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Diálogo e Existência no Pensamento de Martin Buber Newton Aquiles von Zuben (*) O estudo da obra de Buber, por ocasião uma Semana de Estudos consagrada à Fenomenologia e Psicologia não deixa de sugerir observações concernentes à questão das duas ordens de discurso que são o discurso científico e o discurso filosófico. Trata-se de uma questão interessante quando a investigação se volta para o sentido do humano em sua concretude e historicidade como ser de relações e como um dos suportes da transformação da realidade. Embora a finalidade primeira deste estudo se volte para uma parte da obra de M. Buber. mais precisamente sua Antropologia Filosófica, não se deve passar ao longe desta questão da articulação dos dois discursos; pelo menos que seja permitido indicar algumas pistas a serem reexaminadas posteriormente de modo mais minucioso. Mesmo que muitos autores contemporâneos tenham consagrado longos estudos a esta questão, creio que ela ainda apresenta aspectos a serem estudados. Deve-se, antes de tudo. deixar clara a intenção destas breves observações: determinar o "lugar" do discurso filosófico em relação ao discurso científico ou em relação à crescente presença do objetivismo deste discurso e sua pretensão em monopolizar todo discurso verdadeiro. Faz-se necessário precisar os limites do discurso científico e o papel do discurso filosófico de modo a arbitrar corretamente o conflito entre filosofia do homem e ciências humanas. Não se trata de defender uma filosofia da subjetividade ou da consciência como fonte de toda realidade ou como transparência de si a si-mesma, da consciência como posse e autodeterminação imediata de si mesma, como representação ou como constituição do real. Esta pretensão já foi denunciada pelos mestres da suspeita: Marx, com a práxis histórica; Nietzsche, com a vontade de poder, e Freud, com o inconsciente. Não deixa de ser intrigante importar-se com a questão quem é o homem? Afinal, o homem, atualmente, ainda encontra sentido em interrogar-se sobre si mesmo, sobre o sentido de sua existência? Engolfado no mundo da eficácia produtiva, dos interesses imediatos, do consumo desenfreado, da luta pela sobrevivência, diante da fome, da opressão, o homem não se sente mais capaz de mistério. Aturdido pelo gigantesco volume de conhecimentos acumulados não vê senão uma conspiração em eliminar a sua vontade de silêncio para poder encontrar-se consigo mesmo. O pensamento calculante do homem, contemporâneo não permite brechas que lhe propiciem uma visão, embora ofuscada e fugaz, de suas limitações trágicas. A solicitação excessiva do meio ambiente leva à quase-impossibilidade de um contato consigo mesmo através da reflexão. O homem já encontra prontas todas as fórmulas e receitas. O inexorável fluxo das teorias o faz capitular negando-lhe qualquer criatividade

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  • Dilogo e Existncia no Pensamento de Martin Buber

    Newton Aquiles von Zuben (*)

    O estudo da obra de Buber, por ocasio uma Semana de Estudos

    consagrada Fenomenologia e Psicologia no deixa de sugerir observaes

    concernentes questo das duas ordens de discurso que so o discurso

    cientfico e o discurso filosfico. Trata-se de uma questo interessante quando

    a investigao se volta para o sentido do humano em sua concretude e

    historicidade como ser de relaes e como um dos suportes da transformao

    da realidade.

    Embora a finalidade primeira deste estudo se volte para uma parte da

    obra de M. Buber. mais precisamente sua Antropologia Filosfica, no se deve

    passar ao longe desta questo da articulao dos dois discursos; pelo menos

    que seja permitido indicar algumas pistas a serem reexaminadas

    posteriormente de modo mais minucioso. Mesmo que muitos autores

    contemporneos tenham consagrado longos estudos a esta questo, creio que

    ela ainda apresenta aspectos a serem estudados. Deve-se, antes de tudo.

    deixar clara a inteno destas breves observaes: determinar o "lugar" do

    discurso filosfico em relao ao discurso cientfico ou em relao crescente

    presena do objetivismo deste discurso e sua pretenso em monopolizar todo

    discurso verdadeiro. Faz-se necessrio precisar os limites do discurso cientfico

    e o papel do discurso filosfico de modo a arbitrar corretamente o conflito entre

    filosofia do homem e cincias humanas. No se trata de defender uma filosofia

    da subjetividade ou da conscincia como fonte de toda realidade ou como

    transparncia de si a si-mesma, da conscincia como posse e

    autodeterminao imediata de si mesma, como representao ou como

    constituio do real. Esta pretenso j foi denunciada pelos mestres da

    suspeita: Marx, com a prxis histrica; Nietzsche, com a vontade de poder, e

    Freud, com o inconsciente.

    No deixa de ser intrigante importar-se com a questo quem o

    homem? Afinal, o homem, atualmente, ainda encontra sentido em interrogar-se

    sobre si mesmo, sobre o sentido de sua existncia? Engolfado no mundo da

    eficcia produtiva, dos interesses imediatos, do consumo desenfreado, da luta

    pela sobrevivncia, diante da fome, da opresso, o homem no se sente mais

    capaz de mistrio. Aturdido pelo gigantesco volume de conhecimentos

    acumulados no v seno uma conspirao em eliminar a sua vontade de

    silncio para poder encontrar-se consigo mesmo. O pensamento calculante do

    homem, contemporneo no permite brechas que lhe propiciem uma viso,

    embora ofuscada e fugaz, de suas limitaes trgicas. A solicitao excessiva

    do meio ambiente leva quase-impossibilidade de um contato consigo mesmo

    atravs da reflexo. O homem j encontra prontas todas as frmulas e receitas.

    O inexorvel fluxo das teorias o faz capitular negando-lhe qualquer criatividade

  • e sufocando sua imaginao. As questes essenciais so aquelas meramente

    utilitrias. Alm disso, no campo das cincias humanas, o sentido do humano

    vem sofrendo constante e sistemtica pulverizao, a ponto de se eliminar o

    "humano" nesta infindvel setorizao a que vem sendo submetido pela anlise

    cientfica. O humano no mera soma de setores cujos contornos e regras

    particulares so definidas por diferentes cincias. E mais, em nome de uma

    pretensa supremacia de certa racionalidade, eliminam-se dimenses no

    menos reais da existncia humana.

    A pista para um possvel encaminhamento do problema do significado

    dos discursos sobre o homem no est na eliminao de um dos discursos em

    confronto. estril qualquer tentativa de um discurso em afirmar sua prpria

    importncia limitando-se a negar a existncia e a validade do outro. filosofia

    cabe denunciar serenamente a pretenso totalitria da explicao objetivista..

    Esta , dogmtica em sua posio, rejeita qualquer afirmao que seja

    suscetvel de verificao. Para esta tendncia cientificista qualquer afirmao

    que no possa ser declarada verdadeira ou falsa classificada como

    metafsica. filosofia cabe denunciar a reduo do humano a simples objeto

    de investigao. Ao contrrio, "o homem se define, diz Merleau-Ponty, em

    oposio pedra, que o que , como o lugar de uma inquietao, como o

    esforo constante por se recuperar e consequentemente pela recusa em se

    limitar a qualquer uma de suas determinaes".

    Convm, ento, esclarecer o sentido da reflexo filosfica no mbito de

    uma antropologia contempornea. Isso se tornou difcil, uma vez que o acervo

    dos conhecimentos e dados fornecidos pelas cincias humanas reduziu o

    campo e a jurisdio da filosofia. Por outro lado, o desenvolvimento das

    cincias humanas apresenta uma srie de questes que exigem uma nova

    reflexo filosfica, questes que, muitas vezes, no podem ser respondidas por

    estas cincias e que estas necessitam para se fundarem de modo vlido.

    "Creio que o ponto de juno entre cincias humanas e filosofia a

    preocupao de reencontrar em ns mesmos aquela parte, aquele aspecto que

    no pode ser objeto de cincia. No podemos circunscrever as cincias

    humanas seno atravs de uma tomada de conscincia desse fundo de

    existncia, fundamento esse que alguns denominaram 'o vivido', seja na

    acepo bergsoniana, seja no sentido da fenomenologia ou do existencialismo.

    Trata-se de reencontrar aquilo que em ns sujeito, aquilo que faz de ns um

    sujeito, aquele que diz 'eu', aquele que est em relao no s com 'ele' ou

    com um 'isto' mas principalmente com um 'tu'". (Ricoeur,P.-Interrogation

    philosophique et engagement. Em Pourquoi la Philosophie. Pag. 16-17).

    De sua parte Jolif apresenta de modo sucinto a interdependncia dos

    dois discursos quando afirma: "na ordem da fundao, as cincias humanas

    tm necessidade da filosofia e essa, por sua vez, na ordem da concretizao,.

    tem necessidade das cincias".( Comprendre l'homme Pag.125.)

  • Heidegger, no seu clssico Kant e o problema da metafsica, nos resume

    de modo desconcertante o mago da questo: "Nenhuma poca acumulou

    conhecimentos to numerosos e to diversos sobre o homem como a. nossa.

    Nenhuma poca conseguiu apresentar seu saber acerca do homem sob uma

    forma que nos afete tanto. Nenhuma poca conseguiu tornar esse saber to

    facilmente acessvel. Mas tambm nenhuma outra poca soube menos o que

    o homem".(pag. 266 da traduo francesa).

    Heidegger se referia ao carter fragmentrio dos conhecimentos sobre o

    homem e impossibilidade das cincias em alcanar a totalidade da existncia

    humana: " as diferentes condutas - social, psquica, lingstica etc. - s quais se

    aplica o conhecimento das disciplinas cientficas encontram sua integrao na

    existncia do homem que as vive, e essa unidade existencial acessvel to-

    somente reflexo filosfica". (Canclini,N.G.-O sentido dialtico do humano.

    Em revistqa Paz e Terra. No. 9, pag. 163).

    Para este autor, "a filosofia tem uma funo insubstituvel com relao

    ao problema do sentido. As cincias apenas descrevem a realidade humana; a

    filosofia a reflexo sobre o que o homem pode fazer com essa realidade. As

    cincias revelam os condicionamentos - sociais, psquicos - que operam sobre

    o homem, o que as estruturas nas quais est imerso fazem com ele; a filosofia

    mostra como o homem assume estes condicionamentos e essas estruturas,

    como empresta um sentido sua existncia por meio deles. Por isso limitar-se

    a uma anlise exclusivamente cientfica - que s analise a realidade existente -

    pode levar a uma concepo esttica do humano. Pelo contrrio, a filosofia - na

    medida em que no considera o homem apenas no que ele , mas no que

    pode ser - contribui para promover seu desenvolvimento". (Canclini. Idem pag.

    163).

    Portanto as articulaes entre as duas ordens de discurso, o cientfico e

    o filosfico, devem ser entendidas como um movimento dialtico. Estes dois

    discursos no se assemelham nem se justapem. Dialetiz-los significa

    articul-los na sua diferena. O discurso cientfico serve de diagnstico ao

    discurso filosfico. A anlise reflexiva, incapaz de atingir vrios aspectos da

    existncia humana atravs de experincia direta busca no conhecimento

    cientfico, objetivo, o "signum", o "indicador" para a descoberta de estruturas

    vividas subjetivamente.

    O mbito e a finalidade do presente estudo no permite uma anlise

    mais ampla e detalhada desta questo que no deixa de preocupar a

    antropologia atual.

    Martin Buber tem exercido notvel influncia em vrios campos do

    saber, no s pela sua intensa atuao pessoal em muitos empreendimentos,

    mas sobretudo pela sua vasta obra. Sem pretender construir um sistema

    terico, fruto de exaustivas elaboraes meramente intelectuais, Martin Buber

    marcou sua obra por uma constante e incansvel procura: o sentido do

    humano a fim de resgatar a dignidade da responsabilidade que lhe inerente

    na construo de um mundo mais humano. Buber foi movido por uma grande

  • esperana no humano. Em sua autobiografia ele prprio qualificou-se de

    "atpico", exatamente por esta recusa em estabelecer sistemas e doutrinas.

    Sua tarefa era entendida como um esforo de mostrar aos contemporneos a

    realidade na qual deveriam tecer sua existncia. A peculiaridade das reflexes

    de Buber, claramente exposta em muitas de suas obras, que ele pode sentir

    a parte de sua experincia concreta que universal e projetar este

    conhecimento acerca das relaes inter-humanas de modo a falar, na

    realidade, diretamente com seu leitor. E' como se, muitas vezes, ele nos

    dissesse: "esta minha experincia, reflita um pouco sobre isso e ver que

    essa pode tambm ser sua experincia". Embora seja um filsofo ele foi

    criticado por no apresentar proposies filosficas e no tentar verific-las ou

    valid-las atravs de provas. Em vez disso, Buber insistiu sempre em travar

    uma conversao , um dilogo com seu leitor. Para este cabe ver se suas

    prprias experincias vividas encontram ressonncia com as experincias

    pessoais relatadas por Buber. E esta ressonncia seria a prova da validade das

    idias que tentou transmitir a seu "interlocutor". "Tomo algum pela mo e

    conduzo at a janela. Abro-a e aponto para fora. No tenho ensinamento

    algum, mas conduzo um dilogo" (Elementos autobiogrficos). Precisamente,

    o dilogo a categoria existencial por excelncia sobre a qual Buber busca

    fundar suas reflexes. A sua proposta de se compreender a realidade humana

    atravs do prisma do "dialgico" um exemplo do vnculo entre a experincia

    vivida e a reflexo, entre o pensamento e a ao. A sua reflexo articula-se

    duplamente com a experincia concreta: na sua origem e em seu projeto. A

    reflexo emerge de uma experincia vivida e se lana, para buscar sua

    eficcia, para um alcance poltico e social na medida em que o dilogo o eixo

    da proposta de formao de comunidades concretas entre os homens. Assim o

    dilogo deixa de ser puro conceito construdo no plano abstrato e passa a

    descrever experincias vividas.

    Na histria da Antropologia Filosfica a obra de Buber representa a

    recuperao do indivduo enquanto pessoa. Para ele no tem sentido a

    pretenso da conscincia em se erigir como ponto de partida e centro da

    investigao filosfica. Deste modo rejeita todo idealismo ao reafirmar

    claramente a abertura ao outro na relao inter-humana. Para alm do

    individualismo inconseqente e do coletivismo totalitrio, Buber erige a relao

    dialgica como o ponto de partida para a procura do sentido da existncia

    humana, e, a nvel prtico, para a construo de uma comunidade onde o

    princpio tico, ao lado do princpio poltico, encontre o lugar de sua realizao.

    As reflexes de Buber sobre as relaes sociais e inter-humanas

    baseadas nas atitudes Eu-Isso e Eu-Tu sugerem ponto de apoio valioso para a

    considerao, atravs de novo prisma, das relaes d. terapia. Repito, tendo

    emergido de situaes pessoais concretas vividas nos mais diversos contextos

    do mundo cotidiano, esta linha terica sobre as relaes do sujeito humano

    com o outro, com o mundo e com o absoluto, no se limita ao nvel terico,

    abstrato, mas est voltado para o concreto. Cabe aqui notar a superao do

  • primado da cincia sobre o vivido. Na verdade, Buber recupera o sentido da

    experincia concreta, do vivido. Sem dvida, na relao teraputica o

    conhecimento cientfico , diramos, no s necessrio mas tambm

    indispensvel, mas sua presena no "projeto teraputica" no deve impor-se

    em detrimento da prpria experincia de dualidade de pessoas que se

    relacionam mutuamente no dilogo. O encontro, o instante da terapia no

    acontece entre um cientista e seu objeto de investigao, mero vnculo Eu-Isso,

    em terceira pessoa, mas, ao contrrio, realiza-se entre duas pessoas mediadas

    pela relao de ajuda.

    Neste quadro pode-se aprender a importncia da filosofia do dilogo,

    esteio primordial para a idia de comunidade que dever ser constituda ou

    construda a partir de novo tipo de relao entre os homens. Buber a

    denominou "dialgica" ou relao Eu-Tu.

    Ele parte de um postulado primeiro, que podemos chamar de "situao

    cotidiana", significando, com isso, que cada homem, pelo simples fato de

    existir, defronta-se com o mundo estabelecendo assim um vnculo de

    correlao que ir caracterizar seu prprio modo de ser.

    O homem , assim, um ser de relaes. Ao defrontar-se com o mundo

    atualiza-se, segundo Buber, pelas "palavras-princpio" que o Eu pode proferir.

    O homem capaz de mltiplas relaes, que podem, no entanto, reduzir-se

    basicamente a duas atitudes externadas pelas duas palavras-princpio: Eu-Tu e

    Eu-Isso. Buber se interessa pelo mundo enquanto correlato na relao dialtica

    Eu-mundo. Do mesmo modo, no h Eu em si, apenas o Eu de uma das duas

    palavras-princpio.

    A "situao cotidiana" nada mais do que a relao que une o homem

    ao mundo ao ser proferida uma ou outra palavra-princpio. A relao no uma

    propriedade do homem nas um evento que acontece entre o homem e o que

    lhe est em face. Tanto o Eu quanto o mundo so caracterizados pela palavra-

    princpio proferida. Temos, ento, de um lado, a abertura essencial do Eu e de

    outro a doao imediata do ser. As palavras-princpio, por seu contedo e sua

    intencionalidade, so verdadeiros princpios da existncia humana. Estes

    princpios que orientam e sustentam a existncia, princpios existenciais e

    "falados", proferidos, so duas formas de relao bipolar, duas

    intencionalidades dinmicas. Trata-se de duas atitudes fundamentais e no de

    duas estruturas epistemolgicas. A palavra-princpio, fonte de todas as

    relaes, dada na evidncia de uma atitude.

    A dupla atitude que o homem tem diante do mundo graas dupla

    palavra-princpio, Eu-Tu e Eu-Isso, significam dois mundos: o mundo da

    relao - o Eu-Tu, e o chamado mundo do Isso - da atitude cognoscitiva,

    objetivante. Estas duas atitudes so radicalmente distintas, segundo Buber. Por

    serem distintas, o homem toma uma ou outra atitude alternadamente. Eu-Tu e

    Eu-Isso no so conceitos que exprimem algo externo, mas significam

    relaes. Como vimos, Eu-Tu a relao ontolgica, esteio para a existncia

    dialgica, para o dilogo; Eu-Isso instaura o vnculo objetivante, lugar e suporte

  • da experimentao, do conhecimento, da utilizao, "o reino dos verbos

    transitivos", como chama Buber. A base da diferena entre as duas atitudes

    est na noo de totalidade que caracteriza a relao ontolgica Eu-Tu. "A

    palavra-princpio Eu-Tu s pode ser proferida pelo ser em sua totalidade",

    afirma Buber. As palavras-princpio instauram dois modos de ser relacional e

    dois tipos de mundo. Ao Eu da palavra-princpio Eu-Tu chama "pessoa", e ao

    Eu da palavra-princpio Eu-Isso, Buber chama "egtico". O plo correlativo ao

    Er,-Pessoa um Tu; e o plo corretivo ao Eu-Egtico um Isso ou Ele, Ela.

    Embora Buber empregue o pronome pessoal Tu, este no se refere

    necessariamente a pessoas, assim como o Isso da relao Eu-Isso no se

    refere unicamente a coisas ou objetos. Ambos, Tu e Isso podem referir-se a

    pessoas, seres da natureza, objetos de arte e mesmo Deus. Podemos

    perceber que Eu-Tu e Eu-Isso ultrapassam ou ao menos se distinguem de

    nosso modo ordinrio de abordar as coisas e as pessoas dirigindo nossa

    ateno no sobre seres ou objetos individuais ou sobre as suas conexes

    causais mas sobre relaes de outro tipo que se estabelecem entre o homem e

    os seres que o envolvem no mundo cotidiano, no seu universo cultural

    individual ou social. Justamente, para Buber, a esfera primordial, quando se

    trata de relaes humanas, a esfera do "entre", lugar primordial e existencial

    onde acontecem os eventos autenticamente inter-humanos.

    A atitude do homem em face do mundo se manifesta com uma palavra.

    Esta palavra, uma vez proferida, traz o homem existncia. Ela realmente

    um princpio de existncia. No simples funo do Eu. Ela essencialmente

    relao, seja a relao mais intensa que Buber denominou Beziehung, seja o

    relacionamento cognoscitivo ou do tipo Sujeito-Objeto que Buber denominou

    Verhltnis . Pela palavra o Eu se projeta ao outro que lhe est defronte.

    Um dos pontos de partida da meditao buberiana uma reflexo sobre

    a linguagem. Buber no se interessa, no entanto, maneira do cientista, pela

    estrutura lgica e abstrata da linguagem. Sua anlise se restringe antes

    linguagem como palavra proferida, a palavra como invocao do outro, aquela

    que gera resposta, aquela que se apresenta como manifestao de sua

    situao atual entre dois ou mais homens relacionados entre si por peculiar

    relao de reciprocidade. A palavra que, pela intencionalidade que a anima,

    um dos componentes da estrutura da relao, do dilogo, esteio e atualizao

    concreta do encontro inter-humano.

    Para melhor se entender o sentido da palavra "atitude" que se concretiza

    nas palavras-princpio convm apreender o sentido do "conhecimento" para

    Buber. Para este, na base da dualidade das atitudes est a "intuio"

    denominada "contemplao" - Schauung - que precede o conhecimento

    objetivo. Este posterior presena do ser que se oferece. Enquanto

    considerao, anlise de um objeto, o conhecimento posterior intuio da

    presena do ser na relao originria Eu-Tu. "A palavra conhecer, diz Buber,

    empregada em dois sentidos: primeiro, na linguagem comum conhecer significa

    considerar a coisa como objeto. Tal conhecimento se funda no relacionamento

  • entre sujeito e objeto; em segundo lugar, outro sentido atribudo palavra

    conhecer, como o que lemos na frase bblica: 'Ado conheceu Eva'. Aqui,

    entende-se a relao de ser para ser, na qual acontece um efetivo conhecer de

    Eu e Tu e no de um sujeito que conhece um objeto" (Buber, Nachlese, 1966).

    A relao Eu-Tu seria uma relao ontolgica e existencial que precederia o

    relacionamento cognoscitivo. Poderia mesmo afirmar que antes de conhecer a

    vivncia o homem a vive e a relao objetivante um empobrecimento da

    densidade vivencial originria. A contemplao no face a face no uma

    intuio cognoscitiva mas doao de um Tu a um Eu. Este se realiza na,

    relao a um Tu.

    A relao Eu-Tu anterior ao Eu; a atitude Eu-Isso, de experimentao

    e de utilizao como denomina Buber, nasce de um ajuntamento do Eu e do

    Isso. A relao Eu-Tu imediata: a acontece a recproca "presentificao do

    Eu e do Tu". No relacionamento Eu-Isso, se o Isso est na presena do Sujeito-

    Eu, no podemos dizer que o Eu est na presena do Isso. "0 homem

    transformado, diz Buber, em Eu que pronuncia o Eu-Isso coloca-se diante das

    coisas em vez de confrontar-se com elas no fluxo da ao recproca". Na

    relao Eu-Tu o Eu determinado pela presena do outro que est em sua

    presena como Tu. A alteridade constitutiva do ser pessoal. Talvez esteja a

    a base da afirmao de que o homem um ser social.

    No se deve entender a ao essencial e recproca que acontece na

    relao Eu-Tu em termos de sentimentos. Tal ao imediata, direta, gratuita,

    por assim dizer, uma vez que acontece na situao Eu-Tu que gratuita, une

    dois seres humanos, acontece entre os dois; ela essencialmente recproca.

    Os sentimentos so, ao contrrio, possudos pelo Eu. Eles acompanham a

    relao. O amor acontece entre um Eu e um Tu. Os sentimentos acompanham

    o amor, Este no se identifica com aqueles.

    Um dos pontos centrais da antropologia de Buber sem dvida a

    questo do outro como Tu. Este para Buber o fundamento ontolgico e

    existencial de todas as outras realidades e aes humanas. O Tu o

    fundamento do "ns" e este o esteio da comunidade.

    Buber distingue quatro aspectos essenciais e indispensveis a qualquer

    relao Eu-Tu, aspectos a que de algum modo j nos referimos. So eles: a

    reciprocidade, a presena, a imediatez e a responsabilidade.

    A reciprocidade indica, como o prprio termo exprime, a existncia de

    uma dupla ao mtua entre os parceiros da relao. "A rvore no uma

    impresso, afirma Buber, um jogo de minha representao ou um valor

    emotivo, Ela se apresenta 'em pessoa' diante de mim e tem algo a ver comigo,

    e eu, se bem que de modo diferente, tenho algo a ver com ela. Que ningum

    tente debilitar o sentido da relao: 'relao reciprocidade ." (Eu e Tu).

    A relao Eu-Tu no se reduz esfera humana, ou melhor, o Tu, como

    vimos, no necessariamente um ser humano. Porm, na esfera das

    relaes humanas que a reciprocidade pode atingir seu grau mais elevado. Na

    relao dialgica a palavra da invocao recebe a resposta. A reciprocidade

  • rompe ento o imanentismo do Eu lanando-o no encontro face a face. a

    que o Eu e o Tu se presentificam. A presena justamente o momento, o

    instante da reciprocidade. Esta presena recproca a garantia da alteridade

    preservada.

    O Tu no pode ser funo do Eu, como se fora mera coisa determinvel

    na trama da causalidade universal; o Tu encontrado em sua alteridade, ele

    confirmado como outro.

    Alm disso, nenhum meio se interpe entre os parceiros do encontro. A

    relao imediata, direta. Nenhum esquema conceitual ou idias prvias,

    nenhuma imagem, nem fins nem antecipaes. Na atitude Eu-Tu dialgica no

    me relaciono com o outro atravs de sua funo social. "Todo meio

    obstculo", diz Buber. O Tu se d na presena e no na representao.

    Por se tratar de uma ao recproca entre os presentes no dilogo, esta

    relao tambm responsabilidade. Buber situa o problema da

    responsabilidade imediatamente ao nvel da vida vivida. Ele no a aborda ao

    nvel de uma tica autnoma, de um "dever" abstrato. Na realidade, a vida

    humana vivida em situaes concretas de relaes inter-humanas. A

    verdadeira responsabilidade se encontra onde h possibilidade de resposta. A

    responsabilidade se torna ento o nome tico da reciprocidade, uma vez que a

    resposta autntica se realiza em encontros inter-humanos no domnio da

    existncia em comum.

    "As palavras de nossa resposta so pronunciadas na linguagem da

    ao. O que dizemos por nosso . ser que ns nos entregamos situao,

    que entramos na situao, nesta situao que vem de nos interpelar." ( Buber,

    M.- Eu e Tu.)

    Por outro lado, h diversos modos de existncia caracterizada pela

    atitude Eu-Isso. Buber os resume em dois conceitos: experincia - Erfahrung -

    e a utilizao ou uso - Gebrauchen. A experincia estabelece um contato na

    estrutura do relacionamento, de certo modo unidirecional entre um Eu, ser

    egtico, e um objeto manipulvel. Este relacionamento se caracteriza pela

    coerncia no espao e no tempo; ele coordenvel e submetido ordem

    temporal. Ao tomar a atitude Eu-Isso o Eu no se volta para o outro, mas

    encerra em si toda a iniciativa da ao. "Eu considero uma rvore", diz Buber.

    Ela meu objeto, um Isso delimitado por outros objetos, uma soma de

    caractersticas externas. O Eu da experincia e da utilizao no participa do

    mundo; a experincia se realiza ,,nele" e no entre ele e o mundo. O homem

    que aps a relao dialgica se tornou em Ele um congregado de qualidades,

    no vejo nele o outro.

    O mundo do Isso, ordenado e coerente, indispensvel para a

    existncia humana; ele o lugar-comum onde ns nos entendemos com os

    outros. Ele parte integrante do nosso Lebenswelt. Buber o chama de reino

    dos verbos transitivos. Embora essencial para a existncia humana, no pode,

    pensa Buber, ser considerado o sustentculo ontolgico do inter-humano. A

    afirmao taxativa, como vimos h pouco, do primado da relao Eu-Tu, no

  • deve levar concluso de que a atitude Eu-Isso seja algo de negativo. A

    diferena entre as atitudes no tica. No se deve distingui-las em termos de

    autenticidade e inautenticidade. Enquanto humanas as duas so autnticas.

    Para Buber o Eu-Isso uma das atitudes do homem em face do mundo graas

    qual podemos compreender todas as aquisies cientficas e tcnicas da

    humanidade. Em si o Eu-Isso no um mal; ele se torna fonte do mal na

    medida em que o homem se deixa subjugar por esta atitude, movido pelo

    interesse de pautar todos os valores de sua existncia unicamente pelos

    valores inerentes a esta atitude, deixando enfim fenecer o poder de deciso, de

    responsabilidade de disponibilidade para o encontro com o outro.

    "Se o homem no pode viver sem o isso, diz Buber, no se pode

    esquecer que aquele que vive s com o isso no homem." (Eu e Tu. pag. 39.

    Ed.Cortes e Moraes).

    Para Buber a existncia humana tecida pela alternncia das duas

    atitudes. Uma, mais duradoura e mais estvel, dando ao homem sensao de

    segurana, e a outra - Eu-Tu - mais fugaz e mais rara e difcil. No h duas

    espcies de homens, mas duas possibilidades permanentes de ser homem.

    Homem algum puramente pessoa e homem algum puramente egtico.

    "H homens, afirma Buber, cuja dimenso de pessoa to

    preponderante que se podem chamar de pessoas, e outros cuja dimenso de

    egotismo to preponderante que se pode lhes atribuir o nome de egticos.

    Entre aqueles e estes se desenrola a verdadeira histria."(Eu e Tu).

    No podemos deixar de externar certa apreenso diante da nfase com

    que Buber distingue as duas atitudes. Na realidade, ele emprega termos um

    tanto radicais quando fala da transformao do Tu em Isso ou Ele; ele se refere

    "grande melancolia de nosso destino". Em outra parte ele afirma: "Por mais

    exclusiva que tenha sido a sua presena na relao imediata, to logo tenha

    esta deixado de atuar ou tenha sido impregnada por meios, o tu se torna um

    objeto entre objetos, talvez o mais nobre, mas ainda um deles, submisso

    medida e limitao". "Cada. tu, prosseglie Buber, condenado pela prpria

    natureza, a tornar-se uma coisa, ou ento, a sempre retornar coisidade." ( Eu

    e Tu ).

    Segundo Buber, a pessoa que encontrei na relao Eu-Tu., aps os

    breves instantes desta relao, j no uma pessoa, mas simples objeto, um

    Ele. Podemos notar, em toda a obra de Buber, uma extrema ateno

    experincia cotidiana, vivida. Ele mesmo foi um exemplo deste vnculo estreito

    entre pensamento e ao. Agora, se ns nos voltarmos nossa experincia

    cotidiana concreta de nossas relaes com nossos semelhantes, vemos que as

    coisas no se passam exatamente do modo tal qual descreveu Buber. Na

    verdade,, existem atitudes que, embora no sejam autnticas relaes Eu-Tu,

    nem por isso so meramente Eu-Isso. Se, por acaso, numa relao inter-

    humana no se estabelece uma relao Eu-Tu, meu parceiro deve ser

    necessariamente considerado um objeto? Talvez seja este o ponto mais crtico

    da verso de Eu e Tu de 1923. alis nunca revista pelo autor em suas

  • sucessivas edies. Em obras posteriores, o prprio Buber parece ter

    amenizado esta dualidade com aparncia maniqueista dos dois mundos e das

    duas atitudes.

    O dialgico acontece "entre" as pessoas envolvidas. Distingue-se

    portanto do psicolgico na medida em que este acontece no interior de cada

    indivduo. O sentido do dilogo est neste intercmbio, na "inter-ao", no

    intervalo das duas palavras.

    No plano antropolgico ou existencial o "encontro" se d, segundo

    Buber, atravs de dois movimentos: o distanciamento e a relao. Pelo

    distanciamento o homem coloca-se face a face com o outro, reconhecendo sua

    alteridade como outro, independente do eu. Pela relao, acontece a

    presentificao do outro, em pessoa e no na mera representao. "O

    movimento bsico dialgico consiste no voltar-se-para-o-outro. Aparentemente

    trata-se de algo que acontece a toda hora, algo banal; quando olhamos para

    algum, quando lhe dirigimos a palavra, com um movimento natural do corpo

    que a ele nos voltamos; porm, na medida do necessrio, quando a ele

    dirigimos nossa ateno, fazemo-lo tambm com a alma". (Dilogo . Em do

    dilogo e do dialgico. Pag. 56)

    Em seguida Buber nos observa claramente que " constitui um erro

    grotesco a noo do homem moderno que o voltar-se-para-o-outro seja um

    sentimentalismo que no est de acordo com a densidade compacta da vida

    atual e sua afirmao que o voltar-se-para-o-outro seja impraticvel no tumulto

    desta vida apenas a confisso mascarada da fraqueza de sua prpria

    iniciativa diante da situao da poca". (idem pag. 57).

    Oposto a este movimento dialgico, o movimento monolgico no

    consiste, afirma Buber, no desviar-se-do-outro, mas no dobrar-se-em-si-

    mesmo. "Chamo de dobrar-se-em.si-mesmo o retrair-se' do homem diante da

    aceitao, na essncia do seu ser, de uma outra pessoa na sua singularidade,

    singularidade que no pode absolutamente ser inscrita. no crculo do prprio

    ser e que contudo toca e emociona substancialmente a nossa alma, mas que

    de forma alguma se lhe torna imanente; denomino dobrar-se-em-si-mesmo a

    admisso da existncia do Outro somente sob a forma de vivncia prpria,

    somente como 'uma parte do meu. eu'." (idem pag. 58).

    O dialgico o desdobramento do inter-humano que se d no face a

    face e na aceitao mtuas. Porm a relao inter-humana no acontece sem

    dificuldades.

    Tais relaes inter-humanas ocorrem nas dualidades que Buber

    denominou, de um lado, a dualidade do ser e da aparncia e, de outro, da

    imposio e da abertura.

    "Ns podemos distinguir, diz Buber, duas espcies de existncia

    humana. Uma delas pode ser designada como a vida a partir do ser, a vida

    determinada por aquilo que se ; a outra, como a vida a partir da imagem, uma

    vida determinada pelo que se quer parecer. Em geral, estas duas espcies

    apresentam-se sob a forma de uma mistura: deve ter havido poucos homens

  • inteiramente independentes da impresso que causavam aos outros, mas

    provavelmente ser difcil encontrar algum que se guie exclusivamente pela

    Impresso que causa." (Elementos do Interhumano em Do dilogo e do

    dialgico. Pag.141. Ed.Perspectiva S.P.)

    Para que surja o dilogo autntico necessrio que cada parceiro veja o

    outro como ele . Este ver implica um conhecimento ntimo do fato de que ele

    outro, essencialmente outro o que no eu. Mais que uma compreenso objetiva

    de algo, o conhecimento ntimo seria uma compreenso "transjetiva" de

    algum. Quanto a isso Eu e Tu j definiu claramente as diferenas. Na relao

    Eu-Tu no conheo o outro do mesmo modo que tomo conhecimento de um

    objeto. Assim, na relao teraputica, o que conta no o mtodo ao qual toda

    a situao deve se submeter em vista de seu esclarecimento. O que conta o

    terapeuta de um lado e o paciente de outro. Embora o mdico no possa

    desvencilhar-se completamente de toda tipologia, ele deve reconhecer que em

    certos momentos a pessoa, em sua unicidade, do paciente se defronta no face

    a face com a pessoa, nica, do mdico. Mesmo que no possa renunciar a

    mtodos e tipologias, deve o mdico, no entanto, saber em que momentos

    coloc-los de lado e tornar-se presente no encontro. Este tornar-se presente

    a prpria confirmao mtua no momento dialgico. A confirmao no pode

    ser considerada esttica, pois eu confirmo o outro em sua experincia

    dinmica, em suas potencialidades especficas; no presente esconde-se o que

    pode tornar-se.

    O dialgico no deve ser equiparado com o amor. "Eu no sei de

    ningum, em tempo algum, que tivesse conseguido amar a todos os homens

    que encontrou. Mesmo Jesus amou, manifestadamente, entre os "pecadores".

    somente os desprendidos, os amveis, os que pecavam contra a lei, e no os

    impermeveis, presos aos seus patrimnios, que pecavam contra ele e a sua

    mensagem; no entanto ele permanecia num relacionamento direto tanto com

    os primeiros como com os ltimos. A dialgica no pode ser comparada com o

    amor. Mas o amor sem a dialgica, isto , sem um verdadeiro sair-de-si-em-

    direo-ao-outro, sem alcanar-o-outro, sem permanecer junto-ao-outro, o

    amor que permanece consigo mesmo, este que se chama Lcifer" (Dilogo.

    Em Do dilogo e do dialgico,, p, 55). no tornar-se-presente e na

    confirmao do outro em sua alteridade, quando cada um experincia o outro

    lado, nesta mtua aceitao que reside a responsabilidade do dilogo. a

    responsabilidade que far com que a relao misteriosa que acontece entre os

    homens deixe de ser mero jogo e contato ilusrio baseado na aparncia para

    se converter em autntico dilogo, onde a palavra e a ao se fundam na

    unidade da vida vivida.

    (*) Publicado originalmente em Forghieri, Y. C.(org.), Fenomenologia e

    Psicologia. Editora Cortez. So Paulo, 1984.