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    FDLDIREITO DAS OBRIGAES I (2 ANO, TURMA A)

    Tpicos de correco do teste de 5 de Janeiro de 2009

    1. A questo dos direitos que possam caber a B passa preliminarmente pelaconsiderao da questo da validade e eficcia do contrato-promessa que este celebroucom A e, resolvida esta, pela questo de saber se houve ou no sinal prestado.

    1.1. Quanto questo da validade e eficcia do contrato-promessa

    Verifica-se que o contrato-promessa era sinalagmtico ou bilateral (as partes,reciprocamente, vincularam-se a contratar), devendo, por fora do art. 410, n2 do CC,ser reduzido a escrito assinado por ambas as partes. No o tendo sido, coloca-se aconhecida questo do valor desse contrato, a respeito da qual cinco teses foramavanadas: a da nulidade total do contrato, a da converso automtica do contrato-

    promessa bilateral em contrato-promessa unilateral, a da converso do contrato emcontrato-promessa unilateral, nos termos do art. 293 do CC (Antunes Varela eInocncio Galvo Telles), a da reduo, nos termos do art. 282 do CC (Almeida Costa,Calvo da Silva, Lus Menezes Leito), e a tese intermdia (entre a converso e areduo, e a considerao da boa f, no mbito do art. 239 do CC) do Prof. AntnioMenezes Cordeiro (* Essas teses, seus autores e apreciao crtica aspecto sempre referido nasdiversas obras de D. Obrigaes deveriam ser sumariamente referenciados pelos alunos).

    Considerando o princpio do aproveitamento dos negcios jurdicos e as opes, queparecem mais vlidas, pela tese da converso ou da reduo ou da combinao entreambas, o contrato-promessa em causa, seria eficaz como contrato-promessa unilateral,

    com duas partes, certo, mas figurando, ento, A como nico promitente.

    Contudo, decorre do enunciado, que tambm no se deu observncia aos requisitosexigidos pelo art. 410, n3 do CC, igualmente aplicvel, pois estava em causa umafraco autnoma (fala-se de andar, no texto da hiptese) de edifcio. Tratar-se a deuma invalidade mista, j que, em princpio, o promitente vendedor no pode invocar afalta dos requisitos, sendo esta, de princpio, apenas invocvel pela contraparte(parecendo tambm que a nulidade em causa no cognoscvel ex officio pelotribunal).

    1.2. Quanto questo da existncia ou no de sinal

    Nos termos do disposto no art. 441 do CC, presume-se que tem carcter de sinal toda aquantia entregue pelo promitente-comprador (aqui, beneficirio da promessa de venda)ao promitente-vendedor, ainda que a ttulo de pagamento antecipado ou de princpio de

    pagamento (presuno que se funda na considerao de que a prestao prometida defacto jurdico, no tendo a mesma natureza da entrega de dinheiro, justificando-se porisso, que, no artigo em causa, valha justamente uma soluo inversa da que se consagrano art. 440 para os contratos em geral).A presuno, contudo, ilidvel, por prova em contrrio (art. 350, n2 do CC). Para ailidir, no basta contudo a prova de mera declarao de antecipao ou princpio de

    pagamento, pois esta no retira o carcter de sinal quantia entregue. S que, no caso,as partes, expressamente, declararam que a quantia entregue no tinha carcter de sinal.Com isso, B, atravs do documento escrito respectivo, podia ilidir a presuno da

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    existncia de sinal. Assim, considera-se que, no caso, no houve sinal; houve a entregade uma quantia a ttulo de antecipao e princpio de pagamento.

    1.3. Do exposto, quanto questo da validade e eficcia da promessa decorre que Bpoderia invocar a nulidade resultante da inobservncia dos requisitos do art. 410, n3

    do CC, para o efeito de reaver o valor que entregara a A.Contudo, B teria certamente mais interesse em pretender fundar direitos na eficcia dapromessa, a qual, como se viu, a no ser posta em causa por si, teria de ser dada porassente. Que direitos seriam esses?

    1.4. Pois bem, parece que os direitos que se poderia discutir assistirem a B seriam:- direito execuo especfica da promessa;

    - direito ao aumento do valor da coisa;- direito de reteno;- direito de indemnizao (mormente quando no estivesse em causa o direito aoaumento do valor da coisa)

    Um ponto ainda prvio: - A atitude de A, de dizer a B que iria vender a C e de ordenar aB que libertasse o andar como h-de ser qualificada? Cr-se que B no tem que esperar

    pelos acontecimentos (mormente pelo decurso do prazo em que A se vinculara perantesi ou que A, entretanto, vendesse a C): a atitude de A pode valer como incumprimento:ainda que no definitivo, no sentido de que A ainda o proprietrio da coisa prometidavender a B e B conserva interesse no cumprimento; mas no se exclui que B, se nissotiver interesse e preferindo essa soluo, argua o incumprimento definitivo, invocando a

    perda do interesse na prestao, com vista a ser indemnizado.Vejamos, ento:

    1.4.1. Quanto ao direito execuo especfica.Pressuposta a mora (ou o incumprimento no definitivo), B tem esse direito. Desdelogo, mesmo que no se tratasse de promessa referida no art. 410, n3 do CC, no teriahavido conveno contrria nem real nem presumida execuo especfica (cf. art.830, ns 1 e 2 do CC); depois, mesmo que a tivesse havido, o direito execuoespecfica no pode ser afastado nas promessas a que se refere o art. 410, n3 do CC(cf. art. 830, n3 do CC), o que era o caso.

    1.4.2. Quanto ao direito ao aumento do valor da coisa (cf. art. 442, 2 parte do CC) sabido que a doutrina se divide quanto aos requisitos deste direito.Por um lado, quanto questo de saber se o direito ao aumento do valor da coisa

    depende de ter sido constitudo sinal: h quem entenda que no depende da constituiode sinal (Inocncio Galvo Telles e Manuel Janurio Costa Gomes) e quem entenda quedepende da constituio de sinal (Antnio Menezes Cordeiro, Lus Menezes Leito).Em face da primeira posio, B teria direito ao aumento do valor da coisa; em face dasegunda posio, B no teria tal direito, pois no houve sinal. Ainda assim, poderiadiscutir-se, talvez, mesmo no havendo sinal, mas havendo uma quantia j entregue, sea autorizao para B habitar j no podia ser considerada gratuita, com o que talvez seafastasse um dos argumentos da teoria que defende que, no havendo sinal e sendo, porisso, a traditio um mero acto gratuito de tolerncia, no faria sentido penalizar o

    promitente-vendedor com a atribuio contraparte do direito ao aumento do valor dacoisa.

    Outro aspecto a dividir a doutrina e que se prende com o disposto no art. 442, n3, 2parte: o direito ao aumento do valor da coisa pode existir em caso de simples mora

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    (Antunes Varela, Antnio Menezes Cordeiro) ou s em caso de incumprimentodefinitivo? Ou exige-se a outorga ao devedor de um prazo suplementar de cumprimento,findo o qual, no havendo cumprimento, a mora se transformaria em incumprimentodefinitivo (Manuel Janurio Costa Gomes)? Ou exige-se o incumprimento definitivo,mas podendo o beneficirio da promessa de venda e da traditio, optar logo ainda em

    situao de mora do devedor pelo aumento do valor da coisa, comunicando aopromitente-vendedor que invocar esse direito em caso de incumprimento definitivo,podendo o promitente-vendedor ainda, em alternativa, oferecer-se para cumprir aobrigao (Lus Menezes leito)? (* Os alunos deveriam sumariamente referir as diferentes posies eseus fundamentos. Outra questo a valorizar seria uma referncia natureza do direito ao aumento do valor da coisa:- Sano compulsria? Indemnizao? Restituio pelo enriquecimento indevido?)

    1.4.3. Quanto ao direito de reteno, previsto no art. 755, f) do CC

    Numa interpretao declarativa, haveria direito de reteno de B, pelo crdito que lheresultasse do incumprimento do contrato pela contraparte, nos termos do art. 442 do

    CC.Segundo uma interpretao restritiva (Lus Menezes Leito), o direito de retenoapenas atribudo no caso de direito ao aumento do valor da coisa, nico directamenterelacionado com a coisa a reter (sendo que, na tese do mesmo Professor, como referido,este ltimo pressupe a constituio de sinal). Segundo esta tese, ento B no

    beneficiaria do direito de reteno.

    3.4. Finalmente, sem deixar de ter em conta o disposto no art. 442, n4 do CC, B teriasempre o direito de ser indemnizado por A, de todos os danos, em face doincumprimento do contrato, nos termos gerais (art. 798 do CC): seria assim, quando seentendesse que a B no assistiria o direito ao aumento do valor da coisa (j que no lhe

    assistiria nunca o direito restituio do sinal em dobro, pois no houve sinal).Mas ainda se poria a questo de saber se B poderia tambm exigir indemnizao a C,pela interferncia no contrato que B celebrara com A. Trata-se do problema daresponsabilidade civil do terceiro interferente com o direito de crdito. Segundo cremos,o princpio o de que terceiro que interfira conscientemente com o direito de crdito deoutrem ser responsvel, se alm, dos pressupostos, assim implicados, daresponsabilidade civil, se verificarem os demais pressupostos dela dano, nexo decausalidade (* A ser avaliado o desenvolvimento que os alunos faam da questo: situao do problema,argumentos a favor da teoria e contra, a aplicao do princpio da responsabilidade do terceiro interferente)

    2. Quanto questo das responsabilidades e danos resultantes da exploso do armazm

    2.1. Da responsabilidade de A em relao aos danos causados nos prdios vizinhos:Haveria que considerar o art. 493/1 do CC (parece que no o art. 492 do CC), que

    prev uma presuno de culpa do agente. Caberia, tambm serem analisados os demaispressupostos da responsabilidade civil)A eximir-se-ia de responsabilidade se provasse no ter culpa, ilidindo a presuno (nose vendo que isso fosse possvel no caso, desde logo porque omitiu cuidar dodepauperado sistema elctrico do armazm) ou se demonstrasse a existncia de umacausa virtual, relevando negativamente (para afastar a sua responsabilidade): aqui se

    poria a considerao da circunstncia de um raio ter, logo a seguir exploso, atingidoo armazm.

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    2.2. A questo da responsabilidade de A perante D: - Responsabilidade contratual, porno cumprimento das obrigaes do contrato de depsito. Se no se considerasse aresponsabilidade contratual, sempre se colocaria uma questo de responsabilidadeextracontratual, em face do art. 493, n1 do CC

    2.3. A questo da responsabilidade de D perante A, pelos danos no armazm. Nohouve incumprimento contratual por parte de D; no parece ter havido qualquer culpade D, quanto aos artefactos entregues em depsito, pelo que, mesmo a considerar-se oart. 493, n2 do CC, poderia sempre ilidir a presuno de culpa a prevista.

    2.4. A questo da responsabilidade de D perante os donos dos prdios vizinhos.Colocar-se-ia em face do art. 493, n2 do CC: mas, porventura, D poderia ilidir a

    presuno de culpa, pois parece que no cometeu qualquer falta, sendo a explosodevida a factores a si alheios.

    2.5. No havendo que curar de normas relativas segurana dos estabelecimentos de

    armazenagem de explosivos, sempre parece evidente que tais normas protegerointeresses de outrem (no visando em primeira linha os titulares de explosivos ou de taisarmazns), pelo que se poderia colocar uma questo de apreciao de ilicitude, porviolao de tais normas, na segunda modalidade de ilicitude prevista no art. 483 do CC,alm de que uma hipottica violao de tais normas pesaria na insusceptibilidade prticade ilidir a presuno de culpa do titulares do armazm (ou do agente dedicado actividade de pirotecnia).