4

Click here to load reader

Tesefinal -baião_-_luiz_gonzaga - parte baião - luiz gonzaga

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Tesefinal  -baião_-_luiz_gonzaga - parte baião - luiz gonzaga

92

cantados pelo coro88. Observa-se que, neste caso, o verso corresponde à semifrase. Portanto,

as duas quadras compõem a estrutura binária da sentença.

M R Fraseologia cad. melódica

Juazeiro, juazeiro 7 a Semifrase 1 Frase a

Me aresponda por favor 7 b Semifrase 2 ‘’ 1+3

Juazeiro velho amigo 7 c Semifrase 1 Frase a’

Onde anda o meu amor 7 b Semifrase 2’ ‘’ 2-1

Ai juazeiro 4 a Semifrase 3 Frase b

Ela nunca mais voltou 7 d Semifrase 4 ‘’ 1+3

Viu juazeiro 4 a Semifrase 3’ Frase b’

Onde anda o meu amor? 7 b Semifrase 4’ ‘’ 2-1 Tab. 4.1 Juazeiro

A preferência pela redondilha maior pode ser atribuída à tradição dos cantadores, já

que é muito comum o uso dessa métrica nos padrões do repente como os Oito Pés à Quadrão

e Quadrão Alagoano, Mineiros, etc. É importante ressaltar que tais menções não dizem

respeito às regiões mencionadas, mais ao tipo de rima (“ão”, “eiro”, “ano”, etc.).89

4.2 Baião (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)

Trata-se da canção que lança o gênero de música e dança na condição de moda no

final da década de 1940.90 A melodia da seção A encontra-se também no 5º modo (mixolídio);

entretanto, quando há a mudança harmônica para o IV grau, este também vem com a 7ª

menor, resultando, assim, em uma transposição do mesmo modo uma 4ª justa abaixo. Trata-se

de uma sentença que apresenta uma curiosa cadência harmônica na frase cadencial: VIIb – V

– I, sendo todos acordes maiores com 7ª menor, ou seja, todos da tipologia dominante mas

apenas o da relação V-I exercendo a função de Dominante, quer dizer, tonalizando o final da

seção. Esta seção também é apresentada pela sanfona, indicada pelas notas inferiores da

melodia, apresentando a maneira como ela ficou mais conhecida.

88 Em todos os exemplos deste trabalho, a escansão é realizada a partir da interpretação realizada na gravação de referência. 89 Zé Francisco & Palmeirinha da Bahia. Literatura de Cordel, Repentistas e Cantadores. São Paulo: Meridional Ed. Limitadas, 1977. 90 RCA-Victor 800605b, 1949.

Paulo José de Siqueira TinéProcedimentos Modais na Música Brasileira:Do campo étnico do Nordeste ao popular da década de 1960.

PAGINA 92 A 95

Page 2: Tesefinal  -baião_-_luiz_gonzaga - parte baião - luiz gonzaga

93

Fig. 4.4 Baião: seção A.

Entre as seções A e B há uma pequena ponte de sete compassos que enfatiza a tônica

(I) e o ritmo. A seção seguinte apresenta uma nova melodia no 5º modo (mixolídio) agora no

IV grau, sempre com 7ª menor. Em um primeiro momento se tem a impressão de que se está

em uma nova tonalidade. Entretanto, a cadência é a mesma da seção anterior, concluindo esta

seção na tonalidade original. A estrutura é praticamente idêntica à da seção anterior,

excetuando-se pelo fato de que a frase b é de menor extensão, gerando uma irregularidade

fraseológica que resulta em uma seção de catorze em vez de dezesseis compassos, ou seja,

uma estrutura binária irregular. Os finais de frases se dão em transposições, conforme indica o

parêntese, ou seja, o final 1+3 é, na relação com a harmonia, um 5+7, final suspensivo na 7ª

menor.

Page 3: Tesefinal  -baião_-_luiz_gonzaga - parte baião - luiz gonzaga

94

Fig. 4.5 Baião: seção B.

Após a seção B, há também uma pequena extensão de sete compassos que enfatiza os

mesmos aspectos referidos na ponte. Trata-se de uma função similar à do vamp, aqui num

único acorde, que estabelece a modalidade – F7, 5º modo – e o elemento rítmico

característico: o baião. Comparando esses dois elementos, verifica-se que eles são

praticamente o mesmo, com algumas variações melódicas.

Fig. 4.6 Baião: ponte

Fig. 4.7 Baião: codeta da seção B

Nesta gravação de referência (1949), o arranjo se dá da seguinte maneira:

Page 4: Tesefinal  -baião_-_luiz_gonzaga - parte baião - luiz gonzaga

95

Introd. A (instrumental); A (cantado); ponte; B codeta; A (instrumental) cod.;

B cod. (fade out).

A letra de Humberto Teixeira aponta para o largo uso da redondilha maior, muito

popular entre os repentistas e, aqui, com o uso da rima “ão”, muito própria ao quadrão.

Observa-se que a quebra do uso do verso de sete sílabas se dá no momento de alteração da

semifrase e da frase cadencial.

M R Fraseologia Cad. Melódica

Eu vou mostrar pra vocês 7 a semifrase 1 Frase a

como se dança o baião 7 b semifrase 1’ “ “ 6-5

E quem quiser aprender 7 c semifrase 1” Frase a’

é favor prestar atenção 8 b semifrase 2 “ “ 2+3

Morena chegue pra cá 7 d semifrase 1”’ Frase b

bem junto ao meu coração 7 b semifrase 1”’ “ “ 5-4

Agora é só me seguir 7 e semifrase 3 Frase c

pois eu vou dançar o baião 8 b semifrase 4 Cad. 2-1Tab. 4.2 Baião seção A

Já a seção B apresenta um número incomum de sete versos que é correspondente à

irregularidade métrica da sentença irregular apresentada na análise fraseológica.

M R Fraseologia Cad.

Eu já dancei balancei 7 a Semifrase 1 Frase a

chamego, samba e xerém, 7 b Semifrase 2 “ “ 4(1)

Mas o baião tem um quê 7 c Semifrase 1’ Frase a’

que as outras danças não tem, 7 b Semifrase 2’ “ “ 1+3(7)

E quem quiser só dizer, 7 d Frase b 1+3(7)

pois eu com satisfação, 7 e semifrase 3 Frase c

vou dançar cantando o baião 8 e semifrase 4 (cad.) 2-1 Tab. 4.3 Baião: seção B.