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PERFIL - TEXTO PUBLICADO NO JORNAL OI PORTO ALEGRE O doutor trocou o dia pela noite O garoto Dimi, aos 15 anos, colocava um colchão no sol e escutava Maria Bethânia, “...tô saudade de tu me desejo, tô com saudade do beijo e do mel...”, chorando pelo seu primeiro amor. Ninguém pode negar, nem ele tenta esconder, que é um cara sensível. Dimi gosta de ler “Julia” e sonha com o tal “felizes para sempre”. Dimitri Aguiar morou, até seus 12 anos, num casarão na Glória, em Porto Alegre (RS). Lá viveu com os pais, dois irmãos mais novos, tias, primas, a avó e a bisavó. A mãe e o pai sempre trabalharam muito. Ele conta que foi criado pela avó. Brincava com as primas e ganhava bonecas de pano da bisa. Dimi nunca gostou de carrinhos e sempre esteve rodeado por mulheres. Em 1994, decidiu que iria cursar Direito. Disperso nas aulas, não gostava das leituras obrigatórias, mas tinha interesse pelo Direito de Família. Foi estagiário no Ministério Público, dentro do Tribunal de Contas do Estado, durante três anos. Dimi lembra que trabalhava diretamente com dois procuradores. Um deles era um figurão sisudo que não dava espaço para ninguém. No tempo que ficou por lá, Dimi conquistou a confiança do sujeito. Ele lembra que fumava com o procurador, no horário do expediente, e do cigarro dele. Assim que saiu da faculdade, em 2000, fez o exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), sem ter estudado, e passou. Depois de trabalhar em meia dúzia de processos largou o Direito e foi trabalhar na noite, uma paixão. Comandou o videokê de um bar gay, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, montou seu próprio negócio, o Dimi’s Pub, fez duas apresentações como cantor, está negociando outras, e, hoje, trabalha no comando de outro videokê. Ele vive rodeado de amigos, tem uma facilidade incrível de conquistar as pessoas e é uma figura conhecida no meio GLS. Em 2005, foi destaque do Teledomingo, programa de TV do Grupo RBS. Era uma matéria especial sobre a Parada Gay. Os protagonistas da história foram Dimi e dona Alzira, a mãe dele. Alzira apóia o filho e adora a Parada. Ele destaca que a mãe sempre desfila ao seu lado, com bandeiras, acenando para o público, um show a parte. O garoto sensível da Glória hoje, com 34 anos, tem 1,86 metro, mora numa casa cheia de enfeites e CDs, toma café batido, tem um secador de cabelo colorido no banheiro, fala com pressa, usa cavanhaque, tem bem menos peso do que tinha aos 30 anos, quando fez uma cirurgia de redução do estômago e pesava 156 kg, e ainda procura uma profissão que combine consigo, que o mantenha perto dos amigos, perto da noite e com dinheiro até o final do mês. O doutor Dimitri Aguiar é, sem dúvida, um homem de coragem.

Texto Publicado No Jornal Oi Porto Alegre - Perfil Dimitri Aguiar

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Texto publicado no Jornal Oi - Porto Alegre. Por Juliana Ramiro

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PERFIL - TEXTO PUBLICADO NO JORNAL OI PORTO ALEGRE O doutor trocou o dia pela noite

O garoto Dimi, aos 15 anos, colocava um colchão no sol e escutava Maria Bethânia, “...tô saudade de tu me desejo, tô com saudade do beijo e do mel...”, chorando pelo seu primeiro amor. Ninguém pode negar, nem ele tenta esconder, que é um cara sensível. Dimi gosta de ler “Julia” e sonha com o tal “felizes para sempre”.

Dimitri Aguiar morou, até seus 12 anos, num casarão na Glória, em Porto Alegre (RS). Lá viveu com os pais, dois irmãos mais novos, tias, primas, a avó e a bisavó. A mãe e o pai sempre trabalharam muito. Ele conta que foi criado pela avó. Brincava com as primas e ganhava bonecas de pano da bisa. Dimi nunca gostou de carrinhos e sempre esteve rodeado por mulheres.

Em 1994, decidiu que iria cursar Direito. Disperso nas aulas, não gostava das leituras obrigatórias, mas tinha interesse pelo Direito de Família. Foi estagiário no Ministério Público, dentro do Tribunal de Contas do Estado, durante três anos. Dimi lembra que trabalhava diretamente com dois procuradores. Um deles era um figurão sisudo que não dava espaço para ninguém. No tempo que ficou por lá, Dimi conquistou a confiança do sujeito. Ele lembra que fumava com o procurador, no horário do expediente, e do cigarro dele. Assim que saiu da faculdade, em 2000, fez o exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), sem ter estudado, e passou.

Depois de trabalhar em meia dúzia de processos largou o Direito e foi trabalhar na noite, uma paixão. Comandou o videokê de um bar gay, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, montou seu próprio negócio, o Dimi’s Pub, fez duas apresentações como cantor, está negociando outras, e, hoje, trabalha no comando de outro videokê. Ele vive rodeado de amigos, tem uma facilidade incrível de conquistar as pessoas e é uma figura conhecida no meio GLS.

Em 2005, foi destaque do Teledomingo, programa de TV do Grupo RBS. Era uma matéria especial sobre a Parada Gay. Os protagonistas da história foram Dimi e dona Alzira, a mãe dele. Alzira apóia o filho e adora a Parada. Ele destaca que a mãe sempre desfila ao seu lado, com bandeiras, acenando para o público, um show a parte.

O garoto sensível da Glória hoje, com 34 anos, tem 1,86 metro, mora numa casa cheia de enfeites e CDs, toma café batido, tem um secador de cabelo colorido no banheiro, fala com pressa, usa cavanhaque, tem bem menos peso do que tinha aos 30 anos, quando fez uma cirurgia de redução do estômago e pesava 156 kg, e ainda procura uma profissão que combine consigo, que o mantenha perto dos amigos, perto da noite e com dinheiro até o final do mês. O doutor Dimitri Aguiar é, sem dúvida, um homem de coragem.