17
Módulo 3 Área 3 – O Mundo Unidade temática 8 – A Internacionalização da Economia, do Conhecimento e da Informação Tema-problema 8.3 – De Alexandria à era digital: a difusão do conhecimento através dos seus suportes Conteúdos programáticos - A importância do registo escrito na fixação e difusão do conhecimento; - Dados fundamentais da história da escrita: * o papel da escrita na cultura ocidental; * os meios físicos para a fixação das mensagens, instrumentos de escrita e conteúdos; - A imprensa como meio de multiplicação e difusão do Livro: o início da Galáxia de Gutemberg; - A relação dos meios científico-tecnológicos do séc. XIX e XX com a difusão da informação e do conhecimento; - A sociedade contemporânea enquanto sociedade da informação. Objetivos de aprendizagem Compreender a importância do registo escrito na fixação e difusão do conhecimento. Conhecer alguns dados fundamentais da história da escrita: a cartografia da escrita que fixou e determinou a cultura ocidental; os meios físicos para a fixação das mensagens, instrumentos de escrita e conteúdos. Conhecer a importância da imprensa como meio de multiplicação e difusão do Livro: o início da Galáxia de Gutemberg. Relacionar os meios científico-tecnológicos dos séculos XIX e XX com a difusão da informação e do conhecimento. Caracterizar a sociedade contemporânea enquanto sociedade da informação. Analisar a problemática das assimetrias sociais face ao acesso aos meios e conteúdos de informação. Competências específicas deste tema/problemas - Analisar criticamente a informação em diferentes suportes; - Organizar e produzir documentos escritos (produzir texto-síntese sobre os assuntos abordados); - Pesquisar e selecionar informação de diferentes fontes; - Consultar literatura especializada sobre os suportes mais conhecidos de registo escrito e seus conteúdos; - Conhecer a história e acervos da Biblioteca de Alexandria; - Compreender a importância da imprensa e o papel de Gutemberg na difusão do 1

Textos_8.3.de Alexandria à Era Digital - Versão Aluno

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Caderno de textos de Área de integração tema 8.3.

Citation preview

Page 1: Textos_8.3.de Alexandria à Era Digital - Versão Aluno

Módulo 3

Área 3 – O Mundo

Unidade temática 8 – A Internacionalização da Economia, do Conhecimento e da Informação

Tema-problema 8.3 – De Alexandria à era digital: a difusão do conhecimento através dos seus suportes

Conteúdos programáticos

- A importância do registo escrito na fixação e difusão do conhecimento;- Dados fundamentais da história da escrita:* o papel da escrita na cultura ocidental;* os meios físicos para a fixação das mensagens, instrumentos de escrita e conteúdos; - A imprensa como meio de multiplicação e difusão do Livro: o início da Galáxia de Gutemberg;- A relação dos meios científico-tecnológicos do séc. XIX e XX com a difusão da informação e do conhecimento;- A sociedade contemporânea enquanto sociedade da informação.

Objetivos de aprendizagem

Compreender a importância do registo escrito na fixação e difusão do conhecimento. Conhecer alguns dados fundamentais da história da escrita: a cartografia da escrita que fixou e determinou

a cultura ocidental; os meios físicos para a fixação das mensagens, instrumentos de escrita e conteúdos. Conhecer a importância da imprensa como meio de multiplicação e difusão do Livro: o início da Galáxia de

Gutemberg. Relacionar os meios científico-tecnológicos dos séculos XIX e XX com a difusão da informação e do

conhecimento. Caracterizar a sociedade contemporânea enquanto sociedade da informação. Analisar a problemática das assimetrias sociais face ao acesso aos meios e conteúdos de informação.

Competências específicas deste tema/problemas

- Analisar criticamente a informação em diferentes suportes;- Organizar e produzir documentos escritos (produzir texto-síntese sobre os assuntos abordados);- Pesquisar e selecionar informação de diferentes fontes;- Consultar literatura especializada sobre os suportes mais conhecidos de registo escrito e seus conteúdos;- Conhecer a história e acervos da Biblioteca de Alexandria;- Compreender a importância da imprensa e o papel de Gutemberg na difusão do Livro;- Descrever o papel da ciência e da tecnologia na difusão da informação e da comunicação;- Apresentar as facilidades de acesso à informação recorrendo aos meios tecnológicos disponíveis no mundo atual.

Estratégias/recursos

- Exposição oral- Análise de textos (in Caderno de Textos de Apoio)- Pesquisa, seleção e discussão de informação nos media- Visionamento e comentário de documentos audiovisuais- Fichas de trabalho de consolidação dos conteúdos lecionados

A importância do registo escrito na fixação e difusão do conhecimento

1

Page 2: Textos_8.3.de Alexandria à Era Digital - Versão Aluno

1. Antes da escrita

Embora a comunicação seja uma característica observável em várias espécies de animais, o ato de registá-la é próprio unicamente da espécie humana. A criação de registos é fundamental, pois, ao contrário da linguagem oral ou gestual, podem ser armazenados e transmitidos a outras gerações.

Desde a Pré-História as diferentes sociedades tentaram deixar registos das suas ideias e sentimentos, seja através de esculturas em pedra ou madeira, seja por meio de desenhos nas paredes das cavernas – pintura rupestre. Este tipo de representação permitia trocar mensagens e comunicar ideias, desejos e necessidades. Esta forma de transmissão, onde já existem símbolos, não pode, no entanto, ser classificada como escrita, já que lhe falta a organização e a padronização das representações gráficas.

O desenvolvimento das primeiras formas de escrita, ou seja, do registar de uma maneira uniforme uma mensagem, ocorreu no interior de sociedades com formas de organização complexas, principalmente em regiões com muita água e terras férteis: (I) entre os rios Tigre e Eufrates, no Oriente Médio; (II) ao longo do rio Nilo, no Egipto; (III) na região do Indo, no Paquistão; (IV) ao longo do rio Huang-Ho (rio Amarelo), na China.

A escrita pode assumir as seguintes formas:

Pictogramas O termo pictograma resulta do latim pictus (pintado) e do grego grafos (escrever). Os pictogramas são signos gráficos que representam um objeto, um som ou um ser. Ex.: um círculo a representar o Sol.

Ideogramas A palavra ideograma é originária do grego idea (ideia) e gramma (algo desenhado ou pintado). Ou seja, ideograma é a representação de uma ideia. Diferente do pictograma, o ideograma é a ideia que um objeto representa e não o objeto em si. Ex.: um desenho do Sol a representar o calor ou um deus.

Fonogramas O fonograma representa, por meio de signos abstractos, os sons que formam as palavras. São empregados unicamente pelo valor fonético e não possuem nenhuma relação com a palavra representada.

2. O aparecimento da escrita

Por volta de 3000 a.C., a primeira forma conhecida de escrita apareceu na região entre os rios Tigre e Eufrates, na Mesopotâmia, no mesmo local onde surgiram as primeiras civilizações urbanas, com cidades como Lagash, Nippur, Umma, Ur e Uruk. Tais civilizações necessitavam de um tipo de controlo administrativo que permitisse contar e registar as quantidades de grãos ou as cabeças de gado. Foi este o primeiro emprego da escrita, praticada então por um corpo próprio de funcionários: os escribas.

A evolução para aquilo que hoje chamamos escrita cuneiforme (do latim cuneus, cunha) deu-se a partir de desenhos simples de objetos, que evoluíram para símbolos fonetizados, só mais tarde se constituindo em palavras.

Inventada pelos sumérios para registar a sua própria língua, a escrita cuneiforme foi sendo adaptada por outros povos para os seus respetivos idiomas: acadianos, babilónicos, elamitas, hititas e assírios.

A escrita estendeu a sua aplicação para outros campos, servindo para fixar leis, textos religiosos e, posteriormente, narrações históricas e relatos épicos. Ou seja, passou a registar o pensamento do Homem.

3. Uma outra forma de escrever

Quase na mesma época que os sumérios, os egípcios desenvolveram também a escrita. Enquanto os primeiros praticavam a escrita cuneiforme, os segundos criaram uma forma de escrever que misturava ideogramas, pictogramas e fonogramas. O sistema egípcio reproduzia, assim, quase que totalmente a língua falada, ao mesmo tempo que refletia realidades abstratas e concretas. Este tipo de escrita foi posteriormente designada de hieroglífica – do grego hieros (sagrado) e ghyhhein (gravar), pois era utilizada nos rituais religiosos e para adornar as paredes dos templos e túmulos.

2

Page 3: Textos_8.3.de Alexandria à Era Digital - Versão Aluno

4. A escrita no Ocidente, o alfabeto

Se a escrita cuneiforme possui centenas de símbolos gráficos, cada um representando sílabas ou uma palavra completa, e os hieróglifos egípcios misturam pictogramas, ideogramas e fonogramas, os fenícios, por volta de 1400 a.C. foram os primeiros a desenvolver uma forma de escrever baseada num alfabeto. Eram símbolos abstratos que representavam os sons das consoantes e das vogais, ou, por outras palavras, fonogramas alfabéticos.O alfabeto, ou abecedário, é o conjunto das letras de uma língua, colocadas numa ordem convencional. A palavra alfabeto compõe-se de alpha + beta, as duas primeiras letras do alfabeto grego, correspondentes ao nosso a e b.

Os Fenícios dedicavam-se ao comércio ao longo do Mar Mediterrâneo comprando e vendendo cereais, azeite, perfumes, vinho, madeira, objetos de barro e metal. Os seus navios atingiam os portos do Egito, Babilónia, Itália, Grécia, península Ibérica e Oriente Próximo. Os mercadores fenícios tinham, assim, contacto com diferentes formas de escrita, com os seus escribas a escrever em várias línguas. O nascimento do seu alfabeto está, muito provavelmente, relacionado com fatores como necessidade de simplificação, flexibilidade e facilidade de transporte.

O alfabeto fenício foi adotado pelos Gregos por volta de 800 a.C., tomando forma própria por volta de 300 a.C., com a formação do alfabeto jónico, composto de 24 letras e ainda hoje utilizado. Na Grécia, ao alfabeto foram acrescentadas cinco vogais – a, e, i, o, u – e a orientação da escrita passou a ser da esquerda para a direita.

O alfabeto romano, também conhecido por latino, e a sua forma de escrever deriva do grego. No início, possuía apenas 16 letras – G, H, J, K, Q, V, X e Y foram adoptadas mais tarde.

Entre as convenções da escrita romana obedecidas na atualidade podemos destacar as seguintes: Escreve-se em linhas horizontais, da esquerda para a direita e de cima para baixo; As páginas são viradas em sentido anti-horário; As palavras são separadas por meio de espaços em branco; As letras apresentam quatro variações principais: maiúsculas tipográficas, maiúsculas cursivas,

minúsculas tipográficas e minúsculas cursivas, empregadas em contextos específicos.Estas regras podem parecer óbvias, mesmo naturais, pois foi assim que aprendemos a escrever;

mas cada sistema de escrita possui as suas próprias regras. A escrita hieroglífica não era totalmente linear, já que os símbolos estavam distribuídos de forma a utilizar o melhor possível a área onde se escrevia. No árabe, as páginas são viradas em sentido horário, enquanto os chineses escrevem em linhas verticais e a escrita hebraica é praticada da direita para a esquerda. Existem também sistemas onde as palavras não se encontram divididas.

Hoje, o alfabeto latino é o sistema de escrita alfabética mais utilizado no mundo, sendo utilizado para escrever em português e na maioria das línguas da Europa ocidental e central, bem como nas regiões colonizadas pelos europeus.

A. Meirelles

Tarefas:1.1. O que define a escrita e que formas pode assumir?

1.2. Por que surgiu a escrita e que utilidade complementar veio a ter?

1.3. Quais as vantagens do alfabeto face aos outros sistemas de escrita – o sumério e o egípcio?

1.4. A que regras deve obedecer a escrita baseada no alfabeto latino?

Dados fundamentais da história da escrita: o papel da escrita na cultura ocidental e os meios físicos para a fixação das mensagens, instrumentos de

escrita e conteúdos.

3

Page 4: Textos_8.3.de Alexandria à Era Digital - Versão Aluno

1. Do barro ao pergaminho

Ao longo da história da Humanidade, o tipo de superfície onde a escrita era registada variou tanto quanto esta, sendo facores determinantes na sua escolha as matérias-primas disponíveis e o desenvolvimento técnico.

Na Mesopotâmia, os textos em escrita cuneiforme eram escritos sobre tábuas de barro. As tábuas podiam ser cozidas em fornos ou secas ao sol, se a intenção era obter um registo permanente, ou ser reaproveitadas, caso não fosse necessário manter os registos por longo tempo. Utilizavam para escrever objetos de metal, osso e marfim, em forma de cunha numa das extremidades, para poder escrever, e plano na outra, em forma de paleta, com a finalidade de poder cancelar o texto, alisando o material arranhado ou errado. Muitas das tábuas descobertas por arqueólogos foram preservadas porque foram sujeitas a elevadas temperaturas durante incêndios, alguns deles resultado de ataques de exércitos inimigos.

No Egipto foi primeiramente utilizado como suporte o barro cozido, a pedra e a madeira. Numa fase posterior, iniciada por volta de 2000 a.C., o papiro, feito com base na planta papiros, abundante nas terras pantanosas do Nilo, passou a ser o material mais importante para o sistema de escrita hieroglífica.

O papiro tornou-se também no material de escrita mais utilizado ao longo de todo o Mediterrâneo. Até ao século VIII d.C. era comum em toda a Europa, sendo do século X os últimos conhecidos.

Outro material utilizado foi o pergaminho, obtido através da pele de animais como carneiros e ovelhas. Plínio, o Velho (23-79 d.C.) deixou registos sobre a introdução deste material na cidade romana de Pergamo, de onde originou o nome pelo qual é conhecido.

O pergaminho, em comparação com o papiro, tinha a vantagem de ser mais resistente e de permitir a reunião das várias folhas em formato de livro. Na Europa, entre os séculos IX e XIII, o pergaminho foi o principal material utilizado para a escrita até à difusão do papel, apesar de a sua fabricação ser muito cara. Em períodos de falta de pergaminhos, raspavam-se os livros mais antigos para reutilização, eram os chamados palimpsestos ou opistografia.

Os mosteiros mantinham bibliotecas de pergaminhos, onde monges letrados se dedicavam à cópia de manuscritos, devendo-se a essa actividade monástica a sobrevivência e divulgação dos textos clássicos da cultura grega e latina no Ocidente.

2. A longa viagem do papel

Foram os chineses, por volta do século II a. C., os primeiros a fabricar papel com as características que hoje conhecemos, a partir de uma planta fibrosa, a cana de bambu. Esta técnica foi mantida em segredo pelos chineses durante quase 600 anos, período durante o qual o papel estendeu-se pelo império chinês e acompanhou as rotas comerciais das grandes caravanas.

Em 751 d.C., mercadores árabes instalados na cidade de Samarcanda aprenderam com os chineses a produzir papel. A partir de então, a produção e o comércio do papel passou a acompanhar a expansão muçulmana, acabando por chegar à Península Ibérica.

Feito de trapos, e já não da cana de bambu, este novo suporte de escrita era também conhecido por charta damascena, por serem originários de Damasco os seus comerciantes. Muitos judeus que negociavam com roupas velhas começaram a fabricá-lo em meados do século XII, quando começou a ser produzido no leste espanhol, passando a ser conhecido pelo nome catalão de paper, que originaria no francês e no alemão papier, no português papel, no russo papka e no inglês paper. (...)

A difusão do papel, apesar de lenta, foi constante. A invenção da tipografia aumentou grandemente a procura. Um prelo consumia cerca de três resmas por dia – equivalendo uma resma a 20 mãos de 25 folhas. Em poucos anos, os fabricantes de papel precisavam de produzir no mínimo mil resmas diárias para suprir a nova demanda. Fornecer papel a impressores de livros passou a ser um dos negócios mais lucrativos a que alguém se podia dedicar.

Trapeiros profissionais, quase sempre a trabalhar para negociantes de roupas usadas, recolhiam o material, de porta em porta, selecionando de seguida os brancos, os únicos imediatamente aproveitáveis como matéria-prima para a polpa. Os trapos eram fermentados e tratados para serem desfibrados, num processo muito trabalhoso. No fim do século XVI, os holandeses inventaram uma máquina refinadora de cilindros, que permitia decompor os trapos, desintegrando-os até ao estado de fibra. Esta nova invenção

4

Page 5: Textos_8.3.de Alexandria à Era Digital - Versão Aluno

produzia em quatro a cinco horas a mesma quantidade de pasta que um antigo moinho de martelo com cinco pedras produzia em vinte e quatro horas.

O aumento da produção de papel e a forte concorrência entre as fábricas de papel e a indústria têxtil teve como consequência uma crescente escassez de matéria-prima e o seu encarecimento. No final do século XVII, 50% do custo de produção de um livro estava no papel e alguns países chegaram mesmo a proibir a exportação de trapos. Começaram então a ser testadas soluções que permitissem substituir os trapos na fabricação do papel.

1765-1771

Primeiras tentativas de produção de papel sem trapos, utilizando matéria-prima vegetal.

1756 Jacob Christian Schaffer publica na Alemanha um tratado sobre fibras vegetais, onde propõe a utilização de serragem e aparas de madeira para a produção de pasta mecânica.

1800 Mathias Koops regista a patente de um processo de produção de polpa a partir de palha e restos de papel.

1839 Anselme Payen, químico francês, trata a madeira com ácido nítrico concentrado, produzindo um material fibroso ao qual chamou celulose.

1840 Friedrich Gottlob Keller deu início ao processo de produção de polpa através da fricção da madeira contra uma superfície abrasiva, que mais tarde seria responsável pela produção da chamada pasta mecânica.

1852 Charles Watt e Hugh Burgess, em Inglaterra, criam o primeiro processo químico para obtenção de polpa a partir de madeira descascada, conhecido por processo soda.

1867 Benjamin Tilghman, nos Estados Unidos, regista a patente para cozimento de substâncias vegetais com ácidos sulfurosos: processo sulfito.

1883 O químico alemão Karl Dahl, a partir do processo soda, cria o processo sulfato ou Kraft. Por ser mais económico e pela qualidade das fibras que produz, tornou-se o processo mais utilizado em todo o mundo.

Hoje, cerca de 96% do total da polpa produzida é originária da madeira, sendo 60% de madeira de eucalipto e 36% de pinheiro. Graças à utilização da madeira, o papel deixou de ser um artigo de luxo, passando a ser produzido em larga escala, com elevada qualidade e chegando até nós a preços acessíveis.

A. Meirelles

Texto - A invenção do papel«Em 105 d. C., o imperador chinês Chiench'u, irritado por escrever sobre seda e bambu, ordena ao seu oficial da Corte T'sai Lun que inventasse um novo material para a escrita. Este produziu uma substância feita de fibras da casca da amoreira, restos de roupas e cânhamo, humedecendo e batendo a mistura até formar uma pasta. Usando uma peneira e secando esta pasta ao sol, a fina camada depositada transformava-se numa folha de papel.O princípio básico deste processo é o mesmo usado até hoje. Esta técnica foi mantida em segredo pelos chineses durante quase 600 anos.Tudo parece indicar que, a partir do ano 751, os árabes, ao expandirem a sua ocupação para o Oriente, tomaram contacto com a produção deste novo material e começaram a instalar diversas fábricas de produção de papel. A partir daquele momento, a difusão do conhecimento sobre a produção do papel acompanhou a expansão muçulmana ao longo da costa norte de África até a Península Ibérica.Data de 1094 a primeira fábrica de papel em Xativa, Espanha; a partir daí, na Europa, começa a disseminar-se a arte de produzir papel. Curiosamente, a ideia de fazer papel a partir de fibras de madeira foi perdida algures neste percurso, pois o algodão e os trapos de linho foram transformados na principal matéria-prima utilizada. Só a partir do século xix, se começou a utilizar a madeira para fabricar o papel.»

http://www.naturlink.pt/canais/Artigo.asp? Artigo=2110&iLingua=1 (adaptado)

O papel, associado ao invento da imprensa por Gutenberg, expande a edição de livros impressos. Com efeito, essa invenção permite o processo de impressão com carateres móveis - a tipografia - o que torna possível fazer vários exemplares de um mesmo livro. Deste modo, o preço dos livros passa a ser mais acessível, sendo possível serem adquiridos por uma maior número de pessoas.

5

Page 6: Textos_8.3.de Alexandria à Era Digital - Versão Aluno

Atualmente, o papel encontrou um concorrente: o ecrã do computador. Com efeito, através da Internet, podem ler-se notícias dos jornais e das revistas, podem procurar-se empregos e informações sobre produtos que se querem comprar, comunica-se com amigos por escrito e até se podem ler livros Online.

O acesso à escrita - questão social

A escrita foi um veículo de comunicação entre os seres humanos e uma forma de preservar e transmitir a cultura de uma determinada sociedade. Com efeito, a escrita consolida a palavra e permite guardá-la indefinidamente num suporte fiável, podendo, assim, ser reativada nas gerações futuras.Contudo, desde o início da escrita, esta esteve associada aos grupos sociais que detinham o poder, ou seja, eram estes que registavam, descodificavam e transmitiam as mensagens escritas.

Na Antiguidade, para além da elite que tinha acesso à escrita, também existiam escribas, que foram, nalgumas civilizações (por exemplo, a egípcia), considerados como profissionais altamente qualificados, beneficiando de grandes regalias. Contudo, noutras, o saber ler e escrever era indispensável para o funcionamento da administração, mas não era valorizado socialmente. Por exemplo, entre os Romanos, os escribas eram, muitas vezes, escravos de origem grega.

Na Idade Média, o privilégio da escrita era detido pela Igreja, tendo a escrita e os livros sido sempre foram alvo de censura ou de alguma forma de vigilância por parte de autoridades. Na época da Inquisição, em 1559, publicou-se uma Lista dos Livros Proibidos, cujo objetivo era divulgar a relação de livros que não poderiam, pelo seu «conteúdo pernicioso ou subversivo», ser lidos ou publicados.Após a descoberta da imprensa (Gutenberg, no século XV), a escrita desenvolveu-se, os livros passaram a ser mais facilmente publicados e maior número de pessoas passou a ter acesso aos suportes escritos.

Atualmente, o acesso à educação e a difusão dos meios de comunicação social democratizam o acesso à informação escrita. Contudo, continuam a persistir alguns tipos de diferenciação: certos saberes continuam a ser elitistas (por exemplo, cada ciência nova que surge adota um vocabulário que lhe é específico) e a escrita também reflete uma certa diferenciação social (por exemplo, uma escrita primária distingue-se de uma escrita intelectual com um discurso fluente).

Tarefas:1.1. Quais os diferentes suportes de registo da escrita?

1.2. Resuma a história da difusão do papel.

8.3.3. A imprensa como meio de multiplicação e difusão do Livro: o início da Galáxia de Gutemberg.

6

Page 7: Textos_8.3.de Alexandria à Era Digital - Versão Aluno

1. Manuscritos

No final do Império Romano e durante toda a Idade Média, a escrita era registada sobretudo em folhas quadradas de pergaminho – fólios – que, depois de unidas, davam origem ao códice – códex ou liber quadratus –, o antepassado do livro como hoje o conhecemos. Este apresentava uma série de vantagens sobre os rolos de papiro: já não era necessário abrir todo o rolo para encontrar uma determinada passagem, bastando folhear as páginas, e havia economia de material, pois era possível escrever dos dois lados.

O códice assemelhava-se ao livro moderno, exceto no tamanho. O pergaminho não era dobrado nem cortado em folhas pequenas, o que significava que os códices eram livros grandes, in-fólio, ou seja, em folhas, do tamanho da folha.

Os mosteiros cristãos abrigavam frades encarregados de preparar as tintas e os pergaminhos, enquanto outros, os scriptores, copiavam os textos na sala conhecida como scriptorium. Além dos livros simples de texto, as pessoas com mais posses podiam encomendar códices luxuosos de grande valor artístico. Tais livros não eram produzidos por copistas, mas por calígrafos e ilustradores muito especializados.

2. Impressos

As primeiras impressões são originárias da China, utilizando uma técnica semelhante à xilogravura, que consistia em prensar folhas contra tábuas gravadas. Os primeiros livros europeus com esta técnica surgiram na Holanda, por volta de 1430, e utilizavam caracteres móveis de madeira. Eram produzidos sobretudo manuais religiosos, compostos por ilustrações e textos curtos escritos em latim, destinados à pregação popular e às escolas.

Só podemos falar em imprensa, no entanto, com a substituição das pranchas xilográficas por caracteres móveis, inicialmente de madeira, depois de cobre e, posteriormente, de aço. As letras eram cunhadas em relevo, montadas numa base de chumbo, passadas por tinta e prensadas. Embora Johann Gutemberg (c.1400-c.1468) seja apontado como inventor da tipografia, provavelmente foi apenas o mais conhecido desses artesãos, normalmente ourives, os quais, nos países renanos, iniciaram esta nova técnica de impressão. Os primeiros livros impressos, como a Bíblia de Gutemberg e o Saltério de Mayence, datam dos anos 1450.

Tradicionalmente, a imprensa de tipos móveis é vista como a solução de um problema: garantir o suprimento de textos para atender a crescente demanda verificada no final da Idade Média, época em que o número de homens e mulheres alfabetizados estava a aumentar. Diferentes grupos sociais, no entanto, levantaram críticas à nova invenção. Copistas e contadores de histórias profissionais, por exemplo, temiam que a imprensa os deixasse no desemprego, o que de facto veio a acontecer.

Os livros impressos lançados até ao ano de 1500 são conhecidos por incunábulos – do latim incunabulum, berço. Chegaram até nós cerca de 30 mil incunábulos, correspondendo a 13 mil títulos diferentes. Estima-se que tenham circulado 10 milhões de livros.

3. A «Galáxia de Gutenberg»

Em 1455, Johannes Gutenberg inventou a imprensa com tipos móveis reutilizáveis. O primeiro livro impresso nessa técnica foi a «Bíblia das 42 linhas» em latim, com apenas 48 exemplares espalhados pelo mundo. Esta obra está disponível no formato digital, acessível para utilizadores da web, pois a Universidade do Texas, dona de um desses exemplares, disponibiliza na Internet a obra completa em: (http://www.hrc.utexas.edu/exhibitions/permanent/gutenberg/).

O aparecimento da imprensa permitiu o desenvolvimento da técnica da tipografia, que tornou possível a edição de vários livros, os quais passaram a estar acessíveis a um público mais vasto.No início, houve uma certa resistência por parte de diferentes grupos sociais a esta invenção. Assim, por exemplo:

Os copistas, os vendedores dos livros manuscritos e os contadores de histórias profissionais temiam que a imprensa os privasse do seu meio de vida, pois era posta em causa a sua profissão.

Os eclesiásticos temiam que a imprensa estimulasse os leigos a estudarem autonomamente os textos religiosos em vez de acatarem o que lhes dissessem as autoridades religiosas.

Os políticos receavam, principalmente após o aparecimento dos jornais impressos, que a sua atuação fosse criticada pelo público em geral.

Por outro lado, enquanto na Idade Média, o problema fora o da escassez de livros; no século XVI, o problema, para alguns, era o excesso - «tantos livros que não temos tempo para sequer ler os títulos».

A nível social, a edição de livros e o desenvolvimento da imprensa escrita deram origem ao aparecimento de novas ocupações: os editores, o revisor, os catalogadores, o bibliotecário, etc.

7

Page 8: Textos_8.3.de Alexandria à Era Digital - Versão Aluno

Contudo, apesar de criticada, a máquina impressora marcou o início de uma nova época, pois o livro popularizou-se definitivamente, tornando-se mais acessível à população em geral, devido à enorme redução dos seus custos da produção.

Assim, a «Galáxia de Gutenberg», como a denominou Marshall MacLuhan, destronou o antigo universo do conhecimento assente na oralidade e os livros tornaram-se num dos mais importantes meios de difusão da informação e do conhecimento.

3.1. A difusão do livro impresso na Europa a partir do século XVI

A história do livro está diretamente ligada à história da humanidade nos seus diferentes contextos espaciais e socioculturais, pois se atualmente consideramos que um livro corresponde a um conjunto de folhas, contendo informações impressas, presas por um lado, com uma lombada e tudo enquadrado por uma capa, tal nem sempre aconteceu.

Com efeito, como vimos, na Antiguidade, entre os sumérios, o livro era um tijolo de barro cozido ou em argila, onde se cunhavam textos. Constituíram, como vimos, o primeiro registo humano de escrita, escrita cuneiforme - placas de argila de Uruk.

No Egito, os livros eram rolos de papiro que chegavam ter vinte metros de comprimento e eram escritos com hieróglifos.

Os livros, semelhantes aos que conhecemos, surgem com o pergaminho (pele tratada de animais), contudo, maiores e mais caros.

Só no século VIII da nossa era o papel chega à Europa. Assim, os livros, na Idade Média, eram escritos em papel à mão pelos copistas, que normalmente os copiavam de livros já existentes. Estes livros, designados, muitas vezes, por iluminuras, eram objectos lindíssimos, frequentemente decorados com letras ornamentais, pinturas, etc.

Com o advento da imprensa, no Renascimento europeu, o livro manuscrito foi gradualmente substituído pelo livro impresso.

A coincidência temporal entre o descobrimento da imprensa e o início do desenvolvimento da ciência veio permitir que a leitura dos livros tornasse possível examinar as relações entre os saberes e as aplicações técnicas. Por outro lado, o aparecimento das Universidades fez surgir um novo mercado leitor que estimulou a produção de livros científicos.

Após a Revolução Francesa, o livro passou a ser considerado como um instrumento de libertação do homem. Esta nova situação deu origem a que os hábitos de leitura se generalizassem e propagassem por toda a Europa Ocidental, o que, com o advento da Revolução Industrial, contribuiu para uma grande difusão do livro.

No século XIX, as inovações tecnológicas alteram o processo de impressão dos livros. Assim, o aparecimento sucessivo da prensa metálica, da prensa de rolos e a pedal, e, finalmente, da prensa mecânica a vapor, substituem as formas de impressão manual, folha por folha, inventadas por Gutemberg. Quer isto dizer que o livro também passou a ser uma produção industrial.

A industrialização do livro permitiu o aumento da sua produção e, consequentemente, a redução dos seus custos e dos seus preços, tornando-o mais acessível, situação que facilitou a sua divulgação.

Por outro lado, esta situação também faz aumentar a importância das bibliotecas públicas, o que permitiu uma democratização da leitura, já que a elas têm acesso todas as camadas sociais. Deste modo, o livro torna-se um veículo de informação e de difusão do pensamento escrito, apresentando ainda outras vantagens:

• um livro é transportável, é de fácil acesso, não precisa de uma ligação eletrónica para ser lido (quando muito de óculos), basta comprá-lo ou requisitá-lo numa biblioteca;

• um livro pode ser produzido com poucos recursos, o que o pode tornar barato.Na primeira fase de lançamento dos livros, os aspetos relacionados com a impressão e a apresentação

do livro (encadernação, imagens, etc.) eram muito importantes; contudo, atualmente, a atenção desviou-se do livro enquanto objeto, para o livro enquanto conteúdo. No entanto, alguns livros, para mercados restritos e especializados, continuam a dar muita importância aos aspetos formais, como é o caso dos livros infantis e de alguns livros de arte.

Deste modo, o livro é um excelente dispositivo de armazenamento da informação, cujo acesso é relativamente fácil. Só assim se explica que se tenha tomado num meio físico de fixação de mensagens reconhecido universalmente, ou seja, é utilizado e reconhecido em qualquer país do mundo como depositário da sua cultura. Aliás, na sociedade contemporânea, na era do computador, este também o copia, através dos novos dispositivos de leitura electrónicos - os e-books.

4. E – book

8

Page 9: Textos_8.3.de Alexandria à Era Digital - Versão Aluno

O e-book, ou livro electrónico, é produzido para ser lido no ecrã dos computadores ou em dispositivos como laptops ou palm pilots, sendo a sua edição e distribuição feita via Internet.

Existem vários sítios nacionais e estrangeiros onde é possível fazer cópias – download – de livros, alguns deles gratuitamente.

5. Diferentes formas de ler

Para discutir o conceito de leitura podemos partir da etimologia da palavra ler, derivada do latim legere. Na sua origem encontram-se três significados: (i) ler significa soletrar, ou seja, agrupar as letras em sílabas; (II) a leitura aparece relacionada com o ato de colher, de buscar sentidos no interior do texto. O texto possui sentidos que o leitor deve colher; (III) ler associado a roubar: tirar do texto sentidos que estavam ocultos, até mesmo criar significados que nascem da vontade do leitor, independentemente do escritor.

A leitura que se concretiza com a relação que o indivíduo estabelece com textos em diferentes suportes, não foi sempre a mesma e também não é unânime o seu conceito, variando ambos com o lugar, o período histórico e a classe social. A prática da leitura no Ocidente possui uma história, já que as pessoas não leram sempre do mesmo modo e algumas práticas antigas podem mesmo causar estranheza. A nossa noção do que é ler é, em grande medida, fruto de ideias e imagens construídas no final do século XVIII e ao longo do século XIX.

6. Evolução da leitura

Podemos estabelecer pelo menos três momentos na evolução da leitura:

O primeiro momento seria a passagem da leitura oral para a silenciosa, instaurando uma relação mais livre e secreta com a obra escrita. Santo Agostinho, ao visitar Santo Ambrósio, mostrou-se surpreendido por encontrá-lo a ler de uma forma que ele considerou diferente: “os seus olhos perscrutavam a página e o seu coração buscava o sentido, mas a sua voz ficava em silêncio e a sua língua era quieta”. Ou seja, Santo Agostinho achou estranho que Santo Ambrósio estivesse a ler em silêncio, pois a norma era ler em voz alta. No século XIV, muitos nobres ainda dependiam deste tipo de leitura para poder compreender um texto. A leitura em voz alta exercia uma dupla função: permitia que os que não sabiam ler tivessem acesso a informações sobre aquilo que estava escrito, ao mesmo tempo que socializava os indivíduos em torno dos livros. Entre 1750 e 1850 a leitura silenciosa consolidou-se, possibilitando uma relação de individualidade com a escrita.

O segundo momento é a transição da leitura intensiva para a extensiva. O pequeno número de obras disponíveis antes da invenção da imprensa gerava leitores intensivos, que interagiam com um pequeno número de livros, lidos e relidos, legados de geração em geração. O leitor extensivo, fruto da democratização da leitura, consome muitos impressos, diferentes e até efémeros e lê ávida e rapidamente. O seu século de ouro foi o XIX, quando houve, pela primeira vez na História, uma alfabetização em massa e, em simultâneo, a palavra escrita não tinha que concorrer com outros meios de comunicação, como a rádio, a televisão ou os computadores.

O texto electrónico e a relação que os seus leitores estabelecem com ele apontam para o terceiro momento de evolução: a imaterialidade das obras altera o elo físico que existia entre o objeto impresso e o escrito. O leitor passa a dominar a aparência e a disposição do texto que aparece no ecrã do computador.

A. Meirelles

Tarefas:

9

Page 10: Textos_8.3.de Alexandria à Era Digital - Versão Aluno

1.1. Que papel desempenhou os mosteiros cristãos durante a Idade Média? 1.2. Qual a grande finalidade da invenção da tipografia atribuída a Gutemberg?1.3. Avalie a importância do livro.1.4. Qual o conceito de leitura?1.4. Quais os momentos na evolução da leitura?

8.3.4. A relação dos meios científico-tecnológicos com a difusão da informação e do conhecimento.

1. O acesso à palavra escrita

Até ao século XV, as dificuldades de acesso à escrita eram de duas ordens: por um lado, apenas uma pequena parcela da população sabia ler, enquanto por outro, o livro era uma mercadoria realmente muito cara. Um livro exigia uma grande quantidade de pergaminho, um material oneroso. Além disso, precisava de ser copiado. Mesmo que não fosse um livro luxuoso, a sua cópia era lenta, mais ou menos duas a três folhas por dia. Ou seja, o resultado de um ano de trabalho de um copista seriam cinco livros de duzentas folhas.

A difusão do papel e a invenção da imprensa vieram diminuir consideravelmente o custo do livro, cuja produção aumentou em larga escala. No início do século XVI, existiam já por toda a Europa mais de 250 localidades onde os livros eram produzidos, totalizando cerca de 13 milhões de livros em circulação para uma população de 100 milhões de habitantes. Ao mesmo tempo, as taxas de alfabetização, de uma maneira geral, aumentaram. Se em Inglaterra, por exemplo, apenas 10% dos homens sabiam ler em 1500, este número subiu para 60% em 1750.

2. Tentando controlar a divulgação das ideias – a censura

A censura, ou seja, o ato de se tentar restringir ou excluir a livre manifestação do pensamento, nas suas diversas formas de expressão, é tão velha quanto a sociedade humana. Ela é exercida por meio do exame e da classificação do que se considera crime, pecado, heresia, subversão ou qualquer outro ato suscetível de supressão e punição.

Foi na Grécia Antiga que surgiram as primeiras tentativas de elaborar uma justificação ética para a censura: se o governo democrático da cidade-Estado era a expressão dos desejos dos cidadãos, poder-se-ia reprimir todo aquele que tentasse contestá-lo. Sócrates, o exemplo mais conhecido, foi condenado à morte, obrigado a beber cicuta, pelo crime de impiedade e corrupção dos jovens.

Durante a Idade Média, os tribunais eclesiásticos exerciam uma censura simultaneamente moral, política e religiosa, sendo os suspeitos submetidos à tortura e podendo acabar na fogueira. O principal temor era o de que os livros publicados pudessem levar as pessoas comuns a interpretar por conta própria os textos religiosos, em vez de acatar os ensinamentos da Igreja. O Índice Católico dos Livros Proibidos ( Index librorum prohibitorum), criado depois do Concílio de Trento, foi uma tentativa de lidar com esse problema. Nos países protestantes, verificaram-se igualmente proibições.

Os anos que se seguiram não evitaram que, em pleno século XX, tenham existido regimes totalitários (...), onde a censura foi exercida de uma forma particularmente violenta.

3. Internet, a nova sociedade de informação

O que conhecemos hoje como Internet nasceu quase como que por obra do acaso. Durante a Guerra Fria, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos tentava criar um sistema que preservasse as informações de segurança nacional americana, mesmo que o Pentágono fosse destruído por um ataque nuclear. A rede de informações então existente ligava vários departamentos de pesquisa e as bases militares, mas toda esta comunicação passava por um computador central, situado no Pentágono. No caso de um ataque nuclear da União Soviética, bastaria uma bomba sobre o Pentágono para fazer entrar em colapso toda a informação de defesa americana, tornando os Estados extremamente vulneráveis.

A empresa ARPA (Advanced Research and Projects Agency) desenvolveu, em 1969, uma rede para evitar este perigo, baptizada com o nome de ARPANET. Além de estar instalada por baixo de terra, o que a tornava mais difícil de ser interrompida, não havia um centro definido ou mesmo uma via única para as informações. Ou seja, para destruí-la seria necessário destruir todos os centros a ela interligados, o que era impossível.

10

Page 11: Textos_8.3.de Alexandria à Era Digital - Versão Aluno

Esta nova forma de interligação espalhou-se rapidamente para fora do âmbito militar. Na década de 70 as universidades e outras instituições que faziam trabalhos relativos à defesa tiveram permissão para se ligar à ARPANET e, em 1975, existiam já cerca de 100 sítios.

A partir dos anos 80, a rede já era explorada comercialmente e o seu acesso democratizou-se a uma velocidade cada vez maior. No final desta mesma década, a disseminação de um conjunto de técnicas – sistema padronizado de interacção (código TCP-IP, hipertextos, linguagem gráfica WWW, ...) e comunicação de massas via computadores pessoais – deu origem ao que conhecemos hoje como Internet, o maior sistema de comunicação desenvolvido pelo Homem.

Está previsto para 2008 a Internet interplanetária, a InterPlaNet, com um fluxo de informações cruzando o sistema solar. Trata-se de um programa da missão da NASA em Marte, sendo o seu objectivo, numa primeira fase, estabelecer uma rede entre a Terra e Marte. No futuro, o sistema permitirá a existência de redes no espaço, interligando robôs satélites e veículos espaciais.

A. Meirelles

Tarefas:1.1. No séc. XV e no séc. XVI verificaram-se circunstâncias diferentes quanto ao acesso à palavra escrita. Descreve essas circunstâncias.1.2. O que é a censura e como se tem manifestado ao longo dos tempos?1.3. Faça um resumo da história da Internet.

4. A sociedade contemporânea enquanto sociedade da informação - As novas tecnologias da comunicação

No decurso do século XX, as transformações nos meios de comunicação atingiram uma velocidade nunca vista, sobretudo, com a difusão dos meios de comunicação de massa: rádio, televisão e a indústria editorial.

O desenvolvimento da indústria editorial deu origem à multiplicação dos jornais, das revistas e dos livros, e também à criação de bibliotecas especializadas.

Contudo, uma das novas tecnologias da informação surgidas nas últimas décadas, a Internet, possui um grande e inexplorado potencial de comunicação.

A Internet tem modificado as técnicas de produção e de reprodução dos textos e as estruturas e as próprias formas de suporte que o comunica: escreve-se num ecrã do computador, um texto eletrónico. Este tipo de texto é completamente diferente porque o texto eletrónico:

• é um texto imaterial que se visualiza na tela, não é um texto impresso, como um livro ou um jornal; contudo, podemos quase sempre imprimi-lo;

• pode ser arquivado, anotado, copiado, deslocado, apagado e reescrito, ou seja, pode mesmo construir-se um novo texto.Assim, na sociedade atual, os sistemas de comunicação alteraram-se profundamente: da

comunicação escrita ou telefónica, analógica, enviada por fios e cabos, passou-se para uma comunicação onde sistemas integrados comprimem grandes quantidades de informação e transmitem-nas digitalmente pelo mundo inteiro.

Assim, a digitalização, a fibra ótica e os sistemas por satélite, interligando-se, permitiram o aparecimento de um único meio - o multimédia. Quer isto dizer que estas inovações conduziram à convergência e ao cruzamento das tecnologias dos media, isto é, a evolução tecnológica tem vindo a misturar os media anteriormente separados, abrindo, assim, o leque das suas utilizações. Tal acontece, por exemplo, com:

• os videodiscos, em que a imagem se junta ao som, com a possibilidade de ver televisão ou ouvir música no computador;

• a telemática, técnica de transmissão da informação à distância que associa as telecomunicações (satélites) à informática, como os casos da videoconferência, do videofone e do acesso a bancos de dados.

Os media tornam-se interativos, proporcionando a participação do utilizador no que vê e no que ouve. A Internet e os telemóveis oferecem, cada vez mais, possibilidades de interconexão e interatividade. Por exemplo, atualmente, os utilizadores de telemóveis podem aceder à Internet, enviar mensagens e receber correio eletrónico, movimentar contas bancárias, verificar as cotações no mercado bolsista ou marcar bilhetes para um espetáculo, ouvir música e ver televisão.

Deste modo, as novas tecnologias da informação possibilitam o estabelecimento de uma multiplicidade de ligações, que permitem que a informação possa ser difundida instantaneamente em grande escala, através de ondas satélites ou cabo, ou seja, partilham-se informações em tempo real à escala

11

Page 12: Textos_8.3.de Alexandria à Era Digital - Versão Aluno

planetária. Deste modo, qualquer pessoa, em qualquer ponto do mundo, pode aceder facilmente a todo o tipo de informações. Com efeito, basta ligar a televisão ou a Internet para ter informações sobre outros países diferentes do seu.

Neste sentido, pode considerar-se a sociedade contemporânea como uma sociedade da informação, onde os fluxos de informação circulam a nível mundial e o mundo se organiza em redes.

Por outro lado, a indústria dos media - música, televisão, notícias e cinema - tornou-se global, devido, nomeadamente, ao facto de a propriedade dos meios de comunicação social ser dominada por um pequeno número de empresas transnacionais.

Em síntese, pode-se concluir que as novas tecnologias da informação e da comunicação possibilitaram o aumento exponencial dos contactos e das trocas de informações a nível mundial entre pessoas de culturas completamente diferentes.

Deste modo, os meios de comunicação ligam as pessoas em tempo real às notícias, às imagens e às informações, tornando os indivíduos, os grupos e as nações cada vez mais interdependentes, transformando o mundo em que vivemos naquilo que muitos autores designam por «aldeia global».Mas será que o aparecimento dos novos meios de comunicação, em especial da Internet, não poderá contribuir para o desaparecimento dos meios de comunicação pré-eletrónicos- livros e jornais?

Apesar de alguns autores apontarem para a desvalorização da palavra escrita, em especial a dos jornais, outros afirmam que os livros nunca deixarão de existir.

8.3.5. Assimetrias sociais face ao acesso aos meios e conteúdos de informação

O número de utilizadores da Internet tem aumentado em todo o mundo, pois esta oferece, cada vez mais, possibilidades de interagirmos com os outros. Com efeito, nos últimos 10 anos, o número de utilizadores da Internet cresceu cerca de 566,4% a nível mundial.

Mas o que se constata é que esse acesso continua a ser muito desigual, pois a maior parte dos utilizadores continua a concentrar-se nos países mais ricos, onde a percentagem de utilizadores continua a ser muito superior à do mundo em desenvolvimento, por exemplo, em África, apenas 15,6% da população tinha acesso à Internet em 2012.

Por outro lado, outro problema dos países pobres são as elevadas taxas de analfabetismo e os baixos níveis de escolaridade, que também dificultam o já de si difícil acesso à informação. Com efeito, para aceder à Internet, como já se referiu, é preciso saber ler e escrever.

Nos países mais desenvolvidos, as tecnologias da informação (computadores, Internet, quadros eletrónicos, etc.) estão a ser integradas no processo educativo (na sala de aula, por exemplo). Ora, esta situação tem colocado o problema de todos os outros indivíduos que não dominam a informática por serem pouco escolarizados ou que, por serem mais velhos, não tiveram acesso às novas tecnologias.

Nestes casos, também se poderá falar em pobreza da informação entre alguns grupos sociais das sociedades desenvolvidas, nomeadamente os mais pobres, os mais velhos e os menos escolarizados.

Tarefas:1.1. Explique por que se caracteriza a sociedade contemporânea como sociedade de informação.1.2. Apresente vantagens do desenvolvimento das comunicações.1.3. Identifique as afirmações verdadeiras e as falsas e corrija as falsas.

a) A Internet é uma forma de comunicação interativa que permite o estabelecimento de uma comunicação em tempo real.

b) Os cibernautas são indivíduos isolados socialmente, impedidos de estabelecer relações de sociabilidade.

c) Através da Internet, podem facilmente obter-se produtos de qualquer ponto do globo e executar tarefas sem se deslocar ao local de trabalho.

d) Atualmente, os sistemas de comunicação estão profundamente alterados: comprimem-se grandes quantidades de informação, que são transmitidas analogicamente, por fios e cabos, para o mundo inteiro.

1.4. Explique as assimetrias sociais face ao acesso aos meios e conteúdos de informação.

12