textos sobre assistência

Embed Size (px)

Citation preview

ROBERTO REQUIO Governador ORLANDO PESSUTI Vice-governador EMERSON JOS NERONE Secretrio de Estado do Trabalho, Emprego e Promoo Social PAULO ROBERTO RAGNINI Diretor Geral da Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Promoo Social - SETP THELMA ALVES DE OLIVEIRA Diretora do Instituto de Ao Social do Paran IASP DENISE ARRUDA COLIN Coordenadora do Ncleo Estadual da Assistncia Social - NUCLEAS JUCIMERI ISOLDA SILVEIRA Assessora Tcnica do Ncleo Estadual da Assistncia Social - NUCLEAS SOLANGE FERNANDES Coordenadora de Desenvolvimento Integrado da Poltica de Assistncia Social - CDI IRONI VIEIRA CAMARGO Coordenadora de Apoio Gesto da Poltica de Assistncia Social CGM ZELIA DE OLIVEIRA PASSOS Coordenadora de Projetos Especiais e Enfrentamento a Pobreza - CEP

SUMRIO

APRESENTAO QUESTO SOCIAL, POLTICAS PBLICAS E DIREITOS SOCIAIS: ELEMENTOS ESSENCIAIS NO DEBATE DA ASSISTNCIA SOCIAL Berenice Rojas Couto RELEVNCIA DOS CENTROS DE REFERNCIA DE ASSISTNCIA SOCIAL - CRAS NA GARANTIA DE DIREITOS E EFETIVAO DA POLTICA DE ASSISTNCIA SOCIAL Aid Canado Almeida CENTRO DE REFERNCIA DE ASSISTNCIA SOCIAL: GARANTIA DE DIREITOS Denise A Colin Jucimeri I. Silveira GESTO LOCAL NA

CRAS: ORGANIZAO, ESTRUTURA, FUNCIONAMENTO E FINANCIAMENTO La Lcia Ceclio Braga METODOLOGIAS DE TRABALHO COM FAMLIAS Mariangela Belfiore Wanderley FAMLIA E FAMLIAS: INCURSES NECESSRIAS Solange Fernandes IMPLICAES TICO-POLTICAS NO EXERCCIO PROFISSIONAL E O PROTAGONISMO DO USURIO Beatriz Augusto Paiva O EXERCCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL: QUESTES TICOPOLTICAS NA DEFESA E GARANTIA DOS DIREITOS Dione do Rocio Poncheck Ilda Lopes Witiuk Marcelle Dirio de Souza Telma Maranho Gomes ENCONTROS REGIONAIS DE CAPACITAO E FUNCIONAMENTO DO CRAS: SISTEMATIZAO DAS CONTRIBUIES Ana Paula Gonalves RELATRIO DE AVALIAO DA IMPLANTAO E FUNCIONAMENTO DO CRAS NO PARAN Helena Navarro Giminez

Ligia Krasnievicz ANEXOS - SUGESTES DE INSTRUMENTOS Relatrio Mensal de Atividades Do CRAS Acompanhamento Monitoramento Encaminhamento de Atividades do CRAS

APRESENTAO O Estado do Paran tem historicamente buscado efetivar a diretriz de descentralizao poltico-administrativa, com fortalecimento da participao democrtica nas diversas instncias do sistema descentralizado e participativo de Assistncia Social. Neste sentido, a Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Promoo Social - SETP, por intermdio do Ncleo de Coordenao da Poltica Estadual de Assistncia Social NUCLEAS, assumiu como uma de suas atribuies o eixo de interveno de Aprimoramento da Gesto. Assim, suas aes esto baseadas na construo coletiva da referida poltica, adotando como fundamento e prtica a elaborao de estudos e pesquisas, a organizao do Sistema de Informao, Monitoramento e Avaliao e a realizao de Capacitao Sistemtica de conselheiros, gestores e tcnicos. A realizao do I Encontro Estadual de Sistema Municipal e Gesto Local do Centro de Referncia de Assistncia Social (CRAS), e dos 10 Encontros Regionais de Capacitao sobre Implantao e Funcionamento do CRAS, integra um conjunto de aes estratgicas de capacitao permanente e continuada para a implementao do Sistema nico de Assistncia Social (SUAS), na perspectiva de qualificao terico-prtica dos sujeitos para a gesto democrtica e compartilhada; unificao de conceitos, responsabilidades, procedimentos e fluxos; e padronizao de instrumentos de gesto, considerando as particularidades locais/regionais. Esta verso da publicao do Caderno I Assistncia Social: Sistema

Municipal e Gesto Local do CRAS, foi elaborada objetivando subsidiar tecnicamente aos municpios na estruturao do Sistema Municipal, prioritariamente do equipamento social que especifica a referncia dos direitos socioassistenciais de proteo social bsica. A gesto local do CRAS deve organizar a prestao direta dos servios e indireta pela coordenao da rede no territrio referenciado, tendo como foco a matricialidade scio-familiar e o enfrentamento das desigualdades sociais, polticas, econmicas e culturais. O contedo do Caderno so textos reflexivos sobre a Poltica de Assistncia Social nas mais diversas conjunturas, o Sistema Municipal e Gesto Local do CRAS, o Trabalho com Famlias, as diferentes metodologias de abordagem e atendimento scio-

familiar, a contribuio dos grupos de trabalho do encontros regionais realizados, a sugesto de fluxos/ encaminhamentos e a padronizao de relatrios mensais. Essa publicao expressa a perspectiva de consolidao da nova lgica de configurao da poltica, na direao de uma nova cultura poltica e de gesto para a rea. EMERSON JOS NERONE Secretrio de Estado do Trabalho, Emprego e Promoo Social

DENISE ARRUDA COLIN Coordenadora do Ncleo de Assistncia Social

QUESTO SOCIAL, POLTICAS PBLICAS E DIREITOS SOCIAIS: ELEMENTOS ESSENCIAIS NO DEBATE DA ASSISTNCIA SOCIAL Berenice Rojas Couto1 Ao propor uma cartilha para socializar os debates no entorno da implantao/ implementao dos Centros de Referncia da Assistncia Social - CRAS e Centros de Referncia Especializados da Assistncia Social CREAS, o Paran mais uma vez assume seu papel de protagonista na luta pela efetivao da poltica de Assistncia Social. Merece destaque no cenrio nacional o trabalho realizado, certamente ao escrever-se a histria da Assistncia Social na sua trajetria para se efetivar como poltica pblica, dever do Estado e direito do Cidado, a experincia do estado do Paran ser fundamental nesse caminho. A Assistncia Social vive um novo tempo! A implantao do Sistema nico de Assistncia Social - SUAS a partir de uma resoluo da Conferncia Nacional, desafia a todos que trabalham nessa poltica a materializar nos espaos de trabalho o direito a ser atendido como cidado! E para isso contam com a criao do espao pblico, onde as demandas dos usurios da poltica devem ser referenciadas, sejam eles os CRAS ou os CREAS, um servio pblico fundamental na busca da consolidao da Poltica Pblica de Assistncia Social. . O desafio discutir sua implantao a partir de uma perspectiva de Poltica Pblica e de direito social, porque todos os trabalhadores sociais que esto envolvidos de uma forma ou de outra com a Poltica de Assistncia Social, desde a sua concepo, sabem da dificuldade desta discusso ganhar densidade e consistncia no campo do direito social, pela prpria dificuldade de se compreender o campo da assistncia social como um direito social. Por muito tempo, o campo da Assistncia Social foi reconhecido como campo de troca de favores, de tutelamento dos mais pobres, de manuteno das situaes constrangedoras no atendimento a essa populao. Isto to arraigado na sociedade brasileira que preciso que se reforce e continue debatendo sobre isto para que se possa efetivamente romper com o paradigma da tutela que ainda permeiaAssistente Social. Professora Dr da Faculdade de Servio Social da PUC/RS. Coordenadora do Programa de Ps-Graduao em Servio Social - Mestrado e Doutorado da PUC/RS. Palestra proferida no Encontro Estadual de Conselheiros e Gestores para Qualificao e Aprimoramento da Gesto e Controle da Poltica de Assistncia Social: sensibilizao sobre a importncia do CRAS - 29 e 30 de junho de 2006, Curitiba PR.1

o dia a dia do trabalho, situaes repetitivas que muitas vezes nos levam a crer que a garantia legal, o debate terico muito pouco ou quase nada tem a ver com as possibilidades de trabalho nesse campo. Portanto, o debate sobre a Assistncia Social como poltica pblica e como direito social remete a que se deve discutir a Assistncia Social como um direito de todos, como um direito de incluso da populao, que os usurios dos servios estejam na condio de cidado e no na condio de pedinte, no na condio de uma pessoa esperando uma benesse de algum poltico de planto. preciso retomar o papel das polticas sociais como instrumento de enfrentamento da questo social, que nas suas mais diversas expresses, tem penalizado a parcela importante da populao brasileira a viver em condies inadequadas, sem usufruto da riqueza produzida socialmente. Por muito tempo a questo social no Brasil foi tratada como caso de polcia. Os pobres no incio da Repblica eram presos porque eram pobres; ser pobre era uma contraveno; seu comportamento era considerado um comportamento fora dos padres da normalidade. Assim, programas que atendiam a populao pobre trabalhavam na perspectiva de adestr-los, torn-los mais dceis, mais resignados com aquilo que a sociedade lhe oferecia. Todo comportamento reivindicatrio do pobre era considerado uma contraveno e ele era preso. O Estado no tinha nenhuma responsabilidade com eles, limitava-se a transferir para a iniciativa privada o atendimento dessa demanda. preciso reafirmar que o sistema capitalista estrutura-se como uma sociedade de desiguais, onde o gozo pleno dos direitos ficam reduzidos queles que detm o capital, aos outros que s tem a fora do trabalho para viver, e que na sua grande maioria esta fora do sistema de consumo, fica reservado a benesse, a caridade, ou seja, o no lugar da cidadania. preciso compreender que na histria brasileira tm-se inmeros exemplos do tratamento da pobreza neste sentido. Mas, a questo social no s esta expresso da excluso, ela tambm a resistncia. Que quer dizer isto? Quer dizer que tambm existem formas organizativas da populao e dos trabalhadores que se contrape a esta forma de compreender a sociedade. Ou seja, compreende a sociedade como lugar de todos. Compreende que a riqueza socialmente produzida deve ser distribuda a todos, e que isto depende de uma grande presso da sociedade para que acontea. A incluso das pessoas no projeto societrio no um favor, um direito. E s possvel construir uma sociedade democrtica quando este direito estiver estabelecido.

No campo das polticas sociais, cada poltica tem um campo no qual ela vai fazer o seu papel em relao constituio deste direito. A constituio deste cidado que se coloca na posio de construtor de um projeto de sociedade, uma sociedade que tenha espao para todos, que garante uma vida digna para todos. Trabalhar as condies de pobreza, na perspectiva de buscar o enfrentamento da questo social, pressupe pensar que a populao pobre deve ter protagonismo na construo do projeto de sociedade, e isso extremamente revolucionrio no Brasil. E por isto que a Assistncia Social est fazendo uma revoluo, porque ela est diretamente tratando com categorias e conceitos que por muito tempo foram incorporados na sociedade brasileira sem nenhuma discusso. No mximo, tratava-se a questo da pobreza como uma questo moral, ento criava-se programas para que a conscincia moral ficasse resolvida em relao isto. A dcada de 1980, foi protagonista de um debate profundo sobre esta sociedade. Todo movimento que foi gestado na sociedade brasileira, na sada da ditadura militar, um movimento de resistncia forma de organizao do estado brasileiro e da sociedade para dar conta das expresses da questo social. Desse movimento social resultou a Constituio Federal de 1988, que no campo jurdico formal vai dar materialidade a um novo projeto societrio que se constri com a participao de toda a sociedade. A forma conservadora com que o Brasil tratou a questo da pobreza at a dcada de 80 do sculo passado, resultou num grande impacto, ou seja, aprofundou-se cada vez mais o nvel de desigualdade social aumentando a pobreza. Ento se colocava um grande dilema no campo do atendimento social a populao empobrecida. Usava-se toda tecnologia que se conhecia, de harmonizao de relaes comportamentais, e a resposta para isto era uma resposta extremamente desalentadora. No havia uma produo de trabalho que apontasse efetivamente como esta metodologia, como esta forma de compreender a realidade, poderia contribuir para que o Brasil fosse um pas mais justo. Ao contrrio, os ndices de pobreza aumentaram, as dificuldades de trabalhar com as resistncias desta populao tambm e isso levou a um grande questionamento. Fruto desse momento, os trabalhadores sociais reafirmam que necessrio trabalhar na perspectiva do asseguramento de direitos sociais para efetivamente enfrentar o nvel de desigualdade social brasileiro.

Essa deciso requer uma nova forma de pensar o trabalho no campo social, pens-lo na perspectiva de garantir na vida cotidiana aquilo que a Constituio Federal de 1988 e as legislaes oriundas da mesma afirmaram, ou seja, a poltica de seguridade social direito de cidadania e dever do Estado. Para que isso se efetive necessrio enfrentar um problema estrutural no Brasil em relao ao debate dos direitos sociais. Qual o problema estrutural? Nos pases de economia avanada, o direito social produto de uma luta da classe operria, ou seja, nos processos de industrializao nos pases de economia avanada a classe trabalhadora se uniu se articulou em sindicatos, em partidos polticos e conseguiu ampliar o leque de atendimento s suas necessidades e este atendimento era feito a partir da lgica da garantia daquilo que se chama na teoria de Estado de Bem Estar Social. Ento, cada vez mais os trabalhadores foram avanando na fatia que o capital tinha que gastar com o trabalho, e foi garantida uma srie de direitos que se tornou de um primeiro momento direito apenas para quem estava no campo formal do trabalho e depois foram sendo universalizados para a populao em geral. O que aconteceu com o Brasil? Qual a dificuldade que vai l nossa raiz? O direito social no campo da poltica social brasileira comea na dcada de 1930, com o governo Vargas, e no campo do trabalho formal que temos a consolidao da primeira plataforma de Poltica de Assistncia Social no Brasil. No governo Vargas, quando se criam as leis trabalhistas, h uma preocupao com definio que tem o governo brasileiro naquele momento, onde o desenvolvimento buscado atravs do processo de industrializao, fazendo o Brasil transformar-se numa grande potncia. Esse processo inclui uma populao muito pequena no acesso aos benefcios, pois s estavam protegidos legalmente os trabalhadores formais urbanos. O pas, ento, era agro-exportador e s teremos uma populao maior na zona urbana do que rural em 1970. A conquista dos direitos previdencirios no Brasil, ao invs de vir de uma luta dos trabalhadores, vem a partir de uma poltica do governo central. Vargas, o pai dos pobres, atua no campo da poltica social, criando benefcios para a classe trabalhadora. Consolidada a legislao trabalhista e a poltica de previdncia social, a classe trabalhadora recebe isto como uma ddiva de um governo que pensa nela, e no como uma luta de uma populao que vai atrs de seus direitos.

Desde o primeiro momento, o direito social no Brasil vai ser articulado a idia do favor, da lgica da barganha, ou seja, a classe dos trabalhadores que tem mais potncia no projeto de desenvolvimento do pas ganha mais benefcios, pois eles eram dirigidos a segmentos de trabalhadores e nunca como direitos universais de todos. Ento, o debate do direito social, neste primeiro momento, ganha uma grande densidade com uma idia vinculada a um governo que maravilhoso, que compreende os pobres, que vai tratar dos pobres e pensa o que melhor para eles, referendando que direito social garantido por esta via. Isto tem um impacto muito importante no campo social por duas vias. Primeiro porque h uma desmobilizao da articulao da populao em geral pela conquista de direitos, a populao espera que venha do governo central e este o ator, o protagonista disto. O segundo que divide claramente os trabalhadores que esto no mercado formal e tm a sua carteira de trabalho assinada e, portanto esto cobertos por benefcios institudos por esta lgica e, aquelas pessoas que no conseguem acesso no mercado de trabalho e para estas pessoas construdo um sistema na base da caridade. O primeiro grande atendimento populao brasileira nesta rea o das Santas Casas de Misericrdia, que eram hospitais que faziam no s o atendimento de sade, mas tambm todo atendimento assistencial, por isso ainda hoje no campo da sade temos uma dificuldade muito grande em romper com a viso hospitalocntrica, porque o hospital era o centro de atendimento pobreza em todos os sentidos. Alm disso, preciso reiterar que no Brasil observa-se que a elite brasileira conservadora e tem grande interesse em manter a populao atrelada aos seus currais, s suas determinaes. Outra caracterstica importante que o pas estruturalmente latifundirio. Nas grandes propriedades a lei era a lei do coronel, ou seja, o dono da fazenda. Embora se tivesse leis avanadas, o dono da fazenda, arbitrariamente, usava o regulamento que achava melhor para vida da populao que vivia ao seu entorno. Ento, esta lgica da manuteno de algum que o meu tutor, que vai me manter, ela est instituda em todas as estruturas da sociedade brasileira. E, portanto, muito comum ser requisitado para cumprir o papel de tutor, e por isso preciso estar alerta sobre isso porque esta questo fundamental para consolidao, implementao e o avano da Poltica de Assistncia Social. Assim, a dcada de 1980 extremamente importante do ponto de vista de mobilizao social no Brasil. Isso resultou em grandes inovaes para o campo da poltica

social. A Constituio Federal de 1988 preciosa porque, pela primeira vez em toda a histria brasileira, a poltica social considerada um dever do Estado e um direito de cidadania. Isto no pouco, muito, porque muda absolutamente o paradigma do estado brasileiro at aquele momento. Quer dizer que se tem um grande desafio de construir um novo paradigma, e para isso no basta s vontade preciso conhecer a realidade, preciso confrontar-se com ela, discutir as idias conservadoras que esto nesta realidade para podermos efetivamente criar outros espaos e outras possibilidades. Dentro da poltica social e do campo da Seguridade Social (Previdncia Social, Sade e Assistncia Social) assegurada na Constituio Federal, o campo da Assistncia Social o campo mais revolucionrio neste sentido, porque efetivamente um campo que transita de um paradigma conservador, tutelador para um campo do direito. Desde l, realiza-se uma grande disputa na sociedade brasileira, todos os trabalhadores, os usurios da Poltica de Assistncia Social, os gestores, todos numa grande disputa de transformar a legislao, que ainda tem as suas imperfeies, efetivamente num dado concreto da vida cotidiana da populao brasileira. A afirmao de que a Assistncia Social uma Poltica Pblica, afirma esse campo como garantidor de mecanismos de enfrentamento de vrias formas da expresso da questo social. E isso deve ser feito com carter pblico, com transparncia, critrios claros e acesso garantido. Deve ser pensada articulando a Assistncia Social s demais polticas sociais. Deve-se romper com a forma focalizada e desarticulada construda nesse campo que fazia com que um lugar muito particular, empobrecido fosse reservado ao atendimento da populao mais pobre. Assim, tinha-se a escolinha do pobre, a farmcia do pobre, com aquele mdico voluntrio que ia uma vez por semana para ver e s vezes no conseguia atender, o espao fsico era precrio, os recursos inexistentes e ainda exigia-se que o atendido reconhecesse o trabalho. E o que acontecia com isto? O produto final, o impacto na vida destas pessoas era quase nulo. E qual a tarefa de uma Poltica Pblica? Esta uma coisa muito importante. Ela tem que ter impacto na vida das pessoas. No possvel que seja motivo de orgulho que os programas sociais estejam atendendo as diversas geraes de uma mesma famlia. Isto, em vez de ser motivo de orgulho, talvez pudesse ser um motivo de grande preocupao, porque, o que aconteceu na vida destas famlias quando elas passaram pelo atendimento das polticas que elas acessaram? Qual o impacto que

teve na vida dela? O que aconteceu com esta famlia depois que ela foi atendida pela assistente social, pelo psiclogo, pelo pedagogo, se ela participou dos programas e dos atendimentos que os centros fazem. Qual o impacto disto? Em determinado momento da nossa histria, dizia-se o seguinte: no, na assistncia no d para medir o impacto. Tudo to incrvel que a gente no consegue medir, a gente s sabe que as pessoas esto bem, convivendo, os idosos gostam dos bailes, mas o que significa isto? Aponta-se que a Assistncia Social uma poltica de incluso social. S se inclui socialmente quando as pessoas passam a disputar nesta sociedade um papel com igualdade e a igualdade no de oportunidades. Vejamos a igualdade no campo dos direitos sociais, uma igualdade substantiva, diferente dos liberais que sustentam que esse problema est resolvido no campo das oportunidades. Para exemplificar, temos hoje na legislao brasileira que todos tem direito ao primeiro grau. Para qual primeiro grau? Ns no podemos afirmar que porque temos acesso, ns temos acesso igualitrio. E na lgica liberal ter o acesso j garantir tudo isto. No campo da assistncia social garantir a participao dos usurios no pode nem deve se restringir a inclu-los em programa, esses programas tem que constituir-se em espaos de efetiva participao, desde seu planejamento at sua execuo e avaliao, preparando-os para assumir protagonismo na sua vida comunitria. Assim, o debate que tambm se coloca da qualidade do atendimento e que esta qualidade repercuta na vida destas pessoas, ou seja, se a partir de sua insero nos programas sociais, possvel afirmar que o usurio, sua famlia, o grupo da comunidade est mais bem preparado para enfrentar os desafios colocados pela vida. Ou ele ter como sada apenas o reconhecimento de que para conquistar algo, s falar com a assistente social, com a psicloga, com a pedagoga que elas resolvem. comum ouvir-se que agora, para eu ter o documento muito fcil, s falar com a dona fulana, ela vai comigo e est resolvido. Esta lgica a lgica da tutela, de colocar o sujeito numa condio de que ele s anda se tiver algum segurando a mo dele. Se tiver algum por trs dele protegendo. Esta a proteo mais desprotegida, pois s se protege quando se coloca este cidado na condio de disputar o seu lugar nesta sociedade, o que deve ser feito de forma coletiva.

A sociedade capitalista no cria oportunidades individuais para romper com a submisso. Ou isso produto coletivo, ou no se consegue romper com a tutela. Uma das coisas mais perversas que o atendimento neste campo faz, s vezes, privilegiar as trajetrias individuais. preciso ter claro que quando se ressalta as trajetrias individuais recoloca-se no sujeito a culpa de no conseguir. Olha se aquele conseguiu e eu no consegui porque eu sou malandro, porque sou burro mesmo, porque no tive sorte, enfim uma srie de argumentos que s reforam o preconceito. por isso que a trajetria individual ao invs de ajudar, acaba criando um conflito muito grande do ponto de vista da potencialidade, e o exemplo acaba virando anti-exemplo, porque, ao invs de reforar e fortalecer coletivamente aquele grupo na disputa refora-se que o caminho o da individualidade. E nessa perspectiva abre-se o caminho para o clientelismo, para o no acesso aos direitos. E nessa trajetria temos quase quinhentos anos de existncia do Brasil, reforando o clientelismo na rea social. apenas em 1988 com a Constituio Federal , que a poltica social consagrada como campo dos direitos sociais. Assim, a Lei Orgnica da Assistncia Social LOAS, aprovada em 1993, aponta como direito de cidadania ser atendido nos reveses que a vida apresenta aos milhares de brasileiros, que antes estavam jogados a sua prpria sorte. preciso ter claro, tambm, que no basta a lei para que o direito social esteja presente na vida das pessoas, preciso trabalhar fortemente para que a lei seja cumprida. No Brasil, muito comum, o descumprimento das leis, as dificuldades das mesmas serem explicitadas, principalmente na vida da populao mais pobre. Esta lgica est vinculada ao pensamento mais conservador da constituio da sociedade, com o qual se tem obrigao de romper, e para romper preciso repensar o cotidiano de trabalho, pois ainda essa forma est muito presente no campo da poltica social. A aprovao da LOAS em 1993, foi produto de uma grande disputa na sociedade brasileira, pois uma grande parcela da sociedade reafirmava o campo da Assistncia Social como o campo de programas compensatrios, residuais, focalistas e, portanto, sem consistncia para transformar-se em um campo da poltica pblica. Com a constituio da Seguridade Social como sistema de proteo social brasileiro e a incluso da Assistncia Social como campo do trip da seguridade reafirma--se o desafio de transformar aquilo que era campo do assistencialismo em rea de Poltica Pblica.

E, portanto, deve-se festejar o grande avano que foi construdo nesse campo. A sociedade brasileira passou quinhentos anos consolidando uma estrutura conservadora de compreender a pobreza. Quinhentos anos negando a participao de parcela importante da populao na construo do projeto societrio. Para isso, formaram-se profissionais reafirmando que para tratar com a pobreza preciso utilizar-se de tcnicas comportamentais, tratando as famlias como culpadas de sua situao, acomodar e compreender que neste mundo tem lugar para poucos e no para todos, trabalharem no acesso a recursos como favor, benesse de governos, de tcnicos, trabalhando-se na perspectiva de atender exigindo fidelidade de quem recebe. Para reverter isso, preciso continuar no debate conceitual, afinal o que so mnimos, quando falamos de Assistncia Social? Para os conservadores, trabalhar na condio de mnimo mesmo, para quem discute a poltica, o debate da Prof. Potyara Pereira sobre bsicos aproxima-se do que se defende. preciso ter claro que ao incluir a Assistncia Social no trip da Seguridade Social, coloca-se o desafio de redefinir o pacto social brasileiro, pois se afirma como direito de todos ter garantido o atendimento das necessidades bsicas, independente de contribuio, sem necessidade de pagamento pelo servio. Esta a lgica de que as pessoas tm que comer, tem que vestir, tem que estudar, tem que trabalhar, tem que ter lazer, tem que ter garantida sua cidadania, tm que ter garantido o seu espao, a sua expresso. A sua luta tem que estar garantida. Ento quando se trabalha nesta lgica, buscam-se elementos que faam com que o trabalho no campo da Assistncia Social seja transformado. E para transformar preciso conhecer a realidade, as formas de vida da populao usuria dos servios, as entidades que trabalham nesse campo, conhecer a rede de servios, as novas formas de trabalho que reafirmem a possibilidade de protagonismo da populao. preciso romper com o pragmatismo que sempre esteve presente nas aes dessa rea. No possvel mais trabalhar na perspectiva do achmetro, pois isso j foi feito por longo tempo no Brasil. Em treze anos o controle social da Poltica de Assistncia Social tem sido vitalizado. Cada vez mais, refora-se, embora ainda existam dificuldades para isso, que o controle social deve ser fundado com caractersticas de um trabalho cvico que no est vinculado a nenhum prefeito, a nenhum governador, a nenhum presidente e sim a uma Poltica Pblica, onde o objetivo chegar discusso de que esta populao tem um

lugar e vez nesta sociedade e deve opinar sobre o rumo desta sociedade, constituindose atravs do debate democrtico, com a possibilidade de sentir-se cidados representando entidades, usurios e trabalhadores. Todos esses mecanismos devem estar referenciados na centralidade do debate que realmente mudar de paradigma no trato das questes da Poltica de Assistncia Social. E para isso precisa-se trabalhar na direo da interdisciplinaridade, compondo equipes profissionais das diversas reas que acrescentem Poltica de Assistncia Social elementos fundamentais para o cumprimento de seu papel. Enfim, preciso ressaltar que o SUAS, e com ele os CRAS e os CREAS, so elementos fundamentais para a consolidao da Assistncia Social como campo de Poltica Pblica. O SUAS por permitir a compreenso para todos da forma como deve se organizar a Poltica Pblica, referendando mecanismos de controle da populao desde sua concepo, seu financiamento e sua avaliao. Os CRAS e os CREAS reafirmando-se como espao de referncia pblica e, portanto de fundamental importncia para se criarem mecanismos inclusivos da populao no apenas nos servios, mas na sociedade brasileira. preciso, pois, fazer histria e para faz-la preciso vencer o desafio de romper com caractersticas seculares no campo assistencial no Brasil. Afinal, o SUAS, os CRAS e os CREAS so grandes potencialidades nesse caminho. RELEVNCIA DOS CENTROS DE REFERNCIA DE ASSISTNCIA SOCIAL - CRAS NA GARANTIA DE DIREITOS E EFETIVAO DA POLTICA DE ASSISTNCIA SOCIAL Aid Canado Almeida* Em nome do Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome, gostaria de dar um bom dia a todos, cumprimentar as companheiras de mesa, bem como o governo do Estado do Paran por essa iniciativa de reunir gestores e conselheiros, e promover o necessrio e oportuno debate sobre o Centro de Referncia de Assistncia Social, equipamento estratgico na consolidao do Sistema nico de Assistncia Social.Diretora do Departamento de Proteo Social Bsica do Ministrio do Desenvolvimento Social. Palestra proferida no Encontro Estadual de Conselheiros e Gestores para Qualificao e Aprimoramento da Gesto e Controle da Poltica de Assistncia Social: sensibilizao sobre a importncia do CRAS - 29 e 30 de junho de 2006, Curitiba PR.*

O Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome (MDS), por meio de suas reas fim, opera um programa e duas polticas: a Poltica de Segurana Alimentar, o Programa Bolsa Famlia - de Transferncia de Renda - e a Poltica de Assistncia Social. Esta ltima, alada na Constituio Federal condio de poltica pblica, de seguridade social no contributiva, deve afianar as seguranas sociais de acolhida, de renda, de convvio, de desenvolvimento de autonomia, de auxlio em pecnia ou material e de defesa de direitos socioassistenciais. Desde sua constituio, em janeiro de 2004, o MDS assumiu compromisso com a efetivao de direitos previstos na Constituio e na Lei Orgnica de Assistncia Social, com o carter pblico, descentralizado e participativo desta poltica. Ao longo dos dois ltimos anos, o esforo coletivo de formulao, debate, pactuao e deliberao, culminou na aprovao da nova Poltica Nacional de Assistncia Social (2004), da Norma Operacional Bsica (2005) e na regulamentao delas decorrente. Aps a aprovao da Norma Operacional Bsica - NOB, foi pactuado na Comisso Intergestores Tripartite (CIT) - composta por representantes dos Municpios, Estados e da Unio - um perodo de habilitao dos municpios aos nveis de gesto bsica, plena ou inicial. Ao se habilitar, os municpios deveriam demonstrar sua capacidade de implementar os servios de proteo bsica e especial. Por meio da habilitao, o municpio se responsabiliza pela implementao de servios (de proteo bsica e/ou especial) e apenas mediante habilitao, o governo federal est autorizado a co-financiar servios, programas e projetos. A NOB inova, portanto, ao casar gesto e financiamento. Inova ainda ao criar pisos, novo critrio de transferncia de recursos, que rompe com a lgica convenial de financiamento de servios (at ento vigente), aprofunda a compreenso de servios continuados, tem como referncia servios e aes a serem co-financiados pela Unio definidos em regulamentao, de acordo com sua complexidade, e d liberdade para que os municpios organizem servios de acordo com sua realidade e necessidades locais. Os pisos tanto no mbito da proteo bsica quanto da proteo especial2 - so financiados por meio de um novo mecanismo de transferncia que garante o repasse regular e automtico e fundo aNa proteo social bsica os pisos, de acordo com a NOB, so: Piso Bsico Fixo, Piso Bsico de Transio e Piso Bsico Varivel. Na proteo social especial, h os pisos: Piso Fixo de Mdia Complexidade, Piso de Transio de Mdia Complexidade, Piso de Alta Complexidade I e Piso de Alta Complexidade II.2

fundo, ou seja, do Fundo Nacional para os fundos Municipais e Estaduais de Assistncia Social. A NOB prev ainda o co-financiamento das aes, ou seja, responsabilidades compartilhadas entre Municpios, Estados e Unio no financiamento dos servios, ofertados por nveis de proteo. Apesar de reconhecer o co-financiamento, apontar para a necessidade de se chegar a pisos compostos e definir responsabilidades dos trs entes federados, a NOB explicita as regras de co-financiamento dos servios apenas por parte da Unio. Para se chegar ao piso composto ou seja, ao valor a ser co-financiado por cada um dos entes federados - teremos de avanar na definio do custo destes servios, o que necessariamente passa pela definio de padres de qualidade dos mesmos. Em 2005, encerrado o perodo de habilitao dos municpios, o governo federal realizou uma expanso de servios, ou seja, financiou servios de proteo bsica e especial, obedecendo aos critrios pactuados e constantes da NOB. O MDS tornou o processo de expanso claro, explcito e pautado pelos princpios de transparncia e impessoalidade, que devem orientar a ao do gestor pblico. A expanso dos servios e, em especial do Piso Fixo, que financia o Programa de Ateno Integral s Famlias, foi feita em todos os anos subseqentes e, no caso da proteo bsica, a meta - deliberada na V Conferncia Nacional de Assistncia Social - chegar, em 10 anos, universalizao, quando todos os municpios habilitados devero ter Centros de Referncia de Assistncia Social em funcionamento. Alm dos servios, financiados por pisos, a Proteo Bsica composta de benefcios, programas e projetos, estes dois ltimos financiados por meio de convnios, hoje operados por meio de um Sistema de Gesto de Convnios - SISCON ao qual os Municpios e Estados tm acesso on line. O MDS tem investido em projetos de incluso produtiva (para Municpios habilitados em gesto plena e para Estados, conforme estabelecido na NOB) e em projetos de estruturao da rede, ou seja, na construo, reforma, ampliao, aquisio de equipamentos e de materiais de consumo para Centros de Referncia de Assistncia Social, de acordo com critrios pactuados, deliberados e institudos anualmente por portaria especfica (para municpios habilitados em gesto bsica ou plena). O MDS vem cumprindo ainda sua funo precpua de regulamentao, tendo como direo a consolidao do SUAS. Para desenvolver o tema desta mesa

Relevncia dos CRAS na garantia de direitos e efetivao da Poltica de Assistncia Social, me apio na PNAS, NOB, na regulamentao em vigor sobre a Proteo Bsica e nas Orientaes Tcnicas para Implantao do CRAS3. Pretendo abordar, de forma simples e direta, questes como: o que o Centro de Referncia de Assistncia Social, que unidade essa, como deve funcionar, de modo a processar direitos e a efetivar a Poltica de Assistncia Social. O Centro de Referncia de Assistncia Social (CRAS) uma unidade pblica, estatal, de proteo social bsica de Assistncia Social. o principal equipamento da Proteo Bsica, porta de entrada para o Sistema nico de Assistncia Social, o SUAS. Sua funo prevenir situaes de risco, por meio do desenvolvimento de potencialidades e do fortalecimento de vnculos comunitrios e familiares. Destina-se s famlias em situao de vulnerabilidade social decorrente de pobreza, de privao e de fragilizao de vnculos (comunitrios, sociais ou familiares). O CRAS assume grande importncia no Sistema nico de Assistncia Social (SUAS), uma vez que se orienta por duas diretrizes: a territorializao e a matricialidade scio-familiar. A territorializao o reconhecimento da presena de mltiplos fatores sociais e econmicos que levam o indivduo e a famlia a uma situao de vulnerabilidade ou risco social. nos territrios que operado o princpio da preveno na poltica de Assistncia Social. Uma das formas de conhecer o territrio dispor de informaes e dados scio-econmico-culturais, de forma a orientar a ao preventiva. Trabalhar preventivamente, no campo da Assistncia Social, um enorme desafio. As vulnerabilidades so fenmenos complexos, que se superpem e se agregam. Necessitam ser melhor compreendidos, tornando a ao preventiva eficaz. Alm de dispor de informaes, importante conhecer quem so essas famlias referenciadas ao CRAS, quais vulnerabilidades, riscos e potencialidades do vida a este territrio, conhecer os equipamentos e servios ofertados, reconhecer as foras sociais e polticas presentes, porque s assim o CRAS poder, por meio do seu principal servio, o de Ateno Integral s Famlias, chegar s famlias concretas, com suas vivncias, significaes e sofrimentos. O territrio , portanto, o espao privilegiado da poltica de assistncia social e mais especificamente, da proteo social bsica e o CRAS a unidade pblica estatal central neste territrio, na medida em que processa e efetiva direitos de Assistncia Social.3

Disponveis no site do MDS (www.mds.gov.br/suas).

O Centro de Referncia deve localizar-se prximo do local de moradia de famlias em situao de maior vulnerabilidade social. Por este motivo, dizemos que um equipamento de nvel local. Segundo a PNAS, este centro referencia um determinado nmero de famlias - que pode chegar a at 5.000 - dependendo do porte do municpio e da incidncia de vulnerabilidade social. Segundo a PNAS, a famlia o ncleo bsico de acolhida, de convvio, de autonomia, de sustentabilidade e de protagonismo social. A famlia a que estamos nos referindo no uma unidade idealizada, no uma unidade econmica; constitui-se de laos, arranjos e rearranjos mltiplos. Os profissionais do CRAS tm como desafio trabalhar tendo como referncia o conceito moderno de famlia, abandonar seus prprios preconceitos, compreender as vulnerabilidades e potencialidades presentes no territrio e desenvolver um trabalho coletivo com as famlias, de fortalecimento dos sujeitos coletivos, de possibilidades de convvio e de atuao protagonista. Este trabalho visa apoilas, e no culpabiliz-las ou responsabiliz-las pela sua situao e/ou condio. Trabalhar com famlias no desresponsabilizar o Estado, ao contrrio. Temos que reconhecer a responsabilidade do Estado na oferta de servios e na proteo a essas famlias, e estruturar os servios de forma a assegurar acesso e qualidade. O principal servio ofertado no Centro de Referncia de Assistncia Social o de Proteo Integral s Famlias (PAIF), ou seja, a centralidade scio-familiar tem destaque na proteo bsica. Dentre as aes e servios a serem ofertados, destaca-se o servio socioeducativo para famlias. No entanto, cabe proteo bsica ofertar ainda servios socioeducativos geracionais e intergeracionais, destinados s crianas, adolescentes, jovens e idosos. So servios que privilegiam o grupo, tendo como objetivos favorecer o convvio, o fortalecimento de laos, de vnculos, e o protagonismo social. O Centro de Referncia , portanto, uma unidade pblica, que presta servios continuados, de diversas naturezas, e pode ofertar programas, projetos e benefcios, desde que exista espao suficiente e pessoal qualificado. O Centro de Referncia uma unidade efetivadora da referncia e da contrareferncia dos usurios na rede scio-existencial do SUAS, e uma referncia para servios de outras polticas. O Centro de Referncia, como o nome j diz, uma referncia tanto para as famlias como para os servios ofertados em sua rea de abrangncia. O coordenador do Centro de Referncia tem importante funo de gesto, na

medida em que garantir a referncia e contra-referncia exige processar, no mbito do SUAS, as necessidades detectadas no territrio. Portanto, h servios, programas e projetos e benefcios ofertados no Centro de Referncia de Assistncia Social, e outros ofertados em sua rea de abrangncia. Mesmo quando ofertados no territrio, devem ser referenciados ao CRAS, ou seja, devem ser reconhecidos como servios compatveis com a PNAS, devem - quando se tratar de servios financiados com recursos pblicos - disponibilizar vagas, integrar fluxos de encaminhamento e acompanhamento e colaborar para o cumprimento de resultados pactuados. Em sntese, a gesto central para o objetivo de construir e consolidar o Sistema nico. Ressalta-se, portanto, o importante papel do gestor municipal, mas tambm do coordenador de CRAS, na sua esfera de atuao, hierarquicamente subordinado Secretaria Municipal de Assistncia Social ou congnere. O Centro de Referncia uma porta de entrada dos usurios no Sistema nico de Assistncia Social: processa, encaminha, atende diretamente e ao fazer isso, necessariamente se articula, como Sistema, com a proteo especial. Neste sentido, todos os gestores tm um desafio gigantesco: a estruturao do sistema no se d do dia para noite, um processo de mdio prazo, porm necessrio que servios de proteo bsica e especial sejam planejados e implantados de forma integrada. Assim que o CRAS comea a funcionar, gera demandas para os outros nveis do sistema e para outros setores sociais. A organizao dos servios de proteo especial um desafio do qual gestores no podem se furtar, exigindo uma organizao regionalizada dos Estados brasileiros. Muitos dos gestores aqui presentes devem se perguntar: muito bem, e como fao para ofertar servios de proteo especial no meu municpio, de pequeno porte 1? Vocs, gestores e conselheiros municipais, tm a responsabilidade de fomentar o debate que promova uma organizao regionalizada, ou por meio de consrcios, da proteo especial, de forma a garantir financiamento para os Centros de Referncia Especializados de Assistncia Social (CREAS), garantir direitos e cumprir a funo protetiva da Poltica. Neste sentido, podemos dizer que a implantao dos Centros de Referncia impulsiona a constituio do Sistema. O CRAS referncia tambm para os demais setores/servios do territrio. A proteo bsica deve se articular com as demais polticas - sade, educao, trabalho, infra-estrutura, cultura e esportes para garantir os mnimos sociais e a melhoria da

qualidade de vida das famlias a ele referenciadas. Esta articulao, no entanto, depende de uma ao coordenada entre os gestores municipais, no podendo ser responsabilidade apenas do setor Assistncia Social. No entanto, o coordenador do CRAS tem um papel importante, na medida em que representa o setor, naquele territrio especfico, contribuindo para que as diretrizes da poltica municipal se efetivem. O Centro de Referncia de Assistncia Social a unidade responsvel pela organizao de informaes sobre o territrio e utilizao destas informaes de forma estratgica. de sua responsabilidade conhecer as vulnerabilidades, riscos e potencialidades, em sua rea de abrangncia, com vistas ao preventiva e pr-ativa, ou proteo pr-ativa, fazendo uso das informaes, em prol das famlias e do coletivo. Conhecer, saber e atuar em prol, por exemplo, das famlias que tm direito aos benefcios e transferncia de renda, e se articular para dar consecuo a este direito, passa por poder responder s seguintes questes: Quem so os moradores que tm o direito renda? Como se d o acesso a esse direito, em meu municpio? Isso atribuio do Centro de Referncia de Assistncia Social? Como acompanhar as famlias beneficirias de transferncia de renda? O acompanhamento da efetividade dos servios ofertados e dos encaminhamentos realizados um desafio a ser transposto por todos ns que atuamos na rea social. Outro desafio importante a ser enfrentado, fomentar a participao dos usurios, na avaliao dos benefcios eventuais, nas transferncias de renda e nos servios sosioassistenciais, porque sabemos que a qualidade dos servios est intimamente ligada s exigncias dos usurios sobre os servios. Outro ponto que chamo ateno para o fato de que a equipe do Centro de Referncia de Assistncia Social tem um papel importante, de contribuir na elaborao do plano municipal de assistncia social, porque o conhecimento da realidade pelo gestor deve ser revertido em ao de planejamento. Os usurios tambm devem contribuir para a elaborao do Plano Municipal de Assistncia Social, ou seja, importante que o trabalho com as famlias contribua para fortalecer a participao na definio das diretrizes que devem orientar a implantao e/ou melhoria dos servios nos territrios. Em suma, o Plano tem de ter conexo com a realidade, com a avaliao e com os diagnsticos locais. Finalmente, para compreender o Centro de Referncia como efetivao da Poltica e como garantia de direitos, faz-se necessrio falar das seguranas a serem afian-

adas pela proteo bsica e das ofertas que devem ser asseguradas pelo CRAS aos demandatrios e usurios da poltica. A proviso de acolhida de pessoas e famlias em situao de vulnerabilidade social, risco pessoal, social e ambiental, em especfico nas emergncias e calamidades pblicas fundamental. O CRAS deve necessariamente dispor de um espao de acolhida das famlias e de escuta qualificada. Caso no acolhimento sejam identificadas situaes de risco, vitimizaes e violao de direitos, deve-se assegurar ateno protetiva na rede de servios socioassistenciais do municpio. No acolhimento, deve-se fornecer informaes importantes para o usurio sobre seus direitos. O CRAS a primeira acolhida no sistema de assistncia social. Encontra-se prximo do cidado e das situaes concretas que se apresentam naquele territrio especfico. A garantia de renda uma oferta de servio de pr-habilitao de beneficirios do Benefcio de Prestao Continuada (BPC) ou de concesso de transferncia de renda para famlias beneficirias do PETI, ou de outros programas de transferncia de renda. Porm a garantia de renda inclui tambm a insero scio-educativa combinada com a oferta de capacitao em habilidades e meios de trabalhos impulsionadores da insero produtiva. A segurana de convvio assegurada por meio da oferta de servios scioeducativos, de carter continuado para famlias ou grupos geracionais, inter-geracionais, de gnero, de interesses comuns, em especial os beneficirios de transferncia de renda, que desenvolvam novos conhecimentos e atitudes para enfrentamento das condies de vida, com menos danos pessoais, familiares e coletivos, e fortalecimento dos direitos de cidadania. O desenvolvimento de autonomia consiste na oferta de pedagogia nos trabalhos scio-assistenciais, que levem conquista de maiores graus de liberdade, respeito e dignidade humana, protagonismo e certeza de proteo social para o cidado, a famlia e a sociedade. Concluindo, o Centro de Referncia de Assistncia Social um equipamento bastante complexo, na medida em que, por meio dele, se efetivam seguranas relativas poltica de assistncia social e se institui parte de um Sistema. Neste contexto, tornase fundamental que os profissionais se qualifiquem para esse trabalho, assumam o papel de gestores, pois sem a gesto esse equipamento no cumpre sua funo de unidade estratgica e efetivadora da Poltica Nacional de Assistncia Social. Por outro lado, importante que os conselheiros atuem no controle social e na avaliao dos Planos

Municipais de Assistncia Social, dando consistncia implantao e consolidao do Sistema nico de Assistncia Social.

REFERNCIAS BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil: 1988 texto constitucional de 05 de outubro de 1988 com as alteraes adotadas pelas Emendas Constitucionais de n. 1, de 1992, a 32, de 2001, e pelas Emendas Constitucionais de Reviso de n. 1 a 6, de 1994, - 17. Ed. Braslia: 405 p. (Srie textos bsicos, n. 25). BRASIL, Presidncia da Repblica. Lei Orgnica da Assistncia Social, Lei n 8.742, de 7 de dezembro de 1993, publicada no DOU de 8 de dezembro de 1993. POLTICA NACIONAL DE ASSISTNCIA SOCIAL PNAS, aprovada pelo Conselho Nacional de Assistncia Social por intermdio da Resoluo n 145, de 15 de outubro de 2004, e publicada no Dirio Oficial da Unio DOU do dia 28 de outubro de 2004. NORMA OPERACIONAL BSICA NOB/SUAS, aprovada pelo Conselho Nacional de Assistncia Social por intermdio da Resoluo n 130, de 15 de julho de 2005, e publicada no Dirio Oficial da Unio DOU em julho de 2005. MINISTRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL /SECRETRIA NACIONAL DE ASSISTNCIA SOCIAL, Portaria n 442, de 26 de agosto de 2005, que Regulamenta os Pisos da Proteo Social Bsica estabelecidas pela Norma Operacional Bsica NOB/SUAS, sua composio e as aes que financiam. MINISTRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL /SECRETRIA NACIONAL DE ASSISTNCIA SOCIAL, Portaria n 78, de 08 de abril de 2004, que Estabelece diretrizes e normas para a implementao do Programa de Ateno Integral Famlia PAIF e d outras providncias. MINISTRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL /SECRETRIA NACIONAL DE ASSISTNCIA SOCIAL/DEPARTAMENTO DE PROTEO SOCIAL BSICA/SUAS. ORIENTAES TCNICAS PARA O CENTRO DE REFERNCIA DE ASSISTENCIA SOCIAL. Verso preliminar. Braslia, junho 2006. SECRETARIA NACIONAL DE ASSISTENCIA SOCIAL/MDS Oficina de Proteo Social, mimeo, 2005 (Consultoria de SPOSATI, Aldaza e BRUNO, Neiri). SECRETARIA NACIONAL DE ASSISTENCIA SOCIAL/MDS Subsdios para a regulamentao da Proteo Social Bsica, mimeo, 2005 (Consultoria de SPOSATI, Aldaza e BRUNO, Neiri). ACOSTA, A.R. e VITALLE, M.F. Famlia: Redes, Laos e Polticas Pblicas. So Paulo: IEE/PUC-SP, 2003.

CENTRO DE REFERNCIA DE ASSISTNCIA SOCIAL: GESTO LOCAL NA GARANTIA DE DIREITOS Denise Arruda Colin Jucimeri Isolda Silveira1O presente sobrecarregado do passado, mas sempre grvido das possibilidades do futuro (Konder)

1. Assistncia Social: concepo e gesto O processo de capacitao sobre a estruturao e funcionamento dos Centros de Referncia de Assistncia Social (CRAS) requer anlises sobre a organizao do Sistema Municipal para a concretizao dos direitos socioassistenciais, com nfase no ordenamento da proteo social bsica e na gesto social local do acesso aos servios que efetivamente provoquem impactos positivos nas condies de vida da populao usuria. A Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS/04), aprovada em setembro de 2004, define a implantao do Sistema nico de Assistncia Social. O SUAS permite, dentre outros aspectos, a articulao de aes scio-assistenciais, a universalizao de acessos e a hierarquizao de servios por nvel de complexidade e porte de municpio. Sua regulamentao, por meio de base legal como a nova Norma Operacional Bsica (NOB/SUAS) e outros instrumentos jurdico-normativos, deve impulsionar reordenamentos das redes socioassistenciais para o atendimento da populao usuria, na direo da superao de aes segmentadas, fragmentadas, pontuais, sobrepostas e assistencialistas, por um modelo de gesto unificado, continuado e afianador de direitos. O SUAS, seguindo as diretivas da Constituio de 1988 e da LOAS de 1993, um sistema pblico no-contributivo, descentralizado e participativo que tem comoDenise Arruda Colin, Assistente Social, Doutoranda em Sociologia, Coordenadora do Ncleo Estadual de Assistncia Social da Secretaria de estado do trabalho, Emprego e Promoo Social, Presidente do Conselho Estadual de Assistncia Social, assistente social do Ministrio Pblico; Jucimeri Isolda Silveira, Assistente Social, Mestra em Sociologia pela UFPR, Assessora Tcnica do Ncleo Estadual de Assistncia Social da Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Promoo Social, professora da Pontifcia Universidade Catlica do Paran, conselheira do Conselho Federal de Servio Social.1

funo primordial a gesto do contedo especfico da Assistncia Social no campo da Proteo Social brasileira (NOB/05). Sua implantao no deve se limitar mera anlise da legislao regulamentadora, podendo expressar uma tendncia tecnicista, com distanciamento do significado scio-histrico desta poltica quanto ao processo de construo da Seguridade Social brasileira na relao com os demais direitos conquistados. Inova-se com a adoo de procedimentos tcnicos e tecnolgicos, alm dos mecanismos de gesto financeira. Na regulao do SUAS, aprofunda-se o sentido das instncias polticas de deliberao e pactuao, num novo tempo que moraliza o papel do Estado na implantao da poltica. O SUAS est posicionado na intersetorialidade com as demais polticas sociais, fato que ainda demanda maior integrao e delimitao de atribuies especficas para estabelecimento de articulaes na regulao do Estado em favor da consolidao dos direitos sociais e da democracia na perspectiva da socializao da riqueza e da participao poltica. Sua afirmao merece destaque no tensionamento entre a financeirizao da economia, que responde a interesses conservadores, e a ampliao de um Estado democrtico de direito, o qual para alm dos preceitos normativos, de ordenamento poltico, jurdico, administrativo e regulatrio, significa a elucidao e o fomento das condies objetivas para a garantia dos direitos socioassistenciais. A proteo social bsica tem como objetivos enfrentar as vulnerabilidades e prevenir situaes de risco, por meio do desenvolvimento de potencialidades, de aquisies e do fortalecimento de vnculos familiares e comunitrios. Destina-se populao que vive, em situao de vulnerabilidade social, como resultado das condies scio-econmicas, e expresses dos modos de vida que resultam em pobreza, privao (ausncia de renda, precrio ou nulo acesso aos servios pblicos, dentre outros) e/ou fragilizao de vnculos afetivos relacionais e de pertencimento social. (NOB/05) A proteo social especial tem por objetivos prover atenes socioassistenciais a famlias e indivduos que se encontram em situao de risco pessoal e social, por ocorrncia de abandono, maus tratos fsicos e/ou psquicos, abuso sexual, uso de substncias psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situao de rua, situao de trabalho infantil, entre outras. (NOB/SUAS)

Cabe lembrar que o legado histrico de afirmao e construo de direitos expressa garantias tardias e inconsistentes, com ciclos de autoritarismo, para a configurao de um amplo sistema de proteo. Historicamente as polticas sociais brasileiras carregam a marca da ineficincia e ineficcia, com superposio de competncias e processos de descontinuidades.2 A necessria superao de tendncias meramente instrumentais na gesto das polticas sociais que apenas reeditam diferentes processos e novos pactos de gesto na esfera do Estado, passam pelo reconhecimento do potencial poltico-emancipatrio que as polticas sociais podem promover, o que requer radicalidade no acesso a direitos.2

As iniciativas e os processos scio-polticos emancipatrios exigem

democratizao dos espaos regulados de gesto em sintonia com as demandas das classes trabalhadoras. Evidente que a democratizao das estruturas de reproduo das desigualdades passa pela democratizao das relaes de poder, com efetiva e ampliada participao da populao, e do acesso riqueza e aos bens. Processo que no anula nem diminui a importncia de lcus institucionalizados de participao. Ao contrrio, a atuao dos profissionais que operam as polticas socais pode, na apreenso das possibilidades e com adoo de recursos poltico-pedaggicos democratizantes, ativar e impulsionar protagonismos que enfrentem e superem a subalternizao. fundamental afirmar que a consolidao dos direitos, com nfase nos direitos sociais, est intrinsecamente vinculada produo social e histrica da noo de cidadania na ordem capitalista, que embora transfigurada como concesso, reforando relaes de poder sustentadas pela cultura da ddiva, conquista dos trabalhadores e estratgia fundamental de aprofundamento da regulao do Estado em resposta s demandas populares. Neste sentido, as aes dessa poltica tm dimenso formativa e propiciadora de condies objetivas que contribuem para a constituio de sujeitos crticos com capacidade de direcionar as instituies em favor dos interesses populares, alicerados por um projeto societrio que afirma como princpios: liberdade, democracia, defesa dos direitos humanos, e justia com eqidade, dentre outros.22

PAIVA, Beatriz. O poder popular na Venezuela e a prxis bolivariana. In: OURIQUES, Nildo (Org). Razes no libertador: bolivarianismo e poder popular na Venezuela. Florianpolis: Insular, 2 Ed., 2005.

Para o aprofundamento da organizao dos CRAS, quanto previso de servios, programas, projetos e benefcios, definio de procedimentos tcnicos e operativos, bem como de fluxos de referncia e contra-referncia na relao com as demais funes da poltica, alguns pressupostos tericos e histricos devem ser considerados:Os direitos resultam das lutas sociais na contraditria relao entre as

classes sociais e destas com o Estado, no enfrentamento da questo social, entendida enquanto o conjunto das desigualdades sociais, polticas, econmicas e culturais. Expressa, ainda, a regulao da vida em sociedade na produo e reproduo social;3 O ordenamento scio-institucional que concretiza os direitos est relacionado ao processo histrico que expressa o trnsito entre direitos reclamveis, por serem constitucionalizados, e a organizao da rede de proteo que responde s necessidades sociais e humanas historicamente construdas, mas nem sempre incorporada do cotidiano para a agenda pblica; Os constrangimentos e as dificuldades na implantao do SUAS e no acesso aos direito, so, em parte explicados pela, ainda presente, cultura do mando, do favor e da subservincia, enraizada nas relaes de poder, considerando a formao social brasileira escravagista, clientelista, desigual, excludente e exploradora, com forte concentrao de riqueza pela elite burguesa e dependncia poltico-econmico em detrimento da soberania nacional; O padro histrico de proteo social brasileiro, composto pelo conjunto dos direitos, revela traos de fragmentao, residualidade eO direito social um produto histrico, construdo pelas lutas da classe trabalhadora, no conjunto das relaes de institucionalidade da sociedade de mercado, para incorporar o atendimento de suas necessidades sociais vida cotidiana. decorrncia de um movimento das sociedades europias e norteamericanas, iniciando pelo reconhecimento dos direitos civis e polticos, a partir, principalmente, do sc. XVIII. Compe o direito social a idia de que as dificuldades enfrentadas pelos homens para viver com dignidade sero assumidas coletivamente pela sociedade, com supremacia da responsabilidade de cobertura pelo Estado, que dever criar um sistema institucional capaz de dar conta dessas demandas. E, no estgio maduro, a sociedade tem usado da juridificao para garantir o acesso de todos os direitos civis, polticos e sociais, sendo que as constituies tm sido os mecanismos que representam essa pactuao . In: COUTO, Berenice. O Direito Social e a Assistncia Social na Sociedade Brasileira: uma equao possvel?. SP: Cortez, 2004, 183).3

corporativismo, pela lgica de segregao social a partir do potencial contributivo dos trabalhadores; A Constituio de 1988 representa o grande marco na concretizao dos direitos pela afirmao dos princpios poltico-organizativos da descentralizao e da participao. Entretanto, temos uma frgil organizao democrtica com tendncia mera institucionalizao da participao desvinculada das massas; Os direitos so efetivados pelas polticas sociais por meio das polticas pblicas que conforma aes estatais ao garantirem, sobretudo, os seguintes princpios: universalidade, destinada a todos os cidados brasileiros; publicidade, com ampla divulgao e de fcil acesso; legalidade, prevista na legislao de e demais e normas aes regulamentadoras; continuidade, sem sofrer supresso ou rompimento; sistematicidade, enquanto conjunto elementos coordenados entre si e que funcionam de forma organizada para o atendimento dos objetivos propostos; planejamento e financiamento pblico previstos em lei; e mecanismos de gesto democrtica. As polticas sociais no so apenas mecanismos essenciais para a redistribuio da renda e da riqueza socialmente produzida. Possuem uma natureza estratgica, pela dimenso poltico-pedaggica, ainda que com limitaes para a reverso das estruturas que geram desigualdades, de construo de protagonismo social na direo da emancipao poltica e mesmo humana. Potencialidade operada, particularmente, pela tecnologia humana, pelo exerccio profissional dos trabalhadores sociais que por meio de aes desenvolvidas provocam impactos materiais e imateriais na vida da populao usuria, especialmente junto aos estratos mais subalternizados e excludos do acesso aos bens e servios. A Assistncia Social, integrante de um sistema de proteo social mais amplo, est voltada ao provimento de condies que enfrentem um conjunto de demandas relativas s necessidades sociais que esto relacionadas s desigualdades de corte scio-econmico e scio-cultural. Neste espectro, os sujeitos de direitos trazem para o campo socioassistencial um conjunto de situaes materiais e subjetivas que

expressam desde pobreza e subalternidade, frgil acesso aos servios, at desigualdades relacionais em situaes de violncia pelo uso do poder, abuso sexual e outros conflitos que expressam questes de ordem afetiva. Tais demandas se constituem em objeto de trabalho dos profissionais da rea no mbito dos servios socioassistenciais ofertados. Importa registrar que a Constituio de 1988 assinala a prestao do servio de assistncia social como atividade de relevncia pblica, reconhecendo a primazia da responsabilidade do Estado. Por relevncia pblica h que se compreender o interesse primrio do Estado na prestao dos servios e no desenvolvimento das aes de assistncia social essenciais para a coletividade e consagrados como fundamentais para a consecuo dos objetivos estatais, sejam eles prestados por entes pblicos ou privados. 4 Considerando que a histrica relao da poltica de Assistncia Social com o conservadorismo constitui um campo de problematizao, fundamental rebatermos prticas que denotem uma postura de psicologizao do social, controle da vida privada dos usurios e moralizao da sua condio de pobreza e excluso entendidas como incapacidades pessoais. Evidente que as demandas se complexificam na medida em agregam expresses de direitos violados que exigem interveno pblica no privado, a exemplo da violncia e outras formas de opresso, o que no significa retomar posturas conservadoras no enfrentamento da questo social resolvida com ajustamentos que s reforam as identidades subalternas. Os trabalhadores sociais devem apresentar um perfil que reconhea a Assistncia Social no campo dos direitos no s do ponto de vista legal, mas sciohistrico. A postura diante da realidade cotidiana perversa exige leitura crtica que explore as suas contradies, apreenda e impulsione possibilidades que preservem e ampliem direitos. Nesta perspectiva, as estratgias e os procedimentos tcnicos adotados requisitam processos de politizao geral e modalidades interventivas consistentes para as diferentes abordagens com impacto poltico-pedaggico nos projetos de vida que, em detrimento do reforo e controle das identidades subalternizadas socialmente, ativem ncleos e potencialidades na realidade cotidiana para favorecer patamares superiores de saberes e prticas com protagonismo popular.4

COLIN, Denise; FOWLER, Marcos. LOAS Anotada. SP: Veras Editora, 1999.

As intervenes dos trabalhadores sociais acolhem diferentes metodologias realizadas com a operao de instrumentos e tcnicas, desde abordagens individualizadas, at estratgias de ao em grupos e coletividade. Nenhuma metodologia empregada est desconectada de uma finalidade. A questo que nem sempre a intencionalidade da ao est habilmente articulada com os princpios e compromissos tico-polticos relativos consolidao de uma sociedade justa e igualitria. A dimenso terico-metodolgica deve favorecer o movimento sobre a realidade cotidiana para a compreenso e explicao dos processos sociais, com crtica e capacidade inventiva. Todas as demandas que incidem no CRAS so relacionadas estrutura de classes que gera desigualdades econmico-sociais, polticas, culturais e relacionais. Assim, as situaes de vida das famlias atendidas, que chegam e so alcanadas pelas estratgias profissionais, so expresses de uma realidade mais geral. Neste sentido, o trabalho social com as famlias contextualizadas no cotidiano, com valorizao de seus saberes, representa a oportunidade e privilgio de se trabalhar com a prpria sociedade com esgotamento de suas contradies, na perspectiva de poderes e projetos societrios em disputa, para novos patamares de sociabilidade. A consolidao da Assistncia Social no campo dos direitos exige, portanto, um compromisso tico-poltico de gestores, trabalhadores e conselheiros, que resulte em, dentre outros aspectos: profissionalizao com formao de um amplo quadro de trabalhadores especializados;definio de receitas especficas para os fundos especiais; investimento pblico compatvel com os custos dos servios; reordenamento de aes e fluxos; fortalecimento da intersetorialidade com as demais polticas setoriais e de defesa de direitos, especialmente para o enfrentamento da pobreza e de outras formas de violao de direitos; territorializao dos servios e equipamentos sociais; implantao de um unificado Sistema de Informao, Monitoramento, Avaliao, bem como normatizao do formato da rede compartilhada com a sociedade civil, seguindo critrios de qualidade na prestao dos servios. 1.2 Sistema Municipal de Assistncia Social e funcionamento do CRAS A organizao do Sistema Municipal de Assistncia Social exige a necessria

implantao do CRAS como equipamento que por si s constitui um direito. Mas, importante afirmar que no uma extenso e nem se confunde com o rgo gestor, um equipamento social que nos desafia a fazer a diferena, a ser mais do que porta de entrada dos direitos. O CRAS representa a estratgia fundamental de construo de protagonismos pelos prprios sujeitos de direitos e reverso de processos de desigualdade. Segundo a legislao vigente que regula as funes da poltica e o SUAS a proteo social na poltica de Assistncia Social subdividida em bsica e especial e, considerando nveis de complexidade do processo de proteo, por decorrncia das situaes de vulnerabilidade e risco vivenciadas por indivduos e famlias, decorrentes, sobretudo, da vulnerabilizao e precarizao do trabalho. O reordenamento da rede socioassistencial, com base no territrio vivido, constitui um dos caminhos para superar a fragmentao e a pulverizao na gesto dessa poltica, o que supe a adoo de mecanismos que possibilitem ampliar a cobertura nos territrios de referncia e integralizar aes que enfrentem e alterem os processos geradores dos carenciamentos e das situaes que expem milhares de pessoas s diferentes formas de privao e violao dos seus direitos. O vnculo SUAS possibilita uma organizao dos municpios por nveis de gesto com responsabilidades, requisitos e incentivos na perspectiva do aprimoramento constante da capacidade em gerir a poltica de assistncia social. Independente do nvel de gesto (inicial, bsica ou plena), os municpios devero cumprir o Art. 30 da LOAS no que se refere s instncias dos sistema municipal (conselho, plano e fundo), bem como os procedimentos de gesto tcnica e financeira nas operaes de repasse de recursos federais, atualizando instrumentos de gesto (relatrios e planos) e adotando a sistemtica de repasse fundo a fundo entre os entes federados e de co-financiamento da rede governamental e no governamental no mbito local, na esfera municipal e regional. O Sistema Municipal de Assistncia Social deve estar estruturado para viabilizar o funcionamento das instncias de gesto democrtica (conselho e comisses) e promover condies de insero na rede scio-assistencial, que cumpre as funes da poltica, das pessoas em condio de vulnerabilidade ou risco pessoal e social. Da a necessidade de implantao dos CRAS para a prestao das aes de proteo social

bsica. 5 Os nveis mais elevados de gesto do municpio (bsica e plena) so reconhecidos pela condio favorvel na gesto do Benefcio de Prestao Continuada (BPC), na organizao de uma rede de prestao de servios de proteo social bsica e/ou especial, na co-participao de aes scio-assistenciais regionalizadas de mdia e alta complexidade, na adoo de instrumento de monitoramento e avaliao, na realizao de estudos e pesquisas sobre as reas de vulnerabilidade e risco, na implementao de uma poltica de capacitao e uma poltica de recursos humanos com plano de cargos e carreira. Supe a organizao de condies tcnicas e materiais para a gesto do sistema municipal com a qualidade e a efetividade que uma poltica pblica requer.6 O emprego da territorialidade na poltica de Assistncia Social permite afirmar que os territrios vividos expressam, essencialmente: uma realidade social particular relacionada a uma realidade geral, que explicita parte de suas demandas relativas s necessidades sociais por meio de indicadores; redes socioassistenciais; e foras sciopolticas, no sentido da organizao, resistncia e luta. Assim, a dimenso da territorialidade pode se realizar como movimento que faz emergir, na produo e reproduo das relaes socais, processos geradores das necessidades sociais. A organizao da rede socioassistencial implica reconhecer a complexidade dos territrios como espaos que expressam realidades concretas. A explorao das contradies do real pode favorecer processos significativos de mudanas nos itinerrios de excluso e incluso desenhados pelos usurios e formatados nos servios. Alm dos dados fsicos o territrio explicita relaes construdas pelos sujeitos que nele vivem. Alguns elementos so fundamentais para se proceder os reordenamentos necessrios na implantao do SUAS, tais como: 1. indicadores sociais cruzados;5

Os CRAS so estruturados de acordo com o porte do municpio, em reas de maior vulnerabilidade social, para gerenciar e executar aes de proteo bsica no territrio referenciado, conforme os critrios: Pequeno Porte I mnimo de 1 CRAS para at 2.500 famlias referenciadas; Pequeno Porte II mnimo de 1 CRAS para at 3.500 famlias referenciadas; Mdio Porte mnimo de 2 CRAS, cada um para at 5.000 famlias referenciadas; Grande Porte mnimo de 4 CRAS, cada um para at 5.000 famlias referenciadas; Metrpoles mnimo de 8 CRAS, cada um para at 5.000 famlias referenciadas; 6 Segundo a NOB/05 os nveis de gesto so: Gesto inicial: municpios recebem a srie histrica na forma de pisos de transio; Gesto bsica: o municpio assume a gesto da proteo social bsica na organizao e oferta de servios socioassistenciais; e Gesto Plena: o municpio tem a autonomia total na coordenao e oferta de servios socioassistenciais na proteo social bsica e especial.

2. diagnstico social particularizado; 3. explicitao de potencialidades de desenvolvimento e de redes a serem fortalecidas; 4. identificao e fortalecimento de foras sociais; 5. reconhecimento do ordenamento da rede pblica/privada; 6. territorializao com reordenamento, articulao de polticas, programas, projetos e benefcios; 7. estabelecimento de fluxos com critrios de qualidade. O processo de organizao e de funcionamento da rede socioassistencial no eixo de Proteo Social Bsica se realiza por meio de servios, programas, projetos e benefcios e no eixo de Proteo Social Especial, por meio de servios, programas e projetos. Segundo a legislao em vigor, compreende-se como: Servios: caracterizam-se pela prestao de atividades continuadas, segundo o art. 23, da LOAS, que visem a melhoria de vida da populao e cujas aes estejam voltadas para as suas necessidades bsicas. A PNAS prev seu ordenamento em rede, de acordo com os nveis de proteo social: bsica e especial, de mdia e alta complexidade. O Decreto n 736 de 15/12/2004, transformou as tradicionais modalidades de atendimento da rede SAC (PAC, API e PPD) e os programas de atendimento s crianas e adolescentes vtimas de violncia e em situao de trabalho infantil (PETI e SENTINELA) em servios de ao continuada.

Programas: compreendem atividades integradas e complementares, tratadas no art. 24, da LOAS, com objetivos, tempo e rea de abrangncia definidos para qualificar, incentivar, potencializar e melhorar os benefcios e os servios socioassistenciais. Projetos de Enfrentamento Pobreza: definidos nos arts. 25 e 26, da LOAS, caracterizam-se como investimentos econmico-sociais nos grupos populacionais em situao de pobreza, buscando subsidiar tcnica e financeiramente iniciativas que lhes garantam meios e capacidade produtiva e de gesto para a melhoria das condies gerais de subsistncia, elevao do padro de qualidade de vida, preservao do meio ambiente e organizao social, articuladamente com as demais polticas pblicas.

Prioritariamente, estes projetos integram o nvel de proteo social bsica, podendo estender-se s famlias ou pessoas em situao de risco, destinatrias da proteo social especial. Benefcios: a) Benefcio de Prestao Continuada previsto na Constituio Federal de 1988, e referendado na LOAS e no Estatuto do Idoso, e regulamentado pelo Decreto n 1.744 de 08/12/1995, alterado pelo Decreto n 4.712 de 29/05/2003, provido pelo Fundo Nacional de Assistncia Social - FNAS, consistindo no repasse de um salrio mnimo mensal ao idoso (com 65 anos ou mais) e pessoa com deficincia, que comprovem no ter meios para suprir sua subsistncia ou de t-la suprida por sua famlia. b) benefcios eventuais previstos no art. 22, da LOAS, enquanto benefcios que respondam ao atendimento das necessidades advindas de situaes de vulnerabilidade temporria, com prioridade para a criana, a famlia, o idoso e a pessoa com deficincia, a gestante, a nutriz e nos casos de calamidade pblica, em especial para o pagamento de auxlio natalidade ou morte, e de outros institudos nos municpios. O pagamento dos auxlios natalidade e morte foram regulamentados pela Resoluo n 212, de 19 de novembro de 2006, do CNAS. c) outros benefcios de transferncia de renda visam o repasse direto de recursos dos fundos da assistncia social aos beneficirios, como forma de acesso renda, visando o combate fome, pobreza e outra formas de privao de direitos que levem a situao de vulnerabilidade social, criando possibilidades para o protagonismo e o exerccio da autonomia das famlias e dos indivduos atendidos, na perspectiva da reduo das desigualdades e das injustias sociais. Para a operacionalizao dos servios, programas, projetos e benefcios, exigese a definio de atividades e de procedimentos que os viabilizam. As atividades e os procedimentos metodolgicos caracterizam-se pela aplicao de instrumentos, tcnicas e modos operativos prprios a cada tipo de servio, programa, projeto e benefcio, considerando suas finalidades, abrangncia e pblico-alvo. Os servios, programas, projetos e benefcios se realizam por meio de equipamentos que, como formaes scio-organizacionais, governamentais ou no

governamentais, so entendidos como locais de trabalho e de atendimento s pessoas que os acessam. Alm de locais de trabalho e de atendimento, so espaos onde se manifestam necessidades e carecimentos dos usurios, impulsionando novas formulaes de polticas sociais como respostas s demandas sociais. Isto posto, sintetizamos alguns servios, programas, projetos, benefcios, atividades e procedimentos que podem ser prestados nos CRAS. 1. Servio de Atendimento scio-familiar; 2. Servio de Defesa de Direitos e Participao Popular; 3. Reabilitao Familiar e Comunitria; 4. Orientao tcnico-jurdica e social; 5. Atendimento social circunstancial/emergencial 6. Convivncia e Sociabilidade Primeiramente cabe salientar que a dimenso poltico-pedaggica constitutiva da poltica de Assistncia Social e compe a interveno profissional. Com o propsito de impulsionar aes que favoream a defesa e ampliao de direitos com participao popular, considerando a natureza estratgica da poltica na concretizao da Seguridade Social, enfatizamos a organizao de um servio continuado com este propsito. A centralidade na matricialidade scio-familiar tambm deve ser ressaltada com o objetivo de superar aes segmentadas e favorecer processos inclusivos com construo de sujeitos autnomos e polticos. Embora os servios tenham proximidade quanto finalidade possuem especificidades. O Atendimento Scio-Familiar visa a construo do protagonismo e do pleno desenvolvimento das famlias e indivduos pela atividade poltico-pedaggica de orientao e adoo de diferentes procedimentos e tcnicas que favoream: informao e orientao geral sobre recursos e direitos sociais; fortalecimento de vnculos familiares e da iniciativa participativa; desenvolvimento de projetos individuais e coletivos alternativos em relao s situaes de vulnerabilidade social; gerao de renda e trabalho vinculada capacitao profissional e formao cidad, entre outros.

O Servio de Defesa de Direitos e Participao Popular destina-se aos sujeitos abrangidos no territrio visando a participao popular e a defesa e ampliao

dos direitos. Os profissionais adotam diferentes atividades, procedimentos e tcnicas para provocar impacto nos modos de ser e pensar, no campo dos direitos e na perspectiva do pleno desenvolvimento dos sujeitos, com fortalecimento da democracia participativa. Pode contemplar orientao tcnico-jurdica e social com encaminhamentos para instncias de mediao e de responsabilizao jurdica, quando so identificadas situaes de vulnerabilidade pela discriminao, perda ou eminncia de perda de bens e acessos aos recursos materiais e culturais; fragilizao ou conflitos nos vnculos familiares e sociais. No caso de situaes de risco os ecancaminhamentos so efetuados para a rede de proteo social especial. Um terceiro servio a ser destacado o de Reabilitao Familiar e Comunitria visa a insero na rede de proteo social de usurios da poltica de Assistncia Social em interface com as demais, que estejam em situao peculiar pela condio de dependncia de cuidados especiais por idade, deficincia, desproteo familiar no sentido da real ou potencial negligncia, preconceito e outras formas de opresso. O objetivo do servio provocar mudanas de valores, com humanizao e desenvolvimento de potencialidades abrangendo especialmente a famlia e a comunidade referenciada. Este atendimento viabiliza servios originados na prpria comunidade empregando diversas formas de tecnologia e utilizando espaos comunitrios disponveis. Combina aes pertinentes s polticas de sade, educao, trabalho, assistncia social, entre outras, com o objetivo de desenvolver potencialidades e na perspectiva da insero social e melhoria da qualidade de vida. So desenvolvidas atividades de orientao familiar e encaminhamento rede social.Substitui a modalidade anterior de reabilitao para a vida familiar e comunitria. O servio de Orientao tcnico-jurdica e social consiste em orientaes acerca dos direitos e encaminhamentos para instncias de mediao e de responsabilizao jurdica, quando so identificadas situaes de vulnerabilidade pela discriminao, perda ou eminncia de perda de bens e acessos aos recursos materiais e culturais; fragilizao ou conflitos nos vnculos familiares e sociais. Na mesma perspectiva, pode ser ampliado o atendimento de todos os usurios que se encontravam abrigados nos servios de proteo especial de alta complexidade cujos laos de afetividade e pertencimento foram resgatados e agora retornam para o

convvio familiar e comunitrio, mas que requerem ateno pelos servios de proteo social bsica e especial de mdia complexidade. O servio de Convivncia e Sociabilidade oportuniza espaos de reflexo e de convivncia para diversos sujeitos, atendendo aos objetivos de insero nos direitos, fortalecimento do protagonismo e dos vnculos sociais, bem como construo e reconstruo de projetos individuais e coletivos. Desenvolvido com crianas, visa favorecer o seu desenvolvimento integral, envolvendo ludicidade, formao cidad e sociabilidade, na perspectiva da garantia da segurana do convvio e do bem estar fsico e psicolgico; com adolescentes e jovens tem nfase no protagonismo juvenil e no fortalecimento dos vnculos comunitrios e familiares. Envolve aes recreativas, esportivas, pedaggicas, culturais, de sociabilidade, de orientao profissional e de formao cidad; com idosos visa favorecer a insero deste segmento nos diversos servios e programas pertinentes ao ciclo de vida, com o objetivo de elevar a qualidade de vida. Esta atividade, envolvendo orientao s famlias e encaminhamento rede de proteo social, tambm destina-se a convivncia e sociabilidade de grupos intergeracionais. Compreende um conjunto integrado de aes das diferentes polticas setoriais (educao, sade, habitao, assistncia social, trabalho e outras) junto s organizaes sociais governamentais e no governamentais e movimentos sociais, e aos equipamentos e servios comunitrios existentes, direcionadas a ampliar as aquisies sociais, polticas, econmicas, culturais e materiais de um grupo social ou da coletividade num territrio. O Atendimento Social Emergencial/Circunstancial, viabiliza o acolhimento e a escuta qualificada das demandas individuais e familiares, com identificao de necessidades sociais e respectivos encaminhamentos e atenes. Deve garantir o estabelecimento de fluxos na insero e acompanhamento dos usurios no Servio de Atendimento scio-familiar, bem como nos demais servios, programas, projetos e benefcios. No que tange ao processo de concesso de benefcios, importante lembrar a necessidade de regulamentao especfica que defina critrios, recursos, prazos, dentre outros aspectos. Tal servio deve ser entendido como retaguarda e complementar s demais aes de proteo social bsica e especial. Incorpora aes

que tradicionalmente so desenvolvidas no chamado planto social ou similar por contemplar, em geral, o primeiro atendimento em situaes de maior vulnerabilidade social. necessrio reconhecer o CRAS enquanto direito concretizado, assim como a escola e a unidade bsica de sade, por ser um equipamento social de referncia populao usuria no acesso aos diretos socioassistenciais. O CRAS um equipamento caractersticas: gratuidade, estatal, portanto, possui as seguintes investimento pblico continuidade, sistematicidade,

permanente, responsabilidade estatal de gesto, entre outros. Os servios prestados no CRAS, em articulao com as entidades tambm referenciadas no territrio, devem provocar mudanas significativas nas condies de vida dos sujeitos, com respeito s trajetrias e autonomia, na realidade local que est relacionada aos determinantes mais gerais, mas possui peculiaridades e potencialidade a serem exploradas, impulsionadas e protagonizadas pelos sujeitos de direitos. O CRAS uma unidade descentralizada da poltica de assistncia social destinada ao atendimento da populao excluda do acesso aos bens e servios que vive em reas com maior concentrao de pobreza. So realizadas atividades de carter de proteo social bsica com o objetivo de incluso e promoo social, bem como de fortalecimento dos vnculos sociais e participao popular. O Centro de Referncia de Assistncia Social se constitui em: Unidade Pblica Estatal responsvel pela oferta de servios continuados de proteo social bsica de Assistncia Social s famlias, grupos e indivduos em situao de vulnerabilidade social; Unidade efetivadora de referncia da proteo social bsica, contra referncia da rede socioassistencial de proteo social especial, e unidade de contra-referncia para os servios das demais polticas pblicas; Porta de entrada dos usurios rede proteo social bsica do SUAS; Unidade que organiza vigilncia social, monitoramento dos indicadores sociais e dos impactos causados pelas aes, em sua rea de abrangncia; Unidade pblica que concretiza o direito socioassistencial quanto garantia de acessos a servios de proteo social bsica com matricialidade scio-familiar e nfase no territrio de referncia; e

-

Equipamento onde so, necessariamente, ofertados os servios e aes do programa de ateno integral famlia (PAIF) e onde podem ser prestados outros servios, programas, projetos e benefcios de proteo social bsica relativos s seguranas de rendimento, autonomia, convvio familiar e comunitrio sobrevivncia a riscos circunstanciais.7 As atribuies do rgo gestor no se confundem com a finalidade do CRAS na e de

medida em que as competncias relativas coordenao e organizao da poltica municipal so de competncia do rgo gestor. Assim, a definio do CRAS como equipamento que coordena a rede local e presta servios se restringe ao espao local. preciso reconhecer o potencial estratgico do CRAS se constituir como equipamento de referncia no acesso aos direitos socioassistenciais de proteo bsica. Com o objetivo de contribuir no processo de organizao dos Sistemas Municipais, especialmente quanto implantao e gesto local dos Centros de Referncia de Assistncia Social, sero apresentados na seqncia dois quadros snteses: Quadro de Servios Socioassistenciais, Programas, Projetos e Benefcios Relacionados Protocolo de Implementao e Funcionamento do CRAS. Importante registrar que a Assistncia Social se coloca no campo das realizaes humanas que, em graus superiores de complexidade, exigem respostas cada vez mais qualificadas para as demandas por direitos. A atuao tcnica e poltica de todas e todos refora a relevncia pblica de interesse coletivo para o enraizamento de uma nova lgica de gesto e de cultura democrtica e democratizante.

7

Guia de Proteo Social Bsica. Braslia, Ministrio de Desenvolvimento Social e Combate Fome, 2006.

QUADRO 1 SISTEMA MUNICIPAL E GESTO LOCAL 1. Servios Socioassistenciais SERVIOS 1. Atendimento Familiar Scio- ALGUNS PROCEDIMENTOS/ ATIVIDADES acolhimento e escuta qualificada para identificao das necessidades sociais; busca ativa para insero das famlias; insero em programas de qualificao profissional; insero em programas e benefcios de gerao de renda; BPC insero no Cadastro nico e no Programa Bolsa Famlia; oficinas de convivncia e socializao; trabalhos em grupo; atividades recreativas, esportivas, ldicas e culturais; deslocamento da equipe e visita domiciliar; produo de materiais pedaggicos; mapeamento da rede scio-assistencial; estudos, pesquisas e diagnsticos sociais; acompanhamento e controle da efetividade dos encaminhamentos realizados com indicadores e instrumentos de avaliao;

2. Defesa de Direitos e Participao Popular -

outros divulgao dos direitos e espaos significativos de participao; mobilizao e conquista de novos direitos; oficina de convivncia e de trabalho poltico-pedaggico para as famlias, seus membros e indivduos, e demais usurios da rea de abrangncia;

-

acompanhamento e controle da efetividade dos encaminhamentos realizados com indicadores e instrumentos de avaliao;

3. Reabilitao Familiar e Comunitria -

articulao e fortalecimento das aes polticas locais; trabalhos com grupos, palestras, oficinas e reunies com populao local; realizao de campanhas e atos polticos na defesa dos direitos; participao em conselhos de direitos e setoriais; reunies com instituies correlatas, equipamentos locais e outras polticas; estudos, pesquisas e diagnsticos sociais; outros incluso em servios de ao continuada e em programas de transferncia de renda; acolhida e escuta qualificada para identificao de necessidades individuais e familiares; acompanhamento e controle da efetividade dos encaminhamentos realizados;

4. Convivncia Social e Sociabilidade 5. Orientao tcnico-jurdica e social

palestras; trabalhos com grupos; outros. insero em servios socioassistenciais e demais direitos; grupos de convivncia e socializao; oficinas de reflexo e participao. -outros acolhida e escuta qualificada para identificao de necessidades individuais e familiares; acompanhamento e controle da efetividade dos encaminhamentos realizados; palestras; trabalhos com grupos; outros.

6. Atendimento social - acolhida e escuta qualificada para identificao de necessidades individuais e familiares; circunstancial/emergencial - encaminhamento para os servios de Proteo Social e/ou Especial e servios de outras polticas; - concesso de benefcios eventuais; - entrevista social; - outros.

2. Programas, Projetos e Benefcios relacionados aos Servios Socioassistenciais PROGRAMAS Transferncia de Renda Programa de Enfrentamento Pobreza Programa de Enfrentamento Fome Outros PROJETOS Qualificao profissional Capacitao e insero produtiva Promoo de incluso produtiva para beneficirios do Bolsa Famlia e do Benefcio de Prestao Continuada Projetos de Enfrentamento Pobreza Projetos de Enfrentamento Fome Grupos de Produo e Economia Solidria Gerao de Trabalho e Renda Outros (BPC) Benefcios Eventuais Outros BENEFCIOS Benefcio de Prestao Continuada

QUADRO 2 SISTEMA MUNICIPAL E GESTO LOCAL PROTOCOLO DE IMPLEMENTAO / FUNCIONAMENTO DO CRAS MEDIDAS DE GESTO AES / PROVIDNCIAS

1. Competncias do Coordenao e Execuo rgo Gestor rgo gestor e do a) Coordenao, planejamento e execuo da Poltica Municipal conselho municipal organizao de aes integradas s demais polticas setoriais, visando ao enfrentamento da pobreza, garantia dos mnimos sociais, ao provimento de condies para atender contingncias sociais e a universalizao dos direitos sociais; proposio de normas gerais e critrios de eqidade; organizao e execuo de servios socioassistenciais em conjunto com a sociedade civil, ordenando a rede prestadora de servios socioassistenciais local;

-

b) Elaborao e Execuo de Instrumentos de Gesto proposio e encaminhamento para apreciao pelo CMAS dos instrumentos de gesto e financiamento da poltica: Planoplurianual; Plano Municipal, Proposta de Execuo Oramentria e Financeira; Plano de Ao SUAS/Web; Relatrio de Gesto; Balano de Execuo Financeira; realizao de estudos territoriais sobre situaes de vulnerabilidade e risco; Relatrio de Monitoramento do nvel de gesto; preparao dos documentos comprobatrios e cumprimento dos requisitos exigidos pela NOB/SUAS para a habilitao do nvel de gesto pactuada pela Comisso Intergestores Bipartite (CIB); Aprimoramento da Gesto organizao de processos de capacitao continuada de conselheiros, gestores, tcnicos do rgo gestor e da rede socioassistencial;

-

b) -

MEDIDAS DE GESTO -

AES / PROVIDNCIAS organizao de uma sistemtica de informao, de monitoramento e avaliao; elaborao e aplicao de instrumentos de avaliao e fiscalizao dos servios prestados; Proposio de critrios de qualidade, fluxo e protocolos de acompanhamento; Realizao de estudos e pesquisas para fundamentar as anlises de necessidades e formulao de proposies para a rea; Deliberao, normatizao e fiscalizao Conselho Municipal a) Apreciao e deliberao sobre a proposta de Poltica Municipal, considerando a legislao vigente, contendo: diagnstico scio-territorial; rede socioassistencial (servios prestados pelo rgo gestor e demais entidades); investimento das trs esferas de governo e outras fontes de recursos; b) Apreciao e aprovao dos instrumentos de gesto e financiamento da poltica: Planoplurianual; Plano Municipal, Proposta de Execuo Oramentria e Financeira; ba