analisar o eixo Uso de Fontes, afigura-se a Abrangência

quanto a locais e línguas.

Gráfico 36 - Variável “30. Abrangência (Proximidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Restrita quanto a locais e línguas

1. Busca de fontes nacionais, em bases de dados monolinguísticas. 2. Predomínio de bases de dados digitais open access e nacionais. 3. Pouco uso de bases restritas fornecidas pela biblioteca.

(2) Ampla quanto a locais e línguas

1. Busca de fontes internacionais, em bases diversas interligadas por sistema de busca, abrangendo muitas línguas. 2. Bases de dados digitais de acesso restrito via biblioteca da universidade como fonte principal e pouco uso de fontes abertas na internet. 3. Maior dependência da biblioteca.

(3) Intermediária

1. Busca de fontes nacionais e internacionais, em bases diversas interligadas por sistema de busca. Porém restrita a poucos países ou línguas. 2. Bases de dados digitais de acesso restrito via biblioteca da universidade e uso de bases abertas via buscadores e sites livres. 3. Uso das bases da biblioteca e dos sites abertos da internet como fontes.

178 Trad. livre: “nós aqui estamos inscritos em várias revistas científicas e podemos baixar diretamente o PDF delas... os artigos... e isto devo dizer decisivamente simplificou e potencializou as minhas possibilidades de pesquisa...” 179 Trad. livre: “na biblioteca os materiais não existiam”. 180 Trad. livre: “isto é, devo dizer que a biblioteca de imediato não era considerada uma fonte privilegiada porque pensava imediatamente no online, então... eu iniciei a minha pesquisa... e devo dizer que, digo a você, eu na biblioteca nunca estive... nunca... e os livros que tinha a disposição, os consultei no sentido que os comprei, os adiquiri e depois... e então aqueles que me interessavam os obtia, aqueles que... devia adiquirir, os adiquiria, mas não... devo dizer que então, para o tipo da minha... da minha pesquisa que eu desenvolvi não... na biblioteca não... na minha opinião os saberiam nem me ajudar...”

0 2 4 6 8 10 12

(1)  Restrita quanto a locais e línguas

(2)  Ampla quanto a locais e línguas

(3)  Intermediária

30. Abrangência (Proximidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 327

Tabela 31 - Descrição dos itens da Variável 30.

Gráfico 37 - Variável “31. Objetivo (Finalidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Internet para recursos empíricos

1. Usa a internet como parte empírica dos dados da tese.

(2) Internet para recursos acadêmicos

1. Usa a internet como fonte de dados acadêmicos para sustentar sua argumentação na tese (artigos, livros, estatísticas, relatórios).

(3) Misto 1. Usa tanto como fonte empírica quanto fonte de materiais acadêmicos.

Tabela 32 - Descrição dos itens da Variável 31.

A busca em bases de dados online parece também ter ampliado o leque de

abrangência de fontes quanto a locais de origem e línguas, assim como as livrarias

online que facilitam a busca e aquisição de livros editados fora do país de origem

do pesquisador.

Para temas de pesquisa em que as fontes internacionais são fundamentais,

como no caso do entrevistado N10 que trabalha com a investigação da cultura

nascida com os informatas norte-americanos, a digitalização crescente dos

materiais favorece a realização da pesquisa sem a necessidade de sair do país de

origem, sendo no caso dele a maior parte dos materiais utilizados em língua

inglesa.

e às vezes eu vou muito pelas referências dessas pessoas, né... então muitos desses textos que eu peço na biblioteca... é... eu pego as vezes num livro que foi traduzido, mas a referência dele não foi traduzida, aí eu procuro aqui e eu não acho, não tem na nossa biblioteca, procuro na internet livro e as vezes não tem, artigo de uma revista que eu não sei... é... ou então que tem que ser comprado aquele artigo, mas tem que comprar lá.. é uma coisa mais complicada... aí eu ponho a biblioteca em ação, né.. (N2, p. 19)

Onze dos entrevistados relataram em algum momento fazer buscas amplas.

Somente uma entrevistada (N15) fez buscas circunscritas a um idioma e bases de

dados abertas locais (Scielo) ou disponibilizadas pela própria universidade,

0 2 4 6 8 10 12

(1)  Internet para recursos empíricos

(2)  Internet para recursos acadêmicos

(3)  Misto

31. Objetivo (Finalidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 328

evidenciando uma opção dela em não procurar outros sites e tipos de fontes a

partir das dificuldades que encontrou durante o acesso. Mesmo assim, o uso de

tais bases já revela um universo amplo de fontes para acesso e leitura, além dos

livros impressos que a entrevistada relatou comprar.

a biblioteca virtual da PUC na época que eu era aluna usei bastante também... e outras bibliotecas virtuais eu não uso... com franqueza, porque nunca fui buscar pra descobrir como é que é... eu sei que existem, mas assim, banco de teses da Capes eu já acessei, aí tive ali uma primeira dificuldade, porque você acessa o resumo, mas não conseguia acessar a tese inteira logo de cara... parei de olhar, e talvez até tenha como acessar, eu é que não continuei futucando, né... (N15, p. 5)

A tendência de amplitude nas buscas reflete a própria rede internet que

coloca à disposição, de maneira facilitada, o acesso a documentos (e também

pessoas) provenientes de diversos países e em diversos formatos e línguas.

Podemos incluir nesse conjunto de fontes a mídia jornalística internacional e os

textos escritos por autores amadores (blogs, wikis, fóruns, redes sociais),

extrapolando a produção voltada para o público local, que se torna disponível

mundialmente.

Aí aqui na PUC eu já comecei a usar.. via a PUC, tá? Eu conheci por exemplo Eric, várias bases de dados... Eric, é.. é.. Jisto, outras bases de dados que são... tem... mas, conheci sites superinteressantes de várias universidades, tem universidades portuguesas na área de Matemática... a Universidade de Coimbra disponibiliza livros... muito interessante, sobre Filosofia, tipo eles têm agora um material que é uma tradução das obras de Platão... é... e eles disponibilizam, que são livros assim, é um trabalho muito interessante. (N13, p. 8) ele tem o site da França, é francês, do [NOME DO GRUPO] que disponibiliza textos, é um material bem interessante na área de Educação Matemática. E tem... esse autor Balacheuf ele tem, eu estudei, eu usei bastante no doutorado, estudei textos dele que eu peguei nesse site do [NOME DO GRUPO] e texto dele em livros que também comprei... (N13, p. 10) Hoje em dia você entra no Banco Interamericano de Desenvolvimento, no Banco Mundial, ali você tem várias formas de você entrar, então você se aproximar de um problema, você mapear uma situação... a tecnologia hoje facilitaria muito... (N14, p. 24) Mas no doutorado eu descobri que nas bibliotecas da PUC a gente tinha acesso a revistas internacionais, a teses... pô, então... eu consegui teses nos EUA sobre o tema, né... consegui material da... da França, que tinha acabado de ser defendida... (N14, p. 17) os sites dos grupos de pesquisa que ficam dentro das próprias universidades e que aí também tem algum material interessante... então Portugal, da Universidade

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Análise dos dados coletados 329

do Minho, o site do Sarmento, do Manuel Sarmento... aqui do Brasil o site da Heloísa Candau Rocha, da Federal de Santa Catarina... assim, aí de já ir em busca mesmo dos grupos de pesquisa e das suas produções mais recentes que eventualmente não conseguiram uma publicação mais de peso, mas não deixam de ser legais. (N15, p. 6) Sono in italiano, in inglese, in francese, si... forse si non, qualcune in... un paio anche in spagnolo mi sembra... chi non parlo spagnolo, non le conosco però cercato di capire... (N5, p. 10)181 tutti i siti di centri di ricerca dove c’erano i pubblicazione: biblioteca, libreria, siti. O… é… é… sito di Unesco ancora, e in Google non so cercava degli articoli mettendo l’autore. (N6, p. 7)182

Tanto o grau de internacionalização das pesquisas quanto o uso da

internet como fonte empírica, em estudos que permitiam a coleta de dados online,

marcaram este conjunto de casos, podendo ser feita através de questionários,

entrevistas por voz ou texto e coleta de registros em fóruns e listas de discussão.

A entrevistada N16, porém, alerta de forma breve sobre as restrições

encontradas no acesso a certas bases de dados, que exigem assinatura, viável hoje

somente para as grandes bibliotecas que possuem recursos para mantê-las,

diminuindo o leque de opções para aqueles que se encontram fora da academia. O

conflito entre acesso fechado e aberto vem marcando as campanhas para o acesso

livre de documentos acadêmicos (open access), favoráveis à livre e irrestrita

circulação das informações científicas.

porque você tem um acesso enorme a uma monte de coisa, né? Se você fala outras línguas então, aí mesmo que você vai... acessa base... é verdade que os dados americanos, em língua inglesa muitas vezes, JStor, não sei o quê, você não consegue acessar porque você tem que ser associado né? (N16, p. 5)

Na produção da empiria, a coleta de dados mostrou um perfil interessante.

181 Trad. livre: “São em italiano, em inglês, em francês, sim... talvez se não, alguns.. uns poucos também em espanhol se não me engano... eu não falo espanhol, não conheço, mas procurei entender...” 182 Trad. livre: “Todos os sites de centros de pesquisa onde existiam publicações: biblioteca, livraria, sites. O.. é.. é... site da Unesco ainda, e no Google procurava os autores colocando o nome do autor.”

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Análise dos dados coletados 330

Gráfico 38 - Variável “36. Produção da empiria (Verificabilidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Coleta de dados já disponíveis online

1. Ida a Blogs, Wikis, Foruns, redes sociais, sites institucionais e outros espaços onde os sujeitos deixaram suas “marcas” disponíveis para acesso do pesquisador. 2. Uso de bases de dados compiladas por órgãos do governo e instituições como MEC, INEP, Censo.

(2) Criação de instrumentos para análise dos dados brutos disponíveis online

1. A pessoa baixa uma base de dados bruta e produz em programa próprio as estatísticas e análises.

(3) Criação de instrumentos de coleta online

1. Criação de plataforma ou criação de site para o sujeito ir lá e deixar suas “marcas” (discussões, opiniões, respostas). 2. Questionários e entrevistas online, fóruns e blogs criados pelo pesquisador, observação etnográfica online. 3. Itens de pesquisa criados pelo pesquisador dentro de outra pesquisa maior em andamento.

(4) Não usa a internet para empiria

1. O pesquisador usa instrumentos tradicionais para coleta de dados (questionários impressos, entrevistas pessoais, observação presencial).

(5) Não produziu empiria 1. O pesquisador realizou uma pesquisa totalmente baseada em fontes existentes (teórica), sem produzir nenhum dado novo em campo.

Tabela 33 - Descrição dos itens da Variável 36.

Com a ascensão da Web 2.0, dos sites que permitem participação direta de

seus visitantes, as pessoas estão deixando marcas pessoais online ou sendo

solicitadas pelos pesquisadores a deixa-las, não surpreendendo que metade dos

entrevistados tenha relatado que coletou dados já prontos (sem precisar criar um

instrumento de coleta) e outros seis tenham criado instrumentos para realizar

coleta através de sujeitos que acessavam espaços online. O entrevistado N9

relatou ter feito uma pesquisa puramente teórica e com isso não teve como utilizar

a internet para coleta empírica, somente de materiais acadêmicos, não sendo dessa

forma uma opção de qual meio teria que utilizar, mas sim uma ausência de

necessidade de uso.

Entre os espaços acessados, estavam as discussões nos fóruns, os debates

em comunidades virtuais, os blogs, o acesso a redes sociais, espaços para

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

(1)  Coleta de dados já disponíveis online

(2)  Criação de instrumentos para análise dos dadosbrutos disponíveis online

(3)  Criação de instrumentos de coleta online

(4)  Não usa a internet para empiria

(5)  Não produziu empiria

36. Produção da empiria (Verificabilidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 331

postagem de fotografias, relatos, documentos de eventos. Todos esses espaços na

internet reúnem pessoas com interesses em comum, sem precisar que o

pesquisador as reúna artificialmente ou presencialmente para que as discussões

aconteçam, embora também facilite esse processo quando cria espaços em comum

para pessoas distantes fisicamente.

Este foi o caso da entrevistada N11 que criou via internet um ambiente

para promover debates guiados por ela com professores e alunos a respeito da

didática e o uso de tecnologias, ao modo de um grupo focal, não tendo nunca as

encontrado presencialmente.

Já a entrevistada N12 relatou que ao ter sido negado seu pedido de envio

de questionário a professores pelo canal oficial do governo, optou por entrar nas

principais comunidades virtuais de blogs didáticos e solicitar o envio através de

seus coordenadores. Com isso conseguiu os dados empíricos que necessitava

através da reunião espontânea de pessoas em tais comunidades de interesses

comuns, evidenciando o potencial da internet para o contato de sujeitos em uma

pesquisa.

A entrevistada N7 utilizou discussões em fóruns online para recolher

dados empíricos para a sua pesquisa, e o entrevistado N8 relatou o acesso a uma

comunidade sobre tecnologias na educação para captar discussões e temas

emergentes nesse campo de estudo para com isso abrir novas frentes de pesquisa.

A consulta a arquivos de comunidades virtuais já fechadas também fez parte da

pesquisa do entrevistado N10, em seu levantamento sobre a cultura dos

informatas, assim como os ambientes de discussão atualmente abertos e ativos

envolvendo programadores e usuários de plataformas de ensino a distância de

diversos países.

e internet in questo mi serviva perché facendo dal altra parte il lavoro di valutatore, comunque a volte di tutor… dentro i percorsi io raccoglievo quel scambi script in forum che mi sembravano significative per esemplificare alcuni questione, quindi era il mio campo di ricerca dal una parte. (N7, p. 6)183 che erano bene o male tutti siti web o ambienti, comunità anche molte volte non più esistente cioè che rimanevano presenti in rete perché ormai… vecchie

183 Trad. livre: “A internet nisto me servia porque fazendo de uma parte o trabalho de avaliador, no entanto as vezes de tutor... dentro dos percursos eu recolhia a troca de falas no fórum que me pareciam significativas para exemplificar algumas questões, então era o meu campo de pesquisa por um lado.”

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Análise dos dados coletados 332

comunità di humm… fine metà anni 90, fini anni 90 che non esistono più… (N10, p. 7)184 È semplicemente ho lavorato con Google, utilizzando Google e scambiando con i partecipanti di focus group una serie di documenti in un gruppo… e cercando di aprire dei forum per discutere di questi documenti insomma… E quindi io ho lavorato cosi con loro, e si, questo. (N11, p. 5)185 cosa hanno fatto? Hanno creato questa piattaforma per creare blog, abilitando tutti, cioè praticamente un servizio offerto a tutti docenti statali, delle scuole statali. Quindi era una cosa ad ampio raggio, una cosa a livello nazionale… quindi, ho cercato di mantenermi in contatti con questi tre community e io ho deciso di mandare i… é… i questionari a queste tre community… (N12, p. 6)186

A comunicação também poderia ser direta com os sujeitos via mensageiros

instantâneos, como o Skype ou o MSN, e e-mails quando a ida aos locais de

residência se tornava muito custosa, devido às distâncias a serem percorridas.

Desse modo se enquadra a entrevistada N5 e o entrevistado N10 que entraram em

contato e entrevistaram sujeitos em outras regiões da Itália via voz na internet.

consegui muito material também on-line, conversei com algumas pessoas que eu fiz contato por ali.. mas aí comecei a ver blog e fotolog né... e o pessoal começava a disponibilizar fotos... [...] de repente o pessoal começou a aparecer muito blog e o pessoal começava a colocar as fotos.. é.. [...] e eu comecei a observar a comunicação entre eles.. [...] É.. então eles colocam por exemplo: regulamento.. aí tem um concurso.. colocam o regulamento, a inscrição é on-line.. Então eu tinha a cesso ao regulamento, depois eu via as fotos .. Dos eventos... eles colocavam.. as notícias mesmo, o que tava acontecendo.. e ali tive acesso ao Brasil inteiro.. (N2, p. 10-11) mio dottorato era basato solo, quasi solo esclusivamente sulla base di documentireperite dalla rete, quindi avuto imparare a fare un po’ di ricerca perché non poteva andare in tutti paese europei, in tutte università europei, dovevo scaricare (…) fare analisi del sito web delle università e raccogliere tutta documentazione (N6, p. 3)187

184 Trad. livre: “que eram bem ou mau todos os sites web ou ambiente, comunidades também muitas vezes não mais existentes, isto é, que permaneciam presentes na rede... velhas comunidades de... do final dos anos 90, final dos anos 90 que não existiam mais...” 185 Trad. livre: “e simplesmente eu trabalhei com o Google, utilizando Google e trocando com os participantes do grupo focal uma série de documentos em grupo... e procurando abrir os fóruns para discutir estes documentos, enfim... e então eu trabalhei assim com eles, e sim, isto.” 186 Trad. livre: “que coisa fizeram? Criaram esta plataforma para criar blogs, habilitando todos, isto é, praticamente um serviço oferecido a todos os docentes do Estado, da escola Estatal. Então era uma coisa ampla, uma coisa a nível nacional... então, eu procurei me manter em contato com estas três comunidades e decidi mandar os... é.. os questionários a estas três comunidades...” 187 Trad. livre: “Meu doutorado foi baseado somente, quase exclusivamente, sobre uma base de documentos recuperados na rede, então tive que aprender a dazer um pouco de pesquisa porque não podia andar em todos os países europeus, em todas as universidades europeias, tinha que baixar (...) fazer análise dos sites das universidades na internet e recolher toda a documentação.”

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Análise dos dados coletados 333

per diciamo una ricerca di tipo quantitativo… é… in digitale, io ho usato sistemi di inter… software per invece fare interviste tipo qualitativo perché non riuscivo a girare tutta Italia per intervistare e contattare persone… Maggior parte via voce.. (N10, p. 6)188

Além da postagem realizada por pessoas comuns em atividades sociais ou

através da exposição de material produzido de maneira amadora, temos o acesso a

dados produzidos por órgãos governamentais e agências de pesquisa que aplicam

instrumentos a grandes amostras da população, com equipes profissionais,

gerando dados como o PISA, ENEM, IDEB, Censo escolar.

Na Itália, a entrevistada N5 relatou o uso de uma plataforma

governamental da agência INDIRE que reunia em comunidade virtual professores

que registravam suas experiências, se tornando um rico banco de dados para a

pesquisadora. Já a entrevistada N6 comenta que acessava sites governamentais,

como o Ministério da Educação de outros países, para obter dados oficiais sobre o

sistema de ensino deles, além dos dados estatísticos do CENSIS, que gerava

relatórios estatísticos sobre a população italiana.

nasce come piattaforma di formazione per gli insegnante ma anche come repositori delle esperienza, degli insegnante, quindi a me servito per dar me un po’, una idea sul quello chi si sta attualmente facendo nella scuola, a che punto siamo arrivati con la formazione degli insegnanti sulle tecnologie.. (N5, p. 10)189 nel caso della… Portogallo e della Finlandia tutti i siti dedicati alle istruzione… della pubblica istruzione, il sito del Ministero della Istruzione.. perché? Perché dovevo anche raccontare il sistema educativo del paese.. [...] E così ho fatto, quindi il sito dei Ministeri, Ministero della Istruzione e della Educazione.. é.. e poi qualche sito... humm… che raccontava i dati economiche e prodotto interno lordo per capire anche un po’ investimento educativo (N6, p. 11)190

A união da internet com os computadores pessoais de grande capacidade

para processamento de dados gerou uma nova configuração que permite aos

188 Trad. livre: “para digamos, uma pesquisa de tipo quantitativo.. é.. em digital, eu usei sistemas da inter... software ao invés de fazer entrevistas tipo qualitativa porque não poderia percorrer toda a Itália para entrevistar e contatar pessoas... maior parte por voz...” 189 Trad. livre: “Nasce como plataforma de formação para os professores mas também como repositório de experiência, dos professores, então para mim serviu para dar um pouco, uma ideia sobre aquilo que atualmente se está fazendo na escola, a que ponto chegamos com a formação dos professores a respeito da tecnologia.” 190 Trad. livre: “no caso de... Portugal e da Finlândia todos os sistemas dedicados à instrução... de instrução pública, o site do Ministério da Educação... porque? Porque devia também descrever o sistema educacional daqueles países... [...] E assim eu fiz, então os sites dos Ministérios, Ministério da Educação.. é.. e depois alguns sites... hummm... que descreviam os dados econômicos e o produto interno bruto para entender um pouco o investimento em educação.”

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Análise dos dados coletados 334

pesquisadores processarem e obterem resultados estatísticos personalizados de

acordo com suas questões de pesquisa. Esse modo de lidar com as fontes de dados

com alto número de registros inaugura uma fase em que estão sendo feitas

inúmeras releituras de informações que antes eram apresentadas processadas e já

discutidas nos relatórios oficiais, permitindo que o pesquisador se aproprie da

etapa de análise de dados da pesquisa assim como já vem se apropriando da etapa

de busca com a desintermediação das fontes.

até explico isso na minha tese.. né.. que eu tive que fazer uma ginástica computacional para chegar a esses valores, perdi muito tempo... mas pra mim foi um exercício muito interessante... mas o acesso ao INEP com dados estatísticos... sempre atualizado... é... do censo escolar mesmo, eu como... mesmo estando aqui eu ainda respondia por uma escola, então eu tinha acesso aos resultados do censo escolar... é... acompanhava matrículas de alunos, então isso tudo me ajudou a entender muito mais essa evolução da escola, né? (N14, p. 17) então fui estudar, a primeira parte da minha tese eu usei os dados do PISA.... aí os dados do PISA é show de pegar, porque você baixa da internet, não tem problema nenhum, funciona super bem... (N16, p. 2) Tanto o PISA como o ENEM, né, o ENEM eu também usei, fiz toda a composição dos anos e o censo escolar... (N16, p. 5)

Consideramos que, ao mesmo tempo em que são obtidas bases de alta

capacidade de fontes oficiais, os pesquisadores passam a também gerar

instrumentos de pesquisa na internet para a obtenção de grande número de dados a

partir de um contingente significativo de respostas, tal como o questionário online

gerado para a pesquisa do entrevistado N10 que abrangia sujeitos de diversas

universidades italianas e do questionário distribuído a docentes pela entrevistada

N12.

Este processo se torna viável frente ao que antes demandaria um alto custo

de aplicação via questionários impressos e entrevistas presenciais, a exemplo de

amostras que se encontram espalhadas por todo um país. Existem diversos sites

atualmente que ajudam a gerar questionários com o link direto para o formulário a

ser preenchido pelo respondente.

Uma curiosidade na geração de questionário foi relatada pela entrevistada

N7, que durante seu doutorado, prestando serviços de pesquisa a um cliente

externo através do centro de pesquisas que trabalhava, inseriu algumas questões

relativas à própria pesquisa que realizava. São artifícios criados na geração de

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Análise dos dados coletados 335

dados acadêmicos utilizados quando o custo de realização da coleta de dados é

muito alto.

Quindi ho anzitutto su ministrato, fatto compilare un questionario, un questionario a gli insegnante, e questionario lo su ministrato online.. che non cartaceo, non spedito, ma è online, attraverso un software open source ho inserito questo questionario ho inviato a la mia mailing list, link per la compilazione e gli insegnante hanno compilato il questionario. (N5, p. 8)191 ti faccio la mia parte standard, da interessante sul quello che tu mi chiede, la (…) satisfaction, queli aspetti di apprendimento che tu mi chiede come committente di restituirti, dentro li una piccola parte vado un po’ altre, faccio del lavoro in più, diciamo, però mentre sto facendo una analisi raccolgo anche alcuni dati in più che interessano a me come ricerca perché penso che a tè comunque sono utile. (N7, p. 9)192 ho raccolto un po’ di esperienze, un centinaio di esperienze e io ho mandato i questionari… mandato i questionari, ho ricevuto i questionari ho aperto una casella di posta elettronica, apposta per le… per ricevere tutti questionari e io ho fatto un lavoro di analisi per ogni item, ho analizzato… una analisi statistica… (N12, p. 6)193

O único caso de limitação quanto à empiria online, inviabilizada, foi o

relato da entrevistada N15 que tinha como tema as relações sociais de crianças da

educação infantil, que evidentemente não deixam marcas próprias na internet por

ainda não a acessarem e não terem autonomia no uso da escrita. Dessa forma, a

opção da entrevistada foi pelo diário de campo (observações) e pelo uso da

internet somente para obtenção de recursos acadêmicos.

até porque meu campo é infância e as crianças menores, especialmente, não tão ainda tão conectadas, até porque não escrevem, não leem e são mais supervisionadas né, de uma maneira geral. Difícil uma criança de 5 anos chegar no computador sozinha, ligar e fazer tudo sem ter pelo menos um adulto do lado

191 Trad. livre: “Então antes de tudo eu ministrei, fiz preencherem um questionário, um questionário para os professores, e o ministrei online... não em papel, não o enviei, mas é online, através de um programa open source eu inseri esse questionário e enviei a minha lista de e-mails, o link para o preenchimento e os professores preencheram o questionário.” 192 Trad. livre: “faço a minha parte padrão, de interesse sobre aquilo que você me perguntou, a satisfação, aqueles aspectos de aprendizagem que me perguntou como cliente para responder, e dentro de uma pequena parte faço um trabalho a mais, digamos, mas enquanto estou fazendo uma análise recolho também alguns dados a mais que interessam a mim como pesquisa porque penso que a você também são úteis.” 193 Trad. livre: “eu recolhi algumas experiências, uma centena de experiências e mandei os questionários... mandei os questionários, recebi os questionários pela caixa de e-mails que abri, para... para receber todos os questionários e fiz um trabalho de análise para cada item, analisei... uma análise estatística...”

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Análise dos dados coletados 336

ligando o computador pra ela né? Então em termo de pesquisas nem tanto... (N15, p. 13)

De maneira geral, posso dizer que certos tipos de pesquisas realizadas

pelos entrevistados com a ajuda da internet seriam inviáveis em períodos pré-

internet, simplesmente pelos altos custos envolvidos, uma vez que um doutorando

em ciências humanas raramente tem um patrocínio externo, e também pela

abrangência de sujeitos ou documentos necessários para compor a empiria. Dessa

forma, a internet muda a própria lógica de abrangência das pesquisas e coloca a

disposição um enorme campo empírico gerado espontaneamente com registros de

milhões de pessoas que deixam suas marcas nos bancos de dados dos websites da

Web 2.0.

A representação que uma fonte tem (tradicional ou não) e a época em que

foram escritas também foram mais um fator de análise quanto á realização de um

trabalho acadêmico. Expressaram-se por dois fatores: a tradição e a origem no

tempo.

Gráfico 39 - Variável “32. Tradição (Durabilidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Tradicional

1. Predomínio de fontes formais ou estabelecidas como livros e revistas científicas como referências. 2. A fonte tradicional também pode estar em formato digital. 3. Escolha baseada na tradição e antiguidade do suporte.

(2) Não tradicional

1. Predomínio de fontes informais ou emergentes como blogs, wikis, foruns, comunidades virtuais, redes sociais, como referências. 2. Escolha baseada na temática, na empiria ou na necessidade de dados.

(3) Mista

1. Uso de fontes tradicionais e fontes não tradicionais em proporção semelhante.

Tabela 34 - Descrição dos itens da Variável 32.

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

(1)  Tradicional

(2)  Não tradicional

(3)  Mista

32. Tradição (Durabilidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 337

Gráfico 40 - Variável “33. Origem no tempo (Antiguidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Utilização de Fontes muito antigas (antes do séc. XX)

1. Fontes de caráter histórico impressas ou digitalizadas. 2. Consulta aos “museus” digitais. 3. Materiais editados antes do séc XX.

(2) Utilização de Fontes contemporâneas (séc. XX)

1. Fontes produzidas no séc. XX no suporte impresso ou digitalizadas. 2. Poucas fontes teriam sido editadas originalmente no formato digital (anos 90). 3. Muitas fontes já teriam sido digitalizadas para buscas na internet e download.

(3) Utilização de Fontes contemporâneas recentes (séc. XXI)

1. Fontes produzidas na última década e editadas em formato impresso e digital ou somente em formato digital. 2. Aqui se localizam os entrevistados que afirmaram utilizar praticamente todo material em formato digital.

Tabela 35 - Descrição dos itens da Variável 33.

A maioria usou fontes contemporâneas ou muito contemporâneas,

justificadas pelo tema ser recente ou ter a maioria dos materiais publicados ao

longo do século XX e início do XXI. Sendo que as fontes mais antigas, antes do

início do século XX, foram relatadas por pesquisadores que trabalharam com

temas de história da educação e com isso reuniram documentos para dar suporte

as suas teses, como é o caso N11.

poi per la mia ricerca era abbastanza importante anche la, l’aggiornamento, quindi erano tutti testi molto recenti perché poi sui questi tematiche non è che trovavi cose molto storiche e quindi io ho cercato insomma di, di seguire un po’ questo criterio… (N11, p. 7)194

Interessante notar que mesmo assim, parte das fontes obtidas pelas

pesquisadoras N3 e N13 veio de acervos de imagens e livros já digitalizados e

disponíveis na internet, tendência provável de conversão de acervos antes

localmente restritos para acesso agora universalizado. Exemplo é o projeto

Google Books que pretende digitalizar grande parte dos livros presentes hoje

194 Trad. livre: “então para a minha pesquisa era muito importante também a, a atualização, então eram todos textos muito recentes porque sobre esta temática não é que se encontram coisas históricas e então eu procurei, enfim, de seguir um pouco este critério...”

0 2 4 6 8 10 12

(1)  Utilização de Fontes muito antigas (antes doséc. XX)

(2)  Utilização de Fontes contemporâneas (séc. XX)

(3)  Utilização de Fontes contemporâneas recentes(séc. XXI)

33. Origem no tempo (Antiguidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 338

localmente em bibliotecas, incluindo os acervos históricos e que permite um

rápido acesso via palavras-chave.

porque como eu trabalho com fotografia, por exemplo, no [INSTITUIÇÃO] tem um acervo enorme digitalizado, então eu tive que buscar, além das minhas referências físicas, né, eu tive que buscar arquivos digitais, até pra complementar algumas referências que eu colocava na Tese. (p. 8) (N3, p. 10) Teve livro que eu peguei na década de... dos anos.. do séc. XIX ao séc. XX. Teve livros do séc. XIX que eu baixei, porque estavam disponíveis.. (N13, p. 8) mas eles disponibilizam a digitalização, lá eu peguei a digitalização desse livro, de livro do Legandre, peguei... Lacroa, que são livros didáticos franceses de 1700... tem alguma coisa assim... peguei o livro de.. é... Volf, que é um autor, que é um autor alemão também, digitalizado. (N13, p. 19)

Nenhum dos entrevistados relatou o acesso predominante a fontes não

tradicionais, embora nove as acessem junto com as tradicionais, o que não

surpreende, visto que a atividade acadêmica pressupõe um diálogo mais estreito

com os pares e seus textos tradicionais, formais, visando manter a rede de relações

com os pesquisadores do campo temático investigado. A entrevistada N16 deixa

clara a opção pelos textos acadêmicos tradicionais quando realiza sua revisão

bibliográfica, e o depoimento do entrevistado N8 evidencia a opção dele pelos

textos que possuem uma pesquisa científica, nos moldes acadêmicos, por trás do

que é afirmado.

quando eu fiz a minha revisão bibliográfica, é... eu fiz, eu sempre faço assim, eu acho que é importante, tanto na dissertação como na tese eu fui muito pela Capes, as teses de mestrado, porque acho que as teses você tem acesso a estudos aprofundados né, que... sobre assuntos específicos, coisa que você não tem nos artigos... os artigos são muito condensados, você não sabe como é que a pessoa fez, como é que ela escolheu os dados, como é que ela... (N16, p. 5)

fui muito pelo lado acadêmico mesmo, até porque meu tema era muito acadêmico né? [...] era megaacadêmico né? Megaescolar... eu fiz uma coisa muito... pedagógica (risos), sempre pelo viés sociológico, mas muito pedagógica, né.. não fiz cinema, não fiz não... não, não... todos os sites muito.. muito convencionais... (N16, p. 7)

A entrevistada N1 relatou o uso de sites escritos coletivamente, como a

Wikipédia, mas mesmo assim como um ponto de partida para a consulta das

fontes tradicionais a que o site faz referência; ao mesmo tempo em seu

depoimento disse não acessar os blogs para pesquisa. Já a entrevistada N6 relatou

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Análise dos dados coletados 339

o uso de um site não acadêmico, voltado para informações de ajuda a jovens, para

a obtenção da lista de universidades da Europa, fonte que não necessariamente fez

parte de sua bibliografia, mas lhe forneceu pistas para ir à procura de documentos

oficiais.

Hoje em dia eu consulto.. ela é.. é.. engraçado que uma vez eu vi uma colega falando isso... é o site que eu vou lá e investigo no conceito.. eu vou lá e investigo.. é um ponto de partida para outros sites, que as vezes ele dá sugestões de outros sites que eu posso investigar e aprofundar a minha leitura e o meu entendimento... (N1, p. 14) Informa Giovani è un sito dedicato ai giovani che vogliono studiare a l’estero.. c’è una parte proprio dedicata a lo studio a l’estero dove si dice che fare elenco di università e dove visitato anche quello. (N6, p. 11)195

Vejamos agora a materialidade das fontes consultadas. Eram escritos,

digitalizados ou os dois? Qual era a escolha predominate dentre os entrevistados?

Gráfico 41 - Variável “34. Suporte (Materialidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Impresso

1. Predomínio de fontes originalmente já impressas. 2. Ida a bibliotecas para consulta a livros e revistas científicas.

(2) Digital

1. Predomínio de fontes originalmente digitais. 2. Pouca ou nenhuma impressão dessas fontes. 3. A biblioteca físicas não teria materiais sobre o tema pesquisado.

(3) Digital impresso 1. Predomínio do uso de fontes digitais, porém impressas pelo pesquisador. (4) Misto 1. Uso de fontes digitais e impressas de modo equilibrado.

Tabela 36 - Descrição dos itens da Variável 34.

195 Trad. livre: “Informa Giovani é um site dedicado aos jovens que desejam estudar no exterior... existe uma parte dedicada ao estudo no exterior onde se diz o elenco de universidades e onde também as visitar.”

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

(1)  Impresso

(2)  Digital

(3)  Digital impresso

(4)  Misto

34. Suporte (Materialidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 340

Gráfico 42 - Variável “35. Posse dos materiais (Materialidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Maioria dos materiais comprados / xeroxados / baixados

1. Aquisição em livraria. 2. Aquisição via fotocópia. 3. Aquisição via download na internet.

(2) Maioria dos materiais emprestados

1. Acesso e uso na biblioteca de instituição. 2. Acesso via empréstimo de materiais da biblioteca da universidade. 3. Acesso e uso de materiais do orientador / professores.

(3) Equilíbrio na posse dos materiais

Tabela 37 - Descrição dos itens da Variável 35.

O uso de suportes vem sofrendo uma hibridização, embora possa

predominar tanto o impresso quanto o digital, ou mesmo o digital impresso, mais

da metade dos entrevistados (nove) relataram um uso equilibrado, misto, de

suportes, visto que uma parte significativa dos materiais ainda se encontra

exclusivamente em suporte impresso ou parte dos entrevistados se sentem mais a

vontade imprimindo parte dos materiais em formato digital.

O uso de e-books é uma tendência emergente e, por isso mesmo, não é

predominante no discurso dos entrevistados. Entretanto, o caso mais acentuado a

esse respeito é o N10, afirmando ter noventa porcento dos materiais já em suporte

digital e estar fazendo uso de e-books sem maiores problemas. Porém ele é um

caso de exceção, de vanguarda, sendo um informata com nível técnico avançado e

trabalhando diretamente com as problemáticas das tecnologias na educação,

precisando para isso se manter sempre atualizado em tecnologias digitais

emergentes.

Os entrevistados N16 e N8 relataram o uso de leitores de e-books, mas sem

assumir um papel central em suas consultas a fontes acadêmicas. O Google Books

é um modelo alternativo de leitura em tela de livros, relatado por alguns como

instrumento de consulta a livros, mas sem depender do uso de tablets.

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

(1)  Maioria dos materiais comprados / xeroxados /baixados

(2)  Maioria dos materiais emprestados

(3)  Equilíbrio na posse dos materiais

35. Posse dos materiais (Materialidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 341

per andare a cercare miei libri o andare leggermeli perché fondamentalmente li cerco usando anche libri testuale già digitalizzati.. usando dal Google Books a i sistemi degli università americane che puoi accedere direttamente ai dati o ai libri già in digitale, per consultazione riesci a farlo, quindi usando questi sistemi qua… (N10, p. 6)196

Somente uma entrevistada (N15) relatou abertamente o uso de materiais

impressos digitalizados e disponibilizados sem autorização em repositórios online,

como livros escaneados, uma prática que vem se ampliando e é paralela aos

processos oficiais de digitalização de obras, semelhante à prática de fotocópias de

obras impressas nas universidades. Mesmo assim relata que servem para verificar

se comprará ou não a versão em papel.

eu boto no Google “baixar tal” e boto o título, se tiver eu baixo... (N15, p. 6) Se bem que aí eu preciso ser franca, no livro, eu ainda gosto bastante do livro de papel porque eu rabisco muito o que eu tou lendo, e o livro da internet é muito mais pra eu olhar e ver em que medida eu vou querer o livro de papel ou não... (N15, p. 6)

A internet em alguns casos pode até potencializar a busca e aquisição de

materiais impressos ao invés de inibir o uso, sendo exemplo os livros adquiridos

em sebos online ou livrarias com grandes acervos como Amazon, Estante Virtual

(sebos) e Cultura, permitindo inclusive a visualização prévia de partes ou da

totalidade do livro. Os documentos baixados na rede, cada vez em maior

quantidade e diversidade, também podem aumentar a quantidade de impressos

caso o pesquisador prefira ter parte ou a totalidade deles em suporte impresso.

o que me interessava e jogava na internet e daquele que já tava na internet eu via que tinha mais coisa ainda, aí eu ia buscar. Quando aquele da internet me voltava pro livro, então eu anotava e ia buscar o livro, mas até isso usando a internet... que eu compro muito livro na Estante Virtual.. (N3, p. 9-10) ho comprato anche dei libri… é… online.. é… perché erano in lingua straniera e quindi non riuscivo a ricuperare facilmente (N11, p. 7)197

196 Trad. livre: “para procurar os meus livros ou os ler porque fundamentalmente os procuro usando também livros textuais já digitalizados... usando o Google Books e os sistemas das universidades americanas que pode acessar diretamente os dados ou os livros já em formato digital, para consulta pode faze-lo, então usando estes sistemas...” 197 Trad. livre: “eu comprei também os livros... é... online.. é.. porque eram em língua estrangeira e então não poderia os obter facilmente.”

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Análise dos dados coletados 342

Por outro lado, vem diminuindo rapidamente a edição em suporte impresso

de revistas científicas e anais de eventos, que migram para sites de conteúdo

aberto ou integram-se nos acervos disponibilizados pelas bibliotecas

universitárias, fato este relatado pelo entrevistado N10 que utilizou na quase

totalidade documentos em formato digital e em língua inglesa para investigar o

seu tema de pesquisa. Também se mostrou consolidada a busca de teses e

dissertações em bases de dados online nas universidades brasileiras, não sendo

mais necessária a aquisição de cópia impressa.

ou então eu olho aquele livro e vejo se eu consigo comprar, porque também hoje em dia a gente pode comprar livros de outros lugares, facilita pra caramba né... é... não só por livrarias daqui.. (N2, p. 19) que eu compro muito livro na Estante Virtual.. Muito, muito, muito mesmo. Eu não vou mentir pra você não, já comprei uns 250 livros.. (N3, p. 10) porque eu usei alguns teóricos que você não tem como pegar no Scielo.. o Vygotsky, o Bakhtin, o Sacristã, Foucault, o Certeau, e aí você tem que ir aos livros, não tem conversa né? (N15, p. 5) aqui eu tenho assinatura.. é... online de revistas francesas... então ela é.. é... ainda existe a revista impressa, mas eu não tenho mais ela impressa... demorava.. é.. mais de um mês pra chegar a revista aqui. (N14, p. 17) Quando potevo in internet, perché è più comodo… e se non, biblioteca o libreria per li acquisti. Però diciamo, a parte i libri, diciamo così, i testi classici, quali per la teoria che compravo o prendevo in uma affitto, tutto resto era sui internet, perché era materiali appunto in continua evoluzione, non… (N6, p. 7)198 biblioteca ne senso di quello tutto che era cartaceo: libri, articoli specifiche, riviste… questo si, specifiche legata a il mio tema è stato appunto.. io fatto un continuo a passare dal una cosa all’altra (N7, p. 8)199 o meglio esistano solo in digitale… quindi, se poi voglio stamparlo su carta è un conto… ma il fatto che non esista sulla carta… c’erano un paio di testi io ho comprati negli Stati Uniti e mi sono fati mandare o però io trovo già il testo in digitale…carta in formato pdf o pab però non è cosi standard… word standard così… (N10, p. 12)200

198 Trad. livre: “Quando podia era na internet, porque é mais comodo... e caso contrário, na biblioteca ou livraria para a aquisição. Mas digamos, para além dos livros, digamos assim, os textos clássicos, aqueles para a teoria que comprava ou pegava emprestado, todo resto era na internet, porque eram materiais justamente em contínua evolução...” 199 Trad. livre: “biblioteca no sentido de que aquilo tudo era em papel: livros, artigos específicos, revistas... estes sim, específicos ligados ao meu tema... eu fiz um contínuo caminho de uma coisa a outra.” 200 Trad. livre: “ou melhor, existiam somente em digital... então, se quero imprimi-los em papel é uma coisa... mas o fato que não existe em papel.. existiram alguns textos que eu comprei nos

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Análise dos dados coletados 343

A circularidade entre os suportes e o uso das referências para se chegar a

novos materiais facilitam esse acúmulo tanto em formato digital quanto impresso,

dependendo da disponibilidade da fonte e do modo de leitura adotado pelo

doutorando, seja na tela ou no papel.

O computador funciona como aglutinador da escrita é o ponto principal de

convergência das anotações, sendo que o material impresso vai sendo depurado e

citado através da redigitação, e os materiais já no formato digital podem ser

analisados diretamente em tela ou impressos para uma leitura separada. Alguns

entrevistados (N5, N9 e N14) relatam que vão armazenando suas anotações em

fichamentos no computador, devolvendo os livros para a biblioteca.

Sim, fiz muito esse trabalho de copy/cola... algumas obras permitiam o copy/cola, outras não né. Aí eu imprimia e digitava, né? Tem obras que você pode fazer esse trabalho de copiar e colar, algumas impedem esse processo... (N1, p. 4) cada vez mais eu vou transferindo pro computador aquilo que eu quero guardar e eu não vou imprimindo tudo.. (N4, p. 8) tá meio a meio, impresso e digital... tá meio a meio, tem artigo que eu nem imprimo, eu já leio digitalizado, já faço alguma anotação já também... usando o computador direto. E tem material que às vezes a gente recebe e já recebe impresso, alguns eu imprimo quando são mais complexos, eu ainda imprimo... e... (N13, p. 23) ... você vê, a Anped, aqueles três volumes lá (ele aponta para a estante dele na sala) de uma única... são os anais... aqueles azuis lá do canto. São uma única Anped. [...] mesmo não indo na Anped, baixa aqui, eu sei todos os trabalhos que tão lá e eu posso agrupar do jeito que eu quero, tem várias entradas de... pra gente fazer filtros mais avançados... (N14, p. 25) e muito livro, muito e-book, tudo que você consegue baixar é bom de baixar né? (N15, p. 5) poi se ho bisogno posso andare a ricuperare il libro, ma se non c’è lo perché (...) la biblioteca e lo ho restituito comunque la mia scheda in cui ho proprio anche a volte ha ricopiato le parte del testo e le ho organizzate per temi o ho fatto delle annotazione delle riflessione personale di modo che poi le riporto all’interno del capitolo... (N5, p. 13)201

Estados Unidos e me enviaram, ou então encontro o texto já em digital... em formato pdf ou pab mas não é um padrão... padrão word assim...” 201 Trad. livre: “Depois se eu preciso posso andar a recuperar o livro, mas se não o tenho porque (...) a biblioteca e eu retorno assim à minha ficha de anotações na qual eu também por vezes copiei parte do texto e organizei por temas e fiz as anotações das reflexões pessoais de modo que depois levo para dentro do capítulo...”

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Análise dos dados coletados 344

quindi sia vi fossero, non so, puntiamo, citazione o sintesi cercavo di non perdere di viste la fonte perché qua il computer che rimaneva… il libro se poi io lo lasciavo in biblioteca a Ginevrapoi il libro non lo ribeccavo più, quindi cercavo di essere più… (N9, p. 8)202

Dois casos extremos, como o uso intenso de duas bibliotecas físicas por

um dos pesquisadores (N9) e o uso quase exclusivo de arquivos digitais por outra

pesquisadora que não acessou nada na biblioteca física (N11) mostram que ainda

pode existir uma radicalização de acesso a fontes e uma ideia de contraposição

dos suportes, vistos como concorrentes ou não complementares.

Mesmo assim, tanto o entrevistado N9 quanto a entrevistada N11

utilizaram os dois tipos de suportes, sendo que um deles predominou quase

absolutamente sobre o outro. Ambos justificaram a escolha pelo tipo de temática

trabalhada na tese, afirmando que condicionava o local de busca e os tipos de

fontes a serem buscadas.

Por outro lado, o caso N10 também justificou o uso da maioria das fontes

em formato digital pela própria disponibilidade das mesmas, quase todas

disponíveis para download ou compra diretamente nesse formato, embora tenha

procurado e adquirido em menor número fontes no suporte impresso.

Perché non, non riuscivo a trovare, poi secondo me dipende molto dal tema. Però ad esempio tanti articoli che a me interessavano erano solo online, consultabile online, quindi non c’era… (N11, p. 7)203

Apesar dos três casos acima, no geral o que a empiria mostra é a

convivência em maior ou menor grau dos suportes, ao menos por enquanto, visto

que o processo de digitalização de materiais impressos e o surgimento de

equipamentos eletrônicos específicos para a leitura (tablets) são ocorrências muito

recentes na “ecologia dos suportes”.

A seguir nos perguntamos sobre quais tipos de fontes, se acadêmica

tradicional ou emergente, governamental, midiática, humana ou de comunicação

pessoal, foram mais usada no grupo estudado.

202 Trad. livre: “então se havia, não sei, vejamos, citações ou sínteses procurava não perder de vista a fonte porque aqui o computador que restava... o livro se depois eu o deixava na biblioteca de Genebra então o livro não o recuperava mais, então procurava ser mais...” 203 Trad. livre: “porque não, não podia encontrar, pois no meu ponto de vista depende muito do tema. Mas por exemplo, tantos artigos que me interessavam estavam somente na internet, consultáveis online, então não tinha...”

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Análise dos dados coletados 345

Gráfico 43 - Variável “37. Tipo utilizados”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Fontes acadêmicas tradicionais (conteúdos)

1. Livraria física para compra e busca de livros. 2. Banco físico de imagens. 3. Livros na biblioteca física das universidades. 4. Teses e dissertações na biblioteca física dasuniversidades. 5. Artigos de revistas impressas e Anais de eventos presentes em bibliotecas universitárias.

(2) Fontes acadêmicas emergentes (conteúdos)

1. Sites de livrarias (a. Amazon. b. Cultura.) 2. Site de Repositório online de teses e dissertações. (a. USP b. Unicamp c. PUC-Rio (Maxwell)) 3. Site de Repositório online de revistas científicas. (a. Scielo b. OPAC c. First Monday.) 4. Site de busca de acervo da Biblioteca da universidade. 5. Sites de grupos de pesquisa universitários. 6. Sites com Anais de eventos. 7. Materiais acadêmicos antigos na biblioteca e digitalizados. 8. Download de livros escaneados em sites de compartilhamento

(3) Fontes midiáticas (conteúdos)

1. Jornais e revistas. 2. Sites de jornais e revistas. 3. Peças publicitárias. 4. Sites de download de filmes e músicas

(4) Fontes governamentais (conteúdos)

1. Sites ou documentos governamentais. (a. MEC. b. CAPES. c. Lattes. d. Domínio público. e. Secretaria de Educação.) 2. Sites ou documentos de instituições de pesquisa. (a. INEP. b. PISA. c. ABED. d. ANPED. e. Censis. f. Indire. g. Esfol? h. MIT. i. Banco Mundial.) 3. Sites ou documentos de instituições em geral. (a. Federações. b. Corpo de bombeiros. c. Amigos da escola.)

(5) Fontes emergentes (conteúdos)

1. Motores de busca (a. Google, Altavista. b. Imagens, Vídeos, Textos: Goole imagens e Google books.) 2. Motores de busca automatizados (a. Spybot b. RSS) 3. Sites de autoria coletiva (a. Wikis.) 4. Sites de autoria pessoal (a. Blogs.) 5. Redes de relacionamento. (a. Orkut, Facebook.) 6. Redes de relacionamento segmentadas (a. aNobii.) 7. Comunidades virtuais. (a. Fóruns atuais e antigos. b. Newsgroups. c. Classi 2.0.) 8. Ambientes virtuais de aprendizagem. (a. Moodle.) 9. Newsletter 10. Vídeos online.

(6) Fontes humanas (pessoas)

1. Professores e pesquisadores acadêmicos especialistas no tema. 2. Colegas do grupo de pesquisa próximo. 3. Colegas de grupos de pesquisas em outras universidades. 4. Colegas de disciplina que cursou. 5. Pessoas encontradas em eventos acadêmicos a. Congressos, encontros, simpósios.

(7) Fontes empíricas (pessoas)

1. Conversa com sujeitos da própria pesquisa. ( a. Presencial. b. Por e-mail. c. Online em Skype e MSN.)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

(1)  Fontes acadêmicas tradicionais (conteúdos)

(2)  Fontes acadêmicas emergentes (conteúdos)

(3)  Fontes midiáticas (conteúdos)

(4)  Fontes governamentais (conteúdos)

(5)  Fontes emergentes (conteúdos)

(6)  Fontes humanas (pessoas)

(7)  Fontes empíricas (pessoas)

(8)  Fontes cinzas (conteúdos)

37. Tipos utilizados

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 346

2. Aplicação de questionário online ou presencial. 3. Realização de grupo focal online ou presencial. 4. Filmagem dos sujeitos. 5. Observação de campo.

(8) Fontes cinzas (conteúdos)

1. Relatórios de discussões. 2. Artigos de pesquisas em andamento.

Tabela 38 - Descrição dos itens da Variável 37.

Em maior ou menor grau todos acabaram por utilizar em algum momento

fontes acadêmicas emergentes, mesmo que fossem buscas de livros e artigos via

palavras-chave online no site da biblioteca para acesso posterior ao impresso. No

caso da entrevistada N4, ela utilizou praticamente só os documentos obtidos em

bibliotecas físicas, mas os encontrava antes através da busca disponibilizada

online, e no caso do entrevistado N9 ele acessava alguns artigos científicos online

para complementar o uso dos poucos livros impressos que consultou como fonte

principal.

Aí eu lembro que, por exemplo, Biblioteca de Lisboa, estava lá em Portugal.. mas antes de ir à biblioteca eu fazia pesquisa em casa. Entrava no site da biblioteca, no acervo e fazia em casa uma pesquisa intensa, intensa desse acervo e ia passando para o Word tudo que me interessava e ia à biblioteca depois. (N4, p. 4) o li prendevo in biblioteca, però sai benne che qua in università per andare in biblioteca deve fare la richiesta in rete. (N6, p. 6)204 queste le fonti principale, poi in realtà ho consultato biblioteche anche di altri università ma questi sono di quattro o cinque fonti principale che me andato credo il novanta percento di materiale… non no fatto grande, in realtà sono stato all’estero ma, non ho.. non ho fatto grandi, come dire? Mi sono basato su pochi, pochi fonti, pochi soggetti, però molto significative, veramente io a Ginevra ho trovato quasi tutto (N9, p. 5)205

A internet entra como auxílio no acesso a catálogos ou diretamente aos

arquivos com os conteúdos digitalizados, que ficam situados em inúmeras

plataformas e websites, nos quais se destacam aqueles que aglutinam grande

quantidade de conteúdos produzidos na academia, como o Scielo e o catálogo de

teses e dissertações da CAPES, comum a grande parte dos pesquisadores da área

de Educação no Brasil. Os sites das universidades, com seus catálogos próprios,

204 Trad. livre: “Eu os obtia na biblioteca, mas você sabe bem que aqui na universidade para ir na biblioteca deve fazer um pedido pela internet.” 205 Trad. livre: “estas são as fontes principais, então na realidade consultei bibliotecas de outras universidades, mas estes são de quatro ou cinco fontes principais que fora, acredito, noventa porcento do material... não fiz grande, na realidade estive no exterior mas, não.. não fiz grande, como dizer? Me baseei em poucas, poucas fontes, poucos sujeitos, mas muito significativos, com certeza em Genebra encontrei quase tudo.”

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Análise dos dados coletados 347

os de eventos e dos grupos de pesquisa, um pouco mais restritos que os catálogos

gerais, complementam as buscas dos doutorandos por materiais acadêmicos.

Muito Scielo.. quer dizer, até por indicação dos professores na época a gente percebeu que o Scielo era um centro ali aglutinador especializado de informações de qualidade, então o Scielo foi sempre muito útil pra mim... depois virou objeto de desejo de publicação e agora é onde tem algumas. Então, eu que assim... em termos de artigos você tem ali o grosso do que se está se produzindo atualmente né... pelo menos... quer dizer, com certeza na nossa área de Educação. (N15, p. 4) desses outros grupos a gente acessava e acessava inclusive a dissertação, as teses, além de estar na biblioteca da universidade, tava também no site do grupo de pesquisa e você podia ver... (N15, p. 7) Então indo pela Capes, Google, sem dúvida Google, mas Scielo também, muito Scielo, muito Scielo... muito, é, as bibliotecas das universidades, né... muitas bibliotecas da universidade, então você vai na USP, na biblioteca da USP e você, né? Tem acesso às teses, tem acesso à um monte de coisa que talvez pela Capes, fica... não tem tudo, eu não sei nem se a minha tá na Capes, eu não sei como é que é esse percurso, como é que a minha tese chega até a Capes? Nem sei como é que é, né, mas tá no Lambda do Maxwell, Lambda né? Mas... É, então nas universidades... (p. 6)

Além dos sites acadêmicos existem os sites de grandes livrarias que

permitem a pesquisa e a compra direta com entrega via correio, facilitando as

buscas e levantamentos bibliográficos.

eu tinha que ir na biblioteca direto pra conseguir as revistas... aquelas revistas determinadas, periódicos e tal.. aí tava emprestado, e só ia devolver depois que eu já tinha que ter lido pra fazer o trabalho.. então era uma dificuldade... quando foi na época do doutorado.. nós temos agora o Scielo, fora outros né.. aí todas as revistas, Educação e sociedade, Cadernos de Pesquisa... todas as que eu procurava na biblioteca e que era uma loucura né, assim... fácil, agora a gente abre ali e tá tudo né... você não precisa sair da.. (N2, p. 8)

A habilidade do pesquisador está em conseguir acessar espaços online que

sejam pertinentes para a temática de pesquisa, websites que aglutinem conteúdos

relevantes para serem baixados ou atualizar o pesquisador sobre os novos

lançamentos, entrando nessa modalidade os sites de associações de pesquisa

(ANPED, ABED), os anais de congressos realizados, os grupos de pesquisa

universitários, as livrarias, assim como a grande mídia jornalística.

A entrevistada N7 narra que a internet possibilitou inclusive o acesso a

fontes em desenvolvimento, não oficializadas na comunicação formal acadêmica

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Análise dos dados coletados 348

através de artigos em revistas científicas, mas que mesmo assim informam sobre

pesquisas em desenvolvimento, as chamadas “fontes cinzas”, incompletas. O

entrevistado N10 relatou o acesso a vídeos de palestras disponíveis na internet,

indicando a tendência de ampliação do acesso online até mesmo para conferências

e eventos acadêmicos, um tipo de fonte cinza, só que aberta para um público

geral, além do presencial, através do formato de áudio e vídeo.

A entrevistada N1 relata essa habilidade (de mobilizar diferentes tipos de

fontes) em ação, apelidada por ela de “garimpagem de material”, se destacando

em seu perfil a circularidade entre os diferentes suportes e formatos:

eu tive que naturalmente.. é... pesquisar em... eu usei jornais, revistas, cadernos de informática de jornais, eu utilizei também livros naturalmente, consultei alguns livros... participei muito de congressos assim para poder me inteirar sobre trabalhos.. [...] a internet foi utilizada também como um ambiente pra pesquisa... a biblioteca digital né, que ela disponibiliza, a partir dos sites, eu procurei consultar alguns desses sites... Eu usei o Scielo, eu usei Wikipédia pra consulta também, a Wikipédia né... eu usei site da ABED, site... alguns portais também que eu não estou me lembrando agora os nomes... é... consultei Domínio Público também... (N1, p. 3) Nessa época eu conheci sites super interessantes pra qualquer área como a Galica que é da França, da Biblioteca Nacional da França que disponibiliza livros, documentos assim, em todas as áreas, um site super rico. (N13, p. 8)

Existem hoje conteúdos que só podem ser encontrados online, produzidos

e disponibilizados exclusivamente em formato digital, incluindo livros, artigos

científicos e veículos midiáticos (jornais, revistas) sem versão impressa, sejam

nacionais ou estrangeiros. Esse fato “obriga” o pesquisador a acessar essa

modalidade de fontes, tal como relatado pela entrevistada N4 quando diz que

atualmente está indo ao Scielo consultar artigos na área de Educação, pois de

outro modo não conseguiria acesso aos mesmos, visto que são revistas não mais

editadas em suporte impresso.

então é novo pra mim, buscar o texto e trabalhar com textos que eu tenho acesso só a partir da internet.. (N4, p. 17)

Surpreende que as fontes humanas, professores e colegas de pesquisa, por

exemplo, tenham superado as fontes oficiais governamentais no relato dos

pesquisadores, com oito ocorrências.

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Análise dos dados coletados 349

Esta tendência está de acordo com a revisão de estudos empíricos

(Capítulo 3) na qual vimos que as pessoas especialistas em um tema encurtam o

caminho de filtro e seleção dos pesquisadores mais novatos, indicando as fontes

centrais em um campo de saber, já mapeadas a partir de leituras e avaliações

prévias, seja em ambientes próximos como grupos de pesquisa e com professores

em salas de aula, em encontros mais formais como congressos e eventos ou dentro

das bibliotecas com os bibliotecários especializados em buscar referências.

Até certo ponto, podemos incluir as comunidades virtuais como fontes

humanas que oferecem dicas a respeito de um assunto desejado. A entrevistada

N11 narra o acesso a sites com fóruns sobre publicações em que se trocavam

informações a respeito de obras lidas, a respeito dos temas tratados. Não chegam a

ser fontes cinzas porque não envolvem pesquisas, mas ajudam na avaliação de

determinadas fontes bibliográficas. A entrevistada N12, além de participar de uma

plataforma de resenhas de livros chamada aNobii, acessava diretamente pessoas

que dirigiam comunidades virtuais para obter referências a respeito do tema de

pesquisa dela, os blogs, assim como professores, jornalistas e pesquisadores que

mantinham sites a respeito da temática.

No caso do entrevistado N9, a ajuda de um professor que conhecia bem a

literatura sobre avaliação em língua francesa foi fundamental para evitar todo um

retrabalho de busca de fontes, além de outros docentes que o ajudaram ao longo

do doutorado, indicando livros fundamentais para a pesquisa dele.

avevo questo professore… in realtà pensa che mi faceva un po’ da mentore, da… mi dava una grossa mano in ricerca bibliografica, professore che stava a Grenoble, ma poi i libri andava a cercarlia Ginevra perché la li trovavo tutti… (N9, p. 5)206 praticamente una… una piattaforma, un social network in cui ogni uno… é… carica sugli scaffali la propria libreria e si discute sui libri… é…ti avvicinano a delle persone che hanno gli stessi gusti.. é… in fatto di letture, e quindi anche li avevo… avevo conosciuto delle persone che erano interessati al blog perché appunto avendo messo nella loro libreria gli stessi testi che avevo messo io… (N12, p. 14)207

206 Trad. livre: “tinha este professor... na realidade penso que me fazia um pouco o papel de mentor, de... me dava uma grande ajuda na pesquisa bibliográfica, professor que estaba em Grenoble, mas então os livros eu ia procurar em Genebra porque lá eu encontrava tudo...” 207 Trad. livre: “praticamente uma... uma plataforma, uma rede social na qual cada um... é... coloca nas estantes a própria livraria e se discute os livros... é... se aproximando das pessoas que possuem os mesmos gostos... é.. de leitura, e também tinha ali... eu conheci pessoas que eram interessadas

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Análise dos dados coletados 350

O ambiente de aula universitária serve também para a obtenção de fontes a

partir da bibliografia indicada e discutida pelos professores em disciplinas de pós-

graduação.

o que me ajudou muito foi justamente todo o processo assim do doutorado, as disciplinas que eu cursei, as sugestões dos professores, dos colegas de trabalho, o grupo de pesquisa que eu trabalhava né, logo depois que eu entrei no doutorado.. [...] acho que grande parte das obras que eu consegui consultar e foram bastante valiosas no meu trabalho.. eu consegui a partir das interlocuções.. é.. do contato com colegas de trabalho, de estudo né.. (N1, p. 5)

Altra cosa, seguivo a bastanza il discorso della convegnistica, c’è convegni specifiche sul questi temi, quindi dove potevo, riuscivo per seguivo poi convegno in presenza, dove invece erano convegni vecchi commettevano a disposizione tutti i paper presentati durante convegni, quindi andavo sui convegni a cercare le evento quindi, o la persona perché è l’esperto di, o centro di ricerca perché, oppure eventi e li convegni… (N7, p. 7)208

A consulta a fontes humanas, especialistas, bibliotecários, a anais de

congressos e outros tipos de “catálogos” que permitam atalhos na busca de fontes

reflete o aumento da quantidade e diversidade de materiais existentes, e da

sensação do excesso e mesmo impotência para se abarcar tudo que é produzido

pelos pares, uma crise do modo de seleção.

Por um lado, a internet facilitou o acesso e a realização de buscas, gerando

como efeito a ampliação do volume de referências disponíveis, sendo que, por

outro lado, a capacidade de leitura do pesquisador permaneceu a mesma. Torna-se

então necessário o desenvolvimento de estratégias de seleção e organização. A

entrevistada N13 fala a respeito do modo como ia guardando os links dos sites que

ia visitanto, para não se perder, e como ia refinando as palavras-chave durante a

busca de um determinado tema.

e uma procura intensiva, e tem que ser organizada também, porque aí eu criei uma página e já ia vendo, botando alguns links porque acaba que é muita coisa e

em blogs precisamente porque tendo colocado na livraria deles os mesmos textos que eu havia colocado...” 208 Trad. livre: “Outra coisa, seguia bastante o discurso das conferências, existem conferências específicas sobre estes temas, então onde podia, conseguia seguir a conferência presencialmente, ou então as conferências antigas que tinham a disposição todos os trabalhos apresentados durante, então eu fui nas conferências, buscar o evento, ou a perssoa porque era especialista do, ou o centro de pesquisa porque, ou então eventos e as conferências.”

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Análise dos dados coletados 351

eu já ia, é... botando links que eu já podia, porque eu já nem guardava mais, que tinha uns que eu já nem abria. (N13, p. 26) a gente vai testando palavras e aí a gente vai selecionando as que vão sendo mais adquadas, eu acho que é um processo assim... e aí a gente vai chegando onde a gente quer... (N13, p. 26)

A entrevistada N2 além de falar do desespero com o excesso de fontes,

comenta posteriormente que sempre fica em dúvida quando realiza buscas na

internet se realmente os primeiros itens exibidos nos resultados são os mais

importantes.

uma coisa que as vezes eu me sinto.. isso eu interessante, muitas vezes você deve sentir, também é o excesso de informação... as vezes eu me sinto meio sufocada, meio desesperada, que eu vejo tanta coisa, aí você quer abraçar tudo e não pode, isso é difícil de solucionar.. (N2, p. 24)

Diferente da tendência alarmista e “sufocante” do excesso de informações,

alguns entrevistados veem como positiva a presença de grande quantidade de

fontes e não se sentem inseguros.

Eu acho ótimo que tenha muita, eu tenho pena que seja tanta repetida, se você faz uma chamada no Google, por exemplo, você vai ter um milhão de coisas que vão te levar pro mesmo lugar. Então eu acho ótimo, quanto mais fontes melhor, não tenho problema... (p. 14)

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Análise dos dados coletados 352

Quadro 19 - Condiderações resumitivas sobre os uso de fontes relatados pelos doutorandos.

Três tipos de busca quanto ao tempo

Busca Linear Limitada (minoria): divisão marcada das etapas.

Busca Circular Contínua (maioria): em cascata, indo de um suporte a outro e de um tipo de referência a outra.

Busca por Aprofundamento em Camadas: pode ocorrer nas duas modalidades anteriores, com aquisição de novos termos e veios de pesquisa.

Busca inicial menos focada, com o pesquisador se situando na rede de associações

É quando a busca está menos ajustada, focada, com o pesquisador se situando na rede de associações.

O movimento de busca reflete o quanto o pesquisador quer se aproximar ou se afastar de um determinado conjunto de autores e abordagens.

Buscas e a internet incorporada ao cotidiano do pesquisador

Mias usados: os motores de busca generalistas (Google, Altavista) e os portais especializados oferecidos pelas universidades e entidades de pesquisa, mesclando os dois tipos de consultas. 

Tornou a checagem e expansão das referências um ato contínuo quase‐imediato ao desejo do pesquisador.

Aos motores de busca na internet se juntam aqueles criados na Web 2.0 (social bookmarks) e os automatizados (RSS Feeds e spybots).

Algumas tendências encontradas nas buscas e bases de dados consultadas

Equilíbrio entre o uso dos suportes impresso e digital (tablets, e‐books, portais científicos).

Tendência para a digitalização crescente dos acervos multimídia (fotos, audios e vídeos).

Internacionalização das pesquisas: os bancos de dados integrados de locais diferentes e multilíngues, embora parte deles esteja restrito ao acesso pago por instituições acadêmicas.

Já existem conteúdos somente em formato digital, sem o impresso, obrigando a migração do pesquisador. 

Atores emergentes

Novos produtores: sites de produção individual (blogs), coletivos (wikis, comunidades virtuais, fóruns, redes sociais) ou midiáticos são novos atores que produzem conteúdos e os disponibilizam.Novas fontes empíricas: nvos produtores permitem novos campos empíricos, com menor custo de aplicação.

Novas fontes humanas: junto com os colegas de pesquisa e professores estão as pessoas de comunidades virtuais, fóruns e redes sociais indicando referências.

Buscas e realização da Empiria: o pesquisador autônomo na geração e reinterpretação dos dados

Dados oficiais abertos: utilização de bases de dados amplas e oficiais (agências de pesquisa, governo) com novas análises do pesquisador.

Os novos acervos multimídia presentes em sites na internet permitem a realização de pesquisas com maior agilidade (dados disponíveis) e menor perda de tempo com deslocamentos sucessivos.

Impresso versus digital: a questão permanece?

Incentivo aos impressos: sites de vendas de livros e impressão de arquivos digitais incentivam a manutenção do suporte impresso, dependendo do modo de leitura. Os grandes autores teóricos ("clássicos") em sua maioria ainda estão no formato impresso.

Impresso versus digital? Equívoco de usar somente fontes impressas ou somente fontes online, pressupondo a não existência de materiais no outro suporte (complementariedade).

Desafio ao pesquisador: acessar os espaços e os tipos de fontes pertinentes ao tema de pesquisa diante da explosão de modalidades e de volume de conteúdos nos últimos 15 anos (“garimpagem de materiais”).

Buscas sem compromisso? Os interesses em jogo

As buscas são desinteressadas? As buscas não são atos desinteressados, puramente intelectuais, mas formas de se situar no campo de estudo e realizar conexões e tomadas de posição frente a outros autores.

Fontes não‐tradicionais como atalhos: usadas para se chegar a fontes tradicionais (resenhas, verbetes da wikipédia, blogs) – mais aceitas pela comunidade acadêmica –, e raramente citadas.

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Análise dos dados coletados 353

7.6 Modo de organização: os suportes digitais na sistematização dos materiais coletados

A organização do trabalho de tese ou dissertação também foi objeto de

análise em meu trabalho. Pode-se ter uma ideia de como ficaram distribuídos os

meus entrevistados, classificando-os segundo o grau de sistemática adotada, ou

seja, os usos são delineados através das opções e percepções que os entrevistados

apresentavam tanto sobre o suporte impresso quanto pelo suporte digital e as

possibilidades de ambos.

Gráfico 44 - Variável “38. Sistematização (Sistematicidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Ultrassistemático

1. Guarda arquivos através de classificação detalhada. 2. O hábito é apresentado também na organização física dos materiais. 3. Pessoa que planeja tarefas, que tem lista organizada de afazeres. 4. Medo da perda dos arquivos, da memória representada pelos arquivos. 5. Execução de backups e preservação dos materiais, mantidos no longo prazo.

(2) Sistemático

1. Classifica em eixos temáticos ou em partes do trabalho, representado por subpastas com nomes específicos. 2. Pode ou não fazer backups de preservação dos dados.

(3) Não sistemático

1. Perdas de arquivos por falta de backup. 2. Se faz backups, ainda são parciais e dispersos. (a. Múltiplos Pendrives. b. E-mails.) 3. Pouca classificação dos materiais, as vezes sem classificação alguma (1 pasta com tudo dentro). 4. Dispersão física dos materiais na própria mesa. 5. Dependência do modo como o computador classifica os arquivos, baseado nas extensões. 6. Mistura de arquivos e pouco critério e subdivisão e agrupamento. 7. Possível dispersão através do uso de múltiplos e-mails.

Tabela 39 - Descrição dos itens da Variável 38.

Nas entrevistas realizadas, uma quantidade significativa de estratégias de

organização de materiais coletados foi adotada, de acordo com as necessidades do

pesquisador, modos de se organizar na vida pessoal e nível de conhecimento

técnico de cada um deles, e não simplesmente pelas propriedades supostamente

inerentes do suporte digital.

0 2 4 6 8 10 12 14

(1)  Ultrassistemático

(2)  Sistemático

(3)  Não sistemático

38. Sistematização (Sistematicidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 354

Sabe-se que o computador permitiu outro modo de organizar (e

desorganizar) os materiais de pesquisa, outra forma de armazenar, manipular e

transportar grandes quantidades de informação que em suporte impresso se

tornaria muito mais difícil, devido ao volume e peso do material transportado.

Por outro lado, com o aumento da quantidade de materiais disponíveis, são

adotadas estratégias para gerenciar aquilo que vai se coletando e armazenando ao

longo do tempo, seja em formato impresso e agora também em formato digital,

assim como os critérios de classificação que se multiplicam.

Nessa primeira variável chamada Sistematização foram elencados três

níveis de organização, desde o ultrassistemático com alto nível de detalhes e

precaução na organização, passando pelo sistemático intermediário e, por fim, o

não sistemático, que apresentava nenhum (ou praticamente nenhum) critério para

armazenar e classificar os materiais que coletava ao longo da pesquisa.

A maioria, 12 dos pesquisadores, demonstrou ser sistemático com seus

materiais coletados, mas sem apresentar comportamentos extremos. Apenas três

entrevistados admitiram não conseguir organizar bem seus arquivos no

computador, colocando todos os materiais juntos ou os agrupando por critérios

pouco claros, valendo-se mais das ferramentas de busca nativas do computador do

que da atribuição pessoal de categorias.

Aí eu tascava tudo lá dentro... tudo que achava interessante.. é o que eu falava: “de repente vou precisar” Aí jogava lá dentro.. então tem muita coisa mesmo.. algumas eu usei, outras não usei.. mas eu ia pegando, achando pelo título.. achava que era interessante e jogava lá dentro. [...] aí depois meu filho me ensinou como é que eu organizava os ícones, isso também foi uma maravilha pra minha vida, porque antes ficava só naquela arrumação de ordem alfabética, então eu me perdia um pouco.. (N3, p. 13-14) Eu tenho uma pasta “Artigos”, o que é um caos, porque na verdade não classifica nada, nada, nada... (N15, p. 9) come si dice, il… si alcuni cartelle, però non avevano una organizzazione specifica… (N10, p. 13)209

Um caso de organização ambígua foi com a entrevistada italiana N11, que

relatou a sua desorganização relativa ao tempo, deixando sua escrita para o final

(terceiro ano), o que gerou uma carga de trabalho acima da média, porém se 209 Trad. livre: “como se diz, o... sim algumas pastas, mas, eu não tinha uma organização específica...”

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Análise dos dados coletados 355

valendo da organização prévia que realizou com os materiais e com as anotações

feitas a partir dos textos consultados.

Vale também citar a entrevistada N4 como um caso à parte, pois tinha

atenção extrema à forma de armazenamento e classificação dos materiais,

estendendo o padrão para todos os setores da vida pessoal, a partir da observação

desde cedo do mesmo padrão em um dos membros da família que costumava

classificar os objetos que utilizava em seu trabalho profissional.

Foi um hábito construído, segundo ela, pela observação desse familiar e

também a partir de objetos que classificava fisicamente desde criança, se

estendendo, dessa forma, mais tarde aos arquivos que criava no computador e ao

modo de planejar as atividades ao longo do tempo. A organização então se

instaura como instrumento de controle das atividades e dos objetos, uma forma de

lidar com as demandas externas.

Da mesma forma vemos essa aproximação – dos modos de organização

em formato digital com os outros setores da vida –, com o entrevistado N14, que

procura manter o mesmo nível de organização e controle que exerce em sua vida

profissional sobre os arquivos que armazena em seu computador, integrando a

gestão de pessoas à gestão dos arquivos.

Logo, percebe-se que o modo de organização no suporte digital não é

isolado do modo de organização geral de vida do pesquisador, ocorrendo o

mesmo, só que de modo contrário, com a entrevistada N15 que, além de ser

desorganizada no computador, armazenando tudo em uma só pasta, é também

assim em sua vida cotidiana.

então desde a infância, as minhas bonecas, a minha roupa, tudo tinha que tá muito detalhadamente arrumado e guardado né... então, eu tenho por exemplo hoje os meus arquivos escolares.. tenho lá os cadernos, os livros... tenho essa dinâmica de guarda dos arquivos físicos e eu acabei transportando pros arquivos do computador... (N4, p. 8) mas eu faço esse controle de.. usa a questão das tarefas que eu tenho pra me gerenciar também, então as pessoas perguntam como é que eu dou conta de fazer tudo isso... é que eu divido o meu tempo... (N14, p. 27) bem desorganizado como é minha mesa, como são as minhas coisas. (N15, p. 8)

Para os sistemáticos e ultrassistemáticos, as técnicas de armazenagem e

classificação relatadas foram muitas. A entrevistada N1 relatou utilizar “bancos de

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Análise dos dados coletados 356

links”, ou seja, arquivos de texto contendo links de páginas que visita na internet,

assim como “banco de múltiplas linguagens” com imagens, vídeos, fotografias, ou

seja, fazendo uso dos arquivos multimídia permitidos pelo formato digital.

Semelhante a ela, só que utilizando a ferramenta de marcação de sites

favoritos presente no navegador, o entrevistado N9 relatou o medo de perder

referências quando a quantidade de estímulos ao redor pode fazê-lo esquecer de

algum site importante encontrado durante suas buscas. O modo de guardar aquilo

que se encontra no caminho é, em si, um ato de organização, independente dos

critérios utilizados para a classificação ou do suporte que contém os materiais.

io se in quel momento sono furbo e sveglio lo metto tra i preferiti molto semplicemente… non sempre, però in fatti poi mi perdo… sai poi dipende quanto una cosa diventa, in qualche maniera si… si cementifica perché dici questa qui proprio una cosa che mi serve, oppure magari mille stimoli, magari ti arrivano otto e-mail, persone dicono: potremo fare questo? Tu vai a vedere e poi il giorno dopo ti sei dimenticato… (N9, p. 13)210

Já alguns dos entrevistados na Itália, como no caso N5, relataram o uso de

mapas conceituais e índices de temas que refletiam o seu modo de organização de

pastas e arquivos no computador, um modo de esquematizar a co-relação dos

assuntos buscados e agrupados.

As estratégias de organização também passavam pelo próprio modo de

gerenciamento do arquivo no qual era escrita a tese, como no caso N8, em que a

formatação do texto já seguia as normas de editoração exigidas pela universidade,

estando desde o início pronto para a publicação. Sempre é bom lembrar que esse

controle da produção textual foi possibilitado pelos suportes digitais, que agrupam

as funções de editoração eletrônica de textos as convergindo até o ponto do

próprio autor ser também aquele que prepara o layout final para impressão da

obra.

Uma curiosidade no depoimento das entrevistadas N2 e N3 foi o uso de

múltiplos e-mails para diferentes finalidades, filtrando dessa forma os contatos

(pessoas próximas ou de convívio eventual) e os tipos de mensagens recebidas,

210 Trad. livre: “Eu se naquele momento estou atento e acordado o coloco nos favoritos simplesmente... não sempre, mas caso contrário me perco... sabe depois depende quando uma coisa acontece, de qualquer modo sim.. porque você diz esta aqui é uma coisa que preciso, ou então milhares de estímulos, talvez cheguem oito e-mails, pessoas dizem: podemos fazer isto? Você vai ver e depois no dia seguinte esquece...”

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Análise dos dados coletados 357

visto que o volume de informações aumentou e a capacidade de atenção e tempo

continuam as mesmas. Ambas não relataram utilizar ou conhecer os filtros de

mensagens existentes nos serviços de e-mails.

eu tenho vários e-mails.. então eu tenho umas amigas, como essa, que elas não sabem meus outros e-mails, só conhecem esse e não quero que elas descubram nenhum outro, porque eu tenho e-mail dos amigos que mandam excesso de powerpoint.. quer dizer, no dia que manda alguma coisa importante corre o risco de eu não ver... (N2, p. 23)

Intimamente relacionada á sistemática de organização, encontra-se o tipo

de suporte que serve como repositório das leituras armazenadas pelos

entrevistados.

Gráfico 45 - Variável “39. Suporte (Materialidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Físicos

1. Predomínio de materiais impressos, organizados ou não em temáticas. 2. Uso de pastas físicas, podendo ou não estarem subdivididas.

(2) Digitais

1. Predomínio de materiais digitalizados, organizados ou não em temáticas. 2. Uso de favoritos do navegador, sites da web 2.0, armazenagem na nuvem.

(3) Físicos e digitais

1. Equilíbrio e correspondência de materiais impressos e digitais, organizados ou não em temáticas.

Tabela 40 - Descrição dos itens da Variável 39.

O suporte utilizado para o armazenamento das fontes foi equilibrado,

sendo parte na forma impressa e parte da forma digital, embora havendo casos

como o N8, N10 e N11, nos quais o pesquisador transportava em pendrive ou no

notebook todo material pesquisado, evitando o uso de impressos. Talvez, com o

passar do tempo, esse seja o padrão, com a crescente digitalização dos materiais e

o aumento do mercado de livros e textos eletrônicos e seus suportes de leitura

(tablets).

0 2 4 6 8 10 12 14

(1)  Físicos

(2)  Digitais

(3)  Físicos e digitais

39. Suporte (Materialidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 358

e li tengo tutti i dati anche tutte le mie vecchie ricerche, è tutto lì e in ogni momento io devo poter andare a fare ricerca dentro le mie ricerche per poter portare avanti le parti che sto scrivendo. (N8, p. 11)211

Porém, nesse momento, boa parte dos entrevistados relatou a aquisição de

obras impressas, salvo casos em que a disponibilidade de documentos, livros e

revistas científicas, devido ao tema pesquisado, era muito menor que a de

materiais digitalizados, concentrando mais o uso e a organização em formato

digital. Para alguns entrevistados, a impressão de materiais se tornou

desnecessária, como no caso N8 que relata sempre perder as cópias impressas, o

que ajuda ainda mais a convergir os arquivos para o suporte digital, evitando a

constante circulação entre fontes contidas em suportes diferentes.

Então já nos anos 2000, por aí, eu me lembro que eu... eu parei de imprimir papel, eu já não imprimia papel. Eu ia para as reuniões... eu participava de todos os conselhos de classe e eu ia tudo objetivamente... eu simplesmente pegava nos dados de secretaria, transformava em... em txt... (N14, p. 13) è più comodo perché il cartaceo l’ho sempre…lo perdo alla fine e poi mi si accumula negli scaffali e si tende… (N8, p. 12)212

O tablet foi relatado por um dos entrevistados como meio confortável para

armazenagem e leitura de artigos e por outra entrevistada para a leitura de livros.

Junto com os arquivos já em formato digital, existe também a

armazenagem de citações, fragmentos e resumos de obras impressas em arquivos

no computador através de cópia ou de redigitação, mais fácil de trabalhar,

localizar e transportar, apontando para uma digitalização maior feita pelos

próprios pesquisadores, como relatado pela entrevistada N1.

Essa armazenagem pode ser realizada com programas específicos para

essa finalidade ou com editores de texto simples, dependendo do grau de

refinamento exigido pelo pesquisador e do seu conhecimento técnico para acessar

programas mais refinados e segmentados.

Alguns entrevistados, como no caso da N4, relataram a transposição dos

padrões de armazenamento físico, em pastas físicas divididas por temas e

211 Trad. livre: “e ali tenho todos os dados também da minha pesquisa antiga, é tudo ali e a qualquer momento eu posso fazer uma busca na minha pesquisa para levar adiante a parte que eu estou escrevendo.” 212 Trad. livre: “É mais cômodo, porque o papel eu tenho sempre... perco no final, e depois se acumulam nas estantes e tendem a...”

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Análise dos dados coletados 359

assuntos, para a organização em formato digital, reproduzindo hábitos já

adquiridos antes. O computador, de certa forma, copia os modos de organização

dos suportes físicos e com isso permite essa reprodução por analogia,

especialmente depois do surgimento das interfaces gráficas e do conceito de

desktop (mesa de trabalho) com seus ícones e pastas digitalmente simuladas.

sempre fiz muitas pastas, sempre abri muitos arquivos de pastas... e como faço isso fisicamente com os meus documentos.. aquelas caixas box, pastinhas com tudo separado, com etiquetas né, eu comecei a fazer isso no computador. Criei pastas específicas para cada disciplina, para guardar os meus documentos.. (N4, p. 3)

Outra forma de transposição da lógica de um suporte a outro foi relatada

pela entrevistada N6, que manteve durante o doutorado parte dos materiais que

tinha em formato digital, coletados na internet e copiados para o computador

pessoal, impressos em pastas físicas correspondentes. O mesmo tipo de

correspondência foi mencionado pela entrevistada N7, juntando as temáticas e

materiais dos capítulos em pastas com impressos.

Quindi, diciamo così: cartella, folder in computer, cartella in computer con i centri di ricerca, con tutti i documenti e uguale cartella fisica con tutte le singole cartellatine, una per centro, perché immagine in Italia cartella… (N6, p. 8)213

213 Trad. livre: “Então, digamos assim: pasta, pasta no computador, pasta no computador com os centros de pesquisa, com todos os documentos e do mesom modo pastas [físicas] com cada uma das pastinhas, uma por centro de pesquisa, porque imagina na Itália pasta...”

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Análise dos dados coletados 360

Gráfico 46 - Variável “40. Classificação (Tematicidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Por capítulos da tese 1. Divisão em pastas de acordo com cada capítulo que está escrevendo.

2. Materiais diversos como artigos, livros, imagens, fichamentos. (2) Por temáticas da tese 1. Divisão em pastas por temas relacionados à tese. (3) Por instrumentos de pesquisa 1. Instrumentos e materiais de pesquisa empíricos coletados. (4) Por local de origem do material

1. Local onde o material foi coletado, podendo ser origem física (cidade, centro de pesquisa, universidade) ou de origem digital (site).

(5) Por autor do material (6) Por eventos 1. Arquivos de participação em eventos acadêmicos, com anotações e textos próprios. (7) Por cursos que ministrou 1. Visando não refazer materiais quando ministrar novamente cursos semelhantes. (8) Por diferentes áreas de atuação

1. Divisão dos materiais por áreas de atuação como o trabalho, docência na academia, vida pessoal.

(9) Sem classificação 1. Uma pasta contendo todo material recolhido ou ausência de critério para classificação.

(10) Material coletado, mas não utilizado

1. A pessoa recolhe com a intenção de usar mas depois vira um resíduo nunca mais acessado.

Tabela 41 - Descrição dos itens da Variável 40.

O critério predominante de organização dos materiais coletados foi por

temáticas da tese, ou seja, pelos assuntos e conceitos abordados durante a

pesquisa, assim como pelos capítulos que iam sendo escritos, colocando-se os

arquivos em pastas por afinidade.

A organização por capítulos, segundo a entrevistada N7, ajudava no

momento da escrita da tese, sendo pensada a estrutura de organização junto com o

planejamento de escrita. A entrevistada N11 narrou algo semelhante, em que os

assuntos tratados e agrupados iam servindo de base para a elaboração de um

índice de escrita da tese, ou seja, de capítulos.

0 2 4 6 8 10 12 14

(1)  Por capítulos da tese

(2)  Por temáticas da tese

(3)  Por instrumentos de pesquisa

(4)  Por local de origem do material

(5)  Por autor do material

(6)  Por eventos

(7)  Por cursos que ministrou

(8)  Por diferentes áreas de atuação

(9)  Sem classificação

(10)   Material coletado, mas não utilizado

40. Classificação (Tematicidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 361

é assim: a pasta “Doutorado”, aí tem a parte, a pasta “Tese”, a pasta “Base de dados”, né, tinha a pasta “Artigos sobre repetência” e “Artigos em geral”, mais ou menos isso... não tou me lembrando exatamente a organização, mas é mais ou menos isso... e aí a escrita dos capítulos ficava dentro da escrita da tese, dentro dessa pasta, dentro dessa subpasta “Tese”, né? E aí “Capítulo 1”, “Capítulo 2”, “Capítulo 3”, é, acho que é isso... (N16, p. 11) ed sempre stato un po’ aggregato per tipologie… humm… ne senso che l’idea della struttura della mia tesi c’era già a monte, anche se io sono partita con quello che detto ai capitolo tre de mettere a modello, era già il mio percorso, il mio percorso prevedeva analisi degli strumenti scelta di uno, analisi specifica comunicativa di questo strumento, modello, sperimentazione, che sono diventati poi nei quattro capitoli, questo era il percorso. (N7, p. 12)214 Nella cartella precedente quella dove io metto tutte le risorse che trovo sono divise per tematiche, nel tempo quando trovo un articolo particolare scarico il pdf e lo inserisco lì e inserisco, aggiorno un file dove c’è la citazione in modo che quando riprendo in mano un argomento io primo scorro le mie ricerche precedenti, con tutti i file già scaricati, già pronti (N8, p. 11)215 normalmente un computer, una cartella con tanti sottocartelle.. è… divisa prima per argomenti, poi sono dei capitoli… (N9, p. 9)216 Si, io lavoravo gli argomenti praticamente, cioè… argomenti… cercavo i temi e poi sul tema praticamente andavo di inserire tutti contenuti che trovavo e che mi interessavano, in modo tale da cercare di, di avere materiale suddiviso in questo modo (N11, p. 10)217 allora, facevo delle cartelle… facevo delle cartelle e nominando le cartelle con parole chiave… [...] queste, queste cartelle qua, in modo che mettevo al interno, scaricavo il materiale e li mettevo un pochino cosi… Poi dopo… per lavorarci sopra passavo da una cartella al altra… (N12, p. 10)218

A entrevistada N2 relatou a respeito das reclassificações dos materiais,

algo semelhante com a escrita em camadas, em que se retorna ao material

constantemente para a criação de novos subtemas e o remanejamento dos arquivos

214 Trad. livre: “Sempre esteve um pouco agregado por tipologia... humm.. no sentido de que a ideia da estrutura da minha tese era já montada, também se eu partia com aquilo que disse no capítulo três de fazer o modelo, era já o meu percurso, o meu percurso previa a análise dos instrumentos escolhidos, análise comunicativa específica desse instrumento, modelo, experimentação, que se tornaram depois os quatro capítulos, este era o percurso.” 215 Trad. livre: “Na pasta anterior, aquela onde coloco todos os recursos que encontro divididos por temáticas, no momento quando encontro um artigo particular eu baixo o pdf e o insiro, atualizo um arquivo no qual tem as citações de modo que quando tenho em mãos um assunto eu primeiro consulto a minha pesquisa precedente, com todos os arquivos já baixados, já prontos.” 216 Trad. livre: “normalmente um computador, uma pasta com as subpastas... é... divididas primeiro por assuntos, depois são os capítulos...” 217 Trad. livre: “sim, eu trabalhava os temas praticamente, isto é... temas.. procurava os temas e depois sobre o tema praticamente andava a inserir todos os conteúdos que encontrava e que me interessavam, de modo tal que procurava ter o material subdividido dessa forma.” 218 Trad. livre: “então, fazia as pastas... fazia as pastas dando nome a elas com palavras-chave... [...] estes, estas pastas aqui, de modo que colocava dentro, baixava os materiais e os colocava um pouco dessa maneira... depois... para trabalhar com eles passava de uma pasta a outra...”

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Análise dos dados coletados 362

para outros assuntos devido ao crescimento do acervo. Já a entrevistada N4 revisa

periodicamente seus materiais para excluir o que não serve mais, uma forma de

lidar com esse crescimento e acúmulo constante.

fazendo essa garimpagem e pegando textos, fragmentos, trechos que dialogavam com a minha pesquisa e colocando num arquivo por temas. (N1, p. 4) Aí depois eu comecei a organizar.. Tema de vez em quando tem que rearrumar, porque.. o tema você começa a por muito subtema, muita coisa, fica uma coisa complicada.. [...] mas procuro colocar... é.. em pasta... tou procurando cada vez mais me organizar.. acho que cada vez a gente tem mais informação.. você tem que por, subdividir (N2, p. 13) mas eu guardo, mas periodicamente eu faço uma revisão, alguma coisa eu descarto e eu vou guardando aquilo que eu penso que tem um peso... de documento, ou peso afetivo, uma representação afetiva forte né, então vou guardando... (N4, p. 8)

A classificação por autores, por local de origem da fonte, por instrumento

de pesquisa, por dados da empiria coletada, por eventos acadêmicos frequentados,

por cursos ministrados e por áreas de atuação foram citadas, mas não foram

critérios predominantes entre os pesquisadores. Eles funcionavam mais como

classificações acessórias, acompanhando, por exemplo, as classificações

principais em temas ou capítulos. Eram materiais que não apresentavam temas em

si mesmo, mas eram resultados de atividades desenvolvidas pelo pesquisador ou

mesmo atividades paralelas à pesquisa, mas ligadas a sua vida cotidiana de

trabalho e estudo.

O sistema de pastas e subpastas ajudava na convivência de múltiplos

critérios de classificação, no qual as pastas em primeiro nível abrangiam, por

exemplo, as temáticas da tese, e as subpastas eram classificadas pelos tipos de

arquivos contidos ou pela origem dos mesmos. Outros critérios de classificação

foram adotados para materiais que não eram necessariamente fonte de pesquisa

para citação, como materiais de eventos e instrumentos de pesquisa, exigindo

pastas à parte, fora da classificação principal, como no caso do entrevistado N8.

A classificação maior por áreas da vida, como a relatada pela entrevistada

N4 que fala dos âmbitos acadêmico, de trabalho e pessoal surgidos a partir das

demandas cotidianas, não impede a classificação também por temáticas em cada

um desses âmbitos, em subpastas. Da mesma forma, as classificações relatadas

pela entrevistada N13 revelam uma sobreposição de critérios, em que, ao mesmo

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tempo que dividia por temáticas ela criava subpastas a partir do local de origem da

fonte, no caso o nome das revistas científicas ou simplesmente agrupando os

livros digitalizados em um mesmo local. A mesma sobreposição de critérios foi

encontrada no depoimento do entrevistado N14, que divide as pastas por projetos

que está envolvido e dentro deles divide os arquivos por temas.

periódicos, tipo “história matemática”, eu tenho lá meus artigos lá de História matemática, eu ponho por... por ano, eu ponho porque são quatro fascículos por ano, eu ponho por número e ano, porque aí vai organizando aquilo que... (N13, p. 19)

Um caso interessante é o da entrevistada N5, que ao mesmo tempo que

reclassificou os materiais em capítulos da tese, abandona a classificação por

temáticas presente na fase de coleta de fontes de pesquisa, do mesmo modo que a

entrevistada N12 relatou. Dessa forma ela faz um rearranjo de acordo com as

novas necessidades que teve na fase final do processo de escrita, sendo algo

próximo (mas não totalmente igual) ao que o entrevistado N8 relatou, ao dizer que

criou subpastas dentro de uma pasta principal da tese para poder agregar as fontes

consultadas dentro do trabalho que escrevia.

O processo de organização se mostra dessa forma “vivo”, mutante de

acordo com o momento de escrita e as atividades desenvolvidas pelo autor, não

podendo ser aplicada uma classificação rígida e constante, mas contextual e

direcionada pelas tarefas e fases da pesquisa em andamento.

E poi c’è un altro, una altra sessione che è invece dedicata ai capitoli della tesi e quindi sono a mano riprendendo tutti i materiali che avevo prima diviso per argomento e dico questo materiale mi serve per il capitolo uno... si... allora mi credo una cartella “Materiali Capitolo Uno” e metto li tutti gli articoli che so mi serviranno per quel capitolo.. (N5, p. 13)219 Se poi sto lavorando in modo specifico a un testo, come la tesi per dire, di dottorato a volte creo delle cartelle, sottocartelle dentro la cartella di lavoro della tesi dove inserisco le fonti che mi servono in modo particolare (N8, p. 11)220

219 Trad. livre: “E depois tem uma outra, uma outra sessão que é dedicada aos capítulos da tese e então tenho a mão, recuperando todos os materiais que tinha primeiro dividido por assunto e digo este material me serve para o capítulo um... sim.. então eu crio uma pasta “materiais capítulo um” e coloco ali todos os artigos que me servirão para aquele capítulo...” 220 Trad. livre: “Se então estou trabalhando de maneira específica um texto, como a tese de doutorado, então crio uma pasta, uma subpasta dentro da pasta de trabalho da tese na qual insiro as fontes que me servem de maneira particular.”

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nel affrontare un capitolo raccoglievo tutte in una unica cartella tutte quelle risorse che me servivano per lo sviluppo di quel capitolo addirittura paragrafo per paragrafo, quindi scegliemmo una serie di ricerca… di risorse che mi potevano servire per stendere quel paragrafo, le elencavo, le prendevo o le stampavo o guardavo online e scrivevo. (N12, p. 11)221

No caso da entrevistada N3, por não ter sistematização em sua

armazenagem, agrupando todos os arquivos em um só lugar, o critério era

praticamente inexistente, tendo que localizar os materiais baseando-se na memória

(lembranças a respeito dos textos baixados) e no tipo de arquivo (se eram em PDF

ou em DOC).

O mesmo tipo de desorganização, por ausência de categorias criadas, foi

relatado no depoimento da entrevistada N15, que teve que lançar mão do buscador

padrão do computador e também da memória pessoal, tendo uma ideia geral, mas

pouco precisa, de onde estariam os materiais que coletou. Já o entrevistado N10

disse também que utilizava a memória, pois sabia já onde estavam os textos que

precisava e o que deveria perguntar para as pessoas que contatava (entrevistas),

sem adotar uma organização rigorosa dos materiais que coletava.

é uma organização meio desorganizada. Eu sei onde estão as coisas, mas eu não tenho como uma biblioteca, por índices, por temas ou por autores, eu não tenho essa organização... não consigo ter... e também no procurar do computador você bota duas palavras do nome do texto, ele te acha, então não preciso disso também tão organizado... (N15, p. 9) però sui alcuni usavo semplicemente quello che mi ricordavo perché alcuni sapevo già quali erano argomenti posto, quindi io contato le persone sapendo cosa per cosa poteva servirmi o essermi utile il contatto con questa persona… (N10, p. 13)222

221 Trad. livre: “ao abordar um capítulo recolhia tudo em uma única pasta, todos aqueles recursos que me serviam para o desenvolvimento daquele capítulo, parágrafo por parágrafo, então escolhia uma série de pesquisas... de recursos que me podiam servir para estender aquele parágrafo, os elencava, os pegava e imprimia ou guardava online e escrevia.” 222 Trad. livre: “mas em alguns eu usava simplesmente aquilo que me recordava porque alguns eu já sabia quais eram os assuntos postos, então eu contato as pessoas sabendo coisa por coisa que podia me servir ou ser útil o contato com essa pessoa.”

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Análise dos dados coletados 365

Gráfico 47 - Variável “41. Local de armazenamento (Disponibilidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Armazenamento predominantemente no computador pessoal

1. Uso de mídia de armazenamento local como HD externo, HD interno e Pendrive. 2. Divisão em pastas e subpastas no computador pessoal.

(2) Armazenamento predominantemente na nuvem

1. Uso de serviços online como Dropbox e Skyfrive. 2. Forte dependência de conexões móveis para poder trabalhar.

(3) Equilíbrio do Armazenamento na nuvem e no computador pessoal

1. Fase de transição do computador pessoal para o armazenamento na nuvem.

Tabela 42 - Descrição dos itens da Variável 41.

E, por fim, a quase totalidade dos entrevistados relatou que armazenava os

arquivos de pesquisa no próprio computador pessoal. Somente dois usavam a

armazenagem na internet com programas que permitem o acesso em qualquer

local, uma tendência para os próximos anos com o aumento da banda larga e a

difusão desse tipo de serviço. Percebemos a ascensão e uso mais difundido dos

sites da Web 2.0, como o Google Docs que permite a armazenagem e edição

direta de documentos online e o Delicius que permite a armazenagem de links

para sites de interesse pessoal, classificados com etiquetas temáticas (tags).

online generalmente tendo ad usare Delicius per i bookmarks, mio personale anzi per segnalazione di articoli o fonti con tutti i particolari quindi io rientro nel mio delicious che vado a scorrere le mie ricerche precedenti (N8, p. 11)223

No caso do entrevistado N14 o uso de plataformas online e

armazenamento na nuvem está presente em seu cotidiano como gestor e se reflete

no armazenamento de arquivos utilizados em sua pesquisa, e conta com a ajuda de

um HD externo pois nem sempre o sinal de internet 3G está disponível nos locais

223 Trad. livre: “Online tendo geralmente a usar o Delicius para os favoritos, o meu pessoal, para assinalar os artigos ou as fontes, então eu volto ao meu Delicius e vou verificar as minhas pesquisas precedentes.”

0 2 4 6 8 10 12 14 16

(1)  Armazenamento predominantemente nocomputador pessoal

(2)  Armazenamento predominantemente nanuvem

(3)  Equilíbrio do Armazenamento na nuvem e nocomputador pessoal

41. Local de armazenamento (Disponibilidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 366

que frequenta. Dessa forma a limitação apresentada em seu comportamento com

os arquivos digitais é de ordem técnica, semelhante ao caso da entrevisatada N2.

A entrevistada N2 lembrou que na primeira fase da internet, nos anos 90,

precisava armazenar as páginas que visitava devido às quedas de conexão discada,

copiando os conteúdos em arquivos no próprio computador. Esse relato evidencia

a relação direta entre as formas de organização (e armazenamento) e o tipo de

recurso disponível no suporte, que de alguma forma pode limitar as ações pelos

recursos oferecidos a quem os utiliza, mas o que não implica na total

determinação dos modos de uso.

eu acho que veio muito da época que a minha conexão caía, que foi o início, aí você quer salvar rapidamente tudo pra num perder que pode cair daqui a pouco, então isso é uma coisa que eu tive que ir cada vez mais me aprimorando né, porque eu salvava tudo e de repente eu disse "pra que é que eu tou salvando?" porque... tanta coisa... eu não preciso salvar tanta coisa, eu posso ler primeiro, ver se vale a pena e guardar... (N2, p. 12-13) se eu tivesse totalmente na nuvem, quer dizer, o que atualmente me impede migrar totalmente pra nuvem, é a falta de conectividade que a gente tem no Brasil. Tenho, mas não tem... eu tenho 3G mas não tem a pancada que eu preciso né? É uma vergonha o 3G aqui. (N14, p. 21-22)

Sobre a realização de backups, nem todos conseguiram manter a disciplina

de guardar cópias em um local seguro e em um tipo de mídia apropriada, sendo

que a entrevistada N4 foi o caso mais disciplinado ao relatar que mantém backups

sem perdas de arquivos desde os anos 90, passando por disquetes e CD-ROMs,

guardando inclusive mensagens de e-mails em documentos de texto no próprio

computador.

Revela-se então a própria fragilidade do armazenamento particular de

arquivos digitais, que em cerca de 20 anos mudaram de formato, tipo de mídia e

capacidade de memória diversas vezes, levando a perdas constantes de materiais

digitalizados, ou por incompatibilidade dos novos equipamentos ou pelos novos

programas que já não fazem a leitura dos arquivos criados nos programas antigos.

O entrevistado N8 relatou a preocupação com o formato que salva seus arquivos,

para garantir a possibilidade de recuperá-los no futuro.

mas, fui guardando, primeiro os disquetes, depois os outros computadores já CD, agora com pendrive e sempre, eu ainda tenho lá, na caixa primeira dos disquetes, assim, não sei o que eu vou fazer com eles... (N4, p. 8)

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Análise dos dados coletados 367

tem umas pastinhas dentro dos e-mails, eu não confio muito.. por isso que eu tenho as pastas no Word com os arquivos, com os textos enviados.. eu guardo ali alguns e-mails especiais eu guardo.. eu tenho uma pasta para cada categoria também.. pro trabalho, pro estudo, pra pesquisa, correspondência com os alunos, mensagens dos alunos... (N4, p. 16) ogni tanto lo faccio, quindi io comincio a prendere confidenza con il sistema però valuto sempre che formato sto salvando cioè la possibilità in futuro di riottenere quel file lì in modo semplice, di poterlo leggere in modo semplice e non c’è un sistema intorno al sistema tradizionale. (N8, p. 12)224

Dessa forma locais não recomendados para esta finalidade, como

pendrives (que se deterioram com rapidez e facilmente se perdem) e contas de e-

mails (que não foram feitas para armazenas arquivos e sim para enviá-los) foram

citados por alguns dos entrevistados, a exemplo da N3 e da N15. Alguns mais

conscientes a respeito dos objetos técnicos da informática, como os entrevistados

N10 e N14, relatram o uso de mídias mais adequadas e duradouras, como HDs

externos ou mesmo computadores em casa com dedicação exclusiva para cópias

de backup.

Ia colocando tudo guardadinho lá e as fotos também, mas chegou uma hora que eu fiquei muito nervosa. “Caraca, se der um troço aqui nesse computador eu perco tudo”, aí eu comprei um pendrive.. um pendrive de 512 né.. só que aí eu fiquei muito nervosa mesmo porque eu falei “se queimar também eu tou frita” aí eu comprei um outro pendrive , aí de um giga.. aliás, de dois gigas.. aí eu trabalhava, fazendo assim: todas as cópias de segurança (???)... eu colocava na máquina, colocava no pendrive de 512, tirava ele, colocava no de dois gigas e ficava às vezes meia hora esperando porque eu mandava pra mim por e-mail.. eu falei “o arquivo mais seguro que a gente tem é o e-mail, porque nunca vai explodir um e-mail”.. o pendrive queima, a máquina queima, mas o e-mail eu vou abrir de qualquer lugar.. (N3, p. 14) É, no e-mail mesmo... e aí eu mando pra lá tudo que eu acho que é importante eu ter possibilidade se der alguma zebra... minha casa pegou fogo, queimou, queimaram os pendrives, queimou tudo, eu vou ter isso, o que é importante em algum outro lugar que eu possa acessar.. né.. (N15, p. 9) Já a entrevistada N16 relatou a ajuda de um amigo técnico em informática

que costuma organizar o backup automático dela em HD externo, tecnologia que

não domina por conta própria. Embora não se revelasse um conhecedor

224 Trad. livre: “De vez em quanto faço, então eu começo a tomar confiança com o sistema mas avalio sempre o formato que estou salvando, isto é, a possibilidade de no futuro recuperar aquele arquivo de maneira simples, de poder lê-lo de modo simples e que não é um sistema a parte do tradicional.”

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Análise dos dados coletados 368

especialista em informática, o entrevistado N9 também relatou o uso de um HD

externo, principalmente porque se diz um “destruidor” de computadores portáteis,

ficando com receio de perder toda a pesquisa que carrega consigo, visto que seu

perfil é de uma pessoa que preza pela classificação, armazenamento e manutenção

dos arquivos que coleta e cria, os mantendo tanto em pastas no computador

quanto em pastas impressas.

Eu fazia backup com disco rígido externo, aí eu tinha... eu tenho um... um... um amigo.... que ele é quem é o responsável por isso... e ele que organizava isso pra mim, e antigamente eu tinha esse disco externo que eu só clicava e blãblã, entendeu? Funcionava. (N16, p. 14) tutto rigorosamente salvato mille volte sul memoria esterni, anche perché io sono in distruttore di computer eccezionale, ne ho spaccati tantissimo (N9, p. 9)225

225 Trad. livre: “tudo rigorosamente salvo várias vezes em memória externa, também porque eu sou um destruidor de computadores excepcional, eu quebrei vários.”

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Análise dos dados coletados 369

Quadro 20 - Condiderações resumitivas sobre os modos de organização relatados pelos doutorandos.

Fatores envolvidos na forma de organização

Necessidades do pesquisador de acordo com as tarefas que executa.

Modos de se organizar na vida pessoal: o modo de organização no suporte digital não é isolado do modo de organização geral de vida do pesquisador.

Nível de conhecimento técnico a partir dos interesses e conhecimento na operação dos recursos disponíveis no computador e na internet.

Três níveis de organização

Ultrassistemático com alto nível de detalhes e precaução na organização: um caso extremo fazendo parte do perfil da entrevistada antes mesmo de possuir um computador.

Sistemático intermediário: a maioria se situa nesta categoria.

Não sistemático, que apresentava nenhum (ou praticamente nenhum) critério para armazenar e classificar os materiais, usando os recursos de busca geral do próprio computador.  

As técnicas utilizadas são muitas, visando organizar a grande quantidade de informação digital

Bancos de referências: no editor de textos, nos favoritos do navegador ou em sites na internet.

Redigitação e fichamentos direto no computador pessoal para facilitar as buscas.

Mapas conceituais e índices com temas.

Múltiplos e‐mails para gerenciar atividades e públicos diferentes.

Algumas tendências encontradas nos modos de organização

Agrupamento e controle da produção no computador pessoal, permitindo a editoração do texto já no formato final.

O computador como aglutinador do armazenamento dos arquivos e futuramente das leituras direto em tela (tablets). 

No momento prevalece o equilíbrio no uso dos suportes, com alguns casos extremos.

O computador copia os modos de organização dos arquivos físicos, como o agrupamento em pastas e o uso da analogia com a mesa de trabalho.

Critérios predominantes de organização dos materiais da tese

Os principais foram pela temática da tese  e pelos capítulos que a compunham, agrupando os materiais em pastas.

Classificações acessórias: por autores, por local de origem da fonte, por instrumento de pesquisa, por dados da empiria coletada, por eventos acadêmicos frequentados, por cursos ministrados e por áreas de atuação.

Classificações "sem classificação": usar como critério o tipo de arquivo salvo, se foi em PDF ou em DOC, por exemplo.

Os processos de reclassificação são "vivos" ao longo do processo de construção da tese

Foi relatado o uso do computador para as reclassificações dos materiais coletados e criação de novas categorias a partir de certo momento.

Sobreposição e convivências de critérios: os critérios de classificação podiam conviver juntos, em diferentes pastas ou em pastas e subpastas.

A organização dos materiais é "viva", contextual de acordo com as tarefas, mudando‐se agrupamentos e critérios ao longo do processo.

O local de armazenagem principal é o computador pessoal

O relato sobre armazenagem de arquivos na "nuvem", em sites e serviços na internet, ainda é raro.

Backups e fragilidade no armazenamento dos arquivos: nem todos conseguiram manter a disciplina de guardar cópias em um local seguro e em um tipo de mídia apropriada.

Locais não apropriados, como pendrives e e‐mails, ainda são utilizados para armazenamento precário.

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Análise dos dados coletados 370

7.7 Modo de comunicação: os suportes digitais no contato cotidiano com pesquisadores e outros sujeitos

Gráfico 48 - Variável “42. Abrangência (Proximidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Restrita: troca com pessoas mais próximas

1. Poucos contatos com outros pesquisadores distantes ou desconhecidos. 2. Valorização do contato pessoal, com as pessoas mais próximas. 3. Cultivo do círculo de amizades acadêmicas próximas. 4. Valorização do acesso à publicação e não à pessoa.

(2) Intermediária: troca mais intensa com pessoas próximas + troca com algumas pessoas distantes

1. Valorização do contato com outros professores e pesquisadores distantes. 2. Maior contato com aqueles que conhece pessoalmente, mas não somente. 3. Cultivo do círculo de amizades acadêmicas próximas e algumas distantes. 4. Ida a eventos para trocas com outros pesquisadores desconhecidos, mesmo acessando publicações.

(3) Ampla: troca intensa com pessoas próximas e distantes

1. Busca de contato com autores de referência (“medalhões”) distantes. 2. Contato pessoal ou via internet simultaneamente com pesquisadores antes desconhecidos. 3. Ida a eventos para trocas com outros pesquisadores e ampliação do círculo de amizades acadêmicas. 4. Troca intensa com professores e colegas de trabalho acadêmicos próximos.

Tabela 43 - Descrição dos itens da Variável 42.

É interessante notar que apesar dos discursos que evidenciam a capacidade

de comunicação global que a internet oferece através de seus programas,

aplicações e redes ligando pessoas próximas e distantes, assim como o potencial

favorecimento do desenvolvimento das pesquisas através das trocas de

informações entre os pares acadêmicos, os relatos dos pesquisadores mostraram

que a comunicação ainda é restrita, em sua maior parte, aos pares mais próximos e

conhecidos e, em alguns casos, aos sujeitos contatados para compor o campo

empírico durante a pesquisa.

Através do contato com os pares mais próximos, pertencentes ao círculo de

amizades acadêmicas, que as trocas mais intensas de informações, os conselhos e

as revisões de textos ainda na fase de rascunho são realizados, evidenciando a

0 1 2 3 4 5 6 7

(1)  Restrita: troca com pessoas mais próximas

(2)  Intermediária: troca mais intensa com pessoaspróximas + troca com algumas pessoas distantes

(3)  Ampla: troca intensa com pessoas próximas edistantes

42. Abrangência (Proximidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 371

maior confiança naqueles que estão presentes no cotidiano do pesquisador do que

em contatos realizados exclusivamente em comunidades via internet.

eu me relacionava com pesquisadores que eu já conhecia ou que eu conheci em Portugal ou até que me indicaram, mas sempre por e-mail, não aquela busca direta de grupos. (N4, p. 11) até porque como comecei a carreira acadêmica bem tarde proporcionalmente, as minhas relações... e fiz essa carreira toda na PUC, as minhas relações tavam mais lá... agora que eu acho que elas tão abrindo pra outros lugares, mas naquele momento ainda tava ali meu mundinho acadêmico tava quase todo lá, o que eu conhecia das outras instituições era basicamente o que eu conhecia através do grupo de pesquisa, através dos encontros em congressos.... (N15, p. 11) Onde eu tinha muita discussão sobre meu próprio trabalho era no grupo de pesquisa, né, do [NOME DO GRUPO]... a própria [NOME DA PROFESSORA], né, obviamente, que era minha orientadora e colegas de mestrado e doutorado.. né... a [NOME DA AMIGA] foi uma pessoa muito importante no meu doutorado, foi uma interlocutora durante um bom tempo excepcional... e foi com eles que discuti. Pela internet não. (N16, p. 15) i principali contati li ho all’interno del centro di ricerca e soprattutto magari con… o con i miei colleghi (N5, p. 14)226 ci sono alcuni persone con cui, appunto da tempo collaboriamo, abbiamo lavorato insieme per dei… e ci conosciamo bene, che me funzionano proprio un po’ da referee… io mando magari delle cose, dei pezzi, una idea se non ho tempo di vederla e… o mi torna, spesso magari mi torna indietro e me dice “guarda, che però in questa parte manca una cosa”, oppure via skype, quindi in sincrono e venuta questa idea, dobbiamo sperimentare, provare a fare una ricerca insieme sul questi aspetti e sono nati poi delle cose interessante… (N7, p. 9)227 Si, io ho soprattutto delle persone a cui faccio ricerca con cui mi confronto, non dico quotidianamente però spesso…e oppure [NOME DA AMIGA] che conoscerai sicuramente con lei, insomma…in passato ero quasi quotidianamente in contatto sulle nostre ricerche e lavoravo moltissimo con lei. (N8, p. 13)228

A participação, ao menos durante a pesquisa de doutorado, em grupos na

internet, em fóruns para trocas de informação e outros tipos de redes online,

226 Trad. livre: “Os principais contatos eu tinha dentro do centro de pesquisa e sobreturo talvez com... com os meus colegas.” 227 Trad. livre: “tem algumas pessoas com as quais, digo, faz tempo que colaboramos, trabalhos juntos por... e nos conhecemos bem, que funciona um pouco como um revisor... eu mando as coisas, uma ideia se não tenho tempo de ve-la e... ou me retorna, as vezes me retorna e me diz “olha, mas nesta parte falta uma coisa”, ou então via Skype, então sincronicamente vinha esta ideia, devemos experimentar, tentar fazer uma pesquisa juntos sobre estes aspectos e nascem então as coisas interessantes...” 228 Trad. livre: “Sim, eu tenho especialmente aquelas pessoas com as quais faço pesquisa e me confronto, não digo todos os dias, mas muitas vezes... e mesmo a [nome da amiga] que com certeza conhecerá, enfim... no passado era quase cotidianamente em contato a respeito da nossa pesquisa e trabalhava muitíssimo com ela.”

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Análise dos dados coletados 372

visando a intercomunicação de pesquisadores acadêmicos geograficamente

distantes, não foi citada com a frequência que se esperava. Ao que tudo indica, são

poucas as comunidades virtuais interuniversitárias e interdepartamentais de

pesquisadores acadêmicos, fora dos grupos de discussão online criados

internamente pelos integrantes de grupos de pesquisa universitários, ou pessoas de

um mesmo departamento, que se conhecem e convivem pessoalmente.

Alguns relataram, por exemplo, a participação em listas de discussão do

grupo de pesquisa ao qual pertencem, porém refere-se a grupos que se encontram

frequentemente de maneira presencial, sendo a internet uma forma de continuar as

atividades iniciadas durante as reuniões realizadas, uma espécie de suporte

auxiliar para a manutenção do trabalho acadêmico e não um espaço privilegiado

de trocas intelectuais visando a produção autoral.

Um exemplo de abertura para contatos acadêmicos, fora do círculo mais

próximo, foi o caso da entrevistada N7, embora ela enfatize que usa a lista de

discussão de pesquisadores via e-mails principalmente para obtenção de pontos de

vista diferentes a partir de seus especialistas, para se atualizar no estado da arte em

seu tema de pesquisa, e menos para sua própria participação autoral no grupo.

Postura semelhante foi relatada pelo entrevistado N8, que é mais observador do

que os outros escrevem nas comunidades virtuais nas quais está inscrito do que

produtor de informações novas dentro das mesmas.

Com uma postura um pouco mais ativa em comunidades virtuais (fóruns) e

comunicação direta (chat e e-mail), a entrevistada N11 relatou manter contato

com outros pesquisadores, incluindo a obtenção de mais informações com autores

que havia lido os livros. Também a entrevistada N12 relatou encontrar outros

pesquisadores a respeito de sua temática dentro de blogs que reuniam pessoas

interessadas em discutir o assunto que pesquisava (blogs didáticos). Mas esses

casos não representaram o padrão geral apresentado nas outras entrevistas, e estão

também ligados fortemente ao campo temático da pesquisa de ambas, fortemente

dependente do uso e imersão em ambientes da internet.

mi ero inserita in questo gruppo che si chiama [NOME DO GRUPO], mi sembra che ancora adesso ricevo newsletter che sono proprio un po’ dei… sono più di taglio psicologico, lo premetto… però questo gruppo di psicologi che affrontano

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Análise dos dados coletados 373

proprio il tema della comunicazione mediata dal computer è che hanno un evento al anno, convegnistico, e poi hanno magari dei seminari ristretti… (N7, p. 7)229 mi ero messi in contato fra altro con altra persone che facevano questo stesso tipo di ricerca e anche online e quindi chattavo con loro, partecipavo dei forum, facevo delle cose online per la mia ricerca… quindi durante, per il dottorato lo usato parecchio, molto devo dire. (N11, p. 5)230 quindi in alcuni casi io ho contattato anche gli autori dei libri per cercare di capire di più delle ricerche che erano state fatte (N11, p. 7)231 E appunto ho cominciato a stabilire contatti con alcuni docenti che utilizzavano questi, con alcuni ricercatore che avevano… stavano facendo tesi e magari io ho anche tesisti che stavano facendo tesi in Italia su questo, su questo tema… (N12, p. 5)232 Mi hanno contattato attraverso il blog. Siccome io appunto sono entrata in contatto con quella community, allora su la community hanno messo che io stavo facendo questa ricerca, hanno messo questo posting, qui appunto si diceva che io stava facendo una ricerca e quindi io avevo bisogno di raccogliere delle esperienze, se qualcuno le fosse a conoscenza ne poteva parlare. (N12, p. 5)233

Talvez a natureza do trabalho do doutorando em ciências humanas

(especialmente a área de Educação abordada neste estudo), prioritariamente

solitária e com temáticas que, em geral, não envolvem grandes projetos de

pesquisa com financiamentos vultosos e dependência de colaboração externa, seja

a razão para este padrão apresentado, não levando à necessidade de buscar

contatos que sejam relevantes, além daqueles dentro do próprio círculo de

amizade e convivência profissional.

O entrevistado N9 fez questão de reforçar o caráter solitário de sua

pesquisa, não contou com uma parte empírica, sendo focada em obras que

229 Trad. livre: “eu estava dentro desse grupo que se chama [nome do grupo], eu acho que ainda hoje recebo a newsletter que são precisamente um pouco... são mais um recorte psicológico, digamos... mas este grupo de psicólogos que abordam o tema da comunicação mediada por computador é que possuem um evento anual, uma reunião, e então possuem também os seminários restritos...” 230 Trad. livre: “eu entrava em contato com outros, com outras pessoas que faziam este mesmo tipo de pesquisa e também online e então conversava via chat com elas, participava dos fóruns, fazia as coisas online para a minha pesquisa... então durante, para o doutorado a utilizei muito, muito devo dizer...” 231 Trad. livre: “então em alguns casos eu contatei também os autores dos livros para procurar entender mais das pesquisas que estavam sendo feitas.” 232 Trad. livre: “E eu comecei a fazer contato com alguns professores que utilizavam estes, com alguns pesquisadores que tinham... estavam fazendo sua tese e eu também contatei alguns doutorandos que estavam fazendo a tese na Itália sobre este, sobre este tema...” 233 Trad. livre: “Me contataram através do blog, desde que eu entrei em contato com aquela comunidade, então dentro da comunidade eu disse que estava fazendo esta pesquisa, escrevi esta postagem, dizendo que eu estava fazendo uma pesquisa e então eu tinha necessidade de recolher as experiências, se alguém tivesse conhecimento e me pudesse falar.”

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utilizava dentro das bibliotecas que visitou. Já para o entrevistado N10 a falta de

contato com outros pesquisadores era devido à originalidade de sua temática,

afirmando que existiam poucos interlocutores possíveis dentro da Itália,

recorrendo à literatura norte-americana e a contatos com sujeitos via internet para

compor sua empiria, mas não para discutir o seu trabalho de pesquisa.

In Europa non ci sono, ci sono in qualcuno... fanno uno in Scandinavia… é… ne fanno, lo fanno più in California, più li una radice, però li abbiamo… non ho potuto partecipare, ho parlato con un paio di persone in Italia… che… che sono tre maggiori esperti in ambiente open source e ambiente hacking, però anche loro, qua in Italia non ci sono convegni… fanno si, fanno in qualcosa ma non… non a livello academico, non ci sono… questi convegni qua… (N10, p. 15)234

O entrevistado N8, por exemplo, relatou que após o contato inicial com

outros pesquisadores e discutido os objetivos e assuntos que irão compor o texto

coletivo, ele vai para casa e começa a redigir o texto sem abri-lo para discussões

adicionais, preferindo a autoria solitária de sua parte, juntando somente ao final

com os escritos dos colegas. A escrita-colagem, que parte de uma comunicação

muito mais restrita, pouco negociada entre os pares, se torna a forma muito mais

comum de autoria, em contraste com a escrita colaborativa, conjunta e mais

intensamente negociada presencialmente ou em plataformas de autoria coletiva.

Na Itália, o programa de doutorado da UCSC implantou uma atividade

anual em que os doutorandos apresentam o andamento de suas pesquisas em

seminários internos, cada um preparando uma apresentação com média de trinta

minutos. O objetivo é ampliar a troca entre os doutorandos a partir do

conhecimento sobre o que cada um deles está investigando, procurando evitar o

isolamento dos pesquisadores. Segundo a entrevistada N5, estas atividades

ultrapassam a simples apresentação formal e permite uma troca mais efetiva entre

os pares acadêmicos, ao menos durante o dia reservado para as apresentações.

Também se pode pensar, a partir desse diagnóstico de relativo (mas não

total) isolamento do pesquisador, no próprio momento acadêmico do doutorando,

ainda formando suas afiliações teóricas e grupos de referência, pouco integrado à

234 Trad. livre: “na Europa não existe, existem alguns... fizeram um na Escandinávia... é... fizeram, os fazem mais na Califórnia, mais ali por ser a origem, mas nós temos... não pude participar, falei com uma meia dúzia de pessoas na Itália... que... que são os três maiores especialistas em ambiente de código aberto e ambiente hacking, mas também eles, aqui na Itália non existem congressos... os fazem, fazem alguma coisa mas não.. não a nível acadêmico, não existem... estes congressos aqui não...”

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rede de eventos e trocas acadêmicas interinstitucionais, trocas estas muito mais

características dos professores universitários com carreira já estabelecida. O

entrevistado N9 relata o crescimento e consolidação dessa rede de pessoas de

referência ao longo e após o término do seu doutorado, enfatizando em sua

entrevista as relações que desenvolveu por ter começado a trabalhar cedo como

professor universitário, antes mesmo de completar sua formação.

oltretutto poi al di la di internet sono, si sono moltiplicate tantissimo le miei possibilità di avere informazione da persone, perché adesso ho una rete di persone… è, guarda, molte volte è più che internet, io ho bisogno, non so, di approfondire o di capire una cosa, un certo argomento, non vado neanche più su internet, so che la mia collega (...) lei si occupa di quello.. é… e chiede informazione a me, come si avesse non? conoscenza distribuita e anche tra le persone concentrate tra … e questo anche una volta non c’è tutta questa rete di persone… (N9, p. 15)235

Esse modo mais tímido de proceder, com pouca diversificação dos

contatos externos, fica evidente ao se perceber que o objetivo mais relatado da

comunicação via internet pelos entrevistados foi a simples troca de materiais

acadêmicos, como referências bibliográficas, arquivos com artigos digitalizados e

em algumas ocasiões o envio de textos produzidos para colegas próximos lerem e

sugerirem modificações.

A comunicação com os pares, tanto os próximos quanto (mais raramente)

os distantes, faz parte do tipo que chamei de fontes humanas, ou seja, modos do

autor ir formando sua rede de contatos e referências através da consulta com

pessoas que possuem um conhecimento mais especializado em determinada

temática. A internet entra como facilitador dessa localização, embora a tendência

seja que os contatos estejam mais voltados aos objetivos e modos de proceder que

o meio acadêmico, a especialidade de pesquisa e o assunto da tese do doutorando

apresentam como mais adequado.

235 Trad. livre: “mas além da internet, se multiplicaram tanto as minhas possibilidades de ter informação de pessoas, porque agora eu tenho uma rede de pessoas... é, veja, muitas vezes é mais que a internet, eu preciso, não sei, de me aprofundar ou entender alguma coisa, um certo assunto, não vou nem mesmo na internet, sei que uma colega minha (...) se ocupa daquilo... é.. e pergunto para mim a informação, como se existisse não? Como se existisse um conhecimento distribuído e também concentrado entre pessoas... e isto também, há um tempo não existia toda est rede de pessoas...”

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... já a professora, a colega pesquisadora da UFMG , foi diferente... eu consegui, encontrei a tese dela, baixei tranquilamente pela UFMG, pelo site da universidade e aí eu entrei em contato com ela, ela foi super.. é... acessível, qualquer coisa que eu precisasse ela poderia... alguma referência, tava querendo conhecer outros autores que estavam na referência bibliográfica dela, aí ela falou que podia encaminhar pra mim (...) ... com ela eu estabeleci um contato bem... é... amistoso e de parceria mesmo né.. (N1, p. 10) hoje em dia eu até tenho feito menos isso, mas eu pegava e escrevia... eu via, tinha lá o autor.. tinha até um que eu tinha conhecido num evento em Brasília.. aí eu descobri o e-mail dele, escrevi pra ele, perguntando sobre uns textos, aí ele falou: "pô, esses textos eu já nem sei se eu tenho"... na verdade muitos textos foi antes, então o pessoal não tem uma versão digital né.. "aí vou te mandar esse que é mais novo.. e tal"...isso eu também acho interessante, esse contato né.. (N2, p. 7) e já no mestrado eu fiz contatos também com outras universidades, eu tinha contato com professor da Alemanha que veio a ser meu co-orientador no doutorado que é o professor que há anos é professor visitante no Brasil. [...] eu fiz contato com professores da França, por exemplo e eu, professores... é... um professor francês me mandou o material dele que eu li, que... não tava disponibilizado e me mandou... (N13, p. 9) o Google que me ajudava, o Google é que eu botava o nome da pessoa e aí achava onde que ela tava e entrava no site da Universidade, aí no site da Universidade normalmente tem os e-mails dos professores, né? E aí mandava o e-mail, era assim, era assim, com nome e sobrenome... (N16, p. 15) durante la tesi avevo scritto a uno che aveva fatto un articolo perché volevo chiedere una specifica, di uno strumento, di una cosa che avevo utilizzato e lui mi aveva risposto in modo molto blando, ma aveva risposto. (N8, p. 13)236 le tecnologie hanno loro ruolo di mediazione significativa, non sempre, però c’è sempre la persona che te dice: dami un consiglio, si vai a vedere quel sito… qualche maniera torni sempre li, qualche maniera torni sempre… li… oppure la persona… (N9, p. 16)237

Mesmo a comunicação direta com os sujeitos participantes da empiria da

pesquisa não foi muito relatada, somente em casos de excessão como o N2 e o

N10. O entrevistado N10 mobilizou questionários e plataforma online de

pesquisa, entrevistas via internet e contatos via e-mail com sujeitos de diversas

partes da Itália. Ambos tinham como característica um forte interesse e

conhecimento sobre o que havia de mais recente (de ponta) nos ambientes criados

236 Trad. Livre: “durante a tese escrevi a um que tinha feito um artigo porque queria perguntar uma coisa específica, sobre um instrumento, de uma coisa que tinha utilizado e ele me respondeu de modo muito brando, mas respondeu.” 237 Trad. livre: “as tecnologias tem o seu papel de mediação significativa, não sempre, mas sempre existe uma pessoa que te diz: me dê um conselho, se você vai ver aquele site... de qualquer maneira volta sempre ali, volta sempre ali... ou a pessoa...”

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Análise dos dados coletados 377

na internet, ao contrário de outros sujeitos que demonstraram um interesse

compatível com o usuário mediano da internet, com menor diversificação nos

usos e nas práticas com os suportes digitais.

O caso N2, portanto, foi uma das exceções observadas pela diversidade de

meios utilizados para o contato com sujeitos distantes. A pesquisadora desde os

anos 90 já tinha interesse em juntar pessoas de outras cidades através da internet e

dos cursos a distância que participava, assim como teve a necessidade de se

comunicar com a orientadora via internet enquanto passou um período fora do

país durante seu mestrado no início dos anos 2000.

Esse hábito foi adotado para sua prática de pesquisa, através do contato

com outros pesquisadores via e-mail ou pessoalmente em eventos, evidenciando

um perfil mais aberto para a comunicação via internet. Apesar disso, os outros

meios emergentes de comunicação foram mais utilizados para a obtenção de

dados empíricos, como a visita a comunidades virtuais em rede social para captar

o que acontecia no campo de estudo dela e a comunicação com alguns sujeitos via

softwarer de mensagens instantâneas. A busca de fontes acadêmicas e de autores,

dessa forma, continuava convencional.

Essa forma de lidar com a comunicação nos espaços emergentes da web

foi parecida com a da entrevistada N6, que embora tenha coletado dados em

diversos sites na internet e entrado em contato com dois centros de pesquisa fora

da Itália, que depois foi visitar pessoalmente (inovação dos espaços de empiria),

quando perguntada sobre os contatos acadêmicos com outros pesquisadores em

sua temática foi taxativa em dizer que não fez trocas com ninguém, nem via e-

mail. Ela alegou que as trocas que tentou foram infrutíferas, sem retorno e

aprofundamento, e que não havia ninguém naquele momento fazendo uma

pesquisa semelhante à dela, bastando então somente a consulta aos livros escritos

por eles.

Con altri tipi di soggetti... sto pensando…non... nessuno, perché... avevo forse provato scrivere a un autore un testo ma non ho ricevuto risposta. (N6, p. 10)238 io non ho visitato comunità perché nessuna mi interessava dal punto di vista del tema.. [...] E poi non ho usato, non c’erano forum che me interessavano sul tema..

238 Trad. livre: “Com outros tipos de sujeitos.. estou pensando... não.. ninguém, porque... tentei escrever um texto para um autor, mas não recebi resposta.”

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Análise dos dados coletados 378

hai tempi, siamo in 2003 e neanche più (…) di ricercatori sul questo tema non ne ho trovati. (N6, p. 9)239

Gráfico 49 - Variável “43. Tradição (Durabilidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Tradicionais estabelecidos na web

1. Uso predominantemente de meios mais antigos e estabelecidos como o e-mail pessoal e os newsgroups.

(2) Tradicionais estabelecidos na academia

1. Ida a eventos científicos. 2. Contatos pessoais. 3. Contatos com autores. 4. Seminários internos no doutorado.

(3) Recentemente estabelecidos na web

1. Uso de blogs e fotologs. 2. Uso de comunidades virtuais tradicionais: a. Listas de discussão via e-mail. b. Canais de chat textual. c. Fóruns. 3. Uso de instant messengers estabelecidos como o MSN e ICQ.

(4) Novos e emergentes na web

1. Uso de redes sociais como Facebook e Orkut 2. Uso de chat de voz como o Skype. 3. Uso de tradutores instantâneos online como o Google Tradutor e o Tradukka para manter comunicação em outros idiomas.

Tabela 44 - Descrição dos itens da Variável 43.

Quanto à tradição dos meios utilizados, os entrevistados tenderam mais

aos padrões acadêmicos estabelecidos para a comunicação científica,

predominando tanto os canais de comunicação presencial representado pelos

eventos científicos (congressos, conferências, seminários), os contatos presenciais

com outros autores e pesquisadores em grupo de pesquisa, quanto os canais mais

antigos da internet e semelhantes às comunicações por carta, agora substituídas

pelos e-mails pessoais e pelas listas de discussão coletiva.

às vezes o próprio grupo participava ou mandava representantes pros fóruns de educação infantil que se encontravam uma vez por mês na [UNIVERSIDADE], isso era uma maneira da gente se manter alimentados.. os congressos, lógico, que

239 Trad. livre: “eu não visitei comunidade porque nenhuma me interessava do ponto de vista do meu tema.. [...] e depois não usei, não existiam fóruns que me interessavam sobre o tema... faz tempo, estamos em 2003 e ainda mais (...) de pesquisadores sobre este tema no encontrei..”

0 2 4 6 8 10 12 14 16

(1)  Tradicionais estabelecidos na web

(2)  Tradicionais estabelecidos na academia

(3)  Recentemente estabelecidos na web

(4)  Novos e emergentes na web

43. Tradição (Durabilidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 379

a gente nunca para de ir e nesses momentos você troca com todo mundo e vê o que que a galera tá produzindo (N15, p. 11) altrimenti può accadere, questa è un’altra occasione, qualche seminario o conferenza incontri la persona di cui hai letto quest’articolo, di questo capitolo e magari lì attui lo scambio di confronti…con l’autore. (N8, p. 13)240

poi io ho anche partecipato a… a dei convegni, e… partecipando ai convegni io ho conosciuto le persone e ho raccolto anche materiali, quindi, non soltanto appunto partecipando come… é… persone che esponeva qualcosa, ma anche come uditrice, quindi ho cercato di raccogliere più possibile, poi anche attraverso i contatti con le persone, sono riuscita a intessere delle relazione… (N12, p. 8)241

O caso da entrevistada N4 é bem radical, relatando o uso exclusivo do e-

mail para se comunicar com amigos, alunos e para trabalho, tendo medo do

excesso de comunicação e demandas das pessoas, restringindo ao máximo o

número de pessoas com o qual troca mensagens. Para ela, o uso de redes sociais

só aumentaria a demanda por atenção, preferindo se manter fora desses novos

espaços da web. Não muito diferente do entrevistado N9, que relata um uso

intenso da comunicação via e-mal, mas pouco uso, por exemplo, dos instant

messengers e outras formas de comunicação surgidas mais recentemente, não

tendo perfil em nenhum site de rede social, somente na página de perfis de

professores no site de sua universidade.

eu criei uma dinâmica, inclusive de responder sempre, de não deixar acumular.. então eu recebo trabalhos né.. mensagens dos alunos, questões acadêmicas da universidade o tempo todo.. Então e-mail é tornou assim um espaço de trabalho que inclusive nos invade, porque aí não tem mais sábado, domingo, não tem feriado.. e eu fico muito naquela ansiedade de estar com a caixa limpa.. (N4, p. 6) poco il instant Messaging perché poi (…) professore [NOME DO PROFESSOR] non lo utilizzava, insomma, si utilizzava li mail con scambio di file, quindi mi ricordo che, quattro, cinque volta al giorno andavo a vedere il mail, scrive… (N9, p. 4)242

240 Trad. livre: “caso contrário pode acontecer, em uma outra oportunidade, em algum seminário ou conferência encontrar a pessoa que você leu o artigo ou capítulo e talvez inicie uma troca com o autor.” 241 Trad. livre: “então eu também participei dos... dos congressos, e... participando dos congressos eu conheci as pessoas e recolhi também materiais, então, não apenas participando como... é... pessoa que apresentava alguma coisa, mas também como auditora, então eu procureu recolher o máximo possível, e também através do contato com as pessoas, eu pude tecer relações...” 242 Trad. livre: “pouco o instant messenging porque então (...) o professor [nome do professor] não o utilizava, enfim, se utilizava o e-mail para troca de arquivo, então me recordo que, quatro, cinco vezes ao dia andava a chear o e-mail, escrever...”

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Análise dos dados coletados 380

Como era de se esperar, os meios de comunicação novos (emergentes)

surgidos nos últimos anos, como as redes sociais (Facebook, Orkut, Google Plus),

os serviços da Web 2.0 colaborativa, e os serviços multimídia, que dependem de

uma banda larga estável, como o Skype e MSN, não foram utilizados (ou

relatados) com tanta frequência para fins de comunicação acadêmica. Talvez até

porque são meios de comunicação muitas vezes associados ao lazer, a atividades

para passar o tempo, o que contrariaria, talvez, a representação estabelecida a

respeito do que é ser um intelectual e de quais meios de comunicação deve

utilizar.

Houve também o caso do medo da perda da privacidade, visto que muitos

sites da Web 2.0 permitem a comunicação pública tanto de dados da vida pessoal

quanto de discussões e debates em comunidades virtuais.

muitas pessoas também tinham medo de ficar muito público né.. ainda tem muita gente .. aparecer muito.. o cara vai saber de toda minha vida.. vai saber o que você colocar também... porque da sua vida vai saber um monte de coisa.. se você jogar o seu nome lá vou descobrir um monte de coisa que eu não sei da sua vida.. né.. também se você jogar meu nome também vai descobrir .. (N2, p. 12) Não tenho Orkut, não tenho Facebook.. (N4, p. 6)

Entretanto, existem exceções, como foi o caso N7 em que a entrevistada

participava de lista de discussão composta pelos pares acadêmicos que

investigavam sua temática. O caso N12 também mostra que a entrevistada para se

inserir no campo pretendido da pesquisa, lança mão de comunidades virtuais

presentes ao redor de blogs na internet. Dessa forma, ela constrói a empiria

necessária para sua tese através de questionários e entrevistas, pois trabalhava

justamente com a didática presente nos blogs.

Mesmo assim, a mesma entrevistada não abriu mão da ida a eventos

científicos para criar novos laços, presencialmente, com outros pesquisadores,

evidenciando uma circularidade entre as novas mídias digitais, as mídias

tradicionais e os encontros formais acadêmicos. O caso N12 é semelhante aos

usos relatados pela entrevistada N2, quando disse que navegava nas redes sociais

para se inserir no universo das comunidades formadas pelo sujeitos pesquisados.

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Análise dos dados coletados 381

Outro subitem do eixo temático que estudou os modos de comunicação

usados pelos entrevistados foi a finalidade com que eles usaram esses contatos

firmados.

Gráfico 50 - Variável “44. Objetivo (Finalidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Obtenção de novos materiais

1. Com colegas de grupo de pesquisa. 2. Com autores, professores e pesquisadores. 3. Com especialistas no tema. 4. Com outros doutorandos.

(2) Manter contato informal com pessoas para alívio da solidão da pesquisa

(3) Manter contato com amigos e parentes quando está no exterior

(4) Consulta a respeito de fontes e temas

1. Com colegas de grupo de pesquisa. 2. Com autores, professores e pesquisadores. 3. Com especialistas no tema. 4. Com outros doutorandos.

(5) Envio para revisão de texto 1. Com orientador da pesquisa. 2. Com colegas do mesmo campo de pesquisa.

(6) Obtenção de dados com os sujeitos da pesquisa

(7) Criar laços para trocas mais duradouras

1. Com outros pesquisadores e autores. 2. Com especialistas no tema. 3. Com outros doutorandos.

(8) Marcar encontros presenciais

Tabela 45 - Descrição dos itens da Variável 44.

O objetivo principal da comunicação feita durante o processo de escrita da

tese era a obtenção de materiais, de referências, de fontes novas para a escrita,

fosse com pessoas do círculo próximo de amizades ou com pessoas mais distantes

0 2 4 6 8 10 12

(1)  Obtenção de novos materiais

(2)  Manter contato informal com pessoas paraalívio da solidão da pesquisa

(3)  Manter contato com amigos e parentes quandoestá no exterior

(4)  Consulta a respeito de fontes e temas

(5)  Envio para revisão de texto

(6)  Obtenção de dados com os sujeitos da pesquisa

(7)  Criar laços para trocas mais duradouras

(8)  Marcar encontros presenciais

44. Objetivo (Finalidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 382

(autores, integrantes de comunidades virtuais). Mobilizavam-se então buscas via

internet e contatos por e-mail diretos com o pesquisador-autor da fonte, sendo

facilitado também o contato quando estavam fora do país de origem do

doutorando.

Como dito anteriormente, esse contato era em sua maioria com pessoas do

círculo mais próximo de convivência, embora solicitações eventuais a

pesquisadores desconhecidos ocorressem, mas sem o mesmo diálogo e troca

relatada a respeito dos contatos conhecidos e presentes no cotidiano dos

pesquisadores.

Mas eu fiquei direto aqui, e aí, bom, fazendo contato com bastante pessoas, é.. é... adquirindo material pra... de pesquisa (N13, p. 9) Me comuniquei com muita gente, inclusive do exterior... então, mandaram até algumas coisas que tavam inéditas, ainda não tinham sido publicadas, eu já tava fazendo, já tinha síntese do artigo e não tinha como citar... (N14, p. 24) ... a gente criou aqui um grupo de pesquisa que é nosso e a gente se apóia muito, envia arquivo uma pra outra, então... (N15, p. 13) aí foi super interessante porque assim, aconteceu isso também no mestrado, algumas teses eu não tive acesso mas aí eu consegui o e-mail da pessoa e teve uma menina que mandou o livro que ela fez, a outra me mandou a tese pela internet. Teve um ainda na dissertação, eu usei, eu... eu usei uma bibliografia mas eu não tinha o... me deram uma cópia da cópia, eu não tinha o nome... não tinha o livro da onde tinha saído, aí eu consegui... eu consegui falar com o autor em Israel... (N16, p. 6) però ci si sono stati sicuramente scambi di materiale qualche volta io lo chiesto, magari qualcuno, ero stato ad un convegno se per favore poteva girarmi qualcosa che aveva trovato… è… qualche volta qualcun sapendo che io stavo facendo un certo tipo di ricerca mi chiedevano: tu sai si per caso mi sai consiliare un certo libro, un certo articolo e allora c’era questo scambi… (N9, p. 10)243 Si, aveva un contato online, quindi via mail e ci scambiavamo le informazione via mail. Tra nel caso appunto di questi interviste in cui andavo personalmente, però negli altri casi… si trattava di scambio online, quindi di informazione via mail e cioè scambio di risposta insomma… un po’ cosi. (N11, p. 12)244

243 Trad. livre: “mas existiram seguramente as trocas de materiais em algumas ocasiões que pedi, talvez a alguém que esteve em um congresso se, por favor, poderia circular algo que tivesse encontrado... é.. alguma vez alguém sabendo que eu estava fazendo um certo tipo de pesquisa me perguntava: você sabe por acaso me indicar um certo livro, um certo artigo e então existia essa troca...” 244 Trad. livre: “sim, tinha um contato online, então via e-mail e trocávamos as informações via e-mail. Entre os casos enfatizo as entrevistas nas quais andava pessoalmente, mas em outros casos... se tratava de trocar online, informações via e-mail e, isto é, trocas de respostas, bem... um pouco assim.”

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Análise dos dados coletados 383

Somente no caso dos pesquisadores que estiveram um período maior fora

do país de origem, o doutorado sanduíche, é que a internet teve significativamente

maior utilidade na comunicação com amigos e parentes, ou via texto (e-mails) ou

via voz (comunicadores instantâneos por voz). A entrevistada N16 também

relatou a solidão dela como pesquisadora e como a internet preenchia essa

necessidade de conversar, utilizando para isso comunicadores via texto e voz,

assim como as redes sociais.

eu ficava muito em casa. Então a internet passou a ser além de um fonte de informação, um lugar de encontro com as pessoas... né, o MSN nossa senhora.. e o Skype, caraca... (N16, p. 18) quindi non solo per la ricerca e soprattutto perché durante il dottorato in Portogallo era un modo per mantenere contati con tutti gli amici. Sia quando era in Portogallo verso l’Italia che poi quando sono tornato in Italia verso tutti gli amici nuovi in Portogallo (N6, p. 3)245 ho fatto un periodo di Erasmus ad Amsterdam e li ho.. per necessità ho incrociato le tecnologie per comunicare e stare in connessione con mio mondo (N7, p. 1)246

Nesses casos, surgiram usos pouco comuns, a exemplo da entrevistada

N13 que relatou o uso intenso da internet para acessar sites que promoviam o

aprendizado de línguas, pois precisava exercitar o idioma alemão para o período

que passou fora do país, aproveitando dessa forma o potencial de comunicação e

interligação através de interesses comuns que a rede proporciona, criando

inclusive amizades de longa duração com pessoas no país em que passaria uma

temporada como estudante.

agora texto, realmente acho que foi o mais forte, de pegar material .. não tem muita coisa no Rio, não tem muita coisa.. (N2, p. 11) alemão, fui pra sites que sabe? Cursos de alemão e comecei assim.. e procurar exaustivamente e eu cheguei num site Tanden que é um site muito interessante que põe em contato pessoas que tem interesse em outros idiomas... aí eu peguei, disponibilizei lá, criei um perfil nesse site, disponibilizei e... eu acabei me correspondendo com quatro pessoas.. é... três da Alemanha e uma pessoa da Áustria... (N13, p. 11)

245 Trad. livre: “então não somente para a pesquisa e sobretudo porque durante o doutorado em Portugal era um modo para manter contato com todos os amigos. Seja quando era em Portugal para a Itália que depois quando retornei na Itália para todos os novos amigos em Portugal.” 246 Trad. livre: “Fiz um período de Erasmus em Amsterdã e ali eu tive... por necessidade eu usei a tecnologia para me comunicar e estar em conexão com o meu mundo.”

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Análise dos dados coletados 384

Chama atenção o fato de somente seis entrevistados, em um total de

dezesseis, comentarem que mantinham comunicação para revisão de textos via

internet, seja com colegas de pesquisa ou com orientadores, a exemplo da

entrevistada N7 que manteve uma rede de pesquisadores conhecidos para os quais

enviava seus rascunhos para que os mesmos dessem seus pareceres a respeito dos

rumos que ela estava tomando em sua pesquisa.

É importante enfatizar que ainda existem orientadores acadêmicos que

resistem à troca de materiais via internet, mantendo a comunicação formal da

escrita somente via materiais impressos, preferindo também a comunicação

presencial, como relatado pelo entrevistado N14, uma pessoa muito ativa no uso

dos suportes digitais.

Dessa forma, nem sempre a restrição comunicacional era da parte do

próprio pesquisador, mas também daqueles que eram seus interlocutores e que

determinavam quais canais de comunicação deveriam ser utilizados. A seguir, três

casos que mostram os extremos tanto da facilidade para a revisão e recebimento

de respostas quanto das barreiras criadas por orientadores.

trabalhei muito usando a internet, diariamente e também pra fazer contato, eu sempre mantive contato com professor [NOME DO PROFESSOR], aqui, que ele tava na PUC na época, então assim, isso foi uma coisa, é... quase que cotidiana, a gente fazia muito contato... (N13, p. 14) o resto foi, ela escrevia as sugestões, eu trabalhava em cima, quando eu tinha alguma idéia eu mandava por e-mail “ó, eu tou pensando em mudar tal e tal coisa”, ela me respondia... as dúvidas mesmo eram todas por e-mail, porque era bem mais fácil do que eu ficar esperando uma hora para ela me atender eu acho um inferno... (N15, p. 17) E tive muito problema com a minha orientadora nesse sentido porque ela queria que eu imprimisse, entregasse na mão dela, ela fizesse as observações por escrito e me desse isso... então eu tinha que ler no papel e com anotação à lápis e conversar presencialmente... não fiz nem, nenhuma vez usei o Skype com ela, nada. (N14, p. 23)

O depoimento do entrevistado N14 é bem significativo, pois relata a falta

de resposta via e-mail dos pesquisadores mais conhecidos e de referência,

geralmente mais velhos e com pouca aproximação com as novas tecnologias

digitais para sustentar uma troca de e-mails. Apesar disso, ele relata que

conseguiu marcar encontros presenciais em eventos acadêmicos graças às buscas

realizados e os contatos conseguidos.

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Análise dos dados coletados 385

procurei no Lattes essa pessoa e mandei e-mail, né... São péssimos... não funciona isso.. é.. não tem, eles não tem como... põe no Lattes um coisa, eu acho que é pra responder quem é chefe deles, mas quem tá querendo opinião muito difícil, a não ser os que me conheciam. Nesse aspecto a tecnologia foi muito impessoal, o que aconteceu foi.. Quase ninguém responde, quase ninguém reponde e-mail. (N14, p. 23) eu passei a encontrar muito mais, usei a tecnologia pra marcar encontro em algum evento, de Anped, de reunião em São Paulo... da Anped daqui... pra encontrar pessoalmente. (N14, p. 23)

Vale destacar também o baixo número de pesquisadores que mobilizaram

a internet para sua empiria, somente três. O caso do entrevistado N10 é paradoxal,

pois enquanto afirmava que contatar outros pesquisadores ou ir a eventos não

valeria a pena devido à extrema originalidade de sua pesquisa (em sua própria

visão), ele mobilizou, por outro lado, vários recursos, como a troca de e-mails,

conversas por comunicadores de voz, plataforma online para coletar respostas a

questionários, observação de discussões dentro de fóruns em comunidades

virtuais, visando compor seus dados a respeito do uso de plataformas online na

educação a distância.

Percebe-se assim que variaram os modos de comunicação quanto aos

públicos mobilizados pelo pesquisador ao longo do doutorado, a partir da temática

buscada e de como se enxergava as oportunidades disponíveis para complementar

e compor a pesquisa, não sendo uniforme os meios mobilizados e a intensidade

dos contatos mantidos pelo pesquisador com grupos de características diferentes.

E como foram discutidas na internet as ideias novas que emergiam durante

a escrita da tese ou mesmo os resultados das pesquisas? De forma informal ou

convencional? A seguir a última categoria analisado no eixo Modos de

Comunicação.

0 2 4 6 8 10 12 14

(1)  Informal despreocupado

(2)  Informal precavido

(3)  Formal convencional

45. Idéias novas (Originalidade)

Total BR IT

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Análise dos dados coletados 386

Gráfico 51 - Variável “45. Ideias novas (Originalidade)”. Itens da variável Descrição das dimensões da variável (1) Informal despreocupado 1. Comenta com amigos e pesquisadores as novas idéias antes de publicá-las.

2. Usa espaços informais como encontros em bares e restaurantes, fórum em internet, comunidades virtuais.

(2) Informal precavido 1. Comenta em espaços informais, porém com registros autorais ou sobre temas não acadêmicos. 2. Usa meios como Blogs, que vinculam a escrita no tempo e com autoria identificada. 3. Preocupação moderada com direitos de autor.

(3) Formal convencional 1. Comunica a idéia nova através de escrita acadêmica convencional. 2. Espera um evento formal, usando congressos, simpósios, encontros e seminários, onde o registro do artigo é garantido.

Tabela 46 - Descrição dos itens da Variável 45.

De modo geral, o potencial de comunicação oferecido pela internet

apresentou subutilização na maioria dos casos que compuseram o grupo de

entrevistados desta pesquisa. Esta postura mais conservadora na comunicação se

refletiu na própria forma de compartilhar os achados de pesquisa, sendo que treze

pesquisadores disseram recorrer a canais formais consagrados na academia para

divulgar os resultados de suas pesquisas (congressos, seminários, revistas

acadêmicas), evitando os canais informais hoje presentes na internet (chats,

fóruns, redes sociais).

Somente no caso da entrevistada N7, houve uma comunicação informal

mais despreocupada com as consequências de estar expondo suas ideias e sua

pesquisa, pois havia em seu perfil uma grande vontade de receber feedbacks dos

outros pesquisadores, até mesmo por estar insegura a respeito da validade de suas

descobertas e proposições teóricas. Para essa entrevistada, os eventos formais não

a satisfaziam, visto que os comentários são muito gerais e com poucas sugestões

efetivas da parte dos especialistas.

fatto di potermi discutere in internet con esperti o con dei collaboratori interessati in lo stesso tema mi ha consentito di passare alla parte anche applicativa. (N7, p. 9)247 ad esempio nel suo caso è stato un… ci vediamo nel stesso convegno, lei presentava un paper e io un altro, però poi abbiamo avuto un modo di discutere in modo meno formale a rispetto alle cose che abbiamo presentato… (N7, p. 10)248

247 Trad. livre: “o fato de poder discutir na internet com especialistas ou com os colaboradores interessados no mesmo tema me permitiu passar também para a parte aplicada.” 248 Trad. livre: “por exemplo no caso dela foi um... nos vemos no mesmo evento, ela apresentava um artigo e eu um outro, mas então tivemos depois um modo de discutir de maneira menos formal a respeito das coisas que apresentamos.”

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Análise dos dados coletados 387

Provavelmente este movimento mais conservador, que enfoca a autoria

individual e o uso de canais “certificados”, esteja refletindo a própria estrutura de

avaliação e atribuição de valor e hierarquia aos pesquisadores, conforme vimos na

primeira parte da tese quando analisamos as agências de regulação públicas e

como os financiamentos são direcionados de acordo com a publicação nesses

canais formais.

A competição por posições e maior destaque no campo de pesquisa

almejado incentivam a autoria textual prioritariamente individual, ou com alguns

co-autores, sendo a tendência nas agências de regulação e financiamento,

infelizmente, a contagem por números de publicações e não pela qualidade do

conteúdo da produção.

Os processos institucionais estabelecidos, a partir da metodologia de

análise e avaliação do trabalho implementadas, incentivam a competição entre

pesquisadores, o que desestimula o compartilhamento da autoria, por medo do

plágio (roubo intelectual) e perda do esforço de originalidade feito (e de outros

privilégios visados), cortando trocas acadêmicas que poderiam ser enriquecedoras

para o campo de pesquisa como um todo.

Dessa forma, sem eliminar o a questão sobre o nível de conhecimento e

uso dos suportes digitais, não podemos atribuir o conservadorismo no uso dos

meios digitais, com alguns pesquisadores evitando atitudes pioneiras de troca via

canais informais na internet, simplesmente atribuindo a uma rejeição ou simples

falta de conhecimento sobre os novos suportes de característica digital e

conectados em rede.

Falemos então de outros níveis de interesse em jogo que podem determinar

esses usos, razões que envolvem também as disputas derivadas e construídas pela

naturalização das regras a que os sujeitos do campo acadêmico estão envolvidos e

compartilham.

já tinha naturalmente escrito várias coisas.. sobre determinados conceitos... trabalhado e até apresentado em alguns eventos... (N1, p. 8) participar dos congressos, e mandar os resumos e isso e aquilo. (N4, p. 13) Isso eu não consegui, uma discussão... uma discussão mais, eu senti as pessoas muito solícitas em me passar o que elas tinham feito, mas um bate-bola sobre o que que eu tava fazendo... Nadica de nadica... (N16, p. 15)

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Análise dos dados coletados 388

Quem mais evidenciou essa precaução com o compartilhamento de ideias

de maneira informal foi o entrevistado N8, que relatou um caso em que ao expor

suas opiniões e ideias de pesquisa durante uma conversa de bar, as teve plagiadas

por uma colega no livro que publicou logo em seguida. Após essa ocorrência ele

adota uma postura de evitar falar demais o que está pensando e pesquisando,

procurando os publicar primeiro em canais formais para depois poder comentar

em público. A mesma postura relata ter em comunidades virtuais, pois considera

que ali qualquer um pode as ler e não existem mecanismos legais e oficiais para

citar a origem da mensagem, permitindo que alguns a publiquem depois como se

fosse da própria autoria.

quello se entra nel campo della ricerca, é.. sono un po’ più schivo, divento più un larker, divento più uno che legge… ma c’è una legge non scritta, se tu continui a scrivere nel forum le cose che pensi, qualche un altro scriverà l’articolo prima di te… E quindi devi stare attento… a quando ti esponi in queste community (N8, p. 14)249 se io passassi ogni ora al giorno, ogni giorno un ora a discutere con colleghi ricercatori di questione continuamente aperto, senza avere terminato la ricerca, senza avere, io non, io cederei continuamente idee o opinione ad altri, prima di poterlo scrivere certificare un articolo… dovrei farlo dopo… (N8, p. 15)250 me li devo anche tenere buone non portarle fuori al momento giusto perché purtroppo vige la legge che è il primo che scrive quello che viene citato o quello che io ha detto per prima (N8, p. 15)251

Para finalizar a análise deste eixo temático, enumero a seguir os pontos

principais encontrados:

249 Trad. livre: “aquilo que entra no campo da pesquisa, é... eu sou um pouco esquivo, me torno um observador, me torno mais um que lê... mas tem uma lei não escrita, se você continua a escrever no fórum aquilo que pensa, algum outro escreverá um artigo primeiro que você... E então deve estar atento... o quanto você se expõe nestas comunidades.” 250 Trad. livre: “Se eu passasse todas as horas do dia, todos os dias por uma hora a discutir com colegas pesquisadores sbre assuntos continuamente abertos, sem hver terminado a pesquisa, sem ter, eu não, eu cederei continuamente ideias ou opiniões a outros, antes de poder as ter escrito e certificado em um artigo... tenho então que fazer depois...” 251 Trad. livre: “mas devo também as manter e não as colocar fora antes do momento adequado porque, infeliezmente, a lei que se aplica é a do que primeiro escreve que vem a ser citado e não o que eu disse antes de todos.”

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Análise dos dados coletados 389

Quadro 21 - Condiderações resumitivas sobre os modos de comunicação relatados pelos doutorandos.

A comunicação ainda é restrita aos pares mais próximos

É no contato com os pares mais próximos que as trocas mais intensas de informações, os conselhos e as revisões de textos ainda na fase de rascunho são realizados.

Pouco ou nenhum relato de contato com outros pesquisadores via comunidades virtuais, salvo dois casos em que as entrevistadas eram mais ativas online . 

Quando os contatos existem, são mais para observação daquilo que é dito pelos outros do que para participação direta em comunidades virtuais.

A internet é utilizada para a comunicação interna de grupos de pesquisa, conhecidos do próprio departamento na universidade, como suporte auxiliar ao trabalho presencial.

Algumas razções alegadas para o isolamento do pesquisador

Trabalho essencialmente solitário da pesquisa, sem projetos de autoria coletiva ou participação externa.

Em geral as pesquisas em ciências humanas não são patrocinadas por terceiros, sendo resultado do trabalho de uma só pessoa.

Afiliações acadêmicas ainda estão sendo contruídas, assim como as posições teóricas.

Falta de trabalhos semelhantes sendo realizados (originalidade), impedindo o contato por ausência de interlocutores, relatado em dois casos.

Falta de resposta dos autores contatados, ou respostas simples e sem maiores aprofundamentos.

A opção mais comum é pela escrita‐colagem quando são feitos textos em grupo.

Atividades de comunicação: entre a troca de materiais e o uso tímido dos meios emergentes

Objetivo principal era a troca de materiais acadêmicos: referências bibliográficas, arquivos com artigos digitalizados e em algumas ocasiões o envio de textos produzidos para colegas próximos lerem e sugerirem modificações.

Forte presença de fontes humanas como atalhos para o pesquisador encontrar os materiais que necessita, ao modo de uma consulta aos "catálogos humanos" mais próximos.

Pouco uso dos meios de comunicação emergentes surgidos com a Web 2.0 e com o aumento da largura de banda, em especial a rejeição das redes sociais por grande parte dos entrevistados.

Canais "certificados": a comunicação mais tímida também reflete o receio de expor ideias originais, inéditas, em comunidades virtuais abertas, antes de uma formalização através de eventos científicos.

Comunicação e a tradição acadêmica

Tendência que os contatos estejam mais voltados aos objetivos e modos de proceder que o meio acadêmico, a especialidade de pesquisa e o assunto da tese do doutorando apresentam como mais adequados.

A busca de fontes acadêmicas e de autores continuava convencional (eventos científicos, contatos presenciais, grupos de pesquisa), com o uso tímido dos novos meios de comunicação digital, predominando aqueles da primira fase, especialmente o e‐mail.

Alguns casos utilizaram a internet para o contato com os sujeitos participantes da empiria através de formas emergentes ou recentemente estabelecidas de comunicação, como redes sociais, fóruns e comunicadores por voz.

Ainda existem orientadores acadêmicos que resistem à troca de materiais via internet, mantendo a comunicação formal da escrita somente via materiais impressos, não sendo então uma restrição do pesquisador, mas daqueles com quem se comunica.

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8 Considerações conclusivas

No momento de conclusão deste trabalho, faço, em verdade, um confronto

entre as principais tendências (e permanências) encontradas no uso de suportes

digitais pelo grupo de acadêmicos ouvidos – suas trajetórias no processo de escrita

de suas teses – e os dados coletados nas obras de autores destacados por mim nos

capítulos 2 e 3.

Para tal, retomo as discussões sobre os eixos temáticos apresentados

anteriormente (Capítulo 7), como uma forma de oferecer ao leitor a síntese dos

principais pontos a que cheguei, em um total de nove.

8.1 As transições em múltiplos níveis: principais tendências e permanências detectadas a partir da análise crítica da empiria

1. Presença cotidiana: os suportes digitais, antes acessados via instituições

formais, agora estão presentes no cotidiano de maneira informal.

Podemos dividir os usos dos suportes digitais em três grandes períodos,

conforme vimos no capítulo 3: (1) os anos 90 (1990-1999), (2) a primeira metade

da década de 2000 (2000-2005) e (3) a parte final da década até os diais atuais

(2006-...).

Na década de 90, os usos ainda estavam restritos a programas com funções

mais limitadas, acessados no próprio computador sem depender de uma conexão

contínua com a internet, ainda com custo muito elevado por consumir

continuamente pulsos telefônicos. Poucos eram os espaços de acesso e ainda

muito concentrados nas mãos de experts com competência para operar programas

com interfaces obscuras de acesso a manipulação de dados. As dificuldades de

ordem técnica eram acentuadas, sendo que além da interface existia o obstáculo da

velocidade e da intermitência de acesso aos dados, mesmo os mais simples como

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Considerações conclusivas 391

textos e pequenas fotos, e a ausência de buscas integradas, conforme levantados

no estudo de Bane & Milheim (1995).

A Itália não passou pelo bloqueio da indústria da informática tal como o

que foi imposto pelo governo brasileiro nos anos 80 e nem estava no conjunto de

países subdesenvolvidos sem recursos para aquisição de equipamentos, como os

casos estudados por Fidzani (1998). Logo, ela saiu na frente em relação à

precocidade dos usos, com alguns entrevistados relatando o contato inicial bem

cedo com os primeiros modelos de computadores pessoais lançados pela indústria.

Para dois entrevistados, o contato inicial com a internet ocorreu até mesmo antes

de sua interface gráfica ser lançada através dos programas navegadores (web

browsers). Ambos tinham o perfil do nicho de veteranos da informática estudados

por Bane & Milheim (1995) e, em parte, por Pinheiro (2003) quando aborda

pesquisadores brasileiros com longo período de acesso via universidade.

Dessa forma, para aqueles que já possuíam computador em casa ou no

trabalho, os recursos se limitavam ao armazenamento de arquivos, acessos

eventuais a websites estáticos e a editores de texto que transformavam o

computador em uma sofisticada “máquina de escrever” e “arquivo de dados”. Nos

anos 90, as aplicações multimídia mais sofisticadas eram fornecidas em CD-

ROMs e disquetes e a produção caseira de imagens, áudios e vídeos era

praticamente inexistente. Vale lembrar que o acesso comercial à internet só é

liberado a partir da metade dos anos 90, sendo antes a internet utilizada somente

através dos centros especializados em tecnologia da informação, os órgãos de

governo e em departamento de universidades.

Nos depoimentos coletados, fica evidente que boa parte da “geração 90”

iniciou seu contato com os suportes digitais fora de casa, por motivos de estudo

ou profissionais, embora o aprendizado tenha se dado através do auxílio informal

de amigos, familiares e colegas. O acesso inicial em casa, com um computador

próprio, não foi o padrão apresentado, dependendo-se do investimento de

instituições na aquisição e incentivo ao uso dos novos suportes, especialmente as

mais ricas e propensas à inovação.

Porém, atualmente, a tendência é que, cada vez mais, o contato inicial com

os suportes digitais aconteça em casa, de maneira informal e cotidiana e sem a

sensação de transição entre tipos de suportes ocorrida ao longo dos anos noventa,

em especial a transição máquina de escrever-computador pessoal. A

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Considerações conclusivas 392

multiplicação dos suportes digitais além do computador pessoal e sua conexão

contínua, como no caso dos telefones celulares e tablets, acaba por gerar novas

possibilidades de acesso, escrita e leitura, processo que foi insinuado, mas pouco

desenvolvido nos depoimentos coletados, justamente por serem fenômenos muito

recentes.

Importante lembrar que a carência inicial de infraestrutura e equipamentos

(redes, computadores) nos departamentos de ciências humanas, tal como

detectado no estudo de Lazinger, Ba-Ilan & Peritz (1997) e de modo mais geral

por Aqil & Ahmad (2011) e Khan & Ahmad (2009), não existe mais nas

universidades participantes desse estudo (PUC-Rio e UCSC Milano). Ambas já

apresentavam amplo acesso a computadores, com internet Wi-Fi por todo campus,

e os pesquisadores já tinham seus laptops e outras modalidades de equipamentos

pessoais. Somente em casos em que o início do doutorado se situou por volta do

ano de 2005 (minoria) que alguns problemas de acesso à internet ainda foram

relatados, mas sendo corrigidos com a instalação de equipamentos e acesso ao

longo do doutoramento.

2. Uso mediano predomina: o uso dos suportes digitais se mantém no nível

intermediário e, em alguns casos, básico.

Mesmo que os usos tenham se banalizado através dos suportes digitais

difundidos no cotidiano dos pesquisadores e estes os utilizando com maior

frequência de acesso, a tendência é que se mantenham no nível intermediário e

básico, com o uso de aplicações mais simples, não sendo tão sofisticado como em

alguns relatos encontrados junto aos experts. Nem todos se dedicam em

profundidade a aprender sobre recursos mais sofisticados potencialmente

aplicáveis às atividades de pesquisador.

Essa constatação vai contra a expectativa de que quanto mais se sofisticam

os programas de computador e quanto mais recursos oferecem (novos programas,

banda larga de acesso), mais sofisticados se tornariam os seus usuários com o

passar do tempo. Talvez esta ideia persista porque muitos estudos, como o de

Uddin (2003) evidenciavam o contrário, ou seja, que a falta ou a precariedade de

acesso e de recursos disponíveis, assim como a curta experiência com

computadores, limitava a sofisticação de uso por parte dos acadêmicos.

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Page 393: TESE: Quando os doutorandos visitam o ciberespaço: o uso de suportes digitais na produção acadêmica em um período de transições

Considerações conclusivas 393

Estudos como o de Fidzani (1998) e Junni (2007) já mostravam que a falta

de uma formação específica de pós-graduandos sobre os recursos digitais

oferecidos pelas bibliotecas e seus mecanismos de busca podia gerar a

subutilização ou não-utilização dos mesmos, devido a conhecimentos que os

professores esperavam que tivessem e que, na realidade, boa parte dos alunos de

pós-graduação não tinha. George et al. (2006) relatavam em seu estudo a

dificuldade de quase metade dos pós-graduandos entrevistados por eles com a

interface dos sites das plataformas e a confusão para se encontrar bancos de dados

que fossem relevantes ao estudo. Esse padrão podemos também estender para a

área de análise de dados empíricos, sendo ainda manual para muitos dos

entrevistados participantes no estudo desta tese.

Dessa forma, o acesso a e-mails, sites de busca de informação (generalistas

ou especializados), comércio eletrônico, redes sociais, portais de notícias e

programas de editoração de texto e planilha eletrônica predominam muito mais do

que o uso de aplicações específicas de busca automatizada de fontes, programas

de tratamento avançado de dados e aplicações para armazenamento “na nuvem”.

Os recursos liberados pela banda larga, como vídeos e acesso a acervos

multimídia e a comunicação por voz e vídeo, também foram pouco relatados pelos

entrevistados, apesar de estarem disponíveis desde a segunda metade da década de

2000.

O maior tempo dedicado ao uso dos suportes digitais não implica maior

sofisticação de recursos utilizados, pois se repetem as mesmas atividades. Importa

a forma como o sujeito situa suas atividades e como concebe quais recursos

precisará utilizar em sua realização. Com estes critérios em mente, é determinado

então o grau de imersão e sofisticação de uso, que exige maior investimento de

tempo para aprendizado e familiarização, variando entre o perfil de rápida e ampla

imersão ao que prefere ser lento e seletivo.

No estudo de Chang & Perng (2001), apesar do alto investimento do

governo de Taiwan no acesso a equipamentos e redes de computadores junto a

toda população do país, os universitários ainda alegavam desconhecimento ou

baixo uso dos bancos de dados de revistas científicas online. Seyal, Rahman &

Rahim (2002) perceberam um padrão semelhante com a subutilização da internet

pelos acadêmicos de escolas técnicas e profissionais em Brunei, apesar dos altos

investimentos do governo.

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Page 394: TESE: Quando os doutorandos visitam o ciberespaço: o uso de suportes digitais na produção acadêmica em um período de transições

Considerações conclusivas 394

Percebe-se que formação auxiliar, com bibliotecários e professores

experientes, incentivada pelos programas de pós-graduação, na área de Educação

e nas ciências humanas em geral, seria de grande valia para aprimorar as

modalidades de uso, as tornando mais sofisticadas a partir da maior

conscientização sobre a existência de modalidades de programas de computador e

recursos online antes desconhecidos.

Essa formação seria, na linguagem utilizada por Seyal, Rahman & Rahim

(2002), uma forma de provocar o aumento da utilidade percebida e da facilidade

de uso percebida dos recursos informáticos pelos alunos de pós-graduação. A

mesma recomendação, valorizando a existência e o conhecimento dos

bibliotecários, foi feita por Lopes & Silva (2007), e de modo mais geral Khan &

Ahmad (2009), quando detectaram a falta de conhecimento técnico mais apurado

e de treinamento no uso de periódicos científicos pelos pós-graduandos.

O fato é que na vida acadêmica, em geral, o perfil de uso básico (e-mails e

buscas na internet), no campo das ciências humanas, permanece como permitido e

viável, visto que as atividades principais continuam sendo a elaboração de textos

através da consulta principalmente a fontes acadêmicas textuais (PDFs e

impressos na biblioteca e livraria), exigindo-se um baixo grau de sofisticação

técnica e, consequentemente, de uso de novos recursos presentes nos suportes

digitais.

Alguns sinais de mudança estão ocorrendo a partir da migração intensa dos

artigos e outros materiais acadêmicos para repositórios de dados na internet. Esse

movimento exige do acadêmico a adesão e o uso do suporte digital na busca e

envio de seus escritos para análise e seleção em periódicos. Apesar disso, o uso da

internet como fonte empírica e para comunicação com outros pesquisadores ainda

se apresentou bem tímido, com alguns casos sendo pioneiros e fazendo uso das

novas possibilidades abertas pelo ciberespaço.

3. Leitura em transição, escrita consolidada: a escrita no computador se

estabilizou e a leitura se mantém dividida.

Os modos de leitura se mostraram divididos entre os entrevistados, alguns

tendendo a ler somente em tela, seja do desktop ou, em menor número, de um

tablet, e outros tendendo a ler em papel, seja em materiais já adquiridos nesse

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Considerações conclusivas 395

formato ou impressos a partir de arquivos digitais. Exatamente a metade dos

entrevistados se dividiu entre a tela e o papel, os utilizando simultaneamente sem

privilegiar nenhum dos dois suportes.

Dessa forma, existe nos modos de leitura um claro indício de transição

entre os suportes, sendo que o digital ainda não se consolidou como opção viável

de leitura permanente, especialmente diante de telas de computadores de mesa

quando são exigidos grandes períodos para leitura de documentos. Também é bom

lembrar que boa parte das obras ainda é publicada somente em formato impresso.

Quanto aos tablets, as dificuldades de compartilhamento dos arquivos e das

anotações ainda pesavam como barreiras para sua plena adoção, o que atualmente

já foi tecnicamente superado em relação às primeiras gerações dessa modalidade

de suporte digital.

Mesmo assim o computador se tornou o principal aglutinador de leituras

feitas, através da facilidade de se anotar e agrupar informações em arquivos para

posterior consulta, sendo menos expressivos os relatos de anotações feitas

separadamente em papel. Mesmo quando a leitura é feita em impressos, os pontos

principais são passados diretamente para o computador, seja na fase de leitura,

através de fragmentos ainda dispersos, ou no momento final de elaboração do

texto.

É bom enfatizar que o esquema básico de leitura-fichamento-escrita se

manteve, sendo que a escrita simultânea, seja mais controlada ou a radical,

desestabiliza a linearidade dessas etapas, as mesclando em diferentes momentos

no processo de elaboração da tese ao modo de sucessivas camadas acrescidas ao

longo do tempo. Esses novos processos não-lineares exigem maior planificação e

controle dos temas-assuntos em esquematizações tais como sumários e mapas

conceituais, assim como maior controle da origem das referências consultadas.

Em geral, as anotações são guardadas localmente, não compartilhadas, indicando

a autoria individualizada como padrão entre os acadêmicos, visto que o produto

final exigido baseia-se nesse modelo de autoria.

Se os modos de leitura demonstraram ainda a transição e simultaneidade

de suportes, a escrita já mostra o fim dessa transição, sendo totalmente executada

no computador, especialmente pela facilidade trazida pela edição eletrônica, muito

mais ágil e maleável que a escrita em papel ou em máquina de escrever. Alguns

entrevistados relataram não conseguir mais escrever a mão, tendo dificuldade

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Considerações conclusivas 396

quando uma tarefa do tipo é exigida, a exemplo de provas universitárias e

concursos, assim como relataram a enorme dificuldade que havia para se compor

um obra impressa através da máquina de escrever, que exigia múltiplas

redigitações.

Se quanto ao suporte utilizado, a escrita já completou a transição, quanto

ao desenvolvimento no tempo ela ainda se mostra bastante equilibrada entre a

linearidade herdada dos suportes impressos e analógicos e a simultaneidade

permitida na edição de múltiplos lugares (maleabilidade) no suporte digital. A

escolha vem basicamente do modo como o doutorando visualiza a sua escrita e

não mais como uma limitação derivada do suporte. O suporte digital permite a

execução das duas modalidades de escrita, sendo alguns mais conservadores e

outros mais ousados na aplicação de seus recursos.

4. Autoria individual ou semi-coletiva: permanece a tradição acadêmica da

autoria individual e baseada em referências de prestígio.

A tradição acadêmica da autoria individual, que busca a originalidade de

ideias dentro de uma rede de associações (e posições) no espaço universitário,

permeou a maioria dos usos de suportes digitais relatados pelos entrevistados.

Embora os novos suportes tragam uma estrutura de conexões em rede ágeis e que

possibilitam o trabalho coletivo, em grupo, negociado, a muitas mãos e distribuído

em tempo real aos demais, não foi esse o padrão observado entre os autores

acadêmicos.

De forma provocadora e ao mesmo tempo consciente da problematização

trazida para esta tese, a princípio podemos dizer que a interação permitida pelos

suportes digitais – com todas as partes componentes de uma rede podendo

potencialmente se comunicarem e interferirem na criação das outras partes

envolvidas nesta mesma rede, a possibilidade de co-criar e colaborar em projetos

coletivos dentro da rede internet –, vem sendo pouco aproveitada pelos

acadêmicos durante a elaboração de seus textos, que acabam por utilizar mais a

internet como fonte de informações (acesso a bases de dados) e meio de

comunicação eventual, como local de extração de conteúdos e local de

publicização de sua própria produção autoral, essencialmente individual.

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Considerações conclusivas 397

Na prática, a co-autoria aconteceu em documentos periféricos, semi-

acadêmicos, como os relatórios de trabalho, ou em artigos científicos a poucas

mãos, através da escrita-colagem, cada um fazendo a sua parte separadamente e

as juntando em um único documento ao final. Essa escrita “coletiva” acontecia

com os pares mais próximos, através da comunicação direta com os mais

conhecidos, e raramente com pessoas distantes, como é comum se encontrar nos

processos emergentes de autoria coletiva na Web 2.0, indo de acordo com os

resultados encontrados por George et al. (2006).

É bom enfatizar que alguns orientadores ainda rejeitam o recebimento via

internet de textos produzidos pelos orientandos, exigindo o encontro presencial e a

análise em suporte impresso. Vale lembrar que, em nosso estudo, estamos falando

de pesquisadores em início de carreira, que concluíram o doutorado há pouco

tempo e, portanto, não possuem uma rede de contatos e parcerias desenvolvida,

tendo que trabalhar com aqueles que estão mais próximos fisicamente. No estudo

de Pinheiro (2003) com pesquisadores brasileiros veteranos, o padrão de

comunicação com os pares via internet, incluindo os de outras áreas, era bem alto,

assim como o compartilhamento de pre-prints, indicando que os padrões mudam

de acordo com o momento da carreira.

Quanto à modalidade dos interlocutores, entre os casos analisados para

esta tese, verificamos que a citação de autores continua sendo a partir do prestígio

acadêmico e local de publicação dos mesmos, sendo que a produção aberta e

informal presente na internet (Web 2.0), as “fontes subterrâneas”, extraoficiais ou

“marginais”, servem como ponto de partida, como um caminho que deve levar a

esses autores reconhecidos.

O estudo de Junni (2007) já constatava que apesar do crescimento do

acesso a fontes cinza na internet, eles não tiveram seu uso aumentado entre os

período de 1985 e 2003, devido à percepção dos acadêmicos de falta de qualidade

das mesmas. No estudo de Kai-Wah Chu & Law (2007), os doutorandos

relataram, em primeiro lugar, o uso de fontes formais e humanas como revistas

científicas, livros, autores e especialistas externos, publicações de eventos,

conferências, teses, ida à biblioteca, e nas últimas posições constava o uso de

fontes “marginais”.

Dessa forma, a consulta aos produtos publicados pelos novos autores não-

formais em blogs, wikis e comunidades virtuais serviram como atalhos que não

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Considerações conclusivas 398

são explicitados oficialmente nas referências listadas, da mesma forma que as

pessoas ao redor poderiam servir como “fontes humanas” para indicar de maneira

mais rápida autores que demandariam mais tempo para serem mapeados e

encontrados, não sendo necessariamente citadas ao final do estudo. Os

acadêmicos, em geral, optam pela segurança dos repositórios acadêmicos

tradicionalmente certificados pelos pares.

A forma como essa produção paralela recebeu legitimidade pelos

acadêmicos entrevistados foi através do seu uso como fonte empírica, ou seja,

através do uso das falas dos sujeitos, suas manifestações e marcas deixadas online,

visando complementar o tema de pesquisa escolhido. Nesse caso, entram as

pesquisas em que a própria internet serve como campo empírico para a resolução

de temáticas contemporâneas, como o uso de fóruns por estudantes ou a criação

de blogs com fins didáticos. Logo, a agilidade para localizar e obter dados, seja

por instrumentos ou por observação de registros deixados pelos seus integrantes,

torna a internet um manancial valioso para a coleta de dados.

5. Ampliação do escopo de fontes: os suportes digitais ajudam a

internacionalizar, “desintermediar” e diversificar os tipos de fontes

coletadas.

Talvez o setor que mais tenha recebido impacto com a introdução dos

suportes digitais seja o de disponibilização e busca de fontes de informação,

aumentando-se o número de fontes citadas e diminuindo-se a idade das mesmas

(Junni, 2007) assim como a frequência de acesso e uso cada vez mais altos (Khan

& Ahmad, 2009). Dessa forma, aumentou-se a velocidade e a instantaneidade de

busca e acesso aos materiais, com o entrelaçamento da vontade de se obter uma

informação e o acesso instantâneo ao conteúdo desejado, através dos buscadores

presentes na internet (especializados ou generalistas).

Essa velocidade (facilidade de acesso) entra em contraste com o

deslocamento e espera necessária para se obter material em bibliotecas e

instituições físicas (Lopes & Silva, 2007), criticadas por alguns de nossos

entrevistados, por não conter acervo tão atualizado quanto a internet, que os

publica instantaneamente. Ao mesmo tempo, diversificaram-se, também, as

modalidades desses materiais, que agora além de serem textuais são também

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Considerações conclusivas 399

audiovisuais (multimídia) ou mesmo numéricos puros (bases de dados

institucionais compartilhadas).

A partir do processo de digitalização crescente de fotografias, vídeos,

ilustrações e obras impressas, a entrada do acadêmico nas redes de referenciações

se tornou mais ágil, embora tenha também aumentado o número de fontes e

autores disponíveis, exigindo-se estratégias mais elaboradas de busca e seleção de

materiais. A união de diversas bases de dados em buscadores integrados, além de

trazer uma sobrecarga de materiais disponíveis (excesso de dados e informações),

também trouxe a possibilidade de internacionalização dos estudos, porque, ao

estarem na internet, estão potencialmente disponíveis a todos, em qualquer parte

do planeta.

O desafio então é conseguir circular entre tipos de fontes e modalidades de

suportes de modo gerenciado e com um critério ajustado na escolha dos materiais,

sendo essa a tônica encontrada nos depoimentos em que parte dos entrevistados

confia no desenvolvimento de uma espécie de “sabedoria” para a realização das

escolhas; sabedoria essa que cresce à medida que se ganha experiência acadêmica

e se passa pelo curso de graduação, pós-graduação e depois a docência

universitária (Barret, 2005).

Entre os caminhos comentados pelos entrevistados durante seu

doutoramento, esteve o acesso ao conhecimento de pessoas de referência, as

fontes humanas, como professores experientes e colegas de curso, que indicam

leituras, autores, locais de referência, facilitando o acesso a fontes que os

buscadores online não são capazes de filtrar com tanta precisão. Da mesma forma

que os entrevistados participantes desta tese, no estudo de Lopes & Silva (2007),

os pesquisadores relataram que na busca da informação os colegas e membros do

grupo de pesquisa foram indicados como primeira opção de mediadores, seguidos

por colegas de outras universidades.

Uma consequência da diversificação de fontes, da instantaneidade de

acesso e da introdução do suporte digital, foi a detecção das buscas cada vez mais

sendo efetuadas em modo circular, tanto entre materiais impressos e multimídia

analógicos, quanto em materiais digitais, utilizando-se para isso diversos

disparadores: local, autor, grupo, publicação.

Seguir as referências bibliográficas, saltando de um estudo a outro ao

modo de uma trilha ou rastro sendo seguido, é chamado em língua inglesa de

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Considerações conclusivas 400

citation chaining ou citation chasing (Barret, 2005), uma forma de encurtar

caminho e de se lidar com o excesso de informações. Na pesquisa de George et al.

(2006), constatou-se que o pós-graduando vai dos sistemas de busca generalistas

para os bancos de dados especializados, em um movimento de aprofundamento na

pesquisa, algo que também constatamos em nosso estudo quando percebemos que

o doutorando vai aos poucos entrando na rede de associações e referências

pertencentes ao seu campo de pesquisa.

Junni (2007) já constatava que parte dos materiais “clássicos”, textos de

grandes autores, ainda e em formato impresso, o que exige a circulação entre os

suportes. É esse movimento que parte dos pesquisadores entrevistados relatou em

seus discursos, sendo a materialização do modo como eles se situavam no campo

de referências e discursos presentes em sua área de pesquisa. Dessa forma, o nível

de aprofundamento em camadas só depende do tempo investido, do interesse na

temática e do “fôlego” do pesquisador.

Bases abertas e restritas? O impasse continua sem uma solução definitiva

e a biblioteca mantém-se parcialmente como intermediária.

Quanto à modalidade de acesso às fontes, ainda não se chegou a uma

solução majoritária para se resolver o impasse dos que defendem o acesso

totalmente aberto e gratuito e os partidários do acesso fechado via assinaturas. No

caso de pesquisas internacionais, para se ter acesso depende-se da assinatura de

bases de dados feita periodicamente pela biblioteca da universidade, um forma das

mesmas intermediarem o processo quando a presença física do pesquisador se

torna dispensável.

No caso italiano, observou-se a dependência acentuada da biblioteca para a

obtenção de artigos e outras modalidades de textos acadêmicos, visto que os

arquivos abertos ainda não são o padrão adotado pelo país, exigindo-se a

assinatura de revistas mediadas pelos bibliotecários. Apesar dessa limitação, o

acesso remoto a artigos acadêmicos via internet permitia que a intermediação da

biblioteca não exigisse necessariamente a presença física do pesquisador.

Processo semelhante foi detectado por Khan & Ahmad (2009) em universidades

indianas, com a 90% dos acadêmicos que compuseram o estudo acessando

periódicos eletrônicos mediados pela biblioteca.

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Considerações conclusivas 401

No Brasil, embora também sejam assinadas bases internacionais pelas

bibliotecas universitárias, o padrão apresentado foi de buscas em bases abertas,

especialmente o Scielo e os bancos de teses e dissertações criados pelas agências

públicas de fomento à pesquisa, que aglutinam a produção nacional em portais

especializados. Se por um lado o acesso livre beneficia e facilita a imediaticidade

das buscas sem o contato com as bibliotecas, por outro pode levar ao

desconhecimento dos bancos de dados de acesso restrito, bases que permitem

nesse momento a internacionalização das pesquisas acadêmicas. Alguns

entrevistados não acessavam tais bases e não pediam auxílio aos bibliotecários

para orientação nas buscas de fontes.

A migração para as bases online já era evidente no estudo de Pinheiro

(2003), quando somente 19% dos pesquisadores veteranos afirmaram acessar

exclusivamente fontes impressas e 61% privilegiavam o acesso aos documentos

eletrônicos. Os estudos de Lopes & Silva (2007) e de Aqil & Ahmad (2011),

também apontavam uma divisão meio a meio entre a preferência por documentos

em formato eletrônico ou por documentos impressos. A questão que fica em

aberto, portanto, é o quanto o acesso livre aos documentos se aprofundará nas

políticas promovidas pelas universidades, tanto no Brasil quanto em outros países,

a partir da facilidade de publicação e difusão trazida pelos suportes digitais.

Dados extra ou semi-oficiais: os novos produtores de conteúdo além dos

canais academicamente certificados.

As redes abertas e a facilidade de publicação de conteúdos em suportes

digital permitiu a ascensão de novos tipos de repositórios além dos universitários

e certificados no ambiente acadêmico. São bases de dados e arquivos coletivos

que passam a servir de fonte para acadêmicos durante as suas buscas. Embora não

sejam bases de dados “certificadas” pelos acadêmicos em suas citações, mesmo

assim são acessadas e utilizadas por eles, especialmente como fonte empírica e de

documentação complementar. Entram nesse conjunto as comunidades virtuais, as

wikis e blogs, os fóruns de ajuda mútua, as redes sociais mais amplas e os portais

de notícias jornalísticas.

Compõe esse grupo também as fontes não acadêmicas, mas que são

certificadas por instituições, ou seja, que não são “amadoras”, mas produzidas por

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Considerações conclusivas 402

especialistas. São exemplos, os bancos de imagens digitalizadas, os repositórios

de livros e documentos escaneados (com ou sem autorização dos autores), os

acervos disponibilizados pelas livrarias, os bancos de vídeos com seminários e

entrevistas ocorridas em eventos científicos e as redes sociais especializadas em

resenhas de livros. São materiais que antes eram buscados presencialmente e

agora são acessíveis on-line, promovendo o acesso a fontes disponíveis em outros

países que nem mesmo as bibliotecas universitárias teriam condições de importar

e manter em seu acervo local.

Através dessas fontes extra-oficiais que muitos pesquisadores relataram a

obtenção de ajuda via comunidades virtuais, incluindo a aplicação de

questionários e a realização de entrevistas. Como são comunidades que reúnem

pessoas interessadas em uma mesma temática, mas geograficamente distantes,

torna-se um local precioso para a obtenção de dados, uma coleta que antes poderia

ser impossível devido ao alto custo de aplicação e mobilização de pessoas.

6. Complementariedade entre suportes: os suportes analógicos são

complementares em parte das atividades acadêmicas.

Em diversas das atividades relatadas, seja na leitura, na busca de fontes, na

organização dos materiais ou na empiria, os suportes acabam por ser

complementares, mesmo com a ascensão do uso dos suportes digitais e a

tendência de predomínio para os próximos anos com a crescente digitalização dos

acervos.

O computador, por enquanto, predominou na atividade de escrita,

superando o trabalho manuscrito em agilidade devido à maleabilidade do formato

digital. Também predominou na atividade de comunicação, com o envio de e-

mails e eventualmente com o uso de mensageiros instantâneos de texto, voz e

vídeo e a participação em listas de discussão. Quanto à busca de informação, Aqil

& Ahmad (2011) apontaram que na Índia cerca de metade dos pós-graduandos

participantes do estudo consideravam que a internet era a fonte que mais os

satisfazia, evidenciando ainda um equilíbrio de uso entre os suportes com

simultaneidade de uso, embora a tendência, de acordo com Khan & Ahmad

(2009), seja que o digital predomine gradualmente com o passar do tempo.

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Page 403: TESE: Quando os doutorandos visitam o ciberespaço: o uso de suportes digitais na produção acadêmica em um período de transições

Considerações conclusivas 403

A complementaridade não excluiu, em alguns dos casos analisados, a

adesão mais forte de uma ou outra das modalidades de suportes. A ida quase

exclusiva a bibliotecas físicas para a busca de materiais acadêmicos ou o uso

quase exclusivo de fontes em formato digital armazenadas no computador pessoal

foram atitudes mais extremas encontradas em nosso estudo e ligadas à temática e

às inclinações pessoais quanto ao uso de uma das modalidades de suportes.

A “disputa” entre os suportes pode fazer surgir binômios como leitura em

tela-leitura em papel, escrita linear-escrita simultânea, comunicação presencial-

comunicação virtual, embora, na prática, a maioria dos entrevistados as tenha

utilizado de maneira equilibrada e complementar.

No caso específico das fontes de informação, Lopes & Silva (2007)

chamaram de biblioteca híbrida esse novo espaço com “dupla face” em que se

pode acessar tanto dados em suporte digital quanto em suporte impresso.

Teríamos então também um processo de leitura híbrida, comunicação híbrida e em

menor escala a escrita híbrida? Ao que tudo indica sim, sendo que nos próximos

anos veremos se a tendência será a supremacia do digital ou a manutenção dessa

hibridização.

7. Convergência para o computador: o computador permitiu a aglutinação

das etapas de produção do trabalho acadêmico em um só lugar.

De maneira geral, percebemos que o computador agregou todas as etapas

que compõe a produção de um material acadêmico, sem excluir o uso

complementar dos suportes analógicos: a escrita, a leitura, a busca de fontes, o

armazenamento dos materiais coletados, a editoração do texto e a impressão final

do documento.

Nem sempre todas essas etapas são aglutinadas de maneira harmônica,

sendo que para alguns dos entrevistados parte ou a totalidade de algumas delas

foram feitas em suporte material, analógico, impresso.

Partindo da ideia de que exista o pesquisador que tenha realizado

plenamente essa convergência de usos, a partir da reunião de estratégias dos casos

estudados, podemos falar em seis pilares ideais de utilização da internet e do

computador na vida do doutorando, porém sem ser uma fórmula prescritiva ou

valorativa do uso, pois sabemos que a temática da pesquisa e o objeto de estudo

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Considerações conclusivas 404

determinam, em parte, a presença maior ou menor dos suportes digitais, estando

além das preferências pessoais do doutorando, embora estas também sejam

determinantes nas escolhas.

Então, para fins gerais de referência, este doutorando “ideal” usaria os

meios digitais como:

(1) fonte acadêmica através do uso de dados provenientes de bibliotecas

digitais, bases de dados oficiais produzidas por entidades do governo e centros de

pesquisa, e-books e artigos de revistas científicas online, sites oficiais do governo

e entidades, postagens não acadêmicas, extraoficiais, e toda sorte de informação

disponível em formato digital.

(2) campo empírico para realização de coleta de dados de pesquisa com

sujeitos participantes online através de fóruns, questionários, grupo focal,

produzidos ou não de forma original pelo pesquisador.

(3) espaço de análise dos dados coletados através do uso de softwares de

análise estatística e/ou análise qualitativa, formando bases de dados próprias

através do campo empírico escolhido e tratadas em seu computador pessoal.

(4) espaço de comunicação com outros pesquisadores, sujeitos

investigados e demais públicos participantes de sua pesquisa.

(5) espaço de organização e armazenamento dos dados coletados,

concentrando as fontes e as anotações, assim como gráficos e esquemas de leitura,

no computador pessoal ou mesmo em serviços de armazenamento na nuvem.

(6) local de escrita e leitura, quando essas duas atividades se realizam

totalmente no computador e na internet, caracterizando a independência total do

uso do impresso, sendo o espaço digital o meio utilizado para a elaboração do

texto da tese e a leitura dos materiais coletados já neste formato.

Cabe destacar que a presença destes pilares “ideais” é quase sempre

incompleta entre os entrevistados, devido a questões diversas derivadas da

multideterminação dos usos, incluindo a temática escolhida e a disponibilidade de

dados de campo em formato digital. Destaco como exemplo de uso abrangente o

caso N7 (ver Anexo VI) em que a pesquisadora, embora privilegiada pela sua

temática, soube mesclar bem todos esses usos sem privilegiar suportes ou tipos de

fontes em sua pesquisa.

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Considerações conclusivas 405

Quadro 22 - Indícios de transição, encontrados nos depoimentos, que merecem destaque.

8. Heranças analógicas presentes no digital: as heranças deixadas pelo

suporte analógico nesse momento de transição.

Os suportes analógicos, embora estejam sendo substituídos pelos de

configuração digital, não somem completamente, mesmo quando deixam de

existir fisicamente, pois uma série de hábitos de uso e características construídas

Indícios de transição, encontrados nos depoimentos, que merecem destaque.

Busca Busca circular contínua entre os suportes e modalidades de fontes.

Busca por aprofundamento em camadas.

Escrita Escrita por aprofundamento em camadas.

Escrita simultânea controlada ou radical.

Escrita‐colagem como hábito em construções "coletivas".

Co‐autoria online possível, mas ainda incipiente.

Manutenção da escrita linear em alguns casos.

Elementos exigidos na escrita ainda são os mesmos.

Leitura Novos suportes para leitura e marcação de textos.

Dificuldade no uso do computador (desktop) para leitura prolongada.

Ainda é grande a impressão de materiais para leitura.

Fontes Bancos de dados generalistas facilmente acessíveis.

Bancos de dados semi ou extra‐oficiais.

Sofisticação e integração dos bancos de dados especializados.

Bases de dados oficiais disponíveis (governo e centros de pesquisa).

O problema do acesso por assinatura bibliotecária versus o acesso livre.

Empiria Novos produtores de conteúdos online (blogs, wikis, redes sociais).

Facilidade de reunir sujeitos por afinidade de interesses em comunidades virtuais.

Coleta de dados produzidos e compartilhados de maneira espontânea em espaços públicos.

Comunicação Comunicação online com pesquisadores é tímida.

Comunicação online com sujeitos para aplicação de instrumentos de pesquisa.

Comunicação online das pesquisas é timída, especialmente pelo medo de disponibilizar achados (plágio e direitos autorais).

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Considerações conclusivas 406

ao longo dos séculos de existência e tradição são mantidas na rotina dos

acadêmicos ao se apropriarem dos novos suportes.

O caso das bases de dados digitais e online é representativo desse

movimento. Primeiro porque tais bases são repositórios que lembram as estantes

de uma biblioteca, com obras estáticas, seriadas, fixadas no tempo, embora

possam ser editadas e atualizadas a qualquer momento. Essa necessidade de

historicidade das obras, de fixa-las no tempo quando os novos suportes

dispensariam essa limitação é uma clara herança de um modo de construir

conhecimento baseado no acúmulo crescente, temporal, da informação.

De modo prático, vemos essa herança nos atuais downloads de PDFs, seja

em formato de livro ou de artigo científico, formando por analogia a biblioteca

virtual do acadêmico, que continua acompanhando a produção dos pares através

das edições seriadas das revistas científicas. Nos suportes digitais utilizados

atualmente para a leitura, os tablets simulam as estantes de uma biblioteca e

procuram simular inclusive o ato de folhear as páginas das obras, como se fossem

livros impressos.

Não é a toa que a produção informal, aberta, coletiva da Web 2.0 causa

certo temor nos que esperam que uma obra seja estável e fisicamente situada. Os

novos espaços de produção são tão dinâmicos que se tornam difíceis de serem

referenciados, de terem seus conteúdos resgatados, tal é a velocidade de mutação

que tais comunidades virtuais sofrem com a participação de seus integrantes. No

caso da entrevistada que pesquisava blogs didáticos (N12), foi preciso “congelar”

a produção através da cópia para um documento fixo no editor de textos, assim

como a entrevistada que precisou capturar materiais presentes nos sites de centros

de pesquisa europeus e os imprimir para fixar em pastas físicas em sua mesa de

trabalho (N6).

Já no campo da leitura e da escrita, as permanências são muitas e

representadas pelo próprio produto acadêmico exigido, que permanece

praticamente o mesmo: a tese. Uma tese, no final de seu processo, vira um livro

impresso, e para se tornar um livro deve ter os elementos próprios dos mesmos:

capa, sumário, capítulos, folhas numeradas, notas de rodapé, citações, referências.

São elementos típicos do suporte impresso e que agora são construídos mais

rapidamente e de forma maleável no suporte digital, mas apesar disso

permanecem os mesmos.

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Page 407: TESE: Quando os doutorandos visitam o ciberespaço: o uso de suportes digitais na produção acadêmica em um período de transições

Considerações conclusivas 407

Com isso, a produção linear também acaba permanecendo em alguns

casos, com a consulta a fontes, a esquematização dos pontos principais lidos e a

escrita estanque de capítulos representando etapas muito bem delimitadas,

consecutivas. É um tipo de limitação que não teria razão de existir com o suporte

digital, mas que permanece como hábito, quando se acredita que a simultaneidade

pode resultar em uma perda de controle na administração de múltiplas frentes de

escrita.

Quanto à organização dos materiais, o computador já fornece as metáforas

provenientes da cultura do impresso, como desktop (mesa de trabalho), pastas,

arquivos, tags (etiquetas), que condicionam uma utilização por analogia com o

espaço físico. Não foi incomum encontrar pesquisadores que armazenavam seus

dados da mesma forma no espaço físico, dos impressos, e no espaço digital em

seus computadores. Conclui-se então que o suporte digital reforça a herança do

impresso quando mantém presentes elementos gestados em períodos anteriores,

aumentando o desempenho em velocidade e abrangência, e introduzindo somente

alguns elementos inovadores.

Para melhor visualização da síntese proposto, coloco aqui os principais

modelos derivados da mútua influência dos suportes digitais e analógicos no

processo de elaboração do trabalho acadêmico, detectados tanto na empiria desse

estudo quanto na revisão de estudos empíricos anteriores e de conceitos presente

na primeira parte da tese. A mistura entre tradicionais (trad.), emergentes (emerg.)

e mistos foi proposital, privilegiando-se a aproximação temática.

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Considerações conclusivas 408

Quadro 23 - Síntese dos modelos tradicionais e emergentes detectados na pesquisa (binômios e trinômios).

9. Multideterminação nos usos: embora os suportes digitais tenham

propriedades novas, as práticas são multideterminadas.

Ao longo dos depoimentos que fizeram parte desta tese e da revisão de

estudos semelhantes nas duas últimas décadas, ficou evidente que outros fatores

estavam em jogo, além das propriedades inerentes aos novos suportes digitais,

relatadas especialmente no Capítulo 2 deste trabalho quando o hipertexto, sua

maleabilidade e possibilidade de conexão em rede foram detalhados.

A multideterminação não é uma constatação nova, tendo sido explicitada

no estudo de Walsh & Bayma (1996) através da verificação de fatores extra-

tecnológicos que envolviam e diferenciavam usos do computador entre diferentes

áreas de pesquisa universitárias, o que não impede a atualização desses fatores.

Não foi por acaso a escolha de um modelo com entrevistas, qualitativo,

visto que a partir dos depoimentos, a rigor imprevisíveis quando se trabalha com

Síntese dos modelos tradicionais e emergentes detectados na pesquisa (binômios e trinômios) a partir da díade suporte analógico‐suporte digital

Trad: artigos‐revistas periódicas‐volumes anuais (classificação)

Trad: dissertações‐teses‐livros (classificação)

Emerg: wikis‐blogs‐fóruns (espaços)

Misto: fonte humana‐fonte impressa‐fonte digital (classificação) 

Misto: acesso restrito pago‐acesso livre gratuito (modalidade)

Misto: busca linear‐busca circular‐busca em camadas (modalidade)

Misto: fontes certificadas‐fontes semi‐oficiais‐fontes extra‐oficiais (classificação)

Misto: leitura em tela‐leitura em papel (modalidade)

Trad: leitor‐espectador‐usuário (classificação)

Emerg: leitor‐navegador‐autor (classificação)

Emerg: co‐criador‐interagente‐interventor (classificação)

Trad: emissão‐canal‐mensagem‐recepção (processo)

Misto: escrita linear‐escrita controlada‐escrita simultânea (modalidade)

Emerg: hipertexto potencial‐hipertexto colagem‐hipertexto cooperativo (classificação)

Misto: comunicação presencial‐comunicação online (modalidade)

Trad: comunicação formal‐comunicação informal (classificação)

Trad: uso profissional‐uso acadêmico‐uso pessoal (modalidades)

Emerg: e‐mail‐motor de busca‐editor de texto (espaços)

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Considerações conclusivas 409

roteiros de entrevista mais abertos, é que surgem fatores que até o momento não

haviam sido levados em conta pelos pesquisadores, relacionados especialmente à

biografia particular de cada entrevistado.

Dessa forma, procuro sintetizar, na listagem a seguir, os principais fatores

encontrados na empiria desta tese, o que possibilita uma visão de conjunto maior

sobre os casos e mais próxima do campo da Educação e das ciências humanas:

Quadro 24 - Multideterminação dos usos: principais fatores encontrados na empiria.

8.2 Novos suportes, novos produtos? O que fazer quando se exige mais do mesmo?

A primeira e mais importante das conclusões deste estudo está relacionada

ao tipo de produto que os acadêmicos geram em suas atividades de estudo e

pesquisa. É uma constatação, aparentemente simplória, que os acadêmicos

recebem como tarefa principal em seus cursos de pós-graduação a elaboração de

um produto final de pesquisa que chamam de tese acadêmica, sendo que todas as

suas atividades convergem para a elaboração desse produto, seja em períodos

maiores como no caso dos quatro anos no Brasil ou em períodos encurtados como

Multidetermina‐ção dos usos: principais fatores encontrados na empiria

Necessidades do pesquisador para a realização da investigação.

Momento da carreira e tipo de atividade exercida, paralela à acadêmica.

Aprendizado dos suportes digitais a partir de necessidades de trabalho.

Área de procedência: sempre esteve em humanas ou migrou de exatas.

Tema de pesquisa investigado: voltado ou não para suportes digitais.

Tipos de fontes, e consequentemente de suportes, que servem à pesquisa.

Tipo de empiria, através do contato com sujeitos geograficamente dispersos.

Modos de se organizar na vida pessoal, mais organizado ou não organizado.

Infraestrutura: acesso aos suportes em casa, no trabalho, na universidade.

Vivências prévias com os suportes digitais junto a amigos e familiares.

Nível de conhecimento técnico adquirido formal ou informalmente.

Tempo dedicado à imersão no uso de recursos básicos e avançados.

Modo de conceber as possibilidades oferecidas pelos suportes digitais.

Hábitos construídos e herdados com o uso dos suportes analógicos.

Avaliações, regulações e normas acadêmicas e governamentais.

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nos três anos estipulados na Itália através do Processo de Bolonha (Azevedo,

2007).

Sobre este produto final, como já disse anteriormente, a tese é apresentada

no formato tradicional criado com os instrumentos de escrita e impressão

clássicos, na segunda fase das tecnologias da inteligência de acordo com a

classificação de Lévy (1993), visto que durante a oralidade primária não havia a

possibilidade de registros escritos coerentes e acessíveis de uma geração para a

outra. A tese acadêmica é, em síntese, um livro, tem o formato e todas as técnicas

e elementos utilizados para compor um livro impresso, e, por isso, a elaboração

desse produto requer, de modo parcial (mas não fundamental), a utilização dos

instrumentos criados contemporaneamente pelos suportes digitais.

Para a elaboração de uma tese pode-se, inclusive, rejeitar o uso dos

suportes digitais em algumas das etapas de produção, conforme foi possível

detectar em alguns casos de sujeitos entrevistados, a exemplo dos que rejeitaram o

uso de livros e artigos digitalizados, indo diretamente às bibliotecas, os que

preferiram realizar sua empiria presencialmente e os que se comunicavam com

outros pesquisadores através de eventos acadêmicos como congressos e

seminários. Podemos afirmar, sem sombra de dúvidas, através dos estudos

históricos das primeiras universidades e dos grupos intelectuais

institucionalizados, que a tese acadêmica é, em todos os aspectos, uma herança

analógica, linear em sua estrutura e com seus elementos surgidos a partir dos usos

do suporte papel tanto na modalidade manuscrita quanto depois na modalidade

impressa (Le Goff, 2010; Verger, 1999).

Sem o suporte impresso, a tese acadêmica não existiria, pois exige o

acúmulo de saberes, registrado no tempo-espaço, e o posterior debate entre os

autores envolvidos na produção dos textos. Já o contrário não é verdadeiro, visto

que os elementos essenciais presentes no suporte digital, como a não-linearidade,

os links e nós, que formam a rede hipertextual com o acesso instantâneo aos

módulos que a compõe não estão presentes nas teses que hoje são geradas, visto

que devem ser entregues em suporte impresso. De acordo com a classificação de

Ribeiro (2006), uma tese pode ser, no máximo, uma das modalidades de

hipertexto impresso.

Indo um pouco mais longe, a rigor, uma tese acadêmica pode dispensar

todo aparato oferecido pelos computadores e pela internet, todas as

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Considerações conclusivas 411

potencialidades permitidas pelo hipertexto e pelos instrumentos criados pelos

integrantes da cibercultura e do ciberespaço, sendo que os acadêmicos, para

imprimirem um ritmo mais veloz ao processo de elaboração de suas teses, mais

fáceis de serem produzidas através do suporte digital, lançam mão perifericamente

desses novos instrumentos de autoria, especialmente na aceleração das buscas de

materiais semelhantes (artigos, dissertações, teses e documentos em geral), na

editoração do texto através de editores eletrônicos, na realização da coleta de

dados em ambientes online, no uso de softwares de análise de dados automatizada

e, eventualmente, na comunicação com os pares.

Podemos então, a princípio, afirmar que o autor acadêmico, na maior parte

do tempo isolado – especialmente no campo das ciências humanas, sem os

grandes financiamentos, equipes de pesquisa e parcerias com objetivos de lucro –,

utiliza o suporte digital em determinados processos que não alteram a essência de

sua atividade, ou seja, em brechas nas quais são permitidas a entrada e uso dos

suportes digitais (vide síntese ao final do Capítulo 2), embora o modelo clássico

de emissão-canal-mensagem-recepção de documentos textuais no formato de

documentos científicos seja mantido como a essência das trocas científicas.

Evidencia-se esse processo quando analisamos, no Capítulo 2, a essência das

bases de dados digitais acadêmicas como repositórios de documentos em formato

PDF, reproduzindo a lógica dos documentos impressos.

De maneira até certo ponto irônica, podemos concluir que os acadêmicos

“visitam” o ciberespaço, mas não o habitam completamente no que se refere ao

uso de suas potencialidades máximas, pois não fazem a completa imersão no

espaço digital proposta na classificação de Santaella (2004) quando cria categorias

para os antigos (contemplativos, moventes) e novos leitores (imersivos), visto que

a lógica de escrita e de leitura permanece condicionada ao produto requisitado. Os

novos suportes não estão servindo para a elaboração de novos produtos, embora

estejam acelerando algumas de suas características de produção, simulando e

atendendo com seus softwares o processo antes realizado com o suporte impresso.

O problema central então que aponto aqui, como legado deste meu

trabalho, é a necessidade de solicitar novos produtos diferentes de uma tese

acadêmica clássica, que estejam mais em sintonia com as possibilidades abertas

pelos suportes digitais e pela cibercultura contemporânea (Macek, 2005), em que

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Considerações conclusivas 412

os computadores e a internet não representam mais a cultura de um nicho de

experts, mas se encontram espalhados e adotados amplamente pela sociedade.

Digo isto, porque somente com a elaboração de projetos de pesquisa

inovadores (atividade central do acadêmico), com objetivos que exijam o trabalho

com as novas linguagens surgidas a partir do suporte digital, com a apresentação

de outros resultados (produtos) em outros formatos, a partir do tratamento teórico

inicial e ao longo da elaboração do trabalho acadêmico, mantendo sempre contato

com outros estudos e outros pesquisadores, é que o suporte digital poderá ser

utilizado em sua plenitude de possibilidades.

Por enquanto, a autoria coletiva como método de produção intelectual vem

florescendo em espaços não-acadêmicos, em comunidades virtuais cuja produção

recebe destaque, a exemplo dos softwares livres e dos textos da Wikipédia, mas

não o mesmo prestígio e reconhecimento depositados historicamente nos produtos

derivados da pesquisa universitária, sendo chamada de maneira depreciativa, por

alguns autores, de produtos derivados de atividade amadora (Keen, 2009).

A tese acadêmica é um produto essencialmente individual, institucional e

com sua produção requisitada para ser feita dessa maneira. A entrada do

acadêmico nas redes formadas no ciberespaço se torna muito mais uma atividade

de extração de conteúdos do que de produção compartilhada, pois nem mesmo os

resultados de suas leituras (anotações) são divididos e discutidos no ciberespaço,

guardados e protegidos em seus computadores pessoais para uso pessoal

exclusivo. A abordagem teórica de Foucault (2006) a respeito do que é um autor e

da noção construída sobre os elementos que constituem uma obra, ainda seria

válida para se analisar a atual produção dos acadêmicos, visto que a atividade

continua produzindo uma série de textos com a assinatura e as marcas de estilo

individuais.

Penso que três fatores, tratados ao longo dos capítulos desta tese – ela

mesma em formato linear tradicional devido a limitações culturais e, portanto,

institucionais –, impedem ou dificultam a emergência de novas possibilidades de

elaborar e concretizar pesquisas acadêmicas usando suportes digitais em sua

plenitude, em todas as etapas do trabalho acadêmico desde o início até a sua

conclusão.

O primeiro deles é a estrutura acadêmica como um todo, – a rede de

universidades e centros de pesquisa e a forma como operam, a forma como os

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Considerações conclusivas 413

cursos de mestrado e doutorado solicitam os produtos finais aos seus alunos e

como demonstram, através dos produtos antecedentes, os padrões que devem ser

seguidos. Ao longo do processo de formação do pesquisador acadêmico, ele inicia

o contato com produtos feitos antes dele, em modelo construído previamente

mediante negociações resultantes de outros espaços e tempos (herança cultural e

histórica dos suportes e práticas anteriores), tendendo a aderir à tradição para

poder se situar na rede de relações acadêmicas existente. Não é a toa que na

revisão de estudos no Capítulo 3 e também no estudo empírico desta tese ao longo

do Capítulo 7 foi detectado um padrão conservador de acesso e uso dos suportes,

especialmente aqueles certificados pelo prestígio do autor e do local de

publicação.

O segundo fator, relacionado com o nível micro dos cursos de pós-

graduação, é composto pelas regulações oficiais, as diretrizes governamentais,

para que os cursos se mantenham. O processo de avaliação dos cursos de pós-

graduação inclui em seus itens a produção de dissertações e teses no formato

livro, e dessa forma os cursos os apresentam como único resultado possível de

conclusão acadêmica.

Nos capítulos 4 e 5, mostrei que a construção histórica das agências e

modelos de avaliação deixou claro que através da atuação dessas instituições

condicionam-se modelos de produtos de pesquisa que visam atender aos itens

elencados pelos avaliadores. A tendência não é somente brasileira, com a agência

CAPES, mas também vem se fortalecendo na Itália através da ANVUR, sendo

ausente no caso italiano a regularidade e a força construída pela agência brasileira

na condução dos cursos de pós-graduação desde a década de 1970.

O terceiro fator é a cultura acadêmica histórica herdada pelas

universidades (Le Goff, 2010; Verger, 1999). Essa cultura nasceu junto com a

ampliação e difusão das obras impressas, embora sua fase de gestão ao longo dos

séculos XII e XIII tenha sido realizada ainda com a cópia de manuscritos que já

seguiam os elementos básicos do formato códex.

Questionar e propor a mudança de todo um aparato criado, voltado para a

construção de teses em formato final de livro, enviados para aprovação em cursos

de pós-graduação como hoje são, é um tanto ingênuo, quando se reconhece os

séculos de história e de estruturas criadas para manter esse modelo, a construção

de uma identidade acadêmica e dos acadêmicos (Bauman, 2010; Said, 2005). A

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Considerações conclusivas 414

ingenuidade de ruptura total pode ser substituída por um conjunto de propostas

que, aos poucos, colaborem para a modificação de hábitos culturais consolidados

e instaurem outros modelos de ação de pesquisa.

Dessa forma, longe de tentar propor rupturas radicais e inconciliáveis,

reconheço que podem ser abertas novas brechas no modelo existente de autoria

científica acadêmica seguindo aquelas já iniciadas no tempo presente, propostos

outros formatos que convivam com a criação do texto formal (seja teórico ou

teórico-empírico) hoje exigido universalmente aos pós-graduandos.

Não podemos cair na armadilha de que a tecnologia dos suportes digitais

inerentemente deve ditar novas regras e formas de criação e concepção de

produtos acadêmicos (determinismo tecnológico primário), mas por outro lado

não podemos ficar alheios e indiferentes às possibilidades que as mesmas

oferecem quando detectamos no Capítulo 2 as brechas já abertas, confirmadas ao

longo da empiria desse estudo. Pensar a respeito dos produtos atualmente gerados

já se torna um bom começo.

Podemos pensar em novos produtos que agreguem a produção coletiva

emergente com a Web 2.0, não sendo, portanto, totalmente fechados e acabados

como aqueles presentes na indústria cultural de massa. Produtos que invistam na

criação de obras contendo links e nós a outras obras, processo esse viabilizado

pelas redes digitais, e que usem com eficiência o vídeo, a imagem e o áudio de

maneira mesclada (autoria multimídia), são perspectivas que se vislumbram para a

produção acadêmica mais aberta à participação e intervenção de seus públicos-

alvo.

Compartilho com visão de Silva (2006) quando propõe, para o campo da

educação, o estudo e a aplicação do conceito de interatividade, usando como

analogia a participação do público na obra aberta Parangolé, de Hélio Oiticica.

Talvez com esse modelo o pesquisador não se torne tão distanciado de seu

público, tanto o acadêmico quanto o empírico, tornando sua obra mais viva,

constantemente aberta a intervenções, e com conclusões que superem aquelas a

que ele sozinho chegou ou que foram apresentadas de maneira congelada em um

texto final no forma de livro. De alguma maneira, os ideais da cultura hacker, ao

conceber a informação e a sua produção como bem coletivo e compartilhado,

estão presentes nessa proposta de intervenção coletiva.

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Considerações conclusivas 415

Algumas destas brechas foram encontradas na empiria deste estudo, em

cada um dos 16 casos analisados, com alguns eixos sofrendo maior alteração (eixo

da escrita e da busca de fontes) e outros se mantendo mais próximos da tradição

(eixo da comunicação) de acordo com cada perfil de entrevistado. Não estou

defendendo aqui a simples concepção de que em certos casos o sujeito tende mais

à inovação no uso dos suportes digitais que outros por simples iniciativa pessoal,

até mesmo porque a autoria e uso de suportes é multideterminada por fatores

diversos, alguns externos ao autor e outros direcionados por ele próprio, como a

escolha do tema de pesquisa e dos sujeitos que farão parte de sua empiria.

É justamente a análise desse perfil autoral, usando novos suportes de

característica digital, que permite o direcionamento didático dos cursos de pós-

graduação para o auxílio e orientação visando a realização de produtos que sejam

alternativos ao formato acadêmico clássico da tese linear. Para que esse processo

de concretize, os orientadores, os professores e a própria burocracia institucional

materializada em normas e documentos de orientação precisam de atualizações

que favoreçam e estimulem esses novos produtos.

Por outro lado, é preciso também ter consciência de que os novos recursos

e possibilidades permitidos pelos suportes de característica digital nem sempre são

conhecidos e fazem parte dos usos cotidianos dos pesquisadores pós-graduandos,

especialmente aqueles menos experientes em pesquisa e nas fontes usualmente

acessadas pelos pesquisadores mais antigos. É preciso então investir em um

acompanhamento e formação permanente, visto que os próprios recursos mudam

com grande velocidade a cada ano.

A área de Educação, em particular, é plena de necessidade de novos

métodos de ensino, novos objetos de cunho educativo, de produtos que

enriqueçam o ambiente escolar e acadêmico. Não podemos restringir essas

recomendações voltadas à inovação somente ao ensino fundamental, médio e de

graduação, mas também aos cursos de pós-graduação e seus modelos de produção

cristalizados, promovendo uma releitura de si para que seja feita a transformação

dos outros níveis de ensino.

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10 Anexos

I. Roteiro de entrevista utilizado na Itália (versão 5 – bilíngue)

Itens para Roteiro de Entrevista (Português e Italiano)

FASE 1 – Aquecimento - Um pouco sobre a formação acadêmica, cursos que fez, onde e quando (perfil científico). - Dimmi un po 'del tuo background nei corsi che hanno fatto, dove e quando lo ha fatto (profilo scientifico). - Início de uso do computador e da Internet (quando, onde e como). - Quando ha cominciato il suo uso del computer e di Internet (quando, dove e come). Começou em que época a usar internet? E 'iniziato a che ora di usare internet? Em casa, na faculdade ou na escola? A casa, al collegio o scuola? Pessoas que influenciaram no uso da internet e do computador. Quali sono state le persone che ti hanno influenzato nell'uso di Internet e il computer.

FASE 2 – Construção da tese - Internet e uso no doutorado. - Dimmi un po 'su come è utilizzato Internet per il suo dottorato. Qual foi o tema da sua tese? Conte um pouco sobre ela. Qual è stato il tema della sua tesi? Raccontaci un po 'su di esso. - Como chegou nas fontes de referência. - Come ha fatto le fonti di riferimento. Como foi a sua seleção de fontes e autores? Come è stata la selezione delle fonti e autori? Quais lugares que costumava buscar suas fontes? Quali luoghi che utilizzate per ottenere le loro fonti? - Fontes de pesquisa usadas (USAR SE O ANTERIOR FOR VAGO). - Quali sono state le tue fonti di ricerca utilizzate per il dottorato? O que acha dos livros? Cosa ne pensi dei libri?

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Anexos 427

O que acha dos Periódicos científicos? Cosa ne pensi di riviste scientifiche? O que acha das teses e dissertações? Cosa ne pensi di tesi e dissertazioni? Costuma visitar bases de dados ou alguma em específico na internet? Di solito visitare alcuni database o su Internet in particolare? Que outros tipos de fontes de dados utilizou? Quali altri tipi di fonti di dati utilizzate? O que acha dos blogs? E das redes sociais? E das wikis? Cosa ne pensi dei blog? E il social networking? E wiki? - Processo de construção do texto da tese. Parlami del tuo processo di costruzione del testo della tesi per il dottorato. Descreva o seu processo de escrita da tese. Descrivi il tuo processo di scrittura della tesi. Você acha que houve fases? O que aconteceu durante cada etapa da escrita? Credi che ci fasi? Cosa è successo durante ogni fase di scrittura? Você usava mais o papel ou computador para escrever sua tese? Hai usato più carta o il computer per scrivere la tua tesi? - Processo de organização do texto da tese até a forma final Ditemi come è stato il tuo processo di organizzazione del testo della tesi fino alla forma finale. Você construiu sumários e esboços? È costruito sintesi e schizzi? Como foi sua construção de capítulos da tese? Come è stata la loro costruzione di capitoli della tesi? - Organização dos arquivos no computador e em sites. Vorrei conoscere un po 'la loro organizzazione di materiali di ricerca sul computer e sui siti Internet. Você usa atualmente arquivos que coletou durante a tese? Attualmente si utilizzano i materiali raccolti durante la tesi? Como estão organizado esses arquivos? Quais são os seus conteúdos? Come sono organizzati questi file? Quali sono i suoi contenuti? Você utiliza alguma classificação ou critérios nessa organização? Hai usato alcuna classificazione o criteri in questa organizzazione? - Comunicação com outros pesquisadores via internet. Com'è stata la tua comunicazione con altri ricercatori via Internet? Que meios são mais usados para se comunicar? Quali media sono stati più utilizzati per comunicare con questi ricercatori? Participa de comunidades virtuais / Listas de discussão / Redes sociais? Quais? Partecipa a comunità virtuali / mailing list / social network? Cosa? Já escreveu textos científicos com outros autores? Utilizou a internet para esta escrita? Ha scritto lavori scientifici con altri autori? Utilizzato Internet per questa scrittura?

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Anexos 428

- Comunicação com os sujeitos participantes do estudo via internet (se houve ou não houve e como foi). Se è successo, come le venne in mente la comunicazione con i partecipanti allo studio tramite Internet? (oppure se non ci fosse e come è stato). - A questão da confiabilidade das fontes Qual è il vostro parere sulla questione di affidabilità delle fonti? Você faz uso do recurso de cópia e colagem de textos? Di solito si utilizza il copia e incolla il testo digitale su Internet? Você possui algum opinião sobre o plágio na internet? Avete qualche opinione sul plagio in Internet?

FASE 3 – Revisão e encerramento - Percepção das mudanças nos últimos 10 anos com a entrada da internet (comparativo) - Qual è la vostra percezione di cambiamenti nel corso degli ultimi 10 anni con l'ingresso di Internet nelle loro giorno per giorno (facendo un paragone)? Compare a sua época do doutorado, mestrado, de especializações e hoje. Confronta i tuoi tempi di dottorato, master, specializzazione e di oggi. Considera que houve mudanças na tecnologia e velocidade da internet? Como as percebe? Ritiene che ci sono stati cambiamenti nella tecnologia e la velocità di internet? Come si fa a vedere? Você tem alguma opinião sobre a existência de excesso de informações? Avere un parere circa l'esistenza di un eccesso di informazioni? Como é o uso do seu tempo? Come è l'uso del tuo tempo? Qual a sua opinião sobre privacidade e internet? Qual è la sua opinione sulla privacy e internet? - Desenvoltura com a internet - Resourcefulness con internet Você acha que alguém influenciou você a usar a internet? Pensi che qualcuno influenzato di usare internet? Se tem a ver com o tema que escolheu. Se avete a che fare con il tema scelto. Se tem a ver com a vida acadêmica. Se avete a che fare con la vita accademica. Se tem a ver com os familiares e amigos. Se si ha a che fare con la famiglia e gli amici.

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Anexos 429

II. Carta aos doutores formados na UCSC entre 2005 e 2010

Gentilissimo/a ….., In qualità di professore ordinario di Didattica presso l'Università Cattolica di Milano (dove dirigo il Cremit – Centro di Ricerca per l’Educazione ai Media, all’informazione e alla tecnologia, http://www.cremit.it/) sto seguendo come tutor Luiz Alexandre da Silva Rosado, dottorando dell'Università Cattolica di Rio de Janeiro che sta trascorrendo in Italia sotto la mia direzione un periodo di studio finanziato da una borsa del Centro Nazionale di Ricerca del Governo brasiliano (CNPQ - Ministério da Ciência e da Tecnologia). La ricerca di Rosado ha come obiettivo lo studio delle forme d'uso dei media digitali da parte dei dottorandi durante la attività di ricerca sviluppata per la loro tesi di dottorato. Ci piacerebbe inserirti nel campione di interviste che stiamo conducendo, tra Italia e Brasile, com dottori di ricerca che abbiano conseguito il loro titolo tra il 2004 e il 2009. L'intervista sarà realizzata da Alexandre Rosado nel luogo che tu vorrai indicare. Se lo ritenessi opportuno si potrebbe approfittare dei locali del Dipartimento di Pedagogia (in Largo Agostino Gemelli, 1 Milano). Ti saremmo grati se vorrai segnalare la tua disponibilità rispondendo a questa e-mail (inviando la risposta a questo indirizzo: [email protected]). Ringraziandoti in anticipo per la collaborazione che speriamo vorrai garantire restiamo a tua disposizione per qualsiasi dubbio o chiarimento. Pier Cesare Rivoltella

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Anexos 430

III. Roteiro de entrevista utilizado no Brasil (versão 5)

Itens para Roteiro de Entrevista

FASE 1 – Aquecimento - Um pouco sobre a formação acadêmica, cursos que fez, onde e quando (perfil científico). - Início de uso do computador e da Internet (quando, onde e como). Começou em que época a usar internet? Em casa, na faculdade ou na escola? Pessoas que influenciaram no uso da internet e do computador.

FASE 2 – Construção da tese - Internet e uso no doutorado. Qual foi o tema da sua tese? Conte um pouco sobre ela. - Como chegou nas fontes de referência. Como foi a sua seleção de fontes e autores? Quais lugares que costumava buscar suas fontes? - Fontes de pesquisa usadas (USAR SE O ANTERIOR FOR VAGO). O que acha dos livros? O que acha dos Periódicos científicos? O que acha das teses e dissertações? Costuma visitar bases de dados ou alguma em específico na internet? Que outros tipos de fontes de dados utilizou? O que acha dos blogs? E das redes sociais? E das wikis? - Processo de construção do texto da tese. Descreva o seu processo de escrita da tese. Você acha que houve fases? O que aconteceu durante cada etapa da escrita? Você usava mais o papel ou computador para escrever sua tese? - Processo de organização do texto da tese até a forma final Você construiu sumários e esboços? Como foi sua construção de capítulos da tese? - Organização dos arquivos no computador e em sites. Você usa atualmente arquivos que coletou durante a tese? Como estão organizado esses arquivos? Quais são os seus conteúdos? Você utiliza alguma classificação ou critérios nessa organização? - Comunicação com outros pesquisadores via internet. Que meios são mais usados para se comunicar?

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Anexos 431

Participa de comunidades virtuais / Listas de discussão / Redes sociais? Quais? Já escreveu textos científicos com outros autores? Utilizou a internet para esta escrita? - Comunicação com os sujeitos participantes do estudo via internet (se houve ou não houve e como foi). - A questão da confiabilidade das fontes Você faz uso do recurso de cópia e colagem de textos? Você possui algum opinião sobre o plágio na internet?

FASE 3 – Revisão e encerramento - Percepção das mudanças nos últimos 10 anos com a entrada da internet (comparativo) Compare a sua época do doutorado, mestrado, de especializações e hoje. Considera que houve mudanças na tecnologia e velocidade da internet? Como as percebe? Você tem alguma opinião sobre a existência de excesso de informações? Como é o uso do seu tempo? Qual a sua opinião sobre privacidade e internet? - Desenvoltura com a internet Você acha que alguém influenciou você a usar a internet? Se tem a ver com o tema que escolheu. Se tem a ver com a vida acadêmica. Se tem a ver com os familiares e amigos.

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Anexos 432

IV. Carta aos doutores formados na PUC-Rio entre 2005 e 2010

Assunto: Convite para entrevista Prezado Dr. Fulano, Como Professora Emérita do Departamento de Educação da PUC-Rio, tenho sob minha orientação de doutorado Luiz Alexandre da Silva Rosado que também é membro pesquisador do Diretório de Pesquisa apoiado pelo CNPq Jovens em Rede (http://jovensemrede.wordpress.com ) do qual sou a Coordenadora Geral. A pesquisa que dá suporte à tese de Luiz Alexandre tem como objetivo estudar as possíveis formas de uso de mídias digitais adotadas por doutorandos durante a investigação e escrita de suas teses. Para poder construir o conjunto de dados empíricos, Alexandre pesquisou, com a devida autorização, no banco de dados da Pós-Graduação do Departamento de Educação da PUC-Rio a lista de doutores que defenderam suas teses e se formaram entre os anos de 2005 e 2010 inclusive. Foi desse modo que chegamos até sua pessoa, uma vez que seu nome e e-mail constam dessa lista. Assim sendo, o que desejamos imensamente é contar com sua participação nesta investigação em andamento, através de seu depoimento sobre o tema numa pequena entrevista com Alexandre, em local e hora a ser combinado. Lembro-lhe que posso oferecer o meu espaço na PUC, se considerar oportuno e combinar previamente com Alexandre. Tenho certeza de que, sabendo das agruras que os doutorandos passam para obter seus dados, você estará entre os que vão aceitar. Por isso, já estou contando com sua participação e retorno breve deste e-mail, desde já agradecendo sua colaboração. Se tiver qualquer dúvida ou necessitar mais esclarecimentos pode nos contatar por este mesmo e-mail pelo qual estou enviando a minha mensagem ([email protected]). Um abraço da

Apparecida Mamede [email protected]

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Anexos 433

V. Descrição das 45 categorias-dimensões da atividade autoral

Este conjunto de 45 categorias temáticas (também chamado de dimensões da atividade autoral ou variáveis de análise) e 7 eixos temáticos, com suas respectivas delimitações definidoras, serviram de guia para compor a avaliação das estratégias, práticas e percursos dos doutores durante a pesquisa e composição da tese, ajudando a formar os 16 casos e perfis de uso dos suportes digitais.

I. Trajetória de vida acadêmica e digital 1. Carreira e relação com a Academia (Academicidade) Grau em que a pessoa participa de atividades acadêmicas. (1) Sempre se dedicou 1. A pessoa fez o mestrado e doutorado e sempre trabalhou dentro da Universidade. 2. A pessoa nunca teve trabalho formal, foi bolsista.

(2) Chegou recentemente (menos de 5 anos) 1. A pessoa vem de uma carreira em que trabalhava em empresa ou instituição e recentemente entrou para a academia.

(3) Veterana na academia (mais de 5 anos) 1. A pessoa vem de uma carreira em que trabalhava em empresa ou instituição, mas entrou depois para a academia. 2. Trabalha há mais de 5 anos na academia.

(4) Nunca se dedicou 1. A pessoa fez o mestrado e o doutorado, mas trabalhou sempre em instituições e empresas fora da academia.

2. Carreira e posição universitária (Autoridade) Que cargo ou posição acadêmica se encontrava o doutor no momento da tese. (1) Professor sem influência alguma 1. Sem cargo de influência na instituição. 2. Sem publicações de destaque. 3. Sem grupo de pesquisa próprio. 4. Pouca ou nenhuma experiência profissional. 5. Rede de contatos pequena.

(2) Tinha somente contrato de pesquisador 1. Comum na Itália, onde o doutor se ocupa de pesquisa exclusivamente.

(3) Professor pouco influente e ainda sem ocupar função de destaque 1. Alguma influencia na instituição. 2. Desenvolvendo suas pesquisas ligadas a um professor de maior prestígio. 3. Sem grupo de pesquisa próprio ou com grupo de pesquisa recém iniciado. 4. Rede de contatos em expansão.

(4) Professor com destaque e carreira consolidada 1. Prestígio acadêmico. 2. Publicações significativas e referenciadas. 3. Grupo de pesquisa formado e consolidado. 4. Referência aos que iniciam a carreira. 5. Rede de contatos vasta e com ampla penetrabilidade no campo em que estuda e trabalha.

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Anexos 434

(5) Não era professor 1. Não ocupava nenhuma posição na academia, trabalhava em empresa ou era exclusivamente bolsista.

3. Carreira e momento (Temporalidade) Que momento de vida o doutor foi formado (1) Jovem 1. Com idade entre 20 e 35 anos. 2. Lecionando ou não.

(2) Meio de carreira 1. Entre 36 e 50 anos. 2. Lecionando há muitos anos, pesquisando há muitos anos ou reconstruindo carreira.

(3) Fim de carreira 1. Entre 51 e 70 anos. 2. Lecionando há muitos anos, pesquisando há muitos anos ou reconstruindo carreira.

4. Carreira e área de procedência (Anterioridade) Que área do saber o doutor estava ligado antes do doutorado (1) Educação 1. Graduação em pedagogia ou ciências da educação. 2. Mestrado em educação.

(2) Exatas em geral 1. Graduação em ciências exatas em geral. 2. Mestrado em educação ou em ciências exatas em geral.

(3) Humanas em geral 1. Graduação em ciências humanas em geral. 2. Mestrado em educação ou em ciências humanas em geral.

(4) Tecnológica em geral 1. Graduação em área tecnológica. 2. Mestrado em educação ou em área tecnológica em geral.

5. Carreira e uso de TICs (Tecnicidade) Grau de dependência das TICs para realização do trabalho formal (1) Forte dependência das TICs na profissão 1. O uso de TICs é fundamental para o trabalho. 2. O estudo contínuo das TICs é fundamental para a realização do trabalho.

(2) Média dependência das TICs na profissão (3) Baixa dependência das TICs na profissão 1. O uso das TICs é superficial e não fundamental para o trabalho. 2. A atualização sobre as TICs é opcional, não influenciando o trabalho.

II. Usos da tecnologia

6. Tecnologia e interesse inicial (Causalidade) Agente inicial motivador para uso do computador e/ou internet (1) Interesse formal

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Anexos 435

1. Necessidade de trabalho. 2. Necessidade na escola, graduação ou pós-graduação. 3. Necessidade de docência. 4. Necessidade do trabalho acadêmico de escrita. 5. Participação em curso formal para aprender a usar o computador ou/e internet.

(2) Interesse informal 1. A partir de Amigos que usavam e despertaram a curiosidade. 2. A partir de parentes próximos como marido, irmãos, filhos, pais ou tios.

(3) Interesse misto 1. Necessidade formal (trabalho, escola, universidade) aliada ao mesmo tempo à ajuda informal de parentes ou amigos.

7. Tecnologia e período inicial (Temporalidade) Usos da tecnologia no tempo para avaliar que fases a pessoa viveu (1) Computador isolado 1. Usado como máquina de escrever, de registros. 2. Centralidade do editor de textos. 3. Característico dos anos 80 e 90. 4. Provavelmente ainda sem interface gráfica ou em modo misto (DOS / Windows).

(2) Computador com internet lenta 1. Alto custo de acesso (discado) 2. Acesso aos dados e gravação para leitura posterior. 3. Característico da primeira metade dos anos 2000 e dos últimos anos da década de 90.

(3) Computador com internet rápida 1. Usado como fonte mais ampla de pesquisa, de dados, de buscas. 2. Acesso contínuo aos dados. 3. Centralidade da Web. 4. Característico da segunda metade dos anos 2000.

8. Tecnologia e aprendizado inicial (Formalidade) Desenvoltura com o computador e a internet a partir da educação ou do autodidatismo (1) Autodidata solitário 1. Começou a usar os recursos digitais sozinho.

2. Consultava revistas, sites e manuais para se informar. (2) Autodidata assistido 1. Começou a usar os recursos sozinho e também com ajuda de amigos e cursos que fez. (3) Educação formal 1. Fez curso formal para começar a usar os recursos digitais.

9. Tecnologia e imersão (Profundidade) Grau de imersão na internet (1) Lento / Restrito 1. Cuidadoso no uso. 2. Seletivo no uso. 3. Uso tardio de recursos já disseminados e comuns. 4. Medo de entrar e usar um recurso novo. 5. Medo de usar muitos recursos e não dar conta de responder. 6. Pessoa “não 2.0”.

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Anexos 436

(2) Rápido / Amplo 1. Abrangente, com adesão a muitas ferramentas. 2. Pouco criterioso nas escolhas, experimentando muitas novidades que vai encontrando. 3. Uso simultâneo ou quase simultâneo com o surgimento do recurso. 4. Incômodo pela não adesão de outras pessoas na mesma velocidade. 5. Encantamento com as novas tecnologias e entrega.

(3) Moderado / Seletivo 1. Uso de poucos recursos, porém contemporâneos e recentes. 2. Gestão das ferramentas que acessa, focando na necessidade que tem. 3. Não tem medo de novos recursos, mas analisa o que vai utilizar sem ter encantamento.

10. Tecnologia e conhecimento (Familiaridade) Quanto ao estágio de uso (1) Iniciante 1. Descoberta e uso básico da internet e do computador. 2. Pela descrição que faz dos usos percebe-se que a pessoa não se aprofundou na informática e computação. 3. Ainda na fase de aquisição de palavras novas utilizadas no ambiente informático.

(2) Familiarizado 1. Uso de alguns recursos de forma básica e apresentando conhecimento razoável em outros, sem aprofundar os detalhes e recursos mais sofisticados. 2. É o usuário que sabe instalar programas básicos e utiliza programas diversos, mas não sofisticados. 3. Usa alguns serviços na internet como banco, compras, pesquisas diversas, comunicação com outras pessoas.

(3) Avançado 1. Maior aprofundamento e uso de recursos mais avançados, pouco relatados em geral. 2. Possui desenvoltura com programas avançados e sabe a fundo o funcionamento da computação, da internet e da informática em geral. 3. Tem grande chance de ter vindo de uma área técnica / tecnológica.

11. Tecnologia e objetivos de uso (Finalidade) Transposição de usos no tempo a partir de atividades desenvolvidas com o computador e a internet (1) Uso para trabalho+estudo 1. Aprende recursos para uso em atividades no trabalho principalmente.

(2) Uso para trabalho+estudo -> pessoal+comunicação 1. Aprende para usar no trabalho e também na vida pessoal, equilibrando os dois lados.

(3) Uso pessoal+comunicalção -> trabalho+estudo 1. Aprende a usar na vida pessoal e usa também no trabalho, de maneira equilibrada.

(4) Começou a utilizar para todas as finalidades ao mesmo tempo 1. Aprende a usar ao mesmo tempo o computador para o trabalho, estudo, comunicação e vida pessoal.

12. Tecnologia e análise dos dados (Tecnicidade) Grau de utilização do computador e da internet na análise dos dados coletados. (1) Utiliza software avançado para análise dos dados 1. SPSS. 2. nVivo. 3. Sphinx.

(2) Utiliza software básico de análise de dados 1. Tabelas e gráficos em Excel.

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Anexos 437

(3) Analisou os dados manualmente 13. Tecnologia e atividades (Atividade) Tipos de atividades que a pessoa faz usando o computador e a internet (1) Comunicação pessoal 1. Uso de e-mail e comunicadores instantâneos.

(2) Comunicação coletiva 1. Newsgroups, listas de discussão.

(3) Ferramentas de autopublicação 1. Blogs, fotologs.

(4) Redes sociais e relacionamento 1. Orkut, Facebook e outras redes em que se criam perfis públicos.

(5) Jogos online e offline 1. Jogos em rede, jogos off-line.

(6) Comércio eletrônico e home banking (7) Serviços de armazenamento online 1. Álbum de fotos e vídeos online, slides e textos online, compartilhamento de arquivos na nuvem.

(8) Serviços de download 1. Baixar músicas e filmes online.

(9) Serviços de compartilhamento 1. Delicius. 1. aNobii.

(10) Pesquisa em motores de busca (11) Leitura de jornais eletrônicos (12) Serviços de orientação 1. Utilização de sites para se situar no local onde está (hospedagem, passagens, mapas).

III. Modo de leitura

14. Leitura e suporte (Materialidade) Modo de leitura de acordo com o suporte mais usado (1) Predomínio do Impresso 1. No papel, sublinhado e anotado a mão. 2. Em geral os textos mais longos.

(2) Predomínio da Tela do computador 1. Na tela do computador, com ou sem anotações. 2. Na tela do tablet. 3. Em geral os textos mais curtos se for tela do desktop. 4. Exceção relatada eram textos de teses e dissertações, que por serem muito grandes não eram impressos e eram vistos na tela.

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Anexos 438

(3) Leitura equilibrada entra o impresso e a tela do computador 1. Uso dos dois modos de leitura de maneira equilibrada.

15. Leitura e local das anotações (Localidade) Modo de fazer anotações sobre leituras que faz (1) Produção de Anotações diretas no arquivo digital original 1. Anota-se diretamente no arquivo PDF ou no e-book. 2. Problemas em exportar as anotações em modelos de e-books com formatos fechados. 3. Problemas ainda em anotar em arquivos PDF.

(2) Produção de Anotações separadas no computador e/ou internet 1. Usa-se um editor de texto para anotar e copiar citações. 2. Pode-se ou não usar um programa específico para juntar as anotações, como o Biblos.

(3) Produção de Anotações separadas em papel 1. Usa-se um caderno para anotações.

(4) Produção de anotações diretas no material impresso 1. Anota-se diretamente no material impresso.

(5) Produziu pouca ou nenhuma anotação 16. Leitura e compartilhamento (Coletividade) Modo de compartilhamento das leituras que faz. (1) Predomínio de Leituras e/ou anotações compartilhadas na web 1. Disponibiliza online os links de leituras que fez. 2. Comenta suas leituras em comunidade virtual de leitores (aNobii).

(2) Predomínio de Anotações armazenadas localmente no PC 1. Anota (passando ou não antes por algum meio analógico) e guarda em arquivo pessoal no computador. 2. Usa algum programa de organização de anotações como o Biblos.

(3) Predomínio de Anotações armazenadas em papel 1. Anota diretamente nos artigos e livros. 2. Mantém um caderno de anotações sem passar posteriormente para o computador.

17. Leitura e prestígio do autor (Autoridade) Modo de atribuição de crédito ao texto com base no prestígio do autor (1) Leitura de autores acadêmicos consagrados 1. Autores acadêmicos reconhecidos. 2. Textos considerados científicos, que circulam já em estruturas reconhecidas. 3. Basicamente é padrão citá-los nas teses. (2) Leitura de autores acadêmicos em geral 1. Autores acadêmicos sem prestígio ou consagração, não entraram ainda no rankings dos mais citados. 2. Textos considerados científicos, que circulam já em estruturas reconhecidas. 3. Basicamente é padrão citá-los nas teses.

(3) Leituras de autores marginais sem citação 1. Textos de sujeitos não pertencentes ao mundo acadêmico. 2. Reflexões consideradas não científicas. 3. Exclusão da citação dos mesmos no corpo do texto da tese.

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Anexos 439

(4) Leituras de autores marginais com citação 1. Textos de sujeitos não pertencentes ao mundo acadêmico. 2. Reflexões consideradas não científicas. 3. Porém o escritor da tese chega a citar falas de fontes não reconhecidas academicamente.

18. Leitura e técnicas de destaque (Recordabilidade) Técnicas utilizadas durante a leitura para destaque e memorização (1) Sublinhamentos diretos no material (2) Post-its para marcação no material (3) Post-it para passar ao computador posteriormente (4) Anotações diretas no próprio material (5) Anotações no computador 1. Durante a leitura. 2. Após a leitura. 3. Com bloco de notas.

(6) Anotações no papel ou no caderno (7) Fichamentos dos materiais (8) Uso de diferentes cores para o destaque (9) Não usa nenhuma técnica 19. Leitura e técnicas de confiabilidade (Confiabilidade) Técnica usada para a atribuição de crédito ao texto. (1) Checagem da qualidade das referências citadas pelo autor (2) Checagem em outras fontes para autores não conhecidos Ida ao google, ao site da universidade ou ao Lattes para ver quem é o autor.

(3) Checagem com outros pesquisadores sobre quem é o autor Consulta outros colegas na temática que estuda para confirmar a reputação do autor.

(4) Checagem da produção anterior do autor Ida a sites que mostrem o histórico de obras do autor, como o Lattes e os sites de universidades.

(5) Prestígio do local de publicação do autor 1. Revista científica consolidada. 2. Sociedade científica consolidada. 3. Livraria consolidada. a. Amazon. b. Cultura.

(6) Prestígio do autor da fonte 1. Se conhece a pessoa e a produção anterior dela, seja como acadêmico seja como especialista no assunto (Ex: jornalista de tecnologia, professor de escola).

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Anexos 440

(7) Conteúdo ter sido escrito a partir de uma experimentação que prove a hipótese Exemplo dos escritores de blog sem ter pesquisas por trás.

(8) Conteúdo ser útil para o objetivo da pesquisa (9) Conteúdo estar discrepante com tudo que foi dito até o momento (10) Conteúdo ser confrontado com a produção de outros autores (11) Tipo do arquivo em que o conteúdo foi publicado 1. Se o arquivo está, por exemplo, em PDF ou em DOC.

(12) Exclusão, a priori, de um tipo de fonte suspeita 1. A não utilização de blogs ou wikis, por exemplo.

(13) Consulta a pessoas de referência que validam fontes principais (14) Consulta às principais publicações no tema de pesquisa para se orientar

IV. Modo de escrita 20. Escrita e ordem (Simultaneidade) Ordem do processo de escrita. (1) Linear 1. Um capítulo por vez, escrito de forma separada. 2. Medo de se perder na escrita.

(2) Simultânea controlada 1. Vários capítulos editados ao mesmo tempo, com recortes e colagens sucessivos. 2. Concentração em um ou dois capítulos por vez, mesmo que editando outros.

(3) Simultânea radical 1. Todos os capítulos editados ao mesmo tempo, com recortes e colagens sucessivos. 2. Sem início, meio e fim, não obedecendo uma ordem cronológica de escrita.

21. Escrita e ambiência (Localidade) Locais onde a pessoa escrevia a tese. (1) Durante viagens 1. Trem. 2. Quarto de hotel.

(2) Em casa 1. Escritório em casa.

(3) No local de trabalho (4) Local isolado 1. Um período hospedado em convento ou instituição similar de isolamento.

(5) Na universidade

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Anexos 441

22. Escrita e co-autoria (Coletividade) Modo de escrita quando trabalha textos em co-autoria. (1) Texto inteiro em co-autoria 1. Os autores escrevem um texto inteiriço em co-autoria

(2) Partes do texto distribuídas para cada autor 1. Os autores dividem em partes e cada um escreve a sua isoladamente. 2. Todos terminam por juntar o resultado em um texto final.

(3) Co-autoria de materiais não publicados 1. Projetos de pesquisa. 2. Instrumentos de pesquisa.

(4) Não escreve em co-autoria 23. Escrita e temática (Tematicidade) Centralidade das TICs na temática da escrita. (1) Temática da tese centrada em TICs 1. O assunto desenvolvido trata diretamente de tecnologias digitais.

(2) Temática da tese não centrada em TICs 1. O assunto não envolve nenhuma dimensão das TICs.

(3) Temática da tese mista 1. O assunto envolve as TICs, mas sendo estas usadas de maneira secundária.

24. Escrita e autoria própria (Originalidade) Grau de autoria própria, pessoal, no texto escrito na tese. (1) Autoria compilativa 1. O autor expõe uma síntese compilativa de textos escolhidos em sua temática. 2. Mais comum acontecer na Itália nas teses exclusivamente teóricas.

(2) Autoria compilativa + acréscimos pessoais 1. O autor compila textos, mas acrescenta sua visão pessoal da temática. 2. É a escrita a partir dos outros e acrescentando algo do pensamento próprio.

(3) Autoria inovadora 1. O autor compila textos, mas seu acréscimo é considerado inédito dentro da temática escolhida.

25. Escrita e instrumento (Instrumentalidade) Modo de produção dos textos referente ao instrumento utilizado na escrita. (1) Predomínio do uso do lápis e/ou caneta na produção de textos 1. Aqui são os meios analógicos de escrita. 2. Alguns podem ter experimentado também a escrita em máquina de escrever. 3. A escrita é feita em versões consecutivas e com alto índice de reescrita e cópia.

(2) Predomínio do uso do computador na produção de textos 1. O texto desde o seu esboço já é feito no computador, sem passar antes pelo papel e pela escrita a mão.

(3) Uso equilibrado dos instrumentos na produção da escrita

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Anexos 442

26. Escrita e presença da internet (Conectividade) Escrita e uso simultâneo da internet para consultas. (1) Uso da internet no momento da escrita 1. Escreve-se o tempo todo com a internet ligada para consultas a fontes. 2. Busca-se diretamente na internet as citações e fontes para confirmar os argumentos e a origem.

(2) Uso do computador desconectado no momento da escrita 1. Desconecta-se completamente da internet quando vai escrever seu texto

(3) Alternância de uso e não uso da internet no momento da escrita 1. Relata-se tanto situações onde a internet era usada como as que se isolava e desconectava-se.

27. Escrita e técnicas (Tecnicidade) Técnicas utilizadas durante a escrita para organização do texto. (1) Construção de mapa conceitual 1. Faz-se o mapa conceitual com os tópicos do futuro texto e da inter-relação das idéias. 2. Onenote, Mindmap, Powerpoint para esquematizar os mapas.

(2) Construção de índices 1. Parecido com o mapa conceitual, só que apresentado em forma estruturada linearmente.

(3) Escrita em camadas 1. Começa com uma idéia-base e vai confeccionando o texto em camadas, aos poucos, acrescentando novas informações no entorno.

(4) Escrita com 2 monitores 1. Ampliar a área de escrita com dois monitores instalados no menos computador.

(5) Idéias por parágrafos 1. Cada parágrafo contém um idéia central, sendo mais fácil trabalhar em algo coeso e autossuficiente caso desloque-se o texto para outro local.

(6) Escrever já no formato final 1. Respeitar as regras de escrita da tese desde o começo, evitando retrabalho.

(7) Escrever textos logo após a leitura 1. Articular em pequenos textos as leituras feitas. 2. Não é o mesmo que fichar resumindo a leitura.

(8) Retiros de escrita 1. Pegar um período, como de uma semana, e se dedicar a escrever intensamente uma parte da tese.

(9) Arquivos abertos ao mesmo tempo 1. Ter várias janelas com textos abertos de artigos e materiais utilizados no momento da escrita. Como se fosse uma mesa com vários materiais sobre ela.

(10) Empiria integrada à escrita 1. Na fase de coleta de dados já ir escrevendo como parte da tese.

(11) Escrever em várias cores 1. Uma cor para cada etapa ou tipo de texto escrito, classificando visualmente a escrita.

(12) Escrever em editor online 1. Assim a pessoa acessa e edita em qualquer lugar, como o Google Docs.

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Anexos 443

(13) Montar um banco de referências 1. Cria bancos de referências com sites e outros tipos de mídia.

(14) Guardar a referência bibliográfica 1. Os sites e livros podem se perder, então é bom anotar sempre a referência completa.

V. Uso de fontes

28. Fontes e busca no tempo (Acumulabilidade) Modo de busca de fontes ao longo de toda a pesquisa. (1) Busca Linear Limitada (BLL) 1. Primeiro a busca de fontes e depois a escrita do texto. 2. Não se volta a buscar novas fontes ou com pouco incremento depois da busca inicial.

(2) Busca Circular Contínua (BCC) 1. Em cascata, ampliando a rede de textos, indo e voltando nas fontes e usando a internet junto. 2. Com aprofundamentos sucessivos nas bibliografias durante a escrita da tese. 3. Tendência ao confronto de fontes e autores em mídias diversas, buscando cruzar conceitos e dados.

(3) Busca por Aprofundamento em Camadas (BAC) 1. Pode ocorrer na busca linear limitada e na circular contínua, em que o sujeito vai adquirindo novos termos e novas referências conforme vai acessando as fontes que pesquisa, em aprofundamentos sucessivos.

29. Fontes e local de busca (Localidade) Modo de busca de fontes ao longo da pesquisa (1) Busca física 1. Em estantes de bibliotecas. 2. Em índices de revistas impressas. 3. Em banco de imagens impressas.

(2) Busca online em buscadores generalistas 1. Google. 2. Altavista.

(3) Busca online em bancos de dados especializados 1. Bancos de revistas científicas. 2. Bancos de teses e dissertações. 3. Busca em cadastros de currículos acadêmicos. 4. Pesquisa integrada da biblioteca. 5. Arquivos de grupos de pesquisa. 6. Arquivos de institutos de pesquisa.

30. Fontes e abrangência (Proximidade) Abrangência da busca de fontes. (1) Restrita quanto a locais e línguas 1. Busca de fontes nacionais, em bases de dados monolinguísticas. 2. Predomínio de bases de dados digitais open access e nacionais. 3. Pouco uso de bases restritas fornecidas pela biblioteca.

(2) Ampla quanto a locais e línguas 1. Busca de fontes internacionais, em bases diversas interligadas por sistema de busca, abrangendo muitas línguas. 2. Bases de dados digitais de acesso restrito via biblioteca da universidade como fonte principal e pouco uso de fontes abertas na internet. 3. Maior dependência da biblioteca.

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Anexos 444

(3) Intermediária 1. Busca de fontes nacionais e internacionais, em bases diversas interligadas por sistema de busca. Porém restrita a poucos países ou línguas. 2. Bases de dados digitais de acesso restrito via biblioteca da universidade e uso de bases abertas via buscadores e sites livres. 3. Uso das bases da biblioteca e dos sites abertos da internet como fontes.

31. Fontes e objetivo (Finalidade) Com que objetivo o doutor busca fontes na internet para sua tese. (1) Internet para recursos empíricos 1. Usa a internet como parte empírica dos dados da tese.

(2) Internet para recursos acadêmicos 1. Usa a internet como fonte de dados acadêmicos para sustentar sua argumentação na tese (artigos, livros, estatísticas, relatórios).

(3) Misto 1. Usa tanto como fonte empírica quanto fonte de materiais acadêmicos.

32. Fontes e tradição (Durabilidade) Tradição dos tipos de fontes buscadas. (1) Tradicional 1. Predomínio de fontes formais ou estabelecidas como livros e revistas científicas como referências. 2. A fonte tradicional também pode estar em formato digital. 3. Escolha baseada na tradição e antiguidade do suporte.

(2) Não tradicional 1. Predomínio de fontes informais ou emergentes como blogs, wikis, foruns, comunidades virtuais, redes sociais, como referências. 2. Escolha baseada na temática, na empiria ou na necessidade de dados.

(3) Mista 1. Uso de fontes tradicionais e fontes não tradicionais em proporção semelhante.

33. Fontes e origem no tempo (Antiguidade) Época de produção das fontes buscadas. (1) Utilização de Fontes muito antigas (antes do séc. XX) 1. Fontes de caráter histórico impressas ou digitalizadas. 2. Consulta aos “museus” digitais. 3. Materiais editados antes do séc XX.

(2) Utilização de Fontes contemporâneas (séc. XX) 1. Fontes produzidas no séc. XX no suporte impresso ou digitalizadas. 2. Poucas fontes teriam sido editadas originalmente no formato digital (anos 90). 3. Muitas fontes já teriam sido digitalizadas para buscas na internet e download.

(3) Utilização de Fontes contemporâneas recentes (séc. XXI) 1. Fontes produzidas na última década e editadas em formato impresso e digital ou somente em formato digital. 2. Aqui se localizam os entrevistados que afirmaram utilizar praticamente todo material em formato digital.

34. Fontes e suporte (Materialidade) Predomínio do suporte das fontes utilizadas.

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Anexos 445

(1) Impresso 1. Predomínio de fontes originalmente já impressas. 2. Ida a bibliotecas para consulta a livros e revistas científicas.

(2) Digital 1. Predomínio de fontes originalmente digitais. 2. Pouca ou nenhuma impressão dessas fontes. 3. A biblioteca físicas não teria materiais sobre o tema pesquisado.

(3) Digital impresso 1. Predomínio do uso de fontes digitais, porém impressas pelo pesquisador.

(4) Misto 1. Uso de fontes digitais e impressas de modo equilibrado.

35. Fontes e posse dos materiais (Materialidade) Local de pertencimento dos materiais. (1) Maioria dos materiais comprados / xeroxados / baixados 1. Aquisição em livraria. 2. Aquisição via fotocópia. 3. Aquisição via download na internet.

(2) Maioria dos materiais emprestados 1. Acesso e uso na biblioteca de instituição. 2. Acesso via empréstimo de materiais da biblioteca da universidade. 3. Acesso e uso de materiais do orientador / professores.

(3) Equilíbrio na posse dos materiais 36. Produção da empiria (Verificabilidade) Produção de empiria própria usando a internet (1) Coleta de dados já disponíveis online 1. Ida a Blogs, Wikis, Foruns, redes sociais, sites institucionais e outros espaços onde os sujeitos deixaram suas “marcas” disponíveis para acesso do pesquisador. 2. Uso de bases de dados compiladas por órgãos do governo e instituições como MEC, INEP, Censo.

(2) Criação de instrumentos para análise dos dados brutos disponíveis online 1. A pessoa baixa uma base de dados bruta e produz em programa próprio as estatísticas e análises.

(3) Criação de instrumentos de coleta online 1. Criação de plataforma ou criação de site para o sujeito ir lá e deixar suas “marcas” (discussões, opiniões, respostas). 2. Questionários e entrevistas online, fóruns e blogs criados pelo pesquisador, observação etnográfica online. 3. Itens de pesquisa criados pelo pesquisador dentro de outra pesquisa maior em andamento.

(4) Não usa a internet para empiria 1. O pesquisador usa instrumentos tradicionais para coleta de dados (questionários impressos, entrevistas pessoais, observação presencial).

(5) Não produziu empiria 1. O pesquisador realizou uma pesquisa totalmente baseada em fontes existentes (teórica), sem produzir nenhum dado novo em campo.

37. Fontes e tipos utilizados Discriminação detalhada dos tipos concretos de fontes utilizadas sem discriminar o suporte (impresso ou digital)

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Anexos 446

(1) Fontes acadêmicas tradicionais (conteúdos) 1. Livraria física para compra e busca de livros. 2. Banco físico de imagens. 3. Livros na biblioteca física das universidades. 4. Teses e dissertações na biblioteca física dasuniversidades. 5. Artigos de revistas impressas e Anais de eventos presentes em bibliotecas universitárias.

(2) Fontes acadêmicas emergentes (conteúdos) 1. Sites de livrarias a. Amazon. b. Cultura. 2. Site de Repositório online de teses e dissertações. a. USP b. Unicamp c. PUC-Rio (Maxwell) 3. Site de Repositório online de revistas científicas. a. Scielo b. OPAC c. First Monday. 4. Site de busca de acervo da Biblioteca da universidade. 5. Sites de grupos de pesquisa universitários. 6. Sites com Anais de eventos. 7. Materiais acadêmicos antigos na biblioteca e digitalizados. 8. Download de livros escaneados em sites de compartilhamenrto

(3) Fontes midiáticas (conteúdos) 1. Jornais e revistas. 2. Sites de jornais e revistas. 3. Peças publicitárias. 4. Sites de download de filmes e músicas

(4) Fontes governamentais (conteúdos) 1. Sites ou documentos governamentais. a. MEC. b. CAPES. c. Lattes. d. Domínio público. e. Secretaria de Educação. 2. Sites ou documentos de instituições de pesquisa. a. INEP. b. PISA. c. ABED. d. ANPED. e. Censis. f. Indire. g. Esfol? h. MIT. i. Banco Mundial. 3. Sites ou documentos de instituições em geral. a. Federações. b. Corpo de bombeiros. c. Amigos da escola.

(5) Fontes emergentes (conteúdos) 1. Motores de busca a. Google, Altavista. b. Imagens, Vídeos, Textos: Goole imagens e Google books. 2. Motores de busca automatizados a. Spybot b. RSS 3. Sites de autoria coletiva a. Wikis. 4. Sites de autoria pessoal a. Blogs.

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Anexos 447

5. Redes de relacionamento. a. Orkut, Facebook. 6. Redes de relacionamento segmentadas a. aNobii. 7. Comunidades virtuais. a. Fóruns atuais e antigos. b. Newsgroups. c. Classi 2.0. 8. Ambientes virtuais de aprendizagem. a. Moodle. 9. Newsletter 10. Vídeos online.

(6) Fontes humanas (pessoas) 1. Professores e pesquisadores acadêmicos especialistas no tema. 2. Colegas do grupo de pesquisa próximo. 3. Colegas de grupos de pesquisas em outras universidades. 4. Colegas de disciplina que cursou. 5. Pessoas encontradas em eventos acadêmicos a. Congressos, encontros, simpósios.

(7) Fontes empíricas (pessoas) 1. Conversa com sujeitos da própria pesquisa. a. Presencial. b. Por e-mail. c. Online em Skype e MSN. 2. Aplicação de questionário online ou presencial. 3. Realização de grupo focal online ou presencial. 4. Filmagem dos sujeitos. 5. Observação de campo.

(8) Fontes cinzas (conteúdos) 1. Relatórios de discussões. 2. Artigos de pesquisas em andamento.

VI. Modo de organização

38. Organização e sistematização (Sistematicidade) Nível de organização dos materiais. (1) Ultrassistemático 1. Guarda arquivos através de classificação detalhada. 2. O hábito é apresentado também na organização física dos materiais. 3. Pessoa que planeja tarefas, que tem lista organizada de afazeres. 4. Medo da perda dos arquivos, da memória representada pelos arquivos. 5. Execução de backups e preservação dos materiais, mantidos no longo prazo.

(2) Sistemático 1. Classifica em eixos temáticos ou em partes do trabalho, representado por subpastas com nomes específicos. 2. Pode ou não fazer backups de preservação dos dados.

(3) Não sistemático 1. Perdas de arquivos por falta de backup. 2. Se faz backups, ainda são parciais e dispersos. a. Múltiplos Pendrives. b. E-mails. 3. Pouca classificação dos materiais, as vezes sem classificação alguma (1 pasta com tudo dentro). 4. Dispersão física dos materiais na própria mesa. 5. Dependência do modo como o computador classifica os arquivos, baseado nas extensões. 6. Mistura de arquivos e pouco critério e subdivisão e agrupamento. 7. Possível dispersão através do uso de múltiplos e-mails.

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Anexos 448

39. Organização e suporte (Materialidade) Tipo de suportes usados para armazenagem dos materiais. (1) Físicos 1. Predomínio de materiais impressos, organizados ou não em temáticas. 2. Uso de pastas físicas, podendo ou não estarem subdivididas.

(2) Digitais 1. Predomínio de materiais digitalizados, organizados ou não em temáticas. 2. Uso de favoritos do navegador, sites da web 2.0, armazenagem na nuvem.

(3) Físicos e digitais 1. Equilíbrio e correspondência de materiais impressos e digitais, organizados ou não em temáticas.

40. Organização e classificação (Tematicidade) Tipos de classificações usadas para organização dos arquivos. (1) Por capítulos da tese 1. Divisão em pastas de acordo com cada capítulo que está escrevendo. 2. Materiais diversos como artigos, livros, imagens, fichamentos.

(2) Por temáticas da tese 1. Divisão em pastas por temas relacionados à tese.

(3) Por instrumentos de pesquisa 1. Instrumentos e materiais de pesquisa empíricos coletados.

(4) Por local de origem do material 1. Local onde o material foi coletado, podendo ser origem física (cidade, centro de pesquisa, universidade) ou de origem digital (site).

(5) Por autor do material (6) Por eventos 1. Arquivos de participação em eventos acadêmicos, com anotações e textos próprios.

(7) Por cursos que ministrou 1. Visando não refazer materiais quando ministrar novamente cursos semelhantes.

(8) Por diferentes áreas de atuação 1. Divisão dos materiais por áreas de atuação como o trabalho, docência na academia, vida pessoal.

(9) Sem classificação 1. Uma pasta contendo todo material recolhido ou ausência de critério para classificação.

(10) Material coletado, mas não utilizado 1. A pessoa recolhe com a intenção de usar mas depois vira um resíduo nunca mais acessado. 41. Organização e local de armazenamento (Disponibilidade) Local onde armazena os arquivos. (1) Armazenamento predominantemente no computador pessoal 1. Uso de mídia de armazenamento local como HD externo, HD interno e Pendrive. 2. Divisão em pastas e subpastas no computador pessoal.

(2) Armazenamento predominantemente na nuvem

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Anexos 449

1. Uso de serviços online como Dropbox e Skyfrive. 2. Forte dependência de conexões móveis para poder trabalhar.

(3) Equilíbrio do Armazenamento na nuvem e no computador pessoal 1. Fase de transição do computador pessoal para o armazenamento na nuvem.

VII. Modo de comunicação

42. Comunicação e abrangência (Proximidade) Amplitude da comunicação com outros pesquisadores e colegas. (1) Restrita: troca com pessoas mais próximas 1. Poucos contatos com outros pesquisadores distantes ou desconhecidos. 2. Valorização do contato pessoal, com as pessoas mais próximas. 3. Cultivo do círculo de amizades acadêmicas próximas.

4. Valorização do acesso à publicação e não à pessoa. (2) Intermediária: troca mais intensa com pessoas próximas + troca com algumas pessoas distantes 1. Valorização do contato com outros professores e pesquisadores distantes. 2. Maior contato com aqueles que conhece pessoalmente, mas não somente. 3. Cultivo do círculo de amizades acadêmicas próximas e algumas distantes. 4. Ida a eventos para trocas com outros pesquisadores desconhecidos, mesmo acessando publicações.

(3) Ampla: troca intensa com pessoas próximas e distantes 1. Busca de contato com autores de referência (“medalhões”) distantes. 2. Contato pessoal ou via internet simultaneamente com pesquisadores antes desconhecidos. 3. Ida a eventos para trocas com outros pesquisadores e ampliação do círculo de amizades acadêmicas. 4. Troca intensa com professores e colegas de trabalho acadêmicos próximos.

43. Comunicação e tradição (Durabilidade) Tipos de meios usados para se comunicar segundo a tradição e a novidade. (1) Tradicionais estabelecidos na web 1. Uso predominantemente de meios mais antigos e estabelecidos como o e-mail pessoal e os newsgroups.

(2) Tradicionais estabelecidos na academia 1. Ida a eventos científicos. 2. Contatos pessoais. 3. Contatos com autores. 4. Seminários internos no doutorado.

(3) Recentemente estabelecidos na web 1. Uso de blogs e fotologs. 2. Uso de comunidades virtuais tradicionais: a. Listas de discussão via e-mail. b. canais de chat textual. c. Fóruns. 3. Uso de instant messengers estabelecidos como o MSN e ICQ.

(4) Novos e emergentes na web 1. Uso de redes sociais como Facebook e Orkut 2. Uso de chat de voz como o Skype. 3. Uso de tradutores instantâneos online como o Google Tradutor e o Tradukka para manter comunicação em outros idiomas.

44. Comunicação e objetivo (Finalidade) Quais os tipos de objetivos para se comunicar.

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Anexos 450

(1) Obtenção de novos materiais 1. Com colegas de grupo de pesquisa. 2. Com autores, professores e pesquisadores. 3. Com especialistas no tema.

4. Com outros doutorandos. (2) Manter contato informal com pessoas para alívio da solidão da pesquisa (3) Manter contato com amigos e parentes quando está no exterior (4) Consulta a respeito de fontes e temas 1. Com colegas de grupo de pesquisa. 2. Com autores, professores e pesquisadores. 3. Com especialistas no tema. 4. Com outros doutorandos.

(5) Envio para revisão de texto 1. Com orientador da pesquisa. 2. Com colegas do mesmo campo de pesquisa.

(6) Obtenção de dados com os sujeitos da pesquisa (7) Criar laços para trocas mais duradouras 1. Com outros pesquisadores e autores. 2. Com especialistas no tema. 3. Com outros doutorandos.

(8) Marcar encontros presenciais 45. Comunicação e ideias novas (Originalidade) Modo de comunicar uma ideia original. (1) Informal despreocupado 1. Comenta com amigos e pesquisadores as novas idéias antes de publicá-las. 2. Usa espaços informais como encontros em bares e restaurantes, fórum em internet, comunidades virtuais.

(2) Informal precavido 1. Comenta em espaços informais, porém com registros autorais ou sobre temas não acadêmicos. 2. Usa meios como Blogs, que vinculam a escrita no tempo e com autoria identificada. 3. Preocupação moderada com direitos de autor.

(3) Formal convencional 1. Comunica a idéia nova através de escrita acadêmica convencional. 2. Espera um evento formal, usando congressos, simpósios, encontros e seminários, onde o registro do artigo é garantido.

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Anex

VI.

xos

Gráficoaplicad

os com asdas a cada

s 45 catega um dos

gorias-dim16 casos

mensões daa atividadde autoral

451

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Anex

xos 466

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Anexos 467

VII. Dados detalhados que deram origems aos gráficos de cada um dos 16 casos

Dimensão de Análise de Perfil 

N1 

N2 

N3 

N4 

N5 

N6 

N7 

N8 

N9 

N10 

N11 

N12 

N13 

N14 

N15 

N16 

Total  BR  IT

I. Trajetória de vida acadêmica e digital 

                                                        

1. Relação com a Academia (Academicidade) 

                                                Total  BR  IT

(1)  Sempre se dedicou1 1 1 1 4 0 4

(2)  Chegou recentemente (menos de 5 anos) 

1  1 1 0

(3)  Veterana na academia (mais de 5 anos) 

1 1 1 1 1 1 1 1  8 5 3

(4) Nunca se dedicou 1 1  1  3 2 1

2. Posição universitária (Autoridade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Professor sem influência alguma 1 1  1  3 2 1

(2)  Tinha somente contrato de pesquisador 

1 1 1 3 0 3

(3)  Professor pouco influente e ainda sem ocupar função de destaque  

1 1 1 1 1 1 1 7 4 3

(4)  Professor com destaque e carreira consolidada 

0 0 0

(5)  Não era professor1 1 1  1  4 2 2

3. Momento (Temporalidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Jovem 1 1 1 1 4 0 4

(2)  Meio de carreira 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  11 7 4

(3)  Fim de carreira 1  1 1 0

4.  Área de procedência (Anterioridade) 

                                                Total  BR  IT

(1)  Educação 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  13 5 8

(2)  Exatas em geral 1 1  2 1 1

(3)  Humanas em geral1  1  1  3 3 0

(4)  Tecnológica em geral 0 0 0

5.  Uso de TICs (Tecnicidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Forte dependência das TICs na profissão 

1 1 1 1 1 1 1 1 8 2 6

(2)  Média dependência das TICs na  1 1 1  1  4 3 1

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Anexos 468

profissão 

(3)  Baixa dependência das TICs na profissão 

1 1 1  1  4 3 1

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Anexos 469

II. Usos da tecnologia                                                        

6. Interesse inicial (Causalidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Interesse formal 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  11 5 6

(2)  Interesse informal1 1 1 1 4 2 2

(3)  Interesse misto 1  1 1 0

7.  Período inicial (Temporalidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Computador isolado 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  11 5 6

(2)  Computador com internet lenta 1 1 1 1 1  5 3 2

(3)  Computador com internet rápida 

0 0 0

8. Aprendizado inicial (Formalidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Autodidata solitário1 1 1 1 4 1 3

(2)  Autodidata assistido 1 1 1 1 1 1  1  7 4 3

(3)  Educação formal 1 1 1 1  1  5 3 2

9.  Imersão (Profundidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Lento / Restrito 1 1 2 1 1

(2)  Rápido / Amplo 1 1 1 1 1  1  1  7 5 2

(3)  Moderado / Seletivo 1 1 1 1 1 1 1  7 2 5

10. Conhecimento (Familiaridade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Iniciante 0 0 0

(2)  Familiarizado 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  13 7 6

(3)  Avançado 1 1 1  3 1 2

11.  Objetivos de uso (Finalidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Uso para trabalho+estudo 1 1 1 3 2 1

(2)  Uso para trabalho+estudo ‐>  pessoal+comunicação 

1 1 1 1 1  1  1  7 3 4

(3)  Uso pessoal+comunicalção ‐>  trabalho+estudo 

1 1 1 1 1 5 2 3

(4)  Começou a utilizar para todas as finalidades ao mesmo tempo 

1  1 1 0

12. Análise dos dados (Tecnicidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Utiliza software avançado para análise dos dados 

1 1 1  1  4 2 2

(2)  Utiliza software básico de análise de dados 

0 0 0

(3)  Analisou os dados manualmente 1 1 1 1 1 1  1  7 3 4

13. Atividades (Atividade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Comunicação pessoal 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  1  16 8 8

(2)  Comunicação coletiva 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  10 4 6

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Anexos 470

(3)  Ferramentas de autopublicação 1 1 1 1 1 5 0 5

(4)  Redes sociais e relacionamento 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  10 5 5

(5)  Jogos online e offline 1 1 1 0

(6)  Comércio eletrônico e home banking 

1 1 1 1  1  1  6 4 2

(7)  Serviços de armazenamento online 

1 1 1 1 1  1  6 3 3

(8)  Serviços de download 1 1  1  3 2 1

(9)  Serviços de compartilhamento 1 1 1 3 1 2

(10)   Pesquisa em motores de busca 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  15 7 8

(11)   Leitura de jornais eletrônicos 1 1 1 1  4 1 3

(12)   Serviços de orientação 1 1 1 1  4 1 3

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Anexos 471

III. Modo de leitura                                                         

14. Suporte (Materialidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Predomínio do Impresso 1 1 0 1

(2)  Predomínio da Tela do computador 

1 1 1 1 1 1  1  7 3 4

(3)  Leitura equilibrada entra o impresso e a tela do computador 

1 1 1 1 1 1 1  1  8 5 3

15. Local das anotações (Localidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Produção de Anotações diretas no arquivo digital original 

1 1  2 1 1

(2)  Produção de Anotações separadas no computador e/ou internet  

1 1 1 1 1 1 1 1 1  9 3 6

(3)  Produção de Anotações separadas em papel 

1 1 1  3 2 1

(4)  Produção de anotações diretas no material impresso 

1 1  2 1 1

(5)  Produziu pouca ou nenhuma anotação 

1 1 0 1

16. Compartilhamento (Coletividade) 

                                                Total  BR  IT

(1)  Predomínio de Leituras e/ou anotações compartilhadas na web 

0 0 0

(2)  Predomínio de Anotações armazenadas localmente no PC 

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  12 4 8

(3)  Predomínio de Anotações armazenadas em papel 

1  1  2 2 0

17. Prestígio do autor (Autoridade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Leitura de autores acadêmicos consagrados 

1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  10 4 6

(2)  Leitura de autores acadêmicos em geral 

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  1  15 7 8

(3)  Leituras de autores marginais sem citação 

1 1 1 1 1 1 1 7 1 6

(4)  Leituras de autores marginais com citação 

0 0 0

18. Técnicas de destaque (Recordabilidade) 

                                                Total  BR  IT

(1)  Sublinhamentos diretos no material  

1 1 1 1 1  1  1  7 3 4

(2)  Post‐its para marcação no material 

1  1 1 0

(3)  Post‐it para passar ao computador posteriormente 

1 1 1  3 1 2

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Anexos 472

(4)  Anotações diretas no próprio material  

1 1  2 2 0

(5)  Anotações no computador  1 1 1 1 1 1 1 1 1 9 2 7

(6)  Anotações no papel ou no caderno 

1 1 1  1  4 3 1

(7)  Fichamentos dos materiais 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  10 4 6

(8)  Uso de diferentes cores para o destaque 

1  1 1 0

(9)  Não usa nenhuma técnica 1 1 0 1

19. Técnicas de confiabilidade (Confiabilidade) 

                                                Total  BR  IT

(1)  Checagem da qualidade das referências citadas pelo autor 

1 1 1  3 2 1

(2)  Checagem em outras fontes para autores não conhecidos 

1 1 1 0

(3)  Checagem com outros pesquisadores sobre quem é o autor 

1 1 1 0

(4)  Checagem da produção anterior do autor 

1 1 1 3 2 1

(5)  Prestígio do local de publicação do autor 

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  11 6 5

(6)  Prestígio do autor da fonte 1 1 1 1 1 1 1 7 2 5

(7)  Conteúdo ter sido escrito a partir de uma experimentação que prove a hipótese 

1 1 2 0 2

(8)  Conteúdo ser útil para o objetivo da pesquisa 

1 1 1 3 0 3

(9)  Conteúdo estar discrepante com tudo que foi dito até o momento 

1 1 0 1

(10)   Conteúdo ser confrontado com a produção de outros autores 

1 1 1 0

(11)   Tipo do arquivo em que o conteúdo foi publicado 

1 1 2 2 0

(12)   Exclusão, a priori, de um tipo de fonte suspeita 

1 1 0 1

(13)   Consulta a pessoas de referência que validam fontes principais 

1 1 0 1

(14)   Consulta às principais publicações no tema de pesquisa para se orientar 

1 1 0 1

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Anexos 473

IV. Modo de escrita                                                         

20. Ordem (Simultaneidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Linear 1 1 1 1 1  5 2 3

(2)  Simultânea controlada 1 1 1 1 1  1  6 3 3

(3)  Simultânea radical1 1 1 1  4 2 2

21. Ambiência (Localidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Durante viagens 1 1 0 1

(2)  Em casa 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  1  11 7 4

(3)  No local de trabalho 1 1 0 1

(4)  Local isolado 1 1  2 2 0

(5)  Na universidade 1 1  2 1 1

22. Co‐autoria (Coletividade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Texto inteiro em co‐autoria 1 1 1  3 2 1

(2)  Partes do texto distribuídas para cada autor 

1 1 1 1  4 1 3

(3)  Co‐autoria de materiais não publicados 

1 1 1 1  4 1 3

(4)  Não escreve em co‐autoria 0 0 0

23. Temática (Tematicidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Temática da tese centrada em TICs 

1 1 1 1 1 1 1 1 8 1 7

(2)  Temática da tese não centrada em TICs 

1 1 1 1 1  1  1  1  8 7 1

(3)  Temática da tese mista 0 0 0

24. Autoria própria (Originalidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Autoria compilativa0 0 0

(2)  Autoria compilativa + acréscimos pessoais 

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  1  15 8 7

(3)  Autoria inovadora1 1 2 0 2

25. Instrumento (Instrumentalidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Predomínio do uso do lápis e/ou caneta na produção de textos 

0 0 0

(2)  Predomínio do uso do computador na produção de textos 

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  1  15 7 8

(3)  Uso equilibrado dos instrumentos na produção da escrita 

1 1 1 0

26. Presença da internet (Conectividade) 

                                                Total  BR  IT

(1)  Uso da internet no momento da escrita 

1 1 1 1 1 1 1  7 3 4

(2)  Uso do computador  1 1 2 1 1

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Anexos 474

desconectado no momento da escrita 

(3)  Alternância de uso e não uso da internet no momento da escrita 

1  1 1 0

27. Técnicas (Tecnicidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Construção de mapa conceitual 1 1 1 1 4 1 3

(2)  Construção de índices 1 1 1 1 1 1 1  7 2 5

(3)  Escrita em camadas1 1 1 1 1  5 2 3

(4)  Escrita com 2 monitores 1 1 0 1

(5)  Idéias por parágrafos 1 1 2 0 2

(6)  Escrever já no formato final 1 1 0 1

(7)  Escrever textos logo após a leitura 

1 1  1  3 2 1

(8)  Retiros de escrita 1 1  1  3 2 1

(9)  Arquivos abertos ao mesmo tempo 

1 1 1  1  4 4 0

(10)   Empiria integrada à escrita 1 1  1  3 2 1

(11)   Escrever em várias cores 1 1 1 0

(12)   Escrever em editor online 1 1  2 2 0

(13)   Montar um banco de referências 

1 1 1 0

(14)   Guardar a referência bibliográfica 

1 1 1 1 1 5 2 3

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Anexos 475

V. Uso de fontes                                                         

28. Busca no tempo (Acumulabilidade) 

                                                Total  BR  IT

(1)  Busca Linear Limitada (BLL) 1 1 2 1 1

(2)  Busca Circular Contínua (BCC) 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  1  13 7 6

(3)  Busca por Aprofundamento em Camadas (BAC) 

1 1 1 1 1 1 6 1 5

29. Local de busca (Localidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Busca física 1 1 1 3 2 1

(2)  Busca online em buscadores generalistas 

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  14 7 7

(3)  Busca online em bancos de dados especializados 

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  1  15 8 7

30. Abrangência (Proximidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Restrita quanto a locais e línguas 1  1 1 0

(2)  Ampla quanto a locais e línguas 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  11 5 6

(3)  Intermediária 1 1 1 3 1 2

31. Objetivo (Finalidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Internet para recursos empíricos 0 0 0

(2)  Internet para recursos acadêmicos 

1 1 1 1 1  1  6 4 2

(3)  Misto 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  10 4 6

32. Tradição (Durabilidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Tradicional 1 1 1 1  1  1  1  7 5 2

(2)  Não tradicional 0 0 0

(3)  Mista 1 1 1 1 1 1 1 1 1 9 3 6

33. Origem no tempo (Antiguidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Utilização de Fontes muito antigas (antes do séc. XX) 

1 1  2 2 0

(2)  Utilização de Fontes contemporâneas (séc. XX) 

1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  10 4 6

(3)  Utilização de Fontes contemporâneas recentes (séc. XXI) 

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  10 2 8

34. Suporte (Materialidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Impresso 1 1 1 1 1 1  1  7 3 4

(2)  Digital 1 1 1 1 1  1  6 3 3

(3)  Digital impresso 1 1 1 1 1 1  1  7 3 4

(4)  Misto 1 1 1 1 1 1 1 1  1  9 5 4

35. Posse dos materiais (Materialidade) 

                                                Total  BR  IT

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Anexos 476

(1)  Maioria dos materiais comprados / xeroxados / baixados 

1 1 1 1 1 1  1  1  1  9 5 4

(2)  Maioria dos materiais emprestados 

0 0 0

(3)  Equilíbrio na posse dos materiais 1 1 1 1 1 5 1 4

36. Produção da empiria (Verificabilidade) 

                                                Total  BR  IT

(1)  Coleta de dados já disponíveis online 

1 1 1 1 1 1 1  1  8 4 4

(2)  Criação de instrumentos para análise dos dados brutos disponíveis online 

1 1  2 1 1

(3)  Criação de instrumentos de coleta online 

1 1 1 1 1 1 6 1 5

(4)  Não usa a internet para empiria 1 1 1  3 3 0

(5)  Não produziu empiria 1 1 0 1

37. Tipos utilizados                                                 Total  BR  IT

(1)  Fontes acadêmicas tradicionais (conteúdos) 

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  1  16 8 8

(2)  Fontes acadêmicas emergentes (conteúdos) 

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  1  16 8 8

(3)  Fontes midiáticas (conteúdos) 1 1 1 3 2 1

(4)  Fontes governamentais (conteúdos) 

1 1 1  1  4 2 2

(5)  Fontes emergentes (conteúdos) 1 1 1 1 1 1 1 1 1 9 2 7

(6)  Fontes humanas (pessoas) 1 1 1 1 1 1 1  1  8 3 5

(7)  Fontes empíricas (pessoas) 1 1 1 1 1 1 1  7 2 5

(8)  Fontes cinzas (conteúdos) 1 1 1 1 1  5 1 4

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Anexos 477

VI. Modo de organização                                                         

38. Sistematização (Sistematicidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Ultrassistemático 1 1 1 0

(2)  Sistemático 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  12 5 7

(3)  Não sistemático 1 1 1  3 2 1

39. Suporte (Materialidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Físicos 0 0 0

(2)  Digitais 1 1 1  3 1 2

(3)  Físicos e digitais 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  13 7 6

40. Classificação (Tematicidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Por capítulos da tese 1 1 1 1 1 1  6 2 4

(2)  Por temáticas da tese 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  12 6 6

(3)  Por instrumentos de pesquisa 1 1 2 0 2

(4)  Por local de origem do material 1 1  2 1 1

(5)  Por autor do material 1 1 1  3 3 0

(6)  Por eventos 1 1 0 1

(7)  Por cursos que ministrou 1 1 0 1

(8)  Por diferentes áreas de atuação 1 1  1  3 3 0

(9)  Sem classificação 1 1  2 2 0

(10)   Material coletado, mas não utilizado 

1 1 1 3 0 3

41. Local de armazenamento (Disponibilidade) 

                                                Total  BR  IT

(1)  Armazenamento predominantemente no computador pessoal 

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  14 6 8

(2)  Armazenamento predominantemente na nuvem 

0 0 0

(3)  Equilíbrio do Armazenamento na nuvem e no computador pessoal 

1 1  2 2 0

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Anexos 478

VII. Modo de comunicação                                                          

42. Abrangência (Proximidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Restrita: troca com pessoas mais próximas 

1 1 1 1 1 1  6 2 4

(2)  Intermediária: troca mais intensa com pessoas próximas + troca com algumas pessoas distantes 

1 1 1  1  4 3 1

(3)  Ampla: troca intensa com pessoas próximas e distantes 

1 1 1 1 1  5 2 3

43. Tradição (Durabilidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Tradicionais estabelecidos na web 

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  1  15 8 7

(2)  Tradicionais estabelecidos na academia 

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  1  13 7 6

(3)  Recentemente estabelecidos na web 

1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  10 4 6

(4)  Novos e emergentes na web 1 1 1 1  1  1  6 4 2

44. Objetivo (Finalidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Obtenção de novos materiais 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  10 6 4

(2)  Manter contato informal com pessoas para alívio da solidão da pesquisa 

1  1 1 0

(3)  Manter contato com amigos e parentes quando está no exterior 

1 1 1 1 1  1  6 3 3

(4)  Consulta a respeito de fontes e temas 

1 1 1 1 1 1 6 1 5

(5)  Envio para revisão de texto 1 1 1 1 1  1  6 4 2

(6)  Obtenção de dados com os sujeitos da pesquisa 

1 1 1 3 1 2

(7)  Criar laços para trocas mais duradouras 

1 1 1  3 1 2

(8)  Marcar encontros presenciais 1 1  2 2 0

45. Idéias novas (Originalidade)                                                 Total  BR  IT

(1)  Informal despreocupado 1 1 0 1

(2)  Informal precavido1 1 0 1

(3)  Formal convencional 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1  1  1  13 5 8

DBD
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